a disciplina escolar histÓria natural no instituto de ... · no atual município do rio de...

12
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa Universidade Federal da Paraíba 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 5367 A DISCIPLINA ESCOLAR HISTÓRIA NATURAL NO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO NOS ANOS 1930: CONSIDERAÇÕES SOBRE METODOLOGIAS DE ENSINO E OBJETOS ESCOLARES Maria Cristina Ferreira dos Santos 1 Introdução Nos anos de 1930 ocorreram mudanças sociais, políticas e econômicas, com a crescente urbanização e industrialização no Brasil. Com a vitória na Revolução de 1930, Getúlio Vargas assumiu o governo provisório iniciando o primeiro período em que governou o país (1930-1945). Em seu governo o Estado passou a desempenhar papel central na modernização do país (CPDOC/FGV, 1997). Em 1930 foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública e Francisco Campos (1931-1932), Washington Pires (1932-1934) e Gustavo Capanema (1934 1945) assumiram a pasta do Ministério. Em 1931 Francisco Campos organizou uma reforma educacional em nível nacional (BRASIL, 1931), consolidada pelo Decreto n. 21.241, de 4 de abril de 1932 (BRASIL, 1932). Nessa reforma ocorreu a centralização, em nível federal, das determinações sobre a organização do ensino secundário, dividido em dois ciclos: o fundamental, em cinco anos, e o complementar, em dois anos. Nesse estudo buscou-se investigar metodologias de ensino e objetos escolares em publicações em revistas pedagógicas e programas da disciplina História Natural no Instituto de Educação nos anos de 1930. Essa instituição de ensino foi criada por Anísio Teixeira, Diretor Geral da Instrução Pública no município do Rio de Janeiro entre 1931 e 1935. Ele foi o responsável em 1932 pela extinção da Escola Normal e implantação do Instituto de Educação do Distrito Federal e em 1935 pela criação da Universidade do Distrito Federal. O Instituto de Educação, dividido em Escola Secundária e Escola de Professores, tinha os objetivos de oferecer o ensino secundário, formar professores primários e secundários e realizar cursos de formação continuada para professores. Em 1934 foi estabelecida a equivalência da Escola Secundária desse Instituto aos estabelecimentos federais de ensino, 1 Doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professora Adjunta no Departamento de Ciências da Faculdade de Formação de Professores e no Departamento de Ciências da Natureza do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: <[email protected]>.

Upload: docong

Post on 10-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 5367

A DISCIPLINA ESCOLAR HISTÓRIA NATURAL NO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO NOS ANOS 1930: CONSIDERAÇÕES

SOBRE METODOLOGIAS DE ENSINO E OBJETOS ESCOLARES

Maria Cristina Ferreira dos Santos1

Introdução

Nos anos de 1930 ocorreram mudanças sociais, políticas e econômicas, com a

crescente urbanização e industrialização no Brasil. Com a vitória na Revolução de 1930,

Getúlio Vargas assumiu o governo provisório iniciando o primeiro período em que governou

o país (1930-1945). Em seu governo o Estado passou a desempenhar papel central na

modernização do país (CPDOC/FGV, 1997). Em 1930 foi criado o Ministério da Educação e

Saúde Pública e Francisco Campos (1931-1932), Washington Pires (1932-1934) e Gustavo

Capanema (1934 – 1945) assumiram a pasta do Ministério.

Em 1931 Francisco Campos organizou uma reforma educacional em nível nacional

(BRASIL, 1931), consolidada pelo Decreto n. 21.241, de 4 de abril de 1932 (BRASIL, 1932).

Nessa reforma ocorreu a centralização, em nível federal, das determinações sobre a

organização do ensino secundário, dividido em dois ciclos: o fundamental, em cinco anos, e o

complementar, em dois anos.

Nesse estudo buscou-se investigar metodologias de ensino e objetos escolares em

publicações em revistas pedagógicas e programas da disciplina História Natural no Instituto

de Educação nos anos de 1930. Essa instituição de ensino foi criada por Anísio Teixeira,

Diretor Geral da Instrução Pública no município do Rio de Janeiro entre 1931 e 1935. Ele foi

o responsável em 1932 pela extinção da Escola Normal e implantação do Instituto de

Educação do Distrito Federal e em 1935 pela criação da Universidade do Distrito Federal. O

Instituto de Educação, dividido em Escola Secundária e Escola de Professores, tinha os

objetivos de oferecer o ensino secundário, formar professores primários e secundários e

realizar cursos de formação continuada para professores. Em 1934 foi estabelecida a

equivalência da Escola Secundária desse Instituto aos estabelecimentos federais de ensino,

1 Doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professora Adjunta no Departamento de Ciências da Faculdade de Formação de Professores e no Departamento de Ciências da Natureza do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: <[email protected]>.

Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 5368

passando a adotar os programas do ensino secundário estabelecidos em âmbito federal, após

a reforma educacional liderada por Francisco Campos em 1931.

Antes da criação do Instituto de Educação em 1932, funcionou a Escola Normal do

Distrito Federal. Essa escola teve início como Escola Normal da Corte em 28 de março de

1880, funcionando, a partir de maio de 1880, nas salas do Externato do Colégio Pedro II.

Transferida para a antiga Escola Central, em 1888 foi para o local onde posteriormente se

instalou a Escola Técnica Rivadávia Corrêa. Em 1914 mudou-se para a sede da Escola Estácio

de Sá, na Rua de São Cristóvão, onde se estabeleceu até 1930 (SILVEIRA, 1954). As obras de

construção de um prédio próprio para a realização de suas atividades e cursos ocorreram no

período em que Fernando de Azevedo foi Diretor da Instrução Pública e em 1930 a Escola

Normal do Distrito Federal foi transferida para o prédio construído na Rua Mariz e Barros,

no atual município do Rio de Janeiro.

No estudo da história das disciplinas escolares cabe investigar objetivos, conteúdos de

ensino, manuais didáticos, metodologias, objetos e avaliações em articulação com o contexto

mais amplo e nas relações que as disciplinas escolares estabelecem com as disciplinas de

referência e as finalidades sociais. Nesse estudo buscou-se analisar metodologias e objetos

escolares em programas de ensino e textos de professores sobre o ensino de História Natural

nos anos 1930. O intuito foi a reflexão sobre mudanças e permanências na disciplina escolar

História Natural.

Fundamentação teórico-metodológica

A pesquisa tem natureza qualitativa e busca apoio em estudos de Andrè Chervel

(1990), Ivor Goodson (1983, 1988, 1995, 1997) e Antonio Viñao (2008). Chervel afirma que

as disciplinas escolares são criações originais da escola, com suas próprias finalidades,

conteúdos e metodologias de ensino, contribuindo para a compreensão da escola como

espaço de produção de saberes e não de simplificação dos saberes das ciências de referência.

As contribuições de Goodson (1983, 1995, 1997) auxiliam na compreensão do

currículo como uma construção sócio-histórica, em meio a conflitos internos e externos à

escola em relação ao que é legítimo de ser ensinado. Os estudos desse autor auxiliam nas

investigações sobre a história das disciplinas escolares e indicam que “os conflitos em torno

da definição do currículo [escrito] proporcionam uma prova visível, pública e autêntica da

luta constante que envolve as aspirações e objetivos de escolarização” (GOODSON, 1995, p.

17). Para esse autor (1983, 1997), o investigador deve atentar para mudanças e continuidades

nas disciplinas escolares.

Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 5369

Viñao (2008) aponta elementos a serem investigados na história das disciplinas

escolares: 1) lugar, presença e denominações da disciplina nos programas de ensino; 2)

objetivos e discursos que a validam a disciplina escolar; 3) conhecimentos prescritos; 4) o

perfil dos professores; e 5) práticas e atividades escolares. No exame desses fatores,

considera-se a conjuntura sócio-histórica e as relações entre disciplinas, ciências de

referência e finalidades pedagógicas e sociais da escolarização.

Sobre a análise das fontes no estudo da história das disciplinas, Goodson (1995, p. 210)

considera o currículo escrito “um dos melhores roteiros oficiais para a estrutura

institucionalizada da escolarização”. Chervel (1990, p.188-189) indica que os “textos oficiais

programáticos, discursos ministeriais, leis, ordens e decretos, acordos, instruções, circulares,

fixando os planos de estudos, os programas, os métodos, os exercícios, etc.” podem ser

explorados como corpus inicial no estudo das finalidades e constituição de uma disciplina

escolar. Esse autor alerta para que documentos oficiais não sejam considerados como

expressão da realidade escolar:

[...] as finalidades de ensino não estão todas forçosamente inscritas nos textos. Assim, novos ensinos às vezes se introduzem nas classes sem serem explicitamente formulados. Além disso, pode-se perguntar se todas as finalidades inscritas nos textos são de fato finalidades “reais” (CHERVEL, 1990, p. 189).

Chervel (1990, p. 190) também afirma que um documento oficial geralmente é

produzido para “corrigir um estado de coisas, modificar ou suprimir certas práticas, do que

sancionar oficialmente uma realidade”.

A constituição das disciplinas escolares é permeada por discursos que circulam nas

comunidades disciplinares e influenciam os professores em sua formação e práticas. Esland

(apud GOODSON, 1997) ressalta a importância da análise da perspectiva que os professores

têm da disciplina que lecionam:

O conhecimento com que um professor pensa “preencher” a sua disciplina é detido em comum com membros de uma comunidade de apoio que, coletivamente, abordam os seus paradigmas e critérios de utilidade, a forma como são legitimados nos cursos de formação e nas declarações oficiais. [...] Estão, assim, extremamente dependentes de publicações especializadas e, em menor grau, de conferências que confirmem a sua realidade (ESLAND2 apud GOODSON, 1997, p. 21-22).

2 ESLAND, G. Teaching and Learning as the Organization of Knowledge. In: Young, M. F.D. (ed.) Knowledge and Control. New Directions for the Sociology of Education. Londres: Collier-Macmillian, 1971, p. 79.

Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 5370

Nesse contexto teórico-metodológico, procurou-se analisar metodologias de ensino e

objetos escolares em programas e no discurso de professores em relação com a produção da

disciplina escolar História Natural. Em função das fontes preservadas nos acervos

consultados e dos objetivos desse estudo, foram utilizados: programas da disciplina História

Natural de 1929 e da década de 1930; legislação da época; textos sobre o ensino de História

Natural publicados em revistas da época, como Archivos do Instituto de Educação; prefácio

de livro didático de História Natural e Livros de Registro de Designação e Dispensa de

Funcionários da Escola Normal e do Instituto de Educação. Partiu-se da análise de

metodologias e objetos escolares no ensino de História Natural para traçar parâmetros para

compreender mudanças e continuidades na disciplina nesse Instituto nos anos 1930.

As reformas educacionais e a disciplina escolar História Natural

Antes de nos debruçarmos sobre a análise da disciplina escolar História Natural nos

anos 1930, faz-se um recuo para a reforma educacional no município do Rio de Janeiro

organizada em 1928 por Fernando de Azevedo (1894 - 1974), então Diretor Geral da

Instrução Pública Municipal. Essa reforma foi instituída pelo Decreto 3281, de 23 de janeiro

de 1928 (DISTRITO FEDERAL, 1928) e incorporou ideias defendidas pelo movimento da

Educação Nova. Fernando de Azevedo teve papel importante na implementação da Escola

Normal do Distrito Federal como um centro de estudos pedagógicos, destinado à formação

dos professores primários. Conforme o Decreto 3281/ 1928, o curso tinha cinco anos de

preparo profissional, dividido em dois ciclos: o propedêutico e o profissional, com matérias

especializadas. O curso complementar primário superior (dois anos) era anterior ao

propedêutico, com duração total de sete anos para a formação de professores na Escola

Normal do Distrito Federal.

A disciplina História Natural foi estabelecida no 3º e 4º anos do curso, abordando

conteúdos de ensino de Biologia Geral, Botânica, Zoologia, Mineralogia e Geologia. No

currículo da Escola Normal do Distrito Federal, a Anatomia e Fisiologia Humana

permaneceram como disciplina separada da História Natural (PREFEITURA DO

DISTRICTO FEDERAL, 1929). Nos programas de 1929 do 3º ano dessa disciplina,

abordavam-se conteúdos de Mineralogia e Geologia (19 “pontos”) seguidos da Botânica (17),

com um total de 36 “pontos” e nota ao final de ambas as seções sobre os “pontos práticos”:

O estudo da mineralogia e geologia deverá ser o mais objectivo possivel, illustrado com amostras, graphicos, eschemas, mappas e excursões [...] (DISTRITO FEDERAL, 1929, p.62).

Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 5371

[...] Os pontos ns. 5, 6, 7, 11, 12, 13, 14, 15 e 17 serao essencialmente práticos, dados a turmas de 15 alumnos no maximo, sendo obrigatório o desenho ou eschema do material utilizado (DISTRITO FEDERAL, 1929, p.64)

No 4º ano o programa reunia conteúdos de Zoologia (18 “pontos”) e Biologia Geral (25

“pontos”), com o total de 43 “pontos” nesse ano escolar. Ao final da seção de Zoologia uma

nota indica que todos os pontos foram planejados para práticas com turmas de 15 alunos.

Em 1931 a Reforma Francisco Campos modificou o ensino secundário em âmbito

nacional, tentando acabar com os cursos preparatórios e exames parcelados para os institutos

superiores e aumentando a duração do curso secundário de cinco para sete anos, dividido em

dois ciclos: um denominado fundamental, com cinco anos, e o outro complementar, com dois

anos. O primeiro ciclo era comum a todos os estudantes do curso secundário e proporcionava

a formação geral. O segundo, o “ciclo complementar”, em dois anos, era propedêutico para o

curso superior com três currículos diferentes, em função do curso superior pretendido. A

História Natural foi estabelecida na 3ª, 4ª e 5ª séries do ciclo fundamental e na 1ª e 2ª séries

do no ciclo complementar para candidatos aos cursos superiores de Medicina, Odontologia e

Farmácia ou de Engenharia e Arquitetura (BRASIL, 1931).

Em 1932 a Escola Normal foi extinta e criado o Instituto de Educação. Em 11 de julho

de 1934 o Decreto N. 5.000 estabeleceu a equivalência do currículo da Escola Secundária do

Instituto de Educação com o do ensino secundário, determinando que o curso dessa Escola

adotasse a divisão em dois ciclos: um fundamental, com cinco anos, e outro complementar,

com um ou dois anos, para a habilitação e matrícula em escolas superiores. Isso resultou em

mudanças nas disciplinas do ciclo fundamental e do curso complementar desse Instituto, que

preparava os candidatos para o ingresso na Escola de Professores.

Com a equivalência, a disciplina História Natural foi distribuída na 3ª, 4ª e 5ª séries do

ciclo fundamental da Escola Secundária, e ampliada com respectivamente 45, 50 e 70 lições

nos programas de ensino. Algumas lições apresentam elementos que permitem estabelecer

relação com aulas práticas: “Comentário dos relatórios sobre a germinação [...] Estudo

prático da germinação” e “Exercícios práticos de dissecação e descrição de flores. Diagrama.”

(3ª série); “Demonstração de células, animal e vegetal, em preparações frescas” (4ª série).

Nos anos 1930 a Anatomia e Fisiologia Humana não se constituíram como uma disciplina à

parte no currículo, mas conteúdos desses ramos do conhecimento estão presentes nos

programas de História Natural. No Programa de História Natural da 4ª série do ciclo

fundamental da Escola Secundária foram planejadas 50 lições envolvendo conteúdos de

Biologia Geral, Botânica, Anatomia e Fisiologia Humana e Mineralogia (PREFEITURA DO

Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 5372

DISTRITO FEDERAL, [193-]). A distribuição ampliada da História Natural para outros

anos/séries escolares considerando os programas de 1929 e os dos anos 1930 pode ter

contribuído para um ensino de base científica e em métodos ativos.

Chervel (1990) e Julià (2002) ressaltam a distância entre o ensino praticado e textos

normativos nas pesquisas sobre a história das disciplinas escolares. O cruzamento de

diferentes fontes pode auxiliar na aproximação ao ensino praticado nas escolas. Nesse

sentido, analisamos também textos publicados em revistas da época e prefácio de livro.

Metodologias e objetos escolares nos discursos de professores

Goodson (1995, 1997) ressalta que as disciplinas escolares são organizadas a partir de

disputas e negociações no interior das comunidades disciplinares, grupos heterogêneos cujos

membros não comungam dos mesmos valores e interesses. É relevante compreender valores

e interesses de sujeitos e grupos sociais envolvidos na elaboração e circulação de ideias

relacionadas ao currículo escolar (GOODSON, 1988, p. 61). Nesse sentido, buscamos analisar

perspectivas de alguns docentes que lecionaram no Instituto de Educação sobre metodologias

e objetos no ensino de História Natural.

Carlos Leoni Werneck (1888-1946)3, Candido Firmino de Mello Leitão (1886- 1948) e

Lafayette Silveira Martins Rodrigues Pereira lecionaram História Natural nessa instituição4.

Carlos Werneck foi professor catedrático de História Natural e diretor da Escola Normal do

Distrito Federal, além de membro da Academia Nacional de Medicina (SILVEIRA, 1954). No

concurso para a cadeira de “História Natural e Hygiene” dessa instituição em 1914, Carlos

Leoni Werneck foi classificado em primeiro lugar e Candido Firmino de Mello Leitão em

segundo lugar (MELLO LEITÃO, 1934). Esses professores tinham formação em Medicina e

ministraram outras disciplinas além da História Natural em sua trajetória profissional. Mello

Leitão também foi professor de Biologia Geral e Lafayette Rodrigues Pereira lecionou

Biologia Geral e Higiene5 (SANTOS, 2016).

A formação em Medicina era comum entre aqueles que lecionaram História Natural,

uma vez que cursos de formação de professores secundários somente começaram a ser

3 Carlos Leoni Werneck (1888- 1946) foi autor da coleção Curso Elementar de História Natural, com edições impressas pela Tipografia Besnard Frères no final dos anos 1920 e início dos anos 1930.

4 Cf. Livros de Registro de Designações e Dispensas de Funcionários da Escola Normal e do Instituto de Educação do Distrito Federal dos anos 1917-1920; 1920-1925; 1925-1932; 1932-1937; MELLO LEITÃO 1946-1947.

5 As três disciplinas escolares acima referidas - História Natural, Biologia Geral e Higiene – foram estabelecidas como distintas no currículo dessa instituição. Foge ao escopo desse estudo investigar as disciplinas Biologia Geral e Higiene no Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Sobre a disciplina Biologia Geral nesse Instituto, cf. SANTOS (2013) e SANTOS, SPIEGUEL & SELLES (2012).

Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 5373

organizados no Brasil a partir dos anos 1930. O Decreto 3281 de 1928 estabelecia que o corpo

docente da Escola Normal se compunha de professores catedráticos, auxiliados por

assistentes e preparadores; porém o número de catedráticos era insuficiente e os concursos

que foram realizados não supriram a necessidade da instituição. Vários docentes eram

nomeados para reger as turmas no início do ano letivo e dispensados ao seu término,

trabalhando de março a novembro (ACCÁCIO, 2008).

Professor de História Natural na Escola Normal do Distrito Federal e na Escola

Normal de Niterói, Candido de Mello Leitão, após a criação do Instituto de Educação do Rio

Janeiro, assumiu a cadeira de Biologia Geral, na 1ª serie do Curso Complementar da Escola

Secundária6. Em texto publicado na revista Schola em 1930, esse autor tratou da metodologia

de ensino da História Natural, correlacionando o conhecimento da natureza pelas crianças ao

“amor da Pátria” nos adultos e destacando o papel dos professores na construção de uma

nacionalidade brasileira (MELLO LEITÃO, 1930, p. 20-21).

Para ensinar história natural, mais, talvez, do que para qualquer outra disciplina, deve o professor apellar para a individualidade da criança, dar-lhe autonomia, despertar-lhe o interesse, fazer della um amigo, infundir-lhe confiança, sem que chegue esta à irreverência e à indisciplina. Conseguido este primeiro passo, o mestre, orientador attento, acompanhará as “descobertas” do alumno, vendo desabrochar novas noções, conhecimentos novos, a cada instante solicitados e recebidos com redobrado interesse, e não supportados como um supplicio a mais pela memória sobrecarregada (MELLO LEITÃO, 1930, p. 9).

O professor catedrático Carlos Werneck indicou mudanças no tempo destinado às

atividades práticas, mas não em conteúdos de ensino de História Natural, na 1ª e 3ª edições

de um dos volumes - Elementos de Botânica, de seu compêndio Curso Elementar de História

Natural. A primeira edição foi publicada em 1922, antes das reformas educacionais de

Fernando de Azevedo e Francisco Campos, e a terceira edição em 1932, após as reformas.

A última reforma do ensino municipal deu á cadeira de História Natural maiores possibilidades, dividiu o curso em dois annos lectivos. Assim, desafogado o programma da urgência do tempo, torna-se possível maior esplanação. [...] Parece-me todavia, que não precisam os alumnos de um curso secundario de conhecimentos mais latos que os deste compendio. A sobra de tempo, a meu ver, deve ser empregada em trabalhos praticos. (WERNECK, 1932, prefácio).

6 Cf. Livros de Registro de Designações e Dispensas de Funcionários da Escola Normal e do Instituto de Educação do Distrito Federal dos anos 1932-1937; MELLO LEITÃO, 1946-1947.

Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 5374

A referência à reforma municipal de 1928 e a ênfase em “trabalhos práticos” no

prefácio desse compêndio se relaciona às “lições” e aulas práticas nos programas de História

Natural de 1929 da Escola Normal do Distrito Federal e nos programas dos anos de 1930 do

Instituto de Educação (PREFEITURA DO DISTRITO FEDERAL, 1929; [193-]). Em outro artigo

que trata do ensino na Escola Secundária no Archivos do Instituto de Educação (1934, v.1,

n.1, p. 10), faz-se referência à formação de hábitos e aos trabalhos práticos: “Atendendo à

finalidade real do curso secundário, todo o ensino visa formar hábitos de observação e

reflexão, dando-se especial importância aos trabalhos práticos de laboratório”.

Em texto de Carlos Werneck sobre o ensino de História Natural publicado na revista

Archivos do Instituto de Educação estão indicadas aulas teóricas; aulas práticas; visitas ao

Museu Nacional do Rio de Janeiro; projeção de filmes e diapositivos; e utilização do museu

escolar. Werneck também apontou que o Gabinete de História Natural do Instituto de

Educação guardava materiais anteriormente pertencentes ao Pedagogium7:

Nosso gabinete [...] foi acrescido com o copioso espólio da Pedagogium e enriquecido e modernizado na administração de Fernando de Azevedo. Consta de: a) – um museu; b) – coleção de estampas e quadros murais etc.; - um epidiascópio Leitz e coleção de diapositivos; d) – laboratório; e) – material de microscopia e coleção de preparações microscópicas; f) – modelos didáticos (WERNECK, 1936, p. 162).

O Museu reunia coleções de rochas, minerais, fósseis, plantas secas, animais

taxidermizados ou conservados em álcool, esqueletos de vertebrados e crânios de mamíferos;

esqueletos de seres humanos e crânios. Além do Museu, existia também um acervo de

quadros murais; diapositivos, microscópios e modelos didáticos de “papier maché” e da casa

Deyrole (WERNECK, 1936, p. 162-163). Os “exercícios práticos” consistiam em:

[...] aulas de duas horas seguidas, em que as próprias alunas executam experiências típicas e dissecções anatômicas, observam e copiam preparações microscópicas, manejam os aparelhos de medida, ensaiam, montam e desmontam os modêlos etc. Um mesmo professor para todas as turmas incumbe-se dessas aulas de trabalhos práticos, e neste mister é auxiliado pelo preparador e pelas quatro monitoras (WERNECK, 1936, p. 161).

Segundo o registro nos Archivos (1936), as mesas no gabinete destinavam-se a 14

alunas, para aulas práticas no microscópio, experiências de fisiologia, dissecção de plantas e

animais e trabalhos de mineralogia, que incluíam atividades como:

7 O Pedagogium foi um estabelecimento de ensino profissional criado em 1890 com a finalidade de oferecer “aos professores publicos e particulares os meios de instrucção profissional de que possam carecer, a exposição dos melhores methodos e do material de ensino mais aperfeiçoado” (BRASIL, 1890).

Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 5375

As preparações são primeiro projetadas e explicadas, em seguida examinadas ao microscópio detidamente por cada aluna de per si, e logo copiadas a mão livre; leva-se assim a uma observação mais atenta e minuciosa (WERNECK, 1936, p. 163). O estudo da fisiologia é acompanhado de experiências, praticadas no gabinete por grupos de alunos ou em casa por cada aluna. Destas experiências redigem relatórios circunstanciados, que as monitoras, corrigem e são julgados pelo professor (WERNECK, 1936, p. 164). De cada animal dissecado ou observado fazem o desenho ad naturam. E aqui, como para os demais trabalhos, os rascunhos rubricados são copiados para os cadernos, que as monitoras corrigem (WERNECK, 1936, p. 165-6). Na 5ª série faz-se o estudo das propriedades físicas e químicas; os exercícios práticos versam sobe a aplicação da escala de dureza, da balança hidrostática, da pinça de turmalinas etc. e a observação da clivagem, dos tipos de fratura etc. Fazem-se também alguns ensaios típicos de maçarico (WERNECK, 1936, p. 166).

Na perspectiva desse professor catedrático, metodologias de ensino com aulas

práticas, procedimentos laboratoriais e/ou experimentais e utilização de objetos como

microscópios e modelos com finalidades didáticas eram relevantes no ensino de História

Natural no Instituto de Educação. Segundo Esland (1971, p.83), o docente decide sobre a

sequência, o tempo, conteúdos e metodologias mobilizados em aula, entre outros aspectos,

com base em uma perspectiva disciplinar e pedagógica que direciona sua atuação. A

importância dada por Werneck aos trabalhos práticos, quando a distribuição e os tempos de

aula de História Natural foram ampliados na reforma do ensino secundário reforça as

indicações de um ensino com base em métodos ativos.

Goodson (1997, p. 44) afirma que os grupos que compõem as comunidades

disciplinares não gozam do mesmo prestígio ao longo do tempo e que suas atividades se

destacam em períodos de maior “conflito sobre currículo, recursos, recrutamento e

formação”. Nos anos 1920 e 1930 ocorreram disputas que influenciaram as reformas

educacionais e as mudanças na disciplina escolar História Natural no Instituto de Educação.

A partir dos anos 1920 ocorreram mudanças nos discursos de educadores que se

identificavam com as ideias da Escola Nova, em que a Biologia e a Higiene exerciam papel

relevante na fundamentação científica de uma nova cultura pedagógica (LOPES, 2007). Essas

ideias circularam no Instituto de Educação e influenciaram as perspectivas pedagógicas dos

professores. A valorização de aulas práticas e objetos escolares no laboratório e gabinete de

História Natural nos anos 1930 são marcas de um ideário de educação de base científica,

pautada em métodos ativos e em saberes especializados.

Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 5376

Considerações Finais

Nesse estudo buscou-se analisar metodologias de ensino e objetos escolares em

programas e discursos de professores sobre o ensino de História Natural. Com base nas

contribuições de Ivor Goodson, André Chervel e Antonio Viñao, entende-se que a disciplina

escolar História Natural é uma construção sócio-histórica e cultural, com suas próprias

finalidades, conteúdos, metodologias e objetos de ensino.

Com a equivalência em 1934 do Instituto de Educação ao ensino secundário, a

disciplina História Natural foi ampliada para a 3ª, 4ª e 5ª séries do ciclo fundamental com,

respectivamente, 45, 50 e 70 lições nos programas de ensino. Diversas lições apresentavam

indicação de aulas práticas. Em textos publicados nos anos de 1930 na revista Archivos do

Instituto de Educação faz-se referência à formação de hábitos de observação e reflexão nos

alunos e à valorização de trabalhos práticos nas aulas. Finalidades alicerçadas em métodos

ativos e experimentais foram defendidas pelos educadores renovadores, que imputaram à

Biologia papel relevante na fundamentação científica dessa nova cultura pedagógica.

Referências

ACCÁCIO, Liéte Oliveira. Profissão Docente: Os Ritos e Normas da Incorporação. Campinas, SP, UNICAMP. Revista HISTEDBR On-Line, n.30, 2008. Disponível em: <http:/www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/30/index.html>. Acesso em: 31 mar 2017. BRASIL. Decreto n. 667, de 16 de agosto de 1890. Crêa um estabelecimento de ensino profissional sob a denominação de Pedagogium. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-667-16-agosto-1890-552093-publicacaooriginal-69096-pe.html>. Acesso em: 25 jan. 2017. BRASIL. Decreto n. 19.890, de 18 de abril de 1931. Dispõe sobre a organização do ensino secundário. Disponível em: <http://www6.senado.gov.br>. Acesso em: 5 jan. 2016.

BRASIL. Decreto n. 21.241, de 4 de abril de 1932. Consolida as disposições sobre a organização do ensino secundário e dá outras providências. Disponível em: <http://www6.senado.gov.br>. Acesso em: 5 jan. 2016. DISTRITO FEDERAL. Decreto nº 3.281, de 23 de janeiro de 1928. Reforma do Ensino no Distrito Federal. Prefeitura do Distrito Federal, Rio de Janeiro, Oficinas Gráficas do Jornal do Brasil, 1928. DISTRITO FEDERAL. Livros de Registro de Designações e Dispensas de Funcionários da Escola Normal e Instituto de Educação do Distrito Federal: 1920-1925, 1925-1932, 1932-1937. Acervo do CMEB/ISERJ.

Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 5377

CHERVEL, Andrè. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria e Educação, Porto Alegre, 2, 1990, p. 177-229. CPDOC/FGV. A Era Vargas - 1º tempo - dos anos 20 a 1945. CD-Rom. Rio de Janeiro: FGV, 1997. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/apresentacao. Acesso em: 28 dez 2016. ESLAND, G. Teaching and Learning as the Organization of Knowledge. In: Young, M. F.D. (ed.) Knowledge and Control. New Directions for the Sociology of Education. Londres: Collier-Macmillian, 1971. GOODSON, Ivor F. School Subjects and Curriculum Change. Croom Helm Curriculum Policy and Research Series. 1983. GOODSON, Ivor F. The Making of Curriculum: Collected Essays. London: Falmer Press, 1988. GOODSON, Ivor F. Currículo: Teoria e História. Petrópolis: Vozes, 1995. GOODSON, Ivor F. A Construção Social do Currículo. Coletânea de textos de Goodson organizada por Antônio Nóvoa. Lisboa: Educa, 1997. INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DO DISTRICTO FEDERAL. Decreto N. 5.000 de 11 de julho de 1934. Consolida a legislação sobre a Escola Secundária do Instituto de Educação e dá outras providências. Rio de Janeiro: Officina Graphica do Departamento de Educação, 1934. JULIA, Dominique. Disciplinas escolares: objetivos, ensino e apropriação. In: Lopes, A. C. R.; Macedo, E. (Org.) Disciplinas e integração curricular: história e políticas. Rio de Janeiro: DP & A, 2002,p. 37-71.

LOPES, Sonia de Castro. A estrutura curricular da escola de professores do Instituto de Educação do Rio de Janeiro (1932-1939): representações acerca de uma nova cultura pedagógica. Revista Educação em Questão, v. 28, n. 14, p. 96-120, jan./jun. 2007. MELLO LEITÃO, Candido Firmino de. Carta de Mello Leitão a Pedro Ernesto Batista em 16 de julho de 1934. Documento manuscrito. Arquivo Anísio Teixeira, AT c 1934. 07.16, 1934, CPDOC/FGV.

MELLO LEITÃO, Candido Firmino de. O livro de minha vida para ser lido pelos meus netos. Documento manuscrito. Acervo da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, 1946-47. 61 folhas.

MELLO LEITÃO, Candido Firmino de. A Methodologia da História Natural. Schola, v. 1, n.1, 1930, p. 8-22. PREFEITURA DO DISTRITO FEDERAL. Programas da Escola Normal. Rio de Janeiro: Officinas graphicas do “Jornal do BRASIL”, 1929.

PREFEITURA DO DISTRITO FEDERAL. Programas para o ciclo fundamental da Escola Secundária do Instituto de Educação. Prefeitura do Distrito Federal, Secretaria Geral de Educação e Cultura. Rio de Janeiro, D.F., Brasil, [193-]. SANTOS, Maria Cristina Ferreira dos. A Biologia de Candido de Mello Leitão e a História Natural de Waldemiro Alves Potsch: professores autores e livros didáticos - conhecimento e poder em disputa na constituição da Biologia escolar (1931- 1951). Niterói: Faculdade de Educação, Universidade Federal Fluminense, 2013. (Tese de Doutorado). ____ . A produção da disciplina escolar História Natural na Escola Normal e Instituto de Educação do Distrito Federal nas décadas de 1920-30 no Brasil In: XI Congresso Luso-Brasileiro de História da

Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 5378

Educação. XI Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação - Atas. Porto: CITCEM/FCT, 2016, p.1148 - 1159 ____ ; SPIEGUEL, Juliana; SELLES, Sandra Escovedo. Professores autores e a produção da disciplina escolar no Brasil nas décadas de 1930-40: a “Biologia Geral” de Cândido de Mello Leitão. In: Mogarro, M.J. & Cunha, M.T.S. (orgs.) Rituais, Espaços & Patrimónios Escolares. IX Congresso Luso Brasileiro de História da Educação (Atas). Lisboa: Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, 2012, p. 2997-3008. SILVEIRA, Alfredo Balthazar da. História do Instituto de Educação. Districto Federal: Instituto de Educação, 1954. VIÑAO, Antonio. A história das disciplinas escolares. Revista Brasileira de História da Educação, n.18, 2008, p. 174-214. WERNECK, Carlos Leoni. O ensino da História Natural na escola secundária. Arquivos do Inst. Educ.. v. 1, n.2, junho 1936, p. 161- 169. WERNECK, Carlos Leoni. Curso Elementar de História Natural I - Elementos de Botanica. Precedidos de noções básicas de BIOLOGIA GERAL. 3ª ed. revista. Rio de Janeiro: Typ. Besnard Freres, 1932.