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34Humor

Por Ana Fidalgo

Memórias do MP

Por Antônio Visconti

Publicações por Inês Büschel

O MPD recomenda

Augusto Eduardo de Souza Rossini

Tribuna Livre

Trocando Idéias

Detalhes do MPD na TV.

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O MPD falando para você.

5Por Inês Büschel

MP e Democracia

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GRUPOS DE DISCUSSÃO PARA VOCÊ.

26COM A PALAVRANorma Kyriakose Iara Bernardi

6ENTREVISTAZuleika Sucupira Kenworthy

10CAPAViolência Doméstica

Por Valderez Abbud

14ESPECIAL

18O Aborto.

Em discussão

16União de Mulheres

Ação em destaque

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A Revista MPD Dialógico é umapublicação do Movimento doMinistério Público Democrático.Março/ Abril de 2004.Tiragem 5000 exemplares.

Movimento do Ministério Público DemocráticoRua Riachuelo no 217 5o andarCep 01007-000 - Centro - SP - São PauloTel./fax: (11) [email protected]

Conselho Editorial:Airton Florentino de BarrosAlberto Carlos Dib JúniorAlexander Martins MatiasAnna Trotta YarydAntonio Alberto MachadoAntonio ViscontiCarlos Gilberto Menezello RomaniEla Wiecko Volkmer de CastilhoFernando Masseli HeleneInês do Amaral BüschelInês Virgínia Prado SoaresJaqueline Lorenzetti MartinelliLuiz Alberto Esteves ScaloppeManoel Sérgio da Rocha MonteiroMaria Izabel do Amaral Sampaio CastroNelson Roberto BugalhoNeudival Mascarenhas FilhoPaula Bajer Martins da CostaPlínio de Arruda SampaioRoberto LivianuSamuel Sérgio SalinasValderez Deusdedit Abbud

DiretoriaPresidente:Airton Florentino de BarrosVice-presidente:Antonio ViscontiTesoureira:Inês do Amara BüschelPrimeira-secretária:Maria Izabel do Amaral Sampaio CastroSegundo-secretário:Alexander Martins MatiasConselho Fiscal:Fernando Masseli HeleneJosé Roberto MarquesManoel Sérgio da Rocha Monteiro

Assessoria de Comunicação:Face Virtual Planej e Consult. Ltda [email protected]. / fax: (11) 5084-5054Jornalista-responsável:Lizandra Cardelino (Mtb 58.410)[email protected]ção:Lizandra CardelinoProjeto gráfico:Ana FidalgoMarcelo TeixeiraFoto Capa:Ana FidalgoMarketing:Reynaldo [email protected]:Allan ClempeIlustrações:Kipper - [email protected].: (11) 3825-2470Impressão:Imprensa Oficial do Estado

Os artigos publicados com assinaturanão traduzem necessariamente aopinião desta revista.

EDITORIAL

O segundo número desta revista traz novo nome: MPDDIALÓGICO. Nosso objetivo é realçar o propósito de estabelecer comunicaçãoconstante e proveitosa com quantos nos honrem com sua atenção, levando idéias,acolhendo críticas e sugestões, colocando pequenino tijolo no edifício da cidadania,que vai sendo laboriosamente construído em nosso País. E seu tema é uma das maisperniciosas modalidades da violência.

Uma das grandes chagas da sociedade é a violência doméstica, em especialaquela contra a mulher. Grande vítima das deficiências da educação e da saúde públicas,atingida pela gravidez indesejada, abandonada pelo marido ou companheiro,freqüentemente arcando sozinha com a responsabilidade de cuidar dos filhos, ofendidaem sua integridade física e psíquica, no lar ou fora deste, não tem recebido a atençãodevida do poder público ou da sociedade.

A legislação editada para abreviar a solução dos crimes de menor gravidade,introduzindo no direito brasileiro a transação entre o Promotor ou a vítima e o autor defato criminoso, condicionando o processo no crime de lesões corporais leves ouculposas à representação do ofendido, contribuiu para agravar o problema. E noveladas 20 hs na TV Globo escancarou a terrível sensação de impunidade a aterrorizar amulher alvo de violência doméstica; a partir daí surgiu a hipótese de que diminuiu acomunicação à Polícia desse tipo de crime, ante a certeza da inocuidade das providênciasque se seguiriam.

Em outros países caminha-se em direção oposta, tratando-se de criarcondições viabilizadoras da repressão eficaz da violência doméstica, em especialdaquela contra a mulher; cuida-se de abrigá-la e auxiliá-la economicamente, de formaque tenha como reorientar sua vida fora da dependência econômica e afetiva doofensor e a salvo da perspectiva de renovação das ofensas.

Felizmente alguns passos começam a ser dados no Brasil, buscando reverteruma tendência cruel que vinha se firmando. Agravaram-se, conquanto em pequenograu, as sanções das lesões corporais dessa espécie e principalmente a sociedadeparece despertar para o problema.

Lamentavelmente, porém, um Juizado Especial no foro criminal central, queinicialmente fora previsto para aprimorar a repressão da violência de gênero, teveessa finalidade desvirtuada, a pretexto de que o movimento dos feitos não justificavaaquela especialização; transformado em Juizado Especial comum, recebendo toda agama de crimes de menor potencial ofensivo - milhares de procedimentos - deixará deatender ao objetivo primeiro, que era o de combater eficazmente a impunidade dessaespécie de crimes.

O descaso do Poder Judiciário e do Ministério Público ante a violênciadoméstica constitui grave erro de política criminal; olvidam-se os graves e muitasvezes irreparáveis danos causados a mulheres e também a seus filhos, que comfreqüência assistem a essas terríveis cenas de violência, desintegradoras da família eestimuladoras da ida de mais crianças às ruas, fazendo crescer o caldo de cultura dadelinqüência juvenil. E diante do crescimento exponencial desta, execra-se o Estatutoda Criança e do Adolescente, brada-se pela redução da idade para a responsabilidadepenal, pela instituição da pena de morte, pela ROTA na rua e por outras tantas medidasaparentemente eficazes para o combate à criminalidade, como se na raiz da explosãodesta na década de 60 não estivessem os torvos grupos de extermínio.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.

fale conoscoA sua participação é muito importante para nós. Mande sua sugestão, crítica ou comentário.Na próxima edição, o tema será A Atuação do MP no Brasil .

Movimento do Ministério Público Democrático.Rua Riachuelo, no 217 - 5o andar.Cep: 01007-000. Centro. São Paulo - SP.

Tel./fax: (11) 3241-4313Site: www.mpd.org.brE-mail : [email protected]

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É certo aplicar a lei com olhar masculino?Ou com olhar feminino ?

por Inês Büschel*

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No dizer da maioria dos integrantes do MinistérioPúblico – homens e mulheres – as leis têm gênero neutro esua aplicação não favorece categoria alguma, pois a justiçapública é isenta e imparcial. Ademais, há disposiçãoexpressa em nossa Constituição Federal determinando que“homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações” (art.5º,I). Temos, portanto, uma sociedade igualitária. Aomenos em tese.

Porém, na vida real, no cotidiano, não é bemassim. Vivemos numa sociedade patriarcal, ondepredomina a vontade do homem em detrimento daautonomia da mulher . Por acaso, alguma vez foinecessário existir no Brasil um Estatuto do Homem Casado?No entanto, até há bem poucos anos existia o Estatutoda Mulher Casada, que nasceu para corrigir injustotratamento dispensado às mulheres pelo antigo CódigoCivil. Apesar dos inegáveis avanços no novo CódigoCivil, deparamos com o artigo 1.736, que considera acondição de mulher casada como uma das possibilidadespara eventual escusa da tutela. Nãofaz referência expressa ao homemcasado...

As mulheres têm obtido êxitoem muitas batalhas pela igualdade dedireitos. Mas, ainda há muito aconquistar, mormente no plano sócio-cultural. Até mesmo corações ementes de muitas mulheres precisamlibertar-se, pois milhões delasinternalizaram a opressão masculina,naturalizando-a, o que as impede deenxergar a desigualdade social na qual vivem e as práticasdiscriminatórias de que são vítimas. A Convenção da ONUsobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminaçãocontra a Mulher-CEDAW, ratificada pelo Brasil em 1984, e aConvenção Interamericana (OEA) para Prevenir, Punir eErradicar a Violência Contra a Mulher (Belém do Pará),ratificada em 1995, ainda não são documentos popularesentre nós.

Os homens ao exigirem para si um tratamentohumano igualitário, não precisam provar honestidade. Eestá correto. Basta o fato de serem homens para fazer jusao respeito social. Todavia, quando se trata de questãorelacionada à igualdade social entre homens e mulheresou entre as próprias mulheres, sempre aparece a restriçãoàquelas que “merecem” o tratamento igualitário. O juízo devalor moral sempre se faz presente. Embora a dignidadeda pessoa humana seja um dos fundamentos de nosso

Estado Democrático de Direito (art.1º,III), a sociedade nãoa reconhece numa mulher por si mesma. Ela precisa ser“honesta” para ter dignidade humana. Isto está errado. Noentanto, vê-se isso em sentenças judiciais que tratam deviolência contra a mulher. Decisões até mesmo prolatadaspor juízas de direito, devidamente apoiadas em parecereslançados por promotoras de justiça, demonstrando odespreparo dos operadores do direito no trato de relaçõesde gênero.

A democracia exige tratamento igualitário paratodos. A distribuição de justiça deve respeitar as diferençasde gênero, não podendo interpretar o direito com uma únicabitola, a masculina. Se ao Ministério Público brasileiroincumbe, constitucionalmente, a defesa do regimedemocrático, seus integrantes precisam atentar para o fatodas mulheres representarem a maioria (50,77%;IBGE,2000)da população brasileira e, a despeito disso, constituíremum grupo muito vulnerável. Algo está errado em nossarepública democrática e, por conseqüência, em nossa

ordem jurídica.Os dire i tos humanos das

mulheres estão sendo violados. Amisoginia impregna dec isõesjudic ia is . A vio lênc ia contra amulher é descarada: sãoameaçadas , espancadas ,es tupradas e , ho je , compõem omaior grupo humano portador dovírus HIV (60%;ONU). Meninas emoças es tão sendo avi l tadas emercant i l izadas até mesmo por

intermédio de seus familiares desumanizados pelamiséria. No entanto, todas parecem invizíveis.

O Ministério Público não pode permanecerindiferente à causa das mulheres. Assim como hápromotorias especializadas na defesa do meio ambiente e,há também Grupo de Atuação Especial para Prevenção eRepressão ao Crime Organizado etc, é preciso criar o Grupode Atuação Especial para Prevenção e Repressão à ViolênciaContra a Mulher. Essa atitude já despertaria a consciênciade seus próprios membros para tais conflitos, levando-nos,quem sabe, a um tempo de pacificação entre homens emulheres, impedindo o assassinato delas por seus ex-parceiros, como ocorre hoje, a torto e a direito.

* Promotora de Justiça de SP, aposentada; Integrante doMovimento do Ministério Público Democrático.

“Os direitos humanosdas mulheres estão

sendo violados.A misoginia

impregna decisõesjudiciais...”

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Zuleika Sucupira KenworthyENTREVISTAENTREVISTA

MPD Dialógico A senhora foia mulher que ocupou pela primeira vez ocargo de Promotora de Justiça do estadode São Paulo, na condição de interina a partirde 1944 e efetivada no cargo em 1946.Provavelmente, tenha sido a primeirapromotora pública também no Brasil e quiçáde toda a América Latina. Hoje, ao olharseu passado, como a senhora sente esse fatohistórico? E ter sido estudante de direito naFADUSP de 1938 a 1942, como foi?

Sucupira Quando fui fazerconcurso para promotor eu não tinhaidéia da extensão do meu ato. Fui serpromotor porque desde mocinha eu tinhaum sonho de ser promotor público e issoporque sempre elogiavam a atividade dopromotor. Eles [os promotores] setransformavam na tribuna. Quando vianos filmes os promotores perderem ascausas, ficava com dó e sempre tivevontade de ser um deles. Mas eu não tinhaidéia do valor disso. Ninguém acreditavaque eu iria entrar, mas, também, ninguémme falava que era por eu ser mulher.Nunca alguém me falou isso. Não foi fácilestudar direito. Mamãe, que já era viúva,tinha muito receio. Sabíamos daquelescasos públicos dos estudantes: agentesde desordens. Então fui estudar outrascoisas, fui adquirindo cultura, lendo muito.Li a literatura brasileira quase inteira, liem francês, inglês, tudo para passar meutempo. Até que um belo dia, um amigoda família perguntou se mamãe não tinhaconfiança na educação que tinha me dado

e aconselhou-a a deixar-me estudar. Euqueria muito ser promotor e para sê-loeu precisava do quê? Ser advogada. Paraser advogada precisava antes serestudante de direito. Então fui serestudante de direito. No meio de tantoshomens fui tratada como irmã. Não notei

nenhuma dificuldade, nunca nenhumcolega me desrespeitou. No quarto ano,quando se estuda medicina legal comcoisas muito desagradáveis, osprofessores me diziam que se eu nãoquisesse assistir à aula, eles medispensariam. Mas, como eu queria serpromotor e teria então de estarpreparada para enfrentar laudosmédicos, autópsias, enfrentei as aulas.Depois, tendo passado no concurso, fuipromotor interino em Dois Córregos,onde fui muito bem tratada, pois o irmãodo delegado fora Procurador de Justiça eele, então, acabou dando-me muito apoioquando começava na carreira. Alémdisso, teve a casualidade do vigário daparóquia dali ser da mesma ordem do

vigário da minha paróquia. Comoconhecia minha família, falou na igrejaque eu era uma pessoa de respeito. Mas,preconceito mesmo, só senti quandoentrei num bar. Eu tinha visto as pessoascomprando leite, então entrei para tomarum copo de leite. Quando saí, tinha ummonte de gente do outro lado da rua meolhando. Eu havia sido a primeira mulhera entrar em bar naquela cidade. Depoisdisso todas as mulheres começaram aentrar também. Em seguida fui paraCapivari, cidade muito sossegada. Nãohavia o que fazer. Nesse princípio não tivecontato com ninguém. Foi um mês queeu passei em Capivari que eu não faleiuma palavra fora de processo compessoa nenhuma, porque nessa épocanem juiz havia lá. O juiz tinha ido emborae ainda não havia sido nomeado outrojuiz efetivo. Os juízes das comarcasvizinhas é que vinham atender a cidade.Em cada audiência havia um novo juiz.Ali não havia nada, nem pequenabiblioteca. No cartório havia umamáquina de escrever, mas tínhamos ohábito de escrever à mão. Poucos sabiamescrever à máquina. Quando comecei aescrever na máquina com os dez dedos,pois tinha feito curso de datilografia, todosficaram de boca aberta! Os juízes metratavam muito bem. Mesmo sendo uma“coisa” estranha, eles me tratavam porsenhora, doutora, pois não, me davampassagem. Tinham muita deferência pelamulher, mas desconfiados da sua ciência.Eles achavam que sabiam mais, mas

Zuleika Sucupira Kenworthy se formou naFaculdade do Largo São Francisco em 1942, tendo ingressadono Ministério Público de São Paulo em 1944. Aposentou-seem 1978 como Procuradora de Justiça. Foi agraciada com oColar do Mérito Judiciário pelo Tribunal de Justiça de SãoPaulo em 2002, e com o Colar do Mérito Institucional doMinistério Público Paulista.

Em entrevista concedida à Revista MPD Dialógico,Zuleika Sucupira Kenworthy conta os desafios que enfrentoupor ter sido a primeira Promotora de Justiça do Estado de SãoPaulo, e fala de sua experiência e trajetória e seu amor peloMinistério Público.

Por Inês Büschel

“Nínguém acreditavaque eu ia entrar...ninguém falava

que era poreu ser mulher....”

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tinham muito cuidado comigo. Uma vez,um dos juizes perguntou-me onde eutinha descoberto determinado assuntono código penal, pois ele nunca se deraconta. Aí começou a ter um certo respeitoprofissional. Depois estava em época deeleição e eu ficava analisando título deeleitor, o que transformoucompletamente a finalidade do cartório,pois se transformou em base eleitoral.As pessoas eram muito pacatas. Tudo oque acontecia era briga de bar,facadinha, coisinha assim, muito fácil.Então o juiz ficava jogando xadrez. Lá foiinteressante porque, quando cheguei, oprédio do Fórum estava fechado parareformas. Então trabalhávamos em umcartório próximo do local. Eu percebiaque quando ia do hotel, de onde mehospedava, para o cartório, havia umaconversinha entre as pessoas, masquando eu me aproximava a conversamorria. Depois me mudei para uma casade família. Morei lá durante um ano. Asenhora era uma modista de primeiraordem, extraordinária, o marido eracorretíssimo. Aí, então, quando me mudeipara essa casa de família, todas aspessoas passaram a me cumprimentar.Mas eu não entendia o porquê. Duranteum mês ninguém falava comigo. Maistarde é que fui entender. Era porque eumorava em um hotel, então não deveriaser boa pinta. Só nas vésperas de eu sairda cidade, ocasião em que ganhei muitospresentes, o moço do cartório me contouque quando eu tinha sido nomeada, asmulheres da cidade (esposas,namoradas e mães) tinham proibido oshomens de falar comigo porque, tendoeu estudado direito, sendo advogada,então com certeza não era mulher deboa vida. Antes mesmo de eu chegar jáhaviam me julgado. Depois foi umatransformação completa. Comecei atéa freqüentar festas. Ainda hoje tenhobons amigos em Capivari.

MPD Dialógico E a experiência deexercer seu cargo na difícil área de jovensem conflito com a lei, em meio a tantoscolegas promotores e juízes de direito, todos

homens, numa sociedade muito maisconservadora que a de hoje?

Sucupira Vim pra São Paulonomeada para curadoria de casamentos,onde havia vaga. Mas, assim que eucheguei, não tomei posse nessacuradoria, pois me falaram que o curadorde menores estava precisando de ajudae eu decidi auxiliá-lo. Fui para a curadoriaajudar o Dr. Leonel Meira, pois foi elequem me disse que era melhor irtrabalhar com menores, pois no júri sótinha coisas horríveis e com menores erauma coisa mais preservada. O Dr. Leonelera um homem dedicado, com coraçãode ouro. Nessa época ninguém queriasaber de curadoria de menores. Ospromotores que vinham pra São Paulopromovidos quando havia cargo vago naVara de Menores, ficavam desesperadospara não ir, porque detestavam. Na Vara

de Menores tudo tramitava em sigilo. Aapelação não seguia para o Tribunal deJustiça, mas sim para o Conselho. Porisso não parecia um recurso jurídico enão propiciava projeção na carreira. Afundamentação não era jurídica. Tudo oque se fizesse era secreto e o Setor deMenores era muito descuidado. Haviauma divisão assim: Juizado de Menorese Serviço Social de Menores. Todo menorapreendido por qualquer circunstânciaera levado para o Serviço de Menores. OServiço de Menores recebia menorabandonado e menor infrator. Asmeninas a mesma coisa, meninasabandonadas e mocinhas de péssimavida. Então era tudo misturado no mesmosetor. Um dia, comecei a observar como

saíam os expedientes. Tinham unsprocedimentos de menores que tinham200, 300 páginas. Então pensei: “Como éque um procedimento de menor chega aficar desse tamanho e nem sequer éprocesso judicial?” Porque na época nãose chamava processo, era chamado deprotocolo. Como é que fica assim? Eu liacada procedimento desde a primeirapágina até a última e comecei a ver asfalhas. Exemplo: o menor fugiu do serviçode menores. Vinte e quatro horas depois,comunicação. O menor Fulano de Talfugiu. E eu pensei: que serviço demenores é esse? Eu fui saber. Acabeientrando em contato com o diretor doserviço de menores que era um médicomagnífico, um homem extraordinário, issopor conta de um acontecimento qualquer- um jornalista havia dito diabos domédico: médico sem coração...- então fuiconhecer o médico e perguntar o queestava acontecendo. Aí ele me contouque misturavam o menor infrator com omenor abandonado, pois o dormitório eraum só. A senhora sabe o que é criançaabandonada? São crianças de seis, oitoanos. E quando os pais aparecem depois,o menino está na enfermaria. Por quê?Porque durante a noite, entram dois, três,menores infratores e vão pegar o menino.E o pai chega e encontra o menino naenfermaria. A senhora quer que eu façao que? Eu deixo uma, duas vezes. Quandoele entra pela terceira vez, eu não possomais deixá-lo no dormitório, porque já seio que eles vão fazer. O pior doutora, éque os infratores são uma quadrilha equando são apreendidos, se unem esobem de quatro, cinco juntos... Então ficaum guarda no dormitório à noite, mas asenhora vai ver quem é o guarda. É o seufulano. Ele vai se aposentar daqui a doisanos. Então o que acontece? Um, dois,vão fazer as artes e dois, três ficam dolado do guarda e dizem: vai tomar umcafezinho lá fora e o ameaçavam dizendo:eu sei onde você mora, eu conheço suafamília, você tem uma filha de doze anos,certo? O que esse guarda pode fazer?Ele está para se aposentar. Eles nãoprecisam nem pegar nele. É só falar. A

“Durante um mêsninguém falava

comigo porque eumorava em umhotel, então nãodeveria ser boa

pinta...”

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Zuleika SucupiraENTREVISTAENTREVISTA

senhora se ponha na posição dele, o queele vai fazer? Ele vai tomar café e quandovolta os meninos estão todos na cama,sossegadinhos e dormindo. Eles saiamdurante a noite do albergue e voltavammais tarde.

MPD Dialógico Um coleganosso, do MP paulista – C.FranciscoBandeira Lins - também já aposentado,publicou no ano 2000 um estudo no qualaponta a interferência do exercícioprofissional nas qüestões de maternidadedas Promotoras de Justiça, induzindo-as aterem menos filhos do que seus colegashomens. O que a senhora pode nos dizer arespeito de casamento e filhos?

Sucupira De acordo com aminha natureza, se eu fosse namorar,casar, eu não poderia ser promotor,porque teria de dedicar-me inteiramenteà família. E sentiria, no fundo da alma,que não era bem aquilo que eu queria. Euachei que com o meu gênio teria deescolher entre ser promotor ou esposa emãe, pois, acredito, que desistiria dacarreira. No meu interior, a minhaprioridade sempre seria ser promotor.Hoje eu me pergunto por que eu não meinteressei pelo casamento? Foi porquese eu tivesse me casado, teria de deixarminha carreira para não abandonarmarido e filhos. Seria um compromissoque eu assumiria. O que eu pensava é seseria possível viver casada semtransmitir para a minha família umaespécie de infelicidade, por não terrealizado o meu desejo, o meu pendor, aminha vontade, o que a minhapersonalidade queria. Eu acho que nãoseria capaz de realizar as duas coisas.Hoje sou muito feliz. E se eu tivessecasado? Com quem? Eu nunca tivenenhuma paixão. Casar por casar, seriaum absurdo. Nunca me interessei porninguém, eu queria ser promotor, era istoque eu queria. Não me arrependonenhum minuto.

MPD Dialógico Homens emulheres são seres humanos diferentes.

Essas diferenças naturais autorizam asociedade humana a estabelecer umavaloração hierárquica entre eles,submetendo as mulheres aos homens e,portanto, violando o direito humano delasà plena autonomia?

Sucupira Nós temos umatavismo de achar que a mulher valemenos que o homem. Isso é histórico nomundo inteiro. Eu acho errado, porquena mesma função, se o homem e amulher tiverem o mesmo preparo o valoré o mesmo. Sempre é preciso levarinstrução e cultura em consideração.Com o mesmo preparo a mulhertrabalha até melhor que o homem,produz muito mais e melhor. Asempresas onde as mulheres ocupamlugar de responsabilidade - e elas têm

capacidade para isso, pois se vê isso hojeem dia – acabam exercendo altos cargosem firmas. Há alguns anos, perguntei aum empresário o porquê dele estarcontratando tanta mulher e ele merespondeu que era porque a mulher nãoperde tempo acendendo cigarro parafumar. Hoje esse defeito também é dasmulheres, mas ainda assim eles achamque a mulher trabalha com maisseriedade do que o homem. Mas épreciso que a mulher tenha a mesmacapacidade de trabalho.

MPD Dialógico As pesquisasmundiais sobre violência doméstica têmnos revelado que, dentro do ambientefamiliar há maus tratos de toda ordem e

não se trata de fenômeno social novo.Indicam, ainda, que entre as vítimaspreponderam as mulheres. Que fazerpara evitar essa tragédia? Temos de pôr acolher em briga de marido e mulher?

Sucupira A interferência navida de um casal tem que ser feita poruma pessoa que tenha certaautoridade e que a sua própria vidapossa ser citada como exemplo. Euacho que uma interferência externaem briga de marido e mulher é muitoeficiente, porque às vezes, a briga saipor uma ninharia, por uma estupidez.Isso é uma questão, acima de tudo,de educação. Segunda coisa: o que sepode fazer para agora abrandar essasagressões é chamar os homensagressores e perguntar o porquê deter batido, como você bateu? Dizer-lhe que quando bate nela estarábatendo nele mesmo. Estará fazendopapel de idiota, pois escolheu-a.Esclarecer sob ponto de vista do valorda mulher e que ele está degradandoa si mesmo. O que deve seresclarecido é que batendo na mulherestará desmoralizando a ele próprio.Se acha que ela está errada, deveconversar, dialogar. De outro lado, amulher que apanhou tem de tercoragem de reclamar para alguém dedireito. Se não quiser ir à delegaciade mulheres, que vá então procuraralguém conhecido. Procurar ajuda. Omelhor, é que, ao receber o primeirotapa, enfrente o marido, e diga que sebater novamente ela irá embora. Amulher tem a palavra, a coragem enão deve admitir o primeiro tapa.Muitas mulheres pensam que a únicafinalidade delas é serem esposas eficar de cabeça baixa, porque o que omarido disser estará bom. Se ele éinfiel, ela deve engolir a infidelidade.Por quê? Porque tem filho pra criar,não pode trabalhar, não tem dinheiropara sustentar-se. Caso se separe domarido, muitas vezes, ele some e nãopaga a pensão.

Ora, quem pensa assim não

“É preciso que amulher

desenvolva acapacidade

intelectual; podeser até uma

analfabeta, masela deve saber do

seu direito.”

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deveria casar-se. Que não tenha filhoe não se submeta a marido, porque amulher não deve se submeter, e essaquestão deve ser enfrentada desdeo primeiro dia de casamento.

MPD Dialógico No dia 8 demarço deste ano, 2004, a senhora estevepresente na cerimônia de abertura doII Curso de Promotoras LegaisPopulares de Sorocaba, cidade ondereside. Essa turma de mulheres prestou-lhe a homenagem de adotar seupróprio nome como referência. Qual éa sua avaliação sobre esse curso decapacitação de mulheres do povo, parao exercício da cidadania?

Sucupira Fiquei contente. Ocurso das Promotoras Legais Popularesajuda muito as mulheres a sereconhecerem como gente que sabeexercer seus direitos. Mas, asprofissionais que dirigem esse cursodevem estar capacitadas e servir deexemplos. As mulheres têm queaprender muito, estão muito submissas.

MPD Dialógico Na Faculdade deDireito de Oslo, Noruega, desde 1974 hádisciplina denominada “Direito dasMulheres”, onde se estuda, entre outrostemas, a discriminação social e o direito dasmulheres ao dinheiro. As leis e a distribuiçãode justiça têm um olhar masculino?

Sucupira Seguramente têm.Nosso Código Civil era de 1917. A mulherera inteiramente submetida ao marido.O Código novo já dá outra independênciapara a mulher, mas ainda isso não chega,porque afinal de contas, a mulher ficaindependente do marido, mas e a partefinanceira? Como se resolve? Como vaieducar os filhos? Se ela se casou, é umaboa mãe, não foi trabalhar, está em casa,lava roupa, cozinha, cuida dos filhos, tratado marido. Quanto ela ganha? Nada. Omarido ganha e, às vezes, quando é muitobom, entrega o ordenado para ela. Euacho que deveríamos ler esses livros[direito das mulheres]. Na Noruega, um

país civilizado, de alta cultura, se elesestão vivenciando isso, imagine nós queestamos ainda na desinformação etemos apenas 500 anos de existência,quando eles têm milhares de anos. Se osnoruegueses estão com problemas,imagine nós. É hora de tomarmos umaprovidência já, para não chegarmos adaqui 200 anos e ainda estarmos lutandopelos direitos das mulheres. Não é que amulher queira ser mais do que o homem,ela é igual. É preciso que a mulherdesenvolva a capacidade intelectual;pode ser até uma analfabeta, mas eladeve saber do seu direito. É uma espéciede lei natural. Direito humano. Direitonatural de conhecer que é gente, que tem

dignidade, que tem seus direitos, nãoacima de ninguém, mas em igualdade esaber falar, mostrar o certo e oerrado.Deus tirou a costela do homempara fazer a mulher, não tirou da cabeça,nem do pé. Tirou da metade. Então émetade. Cada um tem sua dignidade.

MPD Dialógico Após aaposentadoria no ano de 1978, a senhorapassou a dedicar-se à música, regendo coraise, também, prestando assistência judiciáriajunto ao Fórum de Santo Amaro, na cidadede São Paulo. Hoje cuida da casa e da irmãmais nova e, ainda, recentemente, no dia 9de julho de 2003, tornou-se uma escoteiraintegrante do Pólo de Escoteiros Terra

Rasgada, de Sorocaba [onde vive],realizando um sonho de infância. Qual osegredo para tanta vitalidade?

Sucupira (Risos...) Talvez sejapor ter consciência de que cumpri meudever em cada vez que fui chamadaem qualquer situação. Nas ocasiõesdifíceis ou fáceis eu sempre seguiminha consciência com muito respeitopor ela, procurando não errar. Outracoisa é estar sempre ocupada,sempre ter interesse por algumacoisa. Eu nunca fico sem ter o quefazer. Nunca penso: o que é que euvou fazer agora? Muito pelocontrário: eu penso assim: o que eufaço primeiro? Por onde eu começohoje? E me programo para aquele dia.Quando chega no final eu digo: o queeu fiz do que eu tinha planejado parahoje? Nada. Fiz tudo o que precisou,fui fazendo aquilo que tinhanecessidade de ser feito e aqueleprograma que eu sonhei fica para odia seguinte. E vou fazendo comoposso. Nunca estou de braçoscruzados. Sempre tive o que fazerdesde que me aposentei. Sou dona decasa. Sou pai, sou mãe, sou irmã. Aidade traz suas deficiências, tal qual asurdez, mas dentro delas, eu façodemais e gosto. Gosto demais deleitura. Agora estou relendo “OGaratuja”, de José de Alencar.Comecei na semana passada.Também gosto de armar quebra-cabeças [puzzle].

Eu gosto muito de conversarcom jovens, não perco nossosencontros de promotores porque eugosto de ver os jovens trabalhando,vivendo. Eu aspiro à juventude deles.Eles estão fazendo esse MinistérioPúblico que eu amo, adoro, trago nomeu coração. Eu renasço neles. Eufico na torcida da luta deles. Estounos bastidores agora.

O Ministério Público foi acoisa mais certa que fiz na minhavida, não só na minha vida, mas paraminha família também.

“... não perconossos encontros depromotores porqueeu gosto de ver os

jovenstrabalhando,

vivendo... Elesestão fazendo esseMinistério Públicoque eu amo, adoro,

trago no meucoração.”

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Violência DomésticaCAPA CAPA

ENTRE QUATRO PAREDESpor Lizandra Cardelino

A violência doméstica,infelizmente, ainda é uma grandepreocupação no País. Pode se considerar violênciadoméstica qualquer tipo de agressãoque ocorra dentro dos lares. Mulheres,crianças, jovens, idosos e até homenssofrem este tipo de violência. Para o violentado osofrimento é sempre intenso eprolongado, especialmente quando setrata de criança e idoso, que contamcom menos recursos físicos epsicológicos para defesa.

A propósito, embora numasociedade de tradição patriarcal aviolência atinja freqüentemente maismulheres e crianças, também podemocupar o lugar de vítima pessoas dequalquer faixa etária, sexo, raça, eclasse social . São espécies de violênciassob o ângulo da psicologia: agressãofísica, negligência, abandono, maustratos psicológico, abuso sexual eSíndrome de Münchausen, entre asmais conhecidas. A violência física se configurapelo emprego de força com o objetivode ferir, deixando ou não marcasevidentes. É retratada como aimposição de danos, tais comocontusões, queimaduras, ferimentosna cabeça, fraturas e/ou ferimentosfísicos, cujos efeitos ou seqüelasduram pelo menos 48 horas.

A negligência se refere a atosde omissão que implicam em proteçãoinadequada à pessoa, quer quanto aosaspectos físicos (nutrição, segurança,assistência ou cuidado) quer quantoaos psicológicos (vínculos afetivos, deproteção, amor ou interesse). O abandono é uma formaextrema de negligência. Écaracterizado pela expulsão dofamiliar de casa ou sua entrega ainstituições de abrigo. A violência psicológica ouagressão emocional, às vezes tão oumais prejudicial que a física, écaracterizada pela rejeição,depreciação, discriminação,humilhação, desrespeito e puniçõesexageradas à pessoa. Trata-se de

uma agressão que não deixa marcascorporais visíveis, masemocionalmente causa cicatrizesindeléveis para toda a vida. Envolve,através do exercício verbal excessivo,a ridicularização da pessoa, oscomentários humilhantes e asatitudes que de uma maneira geralcolocam em risco a saúde mental eemocional da vítima.

O abuso sexual é definido comoo constrangimento da vítima, através deviolência física ou grave ameaça, àprática de atividades sexuais.

A Síndrome deMünchausen, por sua vez ,caracteriza-se pelo ato de obrigara vítima a ingerir medicamentosou aceitar procedimentos médicosque não são necessários ou são

indevidos , com o ob je t ivo ,explícito ou implícito, de adaptá-la às expectativas do impositor. Ainda há a Síndrome doBebê Sacudido (Shaken BabySyndrome) . Es ta s índrome serefere a lesões , que ocorremquando uma criança, geralmenteum lac tente , é severa ouviolentamente sacudida poroutrem. Para finalizar, a violênciatambém pode ser verbal , a qualnormalmente ocorreconcomitantemente com violênciaps icológica . Alguns agressoresdir igem sua “art i lharia” verbalcontra membros da famí l ia ,especialmente em momentos emque estão na presença de pessoasestranhas , causando, ass im,vexação à vítima.

Violência contra a criança e oadolescente

Consideradas pessoas em

desenvolvimento, crianças (com atédoze anos de idade incompletos) eadolescentes (com idade entre dozee dezoito anos) merecem proteçãolegal especial tanto quando assumema figura de autores como quandoocupam a posição de vítimas deagressão. O art. 5.º, do Estatuto daCriança e do Adolescente estabeleceque “nenhuma criança ouadolescente será objeto de qualquerforma de negligência, discriminação,exploração, violência , crueldade eopressão, punido na forma da leiqualquer atentado, por ação ouomissão, aos seus direitosfundamentais”. “Bater é uma vio lênc ia ,enquanto educar é um processopelo qual se es t imula , modela ,t ransmite-se e ins ta lam-se ascondições harmoniosas para odesenvolvimento e a aquisição domelhor repertór iocomportamenta l para a v ida .Dessa maneira, se para educar éprec iso agredir , es taremosensinando violência. Creio que omelhor meio que temos para aminimização dessa realidade é aeducação de pais, o que pode serrealizado de múltiplas maneiras,mas numa ação inicial, por meioda mídia ou dos recursos decomunicação de massa. Criançasolham para seus pais com amor eadmiração . Obedecê- los é apersonif icação destas emoções .No entanto , a mesma mão queacaricia , agride. A mesma bocaque emite palavras de amor ecuidado, grita, ameaça e humilha.Os mesmos olhos que transmitemternura demonstram a raiva. Entreo amor e o ódio , o car inho e aagressão rompem-se as barreirasdo autocontrole e o mito daproteção familiar se desfaz. Ao seagredir por amor e educar pelador, que pessoas são formadas

“A Violênciatambém pode ser

verbal...Algunsagressores dirigem

sua artilhariaverbal...causando

vexação à vítima.”

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para o mundo?”, explica a Prof.ªDra. Maria Christinna MonteiroStroka, psicóloga, Especialista emTerapia Comportamental, Mestreem Psicologia Clínica e Doutoraem Educação. “O exemplo começa dentrode casa. Violência em casa e as drogasnas ruas não poderiam resultar emoutra coisa: adolescentes cometemcada vez mais atos infracionários. Estequadro tem que mudar”, asseverouuma analista técnica da FEBEM de SãoPaulo, cujas iniciais do nome sãoCCSS, a qual não autorizou adivulgação de seu nome. Segundo o Ministério daSaúde, as agressões constituem aprincipal causa de morte de jovensentre 5 e 19 anos. A maior partedessas agressões provém doambiente domést ico . A Unicefestima que, diariamente, 18 milcr ianças e adolescentes se jamespancados no Brasil. Os acidentese as v io lênc ias domést icasprovocam 64 ,4% das mortes decrianças e adolescentes no País.

Violência contra o idoso

Relacionamentos familiaresconflituosos e falta de dinheiro na famíliaacabam levando ao abandono dos idosos,que são esquecidos nos asilos oumantidos em sua própria residência sema menor condição de higiene.

Denise Figueiredo Pedrosa,enfermeira da Unidade de Referênciaà Saúde do Idoso, da Região Paulistanada Sé (URSI), conta que os idosos são

abandonados friamente pelosfamiliares, chegando a denúncia doabandono, na maioria das vezes, porintermédio dos Promotores de Justiça:“O Ministério Público traz para genteos casos de maus tratos e abandono.Nós vamos até a casa e cuidamosdeles e quando vamos atrás dasfamílias, eles agem como se nãofossem responsáveis pela situação”.

A Unidade de Referênciado Idoso da região da Sé possuiambulatório, geriatria, grupos deterapia , caminhadas egerontologia . “É um grupo deconvivência onde se preserva acidadania. Devemos repensar aeducação de nosso país. Está noEstatuto do Idoso: abandono efalta de respeito são violências”,finalizou Denise. Ademais , o Estatuto doIdoso t ip i f i cou como cr ime aconduta de quem “deixar deprestar ass is tênc ia ao idoso ,quando possível fazê-lo sem riscopessoal, em situação de iminenteperigo, ou recusar, retardar oudificultar sua assistência à saúde,sem justa causa, ou não pedir ,nesses casos , o socorro deautor idade públ ica , prevendocomo pena detenção de se ismeses a um ano e multa.

Violência contra a mulher

Segundo a OrganizaçãoMundial da Saúde (OMS), foramagredidas fisicamente por seusparceiros entre 10% a 34% das

“O melhor meio paraa minimização dessa

realidade é aeducação dos pais....”

Prof. Dra. Maria Christinna StrokaPsicóloga, Mestre em PsicologiaClínica e Doutora em Educação.

“Mais que a dependênciaeconômica com relação aohomem, é a dependência

emocional que faz a mulhersuportar as agressões”

Márcia Buccelli SalgadoDirigente Técnico das Delcgacias

de Mulheres de São Paulo

“Devemos repensar aeducação de nosso país.

É necessária umamanutenção nas

famílias brasileiras"Denise Figueiredo Pedrosa

Enfermeira da Unidade Referência à Saúdedo Idoso da Região da Sé

Críticas sistemáticas à atuação como mãe

Tapas e empurrões

Dentro de casa, quebrar, jogar coisas, bater portas, rasgar roupas

Desqualificação constante do trabaho doméstico ou fora de casa

Foi trancada em casa, impedida de sair ou trabalhar

Ameaça de espancamento à mulher e filhos

Insinuações e xingamentos que ofendem a conduta moral

Espancamento, com marcas, cortes ou fraturas

Assédio sexual

Ameaça à integridade física com armas

Relações sexuais forçadas

Práticas forçadas de atos sexuais que não agradam

70

2221670

65

64

63

63

59

56

55

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53

9

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16

17

18

19

17

21

17

16

21

23

8

7

9

12

10

6

7108

7

7

3 2 3

3 3 4

2 2

6

3 22

6 4

22

2 4

233

Marido Ex-marido Namorado/ ex-namorado Patrão Irmão

Pai/Padastro AmigoColega de Trabalho Desconhecido

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Violência DomésticaCAPA CAPA

ESTATÍSTICAS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

FONTE: BBCCOM

mulheres do mundo. De acordo com a pesquisa “Amulher brasileira nos espaços públicose privados”, realizada pela FundaçãoPerseu Abramo em 2001, registrou-seespancamento em mulheres na ordemde 11% e calcula-se que perto de 6,8milhões de mulheres já foramespancadas ao menos uma vez. Tododia, pelo menos uma mulher éassassinada pelo companheiro. No primeiro trimestre desteano, chegaram às delegacias paulistas22 mil ocorrências de lesão corporal e21mil de ameaças contra as mulheres. Na maioria das vezes, osagressores são homens (67,4%), cônjugeou ex-cônjuge da vítima. A vítima quase sempre temuma relação de dependência com oagressor. “Mais que a dependênciaeconômica com relação ao homem,é a dependência emocional que faza mulher suportar as agressões. Hácasos de maridos que vão ao localde trabalho da mulher e a agridemdiante de colegas, e de abusossexuais de pais contra filhas depoisque elas se afastaram do domicíliocomum”, relatou Márcia BuccelliSalgado, Dirigente do Setor Técnicode Apoio às Delegacias de Defesada Mulher de São Paulo.

Estudos mostram que o

problema da violência contra a mulher émuito mais de natureza sócio-cultural.

Alguns dados a judam atraçar um perf i l da mulheragredida em casa :

- 50% têm entre 30 e 40 anos,- 30% têm entre 20 e 30 anos.- 50% dos casos o casal tinha entre10 e 20 anos de convivência- 40% entre um e dez anos.

Esses dados mostram que

depois da queixa:

- 40% dos casais se separam.- 60% continuam a viver juntos.

O problema da violênciadoméstica é mundial. De acordo comestimativa da Anistia Internacional,pelo menos uma em cada três mulheresao redor do mundo sofre algum tipo deviolência durante sua vida. De acordocom o Conselho da Europa, a violênciadoméstica é a principal causa de mortee deficiência entre mulheres de 16 a 44anos de idade e mata mais do quedoenças cardíacas, câncer e acidentesde tráfego.

Nos Estados Unidos , asmulheres representaram 85% dasvítimas de violência doméstica em1999 , segundo dados da ONU(Organização das Nações Unidas).O governo russo estima que 14milmulheres tenham s idoassassinadas por seus parceirosou parentes em 1999 . NaInglaterra, morre uma mulher acada três dias, vítima de violênciado parceiro. Em Portugal, mais dametade da população feminina éalvo da violência doméstica. NaFinlândia, o mesmo acontece comuma em cada cinco mulheres. Um levantamento da OMS(Organização Mundial da Saúde) apontouque cerca de 70% das vítimas deassassinato de sexo feminino forammortas por seus maridos. Para enfrentar a violência

“De acordo com aAnistia

Intenacional umaem cada três

mulheres sofrealgum tipo de

violência.”

19Já sofreu alguma

violência (espontânea)

16...Física

02....Psíquica

01...Assédio

80 Nunca sofreu violência

por parte de Homem

15

9

3

Ameaça à integridade física com armas

Espancamento com marcas, cortes ou fraturas

Ameaça de espancamento à mulher e filhos

Insinuações e xingamentos que ofendem a conduta moralTapas e empurrões

Dentro de casa, quebrar, jogar coisas, bater portas, rasgar roupas

Práticas forçadas de atos sexuais que não agradam

Relações sexuais forçadas

Desqualificação constante do trabalho doméstico ou fora de casa

Assédio sexual

Foi trancada em casa, impedida de sair ou trabalhar

Críticas sistemáticas à atuação como mãe

9

9 5

3 2

5

2

2

3

24

135

12

5

3 1

23 1

2 1 1 1

1 1 1

2 1

1 1

1 1

Delegacia de polícia Polícia sem especificar

Delegacia da mulherOutros

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doméstica no Brasil, um problema desaúde pública, o Presidente Luís InácioLula da Silva sancionou, no último dia 17de junho, a Lei que introduz a expressão“violência doméstica” no Código Penal.Agressões cometidas contra ascendente,descendente, irmão, cônjuge oucompanheiro, prevalecendo-se o agentedas relações domésticas, continuam a serconsideradas crime de lesão corporaldolosa, mas a pena será acrescida de 1/3(um terço) das previstas no Código Penalpara os casos de lesão de natureza graveou gravíssima, ou se resultar em morte.Se a lesão for leve, a pena será de seismeses a um ano de detenção. A crença de que o aumento depena, em abstrato, é suficiente paradebelar qualquer tipo de criminalidade éinfundada. Até porque, de acordo com asregras penais, dificilmente o agressorcumprirá a pena privativa de liberdadeprevista para o crime de lesão corporal eaté mesmo homicídio. Isto porque a Leiprevê benefícios processuais quepermitem, por exemplo, a transação penalpara os crimes que não têm pena,abstratamente cominada, superior a doisanos (art. 2.º, parágrafo único, da Lei n.º10.259/01 c/c art. 76, da Lei n.º 9.099/95), ouseja, ao invés de responder a processocriminal, sendo primário e de bonsantecedentes, o agressor poderá serbeneficiado com o pagamento de uma

multa ou o de uma cesta básica, nãorespondendo a processo . Se, porventura,o crime praticado pelo agressor tiver penamínima não superior a um ano, sendo eleprimário e de bons antecedentes e nãoestando respondendo a nenhumprocesso, uma vez oferecida a denúnciapelo representante do Ministério Público,nos termos do art. 89, da Lei n.º 9.099/95,terá ele direito à suspensão condicionaldo processo, que, em outras palavras, quer

dizer que o processo fica suspenso,aguardando o cumprimento das condiçõesprevistas no § 1.º, de tal dispositivo legal,e, uma vez cumpridas estas, a punibilidadeé extinta, sendo o processo arquivado esequer valendo como antecedentecriminal, a não ser para fins de evitar que

novo benefício seja concedido a quem jáfoi por ele beneficiado uma vez. Vemos, então, que alegislação é, de certa forma, tolerantecom a violência doméstica, na medidaem que o agressor tem a possibilidadede sequer ser processado pelaagressão perpetrada em razão dealguns benefícios previstos pela Lei eainda que não tenha ele direito anenhum dos benefícios acima citados,tendo sido condenado à pena privativade liberdade, nem sempre ela seráefetiva e integralmente cumprida,pois outros benefícios a Lei prevêevitando a prisão ou diminuindo operíodo de sua duração. A título deexemplo, temos: a possibilidade de sesubstituir a pena privativa de liberdadeinferior a um ano em restritiva dedireitos (art. 54, do Código Penal); o“sursis” (art. 77, do Código Penal), queé a suspensão condicional da pena; olivramento condicional (art. 83, doCódigo Penal), e a unificação daspenas, ou seja, o cumprimento daspenas privativas de liberdade nãopode ser superior a 30 (trinta) anos,conforme art. 75, do Código Penal, que,em outras palavras significa que aindaque o agressor receba pena superiora trinta anos pelos crimes quecometeu ele cumprirá, no máximo,trinta anos de prisão.

“A Legislação é, decerta forma,

tolerante com aviolência

doméstica, namedida em que o

agressor tem apossibilidade de

sequer serprocessado.”

DISTÚRBIOS PSICOLÓGICOS

...É alcoólatra / bebe muito / estava bêbado

...Ele é muito violento / agressivo

...Ele é muito nervoso / estava nervoso

...Acho que era louco / Psicopata / Insano

...Viciado em Droga

21

5

4

2

2

32

BRIGA / DESENTENDIMENTO...Ciúme / ciúmes mútuo

...Por que tinha outra mulher / por causa de amantes que ele tem na rua

...Discussão Familiar / divergência de opiniões / desentendimento familiar

21

7

6

4

3

3

3

2

14MACHISMO...É grosso / estúpido/ ignorante / sem escrúpulos....

...Ele não queria que saísse de casa / com as amigas

...Machismo / Acham que só por serem homem falam o que querem

...Porque é safado / mau caráter / sem vergonha

...Estava trabalhando fora e ele não queria

PARA QUEM PEDIU AJUDAContouou

pediuajuda

Nãocontou

oupediuajuda

...Ameaça a integridade física com armas 39 55

...Espancamento com marcas, cortes e fraturas 41 53

...Ameaça de espancamento à mulher e filhos 49 46

...Tapas e empurrões 51 44

...Insinuações e xingamentos que ofendem a conduta moral 56 43

58...Dentro de casa, quebrar coisas, bater portas, etc... 38

55...Foi trancada em casa, impedida em sair 38

58...Assédio Sexual 37

...Críticas sistemáticas a atuação da mãe. 64 32

65...Práticas forçadas de atos sexuais que não agradam 30

67...Relações sexuais forçadas. 30

66...Desqualificação do trabalho doméstico ou fora de casa 29

Mãe

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8

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Amiga

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5

6

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Irmão/

Irmã

7

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4

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3

3

5

outros

parentes

25

29

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A violência doméstica, particularmente a exercida

contra a mulher, principal vítima desta forma de agressão,é um fenômeno universal que ultrapassa fronteirasculturais e, por isso mesmo, tem merecido a atenção demuitos estudiosos das ciências sociais, bem como temsido objeto de políticas públicas de governos democráticos,notadamente na Europa, visando a combater tão gravequanto disseminada modalidade de agressão. Trata-se deuma das maiores feridas que a sociedade suporta, decusto social muito elevado, pois, como se sabe, crianças eadolescentes que convivem com o clima de agressãodentro do lar acabam por banalizar a violência, tornando-se indiferentes aos direitos fundamentais da pessoahumana, circunstâncias que, sem dúvida, constituem umdos fatores que geram violência social.

A insistente indagação que se faz é saber por queno atual estágio da sociedade brasileira, a mulher, querompeu o silêncio e passou a projetar suas reivindicaçõesna esfera pública, ainda é vítima da endêmica e crescenteviolência, perpetrada quase sempre pelos atuais ou ex-companheiros. Também é de se perguntar por que amesma sociedade que considera determinado fato socialaltamente reprovável e o transforma em crime, é tolerantecom quem o pratica.

É certo que a contestação feminina ao podermasculino desencadeia uma reação agressiva decontornos imprevisíveis, como, de resto, ocorre em todosos movimentos nos quais se questionam relações sociaisassimétricas e autoritárias.

Parece-me, no entanto, que o fator que merece

destaque na análise deste fenômeno social é a ideologiahegemônica na sociedade brasileira, que legitima a culturade dominação, gerando como uma de suas conseqüênciasindisfarçável tolerância aos atos agressivos do homemcontra a mulher, chegando mesmo a exibir certacumplicidade a esta forma de ofensa.

A cultura de dominação que privilegia os homensnas relações sociais se faz presente, não só nas leis edecisões judiciais, como também nas manifestaçõesartísticas e culturais, destacando-se canções nas quais aagressão física figura como uma vertente do amor, comose tapa e afeto fossem elementos indissociáveis norelacionamento entre um homem e uma mulher.

Para ilustrar o descaso com que este tema étratado e a ausência de políticas públicas visando aocombate deste tipo de agressão, basta lembrar quea Lei 9 .099/95 reduziu a v io lênc ia domést ica àcategoria de delito de menor potencial ofensivo,comparando o espancamento da mulher ou dacriança a uma briga de bar.

Nem mesmo a recentíssima Lei 10.886, de 17 dejunho de 2004, que definiu a violência doméstica como umtipo penal autônomo, introduzindo os parágrafos 9º e 10,ao artigo 129, do Código Penal, conseguiu corrigir adistorção inicial, visto que referida lei, mesmoaumentando a pena mínima cominada à nova figura penal,não retirou do delito o seu caráter de menor potencialofensivo, pois, tal qual a anterior, a pena cominada a estenovo crime (seis meses a um ano de detenção) não alterouo tratamento punitivo até então dispensado, mantendo a

Violência Domésticapor Valderez Abbud*

ESPECIALESPECIAL

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violência doméstica, na qual se incluiu a exercida contraa mulher, no rol dos delitos de menor potencial ofensivo.

Este diploma legal , a inda que se louve ain ic ia t iva da i lus tre deputada que propôs ta lmodificação e sua contribuição para o enfrentamentodo tema, revela a pouca preocupação que asociedade e os governos federal e estadual dedicama tão grave questão, pois, se a lei expressa a vontadepopular, não se pode deixar de concluir que tudo istosomente ocorre porque a sociedade brasileira nãoexprime justa reprovação a este tipo de crime.

Como exemplo da tolerância social a este tipode conflito, basta lembrar que a nomeação de umministro para compor a mais alta Corte de Justiça doBrasil, sobre cuja biografia recaía a acusação de teragredido sua mulher, não mereceu nenhum tipo dereação da população ou das autoridades que tem pordever edi tar pol í t i cas públ icas ob je t ivando seucombate . Lamentavelmente , a agressão contra amulher, qualquer que seja a circunstância em quetenha ocorr ido , é um t ipo de conduta ace i ta eintrojetada pela sociedade brasileira, de tal modoque, ao divulgar matéria sobre o fato, um dos maioresjornais do país se referiu ao degradante episódio daseguinte maneira: “O único senão em relação a BarbosaGomes é uma acusação de agressão a sua ex-mulher” (Folhade São Paulo, 02 de maio de 2003, p.A7). Ora, aviolência doméstica e contra a mulher vai muito alémde um “senão” , porém, ta l qual os demaisseguimentos sociais, a imprensa reflete a ideologiade dominação que permeia a sociedade brasileira.

No mesmo sentido, vale ressaltar que até mesmoa matéria jornalística veiculada pela Revista “Isto É”, de29 de junho de 2004, na qual se buscou dar destaque aonovo diploma legal, registrou como manchete de capa aseguinte frase: “BATER EM MULHER AGORA DÁCADEIA”, como se a proteção legal conferida àsmulheres vítimas ou a justa punição atribuída ao agressorfossem fruto do exagero do legislador que buscou protegerbem jurídico de pouca importância social.

Disso se conclui a imperiosa necessidade de opoder público adotar medidas destinadas a combatertodas as formas de violência contra mulher, buscandonovo paradigma cultural, a fim de despertar nestasociedade tolerante e cúmplice da violência a consciênciade que as relações sociais de dominação estimulam aimpunidade e somente propiciam a reprodução decondutas violentas.

Registre-se que a primeira iniciativa importantevisando ao combate deste deletério crime se deu no Estadode São Paulo, no inicio do Governo Montoro, quando foramcriados o Conselho Estadual da Condição Feminina e asDelegacias da Mulher, numa clara demonstração de queo combate à violência contra a mulher fazia parte daagenda do primeiro governo democrático eleito pelo povoapós sombrios anos de ditadura.

Duas décadas depois, nada mais significativofoi realizado no que tange a ação de governo, nemmesmo depois da Constituição de 1988, que deu umsalto de qualidade, consagrando definitivamente aigualdade entre gêneros. A tentativa de criação deum Juizado Especial para a análise e julgamento daviolênc ia ocorr ida no se io da famí l ia , resul toufracassada, pois, alguns meses após sua inauguração,em outubro de 2003, este juizado se desviou de seupropósito inicial e passou a ter atribuição para julgartodos os fe i tos de menor potencia l o fens ivo ,totalizando alguns milhares de processos, de modoa inviabilizar qualquer tipo de tratamento específicoàs vítimas da violência doméstica, circunstância querevela, uma vez mais, que a violência contra a mulhernão é prioridade dos governos, da classe política edos poderes constituídos.

Não basta a declaração de que o ano de 2004 é oano nacional e estadual da mulher. Urge que asautoridades públicas promovam políticas que tenham porobjetivo o combate a este tipo de agressão, criando, porexemplo, um juizado especial de combate à violência degênero e doméstica, bem como um grupo especial para omesmo fim no âmbito do Ministério Público, grupos deapoio psicológico às mulheres espancadas e também parao agressor, além da obrigatória inserção nos currículosescolares, desde o ensino fundamental, da disciplina dedireitos humanos na qual haja uma explicitação sobreviolência doméstica e suas perversas conseqüências.Enfim, várias outras iniciativas com a mesma finalidade,na busca da efetiva igualdade de gêneros.

E esta igualdade somente será conquistadapor meio de uma luta sem trégua contra a cultura desuperioridade e dominação masculinas, que tudo fazpara se conservar e se reproduzir, aprofundando ascontradições soc ia is , es t imulando o b inômioviolência e impunidade.

* Procuradora de Justiça de São Paulo e Integrantedo MPD.

ESPECIALESPECIAL

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AÇÃO EM DESTAQUE

A União de Mulheres deSão Paulo é uma assoc iaçãocriada em dezembro de 1981 porcerca de 300 mulheres que jáparticipavam do movimento demulheres paul is tano. Tem afinalidade de construir e defenderos dire i tos humanos dasmulheres , promovendo aparticipação delas em sua própriadefesa , buscando jus t iça eigualdade soc ia l , bem como aconsol idação da democrac ia ;capacitando-as por intermédio decursos, seminários e publicações.

A União de Mulheres deSão Paulo é uma ent idade deâmbito municipal, tendo sua sedelocalizada na cidade de São Paulo,no bairro da Bela Vis ta . As

reuniões e oficinas direcionadasà conscientização das mulheresque sofrem vio lênc ia f í s ica ,sexual, psicológica ou qualqueroutra discriminação, são dirigidaspor assoc iadas , sempre emcaráter voluntário.

Entre os diversos projetosque estão sendo desenvolvidospelo centro de or ientação eformação de mulheres, o que sedestaca é o “Curso deCapaci tação das PromotorasLegais Populares” , cu jacoordenação é feita em parceriacom o Inst i tuto Bras i le i ro deAdvocac ia Públ ica ( IBAP) e oMovimento do Ministério PúblicoDemocrático (MPD).

O refer ido pro je to

desenvolve-se há 10 anos emvárias cidades do estado de SãoPaulo – São José dos Campos ,Taubaté, Sorocaba, Santo André,Ribeirão Pires, Suzano, Campinas,Rio Claro – tendo já capacitadomais de 1.000 mulheres. A intençãodo pro je to é for ta lecê- las ,tornando-as mult ipl icadores doconhecimento adquirido.As aulasversam sobre Estado e Governonas três esferas de poder, direitoshumanos das mulheres, históriadas lutas feminis tas , saúde damulher , noções bás icas sobredireito civil, penal, constitucional,consumidor, etc.

Na sede da União deMulheres de São Paulo , não seabrigam mulheres que estejam

União de Mulheres de São Paulo:orientando e formando mulheres

A Revista MPDDialógico teve o prazer devisitar a sede da União deMulheres de São Paulo e teruma conversa com aMaria de Almeida Teles,coordenadora da entidade,sobre a atuação daentidade nesses 23 anos embusca da defesa dacidadania e dos direitoshumanos das mulheres.

PorLizandra Cardelino

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“A sociedadeainda é muito

machista.Os homens podeme devem ajudar as

mulheres nostrabalhos

domésticos,nenhum homemvai ser menos

homem se lavaruma louça”

fugindo de seus agressores, masse faz o encaminhamento parauma delegacia pol ic ia l ou parauma casa abr igo . Para ooferecimento de hospedagem àsmulheres vítimas de violência hánecessidade de muita estrutura esegurança, pois geralmente estãoacompanhadas de suas crianças.

Atuando em bairros ,s indicatos e campanhas , asfeministas da União de Mulheresjá obt iveram importantesconquis tas , ta is como aimplantação de creches nasempresas , proporc ionando aospais trabalhadores a oportunidadede ter onde deixar seus f i lhosenquanto trabalham.

Outra grande conquista foio impedimento de empregadoresexig irem para contratar , que acandidata mulher f izesse alaqueadura (c i rurgia queimposs ib i l i ta a gravidez damulher) ou que a candidata jáes t ivesse em menopausa , paraque ass im não assumissem aresponsabi l idade de encargossociais relativos à maternidade.

Maria Amélia de AlmeidaTeles, a Amelinha, lembra,satisfeita, que 80% dasreivindicações formuladas pelasfeministas foram incorporadas naConstituição Federal de 1988, eafirma: “Já conseguimos muitas coisas,mas ainda falta muito. Falta viabilizaros direitos e conscientizar as mulheres”.

Maria Amélia conta queainda é altíssimo o número demulheres que sofrem violência,independente de raça, religião, faixaetária, muito menos classe social.

Em quase 100% dos casos asmulheres são agredidas porpessoas de seu convívio, comomarido, cunhado, pais ou amigos.“As mulheres chegam aqui procurandoajuda, mentem dizendo que foi a primeiravez que sofreram algum tipo de agressão,mas sabemos que é mentira. Ás vezes,escutar o seu problema já ajuda, mas issonão é o suficiente. Precisamosconscientizá-las”, completou.

Em parceria também com

o Hospital Pérola Byton, localizadona c idade de São Paulo , asmulheres que part ic ipam domovimento prestam assistênciaàquelas que chegam ao hospitalpúblico, procurando socorro porterem sido vítimas de violênciafísica, psicológica e/ou sexual.

Amelinha deixa bem claroque, apesar de tantas lutas, aindaexiste muita desigualdade entrehomens e mulheres. “Estamos em2004, mas a sociedade ainda é muito

machista. Os homens podem e devemajudar as mulheres nos t raba lhosdomésticos. Nenhum homem vai sermenos homem se lavar uma louça. Elesnão aceitam tarefas que não sejam dasua área profissional; a mulher já não,topa qualquer tipo de trabalho, ficasobrecarregada, mas aceita o que lhe éimposto para ter seu salário no finaldo mês”, afirmou.

É para combater adesigualdade social e violência sofridapelas mulheres, que a União deMulheres de São Paulo - um movimentosocial - trabalha diariamente.

Ciente de que a inda hámuito a fazer , as mulheres daUnião seguem em lutas buscandovi tór ias ; lutam peladescr iminal ização do abortoconsentido e pelo direito da dona-de-casa receber sa lár io . “Aindavemos mui to casos de cargosprofissionais ocupados por mulheres,mas com sa lár io aba ixo do querealmente ela deve ganhar. Outro temaque nos interessa também e nunca foireconhecido é o direito que uma dona-de -casa t em de t e r s eu t raba lhoreconhecido como de uma profissional.Elas têm direito a salário e a umaaposentadoria. Muito tem a se fazerainda, na verdade é necessário umareeducação da sociedade, que ainda émuito machista . Uma organizaçãocomo a da União de Mulheres deveriater uma em cada bairro”, finalizouAmelinha.

Mais Informações:União de MulheresRua Coração da Europa 1395Bela Vista - São Paulo - SPFone: (oxx11) 3106.2367

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O ABORTAMENTO VOLUNTÁRIO

DEVE SER LEGALIZADO

“Punir a mulher peloseu próprioinfortúnio é

violar seus direitoshumanos...”

Tratar o abortamentoconsentido pela gestanteexclusivamente sob o prisma da “vidado feto” é ignorar as circunstânciassociais e emocionais que envolvem agravidez. A matéria não é técnicanem racional o suficiente para que aabordagem se restrinja à proteção de“inocentes”, nem simplesmentebiológica a ponto de circunscrever adiscussão à questão de saber se ofeto possui ou não vida desde aconcepção. Enfim, não se pode lançarao limbo as graves implicaçõessociológicas que estão por traz dotema do abortamento voluntário,como sempre fazem os ferrenhosdefensores dos nascituros, em nossapátria obscurecida pelo manto deuma religiosidade moralista, quecondena a sexualidade femininaestigmatizando-a como “libertina”.

O ensaís ta Sérgio PauloRouanet alude a duas categoriasde razão: a sábia e a louca. Estaúltima se caracteriza por ser a umtempo narc ís ica , ingênua earrogante , ao não conseguirdetectar a componente irracionalinerente a todo saber. Não sepercebendo louca , aargumentação tecnic is ta dosdefensores do fe to evidencia oesforço de cristalização subliminarda opressão, a partir da ótica dadesigualdade de gênero.

O ponto de vista patriarcalconcebe o ato de ser mãe como asuprema realização da mulher e asexualidade sob o prisma restrito daprocriação. Desta forma, aos desejose às necessidades reais femininassobrepõe-se a perspectiva do feto,

em toda e qualquer circunstância,como se fosse possível seguirfielmente o manual do bomcomportamento imposto pela liturgiada abstinência sexual.

No atual es tágio dac iência reprodut iva , oabortamento ainda é necessário,como úl t imo recurso , àautodeterminação quanto aoexerc íc io da sexual idade .Instrumento funesto , porématenuante da maternidadecompulsór ia – a contrafacecultural da fatalidade biológica.

A população brasileira nãose amolda aos padrões ideais de

“responsabilidade sexual”preconizada pelos setoresconservadores e é sobre a realidadede nossa tessitura socialmultifacetada que a norma jurídicadeve operar, sob pena de banir-sedo universo do direito a questão dovalor. No caso do abortamento,significa negar à mulher e aohomem o direito à fruição do prazer,pela proscrição do desejo e pelaexacerbação da culpa. Foiexatamente esse o raciocínio queguiou o legislador de 1940 aoescrever o Código Penal vigente,

que incrimina a prática dainterrupção voluntária da gravideze gera as mais deploráveisdistorções.

Não é por outra razão que,anualmente, morrem no país mais de500 mil mulheres, pobres vítimas deintervenções mal feitas, enquantoproliferam clínicas clandestinas que,com lucros abusivos, atendemconfortavelmente as gestantes depoder aquisitivo.

A legalização da prática doabortamento consent ido énecessár ia para enfrentar arealidade da tesoura, da agulha detr icô , da lâmina , da sondainfectada ; das seqüelasindeléveis, sejam físicas como ocâncer ou a es ter i l idade , oupsíquicas como o t rauma ou arepulsa ao sexo.

O apelo aparentementehumano à preservação da “vida” resultacínico diante da fome, da miséria e dadoença. O descompromisso ingênuotorna-se compromisso com a injustiça.Nosso ordenamento jurídico não podemais conviver com a normatizaçãovigente que, de resto, foi condenada pelacomunidade internacional nas últimasConferências Mundiais da Organizaçãodas Nações Unidas. Punir a mulher peloseu próprio infortúnio é violar seusdireitos humanos.

Ato desesperado, ninguémfaz aborto por querer.

* Procuradora de Justiça do MP de SPe Integrante do MPD.

Luiza Nagib Eluf*EM DISCUSSÃOEM DISCUSSÃO

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ABORTO CONSENTIDO

e homicídio- até seu término. No primeiro caso,protege o bem jurídico in germen, como odireito alemão; no segundo a vidadesenvolvida, caracterizando como objeto deproteção a pessoa ou o recém-nascido efinalmente o adulto. A partir do artigo 124 tipifica a matériacomo crime contra a vida, com as ressalvas doartigo 128: “ não se pune o aborto se praticado pormédico se : 1- se não há outro meio de salvar a vidada gestante:2- se a gravidez resulta de estupro e oaborto é precedido de CONSENTIMENTO dagestante ou, quando incapaz de seu representantelegal”. A tutela penal incide na existência física,psíquica , moral e social do SER HUMANO.Os direitos patrimoniais do nascituro é quepodem ser submetidos à regra da condiçãosuspensiva, em sua plena eficácia. Na proteção dos superiores interessesdo ser humano o Código Civil vigente ressaltao concepto como pessoa em diversasocasiões, por ex.: na legitimação de filhoapenas concebido, no reconhecimento do filhoantes de nascer ( art. 1609), na curatela denascituro( art. 1779) , na capacidade de nascituroadquirir por testamento( art. 1799,I), no seudireito a alimentos,etc.

DA DESCRIMINALIZAÇÃODO ABORTAMENTO

Ao se pretender descriminalizar o

abortamento consentido, aquele praticado porum terceiro com a aquiescência da mulher, emcasos diversos do excepcionado acima, emque o consentimento é elemento integrantedo tipo, teríamos que nos indagar:a) consentimento de quem? e,b) com que finalidade?Consentimento da vítima, o menor dospacientes? ( representante legal) Para salvarmos sua vida ? Com Finalidadeterapêutica ou para evitar-se anomalias eanencefalias?Da gestante? Da mãe? Qual delas? A mãe biológica? A mãe genética?A mãe substituta, gestatrix , porteuse ou surrogate-mother? A avó? A tia?...Outros parentes?Do pai? ( Afinal não pode ser desconsiderado).Do médico, aborto eugênico ( exigência deuma criança normal e sob medida) Das clínicas de Reprodução humana assistida?Dos laboratórios de criopreservação?Dos cientistas

Com finalidade EXPERIMENTALOU MORTAL, como dizem os espanhois, eque vem sendo criminosamente apregoado porcertos cientistas, sob a máscara de CLONAGEM TERAPÊUTICA DECÉLULAS TRONCO- EMBRIONÁRIAS. Para eles, o uso de termos benignos eaparentemente inocentes, como “ clonagemterapêutica”, ou para “ curar certas doenças “,geram comoção popular e ESCONDEM AREALIDADE de que essasexperiências NÂO CURAM AINDA , MATAM . Destarte, só seriam válidas sefossem realizadas em benefício do próprioembrião, o que não é o caso.Por finalidades econômicas?Por questões de poder?

DA IMPOSSIBILIDADE DE EXCEPCIONAR

A descriminalização do delito de

abortamento, pelo consentimento, comodenota é complexa. Qualquer alteração, seja naLei de Biossegurança Nacional, seja nalegislação infra-constitucional implica emalteração não apenas da Constituição Federal,como dos pactos e Tratados internacionais dosquais o Brasil é signatário.

CONCLUSÃO E PROPOSTA A técnica legislativa não é suficiente paracoibir a prática de abortamentos clandestinos,vindo a colocar a vida de algumas gestantesem risco. Ela vem sendo tolerada e em algumassituações ( fetos anencefalos) até mesmojustificada, o que gera um movimento em prolde sua descriminalização. Somos contra a descriminalização doabortamento, mas favoráveis à suaDESPENALIZAÇÃO em casosexcepcionais. Por outro lado, é necessário eurgente que se incrimine a destruição deembriões in vitro, criopreservados ou não,em tipo penal autônomo. A alteração da LeiCivil de Adoçãopermitindo a adoção de embriões, tambémseria uma atitude inteligente e traria umaopção para a mulher que, certamenteponderaria entre MATAR E DOAR seu bebêa casais que tanto os anseiam.

* Livre Docente em Direito Penal - USP

Maria Celeste Cordeiro Leite Santos*EM DISCUSSÃOEM DISCUSSÃO

INTRODUÇÃO

A questão que nos foi proposta épolêmica e paradoxal. A simples negação ousua afirmação demonstra a existência deposições ideológicas e religiosas quebuscaremos evitar Duas são as tendências arespeito do abortamento , a primeira queprocura descriminalizar o instituto invocandoo direito da mulher sobre o seu corpo e a segunda que propugna uma fracareprovabilidade social de suaconduta, mantendo o abortamento como delito.

CONCEITO E TUTELA LEGAL

O termo “ Aborto” é oriundodo latim abortu , ab ortus, significandointerrupção dolosa da gravidez, coma des truição do produto daconcepção. (NORONHA, 1986:49).(1)Melhor teria sido se a lei penal commaior precisão usasse a expressão “Abortamento” ( ou dé l ivrance) . Éinegável que desde a concepção existeuma vida autônoma, chame-se-á devida intra ou extra- uterina, biológica,cromossomica, embrionária, fetal,etc. Pouco importa que se trate de umaspes personae, ou de uma vida em potência.Do ponto de vista biológico, odesenvolvimento da vida humana antes desua aparição até o fim constitui um processocontínuo. Como em um programa, tudo nelejá está contido, sendo protegido pelaConstituição Federal Brasileira, artigo 5º,‘caput’ como um direito fundamental do serhumano: o direito à vida e não um direitoSOBRE a vida de alguém. A inviolabilidadedo direito à vida transcende todo um ramodo direito, por ocupar a primazia em tornodo qual todos os demais gravitam. Impõe respeito a todos erga omnes ,sendo ineficaz qualquer declaração de vontadedo titular que importe cerceamento a essedireito, mesmo sob consentimento (PRINCÍPIO DA IRRELEVÂNCIA DOCONSENTIMENTO: PONTES DEMIRANDA: 15-16).(2) A não submissão atratamento desumano e degradante e a proteçãodo patrimônio genético da humanidade, devemser aqui lembrados. O Código Penal Brasileiro, dedicadistintas normas para a proteção da vida desdeo momento da concepção- aborto, infanticídio

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Casamento e Família

No programa sobre Casamentoe Família contamos com as presençasda promotora de justiça MyriamVasconcellos de Souza, da psicóloga emembro da AASPTJ/SP (Associação dosAssistentes Sociais e Psicólogos doTribunal de Justiça/SP) Célia SuzanaSchiavon Gonçalves e da advogada eprofessora da pós-graduação da FGV eda Escola Superior de Advocacia ReginaBeatriz Tavares da Silva. Foramentrevistados, também, os promotoresde justiça José Luiz Saikali e IvanaChacon, e Priscila Agapito, membro daAssociação dos Registradores dePessoas Naturais de São Paulo-ARPEN/SP.

Casamento – do latimmedieval: casamentu. Ato solene deunião entre duas pessoas de sexodiferentes capazes e habilitadas, comlegitimação religiosa e civil.Para muitos o casamento é umainstituição falida, sendo crescente onúmero de divórcios e de uniões estáveis.Será que não haverá mais casamentono futuro? O que mudou em relação aocasamento e a família com o novo CódigoCivil?

No Brasil, a taxa de nupcialidadecaiu durante toda a década de 90 e seestabilizou entre 2001 e 2002. Em 1991foram registradas 7,5 uniões legais a cadamil habitantes, caindo para 5,7 em 2001,2002. Priscila Agapito, membro daAssociação dos Registradores dePessoas Naturais de São Paulo-ARPEN/SP, relatou que nos anos 80, no Estado deSão Paulo, por exemplo, foram realizados200mil casamentos por ano e, atualmente,a média está em 180mil.

Por outro lado, é crescente onumero de divórcios e separações. Aintrodução do divórcio no Brasil ocorreuno ano de 1977. Até então existia o desquitee a separação conjugal não era bem vista.Com o advento da emenda constitucionalque admitiu o divórcio, o número deseparações de casais aumentou muito,mas as pessoas continuaram se casando.A promotora de justiça MyriamVasconcellos de Souza acredita que oaumento do número de separações edivórcios deve-se, por um lado, ao fato demuitas mulheres terem conquistado aindependência financeira e obtido meiospara se livrarem de um casamento jámuito prejudicial a elas. Por outro lado, oindividualismo vem prevalecendo e onível de compreensão aos outrosdiminuindo. “As pessoas não se suportammais. Não existe muita tolerância.”, disseMyriam. Em sua opinião, a falta dedinheiro não inibe o casamento. Ocasamento é uma construção. Aseparação é muito danosa.

Para a promotora de justiçaIvana Chacon existem vários fatores queprovocaram o aumento do número dedivórcios no Brasil. O mais preponderanteé a mudança social, principalmente no quese refere ao efetivo ingresso da mulherno mercado de trabalho: “Antigamentenós podíamos observar que a mulhertinha uma dependência financeira quaseque total em relação ao marido,acarretando dificuldades na opção deseparação ou divórcio”, declarou Chacon.

Na opinião do promotor dejustiça José Luiz Saikali, um dos grandesmotivos para o expressivo número dedivórcios é a crise financeira enfrentadapor homens e mulheres, fato que dificultao próprio relacionamento.

Para a advogada Regina BeatrizTavares da Silva houve uma mudançanas relações conjugais, principalmentepara as pessoas mais maduras:primeiramente, buscam um período deexperiência em união estável, que é ocasamento sem documento, sem acelebração perante o juiz de paz. Uniãoem que duas pessoas passam a morarsob o mesmo teto, sem uma formalidadeespecial, uma união de fato. E depois deum certo período de experiência,resolvem transformar a união estável emcasamento civil. Isto ocorre porque ocasamento não é uma instituição falida.O sonho da maioria das pessoas, aindaque mintam para si mesmas, é ocasamento. “Eu acho que isso ainda nãoé uma realidade. Eu vejo no meuescritório que as pessoas ainda sonhamcom o casamento. Elas estão maiscuidadosas, por isso uma experiência,uma adaptação antes, para depois havero casamento”, esclareceu Regina.

Contudo, a união estável exigecertos requisitos fáticos para que se forme,especificados no artigo 1723 do novoCódigo Civil. Assim, é preciso que sejapública, portanto notória, contínua eduradoura, não havendo prazo deduração pré-estabelecido. Por outro lado,os deveres pessoais originados pela uniãoestável são os mesmos do casamento:fidelidade, assistência, respeito, sustento,guarda e educação dos filhos. Comrelação ao patrimônio, os direitostambém são semelhantes, pois, por forçado novo Código Civil, o regime de bens éo da comunhão parcial. “Uma inovaçãomuito importante, porque têm outrosreflexos relevantes neste regime, naregulamentação nova que fez o códigoem vigor. Com relação à sucessão é que

TROCANDO IDÉIASTROCANDO IDÉIAS

Nos meses de março e abril, sempre contando compresenças de profissionais altamente qualificados, foramdebatidos em nosso programa de televisão os temas: “Acesso àEducação Infantil”; “Educação: Um Direito de Todos”; “Cotas”;“Certificação Digital de Documentos”; “Pena de Prestação deServiço à Comunidade”; “Financiamento Público de Campanhas”;“Lixo”; “Casamento e Família” e “Mulher na SociedadeContemporânea”.

Leia abaixo a resenha dos programas que abordaramos temas “Casamento e Família” e “Mulher na SociedadeContemporânea”, e assista a todos, pelo site (www.mpd.org.br).

Foto panorâmica do programa Casamento e Família

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existe diferença: pela morte, a esposaou o marido, dependendo do regime debens, têm mais direitos do que ocompanheiro ou companheira, mas jáexiste projeto de lei para alterar tambémesta diferença de modo a igualar osdireitos de herança do companheiro aocônjuge, ou seja, de quem é casado ousó vive em união estável”, explicouTavares.

Com relação às desvantagensda união estável, a promotora de justiçaMyriam Vasconcellos de Souza lembroua hipótese em que há o falecimento docompanheiro, deixando a mulhergrávida. “Não há a presunção depaternidade, eu acho isso gravíssimo, agrande desvantagem da união estável.A mulher então terá que procurar aJustiça para ter a paternidadereconhecida. Isso é muito sério eninguém pensa nisso”, completou.

Outra mudança importante noCódigo Civil refere-se à guarda dos filhos.A mãe não tem mais prioridade. “Essefoi um dos maiores avanços do novocódigo. Quando não houver acordo, onovo código diz que a guarda será fixadaem favor daquele que tiver melhorescondições; mas não condiçõesfinanceiras, são condições morais,educacionais, afetividade, de maiorafinidade com os filhos”, completou aadvogada. O juiz de direito não poderámais dar preferência à mulher, mas, sim,deverá verificar qual é o lar maisadequado, pensando sempre nosinteresses da criança.

A psicóloga Célia SuzanaSchiavon Gonçalves, membro daAASPTJ/SP de Justiça/SP), ressaltou quesente-se mais segura com o novo CódigoCivil, que agora trata também da guardacompartilhada das crianças, ou seja, nãoé preciso mais um encontro com o pai a

cada 15 dias. A criança tem sua guardadividida, passando um período com o paie outro com a mãe, não perdendo aconvivência com nenhum dos dois. Elaterá seu espaço na casa de ambos.Anteriormente, a lei utilizava o termopátrio poder, mas agora o novo CódigoCivil utiliza o termo poder da família,prevendo direitos iguais para pais emães.

Por fim, no quadro televisivoFala Povo as opiniões foram bemdivididas, mas prevaleceu a descrençano casamento. Nossos entrevistadosacreditam que há falta de sinceridade,que antigamente o casamento eralevado mais a sério, era mais importante.Hoje já se casa pensando em separação.Antes, casava-se por amor, hoje pornegócio, interesses.

Mulher na SociedadeContemporânea

Realizado no último dia 07 demarço, o Trocando Idéias debateu o papelda mulher na sociedade contemporâneae contou com as presenças de LuizaNagib Eluf - procuradora de justiça eintegrante do MPD, Cláudia Costin -Secretária de Estado da Cultura de SãoPaulo e da advogada Ana Maria TeixeiraLivianu. As promotoras de justiça SelmaIamani e Patricia Moroni também deramsuas opiniões no programa. O quadroMPD entrevista teve a participação daprimeira mulher que ocupou o cargo deDiretora da Faculdade de Direito da USP,Ivette Senise Ferreira, atual professoratitular da USP.

O intuito do programa foirefletir sobre todo o processo deevolução da mulher, considerando-se oinício de um novo milênio. Será que amulher conquistou seu espaço na

sociedade? Homens e mulheres têm osmesmos direitos e deveres?Desde o início do século XX comemora-se o Dia Internacional da Mulher, dataem que as mulheres se mobilizam paralutar contra a desigualdade social,conquistar novos direitos e garantir naprática as suas conquistas.

Segundo o DIEESE, as mulherescorrespondem hoje a 41% da populaçãoeconomicamente ativa do Brasil e maisde ¼ das famílias do país são chefiadaspor elas. Com maior nível de instruçãoque os homens, não exercem, porém,funções compatíveis com suasformações, além de terem umaremuneração menor no mercado.

Houve um tempo em quemuitas mulheres, ao exercerem suasprofissões, acreditavam ser precisoimitar os homens e se masculinizar parase verem respeitadas. Atualmente, issojá não ocorre e as profissionais mulheresse permitem ser femininas. Afirmam suasdiferenças e, mesmo vestindo saias,sentem-se auto-confiantes. As mulheresnão têm de buscar atributos masculinospara serem bem sucedidas no mercadode trabalho. A mulher tem o direito deatuar e se expressar livremente, vestindo-se elegantemente e da maneira quemelhor lhe convier.

Há duas alterações muitoimportantes para as mulheres no novoCódigo Civil: a substituição da palavrahomem por pessoa e a possibilidade dehomens e mulheres poderem optar pelaadoção do sobrenome um do outro ao secasarem.Para a procuradora de justiça Luiza NagibEluf, as mulheres conseguiram abrircaminho fora do lar. Hoje, as mulherestêm acesso às profissões em geral, o queantigamente não ocorria. “Hoje nós temosacesso mais dificultado, mas temos. Mas,

Célia Gonçalves e Myrian de Souza Luiza Nagib Eluf e Mirella ConsoliniRegina Beatriz e Mirella Consolini

Assista ao programa através do site

do MPD : www.mpd.org.br

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TROCANDO IDÉIASTROCANDO IDÉIAS

o que nós não conseguimos, apesar dedécadas de luta feminista, foi trazer ohomem para tarefas dentro de casa. Elesainda resistem muito em cuidar da casa,dos filhos”, disse Eluf. “A questão é dividiro trabalho doméstico. Porque se não,como é que a mulher vai competir comum homem em igualdade de condições,se ela está sobrecarregada em casa?”,completou.

Para a procuradora, ainda háuma larga estrada para percorrer,embora, às vezes, se tenha a impressãode que a mulher já chegou onde ela queriachegar. “No Congresso Nacional, porexemplo, nós somos 7%. Quantas são asgovernadoras de Estados? E asvereadoras? É um número irrisório pertoda participação masculina”, relatou Luiza.Já na opinião da Secretária de Estado daCultura de São Paulo, Cláudia Costin, háduas questões que devem ser pontuadas:de fato cresceu muito a participação damulher no mercado de trabalho: pesquisasmostram que, por exemplo, no estado deSão Paulo, já é mais de 50% a participaçãode mulheres na populaçãoeconomicamente ativa e na força detrabalho; no entanto, os salários ainda sãomenores. “A última pesquisa que eu vi,mostrava que é de cerca de 67% o salárioda mulher em relação ao salário dohomem, apesar de ter mostrado umavanço de 94 a 98. Melhorou. No entanto,há muito o que ser percorrido ainda”.

No mercado de trabalho, amulher se encontra numa situação maisfrágil, especialmente quando se trata deacesso a cargos mais altos, não só no setorprivado como também no setor público.Têm, ainda, de enfrentar um problema nãoresolvido pela sociedade que é a questãodo compartilhamento dos cuidados paracom os enfermos, as crianças e os idosos.Apesar do ingresso da mulher nomercado de trabalho, permanece com elaa responsabilidade de cuidar de todafamília, o que a sobrecarrega demais. “Asociedade tem que resolver esse dilemaurgentemente”, ressaltou a Secretária deEstado.

A advogada Ana Maria TeixeiraLivianu comparou a situação de hoje com20, 30 anos atrás e disse poder perceberum progresso muito grande no papel damulher na sociedade contemporânea: “Euacho que a mulher está galgando degraus

a cada dia, conquistando seu espaço, masna minha opinião a mulher não tem quequerer se sobrepor ao homem e simcaminhar ao seu lado, juntos”, declarouLivianu. Em sua opinião, a mulher aindaestá muito sobrecarregada; pois tem detrabalhar fora, ir ao supermercado, cuidarda casa e dos filhos. “Dói o coração sairpara trabalhar e deixar meus filhos, masnão quero ser mais que meu marido,apenas quero ser igual. Cada um com asua própria personalidade, caminhandona mesma direção”, finalizou Ana Maria.

O papel da mulher na atualidadeé muito relevante. Já não é comoantigamente, quando seu horizonte eramuito restrito, pois seu papel restringia-se a cuidar do lar, dos filhos, e mesmopara aquelas que trabalhavam fora decasa, não havia plano de carreira,dificilmente conseguiam cargo de chefia.Na opinião da promotora de justiça SelmaIamani, essa situação mudou: “Hoje emdia não, o horizonte se abriu, há um lequede oportunidades. Elas se encontram emtodas as profissões: desde motorista deônibus até presidente de grandesempresas”, disse Iamani. “O problemada mulher de hoje é a dupla jornada.Porque elas têm que trabalhar fora,chegam em casa e tem que trabalhartambém”, completou.

A promotora de justiça PatriciaMoroni acredita que hoje a mulher aindanão tem o mesmo espaço que o homemna sociedade, mas também acha que isso

não tardará a acontecer. Com apromulgação da Constituição de 1988, asmulheres conquistaram muitos direitosque não possuíam anteriormente, e como novo Código Civil, as mulheres tiveramreconhecida sua importância na estruturafamiliar. “As mulheres também passarama ter profissões que antes eramexclusivas dos homens, mas ainda assim,nessas profissões, especialmente nosetor privado, as mulheres exercem asmesmas funções dos homens e aindarecebem salários inferiores”, declarouveementemente Moroni.

A primeira mulher a ser diretorada Faculdade de Direito da USP, IvetteSenise Ferreira, acredita que existe umaigualdade de oportunidade e de aceitaçãoda mulher, que elas têm condições deassumir certas responsabilidades, poisestão conquistando seu espaço, mas queainda há poucas mulheres que ocupamcargos importantes. “As mulheres podemcolaborar com a evolução da sociedade.O papel da mulher é o mesmo que o dohomem: é tornar uma sociedade maisdigna, onde as coisas funcionem de formaética”, finalizou Ivette.

No quadro televisivo FalaPovo a maior ia dos nossosentrevis tados a f i rmaram que opapel da mulher na soc iedadedeve ser igual ao do homem, masacredi tam que a inda fa l tamalgumas conquis tas para haveruma absoluta igualdade.

Ana Maria Teixeira Livianu e Mirella Consolini

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TRIBUNA LIVRETRIBUNA LIVRE

Radiante, feliz, estupefato etc.,

enfim, tantos sentimentos que um

cidadão, por acaso Promotor de Justiça

em São Paulo, acostumado ao lugar

comum do cotidiano burguês e

burocrático, teve ao chegar no Auditório

Nereu Ramos da Câmara dos

Deputados, em Brasília, no dia 30 de junho

de 2004, por ocasião da 9ª Conferência

Nacional dos Direitos Humanos.

Todos os movimentos sociais

(todos mesmo!!!), de todas as regiões

do país (todas mesmo!!!) estavam

representados por delegados

devidamente eleitos por suas bases,

para discutir como ponto central a

construção de um Sistema Nacional de

Direitos Humanos, além dos outros

assuntos relacionados ao tema

“Direitos Humanos”.

As tantas diferenças ao

contrário de dificultar a comunicação e

o entendimento pacífico, criaram um

‘caldo geral’ homogêneo, que deu para

notar sem sombra de qualquer dúvida

a existência de um forte espírito de luta

e de vontade, qual seja, o de assegurar

a dignidade humana como pedra de

toque para nossas existências e as das

gerações futuras.

Dentre tantos sentimentos que

afloraram ao Promotor de Justiça naquele

momento, alguns podem ser destacados.

O pr imeiro deles diz

respeito à grande diversidade

de movimentos a tualmente

existentes em nossa terra. Ao

lado daqueles t radic ionais ,

como o das mulheres, dos afro-

descendentes , da saúde, da

proteção da infância e da

juventude e tc . , notou-se a

mi l i tânc ia sér ia de outros

grupos , como o das

prof iss ionais do sexo , dos

policiais mil i tares em defesa

dos direitos humanos etc.. Os

atores que transitavam pelos

corredores da Câmara dos

Deputados mostraram que a

l iberdade responsável (em

todos os seus n íve is ) é um

valor absolutamente precioso e

deve ser assegurado com

todas as forças para que as

gerações v indouras possam

manifes tar suas idé ias ,

vontades e preferências. À título

de exemplo , é no mínimo

impactante ver uma mulher (até

então uma senhora de meia idade)

pedir a palavra em um grupo de

discussões e defender com afinco

o direito de trabalhar dos travestis

e somente no final perceber que

ela não é um travesti, mas mãe de

uma moça sentada ao seu lado,

es ta s im um travest i ! Ass is t i r

estupefato a um cabo da Polícia

Mil i tar do Estado do Ceará se

insurgir contra a violência policial,

declamar um lindo poema e, ao

final, defender os interesses dos

afro-descendentes.

Este sent imento permite

concluir que a sociedade brasileira

alcançou níveis impressionantes

de matur idade e já sabe

exatamente quais são as suas

mais legítimas expectativas, tão

asseguradas no ordenamento

jurídico pátrio, mas tão distantes

da dura realidade do povo. A luta

agora é dar efetiva concretude a

tais direitos e implementá-los na

vida cotidiana, para que passem a

figurar na vida prática não como

exceção, mas como regra, como

coisa comum.

Em síntese, o que agora se quer

é que se passe da hipótese à prática.

“As tantasdiferenças aocontrário dedificultar a

comunicação eo entendimentopacífico, criaramum ‘caldo geral’homogêneo...”

Impressões de um Promotor de Justiça na IXConferência Nacional dos Direitos Humanos.

Por Augusto Eduardo de Souza Rossini*

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“Sou e meorgulho de ser

membro doMinistérioPúblico do

Estado de SãoPaulo e em

particular doMovimento do

MinistérioPúblico

Democrático.”

Outra impressão que se

colocou de forma muito clara é a

expectat iva que a soc iedade,

representada pelas delegações

estaduais , tem em re lação ao

papel que o Ministér io Públ ico

deve desempenhar.

A ninguém que a tue na

defesa dos Direitos Humanos é

desconhecido o rol de atribuições

que a Instituição possui. E nenhum

militante dos movimentos sociais

desconhece que somente pequena

parce la destas a tr ibuições é

efetivamente exercida.

Pelas muitas fa las dos

representantes das entidades já

apontadas, percebeu-se que muito

se espera dos Promotores de

Just iça , dos Procuradores de

Just iça e dos Procuradores da

Repúbl ica . E se notou a não

pequena f rustração que vár ias

comunidades puderam expressar

de públ ico em re lação aos

membros dos Ministérios Públicos

de suas regiões . Em s íntese ,

muitas pessoas cr i t i caram a

inércia de colegas tanto estaduais

quanto federais , ou no caso de

iniciativa, a equivocada opção por

não defender o interesse público.

Se de um lado é

preocupante que em um encontro

dessa magni tude o Minis tér io

Públ ico se ja severamente

crit icado, de outro é de grande

valia que isto ocorra, justamente

para que os profissionais inertes,

descompromissados com os

interesses maiores da

sociedade brasileira passem a

ref le t i r sobre o que

exatamente vêm fazendo de

sua profissão. Muitas vezes a

sat is fação pessoal , embora

plena de êxtase, não passe dos

limites meramente individuais

e não a l terem em nada a

‘ordem do dia ’ das

comunidades. É bom para um

e ruim para o resto!

Nesta linha de raciocínio e a

despeito das honestas críticas já

destacadas, merece atenção o fato

de persistirem as esperanças da

sociedade organizada em

relação ao Ministério Público.

Tanto é verdade que houve a

aprovação em reunião plenária

no sentido de se reconhecer a

capacidade de investigação

criminal pelos membros da

Instituição, firmando-se, desta

forma, o compromisso dos

organismos nacionais com a

intransigente defesa da regular

busca da verdade como garantia da

vida democrática em nossa terra.

Tantas outras impressões

foram hauridas, todas importantes

e de impossível descrição.

Ficaram a alegria de poder

ter vivido o momento; a renovação

dos compromissos já anteriormente

assumidos e a assunção de outros,

além da sincera conclusão de que o

Ministério Público do Brasil é, de fato

e não só de direito, órgão essencial

à concretização e à manutenção da

democracia no país.

Sou e me orgulho de ser

membro do Ministério Público do

Estado de São Paulo e em particular

do MPD.

* Promotor de Justiça de São Paulo

e Integrante do MPD.

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O FIM DA VIOLÊNCIA DEPENDE DECADA UMA DE NÓS.

Iara BernardiCOM A PALAVRACOM A PALAVRA

Iara BernardiDeputada Federal PT/SP

“Cada umade nós temos a

obrigação dedenunciar e

fazer com queeste criminoso

seja punido...”

Aquela história que em briga de marido emulher ninguém mete a colher é uma das maismachistas que eu conheço e é contra ela que calçoa minha luta. Não se assuste, que eu vou explicar.Qual de nós não conhece pelo menos um caso demulher que é agredida pelo seu companheiro,marido, namorado ou o ex? É neste caso que temosa obr igação de meter a nossacolher.

Cada vez que sabemos queuma mulher é espancada, ofendida,humilhada pelo seu companheiroe nos mantemos caladas por acharque não é da nossa conta, somoscúmplices de um crime. Sim, ocrime de violência doméstica (lei10.886) do Código Penal Brasileiro.A promulgação desta le i ,tipificando a violência domésticano nosso Código foi uma vitória de todas asmulheres, não só as brasileiras, mas de todas asque vivem em nosso país.

Infelizmente, uma pesquisa realizada pelaFundação Perseu Abramo, de São Paulo, apontouque a cada 15 segundos uma mulher é agredidano Brasil. Esse dado é assustador. E o pior de tudo

é que o agressor até então não era punido porquea nossa legislação não previa o crime de violênciadoméstica. Nos poucos casos que o agressor eradenunciado, o inquérito era aberto como lesãocorporal, considerado pelos juízes, um crime demenor potencial ofensivo. A pena é o pagamentode cestas básicas.

Mas será que a mulher queapanhou, teve um braço quebrado,foi desrespeitada, muitas vezes nafrente dos seus filhos, consideraeste um crime de menor potencialofensivo? Tenho certeza que não. Eagora, com a nova lei que entrouem vigor no dia 18 de julho, quemagredir alguém com quem tenha outenha tido relações familiares, serápunido com prisão.

Agora, o fim da violênciadoméstica depende de todas nós, as que sãoagredidas e as que não são. Cada uma de nóstemos a obrigação de denunciar e fazer com queeste criminoso seja punido conforme o que a leidetermina. E a nós também cabe a orientação paraque as futuras gerações não cometam mais tantasbarbaridades contra as mulheres.

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“A dignidade dapessoa humana éfundamento do

Estado...”

Tema marginalizado no meio jurídico. Entre ascestas básicas e a Justiça ainda há um longo caminho apercorrer.

O Mestre André Franco Montoro sintetiza aJustiça e cita:

Teu dever é lutar pelo Direito, mas, no diaem que encontrares o Direito em confl i to com aJustiça, luta pela Justiça.

A violência doméstica tem origem nas relações dedominação provindas da cultura do macho. Nesta, omasculino se sobrepõe ao feminino, o mais forte ao maisfraco, o poderoso sobre o sem poder, o adulto à criança e aoadolescente, de forma a subjugar o/a outro/a.

Pouco considerada pelos operadores do Direito,a violência doméstica contra a mulher será objetodestas reflexões. A hierarquia de gênero, caracterizadapela sociologia, opõe-se ao princípio da igualdadeadotado pelo Direito.

Com a evolução da democracia, as relaçõesde gênero têm buscado a complementaridade, asolidariedade, o respeito mútuo, enfim,a dignidade da pessoa humana, seja elamulher ou homem. O Brasil temacompanhado esta tendência, comdestaque para a década da mulher, de1975 a 1985.

Vigem na legislação brasileira, porforça do parágrafo 2º do artigo 5º daConstituição, revolucionária etransformadora, os tratados internacionais em que aRepública do Brasil seja parte. A par das Declarações nasConferências da ONU - Cairo e Beijing - o Brasil é signatárioda Convenção contra todas as formas de discriminaçãocontra a mulher. Ainda, a Convenção Interamericana paraprevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher – deBelém do Pará - foi ratificada em novembro de 1995.

A Constituição constituiu o Estado do Bem EstarSocial, cujos contornos constam do preâmbulo, dos títulos Ie II. A dignidade da pessoa humana é fundamento do Estado.São seus princípios a cidadania, os direitos humanos, aconstrução de uma sociedade livre, justa e solidária, aigualdade entre mulheres e homens, a liberdade, enfim, aJustiça. O objetivo fundamental é promover o bem de todos,sem preconceitos. Esse bem estar atinge-se pelo respeitoaos direitos fundamentais da pessoa, a exemplo dos direitosda personalidade, a intimidade, a honra, a imagem, os direitossociais, econômicos e culturais.

Contudo, ainda prevalece a tradição de nãocumprir a lei.

Com o surgimento das Delegacias da Mulher, em 1985,

a violência doméstica tornou-se visível, questão de interessepúblico. Lamentavelmente, a Lei 9099/95 não atingiu seu escoponesse particular. Salvo exceções, tem sido dada ao crime aliteralidade do menor potencial ofensivo. Punição: oferta de umaou mais cestas básicas a instituições de caridade. Com o re-torno à moradia comum, a mulher, humilhada e ofendida, con-tinua vítima, com a certeza de novas agressões, senão a morte.Graças a essa prática, os agressores sentem-se incentivados.Daí a busca de novos caminhos pelas mulheres organizadas.

Enquanto escrevo, o Diário Oficial da União publicaa Lei 10886, de 17 de junho de 2004, de iniciativa da Dep. IaraBernardi, que tipifica o crime de violência doméstica. Introduzos parágrafos 9º e 10º no artigo 129 do Código Penal. O artigocriminaliza a lesão corporal como ofensa à integridade cor-poral ou à saúde de outrem. Pena: detenção de seis meses aum ano se a lesão for praticada contra ascendente,descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quemconviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se oagente das relações domésticas, de coabitação ou dehospitalidade, aumentando de 1/3 a pena nos casos que

especifica (§10).O bem jurídico protegido pela

lei na violência doméstica contra amulher é a dignidade da pessoa humanamulher. O físico e as emoçõescompõem o corpo humano. A saúde,nas determinações do artigo 196 eseguintes da Constituição, é o estadode completo bem estar, físico, sexual,

moral e psicológico. Ora, a violência doméstica é qualqueração que viole, constranja, ofenda a integridade humana,o bem estar da vítima. Distingue a violência doméstica,na esmagadora maioria das vezes perpetrada contra amulher e sua prole, o fato de ser o agressor pessoa daintimidade da vítima, de convívio habitual e frequente.Daí o maior potencial ofensivo deste crime, que pode serpraticado dentro de casa ou não.

A Ministra Ellen Gracie, ao negar provimento aoHC n. 81288-1/SC, de um pai acusado de violência sexualcontinuada contra filhas então com oito e nove anos, concluique o Supremo Tribunal Federal estaria atestando a garantiade proteção pelo Estado Brasileiro às mulheres e criançasvítimas de tal violência, ao condenar os perpetradores àseveridade da pena que a sociedade exige.

O poder político - Executivo e CongressoNacional - tem editado leis de avanço democráticoinegável. Com a palavra o Poder Judiciário, o MinistérioPúblico, a própria advocacia, que integro, na puniçãoadequada da violência doméstica. A Justiça será feita,é a nossa esperança renovada.

Norma KyriakosCOM A PALAVRACOM A PALAVRA

VIOLÊNCIA DOMÉSTICAPor Norma Kyriakos

Procuradora de EstadoAposentada e Presidente da

Oficina de Direitos da Mulher.

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MPD RECOMENDAMPD RECOMENDA

Por Inês BüschelPromotora de Justiçaaposentada eintegrante do MPD

PROBLEMAS BRASILEIROSé uma revista bimestraleditada pelo SESC - ServiçoSocial do Comércio - Adm.Reg. do Estado de SP, quepublica trabalhos e matériasrelativas às grandes questõesnacionais.Trata-se de publicação dealta qualidade, cujoconteúdo está à disposiçãopela internet no endereço:www.sescsp .org .br /sesc /r e v i s t a s / p b / i n d e x . h t m .Também poderá ser adquirida em bancas de jornaispaul is tas , ao preço de R$5 ,00 cada exemplar.

SCIENTIFIC AMERICANBrasil é uma excelentepublicação lançada no país noano de 2002.Traz artigos científicos degrande interesse tambémpara os operadores do Direito,tais como questões relativasao meio ambiente, sistemaseleitorais ou declínio dacriminalidade.É encontrada em quaisquer

bancas de jornais, ao preço de R$8,90.Mais informações: www.sciam.com.br

O DIREITO DAS MULHERES - Umaintrodução à Teoria do Direito Feminista,é obra de autoria (1987) da Profª ToveStang Dahl, norueguesa que leciona naUniversidade de Oslo, no Instituto deDireito das Mulheres/Depto. de DireitoPúblico, www.jus.uio.no, cuja tradução foicoordenada por uma equipe a cargo daProfª Teresa Beleza, da Faculdade deDireito de Lisboa.

É uma publicação (1993) da editora portuguesa FundaçãoCalouste Gulbenkian-Lisboa, baseada na edição de línguainglesa. Podemos aprender nele, o Direito sob umaperspectiva feminista.

O EMPODERAMENTO DA MULHER -Direitos à terra e direitos de propriedade naAmérica Latina, foi escrito por CarmenDiana Deere (EUA) e Magdalena León(Colômbia), ambas professorasuniversitárias. A tradução esteve a cargode Letícia V.Abreu, Paula R.Antinolfi e SôniaT. Gehring, sendo uma publicação da EditoraUFRGS, 2002, www.ufrgs.br/editora.

Trata-se de projeto de pesquisa multidisciplinar,empreendido pelas autoras na América Latina,incluindo-se o Brasil.

GÊNERO, PATRIARCADO, VIOLÊNCIA,de autoria da escritora, pesquisadora esocióloga Heleieth Saffioti. É uma publicaçãoda Editora Fund. Perseu Abramo,www.fpa.org.br, Coleção Brasil Urgente,2004. A violência contra mulheres é umaprática antiga e muito presente na sociedadehumana.Ao mesmo tempo, continua sendo um tema

oculto, muitas vezes tratado como tabu.A autora nos proporciona um olhar instigante sobre o tema,mostrando-nos como a violência contra mulheres espelhatambém a opressão masculina.

ESTUPRO: CRIME OU “CORTESIA”?É obra conjunta, de autoria de SilviaPimentel (advogada e professoradoutora que leciona Filosofia do Direitona PUC/SP); Ana Lúcia Schritzmeyer(advogada e antropóloga doutora pelaUSP); e Valéria Pandjiarjian (advogada,pesquisadora e mestre pela PUC/SP).Trata-se de um estudo sóciojurídico

de gênero e, especificamente, uma análise sobre amaneira como é visto o crime de estupro por nossostribunais. É publicação de Sérgio Antonio FabrisEditor, Porto Alegre, 1998.

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“Como reflexo dasociedade brasileira,

o preconceito degênero marcou

fortemente aMagistratura e o

Ministério Públicono Brasil.”

PRECONCEITO

Como ref lexo da sociedade brasi le ira , opreconcei to de gênero marcou for temente aMagistratura e o Ministério Público no Brasil e sórecentemente começaram a cair as barreiras aoingresso das mulheres nas carreiras jurídicas.

E o Estado de São Paulo tem destaquenegat ivo nesse capí tulo da vida bras i le ira . Emvários Estados a presidência do Tribunal de Justiçae a Procurador ia-Geral de Just iça já foramexercidas por Desembargadoras e Procuradoras ouPromotoras de Justiça.

Em São Paulo , o ponto máximo fo i acandidatura de uma Promotora de Justiça, LilianaBuff de Souza e Silva, à presidência da AssociaçãoPaulista do Ministério Público e nãofaltaram reparos à ousadia de nossogrupo político (foi, no entanto, até hoje,uma das mais marcantes campanhasoposic ionis tas , graças à l iderançadessa colega, f igura exponencial nagaler ia dos grandes oradores doMinistério Público paulista).

A primeira Promotora de Justiçado Estado de São Paulo e a primeira noBrasil a completar a carreira foi a Dra.Zuleika Sucupira Kenworthy(entrevistada deste número de nossarevista) e ingressou na década de 40(antes houve uma Promotora no RioGrande do Sul, mas após alguns anos se exonerou). Eaté o início da década de 70 eram somente 10 asPromotoras neste Estado – média inferior a uma emcada concurso de ingresso.

Em 1982, para escândalo geral, num só concursoingressaram mais de 20 Promotoras (nosso companheiroJoachin Wolfgang Stein integrava a banca e há de terinfluído decisivamente para o grande salto).

Só na década de 80 as mulheres chegaram àMagistratura paul is ta e a pr imeira a chegar aoTribunal de Justiça, final da carreira no Judiciárioestadual, veio do quinto constitucional do MinistérioPúblico, Dra. Luzia Galvão Lopes da Silva.

Nessa triste competição, o Rio Grande do Sultem grande destaque; até meados da década de 70os concursos eram precedidos de entrevista doscandidatos e as mulheres t inham indefer ida ainscrição ao certame.

Na década de 70 houve um episódio bemilustrativo do preconceito de gênero no MinistérioPúblico paulista; o concurso se resumia a uma provaescrita e ao exame oral e naquela foi aprovada uma

candidata de nome Afife, que nãobr i lhara mas obt ivera notasuficiente para seguir no concurso;sucede que só depois de publicadoo resultado se soube que era umamoça, cuja reprovação foi seladaquando positivado o engano.

Também era voz corrente, nadécada de 80, que para cadaresposta certa de um candidatodeviam corresponder duas dascandidatas; era o preconceito,camuflado mas ainda presente eforte, trazendo danos imensuráveis

às carreiras jurídicas.Cabe um regis t ro f ina l : havia consenso

quase gera l nas Ins t i tu ições em favor dopreconcei to ; as exceções eram pouquíss imas elamento não ter integrado esta minúscula minoria;já me penitenciei publicamente deste pecado, aosaudar a grande Juíza Rosa Nery, que chegou ao 2ºTribunal de Alçada Civil de São Paulo pelo quintoconstitucional do Ministério Público.

Por Antônio ViscontiProcurador de Justiçae integrante do MPD.

MEMÓRIA DO MPMEMÓRIA DO MP

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EVENTOSEVENTOS

No noite do dia 20 de Maio, com a presença de ínumerosintegrantes do Movimento do Ministério Público Democráticoe ilustres convidados, entre eles, o jornalista Claudio Tognolli, oPresidente da OAB, Luiz Flávio Borges D’Urso, o Rabino HenrySobel e o Jurista Plínio de Arruda Sampaio, lançou-se oprimeiro número da Revista MPD Diálogo*, já esgotado.

O MPD, nas palavras do então Presidente Alberto Dib,marcou um importantíssimo passo nos seus mais de dez anosde atuação e estreitou intensamente a relação com seusintegrantes, parceiros e a sociedade como um todo.

O Movimento agradece a presença de todos e as dezenasde mensagens de apoio.

LANÇAMENTO DAREVISTA MPD DIÁLOGO*

*Alterada para MPD Dialógico

Rodrigo C. Dias, Antônio Visconti, Luiz Flávio Borges D’Urso

Roberto Livianu, Eloísa V. C. Franco, Alberto Dib

Roberto Livianu, Elaine M. Barreira

Laila Shukair, Airton F. De Barros

Henrique Calandra, Alberto Dib

Claudio TognolliLauro L. G. RibeiroMario M. P. LimongiPaulo A. G. de Paula,Giovane S. A. GuimarãesEdmir Rabello, Roberto Livianu

João F. M. Viegas, Maria Tereza Tilé, Antônio Visconti

Dora M. Strilicherk, Marcelo Daneluzzi, Roberto Livianu

Roberto Livianu, Alberto Dib, Maria Izabel Castro

Alexander Matias, Inês Büschel, Anna Trotta

Plínio A. Sampaio

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Paula Bajer, Inês Soares

Tereza Exner, Luiz A. Marrey, Ricardo D. Leme

Eliana S. Leonel, Airton F. de Barros

Maria Tereza Tilé, Selma Negrão

Valderez D. Abbud, Ricardo D. Leme

Augusto Marzagão, Alberto Dib, Luciana F. Leite

Roberto Livianu, Carlos A. Carmello Jr.

Eloísa V. C. Franco, Luiz A. Brandileone

Maria Izabel Castro e Rabino Henry Sobel

Roberto Livianu e Alberto Dib

Paulo A. Garrido de Paula, Luiz A. Marrey

José J. Cazzetta Jr., Roberto Livianu, Ricardo D. Leme

Maria Izabel Castro, Luiz A. Marrey, José L. Alicke

José O. Molineiro, Carlos A. Carmello Jr., Alexander Matias

Equipe MPD

Equipe Face Virtual Comunicação

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EVENTOSEVENTOS

MPD e COGEAE-PUC JuntosPor Roberto Livianu

O MPD e a COGEAE-PUCfirmaram importante parceria paraa rea l ização de cursos a seremreal izados no auditór io AntonioViscont i , na sede do MPD. Oprimeiro deles terá in íc io nopróximo mês de setembro.

Desde o início de suasatividades, em 1983, a COGEAE -Coordenadoria Geral deEspecialização, Aperfeiçoamento eExtensão da PUC-SP - tem levado àsociedade os conhecimentosgerados pelos pesquisadores daUniversidade nas mais diversasáreas científicas e culturais,constituindo-se, ao longo de seus 20anos, em verdadeiro centro dereferência em Educação Continuada.

Movida pela crença de que osresultados da produção universitáriadevem, necessariamente, ultrapassaros muros acadêmicos, a COGEAE vemcontribuindo de modo efetivo epermanente para o aperfeiçoamento,reciclagem e treinamento deprofissionais, preocupando-se,inclusive, com a autonomia do seudesenvolvimento como pessoas ecomo cidadãos. Foram realizadas, sóem 2001, cerca de 260 cursos e eventos,com mais de 11 mil participantes.

As atividades da COGEAEsão planejadas pelos departamentos,faculdades e programas de pós-graduação da PUC-SP sempre com ointuito de atender à crescentedemanda por um saber qualificado ealinhado às tendências projetadaspara o século 21.

Neste cenár io , ante oadvento do bicentenário do códigociv i l napoleônico , fonte deimportante inf luência para osistema jurídico brasileiro, mostra-se fundamenta l anal i sar o novo

Código Civil do Brasi l , nos seuspr inc ipais temas , f rente a seusprincipais referenciais de origem,em perspectiva interdisciplinar.

Anál ise da famí l ia épr ior izada em seusdesdobramentos jurídicos e sociais,tendo em vis ta sua importânciacultural para a sociedade brasileira.

I s to porque, tão longequanto o investigador mergulhe nopassado, onde quer que se encontreum agrupamento social, onde querque os homens coexistam, seja nacélula menor que é a família, seja

na ent idade es ta ta l , encontra-sesempre presente o fenômenojurídico.

Além disso, consultando odireito civil que um jurista estrangeirotoma conhecimento da estruturafundamental do ordenamento jurídicode um país e é dentro dele que umjurista nacional encontra regras derepercussão obrigatória a outrasprovíncias de seu direito.

Importante também éanalisar a nova concepção da relaçãoconjugal, já que aos princípios

tradicionais da complementaridadedos dois sexos, soma-se o ideal deuma relação dual, envolvendo todosos aspectos da vida do casal,estabelecendo, de maneira definitiva,os laços afetivos pessoais.

Também a nova figura dopoder familiar, em substituição aopátrio-poder do Direito Romanocontrastam com o Código Napoleônicoem que era prevista a existência de um“Conselho Familiar ”.As formas de constituição e dissoluçãoda sociedade conjugal, a mediaçãofamiliar, o papel do Ministério Públicoe do Poder Judiciário face àscircunstâncias sócio-culturais emintegração com o Código CivilNapoleônico constituem algumas dasfinalidades específicas do curso.

Nomes de destaque nocenário acadêmico ministrarão asaulas, destacando-se o Secretárioda Educação do Estado, que exporásobre o tema Ét ica Famil iar , asProfessoras Celes te Lei te dosSantos e Maria Celeste CordeiroLei te Santos , que coordenam ocurso, que falarão sobre mediaçãoe sobre os pressupostosjur is f i losóf icos da famí l ia ,respectivamente. Cláudio de Cicco,José Américo dos Santos , JoséRenato Nalini, Carlos Dias Motta,Paulo Afonso Garr ido de Paula ,entre outros , desenvolverão ostemas do curso.

As inscr ições devem serfeitas no COGEAE (www.pucsp.br) eo curso se iniciará em 14/09 até 30/11, desenvolvendo-se em dez aulas,no período da manhã, às terças-fe i ras , com descontos espec ia ispara assoc iados do MPD. Aprogramação es tará disponíveltambém no site www.mpd.org.br.

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MPD em PortugalPor Roberto Livianu

No final de maio, realizou-se em Póvoa de Varzim – Portugal,o colóquio internacional da MEDEL– Magistrados Europeus pelaDemocracia e Liberdades. Reuniram-se membros da magistratura e MPde pensamento democrát ico daAlemanha, Bé lg ica , Polônia ,Repúbl ica Checa , França , I tá l ia ,Espanha, Gréc ia , Albânia , Peru,Equador, Argentina e Brasil. O MPDfoi convidado a participar e, pordel iberação da Diretor ia , fez-serepresentar pe lo assoc iadoRoberto Livianu.

Fez-se presente durante todo ocolóquio o jurista Luigi Ferrajoli (foto),conhecido internacionalmente como umdos maiores penalistas do mundo naatualidade, lecionando na Universidadede Roma.

O tema central do colóquio foi aformação do operador do Direito naatualidade, tendo fluído a discussão sob aforma de oficina, com apresentação dediversas perspectivas dos representantesde cada país, sendo praticamente unânimea preocupação em relação à necessidadede uma visão muito mais crítica etotalmente conectada aos anseios enecessidades concretas da sociedade,para uma melhor distribuição da justiça.Estão sendo redigidos os anais do colóquioe foi prometido o envio de exemplares paraos associados do MPD.

Firmou-se importante declaraçãosobre a tortura, cuja íntegra pode ser obtidano endereço eletrônico do MPD(www.mpd.org.br) ou do Sindicato dos

Magistrados do Ministério Público dePortugal (www.smmp.pt).

Na ocasião, quando da reuniãodo birô da MEDEL, deliberou-se realizarseminário internacional sobre processopenal, no Brasil, sob a coordenação doMPD e da Associação Juízes para aDemocracia, provavelmente, no primeirosemestre de 2005.

É imprescindível destacar ahospitalidade e cortesia com que o MPDfoi recebido em Portugal por AntónioCluny, Jorge Reis Bravo, Liliana Palhinha,Pedro Alexandre do Carmo, Rui doCarmo, Plácido Fernandes e LuísFelgueiras, Presidente do Sindicato doMinistério Público.

Ainda mais importante foi asensibilidade demonstrada pelosintegrantes da MEDEL em relação àquestão dos poderes de investigação doMP no Brasil, a partir do relato feito porRoberto Livianu e que resultou na ediçãoda manifestação abaixo, espelhandopostura madura e avançada em relaçãoao papel do Ministério Público na operaçãodo sistema de justiça.

O MPD se fezpresente nos atos públicos emdefesa dos poderes deinvestigação do MinistérioPúblico, representado peloPresidente Airton Florentino(esq. da foto), na sede doMinistério Público Federal(foto) e no TUCA-PUC.

MPD defendeinvestigação.

Dia 11 de março de 2004, sob apresidência do deputado Renato Simões(PT), realizou-se reunião ordinária daComissão de Direitos Humanos, na quala pauta anunciava debates sobre osdireitos da mulher e o acesso à justiça.Estiveram presentes deputados,representante da Procuradoria doEstado (PAJ) e de algumas ongs: Uniãode Mulheres de São Paulo, Geledés -Instituto da Mulher Negra e oMovimento do Ministério PúblicoDemocrático, cuja representaçãocoube à associada Inês Büschel, quepleiteou a criação da Defensoria Públicano Estado de São Paulo.

Assembléia Legislativado Estado de São Paulo

O “Comitê Lei 9840” convidapara o Seminário de Estudo sobre a Lei9840 no próximo dia 16 de agosto, noEspaço da Cidadania – Secretaria daJustiça, Pátio do Colégio.

NOTAS

O MPD recebeu no dia 15.06,da MEDEL Magistrados Europeuspara a Democracia e as Liberdades,firmada por seu presidente, omagistrado Ignazio Patrone,manifestando-se contra a ameaça deredução de poderes de investigaçãodo Ministério Público no Brasil,lembrando que a medida ofendeprincípio aprovado no VIII Congressoda ONU para a Prevenção de Crimee Tratamento aos Delinquentes,realizado em Havana – Cuba, em 7 desetembro de 1990.

O MEDEL adverte para apossibilidade de um retrocesso namedida em que a condução pelo MPdas investigações, especialmente dasrelativas aos delitos cometidos poragentes do Estado, deve serreconhecida como garantia demanutenção do regime democrático.

Seminário de Estudosobre a Lei 9840

MEDEL apóia MP

Luigi Ferrajoli e Roberto Livianu

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HUMORHUMORPor Ana Fidalgo

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