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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE SÃO JOSÉ CURSO DE DIREITO DA EFICÁCIA DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. ACADÊMICO: ANDRÉ JULIANO TRUPPEL SÃO JOSÉ, 30 DE JUNHO DE 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE SÃO JOSÉ CURSO DE DIREITO

DA EFICÁCIA DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

ACADÊMICO: ANDRÉ JULIANO TRUPPEL

SÃO JOSÉ, 30 DE JUNHO DE 2008

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE SÃO JOSÉ CURSO DE DIREITO

DA EFICÁCIA DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob orientação da Professora Esp. Roberta Schneider Westphal.

ACADÊMICO: ANDRÉ JULIANO TRUPPEL

São José, 30 de junho de 2008

AGRADECIMENTO

Primeiramente agradeço a Deus, por conceder-me a vida, saúde e tudo que tem me proporcionado.

Aos meus pais, Haroldo Truppel Filho e Edite Truppel, pela dedicação na minha educação e formação, pela confiança, compreensão, segurança, amizade, amor, carinho e respeito a minha pessoa e pelo espírito de luta e exemplo de vida que me passam a cada dia, e por estarem sempre ao meu lado em todos os momentos da minha vida.

A minha irmã, Andréia Truppel, por estar sempre presente e pela alegria e companhia em todos esses anos.

Aos meus sobrinhos, Bruno, João Victor e Neto

A professora Roberta, que prontamente acreditou neste trabalho de pesquisa, dedicando atenção, tempo e principalmente paciência em todos os momentos, por seu excelente trabalho de orientação, proporcionando informações seguras e pertinentes ao tema, e por nossa amizade.

Por fim, ciente da impossibilidade de discriminar todos meus colaboradores e amigos, agradeço a todos aqueles que, de qualquer maneira, contribuíram para realização desta monografia.

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Haroldo e Edite, pessoas estimadas a quem dedico esta monografia, pelo amor, carinho e atenção a minha pessoa e por terem oportunizado mais um sonho em minha vida.

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

São José, 16 de junho de 2008

André Juliano Truppel Graduando

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando André Juliano Truppel, sob o título

Da eficácia das comissões de conciliação prévia, foi submetida em __/06/08 à

banca examinadora composta pelos seguintes professores:

São José, 30 de junho de 2008

Banca Examinadora:

_______________________________________________________ Profª. Esp. Roberta Schneider Westphal

_______________________________________________________ Membro

_______________________________________________________ Membro

ROL DE ABREVIATURAS OU DE SIGLAS

CF Constituição Federal

CC Código Civil

CLT Consolidação das Leis Trabalhistas

CCP’S Comissões de Conciliação Prévia

CPC Código de Processo Civil

TST Tribunal Superior do Trabalho

TRT Tribunal Regional do Trabalho

VT Varas do Trabalho

DRT Delegacia Regional do Trabalho

EC Emenda Constitucional

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Direito do Trabalho

O direito do Trabalho é o conjunto de princípios, regras e instituições atinentes à

relação de trabalho subordinado e situações análogas, visando assegurar

melhores condições de trabalho e sociais ao trabalhador, de acordo com as

medidas de proteção que lhe são destinadas.1

Direito Processual do Trabalho

É o método pelo qual o Estado exerce a jurisdição em face de conflitos de

interesses oriundos da prestação de serviços, na solução de dissídios coletivos e

em outras hipóteses relativamente às quais a lei determine expressamente sua

aplicação.2

Empregado

Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza

não-eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.3

Empregador

Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os

riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de

serviço.4

Autotutela

1 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 4. 2 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho . 27 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 31. 3 MARTINS, Adalberto; CAVALCANTI, Hélio Augusto Pedroso. Elementos de direito do trabalho . 3. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Síntese, 2005. p. 45. 4 MARTINS, Adalberto; CAVALCANTI, Hélio Augusto Pedroso. Elementos de direito do trabalho . 3. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Síntese, 2005. p. 56.

É o ato pelo qual alguém faz a defesa própria, por si mesmo, supondo uma

defesa pessoal.5

Autocomposição

É a técnica segundo a qual o conflito é solucionado por ato das próprias partes,

sem emprego de violência, mediante ajuste das vontades.6

Heterocomposição

É a solução dos conflitos trabalhistas por uma fonte suprapartes, que decide com

força obrigatória sobre os litigantes, que, assim, são submetidos à decisão.7

Comissão de Conciliação Prévia

É o instituto jurídico formado pelo sindicato dos empregados e dos empregadores,

que busca a solução dos conflitos extrajudicialmente, todavia com forca de título

executivo.8

5 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, Iniciação do direito do trabalho, 26ª ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 6. 6 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, Iniciação do direito do trabalho, 26ª ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 7. 7 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, Iniciação do direito do trabalho, 26ª ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 7. 8 VALERIANO, Sebastião Saulo. Procedimento Sumaríssimo e Comissões de Conciliação Prévia . São Paulo: LED, 2000. p. 16.

SUMÁRIO

RESUMO.......................................................................................... 11

ABSTRACT ........................................... ........................................... 12

INTRODUÇÃO ................................................................................. 13

CAPÍTULO 1 ......................................... ........................................... 15

DO DIREITO E PROCESSO DO TRABALHO .................. ............... 15 1.1 DO SURGIMENTO DO DIREITO DO TRABALHO - NOÇOES INTRODUTORIAS ................................................................................................15 1.2 DO DIRETO MATERIAL E PROCESSO DO TRABALHO - CON CEITO.......20 1.2.1 DO DIREITO DO TRABALHO....................... ..............................................20 1.2.2 DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO ............ ...............................21 1.3 DAS FONTES DO DIREITO DO TRABALHO.............. ..................................23 1.3.1 DAS FONTES DO DIREITO MATERIAL DO TRABALHO ... ......................23 1.3.2 DAS FONTES DO DTO MATERIAL E PROCESSUAL DO TR ABALHO ...25 1.3.3 DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABA LHO.............26 1.4 DA JUSTIÇA DO TRABALHO ......................... ..............................................29 1.4.1 DO PODER JUDICIÁRIO .......................... ..................................................29 1.4.2 DA JURISDIÇÃO................................ .........................................................31 1.4.3 NOÇÕES HISTÓRICAS...............................................................................32 1.4.4 DA ORGANIZACAO DA JUSTICA DO TRABALHO ........ ..........................33 1.4.4.1 Vara do Trabalho........................... ..........................................................35 1.4.4.2 Tribunal Regional do Trabalho .............. ................................................37 1.4.4.3 Superior Tribuanal do Trabalho............. ................................................38

CAPÍTULO 2 ......................................... ........................................... 41

FORMAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS ..................... ................. 41 2.1 FORMAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS ................. ...................................41 2.1.1 AUTODEFESA ................................... .........................................................43 2.1.2 HETEROCOMPOSIÇÃO .............................................................................43 2.1.2.1 Arbitragem ................................. ..............................................................44 2.1.2.2 Jurisdicao ................................. ...............................................................46 2.1.2.2.1 Da ação trabalhista ...................... ........................................................47 2.1.2.3 Mediação................................... ...............................................................48 2.1.3 AUTOCOMPOSIÇÃO ..................................... .............................................50 2.1.3.1 Conciliação ................................ ..............................................................54 2.1.3.2 Acordo judicial ............................ ............................................................55 2.1.3.3 Acordo extrajudicial....................... .........................................................57 2.1.3.4 Termo de ajuste de conduta................. ..................................................59

CAPÍTULO 3 ......................................... ........................................... 62

DA EFICÁCIA DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA.... .. 62 3.1 DO SURGIMENTO DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉV IA............62 3.2 DA LEI 9.958/2000 E A ALTERAÇÃO NO ART. 625 DA CLT ......................66 3.2.1 DA OBRIGATORIEDADE DE SUBMISSAO DAS DEMANDAS PERANTE AS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA................. ...................................70 3.2.2 DA EFICÁCIA LIBERATÓRIA DO TERMO DE QUITAÇÃO . .....................75 3.3 DA EFICÁCIA DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PREVIA ...................77

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... ............................... 86

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ...................... .................... 88

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar os posicionamentos existentes

quanto a real eficácia das Comissões de Conciliação Prévia no ordenamento

jurídico. Na primeira parte do trabalho aborda-se a evolução do Direito do

Trabalho na história, a composição da Justiça do Trabalho e os Princípios do

Direito Material e Processual do Trabalho. O segundo capítulo apresenta as

formas de solução de conflitos existentes no ordenamento jurídico e na doutrina.

No terceiro capítulo cuidar-se-á da definição das Comissões de Conciliação

Prévia, expondo suas principais características e, ao final, os posicionamentos

atuais quanto a sua real eficácia. Constata-se que, ao final, à luz da interpretação

da doutrina e das mais diversas autoridades interessadas no deslinde das

controvérsias laborais, que as Comissões de Conciliação Prévia são um brilhante

instituto legislativo criado como alternativa para desafogar o judiciário trabalhista,

devendo ser trabalhado, contudo, de forma clara, adequada e justa para alcançar

o fim a que se destina, sob pena de não alcançar seu objetivo.

Palavras chave: Comissão de Conciliação Prévia. Direito material e processual do

Trabalho. Conciliação. Forma de Solução de Conflito. Eficácia.

ABSTRACTI

The present project has as object show the exist positions of the real utility of the

Commissions of Conciliation Foresaw have in the law universe. In the first part of

the project, studied the evolution of Law Work in the history, the composition of the

justice of work, and the beginning of the law work. In the second charper is about

the forms of solution to the conflicts that exist in the juridic order and in the

doctrine. In the third charper, take care of the definition of Commissions of

Conciliation Foresaw, exposive the principal attributes and your efficacy relation at

the law work, introduce the study about the positive positions and negative

positions at the establishment of that commissions. It was evident that, to the

light of the interpretation of the doctrine and to the most diverse authorities

interested in the clearing up of the labor controversies, that the Commissions of

Conciliation Foresaw is a notable legislative institute created as an alternative to

help judiciary members of labor party, having to be worked of clear form, adjusted

and fair to take care of the reasons of its creation.

Keywords: Commissions of Conciliation Foresaw. Material and process Law Work.

Conciliation. Forms of solution to the conflicts.

13

INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto principal o estudo

do funcionamento e utilidade jurídica das comissões de conciliação prévia, como

forma de solução de conflito extrajudicial.

Levando-se em consideração o grande fluxo de ações

tramitando perante a Justiça do trabalho, em 13 de janeiro de 2000 foi publicada a

Lei nº 9.958, de 12.01.2000, que alterou e acrescentou artigos à Consolidação

das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de

1943, dispondo sobre as Comissões de Conciliação Prévia e, ainda, permitindo a

execução de título executivo extrajudicial na Justiça do Trabalho.

O objetivo, então, é analisar a eficácia dessas comissões

frente ao poder jurisdicional, como uma alternativa para pacificar as questões

entre empregados e empregadores, não só após a extinção da relação de

emprego, mas também durante o vínculo empregatício.

Para isto, portanto, a presente monografia divide-se em três

capítulos. No primeiro capítulo abordam-se noções históricas sobre o surgimento

das relações de trabalho, e posteriormente, destaca-se a evolução jurisdicional

trabalhista no Brasil, encerrando-se com análise da atual organização da Justiça

do Trabalho, seus princípios, bem como a conjuntura atual da solução dos

conflitos na Justiça do Trabalho.

No segundo capítulo, abordam-se os aspectos gerais do

instituto da conciliação, histórico e suas principais características. Continuando,

com as formas de solução de conflitos, apresenta-se características da

autocomposição e da heterocomposição, quando nesta última, apresenta-se as

Comissões de Conciliação Prévia.

No terceiro capítulo, enfim, realiza-se estudo sobre os

aspectos gerais do instituto das Comissões de Conciliação Prévia, apresentando

sua conceituação e natureza jurídica. Próximo ponto é a análise sobre sua

estruturação, dentre essa: a constituição e composição; participação de membros,

14

direitos e garantias; instituição e funcionamento; assim como seus aspectos

constitucionais; procedimento conciliatório e a execução do título conciliatório.

Adiante, é feito um estudo sobre os posicionamentos favoráveis e contrários a

instituição das Comissões. Finalizando-se com as considerações finais sobre a

eficácia das Comissões de Conciliação Prévia no país.

Importante ressaltar que esta monografia baseou-se em

doutrinas, artigos e esparsas leis, com intuito de trazer em pauta um tema que

atualmente causa grandes divergências na sociedade e no âmbito jurídico,

servindo de alicerce para novas pesquisas e intermináveis discussões do tema.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre o funcionamento e a eficácia das comissões de conciliação prévia.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

Existem demandas não submetidas as Comissões de

Conciliação Prévia quando elas existentes?

É eficaz a submissão das demandas às Comissões de

Conciliação Prévia?

O termo de quitação é eficaz em relação ao contrato de

trabalho analisado?

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, foi

utilizado o Método Indutivo, onde nas diversas fases da Pesquisa, foram

acionadas as Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da

Pesquisa Bibliográfica.

CAPÍTULO 1

DO DIREITO E PROCESSO DO TRABALHO

1.1 DO SURGIMENTO DO DIREITO DO TRABALHO - NOÇÕES

INTRODUTÓRIAS

O Direito do Trabalho tem sua origem histórica no momento

em que o homem primitivo passou a escravizar seres de sua igual espécie, após

derrotá-los em batalhas, utilizando-os como forma de mão-de-obra escraviária.

Desse modo, pode-se dizer que a primeira forma de trabalho foi à escravidão,

onde o escravo era equiparado a uma coisa, não tendo qualquer direito ou

proteção.9

Na Grécia, os filósofos entendiam que o trabalho era

considerado pejorativo, visto que a dignidade do homem baseava-se em participar

através da palavra dos negócios nas cidades. Em Roma, coincidentemente, o

labor era realizado pelos escravos. Entretanto, existia a locatio conductio que

consistia em regular a atividade de quem realizava trabalhos em troca de

pagamentos, trabalhos estes na forma de arrendamento de alguma coisa, locação

de serviços mediante pagamento ou entrega de uma obra ou resultado em troca

de pagamento.10

Não obstante aos fatos, na Idade Média, encontramos a

servidão proveniente do sistema feudal, onde os servos contavam com proteção

militar e política, não eram livres, e obrigatoriamente prestavam serviços na terra

dos senhores feudais. Os nobres não precisavam trabalhar, e pode equiparar-se a

servidão, ao castigo.11

9 SUSSEKIND, Arnaldo; TEIXEIRA FILHO, João de Lima. Instituições de direito do trabalho . 18 ed. São Paulo: LTr, 1999. v.I. p. 32. 10 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 4. 11 MARTINS, Adalberto; CAVALCANTI, Hélio Augusto Pedroso. Elementos de direito do trabalho . 3. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Síntese, 2005. p. 9.

16

Em outro plano, aparecem as corporações de ofício, em que

existiam os mestres, os companheiros e os aprendizes. Os mestres haviam

passado pela prova da obra-mestra, e eram os proprietários das oficinas; os

companheiros eram trabalhadores e recebiam os salários dos mestres; os

aprendizes eram menores que recebiam dos mestres o ensino metódico do ofício

ou profissão. Em 1789, estas corporações de ofício foram extintas com a

Revolução Francesa, pois foram consideradas incompatíveis com o ideal de

liberdade do homem.12

Denota-se que em 1791, ao término da Revolução Francesa,

houve na França o início da liberdade contratual, na qual a Lei Chapelier proibia o

restabelecimento das corporações de ofício, o agrupamento de profissionais e as

coalizões, eliminando as corporações de cidadãos.13

A Revolução Industrial foi um importante acontecimento

histórico, no qual os trabalhadores passaram a ser considerados empregados e

receberem salários. Observa-se a existência de uma nova cultura a ser absorvida

e uma antiga a ser desconsiderada, onde se evidencia o desenvolvimento do

Direito do Trabalho e do contrato de trabalho.14

Constata-se, que com a invenção da máquina e sua

aplicação na indústria, estas acabaram substituindo a força humana,

terminando com diversos postos de trabalho existentes e causando

desemprego, iniciando uma revolução nos métodos de trabalho e,

conseqüentemente, nas relações entre patrões e empregadores. Houve aumento

de mão-de-obra, causando, em conseqüência, a diminuição dos salários pagos

aos trabalhadores.15

Nesse sentido, quanto à indignidade nas condições de

trabalho, preleciona Amauri Mascaro Nascimento:

12 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho . 6. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 85. 13 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 5. 14 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, Iniciação do direito do trabalho, 26ª ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 23. 15 SUSSEKIND, Arnaldo; TEIXEIRA FILHO, João de Lima. Instituições de direito do trabalho . 18 ed. São Paulo: LTr, 1999. v.I. p. 32.

17

A imposição de condições de trabalho pelo empregador, a exigência de excessivas jornadas de trabalho, a exploração das mulheres e menores, que constituíam mão de obra mais barata, os acidentes ocorridos com os trabalhadores no desempenho de suas atividades e a insegurança quanto ao futuro e aos momentos nos quais fisicamente não tivessem condições de trabalhar foram os constantes da nova era no meio proletariado, as quase se podem acrescentar também os baixos salários.16

Tendo em vista a precariedade das condições de trabalho

durante o desenvolvimento do processo industrial, constatou-se aspectos

bastante graves, não só em relação aos acidentes, mas também em relação as

enfermidades típicas ou agravadas pelo ambiente profissional. Durante o período

de inatividade, isto é, suspensão do contrato de trabalho, o operário não percebia

salário e, desse modo, passou a sentir a insegurança em que se encontrava, pois

observou que não havia leis que o amparasse, e o empregador não tinha

interesse em que essas leis existissem.17

Em sua obra, em relação às conseqüências da Revolução

Industrial, acrescenta Arnaldo Sussekind que:

Nesse contexto, verificaram-se movimentos de protesto e até mesmo verdadeiras rebeliões. Posteriormente, com o desenvolvimento dos sistemas de comércio, em especial com a adoção da máquina a vapor nas embarcações, estenderam-se os mercados e, conseqüentemente, as indústrias se desenvolveram, admitindo um maior número de trabalhadores, porém, os salários eram baixos, visto que com o antigo sistema do artesanato, cada peça custava muito mais caro do que com a produção em série.18

A partir das modificações na relação de trabalho, a classe

dos empregados passou a se organizar, reivindicando melhores condições de

trabalho e melhores salários, derivando os primeiros conflitos trabalhistas

legalmente reconhecidos, tanto de forma individual como coletiva.19

16 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, Iniciação do direito do trabalho, 26ª ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 25. 17 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, Iniciação do direito do trabalho, 26ª ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 27. 18 SUSSEKIND, Arnaldo; TEIXEIRA FILHO, João de Lima. Instituições de direito do trabalho . 18 ed. São Paulo: LTr, 1999. v.I. p. 34. 19 MAGANO, Octávio Bueno. Manual de direito do trabalho: parte geral. 4. ed. São Paulo: LTr, 1991. p. 37.

18

No início não existiam normas para solução desses conflitos,

entretanto, os trabalhadores paralisavam a produção, como forma de autodefesa,

organizando greves, travando discussões que acabavam por estagnar a produção

da indústria, que só retomava a produção quando uma das partes cedesse em

suas reivindicações, sem maiores repercussões para os trabalhadores.20

Verifica-se que o patrão possuía o poder de direção em

relação ao trabalhador, e sendo o proprietário da máquina detinha os meios de

produção. O trabalhador nada possuía, e com a desigualdade a que estava

submetido houve a necessidade de maior proteção a esses trabalhadores.

Portanto, passa haver o intervencionismo do Estado, visando o bem-estar social e

melhores condições de trabalho. Com isso, a lei passa a estabelecer normas

mínimas de condições de trabalho que devem ser respeitadas pelos

empregadores.21

Ciente de sua omissão, o Estado passou a exercer a função

de órgão proporcionador de equilíbrio social, como orientador da ação individual,

em benefício do interesse coletivo, que era, na verdade, o próprio interesse

estatal, visto que com a paralisação do trabalho arrecadava menos tributos, além

de gerar turbulências na sociedade.22

Preocupado com sua autonomia, o Estado passou a tomar

posição chave na economia, desenvolvendo um plano de ação que compreendia

uma nova posição perante as relações sociais. Utilizou-se de técnicas como o

planejamento, o dirigismo econômico, a interferência nos contratos, etc.23

Desse modo, o dirigismo contratual, ou seja, à intervenção

jurídica do Estado que limita a autonomia da vontade, substitui o individualismo

contratual. O intervencionismo vem para realizar o bem-estar social e melhorar as

condições de trabalho, onde o trabalhador passa a ser protegido jurídica e

20 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho . 27 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 31. 21 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 6. 22 SUSSEKIND, Arnaldo; TEIXEIRA FILHO, João de Lima. Instituições de direito do trabalho . 18 ed. São Paulo: LTr, 1999. v.I. p. 40. 23 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, Iniciação do direito do trabalho, 26ª ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 24.

19

economicamente. Assim, passa o Estado a exercer sua verdadeira missão, como

órgão de equilíbrio, como orientador da ação individual, em benefício do interesse

coletivo.24

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, surgiu o

constitucionalismo social, que estabelecia a inclusão de preceitos relativos à

defesa social da pessoa, de normas de interesse social e de garantia de alguns

direitos fundamentais, nas constituições dos Estados. Com isso, as constituições

passaram a tratar o Direito do trabalho, constitucionalizando os direitos

trabalhistas.25

Em 1919, surgiu o tratado de Versalhes prevendo a criação

da Organização Internacional do Trabalho (OIT), responsável em proteger as

relações entre empregados e empregadores em um prospecto internacional,

expedindo convenções e recomendações se necessário.26

Por fim, em dezembro de 1948, foi criada a Declaração

Universal dos Direitos do Homem, que prevê alguns direitos aos trabalhadores,

como limitação razoável do trabalho, férias remuneradas periódicas, repouso e

lazer, etc.27

De modo geral, os conflitos do trabalho eram regulados por

disposições legais, civis ou comerciais, pois como demonstrado historicamente,

antes da Revolução Industrial as condições sociais e econômicas, em todos os

países, não justificavam a criação de normas processuais especiais para

solucionar os conflitos de interesses entre aqueles que viviam de seu trabalho e

os que dele se utilizavam para fins econômicos.28

O emprego da máquina a vapor, que aos poucos foi

substituindo o trabalho humano, provocou o choque de interesses entre os

24 MAGANO, Octávio Bueno. Manual de direito do trabalho: parte geral. 4. ed. São Paulo: LTr, 1991. p. 39. 25 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 8. 26 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, Iniciação do direito do trabalho, 26ª ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 27. 27 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 8 28 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; CASTELO BRANCO, Ana Maria Saad. Curso de direito processual do trabalho . p. 396.

20

assalariados e os donos das fábricas, fazendo com que o Estado abandonasse

sua posição de mero espectador, e começa-se a intervir nas relações de

trabalho.29

Observa-se que nesse momento histórico, surge o conceito

de direito do trabalho, bem como sua normatização em relação ao Direito

Positivo.

1.2 DO DIREITO MATERIAL E PROCESSUAL DO TRABALHO – CONCEITO

1.2.1 DO DIREITO DO TRABALHO

A conceituação de direito do trabalho têm sua origem na

Alemanha por volta de 1912, onde a matéria de estudo vai ser concentrada nas

relações do trabalho em geral. Contudo, verificou-se que no Brasil a denominação

de direito do trabalho é utilizada não somente para representar o trabalho

subordinado, mas também o trabalho temporário, avulso, doméstico, entre

outros.30

No que tange o direito do trabalho discorre Sergio Pinto

Martins que:

O direito do Trabalho é o conjunto de princípios, regras e instituições atinentes à relação de trabalho subordinado e situações análogas, visando assegurar melhores condições de trabalho e sociais ao trabalhador, de acordo com as medidas de proteção que lhe são destinadas. (...) têm o direito do trabalho inúmeras regras que versam sobre a matéria, e a maioria delas está contida na CLT (...). A finalidade do direito do trabalho é assegurar melhores condições de trabalho, porém não só essas situações, mas também condições sociais ao trabalhador. Assim, o direito do trabalho tem por fundamento melhorar as condições de trabalho dos obreiros e também suas situações sociais, assegurando que o trabalhador possa prestar seus serviços num ambiente salubre, podendo, por meio de seu salário, ter uma vida digna para que possa desempenhar o seu papel na sociedade.31

29 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 77. 30 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 15. 31 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 16 e 17.

21

Não obstante ao direito do trabalho, há de se falar sobre

processo, direito processual do trabalho e seus princípios. A atual denominação

de processo é relativamente moderna, estabelecendo que este é o meio de que

se serve a função jurisdicional, ou seja, é uma seqüência ou série de atos que se

desenvolvem progressivamente com o objeto de resolver, mediante um juízo de

autoridade o conflito submetido à sua decisão.32

Processo é, portanto, o instrumento utilizado o Estado para

solucionar um conflito de interesse submetido à sua apreciação, obedecendo a

certas diretrizes, a um critério, sistema ou método, a uma ordem; esse método é o

direito processual.33

Durante longo tempo, considerou-se o direito processual

como um complemento de direito material, ao passo que atualmente temos a

idéia do processo como uma relação jurídica. Pode-se dizer que é através do

processo que o poder estatal soluciona os conflitos trabalhistas, que se dividem

em individuais e coletivos.34

1.2.2 DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Em contrapartida, direito processual do trabalho é o conjunto

de princípios, regras e instituições destinado a regular a atividade dos órgãos

jurisdicionais na solução dos dissídios, individuais ou coletivos, pertinente à

relação de trabalho.

Conceitua-se direito processual do trabalho o conjunto de

princípios, regras e instituições destinados à regulamentar a atividade dos órgãos

jurisdicionais na solução dos dissídios, individuais ou coletivos, pertinentes à

relação de trabalho.35

32 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; CASTELO BRANCO, Ana Maria Saad. Curso de direito processual do trabalho . 5. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 39. 33 MALTA, Christovão Piragibe Tostes. Direito processual do trabalho. 34. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 23. 34 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; CASTELO BRANCO, Ana Maria Saad. Curso de direito processual do trabalho . 5. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 40. 35 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho . 27 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 18.

22

No direito do trabalho, ressalta-se que não existem apenas

conjuntos de princípios e normas, mas também de instituições, de entidades, que

criam e aplicam o referido ramo do direito. O Estado é o maior criador de normas

processuais trabalhistas, na medida em que a justiça do trabalho é o órgão estatal

do poder judiciário incumbido de aplicar as regras processuais trabalhistas.

Na existência de relação de emprego, é imprescindível a

distinção entre empregados de empregadores, por se tratar o contrato de trabalho

de um negócio jurídico bilateral que pressupõe a existência de dois sujeitos de

direito.

O art. 3º da CLT dispõe que, “considera-se empregado toda

pessoa física que prestar serviços de natureza não-eventual a empregador, sob a

dependência deste e mediante salário”.36

Diante dos expressos termos do art. 3º da CLT é possível

afirmar que empregado é espécie do gênero trabalhador, no sentido que todo

empregado é trabalhador, porém nem todo trabalhador é empregado. Empregado

é, pois, o sujeito de uma relação de trabalho subordinado, protegido pelo direito

do trabalho.37

A relação existente entre empregados e empregadores, é

apresentado por nossa legislação como relação de emprego ou contrato de

trabalho. Entretanto, o termo mais correto a ser utilizado deveria ser contrato de

emprego e relação de emprego, uma vez que relação de trabalho é o gênero que

abrange as diversas formas de trabalho, ao passo que relação de emprego trata

do trabalho subordinado do empregado em relação ao empregador.38

Os conflitos trabalhistas são parte de um fenômeno maior,

os conflitos sociais, próprios da vida em comunidade. Observa-se não ser

possível a superação desses conflitos, porque a vida do ser humano nos grupos

sociais é problemática. Assim, as sociedades coexistem com os conflitos e

36 ANGHER, Anne Joyce. Vade mecum acadêmico de direito - Consolidação das Leis Trabalhistas. 3. ed. São Paulo: Rideel, 2007. 37 CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 20. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 36 38 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 80.

23

descobrem técnicas de solução que, teoricamente, podem ser reunidas em três

tipos fundamentais, a autodefesa, a autocomposição e a heterocomposição.39

E, para melhor compreender os traços fundamentais e as

características do processo trabalhista, deve-se identificar as particularidades dos

conflitos do trabalho, pois são estes que irão determinar o tipo de processo hábil

para solucioná-los.

1.3 DAS FONTES DO DIREITO DO TRABALHO

1.3.1 DAS FONTES DO DIREITO MATERIAL DO TRABALHO

Como apresentado anteriormente, o Direito do Trabalho é o

complexo de princípios, regras e institutos jurídicos que regulam as relações de

trabalho, englobando, também, os institutos, regras e princípios jurídicos

concernentes às relações coletivas entre trabalhadores e tomadores de serviços,

em especial através de suas associações coletivas.40

Não obstante ao direito surge o instituto da fonte, que

significa a origem, o manancial de onde provém o direito, ou seja, são as

características oriundas da vida social que submergem na superfície do Direito,

na qual se constituem desse modo, em fontes formais e fontes materiais.41

As fontes materiais compreendem o conjunto de fenômenos

sociais que contribuem para a formação do direito, ao passo que as fontes

formais são os meios pelos os quais se estabelecem as normas jurídicas,

ressaltando que estas últimas exteriorizam o direito, conferindo à regra jurídica o

caráter de direito positivo.42

Em relação às fontes do direito, estas podem se classificar

em heterônomas, quando imposta por agente externo (origem estatal), ou em

39 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 3. 40 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho . 6. ed. São Paulo: LTr, 2007. p.52 41 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 37. 42 MARTINS, Adalberto; CAVALCANTI, Hélio Augusto Pedroso. Elementos de direito do trabalho . 3. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Síntese, 2005. p. 19.

24

autônomas, quando elaborada pelos próprios interessados (origem não-estatal). A

primeira é composta pela Constituição, leis, decretos, sentenças normativas43; já

a segunda abrange os costumes44, convenção45 e acordo coletivo46, contrato de

trabalho.47

Além das fontes de direito do trabalho propriamente ditas, há

outros institutos, denominados fontes supletivas, que podem orientar a resolução

de controvérsias trabalhistas, conforme elencados no art. 8º, § único, da CLT

(Consolidação das Leis do Trabalho):

Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência48, por analogia49, por eqüidade50 e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente de direito do trabalho e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.

Parágrafo único: O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não for incompatível com os princípios fundamentais deste.

Observa-se a existência de hierarquia entre as fontes

normativas, na medida em que a Constituição e as emendas à Constituição estão

43 Sentença normativa - regramento jurídico decorrente de decisão judicial em processos de dissídios coletivos, que tem força de Lei. 44 Costumes – “Do latim consuetudine, de consuetumine, hábito, uso. É a prática social reiterada e considerada obrigatória. (...) Da mesma forma que não se confunde com a lei, o costume não se confunde com a jurisprudência, por ser criação da consciência popular. 45 Convenção Coletiva – é o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho. 46 Acordo Coletivo – é o ajustamento entre Sindicatos representativos de categorias profissionais e uma ou mais empresas de condições de trabalho no âmbito das relações de trabalho que, respectivamente, integram. 47 VICENTE JÚNIOR, Luiz. Direito do Trabalho . São Paulo, 04 jul. 2005. Disponível em: <http://www.juliobattisti.com.br/tutoriais/luizvicente/direitodotrabalho001.asp>. Acesso em: 02 maio 2008. 48 Jurisprudência – pode ser entendida como a reiteração de entendimento na aplicação de determinada norma jurídica, pelos tribunais, a partir do exame de casos concretos apreciados. 49 Analogia – pode ser conceituada como o processo lógico pelo qual o aplicador da lei adapta, a um caso concreto não previsto pelo legislador, norma jurídica que tenha o mesmo fundamento. 50 Eqüidade – do latim aequitas, (...) funda-se na idéia de igualdade, sendo aplicada para a consecução do justo (...) representa aquele sentido de justiça que, por vezes, separa-se da lei para atender a circunstâncias concretas que se deve levar em consideração; caso contrário cometer-se-á a pior das injustiças.

25

sobre todas as demais normas. Em seguida, em ordem decrescente de

preponderância, vêm as leis complementares, as leis ordinárias, as leis

delegadas, as medidas provisórias e os decretos. No Direito do Trabalho,

contudo, diferentemente de outros ramos do Direito, cuja hierarquia é observada

com absoluta rigidez, há espaço para aplicar ao caso concreto o instituto que

melhor atenda, observado o caráter social da demanda, à pacificação dos

interesses em conflito.51

1.3.2 DAS FONTES DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Como observado anteriormente, a expressão fonte do direito

é metafórica, pois da mesma forma que as águas surgem das fontes, as regras de

direito surgem da convivência social e da necessidade natural do homem de um

regramento jurídico dessa convivência.52

As fontes do Direito Processual do Trabalho são

classificadas em fontes materiais e fontes formais, sendo esta última dividida em

fontes formais diretas, indiretas e de explicitações.53

As fontes materiais são as fontes potenciais do direito

processual do trabalho e emergem do próprio direito material do trabalho, pois

entre os escopos do processo está o de promover a realização do direito material.

Dessa maneira, o direito processual adquire a função instrumental, ou seja, o

processo deve proporcionar a realização dos valores sociais contemporâneos,

que traduzem um sentimento universal em prol da verdadeira justiça.54

Contudo, as fontes formais do Direito Processual do

Trabalho são as que lhe confere o caráter de direito positivo, e dividem-se em

fontes formais diretas (abrangem a lei em sentido genérico), formais indiretas

51 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 39-40. 52 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho . 27 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 30. 53 BRANCATO, Ricardo Teixeira. Instituições de direito público e privado. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1993, p.19. 54 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho . 5. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 39

26

(extraídas da doutrina e da jurisprudência) e formais de explicitação (analogia,

princípios gerais do direito e eqüidade).55

A Constituição Federal de 1988 encontra-se no topo das

fontes formais direta do Direito Processual do Trabalho, e num patamar

infraconstitucional, destacam-se a Consolidação das Leis do trabalho, a Lei nº

5.584/70, o Código de Processo Civil, a Lei 6.830/80 (Lei de Execuções Fiscais),

e a Lei 7.701/88 (dispõe sobre a organização e especialização dos tribunais).56

No que concerne às fontes formais indiretas, destaca-se o

importante papel da doutrina e da jurisprudência na interpretação do Direito

Processual do Trabalho, na medida em que, constantemente se renovam as

decisões utilizadas na aplicação do direito positivo.57

Em relação as fontes formais de explicitação, o art. 729 da

CLT permite a aplicação subsidiária do art. 126 do CPC, dispondo que “o juiz não

se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No

julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo,

recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito”.58

Por fim, há quem sustente que as normas de direito

processual podem derivar de outras fontes não estatais, como os costumes e os

tratados internacionais firmados pelo Brasil. 59

1.3.3 DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO MATERIAL E PROCESSU AL DO

TRABALHO

O Direito do Trabalho, tal como outros ramos do direito,

utiliza-se de alguns princípios próprios considerados as linhas diretrizes ou

55 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho . 5. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 40. 56 GIGLIO, Wagner de. Direito processual do trabalho . 5. ed. São Paulo: LTr, 1974; 12. Ed. Saraiva, 2002. p. 76. 57 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho . 27 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 32. 58 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho . 5. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 44. 59 MALTA, Christovão Piragibe Tostes. Direito processual do trabalho. 34. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 47.

27

postulados básicos de interpretação que inspiram o sentido das normas

trabalhistas. Esses princípios são aplicados na ausência de dispositivos legais ou

contratuais, na qual as autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho

decidirão com fundamento nos mesmos.60

Alguns doutrinadores conceituam os princípios de maneira

diferentes. Para Miguel Reale “princípios são verdades fundantes de um sistema

de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido

comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de caráter operacional,

isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da

praxis”.61

No entendimento de José Cretella Jr., este afirma que

“princípios de uma ciência são as proposições básicas fundamentais, típicas, que

condicionam todas as estruturações subseqüentes. Princípios, nesse sentido, são

os alicerces da ciência”.62

Para o direito, os princípios são bases que irão informar e

inspirar as normas jurídicas. Conforme o autor Celso Antônio Bandeira de Mello

aduz:

É, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. O princípio é o primeiro passo na consecução de uma regulação passo ao qual devem seguir-se outros. O princípio alberga uma diretriz ou norte magnético, muito mis abrangente que uma simples regra; além de estabelecer certas limitações, fornece diretrizes que embasam uma ciência e visam à sua correta compreensão e interpretação. Violar um princípio é muito mais grave do que violar uma regra. A não-observancia de um princípio implica ofensa não apenas a específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos.63

60 MARTINS, Adalberto; CAVALCANTI, Hélio Augusto Pedroso. Elementos de direito do trabalho . 3. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Síntese, 2005. p. 25. 61 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito . 4. ed. São Paulo: 1977; 23. ed. 1996. p. 299. 62 CRETELLA JÚNIOR, José. Os cânones do direito administrativo . Revista de informação legislativa. Brasília, ano 25, n 97, p. 7. 63 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo . 8. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 573.

28

Importante salientar as funções dos princípios, sendo estas

informadora, normativa e interpretativa. De acordo com o art. 8 da CLT64,

observa-se claramente que na falta dos dispositivos legais ou contratuais, o

interprete da norma, pode-se ancorar dos princípios do direito do trabalho,

suprindo as brechas e as omissões da legislação.65

Os princípios jurídicos gerais aplicáveis ao Direito do

Trabalho se irradiam por todos os segmentos da ordem jurídica, tendo como

finalidade o papel de assegurar organicidade e coerência integradas á totalidade

do universo normativo de uma sociedade política.66

Destarte os conhecimentos acerca dos princípios, é possível

identificar alguns destes específicos do Direito do Trabalho, dentre os quais temos

o princípio da proteção que se subdivide em princípio da norma mais favorável; da

condição mais benéfica; in dubio pro operario; princípio da irrenunciabilidade;

princípio da continuidade da relação de emprego, e o da primazia da realidade.67

Como forma de compensar a superioridade econômica do

empregador em relação ao empregado, devemos equilibrar os pólos, dando ao

trabalhador a proteção que lhe é dispensada por meio de lei em relação ao

princípio da proteção, quando houver a dúvida deve-se aplicar a regra mais

favorável ao trabalhador, o in dubio pro operario. Ainda existe o princípio da

condição mais benéfica, na qual um direito adquirido pelo trabalhador não pode

ser modificado.68

A renúncia a direitos trabalhistas não encontra respaldo na

doutrina e na jurisprudência, prevalecendo a irrenunciabilidade dos direitos do

trabalhador por ser tratar de direitos de ordem pública. É por força do princípio da 64 Art. 8º da CLT - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público. 65 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 61. 66 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho . 6. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 191. 67 MARTINS, Adalberto; CAVALCANTI, Hélio Augusto Pedroso. Elementos de direito do trabalho . p. 26. 68 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 63.

29

continuidade da relação de emprego que o trabalhador adquiriu algumas

estabilidades provisórias consagradas no diploma constitucional.69

O princípio da primazia da realidade estabelece que os fatos

são muito mais importantes do que os documentos, portanto são privilegiados os

fatos, a realidade, sobre a forma ou a estrutura empregada.70

Pode-se dizer que cada autor enumera os seus princípios

como sendo princípios do direito do trabalho, havendo uma grande divergência

entre inúmeros doutrinadores.

Temos como linear de divisão, a realizada pelo professor

Wagner Giglio, onde este toma como norte a divisão dos princípios em reais e

ideais. Sendo os reais o protecionista, simplificação de procedimentos, jurisdição

normativa e despersonalização do empregador; e os ideais, o ultra ou extra

petição, iniciativa de ofício e coletivação das ações.71

O Direito Processual do Trabalho também possui princípios

próprios, entretanto, doutrinariamente, se fala em um só princípio, estando nele

englobado diversas peculiaridades. Desse modo, considera-se como verdadeiro

princípio do processo do trabalho o da proteção.72

Sustentando o principio supracitado, destaca-se que as

normas processuais de trabalho devem ser adequadas a finalidade do direito

material do trabalho, buscando um tratamento igualitário entre as partes

conflitantes impedindo efeitos violentos oriundos das questões sociais.

1.4 DA JUSTIÇA DO TRABALHO

1.4.1 DO PODER JUDICIÁRIO

Na Constituição da República Federativa do Brasil,

apresentam-se várias formas de direitos amparados e protegidos em seu núcleo, 69 MARTINS, Adalberto; CAVALCANTI, Hélio Augusto Pedroso. Elementos de direito do trabalho . p. 29-30. 70 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 65. 71 GIGLIO, Wagner de. Direito processual do trabalho . 5. ed. São Paulo: LTr, 1974; 12. Ed. Saraiva, 2002. P. 76 e 78. 72 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho . 27 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 41.

30

tornando-se imprescindível a busca das fontes protetoras dos direitos trabalhistas,

ressaltando seus conceitos e idéias fundamentais.

O exercício do poder do Estado, quando dividido e

distribuído por vários órgãos segundo critérios funcionais, estabelece um sistema

de freios e contrapesos, sob o qual difícil se torna o arbítrio e mais facilmente

pode prosperar a liberdade individual.73

O Poder Judiciário é um dos três poderes clássicos previstos

pela doutrina e consagrado como poder autônomo e independente de importância

crescente no Estado de Direito, pois sua função não consiste somente em

administrar a Justiça, sendo, ainda, o verdadeiro guardião da Constituição, com a

finalidade de preservar, basicamente, os princípios da legalidade e da igualdade,

sem os quais os demais tornar-se-iam vazios.74

A Constituição Federal apresenta dentre os direitos e

garantias individuais, o princípio da inafastabilidade da apreciação judiciária,

segundo o qual “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou

ameaça de direito” (art. 5º, XXXV da CF).

E ainda, enumera no art. 92, os órgãos do Poder Judiciário:

o Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça, o Superior Tribunal

de Justiça, os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais, os Tribunais e

Juízes do Trabalho, os Tribunais e Juízes Eleitorais, os Tribunais e Juízes

Militares e os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.75

É, perante o Poder Judiciário, portanto, que se pode efetivar

a correção da imperfeita realização automática do direito, na medida em que é

preciso um órgão independente e imparcial para velar pela observância da

Constituição e garantir a ordem na estrutura governamental, através de sua

função precípua, a jurisdição.76

73 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 170. 74 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 460. 75 ANGHER, Anne Joyce. Vade mecum acadêmico de direito - Constituição da R epública Federativa do Brasil. 3. ed. São Paulo: Rideel, 2007. 76 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 170.

31

1.4.2 DA JURISDIÇÃO

Jurisdição é a capacidade dos órgãos judiciários de

solucionarem conflitos de interesses, não podendo um só órgão solucionar todos

os conflitos, sendo distribuídos entre os diversos órgãos do Poder Judiciário em

razão da matéria, local em que deve ser julgado, das pessoas envolvidas, etc.77

Jurisdição é uma palavra composta pela justaposição de

outras duas, possui origem Latina: jus, juris que significa Direito e, dictio, do verbo

dicere, que significam respectivamente, dicção e dizer. Temos assim que

jurisdição possui o sentido de dicção do direito, consistindo no poder de que todo

o juiz esta investido, pelo Estado, e dizer o direito nos casos concretos que estão

submetidos à sua decisão.78

Ao criar a jurisdição no quadro de suas instituições, o Estado

buscou garantir que as normas de direito substancial contidas no ordenamento

jurídico efetivamente conduzam aos resultados enunciados, isto é, que se

obtenha os resultados práticos que o direito material preconiza.79

Portanto, observa-se que é através do exercício da função

jurisdicional, que o Estado faz com que se atinjam, em cada caso concreto, os

objetivos das normas de direito substancial, assim caracterizando o cumprimento

do direito objetivo.

Os conflitos trabalhistas podem ser individuais ou coletivos,

regidos por normas legais ou convencionais, onde o Estado atua, perante as

relações de trabalho através de mais de um órgão. Desse modo, o conceito de

jurisdição trabalhista é estrito, mas também extenso, de modo que abrange tanto

a atuação jurisdicional do Estado como o conjunto de formas de composição dos

conflitos trabalhistas.80

77 MARTINS, Adalberto; CAVALCANTI, Hélio Augusto Pedroso. Elementos de direito do trabalho . 3. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Síntese, 2005. p. 38. 78 GIGLIO, Wagner de. Direito processual do trabalho . 5. ed. São Paulo: LTr, 1974; 12. Ed. Saraiva, 2002. p. 25. 79 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 147. 80 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 123.

32

1.4.3 NOÇÕES HISTÓRICAS

A Justiça do Trabalho seguiu os moldes do sistema

corporativo italiano, integrado por um juiz togado e dois representantes classistas,

um do empregado e outro do empregador. A Constituição de 1934 dispunha que a

Justiça do Trabalho era instituída para dirimir questões entre empregadores e

empregados, e ainda, determinava que a constituição dos tribunais do trabalho e

das comissões de conciliação obedeceria ao princípio da eleição de seus

membros.81

Sobre o tema conceitua Nascimento:

A justiça do trabalho é uma justiça especial, com organização própria no Poder Judiciário, competente para conhecer questões trabalhistas, mas também com juízes especializados em questões trabalhistas integrados n organização judiciária comum, e, igualmente, estruturas administrativas que funcionam nos moldes jurisdicionais por força de lei que lhes confere poderes decisórios para lides trabalhistas.82

A estrutura da Justiça do Trabalho, assim como ocorre na

Justiça comum, divide-se em planos superpostos, quais sejam as Varas do

Trabalho, os Tribunais Regionais (TRTs) e o Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Salienta-se que antes da promulgação da Constituição de 1988, era de

competência das Juntas de Conciliação e Julgamento decidirem os dissídios

individuais do trabalho, ao passo que para o julgamento dos dissídios coletivos do

trabalho, eram competentes as Comissões Mistas de Conciliação.83

De acordo com Sergio Pinto Martins, “a organização da

Justiça do Trabalho apresenta aspectos comuns e peculiares em relação aos

demais tribunais do Poder Judiciário”. Em sua obra, o autor elenca alguns desses

aspectos como segue:

Dar efetividade ao Direito do Trabalho; Não existe divisão em entrâncias nas Varas, pois as entrâncias são divisões judiciárias

81 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho . 27 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 72. 82 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 125. 83 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; CASTELO BRANCO, Ana Maria Saad. Curso de direito processual do trabalho . p. 396.

33

em razão do maior número de processos existentes em cada comarca. Na Justiça do Trabalho todas as varas estão em um mesmo grau na região, tanto em São Paulo, como a de Carapicuíba ou Poá, que tem o menor número de processos; na primeira instância não existem órgãos ou Varas especializadas, como ocorre na Justiça Comum. Nesta existem Varas especializadas em questões de família, causas criminais, registro públicos, falências e concordatas, acidentes do trabalho, fazenda pública, etc. Todas as Varas do Trabalho julgam as mesmas matérias, de verbas rescisórias, horas extras, adicionais de insalubridade ou periculosidade, etc.; Os tribunais tem sido criados por regiões e não por Estados.84

Observa-se que a representação partidária de empregados e

patrões era feita por meio de seus delegados nos diversos graus da Justiça do

Trabalho, seja nas Juntas, nos Tribunais Regionais e o no Superior Tribunal do

Trabalho. Ainda que, a estrutura desse órgão judicante era justificada pela

contribuição que representantes dos trabalhadores e de empregadores podiam

dar aos magistrados de forma de conhecimento técnicos especializados.85

Até a Emenda Constitucional n. 24 de 1999, a nossa Justiça

do Trabalho era formada por representantes dos empregados, dos empregadores

e do Estado. Não sendo exigida uma formação acadêmica para ser Juiz que se

representa os empregados e os empregadores.86

Após, foi eliminada a necessidade de julgadores classistas

em todos os níveis da Justiça do Trabalho, devendo-se se tomar como exemplo o

modelo alemão, aonde um grupo de assessores indicados pelo sindicato de

empregados e de patrões oferecem a assistência aos juízes togados.87

1.4.4 DA ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Por se tratar a Justiça do Trabalho de uma Justiça

especializada em razão da matéria, sua estrutura, organização e competência

84 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho . 27 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 73. 85 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; CASTELO BRANCO, Ana Maria Saad. Curso de direito processual do trabalho . p. 397. 86 VALERIANO, Sebastião Saulo. Procedimento sumaríssimo e comissões de conciliação prévia . São Paulo: LED, 2000. p. 19. 87 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; CASTELO BRANCO, Ana Maria Saad. Curso de direito processual do trabalho . p. 398.

34

encontra-se disposta, em suma, hodiernamente, nos artigos 111 a 117 da

Constituição Federal de 1988, além do disposto nos artigos 643 a 669 da

Consolidação das Leis do Trabalho.88

O art. 111 apresenta os órgãos da Justiça do Trabalho,

quais sejam: TST, TRTs e as atuais Varas do Trabalho. O Tribunal Superior do

Trabalho é o órgão máximo desta Justiça Especializada, que hodiernamente é

composto por 17 Ministros, sendo 11 juízes de carreira, oriundos dos TRTs, 3

advogados e 3 procuradores oriundos do MPT, embora a Constituição preceitue

que deveriam ser 27 Ministros. O desfalque deve-se a extinção dos Ministros

Classistas. O TST subdivide-se em: Tribunal Pleno, Sessões Especializadas

(Subseções), e 5 Turmas.89

Os Tribunais Regionais do Trabalho e as Varas do Trabalho

possuem composição em legislação ou normatização judicial infra-constitucional,

sendo que a cada 2 anos o TST analisa nova criações de Varas de Trabalho.

Atualmente contamos com 24 Tribunais Regionais do Trabalho, sendo que os

Estados-Membros: Amapá, Roraima, Acre não possuem TRT exclusivo, enquanto

São Paulo possui 2, um na Capital e outro em Campinas.90

A Constituição Federal de 1988 estabelece que91:

Art. 111. São órgãos da Justiça do Trabalho:

I - o Tribunal Superior do Trabalho;

II - os Tribunais Regionais do Trabalho;

III - Juízes do Trabalho.

Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e sete Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo:

I um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do

88 GIGLIO, Wagner de. Direito processual do trabalho . 5. ed. São Paulo: LTr, 1974; 12. Ed. Saraiva, 2002. p. 17. 89 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho . 27 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 98. 90 GIGLIO, Wagner de. Direito processual do trabalho . 5. ed. São Paulo: LTr, 1974; 12. Ed. Saraiva, 2002. p. 18. 91 ANGHER, Anne Joyce. Vade mecum acadêmico de direito - Constituição da R epública Federativa do Brasil. 3. ed. São Paulo: Rideel, 2007.

35

Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94;

II os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior.

§ 1º A lei disporá sobre a competência do Tribunal Superior do Trabalho.

§ 2º Funcionarão junto ao Tribunal Superior do Trabalho:

I a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho, cabendo-lhe, dentre outras funções, regulamentar os cursos oficiais para o ingresso e promoção na carreira;

II o Conselho Superior da Justiça do Trabalho, cabendo-lhe exercer, na forma da lei, a supervisão administrativa, orçamentária, financeira e patrimonial da Justiça do Trabalho de primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema, cujas decisões terão efeito vinculante.

Art. 112. A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho.

Art. 113. A lei disporá sobre a constituição, investidura, jurisdição, competência, garantias e condições de exercício dos órgãos da Justiça do Trabalho.

Quanto a Competência da Justiça do Trabalho, assim dispõe

o art. 114 da Constituição Federal:

Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; as ações que envolvam exercício do direito de greve; as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data , quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o; as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.

1.4.4.1 Varas do Trabalho

36

As varas do trabalho, anteriormente denominadas juntas de

conciliação e julgamento, são os órgãos de primeira instância da Justiça do

Trabalho, tendo suas atribuições exercidas pelos juízes de direito da justiça dos

Estados onde não há varas.92

As denominadas varas do trabalho são órgãos de primeiro

grau da Justiça do Trabalho aos quais cabe o conhecimento inicial dos litígios

trabalhistas. Considerando o grande número de processos, sobretudo os de

natureza econômica, atualmente existem varas apenas em centros maiores, em

que há concentração de trabalhadores.93

Há a necessidade de frisar que não somente os órgãos de

primeiro grau da Justiça do Trabalho são divididos em instância, as varas do

trabalho da capital ou interior do Estado, possuem competência para julgar

qualquer lide trabalhista.94

Saad apresenta em sua obra que:

Oportuno ressaltar que, o titular da Vara do Trabalho é um magistrado, sendo necessário este ser bacharel em direito e ter três anos no mínimo de atividade jurídica. De modo que, este possui essencialmente todas as garantias inscritas na Lei Orgânica da Magistratura, e que não decorre em nenhum conflito com o texto legal dos artigos 93, 94 e 95 da Constituição Federal, porém se salienta que tantos os componentes da magistratura comum como os da especializada, possuem estas garantias.95

A lei ordinária federal determinará acerca da constituição,

investidura, jurisdição, competências, garantias e condições do exercício dos

órgãos da Justiça do Trabalho, conforme o art. 113 da Constituição Federal.96

Para a criação das novas Varas, o autor Sergio Pinto Martins

aponta os critérios a serem utilizados, baseando-se na Lei n. 6.947/81: 92 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 170. 93 GIGLIO, Wagner de. Direito processual do trabalho . 5. ed. São Paulo: LTr, 1974; 12. Ed. Saraiva, 2002. p. 13. 94 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; CASTELO BRANCO, Ana Maria Saad. Curso de direito processual do trabalho . p. 398. 95 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; CASTELO BRANCO, Ana Maria Saad. Curso de direito processual do trabalho . p. 399-400. 96 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho . 27 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 74.

37

o TST de dois em dois anos analisa propostas de criação de novas Varas, encaminhado projeto de lei ao governador;

é preciso que existam mais de 24.000 empregados na localidade ou que tenham sido ajuizadas 240 reclamações trabalhistas anuais, em média, nos últimos três anos;

nos locais onde já existem Varas só serão criadas outras quando o número de processos por ano for de 1.500 nas existentes;

a jurisdição de uma Vara é estendida aos Municípios próximos num raio máximo de 100 quilômetros da sede, desde que existam meios de acesso e de comunicação regulares com os referidos locais.97

1.4.4.2 Tribunais Regionais do Trabalho

Apresenta-se como precursores dos Tribunais do Trabalho,

os Conselhos Regionais do Trabalho, que se compunham de um presidente, que

exercia o papel de jurista, e quatro vogais, um sendo representante dos

empregados, outro dos empregadores e dois membros que possuíam interesses

alheios aos das partes, com outras especialidades.98

No tocante ao funcionamento dos TRTs, poderão também

laborar descentralizadamente, compondo Câmaras regionais, com a finalidade de

segurar o acesso do jurisdicionado à justiça durante todas as fases do processo.

As regras que regem funcionamento dos TRTs estão concisas no art. 672 da

CLT.99

Acerca da competência, o autor Nascimento ensina:

“Compete ao Pleno dos Tribunais Regionais que não se dividirem, no âmbito interno, julgar, originariamente, os dissídios coletivos, rever e estender suas decisões normativas, julgar mandados de segurança contra autoridades da própria Justiça do Trabalho, ações rescisórias e de habeas corpus; em último grau de jurisdição, compete-lhe ainda julgar os recursos contra multas impostas pelas Turmas e dirimir conflitos de competência entre Turmas, entre Varas do Trabalho e entre Juízes de Direito investidos de jurisdição trabalhista; e compete-lhe, finalmente, em único ou último grau de jurisdição, julgar os processos administrativos referentes aos serviços auxiliares e seus servidores e as reclamações contra atos administrativos do

97 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho . 27 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 74. 98 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho . 27 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 82. 99 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; CASTELO BRANCO, Ana Maria Saad. Curso de direito processual do trabalho . p. 409.

38

presidente ou de qualquer outro membro do Tribunal, dos juízes das Varas do Trabalho, dos juízes substitutos e dos funcionários.”

Os Tribunais Regionais do Trabalho possuem previsão no

art. 115, da Constituição Federal, onde se determinou sua composição, em que

no mínimo, incluirá sete juízes, recrutados, quando possível, na região referida;

nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros com idade superior a

trinta e inferior a sessenta e cinco anos (dentro os quais, um quinto dos

advogados deverá ter mais de dez anos de atividade profissional e membros do

Ministério Público do Trabalho com mais dez anos de efetivo exercício). 100

Para deliberação, em sua composição plena, os TRTs,

necessitam da presença de metade mais um do número de juízes, além do

Presidente. (art. 672, CLT) As turmas só funcionam com a presença de três

juízes, sendo estas compostas de cinco juízes. (art. 555, CPC) Será exclusivo ao

Presidente somente o voto de desempate, e nas demandas acerca de

constitucionalidade de leis ou de atos o poder público e administrativo, deterá de

voto como um simples juiz.101

Todavia, a ordem das sessões será instituída no regimento

interno dos tribunais. (art. 673 da CLT).

Destarte, a determinação constitucional de que cada Estado

membro da União, assim como o Distrito Federal, deveria ter no mínimo um

Tribunal Regional do Trabalho (CF, art. 112, com a redação anterior já revogada),

foi derrubado com a Emenda Constitucional n. 45/2004: surgiu, em lugar dela, a

atuação descentralizada dos Tribunais, por meio de Câmaras regionais, e a

função jurisdicional itinerante (CF, art. 115, §§ 1º e 2º).102

1.4.4.3 Tribunal Superior do Trabalho

A composição do Tribunal Superior do Trabalho mudou

muito com a Emenda Constitucional n. 24/99 sem a representação classista,

100 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; CASTELO BRANCO, Ana Maria Saad. Curso de direito processual do trabalho . p. 409. 101 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho . 27 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 85. 102 GIGLIO, Wagner de. Direito processual do trabalho . 5. ed. São Paulo: LTr, 1974; 12. Ed. Saraiva, 2002. p. 10.

39

passando de 27 para 17 juízes. Contudo, os Juízes Classistas tiveram seu cargo

garantido até o cumprimento de seus mandatos, percebendo ma redução

gradativa.103

Com o advento da medida supracitada, parágrafo 1º do art.

111 da Constituição Federal foi modificado, no sentido de que seus incisos I e II,

foram revogados:

O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de dezessete Ministros, togados e vitalícios, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, nomeados pelo Presidente da Republica após provação pelo Senado Federal, dos quais onze escolhidos dentre Juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, integrantes de carreira da magistratura trabalhista, três dentre advogados e três dente membros do Ministério Público do Trabalho (NR).104

Com a extinção da representação classista, o parágrafo 2º

do art. 111 da Constituição Federal sofreu modificações, refletindo diretamente na

escolha dos Ministros do Tribunal Superior do Trabalho, que permaneceu sem

alteração.105

A competência do TST, positivada pela Lei n. 7.701/88, e

divide o órgão em pleno, seção de dissídios individuais e coletivos, e turmas.

Importante ressaltar, que é necessário fazer a distinção entre composição e

funcionamento, onde na composição temos o número total de juízes que integram

o órgão julgador, ao passo que no funcionamento, há o número necessário para

serem feitas as deliberações.106

Os juízes que compõem o TST são vitalícios desde a posse,

onde aparecem o Presidente, o Vice-presidente e o Corregedor. No TST as

reuniões são fixadas em dias determinados pelo seu Presidente, que poderá

103 VALERIANO, Sebastião Saulo. Procedimento Sumaríssimo e Comissões de Conciliação Prévia . São Paulo: LED, 2000. p. 21 e 22. 104 ANGHER, Anne Joyce. Vade mecum acadêmico de direito - Constituição da R epública Federativa do Brasil. 3. ed. São Paulo: Rideel, 2007. 105 VALERIANO, Sebastião Saulo. Procedimento Sumaríssimo e Comissões de Conciliação Prévia . São Paulo: LED, 2000. p. 22 e 23. 106 GIGLIO, Wagner de. Direito processual do trabalho . 5. ed. São Paulo: LTr, 1974; 12. Ed. Saraiva, 2002. p. 8.

40

convocar reuniões extraordinárias. As sessões são públicas, iniciando às 14 horas

e terminando às 17 horas, podendo ser prorrogadas.

Nas sessões os debates poderão tornar-se secretos, desde

que, por motivo de interesse público, assim resolver a maioria de seus membros,

podendo a lei limitar, em caso de interesse público a presença, em determinados

atos, às próprias partes e seus advogados, ou somente a estes. A supervisão de

cada Tribunal Regional ficara à cargo do Conselho Superior de Justiça do

Trabalho, órgão este que atuará sob o ângulo nacional de abrangência.107

É certo que, em se tratando de relação laboral, e diante dos

conflitos que surgem de tal relação, a Justiça do Trabalho compreende na sua

Jurisdição e Competência, grande parte dos litígios hoje existentes.108

Abordar-se-á, no próximo capítulo, sobre outras formas de

solução de conflitos, destacando o conceito de conciliação, apresentando formas

judiciais e extrajudiciais de dirimir esses conflitos.

107 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho . 27 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 88. 108 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 261.

41

CAPÍTULO 2

DAS FORMAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS

2.1 FORMAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS

Os conflitos são característicos dos seres com vida,

permanecendo com estes até que se encontre os melhores meios disponíveis

para a solução adequada, onde, dessa maneira, a sociedade aprimora suas

técnicas para dirimir os conflitos buscando a harmonia e a paz social.109

Observa, portanto, Mascaro Nascimento que em toda a

sociedade, bem como no ordenamento trabalhista são encontrados conflitos

inerentes ao labor, além de ser causa das lides a questão social e o problema

econômico da desigual distribuição de riquezas.110

E ainda que:

O estudo dos conflitos trabalhistas pertence a duas áreas autônomas mas que se completam, a do direito do trabalho e a do direito processual do trabalho. De modo geral, os conflitos trabalhistas são classificados como individuais e coletivos, segundo o interesse em choque, de indivíduos singularmente considerados ou de um grupo abstratamente compreendido. Os conflitos coletivos envolvem pessoas não determinadas mas unidas em torno de um ponto comum. Os individuais envolvem pessoas determinadas agindo no interesse próprio, direto e imediato.111

As pessoas, físicas ou jurídicas, muitas vezes se

desentendem sobre a satisfação de suas pretensões ou interesses, usando este

vocábulo em seu sentido normal de proveito, utilidade ou bem. O empregador, por

exemplo, quer reduzir o salário de um empregado e este se opõe à medida.

Paralelamente ao interesse do empregador em diminuir seus gastos, há o do

109 MARTINS, Adalberto; CAVALCANTI, Hélio Augusto Pedroso. Elementos de direito do trabalho . 3. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Síntese, 2005. p. 191. 110 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 4. 111 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 4.

42

empregado de não ter seu poder aquisitivo reduzido. Surge, então, o conflito de

interesses.112

Não obstante, acrescenta Tostes Malta sobre o conflito de

interesses que:

É possível que os opositores, por si mesmos, cheguem a um entendimento (autocomposição do conflito), o que pode se dar pela desistência (renúncia à pretensão; no exemplo dado, o empregador desiste de reduzir o salário do empregado), pela submissão (renúncia à resistência oferecida à pretensão; no exemplo dado, o empregado concorda com a redução), ou pela transação (concessões recíprocas; o empregador, por exemplo, reduz o salário do empregado mas também diminui sua jornada de trabalho). Não havendo esse entendimento, a pessoa que se sentir lesada pela manutenção do conflito pode se dirigir ao Estado para que o solucione (forma de heterocomposição do conflito). Com raras exceções (legítima defesa, greve etc.), não mais se admite que os adversários procurem solucionar o conflito ou fazer justiça por seus próprios meios, isto é, rejeita-se a autodefesa ou composição unilateral. Duas ou mais pessoas podem ter interesses opostos, jamais externando suas reivindicações. Não sendo possível saber o que se passa no íntimo das pessoas, nada existe para ser solucionado pelo Estado, e o desejo, a pretensão de cada um, é estranho, no caso, ao direito.113

No âmbito trabalhista, os conflitos, em sentido lato sensu,

correspondem à divergência de interesses, onde são denominados controvérsias

ou dissídios, tendo sido utilizados com o significado de combater, lutar,

designando posições antagônicas. A controvérsia diz respeito a um conflito em

fase de ser solucionado, ao passo que o dissídio, seja individual ou coletivo, seria

o conflito que necessita da apreciação do Poder Judiciário. 114

Amauri Nascimento classifica as formas de solução das

controvérsias do direito do trabalho como segue: autodefesa, autocomposição e

heterocomposição115. Podemos ver que há outras classificações doutrinárias, cite-

se como exemplo a de Octávio Magano (in Manual de direito do trabalho: direito 112 MALTA, Christovão Piragibe Tostes. Direito processual do trabalho. 34. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 21. 113 MALTA, Christovão Piragibe Tostes. Direito processual do trabalho. 34. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 21. 114 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 761. 115 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, Iniciação do Direito do Trabalho, 26ª ed. São Paulo: LTr, 2000.

43

coletivo do trabalho): tutela, autocomposição e autodefesa116. A ordem que

seguiremos a de Sérgio Pinto Martins117, por entender ser a mais didática.

2.1.1 AUTO DEFESA

Autodefesa significa o ato pelo qual alguém faz a defesa

própria, por si mesmo, supondo uma defesa pessoal. É a forma mais primitiva de

dirimir conflitos. Segundo Alcalá-Zamora, consiste em, com ou sem formas

processuais, uma das partes do litígio solucioná-lo, impondo à outra parte

sacrifício não consentido por este.118

O que a diferencia não é nem a preexistência de um ataque,

que falta em varias de suas formas, nem a inexistência de determinado

procedimento, que em certas ocasiões pode existir, mas o concurso dessas duas

notas, a saber, a ausência de juiz distinto das partes e a imposição da decisão por

uma das partes à outra.119

De acordo com Pinto Martins:

O conflito só é solucionado quando uma parte cede à imposição da outra. O Direito Penal autoriza a legítima defesa e o estado de necessidade, que são meios excludentes da ilicitude do ato (art. 23 do Código Penal). No entanto, não se admite o exercício arbitrário das próprias razões para a solução dos conflitos entre as partes envolvidas. Como exemplos de autodefesa, no âmbito trabalhista, temos a greve e o lock-out. A greve muitas vezes não é forma de solução, mas meio de pressão.120

2.1.2 HETEROCOMPOSIÇÃO

Heterocomposição é a solução dos conflitos trabalhistas por

uma fonte suprapartes, que decide com força obrigatória sobre os litigantes, que,

116 MAGANO, Octávio Bueno. Manual de Direito do Trabalho: parte geral. 4. ed. São Paulo: LTr, 1991. 117 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 761. 118 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 6. 119 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 6. 120 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho . 27. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 47-48.

44

assim, são submetidos à decisão. Não se confunde com as formas de autodefesa

e autocomposição, porque a decisão é suprapartes, enquanto na autodefesa e na

autocomposição há um resultado obtido pelas próprias partes, impondo-se ou

compondo-se.121

Verifica-se a existência da heterocomposição, quando um

terceiro é quem determina a solução dos conflitos trabalhistas, isto é, através da

mediação, da arbitragem ou da tutela ou jurisdição.122

2.1.2.1 Arbitragem

A arbitragem é uma forma de solução de conflitos, feita por

um terceiro estranho a relação das partes ou por um órgão, que é escolhido por

elas, impondo a solução do litígio. É uma forma voluntaria de terminar o conflito, o

que importa em dizer que não é obrigatória.123

No arbitramento são questionados coisas ou fatos que

devem ser avaliados ou estimados, envolvendo tanto a jurisdição quanto

contratos. Desse modo, é considerada uma forma de composição extrajudicial

dos conflitos, por alguns doutrinadores sendo equiparada a um equivalente

jurisdicional.124

Mascaro Nascimento expressa suas considerações a

respeito da arbitragem:

Na arbitragem um terceiro suprapartes decide. Logo, a solução não é autocomposta. É imposta segundo a decisão do arbítrio, que tem muito de uma sentença judicial embora não o seja. Difere da decisão judicial pelos fundamentos do laudo arbitral, que não são obrigatoriamente jurídicos e podem ser de outra natureza, como os fundamentos de bom-senso ou conveniência no caso concreto. O arbítrio não é investido do poder jurisdicional porque a

121 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 7. 122 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 762. 123 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 762. 124 MARTINS, Adalberto; CAVALCANTI, Hélio Augusto Pedroso. Elementos de direito do trabalho . 3. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Síntese, 2005. p. 191.

45

sua autoridade para decidir é atribuída pela vontade dos particulares cujos interesses são apreciados.125

A arbitragem não impede o acesso à Justiça, pois como

disposto no art. 5º, XXXV, da CF, a lei não poderá excluir da esfera judicial

qualquer lesão ou ameaça de direito.

Tocante ao conceito, Sérgio Pinto Martins define o instituto

da seguinte forma: “é uma forma de solução de um conflito, feita por um terceiro

estranho à relação das partes, que é escolhido por estas. É uma forma voluntária

de terminar o conflito, o que importa dizer não é obrigatória”.126

Ressalta-se, que para que o conflito seja submetido à

apreciação de arbitragem e assim decidido, deverão assim dispor a cláusula

compromissória e o compromisso arbitral. A cláusula compromissória é a

convenção feita pelas partes, por meio da qual comprometem-se a submeter à

arbitragem os litígios que venham a surgir. O compromisso arbitral, seja judicial

ou extrajudicial, é a convenção por meio da qual as partes submetem um litígio à

arbitragem de uma ou mais pessoas.127

Sobre o instituto da arbitragem, discorre Martins e

Cavalcanti:

Diferencia-se a arbitragem da transação pois esta é um negócio jurídico pelo qual as partes extinguem suas obrigações através de concessões recíprocas. Na arbitragem as partes não estão interessadas em fazer concessões de mútuas vantagens, mas sim em uma decisão do árbitro que irá dizer quem tem razão. Outra distinção deverá ser feita quanto à perícia técnica, usada em caso em que o juiz não tem os conhecimentos técnicos suficientes para solucionar a questão colocada sob sua apreciação, nomeando um especialista. Necessários ressaltarmos que a perícia é meio de prova, servindo para orientar o juiz na busca pela solução, não cabendo tal decisão ao perito.128

125 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 7. 126 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho . 27. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 59. 127 CELSO NETO, João. Alternativas para a solução de conflitos . Jus Navigandi, Teresina, ano 2, n. 24, abr. 1998. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=259>. Acesso em: 07 maio 2008. 128 MARTINS, Adalberto; CAVALCANTI, Hélio Augusto Pedroso. Elementos de direito do trabalho . 3. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Síntese, 2005. p. 176.

46

A arbitragem tem natureza de justiça privada, uma vez que o

árbitro não tem ligação ao Estado, nem investidura, como ocorre com o juiz. Há

duas possibilidades de entendimento quanto à sua forma: de heterocomposição,

se levarmos em conta a presença de um terceiro chamado para resolver o conflito

(árbitro), ou como forma de autocomposição, se entendermos que as partes

escolhem um terceiro para solucionar o litígio.129

Ressalta-se que, ao falarmos de arbitragem, é bom lembrar

que esta é facultativa e alternativa para a solução de conflitos coletivos, sendo

usada como elemento subsidiário para a solução dos conflitos coletivos, se

frustrada a negociação coletiva. Se as partes recusarem-se à negociação coletiva

ou à arbitragem, aí sim poderá haver ajuizamento do dissídio coletivo.130

Observa-se, portanto, que a arbitragem ainda não faz parte

dos costumes do sistema de relações de trabalho no Brasil, tendo em vista que a

forma preferida é a jurisdição. Contudo, diversas propostas têm insistido sua

adoção como forma de reduzir o elevado número de processos judiciais, tornando

a arbitragem o meio natural de composição de seus conflitos.131

2.1.2.2 Jurisdição

A jurisdição ou tutela é a forma de dirimir os conflitos por

meio da interveniência Estatal, através de um processo judicial, onde o Estado,

através do Poder Judiciário, soluciona o litígio, dizendo o direito aplicado ao caso

concreto. A justiça do trabalho é competente para solucionar os conflitos

trabalhista, na qual as Varas do Trabalho ficam responsáveis pelos dissídios

individuais, e os Tribunais pelos dissídios coletivos.132

129 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho . 27. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 62. 130 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 19-20. 131 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 21-22. 132 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho . 27. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 70.

47

A solução dos conflitos através da jurisdição é a mais

generalizada possível, tendo em vista que não existe país que proíba a solução

de conflitos trabalhistas através do Poder Judiciário, na medida que a

diferenciação encontra-se na maior ou menos atuação jurisdicional e na sua

especialização ou não. É, portanto, a jurisdição, a autodefesa passando para o

processo judicial.133

A Constituição Federal normatiza sobre a jurisdição

trabalhista, dispondo sobre o Poder Judiciário (art. 92 e seguintes), os tribunais e

juizes do trabalho (art. 111), bem como o direito ao exercício da jurisdição (art. 5º,

XXXV).134

Ressalta-se a diferenciação entre jurisdição e arbitragem,

onde na primeira, o juiz, investido nessa função como órgão do Estado, diz o

direito aplicado ao caso concreto a ele submetido, ao passo que o arbítrio é

geralmente particular. Pode-se dizer que, o juiz pode determinar às partes o

cumprimento forçado da sentença, contudo o arbítrio não detém essa

faculdade.135

2.1.2.2.1 Da ação trabalhista

A ação é traduzida por Pinto Martins como “o direito de

provocar o exercício da tutela jurisdicional pelo Estado, para solucionar dado

conflito existente entre certas pessoas”.136

Nascimento esclarece em sua que:

Da proibição da autodefesa na ordem trabalhista resultam duas conseqüências que modificam fundamentalmente a fisionomia da solução dos conflitos de interesses na sociedade. De um lado, a crescente solidificação da

133 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 23. 134 ANGHER, Anne Joyce. Vade mecum acadêmico de direito - Constituição da R epública Federativa do Brasil. 3. ed. São Paulo: Rideel, 2007. 135 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho . 27. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 70. 136 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho . 27. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 224.

48

jurisdição estatal com um aparelhamento constituído para o fim de conhecer e resolver as lides quando solicitado pelos interessados; de outro lado, a substituição da ação material e direta entre os contendores por um direito que é conferido em tese a todas as pessoas de movimentar a organização jurisdicional e dela obter pronunciamento sobre a pretensão. Assim tanto os particulares, individualmente considerados, como os grupos econômicos e profissionais possuem um direito que podem exercer e que consiste em impulsionar o órgão jurisdicional trabalhista a fim de obter um pronunciamento que resolverá a divergência. Esse direito, na moderna processualística, é denominado direito de ação.137

O direito de ação é derivado do direito de petição, autônomo

do direito material, sendo um direito público subjetivo da parte invocar a tutela

jurisdicional prestada pelo Estado e não pelo particular, como ocorreria na

arbitragem ou na mediação.138

No processo trabalhista, a ação é o direito de movimentar o

órgão jurisdicional, para que se obtenha um parecer sobre uma pretensão

resistida, observando que, através de um longo processo histórico, o Estado

assumiu a tutela da ordem jurídica, vetando o emprego da violência na defesa

privada do direito, e garantindo uma solução pacífica do conflito.139

2.1.2.3 Mediação

Na mediação, as partes, por meio desta espécie, irão

chamar um terceiro para solucionar a controvérsia, mediante proposta aos

interessados. Sérgio Pinto Martins afirma que qualquer um poderá ser mediador,

não sendo necessário que tenha conhecimentos jurídicos. Este terceiro irá, tão-

somente, mediar o conflito, ouvindo as partes e, a seguir, fazendo as propostas a

fim de se chegar a um ponto em comum140. Com essa breve análise, é bom frisar

137 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 281. 138 MALTA, Christovão Piragibe Tostes. Direito processual do trabalho. 34. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 27. 139 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 281-282. 140 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 762.

49

o que diz Amauri Nascimento: “não tem o mediador poder de coerção ou coação

sobre as partes; é apenas um intermediário entre elas”.141

Observa-se, inclusive no campo do direito civil, a

obrigatoriedade da tentativa de conciliação entre as partes, antes de se proceder

aos meandros, trâmites legais. O §1º do artigo 616, CLT reza que, nos conflitos

coletivos, o Delegado Regional do Trabalho pode ser mediador e terá o poder de

convocação das partes, para fins de conciliação e possibilidade de acordo. Como

afirmado anteriormente, é obrigatória a tentativa de conciliação, mas lembremos

que a mediação não é necessária para a propositura de dissídio coletivo. É o

meio usado antes da propositura do dissídio coletivo.142

Sobre o instituto da mediação, acrescenta Amauri Mascaro

Nascimento:

Destarte, distinguir-se a mediação da conciliação na medida em que esta é judicial e em alguns casos extrajudicial, enquanto a mediação é extrajudicial. Logo, se o acordo é em juízo, o nome é conciliação (...) Na mediação, o mediador é via de regra escolhido pelas partes, embora em alguns casos isso possa não ocorrer, como na mediação da Delegacia Regional do Trabalho, no Brasil; na conciliação nem sempre é assim, pois o conciliador pode ser até mesmo o juiz. Na conciliação geralmente atua um órgão permanente destinado a esse fim, enquanto na mediação pode surgir a figura do mediador para cada caso concreto.143

Desta forma, as decisões judiciais que reafirmam os direitos

fundamentais dos trabalhadores servem de referência para a instauração de um

espaço democrático em todos os níveis144.

Baseado na certeza de que ter direitos, de uma certa

maneira potencializa a luta pela preservação dos mesmos, pode-se dizer que os

mecanismos alternativos de solução de conflitos de interesses, utilizando a

141 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, Iniciação do Direito do Trabalho, 26ª ed. São Paulo: LTr, 2000. 142 SUSSEKIND, Arnaldo; TEIXEIRA FILHO, João de Lima. Instituições de Direito do Trabalho . 18 ed. São Paulo: LTr, 1999. v.I. 143 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 15. 144 LOUGUERCIO, José Eymard. Formas de solução dos conflitos coletivos de trabal ho: arbritagem? p. 200.

50

celeridade e sendo menos dispendiosa às partes, consolidem o respeito ao direito

e a criação de um espaço democrático.

As Comissões de Conciliação Prévia (CCPs), procedimentos

extrajudiciais que adotam o critério da mediação para dirimir os conflitos entre

empregados e empregadores, foram criadas para evitar a procura do poder

jurisdicional, e para que se possa solucionar os conflitos trabalhistas de uma

forma amigável.145

2.1.3 AUTOCOMPOSIÇÃO

Autocomposição é a técnica segundo a qual o conflito é

solucionado por ato das próprias partes, sem emprego de violência, mediante

ajuste das vontades. Na autocomposição, um dos litigantes ou ambos consentem

no sacrifício do próprio interesse, daí a sua classificação em unilateral e

bilateral.146

A renúncia é um exemplo da primeira e a transação da

segunda. Pode dar-se à margem do processo, sendo, nesse caso,

extraprocessual, ou no próprio processo, caso em que é intraprocessual, como a

conciliação. É uma técnica superior à autodefesa, porque resulta da

harmonização a que chegam os próprios interessados. A desigual resistência

econômica dos litigantes pode levar um deles à capitulação, caso em que a

espontaneidade da solução consentida é meramente aparente.147

Renúncia é o fato pelo qual o titular do direito declara a

vontade de se desfazer dele, ou de não aceitá-lo. É negócio jurídico unilateral que

determina o abandono irrevogável de um direito dentro dos limites estabelecidos

145 SOUTO MAIOR, Soluções extrajudiciais dos conflitos individuais t rabalhistas. Brasília: Consulex, n°. 797, 31/01/2000. p. 31. 146 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 6-7. 147 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho . 27. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 47-48.

51

pelo ordenamento jurídico, ou seja, não precisa do concurso de outra vontade

para produzir o resultado buscado.148

O conceito geral de transação é o negócio jurídico bilateral

através do qual as partes previnem ou extinguem relações jurídicas duvidosas ou

litigiosas, por meio de concessões recíprocas ou ainda em troca de determinadas

vantagens pecuniárias. 149

Segundo Orlando Gomes é o contrato pelo qual, mediante

concessões mútuas, os interessados previnem ou terminam um litígio, eliminando

a incerteza de uma relação jurídica.150

Observa-se como requisito principal da transação o sacrifício

recíproco das partes, fazendo-se concessões de caráter patrimonial com o

objetivo de eliminar a incerteza do direito. Ante a desigualdade das partes, é

questionável a transação demasiadamente desproporcional.151

Acerca da transação, Rita de Cássia Mendonça apresenta:

Se a transação recair sobre direitos contestados em juízo, dependerá de homologação pelo juiz. Na Justiça do Trabalho, a transação, sob a forma de conciliação, é estimulada (é imperativa a proposta de conciliação no processo trabalhista, importando em nulidade a sua falta).No que se refere à fixação de normas reguladoras da relação empregatícia pelos próprios interessados, embora estimulada pela própria CF/88, quando se refere ao Acordo e Convenção Coletiva, desenvolve-se paralelamente às normas imperativas, isto é, somente no que tange aos direitos não expressos em tais normas é que é facultada às partes a negociação. Trata-se, portanto, de competência residual das partes para estabelecerem cláusulas contratuais. 152

148 GIGLIO, Wagner de. Direito processual do trabalho . 5. ed. São Paulo: LTr, 1974; 12. Ed. Saraiva, 2002. p. 18. 149 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003, v.3. 150 GOMES, Orlando. Contratos. 25. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 28 151 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho . 27. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 49. 152 MENDONÇA, Rita de Cássia Teonório. Renúncia e transação no Direito do Trabalho . Vem Concursos, São Paulo, 11 ago. 2003. Disponível em: < http://www.vemconcursos.com/opiniao/index.phtml?page_ordem=assunto&page_id=1317&page_parte=3>. Acesso em: 02 maio 2008.

52

A transação é bilateral e onerosa, que recai sobre coisa

duvidosa, distinguindo-se da renúncia, que é negócio jurídico unilateral e sem

contraprestação, que recai sobre direitos certo. A reciprocidade de prestações na

transação, não precisa ser totalmente equilibrada, uma vez que inexiste a

possibilidade de realizar um negócio dessa espécie, em que a perda sofrida por

uma das partes seja proporcional a da outra.153

Observa-se a existência da autocomposição, quando a

solução dos conflitos trabalhistas é realizada através das próprias partes sem a

intervenção de um terceiro, ou ainda a necessidade de provocar o poder

jurisdicional.

As formas autocompositivas de solução dos conflitos

trabalhistas pode ser os acordos coletivos, realizado entre o sindicatos de

empregados e uma ou mais empresas, e as convenções coletivas, que ocorre

entre o sindicato de trabalhadores e de empregadores. Na conciliação, pode não

haver a figura do terceiro, pois as partes se conciliam sozinhas.154

Sobre as técnicas autocompositivas de solução de conflitos

destaca Nascimento:

A autocomposição é forma de solução de conflito diretamente entre as partes interessadas. Nos conflitos coletivos desenvolve-se por meio de negociação coletiva, que é o procedimento pelo qual os interlocutores sociais, por suas representações sindicais ou não sindicais, discutem os seus problemas, visando aprovar um documento no qual estarão fixadas normas, condições de trabalho e obrigações que assumem. São em linha geral de dois tipos: os acordos e as convenções coletivas, previsto na CF de 1988 (arts. 7º, XXVI155, VI156 e XIII157, e 8º, VI158) e na CLT (art. 611159).160

153 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho . 27. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 49. 154 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho . 27. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 48. 155 Art. 7º, XXVI da CF/88 - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho; 156 Art. 7º, VI da CF/88 - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;

53

Outra forma autocompositiva é a conciliação dos conflitos,

muito utilizada nas relações de trabalho em todos os países e que permite pôr um

ponto final na disputa, também por meio da própria deliberação dos litigantes. A

conciliação pode ser extrajudicial, quando é previa ao ingresso da ação no

Judiciário, ou judicial, quando suscitada na fase do processo perante o

judiciário.161

Destaca em sua obra, Pinto Martins que:

No Brasil, são previstos na CLT vários dispositivos que exigem a conciliação. O art. 764 esclarece que os dissídios individuais ou coletivos submetidos a apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos a conciliação. Os juízes e tribunais empregarão seus bons ofícios e persuasão no sentido de uma solução conciliatória dos conflitos. Inexistindo acordo, o juízo conciliatório transforma-se em arbitral. Mesmo após encerrado o juízo conciliatório, as partes poderão celebrar acordo para por fim ao processo. Em dois momentos, a conciliação ‘e obrigatória: antes da contestação e após as razoes finais.162

Destarte, cabe ressaltar, que sob o prisma de Octávio Bueno

Magano a mediação e a arbitragem são formas de autocomposição.163 Entretanto,

se consideramos que a principal característica seja a existência de um terceiro

157 Art. 7º, XIII da CF/88 - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; 158 Art. 8º, VI da CF/88 - É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho; 159 Art. 611 da CLT - Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais do trabalho. 160 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 12. 161 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 13. 162 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho . 27. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 48. 163 MAGANO, Octávio Bueno. Manual de Direito do Trabalho: parte geral. 4. ed. São Paulo: LTr, 1991.

54

para a solução do conflito, classificaremos essas duas formas de

heterocomposição.164

2.1.3.1 Da conciliação

Deve-se ressaltar, sobre o importante instituto da

conciliação, antes mesmo de manifestarmos o entendimento de Comissão de

Conciliação Prévia. Este instituto remonta ao surgimento do próprio ser humano,

onde os conflitos derivam das mais variadas situações e podem resolver-se,

pacificamente, com a interação de bens ou utilidades da vida.165

Desde a Grécia antiga, no campo do Direito, existiam

referências à conciliação, que era considerada uma formalidade indispensável ao

processo e que deveria ser utilizada pelo juiz, antes da instrução processual,

como forma de dirimir conflitos.166

Na história moderna do Brasil, a conciliação sempre esteve

presente, como é exemplo a nossa Constituição Imperial de 1824, que em seu

artigo 161 declarava que, “sem se fazer constar que se tem intentado o meio de

reconciliação, não começará processo algum”.

Para alguns autores, a conciliação é considerada o mais

importante e característico princípio do processo do trabalho que se traduz na

harmonização da controvérsia de direitos e obrigações entre os sujeitos da

relação de emprego167.

Sobre a importante questão da conciliação, discorre Wilson

de Souza Campos168:

A conciliação constitui negócio jurídico, com efeitos substanciais entre as partes e efeitos processuais entre as partes e o órgão judicante. Constituindo negócio jurídico, aplicam-se-lhes os

164 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho . 27. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 49. 165 TEIXEIRA, João Luís Vieira. Comissões de Conciliação Prévia Trabalhistas . p. 19. 166 SANTOS, Altamiro J. dos. Comissão de Conciliação Prévia . Conviviologia Jurídica e Harmonia Social. p. 161. 167 TEIXEIRA, João Luís Vieira. Comissões de Conciliação Prévia Trabalhistas . p. 20. 168 CAMPOS BATALHA, Wilson de Souza. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho . p. 426.

55

princípios que regem os contratos e, assumindo efeitos processuais, aplicam-se-lhes os princípios pertinentes à coisa julgada.

Paralelamente ao poder jurisdicional, observou-se a

necessidade da criação de alternativas com novos mecanismos de resolução de

conflitos. Esses mecanismos teriam características como instituições leves,

relativa ou totalmente desprofissionalizadas, por vezes impedindo mesmo a

presença de advogados, de utilização barata, senão mesmo gratuita, localizada

de modo a maximizar o acesso aos seus serviços, operando por via expedida e

pouco regulada, com vista à obtenção de soluções mediadas entre as partes169.

2.1.3.2 Do acordo judicial

A conciliação na Justiça do Trabalho, nos casos

expressamente previstos em lei, pode ocorrer no curso do litígio ou em um

processo administrativo em que não há controvérsia, pois já se iniciou com as

partes conciliadas, comparecendo elas a juízo para a homologação do seu

ajuste.170

A conciliação é ato de audiência, portanto, se as partes se

compõem antes ou fora da audiência, podem documentar acordo mediante

petição por ambas e por seus advogados assinada, ou até mesmo comparecer à

secretaria da vara do trabalho e pedir que seja lavrado um termo para o mesmo

fim de documentação do acordo. Contudo, observa-se que não existe lei que exija

a homologação de acordo em processos contenciosos de dissídio individual.171

O acordo homologado tem efeito equiparado ao de sentença

transitada em julgado, desse modo irrecorrível e desde logo exeqüível à falta de

cumprimento das suas condições ao devedor.172

169 SANTOS, Boaventura de Souza. Introdução à sociologia d administração da Justiça . p. 119-120. 170 MALTA, Christovão Piragibe Tostes. Direito processual do trabalho. 34. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 260. 171 GIGLIO, Wagner de. Direito processual do trabalho . 5. ed. São Paulo: LTr, 1974; 12. Ed. Saraiva, 2002. p. 212. 172 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 495

56

Nesse sentido, o parágrafo único do artigo 831 da CLT

dispõe que, “no caso de conciliação, o termo que for lavrado valerá como decisão

irrecorrível, salvo para a Previdência Social quanto às contribuições que lhe forem

devidas”, com que “só por ação rescisória é atacável o termo de conciliação”

(Súmula nº 259 do TST).

Sobre o tema discorre Tostes Malta:

Com freqüência as partes em conflito ajustam suas pretensões antes da intervenção do juiz. Nessa hipótese o juízo pode limitar-se a homologar o acordo, depois de conferir sua legalidade. Nada impede, porém, é claro, que, em qualquer caso, mesmo já tendo as partes acordado, procure o julgador orientá-las propondo a solução que lhes pareça mais conveniente.173

A intervenção da autoridade, comumente denominada

homologação, não teria razão de ser caso não pudesse recusar a validade ao ato,

e como o legislador foi mais longe, impondo limites ao direito de transacionar do

empregado, ocorrem hipóteses em que os acordos não podem ser validados, por

infringirem disposição legal.174

Por fim, estando as partes de acordo com a proposta, fica

constado na ata de audiência, em todos os seus detalhes, embora de modo

resumido, o valor, condições ou prazos de pagamento, multa, custas etc,

ressalvando que “poderá ser estabelecida a de ficar a parte que não cumprir o

acordo obrigada a satisfazer integralmente o pedido ou pagar uma indenização

convencionada, sem prejuízo do cumprimento do acordo” (art. 846, § 2º da

CLT).175

2.1.3.3 Do acordo extrajudicial

A Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais Cíveis e

Criminais) em seu art. 57 foi a primeira norma que tratou expressamente da

173 MALTA, Christovão Piragibe Tostes. Direito processual do trabalho. 34. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 260. 174 GIGLIO, Wagner de. Direito processual do trabalho . 5. ed. São Paulo: LTr, 1974; 12. Ed. Saraiva, 2002. p. 213. 175 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 497.

57

homologação judicial de acordo extrajudicial, dispondo que “o acordo extrajudicial,

de qualquer natureza ou valor, poderá ser homologado, no juízo competente,

independentemente de termo, valendo a sentença como título executivo

judicial”.176

É evidente que a natureza do acordo deve ser considerada

em torno do ato ou fato jurídico que determine a sua celebração, visto que as

relações jurídicas que sofrem forte regulamentação estatal, como as relativas à

família e ao trabalho, também podem ter ajuste extrajudicial passível de

homologação judicial.177

Deverá passar pelo crivo do juiz ao qual se proponha a

homologação. A regra dispõe no sentido de que o acordo extrajudicial poderá ser

homologado, ou seja, não se impõe ao juízo a homologação. Poderá ser

homologado em tendo objeto que não afronte o Direito.178

Assim, é aplicável ao Processo do Trabalho a regra do art.

57 da Lei n. 9.099/95, na medida em que esse processo não tem disciplina da

matéria e por ser a homologação de acordo extrajudicial compatível com o

princípio da conciliação dos litigantes, o qual, no dizer de Isis de Almeida (1997, p.

49-61) é o mais peculiar dos princípios do Processo do Trabalho.179

Sobre o tema em questão, Silvetrin expressa seu

entendimento:

Observe-se que atualmente se discute a flexibilização dos direitos trabalhistas, como se fosse uma nova idéia, havendo discussões de inúmeras teses a seu favor, outras contra e outras, ainda, intermediárias. Mas se repararmos no sistema institucional trabalhista de forma mais ampla, a conciliação na Justiça do Trabalho é a mais evidente prova de que a flexibilização é fato, é

176 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de Direito Processual Civil, vol. 1. São Paulo: Atlas, 2005. p. 137. 177 SILVESTRIN, Gisela Andréia. A flexibilização real: conciliação na Justiça do Trabalho. Jus Navigandi , Teresina, ano 8, n. 249, 13 mar. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4919>. Acesso em: 02 maio 2008. 178 MALTA, Christovão Piragibe Tostes. Direito processual do trabalho. 34. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 261. 179 MARTINS, Adalberto; CAVALCANTI, Hélio Augusto Pedroso. Elementos de direito do trabalho . 3. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Síntese, 2005. p. 197.

58

realidade e há longa data. Isso porque, não obstante a regra seja a irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas, havendo lide processual, há ampla liberdade para o ajuste de acordos, pondo termo à própria relação jurídica de direito material, em toda a sua amplitude, que fica reduzida ao valor pactuado. E, de regra, nesse momento o Juiz do Trabalho não perquire se esse valor é condizente com os fundamentos de fato e de direito da lide ou se abrangem direitos a mais ou a menos dos que estão sendo postulados na ação. O máximo que faz é coordenar esse espaço de autonomia, alertando as partes para os riscos e desgastes da continuidade da ação judicial. O ordenamento privilegia a autonomia das vontades sempre que não houver nesse espaço de ampla negociação das partes vícios de consentimento – dolo, coação, erro essencial quanto à pessoa ou à coisa controversa, artigo 849 do Código Civil – ou fraude e simulação evidentes, vindo o Juiz a homologar o acordo, ou seja, selando a "lei entre as partes", consubstanciada naquilo que elas mesmas calcularam como o adequado – concessões mútuas – para pôr fim ao litígio.180

Observa-se que diversas são situações práticas que

demandam um esforço argumentativo muito grande para defender uma posição

contrária ou favorável a uma permissividade na homologação de acordos

extrajudiciais efetivados antes do ajuizamento da demanda.

Neste sentido, pode-se dizer que o direito positivo ainda não

autoriza que a Justiça do Trabalho atue na homologação de acordos celebrados

antes da interposição da competente ação, posto que o art. 114 da Constituição

Federal é claro ao dispor que:

Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive coletivas.181

180 SILVESTRIN, Gisela Andréia. A flexibilização real: conciliação na Justiça do Trabalho. Jus Navigandi , Teresina, ano 8, n. 249, 13 mar. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4919>. Acesso em: 02 maio 2008. 181 FERREIRA, Gecivaldo Vasconcelos. Jurisdição voluntária na Justiça do Trabalho . Jus Navigandi , Teresina, ano 9, n. 610, 10 mar. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6409>. Acesso em: 02 maio 2008.

59

O TST tem posição definida no sentido de considerar

incorreto o procedimento de se homologar judicialmente acordos celebrados pelas

partes anteriormente ao ajuizamento do dissídio.182

Nessa direção é acórdão do Tribunal Superior do Trabalho:

O artigo seiscentos e cinqüenta e dois da Consolidação das Leis do Trabalho é um preceito de ordem restritiva, elencando as únicas hipóteses em que detém a Junta competência para exercer atividade jurisdicional. E, somente lhe compete conciliar dissídios, isto é, exercer sua atividade precípua sobre um contencioso, uma lide caracterizada pela pretensão resistida. Não se inclui neste rol a atividade jurisdicional em homologação de acordos que não são realizados dentro de um processo, que não resultem de uma controvérsia submetida à apreciação do Judiciário. Assim, ao ser conferida validade de coisa julgada a uma acordo administrativo homologado incorretamente pela JCJ, violado o dispositivo supra transcrito. Embargos conhecidos e providos. (TST, SDI-1, ERR 264782, decisão em 23/02/1999, DJ de 12/03/1999).183

Por esta razão que surge o debate acerca da possível

viabilidade de outorgar à Justiça do Trabalho competência para atuar em sede de

jurisdição voluntária nos termos especificados acima.

2.1.3.4 Do termo de ajuste de conduta

Por compromisso de ajustamento de conduta subentende-se

o ato jurídico processual ou extraprocessual em que a pessoa, física ou jurídica,

que esteja a lesar os bens jurídicos, assume perante um órgão público legitimado

sua inequívoca vontade de ajustar-se às exigências previstas em lei e de

restabelecer o estado original da coisa afetada por ato comissivo ou omissivo

considerado ilícito.184

Sobre o entendimento, acrescenta Bezerra Leite que:

182 MARTINS, Adalberto; CAVALCANTI, Hélio Augusto Pedroso. Elementos de direito do trabalho . 3. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Síntese, 2005. p. 199. 183 FERREIRA, Gecivaldo Vasconcelos. Jurisdição voluntária na Justiça do Trabalho . Jus Navigandi , Teresina, ano 9, n. 610, 10 mar. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6409>. Acesso em: 02 maio 2008. 184 MARTINS FILHO, Ives Grando da Silva. A Justiça do Trabalho do Ano 2000: as Leis 9.756/1998, 9.957 e 9.958/2000, a Emenda Constituci onal 24/1999 e a Reforma do Judiciário . Revista LTr, n. 64-02, p. 166.

60

O termo de ajustamento, dotado de eficácia de título executivo extrajudicial, foi introduzido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), e posteriormente inserido no § 6º do art. 5º da Lei da Ação Civil Pública, por força do art. 113185 do CDC, que dispõe que os órgãos públicos legitimados podem, mediante cominações, tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais.186

Ressalta-se que redação anterior do art. 876 da CLT não

dava vazão à execução do compromisso de ajustamento de conduta, por falta de

previsão legal, pois somente eram executáveis na Justiça do Trabalho os títulos

executivos judiciais, numa tentativa tutelar do Direito do Trabalho de assegurar ao

trabalhador o recebimento de seu crédito, indisponível, irrenunciável, intransferível

e de caráter alimentar e existencial.187

Com o advento da Lei 9.958/2000, acrescentou à CLT nova

redação do art. 876188, estabelecendo que os termos de ajuste de conduta

firmados perante o Ministério Público do Trabalho e os termos de conciliação

firmados perante as CCPs serão executados pela forma estabelecida no Capítulo

V do Título X da CLT, que trata da execução.189

Observa-se que o termo de ajustamento de conduta,

instrumento preventivo e reparatório de lesões aos interesses e direitos difusos,

coletivos e individuais homogêneos, além de contribuir para a celeridade e

obtenção de um resultado prático efetivo, ainda prestigia a autocomposição das

partes.

Desse modo, não há como ignorar o movimento moderno de

prestígio às soluções extrajudiciais das demandas, evitando-se com isso a

185 Art. 113 do CDC – Acrescenta-se os seguinte §§ 4º, 5º e 6º ao art. 5º da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985. 186 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho . 5. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 299. 187 TEIXEIRA, João Luís Vieira. Comissões de Conciliação Prévia Trabalhistas . São Paulo: LTr, 2003. p. 118. 188 Art. 876 da CLT - As decisões passadas em julgado ou das quais não tenha havido recurso com efeito suspensivo; os acordos, quando não cumpridos; os termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho e os termos de conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia serão executados pela forma estabelecida neste Capítulo. 189 RAMOS, Alexandre; MIQUELUZZI, Oswaldo. Procedimento Sumaríssimo e Comissão de Conciliação Prévia. Florianópolis: OAB, 2000. p. 184.

61

sobrecarga que assola o Judiciário, a demora e os custos decorrentes do

acionamento da Justiça do Trabalho, além da assunção dos riscos de um

provimento jurisdicional desfavorável.

CAPÍTULO 3

DA EFICÁCIA DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA

Conforme destacado inicialmente, o Estado possui Poder

que tem a função de solucionar os conflitos através do processo. Contudo, outras

62

formas de solução de conflitos surgem, por necessidade e também como forma

alternativa de solução.

Desde a edição do primeiro instrumento normativo brasileiro,

decretado pelo chefe de governo brasileiro em 1932, que previa a composição

prévia dos conflitos trabalhistas, e que constituiu as Comissões Mistas de

Conciliação, o Estado brasileiro editou em 2000 o seu segundo instrumento

normativo, a Lei nº. 9.958, que dispõe sobre as Comissões de Conciliação

Prévia.190

Assim, passa-se ao estudo das Comissões de Conciliação

Prévia, criadas com o objetivo de desafogar o Judiciario Trabalhista, mediante um

procedimento extrajudicial e célere.

3.1 DO SURGIMENTO DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉV IA

O Direito possui uma identidade histórico-cultural, não

admitindo o estudo de quaisquer de seus ramos sem que haja consciência plena

de sua evolução no transcurso do tempo. Em específico, ao examinar o Direito do

Trabalho, não se deve esquecer sua gênese, e todas suas modificações e

atualizações de conceitos e novas instituições, considerando que esse ramo do

Direito é muito dinâmico, e de que as condições de trabalho mudam

freqüentemente.191

Nesse sentido, Mascaro Nascimento acrescenta que:

A Justiça Trabalhista, notadamente nos grandes centros urbanos, é marcada por uma crise de ideal de um processo célere, informal e gratuito, sobretudo em razão do volume exagerado de demandas, mas também em virtude do método de serviço e o resíduo de pendências. Há, ainda, um número reduzido de juízes e falta de meios processuais adequados que levam ao retardamento das lides trabalhistas, provocado basicamente pelo

190 SOUSA, Celita Oliveira. Solução dos Conflitos Trabalhistas nas Comissões de Conciliação Prévia : constitucionalidade, direito comparado, criação das comissões, forma de funcionamento, limites da competência. Brasília: Consulex, 2001. p. 21. 191 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 3.

63

estrangulamento verificado na tramitação e, em especial, nas fases de liquidação de recursos e de execução.192

Haja vista o crescente número de processos submetidos à

sua apreciação, a Justiça do Trabalho sofre o impacto das transformações na

realidade econômica, com o desemprego, globalização, terceirização, fusões de

empresas, multiplicação de sindicatos, livre negociação dos salários e os reflexos

da passagem de uma economia de inflação para uma economia de estabilidade

resultante do Plano Real.193

O constante intervencionismo estatal nos litígios de ordem

trabalhista, fez com que a sociedade buscasse a criação de alternativas, em

paralelo à administração da justiça convencional, com novos mecanismos de

resolução de conflitos.194

Boaventura expressa seu parecer sobre a criação das

CCPs:

Ressalta-se que outros países além do Brasil já descobriram as vantagens da criação de órgãos ou comissões extrajudiciais de solução de conflitos decorrentes da relação de trabalho. Isso substitui o ato de levar ao Poder Judiciário, questões que poderiam ser resolvidas diretamente em Comissões de Conciliação, evitando um grande fluxo de ações trabalhistas, como pela possibilidade de se solucionar mais rapidamente esses conflitos.195

Com a intenção de seguir a mesma linha dos demais países

que compõem a Organização Internacional do Trabalho – OIT, o Brasil adotou, no

ano de 2000, a tentativa de conciliação prévia obrigatória entre empregados e

empregadores, acrescendo artigos na Consolidação das Leis do Trabalho, por

conta da Lei nº 9.958/00, tendo como objetivo corporificar um exemplo de

aplicação do princípio da subsidiariedade, segundo o qual a atuação do Estado,

192 NASCIMENTO, Amaury Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 22. ed.São Paulo: Saraiva, 2007. p. 51. 193 SOUZA, Celito Oliveira. Solução dos conflitos trabalhistas nas comissões de conciliação prévia. Consulex , Brasília, 2001. 194 SANTOS, Boaventura de Souza. Introdução à sociologia da administração da Justiça . p. 119-120. 195 TEIXEIRA, João Luís Vieira. Comissões de Conciliação Prévia Trabalhistas . São Paulo: LTr, 2003. p. 26.

64

na prestação jurisdicional, somente deve ocorrer quando as partes não conciliam

autonomamente os seus conflitos.196

Como observado no presente estudo, os conflitos

trabalhistas podem ocorrer de duas formas distintas, ora como conflito coletivo,

ora como individual. Os conflitos coletivos abrangem as questões relativas a

grupos econômicos e profissionais, sendo solucionados de acordo com as normas

de direito coletivo do trabalho. Em contrapartida, os conflitos individuais se

relacionam à pessoa individualmente considerada, onde as partes podem buscar

a solução dos conflitos no Judiciário ou nas comissões de Conciliação Prévia.197

As Comissões de Conciliação Prévia ou Comissões de

Conciliação Preventiva surgiram em um momento histórico da evolução do

Direito, que é constante, mas que, de tempos em tempos, sofre alterações mais

significativas.198

No Brasil, as Comissões de Conciliação Prévia têm a função

de tentar promover a conciliação de conflitos trabalhistas individuais, e os termos

de conciliação firmados perante elas têm eficácia de título executivo extrajudicial,

que podem ser executados na Justiça do Trabalho, e ter sua legalidade apreciada

pelo órgão supracitado.199

O professor José Washington Coelho comenta:

O governo, impulsionado pela pressão da opinião pública, vem tentando flexibilizar os direitos trabalhistas, de modo a se ajustar às mudanças ditadas pela globalização e, em especial, para poder melhor instrumentar a luta contra o desemprego. De todas as medidas endereçadas ao fim de flexibilizar a legislação do trabalho, a de maior repercussão está sendo a constante da Lei nº. 9.958, de 12.1.2000, dispondo sobre a instituição de Comissões de Conciliação Prévia, de composição partidária, com

196 VALERIANO, Sebastião Saulo. Comissões de Conciliação Prévia e Execução de Títul o Executivo Extrajudicial na Justiça do Trabalho . 1 ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 13. 197 VALERIANO, Sebastião Saulo. Procedimento Sumaríssimo e Comissões de Conciliação Prévia . São Paulo: LED, 2000. 198 SANTOS, Altamiro J. dos. Comissão de Conciliação Prévia . Conviviologia Jurídica e Harmonia Social. p. 161. 199 VALERIANO, Sebastião Saulo. Comissões de Conciliação Prévia e Execução de Títul o Executivo na Justiça do Trabalho . São Paulo: LTr, 2000. p.16.

65

representantes de empregados e empregadores, para conciliar os conflitos individuais do trabalho.200

Sob o entendimento de Celita Oliveira Sousa frente à Lei das

Comissões de Conciliação Prévia, destaca-se que:

É possível concluir que esta lei funda-se em três alicerces distintos. As transformações no mundo do trabalho, a incapacidade da Justiça do Trabalho de solucionar os conflitos trabalhistas com agilidade e destreza, e o isolamento em que se encontra o Brasil, frente às demais nações, com relação ao seu sistema de solução dos conflitos trabalhistas. A incapacidade da justiça do Trabalho para solucionar conflitos trabalhistas com agilidade e destreza, de fazer a verdadeira justiça, é um dos alicerces básicos da iniciativa do Tribunal Superior do Trabalho – TST para propor a edição da Lei das Comissões de Conciliação Prévia.201

Eduardo Gabriel Saad, no mesmo sentido apresenta em sua

obra que:

As comissões mistas de 1932, embora fossem também partidárias e tivessem a mesma finalidade das atuais, e tinham sua instituição a cargo do Estado, via Ministério do Trabalho, ao qual competia a presidência ou a condução dos trabalhos. O objetivo primeiro daquelas comissões era o acordo entre empregado e empregador; contudo, caso isso não fosse possível, poderiam as partes submeter o litígio ao juízo arbitral, ficando obrigadas a aceitar o que fosse por ele decidido. Se não houvesse acordo tampouco com relação à adoção da arbitragem, o Ministério do Trabalho decidia a questão de forma singular ou como única autoridade competente, ou então poderia, dependendo das circunstâncias ou motivos da frustração da conciliação, criar uma comissão especial para esse mister. As Comissões de Conciliação Prévia concebidas pela Lei nº. 9.958/200 não sofrem interferência do Poder Público e têm a função de promovera conciliação dos conflitos individuais do trabalho, e de lavrar os termos de conciliação ou de declaração da tentativa de conciliação frustrada, nesse último caso para que as partes levem a questão à Justiça do Trabalho, sem, contudo, possuir poder de decisão ou de imposição às partes.202

Enfim, Valeriano, destaca que as Comissões de Conciliação

Prévia não se limitam a prestarem assistência tão somente aos profissionais com

200 COELHO, José Washington. Conciliação Prévia, Função de Natureza Exercida por Instituição Privada. São Paulo: LTr, 2000. p. 25. 201 SOUSA, Celita Oliveira. Solução dos Conflitos Trabalhistas nas Comissões de Conciliação Prévia : constitucionalidade, direito comparado, criação das comissões, forma de funcionamento, limites da competência. Brasília: Consulex, 2001. p. 29. 202 SAAD, Eduardo Gabriel. Comissões de Conciliação Prévia . São Paulo: LTr, 2002. p. 32.

66

carteira de trabalho assinada, ou só assistir a acordo de vínculo empregatício; ela

terá, sim, que deixar as partes se conciliarem sobre as suas divergências,

obedecida a forma como pactuaram o trabalho e que satisfaz a ambas e não viole

lei de proteção ao trabalhador, no seu contexto ligado ao interesse público.203

3.2 DA LEI 9.958/2000 E A ALTERAÇÃO DO ART. 625 DA CLT

Assim, com o objetivo de viabilizar o sistema de solução

extrajudicial dos conflitos trabalhistas, a Lei 9.958/2000, introduziu na

Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT o Título VI-A, que trata das Comissões

de Conciliação Prévia.204

A CLT, em seu art. 625-A205, dispõe que as CCPs serão

compostas por representantes de empregados e de empregadores, em caráter

titular e supletivo, afirmando ainda que, ao mesmo número de titulares

corresponderá o de suplentes.

Quanto ao número de tais representantes, limita-o no

mínimo de 2 (dois) e máximo de 10 (dez) membros para a composição dessas,

ressaltando que não se pode constituir Comissão desta natureza com apenas um

representante, o que demonstra o caráter facultativo da instituição.206

O parágrafo único do art. 625-A207 refere-se expressamente

à possibilidade de serem constituídas CCPs por um grupo de empresa ou de

caráter intersindical.208

203 VALERIANO, Sebastião Saulo. Procedimento Sumaríssimo e Comissões de Conciliação Prévia . São Paulo: LED, 2000. p. 37. 204 SOUSA, Celita Oliveira. Solução dos Conflitos Trabalhistas nas Comissões de Conciliação Prévia : constitucionalidade, direito comparado, criação das comissões, forma de funcionamento, limites da competência. Brasília: Consulex, 2001. p. 79. 205 Art. 625-A da CLT - As empresas e os sindicatos podem instituir Comissões de Conciliação Prévia, de composição paritária, com representantes dos empregados e dos empregadores, com a atribuição de tentar conciliar os conflitos individuais do trabalho. 206 RAMOS, Alexandre; MIQUELUZZI, Oswaldo. Procedimento Sumaríssimo e Comissão de Conciliação Prévia. Florianópolis: OAB, 2000. p. 168. 207 Art. 625-A, Parágrafo único da CLT - As Comissões referidas no caput deste artigo poderão ser constituídas por grupos de empresas ou ter caráter intersindical. 208 TEIXEIRA, João Luís Vieira. Comissões de Conciliação Prévia Trabalhistas . São Paulo: LTr, 2003. p. 37.

67

Assim, as Comissões de Conciliação Prévias podem ser

constituídas de quatro modos, quais sejam, empresarial, interempresarial, sindical

e intersindical. O art. 625-B209 da CLT trata da composição das CCPs instituídas

no âmbito da empresa, que neste caso será composta de, no mínimo, dois e, no

máximo, dez membros.210

No caso de Comissão constituída no âmbito do sindicato,

esta terá sua constituição e normas de funcionamento definidas em convenção ou

acordo coletivo, conforme dispõe o art. 625-C211 da CLT.212

Já o art. 625-D213 da CLT estabelece que qualquer demanda

de natureza trabalhista será submetida à Comissão de Conciliação Prévia, se esta

existir, fixando nos parágrafos seguintes regras para a submissão desta demanda

à Comissão.214

Quanto a este dispositivo, contudo, Valeriano adverte:

Entretanto, observa-se que certas questões não poderiam submeter-se às CCPs, como é o caso das que envolvem matéria de ordem pública, aquelas que se discute relação de emprego ou

209 Art. 625-B da CLT - A Comissão instituída no âmbito da empresa será composta de, no mínimo, dois e, no máximo, dez membros, e observará as seguintes normas:

I- a metade de seus membros será indicada pelo empregador e a outra metade eleita pelos empregados, em escrutínio secreto, fiscalizado pelo sindicato da categoria profissional;

II- haverá na Comissão tantos suplentes quantos forem os representantes titulares;

III - o mandato dos seus membros, titulares e suplentes, é de um ano, permitida uma recondução.

§ 1º - É vedada a dispensa dos representantes dos empregados membros da Comissão de Conciliação Prévia, titulares e suplentes, até um ano após o final do mandato, salvo se cometerem falta grave, nos termos da lei.

§ 2º - O representante dos empregados desenvolverá seu trabalho normal na empresa, afastando-se de suas atividades apenas quando convocado para atuar como conciliador, sendo computado como tempo de trabalho efetivo o despendido nessa atividade. 210 VALERIANO, Sebastião Saulo. Procedimento Sumaríssimo e Comissões de Conciliação Prévia . São Paulo: LED, 2000. p. 101. 211 Art. 625-C da CLT - A Comissão instituída no âmbito do sindicato terá sua constituição e normas de funcionamento definidas em convenção ou acordo coletivo. 212 TEIXEIRA, João Luís Vieira. Comissões de Conciliação Prévia Trabalhistas . São Paulo: LTr, 2003. p. 38. 213 Art. 625-D da CLT - Qualquer demanda de natureza trabalhista será submetida à Comissão de Conciliação Prévia se, na localidade da prestação de serviços, houver sido instituída a Comissão no âmbito da empresa ou do sindicato da categoria. 214 VALERIANO, Sebastião Saulo. Procedimento Sumaríssimo e Comissões de Conciliação Prévia . São Paulo: LED, 2000. p. 107.

68

que envolvem direitos indisponíveis, por representarem um dos motivos relevantes de que trata o parágrafo 3º da CLT.215

De forma diversa, contudo, Celita de Souza entende que a

lei apenas estabeleceu que, antes de se provocar o Estado-Juiz, deve-se tentar

solucionar o conflito de modo autônomo, amigável, perante a Comissão de

Conciliação Prévia, desde que o órgão exista na localidade da prestação do

serviço. Portanto, não exclui o acesso de ninguém ao Poder Judiciário.216

O termo de conciliação, conforme disposto no art. 625-E217

da CLT, será lavrado a termo, e terá eficácia de título executivo extrajudicial,

devendo ser assinado pelos membros da Comissão.

Sobre o entendimento, discorre Miqueluzzi:

O termo de acordo perante as CCPs deve conter todas as condições essenciais do ajuste, como as abrangências da quitação, o valor do acordo, a data e local do pagamento e multa ou indenização, em caso de inadimplência da obrigação, para dar certeza, transparência e liquidez ao acordo. No termo de conciliação, podem-se discriminar, especificamente, as parcelas abrangidas pelo acordo ou reporta-se às parcelas objeto da demanda, sendo aconselhável o primeiro procedimento.218

De acordo com o art. 625-F219 da CLT, o prazo para a

realização da audiência de tentativa de conciliação, terá de ser, de, no máximo,

dez dias, a partir da provocação do interessado. Contudo, poderão ser realizadas

quantas sessões forem necessárias para a tentativa da conciliação, ressaltando-

se a não necessidade de prazo para defesa, já que a função da CCPs é apenas

conciliatória.220

215 VALERIANO, Sebastião Saulo. Procedimento Sumaríssimo e Comissões de Conciliação Prévia . São Paulo: LED, 2000. p. 107. 216 SOUSA, Celita Oliveira. Solução dos Conflitos Trabalhistas nas Comissões de Conciliação Prévia : constitucionalidade, direito comparado, criação das comissões, forma de funcionamento, limites da competência. Brasília: Consulex, 2001. p. 80. 217 Art. 625-E da CLT - Aceita a conciliação, será lavrado termo assinado pelo empregado, pelo empregador ou seu preposto e pelos membros da Comissão, fornecendo-se cópia às partes. 218 RAMOS, Alexandre; MIQUELUZZI, Oswaldo. Procedimento Sumaríssimo e Comissão de Conciliação Prévia. Florianópolis: OAB, 2000. p. 148. 219 Art. 625-F da CLT - As Comissões de Conciliação Prévia têm prazo de dez dias para a realização da sessão de tentativa de conciliação a partir da provocação do interessado. 220 VALERIANO, Sebastião Saulo. Procedimento Sumaríssimo e Comissões de Conciliação Prévia . São Paulo: LED, 2000. p. 113.

69

No mais, conforme previsto no art. 7º da CF221 e art. 11 da

CLT222, os direitos trabalhistas prescrevem em cinco anos para o trabalhador

urbano, até o limite de dois anos após a extinção do contrato, e, até dois anos

após o contrato laboral, no caso de trabalhador rural.223

Todavia, Valeriano apresenta que:

Na provocação da CCP, ocorre a suspensão do prazo prescricional, como determina o art. 625-G224 da CLT, ou seja, com a submissão da demanda a uma CCP ocorre uma paralisação no decurso do prazo para prescrição, que recomeçará após a conciliação efetivada ou não, observado que o tempo já transcorrido antes da suspensão é aproveitado, recomeçando a contagem pelo tempo restante.225

O art. 625-H226 da CLT trata dos Núcleos Intersindicais de

Conciliação Trabalhista, segundo o qual deve ser respeitado o princípio da

paridade227, bem como as regras estabelecidas pela Lei 9.958/2000.228

Por fim, a Lei 9.958/2000, acrescentou à CLT nova redação

ao art. 876, estabelecendo que os termos de ajuste de conduta firmados perante

o Ministério Público do Trabalho e os termos de conciliação firmados perante as

221 Art. 7º, XXIX da CF - são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho. 222 Art. 11 da CLT - O direito de ação quanto a créditos resultantes das relações de trabalho prescreve: I - em cinco anos para o trabalhador urbano, até o limite de dois anos após a extinção do contrato; II - em dois anos, após a extinção do contrato de trabalho, para o trabalhador rural. 223 Constituição da República Federativa do Brasil. 224 Art. 625-G da CLT - O prazo prescricional será suspenso a partir da provocação da Comissão de Conciliação Prévia, recomeçando a fluir, pelo que lhe resta, a partir da tentativa frustrada de conciliação ou do esgotamento do prazo previsto no art. 625-F. 225 VALERIANO, Sebastião Saulo. Procedimento Sumaríssimo e Comissões de Conciliação Prévia . São Paulo: LED, 2000. p. 115-116. 226 Art. 625-H da CLT - Aplicam-se aos Núcleos Intersindicais de Conciliação Trabalhista em funcionamento ou que vierem a ser criados, no que couber, as disposições previstas neste Título, desde que observados os princípios da paridade e da negociação coletiva na sua constituição 227 Princípio da paridade - decorre do art. 5º, caput/CF, estabelecendo que as partes têm que ter tratamento igual no processo. 228 SOUSA, Celita Oliveira. Solução dos Conflitos Trabalhistas nas Comissões de Conciliação Prévia : constitucionalidade, direito comparado, criação das comissões, forma de funcionamento, limites da competência. Brasília: Consulex, 2001. p. 80.

70

CCPs serão executados pela forma estabelecida no Capítulo V do Título X da

CLT, que trata da execução.229

Como sabido, existem dois tipos de títulos executivos, o

judicial, que apresenta conteúdo de direito reconhecido por sentença; e o

extrajudicial, sendo uma obrigação a que a lei atribui força executiva. Antes da Lei

9.958/2000, a Justiça do Trabalho só admitia o título executivo judicial, contudo

após sua vigência, o art. 876 da CLT recebeu nova redação, admitindo

expressamente como título executivo, além dos anteriormente reconhecidos, os

mencionados no parágrafo supracitado.230

3.2.1 DA OBRIGATORIEDADE DE SUBMISSÃO DAS DEMANDAS PERANTE

AS CCPs

Como dito, as Comissões de Conciliação Prévia (CCPs)

foram insertas no ordenamento jurídico através da lei 9.958, de 12 de janeiro de

2000, que acrescentou os arts. 625-A a 625-H à CLT, como alternativa para a

solução de conflitos laborais.231

Contam as CCPs com representantes de empregados e

empregadores e de composição paritária, e têm como principal objetivo solidificar-

se como via célere e eficaz à conciliação de interesses opostos entre as classes,

evitando assim os corredores do judiciário, onde a solução do impasse pode durar

longos e desgastantes anos.232

No entendimento de José Eduardo Faria sobre Comissões

de Conciliação Prévia, este discorre sobre a norma procedimental:

Não se destaca pela sua “imperatividade”, ou seja, não é capaz de atuar como um comando, por meio da ameaça de sanções punitivo-repressivas com o objetivo de prescrever comportamentos obrigatórios e/ou proibitivos. Pelo contrário,

229 RAMOS, Alexandre; MIQUELUZZI, Oswaldo. Procedimento Sumaríssimo e Comissão de Conciliação Prévia. Florianópolis: OAB, 2000. p. 184. 230 TEIXEIRA, João Luís Vieira. Comissões de Conciliação Prévia Trabalhistas . São Paulo: LTr, 2003. p. 118. 231 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho . 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 764. 232 SAAD, Eduardo Gabriel. CLT Comentada . 35. ed. São Paulo: LTr, 2002. p. 428.

71

como se limita a estabelecer premissas para decisões, a facilitar entendimentos, a estimular negociações e a viabilizar soluções adaptáveis para cada situação específica, introduzindo na ordem jurídica uma flexibilidade inédita e desconhecida pelos padrões legais prevalecentes tanto no Estado liberal quanto no Estado intervencionista, essa norma nem estabelece a priori a regra do jogo nem, muito menos, impõe a consecução de resultados com base numa racionalidade substantiva ou material. [...] Expressando-se sob a forma de indicações não-coativas, quando muito aspira a promover uma regulação indireta e descentralizada da vasta gama de centro de poder e autoridade existentes no âmbito da “sociedade de organizações”.233

Desde o princípio, então, muito se tem discutido sobre a

constitucionalidade do regramento no que concerne ao acesso à Justiça, posto

que o artigo 625-D da legislação consolidada preceitua que qualquer demanda de

natureza trabalhista deve ser submetida à Comissão anteriormente ao trânsito

pelo judiciário234.

Observa-se, portanto, que qualquer demanda de natureza

trabalhista será submetida à Comissão de Conciliação Prévia se, na localidade da

prestação de serviço houver sido instituída a Comissão no âmbito da empresa ou

do sindicato da categoria. Frustrada a conciliação será formulada por escrito ou

reduzida a termo, uma declaração (de conciliação frustrada), que deverá ser

juntada a eventual reclamação trabalhista.235

A Lei 9.958/2000 consagra que em caso de relevante motivo

é que será indicado porque não foi utilizada a Comissão. Não obstante,

inicialmente a falta do procedimento instituído representa condição para o

ajuizamento da reclamação trabalhista, e não sendo feita à tentativa de

conciliação, o juiz irá extinguir o processo sem julgamento do mérito por não

atender a condição da ação, descrita na Lei.236

233 FARIA, José Eduardo. Introdução: o Judiciário e o desenvolvimento sócio- econômico. In: ___ (Org.). Direitos humanos, direitos sociais e justiça. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 184-5 234 CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho . p. 466. 235 TEIXEIRA, João Luís Vieira. Comissões de Conciliação Prévia Trabalhistas . São Paulo: LTr, 2003. p. 64. 236 SOUSA, Celita Oliveira. Solução dos Conflitos Trabalhistas nas Comissões de Conciliação Prévia : constitucionalidade, direito comparado, criação das comissões, forma de funcionamento, limites da competência. Brasília: Consulex, 2001. p. 147.

72

Sobre a submissão das demandas às CCPs, a 3ª Turma, do

TST, assim decidiu:

COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA. EXISTÊNCIA NO ÂMBITO DA EMPRESA OU DO SINDICATO. OBRIGATORIEDADE DA TENTATIVA DE CONCILIAÇÃO ANTES DE AJUIZAR DEMANDA. ART. 625-D DA CLT. PRESSUPOSTO PROCESSUAL. PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO (ART. 5º, XXXV). EXTINÇÃO DO PROCESSO, SEM JULGAMENTO DO MÉRITO. Na forma do art. 625-D e seus parágrafos, é obrigatória a fase prévia de conciliação, constituindo-se em pressuposto para desenvolvimento válido e regular do processo. Historicamente a conciliação é fim institucional e primeiro da Justiça do Trabalho e, dentro do espírito do art. 114 da Constituição Federal, está a extensão dessa fase pré-processual delegada a entidades paraestatais. O acesso ao Judiciário não está impedido ou obstaculizado com a atuação da Comissão Prévia de Conciliação, porque objetivamente o prazo de 10 dias para realização da tentativa de conciliação não se mostra concretamente como empecilho ao processo judicial, máxime quando a parte tem a seu favor motivo relevante para não se enquadrar na regra. Revista conhecida, mas não provida. (TST, RR - 58279-2002-900-04-00, 3ª Turma, 30-10-2002, Rel. Juíza Convocada Terezinha Célia Kineipp Oliveira, DJ, 22-11-2002).

No mesmo sentido, são algumas decisões dos TRTs que

afirmam ser obrigatória a submissão, da demanda, à Comissão de Conciliação

Prévia:

COMISSÃO DE PRÉVIA CONCILIAÇÃO – CARÊNCIA DE AÇÃO – Ao não provocar a Comissão de Conciliação Prévia instituída pela Lei n. 9.958/2000, normatizada em Convenção Coletiva de Trabalho, torna impossível juridicamente a propositura da demanda perante a esfera judicial, acarretando em carência de ação, extinguindo o feito, sem julgamento do mérito, com base no art. 267, VI do CPC. (TRT/12ª – 3ª T. – Acórdão n. 1.092/2002 – Relª. Juíza Maria de Lourdes Leiria – DJSC 28.1.2002 – p. 9).

040168 – COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA – O princípio constitucional da inafastabilidade da jurisdição não é absoluto, porquanto, como é cediço, o próprio exercício do direito de ação submete-se a requisitos legais que, não preenchidos, implicam extinção do processo. Assim ocorre v.g., com a necessidade de atendimento dos pressupostos processuais e condições de ação, assim como a obediência a prazos processuais. Tratam-se de legítimas limitações do direito de ação. A obrigatoriedade de submissão da demanda à Comissão de Conciliação Prévia revela-se como pressuposto processual de constituição e desenvolvimento válido e regular do processo e, como tal, não encerra qualquer ofensa ao princípio constitucional de acesso à

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justiça. (TRT/9ª – RO n. 983/2002 – (17.925/2002) – Rel. Juiz Célio Horst Waldraff – DJPR 9.8.2002).

172440 JCLT.625D JCLT.625D.2 JCF.5 JCF.5.XXXV – COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA – LEI N. 9.958/2000 – INCONSTITUCIONALIDADE AFASTADA – A Lei n. 9.958, de 12.01.2000, ao acrescer disposições concernentes às Comissões de Conciliação Prévia no texto consolidado (art. 625-D), estabeleceu novo pressuposto ao exercício do direito de ação, como, a propósito, há muito já se verificava em se tratando dos processos de dissídio coletivo, em que a tentativa de conciliação constitui pré-requisito da ação. Não se vislumbra qualquer inconstitucionalidade na referida lei (por suposta ofensa ao direito de ação assegurado pelo art. 5º, XXXV, da Constituição da República), uma vez que a exigência de submissão da demanda à Comissão de Conciliação Prévia (se houver) não obsta o acesso do obreiro ao Poder Judiciário. Apenas condiciona tal acesso à apresentação de declaração negativa prevista no art. 625-D, § 2º da CLT, sendo certo que a competência para instituir pressupostos processuais está mesmo reservada ao legislador ordinário (TRT/3ª – RO n. 3.963/2002 – 1ª T. – Relª. Juíza Maria Laura Franco Lima de Faria – DJMG 7.6.2002 – p. 10).

Em contrapartida, parcela da doutrina não vê qualquer

agressão à Carta, entendendo ainda que o preceito in lume consubstancia

condição de ação trabalhista, sendo que, inobservado, sufragaria por falta de

interesse para agir qualquer reclamatória que não se submetesse anteriormente

ao procedimento legislado237.

Observam-se, abaixo, algumas decisões judiciais que

abordam a questão da não-obrigatoriedade da submissão da demanda à

Comissão de Conciliação Prévia:

000030187 – COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA – Submeter a controvérsia à Comissão de Conciliação Prévia não é um dos pressupostos da ação. É uma faculdade da parte. Raciocinar em sentido contrário seria obstaculizar o exercício da cidadania constitucionalmente previsto, e que assegura a todos o acesso ao Poder Jurisdicional para dirimir questões que envolvem violação a direito, a uma norma de hierarquia inferior, no caso da Lei 9.958/2000. (TRT/2ª – RS 01/2002 – Ac. n. 20020221422 – 4ª T. – Rel. Sérgio Winnik – DOESP 19.4.2002).

6040743 – COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA – O condicionamento do ajuizamento da reclamação trabalhista à tentativa prévia conciliatória não deve ser interpretado como

237 CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho . p. 429.

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pressuposto processual, mas como uma forma de incentivar a participação dos interessados na tentativa de uma solução mais célere, sem a mobilização do Estado. De qualquer forma, não tem qualquer efeito prático a extinção do feito sem julgamento de mérito após a realização de todos os atos processuais que possibilitam a apreciação do mérito da causa, inclusive porque já houve a tentativa conciliatória judicial, suprimindo e indicando que a tentativa extrajudicial não teria resultado positivo. (TRT/9ª – RO n. 1.318/2002 – (19.853/2002) – Relª Juíza Eneida Cornel – DJPR 6.9.2002).

160949 – COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA – TENTATIVA DE CONCILIAÇÃO – NORMA COLETIVA – NÃO-OBRIGATORIEDADE – Se o instrumento da categoria afasta a obrigatoriedade da tentativa de conciliação perante a Comissão de Conciliação Prévia, deixa a mesma de ser pressuposto para o ajuizamento da ação trabalhista, pois a norma constitucional privilegia a negociação coletiva. (TRT/3ª – RO n. 3.566/2002 – 6ª T. – Rel. Juiz Maurílio Brasil – DJMG 24.5.2002 – p.12).

Portanto, verifica-se que as formas alternativas de solução

de conflitos trabalhistas devem ser sempre complementares ao processo e nunca

substitutivos deste, pois a criação de mecanismos extrajudiciais para solução dos

conflitos permitirá a possibilidade de se conferir efetividade ao direito material

trabalhista.238

3.2.2 DA EFICÁCIA LIBERATÓRIA DO TERMO DA QUITAÇÃO

Também a eficácia liberatória geral do termo de quitação ou

conciliação, obtida perante a Comissão de Conciliação Prévia, é um ponto que

gera muitas dúvidas entre doutrinadores e aplicadores do direito, tendo em vista

que a lei nada dispõe sobre a necessidade de ser especificado, expressamente, o

que está se quitando com o acordo realizado perante a Comissão.239

Todavia, com relação à eficácia liberatória geral do termo de

quitação firmado perante uma CCP, conforme instituído pela Lei 9.958/2000,

discorre Teixeira:

É de extrema importância prática, no entanto, chamar a tenção ao fato de que a inferência que estamos a dar à expressão eficácia

238 SOUTO MAIOR, Soluções extrajudiciais dos conflitos individuais t rabalhistas. Brasília: Consulex, n°. 797, 31/01/2000. p. 5. 239 TEIXEIRA, João Luís Vieira. Comissões de Conciliação Prévia Trabalhistas . São Paulo: LTr, 2003. p. 89.

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liberatória geral está intimamente relacionada aos termos mediante os quais a quitação for outorgada. Clarifico. Se a quitação disser respeito, apenas, aos pedidos formulados diante da CCP, a eficácia liberatória será geral quanto a esses pedidos, exceto se o autor fizer expressa ressalva acerca de alguns deles. Se, contudo, a quitação abranger, de maneira expressa, todos os direitos pertinentes ao contrato de trabalho, importa afirmar, até mesmo os que o empregado não fez valer na oportunidade de seu comparecimento à CCP, a eficácia liberatória decorrente da quitação será efetivamente geral, por forma a fazer com que o empregado não possa pleitear, mesmo em juízo, outros direitos derivantes da relação jurídica material havida com o empregador.240

Assim, o termo de conciliação tem natureza jurídica de

transação, pois é um acordo proveniente de concessões mútuas, concretizadas

antes do ajuizamento de ação perante a Justiça, e visando evitar ou prevenir o

ajuizamento da reclamatória trabalhista.

Conforme apresentado no capítulo anterior, é lícito aos

interessados, por meio de concessões recíprocas, prevenirem ou acabarem com

o litígio através do instituto da transação. Portanto, decorre da Lei 9.958/2000 que

o acordo libera o empregador do pagamento ou lhe confere quitação de todos os

direitos pretendidos pelo empregado no termo da reclamação, extinguindo o pacto

laboral, com quitação geral de direitos, e tendo efeito de coisa julgada.241

Cabe ressaltar, entretanto, o termo de acordo ou conciliação

poderá ter sua validade questionada na Justiça, através de uma ação anulatória.

Neste norte Celita de Oliveira apresenta em sua obra que:

O que poderá ensejar a rescisão judicial do acordo será, além da falta de constituição regular da Comissão ou de representação correta da categoria, a celebração do termo de conciliação com dolo, com violência ou com erro essencial quanto a pessoa ou coisa. Exemplificando essas figuras jurídicas cabe afirmar-se que: o dolo se caracterizaria se houvesse o intuito premeditado de uma das partes de lesar a outra parte; a violência, se caracterizaria, por exemplo, na coleta de assinatura mediante forte pressão física, e o erro essencial quanto a pessoa ficaria constatado se uma pessoa assinasse o termo de conciliação como se fosse o

240 TEIXEIRA, João Luís Vieira. Comissões de Conciliação Prévia Trabalhistas . São Paulo: LTr, 2003. p. 92. 241 SOUSA, Celita Oliveira. Solução dos Conflitos Trabalhistas nas Comissões de Conciliação Prévia : constitucionalidade, direito comparado, criação das comissões, forma de funcionamento, limites da competência. Brasília: Consulex, 2001. p. 147.

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empregado ou o empregador, e estas, na realidade, fossem outras pessoas que não as que assinaram ou acordaram. E o erro quanto a coisa se evidenciaria se o objeto do acordo não fosse direitos trabalhistas, como por exemplo um acordo entre sócios cotistas de uma empresa, porque a relação jurídica não poderá ser relação de emprego ou o conflito, individual de trabalho.242

Ives Gandra da Silva Martins Filho ressalta que: “a nova lei

prevê que pelo acordo o empregado dará quitação geral sobre a demanda que

tiver, o que evitará futuras ações sobre questões já discutidas no momento da

dispensa ou da solução da pendência na vigência do contrato”.243

Teixeira entende que:

O art. 625-E, parágrafo único da CLT, diz que o termo de conciliação é título executivo extrajudicial e terá eficácia liberatória geral. Na execução de título executivo extrajudicial, aplica-se o disposto no art. 877-A da CLT, introduzido pela Lei 9.958/2000, que assim dispõe: “é competente para a execução de título executivo extrajudicial o juiz que teria a competência para o processo de conhecimento relativo à matéria”.244

Portanto, não cumprido o acordo nos termos firmados

perante a CCP, poderá ser executado na Justiça do Trabalho o título executivo

extrajudicial (art. 876245 da CLT), ressaltando que o processamento da execução

desse título é feito da mesma forma que a execução de título executivo judicial,

fundamentado no art. 586 do CPC, no qual toda execução para cobrança de

crédito fundar-se-á sempre em título líquido, certo e exigível.246

3.3 DA EFICÁCIA DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA 242 SOUSA, Celita Oliveira. Solução dos Conflitos Trabalhistas nas Comissões de Conciliação Prévia : constitucionalidade, direito comparado, criação das comissões, forma de funcionamento, limites da competência. Brasília: Consulex, 2001. p. 147. 243 MARTINS FILHO, Ives Grando da Silva. A Justiça do Trabalho do Ano 2000: as Leis 9.756/1998, 9.957 e 9.958/2000, a Emenda Constituci onal 24/1999 e a Reforma do Judiciário . Revista LTr, n. 64-02, p. 166. 244 TEIXEIRA, João Luís Vieira. Comissões de Conciliação Prévia Trabalhistas . São Paulo: LTr, 2003. p. 89. 245 Art. 876 da CLT - As decisões passadas em julgado ou das quais não tenha havido recurso com efeito suspensivo; os acordos, quando não cumpridos; os termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho e os termos de conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia serão executados pela forma estabelecida neste Capítulo. 246 SOUSA, Celita Oliveira. Solução dos Conflitos Trabalhistas nas Comissões de Conciliação Prévia : constitucionalidade, direito comparado, criação das comissões, forma de funcionamento, limites da competência. Brasília: Consulex, 2001. p. 147.

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Conforme destacado anteriormente, as Comissões de

Conciliação Prévia foram criadas visando à solução de inúmeros conflitos

individuais trabalhistas de uma maneira mais rápida, diminuindo custos e a

quantidade de demandas distribuídas na Justiça do Trabalho, além estimular o

diálogo direto entre empregados e empregadores.

Nesse sentido, sobre a solução dos conflitos através das

CCPs, discorre favoravelmente Buarque Couto:

A solução dos conflitos trabalhistas via Comissão de Conciliação Prévia é uma realidade brasileira, cuja idéia principal, já vinha sendo realizada por algumas entidades sindicais, que conduziam os acordos entre empregados e trabalhadores. Por uma questão legal, a Lei veio para normatizar esta prática, como também para incentivar o surgimento de mais Comissões em todo o Brasil. Com as CCPs muitos conflitos são solucionados sem a apreciação judicial, garantindo ao trabalhador o recebimento dos valores devidos, com uma maior rapidez, entregando nas mãos de ambas as partes um título que poderá ser questionado em juízo, quando do não cumprimento.247

Couto, em suma, apresenta que a solução nas Comissões é

um grande avanço para Justiça e para a sociedade laborativa, pois a atribuição

concedida possibilita uma maior celeridade na aplicação do direito. Assim,

segundo ao autor, a importância deste novo paradigma no processo conciliatório

em matéria trabalhista, merece atenção e manutenção, para que os interesses do

trabalhador estejam sempre em primeiro lugar. 248

E, acrescenta Buarque Couto que:

O que se reporta o presente trabalho é na defesa das Comissões de Conciliação Prévia, diante da nova realidade do direito e da sociedade, para que possamos garantir ao trabalhador uma condição de igualdade, no momento em que se estiver sendo questionado o direito trabalhista ao qual faz jus. Na crítica da lei, as melhorias podem e devem ser feitas, mas a sua continuidade

247 COUTO, Alessandro Buarque . As Comissões de Conciliação Prévia e pós-modernidad e: A Transição Paradigmática na Resolução dos Conflitos Trabalhistas. Revista Juristas, João Pessoa, a. III, n. 92, 19/09/2006. Disponível em: http://www.juristas.com.br/mod_revistas.asp?ic=63. Acesso em: 23/4/2008. 248 COUTO, Alessandro Buarque . As Comissões de Conciliação Prévia e pós-modernidad e: A Transição Paradigmática na Resolução dos Conflitos Trabalhistas. Revista Juristas, João Pessoa, a. III, n. 92, 19/09/2006. Disponível em: http://www.juristas.com.br/mod_revistas.asp?ic=63. Acesso em: 23/4/2008.

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deve ser mantida, pois o maior vitorioso com a criação das CCPs foi o trabalhador brasileiro.249

No mesmo sentido, discorre Teixeira que:

As Comissões apresentam diversos aspectos positivos e negativos, mas os aspectos positivos são em bem maior número e, com certeza, influenciarão, positivamente, para a criação de outras CCPs que, inegavelmente, prestam um grande serviço aos trabalhadores e, por que não reconhecer, também aos empregadores, que têm a possibilidade de pacificar conflitos fora da esfera judicial, ficando, assim, imunes à sua característica onerosidade e demora na entrega da prestação da tutela jurisdicional – não em virtude da negligencia ou má vontade de nossos julgadores, mas, sim, conforme já afirmamos pela desumana quantidade de ações com que se deparam, diariamente, os juízes do trabalho, em todo o país.250

E, complementa sobre o tema:

O grande número de acordos realizados perante a Justiça do trabalho, ainda nas audiências iniciais, nos demonstra duas coisas: a primeira, é que há, cada vez mais, uma predisposição das partes para a solução negociada das demandas trabalhistas, até porque elas conhecem bem o problema da morosidade da entrega da prestação jurisdicional Estatal; a segunda, e não menos importante, as partes não costumam, ou tem o hábito, de tentar conciliar seus interesses antes do ingresso em juízo. E, tanto é verdade, que percebemos ser isso que acontece em grande numero, nas audiências iniciais, na Justiça do trabalho. As Comissões de Conciliação Prévia tem um grande – para não dizer enorme – papel a desempenhar em nossa sociedade, suprindo a falta de uma tentativa extrajudicial (prévia) de composição dos conflitos trabalhistas.251

Favoravelmente às CCPs, Altamiro J. dos Santos, também

exprime sua opinião:

O instituto da conciliação prévia trabalhista exerce nobre função social ao possibilitar prevenir conflito ou controvérsias jurídicas que normalmente produzem um ambiente de hostilidade e animosidade entre os sujeitos da relação de emprego, alcançando

249 COUTO, Alessandro Buarque . As Comissões de Conciliação Prévia e pós-modernidad e: A Transição Paradigmática na Resolução dos Conflitos Trabalhistas. Revista Juristas, João Pessoa, a. III, n. 92, 19/09/2006. Disponível em: http://www.juristas.com.br/mod_revistas.asp?ic=63. Acesso em: 23/4/2008. 250 TEIXEIRA, João Luís Vieira. Comissões de Conciliação Prévia Trabalhistas . São Paulo: LTr, 2003. p. 112. 251 TEIXEIRA, João Luís Vieira. Comissões de Conciliação Prévia Trabalhistas . São Paulo: LTr, 2003. p. 114.

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todas as dimensões da vida de cada um deles. É o atual, e, por que não ideal, de se alcançar essa conciliação, sem embargo, é por meio das Comissões de Conciliação Prévia, criadas pela Lei 9.958/2000.252

Quanto ao Judiciário Trabalhista, em que pese algumas

críticas formuladas, é de se destacar a importante manifestação do Vice-

presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Ministro Vantuil Abdala:

A Justiça do Trabalho, instituto criado para dirimir dissídios oriundos das relações de trabalho, apesar do esforço despendido, encontra-se sobrecarregada pelo acúmulo de processos. A criação de um mecanismo extrajudicial idôneo, como previsto na lei 9958/00, para tentar conciliar divergências entre empregados e empregadores, mostra-se oportuno e conveniente. É preciso que fique bem claro que a tentativa de conciliação extrajudicial, não impede as partes que busquem a solução jurisdicional na Justiça do Trabalho. Caso frustrada a conciliação, frustrada esta com ressalva ou na hipótese de descumprimento do acordo. 253

Segundo Abdala, em 2002, o funcionamento eficiente e

eficaz das Comissões de Conciliação Prévia, trará o desafogo da Justiça do

Trabalho, que ficará com o julgamento de questões mais complexas, como a

entrega a prestação jurisdicional de forma mais célere e plena. A transparência

dos trabalhos nas Comissões de Conciliação Prévia são de suma relevância para

estabelecer uma ação pedagógica de estímulo a sua utilização.254

Portanto, inconteste que se as Comissões de Conciliação

Prévia forem criadas e funcionarem, dentro de elevados padrões éticos, é a mais

importante conquista entre empregados, empregadores e a organização sindical

brasileira, em prol de um sistema mais harmonioso e menos conflitante das

relações de trabalho.

Por outro lado, parcela da doutrina e vários juristas

defendem que, o acréscimo de um título e alguns artigos na Consolidação das

252 SANTOS, Altamiro J. dos. Comissão de Conciliação Prévia – Conviviologia Jurí dica e Harmonia Social. São Paulo: LTr, 2001. p. 164. 253 ABDALA, Vantuil. Min. Vantuil Abdala : depoimento concedido em esclarecimento às questões das Comissões de Conciliação Prévia de iniciativa da Confederação Nacional das Indústrias. Brasília, 2002. 1 fita de videocassete – VHS (45 min.). 254.ABDALA, Vantuil. Min. Vantuil Abdala : depoimento concedido em esclarecimento às questões das Comissões de Conciliação Prévia de iniciativa da Confederação Nacional das Indústrias. Brasília, 2002. 1 fita de videocassete – VHS (45 min.).

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Leis do Trabalho, foram as inovações mais criticadas dos últimos anos pelo

Ministério Público do Trabalho contra o governo federal, na medida em que a

divulgação da Lei 9.958/2000, expôs o projeto como sendo um retrocesso às

conquistas democráticas, pelos quais a sociedade brasileira tanto se empenhou

no decorrer desses anos de luta de classes.255

As CCPs são um duelo jurídico que atrai interesses por parte

de todos os envolvidos (empresários, sindicatos, juízes e advogados), sendo,

atualmente, inclusive, matéria discutida no Supremo Tribunal Federal, por

intermédio de diversas ações Diretas de Inconstitucionalidade, estando a maioria

no aguardo de decisões concessivas ou não de liminar suspensiva.

Segundo Felipe Luiz Machado Barros:

Em que pesem as doutas opiniões em contrário, mais uma vez, pela inconstitucionalidade do dispositivo suso mencionado, inobstante parte dos estudiosos até defender que, na verdade, a imposição deve ser tratada como que um requisito de procedibilidade da ação, tal como os previstos no Código de Processo Civil, devendo os processos em que não se constatar a comprovação de busca da instância de conciliação pelo reclamante, ser julgados extintos sem julgamento do mérito (CPC, Art. 267, VI).256

Luiz Salvador sustenta peça processual, alegando que:

O Art. 652-D da CLT, criado pelo Art. 1º da Lei nº 9958/2000, viola diretamente o Art. 5º, inciso XXXV, da CF., que dispõe: A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito.Trata-se de direito público, assegurador do direito de ação, de exercício incondicional. O direito de ação não pode sofrer limitação pelo legislador ordinário: ao cidadão é assegurado o direito de buscar no Judiciário a tutela estatal – a qualquer tempo – independentemente de qualquer condição; basta ter capacidade jurídica, legitimidade e direito de agir.257

Para parcela da doutrina, então, a Lei nº 9.958/2000, ao

acrescentar ao Art.625 da CLT as letras “D” e ”E”, provocou profunda lesão no

texto constitucional. Nesse sentido, segundo Luiz Salvador, as feridas só irão 255 TEIXEIRA, João Luís Vieira. Comissões de Conciliação Prévia Trabalhistas . São Paulo: LTr, 2003. p. 115. 256 BARROS, Felipe Luiz Machado. Aspectos Polêmicos da Lei nº 9.958/00, de 05 mar. 2 000. Disponível em: <http://www.ambito-jurídico.com.br>. Acesso em: 23 abr. 2008. 257 SALVADOR, Luiz. Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a Lei 9 .958/00. Brasília, jun. 2000. Disponível em: <http://www.jus.com.br/pecas/lei9958.html>. Acesso em: 23 abr 2008.

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cicatrizar se o STF, ao exercer sua função saneadora, restabelecer o direito de

cidadania plena, devolvendo aos trabalhadores o direito de ação, cerceado a

toque de caixa pelas inserções arbitrárias na codificação trabalhista. Segundo o

autor, os acréscimos ao artigo 625 da CLT (letras “D” e “E”) violentam diretamente

também o Art. 114 da CF, que atribui a Justiça do Trabalho competência

exclusiva para conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos.258

O artigo de Celso Soares, de mesma forma é contrário às

Comissões de Conciliação Prévia:

A obrigatoriedade fere a garantia constitucional do acesso à Justiça, embora haja uma condicionante na atual Constituição, a do § 2º do Art. 114. Mas nele só se trata de recusa a negociação coletiva ou a arbitragem como condição para instaurar dissídio coletivo, não da negociação entre empregado e empregador como condição do ajuizamento de reclamação individual. Tanto que o Executivo, mediante a PEC 623/98, já cuida instituir a conciliação prévia obrigatória, sem disfarça, como pressuposto também do ingresso de dissídio individual, acrescentando, ao Art. 114, um § 5º, a fim de estabelecer que o exercício do direito de ação individual perante a Justiça do Trabalho ‘será obrigatoriamente precedido de tentativa extrajudicial de conciliação, utilizando-se, inclusive, a mediação, conforme dispuser a lei’. Busca, com isso, elidir a argüição de inconstitucionalidade da lei em vigor.

Alguns Tribunais Regionais Brasileiros, têm decidido,

fundamentando suas decisões na não-obrigatoriedade da submissão da demanda

às CCPs:

AUSÊNCIA DE COMPERECIMENTO À COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA – A norma prevista no art. 625-D da CLT, por restringir ou, ao menos, condicionar o direito da ação, deveria conter em si a cominação prevista para o caso de sua não-observância. Inexistindo previsão nesse sentido, muito menos a de que seria impossível juridicamente a propositura da demanda perante a esfera Judicial caso não provocada a Comissão de Conciliação Prévia, se não verificadas nenhuma das hipóteses estabelecidas no art. 267 do CPC, não pode o feito ser extinto sem julgamento de mérito. (TRT/12ª – RO-V n. 3.456 – Ac. 10.978/2001 – Rel. Juiz Gerson P. Taborda Conrado – DJ/SC 26.10.2001).

26118 – COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA – CREDOR – INEXISTÊNCIA DE OBRIGAÇÃO A SE CONCILIAR – CF/88, ART. 5º, II – CLT, ART. 625-D – EXEGESE – O credor não é

258 SALVADOR, Luiz. Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a Lei 9 .958/00. Brasília, jun. 2000. Disponível em: <http://www.jus.com.br/pecas/lei9958.html>. Acesso em: 23 abr 2008.

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obrigado a se conciliar com o devedor, nem é obrigado a se dispor à negociação (CF/88, 5º, II). O não comparecimento à sessão de conciliação extrajudicial não é cominado; se o comparecimento é faculdade (a ausência não está cominada), o endereçamento da demanda à Comissão não pode corresponder a uma obrigatoriedade. (TRT/2ª – Rec. Ord. Em Rito Sumaríssimo n. 185.407 – Rel. Juiz Rafael E. Pugliese Ribeiro – J. 15.5.2001 – DJ 18.5.2001).

TRT -2001-06-29 – COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA – ART. 625-D DA CLT – EXTINSÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO – “ERROR IN PROCEDENDO” – Comete erro de procedimento o juiz que determina a extinção do processo sem julgamento de mérito (art. 267, inciso IV do CPC), de ofício, por dois fundamentos: a submissão do reclamante à Comissão de Conciliação Prévia é facultativa, posto que a Lei 9.958/00 não teve o condão de criar novo pressuposto processual; de outro lado, sendo a questão matéria de defesa, só pode ser argüida em contestação, vedado ao magistrado conhecê-la de ofício. Reforma-se sentença para o retorno dos autos à origem, com regular processamento do feito. (TRT/9ª – RO 1.840/2001 – AC. N. 17.691/2001 – Rel. Juiz Luiz Celso Napp – DJ/PR TRT 29.6.2001)

No mesmo norte, Celso Soares defende que a

obrigatoriedade da conciliação prévia soa ainda mais perversa porque a lei se

aplica ao empregado com contrato de trabalho vigente e, inexistindo no Brasil

garantia de emprego, proteção contra a despedida imotivada ou sem justa causa,

já que o governo federal denunciou a Convenção 158 da OIT, se ele se dispuser a

submeter qualquer reclamação à comissão, acabará tendo que aceitar um acordo

vil para não perder o emprego. Ou não irá à comissão e perderá direitos, dado o

risco de uma futura reclamação na Justiça do Trabalho ser extinta sem

julgamento de mérito, como se viu.259

Souto Maior, da mesma forma rebate:

Uma alteração do direito material seria de suma importância para a diminuição dos conflitos trabalhistas, mas não no sentido que se tem proposto ultimamente, qual seja, o da flexibilização das regras trabalhistas, e sim no de impor concretas sanções para o empregador que não cumpre a legislação trabalhista. Um direito que não possui mecanismos de sanção é um direito que convida ao seu descumprimento, sendo, portanto, um estímulo ao conflito. Economicamente falando, é mais viável para o empregador não

259 SOARES, Celso Apud PASSOS. Edésio. Comissão de Conciliação Prévia . Breve análise do Projeto de Lei nº 4.694/98 e do Projeto de Emenda Constitucional de nº 623/98. Disponível em: <http://www.genedit.com.br>. Acesso em: 23 abr. 2008.

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cumprir a legislação trabalhista do que cumpri-la corretamente. A criação de mecanismos extrajudiciais de solução de conflitos não acatará essas causas, naquilo que elas representam de mal, pelo contrário, permitirá que persistam e até que se intensifiquem, negando por completo, a possibilidade de se conferir efetividade ao direito material trabalhista. Portanto, as formas alternativas de solução dos conflitos trabalhistas devem ser complementares ao processo e nunca como substitutivas deste.260

A crítica é levantada também por Georgenor de Sousa

Franco Filho:

O caráter facultativo da criação das comissões constitui o nó górdio da lei, pois tudo o que é opcional, facultativo, de livre escolha e fruto da vontade de cada qual, geralmente não dá certo, ou não é implementado. A intenção de conciliar extrajudicialmente não vai frutificar com o êxito que poderia se as comissões fossem obrigatórias para as empresas com determinado número de empregados: sendo facultativas, porque são realmente, e não se queira invocar a obrigatoriedade prevista no caput do art. 625-D, porque ali mesmo está o condicional se houver, serão raras e pouco utilizadas.261

Por fim, alguns estudiosos entendem que os mecanismos

alternativos e solução de conflitos devem ser vistos como de uso restrito e não

disseminado; de aplicabilidade limitada e não indiscriminada; e sujeitos aos

critérios de verificação de, mais que juridicidade, moralidade e eticidade. Caso

contrário haveremos de ter o direito sancionado a barbárie, o que seria a própria

negociação do Direito como ciência.262

Finalizando tem-se que as Comissões de Conciliação Prévia

apresentam-se como um caminho alternativo para resolução de conflitos, evitando

a sobrecarga da Justiça Laboral, que hoje percorre caminho diverso à que se

destina, prejudicando os trabalhadores em virtude do lento acesso a seus direitos,

causando incertezas nos passivos trabalhistas das empresas, resultando em um

completo descontentamento coletivo.263

260 SOUTO MAIOR, Soluções extrajudiciais dos conflitos individuais t rabalhistas. Brasília: Consulex, n°. 797, 31/01/2000. p. 5. 261 FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa. A Lei das Comissões de Conciliação Prévia . JTb – Jornal Trabalhista Consulex, Brasília: Consulex, n 808, 20 mar. 2000, p. 8. 262 MORO, Luiz Carlos. Meios alternativos de solução de conflitos trabalhi stas: avanço ou retrocesso? p. 102. 263 TEIXEIRA, João Luís Vieira. Comissões de Conciliação Prévia Trabalhistas . São Paulo: LTr, 2003. p. 114.

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Neste sentido, sobre as relações de trabalho e as CCPs, dá

o seu parecer, o Ministério do Trabalho e Emprego:

O Brasil vem buscando superar seu arcaico modelo de relações de trabalho, caracterizado por forte intervenção do Estado e pela prevalência do direito individual sobre o coletivo. Para gerar e preservar empregos, busca também aperfeiçoar instituições que interferem no mercado de trabalho.A modernização da legislação trabalhista, seguindo a diretriz que privilegia o reforço à via negocial para a solução dos conflitos entre o Capital e o Trabalho, fortalece a atuação dos agentes sociais - tendo os sindicatos, nesse aspecto, papel de extrema relevância - e estimula a redução da intervenção estatal nesse processo.Com a Lei n.º 9.958, de 12 de janeiro de 2000, passaram a ser criadas as Comissões de Conciliação Prévia, uma forma extrajudicial de resolver as demandas trabalhistas. Associadas à Lei do Rito Sumaríssimo (n. 9.957, também de 12.01.2000), que veio acelerar a tramitação dos processos judiciais trabalhistas, as Comissões de Conciliação Prévia contribuem para diminuir a enorme carga sobre a Justiça do Trabalho. Com isso, ganha o trabalhador que busca proteção, o qual teria que esperar, por vezes, vários anos até a solução definitiva da demanda, e ganha também o empregador, hoje onerado pela necessidade de manter uma estrutura jurídica complexa e pelos custos de sucumbência.264

Ressalta-se que até o momento, já foram criadas 1.233

Comissões de Conciliação Prévia em todo o país, sendo que a grande maioria é

de comissões intersindicais (73%). O Ministério do Trabalho e Emprego editou a

Portaria n.º 264, de 5 de junho de 2002, dispondo sobre o acompanhamento e

levantamento de dados sobre essas Comissões, e sobre a fiscalização trabalhista

em face da conciliação.265

Ademais, articulou-se com o Tribunal Superior do Trabalho,

com o Ministério Público do Trabalho, com as Centrais Sindicais CGT, SDS e

Força Sindical, com a Associação Nacional dos Sindicatos da Micro e Pequena

Indústria, e com as Confederações Patronais CNC, CNT, CNF e CNA, resultando

daí um Termo de Cooperação Técnica, assinado também em 5 de junho de 2002,

264 Ministério do Trabalho e Emprego. Relação de Trabalho - Comissão de Conciliação Previ a. Brasília. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/com_conciliacao/default.asp>. Acesso em: 23 abr. 2008. 265 Ministério do Trabalho e Emprego. Relação de Trabalho - Comissão de Conciliação Previ a. Brasília. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/com_conciliacao/default.asp>. Acesso em: 23 abr. 2008.

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para promover o aprimoramento do instituto das Comissões de Conciliação

Prévia.266

Portanto, através de uma atuação responsável, tanto por

parte dos representantes sindicais, como por parte da classe empresarial, sempre

fiscalizados rigorosamente pelo Ministério Público, para que as comissões atuem

dentro dos critérios de eficiência, eficácia e de acordo com o interesse público,

resguardando direitos e obrigações decorrentes das relações de trabalho, as

Comissões de Conciliação Prévia podem ser um instrumento valioso para o

alcance da celeridade da justiça e da paz social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Lei 9.958/2000 foi criada com o objetivo de

descongestionar as vias judiciais trabalhistas, prezando a conciliação dos conflitos

existentes entre patrões e empregados antes de buscar a tutela jurisdicional por

parte do Estado.

Observa-se que com a constituição das Comissões de

Conciliação Prévia, seja no âmbito da empresa ou no âmbito sindical, sempre

teremos a presença de conciliadores representantes dos empregados e

conciliadores representantes dos empregadores, atuando paritariamente e com a

função de facilitarem a negociação entre as partes envolvidas, fazendo com que

elas componham-se pacificamente sobre o conflito existente.

Pode-se dizer que de acordo com os parágrafos 2º e 3º do

art. 625-D da Lei 9.958/00, a apresentação do conflito individual de trabalho

perante as CCPs, antes mesmo de propor qualquer reclamação trabalhista, não é

inconstitucional como apresenta alguns juristas, pois não se está tirando do

trabalhador a possibilidade de pleitear em juízo, somente impõe-se que o mesmo,

266 Ministério do Trabalho e Emprego. Relação de Trabalho - Comissão de Conciliação Previ a. Brasília. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/com_conciliacao/default.asp>. Acesso em: 23 abr. 2008.

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antes de provocar a o poder jurisdicional estatal, utilize-se de meios alternativos

de solução de conflitos, sem que haja a intervenção do judiciário.

Portanto, o objeto principal da instituição das Comissões de

Conciliação Prévia no ordenamento jurídico trabalhista, foi o de facultar aos

trabalhadores, empregadores e sindicatos a possibilidade de solucionarem seus

conflitos trabalhistas individuais sem a interferência do poder Estatal.

Desse modo, pode-se afirmar que através das Comissões

de Conciliação Prévia temos a chamada conciliação privada, como um meio

alternativo ao Judiciário Trabalhista para solucionar conflitos individuais do

trabalho surgidos no transcorrer de uma relação contratual individual de trabalho,

sem qualquer conflito com o Judiciário.

Conforme apresentado, a Comissão de Conciliação Prévia é

um meio rápido e seguro para suprimir questões conflitantes entre empregador e

empregado, trazendo benefício para ambos em virtude da morosidade dos

processos na Justiça do Trabalho, fortificando a tese de que o país venha a

consagrar um novo modelo de Relações de Trabalho mais negocial e menos

estatutário, no qual a solução dos conflitos de interesse entre empregadores e

empregados, seja realizada através do diálogo e da negociação.

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