a função do administrador judicial na recuperação judicial

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A Função do Administrador Judicial na Recuperação Judicial por Luiz Alberto Fiore Não pretendemos neste artigo fazer uma ampla e detalhada explanação sobre as funções do administrador judicial no processo de recuperação judicial, porém apresentar alguns comentários decorrentes da experiência pessoal vivida nos últimos cinco anos de atuação como administrador judicial em importantes processos de recuperação judicial. As funções do administrador judicial estão detalhadas na Lei 11.101 de 09/02/2005, que regula a recuperação judicial, e extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária (LRJF). Essas atribuições estão descritas na seção III da LRJF, sendo que na recuperação judicial foram definidas pelo Dr. Angelito Dornelles da Rocha como: "O Administrador na recuperação judicial possui semelhança a um fiscal, encarregado de acompanhar e fiscalizar o processo de recuperação judicial e o comportamento da empresa em recuperação e daqueles que a dirigem". Ensina Waldo Fazzio Júnior que o administrador é um "auxiliar qualificado do juízo. Inserto no elenco dos particulares colaboradores da justiça, não representa os credores nem substitui o devedor falido". Incontestável mencionar que as alterações introduzidas pela LRJF requererem que o Administrador Judicial (AJ), em complemento aos conhecimentos jurídicos, também possua conhecimentos de administração de empresas, contábil e econômico. Nada mais lógico, pois é fundamental possuir todos esses conhecimentos para bem poder fiscalizar o comportamento da empresa e o processo de recuperação judicial. O legislador, consciente dessa exigência, passou a aceitar que profissionais de áreas não jurídicas passassem a atuar como AJ. Mais do que isso, passou, no seu artigo 21, a aceitar que pessoa jurídica especializada também atuasse como AJ. Neste ponto faremos o primeiro comentário decorrente de nossa vivência profissional na área. Observaríamos que o art. 21 deveria considerar, conforme o grau de complexidade e volume do endividamento da empresa em recuperação, o conhecimento conjunto de todas as áreas profissionais ali elencadas e, mais do que isso, a atuação de empresa profissional, ou consórcio de profissionais e empresas, que

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A Funo do Administrador Judicial na Recuperao Judicial por Luiz Alberto Fiore No pretendemos neste artigo fazer uma ampla e detalhada explanao sobre as funes do administrador judicial no processo de recuperao judicial, porm apresentar alguns comentrios decorrentes da experincia pessoal vivida nos ltimos cinco anos de atuao como administrador judicial em importantes processos de recuperao judicial. As funes do administrador judicial esto detalhadas na Lei 11.101 de 09/02/2005, que regula a recuperao judicial, e extrajudicial e a falncia do empresrio e da sociedade empresria (LRJF). Essas atribuies esto descritas na seo III da LRJF, sendo que na recuperao judicial foram definidas pelo Dr. Angelito Dornelles da Rocha como: "O Administrador na recuperao judicial possui semelhana a um fiscal, encarregado de acompanhar e fiscalizar o processo de recuperao judicial e o comportamento da empresa em recuperao e daqueles que a dirigem". Ensina Waldo Fazzio Jnior que o administrador um "auxiliar qualificado do juzo. Inserto no elenco dos particulares colaboradores da justia, no representa os credores nem substitui o devedor falido". Incontestvel mencionar que as alteraes introduzidas pela LRJF requererem que o Administrador Judicial (AJ), em complemento aos conhecimentos jurdicos, tambm possua conhecimentos de administrao de empresas, contbil e econmico. Nada mais lgico, pois fundamental possuir todos esses conhecimentos para bem poder fiscalizar o comportamento da empresa e o processo de recuperao judicial. O legislador, consciente dessa exigncia, passou a aceitar que profissionais de reas no jurdicas passassem a atuar como AJ. Mais do que isso, passou, no seu artigo 21, a aceitar que pessoa jurdica especializada tambm atuasse como AJ. Neste ponto faremos o primeiro comentrio decorrente de nossa vivncia profissional na rea. Observaramos que o art. 21 deveria considerar, conforme o grau de complexidade e volume do endividamento da empresa em recuperao, o conhecimento conjunto de todas as reas profissionais ali elencadas e, mais do que isso, a atuao de empresa profissional, ou consrcio de profissionais e empresas, que renam em sua competncias os conhecimentos jurdicos, contbeis, administrativos e econmicos. No h como ser fiscal da atuao administrativa da empresa em recuperao sem deter esses conhecimentos. No primeiro grande processo de recuperao judicial conforme a LRJF, o processo da VARIG, o juiz responsvel pelo mesmo, Dr. Luiz Ayoub, notando essa necessidade, nomeou como administrador judicial a Deloitte, que se associou a um grande escritrio de advocacia. Posteriormente a Deloitte foi nomeada para outros processos de recuperao judicial em diferentes comarcas. A necessidade de profissional, empresa especializada ou consrcio de empresas/profissionais que renam os conhecimentos tcnicos necessrios se amplia em face de outras consideraes sobre a atribuio do AJ, que esto ligadas inexistncia de poderes a ele atribudos para interferir nos atos administrativos da recuperanda, tampouco no processo de preparao do Plano de Recuperao Judicial e de sua discusso entre credores e devedor. Entendemos que, como elemento independente do devedor e dos credores, teria o AJ a possibilidade de assumir novas funes nas aes acima mencionadas, com o objetivo de aumentar as possibilidades de recuperao, ou que o processo seja imediatamente convolado em falncia, caso essa possibilidade no exista. O que sugerimos que, juntamente com a profissionalizao do AJ, sejam-lhe atribudas maior responsabilidade e proteo. Passamos a algumas observaes colhidas durante

nossa experincia profissional, que no tm a pretenso de esgotar o assunto, porm somente de levantar questes para discusso e aprofundamento. A anlise do Plano de Recuperao Judicial apresentado pela Devedora. Nenhuma atribuio legal tem o administrador judicial com referncia anlise e emisso de opinio sobre a exequibilidade do Plano de Recuperao Judicial (PRJ) preparado pela devedora. Temos observado em diversos processos que o PRJ apresentado possui diversas falhas de premissas, inclusive tcnicas, que inviabilizam sua execuo. Muitas vezes esses planos so aprovados porque atendem a interesses de um pequeno grupo de credores, que esto mais preocupados em negociar melhores condies para realizao de seus crditos do que analisar a efetiva possibilidade de execuo do PRJ. Ora, se o esprito da lei, conforme seu art. 47, viabilizar a superao da situao de crise econmico-financeira do devedor, a fim de permitir a manuteno da fonte produtora (grifo nosso), no faz o mnimo sentido o AJ assistir passivo aprovao de um PRJ que, ao invs de permitir a manuteno da fonte produtora, somente estender o prazo da convolao da recuperao em falncia, com claro prejuzo a seus credores, no atingindo a funo social da manuteno da atividade social e impedindo inclusive que novas empresas se instalem em substituio recuperanda. Em nosso entendimento, o juiz responsvel pela recuperao judicial, antes de aprovar a convocao da assembleia para discusso e aprovao do PRJ, deveria ouvir o AJ sobre a adequao tcnica do mesmo. Poderia se argumentar desnecessria essa atribuio, j que a LRJF prev que o PRJ deve conter um laudo econmico-financeiro subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada. Todavia, o AJ, por sua independncia e conhecimento multiprofissional, e na qualidade de assessor do juiz, deveria ter a atribuio de se manifestar sobre o mesmo. A evidncia de abuso econmico. Nas diversas assembleias que conduzimos, assistimos em vrias oportunidades que planos sofrem alteraes relevantes na data de sua deliberao, visando atender ao interesse de credores que possuem influncia no processo de sua aprovao. Nesse processo, diversas vezes essas alteraes inviabilizam sua recuperao. O art. 45 da LRJF procurou criar mecanismos de igualdade e representatividade na deliberao de aprovao do PRJ entre as diversas classes de credores. O art. 58, 1, apresenta as situaes em que o PRJ possa ser aprovado, mesmo que no atendidos os requisitos do art. 45, visando, no nosso entendimento, coibir as atitudes de abuso econmico. Todavia, as previses do art. 58 no so suficientes para eliminar todas as provveis situaes de abuso econmico, e seria impossvel a LRJF detalhar todas as situaes em que o juiz poderia deliberar pela aprovao, ou no, do PRJ contrrio deciso da Assembleia Geral de Credores. Neste momento o AJ poderia ser chamado a opinar sobre a existncia de evidncia de abuso econmico. Lembramo-nos de uma assembleia da VARIG, em que o PRJ corria o risco de no ser aprovado por um credor que possua relevncia em uma das classes de credores e, por esse motivo, desejava ter um benefcio adicional. De se ressaltar tambm que diversas vezes notamos votos negativos por credores que traziam claro interesse pela no continuidade da empresa, por fatores competitivos. Portanto, deveriam ser concedidos ao juiz atribuies e poderes para verificar a prtica do voto abusivo, com respaldo em opinio emitida pelo AJ. Desta forma, o plano ainda precisaria da maioria dos credores para ser aprovado, mas existiria uma disciplina do

abuso de poder no direito de voto, semelhana do que ocorre na lei das sociedades annimas. O perodo de recuperao judicial. A LRJF prev no seu art. 61 que o devedor permanecer em recuperao judicial at que se cumpram todas as obrigaes previstas no PRJ que se vencerem at dois anos depois da concesso da recuperao judicial. Logicamente, o esprito deste artigo, no nosso entendimento, que a devedora volte ao curso normal de seus negcios o mais rapidamente possvel, sem as amarras e custos associados a um processo de recuperao judicial. Desnecessrio tambm frisar a importncia do acompanhamento por parte do administrador judicial do atendimento por parte da devedora das obrigaes previstas no PRJ. Todavia, em diversos planos observamos que a maioria das obrigaes tem seu vencimento aps o segundo ano da concesso da recuperao judicial. Nesse caso, seria importante considerar a manuteno do administrador judicial com a atribuio de acompanhar e reportar o correto atendimento as obrigaes do PRJ. Da necessidade da reviso do PRJ ou convolao em falncia, antes do vencimento das obrigaes. Por diversas vezes, atuando como AJ, tivemos clara evidncia de que a recuperanda no conseguiria atingir os objetivos e obrigaes previstas no PRJ, antecipadamente ao seu vencimento. Essa evidncia pode ser obtida pela anlise da gerao de caixa, do resultado de suas operaes, pelo no atendimento de metas operacionais intermedirias previstas no PRJ e pelos cenrios de mercado. Ora, se sabemos que a devedora no conseguir atingir suas obrigaes futuras face aos resultados intermedirios obtidos, por que esperar pelo vencimento e no cumprimento das obrigaes, para somente ento tomar medidas corretivas? Indo mais a fundo, por que no deve ter a obrigao de se manifestar o AJ nos casos em que claramente a recuperanda caminha para uma situao de insolvncia? Entendemos que o AJ deve se manifestar nessas situaes, o que de fato temos feito nos casos em que temos atuado nessa funo. Faltam, no entanto, em nosso entendimento, ferramentas legais para que o AJ obrigue a recuperanda a apresentar novo PRJ ou transforme a recuperao judicial em falncia, independentemente das obrigaes no estarem vencidas, sempre que existir clara evidncia de impossibilidade de seu cumprimento. Do acompanhamento pelo Administrador Judicial dos atos administrativos. Diversos juristas so eloquentes ao afirmar que o fato de o AJ ter o poder de fiscalizar no concede a ele poderes para interferir nos atos administrativos, ter acesso sede da empresa e participar de reunies internas ou externas dos administradores. Entendemos essa posio, pois os administradores da recuperanda conservam a administrao do negcio, salvo se ocorrer seu afastamento nos termos legais, sendo garantido ao devedor o direito de propriedade e sigilo. Todavia, deveria o AJ ter acesso a decises relevantes adotadas pela administrao da recuperanda e opinar sobre seu efeito aos credores e atendimento ao PRJ. Dessa forma, os credores poderiam adotar as aes que entendam necessrias para preservar seus direitos. Concluso.

Logicamente a lista de sugestes acima no exaustiva. Tambm no tivemos a pretenso de esgotar o assunto nos comentrios efetuados, mas to somente de suscitar o debate e concluses, as quais entendemos ser o TMA o rgo representativo competente para tal mister. Pretendemos, dessa forma, iniciar a discusso sobre alteraes na forma de nomeao e nas funes do AJ, que imprimam maior responsabilidade em contrapartida de maior autonomia e proteo na execuo de suas funes. Estamos tambm propondo uma melhor profissionalizao do AJ, como j ocorre em outros pases, possibilitando o acesso de mais empresas especializadas nessa funo. O objetivo final que o AJ seja mais efetivo para preservar o esprito do art. 47, porm somente viabilizando a preservao de empresas que efetivamente tenham condies de manter sua funo social e o estmulo atividade econmica e, por outro lado, criando condies e ferramentas ao AJ, para que este possa contribuir com a retirada do processo de recuperao de empresas que efetivamente no possuam as condies de recuperao e que, se mantidas operando, possam vir a criar maiores prejuzos aos credores e principalmente sociedade. Finalmente, no podemos deixar de registrar que, para a correta execuo das funes de AJ, no somente aquelas j previstas na LRJF, como aquelas que venham a ser adotadas visando aprimorar o processo, fundamental que o AJ a ser indicado possua todas as competncias requeridas. Por esse motivo devemos incentivar a participao de empresas multiprofissionais, ou consrcio de profissionais/empresas que consigam obter todas as competncias necessrias para bem executar esta importante tarefa. Luiz Alberto Fiore, Conselheiro da TMA Brasil

Competncia e Fiscalizao das Atividades O artigo 22 da Lei de Recuperao de Empresas estabelece alguns dos deveres do administrador judicial. Do rol descrito no dispositivo destaca-se atividades administrativas e judicirias, segundo sejam vocacionadas a serem cumpridas no processo de recuperao ou perante outras instncias. Os deveres previstos como imputveis ao administrador judicial, no dispositivo, descrevem condutas que devem ser praticadas desde a posse at a concluso da recuperao judicial. A lei dispe em seu artigo 22 e incisos a competncia do administrador tanto na recuperao judicial quanto na falncia. So atribuies do administrador judicial na recuperao judicial e na falncia: a)- O envio de correspondncias aos credores, dando cincia da data do pedido da recuperao judicial ou da decretao da quebra, com informaes acerca da natureza, o valor e a classificao dos crditos; b)- O fornecimento de informaes de interesse dos credores, bem como de extratos dos livros do devedor, a fim de servirem de fundamento nas habilitaes e impugnaes de crditos; c)- A exigncia de informaes dos credores, do devedor ou seus administradores;

d)- A elaborao da relao de credores e a consolidao do quadro geral; e)- A convocao da Assemblia Geral de Credores; f)- A contratao, mediante autorizao judicial, de profissionais ou empresas especializadas para auxili-lo no exerccio de suas funes; g)- A manifestao nos casos previstos em lei. So atribuies do administrador judicial na recuperao judicial: a)- A fiscalizao das atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperao judicial; b)- O requerimento da falncia no caso descumprimento do referido plano; c)- A apresentao de relatrio mensal das atividades do devedor e relatrio sobre a execuo do plano de recuperao. Tambm compete ao administrador judicial a verificao dos crditos, com base nos livros contbeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos 16 documentos que lhe forem apresentados pelos credores, podendo, para tal mister, contar com o auxilio de profissionais ou empresas especializadas. Nos casos de impugnao de crdito, o administrador judicial ser intimado pelo Juiz a emitir parecer, devendo juntar sua manifestao laudo elaborado por profissional ou empresa especializada, se for o caso, e todas as informaes sobre o crdito, contidas nos livros e documentos do devedor. Na falncia, o administrador judicial no poder restringir sobre obrigaes e direitos da massa falida e conceder abatimento de dvidas, ainda que sejam de difcil recebimento, sem prvia autorizao judicial e aps, ouvidos o Comit de Credores e o devedor. Na hiptese de afastamento do devedor e enquanto a Assemblia Geral de Credores no deliberar o nome do gestor que assumir a administrao das atividades do devedor, caber ao administrador judicial o exerccio das funes de gestor. A fiscalizao das atividades do administrador ficar a cargo do Juiz e do Comit de Credores, se este existir. Na ausncia do Comit de Credores, caber ao administrador assumir suas funes. O administrador judicial poder exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informaes, sem precisar requerer ao juiz, dispondo, assim de poderes que independem do provimento jurisdicional. Essas informaes so necessrias justamente para que possa haver a interao do administrador judicial com todas as causas e situaes anteriores e concomitantes recuperao judicial, estando assim, a par da real situao financeira da empresa e suas possibilidades de recuperao. E sempre dever ser convocada pelo administrador judicial a Assemblia Geral de Credores nos casos previstos na Lei de Recuperao de Empresas ou quando entender necessrio ouvi-la para tomar determinadas decises. A respeito dos poderes conferidos ao administrador judicial, Manoel Justino Bezerra Filho explica: Muito embora esta lei tenha diminudo os poderes do administrador judicial relativamente ao sindico da lei anterior, ainda assim ele continua dispondo de grande liberdade de ao, como j examinado. A esse grande poder de direo e impulso corresponde a obrigao de responder pelos prejuzos causados massa, at com seus bens pessoais (art. 154, 5), e, em vrios casos, podendo ser incurso em crime de desobedincia ou ser ru de processo por crimes falimentares passiveis de recluso ( art. 177). correto

17 que assim seja. O administrador aquele que sai a campo, para administrar a empresa e salvaguardar os interesses dos credores; o Juiz permanece cuidando de todos os seus demais afazeres e municiado com informaes pelo administrador. (...) Ante a possibilidade de responsabilizao pessoal daquele que levou prejuzo massa, por dolo ou mesmo por simples culpa, sempre que houver dissidncia em deliberao do Comit, o dissidente deve fazer constar em ata sua discordncia, para ressalva de futura responsabilidade. (BEZERRA, 2005, p.108)

A Funo do Administrador Judicial na Recuperao de Empresas Antonio Ferreira 1 Maria Bernadete Miranda 2 Resumo

O administrador judicial na recuperao de empresas por Angelito Dornelles da Rocha O administrador na recuperao judicial possui semelhana a um fiscal, encarregado de acompanhar e fiscalizar o processo de recuperao judicial e o comportamento da empresa em recuperao e daqueles que a dirigem. No se trata de administrao controlada, mas fiscalizada. Como Waldo Fazzio Jnior ensina, o administrador um auxiliar qualificado do juzo. Inserto no elenco dos particulares colaboradores da justia, no representa os credores nem substitui o devedor falido.1 Embora no possua poderes gerenciais, no sinnimo de uma participao meramente passiva. Ora, caso constate a ocorrncia de fatos que prejudiquem o cumprimento da recuperao, dever comunicar ao rgo judicial para que se tomem as devidas providncias. Haroldo Malheiros Duclerc Verosa explana que a fiscalizao das atividades do devedor ser (...) um dos papis principais a serem exercidos pelo administrador judicial, de maneira a que efetivamente venha a ser cumprido o plano de recuperao judicial.2 Nas palavras de Sebastio Jos Roque, citando Miranda Valverde: o administrador (...), rgo ou agente auxiliar da Justia, criado a bem do interesse pblico e para a consecuo da finalidade do processo da falncia. Age por direito prprio em seu nome, no cumprimento dos deveres que a lei lhe impe.3 Fbio Ulhoa Coelho conceitua o administrador judicial como o agente auxiliar do juiz que, em nome prprio (portanto, com responsabilidade), deve cumprir com as funes cometidas pela lei. Alm de auxiliar o juiz na administrao da falncia, o administrador judicial tambm o representante da comunho de interesses dos credores na falncia.4 O fato de possuir o administrador judicial o poder de fiscalizar, no ter, conforme ensina o professor Mandel, poderes para interferir nos atos administrativos sem o devido

processo legal e autorizao judicial, nem ao menos ter livre acesso sede da empresa e reunies internas ou externas dos administradores (...).5 A limitao ao administrador judicial d-se pelo fato dos administradores da empresa no perderem a livre administrao do negcio num primeiro momento, sendo garantido ao devedor o direito de propriedade e sigilos. A fiscalizao dever ocorrer atravs de balancetes mensais ou relatrios confeccionados pelo devedor, assim, ter-se- a demonstrao do cumprimento das metas estabelecidas no plano de recuperao da empresa. Ecio Perin Jnior lembra o ensinamento de Nelson Abro quando esclarece que: (...)o administrador judicial, nas legislaes mais avanadas, no tutela simplesmente os interesses dos credores, mas sim a salvaguarda dos interesses que chama de difusos, consistentes na preservao da empresa, com o escopo de manuteno dos empregos, na defesa dos direitos dos acionistas minoritrios (no controladores) e dos fornecedores do chamado capital de crdito proveniente da coletividade por meio dos bancos, donde pode (...) falar-se, no sem propriedade, que hodiernamente o dinheiro da coletividade, portanto a poupana difusa, que sustenta tecnicamente a atividade empresarial. Nesse sentido, o administrador judicial possui enorme relevncia para os interesses coletivos e difusos, uma vez que sua atuao est revestida de aspectos fundamentais quanto ao procedimento adjetivo, porque, muito mais que interesses privados, sobressai o legtimo interesse pblico.6 Na hiptese de afastamento do devedor, ou outro dirigente das funes administrativas da empresa em recuperao, ser o administrador judicial incumbido nas funes deles. Nomeao e impedimentos O administrador judicial poder ser pessoa fsica ou jurdica, na segunda hiptese, deverse- declarar o nome do profissional responsvel pela conduo do processo de recuperao judicial7 . Ora, conforme Manoel Justino Bezerra Filho, como o administrador assume uma srie de obrigaes e responsabilidades, necessria a identificao pessoal daquele que deve responder ante o juiz por seu cumprimento. Haroldo Malheiros D. Verosa completa o pensamento de Manoel Justino escrevendo que estabelece-se, desta forma, o princpio da identidade fsica da pessoa responsvel pela conduo das funes legalmente previstas, impedindo os prejuzos que certamente surgiam por freqentes mudanas das pessoas naturais encarregadas do exerccio daquelas.8 Para os fins penais, o administrador considerado funcionrio pblico. Para demais efeitos, nos direito civil e administrativo, ele agente auxiliar da justia, investido na funo pelo juiz, que o escolher, dentre profissionais idneos das reas do direito, economia, administrao ou contabilidade,9 o que se tira da leitura da obra de Fbio Ulhoa Coelho. No basta ser somente das reas cientficas elencadas na lei, tambm precisar ser profissional com condies tcnicas e experincia para bem desempenhar as atribuies cometidas por lei que ir exigir do administrador enorme capacidade de gerir a recuperao da empresa que se apresenta em dificuldades financeiras. A nomeao do administrador judicial dar-se- ao ser proferido o despacho que conceder a recuperao

judicial. Sebastio Jos Roque menciona que a nomeao do administrador judicial dever recair sobre profissional idneo de nvel superior, formado preferencialmente nas reas do direito, economia, administrao de empresas e contabilidade. Como se viu, pelo fato de o administrador judicial ser nomeado pelo juiz, aquele necessariamente ser algum de confiana deste, pois ambos devem trabalhar em sintonia um com o outro, para que a recuperao da empresa ocorra da melhor maneira possvel tanto para o devedor quanto para os credores. A doutrina especializada no assunto opina acerca da escolha recair em determinados profissionais. Para Fbio Ulhoa Coelho: (...) o advogado no necessariamente o profissional mais indicado para a funo, visto que muitas das atribuies do administrador judicial dependem, para sei bom desempenho, mais de conhecimentos de administrao de empresas do que jurdicos. O ideal a escolha recair sobre pessoa com conhecimentos ou experincia na administrao de empresas do porte da devedora e, quando necessrio, autorizar a contratao de advogado para assisti-lo ou massa.11 J para o professor Sebastio Jos Roque: De nossa parte, temos dvidas quanto atuao do administrador judicial no advogado; no s ele fiscaliza e controla o comportamento da empresa, mas aciona o processo. imperioso o conhecimento de normas processuais e das prticas judicirias, que s atraem advogados. Alm do mais, s o advogado tem capacidade postulatria; quem no tiver ter que contratar advogado para tanto.12 Cremos que a preferncia deva se dar ao profissional qualificado para o desafio ao exerccio da funo. Ora, ocorrero casos em que o profissional com experincia e conhecimentos administrativos, poder trazer mais benefcios empresa em recuperao, que o profissional com conhecimentos exclusivos no direito, tendo em vista que este poder ser contratado conforme a necessidade da empresa em recuperao. Haver sempre que ser considerado pelo juiz na escolha do administrador judicial o tipo de profissional que cada caso de recuperao de empresa exige. A lei prev como formalidade para a investidura do administrador judicial em suas funes a assinatura do termo de compromisso nos autos judiciais, para isso, ele dever ser intimado pessoalmente. Com a assinatura do termo de compromisso, ser manifestada a concordncia em assumir as obrigaes e responsabilidades decorrentes do exerccio da funo. Caso no haja a assinatura do termo de compromisso no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, contadas da juntada aos autos do mandado de intimao pessoal cumprido, ser nomeado pelo juiz outro administrador judicial. Como bem observa Fbio Ulhoa Coelho, o descumprimento do prazo implica ineficcia da nomeao ou eleio.13 Da leitura do art. 30 da LRF14 , retira-se que h impedimento de exercer a funo de administrador judicial quem, nos ltimos cinco anos fora destitudo, deixara de prestar contas dentro dos prazos legais ou teve a prestao de contas desaprovadas, no exerccio do cargo de administrador judicial ou de membro do comit em falncia. Tambm ser impedido de exercer a funo de administrador judicial caso haja entre este e o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais, relao de parentesco ou afinidade at o terceiro grau. Bem como a relao de amizade, inimizade ou dependncia ser motivo de impedimento de exercer a funo de administrador judicial.

Importante observao aduz o professor Paulo Fernando Salles de Toledo: Verificam-se aqui algumas novidades. A primeira a de que se faz meno a administradores, termo bem mais amplo do que o adotado na antiga LF (representantes). Ou seja, no apenas os representantes legais da devedora esto compreendidos na previso legal, mas todos os seus administradores, o que abrange tambm os diretores em geral e os membros do conselho de administrao.15 possibilitado ao devedor, credor ou Ministrio Pblico pedir a substituio do administrador judicial que possuir qualquer dos impedimentos elencados pela lei,16 at mesmo ao prprio nomeado caber informar ao juiz eventual impedimento seu. Atribuies Ao assumir a administrao do devedor falido e fiscalizar aquele em recuperao, o administrador dever informar por carta, enviando-a aos credores j conhecidos nos autos, o local onde se encontra disposio dos credores e demais interessados, tambm as informaes que dispe acerca de seus crditos. Dessa forma garantido ao credor uma participao mais ativa na recuperao e acesso s informaes referentes ao cumprimento do plano de recuperao. Ter que dar os extratos dos livros do devedor, para que sirvam de fundamento nas habilitaes e impugnaes de crditos. Esses extratos devero ser confeccionados por perito contador devidamente habilitado. O administrador judicial poder exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informaes, sem precisar requerer ao juiz, dispondo, assim de poderes que independem do provimento jurisdicional. Essas informaes so necessrias justamente para que possa haver a interao do administrador judicial com todas as causas e situaes anteriores e concomitantes recuperao judicial, estando assim, a par da real situao financeira da empresa e suas possibilidades de recuperao. determinado ao administrador judicial providenciar a publicao de edital contendo a relao de credores, bem como elaborar o quadro-geral de credores a ser homologado pelo juiz. Dever ser convocada pelo administrador judicial a assemblia-geral de credores nos casos previstos na LRF ou quando entender necessrio ouvi-la para tomar determinadas decises.17 Quanto ao exerccio de suas funes, poder contratar, sempre mediante autorizao judicial, profissionais ou empresas especializadas para auxili-lo. Ora, haver recuperaes de maior volume, fazendo com que seja necessrio ao administrador assessorar-se de pessoas ou empresas especializadas em determinadas reas as quais o administrador judicial no sinta-se apto a atuar com a competncia exigida. Cabe tambm, no exerccio de suas atribuies, manifestar-se nos autos, no somente nos casos previstos na LRF como tambm em qualquer momento em que se fizer necessria para o correto andamento do feito. Caso haja o descumprimento de qualquer obrigao assumida pelo devedor nos autos da

recuperao judicial, no prazo de dois anos contados do despacho que concede a recuperao judicial, o administrador judicial, na funo de fiscalizador, dever requerer a falncia. O descumprimento facilmente detectado pelo administrador judicial, atravs da anlise e levantamento das aes e decises tomadas pelo devedor, j que aquele tem a obrigao de apresentar relatrios mensais acerca das atividades do recuperando e outro acerca do andamento da execuo do plano de recuperao. A remunerao do administrador judicial na recuperao judicial ser fixada pelo juiz, baseando-se na qualidade e no grau de complexibilidade do trabalho realizado, no podendo exceder a 5% do valor pago aos credores. Este valor no ser pago integralmente vista. Parte da remunerao, o equivalente a 40% desta, somente ser paga no encerramento da recuperao judicial, condicionada tempestividade da prestao de contas e aprovao do relatrio a que trata o art. 63 da LFR.18 A data do pagamento dos 60% restantes vai coincidir com o pagamento aos credores. Com isso, o administrador judicial no sair to prejudicado, j que o pagamento aos credores poder ser feito durante a recuperao judicial. Manoel Justino Bezerra Filho comenta que o 2 estabeleceu critrio novo, determinando a reserva de 40% do devido ao administrador, para pagamento aps a realizao do ativo e julgamento de sua contas. Ocorre que, no momento em que o juiz fixe a remunerao devida, pode no haver(...) condies para pagamento (...)por isso, estabelece a lei esta possibilidade de reserva.19 Julio Mandel observa a respeito da reserva de 40% dos honorrios devidos ao administrador judicial nestes termos: A reserva de 40% dos honorrios prevista neste artigo foi criada para evitar que um administrador judicial recebesse todos os seus honorrios de forma antecipada e depois tivesse suas contas reprovadas, j que tal reprovao obrigaria o seu substituto, ou mesmo o devedor ou credores ou o Ministrio Pblico, a buscar a devoluo do dinheiro pago. Com a reserva, ao menos 40% do valor estaria protegido. Para que isso funcione, o ideal seria uma reteno mensal efetuada diretamente no ato do pagamento, com os valores retidos sendo depositados em conta judicial.20 Contudo, h situaes em que retira do administrador judicial o direito a remunerao: renncia sem relevante razo de direito, descumprimento das obrigaes legais, desaprovao de prestao de contas ou a sua destituio das funes. Quanto renncia, deveria ela possuir um tratamento diferente quanto s outras formas que retiram o direito remunerao, tendo sido o administrador judicial competente em suas funes at sua renncia, ele deveria receber pagamento proporcional ao servio prestado. Os relatrios, com exceo dos que versarem acerca de alguma etapa do plano cumprida ou aquele que versar sobre o cumprimento da totalidade da execuo do plano, elaborado no encerramento da recuperao judicial, no tero necessidades de serem extremamente detalhados, devem sim constar o faturamento mensal e compras do devedor. Podero, inclusive, serem feitos pelo prprio devedor caso as partes assim decidirem, contudo, dever o administrador fiscaliz-los, apresentando seus comentrios, cumprindo com a incumbncia de sua funo. Causas de afastamento

Tanto o devedor, o Ministrio Pblico quanto qualquer interessado, poder requerer o afastamento do administrador judicial, por omisso, negligncia ou prtica de ato lesivo administrao. O requerimento deve sempre ser devidamente fundamentado. O juiz ir decidir acerca do requerimento somente depois de intimar pessoalmente o devedor, o Ministrio Pblico e os credores para que se manifestem, conforme ensinamento de Paulo F.C. Salles de Toledo.21 Por motivo justificado, o juiz tambm poder, ex officio, destituir o administrador judicial. Alerta-se que toda destituio deve ocorrer devido a faltas graves cometidas pelo destitudo, que acarretaro danos massa. Caso os danos configurem crimes, responder o administrador destitudo criminalmente. J ato da destituio, o juiz ir nomear novo administrador judicial. Este, ao assumir suas funes, poder promover ao de responsabilidade, de rito ordinrio, a ser distribuda no juzo da falncia. Tambm tero legitimidade ativa nesta ao o Ministrio Pblico, o falido, o scio da empresa falida e at mesmo qualquer credor do devedor. O afastamento do administrador judicial trar conseqncias srias a este, tendo em vista que, conforme a prpria LRF, o afastado estar impedido de exercer a mesma funo em futuros processos falimentares ou recuperatrios, em perodo no inferior a cinco anos, bem como perde direito a remunerao e fica impedido de ser eleito membro de comit de credores em feitos falimentares. Como a destituio trata-se de uma penalidade, o administrador judicial tem o direito constitucional ampla defesa, devendo esta ser assegurada pelo juiz antes da deciso. Da deciso que conceder a destituio, caber agravo de instrumento nos moldes do Cdigo de Processo Civil brasileiro. Notas de rodap convertiadas 1. FAZZIO JR, Waldo. Nova Lei de Falncia e Recuperao de Empresas. So Paulo: Atlas, 2005. p. 326. 2. SOUZA JNIOR, Francisco Satiro de et alii. Comentrios Lei de Recuperao de Empresas e Falncia. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 171 3. ROQUE, Sebastio Jos. Direito de Recuperao de Empresas. So Paulo: cone, 2005, p. 198. 4. COELHO, Fbio Ulhoa. Comentrios nova lei de falncias e de Recuperao de empresas. So Paulo: Saraiva, 2005, p. 58. 5. MANDEL, Julio Kahan. Nova Lei de Falncias e Recuperao de Empresas anotada. So Paulo: Saraiva. 2005. p. 51. 6. PAIVA, Luiz Fernando Valente de et alii. Direito Falimentar e a Nova Lei de Falncias e Recuperao de Empresas. So Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 173. 7. Art. 21, Pargrafo nico da LRF - Se o administrador judicial nomeado for pessoa jurdica, declarar-se-, no termo de que trata o art. 33 desta Lei, o nome de profissional responsvel pela conduo do processo de falncia ou de recuperao judicial, que no poder ser substitudo sem autorizao do juiz.

8. SOUZA JNIOR, Francisco Satiro de et alii. Comentrios Lei de Recuperao de Empresas e Falncia. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 166. 9. COELHO, Fbio Ulhoa. Comentrios nova lei de falncias e de Recuperao de empresas. So Paulo: Saraiva, 2005, p. 58. 10. ROQUE, Sebastio Jos. Direito de Recuperao de Empresas. So Paulo: cone, 2005, p. 135. 11. ROQUE, Sebastio Jos. Direito de Recuperao de Empresas. So Paulo: cone, 2005, p. 58. 12. Idem, p. 135. 13. COELHO, Fbio Ulhoa. Comentrios nova lei de falncias e de Recuperao de empresas. So Paulo: Saraiva, 2005, p. 85. 14. Art. 30. No poder integrar o Comit ou exercer as funes de administrador judicial quem, nos ltimos 5 (cinco) anos, no exerccio do cargo de administrador judicial ou de membro do Comit em falncia ou recuperao judicial anterior, foi destitudo, deixou de prestar contas dentro dos prazos legais ou teve a prestao de contas desaprovada. 1o Ficar tambm impedido de integrar o Comit ou exercer a funo de administrador judicial quem tiver relao de parentesco ou afinidade at o 3o (terceiro) grau com o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais ou deles for amigo, inimigo ou dependente. 15. TOLEDO, Paulo F.C. Salles de et alii. Comentrios Lei de Recuperao de Empresas e Falncia. So Paulo: Saraiva, 2005. 16. Art. 30, 2o da LRF - O devedor, qualquer credor ou o Ministrio Pblico poder requerer ao juiz a substituio do administrador judicial ou dos membros do Comit nomeados em desobedincia aos preceitos desta Lei. 17. Remetemos o leitor ao sub-captulo 2.3.1, onde abordamos mais especificadamente os casos em que ser convocada a assemblia-geral de credores. 18. Art. 63. Cumpridas as obrigaes vencidas no prazo previsto no caput do art. 61 desta Lei, o juiz decretar por sentena o encerramento da recuperao judicial e determinar: I o pagamento do saldo de honorrios ao administrador judicial, somente podendo efetuar a quitao dessas obrigaes mediante prestao de contas, no prazo de 30 (trinta) dias, e aprovao do relatrio previsto no inciso III do caput deste artigo; 19. BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Nova Lei de Recuperao e Falncias comentada. 3. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 99. 20. MANDEL, Julio Kahan. Nova Lei de Falncias e Recuperao de Empresas anotada. So Paulo: Saraiva. 2005. p. 62.

21. TOLEDO, Paulo F.C. Salles de. et alii. Comentrios Lei de Recuperao de Empresas e Falncia. So Paulo: Saraiva, 2005, p.79. Revista Jus Vigilantibus, Sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Sumrio: 1. Introduo; 2. Administrador Judicial; 3. Comit de Credores; 4. Assemblia-Geral de Credores; 5. Concluso; 6. Bibliografia 1. Introduo Durante a vigncia do Decreto n 7.661/45 denominado de Lei de Falncias, era a administrao do processo falimentar ou de concordata entregue a pessoa nomeada pelo juzo e que podia figurar entre os prprios credores do empresrio-devedor. Ocorre, todavia, que tal situao no contemplava a melhor escolha, haja vista que a funo de administrao burocrtica do processo acabava por recair sobre pessoa leiga que normalmente tinha interesses individuais vinculados ao processo o credor. Alm disso, enorme era a probabilidade de fraude no sistema concursal por conta da fragilidade imposta pela ausncia de fiscalizao sobre a atividade exercida pelo administrador, pois, a quem competia predominantemente fiscalizao o juiz[1], estava sempre no exerccio jurisdicional em seu gabinete, no restando a possibilidade concreta de fiscalizao junto as etapas desenvolvidas fora do mbito judicial. Nasce o novo regime e vislumbramos a partir dele uma profissionalizao do sistema de administrao da falncia e da recuperao de empresas, como passaremos ento a expor. Observando-se a estrutura criada pela Lei n 11.101/05 verifica-se que possumos hoje um sistema de administrao composto por uma pessoa (fsica ou jurdica) e dois rgos, assim se formando o sistema: o administrador judicial, o comit de credores e a assemblia geral de credores. 2. Administrador Judicial O administrador judicial com funes predominantemente de interventor, ser a pessoa designada pelo juiz para exercer as atividades burocrticas do processo judicial de falncia ou de recuperao de empresa. Disciplinado na Lei n 11.101/05 em seus artigos 21 a 25, o administrador judicial ser art. 21 (...) profissional idneo,

preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurdica especializada. Diante dessa qualificao profissional exigida (advogado, administrador de empresas, economista, contabilista[2] etc.), de se perceber que o legislador corrigiu um grave erro existente no regime anterior, trazendo para o exerccio da funo principal de administrador judicial, profissional habilitado para exerc-la[3]. No mesmo sentido, Waldo Fazzio Jnior afirma que o o administrador judicial da falncia um auxiliar qualificado do juzo[4]. Em complemento, Manoel Justino Bezerra Filho[5] assim se posiciona: O processo de recuperao e de falncia bastante complexo, por envolver inmeras questes que s o tcnico, com conhecimento especializado da matria, poder resolver a contento, prestando real auxlio ao bom andamento do feito natural que podemos aqui apresentar uma crtica at no sentido de se melhorar o sistema proposto, indicando a necessidade de se limitar a subjetividade da escolha e vinculando o exerccio dessa - que passa a ser reconhecidamente como atividade profissional auxiliar da empresa e da justia, a um rgo de registro que seria a Junta Comercial, disciplinando-se inclusive, requisitos para o registro vinculados a exigncia de idoneidade indicada pelo legislador, como a necessidade de apresentao para ingresso e peridica para renovao, de atestado de antecedentes, certido de distribuidor de protesto, certido de distribuidor cvel e criminal, alm de outros que possam contribuir para assegurar o requisito de carter exigido pelo art. 21. Mas de qualquer forma, a profissionalizao do administrador judicial j foi um avano significante no sistema, permitindo conferir a ele a credibilidade necessria de que precisa o credor para se certificar da lisura do processo. A indicao de interventor outorgada ao administrador judicial se justifica na medida em que ele passa a exercer papel de autonomia sobre decises at ento pertencentes a outra pessoa, como se v: Ao administrador judicial compete, sob a fiscalizao do juiz e do Comit, alm de outros deveres que esta lei lhe impe: (...); (...) elaborar a relao de credores (...);

(...) consolidar o quadro geral de credores (...); (...) contratar, mediante autorizao judicial, profissionais ou empresas

especializadas (...); (...) fiscalizar as atividades do devedor (...); (...) requerer a falncia no caso de descumprimento de obrigao assumida (...); (...) examinar a escriturao do devedor (...); (...) relacionar os processos e assumir a representao judicial da massa falida; (...) receber a abrir correspondncia dirigida ao devedor (...); (...) arrecadar os bens e documentos do devedor (...); (...) avaliar os bens arrecadados; (...) contratar avaliadores (...); (...) praticar os atos necessrios realizao do ativo e ao pagamento dos credores ; (...) praticar todos os atos conservatrios de direitos e aes (...); (...) representar a massa falida em juzo (...); (...) requerer todas as medidas e diligncias que forem necessrias ao cumprimento desta lei (...); (...). Dada a complexidade da funo exercida pelo administrador judicial, determinou o legislador que ele seria remunerado da seguinte forma: art. 24 O juiz fixar o valor e a forma de pagamento da remunerao do administrador judicial, observados a capacidade de pagamento do devedor, o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes. Pargrafo 1. Em qualquer hiptese, o total pago ao administrador judicial no exceder 5% (cinco por cento) do valor devido aos credores submetidos recuperao judicial ou do valor de venda dos bens na falncia. Sobre a questo da remunerao, assim se posiciona Manoel Justino Bezerra Filho[6]: O administrador muitas vezes desenvolve rduo trabalho, podendo sofrer sanes judiciais, culminando at com a sua responsabilizao penal e civil, caso no se

desincumba dele. Por outro lado, no servio de administrao da falncia ou da recuperao, desempenha trabalho constante e, por isso, deve ser remunerado 3. Comit de Credores O segundo elemento do sistema de administrao da falncia e da recuperao de empresa o comit de credores. Trata-se de um rgo colegiado criado a partir da indicao de trs classes de credores[7], a saber: trabalhistas, com garantia real e quirografrios. Nada impede que o comit venha a ter membros das outras classes de credores, no entanto, as trs anteriormente citadas so de presena obrigatria para a sua formao. De fcil operacionalizao por possuir apenas trs membros, o comit de credores passa a ter uma flexibilizao de exerccio, podendo alcanar a sua principal funo que a de servir como rgo fiscalizador, garantindo aos credores a mesma lisura e credibilidade exigidas no primeiro caso do administrador. Waldo Fazzio Jnior tambm credita ao Comit a funo de fiscalizao[8]: Enfim, alm do que j foi dito sobre o Comit de Credores, no Captulo 8, referente a recuperao judicial, resta concluir que se trata de rgo fiscalizatrio, (...) O papel de agente fiscalizador se verifica facilmente pelas funes elencadas no art. 27: (...) fiscalizar as atividades e examinar as contas do administrador judicial; (...) zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da lei; (...) comunicar ao juiz, caso detecte violao dos direitos ou prejuzo aos interesses dos credores; (...) apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamaes dos interessados; (...) fiscalizar a administrao das atividades do devedor (...); (...) fiscalizar a execuo do plano de recuperao judicial; (...). Com isso, de se verificar que o credor passa a ter uma segurana muito maior no processo, alm da possibilidade de participao ativa que lhe garanta a manuteno constante de todas as etapas que transcorrerem. Por no ser o comit de credores um rgo obrigatrio, na sua ausncia, conforme justificar a necessidade, podero as atividades ser realizadas pelo administrador judicial

ou pelo juiz de acordo com o que determina o art. 28 no havendo Comit de Credores, caber ao administrador judicial ou, na incompatibilidade deste, ao juiz exercer suas atribuies. No entanto, no se disciplinou ao Comit de Credores qualquer tipo de remunerao, a no ser reembolso de eventual despesas, consoante determina o art. 29 Os membros do Comit no tero sua remunerao custeada pelo devedor ou pela massa falida, mas as despesas realizadas para a realizao de ato previsto nesta lei, se devidamente comprovadas e com a autorizao do juiz, sero ressarcidas atendendo disponibilidade de caixa. Talvez esse ponto merea uma crtica, pois como vimos, o Comit um rgo de segurana do processo e que responde pela credibilidade que o concurso exige, porm, nota-se que seus membros necessitaro como vimos, dedicar grande parte de seu tempo para atuao junto ao processo, o que demanda a necessidade de desligamento, ainda que parcial, de suas respectivas atividades principais, justificando ento, uma remunerao. 4. Assemblia-Geral de Credores O terceiro elemento do sistema de administrao da falncia e recuperao de empresa a assemblia geral de credores, que como o prprio nome indica, o rgo mximo de representao dos credores, possuindo funes notadamente deliberativas como indica o art. 35 A assemblia-geral de credores ter por atribuies deliberar sobre: (...) (grifamos). Waldo Fazzio Jnior assim reafirma essa funo deliberativa[9]: A assemblia geral de credores um colegiado de existncia obrigatria nos processos de recuperao judicial e facultativa nos processos falitrios com o fim de deliberar sobre qualquer matria que possa afetar os interesses dos credores No mesmo sentido, Manoel Justino Bezerra Filho[10] afirma que: Evidentemente a assemblia, constituda por credores diretamente interessados no bom andamento da recuperao, dever levar sempre ao juiz as melhores deliberaes, que atendam de forma mais eficiente ao interesse das partes envolvidas na recuperao, tanto devedor quanto credores Entre as funes da assemblia est a de eleger e constituir o comit de credores, o que outorga ainda mais, legitimidade para o segundo rgo. Ocorre, porm, que nem tudo so flores no exerccio democrtico de direito proposto pelo legislador aos credores do

empresrio em crise financeira, visto que nas situaes em que a quantidade de credores passe a ser volumosa, ser de difcil operacionalizao a assemblia de credores, o que pode dificultar entre outras, a eleio dos membros do comit de credores. No parece, no entanto, que ser essa dificuldade a inviabilizar a participao dos credores no processo, pois a abertura concedida pelo legislador aos credores no processo concursal de fundamental importncia para o atual regime econmico neoliberal. A realizao de assemblia-geral de credores poder ser solicitada pelo administrador judicial, pelo Comit de Credores ou pelos prprios credores representantes de no mnimo 25% (vinte e cinco por cento) dos crditos de determina classe, porm, caber ao juiz a sua convocao respeitando o prazo de 15 (quinze) dias em primeira convocao e 05 (cinco) dias em segunda. Para sua instalao, necessrio se faz a presena de representantes de mais da metade dos crditos de cada classe em primeira convocao e de qualquer nmero em segunda convocao. Como se trata de um ato solene e formal, caber ao administrador judicial presidir o evento e nomear entre os credores, algum para exercer a funo de secretrio. Porm, caso a assemblia tenha sido convocada para deliberar sobre o afastamento do prprio administrador judicial, caber ao credor representante do maior crdito presidir o evento. A grande crtica que se faz ao instituto da assemblia que ela possui funes notadamente econmicas, haja vista ter preservado o voto a proporcionalidade de representao do crdito conforme determina o art. 38 O voto do credor ser proporcional ao valor de seu crdito, (...). Embora tal critrio respeite a funo econmica da lei, em termos democrticos pode renegar o papel do pequeno credor a de mero expectador do processo, j que no existe limitao dos poderes do maior credor, nem tampouco de obrigatoriedade de participao do menor credor. No entanto, a possibilidade de participao ativa do credor tanto na falncia quanto na recuperao judicial que denota a sua importncia, como bem preleciona o Prof Sebastio Jos Roque[11]: Em suma, a AGC - Assemblia-Geral de Credores poderosa arma nas mos dos empregados da empresa falida para a defesa de seus direitos. tambm arma poderosa para os demais credores, para as quais foram transferidos muitos dos poderes anteriormente reservados ao juiz. A eficcia da AGC depender da

mobilizao dos interessados, ou seja, os credores. A lei lhes deu poderosa faculdade; faam uso dela 5. Concluso Embora alguns reparos meream a legislao concursal neste aspecto, somos forados a concluir que o legislador viabilizou a criao de um sistema capaz de afastar as fraudes que normalmente rondavam esse tipo de certame, resgatando a credibilidade do credor e justificando o seu retorno para participao ativa na soluo da crise financeira do devedor, seja pela recuperao ou pela falncia. O sistema, assim como todos os instrumentos propostos pela Lei n 11.101/05, passam agora pelo crivo da experincia de aplicao ao caso concreto, que permitiro s adaptaes necessrias para o pleno desenvolvimento de mais esse ramo do direito, que como j afirmamos anteriormente[12], constitui um marco evolutivo e inclui o Direito Concursal entre as especializaes jurdicas nacionais em destaque no cenrio internacional. 6. Bibliografia ____________, Nova Lei de Falncias. SP: RT, 2005. BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Nova Lei de Recuperao e Falncias Comentada. SP: RT, 3 edio, 2005. JNIOR, Waldo Fazzio. Nova Lei de Falncia e Recuperao de Empresas. SP: Atlas, 2005. ROQUE, Sebastio Jos. Direito de Recuperao de Empresas. SP: cone Editora, 2005. ROQUE, Sebastio Jos. Assemblia-geral de credores ponto crtico da Lei de Recuperao de Empresas. Boletim Jurdico, Uberaba-MG, a.3, n 165. Disponvel em: . Acesso em 13 de fevereiro de 2006. Notas: [1] O Prof Manoel Justino Bezerra Filho, nesse sentido afirmava que Na Lei anterior, para administrao da falncia, era nomeado um sndico (art. 59 da lei anterior), que exercia seu trabalho sob a imediata direo e superintendncia do juiz. Na concordata, o

devedor conservava a administrao de seu negcio (art. 167 da lei anterior), fiscalizado pelo comissrio, que tambm era nomeado pelo juiz, a quem prestava contas. In Nova Lei de Recuperao e Falncias, SP:RT, 2005, p. 83. [2] Embora a Lei n 11.101/05 utilize a denominao contador, o legislador na elaborao do Cdigo Civil j havia retificado o nome para contabilista conforme se verifica da seo III, do captulo III, do ttulo IV do Livro de Direito de Empresa. [3] O Prof Sebastio Jos Roque faz uma crtica neste sentido, afirmando que: De nossa parte, temos dvidas quanto atuao do administrador judicial no advogado; no s ele fiscaliza e controla o comportamento da empresa, mas aciona o processo. imperioso o conhecimento de normas processuais e das prticas judicirias, que s atraem os advogados, in Direito de Recuperao de Empresas, SP: cone Editora, 2005, p. 135. [4] Nova Lei de Falncias e Recuperao de Empresas, SP: Atlas, 2005, p. 326. [5] Op. citada, p. 84. [6] Op. Citada, p. 98. [7] Art. 26 O Comit de credores ser constitudo por deliberao de qualquer das classes de credores na assemblia geral e ter a seguinte composio: I um representante indicado pela classe de credores trabalhistas, com dois suplentes; II um representante indicado pela classe de credores com direitos reais de garantia ou privilgio especiais, com dois suplentes; III um representante indicado pela classe de credores quirografrios e com privilgios gerais, com dois suplentes. [8] Op. Citada, p. 337. [9] Op. Citada, p. 338. [10] Op. Citada, p. 111. [11] Assemblia-geral de credores ponto crtico da Lei de Recuperao de Empresas, artigo publicado e disponvel no site Boletim Jurdico. [12] Sobre esse assunto ver artigo do autor: O Projeto Substitutivo da Lei de Falncias. Lei de Recuperao de Empresas Uma Mudana de Concepo- Publicado no Site Jus Vigilantibus em 12/02/2005 - www.jusvi.com.

(Artigo elaborado em fevereiro/2006)

O papel do administrador judicial na falncia e na recuperao judicial Ana Paula Soares da Silva de Castro, Resumo: O presente trabalho tem o escopo de propiciar uma anlise sobre o papel do administrador judicial na falncia e na recuperao judicial, sem o intuito de esgotar o tema, mas, sim de demonstrar a importncia do profissional que for nomeado para conduzir a falncia e a recuperao judicial. Palavras- chave: administrador judicial, falncia, recuperao judicial, auxiliar do juiz, teoria da empresa. Sumrio: Introduo; 1- Teoria dos atos do comrcio e a teoria da empresa; 2recuperao judicial e processo de falncia: breves comentrios; 3- O administrador judicial e sua importncia no processo de falncia e na recuperao judicial; Concluses; Referncias bibliogrficas. INTRODUO Com o fenmeno da globalizao e as novssimas tecnologias que despontam quase que diariamente, temos as empresas como suporte ao desenvolvimento da economia mundial moderna. Assim, o Cdigo Civil de 2002 que passou a regular o Direito de Empresa, onde passou a adotar a teoria da empresa em detrimento do sistema que outrora fora consagrado pelo Cdigo Comercial de 1850, isto , a teoria dos atos do comrcio que basicamente consiste no exerccio profissional da mercancia. Destarte, a promulgao do Cdigo Civil Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002 o marco referente abdicao do sistema tradicional que era baseado estritamente ao comerciante e respectivamente ao exerccio profissional da mercancia, para a adoo do sistema do empresrio e de sua atividade empresarial. O conceito de comerciante a luz do Cdigo Comercial diverge do conceito de empresrio no Cdigo Civil, haja vista que o conceito de comerciante a luz do Cdigo Comercial mais restrito, consistindo numa pessoa capaz juridicamente para praticar os atos mercantis como profisso habitual e com finalidade de lucro. J o conceito de empresrio no Cdigo Civil (art. 966) ampliado, sendo aquele que exerce profissionalmente atividade econmica de forma organizada para a conseqente produo ou circulao de bens ou de servios. O nascimento de uma empresa tem todo o seu regramento disciplinado na lei; mas, no momento o que estudaremos e a extino da empresa e em que o administrador judicial, figura importantssima no processo de falncia ou recuperao judicial, poder contribuir

para manter viva a atividade econmica da empresa nos casos em que conduz a recuperao; ou no caso de falncia dirigir o processo para minimizar os efeitos negativos que a extino de uma atividade empresaria pode trazer a sociedade, de acordo com a nova lei de falncias. Com a edio da Lei n 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, brotaram algumas novidades como: o fim da sucesso trabalhista e tributria; a inverso da ordem de preferncia no recebimento dos crditos. Os crditos com garantia real passam a ter preferncia em relao aos crditos tributrios. No entanto, as dvidas trabalhistas continuam em primeiro lugar na ordem de recebimento. O prazo foi alterado para at 10 dias, e no mais 24 horas, para que a empresa se defenda. Durante esse perodo, o empresrio poder requerer a sua recuperao judicial. Mas, a nova Lei de Falncias no modifica as regras nos casos de quebra de operadoras de planos de sade, instituies financeiras, cooperativas de crdito, consrcios, entidades de previdncia complementar e seguradoras. No entanto, o presente trabalho tem o escopo de propiciar uma anlise sobre o papel do administrador judicial na falncia e na recuperao judicial, sem o intuito de esgotar o tema, mas, sim de demonstrar a importncia do profissional que for nomeado para conduzir a falncia ou a recuperao judicial. Assim, temos que qualquer profissional idneo poder ser constitudo como um administrador judicial. No entanto o art. 21 da Lei 11.101/05, expressa preferncia aos advogados, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurdica especializada. No caso de ser uma pessoa jurdica nomeada como administrador judicial deve-se ser individualizado o profissional que ser responsvel pela conduo do processo de falncia ou mesmo pelo acompanhamento do plano de recuperao judicial. 1- Teoria dos atos do comercio e a teoria da empresa. A teoria dos atos do comercio (Sistema Frances) sugere alterao ao modo de classificao do comerciante de forma simplesmente subjetiva que consiste em que somente aquele que estava matriculado nas corporaes e que teriam acesso aos tribunais do comercio; para um critrio objetivo como a pratica de um determinado ato de comercio de maneira profissional. Assim, o exerccio profissional de determinada atividade que plenamente, faria com que o comerciante seja considerado como tal. Assim, a teoria dos atos do comercio tem como seu marco inicial o Cdigo Napolenico de 1807 insculpido nos pilares da Revoluo Francesa, a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Com a diretriz de incluir todos aqueles que se dedicassem a atividade mercantil, excluindo o critrio de filiao a qualquer filiao ou no as corporaes de classe. Para tal teoria, comerciante aquele que praticasse atos de comercio, no entanto, o legislado que estabelecia o que consiste em ato de comercio. Assim, o que no estivesse elencado na lei seria considerado como um ato civil e como consequncia lgica no seria

sujeito as prerrogativas comerciais. Tais atos foram enumerados como atividades comerciais no Decreto 737/1850. J a teoria da empresa (Sistema Italiano) passou a tratar todas as atividades exercidas com habitualidade e com o intuito de lucro como atividade empresarial. Portanto, podemos sintetizar a evoluo do Direito Comercial ou Empresarial em trs etapas a seguir: Uma primeira etapa que a doutrina denomina de Sistema Subjetivo Corporativo, considerada o inicio do Direito Comercial que tratava especificamente das corporaes de mercadores onde somente permanecia matriculada nas corporaes uma determinada classe de pessoas (somente eram consideradas pelo Direito Comercial as pessoas que fossem filiadas as corporaes de mercadores). Neste momento encontramos um direito eminentemente elitista, fechado e rgido, perodo este que iniciou no sculo XII estendendo-se at ao sculo XVII. Em suma, nesta etapa os que no pertenciam s classes de corporaes como seus filiado, matriculados, no eram beneficiados com as prerrogativas do Direito Comercial. A segunda etapa foi denominada de Sistema Objetivo, com o fim do liberalismo econmico, inicia-se em 1804 com forte influencia do sistema frances a teoria dos atos do comercio que elenca a atividade comercial, que designa o que um ato de comercio, com inteno de lucro e certa regularidade. Por fim, a terceira etapa foi chamada de Sistema Subjetivo do Direito Comercial, o sistema pelo qual o Cdigo Civil de 2002 enumera o Direito Comercial vinculado diretamente a teoria da empresa. Surge o Direito Empresarial moderno que trata todas as atividades exercidas com habitualidade e com o intuito de lucro como atividades empresariais. A teoria da empresa abre um leque de atuao de atividades consideradas empresariais sob influncia direta do direito italiano. Nesse particular, dada a importncia que o tema apresenta, lanamos mo, dos ensinamentos de Teixeira Grande (2005, p. 358): Enquanto na teoria do ato de comrcio o fundamento da atividade econmica est na democratizao da atividade, olhada objetivamente como existente por si mesma e acessvel a toda pessoa, superada a fase do subjetivismo corporativista da Idade Mdia, a Teoria da Empresa aumenta a importncia do ente gerador de riquezas, e passa a consider-lo como agente absolutamente distinto da pessoa fsica do empreendedor, deslocando o foco de concentrao da segurana jurdica mais para a sociedade empresaria e menos para seus componentes. Isso porque o interesse social passa a prevalecer sobre o individual, carreando para a sociedade empresaria o dever de se voltar para o bem da comunidade em primeiro lugar, alm de ao Estado como agente arrecadador e distribuidor de riquezas aos contribuintes. Essa atividade ganha importncia porque prevalece o interesse social na produo e circulao de bens e servios. Nessa mudana de foco a pessoa jurdica, que o agente da atividade empresria, ganha status de sujeito capaz, autnomo, independente. E tanto considerado que seu patrimnio prprio, distinto dos patrimnios das pessoas

fsicas dos scios, a ponto de aquela poder ser desconsiderada (despersonalizao da pessoa jurdica) para responsabilizao dos scios por atos fraudulentos. A lei 11.101/2005 tambm conhecida como lei de Recuperao de Empresas e Falncias aboliu o instituto da concordata, criou a recuperao de empresas extrajudicial e a judicial e alterou o instituto da falncia. Somente o empresrio regular pode ser beneficiado pela nova lei de falncias. Segundo Tebet (2004, p.17.856- 17.941) a nova lei de falncias possui doze pilares, a saber: a preservao da empresa, a separao dos conceitos de empresa e de empresrio, a recuperao das sociedades e empresrios recuperveis, a retirada do mercado de sociedades ou de empresrios no recuperveis, a proteo aos trabalhadores, a celeridade e eficincia dos processos judiciais, a segurana jurdica, a participao ativa dos credores, a maximizao do valor dos ativos do falido, a desburocratizao da recuperao de microempresas e empresas de pequeno porte e o rigor na punio de crimes relacionados falncia e recuperao judicial. 2- recuperao judicial e processo de falncia: breves comentrios A viabilidade da recuperao judicial dever ser apreciada no momento do seu pedido, no h na lei, na economia nem no direito um momento pr fixado. O que acaba por fragilizar a recuperao, pois tal deciso fica a cargo do empresrio. No entanto, o plano de recuperao s ser efetivo se implantado com tempo hbil para solucionar as crises, caso contrrio, o referido plano no surtir o efeito desejado. Segundo a doutrina, as crises podem ser intestinais (falta de especializao dos empregados, desdia, pelo no aperfeioamento tecnolgico) e externas (convulses sociais, guerras, fenmenos da natureza). Tais causas podem explicar as crises, haja vista que a lei no conceitua o que uma crise econmica financeira. Diante de tais fatos, atualmente as regras so mais flexveis nos processos falimentares, diferentemente do que fora preceituado pela lei anterior. Pois, se as crises so econmicas no h como fixar, por exemplo, prazos para a realizao de certas condutas. Uma regra jurdica rgida no consegue resolver problemas de origem econmica. Com isso, agora temos uma maior flexibilizao do procedimento e a efetiva participao dos credores, reunidos em classes, em todo o processo concursal e a possibilidade de acordos entre os credores e o devedor o que bastante estimulado pela nova lei de falncias. o que a doutrina chama de uma menor funo jurisdicional. A lei atua sobre as ilegalidades, j as questes de cunho econmico ficaro a cargo dos credores e do devedor. Assim, temos rgos indispensveis como o juiz que preside a recuperao judicial, na extrajudicial (em sua segunda fase) e na falncia; o Ministrio Pblico que em algumas situaes dever ser intimado sob pena de nulidade; e o administrador judicial que substitui o antigo sndico da massa falida e o comissrio da concordata.

Na recuperao judicial o administrador tem uma importantssima funo inicial, identificar se a empresa comprovadamente vivel economicamente e se a mesma foi assolada por uma crise de natureza econmica financeira. Tarefa rdua destinada ao administrador judicial, da a relevncia de uma equipe multidisciplinar. Pois, a empresa em recuperao no tem suas atividades paralisadas, h apenas fiscalizao sobre a execuo e o cumprimento do plano de recuperao. Com muita perspiccia coloca Teixeira Grande (2005, p.363), sobre o instituto da falncia, o seguinte: Ao se tratar da falncia, mormente em seus aspectos anteriores sentena judicial declaratria, vale um exame do instituto em seu aspecto global, de forma a se ter a viso de sua colocao dentro do Direito Comercial moderno, mais ainda sob a Teoria da Empresa. Comecemos pelo capitulo V, seo I, que trata das disposies gerais da falncia. E o artigo 75, caput, assim, dispe: Art. 75. A falncia, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilizao produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangveis, da empresa. Essa conceituao de falncia est em plena conformidade com a moderna Teoria da Empresa, onde a sociedade empresria, ou mesmo o empresrio individual, tem sua individualidade distinta da dos empreendedores, bem como as caractersticas de autonomia processual, negocial e patrimonial [...]. A nova, mais pragmtica, quer preservar e otimizar o patrimnio, dando-lhe destino mais rpido e aproveitando em novas mos, antes que o tempo tudo oxide ou degenere. Em quanto o processo de recuperao se mostra amplamente eficiente desde sua aprovao, somente o futuro revelar a eficcia do novo procedimento falencial. Diante da importncia do administrador judicial passemos a enfocar suas principais atribuies legais. 3- O administrador judicial e sua importncia no processo de falncia e na recuperao judicial De acordo com o art. 21 da Lei 11.101; 05 O administrador judicial ser profissional idneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurdica especializada. (grifo nosso). Perin Junior (2005, p. 174) apresenta sua crtica ao artigo supra citado, so suas estas palavras: A crtica que se faz ao dispositivo em comento, diz respeito especificidade apresentada no seu caput quando deixa de mencionar outros profissionais que poderiam exercer tal mister.

A expresso preferencialmente d a entender que o administrador, pessoa fsica, estar constrito a essas profisses, o que nos parece um erro, na medida em que, por exemplo, o engenheiro civil, hodiernamente, exerce funo multifacetada e, em muitos casos, sobrepe-se s demais, numa viso holstica da administrao empresarial. Talvez, se tivssemos inserido, como os portugueses, a expresso profissional idneo, preferencialmente com habilitao na rea de gesto de empresa, seria a melhor medida, uma vez que teria uma conotao genrica e, ao mesmo tempo, exigiria a experincia na rea de gesto empresarial. Caso o administrador judicial seja uma pessoa jurdica, a mesma ao assinar o termo de compromisso dever indicar o nome do profissional responsvel pela devida conduo do processo de falncia ou pela recuperao judicial, que no poder ser substitudo sem previa autorizao do juiz. Em outras palavras, no caso de uma pessoa jurdica ser nomeada como administradora judicial dever haver a perfeita individualizao do profissional que conduzir os procedimentos, haja vista a necessidade de responsabilizao civil ou penal se for o caso. Na recuperao judicial os principais elementos so o administrador e o prprio devedor. Como consequncia lgica ambos visam vencer a crise financeira e manter a viabilidade do negcio e a preservao da atividade econmica. Corrobora tal entendimento Lisboa (2005, p.45): Ao se analisar os principais agentes envolvidos num processo de recuperao judicial percebe-se que cada um deles, individualmente, tem incentivos para buscar a recuperao da empresa. Pela tica do devedor e administrador da empresa, essa a melhor alternativa para aliviar a crise financeira e manter a viabilidade de seu negocio, evitando a falncia e, consequentemente, preservando ou mesmo maximizando seu patrimnio. Na viso dos credores, a superao da crise financeira da empresa aumenta as perspectivas de recuperao dos crditos concedidos, a manuteno ou mesmo a realizao de novos negcios. J para os trabalhadores, o objetivo a manuteno dos empregos e a criao de condies efetivas para que os salrios e benefcios em atraso sejam devidamente ressarcidos. Para as Fazendas pblicas, o sucesso na recuperao da empresa representa uma garantia de recebimento de tributos no recolhidos e, principalmente, de que o fluxo futuro no ser interrompido pela falncia. No nos olvidemos de que, o administrador judicial ao conduzir um plano de recuperao necessita deve vislumbrar a eficincia do mesmo, pois segundo Lisboa (2005, p.45): Para as situaes mais complexas, ou que demandem o envolvimento de todos os credores, o novo arcabouo legal disponibiliza o uso da recuperao judicial, de maior abrangncia e, portanto, maior controle do Poder Judicirio e dos credores. Construir um sistema de recuperao judicial eficiente no trivial, tanto que no existe junto comunidade internacional consenso quanto ao tema. O modelo ideal aquele que consegue adequar incentivos corretos cultura empresarial e legal do pas, viabilizando e tornando eficaz o processo de recuperao. Alm disso, o administrador judicial diante do processo de falncia ou da recuperao judicial tem fundamental importncia, portanto, dever atentar para as seguintes regras:

a) enviar correspondncia aos credores constantes na relao enviada pelo devedor comunicando a data do pedido de recuperao judicial ou da decretao da falncia, a natureza, o valor e a classificao dada ao crdito; b) fornecer, com presteza, todas as informaes pedidas pelos credores interessados; c) dar extratos dos livros do devedor, que merecero f de ofcio, a fim de servirem de fundamento nas habilitaes e impugnaes de crditos; d) exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informaes; e) elaborar a relao de credores e publicar, indicando o local, o horrio e o prazo comum em que as pessoas indicadas tero acesso aos documentos que fundamentaram a elaborao dessa relao; f) consolidar o quadro geral de credores que ser homologado pelo juiz com base na relao de credores e nas decises proferidas nas impugnaes oferecidas. g) requerer ao juiz a convocao da assemblia geral de credores nos casos previstos na lei ou quando entender necessria sua ouvida para tomada de decises; h) contratar mediante autorizao judicial, profissionais ou empresas especializadas para, quando necessrio, auxili-lo no exerccio de suas funes; i) manifestar-se nos casos previstos na lei. No caso do administrador judicial, especificamente, liderar o plano de recuperao judicial dever primar pela fiscalizao das atividades do devedor e o respectivo cumprimento do plano de recuperao judicial. E no caso de efetivo descumprimento das obrigaes devidamente assumidas no referido plano de recuperao judicial ele dever requerer a falncia. Dever tambm, apresentar ao juiz os seguintes relatrios: um mensal das atividades do devedor para se juntado aos autos e outro sobre a execuo do plano de recuperao, quando da sentena de encerramento da recuperao judicial. Por ter maior complexidade, no processo de falncia, o administrador judicial dever ressaltar as seguintes questes: a) avisar, pelo rgo oficial, o lugar e hora em que, diariamente, os respectivos credores tero sua disposio os livros e documentos do falido; b) examinar a escriturao do devedor; c) relacionar os processos e assumir a representao judicial da massa falida; d) receber e abrir a correspondncia dirigida ao devedor, entregando a ele o que no for assunto de interesse da massa;

e) apresentar, no prazo de 40 (quarenta) dias, contado da assinatura do termo de compromisso, havendo a possibilidade de prorrogao por igual perodo, e mais, um relatrio sobre as causas e circunstncias que conduziram situao de falncia, no qual apontar a responsabilidade civil e penal dos envolvidos, se for o caso; f) arrecadar os bens e documentos do devedor e elaborar o auto de arrecadao; g) avaliar os respectivos bens que foram arrecadados; h) realizar a contratao de avaliadores, preferencialmente avaliadores oficiais, mediante autorizao do juiz, para a avaliao dos bens caso entenda no ter condies tcnicas para a referida tarefa; i) praticar os atos necessrios realizao do ativo e ao pagamento dos credores; j) requerer ao juiz a venda antecipada de bens perecveis, deteriorveis ou sujeita a considervel desvalorizao ou de conservao arriscada ou ainda considerada muito dispendiosa; l) praticar todos os atos conservatrios de direitos e aes, diligenciar a cobrana de dvidas e dar a respectiva quitao; m) remir, em benefcio da massa e mediante autorizao judicial, bens apenhados, penhorados ou legalmente retidos; n) representar a massa falida em juzo, contratando, se necessrio, advogado, cujos honorrios sero previamente ajustados e aprovados pelo Comit de Credores; o) requerer todas as medidas e diligncias que forem necessrias para o cumprimento da Lei, a proteo da massa ou a eficincia da administrao; p) apresentar ao juiz para a devida juntada aos autos, at o dcimo dia do ms seguinte ao vencido, a conta demonstrativa da administrao que especifique com clareza a receita e a despesa; q) entregar ao seu substituto, se for o caso, todos os bens e documentos pertencentes massa que se encontrarem sob o seu poder, sob pena de responsabilizao; e r) realiza a prestao de contar ao final do processo, e tambm se ocorre a sua substituio, destituio ou se renunciar ao cargo de administrador judicial. Tendo em vista tudo o que foi exposto, em relao ao rol de atividades ou deveres legais impostos ao administrador judicial, podemos vislumbrar a importncia da escolha do referido profissional para consubstanciar o desenvolvimento positivo da recuperao judicial ou da falncia, de acordo com o caso concreto. No olvidemos de que, o exerccio de tal administrao exige competncia do profissional nomeado, haja vista a situao delicada que passa a empresa, a continuao da atividade econmica depender como conseqncia lgica de uma administrao irretocvel com apoio de uma equipe multidisciplinar.

A lei expressa que as remuneraes dos auxiliares do administrador judicial sero fixadas pelo juiz. No entanto, no ter direito a remunerao o administrador que tiver suas contas desaprovadas. Competir ao devedor ou massa falida arcar com as despesas relativas remunerao do administrador judicial e da equipe multidisciplinar que eventualmente venha a ser contratada para auxili-lo. E o administrador judicial que no apresentar, no prazo estabelecido, suas contas ou qualquer dos relatrios ser intimado pessoalmente a faz-lo no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de desobedincia. No olvidemos que cabe ao juiz de ofcio ou a requerimento fundamentado, de qualquer parte interessada, destituir o administrador judicial quando for comprovada sua desobedincia aos preceitos legais ou mesmo o descumprimento de seus respectivos deveres ou por ter praticado atos lesivos a atividade do devedor ou mesmo a terceiros. No caso de ser concretizada a destituio do administrador judicial, o juiz no mesmo ato dever nomear novo profissional para ocupar o cargo. Cabe destacar ainda, que o administrador judicial responde a ttulo de dolo ou de culpa pelos possveis danos causados a massa falida, ao prprio devedor ou aos credores. Assim, o referido profissional, na conduo de um plano de recuperao de uma empresa dever atentar para muitos fatores, visando o pleno sucesso da recuperao, atravs da anlise do histrico da empresa; dos seus pontos fortes e principalmente dos seus pontos fracos. Pois somente diante de tal conhecimento poder desenvolver estratgias para reduzir pontos fracos. Tambm, consiste em ponto fundamental a anlise macroeconmica com uma abordagem poltica, monetria, cambial, tributria. O campo de atuao os ndices econmicos financeiros, fluxos de caixa devidamente projetado antes e aps as amortizaes, pagamentos aos credores. Destarte, o administrador judicial, dever oferecer a reestruturao da empresa, adequando s propostas de gesto financeira com a finalidade de promover o saneamento e posteriormente o desenvolvimento da empresa. A efetiva concluso do plano com sua apresentao, implantao e acompanhamento dos resultados alcanados. Diante de um plano de recuperao da empresa, alguns objetivos so inerentes a sua realizao como, por exemplo, a concesso de prazos e condies especiais para pagamento das obrigaes vencidas ou vincendas; ciso, incorporao, fuso ou transformao de sociedade, constituio de subsidiria integral, ou cesso de cotas ou aes, respeitados os direitos dos scios, nos termos da legislao vigente; alterao do controle societrio; aumento de capital social; trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive sociedade constituda pelos prprios empregados; reduo salarial, compensao de horrios e reduo da jornada, mediante acordo ou conveno

coletiva; dao em pagamento ou novao de dvidas do passivo, com ou sem constituio de garantia prpria ou de terceiro; constituio de sociedade de credores; venda parcial dos bens; equalizao de encargos financeiros relativos a dbitos de qualquer natureza, tendo como termo inicial a data da distribuio do pedido de recuperao judicial, aplicando-se inclusive aos contratos de crdito rural, sem prejuzo do disposto em legislao especfica; usufruto da empresa; e por fim e no menos importante uma administrao compartilhada, repetido dada a sua importncia, com uma equipe composta de vrios profissionais, administradores de empresas, economistas, contadores, enfim tantos quanto forem indispensveis para a manuteno da atividade econmica. CONCLUSES A nova lei de falncia vem estabelecer o instituto no ambiente moderno do direito, com perfeita interao com a Teoria da Empresa. A recuperao judicial tem o escopo de promover a superao da crise econmico financeira, evitando a falncia e o conseqente desaparecimento da atividade empresarial. No entanto, somente ser preservado com a recuperao a atividade empresarial vivel economicamente. Na recuperao judicial temos a interveno do Estado, fiscalizando o efetivo cumprimento dos planos de acordo com o que foi ajustado pelo devedor. No mbito do processo falimentar as solues das crises devero ter natureza sempre econmica e no jurdicas. Propiciando ao devedor continuar com sua atividade empresarial e aos credores o recebimento de seus respectivos pagamentos. A nova Lei de falncias atribui ao administrador judicial um papel de destaque, mas, ao mesmo tempo lhe imposto fortes obrigaes. Justamente pelos relevantes interesses sociais envolvidos. Como pea basilar, o administrador judicial diante de uma empresa em crise ser o tridente de Netuno a d propulso ao reerguimento da atividade empresarial em crise, agindo sob seus ntimos critrios de convico e submetido ao escopo da lei. Referncias bibliogrficas GRANDE, Joo Teixeira. Antecedentes Legais da Falncia. In: PAIVA, Luiz Fernando Valente de. Direito Falimentar e a Nova Lei de falncias e recuperao de Empresas. So Paulo: Quartier Latin, 2005. LISBOA, Marcos de Barros. A Racionalidade Econmica da Nova Lei de falncias e de Recuperao de Empresas. In: PAIVA, Luiz Fernando Valente de. Direito Falimentar e a Nova Lei de falncias e recuperao de Empresas. So Paulo: Quartier Latin, 2005. PERIN JUNIOR, Ecio. O Administrador Judicial e o Comit de Credores. In: PAIVA, Luiz Fernando Valente de. Direito Falimentar e a Nova Lei de falncias e recuperao de Empresas. So Paulo: Quartier Latin, 2005. TEBET, Ramez. Parecer 534, de 2004, sobre o Projeto de Lei da Cmara 71, de 2003, (n. 4376/93, na Casa de origem), de iniciativa do Presidente da Repblica, que regula a recuperao judicial, a extrajudicial e a falncia de devedores pessoas fsicas e jurdicas

que exeram atividade econmica regida pelas leis comerciais e d outras providencias. Publicado no Dirio oficial do Senado Federal, em 10/06/2004. O mbito Jurdico no se responsabiliza, nem de forma individual, nem de forma solidria, pelas opinies, idias e conceitos emitidos nos textos, por serem de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).