ambiental - jurisprudência stf e stj

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  • 8/20/2019 Ambiental - Jurisprudência STF e STJ

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    Direito Ambiental – jurisprudência do STF (julho de 2014 a dezembro de 2015)

    ORDEM CRONOLÓGICA DOS INFOMATIVOS – Fonte: www.dizerodireito.com.br

    INFO – 776

    COMPETÊNCIAInconstitucionalidade de lei municipal que proíbe a queima da cana

    O Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, juntamente com a União e oEstado-membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento sejaharmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c oart. 30, I e II, da CF/88).O STF julgou inconstitucional lei municipal que proíbe, sob qualquer forma, o emprego defogo para fins de limpeza e preparo do solo no referido município, inclusive para o preparodo plantio e para a colheita de cana-de-açúcar e de outras culturas.

    Entendeu-se que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio ambienteobtida com a proibição imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dosempregos dos trabalhadores que atuem neste setor. No caso, o STF entendeu que deveriaprevalecer a garantia dos empregos dos trabalhadores canavieiros, que merecem proteçãodiante do chamado progresso tecnológico e da respectiva mecanização, ambos trazidospela pretensão de proibição imediata da colheita da cana mediante uso de fogo. Além disso, as normas federais que tratam sobre o assunto apontam para a necessidade dese traçar um planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogocomo método despalhador e facilitador para o corte da cana. Nesse sentido: Lei12.651/2012 (art. 40) e Decreto 2.661/98.STF. Plenário. RE 586224/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/3/2015 (repercussão geral) (Info

    776).

    De quem é a competência para legislar sobre meio ambiente?Trata-se de competência concorrente, distribuída entre União, Estados/DF e Municípios, conformeprevisto na CF/88:

    Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:(...)VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais,proteção do meio ambiente e controle da poluição;Art. 30. Compete aos Municípios:I - legislar sobre assuntos de interesse local;

    II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

    Então, o Município detém competência para legislar sobre meio ambiente?SIM. O Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, juntamente com a União e oEstado-membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento seja harmônico coma disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c o art. 30, I e II, da CF/88).

    Feitas essas considerações, imagine o seguinte caso concreto:A Lei do Município de Paulínia/SP proíbe, sob qualquer forma, o emprego de fogo para fins de limpezae preparo do solo no referido município, inclusive para o preparo do plantio e para a colheita de cana-de-açúcar e de outras culturas.

    Essa Lei é constitucional?

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    NÃO.O STF afirmou que a análise da questão possuiria um caráter eclético e multidisciplinar, envolvendoquestões sociais, econômicas e políticas (possibilidade de crise social, geração de desemprego,contaminação do meio ambiente em razão do emprego de máquinas, impossibilidade de mecanizaçãoem determinados terrenos e existência de proposta federal de redução gradativa do uso da queima

    etc.).A Corte entendeu que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio ambiente obtidacom a proibição imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos empregos dostrabalhadores que atuem neste setor.No caso, o STF entendeu que deveria prevalecer a garantia dos empregos dos trabalhadorescanavieiros, que merecem proteção diante do chamado progresso tecnológico e da respectivamecanização, ambos trazidos pela pretensão de proibição imediata da colheita da cana mediante usode fogo.Entendeu-se que a proibição da queima da cana não pode ser imediata, abrupta, mas sim gradual,progressiva, sob pena de gerar um desemprego em massa no setor.Por outro lado, em relação à questão ambiental, constata-se que, se de um lado a queima causa

    danos, de outro, a utilização de máquinas também gera impacto negativo ao meio ambiente, como aemissão de gás metano decorrente da decomposição da cana, o que contribui para o efeito estufa,além do surgimento de ervas daninhas e o consequente uso de pesticidas e fungicidas.Além disso, as normas federais que tratam sobre o assunto apontam para a necessidade de se traçarum planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como métododespalhador e facilita

     Assim, a Lei municipal, ao proibir a queima de forma imediata, viola o espírito da legislação federal,que propõe, como visto, a diminuição gradual da queima da cana. Vale ressaltar que esse assunto(proibição ou não da queima da cana) tem um caráter e interesse nacional, não podendo, portanto, oMunicípio violar a previsão da legislação federal e estadual.

    Direito Ambiental – jurisprudência do STJ (2013 a 2015)

    ORDEM CRONOLÓGICA DOS INFOMATIVOS – Fonte: www.dizerodireito.com.br

    INFO –561

    INFRAÇÃO AMBIENTALInfração ambiental grave e aplicação de multa independentemente de prévia advertência

    Imagine a seguinte situação adaptada:Uma grande empresa de petróleo foi autuada pela Secretaria de Meio Ambiente em razão de terderramado cerca de 70.000 litros de óleo em um rio, que é considerado área de preservaçãoambiental, sendo-lhe aplicada multa no valor de R$ 5 milhões.A empresa ingressou com ação judicial questionando a autuação sob o argumento de que foidescumprido o trâmite legal para a aplicação de multa, porque, anteriormente, deveria ter sidoaplicada uma pena de advertência, na forma do art. 72, § 3º, I, da Lei n. 9.605/98:

    Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o disposto noart. 6º:(...)

    § 3º A multa simples será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo:

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    I - advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-las, no prazo assinaladopor órgão competente do SISNAMA ou pela Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha;

     A tese da empresa foi aceita?NÃO. Configurada infração ambiental grave, é possível a aplicação da pena de multa sem a

    necessidade de prévia imposição da pena de advertência (art. 72 da Lei nº 9.605/98).A penalidade de advertência prevista no art. 72, § 3º, I, da Lei nº 9.605/98 tem aplicação tão somentenas infrações de menor potencial ofensivo, justamente porque ostenta caráter preventivo epedagógico.Assim, na hipótese de infração de pequena intensidade, é realmente necessário o emprego deadvertência e, caso não cessada e não sanada a violação, passa a ser cabível a aplicação de multa.Porém, no caso de transgressão grave, a aplicação de simples penalidade de advertência atentariacontra os princípios informadores do ato sancionador, quais sejam, a proporcionalidade e arazoabilidade.

    ÁREA DE RESERVA LEGAL

    Requisito para registro da sentença declaratória de usucapião

    Importante!!!João é posseiro de um imóvel rural há muitos anos e propôs ação de usucapião a fim de setornar o proprietário do terreno. A sentença foi julgada procedente, declarando que João adquiriu a propriedade.Vale lembrar que a sentença de usucapião deve ser registrada no Cartório de Registro deImóveis para que nele fique consignado que o novo proprietário é aquela pessoa que teveem seu favor a sentença de usucapião. Em outras palavras, João deverá averbar a sentençade usucapião no Cartório de Registro de Imóveis para ser considerado proprietário.Ocorre que o juiz que sentenciou a ação de usucapião condicionou o registro da sentençano Cartório do Registro de Imóveis ao prévio registro da Área Legal no CAR (Cadastro Ambiental Rural). Em outras palavras, o juiz afirmou que a usucapião só poderia seraverbada se, antes, o autor inscrevesse a Área de Reserva Legal no CAR.

     Agiu corretamente o magistrado? Ele poderia ter feito essa exigência?SIM. Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural sem matrícula sejaregistrada no Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reservalegal no Cadastro Ambiental Rural (CAR).STJ. 3ª Turma. REsp 1.356.207-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 28/4/2015

    (Info 561).

    ÁREA DE RESERVA LEGAL

    Em que consiste?- Reserva legal é uma área (uma porção de terra)- localizada no interior de um imóvel rural- e dentro da qual o proprietário ou possuidor fica,- por força de lei (Lei nº 12.651/2012),- obrigado a manter a cobertura de vegetação nativa- com a função de:- a) assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural,- b) auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos,- c) promover a conservação da biodiversidade e- d) assegurar abrigo e proteção da fauna silvestre e da flora nativa.

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    Veja uma ilustração do que seria uma Área de Reserva Legal (é a parte que está protegida pela cerca,onde estão as árvores):

    NaturezaA Área de Reserva Legal consiste em uma limitação ao direito de propriedade (limitação administrativaexistente em função do princípio da função sócio-ambiental da propriedade).Trata-se de obrigação “propter rem”, ou seja, é uma obrigação que acompanha a coisa e vincula todo equalquer proprietário ou possuidor de imóvel rural, já que adere ao título de propriedade ou à posse.

    Quem tem o dever de preservar a área de reserva legal? Só o proprietário?NÃO. A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa não apenas pelo

    proprietário, como também pelo possuidor ou por qualquer outra pessoa que ocupe, a qualquer título,a área, seja ele uma pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado (art. 17, caput).

     Admite-se algum tipo de atividade econômica na área de reserva legal?SIM. Admite-se a exploração econômica da Reserva Legal mediante manejo sustentável, previamenteaprovado pelo órgão competente do Sisnama (art. 17, § 1º).

    Qual é o tamanho da área de reserva legal?Será um percentual do imóvel baseado na região do país onde ele está situado e na natureza davegetação. A Lei nº 12.651/2012 (Código Florestal) prevê os percentuais de cada imóvel rural quedeverão ser separados e protegidos como área de reserva legal. Veja:

    Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de ReservaLegal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observadosos seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art.68 desta Lei:I - localizado na Amazônia Legal:a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).

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    Nos parágrafos do art. 12 estão previstas situações em que é possível alterar o percentual mínimo daárea de reserva legal. A depender do grau de complexidade do concurso público que você estáprestando, vale a pena fazer uma leitura desses dispositivos.

    Onde fica a área de reserva legal dentro do imóvel rural? Em outras palavras, em um sítio, por

    exemplo, como a pessoa sabe onde está a área de reserva legal? É o proprietário/possuidor quedefine isso?NÃO. A localização da área de Reserva Legal dentro da propriedade ou posse rural deverá ser aprovadapelo órgão estadual integrante do SISNAMA ou instituição por ele habilitada, conforme os critériosprevistos no art. 14 do Código Florestal.

    Existem imóveis rurais que não precisam constituir área de reserva legal?SIM. Segundo prevê os §§ 6º a 8º do art. 12, não será exigida Reserva Legal para:a) empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto;b) áreas adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou autorização paraexploração de potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de geração de

    energia elétrica, subestações ou sejam instaladas linhas de transmissão e de distribuição de energiaelétrica;c) áreas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade derodovias e ferrovias.

    CADASTRO AMBIENTAL RURAL – CAREm que consiste?O Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) criou algo muito importante chamado de Cadastro AmbientalRural – CAR. Em que consiste?- O CAR é um registro público eletrônico de âmbito nacional,- no qual todos os imóveis rurais devem estar inscritos- com a finalidade de reunir, em um só local, as informações ambientais das propriedades e possesrurais,- formando uma base de dados que servirá para controle, monitoramento, planejamento e combateao desmatamento.

    De quem é o dever de inscrever o imóvel no CAR?Dos proprietários e possuidores rurais. Os proprietários e possuidores rurais têm um prazo até maio de2016 para inscrever seus imóveis no CAR. Para isso, eles deverão apresentar uma lista de documentosprevistos no Decreto 7.830/2012.Vale ressaltar que o cadastramento no CAR não é considerado título para fins de reconhecimento dodireito de propriedade ou posse. Em outras palavras, não é porque a pessoa registrou o imóvel ruralno CAR que significa que ela tem direito de propriedade. Ao contrário do registro de imóveis, o CARnão serve para constituir domínio, ou seja, não se adquire propriedade porque houve inscrição noCAR.

     A área de Reserva Legal precisa ser inscrita no CAR?SIM. Com certeza. O Código Florestal determinou que a área de Reserva Legal deve ser inscrita no CAR.

    Art. 18. A área de Reserva Legal deverá ser registrada no órgão ambiental competente por meio deinscrição no CAR de que trata o art. 29, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos detransmissão, a qualquer título, ou de desmembramento, com as exceções previstas nesta Lei.§ 1º A inscrição da Reserva Legal no CAR será feita mediante a apresentação de planta e memorialdescritivo, contendo a indicação das coordenadas geográficas com pelo menos um ponto deamarração, conforme ato do Chefe do Poder Executivo.

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     Antes de existir o CAR, onde era inscrita a Reserva Legal? Como as pessoas sabiam que umdeterminado imóvel possuía parte de sua extensão como área de Reserva Legal?Antes da Lei nº 12.651/2012 (novo Código Florestal), a Área de Reserva Legal era inscrita na matrículado imóvel, ou seja, essa informação ficava no cartório de Registro de Imóveis (art. 167, II, 22, da Lei nº6.015/73).

    Depois da Lei nº  12.651/2012 (novo Código Florestal), a Área de Reserva Legal ainda precisa serinscrita no registro de imóveis?NÃO. O registro da Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no cartório de Registro de Imóveis.Desse modo, desde a vigência do novo Código Florestal, a Área de Reserva Legal não é mais averbadano cartório de Registro de Imóveis.

     A inscrição da Reserva Legal no CAR possui natureza constitutiva ou declaratória? Se a Área deReserva Legal não estiver registrada, o possuidor/proprietário estará desobrigado de respeitá-la?NÃO. A inscrição da Reserva Legal possui natureza declaratória. O dever de respeitar as limitaçõesimpostas pela Área de Reserva Legal decorre da lei (e não do registro). A inscrição no CAR tem por

    objetivo dar publicidade a esse fato.

    Feitas essas considerações, imagine a seguinte situação hipotética:João é posseiro de um imóvel rural há muitos anos e propôs ação de usucapião a fim de se tornar oproprietário do terreno.A sentença foi julgada procedente, declarando que João adquiriu a propriedade.Vale lembrar que a sentença de usucapião deve ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis paraque nele fique consignado que o novo proprietário é aquela pessoa que teve em seu favor a sentençade usucapião. Em outras palavras, João deverá averbar a sentença de usucapião no Cartório deRegistro de Imóveis para ser considerado proprietário.Ocorre que o juiz que sentenciou a ação de usucapião condicionou o registro da sentença no Cartóriodo Registro de Imóveis ao prévio registro da Área Legal no CAR. Em outras palavras, o juiz afirmou quea usucapião só poderia ser averbada se, antes, o autor inscrevesse a Área de Reserva Legal no CAR.

     Agiu corretamente o magistrado? Ele poderia ter feito essa exigência?SIM. Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural sem matrícula seja registrada noCartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal no Cadastro AmbientalRural (CAR).A Lei nº 12.651/2012 (novo Código Florestal) instituiu o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que passou aconcentrar as informações ambientais dos imóveis rurais, sendo dispensada a averbação da reservalegal no Registro de Imóveis (art. 18, § 4º). Assim, ante esse novo cenário normativo, como condiçãopara o registro da sentença de usucapião no Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévioregistro da reserva legal no CAR.A nova lei não pretendeu reduzir a eficácia da norma ambiental, pretendeu tão somente alterar oórgão responsável pelo "registro" da reserva legal, que antes era o Cartório de Registro de Imóveis, eagora passou a ser o órgão ambiental responsável pelo CAR.

    INFO – 550

    INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA ENVOLVENDO ANIMAIS SILVESTRESPosse irregular de animais silvestres por longo período de tempo

    O particular que, por mais de vinte anos, manteve adequadamente, sem indício de maus-tratos, duas aves silvestres em ambiente doméstico, pode permanecer na posse dosanimais.STJ. 2ª Turma. REsp 1.425.943-RN, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 2/9/2014 (Info 550).

  • 8/20/2019 Ambiental - Jurisprudência STF e STJ

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    Imagine a seguinte situação adaptada:João, idoso de 85, cria, há 20 anos, em sua casa, duas araras.As aves são bem cuidadas e andam livres pelo quintal de João.A partir de uma “denúncia anônima”, houve fiscalização do IBAMA no local, tendo sido as araras

    apreendidas e o proprietário autuado.Segundo perícia realizada, as aves estavam bem cuidadas, não sofriam maus tratos e recebiamalimentação adequada.

    Caso seja constatada a ocorrência de alguma infração administrativa ou penal envolvendo animaissilvestres, o que as autoridades ambientais devem fazer?Os animais deverão ser apreendidos e prioritariamente devolvidos ao seu habitat . Somente se isso nãofor possível ou recomendável (por questões sanitárias) é que tais animais serão entregues a jardinszoológicos, fundações ou entidades assemelhadas (§ 1º do art. 25 da Lei nº9.605/98).Em nosso exemplo, o IBAMA fez a apreensão das araras e determinou sua devolução à floresta.João não se conformou com a sua separação das araras e ajuizou ação contra o IBAMA na Justiça

    Federal pedindo que tivesse direito de ficar com as aves.

    O pedido de João foi aceito?SIM. Entendeu-se que o particular que, por mais de vinte anos, manteve adequadamente, sem indíciode maus-tratos, duas aves silvestres em ambiente doméstico, pode permanecer na posse dos animais.Para o STJ, deveria ser afastada, no caso concreto, a determinação da lei ambiental, porque esta tempor objetivo proteger o meio ambiente e, na situação em tela, o cumprimento da letra fria da leiresultaria em maiores prejuízos às espécies apreendidas, já que, após tantos anos, seria difícil areintegração delas ao habitat, não sendo também aconselhável que as araras fossem encaminhadaspara um zoológico ou entidade assemelhada, já que eram bem tratadas na casa do autuado

    INFO – 545

    RESPONSABILIDADE CIVILResponsabilidade civil por dano ambiental

    Determinada empresa de mineração deixou vazar resíduos de lama tóxica (bauxita),material que atingiu quilômetros de extensão e se espalhou por cidades dos Estados do Riode Janeiro e de Minas Gerais, deixando inúmeras famílias desabrigadas e sem seus bensmóveis e imóveis.O STJ, ao julgar a responsabilidade civil decorrente desses danos ambientais, fixou asseguintes teses em sede de recurso repetitivo:a) a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do riscointegral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integrena unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo danoambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar sua obrigação deindenizar;b) em decorrência do acidente, a empresa deve recompor os danos materiais e moraiscausados ec) na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o arbitramento seja feitocaso a caso e com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nívelsocioeconômico do autor, e, ainda, ao porte da empresa, orientando-se o juiz pelos critériossugeridos pela doutrina e jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de suaexperiência e bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, de

    modo que, de um lado, não haja enriquecimento sem causa de quem recebe a indenização

  • 8/20/2019 Ambiental - Jurisprudência STF e STJ

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    e, de outro, haja efetiva compensação pelos danos morais experimentados por aquele quefora lesado.STJ. 2ª Seção. REsp 1.374.284-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2014 (Info

    545).

     A situação fática foi a seguinte:Determinada empresa de mineração deixou vazar resíduos de lama tóxica (bauxita), material queatingiu quilômetros de extensão e se espalhou por cidades dos Estados do Rio de Janeiro e de MinasGerais, deixando inúmeras famílias desabrigadas e sem seus bens móveis e imóveis.

     As pessoas afetadas pelo acidente deverão ser indenizadas? Qual é o tipo de responsabilidade?A responsabilidade por dano ambiental é OBJETIVA, informada pela teoria do RISCO INTEGRAL, nostermos do art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81, recepcionado pelo art. 225, §§ 2º, e 3º, da CF/88:

    Art. 14 (...) § 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meioambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terálegitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meioambiente.

    É possível que a empresa invoque alguma excludente de responsabilidade?NÃO. Como se trata de responsabilidade objetiva, na modalidade do risco integral, não são admitidasexcludentes de responsabilidade, tais como o caso fortuito, a força maior, fato de terceiro ou culpaexclusiva da vítima.A empresa que explora a atividade econômica se coloca na posição de garantidor da preservaçãoambiental, e os danos que digam respeito à atividade estarão sempre vinculados a ela. Por isso, édescabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes deresponsabilidade civil para afastar a sua obrigação de indenizar.Para que haja responsabilidade basta que se prove a ocorrência de resultado prejudicial ao homem eao ambiente advinda de uma ação ou omissão do responsável.

    Quais os critérios que o juiz deverá adotar para fixação dos danos morais?Na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o arbitramento seja feito caso a caso ecom moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível socioeconômico do autor, e, ainda, aoporte da empresa, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e jurisprudência, comrazoabilidade, valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida e àspeculiaridades de cada caso, de modo que, de um lado, não haja enriquecimento sem causa de quemrecebe a indenização e, de outro, haja efetiva compensação pelos danos morais experimentados poraquele que fora lesado.

    INFO – 544

    RESPONSABILIDADE POR DANO AMBIENTALResponsabilidade por dano ambiental é objetiva, sob a modalidade do risco integral

    Importante!!!O particular que deposita resíduos tóxicos em seu terreno, expondo-os a céu aberto, emlocal onde, apesar da existência de cerca e de placas de sinalização informando a presençade material orgânico, o acesso de outros particulares seja fácil, consentido e costumeiro,responde objetivamente pelos danos sofridos por pessoa que, por conduta não dolosa,

    tenha sofrido, ao entrar na propriedade, graves queimaduras decorrentes de contato comos resíduos.

  • 8/20/2019 Ambiental - Jurisprudência STF e STJ

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    STJ. 3ª Turma. REsp 1.373.788-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 6/5/2014

    (Info 544).

    Imagine a seguinte situação adaptada:A indústria “X” possuía um terreno que era utilizado como depósito de resíduos tóxicos.

    Esses restos de material industrial ficavam expostos a céu aberto e o terreno possuía uma cerca, masnão havia fiscalização rigorosa impedindo que pessoas entrassem no local.Determinado dia um garoto de 12 anos que morava em uma chácara nas proximidades, cortoucaminho para sua casa passando por dentro do terreno. Ao entrar em contato com o material tóxico, oadolescente sofreu queimaduras de terceiro grau nos pés.O adolescente ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a indústria.A ré, na contestação, argumentou que a culpa foi exclusiva da vítima já que no local havia cerca e umaplaca com os seguintes dizeres: “Cuidado. Presença de material orgânico”.

     A indústria deverá ser condenada a indenizar o garoto?SIM. Aplica-se no presente caso o princípio do poluidor-pagador, de forma que a indústria temresponsabilidade civil objetiva, sob a modalidade do risco integral.

    Podemos falar no princípio do poluidor-pagador mesmo o dano sendo causado a uma pessoa?SIM. A responsabilidade civil por danos ambientais, seja por lesão ao meio ambiente propriamentedito (dano ambiental público), seja por ofensa a direitos individuais (dano ambiental privado), éobjetiva, fundada na teoria do risco integral, em face do disposto no art. 14, § 1º, da Lei 6.938/1981,que consagra o princípio do poluidor-pagador:

    Art. 14 (...) § 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meioambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terálegitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meioambiente.

    Risco socialA responsabilidade objetiva fundamenta-se na noção de risco social, que está implícito emdeterminadas atividades, como a indústria, os meios de transporte de massa, as fontes de energia.Assim, a responsabilidade objetiva, calcada na teoria do risco, é uma imputação atribuída por lei adeterminadas pessoas para ressarcirem os danos provocados por atividades exercidas no seu interessee sob seu controle, sem que se proceda a qualquer indagação sobre o elemento subjetivo da condutado agente ou de seus prepostos, bastando a relação de causalidade entre o dano sofrido pela vítima ea situação de risco criada pelo agente.Imputa-se objetivamente a obrigação de indenizar a quem conhece e domina a fonte de origem dorisco, devendo, em face do interesse social, responder pelas consequências lesivas da sua atividadeindependente de culpa.

    Qual é o fundamento legal para a teoria do risco?A teoria do risco como cláusula geral de responsabilidade civil restou consagrada no enunciadonormativo do parágrafo único do art. 927 do CC, que assim dispôs:

    Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casosespecificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar,por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

    No caso de dano ambiental aplica-se a teoria do risco de forma extremada?SIM. No caso de danos ambientais, aplica-se a teoria do risco INTEGRAL.

  • 8/20/2019 Ambiental - Jurisprudência STF e STJ

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    A teoria do risco INTEGRAL constitui uma MODALIDADE EXTREMADA da teoria do risco em que o nexocausal é fortalecido. Assim, o nexo causal não se rompe mesmo que se verifique alguma causa quenormalmente seria excludente da responsabilidade (exs: culpa da vítima; fato de terceiro, forçamaior).Essa modalidade (risco integral) é EXCEPCIONAL, sendo fundamento para hipóteses legais em que o

    risco ensejado pela atividade econômica também é extremado, como ocorre com o dano nuclear (art.21, XXIII, “c”, da CF e Lei 6.453/1977). O mesmo ocorre com o dano ambiental (art. 225, caput e § 3º,da CF e art. 14, § 1º, da Lei 6.938/1981), em face da crescente preocupação com o meio ambiente.

     A indústria proprietária do terreno poderia alegar a culpa exclusiva da vítima?NÃO. Em caso de dano ambiental, a responsabilidade civil é objetiva, na modalidade do risco integral,de forma que não são admitidas excludentes de responsabilidade, tais como o caso fortuito, a forçamaior, fato de terceiro ou culpa exclusiva da vítima.Assim, a colocação de placas no local indicando a presença de material orgânico não é suficiente paraexcluir a responsabilidade civil da indústria.

    INFO –

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    Responsabilidade civil e dano ambiental

    Importante!!! A responsabilidade por dano ambiental é OBJETIVA, informada pela teoria do RISCO INTEGRAL. Nãosão admitidas excludentes de responsabilidade, tais como o caso fortuito, a força maior, fato deterceiro ou culpa exclusiva da vítima.O registro de pescador profissional e o comprovante do recebimento do seguro-defeso sãodocumentos idôneos para demonstrar que a pessoa exerce a atividade de pescador. Logo, com taisdocumentos é possível ajuizar a ação de indenização por danos ambientais que impossibilitaram a

     pesca na região.Se uma empresa causou dano ambiental e, em decorrência de tal fato, fez com que determinada

     pessoa ficasse privada de pescar durante um tempo, isso configura dano moral.O valor a ser arbitrado como dano moral não deverá incluir um caráter punitivo. É inadequado

     pretender conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo imediato, pois a puniçãoé função que incumbe ao direito penal e administrativo. Assim, não há que se falar em danos

     punitivos (punitive damages) no caso de danos ambientais. (STJ. 2a Seção. REsp 1.354.536-SE, Rel.Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/3/2014 (recurso repetitivo).

     A seguinte situação fática foi a seguinte:

    No dia 5 de outubro de 2008, a indústria Fertilizantes Nitrogenados de Sergipe (Fafen), subsidiária da

    Petrobrás, deixou vazar para as águas do rio Sergipe cerca de 43 mil litros de amônia, que resultou em

    dano ambiental, provocando a morte de peixes, camarões, mariscos, crustáceos e moluscos e

    consequente quebra da cadeia alimentar do ecossistema fluvial local.

    Maria ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a Fafen e a Petrobrás. Em sua

     petição inicial, juntou seu registro como pescadora profissional e o comprovante de que recebe seguro-

    defeso.

    Diante desse cenário, vejamos os seguintes temas:

    Os pescadores que trabalhavam na região deverão ser indenizados? Qual é o tipo deresponsabilidade?SIM. A responsabilidade por dano ambiental é OBJETIVA, informada pela teoria do RISCO INTEGRAL,nos termos do art. 14, § 1o, da Lei nº 6.938/81, recepcionado pelo art. 225, §§ 2o, e 3o, da CF/88:

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    NÃO. É inadequado pretender conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivoimediato, pois a punição é função que incumbe ao direito penal e administrativo. Assim, não há que sefalar em danos punitivos (punitive damages) no caso de danos ambientais, haja vistaque a responsabilidade civil por dano ambiental prescinde da culpa e revestir a compensação decaráter punitivo propiciaria o bis in idem (pois, como firmado, a punição imediata é tarefa específica

    do direito administrativo e penal).No caso concreto, o STJ considerou razoável a indenização fixada em 3 mil reais a título de danosmorais. 

    Considerando que Maria auferia um lucro mensal de 1 salário mínimo com a atividade de pesca eque ela ficou um ano sem pescar decorrente do acidente, pode-se afirmar que ela terá direito a 12salários mínimos como lucros cessantes?NÃO. O dano material somente é indenizável mediante prova efetiva de sua ocorrência, não havendofalar em indenização por lucros cessantes dissociada do dano efetivamente demonstrado nos autos.Durante o ano que Maria ficou sem pescar houve o período de "defeso" (época do ano na qual éproibida a pesca). Logo, ela não tem direito de receber a indenização por lucros cessantes durante o

    defeso.

    INFO – 531

    Não gera dano moral a conduta do IBAMA de não autorizar a queimada de determinada área,mesmo que em anos anteriores isso tenha sido permitido

    Não gera dano moral a conduta do IBAMA de, após alguns anos concedendo autorizações paradesmatamento e queimada em determinado terreno com a finalidade de preparar o solo paraatividade agrícola, deixar de fazê-lo ao constatar que o referido terreno integra área de preservaçãoambiental.

    Imagine a seguinte situação adaptada:João é dono de uma imensa propriedade rural onde lá desenvolve a atividade agrícola. Durante váriosanos, João obteve autorização do IBAMA para fazer desmatamento e queimada em sua propriedade afim de preparar a terra para a agricultura.Ocorre que, no presente ano, o IBAMA recusou-se a conceder a referida autorização, afirmando quesomente agora constatou que o terreno integra uma área de preservação ambiental.Diante disso, o proprietário, sentindo-se lesado pelo fato de que a autorização já havia sido concedidadurante vários anos, ajuizou uma ação de indenização por danos morais contra o IBAMA.

    Em uma situação análoga a essa, o que decidiu o STJ? Há direito à indenização por dano moral nessecaso?NÃO. O STJ decidiu que não gera dano moral a conduta do IBAMA de, após alguns anos concedendoautorizações para desmatamento e queimada em determinado terreno com a finalidade de preparar osolo para atividade agrícola, deixar de fazê-lo ao constatar que o referido terreno integra área depreservação ambiental. Isso porque a negativa da autarquia em conceder novas autorizações paraqueimada e desmatamento constitui a harmonização de dois valores constitucionais supremos: de umlado, o desenvolvimento do trabalho rural como fator de dignificação da pessoa humana, deerradicação da pobreza e de valorização do núcleo familiar; de outro, a preservação do meio ambienteecologicamente equilibrado como condição de continuidade do desenvolvimento da própria atividaderural.

    O uso de fogo (queimadas) no meio ambiente traz inúmeras implicações negativas à natureza, deforma que não se pode considerar que tal prática atenda à função social da propriedade,especialmente os incisos I e II do art. 186 da CF/88:

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    Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

    I - aproveitamento racional e adequado;

    II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

    O art. 186 está perfeitamente harmonizado com os arts. 5o, XXII, e 225 da CF, não podendo oagricultor deixar de preservar o meio ambiente sob o pretexto de que está exercendo seu direitoconstitucional de propriedade. Isso porque, ao mesmo tempo em que o art. 225 da CF prevê atitularidade coletiva do direito ao meio ambiente, determina também que é dever de toda a sociedadedefendê-lo e preservá-lo, nela incluído, portanto, o próprio agricultor, que está constitucionalmentecomprometido com a exploração sustentável da agricultura.

    O Min. Herman Benjamin explica que o agricultor é simultaneamente agente agressor do meioambiente e também titular do direito difuso à preservação ambiental contra suas próprias técnicas

    agropastoris. Em outras palavras, ao mesmo tempo que tem que preservar o meio ambiente, eletambém é beneficiário da preservação da natureza.

    Assim, não se legitima a pretensão indenizatória que busca responsabilizar o Poder Público porproteger o próprio agricultor  –  na qualidade de titular coletivo do direito ao meio ambienteecologicamente equilibrado – contra os danos provocados pelas suas próprias técnicas de plantio.

    Além disso, a simples vedação da utilização de técnica degradadora no preparo do solo não impedeque se dê continuidade à atividade agrícola com o uso sustentável de técnicas alternativas à queima eao desmatamento.

    A excepcionalidade do emprego do fogo leva à inarredável conclusão de que se trata de uma técnicade uso residual, subsidiário, devendo ser preferidas as formas de preparo do solo que privilegiem aexploração agrícola sustentável.

    O fato de, durante vários anos, ter sido concedida autorização para queimada e desmatamento nãogera um direito adquirido para o agricultor de que nos anos seguintes também será deferido seupedido. A negativa do IBAMA é legítima e está amparara pelo poder de autotutela (Súmula 473 doSTF), por meio do qual a Administração Pública busca justamente recompor a legalidade do atoadministrativo.

    Por fim, ganha substancial relevo o princípio da supremacia do interesse público sobre o privado,porque a limitação imposta pelo Poder Público quanto à forma de exploração da propriedade constituimedida restritiva a um direito individual que, todavia, reverte positivamente em favor de um direitode titularidade difusa – o meio ambiente.

    Posto isso, a eliminação dos fatores de agressão ao meio ambiente, muito antes de obstar aexploração agrícola ou mesmo reduzir sua produtividade, objetiva, justamente, garantir a existência decondições futuras para a continuidade do desenvolvimento da atividade de campo.

    INFO - 526

    ACP proposta pelo MPF para proteção de zona de amortecimento de parque nacional

    O MPF possui legitimidade para propor, na Justiça Federal, ação civil pública que vise à proteção dezona de amortecimento de parque nacional, ainda que a referida área não seja de domínio da União.

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    Imagine a seguinte situação adaptada:Foi construído, indevidamente, um hotel dentro da zona de amortecimento de um Parque Nacionallocalizado no Estado do Ceará.

    Parque NacionalDevemos recordar que Parque Nacional é uma espécie de unidade de conservação, sendoregulamentada pela Lei n º 9.985/2000.

    As unidades de conservação podem ser de dois grupos:I - Unidades de Proteção Integral;II - Unidades de Uso Sustentável.O Parque Nacional integra o grupo das Unidades de Proteção Integral (art. 8o, III).

    Veja o que diz a Lei sobre o Parque Nacional:

    Art. 11. O Parque Nacional tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais degrande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e odesenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato coma natureza e de turismo ecológico.§ 1o O Parque Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas emseus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.§ 2o A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo daunidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e àquelas previstasem regulamento.§ 3o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração daunidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstasem regulamento.§ 4o As unidades dessa categoria, quando criadas pelo Estado ou Município, serão denominadas,respectivamente, Parque Estadual e Parque Natural Municipal.

    Zona de amortecimentoA zona de amortecimento é o entorno de uma unidade de conservação. Na zona de amortecimento,as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o objetivo de minimizar osimpactos negativos sobre a UC (art. 2o, XVIII).

    Voltando ao nosso exemplo:O MPF ajuizou, na Justiça Federal, uma ACP pedindo a demolição do imóvel, que foi construído sem odevido licenciamento ambiental, além da reparação do dano provocado. Em contestação, o réu arguiua incompetência absoluta da Justiça Federal e a ilegitimidade do MPF para a ACP, sob o argumento deque o dano ambiental não ocorreu em propriedade da União, suas autarquias ou fundações, nem emunidade de conservação federal, não havendo, portanto, que se falar em lesão ao patrimônio da Uniãoa justificar a intervenção do MPF.

    A questão chegou até o STJ. O que decidiu a Corte?O MPF possui legitimidade para propor, na Justiça Federal, ação civil pública que vise à proteção dezona de amortecimento de parque nacional, ainda que a referida área não seja de domínio da União.Com efeito, tratando-se de proteção ao meio ambiente, não há competência exclusiva de um ente daFederação para promover medidas protetivas.Impõe-se amplo aparato de fiscalização a ser exercido pelos quatro entes federados,independentemente do local onde a ameaça ou o dano estejam ocorrendo e da competência para olicenciamento.

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    Deve-se considerar que o domínio da área em que o dano ou o risco de dano se manifesta é apenasum dos critérios definidores da legitimidade para agir do MPF.Ademais, convém ressaltar que o poder-dever de fiscalização dos outros entes deve ser exercidoquando determinada atividade esteja, sem o devido acompanhamento do órgão local, causando danosao meio ambiente.

    DANO MORAL COLETIVO

    Na hipótese de ação civil pública proposta em razão de dano ambiental, é possível que a sentençacondenatória imponha ao responsável, cumulativamente, as obrigações de recompor o meioambiente degradado e de pagar quantia em dinheiro a título de compensação por dano moralcoletivo.

    Imagine que determinada empresa causou grave dano ambiental.

    O Ministério Público (ou outro legitimado) poderá ajuizar ação civil pública pedindo que essa

    empresa seja condenada a recompor o meio ambiente?SIM, sem nenhuma dúvida.

    Além disso, é possível que, na ACP, seja pedida a condenação da empresa ao pagamento de danosmorais em favor da coletividade? Em outras palavras, é cabível dano moral coletivo em razão dedano ambiental?SIM. A 2a Turma do STJ decidiu recentemente que é possível que a sentença condene o infratorambiental ao pagamento de quantia em dinheiro a título de compensação por dano moral coletivo(REsp 1.328.753-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/5/2013). Assim, apesar de existirem precedentes da 1a Turma em sentido contrário (AgRg noREsp.1305977/MG, julgado em 09/04/2013), a posição majoritária (não pacífica) é no sentido de sercabível a condenação por dano moral coletivo.

    É possível, então, que a empresa seja condenada, cumulativamente, a recompor o meio ambiente ea pagar indenização por dano moral coletivo?SIM. Isso porque vigora em nosso sistema jurídico o princípio da reparação integral do dano ambiental,de modo que o infrator deverá ser responsabilizado por todos os efeitos decorrentes da condutalesiva, permitindo-se que haja a cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar.O art. 3o da Lei nº 7.347/85 afirma que a ACP “poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o

    cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”. Para o STJ, essa conjunção “ou” –  contida no citadoartigo, tem um sentido de adição (soma), não representando uma alternativa excludente. Em outraspalavras, será possível a condenação em dinheiro e também ao cumprimento de obrigação defazer/não fazer.

    Veja precedente nesse sentido:(...) Segundo a jurisprudência do STJ, a logicidade hermenêutica do art. 3o da Lei 7.347/1985 permite acumulação das condenações em obrigações de fazer ou não fazer e indenização pecuniária em sede deação civil pública, a fim de possibilitar a concreta e cabal reparação do dano ambiental pretérito, jáconsumado. Microssistema de tutela coletiva. (...)

    4. O dano moral coletivo ambiental atinge direitos de personalidade do grupo massificado, sendodesnecessária a demonstração de que a coletividade sinta a dor, a repulsa, a indignação, tal qual fosseum indivíduo isolado. (...) (REsp 1269494/MG, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em24/09/2013).

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    Vale ressaltar que é possível imaginarmos a existência de danos morais coletivos em outras áreas,além do Direito Ambiental. É o caso, por exemplo, do Direito do Consumidor. Ressalte-se que,recentemente, a 3a Turma do STJ decidiu o seguinte:O banco pode ser condenado a pagar reparação por dano moral coletivo, em ação civil pública, pelofato de oferecer, em sua agência, atendimento inadequado aos consumidores idosos, deficientes

    físicos e com dificuldade de locomoção.No caso concreto, o atendimento desses clientes era realizado somente no segundo andar da agênciabancária, cujo acesso se dava por três lances de escada. (STJ. 3a Turma. REsp 1.221.756-RJ, rel. Min.Massami Uyeda, julgado em 02/02/2012)

    O CDC autoriza expressamente a indenização por danos morais coletivos dos consumidores:

    Art. 6o São direitos básicos do consumidor:VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;

    O que são danos sociais? Danos sociais e danos morais coletivos são expressões sinônimas?

    NÃO. Dano social não é sinônimo de dano moral coletivo. Danos sociais, segundo Antônio Junqueira deAzevedo, “são lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimôniomoral  –  principalmente a respeito da segurança  –  quanto por diminuição na qualidade de vida. Osdanos sociais são causa, pois, de indenização punitiva por dolo ou culpa grave, especialmente,repetimos, se atos que reduzem as condições coletivas de segurança, e de indenização dissuasória, seatos em geral da pessoa jurídica, que trazem uma diminuição do índice de qualidade de vida dapopulação.” (p. 376). O dano social seria uma outra espécie de dano, que não se confunde com os danos materiais, morais eestéticos.Os danos sociais são causados por comportamentos exemplares negativos ou condutas socialmentereprováveis. Alguns exemplos dados por Junqueira de Azevedo: o pedestre que joga papel no chão, opassageiro que atende ao celular no avião, o pai que solta balão com seu filho. Tais condutassocialmente reprováveis podem gerar danos como o entupimento de bueiros em dias de chuva,problemas de comunicação do avião causando um acidente aéreo, o incêndio de casas ou de florestaspor conta da queda do balão etc.Diante da prática dessas condutas socialmente reprováveis, o juiz deverá condenar o agente a pagaruma indenização de caráter punitivo, dissuasório ou didático, a título de dano social.Segundo explica Flávio Tartuce, os danos sociais são difusos e a sua indenização deve ser destinadanão para a vítima, mas sim para um fundo de proteção ao consumidor, ao meio ambiente etc., oumesmo para uma instituição de caridade, a critério do juiz (Manual de Direito do Consumidor. SãoPaulo: Método, 2013, p. 58). É a aplicação da função social da responsabilidade civil (PEREIRA, RicardoDiego Nunes. Os novos danos: danos morais coletivos, danos sociais e danos por perda de uma chance.Disponível em: http://ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11307).

    Ricardo Pereira cita alguns casos práticos. Um deles é a decisão do TRT-2a Região (processo2007-2288), que condenou o Sindicato dos Metroviários de São Paulo e a Cia do Metrô a pagarem 450cestas básicas a entidades beneficentes por terem realizado uma greve abusiva que causou prejuízo àcoletividade.Outro exemplo foi o caso de uma fraude ocorrida em um sistema de loterias, no Rio Grande do Sul,chamado de “Toto Bola”. Ficou constatado que a loteria seria fraudulenta, retirando do consumidor aschances de vencer. Nesse episódio, o TJ/RS, no Recurso Cível 71001281054, DJ 18/07/2007,determinou, de ofício, indenização a título de dano social para o Fundo de Proteção aosConsumidores. Veja a ementa do julgado:

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    (...) 1. Não há que se falar em perda de uma chance, diante da remota possibilidade de ganho em umsistema de loterias. Danos materiais consistentes apenas no valor das cartelas comprovadamenteadquiridas, sem reais chances de êxito.

    2. Ausência de danos morais puros, que se caracterizam pela presença da dor física ou sofrimento

    moral, situações de angústia, forte estresse, grave desconforto, exposição à situação de vexame,vulnerabilidade ou outra ofensa a direitos da personalidade.

    3. Presença de fraude, porém, que não pode passar em branco. Além de possíveis respostas na esferado direito penal e administrativo, o direito civil também pode contribuir para orientar os atores sociaisno sentido de evitar determinadas condutas, mediante a punição econômica de quem age emdesacordo com padrões mínimos exigidos pela ética das relações sociais e econômicas. Trata-se dafunção punitiva e dissuasória que a responsabilidade civil pode, excepcionalmente, assumir, ao lado desua clássica função reparatória/compensatória. “O Direito deve ser mais esperto do que o torto”,frustrando as indevidas expectativas de lucro ilícito, à custa dos consumidores de boa fé.

    4. Considerando, porém, que os danos verificados são mais sociais do que propriamente individuais,não é razoável que haja uma apropriação particular de tais valores, evitando-se a disfunção alhuresdenominada de overcompensation. Nesse caso, cabível a destinação do numerário para o Fundo deDefesa de Direitos Difusos, criado pela Lei 7.347/85, e aplicável também aos danos coletivos deconsumo, nos termos do art. 100, parágrafo único, do CDC. Tratando-se de dano social ocorrido noâmbito do Estado do Rio Grande do Sul, a condenação deverá reverter para o fundo gaúcho de defesado consumidor. (...)(TJRS  –  Recurso Cível 71001281054  –  Primeira Turma Recursal Cível, TurmasRecursais – Rel. Des. Ricardo Torres Hermann – j. 12.07.2007).

    Em Goiás, a Turma Recursal dos Juizados Especiais condenou um banco a pagar 15 mil reais deindenização por danos sociais e 2.500 reais por danos morais em razão de um cliente ter esperadomuito tempo para ser atendido. O valor da indenização por danos morais foi destinado ao cliente e areparação por danos sociais revertida em favor de uma instituição de caridade. A referida decisão,contudo, foi suspensa pelo STJ em virtude de a condenação por danos sociais ter sido em sede derecurso do banco, configurando reformatio in pejus (AgRg na Reclamação No 13.200 – GO).

    Na V Jornada de Direito Civil do CJF/STJ foi aprovado um enunciado reconhecendo a existência dosdanos sociais:

    Enunciado 455: A expressão “dano” no art. 944 abrange não só os danos individuais, materiais ou

    imateriais, mas também os danos sociais, difusos, coletivos e individuais homogêneos a seremreclamados pelos legitimados para propor ações coletivas.

    Obras consultadas: AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Por uma nova categoria de dano na responsabilidade civil: o danosocial. In: FILOMENO, José Geraldo Brito; WAGNER JR., Luiz Guilherme da Costa;GONÇALVES, Renato Afonso (coord.). O Código Civil e sua interdisciplinariedade. Belo Horizonte: DelRey, 2004.TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito do Consumidor. 2a ed., SãoPaulo: Método, 2013.