diretrizes para investigar mortes sob custódia

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  • 7/25/2019 Diretrizes para investigar mortes sob custdia

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    DIRETRIZES PARAINVESTIGAR MORTESSOB CUSTDIA

    R E F E R N C I A

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    Comit Internacional da Cruz Vermelha19, avenue de la Paix

    1202 Genebra, Sua

    T + 41 22 734 60 01 F + 41 22 733 20 57

    Email: [email protected] www.cicr.org

    CICV, abril de 2016

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    NDICEPREFCIO 5

    INTRODUO

    Sntese 7

    Objetivos 8

    Definies 8

    1. MARCO GERAL

    1.1. Finalidade da investigao 9

    1.2. Modalidades de investigao 9

    2. INVESTIGAO DE MORTES SOB CUSTDIA: ASPECTOS JURDICOS

    2.1. Respeitar e proteger a vida 11

    Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH)

    Direito Internacional Humanitrio (DIH)

    2.2. Obrigao de investigar as mortes sob custdia 12

    Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH)

    Direito Internacional Humanitrio (DIH)

    2.3. Normas bsicas para a investigao de mortes sob custdia 13

    3. INVESTIGAO DAS MORTES SOB CUSTDIA: ASPECTOS MDICOS E FORENSES

    3.1. Local da morte 15

    Plano de ao

    Gesto do local da morte

    Gesto de cadveres

    3.2. Examepost-mortem 18

    Caractersticas e escopo

    Princpios bsicos

    3.3. Parentes prximos 20

    4. PREVENO DE MORTES SOB CUSTDIA

    4.1. Fatores que contribuem para as mortes sob custdia 21

    Condies inadequadas de deteno

    Acesso insuficiente assistncia sade

    Contato insuficiente com a famlia

    Proteo inadequada contra suicdios

    Privao arbitrria da vida, tortura e outras formas de maus-tratos

    4.2. Medidas para a preveno de mortes sob custdia 24

    ANEXOS

    Anexo I: Investigao de mortes sob custdia: Oito pontos importantes 25

    Anexo II: Investigao de mortes sob custdia: fontes jurdicas internacionais 26

    Anexo III: Lista de verificao simplificada para a gesto do local da morte 32

    Anexo IV: Lista de verificao para realizao de autpsias 33

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    PREFCIOQuando as pessoas so privadas de liberdade, a responsabilidade sobre elas recai

    principalmente nas autoridades detentoras, que devem garantir a vida e a integridade fsica

    de todos os detentos. Portanto, quando algum morre sob custdia, nada mais apropriado

    do que realizar uma investigao independente sem importar qual seja a suposta causa da

    morte, que pode ser natural ou acidental, mas tambm pode ser resultado de um assassinato

    ilegal ou de maus-tratos ou condies inadequadas de deteno. Uma investigao rpida,

    imparcial e eficaz fundamental para averiguar a causa da morte, prevenir casos similaresno futuro, garantir a segurana dos outros prisioneiros, informar os parentes e reafirmar

    sociedade o compromisso das autoridades de cumprir com as suas obrigaes nacionais e

    internacionais. Uma investigao deste tipo tambm um pr-requisito para se instaurarem

    os processos civis e/ou penais correspondentes.

    O Direito Internacional Humanitrio (DIH) e o Direito Internacional dos Direitos Humanos

    (DIDH) preveem a obrigao de investigar as mortes que ocorrem sob custdia, porm, no

    existe nenhum instrumento jurdico com aceitao internacional que oferea uma orientao

    prtica s autoridades detentoras e profissionais humanitrios sobre as normas e

    procedimentos a serem seguidos nesses casos. A orientao poderia ajudar a responder as

    seguintes preguntas: O que deve ser feito quando uma morte ocorre sob custdia? Quais

    so as obrigaes das autoridades detentoras? Como as provas devem ser coletadas e

    guardadas? Quais so os elementos essenciais de um exame post mortem? Quais so os

    direitos dos parentes prximos? Como incidentes similares podem ser evitados?

    Em 2008, o Comit Internacional da Cruz Vermelha (CICV) iniciou um processo com a inteno

    de desenvolver um conjunto de diretrizes concisas para a investigao e a preveno de

    mortes sob custdia. Espera-se que elas possam auxiliar os profissionais humanitrios, as

    autoridades detentoras e outros profissionais envolvidos. O CICV reuniu os seus prprios

    especialistas, incluindo profissionais forenses, jurdicos, de sade e administrao

    penitenciria, assim como vrios especialistas externos com proeminncia no campo da

    investigao e preveno de mortes sob custdia. O CICV agradece imensamente as

    contribuies deles; e faz um agradecimento especial a um ex-colega, Dr. Jonathan Beynon,que desempenhou um papel de liderana nos primeiros passos da elaborao das diretrizes.

    Logo aps o incio do processo, o CICV aceitou uma oferta do Centro Universitrio de

    Medicina Legal de Lausanne-Genebra para desenvolver um projeto para aprimorar as

    diretrizes, em conjunto com a Academia de Direito Internacional Humanitrio e Direitos

    Humanos de Genebra, a Faculdade de Medicina da Universidade de Berna e o Centro

    Internacional de Estudos Prisionais. A Rede Sua de Estudos Internacionais financiou o

    projeto, que envolvia pesquisa extensas sobre casos de mortes sob custdia no mundo

    todo, assim como a maneira em que eram resolvidos e prevenidos pelos Estados, de acordo

    com a legislao nacional e as normas internacionais aplicveis. Vrias instituies,

    acadmicas e no acadmicas, estiveram envolvidas na elaborao das diretrizes, ademais

    de diversos especialistas mdicos e forenses incluindo membros do Conselho de Assessoria

    Forense do CICV advogados internacionalistas, especialistas em assuntos prisionais e

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    profissionais humanitrios.1A equipe de redao incluiu: as coordenadoras do projeto, Prof.

    Bernice Elger e Prof. Paola Gaeta, do Centro Universitrio de Medicina Legal de Lausanne-

    Genebra e da Academia de Direito Internacional Humanitrio e Direitos Humanos de

    Genebra, respectivamente, e os seus pesquisadores (Sra. Gloria Gaggioli, Sra. Samar Khamis

    e Sr. Patrick Mutzenberg); Dr. Marc Bollman, atualmente no Centro Universitrio de Medicina

    Legal de Lausanne-Genebra, Universidade de Genebra, mas na poca lotado na Universidade

    de Berna; e, de parte do CICV, Sra. Isabel Hight, assessora para sistemas prisionais, e Dr. Morris

    Tidball-Binz, coordenador forense.

    com imensa satisfao que apresentamos as diretrizes, que constituem um marco

    fundamentado no direito internacional e nas melhores prticas do mundo todo para a

    investigao e preveno de mortes sob custdia. De modo conciso e prtico, elas visam

    auxiliar as respectivas autoridades na realizao de investigaes independentes, imparciais

    e eficazes, sempre que algum morrer sob custdia, prevenindo que isso volte a acontecer.

    As orientaes tambm tm por finalidade proporcionar aos profissionais humanitrios,

    inclusive os delegados do CICV, uma ferramenta para orientao e assessoria das autoridades

    e para avaliao dos esforos empreendidos, com o objetivo comum de proteger a vida e

    a dignidade das pessoas privadas de liberdade no mundo todo.

    Pascal Hundt Andreas Wigger

    Chefe da Diviso de Assistncia Chefe da Agncia Central deBusca e da Diviso de Proteo

    1 Prof. P. Mangin, Universidade de Genebra; Prof. M. Thali, Universidade de Berna; Prof. V. Chetail, Academia de DireitoInternacional Humanitrio e Direito Humanos de Genebra; Prof. A. Stapleton, Clnica Forense Bluhm, Faculdadede Direito da Universidade de Northwestern; Prof. Peter Vanezis, Centro Cameron para Cincias Mdico-Forenses,Queen Mary, Universidade de Londres; Prof. J. L. Thomsen, Universidade do Sul da Dinamarca; Prof. H. P. Hougen,Universidade de Copenhagen; Sr Ron Turnbull, ex-chefe da Unidade de Provas, Tribunal Penal Internacional para aEx-Iugo slvia; e Dr. P. Bouvier, Sra. C. Deman, Dr. M. Duque, Sra. A. Menego n, Sra. M. Murphy, Sra. J. Pejic, Dr. H. Reyes,Sra. E. Twinch, Sr. S. Vit e Sr. A. Wigger, CICV

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    INTRODUOSntese

    As mortes sob custdia no so algo fora do comum. Elas podem ser provocadas por causas

    naturais, mas tambm podem ser resultado de assassinatos, maus-tratos ou condies

    inadequadas de deteno.1

    Em muitos pases, as mortes sob custdia so apuradas de modo precrio, por vrios

    motivos. Em alguns casos, no existe legislao que estipule uma investigao obrigatria.

    Em outros, no so implementados procedimentos transparentes ou as capacidades e os

    recursos necessrios para a investigao (como patologistas forenses) no esto disponveis.

    Muitas vezes, as autoridades detentoras no percebem a importncia e os benefcios de

    uma investigao adequada. Quando as autoridades esto implicadas em atividades

    criminosas ou so incompetentes, os funcionrios podem ter um interesse particular em

    evitar qualquer apurao.

    A investigao adequada das mortes que ocorrem sob custdia tem vrias finalidades:

    assistir as pessoas enlutadas com o esclarecimento dos objetivos e participar informaes

    oportunas, auxiliando-as a obter atestados de bitos; contribuir para dissipar as preocupaes

    sobre a falta de cuidado ou alguma ao criminosa quando a morte ocorreu por causas

    naturais; ela indispensvel quando se faz necessria uma investigao penal; e comunicar

    informaes essenciais para prevenir essas mortes no futuro.

    Existem vrias normas internacionais pertinentes para investigar as mortes sob custdia.

    Elas se encontram principalmente nos Princpios Relativos uma Preveno Eficaz e

    Investigao das Execues Extrajudiciais, Arbitrrias e Sumrias, adotados pelo Conselho

    Econmico e Social das Naes Unidas em 1989. 2Uma orientao prtica complementar

    pode ser encontrada no Manual da ONU Relativo a uma Preveno Eficaz e Investigao das

    Execues Extrajudiciais, Arbitrrias e Sumriasde 1991.3O Manualinclui: um Protocolo

    Modelo para uma Investigao Legal das Execues Extrajudiciais, Arbitrrias e Sumrias(Protocolo de Minnesota); um Protocolo Modelo para Autpsias; e um Protocolo Modelo

    para Exumao e Anlise de Restos Esquelticos.

    No entanto, muitas vezes difcil para as autoridades detentoras, autoridades investigadoras,

    profissionais da rea e outros determinar com preciso o que deve ser feito para estar em

    conformidade com as normas e padres internacionais relativos investigao de mortes

    sob custdia. Respostas evidentes s preguntas prticas nem sempre esto disponveis com

    facilidade. Por exemplo, quais procedimentos devem ser implementados para garantir uma

    gesto eficiente do local da morte? Como devem ser conduzidas as autpsias? Como devem

    ser processadas as provas?

    1 As diretrize s no tratam de execues judiciais realizadas sob custdia.2 Conselho Econmico e Social da ONU, Res. 1989/65, 24 de maio de 1989. Ver tambm o Conjunto de Princpios para

    a Proteo de Todas as Pessoas Submetidas a Qualquer Forma de Deteno ou Priso, Assembleia Geral da ONU,Res. 43/173, 9 de dezembro de 1988.

    3 UN Doc. E/ST/CSDHA /.12 (1991).

    7

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    8 DIRETRI ZES PARA INVESTIGAR MORTES SOB CUSTDIA

    Para preencher esta lacuna e oferecer orientaes atualizadas e abrangentes, o Centro

    Universitrio de Medicina Legal de Lausanne-Genebra, a Academia de Direito Internacional

    Humanitrio e Direitos Humanos de Genebra, a Universidade de Berna e o Comit Internacional

    da Cruz Vermelha (CICV) em colaborao com o Centro Internacional de Estudos Prisionais

    realizaram uma pesquisa sobre as questes legais, mdicas e forenses da investigao de

    mortes sob custdia e prepararam este conjunto de diretrizes.

    As Diretrizes para Investigar Mortes sob Custdiano buscam uma descrio extensa de toda a

    gama de instituies e tcnicas existentes. Elas variam enormemente de Estado a Estado, assim

    como as relaes entre elas. Cabe lembrar que as presentes Diretrizeselencam uma srie de

    normas internacionais relevantes; tambm propem padres e melhores prticas que devem

    contribuir para garantir uma investigao eficiente de mortes sob custdia, independente da

    forma que assumam. Em algumas situaes, atores no estatais detm indivduos, contudo,

    as Diretrizeslidam exclusivamente com a obrigao estatal de apurar as mortes sob custdia.

    ObjetivosAs presentes Diretrizesvisam servir como fonte de referncias das normas e dos procedimentos

    a serem seguidos pelas autoridades detentoras, autoridades investigadoras, profissionais doramo, entre outros, quando ocorrem mortes sob custdia. Elas so um reflexo do Direito

    Internacional, assim como das polticas e das melhores prticas nas reas relacionadas.

    Podem ser usadas para propsitos variados, tais como:

    y Formular ou reformar a legislao nacional correspondente;

    y Capacitar e fortalecer as capacidades;

    y Averiguar se as autoridades cumprem com as normas e os procedimentos mnimos aps a

    morte sob custdia.

    DefiniesPara a finalidade destas Diretrizes:

    y Morte o trmino irreversvel de todas as funes vitais, incluindo a atividade cerebral.

    A morte natural quando for causada unicamente por doenas e/ou processo de

    envelhecimento. no natural quando as suas causas forem externas, como o dano

    intencional (homicdio, suicdio), negligncia ou o dano no intencional (morte por acidente).

    y Considera-se a custdia a partir do momento que o indivduo for detido, preso ou de outro

    modo privado da sua liberdade por agentes do Estado ou por agentes de qualquer outra

    entidade ou organizao pblica ou privada, inclusive, especificamente, as instituies

    correcionais ou de sade ou as empresas de segurana que operam dentro da jurisdio

    do Estado. Incluem, notadamente, a deteno e o encarceramento ou outra forma de

    recluso de um indivduo em um estabelecimento de custdia, pblico ou privado, do qual

    no possa sair quando queira. Termina no momento em que o indivduo for livre para sair

    e no estiver mais sob o controle efetivo dos agentes do Estado ou dos agentes de entidadesou organizaes pblicas ou privadas, inclusive as instituies de sade ou correcionais ou

    as empresas de segurana que operam dentro da jurisdio do Estado.

    y Detento um termo geral para designar toda pessoa mantida sob custdia.

    y Autoridades detentoras incluem toda agncia estatal ou funcionrios ou empregados

    desta agncia, ou qualquer outra entidade ou organizao pblica ou privada (inclusive as

    instituies de sade ou correcionais ou as empresas de segurana) ou funcionrios,

    empregados ou membros desta entidade ou organizao (inclusive os profissionais de

    sade) que operam dentro da jurisdio do Estado e que sejam responsveis pela superviso,

    vigilncia e atendimento das pessoas mantidas sob custdia.

    y Autoridades investigadoras compreendem toda agncia estatal ou funcionrios ou

    empregados desta agncia que operam dentro da jurisdio do Estado e que sejam

    responsveis pela realizao ou superviso das investigaes de mortes sob custdia.

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    1. MARCO GERAL1.1. Finalidade da investigaoA investigao ajuda a proteger os interesses de todas as partes envolvidas: as pessoas mortas,

    os parentes mais prximos, as autoridades detentoras e a sociedade como um todo.

    A finalidade primeira da investigao :

    y Esclarecer as circunstncias da morte.Devem-se estabelecer os fatos relativos morte: causa,maneira, local e hora, assim como a extenso do envolvimento dos implicados nela. Deve-se

    distinguir entre morte natural, morte acidental, suicdio e homicdio. Tambm deve-se

    determinar todos os padres e prticas que podem ter provocado a morte .4

    A investigao pode contribuir, do mesmo modo, para o cumprimento de outros objetivos,

    tais como:

    y Reduzir o trauma e oferecer um recurso eficaz aos familiares.Uma melhor compreenso das

    circunstncias que rodeiam uma morte pode ajudar os parentes prximos a lidarem com o

    sofrimento. Caso seja estabelecida a responsabilidade do Estado, os familiares tm direito

    a uma reparao condizente, como compensao monetria ou uma desculpa pblica.

    y Processar e punir os responsveis.Quando houver motivos para se suspeitar que a causa da

    morte seja ilegal, a investigao dever levar ao processamento penal dos suspeitos que

    devero ser conduzidos perante um tribunal competente e, se considerados culpados,

    punidos de modo apropriado.

    y Prevenir a recorrncia de mortes sob custdia.A investigao pode revelar um padro ou

    prtica que tenha a probabilidade de provocar mais mortes, o que dever possibilitar que

    as autoridades detentoras adotem medidas preventivas necessrias (ver Seo 4 mais

    adiante).

    1.2 Modalidades de investigaoOs Estados podem decidir, at um certo ponto, sobre os rgos e procedimentos mais

    adequados para conduzir uma determinada apurao. A modalidade escolhida pode ser

    influenciada pela causa ou causas da morte:(a) Em casos de morte sob custdia, o diretor do estabelecimento prisional dever iniciar

    uma investigao preliminar. Esta dever ser realizada imediatamente aps o

    descobrimento da morte. O local da morte e as provas devero ser preservados e os

    dados preliminares das circunstncias da morte, registrados. As autoridades detentoras

    devero notificar as autoridades investigadoras o mais rpido possvel, permanecendo

    em controle do local at que sejam substitudas por um funcionrio autorizado. Devero

    tambm submeter s autoridades investigadoras um relatrio detalhado contendo as

    concluses da investigao preliminar. Quando for aplicvel de acordo com a legislao

    nacional, um mdico dever participar da investigao preliminar.

    (b) Quando houver motivos para suspeitar que a causa da morte seja homicdio ou

    negligncia, ser necessria uma investigao judicial.Esta dever formar parte dos

    procedimentos penais que envolvem o processo e a punio dos responsveis. Neste

    4 Ver os Princpios Relativos a uma Preveno Eficaz e Investigao das Execues Extrajudiciais, Arbitrrias e Sumrias, par. 9.

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    10 DIRETRI ZES PARA INVESTIGAR MORTES SOB CUSTDIA

    caso, a Polcia dever conduzir uma investigao exaustiva, com base na preliminar, para

    determinar as causas da morte e a extenso do envolvimento de todos implicados na

    morte. A promotoria pblica ou alguma outra instncia apropriada dever coordenar o

    processo de investigao e transferir o caso a um tribunal competente.

    (c) Quando for muito provvel que a morte tenha tido causas naturais ou por acidente, uma

    investigao no judicialpoder ser suficiente, podendo ser realizada pela autoridade

    responsvel pelo estabelecimento ou mediante um mecanismo de reviso ad hoc, como

    os mecanismos nacionais de preveno criados em conformidade com o Protocolo

    Opcional Conveno contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruis, Desumanas

    ou Degradante, instituies nacionais de direitos humanos ou agncias de ombudsman.5

    Uma investigao no judicial no dever evitar que as autoridades judiciais realizem a

    sua prpria investigao.

    5 Em alguns Estados, estes rgos independentes tm um dever estatut rio de investigar as mortes sob custdia ousupervisionar as investigaes realizadas por outras instituies.

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    2. INVESTIGAO DE MORTESSOB CUSTDIA: ASPECTOSJURDICOS

    Existe uma quantidade importante de normas e padres do Direito Internacional relativos

    investigao de mortes sob custdia. Encontram-se principalmente no Direito Internacionaldos Direitos Humanos (DIDH) e no Direito Internacional Humanitrio (DIH). Algumas normas

    esto fundamentadas nos tratados e nos costumes do Direito Internacional, impondo

    principalmente as obrigaes de respeitar e proteger a vida em todas as circunstncias (ver

    Seo 2.1) e de investigar as suspeitas violaes do direito vida (ver Seo 2.2). Mais orientaes

    sobre o cumprimento da obrigao de investigar as mortes sob custdia podem ser inferidas

    dos instrumentos jurdicos no vinculantes e da jurisprudncia internacional (ver Seo 2.3).6

    2.1 Respeitar e proteger a vidaDireito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH)

    y O direito vida um direito humano fundamental. Considera-se uma norma do direito

    internacional consuetudinrio e um elemento indispensvel dos tratados de direitos

    humanos nos mbitos regional e internacional.

    y Os Estados tm o dever de respeitar e assegurar o direito vida dos indivduos sob sua

    jurisdio, incluindo as pessoas sob custdia, seja em estabelecimentos pblicos ou privados.

    y O dever de respeitar e assegurar o direito vida significa que ningum pode ser arbitrariamente

    privado dela.

    y Nenhuma circunstncia excepcional, seja um conflito armado ou qualquer outra emergncia

    pblica, poder ser invocada para justificar a derrogao do dever de respeitar e assegurar

    o direito vida.

    y O dever de respeitar e assegurar o direito vida aplica-se a todos os rgos e agncias subsidirias

    do Estado, incluindo as agncias de aplicao da lei, foras de segurana e foras armadas.

    y O direito vida que impe a obrigao de se abster de privar a vida dos indivduos

    arbitrariamente (obrigao negativa) tambm interpretada como passvel de derivarobrigaes positivas. Os Estados devem:

    Adotar medidas legislativas, judiciais, administrativas e de outro tipo que sejam

    apropriadas para garantir que ningum seja privado arbitrariamente da vida.

    Garantir condies adequadas de deteno para todas as pessoas sob custdia,

    incluindo o acesso a comida e gua em quantidades suficientes e de qualidade

    adequada, assim como a assistncia sade, garantindo a segurana delas (proteo

    contra a violncia de outros detentos, preveno de acidentes como incndio, etc.).

    Conduzir imediatamente uma investigao oficial independente, sempre que uma

    pessoa morrer sob custdia (ver a seguir).

    Tomar medidas apropriadas ou exercer a devida diligncia para proteger a vida das

    pessoas detidas pelos atores no estatais cujos atos ou omisses no so atribuveis ao

    Estado e que operam sob sua jurisdio. Em especial, os Estados devem assegurar que

    um rgo competente investigue as mortes de pessoas detidas por esses atores.

    6 Para a lista das disposies relevantes nos tratado s internacionais, instrumentos no vinculantes e outros textosjurdicos, ver o Anexo II .

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    12 DIRETRI ZES PARA INVESTIGAR MORTES SOB CUSTDIA

    Direito Internacional Humanitrio (DIH)y uma exigncia fundamental do DIH que as pessoas que no participam diretamente ou

    deixaram de participar das hostilidades - incluindo as pessoas privadas de liberdade sejam

    protegidas da violncia contra a sua pessoa, em especial assassinato, em todas as

    circunstncias e em todos os lugares.

    y Esta norma, que se aplica em conflitos armados internacionais e no internacionais, tem

    por base as normas dos tratados e consuetudinrias do direito humanitrio.

    y Muitas normas do DIH visam garantir um tratamento humano das pessoas em deteno.

    Estipulam, entre outros, que as pessoas privadas de liberdade em relao com um conflito

    armado recebam gua e comida, em quantidades suficientes e com qualidade adequada,

    ademais de atendimento mdico.

    2.2. Obrigao de investigar as mortes sob custdiaDireito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH)Segundo as normas de direitos humanos, a proibio contra a privao arbitrria da vida, vista

    em conjunto com a obrigao geral de respeitar e assegurar os direitos humanos sob a

    jurisdio do Estado, foi interpretada como uma imposio implcita da obrigao de investigar

    as suspeitas de violaes do direito vida. Esta obrigao entrar em vigor sempre que umdetido sem ferimentos prvios custdia for ferido ou morrer.

    De acordo com as normas dos direitos humanos, a obrigao de investigar as mortes sob

    custdia tambm foi interpretada como sendo derivada da combinao da proibio contra

    a privao arbitrria da vida e a obrigao de oferecer um recurso eficaz. No caso de uma

    suspeita de privao arbitrria da vida, o direito a um recurso eficaz acarreta uma investigao

    eficaz, que dever resultar na identificao, processamento e punio dos responsveis.

    Os Princpios Relativos a uma Preveno Eficaz e Investigao das Execues Extrajudiciais,

    Arbitrrias e Sumrias confirmam que preceder-se- a uma investigao exaustiva, imediata

    e imparcial de todos os casos em que haja suspeita de execues extrajudiciais, arbitrrias ou

    sumrias, incluindo aqueles em que as queixas de parentes ou outras informaes credveis

    faam pensar que se verificou uma morte no devida a causas naturais, nas referidas

    circunstncias (par. 9).

    Direito Internacional Humanitrio (DIH)Em situaes de conflito armado internacional, o DIH prev explicitamente que todas as mortes

    ou ferimentos graves de um prisioneiro de guerra ou de um internado civil que sejam causados

    ou com a suspeita de terem sido causados por uma sentinela, outro prisioneiro de guerra ou

    internado, ou por qualquer outra pessoa, assim como qualquer outra morte cuja causa seja

    desconhecida, sero seguidos imediatamente de um inqurito oficial da Potncia Detentora. 7

    Alm disso, como mencionado previamente, a violncia contra as pessoas que esto fora decombate, que inclui expressamente os detentos, proibida pelas normas dos tratados e as

    consuetudinrias do DIH aplicveis em conflitos armados internacionais e no internacionais,

    podendo ser considerada um crime de guerra. Segundo o DIH, a obrigao de julgar os crimes

    de guerra pressupe logicamente uma obrigao de investigar.

    7 Art. 121 da III Conveno de Genebra de 1949; art. 131 da IV Conveno de Genebra de 1949.

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    2. INVESTIGA O DE MORTES SOB CUSTDIA: ASPECTOS JURDICOS 13

    2.3. Normas bsicas para a investigao de mortes sob custdiaEstas normas foram identificadas e elaboradas ao longo do tempo como resultado da adoo

    de instrumentos jurdicos no vinculantes e da evoluo da jurisprudncia internacional. Elas

    oferecem maiores orientaes aos Estados para cumprir com a sua obrigao de investigar as

    mortes sob custdia.

    Para ser efetiva, a investigao dever satisfazer os seguintes critrios:

    y Dever ser minuciosa. Dever estabelecer todos os fatos relativos morte, como a identidade

    das pessoas mortas, a causa, o modo, o lugar e a hora da morte e o alcance do envolvimento

    de todos implicados, assim como todo padro ou prtica que podem ter causado o bito.

    Dever determinar se a morte foi natural ou acidental, suicdio ou homicdio.

    y Dever ser realizada ex officio, isto , por iniciativa prpria das autoridades assim que

    tomarem conhecimento do caso, independentemente da apresentao de uma denncia

    formal, sendo realizada o mais breve possvel.

    y As autoridades encarregadas da investigao devero serindependentes e imparciais. No

    devero ter nenhuma relao, institucional ou hierrquica, com indivduos ou agncias cuja

    conduta devero investigar. Alm disso, as concluses devero se basear em critrios

    objetivos, no devendo ser influenciadas por nenhum tipo de vis ou preconceito. Domesmo modo, se uma autpsia for realizada, dever ser executada por um rgo

    independente e imparcial.

    y A investigao dever incluir um determinado grau de escrutnio pblico. As concluses

    devero ser tornadas pblicas. Alm disso, os parentes prximosda vtima devero estar

    envolvidos no processo. Eles devero receber assistncia jurdica, ter acesso aos arquivos

    do processo e participar dos procedimentos. Devero ser autorizados a levar um

    representante mdico ou outro no momento da autpsia.

    As normas no vinculantes e a jurisprudncia internacional propiciam orientaes prticas

    para a coleta e a anlise das provas. Em casos onde haja suspeita de privao arbitrria da

    vida, a investigao dever incluir os seguintes elementos:

    y Todas as provas fsicas e documentais relevantes. O local da morte dever ser preservado de

    modo a proteger as provas e as autoridades encarregadas da investigao devero se dirigir

    ao local rapidamente. Devero ser realizados testes balsticos sempre que armas de fogo

    tiverem sido utilizadas.

    y Declaraes de testemunhas. Todas testemunhas importantes, inclusive as testemunhas

    oculares e os suspeitos, devero ser identificadas e entrevistadas. As declaraes devero

    ser angariadas e analisadas pelas autoridades investigadoras. A falta desses procedimentos

    ser motivo suficiente para considerar que a investigao ficou gravemente comprometida.

    y Uma autpsia adequada.A autpsia dever ser realizada por um mdico. Dever identificar

    qualquer leso sofrida pelo morto, inclusive evidncias de tortura (ver Seo 3.2 abaixo).

    Mais detalhes sobre a coleta e a anlise das provas podero ser encontrados no ProtocoloModelo para a Investigao Legal de Execues Extrajudiciais, Arbitrrias e Sumrias (Protocolo

    de Minnesota), includo no Manual das Naes Unidas Relativo a uma Preveno e Investigao

    Efetivas de Execues Extrajudiciais, Arbitrrias e Sumrias.

    Na prtica, nem sempre possvel cumprir na ntegra com as normas de investigao das

    mortes sob custdia. Embora se exija que os Estados instaurem inquritos sobre este tipo de

    morte sejam quais forem as circunstncias, os meios ao seu dispor podem variar de um

    contexto a outro. Contudo, independente das circunstncias, as investigaes devero ser

    sempre conduzidas do modo mais eficaz possvel.

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    3. INVESTIGAO DAS MORTESSOB CUSTDIA: ASPECTOSMDICOS E FORENSES

    Esta seo proporciona orientaes de cunho mdico e forense para a investigao de

    mortes sob custdia. Estabelece uma srie de recomendaes prticas com base nospadres internacionais e boas prticas. Explica como preparar e conduzir uma investigao

    do local da morte (ver Seo 3.1), como os investigadores devem interagir com os parentes

    mais prximos do morto (ver Seo 3.2) e como os examespost mortemdevem ser realizados

    (ver Seo 3.3).

    3.1. Local da mortePlano de aoAs autoridades detentoras devero elaborar um plano de contingncia para lidar com as

    mortes sob custdia. O plano pode ajudar para assegurar que as autoridades sejam alertadas

    rapidamente sobre as mortes. Isso facilitar a preservao do local da morte e a preparao

    do terreno para uma investigao profissional. O plano dever ser breve e compreensvel,

    devendo conter uma lista atualizada de contatos. Dever estar amplamente disponvel no

    estabelecimento prisional e ser regularmente atualizado e praticado.

    O plano dever conter, no mnimo, as seguintes medidas:

    y Toda a pessoa que descobrir uma morte sob custdia (funcionrios do estabelecimento

    prisional, detentos, etc.) dever informar imediatamente as autoridades detentoras.

    y As autoridades detentoras devero informar imediatamente as autoridades investigadoras.

    y As autoridades detentoras devero tomar as medidas imediatas que sejam necessrias para

    preservar o local da morte e as provas, alm de registrar os dados preliminares das

    circunstncias da morte.

    y Uma vez que o morto tenha sido identificado, devero ser tomadas medidas imediatas para

    informar os parentes mais prximos.y As autoridades detentoras devero informar as autoridades investigadoras sobre a

    identidade do morto (se conhecida), o seu pronturio mdico, incluindo qualquer histrico

    de uso de drogas, e todas demais circunstncias que possam ter relevncia para a

    investigao e que possam ajudar as autoridades a responder de modo eficaz.

    y A coleta da informao acima no deve ser usada como justificativa para no relatar

    imediatamente a morte s autoridades investigadoras.

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    16 DIRETRI ZES PARA INVESTIGAR MORTES SOB CUSTDIA

    Gesto do local da morteAs autoridades investigadoras devero assegurar a gesto adequada do local da morte de modo

    a maximizar a realizao da investigao e dos seus resultados. Com esta finalidade, devero ser

    seguidos alguns procedimentos para a preservao e a investigao do local da morte.8

    (a) Preservao do local da morte

    y Assim que a morte for descoberta, o acesso ao corpo e rea circundante devero ser

    restringidos. Somente um mdico qualificado, que ateste a morte, dever ter acesso ao

    corpo nessa etapa. Depois disso, ningum mais dever ter acesso ao local da morte. O corpo

    e a rea circundante no devero ser tocados at que os investigadores e o mdico

    documentem de maneira apropriada o local.

    y O local dever ficar sob a jurisdio da autoridade investigadora, que dever autorizar o

    acesso somente aos investigadores e ao mdico.

    y Todos que entrarem no local da morte devero ser registrados, assim como informaes

    pessoais pertinentes e os motivos para a presena deles no local. Eles no devero

    contaminar o local nem perturbar na medida do possvel.

    y O local da morte e o corpo devero ser preservados na sua condio original at que os

    investigadores e o mdico tenham documentado corretamente todos os elementosrelevantes. As roupas no devero ser removidas nesta etapa. As leses de qualquer tipo

    no devero ser analisadas no local.

    y Qualquer interferncia com o local mesmo que com boas intenes dever ser

    investigada rpida e integralmente. Qualquer pessoa que tenha contato com o corpo ou a

    rea circundante inevitavelmente contaminar o local. Caso tenham sido aplicadas manobras

    de ressuscitao ao descobrir o corpo, uma declarao pormenorizada dever ser obtida

    de todos os presentes.

    (b) Investigao do local da morte

    y O local da morte, incluindo o corpo, dever ser tratado como se fosse uma cena do crime,

    independentemente da causa e o modo em que ocorreu, at que se finalize a investigao do

    local e as autoridades investigadoras tenham liberado a rea para o seu uso habitual, o que

    poder ser feito rapidamente se no houver evidncia de envolvimento de terceiros.

    y Um mdico qualificado dever primeiro confirmar a morte, verificar marcas de violncia e

    estimar a hora da morte.

    y Se possvel, o corpo dever ser identificado antes da coleta de provas, sem causar danos a esta.

    A identificao preliminar, pelos funcionrios do estabelecimento, pode ser confirmada

    posteriormente. necessria uma investigao para determinar a identidade do morto quando

    houver dvida (por exemplo, quando o corpo for queimado em um lugar pblico).

    y Toda a cena dever ser documentada minuciosamente com fotos/filmagens/ilustraes e

    descries por escrito.

    y Todas as provas devero ser protegidas por meio de uma cadeia de custdia: uma ficha,

    assinada pelo investigador, com a data e a hora de cada vez que cada prova for manuseada.Este procedimento previne a adulterao das provas.

    y As provas relativas ao corpo devero ser protegidas ou recolhidas, registradas e guardadas

    (ver a seguir).

    y A hora da morte pode ajudar a verificar as declaraes e apresentar provas corrobativas para

    a causa da morte em algumas instncias. As estimativas da hora da morte baseiam-se na lividez

    e rigidezpost morteme na medio do reto profundo e da temperatura ambiente. A medio

    dever ser feita com cuidado, sem infligir leses post mortemou interferir com a evidncia em

    potencial de violncia sexual (fazer uma coleta no reto antes de medir). Deve-se ressaltar que

    as estimativas da hora da morte sempre tm uma margem de erro inerente de vrias horas.

    y Os pertences pessoais da pessoa morta e todos os respectivos documentos tm importncia

    crucial para a investigao. Eles devero ser recolhidos, guardados e entregues s autoridades

    investigadoras. Isso inclui todos os documentos mdicos que pertenam ao morto, assim como

    amostras biolgicas (sangue, urina, etc.).

    8 Ver tambm o Anexo III: lista de verificao simplific ada para a gesto do local da morte.

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    3. INVESTIGAO DAS MORTES SOB CUSTDIA: ASPECTOS MDICOS E FORENSES 17

    y Fatores mdicos devero ser levados em considerao. Complicaes mdicas, o uso de

    medicao prescrita ou o acesso insuficiente assistncia sade so informaes importantes.

    Quando a morte sob custdia esperada devido, por exemplo, a uma doena terminal e

    na ausncia de outras circunstncias suspeitas, a investigao pode ser mais simples.

    y O mdico que participa do exame preliminar dever entregar s autoridades investigadoras

    um relatrio detalhado das suas constataes.

    y Os funcionrios do estabelecimento prisional e os detentos sero solicitados a cooperar

    integralmente com a investigao.

    y Todos os funcionrios que tinham responsabilidade pela pessoa morta e os detentos que

    possam ter testemunhado as circunstncias da morte devero ser entrevistados na etapa

    inicial (antes de qualquer apurao interna). As suas declaraes devero ser tomadas por

    escrito, datadas e assinadas por eles.

    y Quando as provas apontam especificamente ao envolvimento de determinados indivduos

    na morte, eles devero ser separados dos demais sem demora.

    y Os funcionrios mdicos do estabelecimento prisional tambm devero ser entrevistados.

    Devero ser perguntados sobre a medicao usada pela pessoa morta e o estado de sade

    dela antes de morrer. Dever ser estabelecida a ltima vez que um enfermeiro ou mdico teve

    contato com a pessoa morta.y Todos os que cooperarem com a investigao e os seus parentes mais prximos devero ser

    protegidos de represlias ou presses de qualquer tipo.

    y Os funcionrios devero conceder aos investigadores pleno acesso ao estabelecimento,

    incluindo os registros em papel e doutro tipo. Os funcionrios devero garantir a segurana

    dos investigadores.

    Gesto de cadveresA gesto adequada do cadver parte essencial da investigao e serve para recolher provas

    do local da morte, assegurando condies adequadas para a realizao dos exames post

    mortemcaso necessrio. Tambm deixa subjacente a garantia de respeito pelo corpo durante

    toda a investigao.

    y Deve-se tomar cuidado ao identificar o corpo e documentar com preciso todas as

    informaes forenses pertinentes.

    y O corpo dever ser tratado com respeito em todas as circunstncias.

    y O corpo e as provas associadas no devero ser removidos e devero ser examinados in situ

    por um mdico qualificado (idealmente, um patologista forense) e por um investigador

    qualificado, ambos devem ter independncia das autoridades detentoras.

    y Somente um breve exame mdico inicial do corpo dever ser feito no local da morte, que

    no dever interferir com o exame meticuloso que ser realizado durante a autpsia.

    y Toda demora para examinar o corpo comprometer a investigao e dever ser apurada.

    A maior rapidez possvel para se chegar ao local da morte especialmente importante se

    a pessoa morta esteve envolvida em um confronto fsico logo antes da sua morte ou se

    estava tomando medicao psicotrpica. Nestes casos, se a temperatura do corpo no formedida sem demora e o local da morte no for preservado rapidamente, no ser possvel

    estabelecer as causas da morte, ademais de outros elementos importantes para a

    investigao.

    y O corpo e a posio em que se encontra, assim como a rea circundante, devem ser

    registrados (na forma de imagens e descries por escrito). A documentao com fotos

    coloridas, se possvel, o melhor mtodo. Um desenho uma alternativa aceitvel. As

    fotografias devero incluir uma viso geral e imagens detalhadas com uma escala de

    medidas. As provas com vestgios de sangue devero ser fotografadas e analisadas.

    y Provas (objetos e amostras), incluindo marcas de violncia, devero ser documentadas,

    recolhidas, etiquetadas e preservadas. Todas as provas devero ser includas em uma cadeia

    de custdia. Se o corpo e as provas associadas (como roupas e pertences pessoais) foram

    removidos, isso tambm dever ser documentado.

    y Todas as intervenes mdicas devero ser observadas: incluem a administrao de

    remdios, assim como a ressuscitao cardiopulmonar e desfibrilao. Os relatrios devero

    incluir as manobras de ressuscitao que foram aplicadas.

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    18 DIRETRI ZES PARA INVESTIGAR MORTES SOB CUSTDIA

    y Toda fonte de calor ou influncia similar no resfriamento do corpo dever ser identificada e

    documentada.

    y As mos da pessoa morta devero ser protegidas para a impresso digital e recuperao de

    provas residuais. Os sacos de papel so ideais pra isso.

    y Aps o exame preliminar, o corpo dever ser protegido de modificaes post mortem. Isso

    se consegue com a refrigerao, idealmente em uma temperatura entre 2C e 4C.

    y A remoo do corpo e a sua transferncia ao necrotrio (onde ser realizado o exame post

    mortem) devero ser supervisionadas atentamente pelas autoridades investigadoras.

    y Nos casos em que o corpo seja sepultado temporariamente, dever ser colocada uma

    etiqueta junto ao corpo com um cdigo exclusivo escrito com tinta indelvel; o tmulo dever

    ser assinalado e registrado cuidadosamente. Isso ajudar a garantir a localizao do corpo.

    3.2. Examepost mortemCaractersticas e escopoO examepost mortem outro nome dado para o processo formal de exame de um corpo

    de uma pessoa morta para fins investigativos, realizado normalmente em casos de mortes

    violentas, sem motivo aparente ou suspeitas, incluindo as mortes sob custdia. A sua definio

    abrangente desde um simples exame externo at uma autpsia forense completa (externae interna) com anlises complementares. Na maioria dos pases, um exame post mortemdeve

    ser feito por um mdico antes de emitir o atestado formal da identidade da pessoa morta e

    a causa e o tipo de bito: os objetivos especficos, os procedimentos e as autoridades

    responsveis devem estar detalhados no plano de contingncia.

    O objetivo do examepost mortem determinar e registrar:

    y A identidade da pessoa morta;

    y A hora estimada da morte (ver Investigao do local da morte);

    y A causa da morte (processos fisiolgicos, leses, doenas, intoxicao, etc.);

    y O tipo de bito (natural, acidental, suicdio, homicdio, indeterminado);

    y A sequncia dos acontecimentos que podem ter levado morte.

    O escopo de um examepost mortem vai depender dos recursos disponveis, costumes locais

    ou circunstncias da morte. Como questo de princpio, o limiar para realizar uma autpsia

    forense completa dever ser especialmente baixo quando a morte ocorrer sob custdia.

    Dever ser realizada sempre, exceto se os argumentos em contrrio forem excepcionalmente

    convincentes, explicados minuciosamente e documentados. Um dos motivos para no realizar

    um exame interno poderia ser a ausncia de um patologista capacitado. Outro motivo poderia

    ser a oposio, por questes culturais, dos parentes prximos.

    Nos casos onde a morte era esperada (por exemplo, devido a um diagnstico prvio de doena

    terminal devidamente documentada pelos mdicos), a investigao poder ser mais simples.

    Mesmo nesses casos, existem determinadas medidas que devero ser tomadas: a emisso deum atestado de bito por um mdico com base no exame externo breve; a transmisso de

    informaes relevantes para os parentes prximos; e a entrega do corpo a eles. Contudo, caso

    os parentes a solicitarem, uma investigao mais ampla da morte dever ser feita.

    Princpios bsicosy Um exame post mortem sempre necessrio quando as provas devem ser recolhidas para

    uma investigao que apure os fatos e atribua responsabilidades. Nos casos de morte

    acidental por causa de instalaes eltricas pouco seguras ou envenenamento por

    monxido de carbono, por exemplo a determinao da causa da morte pode ajudar a

    prevenir outras perdas de vida.

    y As normas internacionais estabelecidas devero ser seguidas quando for feito o examepost

    mortem. Exceto em casos muito raros, os exames (inclusive as autpsias) devero satisfazer

    os padres dispostos para os casos de homicdio.

    y Os exames post mortemdevero ser realizados pelos membros apropriados das equipes

    investigativas. Quando possvel, um fotgrafo com experincia em trabalho forense dever

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    3. INVESTIGAO DAS MORTES SOB CUSTDIA: ASPECTOS MDICOS E FORENSES 19

    ser includo na equipe. Todas as mortes sob custdia devero ser examinadas por um

    especialista mdico-legal e, idealmente, por um patologista forense. Se nenhum estiver

    disponvel, um mdico com qualificaes forenses poder substitu-los.

    y Os examespost mortemdevem ser realizados com a maior brevidade possvel aps o bito.

    O corpo passa por transformaes naturais aps a morte que podem esconder as leses. Se

    for armazenado em condies ideais (isto , entre 2 e 4 C), pode-se tolerar um atraso de

    alguns dias.

    y O corpo no dever ser entregue aos familiares at que o examepost mortemseja concludo:

    alguns rituais funerrios destroem os corpos, impedindo que seja feito o exame. O dever

    de diligncia na investigao dever ajudar a entrega expedita do corpo, evitando mais

    estresse aos parentes enlutados.

    y Os profissionais que realizarem os examespost mortemdevero agir com total independncia

    durante toda a investigao e ao apresentarem os resultados. Se ela estiver comprometida,

    eles podem se negar a elaborar concluses. A investigao e as constataes devero ser

    imparciais e objetivas.

    y Os examespost mortemdevero incluir exames internos e externos e coleta de amostras.

    y Um registro pormenorizado por escrito de todo o processo e das constataes, ilustrado

    com desenhos e fotografias de boa qualidade, dever ser preparado.y A cadeia de custdia dever ser mantida. Isso requer que todas as provas sejam

    documentadas integralmente e que os elementos relevantes e as amostras coletadas sejam

    preservados.

    y As amostras de DNA e outras provas devero ser recolhidas antes de lavar o corpo.

    y O mdico examinador dever visitar o local da morte antes da autpsia, devendo receber

    o registro das manobras de ressuscitao aplicadas por socorristas ou equipes de

    ambulncias, guardas ou detentos.

    y A autpsia dever ser bem documentada de modo que possa ser revisada posteriormente

    por especialistas externos caso seja necessrio. As autpsias so sempre destrutivas: em

    outras palavras, o corpo no poder ser restaurado sua condio original, sendo impossvel

    de replicar o exame.

    y Os princpios mencionados nesta seo tambm se aplicam a uma segunda autpsia (ou

    contra autpsia) caso seja necessria. Poder ser realizada posteriormente, algumas vezes

    anos depois da primeira. Pode ajudar a responder as seguintes perguntas:

    A autpsia original cumpriu com a legislao nacional aplicvel e com as normas

    internacionais?

    As constataes iniciais podem ser confirmadas?

    H constataes adicionais relevantes que no foram detectadas na primeira autpsia?

    As constataes da segunda autpsia so consistentes com a primeira?

    y O(s) mdico(s) examinador(es) dever(o) obrigatoriamente elaborar um relatrio por escrito

    do examepost mortem. Os profissionais que realizam o examepost mortemdevero entregar

    s autoridades investigadoras um relatrio que descreva os resultados do seu trabalho.

    Devero resumir todas as constataes importantes; indicar a causa e o tipo de bito; fazeratribuies, ou seja, vincular as leses a trauma externo, esforos teraputicos, modificaes

    post mortemou outras causas e comentar os resultados das investigaes complementares

    e outras questes forenses importantes. O relatrio dever incluir: a data, hora e local da

    autpsia; os nomes do patologista, dos assistentes que participaram e de todas demais

    pessoas presentes na autpsia; os seus ttulos mdicos ou cientficos e afiliaes profissionais,

    polticas e administrativas.

    Pode-se encontrar uma lista de verificao para a realizao de autpsias no Anexo IV. 9

    9 Para orientaes mais pormeno rizadas, ver, por exemplo, o Protocolo Modelo de Autpsia includo no Manual dasNaes Unidas relativo a uma Preveno Eficaz e Investigao de Execues Extrajudiciais, Arbitrrias e Sumrias,endossado pela Assembleia Geral em 1991, e a Harmonizao das Regras Mdico-Legais em Matria de Autpsias,Recomendao No. R(99) 3.

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    20 DIRETRI ZES PARA INVESTIGAR MORTES SOB CUSTDIA

    3.3. Parentes prximosy Os parentes prximos devero ser tratados com dignidade e respeito.

    y Depois da identificao do corpo, os familiares devero ser informados imediatamente. As

    autoridades investigadoras devero explicar-lhes sobre a investigao que ser efetuar ou

    j esteja sendo realizada; devero prestar informaes com regularidade aos parentes sobre

    o progresso dela.

    y Caso seja necessria uma autpsia, os seus parentes prximos devero ser informados com

    antecedncia sobre a data e deve-se oferecer a eles a possibilidade de serem representados

    na ocasio.

    y O consentimento da famlia dever ser obtido para a reteno de rgos, como no caso do

    crebro, para anlise forense aps a autpsia. Deve-se considerar a adoo de procedimentos

    para retornar os rgos aos familiares aps o exame.

    y Devero ser oferecidos servios de assessoria e apoio teraputico para os familiares, caso

    disponveis.

    y As autoridades investigadoras devero entregar aos familiares um atestado de bito

    completo com a maior brevidade possvel aps a morte.

    y Ao concluir os exames post mortemfundamentais para a investigao, o corpo dever ser

    devolvido aos familiares com o maior respeito pela dignidade da pessoa morta, de maneiraque os rituais fnebres ou outros procedimentos costumeiros possam ser realizados com

    a menor demora possvel.

    y Os pertences pessoais da pessoa morta devero ser devolvidos aos familiares o mais breve

    possvel.

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    4. PREVENO DE MORTESSOB CUSTDIA

    A investigao de uma nica morte de uma pessoa detida pode revelar um padro ou prtica

    direta ou indiretamente relacionados. Nessas situaes, no basta garantir que foram tomadas

    medidas para responder ao caso em questo. Os Estados devem adotar medidas adicionais que

    visam lidar com as possveis causas subjacentes e prevenir que os incidentes voltem a ocorrer.

    Muitos fatores distintos tm um impacto direto ou indireto na segurana dos detentos e no

    bem-estar fsico e mental deles. Portanto, as iniciativas que visam prevenir as mortes sob custdia

    (incluindo mortes por suicdio) devero se basear em uma anlise completa do centro de deteno

    e da maneira em que opera, incluindo como isso afeta os detentos e funcionrios.

    Esta ltima seo oferece uma viso geral dos fatores que aumentam a probabilidade de que

    ocorram mortes sob custdia e estabelece as medidas preventivas que os Estados devem adotar.

    4.1. Fatores que contribuem para as mortes sob custdiaCondies inadequadas de detenoA infraestrutura fsica de um centro de deteno, os regimes de sono e distribuio das camas,

    os uniformes, a comida e a ingesto de lquidos, o acesso ao ar livre, luz do dia e aos banheiros,

    instalaes para a higiene pessoal e lavar roupa, as condies de trabalho, a quantidade de

    exerccio que fazem, o encontro com as famlias, o recebimento de informaes sobre o

    processo legal, o estmulo intelectual: tudo isso exerce influncia no bem-estar e sade mental.

    Quando as condies de deteno so extremamente inadequadas elas podem, tanto

    imediatamente ou durante um perodo de tempo, constituir um risco de vida.

    Inmeros padres e normas oferecem orientaes sobre as condies mnimas de deteno

    que so necessrias para proteger a vida e a dignidade das pessoas privadas de liberdade.

    Segundo o DIDH e o DIH, os tratados internacionais e o direito consuetudinrio estipulam,

    como regra geral, que aqueles sob custdia devero ser tratados humanamente. As normase padres internacionais oferecem mais orientaes sobre como estabelecer e operar um

    regime de deteno adequado, lidando com questes como acomodao, acesso comida,

    gua, higiene, ar livre e roupa de cama, e acesso famlia.10Este marco legal tambm leva em

    considerao as necessidades especficas das crianas, mulheres e outras categorias

    de detentos.11

    10 Ver, por exemplo, as Regras Mnimas para o Tratamento de Prisioneiros, adotadas no Primeiro Congresso das NaesUnidas para a Preveno ao Crime e Tratamento dos Infratores, 1955, e aprovadas pelo Conselho Econmico e Social(Res. 663 C ( XXIV), 31 de julho de 1957; e Res. 2076 (LXII), 13 de maio de 1977); Princpios Bsicos Relativos ao Tratamentode Reclusos, Assembleia G eral da ONU, Res. 45/111 de 14 de dezembro de 1990; Conjunto de Princpios par a a Proteode Todas as Pessoas Sujeitas a Qualquer forma de Deteno ou Priso, adotad o pela Assembleia Geral da ONU, Res.

    43/173, 9 de dezembro de 1988; Recomendao Rec (2006) 2 do Comit dos Ministros aos Esta dos Membros relativa sRegras Penitencirias Europeias, adotadas pelo Comit de Ministros do Conselho da Europa em 11 de janeiro de 2006;Princpios e Boas Prticas para a Proteo das Pessoas Privadas de Liberdade nas Amric as, adotados pela ComissoInteramericana de Direitos Humanos em maro de 2008 , OEA Doc/Ser/L /V/II.131 doc26.

    11 Ver, por exemplo, as Regras das Naes Unidas para a Proteo dos Jovens Privados de Liberdade, Assembleia Geral dasONU Res. 45/113, 14 de dezembro de 1990; Regras das Naes Unidas p ara o tratamento d e mulheres presas e medidasno privativas de liberdade para mulheres infratoras (Regras de Bangkok) (2010).

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    22 DIRETRI ZES PARA INVESTIGAR MORTES SOB CUSTDIA

    Com base no seu trabalho humanitrio em inmeros estabelecimentos prisional no mundo

    todo, o CICV desenvolveu, por iniciativa prpria, uma srie de recomendaes especficas e

    prticas que visam garantir o tratamento humano para todas as pessoas sob custdia.12

    Acesso insuficiente assistncia sadeGarantir o acesso oportuno aos profissionais e atendimento adequado para a sade fsica e

    mental so cruciais para proteger a sade e a vida das pessoas privadas de liberdade. Isto

    responsabilidade do Estado. Os detentos tm as mesmas necessidades de assistncia bsica

    sade que outras pessoas da comunidade. O atendimento disponvel deve ser, no mnimo,

    equivalente ao que oferecido comunidade, devendo levar em considerao os riscos

    adicionais de sade associados com o encarceramento em geral e de pessoas com necessidades

    especficas em determinados contextos.

    As Convenes de Genebra de 1949 e os seus Protocolos Adicionais de 1977 incluem uma srie

    de disposies que tm a finalidade de garantir, em conflitos armados internacionais e no

    internacionais, que os feridos e doentes recebam a assistncia sade e a ateno que a sua

    condio exige. As normas e padres internacionais propiciam maiores orientaes sobre o modo

    como os servios de sade devem ser organizados em regimes de deteno.13

    Este marco jurdicoestipula que dever haver a presena de pelo menos um mdico qualificado em todos os

    estabelecimentos; tambm, dever possibilitar que os detentos que necessitem de tratamento

    especializado sejam transferidos a instituies apropriadas. Os mdicos devero poder realizar

    visitas regulares aos locais de deteno e fazer recomendaes s autoridades detentoras com a

    finalidade de melhorar as condies materiais de deteno que, se no forem modificadas,

    podero ter um efeito adverso na sade dos detentos. O atendimento mdico diferenciado dever

    ser oferecido aos detentos com necessidades especiais, como grvidas e bebs lactentes.

    A experincia demonstra que todas as seguintes medidas tm uma funo importante na

    reduo do risco de morte sob custdia: respeito pela tica mdica profissional; exames

    mdicos completos ao dar entrada no estabelecimento; exames mdicos regulares; servios

    mdicos acessveis, bem organizados e com recursos adequados; infraestrutura apropriada

    para pacientes hospitalares e ambulatoriais; estado de alerta de todos os profissionais para

    sinais de doenas fsicas ou mentais; e a possibilidade real de encaminhar ao atendimento

    profissional externo quando necessrio.

    Contato insuficiente com a famliaEm alguns contextos, os detentos dependem das suas famlias para satisfazer as suas

    necessidades mais bsicas, como comida, roupa de cama e roupas. O contato com a famlia

    (pessoal, por telefone ou outra forma de comunicao remota) tambm ajuda a reduzir o

    isolamento do detento e aumentar o seu bem-estar psicolgico e emocional. Quando houver

    o risco de suicdio, o contato com a famlia e /ou profissionais dentro ou fora da instituio pode

    ser crucial. As Regras Mnimas Padro para o Tratamento de Prisioneiros dispem que os presossero autorizados, sob a necessria superviso, a comunicar-se periodicamente com as suas

    famlias e com amigos de boa reputao, quer por correspondncia quer atravs de visitas.14

    Proteo inadequada contra suicdiosExiste um risco de suicdio acima da mdia em muitos centros de deteno. A existncia de

    condies adequadas de deteno e tratamento, acesso a profissionais de assistncia sade

    (em especial psiclogos e psiquiatras), funcionrios capacitados para identificar e oferecer

    apoio a detentos vulnerveis e contato com o mundo exterior: todos estes elementos so

    indispensveis em qualquer poltica de preveno de suicdios sob custdia.15

    12 Ver CICV, Water, Sanitation, Hygiene and Habitat in Prisons(2005); e Water, Sanitation, Hygiene and Habitat in Prisons:

    Supplementary Guidance(2012).13 Ver, por exemplo, Regras Mnimas Padro para o Tratamento de Prisioneiros, Regras 22-26; Conjunto de Princpios para

    a Proteo de Todas as Pessoas Sujeitas a Qualquer Forma de Deteno ou Priso; Princpios de tica mdica relativosao papel do pessoal de sade na proteo de pessoas contra tortura e outra forma cruel, desumana ou degradante detratamento ou punio da ONU.

    14 Regras Mnimas Padro para o Tratamento de Prisioneiros, Regra 37.15 Preveno de Suicdios em Cadeias e Prises, Organiza o Mundial da Sade, 2007.

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    4. PREVENO DE MORTES SOB CUSTDIA 23

    As autoridades detentoras devero implantar procedimentos especficos que possibilitem a

    identificao dos detentos com risco de cometer suicdio. Deve-se incluir a avaliao desse

    risco nos procedimentos de ingresso ao sistema e no exame mdico de chegada. Uma equipe

    de avaliao, composta pela administrao penitenciria, trabalhadores sociais e profissionais

    de sade, incluindo especialistas de sade mental (psiquiatras ou psiclogos, caso disponveis),

    dever decidir onde os detentos com alto risco de cometer suicdio devem ficar e a frequncia

    do regime de observao e monitoramento. Todos os funcionrios que estejam em contato

    dirio com os detentos devero ser capacitados para identificar o potencial para suicdio.

    Os detentos com alto risco de cometer suicdio talvez tenham que ser transferidos a um

    estabelecimento de sade onde podero receber atendimento especializado; ou as suas

    condies de deteno tenham que ser modificadas para facilitar a observao, monitoramento

    e apoio emocional.

    As autoridades detentoras devero registrar os casos de suicdio e identificar as razes que

    podem ter levado a pessoa morta a cometer suicdio. Nos estabelecimentos onde as taxas de

    suicdio so altas, as autoridades devero determinar de que modo o ambiente carcerrio e

    no somente a infraestrutura fsica poder ser melhorado para prevenir novos suicdios,adaptando as condies de deteno e a capacitao dos funcionrios nesse sentido.

    Privao arbitrria da vida, tortura e outras formas de maus-tratosComo os estabelecimentos prisionais so muitas vezes autnomos e isolados, longe do alcance

    da superviso externa, o risco de privao arbitrria da vida e de abusos no tratamento ou

    negligncia com os detentos muito grande. A violncia entre eles uma realidade em muitos

    locais, tendo um impacto direto na sade fsica e mental e apresentando um risco vida.

    Nas instituies onde o castigo tem um papel preponderante, os funcionrios podem estar

    mais propensos a considerar os atos que chegam a ser tortura ou outras formas de maus-tratos

    como normais. A tortura e outras formas de maus-tratos sob custdia tm uma grande

    probabilidade de ocorrer nas seguintes situaes:

    y No incio do processo da deteno, ou seja, no ato da priso, quando o detento for transferido

    a um estabelecimento prisional ou quando for recebido nele;

    y Durante o interrogatrio para obter uma confisso ou informaes;

    y Quando as autoridades detentoras adotam medidas para manter a disciplina e usam

    instrumentos de fora e conteno.

    Como explicado anteriormente, tanto o Direito dos Direitos Humanos (DIDH) como o Direito

    Internacional Humanitrio (DIH) probem a privao arbitrria da vida. Tambm probem, sem

    exceo, toda forma de tortura ou outro tratamento ou punio cruel, desumano ou

    degradante.16Os Estados devem refletir estas proibies na sua legislao nacional e adotar

    medidas adequadas, de modo a garantir o pleno respeito por essas normas em todos osestabelecimentos prisionais. A privao arbitrria da vida e a tortura devem ser definidos como

    crimes de uma tipologia especfica, possibilitando que os responsveis sejam julgados e

    sentenciados, de acordo com a legislao penal nacional.

    16 Ver, por exemplo, art. 3o comum s Convenes de Genebra de 1949; art. 75(2) do Protocolo I de 8 de junho de 1977adicional s Convenes de Genebra; art. 4(2) do Protocolo II de 8 de junho de 1977 adicional s Convenes deGenebra; art. 7 do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Polticos; e a Conveno contra a Tortura e OutrosTratamentos ou Penas Cruis, Desumanos ou Degradantes.

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    24 DIRETRI ZES PARA INVESTIGAR MORTES SOB CUSTDIA

    4.2. Medidas para a preveno de mortes sob custdiaAs normas internacionais para prevenir a privao arbitrria da vida, assim como para a

    preveno da tortura e outros tratamentos ou penas cruis, desumanos ou degradantes,

    evoluram com o tempo como consequncia da adoo de instrumentos jurdicos no

    vinculantes e dos avanos na jurisprudncia internacional. Essas normas requerem que os

    Estados adotem e implementem as seguintes medidas:17

    y Os detentos devero ser encarcerados em instituies oficiais. So proibidos os

    estabelecimentos secretos.

    y As informaes bsicas relativas aos indivduos sob custdia como a hora e lugar da priso,

    o estado de sade no ingresso ao sistema prisional, os nomes das pessoas responsveis por

    custdia ou a hora e o lugar do interrogatrio devem ser registradas e disponibilizadas

    para os processos judiciais e administrativos.

    y Os detentos devem ter acesso rpido e regular a mdicos e advogados e, com a maior

    frequncia possvel, aos familiares.

    y As autoridades competentes devem fazer visitas no anunciadas aos estabelecimentos onde

    exista a suspeita de tortura ou outras formas de maus-tratos.

    y Inspees internas e externas dos estabelecimentos devem ser realizadas com

    regularidade. Incluem-se inspees por rgos de segurana responsveis pela avaliaode riscos de incndio e outros. Ombudsman, organismos nacionais pertinentes e agncias

    de direitos humanos devem ter acesso a todos os estabelecimentos com a finalidade de

    monitorar as condies de deteno. Organizaes no governamentais independentes

    tambm devem ter acesso a todos os estabelecimentos prisionais.

    y Segundo as Convenes de Genebra de 1949, o CICV deve ter acesso a todos os

    estabelecimentos onde so mantidos os prisioneiros de guerra, internados civis e outras

    pessoas protegidas durante os conflitos armados internacionais. O CICV tambm tem direito

    a visitar as pessoas privadas de liberdade em relao com conflitos armados no

    internacionais ou outras situaes de violncia.

    y O uso de declaraes ou confisses obtidas mediante tortura ou outras formas de

    maus-tratos dever ser proibido nos processos judiciais.

    y As punies corporais, incluindo o seu uso como castigo por delitos criminais ou como uma

    medida educacional ou disciplinar, devem ser proibidas.

    y Medidas eficazes devem ser tomadas para prevenir a violncia entre detentos. Nesse sentido,

    as vrias categorias, determinadas com base em critrios como gnero, idade ou ficha

    criminal, devem ser mantidas em locais separados.

    y Deve-se reconhecer na legislao nacional o direito de dar queixa quando ameaado com

    a privao arbitrria da vida, tortura ou outras formas de maus-tratos. As queixas devero

    ser investigadas de modo imparcial e imediato pelas autoridades competentes.

    y Todas as pessoas envolvidas com o tratamento dos detentos ou com o encarceramento

    deles devem receber as instrues e capacitao necessrias para prevenir a privao

    arbitrria da vida e a tortura e outras formas de maus-tratos. A proibio contra este tipo

    de tratamento deve fazer parte das regras operacionais e padres ticos que sero seguidospor elas.

    17 Esta lista no exaustiva . Para mais detalhes, ver os Princpios Relativos a uma Preveno Eficaz e Investigao

    das Execues Extrajudiciais, Arbitrrias e Sumrias; as Regras Mnimas para o Tratamento dos Prisioneiros; o PactoInternacional sobre os Direitos Civis e Polticos, Comentrio Geral No 20 relativo proibio da tortura e tratamentosou penas cruis (art.7), 03/10/1992; relatrio do Relator Especial da ONU para Tortura, Recomendaes Gerais, E/CN.4/2003/68, par. 26; Protocolo Facultativo da Conveno contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruis,Desumanos ou Degradantes, 2002; Comisso Africana de Direitos Humanos e Direitos dos Povos, Resoluo sobre asDiretrizes e Medidas para a Proibio e Preveno da Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruis, Desumanos ouDegradantes na frica (Diretrizes de Robben Island), 2002.

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    ANEXO I. INVESTIGAO DEMORTES SOB CUSTDIA:OITO PONTOS IMPORTANTES1. Todas as mortes sob custdia devero ser investigadas imediatamente por um rgo

    independente e imparcial, no importando se os parentes da pessoa morta solicitarama investigao ou no.

    2. A principal finalidade da investigao :

    y Esclarecer as circunstncias que rodeiam a morte.

    A investigao pode contribuir tambm para:

    y Reduzir o trauma e oferecer uma reparao efetiva aos parentes prximos;

    y Processar e condenar os responsveis;

    y Prevenir a recorrncia das mortes sob custdia.

    3. A investigao dever ser exaustiva. Isso implica que se deve buscar, pelo menos:

    y Obter e preservar as provas fsicas e documentais relativas morte;

    y Identificar possveis testemunhas e tomar as declaraes delas;

    y Identificar a pessoa morta;

    y Determinar o grau de participao de todos envolvidos na morte;

    y Estabelecer a causa, o modo, o lugar e a hora da morte, assim como qualquer padro

    ou prtica que pode ter contribudo para a causa;

    y Diferenciar entre morte natural, morte acidental, suicdio e homicdio.

    4. O local da morte dever ser considerado uma cena potencial do crime, em especial se

    a morte for inesperada.

    5. Uma autpsia minuciosa, por um mdico capacitado, um dever, sobretudo quando amorte for inesperada.

    6. Os parentes prximos devero ser informados imediatamente da morte do seu familiar

    e mantidos a par do progresso e das constataes da investigao.

    7. Um atestado de bito completo dever ser emitido para os parentes prximos na maior

    brevidade possvel aps a morte.

    8. Ao finalizar os exames post mor temcruciais para a investigao, o corpo dever ser

    entregue aos parentes prximos com o pleno respeito pela dignidade da pessoa morta.

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    ANEXO II. INVESTIGAO DEMORTES SOB CUSTDIA: FONTESJURDICAS INTERNACIONAISDIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS:

    DECLARAO UNIVERSAL E TRATADOS

    O direito vidaDeclarao Universal de Direitos Humanos

    y Art.3: Todo indivduo tem direito vida, liberdade e segurana pessoal.

    Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Polticosy Art. 2(1): Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a respeitar e garantir a

    todos os indivduos que se achem em seu territrio e que estejam sujeitos a sua jurisdio

    os direitos reconhecidos no presente Pacto (...)

    y Art. 6(1): O direito vida inerente pessoa humana. Esse direito dever ser protegido

    pela lei. Ningum poder ser arbitrariamente privado de sua vida.

    Conveno Europeia de Direitos Humanosy Art.1: As Altas Partes Contratantes reconhecem a qualquer pessoa, dependente da sua

    jurisdio, os direitos e liberdades definidos no ttulo I da presente Conveno.

    y Art.2(1): O direito de qualquer pessoa vida protegido pela lei. Ningum poder ser

    intencionalmente privado da vida, salvo em execuo de uma sentena capital

    pronunciada por um tribunal, no caso de o crime ser punido com esta pena pela lei.

    y Art.2(2): No haver violao do presente artigo quando a morte resulte de recurso

    fora, tornado absolutamente necessrio:

    a) Para assegurar a defesa de qualquer pessoa contra uma violncia ilegal;

    b) Para efetuar uma deteno legal ou para impedir a evaso de uma pessoa detidalegalmente;

    c) Para reprimir, em conformidade com a lei, uma revolta ou uma insurreio.

    Conveno Americana de Direitos Humanosy Art.1(1): Os Estados Partes nesta Conveno comprometem-se a respeitar os direitos e

    liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exerccio a toda pessoa que

    esteja sujeita sua jurisdio (...)

    y Art.4(1): Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser

    protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepo. Ningum pode ser

    privado da vida arbitrariamente.

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    ANEXO II. INVESTIGA O DE MORTES SOB CUSTDIA 27

    Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povosy Art.1: Os Estados membros da Organizao da Unidade Africana, partes na presente Carta,

    reconhecem os direitos, deveres e liberdades enunciados nesta Carta e comprometem-se

    a adoptar medidas legislativas ou outras para os aplicar.

    y Art.4: A pessoa humana inviolvel. Todo o ser humano tem direito ao respeito da sua

    vida e integridade fsica e moral da sua pessoa. Ningum pode ser arbitrariamente

    privado desse direito.

    Carta rabe de Direitos Humanosy Art.3(1): Cada Estado Parte da presente Carta compromete-se a garantir a todos os

    indivduos dentro de sua jurisdio, o direito de gozar dos direitos e liberdades contidos

    na presente Carta (...)

    y Art.5(1): O direito vida inerente a todos os seres humanos;

    y Art.5(2): A lei protege esse direito e ningum ser arbitrariamente privado de sua vida.

    O direito a um recurso eficazPacto Internacional sobre os Direitos Civis e Polticos

    y Art.2(3): Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a: (1) Garantir que toda pessoa, cujos direitos e liberdades reconhecidos no presente Pacto

    tenham sido violados, disponha de um recurso eficaz, mesmo que a violao tenha sido

    perpetrada por pessoas que agiam no exerccio de funes oficiais (...)

    Conveno Europeia de Direitos Humanosy Art.13: Qualquer pessoa cujos direitos e liberdades reconhecidos na presente Conveno

    tiverem sido violados tem direito a recurso perante uma instncia nacional, mesmo

    quando a violao tiver sido cometida por pessoas que atuem no exerccio das suas

    funes oficiais.

    Conveno Americana sobre Direitos Humanosy Art. 25(1): Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rpido ou a qualquer outro

    recurso efetivo, perante os juzes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que

    violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela constituio, pela lei ou pela

    presente Conveno, mesmo quando tal violao seja cometida por pessoas que estejam

    atuando no exerccio de suas funes oficiais.

    y 2. Os Estados Partes comprometem-se:

    a) a assegurar que a autoridade competente prevista pelo sistema legal do Estado decida

    sobre os direitos de toda pessoa que interpuser tal recurso;

    b) a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; e

    c) a assegurar o cumprimento, pelas autoridades competentes, de toda deciso em que

    se tenha considerado procedente o recurso.

    Carta rabe de Direitos Humanosy Art.23: Cada Estado Parte da presente Carta compromete-se a garantir que toda pessoa,

    cujos direitos e liberdades reconhecidos na presente Carta tenham sido violados, disponha

    de um recurso eficaz, mesmo que a violao tenha sido perpetra por pessoas que agiam

    no exerccio de funes oficiais.

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    28 DIRETRI ZES PARA INVESTIGAR MORTES SOB CUSTDIA

    DIREITO INTERNACIONAL HUMANITRIO E O ESTATUTO DOTRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL: CONFLITOS ARMADOSINTERNACIONAIS

    Obrigao de investigar as mortes sob custdiaIII Conveno de Genebra de 1949

    y Art. 121(1): Toda a morte ou ferimento grave de um prisioneiro de guerra causados ou

    suspeitos de terem sido provocados por uma sentinela, por um outro prisioneiro de guerra

    ou por qualquer outra pessoa, assim como toda a morte cuja causa foi desconhecida,

    sero seguidos imediatamente de um inqurito oficial da Potncia detentora.

    IV Conveno de Genebra de 1949y Art.131(1): Todos os casos de morte ou de ferimento grave de um internado causados ou

    suspeitos de terem sido causados por uma sentinela, por outro internado ou por qualquer

    outra pessoa, assim como todos os falecimentos cuja causa seja desconhecida, sero

    imediatamente seguidos de um inqurito oficial, por parte da Potncia detentora.

    Proibio da violncia contra as pessoas fora de combate

    I Conveno de Genebra de 1949y Art.12(1): Os membros das foras armadas e as outras pessoas mencionadas no artigo

    seguinte, que sejam feridos ou estejam doentes, devero ser respeitados e protegidos

    em todas as circunstncias.

    y Art.12(2): Sero tratados com humanidade pela Parte no conflito que tiver em seu poder,

    sem nenhuma distino de carcter desfavorvel baseada no sexo, raa, nacionalidade,

    religio, opinies polticas ou qualquer outro critrio anlogo. estritamente interdito

    qualquer atentado contra a sua vida e pessoa e, em especial, assassin-los ou extermin-los,

    submet-los a torturas, efetuar neles experincias biolgicas, deix-los premeditadamente

    sem assistncia mdica ou sem tratamento, ou exp-los aos riscos do contgio ou de

    infeco criados para este efeito.

    II Conveno de Genebra de 1949y Art.12(1): Os membros das foras armadas e as outras pessoas mencionadas no artigo

    seguinte que se encontrarem no mar e que forem feridos, doentes ou nufragos devero

    ser respeitados e protegidos em todas as circunstncias (...)

    y Art.12(2): Os mesmos sero tratados e cuidados com humanidade pela Parte no conflito

    que os tiver em seu poder, sem nenhuma distino de carcter desfavorvel baseada no

    sexo, raa, nacionalidade, religio, opinies polticas ou qualquer outro critrio anlogo.

    estritamente interdito qualquer atentado contra as suas vidas e as suas pessoas e, em

    especial, assassin-los ou extermin-los, submet-los a torturas, utiliz-los na realizao

    de experincias biolgicas, deix-los premeditadamente sem assistncia mdica ou sem

    tratamento ou exp-los a riscos de contgio ou de infeco criados para tal efeito.

    III Conveno de Genebra de 1949y Art.13: Os prisioneiros de guerra devem ser sempre tratados com humanidade. proibido,

    e ser considerado como uma infrao presente Conveno, todo o ato ou omisso

    ilcita da parte da Potncia detentora que tenha como consequncia a morte ou ponha

    em grave perigo a sade de um prisioneiro de, guerra em seu poder. (...)

    IV Conveno de Genebra de 1949y Art.32: As Altas Partes contratantes probem-se expressamente qualquer medida que

    possa causar sofrimentos fsicos ou o extermnio das pessoas protegidas em seu poder.

    Esta proibio no tem em vista apenas o assassnio, a tortura, os castigos corporais, as

    mutilaes e as experincias mdicas ou cientficas que no forem necessrias para o

    tratamento mdico de uma pessoa protegida, mas tambm todas as outras brutalidades,

    quer sejam praticadas por agentes civis ou militares.

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    ANEXO II. INVESTIGA O DE MORTES SOB CUSTDIA 29

    Protocolo Adicional I de 1977y Art.75(2): So e permanecero proibidos em qualquer momento ou lugar, quer sejam

    cometidos por agentes civis quer por militares, os atos seguintes:

    a) Atentados contra a vida, sade e bem-estar fsico ou mental das pessoas, nomeadamente:

    i) Assassinato ()

    Crimes de GuerraConvenes de Genebra de 1949

    y Art. comum 49(1)/50(1)/129(1)/146(1): As Altas Partes Contratantes comprometem-se a

    tomar qualquer medida legislativa necessria para fixar as sanes penais adequadas a

    aplicar s pessoas que tenham praticado ou mandado praticar qualquer das infraes

    graves presente Conveno, definidas no artigo seguinte.

    y Art. comum 49(2)/50(2)/129(2)/146(2): Cada Parte Contratante ter a obrigao de procurar

    as pessoas acusadas de terem praticado ou mandado praticar qualquer destas infraes

    graves, devendo remet-las aos seus prprios tribunais, qualquer que seja a sua

    nacionalidade. Poder tambm, se o preferir, e segundo as condies previstas pela sua

    prpria legislao, envi-las para julgamento a uma outra Parte Contratante interessada

    na causa, desde que esta Parte Contratante possua elementos de acusao suficientescontra as referidas pessoas.

    I Conveno de Genebra de 1949y Art.50: As infraes graves a que alude o artigo anterior so as que abrangem qualquer

    dos atos seguintes, se forem cometidos contra pessoas ou bens protegidos pela

    Conveno: o homicdio intencional, a tortura ou os tratamentos desumanos, (), o fato

    de causar intencionalmente grandes sofrimentos ou de ofender gravemente a integridade

    fsica ou a sade, (...) no justificados por necessidades militares e executados em grande

    escala, de forma ilcita e arbitrria.

    II Conveno de Genebra de 1949y Art.51: As infraes graves a que alude o artigo anterior so as que abrangem qualquer

    dos atos seguintes, se forem cometidos contra pessoas ou bens protegidos pela

    Conveno: o homicdio intencional, a tortura ou os tratamentos desumanos, (...) o fato

    de causar, intencionalmente, grandes sofrimentos ou de ofender gravemente a integridade

    fsica ou a sade (...) no justificadas por necessidades militares e executadas em grande

    escala, de modo ilcito e arbitrrio.

    III Conveno de Genebra de 1949y Art.130: As infraes graves a que alude o artigo anterior so as que abrangem qualquer

    dos atos seguintes, se forem cometidos contra pessoas ou bens protegidos pela presente

    Conveno: homicdio voluntrio, a tortura ou os tratamentos desumanos, (...) o propsito

    de causar intencionalmente grandes sofrimentos ou atentados graves contra a integridadefsica ou sade (...)

    IV Conveno de Genebra de 1949y Art.147: As infraes graves a que alude o artigo anterior so as que abrangem qualquer

    dos atos seguintes, se forem cometidos contra pessoas ou bens protegidos pela presente

    Conveno: o homicdio voluntrio, a tortura ou os tratamentos desumanos, (...) o

    propsito de causar intencionalmente grandes sofrimentos ou graves leses no corpo ou

    sade, (...) no justificveis pelas necessidades militares e executadas em grande escala

    de modo ilcito e arbitrrio.

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    30 DIRETRI ZES PARA INVESTIGAR MORTES SOB CUSTDIA

    Estatuto do Tribunal Penal Internacionaly Art.8(2). Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por crimes de guerra:

    a) As violaes graves s Convenes de Genebra, de 12 de Agosto de 1949, a saber,

    qualquer um dos seguintes atos, dirigidos contra pessoas ou bens protegidos nos

    termos da Conveno de Genebra que for pertinente:

    (i) Homicdio doloso;

    (ii) Tortura ou outros tratamentos desumanos, incluindo as experincias biolgicas;

    (iii) O ato de causar intencionalmente grande sofrimento ou ofensas graves

    integridade fsica ou sade; (...)

    DIREITO INTERNACIONAL HUMANITRIO E O ESTATUTO DOTRIBUNAL PENAL INTERNACIONALCONFLITOS ARMADOS NO INTERNACIONAIS

    Convenes de Genebra de 1949

    y Art.3 comum: Em caso de conflito armado que no apresente um carcter internacionale que ocorra no territrio de uma das Altas Partes Contratantes, cada uma das Partes no

    conflito ser obrigada a aplicar, pelo menos, as seguintes disposies:

    (1) As pessoas que no tomem parte diretamente nas hostilidades, incluindo os membros

    das foras armadas que tenham deposto as armas e as pessoas que tenham sido postas

    fora de combate por doena, ferimento, deteno, ou por qualquer outra causa, sero,

    em todas as circunstncias, tratadas com humanidade, sem nenhuma distino de carcter

    desfavorvel, baseada na raa, cor, religio ou crena, sexo, nascimento ou fortuna, ou

    qualquer outro critrio anlogo.

    Para este efeito, so e manter-se-o proibidas, em qualquer ocasio e lugar relativamente

    s pessoas acima mencionadas:

    (a) As ofensas contra a vida e integridade fsica, em especial o homicdio sob todas as

    formas, as mutilaes, os tratamentos cruis, torturas e suplcios; (...)

    Protocolo Adicional II de 1977y Art.4(1): Todas as pessoas que no participem diretamente ou j no participem nas

    hostilidades, quer estejam ou no privadas da liberdade, tm direito ao respeito da sua

    pessoa, honra, convices e prticas religiosas. Sero, em todas as circunstncias, tratadas

    com humanidade, sem qualquer discriminao. proibido ordenar que no haja

    sobreviventes.

    y Art.4(2): Sem prejuzo do carcter geral das disposies anteriores, so e permanecem

    proibidas, em qualquer momento ou lugar, em relao as pessoas mencionadas no n. 1:

    a) Os atentados contra a vida, sade ou bem-estar fsico ou mental das pessoas, em

    particular o assassnio, assim como os tratamentos cruis, tais como a tortura, as mutilaesou qualquer forma de pena corporal; (...)

    Estatuto do Tribunal Penal Internacionaly Art.8(2): Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por crimes de guerra:

    (c) Em caso de conflito armado que no seja de ndole internacional, as violaes graves

    do artigo 3 comum s quatro Convenes de Genebra, de 12 de Agosto de 1949, a saber,

    qualquer um dos atos que a seguir se indicam, cometidos contra pessoas que no

    participem diretamente nas hostilidades, incluindo os membros das foras armadas que

    tenham deposto armas e os que tenham ficado impedidos de continuar a combater

    devido a doena, leses, priso ou qualquer outro motivo:

    i) Atos de violncia contra a vida e contra a pessoa, em particular o homicdio sob

    todas as suas formas, as mutilaes, os tratamentos cruis e a tortura; (...)

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    ANEXO II. INVESTIGA O DE MORTES SOB CUSTDIA 31

    Instrumentos da ONU de normas no vinculantes e outros textosjurdicos relevantes

    y Conjunto de Princpios para a proteo de todos os indivduos em qualquer forma de

    deteno ou encarceramento, A/RES/43/173, 9 de dezembro 1988. Disponvel em ingls:

    http://www.un.org/documents/ga/res/43/a43r173.htm

    y Princpios Relativos a uma Preveno Eficaz e Investigao das Execues Extrajudiciais,

    Arbitrrias e Sumrias, Recomendados pela Resoluo 1989/65 do Conselho Econmico

    e Social, 24 de maio de 1989. Disponvel em ingls: http://www2.ohchr.org/english/law/

    executions.htm

    y Manual das Naes Unidas relativo a uma Preveno Eficaz e Investigao de Execues

    Extrajudiciais, Arbitrrias e Sumrias, UN Doc. E/ST/CSDHA/.12 (1991). Disponvel em ingls:

    http://www1.umn.edu/humanrts/instree/executioninvestigation-91.html

    y Declarao sobre a Proteo de Todas as Pessoas Contra os Desaparecimentos Forados,

    A/RES/47/133, 18 de dezembro de 1992. Disponvel em ingls: http://www.unhchr.ch/

    Huridocda/Huridoca.nsf/(Symbol)/A.RES.47.133.En?Opendocument

    y Princpios Bsicos e Diretrizes sobre o Direito a Recurso e Reparao para Vtimas de Srias

    Violaes do Direito Internacional dos Direitos Humanos e do Direito Internacional

    Humanitrio, A/RES/60/147, 16 de dezembro de 2005. Disponvel em ingls: http://www2.ohchr.org/english/law/remedy.htm

    y Comentrio Geral No 06: O direito vida (art.6), 30 de abril de 1982, CCPR General

    Comment No. 6. Disponvel em ingls:

    http://www.unhchr.ch/tbs/doc.nsf/0/84ab9690ccd81fc7c12563ed0046fae3

    y Comentrio Geral No 31 sobre o artigo 2 do Pacto: a ndole da obrigao geral imposta

    aos Estados Partes do Pacto, 21 de abril de 2004, CCPR/C/74/CRP.4/ Rev.6. Disponvel em

    ingls: http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G04/419/56/PDF/G0441956.

    pdf?OpenElement

    http://www.un.org/documents/ga/res/43/a43r173.htmhttp://www2.ohchr.org/english/law/executions.htmhttp://www2.ohchr.org/english/law/executions.htmhttp://www1.umn.edu/humanrts/instree/executioninvestigation-91.htmlhttp://www.unhchr.ch/Huridocda/Huridoca.nsf/(Symbol)/A.R