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VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 341-3352 3341 A EDUCAÇÃO E A SAÚDE COMO PARCEIROS PARA PROMOÇÃO DO ENSINO INCLUSIVO Mariana Dutra ZAFANI; Fabiana Sayuri SAMESHIMA. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”– Marília. Resumo. O objetivo deste trabalho é o de retratar a parceria realizada entre profissionais da saúde (fonoaudióloga e terapeuta ocupacional) e da educação (professora do ensino regular) a fim de buscar estratégias para potencializar o desempenho do aluno com deficiência em sala de aula, no que se refere à realização da escrita. Participaram do estudo uma criança com dez anos de idade, com diagnóstico de paralisia cerebral diplégica, inserida no ensino regular, bem como a sua respectiva professora, a fonoaudióloga e a terapeuta ocupacional que atendiam a criança em uma clínica vinculada a uma universidade pública. As atividades do estudo foram desenvolvidas no primeiro e no segundo semestre de 2010. As profissionais envolvidas com a criança realizavam reuniões mensais a fim de discutir aspectos referentes ao desempenho do aluno em sala de aula, ou seja, discutir sobre seus avanços, suas habilidades, dificuldades e possíveis demandas de intervenção. Em uma destas reuniões a professora apontou como demanda desenvolver estratégias e/ou recursos para que a criança realizasse a escrita e assim participasse das atividades desenvolvidas em sala de aula de maneira mais efetiva. As ações desenvolvidas em parceria, saúde e educação, para suprir esta demanda serão descritas neste trabalho. Ao finalizarmos as ações voltadas para esta demanda, podemos concluir que esta parceria trouxe resultados positivos para o desempenho escolar da criança neste estudo, mostrando ser um caminho importante para a promoção do ensino inclusivo e para o desenvolvimento da criança. Palavras-chave: saúde; educação; ensino inclusivo. 1.INTRODUÇÃO A filosofia da inclusão escolar é pautada na defesa de uma educação efetiva para todos. Nesta perspectiva, as escolas têm como tarefa satisfazer as necessidades do seu alunado, independentemente de quais forem suas características pessoais, psicológicas ou sociais, podendo estes ter ou não deficiência. As escolas devem estar preparadas para receber e educar todos os seus alunos e não apenas aqueles considerados como “educáveis”, isto significa, que “não basta os alunos com necessidades educacionais especiais estejam integrados às escolas comuns, estes devem participar plenamente da vida escolar e da vida social dessa comunidade escolar” (Sánchez, 2005, p.11).

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A EDUCAÇÃO E A SAÚDE COMO PARCEIROS PARA PROMOÇÃO DO

ENSINO INCLUSIVO

Mariana Dutra ZAFANI;

Fabiana Sayuri SAMESHIMA.

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”– Marília.

Resumo. O objetivo deste trabalho é o de retratar a parceria realizada entre profissionais

da saúde (fonoaudióloga e terapeuta ocupacional) e da educação (professora do ensino

regular) a fim de buscar estratégias para potencializar o desempenho do aluno com

deficiência em sala de aula, no que se refere à realização da escrita. Participaram do

estudo uma criança com dez anos de idade, com diagnóstico de paralisia cerebral

diplégica, inserida no ensino regular, bem como a sua respectiva professora, a

fonoaudióloga e a terapeuta ocupacional que atendiam a criança em uma clínica

vinculada a uma universidade pública. As atividades do estudo foram desenvolvidas no

primeiro e no segundo semestre de 2010. As profissionais envolvidas com a criança

realizavam reuniões mensais a fim de discutir aspectos referentes ao desempenho do

aluno em sala de aula, ou seja, discutir sobre seus avanços, suas habilidades,

dificuldades e possíveis demandas de intervenção. Em uma destas reuniões a professora

apontou como demanda desenvolver estratégias e/ou recursos para que a criança

realizasse a escrita e assim participasse das atividades desenvolvidas em sala de aula de

maneira mais efetiva. As ações desenvolvidas em parceria, saúde e educação, para

suprir esta demanda serão descritas neste trabalho. Ao finalizarmos as ações voltadas

para esta demanda, podemos concluir que esta parceria trouxe resultados positivos para

o desempenho escolar da criança neste estudo, mostrando ser um caminho importante

para a promoção do ensino inclusivo e para o desenvolvimento da criança. Palavras-chave: saúde; educação; ensino inclusivo.

1.INTRODUÇÃO

A filosofia da inclusão escolar é pautada na defesa de uma educação efetiva

para todos. Nesta perspectiva, as escolas têm como tarefa satisfazer as necessidades do

seu alunado, independentemente de quais forem suas características pessoais,

psicológicas ou sociais, podendo estes ter ou não deficiência. As escolas devem estar

preparadas para receber e educar todos os seus alunos e não apenas aqueles

considerados como “educáveis”, isto significa, que “não basta os alunos com

necessidades educacionais especiais estejam integrados às escolas comuns, estes devem

participar plenamente da vida escolar e da vida social dessa comunidade escolar”

(Sánchez, 2005, p.11).

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Pensando na questão do aluno com deficiência, em alguns casos, é

fundamental que toda a equipe escolar e em especial os professores recebam o suporte e

o apoio de profissionais especializados para que possam desenvolver um trabalho

educacional de qualidade que garanta a participação de todos os alunos nas atividades

escolares (ZAFANI, 2009).

O apoio da saúde a educação é explicitada na Legislação da área da

Educação Especial, na Resolução CNE/CEB Nº 2, de 11 de setembro de 2001, que

institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, a qual

enfatiza no artigo 6º, parágrafo III, que para identificação das necessidades educacionais

especiais dos seus alunos e para as tomadas de decisões referentes aos atendimentos

necessários, a escola deve realizar, com assessoramento técnico, avaliação do aluno no

processo de ensino e aprendizagem, contando para tanto com a cooperação dos serviços

de saúde (BRASIL, 2001).

Os profissionais da saúde devem atuar, portanto, como parceiro da escola na

atenção ao aluno com necessidades educacionais especiais, auxiliando o professor a

refletir sobre algumas formas ou alternativas para estimular as habilidades da criança e

superar algumas dificuldades de desempenho identificadas do aluno.

Os terapeutas ocupacionais e os fonoaudiólogos são um dos profissionais da

saúde que devem atuar juntamente com a comunidade escolar a fim de buscar

estratégias para potencializar o desempenho do aluno deficiente nas atividades

escolares.

O terapeuta ocupacional por “[...] se dedicar ao estudo do desenvolvimento

humano, ao processo de aprendizagem e autonomia, possui um arcabouço teórico e

prático [...], capaz de contribuir para o sucesso do aluno em sala de aula” (MUNGUBA,

2007, p. 521) através da compreensão dos aspectos do desempenho que estão

interferindo na capacidade do educando de se engajar em sua ocupação, atuando a fim

de torná-lo apto, independente e produtivo, na medida das possibilidades (ZAFANI,

2009).

O terapeuta ocupacional instrumentaliza o aluno e a escola para uma

ação pedagógica efetiva incluindo adaptações ambientais e de

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mobiliários e a utilização de diversos recursos de tecnologia assistiva.

O acompanhamento do terapeuta ocupacional pode se dar pela

participação nas atividades escolares, assessoria à equipe educacional

e trabalhos envolvendo a comunidade que objetivem a sensibilização

para o respeito à diversidade. (BARTALOTTI; CARLO, 2001 apud

PELOSI, 2008, p. 47).

O fonoaudiólogo no contexto escolar pode atuar na promoção e na

prevenção da saúde (MARANHÃO; PINTO; PEDRUZZI, 2009). Deve criar condições

para que as capacidades dos alunos sejam exploradas ao máximo (RAMOS; ALVES,

2008). Na literatura fonoaudiológica há uma série de pesquisas, relatos e estudos

(MARANHÃO; PINTO; PEDRUZZI, 2009, SERAPOMPA; MAIA, 2006, RIOS;

NOVAES, 2009, RAMOS; ALVES, 2008, COLELLA-SANTOS; BRAGATO;

MARTINS, 2009, PENTEADO et al., 2007) que abordam algumas atividades

desenvolvidas pelo fonoaudiólogo junto á escola , entre elas podemos citar: orientações

aos alunos e/ou professores quanto a sua atuação em sala de aula; triagem escolar;

elaboração de estratégias que favoreçam o processo de aprendizagem dos alunos, por

exemplo, durante a alfabetização; capacitação dos educadores na identificação de

possíveis alterações de linguagem escrita e/ou oral; entre outros (GERTEL; MAIA,

2010).

Quando o profissional da saúde assisti a criança na escola e também em

ambiente clínico, tem a oportunidade de desenvolver na clínica um trabalho

complementar ao desenvolvido na escola, buscando estimular as habilidades da criança

e os componentes de desempenho deficitários considerados pré-requisitos para a

realização de algumas atividades escolares, a fim de obter resultados que repercutem

não só no desempenho da criança na escola, mas também no seu desempenho em todas

as atividades cotidianas.

Além de apontarmos a colaboração e a atuação dos profissionais da saúde

na educação, é necessário citarmos também a importância dos profissionais da

educação, mas especificamente dos professores, e as suas contribuições aos

profissionais da saúde na construção de um ensino inclusivo, pois por estarem em

contato direto com os alunos nas tarefas escolares e por serem os grandes responsáveis

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pelo processo de ensino aprendizagem, são capazes de apontar as adaptações

curriculares que consideram ser necessárias para o aluno, e deste modo, juntos podem

criar estratégias/possibilidades para o sucesso do desempenho do aluno com deficiência

em sala de aula (ZAFANI, 2009).

As explanações acima apontam para os benefícios trazidos ao aluno quando

esta parceira se efetiva, dessa forma, os profissionais da saúde e da educação devem

trabalhar juntos sempre que possível a fim de atingir um objetivo comum: proporcionar

a criança condições para que ela possa se beneficiar das experiências educativas

oferecidas pela escola.

2. OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é o de retratar a parceria realizada entre

profissionais da saúde (fonoaudióloga e terapeuta ocupacional) e da educação

(professora do ensino regular) a fim de buscar estratégias para potencializar o

desempenho do aluno com deficiência em sala de aula, no que se refere à realização da

escrita.

3. MÉTODO

3.1 Participantes

Participaram do estudo uma criança com dez anos de idade, com

diagnóstico de paralisia cerebral diplégica, inserida no ensino regular, bem como a sua

respectiva professora, a fonoaudióloga e a terapeuta ocupacional que atendiam a criança

em uma clínica vinculada a uma universidade pública.

3.2 Local e período

As atividades foram desenvolvidas no primeiro e no segundo semestre de

2010. As reuniões entre as profissionais da saúde e a professora eram realizadas

mensalmente na escola em que a criança freqüentava. Os atendimentos realizados pela

fonoaudióloga e pela terapeuta ocupacional eram prestados semanalmente em uma

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clínica vinculada a uma universidade pública, do interior do Estado de São Paulo, tendo duração

de 50 minutos.

3.3 Desenvolvimento

3.3.1 Ações desenvolvidas em parceria: profissionais da saúde e professor

Nas reuniões realizadas mensalmente na escola as profissionais da saúde e a

professora discutiam os avanços observados da criança na sala de aula e na clínica,

discutiam algumas demandas levantadas pela professora sobre as dificuldades

identificadas no desempenho do aluno nas atividades escolares e refletiam sobre

algumas estratégias conjuntas a fim de superar as dificuldades identificadas e estimular

as habilidades da criança.

A professora no início do semestre de 2010 apontou para a necessidade de

elaborarmos alguma estratégia e/ou recurso a fim de favorecer a realização da escrita

pela criança, pois observava que a mesma apresentava dificuldade em desenvolver a

escrita manual. Neste trabalho iremos discutir apenas as estratégias adotadas a fim de

suprir esta demanda levantada pela professora. No entanto, é importante ressaltar que

durante os encontros com a professora outras demandas foram apontadas pela mesma e

algumas estratégias foram elaboradas com o intuito de atendê-las.

1° Passo:

O primeiro passo consistiu em identificar as habilidades da criança para a

realização da atividade de escrita e os componentes de desempenho que estavam

deficitários, e conseqüentemente, interferiam na realização da escrita manual.

Após avaliação fonoaudiológica e terapêutica ocupacional, somada às

contribuições e informações fornecidas pela professora, foi possível observar que a

criança era capaz de identificar as letras, formar sílabas, estava iniciando a formação de

palavras e a leitura. Era capaz de realizar a preensão do lápis, mas apresentava

dificuldade em manipulá-lo em atividades como, pintura de um desenho, contorno de

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figuras, entre outros. A criança apresentava déficit de planejamento e execução motora,

percepção visual, atenção, concentração, ritmo, orientação espacial e lateralidade os

quais interferiam no desenvolvimento da escrita manual.

2° Passo:

O segundo passo consistiu em refletir sobre as estratégias que seriam

desenvolvidas em parceria (professora – profissionais da saúde) para viabilizar a escrita

e as estratégias que seriam usadas pelas profissionais da saúde para melhorar os déficits

identificados.

A fonoaudióloga, a terapeuta ocupacional e a professora consideraram

inviável naquele momento, continuar investindo no desenvolvimento da escrita manual

e começaram a refletir sobre alguns recursos e/ou estratégias que fossem capazes de

favorecer a realização da escrita, pensando nas habilidades da criança para a realização

desta tarefa. Entre os vários recursos disponíveis, como letras imantadas, de madeira e

E.V.A., o computador aparentou ser na opinião das três o recurso mais ideal para a

realização da escrita. Ficou combinado com a professora que a mesma estratégia que

seria usada na clínica para o treinamento da escrita com o recurso deveria ser utilizada

pela professora em sala de aula nas atividades escolares.

Antes de investigar a viabilidade do recurso foi verificado se a escola teria

um computador que poderia ficar disponível para a criança na sala de aula. A escola

tinha um computador que poderia ser destinado a este fim.

Além da elaboração do recurso para viabilizar a escrita e o treino para o uso

do mesmo, as profissionais da saúde realizaram um plano de intervenção para estimular

as funções identificadas como deficitárias (percepção visual, ritmo, orientação espacial,

lateralidade) consideradas pré-requisitos para a atividade de leitura e escrita. Nogueira,

Carvalho e Pessanha (2007) apontam que defasagens no desenvolvimento das

habilidades psicomotoras repercutem no desempenho e na construção de leitura e

escrita, sobretudo nas séries iniciais do ensino fundamental. Isto aponta para a

importância e a necessidade de estimular o desenvolvimento destas funções. Foram

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utilizados diferentes recursos para trabalhar estes componentes de desempenho: jogos

de tabuleiro e jogos de computadores, livros, brinquedos, entre outros. Foram realizadas

avaliações periódicas a fim de identificar melhora nas funções estimuladas.

3° Passo:

Serão descritas as adaptações realizadas no computador, o treinamento

realizado e os avanços observados da criança com o uso do recurso.

O computador aparentou ser um recurso interessante para trabalhar a escrita

da criança, por diferentes motivos: a) criança tinha habilidade manual para pressionar as

teclas do computador com os dedos; b) era capaz de direcionar os movimentos dos

dedos para a tecla do teclado desejada; c) o computador aparentou ser um recurso que

iria suprir parcialmente, naquele momento, a dificuldade apresentada pela criança de

planejamento e execução motora para a escrita manual; e d) era um recurso do qual a

criança apresentava interesse em utilizá-lo.

No entanto, o uso do computador sem realizar algumas adaptações no

teclado seria a princípio inviável para o uso da criança devido aos déficits apresentados

de percepção visual, orientação espacial, atenção e concentração.

Em virtude disto, primeiramente realizamos a ampliação das letras das

teclas do teclado do computador, para facilitar a identificação e a discriminação das

mesmas. Em cada tecla do teclado foi colada uma fita adesiva branca com a letra

ampliada feita com caneta hidrográfica preta (figura 1).

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Para diminuir o

número de estímulos

visuais do teclado em virtude do

déficit de atenção, percepção visual

e concentração apresentado pela

criança, foi confeccionado

uma capa de E.V.A. (figura 2) para o teclado que deixava visível apenas as letras do

teclado, a barra de espaço, a tecla de apagar e o enter.

Figura 2

Figura 1

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Além disso, foram confeccionadas duas réguas adaptadas vazadas para

seleção de três letras (figura 3 e 4) e outra para seleção de linha (figura 5 e 6) a fim de

facilitar a visualização e a identificação das letras desejadas no teclado pela criança.

E

stas

ada

pta

ções foram realizadas no computador da escola

e da clínica.

É importante apontar que apesar das adaptações do computador ter sido

realizada pelas profissionais da saúde, a professora foi agente participativa neste

processo, oferecendo idéias e opinando quanto à funcionalidade e viabilidade do uso do

recurso em sala de aula.

Figura 3 Figura 4

Figura 5 Figura 6

Figura 3

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Foram traçadas em parceria com a professora as estratégias para uso do

recurso. Primeiramente convencionamos que iríamos fazer uso da capa de E.V.A. e da

régua adaptada vazada para seleção de três letras tanto na escola para a realização das

atividades escolares quanto na clínica. Buscávamos a princípio, a familiarização da

criança com o recurso e oferecer o mínimo de estímulos visuais possíveis no teclado a

fim de facilitar na identificação e na discriminação das letras.

Conforme a professora e as profissionais da saúde identificaram a melhora

do uso do teclado pela criança, ou seja, foi observado que a criança estava identificando

com maior facilidade e agilidade a letra desejada no teclado, foi decidido que a régua

adaptada vazada de seleção de três letras seria substituída pela régua adaptada vazada de

seleção de linha, aumentado o número de estímulos do teclado. Esta régua seria usada

juntamente com a capa de E.V.A.. Demos continuidade ao treinamento do uso do

recurso na clínica e o uso do recurso na escola.

Após alguns meses a criança apresentava progressos no uso do teclado com

a régua vazada de seleção de linha conseguindo identificar as letras desejadas com

maior facilidade, em virtude disto, decidimos que iríamos suspender o uso das réguas

vazadas adaptadas e verificar como seria o uso do teclado pela criança apenas com a

capa de E.V.A..

A princípio observamos um aumento da dificuldade para a realização da

tarefa (selecionar as letras no teclado). No entanto, com o passar do tempo foi sendo

observada uma melhora progressiva no uso do teclado apenas com a capa de E.V.A.. A

criança foi mostrando-se mais veloz na realização da tarefa, além disso, foi observada

uma aparente memorização da criança da localização de algumas teclas.

Ao observarmos este avanço consideramos a possibilidade de suspender o

uso da capa de E.V.A. mantendo apenas os adesivos colados nas teclas para ampliação

das letras. A criança mostrou após algumas semanas um bom uso do recurso sem as

adaptações usadas anteriormente, observado e relatado tanto pela professora quanto

pelas profissionais da saúde.

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Foi dado, portanto, continuidade ao uso do computador para a escrita nas

atividades escolares apenas com as letras ampliadas.

4. CONCLUSÃO

Neste estudo, observamos a iniciativa de todos os profissionais (saúde e

educação) em trazer contribuições para o sucesso escolar do aluno com deficiência

referentes à sua área de atuação, e mais importante do que isso, mostraram-se dispostos

a trabalhar em conjunto a fim de alcançar um objetivo comum: desenvolver estratégias

e/ou recursos para que a criança realizasse a escrita e assim participasse das atividades

desenvolvidas em sala de aula de maneira mais efetiva.

Podemos concluir que esta parceria trouxe resultados positivos para o

desempenho escolar da criança neste estudo, mostrando ser um caminho importante

para a promoção do ensino inclusivo e para o desenvolvimento da criança.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução

CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001. Diretrizes Nacionais para a

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Brasil. Brasília, DF, 14 set. 2001.

GERTEL, M. C. R.; MAIA, S. M. O fonoaudiólogo e a escola – reflexões acerca da

inclusão escolar: estudo de caso. Revista CEFAC, 2010.

MARANHÃO, P. C. S.; PINTO, S. M. P. C.; PEDRUZZI, C. M. Fonoaudiologia e

educação infantil: uma parceria necessária. Revista CEFAC, v. 11, n. 1, p. 59-66, 2009.

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Ocupacional: fundamentação & prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. p.

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Online, Campos Goytacazes, v. 1, n. 2, p. 9-28, 2007.

PELOSI, M. B. Inclusão e tecnologia assistiva. 2008. Tese (Doutorado) – Universidade

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motor. 2009. 103 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Terapia

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