a maioridade penal no brasil: para que reduzir?

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A MAIORIDADE PENAL NO BRASIL: PARA QUE REDUZIR? Aline de Ataide Orpinelli 1, Ana Carolina de Barros Almeida 2 1,2 Acadêmicos do Curso de Pós Graduação em Gestão de Políticas Sociais com Ênfase em Trabalho Social com Famílias do Centro Universitário de Lins Unilins, Lins-SP, Brasil M. Sc. Matsuel Martins Silva 3 3 Docente do Curso de Pós Graduação em Gestão de Políticas Sociais com Ênfase em Trabalho Social com Famílias do Centro Universitário de Lins Unilins, Lins-SP, Brasil Resumo: O presente artigo tem por finalidade discutir sobre a redução da maioridade penal no Brasil, visto que grande parte da população questiona à falta de penalização dos adolescentes autores de ato infracional. Busca-se apresentar ao leitor que o fato de reduzir a idade penal não alcançará os objetivos esperados pela população em relação à diminuição da violência, embora existam muitas falhas na aplicação das leis e no processo de reeducação deste adolescente, destacar-se-á que, o que deve ser repensado é a forma como este processo está sendo realizado. Desta forma o artigo apresentará as leis que regulam os direitos e deveres da criança e do adolescente no país, as políticas públicas existentes hoje para atender essa parcela da sociedade, alguns referenciais teóricos e a opinião popular. Palavras-chaves:Criança. Adolescente. Família. Maioridade Penal. Abstract: This article meets the discussion about criminal age reduction in Brazil, since a large part of the population questioned the lack of punishment of adolescents who have an infraction. Seeks to introduce the reader to the fact that reducing the age of criminal responsibility will not reach the expected goals by the population in relation to the reduction of violence, although there are many flaws in the application of laws and the process of rehabilitation of this teenager, it will highlight that what should be rethought is how this process is being conducted. Thus the paper will present laws regulating the rights and duties of children and adolescents in the country, public policies exist today to meet this portion of society, some theoretical and popular opinion. Keywords: Child. Teen. Family. Criminal Majority. 1 Introdução O país vive hoje uma discussão assídua em torno do tema criança e adolescente: de um lado crianças e adolescentes cada vez mais relacionados à criminalidade, de outro, uma sociedade que cobra de seus governantes, providências para que a violência seja reduzida. Esta sociedade se mostra cansada em relação à impunidade que existe para com esta parcela da sociedade. Neste trabalho, as autoras expõem na sua primeira parte a Constituição Federal como diretriz no ordenamento jurídico brasileiro, o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, principal organizador dos direitos e deveres desta parcela da sociedade e por fim, as Políticas Públicas existentes hoje no Brasil, capazes de atender as necessidades desta demanda. No segundo item, apresentam as medidas sócio-educativas presentes no ECA, assim como a justiça restaurativa,

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artigo sobre a redução da maioridade penal

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  • A MAIORIDADE PENAL NO BRASIL: PARA QUE REDUZIR?

    Aline de Ataide Orpinelli1, Ana Carolina de Barros Almeida2 1,2 Acadmicos do Curso de Ps Graduao em Gesto de Polticas Sociais com nfase em Trabalho

    Social com Famlias do Centro Universitrio de Lins Unilins, Lins-SP, Brasil

    M. Sc. Matsuel Martins Silva3 3 Docente do Curso de Ps Graduao em Gesto de Polticas Sociais com nfase em Trabalho

    Social com Famlias do Centro Universitrio de Lins Unilins, Lins-SP, Brasil

    Resumo:

    O presente artigo tem por finalidade

    discutir sobre a reduo da maioridade

    penal no Brasil, visto que grande parte

    da populao questiona falta de

    penalizao dos adolescentes autores de

    ato infracional. Busca-se apresentar ao

    leitor que o fato de reduzir a idade penal

    no alcanar os objetivos esperados

    pela populao em relao diminuio

    da violncia, embora existam muitas

    falhas na aplicao das leis e no

    processo de reeducao deste

    adolescente, destacar-se- que, o que

    deve ser repensado a forma como este

    processo est sendo realizado. Desta

    forma o artigo apresentar as leis que

    regulam os direitos e deveres da criana

    e do adolescente no pas, as polticas

    pblicas existentes hoje para atender

    essa parcela da sociedade, alguns

    referenciais tericos e a opinio

    popular.

    Palavras-chaves:Criana. Adolescente.

    Famlia. Maioridade Penal.

    Abstract:

    This article meets the discussion about

    criminal age reduction in Brazil, since a

    large part of the population questioned

    the lack of punishment of adolescents

    who have an infraction. Seeks to

    introduce the reader to the fact that

    reducing the age of criminal

    responsibility will not reach the expected

    goals by the population in relation to the

    reduction of violence, although there are

    many flaws in the application of laws

    and the process of rehabilitation of this

    teenager, it will highlight that what

    should be rethought is how this process

    is being conducted. Thus the paper will

    present laws regulating the rights and

    duties of children and adolescents in the

    country, public policies exist today to

    meet this portion of society, some

    theoretical and popular opinion.

    Keywords: Child. Teen. Family.

    Criminal Majority.

    1 Introduo

    O pas vive hoje uma discusso

    assdua em torno do tema criana e

    adolescente: de um lado crianas e

    adolescentes cada vez mais relacionados

    criminalidade, de outro, uma

    sociedade que cobra de seus

    governantes, providncias para que a

    violncia seja reduzida. Esta sociedade

    se mostra cansada em relao

    impunidade que existe para com esta

    parcela da sociedade.

    Neste trabalho, as autoras expem

    na sua primeira parte a Constituio

    Federal como diretriz no ordenamento

    jurdico brasileiro, o Estatuto da Criana

    e do Adolescente - ECA, principal

    organizador dos direitos e deveres desta

    parcela da sociedade e por fim, as

    Polticas Pblicas existentes hoje no

    Brasil, capazes de atender as

    necessidades desta demanda.

    No segundo item, apresentam as

    medidas scio-educativas presentes no

    ECA, assim como a justia restaurativa,

  • referenciais tericos, a opinio popular

    e a ao do Servio Social neste

    processo.

    Aps analisar a atual conjuntura

    em que o Brasil se encontra, avaliando

    as Polticas Sociais existentes, sua

    efetividade e as estatsticas

    apresentadas, por fim, as autoras

    apresentam uma discusso acerca da

    idia de reduzir a maioridade penal e as

    conseqncias que tal ato trar para a

    sociedade.

    2 Constituio Federal, o Estatuto da

    Criana e Adolescente ECA e as Polticas Pblicas

    Assim como a Constituio

    Federal de 1988 que rege o caminhar

    dos brasileiros e os situa na sua misso

    de cidado, o Estatuto da Criana e

    Adolescente ECA, institudo em 1990 contm direitos e deveres relacionados

    criana e o adolescente brasileiro,

    colocando tambm em sua funo de

    cidados, e a sociedade em geral,

    responsvel por zelar deste processo.

    Desta forma pode-se perceber em seu

    artigo 4 que,

    dever da famlia, da

    comunidade, da sociedade em

    geral e do poder pblico assegurar

    com absoluta prioridade, a

    efetivao dos direitos referentes

    vida, sade, educao, ao

    esporte, ao lazer,

    profissionalizao, cultura,

    dignidade, ao respeito, liberdade

    e convivncia familiar e

    comunitria. (CRESS/SP, 2006, p.

    118)

    Porm, o Estatuto em seus vinte e

    trs anos de exerccio, ainda no est

    sendo cumprido regra. Dessa forma,

    crianas e adolescentes brasileiros

    acabam por vtimas das prprias leis,

    que so violadas todos dos dias. Neste

    contexto, o Conselho Federal de Servio

    Social - CFESS enfatiza, ainda vivemos antagonismos na aplicao da

    lei, porque tambm vivemos os

    antagonismos que esto nas razes da

    sociedade brasileira calcada em

    profunda desigualdade. (CFESS, 2009) Muito mais do que a desigualdade

    social, so as profundas cicatrizes que a

    violao das leis abandona na

    sociedade. Sinais que tendem a se

    manifestar em um futuro prximo na

    vida destas crianas e posteriores

    adolescentes. Dentro desse contexto, a

    Constituio Federal apresenta,

    Art. 6 So direitos sociais a

    educao, a sade, a alimentao,

    o trabalho, a moradia, o lazer, a

    segurana, a previdncia social, a

    proteo maternidade e

    infncia, a assistncia aos

    desamparados, na forma desta

    Constituio. (CRESS/SP, 2006,

    p. 178)

    Estas Polticas Pblicas no

    chegam para todos os cidados

    brasileiros. Enquanto isso se tenta suprir

    sem sucesso essa insuficincia. Crianas

    que crescem em meio essa ausncia de

    polticas pblicas, sem estrutura alguma

    para que suas famlias garantam um

    futuro ntegro, so os adolescentes de

    amanh, que por muitas vezes acabam

    sem opo, sem escolha, a cair no

    mundo do crime e das drogas.

    Atualmente o tema criana e

    adolescente bastante discutido em

    nosso pas, principalmente quando se

    tratam dos seus direitos e deveres,

    sobretudo os deveres. Esse um tema

    que cresce cada vez mais nas redes

    sociais, na mdia e nas rodas de

    conversa em todo pas. Diante deste

    contexto, Veronese (2001) destaca:

    Nem sempre a criana e o

    adolescente tiveram sua imagem

    to divulgada na sociedade como

    nos ltimos anos. No entanto, isso

    devido a uma situao muito

    mais de lamento do que

    propriamente regozijo, como

    propaga o discurso poltico. O que

    outrora era esquivado pela

    maioria e abafado pelas quatro

    paredes da vida privada tornou-se

    pblico, e veio revelar as

    verdadeiras condies a que so

    submetidas muitas crianas e

  • adolescentes. (VERONESE, et al,

    2001, p. 9)

    Condizente com a autora, o

    Instituto Brasileiro de Geografia e

    Estatstica IBGE trs nmeros que descrevem exatamente essa criana e

    adolescente atualmente. No Brasil em

    2004 havia, aproximadamente 3,7 % da

    populao de menores de um ano de

    idade sem assistncia mdica que

    chegaram a bito; em 2007 existiam

    17,7 % de adolescentes entre 15 e 17

    anos sem frequentar a escola; 9,56 %

    das crianas e adolescentes trabalhavam

    no ano de 2008; em 2009 2,5% da

    populao chegaram ao bito por

    doena diarrica aguda, sinal que o

    saneamento bsico ainda no atingiu

    estes locais. Em 2011 existiam 8,6 %

    analfabetos com 15 anos de idade ou

    mais, 12,89 % das famlias brasileiras

    vivem com at um salrio mnimo

    enquanto 2,22 % declaram viver sem

    nenhum rendimento. O que se v que

    nos ltimos dez anos, o pas ainda sofre

    com a ausncia de polticas pblicas que

    alcancem todas as famlias brasileiras e

    assim garanta seus direitos mnimos.

    (IBGE, 2010)

    Nesta mesma perspectiva Brum

    (2013) destaca,

    Em 2012, mais de 120 mil

    crianas e adolescentes foram

    vtimas de maus tratos e agresses

    segundo o relatrio dos

    atendimentos no Disque 100.

    Deste total de casos, 68%

    sofreram negligncia, 49,20%

    violncia psicolgica, 46,70%

    violncia fsica, 29,20% violncia

    sexual e 8,60% explorao do

    trabalho infantil. (BRUM, 2013)

    O pas hoje conta com diversos

    servios contidos no Sistema nico de

    Assistncia Social SUAS, que devem atender essa populao com direitos

    violados, assim como o Centro de

    Referncia Especializado de Assistncia

    Social CREAS e os Servios de Acolhimento Institucional ou Famlia

    Acolhedora, espalhados por todo o

    Brasil.

    Estes servios, previstos tambm

    no ECA, em seu artigo 101, medidas de proteo, visam reestruturar a vida dessas crianas e adolescentes de forma

    que voltem s suas condies enquanto

    seres em desenvolvimento e que

    superem os efeitos que tal violao os

    causou. O ECA traz uma proposta

    notvel em seu contexto, onde crianas

    e adolescentes possuem direitos que

    devem ser contemplados sem prejuzo e

    deveres que precisam ser cumpridos de

    forma efetiva. Nos casos de infrao

    lei, por parte desta criana ser

    aplicadas medidas de proteo previstas

    no Estatuto, com o adolescente, as

    medidas scio-educativas, buscando que

    estes sejam reeducados e o erro

    reparado.

    Ainda, nesta perspectiva, destaca

    o CFESS,

    Por mais que avaliemos como o

    pas pode ter avanado com

    conquistas de polticas pblicas

    destinadas, sobretudo, parcela

    importante desse segmento com

    direitos brutalmente violados,

    como crianas e adolescentes em

    situao de trabalho infantil,

    abusados e explorados

    sexualmente, em cumprimento de

    medidas socioeducativas,

    necessrio pensar a efetividade

    destas. (CFESS, 2010)

    Muitos brasileiros expem a

    necessidade do adolescente arcar com

    as conseqncias de um ato infracional

    cometido por ele. Um grande nmero da

    populao defende que nada acontece a

    este adolescente e que no existe uma

    lei para puni-lo. Ao contrrio desta posio, o prprio ECA, traz,

    Art 126. Verificada a prtica de

    ato infracional, a autoridade

    competente poder aplicar ao

    adolescente as seguintes medidas:

    I - advertncia; II - obrigao de

    reparar o dano; III - prestao de

    servios comunidade; IV -

    liberdade assistida; V - insero

    em regime de semi-liberdade; VI -

    internao em estabelecimento

    educacional; VII - qualquer uma

  • das previstas no art. 101, I a VI.

    (CRESS/SP, 2006, p. 140)

    3 As medidas scio educativas e a

    ao do Servio Social e da Justia

    Existem meios para que o

    adolescente infrator seja no punido,

    mas reeducado a tal modo que o faa

    reconhecer seu erro. Contudo, podemos

    ressaltar que existem muitas falhas no

    Poder Judicirio, Ministrio Pblico e

    nas entidades responsveis pela

    aplicao das medidas scio-educativas,

    que permitindo que sobrem frestas neste

    processo, frestas estas que deixam de

    herana, feridas futuras e que muitas

    vezes no cicatrizam.

    O ECA traz em seu artigo 126,

    Antes de iniciado o procedimento

    judicial para apurao de ato

    infracional, o representante do

    Ministrio Pblico poder

    conceder a remisso, como forma

    de excluso do processo,

    atendendo s circunstncias e

    conseqncias do fato, ao

    contexto social, bem como

    personalidade do adolescente e

    sua maior ou menor participao

    no ato infracional. Pargrafo

    nico. Iniciado o procedimento, a

    concesso da remisso pela

    autoridade judiciria importar na

    suspenso ou extino do

    processo. (CRESS/SP, 2006, p.

    144)

    A remisso uma forma de

    perdoar o adolescente, visto que sua participao no ato tenha sido pequena

    ou at mesmo que seja algo de pequena

    importncia. Porm, mesmo que essa

    remisso venha seguida de uma medida

    scio-educativa como a advertncia por

    exemplo, a medida no tem um intuito

    educativo, onde o adolescente possa ser

    reeducado e reparar o dano que

    cometeu.

    Hoje conta-se tambm com a

    Justia Restaurativa, mtodo pouco

    utilizado ainda no Brasil, mas que

    possui um objetivo pedaggico bastante

    relevante. Este mtodo consiste em

    colocar a vtima de frente com o autor

    do ato infracional, onde a partir de uma

    mediao se busca com o encontro das

    partes envolvidas, uma soluo mais

    concreta dos fatos. Desta forma

    Brando (2013) destaca:

    Imbuda desse mister de reparar o

    dano causado com a prtica da

    infrao, a Justia Restaurativa se

    vale do dilogo entre as pessoas

    envolvidas no pacto de cidadania

    afetado com o surgimento do

    conflito, quais sejam, autor,

    vtima e em alguns casos a

    comunidade. Logo, so avaliada

    segundo sua capacidade de fazer

    com que as responsabilidades

    pelo cometimento do delito sejam

    assumidas, as necessidades

    oriundas da ofensa sejam

    satisfatoriamente atendidas e a

    cura, ou seja, um resultado

    individual socialmente teraputico

    seja alcanado. (BRANDO,

    2013)

    O que est faltando este

    processo teraputico-pedaggico, onde

    o adolescente possa reparar o dano em

    que cometeu, entender este ato como

    algo que prejudicou outra pessoa e que

    ele no tem o direito de praticar tal ato.

    Nesta mesma perspectiva, Cruz (2013)

    diz:

    A adoo do modelo restaurativo

    indica uma verdadeira forma de

    transformao, de uma real possibilidade de mudanas. um

    caminho para a concretizao da

    aceitao dos direitos humanos e

    do Estado Democrtico de

    Direito. (CRUZ, 2013)

    Quando este adolescente no

    compreende este erro, muitas vezes se

    torna reincidente na prtica cometida e

    assim verifica-se que o trabalho

    realizado pela justia no foi concludo

    de forma eficaz. Enquanto a justia

    continuar punindo sem reeducar, no

    acontecero mudanas significativas

    neste aspecto, sendo a idade deste

    adolescente qual for.

    Essas aes cometidas por

    adolescentes ganham mais repercusso

    quando so divulgadas especialmente

  • pela mdia, que acaba por escandalizar,

    sobretudo em casos que aprontam muita

    repercusso. A mdia televisiva em

    especial, com programas

    sensacionalistas e apelativos, que

    ridicularizam no s o adolescente, mas

    o cidado em geral, so os preferidos

    pela sociedade. Por este e tantos outros

    motivos, a reduo da maioridade penal

    de dezoito para dezesseis anos, vm

    sendo cada vez mais discutida no Brasil.

    O debate acerca do tema cria

    opinies bem divergentes entre aqueles

    que concordam com a reduo e os que

    discordam.

    Segundo Huguet (2007), temos h

    muito tempo diversas propostas que

    circulam no Senado Federal visando

    reduo da maioridade penal. Porm,

    aps o brutal assassinato de Joo Helio1,

    menino de seis anos que foi arrastado

    por mais de sete quilmetros em

    Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro o debate

    foi acalorado, tendo em vista, a grande

    comoo social e sentimentos de revolta

    que tomaram o pas.

    O assassinato do casal Liana

    Friedenbach e Felipe Caff2 por um

    adolescente de dezesseis anos em 2003

    na cidade Embu-Guau, tambm foi

    marcante na histria do pas onde a

    1 O caso refere-se ao crime ocorrido na noite de Sete de

    Fevereiro de 2007 onde, o menino Joo Hlio Fernandes

    Vieites foi assassinado aps um assalto, tinha seis anos de idade quando foi vtima da violncia na cidade do Rio de

    Janeiro. Os assaltantes arrastaram o menino preso ao cinto

    de segurana pelo lado de fora do veculo por sete quilmetros, passando pelos bairros de Oswaldo Cruz,

    Madureira, Campinho e Cascadura.

    2 Os namorados Liana Friedenbach, de 16 anos, e Felipe Silva Caff, de 19, foram vtimas de um crime ocorrido em

    Embu-Guau, na Grande So Paulo, em novembro de 2003.

    A jovem foi violentada sexualmente e torturada antes de morrer a golpes de facadas dados pelo menor Roberto

    Aparecido Alves Cardoso, o Champinha, na poca com 16

    anos. Felipe foi assassinado trs dias antes, com um tiro na nuca que teria sido disparado por Paulo Csar da Silva

    Marques, o Pernambuco. Mais trs pessoas foram presas

    acusadas de envolvimento no caso.Os dois jovens mentiram para os pais antes de viajar. Eles saram de casa em 31 de

    outubro de 2003 rumo a um stio abandonado em Embu-

    Guau, a cerca de 40 quilmetros da capital. Mas Liana disse que iria para Ilhabela, no litoral paulista, com um

    grupo de amigas. A famlia de Felipe acreditava que o rapaz

    estava acampando na companhia de colegas.

    jovem foi violentada sexualmente e

    torturada antes de morrer a golpes de

    facadas e seu namorado com um tiro na

    nuca.

    Outro caso recente aconteceu este

    ano e foi amplamente discutido em

    todas as partes do pas, onde um

    adolescente que iria completar dezoito

    anos a apenas trs dias do crime, matou

    Victor Hugo Deppman3, jovem de

    dezenove anos que foi assassinado em

    frente ao prdio onde residia na Zona

    Leste de So Paulo.

    Observa-se que os defensores da

    proposta de reduzir a maioridade penal

    acreditam que a soluo do problema da

    segurana pblica a priso, como se

    esta pudesse sanar ou reduzir a

    criminalidade, de tal modo cabe

    ressaltar que o adolescente no Brasil, j

    est sendo punido quando entra em

    conflito com a lei. Este adolescente

    possuindo doze anos completos, onde

    quer que se encontre, qualquer infrao

    que seja cometida por ele dever ser

    julgada pela Vara Especializada da

    Infncia e da Juventude e estar sujeito

    a vrias medidas conforme j citado.

    V-se que hoje ainda permanece,

    segundo o Cdigo Civil Brasileiro,

    sendo dezoito anos completos para

    responder civilmente, quanto para

    responder a crimes e ser julgado

    segundo o Cdigo Penal. Portanto

    qualquer cidado que no possuir

    dezoito anos completos na data em que

    cometer qualquer ato infracional, seja

    ele considerado grave ou no, dever

    ser enquadrado pelo Estatuto da Criana

    e do Adolescente ECA. Diante da problemtica exposta,

    analisaremos agora, a questo da

    maioridade penal prevista no ECA que

    3 O caso aconteceu em Nove de Abril deste ano. O jovem chegava ao edifcio, quando foi abordado por um

    adolescente de dezessete anos que exigiu a mochila do

    estudante. Segundo a polcia ele no reagiu e entregou o celular para o adolescente que logo disparou um tiro na

    cabea de Victor Hugo. A discusso se tornou muito

    presente principalmente na mdia tendo em vista que, esse adolescente iria completar dezoito anos a apenas trs dias do

    crime e assim sendo aplicadas as medidas trazidas pelo

    ECA, no qual prev no mximo trs anos de internao, deixando para aqueles que defendem a reduo da

    maioridade penal o sentimento de indignao e injustia.

  • em seu Artigo 104 descreve, So penalmente inimputveis os menores de

    dezoito anos, sujeitos s medidas

    previstas nesta Lei. (CRESS/SP, 2006, p. 138)

    Para Oliveira (2009), considera-se

    que este marco de dezoito anos para que

    fosse instituda a responsabilidade

    penal, levou em conta a questo do

    processo de maturao neurolgica e

    psicolgica dependendo do ambiente

    social onde se vive, tendo em vista que

    antes disso os adolescentes tm

    dificuldade de entender a

    irreversibilidade dos seus atos onde,

    pode-se explicar o seu comportamento,

    mas no justific-los.

    Apresentaremos assim, os

    argumentos mais comuns oferecidos em

    defesa da reduo, bem como, aqueles

    que so contras essa medida, a fim de

    esclarecermos opinies que na maioria

    das vezes so mitos e distores que

    geram em torno do tema, impedindo

    uma avaliao mais focada, isenta de

    pr-conceitos.

    Pesquisa realizada no estado do

    Paran publicada no site Gazeta do

    Povo em 15/07/2013, mostra que 90%

    da populao apiam a reduo da

    maioridade como se pode observar no

    grfico abaixo:

    Para Silva (2002), um dos argumentos

    utilizados pelos defensores desta

    reduo que grande parte da violncia

    praticada no pas de responsabilidade

    dos adolescentes. Porm verificamos

    que:

    De acordo com o Instituto Latino

    Americano das Naes Unidas

    para a Preveno do Delito e

    Tratamento do Delinquente ILANUD (2000, p.07), as

    estatsticas revelam que menos de

    10% dos atos infracionais

    registrados so de autoria de

    menores de 18 anos, invalidando

    a suposta responsabilidade. Deste

    percentual, 75% so

    infraes contra o patrimnio,

    50% so furtos e apenas 8% so

    crimes contra a vida (SILVA,

    2002).

    A partir dos grficos abaixo, pode-

    se ter uma maior noo de quem so os

    adolescentes que cometem atos

    infracionais, quem so suas famlias e o

    motivo pelo qual esto internados na

  • Fundao Casa. A pesquisa foi realizada

    em Maio de 2006, com cerca de

    1190 adolescentes. Na poca a

    instituio ainda se chamava FEBEM.

    SEXO

    Masculino

    96%

    Feminino

    4 %

    Fonte:http://www.fundacaocasa.sp.gov.

    br

    IDADE

    13 anos 1 %

    14 anos 2%

    15 anos 11%

    16 anos 22%

    17 anos 37 %

    18 anos ou mais25 %

    Fonte:http://www.fundacaocasa.sp.gov.

    br

    CONDIO

    Primrio 69 %

    Reincidente 29%

    Norespondeu 2%

    Fonte:http://www.fundacaocasa.sp.gov.

    br

    Verifica-se que o maior nmero de

    adolescentes internados do sexo

    masculino e possuem entre 16 e 18 anos

    de idade e na sua maioria so rus

    primrios, ou seja, foram internados

    pela primeira vez.

    QUALIFICAO DOS PAIS

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    Pai Me

    Servios e

    Vendedores

    Trabalho no

    qualificado

    Operrios

    Nivel

    intermedirio

    Falecido

    Outros

    NSNR

    Fonte:http://www.fundacaocasa.sp.gov.

    br

    QUALIFICAO DOS

    ADOLESCENTES

    Trabalhadores

    no qualificados

    86%

    Agricultores 6%

    Nivel

    intermedirio

    4%

    Administrativo

    1%

    Outros 1%

    Fonte:http://www.fundacaocasa.sp.gov.

    br

    Considerando os ltimos

    grficos, v-se que os adolescentes

    internados possuem em sua maioria,

    famlias cuja renda baixa, visto que os

  • seus pais esto em grande parte

    selecionados como assalariados, entre

    trabalhadores informais e auxiliar de

    servios gerais. Sabe-se que a

    remunerao para tais cargos no Brasil

    quase sempre um salrio mnimo, hoje

    este equivale a R$ 678,00.

    Certamente, existem adolescentes

    internados pertencentes a famlias de

    classe mdia alta e classe alta, que

    alcanam 3%, porm em sua maior

    parte, se reconhecem como classe mdia

    31% e se dizem pobres 33% dos

    entrevistados.

    Os adolescentes tambm j

    ocupavam cargos no mercado de

    trabalho. Grande parte deles no so

    qualificados para o trabalho. A partir

    desse dado, comprova-se a falta de

    oferta de servios para atender esta

    demanda.

    A pesquisa tambm apresenta

    dados como condies de moradia, se

    existiam saneamento bsico, total de

    eletrodomsticos existentes na

    residncia, escolaridade dos pais e dos

    adolescentes, principais meios de

    transportes utilizados, se existiam

    servios pblicos prximos as

    residncias, se algum da famlia

    cumpre pena, envolvimento com drogas

    etc.

    De forma geral, grande parte

    destes adolescentes vivia em periferias,

    afastados de servios pblicos. O maior

    nmero estava matriculado na escola,

    porm no freqentava as aulas com a

    freqncia desejada, entre os maiores

    motivos aparecem falta de interesse

    37%, ajuda e cuidados com a famlia

    17%, indisciplina 13%, e envolvimento

    com drogas/crime 12%.

    No grfico abaixo segue se no a

    maior, a mais importante informao

    que poucas pessoas sabem: os motivos

    que levaram a internao dos

    adolescentes.

    Roubo simples,qualificado eporte de arma51%Mdiagravidade 19%

    Crime contra avida, uso deviolncia 14%

    Sem declarao9%

    Furto 5%

    Outros 2%

    Desta forma define o autor:

    Roubo Simples, Qualificado e Porte

    de arma: Roubo simples (assalto),

    Roubo qualificado

    (assalto) e porte de arma.

    Mdia gravidade: Extorso,

    Descumprimento da medida, Dano,

    Ato obsceno, Violao de

    domiclio, Trfico de drogas, Ameaa,

    Receptao, Porte ou uso de drogas.

    Crime contra a vida, uso de violncia: Estupro, Atentado violento ao pudor,

    Sequestro e crcere privado,

    Latrocnio, Infanticdio, Homicdio

    doloso, Homicdio culposo.

    Sem declarao: Leso corporal.

    Furto: Furto. .

    Outros: Outros

    Diferente de como a grande

    parte da populao defende, os crimes

    contra a vida e uso de violncia no so

    os maiores atos infracionais cometidos

    por adolescentes. Na poca da pesquisa

    (ano de 2006) este motivo aparece em

    terceiro lugar, com apenas 14 %. Para o

    senso comum, os adolescentes so os

    maiores responsveis pela violncia

    existente hoje no pas, por este e outros

    motivos, defendem a reduo da

    maioridade penal como possvel soluo

    para diminuir a criminalidade no Brasil.

  • A argumentao que vai de

    encontro aos que defendem esta

    reduo, pode se destacar que para

    alcanar esta diminuio, a primeira

    mudana seria em relao

    Constituio Federal por violar uma

    clusula ptrea4. Outro fato a ser

    analisado o sistema prisional

    brasileiro, que se encontra em uma

    conjuntura onde presdios permanecem

    com lotaes e em sua maioria, sem

    condies de oferecer atendimento

    digno de vida para um ser humano que

    l est para ser reeducado.

    O servio oferecido pelo sistema

    prisional no momento serviria para os

    adolescentes como escolas para o mundo do crime, devido estar em

    contato com criminosos mais

    experientes e bem mais velhos de idade,

    ocasionando um contato no propcio

    reeducao deste adolescente, visto

    como um ser humano em fase de

    desenvolvimento.

    Para Marcus Vinicius, presidente

    nacional da Ordem dos Advogados do

    Brasil - OAB, muito melhor que reduzir

    a maioridade, seria o Estado garantir o

    cumprimento de efetivas Polticas

    Pblicas destinadas proteo da

    infncia e adolescncia, investimento

    em educao, lazer e atividades

    culturais.

    4 Porque no reduzir a maioridade

    penal.

    Em nota pblica divulgada em

    22 de Julho de 2013 sobre a reduo da

    idade penal e a ampliao do tempo de

    internao, o Conselho Federal de

    Servio Social - CFESS se manifesta de

    tal forma:

    O CFESS mantm seu

    posicionamento contrrio

    reduo da maioridade penal e ao

    aumento do tempo de internao,

    4 Clusulas ptreas so limitaes materiais ao poder de

    reforma da constituio de um Estado, ou seja, so dispositivos que no pode haver a alterao, nem mesmo por

    meio de emenda, tendentes a abolir as normas

    constitucionais relativas s matrias por elas definidas. (Fonte: Wikipdia, 2013).

    no momento em que chega ao

    Conselho Nacional dos Direitos

    da Criana e do Adolescente

    (Conanda) uma proposta

    articulada pelo Fundo das Naes

    Unidas para a Infncia (Unicef),

    representantes da Cmara Federal

    e juristas e, apoiada pela

    Secretaria de Direitos Humanos

    (SDH), conforme apresentada

    pela Ministra da pasta na ltima

    Assembleia Ordinria, 11 de julho

    de 2013. Estado e sociedade no

    podem ceder e/ou propalar apelos

    e interpretaes que,

    equivocadamente, remetem a

    adolescentes e jovens a

    responsabilidade pela escalada da

    violncia na sociedade. Significa

    ceder a uma viso social de

    mundo que afasta a questo do

    real contexto que a produz, uma

    sociedade que gera desigualdade e

    que tem mltiplas expresses da

    violncia, que faz com que ganhe

    lugar na grande mdia e nas

    estatsticas nacionais e, em

    polticas restritivas, quando o

    fenmeno meramente associado

    criminalidade. Temos, ento, o

    campo frtil para brotar e

    proliferar toda forma de

    preconceito e intolerncia de que

    adolescentes tm sido vtimas na

    condio de cumpridor de medida

    socioeducativa, inclusive no

    interior dos espaos da poltica.

    (CFESS, 2013).

    Diante do contexto exposto,

    faremos uma anlise sobre o processo

    educacional dos jovens e adolescentes,

    suas particularidades e desafios, sobre

    tudo quando falamos de jovens e

    adolescentes brasileiros.

    Falarmos que a juventude de hoje

    ser o futuro de um pas amanh

    muito banal. Nessa perspectiva pode-se

    afirmar que o tema juventude inseriu-se

    na pauta das polticas pblicas de tal

    forma, que trouxe diversos desafios,

    considerando que essa juventude deve

    ser tratada como sujeitos de direitos

    conforme exposto no ECA:

    Art 15. A criana e o adolescente

    tm direito liberdade, ao

    respeito e dignidade como

    pessoas humanas em processo de

    desenvolvimento e como sujeitos

  • de direitos civis, humanos e

    sociais garantidos na Constituio

    e nas leis. (CRESS/SP, 2006, p.

    120)

    Segundo Hofmeister (2007), a

    definio da juventude pode variar

    bastante de acordo com o critrio pelo

    qual ela for delimitada: faixa etria,

    gerao, papel social, identidade auto -

    atribuda, entre outros, onde qualquer

    um destes critrios para definir a

    palavra juventude nos transmite uma

    ideia de transio, de passagem entre a

    infncia e a vida adulta e que em geral,

    h uma tendncia de classificar como

    jovem a pessoa que tenha entre 15 e 24

    anos.

    Nesta perspectiva, Veronese

    (2001) diz:

    Na idade infantil ou adolescncia,

    o indivduo, pouco a pouco, vai

    construindo a sua bagagem

    histrica, apresenta grande

    vulnerabilidade quanto s

    influncias externas exercidas

    sobre ele, quanto formao e/ou

    informao que cumulativamente

    processa. Esses aspectos

    contribuem para a formao (ou

    deformao, a depender do seu

    histrico) de sua estrutura humana

    afetiva-emocional e

    consequentemente de sua

    personalidade, que nos ser

    revelada atravs de seu

    comportamento. (VERONESE,

    2001, p.85)

    V-se que no Brasil, os jovens

    tm como desafio sua insero no

    mercado de trabalho, onde a maior

    dificuldade tem sido superar o duelo

    entre o baixo nvel educacional onde, na

    maioria das vezes provocado pelo

    abandono escolar e altas taxas de

    repetncias, versus as condies. Nesse

    sentido Andrade e Neto (2009),

    destacam que:

    Embora se possa afirmar que,

    hoje o acesso e a permanncia dos

    jovens na escola no Brasil se

    apresentam mais democratizados,

    por conta da universalizao do

    acesso ao ensino fundamental na

    faixa estaria de 7 a 14 anos, que

    vm ocorrendo desde os anos

    1990, os processos vivenciados

    pela maioria dos jovens

    brasileiros e suas estratgias de

    escolarizao ainda expressam as

    enormes desigualdades a que est

    submetida essa faixa da

    populao. As trajetrias

    escolares irregulares, marcadas

    pelo abandono precoce, as idas e

    vindas, as sadas e os retornos,

    podem ser assumidas como

    importantes sinais de que

    diferentes grupos de jovens vivem

    e percorrem o sistema de ensino.

    Tal processo o indicador mais

    visvel da diversidade do acesso,

    da permanncia e do arco de

    oportunidades. O que parece estar

    dado, como direito, institudo e

    instituinte o direito educao para todos, no reflete,

    necessariamente, a realidade

    vivenciada por parcela

    significativa dos jovens

    brasileiros (ANDRADE; NETO,

    2009)

    Ressaltamos, que a falta ou

    ineficcia de programas ou projetos

    sociais voltados para a juventude no

    Brasil, tambm dificultam o processo

    educacional desses jovens, fazendo com

    que ociosos, troquem o tempo que

    poderiam estar inseridos em atividades

    scio-educativas, pela rua, longe de

    oportunidades e orientaes coniventes

    com suas necessidades. Tendo em vista

    que muitos constroem sua identidade

    em meio a um conflito cultural onde, de

    um lado existe uma acirrada cultura de

    consumo e de outro a cultura da

    violncia, que glamouriza o crime e faz com que o trfico de drogas seja no

    s um meio econmico, mas, uma

    forma de vida capaz de atender as

    necessidades desse consumo que

    insistentemente so bombardeados por

    uma srie de estmulos da mdia e afins.

    Mediante o histrico descrito

    nesse trabalho, que expe o processo no

    qual o adolescente est inserido na

    sociedade, seus direitos e

    principalmente seus deveres, as autoras

    se posicionam contra a hiptese da

    reduo da maioridade penal tendo em

    vista que essa medida no trar para a

  • sociedade solues plausveis. Esse

    processo poder acarretar uma srie de

    problemas, pois, no se tm uma viso

    de futuro e que no se percebe que essa

    medida s ir fazer com que a

    criminalidade aumente a mdio e longo

    prazo. Na medida em que um

    adolescente de dezesseis anos inserido

    no sistema prisional ele ser privado de

    ter acesso escola, a cultura, a relaes

    sociais e de tantas outras privaes.

    Alm disso, ter o estigma de ser um

    ex-presidirio.

    Acredito que se alcanssemos a eficcia de polticas pblicas esse tema

    no seria questionado, uma vez que,

    daramos oportunidade para aqueles que

    por algum motivo foram vitimizados

    durante a vida, instigando uma

    adolescncia afastada da prtica de atos

    infracionais, assim como somos

    marcados por desigualdades sociais,

    populaes vulnerveis e violaes de

    direitos. Por isso, entendo que no

    podemos aceitar passivamente a

    transferncia de responsabilidade

    apenas para adolescentes, como se tal

    medida fosse soluo para diminuir os

    ndices alarmantes de violncia na

    sociedade, descreve, Paula Salesse Monsani, Assistente Social do Centro

    de Referncia de Assistncia Social CREAS, de Andradina/SP.

    Deve-se considerar tambm que

    esse adolescente um sujeito de

    direitos, que deve ser respeitado em sua

    condio de pessoa em

    desenvolvimento e que estando em

    conflito com a lei ser atendido pelo

    Estatuto da Criana e do Adolescente -

    ECA em medida socioeducativa que

    tenha por finalidade sua reeducao.

    Para ter cometido tal ato fica evidente

    que houve alguma falha por parte do

    Estado, Famlia ou Sociedade nessa fase

    de sua educao.

    Se tivssemos cumprindo as polticas pblicas para este pblico com

    excelncia, no teramos essa discusso.

    Penso que o que deveria estar em pauta

    no Brasil so melhorias nos aspectos de

    sade, educao, profissionalizao e

    direito convivncia familiar e

    comunitria destes jovens, que em sua

    grande maioria so adolescentes

    oriundos de famlias em vulnerabilidade

    social, assim, com todos os seus direitos

    violados a sua nica alternativa o

    mundo do crime que atrativo e

    recompensa de acordo com as expectativas que almejam, j que a

    mdia muito contribui para introjetar

    neles o consumismo e o status, relata Silvana Cristina Rizzato, que trabalhou

    na Fundao Casa como Assistente

    Social durante oito anos.

    O grfico abaixo mostra que

    alguns anos se passaram e as estatsticas

    continuam apontando os adolescentes

    envolvidos com o crime. V-se que em

    2013 os nmeros de adolescentes

    encarcerados aumentou 32,% e nem por

    isso o ndice de violncia no pas

    diminuiu, visto que em sua maioria,

    estes adolescentes esto cumprido

    medida por trfico de drogas 41,8% e

    por roubo 44,1%. Homicdios e

    Latrocnio (roubo seguido de morte)

    no apontam nem 1% dos motivos.

    Portanto, confirma-se mais uma vez que

    os adolescentes no so os maiores

    responsveis pela violncia e crimes

    hediondos no Brasil.

  • Diante dos fatos acima expostos,

    importante destacar que o Sistema

    Nacional de Atendimento

    Socioeducativo SINASE, institudo em 2012, tem um papel fundamental no

    que se refere garantia de direitos dessa

    populao, considerando que esta lei,

    fortalece o Estatuto ao determinar

    diretrizes claras e especficas para a

    execuo das medidas socioeducativas

    por parte das instituies e profissionais

    que atuam nesta rea.

    O SINASE assegura que em

    qualquer processo de apurao de ato

    infracional cometido por um

    adolescente at a execuo de medida

    socioeducativa, deve-se seguir um

    conjunto de princpios de regras e

    critrios de carter jurdico poltico,

    pedaggico, financeiro e administrativo.

    Outra questo a situao do

    sistema carcerrio no Brasil, onde no

    possvel enxergar na atual conjuntura a

    possibilidade de um trabalho de

    reinsero dos indivduos na sociedade.

    O cenrio mostra cada vez mais a

    superlotao nos presdios e condies

    de vida desumanas. A incluso de

    adolescentes infratores nesse sistema

    no s tornaria o problema mais catico

    como a chance de reincidncia dos

    mesmos s tende a aumentar.

    Para Taiguara Souza, integrante

    da Campanha contra a Reduo da

    Maioridade Penal, medidas como a reduo da idade penal e aumento da

    internao de menores infratores

    seguem a lgica de criminalizar a

    juventude pobre. Para ele, a melhor sada seria cumprir efetivamente o

    Estatuto da Criana e do Adolescente

    (ECA), intensificar as polticas sociais e

    aumentar as medidas scio-educativas

    ao invs das penas de recluso. Defende

    que, s iremos impedir que eles

    cometessem atos infracionais se

    resgatarmos sua cidadania.

    Se ns formos analisar com calma

    a questo, dados do prprio

    governo federal mostram que do

    total das crianas e dos

    adolescentes do pas, apenas 0,2%

    j cometeu algum tipo de ato

    infracional. E destes, 73%

    cometeram crime contra o

    patrimnio e no crime contra a

    vida. Ento, para ns, defender a

  • reduo da idade penal como

    soluo para a violncia no

    adianta, porque o problema da

    violncia um problema

    social. MANSUR (2007).

    Portanto, ao analisar esse

    contexto, conclui-se que, talvez o pas

    esteja vivendo um momento em que a

    juventude brasileira necessite mais de

    ateno e cuidados especiais, do que

    infinitos julgamentos. Ao invs de se

    pensar sobre a reduo da maioridade

    penal, o grande desafio criar polticas

    pblicas e principalmente projetos

    sociais que proporcionem aos jovens a

    efetivao de direitos como a educao,

    o lazer, a sade, o esporte dentre outros

    previstos no ECA, visto que em vinte e

    trs anos aps sua criao no consegue

    ser efetivado, ressaltando que a garantia

    desses depende da articulao e

    integrao das redes de atendimento e

    que esse jovem precisa ser moldado e

    preparado para a vida em sociedade,

    para o trabalho, enfim, para situaes

    que transformam e determinam a sua

    histria de vida.

    5 Concluso

    V-se que o tema discutido

    bastante polmico e passvel de longas

    discusses. H um impasse muito

    grande entre os que trabalham

    diariamente com esta populao,

    vivenciando e conhecendo todas as

    dificuldades existentes e aqueles que

    acompanham somente pela opinio

    popular, mdia ou redes sociais.

    Pesquisando sobre o tema vemos

    que apenas reduzir a idade penal no

    resolveria o problema que vivenciamos

    acerca da violncia, apenas estaramos

    transferindo um problema do Estado

    para ele mesmo, sem grandes

    mudanas. Tiraramos o adolescente de

    uma zona de risco o colocando em

    outra, j que ficaria exposto a conviver

    com adultos em penitencirias

    superlotadas.

    A partir das estatsticas,

    comprovamos que o adolescente no

    nico o responsvel pelos altos ndices

    de violncia que presenciamos todos os

    dias no Brasil. Na verdade, a criana e o

    adolescente brasileiro acabam

    vitimizados, uma vez que o Estado, a

    famlia e a sociedade no arcam com

    suas responsabilidades em efetivar as

    leis que os conduzem.

    Por fim, vemos que o problema

    muito mais social e poltico; e s poder

    ser resolvido com interveno de um

    Estado que oferea poltica pblica de

    qualidade que ao invs de expor o

    adolescente ao crime, seja efetiva para

    no deix-lo exposto, ocioso e

    desamparado, preservando e garantindo

    seu desenvolvimento de forma segura e

    com opes de vida digna.

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