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Informativo 917-STF (02/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 917-STF Márcio André Lopes Cavalcante Processos não comentados pelo fato de não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista. Serão comentados assim que chegarem ao fim: ADI 5617 ED/DF; HC 138097/SP. ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Cabe ADI contra recomendação de Tribunal que fixa a competência da Justiça do Trabalho para autorizar o trabalho de crianças e adolescentes em eventos de natureza artística. ABERT tem legitimidade para propor ADI. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local, ainda que, de modo reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor. DIREITO ADMINISTRATIVO ANISTIADO POLÍTICO Pagamento dos valores retroativos a anistiados políticos. DIREITO ELEITORAL TÍTULO DE ELEITOR É válido o cancelamento do título do eleitor que não comparecer à revisão eleitoral. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE PARTICIPAÇÃO EM ESPETÁCULOS PÚBLICOS Compete à Justiça Estadual (e não à Justiça do Trabalho) autorizar trabalho artístico de crianças e adolescentes. DIREITO DO CONSUMIDOR COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS É constitucional lei municipal que proíbe a conferência de mercadorias realizada na saída de estabelecimentos comerciais após o cliente efetuar o pagamento no caixa. DIREITO PROCESSUAL PENAL AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA Decisão proferida em audiência de custódia reconhecendo a atipicidade do fato não faz coisa julgada. DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO PARTICIPAÇÃO EM ESPETÁCULOS PÚBLICOS Compete à Justiça Estadual (e não à Justiça do Trabalho) autorizar trabalho artístico de crianças e adolescentes.

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Informativo 917-STF (02/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Informativo comentado: Informativo 917-STF

Márcio André Lopes Cavalcante Processos não comentados pelo fato de não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista. Serão comentados assim que chegarem ao fim: ADI 5617 ED/DF; HC 138097/SP.

ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Cabe ADI contra recomendação de Tribunal que fixa a competência da Justiça do Trabalho para autorizar o trabalho

de crianças e adolescentes em eventos de natureza artística. ABERT tem legitimidade para propor ADI. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local, ainda que, de modo reflexo,

tratem de direito comercial ou do consumidor.

DIREITO ADMINISTRATIVO

ANISTIADO POLÍTICO Pagamento dos valores retroativos a anistiados políticos. DIREITO ELEITORAL

TÍTULO DE ELEITOR É válido o cancelamento do título do eleitor que não comparecer à revisão eleitoral. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

PARTICIPAÇÃO EM ESPETÁCULOS PÚBLICOS Compete à Justiça Estadual (e não à Justiça do Trabalho) autorizar trabalho artístico de crianças e adolescentes.

DIREITO DO CONSUMIDOR

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS É constitucional lei municipal que proíbe a conferência de mercadorias realizada na saída de estabelecimentos

comerciais após o cliente efetuar o pagamento no caixa.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA Decisão proferida em audiência de custódia reconhecendo a atipicidade do fato não faz coisa julgada.

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

PARTICIPAÇÃO EM ESPETÁCULOS PÚBLICOS Compete à Justiça Estadual (e não à Justiça do Trabalho) autorizar trabalho artístico de crianças e adolescentes.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Cabe ADI contra recomendação de Tribunal que fixa a competência da Justiça do Trabalho para

autorizar o trabalho de crianças e adolescentes em eventos de natureza artística

Importante!!!

Cabe ADI contra recomendação conjunta de Tribunal de Justiça e de Tribunal Regional do Trabalho recomendando aos juízes que considerem como sendo da Justiça do Trabalho a competência para autorizar o trabalho de crianças e adolescentes em eventos de natureza artística.

Esta recomendação deve ser considerada como ato de caráter primário, autônomo e cogente, inovando no ordenamento jurídico, razão pela qual pode ser impugnada por meio de ADI.

STF. Plenário. ADI 5326/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 27/9/2018 (Info 917).

Imagine a seguinte situação: A Corregedoria do TJ/SP e as Corregedorias dos TRTs com jurisdição em São Paulo (TRT02 e TRT15), em conjunto com o MP/SP e com os MPTs que atuam em São Paulo (MPT02 / MPT15) editaram uma recomendação para seus membros dizendo que a competência para autorizar a participação de crianças e adolescentes em espetáculos artísticos seria da Justiça do Trabalho. Veja:

Recomendação Conjunta 1/2014 das Corregedorias dos Tribunais de Justiça e do Trabalho, e dos Ministérios Públicos estadual e do Trabalho, todos do Estado de São Paulo:

RECOMENDAR aos Juízes de Direito da Infância e da Juventude, aos Juízes do Trabalho da Segunda e da Décima Quinta Região e aos Membros do Ministério Público Estadual e do Ministério Público do Trabalho da Segunda e da Décima Quinta Região, que tomem como diretriz, para efeito de competência: I - As causas que tenham como fulcro os direitos fundamentais da criança e do adolescente e sua proteção integral, nos termos da Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, inserem-se no âmbito da competência dos Juízes de Direito da Infância e da Juventude; II - As causas que tenham como fulcro a autorização para trabalho de crianças e adolescentes, inclusive artístico e desportivo, e outras questões conexas derivadas dessas relações de trabalho, debatidas em ações individuais e coletivas, inserem-se no âmbito da competência dos Juízes do Trabalho, nos termos do art. 114, incisos I e IX, da Constituição da República.

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) ajuizou ADI contra esse ato normativo. Indaga-se: essa ação foi conhecida? Cabe ADI neste caso? SIM. Por meio da dita “Recomendação”, fixou-se a competência da Justiça do Trabalho para analisar os pedidos de autorização para crianças e adolescentes participarem em eventos de natureza artística. Apesar de ter sido nominado como “recomendação”, o que se observa é que se trata de um verdadeiro ato de caráter geral e abstrato definindo competência para os juízes trabalhistas. Como é um ato emanado pelas Corregedorias dos referidos Tribunais, é de se supor que os juízes a eles vinculados se sentirão propensos a cumpri-las. Diante disso, o STF entendeu que essa recomendação conjunta representava um ato normativo de caráter cogente e vinculativo que alterou o entendimento até então prevalecente no sentido de que a competência seria da Justiça Estadual.

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Assim, considerou-se que esse ato inovou no ordenamento jurídico, fixando competência jurisdicional com suposto fundamento direto nos incisos I e IX do art. 114 da CF/88. Esta recomendação conjunta fez, portanto, o papel que seria próprio de lei ordinária. Logo, a ação direta foi conhecida porque se considerou que tal recomendação possuía caráter primário e autônomo. Em suma:

Cabe ADI contra recomendação conjunta de Tribunal de Justiça e de Tribunal Regional do Trabalho recomendando aos juízes que considerem como sendo da Justiça do Trabalho a competência para autorizar o trabalho de crianças e adolescentes em eventos de natureza artística. Esta recomendação deve ser considerada como ato de caráter primário, autônomo e cogente, inovando no ordenamento jurídico, razão pela qual pode ser impugnada por meio de ADI. STF. Plenário. ADI 5326/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 27/9/2018 (Info 917).

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ABERT tem legitimidade para propor ADI

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) possui legitimidade para propor ADI contra ato normativo que previa que a competência para autorizar o pedido de trabalho de crianças e adolescentes em espetáculos artísticos seria da Justiça do Trabalho.

A ABERT enquadra-se no conceito de entidade de classe de âmbito nacional (art. 103, IX, da CF/88) e possui pertinência temática para questionar ato normativo que versa sobre esse tema, considerando a participação de crianças e adolescentes nos programas de suas associadas.

STF. Plenário. ADI 5326/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 27/9/2018 (Info 917).

Imagine a seguinte situação: A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) ajuizou ADI contra determinado ato normativo que previa que a competência para autorizar o trabalho de crianças e adolescentes em espetáculos artísticos seria da Justiça do Trabalho. Indaga-se: a ABERT tem legitimidade para a presente ação? SIM. A ABERT é uma associação de âmbito nacional que reúne as empresas de radiodifusão, abrangendo as emissoras de rádio (radiodifusão de sons) e as emissoras de televisão (radiodifusão de sons e imagens). Trata-se, portanto, de entidade de classe de âmbito nacional, nos termos do art. 103, IX, da CF/88:

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: (...) IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

Legitimados universais e não-universais (especiais) A jurisprudência do STF construiu a tese de que alguns dos legitimados do art. 103 da CF/88 poderiam ajuizar ações diretas de inconstitucionalidade questionando leis ou atos normativos que tratassem sobre todo e qualquer assunto. Tais legitimados seriam, portanto, legitimados ativos universais. Por outro lado, o STF afirmou que os demais legitimados, ao proporem a ADI, deveriam comprovar que possuem legítimo interesse na ação. São, por isso, chamados de legitimados ativos especiais. Este legítimo interesse que precisa ser demonstrado é chamado de pertinência temática.

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Legitimados ativos da ADI e ADC

UNIVERSAIS (NEUTROS) ESPECIAIS (NÃO UNIVERSAIS)

São aqueles que podem propor ADI e ADC contra leis ou atos normativos que versem sobre qualquer matéria, sem a necessidade de comprovar interesse específico no julgamento da ação.

São aqueles que somente podem propor ADI e ADC contra leis ou atos normativos que tratem sobre matérias que digam respeito às funções ou objetivos do órgão ou entidade. O autor especial terá que provar o seu interesse específico no julgamento daquela ação. Terá que ser provada a pertinência temática entre a norma impugnada e os objetivos do autor da ação.

Quem são os legitimados universais: • Presidente da República; • Mesa do Senado e Mesa da Câmara; • Procurador-Geral da República; • Conselho Federal da OAB • Partido político com representação no CN.

Quem são os legitimados especiais: • Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do DF; • Governador de Estado/DF; • Confederação sindical; • Entidade de classe de âmbito nacional.

A entidade de classe de âmbito nacional, por ser um legitimado especial, deverá provar que a legislação questionada guarda relação de pertinência temática com as finalidades institucionais dessa entidade (STF. Plenário. ADI 2903, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 01/12/2005).

Pertinência temática No caso, restou demonstrada a pertinência temática entre o objeto da ADI e o campo de atuação da ABERT. Isso porque diversas associadas da requerente (emissoras de TV) contam com a participação de crianças e adolescentes em suas novelas e programas. Por isso, é fundamental que elas saibam, com segurança, qual o juízo competente, de acordo com a Constituição, para apreciar tais pedidos. Essa segurança jurídica é indispensável para que as associadas da ABERT possam desempenhar adequadamente suas atividades.

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local, ainda que, de

modo reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor

Importante!!!

É constitucional lei municipal que proíbe a conferência de mercadorias realizada na saída de estabelecimentos comerciais localizados na cidade. A Lei prevê que, após o cliente efetuar o pagamento nas caixas registradoras da empresa instaladas, não é possível nova conferência na saída.

Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local (art. 30, I, da CF/88), ainda que, de modo reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor.

STF. 2ª Turma. RE 1.052.719 AgR/PB, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 25/9/2018 (Info 917).

Prática de vistoriar as mercadorias adquiridas pelos consumidores na saída do estabelecimento Existem alguns supermercados, normalmente atacadistas, que colocam um funcionário na porta de saída da loja e que fica responsável por conferir as mercadorias que a pessoa está levando em comparação com a nota fiscal. O Makro, por exemplo, faz isso. Nos EUA, a rede Costco também adota esse procedimento. Assim, após o cliente pagar as suas compras no caixa, ele ainda tem que apresentar a nota fiscal na saída do estabelecimento e o funcionário confere se os itens que estão no carrinho de compra constam na nota.

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Posição de alguns Ministérios Públicos Normalmente, o procedimento acima descrito é rápido e não gera nenhum constrangimento ao consumidor, sendo uma mera conferência. Apesar disso, existem algumas ações civis públicas propostas pelo Ministério Público questionando a conduta. Alegam que se trata de ação intimidatória e desproporcional porque o comerciante detém meios menos gravosos para exercer vigilância, como é o caso da instalação de alarmes e câmeras, além da presença de fiscais no interior das lojas. Esse entendimento é acolhido pelo STJ? Em regra, NÃO. A realização de vistoria em mercadorias adquiridas pelo consumidor na saída do estabelecimento comercial, por si só, realizada de forma indistinta e desprovida de caráter acusatório, não configura conduta abusiva. Nesse sentido:

A prática da conferência indistinta de mercadorias pelos estabelecimentos comerciais, após a consumação da venda, é em princípio lícito e tem como base o exercício do direito de vigilância e proteção ao patrimônio, razão pela qual não constitui, por si só, prática abusiva. Se a revista dos bens adquiridos é realizada em observância aos limites da urbanidade e civilidade, constitui mero desconforto, a que atualmente a grande maioria dos consumidores se submete, em nome da segurança. STJ. 3ª Turma. REsp 1120113/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/02/2011.

Mais recentemente: STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1660314/GO, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 07/11/2017. Lei municipal Alguns Municípios decidiram, no entanto, proibir essa prática. Foi o caso, por exemplo, da cidade de Campina Grande (PB), que editou uma lei municipal (Lei 4.845/2009) proibindo a conferência de mercadorias realizada na saída de estabelecimentos comerciais localizados na cidade. A Lei prevê que, após o cliente efetuar o pagamento nas caixas registradoras da empresa instaladas, não é possível nova conferência na saída. O estabelecimento poderá receber sanções administrativas em caso de descumprimento da medida. A constitucionalidade dessa lei foi questionada sob o argumento de que teria havido invasão de competência da União. O que decidiu o STF? Essa lei é inconstitucional? NÃO. O STF decidiu que essa lei é constitucional. Competência dos Municípios para legislar sobre assuntos de interesse local Compete ao município legislar sobre assuntos de interesse local, nos termos do art. 30, I, da CF/88:

Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local;

Assim, os Municípios podem legislar sobre proteção ao consumidor, desde que fiquem restritos ao interesse local. Nesse sentido:

Lei do Município de Campos do Jordão fixou tempo máximo de espera para atendimento em caixas de supermercado. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal vem reiteradamente afirmando a competência dos municípios para legislar sobre matéria consumerista quando sobreleva o interesse local, como ocorre no

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caso dos autos, em que a necessidade de um melhor atendimento aos consumidores nos supermercados e hipermercados é aferível em cada localidade, a partir da observação da realidade local. STF. 2ª Turma. RE 818550 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 06/10/2017.

Compete ao município legislar sobre medidas que propiciem segurança, conforto e rapidez aos usuários de serviços bancários, uma vez que tratam de assuntos de interesse local. STF. 2ª Turma. ARE 747757 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/06/2014.

Os Municípios detêm competência para legislar determinando a instalação de sanitários nas agências bancárias, uma vez que essa questão é de interesse local e diz respeito às normas de proteção das relações de consumo, posto que visa o maior conforto dos usuários daquele serviço, não se confundindo com a atividade-fim das instituições bancárias. STF. 1ª Turma. RE 266536 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/04/2012.

Súmula Vinculante 38-STF: É competente o município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento comercial.

Súmula 19-STJ: A fixação do horário bancário, para atendimento ao público, é da competência da União.

Proteção das relações de consumo A lei atacada está dentro da competência legislativa municipal, porque diz respeito à proteção das relações de consumo dos seus munícipes. Ela tem por objetivo evitar o constrangimento dos particulares e de lhes proporcionar maior conforto, haja vista que impede a dupla conferência das mercadorias e evita o enfrentamento de várias filas.

Municípios podem legislar sobre direito do consumidor, desde que em assuntos de interesse local Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local, ainda que, de modo reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor. Ao se analisar leis municipais que tratem sobre assuntos de interesse local, o STF tem procurado conferir uma interpretação constitucional que seja mais favorável à autonomia legislativa dos municípios, haja vista ter sido essa a intenção do constituinte ao elevá-los ao status de entes federativos na CF/88. Essa autonomia revela-se primordialmente quando o município exerce, de forma plena, sua competência legislativa em matéria de interesse da municipalidade, como previsto no art. 30, I, da CF/88. Em outras palavras, uma das expressões da autonomia municipal é justamente a sua competência para legislar sobre assuntos de interesse local. Por isso, toda interpretação que limite ou mesmo vede a atuação legislativa do Município deve considerar a primazia do interesse da matéria regulada, de modo a preservar a essencial autonomia desse ente político no sistema federativo pátrio.

Não houve violação ao art. 22, I, da CF/88 O STF ressaltou que a referida lei tratou sobre o bem-estar dos consumidores e, portanto, não houve qualquer relação com a atividade-fim das empresas, razão pela qual não se pode dizer que a lei disponha sobre direito civil ou direito comercial. Logo, não houve violação do art. 22, I, da CF/88.

Interesse local Não existe um critério objetivo para definir, de maneira absolutamente segura, em que consiste interesse local e quando a legislação ultrapassa isso. Assim, deve-se prestigiar a vereança local, que bem conhece a realidade e as necessidades da comunidade.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

ANISTIADO POLÍTICO Pagamento dos valores retroativos a anistiados políticos

1 - Reconhecido o direito à anistia política, a falta de cumprimento de requisição ou determinação de providências por parte da União, por intermédio do órgão competente, no prazo previsto nos artigos 12, parágrafo 4º, e 18, caput, parágrafo único, da Lei 10.559 de 2002, caracteriza ilegalidade e violação de direito líquido e certo.

2 - Havendo rubricas no orçamento destinadas ao pagamento das indenizações devidas aos anistiados políticos, e não demonstrada a ausência de disponibilidade de caixa, a União há de promover o pagamento do valor ao anistiado no prazo de 60 dias.

3 - Na ausência ou na insuficiência de disponibilidade orçamentária no exercício em curso, cumpre à União promover sua previsão no projeto de lei orçamentária imediatamente seguinte.

STF. Plenário. RE 553710/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2016 (repercussão geral) (Info 847).

STF. 1ª Turma. RMS 28201/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 25/9/2018 (Info 917).

Imagine a seguinte situação hipotética: João foi vítima de perseguição política praticada pelo governo federal durante a época da ditadura militar instalada no Brasil em 1964. Ele era cabo da Aeronáutica e, por ser considerado “subversivo” pelo regime militar, foi expulso das Forças Armadas. Anistia política e reparação de natureza econômica A fim de reparar política e economicamente situações como a que foi relatada acima e que atingiram milhares de indivíduos na época da ditadura militar, a CF/88 previu, no art. 8º do ADCT, que a União poderá conceder anistia política a pessoas que foram prejudicadas por perseguições decorrentes de motivação política no período de 18/09/1946 até a data de promulgação da Constituição. Há previsão também de que o anistiado receba uma reparação de natureza econômica, a ser paga pela União, em alguns casos nos quais fique demonstrado que ele sofreu prejuízos em sua atividade laboral. A Lei nº 10.559/2002 regulamentou o art. 8º do ADCT e a concessão dessa reparação econômica para os anistiados. Veja:

Art. 1º O Regime do Anistiado Político compreende os seguintes direitos: I - declaração da condição de anistiado político; II - reparação econômica, de caráter indenizatório, em prestação única ou em prestação mensal, permanente e continuada, asseguradas a readmissão ou a promoção na inatividade, nas condições estabelecidas no caput e nos §§ 1º e 5º do art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias; (...) Art. 3º A reparação econômica de que trata o inciso II do art. 1º desta Lei, nas condições estabelecidas no caput do art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, correrá à conta do Tesouro Nacional. (...) Art. 4º A reparação econômica em prestação única consistirá no pagamento de trinta salários mínimos por ano de punição e será devida aos anistiados políticos que não puderem comprovar vínculos com a atividade laboral. (...)

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Art. 5º A reparação econômica em prestação mensal, permanente e continuada, nos termos do art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, será assegurada aos anistiados políticos que comprovarem vínculos com a atividade laboral, à exceção dos que optarem por receber em prestação única. (...) Art. 6º O valor da prestação mensal, permanente e continuada, será igual ao da remuneração que o anistiado político receberia se na ativa estivesse, (...)

Breve explicação sobre o procedimento administrativo Os pedidos de anistia política são analisados pela "Comissão de Anistia", órgão do Ministério da Justiça que tem a finalidade de examinar os requerimentos formulados e assessorar o Ministro de Estado em suas decisões. A Comissão de Anistia poderá realizar diligências, requerer informações e documentos, ouvir testemunhas e emitir pareceres técnicos com o objetivo de instruir os processos e requerimentos, bem como arbitrar, com base nas provas obtidas, o valor das indenizações nos casos que não for possível identificar o tempo exato de punição do interessado (art. 12, § 3º da Lei nº 10.559/2002). Após a Comissão de Anistia elaborar o parecer sobre o pedido, este é encaminhado ao Ministro da Justiça, que é a autoridade competente para decidir sobre a anistia (art. 10). Se for concedida, a anistia é conferida por meio de Portaria assinada pelo Ministro. O Ministro da Justiça deverá, então, comunicar que deferiu a anistia e solicitar que seja feito o pagamento das reparações econômicas. Esta comunicação/solicitação é feita ao:

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, se a anistia foi concedida a um civil.

Ministério da Defesa, em caso de anistia concedida aos militares.

A decisão do Ministro da Justiça concedendo a anistia deverá ser obrigatoriamente cumprida no prazo de 60 dias, por todos os órgãos da Administração Pública e quaisquer outras entidades a que estejam dirigidas, ressalvada a disponibilidade orçamentária. Assim, o Ministério do Planejamento ou o Ministério da Defesa possuem 60 dias para pagar a reparação econômica ao anistiado.

Voltando ao exemplo dado no início: Em 1998, João requereu a anistia política e seus efeitos. Em 2004, a anistia foi concedida pela Portaria 84/2004 do Ministério da Justiça. Desde então, o anistiado recebe reparação econômica mensal, permanente e continuada, de R$ 3.000,00. Ocorre que o Governo ainda não lhe pagou os valores atrasados relativos ao período que vai de 1998 a 2004, o que totaliza cerca de R$ 200.000,00. Três meses depois, João impetrou mandado de segurança contra o Ministro da Defesa afirmando que já se passou o prazo de 60 dias previsto na Lei sem que ele tenha recebido a quantia atrasada. Diante disso, pugnou o cumprimento integral da portaria e, consequentemente, o pagamento dos valores pretéritos. Cabe mandado de segurança neste caso? SIM. A falta de cumprimento integral da portaria de anistia por parte da União no prazo de 60 dias previsto no art. 12, § 4º e no art. 18 da Lei nº 10.559/2002, caracteriza ilegalidade e violação de direito líquido e certo do anistiado. Configurado o direito líquido e certo do anistiado, ele poderá impetrar mandado de segurança, considerando que o pedido e a causa de pedir desta ação é o cumprimento integral da Portaria, que consiste em uma obrigação de fazer. É claro que o cumprimento efetivo da Portaria irá provocar efeitos patrimoniais em favor do autor, mas o pedido do MS é que ele seja reconhecido de forma efetiva como anistiado político. O pagamento dos valores é mera consequência disso. Nesse sentido: STF. 1ª Turma. RMS 26.899/DF, Min. Rel. Cármen Lúcia, DJe de 6/8/10.

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Diferentemente de uma ação de cobrança que é proposta para o pagamento de valores atrasados, no caso em tela temos um mandado de segurança impetrado para que seja cumprida norma editada pela própria Administração (Portaria do Ministro da Justiça). Logo, não incide no caso a proibição contida nas súmulas 269 e 271 do STF:

Súmula 271-STF: Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais, em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria. Súmula 269-STF: O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.

Se houver previsão no orçamento da União para o pagamento das reparações econômicas aos anistiados, o Poder Judiciário poderá determinar na ação judicial o pagamento desses valores ao autor? SIM. Havendo rubricas no orçamento destinadas ao pagamento das indenizações devidas aos anistiados políticos, e não demonstrada a ausência de disponibilidade de caixa, a União pode ser condenada a promover o pagamento do valor ao anistiado no prazo de 60 dias. A União teria êxito em sua defesa se alegasse que, em tese, o pagamento dos valores retroativos levaria a uma situação de exaustão orçamentária? Em outras palavras, a União teria sucesso em alegar, de forma genérica, que decisões desse tipo podem levar a União à insolvência? NÃO. A inexistência de recursos deve ser real, demonstrada de forma concreta. Não basta que a União alegue que as decisões judiciais poderão levar a Administração à exaustão orçamentária. A exaustão já deve estar presente, a indisponibilidade de caixa deve ser situação presente e não mera possibilidade futura, o que deve ser analisado em cada caso. Essa condenação viola o princípio da legalidade da despesa pública? NÃO. Segundo este princípio, a despesa pública somente pode ser efetuada mediante prévia autorização da lei. Encontra-se previsto nos arts. 165, § 8º, e 167, I, II, V, VI e VII da CF/88:

Art. 167. São vedados: I - o início de programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária anual; II - a realização de despesas ou a assunção de obrigações diretas que excedam os créditos orçamentários ou adicionais; (...) V - a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia autorização legislativa e sem indicação dos recursos correspondentes; (...) § 3º - A abertura de crédito extraordinário somente será admitida para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública, observado o disposto no art. 62.

Trata-se da aplicação do princípio da legalidade (art. 37, caput, da CF/88) no âmbito das despesas públicas. O administrador de recursos públicos somente pode gastar aquilo que a lei prevê e na forma que a lei autoriza. Por isso, a Administração Pública deve atuar de acordo com parâmetros e valores determinados pela Lei Orçamentária Anual (LOA), que, por sua vez, deve estar adequada à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e ao Plano Plurianual. Ficando demonstrado que existe dotação orçamentária, não há afronta ao princípio da legalidade da despesa pública ou às regras constitucionais que impõem limitações às despesas de pessoal e concessões de vantagens e benefícios pessoais. Quando o Poder Judiciário determina o pagamento desses valores atrasados ao anistiado político, isso deverá ser feito por meio de precatório (art. 100 da CF/88)? NÃO. O STF entende que o regime de indenização dos anistiados é especialíssimo, inclusive tem previsão

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constitucional explícita no ADCT. Assim, o tempo de espera para o ressarcimento para a indenização de vida aos anistiados é particularmente longo, superando, muitas vezes, três décadas. Logo, submeter os anistiados ao regime comum dos precatórios iria contrariar os objetivos da Constituição de reparar os danos causados aos anistiados. Nesse sentido foi o voto do Min. Ayres Britto, no RMS 27.357/DF. Além disso, há outro argumento: o art. 100 trata de valores devidos pela Fazenda Pública em virtude de sentença judiciária. Ocorre que, no caso do mandado de segurança, não se está condenando o Poder Público ao pagamento de um determinado valor em razão de uma decisão judicial. Na verdade, a Administração Pública já reconheceu, administrativamente, por meio da Portaria do MJ, que o autor possui direito àquele valor decorrente da declaração de anistiado. Desse modo, pode-se dizer que a dívida da Fazenda Pública não foi reconhecida por meio de uma decisão do Poder Judiciário. A discussão tratada no MS diz respeito ao momento do pagamento. O que se tem no caso é uma obrigação de fazer que cabia à União e que está sendo descumprida. Assim, sendo a segurança concedida, deverá a União efetuar o pagamento imediato dos valores atrasados ao anistiado, não sendo necessário ingressar no regime dos precatórios. E se ficar demonstrado, no caso concreto, que não há disponibilidade orçamentária para o pagamento da reparação econômica? Se não houver disponibilidade orçamentária no exercício em curso ou esta for insuficiente, a União deverá ser condenada a incluir a previsão dos respectivos recursos no projeto de lei orçamentária do ano seguinte. Princípio da dignidade da pessoa humana A recusa de incluir em orçamento o crédito previsto na Portaria do Ministério da Justiça afronta o princípio da dignidade da pessoa humana, por se tratar de cidadão cujos direitos preteridos por atos de exceção política foram admitidos com anos de atraso pelo Poder Público. O tema acima foi julgado em recurso extraordinário sob o rito da repercussão geral, tendo sido firmadas as seguintes teses:

1 - Reconhecido o direito à anistia política, a falta de cumprimento de requisição ou determinação de providências por parte da União, por intermédio do órgão competente, no prazo previsto nos artigos 12, parágrafo 4º, e 18, caput, parágrafo único, da Lei 10.559 de 2002, caracteriza ilegalidade e violação de direito líquido e certo. 2 - Havendo rubricas no orçamento destinadas ao pagamento das indenizações devidas aos anistiados políticos, e não demonstrada a ausência de disponibilidade de caixa, a União há de promover o pagamento do valor ao anistiado no prazo de 60 dias. 3 - Na ausência ou na insuficiência de disponibilidade orçamentária no exercício em curso, cumpre à União promover sua previsão no projeto de lei orçamentária imediatamente seguinte. STF. Plenário. RE 553710/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2016 (Info 847).

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DIREITO ELEITORAL

TÍTULO DE ELEITOR É válido o cancelamento do título do eleitor que não comparecer à revisão eleitoral

Importante!!!

É válido o cancelamento do título do eleitor que, convocado por edital, não comparecer ao processo de revisão eleitoral, em virtude do que dispõe o art. 14, caput, e § 1º da CF/88.

São válidos o art. 3º, § 4º, da Lei nº 7.444/85 e as Resoluções do TSE que preveem o cancelamento do título dos eleitores que não comparecerem à revisão eleitoral.

STF. Plenário. ADPF 541 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 26/9/2018 (Info 917)

Lei nº 7.444/85 Em 1985, a Justiça Eleitoral decidiu que os dados dos eleitores precisavam estar registrados em um sistema informatizado (e não mais em arquivos em papel). Diante disso, foi editada a Lei nº 7.444/85, que teve como objetivo implementar o “processamento eletrônico dos dados no alistamento eleitoral”. Essa lei estabeleceu que deveria ser feita uma revisão dos eleitores inscritos em cada Zona Eleitoral. Depois de conferidos e atualizados os respectivos registros, os cadastros dos eleitores seriam “mantidos em computador”. A lei estabeleceu que deveria ser dado um prazo para os eleitores fazerem o recadastramento (revisão eleitoral) e que, se não o fizessem neste prazo, os seus títulos deveriam ser cancelados (art. 3º, § 4º). A lei disse que as regras para a realização dessa revisão eleitoral deveriam ser regulamentadas por Resolução do TSE e que o prazo para os eleitores fazerem deveria ser de, no mínimo, 30 dias. Revisão eleitoral A revisão eleitoral, além ter cumprido a finalidade de informatizar os cadastros dos eleitores naquele momento histórico, tem por objetivo principal garantir que cada cidadão tenha apenas um título de eleitor e que as pessoas já mortas, por exemplo, tenham seus títulos cancelados, evitando, com isso, fraudes eleitorais. Assim, constantemente tem ocorridos novas revisões eleitorais, nos anos em que não há eleições (ano não eleitoral), com a finalidade de atualizar os cadastros dos eleitores. O art. 92 da Lei nº 9.504/97 (Lei das Eleições), por exemplo, determina que o TSE faça a revisões eleitorais de ofício sempre que, na Zona Eleitoral, ocorreu uma das seguintes situações: I - o total de transferências de eleitores ocorridas no ano em curso seja 10% superior ao do ano anterior; II - o eleitorado for superior ao dobro da população entre 10 e 15 anos, somada à de idade superior a 70 anos do território daquele Município; III - o eleitorado for superior a 75% da população projetada para aquele ano pelo IBGE. Enfim, as revisões eleitorais são constantes e têm por objetivo, em última análise, evitar fraudes, garantindo a lisura das eleições. Revisão para o cadastramento biométrico obrigatório Desde 2007, o TSE iniciou uma série de revisões eleitorais com o objetivo de fazer o cadastramento biométrico dos eleitores. Em outras palavras, os eleitores são convocados a comparecer à Justiça Eleitoral a fim de fazer a revisão eleitoral e, na mesma oportunidade, cadastrar suas digitais com a finalidade de minimizar as fraudes no momento da votação.

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Esta revisão foi disciplinada inicialmente pela Resolução nº 22.688/2007, do TSE. Desde, então, houve uma série de revisões com essa finalidade, que foram disciplinadas pelas Resoluções 23.061/2009, 23.335/2011 e, finalmente, pela Resolução/TSE 23.440/2015. O prazo estimado para o término da biometria é 2022. Resolução nº 23.440/2015 Atualmente, está em vigor a Resolução nº 23.440/2015, do TSE, que disciplina os procedimentos para a realização da atualização ordinária do cadastro eleitoral, com a implementação de nova sistemática de identificação do eleitor, mediante incorporação de dados biométricos e por meio de revisões de eleitorado de ofício, em municípios previamente selecionados pelos tribunais regionais eleitorais. Cancelamento dos títulos Conforme vimos acima, a Lei nº 7.444/85 determinou que os eleitores que não participassem da revisão eleitoral, teriam seus títulos eleitorais cancelados. Essa previsão foi repetida pelas diversas Resoluções do TSE que regulamentaram as revisões eleitorais, dentre elas a Resolução nº 23.440/2015. Veja:

Art. 3º Em cada circunscrição eleitoral submetida ao procedimento de que cuida o § 3º do art. 1º desta norma, ultrapassado o prazo estabelecido para o comparecimento do eleitorado, serão canceladas, mediante comando do código de ASE 469, as inscrições correspondentes aos títulos que não forem apresentados à revisão. (...)

Essa regra acima possui algumas exceções e também é permitido que o eleitor que teve o título cancelado possa, posteriormente, fazer um novo alistamento eleitoral. Assim, não se trata de uma “perda” definitiva do direito de votar. É possível regularizar a situação. Vale ressaltar, no entanto, que, em anos eleitorais, essa regularização tem um prazo e, caso não seja feito até determinada data, somente poderá ser realizada após o pleito já ter se encerrado. Ex: para votar nas eleições de 2018, o eleitor teria que ter regularizado a sua situação até 09/05. Se não fez isso, ficou impedido de votar em 2018, mas pode regularizar para votar em 2020. ADPF contra o cancelamento dos títulos Em setembro de 2018, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) ajuizou, no STF, Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) contra o art. 4º, § 3º da Lei nº 7.444/85 e contra todas as Resoluções do TSE que previram o cancelamento dos títulos dos eleitores que não compareceram para a revisão. O Partido alegou que tais normas, ao determinarem o cancelamento dos títulos, retiraram os direitos políticos de milhões de eleitores que não compareceram às revisões e, por isso, tiveram seus títulos cancelados. O autor afirmou que houve cerca de 4 milhões de títulos cancelados. Assim, o Partido requereu que o STF declarasse que o art. 3º, § 4º, da Lei nº 7.444/85 não foi recepcionado e pediu também a declaração de inconstitucionalidade, por arrastamento, das Resoluções do TSE que previram o cancelamento do título do eleitor que não realizou o cadastramento biométrico nelas previsto. O STF concordou com o pedido? NÃO. A ADPF foi julgada improcedente, tendo o STF decidido que o art. 3º, § 4º, da Lei nº 7.444/85 e as Resoluções do TSE que trataram sobre o tema são constitucionais. Alistamento eleitoral e revisão periódica O voto é um componente essencial da democracia representativa.

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Para o exercício do voto de maneira ordenada e segura, é indispensável que haja o alistamento eleitoral e a revisão periódica dos eleitores. A Constituição exige, em seu art. 14, § 1º, o prévio alistamento eleitoral a fim de garantir que o voto seja exercido de forma legítima pelo eleitor em idade de voto, adequadamente identificado e sem pluralidade de inscrição. Assim, o alistamento eleitoral é uma providência que garante o voto seguro e igual para todos. Se é válido condicionar o exercício do voto ao alistamento, é válido condicioná-lo à apresentação do título à revisão A revisão eleitoral se destina a manter a integridade e a atualização do alistamento. O Min. Roberto Barroso construiu o seguinte raciocínio: A CF/88 autoriza, em seu art. 14, § 1º, que o voto seja condicionado ao alistamento eleitoral. Tanto o alistamento como a revisão eleitoral possuem o mesmo propósito e, portanto, devem receber o mesmo tratamento constitucional. Se é válido condicionar o exercício do voto ao alistamento, também é válido condicionar o exercício do voto à apresentação do título para revisão eleitoral. Procedimento de revisão e de cancelamento é razoável, proporcional e necessário As normas do TSE regulamentam o tema com precisão e cuidado. O respectivo TRE define os locais que passarão pela revisão. Essa definição pode ocorrer em virtude de denúncia fundamentada de fraude ou, de ofício, com fulcro em dados estatísticos, desde que preenchidos os requisitos do art. 92 da Lei nº 9.504/97 (vista acima). Depois de escolhidas as Zonas Eleitorais onde serão realizadas as revisões, é publicado um edital e feita uma ampla divulgação, inclusive nos meios de comunicação, dando ciência à população da necessidade de comparecimento. O procedimento de revisão e de cadastramento biométrico obrigatório é acompanhado pelo Ministério Público e pelos partidos políticos. O funcionamento da revisão e a possibilidade de se cancelar o título baseiam-se em lei. O fato de alguém não comparecer à biometria não resulta automaticamente na perda do título. Eventuais cancelamentos são objetos de sentença eleitoral, comportam recurso e permitem a regularização do eleitor a tempo de participar da eleição. Desse modo, a legislação e o tratamento normativo secundário dado à matéria, em abstrato, são regras razoáveis, proporcionais e necessárias, compatíveis com a Constituição. As dificuldades enfrentadas pelo cidadão para o alistamento são semelhantes aos obstáculos para a apresentação de títulos à revisão. Inexiste qualquer elemento que sugira ter havido direcionamento, quer na revisão eleitoral, quer no cancelamento de inscrições, muito menos que tenha gerado supressão desproporcional de títulos e/ou de eleitores, ou prejuízo à eleição de determinados candidatos ou partidos. Não há ofensa à soberania popular e à cidadania Assim, percebe-se que a revisão eleitoral e o eventual cancelamento do título do eleitor que não comparece possuem lastro (fundamento) na Constituição e na lei e não há qualquer vício na concretização. Logo, não se pode dizer que as normas impugnadas ofendem a democracia, a soberania popular, a cidadania ou o direito de voto. Igualdade Não há também qualquer violação à igualdade. Tal como o alistamento, a revisão eleitoral é exigida de todos, sem exceção nem discriminação.

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Proporcionalidade Também não há ofensa à proporcionalidade. A medida é adequada e necessária, não havendo meio substitutivo com eficácia equivalente, tampouco fundamento para se afirmar que o benefício de se evitarem fraudes e outros comprometimentos à regularidade do voto é menos importante do que a participação dos que não atenderam ao chamado da Justiça Eleitoral. O atual cenário existe há muitos anos A Lei nº 7.444/85 está em vigor há mais de 30 anos. A biometria tem sido implementada há 11 anos. Múltiplas eleições se processaram sob a vigência de tais normas. Milhões de títulos foram cancelados sem que se tivesse demonstrado o comprometimento do devido processo democrático ou da higidez dos pleitos. O ajuizamento tardio da ação, às vésperas da eleição e após tantos anos, compromete a alegação de urgência. O Ministro Alexandre de Moraes explicou que a Lei nº 7.444/85, apesar de não falar em biometria, dá suporte legal a essa atividade considerando que ela autoriza a revisão para recadastramento. Assim, os recadastramentos sempre foram realizados e estão autorizados pela Lei. A diferença agora é o método, a biometria. Em suma:

É válido o cancelamento do título do eleitor que, convocado por edital, não comparecer ao processo de revisão eleitoral, em virtude do que dispõe o art. 14, caput, e § 1º da CF/88. São válidos o art. 3º, § 4º, da Lei nº 7.444/85 e as Resoluções do TSE que preveem o cancelamento do título dos eleitores que não comparecerem à revisão eleitoral. STF. Plenário. ADPF 541 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 26/9/2018 (Info 917)

ECA

PARTICIPAÇÃO EM ESPETÁCULOS PÚBLICOS Compete à Justiça Estadual (e não à Justiça do Trabalho)

autorizar trabalho artístico de crianças e adolescentes

Importante!!!

Compete à Justiça Comum Estadual (juízo da infância e juventude) apreciar os pedidos de alvará visando a participação de crianças e adolescentes em representações artísticas.

Não se trata de competência da Justiça do Trabalho.

O art. 114, I e IX, da CF/88 não abrange os casos de pedido de autorização para participação de crianças e adolescentes em eventos artísticos, considerando que não há, no caso, conflito atinente a relação de trabalho. Trata-se de pedido de conteúdo nitidamente civil.

STF. Plenário. ADI 5326/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 27/9/2018 (Info 917).

Crianças e adolescentes podem trabalhar? O art. 7º, XXXIIII, da CF/88 prevê que: • criança não pode trabalhar; • adolescente pode trabalhar a partir de 14 anos, na condição de aprendiz;

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• a partir de 16 anos, o adolescente pode trabalhar normalmente (mesmo sem ser aprendiz), salvo se for um trabalho noturno, perigoso ou insalubre; • trabalho noturno, perigoso ou insalubre só pode ser realizado por maiores de 18 anos. Alguns de vocês podem estar se perguntando: mas eu já vi criança “trabalhando” em filmes e novelas... Como isso é possível? É permitido que uma criança ou adolescente “trabalhe” em um filme, novela, peça de teatro etc.? É possível a participação de crianças e adolescentes em espetáculos artísticos? SIM. A doutrina e a jurisprudência entendem que é possível o trabalho de crianças e adolescentes em espetáculos artísticos, mesmo antes da idade mínima prevista no art. 7º, XXXIII, da CF/88. Um dos fundamentos para isso está no artigo 8º, 1, da Convenção 138 da OIT, que autoriza a participação de crianças e adolescentes em “representações artísticas”. Exige-se alguma autorização especial para isso? SIM. O ECA (Lei nº 8.069/90) exige um pronunciamento judicial para esses casos. Confira:

Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar, mediante alvará: (...) II - a participação de criança e adolescente em: a) espetáculos públicos e seus ensaios; (...) § 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade judiciária levará em conta, dentre outros fatores: a) os princípios desta Lei; b) as peculiaridades locais; c) a existência de instalações adequadas; d) o tipo de frequência habitual ao local; e) a adequação do ambiente a eventual participação ou freqüência de crianças e adolescentes; f) a natureza do espetáculo.

Sempre se entendeu que a competência para esse ato era da Vara da Infância e Juventude (Justiça Estadual). Até mesmo porque é essa a redação expressa do art. 146 do ECA:

Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na forma da lei de organização judiciária local.

Ocorre que, em 2004, com a EC 45, surgiu uma nova tese a respeito do tema. Isso porque esta Emenda ampliou o rol de competências do art. 114 da CF/88 e parcela da doutrina e jurisprudência passou a defender que a competência para autorizar a participação de crianças e adolescentes em “representações artísticas” seria agora da Justiça do Trabalho, com base no art. 114, I e IX, da CF/88:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; (...) IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.

O STF concordou com esta tese? NÃO. O STF, ao julgar medida cautelar na ADI 5326/DF, decidiu que:

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Compete à Justiça Comum Estadual (juízo da infância e juventude) apreciar os pedidos de alvará visando a participação de crianças e adolescentes em representações artísticas. STF. Plenário. ADI 5326/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 27/9/2018 (Info 917).

Proteção das crianças e adolescentes A CF/88 dedicou um capítulo para tratar sobre a família, a criança, o adolescente, o jovem e o idoso. No art. 227 prevê que:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

O legislador ordinário, ao concretizar o comando do art. 227 da CF/88, editou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e previu a chamada “Justiça da Infância e da Juventude”. O ECA determinou, então, que o Juiz da Infância e da Juventude é a autoridade judiciária responsável pelos processos de tutela integral das crianças e adolescentes. Trata-se de competência fixada em razão da matéria, de caráter absoluto, e em proveito da especial tutela requerida pelo grupo de destinatários: crianças e adolescentes. Competência para autorizar a participação em eventos artísticos Uma das atribuições impostas ao Juiz da Infância e da Juventude foi justamente a de autorizar a participação de menores em eventos artísticos (art. 149, II do ECA), autorização a ser implementada mediante a expedição de alvará específico. Natureza cível da cognição (ausência de discussão quanto à relação de trabalho) No § 1º do art. 149 estão listados os fatores que o juiz deverá levar em consideração para conferir a referida autorização. Ao se analisar tais fatores, percebe-se que o magistrado faz uma cognição de “natureza cível”, não havendo exame de “relação de trabalho”. A análise se faz acerca das condições da representação artística. O juiz deve investigar se essas condições atendem à exigência de proteção do melhor interesse do menor, contida no art. 227 da CF/88. Assim, o referido pedido de autorização possui natureza eminentemente cível, relacionado ao Direito da Criança e do Adolescente. A sua causa de pedir envolve a verificação da preservação integral dos direitos do menor, como, por exemplo, educação, saúde, alimentação, convivência familiar, cultura e dignidade, que não podem ser prejudicados pelo desempenho da atividade artística. O Juízo da Infância e da Juventude é a autoridade que reúne os predicados e as capacidades institucionais necessárias para a realização de exame de tamanha relevância e responsabilidade. Dessa forma, o art. 114, I e IX, da CF/88, que estabelece a competência da Justiça do Trabalho, não alcança os casos de pedido de autorização para participação de crianças e adolescentes em eventos artísticos, considerando que não há, no caso, conflito atinente a relação de trabalho. Vale ressaltar que esse é também o entendimento do STJ:

O pedido de alvará para autorização de trabalho a menor de idade é de conteúdo nitidamente civil e se enquadra no procedimento de jurisdição voluntária, inexistindo debate sobre qualquer controvérsia decorrente de relação de trabalho, até porque a relação de trabalho somente será instaurada após a autorização judicial pretendida. STJ. 1ª Seção. CC 98.033/MG, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 12/11/2008.

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Caso concreto julgado pelo STF: Alguns Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais do Trabalho, em conjunto com Ministérios Públicos Estadual e do Trabalho editaram recomendações dizendo que a competência para autorizar a participação de crianças e adolescentes em espetáculos artísticos seria da Justiça do Trabalho. Foi o caso, por exemplo: • da Recomendação Conjunta 1/2014 das Corregedorias dos Tribunais de Justiça e do Trabalho, e dos Ministérios Públicos estadual e do Trabalho, todos do Estado de São Paulo; e • da Recomendação Conjunta 1/2014, dos Ministérios Públicos estadual e do Trabalho, e das Corregedorias do Tribunal de Justiça e do Trabalho, todos do Estado de Mato Grosso. Além disso, o TRT da 2ª Região também baixou um Provimento (GP/CR 7/2014) no mesmo sentido. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) ajuizou ADI contra esses atos normativos. Em 2015, Ministro Relator Marco Aurélio, monocraticamente, deferiu liminar para suspender os atos e para determinar que os pedidos de autorização de trabalho artístico para crianças e adolescentes fossem apreciados pela Justiça Comum. Em 2018, o STF referendou a medida liminar concedida e suspendeu a eficácia das normas impugnadas. Para a maioria dos Ministros, a matéria é de competência da Justiça comum. Os Ministros entenderam que os atos normativos impugnados possuem vícios de inconstitucionalidade formal e material: • Inconstitucionalidade formal: os dispositivos tratam da distribuição de competência jurisdicional e da criação de juízo auxiliar da Infância e da Juventude no âmbito da Justiça do Trabalho, porém não foram produzidos mediante lei. • Inconstitucionalidade material: os referidos atos normativos determinam uma competência da Justiça do Trabalho que não encontra respaldo na Constituição Federal, violando, portanto, os arts. 114 e 227 da CF/88.

DIREITO DO CONSUMIDOR

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS É constitucional lei municipal que proíbe a conferência de mercadorias realizada na saída de

estabelecimentos comerciais após o cliente efetuar o pagamento no caixa

Importante!!!

É constitucional lei municipal que proíbe a conferência de mercadorias realizada na saída de estabelecimentos comerciais localizados na cidade. A Lei prevê que, após o cliente efetuar o pagamento nas caixas registradoras da empresa instaladas, não é possível nova conferência na saída.

Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local (art. 30, I, da CF/88), ainda que, de modo reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor.

STF. 2ª Turma. RE 1.052.719 AgR/PB, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 25/9/2018 (Info 917).

Veja comentários em Direito Constitucional.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA Decisão proferida em audiência de custódia reconhecendo

a atipicidade do fato não faz coisa julgada

Importante!!!

A decisão que, na audiência de custódia, determina o relaxamento da prisão em flagrante sob o argumento de que a conduta praticada é atípica não faz coisa julgada.

Assim, esta decisão não vincula o titular da ação penal, que poderá oferecer acusação contra o indivíduo narrando os mesmos fatos e o juiz poderá receber essa denúncia.

STF. 1ª Turma. HC 157.306/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/9/2018 (Info 917).

Audiência de custódia Audiência de custódia consiste... - no direito que a pessoa presa possui - de ser conduzida (levada), - sem demora (CNJ adotou o máximo de 24h), - à presença de uma autoridade judicial (magistrado) - que irá analisar se os direitos fundamentais dessa pessoa foram respeitados (ex.: se não houve tortura) - se a prisão em flagrante foi legal ou se deve ser relaxada (art. 310, I, do CPP) - e se a prisão cautelar (antes do trânsito em julgado) deve ser decretada (art. 310, II) ou se o preso poderá receber a liberdade provisória (art. 310, III) ou medida cautelar diversa da prisão (art. 319). Previsão A audiência de custódia é prevista na Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), que ficou conhecida como "Pacto de San Jose da Costa Rica", promulgada no Brasil pelo Decreto 678/92. Veja o que diz o artigo 7º, item 5, da Convenção:

Artigo 7º Direito à liberdade pessoal (...) 5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais (...)

Segundo entende o STF, os tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil foi signatário incorporam-se em nosso ordenamento jurídico com status de norma jurídica supralegal (RE 349.703/RS, DJe de 5/6/2009). Desse modo, na visão do STF, a Convenção Americana de Direitos Humanos é norma jurídica no Brasil hierarquicamente acima de qualquer lei ordinária ou complementar, só estando abaixo, portanto, das normas constitucionais. Obs.: na época em que a CADH foi aprovada no Brasil, ainda não havia a previsão do § 3º do art. 5º da CF/88. Nomenclatura O termo "audiência de custódia", apesar de ter sido consagrado no Brasil, não é utilizado expressamente pela CADH, sendo essa nomenclatura uma criação doutrinária. Durante os debates no STF a respeito da ADI 5240/SP, o Min. Luiz Fux defendeu que essa audiência passe a se chamar “audiência de apresentação”. Desse modo, deve-se tomar cuidado com essa expressão caso seja cobrada em uma prova.

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Regulamentação Apesar de existir um projeto de lei tramitando no Congresso Nacional (PLS nº 554/2011), o certo é que a audiência de custódia ainda não foi regulamentada por lei no Brasil. Isso significa que não existe uma lei estabelecendo o procedimento a ser adotado para a realização dessa audiência. Diante desse cenário, e a fim de dar concretude à previsão da CADH, o CNJ, no fim de 2015, aprovou a Resolução 213/2015, que dispõe sobre a apresentação de toda pessoa presa à autoridade judicial no prazo de 24 horas. Qual é a amplitude da expressão “sem demora” prevista na CADH? Em até quanto tempo a pessoa presa deverá ser levada para a audiência de custódia? Não existe uma previsão específica de tempo na CADH. A doutrina majoritária defende, contudo, que esse prazo deve ser de 24 horas, aplicando-se, subsidiariamente, a regra do § 1º do art. 306 do CPP. Esse foi o prazo adotado pelo CNJ na Resolução 213/2015. Assim, de acordo com a Resolução 213/2015 do CNJ, toda pessoa presa em flagrante delito, independentemente da motivação ou natureza do ato, será obrigatoriamente apresentada, em até 24 horas da comunicação do flagrante, à autoridade judicial competente, e ouvida sobre as circunstâncias em que se realizou sua prisão ou apreensão. Quem participa da audiência A audiência de custódia será realizada na presença do Ministério Público e da Defensoria Pública, caso a pessoa detida não possua defensor constituído. É vedada a presença dos agentes policiais responsáveis pela prisão ou pela investigação durante a audiência de custódia. Se a pessoa presa em flagrante delito constituir advogado até o término da lavratura do auto de prisão em flagrante, o Delegado de polícia deverá notificá-lo, pelos meios mais comuns, tais como correio eletrônico, telefone ou mensagem de texto, para que compareça à audiência de custódia. O que o juiz deverá perguntar e fazer durante a audiência: Na audiência de custódia, a autoridade judicial entrevistará a pessoa presa em flagrante, devendo: 1) esclarecer o que é a audiência de custódia, ressaltando as questões a serem analisadas pela autoridade judicial; 2) assegurar que a pessoa presa não esteja algemada, salvo em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, devendo a excepcionalidade ser justificada por escrito; 3) dar ciência sobre seu direito de permanecer em silêncio; 4) questionar se lhe foi dada ciência e efetiva oportunidade de exercício dos direitos constitucionais inerentes à sua condição, particularmente o direito de consultar-se com advogado ou defensor público, o de ser atendido por médico e o de comunicar-se com seus familiares; 5) indagar sobre as circunstâncias de sua prisão ou apreensão; 6) perguntar sobre o tratamento recebido em todos os locais por onde passou antes da apresentação à audiência, questionando sobre a ocorrência de tortura e maus tratos e adotando as providências cabíveis; 7) verificar se houve a realização de exame de corpo de delito, determinando sua realização nos casos em que: a) não tiver sido realizado; b) os registros se mostrarem insuficientes; c) a alegação de tortura e maus tratos referir-se a momento posterior ao exame realizado; d) o exame tiver sido realizado na presença de agente policial;

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8) abster-se de formular perguntas com finalidade de produzir prova para a investigação ou ação penal relativas aos fatos objeto do auto de prisão em flagrante; 9) adotar as providências a seu cargo para sanar possíveis irregularidades; 10) averiguar, por perguntas e visualmente, hipóteses de gravidez, existência de filhos ou dependentes sob cuidados da pessoa presa em flagrante delito, histórico de doença grave, incluídos os transtornos mentais e a dependência química, para analisar o cabimento de encaminhamento assistencial e da concessão da liberdade provisória, sem ou com a imposição de medida cautelar. Perguntas do MP e depois da defesa Após o juiz ouvir a pessoa presa, deverá conceder a palavra ao Ministério Público e depois à defesa técnica, para que estes façam reperguntas compatíveis com a natureza do ato, devendo indeferir as perguntas relativas ao mérito dos fatos que possam constituir eventual imputação. Decisão do juiz Principais providências que o juiz determinar após concluir a oitiva do flagranteado: 1) determinar o relaxamento da prisão em flagrante (caso entenda que a prisão foi ilegal); 2) conceder liberdade provisória (com ou sem medida cautelar diversa da prisão); 3) decretar a prisão preventiva, caso estejam presentes os pressupostos do art. 312 do CPP; 4) decretar outras medidas necessárias à preservação de direitos da pessoa presa. Termo de audiência será apensado ao IP ou processo penal O termo da audiência de custódia será apensado ao inquérito ou à ação penal. Feita esta revisão sobre o tema, imagine a seguinte situação hipotética: João foi preso em flagrante, durante o fim de semana, pela suposta prática de um crime. Ele foi levado até o juiz plantonista para a realização de audiência de custódia. O magistrado de plantão decidiu pelo relaxamento da prisão por entender que a conduta praticada pelo flagranteado seria atípica. Qual recurso o MP poderia interpor contra essa decisão? RESE, nos termos do art. 581, V, do CPP:

Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: (...) V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante;

O Ministério Público, contudo, não interpôs qualquer recurso. Denúncia Três meses após a audiência de custódia, o Ministério Público ofereceu denúncia contra João pela conduta praticada e que ensejou a sua prisão em flagrante três meses atrás. A denúncia foi recebida. Diante disso, a defesa de João impetrou habeas corpus com o objetivo de trancar a ação penal. Sustentou que o juiz, ao final da audiência de custódia, reconheceu a atipicidade da conduta e que essa decisão não foi impugnada mediante recurso. Logo, teria havido coisa julgada que estaria sendo violada pela decisão de recebimento da denúncia. O pedido da defesa foi acolhido pelo STF? O habeas corpus foi concedido? NÃO. A ordem foi denegada (o pedido do HC foi julgado improcedente).

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Juízo preliminar sobre a legitimidade da prisão Na audiência de custódia é feito apenas um juízo preliminar acerca da legitimidade da prisão em flagrante, analisando se é caso de eventual relaxamento, decretação da prisão preventiva ou concessão de liberdade provisória. Assim, a decisão proferida na audiência de custódia não é uma decisão de mérito para efeito de coisa julgada. Atipicidade era apenas fundamento para o relaxamento da prisão A atipicidade da conduta apontada pelo juiz plantonista, em sede de audiência de custódia, foi utilizada apenas como fundamento para o relaxamento da prisão. Entretanto, esse magistrado plantonista não possuía competência para determinar o arquivamento dos autos, já que sua atuação estava limitada à análise da regularidade da prisão. A atuação do Poder Judiciário nesta fase se justifica unicamente para proteger direitos e garantias do custodiado. Qualquer consideração feita sobre eventual tipicidade da conduta não produz efeito de coisa julgada, não havendo prolação de sentença. STJ Esse é também o entendimento do STJ:

A decisão proferida durante a audiência de custódia, ao relaxar a prisão em flagrante da recorrente, independentemente dos motivos que determinaram a concessão da liberdade, não vincula o titular da ação penal, e, portanto, não obsta o posterior oferecimento de denúncia, sob pena de negativa de vigência ao art. 24 do Código de Processo Penal. STJ. 5ª Turma. RHC 85.970/SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 10/04/2018.

A decisão do Juiz Plantonista que concede liberdade à recorrente, embora assentada no reconhecimento da insignificância, não impede a persecução penal, porquanto os motivos de fato e de direito apresentados não fazem coisa julgada, sob pena de negativa de vigência ao art. 24 do CPP. STJ. 5ª Turma. RHC 59.000/SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 19/09/2017.

Vale ressaltar que a presente hipótese não se confunde com o arquivamento de inquérito policial. Se fosse uma decisão determinando o arquivamento do IP baseado na atipicidade dos fatos, aí sim seria vedada a reabertura das investigações e o oferecimento de denúncia por estes mesmos fatos. Em suma:

A decisão que, na audiência de custódia, determina o relaxamento da prisão em flagrante sob o argumento de que a conduta praticada é atípica não faz coisa julgada. Assim, esta decisão não vincula o titular da ação penal, que poderá oferecer acusação contra o indivíduo narrando os mesmos fatos e o juiz poderá receber essa denúncia. STF. 1ª Turma. HC 157.306/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/9/2018 (Info 917).

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DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

PARTICIPAÇÃO EM ESPETÁCULOS PÚBLICOS Compete à Justiça Estadual (e não à Justiça do Trabalho)

autorizar trabalho artístico de crianças e adolescentes

Importante!!!

Compete à Justiça Comum Estadual (juízo da infância e juventude) apreciar os pedidos de alvará visando a participação de crianças e adolescentes em representações artísticas.

Não se trata de competência da Justiça do Trabalho.

O art. 114, I e IX, da CF/88 não abrange os casos de pedido de autorização para participação de crianças e adolescentes em eventos artísticos, considerando que não há, no caso, conflito atinente a relação de trabalho.

STF. Plenário. ADI 5326/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 27/9/2018 (Info 917).

Veja comentários em ECA.

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) Cabe ADI contra recomendação conjunta de Tribunal de Justiça e de Tribunal Regional do Trabalho

recomendando aos juízes que considerem como sendo da Justiça do Trabalho a competência para autorizar o trabalho de crianças e adolescentes em eventos de natureza artística. ( )

2) É inconstitucional lei municipal que proíbe a conferência de mercadorias realizada na saída de estabelecimentos comerciais localizados na cidade. ( )

3) (Delegado PI 2018) É competência do Município, conforme a Constituição Federal de 1988 legislar sobre assuntos de interesse local. ( )

4) (PGM Manaus 2018) No âmbito de sua jurisdição, compete ao município a fixação do horário de funcionamento de estabelecimentos comerciais, uma vez que se trata de assunto de interesse local. ( )

5) É inconstitucional o cancelamento do título do eleitor que, convocado por edital, não comparecer ao processo de revisão eleitoral. ( )

6) Compete à Justiça do Trabalho apreciar os pedidos de alvará visando a participação de crianças e adolescentes em representações artísticas. ( )

7) (Juiz TJ/SC 2017 FCC) Da decisão judicial que examine e discipline a participação de crianças e adolescentes em espetáculos públicos e seus ensaios, bem como em certames de beleza, cabe a interposição de agravo de instrumento. ( )

8) A decisão que, na audiência de custódia, determina o relaxamento da prisão em flagrante sob o argumento de que a conduta praticada é atípica não faz coisa julgada. ( )

9) (DPE/PR 2017 FCC) A respeito da audiência de custódia, prevista na Resolução no 213/2015, do Conselho Nacional de Justiça, é INCORRETO afirmar: A) Além dos presos em flagrante, têm direito à audiência de custódia pessoas presas em decorrência de cumprimento de mandados de prisão cautelar ou definitiva. B) O Defensor Público poderá conversar com o custodiado antes da apresentação da pessoa presa ao juiz, sendo assegurado seu atendimento prévio e reservado sem a presença de agentes policiais.

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C) A audiência de custódia será realizada até 24 horas da comunicação em flagrante. Porém, quando a pessoa presa estiver acometida de grave enfermidade, ou havendo circunstância comprovadamente excepcional que a impossibilite de ser apresentada ao juiz no prazo legal, deverá ser assegurada a realização da audiência no local em que ela se encontre e, nos casos em que o deslocamento se mostre inviável, deverá ser providenciada a condução para a audiência de custódia imediatamente após restabelecida sua condição de saúde ou de apresentação. D) É permitida, excepcionalmente, a presença dos agentes policiais responsáveis pela prisão ou pela investigação durante a audiência de custódia. E) A ata da audiência conterá, apenas e resumidamente, a deliberação fundamentada do magistrado quanto à legalidade e manutenção da prisão, cabimento de liberdade provisória sem ou com a imposição de medidas cautelares diversas da prisão, considerando-se o pedido de cada parte, como também as providências tomadas, em caso da constatação de indícios de tortura e maus tratos.

10) A decisão do Juiz Plantonista que concede liberdade à recorrente, embora assentada no reconhecimento

da insignificância, não impede a persecução penal, porquanto os motivos de fato e de direito apresentados não fazem coisa julgada. ( )

Gabarito

1. C 2. E 3. C 4. C 5. E 6. E 7. E 8. C 9. Letra D 10. C

OUTRAS INFORMAÇÕES

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio

eletrônico*

Em curso Finalizados

Pleno 26.9.2018 27.9.2019 3 3 36

1ª Turma 25.9.2018 — 3 42 196

2ª Turma 25.9.2018 — 7 5 91

* Emenda Regimental 51/2016-STF. Sessão virtual de 21 a 27 de setembro de 2018.

CLIPPING DA R E P E R C U S S Ã O G E R A L DJe de 24 a 28 de setembro de 2018

REPERCUSSÃO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.133.146 – DF

RELATOR: MIN. LUIZ FUX

Ementa: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. EXAME PSICOTÉCNICO COM

PREVISÃO NO EDITAL E NA LEI. AUSÊNCIA DE CRITÉRIOS OBJETIVOS DE AVALIAÇÃO NO EDITAL. NULIDADE DO EXAME

PSICOTÉCNICO. CONTROVÉRSIA QUANTO À NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE NOVA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PARA

O PROSSEGUIMENTO NO CERTAME. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. CONTROVÉRSIA

CONSTITUCIONAL DOTADA DE REPERCUSSÃO GERAL. REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO.

Decisão Publicada: 1

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS

24 A 28 DE SETEMBRO DE 2018

Medida Provisória nº 853, de 25.9.2018 - Reabre o prazo de opção para o regime de previdência

complementar de que trata o § 7º do art. 3º da Lei nº 12.618, de 30 de abril de 2012. Publicado no DOU em 26.9.2018,

Seção 1, Edição nº 186, p. 2.

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Informativo 917-STF (02/10/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24

Lei nº 13.715, de 24.9.2018 - Altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),

a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), e a Lei nº 10.406, de 10 de

janeiro de 2002 (Código Civil), para dispor sobre hipóteses de perda do poder familiar pelo autor de

determinados crimes contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar ou contra filho, filha ou outro

descendente. Publicado no DOU em 25.9.2018, Seção 1, Edição nº 185, p. 1-2.

Lei nº 13.718, de 24.9.2018 - Altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),

para tipificar os crimes de importunação sexual e de divulgação de cena de estupro, tornar pública

incondicionada a natureza da ação penal dos crimes contra a liberdade sexual e dos crimes sexuais contra

vulnerável, estabelecer causas de aumento de pena para esses crimes e definir como causas de aumento de

pena o estupro coletivo e o estupro corretivo; e revoga dispositivo do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de

1941 (Lei das Contravenções Penais). Publicado no DOU em 25.9.2018, Seção 1, Edição nº 185, p. 2.

OUTRAS INFORMAÇÕES

24 A 28 DE SETEMBRO DE 2018

Decreto nº 9.507, de 21.9.2018 - Dispõe sobre a execução indireta, mediante contratação, de serviços

da administração pública federal direta, autárquica e fundacional e das empresas públicas e das sociedades de

economia mista controladas pela União. Publicado no DOU em 24.9.2018, Seção 1, Edição nº 184, p. 3-4.

Decreto nº 9.508, de 24.9.2018 - Reserva às pessoas com deficiência percentual de cargos e de

empregos públicos ofertados em concursos públicos e em processos seletivos no âmbito da administração

pública federal direta e indireta. Publicado no DOU em 25.9.2018, Seção 1, Edição nº 185, p. 3-4.

Decreto nº 9.513, de 27.9.2018 - Altera o Decreto nº 27.048, de 12 de agosto de 1949, que aprova o

regulamento da Lei nº 605, de 5 de janeiro de 1949, que dispõe sobre o repouso semanal remunerado e o

pagamento de salário nos feriados civis e religiosos. Publicado no DOU em 28.9.2018, Seção 1, Edição nº 188,

p. 1.

Decreto nº 9.514, de 27.9.2018 - Altera a Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos

Industrializados - TIPI, aprovada pelo Decreto nº 8.950, de 29 de dezembro de 2016. Publicado no DOU em

28.9.2018, Seção 1, Edição nº 18, p. 1.

Secretaria de Documentação – SDO