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A REPRESENTAÇÃO DA “IMAGEM DA CIDADE” DE LONDRINA PROJETADA PELO JORNAL “FOLHA DE LONDRINA” NO ANO DE 1970 REPRESENTATION OF "THE IMAGE OF THE CITY" OF LONDRINA PROJECTED BY "FOLHA DE LONDRINA" IN THE YEAR 1970. Francielle Sandoval Universidade Estadual de Londrina – Bolsista PROIC/Fundação Araucária 2010/2011 Resumo: A década de 1970 foi de extrema importância tanto nas esferas política e econômica, quanto na social, cultural e nos planos urbanos nacionais e regionais. Em Londrina não foi diferente. Essa comunicação, fruto da pesquisa referente à imagem produzida pelo jornal Folha de Londrina acerca da cidade durante a década de 1970, tem como foco o ano de 1970, mais especificamente seu primeiro semestre. A orientação teórica terá ênfase no trabalho de Kevin Lynch. Sua perspectiva aponta marcos, eixo, nós, vias, cruzamentos na textura da cidade, como orientadores dos usuários urbanos. Portanto, visamos observar até onde o jornal acompanhou, nesse momento, as diretrizes urbanas definidas pela administração local. Durante esse período, a cidade era governada pelo prefeito Dalton Paranaguá, eleito pela legenda do Movimento Democrático Brasileiro – MDB – partido de oposição ao regime militar vigente na época. Palavras-chave: imagem urbana; Folha de Londrina; transformação urbana Abstract: The 70’s was extremely important both in political and economic spheres, as in social, cultural and in national and regional urban plans. In Londrina was no different. This communication, the result of research on the image produced by the newspaper Folha de Londrina about the city during the 1970s, has as focus the year 1970, more specifically it’s first semester. The orientation will focus on theoretical work of Kevin Lynch. His outlook points out milestones, axes, nodes, pathways, crossings in the texture of the city, as mentors of urban users. Therefore, we aim to observe how far the newspaper followed up at that time the urban guidelines defined by local administration. During this period, the city was governed by Mayor Dalton Paranagua, elected by the legend of the Brazilian Democratic Movement - MDB - in opposition to the military regime prevailing at the time. Keywords: urban image, Folha de Londrina; urban transformation III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR 1307

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A REPRESENTAÇÃO DA “IMAGEM DA CIDADE” DE LONDRINA PROJETADA

PELO JORNAL “FOLHA DE LONDRINA” NO ANO DE 1970

REPRESENTATION OF "THE IMAGE OF THE CITY" OF LONDRINA

PROJECTED BY "FOLHA DE LONDRINA" IN THE YEAR 1970.

Francielle Sandoval

Universidade Estadual de Londrina – Bolsista PROIC/Fundação Araucária 2010/2011

Resumo: A década de 1970 foi de extrema importância tanto nas esferas política e econômica,

quanto na social, cultural e nos planos urbanos nacionais e regionais. Em Londrina não foi

diferente. Essa comunicação, fruto da pesquisa referente à imagem produzida pelo jornal

Folha de Londrina acerca da cidade durante a década de 1970, tem como foco o ano de 1970,

mais especificamente seu primeiro semestre. A orientação teórica terá ênfase no trabalho de

Kevin Lynch. Sua perspectiva aponta marcos, eixo, nós, vias, cruzamentos na textura da

cidade, como orientadores dos usuários urbanos. Portanto, visamos observar até onde o jornal

acompanhou, nesse momento, as diretrizes urbanas definidas pela administração local.

Durante esse período, a cidade era governada pelo prefeito Dalton Paranaguá, eleito pela

legenda do Movimento Democrático Brasileiro – MDB – partido de oposição ao regime

militar vigente na época.

Palavras-chave: imagem urbana; Folha de Londrina; transformação urbana

Abstract: The 70’s was extremely important both in political and economic spheres, as in

social, cultural and in national and regional urban plans. In Londrina was no different. This

communication, the result of research on the image produced by the newspaper Folha de

Londrina about the city during the 1970s, has as focus the year 1970, more specifically it’s

first semester. The orientation will focus on theoretical work of Kevin Lynch. His outlook

points out milestones, axes, nodes, pathways, crossings in the texture of the city, as mentors

of urban users. Therefore, we aim to observe how far the newspaper followed up at that time

the urban guidelines defined by local administration. During this period, the city was

governed by Mayor Dalton Paranagua, elected by the legend of the Brazilian Democratic

Movement - MDB - in opposition to the military regime prevailing at the time.

Keywords: urban image, Folha de Londrina; urban transformation

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Introdução

Londrina tornou-se uma das principais cidades do norte do Paraná. Atualmente conta

com uma população de 506.645 mil habitantes, sendo a população urbana de 493.457 mil

habitantes, conforme apontam os primeiros resultados do censo de 2010, segundo o IBGE.

Fundada na década de 1930, ficou marcada pelas propagandas de folhetos da Companhia de

Terras do Norte do Paraná – CTNP -, bem como todo o norte do estado, como lugar de terras

férteis e do progresso1.

Este trabalho, porém, detém-se a outro período, não menos importante: a década de

1970, a qual contou com diversos fatores que a fazem ter notoriedade na história recente

brasileira e também londrinense. Com os militares no poder, foi o período que presenciou sua

fase mais arbitrária. À frente de Londrina estava o médico Dalton Paranaguá, eleito pelo

Movimento Democrático Brasileiro – MDB -, partido de oposição ao governo federal, a

Aliança Renovadora Nacional - ARENA.

A partir desse contexto, buscaremos, aqui, mostrar como se deram as transformações

urbanas em Londrina no início dessa década a partir do conteúdo que diz respeito à cidade

veiculado pelo jornal Folha de Londrina, pesquisado neste jornal durante os meses de janeiro,

fevereiro, março, abril, maio e junho de 1970. São reportagens e artigos referentes à pesquisa

por mim desenvolvida intitulada “A representação da ‘imagem da cidade’ de Londrina

produzida pelo jornal Folha de Londrina na década de 1970”.

1 José Miguel Arias Neto em O Eldorado: Representações da política em Londrina (1930-1975) trabalha com a relação entre a idéia de progresso e o discurso construído acerca de Londrina e do Norte do Paraná. Segundo o autor: “É inegável que as representações da cidade e região como Terra da Promissão e Eldorado eram estratégias propagandísticas. A primeira – elaborada pela Companhia de Terras do Norte do Paraná – buscava atrair compradores de Terras na nova área em abertura nos anos 1930. A segunda objetivava atrair “braços para a lavoura”, ou seja, visava à formação de um mercado de mão-de-obra barata para a cafeicultura em expansão. Se este é o aspecto mais evidente daquelas representações, é também o mais superficial. (p.201)”.

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O jornal Folha de Londrina tem sua história contada por Marinósio Filho e Marinósio

Neto, no livro História da Imprensa de Londrina: do baú do jornalista (1991). Os autores

informam que o jornal foi fundado por João Milanez juntamente com o jornalista Correia

Neto, em 1947. Vale frisar que foi em janeiro de 1970 que o jornal passou a circular também

na capital paulista, ou seja, o discurso acerca do Paraná ultrapassou as fronteiras do Estado e

atingiu o maior pólo urbano brasileiro na época.

O guia teórico que está sendo utilizado para o desenvolvimento da pesquisa da qual

extraímos essa comunicação é Kevin Lynch, autor que aborda o discurso e a leitura da

imagem urbana. Para Lynch, na obra A imagem da cidade (1997)

A cidade não é apenas um objeto percebido (e talvez desfrutado) por milhões de pessoas de classes sociais e características extremamente diversas, mas também o produto de muitos construtores que, por razões próprias, nunca deixam de modificar sua estrutura”. (LYNCH, 1997, p.2)

Ora, uma vez que engenheiros e arquitetos são responsáveis pelo planejamento dos

componentes da imagem física da cidade, outros atores sociais também atuam como

construtores urbanos, no sentido de edificar e reforçar a sua leitura e discurso sobre a cidade e

dos processos que ocorrem a todo o momento. É preciso sempre levar em conta o lugar de

onde falam e a época na qual estão inseridos.

A questão do uso do jornal é abordada por Edilaine Custódio Ferreira no artigo

Imagens da cidade, imagens construídas: as contradições da modernidade (2009). Nele, a

autora teoriza sobre a metodologia adotada na análise do fotojornalismo e nos diz, citando

Essus e Grinberg, que

O jornal é um meio de comunicação social, portador de estratégias comunicativas e persuasivas que se manifestam através da articulação texto/imagem, de modo que as fotografias que acompanham as reportagens não são meramente ilustrativas, mas narrativas que clamam pela eficácia do conhecimento (ESSUS e GRINBERG apud FERREIRA, 1994, p.141).

O jornal Folha de Londrina, por se tratar de um veículo de comunicação de grande

destaque da época, foi adotado como objeto de análise para que se torne possível identificar a

leitura que o mesmo fez da cidade de Londrina nos primeiros meses de 1970 e os movimentos

urbanos que nela ocorriam.

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O início da década de 1970 conta com a continuação do fenômeno de urbanização que

ocorria em âmbito nacional desde os anos 1950. Rodrigo Cunha, em seu texto Novas

Metrópoles Enfrentam Velhos Problemas (2002), aponta a década de 1950 como sendo a

gênese de tal fenômeno, pois foi a industrialização que ocorrera após a era JK, a responsável

por promover um crescente processo de urbanização e conseqüente aumento das principais

cidades brasileiras.

Tal crescimento urbano acarretou problemas. Londrina, que não ficou isenta de tal

processo, carecia de infra-estrutura e políticas públicas para comportar as mudanças

decorrentes de seu crescimento. No que diz respeito em termos de expansão físico-territorial,

a geógrafa que estuda a cidade de Londrina, Tania Maria Fresca, no texto Mudanças recentes

na expansão físico-territorial de Londrina (2002), cita Linardi e nos diz que Londrina, no

período

[...] ganhava maior dimensão, cresciam os vazios urbanos, tornava-se mais acentuada a segregação urbana, maior parcela da população sujeitando-se a conquistar um lugar na periferia. Aquele “zoneamento” até certo ponto espontâneo – pois não era formalizado – esboçado no momento da ocupação inicial da cidade, agora se tornava mais vigoroso; era perceptível dentro da cidade a configuração de áreas “mais nobres”, localizadas em áreas privilegiadas, enquanto outras áreas definiam-se como populares [...] a área central ficava reservada para o comércio e os negócios, e algumas avenidas e ruas privilegiadas, como reduto da classe “A”. Vazios urbanos, especulações, segregação espacial, expansão da periferia, entre outros problemas [...] faziam parte do repertório dessa cidade [...]. (LINARDI apud FRESCA, p. 244)

Como pode ser lido, a cidade apresentava crescimento populacional na zona urbana,

porém junto com ele estava a dificuldade da população de baixo poder aquisitivo em

conseguir fixar moradia, estando assim sujeitados à buscar seu espaço nos lugares periféricos

da cidade, pois a área central foi destinada aos negócios e à população da classe “A”.

Ao longo da década de 1960 o problema continua e órgãos, tanto nacionais quanto

regionais, são criados a fim de encontrar soluções. A respeito disso, o arquiteto João Baptista

Bortolotti, no livro Planejar é preciso: memórias do planejamento urbano de Londrina

(2007), aponta que

O problema da habitação não acontecia somente em Londrina, mas em todo

o Brasil. O Governo Militar da época, criou o BNH – Banco Nacional da

Habitação e o SFH – Sistema Financeiro da Habitação, em que o sistema era

estruturado por agentes nos estados e municípios. No Estado do Paraná foi

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criada a COHAPAR – Companhia de Habitação do Paraná para atender a

questão habitacional no estado. A COHAB – Companhia de Habitação foi

criada na esfera local para atender os municípios que fossem interessados em

desenvolver políticas habitacionais e a construção de casas. A COHAB-LD

de Londrina foi criada pela Lei Municipal nº 1.008 de 26 de agosto de 1965,

de acordo com as diretrizes e normas da Lei Federal nº 4.380 de 21 de agosto

de 1964. (BORTOLOTTI, 2007, p.109)

Na década de 1960, Londrina contava com uma população de 134.821 mil habitantes,

sendo 77.382 mil (57, 40%) a população urbana e 57.439 mil (42, 60%) a rural. Na década

seguinte, passou para 215.576 mil habitantes, sendo 156.352 mil (72,53%) moradores da

cidade, contra 59.224 mil (27,47%) moradores do campo.²

Foi a partir de 1970 que houve a atuação, de fato, da COHAB-LD e a concretização da

grande “virada” na expansão urbana (FRESCA, p.246). Sobre a configuração do espaço que

estava se formando decorrente do expressivo aumento populacional, ainda Fresca, chama a

atenção para o crescimento em direção a zona norte e enfatiza que

Tal direcionamento não se deu em razão da falta de outras áreas para edificação ou implantação de conjuntos habitacionais e loteamentos, mas de estratégia específica do poder público local em localizar os conjuntos habitacionais naquela área, bastante distante do centro da cidade e com enormes áreas vazias entre os conjuntos e a então malha urbana (FRESCA, 2002, p.246)

É possível perceber, pelo menos nos referentes meses pesquisados, que o foco do

jornal Folha de Londrina não está voltado para o planejamento e nascimento de tais conjuntos

habitacionais, eles não parecem ser motivo de atenção da imprensa londrinense. Os artigos

por nós encontrados durante a pesquisa no referido jornal dizem respeito às construções na

área central e nobre de Londrina³, como é o caso do “Edifício Conjunto Residencial

Araguaia”, construído pela CEBEL S.A – Imobiliária e situado, de acordo com a notícia, no

“aristocrático Jardim Canadá, próximo a esquina da Avenida Perimetral com a rua

Paranaguá”.

________________

² Fonte: IBGE, 2006 apud MARTINS, 2007, p.80

³ Por área nobre compreende-se aquela localizada no centro da cidade, reservada aos negócios e onde há um intenso fluxo de pessoas

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A Folha noticia a inauguração, ocorrida às onze da manhã do dia 07 de março de 1970.

A matéria, datada de 08 de março de 1970, foi motivo de grande destaque, pois tomou toda a

página 14 da edição de domingo.

Figura 1 – Fonte: Folha de Londrina, 08/03/1970. Acervo: CDPH.

Figuras 2 e 3 – Fonte: Folha de Londrina, 08/03/1970. Acervo: CDPH

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Figuras 4 e 5 – Fonte: Folha de Londrina, 08/03/1970. Acervo: CDPH

Figura 6 – Fonte: Folha de Londrina, 08/03/1970. Acervo: CDPH

Dois pontos merecem atenção especial: o primeiro diz respeito à maneira com que a

notícia foi apresentada. Nota-se a predominância e destaque das figuras públicas da cidade

presentes no evento.

A figura 2, que na página do jornal situa-se no canto esquerdo superior da página, tem

como destaque o bispo D. Geraldo Fernandes4 e o prefeito Dalton Paranaguá na típica

_________________________________

4 Dom Geraldo tomou posse da Diocese e foi seu primeiro Arcebispo, em 1970, quando a Diocese foi elevada à Arquidiocese. Também lecionou Direito Romano na UEL e inaugurou a nova catedral no dia 16/12/1972. Fonte: Revista Arquidiocese 50 anos.

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cena de inaugurações em que o laço é cortado. Logo atrás, a partir da esquerda conforme a

legenda, os Srs. Celso Lundgren (diretor presidente da CEBEL S.A – Imobiliária), Elpidio

Rodrigues (diretor comercial da CEBEL), Canuto Leocádio (gerente do Banco Nacional de

MG), juiz Gabriel Freceiro de Miranda, João Milanez (diretor-presidente do jornal Folha de

Londrina) e Paulo Castelo (diretor da imobiliária Castelo Branco). Na figura 3 temos os Srs.

Willy Kolnylnendyk, Armando Guerra (diretor de móveis Cimo) e novamente Celso

Lundgren. Na imagem 4, mais uma vez o prefeito, agora com o Sr. Fernando Antunes Santos

(à esquerda) e Elpidio Gomes Rodrigues. Na quinta figura, os srs. Willy Kolnylnendyk,

Gabriel Salles Ferreira (autor do projeto do Conjunto), Sebastião da Silva Caneca

(representante do Banco da Bahia), Paulo Castelo Branco, Celso Lundgren e Armanildo

Guerra. Já na sexta e última imagem, o Sr. Celso Lundgren está discursando, junto com os

Srs. Elpidio Rodrigues (diretor secretário da CEBEL), bispo D. Geraldo Fernandes, Gabriel

Freceiro de Miranda, o prefeito Dalton Paranaguá, João Milanez e Paulo Castelo Branco5.

Nota-se a presença de figuras londrinenses, além de representantes de bancos de

outros estados. Vales frisar, também, que apenas a figura representativa da Igreja Católica

comparecera ao evento, ou seja, percebe-se aí uma relação entre o empresariado londrinense e

a Igreja Católica da cidade, uma vez que figuras de outras religiões não estão presentes (pelo

menos conforme indica a notícia) no evento.

O segundo ponto que destacamos trata-se do lide da notícia. Segundo Marinês

Lonardoni (1999), sob o suporte teórico de van Dijk, lide

é a categoria que se apresenta no primeiro parágrafo da notícia, salvo algumas exceções em que o lide vem logo abaixo da manchete, em negrito, em tipo bold, em corpo menor do que a manchete. O lide deve expressar as características maiores de um evento noticioso: QUEM, O QUÊ, COMO, QUANDO, ONDE, POR QUÊ E PARA QUÊ. É o relato do fato principal, o mais importante da notícia feito de forma resumida. (LONARDI, 1999, p.114)

O conteúdo do lide da notícia em questão enfatiza a importância da obra inaugurada e

sua magnitude e arrojo, que é caracterizada por um “fino acabamento, amplas instalações e

linhas arquitetônicas arrojadas e funcionais”, conforme aponta o lide que é possível ser lido

na figura 1.

___________________

5As pessoas cuja função não foi possível identificar agora, o serão feitas ao longo da pesquisa.

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O relato noticioso - que se trata da expansão do lide, ou seja, a notícia6 (Lonardoni,

p.115) - trata-se, no caso, de um texto curto deixado em segundo plano em que, na primeira

coluna, a boa localização da obra e a magnitude da construção são realçadas; na segunda e

terceira colunas há a descrição das pessoas presentes e seus respectivos cargos e, por fim, a

quarta coluna se ocupa das demais obras realizadas pela imobiliária responsável pelo

Conjunto Residencial Araguaia, a CEBEL-S.A, em Londrina e região.

No mesmo raciocínio seguem-se duas outras análises. A primeira é referente às

imagens da construção da Catedral, que está localizada na Rua Padre Eugênio Hereter, 33 –

centro. A catedral passou por três mudanças, sendo a terceira, iniciada em 1968, a responsável

por sua aparência atual e o foco das notícias a seguir.

Estas imagens jornalísticas nos permitem recorrer à perspectiva de análise urbana

apontada por Kevin Lynch, quando estuda as espacialidades urbanas e classifica o conteúdo

das imagens das cidades, formuladas por seus usuários, em cinco tipos de elementos – vias,

limites, bairros, pontos nodais e marcos. Chamamos a atenção para esse ponto dos escritos de

Lynch, para tentar, nesse estudo preliminar, abordar as relações que a análise desse estudioso

permite sobre a representação da cidade de Londrina por meio das imagens produzidas pelo

jornal Folha de Londrina no inicio da década de 1970, que a nosso ver, contribuiu para que se

construísse uma idéia, ou uma imagem sobre a cidade, ou seja, uma representação sobre a

cidade.

A catedral de Londrina se insere, em nosso entendimento, no conceito de marco

urbano. Pelo autor

Em geral, são um objeto físico definido de maneira muito simples: edifício, sinal, loja ou montanha. Seu uso implica a escolha de um elemento a partir de um conjunto de possibilidades [...] São geralmente usados como indicadores de identidade, ou até de estrutura, e parecem tornar-se mais confiáveis à medida que um trajeto vai ficando cada vez mais conhecido. (LYNCH, 1997, p.53)

E um pouco mais adiante

_____________________________

6 As notícias e reportagens veiculadas no jornal Folha de Londrina nessa época não contam com a assinatura do repórter responsável. Quem fica a cargo, no entanto, é o diretor-proprietário, no caso João Milanez

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Uma vez que o uso de marcos implica a escolha de um elemento dentre um conjunto de possibilidades, a principal característica física dessa classe é a singularidade, algum aspecto que seja único ou memorável no contexto [...] O contraste entre figura e plano de fundo parece ser o fator principal. (LYNCH, 1997, p.88)

Seguindo esse raciocínio, podemos notar como o jornal contribui para formar a idéia

de marco para a Catedral Metropolitana que, se tratando de um edifício situado no centro da

cidade, local de intenso fluxo de indivíduos, foi e continua sendo ao longo do tempo um

importante ponto de referência para os habitantes.

A primeira notícia que consta sobre a obra, a partir do recorte temporal utilizado nessa

pesquisa, data de 29 de janeiro de 1970, com a manchete “A catedral de Londrina já tem

preço”. A partir daí, as notícias que seguem a respeito desse fato dizem respeito aos méritos

obtidos pela Comissão Pró Conclusão da Catedral, que tinha como presidente o juiz Gabriel

Frecceiro de Miranda. De acordo com a notícia, o objetivo da comissão era angariar fundos

para o pagamento das dívidas decorrentes da construção da Catedral, apelando para a elite

empresarial londrinense.

As três imagens apresentadas, na sequência, confirmam esse entrelaçado das relações

locais em torno da formação do marco Catedral, como pode ser conferido nas notícias:

Figura 7 – Fonte: Folha de Londrina, 03/03/1970. Acervo: CDPH.

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Figura 8 – Fonte: Folha de Londrina, 04/03/1970. Acervo: CDPH

Figura 9 – Fonte: Folha de Londrina, 10/03/1970. Acervo: CDPH

Nota-se, a partir das imagens acima, que as fotografias são exibidas com a mesma

estrutura (não só as exibidas no exemplo, como as demais recolhidas no jornal): tem-se o

presidente da comissão, que não por acaso, era o juiz Gabriel Frecceiro de Miranda junto com

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o diretor de divulgação, João Milanez – também diretor-proprietário do jornal Folha de

Londrina. Nas três imagens, os membros da comissão aparecem recolhendo o cheque das

mãos do doador. A expressão de satisfação, tanto do doador quanto dos beneficiados, também

é comum nas imagens7. Vale lembrar que essas duas figuras – o juiz Gabriel Freceiro e João

Milanez – estavam presentes na inauguração do Edifício Conjunto Residencial Araguaia

(fig.1).

É importante ressaltar que além de levar em consideração o contexto histórico e a

posição do fotógrafo do jornal ao tirar a fotografia procurando apontar o ângulo destacado,

deve-se ater também para a imagem que o fotografado quer passar de si e do momento em

questão. Nesse caso, nos levar a crer que o empresariado estava diretamente ligado com as

obras da cidade, até mesmo as de caráter religioso. Tal afirmação é possível ser feita a partir

do próprio conteúdo do texto das notícias. Conforme o texto da figura 7, carnês foram

distribuídos para os empresários para que, através destes, fizessem suas doações. Já os textos

das figuras 8 e 9 fazem menção ao apoio do empresariado londrinense e ao sucesso da

campanha, em passagens como: “Continua a ter a mais ampla receptividade entre os

empresários londrinenses a campanha que vem sendo desenvolvida em prol da construção da

Catedral” (figura 8) e “Se depender dos homens de empresas londrinenses não vai haver

grandes problemas para a construção da Catedral” (figura 9), ambas como primeira frase

das respectivas notícias.

Outro ponto a ser frisado e novamente comentado é que o diretor de divulgação da

Comissão, Sr. João Milanez, sempre está presente nas fotos e é também o dono do jornal

Folha de Londrina, veículo onde tais notícias estão sendo expostas. Como podemos ver, a

Catedral de Londrina, mesmo sendo um templo religioso e marco natural na cidade, teve sua

condição reforçada pelo jornal na representação do lugar que ocupa hoje na espacialidade

urbana, desde o início da década de 1970.

___________________________

7Sobre isso, vale apontar o que Richard Gonçalvez André (2000) pontua que “Além do fotógrafo e seus condicionamentos, deve-se ter em mente que, em certos casos, o resultado final da fotografia é uma operação influenciada, também, pelo fotografado. Este, tal como o operador, não permanece passivo diante das lentes, mas fabrica uma segunda imagem de si, uma auto-representação que não pertence à natureza, mas à cultura. (p.158)

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A terceira notícia a ser tratada é referente às negociações da construção da Universidade

Estadual de Londrina.

Figura 10 – Fonte: Folha de Londrina, 11/03/1970. Acervo: CDPH.

Aqui também percebemos que a imagem publicada quando se trata de mais uma obra

na cidade é a de homens – no caso uma comissão, conforme a legenda – supostamente

negociando e discutindo sobre o assunto. Suas expressões e posturas nos passam a idéia da

seriedade e importância dos mesmos e do assunto tratado. Aqui, porém, não se tratam de

empresários – como nas notícias da catedral -, mas sim de professores que compõem a

comissão criada justamente pela construção da universidade.

É importante ressaltar e relembrar o período no qual tais eventos que foram relatados

estão inseridos. Temos, no início dos anos 70, o período mais ferrenho da Ditadura Militar –

no sentido de repressão política e opiniões contraditórias, com Garrastazu Médici (1969-

1973) na presidência – e também o do chamado “milagre econômico”, período em que a

economia brasileira, através de medidas iniciadas no governo anterior, o de Castelo Branco

(1964-1968), atingira níveis notáveis de crescimento para o Brasil, conforme aponta Thomas

Skidmore no livro Brasil: de Castelo a Tancredo (1988). Já Londrina era governada pelo

prefeito Dalton Fonseca Paranaguá, eleito pela legenda do Movimento Democrático

Brasileiro – MDB, o partido de oposição ao governo.

É possível pensar na relação entre a política nacional no início de 1970, os fenômenos

urbanos que ocorriam em Londrina no mesmo período e as notícias veiculadas pelo jornal

Folha de Londrina no que diz respeito à esfera urbana. Uma vez que um dos objetivos do

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governo era justamente usar o milagre econômico e o processo de urbanização pelo qual as

cidades brasileiras estavam passando como objeto de propaganda, é possível perceber que o

que era exibido abordava apenas os aspectos positivos, deixando às margens os problemas

acarretados com isso, como o contraste econômico-social provocado pelo “milagre

econômico” e a falta de estrutura das cidades brasileiras quando deparadas com o grande

contingente populacional e mudanças urbanas realizadas.

Diante do exposto e com o cruzamento do conteúdo obtido através do jornal Folha de

Londrina, o que é possível perceber é que o jornal também seguiu a linha propagandística da

cidade de Londrina. Isso não quer dizer que os gestores da cidade na época, nem que o jornal

Folha de Londrina compactuavam com o regime militar; porém o que foi percebido com a

análise feita até então é que, da mesma maneira com que Londrina acompanhou os fenômenos

de urbanização que ocorriam no Brasil, também estava sendo feita uma cobertura que

destacava os pontos positivos da urbanização da cidade e de construções que consideramos

aqui como marcos da cidade, segundo a perspectiva de Kevin Lynch, mas enfatizavam a

participação dos recursos oriundos do governo federal. Os problemas referentes à estrutura –

ou a falta de – urbana e os enfrentados pela baixa camada da população não tinham destaque,

nem tomavam páginas inteiras das edições.

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FONTE

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