a indisciplina escolar e as prÁticas docentes

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A INDISCIPLINA ESCOLAR E AS PRÁTICAS DOCENTES Seuline Assunção Souza Domigues da Silva 1 RESUMO: Este artigo demonstra como ocorre a indisciplina escolar, suas diversas formas de manifestações, causas e prejuízos. Acontecimento produzido por diversos fatores intra e extra sala de aula que contagia o ensino e também pertence a diversas práticas docentes atuais. PALAVRAS-CHAVES: Indisciplina Escolar; Ensino; Aluno; Professor. 1 Introdução O ensino na Educação Básica passou por muitas transformações. Os alunos eram outros, os professores foram outros e o sistema de ensino-aprendizagem era eficaz contra a indisciplina. “Se no começo do século passado era intrigante saber por que as crianças obedeciam, hoje seria mais adequado 1 Graduação em Letras – Espanhol pela Universidade de Cuiabá, Especialização em Língua Portuguesa pelo Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. E-mail do autor: [email protected] Orientador: Silvio Renoid Costa.

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Page 1: A INDISCIPLINA ESCOLAR E AS PRÁTICAS DOCENTES

A INDISCIPLINA ESCOLAR E AS PRÁTICAS DOCENTES

Seuline Assunção Souza Domigues da Silva1

RESUMO: Este artigo demonstra como ocorre a indisciplina escolar, suas diversas

formas de manifestações, causas e prejuízos. Acontecimento produzido por diversos

fatores intra e extra sala de aula que contagia o ensino e também pertence a

diversas práticas docentes atuais.

PALAVRAS-CHAVES: Indisciplina Escolar; Ensino; Aluno; Professor.

1 Introdução

O ensino na Educação Básica passou por muitas transformações. Os alunos

eram outros, os professores foram outros e o sistema de ensino-aprendizagem era

eficaz contra a indisciplina. “Se no começo do século passado era intrigante saber

por que as crianças obedeciam, hoje seria mais adequado perguntar por que as

crianças desobedecem.” ( PARRAT-DAYAN, 2008 apud DE LA TAILLE, 1996, p.9).

O Pedagogo francês Roger Cousinet chamou a atenção para o fato de os alunos

procurarem a desordem que característica a indisciplina. Contrariar o professor

torna-se o único objetivo dos alunos e se o professor souber responder com

perspicácia o incidente acaba, caso contrário, a desordem se transforma numa

indisciplina sem forma e que não acaba, por isso o professor, deve ser sensível à

vida da aula, conhecer a si mesmo, e ter a flexibilidade nas suas atividades, essas

qualidades dão autoridade ao professor.

1 Graduação em Letras – Espanhol pela Universidade de Cuiabá, Especialização em Língua Portuguesa pelo Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. E-mail do autor: [email protected] Orientador: Silvio Renoid Costa.

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A educação é essencial para os seres humanos, seus conhecimentos e formação de

valores. A escola e a educação estão passando por transformações sociais com a

globalização onde formou um novo perfil de estudante que pertence à geração y,

conectados e globalizados aos mais diferentes aparatos tecnológicos, cercado por

redes sociais, entretenimentos interessantes e criativos que surgem à velocidade de

novos produtos interativos. A mudança é constante e ocorre cada vez mais em curto

intervalo de tempo. O que é lançamento do momento, meses depois, torna-se

obsoleto. Com esta velocidade tão rápida de mudança e comunicação o discente

não se situa mais no contexto estático e desestimulante da escola, onde as

mudanças não ocorrem e a oportunidade de obter conhecimento se cristaliza dia-a-

dia gerando a indisciplina e suas múltiplas ocorrências como afirma Garcia in

Moreira (1996, p. 133), “muitas crianças e jovens, intuitivamente e

inconscientemente, vão criando formas de resistência [...] que se pode verificar na

indisciplina, no desinteresse, no absenteísmo, na agressividade. ”

Mas, como encontrar um eixo comum entre professor e aluno para que as

práticas de aprendizagem se tornem efetivas e produzam conhecimentos? O

primeiro fator é a formação profissional seguida de uma metodologia dinâmica e

interativa entre aluno – professor – gestão – escola que perpassam por vários outros

pontos abordados neste trabalho.

2 A disciplina e a indisciplina

No dicionário Houaiss as definições de indisciplina são: 1.Obediência às

regras e aos superiores. 2. Ordem, bom comportamento.3. Método, regularidade.

A disciplina está presente em todos os setores do ambiente humano: desde o

núcleo familiar às mais altas hierarquias. Uma sociedade indisciplinada não se

estabelece e está fadada a falência psico-social-cultural.

As regras mantêm a ordem entre os conviventes de determinados meios em

que um sujeito não pode infringir o espaço do outro. E essas regras são discutidas,

analisadas, votadas ou impostas de acordo com o meio cultural dessas pessoas.

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Desde o aparecimento do homem na Terra, a ordem norteia o bom

desenvolvimento do grupo: as mulheres cuidavam da prole e os homens iam à caça

para obter o sustento da família. Os filhos seguiam os mesmos caminhos dos pais

surgindo uma regularidade que precede a disciplina. Para haver harmonia e

desenvolvimento saudável na relação entre sujeitos é preciso que todo conjunto de

pessoas independente do local, da cultura, da crença, do status social sigam regras

norteadoras de comportamentos, gestos, atitudes e também que haja a punição para

o transgressor de tais normas.

Na escola a indisciplina é causada por inúmeros fatores que ficam

desconhecidos, preteridos ou agravam-se com a inércia do sistema escolar:

A indisciplina seria, talvez, o inimigo número um do educador atual,

cujo manejo as correntes teóricas não conseguiriam propor de

imediato, uma vez que se trata de algo que ultrapassa o âmbito

estritamente didático pedagógico, imprevisto ou até insuspeito no

ideário das diferentes teorias pedagógicas. (AQUINO, 1996, p.40)

Toda unidade de ensino possui um PPP (Projeto Político Pedagógico) e um

Regimento Escolar pautado na legislação vigente, mas não há uma unificação sobre

as práticas e procedimentos que podem ser aplicados ao aluno indisciplinado. Na

maioria dos casos, transfere-se o problema para outra escola, onde novamente, os

desvios de comportamentos irão repetir-se causando os mesmos prejuízos ou piores

porque não foi tratada a prevenção, a causa, mas a escola utilizou somente um

paliativo (transferência) para seu benefício.

3 A família impotente

Pai e mãe não conseguem educar, disciplinar, conduzir e dialogar com os

filhos e acabam terceirizando e transferindo estas tarefas à escola, parentes,

amigos, igrejas confirmando na frente “dos seus” que não têm autonomia, poder,

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autoridade para lidar com sua própria criação, acabam desmotivados e alguns

desinteressados abrem mão de vez da educação dos pimpolhos. A que ponto

chegamos ! Como afirma Aquino:

O que a indisciplina, deste ponto de vista, estaria revelando? Que se

trata, supostamente, de um sintoma de relações familiares

desagregadoras, incapazes de realizar a contento sua parcela no

trabalho educacional das crianças e adolescentes. Um

esfacelamento do papel clássico da instituição família. Chegamos a

um impasse: a educação, no sentido lato, não é de responsabilidade

integral da escola. Esta é tão somente um dos eixos que compõem o

processo como um todo. Entretanto, algumas funções adicionais lhe

vem sendo delegadas no decorrer do tempo, funções estas que

ultrapassam o âmbito pedagógico e que implicam no

(re)estabelecimento de algumas atribuições familiares. (1996, p.46)

Na escola em que leciono há muitos casos de indisciplina e em um deles

ocorreu que o aluno era muito faltoso e quando estava presente tumultuava as aulas

dos professores. A reclamação era generalizada e ele tinha muitos registros

negativos no caderno e no livro de desempenho que cada turma possui, onde o

professor escreve o rendimento do educando, em sua aula, seja bom ou ruim. Em

determinada aula sumiu um celular e os alunos da classe o apontaram como autor

do furto. Neste momento pergunto: O que fazer com este aluno? Que atitude tomar?

Chamar a polícia? Chamar os pais? Conversar sobre o ocorrido? Cada gestão

escolar pode escolher o caminho que lhe convir, mas será que escolherá

corretamente? Levará o aluno a reflexão, repensando seus atos e não agindo mais

dessa maneira? Por que “se cada professor tiver de tomar uma atitude porque

chegou a seu ponto máximo de tolerância, isso significa que a escola não

estabeleceu uma regra mínima para proteger a integridade de seus funcionários”

(IÇAMI,1998,p.121).

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O comportamento humano realmente é imprevisível, não é uma ciência exata

e concisa, mas requer uma profunda análise para minimizar os possíveis danos para

as partes envolvidas em cada contexto específico.

No caso em questão a gestora telefonou para mãe solicitando sua presença na

escola e a mãe prevendo a situação indisciplinar de seu filho perguntou

estupidamente se a diretora ensinava como criar filhos e mandou encaminhar à

criança ao conselho tutelar, sem saber cuidadosamente do assunto, pois não

aguentava mais receber tantas reclamações. Aqui, há claramente a inércia da escola

em não tratar a causa, mas apenas as consequências e também da família por

considerar-se inapta para educar a criança transferindo a responsabilidade para o

Conselho Tutelar. O desfecho terminou com o menino devolvendo o celular e sendo

encaminhado para um projeto que subsidia pessoas vulneráveis à violência, ao

abuso e ao abandono. Nesta situação, a indisciplina estava ligada a infração e

transcende os muros da escola e está criança recebeu apoio por parte do Estado.

Na atua geração Y os rebentos cresceram com uma liberdade exacerbada, na

era tecnológica, onde os pais permitem certos atos de desobediência por não

quererem perder o pouco tempo que passam com os filhos. Assim, evitam brigas,

discussões, sermões, diálogos para não tornar-se chato e repudiado pelos filhos,

ficando mais ausente do relacionamento pai e filho.

Sabe-se que as consequências de desestruturação familiar refletem na vida

escolar do discente que fica apático ou inquieto em sala praticando atos

indisciplinares. Muitos pais não se preocupam e depositam na escola toda

responsabilidade que são deles! Mas, a escola também tem o dever de cumprir sua

parte no processo de ensino, pois a função principal da unidade de ensino é formar

cidadãos, como consta nos Parâmetros Curriculares Nacionais:

A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Federal

n. 9.394), aprovada em 20 de dezembro de 1996, consolida e amplia

o dever do poder público para com a educação em geral e em

particular para com o ensino fundamental. Assim, vê-se no art. 22

dessa lei que a educação básica, da qual o ensino fundamental é

parte integrante, deve assegurar a todos “a formação comum

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indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios

para progredir no trabalho e em estudos posteriores”, fato que

confere ao ensino fundamental, ao mesmo tempo, um caráter de

terminalidade e de continuidade. (PCN, 2001a, p.15).

E como formar pessoas críticas se não sabem conviver em grupo? Um

precede o outro e deve haver colaboração mútua entre família e escola, logo

se os educadores não tomarem a frente do movimento de educação

dos alunos, cuja responsabilidade será sempre dos pais, essas

crianças dificilmente chegarão à plena capacidade relacional com

saúde psíquica.( IÇAMI,1998,p.103)

4 Causas da indisciplina

Os professores raramente se colocam como causadores da indisciplina

porque a veem “como sendo resultado de problemas que estão fora da escola, e que

nada podem fazer, enquanto a sociedade não mudar”. (REBELO, 2010, p.30) Cria-

se um verdadeiro abismo entre suas práticas e o desinteresse do aluno, extirpando

qualquer resquício de culpa que possa ter. Deve-se perguntar aos docentes “se o

aluno não aprende porque é indisciplinado ou é indisciplinado porque não aprende,

devido aos conteúdos tão distantes da realidade e impostos por uma prática docente

autoritária e silenciadora?” ( REBELO,2010,p.35).

O educador deve buscar a reflexão e o feedback de suas aulas

constantemente, pois muitas soluções das causas de indisciplina estão em suas

mãos, ao seu alcance. Não adianta transferir à culpa para os estudantes ou fingir

que o problema não é com o docente, pois a situação poderá agravar-se e ficar

incontornável, como propõe Aquino:

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Ora, não é possível assumir que a indisciplina se refira ao aluno

exclusivamente, tratando-se de um problema de cunho

psicológico/moral. Também não é possível creditá-la totalmente à

estruturação escolar e suas circunstâncias sócio-históricas. Muitos

menos atribuir a responsabilidade as ações do professor, tornando-a

de cunho essencialmente didático-pedagógico. (1996, p.48)

O docente pode desestimular muitos casos de indisciplina em sala de aula,

mas não deve agir sozinho e buscar no universo escolar e social as possíveis

respostas para estas questões, já que o esforço conjunto da família-escola-

sociedade contribuirá para melhores resultados .

Em minha prática docente que não é vasta, mas está no início de um longo

caminho, deparava frequentemente com atos de indisciplina, desde os mais simples

como conversas, uso do celular até a violência entre alunos, a furto, a agressão

física e verbal, chegando ao ponto de não poder executar o planejamento da aula! E

esta situação repetia- se constantemente e as indagações sempre sufocavam minha

mente em busca de respostas, soluções para as crises indisciplinares daquelas

turmas. Mudava a metodologia, o conteúdo, o formato da sala e dialogava com os

alunos buscando melhorias para a aula e obtinha o mínimo do resultado esperado.

Após muitas observações fui percebendo que a forma de lecionar o conteúdo em

uma turma não poderia ser a mesma para a outra classe. Fui pesquisando e

descobrindo o universo dos estudantes que é totalmente diferente dos professores.

Avancei 30% e considero uma vitória. Um desses avanços está relacionado

ao silêncio entre os estudante durante a aula: quando alguém gritava, conversava

alto ou tumultuava o processo de ensino, eu respondia a mesma altura mandando

fechar a boca e fazer silêncio, neste momento começava uma disputa, um bate-boca

entre professor e aluno para constatar quem podia mais ou falava mais alto. Assim

os outros estudantes que estavam quietos, também começavam a participar daquela

desorganização em classe. Mudei a estratégia e ao contrário de chamar a atenção

perante todos, caminhava lentamente até ao indisciplinado e pedia-lhe silêncio de

forma sutil e calma. Na maioria das vezes, esta forma de agir é eficiente por que:

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É mais eficaz se aproximar calmamente de um aluno e pedir para

retornar seu trabalho que chamar sua atenção em voz alta na frente

de todos. O humor, que é diferente da ironia e do sarcasmo, é uma

arma interessante para desativar certas crispações (PARRAT-

DAYAN, 2008, p.64).

5 Prevenção e possíveis soluções para indisciplina na escola

As correntes teóricas ligadas à psicologia e sociologia são unânimes em

reservar para o professor uma parcela considerável de contribuição e manutenção

de fatores indisciplinares no ambiente escolar, deixando as outras causas para os

mais diversos contextos psico-social-cultural. Piaget endossa com a seguinte

declaração:

O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu

gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem mais precisamente,

a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o

minimiza, que manda que “ele se ponha em seu lugar” ao mais tênue

sinal de sua rebeldia legitima, tanto quanto o professor que se exime

do cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do aluno,

que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente

à experiência formadora do educando, transgride os princípios

fundamentalmente éticos de nossa existência (2005, p.59-60).

Tanto o professor quanto o aluno tem participação efetiva nas questões

indisciplinares. Este depende daquele para que o curso da aula, do seu

comportamento, das suas atitudes sejam canalizadas para o processo de ensino-

aprendizagem, pois o professor é a referência em sala de aula e ele precisa impor o

poder e a responsabilidade sobre os alunos. A mesma responsabilidade de sujeito

ético que Piaget requer do docente, o docente também almeja que o discente lhe

retribua. E é exatamente neste ponto que a problemática se encontra. Mas

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intervenções não faltam para que o professor almeje êxito, claro que não conseguirá

atingir a totalidade, mas pelo menos uma parcela significativa de alunos será

sensibilizada e mudará de atitude, não reincidindo mais em práticas indisciplinares.

Com base no Psicólogo português Luís Picado, mostrarei algumas

abordagens cognitivas e comportamentais que partem do pressuposto que o aluno é

o sujeito de seus próprios atos levando-o a dividir responsabilidades pelo bom

desenvolvimento das aulas juntamente com o professor:

5.1 Abordagens Cognitivas

*Representação de Papéis: esta técnica permite ao aluno usar da empatia

para solucionar os mais diversos tipos de conflitos, ele precisa se colocar no lugar

de outros sujeitos para modificar o ambiente e encontrar a saída com o auxilio de

todos sem prejudicar aos outros. O professor pode propor situações semelhantes

ao do cotidiano escolar e pedir para fazer dramatizações, teatros, debates.

*Auto Estudo: também conhecida como autoanálise ou feedback esta técnica

propõe ao docente a auto avaliação de suas práticas, metodologias, atividades e

postura em sala de aula por meio de conversas francas com os professores, direção,

coordenação e também com alunos em particular, com a turma que tem mais

dificuldades e, se for o caso, com todas as turmas que leciona procurando ouvir

atentamente as críticas e aprimorar suas competências profissionais. Há professores

que oferecem questionários a cada bimestre, semestre ou ano letivo para as turmas.

O que importa e que esta ferramenta de auto estudo faça parte das atribuições do

professor e obtenha bons resultados em sua profissão.

*Discussão em Grupo: quando o professor não consegue impor a disciplina

em sala com determinados alunos pode-se colocar a discussão em grupo para a

classe e observar os direcionamentos que cada aluno propõe a situação que nutre

as tomadas de decisões buscando um consenso entre o grupo para um

enfretamento positivo nas questões indisciplinares.

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*Reunião entre o Educador e o Aluno: deve ser utilizada quando o caso

envolve um aluno em particular. Quando as afrontas, ofensas, desabafos e crises de

raiva acontecem durante a aula, não se deve tentar resolver o conflito naquele

instante, pois a situação irá piorar e não acharemos os culpados e sim cada qual se

defendendo como inocente. Depois da aula ou de alguns dias deve-se chamar o

estudante e perguntar de modo claro, calmo e direto o porquê daquela manifestação

antiética e buscar o respeito e a solução com o diálogo. Também há de se propor

um combinado entre ambos se o desrespeito acontecer novamente e as sanções

para reincidência.

5.2 Abordagens Comportamentais

*Reforço Social: consiste em destacar no aluno a importância de seus bons

comportamentos por meio de elogios, sorrisos, recados no caderno destacando seu

empenho em fazer as tarefas, em participar das aulas, em manter o silêncio durante

as explicações. Na escola os alunos indisciplinados quase nunca são elogiados,

viram mais alvos de punição do que dos bons olhos dos professores, mas devemos

estar sempre atentos, pois qualquer boa atitude do aluno indisciplinado deve ser

elogiada para inibir as próximas tentativas de ser o engraçadinho da turma. Se

mesmo assim ele insistir em ser o centro das atenções continue elogiando seu bom

comportamento anterior, logo ele perceberá a mudança de atitude do professor e

mudará seu comportamento.

*Punição: se o comportamento não melhorar com o Reforço Social, a técnica

de Punição será uma alternativa para o aluno que não se comportar

adequadamente. Deve-se frisar que a punição pela punição é ineficaz conforme as

pesquisas de Bandura (1969). O educador deve falar com calma o motivo da

punição, qual objetivo que espera atingir e evitar promessas que não poderá

cumprir.

*Contrato Pedagógico: esta técnica é bastante utilizada com crianças

menores no Jardim e no Ensino Fundamental I que consiste em elaborar juntamente

com a turma um combinado com as regras de boa convivência em sala de aula, as

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obrigações a cumprir e as punições para quem descumprir o acordo. Também há

incentivos por meio de prêmios para o aluno que não faltar, comportar-se bem, que

faz todas as tarefas etc. Os alunos participam da elaboração e cumprimento por

parte dos colegas durante todo o processo e podem decidir se o aluno será punido

ou não.

* Extinção: esta abordagem é utilizada para atitudes de menor grau

indisciplinar que consiste em ignorar o aluno e tirá-lo de seu foco de atenção, não

dando importância para suas ‘gracinhas’. Deve recolocá-lo em seu foco quando

adotar comportamentos positivos e partir para a técnica do Reforço Social.

Deve-se atentar que nem sempre as Abordagens Cognitivas e

Comportamentais surtem os efeitos necessários no processo de ensino

aprendizagem contra a indisciplina escolar, porque em muitos casos estas questões

comportamentais já atravessaram os muros da escola e transformaram em atos de

violência e vandalismo como depredações do patrimônio público, ataques físicos,

verbais, danos morais e materiais a professores, funcionários e alunos. Para lidar

com estas situações extremas deve-se acionar o poder público responsável, já que a

educação é direito de todos e dever do Estado e da família que será promovida e

incentivada com a colaboração da sociedade, conforme consta no art.205 da

Constituição Federal de 1988.

No estado de Goiás foi elaborada uma Cartilha com orientações juntamente

com o Ministério Público e o Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude e

Educação sobre Como Proceder Frente à Indisciplina Escolar com conceitos e

funções dos órgãos responsáveis para lidar com o assunto como o Conselho

Tutelar, Ministério Público e a própria escola. Há metodicamente os tramites que se

deve seguir, modelos de ofícios, atas, documentos e todos os respaldos judiciais

para o enfretamento da indisciplina que deve ser acompanhado pelos pais, pela

escola e pelos poderes constituintes do estado. É um processo demorado para o

reestabelecimento da disciplina por parte do aluno que na maioria das vezes

resolvem-se os casos mais problemáticos e caso não se resolva é instaurado um

processo que segue para o ministério público que tomará as providencias e

responsabilizará a família por possíveis omissões quanto a educação e

acompanhamento da criança ou adolescente no processo educacional.

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O estado de Goiás é um exemplo em criar uma cartilha explicativa para uma

problemática do cotidiano escolar que muito atravanca e desestimula professores

em todo o país. Que esta seja as primeiras de muitas intervenções benéficas do

poder público para a melhoria e qualidade educacional em nossas escolas.

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Considerações Finais

A indisciplina no ambiente escolar traz muitas causas e muitos sujeitos,

porém a prevenção sempre é o melhor combate contra esta prática perturbadora da

relação professor – aluno. As causas são muitas e nem o professor, nem a escola,

nem a família, nem o estado se isentam das responsabilidades com o aluno

indisciplinado.

As abordagens propostas mostram como trabalhar em diferentes aspectos

contra os atos indisciplinares e mesmo quando estas não se tornam eficazes, pode-

se recorrer à via legal com base na legislatura vigente.

Recursos e auxílios não faltam para lidar contra a indisciplina em sala de aula,

há que buscar incessantemente a motivação e os caminhos certos para a superação

desta problemática. Não se tem um manual pronto para cada caso específico, mas

as orientações atuais norteiam as tomadas de atitudes firmes e convictas para um

bom resultado pedagógico entre os envolvidos.

Com melhores condições de ensino, melhor formação continuada de

professores, melhor desempenho das funções familiares no acompanhamento da

criança e do adolescente, melhor trabalho preventivo das escolas e do poder público

no combate à ociosidade de tempo dos alunos no contra turno teremos não só

escassez de indisciplina como também uma sociedade mais ética, acolhedora,

pautada de valores morais que tornará os indivíduos prontos para serem

cidadãos críticos que mudem e transformem realidade de modo digno e contribua

para formação de indivíduos aptos para respeitar e cumprir direitos e deveres.

Page 14: A INDISCIPLINA ESCOLAR E AS PRÁTICAS DOCENTES

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