a imagem da cidade

Upload: fred-leite

Post on 19-Oct-2015

24 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • A Imagem Da Cidade Kevin Lynch (RESUMO)

    Captulo 1 A imagem do Ambiente

    Como obra arquitetnica a cidade uma construo em grande escala no espao, s percebida no decorrer dos longos perodos de tempo sendo seu design uma arte temporal. Nada vivenciado em si mesmo, mas sempre em relao aos seus arredores, s seqncias de elementos, lembrana de experincias passadas. Cada cidado tem vastas associaes com alguma parte de sua cidade e o cidado faz parte desse cenrio. A cidade no apenas um objeto percebido, ela pode ser estvel por algum tempo mas est sempre se modificando nos detalhes.

    Legibilidade (este livro vai examinar a qualidade visual da cidade norte-americana, vai se concentrar principalmente em uma qualidade visual especifica: a clareza ou legibilidade)

    Ainda que a legibilidade no seja, de modo algum, o nico atributo importante de uma bela cidade, algo que se reveste de uma importncia especial quando consideramos os ambientes na escala urbana de dimenso, tempo e complexidade, para que isso seja compreendido devemos levar em considerao a cidade do modo como percebem seus habitantes.

    No processo de orientao, o elo estratgico a imagem ambiental, o quadro mental generalizado do mundo fsico exterior de que cada indivduo portador. A necessidade de reconhecer e padronizar nosso ambiente to crucial e tem razes profundas arraigadas ao passado, que essa imagem de enorme importncia prtica e emocional para o indivduo.Uma imagem clara nos permite uma locomoo mais rpida e fcil: encontrar a casa de um amigo, um policial, contudo, um ambiente ordenado pode fazer mais do que isso como por exemplo servir como um vasto sistema de referncias.Uma imagem clara do entorno constitui uma base valiosa para o desenvolvimento individual.Uma boa imagem ambiental oferece a seu possuidor um importante sentimento de segurana emocional, pode estabelecer uma relao harmoniosa entre ele e o mundo sua volta.Na verdade, um ambiente caracterstico e legvel no oferece apenas segurana, mas tambm refora a profundidade e a intensidade potenciais da experincia humana.Potencialmente, a cidade em si o smbolo poderoso de uma sociedade complexa.

    As imagens ambientais so resultado de um processo bilateral entre o observador e seu ambiente. Este ltimo sugere especificidades e relaes, e o observador com grande capacidade de adaptao e luz de seus prprios objetivos seleciona, organiza e confere significados quilo que v. Cada indivduo cria e assume sua prpria imagem, mas parece existir um consenso substancial entre membros do mesmo grupo. Essas imagens de grupo, consensuais a um nmero significativo de observadores, que interessam aos planejadores urbanos dedicados criao de um ambiente que venha a ser usado por muitas pessoas.

    Estrutura e identidade Uma imagem ambiental pode ser decomposta em trs componentes: identidade, estrutura e significado. conveniente abstra-los para a anlise, desde que no se perca de vista que sempre aparecem juntos. Uma imagem

  • vivel requer, primeiro, a identificao de um objeto, o que implica sua diferenciao de outra coisa. Em segundo lugar, a imagem deve incluir a relao espacial do objeto com o observador e os outros objetos. Por ltimo, esse objeto deve ter algum significado para o observador, seja ele prtico ou emocional. Para ter valor em termos de orientao no espao ocupado pelas pessoas, uma imagem precisa ter vrias qualidades. Deve ser suficiente, verdadeira em sentido pragmtico, permitindo que o indivduo atue dentro do seu ambiente na medida de suas necessidades.

    Imaginabilidade Pode se dizer que sua definio a caracterstica, num objeto fsico, que lhe confere uma alta probabilidade de evocar uma imagem forte em qualquer observador dado.Um ambiente bonito tem outras propriedades bsicas:significado ou expressividade, prazer sensorial, ritmo, estmulo, escolha.Nossa concentrao na imaginabilidade no nega a importncia delas.Nosso objetivo consiste apenas em levar em conta a necessidade de identidade e estrutura em nosso mundo perceptivo, e ilustrar a relevncia especial dessa qualidade para o caso especfico do espao urbano, complexo e mutvel.

    Captulo 2 Trs cidades

    Boston - Para quase todos os entrevistados essa Boston uma cidade de bairros muito caractersticos, ruas tortas e confusas, cidade suja, de edifcios de tijolos vermelhos, quase todos que participaram da pesquisa disseram tratar-s de um lugar antigo e cheio de edifcios velhos, e as vistas preferidas eram as paisagens distantes.

    Jersey City Uma rea com pouca atividade central prpria, cruzada por rodovias e vias elevadas, tem a aparncia de um lugar de passagem do que de um lugar para viver, dividida em bairros tnicos e de classe. O que poderia ter sido seu centro comercial natural acabou sufocado pela criao artificial da Praa Journal na zona alta, de modo que no existe apenas um centro, mas 4 ou 5. Cheiro ruim, sujeira e monotonia essa a primeira impresso.

    Los Angeles Como ncleo de uma metrpole o centro um espao carregado de significados e atividades com grande edifcios que se supe serem distintivos e um modelo bsico: sua quadrcula quase regular de ruas.Contudo, alguns fatores atuam de modo a produzir uma imagem diferente que a de Boston.Primeiro h a descentralizao da rea metropolitana, o que faz que a regio central continue sendo o centro, apenas por deferncia, mas existem vrios outros ncleos bsicos pelos quais as pessoas se orientam.A rea central de uma atividade comercial intensa, mas j no o melhor centro de compras.A freqncia das reconstrues impede a identificao que se estabelece atravs do processo histrico.

    Ao comparar essas trs cidades descobrimos as pessoas se adaptam ao seu entorno e extraem estrutura e identidade do material ao seu alcance. Os tipos de elementos usados na imagem da cidade e os atributos que os tornam fortes ou fracos parecem comparveis entre as trs, ainda que a proporo desses tipos possa variar com a forma concreta de cada uma delas

    Captulo 3 A imagem da cidade e seus elementos

  • Cada imagem individual nica e possui algum contedo que nunca ou raramente comunicado, mas ainda assim ela se aproxima da imagem pblica que, em ambientes diferentes, mais ou menos impositiva, mais ou menos abrangente.O contedo das cidades at aqui estudadas, que remetem s formas fsicas , pode ser adequadamente classificado em 5 tipos de elementos: vias, limites, bairros, pontos nodais e marcos e podem ser definidos da seguinte maneira:

    1- Vias so canais de circulao ao longo dos quais o observador se locomove de modo habitual, ocasional ou potencial. Podem ser ruas, alamedas, linhas de trnsito, canais, ferrovias. Para muitas pessoas, so estes elementos predominantes em sua imagem.

    2- Limites - so elementos lineares no usados ou entendidos como vias pelo observador, so fronteiras entre duas faces, quebras de continuidade lineares: praias, margens de rios, lagos, etc., cortes de ferrovias, construes, muros e paredes. So referncias laterais, mais que eixos coordenados

    3- Bairros so regies mdias ou grandes de uma cidade, concebidos como dotados de extenso bidimensional.O observador neles penetra mentalmente, e eles so reconhecveis por possurem caractersticas comuns que os identificam.Sempre identificveis a partir do lado interno, so tambm usados como referncia externa quando vistos de fora.

    4- Pontos Nodais so pontos, lugares estratgicos de uma cidade atravs dos quais o observador pode entrar, so focos intensivos para os quais ou a partir dos quais se locomove. Podem ser basicamente junes, locais de interrupo do transporte, um cruzamento ou uma convergncia de vias, momentos de passagem de uma estrutura a outra. Alguns desses pontos nodais so o foco e a sntese de um bairro, sobre o qual sua influncia se irradia e do qual so um smbolo.

    5- Marcos so outro tipo de referncia, mas, nesse caso o observador no entra neles: so externos. Em geral, so um objeto fsico definido de maneira muito simples: edifcio, sinal, loja ou montanha. Seu uso implica a escolha de um elemento a partir de um conjunto de possibilidades. Alguns marcos so distantes, tipicamente vistos de muitos ngulos e distncias, acima do ponto mais alto de elementos menores e usados como referncias radiais. Podem ou no estar dentro da cidade.

    Captulo 4 A forma da cidade

    A maioria dos objetos que nos acostumamos a considerar belos, como uma pintura ou uma rvore, tem a finalidade nica. H neles, atravs de um longo desenvolvimento ou da marca de uma vontade pessoal, uma ligao ntima, visvel, entre o detalhe sutil e a estrutura total. Uma cidade uma organizao mutvel e polivalente, um espao com muitas funes, erguido por muitas mos num perodo de tempo relativamente rpido. Existem porm algumas funes fundamentais, que as formas da cidade podem expressar:circulao, usos principais do espao urbano, pontos focais chaves.

  • Para citarmos um nico exemplo, Florena uma cidade dotada de poderosa personalidade, um lugar apreciado. A cidade tem uma histria econmica, cultural e poltica de enormes propores e que os indcios visuais desse passado explicam grande parte das inconfundveis caractersticas. O centro da cidade tem caractersticas regionais: ruas extremamente estreitas e com calamento de pedras, altos edifcios de estuque de pedra e de cor cinzento-amarelada, com venezianas, grades de ferro e estradas que lembram cavernas, encimadas pelos caractersticos beirais. Nessa rea existem muitos pontos nodais, a rea central est cheia de marcos. As pessoas desenvolvem ligao com essas formas claras e diferenciadas, tanto em decorrncia do passado quanto de suas experincias.

    O desenho das ruas

    Aumentar a imaginabilidade do ambiente urbano significa facilitar sua identificao e estruturao visuais. As vias, a rede de linhas habituais ou potenciais de deslocamento atravs do complexo urbano so o meio mais poderoso pelo qual o todo pode ser ordenado. As vias principais devem ter alguma qualidade singular que as diferencie dos canais de circulao circundantes: uma concentrao de algum uso ou alguma atividade especial ao longo de suas margens; uma qualidade espacial caracterstica; uma textura especial de pavimento ou fachada, um sistema particular de iluminao; um conjunto nico de cheiros e sons, um detalhe ou uma vegetao tpica. Na verdade, uma rua percebida como uma coisa que vai dar num determinado lugar. A via deveria corroborar perceptivamente esse fato por meio de pontos terminais bem definidos.

    Os observadores deixam-se impressionar-se at mesmo de memria, pela aparente qualidade cinestsica de uma via, pela sensao de movimento ao longo dela: virar, subir, descer. Isso particularmente verdadeiro quando a via percorrida em alta velocidade. Uma grande curva descendente que se aproxima do centro da cidade pode produzir uma imagem inesquecvel. Os sentidos do tato e da inrcia tambm entram nessa percepo do movimento, mas a viso parece ser predominante. Em geral, uma cidade estruturada por um conjunto de vias organizadas. O ponto estratgico de tal conjunto a interseo, o ponto de ligao e deciso para a pessoa em movimento. Se isso puder ser claramente visualizado, se a prpria interseo produzir uma imagem viva e se a posio das duas vias for expressa com nitidez, o observador poder, ento, criar uma estrutura satisfatria.

    O design de outros elementos

    Tanto os limites quanto as vias exigem certa continuidade formal ao longo de toda sua extenso. O limite de um bairro comercial, por exemplo, pode ser um conceito importante, mas ao mesmo tempo difcil de descobrir por no ter qualquer continuidade formal identificvel. O limite tambm adquire fora se for lateralmente visvel a alguma distncia, se assinalar um claro gradiente das caractersticas de uma rea e se ligar claramente duas regies limtrofes.

    Se um limite puder ser atravessado visualmente ou pelo movimento, ele poder ser mais do que uma simples barreira dominante desde que seja, por assim dizer, estruturado em alguma profundidade com as regies de ambos os seus lados. Ele ento deixa de ser uma barreira e torna-se uma costura, uma linha de intercmbio ao longo da qual duas reas esto costuradas.

  • Se um limite importante for dotado de muitas conexes visuais e de circulao com o restante da estrutura urbana, ele se tornar uma caracterstica com a qual tudo o mais ser facilmente alinhado. Uma maneira de aumentar a visibilidade de um limite consiste em aumentar seu uso ou suas condies de acesso, como acontece, por exemplo, quando a parte da cidade margem das guas aberta ao trfego ou ao lazer. Outra maneira seria a construo de limites bem altos, visveis de longe.

    A caracterstica essencial de um marco vivel, por outro lado, sua singularidade, o contraste com seu contexto ou deu plano de fundo. Um marco no necessariamente um objeto de grandes dimenses; pode ser tanto uma maaneta de porta como uma cpula de catedral. Sua localizao crucial: se grande ou alto, deve estar localizado de tal modo que seja visto; se pequeno, existem certas regies que recebem mais ateno perceptiva do que outras. Um marco ser ainda mais forte se for visvel durante um tempo e uma distncia maior, e mais til se a direo em que se encontra puder ser percebida com nitidez.

    Os pontos nodais so os pontos de referncia conceituais de uma cidade. Nos EUA, porm, raro que eles tenham uma forma adequada para manter esse grau de ateno, a menos que ela seja obtida atravs da concentrao de algum tipo de atividade local. O primeiro requisito para esse apoio perceptivo a conquista da identidade por meio de qualidade singular contnua de paredes, pavimentos, detalhes, iluminao, vegetao, topografia ou linha de horizonte do ponto nodal.

    Um bairro torna-se ainda mais ntido se houver uma maior definio e um fechamento de suas fronteiras. O bairro tambm pode ser estruturado internamente. Pode haver sub-distritos internamente diferenciados, mas em harmonia com o todo. Quando adequadamente diferenciado em seu interior um bairro pode expressar ligaes com outras caractersticas da cidade. Para tanto, o limite deve ser penetrvel: uma costura, no uma barreira.

    Qualidades de forma

    Sugestes para o design urbano:

    1-Singularidade: nitidez dos limites; contraste de superfcies; forma; intensidade; uso; complexidade; tamanho

    2-Simplicidade da forma: clareza e simplicidade da forma visvel

    3- Continuidade: continuao dos limites ou superfcies, similaridade, analogia ou harmonia da superfcie

    4- Predomnio: predomnio de uma parte sobre a outra em decorrncia do tamanho, intensidade ou interesse

    5- Clareza de juno: alta visibilidade das ligaes e costuras

    6- Diferenciao direcional: assimetrias, gradientes e referncias radiais que diferenciam uma extremidade da outra

    7- Alcance visual: qualidades que aumentam o mbito e a penetrao da viso, tanto concreta quando simbolicamente

  • 8- Conscincia do movimento: as qualidades que, atravs dos sentidos visuais e cinestsicos, tornam sensvel ao observador o seu prprio movimento real ou potencial

    9- Sries temporais: sries que so percebidas com o passar do tempo, incluindo tanto as ligaes simples, item por item, nas quais um elemento simplesmente ligado a outros dois

    10- Nomes e significados: caractersticas no-fisicas que podem aumentar a imaginabilidade de um elemento

    Quando discutimos o design por tipos de elementos, tendemos a examinar superficialmente a inter-relao das partes com o todo. Nesse todo, as vias exporiam e preparariam os bairros, ligando diversos pontos nodais.

    A cidade no constituda para uma pessoa e sim para um grande nmero delas, o designer deve, portanto, criar uma cidade que seja prdiga em vias, limites, marcos, pontos nodais e bairros, uma cidade que use no apenas uma ou duas qualidades, mas todas elas.

    Captulo 5 Uma nova escala

    O primeiro captulo chamou a ateno para a natureza especial da percepo da cidade e concluiu que a arte do design deve portanto ser essencialmente diferente das outras artes.A vivacidade e a coerncia da imagem ambiental foram isoladas como uma condio crucial para o desfrute e o uso de uma cidade.

    Os ambientes imaginveis em grande escala so raros nos dias de hoje. Ainda assim, a organizao espacial da vida contempornea, a rapidez de movimento e a velocidade e escala das novas construes, tudo isso torna possvel e necessria a construo de tais ambientes por meio de um design consciente. O presente estudo assinala, ainda que apenas de modo elementar, uma abordagem desse novo tipo de design.

    evidente que a forma de uma cidade ou de uma metrpole no apresentar uma ordem gigantesca ou estratificada. Ela ser um modelo complexo, continuo e integral, apesar de intricado e mvel. Deve ser adaptvel aos hbitos perceptivos de milhares de cidados, aberta mudana de funo e significado, receptivamente formao de novas imagens.

    Uma arte extremamente desenvolvida do design urbano est ligada criao de um pblico crtico e atento. Se a arte e o publico crescerem juntos, nossas cidades iro transformar-se numa fonte de prazer cotidiano para seus milhes de habitantes.