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1 Universidade Cândido Mendes Curso de Supervisão Escolar A INFLUÊNCIA DA TELEVISÂO NO COTIDIANO ESCOLAR DA EDUCAÇÃO INFANTIL RIO DE JANEIRO, 2003

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Universidade Cândido Mendes

Curso de Supervisão Escolar

A INFLUÊNCIA DA TELEVISÂO NO COTIDIANO

ESCOLAR DA EDUCAÇÃO INFANTIL

RIO DE JANEIRO, 2003

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Kelly Cristine Lopes Pires

A INFLUÊNCIA DA TELEVISÃO NO COTIDIANO

ESCOLAR DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Monografia apresentada à coordenação do curso de supervisão escolar, da Universidade Cândido Mendes sob a orientação do professor Nilson Guedes Freitas, como requisito parcial para a conclusão do curso de pós-graduação em supervisão escolar.

Rio de janeiro,17 de fevereiro de 2003

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A influência da televisão no cotidiano escolar da educação infantil.

Monografia aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau de especialista no curso de pós-graduação em supervisão escolar na Universidade Cândido Mendes.

Rio de janeiro, 17 de fevereiro de 2003 Orientador: Prof. Nilson Guedes Freitas

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A ESCOLA QUE DESEJAMOS

A escola que desejamos é espaço de ver, de viver A escola que desejamos deve ser espaço de, entendimento, de criação de acordos Espaço de convívio . ESPAÇO de vida, de aconchego, calor, afeto, amor, respeito, amizade ESPAÇO de expressão e administração de sentimentos de amor e ódio, frutos das relações humanas, Frutos das condições materiais e espirituais, de cada um, do grupo, do meio social em que se vive. Espaço de aprender a gostar de si mesmo, de rir e chorar, descobrir e aprender a conviver, a explorar possibilidades e limites ESPAÇO de expressão criadora, de produzir arte ESPAÇO de prazer, alegria, espontaneidade, descontração, ludicidade Espaço de brinquedo e de brincadeira Espaço de expansão do corpo em movimento de correr, pular, virar cambalhota, de brincar pelo prazer de brincar Espaço de jogo, sonho, diversão, festa Espaço de aprender a sentir-se e a perceber-se parte da natureza- não o seu senhor – de aprender a preservar todas as formas de vida ESPAÇO de ser criança e ser adulto, de individuação, singularização Espaço de aprender a ser eu e ser nós, de aceitação, de troca, comunicação,

de valorização do eu e do outro Espaço de viver e assimilar a diversidade, a versatilidade, a multiplicidade humana Espaço de produção de cultura, de memória de preservação da identidade cultural ESPAÇO de produção de conhecimentos, de curiosidade que vira investigação,

de experimentação que vira pesquisa Espaço de aprender a lutar e abraçar desafios ESPAÇO de crítica, diálogo, auto – crítica : de aprendizado da autonomia coletiva, da democracia Espaço de exercitar, aprender, conquistar a liberdade.

Grupo de assistentes e multiplicadoras do SESC/ARRJ Educação infantil: proposta para a prática educativa/ Léa Tiriba, Maria José Gouvêa - Rio de Janeiro, SESC /ARRJ, 1998.

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Resumo

Nos deparamos diariamente em nossas salas de aula com os modismos da televisão,

mas o que fazer e o que dizer diante dessa criança que encontra em sua infância, a TV como

sua companheira. As ‘verdades’ veiculadas pelos programas, desenhos, etc , são rapidamente

internalizados pela criança, e esse mundo televisivo passa a fazer parte do universo infantil.

Não vamos fingir que a TV não traz uma série de informações para as crianças? Não podemos

negar esse conhecimento, mas reconhecer esses saberes e aprender a trabalhar com eles.

Ajudar a criança a formar uma consciência crítica, a refletir sobre o que assistem, a fazer suas

próprias escolhas com coerência, é o papel da escola na atualidade. O professor deve

instrumentalizar-se para essa nova era, esse conteúdo não foi aprendido nas escolas que nos

formamos, ele nos foi apresentado, com o passar dos anos, a medida que percebíamos as

mudanças de interesse e costumes de nossos alunos, nós temos que rever nossas atitudes,

convidar os pais para uma discussão aberta sobre o assunto, alertá-los sobre benefícios e

prejuízos causados pela TV, deixá-los atentos ao que se passa na mente das crianças, pois

muitas vezes eles estão exauridos pelas tarefas profissionais e domésticas e deixam somente à

encargo da escola, a educação dos seus filhos. Temos que definir papéis, educação e

comunicação ,não são contraditórios, existe profunda aliança entre elas, nos cabe trabalhar

com isso para o desenvolvimento crítico de nossas crianças, em prol de um mundo melhor e

mais justo.

Palavras- chave : Televisão – Infância – Educação - Crítica

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Sumário

1 - Introdução..........................................................................................................07

2 - A infância de hoje................................................................................................10

3 - O papel da escola na sociedade em que vivemos................................................16

4 –A participação da família no processo educativo..............................................20

5- A televisão e sua influência no ensino aprendizagem........................................24

5 - 1 - A leitura do mundo na escola........................................................29

6 – Conclusão.........................................................................................................36

Bibliografia.............................................................................................................38

Anexos....................................................................................................................39

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INTRODUÇÃO

Vivemos em um mundo globalizado, competitivo, de valores distorcidos e

invertidos, violento e individualista, que se fecha e se retrai diante das necessidades do outro.

Em meio a abundância de bens materiais e imateriais, há muita pobreza e a concentração de

riqueza é grande.

Enquanto cidadãos, pais e educadores, estamos preocupados com esta situação e

com o futuro de nossas crianças. Precisamos estar alertas e sermos criativos para invertarmos

e recriarmos uma educação que se oponha á cultura do consumismo, incentivada pelos

poderosos do mercado, disseminada diariamente através dos meios de comunicação de massa.

Nós professores não temos apenas a responsabilidade de transmitir informações,

de ensinar conteúdos disciplinares, mas de educar verdadeiramente. Precisamos reinventar a

escola, fazer dela um espaço de relações democráticas, em que a criança possa vivenciar

afeto, amor, companheirismo e solidariedade. Precisamos resgatar valores éticos que vêm se

deteriorando num mundo que prioriza o ter e não o ser.

É impossível pensar em nossos dias sem considerar quem dita as regras do jogo,

quem destrói e modifica valores e é capaz de mobilizar ou desmoronar com grandes idéias : A

mídia é sem dúvida o fiel da balança, e nós temos que” ser e fazer “ a diferença. Porém a

questão que preocupa é como conciliar a modernidade com o brincar e o educar.

Não podemos negar a tecnologia e as “telas” que trazem o mundo e uma

diversidade de informações para dentro de casa e da sala de aula, mas se negarmos o lúdico

por o considerarmos de improdutividade, numa sociedade em que vigora a produção em série

e o consumo, estaremos atropelando a criatividade e o jogo do faz-de-conta em detrimento da

imitação de modelos pré estabelecidos, impostos por uma sociedade que convive com o medo,

a ansiedade, a incerteza, a miséria, o desemprego, a vida estressante das grandes cidades, que

nos oprime e alimenta a violência, que atualmente não se concentra nesse ou naquele grupo

e/ou classe, mas que está em todos os extratos sociais.

Este caos se expressa nas relações humanas. As crianças muitas vezes, são as

principais vítimas. É aí que o papel da escola ganha importância, uma vez que, pois

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normalmente, as famílias não têm condições de estar mais presentes na vida cotidiana delas.

Frente a esta realidade que se impõe, que novas funções assumimos como educadores ? nosso

trabalho tem o sentido principal de que todos possam viver com saúde, ter acesso à educação,

à cultura, ao lazer.

A escola como espaço de vida, entendendo o mundo em que vivemos e

0oferecendo novas opções de experimentá-lo, assumindo o compromisso de buscar caminhos

para sua transformação. Em nossos desejos de educadores, frente à nossos alunos, que

projetos temos? Que pessoas sonhamos educar? Queremos que nossas crianças sejam, antes

de tudo, pessoas felizes, amantes da vida, capazes de escolher seus próprios caminhos e olhar

para o futuro com esperança. Pessoas encontradas consigo mesmas, conscientes de suas

possibilidades e limitações, por isso capazes de buscar e encontrar seu equilíbrio. Queremos

contribuir para a educação de pessoas solidárias, atentas aos interesses coletivos, educando

para a democracia para que saibam lutar por seus ideais.

Pessoas que mantenham acesa sua curiosidade e espírito de pesquisa, que sejam

capazes de recriar e socializar, utilizando estes conhecimentos, sobretudo, para a

transformação da realidade econômica e social em que vive a maioria da população do nosso

planeta azul.

Começaremos nossa pesquisa, comentando a infância de hoje, quais as suas

características, as necessidades de nossas crianças, e como elas vêem o mundo em que vivem,

a importância dos brinquedos e brincadeiras e as preferências infantis, e ainda a sua relação

com a televisão.

A seguir trataremos do papel da escola na nossa sociedade, como ela está cumprindo

o que lhe foi atribuído e lhe é cobrado. De que maneira a escola acompanha os avanços

tecnológicos , ou se não se atualiza . A escola deixou de instrucional e passou a ser

instigadora, como absorve esse aumento de atribuições constante? E principalmente sua

relação com esta infância oriunda de lares televisivos.

A participação da família no processo educativo, é o próximo capítulo, pois

dificilmente poderemos mudar conceitos e paradigmas sem o apoio dos pais, seja na escola ou

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na educação de nossas crianças, é preciso uma profunda reflexão e consciente definição de

papeis.

Terminaremos abordando a influência da TV no ensino/aprendizagem, como e

porque sua programação chegou com tanta força à vida de nossas crianças e

consequentemente à sala - de – aula . O que os alunos buscam na tv, que não encontram na

escola, e porque não encontram, que concorrência é essa? Será que escola e televisão são

realmente extremos opostos?

E no dia – a – dia na escola, como se dá a leitura de mundo? afinal as crianças trazem

muito do universo televisivo para dentro de sala, negaremos tal fato, ou não trabalharemos

com os saberes que a criança traz ? não se trata de buscar receita de bolo, mas com pesquisa e

estudo, recebendo as novidades como algo à acrescentar ao desenvolvimento dos conteúdos

escolares ou quem sabe até sua reformulação.

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A INFÂNCIA DE HOJE

Vida moderna. Contradição e pressa. O tempo não pára e não paramos nós.

Apressamento da produção, da vida, da infância. Racionalização das relações humanas. A

criança contemporânea é uma criança que vive em um mundo conturbado, regido por

determinados grupos e interesses que favorecem mais a uns que outros, mundo esse que

reserva pouco espaço para o brincar e que portanto negligencia o lúdico - linguagem inerente

a criança e através da qual interage com o meio. Não é considerada oficialmente mão-de-obra

produtora, mas veículo das artimanhas do mercado que encontra nela um forte consumidor e,

como consumidor, possui uma forte interferência na estrutura familiar.

O autor Edmir Perrotti( In: ZIBERMANN, 1990) comente que a criança

contemporânea é um ser onde se encontram duas esferas em constante relação – a esfera

natural( etária ) e a esfera da história. Perroti lembra, no entanto, que essas esferas são

interligadas, que mesmo o dado natural é histórico, isto é, mesmo características próprias da

chamada “ natureza infantil “ – o nascer, o andar... – também variam ao longo dos tempos, uma

vez que tanto a natureza quanto à história se transformam.

Interlocutora cultural, a criança encontra na linguagem lúdica veio fértil para

expressar sua potencialidade, sua sensibilidade e sua capacidade de problematizar e re-

conceituar o mundo que a cerca.

Quem são nossas crianças e suas famílias? Esta é uma pergunta que precisamos

nos fazer sempre. Primeiro porque é necessário conhecer mais profundamente aqueles a quem

pretendemos educar, segundo porque a sociedade e as estruturas familiares estão sempre em

transformação. Portanto haverá respostas distintas e novas em cada local e em cada momento

Em nossa convivência cotidiana não é difícil perceber que, num único grupo de

crianças, há inúmeras diferenças, identificadas pela maneira de falar, pelas vestimentas,

costumes e hábitos familiares a que se referem, atividades de lazer que comentam, pelos bens de

consumo que possuem. Durante as atividades elas falam de brinquedos que possuem ou sonham

possuir, fantasiam atividades de lazer, demonstram frustração por não ter acesso á brinquedos

mais modernos, roupas da moda e produtos que a força do marketing e consumo a faz desejar.

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Em suas brincadeiras falam do pouco convívio com outras crianças, do curto

tempo disponível dos pais das pressões sofridas e aconchegos recebidos. Estas crianças

nascidas em uma sociedade com pouca ética com discurso social , mas sem ações efetivas.

Quem muitas vezes não tem os pais, avós ou tios juntos de si, pois todos lutam pela

sobrevivência financeira em um mercado com poucas oportunidades. Essa criança que com o

passar dos anos vem diminuindo o número de irmãos ou até, eles pequenos as vezes, já

entraram na mercado de trabalho. Essas crianças, nossas crianças, se vêem sozinhas,

despreparadas ainda para fazer escolhas, mas tendo que faze-las.

Quem é a companheira dessas crianças, o que está ao alcance das mãos, que as faz

sonhar, desejar , entrar em um mundo com uma realidade diferente da sua, que lhe carrega por

lugares nunca vistos, dando-lhe informações desconhecidas, lhe descortinando mil e uma

possibilidades de uma vida melhor ? A TELEVISÃO

A criança está num processo de busca constante. Ela é influenciada pelo meio, este

a modifica e também é transformado. Assim acontece a vida inteira , a criança vai rompendo

barreiras e desafios, adquire , constrói conhecimento, interagindo contínua e

ininterruptamente com seu meio, sua história e seu tempo, bem como com seus companheiros;

crianças e adultos.

O fato da criança, desde muito cedo comunicar-se por meio de gestos e sons e

progressivamente representar variados papéis nas brincadeiras, faz com que ela desenvolva

sua imaginação. A diferenciação de papéis se faz presente sobretudo nas brincadeiras de faz-

de-conta, quando elas brincam como se fossem o pai, a mãe, o filhinho, o herói, o bandido,

etc; imitando e recriando ela vai elaborando. Visto que a brincadeira é uma das atividades

fundamentais para o desenvolvimento da autonomia e da identidade, como é importante o

“faz-de-conta” e a observação atenta de pais e educadores.

Na dramatização, as crianças aprendem a agir em função da imagem de um outra

pessoa de um personagem, de um objeto e de situações que não estão imediatamente presentes

e perceptíveis para elas no momento e que evocam emoções, sentimentos e significados

vivenciados em outras circunstâncias..

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A imaginação e fantasia são elementos fundamentais para a que a criança aprenda

mais sobre a relação entre as pessoas o seu eu e o outro. O brincar funciona como um cenário

no qual as crianças tornam-se capazes não só de imitar a vida como também de transformá-la.

Os heróis, lutam com seus inimigos, mas também podem ter filhos e ir ao circo.( PCNS- vol

2, pág. 22/98 )

Pela repetição daquilo que já conhecem, utilizando a ativação da memória,

atualizam seus conhecimentos prévios, ampliando-os e transformando-os por meio da criação

de uma situação imaginária nova. Brincar constitui-se dessa forma , em uma atividade interna

das crianças baseada no desenvolvimento da imaginação e na interpretação da realidade , sem

a preocupação de ser verdade ou mentira.

Também quando utilizam a linguagem do faz de conta as crianças utilizam

outras formas de pensar e agir enriquecendo sua identidade, ampliando seus conceitos sobre o

mundo que a cerca. Na brincadeira utilizam regras de convivência negociadas por elas

próprias, vivenciando vãrios papéis ou personagens. Através da repetição de ações

imaginadas que baseiam-se em polaridades ( bom / mau ) elas também podem internalizar e

elaborar sentimentos e emoções, desenvolvendo um sentido próprio de moral e justiça.

Quando Vygotsky/97 discute o papel do brinquedo, refere-se especificamente a

brincadeira do “faz-de-conta”, embora faça referência a outros tipos de brincadeira, esta é

privilegiada em sua discussão sobre o brinquedo no desenvolvimento infantil. O autor

trabalha com a idéia de que na situação escolar a intervenção na zona de desenvolvimento

proximal das crianças se dá de forma constante e deliberada.

A situação escolar é bastante estruturada e explicitamente comprometida com a

promoção de processos de aprendizado e desenvolvimento . Encontramos em seus textos a

fala sobre um outro domínio da atividade infantil, que tem claras relações com o

desenvolvimento: o brinquedo. Comparada com a situação escolar, a brincadeira pode parecer

pouco estruturada e sem uma função explícita na promoção de processos de desenvolvimento.

No entanto, o brinquedo, também cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança.

O comportamento das crianças pequenas é fortemente determinado pelas

características das situações concretas em que elas se encontram, mas só quando adquirem a

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linguagem e passam, portanto, a ser capazes de utilizar a representação simbólica, é que as

crianças vão ter condições de libertar seu funcionamento psicológico dos elementos

concretamente presentes no momento atual.

A todo instante , vygotsky / 97 exemplifica a importância das situações concretas e a

fusão que a criança pequena faz entre os elementos percebidos e o significado.

O brinquedo é também uma atividade regida por regras. Mesmo no universo do

“faz-de-conta” há regras que devem ser seguidas. Numa brincadeira de ‘escolinha’, põe

exemplo, tem que haver alunos e uma professora, e as atividades a serem desenvolvidas têm

uma correspondência pré- estabelecida com aqueles que ocorrem numa escola real. Não é

qualquer comportamento, portanto, que é aceitável no âmbito de uma determinada

brincadeira.

Numa situação imaginária como a de brincadeira de ‘faz-de-conta’ a criança é levada

a agir num mundo imaginário, onde a situação é definida pelo significado estabelecido pela

brincadeira e não pelos elementos reais concretamente presentes.

O brinquedo provê ,assim , uma situação de transição entre a ação da criança com os

objetos concretos e suas ações com significados.

Tanto pela criação da situação imaginária , como pela definição de regras

específicas, o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal da criança . No

brinquedo a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da atividade

da vida real e também aprende a separar objeto e significado.

Sendo assim, a promoção de atividades que favoreçam o envolvimento da criança em

brincadeiras, principalmente aquelas que promovem a criação de situações imaginárias, tem

nítida função pedagógica. A escola e, particularmente a pré- escola poderiam se utilizar

deliberadamente desse tipo de situações para atuar no processo de desenvolvimento das

crianças.

As crianças refletem e gradativamente tomam consciência do mundo de diferentes

maneiras em cada etapa do seu desenvolvimento. As transformações que ocorrem em seu

desenvolvimento se dão simultaneamente do desenvolvimento da linguagem e de suas

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capacidades de expressão . Nos primeiros anos de vida o contato com o mundo permite a

criança construir conhecimentos práticos sobre seu entorno , relacionados à sua capacidade de

perceber, movimentar-se e manipular objetos. Experimenta expressar e comunicar seus

desejos e emoções, está em constante interação com outras pessoas com quem compartilha

novos conhecimentos.

Movidas pelo interesse e pela curiosidade e confrontadas com as diversas respostas

oferecidas por adultos, outras crianças e ou por fontes de informação, como livros, notícias e

reportagens de rádio, tv, etc . O brincar de faz-de-conta, por sua vez, possibilita que as

crianças reflitam sobre o mundo, resignificando elementos, tecendo relações, desvinculando-

se de idéias e imprimindo-lhes outras, baseadas nos conhecimentos que tem sobre si, sobre os

outros, sobre o mundo adulto.

Na medida em que se desenvolve e sistematiza conhecimentos relativos à cultura, a

criança constrói e reconstrói noções que favorecem mudanças no seu modo de compreender o

mundo, permitindo que ocorra um processo de confrontação entre suas hipóteses e

explicações com os conhecimentos culturalmente difundidos nas interações com os outros,

com objetos e fenômenos.

Pois bem esta infância encurralada pela falta de espaço de lazer gratuito, onde

existem prédios onde não se pode brincar, ruas movimentadas com trânsito e carros

estacionados, praças habitadas pela população de rua, apartamentos e casas cada vez menores

e com mais pessoas morando; apressada pela vontade da sociedade e do consumismo de que

ela logo cresça e torne-se cidadão e mão-de-obra atuante, deixe de dar despesa e passe a gerar

renda; amedrontada pela violência, balas perdidas, gangues de rua, drogas, abusos sexuais etc,

tem que encontrar o espaço de ser criança, de ser feliz de tatear pelo universo que a vida

oferece.

E apesar de alguma falta de adaptação à nova realidade, e é em grande parte na

escola onde ela encontra esse espaço, onde o lúdico é incentivado, onde ela possa ter amigos

com os quais irá crescer, trocar e vivenciar experiências de vida.

E a escola , será que está preparada para ser este lugar? Será que está interessada em

que criança é esta e em que mundo vive? Será que reconhece os conhecimentos trazidos pela

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criança? Ou se fecha, e continua seu caminho como mera repassadora de conteúdos,

selecionados por ela e que ela julgue pertinente ao interesse infantil. Uma vida paralela .que

caminha junto mas nunca se encontra, escola/criança.

E a afetividade por esse aluno tão execrado pelo desenvolvimento e em detrimento

de uma sociedade que caminha sem destino, sem ética. Estaremos nós professores

estruturados emocionalmente preparados para assumir mais esta função ? será que

conseguiríamos dar conta de mais esta tarefa ou justamente aí está o nosso ledo engano,

quando nos envolvemos dessa maneira apaixonada pelos nossos alunos acabamos sendo

manipulados pela estrutura da sociedade e acabamos desrespeitados , mal remunerados e

menos reconhecidos.

Como, nós educadores, ‘alma’ da instituição escola, estaremos preparados para mais

essa atribuição, sem reconhecimento, sem recompensa. È preciso rever o papel do educador

,da escola diante da situação calamitosa que fulgura nos dias atuais, senão em vez de abraçar

essa infância, estaremos lhe jogando do precipício, para um futuro incerto que certamente

não é o que esperamos para um mundo melhor.

Cecília Meireles/1931 nos idos dos anos trinta , já aponta em vários dos seus escritos

para a conveniência do respeito à lógica própria do mundo infantil, defendia a preservação da

riqueza da vida das crianças, ‘de tal modo impregnadas de liberdade” , dotadas de “ uma

espontaneidade tão clara, “ uma simplicidade tão límpida e definitiva em todos os seus gestos,

em todas as suas atitudes em todos os seus movimento” . Em textos dedicados á educadores,

ensinava que a ação pedagógica deveria ser no sentido do que entendia de como preservar a

‘natureza infantil”, no respeito à liberdade e aos ritmos da vida da criança e no estímulo aos

componentes particulares da condição infantil, como a fantasia, a imaginação, a pureza, a

intuição, a espontaneidade etc.

Superação é a palavra. Da escola, da criança , de métodos e modelos pré

estabelecidos, da força do marketing, da busca do inatingível, de nós mesmos.

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O PAPEL DA ESCOLA NA SOCIEDADE EM QUE VIVEMOS

Pois é, o mundo mudou. Aliás está mudando, e muito rapidamente. A reportagem da

revista Nova Escola “ Da informação ao conhecimento” Roberta Bencini,2002/pág.17 fala

sobre quando Monteiro Lobato escreveu o Sìtio do Picapau Amarelo , lembrei-me da sua

primeira versão, quando eu ainda era uma menina e viajava com seus personagens pelo

mundo da fantasia, é claro que quando escreveu As Reinações de Narizinho, o autor também

queria nos levar pelo mundo da imaginação, mas naquele tempo o rádio mal surgia no Brasil.

Já passaram-se oitenta anos o que antes era um luxo, hoje é corriqueiro encontrar até

nos lares mais carentes. È claro que outros meios de comunicação surgiram e a tecnologia

avança levando seus avanços para dentro de nossas casas, televisão, vídeo cassete,

computadores , telefones fixo e móvel etc. As notícias chegam em tempo real, via internet,

fax, jornal, revistas etc,. E a escola , está acompanhando essa modernidade? Não se pode

imaginar os castigos e as artimanhas usadas outrora pelos professores.

A informação antes nas mãos de poucos, agora estão ao alcance de todos, a questão

pertinente é como usá-la a nosso favor, como interpretar e filtrar o que chega aos nossos

ouvidos. Existe uma música do grupo Titãs, de autoria de Toni Bellotto, Marcelo Fromer e

Arnaldo Antunes, Chamada Televisão, do álbum Televisão/1985,wea, que diz ... “ a televisão

me deixou burro muito burro demais, e agora todas as coisas que eu vejo me parecem

iguais..Fala pra mãe, que tudo que antena captar, meu coração captura.” , como pode um

veículo de informação chegar a ser comparado a uma máquina de alienação e de

manipulação, o que houve com os bons propósitos de difundir e divulgar informações, de unir

diferentes povos e culturas, de tornar o mundo mais próximo?

Embora a gente não perceba, as crianças de hoje, que estão na idade pré - escolar são

alfabetizadas por imagens. Por meio do contato visual elas experimentam as primeiras

sensações de ler o mundo. “Ler” imagens é um dos primeiros atributos que se requer de um

candidato a consumidor. Por isso as crianças logo são’ adestradas’ a ler , para tornarem-se

consumidores generalizados. Aprendem a ler as imagens sem precisar de outro professor além

da televisão . Consumir, é sinônimo de ser feliz , denuncia em seu texto “ler imagens e criticar

imagens “ da revista Nova Escola, pág 20,2002/Eugênio Bucci.

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Os conteúdos se renovam constantemente e as crianças, apoiadas e pela sociedade,

conquistaram seu espaço. Elas estão plugadas com o que acontece ao seu redor, ouvem rádio,

assistem televisão aberta e á cabo, acessam a internet, utilizam a parafernalha eletrônica ,

muitas vezes melhor que os adultos, E a escola, está preparada para essa transformação?

“ infelizmente, a educação ainda é muito tradicional e engatinha frente à tantas

mudanças . Não só no Brasil, mas em todo o mundo” afirma José Manoel Moran/2002,pág.19

da disciplina de novas tecnologias da Pontifícia Universidade de São Paulo.

A escola mantém seu papel de instituição formal de ensino, porém o aluno quando

chega na sala de aula traz uma bagagem de informações obtidas em noticiários,

documentários etc, ela ainda não atentou para o fato de que seus conteúdos, não são de posse

e propriedade dela .

A televisão já assumiu seu papel como veículo de conhecimento incorporando a sua

programação programas didáticos. E a escola, será que já absorveu a televisão? Não adianta

só criticar, é preciso educar olhos e ouvidos, criar uma espécie de ‘filtro educativo’ para que

não se absorva tudo o que vemos e ouvimos na televisão.

A escola assumiu novas funções e há ainda um longo caminho à percorrer, é preciso

reformular idéias, quebrar paradigmas, refletir e elaborar conclusões, e ensinar seus alunos a

fazerem o mesmo.

Aos professores em vez de utilizar textos simplesmente didáticos ou de autores

consagrados, obrigando-os a ‘roer os livros’, como cita Daniel Penac , 1998 pág. 72, em

Como um Romance, despertar o prazer, a curiosidade para a leitura, começar com temas

atuais, jornais , revistas, historia em quadrinhos e jamais utilizar o texto ou livro como

instrumentos de avaliação Viajar pelas páginas, sentir a emoção do autor e dos personagens,

querer chegar logo no fim, não para terminar o fichamento, mas para saber do desfecho da

narrativa.

Da mesma forma, out doors, obras de arte, músicas, precisam ser lidas e discutidas,

para serem efetivamente compreendidas. Quando o professor, interpretado pelo ator Robin

Williams arranca as páginas de um livro de poesia, porque o mesmo ensina como analisá-la

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simetricamente, no filme ”Sociedade dos Poetas Mortos” /1989,( Estúdio Touchstone

Pictures, direção Peter weir), ele fala justamente do fato de que é preciso senti-la, interpretá-la

fazer dela uma espécie de’ ponte ‘com a sua vida e não só calculá-la e analisá-la. A escola tem

esse dom , de utilizar mal os recursos, afastando o aluno do que dá mais prazer. Tudo que ele

lê, tem um sentido único da análise, da avaliação ou até mesmo da exposição. Desenho, nota ;

construção ou marcenaria, cálculo e nota; esporte na escola, nota; Tudo para ser

exaustivamente pesquisado com o propósito da avaliação. Pesquisa feita pelo aluno, mas sob a

ótica do que o professor acha certo, sem argumento ou defesa, sem contraponto, apenas ali

pelas mãos da criança, o que o professor pensa, suas idéias, aí sim ele tem a sensação do dever

cumprido.

Computador, rádio, jornal, televisão, todas as mídias podem ser utilizadas como

excelente ferramenta pelo professor para tornar suas aulas mais atraentes e trabalhar com o

avanço tecnológico ao seu lado e favor. Segundo artigo da revista Nova Escola/ pág. 17, ano

2002, nos anos 50, menos de 60% das crianças entre 7 e 14 anos assistiam as aulas, nos anos

90, esse número chega a 97% , freqüentando o ensino fundamental, e é impossível ignorar a

penetração e importância dos meios de comunicação neste avanço.

Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 94% dos 42,8

milhões de domicílios brasileiros têm pelo menos uma televisão. Dá para não levar os

programas para dentro da sala de aula? Não. E adotar uma postura radicalmente contra tudo o

que se passa na telinha? De jeito nenhum. Todos ficam grudados a tv, o professor e o aluno,

por isso é besteira ficar martelando a tecla da qualidade, o importante é analisar o que faz as

pessoas assistirem, entender por que vêem , só assim, será possível em casa ou na escola,

avaliar o que é bom ou ruim e, o mais importante, se dá para entender os objetivos

subliminares de cada atração, analisa Maria Thereza Fraga Couto/2002,pág.18 da faculdade

de Educação da USP.

Rubem Alves - pág 67, Entre a ciência e a sapiência “Amo as imagens, mas claro

elas me amedrontam. Imagens são entidades incontroláveis que freqüentemente produzem

associações que o autor não autorizou... As imagens são pássaros em vôo... daí seu fascínio e

perigo.

19

Eugênio Bucci/2002, pág.20, fala sobre a chagada da criança na sala de aula, onde

ela encontra seu pequeno mundo dividido em dois. De um lado, o mundo que apela para o

desejo e para o prazer de olhar, de desfrutar, de consumir, o mundo das imagens eletrônicas.

De outro lado, um tanto tímido o mundo das palavras escritas, do pensamento, da abstração, o

mundo representado pelo discurso do professor.

O primeiro mundo aparece como o lado da diversão- e faz crer que o segundo é

muito chato. Daí que o professor sente que perde, sempre, a competição contra a tv . O que

fazer ? Há uma saída que vem sendo apontada por alguns educadores atentos : falar e fazer

falar de tv dentro de sala de aula. Fora da crítica não há saída. Se a TV alfabetiza pelas

imagens mercantis e para essas imagens, o professor pode ajudar a criança a es proteger.

Chamo atenção para o fato de que essa presença da TV na vida cotidiana das nossas

crianças tem importantes desdobramentos nas atividades da escola, na medida em que

qualquer criança pode aprender modos de ser e estar no mundo, também nesse espaço de

cultura. Trata-se de modos de existência que não apenas refletem o que ocorre na sociedade,

mas de constituem eles mesmos como modos de vida produzidos no espaço específico da TV

e da mídia de um modo geral.

“ Desmanchar os materiais televisivos, através de um trabalho pedagógico sério e criativo, significa operar sobre a mídia e a publicidade, dois dos setores que mais crescem na sociedade contemporânea ; ou seja, significa trazer professores, crianças, adolescentes e jovens para uma tarefa que certamente inclui o debate de leitura criteriosa da esfera cultural – tarefa que certamente inclui o debate a respeito das formas de controle da sociedade civil sobre aquilo que é produzido e veiculado pela televisão. Operar com esses produtos significa trazer à tona, mais amplamente, o problema da cisão ou da distância entre a cultura, sociedade e indivíduo. Fischer / 2001, pág.31.

Mais uma vez temos a prova concreta da importância da escola, da leitura, na vida

dos nossos jovens e crianças, o verdadeiro divisor de águas, o eixo, o que vai possibilitar que

ele não seja um imitador ,que tenha sua mente manipulada, que seja capaz de assistir a

qualquer programa de televisão, influenciado talvez, mas com condições de refletir sobre o

que assiste e exercer seu próprio julgamento, sendo o próprio responsável por suas ações.

20

A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO PROCESSO EDUCATIVO

O ser humano é o único ser cultural capaz de desenvolver modos de

resolver problemas, concepções de mundo, artes, que vão sendo, no decorrer dos tempos ,

assimiladas pelas novas gerações , seja para facilitar a sobrevivência, para encontrar o sentido

das coisas ou mesmo por uma necessidade menos imediata. O acesso á cultura e ao

conhecimento e ao conhecimento pode se dar de várias formas, sendo a escola um espaço

privilegiado para tanto .Para COSTA (1991,pág. 61), “o papel do professor é criar espaços,

organizar meios e produzir acontecimentos que façam a educação acontecer. “

No livro A criança e a TV, Raquel Soifer(1992/ pág.12), aponta para o grande número

de pais que favorecem o hábito de ver televisão desde a tenra infância.

Há aqueles que nos contam que seu bebe fica mais tranqüilo em frente á televisão,

utilizando a mesma como uma babá eletrônica, contam ainda que fica m felizes com o que

vêem; outros destacam que a criança já caminha para frente do aparelho e exigem que o

mesmo seja ligado.

Outros comentam orgulhosos que as crianças imitam personagens ou cantarolam

trechos de comerciais. Existe ainda o pretexto do incentivo dos pais para que seus filhos

assistam aos programas da moda.

É comum que mesmo em finais de semana, a família inteira esteja pendente do

receptor durante horas, todas no mesmo cômodo ou espalhados pelos aparelhos da casa. Na

verdade apenas um pequeno número delas tem uma noção clara sobre o prejuízo que este

hábito ocasiona no início da infância, assim como são poucos que percebem a influência

exercida pelos programas ou que relacionam isso ao comportamento da criança.

Ninguém exerce uma profissão com alegria se não possuir competência e não for

bem sucedido.

Ora educar uma criança é mais que uma profissão, é uma missão , que exige

qualidades específicas . Os papéis e funções de pai e mãe, acham-se em plena evolução. Do

patriarcado , a família passou para uma estrutura mais democrática, as vezes até mesmo

anárquica. A comunidade em que está inserida a família, evolui com maior rapidez que a

21

escola e a família. Através dos meios de comunicação, pressões vem gerando confusão

generalizada e subversão de valores. È preciso também levar os filhos a integrar os valores

positivos do trabalho, da televisão, das leituras, dos companheiros, cita Maria Junqueira

Schmidt no seu livro ‘ Também os pais vão escola’.

A relação escola/ família ainda nos dias de hoje é uma das questões mais palpitantes

discutidas por pesquisadores em quase todo o mundo. É o que nos conta Luciano Mendes de

faria Filho /2002, pág. 80.

“Evidencia-se o número expressivo de publicações e pesquisas especializadas sobre

o assunto, a preocupação manifestada nos mais diversos fóruns de ensino pelos profissionais

responsáveis por unidades escolares ou complexos sistemas de ensino.”

Da parte dos professores há a expectativa de uma participação mais efetiva dos pais

em relação a vida escolar de seus filhos e uma maior contribuição nas decisões da

administração da escola. Quando o indivíduo se considera e sente que faz parte de alguma

coisa, luta e cuida com muito mais afinco, realmente corrobora para o crescimento do seu

empreendimento.

Como objetivos da escola, cabe promover maior integração, envolvimento e

comprometimento dos pais, em um processo educativo consciente e transformador , buscando

que os mesmos demonstrem respeito, valorização, que participem das atividades escolares

com seus filhos . Que no aperfeiçoamento de seu papel de pais , sejam mais críticos e

conscientes de suas próprias atitudes e relacionem-se com a escola não como clientes , mas

como parceiros, que a considerem como co- educadora de seus filhos.

A escola não pode mais ser vista como a que exclui, a que segrega e seleciona, é

necessário que pais e alunos vejam nela uma extensão de seus lares, um caminho para o

crescimento pessoal e profissional, a que lhes descortina para mil possibilidades jamais

pensadas, e a escola também tem que querer ser este lugar, tem que buscar apoio na sociedade

e se valorizar diante dela como uma ferramenta que vai colaborar para diminuir as injustiças

sociais, a violência, a ignorância entre outros.

22

Devido a mudanças pelas quais, nas últimas décadas, têm passado a família , seja

propiciada pelas constantes e , às vezes, radicais alterações observadas na escola , bem como,

a conseqüente discussão e incerteza acerca do lugar dessa instituições das novas gerações,

observa-se hoje uma exaltação da necessidade de se estabelecer um efetivo diálogo entre a

escola e a família.

Da parte dos professores e gestores das unidades escolares ,alimentam ainda, a ilusão

de uma maior participação dos pais na escola que seria resultado de uma ação formativa da

escola em relação à família. Centradas numa visão escolarizada do problema , não põem em

dúvida o lugar construído para e pela escola, em relação às demais instituições sociais, entre

elas a família.

No livro, História, Infância e Escolarização, na pág. 81, o texto de Luciano Mendes

de Faria Filho, nos mostra que o afastamento da escola se deu no início nas primeiras décadas

do século XX e é resultante em boa parte da ação dos defensores e instituidores da

escolarização, e é uma preocupação constante destes mesmos agentes. Postados no interior de

um campo que ganhava cada vez mais especificidade e legitimidade, os professores e outros

agentes da educação passam a reclamar do desinteresse dos pais, não apenas, mas

principalmente das camadas mais populares.

É fundamental a participação das famílias na educação dos filhos, mas que, de

outros, estas estavam à demonstrar, naquele momento, um profundo desinteresse e despreparo

para lidar com o assunto, buscava-se projetar e desenvolver ações que visavam reaproximar a

família da escola.

Há no entanto constante relação escola/família , sempre relacionada às mudanças

sociais em curso, à vida na cidade e à necessidade do concurso de ambas para formação do

cidadão, Luciano Mendes de Faria Filho exemplifica com o texto retirado da Revista do

Ensino, num artigo sobre o calendário escolar do professor Firmino Costa.

“A vida social completa está na cidade. A família e a escola são suas partes mais importantes. A cidade há de se interessar por elas, cooperando em seu desenvolvimento. Onde não houver famílias bem constituídas, onde não existir escolas bem organizadas, aí não se encontrará civilização. Então pensava- será que minha escola é diferente das outras ?Não, por certo, continuava a ser a sempre e velha escola. A família fecha-se em casa e ao mesmo tempo se separa do mundo. A escola fecha-se em si mesma, e não se incomoda pelo que vai fora. Mas a rua continua a agitar a multidão

23

estrepitosa de sua vida, arrastando nossos filhos diante de nossas portas fechadas. ( Ano IV, 35,1929,pág.57 ).

A ação familiar é, no entanto, uma ação complementar é no entanto, uma ação

complementar à ação da escola e a ela subordinada. É subordinada porque desconfia-se da

competência da família para bem educar; na verdade, no mais das vezes , afirma-se “que a

família não consegue mais educar seus filhos “ Luciano Mendes de Faria Filho/ Na relação

escola - família, a criança como educadora, 2002,editora7 Letras, à esse respeito o problema

detectado, é que os pais não se interessam em participar da escola, pois dela estão afastados.

Além de trazer os pais até a escola, é preciso que a escola vá até as famílias, que as

conheça. Chamar os pais à participarem, é uma das melhores possibilidades que a escola tem

para recuperar seu prestígio e ter sua importância reconhecida. Afinal se falta aos pais o

conhecimento técnico para escolher a melhor escola é preciso que esta lhes mostre com uma

linguagem clara e direta suas qualidades.

É imprescindível que os pais saibam o que acontece na vida de seus filhos, seja na

vida escolar, na companhia que eles costumam andar, seus passeios e ‘point’ prediletos e

claro na programação de tv que eles assistem.

24

A TELEVISÃO E SUA INFLUÊNCIA NO ENSINO/APRENDIZAGEM

Mídia significa meios, é a grafia brasileira da pronúncia inglesa da palavra latina

“média”, plural de “médium”, que quer dizer MEIO.

Estes meios de que estamos tratando são canais de comunicação dotados de alto

poder de alcance, podem ser chamados também de tecnologias de informação e

comunicação(tic) , resultado da fusão de três vertentes técnicas: a informática , as

telecomunicações, e as mídias eletrônicas.

Segundo Porcher ( 1977 ) esses canais de comunicação e , de certa forma, de

educação se constituem numa espécie de “ escola paralela” , cujos canais os docentes não

controlam, mas são massivamente freqüentados pelos alunos. Porcher aponta para a

inadaptação da escola de hoje, afirmando que a salvação dessa instituição depende dela

própria na medida em que for capaz de se pôr em questão, por um lado, e por outro, de

integrar à sua prática institucional as sugestões e as forças dos de comunicação de massa.

Um pouco de história. A televisão chega aos lares no início da década de 50, como

um elemento desejado por suas possibilidades de oferecer entretenimento, informação e

cultura. Ao mesmo tempo, transformou-se no veículo que unia cada ser humano aos demais

habitantes do mundo.

Alcançava-se assim, a almejada universalização da culltura, iniciada séculos atrás

com a imprensa. Começava-se a vislumbrar a possibilidade de não existirem mais núcleos

relegados e isolados, sem acesso à instrução e aos conhecimentos científicos. Por outro lado,

unir a imagem à palavra, a televisão prometia a ampla difusão da informação e, com ela, a

concretização da esperançada aproximação entre os povos e as diversas civilizações.

Tão auspiciosas expectativas cumpriram-se, porém, muito parcialmente e em

diferentes níveis, segundo programação veiculada em cada país. A deturpação da missão

cultural em nome de um suposto benefício comercial constituiu-se num fato.

Que importância tem a TV em nosso cotidiano ? Porque ela se torna objeto de preocupação de políticos, empresários, pensadores, artistas e especialmente pais e educadores ? Que poder teriam as imagens que diariamente chegam aos nossos lares, que buscamos com tanto interesse e as

25

vezes até paixão ? SARLO, Beatriz. Cenas da vida pós- moderna. Intelectuais, arte e vídeo - cultura na Argentina. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997/pág. 103.

De acordo com o livro A TV E A CRIANÇA ,no âmbito familiar verificou-se que a

presença constante do aparelho funcionando havia produzido, como efeito colateral, um

sensível decréscimo que cada membro da família dedicava ao outro. As refeições presididas

pelo espetáculo televisivo, as disputas por canais e o silêncio.

Pois bem discutimos aspectos positivos e negativos da chegada da televisão em

nossos lares, vimos um pouco de história e nos inquietamos com o fato de um objeto criado

com um objetivo tão nobre ser usado pelos poderosos para alienação, mas não podemos

esquecer que os livros, as chamadas grandes obras já tiveram também seus dias de

efervescência e perseguição, então como é possível aliar vertentes opostas ?

Não discutiremos o direito dos adultos de assistirem televisão, tampouco

menosprezaremos a situação social atual, de violência e desmembramento da família que

enfatiza a solidão, de modo que a televisão é vivenciada como uma companheira.

Consideraremos estas circunstâncias justificáveis, por outro lado é conveniente que se reflita

se é justo e saudável retirar a atenção de uma criança para dedicá-la a programas de

televisão. Ou até mesmo convidá-las á assistir programação de adulto com a justificativa

dela ficar quieta ou ficar ao nosso lado.

Quantas vezes deixamos de sair de casa com nossos filhos para assistir a um

capítulo emocionante da novela, outra hora optamos por aulas particulares dadas por

estranhos para não perder um bom filme ou ainda vestimos nossas crianças com os

personagens e artistas da televisão. Se a cultura da televisão é tão presente em nossa vida

porque não seria na sala de aula.

Atentemos para o fato de que essa presença da tv na vida cotidiana tem importantes

repercussões nas práticas escolares, na medida em que crianças de todas as camadas sociais

aprendem modos de ser e estar no mundo também nesse espaço de cultura. Trata-se de

modos de existência que, não apenas refletem o que ocorre na sociedade, mas se constituem

eles mesmos como modos de vida produzidos no espaço específico da tv e da mídia de uma

forma geral.

26

Se nós adultos que temos uma vida agitada ,cheia de compromissos admitimos o

quanto a tv faz parte de nossas vidas, seja na moda, nas novelas, programas esportivos,

documentários etc. Como será sua participação na vida de nossas crianças? Já vimos que a

infância foi dilacerada por vários fatores, a família mudou seu núcleo, os pais ficaram com o

tempo reduzido e a escola não demonstra interesse pela curiosidade infantil, ensinando

apenas aquilo que ela julgue pertinente.

Essa criança acaba por ter uma profunda relação com a tv e com tudo o que esteja

relacionado a própria. Para se aproximar dessas crianças precisamos conhecer este mundo e

não fingir que não estamos vendo o que acontece ao nosso redor.

Ouve-se muito sobre erotização infantil, falta de leitura entre os jovens, aumento da

violência. Não vamos aqui discutir se tudo é culpa da televisão, as vezes , dá a impressão

que ela tem vida e vontade própria, que não precisa de pessoas para ligá-la, pessoas para

fazer sua programação, pessoas para ter interesse em assisti-la , pessoas que trabalhem para

ela. A tv simplesmente vem sozinha entra em nossas mentes e pronto é impossível escapar,

como uma lavagem cerebral que nos submetemos diariamente obrigados por algum poder

sobrenatural.

É preciso que tiremos as vendas e que possamos perceber o quanto de culpa temos

nesse processo de alienação. Quando optamos por nossa vontade e preguiça em assistir um

programa à ler um livro ou até mesmo a dar um passeio. Com a criança acontece o mesmo,

ela faz o trabalho escolar por obrigação, lição essa que na maioria das vezes não oferece

desafios à ela , ou por ser muito difícil ou por ser repetitiva. E aí vai para a tv conhecer o

mundo que lhe é negado na escola.

Educação e Televisão não são temas contraditórios, embora possa parecer a

primeira vista, se analisarmos sem discriminação, veremos que ambas tem a função de

transmitir alguma coisa . A escola tem esse papel por excelência e a tv por audiência, mas a

escola também não deveria querer ter audiência ? bem nem todos os programas da tv são de

boa qualidade, mas será que os programas da escola são ? na tv tem uma equipe que

pesquisa para saber o que atrai o interesse das crianças e como seduzi-las a ficar horas com

o aparelho ligado assistindo uma programação atrás da outra. A escola tem uma equipe

27

multidisciplinar que deveria pesquisar o interesse infantil procurando no mínimo ajustá-lo

aos interesses pedagógicos.

É por isso que a tv sai de longe na frente e quando a criança chega na sala de aula

ou até mesmo em casa com um vocabulário diferente, temos o hábito de dizer que ”essas

crianças inventam cada uma “, inventam não, aprendem na tv. Aula de geografia, a

professora escolhe o lugar mais remoto para falar, sim porque escola tem disso fala sempre

aquilo que a gente não está interessado, de repente o aluno diz que conhece, mas como

quando, impossível, não é possível sim, ele viu na tv.

A televisão tem profunda influência no processo ensino/aprendizagem , pois com

aspectos positivos e negativos ela agora faz parte dele também. Mobilizar a TV como

recurso de aprendizagem faz sentido e pode tornar-se um elemento realmente significativo

no contexto escolar desde que fiquem bem compreendidas suas funções e seus limites

pedagógicos. É claro, desde que os professores interessados recebam uma preparação

consistente para fazê-lo.” É preciso que a TV entre nas escolas e na formação dos

professores não apenas como um recurso didático, um meio, mas também- e sobretudo

como objeto de pesquisa”, afirma Fischer,( 2001,pág,75).

“O trabalho pedagógico insere-se justamente aí, na tarefa de discriminação, que inclui uma franca abertura à fruição ( no caso, de programas de TV, comerciais, criações em vídeo, filmes veiculados pela TV etc. ) , até um trabalho detalhado e generoso sobre a construção de linguagem em questão e sobre a ampla gama de informações reunidas nesses produtos, sem falar nas emoções e sentimentos que cada uma das narrativas suscita no espectador. Trata-se de uma proposta destinada à diferentes níveis de escolarização, a mergulhar na ampla diversidade da programação audiovisual disponível em filmes, vídeos, programas de televisão, e que certamente nos informará sobre profundas alterações ocorridas nas últimas décadas nos conceitos de cultura erudita, cultura popular, cultura de massa, artes visuais e assim por diante.” FISCHER, Rosa Maria Bueno.(, 2001,pág. 27).

O trabalho educativo, a partir dessas considerações sobre a TV e cultura, TV e

nomeação da privacidade, TV e modos de sermos corpos e sujeitos, hoje vê-se diante de

novas exigências, por parte de seus agentes, professores e alunos. Exigências de mergulhar

no universo da produção de significações.

Devemos tratar a TV como acontecimento, prática social ao mostrar o quanto

produzir TV, veicular programas, imaginar formas de dizer algo ao público, experimentar o

28

cotidiano de consumir imagens, divertir-se, passar o tempo, informar-se, são todas práticas

relacionadas a processos de produção de sentidos na sociedade.

Aprender a linguagem da televisão, penetrar nos curiosos caminhos da produção de

imagens, na lógica dos textos publicitários, nas construções das narrativas, na elaboração

dos telejornais, por exemplo adquire importância fundamental, quando passamos a discutir a

tv como prática social e cultural.

A análise de um meio de comunicação que se tornou para nós, brasileiros,

absolutamente imprescindível, em termos de lazer e informação. O domínio dessa

linguagem e dos processos comunicacionais que ocorrem por parte dos diversos e distintos

públicos e produtos televisivos influencia no aprendizado de uma cidadania cultural. Ou

seja, aprender a lidar com esses artefatos da nossa cultura, investigando a complexidade dos

textos, sons, imagens cores, movimentos que nos chegam diariamente através da tv, é

também aprender a lidar com um jogo de forças políticas e sociais que ali encontram espaço

privilegiado de expressão.

29

A LEITURA DE MUNDO NA ESCOLA

‘Quando se tira da criança a possibilidade de conhecer este ou aquele aspecto da

realidade, na verdade se está alienando-a da sua capacidade de construir conhecimento’

Madalena Freire,(2001,pág.15)

Desde o primeiro contato da criança com a escola, sendo muito pequena ou não, ela

busca as semelhanças, a inclusão. Qualquer imagem que lembre sua casa, sua família, lhe

proporciona uma sensação de conforto, fundamental para acalmar seu choro ou inquietação

e possibilitar que ela possa interagir com seu professor e com seus coleguinhas.

Ainda sem “aprender “a ler a criança reconhece palavras e logotipos, é o que

chamamos de leitura incidental, ela aprende por repetição, por acostumar-se a ter contato

com aquela determinada marca ou palavra.

As primeiras palavras com significado para a criança são as relacionadas ao seu

ambiente familiar, seu nome, de seus pais e assim por diante. É em sua casa que ela começa

a ter seus primeiros contatos com a TV, seja com fitas para bebê, ou simplesmente pelo som

de seus pais assistindo algum programa.

Com o passar do tempo ela mesmo já começa a assistir seus próprios programas e

fazer escolhas de acordo com seu gosto, são poucos os pais que orientam seus filhos nesta

faixa etária e justamente aí que começa o fascínio da criança pela TV , seu colorido, suas

músicas, etc.

Tendo como sustentação uma visão psicanalítica, pesquisada no livro A TV e a

criança de Raquel Soifer, faremos algumas incursões no universo infantil. As crianças têm à

sua disposição uma forma de fazer catarse mais efetiva que a dos adultos : é a

correspondente ao brinquedo, onde estão incluídos os cantos, os contos e as dramatizações.

Isto enfatiza que a primeira , é o período de maior desenvolvimento psicomotor.

A tv por estar dentro de casa, desfruta de maior acessibilidade e pelo que vemos

frequetemente o aparelho permanece ligado a durante grande parte do dia. A televisão pelo

30

fato de estar ao nosso alcance, leva-nos a reclusão junto a ela. E enquanto assistimos seus

programas, o que normalmente demora, encontramo-nos em estado regressivo.

A tv, como o cinema, o teatro ou o circo, requer, em primeiro lugar nossa atenção

visual e, associada a essa, a auditiva, de modo tão intenso que ambas encobrem os estímulos

percebidos pelos outros sentidos, incluindo o proprioceptivo, isto é orgânico.

Isto é possível devido à ação de um mecanismo psíquico denominado, identificação

projetiva, que nos permite imaginar que entramos no outro, e sentimos o mesmo que ele, ao

mesmo tempo nos induzindo a crer que naquele momento somos esse outro que está na tela.

O conjunto de sensações originadas sob tais circunstâncias culmina com o

fenômeno da catarse, palavra grega que designa o processo de dar vazão as emoções

contidas, isto é, reprimidas.

A colocação de limites ensina a diferença entre a realidade e a fantasia, ao mesmo

tempo que estabelece a distinção entre o sujeito e o outro, e se transforma em um obstáculo

que vai reduzindo a onipotência infantil.

O aprendizado consta da dois passos, que são a imitação e a identificação. Quando

queremos ensinar alguma noção à uma criança pequena, procuramos atrair sua atenção. A

sublimação é o processo de dessexualização dos impulsos edipianos, e constitui o motor do

conhecimento e da disposição para aprender.

O oposto da aprendizagem é a onipotência, que faz parte do narcisismo, junto com

o pensamento mágico. A onisciência constitui uma variante da onipotência e leva a criança

a crer que sabe de tudo, por isso não precisa aprender. Na mente infantil, a disposição para

o aprendizado entra em choque com a onipotência, uma vez que a reduz e limita. A medida

em que a criança cresce aprende, diminui sua onipotência, levando a organização de seu

psiquismo e ao fortalecimento de seu ego .

“O brinquedo aparece dentro da tendência à aprendizagem como intermediário entre a realidade e a fantasia. Constitui uma atividade que a criança sabe que responde a fantasias, mas à qual, não obstante, vai incorporando elementos da realidade, enquanto exercita suas aptidões psicomotoras e sua destreza física. Além disso , permite-lhe desenvolver as diferentes funções intelectuais . Forja dessa forma, sua capacidade

31

lógica, que inclui a indagação, o processo de passar pela prova da realidade e aceitar o erro e a relação causa e efeito” , Raquel Soifer,(1992, pág. 22).

Pelos textos a cima vimos o quão são complexos os processos pelos quais passa a

mente infantil, e nos permite avaliar que tipo de danos podemos causar com a super exposição

da criança a tv.

A comunicação forma a essência dos vínculos humanos. Em toda comunicação há

um emissor, um receptor e uma mensagem, que é o que se quer comunicar . Mas toda

comunicação implica também em um pedido de ajuda e permite a recepção de um

aprendizado e a aquisição de uma experiência. Ela constitui um duplo processo. Alguém nos

fala, nós escutamos, estamos aprendendo algo, da mesma maneira, quando falamos á alguém,

estamos transmitindo à ela nossos conhecimentos.

A criança aprende, primeiro a comunicar-se através do brinquedo e depois pela

palavra. Tanto a comunicação verbal, quanto a lúdica ajudam-na a ampliar e aprofundar seus

vínculos familiares e sociais. A comunicação dentro da família cumpre múltiplas funções, das

quais a principal é a educação que os pais proporcionam a seus filhos, assim como a

transmissão da informação que as crianças, já em idade escolar trazem da escola.

A invenção da ‘existência’ envolve, repita-se, necessariamente, a linguagem, a

cultura, a comunicação em níveis mais profundos e complexos do que ocorreria e ocorre no

domínio da vida. Paulo Freire,( 1997, pág. 57).

Quando se começa a ler o mundo ? Essa questão, possivelmente, se coloca para todos

aqueles que têm como preocupação a construção da linguagem. A seguir algumas idéias

baseadas na proposta pedagógica do SESC/RJ, construída em ação coletiva com a

participação de todos os professores e famílias das crianças,1998.

Não há dúvida sobre o fato de que, a partir do momento em que nascemos, nossos

sentidos iniciam o processo de apropriação do mundo que caracterizará toda nossa existência.

Não há dúvida igualmente, sobre o fato de que esse processo tem como vetores o

contexto familiar e as condições culturais, sociais e econômicas em que estamos inseridos.

32

Essas duas premissas são fundamentadas na definição do trabalho pedagógico que

nós professores interessados na qualidade do desenvolvimento infantil e com uma práxis

sócio - interacionista conduzimos no dia –a - dia da escola.

Numa sociedade como a nossa, fundada no colonialismo e na opressão, com um

intenso caldeamento cultural e com disparidades sociais e econômicas acentuadas, a

linguagem assume o caminho de invenção da cidadania .

Para o mestre, o professor tem papel fundamental e insubstituível nesse processo de

superação das condições iniciais em que se encontra o aluno, a partir da compreensão de seu

papel de sujeito histórico, capaz de construir um conhecimento alternativo à visão dominante.

Neste sentido, é preciso ir além dos discursos pedagógicos de se “ conhecer a

realidade do educando’ pois uma visão equivocada, elaborada a partir de uma observação

simplória das condições do aluno, pode , enfim identificar o aluno mais pelo que lhe falta do

que ele têm ou poderia adquirir.

Faz-se necessário, portanto, que nós, professores, estejamos abertos para discutir os

significados e sentidos da condição da existência do aluno, evitando a criação e a cristalização

de uma série de estigmas.

O ‘ ato de ler’ caracteriza-se pela multiplicidade ( interpretar, compreender, entender,

interagir, conhecer ) e está intimamente relacionado ao uso dos nossos sentidos. Enquanto a

aquisição da linguagem, oral está associada ao aprendizado espontâneo, produzido no

convívio social, a linguagem escrita se condiciona fortemente no contexto escolar.

Ao considerarmos a escrita como instrumento primordial do processo de construção,

reconstrução e perpetuação do conhecimento numa sociedade, estamos reconhecendo na

leitura e na escrita, a matéria prima do fazer escolar, sua essência.

Vamos considerar a multiplicidade das noções de ‘ler’ e ‘escrever’ e a necessidade

de apropriação das diferentes funções da leitura e da escrita o que demanda ao professor o

reconhecimento da alfabetização como processo inerente a educação infantil.

33

Considera-se o fato de que a criança, nasce com capacidades cognitivas, afetivas e

sociais, estando ,portanto apta a interagir com adultos e outras iguais a ela ‘ aprendendo’ e

‘ensinando ’e consequentemente compreendendo e influenciando seu ambiente, ao mesmo

tempo sendo influenciada por ele. O uso de diferentes textos, contribui para a ampliação das

capacidades comunicativas e de compreensão da criança, possibilitando-lhe produzir, criar a

partir de.

Qualquer proposta educacional deveria respeitar as diferentes formas de ‘falar’ da

criança, além de propiciar situações que utilizem material capaz de contribuir para a

ampliação de seu universo comunicativo, músicas, poesias, histórias etc. É fundamental

reconhecer a criança leitora mesmo antes de ‘ ler’ no sentido escrito do termo , como implica

considerar seus ’erros’ como parte do processo de aprendizagem e tirar partido deles como

indicadores do modo próprio de a criança pensar ao longo desse processo.

Considerando a criança como ser participativo em nossa sociedade, que freqüenta as

atividades mais diversas, e sendo a escola um ambiente favorável à aprendizagem, como

podemos não abordar assuntos pertinentes a TV. Porque não utilizar os desenhos animados, os

super – heróis para discussões, eleições, listagens, construção de histórias e fantoches,

desenhos e muitas outras possibilidades. Porque não aproveitar os documentários exibidos na

TV, para aprofundar projetos? A linguagem das imagens chega muito rápido às crianças, e

competir com elas seria de longe uma amarga derrota, temos, e volto a me repetir, que

trabalhar paralelamente.

Criar uma forma de respeitar o conhecimento, em seu sentido mais amplo, da

criança, que na maioria das vezes ela adquiriu na TV e construir em cima dele, permitir que

ela o desenvolva e reflita sobre o mesmo. A escola ,principalmente, a educação infantil deve

abraçar todos os saberes da criança, e como nessa faixa etária o lúdico seduz, a televisão

representa uma grande porcentagem de lazer da infância de hoje, então essa será a nossa porta

de entrada para um melhor entendimento com a criança.

A escola, principalmente a educação infantil, deve abraçar todos os ‘ saberes ‘ da

criança e como nessa faixa etária, o lúdico seduz, não podemos negar que a TV representa

34

uma grande porcentagem de lazer dessa infância de hoje, tanto, que até os adultos reconhecem

quando vão dar as suas punições, “se não fizer isso, vai ficar sem TV hoje! “, falam assim

porque querem tirar o que a criança gosta, então não há como negar.

A importância da integração da escola com as tecnologias de informação e

comunicação, justifica-se porque elas já estão presentes e influentes em todas as esferas da

vida social, cabendo á escola, especialmente as escolas públicas, atuar no sentido de

compensar as terríveis desigualdades sociais e regionais que o acesso desigual a estas

máquinas está gerando, E como irá a instituição escolar responder a este desafio? Integrando

as tecnologias de informação e comunicação ao cotidiano da escola, na sala de aula, de

modo criativo, crítico e competente. Isto exige investimentos significativos e

transformações profundas e radicais em : formação de professores ;pesquisa voltada para

metodologia de ensino ; nos modos de seleção, aquisição e acessabilidade de equipamentos;

materiais didáticos e pedagógicos, além de muita, muita criatividade, é o que afirma Maria

Luíza Belloni ,( 2001,pág.56).

Apropriar-se desse meio, estudar suas estratégias de endereçamento, de criação de

imagens e sons, compreender a complexa trama de significações que aí estão em jogo, essa

parece ser uma tarefa eminentemente educativa, pedagógica, no melhor sentido desse termo.

Ao transformar a TV em objeto de estudo, estamos propondo a compreensão que

nosso olhar e o mundo não se separam, assim como ocorre com as palavras e as coisas, Um

está no outro.

Usando esta abordagem como ponto de partida, vamos refletir sobre a participação

da escola nas questões relativas a programação televisiva, não me refiro a transformar as

aulas em programas de auditório, ressalto a importância da “ educação do olhar “ de

estarmos atentos e críticos a tudo que vemos e ouvimos em qualquer espaço da mídia, mas

porque não usar o poder de atração, a audiência da TV a nosso favor, porque banir da escola

músicas e personagens televisivos. Por classificarmos de qualidade ruim, porque não deixar

que nossos alunos descubram e julguem por si próprios.

Precisamos nos livrar de rótulos e estigmas, acreditar na nossa formação, investir

cada vez mais nela, usar o nosso bom senso, pesquisar e fundamentar nossos

35

conhecimentos, criando nossa forma de trabalhar com as novas tecnologias em sala de aula

e estarmos cada vez mais atentos as transformações porque passa nosso mundo, pois nossas

crianças estão inseridas nesse contexto, a escola só se torna viva a partir do que todos que

estão envolvidos com ela queiram realmente fazer parte. Esse é o movimento, sempre

contínuo, embora pareça desalinhado, buscando, repensando, revendo atitudes e credos,

quebrando paradigmas.

36

Conclusão

Somos produtores de cultura, fazemos história e desejamos contribuir para a

produção de novos modelos de desenvolvimento voltados para a preservação da vida.

Para se produzir uma nova sociedade sustentável, vai ser necessário que as

crianças aprendam coisas muito distintas do que foi preciso aprenderem quando o objetivo

era a construção industrialização.

Sabemos que há muito a descobrir e pesquisar sobre meio ambiente, educação e

desenvolvimento. Sabemos também que nossas ações são como pequenos grãos, que

germinarão na medida em que crianças, famílias e educadores compreenderem a

necessidade e a força de sua intervenção, transformando hábitos, instituindo novos estilos de

vida, novas maneiras de pensar e de fazer educação que apontem para um mundo afetivo,

responsável e solidário.

Se o mundo não é como gostaríamos, cabe a nós a mudança, apenas criticar não

leva ninguém a lugar algum.

Nos dias de hoje cabe a escola fazer o aluno pensar e pensar sobre tudo não só de

conteúdo e disciplina, mas refletir as suas atitudes, quais são os valores que mobilizam a

sociedade para transformá-la e poder modificá-la para melhor.

A escola por outro lado acaba por tentar assumir responsabilidades que outrora

eram da família, a educação de um modo geral, fica cada vez mais em nossas mãos: o

educar, o conteúdo, os hábitos... Todos concordam sob a forte influência da mídia na

construção de valores e na internalização destes pelo sujeito, observamos que tais valores

que tem sido veiculados pela mídia, muitas vezes não correspondem aos de nossas famílias.

Quantas vezes ouvimos o ditado popular “ nem tanto ao céu, nem tanto à terra”, os

extremos são radicais e normalmente quando optamos por apenas um dos lados, sem

ponderar o outro, acabamos nos furtando de experimentar a reflexão e prática de algo que

não conhecemos ou vislumbramos.

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Já vimos nos textos o quanto a televisão excessiva faz mal a criança, o quanto ela

pode comprometer suas estruturas e seu desenvolvimento físico e mental. Porém aliená-las

desse meio de comunicação, fingir que não existe, não vai fazer ela crescer ou protegê-la de

maus pensamentos, não podemos atestar que uma criança que não assiste TV não vai ser um

adulto com problemas ou violento, fosse assim, não haveriam tais acontecimentos antes de

inventarem a TV. O próprio livro, em outras épocas, já foi perseguido, queimado, e acusado

de alienação ou de fomentador de idéias e ideais.

Acompanhar o que as crianças assistem, indicar programas interessantes, discutir

anúncios e desenhos animados, formar uma consciência crítica, instrumentalizá-la para que

ela mesma possa fazer suas escolhas e se proteger de possíveis manipulações.

A TV já faz parte do universo infantil e negá-la seria mutilar uma parte da vida

dessa criança, pois como vimos ela transporta seus personagens e programas preferidos para

suas brincadeiras e dramatizações. Deixaremos de cantar uma música que as crianças

gostam, pelo simples fato de que foi a Xuxa quem ensinou? Ora vamos cantar essa e as

muitas outras que as crianças não conhecem porque não toca na TV, é troca, é compartilhar

saberes, è respeitar os diferentes conhecimentos.

Como poderemos propor atividades às crianças, se todas as vezes que elas trazem

uma novidade que por ventura venha da TV a gente fingi que não ouve, nos negamos a

aceitar. È preciso descer desse ‘pilar do saber supremo’ e descobrir junto com nossas

crianças, viver essa magia da infância.

“ Educador ensina, e enquanto ensina, aprende”

Madalena Freire

(20/112001,www.ntemissoers.hpg.ig,br/educador-ensina.htm)

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Bibliografia

- SOIFER, Raquel.” A criança e a TV”, Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

- GONDRA, José Gonçalves. “ História, Infância e Escolarização “, Rio de

Janeiro : 7 Letras, 2002

- FISCHER, Rosa Maria Bueno. “ Televisão e Educação: Fruir e pensar a TV”,

Belo Horizonte : Autêntica, 2001

- PENNAC, Daniel. “ Como um Romance”, Rio de Janeiro: Rocco, 2001

- OLIVEIRA, Marta Kohl. “ Vygotsky, Aprendizado e desenvolvimento. Um

processo sócio - histórico “, São Paulo: Scipione, 1997

- ALVES, Rubem. ‘ Entre a Ciência e a Sapiência”, editora Loiola

- FREIRE, Paulo “ Pedagogia da Autonomia, Saberes necessários à prática” São Paulo: Paz e Terra,1977

- FREIRE,M. A Paixão de conhecer o mundo São Paulo : Paz e Terra, 2001

- Educação Infantil : um projeto de reconstrução coletiva

Organizadoras: Léa Tiriba e Maria José da Mota Gouvêa Ed. SESC ARRJ, 1998

- Artigo revista Nova Escola 04/2000 – Vera Rudzer Werneck

- Artigo da revista Nova Escola 06/2002- Eugênio Bucci

- Manual de capacitação do canal Futura de mobilização social 12/2001-

Fundação Roberto Marinho.

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A Escola e a Pluralidade de Meios

Educação e comunicação são processos inseparáveis, e a relação entre eles é bastante

complexa. Existem múltiplas formas de comunicação. Elas não têm um fim em si mesmas.

Como instrumento, como meio, nascem de necessidades humanas. Sistematizar estes dois

processos, construir programas, só se justifica porque elas são inerentes ao processo de

humanização. E como necessidade, elas podem ser exploradas tanto para a libertação como

para manipulação.

A pluralidade de meios de comunicação nos coloca imediatamente o tema da

pluralidade de meios de educação. O que importa portanto, na educação, não é tanto melhorar

um único meio de educar, aperfeiçoá-lo ao máximo. O que importa é colocar á disposição dos

educandos uma multiplicidade de meios. São tão necessárias as bibliotecas quanto as

videotecas, os laboratórios, os panfletos, a televisão.

A escola não é um espaço físico. É, acima de tudo, um modo de ser, de ver. Ela se

define pelas relações sociais que desenvolve. E se ela quiser sobreviver como instituição,

precisa o que é específico dela. No final da década de 60 anunciava-se o fim da escola, o fim

do professor e o advento da aldeia global televisiva. No entanto, a escola, mesmo atacada,

vem se fortalecendo no que ela tem de específico, que é a construção elaborada, incorporando

as novas tecnologias e tirando proveito delas.

O papel da escola seria fazer com que tanto as crianças quanto os jovens e os adultos

pudessem passar da cultura primeira para a cultura elaborada. Este seria um processo dialético

no qual uma não eliminaria a outra, mas lhe acrescentaria uma explicação mais completa. A

cultura é a que adquirimos antes ou fora da escola, pela autoformação não metódica e não

sistemática. É aquela cultura que nasce da experiência da vida, que absorvemos sem perceber,

movidos pela curiosidade , no dia- a –dia . Essa cultura é a cultura popular, que hoje está

profundamente impregnada pela cultura de massa. Sob muitos aspectos a cultura popular se

identifica com a cultura de massa.

Faço uma leitura positiva da cultura de massa . Nós, educadores não podemos ignorar,

por exemplo, o quanto a criança aprende em frente a uma televisão ou ouvindo o rádio, fora

dos horários escolares . A televisão introduz em nossa casa o mundo e nos liga

instantaneamente a ele. Diante de um aparelho de televisão, nossas crianças, em suas casas,

sentem-se como cidadãs do mundo, habitando numa aldeia global.

A cultura de massa envolve o corpo inteiro, privilegia a imagem, o som, o movimento.

É uma cultura envolvente, tão envolvente que, quando morre o personagem de uma novela ,

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nos sentimos como se tivesse morrido alguém da nossa família. A televisão, ainda tão pouco

explorada em nossas escolas, além de tudo, traz satisfação para a criança. A cultura da

televisão é uma cultura de satisfação, expressão do nosso tempo, que a criança deseja

encontrar também na escola.

Por outro lado, devemos apontar algumas limitações da televisão. Ao esquematizar

coisas e simplificar fenômenos, ela pode cair na mistificação e na banalização da cultura.

Engana quando mostra que o sucesso é fruto do acaso. Por isso, a televisão, que é

indispensável na formação da criança de hoje, deve ser acompanhada, na escola, por uma

pedagogia da comunicação que a analise criticamente. Ela deve ser desmistificada pela

escola e não substituir a escola. Fazer parte, portanto, também do currículo escolar. A escola

deve explorar mais a televisão e o vídeo, não como um acessório, mas como um

instrumento indispensável de trabalho. A escola não deve impedir a criança de assistir

televisão, mas ensiná-la a assistir televisão com uma postura crítica.

Moacir Gadotti / 11-2001,capacitação de mobilização comunitária do canal Futura,

Fundação Roberto Marinho

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Sobre vídeos “educativos”

Quando se aborda a questão das relações entre televisão e escola, verifica-se que, de

um modo ou de outro, a maioria dos educadores pensa logo em programas educativos. Por um

lado, isso é natural, já que ainda circulam enfoques bastante redutivos e estanques desse

campo imenso, complexo e multifacetado a que chamamos de educação. Mas, se estamos

interessados de algum modo em trabalhar melhor a interface televisão/ educação, é tempo de

buscar uma perspectiva mais adequada para examinar a questão. O que, afinal, autoriza

considerar um vídeo como “educativo “.

Nos cursos - oficinas, tenho proposto, como um bom caminho, pesquisar quais

funções os diferentes programas que compõem o universo da televisão ( aí incluídos filmes e

comerciais), gravados em fitas vhs- ou vídeos-, poderiam desempenhar em processos

educativos diversos. Para tornar mais clara essa colocação, vale a pena distinguir,

esquematicamente, três principais categorias, no universo de vídeos, que podem desempenhar

funções úteis à educação.

Há os vídeos didáticos, gravados de programas cujo objetivo é ensinar. São os

primeiros nos quais se pensa, em geral, quando se usa a expressão “ vídeo educativo”.

Cresceram em número e diversidade, na década de 90, desempenhando as funções de instruir,

passar informações e mostrar exemplos. Quase sempre vinculam-se a determinada área de

conhecimento, ou a programas curriculares de matérias de ensino. Seu vício de origem, hoje

razoavelmemte superado, é a adoção de uma estrutura em geral colada ao comando dos textos

didáticos tradicionais que o embasavam . Resultavam freqüentemente cansativos e sem

interesse- pelo excesso de texto verbal e pobreza de imagens. Contudo, eles podem prestar

bons serviços, se forem bem feitos e utilizados apropriadamente.

Há porém, muitos e bons vídeos temáticos não- didáticos que fazem aprender. São

documentários, telejornais, reportagens, entrevistas, filmes de ficção e até desenhos animados

que, realizados sem finalidades instrucionais específicas, tratam de temas que deveriam

integrar a bagagem básica de todo os cidadãos, e por isso mesmo estão presentes, direta ou

indiretamente, em todas as diferentes programações de ensino. São temas históricos( antigos

ou recentes), científicos ( de todos os campos: natureza, vida, biologia, física, sociologia,

economia, medicina, psicologia), sócio – culturais e políticos, artísticos. Tais vídeos podem

desempenhar funções pedagógicas relevantes, embora não raro negligenciadas no processo de

ensino – aprendizagem, tais como motivar, contextuar, aprofundar, diversificar pontos de

vista, questionar e discutir, auxiliar a compreensão de processos e conceitos. E cumprem essas

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tarefas, boa parte das vezes, mostrando e não apenas verbalizando. Daí, a meu ver, sua maior

valia. Permanece, porém, uma condição básica : os professores precisam aprender a usá-los.

Há por fim- como chamá-los? – vídeos não temáticos( na acepção adotada acima ) e

sem nenhum propósito educativo, mas de notável alcance educacional. Apesar do primarismo

vulgar e violento que povoa grande parte da programação da tv e das videolocadoras, existe

ao nosso alcance, através delas, numerosas obras audivisuais de qualidade diferenciada.

Antigas ou contemporâneas, realizadas sem nenhuma intenção de educar e sem tratar de

temas curriculares, essas obras enriquecem qualquer currículo que se importasse com a

formação mais ampla de seus docentes e discentes. Há desenhos e filmes de arte e de humao,

ótimos para desenvolver a sensibilidade, o imaginário e a criatividade. Narrativas ficcionais

de todo tipo permitem observar, discutir e compreender comportamentos e atitudes, situações

de conflito, questões de moralidade e ética. Eles transportam para contextos de épocas

passadas, familiarizam com ambientes e culturas de todas as latitudes e longitudes.

A ficção narrativa de boa qualidade, no cinema como na tv, pode ensinar a respeitar as

diferenças, de todo tipo. Ajuda os jovens a conviverem com a pluralidade de pontos- de –

vista. Faz com que valores básicos ligados á vida e à morte, ao prazer e ao sofrimento do ser

humano sejam melhor compreendidos.

Há, ainda os comerciais e as propagandas( inclusive a propaganda política) que

também integram esse conjunto,e que propiciam valiosos exercícios de observação e reflexão

sobre liberdade e dependência, sobre respeito e manipulação, sobre fatos e versões, sobre

aparência e realidade, sobre verdades e mentiras. Cabe reiterar, no entanto, que tudo isso

dependerá sempre do professor. Sua sensibilidade e sua preparação é que farão, ou não, que

um vídeo se torne “ EDUCATIVO “.

Sylvia Magaldi / 2001, pág.131,Televisão e Educação,

Belo Horizonte, ed.Autêntica

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A mídia e a Educação

Aqueles que se preocupam com a educação adquirem o hábito de ver todos os

problemas, todos os fatos da vida sob esse prisma. É por esse motivo que tanto intriga e

confunde a observação do papel e da contribuição dos meios de comunicação para esse fim.

A escola, como instituição formalmente incumbida do processo educativo atinge um

número limitado de indivíduos. A atuação do jornal, do rádio e da televisão, como veículos da

educação informal, se faz, no entanto, sobre esse número muitíssimas vezes multiplicado.

Não se pode, nos dias de hoje, considerar apenas a escola e suas dificuldades quando

se pensa a questão da educação, deixando de lado os meios de comunicação social que, por

atingirem um número muito mais vasto e por influírem diretamente na formação de uma visão

do mundo, na constituição de usos e costumes, vão ter uma imensa responsabilidade nessa

área.

Partindo-se dessa constatação, pode-se refletir sobre as questões que dela decorrem,

A primeira seria sobre o preparo daqueles que vão ter a incumbência de educar. Exige-

se do professor que vai ter contato com um número reduzido de alunos, uma formação

minuciosa e adequada, uma consciência da sua responsabilidade social, uma postura ética, ao

mesmo tempo em que nenhuma preparação especificamente educacional é pedida aqueles que

vão ter em mãos os veículos da educação informal.

Outra questão que se impõe à reflexão diz respeito ao tão propalado dever e direito de

informação. Tal afirmação, de tão repetida adquiriu foro de dogma inquestionável.

É indiscutível o direito ao conhecimento da verdade, mas é famosa a pergunta: o que é

exatamente a verdade? Poderá ela ser identificada com depoimentos colhidos aqui e ali, sobre

determinados fatos ou com os testemunhos dados por personagens emocionalmente

envolvidos ou sem o devido conhecimento de causa.

Essa questão sobre o dever e o direito de informar leva fatalmente à reflexão sobre a

dimensão ética dos veículos de comunicação social.

Nenhuma ação do homem é neutra e descompromissada com suas consequências .

Não sendo possível trazer à público todos os acontecimentos de um dia, tendo-se

forçosamente que fazer uma seleção do que e como transmitir as informações, e sendo os

meios de comunicação social veículos informais de educação, caberia uma mediação sobre o

dever e o direito que têm esses órgãos de dificultar, minimizar, diminuir a propagação do mal.

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A censura é sempre feita como já se viu, pelo próprio processo de seleção dos

informes a serem passados ao grande público.

Sendo necessária essa seleção, essa escolha, por que não fazê-la de modo a que

colabore com a educação, com a difusão do bem, do belo, do saudável e do útil? Por que não

pautá-la pelo dever e direito de colaborar com a obra de educação que devem ter aqueles que

detêm os meios que vão tão fortemente influir na constituição da hierarquia de valores e na

cultura do povo?

Não vale também a desculpa de que os meios de comunicação social apenas

correspondem aos anseios de seu público, que sua atuação responde às expectativas

determinadas pela pesquisa de opinião porque não se vai dar ao povo veneno ou se permitir

uma prática antisocial se ele por ignorância ou doença mostrar ser essa sua vontade.

Em certos casos, falar do mal é difundi-lo, é fazer a sua propaganda.

Vive-se no momento uma época de impasse para a humanidade, em que se é obrigado

a repensar problemas, a buscar novos rumos. Fórmulas antes eficazes, já não satisfazem e se

mostram insuficientes para as difíceis situações com que se depara o homem contemporâneo.

Numa como agora a reflexão ética sobre as diversas situações da vida da humanidade

se fez tão necessária.

Vera Rudzer Werneck / Nova Escola 2000, pág.25