a fundaÇÃo do pdt na cidade de pinhais/pr

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FACULDADE INTERNACIONAL DE CURITIBA FACINTER CURSO DE CIÊNCIA POLÍTICA FRANCISCO CARLOS SOMAVILLA A FUNDAÇÃO DO PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA (PDT) NA CIDADE DE PINHAIS/PR CURITIBA 2011

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Este trabalho de conclusão de curso apresenta uma pesquisa sobre criação do Partido Democrático Trabalhista na cidade de Pinhais-PR. O surgimento do PDT no cenário nacional e municipal é discutido a partir do debate teórico sobre partidos políticos e sistemas partidários no contexto da redemocratização, incluindo a atuação de Leonel Brizola. Para levantar empiricamente dados sobre o histórico que motivou a fundação do partido no Município entrevistei três dos fundadores do partido. Foram colhidos dados junto ao TRE/PR para avaliar o desempenho que o partido obteve nas eleições municipais desde a sua criação. A pesquisa demonstra o desempenho eleitoral do PDT, em Pinhais desde a sua criação, portanto, para alcançar a condição de partido relevante na cidade ainda depende de uma experiência mais longeva e de cristalização de sua força no eleitorado local.

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Page 1: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

FACULDADE INTERNACIONAL DE CURITIBA – FACINTER

CURSO DE CIÊNCIA POLÍTICA

FRANCISCO CARLOS SOMAVILLA

A FUNDAÇÃO DO PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA (PDT) NA

CIDADE DE PINHAIS/PR

CURITIBA

2011

Page 2: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

FRANCISCO CARLOS SOMAVILLA

A FUNDAÇÃO DO PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA (PDT) NA

CIDADE DE PINHAIS/PR

Monografia apresentada à Faculdade Internacional de Curitiba – Facinter, como requisito básico para obtenção da graduação no curso de Ciência Política. Orientador: Profº Luiz Domingos Costa

CURITIBA

2011

Page 3: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

AGRADECIMENTOS

À Deus, acima de tudo, pela vida.

À minha esposa Maria, meus filhos, Adriana, Jefferson e Ramilio, por todo o apoio

e incentivo recebidos. A minha saudosa mãe Sra. Luiza Bettio Somavilla, pelas palavras

de confiança, conselhos e orações. Ao meu saudoso pai Sr. Ramilio Somavilla, pela sua

visão simples de mundo que tanto me influenciou. Aos meus familiares pela

compreensão de meu afastamento por esse tempo todo da convivência devido às

atividades acadêmicas.

Ao Corpo Docente do Curso de Ciência Política, em especial ao Professor Luiz

Domingos Costa, pela orientação, dedicação e apoio na realização deste trabalho. À

Coordenadora, Professora Karla Gobo, pelo incentivo quando precisei.

Percebo hoje o quanto esse Curso foi importante para meu desenvolvimento

profissional e pessoal.

Ao amigo Wilson Villa, por todos os momentos que compartilhamos durante os

anos de graduação.

Aos demais colegas, pelo relacionamento harmonioso que tivemos durante esses

três anos.

Meus sinceros agradecimentos a todos que de alguma forma participaram dessa

jornada.

Page 4: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

“Todas as crianças deveriam ter direito à

escola, mas para aprender devem estar bem

nutridas. Sem a preparação do ser humano,

não há desenvolvimento. A violência é fruto da

falta de educação”.

Leonel Brizola

Page 5: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso apresenta uma pesquisa sobre criação do Partido

Democrático Trabalhista na cidade de Pinhais-PR. O surgimento do PDT no cenário

nacional e municipal é discutido a partir do debate teórico sobre partidos políticos e

sistemas partidários no contexto da redemocratização, incluindo a atuação de Leonel

Brizola. Para levantar empiricamente dados sobre o histórico que motivou a fundação do

partido no Município entrevistei três dos fundadores do partido. Foram colhidos dados

junto ao TRE/PR para avaliar o desempenho que o partido obteve nas eleições

municipais desde a sua criação. A pesquisa demonstra o desempenho eleitoral do PDT,

em Pinhais desde a sua criação, portanto, para alcançar a condição de partido relevante

na cidade ainda depende de uma experiência mais longeva e de cristalização de sua

força no eleitorado local.

Palavras-chave: partidos políticos, política municipal, Pinhais-PR, Partido Democrático

Trabalhista.

Page 6: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Eleições Majoritárias na cidade de Pinhais – 1992 ....................................... 23

Tabela 2 – Eleições Majoritárias na cidade de Pinhais – 1996 ....................................... 23

Tabela 3 – Eleições Majoritárias na cidade de Pinhais – 2000 ........................................ 23

Tabela 4 – Eleições Majoritárias na cidade de Pinhais – 2004 ........................................ 24

Tabela 5 – Eleições Majoritárias na cidade de Pinhais – 2008 ........................................ 24

Tabela 6 – Eleições proporcionais na cidade de Pinhais – 1992 ..................................... 24

Tabela 7 – Eleições proporcionais na cidade de Pinhais – 1996 ..................................... 25

Tabela 8 – Eleições proporcionais na cidade de Pinhais – 2000 ..................................... 26

Tabela 9 – Eleições proporcionais na cidade de Pinhais – 2004 ..................................... 26

Tabela 10 – Eleições proporcionais na cidade de Pinhais – 2008 ................................... 27

Page 7: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 – divisão geográfica do Município de Pinhais/PR ............................................... 20

Page 8: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABC paulista - Santo André, São Bernardo e São Caetano

ARENA - Aliança Renovadora Nacional

ABI - Associação Brasileira de Imprensa

AI 5 - Ato Institucional nº 5

CAIC - Centro de Atenção Integral à Criança

CUT/RJ - Central Única dos Trabalhadores do Rio de Janeiro

CIEP’s - Centros Integrados de Educação Pública

CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas

DEM - Democratas

FAFERJ - Federação das Associações das Favelas do Estado do Rio de Janeiro

FGV - Fundação Getulio Vargas

FLB-AP - Fundação Leonel Brizola/Alberto Pasqualini

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MDB - Movimento Democrático Brasileiro

MORENA/CB - Movimento Revolucionário Nacionalista - Círculos Bolivarianos

MTST/RJ - Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Teto do Rio de Janeiro

ONG’s - Organizações Não Governamentais

PC do B - Partido Comunista do Brasil

PCB - Partido Comunista Brasileiro

PDS - Partido Democrático Social

PDT - Partido Democrático Trabalhista

PFL - Partido da Frente Liberal

PHS - Partido Humanista da Solidariedade

PL - Partido Liberal

PMN - Partido da Mobilização Nacional

PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PNAD- Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PP - Partido Progressista

PPB - Partido Progressista Brasileiro

PPR - Partido Progressista Reformador

PPS - Partido Popular Socialista

PR - Partido da Republica

PRB - Partido Republicano Brasileiro

PRP - Partido Republicano Progressista

Page 9: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

PR - 410 Rodovia Estadual 410 (Estrada da Graciosa)

PRN - Partido da Reconstrução Nacional

PRONA - Partido da reedificação da Ordem Nacional

PRTB - Partido Trabalhista Renovador Nacional

PSC - Partido Social Cristão

PSD - Partido Social Democrático

PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira

PSDC - Partido Social Democrático Cristão

PSL - Partido Social Liberal

PSOL - Partido Socialismo e Liberdade

PST - Partido Social Trabalhista

PSB - Partido Socialista Brasileiro

PSTU Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado

PT - Partido dos Trabalhadores

PTB - Partido Trabalhista Brasileiro

PT do B - Partido Trabalhista do Brasil

PTC - Partido Trabalhista Cristão

PTN - Partido Trabalhista Nacional

PV - Partido Verde

RJ - Rio de Janeiro

SEPE/RJ - Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro

TRE - Tribunal Regional Eleitoral

TSE - Tribunal Superior Eleitoral

UEE/RJ - União Estadual dos Estudantes do Rio de Janeiro

UERJ - Universidade Estadual do Rio de Janeiro

Page 10: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1

1. TEORIA DOS PARTIDOS .......................................................................................... 3

1.1. A ORIGEM DOS PARTIDOS SEGUNDO MAURICE DUVERGER ...................... 3

1.2. PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS ........................................................... 6

1.3. MODELOS DE PARTIDO (CARACTERÍSTICAS AMBIENTAIS) ......................... 6

2. TRABALHISMO (AS PRIMEIRAS ARTICULAÇÕES) ............................................... 8

2.1. LEONEL BRIZOLA E IVETE VARGAS ................................................................ 9

3. CONTEXTO NO BRASIL ......................................................................................... 11

3.1. HISTÓRICO DO PDT NACIONAL - ASCENSÃO E DECADÊNCIA DO PDT: A

FIGURA CARISMÁTICA DE BRIZOLA ........................................................................ 12

4. A HISTÓRIA DO PDT DE PINHAIS PELA ÓTICA DOS SEUS FUNDADORES ...... 18

4.1. PDT EM PINHAIS: HISTÓRIA E SURGIMENTO ............................................... 18

4.1.1. Qual era o contexto político da época? ....................................................... 18

4.1.2. Postura ideológica ...................................................................................... 18

4.1.3. Influência externa ....................................................................................... 19

4.1.4. Principais lideranças e a mais importante ................................................... 19

4.2. CRIAÇÃO DO MUNICÍPIO ................................................................................ 19

4.3. BREVE HISTÓRICO DE LUIZ LARA ................................................................. 21

4.4. ATUAÇÃO DOS PARLAMENTARES DO PDT DE PINHAIS ............................. 22

4.5. DESEMPENHO DO PDT NAS ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS MUNICIPAIS DE

PINHAIS ....................................................................................................................... 22

4.6. DESEMPENHO DO PDT NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE PINHAIS............. 24

4.7. DESEMPENHO DO PDT NO MUNICÍPIO DE PINHAIS .................................... 27

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 29

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 30

ANEXO ............................................................................................................................ 31

CENÁRIO DOS PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL.................................................. 31

PARTIDOS POLÍTICOS BRASILEIROS ...................................................................... 31

Page 11: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

1

INTRODUÇÃO

O Partido Democrático Trabalhista (PDT) de Pinhais / PR foi fundado no dia 04

de junho de 1992, ano da emancipação política do então Distrito de Pinhais de

Piraquara/PR Pinhais comemorou, no dia 20 de março de 2011, dezenove anos de

emancipação, com muitas conquistas sociais e políticas, embora careça ainda, como a

grande maioria dos municípios brasileiros, de maiores investimentos em setores

importantes, como saúde, infraestrutura, meio ambiente, educação.

O Partido Democrático Trabalhista (PDT), na época da sua fundação, no

município de Pinhais/PR, atravessava um momento positivo na vida política brasileira

por conta da conduta e posição política da sua principal liderança nacional, Leonel

Brizola, que conseguia, pela sua figura carismática, unificar as idéias e concepções

políticas de lideranças de outras localidades e de cidadãos que desejavam há muito

tempo mudanças na condução econômica, social e política do Estado brasileiro.

Dentro destas perspectivas é que se aglutinaram lideranças em torno da sigla

do partido de Leonel Brizola, no município de Pinhais/PR.

Algumas pessoas do grupo fundador do PDT no município de Pinhais/PR - não

necessariamente integrantes da primeira Comissão Provisória, embora alguns

fizessem parte do grupo fundador (o número máximo permitido pela Direção Estadual

era de cinco membros) - deixavam transparecer que suas prioridades eram conquistar

cargos na administração pública municipal ou oportunidades de candidaturas nas

eleições municipais daquele ano. Apenas um número reduzido de pessoas, talvez por

desconhecer as coisas da política e do poder ou por sonhar com um município cada

vez mais promissor e pujante, agia de forma diferenciada, sem almejar cargo público

ou candidatura.

Este trabalho de pesquisa, à medida que busca responder questões

relacionadas a formação do Partido Democrático Trabalhista – PDT em Pinhais/PR,

buscará também responder uma questão de relevância central neste processo:

identificar os motivos que levaram um primeiro grupo de pessoas a ingressar no

partido no momento de sua fundação, buscando responder o grau de intensidade

dessas motivações em dois viés contrapostos – se essas motivações se deram

meramente por motivos de filiação a uma legenda partidária, ou se ocorreram por

razões de identificação com o programa e diretrizes do PDT em nível nacional.

Sendo assim, o objetivo geral é realizar pesquisa com as pessoas que, em

1992, fizeram parte da primeira Comissão Provisória do PDT de Pinhais/PR, a fim de

saber quais os valores que alimentaram essa iniciativa e as propostas que o grupo

Page 12: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

2

tinha para o município, bem como se havia intenção de fazer coro à efetivação da

proposta social-democrata nacional.

Para dar conta do objetivo geral, é necessário responder algumas questões

que se apresentam como objetivos específicos deste trabalho, quais sejam: discorrer

sobre o contexto político naquele momento de formação do PDT em Pinhais/PR; a

postura ideológica do PDT em níveis estadual e municipal; elencar as razões que

motivaram um grupo de pessoas a fundar o Partido Democrático Trabalhista – PDT,

no município de Pinhais/PR, que teve sua emancipação política consolidada através

do Projeto de Lei nº 9.906, de 18 de março de 1992; as dificuldades encontradas para

a formação do partido no município e o grau de influência externa nesse processo;

descrever os critérios usados para a formação da Comissão Provisória; e por fim,

levantamento das principais lideranças municipais engajadas no PDT, e quais se

destacavam naquele momento.

Para o desenvolvimento desta pesquisa, foram realizadas entrevistas com

lideranças da época, com o propósito de saber os motivos que levaram à fundação do

PDT, no município de Pinhais, em 1992.

Mediante o exposto, e tendo como base autores como Duverger, Panebianco e

Sartori, justifica-se a pesquisa pela intenção de trazer ao conhecimento da sociedade

a história da fundação do Partido Democrático Trabalhista – PDT – em Pinhais/PR,

pois a tese segundo a qual a origem/surgimento do partido determina parte

significativa de suas características organizacionais posteriores é importante no estudo

aqui proposto.

Resta averiguar se o envolvimento dos fundadores foi de forma pragmática e

visava de fato à ampliação do trabalhismo no sentido tradicional ou se foi por questões

despertadas pela figura carismática de Leonel Brizola, advindas do histórico de luta

política e do exílio de seu maior líder, ou ainda, apenas para formar um grupo com a

intenção exclusivamente de disputar eleições.

Page 13: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

3

1. TEORIA DOS PARTIDOS

Segundo Duverger, no interior dos grupos parlamentares, associações

populares, sindicatos e de intelectuais é que partidos políticos iniciam suas formações,

pois estes grupos necessitam de aperfeiçoamento para atingir o poder e é dentro

deles que a organização partidária toma corpo (DUVERGER, 2001, p. 19).

A história política de um partido político, de acordo com Duverger, segue

sempre a marca da sua formação, o modo de agir e da sua visão de mundo. Essas

linhas são as que possibilitarão distinguir o espectro político de um partido de direita,

de esquerda, de centro, ou ainda de extrema esquerda ou extrema direita. Duverger

aponta onde iniciam as pré-formações partidárias, as tendências ideológicas dos

partidos e as influências que elas exercem sobre a vida partidária, na trajetória de vida

dos partidos políticos - grupos locais, depois grupos ideológicos (DUVERGER, 2001,

p. 20).

A princípio, segundo Duverger, considera-se que a doutrina política é um

elemento importante, porém não necessariamente o principal para a formação de

grupos parlamentares, pois outros aspectos também aparecem como necessários a

esta hipótese; a questão geográfica e o interesse profissional também são elementos

considerados relevantes pelo autor como fortes hipóteses que despertam o interesse

de pessoas na formação de grupos parlamentares.

Em certos países os grupos nascem sem doutrina ideológica. Ela é incorporada

após as formações desses grupos. O nascimento dos partidos no âmbito da

Constituinte francesa de 1789 exemplifica essa hipótese, pois os deputados das

províncias nos Estados-Gerais que chegam a Versalhes, sem um ponto de referência,

procuram reunirem-se a fim de evitar o isolamento e elaborar a defesa de seus

interesses locais (DUVERGER, 2001, p.21). Partindo dessas hipóteses, podemos

entender que o nascimento dos partidos políticos passa inicialmente pela formação de

grupos parlamentares e comitês eleitorais.

1.1. A ORIGEM DOS PARTIDOS SEGUNDO MAURICE DUVERGER

Os clubes populares, grupos parlamentares, associações de intelectuais que

visam à conquista do poder precedem a formação dos partidos políticos. Segundo

Duverger, através desses blocos é que, no ano de 1850, os primeiros partidos políticos

foram criados. Até então, somente os Estados Unidos tinham conhecimento sobre

partidos políticos.

Page 14: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

4

Todo partido político, desde a sua origem, carrega consigo e para sempre, a

sua marca, sua forma de agir e visão de mundo. Esses, enfim, são detalhes

importantes que possibilitam a distinção do espectro político dos partidos, se de

direita, esquerda, extrema direita ou centro.

O conhecimento das origens dos partidos é de fundamental importância para o

entendimento das estruturas partidárias e suas tendências, pois sem esse fundamento

fica praticamente impossível fazer uma análise profunda e científica sobre as

diferenças partidárias e suas ações de liberdade e restrições em diferentes países.

Normalmente, mas não necessariamente, os são formados em função das

necessidades e afinidades locais, condições que aproximam as pessoas de uma

determinada região. Duverger aponta que a doutrina, elemento importante para

materialização de conquistas das necessidades locais, é precedida pelo

relacionamento estreito entre os grupos regionais, pois a aproximação geográfica

permite e oportuniza a interação de pessoas e seu agrupamento em torno de

interesses ideológicos.

Esses agrupamentos são constituídos de forma a evitar o isolamento político e

ao mesmo tempo fortalecer a defesa dos interesses locais. Ao perceberem que suas

ações não devem ficar apenas no âmbito regional, mas podem alçar às questões

nacionais e assim participarem de fato da política nacional, esses grupos passam a

procurar parlamentares de outras localidades, com as mesmas visões ou posições

ideológicas, para unirem-se. Desta forma, passam a ser vistos pelo mesmo espectro

ideológico. Ao alcançarem esta condição, esses grupos, anteriormente regionais,

passam então a se preocuparem com a reeleição, pois essa é uma regra entre os

grupos políticos: a permanência no poder é a meta seguida por todos,

independentemente de suas ideologias (DUVERGER, 1951, p. 22).

Apesar de ressalvas, Duverger dá um crédito às colocações de Ostrogorski em

relação à corrupção nos grupos parlamentares britânicos. Os ministros ingleses

recebiam generosas quantias em dinheiro para apoiarem, através de seus votos, as

propostas enviadas pelo governo à câmara (DUVERGER, 1951, p. 22).

Os comitês eleitorais são criados por interesses diversos. Muitas vezes, um

candidato, que tem em torno de si grupos de amigos e seguidores, aproveita ou usa

essa condição para eleger-se ou reeleger-se. Mesmo que esse agrupamento não

tenha solidez, ele transmite uma popularidade acentuada do candidato em relação aos

eleitores. Sempre rodeado de amigos, ele é visto com bons olhos pela população, o

que lhe garante voto. Os comitês, por sua vez, são instrumentos artificiais usados

Page 15: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

5

pelos candidatos para obter a credibilidade do povo e, por conseguinte, o voto que se

transforma em cadeira no parlamento (DUVERGER, 1951, p. 24).

O autor destaca a intervenção ou influência de organismos externos, os clubes

populares, jornais, igrejas, sindicatos, etc, na criação de partidos, no quadro eleitoral e

parlamentar, e aponta que as distinções entre esses e os partidos de criação externa

não são rigorosas, caracterizando as tendências gerais e os tipos definidos de partidos

(DUVERGER, 1951, p. 29).

Os organismos externos exercem ou não influências sobre os partidos políticos

conforme seu papel na sociedade. Os parlamentares de um partido político de

esquerda criado no seio de um sindicato, por exemplo, tendem a ter suas ações, no

parlamento, pautadas pelos interesses do sindicato que detém o controle da estrutura

partidária. O mesmo acontece entre partidos de origem liberal que sofrem influências

dos organismos que o criaram, porém, dificilmente conseguem atingir as grandes

massas, como os partidos de esquerda criados pelos sindicatos tradicionais de

trabalhadores.

A tendência dos grupos políticos é a geração de partidos políticos, porém, é

possível que esses grupos instituam também ligas (DUVERGER, 1951, p. 29) e

abandonem os meios diplomáticos, forma mais adequada para o embate democrático

rumo ao parlamento. Os grupos que se distanciam do terreno eleitoral

propositivamente não apresentam nenhum candidato e agem de forma truculenta

fazendo agitação política tão somente.

Segundo o autor, esses grupos diferenciam-se de todos os demais partidos

políticos, inclusive daqueles de cunho fascista e comunista que, por sua vez, também

são de doutrina antiparlamentar, mas procuram através do parlamento a chegada ao

poder e tendem a se tornar extremistas.

Os organismos externos que dão origem a partidos políticos não ficam apenas

nas sociedades de intelectuais, jornais, sindicatos. Outros segmentos da sociedade

também procuram influenciar na criação de partidos políticos; como exemplo, os

grupos industriais e comerciais, bancos, sindicatos patronais. O autor aponta, porém, a

dificuldade de detectar com clareza essas intervenções, pois tudo é feito da forma

mais discreta possível.

Independentemente da sua origem, os partidos políticos de criação externa

possuem características diferentes daqueles gerados no âmbito eleitoral e

parlamentar.

Os partidos de criação externa são normalmente mais disciplinados, advindos

de uma organização preexistente, ou seja, suas bases; enquanto os partidos formados

Page 16: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

6

através dos quadros parlamentares não obedecem necessariamente uma regra

doutrinária e agem de acordo com e conforme suas convicções e conveniências.

1.2. PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS

O partido político é um elemento que compõe o sistema político e possui uma

estrutura hierarquizada, processo representativo, sistema eleitoral e subprocessos

para escolha de lideranças, definição de metas e solução de conflitos internos. A

estrutura hierárquica apontada por Michels como a “Lei de Ferro das Oligarquias”

composta pela elite partidária (elementos com maior peso de voto ou capital político,

liderança local, poder aquisitivo diferenciado, relacionamento político em outras

esferas da política), é objeto de estudos sobre os processos intrapartidarios; como os

partidos agem internamente, quais os critérios usados para a formação de seus

quadros eleitorais e como acontecem os processos decisórios, se de forma

democrática onde todos opinam e decidem, ou se as decisões internas ficam a cargo

tão somente de um grupo dominante. (ROBERT MICHELS, 1982, p.21).

Sobre a questão organizacional levantada por Duverger, que teoriza sobre a

organização partidária, Sartori aponta que esta teoria tem fundamentação na

organização e não na democracia, levando em conta que uma determinada estrutura

possa ser democrática, porém no processo de atuação dessa estrutura, seja

oligárquica ou pseudodemocrática, uma vez que o partido político é um grupo de

pessoas com diferentes visões de mundo e portando rivais entre si, não importando se

a organização é formal ou informal. Todo partido político tem suas divisões de

trabalhos, ou seja, grupos com determinadas funções que, somadas, podem fortalecer

a união partidária e consequentemente facilitar o caminho a ser percorrido para a

chegada ao poder. Por outro lado, esses grupos podem também acarretar prejuízos

políticos ao partido no caso de a soma de determinados grupos fazerem frente ou se

articularem de forma a contrariar determinado objetivo proposto por outro grupo ou

então pela elite partidária (SARTORI, 1982, p. 93-94).

1.3. MODELOS DE PARTIDO (CARACTERÍSTICAS AMBIENTAIS)

Panebianco aponta que “a dimensão mais sistematicamente explorada pela

teoria organizativa é o grau de incerteza que a organização tem de enfrentar nas

relações com o ambiente”, pois a incerteza ambiental é uma variável uma vez que

alguns ambientes podem ser totalmente previsíveis e outros, ao contrário, podem ser

Page 17: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

7

totalmente imprevisíveis. Portanto, um ambiente pode ter um baixo grau de incerteza e

outro um alto grau de previsibilidade por diversas razões ou interesses

(PANEBIANCO, 2005, P. 398).

O autor cita a teoria organizativa de Michels para explicar os três aspectos que

compõem este grau de incerteza: complexidade ambiental depende da dimensão da

própria organização; mas outra vertente aponta que essa complexidade não depende

do tamanho da organização e sim quanto mais diversificado e heterogêneo for o

ambiente da organização. Portanto, quanto maiores forem as diferenças, maior o nível

da complexidade, o que dificultará o controle sobre a incerteza ambiental dentro da

organização.

O grau de imprevisibilidade ambiental da organização depende da

complexidade do ambiente, e, ao mesmo tempo, provoca uma pressão sobre a

organização de forma a enquadrar o ambiente no sentido de revisar as relações

internas tornando o controle ambiental ainda mais disperso sobre a incerteza

ambiental. Quanto mais homogêneo internamente for o grupo social, ou seja, grupos

de operários especializados e não especializados, menor é o grau de complexidade

para o partido político e poucas mudanças internas esse grupo desenvolverá.

A heterogeneidade ambiental aumenta a incerteza dos processos de decisão e

a falta de conhecimento sobre o que é necessário fazer aumentar o papel estratégico

do conhecimento a ponto de tornar o grupo menos dependente da estrutura

hierárquica. A inquietação dos grupos da organização colabora para que haja maior

distribuição ou participação nas decisões internas do partido, porém proporciona

oportunidade para que surjam outros atores reivindicando e invocando para si a

responsabilidade e capacidade para o enfrentamento da incerteza ambiental,

desconsiderando as soluções políticas propostas para o grupo, podendo fazer com

que a coalizão dominante do partido fique dividida e instável (PANEBIANCO, 2005, p.

398-401).

Os apontamentos dos autores estudados serão analisados e comparados com

os dados colhidos nas entrevistas com lideranças da época da fundação do PDT de

Pinhais/PR, no ano de 1992. O fato, porém, considerado de maior importância é o

motivo que levou um grupo de pessoas a se interessar pela fundação do partido no

município de Pinhais/PR. Será investigado se há semelhanças ideológicas entre este

grupo e a direção nacional do partido.

Page 18: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

8

2. TRABALHISMO (AS PRIMEIRAS ARTICULAÇÕES)

Este capítulo se dedica a uma apresentação sintética das origens do programa

político-ideológico do trabalhismo brasileiro, no qual muitos partidos tiveram seu

nascimento.

A partir de 1942 e 1943, o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e o

Departamento de Imprensa e Propaganda direcionaram suas atenções para o

fortalecimento político da estrutura sindical-corporativista dentro do Estado Novo e

estrategicamente reorganizaram seus objetivos a fim de consolidar um pacto social

com as classes trabalhadoras. A criação e promulgação da Consolidação das Leis do

Trabalho (CLT), no dia 1º de Maio de 1943 e a criação da Comissão Técnica de

Orientação Sindical, somadas a reajustamentos do salário mínimo, através dos

Decretos-leis nº. 5.977 e 5.978, fornecem clareza sobre o novo relacionamento que o

governo pretendia ter com a classe dos trabalhadores.

Desta forma, o Estado Novo, já nos primeiros anos da década de 1940, inicia

com o então ministro do Trabalho, Marcondes Filho, o desenvolvimento de ações

visando outro instrumento de representação, além dos sindicatos. Aquelas ações, no

contexto em que se dariam, viriam contribuir para a transição do autoritarismo, e a

questão partidária passa então a fazer parte da agenda daqueles que desejavam

conduzir o processo de transição, e um instrumento de luta para aqueles que

desejavam uma ruptura com o Estado Novo (GOMES, 2010, p. 265). “A autora aponta

que desde os anos de 1930, a organização e a mobilização partidária não se

colocavam de forma clara para o país como desta vez”, pois a viabilidade e a

pertinência da criação de um partido haviam sido testadas sem grande sucesso

naquela ocasião.

Agora, as dúvidas e temores sobre a criação de partidos políticos

reacenderam, com a lembrança da formação da Aliança Nacional Libertadora e da

Ação Integralista Brasileira (AIB) que visavam somente o campo eleitoral, dada a

ideologia radical de ambas as facções em desacordo com as tradicionais formas de

lutas e apelos partidários. Castro Gomes diz ser muito difícil a reconstrução segura

das iniciativas da formação de um partido governista, no início da década de 1940,

pois o clima político naquele momento favorecia e apontava as articulações que

visavam a organização de um instrumento político capaz de, reunindo setores mais

fiéis a Getulio Vargas, evoluir progressivamente para um momento que afetaria a

sobrevivência do regime. Esta fidelidade incluía o interesse na participação do poder

Page 19: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

9

ou em áreas que possibilitassem o controle estabelecido sobre a classe trabalhadora

durante os anos de 1942-1944 (GOMES, 2010, p. 266).

As cúpulas executivas e políticas (políticos e novos técnicos da administração

pública) e sua nova máquina sindical e previdenciária estavam ligadas ao governo.

Participavam desta nova máquina lideranças sindicais e massas de trabalhadores

atraídas pelas promessas e pelas medidas implantadas através do Ministério do

Trabalho, Indústria e Comércio (GOMES, 2010, p. 266).

A diversidade de apoios políticos (hoje esta questão não é diferente), apesar de

demonstrar vitória para o regime, por outro lado criava sérias dificuldades na

representação política partidária, pois todos aguardavam acomodações importantes

dentro do governo, tanto políticas quanto empregos.

2.1. LEONEL BRIZOLA E IVETE VARGAS

Leonel Brizola não imaginava a resistência que ainda havia contra si,

principalmente no regime e nas altas corporações. Segundo Vivaldo Barbosa, (citado

no livro), o governo uruguaio – país onde Brizola se encontrava exilado – teria tomado

a decisão de expulsá-lo de seu território para evitar que se consumasse seu

assassinato como era vontade do regime de exceção brasileiro (LEITE FILHO, 2008,

p. 383).

Brizola, a princípio não acreditou que chegasse a esse ponto, pensava ser

apenas mais uma manobra dos golpistas para dificultar cada vez mais seu retorno ao

Brasil e aumentar seu descrédito junto à opinião pública brasileira, porém acabou se

convencendo da gravidade do problema e saiu do Uruguai indo para os Estados

Unidos e depois para Portugal. O regime havia criado uma rede de informações tendo

como principal instrumento o Sistema Nacional de Informações (SNI), que incluía

outras agências de espionagem e contava com o apoio de grandes corporações

nacionais e multinacionais, bem como com as velhas oligarquias. O SNI dispunha por

esses meios de informações de que Brizola – mesmo no exílio – reorganizava o

Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), a fim de retomar o capital político-eleitoral legado

por Getúlio Vargas e que seria capaz de alterar o processo eleitoral e

consequentemente o regime de governo.

O que mais incomodava o comando militar era a possibilidade de que o PTB

viesse a se tornar um partido com maior potencial que o Movimento Democrático

Brasileiro (MDB), pois Brizola teria feito contatos com personalidades políticas

importantes como Jânio Quadros e Franco Montoro, de São Paulo; Tancredo Neves,

Page 20: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

10

de Minas Gerais; e Pedro Simon, do Rio Grande do Sul, com a intenção de formar

uma frente política importante para retornar às mãos dos civis o comando político da

nação, findando o regime de exceção e a interferência das velhas oligarquias na vida

política, econômica e social do Brasil.

Após anos de exílio e “beneficiado” pela Anistia Política, Brizola retorna ao

Brasil acreditando no processo de abertura política, mesmo sendo esse processo

conduzido pela elite militar, os generais, pois as informações eram de que a abertura

acontecia progressivamente ganhando vida própria; a Anistia Política era um forte

indicador de crédito àqueles que conduziam o processo de abertura. Porém, a figura

do general de linha dura, Golbery do Couto e Silva, como Chefe da Casa Civil da

Presidência da República, era uma realidade e a ele - que tudo controlava, desde os

ministérios e tribunais civis e militares, à censura na comunicação; o empresariado

através da Secretaria da Receita Federal; os financiamentos e a aprovação de

projetos -, fora dada a incumbência da formulação do processo de abertura (LEITE

FILHO, 2008, p. 384).

Assim que Brizola retornou do exílio político a que foi submetido pelo regime

golpista de 1964, procurou recuperar a sigla do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB)

para levar a cabo as propostas trabalhistas de Getúlio Vargas, mas o regime de

exceção não desejava seu retorno e muito menos que a sigla do PTB caísse em suas

mãos. O regime considerava um perigo para o Brasil, e, numa manobra jurídica

governamental, que teve o general Golbery do Couto e Silva como mentor intelectual,

a sigla do trabalhismo foi entregue a Ivete Vargas (sobrinha neta de Getúlio Vargas)

desmoronando de vez as chances do PTB que foi o símbolo da luta contra as

desigualdades sociais nos tempos de Getúlio Vargas chegar às mãos de Brizola1

(LEITE FILHO, 2008, p. 38)

A argumentação utilizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para não deixar

cair nas mãos de Brizola a sigla do PTB foi a da antecedência, ou seja, que Ivete

Vargas havia solicitado primeiro o registro e não a da representatividade como a

solicitação do grupo brizolista, que alegava esta condição devido ao apoio que teria da

bancada dos 24 deputados federais, um senador e quase mil vereadores, todos do

PTB, naquele momento, além de sua história de lutas tanto dentro do PTB como fora

dele. Segundo o autor, Ivete Vargas contava com o apoio, ou tinha a seu lado apenas

dois deputados federais. O grupo brizolista alegava que Ivete Vargas recebia

informações privilegiadas diretamente do Palácio do Planalto sobre o andamento da

1 Fonte Site Oficial do PDT Nacional. Disponível em:http://www.pdt.org.br/index.php/pdt/historia

Page 21: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

11

Lei nº 6.767/79 que dispunha sobre o fim do bipartidarismo e possibilitava o

pluripartidarismo. Estas informações tratavam sobre os vetos, os prazos e a data da

promulgação da lei que, por coincidência ou não, foi promulgada exatamente na data

da refundação do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), em 20 de dezembro de 1979.

Aos brizolistas restava tão somente aguardar as tiragens do Diário Oficial da Nação

que trazia as informações para saber qual o próximo passo a seguir.

A manobra governamental dirigida pessoalmente pelo general Golbery teve o

apoio e aprovação de Jânio Quadros que havia sido contatado por Brizola e

participado de algumas reuniões sobre a reorganização do PTB. Jânio Quadros foi

eleito prefeito de São Paulo pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) nas eleições de

1985 (LEITE FILHO, 2008, p. 385).

3. CONTEXTO NO BRASIL

Tendo como base estudos realizados por Duverger, sabe-se que os partidos

políticos carregam durante suas existências as linhas genéticas partidárias: “da

mesma forma que os homens trazem durante toda a sua vida marca da infância, assim

os partidos experimentam profundamente a influência de suas origens” (Duverger,

1951).

O Partido Democrático Trabalhista – PDT, criado no ano de 1981, pelo ex-

governador do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul e ex-exilado político Leonel de

Moura Brizola, de tendência social-democrata, possuía forte base eleitoral popular em

dois estados brasileiros - Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul - e apontava, como

melhor caminho para o crescimento do país, a indústria nacional. E se posicionava

enfaticamente contrário às privatizações das empresas estatais.

Apesar de ser um partido formado por políticos com histórico de lutas contra o

regime de exceção, o PDT tinha características de partido de massa, pois conseguia

agregar um considerável número de militantes com suas propostas e, principalmente,

pela figura carismática de Leonel Brizola. Seguindo essas diretrizes o PDT foi fundado

em alguns poucos estados da União, pois a ditadura havia deixado receios e

desconfiança entre aqueles que não concordavam com os métodos aplicados pelo

militarismo durante os longos 25 anos de regime de exceção.

O Partido Democrático Trabalhista - “PDT” originou-se de um encontro de

trabalhistas no Brasil com trabalhistas no exílio, na cidade de Lisboa, capital

portuguesa, em 1979, convocado por Leonel Brizola que estava no exílio desde o

golpe militar de 1964. A intenção de Leonel Brizola era recuperar e reavivar o Partido

Page 22: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

12

Trabalhista Brasileiro – PTB – que havia sido criado por Getúlio Vargas em 1945 e

presidido por João Goulart, porém em consequência do Ato Institucional nº 5 (AI 5) foi

extinto da vida política brasileira.

As propostas elaboradas neste encontro e que definiam as linhas que seriam

adotadas pelo partido defendiam o socialismo democrático, a propriedade privada

desde que seu uso favorecesse o bem-estar social, a intervenção do Estado na

economia como poder regulador e a liberdade sindical. Estas propostas ficaram

conhecidas como a Carta de Lisboa. Porém, não foi possível ressuscitar a sigla na

íntegra, pois como citamos anteriormente, uma manobra jurídica governamental

entregou-a a Ivete Vargas (sobrinha em segundo grau de Getúlio), desmoronando as

chances do PTB, que era o símbolo da luta contra as desigualdades sociais, chegar às

mãos de Leonel Brizola.

Brizola e os trabalhistas não se conformaram, e, dias depois dessa derrota,

reuniram-se com aproximadamente mil pessoas, na sede da Assembléia Legislativa

do Rio de Janeiro para o encontro Nacional dos Trabalhistas, quando foi anunciada a

nova sigla: PDT. O estatuto e o programa partidários foram aprovados no dia 25 de

maio de 1981 em reunião na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Desta

forma, atendendo às exigências da lei, o PDT organizou-se em nove estados, tendo

como principais núcleos, o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul. No ano de 1982,

quando aconteceu a primeira eleição democrática, após 19 anos de ditadura militar, o

PDT elegeu apenas um governador em todo o Brasil, Leonel Brizola, para governar o

Estado do Rio de Janeiro.

3.1. HISTÓRICO DO PDT NACIONAL - ASCENSÃO E DECADÊNCIA DO PDT:

A FIGURA CARISMÁTICA DE BRIZOLA

[..] “homens que marcaram época na história política partidária brasileira através de seus posicionamentos e ações em defesa das grandes massas e causas sociais como Getúlio Vargas (PTB), Lula (PT) e Brizola (PDT) em algum momento de suas trajetórias políticas aliaram-se a grupos antagônicos para alcançar seus propósitos. Não é possível contar a história política do Brasil sem assinalar estes três personagens recentes da vida pública.”

Falar em PDT sem citar Brizola seria um desrespeito à saga do líder

trabalhista. Homem de posicionamento esquerdista desde o início de sua trajetória

política que - apesar de oscilações em dado momento com relação às alianças com

grupos de direita (aliou-se ao PFL para disputar as eleições municipais de Curitiba em

Page 23: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

13

1988 tendo como candidato, Jaime Lerner) – não deixou para trás seus sonhos de um

Brasil melhor para os brasileiros.

Político fiel ao trabalhismo da plataforma de governo proposta por Getúlio

Vargas, Brizola não perdeu as chances que foram aos poucos aparecendo e

procurava fazer com que cada passo fosse sendo mais um degrau a ser galgado no

cenário político brasileiro. Lutou e conseguiu, através do voto democrático, uma

cadeira na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. Engenheiro Civil foi nomeado

para assumir a pasta de Secretário de Obras do estado.

Entre tantos degraus que subiu está o comando da prefeitura de Porto Alegre,

mas não chegou até o final do mandato, pois foi eleito governador do Estado gaúcho,

ocasião em que desenvolveu importante trabalho na educação com a construção de

mais de seis mil escolas espalhadas por praticamente todo o estado em apenas quatro

anos.

Teve importante e decisiva presença quando ainda governador do Rio Grande

do Sul, na Campanha da Legalidade em 1961 (Osvaldo Maneschy, Madalena

Sapucaí, Paulo Becker. 1994) no momento em que forças conservadoras e

reacionárias tentavam impedir que o vice-presidente João Goulart (Jango) assumisse

a presidência da República por causa da renúncia de Jânio Quadros. João Goulart

assume a presidência do Brasil e Brizola, trabalhista convicto, passou a cobrar de

Jango as Reformas de Base que há muito eram esperadas. Contemplavam a reforma

bancária, fiscal, administrativa, agrária, urbana e universitária. Incluíam ainda o direito

do voto aos subalternos das Forças Armadas, além de maior controle dos

investimentos estrangeiros no Brasil através da regulamentação de remessa de lucros

para fora do país (FGV cpdoc). Jango foi derrubado do Poder pelo Golpe Militar de

1964.

O Golpe Militar de 64 fez com que várias lideranças saíssem às pressas do

Brasil, sob ameaça de serem executadas, caso fossem apanhadas, pois o comando

da nação passava para os militares que tinham a “certeza” de que estavam evitando

que o comunismo tomasse conta do Brasil. Brizola era um dos perseguidos pelo

regime que se instalava e deixou o país, indo se refugiar no Uruguai, Portugal e

Estados Unidos.

Em 1979, a Lei da Anistia política permitiu o retorno das lideranças políticas

que haviam sido banidas em 64, entre elas, Brizola. O trabalhista retornou, e com ele a

esperança de recuperar a sigla do PTB e reagrupar quadros que pudessem disputar

pleitos dentro das regras de um regime democrático, a fim de chegar ao poder e

promover então as tão esperadas e sonhadas reformas que Jango não conseguiu.

Page 24: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

14

O líder trabalhista, Leonel de Moura Brizola, com o episódio da sigla do PTB ir

para as mãos de Ivete Vargas no ano de 1979, (Site do PDT Nacional) após manobra

do governo efetuada pelo general Golbery do Couto e Silva, tratava-se ainda de um

líder que representava “perigo” para as elites conservadoras.

Brizola, naquele momento, significava liberdade e os militares sabiam dos seus

encontros na capital portuguesa com lideranças brasileiras de peso que planejavam

estratégias e propostas políticas para serem apresentadas ao povo brasileiro, assim

que muitas delas retornassem livres ao Brasil.

A famosa Carta de Lisboa (Site PDT Nacional), que trazia o desejo de

mudanças, continha em seu texto a proposta da industrialização como meio de

crescimento econômico, garantia de emprego, salários condizentes e dignos aos

trabalhadores, pois o arrocho salarial era uma realidade, a exploração da classe

dominante em relação ao povo menos favorecido era o que prevalecia.

2A decepção de Brizola inspirou - ocasionada pela perda da sigla do

PTB acontecido em maio de 1980 -, o poeta Carlos Drummond de Andrade, a escrever o poema “Eu Ví”, publicado no Jornal do Brasil em 15/05/1980, Caderno B. p. 1 que destaca a trajetória política de Brizola, fundador do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Diz o texto: “Vi um homem chorar porque lhe negaram o direito de usar três letras do alfabeto para fins políticos. Vi uma mulher beber champanha porque lhe deram esse direito negado ao outro. Vi um homem rasgar o papel em que estavam escritas as três letras, que ele tanto amava. Como já vi amantes rasgarem retratos de suas amadas, na impossibilidade de rasgarem as próprias amadas. Vi homicídios que não se praticaram, mas que foram autênticos homicídios: o gesto no ar, sem conseqüência, testemunhava a intenção. Vi o poder dos dedos. Mesmo sem puxar gatilho, mesmo sem gatilho a puxar, eles consumaram a morte em pensamento. Vi a paixão e todas as suas cores. Envolta em diferentes vestes, adornada de complementos distintos, era o mesmo núcleo desesperado, a carne viva; E vi danças festejando a derrota do adversário, e cantos e fogos. Vi o sentido ambíguo de toda festa. Há sempre uma antifesta ao lado, que não se faz sentir, e dói para dentro. A política, vi as impurezas da política recobrindo sua pureza teórica. Ou o contrário… Se ela é jogo, como pode ser pura… Se ela visa o bem geral, porque se nutre de combinações e até de fraudes? Vi, os discursos…”

Brizola não teve outra saída, e a partir daquele fatídico ano de 1979 quando

perdeu a sigla do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), para Ivete Vargas, iniciou a

formação de um novo partido político que tivesse em seus quadros os grandes nomes

2 “Informações do Site Oficial do PDT Nacional :http://www.pdt.org.br/index.php/pdt/historia

Page 25: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

15

do trabalhismo e as mesmas propostas do PTB de Getulio Vargas, ao qual era filiado

antes de ser exilado.

O Partido Democrático Trabalhista (PDT) finalmente foi fundado por Brizola, em

1981, (Site do PDT Nacional), porém, muitos trabalhistas não o seguiram preferindo

ficar no PMDB que os acolhera durante o regime de exceção e por não sentirem na

nova sigla PDT o mesmo entusiasmo que caracterizou o PTB de Getúlio Vargas. Não

bastasse a perda de nomes importantes do antigo PTB, Brizola não conseguiu

agrupar, em torno do PDT, sindicalistas e intelectuais que o consideravam um ferrenho

defensor do getulismo.

Os sindicalistas e intelectuais com os quais Brizola não conseguiu

aproximação, em curto espaço de tempo, fevereiro de 1980, fundaram o Partido dos

Trabalhadores, o PT.

Brizola, articulador e persistente seguiu em frente com aqueles trabalhistas que

acreditavam poder realizar os ideais do antigo PTB. Mas mesmo em outra sigla sabia

que a história andava a seu lado, que ele já era história e que o partido herdaria, a

partir daquele momento, a representação máxima do “trabalhismo”, pois além da Carta

Testamento de Vargas, a Carta de Lisboa fora idealizada inicialmente como um

documento de refundação do PTB quando ainda no exílio.

A saga brizolista consagrou-se com a vitória do PDT no pleito eleitoral do

Estado do Rio de Janeiro em 1982, quando Brizola foi eleito governador dos cariocas

rompendo a polarização entre PDS e PMDB.

Eleito e tendo o sociólogo e antropólogo Darcy Ribeiro como vice-governador,

o PDT deu início à reforma educacional tão desejada e vista pelos dois dirigentes do

Palácio da Guanabara como a forma mais eficaz para o Brasil se desenvolver com

soberania e justiça social. Cumprindo promessas de campanha, o PDT cria os Centros

Integrados de Educação Pública (CIEP’s), possibilitando que crianças e adolescentes

vindos das classes menos favorecidas tivessem oportunidade de estudar, praticar

esportes e fazer refeições adequadas às necessidades daquelas faixas etárias para

um desenvolvimento intelectual saudável e satisfatório.

Segundo o Site Nacional do PDT, a implantação dos CIEP’s, para Brizola e

Darcy Ribeiro, era meio para alcançar a igualdade social e condições educacionais

entre pobres e ricos. As classes pobres passariam, por conta da educação que

receberiam, a contestar as explorações a que estavam sujeitas, bem como a situação

de alienação a que eram colocadas justamente pela baixa qualidade de educação

recebida. Com educação qualificada, as classes dominadas não mais aceitariam ser

Page 26: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

16

relegadas a segundo plano na vida social, econômica e política, pela classe

dominante.

O PDT, nos idos de 1983, quando iniciava seu governo no Rio de Janeiro, já

apontava para uma decadência ideológica partidária, pois o texto da Carta de Mendes

(extraído da reunião na cidade de Mendes/RJ) pregava mudanças não mais pelas

bases, mas sim pelo parlamento, segundo o professor de história, Aurélio Fernandes,

militante de peso do PDT carioca. Passa então o PDT a ser um partido como outro

qualquer, partido eleitoral, uma espécie de partido “pega tudo”, onde a elite partidária

resolve tudo (MICHELS, 1982), esquecendo-se das bases e valorizando apenas

eleitoralismo, suplantando qualquer outra ação que não fosse esta. Como resultado, o

PDT viu Lula disputar com Collor de Mello o segundo turno das eleições de 1989. O

referencial do trabalhismo deixava de ser apenas o PDT de Leonel Brizola; outro

partido despontava: o Partido dos Trabalhadores (PT), com Luís Inácio da Silva, o

Lula.

A aliança com o PFL no estado do Paraná visava vitória nas eleições para a

prefeitura de Curitiba, no ano de 1988, e Jaime Lerner, que havia sido nomeado

prefeito biônico da cidade de Curitiba no ano de 1971 pelo regime de exceção

instalado no Brasil pelo Golpe Militar de 1964, era o nome mais cotado e aceito entre

os pedetistas paranaenses. Jaime Lerner deixou o PDT no ano de 1998 para filiar-se

ao Partido da Frente Liberal paranaense (PFL).

O Partido Democrático Trabalhista, na ânsia de reconquistar o espaço perdido

e a confiança da sociedade foi aos poucos se transformando e aceitando filiações de

candidatos com muita expressão de votos, porém com pouca expressão dos anseios

reais do trabalhismo. O PDT tornou-se um partido regional e com pouquíssima

unidade ideológica e passou a não mais exigir esta condição para filiações. Não tinha

mais força e unidade para impor condições ideológicas trabalhistas às novas adesões

e sabia que estaria sujeito a sucumbir como partido político caso insistisse com as

exigências, pois suas forças estavam concentradas apenas em dois estados, Rio de

Janeiro e Rio Grande do Sul, exatamente onde Brizola tinha eleitorado cativo.

O PDT, gradativamente, foi perdendo poder e militância política dando vez a

políticos profissionais cujos interesses eram mais particulares e pessoais do que

ideológicos, segundo o professor Aurélio Fernandes, licenciado em História pela UERJ

com especialização em História do Brasil, tendo feito parte da coordenação nacional

do Movimento Revolucionário Nacionalista - Círculos Bolivarianos/ MORENA-CB. Essa

situação provocou um distanciamento do partido em relação às massas e, como

Page 27: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

17

consequência, a militância ficou relegada a segundo plano. As ações políticas

concentraram-se no campo parlamentar e eleitoreiro.

Porém, apesar do afastamento das bases eleitorais, o PDT conseguiu, por um

razoável espaço de tempo, manter sua força de influência no cenário político nacional

pelos nomes de figuras históricas como Neiva Moreira, Darcy Ribeiro, Doutel de

Andrade, além do próprio Brizola. Entre os anos 80 e 90, o partido figurou no cenário

político brasileiro com bom desempenho político. Neste período, conseguiu reeleger

Brizola como governador no Rio de Janeiro, e no Espírito Santo, Albuíno Azeredo;

Dante de Oliveira (o homem das Diretas já) no Mato Grosso; no Paraná, Jaime Lerner;

Garotinho no Rio de Janeiro e Alceu Collares, no Rio Grande do Sul.

Em 2004, ano da morte do líder fundador do PDT, o partido estava em crise,

com poucas lideranças nacionalmente. Os cargos no governo Lula eram muito

desejados pelos políticos e nos quadros pedetistas, não era diferente: lideranças do

partido também foram atraídas pelos cargos, salários e poder. Brizola ameaçou fechar

o partido por esses motivos.

Segundo palavras do militante fluminense, Carlos Neves, “o Partido

Democrático Trabalhista já não é mais o mesmo que aquele idealizado por Leonel

Brizola, em quem as massas depositavam esperanças em um Brasil economicamente

forte, com justiça e igualdade social. O partido de hoje se resume às eleições e nada

mais. A esperança de dias melhores voou para junto do Partido dos Trabalhadores”.

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4. A HISTÓRIA DO PDT DE PINHAIS PELA ÓTICA DOS SEUS FUNDADORES

Há elos que conectam o PDT da redemocratização ao Trabalhismo varguista

da década de 1940: Por um lado, uma plataforma política (nacional-

desenvolvimentismo), e por outro um tipo de liderança política (a liderança de uma

figura populista carismática).

O problema está em situar esse perfil partidário no âmbito do federalismo

brasileiro. Isto é, se organizações criadas em momentos posteriores nos níveis

subnacionais continuam essas característica da agremiação nacional. Faz sentido

explorar, portanto, se o PDT do Paraná e de Pinhais se aproximam ou se afastam do

perfil nacional.

Para este capítulo entrevistamos os senhores, Antonio Lory Kalluf Filho,

Edelmir Duarte (Ede) e Edilson da Silva Menezes que, entre outras lideranças, tiveram

importante participação na fundação do PDT, no município de Pinhais.

4.1. PDT EM PINHAIS: HISTÓRIA E SURGIMENTO

4.1.1. Qual era o contexto político da época?

Edelmir Duarte, ex-vereador pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), no

município de Pinhais/PR falou sobre a importância da fundação do PDT no município

exaltando que o partido surgiu dentro de um sistema político que contemplava o

pluripartidarismo e que o PDT nasceu forte, pois na primeira eleição em 1992 elegeu

três vereadores para a Câmara Municipal, tendo naquele momento, expressiva

bancada e forte presença na vida política municipal após desmembramento do

município de Piraquara/PR.

Os partidos políticos que passaram a existir em Pinhais/PR, na época da sua

criação, em 1992, foram: PT, PMDB, PL, PTB, PFL (hoje DEM), PTC. Estas siglas, em

sua grande maioria, já faziam parte do quadro político municipal do município de

Piraquara/PR, do qual Pinhais desmembrou-se, inclusive o próprio PDT.

4.1.2. Postura ideológica

Para Edilson da Silva Meneses, “O PDT tinha como linha mestra a educação e

o trabalhismo, dois pilares principais visualizados pela direção nacional na época.

Nesta linha estavam inseridos os CIEPS de Leonel Brizola. Procuramos seguir esta

Page 29: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

19

mesma linha aqui em Pinhais/PR, bem como era nossa intenção vencer uma eleição

estadual e implantar aqui um CIEP já efetivado por Brizola no Rio de Janeiro.

A instalação de um CAIC em nosso município foi fruto de luta do PDT, em

particular do Sr. Ede (ex-vereador) que teve a participação muita ativa. O PDT é grato

a esse cidadão que muito lutou para realizar um sonho do PDT pinhaiense. O CAIC foi

instalado na Vila Maria Antonieta”.

4.1.3. Influência externa

O Sr. Antonio Lory Kalluf Filho, ao discorrer sobre a formação do PDT em

Pinhais/PR, afirma: “As personalidades políticas pedetistas que nos apoiavam eram

Jaime Lerner que também disputou a Prefeitura de Curitiba, Rafael Greca, Jair Cesar,

Algaci Túlio. As dificuldades encontradas para a formação do PDT de Pinhais/PR, na

época da emancipação foram contornadas. Por exemplo, o então vereador Edelmir

Duarte (EDE) queria a todo custo participar da Comissão Provisória que formávamos,

e após conversas com a direção estadual acabamos por incluí-lo no grupo. Mas a

mais importante dificuldade no meu entender era a desconfiança do Diretório Estadual

sobre a unanimidade que tínhamos para a indicação da Comissão Provisória. A

Executiva Estadual do PDT não acreditava que poderia existir unanimidade em um

partido como tínhamos aqui”.

4.1.4. Principais lideranças e a mais importante

Quanto às lideranças municipais na época da fundação do PDT em Pinhais, o

Sr. Edilson da Silva Meneses cita os nomes de Adir Buzzetti, Acir Montilla e Luiz Lara.

Em especial, diz Edilson “eu destacaria com muita satisfação, não somente por ser um

grande amigo, Luiz Lara, um baluarte, uma figura que trouxe para si a bandeira do

PDT e soube empunhá-la. A ele posso apontar como principal personagem dessa

história”.

4.2. CRIAÇÃO DO MUNICÍPIO

O Projeto de Lei n° 271/86 apresentado pelo então Deputado Aníbal Khury e

publicado no Diário Interno em 11 de novembro de 1986 na Assembléia Legislativa do

Paraná, não contemplava alguns bairros do município como Maria Antonieta, Jardim

Amélia, Alphaville Graciosa, Parque das Nascentes e Parque das Águas, portanto

Page 30: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

20

ficariam de fora do atual território do Município de Pinhais. O projeto apresentado

destacava em seu artigo 1° a criação do município de Pinhais, com território

desmembrado do município de Piraquara/PR, cuja sede ficava na localidade do

mesmo nome e com as seguintes divisas: “começa na confluência dos rios Iguaçu com

o Rio Atuba; sobe por esse acima até encontrar a Estrada da Graciosa; sobe por esta

acima até encontrar o Rio Palmital, e segue por este até o ponto de partida". Na

época, o argumento do deputado proponente do projeto era que:

"o Distrito de Pinhais, por sua pujança na participação em todos os setores de desenvolvimento do nosso Estado, merece que seja elevado a município, pois, é fato facilmente constatável que os benefícios daí advindos atenderão aos interesses e expectativas da população".

Porém, esse projeto não agradou a maioria dos moradores do então Distrito de

Pinhais.

A parte escura do mapa abaixo indica o território que ficaria de fora conforme o

projeto de lei inicial.

Mapa 1 – divisão geográfica do Município de Pinhais/PR

Fonte: Projeto Identidade Pinhais - Site www.pinhais.pr.gov.br -

Caso fosse aprovado o Projeto de Lei n° 271/86 como fora apresentado, o

município de Pinhais ficaria reduzido a apenas 22 km², ao contrário dos 61 km² atuais.

Em decorrência disso, um número importante de estabelecimentos comerciais

Page 31: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

21

localizados do outro lado do Rio Palmital - como o Carrefour, o Makro, o Centro de

Convenções Exprotrade -, além de uma série de pequenas e médias empresas, mais

a estrada ecológica e outras propriedades da área atual, ficariam pertencendo ao

município de Piraquara/PR.

As reações vieram dos movimentos sociais organizados e dos partidos políticos

que fizeram com que o projeto fosse revisto e que houvesse uma consulta plebiscitária

no ano de 1991. No ano seguinte, em 18 de março, foi apresentado o Projeto de Lei n°

9.906 estabelecendo a criação do município de Pinhais, com território desmembrado

do município de Piraquara/PR, com sede na localidade do mesmo nome com as

seguintes divisas: "começa na confluência dos rios Atuba e Iraí (antigo leito) sobe por

este rio até encontrar o rio Canguiri na divisa do município de Quatro Barras,

contornando essa divisa segue pelo mesmo rio em direção Nordeste até a PR-410

(Estrada da Graciosa), por esta direção a Oeste segue até chegar ao rio Atuba, a partir

de onde segue por este ao Sul, até a confluência com o rio Iraí, ponto de origem do

traçado delimitatório.”

Nas eleições municipais de 1992, o Partido Democrático Trabalhista (PDT)

lançou o Sr. Luiz Lara como candidato a prefeito do município de Pinhais/PR, tendo

como vice o Sr. Carlos Réus, também do PDT.

4.3. BREVE HISTÓRICO DE LUIZ LARA

O candidato do Partido Democrático Trabalhista (PDT) de Pinhais, no ano de

1992, Sr. Luiz Lara, era um empresário do ramo de “ferro velho”, atuava na compra e

venda de sucatas. Lara era uma pessoa muito conhecida na vida cotidiana de Pinhais

e, principalmente, no meio político. Participava ativamente da vida política municipal,

tinha acesso a vários políticos na esfera estadual e federal e aproveitava desta

condição para tratar de assuntos pertinentes à política do município de Pinhais/PR. Os

assuntos declinavam mais do que qualquer outro para apoio a formação de quadros

partidários visando a chegada ao poder municipal. Não media esforços para tanto.

Embora o PDT seguisse uma linha esquerdista no âmbito nacional, Lara não tinha

essa mesma tendência. Era um político considerado “de centro”. Transitava por todos

os partidos do município. Era um homem do diálogo. Preferia sempre os acertos

políticos a embates que pudessem trazer conseqüências desagradáveis ou então que

provocassem situações irreversíveis tanto na arena política como na vida cotidiana.

Page 32: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

22

4.4. ATUAÇÃO DOS PARLAMENTARES DO PDT DE PINHAIS

Os três vereadores eleitos pelo PDT nas eleições de 1992, no município de

Pinhais/PR, não alimentavam tendências esquerdistas e nem mesmo assimilavam ou

seguiam sistematicamente as orientações da direção nacional do partido. Não

detinham formação ideológica partidária nos moldes do trabalhismo e não atentavam

de forma contundente com questões ideológicas. A proximidade com o poder

legislativo estadual permitia que – não só parlamentares do PDT, mas de outros

partidos também – tendências políticas diferentes se aproximassem e se fizessem

presentes na vida política de Pinhais/PR. Estas aproximações aconteciam por motivos

variados: simpatia com determinada figura política, favorecimento para agilização de

internamento em hospitais públicos na Capital ou Região Metropolitana, parcerias em

eleições estaduais e nacionais, além de apoios de toda sorte em campanhas eleitorais

municipais.

Há que registrar também que, na direção estadual do PDT paranaense, havia

pessoas com visões de mundo diferentes - situação comum em partidos políticos.

Portanto, as formas de atuação dos vereadores do PDT de Pinhais encontravam

respaldo no seio da direção estadual pedetista.

4.5. DESEMPENHO DO PDT NAS ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS MUNICIPAIS DE

PINHAIS EM 1992

Nessas eleições, o PDT teve um desempenho mediano, devido ao fato que o

PTB teve o apoio do prefeito de Piraquara que pertencia ao mesmo partido do

candidato vencedor. Por outro lado, o segundo colocado havia tentado ingressar no

PDT e, como não obteve sucesso, filiou-se então ao PFL que dispunha de um grupo

com mais recursos para a realidade daquela ocasião. No PDT havia uma militância

combatente e com predisposição, porém dispunha de poucos recursos para alavancar

a candidatura, lançada de forma mais agressiva em termos de ações eleitorais.

Page 33: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

23

Tabela 1 – Eleições majoritárias na cidade de Pinhais – 1992

Candidato Partido/Coligação Votos Nominais

14 João Batista Costa PTB 9578

25 Ziegfried Böving PFL 6970

12 Luiz Lara Fernandes da Penha PDT 5543

85 Lourival Padrazini PST 3855

13 Jose Cristiano Ribeiro dos Santos PT 3113

Fonte: TRE/PR, elaborado pelo autor

O PDT se estruturou para as eleições de 1996, em primeira mão, fortalecendo

seu quadro de candidatos à vereança e estrategicamente aceitando o ingresso de

Ziegfried Böving à sigla. Como resultado dessas ações o PDT elegeu seu primeiro

prefeito no município de Pinhais.

Tabela 2 – Eleições Majoritárias na cidade de Pinhais – 1996

Candidato Partido/Coligação Votos Nominais %/Válidos

12 Siegfried Boving PDT 14.963 37,217

45 Luiz Cassiano de C. Fernandes PSDB 11.569 28,775

15 Pirajá Ferreira PMDB 8.501 21,144

41 Luiz Cipriani PSD 3.887 9,668

20 Dirceu Ferreira de Araújo PSC 1.285 3,196

Fonte: TRE/PR, elaborado pelo autor

Nas eleições de 2000, o PDT não conseguiu manter-se no poder por não

atender às expectativas da população depositadas nas eleições anteriores, e o

candidato do PSDB, além de ser um hábil articulador político, dispunha de grande

credibilidade eleitoral.

Tabela 3 – Eleições Majoritárias na cidade de Pinhais – 2000

Candidato Partido/Coligação Votos Nominais %Válidos

45 Luiz Cassiano de C. Fernandes PSDB/PRP 23.459 43,34

25 Siegfried Boving PFL/PSD/PPB/PTB/PSL/PRN/PSB/PTN/PSC 16.346

15 Pirajá Ferreira PMDB / PST / PL / PMN 8.028 14,83

13 Reinaldo Bitencourt dos Santos PT / PV 5.595 10,34

23 Nilson Macena da Silva PPS 702 1, 30

Fonte: TRE/PR, elaborado pelo autor

Page 34: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

24

Em 2004, comprova-se a credibilidade junto à população e a habilidade política

de Luiz Cassiano, com sua reeleição. O PDT, que já havia perdido o importante

espaço conquistado nas eleições de 1996, chegou enfraquecido eleitoralmente e sem

poder de articulação política nem sequer apresentando candidatura.

Tabela 4 – Eleições majoritárias na cidade de Pinhais – 2004

Candidato Partido/Coligação Votos Nominais %Válidos

44 Luiz Cassiano de C. Fernandes PRP 22.552 37,431

13 Luiz Goularte Alves PT 15.499 25,724

23 Marcos Ceschim PPS 15.402 25,563

5 Romeu Jose Massignan PMDB 6.797 11,281

Fonte: TRE/PR, elaborado pelo autor

Nas eleições municipais de 2008, o PDT ressurge no cenário político

majoritário participando com a vice-candidatura na coligação com o PT, mas mesmo

assim, podemos entender o PDT, pela sua trajetória, como um partido ainda carente

de presença político-eleitoral no município de Pinhais.

Tabela 5 – Eleições majoritárias na cidade de Pinhais - 2008

Candidato Partido/Coligação Votos Nominais %Válidos

13 Luiz Goularte Alves PT/PDT/PCB/PMDB/PTC/PP 39.438 64,20

PRP/PV/PMN/PTB/PSC/PHS/PCdoB/PSL

23 Marcos Ceschim PPS 19.402 31,88

10 Leonildo Sandri PRB 2.405 3,92

Fonte: TRE/PR, elaborado pelo autor

4.6. DESEMPENHO DO PDT NAS ELEIÇÕES PROPORCIONAIS MUNICIPAIS

DE PINHAIS

Tabela 6 – Eleições para vereador na cidade de Pinhais - 1992

Partido Candidato Votos

PTB SERGIO LUIZ DE SOUZA 589

PTB VINICIUS DA CRUZ 536

PTB RUBENS KIRSTEIN 490

PTB TULIO TELMO TAGLIARI 480

Page 35: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

25

PST GILMAR JORGE BATISTA 453

PTB LUIZ CIPRIANI 447

PMDB JOAO DE SOUZA 425

PST MARCOS CESCHIN 410

PTB JUCELINO BATISTA LIDUARIO 394

PDT EDELMIR DUARTE 394

PFL PEDRO ESMERIO PEREIRA 372

PFL AYLTON FERREIRA DE LI 332

PDT LEONILDO SANDRI 328

PST PEDRO MIGUEL DA SILVA 323

PDT LINEU PIRES 301

Fonte: TRE/PR, elaborado pelo autor

Tabela 7 – Eleições para vereador na cidade de Pinhais - 1996

Partido Candidato Votos

PDT AYLTON FERREIRA LIMA 912

PPB GILMAR JORGE BATISTA DOS SANTOS 789

PTB SERGIO LUIZ DE SOUZA 694

PT LUIZ GOULARTE ALVES 670

PDT LINEU PIRES 643

PSDB MARCOS CESCHIN 619

PMDB PAULO PEREIRA DA SILVA 612

PTB VICENTE DE SOUZA 567

PSDB JOSE RODRIGUES DIAS 526

PTB PEDRO MIGUEL DA SILVA 524

PDT OSMAR NUNES CARDOSO 515

PMDB JOAO DE SOUZA 513

PPB VINICIUS DA CRUZ 499

PSDB GESO SOARES DE OLIVEIRA 447

PSC EDIO PAULO DE SOUZA 426

PSC MARLY PAULINO 366

PT SEBASTIÃO CARLOS DO SANTOS 236

Fonte: TRE/PR, elaborado pelo autor

Page 36: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

26

Tabela 8 – Eleições para vereador na cidade de Pinhais - 2000

Partido Candidato Votos

PTB/PTN SÉRGIO LUIZ DE SOUZA 1.160

PMDB/PMN JOSÉ RODRIGUES DIAS 1.047

PFL/PPB/PSL MARCOS CESCHIN 1.009

PT LUIZ GOULARTE ALVES 1.000

PFL/PPB/PSL JOSÉ HAMILTON RIBEIRO 978

PTB/PTN LINEU PIRES 901

PSB/PSD AGILSON FERREIRA DE LIMA 882

PFL / PPB / PSL GESO SOARES DE OLIVEIRA 829

PMDB / PMN MARLY PAULINO FAGUNDES 810

PSDB VINICIUS DA CRUZ 800

PFL / PPB / PSL CLAUDINEZ REGINALDO 778

PDT OSMAR NUNES CARDOSO 726

PT EGON WILHEMS 717

PSDB FLAZIO GORGES 694

PMDB / PMN JOÃO DE SOUZA 687

PSDB JEAN ALEXANDRE DOS SANTOS 609

PSB / PSD RITA DE CASSIA CRUZ ROMANIOW 561

Fonte: TRE/PR, elaborado pelo autor

Tabela 9 – Eleições para vereador na cidade de Pinhais - 2004

Partido Candidato Votos

PPS AGILSON FERREIRA DE LIMA 1.933

PMDB JOSÉ RODRIGUES DIAS 1.900

PTB AYLTON FERREIRA DE LIMA 1.640

PP ADAO ALVES DE LIMA 1.634

PP DEMETRIO CESAR TONON 1.608

PMDB MARLY PAULINO FAGUNDES 1.483

PPS FLÁZIO GORGES 1.310

PT JOAO CARLOS RIBEIRO 1.217

PFL MARIO MARQUES GUIMARAES NETO 1.188

PT IVONE CARVALHO DOS SANTOS 1.096

PDT OSMAR NUNES CARDOSO 817

Fonte: TRE/PR, elaborado pelo autor

Page 37: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

27

Tabela 10 – Eleições para vereador na cidade de Pinhais - 2008

Partido Candidato Votos

PPS AGILSON FERREIRA DE LIMA 2.092

PPS SILVIO APARECIDO LINDES 1.466

PSC MARIO MARQUES GUIMARÃES NETO 1.301

PTB ADILSON MARIO DA SILVA 1.260

PMDB JOSÉ RODRIGUES DIAS 1.134

PP PAULO LUCIANO FERREIRA 1.034

PMDB JOSÉ FRANCISCO DE SOUZA 1.033

PP DEMETRIO CESAR TONON 907

PT IVONE CARVALHO DOS SANTOS 864

PT GILBERTO HARTKOPF 863

PT PHILIPP MARKUS GISLER 849

Fonte: TRE/PR, elaborado pelo autor

4.7. DESEMPENHO DO PDT NO MUNICÍPIO DE PINHAIS

O desempenho eleitoral do Partido Democrático Trabalhista, pesquisado nos

processos eleitorais desde a fundação do partido em 1992, ano da emancipação

política do então Distrito de Pinhais do município de Piraquara/PR, nos leva a entender

que o partido percorre, no campo eleitoral, uma trajetória político-eleitoral cambiante,

não se firmando como ator contínuo no cenário político-eleitoral municipal em termos

de representatividade tanto no executivo como no legislativo.

Embora, no período pesquisado, o desempenho eleitoral do PDT tenha sido

bem sucedido uma vez - eleições municipais de 1996 - como ator principal, chegando

ao poder executivo com a eleição do prefeito Ziegiefried Bowing, e anteriormente –

nas eleições municipais de 1992, 1996 - ter alcançado 03 (três) cadeiras oferecidas no

Legislativo Municipal, o PDT - pelo que representa ao Trabalhismo, espólio político de

Getúlio Vargas (Leite Filho, 2008) para grande parcela da sociedade brasileira,

paranaense e da sociedade pinhaiense - ainda padece de uma presença maior e mais

significativa no cenário político de Pinhais.

Nos processos eleitorais seguintes, o desempenho do PDT em Pinhais perdeu

fôlego e descontinuou a trajetória que poderia colocá-lo como principal ator político

municipal ou então como ator de grande relevância eleitoral. Caso continuasse com o

desempenho obtido nos processos eleitorais de 1992 e principalmente em 1996, o

Page 38: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

28

PDT teria maiores possibilidades de chegar ao poder municipal e aumentar sua

presença no Legislativo de forma efetiva nas eleições que viriam, já que uma

articulação mais consistente e continuada fortaleceriam necessariamente as

lideranças que porventura buscassem filiação ao PDT.

Os processos eleitorais são indicadores importantes destas observações, pois

através dos dados colhidos no Tribunal Regional Eleitoral do estado do Paraná

(TRE/PR), chegamos a essas conclusões. Basta atentarmos para o desempenho

eleitoral do PDT nas eleições municipais dos anos 2000, 2004 e 2008: constata-se que

o PDT perdeu espaço no cenário político-eleitoral. No processo eleitoral de 2000, tanto

na disputa pelo Executivo como também no Legislativo não conseguiu a reeleição para

a prefeitura municipal e de sobra descontinuou sua presença no Legislativo quando

reelegeu apenas um vereador dos três que possuía.

Em 2004, o PDT, objeto deste trabalho de conclusão de curso, não lançou

candidatura visando disputa do cargo majoritário e nem tampouco lançou candidato a

vice-prefeito; reelegeu o mesmo vereador que, apesar de ter percebido um leve

aumento em seu capital político – pois melhorou o número de votos em relação às

eleições anteriores - conseguiu a última vaga que restava.

Nas eleições municipais de 2008, apesar de o PDT ter lançado a vice

canditatura em coligação com o Partido dos Trabalhadores (PT) - ocasião em que a

vitória foi conquistada -, o PDT mesmo assim não elegeu candidato à Câmara de

Vereadores. O desempenho do PDT, no contexto do cenário político-eleitoral de

Pinhais/PR, em sua trajetória, talvez encontre explicação em Robert Michels que

teoriza sobre a “Lei de Ferro da Oligarquia”.

Page 39: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

29

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente, o PDT de Pinhais, apesar de participar da administração ocupando

o cargo na vice-prefeitura, ainda ressente de maior presença no cenário político-

eleitoral, mesmo fazendo coligação com o PSL para tentar alcançar o quoeficiente

eleitoral, não conseguiu obter nenhuma das 11 (onze) cadeiras oferecidas nas

eleições de 2008. O partido vem sofrendo sensíveis alterações, altos e baixos na

arena política deixando forte impressão de partido cambiante e de fragilidade

organizacional e ideológica. O partido carece de representação nos e dos movimentos

sociais bem como de participação na elaboração e formulação de políticas públicas.

Por outro lado, a atual direção, preocupada com essas deficiências e tendo

como perspectivas o crescimento partidário para obter sucesso nas futuras eleições e

assim poder desenvolver políticas públicas que venham de encontro àquelas

desejadas pela população, procura se organizar internamente de forma a reverter a

situação que o coloca na condição de pouca relevância no cenário político-eleitoral,

pois não tendo representatividade no Legislativo encontra dificuldades em apresentar

projetos visando melhorias à população.

A educação é um tema importante para o PDT desde o seu surgimento e, de

acordo com os princípios estabelecidos no manifesto de lançamento de programa de

ação, a erradicação do analfabetismo é apontada de forma clara a objetiva: “promover

uma reforma educacional que assegure o ensino gratuito a todos os níveis e permita

reorganizar a rede escolar pública com base nas proposições”.3

Para o PDT de Pinhais, a educação continua sendo o principal objetivo a ser

alcançado entre outros que estão na pauta da atual direção atual. O relacionamento

com personalidades políticas do partido e com a direção estadual é um fator

importante para qualquer direção municipal, porém a liberdade de ação das direções

municipais deve prevalecer desde que não infrinja os artigos estatutários. A Comissão

Provisória Municipal é formada por pessoas com diversas correntes de pensamento,

porém, a princípio, nada que comprometa a meta que o PDT deseja alcançar.

3 Fonte: Manifesto, Programa e Estatuto PDT, 2006. p. 53.

Page 40: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

30

REFERÊNCIAS

FERNANDES, Aurélio. Licenciado em História pela UERJ com especialização em

História do Brasil e Educação a Distância. Professor de História da Rede Pública

Estadual. Professor de História do Trabalhismo da ULB. Membro do diretório nacional

do PDT, membro honorário da JS/PDT, ex-membro dos diretórios estadual do Rio de

Janeiro e municipal da cidade do Rio de Janeiro e diretor da FLB-AP. Faz parte da

coordenação nacional do Movimento Revolucionário Nacionalista – Círculos

Bolivarianos/MORENA-CB. Assessor da FAFERJ e militante do MTST/RJ. Foi diretor

da CUT/RJ, do SEPE/RJ-RIII e da UEE/RJ.

FILHO, Leite. El caudilho: Leonel Brizola: um perfil biográfico. São Paulo: Ed.

Aquariana, 2008.

GOMES, Ângela de Castro. A invenção do trabalhismo. Rio de Janeiro: Ed. FGV,

2005.

MAURICE, Duverger. A Origem dos Partidos. São Paulo: Ed. Ícone, 2001.

MICHELS, Robert. Sociologia dos partidos políticos. [Tradução de Arthur Chaudon].

Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1982

PANEBIANCO, Ângelo. Modelos de partidos. Organização e poder nos partidos

políticos. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2005.

Partidos Políticos do Brasil. Disponível em:www.suapesquisa.com.

PDT Nacional. Disponível em: http://www.pdt.org.br/index.php/pdt/historia.

Projeto Identidade Pinhais. Disponível em: www.pinhais.pr.gov.br.

SARTORI, Giovani. Partidos e sistemas partidários. Brasília: Ed. UnB, 1982.

Tribunal Regional Eleitoral. Disponível em: www.tre-pr.gov.br.

Page 41: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

31

ANEXO

CENÁRIO DOS PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL

A legislação eleitoral brasileira e a Constituição, promulgada em 1988, dão

liberdade para que todos os cidadãos, que gozem plenamente de seus direitos civis,

formem partidos políticos e participem dos processos eleitorais sem restrições, mas

dentro do que permite a lei eleitoral.

Hoje, os partidos políticos que não concordam com as ações do governo

central não sofrem mais as sanções truculentas, não são marginalizados ou forçados a

lutar pelos seus direitos na clandestinidade como durante o Estado Novo 1937-1945,

ou ditadura militar 1964-1985.

Durante o Regime Militar, estabeleceu-se a existência de apenas duas

legendas: ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento Democrático

Brasileiro). Somente as duas eram “aceitas” como representantes da população no

Congresso Nacional. A ARENA era formada por políticos favoráveis ao regime militar,

enquanto o MBD por políticos oposicionistas. O Brasil voltou ao regime democrático no

início da década de 1980, possibilitando a existência de vários partidos políticos, a

seguir.

PARTIDOS POLÍTICOS BRASILEIROS4

PDT - Partido Democrático Trabalhista - Criado em 1981, o PDT resgatou a principal

bandeira defendida pelo ex-presidente Getúlio Vargas, a defesa do trabalhador, o

chamado trabalhismo. De tendência nacionalista e social-democrata, tem como

redutos políticos os estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Nessas regiões,

tem o apoio de uma significativa base eleitoral popular. Sua principal figura foi o ex-

governador Leonel Brizola, falecido em 2004. O PDT defende como idéia principal o

crescimento do país através do investimento do Estado na indústria nacional, sendo

contrário às privatizações.

PC do B - Partido Comunista do Brasil - Fundado em 25 de março de 1922, o Partido

Comunista do Brasil foi colocado na ilegalidade durante o regime militar (1964 a 1985).

4 Fonte Site: www.suapesquisa.com (Internet, cópia íntegra) Partidos Políticos do Brasil.

Page 42: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

32

Mesmo assim, políticos e partidários do PC do B entraram nas fileiras da luta armada

contra os militares. O PC do B voltou a funcionar na legalidade somente em 1985,

durante o governo de José Sarney. Este partido defende a implantação do socialismo

no Brasil e tem como bandeiras principais a luta pela reforma agrária, distribuição de

renda e igualdade social. A principal figura do partido foi o ex-deputado João

Amazonas.

PR - Partido da República - Criado em 24 de outubro de 2006 com a fusão do PL

(Partido Liberal) e PRONA (Partido da Reedificação da Ordem Nacional), o Partido

Liberal entrou em funcionamento no ano de 1985, reunindo vários políticos da antiga

ARENA e também dissidentes do PFL e do PDS. O partido tem uma proposta de

governo que defende o liberalismo econômico com pouca intervenção do estado na

economia. Outra importante bandeira dos integrantes do PR é a diminuição das taxas

e impostos cobrados pelo governo.

DEM - Democratas - Antigo PFL - Partido da Frente Liberal - O PFL foi registrado em

1984 e contou com a filiação de vários políticos dissidentes do PDS. Apoiou e

forneceu sustentação política durante os governos de José Sarney, Fernando Collor e

Fernando Henrique Cardoso. Atualmente faz oposição ao governo Lula (Dilma). Suas

bases partidárias estão na região Nordeste do Brasil, embora administre atualmente a

cidade de São Paulo com o prefeito Gilberto Kassab. Em 28 de março de 2007,

passou a chamar-se Democratas (DEM). Os partidários defendem uma economia livre

de barreiras e a redução de taxas e impostos.

PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro. Fundado em 1980, reuniu uma

grande quantidade de políticos que integravam o MDB na época do governo militar.

Identificado pelos eleitores como o principal representante da redemocratização do

país, no início da década de 1980, foi o vencedor em grande parte das eleições

ocorridas no período pós-regime militar. Chegou ao poder nacional com José Sarney,

que se tornou presidente da República após a morte de Tancredo Neves. Com o

sucesso do Plano Cruzado, em 1986, o PMDB conseguiu eleger a grande maioria dos

governadores naquelas eleições. Após o fracasso do Plano Cruzado e a morte de seu

maior representante, Ulysses Guimarães, o PMDB entrou em declínio. Muitos políticos

deixaram a legenda para integrar outras ou fundar novos partidos. A principal legenda

fundada pelos dissidentes é o PSDB.

PPS - Partido Popular Socialista - Com a queda do muro de Berlim e o fim do

socialismo, muitos partidos deixaram a denominação comunista ou socialista de lado.

Foi o que aconteceu com o PCB que se transformou em PPS, em 1992. Além da

mudança de nomenclatura, mexeu em suas bases ideológicas, aproximando-se mais

Page 43: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

33

da social-democracia. Suas principais figuras políticas da atualidade são o ex-

governador do Ceará Ciro Gomes (hoje no PSB) e o senador Roberto Freire.

PP - Partido Progressista (ex-PPB) - Criado em 1995 da fusão do PPR (Partido

Progressista Reformador) com o PP e PRP. Tem como base políticos do antigo PDS,

que surgiu a partir da antiga ARENA. O PP defende idéias amplamente baseadas no

capitalismo e na economia de mercado. Seus principais representantes são o ex-

governador e ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, e o senador Esperidião Amin, de

Santa Catarina.

PSDB - Partido da Social-Democracia Brasileira - O PSDB foi fundado no ano de 1988

por políticos que saíram do PMDB por discordarem dos rumos que o partido estava

tomando na elaboração da Constituição daquele ano. Políticos como Mário Covas,

Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Ciro Gomes defendiam o parlamentarismo

e o mandato de apenas quatro anos para Sarney. De base social-democrata, defende

o desenvolvimento do país com justiça social. O PSDB cresceu muito durante e após

os dois mandatos na presidência de Fernando Henrique Cardoso. Atualmente, é a

principal força de oposição ao governo Lula.

PSB - Partido Socialista Brasileiro - Foi criado no ano de 1947 e defende idéias do

socialismo, com transformações na sociedade, que representem a melhoria da

qualidade de vida dos cidadãos brasileiros. Seu principal representante político foi

Miguel Arraes.

PT - Partido dos Trabalhadores - Surgiu junto com as greves e o movimento sindical

no início da década de 1980, na região do ABC Paulista. Apareceu no cenário político

para ser uma grande força de oposição e representante dos trabalhadores e das

classes populares. De base socialista, o PT defende a reforma agrária e a justiça

social. Seu principal líder é o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que em dois

mandatos sustentou metas de crescimento e estabilidade econômica, controle

inflacionário e geração de empregos.

PSTU - Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado - Fundado em 1994 por

dissidentes do PT. Os integrantes do PSTU defendem o fim do capitalismo e a

implantação do socialismo no Brasil. Tem como base os antigos regimes socialistas do

Leste Europeu. São favoráveis ao sistema onde os trabalhadores consigam mais

poder e participação social.

PV - Partido Verde. De base ideológica ecológica, foi fundado em 1986. Os integrantes

do PV lutam por uma sociedade capaz de crescer com respeito à natureza. São

favoráveis ao respeito aos direitos civis, à paz, qualidade de vida e formas alternativas

Page 44: A FUNDAÇÃO DO PDT NA CIDADE DE PINHAIS/PR

34

de gestão pública. Lutam contra as ameaças ao clima e aos ecossistemas do nosso

planeta.

PTB - Partido Trabalhista Brasileiro - Fundado no ano de 1979, contou com a

participação de Ivete Vargas, filha do ex-presidente Getúlio Vargas. No seu início,

pregava a volta dos ideais nacionalistas defendidos por Getúlio Vargas. Atualmente é

uma legenda com pouca força política e defende idéias identificadas com o

liberalismo.

PCB - Partido Comunista Brasileiro. Fundado na cidade de Niterói em 25 de março de

1922, defende o comunismo, baseado nas idéias de Marx e Engels, e tem como

símbolo a foice e o martelo cruzados. As cores do partido são o vermelho e o amarelo.

É um partido de esquerda, contrário ao sistema capitalista e ao neoliberalismo. É

também conhecido como "Partidão".

PSOL - Partido Socialismo e Liberdade. Fundado em 6 de junho de 2004, defende o

socialismo como forma de governo. Foi criado por dissidentes do PT (Partido dos

Trabalhadores). É um partido de esquerda, contrário ao sistema capitalista e ao

neoliberalismo. Tem como cor oficial o vermelho e como símbolo um sol.

PRTB - Partido Renovador Trabalhista Brasileiro - obteve registro definitivo em 18 de

fevereiro de 1997.

PT do B - Partido Trabalhista do Brasil - obteve o registro definitivo em 11 de outubro

de 1994.

PTN - Partido Trabalhista Nacional - refundado em 1995.

PTC - Partido Trabalhista Cristão - obteve registro definitivo em 22 de fevereiro de

1990.

PSL - Partido Social Liberal - obteve registro definitivo em 2 de junho de 1998.

PSC - Partido Social Cristão - obteve o registro definitivo em 29 de março de 1990.

PSDC - Partido Social Democrata Cristão - obteve registro definitivo no TSE em 5 de

agosto de 1997.

PMN - Partido da Mobilização Nacional - fundado em 1984.

PRP - Partido Republicano Progressista - registro definitivo em 22 de novembro de

1991.

PHS - Partido Humanista da Solidariedade - fundado em 20 de março de 1997.

PRB - Partido Republicano Brasileiro - fundado em 25 de agosto de 2005.

Dessa gama de partidos políticos existentes no Brasil, apenas cinco participaram com

candidaturas próprias das eleições municipais de 1992, no município de Pinhais/Pr: o

Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido da Frente Liberal (PFL), o Partido

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Democrático Trabalhista (PDT), o Partido Social Trabalhista (PST) e o Partido dos

Trabalhadores (PT).