"a interpretação dos direitos fundamentais e a jurisprudência do stf"

113
FACULDADE DE DIREITO III JORNADA JURÍDICA “A INTERPRETAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A JURISPRUDÊNCIA DO STF” PROF. DR. LUÍS RODOLFO DE SOUZA DANTAS

Upload: luis-rodolfo-a-de-souza-dantas

Post on 07-Jul-2015

1.611 views

Category:

Education


22 download

DESCRIPTION

Slides da palestra proferida na USF/Bragança Paulista no segundo semestre de 2013.

TRANSCRIPT

Page 1: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

FACULDADE DE DIREITO

III JORNADA JURÍDICA

“A INTERPRETAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A JURISPRUDÊNCIA DO STF”

PROF. DR. LUÍS RODOLFO DE SOUZA DANTAS

Page 2: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

“A INTERPRETAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A JURISPRUDÊNCIA DO STF”

I) Definições Fundamentais

II) Espécies de Interpretação Jurídica

III) Interpretação Jurídica e Jurisprudência do STF:Análise de Casos Concretos e Problemáticas Atuais

Page 3: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

I) Definições Fundamentais

Hermenêutica e Interpretação

O sentido mais adequado e tecnicamente maisrelevante da palavra “hermenêutica”, nos diascorrentes, é “Ciência da Interpretação”. Registro,portanto, a existência de confusão semânticaacentuada pelo fato da palavra "hermenêutica" ser deorigem grega, significando interpretação. Segundoalguns, a sua origem é o nome do deus da mitologiagrega HERMES, a quem era atribuído o dom deinterpretar a linguagem dos deuses.

Page 4: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

As raízes da palavra “hermenêutica” provêm doverbo grego hermeneuein e dosubstantivo hermeneia, ambas relacionadas com omito do deus grego, Hermes (Mercúrio na tradiçãoromana). De acordo com a mitologia, Hermes era ofilho de Zeus incumbido de levar a mensagem dosdeuses do Olimpo aos homens, utilizando-se desuas velozes asas para realizar tal tarefa.

Page 5: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

O mais interessante, entretanto, era que o deusmensageiro deveria “traduzir” e “interpretar” asmensagens dos deuses para os mortais, uma vezque a língua de um era inacessível ao outro. Sendoassim, Hermes acabou por inventar a escrita e alinguagem para aperfeiçoar a comunicação entreeles.

Page 6: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

A mitologia grega é extremamente simbólica pararevelar-nos a semântica originária do vernáculo queestudamos. Ao deus Hermes não cabia a tarefa purae simples de “transmitir” ou “re-passar” amensagem divina, ao contrário, deveria ele realizarum papel ativo em sua tarefa, devendo transformaralgo ininteligível em inteligível, compreensível.

Page 7: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Hermenêutica Jurídica

Quanto à “Hermenêutica Jurídica", o termo é usado comdiferentes conotações pelos autores. MIGUEL REALE, porexemplo, emprega "hermenêutica” como expressãosinônima de “interpretação do Direito", em suas LiçõesPreliminares de Direito.

CARLOS MAXIMILIANO, por sua vez, distingue"hermenêutica" e "interpretação"; aquela seria a teoriacientífica da arte de interpretar; esta seria a aplicação dahermenêutica; em suma, a hermenêutica seria teórica e ainterpretação seria de cunho prático, aplicando osensinamentos da hermenêutica.

A Hermenêutica Jurídica também pode ser definida comoarte de interpretar, aplicar e integrar o direito.

Page 8: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

De fato, há uma íntima correlação entre essas trêsoperações, embora sejam três conceitos distintos.O Direito existe para ser, em regra, aplicado. Antes,porém, é preciso interpretá-lo; só aplica bem oDireito quem o interpreta bem (mas o que éinterpretar e aplicar bem o Direito? Registro quecada escola de pensamento jurídico oferecerá suasrespostas).

Page 9: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Por outro lado, como o texto normativo podeapresentar lacunas ou inexiste texto normativo parasolucionar determinado conflito de interesses, énecessário preencher tais lacunas, a fim de que sepossa dar sempre uma resposta jurídica, favorável oucontrária, a quem provoca a tutela jurisdicional (v. art.5º, XXXV, CF/88). Esse processo de preenchimento daslacunas é denominado ‘integração do Direito’.

Page 10: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

“Interpretar” o Direito é ação hermenêutica que apresentauma gama de definições doutrinais adequadas. Por exemplo:fixar o sentido (s) e o alcance (s) de uma expressão jurídica(por exemplo, de uma lei, que per si é um vocábulo queencerra algumas problemáticas semânticas). Ou: “éapreender ou compreender os sentidos implícitos dasnormas jurídicas” (LUIS EDUARDO NIERTA); “é indagar avontade atual da norma e determinar seu campo deincidência” (JOÃO BAPTISTA HERKENHOFF); “interpretar a leié revelar o pensamento que anima as suas palavras”(CLÓVISBEVILAQUA).

Page 11: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Como todo objeto cultural, o direito encerra significados e éobjeto que se compreende (não se explica); interpretá-lorepresenta revelar o seu conteúdo e alcance. Temos, assim,três elementos que integram o conceito de interpretação:

a) Revelar o (s) seu (s) sentido (s): isso não significa somenteconhecer o significado das palavras, mas, sobretudo descobrira finalidade da norma jurídica.

Com outras palavras, interpretar é "compreender"; as normasjurídicas são parte do universo cultural e a cultura, comovimos, não se explica, se compreende em função do sentidoque os objetos culturais encerram. E compreender éjustamente conhecer o sentido, entender os fenômenos emrazão dos fins para os quais foram produzidos.

Page 12: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Importante diferenciar enunciadonormativo de norma (proposição). Oque extraímos do texto jurídico?Normas (O,V, P+, P-,ORG), fato (s), valor(es)...

Page 13: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

b) Fixar o seu alcance (várias acepções): significadelimitar o seu campo de incidência; é conhecersobre que fatos sociais e em que circunstâncias anorma jurídica tem aplicação, estabelecerdestinatários dos comandos jurídicos, reconhecer oslimites e possibilidades da exegese...

Page 14: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Por exemplo, as normas trabalhistas contidas na Consolidaçãodas Leis do Trabalho (CLT) se aplicam apenas aostrabalhadores assalariados, isto é, que participam em umarelação de emprego; as normas contidas no Estatuto dosFuncionários Públicos da União têm o seu campo deincidência limitado a estes funcionários.

Page 15: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

c) Norma jurídica: falamos de "norma jurídica" como gênero,uma vez que não são apenas as leis, ou normas jurídicaslegais que precisam ser interpretadas, embora sejam elasreferências destacadas da interpretação jurídica. Assim, todasas normas jurídicas podem ser objeto de interpretação: aslegais, as jurisdicionais (sentenças judiciais), as costumeiras ,os negócios jurídicos,... Relacionamos também ao âmbito dainterpretação jurídica a compreensão doutrinal bem como oentendimento dos fatos e das provas judiciais, entre outros.

Page 16: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Direitos Fundamentais

“ Os direitos fundamentais são normas jurídicas,intimamente ligadas à ideia de dignidade da pessoahumana e de limitação do poder, positivadas noplano constitucional de determinado EstadoDemocrático de Direito que, por sua importânciaaxiológica, fundamentam e legitimam todo oordenamento jurídico” (George Marmelstein, Cursode direitos fundamentais, p. 20)

Page 17: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

II) ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

A interpretação jurídica pode ser classificada segundo estescritérios: origem (quem interpreta?), natureza ou método(como se interpreta?) e resultados ou efeitos (quais osefeitos do emprego de um ou mais métodos deinterpretação?).

Todas as espécies de interpretação jurídica estãorelacionadas à compreensão dos direitos fundamentaispositivados em nossa Constituição. De outro modo, caberessaltar a existência de métodos especificamenteconstitucionais de interpretação jurídica, tambémimprescindíveis à interpretação destes direitos.

Page 18: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

2.1) Quanto à origem ou fonte da qual emana, ainterpretação pode ser:

a) Autêntica: a que emana do próprio poder que produziuo ato normativo cujo sentido e alcance esta forma deinterpretação declara (normativamente). O regulamentopode esclarecer o sentido da lei e completá-lo, mas nãotem o valor de interpretação autêntica a expressa peloregulamento - por qualquer outro ato – por exemplo, aportaria - uma vez que não decorrem do mesmo poder.

Page 19: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Lei de Diretrizes e Bases - Lei 9394/96 | Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996

Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que oCongresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão atransferência de alunos regulares, para cursos afins, nahipótese de existência de vagas, e mediante processoseletivo.

Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão naforma da lei.

Page 20: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Lei 9536/97 | Lei nº 9.536, de 11 de dezembro de 1997

Regulamenta o parágrafo único do art. 49 da Lei nº 9.394, de 20de dezembro de 1996.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacionaldecreta e eu sanciono a seguinte Lei:Art. 1º A transferência ex officio a que se refere o parágrafoúnico do art. 49 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, seráefetivada, entre instituições vinculadas a qualquer sistema deensino, em qualquer época do ano e independente da existência devaga, quando se tratar de servidor público federal civil ou militarestudante, ou seu dependente estudante, se requerida em razãode comprovada remoção ou transferência de ofício, que acarretemudança de domicílio para o município onde se situe a instituiçãorecebedora, ou para localidade mais próxima desta.

Page 21: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

b) Judicial: interpretação jurídica manifesta sobretudonas decisões prolatadas pela Justiça. Realizada pelosmagistrados – e outros operadores do Direito - porexemplo, ao sentenciar. Pode ser relacionada asentenças, acórdãos, súmulas – vinculantes ou não -dos Tribunais (interpretação judicial imparcial), entreoutros (decisões interlocutórias, v.g.).

* Acusação e defesa: interpretação judicial parcial.

Page 22: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

c) Administrativa: aquela cuja fonte elaboradora é aprópria Administração Pública, através de seus órgãose mediante pareceres, despachos, decisões, circulares,portarias etc.

* Adm. Pública Brasileira: Direta/Indireta. Ex.:Interpretação pela administração paulistana da LeiCidade Limpa.

Page 23: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

d) Doutrinária (Doutrinal): realizada cientificamentepelos doutrinadores e juristas e manifesta em obras,pareceres, entre outros. Há livros especializados deDireito, que comentam artigo por artigo de uma lei,código ou consolidação, oferecendo sentido (ousentidos) do texto comentado, com base em critérioscientíficos.

Page 24: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

e) Aberta: espécie de interpretação jurídica pautadano reconhecimento de que não apenas técnicos emleis interpretam o direito. A sociedade como um todotambém interpreta o direito nas mais diversassituações.

V. texto “Hermenêutica Constitucional eTransponibilidade das Cláusulas Pétreas”.

“Amicus Curiae” e Audiência Pública.

Page 25: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Encontramos, com mais visibilidade, a atuação do amigo dacorte nas ações de controle abstrato deinconstitucionalidade (ADIN) e de constitucionalidade(ADECON), com embasamento constitucional eregulamentadas pela Lei 9.868/99, pois, esta Lei, em seuart. 7º "caput", expressamente veda a intervenção deterceiros no processo que regulamenta, porém, no §2º domesmo, admite que, o Relator, considerando a relevânciada matéria e a representatividade dos postulantes, poderá,por despacho irrecorrível, admitir, a manifestação deoutros órgãos ou entidades.

A Lei 9.882/99, que regulamente o procedimento paraArgüição de Descumprimento de Preceito Fundamental(ADPF), em seu art. 6º, § 1º, também prevê a participaçãodo amigo da corte, pois assim reza:

Page 26: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

"§1º - Se entender necessário, poderá o relator ouvir aspartes nos processos que ensejaram a argüição,requisitar informações adicionais, designar perito oucomissão de peritos para que emita parecer sobre aquestão, ou, ainda, fixar data para declarações, emaudiência pública, de pessoas com experiência eautoridade na matéria".(grifo nosso).

Page 27: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

A admissão do "Amicus Curiae" no processo que visa ocontrole de concentrado de constitucionalidade por viade ação qualifica-se, de certa forma, como fator delegitimação social extraordinária, a viabilizar, em proldos preceitos democráticos, a participação deentidades e instituições que representem de formaefetiva os interesses difusos e coletivos da sociedade eque expressem os valores essenciais e relevantes declasses e grupos.

Page 28: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

2.2) Quanto a natureza (ou método de interpretação

ou momento), a interpretação pode ser:

a) Literal (também conhecida como "gramatical", ou"literal-gramatical" ou "filológica"): está voltada aoexame do significado e alcance de cada uma daspalavras da norma jurídica; ela se baseia na letra danorma jurídica (ou melhor, do texto normativo).

Page 29: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

b) Lógico-Sistemática (fusão da interpretação lógica com ainterpretação sistemática): busca descobrir o sentido e alcancedo dispositivo, situando-o no conjunto do sistema jurídico; acompreensão da expressão normativa deriva da concepção queo hermeneuta tem desta como parte integrante de um todo, emconexão com as demais normas jurídicas que com ela searticulam logicamente. Não se concebe o dispositivo como umtodo isolado em si mesmo, auto-suficiente. Ademais, adimensão lógica desta forma de interpretação está amparadanos recursos da Lógica, tendo em vista ao menos a necessidadedo exegeta de bem definir e classificar os conceitos, sejam estesjurídicos ou não.

V. “ratio legis”.

Page 30: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Lógica e Interpretação

- Lógica: Ciência da razão.

- Razão: faculdade de conceber, julgar e raciocinar.

- Lógica Jurídica: Ciência da razão jurídica, investigada apartir da conexão dos elementos constitutivos dalinguagem e discurso jurídicos (conceitos/termosjurídicos; juízos e proposições jurídicos; raciocínios eargumentos jurídicos.

- A definição e divisão como atividades lógico-interpretativas.

Page 31: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Conceber é a capacidade que dispomos de representarintelectualmente os objetos de conhecimento sob aforma de conceitos. O conceito, definido por DavidHume como “imagem apagada”, é o resultado destaprimeira operação da razão ou inteligência. Osconceitos (ou idéias) são pensamentos incompletosdestinados a constituírem a matéria dos juízos.

Page 32: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

A expressão verbal (ou sinal) da idéia denomina-setermo, que em Lógica não se confunde com a palavra(sinais convencionais, e não naturais) pois o termopode ter muitas palavras. Por exemplo: ConstituiçãoFederal, instrumento de marcar horas (relógio), animalracional (homem).

Page 33: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

"Os conceitos são os átomos do sistema jurídico".

"Alguns autores consideram a Lógica do Direito comoteoria da dedução jurídica e atribuem importânciasecundária à proposição e ao conceito jurídico. Mas,na base do sistema jurídico encontram-se os‘conceitos’ que são as unidades elementares ouátomos do sistema. Eles são a primeira operação dopensamento". EDUARDO GARCIA MAYNEZ

Page 34: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Do ponto de vista lógico, todo "sistema científico" é umconjunto de "raciocínios" ou "argumentos" (na acepção deexpressão verbal dos raciocínios). O raciocínio é umconjunto de "juízos". E o juízo é uma reunião de"conceitos" ou "termos" (expressões verbais dosconceitos). Exemplo: enquanto sistema, a geometria é umconjunto ordenado de raciocínios como o seguinte:

A soma dos ângulos traçados sobre um ponto numa linhareta é igual a 180 graus. Ora, a soma dos ângulos internosde um triângulo é igual à soma dos ângulos traçados sobreum ponto numa linha reta. Logo, a soma dos ângulosinternos de um triângulo é igual a 180 graus.

Page 35: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Esse raciocínio é constituído de três "proposições",como "A soma dos ângulos traçados sobre um pontonuma linha reta é igual a 180 graus".

E cada proposição é constituída de "termos" como"ângulo", "triângulo", "linha reta" etc.

Na base de qualquer sistema científico, encontramosos "conceitos", que, reiteremos, constituem asunidades elementares ou átomos do sistema.

Page 36: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Paralelamente aos conceitos em geral, os "conceitosjurídicos" podem ser caracterizados comorepresentações intelectuais de objetos pertencentes aocampo do direito, sejam eles relações jurídicas, bens,pessoas, instituições, etc. "Capacidade civil","reclusão", "empregado", "imposto de renda","embargos de terceiros", "aposentadoria por tempo deserviço", "sujeito de direito", são exemplos deconceitos jurídicos expressos sob a forma de termosjurídicos (v. terminologia jurídica).

Page 37: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Todo conceito tem sua compreensão e extensão.Compreensão ou conotação é o conjunto de notasconstitutivas – atributivas, predicativas,características...- do conceito (dimensão qualitativa).Ex: o conceito de homem inclui as notas de animal eracional. Extensão ou denotação é o conjunto deobjetos ou seres a que se pode aplicar o conceito(dimensão quantitativa). Ex: o conceito de homem seestende a todos os seres humanos.

Há uma regra lógica que estabelece: compreensão eextensão variam em razão inversa. Quando aumenta acompreensão, diminui a extensão e vice-versa.

Page 38: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Definição e divisão são espécies de conceitos que têmimportância fundamental em todas as ciências. Sãoinstrumentos do saber ou "modi sciendi", como diziamos lógicos clássicos.

O primeiro passo num trabalho científico é,normalmente, definir ou classificar os objetos de quevamos nos ocupar. Definição e divisão são operaçõesque se complementam. Ao definir o homem como"animal racional" estou naturalmente fazendo a divisãodos animais em racionais e irracionais. Ao definirtriângulo como: polígono de três lados" estou supondoa divisão dos polígonos em diversas espécies.

Page 39: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Podemos ter definição das palavras (definiçãonominal), definição das coisas (definição real) e dosrespectivos conceitos (definição conceitual). Adefinição nominal pode ser etimológica quando explicaa palavra por sua origem, ou semântica, quando aexplica por sua significação.

Page 40: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Ao lado da definição, a divisão é um valiosoinstrumento no processo de conhecimento científico.

A divisão distribui um todo em suas partes ou umapalavra em suas significações. Exemplo: a divisão das"pessoas" em pessoas naturais e pessoas jurídicas. Oua divisão dos tributos em impostos, taxas econtribuições de melhoria.

Tanto a definição como a divisão devem obedecer aregras lógicas.

Page 41: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Regras da Definição:

Para que uma definição seja correta ela deve obedecera algumas regras, que podem ser assim sintetizadas:

1. A definição deve ser exatamente adequada aodefinido, isto é, não pode ser mais extensa nem menosextensa que o definido. Por exemplo: a definição de"Município" como "pessoa jurídica de direito público"é incompleta. Não exatamente adequada ao definido,porque os Estados, a União e as autarquias tambémsão pessoas jurídicas de direito público.

Page 42: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

2. A definição deve ser mais clara que o definido:

a) - não deve repetir o definido ou palavra semelhante. Porexemplo, definir o "homem" como "ser humano".

b) - não deve conter termos negativos, obscuros oumetafóricos; exemplo: "branco" é o que não é preto".

c) - deve ser, se possível, breve. Contrária a esta regra évisivelmente a definição do direito de GUMERCINDOBESSA: " Total das medidas sugeridas pelo espírito de umaépoca, adotadas pelo caráter de um povo, formuladas peloEstado em regras coativas, fácil e inevitavelmenteexeqüíveis, para impedir ou reparar os efeitos de todaafirmação da vontade humana a que corresponda ou umanegação da personalidade do agente ou um sofrimentoimerecido de outrem".

Page 43: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

3. A definição deve ser ordenada no sentido dageneralidade decrescente dos conceitos e, sempre quepossível, conter o gênero próximo e a diferençaespecífica. Exemplo: a definição de homem: "animalracional".

Page 44: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Regras da Divisão:

As regras da divisão podem ser assim sintetizadas:

1. A divisão deve ter um único fundamento. Exemplo, adivisão dos "bens" em públicos e particulares tem umúnico fundamento: serem pertencentes ou não aopoder público.

Page 45: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

2. A divisão deve ser exatamente adequada aodividendo, isto é, suas partes devem esgotar aextensão do conceito dividido (observo no entanto quenem sempre a dimensão extensiva do conceitoabrange quantidade exata).

Page 46: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

3. A divisão deve ser ordenada de modo a não haverconfusão entre a divisão e a subdivisão. Tanto asdefinições como as divisões jurídicas podem ser"legais", "jurisprudenciais" ou "doutrinárias",conforme sejam formuladas pela própria lei, pelajurisprudência ou pela doutrina.

Page 47: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

O raciocínio é uma relação entre juízos, e o juízo éuma relação entre conceitos (idéias). Exemplos: “Pauloé aluno”; “Paulo não é médico”; “a norma jurídicapossui coercibilidade”; “o direito não elimina aliberdade, protege-a”. A representação oral ou escritado juízo denomina-se proposição. A expressão verbaldo raciocínio, por outro lado, chama-se argumento(em sentido estrito, pois em sentido amplo definimosargumento como todo artifício de linguagem apto acontribuir de maneira mais ou menos eficaz para aprodução de efeito persuasivo).

Page 48: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

c) Histórica:

- c.1) Dogmática: indaga das condições de meio emomento da elaboração da norma jurídica, bem comodas causas pretéritas da solução dada pelo legislador(v. "origo legis" e "occasio legis").

Page 49: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

– c.2) Evolutiva: espécie de interpretação que buscadescobrir o sentido e o alcance das expressões deDireito à luz do momento histórico em que, porexemplo, a norma jurídica será aplicada (registro quenesta hipótese, a expressão jurídica descola-se davontade do legislador, para que seja valorizada avontade da lei, pelo fato desta abranger hipóteses queo legislador não previu: 'a lei pode ser mais sábia doque o legislador').

Page 50: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

d)Teleológica: busca o fim (ou fins) que a normajurídica tenciona servir ou tutelar (valor ou valores,sobretudo). V. art. 5º da LINDB

Page 51: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

e) Sociológica: Fatores Sociais – Vide “Hermenêutica e Aplicação do Direito”, de Carlos Maximiliano.

“O julgador hodierno preocupa-se com o bem e o malresultantes do seu veredictum. Se é certo que o juiz devebuscar o verdadeiro sentido e alcance do texto; todaviaeste alcance e aquele sentido não podem estar emdesacordo com o fim colimado pela legislação – o bemsocial. Toda ciência que se limita aos textos de um livro edespreza as realidades é ferida de esterilidade. Cumpreao magistrado ter em mira um ideal superior de justiça,condicionado por todos os elementos que informam a vidado homem em comunidade. Não se pode conceber oDireito a não ser no seu momento dinâmico, isto é, comodesdobramento constante da vida dos povos.

Page 52: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

A própria evolução desta ciência realiza-se no sentidode fazer prevalecer o interesse coletivo, embora timbrea magistratura em o conciliar com o indivíduo. Atémesmo relativamente ao domínio sobre imóveis adoutrina mudou: hoje o considera fundado mais nointeresse social do que no individual; o direito de cadahomem é assegurado em proveito comum econdicionado pelo bem de todos. Eis porque osfatores sociais passaram a ter grande valor para aHermenêutica, e atende o intérprete hodierno, comespecial cuidado, às conseqüências prováveis de umaou outra exegese.”

Page 53: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

f) Analógica: não faz sentido falar de interpretação analógica, por setratar de mais um caso de analogia. Isto não quer dizer que oraciocínio por analogia não seja empregado em processoshermenêuticos (muito pelo contrário).

Analogia = Espécie de raciocínio indutivo (palavra chave:probabilidade).

V. Observações de Paulo de Souza Queiroz (“Curso de D. Penal”):

“Como é sabido, a doutrina sói distinguir analogia de interpretaçãoanalógica, afirmando, como faz Damásio, que “a diferença entreinterpretação analógica e analogia reside na voluntas legis: naprimeira, pretende a vontade da norma abranger os casossemelhantes por ela regulados; na segunda, ocorre o inverso: não épretensão da lei aplicar o seu conteúdo aos casos análogos, tanto quesilencia a respeito, mas o intérprete assim o faz, suprindo a lacuna”(Direito Penal. Parte Geral. S. Paulo: Saraiva, 2003, p. 46).

Page 54: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

De acordo com esse entendimento, haveriainterpretação analógica, por exemplo, no art. 28, II, doCP, quando se utiliza da expressão “substância deefeitos análogos”; no art. 71, caput, quando refere “eoutras semelhantes” etc. Diferentemente, haveriaanalogia, quando, não havendo previsão legalexpressa, pudesse o intérprete aplicar a uma hipótesenão prevista em lei a disposição relativa a um casosemelhante. Exemplo: prevê o art. 128, II, do CP, quenão se pune o aborto praticado por médico, se agravidez resulta de “estupro”.

Page 55: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Então, se se entender que também na hipótese de“atentado violento ao pudor” (CP, art. 214) seriapossível aplicar esse dispositivo legal, por ser tambémcrime contra a liberdade sexual, castigado com amesma pena do estupro, o caso não seria deinterpretação analógica, mas de analogia, pois a lei sereferiu especificamente ao estupro e não a este e aoatentado violento ao pudor. Só haveria interpretaçãoanalógica, e não analogia, se o Código dissesse, v.g.,“se a gravidez resulta de estupro ou crime similar”.

Page 56: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Semelhante dicotomia, já se vê, não existe, porpretender distinguir onde há identidade. Sim, porque,tanto num como noutro caso, trata-se de fazer umjuízo analógico simplesmente. A diferença consisteunicamente nisto: se a lei expressamente permitir ouso da analogia, haveria interpretação analógica; senão o fizer, o caso seria de analogia. O que ocorre,portanto, em ambos os casos, é sempre analogia, oraexpressa, ora tácita, mas analogia sempre, isto é, umjuízo comparativo entre duas ou mais situaçõessemelhantes (análogas) para se extrair umadeterminada conclusão.

Page 57: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Uma tal distinção é falsa, portanto, afinal interpretaranalogicamente e fazer analogia são, assim, uma só e mesmacoisa, uma vez que se está, em ambos os casos, a interpretar pormeio de comparações.

Mas não é só isso. Tal distinção parte do pressuposto de que ainterpretação jurídica é, como regra, um ato lógico e não ana-lógico. Ocorre, porém, que a analogia (comparação), um modode inferência misto dedutivo-indutivo, constitui o própriocritério de determinação do direito. Sim, porque o fato e anorma (o ser e o dever ser), que têm de ser postos em relaçãorecíproca no processo de determinação do direito, nunca sãoiguais, mas apenas mais ou menos semelhantes, uma vez quenunca existe uma absoluta igualdade ou uma absolutadesigualdade, porque qualquer ente é igual a todos os outrospelo menos no fato de ser, e distingue-se ao menos pelo fato deestar numa diferente posição espacial (Arthur Kaufmann.Filosofia do Direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,2004, p. 119/120).

Page 58: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Assim, a pretexto de fazer subsunção (lógica) do fatoao tipo legal de crime, o juiz faz, em realidade,analogia, pois entre as previsões legais abstratas(normas jurídicas) e as ocorrências humanas (fatos)sempre novas há relação apenas de aproximação, desemelhança, de correspondência. Mais concretamente:não existe um crime absolutamente igual a outrocrime, isto é, um furto igual a outro furto, umhomicídio igual a outro homicídio, uma estuproabsolutamente igual a outro estupro, pois as múltiplasvariáveis, de tempo e espaço, inclusive, que sempreenvolvem tais atos tornam cada ação humanasingularíssima.

Page 59: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Além disso, tal distinção parte da premissa – superada – deque quando da interpretação/aplicação, o direito já estápreviamente dado, cabendo ao intérprete a cômoda tarefade descobrir uma suposta vontade da lei ou do legisladorpreexistente à interpretação, ignorando que, em verdade, ocrime (e o próprio direito) não existe materialmente, que ésocialmente construído, a depender dos processos decriminalização (primária e secundária), motivo pelo qual ojuiz não descobre um sentido prévio à interpretação, mas ocria, por meio dela. Não é mais, portanto, a interpretaçãoque depende da verdade, mas a verdade que depende dainterpretação (Gunter Abel), afinal não existem fenômenosjurídicos, mas só interpretação jurídica dos fenômenos(Nietzsche).

Page 60: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

É impossível, assim, estabelecer uma diferenciaçãoentre analogia e interpretação analógica, porque éimpossível pensar que uma palavra descreva umagama limitada de fatos, ficando outras, emborasemelhantes, fora dela (Andrei Schmidt. O Princípio dalegalidade penal no Estado Democrático de Direito.Porto Alegre: Livraria do Advogado editora, 2001, p.189).

Portanto, a questão fundamental reside no particularem saber quando a analogia deve ser ou não tolerada,quando é ou não compatível com um direito penal degarantais, constitucionalmente fundado, e nãoapregoar falsas distinções.

Page 61: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

2.3) Quanto a seus efeitos ou resultados, ainterpretação pode ser:

a) Extensiva: quando o intérprete conclui que aabrangência semântica da norma é mais ampla doque indicam suas palavras (v. termo, conceito,palavra). Nesse caso, afirma-se que o legisladorescreveu menos do que queria dizer, e o intérprete,alargando o campo de sentido e/ou incidência danorma, recepciona determinadas situações nãoprevistas expressamente em sua letra, mas que nelase encontram, virtualmente, incluídas.

Page 62: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

b) Restritiva: quando o intérprete restringe osentido da norma ou limita sua incidência,concluindo que o legislador escreveu mais do querealmente pretendia dizer e assim o intérpreteelimina a amplitude das palavras.

Page 63: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

c) Estrita, Declarativa ou Especificadora: quando selimita a declarar ou especificar o pensamento expressona norma jurídica, sem ter necessidade de estendê-la acasos não previstos ou restringi-la mediante a exclusãode casos inadmissíveis. Nela o intérprete chega àconstatação de que as palavras expressam, commedida exata, o espírito da lei, cabendo-lhe apenasconstatar esta coincidência.

Page 64: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Pela interpretação declarativa, estrita ou especificadora“aplicam-se (as normas) no sentido exato, não se dilatam,nem restringem os seus termos” segundo CARLOSMAXIMILIANO. A exegese aqui é "estrita, porém nãorestritiva; deve dar precisamente o que o texto exprime,porém tudo o que no mesmo se compreende; nada demais, nem de menos".

A interpretação estrita há de ser aplicada, por exemplo,quando se trata de leis que impõem penalidades, quecominam multas etc. 0 Código de Direito Canônico, exempligratia, estabelece no seu cânone 18: "As leis queestabelecem pena ou limitam o livre exercício dos direitosou contêm exceção à lei, devem ser interpretadasestritamente".

Page 65: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Finalizando, eis como ALÍPIO SILVEIRA sintetiza amatéria: "É declarativa quando a letra se harmonizacom o significado obtido pelos outros métodos. Éextensiva, se o significado obtido pelos outrosmétodos é mais amplo do que o literal; a final, érestritiva, quando o significado literal é mais amplodo que aquele obtido pelos outros métodos".

Page 66: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

REGRAS CIENTÍFICAS DE INTERPRETAÇÃO

As regras científicas são enunciados construídos pelossábios, desde a antiguidade, como os brocardos e aregras insculpidas no Digesto, de Justiniano, até asreflexões mais atuais. Elas também são importantereferência para a interpretação dos direitosfundamentais.

Page 67: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

1) Benignius leges interpretandae sunt, quo voluntas earumconservetur (As leis devem ser interpretadas mais benignamente,para que se conserve a sua vontade. (Celso, Dig., L. 1, 18, Delegibus, 1, 3).

2) Favorabilia sunt aplianda, odiosa sunt restringenda (As coisasfavoráveis devem ser ampliadas; as odiosas restritas).

3) Fiat iustitia, pereat mundus (Faça-se justiça, ainda que pereça omundo).

4) In claris cessat interpretatio (nas coisas claras cessa ainterpretação) ...

5) Scire leges non hoc est verba earum tenere, sed vim ac potestatem(“saber as leis não é conhecer suas palavras, mas sim, conhecer asua força e o seu poder" Celso, Dig., L. XXVI).

(Outros exemplos: Latim no Direito, de Ronaldo Caldeira Xavier,Editora Forense, 1999).

Page 68: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Limongi França inclui entre as regras científicas o catálogo elaboradopor Carlos de Carvalho, na sua Consolidação das Leis Civis:

Caput - A ementa da lei facilita sua inteligência.

§ 1o No texto da lei se entende não haver frase ou palavra inútil,supérflua ou sem efeito.

§ 2o Se as palavras da lei são conformes com a razão devem sertomadas no sentido literal e as referentes não dão mais direito do queaquelas a que se referem.

§ 3o Deve-se evitar a supersticiosa observância da lei que, olhando sóa letra dela, destrói a sua intenção.

§ 4o O que é conforme ao espírito e letra da lei se compreende na suadisposição.

Page 69: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

§ 5o Os textos da mesma lei devem-se entender uns pelos outros; as palavrasantecedentes e subsequentes declaram o seu espírito.

§ 6o Devem concordar os textos da lei, de modo a torná-los conformes, e nãocontraditórios, não sendo admissível a contradição ou incompatibilidadeneles.

§ 7o As proposições enunciativas ou incidentes da lei não têm a mesma forçaque as suas decisões.

§ 8o Os casos compreendidos na lei estão sujeitos à sua disposição, ainda queos especifique, devendo proceder-se de semelhante a semelhante e dar igualinteligência às disposições conexas.

§ 9o O caso omisso na letra da lei se compreende na disposição quando hárazão mais forte.

§ 10. A identidade de razão corresponde à mesma disposição de direito.

Page 70: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

§ 11. Pelo espírito de umas se declara o das outras,tratando-se de leis análogas.

§ 12. As leis conformes no seu fim devem ter idênticaexecução e não podem ser entendidas de modo a produzirdecisões diferentes sobre o mesmo objeto.

§ 13. Quando a lei não fez distinção, o intérprete não devefazê-la, cumprindo entender geralmente toda a lei geral.

§ 14. A eqüidade é de direito natural e não permite quealguém se locuplete com a jactura alheia.

§ 15. Violentas interpretações constituem fraude da lei.

Page 71: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

O citado jurista propõe ainda dez regras de interpretação, ao que parece, decaráter histórico-evolutivo, das quais é oportuno transcrever as seguintes:

"I - O ponto de partida da interpretação será sempre a exegese pura e simplesda lei.

II - Num segundo momento, de posse do resultado dessa indagação, ointérprete deverá reconstruir o pensamento do legislador, servindo-se doselementos lógico, histórico e sistemático.

III - Num terceiro momento, cumprir-lhe-á aquinhoar a coincidência entre aexpressão da lei e a descoberta auferida, da intenção do legislador.

IV - Verificada a coincidência, estará concluído o trabalho interpretativo,passando-se desde logo à aplicação da lei.

V - Averiguada, porém, desconexão entre a letra da lei e a mens legislatorisdevidamente comprovada, o intérprete aplicará esta, e não aquela".

Page 72: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

REGRAS DA JURISPRUDÊNCIA PARA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

Um dos juristas mais preocupados com a compilação das regras dejurisprudência foi Washington de Barros Monteiro, que entre outrasapresentou as seguintes regras:

a) Na interpretação deve-se sempre preferir a inteligência que fazsentido

à que não faz.b) deve-se preferir a inteligência que melhor atenda à tradição do

Direito.c) deve ser afastada a exegese que conduz ao vago, ao inexplicável, aocontraditório e ao absurdo.d) há que se ter em vista o eo quod plerumque fit, isto é, o queordinariamente sucede no meio social.e) Onde a lei não distingue, o intérprete não deve igualmente distinguir.

Page 73: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

f) todas as leis excepcionais ou especiais devem serinterpretadas

restritivamente.g) tratando-se porém, de interpretar leis sociais, preciso

será temperar oespírito do jurista, adicionando-lhe certa dose de espírito

social, sob pena desacrificar-se a verdade à lógica.h) em matéria fiscal, a interpretação se fará

restritivamente.i) deve ser considerado o lugar onde será colocado o

dispositivo, cujosentido deve ser fixado

Page 74: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Interpretação absurda significa:

a) que leva a ineficácia ou inaplicabilidade da norma, tornando-a sem efeito

b) conduz a uma injustiça ou iniqüidade.

c) contradiz a finalidade da norma ou do sistema;

d) conduz a um resultado impossível, ou contrário à lógica;

e) conduz a uma contradição com princípios constitucionais ou do sub-sistema a que se refere a norma.

f) conduz a uma contradição com normas de hierarquia superior, ou com normas do mesmo texto legal, ou a situações onde não pode haver contradição;

g) conduz a uma fórmula incompreensível, inaplicável na prática.

Page 75: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

STJ RECURSO ESPECIAL 1998/0077951-5 DJ 16/05/2005 p. 275

ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL.

APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. MOLÉSTIA GRAVE.

CARDIOPATIA. ISENÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA. AUSÊNCIA DE

VIOLAÇÃO DO ART. 111, INCISO II, DO CTN. LEI N. 4.506/64 (ART. 17,

INCISO III). DECRETO N. 85.450/80. PRECEDENTES.

1. O art. 111 do CTN, que prescreve a interpretação literal

da norma, não pode levar o aplicador do direito à absurda

conclusão de que esteja ele impedido, no seu mister de

apreciar e aplicar as normas de direito, de valer-se de uma

equilibrada ponderação dos elementos lógico-sistemático,

histórico e finalístico ou teleológico, os quais integram a

moderna metodologia de interpretação das normas

jurídicas.

Page 76: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

2. O STJ firmou o entendimento de que a

cardiopatia grave, nos termos do art. 17, inciso III,

da Lei n. 4.506/64, importa na exclusão dos

proventos de aposentadoria da tributação pelo

Imposto de Renda, mesmo que a moléstia tenha

sido contraída depois do ato de aposentadoria

por tempo de serviço.

3. Recurso especial conhecido e não-provido.

Page 77: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Lei Nº 4.506/1964. Código Tributário Nacional

Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à

União, Estados e Municípios.

Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha

sobre:

I - suspensão ou exclusão do crédito tributário;

II - outorga de isenção;

III - dispensa do cumprimento de obrigações tributárias

acessórias.

Page 78: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

LEI Nº 4.506/1964

Dispõe sôbre o impôsto que recai sôbre as rendas e proventos de qualquer natureza.

Art. 17. Não serão incluídos entre os rendimentos tributados de que trata

o artigo anterior:

I - As gratificações por quebra de caixa pagas aos tesoureiros e a outros

empregados, enquanto manipularem efetivamente valores, desde que em

limites razoáveis nessa espécie de trabalho;

II - A indenização por despedida ou rescisão de contrato de trabalho que

não exceder os limites garantidos pela Lei;

III - Os proventos de aposentadoria ou reforma quando motivada peIas

moléstias enumeradas no item III do artigo 178 da Lei número 1.711 de

28 de outubro de 1952;

Examinando o artigo anterior, citado no art.17.

Page 79: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

LEI No 1.711, DE 28 DE OUTUBRO DE 1952.

Revogada pela Lei nº 8.112, de 1990- Estatuto do Servidor Público

Art. 178. O funcionário será aposentado com vencimento ou remuneração

integral:

I –... (omissis)...

II –... (omissis)...

III – quando acometido de tuberculose ativa, alienação mental, neoplasia

malíguina, cegueira, lepra, paralisia, cardiopatia grave e outras moléstias que a

lei indicar, na base de conclusões da medicina especializada.

Page 80: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

LEI No 1.711, DE 28 DE OUTUBRO DE 1952.

Revogada pela Lei nº 8.112, de 1990- Estatuto do Servidor Público

Art. 178. O funcionário será aposentado com vencimento ou remuneração

integral:

I –... (omissis)...

II –... (omissis)...

III – quando acometido de tuberculose ativa, alienação mental, neoplasia

malíguina, cegueira, lepra, paralisia, cardiopatia grave e outras moléstias que a

lei indicar, na base de conclusões da medicina especializada.

Uma interpretação literal entende que a doença deve

ser a causa da aposentadoria. Se aparecer depois,

não cumpre a literalidade da lei.

Page 81: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

LEI Nº 4.506/1964

Dispõe sôbre o impôsto que recai sôbre as rendas e proventos de qualquer natureza.

Art. 16. Serão classificados como rendimentos do trabalho assalariado

tôdas as espécies de remuneração por trabalho ou serviços prestados no

exercício dos empregos, cargos ou funções referidos no art. 5º do

Decreto-lei nº 5.844/1943, e no art. 16 da Lei nº 4.357/1964, tais como:

I - Salários, ordenados, vencimentos, soldos, soldadas, vantagens,

subsídios, honorários, diárias de comparecimento;

Il -...

XI - Pensões, civis ou militares de qualquer natureza, meios-soldos, e

quaisquer outros proventos recebidos do antigo empregador de institutos,

caixas de aposentadorias ou de entidades governamentais, em virtude de

empregos, cargos ou funcões exercidas no passado, excluídas as

correspendentes aos mutilados de guerra ex-integrantes da Fôrça

Expedicionária Brasileira.

Page 82: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

QUESTÃO PROPOSTA AO JULGADOR

DATA DA CONCESSÃO

DA APOSENTADORIA

CARDIOPATIA DETECTADA

ANTES DA APOSENTADORIA

ENTENDIMENTO: TEM DIREITO

A ISENÇÃO DE IR.

CARDIOPATIA DETECTADA

APÓS A APOSENTADORIA

ENTENDIMENTO: NÃO TEM

DIREITO A ISENÇÃO DE IR.

Page 83: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

QUESTÃO PROPOSTA AO JULGADOR

DATA DA CONCESSÃO

DA APOSENTADORIA

CARDIOPATIA DETECTADA

ANTES DA APOSENTADORIA

ENTENDIMENTO: TEM DIREITO

A ISENÇÃO DE IR.

CARDIOPATIA DETECTADA

APÓS A APOSENTADORIA

ENTENDIMENTO: NÃO TEM

DIREITO A ISENÇÃO DE IR.

INTERPRETAÇÃO STJ:

TEM DIREITO A ISENÇÃO DE IR.

Page 84: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Recurso Ordinário Em Habeas Corpus 1994/0031877-4

ADVOGADO. INVIOLABILIDADE E IMUNIDADE JUDICIARIA (ART. 133

DA CF, 142, I, DO CP, E 7., PAR. 2., DO ESTATUTO DA OAB, LEI

8.906/94). O ADVOGADO QUE UTILIZA LINGUAGEM EXCESSIVA E

DESNECESSARIA, FORA DE LIMITES RAZOAVEIS DA DISCUSSÃO

DA CAUSA E DA DEFESA DE DIREITOS, CONTINUA RESPONSAVEL

PENALMENTE. ALCANCE DO PAR. 2. DO ART. 7. DA LEI 8.906/94

FRENTE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL (ARTS. 5., CAPUT, E 133).

SUSPENSÃO PARCIAL DO PRECEITO PELO STF NA ADIN N. 1.127-8.

JURISPRUDENCIA PREDOMINANTE NO STF E STJ, A PARTIR DA

CONSTITUIÇÃO DE 1988.

(...)

Page 85: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Recurso Ordinário Em Habeas Corpus 1994/0031877-4

(...)

Seria odiosa qualquer interpretação da legislação vigente conducente a

conclusão absurda de que o novo estatuto da OAB teria instituído, em

favor da nobre classe dos advogados, imunidade penal ampla e absoluta,

nos crimes contra a honra e ate no desacato, imunidade essa não

conferida ao cidadão brasileiro, as partes litigantes, nem mesmo aos

juízes e promotores. O nobre exercício da advocacia não se confunde

com um ato de guerra em que todas as armas, por mais desleais que

sejam, possam ser utilizadas. Recurso de habeas corpus a que se nega

provimento.

Page 86: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Interpretação sistemática. A unidade orgânica e os princípios informativosdas normas

Processo civil. Execução para entrega de coisa. Mercadoria fungível. Sacas de soja.

Título extrajudicial. Arts. 585, II e 621, CPC.

HERMENÊUTICA. INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA.

I – Admissível que a execução para entrega de coisa(s) fungível(is), submetida a disciplina

prevista nos arts. 621 usque 628 do Estatuto Processual, seja fundada em título

executivo extrajudicial (art. 585, II, do mesmo diploma).

II – Sem embargo das respeitáveis posições em contrário, tenho que a interpretação

sistemática conferida pelo aresto recorrido ao art. 621, em face da regra do art. 585,

II, é a que melhor reflete os princípios norteadores da hermenêutica, além de

apresentar-se mais razoável, guardando coerência com a atual tendência evolutiva do

direito processual, sob cuja inspiração foram elaborados os projetos de reforma do

Estatuto instrumental encaminhados ao Congresso Nacional, alguns deles hoje já

integrados a nossa ordem legal.

Page 87: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

III – Segundo assinalado por Carlos Maximiliano em

sua admirável Hermenêutica e Aplicação do Direito,citando o Digesto de Celso, "não se encontra umprincípio isolado, em ciência alguma; acha-se cadaum em conexão íntima com outros. O direitoobjetivo não é um conglomerado caótico depreceitos; constitui vasta unidade, organismoregular, sistema, conjunto harmônico de normascoordenadas, em interdependência metódica,embora fixada cada uma no seu lugar próprio” (STJ,REsp n. 52.052/RS, in DJU de 19/12/1994).

Page 88: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Interpretação teleológica ou finalística, construtiva e valorativa. Os finssociais da lei e as exigências do bem comum (art. 5º da LICC)

Processual civil. Lei 8.009/90. Bem de família. Hermenêutica. Freezer, máquina de lavar e

secar roupas e microondas. Impenhorabilidade. Teclado musical. Escopos político e social do

processo. Hermenêutica. Precedentes. Recurso provido.

I - Não obstante noticiem os autos não ser ele utilizado como atividade profissional, mas

apenas como instrumento de aprendizagem de uma das filhas do executado, parece-me

mais razoável que, em uma sociedade marcadamente violenta como a atual, seja valorizada a

conduta dos que se dedicam aos instrumentos musicais, sobretudo quando sem o objetivo

do lucro, por tudo que a música representa, notadamente em um lar e na formação dos

filhos, a dispensar maiores considerações. Ademais, não seria um mero teclado musical que

iria contribuir para o equilíbrio das finanças de um banco. O processo, como cediço, não tem

escopo apenas jurídico, mas também político (no seu sentido mais alto) e social.

Page 89: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

II - A Lei 8.009/90, ao dispor que são impenhoráveis os

equipamentos que guarnecem a residência, inclusive móveis,

não abarca tão-somente os indispensáveis à moradia, mas

também aqueles que usualmente a integram e que não se

qualificam como objetos de luxo ou adorno.

III -Ao juiz, em sua função de intérprete e aplicador da lei, em

atenção aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do

bem comum, como admiravelmente adverte o art. 5º, LICC,

incumbe dar exegese construtiva e valorativa, que se afeiçoe

aos seus fins teleológicos, sabido que ela deve refletir não só

os valores que a inspiraram mas também as transformações

culturais e sócio-políticas da sociedade a que se destina (STJ,

REsp 218882/SP, in DJU de 25/10/1999).

Page 90: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Interpretação evolutiva. As transformações

Processual civil. Execução fiscal. Adiantamento de despesas para o oficial

de justiça ou para o perito. Art. 27, CPC.

1. Se a interpretação por critérios tradicionais conduzir à injustiça,

incoerências ou contradição, recomenda-se buscar o sentido eqüitativo,

lógico e acorde com o sentimento geral.

2. Custas e emolumentos, quanto à natureza jurídica, não se confundem

com despesas para o custeio de atos decorrentes de caminhamento

processual.

3. O Oficial de Justiça ou Perito não estão obrigados a arcar, em favor da

Fazenda Pública, com as despesas necessárias para a execução de atos

judiciais.

4. Recurso conhecido e improvido.

(STJ, REsp 154682/SP, in DJU de 02/03/1998).

Page 91: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Interpretação estrita, restritiva e não-extensiva. Exceções, punições,privilégios, limitações de direitos, prescrições de ordem pública e atosbenéficos

PROCESSUAL CIVIL. VISTA DE AUTOS. SEGREDO DE JUSTIÇA. ESTAGIÁRIO NÃO INSCRITO NA

OAB. IMPOSSIBILIDADE. EXEGESE DO ART. 154 DO CPC C/C OS ARTS. 1º E 3º, §2º, DA LEI N.

8906/94.

Frente à redação dos dispositivos legais referidos, inexiste qualquer dúvida acerca da

impossibilidade de se conceder vista dos autos, protegidos pelo segredo de justiça, a

estagiário não inscrito na OAB, porque tal se revela em atividade inerente ao exercício da

advocacia, não podendo ser provocada por quem não satisfaz a condição prevista no art. 3º,

§2º, do Estatuto do Advogado.

Demais disso, a ciência hermenêutica não socorre o recorrente, quanto à alegativa de que a

expressão “procuradores” do art. 155 do Código de Processo Civil deva ser interpretada

amplamente, de forma a abranger todo e qualquer estagiário substabelecido no processo.

As prescrições de ordem pública, quando ordenadoras ou vedantes, visam a proteger o

interesse da coletividade, motivo porque se sujeitam à interpretação estrita, impossibilitada,

assim, a extensiva e o aplicar da analogia.

Recurso conhecido, porém desprovido.

(STJ, ROMS 14697/SP, in DJU de 16/12/2002).

Page 92: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Contradições e antinomias aparentes da lei: serão hipóteses diferentes ouserão regras e exceção?

APELAÇÃO CÍVEL. REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO ORDINÁRIA. SERVIDOR MUNICIPAL.

PROFESSOR. DIRETOR DE ESCOLA. FUNÇÃO GRATIFICADA. INCORPORAÇÃO. LEI. ANTINOMIA

APARENTE. A antinomia entre dispositivos de lei é apenas aparente e ocorre por insuficiência

do intérprete. No sistema do Direito não há antinomias, pois as aparentes contradições

legais são solvidas por técnicas ofertadas pela ciência jurídica e pela hermenêutica. Se a lei

em um dispositivo estabelece que a gratificação em nenhuma hipótese e para nenhum fim

incorpora-se ao vencimento e, noutro dispositivo, estabelece que a gratificação se incorpora

ao vencimento com o exercício ininterrupto por cinco anos ou por dez anos intercalados,

então impõe-se entender que a incorporação jamais ocorre, exceto na precisa hipótese do

exercício contínuo por cinco anos ou por dez intercalados. Provado o exercício contínuo da

função por cinco anos, a incorporação é de rigor. Apelo improvido. Sentença confirmada em

reexame. (Apelação e Reexame Necessário Nº 70002091734, Primeira Câmara Especial Cível,

Tribunal de Justiça do RS, Julgado em 24/04/2002).

Page 93: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Onde a lei não distingue não cabe ao intérprete distinguir

PROCESSUAL CIVIL. AJUIZAMENTO DE AÇÃO MONITÓRIA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA.

POSSIBILIDADE. ART. 1.102A, 'B' E 'C', E PARÁGRAFOS, DO CPC.

1. A norma que introduziu a ação monitória no Código Processual Civil (art. 1.102a, 'b' e 'c',

e parágrafos) revelou-se absolutamente omissa quanto à possibilidade de ser utilizada frente

à Fazenda Pública, ou por ela. Pelo fato do regime brasileiro de execução contra o Estado

possuir características especiais, conferindo-lhe privilégios materiais e processuais que são

indiscutíveis, evidencia-se, inobstante tais peculiaridades, que os preceitos legais

instituidores do procedimento monitório não comportam uma leitura isolada, necessitando

que sejam cotejados com os demais comandos do nosso ordenamento jurídico a fim de que

se torne viável a aplicação do mesmo em face dos entes públicos.

2. Não havendo óbice legal expresso contra a sua utilização perante a Fazenda, não cabe ao

intérprete fazê-lo, face ao entendimento de que é regra de hermenêutica jurídica,

consagrada na doutrina e na jurisprudência, a assertiva de que ao intérprete não cabe

distinguir quando a norma não o fez, sendo inconcebível interpretação restritiva na hipótese.

(STJ, REsp 281483/RJ, in DJU de07/10/2002).

Page 94: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Os objetivos e os limites da interpretação

Direito Processual Civil. Preclusão. Coisa julgada formal. Lei 8.009/1990. Decisão anterior

irrecorrida. Impossibilidade de reexaminar-se a espécie. Hermenêutica. Recurso desacolhido.

I – Existindo decisão denegatória anterior irrecorrida, não se cuidando dos requisitos de

admissibilidade de tutela jurisdicional (condições da ação e pressupostos processuais, nem

de instrução probatória, não é dado ao judiciário, sob pena de vulneração do instituto da

preclusão, proferir nova decisão sobre a mesma matéria.

II – Embora deva o juiz dar à lei interpretação construtiva, valorativa, teleológica, exegese

inteligente, útil e conveniente, não lhe é lícito tomar liberdades inadmissíveis com a lei.

(STJ, REsp. n. 93296, in DJU de 24.02.1997).

Page 95: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Interpretação razoável não constitui violação de literal disposição de lei

Rescisória de acórdão. Fundamento. Literal disposição de lei. Interpretação razoável da

Câmara julgadora. Violação. Inocorrência. Descabimento.

Se a interpretação eleita pelo acórdão, dentre outras cabíveis, não destoa da literalidade do

texto legal, nem conduz ao absurdo ou à teratologia, o julgado não pode ser considerado

violador de dispositivo de lei e, por conseqüência, passível de rescisão nos termos do artigo

485, inciso V, do Código de Processo Civil.

(TASP, R. Ac. 684.047-00/7, julgada em 11.03.2002).

A rescisória sob o fundamento de violação literal de dispositivo de lei somente é cabível se a

interpretação dada pelo decisum rescindendo for de tal modo aberrante e teratológica que

viole dispositivo legal em sua literalidade. Não sendo recurso a rescisória não se presta ao

reexame de fatos e provas, mormente quando não questionados no momento oportuno.

(TASP, R. Ac. 775.628-00/1, julgada em 11.02.2003).

Page 96: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Interpretação dos atos segundo a boa-fé de comportamento

Dá como violado o art. 120 do CC e sustenta que o aresto impugnado dissente daquele

proferido por esta Corte no RE 11.421, de 05.12.1949, que guarda a ementa seguinte:

O princípio da inviolabilidade dos contratos cede às imposições da boa-fé, que domina a

interpretação das convenções. A atitude do locador de requerer o despejo por falta de

pagamento em dia, quando vinha concordando em recebê-lo com atraso, e sem que antes

cientifique o inquilino de sai disposição de não mais tolerar qualquer atraso, constitui abuso

de direito.

O recurso foi admitido pelo dissídio.

Certo a tolerância constante, reiterada quebra do rigor do contrato, dispondo de forma

diferente no que tange a era do pagamento. Esta é a orientação dominante desta Corte.

Tenho mesmo sido relator de mais de um caso no qual fiz aplicação do princípio, assente na

doutrina.

(STF, 2ªT., RE n 66493, conhecido e provido por acórdão de 13.03.1969).

Page 97: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

III) Interpretação Jurídica e Jurisprudência do STF: Análise de Casos Concretos e Problemáticas Atuais

Page 98: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

PRINCÍPIOS INSTRUMENTAIS DE INTERPRETAÇÃOCONSTITUCIONAL

Os princípios instrumentais de interpretaçãoconstitucional constituem premissas conceituais,metodológicas ou finalísticas que devem anteceder, noprocesso intelectual do intérprete, a solução concreta daquestão posta. Os direitos fundamentais, que tambémapresentam natureza principiológica, devem serinterpretados de acordo com os métodos gerais deinterpretação jurídica somados aos princípiosinstrumentais de interpretação.

Page 99: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

1) Supremacia da Constituição

2) Presunção de Constitucionalidade

3) Da Interpretação Conforme a Constituição

4) Da Unidade da Constituição

5) Da Razoabilidade

6) Da Efetividade

Page 100: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Casos Concretos:

1) STF, Adin nº 939 - 7/DF Direitos Sociais e claúsulaspétreas?

Carlos Mário da Silva Velloso defendeu que os direitos sociaisfundamentais são verdadeiras limitações expressas ao poderde reforma constitucional, ao sustentar que a Constituição aoestabelecer que não será objeto de deliberação a proposta deemenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais,não estaria se referindo, tão-somente, aos direitos e garantiasinscritos no art. 5º, já que os direitos fundamentais, ou osdireitos humanos, são de várias gerações, incluindo-se osdireitos sociais como direitos de segunda geração.

Page 101: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Esta interpretação encontra assento na Adin nº 939 -7/DF, na qual o Ministro Carlos Velloso referiu-se aosdireitos e garantias sociais, direitos atinentes ànacionalidade e direitos políticos como pertencentes àcategoria de direitos e garantias individuais, logo,imodificáveis.

Page 102: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

2) STF, ADPF 54 – 2 – DF (Caso de anencefalia – Dignidade humana vs. vida)

ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 54DISTRITO FEDERALRELATOR : MIN. MARCO AURÉLIOREQTE.(S) :CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOSTRABALHADORES NA SAÚDE - CNTSADV.(A/S) :LUÍS ROBERTO BARROSOINTDO.(A/S) :PRESIDENTE DA REPÚBLICAADV.(A/S) :ADVOGADO-GERAL DA UNIÃOESTADO – LAICIDADE. O Brasil é uma república laica, surgindo absolutamente neutroquanto às religiões. Considerações.FETO ANENCÉFALO – INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ – MULHER – LIBERDADE SEXUAL EREPRODUTIVA – SAÚDE – DIGNIDADE – AUTODETERMINAÇÃO – DIREITOSFUNDAMENTAIS – CRIME – INEXISTÊNCIA. Mostra-se inconstitucional interpretação de ainterrupção da gravidez de feto anencéfalo ser conduta tipificada nos artigos 124, 126 e128, incisos I e II, do Código Penal.

http://www.jurisciencia.com/wp-content/uploads/Ac%C3%B3rd%C3%A3o-ADPF-54-Anenc%C3%A9falo.pdf

Page 103: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

3) STF, HC 69657 – 1 – SP (Constitucionalidade da Leidos Crimes Hediondos) e HC 829.959(Individualização da pena e progressão do regime/Parcial inconstitucionalidade da Lei dos CrimesHediondos (L. 8072/90).

Page 104: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

4) STF, HC 82. 424 – 2 – RS (Caso “Ellwanger” – Liberdade de expressão vs. dignidade humana)

Durante o ano de 1989, o Movimento Popular Anti-Racismo(Mopar), integrado pelo Movimento Negro, MovimentoJudeu Independente e Movimento de Justiça e DireitosHumanos de Porto Alegre, tomou a iniciativa de umprocesso criminal contra o brasileiro, escritor e editor delivros Siegfried Ellwanger, que foi denunciado peloMinistério Público em 1991, pelo crime previsto no art. 20da lei nº 8081, de 21 de setembro de 1990:"Art.20. Praticar,induzir ou incitar, pelos meios de comunicação social oupor publicação de qualquer natureza, a discriminação oupreconceito de raça, cor, religião, etnia ou procedêncianacional. Pena: reclusão de 2 a 5 anos".

Page 105: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

O fato é que Ellwanger, na condição de sócio diretor daRevisão Editora Ltda. editou, distribuiu e vendeudiversas obras de autores estrangeiros e nacionais, deforte caráter anti-semita, além de uma obra própria,publicada sob o pseudônimo S.E. Castan, intitulada"Holocausto Judeu ou Alemão- Nos bastidores damentira do Século", de mesmo caráter.O réu foiabsolvido em primeira instância. A juíza BernadeteCoutinho Friedrich, substituta da oitava Vara Criminalde Porto Alegre, proferiu sua sentença em 14 de julhode 1995, decidindo pela improcedência da denúncia.

Page 106: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

No seu entender, a atividade do réu não passava de meroexercício do Direito Constitucional de Liberdade deExpressão, sendo que o acusado apenas havia manifestadosua opinião sobre fatos históricos sob um ângulo diverso damaioria. Provendo o recurso, o Superior Tribunal de Justiçado Rio Grande do Sul não interpretou o caso da mesmamaneira. Julgando a apelação criminal, sua terceira CâmaraCriminal condenou o editor a dois anos de prisão, comsuspensão da pena e prestação de serviços comunitáriospor quatro anos. O beneficio da suspensão da pena foiconcedido pelo fato de Ellwanger ser réu primário.Provendo novamente o recurso, o Supremo TribunalFederal manteve a condenação proferida em 2º instânciaapós julgamento realizado em março de 2001.

Page 107: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Em face da impossibilidade de se contestar a decisão daCorte Suprema, a defesa partiu para uma argumentaçãoque visava extinguir a punibilidade do caso. Os advogadosdo editor de livros impetraram habeas corpus perante oSuperior Tribunal de Justiça, com pedido para mudar ostermos da condenação proferida pelo Tribunal de Justiçado Rio Grande do Sul, trocando a acusação de racismo porpráticas discriminatórias, uma vez que os judeus nãoconstituem um grupo racial. Dessa maneira, o crime nãoseria inafiançável e imprescritível como disposto naConstituição Federal: "Art.5º.XLII. A prática do racismoconstitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à penade reclusão, nos termos da lei;Art.5º.XLI. A lei puniráqualquer discriminação atentatória dos direitos eliberdades fundamentais”.

Page 108: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

O réu, segundo a defesa, estaria em condições derequerer extinção da pena pelo fato do crime cometidoser disciplinado pelas regras de prescrição elencadasnos artigos 109 e 110 do Código Penal Brasileiro(Decreto lei nº 2848, de 27de dezembro de 1940). Opedido foi denegado pelo Superior Tribunal de Justiça.Por força de um novo recurso, o habeas corpus foisubmetido ao Supremo Tribunal Federal, sendo que amaioria dos Ministros votaram pelo indeferimento dopedido.

Page 109: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

O que podemos registrar é que o signo “racismo”, seinterpretado a partir de uma base sintático-semântica,pautada em identidade fixa e semântica estática,acabaria por excluir, de fato, os judeus da condição degrupo racial. De fato, se a identidade formalconstituísse a referência perante o Supremo TribunalFederal, não se poderia afirmar e negar um predicadode um mesmo conceito-sujeito. Neste sentido,semanticamente, em face de repertório erudito trazidoà baila pela defesa, os judeus não constituiriam umaraça, pelo aspecto sobretudo biológico (S não é P).

Page 110: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

No entanto, o que acabou ocorrendo na deliberação doSupremo foi a afirmação de que S é P, surgindo noplano dos debates paraconsistência que tornou aptacontradição entre proposições. Neste sentido, afirmou-se a possibilidade de se afirmar e negar um mesmopredicado de um mesmo conceito-sujeito (S é “e” nãoé P), afastando-se também o terceiro excluído pelaforça da compreensão pragmática do signo.

Page 111: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

De fato, foi esta força que direcionou a logicidade não-clássica da decisão, ao desatrelá-la da exigência de seoptar por uma compreensão sígnica “ou” por outra.Em seu voto, o Ministro Gilmar Mendes registra ovoto-vista do Ministro Maurício Corrêa, e que para nósrepresenta a adoção de compreensão pragmática queconsiderou o significado como determinado pelo uso,levando-se em conta o contexto em que o signo indicatambém uma forma de ação, e não de descrição doreal:

Page 112: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

“Em sede de voto-vista, afirmou o Ministro MaurícioCorrêa que não se pode emprestar isoladamente osignificado usual de raça como expressãosimplesmente biológica, devendo-se levar emconsideração as diversas acepções a que o termo sesubmete, incluindo aí a antropológica e a sociológica.Ademais, a experiência genética vem apontando que oconceito tradicional de raça – negros, brancos eamarelos – não pode mais ser considerado. Ressaltouainda que a discussão se os judeus se constituem ounão uma raça perde o sentido na medida em quequem discrimina o está fazendo como uma raça,promovendo e incitando a segregação.

Page 113: "A Interpretação dos Direitos Fundamentais e a Jurisprudência do STF"

Assim, afigura-se mais relevante o conceitoantropológico do que o científico. A existência dediversas raças decorre de mera concepção histórica,política e social, sendo ela a ser considerada naaplicação do Direito. Entendeu, portanto, o MinistroCorrêa, que o anti-semitismo constitui forma deracismo e, em conseqüência, crime imprescritível, sejaporque o conceito de raça não pode ser resumido àsemelhança de meras características físicas, sejaporque tal movimento vê os judeus como uma raça,ainda que esta concepção seja sob a ótica social epolítica. Na mesma linha, sustentou o Ministro Celsode Mello em antecipação do voto.”