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Aula para Ensino Médio sobre o gênero textual entrevista.

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A entrevista

A entrevistaSe houvesse uma alternativa, no faramos testes com animais

O americano Michael Conn afirma que o uso de cobaias animais uma necessidade da cincia e que a ideia de que os bichos so submetidos a crueldades nos laboratrios fruto da desinformao.Em 2008, cansado de ver amigos deixando a pesquisa biomdica sob ameaas de ativistas contra a pesquisa com animais, o endocrinologista americano Michael Conn resolveu sair do anonimato e publicar o livroThe Animal Research War,sem edio no Brasil. Nele, alm de falar de pesquisadores que chegaram a ter suas vidas ameaadas por radicais, Conn defende o uso de cobaias como essencial ao avano da medicina [...]

O que nos d o direito de submeter outros seres vivos indefesos ao sofrimento em pesquisas mdicas?

O fato de que existe um meio termo entre abusar dos animais e acreditar que eles no devem ser usados em pesquisas de maneira nenhuma. E no preciso ser mdico, ou estar envolvido nas pesquisas, para pensar assim. O caso do Dalai Lama, um lder espiritual que no come carne, interessante nesse aspecto. Ele afirma que devemos tratar os animais com respeito e que no devemos explor-los. Especificamente em resposta experimentao animal, ele j disse que as perdas so de curto prazo, mas os benefcios de longo prazo so muitos. Se surgir a necessidade de sacrificar um animal, afirma o Dalai Lama, devemos faz-lo com empatia, causando o mnimo de dor possvel. Menciono o Dalai Lama como um exemplo de que possvel desenvolver um raciocnio tico a respeito desse assunto, compatvel inclusive com outras formas de respeito vida animal, como o vegetarianismo.

Leis internacionais como o Cdigo de Nuremberg e a Declarao de Helsinki dizem que qualquer experimentao com humanos em pesquisa cientfica requer o pleno consentimento do indivduo. bvio que os animais no podem "consentir" em ser usados, mas, como eles fogem da dor e do sofrimento na natureza, podemos inferir que eles evitariam situaes em que so submetidos a elas. Por que no estender aos animais, ainda que por empatia, o mesmo princpio que protege os humanos?

Conceitos como os de consentimento e autonomia s fazem sentido dentro de um cdigo moral que diz respeito aos homens, e no aos animais. Os animais no planejam significativamente o futuro. Eles no tm leis como as nossas. Eles no tomam decises coletivas e no fazem assembleias para resolver esta ou aquela questo. Com frequncia, eles se canibalizam no meio selvagem. Somos seres diferentes. Nossa obrigao com nossos vizinhos respeit-los como indivduos e dar, a cada um, o direito de tomar suas prprias decises, dentro dos limites estabelecidos pela sociedade. Nossa obrigao com os animais fazer com que eles sejam devidamente cuidados, no sofram nem sintam dor - e no trat-los como se fossem humanos, o que seria uma fico. Nossas leis - dirigidas a outros seres humanos - devem garantir que esses procedimentos sero observados na pesquisa cientfica.

H quem diga que o nico motivo por que os cientistas se preocupam com o bem estar dos animais porque o estresse e o sofrimento alteram o resultado das pesquisas. assim que os cientistas agem?

Penso que os cientistas so pessoas extremamente morais. Em nosso laboratrio, por exemplo, os cientistas tratam os animais como indivduos muito especiais. Passamos muito tempo cuidando deles. Ns nos certificamos de que eles esto confortveis e suas necessidades supridas. As instalaes nas quais a maioria dos animais de pesquisas so acomodados so muito superiores s dos animais de estimao. O problema partir do pressuposto de que pessoas e animais so a mesma coisa. Existem muitos aspectos que diferenciam os humanos dos outros animais. Por exemplo, os ativistas querem que os coelhos sejam colocados em gaiolas maiores. Acontece que quando um coe-lho colocado em uma gaiola grande ele acredita que est em um campo aberto e que ser presa fcil para um falco ou algum pssaro grande que pode mat-lo. Por causa disso, ele entra em pni-co. Eles gostam de gaiolas pequenas. [...]

Alguns cientistas, como o mdico Ray Greek, dizem que testes de remdios em animais no tm valor preditivo - que os resultados vlidos de verdade s comeam a ser obtidos na hora em que as cobaias humanas entram na experincia. O senhor concorda?

A verdade que se voc observar o que aconteceu com as doenas humanas, virtualmente todos os resultados positivos, que fizeram as pessoas viverem vidas mais longas e saudveis, vieram de pesquisa animal. Nesse momento, sou um timo exemplo. Semana passada tive o osso do meu quadril substitudo. Esse tipo de procedimento mdico veio de pesquisa animal. E mais, se a sua tia est sendo tratada de cncer de mama, se suas crianas e animais esto imunizados por vacinas, se seu pai fez cirurgia do corao ou se voc tem um joelho artificial, voc deve tudo isso pesquisa animal. [...]

Por que no crer que a cincia, capaz de tantos feitos espetaculares, no capaz de avanar sem a pesquisa com animais?Eu adoraria que um dia no precisssemos mais conduzir experimentos utilizando animais. Creio que a maioria dos cientistas se sente da mesma forma. Se pudssemos utilizar apenas um computador seria timo. Mas a verdade que no possvel. A pesquisa uma troca. Para aprender mais sobre os seres humanos realizamos experimentao animal - controlada por leis, que garantem que elas sejam feitas de modo a causar o menor sofrimento possvel. Estudamos duro para entender quais so as necessidades dos bichos com os quais convivemos. Por exemplo, sabemos que os primatas so animais pensantes, curiosos. Por isso, proporcionamos nossa colnia estmulo intelectual, realizando atividades que os mantm interessados. Os animais em nossas instalaes recebem cuidado veterinrio excelente. Eles se alimentam de comida excepcional e vivem muito mais do que no meio selvagem. Existem profissionais a postos 24 horas por dia. Essa viso de que a pesquisa animal uma coisa monstruosa no verdade. Poucas pessoas j visitaram laboratrios que acomodam esses animais e eu fao o convite para que os leitores tenham o trabalho de visitar algum deles.

Disponvel em: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/%E2%80%9Ctestes-com-animais-nao-podem-ser-abandonados-diz-michael-conn. Acesso em: 20/09/2014.

QUESTES IMPORTANTESA entrevista um gnero da esfera jornalstica. Trata-se da situao de interao entre o entrevistador, que faz as perguntas, e o entrevistado, que d as respostas. Geralmente precedida por um texto inicial, que apresenta o entrevista e/ou o tema. Dependendo do suporte em que publicada e do pblico a quem se dirige, a entrevista apresenta caractersticas especficas. As entrevistas escritas circulam em jornais, revistas e sites. Nos jornais de televiso e rdio, elas mantm o registro oral.

A entrevista um gnero originalmente oral. Ao ser publicada na revista, a fala dos participantes foi transcrita e registrada por escrito. As marcas da linguagem oral no foram reproduzidas no texto.As entrevistas so realizadas com finalidades diferentes: trazer opinies dos entrevistados sobre um tema ou apresentar o perfil dele, com informaes mais pessoais. Assim, o entrevistado precisa ter algumas caractersticas pertinentes diante do assunto a ser discutido.

Esquema da entrevista- texto com sequncias argumentativas.A entrevista e suas partes- forma composicionalTtulo da entrevistaIntroduo da entrevista- (Informaes sobre o entrevistado, acerca da temtica a ser abordada/ outras questes relevantes)Perguntas e respostas escritas e adequadas linguagem formal escrita.

A entrevista tambm pode conter fotografias do entrevistado.

"O leo derramado no Golfo do Mxico vai chegar Europa

O filho de Jacques Cousteau critica a ao dos EUA e sugere uma comisso internacional para lidar com acidentes petrolferos. Andr Julio

Ttulo da entrevista

Introduo

Fotografia do entrevistadoISTO - Seu pai faria 100 anos em 2010. O que ele diria sobre o estado dos oceanos?

JEAN-MICHEL COUSTEAU - Meu pai estava sempre procurando solues. Muitos anos atrs, ele j chamava a ateno para o fato de que precisvamos gerenciar melhor nossos recursos. Uma das formas de fazer isso parar de usar os oceanos como eterna fonte de recursos. Outra no destruir os habitats costeiros, que esto criticamente ameaados meu pai diria que eles tm de ser protegidos por leis. E, finalmente, s pescar de forma sustentvel. Devemos apenas retirar o que a natureza capaz de produzir.

ISTO - Os chineses tm a tradio de tomar sopa de barbatana de tubaro, assim como os islandeses comem carne de baleia. Como combater algo que j faz parte da cultura desses pases?

JEAN-MICHEL COUSTEAU - A razo cultural extremamente limitada para ocasies especficas. A sopa de barbatanas, se no me engano, s tomada em casamentos, principalmente na China. Hoje, algo em torno de 100 milhes a 200 milhes de tubares so mortos por ano. Isso est sendo feito apenas por dinheiro, sob a desculpa de cultura. A diversidade cultural, algo que respeito muito, sinnimo de estabilidade. Mas voc no pode tomar sopa de barbatana de tubaro, usando a desculpa da tradio, se do outro lado da rua h um restaurante do McDonalds. Temos de voltar realidade. E a verdade que a carne desses animais deve ser reservada para ocasies muito especficas.ISTO - Sua equipe est gravando um documentrio no Golfo do Mxico, cenrio do maior desastre ambiental dos EUA. O que viu por l?

JEAN-MICHEL COUSTEAU - Estivemos l trs vezes e agora estou voltando. Vamos mergulhar para ajudar alguns cientistas, recolhendo alguns peixes. O maior temor de que o petrleo tenha certos componentes que possam afetar a vida marinha. E os dispersantes usados na tentativa de diluir a mancha podem estar afetando os animais de outra forma. Os dois juntos, por sua vez, podem ter outros efeitos danosos, e isso que queremos descobrir. Essa combinao no afeta s a vida marinha, e sim todos ns.ISTO - O leo vai atingir a Europa?

JEAN-MICHEL COUSTEAU - Sim, bem como os dispersantes. Essa gua suja est sendo levada pela corrente do Golfo do Mxico. Ao que tudo indica, logo vai atingir Frana, Inglaterra, Espanha e Portugal. assim que o sistema trabalha.

ISTO - Engenheiros dizem que s podem aprender a lidar com um acidente como esse quando ele ocorre. O que o sr. acha dessa afirmao?

JEAN-MICHEL COUSTEAU - Essa uma pssima desculpa. Sabemos que o acidente do Golfo do Mxico poderia ter sido evitado. Pior: h testemunhas dispostas a declarar que os dispersantes s fizeram o problema aumentar. Alm disso, quando voc realiza um trabalho h mais de mil metros de profundidade, tem de estar preparado para um acidente. Eles no estavam.