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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X A MARCHA DAS MULHERES NEGRAS 2015: OLHARES DAS MULHERES NEGRAS BRASILEIRAS SOBRE O FEMINISMO NEGRO NO BRASIL Rosalia de Oliveira Lemos 1 Resumo: Esta comunicação tem por objetivo apresentar parte da tese Do Estatuto da Igualdade Racial à Marcha das Mulheres Negras 2015: uma Análise das Feministas Negras Brasileiras sobre as Políticas Públicas, realizada a partir da pesquisa ativista feminista negra, através de entrevistas com nove feministas negras, in lócus nas cinco regiões do país. A Marcha das Mulheres Negras 2015 Contra o Racismo a Violência e Pelo Bem Viver se configurou em um contramovimento (POLANY, 2012) de denúncia contra a realidade vivida por mulheres negras, perceptível nos indicadores sociais que traduzem um quadro de extrema desigualdades e desvantagens ao longo da trajetória do Brasil. No dia 18 de novembro de 2015, mais de 50 mil mulheres marcharam em Brasília por uma vida sem racismo, sem violência e pelo Bem Viver. O processo de organização do evento impulsionou a rearticulação e o surgimento de diferentes organizações com recorte de gênero e racial; a releitura do feminismo negro (TRUTH, 1851), (THE COMBAHEE RIVER COLLECTIVE,1978), (DAVIS, 1982), (HOOKS, 1981), (COLLINS, 1990); houve o resgate das atividades de formação política e de eventos autogestionados com geração de renda, além da criação de fundo de apoio às que não tinham recursos para a viagem, similar aos processos de fomento de renda para compra de alforrias no período escravista. A luta antirracista e antissexista deste processo, provocou a capilarização das bandeiras com proposição de políticas públicas e o aprimoramento de outras. Os resultados apresentarão a investigação da dimensão pessoal da mulher negra e também na produção de categorias sobre a pensamento feminista negro que amplia o campo da epistemologia feminista negra na contemporaneidade. Palavras-chaves: feminismo negro brasileiro; epistemologia feminista negra; políticas públicas. Feministas Negras e suas Pesquisas: uma introdução à pesquisa ativista feminista negra É preciso que a qualidade do conhecimento produzido pela pesquisa seja avaliada em função do seu poder transformador ou seja, da sua capacidade de transformar as relações injustas e desiguais existentes no mundo tal como ele é hoje, bem como transformar radicalmente as estruturas geradoras da opressão, da desigualdade e da injustiça. (Radha D’Souza) A metodologia da Pesquisa Ativista Feminista Negra tem como referencial a Pesquisa Ativista em Radha D’Souza (2010), que assume o compromisso com a construção de conhecimentos científicos a partir das experiências de opressão, de desigualdade e de injustiças vividas por determinados grupos sociais. O primeiro desafio é a escolha das mulheres negras participarão da pesquisa, valendo ressaltar que na definição clássica das ciências sociais, este universo seria denominado de amostra, 1 Doutora em Política Social Universidade Federal Fluminense - Professora do IFRJ Instituto Federal do Rio de Janeiro, Niterói - Rio de Janeiro, Brasil.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

A MARCHA DAS MULHERES NEGRAS 2015: OLHARES DAS MULHERES NEGRAS

BRASILEIRAS SOBRE O FEMINISMO NEGRO NO BRASIL

Rosalia de Oliveira Lemos1

Resumo: Esta comunicação tem por objetivo apresentar parte da tese Do Estatuto da Igualdade

Racial à Marcha das Mulheres Negras 2015: uma Análise das Feministas Negras Brasileiras

sobre as Políticas Públicas, realizada a partir da pesquisa ativista feminista negra, através de

entrevistas com nove feministas negras, in lócus nas cinco regiões do país. A Marcha das Mulheres

Negras 2015 Contra o Racismo a Violência e Pelo Bem Viver se configurou em um

contramovimento (POLANY, 2012) de denúncia contra a realidade vivida por mulheres negras,

perceptível nos indicadores sociais que traduzem um quadro de extrema desigualdades e

desvantagens ao longo da trajetória do Brasil. No dia 18 de novembro de 2015, mais de 50 mil

mulheres marcharam em Brasília por uma vida sem racismo, sem violência e pelo Bem Viver. O

processo de organização do evento impulsionou a rearticulação e o surgimento de diferentes

organizações com recorte de gênero e racial; a releitura do feminismo negro (TRUTH, 1851), (THE

COMBAHEE RIVER COLLECTIVE,1978), (DAVIS, 1982), (HOOKS, 1981), (COLLINS, 1990);

houve o resgate das atividades de formação política e de eventos autogestionados com geração de

renda, além da criação de fundo de apoio às que não tinham recursos para a viagem, similar aos

processos de fomento de renda para compra de alforrias no período escravista. A luta antirracista e

antissexista deste processo, provocou a capilarização das bandeiras com proposição de políticas

públicas e o aprimoramento de outras. Os resultados apresentarão a investigação da dimensão

pessoal da mulher negra e também na produção de categorias sobre a pensamento feminista negro

que amplia o campo da epistemologia feminista negra na contemporaneidade.

Palavras-chaves: feminismo negro brasileiro; epistemologia feminista negra; políticas públicas.

Feministas Negras e suas Pesquisas: uma introdução à pesquisa ativista feminista negra

É preciso que a qualidade do conhecimento produzido pela pesquisa seja avaliada em

função do seu poder transformador – ou seja, da sua capacidade de transformar as relações

injustas e desiguais existentes no mundo tal como ele é hoje, bem como transformar

radicalmente as estruturas geradoras da opressão, da desigualdade e da injustiça.

(Radha D’Souza)

A metodologia da Pesquisa Ativista Feminista Negra tem como referencial a Pesquisa

Ativista em Radha D’Souza (2010), que assume o compromisso com a construção de

conhecimentos científicos a partir das experiências de opressão, de desigualdade e de injustiças

vividas por determinados grupos sociais.

O primeiro desafio é a escolha das mulheres negras participarão da pesquisa, valendo

ressaltar que na definição clássica das ciências sociais, este universo seria denominado de amostra,

1 Doutora em Política Social – Universidade Federal Fluminense - Professora do IFRJ – Instituto Federal do Rio de

Janeiro, Niterói - Rio de Janeiro, Brasil.

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no entanto, neste trabalho são definidas como colaboradoras da pesquisa2, por refletir

dialeticamente com a pesquisadora ativista, os valores presentes em um objeto de estudo, que de

acordo com Alberti (2004) são denominadas “informantes” em antropologia. Assim, ficou definido

que as feministas negras a serem entrevistas deveriam preencher os seguintes requisitos:

1. Ter atuado na estrutura dos Comitês Impulsores durante a construção da Marcha das

Mulheres Negras 2015, bem como no desenvolvimento de ações que contribuíram para

mobilizar outras mulheres a participar das atividades e ter contribuído para organizar a

viagem à Brasília;

2. Ter desempenhado o papel de liderança local no desenvolvimento das ações

organizativas [foi avaliado o conjunto de atividades desenvolvidas no processo de

organização da Marcha das Mulheres Negras 2015];

3. Ter demonstrado, nas ações desenvolvidas e nas produções intelectuais realizadas, a

consciência feminista negra e fazer dela sua militância;

4. Sobre o quantitativo, ficou definido que seria uma mulher por região do Brasil3 –

Norte, Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul;

5. A entrevista seria realizada em suas regiões, tendo em vista a importância de

preservar o referencial territorial no qual as ações aconteceram e o ativismo se estabelece.

(ALBERTI, 2004, p. 31-32).

Este processo foi facilitando, tendo em vista a atuação como ativista facilita a identificação

de potenciais colaboradoras da pesquisa. As entrevistas foram realizadas nas regiões, exigindo um

planejamento que levou quatro meses para a sincronização das datas de deslocamento pelo país. Por

outro lado, estes critérios colocam a pesquisadora em um dilema, uma vez que o universo de

ativistas que atuam em uma mesma causa é vasto, acarretando cobranças por parte daquelas que não

foram convidadas para participar dividir suas percepções. Este momento exige o esclarecimento de

que a análise dos dados demanda muito tempo é a única justificativa para evitar maiores problemas

de ordem pessoal e política.

Um aspecto fundamental para a pesquisa ativista feminista negra, é o fato apontado em

Fonseca (1999, p. 65), ao assinalar que ninguém nega que somos parte da realidade que

pesquisamos, por estabelecer a dialética entre a ativista pesquisadora e as colaboradoras da

pesquisa, uma vez que no processo da construção do conhecimento científico, também se realiza

um exercício pessoal, tanto para entender como para partilhar as impressões sobre o objeto de

estudo, que na tese Do Estatuto da Igualdade Racial à Marcha das Mulheres Negras 2015: uma

Análise das Feministas Negras Brasileiras sobre as Políticas Públicas foi o Estatuto da Igualdade

Racial e a Marcha das Mulheres Negras 2015. Assim, colaboras da pesquisa, a partir de suas

próprias histórias, refletiram a ressignificação do lugar da exclusão, transformando-o em espaço de

2 Agradeço à Ana Beatriz Silva2, Cristiane Mare da Silva, Iêda Leal, Giselle dos Anjos Santos, Maria Malcher, Nilma

Bentes, Piedade Marques, Valéria Porto e Zélia Amador de Deus, feministas negras que participaram da tese como

colaboradora da pesquisa. 3 Na Região Norte entrevistei três colaboradoras da pesquisa; no Sudeste e Nordeste foram duas; no Sul e Centro-Oeste

uma.

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luta, de práticas emancipatórias e em cenário para reflexões teóricas e produção de conhecimento,

desempenham papel relevante para a pesquisa feminista negra, tal como Claudia Pons Cardoso

(2012, p. 29) analisou em sua tese.

A pesquisa ativista feminista negra apresentada no gráfico 01, pode se transformar em uma

ferramenta que ofereça um instrumento ou roteiro, e que auxilie a (o) pesquisadora (or) a entender

as tensões e a disputa por poder endógeno. Destarte, seu caráter revolucionário se encontra não só

busca entender o protagonismo das feministas negras, como também socializar estratégias para

transformação social, econômica, política e cultural a que estão submetidas as mulheres negras,

assim como a reprodução de opressões às quais estão sujeitas.

Gráfico 01 – Pesquisa Ativista Feminista Negra

É oportuno ressaltar, que ao fazer o registro das percepções individuais deve ser priorizado o

detalhamento das atividades, das parcerias envolvidas, das tensões e os conflitos surgidos no

processo de luta. Deve-se procurar estabelecer no processo de análise, interconexões de questões

locais com relações globais ou universalistas. Ao fazer o registro oral, há que se tomar muito

cuidado, com o equipamento a ser usando. O teste do aparelho antes da ida ao campo é

imprescindível para o domínio de seu funcionamento. Um outro fator importante é efetuar a

gravação em dois aparelhos, como segurança, ainda mais quando se faz a entrevista em locais

distantes. Os registros das percepções individuais contribuem para manter o foco da pesquisa

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ativista feminista negra, com vistas a não incorrer em muitas divagações, tão comuns neste tipo de

pesquisa, que tem a realidade social como objeto que é comum ao grupo de atuação política da

pesquisadora. Neste sentido, o alerta de Queiroz (1983, p. 47) é oportuno para que de tempos em

tempos, se efetue intervenção para conectar os fatos relevantes para a pesquisa e para aguçar a

memória das colaboradoras, assim como indagar diretamente os assuntos que se pretende investigar

de forma interativa e dinâmica.

No diz respeito à análise do registro das percepções individuais, se estabelece o diálogo

entre a colaboradora da pesquisa, a ativista pesquisadora e com o referencial teórico. E se

caracteriza no encontro com as diferentes visões de mundo, e das alternativas para transformação

social, dos pensamentos que viajam por situações que, aparentemente são similares, mas guardam

singularidades, não só pelas respostas individuais, como também das expectativas baseadas nas

experiências de vida de cada ser humano, uma vez que:

Pensamento e ser habitam um único espaço, que somos nós mesmos. Mesmo quando

pensamos, também temos fome e ódio, adoecemos ou amamos, e a consciência está

misturada ao ser; mesmo ao contemplarmos o "real", sentimos a nossa própria realidade

palpável. De tal modo que os problemas que as "matérias-primas" apresentam ao

pensamento consistem, com frequência, exatamente em suas qualidades muito ativas,

indicativas e invasoras. Porque o diálogo entre a consciência e o ser torna-se cada vez mais

complexo - inclusive atinge imediatamente uma ordem diferente de complexidade, que

apresenta uma ordem diferente de problemas epistemológicos - quando a consciência crítica

está atuando sobre uma matéria-prima feita de seu próprio material: artefatos intelectuais,

relações sociais, o fato histórico (THOMPSON, 1981, p. 27).

E este conjunto de artefatos intelectuais, as relações sociais e o fato histórico captados aos

quais se refere Thompson (1981), compõem os elementos essenciais para se encontrar as respostas

das perguntas previamente definidas no momento da formulação do projeto de pesquisa. Não

obstante, a imprevisibilidade está presente constantemente na metodologia da pesquisa ativista

feminista negra, necessitando pesquisar constantemente documentos para fundamentar o

conhecimento sobre os fatos, e para criar um acervo sobre a temática, sem se esquecer de atuar

ativamente no movimento social.

Por isso que a Análise Documental cumpre um papel primordial, como instrumento

orientador para a catalogação de documentos referentes à temática durante o processamento da

pesquisa. E, não se deve subestimar que em tempos de avanço tecnológico veloz, se verifica a

diversidade de documentos disponíveis na internet, entretanto aumenta também a exigência na

capacidade de filtrar fontes e informações confiáveis.

A História Oral é outro recurso essencial para a pesquisa ativista feminista negra. De acordo

com Alberti (2005), através da história oral se privilegia entrevistar as colaboradoras, pois estas

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viveram os acontecimentos que se estuda e seus testemunhos tornaram vivas as histórias

apresentadas. O que torna possível compartilhar suas visões de mundo e os contextos apresentados,

possibilitando a dialética com o nosso objeto de estudo. Desse modo, a história analisada se

concretiza tal forma de uma história viva, pautada nas reflexões de Halbwachs (2006) sobre a

percepção dos fatos se apoiarem mais na história que se vive do que na história que se aprende.

Assim, a história viva, “se perpetua ou se renova através do tempo, na qual se pode encontrar

novamente um grande número dessas correntes antigas que desaparecem apenas em aparência”

(HALBWACHS, 2006, p. 86).

Já na etapa da análise dos registros das percepções individuais, o uso da Análise do Discurso

Político deve assumir o compromisso de preservar a linguagem utilizada, ainda mais quando se

entrevista mulheres em todo o território nacional com tamanha diversidade cultural, tão peculiares

no Brasil. E mais, a pesquisa se depara com um movimento interdisciplinar registrado na

investigação em sociologia, antropologia e outras ciências para os fenômenos comunicacionais e

linguísticos (AZEVEDO, 1998, p. 107). Na pesquisa ativista feminista negra, a fluidez ocorre com

mais frequência por possibilitar maior entendimento às interpretações dadas a um determinado fato,

o que torna a leitura da realidade próxima tanto para a ativista pesquisadora, quanto para a

colaboradora da pesquisa. Por isso, o compromisso em não interferir no discurso da colaboradora da

pesquisa assume um caráter ético. Deve-se procurar registrar o diálogo sem cortes ou correções, as

formas de expressão dos diferentes sentidos do mundo em relação a um determinado tema ou

questão devem ser preservados. Por fim, somente tecer comentários, após a explanação dos

pensamentos da colaboradora da pesquisa.

Para Orlandi (2001, p. 15), a Análise de Discurso, como seu próprio nome indica, não trata

da língua, não trata da gramática, embora todas essas coisas lhe interessem. Ela trata do discurso. E

a palavra discurso, etimologicamente, tem em si a ideia de curso, de percurso, de correr por, de

movimento. O discurso é, assim, palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do

discurso observa-se o homem e a mulher4 falando. Isso porque:

O discurso é constitutivo do político. Ele está intrinsecamente ligado à organização da vida

do social como governo e como discussão, para melhor ou pior. Ele é, ao mesmo tempo,

lugar de engajamento do sujeito, de justificação de seu posicionamento e de influência do

outro, cuja encenação varia segundo as circunstâncias de comunicação, o que tornaria mais

justo falar de discursos do conceito político do que do discurso político. (CHARAUDEAU,

2008, p. 42-43).

4 No texto original não consta a referência à mulher, mas adicionei para seguir a atualização na perspectiva de gênero.

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As colaboradoras e ativistas do movimento de mulheres negras dominam a temática

estudada e têm discursos próprios. Suas concepções sobre os eventos estudados na pesquisa, suas

visões acerca das implicações da realidade estudada em suas vidas estão relacionadas com as

bandeiras de luta por melhorias fundamentadas em suas práxis. E as análises por elas realizadas e

suas motivações são determinantes para a na composição final do relatório da pesquisa.

Em relação à tese desenvolvida a que se reporta este artigo, a Análise Documental e a

Análise do Discurso Político permitiram concluir que há urgência em divulgar, para a população em

geral, o teor do EIR, uma vez que não basta a existência de marcos jurídicos relevantes, sem que a

população a ele tenha acesso ou conhecimento, e assim usá-lo como ferramenta antirracista. Possa

ser que, mesmo que toda a população tenha conhecimento dessas legislações, não acione a justiça

para a garantia de direitos, porém este fato possa contribuir para inibir violações de direitos, possa

construir para efetivar os ideais de “justiça”, “desenvolvimento”, “empoderamento das mulheres

negras”, “ações afirmativas” e “progresso”, como bases seguras para atingir as transformações

necessárias e o fim do racismo, do sexismo e todos os ismos que tentam subalternizar as populações

historicamente discriminadas.

Assim, a Pesquisa Ativista Feminista Negra é um método que reúne um conjunto de

recursos metodológicos, para produzir um determinado conhecimento científico que emerge no seio

dos feminismos negros, onde o processo de construção do saber é produzido com colaboradoras da

pesquisa que promovem o encontro entre a academia numa perspectiva ativista, o ativismo dos

movimentos sociais de forma holística. Este método de pesquisa, assume o compromisso com a

visibilidade das colaboradoras da pesquisa, por isso a opção em reservar espaço de destaque no

relatório final, podendo constar um capítulo específico, com o resumo de suas biografias, tendo em

vista o papel relevante e imprescindível para a concretização do estudo.

A seguir apresento breve análise os resultados obtidos sobre as reflexões acerca dos

feminismos negros ao longo dos tempos.

O longo caminho dos Feminismos Negros

A afroamericana Sojourner Truth (1851) é a expressão vigorosa da primeira fase do

feminismo negro. Denunciou os demarcadores das diferentes opressões vividas por mulheres negras

na sociedade norte-americana, em um espaço de mulheres brancas americanas que lutavam pelo

direito ao voto. Seu discurso entrou para a história como o marco do feminismo negro. Esta ativista,

nascida em 1797, sob o nome de Isabella Betsy, em condição de escravidão que em seguida,

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trabalhou empregada doméstica tão comum ao percurso de inúmeras mulheres negras da diáspora

africana, teve desempenho histórico durante o II National Convention on Women’s Rights, em

1851, em Worcester, Massachusetts, segundo hooks (2014)5:

Quando Sojourner Truth ficou de pé perante a Segunda Conferência Anual do Movimento

do Direito de Mulheres em Akron, Ohio, em 1852, as mulheres brancas que acreditaram

desadequado que uma mulher negra falasse na sua presença, numa plataforma pública

gritaram: “Não a deixem falar! Não a deixem falar! Não a deixem falar!” Sojourner

aguentou os seus protestos e tornou-se uma das primeiras feministas a chamar a atenção

para o destino da mulher negra escrava que, forçada pela circunstância de trabalhar lado a

lado com os homens negros, era uma viva personificação da verdade que as mulheres

podiam ser iguais aos homens no trabalho. (HOOKS, 2014, p. 115).

Em uma época marcada pela ausência de direitos fundamentais, a luta pelos direitos das

mulheres negras e pela reivindicação na participação em profissões ocupadas por homens brancos, a

ativista Sojourner apontou para a importância equidade no sistema judiciário, para a justiça em

julgamentos nos tribunais e denunciou a intimidação direcionada às mulheres pelos homens que

ocupavam poder, detectou ainda, a desqualificação da fala da mulher.

A segunda fase do feminismo negro, se caracteriza pela categorização do termo, pelo

ativismo político focado na luta por direitos sociais com ênfase na educação e na saúde, dentre outros. A luta

por salários iguais e remuneração equivalente aos homens resgatam a importância dos direitos econômicos.

Luta por direitos culturais. Na esfera dos direitos civis, o enfoque é na participação equânime das

estruturas partidárias e no acesso aos cargos de prestígio social nas instituições públicas e privadas. Nesta

fase, foi denunciado o sexismo e o racismo nos espaços mistos de participação, seja no movimento negro ou

feminista branco6. A participação política nos espaços de mistos por direitos civis e sociais buscavam

demonstrar as fronteiras de gênero, raça e classe. Ainda nesta fase, denúncias dos sistemas de opressão

econômica, da precariedade do trabalho e das relações sociais laborais são constantes. No âmbito acadêmico,

o status de objeto de pesquisa passa a ser questionado de forma pragmática. A ausência de direitos

fundamentais à dignidade humana, a luta por representação na política partidária em todo o território

nacional, passaram a fazer parte da rotina das manifestações e das reivindicações políticas das diferentes

instituições feministas negras. Por fim, a sistematização do conceito de cidadania.

Destaca-se no ano de 1974, nos Estados Unidos da América, o The Combahee River

Collective, integrado por feministas negras e lésbicas, publicaram A Black Feminist Statement

(Declaração Feminista Negra) estabelecendo compromissos para o desenvolvimento de lutas contra

a opressão racial, sexual, heterossexual e de classe. O feminismo negro foi definido como um

movimento de lógica política para combater as múltiplas e simultâneas opressões a todas as

5 Tal intervenção de Sojourner aconteceu antes da Proclamação de Emancipação de Abraham Lincoln, promulgada no

ano de 1863 põe fim à escravidão nos Estados Unidos da América. 6 Feminismo branco ou feminismo tradicional ou hegemônico, categorias similares.

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mulheres negras. E os estudos de Angela Davis (1982), Patrícia Hill Collins (1990), dentre outras

afroamericanas aprofundaram a análise sobre o tema.

A categorização no território africano, segundo Amina Mama (2014) 7, que o define por

"Feminismos na África" ou "feminismos africanos", em vez de usar o termo singular "feminismo

africano", porque as teorias e práticas que compunham a luta pela libertação das mulheres variavam

muito de acordo com o contexto. O trabalho está focado na aplicação do feminismo para a análise e

desmistificação da opressão das mulheres interseccionando as interações de gênero e sexualidade

com outras dimensões da injustiça sistêmica como nacionalismo, etnocentrismo, estratificações de

classe, casta, localização e status social, a heteronormatividade, regimes políticos e econômicos

injustos e antidemocráticas. Tais características levam a afirmar, que as lutas de feministas africanas

se dão de acordo com a cultura local, mas atuam de forma sistemática por uma cultura da paz e da

libertação do militarismo que produz mutilações, estupros de crianças e mulheres, e outras

violações.

No Brasil, os estudos de Silva (2005) irão resgatar as primeiras reflexões sobre a

especificidade das mulheres negras a partir do olhar das escritoras negras entre 1945 e 1964, dando

luz ao protagonismo do Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. A autora fez a análise das ações

políticas de Maria de Lurdes Nascimento, Nair Theodoro de Araújo e Antonieta de Barros, que

refletiam sobre a interseção de raça e gênero as quais situavam as mulheres negras, em diferentes

zonas de confluências de opressão, como se pode observar na produção literária em Quarto de

Despejo, de Carolina Maria de Jesus (1969).

A militante Lélia Gonzalez (1982) apresentou importantes contribuições ao pensamento

feminista negro, seus textos denunciam o racismo, o sexismo, as discriminações por orientação

sexual e seus reflexos na vida das mulheres negras. Defendia a importância de que a mulher negra

na condição de oprimida fosse o sujeito de pesquisa, e não o objeto. (LEMOS, 2016).

Os temas que inquietavam diversas mulheres negras não encontravam eco no movimento

feminista branco devido às diferenças de origem racial e social. Por outro lado, o sexismo

pragmático do Movimento Negro reservava às negras um lugar de segunda categoria no exercício

político e de sua própria existência.

Segundo Suely Carneiro (2003):

Ao politizar as desigualdades de gênero, o feminismo transforma as mulheres em

novos sujeitos políticos. Essa condição faz com esses sujeitos assumam, a partir do

7 Feminists We Love: Professor Amina Mama. Outubro de 2014. Disponível em:

http://www.thefeministwire.com/2014/10/feminists-love-amina-mama/. Acesso em: 20 maio 2015.

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lugar em que estão inseridos, diversos olhares que desencadeiam processos

particulares subjacentes na luta de cada grupo particular. Ou seja, grupos de

mulheres indígenas e grupos de mulheres negras, por exemplo, possuem demandas

específicas que, essencialmente, não podem ser tratadas, exclusivamente, sob a

rubrica da questão de gênero se esta não levar em conta as especificidades que

definem o ser mulher neste e naquele caso. (CARNEIRO, 2003, p. 119).

A década de 1970 foi marcada por debates intensos sobre a organização das mulheres e dos

negros no Brasil e o foco eram as particularidades como aponta Carneiro (2003). Não só o racismo

foi alvo de denúncia, como também o sexismo e o capitalismo. As reivindicações por políticas

públicas e por direitos fundamentais tiveram como ênfase na educação8, saúde9, organização10,

trabalho11, dentre outros. Esta fase se verifica o nascimento do interesse investigativo sobre

Feminismo Negro.

Por fim, a terceira fase do feminismo negro é demarcada pelo ativismo político focado na

diversidade do feminismo negro, mulherismo africano, feminismo de favela, feminismo das

cantoras de Rapper, Hip-Hop e Funk, negras de classe média que se autodenominam empoderadas,

dentre outros, tornando visível a perspectiva cultural, territorial e de classe. Verifica-se ainda, a

defesa do controle do corpo, visando assegurar os direitos sexuais e reprodutivos. Na esfera

acadêmica, se consolida a temática como linha de pesquisa, e o abandono do status da mulher negra

como objeto de investigação, passando para a categoria de protagonistas do saber acadêmico. O fim

do genocídio da juventude negra passa a ter um enfoque de proteção dos filhos, pertencentes a toda

comunidade negra e, não apenas, às suas mães e pais. Persiste a luta por equidade nas esferas dos

direitos sociais, político no que tange à equidade na representação política e na ocupação de cargos

de prestígio social, além da autonomia econômica.

A tabela 01 sistematiza as três fases do feminismo negro, e tem o objetivo de cumprir uma

função didática ao demarcar aspectos considerados relevantes, porém os destaques se referem ao

meu olhar sobre este processo político, podendo assumir outras nuances se forem sistematizados por

outra pesquisadora feminista negra.

Tabela 01 – Fases do Feminismo Negro

FASE CARACTERÍSTICAS

Primeira Ativismo político focado na luta por direitos civis e sociais. Denúncia dos sistemas de opressão

econômica (escravidão), da precariedade do trabalho e das relações sociais laborais. Questionamento

da centralização do poder por homens brancos e mulheres brancas. Ausência de direitos

8 (DEUS, 2010) 9 (WERNECK, 2009), (CRUZ, 2003) e (LÓPEZ, 2011). 10 (BARRETO, 2005), (SANTOS, 2009) e (CARDOSO, 2012). 11 (ASSIS, 2010).

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fundamentais à dignidade humana. Identificação e denúncia da opressão de gênero e de raça.

Segunda Categorização do termo. Proliferação de organizações feministas negras. Ativismo político focado na

luta por direitos sociais (educação, saúde, etc), econômicos (salários iguais, trabalhos iguais), civis

(ausência de participação equânime nas estruturas partidárias e no acesso aos cargos em instituições

públicas e privadas) e a luta por direitos culturais. Tensionamento na identificação do sexismo e

racismo nos espaços mistos de participação (movimento negro e feminista branco). Participação

política nos espaços de mistos por direitos civis e sociais. Denúncia dos sistemas de opressão

econômica, da precariedade do trabalho e das relações sociais laborais. Tensionamento acadêmico do

status de objeto de pesquisa. Ausência de direitos fundamentais à dignidade humana. Luta por

representação na política partidária em todo o território nacional. Sistematização do conceito de

cidadania.

Terceira Ativismo político focado na diversidade do feminismo negro (mulherismo africano, feminismo negro

de mulheres de favela, feministas cantoras de Rapper, Hip-Hop e Funk, feminista negras de classe

média autodenominadas Mulheres Empoderadas, dentre outras). Controle do corpo (direitos sexuais e

reprodutivos). Consolidação como linha de pesquisa. Abandono do status de objeto de investigação,

se tornando protagonistas do saber acadêmico. Conformação de novos feminismos negros na

perspectiva cultural, territorial e de classe. Luta pelo fim do genocídio da juventude negra. Insistência

na luta por equidade e autonomia econômica. (Muitas características da primeira e segunda fases por

não terem sido superadas, ainda persistem).

Há que se destacar, que muitas características se perpetuam com o passar do tempo e são

cumulativas nas diferentes fases por não terem sido superadas. As que persistem compõe o leque de

atuação e de enfrentamento das ativistas feministas negras no tempo-espaço, e estão em constante

diálogo com a demanda das novas gerações que sinalizam para novas urgências e, assim, passam a

fazer parte da agenda dos feminismos negros na contemporaneidade, com vistas à se transforarem

em ações concretas e proposição de políticas públicas, em busca da autodeterminação e melhoria de

vida das mulheres negras, que apesar de nos tempos atuais, direitos que foram conquistados ao

longo caminho de lutas têm sido reduzidos e, muitas vezes extintos.

E, a Marcha das Mulheres Negras 2015 contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver

contou com o esforço coletivo em âmbito nacional, resgatando formas alternativas de organização

com foco na participação coletiva, formação política e pelo resgate da autogestão para viabilizar a

viagem das mulheres para Brasília, que abriram um leque de bandeiras e lutas num mar da

diversidade entre as mulheres negras e seus feminismos negros.

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The Black Women's March 2015: Brazilian black women's views on black feminism in Brazil

Abstract: This communication aims to present part of the thesis of the Statute of Racial Equality

for the Black Women 2015: an Analysis of Brazilian Black Feminists on Public Policies, carried out

from the black feminist activist research, through interviews with nine black feminists, in Loci in

the five regions of the country. The Black Women's March 2015 Against Racism against Violence

and Well-being was set in a countermovement (POLANY, 2012) of denunciation against the reality

lived by black women, perceptible in social indicators that translate a picture of extreme inequalities

and disadvantages along Of Brazil's trajectory. On November 18, 2015, more than 50 thousand

women marched in Brasilia for a life without racism, without violence and by Bem Viver. The

process of organization of the event led to the rearticulation and emergence of different

organizations with a gender and racial cut; The re-reading of black feminism (TRUTH, 1851),

(THE COMBAHEE RIVER COLLECTIVE, 1978), (DAVIS, 1982), (HOOKS, 1981), (COLLINS,

1990); There was the rescue for the development of activities political formation and economic , as

well as the creation of a fund to support those who did not have the resources to travel, similar to

the processes of income support for the purchase of manumission in the slave period. The anti-racist

and anti-sexist struggle of this process, provoked the capillarization of the banners with the proposal

of public policies and the improvement of others. The results will present the investigation of the

personal dimension of the black woman and also in the production of categories on black feminist

thought that extends the field of black feminist epistemology in the contemporary world.

Keywords: Brazilian black feminism; Black feminist epistemology; public policy; March of the

black women 2015.