a história das penas é sua evolução epistemológica

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  • 7/23/2019 A Histria Das Penas Sua Evoluo Epistemolgica.

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    EZEQUIEL SCHUKES QUISTER

    A histria das penas e sua evoluo episteol!i"a#

    A histria das penas a histria do homem, pois ela surge de suas reflexes sobre o

    contexto que o cercava, sobre sua condio de membro de um grupo, bem como de sua

    percepo como pessoa, como individuo. Esse reconhecimento ou construo da pessoa

    humana possibilitou ou fomentou no ser humano o ser social, inserido em um cenrio onde

    ele, !untamente com seus pares, precisou estabelecer regras de conviv"ncia com ob!etivos

    comuns ao grupo. #ogo, falar da teoria da pena falar tambm dos primrdios do processo

    civili$atrio.

    %egundo Eug"nio &a'l (affaroni e )ose *enrique +ierangeli num passado remoto

    surgiu a concepo de vingana privada, entendida como o embrio primitivo de uma forma

    de pena muito particular. epois, ao longo da histria, o Estado toma para si este encargo e, !

    na modernidade, a concepo humanista da pena surge como uma consequ"ncia natural de

    uma reflexo sobre o modelo penal existente -//0, p. 1234.

    esde o 5digo de *amurabi, tido como o mais antigo cdigo penal conhecido, muita

    coisa mudou. %e na poca deste cdigo as penas tinham cunhos religiosos, at porque o

    Estado e religio praticamente eram a mesma coisa, ho!e essa separao foi necessria.

    6ecessria porque o individuo passou a ser considerado o ob!etivo final da pena, servindo

    como exemplo 7 sociedade de que o crime no compensa. Antes, no per8odo arcaico, alm da

    funo social a pena ainda tinha por finalidade purificar o indiv8duo e saciar os euses. Era

    uma espcie de vingana moral9religiosa exercida na terra. 5ada povo tinha sua maneira de

    expiao atravs de penais contidas em codificaes, costumes e mesmo oriundas da tradio

    oral, como no povo hebreu, por exemplo. Antes da #ei :osaica, fruto dos e$ :andamentos,

    tudo era passado de forma oral.

    ; per8odo greco9romano foi, certamente, o marco de uma transformao da legislao

    penal, pois, a partir desse per8odo ela perde relativamente seu carter cruel, e ! deixara o

    aspecto religioso de expiao para manter9se laica, em certa medida. 5omo citam (affaroni e

    +ierangeli, as marchas e contramarchas na evoluo histrica penal so uma constante -//0,

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    p. 1per8odo das trevas?, a @dade :dia.

    6a @dade :dia as penas, por questes ainda religiosas, carregavam o aspecto punitivo

    do corpo. A "nfase em um ireito divino, neste caso representado fortemente pela igre!acatlica, promovia no individuo uma reduo do conceito do eu, doutrinando9o que os

    aspectos de suas dificuldades em sua vida tinha uma ra$o em uma vontade divina. #ogo,

    aqueles que representavam eus na terra tambm eram responsveis pelas condutas e pelos

    castigos aos que nela ou dela se afastassem. At a chegada do iluminismo, no sculo B@@@, as

    concepes de pena na @dade :dia eram exercidas sobre um corpo, uma materialidade que

    representada um corpo social. +orm, com a chegada da poca das lu$es, o iluminismo, o

    individuo passa a ser o centro do pensamento, e como consequ"ncia as penas adquiriem umsentido mais procedimental, caracteri$ando assim uma maneira de condu$ir a sociedade no

    pelo horror da tortura, mas pela reflexo de seus erros.

    6o fim do sculo B@@@ e comeo do @, a despeito de algumasgrandes fogueiras, a melanclica festa de punio vai9se extinguindo.

    6essa transformao, misturaram9se dois processos. 6o tiveram nem

    a mesma cronologia nem as mesmas ra$oes de ser. e um lado, asupresso do espetculo punitivo. ; cerimonial da pena vai sendoobliterado e passa a ser apenas um novo ato de procedimento ou deadministrao -C;D5AD#, //F, p 114.

    ; teatro de horrores das penas substitu8do por uma concepo de pena que se

    assemelha ao modelo existente na modernidadeG a pena deve ser de cunho punitivo e

    pedaggico, ! que a inteno, fa$er que os cidado se desviarem da senda do crime no

    pelo castigo propriamente dito, mas pela certe$a de que ele ocorrer. 5omo disse Heccaria > a

    certe$a de ser punido que deve desviar o homem do crime e no mais o abominvel teatro?

    -C;D5AD#, //F, p 14. ; abandono do >teatro de horrores? que outrora fora as penas

    corporais do lugar a um tipo de pena baseado em aspectos sub!etivos. 6essa nova seara do

    pensamento criminal9penal, fatores da prpria civili$ao moderna serviram como motivo de

    reflexo sobre o que realmente se deve pelo castigo penal, ou sanso penal. 5omo disse

    Coucault, surge a >penalidade do incorporal?.

    ; afrouxamento da severidade penal no decorrer dos 'ltimos sculos um fenImeno bem conhecido dos historiadores do direito. Entretanto,foi visto, durante muito tempo, de forma geral, como se fossefenImeno quantitativoG menos sofrimento, mais suavidade, mais

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    respeito e JhumanidadeJ. 6a verdade, tais modificaes se fa$emconcomitantes ao deslocamento do ob!eto da ao punitiva. &eduode intensidadeK alve$. :udana de ob!etivo, certamente. -...4 Lue ocastigo, se assim posso exprimir, fira mais a alma do que o corpo.-C;D5AD#, //F, p 10 e 1M4.

    A evoluo epistemolgica do processo penal trouxe avanos em termos de eficcia no

    modelo de penalidades e suas consequ"ncias. Ainda que se verifiquem na prtica abusos nos

    processo de aplicao penal, remontando ao passado de castigos corpreos, a inteno

    correcional do indiv8duo est presente em boa parte dos sistemas penais no mundo modernoN

    !untamente com a possibilidade de transformao das sanes penais em penas alternativas

    -#@:A, /1/, p. F/4.

    A $inalidade da pena e relao aos "on"eitos de preveno% retri&uio e teoria ista#

    A preveno deve ser, antes de tudo, o ob!etivo de uma pena. +unir o delito pode ser

    entendido como uma funo secundria da lei penal, ! que mais importante que punir,

    tra$er ao apenado o aspecto pedaggico da pena e evitar9lhe a reincid"ncia O a preveno.

    P melhor prevenir os crimes do que ter de puni9losN e todo legisladorsbio deve procurar antes impedir o mal do que repar9lo, pois uma

    boa legislao no seno a arte de proporcionar aos homens o maiorbem estar poss8vel e preserv9los de todos os sofrimentos que se lhespossam causar, segundo o clculo dos bens e dos males da vida-HE55A&@A, //, p. desde a mais tenra idade aprendemos que h sempre um modo de satisfa$

    nossas vontades e dese!os, mesmo que isso v de encontro 7s normas do bom senso e da

    coletividade em geral? -a:atta, 13MLuereis

    prevenir os crimesK Ca$eis leis simples e clarasN fa$ei9as amarN e este!a a nao inteira pronta

    a armar9se para defend"9las, sem que a minoria de que falamos se preocupe constantemente

    em destru89las? -HE55A&@A, //, p. A eoria retributiva considera que a pena se esgota na ideia de pura retribuio,

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    tem como fim a reao punitiva, ou se!a, responde ao mal constitutivo do delito com outro

    mal que se impe ao autor do delito? -6E&Q, /14. P um conceito que estabelece o critrio

    de !ustia como elemento de base, ! que, segundo essa teoria, a pena deve ter equival"ncia

    com o delito praticado, naquilo que de mais negativo pode ter, ! que sua forma >negativa e

    vingativa? de agir torna mais dif8cil o aspecto correcional da pena. Alm disso, fere o

    princ8pio da proporcionalidade, ! que, >mesmo adequada e necessria -a lei4, pode ser

    inconstitucional, quando adote cargas coactivas de direitos, liberdades e garantias desmedidas,

    desa!ustadas, excessivas ou desproporcionali$adas em relao aos resultados obtidos -%;D(A

    6E;, /1F, p.

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    &ECE&R65@A%

    HE55A&@A, 5esare. 'os delitos e das penas# Livro eletrInico. ispon8vel em ShttpGTTUUU.ebooVsbrasil.orgTadobeebooVTdelitosH.pdfW. Acesso em 1< agosto.

    a:atta, &oberto. ( )ue $a* o &rasil% +rasil#&io de )aneiroG &occo, 13M