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Ano XXXI | ed. 356 | Nov | 2014 Prestes a entrar em vigor, regulamentação movimenta mercado e está no centro dos debates Páginas 6, 7 e 8 A LEI 13.003 E OS RUMOS DO SETOR Entidades intensificam participação na Hospitalar 2015 Página 10 Interior aprimora qualidade no atendimento ao cliente Página 5

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Ano XXXI | ed. 356 | Nov | 2014

Prestes a entrar em vigor, regulamentação movimenta mercado e está no centro dos debatesPáginas 6, 7 e 8

A LEI 13.003E OS RUMOSDO SETOR

Entidades intensificam participação na Hospitalar 2015Página 10

Interior aprimora qualidade no atendimento ao clientePágina 5

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Editorial

| Jornal do SINDHOSP | Nov 2014

SINDHOSP - Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas e Demais Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de São Paulo • Diretoria

| Efetivos • Yussif Ali Mere Jr (presidente) • Luiz Fernando Ferrari Neto (1o vice-presidente) • George Schahin (2o vice-presidente) • José Carlos Barbério (1o tesoureiro) • Antonio Carlos de Carvalho (2o tesoureiro)

• Luiza Watanabe Dal Bem (1a secretária) • Ricardo Nascimento Teixeira Mendes (2o secretário) / Suplentes • Sergio Paes de Melo • Carlos Henrique Assef • Danilo Ther Vieira das Neves • Simão Raskin

• Irineu Francisco Debastiani • Conselho Fiscal | Efetivos • Roberto Nascimento Teixeira Mendes • Gilberto Ulson Pizarro • Marina do Nascimento Teixeira Mendes / Suplentes

• Maria Jandira Loconto • Paulo Roberto Rogich • Lucinda do Rosário Trigo • Delegados representantes | Efetivos • Yussif Ali Mere Jr • Luiz Fernando Ferrari Neto | Suplentes • José Carlos Barbério

• Antonio Carlos de Carvalho • Escritórios regionais • BAURU (14) 3223-4747, [email protected] | CAMPINAS (19) 3233-2655, [email protected] | RIBEIRÃO PRETO (16) 3610-6529,

[email protected] | SANTO ANDRÉ (11) 4427-7047, [email protected] | SANTOS (13) 3233-3218, [email protected] | SÃO JOSÉ DO RIO PRETO (17) 3232-3030,

[email protected] | SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (12) 3922-5777, [email protected] | SOROCABA (15) 3211-6660, [email protected] | BRASÍLIA (61) 3037-8919 /

JORNAL DO SINDHOSP | Editora – Ana Paula Barbulho (MTB 22170) | Reportagens – Ana Paula Barbulho • Aline Moura • Fabiane de Sá • Rebeca Salgado • Elcio Cabral | Produção gráfica – Ergon Ediitora (11) 2676-3211

| Periodicidade Mensal | Tiragem 15.000 exemplares | Circulação entre diretores e administradores hospitalares, estabelecimentos de saúde, órgãos de imprensa e autoridades. Os artigos assinados não re-

fletem necessariamente a opinião do jornal | Correspondência para Assessoria de Imprensa SINDHOSP R. 24 de Maio, 208, 14o andar, São Paulo, SP, CEP 01041-000 • Fone (11) 3224-7171, ramais 390 e 391

• www.sindhosp.com.br • e-mail: [email protected]

No último dia 12 de novembro, o Senado rejeitou, em sessão de votação, o fim dos impostos sobre medicamentos de uso humano. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 115/2011 proibia a cobrança de qualquer imposto sobre este tipo de medicamento, por meio de isenção gradual, na medida de 20% por ano, o que determinaria a isenção total em 5 anos. A justificativa da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) foi de que a redução da carga tributária prevista na PEC resultaria em impacto negativo sobre os orçamentos estaduais e municipais, seja pela redução de IPI nas localidades que sediam indústrias farmacêuticas ou por queda nos repasses dos FPE (Fundos de Participação dos Estados) e FPM (dos municípios).

Há cerca de 20 projetos de lei tramitando no Congresso que tratam desse assunto. Mostra de que o tema é caro à sociedade, e precisaria ser tratado com celeridade. No Brasil, a tributação de remédios alcança o patamar de 34%. No Reino Unido, Canadá, Colômbia, Estados Unidos, México e Venezuela, o tributo é zero. Na França, Suíça, Espanha, Portugal, Holan-da, Bélgica e Itália, o máximo cobrado é 10%.

Além de não considerar o cenário mundial no que diz respeito à tributação de medicamentos, a senadora Gleise Hof-fmann ainda utiliza um argumento nada convincente ao dizer que haveria redução drástica na arrecadação de IPI. Isso por-que, segundo a Tabela de Incidência do IPI, da própria Presidência da República, em seu capítulo 30, já consta que os me-dicamentos de uso humano possuem alíquota zero na incidência deste imposto (vide o link http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/Anexo/And7660.pdf). Os maiores vilões são, na verdade, o imposto estadual ICMS e os federais PIS/Cofins. E embora haja uma lista de 174 substâncias utilizadas em medicamentos que estejam livres do PIS/Cofins desde julho deste ano, a Frente Parlamentar para Desoneração dos Medicamen-tos defende que os remédios estejam no patamar da cesta básica, zerada de impostos federais. Além disso, o governo controla o preço dos remédios e, por isso, seria o respon-sável por garantir que a isenção de impostos fosse repassada ao consumidor.

Não parece lógico que o governo, o maior cliente do mercado farmacêutico, man-tenha a tributação que ele próprio paga. E já existem experiências, como São Paulo, que pratica a desoneração do seu imposto, o ICMS, nas compras de medicamentos que ele mesmo faz. Ora, se São Paulo, o maior estado arrecadador do Brasil, consegue abrir mão deste quinhão, por que não o Governo Federal?

É só uma questão de prioridades...

presidenteYussif Ali Mere Jr

SAÚDE PARECE NÃO SER PRIORIDADE

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Em dia

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O jornal “O Estado de SP” levantou dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e publicou, no início de outubro, reportagem sobre os procedimentos mais recusados pelas ope-radoras de saúde. Em segundo lugar nas negativas de 2013 está a cirurgia bariátrica, com 526 casos.

A ANS incluiu em 2011 em seu Rol de Procedimentos que a gastroplastia, seja por videolapa-roscopia ou via laparotômica, deve ser coberta por planos de saúde. Segundo a agência, a negativa de cobertura, geralmente, “se dá em função da não adequação do paciente às condições esta-belecidas pelas diretrizes clínicas”. Em nota oficial, a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), entidade que representa os planos de saúde, afirma que “todas as operadoras filiadas à associação respeitam as regras da ANS e incorporam os itens estabelecidos no Rol de Procedi-mentos da agência”, e completa: “Para tanto, é necessário que sejam cumpridos alguns critérios regulamentados pela agência, o que requer uma avaliação caso a caso“.

O número de cirurgias bariátricas no Brasil cresceu 300% em dez anos, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). O país já é o segundo que mais realiza esse procedimento em todo o mundo, com cerca de 80 mil cirurgias por ano, atrás apenas dos Estados Unidos, com 140 mil. Hoje, a obesidade representa um dos principais desafios para

os sistemas de saúde na maior parte dos países. No Brasil, o problema já alcança quase metade da população, com viés de crescimento, afirmou o professor-titular de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Andrade Lotufo, durante o debate “Obesidade e os Impactos no Sistema de Saúde”, que ocorreu em outubro, em São Paulo, e teve apoio da FEHOESP e do SINDHOSP. Na palestra, realizada pelo Centro de Estudos e Planejamento em Gestão de Saúde da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Lotufo analisou dados de pesquisas realizadas no Brasil desde 1974.

“Os significados práticos da obesidade são o aumento da prevalência de doenças associadas ao excesso de peso, como lombalgia, artrose de joelhos, varizes e trombose de membros inferio-res e apneia do sono; aumento da prevalência de fatores de risco cardiovascular como diabetes, hipertensão e dislipidemia com consequente impacto na mortalidade geral”, explicou Lotufo. A endocrinologista Maria Edna de Melo, diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesida-de e Síndrome Metabólica (Abeso), vai além: “os danos psicológicos e relacionados a produtividade não podem ser esquecidos”.

Segundo a diretora da Abeso, haverá aumento de custos tanto no sistema público como no

CUSTOS DA OBESIDADE ONERAM SISTEMA DE SAÚDE

privado: “os gastos relacionados ao tratamento da obesida-de, e também os provenientes das doenças relacionadas, como câncer, diabetes, hipertensão e dislipidemia, devem aumentar nos próximos anos”. A endocrinologista afirma que cerca de 80% dos casos de diabetes estão associados à obesidade. “Portanto, reduzir a prevalência de obesidade, prevenindo e tratando, deve ser a meta para as redes públi-cas e privadas reduzirem seus custos”.

Só o Sistema Único de Saúde (SUS) gasta US$ 20 bi-lhões anuais (o equivalente a R$ 47 bilhões) com problemas relacionados ao sobrepeso e à obesidade, soma essa que considera gastos diretos como internações e medicamentos e os indiretos, por perda de produtividade. Os dados são de um estudo publicado em 2012 no periódico científico BMC Public Health e realizado por pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesi-dade infantil é um dos maiores problemas de saúde: confor-me relatório do órgão o número de crianças afetadas passou de 31 milhões para 44 milhões entre 1990 e 2012. Se a situa-ção se mantiver, as crianças com sobrepeso ou obesidade no mundo podem chegar a 75 milhões em 2025.

Para o professor Lotufo, prevenir esse tipo de proble-ma depende de uma estratégia populacional que envolva todos os setores da sociedade, passando pelos fabricantes de comida, pelo setor sucroalcooleiro, além do Ministério da Saúde (MS).

Segundo Patricia Constante Jaime, responsável pela Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição do MS, “a prevenção e o controle dessas doenças são medidas prio-ritárias”. Ela apresentou a Política Nacional de Alimentação e Nutrição, do MS, e explicou que seu propósito é a me-lhoria das condições de alimentação, nutrição e saúde da população, mediante a promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis, a vigilância alimentar e nutricional, a prevenção e o cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e nutrição. “No Brasil, estima-se que o total de gastos relacionados à obesidade alcança os R$ 500 milhões por ano”, afirma Patricia.

EFICÁCIAA revista médica britânica “Lancet Diabetes & Endo-

crinology” publicou, em novembro, pesquisa revelando que a cirurgia bariátrica é o procedimento mais eficaz na cura do diabetes tipo 2. O estudo foi feito com 2.167 pacientes que passaram por cirurgia bariátrica, mais um grupo de controle com a mesma quantidade de pessoas obesas, sem diabetes, e que não fizeram cirurgia. Em sete anos o grupo de operados apresentou 38 casos de diabe-tes, enquanto que no grupo de controle foram diagnosti-cados 177 novos casos, uma redução de 80% na incidência do diabetes tipo 2 no grupo de operados.

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Seminário aborda Lei das Empresas Limpas

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SAÚDE REALIZA PRIMEIRO EVENTO SOBRE LEI ANTICORRUPÇÃO

OS DESAFIOS DA GESTÃO DE RISCO

O gestor do Instituto de Ensino e Pesquisa na Área da Saúde (IEPAS), Marcelo Luis Gratão, representou o presidente da FEHOESP e do SINDHOSP, Yussif Ali Mere Jr, no 1o Seminário Lei das Empresas Limpas com Foco na Área da Saúde, que aconteceu em 30 de outubro no salão nobre da Associação Brasileira das Classes Profissionais (ABCP), em São Paulo. A chamada Lei das Empresas Limpas – mais conhecida como Lei Anticorrupção – foi promulgada no Brasil com o objetivo de co-brar mais transparência e ética nas relações que envolvem poder público e iniciativa privada. Além do efeito preventivo contra atos de corrupção, como a manipulação de processos licitatórios ou fraudes oportunistas, a lei possui um efeito educativo para as empresas, à medida que incentiva a adoção de boas práticas de governança corporativa, a conduta ética e o engajamento dos empre-sários no combate a fraudes, suborno e violação de licitações.

Gratão avaliou que a Lei Anticorrupção é um divisor de águas na relação do empresariado com o Poder Público. “Ela pretende aprimorar o sistema jurídico brasileiro no combate aos atos de corrupção, visando criar um ambiente de negócios mais competitivo e justo e no qual as empresas e os governos sejam éticos e transparentes”.

O vereador Paulo Frange, que é médico e administrador hospitalar, também exultou a lei, di-zendo que ela é um marco na luta contra a corrupção. “A Organização Mundial de Saúde fez um estudo que mostra que, em todo o mundo, os investimentos em saúde são da ordem de US$ 4,7 trilhões. Dessa quantia, US$ 260 bilhões de dólares, ou cerca de 6%, se perdem em fraudes e desvios”, contou. “A corrupção no setor de saúde mata, pois os desvios de recursos fazem com que haja menos dinheiro para tratar a população”.

Mário Vinícius Claussen Spinelli, secretário controlador-geral do município de São Paulo, afirmou que a corrupção é apontada pela população como o problema mais sério a ser enfrentado, à frente da saúde e da educação. “Existe uma relação promíscua entre alguns setores públicos e privados”. Ele ilustrou sua opinião com um dado interessante: “Das 35 mil denúncias de corrupção recebidas pela Controladoria-Geral da União entre 2003 e 2010, só 115, ou 0,32%, vieram de setores privados”.

Um dos principais desafios para os prestadores de serviços de saúde e operadoras é gerir riscos com foco em resultados financeiros e alta performance. Este foi o tema da primeira edição do Health Care Summit, realizada nos dias 12 e 13 de novembro, no Espaço Fit Eventos, em São Paulo.

Voltado para executivos e gestores da área da saúde, o encontro promoveu a troca de informa-ções e experiências sobre os desafios atuais e planejamento estratégico dos prestadores e operadoras.

Para o diretor administrativo-financeiro do Grupo Plena Saúde, Roberto Ranieri Sobrinho, que apresentou a conferência sobre análise macroeconômica do segmento de saúde no Brasil e os de-safios atuais do planejamento estratégico dos prestadores e operadoras, é fundamental a discussão sobre melhorias na aplicação do que foi expresso no acordo de parceria entre as partes e medidas para garantir a eficácia na formação de contas e custos. “Hoje, há uma concentração de operadoras e de oferta de produtos, aumento na demanda de beneficiários e os preços dos serviços estão aumentando. A saída é buscar o ganho da receita, com cobrança ativa e cláusula de reajustes que contemplem o sinistro puro adicionado das demais despesas correntes, com a contenção de cus-tos e despesas, atentando, principalmente, para os indicadores de reajuste da rede credenciada e demais contratos”, explicou.

Sobrinho disse que fazer o mapeamento de beneficiários, estando atento a mudança da pi-râmide etária, e desenvolver programas de prevenção de doenças e promoção da saúde podem garantir o futuro da saúde suplementar. “O aumento da carteira ou a capacidade instalada dos prestadores demanda fluxo de caixa, agilidade, qualidade/certificação, investimento em tecnologia, estrutura, equipamentos e pessoas, além de profissionalização para se ter uma gestão por resulta-dos. É preciso focar em um determinado produto ou público, porque ninguém consegue ser bom em tudo, e ainda ter um líder que acredite nos valores da empresa e tenha visão de longo prazo,

Para Marcelo Chacon Ruiz, da Academia Internacional Anticorrupção (IACA, na sigla em inglês), o principal impacto da lei na sociedade é que “até então, nos atos de corrupção praticados por empresas, a culpa recaía sobre o corruptor, o funcionário, aquele que entregava a propina. A partir da emissão da lei, a pessoa jurídica passa a ser responsabilizada objetivamente pelos atos ilícitos”. Ele afirmou que a lei de-termina exposição na mídia e no próprio estabelecimento, a fim de avisar ao público que a empresa realizou atos ilícitos.

mas com agilidade para lidar com as demandas imediatas. Dessa forma, é possível vislumbrar um futuro para o setor suplementar da saúde.”

Olhar para frente, esta é a dica do superintendente da Unimed de São José do Rio Preto, Sergio Maciel. Para ele, somente desta maneira pode se enfrentar os desafios pelo quais o mercado da saúde brasileira vem passando. “Os pro-blemas e desafios são muitos e não há controle sobre isso. A inflação médica é muito maior que o Índice Nacional de Pre-ços ao Consumidor (INPC) ou o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M). Há inadimplência, envelhecimento popu-lacional, baixa taxa de fecundidade, falta de qualificação da mão de obra, sem falar no conflito de interesses enorme que acontece devido ao modelo assistencial ultrapassado que te-mos no Brasil, onde se trata a doença”, explicou.

A alternativa encontrada por Maciel e sua equipe foi a governança corporativa e a gestão de risco para garantir qualidade no serviço prestado e rentabilidade. “Essas boas práticas convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimi-zar o valor da organização, facilitando o acesso ao capital e contribuindo para a longevidade da empresa.”

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Em dia

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INTERIOR APRIMORA QUALIDADE NO ATENDIMENTO AO CLIENTE

As regionais do SINDHOSP no interior do Estado es-tão focadas em acompanhar os problemas e as demandas do setor da saúde. Para atender às solicitações dos asso-ciados e filiados do Sindicato, vários eventos, como cursos, treinamentos e workshops, estão sendo promovidos.

Como as dúvidas dos profissionais das empresas de saúde são muitas e os assuntos que afetam o cotidiano dos estabelecimentos são vários, o tema escolhido, de acordo interesse dos prestadores de serviços do interior, desta vez foi o atendimento ao cliente.

A psicóloga Márcia Fonseca Vieira, coach do Instituto Para Evoluir, esteve em duas regionais debatendo o tema com profissionais da saúde que atuam na área de atendi-mento ao público.

No dia 12 de novembro, foi a vez de São José dos Campos e região discutir as bases da humanização no aten-dimento, os fatores que favorecem ou impedem a prática de um relacionamento assertivo e empático e os aspectos pessoais que impactam na relação com o outro, por meio do curso “Atendimento Com e Para Seres Humanos”. Na oportunidade, Márcia abordou em sua palestra quando o eu impede a relação com outros, a escada da inferência e

conflitos, os princípios para um atendimento humanizado, entre outros assuntos. Temas fundamentais, segundo ela, e que foram apresentados também na regional de Bauru, em 5 de novembro.

Relacionamento e comunicação também mereceram destaque nos debates promovidos no interior. Em 28 de outubro, a regional de Sorocaba do Sindicato promoveu um curso sobre o tema, que discutiu os caminhos alterna-tivos para a comunicação e o relacionamento, de forma a obter melhores resultados para todos os envolvidos, am-pliar a eficácia dos trabalhos desenvolvidos em equipe, menor índice de estresse e, consequentemente, mais qua-lidade de vida. Esse evento também teve à frente Márcia Fonseca.

SEGURANÇA DO TRABALHADORPara esclarecer dúvidas e alertar os responsáveis quanto aos riscos que interpretações er-

rôneas das leis sobre segurança e saúde ocupacional podem trazer aos estabelecimentos de serviços de saúde, a advogada do departamento Jurídico do SINDHOSP, Lucinéia Nucci, realizou no dia 16 de outubro o workshop sobre os principais assuntos relacionados a esses temas, no Hotel Riviera Araçatuba, no interior de São Paulo.

Administradores, médicos e enfermeiros do Trabalho, engenheiros e técnicos de Segurança do Trabalho, advogados e profissionais de Recursos Humanos, de Araçatuba e região, discutiram sobre atestado médico, diferenças entre adicional de periculosidade e insalubridade, acidente de trabalho, aplicação da norma regulamentadora (NR) 32 e aposentadoria especial.

Representante da bancada patronal das Comissões Tripartite Permanente Nacional (CTPN) Regional (CTPR-SP) da NR 32 e coordenadora do Comitê de Segurança e Saúde Ocupacional (CSSO) do SINDHOSP, Lucinéia considera que debater esses temas é de fundamental impor-tância para prevenir as empresas de saúde dos impactos desses assuntos nos aspectos fiscal, previdenciário, trabalhista e cível, e também porque essas questões são constantemente objeto de consulta por parte dos profissionais da saúde.

EXPANSÃO DOS NEGÓCIOS EM MARÍLIA

De acordo com o gerente de Operações Regionais da Federação, Erik von Eye, que esteve em várias cidades paulistas acompanhando os eventos e visitando os associados, contribuintes e filiados dos sindicatos, a intensificação do diálogo, além da programação intensa de cursos e palestras, visam ao fortalecimento do setor e integram o planejamento estratégico da FEHOESP e do SINDHOSP. “Com este pro-pósito, queremos ir além, para que as melhorias sejam contínuas e tragam às soluções para os problemas enfrentados pelo setor da saúde.”

E o trabalho começa a mostrar resultados. Esta é a opinião da diretora executiva do Instituto Vida, de Marília, Akiko Hiramoto Pereira. Para ela, a atualização e a quali-ficação profissional somadas às orientações jurídicas e informações do setor são um diferencial para o associado do SINDHOSP. “Essas ações contribuem inclusive para o fortalecimento da categoria patronal, muito importante em vários momentos, como no processo negocial.”

O Instituto Vida foi criado em maio de 1988 focado em ofertar serviços de me-dicina laboratorial com excelência nas ações técnicas, com acolhimento às pessoas e respeito ao meio ambiente. “Com os nossos laboratórios de patologia clínica quere-mos contribuir para a recuperação e preservação da qualidade de vida dos nossos usuários, parceiros e colaboradores”, afirmou Akiko, destacando o investimento em expansão dos negócios. “Em setembro, inauguramos a quarta unidade do Instituto Vida, localizada no Jardim Marília, com o intento de atender a procura por exames menos complexos e proporcionar rapidez no atendimento aos clientes. Também bus-camos referendar a unidade neste tipo de atendimento menos complexo, mas que vem com uma demanda crescente.”

Ter mais representantes regionais para fortalecer o segmento é dos pontos que Akiko reforça como fundamental para os associados do SINDHOSP. “Acredito que com isso podemos ser mais fortes e lutarmos por melhorias para a saúde.”

Esta é também a opinião do diretor-técnico médico do CMD – Centro Médico Diagnóstico, localizado no centro de Marília. “Vivemos um momento econômico e político delicado. Não sabemos o que pode acontecer. Ter uma base sólida nos ne-gócios e ter quem nos represente é fundamental para superarmos as adversidades”, ressaltou.

Araçatuba recebe orientações sobre segurança do trabalhador na área da saúde

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Manchete

Um dos grandes e mais antigos impasses do sistema privado de saúde é a questão dos pagamentos e dos valores a serem pagos pelos serviços prestados. Sendo os planos de saúde os intermediários na relação entre usuários e presta-dores de serviços (hospitais, clínicas, laboratórios, médicos e outros profissionais), são eles que guardam o poder econô-mico nesta relação. Em busca de estabelecer um consenso entre o que se paga e o que se espera receber, a Agência Na-cional de Saúde Suplementar (ANS) vem se esforçando para criar mecanismos que minimizem tais conflitos. Em conso-nância com este espírito de buscar o diálogo, SINDHOSP e Fleury realizaram, pelo sétimo ano consecutivo, o Seminário SINDHOSP/Fleury, no dia 30 de outubro, a fim de debater os rumos do setor. No centro das apresentações, esteve a Lei 13.003, de 24 de junho de 2014, que torna obrigatória a exis-tência de contratos escritos entre as operadoras e seus pres-tadores de serviços. Tal lei é mais uma tentativa da ANS de formalizar os contratos e incluir cláusulas de reajustes anuais. O texto, em fase de regulamentação, teve uma audiência pública em 11 de novembro, a fim de receber contribuições da sociedade. Fora isso, um grupo técnico, formado por re-presentantes do setor, tem se reunido desde julho, a fim de dar contribuições para o aprimoramento da lei, que entra em vigor dia 22 de dezembro. O evento SINDHOSP/Fleury centralizou seus debates em torno da lei 13.003, e abordou também os rumos da ANS para a sustentabilidade do siste-ma. Contou com a participação de mais de 100 representan-tes de entidades de classe e agentes da saúde suplementar, e teve o apoio da Federação dos Hospitais, Clínicas e Labora-tórios do Estado de São Paulo (Fehoesp).

Durante a abertura do encontro, Carlos Marinelli, pre-sidente do Grupo Fleury, falou sobre a importância de pro-mover debates relevantes para a construção de bases mais sólidas para as relações. “As ideias podem ser divergentes, contudo, é necessário discuti-las para buscar a convergência do que é melhor para o mercado de saúde e para o país”. Marinelli enfatizou, ainda, a importância de manter foco permanente na perenidade de todas as partes interessadas

nessas instâncias. Na sequência, Yussif Ali Mere Jr., presidente do Sindhosp, também enfatizou a importância do diálogo entre os agentes do setor. “A discussão ganha importância neste momento, pois recentemente a presidente da República foi à TV dizendo que haveria o diálogo na área da saúde. Nós precisamos acreditar nisso e cobrar essas melhorias para o setor”, afirmou.

Para o diretor de gestão da ANS, Jose Carlos Abrahão, os próximos passos da autarquia são na direção de assegurar o acesso e a qualidade assistencial, entre outros pontos, frente aos desafios do setor, como o envelhecimento da população. Em sua opinião, para que isso aconteça, é preciso mudar o modelo de remuneração atual. “O modelo fee for service está falido, e as negociações não avançaram”, disse, referindo-se ao grupo de trabalho formado dentro da Agência, a fim de propor uma nova relação de pagamento. “A Gerência de Prestadores era um facilitador, mas com o seu fim, as conversas não andaram. Não podemos, no entanto, permitir que este setor caia em descrédito, e que o beneficiário perca a confiança do modelo que ele adquire. Temos que ter a coragem de discutir democrática e francamente, a fim de compartilhar uma forma de sobrevivência. E asseguro que há predisposição da diretoria como um todo para aumentar o diálogo”, afirmou.

Martha Regina de Oliveira, diretora de Desenvolvimento Setorial da ANS, comentou sobre as experiências que tem vivenciado à frente do grupo de trabalho formado para regulamentar a Lei 13.003. O texto fala, sobretudo, da contratualização entre operadoras de planos de saúde e prestadores de serviço, que atualmente sofrem com os chamados contratos tácitos – aqueles em que as partes, sem declarar ou mencionar suas intenções, agem de forma consonante ao longo do tempo, de maneira que dessa relação passam a existir direitos e obrigações. “Hoje a gente vive o modelo da desconfiança. Esse modelo ainda vai existir e não vai ser um papel que vai acabar com isso. O papel tem a intenção de melhorar e facilitar a relação, pra que no futuro a desconfiança diminua”, disse Martha. A diretora ainda criticou a postura de alguns prestadores de serviços, que têm se negado a assinar qualquer tipo de contrato propostos após a Instrução Normativa (IN) 49, mais uma tentativa da ANS de impor regras mais claras na relação comercial do setor. “Acho muito complicado orientar que não se assine contrato, justamente porque a relação de pagamento gera um contrato tácito”.

Para Claudia Cohn, presidente da Associação Brasileira de Medicina Diag-nóstica (Abramed), o caráter participativo assumido pela ANS na construção da IN 49, que contou com a contribuição de todos os players, gerou uma grande expectativa para os prestadores de serviços. “A sensação de der-rota veio logo depois, porque vários pontos que foram sugeridos não foram considerados na publicação efetiva, e não houve devolutiva. E os contratos enviados vinham de forma leonina, impondo reajustes inclusive com valores deflacionários.”

Na opinião de Tércio Ergon Paulo Kasten, vice-presidente da Confederação Nacional da Saúde (CNS), os prestadores que assinaram, o fizeram por medo. “Principalmente para as pequenas empresas, este é um grande proble-ma, porque o comprador de serviço tem o poder do descredenciamento, e impõe as regras”. Na visão das operadoras, as empresas cumprem o que a ANS determina. Para José Cechin, diretor exe-cutivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), as operadoras estão dispostas a construir uma saída conjunta para as divergências de pagamento. E sinalizou: “Não há necessidade de uma interfe-rência de governo nesta rela-ção entre duas partes privadas”.

A LEI 13.003 E OS RUMOS DO SETOR

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Players do setor se reúnem no Seminário SINDHOSP/Fleury

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7Nov 2014 | Jornal do SINDHOSP |

Manchete

A LEI 13.003 E OS RUMOS DO SETORMas não é o que pensa a ANS. Para Martha Oliveira, o papel da agência é lidar com isso re-

gulatoriamente, a fim de fazer com que o setor funcione melhor. “Eu gostaria, inclusive, que a lei 13.003 fosse capaz de induzir algum nível de qualificação no setor. Acho que não é uma lei que veio somente estabelecer que deve ter um papel e neste papel tem que ter um índice de reajuste. Hoje eu posso punir a operadora que não tem contrato. Posso até fechar essa operadora, no limite da regulação. Mas não tenho como forçar os prestadores a assinarem os contratos, e nem vou ter como fazer isso depois da regulamentação da lei. Mas teremos que pensar nisso tudo, porque a lei tem que valer para os dois lados”.

Atualmente, existem quatro normas em vigor sobre a contratualização. Mas nenhuma delas é aplicada, na prática. Yussif Ali Mere Jr, presidente do SINDHOSP, lembrou este fato, e utilizou o exemplo do National Health Service (NHS), sistema de saúde inglês. “Evidentemente que como está não está bom. E vemos também que existem abusos de todas as partes. O custo da desconfiança está embutido nisso, e ele não é inerente à saúde. Dá pra perceber que está escrito, mas não está na prática. Precisamos avançar no diálogo. No NHS inglês, não está tudo escrito, está no dialogo, na prática, no consenso. Temos que avançar como um setor e esta não é uma responsabilidade só da ANS. A agência pode publicar o que quiser, se o setor não quiser e não estiver pronto, nada irá melhorar. Outro ponto fundamental é que sem discutir o modelo assistencial, não vamos chegar a um modelo de remuneração adequado”.

O gerente de Relações Institucionais do Grupo Fleury, Wilson Shcolnik, que atuou como moderador dos debates, ressaltou as respostas das enquetes realizadas ao longo do evento,

que mostraram alguns resultados pessimistas. “Entre os participantes, por exemplo, apenas 12% acham que os reajustes vão acontecer nos primeiros 90 meses do ano-calendário após a regulamentação da lei 13.003”, considerou. Diante desta cons-

tatação, Martha Oliveira aposta em alguns movimentos do mercado. Como a contemplação do reajuste nos contratos, uma das principais mudanças do texto. “Hoje, quando a gente compara o que está em vigor e o que diz a lei,

há um único e principal avanço, que é o reajuste. O restante, já tínhamos mini-mamente contemplado. Essa lei vai valer para os contratos em vigor e não apenas para os novos. Os contratos terão que se adaptar em algumas cláusulas, mas diferente mesmo é a cláusula de reajus-te”, disse. Segundo ela, a lei servirá também para induzir qualidade no setor. “Enquanto a gente não tratar a forma remuneratória como consequência do modelo, não vamos chegar a lugar nenhum. É nisso que a gente aposta: no redesenho de modelo.” Martha também admitiu que pode haver descredenciamento e o crescimento do movimento da verticalização – quando o planos de saúde investem em ter sua própria rede de prestadores de serviços, uma vez que conseguem obter maior controle sobre os custos. “Mas precisamos refletir no que é ter um plano de saúde no Brasil hoje, e o que esperar deste plano”, completou.

Para a presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), Paula Fernandes Távora, o descredenciamento pode ser uma forma de os

prestadores de serviços res-tabelecerem esta relação direta com

os pacientes. “O processo de verticalização foi como nasceu o modelo da saúde, cujos serviços eram prestados

pelas Santas Casas e pelos hospitais filantrópicos, que possuíam este cuidado holístico so-

bre o paciente. Em algum mo-mento, tivemos essa

ruptura, e

surgiu um intermediário que onerou a cadeia, gerando um ônus, porque os planos de saúde não têm o sentido de cuidar do usuário. Atuam como despachantes da saúde. E pra que eles continuem existindo, a verticalização é o único caminho. Acredito, portanto, que esta será uma tendência até que a gente, enquanto prestador, reestabeleça essa re-lação direta. Eu acredito nisso, em um descredenciamento em massa dos prestadores. Espero que, em tempo, o setor se encontre, e converse, para que isso não aconteça. Mas, da forma como está hoje, a tendência é esta”.

AUDIÊNCIA PÚBLICAEm 11 de novembro, a pouco mais de um mês da

entrada em vigor da lei 13.003, a ANS promoveu uma Audiência Pública para discutir a regulamentação do texto. Segundo Martha Oliveira, diretora da agência, não haveria tempo para a abertura de uma Consulta Pública, daí a realização da audiência. Na oportunidade, foram colhidos subsídios e sugestões para a proposta de reso-lução normativa da lei, que entrará em vigor em 22 de dezembro.

Os temas em debate foram: critérios de equivalên-cia para substituição de prestadores, cláusulas obrigató-rias dos contratos estabelecidos entre as partes, defini-ção do ano-calendário para reajuste dos prestadores de serviço, modo pelo qual se dará o cálculo e utilização do índice de reajuste definido pela ANS, formas de comu-nicação com os consumidores para a substituição de prestadores pelos planos e necessidade de adaptação dos contratos vigentes à nova lei.

Martha Oliveira destacou a importância da existên-cia de contratos entre as partes para garantir um serviço com melhor qualidade para o beneficiário. Em relação ao índice de reajuste, a diretora explicou aos participantes que ele será aplicado caso haja falha na negociação entre as partes. “A novidade fica com a possibilidade de aplicar fatores de qualificação neste reajuste”, afirmou.

Público lota auditório, em 30 de outubro

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PARA MÉDICOS, NOVA LEI PODE TRAZER EQUILÍBRIO ECONÔMICO

Lutando pela valorização profissional, pela obrigatorie-dade de planos de saúde reajustar os honorários médicos anualmente e pela contratualização, a Associação Paulista de Medicina (APM) considera uma vitória para a classe a Lei 13.003/2014. “O que esperamos é que realmente, a partir da regulamentação da lei por parte da Agência Nacional de Saú-de Suplementar (ANS), o setor seja mais justo com os presta-dores e com os próprios pacientes”, afirmou Florisval Meinão, presidente APM, durante coletiva de imprensa realizada na sede da entidade no dia 13 de outubro, quando anunciou um dia de suspensão do atendimento eletivo a usuários de 11 pla-nos de saúde que se negaram a negociar ou encaminharam propostas de reajuste com índices muito baixos.

A APM participou dos encontros do grupo de trabalho criado pela ANS para discutir a nova lei. Para Meinão, a nor-

ma tem avanços significativos, como o fato do legislador ter entendido que também cabe ao órgão regulador do siste-ma mediar a relação entre os prestadores de serviços e as operadoras, para garantir o equilíbrio econômico na saúde suplementar. Ainda assim, na opinião do médico, alguns tópicos merecem atenção para que a proposta final seja favorável à classe. “O que nos preocupa neste andamento da regulamentação é que a agência venha a intervir apenas ocasionalmente, considerando que os contratos já firmados e que contenham cláusulas de reajuste significam que houve uma negociação prévia e, portanto, não caberá a aplicação do índice definido pela ANS”, comentou.

Meinão disse que a entidade já alertou a agência que muitos contratos firmados no passado contêm critérios de reajuste inaceitáveis, como a utilização de frações de índices de indicadores econômicos. “Estamos atentos no encami-nhamento desta questão, que deve ser resolvida na regula-ção da lei. Percebemos nas reuniões do GT uma forte pres-são por parte dos planos de saúde para tentar minimizar a abrangência da nova norma, procurando reduzir ao máximo as situações nas quais o índice da ANS seja utilizado.”

Apesar de crítico quanto à atuação da agência, o presidente da APM admitiu que em alguns momentos o órgão regulador tentou disciplinar o setor, como na questão da contratualização, quando implementou a instrução normativa (IN) 49. “Não houve fiscalizações concretas e as medi-das tomadas foram muito frágeis”, afirmou o presidente da APM.

Para o presidente do Simesp, Eder Gatti Fernandes, que também participou das reuniões sobre o tema promovidas pelo órgão regulador, é preciso que as negociações de reajustes de honorários ocorram entre as empresas e as entidades de classe, para que os médicos não fiquem enfraquecidos em negociações individuais. “O médico deve ficar atento às atividades a serem exercidas, estipula-das no contrato. Estruturá-lo corretamente é uma forma de evitar desgaste com as operadoras.”

Opinião reiterada pelo ex-presidente e atual conselheiro do Cremesp, Renato Azevedo Júnior, também presente à coletiva. “É preciso manter a união, a mobilização da classe caso seja necessário. A pressão sobre a ANS deve continuar, para que ela tome posturas mais coerentes na regulamenta-ção da lei 13.003 que, aliás, é tão ou mais importante que a própria lei”, afirmou.

PROTESTONo dia 14 de outubro, os médicos do Estado de São Paulo atenderam somente urgência e emer-

gência e as cirurgias já agendas com usuários dos planos Ameplan, Assimédica, Associação Auxiliadora das Classes Laboriosas, CET, Correios, Cruz Azul Saúde, Economus, Green Line, Intermédica, Notre-Dame e Transmontano. Os representantes da classe orientaram os cerca de quatro milhões de bene-ficiários atingidos pela paralisação a marcarem consultas e procedimentos simples para outras datas.

O movimento das entidades médicas existe há três anos e é um protesto contra os inúmeros conflitos da saúde suplementar, entre os quais a interferência de algumas empresas na autonomia do exercício da medicina, com pressões para redução de exames, de internações, antecipação de altas, diminuição de internações e outras que prejudicam a adequada assistência.

De acordo com o presidente da APM, a paralisação dos médicos busca dar visibilidade ao pro-testo da classe e alertar a sociedade. “A greve por um dia visa atentar as autoridades sobre a inter-ferência na autonomia do exercício da profissão do médico e mostrar aos usuários de planos de saúde que eles pagam caro por um serviço muitas vezes ruim, são tratados mal e ainda encontram obstáculos quando precisam utilizá-los. Nós, os médicos, também recebemos pouco das operado-ras, e todos precisam saber onde está o problema”, afirmou Meinão.

A categoria também reivindica a valorização profissional, já que os honorários ficaram com-pletamente defasados na última década. De acordo com o presidente da APM, atualmente, os médicos de SP recebem, em média, entre R$ 70 e R$ 80 por consulta, dependendo do plano. A intenção é que esse valor chegue pelo menos a R$ 100 para cobrir os custos e repor a inflação. “Entendemos que o valor deveria ser o mesmo para todas as operadoras. Em 2013, pedimos R$ 80 e agora solicitamos R$ 100 por consulta porque, se olharmos o que se perdeu ao longo dos últimos anos, isso iria repor pelo menos a inflação nesse período de perdas. Também solicitamos que os honorários sejam pagos de maneira hierarquizada, tendo como referência a Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM). A consulta é o procedimento básico. Mas há cirurgias e outros procedimentos médicos. Entendemos que deveria haver uma hierarquia, coisa que não vem acontecendo.”

Coincidentemente, também no dia 13 de novembro, Classes Laboriosas, Green Line e Trans-montano foram incluídas na relação de 65 empresas de saúde que estão proibidas de vender novos planos por três meses, a partir do dia 14/11. Segundo a ANS, trata-se de uma ação pre-ventiva e tem como objetivo melhorar o atendimento aos usuários dos serviços contratados. Todas as empresas foram suspensas por descumprimento de prazos máximos para marcação de consultas, cirurgias e exames, além de se negarem a pagar por algumas coberturas previstas no contrato. “Veio muito a calhar esse fato no dia da coletiva. Isso mostra algo concreto para todos da imprensa. Expõe ainda mais a dificuldade de acesso que os pacientes dos planos de saúde enfrentam e que as entidades já denunciaram inúmeras vezes. As soluções são necessárias, pois se trata da saúde das pessoas. Os usuários pagam suas mensalidades e não conseguem marcar consultas, exames e cirurgias”, enfatizou Meinão.

Coletiva de imprensa na Associação Paulista de Medicina

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O FUTURO DA SAÚDE COM A MEDICINA PERSONALIZADA

Uma saúde pensada individualmente com tratamentos voltados para cada patologia e para cada ser humano. Esta é a bandeira defendida pela medicina personalizada, em fase de implantação no Brasil, que busca a cura através dos perfis gené-ticos do ser humano. Com o avanço da tecnologia no país, o tema entra em debate para os impactos econômicos e estruturais de uma medicina cada vez mais precisa e preventiva. Um evento, realizado em 13 de novembro na IT Mídia, reuniu especialistas e gestores da saúde para discutir o assunto.

O genoma humano determi-na a formação do nosso corpo e a diferença entre cada ser humano. Embora uma doença, para se ma-nifestar, geralmente necessite da interação entre agentes externos e a predisposição do indivíduo, um genoma mapeado pode revelar quais são as doenças que podem acometê-lo, e quais tratamentos seriam, de fato, mais eficazes e menos danosos, assim como no recente caso da atriz Angelina Jolie que, após um sequenciamento genético, descobriu a alta probabilidade dos cânce-res de mama e ovário e iniciou a ação preventiva com uma mastectomia.

Atualmente, segundo a geneticista e profes-sora da Universidade de Campinas (Unicamp), Is-cia Lopes, o Brasil conta com menos de trezentos médicos com títulos de especialista em genética, o que pode ser um fator complicado para o futu-ro da medicina especializada. “Um olhar sobre o indivíduo, baseado em estatísticas ao invés de se basear em uma doença e milhares de testes para seu tratamento, faz com que tenhamos um aten-dimento humanizado e único, no entanto, um dos maiores problemas pode ser a interpretação dos exames pelo médico, uma vez que hoje o grupo de geneticistas é pequeno e muitos deles ainda se con-fundem na hora de transmitir a mensagem correta ao paciente, o que pode causar um desconforto ao invés de se mostrar como solução”, explicou.

Outra preocupação da professora refere-se ao ensino aplicado na área médica. “Hoje os médicos são treinados para atender um paciente que não existe. Prescrevemos drogas baseadas na média da população e sempre lidamos com reações adversas para, somente depois, pensarmos na interferência

do fator genético”. Os debatedores defenderam uma reforma na formação médica profissional. “Fa-culdades não preparam profissionais para a medici-na do futuro. Apesar de essa mudança ser necessá-ria, ela também deve ser cautelosa”, prosseguiu Iscia. “Um médico mal preparado pode causar um enor-me estrago, não só para o paciente como também

para o sistema de saúde”.Líder do Projeto Geno-

ma Humano no Brasil, iniciado no ano de 1990 e finalizado em 2003, a Unicamp gastou aproximadamente 2 bilhões de dólares ao longo de 13 anos do sequenciamento genético em busca do perfil humano. Além disso, a partir de janeiro de 2014, foram inclusos no rol de proce-dimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar 29 testes genéticos cujo reembolso deve

ser efetuado pelos planos de saúde para o usuário solicitante. O custo do DNA na medicina perso-nalizada é uma das principais preocupações de gestores e planos de saúde para habilitar os novos exames, como afirmou Sérgio Ricardo, diretor exe-cutivo da One Health. “Apesar de os impactos ge-rais de um exame genético serem menores do que a quimioterapia oral, ainda nos preocupa os valores aplicados para a nova tecnologia. Neste ano vimos a inclusão deste tipo de procedimento no rol da ANS, mas é preciso uma força-tarefa das operado-ras para ampliação do grupo de prestadores e a de-mocratização deste processo para trazer a redução dos custos e um impacto global quase sem danos”.

De opinião similar, Mônica Castro, gerente exe-cutiva de relacionamentos institucionais da Hermes Pardini, ressaltou a importância das diretrizes clíni-cas citadas pela ANS na hora do profissional solicitar o novo procedimento. “Os exames genéticos estão se tornando cada vez mais acessíveis na saúde su-plementar e vemos que já existem casos, como os de câncer, nos quais os perfis genéticos se tornam fundamentais para a escolha correta do tratamen-to ao paciente. As diretrizes são fundamentais para orientar o médico sobre em quais situações pedir o exame, como os encaixes de parentesco e o histó-rico familiar de quem se torna solicitante. Isso cer-tamente já evita pedidos e custos desnecessários”.

As doenças crônicas são o primeiro teste para

a genética no Brasil, derivando a farmacogenética, ou seja, o tratamento medicamentoso aplicado de acordo com as características de cada indivíduo, sem testes, como explicou Roberto Mendes, pre-sidente da Thermo Fischer. “Certamente, veremos nos próximos anos a revolução da saúde como um todo e a ANS veio para somar neste fator. Cabe a nós fiscalizarmos se as diretrizes estão sendo cum-pridas de forma correta e evitar a judicialização no sistema, que em 95% acaba sendo pró-solicitante”.

“Toda a área de estudo de DNA promove uma revolução na área de saúde e esta será uma como poucas vezes vimos”, afirmou Yussif Ali Mere Jr, presidente do SINDHOSP e da FEHOESP, presente no evento. “A medicina personalizada é o grande desafio do futuro, porque ela pode provocar duas mudanças. Uma é redução de custos e, a outra, é um tratamento melhor para o paciente. Estamos em fase inicial de conseguir colocar o resultado das pesquisas científicas a serviço da população, em um aumento em ritmo exponencial, mas certamente vemos uma medida importante para disseminar a tecnologia para a população como um todo”, disse.

Outro ponto chave do debate foi a necessida-de da uniformização de informações no sistema de saúde e como a tecnologia pode ser uma grande aliada neste processo. Para Mendes, o Brasil ain-da engatinha nesta área e o destaque fica para as redes próprias. “Quando falamos da atenção ao beneficiário precisamos ir além. A tecnologia está aí, mas não conseguimos ao menos uniformizar a informação para que não haja, por exemplo, repetições de procedimentos médicos em um mesmo prontuário. Ainda há consultórios que operam com papéis na era da inovação. A infor-mação pertence ao paciente e não à operadora de saúde, portanto, porque não uniformizar?”.

Os modelos assistenciais também entraram em discussão do público x privado. “No SUS temos um modelo definido, mas a saúde não funciona. Na saúde suplementar, não temos um modelo, mas ela funciona. Os custos são crescentes e em paralelo corre a medicina personalizada. Em algum momento elas vão se cruzar e a partir daí, preci-saremos estar preparados para agir”, disse Yussif. “Neste momento é fundamental o investimento do governo para as pesquisas clínicas e científicas que corroborem para o desenvolvimento da saúde, além do pensar em um modelo de atendimento que realmente funcione”, completou Mendes.

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Para Iscia Lopes, da Unicamp, faltam médicos especializados em genética

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ENTIDADES AMPLIAM PARTICIPAÇÃO NA FEIRA HOSPITALAR PARA 2015

“Ano que vem será marcado por grandes realizações na Semana da Saúde”. Esta afirmação é do presidente do SINDHOSP e da FEHOESP, Yussif Ali Mere Jr, animado com os preparativos que envolvem a participação do Sindicato, da Federação e também do IEPAS (Instituto de Ensino e Pesquisa na Área da Saúde) na Hospitalar 2015. Por conta da dimensão da feira, que movimenta a cadeia produtiva de saúde e já se consolidou como o maior encontro do setor na América Lati-na, Yussif classificou o evento de “Semana da Saúde”. E ele tem motivos para isso. Durante os dias 19, 20, 21 e 22 de maio, São Paulo receberá representantes do mundo todo, a fim de apresentar e conhecer novidades, além de participar de toda a programação científica. “E é neste ponto que ampliamos nossa participação”, pontua Yussif. Explica-se: em 2015, o IEPAS – que assumiu desde 2013 a realização dos Congressos Brasileiros de Gestão – terá um stand de 88 m2 no qual realizará, ao longo de todos os dias de feira, workshops de temas variados.

“São muitos os assuntos que interessam ao setor, como os relacionados ao Direito e às leis, os que impactam o trabalhador da saúde, os que dizem respeito à tecnologia. Nossa ideia é agregar temas que despertem o interesse, por meio de cursos rápidos. As pessoas poderão se inscrever no local, e todos os workshops serão gratuitos”, revela o coordenador da Comissão Executiva das ações que serão realizadas durante a Hospitalar, Luiz Fernando Ferrari Neto, dire-tor do SINHOSP e da FEHOESP.

Além desses workshops, mantém-se a realização dos Congressos Brasileiros de Gestão, voltados aos Laboratórios e às Clínicas. Ambos serão realizados no dia 20 de maio, quarta-feira, simultaneamente, na tradicional área de congressos da feira. No mesmo espaço, nos dias sub-sequentes, o IEPAS se reúne com a Empreender Saúde (organização voltada para o fomento e a inovação) e leva, pela primeira vez para dentro da Hospitalar, o evento “Startups da Área da Saúde”, realizado anualmente e que em 2015 terá sua 3a edição. Gratuito, o encontro reu-nirá startups pré-selecionadas para apresentação de seus projetos e subsequentes rodadas de negócios. “Startups famosas, como a Easy Taxi, nasceram de eventos que aglutinam, de um lado, pessoas com ideias inovadoras, e do outro, investidores interessados em colocar dinheiro em projetos promissores. Na área da saúde, este modelo de negócio só cresce e é, segundo a Associação Brasileira de Startups, um dos segmentos mais promissores neste sentido”, afirma Marcelo Gratão, gestor do IEPAS.

Toda a programação e os detalhes dos eventos estão em fase de elaboração. Acompanhe informações no site do IEPAS, www.iepas.org.br e cadastre-se para receber as newsletters do SINDHOSP, no site www.sindhosp.com.br

Ainda durante a feira, no dia 19 de maio, às 18h, será lançada a edição 2015 do Anuário Bra-sileiro da Saúde, publicação conjunta do SINDHOSP e da FEHOESP em parceria com a Public Projetos Editoriais. Como tema central, o Anuário trará reportagem especial sobre a Coope-ração Mundial na Área da Saúde. Contará ainda com matérias sobre a segurança do paciente e os impactos das novas exigências da Anvisa, as mudanças climáticas que impactam a oferta

de água no mundo e suas conse-quências para a saúde da popula-ção, entrevistas políticas, análises setoriais, entre outros. Interessa-dos em anunciar no Anuário po-dem entrar em contato com Gil-berto Figueira, pelo telefone (11) 2959-9008, ou pelo e-mail [email protected]. A edição atual e em circulação do Anuário, que traça uma perspectiva sobre a saúde que queremos e a que po-demos ter num futuro próximo, está disponível em versão digital, para download, na Apple Store.

HOSPITAIS LOUNGE Mantendo seu DNA enraizado na inovação e na propos-

ta de aglutinar a cadeia produtiva da saúde, congregando em cada edição, ao longo de mais de duas décadas, as inteligên-cias do setor, a Hospitalar anunciou oficialmente mais uma ampliação para todo o mercado da saúde mundial. A novi-dade foi o lançamento do “Hospitais Lounge”, setor especial, estruturado em área nobre, destinado exclusivamente às ins-tituições de saúde que desejam fazer da feira sua plataforma de novos negócios, relacionamento e visibilidade, divulgando suas atividades, projetos, programas de qualificação, serviços de consultoria e prospecção de parcerias estratégicas.

A novidade foi lançada na sede da Associação Nacio-nal de Hospitais Privados (Anahp), em 27 de outubro, para lideranças setoriais, instituições parceiras, administradores

e gestores hospitalares. O evento também contou com a presença da mídia especializada.

Na oportunidade, a presidente da Hospitalar, Waleska Santos, salientou a atuação da feira como ferramenta a serviço do setor da saúde, e que este momento é o ideal para mais este avanço. Ponderou a importância dos hospi-tais também na visitação qualificada e total da feira. Dos 91 mil profissionais que passam por lá nos quatro dias, 23% correspondem a proprietários e gestores hospitalares. Além da presença significativa, os hospitais foram perce-bendo na mostra uma possibilidade para explorar novas oportunidades. Na edição de 2014, a feira teve a experiên-cia de sucesso com a presença de seis hospitais como ex-positores: Albert Einstein, Mãe de Deus (RS), HCOR, HC, Sírio Libanês e o Texas Medical Center (TMC) dos EUA, considerado o maior complexo médico do mundo. “Os hospitais fazem a saúde acontecer e como protagonistas podem capitalizar sua expertise, apresentando seus servi-ços de consultoria, programas de educação continuada e também prospectar outras possibilidades de negócios e visibilidade na Hospitalar, complementou Waleska Santos.

Hospitalar, a maior feira de saúde das Américas

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Francisco Balestrin, Yussif Ali Mere Jr, Waleska e Francisco Santos

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SENADO REJEITA PEC QUE ZERAVA OS IMPOSTOS SOBRE MEDICAMENTOS

HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ ANUNCIA NOVA FACULDADE

A Proposta de Emenda Constitucional (115/11), co-nhecida como PEC dos Medicamentos, foi rejeitada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, em sessão realizada em 12 de novembro. Com a decisão, a matéria dever ser arquivada. O objetivo da proposta apresentada pelo senador Paulo Bauer (PSDB-SC) era zerar os impostos sobre remédios de uso humano. Um substitutivo ao texto original de Bauer foi apresentado pelo relator da matéria, Luiz Henrique (PMDB-SC).

Durante a discussão, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse que a proposta é inviável. “Não sou contra a redução de tributos sobre medicamentos e não sou contra a redução do preço de medicamentos, mas não podemos solucionar o problema criando um problema maior”, justificou ao pedir a rejeição da PEC aos colegas.

Segundo a senadora, a redução de carga tributária prevista na proposta resultaria em impacto negativo so-bre os orçamentos estaduais e municipais, seja pela redu-ção de Imposto sobre Produtos Industrializados nas loca-

O Hospital Alemão Oswaldo Cruz inaugurou, em 19 de novembro, a Faculdade de Educação em Ciências da Saúde (FECS). A instituição foi credenciada pelo Ministério da Edu-cação e recebeu a aprovação para o seu primeiro curso de graduação, que será o de Tecnologia de Gestão Hospitalar. As aulas se iniciam em fevereiro de 2015.

“Educação é um dos pilares estratégicos do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, que tem como prioridade o serviço de qualidade e excelência. A FECS permitirá que a instituição amplie o acesso aos conhecimentos adquiridos nestes 117

lidades que sediam indústrias farmacêuticas ou por queda nos repasses dos Fundos de Participação dos Estados e dos municípios, o FPM. A forte concentra-ção do setor de fármacos, para Glesi, indica que uma re-dução de tributos não resultaria em redução de preços.

Em defesa da proposta, Paulo Bauer lembrou que os partidos políticos, as igrejas, os jornais e até as revistas sobre celebridades são isentos de impos-tos. “Se nós não pagamos imposto por pensamento ideológico, por informação e por fé, porque vamos pagar pela dor? A falta de saúde produz dor e a dor só se cura com medicamentos”, ressaltou.

O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) defendeu a medida. Para ele, a PEC beneficiaria especialmente a população de baixa renda. Ferraço avalia que o alto pre-ço dos remédios se deve a alta carga tributária incidente sobre esses produtos, de aproximadamente 34%, contra uma média mundial em torno de 6%. A única chance de a matéria ir para votação em plenário será a apresentação de um recurso neste sentido.

anos de existência, por meio de um corpo docente atuante e altamente qualificado,” informa o Prof. Dr. Jefferson Gomes Fernandes, superintendente de Educação e Ciências do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e diretor-geral da FECS.

Com duração de três anos e aulas ministradas no período noturno, o curso de Tecnologia de Gestão Hospitalar tem como objetivo capacitar profissionais para atuar em funções administrativas de instituições de saúde. As inscrições para o vestibular já estão abertas.

A decisão de criar um curso de formação superior em gestão hospitalar veio da necessi-dade de capacitação observada no mercado. “Percebemos que o Brasil está aumentando a sua demanda em serviços de saúde e acreditamos que podemos colaborar para a formação de pro-fissionais capacitados para atendê-la. Há uma grande oportunidade para investir em qualificação

profissional com cursos superiores, especialmente quando já se tem dentro de casa o conhecimento acumulado, o que é o caso do Oswaldo Cruz,” ressalta Jefferson.

No seu Programa de Pós-graduação Lato sensu, a FECS oferecerá, com início em março de 2015, cursos de especialização em áreas multiprofissionais e médica. O Hos-pital já oferecia, através de seu Instituto de Educação e Ciências em Saúde, desde 2012, quatro cursos de especialização na área médica que agora serão incorporados à FECS. .Entre esses, a especialização em Cirurgia Robótica em Urologia e de Cirurgia Bariátri-ca e Metabólica são exclusivos. Os primeiros cursos multiprofissionais serão das áreas de enfermagem, fisioterapia, psicologia hospitalar, gerontologia e medicina do sono.

A FECS contará com um corpo docente especializado e titulado, formado por pro-fissionais atuantes no Hospital Alemão Oswaldo Cruz e professores de outras áreas do conhecimento, com passagem por instituições de ensino renomadas. Além disso, a insti-tuição contará com parcerias internacionais e cooperação com universidades brasileiras.

Mais informações sobre os cursos oferecidos pela FECS podem ser obtidas no site www.fecs.org.br

Complexo do Oswaldo Cruz, agora com Faculdade

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AÇÃOA ANS E OS LABORATÓRIOS

A relação entre os laboratórios de análises e patologia clínica e seus compradores corporativos de serviços, ou seja, as operadoras de planos e se-guros de saúde, sempre se caracterizou pela uni-lateralidade de regras e decisões, do tipo “quanto pagam por meus exames?”, ou “qual tabela vocês pagam?”, com consequente domínio da parte mais forte. Mesmo com a falta de interesse, de organiza-ção e de capacidade de gestão da parte mais fraca, o lógico – como em toda atividade mercantil ou de prestação de serviços – seria “meu serviço custa X”.

Dessa maneira, a relação se efetivava, na maio-ria das vezes, apenas com “credenciamentos”, que nada mais eram do que uma autorização, muitas vezes verbal, para poder atender os usuários, com o intuito de faturar para poder se sustentar.

Quando houve a criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), inicialmente pela Medida Provisória 2.012-2, de 30 de dezembro de 1999, e, posteriormente, pela Lei 9.961/00, os pro-prietários de laboratórios sentiram – equivocada-mente, diga-se de passagem – que enfim surgia um órgão que poderia resolver seus problemas. Nessa época os problemas já existiam, embora em volu-me e consequências bem menores que hoje.

Essa esperança se deu principalmente em ra-zão da essência da criação das agências reguladoras que, a princípio, não teriam ingerência política e sim seriam criadas baseadas em critérios técnicos.

Em 2003 surgiram as primeiras normas, na tentativa de regular essas relações. Pela primeira vez falava-se em contratualização, o que acentuou a esperança dos laboratórios de que os problemas seriam resolvidos. Doce ilusão.

Com o passar do (muito) tempo, verificou-se que essas normas nunca foram cumpridas pelas operadoras. Essas sempre encontraram formas de “cumprir” as normas à sua maneira, e nunca aban-donaram a prática da unilateralidade. Como se isso não bastasse, a ANS, criadora das normas, nunca exigiu o seu cumprimento, apesar das inúmeras denúncias e apelos da parte mais fraca.

Para aparentar a intenção de regular, mais normas foram sendo criadas, mas também nunca cumpridas. Multas milionárias foram aplicadas, mas nunca pagas. Ameaças foram feitas, mas nunca efetivadas. Enquanto isso, centenas de pequenos e médios laboratórios foram sendo fechados, en-golidos pelos grandes grupos, com consequente

Carlos Roberto Audi AyresPresidente do Sindicato dos Laboratórios de Análises e Patologia Clínica, Anatomia e Citologia do Estado do Paraná

enfraquecimento do setor e evidente prejuízo para o sistema de saúde como um todo, bem como para o mercado de trabalho.

Desde a criação da ANS até hoje a única re-gra efetivamente cumprida pelas operadoras é a de reajuste dos valores de seus produtos – esses, sim, regulados pela ANS, que estabelece um teto para os reajustes. Apenas por curiosidade: alguém conhece um reajuste que ficou abaixo desse teto durante esse período?

Acontece que, ao justificar esses reajustes, as operadoras sempre apresentaram como principal indicador a sinistralidade, na qual certamente estão incluídos os custos com serviços de laboratórios. No entanto, nesses 14 anos, jamais foi repassado qualquer percentual de reajuste aos prestadores. A cada nova norma, surge sempre uma maneira de protelar seu cumprimento. A cada nova discussão é colocada uma pá de cal sobre a anterior, como se tudo estivesse começando naquele momento.

Pois bem, mais uma vez estamos nesse mo-mento com o surgimento da Lei 13.003. Foi mais um breve momento de esperança: afinal de contas, é uma lei, e leis devem ser cumpridas – ou, caso não seja, deve haver discussão na Justiça, que é o foro adequado para isso. Esse breve momento terminou quando a ANS resolveu discutir todos os artigos da lei – prerrogativa, aliás, instituída pela própria lei.

Novamente nos vemos às voltas com tenta-tivas de deturpar o sentido da lei e protelar ações efetivas de correções das distorções nesse relacio-namento, com propostas absurdas – algumas até de redução de valores para se iniciar o cumprimen-to da lei um ano após sua vigência!

Nas últimas oportunidades que tivemos de ouvir as partes envolvidas, principalmente a ANS, sentimos uma clara intenção de mascarar as ações, desviando-se do foco principal, que é o equilíbrio financeiro desse segmento.

Nesse momento, o pleito dos laboratórios – fica a sugestão para o Comitê da ANS – deve ser a definição de um índice de reajuste imediato dos contratos, e esse comitê deve continuar discutindo os outros artigos, pois corremos o risco de que essa lei se torne mais uma Resolução da Diretoria Co-legiada (RDC), ou Resolução Normativa (RN), que não será obedecida, como tantas outras.

Argumentos existem e sempre existirão para que isso não aconteça, por exemplo:

Aumento do custo final para o usuário: ora, será que essas empresas poderosíssimas não conhe-cem as regras de mercado? Será que só os laborató-rios têm de se adaptar aos novos tempos, adequando suas despesas às suas receitas? Acreditamos que essas empresas têm muito mais capacidade para isso, prin-cipalmente contando com a intermediação da ANS.

Descredenciamentos: isso não deve mais ser motivo para encerrar discussões, como tem acon-tecido há 14 anos. É hora de enfrentar esse fantas-ma. Essa questão também é resolvida pelo mer-cado, dos dois lados. Por um lado, os laboratórios devem entender de uma vez por todas que esse risco sempre existiu e existirá, e que por isso pre-cisam sempre atender os requisitos de qualificação e exigências do mercado cliente. Por outro lado, as operadoras têm perfeita noção de seu mercado e da necessidade de capilaridade e abrangência de sua rede credenciada. Os laboratórios também devem entender que, a persistir da maneira como está, o fim chegará mais rápido do que se tentar-mos resolver e enfrentarmos os riscos.

Verticalização: Isso já existe, e temos exem-plos mal e bem sucedidos disso. Não é uma dis-cussão de valores que evitará que isso aumente ou reduza seus efeitos.

Assim, o que se faz necessário nesse momento é a união em torno de um objetivo, que é agir junto à ANS para que o tema reajuste seja efetivamente resolvido e inserido na regulamentação da lei, pois corremos o risco dessa discussão se arrastar muito além desses 14 anos que já se passaram.

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