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A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CAPITAL NO VALOR DE MERCADO DAS EMPRESAS NO BRASIL André Silva Oliveira Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Administração- COPPEAD/UFRJ Mestrado em Administração Orientador: Cláudio R. Contador PhD em economia Rio de Janeiro 1998

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A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CAPITAL NO VALOR DE

MERCADO DAS EMPRESAS NO BRASIL

André Silva Oliveira

Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Administração-COPPEAD/UFRJ Mestrado em Administração

Orientador: Cláudio R. Contador PhD em economia

Rio de Janeiro

1998

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A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CAPITAL NO VALOR DE MERCADO DAS EMPRESAS NO BRASIL

André Silva Oliveira

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Administração – COPPEAD, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre.

Aprovada por:

Prof.___________________________________ - Orientador Cláudio R. Contador (COPPEAD/UFRJ)

Phd em economia

Prof.___________________________________ Ricardo Leal (COPPEAD/UFRJ) Phd em administração de empresas

Prof.___________________________________ Alvaro Vieira (UERJ)

Phd em administração de empresas

Rio de Janeiro

1998

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Oliveira, André Silva.

A influência da estrutura de capital no valor de mercado

das empresas no Brasil /André Silva Oliveira. Rio de

Janeiro: UFRJ/ COPPEAD, 1998.

ix, 87 p.,il.

Dissertação – Universidade Federal do Rio de Janeiro,

COPPEAD.

1.Mercado de Capitais 2.Economia Financeira. 3. Tese

(Mestr. – UFRJ/COPPEAD. I. Título.

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AGRADECIMENTOS

Ao André Lóes, pela ajuda no trabalho de coleta de dados econômicos. À Danielle Perrota, pelo valioso trabalho de revisão do formato da dissertação. Ao Cláudio Contador, pela atenciosa orientação. Ao Ricardo Leal, pela importante colaboração nas correções dos rumos finais do trabalho.

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OLIVEIRA, André Silva. A influência da estrutura de capital no valor de mercado das empresas no Brasil. Orientador: Cláudio Contador. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 1998. Diss.

Ao longo desta dissertação procuramos mostrar a relevância da estrutura

de capital no valor de uma empresa, com objetivo último de testá-la dentro da

realidade brasileira. Nesse sentido, procedemos à revisão da teoria de finanças

que versa sobre o assunto, resumimos o cenário encontrado pelas empresas no

Brasil para buscarem novos recursos, e por fim realizamos os testes estatísticos

que denotaram a que nível a estrutura de capital afeta o valor das empresas de

diferentes setores no mercado acionário brasileiro.

Apesar do mercado acionário nacional, objeto de nossos testes

estatísticos, apresentar um universo amostral bastante restrito, encontramos forte

significância para alguns resultados, que se mostraram, por vezes, bastante

surpreendentes em relação ao que dita a teoria de Finanças.

As empresas mais alavancadas dos setores estudados, de maneira geral,

não apresentaram índices de exigência de retorno significativamente maior que

suas congêneres de mercado menos alavancadas, exceção feita ao grupo setorial

Siderurgia e Mineração.

As razões que vislumbramos para esta ocorrência são: a dificuldade

generalizada de financiamento no país, onde só as melhores empresas o

conseguem obter a taxas razoáveis; a consequente baixa alavancagem das

empresas no Brasil e; a estreita liquidez de nosso mercado de ações, de onde os

retornos exigidos das empresas foram obtidos.

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OLIVEIRA, André Silva. A influência da estrutura de capital no valor de mercado das empresas no Brasil. Orientador: Cláudio Contador. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 1998. Diss.

In this paper we try to show the importance of the capital structure to the

firm value, with the special purpose of testing it in the brazilian reality.

In this sense, we made a capital structure theory review, summarized the

economic scenerio in which the companies in Brazil have to work to get new

resources, and for the last, we made statistics tests that showed at what level

the capital structure influences the firm value of many companies whose shares

are traded in the São Paulo Stock Exchange.

The result of our experiments were quite surprising in regards of Finance

Theory statements. The more leveraged firms in the considered sectors, in

general, did not show significant higher demanded rates of return than its peers

in the market that were less leveraged.

The reasons that we found to explain this are the following: the general

financing difficulty in Brazil, where just the better companies are succesful in

getting debt at reasonable prices; the consequent low debt ratio of the

companies and; the low trade volume in the major part of the shares traded in

São Paulo Stock Exchange from where the demanded rates of return were

taken.

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Lista de Figuras

p. Figura 1.1: Distribuição das empresas do IBOVESPA por níveis de dividendos distribuídos em1997...................................................................................................

13

Figura 1.2: Retorno exigido pelo acionista X alavancagem....................................... 19 Figura 1.3: Valor da firma X Endividamento............................................................... 22 Figura 2.1: Poupança doméstica bruta como percentual do PIB – médias não ponderadas (1960-93)...............................................................................................

31

Figura 2.2: Emissões primárias de ações e debêntures............................................ 35 Figura 2.3: Capitalização e liquidez da BOVESPA. .................................................. 36 Figura 2.4: Reservas cambiais brasileiras: evolução................................................. 42 Figura 2.5: Taxa de juros do Federal Reserve: evolução........................................... 43 Figura 3.1: Empresas americanas: % Alavancagem financeira X Retorno exigido – 1996...........................................................................................................................

54

Figura 3.2a: Retorno exigido X % Alavancagem financeira – 1996........................... 63 Figura 3.2b: Retorno exigido X % Alavancagem financeira – 1997........................... 65 Figura 3.3: Resultados financeiros / Lucro operacional de 1997 das 300 empresas mais líquidas da BOVESPA distribuídos por quintis..................................................

71

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Lista de Quadros

p. Quadro 1.1: Lucros retidos e dividendos nas empresas americanas....................... 10 Quadro 1.2: Lucros e dividendos pagos nas empresas americanas........................ 11 Quadro 1.3: Dividendos pagos / Lucro Líquido nas empresas brasileiras do IBOVESPA (1997).....................................................................................................

12

Quadro 1.4: Setores divididos por alavancagem...................................................... 24 Quadro 1.5: Resultados do consolidado de estudos de Smith, Clifford.................... 27 Quadro 1.6: Principais pontos a serem considerados em relação à estrutura de capital de uma empresa............................................................................................

29

Quadro 2.1: Composição do passivo do BNDES -1996........................................... 38 Quadro 2.2: TJLP, ANBID e C-BOND....................................................................... 39 Quadro 2.3: Bancos de Desenvolvimento: Indicadores Financeiros Comparativos – 1996.......................................................................................................................

40

Quadro 2.4: Balanço de Pagamentos do Brasil........................................................ 41 Quadro 2.5: Volumes financiados por intermediário financeiro................................ 48 Quadro 3.1: Resultado dos testes com empresas americanas – Dívida LP X L/P – 1996..........................................................................................................................

52

Quadro 3.2a: Resultado dos testes com empresas brasileiras – Exigível / Patrimônio Líquido X L/P (1996)...............................................................................

61

Quadro 3.2b: Resultado dos testes com empresas brasileiras – Exigível / Patrimônio Líquido X L/P (1997)...............................................................................

62

Quadro 3.3: Comparação de endividamento de LP: EUA X Brasil........................... 67 Quadro 3.4a: Resultado dos testes com empresas brasileiras – Exigível / Valor de Mercado X L/P (1996)...............................................................................................

68

Quadro 3.4b: Resultado dos testes com empresas brasileiras – Exigível / Valor de Mercado X L/P (1997)...............................................................................................

68

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Sumário

p. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 1 1 – ESTRUTURA DE CAPITAL: A TEORIA............................................................ 3 1.1 – O financiamento interno................................................................................ 4 1.1.1 – A política de dividendos................................................................................ 4 1.1.2 – Os fundos de depreciação............................................................................ 14 1.2 – O Financiamento externo.............................................................................. 15 1.2.1 – A teoria estática das compensações............................................................ 20 1.2.2 – A teoria da ordem de captação..................................................................... 26 2 – O FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO NO BRASIL.................................... 30 2.1 – O mercado interno de capitais...................................................................... 34 2.2 – O BNDES......................................................................................................... 36 2.3 – As captações internacionais......................................................................... 40 2.3.1 – A estabilidade da moeda na qual o financiamento é concedido................... 41 2.3.2 – Risco de crédito administrável...................................................................... 42 2.3.3 – Taxas de juros relativamente atrativas......................................................... 43 2.4 – Novas alternativas......................................................................................... 44 2.4.1 – O Project Finance......................................................................................... 44 2.4.2 – Fundos em cotas para fins específicos......................................................... 45 2.5 – Os Doadores de recursos............................................................................. 46 3 – TESTES ESTATÍSTICOS................................................................................... 50 4 – CONCLUSÕES FINAIS...................................................................................... 73 ANEXOS................................................................................................................... 77 REFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 84

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Introdução

A otimização da estrutura de capital é um dos pontos mais discutidos

em Finanças. Alguns, como Modigliani e Miller (apud Brealey, Myers,1991),

argumentam que não existe uma estrutura ótima, ou seja, o valor da empresa

é reflexo de seus investimentos e não de como o fluxo de caixa gerado é

distribuído (como remuneração de dívida ou de capital próprio). Já a corrente

dos Tradicionalistas acha que, ao contrário, existe um ponto ótimo da estrutura

de capital que maximiza o valor da firma.

O que todos concordam é que, ao aumentar o endividamento, há um

consequente aumento de exigência, por parte do acionista, de um maior

retorno. Isto porque um maior endividamento tende a elevar o risco financeiro

da empresa.

O presente trabalho procura investigar em que grau a exigência de

retorno é afetada pela estrutura de capital nas empresas brasileiras. Para

chegar a esse objetivo utilizamos testes estatísticos do tipo cross-section, onde

procuramos estudar a correlação entre a estrutura de capital, identificada por

Exigível Total dividido pelo Patrimônio Líquido, e a exigência de retorno do

acionista, representada pelo Lucro Líquido anual dividido pelo seu Valor de

Mercado.

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Os testes foram aplicados para as 150 empresas mais negociadas na

Bolsa de Valores de São Paulo nos anos de 1996 e 1997, que foram

agrupadas setorialmente e reagrupadas com outros setores afins em grupos

setoriais, dada a pouca disponibilidade intra-setorial de ações com liquidez em

nosso mercado.

Antes de procedermos aos testes estatísticos, entretanto, fazemos uma

revisão teórica da relevância da estrutura de capital no valor da firma no

capítulo I e relatamos, no capítulo II, o ambiente particularmente hostil

enfrentado pelas empresas para se endividarem a longo prazo no Brasil, que

dependem basicamente de recursos administrados pelo governo, via BNDES,

ou captados no exterior via bonds e notes.

Assim, ao analisarmos no capítulo III os resultados dos testes

estatísticos e suas causas, nos pautamos nos argumentos teóricos aludidos no

primeiro capítulo e nas evidências apresentadas no segundo.

Capítulo 1

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Estrutura de capital: a teoria

Antes de qualquer análise objetiva da influência da estrutura de capital

no valor das empresas, se faz necessário a apresentação de um retrospecto

da teoria sobre estrutura de capital. Quais as vantagens e desvantagens da

empresa se financiar interna ou externamente? Quais são as consequências

de uma política de dividendos mais generosa ou de uma maior alavancagem

financeira? À essas e outras perguntas a moderna teoria de finanças tenta

responder, e é essa teoria que apresentaremos nesse capítulo.

Toda empresa tem uma certa gama de bens sob seu controle. Esses

bens, por sua vez, são financiados por dois tipos de agente econômico,

proprietários ou credores da empresa. Desse modo, de maneira genérica a

empresa tem duas formas de se financiar: através de recursos próprios,

utilizando-se de seus lucros retidos, fundos de depreciação (financiamento

interno) ou de novas captações no mercado acionário ou através de

endividamento, fazendo uso do capital de terceiros em troca de uma taxa de

juros previamente contratada (financiamento externo).

Dividiremos a exposição da teoria sobre a estrutura de capital em dois

blocos principais, o primeiro tratará do financiamento interno da empresa, no

qual seus lucros retidos e fundos para depreciação são os principais geradores

de fundos. No segundo bloco trataremos do financiamento externo, aquele em

que a empresa vai ao mercado em busca de novos capitais. Essa busca pode

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se dar através de endividamento, com a venda de títulos que oferecem um

rendimento pré-determinado, ou através da emissão de novas ações1.

Vamos começar pelo estudo do financiamento interno, que como

dissemos acima, provêm em grande parte dos lucros obtidos pela empresa.

Sendo assim, a política de distribuição/retenção desses recursos, ou política de

dividendos, passa a ser um importante aspecto a ser considerado. Vamos

então repassar o que a teoria de finanças nos diz a seu respeito.

1.1- O Financiamento Interno

1.1.1 - A Política de Dividendos

Nessa matéria, os autores têm frequentemente opiniões bastante

diversas. Abordaremos aqui as conclusões a que chegaram Modigliani e Miller

apud Brealey e Myers (1991), e os próprios Brealey e Myers em cujo trabalho

Principles of Corporate Finance estão as bases da moderna teoria de finanças

corporativas. Não deixaremos, no entanto, de citar outros autores cuja

contribuição consideremos oportuna para a discussão do assunto.

De forma geral, a relevância da política de dividendos depende, como

lembra Filardo (1980), de quatro pontos (aos quais acrescentamos mais um),

tais como: 1)padrão de comportamento dos acionistas; 2)relacionamento entre

o administrador e o acionista; 3)formas alternativas de financiamento à

disposição da empresa; 4)desempenho do mercado de ações; 5)padrão dos

impostos.

1É claro que podem existir mecanismos híbridos de captação, que misture emissão de ações com de títulosde dívida, tais como debêntures conversíveis em ações. No entanto, para simplificar, estudaremos as duas

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Para Modigliani e Miller, a quantidade de dividendos distribuídos é

irrelevante para a valorização das ações da empresa, isto porque segundo

eles, o único fator relevante é a política de investimentos, cujos resultados,

estes sim, influenciam os preços das ações da empresa.

Se enquadrarmos a teoria de Modigliani e Miller no arcabouço de

análise adaptado de Filardo veremos que para chegar a suas conclusões os

autores assumiram que os pontos em que a política de dividendos interfere

sobre o valor da firma são dados da seguinte forma: no quesito “padrão de

comportamento dos acionistas” Modigliani e Miller o consideram como

indiferentes ao risco e à liquidez, já que assumem que os acionistas não

hesitarão em deixar seu dinheiro retido na empresa, desde que esta ofereça as

perspectivas mais promissoras para seus recursos. O promissor futuro da

empresa, no presente, não passa de uma intenção dos administradores,

assim, Modigliani e Miller acabam por assumir que no “relacionamento entre o

administrador e o acionista” não existe divergência de objetivos, sendo o

administrador um legítimo representante do acionista, não inclinado à decisões

oportunistas. Os administradores não estão vulneráveis, segundo Modigliani e

Miller, à tentações, tais como manter parte dos lucros sob seu controle, mesmo

sabendo que não será possível a aplicação desses recursos em projetos com

rendimento semelhante à melhor aplicação do mercado. Isto se deve à

assunção, por parte de Modigliani e Miller, da existência de uma ampla gama

de “formas alternativas de financiamento à disposição da empresa”, e de que

formas de captação em separado.

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não existem custos de transação para a obtenção desses recursos quando

forem necessários.

Por último, ainda seguindo a estrutura de análise de Filardo, Modigliani e

Miller consideram que o “desempenho do mercado de ações” reflete

imediatamente as informações sobre a situação das empresas, assim, tanto

faria para os acionistas receber seus rendimentos via dividendos, ou ganhos

de capital, vendendo-os ao preço justo nas bolsas de valores.

Quanto ao quinto ponto acrescentado, Modigliani e Miller consideram

um mundo onde não há impostos. Mesmo se os houvesse, as interferências

que poderiam causar manifestar-se-iam apenas se as alíquotas cobradas nos

ganhos de capital (através da venda das ações) fossem diferentes das

aplicadas aos dividendos ganhos. Isto porque, como não há assimetria de

informações no mercado, o valor da firma se refletirá automaticamente seja via

dividendos seja via valorização de suas ações.

O argumento de Modigliani e Miller quanto à irrelevância dos dividendos

para o valor da firma não está de fato próximo da realidade do mundo. Mas

considerando-se as premissas por eles estabelecidas dentro dos pontos

influenciadores do dividendo no valor da firma, pode-se dizer que ao menos

sua proposta tem coerência. Além disso, em 1961, o artigo no qual mostraram

a irrelevância da política de dividendos abriu uma nova frente de discussão

acerca da importância do dividendo, numa época em que a maioria das

pessoas acreditavam que qualquer aumento no fluxo de dividendos aumentava

o valor da firma. Com a contribuição de Modigliani e Miller, o debate passou a

girar em torno da possibilidade dos impostos e outras imperfeições de mercado

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influenciarem a importância da política de dividendos, e em que grau isso

ocorreria.

Conforme Brealey e Myers (1991), os opositores e defensores do

pagamento de altos dividendos são classificados como direitistas (defensores)

e esquerdistas (contrários). Nas tabelas a seguir seus argumentos.

Méritos do argumento direitista

• A distribuição total dos lucros faz com que o acionista passe a teringerência total sobre o que fazer com sua parte dos recursos gerados pelaempresa, assim, presumindo um comportamento racional por parte deste,os recursos gerados pelas empresas seriam alocados de maneira ótima naeconomia, havendo a maximização do retorno para o acionista.

• É provável que o acionista prefira o lucro a que tem direito em dinheiro, aoinvés de receber uma promessa de mais dinheiro no futuro, o que naverdade representa a retenção do lucro na companhia.

• pagamento de dividendos desonera o acionista de custos de transação,caso este queira liberar recursos, já que para se vender ações costuma-seincorrer em taxas de corretagem.

• Presumindo-se que o mercado não é eficiente, e que existe assimetria deinformações, o preço das ações da firma pode não refletir seu valor justo eassim, caso o acionista queira liberar recursos através da venda de seuspapéis da companhia, pode incorrer em prejuízo em relação ao que poderiaobter recebendo dividendos.

Méritos do argumento esquerdista

• Com a retenção dos dividendos na firma evita-se os custos de transaçãoinerentes a uma captação de recursos no mercado. Considerando-se quequanto mais barato forem os fatores de produção de uma companhia, maior oretorno para seus acionistas, esses gastos adicionais para obter capital paraos projetos passam a ir contra o interesse do acionista.

• Estrategicamente é importante a retenção de parte dos recursos gerados pelaempresa para que ela possa reagir mais rapidamente a uma repentinanecessidade de novos investimentos, ou seja, retendo recursos oriundos deseu lucro a empresa minimiza o risco de não conseguir captar a quantidadede recursos no tempo eventualmente necessário.

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Apesar de termos arrolado o dobro de argumentos para os direitistas,

isto não significa que estes estão mais certos que os outros, pois a importância

dos dois argumentos esquerdistas possuem uma grande força, ainda mais

quando se tem em conta o longo tempo e os altos custos envolvidos numa

operação de captação externa de recursos.

Os Middle-Of-The-Roaders

Brealey e Myers se incluem nesse grupo cuja conclusão é de que o valor

da firma não é afetado pela sua política de dividendos. Eles argumentam: se

os acionistas dão maior valor à firma que paga maiores dividendos, porque

estas não o fazem ?, ou ao contrário, se os acionistas dão mais valor àquela

que paga menos dividendos, porque as empresas não retêm os lucros ? A

resposta é, segundo eles, que nem todos os acionistas têm a mesma

preferência, assim investidores que preferem ações com maiores dividendos,

as compram, enquanto os que preferem menores dividendos comprarão ações

de empresas que retêm uma parcela maior de seus lucros. Não há estímulos

para a empresa aumentar ou diminuir seus dividendos uma vez que seus

acionistas estejam satisfeitos.

Brealey e Myers admitem que existe uma falha nessa conclusão, pois se

existir alguma vantagem fiscal para retenção ou pagamento dos lucros, os

acionistas tenderão a preferir uma maior retenção ou distribuição dos lucros,

conforme for a direção da vantagem fiscal.

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Com respeito ao padrão de comportamento da política de dividendos

das empresas, John Lintner, em 1956, realizou uma pesquisa empírica

baseando-se nas decisões de distribuição de dividendos de 28 empresas

durante 7 anos. Suas conclusões podem ser sumarizadas em quatro pontos.

São eles: 1)As firmas têm objetivos de longo prazo em relação ao percentual

de lucros a distribuir; 2)Os administradores se atêm mais às mudanças

relativas dos dividendos do que em seus níveis absolutos; 3)Mudanças no

pagamento de dividendos são seguidas de maiores ganhos no longo prazo.

Ganhos transitórios não afetam os pagamentos de dividendos; 4)Os

administradores relutam em fazer mudanças nos dividendos que terão que ser

revertidas. Estão particularmente preocupados em ter que rescindir um

aumento dos dividendos.

Como se vê, as empresas não julgavam a política de dividendos

irrelevante para o valor da firma, muito pelo contrário (ver quadro 1.1). No

quadro 2.2 demonstramos que as empresas americanas continuam pagando

altos índices de dividendos sobre seus lucros. No Brasil também parece haver

igual preocupação com o nível de dividendos pagos. No quadro 1.3 e figura 1.1

verificamos o comportamento da política de dividendos das empresas do índice

Bovespa no ano de 1997.

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Quadro 1.1: Lucros retidos e dividendos nas empresas americanas

Lucro Retido/Lucro Líquido Dividendos /Lucro Líquido1957 0,50 0,501958 0,42 0,581959 0,52 0,481960 0,43 0,571961 0,41 0,591962 0,45 0,551963 0,45 0,551964 0,50 0,501965 0,54 0,461966 0,55 0,451967 0,50 0,501968 0,46 0,541969 0,41 0,591970 0,29 0,711971 0,40 0,601972 0,49 0,511973 0,55 0,451974 0,49 0,511975 0,48 0,52

Fonte: Flow of funds accounts, apud Filardo (1980).

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Quadro 1.2: Lucros e dividendos pagos nas empresas americanas

Lucros depois dos Impostos(US$ bilhões)

Dividendos Pagos(US$ bilhões)

Dividendos(%do lucro)

1982 113,6 69,8 611983 135,5 80,8 591984 150,1 83,2 551985 133,4 92,8 691986 116,1 110,2 951987 166,5 107,0 641988 217,3 116,8 531989 206,8 138,9 671990 231,2 151,9 651991 240,8 163,1 671992 263,4 169,5 641993 300,2 195,3 651994 348,5 216,3 621995 409,4 264,4 651996 447,6 304,8 681997 480,4 336,1 70

Fonte: Flow of Funds Accounts, FED.

Quadro 1.3: Dividendos pagos / Lucro Líquido nasempresas brasileiras do IBOVESPA (1997)

Empresas (%)Electrolux PN 192,2Aracruz PNB 182,3Copene PNA 118,2Copesul ON 94,2

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Light ON 90,9Cemig PN 88,0Souza Cruz ON 75,2Bradesco PN 71,6Vale Rio Doce PN 68,1Telerj PN 66,0Votorantim C P PN 59,3Sid Tubarao PN 57,6Usiminas PN 53,8Sid Nacional ON 52,3Itaubanco PN 50,3Acesita PN 47,6White Martins ON 45,3Sadia Concord PN 44,8Eletrobras PNB 44,0Duratex PN 34,3Belgo Mineira ON 32,7Petrobras BR PN 32,5Brasmotor PN 30,9Cesp PN 29,3Brahma PN 29,0Brasil PN 28,5Telesp PN 27,9Ericsson PN 27,4Banespa PN 26,9Inepar PN 26,2Itausa PN 26,1Telepar PN 25,4Petrobras PN 24,9Celesc PNB 23,8Telebras PN 16,4LightPar ON 3,5Ipiranga Pet PN 3,1Paul F Luz ON 0,3Sharp PN 0,0Média 50,0

Fonte: Banco de dados da Economática.

Figura 1.1: Distribuição das empresas do IBOVESPA porníveis de dividendos distribuídos em 1997 (% Lucro líquido)

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Fonte: Banco de dados da Economática

Pela figura acima percebemos que mais de 70% das empresas do

Ibovespa distribuíram dividendos acima de 25% de seus lucros líquidos no ano

de 1997.

Na verdade, no Brasil, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) impõe

um dividendo mínimo de cerca de 25% do lucro líquido. De qualquer forma, o

mercado parece dar valor à política de dividendos, pois 40% das empresas do

Índice pagaram dividendos entre 50 e 100% de seus lucros líquidos, bem

acima do mínimo estabelecido pela CVM. Isso significa que há uma restrição

quanto ao financiamento interno da empresa (baseado em lucros retidos), ou

seja, a empresa se vê de certa forma obrigada ao pagamento de dividendos

regulares, sob o risco de ver seu valor de mercado cair e assim inviabilizar um

futuro lançamento de ações no mercado de capitais.

1.2 - Os Fundos de Depreciação

Div>100%LL50%<Div<100%LL25%<Div<50%LL15%<Div<25%LL0%<Div<15%LL

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14

A outra fonte de recursos internos que as empresas podem utilizar no

seu financiamento são os recursos relativos à depreciação de seu capital. Os

fundos de depreciação refletem-se contabilmente no demontrativo de

resultados como uma redução do lucro operacional e final, ou seja, parte da

receita obtida com vendas é apropriada pela conta “depreciação acumulada”, e

os recursos registrados nessa conta é que são usados no autofinanciamento

da companhia.

É interessante notar que a própria reserva de parcela da receita da

empresa para uma futura renovação de seu parque produtivo é por si só um

argumento daqueles que defendem o financiamento interno em detrimento do

externo. Pois, alternativamente, a firma poderia transformar a parcela

destinada à depreciação em lucro disponível. Não o fazem porque têm

tratamento fiscal diferenciado para as reservas de depreciação (consideradas

como custos) e porque reconhecem que ao captarem recursos no mercado,

para dar continuidade à firma, incorrerão em custos e dificuldades adicionais.

A existência da reserva de depreciação em si é uma prova de não se

acredita em mercados pefeitos com eficiência alocativa e sem assimetria de

informação.

Cabe alertar, apesar de ser bastante óbvio, que a participação da

depreciação na poupança interna das empresas tendem a aumentar quando

se tem uma quantidade maior de capital imobilizado, já que os recursos da

depreciação são um percentual desse capital.

2 - O Financiamento Externo

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15

Depois de termos visto o que a moderna teoria de finanças diz sobre as

possibilidades e restrições que as empresas têm para se autofinanciarem,

vamos ver as alternativas que elas possuem para captar novos recursos fora

da empresa. A captação de recursos via endividamento, como sabemos,

aumenta a alavancagem financeira e seu risco financeiro. Se, por outro lado, a

empresa resolver captar novos recursos via mercado acionário, incorrerá além

de custos bastante elevados, e de maior dificuldade de captação (vide maiores

riscos associados para os investidores), em “insatisfação dos atuais acionistas

que normalmente vêem novos lançamentos de ações como uma decisão que

sinaliza menores lucros futuros ou maiores riscos” (BREALEY, MYERS, 1991,

p.325).

Vamos agora detalhar um pouco mais nossa análise. Modigliani e Miller

mostraram que as decisões financeiras não são relevantes para o valor da

firma se houver mercados perfeitos. É isso que dizem em sua Proposição I:

"Uma firma não pode mudar seu valor simplesmente

distribuindo seus fluxos de caixa de diferentes maneiras. O valor da

firma é determinado por seus ativos reais não pelos papéis que

emite. Assim a estrutura de capital é irrelevante enquanto as

decisões de investimento são consideradas como dadas." (apud

BREALEY, MYERS, 1991, p.397).

Entende-se por mercados perfeitos a possibilidade do acionista pegar

emprestado, ou emprestar, à mesma taxa que a firma obtém, assim, tanto faz

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para o acionista se a empresa não se alavancar, pois o próprio acionista

poderá fazê-lo por conta própria (pegando empréstimo e comprando mais

ações da companhia por exemplo). Analogamente, o investidor, em meio a

mercados perfeitos, poderá se desalavancar caso a firma se endivide mais

(vendendo ações da companhia e emprestando no mercado).

Modigliani e Miller, seguindo a mesma linha de análise, formulam a

Proposição II, que diz:

"A taxa esperada de retorno do equity de uma firma cresce

na proporção em que aumenta a razão entre dívida e equity,

expressa em valores de mercado. A taxa de crescimento depende

do spread entre a taxa esperada de retorno da firma e a taxa

esperada de retorno dos papéis de sua dívida emitida." (apud

BREALEY, MYERS, 1991, p.405).

Matematicamente a Proposição II poderia ser escrita assim:

Onde re = retorno esperado do equity da firma; ra = retorno esperado dos

ativos; rd = retorno esperado da dívida da firma; D é total da dívida emitida e E

total do equity.

Assim, vamos tomar um exemplo citado por Brealey e Myers. Nessa

ilustração, uma empresa tem uma renda de 1.500$ para um valor de mercado

de 10.000$ (todo em equity), sua taxa de retorno esperada (ra) é

consequentemente de 15% (1.500/10.000) e seu rd é 10%. Se esta mesma

re= ra + D (ra - rd) E

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firma decide alterar sua estrutura de capital para, digamos 50% dívida, 50%

equity, de modo a se alavancar mais e obter maiores lucros por ação, ainda

assim o ra será de 15%, então, baseando-se na fórmula acima exposta,

teremos:

A Proposição II pressupõe que os bonds da firma são essencialmente

livres de risco em baixos níveis de endividamento, assim, rd é independente de

(D/E) e re aumenta linearmente em relação a (D/E), no entanto, quando a firma

pega mais recursos emprestados seu risco de insolvência cresce e esta é

obrigada a pagar taxas de juros mais altas. A Proposição II prevê que quando

isso ocorre, a taxa de crescimento de re declina, ou seja, quanto mais a firma

se endivida, re se torna cada vez menos sensível a aumentos do

endividamento.

Isso ocorre porque os credores da firma assumem de forma crescente o

risco da empresa, havendo uma transferência do risco no sentido acionistas-

credores.

O que se depreende quando se observa em conjunto as proposições I e

II de Modigliani e Miller é que na verdade, a estrutura de capital altera a

riqueza dos acionistas, mas como para ganhar mais, é necessário incorrer-se

em mais risco, a vantagem de um maior retorno esperado é anulada pelo

maior risco que os acionistas terão que correr. Assim, pelo exemplo dado

acima, o retorno sobre as ações, depois do endividamento de 5.000$, passa a

20%, mas isso não representa benefício algum para os acionistas, que

re = 0,15 + 5.000 (0,15 - 0,10) = 0,20 5.000

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consideram 20% o mínimo aceitável de retorno para suas ações, dada a nova

situação de alavancagem financeira da empresa.

Em contraste à posição de Modigliani e Miller se coloca a dos

"tradicionalistas" que defendem que o ra (custo médio ponderado de capital da

firma) pode ser minimizado desde que se utilize um montante ótimo de dívida e

equity. Assim, haveria uma possibilidade de aumentar o valor da firma através

do manejo da estrutura de capital.

Brealey e Myers, entretanto, nos alertam que minimizar o custo médio

ponderado de capital de um companhia (ra) não significa necessariamente

maximizar seu valor de mercado. Os dois objetivos só serão equivalentes se o

lucro operacional for invariável em relação às mudanças na estrutura de

capital, pois, como o custo de capital é o lucro operacional dividido pelo valor

das dívidas e equity, qualquer mudança na estrutura de capital que aumente o

valor do denominador resultará em menor custo de capital e maximização do

valor da firma. Se, por outro lado, o lucro operacional também variar, não se

poderá concluir que a minimização do custo de capital seja acompanhado pela

maximização do valor da firma.

Pela fórmula do custo médio ponderado de capital (dada abaixo),

podemos esperar que o menor custo (ra) seja obtido através do financiamento

integral por dívida, entretanto, obviamente isso não é possível, dessa forma, o

que os "tradicionalistas" advogam é que existe um meio termo entre o máximo

custo (all-equity financed) e o mínimo custo (all-debt financed) que minimizaria,

o custo de capital da empresa, maximizando seu valor de mercado. Supondo-

se que o lucro operacional não é afetado pelo endividamento.

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Na verdade, os "tradicionalistas" admitem que há um aumento de re ao

se aumentar o endividamento. No entanto, esse aumento não anula

completamente a vantagem, em termos de custo, da maior alavancagem

financeira.

A figura a seguir, retirada de Brealey e Myers, ilustra essa questão.

Figura 1.2: Retorno exigido pelo acionista X alavancagem

Fonte: Brealey e Myers (1991)

Existe um forte argumento em favor da posição dos "tradicionalistas",

que é a possibilidade das firmas tomarem recursos mais baratos que o

investidor individual. Dessa forma, este último estaria obtendo um beneficio da

maior alavancagem da empresa e poderia estar disposto a pagar um prêmio

pelas suas ações. No entanto, com essa possibilidade visualizada de forma

ra= E x re + D x rd , onde V é valor da firma (E+D) V V

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geral pelo mercado a tendência é que aumentasse fortemente o número de

firmas alavancadas, fazendo com que o prêmio que o investidor estava

disposto a pagar tenda a zero.

Até aqui pautamos nossa análise pelas proposições I e II de Modigliani e

Miller. A partir de agora, passaremos a analisar a questão da estrutura de

capital sob a ótica das imperfeições de mercado, ou seja, as possibilidades de

influência da estrutura de capital no aumento do valor da firma, dado que as

proposições I e II de Modigliani e Miller não se aplicam, principalmente nos

mercados menos desenvolvidos, como é o caso brasileiro.

Em excelente artigo, Myers (1993) aborda as principais questões acerca

da decisão de estrutura de capital. Baseando-se em seu artigo, vamos analisá-

las.

2.1 - A Teoria Estática das Compensações (The Static Tradeoff Theory)

A estrutura de capital é vista por esta teoria como sendo passível de

otimização. Assim, existiria uma composição de capital próprio e de terceiros

(dívida e equity) que maximizaria o valor da firma. A teoria tem o nome de

estática das compensações porque visa alcançar um ponto ótimo fixo, que é

assumido como a melhor situação em termos de estrutura de capital da

empresa, justamente por oferecer o melhor balanço (tradeoff) entre as

vantagens e desvantagens do endividamento.

Diferentemente do que vimos antes sob as limitações das

pressuposições de Modigliani e Miller, agora trabalhamos com a presença de

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perturbadores do mercado eficiente, tais como a cobrança de impostos, custos

de falência e dificuldade financeira, bem como custos de agência relativos às

emissões ou recompras de títulos da empresa e assimetria de informações

entre administradores e investidores. Desse modo, a estrutura de capital passa

a assumir importância na valorização da firma.

A Teoria Estática das Compensações trabalha somente com as

vantagens e desvantagens financeiras diretas do endividamento, assim não

está incluída a possível assimetria de informações entre investidores e

gerentes. Dentro dessa perspectiva o endividamento oferece para a empresa o

benefício básico de dedução de seus serviços (juros) no imposto devido. Esse

benefício logicamente tem uma contrapartida em termos de custo, que é

representado por todos os gastos derivados da emissão de dívida (agency

costs), mais os custos associados à possíveis dificuldades financeiras.

A figura abaixo adaptada de Myers (1993) ilustra as razões dessa linha

de pensamento sobre a estrutura de capital.

Figura 1.3: Valor da firma X Endividamento

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O ponto C representa o valor da firma se esta for totalmente financiada

por capital próprio; a linha A representa os benefícios oriundos do abatimento

de imposto possibilitado pelo endividamento; a linha B é a que mais nos

interessa. Significa o valor da firma fazendo-se uso do endividamento. Repare

que à medida que se aumenta o endividamento da firma, o valor desta sobe

em relação ao seu valor correspondente quando 100% financiada via capital

próprio. Mas isso ocorre somente até o ponto ótimo, onde a firma começa a ter

menos valor à medida em que se aumenta o endividamento. Essa região do

gráfico (após o ponto ótimo), reflete a perda de valor resultante do aumento

das possibilidades de dificuldade financeira e a diminuição do potencial de

dedução de imposto por se utilizar mais financiamento via dívidas.

Repare ainda que sempre existe uma diferença entre as curvas A e B,

isso em função dos custos de emissão de títulos correspondentes ao maior

endividamento (os agency costs).

Esse modelo teórico de otimização da estrutura de capital pode

apresentar a curva A e B com diferentes inclinações, no caso da curva A, a

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inclinação depende da quantidade de lucros que a firma gera, se for uma

indústria muito lucrativa, certamente ter-se-á muito espaço para deduções de

imposto e a curva se apresentará mais inclinada e demorará mais a descer. No

caso da curva B, o que a tornará mais inclinada serão os custos de agência e o

que deslocará seu ponto máximo (para a esquerda ou direita) será a qualidade

de seus ativos, ou seja, sua vulnerabilidade à dificuldades financeiras.

Myers (1990) cita o exemplo de um hotel e uma companhia produtora de

aparelhos eletrônicos. O primeiro tem maiores facilidades para se endividar

pois os custos inerentes às dificuldades financeiras são muito menores que no

caso da companhia produtora de aparelhos eletrônicos. Isso porque o hotel

tem bens tangíveis que podem servir como garantia de dívida, o que não se

aplica ao caso da fábrica de eletrônicos, pois essa tem seu maior capital

investido em ativos não tangíveis como tecnologia, conhecimento, recursos

humanos e oportunidades de negócio. Em caso de falência, ou mesmo de

dificuldades financeiras, o hotel pode entregar seu imóvel e resolver seus

problemas financeiros, entretanto, a fábrica de eletrônicos não pode empenhar

seus empregados e seu conhecimento é de difícil comercialização, assim, as

empresas que têm a maior parte de seus ativos em bens muito específicos ou

mesmo intangíveis tendem a ter a curva B atingindo um máximo mais a

esquerda, levando-as a procurar um menor nível de endividamento. O

raciocínio simétrico inverso pode ser feito para as empresas que tem seus

ativos baseados em bens reais e menos sofisticados.

Harris e Raviv (1991) mostram num quadro comparativo, os resultados

das pesquisas empíricas conduzidas por quatro autores acerca da maior ou

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menor alavancagem das indústrias por setor de atuação. Incluímos aqui

somente os setores onde há consenso e que tenham sido pesquisados por

mais de um autor (o critério adotado para definir como alta, baixa ou média

alavancagem é de Harris e Raviv, sendo definido por eles como "somewhat

arbitrary").

Quadro 1.4: Setores divididos por alavancagem

Baixa alavancagem Média alavancagem Alta alavancagemFarmacêutico Vestuário Aviação CivilFerramentas Cimento

EletrônicoFonte: Harris e Raviv (1991)

Repare que a pesquisa empírica, nesse caso, comprova o que foi

observado por Myers, ou seja, indústrias com ativos mais baseados em bens

intangíveis se alavancam menos, ao contrário das que têm maior proporção de

bens reais.

Harris e Haviv (1991) montaram também outro quadro, que consolida as

pesquisas feitas por nove autores, nas quais estes procuravam identificar os

determinantes da alavancagem. Os fatores nos quais há consenso (e existe

pesquisa de mais de um autor) são: ativos fixos (relação positiva); gastos em

publicidade (relação negativa) e; investimento em pesquisa e

desenvolvimento (relação negativa). O que também comprova o exposto

acima. O fator lucratividade também foi abordado na pesquisa de cinco dos

nove autores, sendo apontado como tendo relação negativa com a

alavancagem por três deles (dos outros dois, um achou relação positiva e outro

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negativa, sem contudo alcançarem significância estatística para seus

resultados).

Essa tendência de negatividade na relação lucratividade-alavancagem

parece ferir o argumento básico da Static Tradeoff Theory, segundo a qual

maiores lucros significam maiores oportunidades de dedução de impostos via

aumento da alavancagem. Uma possível causa para isso, segundo Myers,

poderia ser reflexo do atraso dos ajustes das firmas em direção às suas

proporções ótimas de dívida.

“Por exemplo, uma sequência de altos e inesperados lucros

poderia empurrar a firma em direção a uma proporção de

endividamento abaixo da desejada. Se os custos de transação

impedem rápidos movimentos de volta ao ponto ótimo, uma

correlação negativa é estabelecida.” (MYERS, 1993, p. 6)

Outra possibilidade para a explicação da relação negativa entre

lucratividade e alavancagem é dada pela teoria da Ordem de Captação que

vemos a seguir.

2.2 - A Teoria da Ordem de Captação (The Pecking Order Theory)

Segundo essa linha de pensamento as firmas não perseguem uma

proporção de capital ótima que poderia vir a minimizar seu custo de capital

maximizando seu valor. O que elas procuram é seguir uma ordem de

prioridades em suas captações de recursos.

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Em primeiro lugar as empresas tentam se financiar internamente, se não

for de todo possível, ou seja, se ainda restarem projetos com valor presente

positivo a serem financiados, elas recorrem ao financiamento externo. Mas

essa captação externa de recursos também obedece a uma escala de

preferências. Assim, primeiro lança-se os títulos mais seguros, de menor risco

para o investidor, ou seja, bônus de dívida. Somente como último recurso a

firma lançaria novas ações.

Note-se que se a firma agir baseada nessa linha de pensamento então

responde-se o porquê da negatividade da relação entre lucrarividade e

alavancagem dentro de uma indústria, pois somente aquelas empresas que

não foram lucrativas o suficiente para reter os recursos necessários ao

financiamento de seus novos projetos recorrerá ao financiamento externo,

sendo este calcado na maior parte das vezes em títulos de dívida, o que

aumenta a alavancagem da firma.

Mas, porque as firmas agiriam dentro da perspectiva da Pecking Order

Theory ? Brealey e Myers (1991) e Myers (1993) levantam algumas

possibilidades. A primeira seria a tentativa de fuga do administrador das

"disciplining influences of the securities markets". O administrador não

precisaria expor seus planos ao mercado para captar novos recursos, pois

usaria o próprio financiamento interno da empresa.

Uma segunda explicação tem uma justificativa mais racional e

econômica: os custos mais altos do financiamento externo em relação ao

interno, e do financiamento via lançamento de novas ações em relação ao

lançamento de novos títulos de dívida.

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27

Uma terceira alternativa para explicar o porquê das empresas seguirem

uma certa ordem em suas captações de recursos externos seria a assimetria

de informações entre os investidores e administradores da empresa, isto é,

supõe-se que o administrador tem melhores informações que os investidores e

estes sabem disso. Assim sendo, a empresa só lançaria novas ações no

mercado se considerasse que os preços de mercado estivessem iguais ou

acima do que os administradores considerassem justo. Desse modo, só seria

possível a venda de novas ações mediante um desconto em relação em preço

de mercado, o que teria impacto negativo na cotação das ações da empresa

como um todo, fato que é comprovado nos estudos empíricos consolidados por

Smith (1986), cujos resultados vemos no quadro 1.5.

Quadro 1.5: Resultados do consolidado de estudos de Smith

Tipo de Lançamento Tamanho Médio daAmostra

Retornos Anormais*

Ações ordinárias 262 -1,6%Ações preferenciais 102 +0,1%Preferenciais conversíveis 30 -1,4%Dívida conversível 80 -2,1%Dívida 221 -0,2%Fonte: Smith (1986)*Retorno médio ponderado pelo tamanho da amostra dos respectivos estudos, depoisde dois dias do lançamento ajustado pelas mudanças gerais do mercado.

Repare que o lançamento de títulos de dívida, segundo o estudo de

Smith, também deprecia o valor das ações no curtíssimo prazo, entretanto de

forma sensivelmente menor que o lançamento de equity. Uma das razões para

que isso ocorra é que ao vender dívida no mercado, a empresa não precisa

revelar o que pensam seus executivos em termos do real valor da companhia,

já que os compradores de dívida só estão interessados na capacidade futura

da empresa honrar os serviços e principal da dívida adquirida. O lançamento

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de dívida, então, parece minimizar a questão da assimetria de informações

entre administradores e investidores.

Outro aspecto relevante é o fato de que se a empresa sempre depender

de captações externas para fazer frente a seus projetos, pode correr o risco de

não conseguir financiamento para algum deles, o que certamente terá impacto

negativo no valor da firma. Conclui-se daí que é importante e valioso ter uma

certa folga financeira. Não só porque pode-se utilizar os próprios recursos

internos para financiar alguns projetos como também torna-se mais rápido e

barato obter novos recursos via dívida se a empresa tiver folga financeira.

Somando toda essa argumentação, verifica-se que é valioso contar com

uma situação financeira confortável, e se financiar externamente (se não for

possível usar recursos internos), de preferência, através de dívida, justamente

o que prega a teoria da ordem de captação (Pecking Order Theory).

Para finalizar, apresentamos no quadro a seguir um resumo com os

principais pontos a serem considerados na escolha da estrutura de capital de

uma empresa, de acordo com o que vimos nesse capítulo.

Quadro 1.6: Principais pontos a serem considerados em relação àestrutura de capital de uma empresa

Impostos- quanto mais lucrativa for a companhia mais impostos estará sujeitaa pagar, aumentando-se a alavancagem dá-se espaço para o abatimento dosimpostos no valor dos serviços da dívida, portanto uma alavancagemrelativamente maior é benéfica para aquelas empresas que trabalham comaltas probabilidades de grande massa de lucros. Exatamente o inverso se podedizer para as empresas que esperam lucros pequenos no futuro.

Risco inerente ao negócio- quanto maior o risco menos as empresas devemse alavancar, posto que os custos de falência e dificuldades financeiras sãoaltos.

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Tipos de ativos- quanto mais específicos e intangíveis forem os ativos de umacompanhia menos ela deve se endividar, pois os custos de dificuldadesfinanceiras para estas empresas é muito maior que para as empresas comgrandes somas de ativos fixos que podem ser facilmente negociados nomercado.

Folga financeira- quanto maiores as oportunidades de crescimento de umafirma mais folga financeira ela deve ter (consequentemente menosalavancagem). Isto porque a probabilidade dela não conseguir financiamentopara alguns de seus projetos aumenta caso não tenha um certo nível de folgafinaceira.

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Capítulo 2

O Financiamento de Longo Prazo no Brasil

Neste capítulo procuraremos expor e analisar o ambiente econômico,

em termos de oportunidades de financiamento, a que estão expostas as

empresas brasileiras. Não é novidade que existem grandes dificuldades na

captação de recursos de longo prazo por parte das empresas no país, e é essa

dificuldade que procuraremos analisar, expondo-as e investigando suas

causas. A nosso ver as dificuldades de financiamento no Brasil se pautam

basicamente em duas questões: a baixa taxa de poupança interna e o

deficiente sistema de intermediação financeira. Em relação à primeira,

observamos no país uma taxa significativamente inferior a dos países de renda

mais elevada; e em relação à segunda: temos um sistema de intermediação

financeira de recursos de longo prazo muito dependente da atividade estatal

(via BNDES), que apesar de manter um expressivo orçamento não chega a

representar 10% do volume de investimentos realizados no país.

Identificados os dois fatores básicos das dificuldades de financiamento

no Brasil, vamos então analisá-los de forma conjunta.

A menor taxa de poupança em países de menor renda é uma evidência

comprovada por inúmeros trabalhos, entre os quais destacamos o trabalho de

Hebel, Servén e Solimano (1996), do qual extraímos a figura abaixo.

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Figura 2.1:Poupança doméstica bruta como percentual do PIBmédias não ponderadas (1960-93)

Fonte: Hebel, Servén e Solimano (1996)

Isoladamente, baixas taxas de poupança interna, (a do Brasil em 1996

foi cerca de 16% do PIB) já sugerem uma maior dificuldade de financiamento

por parte das empresas, já que dispõem assim de menos recursos para

investimento. Essa restrição faria com que a economia como um todo

crescesse a um ritmo abaixo daquele que seria possível com taxas de

poupança mais elevadas.

Na verdade, existe hoje um grande debate entre os economistas acerca

da relação de causalidade entre poupança e crescimento econômico. Além e

Giambiagi (1997) resumem o debate em três linhas diferentes de pensamento:

A primeira linha advoga que um maior nível de poupança precede uma

maior acumulação de capital e essa, por sua vez, aumenta a taxa de

crescimento econômico.

A segunda linha defende a endogeneidade da poupança em seus

modelos, ou seja, o crescimento determinaria maiores taxas de poupança,

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entretanto, essas também ajudariam a gerar maiores taxas de crescimento,

estabelecendo-se assim um círculo virtuoso e uma relação de bicausalidade

entre as variáveis.

Por fim, a terceira linha de pensamento aponta para uma determinação

unilateral da poupança pelo crescimento. Essa corrente, contudo, não descarta

a influência da poupança no crescimento, mas relega à poupança um papel

secundário.

Dessa discussão, o que nos interessa é extrair a idéia de que não há um

consenso sobre a relação de causalidade poupança-investimento. Assim, não

basta concluir que nossa taxa de poupança é menor que a dos países mais

ricos, e portanto se quisermos ter maiores facilidades de financiamento,

devemos simplesmente trabalhar para aumentá-la. Um maior esforço de

poupança não se traduz automaticamente em um fluxo maior de investimento.

Em relação a esta questão Além e Giambiagi (1997) citam Keynes:

“ ‘tem sido suposto que qualquer ato individual de abs-

tenção de consumir leva necessariamente a um aumento no mesmo

valor do investimento’ [Keynes (1936, p. 19)]. Nesse caso, ‘... um

ato de poupança individual conduz inevitavelmente a um ato

paralelo de investimento’ [Keynes (1936, p. 21)]. Entretanto, em

uma economia onde as decisões de se abster de consumir e as

decisões de investir - associada a uma expectativa de consumo futuro

- são tomadas por agentes diferentes, vale a ressalva de Keynes de

que aqueles que acreditam na relação acima explicada são vítimas de

uma ilusão de óptica, ‘... que faz duas atividades essencialmente

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diferentes parecerem a mesma. Eles estão supondo de forma

falaciosa que há um vínculo que une a decisão de se abster de

consumir no presente à decisão de prover o consumo futuro;

quaisquer que sejam os motivos que determinem a última, eles não

se relacionam de forma alguma com os motivos que determinam a

primeira.’ (KEYNES, 1936, p. 21)” (ALÉM, GIAMBIAGI, 1997,

p.19-20)

Um aumento da poupança não gera per se um correspondente aumento

dos investimentos, já que nem sempre o agente poupador será o agente

investidor na economia, e como isso ocorre, é necessário termos além de

recursos disponíveis para o financiamento a novos investimentos, um sistema de

intermediação financeira que seja suficientemente eficiente para não deixar que

um aumento de poupança (ou redução do consumo), se transforme em redução

da demanda agregada.

“não basta apenas a decisão de não consumir para que o

investimento se realize, o que requer a constituição de mecanismos

de funding para que esses recursos sejam canalizados para viabilizar

os novos projetos de investimento.” (ALÉM, GIAMBIAGI, 1997,

p.20)

Os mecanismos de funding de longo prazo que temos hoje se amparam

em três pilares: fundos governamentais, recursos provenientes do exterior e os

próprios lucros retidos pelas empresas.

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34

Desse modo, a empresa que não tiver acesso ao mercado internacional

de capitais, ou não estiver entre as empresas visadas pelo governo em seus

programas de financiamento, fica com sérias restrições para obtenção de

novos recursos de longo prazo.

As empresas que, por outro lado, conseguem obter financiamento do

governo (usualmente via BNDES), “fogem” do nível de taxas de juros que lhes

seria cobrado caso tentassem e conseguissem recorrer ao mercado interno de

capitais. Isto porque, como veremos adiante, o funding dos financiamentos

governamentais é baseado em contribuições fiscais e pára-fiscais que não são

remuneradas aos níveis de juros correntes do mercado.

O mesmo ocorre com as empresas que conseguem obter recursos no

exterior. Essas pagam juros compatíveis com os do mercado internacional1

para o seu risco de crédito, logicamente acrescido por ser uma empresa

situada no Brasil e estar sujeita a situações de stress cambial.

Vamos agora apresentar separadamente as alternativas de

financiamento que se colocam para as empresas no Brasil.

2.1 - O Mercado Interno de Capitais

O mercado de capitais como fonte de financiamento, que envolve o

mercado primário de ações e debêntures, nunca teve uma signigicativa

importância no financiamento às empresas no Brasil. Entretanto, nos últimos

1 Juros compreendidos como retorno exigido pelo investidor. Assim, se for uma captação via emissão deações esse retorno exigido refletir-se-ia no preço obtido por ação no lançamento.

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35

anos com o advento da estabilização monetária propiciada pelo Plano Real em

1994, este mercado tem ganho importância, conforme demonstra a figura 2.2.

O crescimento registrado dos lançamentos de ações e debêntures nos

últimos anos, no entanto, não são suficientes para nos fazer crer que essas

fontes de financiamento já se configuram como uma importante fonte de

funding para as empresas. Isto porque, apesar da expressividade dos números

consolidados vistos na figura 2.2 para a emissão de debêntures, existe uma

forte concentração de emissores provenientes dos setores de Leasing (39% em

1996 e 43% em 1997) e Empresas de Administração e Participações (30% em

1996 e 20% em 1997). Apenas cerca de um terço das emissões de debêntures

nos últimos dois anos foram, portanto, feitas diretamente por empresas do

chamado setor real da economia, isto é, US$2,7 bilhões em 1996 e US$3,0

bilhões em 1997. Isto representa menos de 1/3 do total de financiamentos

concedidos pelo BNDES no período. Cabe lembrar ainda que parte dos

lançamentos de debêntures realizados pela empresas é comprada para as

carteiras do BNDES, o que ajuda a minimizar a importância do mercado interno

de capitais no financiamento das empresas.

Figura 2.2: Emissões primárias de ações e debêntures (US$ milhões)

Fonte: CVM

0

2000

4000

6000

8000

10000

1992 1993 1994 1995 1996 1997

Ações

Debêntures

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36

O mercado primário de ações, apesar de registrar uma mudança de

patamar no volume de negócios entre a última década (US$0,5 bilhão) e os

últimos 6 anos (US$1,8 bilhão), ainda não se apresenta como importante

instrumento de financiamento.

De qualquer forma, a capitalização do mercado acionário brasileiro, bem

como sua liquidez têm crescido consideravelmente nos últimos anos (figura

2.3), o que pode ser um sinal de que os lançamentos de ações venham a

desempenhar no futuro um papel mais relevante no financiamento das

empresas.

Figura 2.3: Capitalização e liquidez da BOVESPA (US$milhões)

Fonte: Federação Ibero-americana de Bolsa de Valores e CVM

2.2 - O BNDES

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foi

criado no ano de 1952, com o intuito de financiar a formação da infra-estrutura

e da industrialização brasileira. Seu funding sempre foi constituído

majoritariamente de poupança fiscal ou de natureza compulsória. Conforme

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

1992 1993 1994 1995 1996 19970100200300400500600700800900

CapitalizaçãoVolume diário

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37

relata Prochnik (1995), de acordo com a predominância da fonte de recursos

para o Banco, é possível identificar quatro etapas:

“A primeira etapa, entre 1952 e 1966, caracteriza-se pela

presença de recursos arrecadados na forma de adicionais ao

imposto de renda; na segunda etapa, entre 1967 e 1973, verifica-se

a importância das dotações orçamentárias e dos recursos oriundos

das reservas monetárias, quando, portanto, o então BNDE integra

os orçamentos fiscal e monetário; na terceira, entre 1974 e 1988 são

destinados ao Banco recursos das contribuições sociais do PIS e ao

Pasep, sendo que, após 1988, apesar de a maioria dos recursos

continuar proveniente dessas mesmas contribuições, a vinculação

constitucional do BNDES ao Programa do Seguro-Desemprego e,

através de lei, ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) define

um novo quadro institucional, configurando uma quarta etapa

atualmente em vigor” (PROCHNIK, 1995, p.144)

A partir da Lei 7998/90, da criação do FAT, que visa financiar o Seguro-

Desemprego criado no bojo da Constituição de 1988, estabeleceu-se que as

novas contribuições ao PIS-Pasep passassem ao novo Fundo criado (FAT).

Dessa forma o BNDES deixa de contar com essa fonte de recursos, sendo

obrigado inclusive a devolver os recursos absorvidos por este meio à medida

em que os trabalhadores beneficiários do PIS-Pasep efetuem seus resgates.

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38

Entretanto, a Constituição de 1988 prevê que ao menos 40% das

contribuições ao FAT sejam gerenciadas pelo BNDES e aplicadas em seus

programas de financiamento. Assim, o Banco continua contando com um

funding de longo prazo, estabelecido a partir da poupança compulsória dos

trabalhadores, cuja remuneração fica bem abaixo das altas taxas de juros do

mercado interno. Essa remuneração relativamente baixa de seu funding é que

permite ao Banco emprestar recursos a taxas internacionalmente competitivas.

Por conta disso, pode-se argumentar que há um subsídio aos investimentos

privados em detrimento da poupança dos trabalhadores. No entanto, como

nunca se formou no Brasil um mercado privado de financiamento de longo

prazo, cabe questionar se seria viável nosso atual nível de desenvolvimento

industrial sem a utilização de poupança compulsória a juros mais baixos que os

do mercado interno.

Quadro 2.1: Composição do passivo do BNDES (1996)

Fonte US$ milhão % passivoPIS-Pasep 13.468 30FAT 17.622 40Fin.nacionais 580 1Fin.internacionais 2.025 5Outros exigíveis 1.088 2Patrimônio Líquido 9.655 22Total 44.438 100

Fonte: Relatório anual do BNDES

Ademais, se outrora existiram reais subsídios embutidos nas taxas de

financiamento do BNDES, hoje eles não mais ocorrem, o que não quer dizer

que os juros do Banco sejam os mesmos do mercado interno. A questão é que

os juros vigentes no mercado interno são muito altos e não que as taxas de

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juros do BNDES são baixas, pois estas se equiparam às taxas cobradas no

mercado internacional de dívida de longo prazo. No quadro abaixo temos uma

comparação das taxas balizadoras dos financiamentos de longo prazo no

Brasil. Repare na disparidade dos custos do financiamento interno via

debêntures (cuja taxa base é a da ANDIB) e na relativa similitude das taxas

básicas cobradas internacionalmente ao Brasil (C-BOND) e das taxas cobradas

nos empréstimos do BNDES (TJLP)2.

Quadro 2.2: TJLP, ANBID E C-BOND (%)

TJLP* C-BOND* ANBID2S95 37,76 n.d. 43,491S96 25,75 21,90 28,122S96 22,87 20,92 23,351S97 18,60 19,32 21,252S97 17,88 19,34 26,37

Fonte: Anbid, BNDES e Bloomberg News*Para efeito de comparação com as taxas ANBID, aTJLP e o C-BOND yield foram acrescidos dacorreção cambial do período, pois o C-BOND é umataxa em dólares e a TJLP usada para empréstimossempre se soma à alguma taxa de correçãomonetária.

Por fim, cabe lembrar que, apesar dos recentes esforços no sentido de

criar um mercado de dívida de longo prazo, ainda não o temos, e mesmo se

um dia o tivermos, o BNDES certamente será um dos importantes participantes

desse mercado, já que desde 1952 acumulou um grande Know-How nas

técnicas de financiamento de longo prazo, expressivas posições no mercado

de debêntures (anexo I), e ainda um grande patrimônio, sendo hoje o segundo

2 O que não deve causar nenhuma surpresa já que a TJLP (Taxa de juros de Longo Prazo) é calculadacom forte peso ponderado do custo dos títulos da dívida externa brasileira.

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maior banco de desenvolvimento do mundo com um patrimônio líquido de mais

de US$10 bilhões. (figura 2.3)

Quadro 2.3: Bancos de Desenvolvimento: Indicadores FinanceirosComparativos (1996)

Em US$ bilhõesAtivos Totais Patrimônio

LíquidoDesembolsos

Banco Mundiala 169 30 21,8Sistema BNDES 46 10 9,6BID 39 9 5,2Nafinsa 33 3 4,5CAF 3 1 1,0Fonte: Relatório Financeiro e Gerencial da Área Financeira do BNDES.aO ano fiscal do Banco Mundial termina em 30 de junho.

2.3 - As Captações Internacionais

Os recursos captados no mercado internacional são de suma

importância para a economia brasileira. Por dois aspectos: 1) Dependemos de

ingressos de capitais para fazermos frente aos nossos déficits na conta de

serviços, uma vez que não mais temos grandes saldos na Balança Comercial;

2) Não temos um mercado de intermediação financeira desenvolvido, o que

não nos permite que tenhamos financiamento de longo prazo disponível na

quantidade adequada. É nos mercados internacionais de capital que suprimos

então boa parte de nossas necessidades de financiamento, uma prática

atualmente bem vista pelas autoridades econômicas nacionais, porque é a

captação de recursos no exterior que, como dissemos, ajuda a equilibrar nosso

Balanço de Pagamentos (Quadro 2.4).

Para encorajar-se a financiar uma empresa ou projeto, o capital requer

condições básicas de garantia: estabilidade da moeda na qual o financiamento

é concedido, risco de crédito administrável e taxas de juros relativamente

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atrativas. Essas condições estão muito mais presentes para os agentes

financiadores internacionais que para os nacionais. Senão, vejamos:

Quadro 2.4: Balanço de Pagamentos do Brasil

Em US$ milhões1993 1994 1995 1996 1997

Saldo comercial 13.307 10.466 (3.352) (5.554) (8.372)Serviços (15.585) (14.743) (18.594) (20.483) (27.288)Transferências 1.686 2.588 3.974 2.900 2.216Conta Corrente (592) (1.689) (17.972) (23.137) (33.445)Capital 10.115 14.294 29.359 34.263 26.087 Investimentos 6.170 8.131 4.663 15.540 20.664 Financiamentos 2.380 1.939 2.834 4.307 18.409 Amortizações (9.978) (50.411) (11.023) (14.419) (28.714) Empréstimos amédio e L.P.

10.790 52.893 14.736 22.841 28.870

Capitais a C.P 869 909 18.834 5.752 (17.516) Outros capitais (216) 750 (1.069) (290) 4.224Erros/omissões (1.119) 334 2.093 (2.109) (488)Superávit BP(+) 8.404 12.939 13.480 9.017 (7.845)

Fonte: Boletim do Banco Central do Brasil

2.3.1 - A estabilidade da moeda na qual o financiamento é concedido

O financiador precisa saber se o que ele ganhará com a operação de

financiamento realmente o tornará mais rico. Precisa assim acreditar que o

valor monetário desenbolsado mais os juros cobrados venham a representar no

futuro (no repagamento do empréstimo) um maior nível de riqueza.

Há bem pouco tempo atrás, (antes do Plano Real) o Brasil não exibia

essa condição para os financiadores nacionais. Já os financiadores dos

mercados internacionais de capital contam tradicionalmente com uma certa

estabilidade da moeda na qual têm que prestar suas contas.

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2.3.2 – Risco de crédito administrável

Uma vez que o financiador tenha confiança de que enriquecerá com a

concessão de um financiamento, outra questão que se coloca é: e se o

devedor não pagar sua dívida ? Esse é um risco que faz parte do negócio e

seu preço se reflete no custo do financiamento, mas se esse risco se mostrar

por demais elevado, fica difícil atribuir-lhe um preço e o financiador se retrai. É

isso que acontece nos períodos de crise cambial nos países em

desenvolvimento.

O Brasil nos últimos anos acumulou uma gigantesca reserva cambial

(Figura 2.4) e acena com muitos bilhões de dólares de ativos a realizar

representados pelas empresas estatais a serem privatizadas. As captações

externas explodiram, em parte por conta dessas garantias. (o outro aspecto

são as taxas de juros atrativas). (Quadro 2.4)

Figura 2.4: Reservas cambiais brasileiras: evolução (US$ milhão)

Fonte: Boletim do Banco Central

01000020000300004000050000600007000080000

1992

1993

1994

1995

1996

1997

Abr

/98

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43

2.3.3 – Taxas relativamente atrativas

Os dois primeiros pontos, vistos acima, são apenas pré-requisitos

básicos para a operação. A taxa de retorno é a grande questão colocada aos

detentores de recursos quanto a uma decisão de financiamento. E nesse

aspecto, as taxas têm sido sempre bem mais elevadas que as taxas nos

mercados desenvolvidos. Uma consequência lógica, já que empréstimos em

moeda estrangeira feitos ao país estão sujeitos a um eventual stress cambial.

Por outro lado, as taxas básicas de juros nos mercados desenvolvidos

têm ficado em níveis muito baixos (Figura 2.5), e a conjunção desse ponto com

as atrativas taxas oferecidas por outros países, entre eles o Brasil, tem sido

uma questão essencial para a atratibilidade de capitais nos últimos anos.

Figura 2.5: Taxa de juros do Federal Reserve: evolução

Fonte: FED

Internamente, os agentes financiadores, ao contrário dos estrangeiros

(dos mercados desenvolvidos) se deparam com altíssimas taxas básicas de

juros, o que torna o crédito muito caro e o financiamento privado de longo

0

2

4

6

8

10

1988 1990 1992 1994 1996

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prazo, destinado aos investimentos das empresas, quase que inviável. (ver

taxa ANBID no Quadro 2.2 ).

Esse fato, juntamente com a falta de um histórico de estabilidade

monetária e a relativamente baixa taxa de poupança interna faz com que os

financiadores privados tão cedo não se disponham efetivamente a constituir um

mercado de financiamento de longo prazo, que terá que continuar a ser suprido

pelo BNDES e por financiamentos externos.

No anexo II apresentamos as captações via bonds e notes feitas pelo

Brasil no mercado internacional no ano de 1997, com seus respectivos custos,

prazos e emissores.

2.4 - Novas alternativas

A continuar a estabilidade econômica é de se esperar que novos

instrumentos de financiamento surjam e se aprimorem. Hoje, já podemos

observar alguns novos instrumentos funcionando no país, ainda que de forma

inexpressiva. Entre eles, o Project Finance e os fundos em cotas para fins

específicos (Fundos Imobiliários, Audio-Visuais, Empresas Emergentes).

2.4.1 - O Project Finance

O Project Finance, como o nome diz, visa o financiamento de um

projeto. Diferentemente de um financiamento à uma empresa já constituída,

que implica na avaliação do risco de crédito da empresa, no project finance o

risco que importa é o risco do projeto em si. Assim, o financiador pode

quantificar mais precisamente o risco que estará correndo seu dinheiro.

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De modo resumido, o project finance funciona assim: o patrocinador de

um projeto consulta um financiador sobre a possibilidade de financiamento do

mesmo. Depois de estudá-lo e avaliar as necessidades de capital do projeto, o

financiador garantirá os recursos para a execução da obra. A garantia de

pagamento do empréstimo será o próprio projeto e as rendas que vierem a ser

geradas por ele. À medida em que o projeto termine de ser implementado e

comece a gerar fluxos de caixa positivos, o financiador terá direito a uma

participação nesses fluxos, os quais serão repassados sob a forma de juros e

quitação do financiamento. Após o total pagamento do principal, encerra-se o

project finance, restaurando-se o pleno direito do patrocinador do projeto sobre

os fluxos de caixa deste.

É claro, que este instrumento é muito mais sofisticado do que pode ser

percebido nesta breve explicação. Muitos detalhes técnicos e jurídicos tornam

a operação um instrumento caro, que normalmente é usado para grandes

projetos de infra-estrutura.

2.4.2 - Fundos em cotas para fins específicos

São fundos de investimento que têm um orçamento limitado e que uma

vez atingida a captação prevista são fechados a novas captações. Os recursos

levantados são aplicados em algum projeto previamente específicado aos

cotistas. A remuneração dos investidores pode se dar via dividendos do

projeto, ou resgate das cotas, o que no entanto só poderá acontecer se o

negócio referente ao Fundo for vendido, ou se o titular da cota vendê-la a outro

investidor. O mercado secundário desses títulos no entanto ainda não ganhou

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dinamismo, até porque existem relativamente poucas experiências com esses

tipos de Fundos. Os que já existem aplicam em projetos imobiliários,

cinematográficos e em empresas emergentes (com grande potencial de

crescimento vislumbrado).

2.5 - Os Doadores de Recursos

Devemos pensar o sistema de captação de recursos como um processo

de duas etapas paralelas. De um lado as empresas apresentam seus planos de

investimento ao mercado financeiro e de outro os poupadores oferecem suas

poupanças individuais ao mercado financeiro. Vimos os instrumentos de

financiamento utilizados pelas empresas, ou seja, vimos os caminhos pelos

quais os fluxos de poupança chegam às empresas para que estas invistam.

Agora, quais seriam os caminhos pelos quais passam as poupanças individuais

para o mercado financeiro ? Em geral o que ocorre é que as poupanças

individuais, sejam elas de pessoas físicas ou jurídicas, são acumuladas em

Fundos. E são estes Fundos que repassam recursos às empresas. No Brasil,

os principais canais receptores de poupança são: Fundos de Investimento,

Fundos de Pensão e os Fundos Fiscais, constituídos de poupança compulsória

dos trabalhadores (PIS/PASEP e FAT).

Os Fundos de Investimento oferecidos pelo mercado costumam aplicar

em títulos do governo, em ações (mercado secundário) e derivativos. Não

podem ser considerados provedores de recursos para os instrumentos de

financiamento às empresas. Até mesmo porque, estes fundos tem um prazo de

resgate relativamente curto (usualmente 60 dias) e assim não podem

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47

comprometer recursos por prazos muito longos ou em títulos de pouca

liquidez.3

Os Fundos de Pensão são fundos que objetivam garantir a

aposentadoria dos trabalhadores. Muitas grandes empresas concedem este

tipo de benefício a seus funcionários. A contribuição para este fundo, em geral,

provêm do próprio trabalhador e da empresa empregadora, e os prazos médios

de resgate são mais longos, já que do início das contribuições até o início dos

saques, passa-se uma vida inteira de trabalho.

Os recursos provenientes desses fundos, juntamente com os recursos

da poupança compulsória do FAT e PIS-PASEP formam hoje a principal fonte

interna de funding para as operações de financiamento de longo prazo das

empresas.

Estima-se que a cada ano entrem no sistema cerca de US$9 bilhões e a

continuidade da estabilidade econômica pode propiciar um fluxo ainda maior,

calcado nos Fundos de Previdência Privada que várias instituições financeiras

já começam a oferecer.

É bom lembrar que boa parte dos recursos dos Fundos de Pensão são

de funcionários de empresas estatais. Esses Fundos costumam ser presididos

por pessoas indicadas pelo governo, que dessa forma tem um controle indireto

sobre o dinheiro desses fundos.

Os recursos dos Fundos Fiscais são provenientes de contribuições

compulsórias dos empregadores, administrados pelo BNDES e utilizados como

funding para suas operações. A remuneração desses fundos giram em torno de

3 Na verdade esses fundos têm liberdade para comprar títulos de empresas não financeiras e ações nomercado primário, no entanto, suas aplicações nestes papéis são muito reduzidas, como reduzido é nosso

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6% a.a. e permitem ao BNDES emprestar os recursos a taxas muito atraentes

para as empresas.

Como vemos, somente recursos descomprometidos com resgates de

curto prazo (e exigências de retorno de curto prazo) ou provenientes de

poupança compulsória podem ser aplicados no longo prazo e assim constituir

fonte de financiamento para as empresas. Desse modo, a continuidade da

estabilidade econômica e a queda dos juros de curto prazo são essenciais para

dar confiança aos poupadores privados de alongar o prazo de suas aplicações.

É igualmente importante a redução do déficit público que não só retira

recursos que poderiam estar sendo disponiblizados para um mercado privado

de dívida, como também aumenta o custo da dívida privada ao balizar os juros

internos de mercado em níveis muito altos.

Como forma de sintetizar as relativas importâncias dos diversos

mecanismos de financiamento de médio e longo prazo, apresentamos abaixo

um quadro com os valores operados por cada um nos últimos anos.

Quadro 2.5: Volumes financiados por intermediário financeiro

Em US$ milhõesBNDES Cap. internacionais a Ações Debêntures

1992 4.585 4.833 942 3391993 4.104 7.598 841 3.8431994 6.151 5.961 2.590 3.3031995 7.831 9.650 2.111 7.5741996 9.609 18.046 1.152 8.2881997 16.460 20.448 3.504 6.875

Fonte: Coordenação de Estatística da Área de Planejamento do BNDES, CVM eBoletim do Banco Central (jan/98 p.138)a Foram somente consideradas as captações via bônus e notas por guardaremmaior afinidade com financiamentos de médio e longo prazo às empresas.

mercado de capitais.

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Com o cenário das oportunidades de financiamento às empresas no

Brasil em mente, vamos agora passar aos testes estatísticos de correlação

entre endividamento e valor de mercado que realizamos com as empresas

mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo.

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50

Capítulo 3

Testes Estatísticos

A teoria de finanças nos diz que a um aumento do endividamento de

uma empresa, ou sua alavancagem financeira, estará associado um maior

retorno esperado pelo acionista, já que este perceberá um risco financeiro

maior em seu investimento. Tanto Modigliani e Miller quanto os

“tradicionalistas” admitem que ao se elevar o endividamento, o retorno

esperado do acionista aumenta, sendo que segundo os “tradicionalistas” essa

elevação não chega a comprometer o ganho que se tem ao aumentar a

alavancagem, já que o custo do endividamento costuma ser menor que o custo

de capital próprio (Figura 2.4). O que faremos nesse capítulo que se apresenta

é investigar empiricamente em que medida o grau de alavancagem das

empresas afeta o retorno exigido. Para tanto realizamos testes estatísticos de

correlação com empresas listadas nas bolsas americanas e brasileiras

agrupadas por setores de atuação na economia. Optamos por correlacionar as

variáveis Endividamento e Exigência de retorno por dois métodos alternativos:

Método de Pearson e Método de Spearman. O método de Pearson é o método

usual, representado matematicamente por:

Cov (X,Y)________________________________________________________________________________

DP (X) X DP(Y)

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51

Já o método de Spearman reflete a correlação entre o ranking da

variável A contra o ranking da variável B. Assim, o Xi e o Yi inseridos na fórmula

de correlação apresentada anteriormente serão representados pelas posições

no ranking de Ai e Bi respectivamente. Calculando a correlação dessa maneira

eliminamos a possibilidade de fortes influências por valores extremos e não

necessitamos assumir a normalidade da distribuição das variáveis.

(NEWBOLD, 1991)

O Intervalo de Confiança (I.C.) mínimo exigido para darmos como

significativa uma correlação foi de 80% e pelas características do método de

Spearman, consideramos a correlação derivada de seu método como a

determinante para nossos comentários.

Em primeiro lugar, apresentamos os resultados dos estudos feitos com

os dados de empresas americanas. Trabalhamos com 8 setores envolvendo

um total de 242 empresas. Os dados foram obtidos a partir de publicação da

“Value Line” na qual encontram-se listados os principais indicadores de mais de

1.600 empresas listadas nas bolsas dos EUA. Para efeito da nossa

amostragem foram incluídas todas as empresas, dos setores escolhidos, que

tiveram seus dados de L/P (lucro líquido / preço de mercado) médio para 1996,

dívida de longo prazo e patrimônio líquido incluídos na referida publicação da

“Value Line”. Os setores analisados no mercado americano foram os seguintes:

Eletric Utilities (energia elétrica)

Building Materials (materiais de construção)

Retail Stores (lojas de varejo)

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Steel (siderurgia)

Telecom (telecomunicações)

Food Processor (alimentos)

Basic Chemicals (químicos básicos)

Eletronics (eletrônico)

A escolha dos setores se pautou pelo seguinte critério: ser um setor que

tivesse importância, em termos de liquidez, nas bolsas brasileiras.

As variáveis utilizadas, como já dissemos, são L/P médio de 1996, dívida

de longo prazo e patrimônio líquido do último balanço publicado. Foram ainda

retiradas da amostragem empresas que apresentaram retornos exigidos

anormais (menor que 2% ou maior que 50%) ou que tiveram seus resultados

muito fora dos padrões de seu setor (outlinear points). Vamos aos resultados:

Quadro 3.1: Resultado dos testes com empresasamericanas – Dívida LP X L/P (1996)*

Spearman PearsonSetor Obs (n) Correl. I.C. Correl. I.C.Eletrônicos 19 0,44 94% 0,40 91%Lojas de Varejo 20 0,37 90% 0,46 96%Mat. construção 18 0,39 89% 0,48 96%Alimentos 34 -0,22 79% -0,20 75%Siderurgia 17 -0,16 47% -0,17 49%Energia elétrica 85 -0,05 38% 0,03 19%Telecomunicações 21 0,10 33% 0,00 1%Químicos Básicos 7 0,07 12% 0,13 21%

*Resultados obtidos a partir de dados da empresa Value Line.

Dos 8 setores analisados, 3 apresentaram resultados estatisticamente

significativos, entendidos como tal por apresentarem intervalo de confiança

(I.C.) superiores a 80%, são eles: Eletrônicos; Lojas de varejo e; Materiais de

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construção. Todos apresentaram correlações positivas. Quanto aos 5 setores

restantes que não apresentaram significância estatística em seus resultados,

Telecomunicações e Químicos Básicos apresentaram correlações positivas e

Alimentos e Siderurgia apresentaram correlações negativas. Energia elétrica

apresentou correlação positiva de Spearman e negativa de Pearson, em ambos

os testes, o grau de confiança foi bastante baixo, 38% e 19% respectivamente.

Nas páginas seguintes apresentamos, na figura 3.1, os gráficos de

dispersão dos setores estudados. O eixo das abcissas representa a

alavancagem financeira (dívida de longo prazo/patrimônio líquido) e o das

ordenadas representa o retorno exigido pelo acionista (L/P médio de 1996).

Os experimentos realizados anteriormente consideraram, por falta de

disponibilidade de dados, apenas o endividamento de longo prazo. Utilizando-

se o grau de alavancagem como Exigível total / Patrimônio Líquido, talvez

obtivéssemos um resultado mais significativo. De qualquer forma, dos oito

setores testados, três apresentaram correlação significativa e positiva. Trata-

se, portanto, de uma evidência, ainda que não conclusiva, de que o mercado

norte americano apresenta uma correlação positiva entre alavancagem

financeira e retorno exigido pelo acionistas.

E no mercado brasileiro ? Como se comporta o retorno exigido pelo

acionista diante da alavancagem financeira das empresas ? Realizamos com

ações do mercado brasileiro os mesmos testes estatísticos já apresentados

para o mercado americano. Existem, no entanto algumas mudanças nos

critérios, estabelecidas em função de algumas características do mercado

nacional, como excessiva concentração de negócios em poucos papéis e

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consequente baixa liquidez para a maior parte das empresas listadas. Uma vez

que liquidez no mercado é um critério básico para validar os preços pagos no

mercado pelas ações, acabaríamos ficando com um universo bastante

reduzido de amostragem. Como um reduzido número de observações poderia

prejudicar nossos testes estatísticos intra-setoriais optamos por agrupar alguns

setores com características semelhantes em termos de intensibilidade de

capital e cliente final. Assim os grupos setoriais trabalhados foram1:

Energia elétrica

Telecomunicações

Química e Petroquímica

Eletro-eletrônicos e Eletrodomésticos

Siderurgia e Mineração

Alimentos, Bebidas e Comércio Varejista

Indústria Mecânica, Materiais de Transporte e Autopeças

Cimento, Metalurgia e Madeira

Os critérios para a obtenção do universo amostral foram os seguintes:

1) Foram selecionadas as 150 ações mais líquidas nos pregões do ano

considerado2. Somente uma ação por empresa foi incluída, assim empresas

que tiveram ações de diferentes espécies (ON e PN por exemplo) incluídas

1 A classificação setorial é da empresa Economática2 O índice de liquidez foi obtido a partir da seguinte fórmula: 100 x p/P x raíz quadrada (n/N x v/V), ondep é número de dias em que a ação foi negociada no ano; P é número total de pregões no ano; n é númerode negócios com a ação em 1 ano; N é número de negócios com todas as ações em 1 ano; v é volume dedinheiro envolvido em negócios com a ação em 1 ano; V é volume total de dinheiro envolvido nospregões do ano.

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entre as 150 mais líquidas, ficaram, na amostra final, somente com sua

ação mais líquida.

2) Exclusão das empresas com retorno esperado menor que 2% e maior que

50%, valores que denotam, no nosso entender, resultados anormais.

3) Exclusão das empresas que apresentaram prejuízo no período.

4) Exclusão de ações de empresas financeiras.

Assim, das 150 ações inicialmente consideradas, restaram 83, sendo

ainda desconsideradas outras 16 por não se encaixarem em nenhum grupo

com um número suficiente de observações para realizarmos algum teste.

As ações por fim consideradas em nossos testes para 1997 foram as

seguintes (subdivididas nos já referidos grupos setoriais):

Energia elétricaCelescCemigLightCopelF. CataguazesPaulista Força e LuzCespCoelceCoelbaCerjEletrobrásIvenLightpar

TelecomunicaçõesTelebrásTelefônica Borda do CampoTelespTeleparTelemigTelerj

Química e PetroquímicaIpirânga Refinaria

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Ipirânga PetróleoCopesulPetrobrásPetrobrás DistribuidoraWhite MartinsBombrilCopene

Eletro-eletrônicos e EletrodomésticosSharpEmbracoEricssonBrasmotorArnoElectroluxMultibrásWeg

Siderurgia e MineraçãoBelgo MineiraGerdauSid. TubarãoUsiminasSid. NacionalMagnesitaVale do Rio DoceAcesitaCaemiSamitri

Alimentos, Bebidas e Comércio VarejistaPerdigãoAvipalSadia ConcórdiaBrahmaCasa AngloLojas RennerPão de AçúcarGlobex

Indístria Mecânica, Materiais de Transporte e AutopeçasMangelsIndústrias RomiBardellaRandon ParticipaçõesMarcopoloOSAMetal Leve

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Elevadores Atlas

Cimento, Metalurgia e MadeiraCimento ItaúDuratexGerdau MetalúrgicaMetalúrgica BarbaráConfabEternit

Outra diferença dos critérios adotados nos testes com empresas

americanas e brasileiras diz respeito ao indicador de alavanvagem financeira.

No caso americano, por falta de dados consolidados, usamos Dívida de Longo

Prazo / Patrimônio Líquido, no caso brasileiro usamos Exigível Total /

Patrimônio Líquido.

Por fim, no caso brasileiro realizamos os testes para o ano de 1997 e

1996, uma vez que a alta volatilidade de nosso mercado poderia nos levar a

conclusões precipitadas ao analisarmos apenas um período isoladamente.

Ainda mais quando se tem em conta que em 1997 tivemos a chamada “Crise

do Sudeste Asiático” que perturbou fortemente nosso mercado nos últimos

meses de 1997. Abaixo apresentamos as empresas consideradas nos testes

para 1996. (os critérios nos testes para 1996 foram rigorosamente os mesmos

dos testes para 1997)

Energia elétricaEletrobrásCelescCemigLightCopelF. CataguazesPaulista Força e LuzEletropauloLightpar

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TelecomunicaçõesTelebrásTelefônica Borda do CampoTelespTeleparTelemig

Química e PetroquímicaIpirânga RefinariaIpirânga DistribuidoraIpirânga PetróleoCopesulPetrobrásPetrobrás DistribuidoraWhite MartinsBombrilUnipar

Eletro-eletrônicos e EletrodomésticosBrasmotorContinentalElectroluxMultibrásEricssonSharpWeg

Siderurgia e MineraçãoBelgo MineiraGerdauSid. TubarãoUsiminasSid. NacionalMagnesitaVale do Rio DoceSamitri

Alimentos, Bebidas e Comércio VarejistaPerdigãoLorenzAvipalSadia ConcórdiaCasa AngloLojas ArapuãGlobexLojas RennerPão de AçúcarCeval

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Santista AlimentosAntárticaPolarBrahma

Indístria Mecânica, Materiais de Transporte e AutopeçasBardellaMarcopoloCofapFras-LeVarga FreiosIndústrias Villares

Cimento, Metalurgia e MadeiraCimento ItaúDuratexGerdau MetalúrgicaMetalúrgica BarbaráConfabForjas Taurus

Antes de apresentar os resultados dos testes, lembramos que para efeito dos

resultados finais desconsideramos empresas cujos resultados se mostraram

muito fora dos padrões de seu grupo setorial, ou seja, cortamos da amostra os

chamados “outlinear points”. Vamos agora aos resultados finais obtidos:

Quadro 3.2a: Resultado dos testes com empresas brasileiras – Exigível /Patrimônio Líquido X L/P (1996)*

Spearman PearsonSetor Obs (n) Correl. I.C. Correl. I.C.Siderurgia e Mineração 8 0,67 93% 0,70 95%Energia elétrica 7 -0,57 82% -0,43 66%Ind.Mec.,M.Transp.,Autop. 5 -0,60 72% -0,82 91%Química e Petroquímica 8 -0,26 47% -0,09 17%Alim.,Bebidas e Comércio 12 0,06 15% 0,11 27%Telecomunicações 5 -0,10 13% -0,50 61%Eletro-eletrônicos 6 -0,03 4% -0,16 24%Metalurgia,Cim. E Madeira 5 0,00 0% 0,18 23%

*Resultados obtidos a partir do Banco de dados da Economática

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Quadro 3.2b: Resultado dos testes com empresas brasileiras – Exigível /Patrimônio Líquido X L/P (1997)*

Spearman PearsonSetor Obs (n) Correl. I.C. Correl. I.C.Energia elétrica 11 -0,66 97% -0,66 97%Siderurgia e Mineração 8 0,69 94% 0,65 92%Ind.Mec.,M.Transp.,Autop. 6 -0,37 53% -0,41 58%Eletro-eletrônicos 7 0,29 47% -0,05 9%Alim.,Bebidas e Comércio 8 -0,38 35% -0,38 65%Telecomunicações 6 -0,20 30% -0,20 30%Química e Petroquímica 7 0,07 12% 0,34 55%Metalurgia,Cim. E Madeira 6 -0,03 4% -0,20 30%

*Resultados obtidos a partir do Banco de dados da Economática

Para o ano de 1996, dois grupos setoriais (Siderurgia e Mineração e

Energia elétrica) apresentaram resultados significativos. Siderurgia e

Mineração apresentou correlação positiva enquanto Energia elétrica mostrou

correlação negativa. Em 1997, novamente os mesmos dois grupos setoriais

apresentaram resultados significativos, mantendo os sinais de sua correlação

Endividamento-Exigência de Retorno. Como se vê, apenas dois grupos

setoriais dentre os oito estudados apresentaram consistência nos resultados

dos testes. O interessante é que o setor elétrico manteve a significância de

resultados negativos nos dois anos estudados. (as figuras 3.2a e 3.2b exibem a

dispersão dos pontos utilizados nos testes de 1996 e 1997 respectivamente)

Acreditamos que a falta de significância para os testes realizados em

seis dos oito grupos setoriais em 1996 e 1997 e a correlação significativamente

negativa encontrada para o setor elétrico se devam em parte ao baixo índice de

alavancagem presente nas empresas brasileiras. A título de comparação veja o

quadro 3.3, com os endividamentos de longo prazo de alguns setores nos EUA

e no Brasil. O quadro fala por si mesmo.

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Quadro 3.3: Comparação de endividamento de LP: EUA X Brasil

Dívida de LP / PL*Setor EUA Brasil

Eletrônicos 0,14 0,09Siderurgia 0,31 0,25Lojas de varejo 0,43 0,13Telecomunicações 0,60 0,06Energia elétrica 1,03 0,21

*Dados de 1997 retirados das empresas utilizadas nos nossos testes. Fonte: Value Line e Economática.

Crook (1974), realizou estudo similar ao nosso, no qual pesquisou

empresas de 3 setores: Siderurgia, Têxtil e Vestuário e Máquinas, Motores e

Equipamentos Pesados. Em cada qual utilizou 7 observações das empresas

com maior liquidez em Bolsa. O resultado obtido foi uma correlação positiva

significativamente forte: Siderurgia: 73%; Têxtil e Vestuário: 65%; Máquinas,

Motores e Equipamentos Pesados: 91%. O critério usado por este autor em

seus testes se assemelha ao nosso, entretanto, o índice de alavancagem por

ele utilizado é definido por Exigível Total / Valor de Mercado, enquanto em

nossos testes usamos Exigível Total / Patrimônio Líquido. Assim, realizamos

também os mesmos testes anteriores com o critério de Crook, mas não

obtivemos resultados mais significativos3. Veja-os no quadro 3.4a e 3.4b.

3 Infelizmente não pudemos reproduzir os testes nos mesmos setores observados por Crook, já que ossetores que ele analisou não apresentam mais, segundo nossa avaliação, suficiente liquidez em bolsa paravalidar os resultados obtidos.

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Quadro 3.4a: Resultado dos testes com empresas brasileiras – Exigível /Valor de Mercado X L/P (1996)*

Spearman PearsonSetor Obs (n) Correl. I.C. Correl. I.C.Siderurgia e Mineração 8 0,79 98% 0,84 99%Alim.,Bebidas e Comércio 12 0,36 76% 0,48 88%Energia elétrica 8 -0,26 47% -0,07 13%Metalurgia,Cim. E Madeira 5 0,30 38% -0,04 6%Ind.Mec.,M.Transp.,Autop. 5 0,20 25% 0,06 8%Química e Petroquímica 8 -0,10 18% -0,15 27%Telecomunicações 5 -0,10 13% -0,66 78%Eletro-eletrônicos 6 -0,03 4% 0,03 5%

*Resultados obtidos a partir do Banco de dados da Economática

Quadro 3.4b: Resultado dos testes com empresas brasileiras – Exigível /Valor de Mercado X L/P (1997)*

Spearman PearsonSetor Obs (n) Correl. I.C. Correl. I.C.Siderurgia e Mineração 8 0,69 94% 0,77 98%Energia elétrica 12 -0,43 84% -0,44 85%Eletro-eletrônicos 8 0,43 71% 0,45 74%Alim.,Bebidas e Comércio 8 0,43 71% 0,34 59%Metalurgia,Cim. E Madeira 6 0,14 21% 0,05 8%Química e Petroquímica 7 0,11 18% 0,14 23%Ind.Mec.,M.Transp.,Autop. 7 0,04 6% -0,30 49%Telecomunicações 6 -0,03 4% 0,32 47%

*Resultados obtidos a partir do Banco de dados da Economática

Percebe-se pelo quadro acima que a situação não muda muito quando

substituímos o Patrimônio Líquido pelo valor de mercado no denominador da

função grau de alavancagem financeira. Na verdade, a única alteração

significativa em relação ao teste apresentado nos quadros 3.3 é a diminuição

do intervalo de confiança (I.C.) para a correlação negativa encontrada no grupo

setorial de Energia elétrica no ano de 1996.

Após a realização dos testes dos quadros 3.3 e 3.5, o que podemos

afirmar é que o mercado não está dando muita importância para o risco

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financeiro decorrente do maior grau de alavancagem das empresas no Brasil,

ao menos não dentro do universo amostral estudado (exceção feita ao grupo

setorial Siderurgia e Mineração).

Porque isso acontece ? Nossa opinião é que em alguns casos, existem

fatores conjunturais que perturbam a correlação estudada. Por exemplo, em

Telecomunicações e em Energia elétrica, o processo de privatização,

juntamente com a forte expectativa de aumento dos lucros pode estar

minimizando a questão da alavancagem financeira atual das empresas.

Entretanto, tal fato não explicaria a correlação significativamente negativa

encontrada para o setor elétrico. Acreditamos que para esse, o mercado vê um

grande espaço para um maior endividamento, vide a comparação com suas

congêneres americanas em termos de endividamento de longo prazo.

Além dos referidos fatores conjunturais, outras questões ajudam a

entender melhor os resultados:

1) As empresas mais promissoras tendem a estar mais

alavancadas, mas também são as preferidas pelo mercado, que exige

menor retorno em suas ações.

Para comprovar esse fenômeno, fizemos duas listagens das empresas

do universo amostral usado nos testes de correlação de 1997. Ordenamos uma

por ordem de alavancagem (Exigível / PL) e a outra por aumento dos lucros no

período 1994-97 (lucro ajustado pela inflação). Constatamos que das 17

empresas mais lucrativas no período, 9 estavam entre as 20 mais alavancadas.

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Das 8 mais lucrativas restantes 5 eram do setor de Telecomunicações, que

experimentou um “boom” no faturamento dos últimos anos por conta dos

ajustes promovidos pelo governo visando preparar o setor para privatização.

Assim, fica bem explícito que empresa alavancada e com liquidez em bolsa no

Brasil tende a ser das mais lucrativas e como consequência das mais

disputadas no mercado, fazendo com que seus P/L subam muito e denotem

um grau de exigência de retorno menor. Nesse sentido é interessante notar

que enquanto o retorno médio exigido das 17 empresas mais lucrativas no

período 1994-97 foi de 11,9%, as demais empresas usadas nos testes de

correlação de 1997 apresentaram um retorno médio exigido de 14,9%.

Estatisticamente, a hipótese da diferença entre os grau de exigência de retorno

é aprovada com 83% de confiança. (teste não paramétrico de Kruskal-Wallis)

2) Como realizamos um teste privilegiando a liquidez das ações no

mercado, acabamos por selecionar empresas que em geral não estão

perto de enfrentar dificuldades financeiras e portanto, o mercado não dá

tanta importância à sua alavancagem financeira quando determina seu

valor.

Para comprovarmos este ponto, ordenamos as 67 empresas com ações

mais líquidas em 1997 (já selecionadas para os testes estatísticos

anteriormente realizados) em ordem do quociente de Resultado financeiro /

Lucro operacional antes do resultado financeiro, e a seguir montamos uma

tabela de frequência amostral em valores percentuais. O mesmo fizemos para

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as ações menos líquidas que não entraram no nosso universo4. Tiramos desse

grupo as ações de empresas financeiras; de retornos anormais (2%>L/P>50%);

as que tinham mais de uma espécie de ação no grupo menos líquido; ou que já

possuiam ações no grupo mais líquido. De ambos os grupos foram também

retiradas as empresas que apresentaram prejuízos operacionais antes do

resultado financeiro ou que apresentaram resultado financeiro inexistente no

ano de 1997. A figura 3.3 ilustra os resultados encontrados, onde os resultados

financeiros positivos começam a aparecer a partir da metade do terceiro quintil.

Nas empresas menos líquidas, 57,9% da amostra apresenta resultados

financeiros negativos, enquanto nas empresas mais líquidas apenas 45,1%

exibem resultados negativos. A hipótese da diferença entre o resultado

financeiro / lucro operacional das empresas mais líquidas contra o mesmo

quociente das empresas menos líquidas, é confirmada por teste estatístico não

paramétrico (Kruskal-Wallis) com grau de confiança superior a 98%.

Figura 3.3: Resultados financeiros / Lucro operacional de1997 das 300 empresas mais líquidas da BOVESPA*

distribuídos por quintis

*O critério de liquidez é o mesmo mencionado na notade rodapé n.2 p.56.

Fonte: Banco de dados da Economática. 4 Por ordem de liquidez: da 151 até a 300° ação mais líquida.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 2 3 4 5Quintis

% a

mos

tra

150 menoslíquidas150 maislíquidas

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Assim, concluímos que as empresas mais líquidas, incluídas em nossos

testes de correlação, tendem a ter melhores resultados financeiros, fazendo

com que o grau de alavancagem dessas empresas não constituam atualmente,

de modo geral, uma preocupação para o investidor.

Em resumo, o que verificamos é que a dificuldade generalizada de

financiamento de longo prazo na economia brasileira faz com que as empresas

estejam de modo geral sub-alavancadas. Consequentemente o mercado não

exige maior retorno de empresas relativamente mais alavancas, ainda mais

quando estas apresentam um bom potencial de crescimento dos lucros.

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Capítulo IV

Conclusões

Os diversos modelos teóricos sobre estrutura de capital e valor da firma

não chegam a um consenso em torno de qual seria uma ótima proporção entre

capital próprio e capital de terceiros, mas convergem quando vislumbram que o

maior endividamento deve determinar uma maior exigência de retorno do

acionista, divergindo no quantum da mesma por endividamento marginal.

As restrições quanto ao financiamento interno, via geração interna de

caixa, é um fato observado por estudos empíricos realizados, que mostram que

as empresas têm o costume, em seu conjunto, de distribuir boa parte do lucro

sob a forma de dividendos. O mesmo se pode dizer em relação ao

financiamento externo, que é limitado pelas garantias que podem ser

oferecidas aos credores (caso do endividamento) e pelos interesses

prejudicados dos acionistas e a desconfiança do mercado (caso do lançamento

de novas ações).

No caso do endividamento, adiciona-se ainda outras limitações que o

administrador deve ter em mente ao traçar suas metas de estrutura de capital,

como a exaustão dos benefícios fiscais possíveis e o risco inerente ao projeto

ou negócio da firma (ver quadro 1.6).

Vistas as restrições gerais, passamos à análise do ambiente para o

financiamento externo às empresas no Brasil e percebemos que é um

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ambiente hostil, com poucos recursos de longo prazo a custos razoáveis sendo

ofertados no país. Os mecanismos de funding limitam-se à poupança

compulsória representada por fundos pára-fiscais e fundos de pensão de

grandes empresas estatais. Os recursos provenientes do exterior também se

mostram limitados, pois só os conseguem obter empresas de certo porte

econômico, e mesmo estas ainda estão sujeitas ao desempenho macro-

econômico brasileiro, já que para o financiador externo tanto a saúde financeira

da empresa como do país são essenciais para que haja garantia do pagamento

do financiamento em moeda forte.

Desse modo, ao negar acesso ao financiamento à milhares de

empresas, o precário sistema de intermediação financeira do país reduz as

possibilidades de maior dinamismo e crescimento das mesmas.

Por fim, após a revisão teórica sobre a influência da estrutura de capital

no valor da firma e a apresentação da realidade acerca das estreitas

possibilidades de financiamento oferecidas no país, realizamos estudos

estatísticos visando identificar o grau de correlação entre a estrutura de capital

das empresas em diversos setores e seus respectivos índices de exigência de

retorno.

Os resultados que encontramos divergem do que prega a teoria.

Enquanto esta aponta um aumento nos níveis de exigência de retorno à

medida em que se amplia o grau de endividamento, os resultados de nossos

testes não apontaram significância para a maior parte dos grupos setoriais

estudados. As exceções ficaram por conta dos grupos setoriais de Mineração e

Siderurgia e Energia Elétrica. Enquanto o primeiro apresentou correlação

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Endividamento-Exigência de retorno positiva, o segundo mostrou correlação

negativa. A divergência entre a teoria de finanças e a realidade brasileira pode

ser explicada por três aspectos identificados no trabalho: 1) As empresas se

encontram sub-alavancadas no Brasil, devido ao já exposto problema de

dificuldade de acesso a novos financiamentos; 2) As empresas mais

promissoras têm exigência de retorno menor e tendem a estar mais

alavancadas; 3) A liquidez do mercado acionário brasileiro está concentrada

em poucas empresas, que de modo geral estão em boas condições

financeiras.

Em resumo, as empresas cujas ações têm liquidez em bolsa no Brasil

são tidas como promissoras (seu histórico recente ilustra isso), e essas em

geral desfrutam de boa saúde financeira tendo mais facilidade para se

endividar no país ou no exterior. Por isso são mais alavancadas. Ao mesmo

tempo, como contam com maior confiança do investidor, exibem menores

índices de exigência de retorno. Sanciona-se assim inexistência de correlação

positiva em 7 dos 8 grupos setoriais analisados. O esquema abaixo ilustra os

comentários deste parágrafo.

LIQUIDEZ => EMPRESAS => SAÚDE => FACILIDADE DE PROMISSORAS FINANCEIRA ENDIVIDAMENTO

LIQUIDEZ => EMPRESAS => CONFIANÇA DO => MENOR EXIGÊNCIA PROMISSORAS INVESTIDOR DE RETORNO

No caso do Setor Elétrico acreditamos que a negatividade na correlação

Endividamento-Exigência de retorno obtida nos testes é explicada não só pelos

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3 aspectos apresentados anteriormente, válido para todos os setores, como

também: pelo nível de endividamento exageradamente baixo para um setor

com baixa volatilidade de receitas; (vide comparação com o setor nos EUA no

quadro 3.4) e pela proximidade da privatização total do setor que projeta

aumento de eficiência e lucratividade nas empresas.

Merece destaque ainda o comportamento do grupo setorial Siderurgia e

Mineração, único a apresentar correlação positiva em todos os testes

efetuados. Este grupo setorial parece ter atingido uma faixa de endividamento

que torna a exigência de retorno positiva e significativamente correlata com o

grau de alavancagem financeira, convergindo com o que diz a teoria de

finanças.

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ANEXOS

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Anexo IBNDES: BALANÇO PATRIMONIAL EM 31 DE DEZEMBRO

(Em R$ Milhares)BNDES CONSOLIDADO

1996 1995 1996 1995(Reclassificado) (Reclassificado)

ATIVO CIRCULANTE 5.425.776 5.813.770 8.967.309 8.113.204

DISPONIBILIDADES 16.335 43.019 16.335 43.024Caixa 3 3 3 3Depósitos Bancários 16.332 43.016 16.332 43.021

APLICAÇÕES INTERFINANCEIRAS DE LIQUIDEZ 660.425 459.366 1.203.858 532.732Fundo BB Extramercado - Resolução 2.108/94 655.952 417.664 1.199.385 491.030Aplicação no Mercado Aberto 4.473 41.702 4.473 41.702

TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS 459.857 252.295 794.227 361.670Debêntures 119.697 252.295 180.369 358.697Dívidas Vencidas Regularizadas (DVRs) 4.842 4.842Adiantamento para Aquisição de Títulos e Valores Mobiliários 249.863 249.863Certificado de Depósito Interbancário 85.377 85.377Vendas de Ações a Termo 270.010Outros 78 3.766 2.973

RELAÇÕES INTERFINANCEIRAS 1.234 4.320 1.234 4.320Créditos Vinculados - Banco Central 69 69Créditos Vinculados - Banco do Brasil 1.165 4.320 1.165 4.320

OPERAÇÕES DE CRÉDITO 4.001.108 3.772.467 6.573.638 5.822.682Financiamentos e Repasses 3.937.116 3.851.201 6.491.214 5.939.534Provisão para Risco de Crédito (102.285) (142.043)Operações de Crédito em Atraso 101.759 29.439 138.613 31.489Provisão para Operações de Crédito em Atraso (37.767) (5.888) (56.189) (6.298)Operações de Crédito de Liquidação Duvidosa 1.002.817 631.538 1.270.439 679.646Provisão para Operações de Crédito de Liquidação Duvidosa (1.002.817) (631.538) (1.270.439) (679.646)

CRÉDITOS PERANTE O TESOURO NACIONAL 187.968 1.017.098 245.171 1.066.178Decretos-Leis 1.452/76 e 1.679/79 852.114 852.114Avais Honrados e Outros Créditos 76.543 67.210 76.543 67.210Impostos e Contribuições - Antecipações 82.056 97.774 117.768 138.964Impostos e Contribuições a Recuperar 29.369 50.860 7.890

OUTROS CRÉDITOS 98.557 264.985 132.515 282.378Operações da Carteira de Câmbio 14.766 186.669 14.766 186.669Avais e Fianças Honrados 31.232 31.232Provisão para Risco de Crédito (121) (121)Operações de Crédito de Liquidação Duvidosa - Avais Honrados 32.253 13 33.355 1.115Provisão para Operações de Crédito de Liquidação Duvidosa (32.253) (13) (33.355) (1.115)Venda de Investimentos 135Dividendos a Receber 22.985Juros sobre o Capital Próprio a Receber 6.856Rendas a Receber 24.193 23.431 24.193 30.755Diversos 59.598 23.774 63.580 33.843

OUTROS VALORES E BENS 292 220 331 220Outros Valores e Bens 161 180 161 180Despesas Antecipadas 131 40 170 40

REALIZÁVEL A LONGO PRAZO 31.517.464 25.758.658 29.256.089 22.909.857

TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS 1.637.860 1.462.220 3.779.804 2.260.922Debêntures 232.674 432.252 2.111.479 999.351Dívidas Vencidas Regularizadas (DVRs) 331.030 94.994 331.030 94.994Programa Nacional de Desestatização 426.759 377.220 684.235 607.524Cotas de Fundo de Investimentos 4.150Notas do Tesouro Nacional - Privatização 647.397 557.754 648.910 559.053

OPERAÇÕES DE CRÉDITO 29.871.756 24.259.215 25.454.413 20.590.959Financiamentos e Repasses 29.871.756 24.259.215 25.454.413 20.590.959

CRÉDITOS PERANTE O TESOURO NACIONAL 5.758 4.889 8.688 7.514Impostos e Contribuições a Recuperar 5.758 4.889 8.688 7.514

OUTROS CRÉDITOS 2.090 32.334 13.184 50.462Aplicações em Incentivos Fiscais 2.090 26.899 5.022 45.027Diversos 5.435 8.162 5.435

PERMANENTE 9.245.739 7.169.239 8.265.261 8.281.370INVESTIMENTOS 9.110.346 7.032.027 8.129.868 8.144.158IMOBILIZADO DE USO 135.393 137.212 135.393 137.212Custo Corrigido 237.426 235.714 237.426 235.714Depreciações Acumuladas (102.033) (98.502) (102.033) (98.502)

TOTAL DO ATIVO 46.188.979 38.741.667 46.488.659 39.304.431

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BNDES CONSOLIDADO1996 1995 1996 1995

(Reclassificado) (Reclassificado)PASSIVO CIRCULANTE 2.643.719 2.774.327 2.943.399 3.337.091

DEPÓSITOS 178.848 214.800 174.502 194.134Depósitos a Prazo 3.909 3.909Depósitos Vinculados 177.940 210.357 173.594 189.691Diversos 908 534 908 534

OBRIGAÇÕES POR EMPRÉSTIMOS 656.304 398.477 658.501 400.451Empréstimos no País 623.441 395.169 625.638 397.143Empréstimos no Exterior 32.863 3.308 32.863 3.308

OBRIGAÇÕES POR REPASSES 1.163.728 1.009.901 1.163.728 1.009.901No País 971.004 796.882 971.004 796.882

OUTRAS OBRIGAÇÕES 644.839 1.151.149 946.668 1.732.605Operações da Carteira de Câmbio 12.292 186.255 12.292 186.255Impostos e Contribuições sobre o Lucro 202.348 128.779 403.454 226.881Imposto de Renda Diferido 435.596 435.596Outros Impostos e Contribuições 2.419 3.314 3.722 5.599Negociação no Mercado de Opções 11.468 3.722Vinculadas ao Tesouro Nacional 238.354 235.972 238.354 235.972Provisão para Contingências Fiscais 411.213

Diversas 24.944 20.830 53.561 35.623

EXIGÍVEL A LONGO PRAZO 33.510.340 26.847.716 33.510.340 26.847.716

OBRIGAÇÕES POR EMPRÉSTIMOS 19.329.874 14.560.691 19.329.874 14.560.691Empréstimos no País 18.302.775 14.400.622 18.302.775 14.400.622Empréstimos no Exterior 1.027.099 160.069 1.027.099 160.069

OBRIGAÇÕES POR REPASSES 14.180.466 12.287.025 14.180.466 12.287.025No País 13.327.968 11.308.473 13.327.968 11.308.473No Exterior 852.498 978.552 852.498 978.552

PATRIMÔNIO LÍQUIDO 10.034.920 9.119.624 10.034.920 9.119.624

Capital Social 7.457.500 7.457.500 7.457.500 7.457.500Reservas de Capital 144.702 136.716 144.702 136.716Reservas de Reavaliação 1.261 53.822 1.261 53.822Reservas de Lucros 122.071 206.481 122.071 206.481Lucros Acumulados 2.309.386 1.265.105 2.309.386 1.265.105 Lucro do exercício anterior 1.261.565 0 Resultado do 1º semestre 363.624 363.624Resultado do semestre em curso 98.335 98.335 Receitas da intermediação financeira 1.565.660 1.565.660 Despesas da intermediação financeira -1.267.074 -1.267.074 Outras receitas/despesas operacionais -43.816 -43.816 Resultado não operacional 4.637 4.637

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Emissões de dívida de empresas brasileiras no mercado internacional

Emissor Valor emitido Prazo CouponUS$ milhões meses %

Ford Brasil 200 120 9,3Safra Cayman 200 96 8,4Unibanco 150 6 n.d.Aracruz 120 60 10,4Bradesco Cayman 100 36 8,0Banco Cidade 75 96 10,6Vicunha do Nordeste 50 12 0,0COPEL 23 12 0,0Rep. Federativa do Brasil 610 120 8,0BNDES 322 60 8,5Petrobrás 120 12 7,3Parmalat 68 96 9,1Sudameris 6,5 12 7,1Sul América 40 36 9,3CESP 200 120 8,8RBS Participações S.A 125 120 10,8Bozano, Simonsen 100 96 9,1Dixie Toga 77 96 9,6Parmalat 66 96 10,2AGF BRASEG 50 96 8,1BNB 50 96 9,6Citibank 50 36 8,1COPEL 30 12 0,0COPEL 25 12 0,0Semp Toshiba 13 12 0,0CST 120 84 8,2Itaú Cayman 100 36 8,3CST 90 60 Libor+1,25White Martins 75 12 0,0Credibanco 50 36 8,5Globopar 33 12 0,0BNL 20 72 8,6Brascan 20 12 0,0Globopar 15 12 0,0Bradesco Cayman 300 12 0,0Rep. Federativa do Brasil 205 60 6,6Rep. Federativa do Brasil 170 60 6,6Rep. Federativa do Brasil 165 60 6,6COPEL 150 96 9,7Arisco 150 96 10,8BNDES 150 96 6,5BCN Braclays 100 96 9,0Furnas 90 96 9,0

Anexo II

(1997)

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Embraer 70 15 10,3Preferential Holding 53 6 0,0BMC 50 96 10,3Singer 50 96 12,0Ferrovia Centro-Atlântica 40 12 0,0BBA Creditanstalt 22 36 16,6Tabriza Investment 75 60 9,8Rep. Federativa do Brasil 750 360 10,1CSN 600 120 9,1Votorantim 400 96 10,1CESP 300 120 9,1Bradesco 300 12 n.d.Rep. Federativa do Brasil 294 240 11,0Banco do Brasil 200 60 8,4Banco do Brasil 200 120 9,4Bozano, Simonsen 150 12 0,0Copene 150 120 9,0Safra 150 96 8,1Unibanco 150 36 8,0Inter-Atlântico 125 36 8,3Pagenet 125 96 n.d.Boavista 100 36 10,0Citibank 70 36 7,8Ultragaz 60 96 9,0Bahia Bank Ltd 51 12 n.d.BCSP 40 96 10,6Souto Vidigal 26 36 n.d.CBPO 22 1 0,0Cosipa 15 6 0,0Citibank 15 60 8,5AGF BRASEG 1 6 0,0Banco Dibens 50 96 10,0O Estado de S. Paulo 75 96 9,4Banco América do Sul 70 36 8,6Rep. Federativa do Brasil 147 240 11,0Itaú 100 36 7,5Gradiente 100 96 9,6BMG 100 96 9,6Real 175 36 7,9Real 75 48 8,1Brazil Realty 75 96 10,1Camargo Côrrea Industrial 150 96 8,8Triken 250 120 10,6BBA Creditanstalt 200 96 8,1Banco Cidade 50 96 8,8CCF 100 36 7,8Sabesp 275 96 10,0Josapar 35 12 0,0BBA Creditanstalt 40,3 60 8,4

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ABN AMRO 50 12 0,0BCN 100 96 8,1ING Bank 50 96 7,8Unibanco 250 36 7,8Feniciapar S.ª 30 96 8,8Credibanco 100 96 7,8MRS Logística 195 96 10,6MRS Logística 125 96 9,0Rabobank 100 36 7,5Pactual 50 60 9,1Sudameris 22 12 7,4Mangels Metalúrgica 15 12 0,0Sudameris 25 36 8,3ABN AMRO 60 12 0,0Light 130 6 0,0BBA Creditanstalt 40 60 Libor+1,5Petrobrás 248 72 4,1ABN AMRO 33 4 n.d.HSBC Bameríndus 75 12 0,0BNDES 250 120 9,0GD Empreendimentos 15 12 0,0GD Empreendimentos 20 15 0,0Kaiser 80 96 8,9Método Engenharia 5 12 0,0Localiza Rent a car 100 96 10,3Unibanco 100 12 6,8Votorantim 50 36 8,0Bombril Overseas Inc. 33 7 0,0Map Trading Corp. 15 12 0,0Triken 33,2 12 0,0Safra 200 96 Libor+1,45Cosipa 35 12 0,0BCN Braclays 100 96 8,0Bradesco Cayman 200 36 7,6Unibanco Cayman 101 72 10,0Banco Fibra 100 24 9,5Vigor 50 96 9,8Odebrecht 75 96 10,0Safra 100 60 8,8ABN AMRO 100 12 7,1Andrade Gutierrez Portoreal 32 6 0,0BNDES 228,8 240 9,0Sharp 120 96 9,6Citibank 50 36 7,3Bozano, Simonsen 282 96 8,3Safra Cayman 100 36 8,1Petrobrás 150 120 10,0Playcenter 12,5 12 0,0CRT 60 6 0,0

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ING Bank 50 60 9,1Banco Sul América S/A 30 12 8,4BankBoston 50 12 8,9Sudameris 20 12 8,8Banque Nationale Paris 20 12 0,0Banco Votorantim 60 12 9,0Santander Brasil 188 36 Libor+1,65COELBA 270 96 11,5COELBA 30 96 11,5

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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