a linguagem ministerial e a organizacao dos ministerios nas igrejas de paulo

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5/21/2018 ALinguagemMinisterialeaOrganizacaoDosMinisteriosNasIgrejasdePaulo- ... http://slidepdf.com/reader/full/a-linguagem-ministerial-e-a-organizacao-dos-ministerios-nas-i A LINGUAGEM MINISTERIAL E A ORGANIZAÇÃO DOS MINISTÉRIOS NAS IGREJAS DE PAULO 1  Introdução Assumiremos neste percurso a tradicional divisão do epistolário paulino, sem nos deter com a questão da autenticidade. Neste sentido, guiar-nos-á uma empatia canónica (não canonista) a esta porção do texto bíblico, como aliás tem vindo a ser apanágio de algumas escolas de leitura sincrónica do texto bíblico. No entanto, não poderemos esquecer que dentro do N.T. existe mais do que uma tradição, há uma pluralidade de tradições que não são contemporâneas umas das outras. Há uma evolução interna aos escritos neo- testamentários. Pelo que, e numa matéria por vezes tão delicada quanto a questão dos ministérios na Igreja, não é possível prescindir da digressão diacrónica (não anacrónica) ao longo deste epistolário, nem do confronto canónico mais global com o restante texto do N.T. Esta peregrinação textual será sempre guiada por uma questão que ainda não encontrou uma resposta cabal, a saber, qual o valor, o peso e o lugar a dar ao carácter cultural indiscutível de muitas opções pastorais da Igreja nascente. Terão aquelas opções culturais, culturalmente localizáveis no tempo e no espaço, carácter definitivo e/ou normativo ? Afigura-se viável constatar como num contexto cultural concreto Paulo e as suas comunidades começaram a estruturar-se de acordo com as necessidades e as possibilidades dos recursos humanos à disposição. Ora, este processo não foi linear, nem o é hoje e não se sabe se o será algum dia. Passou por algumas tentativas, umas que fracassaram, outras 1  Da vastíssima bibliografia salientamos somente a título geral e introdutório Pierre GRELOT – “La structure ministérielle de l’Église d’après saint Paul : à propos de l’Église de H. Küng”,  Istina 15 (1970) 389-424; IDEM – “Sur l’origine des ministères dans les églises pauliniennes”,  Istina 16 (1971) 453-469; IDEM –  Les Ministères dans le Peuple de Dieu. Lettre à un théologien, Paris, Cerf 1988; J. COLSON – “Désignation des ministres dans le Nouveau Testament”,  La Maison-Dieu 102 (1970) 21-29; H. RIESENFELD –  Le ministère dans le Nouveau Testament. In Unité et diversité dans le Nouveau Testament  [= LD 98], Paris, Cerf 1979, 125-172; R. PESCH – “Structures du ministère dans le Nouveau Testament”,  Istina 16 (1971) 437-452; André LEMAIRE – Les Ministères aux origines de l’Église  [= LD 68], Paris, Cerf 1971; IDEM – “De los servicios a los ministérios. Los servicios eclesiales en los dos  primeros siglos”, Concilium 80 (1972) 471-486; Jean DELORME (ed.) –  Le Ministère et les ministères  selon le Nouveau Testament , Paris : Seuil 1974; Albert VANHOYE – “Le ministère dans l’Église. I. Les données du Nouveau Testament”,  NRT  104 : 5 (1982) 722-738; IDEM (ed.) –  L’Apôtre Paul :  personalité style et conception du ministère [= BETL 73], Louvain 1986; Raymond E. BROWN –  Las  Iglesias que los Apóstoles nos dejaron, Bilbao, Desclée 1998, 3ª edição (original inglês de 1983).

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  • A LINGUAGEM MINISTERIAL E A ORGANIZAO DOS MINISTRIOS NAS

    IGREJAS DE PAULO1

    Introduo

    Assumiremos neste percurso a tradicional diviso do epistolrio paulino,

    sem nos deter com a questo da autenticidade. Neste sentido, guiar-nos- uma

    empatia cannica (no canonista) a esta poro do texto bblico, como alis

    tem vindo a ser apangio de algumas escolas de leitura sincrnica do texto

    bblico. No entanto, no poderemos esquecer que dentro do N.T. existe mais

    do que uma tradio, h uma pluralidade de tradies que no so

    contemporneas umas das outras. H uma evoluo interna aos escritos neo-

    testamentrios. Pelo que, e numa matria por vezes to delicada quanto a

    questo dos ministrios na Igreja, no possvel prescindir da digresso

    diacrnica (no anacrnica) ao longo deste epistolrio, nem do confronto

    cannico mais global com o restante texto do N.T. Esta peregrinao textual

    ser sempre guiada por uma questo que ainda no encontrou uma resposta

    cabal, a saber, qual o valor, o peso e o lugar a dar ao carcter cultural

    indiscutvel de muitas opes pastorais da Igreja nascente. Tero aquelas

    opes culturais, culturalmente localizveis no tempo e no espao, carcter

    definitivo e/ou normativo ? Afigura-se vivel constatar como num contexto

    cultural concreto Paulo e as suas comunidades comearam a estruturar-se de

    acordo com as necessidades e as possibilidades dos recursos humanos

    disposio. Ora, este processo no foi linear, nem o hoje e no se sabe se o

    ser algum dia. Passou por algumas tentativas, umas que fracassaram, outras

    1 Da vastssima bibliografia salientamos somente a ttulo geral e introdutrio Pierre GRELOT La structure ministrielle de lglise daprs saint Paul : propos de lglise de H. Kng, Istina 15 (1970) 389-424; IDEM Sur lorigine des ministres dans les glises pauliniennes, Istina 16 (1971) 453-469; IDEM Les Ministres dans le Peuple de Dieu. Lettre un thologien, Paris, Cerf 1988; J. COLSON Dsignation des ministres dans le Nouveau Testament, La Maison-Dieu 102 (1970) 21-29; H. RIESENFELD Le ministre dans le Nouveau Testament. In Unit et diversit dans le Nouveau Testament [= LD 98], Paris, Cerf 1979, 125-172; R. PESCH Structures du ministre dans le Nouveau Testament, Istina 16 (1971) 437-452; Andr LEMAIRE Les Ministres aux origines de lglise [= LD 68], Paris, Cerf 1971; IDEM De los servicios a los ministrios. Los servicios eclesiales en los dos primeros siglos, Concilium 80 (1972) 471-486; Jean DELORME (ed.) Le Ministre et les ministres selon le Nouveau Testament, Paris : Seuil 1974; Albert VANHOYE Le ministre dans lglise. I. Les donnes du Nouveau Testament, NRT 104 : 5 (1982) 722-738; IDEM (ed.) LAptre Paul : personalit style et conception du ministre [= BETL 73], Louvain 1986; Raymond E. BROWN Las Iglesias que los Apstoles nos dejaron, Bilbao, Descle 1998, 3 edio (original ingls de 1983).

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    que se estabeleceram ou fixaram com o tempo. Por isso, acompanhar-nos- a

    questo de saber se possvel anacronizar completamente esta digresso

    diacrnica, como alguns grupos dentro da Igreja tentam fazer. Ter ainda

    algum sentido a preocupao mesma, ou o interesse, com a questo dos

    ministrios na Igreja, quando actualmente a teologia no se detm sobre tal

    assunto, concentrando-se principalmente nos temas centrais e essenciais f,

    como so os casos da teologia trinitria e do imprescindvel dilogo com a

    cultura e com a filosofia ps modernas ? Ser correcto por parte da reflexo

    crist no considerar a organicidade da prpria vida em comunidade eclesial,

    isto , no se deter com a organizao da prpria casa no s no campo mais

    prtico mas em primeiro lugar na ingente tarefa e sempre necessria da

    reflexo sobre a f ? Mas no ser isso um sinal de sade teolgica ? Na

    verdade, continua uma questo com interesse para as prprias comunidades

    crists, na medida em que por ela se reflecte e nela reflecte a comunho

    eclesial dos filhos de Deus, de todos os baptizados, nesta nossa cultura do

    individualismo exacerbado, do recentramento subjectivista sobre o indivduo,

    nesta ps-modernidade autista aos apelos e aos sinais da comunidade e do

    bem comum, em que o rosto do outro que em si mesmo o fim e o objectivo

    dos ministrios e de qualquer ministrio, isto , de qualquer servio - foi, e

    tem vindo a ser escalpelizado do seu semblante2.

    Alertados para as temticas que aqui nos ocupam, importa situar a

    reflexo, para iniciar, nos horizontes teolgicos, nessas balizas por onde

    passar a discusso e a digresso. Inspirados pelo Conclio, a reflexo

    acontecer no s dentro do texto bblico (isso seria um biblicismo o que

    sempre redutor) mas dentro da teologia ps conciliar de comunho mesma.

    Neste sentido, a revisitao dos textos paulinos (onde se inclui para fins

    eminentemente histricos a segunda parte do livro dos Actos) ser

    enquadrada pela concepo da Igreja como povo de Deus tal como

    transparece no cap. III da L.G., numa viso sacramental e simblica do mistrio

    de comunho da Igreja (L.G. 1, 9, 48; G.S. 42, 45)3. Os ns 10, 11, 31, 34 da

    2 Para uma reflexo sobre o lugar do rosto humano na filosofia contempornea ver Emmanuel LVINAS tica e Infinito, Lisboa : Edies 70, 1988, 77-93. 3 Cf. Medard KEHL La Iglesia. Eclesilogia catlica, Salamanca : Sgueme 1996, 67 (original alemo de 1992); Manuel SANCHEZ MONGE Eclesiologia. La Iglesia, misterio de comunin y mision [= Sntesis 2/5], Madrid : Atenas 1994, 39.83.

  • 3

    L.G. ajudaro a situar no dilogo entre o sacerdcio comum dos fiis e o

    sacerdcio dito ministerial. A Diocese enquanto espao e enquanto Igreja local

    (C.D. 11), com as suas tradies, liturgias, costumes e culturas afigurar-se-

    como um espao ainda de possvel criatividade. Mas ser que as comunidades

    paulinas no dizem tambm Igreja universal que no h dificuldade nem que

    mostrar reticncias inovao ? Finalmente, L.G. 32 permite que a reflexo

    no se desvie de uma correcta e sadia teologia da Igreja. Nesta via, ser ento

    possvel descortinar como existiu e existir sempre, j desde o epistolrio

    paulino, uma unidade ontolgica e de misso na Igreja, o mesmo dizer, que

    na Igreja a sua natureza coincide com a sua misso.

    No ser por isso vivel adoptar uma perspectiva apologtica na

    discusso sobre a teologia e os ministrios na Igreja e nas Igrejas paulinas em

    particular. No se pretende com este percurso justificar as opes

    contemporneas, nem ao invs justificar as opes de Paulo e dizemos isto

    porque nem todas prevaleceram.

    Este percurso dividir-se- em duas partes. Na primeira tentar-se-

    concordancialmente extrair os dados bblicos do epistolrio paulino. Ser uma

    parte mais analtica. Antes de perspectivar uma viso panormica do conjunto

    dos escritos paulinos, importa contemplar a paisagem textual tal como ela est

    e chegou at ns. Na segunda parte, consagrada reflexo sobre esta

    paisagem, tentar-se- j um esboo dessa anlise, visando sobretudo

    encontrar alguma evoluo histrica na concepo do(s) ministrio(s) ao longo

    das viagens missionrias de Paulo, bem como a evoluo da prpria linguagem

    ministerial, de molde a definir quais os conceitos ou servios que prevaleceram.

    Apesar disto, no se pode esquecer que este percurso circunscrito tradio

    paulina, uma dentro do N.T. Isto no significa que no tenha sido fundamental

    na evoluo da prpria estruturao eclesial inicial. Mas enquanto tradio

    tambm ela circunscrita no tempo, uma palavra (das primeiras) dentro da

    grande Tradio Apostlica4. E essa comeando em Jesus e nos discpulos

    continua para depois de Paulo. A nossa situao actual no se compreende s

    a partir dos testemunhos paulinos, sejam eles proto, deutero, ou trito-paulinos.

    Neste sentido, estamos longe da luteranizao da leitura do texto bblico neo-

    4 Cf. Pierre GRELOT La Tradition Apostolique. Rgle de foi et de vie pour lglise, Paris : Cerf 1995, 49.144.

  • 4

    testamentrio, que isola o leitor diante do texto (seja ele bblico ou no). Na

    lucidez do dominicano Duquoc,

    lamentavelmente persiste um mal entendido entre catlicos e

    protestantes sobre a ideia da fundao do ministrio por Jesus

    Cristo. Os protestantes indignam-se porque no encontram em

    nenhum lugar a atestao escriturstica na Igreja primitiva de uma

    organizao eclesistica que corresponda quela da Igreja catlica

    actualmente. Os catlicos surpreendem-se que numerosos

    protestantes utilizem a diversidade atestada de ministrios para

    denunciar o seu carcter secundrio. Este mal entendido poderia ser

    resolvido se, tal como na constituio Lumen Gentium, o ministrio

    se inscrevesse como necessidade do povo, em razo mesmo da sua

    convocao a um destino inesperado por Cristo no Esprito. Imaginar

    o ministrio fora do povo de Deus, precedendo-o ou assegurando a

    sua fundao, esquecer a dialctica sem cronologia defendida pela

    Lumen Gentium....5

    Efectivamente, os sacramentos, e o ministrio, no so essa foi a

    perspectiva de E. Schillebeeckx causadora de convulso6 na exegese e na

    teologia um direito da Igreja7, mas a realidade mesma do ser da Igreja

    enquanto povo inesperadamente colocado diante de uma Promessa na fora

    do Esprito do Senhor Jesus ressuscitado, pois nele(s) Deus faz da multido

    um povo de esperana.

    Neste contexto, metodologicamente, para alm de enveredar por um

    tratamento meramente histrico-crtico da questo, necessrio o

    enquadramento cannico da mesma enquanto estes textos so inspiradores

    para as comunidades crentes, para a Igreja destes incios de milnio. Mas no

    se pode partir da eclesiologia do sc. II d.C. (o que extravaza o mbito deste

    percurso) para reler retrospectivamente os dados do N.T., como se se pudesse

    fazer uma leitura na relao implcito-explcito, como se a eclesiologia actual e

    5 Christian DUQUOC Je crois en lglise. Precarit institutionnelle et Rgne de Dieu, Paris, Cerf 1999, 165. 6 Cf. E. SCHILLEBEECKX Kerkelijk amt. Voorgangers in de gemeente van Jezus Christus, 2 ed., Bloemendaal, H. Nelissen 1980, 56-60. 7 Ver a resposta de Albert Vanhoye em A. VANHOYE Le ministre dans lglise. I., 722.736

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    a de Ireneu fossem totalmente detectveis pelo menos incoativamente no N.T.,

    e no caso particular das Igrejas paulinas. Ao invs, necessrio partir da

    teologia dos ministrios de cada escrito de Paulo ou da sua escola para a partir

    da exaurir as novidades, os princpios orientadores, mas no a prova

    eclesiolgica, como se fosse vivel e totalmente lgico que a eclesiologia

    desde o sc.II d.C. estivesse em perfeita harmonia com as instituies

    fundadoras e normativas do N.T8. Efectivamente, permanecem alguns

    silncios. Por isso, como j foi referido, no basta a anlise literria das cartas

    do epistolrio paulino de forma pura e simples. imperioso no romancear as

    lacunas do N.T., no defraudar os limites da realidade das comunidades

    paulinas, no seio de cujas crises nascem os primeiros ministrios, s quais eles

    mesmos tentam responder.

    1. A crise actual dos ministrios e o N.T.

    Assiste-se desde o Conclio a uma crise na concepo dos prprios

    ministrios resultante tambm da revisitao textual neo-testamentria9,

    sobretudo na constatao de uma grande inventividade. Essa crise chegou

    inclusiv prpria terminologia, para j no falar na surpresa causada mesmo

    diante de opes de vida de radicalidade por amor do reino dos cus. Nesta

    era da globalizao, mas paradoxalmente do mais feroz e desumano

    individualismo, por vezes dificilmente compreensvel a vida comunitria

    eclesial na diversidade dos seus ministrios, onde tm lugar essas opes de

    vida em radicalidade evanglica10. A cultura ministerial dos discpulos de Jesus

    esta cultura de servio e de servios gratuitos de anncio do Evangelho de

    Jesus afigura-se ento na nossa contemporaneidade no como cultura mas

    muitas vezes como contra-cultura11 face burocratizao hodierna que atinge

    at vrias Igrejas no norte da Europa12. A Igreja passa actualmente por uma

    8 Cf. Hermann HAUSER - Lglise lge Apostolique, [= LD 164], Paris, Cerf 1996, 14. 9 Cf. R. LAURENTIN La crisis actual de los ministerios a la luz del Nuevo Testamento, Concilium 80 (1972) 443. 10 Cf. Medard KEHL Kirche und Orden in der Kultur der Moderne, Geist und Leben 3 (2001) 180-192 (181.183). 11 Cf. Hubertus BRANTZEN Lebenskultur des Priesters. Ideale-Enttuschungen-Neuanfnge, Freiburg im Br., Herder 1998, 24-25. 12 Cf. Medard KEHL Kirche als Dienstleistungsorganisation , Stimmen der Zeit 125 (2000) 389-400.

  • 6

    neue Weltzuwendung 13. Ela mesma est em Umbruch 14, o que a obriga a

    repensar-se a si mesma. A crtica da linguagem e da modernidade adoptou

    uma nova conceptualizao para o ministrio sacerdotal. Hoje fala-se em dons,

    em carismas, em talentos, em funes, concebe-se o ministrio ordenado

    como uma mera funo ou um simples servio15. A figura sacerdotal ministerial

    tem vindo a diluir-se nesta profuso de tarefas, que esgotam humanamente os

    servidores do Evangelho, amortecendo o prprio carisma que receberam e a

    especifidade da misso que resulta da sua vocao ao sacerdcio ministerial.

    Desta forma perde-se a ligao ao sacerdcio de Cristo bem como a

    responsabilidade representativa sacerdotal pelos outros e pelo todo da nossa

    aldeia global16. Todavia, a crtica da sociedade secularizada tem razes mais

    profundas. Como bem intuiu J. B. Metz, a crise da Igreja hoje o eco da crise

    de Deus no mundo contemporneo17, desse Deus de Quem ela tenta ser sinal

    e sacramento eficaz de salvao (L.G. 1), mas essa tarefa torna-se ingente e

    rdua num tempo em que Deus parece ter sido expulso do paraso, ou pelos

    menos do horizonte de compreenso de muita da nossa contemporaneidade18.

    Este esforo de organizao, de ordenao, e de especificao

    encontra-se de forma intensa tambm nas comunidades fundadas por Paulo.

    H neste ambiente e nesta prtica uma grande semelhana, pois as

    comunidades paulinas so igualmente sujeitas renovao, distncia de

    Jerusalm, sobrevivncia aps a morte dos apstolos, diasporizao do

    anncio do reino de Deus, ao confronto com outra cultura. O encontro com o

    mundo romano e helnico fermento no de revoluo, mas de imaginao, se

    bem que sempre da tradio recebida dos apstolos e em fidelidade ao dom da

    f pascal recebida. O ano passado, numa conferncia em Viena, o conhecido

    investigador da Universidade de Boston - Peter Berger - afirmava com razo,

    apoiando-se precisamente na evidncia das analogias, no obstante as

    devidas nuances, que os nossos dias so outra vez dias de uma cultura neo-

    13 Cf. Gisbert GRESHAKE - Priester sein in dieser Zeit, Freiburg-Basel-Wien, Herder 2000, 21 14 Cf. Gisbert GRESHAKE, 203. 15 Cf. Gisbert GRESHAKE, 41. 16 Cf. Oswald von NELL-BREUNING Verantwortung fr das ganze im Kontext der Weltgesellschaft. In Franz BCKLE-Franz Josef STEGMANN (hrsg.) Kirche und Gesellschaft heute. Franz Groner zum 65. Geburtstag, Paderborn, Ferdinand Schning 1979, 115. 17 Cf. Johann Baptist METZ Gotteskrise Kirchenkrise. Eine theologische und spirituelle Analyse. In Stephan PAULY (hrsg.) Kirche in unserer Zeit, Stuttgart, Kohlhammer 1999, 59-61. 18 Cf. Stephan PAULY Der ferne Gott in unserer Zeit, Stuttgart 1998, 146-159

  • 7

    helenista19, politesta em termos religiosos e em termos ticos, cuja marca

    principal o pluralismo intensivo20. Os nossos so assim dias semelhantes aos

    de Paulo.

    Por tudo isto, certos dados do N.T. tornaram-se hoje

    surpreendentemente inteligveis no contexto cultural em que a Igreja tenta

    actualmente desempenhar a sua misso. No N.T. vamos encontrar vrios

    ministrios ao servio de pequenas comunidades, pequenas no nmero e na

    extenso : dirigiu-se a casa de Maria....onde numerosos fiis estavam

    reunidos a orar (Act 12,12). Paulo permaneceu dois anos inteiros no

    alojamento que alugara e onde recebia todos os que o procuravam (28,30, cf.

    1 Cor 16,19; Col 4,15). O desenvolvimento das comunidades de base a partir

    sobretudo da teologia da libertao nos anos 60 foi nisso bastante semelhante.

    Este desenvolvimento pode-se considerar hoje ainda inacabado, pois em

    muitas regies inspitas do planeta, e face progressiva rarefaco do clero e

    do nmero de candidatos ao sacerdcio ordenado, coloca-se a necessidade

    mais uma vez de encontrar como e quem organiza a comunidade crist. No

    N.T. os ministrios no tm um carcter clerical, o que at nos poder

    surpreender se tivermos em conta que nos anos 80 (e de uma forma geral

    ainda hoje) algumas comunidades eclesiais (e a Igreja no seu conjunto) eram

    (e so) acusadas ainda de falta de desclericalizao. Os ministrios nas Igrejas

    paulinas tambm no possuam um carcter sacerdotal (sacerdotal este

    entendido maneira vetero-testamentria). Por outro lado, parece que no se

    punham nestas comunidades os problemas nossos actuais volta da

    discusso sobre o sacerdcio no masculino ou no feminino.

    Como alis j foi referido, assim colocadas as questes, estas no

    podero iludir quanto ao carcter histrico e evolutivo das mesmas, mesmo

    dentro do prprio N.T. No convm esquecer que a deteco desta evoluo

    levou o prprio Lutero praticamente recusa da canonicidade das cartas

    Pastorais. Ento percebe-se j que a questo dos ministrios, no que toca ao

    N.T. e no caso presente s cartas paulinas, uma temtica breve, pois

    aparece aqui apenas nos seus primrdios, sem grandes evolues ou

    19 Cf. Peter BERGER Sinnsuche in einer Zeit der Globalisierung. Stimmen der Zeit 218 (2000) 806. 20 Cf. Peter BERGER, 807.

  • 8

    sistematizaes. Na verdade, o epistolrio paulino detm-nos durante um

    espao de tempo relativamente curto. Alm disso, heterogneo.

    O N.T. vive uma fase extraordinria de misso onde a multiplicidade de

    ministrios fruto de uma intensiva experincia espiritual21. Os escritos

    paulinos so sobretudo pastorais, para responder a necessidades das

    comunidades22 ou para responder a alguma dificuldade doutrinal. Querer isto

    dizer que se pode sem mais ingenuamente copiar os moldes organizativos e

    ministeriais do N.T. ? A complexidade da situao eclesial actual exige que se

    olhe para o N.T. como modelo inspirador, mas sempre como modelo23. No

    entanto, apesar de modelo, apresenta em si um princpio orientador

    irrenuncivel a comunho dos vrios ministrios como bem inturam os

    padres conciliares no Vat. II. Aqui se jogar o balano, o equilbrio entre os

    vrios servios na e para a Igreja. E a teologia dos ministrios no tem que ter

    medo desta tenso, pois ela persistir sempre. A Igreja ser sempre desafiada

    nesta busca de si mesma, do seu mistrio.

    Para alm da actividade missionria em que nasce, o N.T. est marcado

    por isso mesmo e pelo facto de estar nos seus incios pela criatividade e

    pela pluralidade. Jesus no fundou uma ordem religiosa com um estatuto

    acabado, lmpido e puro, decantado, impecvel, intocvel, eterno, perfeito.

    Deixou Igreja a liberdade de se organizar. Neste sentido, as origens so uma

    tentativa, por vezes titubeante, de encontrar critrios, caminhos. Repare-se que

    os Doze elegem Matias antes do Pentecostes sorte, e a sorte caiu sobre

    Matias (Act 1,26), mas depois nunca mais se preocupam em completar o

    nmero Doze. Com o passar dos anos no sc. I da nossa era, a Igreja vai

    mudar muito rapidamente. Basta notar que no se v que os 72 discpulos

    enviados por Jesus dois a dois para a misso no incio da subida para

    Jerusalm (Lc 10,1-12) tenham sido perpetuados como tais ou que tenham

    adquirido algum estatuto ou estabilidade nas comunidades de Paulo.

    Neste contexto, os ministrios que vamos encontrar nas Igrejas

    primitivas de Paulo afiguram-se sobretudo como ministrios funcionais24,

    realizados em vista das necessidades e dos acontecimentos, com a assistncia

    21 Cf. Karl KERTELGE Amt, In LThK I (1993) 546. 22 Cf. Annie JAUBERT Les pitres de Paul : le fait communautaire. In Jean DELORME, 17.28. 23 Cf. Hermann HAUSER , 169. 24 Cf. R. LAURENTIN, 448.

  • 9

    do Esprito. Tal o caso do primeiro ministrio cuja criao conhecemos dos

    sete que durante muito tempo foram assimilados aos primeiros diconos

    (Act 6,1-3). Mas todos estes ministrios no so apresentados como simples

    funes em si mesmos. Muitos dos que so escolhidos so-no pela clareza e

    ortodoxia doutrinal. A sua eleio cujo gesto da imposio das mos no ter

    ainda todo o peso que hoje lhe damos tende a adquirir estabilidade e alcance

    universal. Na verdade, Paulo envia emissrios para comunidades longnquas.

    As necessidades e as funes no se circunscrevem apenas ao mbito local,

    mas so reconhecidas por outras comunidades. Porquanto, aqueles que levam

    a colecta para Jerusalm so a recebidos como se do apstolo se tratasse ou

    como se estivessem em suas casas ou nas suas prprias comunidades. Pelo

    que, estas funes tornam-se universalizveis, e detectam-se com frequncia e

    normalidade noutras comunidades.

    2. Os sete e os Doze na comunidade primitiva de Jerusalm25

    Quem que aparece a chefiar a comunidade ? Quem a dirige, anima, e

    conduz ? Quem d a vida por ela, quem a serve ? Para responder a estas

    questes h que fazer recurso dos relatos lucanos dos Actos. Se bem que

    posteriores no tempo, relatam esses primeirssimos anos da Igreja, das

    experincias de Saulo mas tambm de Paulo. O apstolo das gentes conheceu

    ainda relativamente cedo e prximo da Pscoa de Jesus a comunidade de

    Jerusalm (cf. Gal 2,1; 1 Cor 16,3). Possumos, por isso, algum testemunho

    directo contemporneo deste perodo da comunidade primitiva de Jerusalm.

    Nos Actos surgem referncias aos Doze. Este o primeiro servio

    conhecido na comunidade nascente em Jerusalm26. A existncia deste grupo

    remonta histria do prprio ministrio de Jesus. De acordo com Act 1,15.26 a

    eleio de Matias equivale a fazer parte de um grupo, cuja caracterstica

    25 Para uma smula bibliogrfica sobre o texto da instituio dos sete em Act 6,1-7 salientamos somente alguns dos ttulos mais importantes : J.KODELL The Word of God Grew : the ecclesial tendency of Logos in Acts 6,7; 12,24; 19,20, Bib 55 (1974) 505-519; J. LIENHARD Acts 6,1-6 : A Redactional View, CBQ 37 (1975) 228-236; G. LDEMANN Das frhe Christentum nach der Traditionen der Apostelgeschichte : Ein Kommentar, Gttingen : Vandenhoeck & Ruprecht 1987, 79-85; R. F. OTOOLE Hands, Laying On of (NT). In ABD, III, 48-49; E. RICHARD Acts 6:1-8:4 : The Authors Method of Composition [= SBLDS 41], Missoula 1978; B. DOMAGALSKI Waren die Sieben Diakone ?, BZ 26 (1982) 21-33; N. WALTER Apostelgeschichte 6.1 und die Anfnge der Urgemeinde in Jerusalem, NTS 29 (1983) 370-393.

  • 10

    principal a partilha de um mesmo servio, de uma diaconia, a qual consiste

    principalmente no testemunho da ressurreio (Act 2,37). Os Doze so

    responsveis no s do anncio mas tambm da gesto financeira dos parcos

    recursos da comunidade nascente. A seus ps eram depositadas as

    economias dos recm chegados f (Act 4,34; 5,2). Todavia, isto causa

    alguma celeuma, e ento os Doze decidem dar liberdade a que cada um se

    organize como entende. Para tal, os helenistas nomeiam sete homens de boa

    reputao (Ac 6,1-6), cheios do Esprito e de Sabedoria (v.3). Estes homens

    no tm nada a ver com os diconos. Sabemos apenas que so eleitos.

    Simplesmente impuseram-lhes as mos e rezaram por eles. Aqueles homens

    asseguram o servio dirio das vivas e o servio da Palavra (vv. 9-10). Esta

    pregao provoca o cime da parte judaica, a tal ponto que Estvo

    apedrejado (7,59) e esse grupo dissolve-se : todos se dispersaram pelas

    terras da Judeia e da Samaria (8,1). Depois da morte de Estvo os Doze no

    so mais mencionados nem o grupo dos sete. Ora, isto j mais um sinal de

    criatividade nesta fase inicial. Surgiram outros grupos e protagonistas.

    Assim, duas razes provocam a desintegrao do grupo dos Doze : por

    um lado a perseguio, que traz consigo a disperso aps a execuo de

    Tiago (Act 12,2.19), e por outro lado o facto de os Doze representarem uma

    estrutura tipicamente judia. Na realidade, a partir do momento em que os

    pagos tm acesso ao Evangelho e salvao atravs do baptismo, esta

    estrutura desaparece e assistimos a uma nova distribuio de tarefas : Tiago

    fica em Jerusalm e Pedro transforma-se em missionrio mais ou menos

    itinerante. curioso que Paulo, embora conhecendo Tiago, Cefas e Joo (Gal

    2,9), no utiliza a expresso Doze, excepto em 1 Cor 15,5 onde cita uma

    confisso de f tradicional que ele mesmo recebe, provavelmente originria da

    comunidade primitiva de Jerusalm. Ser que Lucas apaziguou (segundo a

    clssica explicao) as diversas partes ao qualificar Paulo como um apstolo

    itinerante, diferente dos outros Doze Apstolos, servindo-se da prpria

    etimologia (apstolo = enviado) ? O que se pode afirmar pelo menos que o

    desaparecimento da comunidade de Jerusalm com esta estrutura

    providencial, maneira judaica, vai contribuir para a prpria expanso

    26 Cf. R. E. BROWN The Twelve and the Apostolate. In NJBC, London 1990, 1379.

  • 11

    missionria da Igreja. Desapareceu esta estrutura dos Doze e ento a Igreja

    pode evangelizar27.

    Para alm dos Doze, que efectivamente assumem uma posio de

    destaque no seio da comunidade, foram ento tambm escolhidos sete

    homens de boa reputao (Act 6,3). So escolhidos (no se diz que so

    ordenados) porque o nmero dos membros da Igreja a aumentando, e era

    preciso acudir ao servio das vivas, no s ao da Palavra. A referncia

    indirecta em Act 6,1 distribuio diria de comida no corresponde

    exactamente s formas judaicas de distribuio diria aos pobres. No entanto,

    perfeitamente natural que tal tipo de servio se tenha desenvolvido na

    comunidade crist primitiva a partir das anteriores prticas judaicas28. Uma

    outra tradio judaica o cuidado com as vivas corresponde perfeitamente

    aos interesses lucanos29. Todavia, a razo pela qual os judeus de Jerusalm

    perseguiam os judeo-cristos de lngua grega no tem de ser a mesma que

    levava perseguio dos judeo-cristos de lngua aramaica. bem possvel

    que muito daquilo que irritava os judeus de Jerusalm fosse tambm ofensivo

    para os judeo-cristos de lngua aramaica, mas isto no significa que as vivas

    dos judeo-cristos de lngua grega fossem maltratadas ou esquecidas. Pelo

    que, possvel que um ou outro preconceito tenha estado na origem de um

    certo conflito no seio da prpria comunidade crente primitiva, onde se

    encontraram duas tradies uma grega e outra aramaica ou palestinense. As

    vivas tero sido apanhadas no meio destas duas mundividncias. Neste

    sentido, isto ter dado origem aos desentendimentos narrados por Lucas as

    queixas dos helenistas contra os hebreus, porque as suas vivas eram

    esquecidas no servio dirio (Act 6,1b). O facto de Lucas nada dizer a seguir

    acerca do servio das vivas causa surpresa pelo menos primeira vista. Com

    tal esquecimento parece que esta no foi a causa da querela entre judeus e

    helenistas. Mas sem este incio do cap. 6 dos Actos no ficaramos a saber que

    os Doze tambm se ocupavam do servio das vivas, que este servio afinal

    no era exclusivo do grupo daqueles sete santos vares. Por outro lado, se

    27 Cf. Ibidem. 28 Dt 10,18; 14,29; 16,11.14; 24,19-21; 26,12-13; 27,19. 29 Cf. Giovanni LEONARDI I discepoli del Ges terreno e i ministeri nelle prime comunit. Rottura o normale evoluzione ? In Rinaldo FABRIS (a cura di) La Parola di Dio cresceva (At 12,24). Studi in onore di C. Maria Martini, [= ABI Supplementi alla Rivista Biblica 33],Bologna : EDB 1998, 466.467.

  • 12

    este servio dos Doze s aqui mencionado, no se poder excluir a

    possibilidade de tal tarefa do servio das vivas ser uma das tarefas dos sete

    na sequncia da narrativa. De acordo com 1 Tim 5,3-16 o servio das vivas

    tinha-se tornado bem organizado com o decorrer do tempo e a estabilizao

    das comunidades. Parece que o nmero era de tal forma grande que se limitou

    a assistncia quelas que estritamente no teriam nenhum outro meio de

    subsistncia ou s que so verdadeiramente vivas (v.16).

    Mas o interesse de Lucas no se focaliza propriamente nestas mulheres,

    mas na distino entre os trabalhos (os ministrios) dos Doze e os dos sete. Os

    Doze uma expresso j usual em Marcos30. Marcos identifica-os com os

    apstolos numa citao controversa (3,16), mas o ttulo tido por seguro

    enquanto atribudo ao grupo em Mt 10,5 e Lc 6,13.31 O nmero doze

    evidentemente simblico das doze tribos de Israel, o que explica que as

    diversas listas dos apstolos no sejam coincidentes32. A referncia lucana dos

    Actos aos Doze em Act 6,2 serve ao autor para os distinguir dos sete. Em

    nenhum outro lugar dos Actos se fala dos Doze. Lucas prefere falar em

    apstolos. Ora, se os Doze ainda estavam em Jerusalm, surge uma questo :

    ser que os sete se destinariam a um outro grupo dos recm-chegados ao

    Evangelho ? Ao contrrio dos outros escritos do N.T. onde nunca se fala da

    funo especfica de sete, Lucas reproduz sete nomes (Act 6,5). Est aqui

    muito prximo das tradies judaicas locais em que o conselho das

    comunidades era composto por sete homens conhecidos como os sete

    melhores da cidade33. Neste contexto, provvel que os sete se

    destinassem liderana dos judeo-cristos de lngua grega, enquanto que os

    Doze permaneceriam os lderes das comunidades aramaicas34.

    Mas para se determinar o que aconteceu queles sete, necessrio

    socorrermo-nos de outros textos. Essas passagens podero ajudar a explicitar

    o alcance e o sentido daquele gesto da imposio das mos :

    30 Cf. Mc 4,10; 6,7; 9,35; 10,32; 11,11; 14,10.17.20.41; cf. 1 Cor 15,5; Jo 6,66-71; 20,24. 31 Cf. R. F. COLLINS Twelve, The. In ABD, VI, 670-671. 32 Cf. Mc 3,16-19; Mt 10,2-4; Lc 6,14-16; Act 1,13. 33 Cf. STRACK-BILLERBECK Kommentar zum Neuen Testament aus Talmud und Midrasch, Mnchen 1924-1928, t. II, 641.647 34 Cf. R. E. BROWN The Twelve and the Apostolate, 1381.

  • 13

    Act 13,2 Leitourgou,ntwn de. auvtw/n tw/| kuri,w| kai. nhsteuo,ntwn ei=pen to. pneu/ma to. a[gion\ avfori,sate dh, moi to.n Barnaba/n kai. Sau/lon eivj to. e;rgon o] proske,klhmai auvtou,j v. 3 to,te nhsteu,santej kai. proseuxa,menoi kai. evpiqe,ntej ta.j cei/raj auvtoi/j avpe,lusan Act 14,23 ceirotonh,santej de. auvtoi/j katV evkklhsi,an presbute,rouj( proseuxa,menoi meta. nhsteiw/n pare,qento auvtou.j tw/| kuri,w| eivj o]n pepisteu,keisan 1 Tim 4,14 mh. avme,lei tou/ evn soi. cari,smatoj( o] evdo,qh soi dia. profhtei,aj meta. evpiqe,sewj tw/n ceirw/n tou/ presbuteri,ou 2 Tim 1,6 DiV h]n aivti,an avnamimnh,|skw se avnazwpurei/n to. ca,risma tou/ qeou/( o[ evstin evn soi. dia. th/j evpiqe,sewj tw/n ceirw/n mou v. 7 ouv ga.r e;dwken h`mi/n o` qeo.j pneu/ma deili,aj avlla. duna,mewj kai. avga,phj kai. swfronismou/ Tit 1,5 Tou,tou ca,rin avpe,lipo,n se evn Krh,th|( i[na ta. lei,ponta evpidiorqw,sh| kai. katasth,sh|j kata. po,lin presbute,rouj( w`j evgw, soi dietaxa,mhn( v. 6 ei; ti,j evstin avne,gklhtoj( mia/j gunaiko.j avnh,r( te,kna e;cwn pista,( mh. evn kathgori,a| avswti,aj h' avnupo,takta v. 7 dei/ ga.r to.n evpi,skopon avne,gklhton ei=nai w`j qeou/ oivkono,mon( mh. auvqa,dh( mh. ovrgi,lon( mh. pa,roinon( mh. plh,kthn( mh. aivscrokerdh/(

    notria a importncia destas passagens. Se as duas primeiras so de

    Lucas, e uma fonte essencial para entender o seu pensamento, as ltimas trs

    so das Cartas Pastorais, e por isso mais tardias alguns anos, posteriores a

    Lucas. Parecem no entanto ser fiis na terminologia s prticas da comunidade

    crist alguns anos antes em Act 6,1-7. Os trs ltimos textos so exemplos

    mais prximos de uma ordenao. Ainda que haja pouca base de sustentao

    para manter que Act 13,2-3 trata especificamente de uma ordenao, estes

    versculos apresentam motivos que ecoam j em Act 6,1-7 : o papel do Esprito

    Santo, e o facto de que Barnab e Saulo so chamados para uma tarefa

    especial depois de um tempo de jejum e de orao em que os profetas e os

    mestres de Antioquia colocam as mos sobre ambos. Essa tarefa apresenta

    reminiscncias da tarefa de Filipe e Estvo. Contudo, quem coloca as mos

    sobre Barnab e Saulo no se afiguram como seus superiores. Apesar de tudo,

    o nico vocbulo comum entre Act 14,23 e 6,1-7 o verbo proseu,comai.

    Ceirotonh,santej relembra epe,qhkan autoi/j ta.j cei/raj (6,6). Persiste uma ligeira

    mas importante nuance : o verbo ceirotone,w significa etimologicamente eleger

    democraticamente com a participao da comunidade por brao no ar 35. Mais

    tarde nos Actos no h dvida de que Paulo fala com autoridade aos ancios

    35 Cf. Giovanni LEONARDI, 467.

  • 14

    de feso num plural colegial 36 (20,17-35), ancios esses que provavelmente o

    prprio apstolo designou, se bem que tal seja atribudo ao Esprito Santo no v.

    28 (to. pneu/ma to. a,gion e,qeto epi,skopouj poimai,nein th,n ekklhsi,an).

    Em 1 Tim 4,14 Paulo exorta Timteo a ser um exemplo para os outros.

    Tal como em Act 6,6 tambm refere a imposio das mos, designando-a

    como um carisma conferido pelo conselho dos ancios. Este conselho parece

    superar Timteo (cf. 2 Tim 1,6-7). Mas agora Paulo refere que ele mesmo

    imps as mos, e no v.7 explica como Deus concedeu o Esprito da fortaleza,

    do amor e da auto-disciplina. Aparentemente queles que lhes impuseram as

    mos: Deus no nos concedeu um Esprito de timidez (v. 7).

    Consequentemente, 2 Tim 1,6-7 estabelece Paulo como a personagem mais

    importante na medida em que capaz de ordenar Timteo impondo-lhe as

    mos37.

    Tit 1,5-7 partilha com Act 6,1-7 uma certa indefinio da natureza do

    envio. Todavia, as persistentes referncias ao mais velhos (aos presbteros)

    no deixa margem para dvidas de que j aqui no h tantas dificuldades em

    considerar este gesto como um gesto de ordenao explcita. Ento que

    concluses a tirar daqui ?

    Os paralelos dos LXX (Gen 41,29-43; Ex 18,13-26; Num 27,16-23; Dt

    1,9-18) apontam sempre para algum que nomeado para uma tarefa

    importante : no posso sozinho tomar conta de vs....escolhei dentre vs

    homens sbios, prudentes e experimentados (Dt 1,9.13). Uma tal tarefa no

    parece coadunar-se bem com o servio das vivas do grupo dos judeo-cristos

    de lngua grega. Sabemos, alis, como os levitas eram eleitos pela imposio

    das mos pelos israelitas (Num 8,10), e como este era o mesmo ritual utilizado

    no preenchimento de vagas no sindrio (cf. Sand. 4,4). Todos os paralelos no

    N.T., excepto Act 13,2-3 falam em algum tipo de ordenao e sugerem que

    uma descrio mais perfeita do tipo de misso que os sete receberam

    precisamente isso, uma espcie de ordenao. No entanto, por ordenao

    pode-se entender precisamente ora o gesto da ordenao litrgica ora a

    investidura para uma misso ou para um servio. Uma interpretao deste

    gnero que concebe a misso como o ordenamento, ou a ordenao para

    36 Cf. Giovanni LEONARDI, 467. 37 Cf. Ibidem.

  • 15

    essa mesma misso seria mais consentnea com o facto de Filipe e Estvo

    fazerem a sua actividade porque se assemelha quela dos apstolos. Os

    apstolos dedicavam-se Palavra do Senhor. Os resultados da sua misso na

    Samaria so descritos como tendo essa regio acolhido a Palavra de Deus

    (8,14). Pedro avisa um outro Simo que ele no tem parte nesta Palavra

    porque o seu corao no est puro (8,21). Act 6,2 atesta claramente que os

    apstolos no se deveriam preocupar com o servio das mesas, provavelmente

    com o servio de comida aos pobres. Em vez deles, escolheram outros que

    deveriam executar esse servio fundamental para toda e de toda a

    comunidade. Parece, assim, que os sete so designados (ou ordenados se se

    quiser) para o servio das vivas. No se pode, todavia, pedir a Lucas que nos

    d todas as informaes e de forma precisa. Com efeito, Lucas centra a sua

    narrativa no crescimento da Palavra de Deus, e no na designao para a

    misso enquanto tal.

    Em suma, Act 6,1-6 pertence a um conjunto de percopes que visam

    demonstrar a fora de Deus e a capacidade performativa do Esprito de Jesus

    derramado no Pentecostes. Esta experincia da graa feita mesmo nos

    momentos quando os cristos so chamados a escolher do seu seio quem os

    guie e exera algumas funes especficas no seio e para a comunidade. A

    escolha de homens para o cuidado das vivas toca um dos temas teolgicos

    mais caros a Lucas a preferncia de Cristo pelos mais pobres e fracos. Os

    Doze so os personagens principais nesta histria de benevolncia, agora

    depois da Ascenso. Permanecem um grupo bem definido. Aqui Albert

    Vanhoye chama a ateno e bem - para o facto de que os outros textos do

    N.T. que mencionam o processo de seleco dos candidatos e o gesto da

    imposio das mos no contemplam a participao da comunidade nesse

    processo pelo menos de forma explcita. Para este autor, esta participao no

    seria o elemento mais importante no estabelecimento de ministrios, pelo

    menos na Igreja de Jerusalm38 Tudo depende a dos apstolos, cujo modelo

    se inspira na organizao presbiteral sinagogal39. No entanto, aceita que a

    comunidade tenha alguma parte de responsabilidade na eleio dos candidatos

    enquanto a ele que compete apresentar aos apstolos os candidatos, se bem

    38 Cf. A. VANHOYE - Le ministre dans lglise. I. , 730. 39 Cf. Ibidem, 731.

  • 16

    que a ltima palavra caiba neste caso ao grupo dos Doze40. A explicitao no v.

    4 do compromisso dos apstolos na orao no deixa margem para dvidas da

    importncia deste tema em Lucas e nesta percope em particular. diante dos

    Doze apstolos que os sete so apresentados. Os sete so o segundo grupo

    mais importante a seguir aos Doze. Salientam-se do resto do grupo dos

    discpulos pela sua sabedoria e pela posse do Esprito Santo. Isto

    particularmente verdade no caso de Estvo cuja f explicitamente referida.

    Emerge ento a questo : essa designao pode ou no ser tida como

    uma consagrao diaconal tal como a percebemos hoje, e at onde vai a

    democraticidade deste acto ? De acordo com um estudo recente de Joseph

    Ysebaert, os verbos ceirotone,w, cei/raj epiti,qhmi, e kaqi,sthmi sero equivalentes

    sinonmicos41. Da que impor as mos seja equivalente no N.T. a apontar para

    uma determinada misso, a ordenar para um determinado servio ou funo.

    Neste sentido, no bastar a leitura de Sto. Ireneu que refere Estvo e

    Nicolau ambos como diconos42. Ora, efectivamente, h que reconhecer que

    nem mesmo o contexto nos permite concluir que estaramos aqui em Act 6,6

    diante da primeira ordenao de diconos. O bispo de Lyon pressupe j uma

    fase avanada da eclesiologia neo-testamentria, ou mesmo ps-

    testamentria. Alm disso, os plurais lingusticos tornam actualmente difcil a

    excluso da participao da prpria comunidade. Mais, afinal, qual o valor e o

    lugar dos gestos comunitrios de ceirotone,w , de separao (ou seleco), de

    jejum, de orao e de imposio das mos em Act 13,2-3 ?

    40 Cf. Jrgen ROLOFF Amt. IV. Im Neuen Testament, TRE II (1978) 521. 41 Cf. J. YSEBAERT Die Amtsterminologie im Neuen Testament und in der Alten Kirche. Eine Lexikographische Untersuchung, Breda : Eureia, 1994, 124-127.156.165.222. Este autor estabelece uma passagem rpida do grupo dos Doze para o grupo missionrio dos outros apstolos itinerantes, do qual faria parte Paulo. Ysebaert distancia-se de Albert Vanhoye quanto democraticidade e colegialidade da deciso na escolha dos candidatos por parte da comunidade, argumentando com base em critrios lingusticos. 42 Cf. Adv. Haer. 1,26.3; 3,12.10; 4,15.1.

  • 17

    3. As proto-paulinas43

    lgico comear pelos testemunhos mais antigos. Este grupo de

    escritos, onde se vislumbra uma relao livre e espontnea entre o apstolo e

    as Igrejas fornecem, de facto, uma variedade de dados. Na temtica que aqui

    nos ocupa, importa manter presente os destinatrios das cartas de Paulo, as

    comunidades no seu conjunto s quais so dirigidas estas cartas, os problemas

    que elas vivem e as responsabilidades que lhes incumbem. necessrio

    igualmente perguntar aquilo que o prprio Paulo pensa do(s) ministrio(s).

    Barnab e Saulo so enviados a Chipre, Licania, Pisdia e Panflia

    pregando nas sinagogas a Boa Nova de Jesus ressuscitado, antes de informar

    sobre o trabalho realizado na comunidade de Antioquia (Act 14,21-27). Nos vv.

    4.14 Saulo e Barnab so chamados apstolos mais explicitamente. O

    apstolo aqui o enviado, o oficial do Esprito Santo e da comunidade.

    Paulo passou Histria da Igreja como o Apstolo das gentes, como o

    paradigma do apstolo44 : Cristo no me enviou a baptizar, mas a anunciar a

    Boa Nova (1 Cor 1,17). prprio do apstolo exclamar ai de mim se no

    evangelizar (1 Cor 9,16). Reivindica sem receios o ttulo de apstolo

    normalmente no prlogo das suas cartas (Gal 1,1; Rom 1,1 : Paulo, servo de

    Cristo Jesus, chamado a ser apstolo, escolhido para anunciar o Evangelho de

    Deus). Sabe, no entanto, que no o nico. Existem outros apstolos aos

    quais tem de se referir e remeter pois foram apstolos antes dele, conheceram

    e conviveram com o prprio Jesus (v. 17). Alude mais do que uma vez sua

    iniciao como apstolo ao lado de Barnab (Gal 2,1-8 ; 1 Cor 9,6), e evoca os

    limites do seu dizer e da sua misso ao recordar o acordo no conclio de

    Jerusalm (Gal 2,9). No entanto, parece que Paulo no era bem visto pelos

    restantes apstolos. Apesar disso, a Igreja nascente optou com Paulo e quis

    com ele a universalidade.

    43 Assumimos aqui a classificao clssica. Como escritos tidos como autenticamente paulinos consideram-se por ordem cronolgica : 1 Tes, Gal, 1-2 Cor, Flp (?), Rom, Flm. Como cartas cuja autenticidade colocada em dvida consideram-se : Ef, Col, 2 Tes. 1-2 Tim e Tit so as ditas Cartas Pastorais, tambm por vezes chamadas trito-paulinas. Alguns autores denominam aquelas que chamamos Cartas Pastorais como deutero-paulinas : cf. Pierre DORNIER, Les ptres Pastorales. In Jean DELORME, 93. 44 Cf. K. KERTELGE Das Apostelamt des Paulus, sein Ursprng und seine Bedeutung, BZ 14 (1970) 161-181.180.

  • 18

    Por conseguinte, a simples referncia do acordo de Jerusalm (Act 15;

    Gal 2) que mais parece um desacordo - mostra que desde o incio a

    constituio de um apostolado enquanto corpo estvel atestvel na rea

    mediterrnica, obedecendo a critrios no geogrficos mas tnico-culturais :

    judeus de uma parte, e helenistas da outra. Apresentam-se os apstolos para

    referir a apostolicidade. Assim se compreende que Paulo situe o servio

    apostlico na primeira linha da misso da Igreja e no primeiro plano das

    manifestaes do Esprito Santo na Igreja de Jesus. Ao evocar a diversidade45

    de ministrios e dos membros do Corpo de Cristo, afirma sem rodeios que

    Deus colocou-os na Igreja : primeiros os apstolos, em segundo os profetas, e

    em terceiro os doutores; em seguida h o dom dos milagres, depois o das

    curas, o das obras de assistncia, o de governo e o das diversas lnguas.

    Porventura so todos apstolos ? so todos profetas ? so todos mestres ?

    fazem todos milagres ? possuem todos o dom das curas ? todos falam lnguas?

    Todos as interpretam ? (1 Cor 12,28-29).

    Permanece, contudo, a dvida : como que Deus os ps a trabalhar

    nestes servios ? A utilizao do verbo e,qeto indica efectivamente uma

    colocao, uma instituio, no caso dos apstolos preferencialmente para o

    servio da Palavra (homiltica, midrshica, ou kerigmtica). Estes servios da

    palavra revestiam-se de um carcter oficial e normal, institudo. So servios

    que aparecem includos na lista dos cari,smata, pelo que Paulo no contrape

    os servios institucionais ou institucionalizados aos carismas (como alis veio

    infelizmente a acontecer em alguma eclesiologia mais recentemente). Para

    Paulo existe um paralelismo entre os carismas e os servios todos so dons

    Igreja de Jesus e por Jesus46. Os servios mais ou menos institudos so

    tambm um carisma em si mesmos. Mostra igualmente que os diferentes

    grupos no possuem cada um o monoplio da misso da Igreja nem dos dons

    que Deus quer dar sua Igreja. Paulo limita-se a afirmar que em funo das

    necessidades da Igreja alguns dons so mais importantes do que outros, mas

    nenhum despiciendo (procurai o amor e aspirai aos dons do Esprito : 1 Cor

    14,1.26; cf. 1 Cor 12,31).

    45 Cf. Andr LEMAIRE Les ptres de Paul : la diversit des ministres. In Jean DELORME, 57.72. 46 No caso do celibato isto notrio, pois a se mostra como todos os ministrios so carismas, mas tambm se mostra que nem todos os carismas so ministrios ou ordenados para tal.

  • 19

    Em virtude da especializao dos seus trabalhos missionrios, os

    apstolos, profetas e doutores asseguram algo essencial comunidade. Em

    consequncia, a comunidade eclesial local deve prover s suas necessidades

    materiais e hospitalidade. Paulo declara mesmo que lhe assiste o direito de

    comer e beber, de que o acompanhe uma mulher crente (como aos outros

    apstolos), de no trabalhar (1 Cor 9,4) e de ser mantido (1 Tes 2,7) pela

    comunidade. Mas abdica disso por amor e como sinal de testemunho e de

    liberdade (2,8-9; 3,7-9).

    J no incio das viagens missionrias paulinas algumas comunidades

    antioquenas privilegiam a figura do epskopos apstolos, profetas ou doutores,

    enquanto que as comunidades judaicas privilegiam os mais velhos, os ancios,

    os presbteros (presbu,teroi). Toda a comunidade judaica de Jerusalm,

    influenciada precisamente pela organizao da comunidade segundo essa

    tradio judaica, estava estruturada segundo o modelo presbiteral. De acordo

    com Act 15; 18,21 estes ancios reunidos volta de Tiago velavam para que a

    comunidade vivesse na inspirao da Palavra de Deus da tradio hebraica e

    de Jesus. Esto igualmente encarregados da gesto das esmolas, e por esse

    motivo recebem os donativos oferecidos pelas outras comunidades : s nos

    disseram que nos devamos ocupar dos pobres (Gal 2,10). provvel que

    seguindo este modelo tenham sido institudos outros presbteros nas novas

    comunidades judeo-crists da dispora e que foram tambm apstolos judeo-

    cristos, talvez Judas e Silas (Act 15,22), que designaram presbteros em

    cada uma das Igrejas da Cilcia e do sul da sia Menor (Act 14,23). E assim,

    Judas e Silas, que tambm eram profetas, exortaram e fortaleceram os

    irmos (15,32).

    As cartas autnticas do apstolo aludem vrias vezes a servios no seio

    das comunidades locais como estamos a ver, em que a fronteira que desenha

    os limites desta variedade de funes muito tnue. Desde a 1 Tes, Paulo

    pede que se tenha considerao com os que asseguram estes servios47. Os

    verbos utilizados em 1 Tes 5,12-13 referem o servio da presidncia e o

    servio da palavra (cf. 2 Tes 3,15). Paulo pede que se preste especial ateno

    a este ltimo, e que no se apague nem o esprito nem a profecia (v. 19). H,

    portanto, desde o ano 50, alguns elementos que possuem responsabilidades

  • 20

    diante dos outros e para os outros membros da comunidade de Tessalnica,

    sobretudo o dever da correco fraterna48.

    De igual modo o servio da profecia que ocupa o primeiro lugar entre

    os diversos servios da comunidade de Corinto (1 Cor 14,1b). Paulo alude

    tambm aos dons das curas, assistncia e ao governo, diversidade de

    lnguas (12,28), como j foi referido. Todavia, estes ltimos no surgem

    claramente vinculados a um servio especial e essencial comunidade. Paulo

    coloca-os vagamente no contexto mais geral da diaconia dos santos (16,15).

    Na importante carta aos cristos de Roma que Paulo curiosamente

    no conhece bastante importante o ltimo captulo. A o apstolo elenca

    expressamente vrios personagens que asseguram o servio eclesial, onde se

    incluem mesmo senhoras : Febe (ou Febeia), nossa irm, que est ao servio

    da Igreja de Kncreas (Rom 16,1)49. Prisca e quila recebem a assembleia em

    suas casas, Urbano sunergw/n (cooperador) em Cristo, e muitos outros

    dedicam-se ao servio do Evangelho, entre os quais o colaborador Timteo.

    Na lista dos carismas de Rom 12,6-8 o particpio verbal proista,menoj aparece

    sem complemento : aquele que preside faa-o com zelo. Para Hermann

    Hauser, visto que o carisma que precede o da distribuio e o carisma que

    sucede o da misericrdia so carismas de ordem caritativa, ser possvel

    ver nesta presidncia a intendncia, isto , a direco das obras caritativas da

    comunidade de Roma ou outras50. A partir daqui, este professor da

    Universidade de Nairobi tenta definir o ministrio de Febe. O substantivo

    feminino prosta,tij a forma feminina do particpio verbal da funo de

    prostath/j do mundo verbal de proista,menoj aplicado a Febe. O que leva este

    autor a concluir que Febe poder ter sido uma espcie de protectora para

    alguns cristos e para os visitantes (dentre os quais o prprio Paulo), com a

    responsabilidade da organizao ou intendncia do servio caritativo51.

    Com efeito, neste texto Paulo preocupa-se com a vida da comunidade local.

    Tal como em 1 Cor 12,28 encontramos uma ruptura na enumerao : depois da

    referncia exortao (paraklh/sij) apontam-se as caractersticas dos que

    47 Cf. A. J. MALHERBE Pastoral Care in the Thessalonian Church, NTS 36 (1990) 375-391. 48 Cf. B. RIGAUX Les ptres aux Thessaloniciens, Gabalda 1956, 580-582. 49 Cf. K. ROMANIUK Was Phoebe in Romans 16.1 a Deaconess ?, ZNW 81 (1990) 132-134. 50 Cf. Hermann HAUSER Lglise lge Apostolique, 83. 51 Cf. Hermann HAUSER Lglise lge Apostolique, 81.84.

  • 21

    exercem esses carismas (simplicidade, zelo, misericrdia e alegria). Pelo que o

    dom da profecia, o carisma do ministrio, do ensino e da exortao, todos eles

    precedidos de ei,te (pois), formam um bloco parte e podem por isso ser

    aproximados trade apstolos, profetas e doutores. Da que, nestes

    ministrios da palavra sobretudo, Paulo no necessitasse de mencionar o

    apostolado, pois j se tinha apresentado em 1 Cor 3,5; 2 Cor 3,6; 6,4 como um

    dicono, um servo da diaconia do Senhor, na qual comungam variadssimos

    dons (carismas), visveis nas funes do ensino, da profecia, no ministrio da

    palavra e no apostolado, ou seja, no servio apostlico.

    Ao dirigir-se aos Glatas Paulo menciona brevemente aqueles que

    ensinam a palavra, pois deve-lhes ser assegurado o sustento material para tal

    misso (Gal 6,6). Destes alguns so j tidos por todos como autoridade

    (dokou,ntwn) ao lado de Pedro em Jerusalm (2,6).

    Na comunidade de Filipos, curiosamente no aparece a palavra

    presbtero. A funo do servio desempenhada por um grupo concreto a

    quem Paulo chama no comeo da sua carta inspectores e diconos (epi,skopoi

    kai. diakonoi). Parece que semelhana dos profetas e doutores dedicavam-se

    ao servio da pregao, da proclamao e de aco de graas. Permanecem

    firmes num s esprito, lutando juntos numa s alma pela f no Evangelho,

    no se deixando intimidar com os adversrios. (Flp 1,27-28).

    Nas cartas que Paulo escreve sua amada Colonia Laus Iulia

    Corinthiensis fica bem patente o esforo pela defesa do patrimnio da f dos

    apstolos. Das dez ocorrncias no N.T. do conceito dia,konoj metade so

    utilizados para recolocar a comunidade rebelde de Corinto na rota do

    Evangelho de Jesus. Paulo v-se obrigado a distanciar-se dos outros

    pregadores da cosmopolita capital da provncia da Acaia (2 Cor 1,1). Nesta

    apologia no s da f mas do verdadeiro ministrio (que continua em 2 Cor 10-

    13), a verdade da diaconia de Paulo e dos seus companheiros destaca-se pela

    objectividade orto-prtica pelo anncio ortodoxo do evangelho do reino : Ele

    tornou-nos aptos para sermos ministros (diako,nouj) de uma nova aliana (2 Cor

    3,6). isto precisamente que distingue os verdadeiros diconos dos

    impostores e proselitistas de cariz espiritualista, com personalidades mais ou

  • 22

    menos difusas que subjectivizam a s doutrina recebida dos apstolos52. Note-

    se que Paulo fala na primeira pessoa do plural, pelo que Priscila e a sua

    mulher, Silas e Timteo (Act 18,1.5) tero feito parte daqueles que ajudaram

    Paulo na diaconia de manter o vnculo de unidade da f em Corinto.

    Estamos, por conseguinte, a verificar que cada comunidade paulina

    tende a organizar-se por si mesma de acordo com as respectivas

    necessidades, em grande liberdade, mas sempre escolhendo alguns para

    orientar o servio da comunidade enquanto tal, nas suas diversas vertentes.

    Nas comunidades judeo-crists o modelo preferido o presbiteral, enquanto

    que na misso ad-extra este modelo tende a adaptar-se, ou seja, a inculturar-

    se. Parece que as primitivas comunidades paulinas preferem escolher a

    nomenclatura mais vaga e generalista de inspectores e ministros, em lugar do

    tradicional presbtero (= mais velho : presbu,teroj). Na verdade, os conceitos de

    epskopos e de presbyteros no se encontram das proto-paulinas,

    exceptuando-se para o termo epskopos a introduo de Flp 1,1.

    4. As deutero-paulinas

    Colossenses e Efsios no dizem nada de significativo sobre o modo de

    actuar dos pastores e mestres. Prevalece o interesse pela Igreja na sua

    imagem de conjunto. No entanto, algumas informaes podem-se colher no

    que toca ao seu estatuto e ao seu ministrio. evidenciado o servio (mas no

    de forma especifica) de Epafras na comunidade de Colossos : assim o

    aprendeste de Epafras, servo como ns (sundou,lou), ele que um fiel servidor

    (dia,konoj) de Cristo ao vosso servio (Col 1,7). Quando Epafras ficar junto do

    apstolo ser Arquipo que o substituir e receber no Senhor a carga, o nus

    do servio pastoral (4,17), sendo ajudado por Tquico o irmo querido, servidor

    (pisto,j dia,konoj kai. sundou,loj) fiel e companheiro no servio do Senhor (4,7).

    No discurso aos ancios de feso fala-se j em pastoreio e em rebanho:

    cuidai de vs e do rebanho em que o Esprito Santo vos colocou como

    guardies (epi,skopouj) para apascentar a Igreja de Deus (Act 20,38). O mesmo

    52 Cf. Stanley PORTER Exegesis of the Pauline Letters including the Deutero-Pauline Letters. In IDEM (ed.) - Handbook to Exegesis of the New Testament [= New Testament Tools and Studies 25], Leiden : Brill 1997, 513.517.518; Jrgen ROLOFF, 519.

  • 23

    ocorre na recomendao dirigida aos presbteros em 1 Ped 5,2-4 : apascentai

    o rebanho de Deus que vos foi confiado, governando-o no com fora, mas de

    boa vontade, tal como Deus quer, no por um mesquinho esprito de lucro, mas

    com zelo, no com um poder autoritrio sobre a herana do Senhor, mas como

    modelos do rebanho.

    Estes problemas e advertncias parecem prolongar-se at ao fim do sc.

    I d.C. e encontram-se no fragmento cristo da Ascenso de Isaas 53. Assim,

    um dos problemas mais agudos deste perodo ter sido a conduta indigna dos

    presbteros que resvalaram da condio e vocao de pastores para o

    oportunismo sdico e terrvel quais lobos do rebanho do Senhor (Act 20,29),

    quais sanguessugas de cargos e de poder. neste contexto que sero escritas

    ou acabadas de redigir as Cartas Pastorais, tambm classificadas como trito-

    paulinas. Neste contexto, as deutero-paulinas assumem j as figuras do

    apstolo e dos profetas como pretritas. A gerao apostlica j pertence nesta

    altura ao passado. Comea a impor-se uma nova figura trazida pelos autores

    destas cartas a figura do pastor (poimh,n : cf. Ef 2,20; 4,11-13) que ainda no

    tinha sido mencionado nos escritos autnticos de Paulo. Neste sentido, os

    autores destas cartas tardias do-se conta de que novos problemas so postos

    orgnica da Igreja aps a morte dos apstolos. A, os membros da Igreja

    devem comportar-se como prprio de um membro de uma famlia crist

    (Haustafeln)54.

    5. As trito-paulinas55

    Nestas cartas o autor insiste na orto-prxis dos lderes da comunidade, e

    quer remediar uma situao a todos os ttulos lamentvel, numa altura em que

    se comea a constatar a estabilizao de algumas funes no seio das

    comunidades, em que algumas funes comeam no a ser outorgadas mas a

    53 Knibb data este documento compsito (e pelo menos com inseres crists) dos incios do sc. II d.C. : cf. KNIBB, M. A. - Martyrdom and Ascension of Isaiah, In CHARLESWORTH, James (ed.) The Old Testament Pseudepigrapha, vol. 2, New York : Doubleday 1985, pp. 149-150. As acusaes aos pastores que dizimam o rebanho de Deus surgem j no martrio de Isaas (naqueles dias existiro muitos pastores e ancios que desviam as suas ovelhas 3:24; e entre os pastores e os ancios existir um grande dio 3:29-30) : cf. KNIBB, Ibidem, p. 161. 54 Cf. Raymond E. BROWN Las Iglesias que los Apstoles nos dejaron, 64-65. 55 Para uma viso geral da funo dos presbteros nas comunidades aps a morte de Paulo ver J. P. MEIER Presbyteros in the Pastoral Epistles, CBQ 35 (1973) 323-334.

  • 24

    tornar-se objecto de desejo. Estas funes passam de misses concedidas em

    virtude das qualidades dos candidatos, que ocupariam uma posio de

    destaque na comunidade e que por isso mesmo teriam sido escolhidos, a

    cargos ou funes estveis s quais j se aspira : digna de f esta palavra

    se algum aspira ao episcopado deseja um excelente ofcio (1 Tim 3,1). No

    entanto, o carisma da actuao do Esprito no se extinguiu. As palavras

    profticas pronunciadas aquando da imposio das mos sobre Timteo seja

    qual fr o seu sentido so sinal disso mesmo, de que o Esprito ainda se

    manifesta em relao ao carisma da e para a presidncia.

    Por isso, os autores das cartas Pastorais insistem nas qualidades dos

    candidatos ao sacerdcio ordenado, ao ministrio, e nas normas que devem

    ser adoptadas com os presbteros j institudos, num esforo em favor da

    unidade56 : se te deixei em Creta, foi para acabares de organizar o que ainda

    falta e para colocares presbteros em cada cidade de acordo com as minhas

    instrues. Cada um deles deve ser irrepreensvel, marido de uma s mulher,

    com filhos crentes, e no acusados de vida leviana ou insubordinao (Tt 1,5-

    6). Ainda quando se utiliza em duas ocasies o termo epi,skopoj este pode ser

    aplicado ou equiparado a qualquer presbtero. Este bispo-presbtero aglutinar

    em si a funo de ensinar trazida dos apstolos, a aparentemente extinta

    funo de evangelista57, e a recm-difundida misso de pastor. Os autores

    sublinham o valor da ordenao presbiteral pelo gesto da imposio das mos,

    cujo exemplo mais paradigmtico Timteo (1 Tim 4,14; 2 Tim 1,6). Sendo

    assim, no se pode impr as mos a quem quer que seja, pois a Igreja sofreu

    j demasiado com os pastores dados ao vinho e vidos de ganncias

    desonestas (1 Tim 3,3). Entre as qualidades mais notrias e notadas que um

    candidato deve possuir salientam-se sobretudo duas : apto para ensinar (v.2) e

    conforme s doutrina (Tt 1,9), o mesmo dizer, pede-se ao candidato que

    seja teologicamente competente e doutrinalmente ortodoxo. Para alm destas

    duas caractersticas, importante apresentar-se como bom pai de famlia58,

    capaz de governar o seu prprio lar, e capaz de educar os prprios filhos numa

    vida digna, no leviana ou dissoluta, escandalosa para a comunidade eclesial.

    56 Cf. P. KEARNEY - Da pie el Nuevo Testamento para una estructura eclesial diferente ?, Concilium 80 (1972) 487-501 (491). 57 Cf. Jrgen ROLOFF Amt. IV. Im Neuen Testament, TRE II (1978) 515. 58 Cf. Raymond E. BROWN Las Iglesias que los Apstoles nos dejaron, 45.

  • 25

    Estas caractersticas e estas qualidades serviro ao candidato para cumprir o

    seu ministrio em favor de muitos, o mesmo dizer, de molde a universalizar a

    sua vocao familiar agora para toda a Igreja, com um corao de me onde

    cabe sempre mais um filho para alm daqueles que por sangue j so seus.

    Por isso, os presbteros que exercem bem a presidncia merecem uma dupla

    honra, particularmente os que se afadigam pela palavra e pelo ensino (1 Tim

    5,17.20). Assim, os considerados dignos merecem honrarias e honorrios,

    enquanto que os outros os indignos devem ser repreendidos diante de

    todos. Mas neste ltimo caso, usar-se- de extrema prudncia, e tal s

    acontecer com trs testemunhas (v.19).

    No ainda seguro nesta altura do N.T. que haja diconos em todas as

    comunidades. Encontramo-los em feso, mas no em Creta, por exemplo. De

    acordo com 1 Tim 3,8-13 o servio dos diconos pode ser desempenhado tanto

    por homens como por mulheres59, e as suas funes esto muito prximas das

    dos presbteros, se no so mesmo coincidentes em absoluto. Parece que os

    diconos fariam parte de antigas equipas ambulantes. Os tempos das grandes

    misses parecem nesta altura ter chegado ao seu termo, e os diconos

    movem-se a partir dos grandes centros que foram fundados por um

    evangelista. No caso das Cartas Pastorais, tudo leva a crer que os diconos

    serviam a partir da comunidade presidida por Timteo - como o caso da

    comunidade de feso (2 Tim 4,5) - ou a partir da comunidade de Filipe em

    Cesareia (Act 21,8). Significa, por isso, que muito provavelmente os diconos

    seriam uma espcie de catequistas itinerantes60.

    Com a morte dos apstolos e dos seus colaboradores mais directos, a

    Igreja v-se na necessidade de se continuar a organizar de acordo com as

    premncias que as novas situaes locais impem. Face aos novos perigos

    que ameaam as comunidades locais do exterior (heterodoxias, rivalidades,

    diasporizao, afastamento geogrfico, inculturao da f, preservao da

    memria e dos textos da Escritura, morte dos apstolos e amortecimento da

    memria), a Igreja, as Igrejas locais defrontam-se com novos desafios agora

    59 Note-se que em grego o termo diconos tanto pode ser masculino como feminino. 60 Para uma actualizao do servio e do carcter desta funo de dicono no campo das implicaes ticas na nossa cultura ps kantiana e individualista ver Martin SEIDNADER Dienen, Apostolizitt und Tugend. Zur Aktualitt von 1 Tim 3,8-9, Mnchener Theologische Zeitschrift 51 : 2 (2001) 103-112 (109-110).

  • 26

    internamente, de que so sinal os problemas e as advertncias face a alguns

    presbteros, face a certo tipo de ministros que desvirtuavam o ministrio. Nesta

    situao, a Igreja comea a fixar de modo mais preciso os seu patrimnio

    doutrinal e disciplinar. Estes esforos de unificao e de codificao

    generalizada para todas as comunidades so os incios da estruturao da

    Igreja universal. Isto conduziu generalizao do modelo presbiteral sinanogal

    herdado da tradio judaica.

    Um ponto da situao preliminar permite concluir que, com o

    desaparecimento dos apstolos, instaura-se nas comunidades primitivas um

    rpido processo organizao administrativa local. Encontramos nestas

    comunidades primitivas uma profuso de ministrios, onde o modelo presbiteral

    acaba por se impr, no qual se valoriza a figura do bispo-presbtero, enquanto

    que as figuras dos profetas e dos diconos se vo diluindo com o tempo. Esta

    uniformizao vai sendo acompanhada de uma insistncia na autoridade

    pastoral em deterimento da autoridade de docncia e do servio da palavra,

    mas isto s j l para os finais dos tempos neo-testamentrios.

    Em sntese, podero reduzir-se a duas as causas principais deste

    processo no fim do N.T. : o desaparecimento dos primeiros testemunhos de f,

    e o aumento do nmero de comunidades. O primeiro factor recentrou a ateno

    da Igreja nos erros e desvios doutrinais. Para conseguir este objectivo, a Igreja

    optou pela ordenao rabnica dos seus presbteros, como smbolo de

    fidelidade e garantia da transmisso fiel do depsito da f e da doutrina. O

    segundo factor, obrigou manuteno da unidade num crescente processo de

    disperso : como manter as diferentes comunidades unidas quando so cada

    vez mais e mais para longe dos grandes centros fundados pelos evangelistas

    ou pelos seus colaboradores mais directos ? Assim aparece a cristalizao

    contempornea da figura do bispo-presbtero como chefe igualmente da Igreja

    local, e responsvel com os presbteros da comunho na f.

    Poder-se- deste modo estabelecer uma certa linha de continuidade

    entre os Actos e os escritos mais pastorais do N.T. De acordo com Act 6,1-7

    os sete permaneceram subalternos face aos Doze (cf. 8,14-17). O mesmo se

    diga dos presbteros estabelecidos por Paulo e Barnab (14,23). Aos

    presbteros Paulo fala com autoridade (20, 17-35). As cartas Pastorais mostram

    igualmente uma diferenciao ministerial. Em primeiro plano surge o apstolo.

  • 27

    De seguida Timteo ou Tito que recebem do apstolo uma autoridade superior

    dos dirigentes locais (Tit 1,5; 2 Tim 2,2). Dentre estes dirigentes 1 Tim 3

    deixa perceber uma diferena de nvel face aos diconos, dos quais sabemos

    apenas que servem (3,10.13).

    6. A TERMINOLOGIA MINISTERIAL

    6.1. Apstolo

    O termo apo,stoloj muito raro em Mateus, Marcos e Joo, mas

    recorrente nas obras lucana e paulina. No entanto, o Scriba mansuetidinis

    Christi reserva este ttulo para o grupo dos Doze (Lc 6,13, Act 1,26; 8,1) e por

    isso nunca usa o termo no singular, ao contrrio de Paulo. O termo detectvel

    no Apocalipse, em Judas e em 1-2 Pedro, se bem que nestes ltimos parea j

    referir-se ao passado, na medida em que necessrio recordar-se deles (2

    Ped 3,2; Jud 17). Na Didach os apstolos parecem estar ainda em plena

    actividade (XI, 4,6). Nos Padres Apostlicos o termo refere-se j ao passado.

    Este vocbulo frequentemente utilizado pelo prprio Apstolo das Gentes.

    Faz parte da titulatura autobiogrfica com que se apresenta no incio das suas

    cartas (1 Tes 2,6; 1 Cor 1,1; 2 Cor 1,2; Col 1,1; Gal 1,1; Rom 1,1). Paulo surge

    diversamente dos outros apstolos como o apstolo da gentilidade (Rom

    11,13), o apstolo enviado paganidade (Adolph Gesch)61. Reconhece-se e

    apresenta-se como apstolo de Cristo, mas reconhece tambm que os outros

    podem ser apstolos (ou delegados, enviados) das e para as Igrejas (2 Cor

    8,23). Ser que Apolo tambm era considerado apstolo (1 Cor 4,9)?

    Provavelmente Barnab (9,2-6), Silvano e Timteo (1 Tes 2,7), Junas e

    Andrnico que o precederam em Cristo (Rom 16,7), e os emissrios das

    Igrejas (2 Cor 8,23) formaro o leque alargado dos enviados na condio de

    apstolos s Igrejas da Sria, da sia Menor e da Grcia. Neste sentido, a

    apostolicidade de Paulo no uma simples funo, mas o ser mesmo do Saulo

    convertido, tocado pela graa de Deus, chamado e enviado por Ele62. O

    61 Cf. Adolf GESCH Dante prend Virgile comme guide sur son chemin desprance. Paganit et Christianisme. In IDEM ; Paul SCOLAS (eds.) La Sagesse, une chance pour lesprance, pp. 135-154 (142.147.151). 62 Cf. J. ZMIJEWSKI Paulus Knecht und Apostel Christi, Stuttgart 1986, 7.

  • 28

    apostolado para ser compreendido correctamente ento para ser pensado

    em termos de servio. Paulo tem conscincia que outros podero igualmente

    ser enviados pelo Esprito do Senhor (Gal 1,17). Ele sabe que ele enquanto

    apstolo singular e as colunas da Igreja em Jerusalm Pedro e Tiago e Joo

    no tm, apesar de primeiros face aos profetas e aos doutores (1 Cor 12,28),

    o monoplio da misso. O apostolado de Jerusalm e o seu so o primeiro

    sinal da actuao do Esprito de Pentecostes, a comear pela comunidade de

    Antioquia qual Paulo sempre esteve bastante ligado (Act 11,25-25)63. Neste

    contexto ento importante matizar o que isso de ser apstolo ? Qual o seu

    alcance ?

    Paulo enquanto embaixador itinerante de Cristo (2 Cor 5,10) descreve a

    sua misso segundo o modelo do dicono de Cristo (so ministros de Cristo ?

    Tambm eu : 2 Cor 11,23), do servo (Col 1,7) ou do leitourgo,j do Senhor que

    para os gentios um ministro de Cristo Jesus que administra o Evangelho de

    Deus (Rom 15,16). Paulo no apstolo da parte dos homens nem por

    intermdio de um homem (Gal 1,1). Segundo os Actos existiam nas

    comunidades alguns profetas e mestres itinerantes fundadores de novas

    comunidades em misso que eram controlados, supervisionados pelos Doze

    apstolos (cf. Act 8-12). Alguns destes permaneceram como profetas e mestres

    locais, ligados s comunidades (havia em Antioquia profetas e doutores : Act

    13,1-2). Paulo e Barnab fizeram parte destes grupos itinerantes.

    interessante a explicao de Giovanni Leonardi acerca da sedentarizao

    destas funes ou de alguns membros destes grupos. De acordo com este

    autor, Paulo ter atribudo a si mesmo a partir de certa altura o ttulo de

    apstolo no verdadeiro sentido etimolgico do termo para se defender contra

    os judaizantes64. Lucas evitou atribuir a Paulo o ttulo de um dos Doze para

    diplomaticamente contentar os hebreus e os helenistas. Desta forma, Paulo

    seria como que um apstolo, um enviado no de segunda categoria mas da

    segunda gerao, no um dos primeiros apstolos65. Neste sentido, apstolo

    no epistolrio paulino ganha uma semntica mais abrangente. Paulo sabe-se

    apstolo em misso pelo Evangelho, mas sabe igualmente que existe um

    63 Cf. Pierre GRELOT Les ptres de Paul : la mission apostolique, In Jean DELORME, 37. 64 Cf. Giovanni LEONARDI, 472. 65 Cf. Ibidem.

  • 29

    grupo de Doze que constitui um ncleo de referncia para todos os outros

    apstolos.

    6.2. O profeta e o profetismo neo-testamentrio 66

    Ainda que fosse uma instituio do antigo Israel, sobrevive ainda nos

    primrdios da comunidade crist nascente. Todavia, a sua funo

    ligeiramente diferente. Paulo regulamenta a sua actividade nas assembleias

    crists : quanto aos profetas que falem dois ou trs e que os outros faam o

    discernimento (1 Cor 14,29.32.37). Mas quem so estes outros que

    regulamentam a actividade dos profetas ? ser que os profetas passaram por

    Corinto e ficaram, ou a prpria comunidade encontra membros profticos no

    seu seio ? E formaro um grupo parte da restante comunidade crist ? Lucas

    d-nos alguns exemplos das actividades dos profetas gabo, Barnab,

    Simeo chamado Nger, Lcio de Cirene, Menahen, e Saulo (Act 11,27; 13,1),

    e da mesma forma o autor do Apocalipse que se apresenta ele mesmo como

    um profeta d-nos algumas indicaes das funes que ainda exerciam no

    seio da comunidade crente no fim do sc. I d.C. (cf. Ap 18,20.24).

    A palavra profetisa muito mais rara, mas existe. Serve apenas para

    designar a profetisa Ana (Lc 2,36), a funo das quatro filhas de Filipe (Act

    21,9) e a mulher de Tiatiro (Ap 2,20). Todos estes profetas e profetisas tero

    sido, de acordo com Hermann Hauser, os principais animadores litrgicos e

    espirituais para as comunidades67.

    6.3. Doutor (mestre)

    O dida,skaloj pertence frequentemente titulatura jesuana, mas no

    restante corpo neo-testamentrio pode ser considerado residual e com um

    fraco fundamento, testemunho. Curiosamente, nas Cartas Pastorais quando se

    fala de doutores o autor mantm uma certa reserva : viro tempos em que no

    66 Cf. E. COTHENET Le prophtisme dans le N.T., DBS VIII (1971) 1222-1337; IDEM Prophtisme et ministre daprs le N.T., La Maison-Dieu 107 (1971) 29-50; Ch. PERROT Prophtes et prophtisme dans le Nouveau Testament, LumV 22 (1973) 25-39; R. L. THOMAS Prophecy Rediscovered ? A Review of the Gift of Prophecy in the New Testament and Today, Bibliotheca Sacra 149 (1992) 83-96.

  • 30

    mais suportaro a s doutrina, mas as pessoas acumularo mestres

    (didaska,louj) que lhes encham os ouvidos (2 Tim 4,3; cf. Mt 23,8).

    Apesar dos poucos dados que temos, tudo leva a crer que este ttulo de

    mestre / doutor se inspira na funo do rabi judaico (Jo 1,38), mas no

    epistolrio paulino entrou parece rapidamente em decadncia, sendo

    preterido por outros termos e ttulos. Ser que o conhecido Apolo era um

    destes exemplos (Act 18,21-28)?

    6.4. Apstolos, profetas e doutores

    Esta trilogia adquire um significado especial no vocabulrio ministerial

    paulino (h aqueles que Deus estabeleceu na Igreja primariamente como

    apstolos, em segundo lugar como profetas e em terceiro como doutores : 1

    Cor 12,28). Estes trs ttulos parecem pertencer fonte antioquena utilizada

    por Lucas em Act 13,1, provavelmente entre os anos 40-7068. O tom duro das

    duas cartas aos Corntios leva a pensar que estes trs ministrios no tero

    feito parte da estrutura principal da Igreja de Corinto. Tero inclusiv causado

    mais problemas do que conforto comunidade. Paulo viu-se obrigado a conter

    a efervescncia de alguns destes elementos.

    6.5. Apstolos e profetas

    Este grupo duplo surge somente em Ef 2,20; 3,5; 4,11; Ap 18,20 o que

    leva a pensar que muito possivelmente para o fim do sc. I d.C. estaro j em

    desuso. Os apstolos e profetas entram em Ef 2,20 na prpria definio da

    Igreja, enquanto apresenta este texto aqueles que chegam f e que so

    acolhidos na Igreja como passando a fazer parte daquela comunidade de

    Cristo cujo fundamento so precisamente esses apstolos e profetas69. A

    prpria Igreja necessita deles para dizer do seu mistrio e do desgnio de Deus

    a seu respeito, ou seja, dizer-se como uma Igreja aberta s naes, como lugar

    de promessa de reconciliao universal em Cristo (cf. Ef 3,5-6).

    67 Cf. Hermann Hauser Lglise lge Apostolique, 94. 68 Cf. Andr LEMAIRE De los servicios a los ministerios, 478; Hermann HAUSER Lglise lge Apostolique 93. 69 Cf. Paul BONY Lptre aux phsiens. In Jean DELORME, 76.

  • 31

    Para alm destes ttulos isolados ou combinados, encontramos somente

    uma vez a referncia aos evangelistas, pastores e mestres em Ef 4,11, em

    ordem a preparar os santos para uma funo de servio (v.12). A referncia a

    estes servios a seguir aos apstolos e profetas nas cartas pseudnimas de

    Paulo prolonga a ligao da Igreja ao seu passado fundador quer para a

    transmisso da f quer para a sucesso apostlica. Estas cartas procuram

    justificar a ordem e a f da Igreja no passado de Paulo. Se por um lado tentam

    refazer essa ligao desde o incio, por outro testemunham como tero

    persistido durante o sc. I d.C. quer o carisma da profecia quer o servio da

    palavra e do ensino. Contudo, continuamos sem saber a especificidade de

    cada uma destas funes. Ser o evangelista uma especificao da funo de

    pastoreio ? Ao pastor no pertencer tambm a funo de ensinar ? Qual a

    itinerncia deste(s) ministrio(s) : permanecero locais ou itinerantes ? Eram

    mandatados pela comunidade ? eram mesmo financiados por ela ?70

    De acordo com as recomendaes sobre a aco de Timteo em feso

    e de Tito em Creta, o autor das Cartas Pastorais deixa entender que outros

    colaboradores dos apstolos, talvez conhecidos como evangelistas,

    preencheram os respectivos requisitos apostlicos : Demas em Tessalnica,

    Crescncio na Galcia, Tito na Dalmcia, Erasto em Corinto, e talvez Trfimo

    em Mileto (cf. 2 Tim 4,10.20).

    6.6. Profetas e doutores de Antioquia

    Estes dois ministrios asseguram de maneira regular o ensino e a

    proclamao da palavra inspirada no seio da assembleia de orao. Esta dupla

    funo poder equivaler dupla funo de Mt 23,34 profetas e sbios, na

    medida em que o sbio (~kx) o nome tradicional dos doutores no judasmo71.

    O nico local onde aparecem em conjunto a comunidade antioquena de Act

    13,1, o que nos leva a supr que Antioquia seria a nica comunidade que

    contemplaria no seu seio os profetas e os doutores: na Igreja que estava em

    Antioquia havia profetas e doutores: Barnab, Simo chamado Nger, Lcio o

    Cireneu, Menahem, que tinha sido criado com o tetrarca Herodes, e Saulo.

    70 Cf. Hermann HAUSER - Lglise lge Apostolique 136.

  • 32

    Saliente-se que todos os membros deste grupo so helenistas, originrios da

    dispora judia. Paulo viveu na companhia de Gamaliel (Act 22,5), e Barnab

    parece ter sido tomado por profeta em Jerusalm (4,36). Estes profetas e

    doutores asseguram o servio (leitourgi,a) do Senhor e jejuam (13,2), ou seja,

    asseguram regularmente o ensino e a proclamao da palavra inspirada no

    seio das comunidades reunidas em orao. Na interpretao de Pierre Grelot,

    tais servios tero comeado por ser levados a cabo em regime ambulante, de

    itinerncia72.

    6.7. Apstolos e doutores

    1 Tim 2,7; 2 Tim 1,11 parecem ser textos j retrabalhados. No Pastor de

    Hermas surgem j como funes pertencentes ao passado. Na verdade,

    dever ser uma nota de redactorialidade o eu que se apresenta ainda como

    arauto, apstolo e mestre (2 Tim 1,11).

    6.8. Apstolos e presbteros

    Esta expresso aparece em Act 15,2 no contexto do dito conclio de

    Jerusalm. As suas diversas menes parecem ser uma exigncia pelos

    destinatrios do decreto. Nestes destinatrios os presbteros sero

    provavelmente e de acordo com a prpria etimologia dos termos - os chefes

    da Igreja de Jerusalm, e os apstolos sero provavelmente uma espcie de

    missionrios itinerantes vindo sobretudo do ponto de partida das viagens

    missionrias de Paulo Antioquia. Por conseguinte, esta expresso dupla

    parece querer significar o acordo entre ambas as partes.

    Em sntese, os apstolos, os profetas e os doutores podem-se

    considerar efectivamente um grupo frgil. Esta nomenclatura diluir-se- quase

    completamente nos escritos posteriores a Paulo, a partir sobretudo do fim do

    sc. I d.C.

    71 Cf. Clemens THOMA Amt. III. Im Judentum, TRE II (1978) 504. 72 Cf. Pierre GRELOT La tradition apostolique, 71.

  • 33

    6.9. Presbteros

    Esta expresso est sintomaticamente ausente nas proto-paulinas e na

    comunidade de Antioquia, o que se justifica se fr tido em conta que Paulo no

    d importncia tradio judaica na sua verso farisaica, antes critica-a. Com

    efeito, os presbu,teroi, os mais idosos so pessoas muito ligadas ao mundo

    judaico. Paulo utiliza uma nica vez o verbo presbeu,w no ministrio da

    reconciliao em 2 Cor 5,20. Ora, no N.T. prevaleceu a tendncia universalista

    prxima do helenismo. Presbyteros a expresso utilizada pelo autor dos

    Actos para designar os responsveis da Igreja de Jerusalm, da Igreja de

    feso e das Igrejas de Antioquia, da Sria e da Cilcia (Act 11,30; 16,4; 21,18;

    20,17; 15,23). Os presbteros fazem tambm parte das tardias Cartas Pastorais

    como ministros da Igreja de feso (1 Tim 5,1.17.19) e das comunidades da ilha

    de Creta (Tt 1,5).

    Estes testemunhos permitem concluir que o presbtero o ttulo habitual

    dos chefes das comunidades judeo-crists. Paulo ter querido marcar a

    diferena ou a distncia da comunidade antioquena face s outras

    comunidades judaico-crists no utilizando a este ttulo. No entanto, esse ttulo

    acabou por assentar pouco a pouco em todas as Igrejas, na medida em que

    fazia parte j da tradio vetero-testamentria. Neste sentido, o ttulo e a

    funo de presbtero foi com o tempo aglutinando em si mesmo vrias funes,

    semelhana da figura do bispo e do pastor, ao ponto de se confundirem entre

    si. Assim se compreende que as cartas Pastorais dele como que se

    reapropriem e seja utilizado indiferentemente de outros ttulos, nomeadamente

    o de epskopos.

    Estes presbteros representam a autoridade moral da comunidade.

    Devem ser irrepreensveis, bons pais de famlia, grandes pedagogos para a

    educao crist dos seus prprios filhos (1 Tim 3,2; Tit 1,6). Das vrias funes

    do presbtero contam-se : a presidncia supervisora da comunidade (1 Tim

    3,5), a funo do ensino, e o anncio da Palavra com aptido e competncia73.

    Possuem o direito remunerao, mas podem igualmente ser objecto de

    sano em caso de acusao de escndalo.

    73 Cf. Andr LEMAIRE Les ministres dans lglise. In Jean DELORME, 110.

  • 34

    6.10. Bispos e presbteros 74

    Como explicar que numa mesma comunidade (sobretudo em feso ou

    em Filipos) apaream nomeados mais do que um epskopos ou um

    presbyteros, tendo a Igreja hoje a experincia da individualizao institucional

    destes ministrios ? Haver contradio entre os dados do N.T. e a actual

    prtica eclesial e cannica ? Isto s ser explicvel se estes dois conceitos

    forem permutveis entre si, ou seja, se as personagens em questo quiserem

    dizer outra coisa daquilo que actualmente se entende por presbtero e por

    bispo, ou se os dois tipos de personagens tm as mesmas prerrogativas. Uma

    outra questo se levanta : mas se se d esse caso, estes dois conceitos sero

    assim totalmente permutveis ? Por que motivo os autores (Paulo e a sua

    escola) utilizam dois conceitos diversos ? No querer isto dizer que estamos

    diante de pessoas e de servios tambm eles diversos ?

    Com efeito, ao nvel da etimologia persistem diferenas (o que no quer

    dizer forosamente contradies). O presbtero o mais velho, enquanto que o

    epskopos aquele que vigia, que superintende. Etimologicamente, Pierre

    Benot parece ter razo ao afirmar que o primeiro indica um estado, e o

    segundo indica uma funo75. Esta diferenciao j notada nos mundos

    greco-romano e judaico. O termo presbuteroj traduz o hebraico ~ynqez.

    (zeqnim) e o termo epi,skopoj ser o equivalente do aramaico rQeb;m.

    (mebaqqer) ou do hebraico dyqiP; (paqd). No A.T. este ltimo termo pode

    designar os comandantes e oficiais militares (Num 31,14), o filho de Jerubaal

    Zebul seu lugar tenente (Jz 9,28), ; 2 Re 11,15), os guardies do Templo

    (Num 4,16; 2 Re 11,18), ou os intendentes encarregados de pagar os operrios

    (2 Re 12,11). Estes supervisores so por vezes traduzidos nos LXX por lder

    (hgou,menoj : cf. 2 Cr 31,13)76. Na literatura peri-testamentria faz-se sentir a

    74 Cf. E. LOHSE Die Entstehung des Bischofsamtes in der frhen Christenheit, ZNW 71 (1980) 58-73; F. M. YOUNG On Episkopos and Presbyteros, JThS 45 (1994) 143-148. 75 Cf. Pierre BENOT Les origines de lpiscopat dans le Nouveau Testament. In IDEM xgese et Thologie, II, Paris : Cerf 1961, 234. 76 A raz agw / gomai significa essencialmente liderar, conduzir, levar. Aqui trata-se de um particpio passivo substantivado.

  • 35

    influncia do Sindrio dos mais velhos77 que perdurar depois da destruio de

    Jerusalm no ano 70 na comunidade de Jmnia (b.San. 11,1-4).

    Em Qumran assiste-se a uma sacerdotalizao das duas figuras, as

    quais praticamente se confundem. Na cerimnia de entrada a seleco feita

    por um supervisor (1QS 1-3). O governo da comunidade era dirigido por

    membros responsveis no campo jurdico, executivo e legislativo. O Conselho

    Supremo da comunidade de Qumran era formado por doze homens mais

    velhos e por trs sacerdotes (1 QS 8,1). Para alm deste Conselho existia um

    outro formado por vrios oficiais. Aqui h que distinguir a Regra da

    Comunidade do Documento de Damasco. Este ltimo salienta que nos grupos

    mais pequenos existia um sacerdote responsvel pela liturgia e um supervisor

    (mebaqqer) perito na Torah, cuja misso instruir a congregao, comportar-

    se como um pai e um pastor para os membros da congregao (CD 13,2-

    7;14,7-9). Este supervisor parece ter arbitrado as contendas entre os membros

    do grupo. A seus ps tambm era colocados as economias e os ganhos da

    comunidade, pa