a imagem da cidade kevin lynch final

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Percepção paisagem

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Page 1: A Imagem Da Cidade Kevin Lynch FINAL

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Page 2: A Imagem Da Cidade Kevin Lynch FINAL

 IMAGEM

DÂ CIDADE Kevin Lynch

Page 3: A Imagem Da Cidade Kevin Lynch FINAL

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ÍNDICE

Prefácio Ml

Capítulo lA Imagem do ambiente 1

Ilegibilidade, 3 - A construção da imagem. 7; Lstruuua c Lãcsn i 9; Imaginmiiliciade. L L

t 'aphulo 2Três cidades 17

Boston- 3 9 ; Jerscy City, 2$; Los Angeles. 36 ; Temas cornous. 4S.

Liípiuilo 3A imagem da cidade c seus eiemciitos 51

VLa3 = 34; Limbes, 69 ; Bairros, 74 ; Pontos nodsis, Sü ; Marcos, SS;3 plcr-relações de elementos, 93; A imagem mutável, 93: A qualida­de da imagem, 97.

Capitulo 4A lorma da cidade 101

O descnlro úas rtias, 106; O dcsign de outros elememos, 13 0; Qualidades de forma, 317; O somklo do iodo, 12 3: A iorma melro- nolilami, 323; O processo de design. 329.

í .ipimlo 3í ima nova escala 133

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Apêndices

Apêndice AAlgumas referências à orientação

J ipos ele sioeiijaí- reicíeneiais, 145; [Oniiacae. ljíi imagem, \ -

papel da imma, ] 52; Desvai^ügens da miàgliiabil idade, 150

Apêndice RO uso do método

O mci-ooo ccmio oas-e paia ei íJCY/gvr, I Sugcsíccs para uma çLiiíC' umua, tíO.

Apêndice CDois exemplos de análise

Bcacon Hil], 185: A Vi-açs Scoltav, L99.

Bíbfiogrqfía h tdíce renussivo

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PREFÁCIO

Este livro trata da fisionomia das cidades, do fato de essa fi­sionomia ter ou não alguma importância e da possibilidade de modificá-la. Entre seus inúmeros papéis, a paisagem urbana lambem é algo a ser visto e lembrado, um conjunto de elemen­tos do qual esperamos que nos dê prazer. Dar forma visual à ci­dade é um tipo especial de problema de dessgti. e, de resto, um problema relativamente recente.

Para examiná-lo, o livro analisa três cidades norte-america­nas: Boston, iersey City e Los Angeles, Sugerindo um método por meio do qual poderiamos começara lidar com a forma visual em escala urbana, propõe alguns princípios básicos de design ur­bano.

O trabalho que fundamenta este estudo foi realizado sob mi­nha direção e a do professor Gyorgy Kepes, no Centro de Estudos Urbanos e Regionais do Massaehusetts instituto of iccbuology. Durante muitos anos, foi generosa mente patrocina­do por fundos da Fundação Rockefelier. O livro está sendo pu­blicado como o primeiro de uma série de volumes do Joint e.'enter for Urban Studies [Centro Conjunto de Estudos Urbanos] do M.ET. e da Universidade de Harvard* órgão criado a partir das atividades de pesquisa urbana dessas duas instituições.

Como em qualquer obra de natureza intelectual, o conteúdo provém de fontes múltiplas e difíceis de reconstituir. Vários pes-

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VIII A IWA&Cr/ DA CSM O Í

quisadores contribuíram di rolamento para o desenvolvimento deste estudo: Davícl Crane, Bernard Rdedem Wüliam Alonso, Frank Hotehkiss, Bichara Dober e Mary Ellen Beteis {atualmen­te sra. Alonso). Sou muito grato a todos eles,

Um nome deveria vir junto com o meu na capa, não fosse a possibilidade de que ele viesse a ser responsabilizado pelas fa­lhas do livro. Esse nome e Gyorgy Kepes. O desenvolvimento detalhado e os estudos concretos sào meus, mas os conceitos subjacentes loram gerados ao longo de muitas conversas com o professor Kepes. Hu estaria em falta com ele se desassoeiasse mínhas idéias das suas. Para mim, foram anos de um extraordi­nário trabalho conjunto.

Kj- vín Lynch

MJ.T.Dezembro de 1959

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CAPÍTULO 1 A IMAGEM DO AMBIENTE

Olhar para as cidades pode dar um prazer especial, por mais comum que possa ser o panorama. Como obra arquitetônica, a ci­dade é uma construção no espaço, mas uma construção em gran­de escala; uma coisa só percebida no decorrei' de longos períodos de tempo. O desigu de uma cidade é, portanto, tuna arte tempo­ral, mas raramente pode usar as seqüencias controladas e limita­das de outras artes temporais, como a música, por exemplo. Em ocasiões diferentes e para pessoas diferentes, as seqüencias são invertidas, interrompidas, abandonadas e atravessadas. A cidade e vista sob todas as luzes e condições atmosféricas possíveis.

A cada instante» há mais do que o olho pode ver, mais do que ü ouvido pode perceber, um cenário ou uma paisagem esperan­do para serem explorados. Nada é viveucíado em si mesmo, mas íiirmpre em relação aos seus arredores, às seqüencias de elemen­tos que a ele conduzem, à lembrança de experiências passadas, transposta para os campos de uma fazenda, a Rua Washington I iodei ia assemelhar-se à ma comercial do coração de Boston, más ainda assim parecería proftmd amente diferente do que c. i 'ada cidadão tem vastas associações com alguma parte de sua • idade, e a imagem de cada um está impregnada de lembranças o Nijnii ficados.

Üs elementos móveis de uma cidade e, em especial, as pes- vnw, í-: suas atividades, sào tão importantes quanto as parles frsi~

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1 A IMAGEM DA CIDADE

cas estacionárias. Não somos meros observadores desse espeta- culo. mas parte dele; compartilhamos o mesmo palco com os ou­tros participantes. Na masorla das vezes, nossa percepção da ci­dade não é abrangente, mas ames parcial, fragmentária, mistura­da com considerações de outra natureza. Quase todos os sentidos estão em operação, e a imagem e uma combinação de todos eles.

A cidade não é apenas um objeto percebido (e talvez desfru­tado) por milhões de pessoas de classes sociais e características extremamente diversas, mas também o produto de muitos cons­trutores que, por razões próprias, mmca deixam de modificar sua estrutura. Se, em linhas gerais, ela pode ser estável por algum tempo, por outro lado está sempre se modificando nos detalhes. Só um controle parcial pode ser exercido sobre seu crescimento e sua forma. Nào há resultado final, mas apenas uma contínua sucessão de fases. Não admira, portanto, que a arte de dar for­mas às cidades para o prazer dos sentidos seja bastante diversa da arquitetura, da música ou da literatura. Ela tem muito a apren­der com essas outras artes, mas não pode imitá-las.

Um ambiente urbano belo e aprazível constitui uma singula­ridade, ou, como diríam alguns, uma impossibilidade. Nenhuma cidade norte-americana maior que um vilarejo é consistente em termos de beleza, ainda que algumas delas contenham um certo número de fragmentos agradáveis. Assim, realmente não sur­preende que a maioria dos norte-americanos tenha uma idéia muito difusa do que pode significar viver em tal ambiente. Eles são suficientemente conscientes da ieiúra do mundo em que vi­vem, e bastante eloquentes a propósito da sujeira, da fumaça, de calor, do congestionamento, do caos e, ainda assim, da monoto­nia de suas cidades. Mas praticamente não têm consciência do valor potencial de entornos harmoniosos, de um mundo que tal­vez só tenham relanceado de passagem, conto turistas ou viajan­tes ocasionais. Eles podem ter uma consciência muito tênue da­quilo que um determinado espaço pode significar em termos de prazer cotidiano, ou como um refúgio permanente para as suas vidas, ou, ainda, como uma extensão do significado e da riqueza do mundo.

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Legibilidade

Este livro vai examinar a e] uai idade visual da cidade norte- americana por meio do estudo da imagem mental qne dela fazem os seus habitantes. Vai cone entrar-se, especialmeme, numa qua­lidade visual especifica: a clareza ou “ legibilidade’' aparente da paisagem das cidades. Com esses termos, pretendemos intimar a facilidade com que suas partes podem ser reconhecidas e organi­zadas num modelo coerente. Assim como esta página impressa, desde que legível, pode ser visualmente apreendida como um modelo correlato de símbolos identificáveis, uma cidade legível seria aquela cujos bairros, marcos ou vias fossem facilmente re­conhecíveis e agrupados num modelo gerab

Este livro vai afirmar que a legibilidade e crucial para o ce­nário urbano, vai analisá-lo de modo razoavelmente detalhado e lomar mostrar de que modo esse conceito podería ser usado, em nossos dias, para dar um a nova forma às cidades. Como o leitor logo perceberá, este estudo 6 uma exploração preliminar, uma I ir Inteira palavra, e não uma palavra definitiva; uma tentativa de formar um repertório de ídéías e sugerir de que modo elas pode- nam ser desenvolvidas e testadas. O tom do livro será especula­tivo, talvez um pouco irresponsável, ao mesmo tempo experi­mental e presunçoso. Este primeiro capítulo vai desenvolver al­gumas das idéias básicas; nos capítulos seguintes, elas ser ao aplicadas a várias cidades norte-americanas, e discutiremos as mas eonseqüências para o design urbano.

Ainda que a clareza ou a legibilidade nào seja, de modo al­gum. o único atributo importante de uma bela cidade, é algo que

reveste de uma importância especial quando consideramos os ■si i ilmuites na escala urbana de dimensão, tempo c complexidade, faia compreender isso, devemos levar em consideração nào ape­nas a cidade como uma coisa em si, mas a cidade do modo como a percebem seus habitantes.

I xíruturar e identificar o ambiente ê uma capacidade vital em m: todos os animais que se locomovem. Muitos tipos de indica- dures sào usados: as sensações visuais de cor, forma, moviniem m híli polarização da luz, além de outros sentidos como o olfato.

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4 A IVIA^l A-I DA Ü DA lÃ

a audição, o tato, a ciuestesia, o sentido da gravidade e, talvez, dos campos elétricos ou magnéticos. Essas técnicas de orienta­ção. desde o voo polar de uma andorinha-do-mar até o caminho percorrido por um molusco sobre a microtopografia de tuna ro­cha, são descritas e tem sua importância enfatizada numa vasta literatura1"- 1,1 A O s psicólogos também tem estudado essa capa­cidade no homem, ainda que apenas de modo vago ou cm condi­ções limitadas de laboratório1-' s-i:-5' í0- A Apesar de alguns problemas ai tida por decifrar, hoje parece improvável que exista qualquer “instinto" místico associado ã descoberta de caminhos. Pelo contrário, há um uso e uma organização consistentes de in­dicadores senso ri ais inequívocos a parti]' do ambiente externo. Essa organização é fundamental para a eficiência e para a pró­pria sobrevivência da vida em livre movimento.

Perder-se completa mente talvez seja uma experiência basta ei- te rara para a maioria das pessoas que vivem iva cidade moderna. Contamos com o reforço da presença dos outros e com recursos especiais para a nossa orientação: mapas, números de ruas, sinais de trânsito, placas de itinerários de Ônibus. Mas. se alguém so­frer o contratempo da desorientação, o sentimento de angústia - e mesmo de terror -- que o acompanha irá mostrar com que in­tensidade a orientação é importante para a nossa sensação de equilíbrio e bem-estar. A propósito, a palavra “perdido” remete a muito mais que à simples incerteza geográfica, trazendo consigo implicações de completo desastre.

No processo de orientação, o elo estratégico é a imagem am­biental, o quadro mental getteralizado do mundo físico exterior de que cada indivíduo é portador. Essa imagem é produto tanto da sensação imediata quanto da lembrança de experiências pas­sadas, e seu uso se presta a interpretar as informações e orientar a ação. A necessidade de reconhecer e padronizar nosso ambien­te é tão cruciai e tem raízes tão profundamente arraigadas tto passado, que essa imagem é de enorme importa tida prática e emocional para o indivíduo.

Sem dúvida, uma imagem clara nos permite uma locomoção mais fácil e rápida: encontrar a casa de um amigo, um policial ou um armarinho. Contudo, um ambiente ordenado pode fazer mais

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do que isso; pode servir como um vasto sistema de referências, um organizador da atividade, da crença ou do conhecimento. Com base muna compreensão estrutural de Manhattan, por exemplo, ê possível ordenar uma quantidade substancial de fatos0 fantasias sobre a natureza do mundo em qtte vivemos. A exem­plo de qualquer estrutura competente, esta dá ao indivíduo uma possibilidade de escolha e um ponto de partida para a aquisição de novas informações. Portanto, uma imagem clara do entorno constitui uma base valiosa para o desenvolvimento individual.

Um cenário físico vivo e integrado, capaz de produzir uma imagem bem definida, desempenha também um papel social. Pode fornecer a matéria-prima para os símbolos e as remíniscên- cias coletivas da comunicação de grupo. Uma paisagem admirá­vel é o esqueleto sobre o qual muitas raças primitivas eregem seus mitos socialmente importantes. Durante a guerra, as recor­dações comuns da “cidade natal" eram quase sempre o primeiro c mais fácil ponto de contato entre os soldados solitários.

Uma boa imagem ambiental oferece a seu possuidor um im­portante sentimento de segurança emocional. He pode estabele­cer uma relação harmoniosa entre ele e o mundo à sua volta. Isso c o extremo oposto do medo que decorre da desorientação; sig­nifica qtte o doce sentimento da terra natal é mais forte quando não apenas esta é familiar, mas característica.

Na verdade, um ambiente característico e legível não oferece .=ipenas segurança, mas também reforça a profundidade e a inten­sidade potenciais da experiência humana. Embora a vida esteja longe de ser impossível no caos visual da cidade moderna, a mesma ação cotidiana poderia assumir um novo significado se tosse praticada num cenário de maior clareza. Potencial mente, a1 idade é em si o símbolo poderoso de uma sociedade complexa.

hem organizada em termos visuais, ela iam bem pode ter um U\\ic significado expressivo.

t 'mitra a importância da legibilidade física, pode-se argumen- uu t}11o o cérebro humano é maravilhosamente adaptável, que, com alguma experiência, é possível aprendermos a encontrar os íhNnos caminhos até mesmo num entorno dos mais desorganiza- Ãi?: descaracterizados. Há exemplos abundantes de navegação

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6 A IVIAGEW OA CiOADS

precisa em meio ao "descaminho” de vastas extensões de água, areia olé gelo, o li através do complexo emaranhado das florestas.

Contudo, até mesmo o mar tem o sol e as estrelas, os ventos, as correntes, os passaros e as cores, sem os qttais a navegação sem instrumentos seria impossível. O fato de que só profissionais experientes conseguiam navegar entre as ilhas da Pollnésia, e mesmo assim so depois de muito treino, indica as dificuldades impostas por esse ambiente específico. A tensão e a ansiedade acompanhavam até mesmo as expedições muito bem preparadas.

Em nosso mundo, poderiamos dizer que quase todos podem, desde que atentos, aprender a “navegar" em Jersey City, mas só ao preço de algum esforço e incerteza. Além do mais, os valores posi­tivos de enlornos legíveis estão ausentes: a satisfação emocional, a estrutura da comunicação ou da organização conceiuia], os novos aprofundamentos que podem sei1 trazidos para a experiência coti­diana. São prazeres dos quais carecemos, mesmo quando o am­biente atual de nossa cidade não é tão desordenado a ponto de im­por uma tensão intolerável aos que estão familiarizados com ele.

E preciso afirmar que existe algum valor na mistificação, no labirinto ou na surpresa provocados pelo ambiente. Muitos de nós apreciam a Casa dos Espelhos, e existe um certo encanto nas mas tortas de Boston. Não obstante, ele só existe observadas dtias con­dições. Primeiro, não deve haver o risco ele perder a forma básica ou a orientação, de não se encontrar o caminho procurado. A sur­presa deve ocorrer dentro de uma estrutura geral, a confusão deve í dar-se em pequenas regiões dentro de um todo visível. Além dis- so, o labirinto ou o mistério deve conter, em si, alguma forma que i possa set explorada e apreendida no devido tempo. O caos total, } sem qualquer indício de conexão, não é nunca agradável. í

iContudo, estas últimas afirmações apontam para uma impor- 1

tante ressalva. O observador deve ter um papel ativo na percep- i ção do mundo e uma participação criativa no desenvolvimento li de sua imagem. Deve sei1 capaz de transformar essa imagem de k modo a ajustá-la a necessidades variáveis. Um ambiente ordena- i do em detalhes precisos e definitivos pode inibir novos modelos í de atividade. Uma paisagem na quaí cada pedra conta uma bis- |

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tória pode dificultar a criação de novas histórias. Ainda que isso possa não parecer ima problema critico em nosso caos urbano amai. mesmo assim indica que o que procuramos não é uma or­dem definitiva, mas uma ordem aberta, passível de continuidade em seu desenvolvimento.

A construção íia imagem

As imagens ambientais são o resultado de um processo bila­teral entre o observador e seu ambiente. Este último sugere espe- eificidades e relações, e o observador - com grande capacidade de adaptação e à luz de seus próprios objetivos - seleciona, organiza e confere significado àquilo que vê. A imagem assim desenvolvida limita e enfatiza o que é visto, enquanto a imagem em si é testada, num processo constante de interação, contra a in­formação perceptiva filtrada. Desse modo, a imagem de uma de- lerminada realidade pode variar significativamente cttire obser­vadores diferentes.

A coerência da imagem pode manifestar-se de diversas ma­neiras. No objeto real, pode haver pouca coisa ordenada ou dig­na de nota, mas ainda assttn a sua imagem mental terá adquirido identidade e organização através de uma longa familiaridade uiin cie. D ma pessoa pode ser capaz de encontrar objetos com facilidade num espaço que, para qualquer outra, parece total- luente desordenado. Por outro lado, um objeto visto pela primei­ra vez pode ser identificado e relacionado não pelo fato de ser in­dividualmente familiar, mas por ajustar-se a um estereótipo já í. tçtdo pelo observador. Um norte-americano sempre è capaz de dwcobrir a farmácia da esquina, por mais indistinguível que ela píivsa parecer a um bosquimano. Repetindo, um Etovo objeto onde dar a impressão de ter uma estrutura ou uma identidade só­lida devido a características físicas notáveis que sugerem ou im­põem seu próprio padrão. Assim, o mar ou uma grande monta­nha pode prender a atenção de uma pessoa saída das planícies do hitçnnr, mesmo que seja tão jovem ou provinciana que nem sai­ba ■:Eii nome a esses grandiosos fenômenos.

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Como manipuladores do ambiente físico, os urbanistas inte­ressam-se basicamente pelo agente extern o da interação que pro­duz a imagem ambiental. Ambientes diferentes dificultam ou fa­cilitam o processo de criação de imagens. Qualquer forma dada - um belo vaso ou um pedaço de argila - lerá uma probabilida­de aiía ou baixa de evocai1 uma imagem forte entre observadores diversos. Presumivelmente, essa probabilidade pode ser afirma­da com precisão cada vez maior à medida que os observadores sejam agrupados em classes cada vez mais homogêneas de ida­de, sexo. cultura, profissão, temperamento ou grau de familiari­dade. Cada indivíduo cria e assume sua própria imagem, mas pa­rece existii1 um consenso substancial entre membros do mesmo grupo. Essas imagens de grupo, consensuais a um número signi­ficativo de observadores, é que interessam aos planejadores ur­banos dedicados ã criação de um ambiente que venha a ser usa­do por muitas pessoas.

Portanto, este estudo tenderá a passar por cima das diferenças individuais, por mais interessantes que possam sei1 para o psicó­logo. A primeira categoria abordada será aquilo que poderiamos chamar de “imagens públicas7’, as imagens mentais comuns a vastos contingentes de habitantes de uma cidade: áreas consen­suais que sc pode esperar surjam da interação de uma única rea­lidade física, de uma cultura comum c de uma natureza fisioló­gica básica.

Os sistemas de orientação que tem sido usados variam ampla­mente no mundo todo, mudando de cultura para cultura e de pai­sagem para paisagem. O Apêndice A traz exemplos de muitos deles: os sistemas direcionais abstratos e fixos, os sistemas mó­veis e aqueles direcionados à pessoa, à casa ou ao mar. O mun­do pode ser organizado em torno de um conjunto de pontos fo­cais, ou fragmentado em regiões designadas por nomes, ou, ain­da, interligado por caudilhos passíveis de serem lembrados. Variados como são esses métodos, e inesgotáveis como parecem ser os indicadores potenciais que um homem pode selecionar para diferenciar seu mundo, eles proporcionam interessantes in­formações subsidiárias sobre os meios que Etoje usamos para nos localizarmos eni nosso mundo urbano. Em sua maior parte, es­

ses exemplos parecein repercutir, de modo bastante curioso, os lipos formais de elementos imagistieos nos quais podemos ade­quadamente dividir a imagem da cidade: vias, marcos, limites, pontos ttodais e bairros. Esses elementos setão definidos e dis­cutidos no Capitulo V

Estrutura e identidade

Uma imagem ambiental pode ser decomposta em três compo­nentes: identidade, estrutura e significado. E conveniente abs- imidos para a análise, desde que não se perca de vista qiae Sem­pra aparecem juntos. Uma imagem viável requer, primeiro, a identificação de um objeto, o que implica sua diferenciação de miíras coisas, seu reconhecimento enquanto entidade separável. A isso se dá o nome de identidade, não no sentido de igualdade com alguma outra coisa, mas com o significado de individuali­dade ou unícidade. Em segundo lugar, a imagem deve incluir a

; ralação espacial ou paradigmática do objeto com o observador e ; m outros objetos. Por último, esse objeto deve ter algum siguifi- i h ji,;ki para o observador, seja ele prático ou emocional. O significa-

do lambem é uma relação, ainda que bastante diversa da relação i espadai ou paradigmática.

Assim, uma imagem útil para a indicação de uma saída requer 1 o ú-cottbecEmento de uma porta como entidade distinta, de sua l ralação espacial com o observador e de seu significado enquan- i u* iihertura para sair Esses fatores não são verdadeiramettte se- í õãrázeis. O reconhecimento visual de uma porta mistura-se com

mu significado enquanto porta. Ainda assitn, é possível analisar i l" -i la em termos de sua identidade de forma e clareza de posi- f consideradas como se fossem anteriores ao seu significado.

I va proeza analítica podería ser inútil no caso do estudo de I : : 11 porta, mas não o seria para o estudo do ambiente urbano. | Um começar, a questão do significado na cidade é muito com-

;••• •• ? As imagens grupais de significado tendem a ser menos ^; tctikv. nesse nível do que as percepções de identidade e re-

• UMo Além do mais, o significado não é tão facilmente iniluen-

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ciado pela manipulação física como esses outros dois componen­tes. Se temos o objetivo de construir cidades para o desfrute de um imenso número de pessoas de formação e experiência extre­mamente diversas - e cidades que também sejam adaptáveis a objetivos futuros -, devemos ter também a sabedoria de nos con­centrar na cíareza física da imagem e permitir que o significado se desenvolva sem nossa orientação direta. A imagem da skvlínc, da silhueta de Manhattan pode ser um símbolo de vitalidade, po­der, decadência, mistério, congestionamento, grandiosidade ou o que mais se queira, mas, em cada caso, essa imagem vigorosa cristaliza e reforça o significado. Os significados individuais da cidade são tão variados, mesmo quando sua forma pode ser fa­cilmente comunicável, que parece ser impossível separar signifi­cado e forma, pelo menos nos estágios iniciais da análise. O pre­sente estudo, portanto, vai concentrar-se na identidade e na es­trutura das imagens da cidade.

Para ter valor em termos de orientação tio espaço ocupado pe­las pessoas, uma imagem precisa ter várias qualidades. Deve ser suficiente, verdadeira em sentido pragmático, permitindo que o indivíduo atue dentro do seu ambiente na medida de suas neces­sidades. O mapa, seja ele exato ou não, deve ser bom o suficien­te para nos conduzir ao nosso destino. Deve ser sufieícntemente: claro e bem integrado para tornar-se econômico em termos de; esforço mental: o mapa deve ser legível. Deve ser seguro e con- ; ter indicações suplementares que tomem possíveis as ações alter­nativas, sem grande risco de insucesso. Se uma luz intermitente é o único sinal existente numa curva perigosa, a falta de energia elé­trica pode provocar um desastre. É preferível que a imagem seja aberta e adaptável à mudança, permitindo que o indivíduo conti­nue a investigar e organizar a realidade: deve haver espaços em branco nos quais ele possa ampliar pessoalmente o desenho. Por último, a imagem deve ser, ate certo ponto, comunicável a outros indivíduos. A importância relativa desses critérios de uma iLboa’" imagem irá variar com diferentes pessoas em diferentes contex­tos; enquanto uma vai louvar um sistema econômico e suficien­te, outra apreciará um sistema aberto e comunicável.

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Smagmabilidadc

Uma vez que nossa ênfase vai iEteidir sobre o ambiente físico como a variável independente, este estudo procurará definir as qualidades físicas relacionadas aos atributos de identidade e es­trutura na imagem ment;d. Isso nos leva ei definição daquilo que se poderia chamar de imagiitabilidadir. a característica, num ob­jeto físico, que lhe confere uma alta probabilidade de evocar uma imagem forte em qualquer observador dado. E aquela forma, cot­ou disposição que facilita a criação de imagens mentais dara- me nte identificadas, poderosamente estruturadas e extreinamen­to úteis do ambiente. Também poderiamos chamá-la de legibili­dade ou, talvez, de visibilidade num sentido mais profundo, em que os objetos não são apenas passíveis de serem vistos, mas lambem nítida e intensameme presentes aos sentidos.

Há meio século, Stern discutiu esse atributo de um objeto de arte e chamou-o de aparênciaA Ainda que a arte nào se limite a esse único fim, ele achava que uma de suas funções básicas ceo “criar imagens que, por sua clareza e harmonia formal, satisfa­zem a necessidade que se tem de uma aparência claramente com- pEoensíveU. Para Stern, esse era um primeiro passo fundamental para a expressão do significado interior.

Uma cidade altamente “imaginável", nesse sentido espeeífi- ni (evidente, legível ou visível), parecería bem formada, rfistin- i;i, digna de nota; convidaria o olho e o ouvido a uma atenção e paitíeipaçâo maiores. O domínio seusorial de ta! espaço não se­mi apenas simplificado, mas igualmente ampliado e aprofunda­do. Uma cidade assim seria Empreendida, com o passar do tempo, como um modelo de alta continuidade com muitas partes distin- ifv;is claramente interligadas. O observador sensível e familiari- muIo poderia absorver novos impactos sensoriais sem a ruptura ik sua imagem básica, e cada novo impacto nào rompe ri a a fíga- Mto com muitos elementos jã existentes. Ele seria bem orientado e pode ri a deslocar-se com facilidade. A cidade de Veneza pode- i ia ser tomada como exemplo de um ambiente assim, dotado de Um i i na g inábil idade. Nos Estados Unidos, somos tentados a ci- Hi partes de Manhattan, San Francisco, Boston ou, talvez, a pat- ir liLçustre de Chicago.

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Ustas sào caracterizações que decorrem de nossas definições. O conceito de imaginabilidade não eonota, necessariamente, al­guma coisa fixa, limitada, precisa, unificada ou regularmente or­denada, embora às vezes possa possuir tais qualidades. Também não significa evidente a um relance, óbvio, ostensivo ou explici­to. O ambiente total a ser modelado é extrema mente complexo, enquanto a imagem óbvia logo se torna eidadouba e capaz ape­nas de citam ai' a atenção para um número limitado de caracterís­ticas do espaço vital.

A jmaginabilidade da forma urbana será o centro do estudo apresentado a seguir. Um ambiente bonito tem outras proprieda­des básicas: significado ou expressividade, prazer sensoriaí, rit­mo, estimulo, escolha. Nossa concentração na jmaginabilidade não nega a importância delas. Nosso objetivo consiste apenas em levar em conta a necessidade de identidade e estrutura em nosso mundo perceptivo, e ilustrar a relevância especial dessa qualida­de para o caso específico do espaço urbano, complexo c mutável.

Uma vez que o desenvolvimento da imagem é um processo in­terativo entre observador e coisa observada, é possível reforçar a imagem tanto através de artifícios simbólicos e do reaprendizado de quem a percebe como através da reformulação no seu entorno. Podemos olerecer ao observador um diagrama simbólico de como o mundo forma uma unidade: um mapa ou um conjunto de instru­ções escritas. Se ele for capaz de ajustar a realidade ao diagrama, estará de posse de um indicador da relação entre as coisas. Também é possível instalar uma máquina que dê orientação, como há pouco se fez em Nova YorkT Se, por um lado, tais aitificios são bastante úteis para oferecer dados condensados sobre as conexões, por outro lado são também precários, uma vez que a orientação deixará de existir na ausência do artifício, o qual, por sua vez, pre­cisa ser consiantemente reportado e ajustado à realidade. Os casos de lesão cerebral apresentados no Apêndice A ilustram a angústia e o esforço que podem decorrer da total confiança em tais meios. Além do mais, estarão ausentes a experiência completa da cone­xão e a profundidade total de uma imagem viva.

Também é possível treinar o observador. B iw n observa que um labirinto pelo qual se pediu a algumas pessoas que aitdassem

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tíe olhos vendados pareceu-lhes, de início, um problema insolú­vel, Quando a experiência foi repetida, parles da disposição do espaço -- sobrem do o começo e o fim - tornaram-se familiares e assumiram a característica de um lugar conhecido. Por último, q li a tido os participantes da experiência conseguiram andar pelo labirinto sem cometer erros, o sistema deu-lhes a impressão de ter-se transformado num lugar conhecidos De Silva descreve o caso de um menino que parecia ter orientação direcional ^auto­mática1'; mas descobriu-se que fora treinado desde a iniaticia (por uma mãe incapaz de distinguir entre direita e esquerda) a lo­comovei-se em termos do "Sado leste da varanda" ou da “extre­midade sul da penteadeira'1'1.

O relato de Shipton sobre o trabalho de reconhecimento para a escalada do Everest apresenta um caso dramático de tal üpo de aprendizado. Ao aproximar-se do Everesi a partir de uma nova direção, Shipton imediata mente reconheceu os picos e as depres­sões principais que já conhecia do lado noite. Mas o guia sberpa que o acompanhava, para quem os dois lados eram há muito co­nhecidos, nunca antes percebera tratar-se dos mesmos lugares, recebendo a revelação com surpresa e alegram.

Kílpatrick descreve o processo de aprendizagem perceptiva imposto a um observador mediante novos estímulos que não mais se ajustam a imagens anteriores"1. Começa pelas formas hi­potéticas que explicam os novos estímulos conceitualmente, en­quanto a ilusão das fonnas antigas persiste. A experiência pes­soal da maioria de nós irá testemunhar essa persistência de uma imagem ilusória ainda por muito tempo depois que sua inade­quação tenha sido conceitualmente percebida. Olhamos fixa- i a ente para a floresta e só vemos a luz do sol incidindo nas to­lhas verdes, mas um ruído nos adverte de que um animal está es­condido alí. O observador então aprende a interpretar a cena ao escolher dicas do tipo “indício delator'1 e reavaliar sinais anterío- ics. O animal camuflado agora pode ser percebido pelo reflexo dc seus olhos. Finalmente. através da repetição da experiência, rodo o modelo de percepção é alterado, e o observador ttão pre­nsa mais recorrer conscientemente ao “ indicio delator", nem iiciescentar novos dados a uma estrutura antiga. Ele adquiriu

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uma imagem que vai operar com sucesso no contexto da nova si­tuação, parecendo natural e correta- De repente, o animal oculto aparece por entre as folhas, “tão nítido quanto a luz do dia”.

Da mesma maneira, precisamos aprender a ver as formas ocultas na vasta extensão de nossas cidades. Não estamos acos­tumados a organizar e imaginar um ambiente artificial em esca­la tão grande assim; contudo, nossas atividades nos estào impe­lindo a tanto. Curt Sachs dá mu exemplo de falta de associações além de um certo nivefõ A voz e o toque de tambor do índio nor­te-americano seguem tempos totalmente diversos, sendo ambos percebidos de modo independente. Ao procurar uma analogia musical que tios seja própria, ele menciona nossos serviços reli­giosos, onde não nos ocorre coordenar o coro no interior da igre­ja com o repique dos sinos mais acima.

Em nossas vastas áreas metropolitanas, não associamos o coro e os sinos; a exemplo do sberpa, só vemos os lados do Everest, e não a montanha. Amplia]- e aprofundar nossa percep­ção do ambiente seria dar continuidade a um longo desenvolvi­mento biológico e cultural que avançou dos sentidos do tato pai a os sentidos distantes, e destes para as comunicações simbólicas. Defendemos a tese de que agora somos capazes dc desenvolver nossa imagem do ambiente através da atuação sobre a forma fí­sica exterior, bem como através de um processo de aprendiza­gem interior. Na verdade, a complexidade de nosso ambiente agora nos força a agir assim. No Capítulo 4, discutiremos de que modo isso podería ser feito.

O homem primitivo foi forçado a aperfeiçoar sua imagem ambiental ao adaptar sua percepção á paisagem circundante. Ele podia fazer alterações menores no sen ambiente por meio de dób mens, sinais luminosos ou marcas em árvores, mas as modifica­ções substanciais em termos de clareza visual ou conexões vi­suais ficavam restritas aos locais de moradia ou aos espaços re­ligiosos. Só civilizações poderosas podem começar a atuar sobre seu ambiente total em escala significativa. A alteração conscien­te do ambiente físico em grande escala só se tomou possível re­centemente, o que transforma essa questão da imag inábil idade num problema novo. Do ponto de vista técnico, boje podemos

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criar paisagens completamente novas em breve espaço de tempo, como no caso dos pôlderes holandeses. Aqui, os designers jã es­tão às voltas com a questão de como configura]1 a cena total de modo a facilitar ao observador humano a identificação de soas partes c a estruturação do todoA

Estamos construindo rapidamente uma nova unidade funcio­nal a região metropolitana, mas ainda precisamos entender que essa unidade também deve ter sua imagem correspondente. Suzanne Langer coloca o problema em sua concisa definição da arquitetura:

"É o ambiente total tomado visível.'5"

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CAPÍTULO 2 TRÊS CIDADES

Para entender o papel desempenhado pelas imagens ambien- ; tais em nossas vidas urbanas foi preciso examinar detalhadamen- i íe algumas áreas citadinas e conversar com seus habitantes. Tive- ; mos de desenvolver e testar a idéia de ímaginabilidade e, tam- ; Uèm. por uma comparação da imagem com a realidade visual, í descobrir que formas contribuem para dar maior torça ã imagem,; de modo a sugerir alguns princípios de cíe.sign urbano. Esse tra-

falho foi desenvolvido com a convicção de que a análise da íor- í ma existente e de seus efeitos sobre o cidadão e uma das pedras f Angulares do ciesign das cidades e com a esperança de que algu- f mas técnicas úteis de reconhecimento de campo e a entrevista | :um cidadãos pudessem ser desenvolvidas como subprodutos, f t Vnürt em qualquer estudo-piloto, o objetivo foi desenvolver | idéias e métodos, mais do que comprovar Jatos de modo catego- i ! tço c conclusivo.f Assim, foram feitas análises de áreas centrais de ires cidades f nuiie-americanas: Boston (Massa chu se tts), Jlersey City (New i Imoy) e Los Angeles (Califórnia). Boston, o exemplo mais à | mim, tem características únicas entre as cidades norle-ameriea- f vas: c ao mesmo tempo vigorosa em sua forma e cheia de diíi- í viihlades locais. Jersey City foi escolhida por sua aparente falta

•Io forma, por aquilo que parecia, a um primeiro exame, seu teor mm ornamente baixo de imas inábil idade. Já Los Angeles e uma

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cidade nova. de escala pro fundamente diversa e com uma quadtí- cula na sua área centrai. Em cada caso, tomou-se para estudo uma área central de aproximadamente quatro mil por dois mi] e quinhentos metros.

Em cada uma dessas cidades, duas análises básicas foram feitas:

E Um reconhecimento de campo sistemático da área foi feito a pé por um observador experimentado, que mapeou a presença de diversos elementos, sua visibilidade, a força ou a fragilidade de sua imagem, suas conexões, desconexões e outras intet-rcla- ções, e registrou quaisquer vantagens ou dificuldades da estrutu­ra imagística potencial. Foram avaliações subjetivas com base na aparência imediata desses elementos de campo.

2. Fez-se uma longa entrevista com uma pequena amostra dos i moradores da cidade, com o objetivo de fazê-los evocar suas pró- i prías imagens do meio físico em que vivem. A entrevista incluía; pedidos de descrições, identificação de lugares e desenhos; iam- ■ bém se pediu aos entrevistados que fizessem passeios imagíná-i: rios. As entrevistas foram realizadas com pessoas que já moravam = ou trabalhavam há muito tempo na área e que tinham suas resM dências e seus locais de trabalho distribuídos na zona em questão.:

Cerca de trinta pessoas foram assim entrevistadas cm Boston, : e outras quinze cm Jersey City e Los Angeles, respeetivamente.;:: Em Boston, as análises básicas foram suplementadas por testes;; de reconhecimento fotográfico, por passeios efetivos no local ü por inúmeros pedidos de orientação feitos a transeuntes. Alémf disso, um pormenorizado reconhecimento de campo foi eni-i preendido a propósito de diversos elementos especiais da paisafo gem de Boston.

Todos esses métodos estão descritos e avaliados no Apêndice BT O pequeno tamanho das amostras e sua tendência a concentrarA se nas classes profissionais e empresariais nâo nos permitem!; afirmar que tenhamos chegado a uma verdadeira “imagem públíà ca'3. Ainda assim, o material é rico em sugestões e tem coerênciat interna suficiente para indicar que realmente existem fortes imaA

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gens de grupo e que. peto menos em parte, elas sdo passíveis de descoberta por algrms desses meios. As analises de campo inde­pendentes prognosticaram, com bastante exatidão, a imagem de empo proveniente tias entrevistas, indicando desse modo o papei ilas formas tísicas em si.

Sem dúvida, as concentrações comuns de trajetos cm locais de trabalho tenderam a produzir essa consistência da ImagCEU gru­pa* ao apresentarem os mesmos elementos a várias pessoas. Re- Iações de siams ou de história, provenientes de fontes nào-vi­suais, reforçaram ainda mais essas semelhanças.

Não pode haver dúvida, porém, de que a forma do ambiente i'in si representou um papel decisivo na configuração da ima­gem. As coincidências de descrição, de ênfase, até mesmo de vo alusão em casos nos quais a familiaridade parecer ia dever apontar para o conhecimento, deixam isso claro. \l nessa relação ■ ntre imagem e forma física que se concentra o nosso interesse.

Surgiram diferenças específicas tia ímaginabilIdade das três vidades, ainda que todas as pessoas entrevistadas tenham feito ■dgiiin tipo de ajuste funcional ao seu ambiente. Certas caraete- mtieas - espaço aberto, vegetação, sentido de movimento na h-de viária, contrastes visuais - pareceram ser de importância p.uhcuiar na paisagem urbana.

Dos dados proporcionados peda comparação entre essas ima­gens de grupo e a realidade visual e das especulações daí deeor- ícmív.s, inovem a maior parte do restante deste livro. Os conceitos ib imaginabilidade e dos elemeutos-lipos (que serão discutidos ihi ( Apítulo 3} provêm em grande parte da análise desse material, vii foram aprimorados e desenvolvidos a partir do mesmo. A dis- uivsâo dos pontos fortes e fracos dos métodos foi deixada para o Apêndice R, mas é importante compreender a base em que este milkdho se assenta.

íb^hHi

A arca escolhida para o estudo de Boston foi toda aquela par­va da península central dentro da linha da .Avenida Massacbusetts.

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20 A iVAGUV DA ClDAOí:

Trata-se de uma área bastam e ineomum no contexto das cudades norte-americanas, por causa de sua história, idade e sabor um tanto europeu. Inclui o centro comerciai da área metropolitana e vários bairros residenciais de grande densidade populacional, compreendendo de favelas (.v/mus} a moradias de extremo re­quinte. A Figura 1 e uma vista aérea geral da região, a Figura 2 um mapa em linhas gerais da mesma e a Figura 3 uma represen­tação diagrama d ca de seus elementos visuais mais importantes conforme se deduz do reconhecimento de campo.

Para quase todos os entrevistados, essa Boston é tuna cidade de bairros muito característicos, ruas tortas e confusas. É uma cidade suja, de edifícios de tijolos vermelhos, simbolizada pele espaço aberto do Boston Commom pelo prédio da Assembléia; Legislativa, com sua cupula dourada, e pela vista do rio Charles a partir de Cambridge, Quase iodos os que participaram da pes-

Ffl. 1. ã p?r:ir; !5 ííü Boí-sn. yi s tio nsGe-

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22 A !\íAG:=\-1 CA CI^ADn

quísa acrescem aram tratar-se de um lugar amigo e histórico enem de edifícios velhos. mas com aigumas estruturas recente; entre as antigas. Suas ruas estreitas vivem abarrotadas de carro: e pessoas; não há estacionamentos, mas existem contrastes sur­preendentes entre as amplas ruas principais e as estreitas rua; d laterais. A cidade central é uma península cercada por uma orlo/ de água. Alem do Common. do rio Charles e da Assembléia Le­gislativa. bã vários outros elementos bem definidos, sobretudt Beaeon Hilf a Avenida Commomvealth, as lofas e os teatros do Rua Washington, a Praça Copie v, a Baek Bay, a Praça Lotus burg, o North Hnd, a região do mercado e a Avenida At 1 atuir margeada pelos cais. Uma parte substancial dos entrevistado; ^ acrescentou outras características sobre Boston: a cidade carece tte espaços abertos e de lazer; é uma cidade ''individualA peque- na ou media; tem grandes áreas de uso misto; ou é caracteriza ; da por bay mójíAnv.q cercas de ferro ou casas com fachadas dfiu arenito pardo. ,,

Lm gerai, as vistas preferidas eram as paisagens distantes, que falam de água e espaço. A vista através do rio Charles foi tnuitd A citada, e houve menções ao rio visto de um ponto inferior da RtLm Piticktiey, á paisagem que se abre de uma colina em Brigluon e aÇui aspecto de Boston vista de seu porto. Outra vista favorita era a daWn

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BO:-LOr= ViÍVG ZrUr.vêS íio rio ChtíHÍ?;-

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23

V A d ? G c -s t s n :o d o = c .o n n K S ? r r:

,xs da cidade à raoite, de peito ou de longe, quando ela parece vmnir uma agitação que normalmente não tem.Boston tem uma estrutura que à compreendida por quase to-

ç, essas pessoas. Com suas pontes, o rio Charles forma um li- iie forte e nítido, ao qual as ruas principais de Back Bay, sobre- ilo u Rua Beacon e a Avenida Commonwealth. correm em pa- ieUr Essas ruas nascem na Avenida Massaehuseits, ela mesma ja pendicular ao rio Charles, e correm na direção do Boston ummon e do Jardim Público. Ao lado desse conjunto de ruas da Aek Bay fica a Praça Copley, para a qual cone a Avenida Hun- indoie

Na parte mais baixa do Common ficam as Ruas Tremont e Ãrdiingion, paralelas e interligadas por várias ruas menores. A na Tremont vai até a Praça Scollay* e a partir dessa confluência, lt ÃiticLiiação, a Rua Cambridge volta para outra juntura na ro- jíbrin da Rua Charles* que volta a ligar a estrutura ao rio. Ao iíê-ío, circunda Beacon Hill. Mais além do rio aparece outro >íi(i limite aquático, a Avenida Atlantic e 0 porto, que sé muito qr,imcnte pode ser associado ao resto. Ainda que tivessem uma iah.vpçào intelectual de Boston como uma península, muitos ãíü:', isiados não conseguiam estabelecer uma relação visual en- ■(= o i i11 e o porto. Sob determinados aspectos, Boston parece ser

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24 lUADH; 7.5

m ■

uma cidade “de um só lado", que perde precisão e conteúdo medida que nos distanciamos do [imite representa tio pelo ri.Charles.

Se nossa amostra é representativa, quase todos os bostoniano sabem dizer muito pouco sobre a sua cidade. Com o mesmo grg de probabilidade, eles não conseguiam descrever algumas outrd coisas, como a área triangular entre a Back Bay e o South End, lí terra de ninguém representada pelo sul da North Station, de qrq, modo a Rua Boylston corre para a Tremo nt, ou como é o traç%y do das ruas do bairro financeiro.

Uma das regiões mais interessantes não figura af a área triaf guiar entre Back Bay e South End- No mapa, trala-se de unt área em branco para todos os entrevistados, mesmo para os qr - ■ ' - ^alí nasceram e foram criados. É uma área de tamanho substar -- - -r-'eial, que contem alguns elementos conhecidos, como a Avonid] ____Huntíngton e marcos eventuais, como a Igreja da Ciência Crisif ! " ^mas a matriz em que esses elementos deveríam aparecer é auseqte c anônima. Talvez contribuam para esse desaparecimento í ::íl ':iS reuis- ^-omo um bem muito extenso e aibonzado^ pata sei bloqueio representado pelos trilhos da ferrovia e a compressão KLVC qtialquer parte, as pessoas geialmente 1 toam detonem conceitua] dessa região, porque se imagina que as mas principalÃ^:ls 30 tentarem atravessá-lo. E, como dua^ via^ cmd inames, as da Back Bay e do South End corram em paralelo. í^ ias Boylston e Tremont, são de grande importância para a cí-

O Boston Comutou, por outro lado. é o centro da imagem tiçB' h-, tt dificuldatio toi na-se ainda tttaioi. Aqui mas se cruzam un cidade para muitos entrevistados; junto com Beacon HílE, comCXlíoáo reto, porem mais adiante parecem ser patalelas, sutginao rio Charles e a Avenida Commottwcahh, é quase sempre eítail : • qumdiculamtcmc uma linha básica comum, a Avenida Massa- como um lugar particu!armente distinto. Muitas vezes, ao íazereiT’ 1-'"01 - jNlem disso, a atividade comercial central cria uma de- seus deslocamentos pela cidade, as pessoas desviam de seu trajÇ Agiiada curva em ângulo reto nesse mesmo cruzamento BoyN- to para passar por ele. Um espaço aberto de grandes dímensõef iíjjEl Jemont, atenua-se, depois volta a aparecer mais acima da arborizado, que faz limite com o bairro mais concentrado de Bn:l ^ u:i Boylston. ludo isso vem somar-se a uma critica ambigmda- ton, lugar cheio de associações e acessível a todos, o Comutou f jU tormal no eoraçao da cidade, o que é uma ialha em termos de

ví tentação.Boston c uma cidade de bairros caracterizados, c na maioria

To parles da área central sabemos ottde estamos sim [desmente í idm; características gerais do entorno. Numa parte, temos o caso íívoiimm de um mosaico continuo dessas áreas com caracterís- v: jo próprias: a sequéíieia Back Bay-Common-Beaeon Hill-cen-

j* comercial. Aí, tumea se põe em dúvida o lugar. Contudo, essa tido/, icmática é tipicamente associada à ausência de forma ou

inconfundível. Por sua localização, limita três regiões importanteq Beacon UilE, Back Bay e o centro comercial, o que o transforuf em um núcleo a partir do qual qualquer pessoa pode ampliar si- conhecimento do entorno. Além disso, é extrema mente diierencb do em si mesmo, incluindo a pequena praça do metrô, a fonte, g Frog Pond, o coreto, o cemitério, o "lago dos cisnes", etc.

Ao mesmo tempo, esse espaço aberto tem uma forma muiC peculiar, difícil de lembrar: uma figura de cinco lados, com âní

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í;FlS C ID A D E 2126 A iVIAGiW

à disposição confusa. Se fosse possível coo feri r clareza esirutu ral e características distintivas aos bairros de Boston, des teriau muito a ganhar. Nesse tipo de deficiência, Boston talvez seja ext tremamente cllferetite de muitas cidades norte-americanas, ond as áreas de ordem formal têm poucas qualidades expressivas.

Enquanto os bairros tendem a ser definidos, o sistema viári| de Boston ê geralmente confuso- Não obstante, a função de cir­culação é tão importante que as vias ainda são dominantes n; imagem total, do mesmo modo que nas outras cidades avaliadas Não liã uma ordem básica entre essas vias, com exceção do pre­domínio historicamente condicionado das radiais principais que a partir da base da península, correm para o interior. Ao longo di grande parte do centro da cidade, é mais fácil loco mover-se ea direção leste-oeste, para a Avenida Massaehusetts e a partir de lá do que deslocar-se perpendicularmente a essa direção. N cssí sentido, a cidade tem uma espécie de índole que se reflete na- contorções mentais que acompanham muitos passeios imaginá­rios. No entanto, sua estrutura viária é excepcionai mente difícil e suas complicações forneceram muito material para o exanv sistemático das vias publicas, no Capítulo 3- A dificuldade can sada pelo cruzamento em ângulo reto das ruas “paralelas’' Boyls ton e Tremoní já foi aqui mencionada- O traçado regular da Ba d Bay, uma característica banal da maioria das cidades norte-ame­ricanas. adquire uma natureza especial em Boston, em virtude d seu contraste com o restante do modelo.

Duas vias expressas atravessam a área central, Storrow Drivt e a Central Artery. De modo ambíguo, ambas são percebidas er como obstáculos, relativamente ao movimento nas ruas mais an tigas, ou como vias. quando alguém se imagina dirigindo pn- uma delas. Cada aspecto tem um caráter de todo diverso: quan do imaginada a partir de baixo, a Artery é um maciço paredâ pintado de verde, que aparece de modo fragmentário em detej minados lugares; enquanto caminho, é uma faixa que sobe, mcà gulba e dá voltas, abarrotada de sinais de trânsito. De modo curta so, as duas vias expressas são percebidas como “extrínsecas" = cidade, muito pouco associadas a ela, ainda que a penetrem, e D uma transição desori em adora a ser feita em cada trevo. No en

mm, a Storrow Drive é claramente relacionada ao rio Charles,■ mio ligada assim ao modelo geral da cidade. Já a Central Ar- í v serpenteia inexplicavelmente através do cenuo e interrompe

-» Ho de orientação com o North End ao obstruir a Rua Hanover. ‘■Mn disso, foi algumas vezes confundida com a sequência Cau-

■viy-Oommercial-Atlantic, ainda que as duas vias sejam muito mmiontes, porque ambas podem ser logicamente consideradas■'* mo extensões de Storrow Drive.

hem ao estilo de Boston, partes individuais do sistema viário miil-mi ter características marcantes. Contudo, esse sistema ex- • •• üuiiicnle irregular é constituído de elementos isolados que só ■=■= imados um por um, ou às vezes nào têm ligação alguma. E ; u i-.tcma difícil de desenhar ou imaginar em sua totalidade, e,

mu a lidar com ele, geral mente é preciso concentrar-se na se- ■r [|l ui de articulações. Bssas articulações ou pontos nodais sào,

- mulo, muito importantes em Boston, e é comum que regiões qut.Ã.sivas, como a “área da Praça Parir, sejam designadas

r n uzamcnto que é seu foco organizador.

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26 A iV-AOtn DA ODADü

A Figura S c unia maneira de sintetizar essa análise da imaè gem de Boston, uma símese que poder ia ser um primeiro passo;:

r para a criação de um projeto de desigft. É uma compilação grádTiea do que parecem ser as principais dificuldades da imagem âú cidade: confusões, pomos oscilantes, limites pouco nítidos, luga| res isolados, quebras de continuidade, ambigüidades, ramificai; ções, falta de características próprias ou de diferenciação. Jtinto com uma apresentação dos pomos fones e das potencialidade^; da imagem, corresponde ã fase de análise do local de um proje- lo em menor escala. Enquanto análise do local, não determniÉ um projeto, mas é a base a partir da qual as decisões criativas poif derão ser tomadas. Como essa eompilaçào é feita num nível maiC abrangente de análise, é natural que contenha um maior grau díf interpretação do que os diagramas anteriores. %

Jerscv City Aa■y:

jersey City em New Jersey, fica entre Newark e Nova Yoà '•E uma área limítrofe de ambas, e tem pouca atividade cemní!|

'ÃC

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=[SAD B 25

.;ipna. Cruzada por rodovias e vias elevadas, tem mais a a pa­nela de um lugar de passagem do que cie um lugar para viver, eidade 6 dividida cm bairros étnicos e de ciasse, e e cortada

dos parapeitos do penedio. as Palisadcs. O que podería ter sido m centro comerciai natural acabou sulocado pela eriaçào ailili- i,il da Praça Journal na zona alta, de modo que nào existe ape- .;s um centro, mas quatro ou cinco. A coalusão total de um s-.s- ■ma desconexo de ruas vem somar-se a costumeira dislormidade ,i espaço e à helerogencidade estrutural que caracterizam a área cie ri orada de qualquer cidade norte-americana. A monotonia, a uneíra e o cheiro da cidade sào de inicio esmagadores. Psta e, . v i i dúvida, a primeira impressão superficial de quem a ela ehe-

Poi interessante notar de que modo os habitantes, que ja ra­iam em Jersey City há muito tempo imaginavam esses aínbuíosC cidade.

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30 A íV A G íV i L/Â C O AU t ■A.DÍS 31

Elaborada a partir do reconhecimento de campo, a estmnm A íaqa tje características próprias c evidente a um simples re~ vj^ ííi, ue Jersey City e traçada na mesma escala do diagrama á UncCi guando comparamos os elementos considerados distinti- ríosKin e usa os seus mesmos símbolos. A cidade tem um pote VilS peios ^bítantes de Jersey City com o mesmo diagrama de co mais de lorma e modelo do que podería pensar quem vem di Uvv,aon q mapa de iersev Citv é quase árido. A Praga Journal T ’ g° qL A ?!l?aíve : iPpresc]ndíveí P*ra q»e uma cidade sejt icm p iso te a f0nc devido a seu intenso movimento comercial e p enameme nabiiaveí. Mas tem muito menos elementos reco q.. j.^ets mas seu trânsito e seu caos espacial são perturbadores e m t ecoeis o o que os encontrados na mesma área de Boston, e s< ^ h e ta n te s . O Hudson Boulevard rivaliza com a Praça Journal vang.oija cie um numero amda menor. Grande parte da área o tcrmos de força. O West Side Pack vem a seguir: c o único oostrmcla por limites de iorte presença. As partes essenciais di- ;!| !|üítü narque da cidade, e as pessoas o citam muito como uma estrutura sao a Praça Journal, um dos mais importantes centros |i;r^ 0 expressiva, um relevo na textura geral. A ^Bergen Se-c- comerc-mus, com a Jmha do Hudson Boulevard passando atravév gestaca-se basicamente como área de uma ciasse social O

Do Hudson Boumvard depende a "Bergen Sectiotr e o mr f , íílro Médico de New Jersey é visualmeme inconfundível er- portame Vvest Side Park. A leste, tres vias descem pelo paredár; ^ , ^ ^ 0 alto e branco no topo do penedio, como se fosse um d e r o c ^ a Falisade, para mais ou menos convergirem na cidatío que alí houvesse ido parar por acaso.Uatxa^Newaik, Momgomery e Communipaw-Grand. No penei ' Poilco majs se poc\e citar como traço distintivo mais ou me- dm fica o Centro Medico. íudo pára na barreira da área ferro ^ url£'mjniei a não ser a majestosa vista dos arranha-céus de v rano-i naus tri a 1 - p or t u a na do no Hudson. Esse é o modelo esq york á distância. Os outros diagramas completam a ima- sencjaJ, que, com a possível exceção de uma ou duas ruas eir ;íí-íU da cidade, acrescentando em particular as necessidades prá- declive, e íamiJiar para a mmona dos nossos entrevistados. f ;ÈS vías principais, basicamente aquelas pelas quais o tratt-

iI

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silo ilui bem e que, por soa continuidade, são exceções em como p a ração com a maioria das mas de Jersey Cily. Há uma escasseA de bairros e marcos reconhecíveis, e uma falta de centros ou poirí los uodais coubecídos. Ainda assim, a cidade e caracter izadA pela presença marcante de vários limites: as linhas elevadas úã ferrovjas e rodovias, as Palisades e os dois limites aquáticos. í

Estudando-se os desenhos e as entrevistas, ficou claro que neA nhum dos entrevistados tinha aluo que se pudesse chamar de W-- sào abrangente da ctdade em que iá viviam há muitos anos. 0-> mapas eiam geralmente fragmentados, com grandes áreas ca ■ branco, quase sempre concentrados em pequenos territórios cti : nhecidos. As ribanceiras pareciam ser um forte demento lí mitra fe, e era comum que um mapa atribuísse força à parte superior r fragilidade à parte inferior do terreno, ou vice-versa, como se u=- dois elementos estivessem ligados por uma ou duas vias pum ■. mente conceituais. A região mais baixa parecia parlicularmeiüt difícil de estruturar.

Quando pedíamos uma caracterização geral da cidade, uim. das observações mats comuns era a de que ela não c mu toif.' :

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püo uào tem centro, mas que se trata, ames. de um eoitjtmto de muitos povoados. A pergunta "Qual a primeira coíse; que ejs pa­lmais ylersey Chy' lhe trazem eí meuíe?7', que os habitantes de dioston respondiam tào facilmente quando a fonmdavam sobre a VHia cidade, mostrou-se de diucil resposta neste caso. Os entre- Ai dados insistiam em repetir que "nada de especial" lhes ocor- ■na, que a cidade era difícil de simbolizar, que não tinha partes ; distintivas. Uma mulher fez a seguinte afirmação:

"bs: a e real mente urna d eis coisas ma cs lamentáveis de Jersev CHv. Não há nada que me permita dizer a alguém que vier de lom ae: 'AC temos aqui uma coisa muito bonitEr que eit gostarií: de ihc mostrar"

A resposta tua is comum à pergunta sobre o simbolismo não .lida respeito à cidade, mas sim á vista dos arranha-céus de Nova Aüh, do outro lado do rio. í-m grande parte, o sentimento earac- kaisbco solue Jcrsey City parecia ser o luto da cidade estar sí- lu.ida á margem de alguma outra coisa. Uma pessoa disse que, caía eia, os dois símbolos eram a skylitre de INoveí York, por um hídif. o o Pulasky Skyway de Newark. por outro. Outro entrevis- Mde enfatizou a sensação de barreiras confinamos: para sair de Ni . v City é preciso ou passar por baixo do Uudson, ou atraves- m !i confusa rotatória de Tomrelle.

-foria difícil encontrar uma localidade hastea e um exemplo de topografia mais dramático e imagetieo do que jersev City.

m seu ambiente geral era continua mente descrito com eis pala- ; >•. melhoA “sujoo “sem vida”. As mas eram quase setnpre

• : .. ü.o, como “fragmentadas7’. As entrevistas eram admiráveis çOj Oi =i falta de informações sobre o ambiente e pela qualidade

- i ninceimaj do que perceptível mente concreta da imagem da i Ainda mais surpreendente era a forte tendência a desere-- i í i: i com imagens visuais, mas com nomes de mas e tipos de • • Vejamos, a titulo de exemplo, parte da descrição de um per- •• •• ■ jeito em área eottheeida:

::l j./pms de EUravessar a rodovia, há uma ponte que sobe: e, de- iva: de uanspor a pome, na primelra rua qiEC aparece há uni eurui-

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mo; [kl segunda esquina, seguindo pcJít uvenidu, veem-se baneof dos dms lados: chegamos u esquina seguinte, onde 3iá uma lofa o. ládios. e ouím de Jerragens, uma e l o lado da. outra, ú direita. À o/, d qi=eid;K antes de üirave.ssar a mg ]ia uma mercearia e uma lavandob na. S unindo, chegamos á Rua 7, e nela bá um bar na esquina. á esf guerdEu e uma quitanda à direita; uma casa de bebidas á direita 4. percurso, e uma mercearia á esquerda. A seguir vem a Rua 6' noisl nào existe referenda Etlguma, a não ser o ia to de que voltamos a ee| tEU sob a estrada de ierro. Depois de passar por bzLÍxo dela. vem A

tJíí um bar zt direita, e um novo posto de gEisouna do ouEu. Jado lIlL i i;ug eí uueua. Rua 4: quando chegamos a essa rua pelo hui direito, li£L um veneno baldio a esquerda, depois dele um bar: a d ■ rena, bem a iiosse; frente, ná um atacadista de carnes., e à esquefLU ' na hente 4ee easEi de czmtes. uma casa de artigos de vidro. DepL;:;.- vem a Rua o; assim que entramos nel;i. há tmta farmácia á dtreii:i s '■ uma casa de bebidas um pouco mais adiante, á direita também: à querda há uma mercearia, c um bar mais adiante, na mesma ezià,u

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lIa. A seguir vem a Rua 2. onda ba uniu mercearia e Lim bar à es- 11ucrda. A direita. ames de atravessar a rua, há uni lugar onde ven­dem urinou des domes li eus, depois vem a Rua J, há um nçougue e um memado à esquerda, e do muro lado um terreno baldio usado rumo estacionamento. A direita, uma loja de roupas, e uma contei- laria também á direita. í...)7'

b por ai vai. iim toda essa descrição, só temos uma ou duas ; imagens visuais: uma ponte "que sobe'7 e, talvez, a passagem por | inuvo da ferrovia. Parece que a entrevista ve o ambiente pela pri- i nidfit vez ao chegar ao Hamilton Parle; depois, por seus olhos, de i Aponte temos um relance da praça cercada, com seu coreto cem ; uai o os bancos ao redor.

I louve um grande número de observações sobre a indistinção ; A, cenário físico:

"li. quase tudo igual... para mim, c como se fosse sempre a mes­ma coisa. Quer dizer, quando subo e desço pelas ruas. é eomo se nào percebesse diferença nenhuma -■ as Avenidas Newark, .laekson e líergen. bem, o que estou querendo dizei' é que ás vezes fica im­possível decidir por qual avenida seguir, porque são.todas mais ou menos iguais: não existe nada que as diiercneie.

Como eu podería reconhecer a Avenida Faírvievr ao chegar a

Pela placa. Nào há outra, mane ira de reconhecer as ruas desta ci­dade. Nào exíste nada que as diferencie, a nào ser mais um prédio de apartamentos na esquina» só.

km geral, acabamos chegando ao nosso destino. Afinal, querer ò poder. Às vezes é confuso, a gente pode se perder por alguns mi- úuuK quando quer eheg.ar a um lugar, mas acho que, no fim, sem­pre íu abamos chegando onde queríamos ir’7

Nèvso ambiente rei ativam ente ittdi fere» ciado as pessoas eon- : m= i..i■.i apenas nos locais de uso, mas muitas vezes em gradien-

• A o .n ou no relativo estado de conservação das estruturas. A

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36 A IMAGEM OA UAAD 37

simulação das mas, os grandes anúncios publicitários da Praça Journal e as fábricas sào os marcos da cidade. Quaisquer gran­des espaços abertos, como os parques Hamilton ou Van Yorsi, o li. em particular, o grande West Side Park, sáo lembrados eom prad zer. Lm d Lias ocasiões, as pessoas falaram de mimísoulos triând guíos tle grama em ceados cruzamentos como se fossem marcos.; Uma omfher falou em ir de carro até um pequeno parque aos do-/ mitigo s, para ficar admira tido a paisagem sentada dentro dele. ().; fato de o Centro Médico ter um pequeno espaço ajardinado em; sua frente parece ser lã o importante para a sua identificação; quanto suas grandes dimensões e a silhueta de seus edifícios. I

A evidente baixa imag inábil idade desse ambiente refletí a-sL nas imagens que dele retinham até mesmo seus amigos morado I res, manifestando-se em forma de insatisfação, lalta de onetua-f ção e incapacidade de descrever ou diferenciar suas partes. Aíih da assim, mesmo um conjunto de enlomos aparentemente caótig cos tem, na verdade, algum modelo. I:, para encontrar e elaborai; esse modelo, as pessoas se concentravam em indicadores seeunó dados on desviavam sna atenção do aspecto físico para ommd aspectos.

l,os Angelesj:-

A área de Los Angeles, o eoraçào de uma grande região un- tropolhana, apresenta tun quadro diferente, que inclusive iamy bém difere muito do tle Boston. Ainda que comparável, em manho, ás zonas de Boston e Jersey City. a área incluí poural mais que o centro cometei ai e seus arredores. Os entrevisiadYf estavam familiarizados com a área ttão pelo fato de residi rei iC nela, mas por trabalharem em escritórios ou lojas centrais. A lãC guru 14 apresenta o reconhecimento de campo, como o temUf apresentado. '

Como núcleo de uma metrópole, o centro de Los .Angeles ; • um espaço carregado de significados e atividades, com grandefl- edificios que se supõe serem distintivos e um modelo básico: stoí quadricida quase regular de ruas. Contudo. aUtins fatores aUraM

I

de modo a produzir uma imagem diferente - e menos nítida - que a de Boston. Primeiro, há a descentralização tia área metro- pnümna, o que faz que a região central continue se tido o “cen- in.f\ apenas por deferência, mas existem vários outros núcleos Músicos pelos quais as pessoas se orientam. A área central tem uma atividade comercial imensa, mas já não é o melhor centro de vmnpras. Lm decorrência disso, um grande número de cidadãos Lva multo tempo sem passar por ela. Lm segundo lugar, o iraça- Ã! cm si é uma matriz índiferenciada na qual os elementos nem viiipro podem ser localizados eom segurança. Por último, as ati- :: idades centrais sào especial mente difusas e mutáveis, falo que ziçm ibui para a diluição de sen impacto. A frequência das re- ■= oiisn uções impede a identificação que se estabelece através do processo histórico. Apesar (e às vezes por causa) das frequentes n inativas de ostentação, os próprios elementos sào muitas vezes

C: =: A vevJAÍ ÚO Lc- ACf L A vAIã " O L3rfLpC

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38 A IVIAG í V í DA CDA.p:

destituídos de características marcantes. Não obstante, não sC uai a do outra caótica iersey City; peto contrario, estamos dianuN do centro ativa c ecologicamente ordenado de uma grande mel iropoie. '•

A foto aérea que acompanha o texto nos dá uma impressãN desse cenário. Só atentando bem para os tipos de vegetação mó para o plano de fundo pode-se distinguir este centro de outrns - centros de muitas cidades norte-americanas. Existe o mesml aglomerado de prédios comerciais sem expressão própria, a me.v-- ma onipresença de sistemas viários e estacionamentos. Os ma d pas: porém, são muito mais densos do que os de Jersey City. 3

A estrutura fundamenta! dessa imagem é o ponto no dal d*:- Praça Persblng, que fica na dobra do L formado por duas ru;LÇ: comerciais, a Broadway e a Rua 7. Tudo isso na matriz gerai Jr - uma quadrícula de vias públicas. Na extremidade avançada d l Broadveay fica a área do Centro Cívico e, para além dele. o cn-é iroucamenio sentimentalmenlc importante da Plaza com a Rua (J? ■ vera. Ao longo tia Broadway fica o bairro financeiro da Eírm: Spring, e cju seguida vem o Skid Row (a rua principal). As do =■ y expressas Hollywood e Harbor podem ser interpretadas como ^ ;

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mm

■ A D S S 3 9

iocuassem os dois lados abertos do C A imagem geral e notável .:v|hh seu vazio a leste da rua principal ou tia Rua Los Angeles e a miI da Rua 7, salvo a extensão da quadrleula que se repete. A áreai.entrai está situada num vazio. Esse centro em forma de t e pró­digo em marcos fáceis de lembrar, sobressaindo-se entre eles os I mie is Statler e Riltmore, depois, entre outros, o edifício Rieb- i idd, a Biblioteca Pública, as lojas de departamentos Robinsou e imUocks, a Caixa Econômica Federal, o auditório da Filannóni- . a. a Prefeitura e o Union Depot. No entanto, somente dois mar- •- im ióram descritos com alguma riqueza de detalhes: o edifício lAi hfidd, feio e escuro, e o topo pirainida 1 da Prefeitura.

Atem da área do Centro Cívico, os bairros reconhecíveis são = ui pequenos c lineares, confinados ãs orlas de vias importantes õoruo o centro comercial da Rua 7 e da Broadvcav, a Transpor- vmvn Row na Rua ó, o setor financeiro da Rua Spring e Skíd

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"fiLí Ü O A D l; 41

Row. na rua principal), ou de imagem reiativamente fraca: Run-(k^crilo, com seu imaculado gramado cemrai rodeado primeiro ker Hdl, Litlle fokyo. O Centro Cívico é de presença mais fbruCü bananeiras, depois por um circulo de idosos sentados em só- por sua função óbvia, suas dimensões, sua abertura espacial, s a d ia s fileiras de bancas de pedra, mais adiante por ruas movi- novos edifícios e seus limites definidos. Poucas pessoas deixauõv:aladas e, por último, pelas colunas cerradas dos edifícios do

de, e surpreendente constatar de que modo o núcleo da eidad -j"! utam; no mais das vezes, porem, a resposta realçava quuo pa- conseguiu enterrar visualmeEtte essa importante característica to o u. o era ver aqueles vo [lios confinados aos limites dos muros e

A Praça Pershing é, sem duvida, o mais forte de todos os elo- '-is foram feitas com o aspecto que a praça tinlia no passado,mentas: uma paisagem exótica num espaço aberto no coração d ""ia que mais desmazelado que o atual: um peque tio bosquecentro da cidade, reforçado por seu uso como foro político ao a: alamedas e bancos dispersos, O gramado central foi enrica-bvre, espaço para retmiòes ou lugar de descanso [tara os mais ve ■ "do só por ser proibido aos frequentadores do parque, masJlios. Junto com o entroncamento Plaza-Rua Olvera (outro esps ■ =-=■ >1 lõin por impedir que as pessoas atravessem a praça, como ço aberto), a Praça Pershing foi o elemento mais niudamcni; pedestre normal mente faria, Nào obstante, é uma imagem

pográfiea, ao estender-se a seu redor. üjumlos a distancia do gramado central. Comparações d es favo-

-liiemamente identificável, reforçada pela presença de um mar- u d um mame: a massa marrom-a1ver mel liada do Motel B ia more, ■ ui ienta a direção da praça com grande eficiência.

. . . . . . . - i , i_ . .ã ................. .. : _______ , . h . í „ .......... . „. , i .-. u

■ ='■ ,v;í Pershing parece um pouco vaga. Ida fica a um quarteirãoi fias ruas muito importantes, a 7 e a Broadvay, e muitos en-

m ulos se mostraram incertos quanto â sua localização exa-f ■ =■ -....Pi que seguros de sua posição geral, Pm seus desioeamen-■■ v-.vís pessoas tendiam (em suas mentes) a olhar para o lado f Ora pioaint, à medida que passavam por cada rua de menor im-

■• ■!lio-., ia. Isso parece estar associado ã sua posição fora do een-- : i.imbém á tendência dos entrevi st talos a confundirem diver-- =u ?-■; como veremos mais adiante.

l u oãdway talvez seja a única via inconfundível para todos. , i ivi principal originai, e também por ser a maior eoncen-

■ ■ a: , omereial do centro, ela é caracterizada pelas multidões ■=■ " i . calçadas, pela extensão e continuidade de suas lojas, pe-

v :n|ilixes de seus cinemas e por seus bondes (pelas outras ■a ■ := li afogam ônibus). Mesmo reconhecida como ponto cen-

IX A Pr^hirç:= ■ é que alguma coisa pode ser vista como central ali, a :: -■-■■■--■Av My nào em uma área comercial para a maioria dessas pes-

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soas de d asse média. Suas calçadas estão cheias de minorias cH nicas e grupos de baixa renda, cuias moradias circundam a rd- ; giao central. Os entrevistados viam esse núcleo linear como alge* que lhes era alheio, pereebendo-o com graus variáveis de esqu; ' va. curtos idade ou medo. Não vacilavam em descrever as dlu renças de Matas; entre as multidões da Broadway e as que se pe|. ) dem encontrar tia Rua 7, que, se não é uma ma de elite, é p-el ] menos uma rua comercial de ciasse média. I ■

Hm gera!, não é difícil diferenciar umas das outras as trams ’ versais numeradas, a não ser no caso das Ruas 6, 7 e I. Rssa ccnf ; lusão de ruas era evidente nas entrevistas. As mas longitudinabe designadas por nomes, também eram confundidas, porém m â ims. Varias dessas mas ’‘norte-sul A sobretudo as Ruas Floivpl Ho]>e. Grand e Olive. todas as quais correm para Runker ] Jillf tendiam as vezes, a exemplo do que ocorria com as ruas numel; radas, a ser confundidas umas com as outras. I

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Ainda que uma rua do centro pudesse ser co num d ida com o ti­ni, poucos entrevistados tinham dificuldade para manter a dire- rm nas vias. As vistas terminais, como o Hotel Síatler na Rua 7, i biblioteca na Rua Hope, Bimker Hill na Rua Grand, e as dite- íííiças de uso ou imensidade de pedestres, como ao longo da Imadway, parecem suficteníememe frequentes para oferecer di- dieueiação direcional. Na verdade, todas as ruas são visualmem ê fechadas, apesar da quadrictda regular do centro, seja pela to- vçpafia, pelas vias expressas ou por alguma irregularidade do •••••ipi a? traçado.

Do outro lado da Hollytvood Freevvay fica um dos elementos Niius marcantes, o cetüro nodal de Plaza-Rua OI veta. Esse espa­ço ioi um dos mais intensamente descritos: sua forma, suas ar-

seus bancos, as pessoas, os azulejos, as ruas de "seixo ro- = ,1.! Nnn verdade, de tijolos}, o espaço apertado, as coisas á vem ik. o infalivel cheiro de velas e doces. Esse pequeno lugar não é

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Ai l a c i :>a d f

apenas visuaimeme muito expressivo, mas também o único licsí: verdacieirameme histórico da cidade. Ele parece gerar uma liãjiçiio mimo Jorte nas pessoas. " p

Ao kmgo dessa mesma área gera], porém, entre o Union lk- poí e i> Getiíro Cívico, os entrevistados tinham moita difíeuJdal de para orientar-se, Achavam que o traçado quadricular íW abandonado e não sabiam ao certo onde as ruas conhecidas iam üar, nessa zona amorla. A Rua Alameda leva trmçoeiraineni. ptsra a esquerda, em vez de correr em para ido às ruas norle-siih O grande vào hvre da área cívica parece ier apagado o iraçadd orienta], substituitido-o por muito pouco. A via expressa é nm baiEcnaafunaada. Em seu trajeto do Union Depot para o StaticrA o ahvio com que a maioria dos entrevistados1 saudam o surinh mento da Rn a 1 era quase and í ve í. .

Quando sobePados a descrever ou simbolizar a cidade cont um todo, os entrevistados usavam certas palavras-padrão: Aáa>

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OPADÍ.S 45

.ida", "espaçosa", "disíomie”, ':scm centros” . Los Angeles pare- i\\ difícil de imaginar ou conceituar como mu todo, Uma inter- miável extensão, que pode trazer em si agradáveis conotações de ■]i:iço em torno rias moradias, ou notas de enfado e desorienta- i.i era a imagem comum. Disse um dos entrevistados:

como se você já estivesse indo pura algum lugar há muito kmpo e. quando chegasse lá, acabasse deseobrindo que ah, afinal, i:áo há nada.”

Ainda assim, houve alguns imheios de que a orientação em u.nla regional nào era tão difícil. O aparato da orientação regio- :d mcluia o oceano, as montanhas e as colinas, no easo dos mo- dores mais antigos, as regiões dos vales, como San hernando, u:; bairros de grande desenvolvimento, como Beverly Hills, o

iuçuia de auto-estradas e bulevares e, por ultimo, um gradiente víiiiãi de idade de toda a metrópole, evidenciado na condição, u esi i Io o no tipo de estruturas apropriados a cada época nos su-

-.ovis anéis de crescimento.Abaixo dessa grande escala, porém, estrutura e identidade pa-

• i i: 11 difíceis de obter. Nào havia bairros de tanianlio médio, e d: de viária era confundida. As pessoas se diziam perdidas

uAndo fora de seus trajetos habituais e por demais dependentes ■A sinalização das ruas. Em menor escala, havia bolsões even- ãàÈ de grande identidade e significado: chalés nas montanhas, A ms de ptaia ou áreas cobertas por uma vegetação ext remam em s ddeteneiada. Isso, porém, não era universal, e uma ligação

!u essencial com a estrutura, a capacidade de formar uma NAjiçm de bairros e regiões em escala média tendia a ser frágil. . f;m quase todas as entrevistas, quando as pessoas descreviam

ãu iu|'.'Ui de casa para o trabalho, havia uma progressiva redu- m d i mlensidade de suas impressões à medida que se aproxi- qáwun do cemro. Perto de casa, havia muitos detalhes sobre as . v I: .1 •• e as curvas, a vegetação e as pessoas; havia fortes mái-• . do mteresse e prazer cotidianos no cenário. Nas imediações : • •• 11o 11, essa imagem tornava-se progressivamente Euals ein- NUã, abstrata e conceituai. A área do centro, como em Jersey

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46 A Eh.AAGüM d a

Oitvt era basicamente um aglomerado d? usos especificados pcd seus nomes e taenadas cie lojas. Sem dúvida, Isso se devia er parte a crescente tensào de dirigir nas principais radiais, mas oO reeia persistir ale mesmo depois de deixai- o carro. H evidente que, em st, o material visual é de natureza mais pobre. I: possií vel que o aumento do v.moq também contribua para tanto.

A proposito, o sixiog e a eerraçào eram frequentemente mero ci ona d os como o tormento dos morado ms da cidade. ParceiaO embotar as cores do ambiente a tal pomo qne sen tom geral er;t descrito como esbranquiçado, amarelado ou cinzento. Várád [ressoas qne dirigiam para o centro relataram qne conferiam rcé gula rmente a intensidade do sfnog todas as manitàs, observancíé a visibibdade cias luzes de torres distantes de edifícios como d Riclifield ou o da Preleitura. f

O tráfego de automóveis e o sistema cie rodovias eram tem;Ã dominantes nas entrevistas. Era essa a experiência diária, a batas Iba cotidiana - às vezes estimulante, em geral tensa c esgotam! Os detalhes dos trajetos eram cheios de referências a semáforos! ontros sinais de transito, cruzamentos e problemas para virar. N# vias expressas, as decisões tinham de ser tomadas com muita tipç íeeedcncia, e era preciso fazer constantes manobras na pista, làf: como descer de barco pela corredeira de um rio, com o mesmõ empolga mento e a mesma tensào, o mesmo esforço contínuo A§ “manter a cabeça fria”. Muitos entrevistados mencionaram sd| medo cie dirigir pela primeira vez num trajeto desconhecido. I bf via referências frequentes às passagens elevadas, à diversão ddl grandes trevos, às sensações cínestésicas de mergulhar, girar e s# ba'. Para algumas pessoas, dirigir era um provocante jogo em a\§. velocidade. Aí'

Nessas estradas velozes é possível ler alguma percepção dH topografia principar Para uma entrevistada, transpor uma graali de colina todas as manhas assinalava o momento em que metad# do seu trajeto havia sido cumprido e conferia-lhe uma estruturil Outra chamou atenção para a extensão da escala cia cidade c :|| decorrência de novas estradas que mudaram toda a sua conec:á§. çào das relações entre os elementos. Houve referência ao praõft cie grandes paisagens avistadas por um momento a partir de pãE|

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~RÉ5 CDADES 47

m.-, deva dos da via expressa, em opostçào ã monotonia dos talu- dvs quando a via corta uma elevação. Por outro lado, como em ! mston, esses motoristas pareciam ter dificuldade para localizar

vai expressa e assoe ia-la ao resto da estrutura urbana. Pradhes ; tuiuiú a experiêneta de uma momentânea latia de orientação ao ou da rampa de uma via expressa.

Outro tema freqtieme era o da idade relativa. Talvez devido ao um de grande parte do ambiente ser novo ou estar em mutação, h.iviu indícios de uma ligação forte -- quase patológica - com qualquer coisa eme houvesse sobrevivido ã transformação, As- '.1 ué o pequeno entroncamento PI aza-Rua Qlvera, ou mesmo os Uiiêis decadentes de Bunker Bilk tinham um fone apelo para um mande número de era revistados, bssas poucas entrevistas nos v; um ram a impressão de existir uma ligação sentimental ainda U:m maior com o que é antigo do que aquela que pudemos obser-

na conservadora Boston.Pm Los Angeles, como em Jersey City, as pessoas se deleita-

- =':eij com as Pores e a vegetação, que na verdade eram a glòna A- muitos bairros residenciais da cidade. As partes iniciais do mijei o de casa para o trabalho estavam cheias de imagens muito = [ui =-, de flores e árvores. Mesmo os motoristas que dirigiam em Pu velocidade pareciam notar e apreciar esse detalhe da patsa-

; i! urbana.i ou tudo, essas observações não se aplicavam ã área direta-

.. 1111' estudada. O centro de Los Attgelcs está longe do caos vi- qvb de .iersey City e tem uma quantidade bastante generosa de . ; . i:.-; arquitetônicos. No entanto, excetnaudo-se seu traçado

•• anal e um tanto indiferenciado, era difícil organizá-lo ou çmvndèdo como um todo. Não tinha símbolos gerais tones.

= i-: plenos para esse grupo de entrevistados de ciasse média, as . • ir, mais fortes, Broadway e a Praça Pershíng, eram alheias, íjãuiuin uào ameaçadoras. A pequena e desprezada Plaza e algu- ãvk I r. liinçÕes comerciais ou de lazer simbolizadas pelos mar-

: diu área da Rua 7 eram os únicos elementos merecedores de • ::íiu ideiçào. Um dos entrevistados deixou isso claro ao dizer

=-.■ i velha Plaza, numa extremidade, e o novo Wdshirc Boulc- ..é iu outra, eram as únicas coisas que tinham características

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A iV A Lríf/ DA ODA j *

próprias, e representavam uma síntese de Los Angeles. A im;f gem parecia carecer de grande pane do caráter identificável, clh estabilidade e de significado agradável do centro de Boston- iv

Temas commtsr 1!•

Ao comparar essas ires cidades, descobri]nos Lse é que gb pede descobrir alguma coisa em amostras tão pequenas) c=m. como seria de esperar, as pessoas sc adaptam ao seu entorna d extraem estrutura e identidade cio material ao sen alcance- Os ú pos de elementos usados na imagem da cidade e os atributos qu| \ os tornam tones ou Iracos parecem comparáveis entre as trcAí ainda que a proporção desses tipos possa variar com a ionrM concreta de cada uma delas. Ao mesmo tempo, porém, há díLÁ renças marcantes entre os níveis de orientação c satisfação nefM ses diferentes espaços tísicos. •

bntre outras cmsas, os testes deixaram ciara a importância é , espaço e cia amplidão da vista. A preponderância do limite coj tituido pelo no Charles, em Boston, tem por base o majestm mova mento visual que efe proporciona ao entrar na cidade, lio grande número de elementos urbanos pode ser visto de i media!' em suas relações; a posição individual relativa mente ao todo èá uma clareza inequívoca. O Centro Cívico de Los Angeles rim ma va a atenção por sua abertura espacial; as pessoas em reviva ■ das em Jersey City reagiam à paisagem à sua frente quando dvf ciam as Palísades em direção à s/rc/réo de Manhattan.

As vistas amplas provocavam uma reação de prazer etnorii ‘ mal muitas vezes citado pelos entrevistados. Seria possível, cr: nossas cidades, tornar essa experiência panorâmica mais comnL ■ para as multidões que por das passam todos os dias? As ve/zA uma vista de grande amplitude pode expor o caos ou expre.v-í solidão descaracterizada, mas um panorama bem cuidado pmrei ser uma sóhda base para o desfrute da cíciade. ?

Até mesmo o espaço vazio ou disforme parece ser admimore ainda que não necessariamente aprazível. Muitas pessoas sc a-; ferem ao espaço vazio e à depressão da Praça Dewey, em Ib-Á

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: D A D B 4 9

nu como uma vista surpreendente. Sem dúvida, ysso se dá por miraste coro Et estreitem dos outros espaços urbanos. Mas, mudo o espaço tem alguma forma, como acontece ao longo do m Lltarles ou na Avenida Cominomcemllli, nas Praças Pershing i Louisburg, ou, até eeilo ponto, tta Praça Copley, o impacto c

11iito mais Jbrte: o aspecto torna-se inesquecível Se a Praça iiiíjay de Boston ou a Praça Journal de Jersey City tivessem iibmos espaciais proporcionais à sua importância funcional, m dúvida esnmiíun cmre os mais importantes baços distintivos a >uas respectivas cidades,

i )s aspectos paisagísticos da cidade - a vcgetaçào ou a água í:Um frequente mente citados com earinlto e prazer. Os entrevista- m dc Jersey City tinham plena consciência dos poucos oásis vem e. rm seu espaço urbano; os de Los Angeles quase sempre para- eipi t para descrever a exótica variedade da vcgetaçào toe eu. Vános cies afirmaram fazer mudanças diárias em seu trajeto para o tra­dio, pois, apesar de demorarem mais tempo, assim poileriam

ar por uma área arborizada, um parque ou um curso driguEi ihilquer. Lis um trecho ttada incomum de um percurso por Los macles:

"Vbee atravessa o Sunsct, depois de um pequeno pEuque crio uoiiie esquecí. L tu oito bonito, e - ah! - os jacEirandás começam a li-Cn. Um quarteirão a ei ma, uma casa tem sigmts plantados. Depois desce pela Canyon e vai vendo iodos os tipos de palmeiras, altas e Uri mis. Êmtào desce em direção ao parque."

Los Angeles, uma cidade que vive em função do automóvel, -.o rm oferece os mais expressivos exemplos de resposta ao sis- ÃLà viário, ao modo como ele se organiza, à sua relação com ou- Aõ ekmenios urbanos, ã suas características internas de espaço,

e vjcin e movimento. Mas o predomínio visual do sistema viário ; ::í importância fundamental enquanto rede a partir da qual a

•-1.! das pessoas vivência seu espaço vital também sâo ampla- ••.v- ãmrirtnaclos pelo material relativo a Boston e Jersey City. duioi eoisa que se evidencia de modo muito cíaro è a referen- : pimiarue à posição socioeeonômica: a rejeição das "classes

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50 A iVAG-í í r O A G DAD í

inferiores"' que circulam pela Broadway, em Los Angeles, o re­conhecí mento das "ciasses superiores" da Bergen Seetion, em Jersey City, ou a inequívoca divisão de Beacou Hill, em Boston, em dois lados distintos.

As entrevistas revelaram outra reaçáo geral: a resposta ao modo eomo o cenário físico simboliza a passagem do tempo. As pessoas entrevistadas em Boston eram eloquentes cm suas refe­rências ao contraste de idade: a "'nova1' artéria que corta a ’Ác­idav região do mercado: a nova igreja católica em meio aos ve­lhos edifícios da Rua Areh; a velha (escura, ornamentada, baixai Igreja da Santíssima Trmdade em contraste com o novo (expres­sivo, imponente, alto) edifício John Hancock, e assim por dian­te. De fato, as descrições eram quase sempre feitas como se fos­sem uma resposta aos eonstrasles do cenário urbano: contraste espacial, contraste de stòüzv, contraste de uso, idade relativa, comparações relativas á limpeza, defíníçòes ou elementos da paisagem. Os eiementos e atributos tornavam-se admiráveis ent termos de sua inserção no conjunto.

Em Los Angeles há uma impressão de que a fundez do am­biente c a ausência de elementos físicos com raizes no passado são estimulantes e perturbadoras. Muitas descrições da paisagem feítas por residentes fixos, jovens ou velhos, eram acompanha­das pelos fantasmas do que alí havia antes. As mudanças, como aquelas operadas pelo sistema de /feeuws, deixaram cicatrizes na imagem mental. O entrevistador observou:

"Entre os habitantes, parece haver uma amargura ou uma nostal­gia que se podería interpretar eomo ressentimento pelas inúmeras modificações, ou eomo mera incapacidade de rconentar-se com a devida rapidez para acompanhar-lhes o desenvolvimento.”

Os comentários gerais deste tipo tornam-se rapidamente evi­dentes durante a leitura do material das entrevistas. Contudo, ò possível analisar de modo mais sistemático tanto as entrevistas como os estudos de campo e aprender muito mais sobre a natu­reza e a estrutura da imagem urbana. È o qtte pretendemos fazer no capítulo seguinte.

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CAPÍTULO 3 A IMAGEM DA CIDADE E SEUS ELEMENTOS

Parece haver uma imagem publica de qualquer cidade que é a sobreposição de muitas imagens individuais. Ou talvez exista uma série de imagens públicas, cada qual criada por um número significativo de cidadãos. Essas imagens de grupo são necessa­das sempre que se espera que um indivíduo atue com sucesso em m u i ambiente e coopere coro seus concidadãos. Cada imagem In­dividual é única e possui algum conteúdo que nunca ou raramen- !e é comunicado, mas ainda assim ela se aproxima da imagem pública que, em ambientes diferentes, é mais ou menos imposi- íiva, mais ou menos abrangente.

A presente análise iimita-se aos efeitos dos objetos físicos perceptíveis. Existem outras influencias atuantes sobre a ímagi- uahílidade, como o significado social de uma área, sua função, ma história, ou mesmo seu nome. Essas influências não serão examinadas aqui, uma vez que nos move o objetivo de por a des­coberto o papel da forma em si. Partimos do pressuposto de que, no design atuaL a forma deve ser usada para reforçar o significa­do, e nao para negá-lo.

O conteúdo das imagens das cidades até aqui estudadas, que leiuetem às formas físicas, pode ser adequadamente classificado i:fu cinco tipos de elementos: vias, limites, bairros, pontos nodais r- marcos. Na verdade, esses elementos podem ter aplicação mais gnud, uma vez que parecem reaparecer em muitos tipos de ima-

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«eus ambientais, col =1 o podo demonstrar uma consulta ao Apên­dice A. Podem ser definidos da seguinte maneios:

1. Vias. As vias sào os cassais de e ire ui a vã o ao longo dos quais o observador se locomove de modo habitual, ocasional ou poten- cdd. Podem ser ruas. alamedas, linhas de iransilo, canais, terro- vias. Paia mu lias pessoas, são estos os elementos predommanies ent sua amagem. O.s habitantes Oe uma cidade observam-na a me­dida que se locomovem por ela, e, ao longo dessas voas, os ou­tros elementos ambientais se organizam e se relacionam.

2. Limites. Os limites são os elementos lineares não usados ou entendidos como vias pelo observador. Sào as fronteiras entre duas fases, quebras de continuidade lineares: praias, margens de rios, lagos, etc., cortes de ferrovias, espaços em construção, mu­ros e paredes. Sào referências laterais, mais que eixos coordena­dos. IZsses limites podem ser barreiras mais ou menos penetrã- veis que separam uma região de outra, mas também podem ser costuras, linhas ao longo das quais duas regiões se relacionam e se encontram. Amda que possam nao ser tão dominantes quanto o sistema viário, para muitos esses elementos limítrofes são Im­portantes características organizacionais, sobretudo devido ao seu papel de conferir unidade a áreas dil crentes, como no contor­no de uma cidade por água ou parede.

3. Bairros. Os bairros sào as regiões médias ou grandes de uma cidade, concebidos como dotados de extensão bidimensio­nal. O observador neles “penetra'1 tuentaimente, e eles são reeo- tdtecíveis por possuírem características comuns qtte os [demi fi­cam. Sempre identificáveis a partir do lado interno, são também usados para referência externa quando visíveis de fora. Até cer­to ponto, muitos estruturam sua cidade dessa maneira, com dite- renças individuais em suas respostas a quais são os elementos dominantes, as vias ou os bairros. Isso não parece depender ape­nas do indivíduo, mas também da cidade.

4. Pomos nadais. Üs pontos nodais sào pontos, lugares estra­tégicos de uma cidade através dos quais o observador pode en­trar, sào os focos intensivos para os quais ou a partir dos quais ele se locomove. Podem ser basicamente junções, Socais de inter-

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A IèC A lU Í/ CA CIDADE í. SEUS ! . I ' 5 3

rupção tio transporte, um cruzamento ou uma convergência de vias, m ornemos de passagem de uma estrutura a ou ira. Ou po­dem ser meras concentrações que adquirem importância por se- ícm a condensação de algum uso ou de alguma característica fi- sie;g como um ponto de encontro numa esquina ou uma praça fe­chada. Alguns desses pomos no da is de concentração são o foco e a síntese de um bairro, sobre o qual sua infiuência se irradia e do qual são um símbolo. Podem ser chamados de núcleos. Mui­tos pontos nodais, sem d ronda, tém a ira tu reza tanto de conexões como de eoneentrações, O concebo de pomo noda! está ligado ao de via. uma vez que as eottexões são, tipicamente, convergências de caminhos, fatos ao longo de um trajeto. Da mesma forma, hga-se ao conceito de bairro, tendo em vista que os núcieos são os focos intensivos tios bairros, sen centro polarizador. De qual­quer maneira, alguns pomos nodais podem ser encontrados em praticam ente qualquer imagem, e em certos casos podem ser o traço dominante.

5. Marcos. Os marcos são outro tipo de referência, mas, nes­se caso, o observador não entra neles: são externos. Em gerai, sao um objeto tísico deliu ido de maneira muito simples: edifí­cio, sinal, loja ou montanha. Seu uso implica a escolha de mn demento a partir de um conjunto cie possibilidades. Alguns mar­cos são distantes, tipicamente vistos de muitos ângulos e distân­cias, acima do pomo mats alto de elementos menores e usados como referências radiais. Podem estar dentro da cidade ou a uma distância tal que, para todos os fins práticos, simbolizam uma di- leção constante. Como exemplos, podemos citar as torres isola­das, as cúpulas douradas, as grandes montanhas. Ate mesmo um ponto móvel, como o Sol, cujo movimerno é su fie temem ente lento e regular, pode ser usado como mareo. Outros marcos são basicamente locais, sendo vísiveis apenas em lugares restritos e a partir de uma certa proxamdade. Sào eles os inúmeros anún­cios e sinais, 1 achadas de lojas, árvores, maçanetas de portas e omros detalhes urbanos que preenchem a imagem da maioria dos observadores. São geralmente usados como indicadores de iden­tidade, ou até de estrutura, e parecem tornar-se mais confiáveis à medida que um trajeto vai ficando cada vez mais conhecido.

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A imagem cie uma dada mal idade lisica pode as vezes mudar de lipo conforme as tldemoles circunstâncias do modo oe vei. Assim. uma via expressa pode ser um canal de eireumçao para o motorista e um iimhe paia o pedestre. í)o mesmo mono, uma área central onde sei um buino. quando uma cadade é organiza' da em escala média, c um pomo nodal. quando se leva em conta ioda a área metropohiana. Mas a\ cmegorias parecem ter estabi­lidade para um deiermmadn observador quando ele opera num determinado uivei.

Nenhum dos tipos de eieinennis aeuna espocdiçados existe isoladamente em siluaçao eonerela. Os bairros são estruturados com pontos nodais, de! in idos ]ior I mui es, atravessados por vias e salpicados nor marees. A sohrcpusiçao c inierpenetração dos elementos ocorre regulai mente. Se esta anahse começa pela di­ferenciação dos dados em categorias, deve terminar por sua rein­tegração à imacem tolal. Nossos esfiulos nos forneceram muitas informações sobre o carãier visual dos npos de elementos, pon­to que será discutido mais adiante, hileiizmente, só em menor grau o trabalho trouxe revelações sohie as imer-relaçòes dos ele­mentos. ou sobre os uiveis de imagem, as qualidades de imagens ou o desenvolvimento de imagens, hsícs uliimos tópicos serão abordados no fim deste eapíluUx

Vias

Para a maior parte dos eni revistados, as vias eram os elemen­tos urbanos predominam es. ainda que sua importância variasse conforme o grau de eonhecimenlo da cidade. Quem não conhe­cia Boston muito bem tendia a imaginar a cidade em termos de topografia. grandes regiões, eameievislieas generieas e amplas relações direcionais. Os entrevistados que conheciam melhor a cidade quase sempre tinham um domínio gerai de parte da estru­tura viária e pensavam mais em termos de vias especsiicas e suas imer-relaçòes. Uma tendência também sobressaía no caso dos que conheciam a cidade extreinamento bem: esses confiavam mais em pequenos marcos do que em regiões ou sistemas viários.

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O drama potencial e a Identificação no contexto do sistema dc auto-estradas não devem ser sub estima tios. Uma das entrevis­tadas de Jersey City, para quem nào há muito de interessante a ser descrito em seu entorno, de repente entusiasmou-se ao des­crever o Hoíland Tunnel. Outra tez um relato de seu prazer:

"Você atravessa a balei vem Ave mie. ve Nova York inteira á sua frente, sente o íauiástieo declive do terreno {as Palisades) ... e lá está o panorama da pane baixa de Jersey City, bem à sua frente: voeé desce a colina, e já sabe: ali está o túnel, o rio lludson e melo o mais. (...) Sempre olho para a direita, para ver se consigo avistar a ... bsiaiua da Liberdade. (...) Depois, sempre olho para o Em pi­re State Brmding, para ver como está o tempo. (...) Sinto orna ver­dadeira sensação de felicidade, porque estou indo a algum lugar e adoro ir a lugares.”

Certas vias podem tornar-se características importantes, de numas maneiras diferentes. Sem duvida, o trajeto habitual vai ser mna das influências mais poderosas, de tal modo que as princi­pais vias de acesso (a Rua Boylston. o Stomnv Drive ou a Rua Ircmont em Boston, o Hudson Roulevard em Jersey City, ou as vias expressas em Los Angeles, por exemplo) são, todas, ima­gens de importância vital. Os obstáculos ao tráfego, que em ge­mí complicam a estrutura, podem em outros casos torná-la mais clara, ao concentrarem a circulação em alguns canais que, desse modo, tomam-se conceituai mente dominantes. Ao funcionar como uma rotatória gigante. Beacott Hil] aumenta a importância das mas Cambridge e Charles; o Jardim Público reforça a impor­tância da Rua Reacon. Ao restringir o tráfego a algumas pontes hem visíveis, todas elas dotadas de uma forma característica, o im Charles sem dúvida concorre para a maior nitidez da estrutu- ía viária. De modo semelhante, as Palisades de jersey City con­vem ram a atenção nas tres ruas que passam sobre elas.

A concentração de um hábito ou atividade especial numa rua pode torná-la importante aos olhos dos observadores. Em Bos­ton, a Rua Washington é o exemplo principal: nossos entrevista­dos nunca deixavam de associá-la ao comércio e aos teatros. Al-

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gamas pessoas osieiuliam essas caracLon.siieas a parles da Rua Washington bem diforeutes (por exemplo, nos arredores da Rua Statej. Muitos pareciam não saher que a Rua Washinglon vai além do segmento dc divejsncs. e achavam que ela terminava perto das Ruas bssex ou Símut, L o s Angeles lem muiios exem­plos a Rroadwav, a Rua Spríug, o Sfod Rovv a Rua 7 - nos quais as concentrações de unUzaçáo sáo sufieiememenie mar- canles para criar verdadenos íam os I meares. As pessoas pare­ciam sensíveis ás variações da quantidade de atividades que en­contravam e, ás vezes, deixavam-se gmau cm grande parte, pelo fluxo principal do irá Jogo. A ílroLuhvav de Los Angeles era reco­nhecida por suas mu Ilido es e nelo movimento dc carros; a Rua Washington, em Boston, caracterizava-se por sua profusão de pedestres. Outros tipos dc ain idade no nível do solo também pa­reciam tornar alguns lugares memoráveis, como as obras de eonximçào perto da bs bugio Sul ou a agitação dos mercados.

Qualidades espaciais enraeleihuieas também conseguiam re­forçara imagem de d derramadas vias. No sentido mais simples, as ruas que sugerem largura ou estrede/a chamavam a atenção. A Rua Cambridge, a Avenida i fommomveahb e a Avenida Atlan­tic são todas bem conhecidas em Boston, c todas foram mencio­nadas por sua largura. Rute da importância das qualidades espa­ciais da largura e estroite/a provinha da costumeira associação da largura com as mas principais e da estreileza com as ruas laterais. A procura das ruas ' piineinaLs” (isto cg largas) e a con­fiança nelas depositada tornam-se automáticas e, em Boston, o padrão viário geralmerUo cmi fiima esse pressuposto, A Rua Washington, estreita, é uma exceção á regra, e nesse caso o con­traste 6 táo forte na direção contrária, uma vez que a estreiteza è refo rçad a por ed i fie i os a 11 os e 1111111 i d o es. q u c a p rópria i nver sã n iornou-se a marea distintiva. Algumas das dificuldades de orien­tação no setor financeiro de Boston, ou o anonimato do traçada de Los Angeles, podem ser consequências dessa falta de predo­mínio espacial

As fachadas com características especiais também sào impor­tantes para a identidade do sistema viário. A Rua Beacon e a Avenida Commonwealih são disiimivos etn grande parte devido

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Ks (achadas ue seus edilicios. A textura da pavimentação parecia ser lUl-uos imporlame, salvo em casos especiais, com o da Rua Qtvera, cm Los Angeles. Os dei a lhes de arborização também pa­reciam j-elaí ívamente sem Importância, mas grande parte dos es- pagos arbortzados, como o da Avenida Commomveahh. vinham rerorçar com grande eficiência a imagem de uma rua.

A proximidade de eameterísdeas especiais da cidade também podn= aumentar a importância de uma via, que nesse caso funcio- naua secundaria mente como um limite. Grande parle da impor- lânua da Avenida Atlantic provenha de sna relação com os cais e

i H- í : . z v G f ' d : g O r r-“ 0 ■;; > :■ L

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o porto, o S torrou-- Privo adquuia nnnoj lane ia devido a sua loca­lização ao louco do no t b;uU:s. As Ruas Arlinglon o Tremonc eram distintivas porcino um d<is stais lados corro ao longo dc um parque, e a Rua Cambi alce ganhava cm clareza devido á sua ro­tação limítrofe com Roncou flili. thiiins qualidades que eoníe- riam importância ;i vias expcei bens eram a exposição visual da própria rua ou aqui to que dela se podia avistar de outras partes da cidade. A Conlrul Arleiy eia notável em |varie devido a sua proeminêneia visual, uma vc/. que cnim elevada peta cidade. As noníes sobre o rio Charles lambem ciaus visivers a longas distân­cias, Mas as vias expressas de J.oa Angeles, nos limites do cen­tro da cidade, ficam oeulias por cmins uo i erre no ou taludes ar­borizados. Muitos dos eiitieusiados que se deslocam dc carrofalavam como se essas vias v>;pfessas nao estivessem ali. Por outro lado, motoristas indicavam que sua aieuçao se aguçava quando uma vis e.xpressa saía de um cone no terreno para uma vista aberta.

As vezes, as ruas deviam parle dc sua importância a razoesestruturais. A Avenida Mnssnebusetis era quase uma estrutura pura para a maior parle dos cnnevislndos, que nao conseguiam descreve-ia. Contudo, sua solução como interseção de muitasmas confusas ira tis forma va-a mm ulos mais importantes elemen­tos de Boston. Grande parte da rede via ira de Jersey City pareciater esse caráter pura mente estrutural.

Nos casos em que as vias principais careciam de identidade ou eram facilmente eonfundidas, rs totalidade da imagem urbana fícava difícil de configurar. Assim, a Rua hemont e a Avenida Shawmut podiam ser confundidas uma com a outra, em Boston; em Los Angeles, o mesmo acontecia com as Ruas Olive, Hope e flill. Era comum que a ponte Longleflow. cm Boston, fosse con­fundida com a barragem rio rio Charles, provavelmente porque linhas de trânsito passam sobre ambas e ambas terminam em ro­tatórias. isso criava sérias dificuldades na cidade, tanto no siste­ma viário quanto tias passagens subterrâneas. Muitas das mas e avenidas de Jersey City eram difíceis de encontrar, tatuo na rea­lidade quanto de memória.

É um imperativo funcional óbvio que as vias, uma vez iden­tificáveis, também tenham continuidade. As pessoas dependem

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regularmente desse alnbuto. A exigência fundamental 6 que a via cm si, ou o leito pavimentado* sigam adiante; a continuidade dc ouuas características tem menos importância. As vias com a mu satislaíóno de continuidade foram escolhidas como as mais se­guras num ambieme como o de Jersey City. Podem ser seguidas pelos que nào conhecem a cidade, ainda que com alguma difi­culdade. Muitas vezes as pessoas, generalizando, diziam que ou­tros tipos de características ao longo de uma via contínua tam­bém eram comí nuas, a despeito de mudanças concretas.

No etitamo, outros fatores de continuidade também tinham importância. Quando a largura do canal de circulação se alterava, como acontece com a Rn a Cambridge na Praça Rowdoim ou quan­do a continuidade espacial era interrompida, como é o caso da Rua WaslnngtOEt na Dock Square, as pessoas tinham dificuldade para perceber uma continuação da mesma via. Na outra extremidade da Rua Washington, uma súbita mudança de uso dos edifícios pode explicai; em parte, por que poucos conseguiam estender essa rua para além da Rua Kueeíand na direção do South End.

Exemplos de características que dão continuidade a uma via são a arborixação e as fachadas ao longo da Avenida Commom v/ealth, ou o tipo de edifício (ou de recuo) ao longo do Hucisou ISoLtlevard. Os próprios nomes desempenhavam uma função. A Rua 33cacon fica basicamente na Baek Ray mas está ligada a Beacon hbdl pelo nome. A continuidade do nome da Rua*WasEi- ington dava às pessoas uma mdicaçào sobre como prosseguir para o SouiJi Lnd. mesmo que desconhecessem essa área. Ha um agradável sentimento de relação que decorre apenas do fato de se estar numa rua que, pelo seu nome, sabemos segue para o co- uçao da cidade, por mais distante que ele esteja. Um exemplo contrário é a atenção dada ao começo indefinívcí dos Bulevares Wilslnre e Sunseb na área central de Los Angeles, por causa de ■ma natureza especial bem mais adi ame. A rua que confina com o porto de Boston, por outro lado, em ãs vezes fragmentada sim­plesmente devido aos nomes diferentes que tem: Rita Cause^av, Una Com mero ia 1 e Avenida Atlantic.

As ruas podem nào apenas ser identificáveis e continuas, mas ler, também, qualidade direcional: uma direção ao longo de um

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percurso pode ser facilmente dderenciada de seu contrario. Isso pode ser feito por meio de mn gradiente, rio uma mudança regu­lar em alguma qualidade que seja e.umulauva mima direção. Os gradientes topográficos er;un a-, orus frequentemente percebi­dos: em Boston, sobretudo na Rua 1 'umhndge, na Rua Beaeon e em Reacoü Hdl. Um gradiente de intensidade de uso como o que existe ao nos aproximarmos 0a Rua Washington também ena- ]nou atenção, ou, em escala regional. o gradiente de idade pro­gressiva ao tios aproximai mos do reun o de Los Angeles por uma via expressa. No ambieiue relativamciue eur/.ento de Jersey City havia dois exemplos de gradiente:-; baseados no estado relativo de conservação dos edifícios.

Uma curva prolongada lamhém é um gradiente, uma tarte mudança na direção do movimeiMo. Isso uem sempre eia perce­bido einestesicamente: as únicas menções a uma percepção cor­poral de movimento curvo di/.iam lesfieilo as passagens subter­râneas de Boston ou a panes das vias expressas de Los Angeles. Quando as curvas das ruas s:io mencionadas nas entrevistas, pa- recem remeter basicamente a indicações visuais. A curva tia Rua Charles, em Beacou t íiLI, Ibi peoeobida, ]ior exemplo, porque o paredão compacto dos edifícios imensd ícava a percepção visual de curvatura.

As pessoas tendiam a pensar cm termos de destino das ruas e de seus pontos de origem: gostavam de saber de onde surgiam e para onde levavam. As vias mm origem e destino claros e bem conhecidos tinham identidades mais lorles, ajudavam a unira ci­dade e davam ao observa d oi um senso de direção sempre que ele passava por elas. Alguns enirev.estadas, por exemplo, pensavam num desuno gerai rias vias (por exemplo, uma determinada par­te da cidade), c-nquanto outros pensavam em lugares espeeíJicos. Um entrevistado que domou suava requerer um alio grau de in­teligibilidade do ambiente urbano ficou perturbado por ter vis­to um conjunto de vias térreas e desconhecer o destino dos trens que por elas se deslocavam.

A Rua Cambridge, cm Boston, tem pontos terminais claros e estratégicos: a rotatória da Rua Charles e a Rraça Scollay. Ou­tras ruas podem ter apenas um término bem definido: a Aveni­

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da Commonwenlth, no Jardim Público, ou a Rua Federal, na lbaça do Correio. Por outro lado, o final indeflnídoda Rua Was­hington - igual mente imaginada como se fosse terminai' na Rua State, na Dock Squarc, na Praça Haymarket, ou mesmo na Esta­ção Norte (na verdade, ela corre regularmente até a ponte Cliar- leston} - não permitia que ela sc tornasse uma característica tão forte quanto podería ter sido. Em Jersey City, a convergência nunca consumada das tres ruas principais que cruzam as Enlisa- des, e seu indefinido rebaixamento finai, era algo extremamen- ic confuso.

Esse mesmo tipo de dilerenciaçâo de unia extremidade a ou­tra. que e propiciado pelos pontos terminais, pode ser criado por outros elementos que, por sua vez, podem ser visíveis perio do lim ou do tini aparente de uma rua. O Coinmon. peno de uma ponta da Rua Charles, Sancionava assim, o que lambem aconte­cia com o prédio da Assembléia Legislativa em relação à Rua lieacon. O aparente fechamento visual da Rua 7 em Los Angeles pelo Hotel Slaüer e o da Rna Wãslnngion em Boston pela Old Soam .Meeting Ho use tinham o mesto o eleito. Ambos são produ­zidos por uma ligeira mudança na direção da rua, colocando um edifício importante no e-xo visual. O.s elementos que se sabia es­tarem num lado específico de uma rna ou avenida lambem con­feriam um sentido de direção: o Symplumy Hall, na Avenida Massachusetis, e o Boston Common, ao longo da Rua Tremonf ciam ambos usados dessa maneira. Em Los Angeles, mesmo as concentrações relativamente mais deusas de pedestres do lado oeste da Broatlway eram usadas para saber cm que direção se es­tava olhando.

Quando uma ma possui qualidade direcional, eh pode ler o atributo adicional de ser imaginada em escala: pode to os ser ca­pazes de perceber nossa posição ao longo do comprimento total, sabera distancia percorrida ou ainda a percorrer. Em geral, sem dúvida, as características que facilitam essa representação em es­cala também conferem um sentido de direção, a não ser no caso mais simples de contar quarteirões, o que não tem qualquer atri­buto direciona], mas pode ser usado fiara ca leu lar distâncias. Mmtos entrevistados fizeram menção a esse indicador, mas a

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grande maioria omitiu o. Km mais cnmuniento nsauo no traçado regular cie Los Auge tos.

Na maioria das vezes, m1 vo/, a representação em escala em realizada através de uma sequência de mareou ou pontos nodais conhecidos ao longo do inje.ke A deinmeaçao de regiões identi­ficáveis também era um pnderoMí meio de indicar direção e re­presentar uma rua em escala. A Rua Kharlcs. ao encontrar-se com Beacon Hill a paiiii dn t oinman. c a Smnmer Street, en­trando tia região calça dista o couro: ra. a caminho da Kstaçao Sul, são exemplos desse clcim.

A partir de determinada qualidade direcional de utna via. po­demos perguntar se ela está alinhada., isto e, se seta diteçao pode ser referida a um sistema nuns a eh pio. f.m Boston, havia mu tios exemplos de ruas fora de alinhamento, o que muitas vezes se devia a uma curva sutil e enganosa. A maioria das pessoas nào percebia a curva da Av enida iVlassachuseUs na altura ua Rua J'fil­mou th e< por isso, seu mapa de Bosion resultuva com uso. Acha­vam que a Avenida ívlassach usei is corria em Unha reta. perce­biam seus cruzam em os cm ângulo rei o com um grande número de ruas e pressupunham que essas ruas fossem paralelas. As Ruas Boylston eTremont enm ddiceis porque, devido a algumas pequenas alterações, passavam de quase, paralelas a quase per­pendiculares. A Avenida Atlaniic era enganosa por se compoi de duas curvais longas e de uma tangente pratica mente reta: ela in­verte completamente a sua direção, mas c rela em sua parte ma rs característica.

Ao mesmo tempo, mudanças direcionais mais abruptas po­dem aumentar a clareza visual, ao limitarem o corredor espacial e criarem lugares mais proeminomes para estruturas que sobres­saem. Assim o núcleo tia Rim Waxhiuglon era dei inido, a Rua Hanover era rema latia por uma velha igreja no ponto em que pa­recia terminar, e as transversais do South Rn d ganhavam em in­timidade à medida que mudavam seu curso para atravessarem as principais radia is. Be modo mm to semelhante, as pessoas eiam impedidas de perceber o vácuo cm que a Los Angeles central está situada, devido as alterações de traçado que obstruem a vis­ta para fora.

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A segunda causa do desalinhamento com o ves?o da cidade era a aguua separação cie uma rua de seus elementos circundan- íc s . No Boston Common, por exemplo, o sistema viário aerava muita conlusão: as pessoas ficavam inseguras quanto a q tia is passagens usar pai a poderem chegar a determinados lugares fora desse espago. A percepção de onde essas ruas iam dar via-se blo­queada, e as ruas do Comutem não conseguem ligar-se ás que lhe correm por lora. A Central Artery oferecia um exemplo ainda mentor pelo tato de ser ma=s destacada de seu emonto. E uma via elevada que não permite que se tenha uma visão clara das toas adjacentes, mas permite uma espeeie de movimento rápido e tranquilo do qual a cidade carece por inteiro. É um tipo especial de 'rei tto do a momo ve]’', em vez de uma ma normal de cidade. Muitos entrevistados tinham grande dificuldade em alinhar a Ar­tery com os elementos circundantes, ainda que soubessem que ela liga as Estações Norte e Sul. Em Los Angeles, também, as vias expressas não eram percebidas como se estivessem “dentro” do resto da cidade, e a saída por utna rampa era um momento tí­pico de muita desorientação.

Pesquisas recentes sobre os problemas relativos à sinalização das novas vias expressas mostra rato que essa dissociação do en­tee no faz com que cada decisão de alterar o trajeto seja tomada sob pressão e sem o devido preparo. Mesmo os motoristas fami­liarizados com o espaço demonstravam uma surpreendente falta de conhecimento do sistema de vias expressas e suas conexões. A orientação geral tomando como referencia a paisagem global era a maior necessidade desses motoristas.

As vias férreas e o metrô são outros exemplos de dissociação. As vias subterrâneas do metro de Boston ttão podiam ser ligadas ao resto do ambiente, exceto ttas panes em que vêm dar à superfí­cie. como ao atravessarem um rio. por exemplo. As entradas para ;is estações, na superfície, podem ser pomos estratégicos da cida­de, mas são ligadas por invisíveis conexões conceituais. O metro è um mundo subterrâneo à parte, e é interessante especular sobre quais meios poderíam ser usados para ligá-lo à estrutura do todo.

A água que circunda a península de Boston é um elemento Exb sico ao qual partes da rede viária podem ser alinhadas. A quadrí-

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cuia da B ack Bav era associada ao n o ( narlcs: a Avenida A t la n ­tic e ia l igada ao porto; a Nua G m nb ik lgc levava c la ram en te daP raça Scoòlay ao rio. A pesar de suas curvas = requentes , o H udson B oulevard de Jersey Crty alinhava-se com a longa pen ín su ia en~ tre o K aekensaek e ti I ímIsoj 1. O iraç ■ u111 de í .os A 11 geies n rodu- zia. sem d úv ida , um a l inham en to antoiiiatíeo entre as ruas cto c e n ­tro. lira fácil c o n s id e ra d o com o um m ode lo bás ico n u m m apaesboçado , m e s m o se as ruas nau era m i n d iv a m a lm en tc di>ei i m i­náre is . D o is te rços idos eu l ie \ istados I i /c in m esse desenho pii- nieircy an tes de acrescentai qua isquer o u tros e lem en tos . C on tudo , o fato de essa quudrieula se posic ionar a um a certa d istância a n g u ­lar. ta tuo em relaçao ao emano no da costa quan to a o s pon tos eat- deais. causava eeila d ib ru íd a i le a alguns dos nossos entrevistados.

Q u a n d o co n s id eram o s m ais de u m a rum a in te rseção to rna-se v i tak pois è o pooOu de d e n s a o. I N reria m ais kicil lidai co m a s im ples re lação p e rp e n d ic u la r principal m ente q u a n d o a loirnti da in te rseção era re k a ç u d a por m u ras carac ter ís t icas . S e g u n d o os en trev is tados , a mor-- o a n u a id a m ie iseçao do B o s to n e i a a cia Avenida t miusumv-.enkh eo m a líua A ru n g to n . k u m d visual- m ente óbv io e rei o rça d o pelo espaço , pela n rborizaçao . pe lo tiá-leito e pela im pm láucia do c o n jun to dos e lem en tos . O c r u z a m e n ­to das Ruas G h a i le s v B caeon em ig u a h n e iu e b e m conhec ido : os co n to rn o s se t o 111 a 111 v r s i ve i s e s ao i v i orç ado s pe 1 o s 11 m i tes do C om m oii e de> Passeio Ihihbeo. t.)s ei u za m e iu o s de várias ruasco m a Avenida M assauhnseU s em m lác iim eiue c o m p re en d id o s , ta lvez pelo íam de as ic lações em ângu lo reto so b ressa í rem no con lra s ie eorn ei resto i.ítr eeu lro da cidade.

Na verdade . paia m o a o s dos en trev is tados as in te rseções c o n ­fusas de ruas cm n in h o s ângu los e ram u m a d a s ca rac te r ís t icas li picas de Bosion. Ü s e n iz a m e u lo s co m m ais de q u a t ro po n to s q u ase sempre- criavam prob lem as. U m m otor is ta de táxi e x p e ­riente. co m um c o n h e c im en to quase p e r ío d o da e s tru tu ra viâiia da cidade , co n fe sso u que o c ruzam en to de c inco ru as em C hurch G reen . na llua S um m er , era urna das duas co isas que m a is o p e r ­tu rbavam na c idade . Igual m e n te p e r tu rb ad o ra era u m a ro ta tó iia co m m uitas v ia s de acesso in tercaladas a b reves in te rva lo s ao ie- d o r de u m a cu rv a não di fere nevada.

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a d a •. •• o ü x i to ro s es

0 número de entradas, porém, não é a história ioda. Mesmo am cruzai nem o de cinco mas não perpendiculares pode malhar em clareza, como tbí feno na Praça Copley, em Boston. O espa­ço controlado e a importância do ponto no dal servem para pór em relevo a relação ancorar entre a Avenida Hunriugton e a Rua Boytston. A Praça ParL por outro lado, c nma simples articula­ção perpendicular que, por sua fada de forma, l ã o consegue co­municar sua estrutura. bm muitos cruzamentos de Boston, não só se multiplica o número de vaas, como se perde completamen- ie a continuidade do corredor espacial quando ele dá no vazio caótico de uma praça.

Os cruzamentos eaóíicos também não sào simplesmente o produto de um acidente histórico do passado. Os trevos das auto- estradas contemporâneas são ainda mais confusos, sobretudo quando se leva em conta que é preciso passai- por eles em alta ve­locidade. Vários entrevistados de iersey City, por exemplo, ex­primiram seu medo da forma da rotatória da Avemda Tonneüe.

Om problema de percepção em grande escala é colocado quando uma rua bilmeu-se em duas e ambas sào rei a ti vam ente importantes. Um desses casos e a bifurcação de Siorrow Drive (depois de uma confusão de nome com a Rua Charles) em duas ruas: a Nashua, mais velha, que toma o ramo Causeway-Com- niei cial-AtEantic. e a recente C entrai Ariery. Ussas duas ruas cos­tumam ser contundidas, tornando a imagem ainda mais turva, iodos os enlrevEStados p arec iam Incapazes de pensar em ambas ao mesmo tempo: os mapas mostravam uma ou outra como uma extensão de Storrow Drive. De modo muito parecido, no sistema de metrô a bifurcação contínua das linhas principais era um pro­blema, uma vez que era difícil manter distintas as imagens de duas bifurcações ligeiramenfe divergentes, e tgualmenie difícil lembrar o tule ocorria a bifurcação.

Algumas ruas impor tatues podem sei' i ma amadas em conjun­to como uma estrutura simples de memorizar, apesar de algumas pequenas irregularidades, desde que mantenham uma reEaçào ue- nd coerente entre si. O sistema viário de Boston não leva a esse lípo de imagem, com a possível exceção do paralelismo básico das Ruas Washington e dremonl. Mas o sistema de inemó de

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F=Cj. A íO '0'O r iò C Í A v - n í ' : - W

Boston, quaisquer que sejam suas imuksvôes cm escala real, pa­recia bastante fácil de visualizai como duas linhas paralelas cor­tadas no centro pela linha Lambíidgedíorcbester, ainda que as linhas paralelas possam ser conlundulas, prineipalmente porque ambas correm para a Lstaçao Noite. O sistema de vias expressas de Los Angeles parecia ser imaginado como uma estrutura com­pleta, como era o caso em Jersey t.ily com o sistema do Hudson Boulcvard atravessaiLi por ires ruas que descem as Palisadcs, ou a tríade representada pelos Bulevares West Side, Hudson e Ber­gen com suas transversais regulares.

Ho caso de um entrevistado acostumado a deslocar-se de car­ro. a restrição represenlada pelas ruas de mão única complicava profunda mente a imagem da rede viária. O segundo bloquem mental do motorista de táxi devia-se exalamente a tal irreversibi- 1 idade do sistema. Para outros, a Rua Washington nào linha uma

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imagem visível ao cruzar a Doek Square. pois em ambos os la­dos seLt acesso é de mão única.

Om grande número de vias pode sei' vasto como uma rede to­tal sempre que as suas relações se repetirem de modo suficiente- mente previsível e regular. O traçado de Los Angeles é um bom exemplo. Quase todos os entrevistados conseguiram facilmente desenhar cerea de vinte mas principais, estabelecendo a correta relação entre elas. Ao mesmo tempo, essa regularidade mesma nào permitia que des distinguissem com facilidade essas ruas entre si.

A Back Bay, em Boston, é uma interessante rede viária. Sua regularidade é notável, em contraste com o resto do centro da ci­dade, um efeito inexistente na maioria das cidades norte-ameri­canas. lfsta, porém, não e utna regularidade s c e u feições caracte­rísticas. As ruas longitudinais eram claramente diferenciadas, na

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cabeça de iodos os entrevistados, das ruas. transversais, de um í modo parecido com o que ocorre em Manhattan. Iodas as ruas { longas têm características individuais - as Ruas Beaeon, MarJbo- fo e Novvbiirv e a Aveuida Commomveahb são todas diferentes enquanto as ruas transversais luttcionam como dispositivos de medição. A relativa largura das ruas, o comprimento dos quartei­rões, as fachadas dos edifícios, o sistema de nomes, o compri- \ mento e o numero relativos dos dois tipos de ruas, sua importam i eia funcional, tudo tende a reforçar essa diferenciação. Ê assim j que se confere forma e caráter a um modelo regular. O sistema al- \ fab ético de designar as mas transversais loi 1 requentem ente usa- do conto dispositivo de localização, de modo semelhame ao uso | de números em Los Angeles. f

O South End, por outro lado, embora tenha a mesma forma J lopofogica de longas mas paralelas importantes, interligadas por j ruas menos importantes, e embora quase sempre seja imaginado \ pela maioria como uma quadríeuia regular, é mudo menos bem- r sucedido em seu modelo. Ruas principais e ruas secundárias ; também são diferenciadas por sua largura e seus usos, e multas t das mas menos importantes têm mais características próprias do r que as da Back Bay. Mas há uma falta de traços distintivos nas ; mas principais: é difted distinguir a Avenida Columbus da Rua r Tremont ou da Avenida Sbawmut. Essa falta de clareza aparece \ muitas vezes nas entrevistas.

A freqüente redução do South End a um sistema geoEné tricô era típica da tendência constante dos entrevistados a impor regu- j. Ia ri d ade ao seu entorno. A menos que refutados por evidências í óbvias, sempre tentavam organizar as vias em forma de redes j: geométricas, ignorando curvas e interseções não perpendieuta- p res. A parte baixa de Jcrsey City era frequentemente desenhada | como uma rede formal, ainda que só em parte seja possível ve- % ía como tal. Alguns incorporaram toda a parte central de Los Am \ geles a uma rede de traçado repetitivo, como se a distorção na ç extremidade leste da cidade ttào existisse. Muitos entrevistados v insistiram em reduzir a confusão de mas do setor íinaticeiro de Boston a um tabuleiro de xadrez! A mudança súbita ~ e sobretm v do quase imperceptível - de um sistema de quadríeuia regular %

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para outro sistema de quadrieula, ou de não-quaddeula, provoca­va muita confusão. Alguns des entrevistados em Los Angeles fi­cavam. quase sempre desorientados na área norte da Rua 1 ou na parte leste de Satt Pedro.

Limites

Limites sâo os elementos lineares nâo considerados como ruas: sào gerahttente, mas nem sempre, as fronteiras entre dois tipos de áreas, funcionam como referencias laterais. Têm forte presença em Boston e Jersey City, mas são mais fracos em Los Angeles. Parecem mais fortes os limites que nâo só predominam vi sua! mente, mas têm uma forma continua e nào podem ser atra­vessados. O rio Charles, em Boston, é o melhor exemplo disso e tem todas essas características.

A importância da definição peninsular de Boston já foi aqui mencionada. Deve ter stdo muito mais importante no século XVífL quando a adade era realmente uma península. Desde em tao, a linha litorânea desgastou-se ou foi modificada, mas a ima­gem persiste. Uma mudança, peto menos, ajudou a reforçar a imagem: o limite representado pelo rio Charles, no passado um remanso pantanoso, é hoje uma linha definida e desenvolvida. Os entrevistados descreveram-no frequentemente, e muitas vezes o desenharam com riqueza de detalhes. Todos se lembravam do grande espaço aberto, da linha curva, das auto-estradas que o margeiam, dos barcos, da Esplanada, da Shell.

O limite aquático do outro lado, o porto, também era de co­nhecimento geral e lembrado por sua atividade especial. Mas a consciência da presença da água era menos ciara, pois era obs- inuda por muitas estruturas, e a atividade portuária, outrora abun­dante. deixou de existir. Muitos entrevistados não conseguiam li­gar o no Charles e o porto de Boston de uma maneira concreta, hm parte, isso talvez se deva ao fato de que, na extremidade da península, a visão da água tenha sido obstruída pelos pátios de manobras e por edifícios da ferrovia. Outro motivo talvez sofa o aspecto caótico da água, com seu grande número de pomos o cais

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nft confluência tio rio Charles coiu o fio Mystie e o mar. A laba dc vias à beira-mar Ifeqíienladas c a queua tio tuvel da água do Dique também anulam a quebrar a continuidade. Ma=s a oeste, poucos se davam et mia tia presença da água em South Bay. nem conseguiam imaginar qualquer mteitupção do desenvolvimento nessa direção. 3:ssa laba de Icehamenlo peninsular pE'ivava o ci­dadão de uma imagem satisfatória de inteireza e racional ida tle em sua cidade.

A Central Artery é inacessível a pedestres, em alguns pontos intransponível, c tettt grande proeminêneia espacial. Só às vezes, porém, ela é acessível ao olhar, lí mn ca st) daquilo que poderia­mos chamar dc limite fragmentário: é contínua em termos abs­tratos, tnas só se torna visiveí em pontos distintos. Os trilhos da ferrovia eram outro exemplo. A Artery, em particular, parecia uma cobra que se estendia por sobre a imagem da cidade. Des­cendo nas extremidades o em um tm dois de seus pontos inter­nos. em todo o seu reslanle ela serpenteia e se contorce tle um lado para o outro. A lã ha de lelação se e ilida enquanto se dirige por essa via refletia-se em sua ambígua localização para o pedestre.

O S torro w Drive, por outro lado, ainda que também percebi­do petos motoristas cot no estando Alo lado de fora", era facil­mente localizado tro mapa, em decorrência tic seu alinhamento com o rio Charles, hsso rio. apesar tle seu papel de limite básico da imagem de Boston, ficava curiosa mente isolado da estrutura contígua da Back Bay. As pessoas ficavam perdidas, sem saber como passar de uma ao outro, bodemos especular que isso não acontecia antes de o Slorrow Drive ter cortado o acesso dos pe­destres na extremidade de cada i ua transversal.

A inter-relação do rio Charles coto Beaeon Hil! era igual men­te difícil de entender. Ainda que a localização da colina possa permitir entender a complicada curva do rio e ainda que, por esse motivo, propicie uma visão niluda no limito do rio, para muitos a rotatória da Rua Charles parecia ser a única ligação consistente entre o rio c Beaeon llid. Se a colina se erguesse de modo abrup­to e nítido diretamente da água, cm vez de fazê-lo detrás de uma faixa de terra que a encobre c é ocupada por usos duvidosamen­te associados a Beaeon Hill, e se tivesse tuna ligação mais eon-

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sistente com o stsiema viário ao longo do rio, a relação teria sido mui 10 mais clara.

hm Jersey Cily. a 2 o na portuária também era ura limite fone. soas um lanio proibido, l-ra uma terra de ninguém, uma região para alem do arame 1 arpado. Os limites, se iam cies de ferrovias, de topogral ia, de rodovias ou de bairros, sào uma característica dpi ca desse ambiente e tendem a fragmentado. Alguns dos limi­tes menos agradáveis, como o da margem do rio Haekensack, eom seus depósitos de bxo, pareciam ter sido menta!mente eli- nunados por nossos entrevistados.

h preciso nao perder de vista a capacidade de ruptura de um limite. 0 isolamento do Nortu End de Boston pela Central Artery era eloqüente aos olhos de todos, moradores da cidade ou não. Se tivesse sido possível, por exemplo, preservar a ligação entre a Rua Hanover e a Praça Scolíay, esse eleito podesvia ler sido mini­mizado. Na época em que foi feito,, o alargamento da Rua Cam- bridge deve ter tido o mesmo efeito para 0 contínuo West End- Beaeon IJití. O grande corte representado pelas ferrovias pareceu desmembrar a cidade, isoiando o “triângulo esquecido” entre Back Bay e South End.

Enquanto a continuidade e a visibilidade são cruciais, os limi­tes fortes não são necessariamente impenetráveis. Muitos limites sào uma costura, muito mais que barreiras que isolam, e é interes­sante perceber as diferenças de efeito. A Central Artery de Bos­ton parece dividir e isolar por completo. A Cambridge, que é uma rua larga, faz uma divisão inequívoca entre duas regiões, mas mantem uma certa relação visual entre ambas. A Rua Beaeon, fronteira visível cia Beaeon Hill ao longo do Common, funciona nào como barreira, mas como costura ao longo da qual as duas áreas principais se unem de modo claro e inequívoco. Aos pés da Beaeon Hill, a Rua Charles tanto divide quanto une, deixando a area mais baixa numa relação incerta eom a colina acima. A Rua Charles tem um transito intenso, mas também contém lojas e atende às atividades especiais associadas à colina. Ao atrair os ha­bitantes, ela tem a capacidade de uni-los. Funciona ambiguamen­te tanto como ponto nodal linear quanto como limite ou via para pessoas diferentes em horas diferentes.

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Muitas vezes. os limites também sim vias. Nos casos em que era assim e em que o observam n eamum uáo era impedido de lo­comover-se peta via íuhiih açonlcce oa Central Artery, por exemplo), a imagem t3a ma enquaum eanai de circulação pEueciít predominar EEm geral, n ebaiKnm eia representado como uma via. reforçado por cameioi i sinais de pi mio limilrole.

As Ruas Fíuneroa c Nnuscí e s em menor mau, as Ruas Los Angeles e Qlympie. eram gc.udmmle unapmadas como os limi- tes (ia região financeira eenlial dc Ln.s Angeles. I; interessEmte observar que cssejs ruas eram uma imagem nuns lorte do que as vias expressas Hollywond c Mailing que também podem serpen- sadas como iromeiras de giamlc porte r que são muito mtus im­portantes como vias, elíciii (íe IisicEsmcnte mais imponentes, O fato de a Rua Ligueroa e oniras ruas de superfície serem, concei­tua] mente, parte do traçado pegai e eonheddas pá há algum iempo, assim como a relativa invisibilidade das vias expressas rebaixa­das ou ajardinadas, concorrem para apagar essas vias expressas da imagem dos Intbítnriles. Paia imuíos eiu revista dos, ora dtiieil estabelecer um£3 relação mental cinte a rápida auto-estrada e o resto da estrutura urbana, cxaiuiuenie como no caso de Boston.Lm sua imaginação, des chegnnnm até a alravessara pé a Holly­wood Freeway, como se ela não cxishssc. Lana tsrteria de alta ve- j íocidade pode não ser, nccessiutamenlc, ej melhor maneira de j delimitar um bairro cerniu! em lermos visuais. j

As ferrovias elevadas de Jcisey City e Boston sao exemplos do que poderiamos cliEímar de "'liuutes elevados". Visto de bai- ; xo, o elevado que eorre ;io longo da Rtui Washington, em Bos- \ ton, identifica a tua e determina a direção para o centro. No potUo j em que deixa tt riei, na Broadway, a via perde muito em termos \ de direção e forçar ütmmlo vários desses limites se curvam e eu- j trecruzam acima de nós, como acontece perto da Estação Norte, l o resultado pode ser basLEtuie confuso. Contudo, os limites mui- I to acima do solo, que não sortam barreiras no uivei deste, pode- | riam íuiurEunente tornar-se pnritos de orientEição bastante efi- j cientes dentro do espaço urbano. [

Assim como eis vias. os limites também podem ter qualidades i direcionais. O limite represeuludo pelo rio Charles, por exemplo, ]

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distingue claramente a água de um lado e a cidade do outro. além de fazer a distinção eomcço/fim estabelecida por Reacon Hilí. DJii sua maior parte, porem, os limites praueamenie não apresen­tam (ai característica.

L difícil pensar em Chicago sem imaginar o lago Micbluan. Sena mteressante verificar quantos habitantes dessa cidade eo- meça? iam a desonnar o mapa local pondo no panei outra coisa líuc a linha ua margem do lago. Temos aí um magnífico exomnlo de iimite visível, gigantesco em suas dimensões, que e.xpòe toda tuna mettópole aos nossos oihos. Grandes eddicios. parques e pequenas praias particulares chegam até o limite das águas, e eSvC, ao longo do quase toda a sua extensão, e acessível c visível a todos. O contraste, a diferenciação dos eventos ao longo da li­nha e a sua largura lateral são, todos, características muito fortes. O efeito é reforçado pela concentração de ruas e atividades ao

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longo de sua extensão. A escala talvez sept grande e grossenn de­mais. e por vezes um excesso de cspugo aberto se interpõe entre a cidade e as águas, como ;in miece no 1 .oop. Ainda assim, a vi­são geral de Chicago a pai ur do lago é inesquecível.

Bairros

Os bairros são áreas relativa mente gi andes ria cidade, nas quais o observador pode peneirai meuialnienlc e que possuem algumas características em comum. lUbcm ser reconhecidos internamento, ãs vezes usados como referências esta nas como, por exemplo, quando tinta pessoa passa poi eles ou i >s atravessa. Muitos de nos­sos entrevistados fizeram questão de cnlalízar que Boston, apesar de confusa em seu modelo vi ata o [mesmo para o habitante que a conhece bem), é uma cidade que tem. no mimem e na vivacidade de seus bairros difere mundos, uma qualidade que compensa seus outros problemas. Como alarmou um dos entrevistados:

"Cada parle de- bosiou e dilvrenle das muras, ecfaedimo sabei em que parte da cidade estanuo.''

Jersev City também kun buiiros. mas estes sào basicamente étnicos ou de classes, eom poucas distinções físicas, Lm Los An­geles hã uma falta evidente de regiões marcantes, com exceção do Cetttro Cívico. O melhor que podemos encontrar são os bair­ros lineares de Skíd Row, ou a região 1 tttanceira. Muitos dos en­trevistados de Los Angeles mencionaram, eom algum pesar, o prazer de viver num lugar eom fuças de fortes características pró­prias. Um deles afirmou:

L'Gosto de Transporia mm Ume porque esta tudo congregado sli. É isso que inleressa: todas essas outras coisas sao desiguais. (...) Alt existe um sistema da transportes, e todos os que ali trabalham tem algo em comum, b muito hoin.’'

Quando perguntamos a alguns tios entrevistados em qual ci­dade achavam mais fácil orientar-se, muitas foram mencionadas.

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mas a citação unânime ficou por conüi cie Nova York [isto é, Ma­nhattan), que não foi cilada por causa de seu traçado, que não di­fere muilo tio de Los Angeles, mas tle seu i\úmero tle bairros eom características bem definidas, ocupando uma moldura ordenada de rios e ruas. Dois entrevistados de Los Angeles chegaram mes­mo a relerir-se a Manhattan como apequena" em comparação eom a área central tle sua cidade! Os conceitos de tamanho podem de­pender, cm parte, do modo como se apreende uma estrutura.

Lm algumas entrevistas feitas em Boston, os bairros eram os elementos básicos da imagem da eidade. Quando, por exemplo, se perguntou a um entrevistado como ele iria de Faneuíl Hall para Symphotiy Hall, ele nào vacilou em responder que fazendo o trajeto de Nortb Lttd a Back Bay. forem, mesmo quando nào eratn usados para a orientação, os bairros continuavam sendo uma parte importante e satisfatória da experiência de viver na ei­dade. Lm Boston, o reconhecimento de bainos distintos parecia variar à proporção que aumentava o conhecimento da cidade. As pessoas mais familiarizadas com Boston tendiam a reconhecer regiões, mas, para organizar-se e orientar-se, confiavam bem mais em elementos menores. Alguns, que conheciam Boston ex­tremamente bem. nao conseguiram generalizar percepções de detalhes específicos em bairros: conscientes de diferenças me­nores em todas as partes da cidade, nào formavam grupos regio­nais de elementos.

As características físicas que determinam os bairros sào con- ti nu idades temáticas que podem consistir numa infinita variedade de componentes: textura, espaço, forma, detalhe, símbolo, tipo de construção, usos, atividades, habitantes, estados de conservação, topografia. Numa cidade edi ficada de modo tão fechado e com­pacto, como Boston, as homogencidades de fachada - material, modelos, ornamentação, cores, a linha do horizonte e, em espe­cial, o modo de dispor as janelas - eram, todas, indicações bási­cas para a identificação dos bairros principais. Beacon Hill e a Avenida Commonwcalth são dois exemplos disso. Os indicadores não eram apenas visuais: o barulho era igual mente importante. Na verdade, às vezes a própria confusão podia ser um indicador, como tio caso de uma mulher para quem o fato de começar a sen­tir-se perdida era um sinal de que eslava no North End.

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Em geral, as curadaishcas típicas eram imaginadas e reco­nhecidas num grupo eaiaetei isdao: a imidade temática. A ima­gem de Beaeon El 111, por exemplo, incluía ruas Íngremes e estrei­tas; velhas casas de tijolo, de dimensões médias; porcas brancas bem conservadas; forrageus de podas e janelas piei os: ruas com eamamento de pedras e tijolos; tranquilidade: pedestres de clas­se olea. A unidade temática re.su hante contrastava com o resto da cidade e podia ser reconhecida de imediato. Em outras partes do centro de Boston, o que havia era uma certa confusão temática. Não era Ineomum agrupai a üack Buy com o South End, apesar de todas as diferenças de uso. .vmm.v e modelo. isso talvez fosse o resultado de uma certa homogeneidade arquitetônica, ao lado de algumas semelhanças dc antecedentes históricos. Essas seme­lhanças tendem a tornar indistinta a imagem da cidade.

Em certo reforço de indicadores é necessário para a produção de uma imagem forte. Quase sempre existem alguns sinais dis­tintivos. mas não em número snláeieulc para uma unidade temá­tica plena. Quando assim é, a região pode ser reconhecível para algitém familiarizado com a chiado, mas ela não terá força ou impacto visual algum. E o caso. por exemplo, de Litde Tokyo, em Los Angeles, reconhecível por sua população e pelos letrei­ros nas ruas, mas de resto cm nada dilercneiado da matriz geral. Ainda que seja uma forte concentração étnica, provavelmente conhecida de muitos, só aparecia como uma parte subsidiária da imagem da cidade.

Contudo, as conotações sociais são muito importardes em re­giões edlficadas. Moitas entrevistas de rua apontavam para as conotações de classe que mu grãEuie número de pessoas associa a bairros diferentes. Em sua maior pane, as regiões de iersey City eram áreas de forte matiz étnico ou de classe, só muito di­ficilmente perceptíveis por quem não vive na cidade. Tanto Jer­sey City quanto Boston mostraram o exagero da atenção dada aos bairros das classes alias e a resultante magnificaçâo da im­portância dos elementos nessas áreas. Os nomes dos bairros tam­bém ajudam a conferir-lhes identidade, mesmo quando a unida­de temática não estabelece um contraste eioqüente com outras partes da cidade. As associações tradicionais podem representar um papel semelhante.

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A êíV A G l M d a CiDACE E SEü í ELEMEm CS 77

Q uan do a p rin c ipal ex 5 gên c ia fo i s m is fc iia e u ma u n i dad c t e - mática que contraste com 0 resto da cidade foi cotisliuiída. 0 gmLi de homogeneidade interna e menos significatõ-o, sobretudo se elementos incompativeis ocorreram mim modelo previsível. Pequenas lojas em esquinas dâo a Beaeon llill um ritmo que Lima em revoada percebeu como pane de sua imagem, Essas Jóias nào diminuem, de modo aigum, sua amigem não-comercial de Beaeon 11 Lll; na verdade, vieram somar-se a ela e reforçada. Os em revistados conseguiam ignorar uma quantidade surpreenden­te di~ cont menções localizadas com as características marcantes

I de uma região.Os baú tos têm vários tipos de [romeiras. Algumas são sóli­

d a dei inidas, precisas, Com0 exemplo, podemos citar a íromei- ra da Back Bay no rio Charles ou 110 ['asseio Publico, Todos con- coidain com essa localização precisa. Outras fronteiras podem

j ser flexíveis ou incertas, como 0 limite entre a parte comercialj do cerni o e o baú ro dos escritórios, de cuja existência e localiza­

ção apioxitnada a maior parte dos entrevistados deu testemunho. Também existem as regiões sem quaisquer 1 romeiras, como é 0

| caso do South Bmt na opinião de muitos moradores. A Figura 25

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ilustra essas diferenças de caractcristica das i romeiras, no casa de Boston, esboçando eni linhas imiais taiUo a extensão máxuna atribuída a qualquer bairro quanto o que c mais espeeificamente cemro na opinião consensual dos 1ubil antes.

Esses limites parecem lei uma lúuçáo secundária: podem estabelece]' as regiões bmitinles de um bauro e reforçar sua identidade, mas aparente mente têm pouco a ver com sua consti­tuição. Os limites podem aumentar a tendência dos bairros a fragmentar a cidade de um modo desorganizado. Algumas pes­soas percebiam a desorganização como um resultado do gratide número de bairros identificáveis em Boskm: ao impedir as tran­sições de um bairro a outro, os limites tortos podem rei orçar a impressão de desorgaEÚzaçáo.

Não é incomum o tipo de ban 10 com um núcleo forte e cerca­do por um gradiente temático que vai desaparecendo aos poucos. As vezes, de fato, um ponto iiodai forte pode ca ia]1 uma espécie de bairro numa zona homogênea mau-: ampla, simplesmente por “ra­diação". ou seja, pela sensação de proximidade com o pomo no- dal. São, basicamente, áreas de mleiéncia com pouco conteúdo perceptivo. mas úteis como conceitos organizadores.

Alguns bairros conhecidos de Boston eram desestruturados na imagem pública. O Wcsi Eml c o Norlh Hnd eram interna men­te indiferenciados para a nnuoi ia das pessoas que reconheciam essas regiões. Com maior frequência ainda, bairros íematica- meute muito vivos, como a região do mercado, pareciam ser con­fusos e disformes taiUo interna quanto externamente. As sensa­ções físicas das atividades do nane ado são inesquecíveis, faneuil Hall e suas associações vem reforçá-las. No entanto, a área é dis­forme e espalhada, dividida pida (áeulral Ariery e obstruída pe­los dois centros de atividade que disputam o predomínio: Faneuil Hall e a Praça Hnymarkct. A Hock Square e espactalmente caó­tica. As ligações eom mitras áreas são obscuras ou desintegradas pela Centrai Artery. Assim, a região do mercado era imprecisa na maioria das imagens. Um vez de cumprir seu papel potencial de ligação diversificada na cabeça da península de Boston, como faz o Commou mais abaixo, o bairro, apesar de diferenciado, só funcionava coeuo uma zona limítrote caótica. Be-acon MilU por

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outro lado, eia extreniamente bem esir murada, com sub-regiões internas, um pomo no dal tia Praça Louisburg, vários marcos c uma configuração de vias.

Como já dissemos, algumas regiões são introvertidas, volta­das para si mesmas, com poucas relercncias que as liguem à ci­dade ao sen redor. É o caso, por exemplo, do North Bnd ou de Chinatovvn. Outras podem ser extrovertidas, voltadas para o es­paço circundante e hgadas aos elementos que as cercam. Apesar da confusão interna de suas vias, ê inegável que o Common está ligado às regiões vizinhas. Bunker Hili, em Los Angeles, c um ^ ^exemplo interessante de um bairro com características marcantes e associações históricas, numa configuração topográfica bastante dara e ai tida mais próxima do coração tia cidade do que Beacon Hill. Contudo, a cidade flutua ao redor desse elemento, enterra seus limites topográficos em edifícios de escritórios, interrompe suas conexões viárias e efetivamente o debilita ou chega a fazê-lo desaparecer da imagem da cidade. Aqui está uma extraordinária oportunidade de introduzir uma modificação na paisagem urbana.

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AlSUHS baUTOS XííO UllICOS. OCUpando toda tHUK lCglãü vOjIIexclusividade. As regiões de .fmscv t ssv e de Los Angeles sao, pratica mente. todas assim, cnquauio n Souml bnd é um exemplo disso em Boston, Outros podem ser Lgados, como ÍJüseTokyoe o Centro Cívico em Los Angeles. ou o Wesi hnd e Beacon Hàjl em Boston. Lm uma parte rio centro de Boston, incluindo B uck B ay, o Comutou, E i c aeo u I i 111, o b; 11 r i o co me i v ia l do Cl nii o, o bairro financeiro e a região do mercado, as regiões estão suB- eienlemente próximas e mlurbgadãs para foi matem um mosaico

^ ^ contínuo de bairros distintos. Onde quer que nos desioqnemosg , ® dentro desses limites., estarei lios mima aioa leconhe^sveL A Cm

disso, o contraste e a proximidade de eada área intensilicam a força temática de eada uma delas. U eaiáiei de Beacon TI dl, ]toi exemplo, é reforçado por sua proximidade da Piaça Scollay e do r.^nuri comercial.

Pontos no dais

Os pontos nodais são os loeos estratégicos nos quais o obset va dor pode emrar, são, tipicamente, conexões de vias ou concem

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MAG;'v1 DA ODAiiL L SDJi El EMFM~03; £1

trações de alguma característica. Mas. ainda que concedo a inten­te sejam pequenos pontos ua imagem da cidade, na verdade po­dem ser grandes praças, formas lineares de uma certa amplitude ou mesmo bairros eentrais inteiros, quando a cidade está sendo considerada num nível sufieientememe amplo. De fato, a cidade inteira pode tornar-se um ponto nadai., se concebermos o am­biente ceu nível nacional ou internacional.

A junção ou o local de interrupção do fluxo rio transito têm uma enorme importância para o observador da cidade. Uma vez que se devem tomar decisões nas junções, as pessoas ficam mais atentas em tais lugares e percebem os elementos circundantes com uma clareza ineomum. Essa tendência confirmou-se tantas vezes que se pode atribuir a importância especial dos elementos situados nas junções exatamente â sua localização. A importân­cia percepftva de tais lugares também se mostra de uma outra maneira. Quando perguntamos aos nossos entrevistados em que íLigar, num trajeto conhecido, eles sentiam pela primeira vez que estavam se aproximando do eemro de Boston, os lugares­ulta ve escolhidos por muitos deles íbram os pontos de interrup­ção do trajeto, b.m alguns casos, esse ponlo ficava na transição de uma rodovia (S torrou-- Drive ou a (.'entrai Artery] para uma rua da cidade; em outro caso, era a primeira parada de trens em Boston (a Estação de Back Bayi, ainda que o entrevistado não descesse alí. Qs habitantes de je-rsey City achavam que tinham saído da cidade assím que passavam peta rotatória da Avenida Tonnelle. A transição de um canal de trânsito para outro parece assinalar a transição entre unidades estruturais importantes.

Pontos como a Praça Seollay, a rotatória da Rua Charles e a Estação Sul são exemplos de fortes pontos de ligação em Boston. A rotatória da Rua Charles e a Praça Seollay são junções impor­tantes, uma vez que ambas são pontos de comutação em que se contorna o obstáculo representado por Beaeotr Híll. A rotatória em si não é um lugar bonito, mas ela expressa daram eme a tran­sição entre o rio, a ponte, Storrow Drive e as Ruas Charles e Cambrídge. Além disso, é possível ter uma visão th tida do espa­ço aberto do rio, da estação elevada, dos trens que vão e vêm nos flancos da colina e do trânsito intenso. Os pontos nadais podem

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B2 A iM A G U vI

ser importantes mesmo epiiLiuli sua lonna lisica e vaga e indefi­nida. como é o caso da Praça .*0111 uai, em Jojsov Cdv.

Alinhadas ao longo d e seus sistemas viários invisíveis. as es­tações do metrô sào pontos cmdais importantes. Algumas, como as das Ruas iánf: e Umilcs... cEa huçn Copley e da Estação Sul eram mudo impm tanies no mapa de Boston, e alguns dos^entre­vistados orguni/aviam o te s to da cidade ao seu íedou Em bua maior parte, essas crtaçoesn-lm ve eram assoes adas a alguma ca­racterística im p o r ta n te da superticie, Outras, como a de Massa- chusetts. não tinliam minortánem. laívez isso se deva ao iato de que essa transição cspecilica e.m raramente usada pelos enüe- vistados. mas tam b ém e possível que a cvplicaçao esteja eut cir­cunstancias í ls icãs desk ivoraveis : a falta de intemsse visual e a dissociação eu ire o ponto nodal representado pelo mettô e o cruzamento cias iuas. As próprias estações têm muitas eaiactc,- rtstieas individuais : algumas sao íáeeis de reconhecei, cotno a da

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A JíZá GVO Ü À O D A D Í E ÍA..A. tLEMr.í-AOi S3

' :; ÍS. 0 m rio ;üi;íví-í':Oü Ao - COò

Rua Charles, enquanto outras, como a de Mecbanics, sào de di­fícil reconhecimento, E difícil relacionar estruturabneEHe a maioria delas com o solo acima, mas algumas são particular­mente confusas, como se verifica, por exemplo, na total ausên­cia cie direção da estação da Rua Washington, que fica na super­fície. Uma análise pormenorizada da imaginabilidade dos siste­mas do metrô, ou dos sistemas de trânsito em geral, seria útil e interessante.

As principais estações ferroviárias sào quase sempre impor­tantes pontos no dais urbanos, ainda que sua importância possa estar em declínio. A Estação Sul de Boston era uma das mais im­portantes da cidade, dada a sua funcionalidade vital para os mo­radores do subúrbio, paia os usuários do metrô e para o viajante intermunicipaí; essa estação é visualmente muito forte devido â sua imponente fachada no espaço aberto da Praça Devvey. O mesmo poderiamos dúer dos aeroportos, caso suas áreas fizes-

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84 A iV-AOEM DA O

scnvs parte do nosso estudo. leorieamcute, até as interseções eot- ritjueirss de mas sào pontos noduis, mas 0111 geral não sao soli- ci ente mente expressivas para ente as imaginemos como algo além tlc meros cruzamentos tle vias. A imagem não pode coutei um excesso de centros nodais.

O outro tspo de ponto nudal, a concentração tetnatica, tam­bém aparecia iroopLenEememo. Um cxempio típico e a I íaça Pershinm em Los Anneles. l'.sto talvez soja o ponto mais niLdo da i ma nem da cidade, caracterizado por um espaço inconfundí­vel, por sua veaetaçao c pelo npo tle atividade í[ue nele se de­senvolve, A Rua OI vera c a praça a ela associada eram um ou-

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A íjA C D A C l u SEUS E .l Í / l NICG BS

tro caso. Lm Boston havia um bom número de exemplos, dentre os quais a Praça Louisburg e a esquina Jordan-Pilene. bssa es­quina í une iona secundar ia mente como uma conexão entre as Ruas Washington e Summer. e está associada a uma estação do metrô, mas era sobretudo reconhecida como o “centro do cen­tro5' da cidade. L a esquina “cem por cento comercia]55, com um grau de importância raramente observado numa grande cidade norte-ameneana. mas eukurabneme muito familiar aos norte- americanos. B um ponto nuclear: o foeo e o símbolo de uma re­gião impOÈtante.

A Praça Louisburg é outra concentração temática, um famo­so e tranquilo espaço residencial que evoca os moradores abas­tados da colina, com seu parque cercado facilmente reconbeeí-

I vel. P um exemplo de eonceutraçào mais puro do que a esquina) Jordan-Pilene, uma vez que não se trata, em absoluto, de um1 ponto de transição, mas só era lembrada como um espaço “em\ algum lugar5 de Beacon Híll. Sua importância enquanto pomof nodal era totalmejite desproporcional à sua função, f Os pontos nodais podem ser junções e concentrações, como é | o caso da Praça Journal, cm Jersey City, que, atem de um impor-[ tante ponto de passagem de carros e ônibus, é também uma con-[ cceU ração de atividades comera ia is. As concentrações temáticas? podem ser o ponto de convergência de uma região, como no caso da esquina Jordan-Pilene e, talvez, da Praça Louisburg. Outrasí nào são focos, mas concentrações especiais independentes, como

a Rua 01 vera, em Los Angeles.í Uma forma física forte não é absoiutamente essencial para o reconhecimento de um ponto nodal: as Praças Journal e SeollayÍ nos dão disso um testemunho. Mas o impacto é muito maior nos\ casos em que o espaço tem alguma forma. O cruzamento torna-j se memoráveL Se a Praça Seollay tivesse uma forma espacial1 proporcional á sua importância funciona], seria sem dúvida uma\ das principais características de Boston. Lm sua forma atual, nãol pndia ser lembrada de nenhum modo concreto. As pessoas refe-I l iam-se a d a como ''decadente55 ou “mal-afamada55. Sete dosi irinta entrevistados lembravam-se de que nela existe uma estação| de metrô, mas não havia uma opinião consensual sobre mais| nada. L evidente que não provocava nenhuma impressão visual,|

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c níso se entendia bem o Iam de várias i nas ligarem-se a ela, um iate que, na verdade, é a base de sua rmpnríãnda funcional.

Um ponto nodal como a Puiça i õpiey. peto contrario, que é muito menos importante em ka iims him ionais e tem de haver-se com a interseção angulosa da Avenida I himingtom era imagina­do com muita nitidez, e as conexões de várias vias eram perfei- lamente claras. A praça em identificada com muita facilidade, sobretudo devido á singularidade de seus edifícios: a Biblioteca Pública, a Igreja da Saruisamai I lindado, o Hotel Copley Plaza e a vista do Edifício .hdm llaneoel.. I ia menos um todo espacial do que uma concentração de atividades c de alguns ediõmios con­trastantes bem diferenciados.

Pontos no dais como as Pinças Unplcy c Louisburg, ou a Rua Oi vera, tinham fronte iras nítidas e identificáveis a pequena dis­tancia. Outros, como a esqu ina .tonlam Pi Iene, ciam apenas o ponto culminante de a lgum a c a m c tu istiea une não tinha um co­meço nítido. De qualquer nuulo. o pomo nodal mais bem-suce­dido parecia, ao mesmo (empo, -,vr de algum modo singular e in­tensificar alguma caracter ís tica espaço circundante.

Assim como os bamms, os pontos nodais podem ser introver­tidos e extrovertidos. A Pinça Seollay c introvertida, pois indica muito pouco em termos de direção quando estamos nela ou em seus arredores. A principal oj icniação em seus arredores é em di­reção a ela ou a partir dela: a pimeinal sensação de localização que se tem ao chegar a essa praça é, simplesmente, “aqui estou”. Um exemplo contrai io. de espaça? exlrovertido, é a Praça Dewey, em Boston. As direções gerais suo claras e também há uma óti­ma definição das ligações com o bairro dos escritórios, o bairro comercial e a zona portuária. Para um dos entrevistados, a Üsla- ção Sul, nu Praça Dmvey. era uma seta gigantesca que apontava para o coração da cidade. A aproximação de tal pomo nodal pa­rece dar-se a partir de um Indo específico. A Praça Pershtng tem uma qualidade direcional semelhante, basicamente devido à pre­sença do e Intel Bihmoie. Nesse caso, porém, a exata localização dentro do sistema viário era incerta.

Muitas dessas qualidades podem sei' resumidas através do exemplo de um famoso poiiio nodal italiano: a Praça São Mar-

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;V!AGE-Z DA ODACE E SEUS ELEMEU1CS E7

- -V A ?raí,a SaA Vlèrcís. vçr .ía

cos, em Veneza. Ext rema mente diferenciada, acolhedora e com­plexa, ela contrasta agu ciam ente com o caráter geral da cidade e com os espaços estreitos e sinuosos de seus arredores. Ainda as­sim, está firmemente ligada á principal estrutura da cidade, o th ande Canal, e tem uma forma orientada que esclarece a dire­ção a ser tomada quando nela entramos. Internamento, também é minto bem diferenciada e estruturada: em dois espaços (a Piazza e a Piazzella) e através de muitos marcos de grande expressivi­dade (Duomo, PaJazzo Ducale, Campanile, Libreria). Dentro (ída, voce se sente clarametue relactonatio ã praça, precisamen- t% micí olocalízado, por assim dizer, frata-se de um espaço tão característico que muitos que nunca estiveram em Veneza reco­nhecerão de imediato uma foto sua.

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Marcos

Os marcos, pomos de leieréiicia considerados externos ao ob­servador, sào apenas deiuemos bsmus cuja escuta pode ser bas­tante variável. Os mais làmilíarj/adus osm a cidade pareciam tender a confiar cada ve/ iii-iín. o mm guias, nos sistemas de mar­cos, a preferir a singularidade e a cxperiauxaçào às conliiuúda- des antenormeme usadas.

Uma ve/ que o uso de m arcos im plica a escolha de um ele­mento dentre um conjunto de poss ib il idades , a princ ipa l caracte­rística física dessa classe ê a a iugu la i idade , algum aspecto que seja único ou memorável no contexto. CL, marcos se tornam mais fáceis de identificar e m ais pas-aveis de ser escolhidos por sua importância quando possuem m m h a ura clara, isto é, se contras­tam com seu phmo de fundo c se existe alguma proeminéneia em termos de soa localização espacnl. U eonirasle enlre figura e plano de fundo parece sa o laior p r im ip u l . O piano de llmdo cotara o qual mu elemenm . sob i ed náo precisa estar restrito aos seus arredores i medi a nu-;: ? Moita-vento em forma de gafanho­to em Pane ui! 1 laü, a cúpu la d o m a d a da Assembléia Legislativa, ou a extremidade supcrioi do pr d h o da Prefeitura de Los Ange­les são marcos únicos c u n h a o pfum dc Imido da cidade toda.

Lm outro s e n m h r as pi- a imdciu se lec ionar o s m a rc o s por sua l im peza m m ta c idade suja Pv, e d i h a n s da C iênc ia Cris tã em B oston), ou p o r serem d e m e n tu s tiovos m m ta c id ad e ve lha (a ca­p e la da R ua Arclij. f > í V m io M ed ia? de Jc rsey C i ty era famoso tan to p o r seu p eq ueno m a m a d o e suas llores quan to por suas g ran d e s d im ensões . í j .111u r • ■ I lad ol Reeords, no C en tro Cívico d e L o s A ngeles , ri uma vau m im a esu c i ia e suja. s i tu ad a n u m ân ­gu lo que lhe p e rn u lc prover oricriiaçào para todos o s ou tros e d b f te tos públicos: tem. P u n u ã m um a escala kA alm en te diferente em te rm os de deta lhes e janelas-. A pesar d e sua m e n o r im p o r tâ n ­cia funcional ou s im b o b e m çmvç n m ira s lc de localização , idade e esca la t ransbu n a n o numa im agem ic lm ivanieu te b em id e n t i f ica ­da - às vezes ap ia d a v v b mrlrax vezes u r i lan te . Já foi v á r ia s ve­zes d e s n a to com o um a esrnim i a Mun lo rm a de torta A ai tida que seja p e r le b a m e u ie ic la u g u fu . I . ev iden te que tal i lusão provêm de sua lo e a h /a e a o a i i m l n r

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■ TOS 89

, ^ P^lommm espacial pode fixar os elementos como marcos ae duas maneiras distintas: tornando o demento visívd a partir de muitos outros lugares (o Edifício John hhmeoek em Bo^on o Edujcjo Richfield Oil em Los Angeles), ou criando um eonirns- te local com os elementos vizinhos, isto é, uma variação em re­cuo c altura. Lm Los Angeles, na esquina da Rua 7 com a Rua Kower, na um velho edifício de dois andares, cinzento e de mm denm com um recuo de mais on menos três metros em relação á Unha dos outros prédios e abrigando algumas lojas pouco impor­tantes. Isso chamou a atenção e mexeu com a fantasia de um nú­mero surpreendente de pessoas. Uma delas, inclusive, recorreu ao mitropomorÊJsmo para descrevê-lo, chamando-o de -pequena senhora cinzenta”. O recuo espacial c a escala acolhedora são uma earaeterísuca notável e agradável, em eonirasle com os grandes volumes que ocupam o resto da fachada.

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A localização numa junção que uoplmue a tomada de deci­sões quanto ao trajeto a seguir é um aspecto que reforça a impor­tância de um marco. Ü dcleplione Building tia Praça Bowdoin, em Boston, era usado, por exemplo, pata ajudar as pessoas a se situarem na Rua Cambridgc. A atividade- associada a um memen­to também pode transformado mim marco. Um caso meomum desse tipo é o Sympltouy HalL cin Los Angeles. Esse auditorio é a própria antítese da imagiiuibil idade visual: situado num edifí­cio iudeflnível, que por sua ve/ 1 u:u numa região de imóveis de aluguel, com apenas um cartaz onde se 1é "Igreja Batista , é completamente irreconhecível para quem dele se acerca pela pri­meira vez. Sua força enquanto marco parecia d crivar do contras­te e da irritação sentidos entre seus snnu.v culturas e sua invisibi­lidade física. As associações históricas (ou outros significados) são reforços poderosos, como testemunham o faneuil Hall ou a Assembléia Legislai iva de Boston. Ouando um ei história, um si­nal ou um significado vem ligar-se a um objeto, aumenta o sen valor enquanto marco.

Os marcos distantes e os poulos proeminentes visíveis a partir de diversas posições eram quase sempre cottltecidos, mas só as pessoas pouco faminari/adas eom Boston pareciam usados inten- samente para organizar a cidade e escolher seus trajetos. É o no­vato quem se guia pelo Exbfíeso John Hancock e pela Alfândega.

Poucas pessoas tinham um coiibecimento exato de onde foca­vam esses marcos distantes c de como dever iam procedei para chegar a esses edifícios, Na verdade, a maioria dos marcos dis­tantes de Boston era "sem base11; eram como elementos flutuan­tes, O Edifício John Hancock, a Alíàndcga c o Palácio de Justi­ça ocupam todos uma posição dominante no horizonte geral, mas a localização e a identidade de suas bases não são,. de modo al­gum, tão importantes quanto seu topo,

A cúpula dourada da Assembléia Legislativa de Boston pate- ce ser uma das poucas exceções a essa indefinição. Sua forma e função únicas, sua localização no topo da colina e sua exposição ao Comtnon, a visibilidade de sua brilhante cúpula dourada mes­mo a grandes distancias,t tido isso Ieiz com que seja um dos mat- cos mais importantes do centro de Boston. Possui as caracteris-

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iicíií> da reconheeibilidade cm vários níveis de referência e da coincidência da importância simbólica com a visual.

As pessoas que usavam marcos distantes só o faziam quando procuravam uma orientação genérica ou, mais frequentemente, simbólica. Para uma pessoa, a Alíandega conferia unidade âAve- aida Atlantic devido ao fato de poder ser avistada a partir de pra­ticamente qualquer pomo dessa avenida. Para outra, a Alfândega conferia ritmo ao bairro financeiro, uma vez que se pode avístá- ía intcrmiíentemente etn muitos lugares dessa região.

O Duomo de Florença é um exemplo perfeito de marco dis­tante, visível de perto e de longe, de dia ou de ttoile; inconfundí­vel; dominante por seus contornos e suas dimensões: profunda­mente ligado às tradições da cidade; em harmonia com o centro religioso e de transito; unido ao seu campanário de tal modo que sua direção pode ser avaliada mesmo à distância. É difícil pensar un Florença sem que a presença desse grande edifício tios venha à mente.

Mas os marcos locais, visíveis apenas em lugares restritos, eram usados com muno maior frequência nas três cidades estu­dadas. Ides compreendiam ioda a variedade de objetos adequa-

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dos a lal função. O número de e temem os tocais que se tornam marcos parece depender tanto da familiaridade do observador com o seu ambiente quanto dos elementos em si. Mm geral, os entrevistados que não conheciam a cidade só mencionavam al­guns marcos tias entrevistas feitas em escritório, ainda que con­seguissem encontrar muitos outros nas situações de pesquisa de campo. Às vezes, os sotis e os cheiros reforçavam, os marcos vi­suais, muito embora nao parecessem constituir marcos poi si próprios.

Os marcos podem ser isolados, elementos únicos destituídos de reforço. A Etão ser no caso de marcos de grandes dimensões ou muito singulares, eles sao uma reierência fraca, uma vez que é fácil perdê-los de vista e requerem uma busca constante. £ pre­ciso concentrar-se para encontrar um semáforo ou um nome de rua. Os pontos locais eram quase sempre lembrados como gru­pos nos quais se reforçavam mutuamente através da repetição, e eram em parte identificáveis pelo contexto.

Uma serie continua de eu arcos, na qual um detalhe cria expec­tativa com relação ao próximo e em que os detafhes-chaves de­sencadeiam movimentos específicos do observador, parecia constituir uma forma padronizada de como essas pessoas costu­mavam locomover-se pela cidade. Nessass sequências, havia di­cas que deflagravam processos de locomoção sempre que al­guém precisava decidir-se por uma curva ou um desvio, e outras que sancionavam as decisões tomadas pelo observador. Detalhes adicionais quase sempre ajudavam a dar sentido de proximidade á destinação final ou a objetivos intermediários. Para a seguran­ça emononaI c a cltcieucia luncional, e importante que tais se­quências sejam relativamente contínuas, sem maiores intervalos, ainda que os detalhes possam tornar-se mais densos nos pontos nodais. A sequência facilita o reconhecimento e a memorização. Os observadores que conhecem bem o espaço em que vivem po­dem armazenar uma grande quantidade de imagens pontuais or­ganizadas em sequências conhecidas, ainda que o reconhecimen­to possa deixar de existir sempre que a sequência ior invertida ou modificada de modo desordenado.

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A irv-ASLM DA ODAub É í í l j i tlb i/C-UO S 93

hitci-relações de elementos

hsses elementos são apenas a matéria-prima da imagem am­biental na escala da cidade- Devem ser modelados juntos para poderem oferecer tuna forma satisfatória. As discussões anterio­res ficaram circunscritas a grupos de elementos setnelbatues (re­des de vias, grupos de marcos, mosaicos de regiões). Pela lóei- ea, o próximo passo consiste em examinar a interação de pares de elementos díspares.

Esses pares podem relorçar-se, interagindo de modo a refor­çarem o poder de cada um; mas também podem entrar em cho­que e destruir-se. Um marco de grandes dimensões pode tornar ainda menor uma pequena região em sua base, ou mesmo tira-la completa mente de escala. Bem localizado, outro mareo pode fi­xar e lortaleeer um centro urbano: situado fora do centro, pode ser apenas um foco de desorientação, como é o caso do Edifício -lohn Hancock em relação à Praça Copley, em Boston. Uma gran­de rua. com sua natureza ambígua tanto em termos de limites quanto de via propriamente dita, pode penetrar numa região e. desse modo, deixá-la vi sua! mente exposta, ao mesmo tempo que contribui para sua desintegração. Os atributos de um marco po­dem ser tão estranhos á especü êcidade de um bairro a ponto de levarem a dissolução da continuidade regional, mas também po­dem, por outro fado, acentuar essa continuidade exalam eme por sua natureza contrastante.

Os bairros, que tendem a ser maiores que os outros elemen­tos, contém em si próprios um grande número de vias, pomos iiodais e marcos, e são, portanto, a eles ligados. Esses outros ele­mentos não apenas estruturam a região ímernameiue, como tam­bém reforçam a identidade do todo, enriquecendo e aprofundan- uo seu cara ter. Beaoon Hífl, em Boston, é um exemplo desse efeito. Na verdade, os componentes da estrutura e da identidade (que são a parte da imagem que aqui nos interessa) parecem ir sanando à medida que o observador passa de um nível a outro. A ide tu idade de uma janela pode sei- estruturada em um modelo de janelas, que assim se torna o indicador para a identificação de um edifício. Os próprios edifícios são niter-reíacionados de. modo a formarem um espaço identificável, e assim por diante.

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As vias, que sào domiiiEmiex em munas imagens individuais e que podem ser o principal recurso de ouram/ação na escala ms- Iropolilana, tem estreitas relações com outros típos de elementos. Os potüos uodaís ocorrem nalomnticumenle tias interseções e nos terminais mais im poríamos, o, por sua lorma, deveriam re­forçai' esses momentos erüicos de nm 11 rijei o. Por sua vez, esses pontos tiodais não sào apenas rei orçados pela presença dos mar­cos (como acontece na Praça t opleyh mas compõem nm cená­rio que quase assegura que se de atençao a qualquer um de tais marcos. Repelindo, as vias adqu irem identidade e ritmo nao só devido à sua forma, ou por seus pontos nodais, mas pelas regiões que atravessam, pelos limites ao longo dos quais avançam, e pe­tos marcos distribuídos em ioda a sua extensão.

Todos esses elemeilios atuam em conjunto num dado contex­to. Seria interessante estudar as cnraoierfsheas de diversos pítres: marco-região, ponto tiodalvia. etc. Por último, pod erram os ten­tai1 ir além desses pares e procedei ao exame tios modelos totais.

A maioria dos observadores parece agrupar seus elementos em organizações intermediários que poderiamos chamar de com­plexos. O ob ser ves dor pcícehe o complexo como um Lodo cujas panes são inlerdepemlenlcx e rdalivamenle estáveis em relaçao umas às outras. Assim, mudos moradores de Boston seriam ca­pazes de integrar ts maioria dos elementos principais de Back Bay, do Conunon, de íleacon Hill e rio centro comercial a uni único complexo. Nos iciiuos utilizados por BrowiC em suas ex­periências mencionadas no t 'apituío l, totia essa áreíi transfor- mou-se numa localidade. Pata outros, o tamanho de sua localidade pode ser muito menor: o eenlro comercial e o limite nas imediEi- ções do Conunon, por exemplo. Pom desse complexo, existem falhas de identidade: o oh sei vador precisa transpor às cegas o es­paço que o separa do todo segunde, ainda que apenas poE' alguns momentos. Embora a região executiva e financeira de Boston e o bairro comercial central da Rim Waslfmglon estejam próximos 11a realidade física, paia a maioria das pessoas parece existir ape­nas uma vaga ligEtção enlre esses lugares. Esse dislaliciamento peculiar também foi cxoniplil ieado na confusa lacuna entre a Praça Scollay e a l>oek Sqnaie, separadas por um único quartel-

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iztCK A distância psicológica entre duas localidades pode ser mui­to maior, ou ma^s difícil de superar, do que a mera separação fí­sica parece assegurar.

Neste livro, nossa preocupação com as parles, e nâo com o todo, e uma característica necessária de uma pesquisa ainda em seus primórdios. Para examinar a totalidade de um sistema é ne­cessário. antes, lograr a diferenciação e a compreensão de suas partes. Houve indícios de que a imagem pode ser um campo con­tínuo e de que. de alguma forma, a perturbação de um elemento afeta todos os outros. Mesmo o reconhecimento de um objeto e tão dependente do contexto quanto tia forma do próprio objeto. Uma distorção importante, como a curva que o Common faz. pa­recia refletir-se em toda a imagem de Boston. A perturbação das construções em grande escala afetava mais do que seus arredo­res imediatos. Contudo, esses efeitos de campo pratica mente não foram estudados aqui.

A !:,-'AGEM DA G PAüE E SEUS fcLSWÍNTOS 95

A imagem mutável

Em vez de uma única imagem abrangente para todo o am­biente, parecia haver grupos de imagens que mais ou menos se sobrepunham e se inter-relaciona vam. Organizavam-se numa sé­rie de níveis aproximadamente segundo a escala da área em questão, de tal modo que, quando necessário, o observador pas­sasse de uma imagem da rua a uma do bairro, da cidade ou da re­gião metropolitana.

Essa disposição por níveis é uma necessidade num ambiente grande e complexo. Contudo, impõe um peso organizacional ex­tra ao observador, principalmente quando é pequena a relação entre os níveis. Se um edifício alto é inconfundível no panorama geral da cidade, ainda que irreconhecível em sua base, perdeu-se aí a oportunidade de juntar as imagens em dois níveis de organi­zação diferentes. Por outro lado, a Assembléia Legislativa em Beacon Híll parece atravessar vários níveis de imagem. Ocupa uma posição estratégica na organização do centro.

As imagens podem diferir nâo só pela escala da área conside­rada, mas também por uma questão de pottto de vista, hora do dia

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ou estação do ano. A imagem de huicuri Hah vista a partir cia re­gião do mercado poder ia ser relacionada a soa imagem avistada de um carro que passa pela c Vuo.u Artvry. A noite, a Rua Wash­ington deveria ler alguma conlmnidadLV algum elemento de itiva­riabilidade com a mesma rua durante o dia. Para conseguir essa continuidade em meio à contusão sensonm muitos observadores eliminaram o conteúdo visual de suas imagens, usando abstra­ções como ''restaurante1' ou " segui ida rua A isso funciona tanto de dia quanto de ttoite, de cano ou a pe, eom chuva ou sol, ain­da que mediante algum es foiço c privação.

O observador também pode ajustar sua imagem às mudanças seculares da realidade física que o cerca. Los Angeles ilustrou o desgaste prático e emocionai causado quando a imagem ê con­frontada eom alterações Tísicas constamos. Sena importante sa­ber como manter a e o nl umidade a pesai de todas essas alterações. Assim como são necessária:-, as ligações entre diferentes níveis de organização, o mesmo se pode dizer das eonlínuidades que persistem apesar das rumli heaçòes. isso poderia ser iacdilado pela conservação de mua vclliu ãrvoie, do traçado de uma via pú­blica, ou mesmo do ioda uma o-puo.

A sequência em que os mapas Jbram desenhados parecia in­dicar que a imagem se desenvolve ou cresce de maneiras diícren­tes, Isso talvez lenha alguma relação com o modo como ela se desenvolve inicialmenic. quando um indivíduo vai se familiari­zando com seu ambienie. Vã nos npos ficaram evidentes:

a. Muito frcqüeuicmeriie, as imagens eram desenvolvidas ao longo de linhas do movimenln conhecidas, e depois a partir de­las, Assim, um mapa podia ser desenhado como se se desmem­brasse a pailir de um ponio de enirada, ou começasse em algu­ma linha básica, como a Avenida Mussachusells.

b. Outros mapas começaram pela construção de um contorno dei Imitador, como a península de I instou, que depois passava a ser preenchido em direção ao centro.

e. Outros, ainda, principal mente cm Los Angeles, começavam peto desenho de um modelo básico que se repetia (a quadrtoula das vias), c os detalhes eram acrescentados a seguir.

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A iiV AGEM DA ODAOü í SEUS ELEMENTOS 97

d. Poucos mapas começavam por um conjunto de regiões ad­jacentes que eram depots completadas em suas conexões e seus i menores.

e- Boston, alguns exemplos desenvolviam-se a partir de um núcleo conhecido, um elemento iamihar denso ao qual tudo era por ími ligado.

A imagem em si não era um modem preciso e em miniatura da cidade, redimido em escala e consistem emente abstrato. En­quanto simplificação intencional, era feita por redução. elimina­ção ott, até mesmo, acréscimo de elementos à realidade, e também por 3 usa o e distorção, por associação e estruturação das partes, bra o sul tctente para o que se propunha, mais até, talvez, do que se fosse reorganizada, distorcida, "ilógica'1. Lembrava o famoso desenho animado que mostra como os habitantes de Nova York veem os Estados Unidos.

Apesar das distorções, havia um forte elemento de invaríabi- 3idade íopológica a propósito da realidade. Era como se o mapa fosse desenhado numa folha de borracha infmh a mente flexível; as dn eçòes eram desvirtuadas, as distâncias aumentadas ou redu­zidas e as formas ue grandes dimensões tinham st]a projeção em escala tão alterada que se tornavam irreconhecíveis num primei­ro momento. Em geral, porém, a sequência era correta, e só ra- ramente o mapa era rasgado e unido segundo uma outra ordem. Essa continuidade é necessária quando se pretende que a ima­gem tenha algum valor.

A q traí ida de da imagem

O estudo de várias imagens Individuais feitas pelos habitan­tes de Boston revelou algumas outras distinções entre eles. Por exemplo, as imagens de um elemento diferiam entre os observa­dores em termos de sua densidade relativa, isto é, mostravam ate que ponto cies se apegavam aos pormenores. Podiam ser relati- vamente densas, como uma imagem da Rua Newbttry que iden­tifica cada edifício ao longo de toda a sua extensão, ou relativa-

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mente tênues, quando a Rua Newhury é caracterizada apenas como uma rua limitada por casas velhas de uso variado.

Outra distinção penha ser lei tu entre, de um lado. imagens concretas e sensorialmente eivas c, de outro, imagens extrema­mente abstratas, genéricas e destituídas de conteúdo sensório. Desse modo, a imagem merUal de um edifício podia ser vivada, abran gentio sua forma, cor, le.sluia e detalbe, ou relativa mente abstrata, tendo sua estrutura idenitl içada conto "um restaurante" ou “o terceiro prédio a partir da esquina".

“Viva'1 nào significa necessariamente “densa15, assim como “tênue"1 nào remete necessariamente a “abstrata". Uma imagem podia ser tanto densa quanto abstrata, como no caso do conheci­mento da cidade por [tarte do moiorista de táxi que. quarteirão após quarteirão, era capaz de associar os números das casas aos diferentes usos aos quais das sc prestavam, mas não conseguia descrever essas construções de maneira concreta.

As imagens também podiam ser diferetteiadas segundo sua qualidade estrutural: o modo como suas partes eram dispostas e inter-re[acionadas, firam quatio c.s estágios ao longo de um con­tínuo de precisão estrutural cada vez maior:

a. Os diversos elementos em tu livres; não havia estrutura ou intcr-relaçao entre as partes. Não encontramos casos puros desse tipo. mas várias imagens estavam visivelmente desarticuladas, com gr andes l acu nas e m 11 i t os e i e rn entos d escortexos. IN e s se caso, o movimento racional era impossível sem ajuda externa, a menos que se recorresse a uma cobertura sistemática de toda a área (o que significava a construção de uma nova estrutura no local).

b. Em outros casos, a eslrutura tornava-se posicionai; as par­tes eram mais ou menos associadas em termos de sua direção geral e. talvez, até mesmo da distancia relativa entre elas, con­quanto ainda se mantivessem descotiexas. Utna entrevistada, etn particular, sempre se relacionava com alguns elementos sem co­nhecer as ligações concretas carne eles. Ela se movia procuran­do, deslocando-se na direção geral correta, mas realizando uni vaivém para cobrir um trecho dado e tendo de avaliar a distância para corrigir o deslocamento.

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c- Na maior parte dos casos, a estrutura talvez fosse flexível; as parles eram ligadas ctUre si, mas de um modo solio e flexível, como se mediante ligações muito frágeis ou elásticas. A sequên­cia de eventos era conhecida, mas o mapa mental podia ser dis­torcido, e soa distorção podia alterar-se em diferentes momentos. Para citarmos um dos entrevistados: "Gosto de pensar em alguns pontos locais e em como deslocar-me de um paio outro; quanto ao resto, nào me interessa aprendei'.75 Com uma estrutura flexível o movimento ficava mais fácil, já que seguia por vias e sequên­cias conhecidas. Mas o movimento entre pares de elementos não habitualmente ligados, ou ao longo de ruas e avenidas desconhe­cidas, podia ser ainda mais confuso.

d. A medida que as conexões se multiplicavam, a estrutura tendia a tornar-se rígida; as partes eram firmemente interligadas em todas as dimensões, e quaisquer distorções vinham incorpo­rar-se ao padráo geral. O possuidor de tal mapa pode deslocar-se eom muito mais liberdade e tem condições de interligar novos pontos ã vontade. Quando & densidade da imagem aumenta, ela começa a assumir as características de um campo total onde a in­teração é possível em qualquer direção e a qualquer distância.

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Essas características estruturais poderíam aplicar-se de dife­rentes maneiras em níveis diversos. Por exemplo, duas regiões de uma cidade podem possuir estruturas internas rígidas e interliga­rem-se em alguma costura ou ponto nodal. Mas essa conexão pode ser incapaz de ligar-se às estruturas internas, de modo que a conexão em si seja simplesmente flexível. flsse efeito parecia ocorrer para muitos habitantes de Boston na Praça Scollay, por exemplo.

A estrutura total também pode ser distinguida de uma manei­ra diferente. Para alguns entrevistados, suas imagens era tu orga­nizadas quase instantaneamente, como uma série de todos e de partes que íam do geral ao particular. lissa organização tinha a natureza de um mapa estático. A ligação era feita através de um movimento ascendente, rumo à generalidade necessária, e de re­cuo para a particularidade desejada. Para ir do City Hospital à Old North Chureb, por exemplo, primeiro era preciso ponderar

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que o hospital fica no South hnd, e que este fíca no centro de Boston; depois, localizar o Norih l:nd cm Boston, e dentro do North End a igreja, Essa espécie de. imagem pode ser chamada de “hierárquica'1.

Para outros, a imagem se formava de um modo mais dinâmi­co, com as partes interligadas por uma seqüencia temporal {mes­mo que o tempo fosse breve) e imaginadas como se vistas atra­vés de uma câmera de cinema. Eslava mais est resta mente ligada ã experiência concreta de deslocamento ao longo da cidade, .n isso poderiamos chamar 'Xirgauização contínua ', empregando interligações flexíveis em ve/, de hierarquias estáticas.

Com base nisso, pode- se uderir que as imagens de maior va­lor são aquelas que mais se aproximam de um forte campo total: densas, rígidas e vivas; que recorrem a iodos os tipos de elemen­tos e características formais sem uma concentração limitada; e que podem ser agrupadas (amo hierárquica quauto continuamen­te. conforme a ocasião exigir. Podemos, sem dúvida, achar que tal imagem é rara ou impossível, que existem fortes tipos indivi­duais ou culturais que não podem iransecnder suas capacidades básicas. Nesse caso, c preciso equipar um ambiente com o tipo cultural apropriado, ou oonfigmã-ío de dílereiites maneiras, to­das elas capazes de alemíci às necessidades dos indivíduos que nele vivem.

Estamos continuam eme lem.uido organizar nosso entorno, estruturá-lo e identificá-lo. Vários ambrentes são mais ou menos receptivos a semelhante iralamenio. Na reformulação das cida­des. devería ser possível dar-lhes uma forma que facilitasse es­sas tentativas de organização, em vez. de ímstiã-las.

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CAPÍTULO 4 A FORMA DA CIDADE

Temos a oportunidade de transformar o nosso novo mundo urbano numa paisagem passível de ímag inábil idade: visível coe­rente e clara. Isso vai exigir uma nova atitude de parte do mora­dor das cidades e uma reformulação do meio em que ele vive. As novas formas, por sua vez, deverão ser agradáveis ao olhar, orga­nizar-se nos diferentes níveis no tempo e no espaço e funcionar como símbolos da vida urbana. O presente estudo apresenta al­gumas sugestões a esse respeito.

A maioria dos objetos que nos acostumamos a considerar be­los. como uma pintura ou uma árvore, têm uma finalidade única. Há neles, através de um longo desenvolvimento ou da marca de uma vontade pessoal uma ligação intima, visível, entre o deta- Ine sutil e a estrutura total. Uma cidade é uma organização mu­tável e polivalente, um espaço com muitas funções, erguido por muitas mãos num período de tempo rciativamente rápido. A es­pecialização completa e o entrelaçamento definitivo são impro­váveis e indesejáveis. A forma deve ser de algum modo descom- prontissada e adapíavel aos objetivos e às percepções de seus cidadãos.

Existem, porém, algumas funções fundamentais, que as for­mas da cidade podem expressar, circulação, usos principais do espaço urbano, pontos focais chaves. As esperanças, os prazeres e o senso comunitário podem concrefizar-.se. Acima de tudo, se

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Í0 2 A IMAGEM UAÜÜ

o ambiente for visivelmente organizatío e nitidamente identil iça­do. o cidadão poderá impregná-lo dc seus próprios significados e relações. Então se (ornará um verdadeiro íugar, notável c in­confundível. 4 ^

Para citarmos um ri meo exemplo, Moienga c uma cidaos- do­tada de uma poderosa personalidade, um lugar extremam ente apreciado uor todos que o conhecem. Ainda que, num piímeno momento, mudos estranhos consideram na dia ou intimidativii, não têm como negar sua intensidade- especial. Viver nesse am­biente, sejam quais forem; os problemas econômicos ou sociais encontrados, parece acrescentar uma profundidade adicional à experiência, seja efa de pra/ei. de melancolia ou de mtegiaçâü.

í: evidente que a cidatle tem uma história econômica, c« durai e política de enormes proporções e q«e os indícios visuais desse passado explicam grande parte das inconfundíveis caraclensb-

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cas florentinas. Mas a cidade também é exlremameme visível. Situa-se no bojo de colinas ao longo do rio Amo, de modo que as colinas e a cidade são quase sempre inter visíveis. No sul, o campo aberto penetra quase até o coração da cidade, estabele­cendo um nítido contraste, e, de uma das últimas colinas escar­padas, um terraço oferece uma vista "aérea"' do centro da cidade. No norte, pequenos povoados distintos, como Fie sole e Setlígna- no, dependuram-se visivelmente em colinas características. No centro simbólico da cidade, ergue-se a enorme e inconfundível cúpula do Duomo ladeada pelo campanário de Gíotto, um ponto de orientação visível em qualquer parte da cidade e de muitos quilômetros para além dela. Essa cúpula é o símbolo de Florença.

O centro da cidade tem características regionais de uma força quase opressiva: ruas extremamente estreitas e com calçamento de pedras; altos edifícios de estuque e pedra, de cor cinzento- amarelada, com venezianas, grades de ferro e entradas que lem­bram cavernas, encimadas pelos característicos beíraís floreml- nos. Nessa área existem muitos pontos nodais fortes, cujas formas distintas são reforçadas por seu uso especial ou seu tipo de usuá­rio, A área central está cheia de marcos, cada qual com seu nome e sua história. O rio Amo atravessa esse cenário urbano e liga-o ã paisagem mais ampla.

As pessoas desenvolveram lígaçdes muito fortes com essas formas claras e diferenciadas, tanto em decorrência do passado histórico quanto de suas próprias experiêticias. Cada cena é ime­diatamente identificável, e traz à mente um turbilhão de associa­ções. Há uma total harmonia das partes. O ambiente visual tor­na-se parte integrante da vida dos habitantes. A cidade não é de modo algum perfeita, mesmo no sentido restrito da imaginabili- dade, nem todo o seu sucesso visual se deve apenas a essa qua­lidade. Mas parece haver um prazer simples e automático, um sentimento de satisfação, presença e certeza, que decorre da sim­ples contemplação da cidade ou da possibilidade de caminhar por suas ruas.

Florença é uma cidade comum. Na verdade, mesmo que não mais nos limitemos ao estudo dos Estados Unidos, a cidade ex- trem amenfe visível continua sendo uma raridade. Os vilarejos ou

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panes de cidades imagináveis exisicm cm grande numeto, tuas ml vez nào existam mais de vniie ou oi ma cidades no mundoqu'.. apresentem uma imagem de Umumlia iorça c eoasistencia. Ainda assim. nenhuma delas abrangería uma área de mais do que m- mins quilômetros quadrados. Imihora a metrópole tenha deixado de ser um fenômeno raro, nào há no mundo nina área metropoli­tana com algum atributo visual lorte, eont aiguma eshotuia evi­dente. Todas as cidades iam o sus som em no mesmo ciesv-ittientosem fisionomia em sua periferia.

Assim, pode-se perfesâmiv-nie perguntar se uma meltópole (ou mesmo uma cidade menor) eoiisisíentemente imaginável e de fato possível e se seria apreciada caso existisse. Dada a talta de exemplos, e preciso argumentar, cm grande pane, com base cm suposições e proteções de acuntecimentos passados. O ho­mem fá ampliou sua capacidade de percepção em outias épocas, sempre que se viu diaiUe de um novo desafio, e nada nos autori­za a pensar que isso nào possa voltar a acontecer. Além do mais, existem sequências de auto-estradas que apontam para a posstbi- tidade dessa nova organizaçao cm grande escala.

Também é possível ei lar exemplos de formas visíveis, nessa eseahs de maiores dimensões, que nao sao exemplos urbanos. A maioria das pessoas consegue lembrar-se tio algumas paisagens favoritas que têm essa diferenciação, essa esíi ututa e essa lotma nili-da que gosta ria m os de produzir no ambiente em que vivunos. A paisasem ao sul de florençn, tia estiada que leva a Poggibon si. apresenta essas earaeieiisíieas qndõEnetEO após quilômetro. Os vales, os eutites c as peque nas colinas sao de grande vatieda cie. mas acabam formando um se st ema comum. Os Apentnos de­marcam o horizonte a norte e a leste. O solo. visível a uma longa distância, é limpo e apreseuia uma grande variedade de cultuias - triso. azeitonas, uvas cada qual distinguível por suas cores^e formas específicas, (. ada dobra do terreno teflete a configuração dos campos, pianlaçoes e es trarias; cada pequena cobtta é enci­mada por uma eidadezmha, igreja ou torre, cie tal modo que as pessoas poclcni dizer: "'ksla aqui e a minha cidade, e ali esta aquela outra A levados pela estrutura geológica das catacletísu cas naturais, os homens chegaram a um ajuste delicado c v isív el

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de suas ações. O iodo é uma só paisagem, e no em a rito cada par­te pode ser dís tingiu da daquela com a qual confina.

SamKviele ern New Hampshirc, podería ser vista corno mais um exemplo; neia, as Montanhas Brancas descem para as águas turbulentas dos rios Merrimae e Píseaiaqua. O paredão coberto de mato da morna uh a contrasta agudamente com o campo abai­xo, nào total mente cultivado. Ao sul, as Montanhas Ossipee fi­cam isoladas em sua condição de ti ui ma formação isolada de colinas. Vários picos, corno o Choco ma, apresentam uma forma inconfundível. O efeito é mais forte nos "intervalos"', os platôs planos na base das montanhas, totalineute limpos e dando aquela sensação estranha e poderosa de um lugar "especial", exatamen­te comparável ã sensação de um lugar marcante numa cidade como Fíorença. Na época em que toda a parte inferior do terre­no era preparada para o cultivo, a paisagem toda deve lei' tido essa qualidade.

O Havaí pode ser visto como um exemplo mais exótico: com suas montanhas abruptas, suas rochas de cores vivas e seus gran­des rochedos, sua vegetação luxuriante e extrema mente diferen­ciada, o contraste entre mar e terra e a dramática transição entre um lado e outro da ilha.

Estes são, sem duvida, exemplos pessoais; o leitor pode subs­tituídas pelos seus. As vezes, eles são o resultado de atributos naturais poderosos, como no caso do Havaí; mais comumente, como na Tosca na. são o produto das modificações humanas vi­sando a objetivos concretos, com uma tecnologia comum atuan­do sobre a estrutura básica oferecida por um processo geológico contínuo. Se bem-sucedida, essa modificação é feita com a cons­ciência das inter-refações - mas conservando a individualidade tanto dos recursos naturais quanto dos objetivos humanos.

Em sua condição de mundo artificial, é assim que a cidade deveria ser: edí ficada com arte. E um nosso hábito antigo nos adaptarmos ao nosso ambiente, discriminando e organizando pereepíivamente o que quer que se apresente aos nossos sentidos. A sobrevivência e o predomínio baseavam-se nessa adaptabilida­de sensor ia, mas boje já podemos passar para uma nova fase des­sa interação. No ambiente em que vivemos, podemos começai

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por adaptar o próprio espaço ao padrao perceptivo e ao processo simbólico do ser humano.

O desenho das ruas

Aumentar a imaginubihdnde do ambiente urbano significa ia- cilitar sua identificação e estr uturação visuais. Os elementos ate aqui isolados -- vias, [imites, marcos, pontos nodais e regiões — são os blocos formadores no processo de criação de estruturas firmes e diferenciadas em escala urbana. Que sugestões poete­mos extrair do material até aqui examinado a propósito das ca­racterísticas que tais elemenios poderiam apresentar num am­biente verdadeiramente imaginãve17

As vias, a rede de linhas habituais ou potenciais de desloca­mento através do complexo urbano sào o meio mais poderoso pelo qual o todo pode ser ordenado, As vias principais devem ter alguma qualidade singular que. as diferencie dos canais de circu­lação circundantes: unia eoneenliaçao de algum uso ou alguma atividade especial ao longo de suas margens; uma qualidade es­pacial característica; uma texiura especial de pavimento ou fa­chada; um sistema particular de iluminação; um conjunto único de cheiros ou sons; um detalhe ou uma vegetação típicos. A Rua Washington pode ser conhecida por seu comercio intenso ou poi seu espaço em forma de fenda; a Avenida Commomveahh pelas árvores alinhadas em sua parte eentrah

Esses elementos poderíam ser aplicados de modo a dar conti­nuidade à via. Se um ou mais deles (a arborização de um bule­var, uma cor ou texlura especial da pavimentação, ou a clássica continuidade das fachadas laterais) iorem consistentemente em­pregados ao longo da linha, a via poderá ser imaginada como um elemento contínuo e uni ficado. A regularidade pode ser rítmica, uma repetição de aberturas espaciais, monumentos ou farmácias de esquina. A própria concentração de trajetos habituais ao lon­go de uma via. comei iamhem de uma linha de transito, irã refoi­çar essa imagem familiar continua.

Isso nos leva ao que poderiamos chamar de hierarquia visual das mas e dos caminhos, análoga à conhecida recomendação de

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uma hierarquia funciona!: uma escolha sensória dos canais prin­cipais e sua unificação como elementos perccpiivos contínuos. Este é o esqueleto da imagem da cidade.

A tinha de movimento deveria ter uma direção ciara. O com­putador humano perturba-se com longas sucessões de desvios ou com curvas graduais e ambíguas que, no fim, acabam produzin­do mudanças direcionais de maior vulto. As curvas constantes das ccüh de Veneza ou das ruas de um dos românticos projetos de Qhnsíed, ou, ainda, a curva graduai da Avenida Atlantic, em Boston, logo contundem os observadores que não -êm um bom conhecimento desses J o caís. É cvi dente que uma rua reta tem clareza direcional, mas o mesmo se podería dizer de uma rua com algumas curvas bem definidas, de mais ou menos noventa graus, ou de qualquer via com muitas curvas ligeiras que, ainda assim, nunca perde sua direção básica.

Os observadores parecem dotar uma via de um senso de dire­ção irreversível, e identificar uma rua com a destinação da mes­ma. Na verdade, uma rua e percebida como uma coisa que vai dar num determinado lugar. A via deveria corroborar perceptiva- meníe esse fato por meio de pontos terminais bem definidos e de um gradiente ou de uma diferenciação direciona!, de modo que se lhe atribuísse um sentido de progressão e as direções opostas fossem claramcnle distintas. Um gradiente comum é o de decli­ve do terreno, graças ao qual somos continuam ente instruídos a "subir’' ou "descer’" uma ma, mas também existem muitos ou- iros. Um adensamento progressivo de sinais, lojas ou pessoas po­de assinalar a aproximação de um ponto comercial: também pode haver um gradiente de cor ou textura do verde; a diminuição do comprimento de um quarteirão ou o afundamento do espaço po­dem indicar a proximidade do centro da cidade. As assimetrias também podem ser usadas. Talvez seja possível seguir em frente ■'mantendo o parque à esquerda" ou “tomando a direção da cúpu­la dom ada Podem-se usar flechas ou todas as superfícies que se projetam para uma direção podem ter uma cor codificada. Todos esses meios fazem da rua um elemento de orientação ao qual ou- iras coisas podem reportar-se. Inexiste o perigo de seguir pelo "caminho errado”.

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Se as posições ao longo da linha puderem ser diferenciadas de cena maneira mensurável, ela será não só orientada como em escala. Uma técnica para realizá-lo c a simples numeração das casas. Um recurso menos abstrato é a atribuição de um ponío identificável à linha, de tal modo que se possa pensar em outros lugares como "antes” ou "depois’ . A presença de vá3 ios pontos de referência aumenta a definição, lambem existe a possibili­dade de que uma característica (como o espaço do corredor) pos­sa íer uma modulação de gradiente que modifique o espaço, de modo que a própria modil ícaçáo tenha tuna lorma reconhecível. Assim, seria possível dt/.er que um determinado lugar íica "um pouco antes do ponto em que a rua de repente se estreita", ou “no contraforte da colina, autos de começar a ultima subida’ . As pes­soas podem sentir não apenas que estão “seguindo pela direção certa", mas que também já “estão quase ia”. Nos casos em que o trajeto apresenta essa serie de aspectos distintivos, alcançando-se e ultrapassando-se uma etapa após a outra, o próprio percurso adquire um significado e se torna uma expenencia em si.

Os observadores deixam-se Empressionar-se, até mesmo de memória, pela aparente qualidade "cinesfésica'’ de uma via, pela sensação de movimento ao longo deía: virar, subir, descer. Isso é paríícularmeme verdadeiro quando a via e percorrida em alta ve­locidade. Uma grande curva descendente que se aproxima do centro da cidade pode produzi? uma imagem inesquecível. Os sentidos do tato e da inércia lambem entram nessa percepção do movimento, mas a visão parece ser predominante. Os objetos ao lontro da via podem ser ordenados de modo a aumentar o eleito de patnlaxe ou perspectiva de movimento, ou a continuidade da via à nossa frente pode ser tornada visível. A configuração dinâ­mica da linha de movimento vai conferir-lhe identidade e talvez crie uma experiência continua com o passar do tempo.

Qualquer exposição visual tia via, ou do seu íim, contribui para intensificar a sua imagem. Isso pode ser obtido com uma grairde ponte, uma avenida axiaf um perfít côncavo ou a silhue­ta distante do ponto lentmial da rua. A presença da via pode sej evidenciada pela colocação de marcos visíveis ao longo dela, ou por outros tipos de indicadores. A linha de circulação vítat eví-

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denota-se nitidamente aos nossos olhos e pode tornar-se o sím­bolo de uma função urbana fundamental. Inversamente. a expe- rieneia serre intensificada se a via revelar a presença de outros elementos urbanos às pessoas que por ela se deslocam, se pene­trar esses elementos ou passar tangencia Imente por eles, se ofe­recer indicadores e símbolos do que jã foi deixado para trás. Um metrô, por exemplo; em vez de ser enterrado vivo, podería pas­sar pelo centro comercial na superfície, ou sua estação podería, por sua forma, evocar a natureza da cidade imediaíamente acima dela. Uma via podería ser configurada de tal modo que o fluxo em si torne-se evidente aos sentidos: pistas divididas, rampas e curvas em forma de espiral permitiríam que o trânsito se entre­gasse, por assim dizer, a uma contemplação de si mesmo, Trata-se. em resumo, de técnicas para aumentar o espaço visual do viajante.

Um geral, uma cidade é estruturada por um conjunto de vias organizadas. O ponto estratégico de tal conjunto é a interseção, o ponto de íigaçao e decisão para a pessoa em movimento. Se isso puder ser claramente visualizado, se a própria interseção produzir uma imagem viva e se a posição das duas vias for ex­pressa com nitidez, o observador poderá, então, criar uma estru­tura satisfatória. Um Boston, a Praça Park é uma junção ambígua de ruas muito importantes: o cruzamento da Rua Arlington e da Avenida Commomvealth é claro e marcante, No mundo todo, as estações de metrô são incapazes de produzir articulações visuais ciaras assim. Deve-se tomar um cuidado especial para explicar as complexas interseções dos sistemas viários modernos.

Em geral, a íigaçao de mais de duas vias é bastante difícil de conceituar. Uma estrutura de vías deve ter uma certa simplicidade de formas para poder formar uma imagem clara. É necessária uma simplicidade muito mais topológica do que geométrica, de modo que um cruzamento irregular, mas mais ou ntettos em ân­gulo reto, é preferível a uma trisseção precisa. São exemplos des­sas estruturas simples os conjuntos paralelos ou os elementos fu- Ufotmes: as cruzes de um, dois ou três braços: os retângulos ou alguns eixos ligados entre si.

As vias também podem ser imaginadas não como um mode­lo específico de certos elementos individuais, mas como uma

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rede que explique as relações li picas entre ledas as vias do con­junto sem identificar qualquer vai especíiiea. Esse requisito im- plica a existência de um 1 meado que lenha alguma consistência, seja ela direcional, de inter-relaçao topo lógica ou de espaçamen­to. Uma quadríeula pura combina iodas as tres, mas a invariàn- cia direcional ou topológica pode ser nastante eliciente por st própria. A imagem fica mais ninda se todas as vias que correm em sentido tonológico. ou .seguindo um dos pontos cardeats, fo- rem vi suai mente diferenciadas das outras vias. Assim, a distin­ção espacial entre as ruas e avenidas de Manhattan c de grande eficiência. A cor. o verde e o detalhe também podem seivji. A denominação e a numeração, os gradientes de espaço, topografia ou detalhe e a diferenciação dentro da rede podem igual mente dar ao traçado um sentido progressivo ou mesmo de escala.

Existe ama última maneira de organizar uma via ou um con­junto de vias. que irá tornar-se cada vez mais importante num mundo de grandes distancias e abas velocidades. Por analogia com a música, poderiamos chamada de “melódica . Os elemen­tos e as caracteristicas i i o longo de uma viu — marcos, mudanças de espaço, sensações dinâmicas poderíam ser organizadas como uma linha melódica, percebidos e nnaginados como uma forma que é vi vencia da a intervalos de tempo substanciais. Uma vez que a imagem seria a de unia melodia completa, e não a de uma série de pontos distintos, ela talvez pudesse ser mais abran­gente. e ainda assou menos ex mente. A forma poder ia ser a clás­sica seqüêttcia 3 n t r t k! uçàc 1 -des e. r 1 vo i v i meu to - c I í m a x-con c E usào, ou talvez pudesse assumir lormas mais sutis, como aquelas que evitam as conclusões tinais. A aproximação de San Pran cisco através da baía sugere um Upo dessa organização melódica. A técnica oferece um campo minto rico para 0 desenvolvimento e a experiência do

O design de outros elementos

Tanto os limites quanto as vias exigem uma certa continuida­de formal ao longo de toda a sua extensão. O limite de um oatt-

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IDADE. f1 t

ro com ereta 3, por exemplo, pode sei um conceito importante, mas ao mesmo tempo difícil de descobrir ui loco, por não ler qualquer continuidade formal identificável. 0 limite também adquire força se for J a lera] mente visível a alguma distância, se assinalar um ctaro gradiente das características de uma área e se ligai ciaiamente duas regiões bmítroies. Assim, a abrupta inter­rupção de uma cidade medieval em sua muralha, as fachadas dos aiiauha-eéus do Central Park e a clara transição ãgua-terra numa região costeira constituem poderosas impressões visuais. Quan­do duas regiões fortemente contrastantes ficam em estreita jus­taposição e seu ponto de confluência é visível por inteiro, a aten­ção visual se concentra com grande facilidade.

Principal mente lá onde as regiões fronteiriças não são de na­tureza contrastante, e útil diferenciar os dois lados de um limite, orientai o ohscivadot no sentido “inierior-exteriior’. Isso pode ser feito com materiais contrastantes, por uma sólida concavidade de linha ou com o verde. O limite também pode ser configurado de modo a dar orientação ao longo de toda a sua extensão, o que se pode obter com um gradiente, com pontos identificáveis a certos intervalos ou, ainda, com a individualizaçâo de uma extremida­de em relação ã outra. Quando o limite não é contínuo nem se fe­cha sobre sí mesmo, é importante que suas extremidades tenham te3 minais definidos, icferências reconhecíveis que completem e situem a linha. A imagem da zona portuária de Boston, que em geral não e imaginada como se fosse contínua com a linha do rio Charles, carece de um esteio perceptivo em suas duas extremida­des, o que fax dela um elemento vago e indistinto no contexto da imagem total de Boston.

Se um limite puder ser atravessado visualmente ou pelo mo­vimento, ele poderá sei' mais do que uma simples barreira domi­nante - desde que seja, por assim dizer, estruturado em ai2 uma profundidade com as regiões de ambos os seus lados. Ble então deixa de ser uma barreira e torna-se uma costura, uma linha de intercâmbio ao longo da qual duas áreas estão “costuradas'’.

Se um limite importante for dotado de muitas conexões vi­suais e de circulação com o restante da estrutura urbana, d e s.e tornara uma característica com a qual tudo o mais será fadhnen-

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ie alinhado. Uma mane iva de aumentar a visibilidade de um limi­te consiste em. a ume na ar seu uso ou suas condições de acesso, como acontece, por exemplo, ornando a parte da cidade a margem tias águas e aberta ao tráfego ou ao lazer. Outra mane na seria a construção de limites bem altos, visíveis de longe.

A característica essencial de um marco viável, por outro lado, é sua singularidade, o contraste com seu contexto ou seu plano de fundo. Pode ser uma torre recortada contra um lunoo de te­lhados baixos, podem ser flores contra um muro de pedra, uma superfície expressava numa rua msipida, uma igteja no meío de lojas, uma projeção nu tua Pichada continua. A pt o em i nenens es­pacial ê uma das coisas que mais se prestam a chamar a atençao. O controle do marco e de seu contexto pode ser necessário: a tes- trição de placas e demais letreiros a superfícies específicas, bmí- tes de altura que se aplicam a nulos os edifícios, menos a um de­les. O objeto também se torna mais admirável se tiver clareza etn sua for tua geral, como e o caso de uma coluna ou uma eslem. S ,,além disso, também for rico em detalhe ou textura, ces lamente será um convite ao nosso olhar.

Um mareo não é necessariamente um objeto de grandes di­mensões: pode ser tatuo uma maçaneta de poria como uma cupu- la de catedral. Sua localizaçao o crucial: se grande ou ako, deve estar localizado de tal modo que seja visto; se pequeno, existem certas regiões que recebem m;us atençao poreeptiva do que ou­tras: pisos ou fachadas próximas, no nível do olho ou pouco abaixo. Qualquer interrupção do Puxo de trânsito — cruzamen­tos. pontos de tomaria de decisão e um lugar onde nossa pet- cepçâo se tonta mais intensa. As entrevistas mostram que os edi- Peios comuns situados cm lugares onde os usuários decidem por qual direção seguir são ciai amente lembrados, enquanto as estru­turas distintas ao longo de um trajeto continuo podem tei-se apa­gado da memória. Um mareo será ainda mais ioríe se lot visíve, durante um tempo e uma distância maiores, e mais úín se a dire­ção em qtte se encontra puder ser percebida com mudez. Se foi identificável de perto e de longe, enquanto nos deslocamos lápi­da ou Jentamente, de dia ou de noite, l ornar-se-á um a reietenciaestável para a percepção uo mundo urbano, complexo e etn pe=- manent c t raosformação.

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A ICAIVA UÁ GDÀO í 113

A torça dt i imagem amuem e i quando o marco coincide com uma concentração de associações. Se o editicio que sobressai for o cenário de um .-ato histórico ou se a poria em cores vivas foi' a da sua casa, essas coisas irão realmeme tornar-se marcos. Mes­mo a atnouição de um nome couiere poder., pois. em geral, esse nome e conhecido e aceito por rodos. De luio, sc quisermos que o nosso ambiente se torne significativo, tal coincidência de asso- nneao e imagúrabilidade será imprescindível.

A menos que sejam dom mames, os marcos isolados tendem a sei' reierencias fracas por si sós. Seti reconhecimento exiae um e i atençao c o tu i nua. Se lorem agrupados, porém, eles refor­çam-se mutua mente, e não apenas por um Et questão de somató­ria. Os observadores familiar Dados criam conjuntos de marcos a paitn' dos materiais menos esporados e apóiam-se num conjunto integrado de sitiais, dos quais cada demento pode ser fraco de­mais paia sei digno de registro. Os marcos tampem podem ser ordenados numa seqüêtteia continua, de modo que todo um tra­jeto possa ser identificado e tomado cômodo por uma sucessão de detalhes conhecidos. As ruas eonlusas de Veneza ficam tran­sitáveis depois oe uma ou duas experiências, uma vez que são piódigas em detaibes distintivos que as pessoas logo aprendem a organizar seqüenciahnenle. & menos comum agruparem-se os marcos em modelos que tenham uma forma especifica e possam indicar, por como se apre sentam, a direção a pari ir da qual são íO sStaoos. Os dois marcos liorentinos, a cúpula e o campanário, mantêm esse tipo bíu-monioso de relação.

Os pomos nodais sao os pontos de reicréneia conceituais de nossas cidades, Nos Ustados Unidos, porém, é raro que eles te­nham uma forma adequada para manter esse grau de atenção, a menos que ela seja obtida através da concentração de algum tjpo de atividade locai.

O piimeho requisito pura esse apoio pereeplivo é a conquista oa identidade por meio da qualidade singular e continua de ]>are­des, pEtvirnemos, detalhes, iluminação, vegetação, topografia ou I mba de horizonte do ponto no dal. O essencial, nesse tipo de ele­mento, c que seja um lugar distinto e inesquecível, impossível de sei' confundido com qualquer outro. Sem dúvida, a imensidade

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de uso reforça essa identidade, e às vezes a própria imensidade de uso cria formas visuais de características únicas, como acon­tece cm Times Square. Mas são múmeros os nossos centros co­merciais e pontos de interrupção do trajeto que carecem dessa característica visual.

Um ponto nooal será mais definido se tiver um limite níüdo, fechado, e náo se estender inoertameme para os lados; também será mais digno de nota se tiver um ou dois objetos que sejam fo­cos de atenção. Mas será irresistível se puder ter uma forma es­pacial coerente. Este é o conceito clássico da formação de espa­ços exteriores estáticos, c existem muitas técnicas para a defini­ção e expressão de tal espaço: transparências, sobreposições, modulação da luz, perspectiva, gradientes de superfície, fecha­mento, articulação, padrões de som e movimento.

Se uma interrupção do í vá logo ou um ponto de tomada de decisão numa via puder coincidir com o ponto nodal, este se toi - nará alvo de mais atenção ainda. A junção entre via e ponto no­dal deve ser visível e expressiva, como e o caso da lutei sev^o de vias. O passante deve ver como entra no ponto nodal, onde ocor­re a interrupção e de que modo ele sai.

Esses pontos de condensação podem, por radiação, organizar grandes bairros ao sen redor; para tanto, é necessário que sua presença sega de alguma lorma sinalizada no entorno. Um gra­diente de uso ou outra característica pode levar ao ponto nodal, ou o espaço deste pode tornar-se eventualmente visível a partir do exterior, ou, ainda, ele pode conter marcos altos. É desse modo que a cidade de 1'lorcnça se concentra ao redor do Duomo e do Paiazzo Veeehio, ambos situados em pontos nodais impor­tantes. O pondo nodal pode emitir luzes ou sons característicos, ou sua presença ser sugerida por um detalhe simbólico em luga­res mais afastados, um detalhe que faça ecoar alguma qualidade do próprio ponto nodal. Num bairro, os sicômoros podem ieve- lar a proximidade de uma praça caracterizada por uma grande quantidade dessas árvores, do mesmo modo que uma rua calça­da com pedras pode levar a um espaço assim calçado.

Se o ponto nodal contiver uma orientação local - “para cima”, “para baixo'3, “esquerda33, "direita3', “na frente ', “atrás

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A ^O.-vIviA 'jA CiíiADL 115

d e poderá ser ligado ao sistema de orientação mais geral. Quan- do vias conhecidas em ram numa junção clara, a ligação também pode ser leda. Em qualquer desses casos, o observador sente a presença da estrutura da cidade ao seu redor, Ele sabe por que di­reção deve avançar para chegar ao seu objetivo, e a espeeifieida- de tio próprio lugar é reforçada pelo contraste percebido com a imagem total.

Ji possível ordenar um confunto de pontos nodítis de modo a Jormarem uma estrutura. Eles pode ser unidos por justaposição ou permitindo-se que fiquem mlervisíveis, como no caso das Praças São Marcos e da Santissima Annunziata, em Florença. Podetii ser colocadas em algum npo de relação comum eom uma via ou um limite, bgadas por um elemento de pequenas dimen­sões ou pelo eco de alguma característica comum a todos. Essas ligações podem estruturar partes substanciais do espaço urbano.

hm seu sentido mais simples, um bairro é uma área com ca­racterísticas homogêneas, reconhecido por indicadores que se mantêm contínuos ao longo da região e descontínuos no restan­te do espaço urbano. A homogeneidade pode ser de característi­cas espaciais, como as estreitas ladeiras de Beacon Hill; de edi- l icação, como as iachadas elegantes das casas do Soutb End; de estilo ou topografia. Pode ser uma característica inconfundível tio tipo de construção, como as varandas brancas de Bahimore. Pode ser uma continuidade de cor, textura ou material, de super- lieie de pavimento, escala ou detalhe das fachadas, ilmninação, arborização ou silhueta. Quanto mais essas características se so­brepõem, mais forte será a impressão de uma área unificada, tuna "unidade temática1" de três ou quatro de tais características icvela-se pardcularmeute útil para deíiEnitar uma área. As pes­soas entrevistadas geralmente retinham, em suas mentes, um jie- queno conjunto de (ais características: por exemplo, as estreitas ladeiras, o calçamento de tijolos, as seqüências de pequenas ca­sas e as entradas recuadas de Beacon Htll. Muitos desses aíribu- ms podem ser fixos num bairro, enquanto outros fatores podem variar confonne se queit^a.

O efeito é inconfundível quando a homogeneidade bsiru coincide com o uso e o sfaius dos moradores. A natureza visual

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116 A &AAGÜW DA CiDACt

de Bcacon Hill é d ire lamente reforçada por sua condição de bím- co das classes mais abastadas. Nos Estados Um dos, o mais co­mum c acontecer o contrário: as características associadas ao uso são pouco reforçadas pelos atributos v=suais.

Um bairro torna-se ainda mais nítido se houver orna matot definição e um "fechamento" dc suas 1 romeiras. Em Boston, um moíeto de construção dc easas cm Cohimbía Poim ficou pare­cendo mais ou menos uma ilha, o que pode ser mdesejável so- cialmente, mas bastante claro em termos pereeptivos. Na verdade, e nor essa razão que qualquer pequena ilha e sempre um Jugai charmoso para o imaginário coletivo. E, se a região for iaedmen- íe visível em sua totalidade - por exemplo, por vistas panorâmi­cas em kmares elevados, pela concavidade ou convexidade í c sua posição sua independência visual em relação ao resto doespaço urbano estará assegurada.

0 bairro também pode ser estruturado imernamente. Pode ha­ver sub distritos internamento diferenciados, mas em harmonia com o todo; pomos nodais que irradiem estrutura por gradientes ou outros indicadores; sistemas de vias internas. A Back Bav ^ es­truturada por sua rede viária em ordem alfabética, c quase sem­pre aparecia nos mapas como um desenho claro, mconiundivel e, de certa forma, maior do que na verdade é. Uma regmo eAiuinra- da 6 muito mais passível de produzir uma imagem viva. Alem do mais, ela não diz aos seus habitantes apenas que eles estão Am a leu ma parte de X’ , mas sim que eles estão em X, perto <. e

& Quando adequadamente diferenciado em seu rntenor, um bairro pode expressar ligações com outras características da ci­dade- Para tanto, o limite deve ser penettável: uma costura, uso uma barreira. Um bairro pode ligar-se a outro por justaposição, intervisibiluíade, relação com uma linha ou algum outro tipo de relação eomo um cruzamento intermediário, uma vta ou um pe­queno bairro. Bcacott Hill é ligado ao núcleo da melropole pe :> reaíão espacial do Common, e é desse falo que decorre grande parte de seu encanto. Essas ligações acentuam as características de cada bairro e acabam unindo grandes arcas urbanas.

É possível que possamos ter uma região earaetei ízada uao apenas por uma qualidade espacial homogênea, mas que real­

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A IO SG A DA GCAOH 117

mente seia uma verdadeira região espacial, um contínuo estrum- rado de forma espacial. Num sentido primitivo, são dessa natu­reza os grandes espaços urbanos, como as fozes dos tios. Lana região espacial seria distinguível de um pomo nodal espacial {uma praça) por não poder ser abrangida em sua totalidade com um rápido olhar. Só podería ser vivência da, como um jogo pa­dronizado de mudanças espaciais, mediante um percurso mais ou menos longo por seu espaço. Talvez os átrios processionats de Pequim ou os cantos de Amsterdã tenham essa qualidade, imagi­na-se que evoquem uma imagem de grande poder.

Qualidades de forma

Estas sugestões para o design urbano podem ser resumidas de outra maneira, uma vez que o conjunto delas possui temas co­muns: as referências reiteradas a certas características físicas ge­rais. São essas as categorias de interesse direto para o ch.sign, uma vez que descrevem qualidades que podem ser trabalhadas por um designer. Poderiamos resumi-ias da seguinte maneira:

1. Sitigithtriciüde ou clareza da figura-plano de fundo: nitidez dos limites (como na interrupção abrupta do desenvolvimento da cidade); fechamento (como uma praça fechada); contraste de su­perfície, forma, intensidade, complexidade, tamanho, uso, loca­lização espacial (como uma torre isolada, uma decoração luxuo­sa ou um sinal bem visível). O contraste pode dar-se em relação ao entorno ímediatamente visível ou à experiência do observa­dor. São essas as qualidades que identificam um elemento e o iornam admirável, notável, vivo, identificável. Quando aumenta ■a.ui conhecimento do espaço, os observadores parecem depender cada vez menos de eo mi unidades físicas volumosas para a orga­nização do todo e deleitar-se cada vez mais com o contraste e a originalidade que dão vida à cena.

2. Simplicidade àafovmu: clareza e simplicidade da forma vo vivei em sentido geométrico, limitação de partes (como a elaie/a de um sistema de quadrícuía, de um retângulo, de uma cúpula).

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11S A IV A íH X i DA C iDADl

As formas dessa natureza são muito mais facilmente- incorpora­das à imagem, e Itá indícios de que os observadores distorcem as formas complexas tornando-as simples, ainda que percam em termos perceptívos e práticos. Quando um elemento nao e simul­tânea mente visível como um iodo, sua forma pode ser uma dis­torção topo lógica de uma forma simples e, ainda assim, ser com­preensível.

3. CofUiiuiíduile-. continuação de limites ou superfícies (como num canal de circulação, na skyUnc ou no recuo); repetição üe intervalo rítmico (como um padrão de esquinas); similaridade, analogia ou harmonia de superfície, lorma ou uso {como num material comum usado na construção de edifícios, num moaelo repetitivo de lanei as de sacada, na semelhança das atividades co­merciais. no uso de sinais comuns). São estas as qualidades que facilitam a percepção de uma realidade lisica complexa como sendo única ou inter-relaei onada, as qualidades que sugerem a atribuição de uma identidade única.

4 . Predomínio', o predomínio de uma parte sobre as outras em decorrência do tamanho, da intensidade ou do interesse, resul­tando na leitura do iodo como uma característica principal asso­ciaria a um conjunto {como na “Arca da Praça Harvard j . Assim como a continuidade, esse atributo permite a necessária simpli­ficação da imagem por omissão e subsunção. Enquanto estive­rem além do limiar de atenção, as características tísicas parecem, até certo ponto, irradiar conceitua!mente a sua imagem, espa­lhando-se a partir de um centro.

5. Chavza dc junção-, alta visibilidade das ligações e costuras (como numa interseção-ehave ou na orla marítima); relação cin ­te r-relação claras {como a de um edifício com o lugar onde foi construído, ou de uma estação de melro com a rua acima). Essas ligações são os momentos estratégicos da estrutura e devem ser ex ire m a mei i te p e reep t ívei s.

ó. Diferenciação direcional, assimetrias, gradientes e referên­cias radiais que diferenciam uma extremidade da outra (como numa rua que sobe por uma colina, aiast ando-se do mar e toma ti­do a direção do centro); ou que diferenciam um lado do outro (como os edifícios que dão de frente para um parque): on utnn

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A HOír/A V-A OOADl 119

direção ua outra (como pela luz cío dia ou pela largura das ave­nidas norte-sul). listas qualidades são extremamente usadas na estruturação em grande escala.

7. Alcance visual, qualidades que aumentam o âmbito c a pe­netração da visão, tanto concreta quanto simbolicamente, listas incluem as transparências (como o uso de vidro ou a construção sobre pilo tis): sobreposições (como quando uma estrutura aparece atrás de outra); vistas e panoramas que aumentam a profundida­de de visão (como nas ruas axiais, nos grandes espaços abertos e nas vistas elevadas); elementos de articulação (focos, marcos miliares, objetos penetrantes) que explicam visualmente um es­paço; concavidade (como a de uma colina em segundo plano, ou a da curva de uma rua), que expõe objetos mais distantes ao nos­so campo visual; indicadores que talem de um elemento de ou­tra forma invisível (como a vista de uma atividade característica de uma região subsequente ou o uso de detalhes característicos que insinuem a proximidade de outro elemento). Todas essas qualidades afins facilitam a apreensão de um todo vasto e com­plexo, e o fazem, por assim dizer, aumentando a eficiência da vi­são: seu raio de ação, sua penetração e seu poder de resolução.

8. Consciência do maviinemo1. as qualidades que, através dos sentidos visuais e cinestésieos, tornam sensível ao observador o seu próprio moví mento real ou potencial. São estes os artifícios que melhoram a clareza de ladeiras, curvas e interpen et rações, olerecem a experjesteia de paralaxe e perspectiva de movimento, mantém a consistência de direção ou mudança de direção, ou tor­nam visível o intervalo entre as distâncias. Uma vez que a cida­de c percebida em movimento, essas qualidades são fundamen­tais e usadas para estruturar (e até mesmo identificar), sempre que tenham coerência suficiente para tornar isto possível (como, por exemplo, "vire à esquerda, depois â direita”, "na curva fecha­da”, ou "três quarteirões mais adiante"). Essas qualidades refor­çam e desenvolvem aquilo que um observador pode fazer para interpretar a direção ou a distância, ou para perceber o movimen­to da forma em si. Com a velocidade cada vez maior, essas téc­nicas vão precisar de um desenvolvimento adicional na cidade moderna.

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9. Séries tempoiui*'. series que suo percebidas com o passar do tempo, incluindo tanto as ligações simples, nem por nem, nas quais um demento e simplesmente ligado a outros dois, o ante­por e o posterior (como numa se qü ene ia casual de mareosj, como as seta cs verdadeiraineme e.slixoiuiadas no tempo e, poi tan­to, de natureza melódica (como se os marcos aumentassem stuiintensidade formal até abngirem um climas). A primeira sequên­cia í a simples) é comu mente usada, sobretudo ao longo de mas e avenidas conhecidas. Seu equivalente melódico e mais rara- mente vasto, mas talvez seta mais importante desenvolve-io nametrópole moderna, grande e dinamiea. Neste caso, o imagina­do seria o modelo de desenvolvimento de elementos, e nao os elementos em si — do mesmo modo que nos lembramos das me­lodias. e não das notas que as eompoem. Num ambiente complexo, seria até mesmo possível usar iccmens de contraponto: padrões móveis de melodias ou ritmos opostos. I rata-se de méiodos so­fisticados, que devem ser ci iicnosamenle desenvolvidos. Preci­samos de novas idéias sobre a teoria das Ibrmas que são percebi­das como uma continuidade no tempo, nem conto de arquétipos de clesign que exibam uma sequência melódica dos elementos da imagem, ou uma sucessão lormai de espaço, textura, movnnen- to, luz ou silhueta.

10. Aóujcx e emaclcj íslteus nao-bsicus que po­dem aumentar a imagumbd idade de um elemento. Os nornes, poi exemplo, sao importam es para a erislalizaçao da identidade. As vezes, dão indicações de I ngui es tkstação Norte). Os sistemas de nomeação {como nas series ue ruas designadas poi oídem alla- b ética) também podem iacilitar a estruturação dos elementos. Smitificados e associações, sejam sociais, históricos, luneiona-s. econômicos ou individuais, eonstilueLm tono um domímo pam além tias qualidades usuras que nos interessam aqui. Re^oiçam. foriemeuto as suuestòes de idenddaüe ou de estrutura qoe podeniestar latentes na própria forma física.

Todas as qualidades acima mencionadas não Uuteionam de­mo do independei tie. Onde uma um ca qualidade está pi escute ícoitto a continuidade do material de construção, sem nenhuma.

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A FOR OADí 121

í)liC|ia característica comum) ou as qualidades estão em conflito (como em duas áreas de mn mesmo tipo de construção, mas com Junções diferentes), o efedo total pode ser fraco ou exigir um es- íürço para descobrir soa identidade e sua estrutura. Uma certa quantidade de repetição, redundância e reforço parece ser neces­sária. Assim, uma região inconfundível seria aquela que tivesse uma forma simples, uma continuidade de tipo e uso de suas edi­ficações que fosse única na cidade; nitidamente demarcada, ela- ramente ligada ã região vizinha e vi suai mente côncava.

O sentido cio lodo

Quando discutímos o cfesign por tipos de elementos, tejtde­mos a examinar superficiaimenie a inter-relaçao das partes com o todo. Nesse todo, as vias exporiam e preparariam os bairros, b- gUÊtdo diversos pontos no dais. hstes ligariam e demarcariam as vias, enquanto os Limites isolariam os bairros, e os marcos indi­cariam os seus núcleos. A total orquestração dessas unidades e que amarraria Lima imagem densa e viva e a susteEparia nas áreas em escala metropolitana.

Os cinco elementos - via. limite, bairro, ponto nodal e marcodevem ser coEiSEderados simplesmente como cateporias empi-

lieas apropriadas, dentro e ao redor das quais foi possível agrupar uma massa de informações, imquanio forem úteis, funcionarão como os bíocos de construção para o designer. Tendo dominado suas características, ele irá ver-se diante da tarefa de organizar um todo que será percebido seqüencialmente, cuias paia es só se­nto sentidas no contexto. Se conseguisse dispor uma seqüêíteia do dez maic-os ao longo de uma via. um desses marcos teria uma qualidade de imagem profundam ente diversa daquela que ter ia se estivesse colocado sozinho, de Enodo proeminente no coração da cidade.

As formas devem ser manipuladas de modo que exista um fio de continuidade entre as imagens múltiplas de uma grande cida­de: dia e noite, inverno e verão, proximidade e distância, esúith ■11 0 movimento, atençao e distração. Marcos principais, regiões, pontos nodais ou vias deveríam ser reconhecíveis sob diversas

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condições, mas de maneira concreta, e não abstraia, isso não quer dizer que a imagem deva ser a mesma em cada caso. Mas, se a Praça Louisburg sob a neve tem uma lorma que correspon­de ao que eia é em pleno verão, ou se a cupuia do prédio da As­sembléia Legislativa brilha. ã noite, de um modo que faz icmbrar essa mesma cupuia quando vista de dia. a qualidade comiasían­te de cada imagem torna-se ainda mais nitidamente apreciada graças ao elo comum. Pode-se então unir duas vistas urbanas bem dtferenles e, portanto, abranger a escala da cidade ne um modo que, em outras condições, seria impossível e chegar mais perto do ideal de uma imagem que sopa um campo total.

Se. por um lado, a com pies ida de da cidade moderna exige continuidade, por outro ela lambem oferece um grande prazer: o contraste e a especialização das características individuais. Nos­so estudo aponta para unia crescente atençao ao detalhe e a sim guiar idade, à medida que u familiaridade vai aumentando. A vi­vacidade dos elementos e sua precisa sintonia com as dileionça> funcionais e simbólicas ajudarão a criar essas características. O contraste será reforçado se elementos nitidamente distintos io- rem relacionados de um modo próximo e imaginável. Cada ele­mento assumirá, ema o, por si. um caráter mais nitido.

Na verdade, a função de um bom ambiente visual pode não ser apenas facilitar os deslocamentos rotineiros, nem confirmai significados e sentimenlos preexistentes. Seu papel como guia e estímulo de novas explorações pode ter a mesma importãncia. Nnma sociedade complexa existem muitas mler-relações a ser dominadas. Numa democracia, deploramos o Isolamento, enalte­cemos o desenvolvimento individual e esperamos que a comuni­cação entre os diferentes grupos torne-se cada vez maiot. Quarteto um ambiente tem uma forte moldura visível e partes extrema­mente características, a exploração de novos setores fica mais fã- cil e mais convidais va. Sc os cios de comunicação estratégicos (como museus, bibliotecas o pontos de encontro) tiverem sus existência divulgada, aqueles que cosiumam ignorá-los podem sentir-se tentados a conhecê-los.

A topografia subjacente, que é o cenário natural preexistente, talvez não seja um fator tão importante, em termos de imagina-

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bilidade, como se costumava pensas- no passado. A densidade e„ pai tieularmente, a amplitude e a complexa tecnologia da metró- POÍe moderna tendem a obscmeeer esse fato. A área urbana coml empo tática tem características feitas pelo homem e problemas que fíeqüentemente extrapolam a especificidade do lugar. Ou. talvez, fosse mais exato dizer que a natureza específica de um lu­gar pode ser vista, em nossos dias, como resultado seja das ações e dos desejos humanos, seja da estrutura geológica originai. Atem disso, à medida que a cidade se expande os fatores "natu- J'£iiS” significativos tornam-se maiores e mais fundamentais doque os pequenos acidentes de terreno. O clima básico, a flora e a superfície gerais de uma grande região, as montanhas e os prin­cipais sistemas fluviais tornaram-se mais importantes do que as características locais. Não obstante, a topografia ainda é um ele­mento importante para o reforço dos elemetitos urbanos: colinas de forte piesença visitai podem definir regiões: rios e orlas ma- fínhas eordiguram iortes limites; os pontos nadais podem sei' confirmados por sua localização em pontos-ehave do terreno. A via moderna, extrema mente rápida, é um excelente ponto de vis- ia apaitn do qual podemos apreendera estrutura topográfica em grande escala.

A cidade não é construída para uma pessoa, mas para um grande número delas, todas com grande diversidade de forma­ção, temperamento, ocupação e ciasse social. Nossas análises apontam para uma substancial variação do modo como as dife­rentes pessoas organizam sua cidade, de quais elementos mais dependem ou em quais formas as qualidades sào mais compatí­veis com elas. O designer deve, portanto, criar uma cidade que veja pródiga em vias, limites, marcos, pontos no da is e bairros, uma cidade que use não apenas uma ou duas qualidades de for­ma, mas todas elas. Se assim for, diferentes observadores terão ao seu dispor um material de percepção compatível com seu modo especii ieo de ver o mundo. Enquanto um homem podem reconhecer uma rua por seu tipo de pavimentação, outro irá lem- bnti-se de uma curva fechada e um terceiro terá localizado os marcos de menor importância ao longo de sua extensão.

Atém do mais, existem perigos numa forma visível extremu- mente especializada: é necessária uma certa plasticidade no am­

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biente perceptlvo. Se houver apenas uma via dominante etu de­terminada direção, alguns pontos focais consagrados ou um con­junto ferre o de regiões rigidamente -separadas, existirá uma úÉti­ca maneira de imaginar a cidade sem muito esforço, hssa manei­ra pode não ajustar-sc às necessidades de todas as pessoas, nem mesmo de uma só, pois elas se modií ieam com o passar do tem­po. Um trajeto inahitual soma-se incômodo ou perigoso; as rela­ções interpessoais podem tender a íecitar-se em compartimentos estanques; o cenário torua-se monótono ou restritivo.

Tomamos por signo de boa orgunizaçao aquelas partes de Boston cm que as vias escolhidas pelos entrevistados pareciam espalhar-se de um modo bastante hvre. Ai, presumivelmente, o cidadão sc vê diante dc uma generosa opção de trajetos que o le­va eu ao seu destino, todos eles bem estruturados e identificados. Há um valor semelhante numa rede em que se sobrepõe eu l imi­tes identificáveis, de tal modo que regiões grandes ou pequenas possam formar-se de acordo com as preferências e necessidades individuais. A organização nodal adquire identidade a partir do foco central c pode flutuai na orla deste. Assim, tem a vantagem da flexibilidade sobre a orgunizaçao das 1 torneiras, que sc perue se a forma das regiões precisar ser mudada. 1: importante manter al sumas grandes 1 ormas cor t ums: pontos no dais fortes, vias prin­cipais ou vastas hoEnog.cn vi da d es reg tonais. Dentro dessa grande estrutura, porém, é preciso haver uma certa plasticidade, uma ri­queza de estruturas e indicadores possivets, de modo que o ob­servador individual possa construir sua própria imagem: comu­nicável. segura e sui lc ív ju c , mas iambem maleável e integrada as suas necessidades.

Hoje, o cidadão muda de domicílio com muito maior fre­quência do que aiiitgameriie, tanto dc um bairro para outro como de uma cidade para outra. A boa imaginabiíidade de seu ambien­te permitiría que ele sc seuUsse rapidamente em casa ao instalar- se no novo eutoriKi. 1'tule-se conl tar cada vez menos na organi­zação gradual através de uma longa experiência, pois o própria ambiente urbano está mudando rapidamente-, acompanhando as transformações técnicas e i une tonais. Ussas mudanças costu­mam ser emocional mente perturbadoras para o cidadão e tendem a desorganizar sua imagem pereeptiva. As téctiicas de desiga dis-

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o iradas neste capítulo podem mostrar-se úteis para a manutenção de uma estrutura visível e tle um senso de continuidade, mesmo que estejam ocorrendo mudanças extremas, Certos marcos ou pontos no da is poderiam ser conservados, unidades temáticas com características de bairro poderiam ser transpostas para no­vas construções, mas poderiam ser recuperadas ou temporaria­mente conservadas.

A forma metropolitana

O tamanho cada vez maior de nossas áreas metropolitanas e a velocidade com que as atravessamos trazem muitos novos nro-biemas à percepção. A região metropolitana é agora a unidade funciona] de nosso ambiente, e é desejável que essa unidade fun­cional seja idemit içada e estruturada por seus habitantes. Os no­vos meios de comunicação, que nos permitem viver e trabalhar em regiões tão grandes e interdependentes, também poderiam permitir que tornássemos nossas imagens compatíveis com nos­sas experiências, hsses saltos para novos níveis dc atenção ocor­reram no passacio, quando também houve avanços na organiza­ção funcionai da vida.

A imaginabilidade tota] de uma grande área, como a região metropolitana, não significaria uma igual intensidade de imagem em qualquer ponto. Havería figuras dominantes e planos de fun­do mais extensos, pomos focais e um tecido couectivo. Mas, fos­se intensa ou neutra, cada parte seria presumivelmente clara e es- íãria ligada ao todo de uma maneira inequívoca. Se quisermos especular, podemos dizer que as imagens metropolitanas pode­ríam ser formadas por elementos como auto-estradas, linhas de nansito ou aéreas, grandes regiões com limites de água ou espa­ço aberto, cruzamentos comerciais importantes, características topográficas básicas, marcos distantes e, talvez, de grandes di­mensões.

Não obstante, o problema permanece difícil quando se trata nk1 compor um modelo para uma dessas áreas em sua totalidade, f Ais tem duas técnicas com as quais estamos familiarizados. ]>jj -

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meiro, a região ioda pode ser composta em lorma de uma hierar­quia estática. Por exemplo: ela pode ri a ser organizada como um bairro importante que contivesse três subdislritos, cada quat con­tendo três subsub distritos, e assim por diante. Ou, como outro exemplo de hierarquia, qualquer pane da região [iode ri a concen- irar-se num ponto nodal mettos importante, e estes pontos nodais menores seriam satélites de um ponto nodal mais importante, .sendo todos estes últimos dispostos de modo a culminarem num ponto nodal de importância fundamental para a região.

A segunda técnica consiste tto uso de um ou dois elementos dominantes de grandes dimensões, aos quais muitas coisas pe­quenas podem vir associar-se: um lotea mento ao longo de uma costa marítima, por exemplo, ou u criação de uma cidade linear dependente de um sistema de comunicação básico. Um ambien­te de grandes dimensões pode rui, inclusive, ser radia l mente liga­do a um marco muito poderoso, conto uma colina central.

Essas duas técnicas parecem um tanto inadequadas para a so­lução do problema metropobtano. O sistema hierárquico, ainda que compatível com alguns do nossos irão\tos de pensamento abstrato, parecería uma negação da liberdade e da complexidade das conexões de uma metrópole. Toda conexão deve ser icita em sentido circular, conceituai: subindo ate a generalidade para em seguida descer ao particular, ainda que a generalidade abrangen­te possa ter pouco a ver com a conexão real, h a unidade de uma biblioteca, e as bibliotecas precisam do uso constante de um complexo sistema de roÈorencias cruzadas,

Por mais que possibilite uma percepção muito mais imediata da rei ação c da continuidade, a dependência de um elemento do­minante forte torna-se mais difícil ã medida que o ambiente au­menta de tamanho, já que e preciso, encontrar um elemento do­minante sufieientemente grande para estar ã altura da tarefa e dotado de uma superfície suficiente, de modo que todos os ele­mentos menos importantes possam manter uma relação relativa- mente estreita com ela. Assim, por exemplo, precisaremos de um grande rio que também devera ser sinuoso o bastante para permi­tir que todos os assentamentos fiquem nas imediações de suas margens.

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Mas trata-se de dois métodos possíveis, e seria útil énvesti nar sua capacidade de unificar grandes ambientes. Mais uma vez, as viagens aereas podem simplificar o problema, uma vez que se trata (em termos pcrceptivos) de uma experiência estática, e não dinâtmea. uma oportunidade de avistar uma região metropolita­na quase de um só reíancc.

No entanto, ao levarmos em conta o modo atoai de vivenciar- mos uma grande área urbana, somos atraídos por outra forma de organização: a da sequência, do modelo temporal. É uma idéia familiar ao teatro, à música, à literatura ou à dança. Portanto., é rei ativa mente fácil conceber e estudar a forma de uma sequência de eventos ao loEtgo de uma linha, como, por exemplo, a suces­são de elementos que podem apresentar-se ao viajante numa auto-estrada uiixma. Com a [grana atenção e os instrumentos apropriados, essa experiência poderia tornar-se significativa e bem configurada.

Também é possível lidar com a questão da reversibilidade, isto é, com o lato de que a maioria das vias pode s c e 1 percorrida ceu duas direções. As séries de elementos devem ter forma se­quencial em qualquer disposição, o que podería ser obtido atra­vés da simetria no ponto médio, ou de maneiras mais sofisticadas. Mas o problema da cidade continua a apresentar dificuldades. As sequências não são apenas reversíveis, tuas também interrompí - das em muitos pontos. Uma sequência cuidadosameme construí- tia, leva tido da introdução, da primeira afirmação e do desenvol­vimento ao clímax e á cottelustão, pode se?1 um fracasso total se o motorista adentrá-la no ponto que configura o clímax. Portanto, talvez seja necessário procurar sequências que sejam ao mesmo tempo passíveis de interrupção e reversíveis, ou seja, sequências que conservem uma imaginabtüdade suficiente mesmo quando interrompidas em vários pontos, mais ou menos como num fas- rieulo semanal. Isso poderia levarmos da forma clássica come­ço-clímax-fim a outras formas mais parecidas com os modelos do jazz, esscncialmentc intermináveis, mas contínuos e variados.

bssas considerações remetem ã organização ao loEtgo de tu ms apiiea linha de movimento. Uma região urbana poderia, então, ser ordenada por uma rede dessas sequências organizadas, com caria

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formEt proposta submetendo-se a um teste que verificasse se cada via principal. em cada direção e a partir de cada ponto de aces­so. tivesse uma sequência de elementos formados. 3sso ê conce­bí ve] quando as vias têm um modelo simples, como o da conver­gência radial- é mais difícil de imaginar no caso de uma rede di­fusa e com interseções, como numa quadrícuía. AT as sequências funcionam em quatro direções dilerenies ao longo do mapa. Ain­da que em escala mudo mais soe i st içada, isso se assemellta ao problema da regulagem do tempo num sistema de semáforosprogressivos de uma rua qualquer.

É Eité concebível que se possa compor em contraponto ao lon- üo dessas linhas, ou de uma linha a outro. Uma sequência de ele­mentos. ou “melodia", poder ia ser tocada sobre umEi contra-se­quência adicional. Talvez, contudo, essas técnicas precisem es- peror uma época em que o público seja mais atento e critico.

Mesmo esse método dinâmico, a organização de uma rede de sequências formadas, anui a não parece ser o ideal. O ambiente ainda não está sendo traiEido como um todo, mas sim como uma coleção de partes (as sequências) dispostas de modo a não inter­ferirem umas com as outras. imuiiivamcnle- poderiamos imagi­na]' que exisíisse uiuei maneira de criar um modelo ioícd, um mo­delo que só aos poucos seria peiccbido e desenvolvido pela;? experiências sequenciais, por mais invertidas ou interrompidas que pudessem ser. Apesar do sentido como um todo, nao preci­saria ser um modelo ex trem a mente unificado, com um único centro e uma Ironieira que o isolasse do resto. A principal quali­dade seria a eomimiidade sequencial, em que cada parte provém da seeuiute ■- um sentimento geral de iníer-relaçao em qualquoi nível ou direção. Haveria zonas específicas que, para um deter­minado indivíduo, pode ri a to ser sentidas ou organizadas com maior intensidade, iueis a região seria contínua, mentahnemeatravessa ve l em qualquer sentido. Essa possibilidEtde é alta men­te especulativa: não nos ocorre nenhum exemplo concreto dela.

Talvez esse modelo de um iodo não possa existir. Nesse caso, as técnicas até aqni mencionadas permanecem como possibilida­des de organização de grandes regiões: a hierarquia, o elemento dominante ou a rede de sequências. I: possível que essa>> teenr

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cas nao extjam mais do que os controles de planejamento urba­no O] a pioeurados por outras razões, mas isso tão precisa ser comprovado.

O processo de design

Qual que] ajea urbana ÍLÈnc i o níií tem estrutura e identidade, ainda que moderadas. Jersey City está longe de configurar o caos em estado puro, Assim não fosse, seria uma cidade mabttãvel. Quase sempre, uma imagem potência [mente poderosa está ocul­ta na própria situação, como nas Pa t is ades de Jersey City, em sua forma peninsular e em sua relação com Manhattan. Um proble­ma comum é a ec formulação sensível de um ambiente já exislen- te: descobrir e preservar suas imagens fortes, resolver suas difi­culdades perccpUvas e, acima de tudo, extrair a estrutura e a identidade latentes na confusão.

Em outras ocasiões, o designer depara com a criação de uma nova imagem, como nos casos em que es lã cm andamento uma extensa renovação do ambiente tuba no. Esse problema é parti­ra Ia rmente significativo nas extensões suburbanas de nossas legiões metropolitanas, onde grandes trechos daquilo que c es- seucialmenle uma nova paisagem devem ser perceplivamente organizados. As características naturais deixaram de ser um guia adequado para a estrutura, devido à intensidade e á escala do desenvolvimento que lhes são aplicadas. No ritmo de cons­trução atua], não há mais tempo para o lento ajustamento da for­ma a forças pequenas e individualizadas. Portanto, precisamos dependei, muito maís do que no passado, do desiga consciente: a deliberada manipulação do mundo com finalidades sensoriais. Ainda que enriquecida pelos antecedentes do design urbano, a operação deve hoje avançar numa escala de espaço e tempo to- iahnente diferente.

Essas configurações ou reconfigurações devem ser guiadas por aquilo que poderiamos chamar de “plano visual” para a cida­de ou icgião metropolitana: um conjunto de recomendações e controles que diríam respeito ã forma visual em escala urbana. A

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preparação de tal plano podería começar por unia análise da for­ma existente e da imagem pública da área, usando as ieemcas de­correntes deste estudo, que são apresentadas em detalhe no Apêndice B. Essa análise seria concluída com uma serie de dia­gramas e relatos ilustrando as imagens públicas significativas, as oportunidades e os problemas visuais básicos, os elementos crí­ticos da imagem e as inter-rei ações dos elementos, com suas qualidades detalhadas e suas possibilidades de transformação.

Usando esse antecedente analítico, mas sem deixar-se limitar por ele, o designei' podería desenvolver um plano visual em esca­la urbana, plano este que lería por 1 maíídade o reforço da imagem pública. Podería sugerir a localização ou a preservação de marcos, o desenvolvimento de uma hierarquia visual de vias públicas, o es­tabelecimento de unidades temáticas para os bairros, a criação oti o esclarecimento dos pontos nodais. Acima de tudo, lidaria com as inter-relações dos elementos, com sua percepção em movimento c com a concepção da cidade como forma visível total.

Uma mudança física substancial pode nao se justificar apenas com base nessas considerações estéticas, a não ser nos pontos es­tratégicos. Mas o plano visual podería influenciar a forma das transformações físicas que ocorrem por outras razões. Tal pia nu podería ajustar-se a todos os outros aspectos do planejamento da região, tomando-se, naturalmente* uma parte integrante do plano geral. Como todas as outras partes desse piano, estaria em esta­do permanente de revisão e desenvolvimento.

Os controles empregados para chegar à forma visual em es­cala urbana poderiam partir de providências gerais de zoneamen­to, da consultoria e da influência persuasiva sobre o design pri­vado, chegando ao controle rigoroso dos pontos críticos e ao de­sign efetivo de espaços públicos, como auto-estradas ou edifícios públicos. Em princípio, essas técnicas não são diferentes dos controles usados na busca de outros objetivos de planificação. Será provavelmente mais difícil chegar a uma compreensão do problema e desenvolver a capacidade de design necessária do que obter os recursos necessários, uma vez que o objetivo esteja claro. Ainda há muito a fazer antes de controles abrangentes sc justificarem.

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O objetivo final de tal piano não é a forma física em si, mas a qualidade na imagem inscrita na mente do usuário. Portanto, scra jguahneme mil aperfeiçoar essa imagem através do treina­mento do observador, ensinando-o a olhar para a sua cidade, a ooservar a multiplicidade de suas (ermas e perceber de <jue modo elas se misturam. Para tanto, poder-se-tam levar os cida­dã05 as ruas, programar aulas nas escolas e universidades, a cidade poderia transformar-se no animado museu de nossa socie­dade e de suas esperanças. Tal educaçao podería ser usada não apenas para desenvolver a imagem urbana, mas para reorieníáda depois de uma transformação perturbadora. Uma arte do design urbano terá de ser o resultado do surgimento de um público in­formado e critico. A educaçao e a reformulação física são partes de um processo contínuo.

Aumentar a atenção do observador e enriquecer sua experiên­cia e um dos valores que podem ser oferecidos pelo simples es­forço da atribuição de formas. Até certo ponto, o processo mes- 3uo de reformular a cidade para melhorar sua imagittabiiida.de pode dat mais clareza ã imagem, a despeito de quào inepta a for­ma física resultante possa ser. É assim que o pintor diletante co­meça a perceber o mundo que o cerca, que a decoradora princi­piante começa a orgulbar-se da sala que decorou e a apreciar as outras. Ainda que tai processo possa tornar-se estéril, se nao for acompanhado por um controle e um juízo crítico crescentes, até mesmo o embelezamento canhestro de uma cidade pode, por si pjoprio, tornar mais intensas a energia e a coesão cívicas.

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CAPÍTULO 5 UMA NOVA ESCALA

O primeiro capítulo chamou a atenção para a natureza espe­cial da percepção da cidade e concluiu que a arte do design deve. portanto, ser essencía Imente diferente das outras artes. A vivaci­dade e a coerência da imagem ambiental foram isoladas como uma condição crucial para o desfrute e o uso de uma cidade.

Essa imagem é o resultado de um processo de mão dupla en­tre observador e observado, em que a forma física externa sobre a quaE um designer pode operar representa um papel fundamen­tal. Cinco elementos da imagem urbana foram isolados, e suas qualidades e ittter- rei ações, discutidas em profundidade. Grande parte dos dados utilizados nesta discussão procedeu da analise da forma e da imagem pública das áreas centrais de três cidades norte-americanas. Ao longo dessas analises,, desenvoíveiam-se métodos de reconhecimento de campo e modelos de entrevistas hiolrre a imagínabilidade.

Ainda que se tenha limitado â identidade e a estrutura de ele­mentos independentes e ã sua padronização em pequenos com­plexos, a maior parte da obra está voltada para uma síntese futura ú.i forma da cidade considerada como modelo total. Uma ima- iiêm clara e abrangente de toda uma região metropolitana e uma exigência fundamental para o futuro. Se for possível desenvolve­is ela elevam a experiência de uma cidade a um novo nível, pro­porcional â unidade funcional contemporânea. A organização da

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imagem nessa escala envolve problemas de design complets- mente novos.

Os ambientes imagináveis em grande es caia são raros nos dias de boje. Ainda assim, a organização espacial da vida con­temporânea. a rapidez de movimento e a velocidade e escala das novas construções, tudo isso torna possível e necessária a cons­trução de tais ambientes por meio de um design consciente. O presente es indo assinala, ainda que apenas de modo dementar, uma abordagem desse novo tipo de design. A lese que se defen­de nestas páginas é a de que mn grande ambiente urbano pode ler uma forma sensíveb Hoje em dia, o desenho de tal forma é raramente tentado: o problema Fuleiro é negligenciado ou relega­do à aplicação esporádica de princípios arquitetônicos ou de pla­nejamento de espaços urbanos.

E evidente que a forma de ama cidade ou de uma metrópole não apresentará uma ordem gigamesea ou estratificada. Eia será um modelo complexo, continuo e integral, apesar de intricado e móveh Deve ser adaptável aos hábitos pereeptivos de milhares de cidadãos, aberta ã mudança de função e significado, recepti­va à formação dc novas imagens. Deve convidar seus observado­res a explorar o mundo.

É bem verdade que precisamos dc um ambiente que não seja simplesmente bem organizado, mas também poético e simbóli­co. Ele deve falar dos indivíduos e de sua complexa sociedade, de suas aspirações e suas tradições históricas, do cenário natural, dos complexos movimentos e funções do mundo urbano. Mas a clareza da estrutura e a expressividade da identidade são os pri­meiros passos para o desenvolvimento de símbolos fortes. Ao aparecer como mu íugar admirável e bem interligado, a cidade podería oferecer uma base para o agrupamento e a organização de tais significados e associações. Em si mesmo, esse seEttido de lugar realça todas as atividades humanas que aí se desenvolvem e estimula o depósiio de mn traço de memória.

Devido á intensidade de sua vida e ao aglomerado de gente tão díspar, a cidade grande c um lugar romântico e rico em detalhes simbólicos. Para nós, é tào esplêndida quanto aterradora, “a pai­sagem de nossas confusões A como Fianagan a chama21. Se fosse

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Lgíven lealmeníe legível, o medo e a confusão poderíam ser subsntuídos, com prazei; peja riqueza e peJa força do cenário.^

No deseítvol v e mento da imagem. a educação para ver será tão importante quamo a reformulação do que é visto. Na verdade, educação e reformulação formam um processo circular, ou como seria ainda melhor, espiral: a educação visual impelindo o emadao a atuar sobre o seu Emmdo visual, e esta ação fazendo Lüm que d e veja com maior nitidez ainda. Uma arte extrema- ineene desenvolvida do design urbano está ligada à criação de um publico critico e atento. Se a arte e o público crescerem íuntos. nossas cidades irão transformar-se muna fonte de prazer cotidia­no para seus mil troes de habitantes.

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APÊNDICE A ALGUMAS REFERÊNCIAS À ORIENTAÇÃO

Podemo.s procurai' referencias a imagem ambiental em muitos lugares: na literatura antiga e moderna, em livros de viagens ou exploração, em relatos de jornais ou em estudos psicológicos e antropológicos. Essas referências são quase sempre dispersas, mas frequentes e reveladoras, Correndo os olhos por elas, apren­deremos alguma coisa sobre o modo como as imagens são for­madas, quais são algumas de suas características e como pare­cem desempenhar uma função social, psicológica e estética, e também prática, em nossas vidas.

A partir de relatos de antropólogos, por exemplo, deduzimos que, em geral, o homem primitivo é profundam ente ligado à pai­sagem em que vive; ele distingue e dá nomes ãs sitas partes me­nores, Os observadores se referem à grande profusão de nomes de lugares, mesmo em países desabitados, e ao extraordinário in­teresse pela geografia. O meio ambiente é parte integrante das culturas primitivas; as pessoas trabalham, criam e interagem em harmonia com sua paisagem. Na maior parte dos casos, sentem- se completa mente identificadas com ela e relutam em deixá-la; ela representa a continuidade e a estabilidade num mundo incer- Eif 5s f2. A gente deTikopia (ilhas de Santa Cruz) afirma:

"A terra permanece, mas o homem morre; ele se tonta Liaen v é nela enterrado. Aqui vivemos por um breve instante, mas a lona fica para sempre

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Esses ambientes não são apenas extremamente significativos, possuem também uma imagem muito viva.

Algumas regiões sagradas podem tornar-se tão carregadas de significado que nelas há mu poderoso foco de atenção, uma su­til diferenciação das partes, uma alta densidade de nomes. Satu­rada de uma longa história cultural e religiosa, a Acrópole de Atenas era evidentemente dedicada aos deuses pedacinho por pedacinho, quase que pedra por pedra, o que lontava as renova­ções extremamente difíceis. O Enbly Gap, uma pequena gargan­ta de mais ou menos noventa metros de comprimento por quase trinta de largura, na cordilheira MaeDonnell da Austrália Cen­tral. representa para os nativos urna verdadeira galeria de lugares lendários". Em Tikopia, a Mame, uma clareira sagrada na flores­ta, era usada ritual mente uma vez por ano. Apesar de ser um pe­queno retângulo, continha mais de vinte lugares com nomes fi- xosA Entre as culturas mais avançadas, uma cidade inteira pode ser sagrada; é o caso, por exemplo, de Mesbed, no Irà, ou de Las­sa, no Tibete1£' ,;s. Essas cidades sâo cheias de nomes e lembran­ças, formas distintivas e espaços sagrados.

Mossa imagem ambiental ainda é uma parte fundamental de nosso instrumental de vida. mas hoje. para a maioria das pes­soas. talvez seja muito menos expressiva e particular, fsutna his­tória recente, C. S. Lewis imagina que entrou na mente de al­guém e se desloca na imagem que essa pessoa faz do mundo ex- teriorA Há uma luz cinzenta, mas nada que se possa chamar de céu. Há formas vagas, de um verde sombrio e semelhantes a ga­tas. sem anatomia, que ele examina com atenção, identificando- as final mente como Arvores Ordinárias. Por baixo, tem uma substância macia, de uma cor sem graça de capim, mas sem fo­lhas separadas. Quanto mais ele se aproxima, tudo fica mais vago e indistinto.

A imagem ambiental tem sua origem funcional na permissão do movimento dirigido a um Eim. Um mapa correto podería sig­nificar a vida ou a morte para uma tribo, como quando os lurit- cha da Austrália Central, expulsos de seu território por quatro anos de seca, sobrevivem graças à memória topográfica de seus anciãos” . Estes, pela experiência adquirida ao longo de suas vi-

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das e as instruções legadas por seus antepassados, ccnEteciam a cadeia de pequenos poços de água que lhes permitiu atravessar o deserto e deie saírem vivos. A importância da capacidade de dis­tinguir as estreias, as correntes ou as cores do mar e óbvia para os navegantes dos Mares do SuE que se envoEvetn num embate com a morte quando partem paia concretizar seu modesto obie- tívo. Esse tipo de conhecimento confere mobilidade, o que pode tornar possível um padrão de viría melhor. Em Puiuwat (ilhas Caroliuas), por exemplo, havia uma famosa esc o ia de navegação. Devido à habilidade assim adquirida, o povo de Puiuwat pratica­va a pirataria, sendo capaz de atacar ilhas num longo raio.

Ainda que essas habilidades possam parecer des importantes em nossos dias, veremos as coisas sob uma luz diferente se pen­sarmos nos casos de homens que. por motivo de lesão cerebral, perderam a capacidade de organizar seu ambiente^^A Eles po­dem ser capazes de pensar e faEar racionahnente, até mesmo de reconhecer os objetos sem dificuldade, mas não conseguem estru­turar suas imagens de modo a formar um sistetna coerente. Es­ses homens não conseguem encontrar o caminho de seus quartos depois que deles saem e vagam perdidos até que alguém os teve para casa ou que, por acaso, deparem com algum detalhe conhe­cí ao. O movimento intencional só é conseguido através de uma complexa elaboração de sequências de detalhes distintivos, tão próximos entre si que o seguinte estará sempre muito perto do imediatamente anterior. Os lugares normal mente identificados por muitos objetos contextualizados só podem ser identificáveis através de um símbolo distintivo e independente. Um homem re­conhece um quarto por um pequeno sinal, outro identifica uma íua pelos números dos Ônibus. Se os símbolos se misturarem, o homem está perdido. Essa situação é curiosa mente semelhante à maneira como nos deslocamos mana cidade desconhecida. Nos casos de lesão cerebral, porém, a situação é inevitável sendo ma­nifesto o seu significado prático e emocional.

O pavor de perder-se vem da necessidade de que um organis­mo tuóvei possa orientar-se em seu ambiente. Jaccardcíla um caso de africanos que se perderanvà Eles entraram em pânico e corria tu desordenadametUe pelo mato. Wilkm*1 conta a história de um pi-

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loto experiente que perdeu sua orientação vertical. o que descre­veu como a experiência mais aterradora de sua vida. Ao descreve­rem o fenômeno da desorientação temporária na cidade moderna, muitos outros autores^ 70 mencionam as sensações de angústia que o acompanham- Rinet cita o caso de um homem que se empe­nhou em chegar a um depósito de estrada de ierro em Lyou, ao vir de Parts, porque, embora não fosse esse o Ênelhor dos caminhos, coincidia com sua imagem (equivocada) do lado de Lyon que ftca voltado para Paris-'. Outra pessoa sentiu uma ieve sensação de ver­tigem durante sua permanência numa eidadezinha, aevido à per­sistência de unia orientação errada. A desagradável tenacidade de uma organização incorreta inicial c comprovada por inúmerasfontes". Por outro lado. na situação ex ire mamente artificial e apa­rentemente neutra de um labirinto de laboratório* Brown relata que as pessoas submetidas a unta expor iene ia desenvolveram uma espécie de afeto por marcos simples, como um pedaço de madei­ra que reconheciam como familiar’.

A descoberta do caminho c a lunçao primeira da imagem am­biental ea base sobre a qiud ialvox se tenham desenvolvido as as­sociações emocionais. Mas a imagem c válida não apenas nesse sentido imediato, no qual funciona como um mapa para a orien­tação do movimento' cru sentEdo mais amplo, pode servir coma uru sistema geral tle coordenadas dentro do qual o indivíduo po­de. agir, ou em relação ao qual pode associar seu conhecimento. Nesse sentido, da se assemelha a um conjunto de crenças ou de hábitos sociais: é um organizador de fatos e possibilidades.

A paisagem diferenciada pode simplesmente revelar a pre­sença de outros grupos ou lugares simbólicos. Ao discutir a questão da agricultura tias ilhas Trobriand. no litoral da Nova Guiné. Malimnvski descreve que o denso arvoredo que se ergue acima do cerrado e das clareiras indica a presença de aldeias ou de árvores tabusN De modo semelhante, os campanários assimi­lam a localização de cidades ao longo do planalto veneziatio, as­sim como os elevadores de cereais, as aglomerações do Meio- Geste norte-americano.

A imagem ambiental pode avançar ainda mais e funcionar como uma organizadora da atividade. Assim. 11a ilha deTíkopai

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havia vários lugares tradicionais de repouso num trajeto que as pessoas usavam paen ir ao seu trabalho diário e dele voiíarA Es­ses lugares davam forma ao rír-e-vir1 cotidiano. Na sagrada Ma- iae? E essa illta (uma pequena clareira cheia de notnes de lugares), as mÍEtúcias das distinções de locais eram uma característica es­sencial de rituais complexametiie organizados. Na Austrália CeEitE ai, descte que os icndários heróis dos nativos se deslocavam elo longo de certas estradas marcadas por um “tempo onírico'1, essas vias são partes muito fortes da imagem do cenário, e os na­tivos sentem-se seguros em seus deslocamentos por ei es A Em seu romance autobiográfico, Pratoíini apresenta um exemplo surpreendente de pessoas que. em seus passeios cotidianos, con­tinuavam a seguir por ruas que não mais existiam, mas eram ape­nas camjmtos imaginários numa parte de Florença destruída e vaziaA

Em outras ocasiões, distittguir e padronizar o meio ambiente pode servir de base para a ordenação do conhecimento. Ratiray iala com grande admiração dos curandeiros dos ashantis, que se empenhavam em conhecer pelo nome cada planta, animal e inse­to de suas florestas, e lambem em compreender as propriedades espirituais de cada um. Esses curandeiros eram capazes de 'der1' suas florestas como um documento complexo em permanente desenrolarírí

A paisagem também desempenha um papel social. O ambien­te conhecido por seus nomes e familiar a todos oferece material para as lembranças e símbolos comuns que uttem o grupo e per­mitem que seus membros se comuniquem CEttre si. Porteus nega que as tribos aruntas da Austrália tenhaEn uma capacidade espe­cial de memorização, ainda que sejam capazes de repetir narrati­vas tradicionais extremamenie longas. Cada detalhe da região es­timula o surgimento de um mito, e cada cena sugere a lembrança de sueí cultura comum". Mauaice Halbwachs díz a mesma coisa a fmpósito da Paris moderna» quando observa que o cenário ílsico estável* a memória comum dos parisienses, constitui uma força poderosa que os une e permite que se comuniquem entre si'\

A organização simbólica da paisagem pode ajudar a diminuir o medo e a estabelecer uma relação emocional mente seguia em

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\vc o homem e seu ambiente loial. Uma citação sobre o povo tu rítcha, da Austrália Central, ilustra bem esse ponto:

"Pina cada criança luriteha nascida ã sombra dessas enormes e estranhas rochas, grandes o suficiente para encher de espanto o ho­mem branco. cujos olhos já voam muitas tnaravilnas, as tendas que as identificam com a história de seu povo de sem parecer uma ion- te de mande saí Maçam Se essas roca as imensas se erguem apenas para assinalar as peramhuíaçòes dos espíritos ancestrais do povo, estabelecem uma relação familiar entre estes últimos e as crianças da tribo. As lendas e os mitos são mais que histórias contadas pata passar as horas de escuridão: suo parte dos meios pelos quais o sel­vagem se fortalece contia o medo do espantoso e do desconhecido. Natural mente atormentada como e a mente do homem primitivo pe­los medos que decorrem da solidão, não admira que ele se apegue fortemente à idéia de que essa Natureza vasta e indiferente - quan­do não inimisa — comemore,, em muitas de suas mais extiaot d ma­rtas características, a historia de sua tribo e esteja sob seu controle pela prática da magia A'1

Mesmo em situações menos solitárias ou assustadoras, en­contra-se uma agradável sensação de familiaridade ou integrida­de sempre que se reconhece uma paisagem. Os esquimós netsi- íiks explicam a seu modo essa ide ia tào antiga: ‘ 'Estar cercado pelo cheiro das próprias coisas."

De fato, o próprio ato de dar nome e diferenciar o ambiente concorre para torná-lo mais vivo e aomentar, assim, a profundi­dade e a poesia da experiência humana. Os desfiladebos do Ti­bete podem ter nomes como "A Dificuldade do Abutre’ ou Des­filadeiro da Adaga de ferro’ , que ttào são apenas exlremamente descritivos, mas também evocações poéticas de partes da cultura tibetanaé Um antropólogo laz o seguinte comentário sobre a pai­sagem de Arunta:

“Ninguém que tiãu a tenha vi vendado poder ã apreciara expies- siva realidade dos mitos. Ao logo de todo o território que percorre­mos. aparentemente havia apenas vegetação rasteira, um monte ahu

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oií oaixo aqui ou ali, algumas planicies. Aintla assun, ora o cenário dc muitas proezas da Instrui a a'oorígene... As narrai ivas são tào vj- vas que o pesquisador lem a sensação de estar numa região habitada e de grande alhada de, cheia cte geme em permanente circulação.

bmbora boje possamos ler )ounas mais organizadas de nos icieti] mos ao nosso ambiente — através de coordenadas, sistemas tie numeração ou nomes abstratos - , i requentem eme nos falta essa qualidade viva do que é concreto, da forma inconfundível1-. Wohi e Strauss dão muitos exemplos do esforço que as pessoas fazem para encontrar um símbolo figurativo para a cidade em que vivem, com o duplo objetivo de organizar suas impressões dela e desempenhar suas atividades cotidianas".

A sensação e a importância de um ambiente imagina ve] estão bem sintetizadas na comovente descrição que Proust faz (em Du C-oté ck chez Swmm} do campanário da igreja de Combray* onde ]i assou muitos verões em sua infância, bs se segmento de paisa­gem não apenas simboliza e localiza a cidade, como também participa profumlamente de cada atividade do cotidiano e perma­nece, em sua mente, como uma aparição que ele continua bus­cando em sua vida adulta:

"bra sempre ao campanário que era preciso voltar, sempre ele que dominava Hido o mais, condensando as casas com um inespe­rado piiiãeulüz--

í ipos de sistemas referenciais

hssas imagens podem ser organizadas de diferentes maneiras, fede haver um sistema de referências abstrato e generalizado, ás vezes explícito, outras vezes mais próximo de um modo habituar de referir-se a lugares ou relações de características. O fio vo cluikcbee, da Sibénn, distingue 22 direções cardeais, tridimen­sionais, relacionadas ao Sol. Idas incluem o zênite e o nadir, a meia-noite (norte) e o meio-dia (sul), todas cias fixas, ma rs dn- iras dezoito que se definem pela posição do Sol em vários nm tMéritos do dia ou da noite, e que, portanto, mudam conforme as

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estações. Esse sistema é suficientemente importante para contro­lar a orientação cie todos os dormitórios*. Os viajantes mieroné- sios do Pacífico usavam um sistema direcional preciso, que não era simétrico, mas ligado às constelações e as direções das ditas. O número de direções variava de vmtc e oito a trinta v

O sistema usado na planície setentrional da China e estrita- mente regular e tem profundas conotações mágicas: o Norte é equiparado ao negro e ao mal, o sul ao vermelho, a alegria, à vida e ao Sol. Ele controla rigidamente a instalação de todos os ob[ctos religiosos e das estruturas permanentes. De fato, o prin­cipal uso da “agulha que aponta para o SuE, uma invenção chi­nesa, nao se destinava ã navegação ma ri lima, mas à orientação dos edifícios. Esse sistema predomina de tal forma que os cam­poneses dessa região plana indicam as direções não em termos de direita ou esquerda, como seria natural para nós. mas sim usando os pontos cardeais. O sistema organizador não se concen­tra no indivíduo, movendo-se e virando com ele, mas é l txo, uni­versal e exterior à pessoa*'1.

Ao referir-sc a um objeto, os ar nulas da Austrália normal­mente dão sua proximidade, orientação e visibilidade em relação ;t quem fala. Por outro lado, um geógralo norte-americano certa vez apresentou um trabalho sobre a necessidade de orientação em relação a nossos quatro pontos cardeais, e iicou surpreso ao descobrir, através de manifestações do público, que para muitos moradores das cidades, acostumados a orientai-sc pot elementos urbanos de extrema visibilidade, não havia necessidade alguma de orientação pelos pontos cardeais. Esse geógrafo havia sido criado no campo, com montanhas nos arredores*'*. Paiva um esqui­mó ou um habitante do Saara, as direções constantes podem ser reconhecidas não pelos corpos celestes, mas pelos ventos predo­minantes ou pelas formações de areia e neve criadas por esses mesmos ventos1'.

Em certas parles da África, a direção-chave pode não ser abs­trata, constante, mas a direção do território em que se vive. As­sim, Jaccard cita um acampamento conjunto de várias tribos que se agruparam espontaneamente em setores que apontavam para seus respectivos territórios^. Mais adiante, ele menciona o casa

146 A IMA&íf-.-l DA CiOADÍ.

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de comerenmles 1 rance se s itinerantes que atuam muna sucessão de cidades que lhes sào desconhecidas. Esses come rei antes afir- matn que prestam pouca atenção u nomes ou marcos, íimiíatido- se a manter um registro mental continuo do caminho de volta àestação letra viária, para a qual se dingem assim que terminam o seu trabalho. Para dar mais um exemplo, as elevações tumulates australianas são feitas com referência à direção do centro totétni­co do indivíduo ou a seu lar espiriluaP.

A ilha de Tikopia é um exemplo de outro tipo de sistema que não é universal ou egocêntrico, nem dirigido para um ponto ha­steo, mas associado a um Emite especifico da paisagem. A ilha é dem pequena, de mono que raramente alguém que ati esteja dei­xa de ver o mar ou ouvir sen barulho, e, para todos os tipos de referências espaciais, os ilhéus usam as expressões ti ha adentro c em direção ao mar. Um machado tio assoalho de uma casa é localizado desse modo, e Eirtlt afirma ter ouvido utu homem di­zer a outro: “Tem um pouco de lama na tua face cm direção ao marU hsse padrão de referencia é tão forte que des têm dificul­dade para conceber uma extensão de terra verdadeira mente gran­de. As aldeias ficam ao longo da praia, e os termos de orientação iradicionais só se referem a “aldeia seguinte” ou à subsequente, e assim por diante. 1 rata-se de uma série unidlmensional muito fácil de referenciar"'.

As vezes o ambiente é organizado não por um sistema gera! de direção, tuas por um ou mais focos intensivos para os quais as mitras coisas parece eu “apontar”. Em Meshed (no Irã), atribui-se um caráter extrema mente sagrado a todo objeto nas imediações rio altar central, inclusive à poeira que caí no recinto. O ponto deva do de aproximação da cidade, de onde o viajante avista pela primeira vez a mesquita, é importante por si mesmo, e dentro da mdade convém fazer uma reverência ao atravessar cada ma que leva ao santuário. Esse loco sagrado polariza e orgaítiza toda a área circundatue^. Isso é comparável ao hábito da genuflexào nas igrejas católicas quando se passa diante do altar, que orienta o interior da igreja.

A cidade de EJoreeiça foi organizada desse modo em seus sé­culos de grandeza. Na época, as referências descritivas e loeaeie-

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nais eram feitas era termos dos “caraf: isto é, os portos focais que podiam ser coisas como arcadas abertas, luzes, escudos de armas, tubemáculos, casas de famílias importantes e pontos co­merciais importantes, principal mente as farmácias. Só mais tar­de os nomes dos canli vieram associar-se às ruas, que miam re­gularizadas e sinalizadas em 1785. A numeração progressiva das casas foi introduzida em 1 SOS.. e a cidade passou a usar o siste­ma de referências por vi as A

As imagens e as referências por bairros eram um procedi­mento muito comum nas cidades mais antigas, onde os bairros e setas populações eram relativa mente estáveis, isolados e distinti­vos. Na Roma imperial, os endereços só eram dados por peque­nos bairros definidos. É provável que, chegando ao bairro, tuna pessoa encontrasse o lugar que procurava pedindo informações":

A paisagem pode ser configurada pelas linhas de movimento. No caso dos aruntas da Austrália, o território todo é magicamen­te organizado por uma rede de caminhos míticos que ligam uma série de “países" totemicos isolados ou propriedades de cíàs, dei­xando regiões ermas nos pontos intermediários. Em geral, só existe um caminho correto para o armazém sagrado que contém os obietos totemieos, e Pink relata o longo desvio leito por um de seus guias para aproximar-se do lugar sagrado da maneira apropriada"':

Eaeeard fala do um famoso guia árabe do Saara que era ca­paz. de seguir a ma is leve pista e para o qual o deserto todo era uma rede de caminhos. Certa vez, ele seguiu petiosameme as curvas contínuas de um caminho muito mal marcado, ainda que seu destino fosse clara mente visível para ele através do deserto. O procedimento era habitual, uma vez que as tempestades c as miragens quase sempre tornam pouco confiáveis os marcos dis­tantes": Outro autor escreve sobre o Mcdjbcd do Saara., a via transcontinental percorrida pelos camelos. Esse caminho segue por centenas de quilômetros pela terra vazia, de poço d’água eni poço d’água, assinalado por montes dc pedras em suas encruzi­lhadas. Perder o caminho pode significar a morte. O referido au­tor faia da personalidade forte e do caráter quase sagrado que essa trilha adquire A Numa paisagem total mente diferente, a tm-

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1-5?

penetra ve I floresta africana, o emaranhado c cortado por trilhas de ele] antes, que os nativos aprendem e percorrem do mesmo modo que nós aprendemos e percorremos as mas de nossas ci- d a des 'a

Km sua descrição de Veneza, Protisi oferece um exemplo ex­pressivo da sensação de um sistema viário de referências:

"Minha gôndola seguia o curso dos pequenos eanais; como a mào misteriosa de um gênio a ntc guiar peío labirinto dessa cidade oriental, eles parcelam, à medida que eu avançava, ir me abrindo um caminho num bairro populoso que separavam, dividindo com uma leve i issura, arbiuariameme aberta, as atlas casas com suas minús­culas janelas mouriscas; c, como se o guia mágico estivesse com uma vela na mào e me iluminasse o trai elo. continuavam lançando a sua Irente um raio de sol para o qual abriam um caminho"*'.

Em sua experiência de colocar pessoas de olhos vendados num labirinto, Brown descobriu que, ale mesmo nessa situação muito restrita, elas pareciam usar pelo menos três tipos diferen­tes de orientação: uma memorização da sequência de movimen­tos, em geral difícil de reconstruir, a não ser na sequência corre­ia; um eonjunío de marcos (pedaços de madeira áspera, fontes sonoras, raios de sol que aqueciam) que identificavam as locali­dades, e um sentido geral de orientação tto espaço do recinto (por exemplo, a solução pode ser imaginada como um movimento ge­ral ao redor dos quatro lados do recinto, com duas excursões ao mierlorp.

i ormação cia imagem

A criação da imagem ambiental é um processo bilateral entre observador e observado. O que ele vê è baseado na forma exterior, mas o modo como ele interpreta e organiza isso, e como dirige sua atenção, afeta por sua vez aquilo que ele vé. O organismo hu­mano é extrema mente adaptável e flexível, e grupos diferentes podem ter imagens muitíssimo diferentes da mesma realidade exterior.

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Sapir dá um exempla muito interessante desse foco diferen­cia! de atenção na língua dos paiutes do Sob hm sen vocabulá­rio, eles têm termos específicos para características topográficas precisas, como "um ponto de terreno piano em momanlias cerca­das por cumes1', "paredes de desfiladeiro que recebe a luz do sol1' ou “terreno com depressões suaves cortado por várias cris­tas de colinas pequenas” . As referências com tamanho grau de exatídáo sào necessárias para a localização precisa numa região semi-árida. Prosseguindo, Sapir observa que o vocabulário indí­gena característico nào contém o termo genérico "erva1’, mas tem palavras isoladas pata designar essas fontes de alintento e medicação, termos que, em cada caso, diferenciam se o espéci­me está cm ou cozido, indicando sua cor e o estágio de seu de­senvolvimento - como eiti muitas outras línguas nas quais, por exemplo, se diferencia entre bezerro, vaca, touro, carne de vite­la e carne de vaca. Por outro lado, Sapir cila o caso de uma tribo indigena cujo vocabulário não faz distinção entre o Sol c a Lua,j:1

Os alentas nào têm nomes nativos para os grandes elementos verticais de sua paisagem: cordilheiras, picos, vulcões e demais coisas do gênero. Contudo, ate a menor das características hori­zontais por onde corre água rnicho, regato ou tanque - tinhaseu próprio nome. ]■ possivel que assim seja pelo fato de esses pequenos cursos d "água serem elementos vitais para todos os ti­pos de deslocamento’". A atenção dos esquimós netsilíks também parece concentrar-se nos elementos aquáucos de sua paasagem. Num grupo de doze imapas esquemátieos fenos pelos nativos pata Rasmussen, existem Í32 topõnimos indicados pelos dese- nbistas. Destes, 498 designam ilhas, costas, baías, penínsulas, la­gos, correntes ou vaus. Dezesseis se relerem a colinas ou mon­tanhas. e sonrente dezoito fazem uma vaga referência a rochas, ravinas, pântanos ou povoados"15. Yung faz uma interessante rele- rência a um geólogo experiente que conseguia avançar com total segurança pelas nebulosas regiões alpinas, medi ante o simples reconhecimento da configuração geológica tias rochas expostas".

Outra área de atenção, aliás muito incomum, ê o reflexo do céu. Stefánsson afirma que, no Ártico, as nuveEis baixas de coi uniforme refletem o mapa da Terra abaixo: as que ficam aeinv.t

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da água são grelas, as acima do gelo do mar são brancas; quan­do estão acima do gelo terrestre são um pouco mais escuras, e as­sim por diante, isso tem grande valor para a travessia de grandes baias, onde os marcos ficam abaixo da linha do horizonte A Es­ses reflexos do céu são comnmenie usados nos Mares do Snf não só para localizar uma ilha abaixo do horizonte, mas também para identificá-la pela cor c forma do reflexo. A [citara do ulti­mo livro de Gatty sobre navegação pode nos dar uma idéia da grande diversidade de formas disponíveis para a oricntaçãoA

Essas diferenças culturais podem estender-se não só ás carac­terísticas que são foco de atenção, mas também ao modo como são organizadas. As ilhas Alentas não têm um nome genérico no idioma nativo, uma vez que seu povo não reconhece aquilo que, para nós, parece ser a unidade óbvia da cordilheira1'. Os anmlas agrupam as estreias de um modo fot aimente diferente do nosso; é muito comum que coloquem estrelas brilhantes e próximas em grupos diferentes, ao mesmo tempo que relacionam outras mui- lo distantes, de brilho tÊnueA

Nosso mecanismo perceptivo é tão adaptável que cada grupo humano consegue distinguir as partes de sua paisagem, perceber e conferir significado aos detalhes significativos. Isso sempre acontecerá, por mais indiferenciado que o mundo possa parecer a um observador de fora. E uma verdade que se aplica ao cerra­do cinzento que faz parte da paisagem australiana, á terra plana e coberta de neve dos esquimós, onde se perde até mesmo a dis- linção entre terra e mar, ãs nebulosas e íncottstanles Alentas, ou ao mar aberto “sem rastros11 dos navegadores polinésíos.

Dois grupos primitivos desenvolveram uma ciência da direção c da geografia que só rece-ntemente foi superada pela cartografia ocidental. São eles os esquimós e os navegantes dos Mares do sul. Us esquimós são capazes de desenhar mapas utilizáveis, que ãs vezes cobrem territórios de mais de seiscentos ou oitocentos qui­lômetros em uma dimensão. Trata-se de um feito do qual poucos povos de qualquer parte do mundo são capazes, sem referência amerior a mapas já existentes.

De modo semelhante, os experientes navegadores das ilhas Cumlinas, no Pacifico, tinham um sistema complexo de direções

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de navegação que era criteriosa mente associado a constelações bhas, vemos, correntes, posições do Sol e direções das ondas " A Arago afirmou que certa vez um piloto famoso fez-lhe uma re­presentação gráfica de to cias as ilhas do arquipélago apenas com grãos de milho, assinalou sua posição relativa, deu nome a cada uma e informou a acessibilidade e os produtos de cada uma- Lsse arquipélago tem cerca de dois tml e quinhentos quilômetros de leste a oeste? Além disso, ele fez uma bússola de bambu e indi­cou os ventos predominantes, as constelações e as correntes que lhe serviam de orientação.

As duas culturas que J izeram essas conquistas em lermos de capacidade de abstração e atenção pereeptiva tinham duas coi­sas em comum: primeiro, seus ambientes de neve e água eram essencial mente descaracterizados, ou só se diferenciavam por pequenas sutilezas: em segundo lugar, os dois grupos tinham de ser nômades, Se quiserem sobreviver, os esquimós precisam deslocar-se a cada estação do ano, passando de um tipo de caça a outro. Os melhores navegantes dos Mares do Sul não vinham das férteis terras altas, mas de pequenas ilhas baixas nas quais os recursos naturais eram escassos e a ameaça da tome era uma presença constante. Nos ermos tio Saara, os tua regues nômades formam um grupo semellrame e possuem aptidões muito pare­cidas. Por outro lado, .faccard observa que os nativos africanos, de hábitos agrieoías sedentários, perdem-se facilmente em suas próprias florestas x

O pape) da IVihüh

Apesar do muito que aqui foi dito sobre a flexibilidade e a adaptabilidade da percepção humana, devemos agora acrescentai que a forma do mundo físico também desempenha seu papel. O próprio fato de a navegação profissional ter surgido em ambien­tes que parecer iam retrata ri os à percepção aponta para a influem cia dessas formas exteriores.

A capacidade de distinguir e orientar-se nesses meios resrv- tentes não é conquistada sem esforço, fm geral, o conhecí meu-

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lo 1 icava circunscrito nos especialistas. Os informantes de Ras- mussen que dese nhara eu seus mapas era to chefes - muitos outros esquimós não tinham esta capacidade. Cornetz observa que só existia uma dúzia de bons guias em todo o sul da Tunísia1-. Os navegadores da Polinésia pertenciam á ciasse dominante. O co­nhecimento era transmitido de pai para filho, e havia, como já se arirmou aqui, uma escola íbrmal de navegação na ilha de Puíu- wai. Os navegadores comiam separados dos demais e conversa­va tn o tempo todo sobre direções e correntes. Isso nos traz à lem­brança os pilotos do rio Míssíssippi de Mark Avain, que estavam consíantemente discutindo, descendo e subindo o rio e manten­do-se. assim, a salvo de seus traiçoeiros e incertos marcos77. Por mais admirável que seja essa habilidade, ela está longe de confi- imrar uma relação iacil e familiar com o ambiente. As viagens marítimas polinésias eram natural mente acompanhadas por uma grande ansiedade, e as canoas seguiam a formação de uma lon­ga iiía, uma ao lado da outra, para se ajudarem a encontrar terra imne. Para darmos mais um exemplo, entre os ar umas da Aus­trália só os anciãos podem levar de um poço de água a outro, ou localizar correlameme o caminho sagrado através do cerrado, fsse problema dilicilmeuíe se colocaria no terreno bem diferen­ciado da ilha de Tikopia.

Conhecemos muitos relatos de guia nativos que perdem a orientação em regiões descaracterizadas. Strehlow descreve o modo como passou horas andando a esmo no cerrado austratia- no, junto com seu experiente guia nativo que não parava de subir vin ai vores na tentativa de orientar-se através da visão de marcos distantes -, Jaceard cita casos trágicos de iuaregues perdidos'-.

No outro extremo da escala, existem qualidades visuais em alguns atributos da patsagem que os transformam em inevitáveis objetos de atenção, apesar da capacidade seletiva da visão. Fm geral, o caráter sagrado se concentra nos mais admiráveis aspco­m.s da paisagem, como e o caso da ligação dos deuses asbantrs om os grandes lagos e rios. ou a reverência comum diante das

grandes montanhas. Assim, existe em Assam uma famosa colina que e o lugar lendário da morte do Buda. Waddell descreve a como escarpada e pitoresca, erguendo-se diretamente de uma

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154 Á iMAGtfvl DA CíDADE

planície com a qual contrasta foríemente. Ele então observa que a colina iá era adorada pelos aborígenes há muito tempo e que só depois se tomou sagrada também para os brâmanes e os muçul­manos-D

Por razoes tísicas, a grande montanha da ilha de l ikopia e a for tua organizadora central h. o ponto máximo da ilha, tatuo so­ciológica quanto tipográfica mente, o lugar da descida dos deu­ses. Assinala a localização do lar desde muito longe no mar e tem tuna aura de sobrenatural Como quase nunca se desmaia o seu cimo para o plantio do itrhame, ali existe uma Hora peculiar que não se encontra em sua base, o que vem reforçar o interesse es­pecial do lugar1".

Às vezes, uma paisagem pode ser tão fantasticamente diíe- rettciada que nâo há como deixar de notá-la. Kawaguchi descre­ve as margens de um rio perto do lago Kbolgyal, no Tibete:

"... roeu as empilhavam-se aqui c ad, algumas amarelas, outras ru­bras e azuis, outras, ainda, verdes, e algumas cor de púipnra... as ro­chas eram extremamente fantásticas, algumas agudas e angulares, outras projetando-se sobre o rio. A margem maâs próxima— estava cheía de rochas de fornos bizarras, e cada uma delas unha um nome... eram todas objetos de veneração para as pessoas do lugar" '.

Para darmos utn exemplo mais comum, os territórios de ten­didos pelos pássaros que procuram fazer ninhos nas campinas foram mapeados ao longo de vários anos. Esses territórios mos­tram grandes flutuações e reorganizações, como se poder ia espe­rar de sua ocupação por indivíduos diferentes. Contudo, certos limites perceptív amente fortes, representados por cercados ou moitas de arbustos, permanecem estáveis ao longo das mudan­ças*. Sabe-sc que, ao avançarem por uma direção geral numa frente ampla, as aves de arribação dirigem seu voo e seguem "li­nhas dominantes”, ou limites formados por elementos topográi i- cos, como as orlas marítimas. Mesmo os enxames de gafanhotos, que mantém a coesão e a direção com referência ao vento, desor­ganizam-se e dispersam-se quando se deslocam sobre superfícies de água sem características distintivas.

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APÊNDICE A 155

Outras características podem ser não só perceptíveis e dife- reneiaveis, como lambem ter uma "presença ', um tipo de anima­ção ou realidade peeuliamietilc viva, sentida por pessoas de cul­turas profundam ente diversas. Kawaguehi fala de uma montanha sagrada ao Tibete, vista pela primeira vez conto se estivesse ’ sentada com um ai' de grande solenidade”, e eonr[tara-a ao seu próprio Buda Vairoe liana, cercado por BodhisafivasT

Uma experiência conhecida, menos distante de nós, foi o im­pacto original de uma escarpa na Chegou Trail:

"... cju ando o grupo que ia pam o oeste consegui li transpor os pe­nhascos, foi tomado por uma onda de assombro. (...) ínúmeros ob­servadores descobriram faróis, fomos de cozer rijo [os, o capitólio de Washington, Beaeon HÍIJ, torres de lumiiçào de chumbo para caça, igrejas, agulhas de torres, cupulas, ruas, oficinas, lojas, depó­sitos de mercadorias, parques, praças, pirâmides, castelos, fortes, pi lastras, zimbórios, minaretes, templos, castelos góticos, fortifica­ções modernas , eateorass haneesas, castelos do Reno, torres, túneis, ves Óbidos, mausoléus, um lemplo de Belos e jardins suspensos. Í--T A um primeiro olhar, as rochas tinham o aspecto de cidades, templos, castelos, torres, palacios e todos os tipos de estruturas grandiosas c magníficas... edilicios esplendidos, como um belo mármore branco, construídos nos estilos de todas as épocas e na­ções f ..)"'"

Muitos observadores são citados, paru enfatizar o impacto co­to um e avassalador dessas formas geológicas especiais.

Portanto, ao lado da observação sobre a flexibilidade da per­cepção humana, é preciso acrescentar que a forma física exterior desempenha um pape] igualmente importante. Existem ambientes que chamam ou repelem a atenção, que facilitam ou dificultam a organização ou a diferenciação, isso se assemelha à facilidade ou á dificuldade com que o adaptável cérebro humano é capaz de memorizar materiais associados ou desconexos.

Jaccard cita vários "lugares clássicos” na Suíça onde as pes- smis sâo constam emente incapazes de manter a orienlaçsV \ JU- terson observa que, sintomaticamente, a organização de sua una-

-■ -lir! =r V SÇVj Ç/VA Ã V E-. : .........

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■\$S A IVIAGüN - CA CIDADE

gem de Minneapolís se fragmenta cada vez que o traçado das mas muda de orientação1". Trowbridge acha que a rnatona das pessoas é incapaz de apontar paia cidades distantes de Nova York sem cometer erros grosseiros, mas que Albany constitui uma ex­ceção pelo fato de estar visivelmente ligada pelo rio Hudson Y

Em Londres, um pequeno bairro chamado “Seven Dials” foi construi do cm 1695. consistindo em sete mas que convergiam num entroncamento circular onde havia uma coluna dúrica com sete quadrantes solares, cada qual dando para uma das mas ra­diais. Gay menciona a forma confusa dessa área em seu Tnvkt, ainda que insinue que só o camponês ou o estrangeiro estúpido podiam deixar-se confundir por ela".

MaÜnotvski estabelece uma nítida distinção entre a paisagem vulcânica diferenciada de Dobu e a cios Amphletts nas ilhas D^Enlrecasteaux, perto da Nova Guiné, em oposição as monóto­nas ilhas de coral das Trobriands. Esses grupos de ilhas são liga­dos por expedições comerciais regulares, e em suas páginas Yla- ] tnowskí descreve a concentração de significado mítico na área de Dobu. assim como as reações dos trobriandenses a essa pai­sagem vulcânica “imaginável1'. Referindo-se à viagem das fro- briands a Dobu. M a íi now.sk i escreve:

“A baixa faixa de terra que circunda a laguna de Tmbriand num movimento circular torna-se esmaecida e disso!ve-se na nebbnu, e diante dela as montanhas do sul se erguem cada vez mais altas, (...) A mais próxima delas, Koyatabu. uma pirâmide delgada e um tan- 10 inclinada, forma mn farol de extrema beleza, orientando os nave­gantes que vão para o Sul. (...) Em um ou dois dias, essas to mias difusas e meorpóreas irão assumi]- aquilo que, para os trobr mudem ses, é uma forma maravilhosa e um volume gigantesco. Elas vao cercar os mercadores de Kula com seus sólidos paredões de rochas íngremes e sua mata verdejante. (...) Os trobriandenses navegarao por baías profundas o sombreadas.,. sob as águas transparentes, um mundo maravilhoso e mukícokuido de corais, peixes e algas mari­nhas vai descortinar-se... das também encontrarão pedras de gran­de beleza, pesadas, de vária* formas e cores, quando em sua terra a tini ca pedra é o coral branco, insípido e morto... alem de mm tos ti­pos de granito, basalto e tufo vulcânico, espécimes dc ob si d um a nv

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gJEL, tom seu gume aÜEtdo e sue: ressonância metalica, e lugares re­pletos cie oere vermelho t amarelo. (...) Assim, íi pai situem que agora se Eibie diante deles é uniEt espécie de tena prometida, mu oaís do C|Ue:1 se Eàlís mim too: c; li ase lendário.’ -

De um modo parecido, embora as estradas do “(empo oníri­co da Austráím passem, em todas as direções, por uma terra que em grande parte e apenas cerrado, os lendários lugares para acampamentos, os pontos nadais da história sagrada e a atenção parecem inlensamente concentrados ttas duas regiões de paisa­gem diferenciada: as cordilheiras MacDonnell e Sluari.

Ao lado dessas comparações de paisagens primitivas, pode­mos pôr o paralelo que Eric Gill traça entre Brighton, a cidíide inglesa onoe nasceu, e Cbicliester, para ottde se mudou na ado­lescência:

Simpiesmeme nunca me ocorrera, ate aquele dia, que eis etda- des podiELiu ter uma formEt e sei', como els min h els queridas luto mo­tivas, coisas com eaoátere significado... [C biche sterj era uma cida­de. uma coiSEt planejada e ordeníidíi — c nao apenas um ELqlomcrado de ruas mais ou menos imundas, crescendo como fungos por todos os lados onde a rede ferroviáviíL. seus galpões e linhas de manobra permitissem. (...) Sabia apenas que duches ter em o que Brighton não era: um fim, uma coisa, um lugar. (...) O traçado de diiches- ter c claro e ordenado. (...) Por sobre o muro romano, podíamos Eivistar uma vasta extensão dos campos vertíejantes. (...) Quatro i uas principais, largas e retas, dividiam e: cidade em bairros pratica- mente iguais, e, por sua vez, o bairro residencial também era divi­dido por quatro peque tias ruas nas quais só se viam casas dos sécu­los XV El e XVI3I. (...) Mas Brightom como a conhecíamos... bem, simplesmente nào há nada a dizer. Quando pensEt vamos em BrÉtrh- lon, o que nos ocorria era um lugar cujo centro era a nossa cees a... não havia outro. Mas, quando vivíamos em duches ter... o centro nào coa Nortb Wads, numere 2, mas sim o Market Cross. Adquiri­mos nao Etpenas uma consciência eivttu, mas iEtmbém um sentido do ordenamento geral das relações. (...) Brighion nào era, de modo algum, um lugar. Jamais me ocorrera que pudesse existir outro hpo de cidade;^

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%5B A !fv'AGti-/ DA CIDADE

A clareza perceptiva da ilha de Tikopia. que se deve à presen­ça do monte Re anu ja íbi aqui mencionada. A citação seguinte ilustra bem como mu a forma diferenciada pode ser usada em detalhe:

“ Quando um habitante de Tikopia pane de sua terra natal, seus primeiros, cálculos da distância que já percorreu têm por base as partes da ilha oue ainda se mostram acima do horizonte, fxistem cinco pontos principais na escala. O primeiro è o rnuvam,. as terras baixas perto da orla marítima. Quando desaparece, o viajante sabe que já está a uma certa distância do turrar de onde partiu. Quando de perde de vista os rochedos isuaio) que se elevam de 60 a 90 me­tros em pontos diferentes tia cosia, sabe que chegou a outro lugar, em seguida desaparece por trás das ondas o uru menina, os cumes da eadda de colinas de 350 a 250 metros de altitude que circundam o lago. Quando desaparece o um as ia (a última falha do contorno do monte Reanf de mais ou menos 300 metros), o viajante se dá conta de que está em aliomrar; por último, quando deixa de avistar o uns rouoivmu, o cume da numlanlta, o momento é para ele de grande irisiezaA"

Com a ajuda de um perfil dc paisagens favoravelmente dife­renciado, osso fenômeno familiar da partida foi regularizado em intervalos consensuais, cada qual com um significado prático e emociona!.

Quando um personagem volta ria índia, num romance dc Forster, percebe com um choque repentino, ao entrar no Mediter­râneo, a pura qualidade forma! de seu entorno, a imaginahilidade deste:

"Os edifícios de Veneza, como as montanhas de Creta e os cam pos do bgito, estavam no lugar certo, ao passo que, na pobre hui ia, tudo parecia fora de iugan Hlc se esquecera da beleza da forma en­tre templos cheios de ídolos e colinas irregulares; e, dc fato, com a pode haver beleza se a forma estiver ausente? (...) Nos velhos icjip pos de estudante, eJe se deixara envolver pelo manto muíticolorid:! de São Marcos, mas o que a eJe se oferecia agora era algo bem ma d

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precioso do que mármores e mosaicos: a harmonia entre as criações humanas e a terra sobre a qual elas se erguem, a civilização que es­capou ã desordem, o espírito numa forma raeiomd, perpetuando-se em carne e sangue. An escrever carioes-postais para seus amigos in­dianos, semiu que nenhum vivería as alegrias que ele agora sentia, os prazeres da forma, e que isto constituía uma seria barreira entre eles. Veriam a suruuosidadc de Veneza, mas não sua formaV"

Desvantagens tia imagmabilídade

Um ambiente extremamente visível também pode ter suas desvantagens. Uma paisagem carregada de significados mágicos [iode inibir as atividades práticas. Os aruntas preferiam enfrentar a morte a mudar para uma região mais favorável. As ancestrais elevações tumulares da China ocupam uma terra arável desespe- f a damente necessária, e entre os maoris alguns dos melhores lu­gares para aterrissagem são interditados devido á sua importân­cia mítica. A exploração é mats facilmente realizada onde não existem sentimentos associados à terra. Até o uso moderado dos recursos pode ser prejudicado quando a orientação habitua] não per tu ire uma fácil adaptação a novas técnicas e necessidades.

Geoghegan refere-se ã riqueza dos iopõnimos nas ilhas Aleu- las, mas em seguida faz o interessante comentário de que exis­tem tantos nomes específicos para cada característica, mesmo as minúsculas, de que frequentemente os aleutas de uma iiha des­conhecem os nomes de lugares de outra ilbaA Um sistema extre­ma mente diferenciado, carente da possibilidade de abstração e de generalidade, pode na verdade comprometer a comunicação.

Também pode haver consequências de outro tipo. StrehEow dix, a respeito dos aruntas:

''Uma vez que cada elemento cia paisagem, proeminente ou não. j;i está associado a um ou ou tio desses mitos, podemos entendei a profunda apatia dos esforços literários... seus ancestrais não EUes deixaram um único espaço desocupado que eles pudessem preen­cher com criaturas de sua própria imaginação... a tradição ivulnien- le sufocou o impulso criador... os mitos nativos deixaram de

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criados mu iios séculos atrás... no conjunto, eles sáo des inspiradospre senadores... nào só lim□ raça primitiva, mas decadente" '

Se é desejável que um ambiente evoque imagens ricas e vivi­das, também é desejável que elas sejam comunicáveis e adaptá­veis às necessidades práticas em permanente mutação e que pos­sam desenvolver-se novos agrupamentos, novos significados, uma nova poesia. O objetivo pode ri a ser o de nm ambiente que suscite imagens e, ao mesmo tempo, seja aberto.

Como exemplo peculiar de como esse dilema pode ser resol­vido, mesmo de modo irracional, podemos eitar a pseudoeièneía chinesa da geomanciam Trata-se de um conhecimento complexo sobre a influencia da paisagem, sistematizado e interpretado por professores. Lida com ventos malignos que podem ser controla­dos por colinas, rochas ou árvores que, vtsualmente, parecem bloquear desfiladeiros perigosos, e com entidades aquáticas be­nignas que sâo atraídas por pequenos lagos, cursos d’água e re­gatos. As formas dos elementos circundantes são interpretadas como se simbolizassem diversos espíritos neles contidos. Esse espírito tanto pode ser útil como inativo e inoperante. Pode ser concentrado ou disperso, estar nas profundezas ou na superfície, ser puro ou de natureza mista, forte ou fraco, e deve ser usado, controlado ou realçado por plantações, construções, torres, pe­dras, etc. á s interpretações possíveis são muitas e complexas; é um campo em permanente expansão, e os especialistas exploram- no em todas as direções possíveis. Por mais distante da realidade que essa pseudoeièneía possa ser, eia tem duas características in­teressantes para os tios sos propósitos. Primeiro, por constitui? uma análise aberta do ambiente: sempre será possível obter novos significados, uma nova poesia e novos desenvolvimentos. Em se­gundo lugar, por levar ao uso e ao controíe das formas exteriores e de suas influências: a geomaneía insiste em que a previsão e a energia humanas regem o universo e podem modificá-lo. Talvez aí encontremos algumas sugestões quanto ás maneiras de cons­truir um ambiente imaginável que nào seja, ao eu esmo tempo, opressivo e asfíxiante.

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APÊNDICE B O USO DO MÉTODO

Ao aplicar o conceito básico de imaginabit idade à cidade nor­te-americana, usamos dois métodos principais: a entrevista de uma pequena amostra de cidadãos a propósito de sua imagem do ambiente e urn exame sistemático da imagem ambiental suscita­da em campo cm observadores experimentados. Ü valor dessas técnicas é uma questão importante, sobretudo quando se tem em mente que um dos objetivos do nosso estudo era o desenvolvi­mento de métodos adequados. Duas questões diversas estão con­tidas nessa questão geral: (a) quão confiáveis são os métodos, até que ponto são verdadeiros quando apontam para determinada conclusão?; (b) qual é o seu grau de utilidade? Essas conclusões são válidas para a tomada de decisões de planejamento urbano? O esforço feito compensa o resultado?

A entrevista básica realizada em gabinete consistia, em seus pontos fundamentais, no pedido de que a pessoa desenhasse um mapa esquemálíco da cidade, fizesse uma descrição pormenori­zada de alguns deslocamentos através dela e enumerasse, em for­ma de uma breve descrição, as partes retidas na memória como mais expressivas ou mais vivas. Em primeiro lugar, essa entre­vista era feita com o objetivo de testar a hipótese da imaginabi­lidade; em segundo lugar, queriamos obter uma idéia aproxima­da, ainda que imperfeita, da imagem pública das três cidades, que então poder ia ser comparada às descobertas feitas durante o

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reconhecimento de campo, ajudando, assim, a desenvolver algu­mas sugestões para o desígii urbano. Em terceiro e último lugar, havia o objetivo de desenvolver um método conciso para evocar a imagem pública de uma cidade qualquer. O método mostrou- se razoavelmente bem-sucedido na obtenção desses objetivos, com exceção das dúvidas sobre a generalidade da imagem públi­ca assim obtida, como discutiremos mais adiante.

A entrevista de gabinete constava das seguintes perguntas:

1. O que primeiro Jhe traz á mente, o que simboliza a palavra “Boston” fiara vneé? Em termos gerais, como você descrevería Boston, fisicamente falando?

2. Gostaríamos que fizesse um mapa esquemático do centro cie Boston a partir da Avenida Massacbu&eUs. Desenhe-o exata- mente eomo se estivesse fazendo uma rapida descrição da cidade para um estranho. incluindo todas as características principais. Não esperamos que voce nos apresente um desenho perfeito, mas apenas um esboço de mapa. [O entrevistador deve tomar notas sobre a sequência em que o mapa c desenhado.]

3a. Por favor, dé-me as direções completas c explícitas do trajeto que você mu mal mente faz quando vai. de casa para o trabalho. Imagine-se real mente fazendo-o e descreva a sequência de coi­sas que você vê, ouve ou das quais sente o cheiro ao longo do caminho, inclusive ns sinais de trânsito que se tomaram impor­tantes para você e as indicações das quais um estranho precisa­ria para tomar as suas mesmas decisões. Estamos interessados nas intagens físicas das coisas. Nào faz mal que você não se lembre de nomes de mas e lugares. {Durante o relato do trajei o o entrevistador deve pedir, se achar necessário, que o entrevis­tado acrescente mais detalhes às suas descrições.]

b. Você sente alguma emoção específica no tocante a diferentes partes do seu trajeto? Quanto tempo você gasta para fazê-lo? Exístcm partes dele em que você se sente inseguro quanto au lugar onde está?[A pergunta 3 deve ser então repetida para um ou mais trajetos que estejam padronizados para todos os entrevistados, isto é, "ir a pé do Hospital Geral de Massachusetis até a Estação SuH, o a Gr de carro de Eaucuil Hall a Symphony Hall’1.]

162 A IVAGCM CA G l-ADE

A Agora, gostaríamos de saber quais elementos do centro de Boston você considera mais distintivos. Podem ser grandes ou pequenos, mas diga-nos algo sobre aqueles que, cm sua opi­nião, são mais fáceis de identificar e lembrar.[A cada deus ou três elementos mencionados em resposta a 4, o entrevistador faz a pergunta 5]:

õel. Poderia descrever,.________ para mim? Se você fosse leva­do para lã de olhos vendados, ao ser tirada a venda quais indi­cadores usaria para identificar o lugar onde está?

b. Você seme alguma emoção especifica a propósito de9

e. Podería mostrar-me, no seu mapa, onde fica ?íe, se for o caso:) Onde ficam os limites de ?

6. Podería mostrar-me, no seu mapa, a direção norte?7. A entrevista esiã terminada, mas seria bom se pudéssemos con­

versar livremente por alguns minutos. (As perguntas seguintes nào precisam seguir uma ordem preestabelecida:}

a. O que acha que estávamos tentando descobrir?b. Que importância têm paia as pessoas a orientação e o reconhe­

cimento de elementos urbanos?c. Você sente algum prazer cm saber onde está o l i para onde está

indo? Ou, ao contrário, algum desagrado?d. Em sua opinião. Boston é uma cidade onde é fácil encontrar os

caminhos ou identificar as partes?e. Das cidades que você conhece, quais têm uma boa orientação?

Por quê?

Essa entrevista era longa, geral mente demorava cerca de uma hora e meia. Os entrevistados, porém, sempre demonstravam um grande interesse pelas questões nela propostas, e muitas vezes k: agiam com uma certa emoção. Era total mente gravada em fita cassete e transcrita em seguida, procedimento demorado e incô­modo, mas que tem a vantagem de registrar todos os detalhes, bem como as pausas e inflexões de voz mais reve 1 adoras.

Dezesseis dos entrevistados em Boston demonstraram ime­ies se suficiente para que uma nova sessão fosse marcada. Nela, foi-lhes mostrada pela primeira vez uma grande quantidade de fotografias da área de Boston, tiradas de modo a cobrir a região

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16<3 A IVsA&tíZ CA OiDAOE

ioda de modo sistemático, mas mostradas aleatoriamente aos en­trevistados. Do grupo faziam parte várias fotos de outras cida­des. Primeiro, pediu-se às pessoas que classificassem as lotos em quaisquer grupos que lhes parecessem naturais: depois, que identificassem o maior número possível de fotos, dizendo a quais indicações Ira viam recorrido paia lazer as ideniincações. As fotos reconhecidas foram então reordenadas, e a cada entre­vistado se pediu que as dispusesse sobre uma grande mesa. exa­ta mente como se as estivesse eolceando em sua posição devida num grande mapa da cidade.

Por filtimo, esses mesmos voluntários foram ie va cios a campo para fazerem um dos primeiros trajetos imaginários: aquele que vai do Hospital Geral de Massachusetts à Estação SuE Estavam acompanhados pelo entrevistador, que usava um gravador portá­til. Pedia-se ao entrevistado que seguisse & frente, discutisse por que escolhera determinado caminho, relatasse o que via ao longo do trajeto e indicasse os pontos onde se sentia seguro ou perdido.

Como controle externo dessa pequena amostra, fez-se um es­tudo sobre as respostas a pedidos de orientação feitos pelas pes­soas nas ruas da cidade. Seis destinos principais foram escolhi­dos: a Avenida Commomvealth, a esquina das Ruas Summer e Washington, a Praça Scoílay, o Edifício John Hancock, a Praça Louisburg e o Passeio Público. Também foram escolhidos cinco pontos de origem principais: a entrada principal do Hospital Geral de Massachusetts, a Old North Chureh no Noith End, a es­quina da Avenida Columbus com a Rua Warren, a Estação Sul e a Praça Arlingtom Em cada ponto de origem, o entrevistador pe­dia as direções de cada ponto de chegada, abordando quatro 011 cinco transeuntes escolhidos ao acaso. Fazia três perguntas: ‘'Como faço pra chegai' a ___________ ?”, “Como vou reconhe­cer o lugar quando chegar lá?” e “Quanto tempo vou demorar para chegar?”

Comparadas com essas imagens subjetivas da cidade, dadas como fotos aéreas, mapas e diagramas de densidade, uso ou km ma dos edifícios podem parecer a descrição "objetiva'’ adequada da forma física da cidade. Deixando de lado as considerações acerca de sua objetividade, essas coisas são inadequadas para n

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APÍNDICL I; Í 6Í,

nosso objetivo, pois são excessivamente superficiais e altida não generalizadas o suficiente. A variedade de fatores que poderíam ser avaliadas é infinita, e constatou-se que a melhor comparação com as entrevistas era o registro de outra resposta snbicitva, mas, neste caso, sistemática e observadora, usando categorias que se houvessem mostrado importantes na análise de entrevistas-pílo­to anteriores. Embora estivesse claro que os entrevistados esta­vam reagindo a uma realidade física comum, a melhor maneira de definir essa reahdade nào estava nu nr método quantitativo, “factual”, mas na percepção e avaliação de alguns observadores de campo, treinados para observar bem e já dotados de uma ten­dência a se fixarem nos tipos de elementos urbanos que até o momento lia viam parecido importantes.

A análise de campo acabou sendo simplificada, transforman­do-se numa cobertura sistemática da área, feita a pé por um ob­servador treinado que já havia sido instruído sobre o conceito de imaginabüidade urbana. Ele mapeava a área, indicando a presen­ça. a visibilidade e as inter-reíaçoes entre marcos, pontos no da is, vias, limites e bairros, e observando a força ou a fragilidade da imagem desses elementos. Essa cobertura era seguida por vários deslocamentos “problematicos” nessa mesma área, quando se testava o alcance da estrutura toda. O observador dividia os ele­mentos em categorias de maior ou menor importância, sendo “principais” os elementos excepciona]mente fortes ou vivos, e se perguntava continuamente por que determinado elemento tinha utna identidade forte ou fraca ou por que determinada conexão parecia clara ou obscura.

O que está sendo mapeado aqui é uma abstração; não a reali­dade física em si, mas as impressões genéricas que a forma real provoca num observador escofado. Esse mapeamento era. por certo, feito independeu temente da análise das entrevistas, e exi­gia de três a quatro dias/homem de trabalho para uma área de tais dimensões. A descrição de dois elementos no Apêndice C ilustra o tipo de detalhe usado para fazer essas avaliações.

Nas primeiras análises de campo desenvolveram-se as princi­pais hipóteses sobre os tipos de elementos, como eles se congre­gam e o que favorece a criação de uma forte identidade. 1 Viram

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essas as hipóteses testadas e aprimoradas nas entrevistas. Um ob­jetivo secundário consistia cm desenvolver uma técnica para a análise visual de uma cidade, técnica esta que pudesse prever a provável imagem pública da mesma. Nos dois objetivos, em sua concepção definitiva o método mostrou-se bem-sucedido, com a ressalva de estar ainda muito preso a elementos isolados e subes­timai' sua padronização em forma de um todo visual complexo.

As Figuras 35 a 46 ilustram as imagens das três cidades do modo como as reflete o consenso das entrevistas verbais, dos mapas esquemãticos e de nosso próprio reconhecimento de cam­po. Para possibilitar a comparação, cada conjunto de mapas ur­banos usa a mesma escala, e todos usam os mesmos símbolos.

Algumas generalizações podem ser feitas aqui a propósito das relações entre os dados extraídos independeu tem ente das en­trevistas e do reconhecimento de campo. Em Boston e Los Angeles, as análises de campo re ve taram-se previsões snrpreen- dentemente exatas das imagens derivadas do material das entre­vistas verbais. No caso de .íersey City; cidade pobre em termos de diferenciação, a análise de campo previu um pouco menos de dois terços da imagem proveniente das entrevistas, mas mesmo aqui existem pouquíssimos elementos principais que não apare­cem na outra. Em todos os casos, a relativa hierarquia dos ele­mentos é extrema mente consistente. A análise de campo feita a pé apresentou duas falhas: a tendência a negligenciar os elemen­tos secundários importantes para a circulação de automóveis e a tendência a desconsiderar certas características menos importan­tes de bairros, que são de grande importância para as pessoas em razão do status social que refletem. Se complementado por le­vantamentos de automóvel, portanto, nosso método de campo parece constituir uma técnica capaz de prever a provável imagem composta com algum êxito, levando em conta os efeitos “invisí­veis” do prestígio social e para a fixação mais incidental da aten­ção num ambiente vis uai mente indiferenciado.

Ao mesmo tempo que a correlação entre um mapa esquemá- lico individual e a entrevista eom a mesma pessoa se apresentava um tanto baixa em alguns casos, verificava-se uma boa correla­ção entre o conjunto de mapas esquemãticos e o das entrevistas

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verbais. De novo, os elementos principais rara mente aparecem em apenas uma fonte. Os mapas, porem, tendem a ter um ‘l i ­miar mais alto, isto é, os elementos que aparecem eom menor freqíiêttcia nas entrevistas tendem a desaparecer por completo nos esboços, e em geral todos os elementos sào menos freqüen­te mente desenhados do que verbahnente mencionados. Ei, de novo, esse efeito c mais forte em jersey City. Alcm disso, os es­boços tendem de certo modo a enfatizar as vias e excluir as par­tes cspeci a Emente difíceis de desenhar ou localizar, mesmo quan­do identificáveis, como um marco “sem base'1 ou unt traçado de ruas muito complicado. Esses defeitos, porém, são de menor im­portância e podem ser ajustados. Quanto â identificação dos ele­mentos, o mapa esquemático compósito assemelha-se muito à entrevista verbal.

Contudo, tto que diz respeito âs conexões e à organização ge­ral, surge uma divergência importante entre as duas fontes. As conexões conhecidas mais importantes persistem nos esboços, mas muitas outras podem desaparecer. Talvez as dificuldades de desenhar e ajustar tudo simultaneamente tornem esses mapas es­quentai icos extremamente fragmentados e deformados. Nâo cons­tituem um bom índice da estrutura conectiva conhecida.

Por último, a enumeração dos traços distintivos mostrou ter o mais alto limitar de todas as medidas, excluindo muitos elemen­tos que apareciam nos esboços e destacando apettas as menções mais fortes da attãlise de campo ou das entrevi.st as verbais. Esse método particular parece revelar os pontos de especial interesse de uma cidade - sua essência visual.

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O teste de reconhecimento fotográfico confirmou muito bem os resultados verbais. Por exemplo, a Avenida Commonwealtb e o rio Charles foram facilmente reconhecidos por mais de noven­ta por cento dos entrevistados; a Rua Tremonh o Common, Beacon Mill e a Rua Cambridge também foram rápida e especi- ficamenie identificados. As outras fotos vêm confirmar o pa­drão, mesmo na concentração de írreconhecibiiidade no South End na base do Edifício John Hancock, na área compreendida pelo West End e a Estação Norte e nas ruas laterais do North Eud.

A Figura 4S e uma cotupilação gráfica de elementos mencio­nados porcento e sessenta transeuntes abordados nas ruas e inter­rogados da maneira acima exposta. De novo, a imagem compósi­ta dessas rápidas entrevistas se assemelhava, de modo surpreen­dente, ao conjunto dos outros dados. As diferenças principais eram a maior proeminência dada às vias que se afastavam dos pontos onde as perguntas eram feitas. É preciso lembrar que a área em questão era apenas aquela que continha o conjunto de vias possíveis entre origens e destinos (mais ou menos, a linha tracejada). A presença de espaços vazios fora dessa área é inex­pressiva.

Embora esses métodos tenha revelado muita consistência in­terna, é possível, porém, fazer d nas críticas principais à adequa­ção da amostra de entrevistas. Primeiro, as amostras eram exces- si va mente pequenas: trinta pessoas no caso de Boston, e a meta­de desse número em Jersey City e Los Angeles. Seria impossível

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APIMiíLi S 1?S

generalizar a partir daí e afirmar que uma "verdadeira” imagem publica da cidade estudada tivesse sido descoberta. O pequeno tamanho das amostras foi necessário devido ao vasto tipo de in­dagação que se fez e à quantidade de tempo exigido para a téc­nica de análise usada, gigantesca e experimental, Não há dúvida de que é preciso repetir o teste com uma amostra maior, trabalho esse que exige métodos mais rápidos e precisos.

Lana segunda critica diz respeito á natureza desequilibrada das amostras escolhidas. Eram bem equilibradas no que se refere à idade (acima da adolescência) e ao sexo, Todos estavam fami­liarizados com o ambiente, e especialistas, como urbanistas, en­genheiros e arquitetos, foram excluídos. Mas, como era preciso tei' voluntários articulados para essas primeiras tentativas, a amos­tra resultou muito desequilibrada nos quesitos ciasse e ocupação, basicamente preenchidos por pessoas pertencentes ã classe mé­dia pi'oftssiona] e empresarial. Desse modo, os resultados certa- atente apresentam uma forte tendência de classe, e novos testes devem ser feitos com uma amostra não apenas maior-, mas tam­bém mais representativa da população geral.

A falta de uma distribuição verdadeiramente aleatória da re­sidência e do local de trabalho dos participantes também foi la­mentável, ainda que se lenha leito um esforço para reduzir ao

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t76 A UVAGl M r?A GCADE

mínimo essa tendência. Por exemplo, a amostra de Boston tinha poucas pessoas provenientes do North Hnd e do West End, o que constituí um equivalente do preconceito de classe. O grupo é ine­vitável e fiel ã realidade no que diz respeito ao lugar de trabaíno, mas deve ser corrigido na parte relativa à residência. Os indícios atuais não parecem indicar que uma distribuição 3 es i d eu ciai compietauvenie aleatória das pessoas possa alterar a imagem ge­ral tanto quanto o farta o equilíbrio de ciasses. As regiões sào fre- qüentemenfc un agiu adas como fortes ou fracas, a despeito da la- mil ia ri d ade ou do desconhecimento relativos. As entrevistas de rua, que trabalham com uma amostra muito maior e são mais aleatórias em lermos de distribuição por classes sociais, geral­mente tendiam a confirmar as entrevistas mais longas, dentro dos limites de suas informações um tanto apressadas. A cntica da amostra usada pode, portanto, ser resumida como segue:

Em primeiro lugar, a coerência alterna dos dados recebidos de várias fontes sugere que os métodos usados real mente ofere­cem um iiisighí bastatue confiável do composto da imagem ur­bana das pessoas entrevistadas, e que esses métodos são aplicá­veis a diferentes cidades. O fato de que as imagens de diferentes cidades eram diferentes confirma a hipótese de que a forma vi­sual desempenha um papel importante. Em segundo lugar, a des­peito do tamanho pequeno, da tendencia de ctasse e da parciali­dade locacional revelados por essas amostras, houve indícios de que a imagem compósha também podería ser uma primeira e tosca aproximação da verdadeira imagem pública. Ainda assim, numa posterior aplicaçao desse métodos será preciso apeifeiçoai seu tamanho e evitas1 sua tendência à parcialidade.

Uma vez que a amostra era pequena, não se fez nenhuma ten­tativa de subdividi-la ainda mais e examinar as imagens separa­das dos diferentes grupos de idade, sexo e outros. A amostra foi analisada como um todo, e os antecedentes dos participantes nunca foram levados em conta, a não ser para registrar a tendên­cia geral do conjunto. O questionamento das diferenças de gru­po seria certamente uma interessante pesquisa.

Até aqui, é claro, o estudo apenas demonstrou, em definitivo, a existência de uma imagem coerente que é usada para descrever

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ou recoraar a cidade num contexto de ausência da mesma. Lxsa imagem podería ser muito diferente daquela usada quando real­mente se trabalha no ambiente. As únicas verificações dessa pos­sível discrepância leram os trajetos percorridos por alguns parti­cipantes e as entrevistas dc rua. listas pareceram confirmar a imagem lembrada., ainda que fossem limitadas em seu alcance e de natureza verbal. Os dados provenientes dos trajetos feitos em pai tos da cidade deram uma resposta ambígua. No caso desses trajetos, os itinerários seguidos eram muitas vezes diferemes dos escolhidos nas entrevistas feitas em gabinete, mas a estrutura ge­ral parecia ser semelhante. Um número muito maior de marcos detalhados apareceu nos registros de campo. Por motivos técni­cos, ínfelizmentc esses registros se mostraram pouco consisten­tes e insatisfatórios. De modo semelhante, há uma diferença en­tre a imagem transmitida retrospectiva mente- a outra pessoa e a imagem usada no próprio local, quando a comunicação interpes­soal é desnecessária. Contudo, também é provável que elas não sejam nitidamente separadas, mas se entrelacem. Um última ins­tância, o material mostra a existência de correlações entre as ações e a imagem comunicada e indica o forte significado emo­cional desta última.

Os tipos hipotéticos de elementos (pomo nodaf bairro, marco, limite, via) foram em grande parte confirmados pelos dados, de­pois de algumas modificações. Nào que tais categorias tenham provado existir, como arquétipos platônicos, mas, de modo coe- reme e sem esforço, elas se mostraram capazes de abranger pro­vei tos amente os dados. As vias mostraram ser o elemento domi- mmte em termos de quantidade, e houve uma notável estabilidade entre as três cidades na porcentagem de elementos totais dedica­dos a cada categoria. A única exceção foi o desvio da atenção de vias e limites para marcos, como se observou em Los Angeles. A mudança é significativa para uma cidade que gira em tomo do au­tomóvel, mas talvez sua explicação esteja na falta de diferenciação do traçado das ruas.

Lmbora os dados sobre os elementos isolados e os tipos de elementos talvez fossem adequados, verificou-se uma falta de mlormaçào sobre as ínfer-relaçoes de elementos, modelos, se-

.......

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qúéneias e conjuntos. É preciso desenvolver métodos mais efi­cientes para a abordagem desses aspectos vitais.

O método como base para o design

Talvez a melhor maneira de sintetizar essa critica geral do método sqa recomendar uma técnica de análise de imagens des­tinada a evitar muitas das dificuldades citadas e desenvolvida como a base de um projeto para a lutura forma visual de qual­quer cidade.

Esse procedimento podería começar por dois estudos. O pn- meiro seria um reconhecimento generalizado de campo feito por dois ou três observadores treinados. De modo sistemático, esses observadores cobriríam a cidade tanto a pé quanto de cano, de noite e de dia, suplementando essa cobertura com vários trajetos “problemáticos”, como já descrevemos aqui. Isso admmaria num mapa de análise de campo e tmtn breve relatório, que abordaria os pontos fostes e fracos, o modelo geral e também as parles.

Um passo paralelo seria a entrevista com um grande número de pessoas, equilibrada de modo a condizer com as característi­cas gerais da população. A. esse grupo, que podería ser entrevis­tado simultaneamente ou em separado, seria pedido que fizesse quatro coisas:

a. Desenhar um rápido mapa da área em questão, mostrando suas características mais importantes e interessantes e dando a um estranho o conhecimento suficiente para locomover-se sem muita dificuldade.

b. Fazer um desenho semelhante do itinerário e dos elemen­tos ao longo de um ou dois trajetos imaginários, trajetos escolhi­dos de modo a expor o comprimento e a largura da área.

c. Fazer urna relação escrita das partes da cidade percebidas como as mais distintivas, com o examinador explicando o stgm ficado de “partes” e “distintivas”.

d. Dar, por escrito, respostas breves a algumas perguntas dutipo; “Onde fica __

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Os testes seriam analisados com base na íreqiiência das men- çoeis a elementos e suas conexões, na sequência dos desenhos, nos elementos expressivos, no sentido de estrutura e na imagem eompósiía.

O reconhecimento de campo e a entrevista com muitas pes­soas seriam entào eomparados em termos da relação entre ima­gem publica e forma visual, para fazer-se uma primeira análise dos aspectos visuais lortes e fracos da área toda e para identificar pontos críticos, sequências ou modelos dignos de maior atenção.

Começaria, então, uma segunda rodada de análises desses problemas críticos. Usando uma pequena amostra, em entrevis­tai- individuais sei ia pedido às pessoas que situassem elementos críticos selecionados, que operassem com eles em breves iraieíos imaginários, que os descrevessem, fizessem esboços deles e dis­cutissem os sentimentos e as lembranças a eles associados. Alguns participantes poderíam ser levados a esses lugares, fa­zendo pequenos trajetos em seu espaço, descrevendo-os e discu­tindo-os no próprio local, bambem se poder ia perguntar, a uma amostra aleatória de pessoas na rua, que direção se deveria tomar para chegar a um elemento, a partir de vários pontos de origem.

Quaitdo essa segunda série- de estudos já estivesse analisada em termos de conteúdo e problemas, seria realizado um reconhe­cimento de campo igualmente intensivo desses mesmos elemen­tos. Seguir-se-iam estudos detalhados de identidade e estrutura sob muitas condições de campo diferentes - de luz, distancia, atividade e movimento. Esses estudos usariam os resultados das entrevistas, mas não ficariam de modo algum circunscritos a elas. Os estudos detalhados dos elementos de Boston, no Apên­dice C, sào modelos possíveis.

Por fim, todo esse material seria sintetizado numa série de mapas e relatos que forneceríam a imagem pública básica da .tios, os prooiemas e qualidades visuais gerais, os elementos crí­ticos e as inter-relaçôes dos elementos, com um detalhamento de suas qualidades e de suas possibilidades de transformação. Uom base em tal análise, conlinuameníe modificada e atualiza­da, seria possível fazer um projeto para a futura forma visual da

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1Ê0 A rMAGíW DA a D ADÍ

Sugestões para uma pesquisa futura

A crítica precedente e muitas páginas dos capítulos anteriores apontam paia problemas ainda sem solução. Alguns elos próxi­mos passos da analise são bastante ónvios; outros, ai tida mais importantes, são de difícil apreensão.

Um dos mais óbvios desses próximos passos consiste em usai' a técnica analítica descrita anteriormente, para testar uma amos­tra maís adequada da população. As conclusões extraídas desse trabalho ter iam utua base muito mais sólida, e uma técnica pas­sível de aplicação prática podería ser aperfeiçoada.

Nosso conhecimento do tema também tão seria enriquecido se aplicássemos estudos comparativos a um maior número de ambientes do que as três cidades às quais nos restringimos aqui. Cidades novas e velhas, compactas e dispersas, deusas e espalha­das. caóticas e extremamente ordenadas, poderíam, todas, produ­zi]1 diferenças características em suas imagens. De que modo a imagem pública de utua cidadezinha difere da de Manhattan? Uma cidade á beira de um lago será mais fácil de conceituar da que um vilarejo pelo qual passe tuna estrada de ferro? Esses es­tudos produziríam um grande número de materiais sobre os efei­tos da forma física, e estes, por sua vez, seriam um excelente ponto de partida para o trabalho do designer.

Seria igualmeme interessante aplicar esses métodos a am­bientes que, em escala e função, sejam diferentes das cidades: um edifício, por exemplo, ou uma paisagem; um sistema do transporte ou uma região situada num vale. Mais importante, em termos de necessidades práticas, é a aplicação e o ajuste dessas idéias á região metropolitana, o que, no presente, parece irreme­diavelmente aíém de nosso domínio pereepúvo.

Com o mesmo grau de probabilidade, as diferenças principais podetn estar no próprio observador. Quando o planejamento se toma uma disciplina de âmbito mundial, e os planejadores tarn bém passam a fazer projetos para pessoas de outros países, é im­portante certificar-se de que o que foi descoberto nos Estados Unidos não é apenas uma derivação da cultura local. De que nru neira um hindu ou um italiano olha para sua cidade?

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Essas diferenças criam dificuldades para o analista não ape­nas na prática internacional, mas também no seu próprio pais. Ele pode tomai1-se refém de um modo regionaE de pensai; ou. particuíarmeme nos Estados Unidos, do modo de pensar da clas­se a que pertence. Sendo as cidades usadas por muitos grupos de pessoas, torna-se importante compreender de que modo os dife­rentes grupos principais tendem a imaginar seu entorno. O mes­mo se poderia dizer de variantes significativas de tipo de perso­nalidade. O presente estudo abordou apenas os fatores comuns dentro da amostra.

Seria interessante verificar se alguns dos tipos de imagem que pareceram evídeneíar-se - os que usam sistemas hierárqui­cos estáticos em oposição aos que usam conexões dinâmicas que se desdobram, ou os que usam imagens concretas em oposição a imagens abstratas, por exemplo - sào tipos estáveis e intransfe­ríveis. ou apenas o resultado de um treino ou de um meio. Além disso, de que modo alguns desses tipos se relacionam? Um sis­tema de imagens dinâmicas também poderá sei1 posiciona!mente eslrut tirado ? A re laça o entre a i m agem m e m orí zada comun i cá ve! c a imagem usada em operações de campo imediatas também po­deria ser investigada.

Todas essas questões tem um interesse que extrapola a esfera teórica. As cidades sào o habitai de muitos grupos, e só com uma compreensão diferenciada de imagens grupais e individuais, liem como de suas inter-reiações, será possível criar um ambien- le capaz de satisfazei' a todos. Até que tal conhecimento esteja disponível, o designer deve continuar confiando no denomina­dor comum, ou na imagem pública, senão conceber a maior va­riedade possível de tipos de material de criação de imagens.

Os presentes estudos limitaram-se ãs imagens tal como exis- lem em determinado momento. Poderiamos compreendê-las bem melhor se soubéssemos como se desenvolvem: como um es­tranho constrói uma imagem de uma nova cidade? como uma criança desenvolve sua imagem do mundo? como essas imagens podem ser ensinadas ou comunicadas, e quais são as formas mais

. adequadas para o desenvolví mento da imagem? Uma cidade deve ter, ao mesmo tempo, uma estrutura óbvia, que possa ser Emedur

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VDADl1E2 A íM A G íW OA C

lamente apreendida, e uma estrutura potencial, que tios permita criar, aos poucos, uma imagem mais complexa e abrangente.

A constante reconstrução da cidade traz consigo um problema afim: o ajustamento da imagem á transformação exterior A me­dida que o nosso habitai fica mais fluido e mutável, torna-se cru­ciai saber como manter a continuidade da imagem através dessas perturbações. Como uma imagem se ajusta ã transformação, e quais são os limites dentro dos quais isso é possível? Quando a realidade é ignorada ou distorcida para preservar o mapa? Quan­do a imagem se fragmenta, e a que preço isso se dá? Como essa fragmentação pode ser evitada por conlinuidades físicas, ou como se pode facilitar a formação de novas imagens, caso algum tipo de fragmentação já tenha ocorrido? A construção de imagens am­bientais abertas à transformação é um problema especial: ima­gens que sejam firmes e, ainda assim, flexíveis diante das inevi­táveis tensões às quais acabarão tendo de submeter-se.

Isso nos remete de novo ao fato de que a imagem não 6 ape­nas o resultado de características exteriores, mas também um produto do observador. Portanto, sciia possível melhorar a qua­lidade da imagem através da educação, Um proveitoso estude podería ser feito sobre os meios por intermédio dos quais se pode ensinar as pessoas a orientarem-se bem no seu ambiente urbana: museus, conferências, passeios pela cidade, projetos escolares, etc. Aliado a isso está o uso potencial de recursos simbólicos: mapas, sinais, diagramas, máquinas orientadoras, Um mundo ff sico aparentemente desordenado pode organizar-se mediante a invenção de um diagrama simbólico que explique as relações das características principais de uma maneira que estimule o desen­volvimento da imagem, Um bom exemplo disso é o mapa diagra- mático do sistema metro viário de Londres, exposto em cada es­tação de modo a ser visto por todos.

Talvez a mais importante diretriz para os estudos futuros jri tenha sido citada várias vezes até aqui: a falta de compreensão da imagem urbana como um campo total, a falta das inier-relaçinv de elementos, modelos e seqüêncías. A percepção da cidade ó em essência, um fenômeno temporal, um fenômeno que se voN para um objeto de enormes dimensões. Se o ambiente deve ser percebido como um todo orgânico, a clarificaçao das partes cm

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seu contexto imediato é apenas um primeiro passo. Será extre­mam eme importame encontrar maneiras de entender e manipu­lar a todos, ou, pelo menos, de lidar com os problemas de .se­quência e desdobramento dos modelos.

Pode-se dar que alguns desses estudos sejam de algum modo quantificaveis - podem ser analisados, por exemplo, em relação ao numero de unidades de informação necessárias para especifi- car os principais destmos urbanos, ou a redundância relativa. A velocidade de identificação podería ser investigada, assim como a redundância deseja ve [ para a sensação de segurança ou o nú­mero de unidades de informação que uma pessoa e capaz de re­ter no tocante ao seu ambiente. Isso vem ligar-se â possibilidade de recursos simbólicos ou máquinas que forneçam direções, como observamos há pouco.

Parece provãveí, porém, que a essência do trabalho deixará as quantidades de lado, pelo menos por algum tempo, e que um dos objetivos básicos estará nas considerações de padrão e sequên­cia. Estas úftimas envolvem a técnica de representação de mode­los complexos, íemporalmenie prolongados e contínuos. Ainda que isso não passe de uma consideração técnica, c algo funda­mentai e difícil, Antes de tais modelos serem compreendidos ou manipulados, é preciso encontrar maneiras de representar sua es­sência, de tal forma que eles possam ser cotmmiçados sem uma repetição da experiência original. É um problema algo descon­certante.

Já que o nosso interesse iniciai pelo problema era o de manipu­ladores do habitat físico, o uso experimental dessas idéias em pro­blemas concretos de deiígn também deve ser uma das prioridades dos futuros estudos. O potencial da imaginabilidade em termos de iicsign deveria ficar em aberto, e a afirmação de que ele podería constituir a base do planejamento urbano deveria ser testada.

No momento, os temas mais importantes para o estudo futu­ro parecem ser estes: a aplicação do conceito de regiões metro­politanas; sua extensão a um exame das principais diferenças de grupo; desenvolvimento da imagem e ajustamento às transfor­mações; a imagem urbana como modelo lotai, temporal mente pndongado; o potencial do conceito de imag inábil ida cie em ler­íam de desigu.

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APÊNDICE C DOIS EXEMPLOS DE ANÁLISE

Como exemplos do tipo de análise visual detalhada de ele­mentos urbanos que pode ser feita em campo e de como tal aná­lise pode ser associada aos resrdtados das entrevistas, descreve­remos duas localidades adjacentes em Boston; o bairro de Bea- eon Hill, extremamente identificável, e o confuso cru/sarnento da Praça Scollay, localizado abaixo dessa colina. A Figura 49 mos­tra a posição estratégica desses dois elementos no centro de Bos- lon e sua relação com o West Fnd, o bairro comerciai do centres o Common e o rio Charles.

Beacon Hill

Uma das últimas colinas originais da cidade, Beacon Hill fica entre o centro comercial e o rio. obstruindo o fluxo de trânsito norte-sui e sendo visível a partir de muitos pontos. O mapa dela- li i a do mostra o traçado das ruas e a localização dos edifícios. Trata-se de um lugar único, sobretudo numa cidade norte-ameri­cana, uma vez que é uma relíquia bem conservada do inicio do século XIX, ainda viva e útil: uma área residencial de elite, cal­ma e familiar, imediatamente adjacente ao coração da metrópo­le. Nas entrevistas, permitiu o surgimento de uma imagem eor- i esp on den íe m e nle forte:

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Beacon. HiJÍ foi considerada muilo expressiva, muitas vezes tida como símbolo de Boston c, com frequência, vista como que à distancia. Lra conhecida por estar siluadu no centro da cidade, CíaramcBUe limitada peta Rua Reaeon e, assim, fazendo fronteira com o Connnon. Convencionalmeme, a tíua Cambridge separa­va-a do West Lnd, e, para muitos enlrevislados, terminava na Rua Charles, embora outros, sem muita convicção, uela incluíssem a área mais baixa. Quase todos tinham consciência de sua ligação com o rio. O quarto limite era incerto, quase sempre .situado na Rua ioy ou na Rua Bowdoin, mas essa é uma área um tanto con­fusa que, "de certo modo'1, chega à Praça Seollay.

In terna mente, parecia ter duas partes d islmUrs: um lado “pos­terior” e um lado "anterior”, divididos social e visualmenlc ao longo da Rua Mynle. O sistema de mas era imaginado como bastante na rateio, "ordenado” e retilíneo, mas nàn muito intei li­gado e difícil de atravessar. O lado anterior era pousado em for­ma de várias ruas paralelas (sendo a Rua Ml. Veruori a mais co­mum ente citada), com a Praça Louisburg numa extremidade e o prédio da Assembléia Legislativa na outra. O lado poster ior aca­ba na Rua Cambridge. A Rua Joy parecia ser muito impnrgmie como ligação transversal. As Ruas Beacon e Charles eram vistas como parte de um todo, mas a Rua Cambridge não era percebi­da desse modo.

Mais da metade dos entrevistados apontou os elementos abai­xo relacionados como parte da imagem que lã/em de Beacon fíill (mais ou tnenos em ordem decrescente):

uma colina escarpada ruas estreitas c cm ladeira o prédio da Assembléia Legislativa a Praça Louisburg e seu parque árvorescasas antigas e bonitas tijolos vermelhos portas recuadas

Também foram mencionados com frequência:

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ruas com calçamento de pedrasvistas do riouma área residencialsujara e lixodistinções sociaislojas de esquina ira parle posteriorruas bloqueadas ou "curvas’a cerca c as estátuas. Praça Lonisburgvários tipos de telhadosa sinalização da Rua Charlesa cúpula dourada da Assembléia Legislativajanelas de cor púrpuraalguns apartamentos contrastantes

Outros comentários foram acrescentados por pelo menos três pessoas:

canos estacionados bay Windows trabalhos em fenocasas muito próximas umas das outras antigos postes de luz um "sabor europeu"' o rio Charlesa vista do Hospital Geral de Massachusctls crianças brincando na parte posterior persianas escuraslojas de antiguidades na Rua Charles casas de três ou quatro andares

A situação apressada e casual de pedir orientação na ma ge- rou um número surpreendente de comentários. Resumindo, eles incluem: é uma colina, temos de subir por mas ou escadas paia chegar lá. t caracterizada pela Assembléia Legislativa, que lem uma cúpula dourada e escadarias. Faz fronteira com o Commun. tendo a Rua Beacon como limite, e inclui a Praça Louisbuig com um parque fechado. Vários acréscimos foram feitos por duas ou mais pessoas: tem árvores; é um bairro residencial de elite; fica

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peno da Praça Scollay: alí estão as Ruas Joy, Grove e Charles. Psses comentários, de forma resumida, faliam eco aos resulta­dos das entrevistas mais expressivas.

hxaminemos, agora, a realidade física que fica tia base des­ses temas que foram aparecendo na imagem de Beaeon HitK Na verdade, o bairro lembra muito uma colina abrupta e única, cuias ladeiras mais Íngremes descem em direção às Ruas Charles e Cumbrtdge. A ladeira, de certo modo, com mu a além da Cam- bridge, ate o West hnd, mas na verdade o gradiente íngreme, o ponto de inflexão da curva vertical, já ficou para iras, e essa In­flexão parece ser o acontecimento mais importante vi suai mente. O limite da ladeira fica exalam ente na Rua Charles, o que torna dificil a incorporação da área mais baixa em Beaeon Hilh como veremos mais adiante. Nos outros dois lados, porém, as frontei­ras avançaram sobre as encostas da colina. A Rita Beaeon fica a meio caminho na encosta, e o Common tem uma parte substan­cia! na mesma topografia. Contudo, a mudança de espaço c de caráter é forte o bastante para superar essa indistinção topográfi­ca, e a "Colina Beaeon'1 começa nitidamente na Rua Beaeon. ainda que a colina geográfica comece em Tremont.

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No lado leste, porém, a situação é bem diversa. Aqui, tima paríe substancia] da colina foi sobrecarregada de construções co­merciais, de modo que a Praça Scoltay rica na encosta da colina e a Rua School tem um gradiente ascendente acentuado. A reali­dade topográfica foi ignorada, e ameia assim não há uma ampla abertura espacial que torne visível o que foi feito, nem uma ior- t-e mudança de caráter que possa prevalecer sobre a continuidade da forma do terreno. Isso, sem duvida, contribui pata a impiecs- são da imagem neste lado, bem como para o dcsctmlorio espa­cial da Praça Scollay.

Dentro de Beaeou HilL a sensação de gradiente esta sempre presente, tanto vi suai meme quanto em termos de eslorço hsico e de equilíbrio. O fato de os declives da ma estarem predominan- temente em duas direções diferentes, ttos lados antcriot e posk.- rior. contribui para eniãb/.ar o caráter peculiar dessas áreas.

A qualidade espacial de desenvolvimento no lado anterior de Beaeon Hiíl é inconfundível. Consiste de corredores contínuos de ruas, todos eles em pequena escala. As fachadas dos etlificios são bem próximas; cm geral eles tem três andares, o que uá a iuv

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Ai-mLiu. i : r o

pressão de que essas moradias en fí lei radas são, iodas, estruturas uni familiares. Apartamentos, pensões e instituições não são ta­ceis de distinguir. Não obsiante, dentro desses limites existem variações significativas de proporção, como se mostra tias seções díagramátieas. Em particular, ha uma mudança substancial tia Rua Mi. Yen tom acima da Praça Louisburg, onde uma Jottga fila de casas “grandes1' está recuada, permitindo o aparecimento de pequenos pá lí os dianteiros. Esta é uma mudança evidente e agra­dável, e em momento algum quebra a continuidade do todo.

As proporções do espaço mudam de forma significativa na parte posterior; as construções têm ali de quatro a seis andares, o que deixa dato que não se trata de residências uni familiares. O espaço do corredor toma a forma de um “desfiladeiroE Como a encosta, aqui, se dirige para o norte, a luz do sol alittge essas ruas com menos frequência. Essas sensações de proporções espaciais, de tuz, de gradiente e de conotação social parecem ser as princi­pais características da área.

As Figuras 53 e 54 mostram a localização, em Beaeon Hilf de outros elementos temáticos que parecem identificar a ima­gem. Pode-se lembrar, de novo, que essas são, basicamente, as características da parte anierior. A distribuição de calçadas de ti­jolos, de lojas de esquina, de portas recuadas, de ornamentos de ferro, de árvores e, até certo ponto, de persianas escuras, tudo en­fatiza a originalidade do lado anterior e a diferença entre este e o posterior, A concentração e a repetição de tais temas, e a qua­lidade da manutenção que se evidencia nos bronzes polidos, na pintura recente, nas calçadas limpas e nas janelas bem conserva­das, têm uni forte efeito cumulativo, que acrescenta uma certa vitalidade à imagem de Beaeon Hilf

As bar íWuríW.y são menos características, exceto ao longo de uma parte mais baixa da Rua Pinekney, e as janelas de cor pérpura. popuiarmente associadas a Beacon Hill, na verdade quase nunca aparecem. O mesmo se pode dizer das ruas com cab vamento de pedras, que reaJmente só são visíveis em duas faixas pequenas e estreitas da Praça Louisburg e ao longo da escura Rua Acorn. O tijolo é, de fato, o material de construção quase ex­clusivo, e, embora isto seja difícil de perceberem Boston, o uso

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intensivo desse material estabelece um fundo coe rente de cor c textura. Os antigos postes de luz-também estão presentes em toda a área.

Todas as subáreas visuais de Beaeon Hili estào dara mente delineadas por características visuais de espaço, gradiente, uso, pavimentação, vegetação e detalhes como porias, venezianas e ornamentos de ferro. Hm geral, tais características aparecem em

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conjunto, reforçando a distinção. Assim, o Jatío aiuerior o uma área de gradiente íngreme em direção à Rua Charles; de corre­dores de ruas em pequena escala; de estruturas ornamentais ex­tremam ettte bem conservadas, o que indica a presença de uma classe social privilegiada. E provida ainda de sol, de ruas arbori­zadas e doridas, calçadas de tijolos, venezianas escuras e portas recuadas. E uma região com presença marca me de criadas, mo­toristas, velhinhas e belos carros nas mas. O (ado posterior des­ce rumo à Rua Cambridge, com espaços mais escuros e cm for­ma de ''desfiladeiros'", ladeados por estruturas de casas de cômo­dos malconservadas: aqui e alt surgem lojas de esquina, as ruas são sujas e crianças brincam nas mas. Algumas estruturas de pe­dra surgem em meio às de tijolo. As árvores agora são vistas mais nos pátios posteriores do que nas mas.

A parte inferior de Reaeon Hill, entre a Rua Charles e o rio Charles, compartilha muitas características com o lado anterior: vegetação, tijolos e calçadas de tijolos, portas recuadas e orna­mentos de ferro, mas a falta dc gradiente e a bar rema representa­da pela Rua Charles parecem eoloeã-la numa espeeie de limbo dassifieatório. A Rua Charles e uma suhãrea em si mesma, sen­do uma rua comercial com características especiais devido aos tipos t!e mercadorias que ali se ve miem, mais ou menos caras e nostálgicas, que são consumidas no alto da colina. A distribuição

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de lojas de antiguidades ilustra bem esse pomo. A área governa- menta], introduzida pela grande ruptura que o prédio da Assem­bléia Legislativa representa, é eompletamente diferente por seu tipo de uso do espaço, sua escala espacial e suas atividades de rua. Ali fica a zona de transição entre as Ruas Ha tico ek e Smn- merset, embaixo da Rua De arte, que apresenta exemplos das ca­racterísticas de Beacon HeII: encosta, calçadas de tijolos, bay Windows, portas recuadas e ornamentos de ferro. Mas está inter­rompida: neta existem Eqjas e igrejas misturadas com prédios re­sidenciais, e seu estado de conservação aponta para uma classe social Jttais baixa que a da parte anterior da colina. A falta de uma demarcação definida é uma causa a mais para a dificuldade dc imaginar a forma de Beacon Hiil desse lado.

K interessante observar o efeito dos canais de circulação, ou a falta dos mesmos. Os obstáculos que se colocam à passagem do lado anterior para o posterior, bem como o fato de que o aces­so normal a esses dois lados é feito a partir de direções diferen­tes, são fatores que contribuem para o isolamento de um em re­lação ao outro. A Assembléia Legislativa separa a Rua Bowdoitt da área residencial, exceto tta confusa passagem sob o arco, que tem um acesso exlremamenle desencorajador do lado leste. De modo mais intenso ainda, a dificuldade para descer até a Praça Scollay faz com que ela "llntue’' em relação à colina.

Por outro lado, as ruas transversais assumem uma maior im­portância: Mt. Vernon, Joy,. Rowdoin e Charles. Todas as mas, ainda que topo lógica mente regulares, e ainda que as acima cita­das sejam real mente transversais, são visuaímetile bloqueadas, o que contribui para reforçar a densidade, intimidade e identidade da área. As Ruas Joy, Rowdoin e Pinckuey são bloqueadas por curvas verticais: as Ruas Mt. Vernon, Cedar e Charles por ligei­ras curvas horizontais. Todas as outras translormam-se em becos tta região. Assim, e impossível ver ao longe a parti]' de qualquer ponto.

Não obstante, existem algumas vistas bonitas a partir de Bea­con Bill. Particuiarmenie as tio rio Charles, a descida pela Chexc nut, Mt. Vernon, Pmckney, Myrde e Revere, que sào produzidas pelo declive dessas mas e pela posição que Beacon Hill lem em

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relação ao vi o. Há uma visía agradável do Common, da Rua Ml. Yertton descendo para a Rua Walnut. I odas as ruas ‘'posteriores” que correm para o norte dão para o West Lnd, mas a vista dos te­lhados quase nada tem de digno de nota, a não ser a vista do Hos­pital lBuífineh original, na Rua Anderson (que lambem ò a única ligação entre a parte anterior e posterior entre as Ruas Ce dar e àoy). Subindo pela Rua Pinekney, deparnmo-nos com uma vista surpreendente da torre decapitada da Alfândega, ao passo que, se subirmos pela Rua Cliestnut, avistaremos a cúpula dourada da A s sei n b Eé ia 1 mg i s I a t i va.

O prédio da Assembléia Legislativa é, sem dúvida, o marco mais importante de Beacon HiLL Sua função e forma únicas, tan­to quanto sua local tração nas imediações do topo da colina - e sua visia do Common - fazem dele a chave do centro de Boston. Atua dentro e fora de Beacott Hill. A Praça Louisburg é outra lo­calidade básica; é um pequeno ponto residencial nas encostas mais baixas da parte anterior. Não esta visualmente exposta, nem fixa em relação ao topo ott à base da colina, nem ligada e qual­quer outro mareo. Assim, nào é usada como um [oealtrador, e em

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gcraí as pessoas a imaginam como se estivesse "em alguma par­le de dentro'’ de Bcacon Hill, como se fosse o próprio epítome de seu caráter particular. Percebe-se, de fato, de que modo os ele­me ntos da parte anterior estão iodos aqui concentrados, apare - cendo, por assim dizer, em sua forma mais pura. AJém disso, a praça c um espaço formado, que contrasta com as características espaciais da área ao mesmo tempo que as expressa com maior ni­tidez. Contem as pequenas e famosas áreas pavimentadas com pedras redondas, e um parque muito verde e cercado onde exis­tem estátuas. Esse parque chama atenção pelo viço da vegetação e pela “entrada proibida” implícita. E interessante observar que a fbrmaçáo em declive da praça, por mais que dificulte uma lo­calização sólida na estrutura geral, não parece perturbar a estabi­lidade visual do espaço imediato.

Existem alguns outros marcos importantes na estrutura inter­na. Estes incluem: a Igreja Utiiversalista nas Ruas Mt. Vernoti e Charles, que é notável tanto por sua posição quanto por sua tor­re; a Escola de Direito de Suflbik, na frente da Assembléia Le­gislativa quando vista a partir da Rua Deane, que adiciona seu ta~

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manho ãs características e aos limites do bairro governamental. Há tombem a Faculdade de Farmácia ele New Eugland, que se in­tromete no caráter residencial da Rua Mi. Vernon; o Instituto Carnegie, na confluência da Rua Pinckney coto a Rua Anderson, que interrompe as fachadas contínuas dos edifícios e assinala o acesso à parte posterior da colina. Em Be Eicon Hill existem ou­tras áreas não-resideneíais, mas elas se esvanecem de modo sur­preendente no plano de fundo geral. Pouquíssimos marcos não situados em Beacon Hilll sào visíveis de seu interior, razão pela qual sua estrutura Interna está entregue a seus próprios recursos.

Já discutimos, aqui, a ligação entre Beacon Hill e o West End por um limite muito nítido, e também a confusão da transição para a Praça Scollay. Ninguém ignora que Beacott Hill dá para o Common, mas é preciso acrescentar que a ligação direta entre ambos é bastante tênue. A passagem fácil de um para outro está bloqueadEu exceto nas Ruas Charles, Joy e Walnut, e a vista da grande massa de árvores também está ausente. Assim, a vegeta­ção de Beacon Hill carece da continuidade que podería ter tido com o parque se ah tivessem existido caminhos ou espaços aber­tos perpendiculares à linha da Rua Beacon.

Alguma relação com o rio Charles foi percebida por todos, provavelmente devido às belas vistas que se tem quando se des­cem as ruas no sentido leste-oeste, mas uma ligação detalhada era muito pouco dara devido à classificação duvidosa da área infe­rior, á beira-no plana e ã dificuldade de atravessar o Storrow Dri­ve para chegar à água. A relação com o rio, evidente nas encostas mais acima, parece desaparecer quando nos acercamos dele.

No contexto mais Etmplo da eidEtde toda, Beacon Hill tem um importante papel a desempenhai-. Etpesar do número restrito de seus habitEmtes. Diíereneia-se de qualquer outra área de Boston por sua topografia, seus espaços de rua, suas árvores, sua classe social, seus detalhes e seu estado de conservação. A região com que mais se assemelha é Back Bay, com continuidade de mate­rial, vegetação, associação e, até certo ponto, uso e status, mas que dela difere em termos de topografia, detalhes e estado de conservação. Âs vezes, porém, uma dessas regiões é confundida com a outra. A única outra semelhança possível seria com Copps

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Hilk tio North Dnd, que também fica numa colina, numa área an­tiga e residencial, mas difere muito em termos de classe social, espaços, detalhes, ausência de vegetação e de limites.

Assim, essa arca única se destaca sobre o centro da cidade, li­gando a Baek Bay, o Common, o centro e o West Bnd, polcncial- meme dominando e constituindo o foco de ioda a região central, Também potcncialmentc, podería explicar e corrigir a mudança de direção tta margem do rio Charles, de outro modo difícil de lembrar, apesar de vital para toda a estrutura urbana, Quando se avista Boston a partir de Cambrtdge, Beacon Hí 11 desempenha um papel importante, não só por dar mais vida ao espaço, mas também por explicar e articular a sequência das partes que vão surgindo no panorama: Baek Bay-Beaeon Hill-West fnd. De ou­tros pontos da cidade, porém {com exceção do West fnd e do Common), Beaeon l lill não é visível conto tima entidade em ra­zão de sua subida gradual e dos obstáculos que se interpõem. Como obstáculo ao trânsito, orienta o fluxo em torno de sua base c concentra a atenção nas vias e nos pontos no da is cireunsiantes: as Ruas Charles e Cambridge e a Praça Seollav,

Desse modo, a colina mostra ser uma região cujas caracterís­ticas tísicas aumentam a força da imagem popular e que contém muitas ilustrações dos eleitos psicológicos da disposição de vias, encostas, espaços, limites e concentração de pormenores. Apesar de sua torça, também parece Bear abaixo de seu potencial en­quanto colina dominante, sobretudo devido ás sitas divisões in­ternas, ás falhas em suas relações com o rio Charles, com o Common e a Praça Seollav, e à falta de exploração de sua emi­nência visual sobre a cidade, prineipalmente através de vistas ex­teriores. hiilretanto, o poder e a satisfação dessa imagem urbana particular - sua continuidade, sua humanidade e o prazer que propicia - são certa mente inconfundíveis.

A Praça S cot] ay

O caso da Praça Seollav é bem diferente. Settdo nm pomo tm- dal estrutura Imente vhal, parece contudo difícil de explicai mi

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descrever. Sua localização em Boston e sua função de intercâm­bio estratégico de tráfego podem, de novo, ser vistos na Figura 49. A Figura 60 c um mapa mais detalhado da praça, ilustrando suas características físicas principais.

A imagem pública da Praça Scoilay era a de um importante ponto de junção de vias em torno de Beaeon Mi II e entre a área central e o North Fnd. A ela vieram juntar-se as Ruas Cambrid- ge, Tremotd, Court fou seria a Rua State?) c uma serie de ruas que levam para a Doek Squarta Faneuil Hall, Praça Haymarket e North Idul. A Rua Hanover costumava ser um caminho evidente para o North Fnd, mas agora está bloqueada, o que gera confu­são. A Praça Scoilay era às vezes aumentada de modo a incluir a Praça Rowdoin, outras vezes não.

A entrada da Praça Pemberton geral mente não era lembrada, a não ser pelos mais velhos. A Rua Cambridge, no entanto, liga­va-se ciaram ente á Praça Scoilay, e sua curva era viva. Não se ignorava que a Rua Tremont passava pela praça, mas sua entra­da não era notável nem sempre certa. Muita gente pensava que a Rua Wasliitigton ia dar na praça, e a confusão era comum en­tre as Ruas Tremont e Court e a presença imaginária das Ruas Washington ou State. Se excetuarmos a Rua Hanover, obstruída, as mas em direção à Doek Square, ao North Fnd ou ã Praça Haymarket não eram individualmente conhecidas ou diferencia­das. Como um grupo, pareciam descer a colina fazendo curvas. De tudo isso, o mais importante eram as relações gerais de ní­vel: Beaeon Hií] ficava acima, a Praça Scoilay era como qne um platõ de encosta em declive: as Ruas Cambridge e Tremont se­guiam cm volta dos contornos: as outras ruas desciam colina abaíxo.

A praça não tinha forma, era difícil de visualizar, “nada além de mais um cruzamento de ruasT embora o fim da Praça Row- doín fosse um pouco diferenciado do restante. A característica principal era a e nt rada central do metrô. Havia um tom difuso e reconhecível de deterioração, de uso marginal e diversão Ale classes baixas” .

Mais de metade das pessoas entrevistadas concordou com u seguinte:

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A Rua Cambndge entra nela; curvando-sc c afifando-se ao fazê-lo.A piaça fica a meio caminho de uma colina, e as ruas sobem ou des­cem por ela.

Mais de um quarto dos entrevistados acrescentou:

A Rua fremotu corre em direção a ela.Há uma entrada de metrô no meio.A Rua Hanover entra nela.A Rua Court sai dela, curvando-se ao desce]- a colina (ou seria a Rua State?)

Pelo menos três puderam dizer:

As iuas descem em direção a Dock Square e ao Fanetúl Hall. Existem bares ali.Há uma ceRa rdaçào confusa com a Rua Washíngton.

As perguntas feitas nas ruas só provocaram os seguintes co­mentários, por sua vez frequentemente repetidos:

iica na linha do metrô.A Rua Tremont chega até da.

Duas ou quatro pessoas abordadas nas ruas puderam acres­centar estas idéias:

A Rua Cambndge chega até ela.A Rua Washington chega are da (errado).Há uma estação de metrô no meio.As ruas sobem ou descem em direção á praça.As suas que vêm. do Nortli End chegatn ate ela, para além e sob a Artery.Cinemas.bsna Praça de Boston justo um cruzamento.Ema "grande" praça, um "lugar muito grande".Uma garagem numa das extremidades.

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Nitidamente, os comenta ti os foram lacônicos cm comparação com o que se disse sobre Beacon HilL a não ser pela enumeração das vias que fazem conexão, as quais são descritas em leimos abstratos e frequentemente eotdundidas umas com as outras. Ain­da assim, a Praça Scollay desempenha um papel estruturai de grande importância cm Boston, por mais sombria que seja a sua aparência.

A Praça Scollay real ê, no plano, um espaço bastante ordena­do, sendo a praça propriamente dita (da Rua Sudbury a Rua Co uri) formada por um longo retângulo com pequenas ruas que entram a intervalos regulares. No plano, o sistema viário tem

fig. 63. KLiíii £■ KÍeCcIc í. fTdOi Sío láy

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uins cesta j ac i o tia J idade: trata-se dc um espaço cm forma de siiso, com ires filamentos adicionais de um Jado c dois do outro, f.m três dimensões, porém, essa ordem na o se evidencia: os la- dos denteados e o voJume do tráfego fragmentam o espaço, e o terreno em declive também perturba. Se alguma coisa tende a resgatar nossa sensação de estabilidade, 6 o grande cartaz que b.ea de fienie para a praça na esquina das Ruas Sudbury e Cam- lurdge, um anúncio espalhafatoso que arremata o espaço firme­mente. ainda que sem elegância.

A forma das vias é obscura porque um dos braços do fuso. a Rua Sudbury, tem o aspecto de uma rua rei a ti vam eme sem im­por landa, e muitas das entradas para as mas são difíceis de dis­tinguir. A sensação de estar em declive impregna a região e seus üíiedores, e, apesar de destruir a sensação geral de estabilidade espacial, constituí a chave principal para as relações com áreas ha a do campo de visão.

Ü espaço continua para o noroeste, escoando pela larga Rua ç ambridge até a Praça Rowdoin, que é mais propriamente uma

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2QG A IC1AGE?/ DA CIDADE

interseção, uma inflexão da própria Rua Cambridge. Entre as Praças Bowdoin e Scollay, o espaço não apresenta qualquer tipo de forma ou controle, a tal ponto que, excetuando-se a indicação fornecida pelo fluxo do tráfego, fica exlremamente precário manter a direção nesse espaço. O tráfego é, de fato, uma impres­são dominante na área. A praça está continuamente cheia de car­ros, e as linhas de fluxo mais intenso transformam-se em vias principais, a despeito cie outras características visuais que pos­sam ter.

No interior da praça, há muito pouco nas estruturas físicas que nos possa transmitir alguma sensação de homogeneidade ou caráter. As estruturas são de muitas formas e dimensões, de vá­rios tipos de materiais, tanto velhas como relativameníe novas. O traço comum é apenas um aspecto predominante de deteriora­ção. Os usos e as atividades nas partes mais baixas têm, contu­do. um pouco mais de coerência, Dos dois lados da praça há uma seqüência contínua de bares, restaurantes baratos, galerias movi­mentadas, cinemas, lugares onde se oferecem serviços baratos, lojas de artigos de segunda mão ou de novidades - uma sequên­cia que só é interrompida por algumas lojas vazias do lado oes­te. Associam-se a esses usos tanto os detalhes físicos de facha­das e letreiros de pontos comerciais quanto os tipos de pessoas que circulam pelas calçadas, onde os sem-teto, os bêbados e os marinheiros de licença se misturam às multidões comuns dos centros urbanos. De noite, a Praça Scollay distingue-se mais fa­cilmente da massa representada pelo centro de Boston, uma vez que suas luzes, suas atividades e a população de suas ruas for­mam um nítido contraste com a cidade escura e silenciosa.

Assim, as principais impressões visuais da Praça Scollay são a falta de forma espacial, o transito imenso, as ladeiras íngremes e a homogeneidade da deterioração material, usos específicos e habitantes característicos. Em sua maioria, essas características não são tão íncomuns na cidade a ponto de transformar a Praça Scollay num lugar inconfundível. A deterioração e muitos dos usos são comuns a inúmeros locais que margeiam a região cen­tral, e a combinação especial de uso e habitante se repete, com maior intensidade ainda, ao longo da Rua Washington entre a

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Rua Dover e a Broadway O caos espacial numa múltipla imorse- ção de mas ê um falo comum até mesmo em Boston, e outros exemplos, como a Praça Boivdoin, a Dock Square, a Praça Park, o Church Green ou as Ruas Harrison e Essex são fáceis de en­contrar. A íonga planta retangular da Scollay pode ser única, mas não é visualmente expressiva. O declive desse ponto Etodal, bem como sua relação estrutural com Boston como um todo, consti­tui sem dúvida sua característica principal em termos de identi­ficação.

Como a Praça Scollay desempenha seu papel mais importan­te- enquanto confluência de vias, é fundamental que a vejamos não estatícamente, mas sim do modo como se revela ao nos apro- ximannos e ttos afastarmos dela. O acesso a partir da Rua Tre- mont, que entra íigeiramente em seu espaço, revela o ponto nodal como um rebaixamento da massa de edifícios, o limite evidente do centro comercial, com uma primeira vista de um velho prédio de tijolos e um anúncio na esquina de Cornhitl, Eogo seguidos por um desmembramento do espaço e por letreiros velhos e gas­tos à esquerda. Há uma forte impressão geral de aglomeração de carros.

A Rua Washington leva basicaEmente à Dock Square, e a Rua Court, que é a conexão com a Scollay, parece ser apenas uma rua ira tis versai indistinta e de menor importância, ainda que a esqui- Eia seja marcada pela Old State House. A Rua Court leva, de um jeito oblíquo e rebuscado, até a Praça Scollay.

A Rua Cambrtdge avança seguramente para o sudeste, como se procurasse um objetivo nítido e de grandes dimensões, ainda que desprovido de feições características: oTefephone Building, na Praça Bowdoin. Aqui, porém, a via se transforma num caos espacial que perde por completo todo e qualquer sentido de ob­jetivo ou direção. Um pouco mais adiante, à direita, só uma cur­va na Rua Sudbury evidencia a configuração característica de liares, altos prédios de escritórios mais atrás e uma estação de metrô no centro.

As ruas que descem a colina - Sudbury, Hattover, Bnude e Cornhill - transformam-se etn ladeiras ao se aproximarem da pmça. Cada uma delas passa a sensação de abrir-se para a fren-

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te, e talvez de um adensamento de bares e outros usos afins, mas em geral a própria praça é bem menos perceptível, antecipada- meme. do que o County Courtbouse Annex na Praça Pcmberton, que domina a linha do horizonte. A Praça ScolJay parece ser sim­plesmente uma extremidade ou curva da rua. A curva ascenden­te de Combili 6 uma agradável experiência espacial em si mes­ma {como pretendia quem a planejou), mas a chegada á Praça ScoIIay nào tem interesse algum. Também na parte superior da colina, na Praça Pcmberton e na Rua Howard. a Scollay é indis­tinguível. Assim, só a Rua Cambridge, apesar da ccmfusão para além da Rua Bowdoúi, tem um acesso dotado de alguma quali­dade em termos de identificação.

A saída pela Rua Cambridge também é relativa mente ciam, enquanto a Rua Hanover, que já foi importante no passado, tor­nou-se agora praticamente impossível de distinguir do restante, a nào ser por sua largura um pouco superior á medí a. A Rua Sud- buryh que hoje tem um tráfego considerável, também parece, em decorrência de seu tamanho e sen uso limítrofe, ser uma via de importância extrema mente secundária. Vista a partir do norte, a entrada para a imporia nte Rua Tremont faz uma curva aguda e fica quase invisível. Muitos entrevistados tiveram dificuldade para localizar essa saída, mas. uma vez encontrada, a direção ao longo da Rua Tremom torna-se bastante clara, com o apareci­mento contínuo de indicadores como o Reacon Hill Thealer, a Parker House, a Kings Chapei, o Tremont Temple, o Granary Burying-Ground e o Comutou.

O espaço da praça leva forte mente colina abaixo e ligeira­mente para a esquerda através da Rua Court, ainda que o tráfego de automóveis contradiga esta impressão pelo fato de ser, nesse ponto, de mâo única em sua subida para a Scollay. Se continuar­mos descendo pela Rua Court, nào veremos nenhuma indicação da presença da Rua Washington; só teremos consciência da Gíd State House e de um espaço confuso. Assim, a relação entre a Rua Washington e a Praça Scollay torna-se obscura em ambas as direções.

Para aumentai' a confusão, a Rua Court e C omiti U entram na praça muito próximas entre si. mas, apenas um quarteirão adian­

te, seguem destinos que, psicologicamente, parecem tão aparta­dos quanto os da Rua State e da Dock Square. Mais uma ve/., concluímos que, em termos de movimento de saída, a Rua Cam­bridge é a única que se pode identificar com clareza, embora a perturbação na Rua Tremont seja muito breve.

Por vistas do espaço circundante, e não apenas ern decorrên­cia de snus ladeiras e vias, a Scollay adquire uma certa ligação com o exterior. Essas vistas incluem o Telephone Building, na Praça Bowdottt. e o Court house Annex, na Praça Pcmberton (que arquitetonicamente quase nào se diferenciam, a não ser por suas diferenças de altura), e também a Torre da Alfândega, ex trema- mente identificável e visível, no lado sudeste, como o sinal de que se chegou ã extremidade inferior da Rua State e ao limite das águas. G mais surpreendente de tudo é a massa de edifícios de escritórios que dominam o horizonte em direção ao sul; eles in­dicam o bairro da Praça Post Office e deixam clara a posição marginal da Praça Scollay na orla do centro comercial.

Ao contrário de Reacon Hill ou da Avenida Commomvealth. a Praça Scollay é essenciaimentc invisível do exterior, a não ser no contexto de aproximação imediata da mesma. Só os mais ve­lhos se lembrariam, ao avistarem o Courtbouse Annex ã distân­cia, de que ele fica muito próximo da Praça Scolley.

Intemamente, não são muitos os elementos que diferenciam direções ou partes da praça. O principal marco interno é a entra­da do metrô e uma banca de jornais e revistas que ocupa um pe­queno espaço ovalado tto meio do tráfego. Mas isso também nào se destaca, sendo difícil de distinguir à distância. Parece ser pou­co mais que um anúncio em letras amarelas e um buraco no chão. Seu impacto 6 reduzido pela presença de uma estrutura se­melhante num espaço igual mente ovalado um pouco atrás. Con- ludo, essa segunda abertura para o metrô só funciona como saí­da, com poucos usos c nenhuma banca, o que faz dela um espa­ço percept iva mente "morto”. A entrada do metrô, que pareee a todos ficar “no meio” da Praça Scollay, na verdade fica quase na sua extremidade. Outro detalhe surpreendente da praça è a iaba- caria com anúncios luminosos na esquina das Ruas Pemberton e Tremont, que fica na base da parede do Suffolk Bank, eorn a qual co n i ra sta ag ud a tnen te.

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2G8 A iVÍAGSfvl DA CiDADL

F/g. 62. Os eiemerroi visua s da Pra;a S;oNsy

Existem poucos indicadores de direção no interior da Scollay, com exceção do declive lateral e das linhas de tráfego dominan­tes que lhe conferem um sentido axiaL Não há nenhum gradiente razoável no espaço ou na massa de edifícios. Os edifícios altos que dominam o horizonte ao sul e o anúncio terminal ao norte são as principais diferenciações de direção no contexto da praça.

Ainda assim, há fortes sinais de direção dentro da variedade de usos e atividades do local. A densidade de pedestres e de trá­fego é maior na extremidade sul, onde há atividades do tipo que geralmente se encontra nos centros comerciais: farmácias, res­taurantes e tabacarias. Alt, o fluxo de pedestres é a mistura habi­

AiÃNDià J (I y

tual de empregados de escritório e balconistas. As lojas de pro­dutos baratos tendem a predominai1 mais a leste do que a oeste da praça, enquanto os albergues e os hotéis ficam no lado oeste, adentrando os limites da área de transição de Beacon Hill á me­dida que sobem. Aqui, os pedestres são aqueles popularmentc as­sociados à Scollay. O grande número de sebos em Cornhill é ou­tro indicador interno. Os limites setentrionais da área vão darem depósitos e armazéns. Desse modo, ainda que incipiente em ter­mos físicos, a Praça Scollay é internamente diferenciada e estru­turada pelas ladeiras, pelo trafego e pelos tipos de uso aos quais se presta.

Portanto, a praça precisa de uma identidade visual que esteja à altura de sua importância funcionai: a concretização de formas potenciais como o espaço retangular, o modelo viário fusiforme, as plataformas nas laterais da colina. Para cumprir seu papel es­trutura], a junção de cada uma de suas vias importantes deve ser claramente explicada, tanto interna como externamente. Em ter­mos potenciais, poderia desempenhar a função visual ainda mais extraordinária de ponto central da antiga cabeceira da península de Boston, de eixo de toda uma série de bairros (Beacon Hill, West End, North End, região do mercado, bairro financeiro, cen­tro comercial), de ponto nodal de vias tão importantes quanto as Ruas Tremoni, Cambridge, Court-State e Sudbury. Também teria a desempenhar o papel de personagem centrai da tríade descen­dente de terraços nodais: as Praças Pemberton, Scollay c Doek. A Praça Scollay não é apenas um locai de usos que deixam a ílgente íina,f constraEtgida - é também uma grande oportunidade visual que se perdeu.

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ín d ic e r e m is s iv o *

Acrópole, 140 Aérea, viagem, 127 Aeroportos, 83 Agua. 49 Albany, 156 Aleuías, 150, E59 Alpes. 150Ambiente, alteração, 50, 124.

IS2desvantagens do ambiente

visível. 159 exploração, 122 identificação. 3 imagem, 4natureza simbólica, 134 percepção, 13 transformação do, 14

Aparência, 11 Ártico, 150A tantas. 143, 0 44, 146, 143, 151,

153, 159Asbantis, 143, 153 Assam, 153

Auto-estradas, 55

Bairros (t-er íambèm bairros de Boston, Jersey City e Los Anseies). 52/74-81, 93, 115- 117, 148características, 74 confusão como indicador, 75 conotações sociais, 50, 76 continuidade, 115 continuidade temática, 75 conmaste entre, SQ estrutura, 7S, 116 fronteiras, 316

sólidas ou flexíveis, 77 homogeneidade de fachadas,

75homogeneidade interna, 77 identidade, 76 importância diferente, 75 introvertidos, 79 [ineares, 56 mosaicos, 80, 116

íLs números em itálico referem-se a ilustrações.

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218 A imagem da cidade

nomes, 76por radiação, 78, H4 unidade temática, 76, [ 15 visibilidade. 116

Barreiras, 52, 111 Beaeon HiU, 22, 22, 55, 60. 70,

76,77.79, 80, Kl, 174, 185- 200área governamental. I 95 e ara e te rís i iea s d i ferenci adas.

198come obstáculo ao trânsito.

199descrições aras entrevi si as, 187 elementos temáticos, 191, 192 entrevistas nas ruas, 188 forma espacial, 189, 190 lado anterior, 187, 194 lado posterior. 187, 194 ligação com a estrutura da

cidade, 198 localização, 186 mapa, 186 marcos, 194, 197 parte inferior, 194 mas, 194-195 subáreas. 192, 193 topografia, 189, 189 unidade temática, 193 usos comerciais, 194 visibilidade externa, 199 vistas a partir de, 195 West End. continuação de. 71 zona de transição, 195

Bcverly Hills, 45 Biitet, M. A.. 142 Boston, 11, 17, 19-28

ambiguidade da forma, 25 analise de campo, 21, 169 áreas em branco. 24 características, 20

dificuldade de imagem. 18, 28 elementos distintivos. 169 elementos que sc sobressaem,

22estrutura, 23, 23 imagem a partir das

entrevistas, 168: imagem a partir das

entrevistas de rua, 175 imagem a partir de esboços,

ÍóSinterseções, 64limites (ver Boston, limites de) mapa em tinhas gerais, 21 península, 20, 23, 64, 69 l^ontos nodais (ver Boston,

pontos nodais de) vias (ver Boston, vias de) vistas, 22

Boston, bairros de, 25, 77 Back Bay, 23, 25, 64, 67, 67,

70. 76, 77bairro do mercado, 22, 78. 79 bairro financeiro. 56, 68, 94 Beaeon Hítt (ver também

Beaeon HiU), 22, 23. 55. 60, 70, 76, 77.79.80,81. 174,185-200

Chitiatown, 79 Common, 20, 23,24,25, 61,

63.78, 174, 198 CoppsHill, 198 Estação Norte, área da, 174 Jardim Público, 23, 55 Nortb End, 22, 27, 71, 75, 78,

174Praça Seollay. 23, 49, 81, 85.

86, 94. 187. 199-209, 208 South End, 59, 62, 68. 76, 77.

174“triângulo esquecido’) 24, 71

Page 214: A Imagem Da Cidade Kevin Lynch FINAL

West End, 7]. 80. J 74 Boston, limites de

porto, 23, 64, 69 rio Charles. 20, 22, 23, 48, 55,

64, 69, 70, 72, 374, 198 rio Mystie, 70 South Bay, 70

Boston, marcos deAlfândega, 90, 91, 207 Assembléia Legislativa, 2L

88, 90, 95, L87, 195, 796 Edifício John Hancock. 89,

90, 93, 174 Faneuil HaÜ. 78, 88 Old South Mccting House, 61 Symphony Ffal3, 61 Telepbone BuikFmg, 90

Boston, pontos nadais tlc CEiurch Green, 64 Doek Square, 67, 78, 94 esquina Jordan-Filenc, 85 Estação de I3ack Bay, SI Estação Sul, 83 estações do metrô, 82, 207 Praça Bowdoín, 200 Praça Coptey, 22, 23, 65, 86 Praça Detvey, 48, 86 Praça Haymarkcr, 78 Praça Louisburg, 22, 85, 187,

196,197Praça Park, 27, 65 Rotatória da Rua Charles, 23,

70, £2, 83 Boston, vias de, 25

Avenida Atlantic, 22, 23, 27, 56, 57, 59, 62, 64

Avenida Co [umbus, 68 Avenida Commomvealth, 22,

23, 56, 57, 57, 59, 64. 68. 75,174

Avenida Fiuntington, 23, 65

Avenida M assacou seus, 23,58, 62, 64

Avenida Shawmut, 58, 68 Barragem do rio Charles, 58 Centrai Artery, 26, 27, 58, 63,

65, 70, 7í"ferrovias elevadas, 72 passagens subterrâneas, 64, 65 lAmte Longfeiíow, 58 quadneula de Back Bav. 25.

64, 67Risa Ariington, 58, 64 Rua Beaeon, 23, 55, 56, 59,

60, 63, 64, 68, 7L 187 Rua Boylston, 25, 62, 65 Rua Cambrídge, 23. 55. 58.

59, 60, 64^73, 174, 387, 200, 205, 206

Rua Causevray, 27, 59 Rua Charles. 55, 62. 64. 65.

71, 387, 395 Rua ChesEnut. 190 Rua CommercíaE, 27, 59 Rua Cornhíll, 205 Rua Court, 206 Rua Hanover, 27, 62, 73, 200 Rua Joy, 187 Rua Marlboro, 68 Rua Mt. Vernon. 3 87 RuaMyrtlc, 387 Rua Nasliua, 65 Rua Newbury, 68 Ruas do South End, 62. 68 Rua Sutnmer, 62 Rua Tremont, 23. 25, 58. 62.

65, 68, 3 74, 200, 205, 206 Rua Washington. 22. 23. 55.

59, 60-62, 65, 66, 20Ü Storrow Drive, 26, 58, 65, 70

Bríglrton, 357 Brown.W., 142, 349

Page 215: A Imagem Da Cidade Kevin Lynch FINAL

Campo, análise de, IS, 165-166, 178Boston. 169 Jersey City, 177 Los Angeles, 173 sobreposição com entrevistas,

174"Cantri, E4S Carolinas, ilhas, ió \Charles, rio, 20, 22, 22, 48, 55,

64, 69, 70, 72, 174, 198 Chicago, M, 72, 75 Clricbester, 157 China, norte da, J 46 Chuekchce, 145Cidade, deslgti, 2, 129, 122, 182

imaginabindade, 12, 102 vistas (ver também Espaço).

49Classe, distinção de, 50 Combray, 145 Complexo, 94 Concentrações, 52 Continuidade, 118 Contraste, 50, 117, 122 Controles para chegar ã forma

urbana, 117 Costura, 52, 71, 111 Cornelz, V, 152 Correlações entre combinações

de esboços de mapas e entrevistas, 166

Curvatura, percepção de, 60

Design urbano (ver Cidade, destgn)

de Silva, H. R., 12 Desorientação, =41, 153 Diagramas simbólicos, 12, 182 Diferenciação direciottal, 118

diminui a comunicação, 160

Direção a um ponto-basc, 146 Direções cardeais, 145 Direções de navegação, 152 Distância, escala, 158 Distribuição rcsidencial, 175 Dobu, 156

Elementos distintivos da imagem urbana, 167, 1Ó9, 171, 173 contigüidade, 166 inter-relação, 95, 121 pares, 92sobreposição, 174 tipos, 48, 52, 177

Elevações tumulates da Austrália, 147

Emily Gap, 140 Entrevistas, como método de

analise, 18em calçadas, 163, 174 cm massa, 178 escritório, 161-162 imagem de Boston derivada

de, 168imagem de Jersey City

derivada de, 170 imagem de Los Angeles

derivada de, 172 na rua Boston, 775 sobreposições de imagens

urbanas derivadas de, 174 tamanho e composição da

amostra, 175 Esboços, 178

estrutura, 167imagem de Boston derivada

de, 168imagem de Jersey City

derivada de, 170 imagem de Los Angeles

derivada de, 772

Page 216: A Imagem Da Cidade Kevin Lynch FINAL

!CE fiíXnSSiVü 1?%

sobreposição, 174 Espaço, hierarquia de, SC

impacto, 48 Esquimós, 151. 153 Estações de metrô, 63, áJi Estruturas de Imagens

ambientais. 9 falta de, 141 flexíveis, 99intcr-relação com identidade,

93livres, 98 posicionais, 98 rígidas, 99

Estudos comparativos, 179 segunda série, 180

Ferrovias, 63 elevadas. 73 estações, 81-83

Fiith, R., 147 Flanagan, T., 134 Florença, 103, 102, 143, 147

Duomo, 91, 91, 103, 134 Focos, 147Formação da canoas, 153 Forma, papel da, 352, 356

qualidade de, 117-121 Forster, E. M.: ] 58

Gaíty, H., 151 Gay, J., 156 Geoghean, R. H., 359 Geomancla, 160 Gil], E., 357 Gradiente, 60, 308 Grupos de estrelas, 15]Grupos de Ilhas, 150

I lackensack, rio, 73 I íalbwachs, M. 143, 144

Havaí, 105IRerarquia, da organização

metropolitana. 125 do espaço, 56

F3o33and Tunnel, 55

Identidade, 7na imagem ambiental, 9 inter-rdação eom a estrutura.

93Imagem, abstrata, 98

aberta. 10, 160 adaptável, 100 ambiental, 5 coerência, 7 como campo total 182 como organizadora, 143 componentes, 10 comunicabil idade, 10. 160 concreta, 98 continuidade, 122 coordenadas, 142 densidade, 97 descritiva, 177 desenvolvimento, 96, 181 diferenças de grupo, 176, [80 distorção, 97 economia, 30 estrutura, 98-99 estrutura flexível, 98 estrutura posicionai, 98 estrutura rígida, 98 exploração estimulante, 122 expressiva, 127 função, 140 lúerárquica, 100 metropolitana, 125 mudança, 54, 96 uiveis, 95 organização, 151 papel emocional, 344

Page 217: A Imagem Da Cidade Kevin Lynch FINAL

222 i-

papel SOCÍLlK 143 plasticidade, 124 processo de formulação, 7-8 pública, 8, 18, 51. ] 79 sequencial, 99 suficiência, !0 tipos, ÍSiÚíIe. características de, 10 variante dc organização, 123

Imaginabilidade [ve/- kimhém Legibilidade, Visibilidade, Aparência) definição, 11 vai ore s, 5

Indicações, 14Interseções, 84, 109 [ver também

Boston)

Jaccard, P, 14], ]46, 148, 152, 153,155

Jersey City, bairros, 29 “Bergen Sectioiv’, 30 West Side Park, 36

Jersey City, características, 32 análise de campo, 30, 30, 777 arranha-céus de Nova York,

31bairros (ver Jersey City,

bairros de)elementos distintivos, 377 elementos expressivos, 30 falta de imagitiabi]idade. 33,

36ferrovias elevadas, 72 gradientes de uso e

conservação, 35 imagem a partir das

entrevistas, 379 imaeem a partir dos mapas,

7 70sinalização das mas, 36

vistas, 564 34 zona portuária, 71

Jersey City, limites de, 32 PaÜsades, 29, 55 rio ílackensack, 71 zona portuária, 71

Jersey Cdy, marcos de, 32anúncios luminosos da Praça

Journal, 36Centro Médico dc New

Jersey, 30, 32, 36, 88 Hamilton Park, 35, 36

Jersey City, pontos nodais de, 32 Hamilton Park. 35, 36 Praça Journal, 27, 30, 37, 49,

82, 85Rotatória da Avenida

Tonneile, 33, 65, 66, 81 Van Yorst Park, 36

Jersey City, vias de, 32 Avenida Pa ir vi ew. 35 Avenida Montgomery, 30 Avenida Nevvark, 30 Bergen Boulevard 66 Communipav-Grand, 30 Hudson Boulevard 30, 59,64, 66não-convergêneia das três

mas principais. 61 Pulaski Skyway, 33 West Side Boulevard 66

Junção, clareza de, HS Junções, 52, 81-84

Kawaguchi. 155 Kilpatrick, H P. 13

Labirinto, 6 Lago Khotgyal, 154 Lago Michigan, 73 Legibilidade, 3, 4, 11 {ver também

Page 218: A Imagem Da Cidade Kevin Lynch FINAL

NOiCE RíWiSSiVO 223

Aparéncia, [maginabLlidíide, Visibilidade)

Lewis, C. S., ]40 Lhasa. 14Ü Limiar, 167Limites (vw füinbéin limites de

Boston c Jersey CitvL 52. 69- 74, l íü-l ] ] acessibilidade, l ] J alinhamento, 70 capacidade de ruptura, 7J como barreiras, 52, 11] como fronteiras. 7], 78 como vias, 72 continuidade, 69, ! 10 contraste entre, ] J ] diferenciação de uma

extremidade a outra, 111 diferenciação direciona], 73 diferenciação imeríor-

exteríor, 11 ]efeitos desorganizadores, 7S elevados, 72 fragmentários, 70 orientação para, [46 penetração, 71 terminais, i \ í tipos, 52 visibilidade, 112

Linear, série, 147 "Linhas dominantes”, 154 troca!idade, 94 Los AngeEes, 17, 36-47, 177

análise de campo, 37. 173 aproximação do centro, 45 auto-estradas, 46, 56. 60.

65-66bairros (vcjr Los Angeles,

bairros de) características. 45, 47 cor, 46

descentralização, 37 diferenciação direciona], 43 distinções de classe, 42 elementos distintivos, 173 estrutura, 38 gradiente de idade, 45 idade, 47imagem s partir das

entrevistas, 172 imagem a parti]' de mapas

esquemáticos, 172 marcos (ver Los Angeles,

marcos dc) organização geral, 47 pontos nodais (iw Los

Angeles, pontos nodais de) ruas longitudinais, 42 ruas transversais. 42 símbolos, 47 Stttog. 46 topografia, 46 traçado, 36, 56, 62, 64, 67 vegetação, 42vias (Ver Los Angeles, vias de) vista aérea, 38 vistas terminais, 43

Los Angeles, bairros de, 40, 45 Beverly Mills, 45 BuEtker Hill. 40. 43. 47. 79.

HOCívic Center. 38. 39. 40, 44.

48Liltlc Tokyo, 40 setor financeiro da Rua

Spríng, 39 Skid Rovv, 38, 39 Transportation Rotv, 39 Vale de Sair Fernando, 45

Los Angeles, marcos de, 39 Auditório da Filarmônica, 39.

90

Page 219: A Imagem Da Cidade Kevin Lynch FINAL

224 A IMAGEM UA ODADE

Biblioteca Pública, 39, 43 Caixa Econômica Federal, 39 Edifício Richtleld Oil, 39. 46.

89Hall ofRccords, 88 Hotel Bilttnore, 39, 41 Hotel Statler, 39,43, 61 Laja de Departamentos

Rulloek, 39Loja de Departamentos

RobEnson, 39“pequena sen boia cinzenta”,

89, X9Prefeitura, 39,46, 88 Union Depot, 39

Los Angeles, pontos nodais de, 41 Praça Pershing, 38,40, 40,

47, 84, 86^Rua PEaza-Glvera, 38. 40. 43

43, 47Los Angeles, vias de, 41

auto-estradas, 46, 56, 60, 63, 65-66

Broadwav. 38. 39.41. 42, 97, 56

Harbor Freeway, 38, 72 Hollywood Freeway. 38. 44,

72quadricuta. 36. 58, 62, 63, 68 Rua 1, 42 Rua 6, 42Rua 7, 38, 39, 41, 47, 61 Rua Alameda, 44 Rua Flgueroa, 72 Rua Flower, 42 Rua Grand, 42 Rua Hilí, 58 Rua Hope. 43, 58 Rtta Los Angeles, 72 Rua Olive, 42, 58 Rua 01 vera. 43. 57, 84

Rua Olympie, 72 Rua principal, 38 ruas longitudinais, 42 Rua Sprlng. 38 ]'uas tmÊiversais, 64 Sunsel Roulcvard, 59, 72 Wllsbire Roulevard, 47, 59

Lugar, 134 Luriícha, 140, 144 Lyon, 142

MacDonneEl, Cordilheira de, !57Malinowski. B., 142. 156Manhattan, 11Maoris, 159Mapas, nativos. 150Marcos. 88-92, 111-112. 149,

177 (ver também marcos de Boston, Jersey City e Los Angeles)clareza de forma, 112 conjuntos, 113 contraste espacial, 88 contraste figura-ptano de

fundo. 88 distantes, 53 isolados, 92 locais, 54, 91localização stas conexões, 112 ’lsem base”, 90 seqítências de, 92, 113 significado, 90 singularidade, 88, 112

Mares do Sul, 152 navegadores dos, 152

Medjbeb, 148 Mestied, 140, 147 Metrópole, desenho total de, 128

íontta de, 134 imaginabi! idade, 104, 125

Micronésios, viajantes, 146

Page 220: A Imagem Da Cidade Kevin Lynch FINAL

Migração, pássaros e insetos. J 54 Mínneapolis, [56 Mississippí, pilotos do rio, ] 53 Mobilidade, residencial, 124 Montanha sagrada, 155 Monte Everest. 13 Monte Reani, 158 Movíèticeud, consciência do, ] 19

Natural, conjunto, 122 Navegantes dos Mares do Sub

151,152Netsiliks, esquimós, 144, (50 Nomes locais, 120, 139 Nova York, 75, 156

arranha-céus, 31 Núcleos, 53

Ordem, em aberto, 7 Oregon Trail, 155 Orientação, 146, [49

sistemas de, 8

Paisagem, 104 ilegível, 5 italiana, 104 nova, 129

Paiutcs, 150 Paris, 343Pássaros, territórios dos ninhos

de, 154-155Percepção, adaptação da, 13, 151

extensão da, 13 Percepção cinestésica, 60 Percepriva, aprendizagem, 33 Pesquisa em design urbano e

percepção. 180-183 Peterson, J., 155 Pink, O. M, 148 Plano geral, 130 Plasti cidade, 123

Pôlderes holandeses, 1 5 Pontos nodais, 52, 80-86, 113-

114 {Ver íafübém pontos nodais de Boston, Jersey City e Los Angeles) conee tu rações, 84-85 extrovertidos, 86 forma espacial, 3 =4 fronteiras, 86 identidade, 113 introvertidos. 86 junção. 81-84, 3 33 ligações, 115 organização, 324 relação com a estrutura geral.

114Porteus, S. D., 143 Praça São Marcos, 67, 88 Praça Scollay, 23, 49, 81, 85. 86.

94, 187, 199-209, 292 ã noite, 204 aproximações de, 204 caracteri sti cas d iferene iada s,

204como conexão, 200 descrição tias entrevistas, 201 elementos visuais, 208 entrevistas de rua. 20 E forma espacial, 203 ladeiras, 200 [igações, 205-206 localização, J86 mapa, 202 papel potencial, 209 pedestres, 208 saídas de, 206 trafego, 203, 208 usos!" 2 03, 208 visibilidade externa, 208 vistas de, 207

Prato! iní, V, 143

Page 221: A Imagem Da Cidade Kevin Lynch FINAL

226 A I VIAGEM DA LIDADA

Predomínio, 158, 126 “Presença'', 155 Prestígio social, efeitos sobre a

imagem, 166 “Principais", mas. 56 Processo de aprendizagem, 13 Proust, M., 145, 149 Puluwat, 14L 353

Rasmussen, K. L V. 150, 153 Raltray, R. S., 143 Reconhecimento Ibiografico, E 67 Reflexo no céu, 152 Regiões espaciais, 117 Regiões sagradas, 140 Residencial, distribuição, 376 Roma, 148

Saara, 148San Fernando. Vale de, 45 San Francisco, 11

apr oximação de, 110 Sandvvich, New Mampshire. 105 Sapir, E,, 150 Sequência, 127

contraponto, 128 de movimentos, 127 iiucrruptibil idade, 127 redes. 127 representação, 183 reversibil idade, 127

Scvcn D ia is (Londres), 156 Séries melódicas, 120 Séries temporais, 120 Sbipton, E. E., 13 Simplicidade da forma, 117 Significado, 120

da imagem ambiental. 9 Singularidade, 117 Sistemas referenciais, 145 Stefãnsson, V., 350

Strauss, A. L., 145Strehlow, C, 153, 159StuarPs 331uíf, Cordilheira de, 1 57

Tempo onírico, [43, 357 Temporais, séries, 120 Tibete, 144

Lano Kohgval, 354 Lhasa, 14ü'Montanha sagrada, 355

Tikopia, 142, 147 Marae, 140 Monte Reate, 15S

Topografia, 122, 149 Tráfego, obstáculos ao, 55 Treinamento do observador, 13,

131, 335, 382 Trobriand, ilhas, 142, 156 Trovvbridge. C. C.. 1 56 Tua regues, 151, [53 Tunísia, 153 Twain, M., [53

Vegetação. 49 (ver aunbéin Los Angeles)

Veneza, 11, 149,15S Praça São Marcos, &6> ruas de. 113

Vias, 46, 52, 80-86, 93, 115-114, 148, 177 (ver também vias de Boston, Jerscy City e Los Angeles) alinhamento, 62 arbovizaçào como reforço da

imagem, 57atividade ao longo das, 55 bifur cação, 65características de fachadas, 56 clareza direcional, 107 como limite, 58 continuidade, 58, 107

Page 222: A Imagem Da Cidade Kevin Lynch FINAL

227

de mâo única, 66 destinação, 60. 107 diFereneiaçao direcional. 60-,

6L 107 escala, 62, 108 estrutura, 58, 65, 109 exposição visual, 58, 108 hierarquia visual, J06 identidade, 56, ]Ü7 interseções, 64, J 09 mudanças direcionais, 62 organização melódica, J10 origens, 60qualidades espaciais, 56 quadrlcuía, í 10 redes, 67, ] 10sensação de movimento, I0S separação do resto da cidade.

sinalização nas auto-estradas. 63

textura da pavimentação, 57 trevos das auto-estradas, 65

Visibilidade, J I {xvr samhútnApa t ene ía. Legibilk:Imaginabiu.dade j•uai, alcancer, 119isnal, plano’ 129base para, 1í 19

Waddei], L. A., 153 Wiíkin, IV A., 143 WohL R. IV, 145

Yung, £., ] 50

65

Créditos fotográficos

Rí-sban 13ictiajiarr: Figs, 4, 6, 7, II, 12, 13, 21, 22, 23, 26, 28. 29, 30. 52, 55, 58, 59, 61

Levantamentos Aereofotogrametricos Fairebiid: Fias. 1.9, !5, 24 MiíiEStecios do Turismo da Itália: Figs. 31. 34 (lordon Sommers: Figs, 16, 17, IS, 19, 20. 27. 32

Page 223: A Imagem Da Cidade Kevin Lynch FINAL
Page 224: A Imagem Da Cidade Kevin Lynch FINAL

Este livro trata da fisionomia das cidades, do fato de essa fisionomia ter ou não alguma importância e da possibilidade cie modificá-la. Entre seus inúmeros papéis, a paisagem urbana também é algo a ser visto e lembrado, um conjunto de elementos do qual esperamos que nos dê prazer. Dar forma visual á cidade é um tipo especial de problema de design, e, de resto, um problema re 1 at i va mente reeenl e.Para examiná-lo, o livro analisa três cidades norte- americanas: B o sIoep Jersey City e Los Angeles. Sugerindo um método por meio do qual poderiamos começar a lidar com a forma visual em escala urbana, propõe alguns princípios básicos de design urbano.

ÍS&N £0336-0530] IJI.

33 606310