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Ana Paula Cabral Sader A DESTERRITORIALIZAÇÃO DO ESCRITÓRIO NA ERA DA INFORMAÇÃO: trabalho, tecnologia e cultura organizacional Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, como requisito à obtenção do grau de Mestre. Área de Concentração: Tecnologia da Arquitetura Orientadora: Profª. Drª. Elisabetta Romano São Paulo, 2007

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Ana Paula Cabral Sader

A DESTERRITORIALIZAÇÃO DO ESCRITÓRIO NA ERA DA INFORMAÇÃO:

trabalho, tecnologia e cultura organizacional

Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

da Universidade de São Paulo, como requisito à obtenção do grau de Mestre.

Área de Concentração: Tecnologia da Arquitetura

Orientadora: Profª. Drª. Elisabetta Romano

São Paulo, 2007

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO,

POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO

E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

ASSINATURA:

E-MAIL: [email protected]

Sader, Ana Paula CabralS125d A desterritorialização do escritório na era da informação: trabalho, tecnologia e cultura organizacional/Ana Paula Cabral Sader. - São Paulo, 2007. 247 p. : il.

Dissertação (Mestrado - Área de Concentração: Tecnologia da Arquitetura) - FAUUSP. Orientadora: Profª. Drª. Elisabetta Romano

1.Arquitetura de interiores 2.Ambiente de trabalho 3.Escritórios 4.Arranjo físico 5.Organização espacial I.Título

CDU 747

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Ana Paula Cabral Sader

A DESTERRITORIALIZAÇÃO DO ESCRITÓRIO NA ERA DA INFORMAÇÃO:trabalho, tecnologia e cultura organizacional

Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

da Universidade de São Paulo, como requisito à obtenção do grau de Mestre.

Área de Concentração: Tecnologia da Arquitetura

Orientadora: Profª. Drª. Elisabetta Romano

Aprovado em:

Banca Examinadora

Prof. Dr.: _______________________________________________________Instituição: _____________________________________________________Assinatura: _____________________________________________________

Prof. Dr.: _______________________________________________________Instituição: _____________________________________________________Assinatura: _____________________________________________________

Prof. Dr.: _______________________________________________________Instituição: _____________________________________________________Assinatura: _____________________________________________________

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Ao Alencar, com todo o meu amor e reconhecimento.

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Agradeço à minha orientadora, Professora Elisabetta Romano, por ter com-

partilhado sua sabedoria, sua alegria e por ter sido sempre o apoio firme que

me conduziu ao longo desse caminho.

À Professora Sheila Ornstein e ao Professor Rafael Perrone, pela contribuição

preciosa à estruturação desta pesquisa, na ocasião do Exame de Qualificação.

Aos Professores Élide Monzeglio (in memoriam), Geraldo Serra, Maria Cecília

Loschiavo dos Santos, Sheila Ornstein e Sigmar Malvezzi, pelas questões

suscitadas em suas disciplinas.

Ao Sr. Clóvis Bojikian, que me encantou com suas histórias sobre a implemen-

tação da administração participativa na empresa na qual trabalha.

À Flordelice Bassanello, que viabilizou a realização dos estudos de caso, dividindo

seus conhecimentos e cedendo seu escasso tempo, sempre com doçura.

Aos funcionários das empresas objetos dos estudos de caso, pela disposição

em fornecer as informações necessárias.

Aos familiares e amigos que incentivaram e apoiaram essa jornada.

Aos meus pais, à minha avó Iraci e à Bi (in memoriam), pelas primeiras lições,

valores que levarei por toda a vida.

Ao Alencar e à Giulia, porque existem e porque partilham suas existências

comigo, sempre me ensinando muito.

A Deus, por tudo.

Agradecimentos

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“De tudo ficaram três coisas: a certeza de que estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo, fazer da queda, um passo de dança, do medo, uma escada, do sonho, uma ponte, da procura, um encontro.”

Fernando Pessoa

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A DESTERRITORIALIZAÇÃO DO ESCRITÓRIO NA ERA DA INFORMAÇÃO:

trabalho, tecnologia e cultura organizacional

O presente trabalho objetivou analisar as interferências dos modelos

administrativos de gestão organizacionais e das tecnologias de informação

e comunicação na organização do espaço físico do escritório, tendo

como estudo de caso duas empresas que utilizam o modelo de Escritório

Não-Territorial, ainda que parcialmente. A avaliação dos ambientes dos

escritórios foi efetuada com base no diagnóstico de espaço que forneceu

informações referentes às áreas de ocupação, estações de trabalho e circulações.

Os usuários desses escritórios responderam a questionários referentes ao seu

ambiente de trabalho, tendo sido possível confrontar informações sobre o uso

do Escritório Territorial e Não-Territorial. Três são os elementos teóricos que

embasam fundamentalmente a pesquisa e a partir dos quais se extraíram os

conceitos fundamentais: o trabalho, a tecnologia e a cultura organizacional.

Um histórico sobre a evolução dos conceitos de ocupação nos ambientes de

trabalho complementa a base teórica, sempre relacionando as característi-

cas do espaço físico aos modelos administrativos de gestão a às tecnologias

vigentes em cada período; permitindo observar o paulatino processo

de desterritorialização dos escritórios.

Palavras-chave: Ambiente de trabalho. Arranjo físico. Escritório Não-Territorial.

Tecnologias da Informação e Comunicação. Cultura organizacional.

Resumo

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THE DETERRITORIALIZATION OF THE OFFICE IN THE INFORMATION AGE:

work, technology and organizational culture

The objective of this study was to analyze the interference of organizational

management administration models and information and communication

technologies in the organization of the office’s physical space. Two companies

that use the Non-Territorial Office, although partially, were used as case studies.

The office environments were evaluated based on the diagnosis of space,

which provided information concerning the occupation areas, workstations and

circulation. These office users answered questionnaires concerning their work

environment and it was possible to compare information about the use of

Territorial and Non-Territorial Offices. The study is fundamentally based on

three theoretical elements from which the fundamental concepts are extracted:

work, technology and the organizational culture. A history of the evolution

of occupation concepts in work environments complements the theoretical

basis, always relating physical space characteristics of the administrative

management models to the technologies in effect at the time. This permits the

observation of the office’s gradual deterritorialization process.

Key words: Work environment. Physical layout. Non-Territorial Office.

Information and Communication Technologies. Organizational Culture.

Abstract

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Capítulo 1

1.1 Escritório do início do século XX. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

1.2 Trabalho e vida privada no século XXI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

Capítulo 2

2.1 Válvulas a vácuo, base da eletrônica durante a primeira metade do século XX. . . 62

2.2 Três gerações de componentes eletrônicos: válvula a vácuo, transistor e chip. . . . 62

2.3 Primeiro microprocessador do mundo, lançado pela Intel, em 1971.. . . . . . 63

2.4 Exemplo de microprocessador: o chip óptico da Xerox. . . . . . . . . . . . . . . . 63

2.5 ENIAC, o primeiro computador digital do mundo e os primeiros computadores pessoais (PC’s): o Alto da Xerox e o Commodore. . . . . . . . . 64

2.6 Exemplos das primeiras gerações de PC’s. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

2.7 Computador G5 da Apple, lançado em 2003 com o primeiro chip de 64 bits para PC’s. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

2.8 Gráfico com evolução dos chips, em número de transistores. . . . . . . . . . . . 66

2.9 Esquema de interligação dos grandes centros de computação dos Estados Unidos, em 1979, a cargo da ARPANET, rede precursora da Internet. . . 68

2.10 Gráfico das inovações tecnológicas x tempo para alcançar milhões de usuários (em anos). . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

2.11 Gráfico sobre a confluência do bilhão em 2002, em número de telefones fixos, de celulares e de usuários da Web. . . . . . . . .75

2.12 Celular portátil da Nokia, lançado em 1984, pesando mais de 3 kg. . . . . . . 79

2.13 Exemplo de celular atual que se tornou um terminal móvel multisserviços, oferecendo vários tipos de conteúdo e possibilitando várias aplicações. . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

2.14 Gráficos sobre a evolução da telefonia no Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

2.15 As redes Wi-Fi transformam radicalmente o acesso à Internet de alta velocidade em ambientes fechados, tais como aeroportos, edifícios de escritórios e residências. . . . . .81

2.16 Evolução dos dispositivos móveis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

2.17 Os paradigmas do mundo novo, segundo Ethevaldo Siqueira. . . . . . . . . . . 83

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Lista de Ilustrações

Capítulo 3

3.1 Jack Lemon no filme “Se meu apartamento falasse”, ambientado em escritório com organização tipicamente taylorista. . . . . . . 84

3.2 Jane Fonda no filme “Nine to Five”, com ambientação tipicamente taylorista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

3.3 Exemplo do processo de desterritorialização nos escritórios. . . . . . . . . . . . 85

Capítulo 4

4.1 Escrivaninhas fabricadas pela Steelcase a partir da década de 1920. . . . . . 113

4.2 Exemplo de escritório típico do início do século XX, baseado nas teorias de Taylor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113

4.3 Departamento de operadoras de máquinas de escrever, localizado no primeiro andar do Larking Building.. . . . . . . . . . . . 114

4.4 Larking Building, projeto do arquiteto Frank Lloyd Wright, 1904. . . . . . . . 115

4.5 Planta do pavimento térreo do Larking Building. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

4.6 Johnson’s Wax Building, projeto do arquiteto Frank Lloyd Wright, 1904. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116

4.7 Detalhamento das mesas e cadeiras do Johnson’s Wax Building, projeto do arquiteto Frank Lloyd Wright, 1936-39. . . . . . . . 117

4.8 Planta do Johnson’s Wax Building, com as salas fechadas dos superiores hierárquicos nas extremidades e os demais funcionários ocupando o meio do salão. . . . . . . 117

4.9 Ninofax Building, projeto do arquiteto N. Zobel, 1962. Exemplo de modelo dos Escritórios Panorâmicos, . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118

4.10 Escritórios de Skidmore, Owings & Merrill. Union Carbide Building, 1960. . . . . . 119

4.11 Action Office, Herman Miller, 1964-1970. Móveis Teperman, a partir de 1970. . . . .120

4.12 Planta do Central Beheer Office Building, de Herman Hertzberger, em Apeeldoorn, 1970-72. . . . . . . . . . . . . . . . . . .122

4.13 Imagem do Central Beheer Office Building, de Herman Hertzberger, em Apeeldoorn, 1970-72.. . . . . . . . . . . . . . . . . . .123

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4.14 Ethospace, Herman Miller, 1999. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .124

4.15 Ethospace, Herman Miller, 1999. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

4.16 Exemplo de mobiliário em que o próprio usuário pode alterar suas configurações, de acordo com as necessidades da atividade. . . . . . . .128

4.17 Exemplo de mobiliário que possibilita mobilidade, com “torres” organizadoras dos cabos. . . . . . . . . . . . . . . . . . .129

4.18 Escritório “Totalmente Fechado”, Gruner + Jahr, Hamburgo, Alemanha. . . .131

4.19 Resolve, designer Ayse Birsel, Herman Miller, 2000.. . . . . . . . . . . . . . . . . .134

4.20 Resolve, designer Ayse Birsel, Herman Miller, 2000.. . . . . . . . . . . . . . . . . .135

4.21 Home Office. Apartamento em Nova Iorque, EUA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .136

4.22 Home Office. Residência em Barcelona, Espanha.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .136

4.23 Home Office. Residência em Minnesota, EUA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .137

4.24 Home Office. Apartamento em Milão, Itália.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .137

4.25 Hoteling: salas fechadas individuais. Tandem Computers, EUA. . . . . . . . .140

4.26 Gaveteiros volantes, em escritório de endereço livre. . . . . . . . . . . . . . . . . . 141

4.27 Escritório Não-Territorial da Chiat Day, projetado por Gaetano Pesce, em Nova Iorque. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .142

4.28 Escritório da Chiat Day: armários para guardar notebooks. . . . . . . . . . . . .142

4.29 Planta do escritório da Chiat Day, em Nova Iorque. . . . . . . . . . . . . . . . . .143

4.30 Escritório da Chiat Day: estações de trabalho móveis e não-territoriais, projetadas por Gaetano Pesce. . . . . . . . . . . . . . .143

4.31 Escritório da empresa Chiat/Day, Los Angeles, EUA, 1998. . . . . . . . . . . . . .144

4.32 Fotografia promocional do laptop da Letosh Working Snob, Ann Lindenberg, 1998. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .146

4.33 Cartoons Screens. Luigi Barolli, Itália, 1992. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .148

4.34 Écharpe Communicante. Naziha Mestaoui, Yacine Aït Kaci e Christophe Beaujays, protótipo produzido pelos designers, 2000. . . . . . .148

4.35 “Frederique”, de If/Then Design: Implicationsin New Media, no. 1. Bart Hendriks, 1999. . . . . . . . . . . . . . . .149

Capítulo 5

5.1 Estação de trabalho Não-Territorial – TIPO 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .160

5.2 Estação de trabalho Territorial – TIPO 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .161

5.3 Estação de trabalho Não-Territorial – TIPO 3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .161

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5.4 Estação de trabalho Não-Territorial – TIPO 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .162

5.5 Estação de trabalho Territorial – TIPO 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .162

5.6 Estação de trabalho Territorial – TIPO 4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .163

5.7 Grupo A - Planta do Pavimento Térreo: Empresa 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164

5.8 Empresa 1 - Planta do 2º Pavimento.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .165

5.9 Empresa 2 - Planta do 3º Pavimento:. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .166

5.10 Grupo A Pavimento Térreo: espera. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .167

5.11 Grupo A - Pavimento Térreo: cafeteria, sala de estar e estações de trabalho não-territoriais ao fundo.. . . . . . . . . . . . . . . .167

5.12 Grupo A - Pavimento Térreo: salas fechadas privativas não-territoriais. . . . .168

5.13 Grupo A - Pavimento Térreo: salas fechadas privativas não-territoriais. . . . .168

5.14 Grupo A - Pavimento Térreo: “redário”. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .168

5.15 Grupo A - Pavimento Térreo: quiosque da churrasqueira, com “redário” ao fundo.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .169

5.16 Grupo A - Pavimento Térreo: “redário”. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .169

5.17 2º Pavimento: cafeteria.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .170

5.18 2º Pavimento: cafeteria, com terminal de Intranet ao fundo, para agendamento do uso das estações não-territoriais. . . . . . .170

5.19 2º Pavimento: estações não-territoriais, com “estacionamento” de gaveteiros volantes, ao fundo.. . . . . . . . . . . . . . . . . .171

5.20 2º Pavimento: estações não-territoriais.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .171

5.21 2º Pavimento: estações territoriais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .171

5.22 3º Pavimento: estações não-territoriais, com o “estacionamento” de gaveteiros volantes, ao fundo. . . . . . . . . . . . 172

5.23 3º Pavimento: estações não-territoriais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .172

5.24 3º Pavimento: ambiente aberto: em primeiro plano, as quatro estações de trabalho territoriais da diretoria. . . . . . . . . . .173

5.25 3º Pavimento: ambiente aberto, com as estações de trabalho territoriais. . . .173

5.26 3º Pavimento: estação de trabalho do presidente da Empresa 2, em ambiente aberto. . . . . . . . . . . . . . . . . . .173

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AgradecimentosResumoAbstractLista de IlustraçõesIntrodução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

1. O TRABALHO: HISTÓRIA, CONCEITOS E SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL . . . . . . . 27 1.1 A evolução do trabalho na história . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 1.2 A relação homem-trabalho na sociedade Pós-Industrial . . . . . . . . . . . . . . 41

2. PARADIGMAS TECNOLÓGICOS: AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 2.1 O desenvolvimento da tecnologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 2.2 A questão da mobilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

3. CULTURA ORGANIZACIONAL E MODELOS ADMINISTRATIVOS DE GESTÃO . . . . 85 3.1 O modelo administrativo de Taylor e o Fordismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 3.2 Inovações organizacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

4. O PROCESSO DE DESTERRITORIALIZAÇÃO DOS ESCRITÓRIOS . . . . . . . . . . . 107 4.1 A evolução nos conceitos de ocupação dos escritórios . . . . . . . . . . . . . . 112 4.2 Do Escritório Territorial ao Não-Territorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 4.3 Quadro síntese do processo evolutivo

dos conceitos de ocupação dos escritórios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150

5. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO ESTUDO DE CASO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153 5.1 Aplicação dos métodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158 5.1.1 Diagnóstico de Espaço: definição das

estações-tipo (unidades padrão de ocupação), cálculo de áreas e zoneamento por tipos de uso . . . . . . . . . . . . . . 159

5.1.2 Determinação da amostragem, elaboração dos questionários e tabulação de dados . . . . . . . . . . . 176

5.2 Análise e resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181 5.2.1 Diagnóstico de Espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181

5.2.2 Escritório Não-Territorial x Escritório Territorial: análise comparativa a partir dos questionários . . . . . . . . . . . . . . . 184

Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 207Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 226Anexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 238

Sumário

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21

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa teve como proposta analisar as interferências dos modelos

administrativos de gestão organizacionais e das tecnologias de informação e

comunicação na organização do espaço físico do escritório, tendo como maior

enfoque o modelo do Escritório Não-Territorial.

O termo Escritório Não-Territorial, conforme RHEINGANTZ (2000), carac-

teriza-se pelas novas formas de trabalho no escritório, contendo variadas

zonas de atividades disponíveis para uso de qualquer membro da equipe,

combinando sistemas de maior liberdade de cenário com os fluxos de pessoas,

materiais ou informações. Os funcionários não têm sala e as estações de tra-

balho são compartilhadas, o material de trabalho é armazenado em um gave-

teiro volante que pode ser deslocado para qualquer lugar da empresa.

Partiu-se do princípio de que o trabalho, a tecnologia e a cultura organi-

zacional são elementos fundamentais para a estruturação dessa pesquisa.

Portanto, recorreu-se a princípios extraídos de determinadas áreas do

conhecimento, tais como a Administração e a Psicologia Ambiental, de

modo a compor o embasamento teórico. Nesse contexto, uma revisão his-

tórica contribui para o entendimento do processo evolutivo tanto do trabalho

e da cultura organizacional, quanto da tecnologia.

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Assim, no início desta dissertação, discorre-se sobre o quanto a natureza do

trabalho vem se transformando, notadamente ao longo do século XX. O capí-

tulo 1 relaciona a evolução do trabalho ao contexto socioeconômico de cada

época, apontando como o mundo do trabalho foi se separando da vida priva-

da e como vem se reaproximando dela na atualidade; examina de que maneira

a tecnologia vem atuando sobre a relação do homem com o trabalho, através

da análise do sujeito virtual e do individualismo exacerbado que se vivencia

hoje. As características da Sociedade Industrial e da Sociedade Pós-Industrial

também fazem parte do corpo dessa análise.

Castells (1999, p. 265) defende que o processo de trabalho situa-se no cerne

da estrutura social, afirmando que “[...] a transformação tecnológica e admi-

nistrativa do trabalho e das relações produtivas dentro e em torno da empresa

emergente em rede é o principal instrumento por meio do qual o paradigma

informacional e o processo de globalização afetam a sociedade em geral”.

O interesse nas questões relacionadas ao trabalho é reforçado por uma abor-

dagem da Psicologia Ambiental, que afirma que uma certa imagem da or-

ganização é refletida na distribuição dos espaços físicos, e que entende o

sistema organizacional a partir da estruturação social dos locais e dos espaços

definidos, repartidos e utilizados pelos indivíduos, não só em função da pro-

dução, mas também em relação às condutas e valores que fazem da empresa

um território social. Partindo-se dessa premissa, Fischer (2001) entende que

as organizações podem ser analisadas segundo o espaço que as estrutura:

“[...] sua arquitetura, seu mobiliário e seu ambiente organizacional refletem

ao mesmo tempo o funcionamento da empresa, seus valores e suas regras”

(FISCHER, 2001, p. 89).

Mantendo-se em um recorte cronológico, o capítulo 2 mostra aspectos do

processo de transformação da tecnologia, com ênfase no desenvolvimento

das tecnologias de informação e comunicação, relacionando-as às transfor-

mações socioeconômicas desde a Primeira Revolução Industrial até os dias de

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hoje, sempre com o intuito de traçar um paralelo com a evolução do trabalho

e com o desenvolvimento dos modelos de gestão.

Os adventos da tecnologia da informação são considerados um evento históri-

co da mesma importância da Revolução Industrial do século XVIII, de acordo

com Castells (1999).

Castells (1999) defende que a convergência e a interação entre o novo

paradigma tecnológico e uma nova lógica organizacional constituem

o fundamento histórico da economia informacional. Contudo, essa lógica

organizacional manifesta-se sob diferentes formas nos vários contextos

culturais e institucionais.

As grandes transformações tecnológicas são acompanhadas de transformações

econômicas, sociais e institucionais, pois a tecnologia não se difunde no vácuo,

necessitando de um contexto político e econômico favorável, além de condi-

ções institucionais adequadas para se desenvolver.

É nesse cenário que o capítulo 3 passa a discorrer sobre a cultura organizacio-

nal, sempre segundo uma ordem cronológica, apontando os modelos adminis-

trativos de gestão organizacionais que foram surgindo ao longo do século XX.

O modelo fordista-taylorista dominou fortemente a economia mundial durante

quase todo o século passado e somente a partir da década de 1970, observa-se

um processo de esgotamento desse modelo. O surgimento da microeletrônica

é apontado como um dos fatores responsáveis por tal esgotamento, tendo em

vista que as tecnologias da informação e comunicação abriram novos cami-

nhos de inovação e organização da produção (TIGRE, 2006).

O capítulo 3 apresenta ainda conceitos de gestão, tais como a abordagem das relações

humanas, o sistema just in time ou Toyotismo, o controle da qualidade total (CQT), a

reengenharia de processos de negócios e a formação de células de produção.

No capítulo 4, um histórico sobre a evolução dos conceitos de ocupação nos

ambientes de trabalho complementa a base teórica, sempre relacionando as

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características do espaço físico aos modelos administrativos de gestão a às

tecnologias vigentes em cada período, permitindo observar o paulatino pro-

cesso de desterritorialização dos escritórios.

Para entender os diversos usos e possibilidades do modelo do Escritório Não-

Territorial foi preciso conhecer a evolução histórica dos ambientes de trabalho

nos escritórios, ou seja, se de fato esses espaços foram absorvendo novas teorias

gerenciais, incorporando as inovações tecnológicas e o quanto todos esses

fatores alteraram efetivamente o espaço arquitetônico e o design do escritório

ao longo dos anos.

O arcabouço teórico estruturado ao longo da dissertação permitiu a elaboração de

um quadro síntese do processo evolutivo dos conceitos de ocupação dos escritórios.

No capítulo 5, o estudo de caso pretendeu avaliar os ambientes dos escritórios

de duas empresas a partir do Diagnóstico de Espaço, método desenvolvido

por Romano(2003). Os usuários desses escritórios responderam a questioná-

rios referentes ao seu ambiente de trabalho, tendo sido possível confrontar

informações sobre o uso do Escritório Territorial e Não-Territorial.

Segundo ANDRADE (2000), até o ano 2000, não havia sido utilizado no Brasil

o conceito de Escritórios Não-Territoriais de uma forma sistemática. Sabia-se

de alguns ambientes que foram projetados com estações para serem compar-

tilhadas, ou com salas de “trânsito”, para os executivos que não estavam em

sua base de trabalho; mas os demais elementos componentes do conceito não

eram seguidos. Ainda, segundo ANDRADE (2000, p. 102),

[...] a utilização dos conceitos de Escritórios Não-Territoriais pressupõe uma grande mudança no modo de pensar das empresas. Essas mudanças envolvem desde a gestão estratégica do negócio, até a gestão dos recursos humanos. Com exceções de alguns segmentos do mercado - agências de publicidade, empresas de consultorias, que por sinal são as que mais se utilizam desses conceitos nos Estados Unidos - não há sinais nos outros segmentos de empresas de que estejam ocorrendo mudanças com essa abrangência.

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A definição da empresa objeto do estudo de caso deu-se em razão do Grupo

A, conforme denominamos o grupo investigado, ser considerado um modelo

paradigmático no que tange a inovações organizacionais, tendo sido uma das

primeiras empresas no Brasil a introduzir o Escritório Não-Territorial em sua

sede, no ano de 2001.

O Grupo A teve sua identidade preservada nesta pesquisa, assim como as duas

empresas do grupo, denominadas como Empresa 1 e Empresa 2. Em ambos os

casos existem funcionários usuários dos Escritórios Territoriais e dos Escritó-

rios Não-Territoriais. Na Empresa 1, o modelo não-territorial está implantado

desde o ano de 2001, enquanto na Empresa 2, desde o ano de 2005.

Aplicou-se o método do Diagnóstico de Espaço, definindo-se as estações-tipo

(unidades padrão de ocupação), calculando-se as áreas e definindo-se o zo-

neamento por tipos de uso. Também foram aplicados questionários aos fun-

cionários das Empresas 1 e 2 objetivando comparar a percepção dos usuários

dos Escritórios Territoriais e dos Não-Territoriais. Essa fase da pesquisa teve

sua base teórica inspirada na metodologia da Avaliação Pós-Ocupação, APO,

fundamentada na leitura de Ornstein, S. e Romero, M. (1992), mas como a me-

todologia não foi utilizada como um todo, evitou-se desse modo denominá-la.

Da APO utilizou-se a determinação da amostragem, o processo de elaboração

dos questionários e a tabulação de dados. Após esse processo, procedeu-se à

análise dos dados a partir dos gráficos e do cruzamento de tabelas.

Esta dissertação apresenta-se, assim, dividida nos seguintes capítulos: além da

introdução, um capítulo sobre o trabalho e o seu processo de transformação

histórica; um capítulo dedicado à investigação dos paradigmas tecnológicos; um

capítulo dedicado à investigação dos aspectos da cultura organizacional e dos

modelos administrativos de gestão; um capítulo destinado à observação do pro-

cesso de desterritorialização dos escritórios, a partir da observação da evolução

dos conceitos de ocupação desses espaços e um capítulo dedicado à análise de

um estudo de caso, capítulos estes seguidos da conclusão, bibliografia e anexos.

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Ilustração 1.1 | Escritório do início do século XX. Fonte: Documento integrado à exposição “Uma idéia aberta: a quarta geração”, 1987, s.p.

Ilustração 1.2 | Trabalho e vida privada no século XXI.

Fonte: HASCHER, JESKA, KLAUCK, 2002, p. 22.

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1. O TRABALHOHISTÓRIA, CONCEITOS E SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL

A natureza do trabalho vem sofrendo transformações ao longo do tempo

e o século XX foi palco de importantes mudanças. Este capítulo pretende

fornecer um arcabouço teórico relacionado às práticas e à evolução do

trabalho, observando como foi sendo separado da vida privada e como vem

atualmente se reaproximando dela; examinar de que maneira os adventos

tecnológicos vêm atuando sobre a relação do homem com o trabalho, através

da análise do sujeito virtual e da individualização extrema que se vivencia

hoje. Características socioeconômicas da Sociedade Industrial e da Sociedade

Pós-Industrial também fazem parte desse estudo, através das idéias de autores

como David Harvey, Domenico De Masi e Manuel Castells.

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1.1 A EVOLUÇÃO DO TRABALHO NA HISTÓRIA

ASPECTOS ACERCA DA SOCIEDADE INDUSTRIAL

Segundo Chartier (1991), a primeira grande evolução do século XX diz respeito

ao trabalho, que emigra da esfera privada e ingressa na esfera pública.

[...] Trata-se de um duplo movimento. Em primeiro lugar, um movimento de separação e especialização dos espaços: os locais de trabalho já não são mais os de vida doméstica. Mas essa diferenciação dos locais vem acompanhada por uma diferenciação das normas: o universo doméstico se liberta das regras anteriormente ligadas ao trabalho que ali se realizava, ao passo em que o mundo do trabalho passa a ser regido, não mais por normas da ordem privada, e sim por contratos coletivos (CHARTIER, 1991, 3 V, p. 21).

No começo do século XX, quase dois terços dos franceses trabalhavam

em casa; no final do século XX, pelo contrário, quase todos os franceses

trabalhavam fora, o que certamente se configurou como uma transformação

bastante importante.

No primeiro momento mencionado, trabalhar em casa correspondia basicamente

a duas situações distintas. Na primeira delas, trabalhava-se em casa, mas para

outra pessoa, era a situação dos trabalhadores em domicílio. Mas também

se trabalhava por conta própria, caso dos trabalhadores independentes,

correspondendo esta à segunda situação. A situação dos operários em

domicílio era muito diversificada, mas, de modo geral, eram extremamente

mal remunerados, ganhando menos do que os operários de fábrica. O fato de

o trabalho ser feito em casa gerava uma relativa abertura do espaço doméstico

aos estranhos. “A costureira às vezes recebe seus fregueses, o tecelão

e o confeccionista de luvas abrem a porta aos comerciantes ou seus empregados.

Local de trabalho, a sala onde mora a família até pode se converter em local

de conflitos de trabalho” (CHARTIER, 1991, 3 V, p. 25).

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O trabalho domiciliar, contudo, não se retraiu apenas por razões econômicas,

o desejo de ganhar mais e com maior regularidade foi acompanhado pelo desejo

de reduzir o tempo dedicado ao trabalho que em uma fábrica tinha hora para

começar e para terminar. “O tempo que escapa ao patrão, e cuja importância

aumenta ao longo do século, pertence à pessoa, que pode dispor inteiramente

dele. Trabalhar fora de casa é também estar plenamente em casa na hora que

se está em casa. Neste sentido, a retração do trabalho domiciliar responde à

reivindicação de uma vida privada” (CHARTIER, 1991, 3 V, p. 25).

A separação das atividades públicas das da vida privada implicou em uma

diferenciação do tempo e do espaço. A antiga empresa ou atividade agrícola

familiar reunia duas séries de atividades diferentes em um mesmo local.

O comerciante geralmente morava com a mulher e os filhos no fundo da

loja e apenas os mais abastados moravam em uma residência em cima do

estabelecimento comercial. Para Chartier, a indiferenciação do espaço

acarretava a indiferenciação do tempo e o duplo uso dos locais era vivido

como uma escravidão total do tempo:

[...] A reivindicação de uma vida privada leva à dissolução do antigo emaranhando: para que o tempo da vida privada fique fora do alcance dos clientes, espaços precisam ser dissociados e a loja deve se separar do domicílio. E então os fundos da loja perdem as camas, os armários e os fogões. Os comerciantes alugam um apartamento ou mandam construir uma casa na periferia. Têm dois endereços, e logo duas linhas telefônicas, sendo que apenas uma delas consta na lista telefônica. É o preço a pagar pela defesa da vida privada (CHARTIER, 1991, 3 V, p. 29).

Essa evolução não foi nem geral nem absoluta, mas o exemplo dos profissionais

liberais confirma o sentido dessa evolução. Os médicos, por exemplo, deixaram de

morar ao lado de seus consultórios, passando a colocar sua vida privada protegida de

seus pacientes. Enquanto se via na sociedade a tentativa de se dissociar claramente

o trabalho da vida privada, iniciava-se um processo de organização dos locais

de trabalho. As fábricas do século XIX e, ainda, no começo do século XX não

haviam sido objeto de uma organização sistemática, haviam se desenvolvido mais

em função dos locais disponíveis do que de uma lógica dos circuitos de produção.

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Ao longo do século XX, o espaço industrial foi se reorganizando em projetos

racionais, com a difusão dos princípios de Taylor1 e da organização científica

do trabalho. A cadeia de produção exigia continuidade e por vezes obrigava

a construção de imensos galpões em um mesmo nível. A produção já não se

organizava em função das imposições colocadas pelos imóveis pré-existentes;

pelo contrário, o edifício passou a ser concebido em função das imposições

do processo produtivo. Assim, o espaço de trabalho tendia a se especializar;

a fábrica já não era mais um edifício onde por acaso se produzia, mas sim

um imóvel construído especificamente para uma produção determinada.

A especialização do espaço industrial posicionava as máquinas em uma ordem

estrita e designava um lugar para cada operário, os espaços de circulação

ou de estoque dentro da fábrica se diferenciavam dos espaços reservados

à produção. Reforçava-se o controle da fiscalização sobre o tempo e o espaço:

os relógios de ponto, a cronometragem das tarefas e os sistemas de remuneração

por produtividade se difundiam.

Ao mesmo tempo, o espaço industrial se separava do tecido urbano. Em meados

do século XX, com o urbanismo moderno preconizando a especialização

dos bairros, as indústrias começaram a se distanciar das residências. Assim,

a dissociação entre a vida privada e a vida profissional das fábricas se inscrevia

na própria configuração das cidades e nas estruturas de utilização do tempo.

Já não se trabalhava no local de residência, já não se residia no local de

trabalho e esse princípio não se aplicava apenas ao plano da habitação familiar

ou da oficina, mas a bairros inteiros. Diariamente, a população se deslocava

em intensos fluxos migratórios de seus locais de moradia para seus locais

de trabalho e vice-versa. A dissociação, porém, não conseguiu ser absoluta.

Os equipamentos coletivos não se inscreviam com precisão na dicotomia do

1. “Os princípios da administração científica”, de Frederick Taylor, publicado em 1911,

descrevia como a produtividade do trabalho poderia ser radicalmente aumentada através da

decomposição de cada processo de trabalho em movimentos pré-estabelecidos e da orga-

nização das tarefas de trabalho fragmentadas segundo padrões rigorosos de tempo e estudo

do movimento (Harvey, 1992).

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espaço urbano: a agência postal, a escola, as lojas e o hospital eram locais de

trabalho, mas também pertenciam à vida privada. A divisão da cidade em espaços

especializados gerava migrações cotidianas de tal amplitude que, nos próprios

locais de trabalho, via-se o surgimento de atividades não-profissionais:

[...] É cada vez mais freqüente – ao que parece, 20% dos casos em 1983 – que os assalariados almocem no próprio local, numa cantina ou restaurante da empresa. Criam-se cafés dentro da própria firma, proporcionando um local para encontros amigáveis de ordem estritamente privada. O comitê da empresa multiplica as atividades de lazer, de modo que o espaço social do trabalho passa a abrigar elementos da vida privada. Simetricamente, certos trabalhos jamais saem do domicílio privado; outros retornam a ele, com o desenvolvimento, por exemplo, do trabalho informal. A especialização dos espaços, portanto, não é total (CHARTIER, 1991, 3 V, p. 39).

Assim, o trabalho saiu do domínio privado e o trabalho assalariado passou

a ser regido por normas formais, submetido a arbitragens coletivas, sendo

executado em um espaço despersonalizado:

[...] O que era uma proteção contra a anexação ao domínio privado do patrão, agora é percebido por alguns como uma sujeição a uma burocracia desumana. Aspira-se a relações de trabalho mais pessoais, o que, a nosso ver, cria uma nova evolução que, sem questionar o caráter público do trabalho, propõe novas formas de comportamento dentro dessa esfera pública a que ele pertence. Mas não é possível entender esse recrudescimento do privado se não levarmos em conta que a própria vida privada se redefiniu dentro do quadro familiar. A separação que se estabeleceu ou se intensificou entre o trabalho e a família provocou profundas modificações no quadro familiar e transformou a vida privada (CHARTIER, 1991, 3 V, p. 58).

Desde a época de Taylor, os ambientes de trabalho ref letem a organização

estratégica das empresas, antes mais centralizadas e hierarquizadas e hoje

mais ágeis e f lexíveis. Durante o século XIX era comum, mesmo nos países

mais desenvolvidos, negligenciar as limitações psicológicas e fisiológicas

das pessoas em relação ao seu ambiente de trabalho. As necessidades dos

trabalhadores tinham que se subordinar às necessidades da tecnologia

no processo industrial, com uma crença de que quanto mais horas

trabalhadas maior seria a produção.

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A relação entre o empregado e seu empregador era basicamente servil,

de subordinação. Eles eram considerados custos e não recursos e, segundo

a organização científica de Taylor ou a linha de montagem de Ford, o sistema

era mais importante do que o trabalhador. Enquanto Taylor e Ford aumentavam

a produtividade da indústria americana com seus princípios de organização,

na Europa germinavam as sementes de uma sociedade baseada em conceitos

bastante inovadores: a Sociedade Pós-Industrial. Segundo De Masi, as artes

e as ciências colocavam em discussão a produção em série e a posição

da criatividade na evolução do progresso da humanidade:

[...] Em 1900, Freud publica A interpretação dos sonhos, com que se afirma a psicanálise e morrem as certezas da psicologia tradicional; em 1905, Einstein publica os primeiros trabalhos sobre a Teoria da Relatividade, com que a física moderna suplanta as certezas da física clássica. Em 1907, Picasso expõe Les demoiselles d’Avignon, com que o cubismo destrói as certezas da pintura baseada na perspectiva; em 1913, Stravinsky compõe A sagração da primavera, com que o politonalismo corrompe a música romântica; em 1922, Joyce publica Ulisses, com que se afirma a “obra aberta” como mistura de níveis cronológicos, estilísticos, léxicos e se dissipa a precisão dos tempos e dos lugares respeitada pelo romantismo, pelo teatro e pelo melodrama do século XIX (DE MASI, 2003, p. 159).

Então, enquanto a organização das fábricas americanas ainda estava pautada

em princípios científicos precisos e absolutos, outras ciências conquistavam

a complexidade e a relatividade. A ciência, a tecnologia, a globalização,

o progresso organizacional, a escolarização e os meios de informação de

massa são elementos propulsores do sistema pós-industrial. Desde o início

do século XX e notadamente a partir da Segunda Guerra Mundial, a física

atômica, as descobertas do campo molecular na biologia, o desenvolvimento

dos meios de comunicação de massa e dos meios de transporte, a criação

de novos materiais e a rápida evolução da eletrônica, da informática e da

telecomunicação, contribuíram fortemente para a passagem da Sociedade

Industrial para a Pós-Industrial.

[...] Chip e microchip tiveram a mesma magnífica penetração que no início do século XX teve a energia elétrica: aumentando-se a sua

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potência, são multiplicadas as capacidades de todas as máquinas em que foram introduzidos. Não só o computador, mas o automóvel, o avião, a ressonância magnética, o forno de microondas, a lavadora, o decodificador de sinais de TV, o videofone, a secretária eletrônica, os medidores de pressão, o walkman, os marcapassos, o controle de vôo e de tráfego em auto-estradas, praticamente toda a nossa vida se vale já de próteses eficientes e silenciosas, de minúsculos escravos eletrônicos que já competem por inteligência e vencem em velocidade de execução os escravos humanos de que dispunha Péricles no seu tempo (DE MASI, 2003, p. 178).

Essas inovações estão atualmente incorporadas aos escritórios e, também

presentes nos departamentos de produção das fábricas, nas casas e no

lazer. Exatamente aí se insere uma grande crise que caracteriza a sociedade

atual, pois as visões de mundo através das quais a sociedade se orientou

até o momento são insuficientes para entender o que ocorre no presente

e para antever o futuro. Por mais rápido que tenham surgido os processos de

industrialização, seus efeitos mais traumáticos foram atenuados pelo aumento

do poder aquisitivo e de bem-estar material a eles associados, compensando

os “incômodos” da fase de modernização. No período pós-industrial, com

a veloz difusão das informações pelas redes de TV, rádio e computadores, as

tradições, a cultura social e os modos de pensar passaram a ser questionados

pelos telespectadores, ouvintes de rádio e leitores. E como uma fase não

substitui a anterior de imediato, passando a haver apenas uma prevalência de

uma sobre a outra, a crise é deflagrada pela convivência concomitante dos

modelos de vida rural, industrial e de serviços. Ainda não é possível concluir

se haverá um único setor no qual a Sociedade Pós-Industrial se apoiará, ou

se haverá uma rede de setores com o mesmo nível de importância, tais como

a informação, a ciência, os serviços e a indústria. Assim sendo, segundo

De Masi, existe uma dificuldade em dar um nome preciso a essa fase de

mudanças, que o faz preferir denominar essa época como “pós-industrial”:

“um nome que não ousa dizer o que seremos, mas se limita a recordar o que

já não somos” (DE MASI, 2003, p. 170).

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O TRABALHO NA SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL

Em 1956, no mercado de trabalho nos Estados Unidos, os trabalhadores do

setor terciário – os de “colarinho branco” - ultrapassaram quantitativamente

os trabalhadores da indústria – os de “colarinho azul”. Segundo Daniel Bell

(in: DE MASI, 2003, p. 171), em 1870, havia 13 milhões de empregados nos

Estados Unidos e destes, apenas três milhões dedicavam-se à produção

de serviços; em 1940, dos 50 milhões de empregados, 24 milhões já

trabalhavam nesse setor. Entre 1960 e 1978, o mesmo se deu em muitos

países de tradição industrial, como a Alemanha, a França, a Grã-Bretanha,

o Japão e a Itália. Para Daniel Bell, essa nova sociedade caracteriza-se

principalmente pelo predomínio numérico dos trabalhadores dedicados ao

setor terciário, mas a isso se juntam mais quatro princípios fundamentais:

“a preponderância dos técnicos e profissionais liberais como classe;

a centralização do saber teórico, gerador da inovação e das idéias diretrizes

em que se inspira a coletividade; a gestão do desenvolvimento técnico

e o controle normativo da tecnologia; a criação de uma nova tecnologia

intelectual” (DE MASI, 2003, p. 172). Em contraposição, para Castells,

um prognóstico importante da teoria original do pós-industrialismo refere-se

à expansão das profissões ricas em informação, como os cargos de

administradores, profissionais especializados e técnicos, representando

o eixo da nova estrutura ocupacional. Mas, simultaneamente a essa

tendência, também há o crescimento das profissões em serviços mais

simples e não-qualificados. Segundo o autor, esses empregos de baixa

qualificação, apesar de sua taxa de crescimento mais lenta, podem

representar uma grande proporção da estrutura social pós-industrial em

termos de seus números absolutos: “[...] as sociedades informacionais

também poderiam ser caracterizadas por uma estrutura social cada vez

mais polarizada em que os dois extremos aumentam sua participação em

detrimento da camada intermediária” (CASTELLS, 1999, P. 270).

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A pressão pelo aumento da competitividade, pela otimização dos recursos,

pela redução de custos gerada pela diversificação das demandas de mercados

impulsionada pela disponibilidade dos recursos da tecnologia da informação

levou as empresas a flexibilizarem a produção, principalmente no setor de

serviços, que é hoje o maior mercado empregador. Segundo Andrade (2005),

em países do norte europeu, como Suíça, Holanda, Áustria e Alemanha,

essa solução se deu em razão de uma maior necessidade de qualidade de

produção, e sua implementação foi precedida de treinamento adequado,

práticas de trabalho cooperativo, fruto de trabalhos de longo prazo, o que tem

garantido maior continuidade. Já em países como Estados Unidos, Inglaterra,

Austrália e Nova Zelândia, a pressão pelo aumento de competitividade

e a perda das limitações institucionais e legais encorajaram a flexibilização

da produção em partes da organização, nem sempre sendo bem sucedidas,

ocasionando prejuízos de ordem psicológica, social e econômica.

De qualquer modo, a flexibilização da jornada é uma realidade, também,

nesses países. Segundo Mello (1999), no final do século passado, 14 milhões

de americanos trabalhavam período integral em casa e outros 13,1 milhões,

período parcial. Desses, 11 milhões trabalhavam para trezentas das quinhentas

maiores empresas do país e 31% trabalhavam por conta própria.

O trabalho flexível também pode ser realizado dentro das empresas, que têm

reestruturado seus ambientes físicos para atender aos novos conceitos de

ocupação do espaço. Mas, segundo uma pesquisa conduzida na Holanda, as

pessoas reagem de modo positivo ao novo conceito, mas há casos em que grande

parte dos funcionários gostaria de retornar à antiga situação (ANDRADE, 2005).

Ainda segundo Andrade, no início da década de 1990, a agência de publicidade

TBWA/Chiat Day, nos Estados Unidos, reformou todos os seus escritórios

conforme o conceito Red Carpert Club, e teve que voltar atrás em razão das

constantes reclamações dos funcionários. O uso das mais novas tecnologias

e a quebra de paradigmas como a hierarquia, a padronização, a monotonia

cromática e a rigidez formal não foram suficientes para que o ambiente

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fosse aceito pela grande maioria. Em contrapartida, empresas como

ABN-AMRO Bank, IBM, Cisco, American Express, Hewlett-Pakard, British

Telecom, Barclays Bank, BankBoston, entre outras, vêm há muitos anos

utilizando esses conceitos (ANDRADE, 2005).

No setor de serviços, a mudança de gestão através da verificação dos resultados

e não mais com base no controle dos funcionários, contribui para uma maior

flexibilidade. Mas a flexibilização das relações do trabalho, por meio da qual

o trabalhador passa a ser visto como um colaborador da empresa, pressupõe

mudanças nas leis e regulamentos trabalhistas, ainda os mesmos desenvolvidos

para o modelo industrial, no qual todos trabalhavam em um mesmo local com

o controle total da gerência.

As resistências ao trabalho flexível advêm da perda de controle direto, da

dificuldade do gerenciamento à distância e da perda de autoridade, além

do receio da falta de respaldo legal à questão. “A utilização de conceitos de

escritórios não territoriais pressupõe uma grande mudança no modo de pensar

das empresas [...] com exceção de alguns segmentos de mercado [...] não há

sinais, nos outros segmentos de empresas, de que estejam ocorrendo mudanças

com essa abrangência” (ANDRADE, 2000, p.102).

De acordo com a tese de doutorado de Andrade, atualmente as empresas estão

investindo mais no capital humano e evoluindo com suas estratégias de gestão

de negócios. No entanto, não se observa uma mudança nos traços culturais

coorporativos a tal ponto que seja perceptível uma maior flexibilização do trabalho

e/ou da jornada. Os processos de terceirização e de maior informalidade do emprego

são fatos inquestionáveis, mas as pessoas terceirizadas, as empresas fornecedores

de mão-de-obra, ou os profissionais autônomos continuam trabalhando dentro

das empresas contratantes, com a diferença de que não gozam dos benefícios e

direitos que os funcionários com carteira assinada possuem.

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OS VALORES SOCIOECONÔMICOS DA SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL

A sociedade industrial, centrada na produção em larga escala de bens

materiais, deu vez à sociedade pós-industrial, centrada na produção de bens

não-materiais (serviços, informações, símbolos, estética e valores). Os valores

apreciados na sociedade industrial (padronização, eficiência e produtividade)

são muito diferentes e, em certos aspectos, opostos aos valores cada vez

mais reconhecidos na sociedade pós-industrial (criatividade, subjetividade,

emotividade e qualidade de vida). David Harvey, no livro “Condição Pós-

Moderna”, mostra algumas diferenças esquemáticas entre o Modernismo

e o Pós-Modernismo, assim como contrasta algumas características do

Fordismo2 com características da Acumulação Flexível. Poderíamos comparar

o Modernismo e o Fordismo às características dos escritórios da era industrial

e o Pós-Modernismo e a Acumulação Flexível com as características dos

Escritórios Não-Territoriais, que seriam então considerados pós-modernos ou

típicos do período de acumulação flexível. Segundo Harvey:

[...] A acumulação flexível [...] é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível [...] cria um vasto movimento no emprego no chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas. Ela também envolve um novo movimento que chamarei de “compressão do tempo-espaço” no mundo capitalista – os horizontes temporais da tomada de decisões privada e pública se estreitaram, enquanto a comunicação via satélite e a queda dos custos de transporte possibilitaram cada vez mais a difusão imediata dessas decisões num espaço cada vez mais amplo e variado (HARVEY, 1992, p. 140).

2. O Fordismo tem como data inicial simbólica o ano de 1914, quando Henry Ford introduziu

seu dia de 8 horas e cinco dólares como recompensa para os trabalhadores da linha de mon-

tagem de carros, além da forma corporativa de organização dos negócios, da racionalização

do uso de velhas tecnologias e de uma detalhada divisão do trabalho (Harvey, 1992).

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Sobre a transição do fordismo para a acumulação flexível, Harvey explica:

[...] O movimento mais flexível do capital acentua o novo, o fugidio, o efêmero, o fugaz e o contingente da vida moderna, em vez dos valores mais sólidos implantados na vigência do fordismo. Na medida em que a ação coletiva se tornou mais difícil, o individualismo exacerbado se encaixa no quadro geral como condição necessária, embora não suficiente, da transição do fordismo para a acumulação flexível. Entretanto, como Simmel (1978) sugeriu há muito tempo, é também nesses períodos de fragmentação e de insegurança econômica que o desejo de valores estáveis faz surgir uma ênfase intensificada na autoridade das instituições básicas – a família, a religião, o Estado. E há abundantes provas de um renascimento do apoio a essas instituições e aos valores por elas representados em todo o mundo ocidental desde mais ou menos 1970 (HARVEY, 1992, p. 161).

Harvey ainda esquematizou contrastes entre o fordismo e a acumulação flexível,

em relação ao trabalho, ao espaço e à ideologia (HARVEY, 1992, p. 167):

• Quanto ao trabalho:

Realização de uma única tarefa pelo trabalhador X Realização de múltiplas tarefas;

Alto grau de especialização de tarefas X Eliminação da demarcação de tarefas;

Organização vertical do trabalho X Organização mais horizontal do trabalho;

Pouco ou nenhum treinamento no trabalho X Longo treinamento no trabalho;

Ênfase na redução da responsabilidade do trabalhador X Ênfase na

co-responsabilidade do trabalhador.

• Quanto ao espaço:

Especialização espacial funcional X Agregação e aglomeração espaciais;

Divisão espacial do trabalho X Integração espacial.

• Quanto à participação do Estado:

Regulamentação X Desregulamentação / re-regulamentação;

Rigidez X Flexibilidade;

Negociação coletiva X Divisão / individualização, negociações locais

ou por empresa;

Socialização do bem-estar social (o Estado do bem-estar social) X

Privatização das necessidades coletivas e da seguridade social;

Centralização X Descentralização e agudização da competição

inter-regional/interurbana.

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• Quanto à ideologia:

Consumo de massa de bens duráveis: a sociedade de consumo X

Consumo individualizado: cultura “yuppie”;

Modernismo X Pós-modernismo;

Totalidade X Especificidade;

Socialização X Individualização, a sociedade do “espetáculo”.

Harvey reflete ainda sobre a “compressão do tempo-espaço”:

[...] O espaço e o tempo são categorias básicas da existência humana. E, no entanto raramente discutimos o seu sentido; tendemos a tê-los por certos e lhe damos atribuições do senso comum. Registramos a passagem do tempo em segundos, minutos, horas, dias, meses, anos, décadas, séculos e eras, como se tudo tivesse o seu lugar numa única escala temporal objetiva. Na sociedade moderna, muitos sentidos de tempo se entrecruzam. Os movimentos cíclicos e repetitivos (do café da manhã e da ida ao trabalho a rituais sazonais como festas populares, aniversários, férias, abertura das temporadas esportivas) oferecem uma sensação de segurança num mundo em que o impulso geral do progresso parece ser sempre para a frente e para o alto – na direção do firmamento do desconhecido (HARVEY, 1992, p. 187).

E complementa:

[...] Pretendo indicar com essa expressão – compressão do tempo-espaço – processos que revolucionam as qualidades objetivas do espaço e do tempo a ponto de nos forçarem a alterar, às vezes radicalmente, o modo como representamos o mundo para nós mesmos. Uso a expressão “compressão” por haver fortes indícios de que a história do capitalismo tem se caracterizado pela aceleração do ritmo da vida, ao mesmo tempo em que venceu as barreiras espaciais em tal grau que por vezes o mundo parece se encolher sobre nós... o espaço parece encolher como uma “aldeia global” (HARVEY, 1992, p. 219).

Sob o termo pós-industrial indica-se um modelo totalmente novo de

sociedade, regida pelo signo da conexão, da reintegração entre trabalho

e vida, casa e escritório, bens e serviços. Segundo De Masi (1992),

as referências do sistema social, do mercado e da organização

do trabalho da era pós-industrial são: a tecnologia eletrônica,

o predomínio do trabalho intelectual, notadamente o criativo, a complexidade,

a descontinuidade, o predomínio das necessidades de natureza estética,

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o subjetivismo e as dimensões transnacionais de problemas e soluções;

a produção em larga escala de bens materiais – característica da sociedade

industrial, cede lugar à produção de bens imateriais (serviços, informações,

símbolos, estética e valores); o tempo livre prevalece sobre o tempo do trabalho

e o problema da qualidade de vida prevalece sobre o problema do consumismo, de

onde surge a necessidade do replanejamento da família, da escola, do trabalho,

do espaço, do tempo e da vida em função dessas novas prioridades; sendo

o trabalho de natureza cada vez mais flexível e criativa, as tarefas domésticas

e as profissionais, o estudo, o trabalho e o tempo livre não representando mais

a antítese uns dos outros.

A nova sociedade é articulada em subsistemas cada vez mais numerosos

e interdependentes e nela interagem três níveis: o virtual, constituído pelos

meios de comunicação de massa e pelas redes de telecomunicação; o tangível,

constituído pelos sujeitos reais e também pelas relações interpessoais;

e o financeiro, constituído pelos fluxos monetários cada vez mais velozes,

através da dinâmica das bolsas. Na medida em que as máquinas absorvem

o trabalho repetitivo (físico ou intelectual), os trabalhadores passam a fazer

o trabalho criativo: o trabalho mais “cerebral”, por sua natureza, não pára,

sendo conciliável com a desestruturação do tempo e do espaço de trabalho.

As pessoas toleram cada vez menos a caótica vida urbana, com os deslocamentos

cotidianos corroendo o já escasso tempo livre e o equilíbrio psíquico. Cada

vez questiona-se mais a utilidade do trabalho executado na unidade de tempo

e de lugar do grande escritório centralizado, difundindo-se a aspiração por

uma gestão autônoma e flexível; tomando-se consciência das oportunidades

oferecidas pelo progresso tecnológico, que torna as informações onipresentes,

anulando os vínculos espaço-temporais.

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O mundo absorve rapidamente as novidades da tecnologia, sem muitos

questionamentos sobre os efeitos do uso desses recursos tecnológicos na vida

dos indivíduos. Quais são e quais serão os efeitos dessa “tecnologização”

sobre a qualidade de vida das pessoas, sobre seu psiquismo, sobre sua relação

com o trabalho, com a família e com a sociedade?

Através dos recursos tecnológicos é possível fazer cada vez mais coisas

e, paradoxalmente, as pessoas têm tido cada vez menos tempo. Afinal,

a tecnologia não deveria servir para libertar o homem de determinadas tarefas,

possibilitando o uso do seu tempo para outros interesses? Será que, ao trabalhar

mais, serve-se ao capitalismo e, conseqüentemente, reflete-se menos, restando

menos tempo para a meditação, para o lazer e para a família?

É possível relacionar essas indagações ao trabalho na era da mobilidade

virtual. As maravilhas do trabalho com os laptops, Internet e celulares, tão

disseminadas desde a década de 1990, com a propalada liberdade de escolha

do lugar onde trabalhar: em casa, na praia e até mesmo no escritório.

É liberdade ou prisão? É possibilidade de escolha e domínio sobre o próprio

tempo ou o ápice do controle por terceiros, do tempo, do espaço e da mente

de quem trabalha?

O vínculo do trabalhador com o trabalho vem se tornando cada vez mais

tênue, com o processo de enfraquecimento do emprego. É sabido que

o trabalho está relacionado a três necessidades básicas humanas: necessidades

de sobrevivência - provendo recursos econômicos; necessidades de realização

pessoal – suprindo uma função psicológica e necessidades de colaboração

– com a função social do trabalho. Com as características do trabalho hoje

– volatilidade, rupturas, instabilidade – qual é a condição que o ser humano

1.2 A RELAÇÃO HOMEM-TRABALHO

NA SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL

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tem para atender às três necessidades citadas anteriormente? Quais serão as regras

econômicas, políticas e sociais que balizarão o trabalho de hoje em diante?

Autores como Robert Chia, Richard Sotto, Joe Nandhakumar, Sean Galpin

e David Sims lançam luzes sobre essa discussão, na medida em que colocam em

pauta as questões sobre a virtualidade e o sujeito organizacional, o trabalho

virtual, as relações de confiança, a questão da narrativa e da identidade nos

grupos de trabalho.

O que é o sujeito organizacional e de que maneira ele vai se virtualizando?

Quem é ou o que é o sujeito virtual? Como interagir com esse novo sujeito?

Há alguns caminhos que visam responder a essas questões, características de

um profundo processo de mudança pelo qual passamos hoje.

Com a virtualização, os sinais concretos de comunicação estão cada vez

menos aparentes. A linguagem corporal, os gestos, a expressão facial, o olhar,

a linguagem da voz e a linguagem verbal perderam importância e espaço com

a virtualização. Com a mediação através de tantas tecnologias, as pessoas se

afastam concretamente umas das outras, podendo passar a atuar de vários

modos. E como são os mecanismos de ação do sujeito virtual? De acordo

com Sotto, através da performance, a ação se dá por meio do sense-making,

com a produção de significados, valores e percepções; do networking, que

é a interação entre os indivíduos e a estrutura de papéis e do enactment, que

é a ação de cada um dos sujeitos (SOTTO, 1998).

Nesse contexto de realidade virtual, com as fontes de informação concretas

diminuídas e com a subtração dos contatos interpessoais, passa-se a acreditar

nas narrativas das pessoas. Quem é e o que faz o indivíduo tornam-se a sua

identidade, que passa a ser o pressuposto do indivíduo para seu interlocutor.

As narrativas tornam-se fundamentais porque permitem a construção da

identidade do indivíduo. Desse modo, as diversas narrativas individuais

criam a identidade da organização e os “teletrabalhadores” têm dificuldade

em compartilhar essas narrativas, gerando um problema de construção da

identidade do grupo como uma organização (NANDHAKUMAR, 1999).

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As narrativas não compartilhadas são responsáveis por um processo

de desintegração, que se manifesta na individualização das pessoas.

A individualização, ou seja, a institucionalização da condição de isolamento,

segundo Beck e Beck-Gernsheim, é decorrência dessa desintegração das

estruturas e dos indivíduos (BECK & BECK-GERNSHEIM, 2002).

A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E A RELAÇÃO HOMEM-TRABALHO

Manuel Castells (1999) considera o período histórico a partir de década de 1970

e após o advento da tecnologia da informação como um período revolucionário,

tanto quanto foi a Revolução Industrial. Segundo o autor, a revolução da tecnologia

da informação introduz um padrão de descontinuidade nas bases materiais da

economia, da sociedade e da cultura e, sendo assim, apresenta-se com grande

penetrabilidade, participando em todos os domínios da atividade humana.

Duas questões surgem a partir dessa dita penetrabilidade da tecnologia da

informação: há muitos segmentos da população que estão desconectados

desse novo sistema tecnológico e os que estão conectados têm acesso

apenas às informações, muitas vezes não estando aptos a transformar essas

informações em conhecimento. As pessoas ficam apenas na superficialidade da

obtenção de dados porque lhes falta a instrumentalização para a construção

do conhecimento.

A relação homem–trabalho vem sendo significativamente alterada por essa

tecnologia porque a identidade do sujeito e sua construção de conhecimento

estão bastante afetadas. Colocando-se o conhecimento como pressuposto

da liberdade, com total influência no grau de emancipação do indivíduo,

têm-se uma equação com conseqüências diretas sobre a relação do homem

com seu trabalho.

A questão da confiança também mudou depois do advento do trabalho

virtual. Com os contatos intermediados pelas tecnologias, várias linguagens

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estão sendo banidas e os recursos interpretativos vão diminuindo. Com essa

modificação profunda no acesso aos recursos, altera-se diretamente a forma de

emancipação do indivíduo. Diminuindo-se o grau de emancipação, diminui-se

o grau de liberdade e o ganho de conhecimento do trabalhador, diminuindo-se

assim, substancialmente o poder do indivíduo frente ao seu trabalho.

Segundo Scott Lash, hoje se vive dependente da informação, que passou a ser

um elemento básico de poder, gerando uma re-institucionalização do trabalho

e dos relacionamentos. As pessoas têm a informação, mas não têm, de modo

geral, o conhecimento. Com a desintegração das estruturas e tanto acesso

à informação, as pessoas estão cada vez mais incapazes de construir sentido

e conhecimento (LASH, 2002).

A identidade, antes decorrente da rigidez das estruturas sociais, hoje advém

da flexibilidade e da adaptabilidade da pessoa frente às sucessivas rupturas.

Com o processo de desintegração das estruturas, as grandes questões da

relação homem-trabalho são o equilíbrio entre a flexibilização e a integração,

a adaptação e a identidade, a desestruturação/desintegração e a identidade.

Manuel Castells assim discorre sobre essas questões:

[...] Em um mundo de fluxos globais de riqueza, poder e imagens, a busca da identidade, coletiva ou individual, atribuída ou construída, torna-se a fonte básica de significado social. Essa tendência não é nova, uma vez que a identidade e, em especial, a identidade religiosa e étnica tem sido a base do significado desde os primórdios da sociedade humana. No entanto, a identidade está se tornando a principal e, às vezes, única fonte de significado em um período histórico caracterizado pela ampla desestruturação das organizações, deslegitimação das instituições, enfraquecimento de importantes movimentos sociais e expressões culturais efêmeras. Cada vez mais, as pessoas organizam seu significado não em torno do que fazem, mas com base no que elas são ou acreditam que são. Enquanto isso, as redes globais de intercâmbios instrumentais conectam e desconectam indivíduos, grupos, regiões e até países, de acordo com sua pertinência na realização dos objetivos processados na rede, em um fluxo contínuo de decisões estratégicas. Segue-se uma divisão fundamental entre o instrumentalismo universal abstrato e as identidades particularistas historicamente enraizadas. Nossas sociedades estão cada vez mais estruturadas em uma oposição bipolar entre a Rede e o Ser (CASTELLS, 1999, p. 41).

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Castells fala da identidade como principal fonte de significado. Por quê? Como

visto anteriormente, com a virtualização diminuem os sinais concretos de

comunicação. Neste contexto, com as fontes de percepção diminuídas, passa-se

a acreditar na narrativa das pessoas: quem sou eu e o que faço passam a ser

a minha identidade. A questão da identidade era decorrente da rigidez das

estruturas sociais, hoje é o oposto. Com a virtualização, é necessário cuidar da

construção, reconstrução e reconhecimento de nossa identidade, que passa

a ser o nosso pressuposto para o interlocutor desconhecido.

Castells cita ainda Alain Touraine, quando este afirma que “numa sociedade

pós-industrial em que os serviços culturais substituíram os bens materiais

no cerne da produção, é a defesa da personalidade e cultura do sujeito

contra a lógica dos aparatos e mercados que substitui a idéia de luta

de classes” (CASTELLS, 1999, p. 58). Esta frase ilustra a discussão acerca

da tecnologia da informação e sua relação entre o homem e o trabalho,

sobre: o quanto a necessidade de flexibilização do trabalhador nesse período

de rupturas é antagônica à manutenção da identidade desse indivíduo; o

quanto a emancipação e a liberdade do indivíduo estão relacionadas à

desintegração das estruturas e à conseqüente incapacidade de construção de

conhecimento; e o quanto a individualização deixa o homem mais suscetível,

com menos poder para ditar os rumos de seu trabalho e de sua própria vida.

Ao longo do século XX a relação homem-trabalho materializou-se na forma

do emprego, com suas empresas estáveis e o sistema gerencial como modelo,

sob a égide da tecnologia eletromecânica. Na década de 1980 viu-se um

grande movimento de fusões de empresas, exigindo indivíduos cada vez mais

flexíveis para facilitar os processos de transição de uma empresa para outra.

Na década de 1990, com a massificação do uso dos sistemas de comunicação

e teleinformação, uma re-institucionalização do trabalho colocou-se em

curso. Com a inserção dos negócios no processo de globalização, é crescente

a competitividade entre as empresas, o que está alterando fortemente a

sociedade e a relação homem-trabalho.

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Um aspecto da globalização, com influência nas mudanças na relação homem-

trabalho, é a compressão do espaço e do tempo, que, segundo Harvey, é um

novo movimento do mundo capitalista, onde “os horizontes temporais da

tomada de decisões privada e pública se estreitaram, enquanto a comunicação

via satélite e a queda dos custos de transporte possibilitaram cada vez mais a

difusão imediata dessas decisões num espaço cada vez mais amplo e variado”

(HARVEY, 1992, p. 140).

A sociedade da informação apresenta grandes desafios para o mundo do

trabalho, dentre os quais as incertezas e ambigüidades do ambiente, em

contínua mutação; a quase impossibilidade de se lidar com as variáveis

essenciais do problema; o risco da descartabilidade como regra e a sobrevivência

das empresas e indivíduos, em condição de risco permanente. Para muitos

trabalhadores, a rotina é a própria instabilidade (MALVEZZI, 1999).

O trabalho empreendedor, mesmo dentro das empresas, é apontado como um

caminho para a re-institucionalização do trabalho nesses tempos globalizados.

“O empreendedor é agente econômico (porque produz valor econômico),

que cria e coordena recursos (reflexivo porque opera independentemente de

estruturas que manualizam seus atos)” (MALVEZZI, 1999, p. 322).

A empresa sem fronteiras, a “carreira sem fronteiras”, o emprego “just-in-time”,

a predominância do trabalho autônomo sob forte domínio tecnológico e sob

uma condição de alta competitividade e a institucionalização individualizada

do trabalho são questões a serem analisadas pela Psicologia Organizacional

(MALVEZZI, 1999).

Essas discussões fazem parte do processo de re-institucionalização do trabalho,

melhor definido a partir de algumas considerações acerca dos paradigmas de

gestão nas organizações.

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OS PARADIGMAS DE GESTÃO DE PESSOAS NO TRABALHO

No paradigma tradicional de organização, a gestão das empresas consiste

na articulação e controle do processo de produção através da regulagem

externa. O conhecimento científico, os instrumentos de predição, o controle

dos eventos e a existência de uma autoridade gerencial são os mecanismos

reguladores desta forma de gestão. Este paradigma baseia-se na teoria de

Taylor, que propôs a Organização Científica do Trabalho (OCT), preconizando

a pesquisa de tempos e movimentos, a identificação de uma única maneira

correta de se realizar uma tarefa, a seleção do “Homem de Primeira Classe” e

a aplicação da lei da fadiga.

O paradigma tradicional de organização produz os seguintes efeitos:

a empresa é responsável por articular as atividades, integrando as pessoas,

máquinas e materiais no processo de produção; a gerência intermediária

é necessária, gerando maior número de postos de trabalho; a competência

é o principal critério de remuneração; os conflitos são resolvidos pela

negociação; controla-se o acesso às informações e às atividades, limitando

o processo de comunicação e a gestão de recursos humanos é uma atividade

centralizada, reguladora e direcionada à adaptação.

No paradigma tradicional, um gestor mantém a regularidade dos eventos

através do monitoramento constante dos processos. As pessoas são

os recursos necessários para os negócios e são passíveis de modelagem, tendo

seu desempenho controlado por agentes externos. Como o trabalho é organizado

racionalmente, programa-se e controla-se o desempenho das pessoas, que

devem se adaptar a essa organização. Como a atividade de cada pessoa

é integrada ao processo de produção, existe a obrigação de conformidade

às normas e aos padrões de desempenho. O processo produtivo será mais

eficaz, na medida em que houver conformidade e ausência de conflitos entre

o desempenho das pessoas e as tarefas racionalmente programadas.

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O paradigma emergente de gestão de empresas consiste na regulagem do processo

de produção pelo controle dos resultados e a transferência do controle das tarefas

para equipes auto-reguladas. Entre estes mecanismos estão: o comprometimento

dos indivíduos (autocontrole); o controle sobre os resultados; uma única função

integrando planejamento, operação, manutenção e controle e o trabalho em

equipe. Alguns pressupostos são necessários para operacionalizar este modelo

de gestão: os indivíduos da empresa devem ter integração cognitiva, valores,

representações e significados compartilhados; o processo de produção é um

trabalho em equipe, em que os indivíduos têm um compromisso com os mesmos

objetivos; as pessoas são recursos necessários ao negócio, constituindo-se em

fonte de vantagem competitiva e o desempenho é produto de determinantes

externos e internos, passíveis de regulagem pelo próprio indivíduo.

A gestão de recursos humanos no modelo emergente dá-se através do

desenvolvimento de competências; da cooperação (equipes flexíveis e

polivalentes); do compromisso (valores e significados); da reciprocidade

(qualidade de vida); do “empowerment” (substituição da autoridade externa

pelo autocontrole); da aprendizagem; e do trabalho por projetos, com equipes

interdependentes, autônomas, flexíveis e encarregadas de resultados.

O paradigma organizacional emergente produz alguns efeitos, tais como: a

gerência passa a ser uma atividade descentralizada; a hierarquia é substituída

pelo autocontrole e pela negociação na regulagem do desempenho; a gestão

de recursos humanos tem como desafio a obtenção do consenso nos valores e

significados; a remuneração resulta de critérios como a competência, a integração

e a contribuição efetiva; a livre comunicação, o acesso à informação e as

oportunidades de participação em recursos de gestão. De acordo com Salerno:

[...] A reestruturação produtiva tem sua lógica derivada de um contexto social, político e econômico marcado pelas crises financeiras, de mercado (ou de concorrência intercapitalista) e social (conflitos capital-trabalho, relativos à organização, ao controle da produção e do trabalho, e distributivo) que emergem nos anos 60 e 70, e colocam para as empresas novas necessidades de integração (para dar saltos de produtividade, necessários devido tanto ao acirramento da concorrência quanto aos

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entraves sociais colocados às formas tradicionais de organização da produção e do trabalho) e da flexibilidade (como forma de fazer frente a um ambiente – especialmente a um mercado pouco previsível e com alta instabilidade). Daí surgir o paradigma de empresa integrada e flexível, contrapondo-se àquele de empresa “taylorista-fordista” (SALERNO, 1994, p. 55).

Ainda segundo Salerno, as mudanças organizacionais em curso na indústria

podem ser discutidas em quatro níveis: mudanças na relação entre empresas

(acordos cooperativos, compartilhamento de projeto e capacidades produtivas,

desenvolvimento conjunto de produto e processo entre clientes e fornecedores

produtivos, aumento da terceirização); mudanças na organização geral da

empresa (abrandamento das estruturas divisionais e funcionais clássicas,

constituindo-se uma organização mais voltada a resultados, “enxugamento”

organizacional ou terceirização, unidades de negócios, redução de níveis

hierárquicos e integração de áreas); mudanças na organização da produção

(visando a redução do tempo de atravessamento, aumento do giro do capital

e redução de estoques, incorporação do sistema just-in-time, incorporando

células e propondo uma forma de ordenar o fluxo de materiais e de informações

na produção); mudanças na organização como um todo (o que tende ao

abandono relativo das noções de tarefa e de posto de trabalho, tão arraigadas

na organização clássica).

Algumas discussões são suscitadas a partir destas conceituações. O novo

contexto organizacional traz a flexibilização ou a precarização do trabalho? A

realidade dos trabalhadores hoje é bastante complexa, vive-se em um mundo

onde se perdeu uma série de direitos trabalhistas, garantias que protegiam

o trabalhador economicamente, socialmente e psicologicamente. Convive-

se com um alto grau de rupturas e incertezas no trabalho. O sujeito busca

incessantemente o reconhecimento de seus pares: o reconhecimento no

trabalho confere ao indivíduo o reconhecimento social e, assim, a chance

da conquista da construção de sua identidade. As condições desumanas das

fábricas do passado são substituídas atualmente pelo estresse gerado pela

pressão para o cumprimento de metas e cronogramas.

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A inserção dos negócios no processo de globalização está alterando

a relação homem-trabalho de modo tão radical quanto modifica a sociedade.

Na sociedade do conhecimento, o saber torna-se um diferencial da competência.

No entanto, com a descartabilidade, muitos indivíduos perdem o interesse

em investir em conhecimento, dada a precariedade de vínculos que mantêm

com as empresas, eles não sabem por mais quanto tempo estarão naquela

organização e se o investimento será válido. Por outro lado, se esse indivíduo

tiver suas qualidades de empreendedor estimuladas, ele se empenhará na busca

do conhecimento porque o utilizará sendo um agente econômico reflexivo,

dentro de organizações ou como trabalhador autônomo (MALVEZZI, 1999).

Outro aspecto do paradigma emergente é a “carreira sem fronteiras”, que pode

ser entendida como uma seqüência de experiências ocupacionais que não

se enquadram no conceito de promoção, nem se limitam a uma mesma empresa.

O acúmulo de competências é o princípio da “carreira sem fronteiras”.

Provavelmente, caminha-se para uma institucionalização da individualização

do trabalho. Com as empresas sem fronteiras, o emprego just-in-time

e a “carreira sem fronteiras”, o indivíduo torna-se cada vez mais “globalizado”

e cada vez mais voltado para si próprio. A competitividade faz com que

as pessoas estejam cada vez mais preocupadas consigo mesmas. Com os muitos

recursos que existem atualmente, percebe-se um processo de desintegração

em curso, que se manifesta na maior individualização das pessoas, que

dependem menos umas das outras e, assim, tendem ao individualismo.

Na relação homem-trabalho, percebe-se uma grande mudança no acesso

aos recursos, o que modifica o grau de emancipação do indivíduo.

A busca de uma maior autonomia para o trabalhador, que era uma preocupação

de algumas décadas passadas, já não está mais na ordem do dia e a questão

agora advém do estresse gerado por esta liberdade conquistada. É preciso

tirar partido dos benefícios da flexibilização, sem que, para isso, o indivíduo

tenha que perder a sua identidade: ser autônomo, sem ser “camaleão”.

O desafio atual é preservar o ser humano em sua totalidade, protegendo as

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esferas emocionais, familiares e a vida comunitária do indivíduo, “apesar

do trabalho”.

Essas considerações permitem avançar e entender conceitos acerca da

fragmentação do indivíduo, realidade na qual ele está atualmente exposto.

A FRAGMENTAÇÃO DO INDIVÍDUO NO TRABALHO

Segundo Jannis Kallinikos, a grande distinção do ambiente de trabalho

atual é que as pessoas não estão lá como indivíduos com personalidade,

mas desempenhando papéis. O autor discorre sobre o conceito do “Homem

Modular”, capaz de mobilizar vários segmentos de si mesmo, como se fosse

uma “colcha de retalhos”, se compor e se decompor continuamente, visando

a adaptabilidade em um mundo em constantes mudanças (KALLINIKOS, 2003).

A modularidade está ligada a aspectos de adaptabilidade e sobrevivência.

A separação entre o indivíduo e os papéis por ele representados são uma

invenção do homem contemporâneo para responder às diversas expectativas,

com condutas distintas, nos vários domínios da vida: a esfera pública

e a privada, o trabalho e o lazer, o ambiente de trabalho e a casa, ser homem

e mulher, entre a família e a comunidade, os estudos e o trabalho.

A grande tendência atual, segundo Kallinikos, é a duração ilimitada

do trabalho e a sua execução independentemente das localizações dos “sites”,

o que combina fatores sociais e culturais que reduzem o comprometimento

entre empregadores e empregados.

Freqüentes mudanças de ocupação, com alto grau de mobilidade entre

organizações, podem sinalizar uma mudança antropológica com base em sólida

supremacia individualizante. E Kallinikos cita Richard Sennett: “Estabilidade

pode aviltar, mas pode também proteger. A rotina pode destruir o trabalho,

mas pode também compor a vida” (KALLINIKOS, 2003, p. 7).

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O AMBIENTE FÍSICO DE TRABALHO

A partir da análise dos vários conceitos até então expostos, relacionando

áreas do conhecimento como a Psicologia, a Administração, a Sociologia

e a Antropologia, seguem algumas considerações a respeito da relação

homem-trabalho na sociedade informatizada, à luz da Psicologia Ambiental.

A qualidade do ambiente de trabalho caracterizou-se perante a Psicologia

do Trabalho, primeiramente, pela determinação das condições físicas

do ambiente – luminosidade, ruído, fumaça, calor – que causavam fadiga,

doenças, absenteísmo e acidentes. Progressivamente, os estudos passaram

a objetivar o “fator humano”, além dos aspectos ambientais. É sobre esta

fundamentação que se inscreve o estudo da Psicologia Ambiental, analisando

as relações entre os indivíduos e seu ambiente, o papel deste e suas múltiplas

influências sobre o comportamento humano. Ela constitui um conjunto

teórico estruturado que apreende o espaço como um objeto social. Além

disso, o espaço pode ser entendido como um vetor das interações sociais

porque as organizações espaciais estruturam fortemente as comunicações

de seus grupos sociais.

Fischer cita Weber (1971) ao afirmar que o ambiente físico não apenas

qualificava os objetivos de produção, como também o status dos indivíduos

na estrutura hierárquica. Citando Homans (1950), Fischer afirma ainda que

o ambiente físico é igualmente um fator que pode contribuir para

a formação e o desenvolvimento de um grupo, considerando a proximidade

e a acessibilidade como condições que podem favorecer a interação, facilitar

o sentimento de afiliação e influenciar o desempenho de um indivíduo

ou de um grupo (FISCHER, 2001).

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[...] A psicologia dos espaços de trabalho propõe uma nova leitura das interações entre comportamento humano e organização. Essa abordagem se apóia primeiramente no fato de que uma certa imagem da organização se reflete na distribuição dos espaços, em seguida, ela considera o sistema organizacional a partir da estruturação social dos locais e dos espaços definidos, repartidos e utilizados pelos indivíduos, não só em função dos imperativos da produção, mas também em relação às condutas e valores que fazem da empresa um território social. Esse campo de pesquisas [...] mostra a natureza psicossocial do local de trabalho; o espaço nos informa como o trabalhador aceita, utiliza, investe ou rejeita seu trabalho; esse é valorizado como um ponto de ligação a partir do qual ele tenta recriar uma parte de sua identidade (FISCHER, 2001, p. 83-84).

Conceitos fundamentais sobre o território, o espaço pessoal e a apropriação

devem ser apreendidos visando oferecer uma visão do campo teórico que

a análise dos espaços organizacionais subentende. “A Psicologia Ambiental

utilizará o conceito de território para designar um lugar ou uma área

geográfica ocupada por uma pessoa ou um grupo: o território é, nessas

condições, a propriedade de uma pessoa ou um grupo que se torna

de certa maneira ‘proprietária’ dele.” (FISCHER, 2001, p. 84). Ao ocupar um

local, o indivíduo tende a adotar comportamentos de dominação territorial,

passando a exercer mais influência nesse local que em outro. Dentro de uma

organização, a demarcação territorial está normalmente ligada ao status social

do indivíduo. A territorialidade serve de fundamento para o desenvolvimento

da identidade pessoal e social; e o fato de compartilhar um mesmo território

permite que seus ocupantes adquiram conhecimentos, experiências comuns,

e desenvolvam uma coesão maior ou menor, estabelecendo relações

de confiança mútuas (FISCHER, 2001, p. 86). E o que dizer das empresas que

levam a virtualização ao extremo? Sem dúvida, há um comprometimento

da relação de confiança entre os trabalhadores dessas organizações. A questão

da confiança, discutida por Nandhakumar no contexto da realidade virtual,

com as fontes de informação concretas diminuídas, com a quase subtração

dos contatos interpessoais. Como já exposto anteriormente, passa-se

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a acreditar nas narrativas das pessoas: quem é e o que faz o indivíduo tornam-se

a sua identidade. As diversas narrativas criam a identidade da organização

e os trabalhadores virtuais têm dificuldade em compartilhar essas narrativas,

gerando um problema de construção da identidade do grupo.

Outro conceito importante é o do espaço pessoal, que defende a idéia de que

o lugar do corpo em dado ambiente é rodeado por uma zona que desenha em

torno dele fronteiras invisíveis. Essa zona foi descrita por diversos autores,

dentre os quais Hall (1981) Sommer (1973).

O conceito de apropriação designa, de maneira geral, o ato de tomar algo para

si ou tomar qualquer coisa para um uso próprio. Apropriar-se quer dizer tornar

seu, atribuir a si a propriedade de algo, mesmo que não lhe pertença legalmente

(FISCHER, 2001). O que nos interessa no aspecto da apropriação é que ela

aparece como uma orientação do comportamento capaz de produzir formas

diversas de autonomia, designando que o indivíduo recria continuamente uma

perseverança de si mesmo em relação às diversas configurações fragmentadas

do espaço. Nesse sentido, a apropriação é um processo criativo de identidade

que favorece a reunificação do indivíduo, nos conjuntos sociais que têm

a tendência de dispersá-lo.

Seria então o ambiente físico um fator com poder de contribuir para

a formação da identidade do indivíduo nas organizações? Ou fatores como

a remuneração, o relacionamento com os colegas, autonomia e reconhecimento

seriam preponderantes? Qual o peso do ambiente de trabalho na satisfação

dos usuários desses ambientes?

A organização pode ser definida como um lugar em que cada indivíduo

explora, adapta e habita, a fim de realizar seus próprios objetivos. A partir

de dados da Psicologia Ambiental, toda organização pode ser analisada segundo

o espaço que a estrutura. Sua arquitetura, seu mobiliário e seu ambiente

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organizacional refletem ao mesmo tempo o funcionamento da empresa,

seus valores e suas regras (FISCHER, 2001, p. 89). Numa organização típica

do paradigma tradicional de gestão, os ambientes de escritórios correspondem

a critérios de especialização que determinam localizações, distâncias, relações

de vizinhança e separação de funções. A atribuição do espaço no paradigma

tradicional funciona segundo um mecanismo de fixação, instalando cada

pessoa em um lugar específico, de acordo com sua tarefa e nível hierárquico.

Além disso, para exercer o controle externo, as gerências organizam o local

de trabalho de modo a tornar bem visíveis as pessoas executando suas tarefas.

É a conceituação do escritório segundo a concepção taylorista do trabalho:

racionalização, divisão das tarefas e operações padronizadas. A organização

com os grupos de datilógrafas, nas décadas passadas, é uma das primeiras

imagens da racionalização do trabalho administrativo; o que não é muito

diferente dos grandes ambientes das centrais de atendimento telefônicas

atuais, os chamados call centers.

O conceito do escritório aberto, que teve como intenção promover uma maneira

nova de trabalhar, foi caracterizado pelo desaparecimento de paredes (ou apenas

pela diminuição das salas fechadas), a fim de favorecer a comunicação. “Esse

conceito, desenvolvido sob o termo de escritório-paisagem e conhecido como

uma idéia norte-americana nasceu, de fato, na Alemanha; foram dois irmãos

de sobrenome Schenelle que lançaram essa idéia; a empresa Quikborner

Team que eles criaram instalou-se nos Estados Unidos e o conceito só foi

retomado na Europa nos anos sessenta” (FISCHER, 2001, p. 93). No Brasil,

os escritórios abertos surgiram quando a empresa de mobiliário de escritório

Móveis Teperman começou a fabricar o Action Office, em 1970, licenciada pela

empresa norte-americana Herman Miller. O princípio dessas configurações

de layouts baseava-se em uma idéia de comunicação que associava a abertura

do espaço ao aumento de produtividade e ao desaparecimento dos níveis

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hierárquicos, o que, efetivamente, não se concretizou, pois a hierarquia

persistia nas organizações.

Se o escritório aberto foi considerado um avanço em relação à rigidez

opressora dos escritórios das escrivaninhas enfileiradas, pesquisas mostraram

que ele também era uma fonte de estresse associado à impossibilidade

de haver zonas de recolhimento. “Para quem trabalha, o espaço que lhe é

destinado é progressivamente investido como um local pessoal. Através de

múltiplas atitudes, o indivíduo traduz uma tendência fundamental a habitar

o lugar no qual ele está, familiarizando-se com ele e transformando-o. Assim,

ele cria em seu ambiente procedimentos que lhe facilitam as tarefas, reage

à intrusão dos outros por uma defesa característica de seu território, cria para

si mesmo sistemas de adaptação e dominação que traduzem a pregnância

de seu espaço como ponto de ancoragem. Esse processo se afirma com mais

força em torno do posto de trabalho, porque este está investido como um

lugar que nos pertence, isto é, um local do qual temos um pouco a sensação

de ser proprietários. Ele se caracteriza como uma espécie de concha pessoal

valorizada ou desvalorizada, mas com a qual nos identificamos: ele define

nosso lugar” (FISCHER, 2001, p. 94).

E no paradigma emergente, como estão se apresentando os espaços

organizacionais dos escritórios?

[...] As mutações tecnológicas deixam entrever perspectivas que parecem influir na concepção e arrumação dos lugares. [...] Essa evolução redefine o ambiente de trabalho num volume mais restrito em torno de um ponto informático multifuncional; seu lugar estratégico não é mais apenas e essencialmente avaliado em função da distância-proximidade física em relação ao poder, mas pela sua localização numa rede de informações e sua capacidade de nela intervir (FISCHER, 2001, p. 101).

Observa-se que a concepção de novos espaços organizacionais faz surgir dois

tipos de layouts relativamente distintos: “um no qual o posto de trabalho é

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personalizado e o espaço banalizado, outro no qual o posto de trabalho é

banalizado e o espaço personalizado.” (FISCHER, 2001, p. 101).

O advento e o uso disseminado da tele-informação estimulam uma rediscussão

da delimitação e da especificação dos locais de trabalho. Muitas atividades

não exigem mais que os trabalhadores estejam concentrados permanentemente

e em sua totalidade em determinado local de trabalho. Essas tendências

sinalizam que estamos diante de uma situação na qual a concepção e a vivência

do local de trabalho estão envolvidas numa dinâmica totalmente nova.

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Exemplos das primeiras gerações de PC’sFonte: SIQUEIRA, 2005, p. 277

Exemplo de microprocessador:

o chip óptico da XeroxFonte: SIQUEIRA, 2005, p. 107

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2. PARADIGMAS TECNOLÓGICOSAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Desde o final do século XX vive-se um período histórico cuja característica

é a transformação da “cultura material” pelos mecanismos de um novo

paradigma tecnológico que se organiza em torno das Tecnologias

da Informação e Comunicação, em que se inclui o conjunto de tecnologias

em microeletrônica, computação (software e hardware), telecomunicações,

radiodifusão e optoeletrônica.

[...] A revolução da tecnologia da informação é um evento histórico da mesma importância da Revolução Industrial do século XVIII, induzindo um padrão de descontinuidade nas bases materiais da economia, sociedade e cultura. [...] Diferentemente de qualquer outra revolução, o cerne da transformação que estamos vivendo na revolução atual refere-se às tecnologias da informação, processamento e comunicação. [...] A tecnologia da informação é para esta revolução o que as novas fontes de energia foram para as revoluções industriais sucessivas, do motor a vapor à eletricidade, aos combustíveis fósseis e até mesmo à energia nuclear, visto que a geração e distribuição de energia foi o elemento principal na base da sociedade industrial (CASTELLS, 1999, p. 68).

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A atual revolução tecnológica é caracterizada pela aplicação da informação

objetivando a geração de conhecimentos e de novos dispositivos

de processamento da informação, em um ciclo de realimentação contínuo

entre a inovação e seu uso. As novas tecnologias da informação não

são simplesmente ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem

desenvolvidos. Usuários e criadores podem tornar-se a mesma coisa. Dessa

forma, os usuários podem assumir o controle da tecnologia como no caso

da Internet.

Há um outro aspecto que diferencia a revolução da tecnologia da infor-

mação quando esta é comparada a antecessores históricos: a ocorrência

de tais eventos apenas em algumas sociedades e que foram difundidas em

uma área geográfica relativamente limitada. Ao contrário, as novas tecnolo-

gias da informação difundiram-se pelo mundo em menos de duas décadas,

entre os anos 1970 e 1990. Mas, segundo Castells (1999, p. 70), “a velocidade

da difusão tecnológica é seletiva tanto social quanto funcionalmente [...] e as

áreas desconectadas são cultural e espacialmente descontínuas”.

Este capítulo mostrará, de maneira concisa, aspectos do desenvolvimento

da tecnologia e, em especial, das Tecnologias da Informação e Comunica-

ção, relacionando-as às transformações socioeconômicos desde a Primeira

Revolução Industrial até a atualidade. A questão da mobilidade também

é abordada, tendo em vista a sua importância para a implantação dos

Escritórios Não-Territoriais.

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2.1 O DESENVOLVIMENTO DA TECNOLOGIA

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Segundo historiadores, houve pelo menos duas revoluções industriais:

a primeira começando por volta de 1750, caracterizada por novas tecnologias

como as máquinas a vapor, as de tecer, substituindo-se as ferramentas

manuais pelo maquinário; e a segunda, aproximadamente cem anos depois,

destacando-se pelo desenvolvimento da eletricidade, do motor de combustão

interna, dos produtos químicos com base científica, da fundição do aço

e pelo início das tecnologias de comunicação, com a difusão do telégrafo

e a invenção do telefone. Em ambos os casos, houve um período

de transformação tecnológica sem precedentes na história.

De acordo com Castells (1999, p. 73), a inovação tecnológica reflete

[...] um determinado estágio de conhecimento; um ambiente institucional e industrial específico; uma certa disponibilidade de talentos para definir um problema técnico e resolvê-lo; uma mentalidade econômica para dar a essa aplicação uma boa relação custo/benefício; e uma rede de fabricantes e usuários capazes de comunicar suas experiências de modo cumulativo e aprender usando e fazendo.

Durante a Segunda Guerra Mundial e no período seguinte deram-se

as principais descobertas tecnológicas em eletrônica: o primeiro computador

programável e o transistor, fonte da microeletrônica, o verdadeiro cerne

da revolução da tecnologia da informação no século XX. Mas, de fato,

só na década de 1970 as novas tecnologias da informação difundiram-se

amplamente, acelerando seu desenvolvimento e convergindo em um novo

paradigma. É possível dividir os estágios dessa inovação em três principais

campos da tecnologia que, intimamente inter-relacionados, constituíram

a história das tecnologias baseadas em eletrônica: microeletrônica,

computadores e telecomunicações.

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O transistor, inventado em 1947 no estado de Nova Jersey, EUA, pelos físicos

Bardeen, Brattain e Shockley, possibilitou o processamento de impulsos

elétricos em velocidade rápida e em modo binário de interrupção e amplificação,

permitindo a codificação da lógica e da comunicação com e entre as máquinas:

esses dispositivos têm o nome de semicondutores, mais conhecidos como chips

(agora constituídos por milhões de transistores). Em 1957, o circuito integrado

foi inventado, acionando um grande avanço tecnológico: em apenas três

anos, entre 1959 e 1962, os preços dos semicondutores caíram 85%, e nos dez

anos seguintes a produção aumentou vinte vezes. À medida que a tecnologia

de fabricação progredia e se conseguia melhorar o design dos chips com

o auxílio de computadores, usando dispositivos microeletrônicos mais rápidos

e mais avançados, o preço médio de um circuito integrado caiu de US$ 50 em

1962 para US$ 1 em 1971, de acordo com Castells (1999).

Ilustração 2.1 | Válvulas a vácuo, base da eletrônica durante a primeira metade do século XX. Fonte: SIQUEIRA, 2005, p. 22.

Ilustração 2.2 | Três gerações de componentes eletrônicos: válvula a vácuo, transistor e chip.

Fonte: SIQUEIRA, 2005, p. 23.

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A indústria Intel avançou enormemente na difusão da microeletrônica

em 1971, quando inventou o microprocessador, que é o computador

em um único chip.

Ilustração 2.3 | Primeiro microprocessador do mundo, lançado pela Intel, em 1971. Fonte: SIQUEIRA, 2005, p. 24.

Ilustração 2.4 | Exemplo de microprocessador: o chip óptico da Xerox.

Fonte: SIQUEIRA, 2005, p. 107.

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Os computadores foram concebidos durante a Segunda Guerra Mundial,

mas passaram a existir de fato somente em 1946, na Filadélfia. Cabe lembrar que

o primeiro computador eletrônico pesava 30 toneladas, tinha 70 mil resistores

e 18 mil válvulas a vácuo, ocupando a área de um ginásio esportivo.

Em 1975, um engenheiro fabricante de calculadoras, em Albuquerque,

Novo México, construiu uma “caixa de computação” com o nome de Altair,

que foi a base para o design do Apple, primeiro microcomputador de sucesso

comercial. Em 1981, a IBM introduziu sua versão do microcomputador,

denominando-o Computador Pessoal (o PC), que se tornou o nome genérico

dos microcomputadores.

Ilustração 2.5 | ENIAC, o primeiro computador digital do mundo e os primeiros computadores pessoais (PC’s): o Alto da Xerox e o Commodore. Fonte: SIQUEIRA, 2005, p. 110.

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Ilustração 2.7 | Computador G5 da Apple, lançado em 2003 com o primeiro

chip de 64 bits para PC’s.Fonte: SIQUEIRA, 2005, p. 113.

Ilustração 2.6 | Exemplos das primeiras gerações de PC’s.Fonte: SIQUEIRA, 2005, p. 277.

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Nos últimos vinte anos do século XX, o aumento da capacidade dos chips resultou

em um aumento impressionante da capacidade dos microcomputadores.

No início da década de 1990, computadores de um só chip tinham a capacidade

de processamento de um computador IBM de cinco anos antes. Além disso,

desde meados da década de 1980, os microcomputadores não podem mais ser

concebidos isoladamente: eles atuam em rede, com mobilidade cada vez maior

e com base em computadores portáteis:

[...] Essa versatilidade e a possibilidade de aumentar a memória e os recursos de processamento, ao compartilhar a capacidade computacional de uma rede eletrônica, mudaram decisivamente a era dos computadores nos anos 90, ao transformar o processamento e armazenamento de dados centralizados em um sistema compartilhado e interativo de computadores em rede. Não foi apenas todo o sistema de tecnologia que mudou, mas também suas interações sociais e organizacionais (CASTELLS, 1999, p. 80).

Ilustração 2.8 | Gráfico com evolução dos chips, em número de transistores. Fonte: SIQUEIRA, 2005, p. 24.

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A capacidade de desenvolvimento de redes só se tornou possível graças

aos importantes avanços tanto das telecomunicações quanto das tecnologias

de integração de computadores em rede, ocorridos durante a década

de 1970. Mas, ao mesmo tempo, tais mudanças somente foram possíveis

após o surgimento de novos dispositivos microeletrônicos e o aumento

da capacidade de computação, demonstrando as relações sinérgicas

da revolução da tecnologia da informação. A optoeletrônica (transmissão

por fibra ótica e laser) e a tecnologia de transmissão por pacotes digitais

promoveram um aumento da capacidade das linhas de transmissão.

A capacidade de transmissão com base em optoeletrônica, combinada com

arquiteturas avançadas de roteamento, como ATM (modo de transmissão

assíncrono) e TCP/IP (protocolo de controle de transmissão e protocolo

de interconexão), é a base da Internet.

Diversas formas de utilização da radiodifusão (transmissão tradicional,

transmissão direta via satélite, microondas, telefonia celular digital), assim como

cabos e fibras óticas, oferecem uma diversidade de tecnologias de transmissão

que estão sendo adaptadas a uma série de usos e poss ibilitam a comunicação

entre usuários de diferentes unidades móveis. Desse modo, a telefonia celular

difundiu-se maciçamente por todo o mundo na década de 1990. Foi a utilização

de todas essas tecnologias eletrônicas no campo da comunicação interativa

que levou à criação da Internet, talvez o mais revolucionário meio tecnológico

da Era da Informação.

A INTERNET

A Internet teve origem na Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA),

do Departamento de Defesa dos EUA. A primeira rede de computadores, que

se chamava ARPANET, entrou em funcionamento em 1969, com seus quatro

primeiros pontos na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, no Stanford

Research Institute, na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara e na

Universidade de Utah. Permitiu-se o acesso de cientistas à rede e, em 1983,

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houve a divisão entre ARPANET, dedicada a fins científicos, e a MILNET,

orientada diretamente às aplicações militares. As pressões comerciais,

o crescimento de redes de empresas privadas e redes cooperativas sem fins

lucrativos levaram ao encerramento dessa última espinha dorsal operada pelo

governo em 1995, prenunciando a privatização total da Internet que, uma vez

privatizada, não contava com nenhuma autoridade supervisora.

Para que a rede pudesse sustentar o crescimento exponencial no volume

de comunicações, era preciso aprimorar a tecnologia de transmissão. Contudo,

a capacidade de transmissão não era suficiente para instituir uma teia mundial

de comunicação. Era preciso que os computadores estivessem capacitados

a “conversar” uns com os outros e, o primeiro passo nessa direção foi

a criação de um protocolo de comunicação que todos os tipos de redes

pudessem utilizar: o protocolo servidor-a-servidor (TCP) e protocolo

inter-redes (IP).

lustração 2.9 | Esquema de interligação dos grandes centros de computação dos Estados Unidos, em 1979, a cargo da ARPANET, rede precursora da Internet. Fonte: SIQUEIRA, 2005, p. 133.

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Ilustração 2.10 | Gráfico das inovações tecnológicas x tempo para alcançar milhões de usuários (em anos).

Fonte: SIQUEIRA, 2005, p. 191.

Em 1979, foi divulgado o protocolo XModem, que permitia a transferência

direta de arquivos entre computadores, sem passar por um sistema principal.

Um novo salto tecnológico permitiu a difusão da Internet na sociedade

em geral: a criação de um novo aplicativo, a teia mundial (world wide

web – WWW), que organizava o teor dos sítios da Internet por informação

e não por localização, oferecendo aos usuários um sistema fácil de pesquisa

para procurar as informações desejadas. A invenção da WWW ocorreu

em Genebra, em 1990, e seu software foi distribuído gratuitamente

pela Internet.

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O CONTEXTO SOCIOECONÔMICO DA TRANSFORMAÇÃO TECNOLÓGICA

Castells (1999, p. 98) relaciona os efeitos sinérgicos entre as várias

tecnologias:

[...] o microprocessador possibilitou o microcomputador; os avanços em telecomunicações possibilitaram que os microcomputadores funcionassem em rede, aumentando assim seu poder e flexibilidade. As aplicações dessas tecnologias na indústria eletrônica ampliaram o potencial das novas tecnologias de fabricação e design na produção de semicondutores. Novos softwares foram estimulados pelo crescente mercado de microcomputadores que, por sua vez, explodiu com base nas novas aplicações e tecnologias de fácil utilização, nascidas da mente dos inventores de software. A ligação de computadores em rede expandiu-se com o uso de programas que viabilizaram uma teia mundial voltada para o usuário. E assim por diante.

A primeira revolução em tecnologia da informação concentrou-se nos Estados

Unidos e, até certo ponto, na Califórnia na década de 1970, baseando-se

nos progressos alcançados nas duas décadas anteriores e sob a influência

de vários fatores institucionais, econômicos e culturais. Mas não se originou

de qualquer necessidade preestabelecida, tendo sido mais o resultado

de indução tecnológica do que de determinação social. Na década de 1980,

as principais empresas e governos dos países do G-7 passaram por um processo

de reestruturação organizacional e econômica no qual a nova tecnologia

da informação exerceu um papel fundamental e foi decisivamente moldada

exatamente pelo papel que desempenhou. A disponibilidade de novas redes

de telecomunicação e de sistemas de informação preparou o terreno para

a integração global dos mercados financeiros e a articulação segmentada

da produção e do comércio mundial. Assim, até certo ponto, a disponibilidade

de novas tecnologias constituídas como um sistema na década de 1970 foi

a base para o processo de reestruturação socioeconômica dos anos 80.

O Vale do Silício, em São Francisco, EUA, foi transformado em meio de inovação

pela convergência de vários fatores: novos conhecimentos tecnológicos;

um grande grupo de engenheiros e cientistas das principais universidades

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da área; fundos vindos de empresas privadas e do Departamento de Defesa;

a formação de uma rede eficiente de empresas de capital de risco; e, nos

primeiros estágios, a liderança institucional da Universidade de Stanford.

O caráter metropolitano da maioria dos locais da revolução da tecnologia

da informação em todo o mundo parece indicar que o ingrediente fundamental

de seu desenvolvimento não é a novidade do cenário cultural e institucional,

mas a capacidade de gerar sinergia com base em conhecimentos e informação,

diretamente relacionados à produção industrial e aplicações comerciais.

A força cultural e empresarial da metrópole faz dela o ambiente privilegiado

dessa nova revolução tecnológica, desmistificando o conceito de inovação

sem localidade geográfica, próprio da era da informação.

Desde o início da década de 1970, a inovação tecnológica tem sido essencialmente

conduzida pelo mercado: as pessoas inovadoras (ou empreendedoras), muitas

vezes empregadas por grandes empresas, em particular no Japão e na Europa,

continuam a montar seus negócios nos Estados Unidos e, cada vez mais, em todo

o mundo. Assim, há um aumento da velocidade da inovação tecnológica e uma

difusão mais rápida dessa inovação à medida que mentes talentosas vão fazendo

pesquisas constantes em busca de nichos de mercado em produtos e processos.

[...] Na realidade, é mediante essa interface entre os programas de macropesquisa e grandes mercados desenvolvidos pelos governos, por um lado, e a inovação descentralizada estimulada por uma cultura de criatividade tecnológica e por modelos de sucessos pessoais rápidos, por outro, que as novas tecnologias da informação prosperam. No processo, essas tecnologias agruparam-se em torno de redes de empresas, organizações e instituições para formar um novo paradigma sociotécnico. (CASTELLS, 1999, p. 107).

Ainda segundo Castells (1999), cinco características fizeram parte do novo

paradigma da tecnologia da informação: a primeira é que a informação é

sua matéria-prima; o segundo aspecto refere-se à penetrabilidade dos efeitos

das novas tecnologias e, como a informação é uma parte integral de toda

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atividade humana, todos os processos de nossa existência individual e coletiva

são diretamente moldados (embora, com certeza, não determinados) pelo

novo meio tecnológico; a terceira característica refere-se à lógica de redes

em qualquer sistema ou conjunto de relações, sendo essa lógica necessária

para estruturar o não-estruturado, porém preservando a flexibilidade, pois

o não-estruturado é a força motriz da inovação na atividade humana; em

quarto lugar, referente ao sistema de redes, o paradigma da tecnologia da

informação é baseado na flexibilidade das organizações e instituições, sendo

modificadas e até mesmo fundamentalmente alteradas, pela reorganização de

seus componentes; a quinta característica dessa revolução tecnológica é a

crescente convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente

integrado, no qual trajetórias tecnológicas antigas ficam literalmente

impossíveis de se distinguir em separado.

Assim, a microeletrônica, as telecomunicações, a optoeletrônica e os

computadores são todos integrados nos sistemas de informação.

[...] a dimensão social da revolução da tecnologia da informação parece destinada a cumprir a lei sobre a relação entre a tecnologia e a sociedade proposta algum tempo atrás por Melvin Kranzberg: “A tecnologia não é nem boa, nem ruim e também não é neutra” (CASTELLS, 1999, p. 113).

A competitividade no ambiente corporativo vem crescendo continuamente

e, como reflexo disso, o tempo de amadurecimento de novos negócios

e de lançamento de novos produtos se reduz cada vez mais, forçando ciclos

de tomada de decisão cada vez mais curtos. Por outro lado, a evolução

tecnológica tem sido o catalisador do enriquecimento da comunicação

2.2 A QUESTÃO DA MOBILIDADE

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eletrônica, num esforço de torná-la cada vez mais semelhante à interação

pessoal. O melhor exemplo desse enriquecimento é a crescente presença

do vídeo nos meios de comunicação pessoais: videoconferência em telefones

celulares e telefones fixos estão entre as formas mais comuns de comunicação

multimídia. Assim, as corporações tornam-se empresas em tempo real, com

mídias de comunicação cada vez mais diversificadas.

Dada a evolução das aplicações em direção às interações em tempo real,

os conceitos de “estação de trabalho fixa” ou mesmo de “desktop” não são mais

suficientes: uma empresa que trabalha em tempo real requer acesso imediato

à suas aplicações corporativas, possibilitando a tomada de decisões a qualquer

hora e em qualquer lugar, com a máxima flexibilidade.

Um ambiente móvel habilita uma empresa a trabalhar em tempo real quando:

conecta pessoas à informação, através do uso de dispositivos móveis

e conectividade sem fio, permitindo ao colaborador manter-se sempre

atualizado, em tempo real, em relação aos indicadores mais adequados às suas

atividades; também permite a captura e o compartilhamento da informação,

mantendo o colaborador permanentemente conectado.

Uma das tendências de evolução das aplicações móveis é o enriquecimento

da informação por elas manipulada. Considera-se informação rica aquela

que utiliza vídeo, áudio e imagens digitais (multimídia); quando personaliza

a informação disponível, dirigindo-a especificamente ao usuário que a utiliza

naquele momento, podendo sofrer modificações e adequações feitas pelo

próprio usuário, segundo suas preferências.

Outra questão importante é a do imediatismo, que pode ser atingido através

da combinação de duas estratégias complementares: conectividade always on

(utilização de tecnologias de rede que permitam a aplicação manter-se conectada

continuamente); informação sincronizada acessível off-line (nesse caso,

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a aplicação mantém os dados manipulados pelo usuário armazenados local-

mente no dispositivo móvel, trazendo a vantagem de tornar o usuário indepen-

dente da disponibilidade momentânea de uma rede de telecomunicações);

abordagem mista, que consiste no uso simultâneo dessas duas estratégias na

mesma aplicação. Assim, não é incomum que uma aplicação trabalhe off-line,

mas possa se sincronizar remotamente, provavelmente através de uma solução

de conectividade always on.

As aplicações móveis devem ser simples e de uso intuitivo: as interfaces

gráficas com padrões de usabilidade, suporte a comandos de voz e dispositivos

de entrada e saída adequados contribuem para essa simplicidade.

A questão da entrada de dados é especialmente importante numa aplicação

móvel, sendo fortemente dependente do dispositivo móvel empregado

(notebook, telefone celular, PDA, etc.). Recentemente, novas formas de

entrada de dados vêm surgindo, tornando-se rapidamente bastante populares.

Entre elas destacam-se o Click Wheel, controle sensível ao toque para

equipamentos móveis de mídia; o miniteclado conhecido como thumb keyboard

e os teclados virtuais para computadores de mão, possibilitando a digitação

com canetas específicas. Como tendência futura, o reconhecimento

de voz deverá ter um papel importante na entrada de dados e no comando

de dispositivos móveis.

No caso das interfaces de saída, destaca-se a melhoria contínua das

tecnologias de exibição (telas menores, com maior resolução e consumindo

menos energia) e os progressos significativos na tecnologia de text-to-

speech, permitindo que o dispositivo apresente as informações ao usuário

através de voz sintetizada.

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Ilustração 2.11 | Gráfico sobre a confluência do bilhão em 2002, em número de telefones fixos, de celulares e de usuários da Web.

Fonte: SIQUEIRA, 2005, p. 153.

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Uma das funções que mais requerem facilidade de uso é a Gestão de Presença.

Por requerer constantes atualizações por parte do usuário (que necessita

informar seu status a cada nova situação), o sistema de Gestão de Presença

deve ser realmente intuitivo em sua utilização. Para tal, em geral recorre-se

a ícones que sumarizam de maneira bastante lúdica as diferentes combinações

de estado que configuram o perfil de presença do usuário. Exemplos desses

ícones são os utilizados pelo MSN Messenger, aplicativo de instant messaging

da empresa Microsoft.

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SOLICITAÇÕES DOS USUÁRIOS NO AMBIENTE CORPORATIVO

As maiores solicitações do corpo diretivo de uma empresa são as que

implementam acesso móvel aos sistemas de suporte à decisão da organização,

disponibilizando para os executivos as informações que eles necessitam

diariamente para a tomada de decisão fundamentada. Em geral, essas

informações consistem em indicadores e relatórios gerenciais gerados a partir

de outros sistemas pertencentes ao ambiente da empresa. Esses profissionais

têm, em geral, três necessidades principais: acesso em tempo real no que

se refere a tarefas como a geração on-line de relatórios e a análise de dados

on-line; uso de vídeo, pela necessidade de controle e acompanhamento

de processos; uso de notificações e alertas automatizados que podem ser

incorporados às aplicações, possibilitando que eventos monitorados pelos

sistemas de suporte à decisão da empresa possam disparar alarmes que

notifiquem o executivo onde quer que ele esteja.

No aspecto operacional, a adoção de aplicações móveis tem priorizado

os profissionais de campo, com os sistemas de automação de força de vendas

e equipe de campo, possibilitando que essas pessoas tenham acesso on-line

ao sistema da empresa, podendo consultar indicadores atualizados que lhe

permitam conduzir negociações da melhor forma possível.

O usuário administrativo, aqui definido como pertencente às áreas de suporte

da empresa (por exemplo, Recursos Humanos, Finanças e Marketing), tem

necessidade de acessar os Sistemas de Suporte à Operação, com os quais

trabalha diariamente.

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CONECTIVIDADE E ABRANGÊNCIA

Para entender quais tecnologias de conectividade são mais adequadas às

demandas de um usuário corporativo específico, inicialmente é necessário definir

o exato significado da palavra “mobilidade” no contexto desse profissional.

A mobilidade entre pontos fixos é aquela em que o profissional se desloca

entre pontos com infra-estrutura fixa. Nesses casos, o profissional não

utiliza suas aplicações durante os deslocamentos, sua mobilidade consiste

em poder trabalhar remotamente a partir de qualquer ponto que ofereça

a infra-estrutura mínima estabelecida. A maior parte dos executivos

encontra-se hoje nessa categoria, deslocando-se entre escritórios, hotéis,

salas de reunião e centros de convenções. Nesses locais, o profissional quase

sempre tem acesso à infra-estrutura de conectividade (em geral, uma conexão

a uma rede local). Uma das tendências de evolução desse tipo de mobilidade

é que a infra-estrutura mínima necessária para que o profissional usufrua

todas as aplicações corporativas se resuma a uma conexão simples à Internet.

O objetivo desses requisitos mínimos é permitir ao profissional trabalhar

remotamente em ambientes não-profissionais, como aeroportos, cybercafés

e na própria residência.

A mobilidade indoor consiste no deslocamento do profissional nas dependências

da corporação. Nesse cenário, o profissional é capaz de utilizar suas aplicações

móveis durante seus deslocamentos internos; um exemplo típico seria receber

um e-mail no corredor da empresa, no trânsito entre uma sala de reunião

e outra. Três tecnologias despontam como mais interessantes nesse caso: WiFi,

WiMax e redes celulares. O WiFi é o mais utilizado em aplicações verticais:

de sistemas de pedidos automatizados em restaurantes a aplicações de controle

de estoque em grandes centros de distribuição, em operações de logística.

Para aplicações horizontais, no entanto, é comum o uso de redes celulares.

Utilizar um notebook com modem WiMax poderia ser uma opção interessante

para uso indoor. Hoje, no entanto, a tecnologia encontra-se otimizada para

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uso em áreas descobertas; para que o WiMax seja uma proposta viável

no cenário indoor são necessários aprimoramentos na tecnologia.

O termo mobilidade urbana refere-se ao uso de aplicações durante

o deslocamento em áreas metropolitanas. Em geral, o usuário estará

em ambiente aberto, mas a mobilidade urbana inclui também o uso das

aplicações em escritórios ou outras instalações corporativas. Exemplos

de mobilidade urbana incluem o uso de wireless e-mail por executivos

em um táxi, por exemplo, ou a conexão remota à rede corporativa a partir

de um restaurante sem infra-estrutura própria de conectividade.

Nesse cenário, a tecnologia celular é dominante, com participação menor

da transmissão via satélite.

A mobilidade global refere-se à necessidade que alguns usuários (em especial

altos executivos ou grandes especialistas) têm de se comunicar em qualquer

lugar. Apesar de englobar todos os outros tipos de mobilidade já descritos,

existem algumas peculiaridades nesse perfil. A maior distinção que se deve

fazer nesse caso é entre a mobilidade global em áreas urbanas e a mobilidade

global em localidades remotas.

Para a mobilidade global em áreas urbanas apenas seria necessário adicionar

roaming internacional às capacidades utilizadas na mobilidade urbana.

As redes celulares são a solução mais adotada para garantir mobilidade global

a um usuário, embora nesse caso uma solução híbrida (entregar ao usuário

um “pacote” contendo múltiplas tecnologias de acesso) seja a ideal. Dessa

solução deveria fazer parte, no mínimo, o acesso celular e WiFi. Também

é esperado que o WiMax surja como um concorrente das redes celulares

de terceira geração.

Para a mobilidade global em localidades remotas, cenário aplicável a usuários

muito específicos, que requerem acesso em regiões que oferecem pouca

ou nenhuma infra-estrutura local, a única tecnologia viável é a transmissão

via satélite.

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Ilustração 2.12 | Celular portátil da Nokia, lançado em 1984, pesando mais de 3 kg.Fonte: SIQUEIRA, 2005, p. 150.

Ilustração 2.13Exemplo de celular atual que se tornou

um terminal móvel multisserviços, oferecendo vários tipos de conteúdo e possibilitando várias aplicações.

Fonte: SIQUEIRA, 2005, p. 157.

A TELEFONIA CELULAR

Entre todas as aplicações e tecnologias móveis, a telefonia celular é, sem

dúvida, a mais bem-sucedida, popular e madura. Como toda tecnologia madura,

passou por uma série de estágios evolutivos, partindo de sua proposta inicial

de oferecer ao usuário móvel um serviço similar ao da telefonia tradicional,

até atingir o status atual de tecnologia convergente de alta performance.

Para uma corporação, uma das principais questões técnicas ao selecionar uma

rede celular é a escolha da tecnologia utilizada pela operadora. Embora no início

houvesse diversos padrões, hoje o mundo se divide em redes CDMA e GSM.

Ambas suportam o mesmo conjunto de serviços e a evolução das tecnologias

deve deixá-las ainda mais parecidas. No entanto, a escolha de uma ou outra

tecnologia pela corporação pode ter impacto na seleção de dispositivos móveis

(embora a maior parte dos fabricantes de terminais ofereça ambas as tecnologias,

nem todos os dispositivos estão disponíveis em versões CDMA e GSM). Embora

globalmente a presença do GSM seja maior, as operadoras CDMA oferecem

diversas facilidades para o roaming internacional, incluindo o fornecimento

de terminais compatíveis com as redes de países que não utilizam a tecnologia.

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Ilustração 2.14 | Gráficos sobre a evolução da telefonia no Brasil.Fonte: SIQUEIRA, 2005, p. 260.

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Ilustração 2.15 | As redes Wi-Fi transformam radicalmente o acesso à Internet de alta velocidade em ambientes fechados,

tais como aeroportos, edifícios de escritórios e residências. Fonte: SIQUEIRA, 2005, p. 161.

WIFI

Tecnologia também conhecida como wireless LAN ou WLAN, permite o acesso

sem fio. Embora geralmente empregado para conexão de rede de uso geral,

voltada à extensão das redes locais tradicionais, o WiFi tem potencialmente

três usos: PAN (Personal Area Network), com eliminação de cabos, proposta

semelhante à da tecnologia Bluetooth; LAN (Local Area Network) e LAN

expandida / “Mini-MAN” (Metropolitan Area Network), com cobertura

de áreas abertas, como campi universitários ou bairros inteiros. Hoje, além

de ser uma das tecnologias sem fio de maior crescimento, o WiFi é a plataforma

escolhida para o desenvolvimento da tecnologia de mesh networks, redes

auto-organizáveis que devem reduzir muito o investimento necessário para

cobrir grandes áreas abertas.

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Atualmente, as corporações têm à sua disposição várias alternativas

de dispositivos móveis: computadores de mesa (desktops); computadores

portáteis (laptops); computadores de mão (handhelds ou Personal

Digital Assistants – PDAs); terminais telefônicos fixos, sem fio e móveis

(celulares), telefones IP e softphones (telefones IP virtuais instalados nos

computadores dos usuários).

Ilustração 2.16 | Evolução dos dispositivos móveis.Fonte: PROMON BUSINESS & TECHNOLOGY REVIEW, 2005, p. 17.

O ritmo da evolução tecnológica e a igualmente rápida disponibilização

de serviços pelos operadores de redes de acesso e provedores de aplicações

permitem que as empresas tenham uma flexibilidade sem precedentes,

conferindo mobilidade a seus funcionários. Toda essa diversidade de tecnologia

facilita a tarefa de implementar aplicações móveis, possibilitando que cada

usuário ou departamento dentro da empresa escolha a melhor alternativa para

atender às suas necessidades.

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A tese de Castells (1999, p. 210) é de que o surgimento da economia

informacional global se caracteriza pelo desenvolvimento de uma nova lógica

organizacional que está relacionada com o processo atual de transformação

tecnológica, mas não depende dele. São a convergência e a interação entre

um novo paradigma tecnológico e uma nova lógica organizacional que

constituem o fundamento histórico da economia informacional. Contudo, essa

lógica organizacional manifesta-se sob diferentes formas em vários contextos

culturais e institucionais, tema do próximo capítulo da dissertação.

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Ilustração 2.17: Os paradigmas do mundo novo, segundo Ethevaldo Siqueira (2005).Fonte: SIQUEIRA, 2005, p. 36.

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Ilustração 3.1 | Jack Lemon no filme “Se meu apartamento falasse”, ambientado em escritório com organização tipicamente taylorista. Fonte: ANTONELLI, 2001, p. 26.

Ilustração 3.2 | Jane Fonda no filme “Nine to Five”, com ambientação tipicamente taylorista. Fonte: ANTONELLI, 2001, p. 31.

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3. CULTURA ORGANIZACIONAL

Ilustração 3.3 | Exemplo do processo de desterritorialização nos escritórios. Fonte: STEELCASE INTERNATIONAL, s.d, p. 22.

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A economia informacional, como acontece com todas as formas de produção

historicamente distintas, é caracterizada pela cultura e instituições específicas.

O que caracteriza o desenvolvimento da economia informacional global

é o seu surgimento em contextos culturais e nacionais muito diferentes, nos

quais exerce influência e leva a uma estrutura de referências multiculturais.

Segundo Castells (1999, p. 209),

[...] a diversidade de contextos culturais de onde surge e em que evolui a economia informacional não impede a existência de uma matriz comum de formas de organização nos processos produtivos e de consumo e distribuição. Sem esses sistemas organizacionais, nem a transformação tecnológica e as políticas estatais, nem as estratégias empresariais poderiam reunir-se em um novo sistema econômico. Afirmo, em companhia de um crescente número de estudiosos, que culturas manifestam-se fundamentalmente por meio de sua inserção nas instituições e organizações. Por organizações, entendo os sistemas específicos de meios voltados para a execução de objetivos específicos. Por instituição compreendo as organizações investidas de autoridade necessária para desempenhar tarefas específicas em nome da sociedade como um todo (CASTELLS, 1999, p. 209).

As culturas e as instituições continuam a dar forma aos requisitos

organizacionais da nova economia, em uma interação entre a lógica produtiva,

a base tecnológica em transformação e as características institucionais

do ambiente social. Segundo Castells (1999, p. 232),

[...] formas de organização econômica não se desenvolvem em um vácuo social: estão enraizadas em culturas e instituições. Cada sociedade tende a gerar os próprios sistemas organizacionais. Quanto mais historicamente distinta é uma sociedade, mais ela se desenvolve de forma separada das outras e mais específicas são suas formas organizacionais. Contudo, quando a tecnologia amplia o escopo da atividade econômica e quando os sistemas empresariais interagem em escala global, as formas organizacionais se difundem, fazem empréstimos mútuos e criam uma mistura correspondente a padrões de produção e concorrência muito comuns, adaptando-se simultaneamente aos ambientes sociais específicos em que operam.

As redes de empresas provêm de diferentes contextos e têm expressões

culturais diversas. Segundo Castells (1999, p. 256),

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[...] redes familiares nas sociedades chinesas e no norte da Itália; redes de empresários oriundos de ricas fontes tecnológicas dos meios de inovação, como o Vale do Silício; redes hierárquicas comunais do tipo keiretsu japonês; redes organizacionais de unidades empresariais descentralizadas de antigas empresas verticalmente integradas, forçadas a adaptar-se às realidades da época; redes empresariais compostas de clientes e fornecedores de determinada empresa, inseridos numa teia mais ampla de redes formadas ao redor de outras empresas em rede; e redes internacionais resultantes de alianças estratégicas entre empresas, e suas redes auxiliares de apoio.

Pela primeira vez na história, a unidade básica da organização econômica

não é um sujeito individual (como o empresário ou a empresa familiar) nem

coletivo (como a empresa ou o Estado) e sim as redes de empresas. Ainda

segundo Castells (1999, p. 258),

[...] há um código cultural comum nos diversos mecanismos da empresa em rede. É composto de muitas culturas, valores e projetos que passam pelas mentes e informam as estratégias dos vários participantes das redes, mudando no mesmo ritmo que os membros da rede e seguindo a transformação organizacional e cultural das unidades da rede. É de fato uma cultura, mas uma cultura do efêmero, uma cultura de cada decisão estratégica, uma colcha de retalhos de experiências e interesses, em vez de uma carta de direitos e obrigações. É uma cultura virtual multifacetada [...] A empresa em rede aprende a viver nesta cultura virtual. Qualquer tentativa de cristalizar a posição na rede como um código cultural em determinada época e espaço condena a rede à obsolescência, visto que se torna muito rígida para a geometria variável requerida pelo informacionalismo. O “espírito do informacionalismo” é a cultura da “destruição criativa”, acelerada pela velocidade dos circuitos optoeletrônicos que processam seus sinais.

Como meio principal de realizar o trabalho produtivo e a criação de valor

econômico, as organizações estão entre as instituições mais importantes

da sociedade. Nadler (1993) afirma que as organizações são também um meio

importante pelo qual as pessoas satisfazem suas necessidades de realização

individual e de filiação social, e através das quais os valores culturais são

perpetuados de geração a geração.

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AS BASES TÉCNICAS E INSTITUCIONAIS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Até aproximadamente 1750, quando efetivamente se inicia a primeira Revolução

Industrial, a agricultura era a principal atividade econômica no mundo.

As mercadorias eram feitas individualmente de forma artesanal e nenhum

produto era exatamente igual ao outro. O conceito de fábrica ainda não existia,

apesar de algumas corporações desenvolverem trabalho cooperativo, permitindo

um processo de aprendizado profissional, organizado hierarquicamente

do aprendiz ao mestre.

As inovações ocorridas na Revolução Industrial podem ser agrupadas

em três princípios: a substituição da habilidade e do esforço humano pelas

máquinas – rápidas, constantes e incansáveis; a substituição de fontes animadas

de energia por fontes inanimadas, em especial, com a introdução de máquinas

para converter o calor em trabalho; e o uso de matérias-primas novas e muito

mais abundantes, sobretudo, com a substituição de substâncias vegetais

ou animais por minerais. A aplicação desses princípios permitiu um progressivo

aumento auto-sustentado na produtividade e na renda, motivando um fluxo

ininterrupto de investimentos e inovações tecnológicas. O efeito combinado

das invenções acabou por ter um impacto radical nos processos produtivos,

dando origem à Revolução Industrial. Segundo Tigre (2006, p. 10),

[...] a tecnologia precisa de condições institucionais adequadas para se difundir, enquanto a ordem econômica e social influencia a direção assumida pelo desenvolvimento tecnológico. Nesse sentido, o desenvolvimento tecnológico não é neutro, assumindo a direção

3.1 O MODELO ADMINISTRATIVO

DE TAYLOR E O FORDISMO

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apontada pelas forças econômicas e sociais em um processo de interação dialética. A Revolução Industrial não dependeu, portanto, apenas de inovações tecnológicas, mas principalmente de condições institucionais favoráveis ao desenvolvimento capitalista.

Na segunda metade do século XIX ocorreu um aprofundamento do processo

de industrialização europeu, definido pelos historiadores como a Segunda

Revolução Industrial. A difusão das aplicações da máquina a vapor, após

várias décadas de aprimoramento tecnológico, deu origem a um progresso

sem precedentes na indústria manufatureira e nos transportes ferroviário

e marítimo. A metalurgia experimentou uma grande expansão graças ao uso

do carvão mineral e à invenção do aço. A indústria têxtil, por sua vez, finalizou

o processo de substituição das energias hidráulica e humana pela máquina

a vapor, aumentando a escala dos equipamentos e unidades produtivas.

Por volta de 1870, a Inglaterra já havia substituído os teares manuais

e a maioria dos moinhos hidráulicos, pioneiros da Revolução Industrial, por

máquinas automáticas movidas a vapor. O uso dessas máquinas, apesar

de revolucionarem o processo produtivo, não permitiu, de início, um aumento

significativo das escalas de produção. Por um lado, faltavam recursos

técnicos e financeiros para a promoção de investimentos em equipamentos

e desenvolvimento de formas de organização que garantissem a produção

em massa com qualidade.

A forma jurídica e os arranjos típicos de propriedade e gestão de empresas

na segunda metade do século XIX também impunham dificuldades

ao crescimento da indústria. A maioria das manufaturas têxteis era do tipo

“firma-propriedade”, gerenciada pelos próprios donos, sendo geralmente uma

família ou um pequeno grupo de sócios. Restrita por seus limitados recursos

gerenciais e financeiros, a empresa tendia a ter uma única planta, especializada

em uma gama estreita de atividades.

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A ERA FORDISTA

No início do século XX, inovações tecnológicas e organizacionais que estavam

em gestação há décadas entraram em fase de rápida difusão, ampliando

a escala e a dimensão geográfica dos negócios. Um novo modelo de empresa

se tornou necessário para lidar com a crescente complexidade organizacional

das atividades industriais, com a necessidade de aplicar conhecimentos

científicos na indústria.

Alfred Chandler (1990), considerado o pioneiro no estudo histórico das grandes

corporações, identifica a origem e o crescimento da grande empresa moderna

em uma cadeia de eventos interligados. O primeiro elo da cadeia foi o cluster1

de inovações que provocaram uma revolução no campo dos transportes e das

comunicações. A ferrovia e o telégrafo facilitaram um aumento substancial

tanto no volume quanto na velocidade da produção. Ao mesmo tempo, essas

inovações permitiram que determinadas firmas concretizassem a lógica

dinâmica de crescimento e competição pela exploração das oportunidades

para a obtenção de economias de escala e de escopo e para a redução

dos custos de transação. A gradativa unificação dos mercados promoveu

a internacionalização e a concentração do capital.

Além das revoluções nos transportes e comunicações, três sistemas de inovações

contribuíram significativamente para alterar a estrutura da indústria, gerando

novos modelos de firmas e mercados: a eletricidade, o motor a combustão

e as inovações organizacionais conhecidas como “fordistas-tayloristas”.

1. Aglomeração espacial de empresas articuladas horizontal e/ou verticalmente de forma a

gerar economias externas. Conhecidos no Brasil como “arranjos produtivos locais”, os clusters

reúnem não só empresas de um mesmo setor ou cadeia produtiva, mas também instituições

de apoio, como escolas técnicas, laboratórios de pesquisa e certificação, prestadores de

serviços especializados, fornecedores de equipamentos, etc. (TIGRE, 2006, p. 243)

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A TEORIA DA ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA

Na filosofia de Frederick Taylor, as leis científicas poderiam definir a forma

de organização das atividades dos trabalhadores e a operação dos sistemas

produtivos. Taylor propõe a completa divisão entre o trabalho manual,

limitado à execução de tarefas previamente definidas, e o trabalho intelectual,

representado na busca das formas mais rápidas e produtivas para realizar

uma tarefa. O último pode ser alcançado por meio do estudo de tempos

e movimentos e da psicologia industrial, além das técnicas de seqüenciamento

e divisão do trabalho, mecanização do processo, padronização, intercâmbio

de peças e administração científica racional. Taylor (1911) enuncia as seguintes

regras técnicas e normas fundamentais para o trabalho industrial: para cada

tipo de indústria, ou para cada processo, estudar e determinar a técnica mais

conveniente; analisar metodicamente o trabalho do operário, estudando

e cronometrando os movimentos elementares; transmitir sistematicamente

instruções técnicas ao operário; selecionar cientificamente os operários; separar

as funções de preparação e execução, definindo-as com atribuições precisas;

especializar os agentes nas funções de preparação e execução; predeterminar

tarefas individuais ao pessoal e conceder-lhes prêmios, quando realizadas;

unificar os tipos de ferramentas e utensílios; distribuir, equitativamente, por

todo o pessoal, as vantagens decorrentes do aumento de produção; controlar

a execução do trabalho; classificar as ferramentas, os processos e os produtos.

Baseado nos princípios tayloristas, Henry Ford inaugura, em 1913, a linha

de montagem de automóveis, considerada uma das maiores inovações

tecnológicas em processos da história. Os carros eram todos de um só modelo

e de uma única cor (preta), uma padronização que visava a facilitar a montagem

e reduzir a variedade de estoques de componentes. A linha de montagem,

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combinada aos princípios de administração científica, é até hoje utilizada

em processos industriais e de serviços.

O sistema fordista de produção foi criticado por sua excessiva ênfase

na especialização, conferindo rigidez ao processo e aproximando o trabalho

do homem ao de uma máquina. As reações críticas a esse sistema podem

ser vistas, por exemplo, no filme Tempos Modernos, da década de 1930,

de Charles Chaplin.

O PÓS-FORDISMO E OS NOVOS MODELOS ADMINISTRATIVOS DE GESTÃO

Os últimos vinte e cinco anos do século XX vivenciaram uma nova revolução

tecnológica, protagonizada pelo desenvolvimento e pela difusão das tecnologias

da informação e da comunicação. Diferente do fordismo, no qual é intensivo

o uso de energia e materiais, a nova onda de destruição criadora é intensiva

em informação e conhecimento: “Essa revolução em miniatura caracteriza

uma trajetória de inovações associada à aplicação da microeletrônica e à busca

de novos materiais” (TIGRE, 2006, p. 54).

Desde o final da década de 1960, quando Alvin Tofler publicou “O Choque

do Futuro”, prenunciando que o mundo iniciava um processo de transição

rumo a uma economia e uma sociedade mais intensivas em informação e

conhecimento, observou-se uma efetiva alteração do paradigma fordista de

crescimento que vinha sendo difundido de forma bem-sucedida desde o início

do século. Tigre (2006, p. 55) destaca alguns marcos dessa nova onda criadora:

O primeiro fato foi o sucessivo aumento nos preços do petróleo, a partir da crise de 1973, que mostrou ao mundo que o modelo de crescimento baseado no consumo crescente de materiais e energia baratos não era sustentável. [...] O segundo foi o esgotamento do modelo

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fordista de produção, baseado na exploração excessiva dos princípios da padronização e divisão do trabalho. [...] O terceiro, e mais importante, foi a onda de inovações iniciada com a invenção do transistor na década de 1940 e potencializada pela introdução do circuito integrado nos anos 70 e pela Internet nos anos 90. A microeletrônica serviu como base técnica para a imbricação das tecnologias de informática, telecomunicações, optoeletrônica, software e suas múltiplas aplicações que retroalimentam o processo de inovação.

A partir da década de 1980, várias estratégias de reorganização nas empresas

comerciais surgiram favorecidas pela reestruturação econômica. Segundo

Castells (1999), as transformações organizacionais interagiram com a difusão

da tecnologia da informação, mas em geral eram independentes e precederam

essa difusão nas empresas. O objetivo principal das transformações

organizacionais era lidar com a incerteza causada pelo ritmo veloz das

mudanças no ambiente econômico, institucional e tecnológico das empresas,

aumentando a flexibilidade em produção, gerenciamento e marketing. Muitas

transformações organizacionais visavam redefinir os processos de trabalho

e as práticas de emprego, com o objetivo de economizar mão-de-obra

mediante a automação de trabalhos, eliminação de tarefas e supressão

de camadas administrativas.

A primeira e mais abrangente tendência de evolução organizacional é a

transição da produção em massa para a produção flexível, ou do “fordismo”

para o “pós-fordismo”.

Quando a demanda por quantidade e qualidade tornou-se imprevisível;

quando os mercados ficaram mundialmente diversificados e, portanto, difíceis

de serem controlados; e quando o ritmo da transformação tecnológica

tornou obsoletos os equipamentos de produção com objetivo único, o sistema

de produção em massa ficou muito rígido e dispendioso para as características

da nova economia. O sistema produtivo flexível surgiu como uma possível

resposta para superar essa rigidez.

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Sistemas flexíveis de produção em grande volume, geralmente ligados a

uma situação de demanda crescente de determinado produto, coordenam

grande volume de produção, permitindo economias de escala e sistemas

de produção personalizada programável, captando economias de escopo.

As novas tecnologias permitem a transformação das linhas de montagem

típicas da grande empresa em unidades de produção de fácil programação

que podem atender às variações do mercado (flexibilidade do produto) e das

transformações tecnológicas (flexibilidade do processo).

Ainda sobre as novas tecnologias, Tigre (2006, p. 55) complementa:

[...] As tecnologias da informação e da comunicação (TIC), aqui referidas propositadamente no plural por serem uma combinação de várias tecnologias, abrem oportunidades para inovações secundárias que vêm revolucionando a indústria e a organização do sistema produtivo global. Para as empresas e organizações, a principal conseqüência da difusão das TIC foi a abertura de novas trajetórias de inovações organizacionais [...] A possibilidade de integrar cadeias globais de suprimentos, aproximar fornecedores e usuários e acessar informações em tempo real em multimídia, onde quer que elas se encontrem armazenadas, alimenta o desenvolvimento de uma nova infra-estrutura, de novos modelos de negócios, e viabiliza inovações organizacionais que seriam impensáveis sem a informação e a comunicação digitais.

Desde o tempo de Adam Smith, a busca pelo aperfeiçoamento das formas

tradicionais de realizar tarefas produtivas, por meio da observação

e da experiência, é vista como a mais importante fonte da produtividade

da indústria.

3.2 INOVAÇÕES ORGANIZACIONAIS

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Apesar do sucesso dos modelos da “administração científica” de Taylor e

da burocracia, o custo da produtividade foi enorme. Faltavam à empresa,

geralmente, motivação e criatividade entre seu pessoal, cujo potencial

não podia ser aproveitado em tarefas limitadas, repetitivas, sem qualquer

autonomia. A coordenação entre as unidades era difícil, apesar das

tentativas de sistematizar as interações com regras e procedimentos. O

sistema burocrático tinha várias conseqüências como o estrangulamento

das comunicações, a tomada de decisões com falta de informações

necessárias e uma incapacidade de agir provocada pelas muitas camadas

sobrepostas de regras administrativas.

Segundo Nadler (1993), a partir da década de 1940 e até a década

de 1970, os teóricos e os praticantes da administração reagiram com

várias técnicas para compensar as limitações inerentes à burocracia

mecânica. Eles estavam convictos de que as pessoas queriam trabalhar

e produzir coisas de qualidade e que a energia das pessoas podia ser

posta a serviço de metas organizacionais; considerando que havia grande

potencial em grupos ou equipes de pessoas que trabalhavam juntas

colaborativamente. Essas técnicas foram chamadas de Abordagem das

Relações Humanas e incluíam a administração participativa e criação

de equipes, entre outras abordagens semelhantes. Apesar das notícias

iniciais de sucesso dessas inovações, em muitos casos seu impacto teve

breve duração. “Freqüentemente, essas novas abordagens eram ‘coladas’

sobre a organização existente, que tinha sido projetada usando o modelo

da burocracia mecânica. Dois modelos conf litantes de projeto estavam

sendo usados e [...] com o tempo, essas ‘colagens’ passaram a ter pouco

impacto positivo” (NADLER, 1993, p. 98).

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Outras inovações organizacionais passaram a se difundir em resposta aos

desafios competitivos enfrentados pelas empresas contemporâneas. A primeira

se refere ao sistema just-in-time2 ou Toyotismo, uma técnica que evita

a ociosidade dos insumos materiais e permite grandes economias de tempo

e capital de giro. A segunda tem como referência o controle da qualidade

total (CQT), que desde os anos 80 vem sendo amplamente difundido no Brasil.

A terceira inovação apresentada é a reengenharia de processos de negócios

(BPR), vista como uma tendência mais radical de mudança organizacional,

associada ao uso das tecnologias da informação e da comunicação. A quarta

inovação organizacional está relacionada à formação de células de produção.

As novas trajetórias organizacionais não são conseqüências automáticas

da transformação tecnológica. Algumas delas precederam o surgimento

das novas tecnologias da informação. Por exemplo, o sistema kan-ban foi

introduzido na Toyota pela primeira vez em 1948 e sua implantação não

precisou de conexões eletrônicas on-line. A maior parte dos métodos de

envolvimento de trabalhadores experimentados pelas empresas japonesas,

suecas e norte-americanas exigia mais mudança de mentalidade do que

mudança de maquinário. O obstáculo mais importante na adaptação

da empresa vertical às exigências de flexibilidade da economia global era

a rigidez das culturas corporativas tradicionais. E, no momento de sua difusão

maciça na década de 1980, de acordo com Castells (1999, p. 229),

[...] supunha-se que a tecnologia da informação fosse uma ferramenta mágica para reformar e transformar a empresa industrial. Mas sua introdução na ausência da necessária transformação organizacional,

2. Método de gestão industrial que procura minimizar os estoques em processo, reduzir

o espaço e os custos de armazenagem e melhorar o fluxo produtivo por meio

do agendamento da chegada dos componentes e materiais exatamente na hora em que são

demandados (TIGRE, 2006, p. 243).

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de fato, agravou os problemas de burocratização e rigidez. Controles computadorizados causavam até mais interrupções que as redes de comandos pessoais tradicionais em que ainda havia lugar para alguma forma de barganha implícita. Na década de 1980 nos Estados Unidos, uma tecnologia nova era, com certa freqüência, considerada dispositivo para economizar mão-de-obra e oportunidade de controlar os trabalhadores, e não um instrumento de transformação organizacional. Desse modo, a transformação organizacional ocorreu independentemente da transformação tecnológica, como resposta necessidade de lidar com um ambiente operacional em constante mudança. No entanto, uma vez iniciada, a praticabilidade ou transformação organizacional foi extraordinariamente intensificada pelas novas tecnologias de informação.

A capacidade de empresas de pequeno e médio porte se conectarem em redes,

entre si e com grandes empresas, também passou a depender da disponibilidade

de novas tecnologias, uma vez que o horizonte das redes tornou-se global.

[...] As grandes empresas ficariam simplesmente impossibilitadas de lidar com a complexidade da teia de alianças estratégicas, dos acordos de subcontratação e do processo decisório descentralizado sem o desenvolvimento das redes de computadores; de forma mais específica, sem os poderosos microprocessadores instalados em computadores de mesa, ligados a redes de telecomunicações digitalmente conectadas. Esse é um caso em que a transformação organizacional, em certa medida, motivou a trajetória tecnológica (CASTELLS, 1999, p. 230).

Foi devido à necessidade de utilização de redes pelas novas organizações – grandes

e pequenas – que os computadores pessoais e as redes de computadores foram

amplamente difundidos.

A tecnologia das redes de informação teve um enorme progresso no início

da década de 1990 em virtude da convergência de três fatores: a digitalização

da rede de telecomunicações, o desenvolvimento da transmissão em banda

larga e uma grande melhoria no desempenho de computadores conectados

pela rede, desempenho que, por sua vez, foi determinado por avanços

tecnológicos em microeletrônica e software. Avanços qualitativos em tecnologia

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da informação, indisponíveis até a década de 1990, permitiram o surgimento

de processos flexíveis de gerenciamento, produção e distribuição totalmente

interativos com base em computadores, envolvendo cooperação simultânea

entre diferentes empresas e suas unidades.

[...] Com a generalização da Internet, das Intranets e das Extranets, com base na banda larga, nas redes de comunicação rápida, as empresas, grandes e pequenas, passaram a se relacionar com facilidade, entre si e com os clientes, num padrão interativo e flexível. Em conseqüência disso, todos estavam tecnologicamente capacitados a adotar a forma de organização em rede contanto que a empresa estivesse capacitada para a inovação administrativa (CASTELLS, 1999, p. 231).

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E MUDANÇAS ORGANIZACIONAIS

Segundo Tigre (1999), a simples introdução de uma nova tecnologia,

desacompanhada de um esforço deliberado de adaptação, não é suficiente

para conferir competitividade a uma organização. A tecnologia precisa,

por um lado, ser ajustada ao contexto específico em que será aplicada.

Por outro, as próprias empresas precisam mudar sua forma de organização

para incorporar com sucesso as oportunidades de inovação. As mudanças

organizacionais costumam ser mais difíceis de implementar do que as mudanças

tecnológicas, pois requerem alterações em processos de negócios, mudanças

nas cadeias hierárquicas de comando e controle, novas formas de acesso

a informações e reformulação em rotinas e estruturas de poder cristalizadas nas

empresas ao longo dos anos. Quanto mais rígida a estrutura da organização,

mais difícil se torna a introdução de mudanças organizacionais. Geralmente,

empresas ou plantas industriais novas conseguem tirar melhor proveito de uma

inovação do que outras mais antigas, pois criam, desde o início, as condições

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organizacionais adequadas para incorporá-la. As empresas organizadas

de forma mais tradicional, em contraste, acabam tendo de passar por um

processo de “desaprendizado” para substituir as práticas organizacionais

obsoletas.

Mudanças organizacionais, como just-in-time e controle de qualidade total,

foram introduzidas a partir dos anos 70 e 80 sem a utilização das Tecnologias

de Informação e Comunicação. Hoje, porém, as tecnologias se encontram

mais integradas diante do maior desenvolvimento do acesso à informação.

As Tecnologias de Informação e Comunicação permitem aperfeiçoar as

inovações organizacionais de forma a responder às crescentes pressões

competitivas, a exemplo da globalização dos mercados, da necessidade de

operar em tempo real, da maior orientação para as demandas específicas

dos clientes, da necessidade de inovar em produtos e processos, de cumprir

novas exigências éticas e ambientais, de melhorar a qualidade de produtos e

serviços, de integrar a logística de suprimentos e de introduzir novas formas

de organização do trabalho.

Tigre (2006, p. 199) constata que “[...] a organização de uma empresa tem muitos

aspectos tácitos, a exemplo da cultura organizacional, que são construídos

informalmente. Assim, mudanças tecnológicas precisam ser experimentadas

e adaptadas às características sociotécnicas de cada organização. Muitas

técnicas desenvolvidas com sucesso em determinadas empresas, regiões ou

países não conseguem produzir o mesmo resultado quando aplicadas em

outros contextos em função de diferenças culturais”.

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O SISTEMA JUST-IN-TIME (JIT) OU TOYOTISMO

O Jit foi desenvolvido diante da necessidade de reduzir custos de produção

por meio da eliminação do excesso e do desperdício em todas as etapas

do processo produtivo. Seu principal objetivo é fabricar e entregar produtos

“apenas a tempo” de serem vendidos e comprar os componentes “apenas

a tempo” de serem fabricados. O Jit constitui uma técnica importante

para facilitar a customização da produção, pois permite ao mesmo

tempo a individualização do produto e o aumento da velocidade do ciclo

de produção.

O primeiro passo é inverter o fluxo produtivo, deixando de “empurrar”

a produção ao longo de uma linha, a idéia é “puxar” o fluxo produtivo a partir

das necessidades da demanda, com a produção começando só quando o cliente

encaminha seu pedido. O passo seguinte consiste em reduzir o tamanho dos

lotes de produção.

A resolução dos problemas requer a participação e a mobilização dos

trabalhadores por meio de sugestões, círculos de controle de qualidade

e treinamento sistemático. Ao contrário do que Taylor pensava, os engenheiros

e especialistas não têm o monopólio das boas idéias, pois sugestões oferecidas

por operários podem constituir uma importante fonte de melhoria da qualidade

e de inovações incrementais.

O CONTROLE DA QUALIDADE TOTAL (CQT)

As técnicas voltadas para melhoramentos contínuos na qualidade

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e na produtividade, agrupadas nos chamados sistemas de controle da qualidade

total (CQT), são provavelmente as inovações organizacionais mais populares

entre as empresas brasileiras. Desde a década de 1980, quando foi identificado

como um dos pilares do aumento da competitividade japonesa, o CQT vem

se difundindo não apenas como técnica organizacional, mas principalmente

como uma “filosofia” de gestão para melhorar a qualidade sempre que

possível. Por ser objeto de certificação (através do ISO da série 9000),

a qualidade também constitui uma ferramenta de marketing, explicitando

aos clientes e parceiros que a empresa adota as melhores práticas disponíveis

para assegurar a qualidade de seus processos. A qualidade constitui, depois

da redução de custos, a principal melhoria perseguida pela indústria.

O principal intuito dos sistemas de qualidade é a adequação ao uso

e a satisfação dos clientes e uma das vantagens mais flagrantes dos sistemas

de CQT é ter seus resultados explicitados em indicadores objetivos que

permitem avaliar avanços e retrocessos na qualidade dos processos.

CÉLULAS DE PRODUÇÃO

À medida que os sistemas produtivos se tornam mais complexos

e interdependentes, a flexibilidade da organização do trabalho assume

crescente importância para a produtividade. A necessidade de dar

respostas rápidas a novos problemas deu origem a esquemas mais flexíveis

de organização do trabalho que permitem um maior grau de autonomia local

e de auto-organização. Há um crescente interesse em novas tecnologias

e trabalho em grupo e células de produção que ofereçam maior autonomia

para reorganizar funções. As células podem incorporar diferentes especialistas,

tradicionalmente organizados por funções, visando reduzir a burocracia e facilitar

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a integração de diferentes habilidades para o cumprimento de objetivos.

As células se diferenciam radicalmente das técnicas tayloristas na medida em

que buscam assegurar total flexibilidade, através da adoção de novas formas

de organização da produção. A hierarquia é substituída por estruturas mais

horizontais e autônomas de produção. O planejamento cede espaço para

a descentralização, enquanto a especialização rígida dos trabalhadores

dá lugar à polivalência e à distribuição da inteligência. As células não precisam

ser permanentes, pois certas tarefas podem ter caráter temporário e é necessário

garantir a máxima flexibilidade possível. Uma mesma pessoa pode fazer parte,

simultaneamente, de diferentes células. As células podem ser organizadas por

projetos específicos, reunindo pessoas antes agrupadas por funções. Embora

as células sejam mais estudadas na manufatura, o princípio também pode ser

aplicado com êxito na área de serviços.

Do ponto de vista organizacional, tradicionalmente se agrupam as principais

funções (produção, vendas e finanças) sob uma mesma diretoria ou gerência.

O problema que emerge desse tipo de organização é o modo como coordenar

as diferentes funções de forma satisfatória. Nas empresas de pequeno e médio

portes, a coordenação geralmente é exercida pelo executivo principal, que

procura harmonizar as diferentes funções com base nas informações disponíveis

e em sua visão implícita de estratégia. No entanto, à medida que a empresa

cresce, torna-se mais difícil uma única pessoa arbitrar os conflitos internos.

O contato entre as gerências torna-se burocrático e as decisões centralizadas

são demoradas e nem sempre garantem a eficiência.

Já a organização por células visa promover a integração horizontal da empresa,

colocando as diferentes funções necessárias à execução de um processo dentro

de uma mesma unidade. A empresa é dividida em: unidades de produtos,

que cuidam dos diferentes segmentos do mercado; e unidades de apoio, que

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prestam serviços a elas. Os parceiros de fora da empresa também são atendidos

pelas unidades de apoio. Cada célula é um centro de custos que contabiliza

os serviços prestados a outras áreas. Atuando de forma descentralizada,

as células geralmente conseguem atender mais rapidamente a seus objetivos

com um custo menor.

REENGENHARIA DE PROCESSOS DE NEGÓCIOS

Processo que pode ser definido como uma seqüência de atividades

rotineiras que agregam valor aos insumos (materiais, energia, equipamentos,

procedimentos, trabalho, etc.), transformando-os em produtos ou serviços.

As melhorias nos processos obtidas por meio do CQT podem não ser suficientes

para manter uma organização competitiva diante do acirramento do processo

competitivo. A necessidade de empreender saltos radicais de produtividade

pode requerer uma reformulação mais ampla dos processos produtivos, por

meio da reengenharia de processos. “A reengenharia de processos é uma técnica

que permite promover mudanças gerenciais, fusões e eliminação de setores e

departamentos, reformulação dos processos de distribuição e realinhamento

do posicionamento competitivo” (TIGRE, 2006, p. 208).

As Tecnologias de Informação e Comunicação são muito importantes para

a reengenharia de processos na medida em que permitem a automação, facilitam

a condução dos negócios em diferentes localidades, oferecem flexibilidade

produtiva, permitem o melhoramento da logística de distribuição e o acesso

descentralizado a sistemas de informações. A reengenharia só foi viabilizada

a partir dos anos 90, quando as Tecnologias de Informação e Comunicação

se tornaram mais integradas.

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Segundo a tese de Castells (1999, p. 210), conforme mencionado no capítulo

anterior, o surgimento da economia informacional global caracteriza-se pelo

desenvolvimento de uma nova lógica organizacional que está relacionada

com o processo atual de transformação tecnológica, mas não é dependente

dele. A convergência entre um novo paradigma tecnológico e uma nova

lógica organizacional é que constituirá o fundamento histórico da economia

informacional.

Existem diversos modelos que descrevem e distinguem a cultura organizacional,

de acordo com seus fundamentos e valores centrais. SCHEIN (1985) identificou

que a cultura organizacional se manifesta por meio de três níveis: o primeiro

é o nível superficial, percebido no primeiro instante, que corresponde aos

valores mais visíveis como os comportamentais e provenientes do layout

do escritório, dos objetos e da linguagem; o segundo está relacionado

aos valores e crenças que diferenciam uma empresa de outra que, apesar

de subjetivos, são perceptíveis pela consciência, transformados em atitudes

e incorporados ao meio; o terceiro trata das premissas básicas que formam

a cultura organizacional em si, na qual se apresentam as causas para tal.

Esse último nível está relacionado ao comportamento humano, à natureza

da realidade e à sua relação com o ambiente, formando o pensamento

e o sentimento dos indivíduos perante a organização.

Andrade (2005) identificou três elementos-chave do ambiente de trabalho,

por meio dos quais a cultura organizacional se manifesta. O primeiro

é a padronização do espaço, pois o espaço físico é um elemento importante

para criar e codificar mensagens sobre a cultura existente, assim como um

meio eficaz de refletir o papel das pessoas na empresa: pode ser conseguido

pelo arranjo físico das estações de trabalho, pelo modo como são tratados

os diversos componentes de um layout – circulações, salas de reuniões, áreas

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de integração e descanso, por exemplo. O segundo elemento é o conceito de

ocupação, com a possibilidade de se optar entre ambientes abertos e fechados;

essa definição está, na maioria das vezes, mais relacionada à cultura da

empresa do que ao perfil da atividade exercida e às exigências de privacidade

e/ou integração das áreas da empresa. Ambientes totalmente fechados podem

indicar uma cultura individualista, enquanto ambientes abertos podem ser

um sinal de informalidade e gestão participativa. O terceiro elemento-chave

é formalidade ou informalidade do layout, pois, de modo geral, ambientes

formais indicam empresas mais conservadoras e rígidas, enquanto os arranjos

informais sugerem maior maleabilidade.

Os três elementos-chave apontados acima podem ser observados no próximo

capítulo onde serão apresentados os conceitos de ocupação do espaço que

acompanharam a evolução dos escritórios ao longo do último século.

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Larking Building, projeto do arquiteto Frank Lloyd Wright, em Nova Iorque, EUA, 1904.

Fonte: DUFFY, 1997, p. 20.

Escritório Não-Territorial da Chiat Day, projetado por Gaetano Pesce, em Nova Iorque, EUA, 1994.Fonte: DUFFY, 1997, p. 193.

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O ambiente de trabalho influencia o comportamento das pessoas, envia

mensagens de diferentes formas para seus usuários e visitantes, deter-

mina formas de realização do trabalho, comunica valores e contribui para

a produtividade. (HALL, 1981). Portanto, o ambiente de trabalho tem sempre

uma mensagem a passar. Becker (1981) investigou até que ponto planejamen-

to, design e gerenciamento do espaço físico de escritório podem afetar e ser

afetados por modelos e práticas organizacionais.

O tema deste capítulo é a história do processo evolutivo dos padrões de ocupa-

ção dos escritórios e como estes foram afetados pelos modelos organizacionais.

4. O PROCESSO DE DESTERRITORIALIZAÇÃO

DOS ESCRITÓRIOS

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A história dos ambientes de escritório remonta à história da escrita e à dos

seus espaços. Da escrita cuneiforme, constituída de sinais em forma de cunha,

traçados com espátulas por escribas das civilizações mesopotâmicas a partir

do IV milênio a.C., ao escriba egípcio, datadas em três mil anos a.C., já se vê

a busca por um espaço especializado para a execução desse ofício. Ao escriba

egípcio é atribuída a invenção do móvel de escritório, instalado em um espa-

ço próprio – o scriptorium (termo latino) – para a realização de suas tarefas:

desenhar mapas, registrar transações comerciais e preparar inventários, entre

outras (PÉLEGRIN-GENEL, 1996).

Já no século XII, com o ressurgimento das cidades e das universidades

na Europa, as bibliotecas ganham novos espaços, além dos mosteiros.

No século XV, com a prensa de Gutenberg difundindo o hábito da leitura,

há uma evolução no conceito das bibliotecas, implicando em um arranjo mais

criterioso, com acesso mais facilitado aos leitores, com lugares mais confortáveis

para a consulta e a leitura, repercutindo fortemente nos modelos de ambientes

e de móveis destinados ao trabalho intelectual (SCHWARCZ, AZEVEDO

e COSTA, 2002).

Segundo Pélegrin-Genel, a intensificação da vida civil e do comércio no mundo

originou um profissional que muito contribuiu para o desenvolvimento de um

mobiliário de escritório: os tabeliões, que necessitavam manter organizados

muitos cadastros e registros. Eles foram os precursores do escritório privado,

com móveis desenhados especialmente para essa função, com escrivaninhas,

escaninhos, estantes e espaços onde também se recebiam pessoas. “O escritó-

rio, na forma como conhecemos hoje, tem seu início associado a pelo menos

dois novos instrumentos que revolucionaram os sistemas de troca de informa-

ções nos ambientes de trabalho: o surgimento das máquinas de escrever fabri-

cadas pela Remington a partir de 1873, e dos telefones, cuja invenção remonta

a 1876” (ROMANO, 2003, p. 5).

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No início do século XIX, os escritórios ainda ocupavam o mesmo edifício

da residência, normalmente ocupando o térreo e, às vezes, o mezanino, confor-

me mencionado no primeiro capítulo. A partir de então, cresce a importância da

distinção entre as vidas pública e privada, com o desejo da preservação da esfe-

ra familiar, em contraposição ao mundo impessoal do trabalho e dos negócios.

No final do século XIX, já é possível perceber os ambientes de escritórios nas

empresas, com seus conceitos de ocupação refletindo a organização estratégica

das empresas. A partir da transição entre os séculos XIX e XX, surge o Escritório

Americano também conhecido como Bullpen, conceito baseado nas teorias de

Taylor, que antecede o Landscape Office ou Escritório Panorâmico, baseado nos

preceitos do Movimento Humanista, ou Escola das Relações Humanas.

Os escritórios do século XX foram palco das inovações tecnológicas, quan-

do surgiram, ou passaram a ser usados de modo mais difundido, o telefone,

a máquina de escrever, o telex, a máquina xerox, o fax, o computador,

as impressoras, o telefone celular, a Internet, a Intranet, os sistemas de vídeo-

conferência, modificando a forma de realização do trabalho.

No fim da década de 1960 surge o primeiro sistema integrado de mobiliário

de escritórios e o conceito Open Plan ou de Planta Livre, seguindo até o final

da década de 1980, englobando os conceitos de Escritório Aberto, Escritório

Aberto/Fechado, Escritório Fechado e de Plano Universal. A partir da década

de 1990, com os avanços das tecnologias móveis de informação e comunica-

ção, surge um novo conceito – o dos Escritórios Não-Territoriais.

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1. A primeira critica ao taylorismo é feita por Elton Mayo com o movimento chamado Escola

das Relações Humanas, que substitui o método coercitivo pelo emprego da psico-sociologia

e da comunicação interna, fazendo com que os funcionários participem um pouco mais

efetivamente das decisões da empresa (Romano, 2003).

A transformação da economia agrária para a industrial, e da indústria para

o setor de serviços, vem transformando a Relação Homem-Trabalho nos últi-

mos cem anos. O trabalhador deixou de exercer uma atividade ao ar livre, que

exigia basicamente o uso da força, passando para uma atividade repetitiva

na produção fabril. Foi necessário adquirir uma melhor capacitação técnica,

além da habilidade em lidar com o aumento da concorrência e com o medo

do desemprego (ANDRADE, 2000). A capacidade de adaptação às mais varia-

das teorias organizacionais também desafiou o trabalhador ao longo do

século passado.

Os paradigmas de organização do trabalho foram mudando, assim como seus

ambientes de trabalho. De acordo com Andrade (2000, p. 15):

[...] as formas de realização das atividades no escritório foram se transformando. Se no início do século as atividades eram manuais, extremamente operacionais e controladas passo a passo, hoje as facilidades tecnológicas e o mundo permitem que o funcionário realize suas atividades com mobilidade e o controle passa a ser o de resultados. Se o poder era fundamento no nível hierárquico, hoje é calcado na capacidade de ser ágil e na habilidade para lidar com diversas situações e culturas.

É importante notar que a evolução dos escritórios tal como ocorre nos

Estados Unidos, é diferente do modo como acontece na Europa, que é dife-

rente de como ocorre no Brasil. Enquanto nos EUA, por mais de cinqüenta

anos, as empresas embasaram-se na Teoria da Administração Científica; na

Europa, a Abordagem das Relações Humanas1, escola com idéias opostas ao

modelo taylorista, encontrava seguidores. Esse modelo refletiu-se na forma

de organização do espaço físico, tornando o ambiente mais humano e orgâ-

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nico, com o conceito conhecido como Landscape Office ou escritório panorâ-

mico (ANDRADE, 2000).

Em São Paulo inaugurou-se, em 1928, o edificio Alexandre Mackenzie, sede

da Light Power Company, no Vale do Anhagabaú, de acordo com os preceitos

tayloristas, quase duas décadas após o seu surgimento nos EUA.

Durante aproximadamente vinte anos, entre as décadas de 1960 e 1980,

o conceito de Open Plan e das estações de trabalho integradas, com seus

escritórios abertos, ou parcialmente abertos foram enormemente utilizados

nos EUA.

No Brasil, o Bullpen – conceito de ocupação física baseado nos preceitos

do taylorismo – norteou o processo de organização física das empresas até

o final da década de 1980. Até então, o mobiliário era autoportante, compos-

to por mesas e escrivaninhas de madeira escura; com a gerência utilizando

salas fechadas, enquanto os funcionários ficavam em amplos espaços abertos.

Mas, a partir do final da década de 1980 e início dos anos 90, quando os

modelos de Controle de Qualidade Total, Reengenharia e Células de Produção

expandiram-se nas empresas, e com o advento das tecnologias de infor-

mação mais difundidas, começou-se a discutir inovações nos ambientes de

escritório. Nesse período, nos EUA, os Escritórios Alternativos já estavam sen-

do utilizados.

Na Europa, o Landscape Offìce deu lugar a um escritório aberto, dividido em

pequenos grupos e com dimensões mais generosas, ou ao surgimento do

conceito de Combi Offices, com pequenas salas fechadas e uma ampla área

destinada ao uso comum (ANDRADE, 2005).

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A DÉCADA DE 1950 E O CONCEITO BULLPEN OU ESCRITÓRIO AMERICANO

O conceito de ocupação conhecido como Bullpen ou Escritório America-

no foi fundamentado na Teoria da Administração Cientifica, de Frederick

Winslow Taylor.

Taylor preconizava a segregação espacial como meio de reafirmar a hierar-

quia, defendia a padronização do mobiliário e a rigidez dos layouts como

forma de assegurar a disciplina e a linearidade do processo de trabalho, como

se o escritório fosse uma linha de montagem em uma fábrica. O taylorismo

passa a ser o principal critério norteador da organização do trabalho, defi-

nindo o perfil de um novo tipo de escritório, fisicamente separado da fábrica,

mas com parâmetros de organização espacial que lembram a planta industrial:

espaço único para os funcionários dos escalões inferiores (datilógrafos, con-

tadores, contínuos, etc.), mesas em fileiras paralelas dispostas numa mesma

direção, sob as vistas de um supervisor instalado defronte, lembrando também

a disposição de carteiras escolares face à mesa do professor. “Os funcionários

formam equipes cujos membros cooperam na execução de uma tarefa global.

Não há lugar para a iniciativa individual e os procedimentos de trabalho

começam a ser padronizados. Definem-se os tempos ideais para a execução

não apenas de cada tarefa, mas de cada gesto: datilografar uma letra, escrever

um algarismo, abrir pasta, levantar-se da cadeira, abrir gaveta, etc. É institu-

ído o relógio de ponto” (ROMANO, 2003, p. 6).

4.1 A EVOLUÇÃO NOS CONCEITOS DE OCUPAÇÃO DOS ESCRITÓRIOS

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Segundo o princípio de Taylor, os postos de trabalho foram padronizados

de acordo com a função exercida por cada funcionário, e classificados quanto

ao tipo, acabamento, números de gavetas e necessidade de escaninhos sobre

a mesa. Conforme Andrade constata (2000, p. 17):

[...] quanto mais alto o escalão hierárquico, com mais componentes, maior e mais luxuoso era o mobiliário. Por conveniência, as salas fechadas tinham uma parte em vidro para melhor visualização dos funcionários e também para melhor iluminação. Os equipamentos eram dispostos de tal modo que seu barulho não incomodasse os outros funcionários. Os arquivos ficavam situados o mais próximo possível da gerência e das áreas que se utilizavam deles.

Ilustração 4.1 | Escrivaninhas fabricadas pela Steelcase a partir da década de 1920.

Fonte: ZELINSKY, 1998, p. 143.

Ilustração 4.2 | Exemplo de escritório típico do início do século XX, baseado nas teorias de Taylor. Fonte: DUFFY, 1997, p. 16.

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O arquiteto Frank Lloyd Wright, fez o projeto arquitetônico do Larkin Building,

construído em Buffalo, Nova Iorque, em 1904. Um átrio central de pé-di-

reito elevado iluminado por ampla clarabóia, destinado aos empregados de

escalão inferior era circundado por quatro pavimentos de galerias onde se

localizavam as salas privativas dos funcionários do alto escalão. Wright refe-

ria-se à sua realização como “um templo do trabalho dos colarinhos brancos.”

(ROMANO, 2003, p. 9). Esse projeto foi considerado como a materialização

das idéias de Taylor.

Ilustração 4.3 | Departamento de operadoras de máquinas de escrever, localizado no primeiro andar do Larking Building.

Fonte: HASCHER, JESKA, KLAUCK, 2002, p. 12.

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Ilustração 4.4 | Larking Building, projeto do arquiteto Frank Lloyd Wright, 1904. Fonte: DUFFY, 1997, p. 20.

Ilustração 4.5 | Planta do pavimento térreo do Larking Building.

Fonte: HASCHER, JESKA, KLAUCK, 2002, p. 17.

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Em 1936, em seu projeto do edifício da Johnson Wax, em Racine, Wiscounsin,

nos Estados Unidos, Wright inova com o projeto dos componentes de mobili-

ário, cuidando de todos os detalhes operacionais e técnicos, do que viria a ser

a primeira linha de mobiliário totalmente concebida por um arquiteto. Apesar

da maior informalidade no planejamento do layout, os funcionários ainda se

localizavam no meio de um grande salão, posicionados em fileiras, com os

chefes instalados em salas fechadas ao redor do salão, privilegiados pela vista

externa e pela iluminação natural.

Ilustração 4.6 Johnson’s Wax Building,

projeto do arquitetoFrank Lloyd Wright, 1904.

Fonte: DUFFY, 1997, p. 20.

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Ilustração 4.8 | Planta do Johnson’s Wax Building, com as salas fechadas dos superiores hierárquicos nas extremidades

e os demais funcionários ocupando o meio do salão. Fonte: DUFFY, 1997, p. 25.

Ilustração 4.7 | Detalhamento das mesas e cadeiras do Johnson’s Wax Building, projeto do arquiteto Frank Lloyd Wright, 1936-39. Fonte: DUFFY, 1997, p. 25.

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A DÉCADA DE 1960: ESCRITÓRIO PANORÂMICO OU LANDSCAPE OFFICE

E OS ESCRITÓRIOS DE PLANTA LIVRE OU OPEN PLAN

O conceito conhecido como Landscape Offi ce ou Escritório Panorâmico foi

desenvolvido pela empresa de consultoria alemã Quickborner Team, a partir

de teorias da linha behaviorista que pregavam a auto-satisfação e a partici-

pação criativa como os meios mais efi cazes para o estímulo ao trabalho e à

responsabilidade (ROMANO, 2003). Esses layouts partiam do princípio de que

as salas fechadas eram barreiras que isolavam as pessoas e a necessidade de

comunicação e inter-relacionamento entre as áreas deveria ser considerada.

Então foi proposta uma organização de layout em um espaço totalmente

aberto, sem paredes, divisórias ou corredores. “O layout seguia a geometria

dos fl uxos, da comunicação e não da arquitetura do edifício. As necessidades

de contato visual ou comunicação entre as áreas, o fl uxo de papéis e todos

esses aspectos relacionados ao processo de trabalho passaram a ser valoriza-

dos.” (ANDRADE, 2000, p. 22).

Ilustração 4.9 | Ninofax Building, projeto do arquitetoN. Zobel, 1962. Exemplo de modelo dos Escritórios Panorâmicos, com uma planta mais dinâmica, com formas mais orgânicasem contraposição aos escritórios ortogonalizados. Fonte: DUFFY, 1997, p. 35.

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Além disso, estimulava-se a convivência de funcionários de escalões diversos,

abolindo o isolamento das chefias e gerências e também as separações físicas

entre os diferentes departamentos da empresa. Os funcionários agrupavam-se

em ilhas multifuncionais, de acordo com a complementaridade de suas tarefas.

Apesar disso a hierarquia permanecia, apesar de parecer diluída pelo convívio

em um mesmo espaço entre chefes e chefiados (ROMANO, 2003).

O conceito do Escritório Panorâmico foi muito utilizado na Alemanha e em

outros países europeus, o mesmo não tendo ocorrido nos Estados Unidos.

O edifício da empresa Union Carbide, na cidade de New York, projetado por

Gordon Bunshaft, da Skidmore, Owings & Merril, no final da década de 1950,

ao mesmo tempo em que a Quickborner Team projetava os Escritórios Panorâ-

micos, revela a discrepância entre os dois conceitos de ocupação.

A configuração do espaço do escritório da Union Carbide era uma expressão

física da hierarquia. O status era indicado pelo tamanho e localização da sala

da pessoa, o número de janelas do escritório e o refinamento de seu mobiliá-

rio. Os auxiliares e outros funcionários trabalhavam em áreas abertas.

Ilustração 4.10 | Escritórios de Skidmore, Owings & Merrill. Union Carbide Building, 1960. Fonte: ANTONELLI, 2001, p. 27.

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O modelo da Union Carbide mostrava elementos como forros modulares, con-

dutores de cabos e fios, iluminação e estações de trabalho padronizadas. Nada

teve tão profundo impacto no ambiente do escritório do que o advento dos

sistemas de mobiliário, uma solução que hoje pode ser vista em qualquer lu-

gar. Ainda na década de 1960, Robert Propst, então com a Herman Miller Fur-

niture Company e com a assistência do designer George Nelson, desenvolveu

o Action Office, o primeiro sistema de plano aberto, lançado no mercado em

1964. No Brasil, o Action Office começou a ser produzido pela empresa Móveis

Teperman, em 1970.

Propst afirmava que o ambiente de escritório deveria ser mais dinâmico, práti-

co e flexível. E o sistema criado por ele refletia essas premissas através de um

conjunto de superfícies de trabalho, armários suspensos e acessórios como

porta-telefone, luminárias e prateleiras, acoplados a biombos de diversas altu-

ras. Esse sistema era modular, reduzindo a necessidade de desenhos específi-

cos e personalizados, permitindo que o ambiente físico aceitasse mudanças e

se tornasse muito menos estático.

[...] Nasce a partir daí um novo conceito de mobiliário, ou sistema integrado, que iria revolucionar integralmente a concepção do design de escritórios, fazendo surgir, assim, um novo conceito de ocupação

Ilustração 4.11 | Action Office, Herman Miller, 1964.

Móveis Teperman, a partir de 1970.Fonte: ANTONELLI, 2001, p. 28.

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chamado Open Plan, ou Escritório de Planta Livre. Esse conceito é considerado, pelos estudiosos, como o precursor da maneira como se concebe e planeja o escritório hoje (ANDRADE, 2000, p. 25).

A base desse conceito era a individualização da estação de trabalho, compar-

timentada através do uso de biombos altos, o que visava proporcionar maior

privacidade aos seus usuários. “Para a conexão dos equipamentos foram

desenvolvidos componentes que permitiam, através da estrutura interna dos

biombos, a passagem de fiação para iluminação dedicada ou a passagem

de cabos para computadores e telefones.” (ANDRADE, 2000, p. 25).

Mas as salas dos altos executivos continuavam fechadas e localizadas com vista

para o exterior, posicionadas de modo que visualizassem seus funcionários.

Enquanto o Landscape Office ou Escritório Panorâmico considerava o fluxo de

comunicação e processos como prioridade, o conceito do Open Plan ou de Planta

Livre tinha o layout modular como seu principal embasamento, através de seus

corredores bem definidos pelas fileiras das estações de trabalho que formavam

verdadeiros “cubículos”, com seus biombos com 1,60 metros de altura.

O Escritório Panorâmico insere-se na categoria de escritório aberto,

e o Escritório de Planta Livre como um desdobramento do conceito criado

pelo Quickborner Team na década de 1950.

Esse conceito permaneceu sendo utilizado ao longo dos anos, mas

os elementos que o compõem sofreram uma série de ajustes para se adap-

tarem às exigências de mercado e à intensificação do uso de tecnologia

da informação nos ambientes de trabalho.

[...] As características da estação de trabalho foram sendo alteradas em razão de três fatores: a flexibilização das organizações, com a redução do número de funcionários em salas fechadas e a preferência pela integração de equipes; os custos imobiliários que levaram a uma redução no tamanho das estações de trabalho e à conseqüente redução de espaço/custo; o uso da tecnologia de informação, que alterou as necessidades relativas ao mobiliário (ANDRADE, 2000, p. 29).

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Ilustração 4.12 | Planta do Central Beheer Office Building, de Herman Hertzberger,

em Apeeldoorn, 1970-72. Fonte: DUFFY, 1997, p. 36.

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A DÉCADA DE 1970

Segundo Nadler (1993), durante aproximadamente trinta anos, entre os anos

40 e 70, os teóricos da administração tentaram combater as limitações ineren-

tes ao fordismo-taylorismo, através da teoria que foi chamada de Abordagem

das Relações Humanas, que incluía a administração participativa e a criação

de equipes.

Um dos ambientes de trabalho com maior visibilidade na década de 1970 tal-

vez tenha sido o Central Beheer Office Building, de Herman Hertzberger, em

Apeeldoorn, na Holanda. Quebrando com os padrões vigentes de hierarquia e

controle, a solução arquitetônica do Central Beheer permitia a reestruturação de

repertório do mobiliário de acordo com a necessidade e o gosto dos usuários.

Ilustração 4.13 | Imagem do Central Beheer Office Building, de Herman Hertzberger,

em Apeeldoorn, 1970-72. Fonte: DUFFY, 1997, p. 37.

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A DÉCADA DE 1980

Uma das teorias organizacionais com repercussão sobre o planejamento dos

espaços para escritórios ocorre com a Teoria dos Sistemas, de Robert Simon

e Victor Thompson, que criticavam a manutenção de uma estrutura hierár-

quica considerada burocratizante e inibidora da criatividade e de iniciativas

individuais. Baseada nessas idéias, a Herman Miller lança em 1985 o sistema

Ethospace, desenhado por Willian Stumpf, no qual são minimizadas as di-

ferenças de acabamento entre peças de mobiliário destinadas a diferentes

níveis hierárquicos e onde todos os componentes procuram metaforicamente

evocar elementos construtivos (paredes, janelas, tijolos, etc.), introduzindo

uma escala arquitetônica reconhecível, de forma a humanizar os Escritórios

Abertos convencionais, considerados como excessivamente artificiais e impes-

soais, subtraídos de qualquer relação com a arquitetura do edifício e com a

paisagem exterior (ROMANO, 2003).

Ilustração 4.14 | Ethospace, Herman Miller, 1999. Fonte: ANTONELLI, 1997, p. 33.

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Ilustração 4.15 | Ethospace, Herman Miller, 1999.

Fonte: ANTONELLI, 1997, p. 32.

Entre os primeiros e maiores usuários do Ethospace estavam as filiais da em-

presa American Express, em Nova Iorque, projetadas em 1983 por Swanke

Hayden Connell. Esse projeto apresentou-se como modelo a ser reproduzido

nas demais filiais corporativas: ambientes com iluminação planejada, carpetes

modulares e áreas individuais de trabalho bem definidas. O Ethospace foi de-

senhado para ser muito mais interessante aos olhos dos trabalhadores do que

os primeiros escritórios dos anos 60, porém, de diversas formas, ele refletiu a

linguagem hierárquica dos primeiros desenhos dos escritórios projetados pela

SOM (escritório de arquitetura norte-americano), organizados a partir das

noções de hierarquia e espaços individualizados, tendo a modularidade como

seu conceito básico.

Mesmo com a possibilidade de reconfiguração, os sistemas de móveis se tor-

nariam muito difíceis de serem mudados e muito caros para serem reconfigu-

rados por causa das restrições dimensionais, estruturais e tecnológicas que os

complicavam a tal ponto, que planos universais começaram a ser utilizados

por muitas organizações. Essa idéia era normalmente defendida com a frase

“mude as pessoas, não os móveis”. Embora houvesse alguma variação baseada

no tipo de trabalho, a idéia era criar a maior uniformidade possível.

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126

Dessa forma o escritório se preparava para adequar-se às constantes necessi-

dades de reconfiguração e de mudança que ocorreriam nas décadas seguin-

tes, em parte como conseqüência da disseminação do uso dos computadores

como indispensáveis ferramentas no exercício profissional, em parte devido à

própria mobilidade que viria a caracterizar as relações de trabalho, reflexo da

dinâmica da sociedade em si (ROMANO, 2003).

Como já foi pormenorizado no terceiro capítulo desta pesquisa, a partir da

década de 1980, várias estratégias organizacionais surgiram, favorecidas pela

reestruturação econômica. Segundo Castells (1999), essas transformações or-

ganizacionais interagiram com a difusão da tecnologia da informação, mas

em geral precederam essa difusão nas empresa. O objetivo principal das trans-

formações organizacionais era lidar com a incerteza causada pelo ritmo veloz

das mudanças no ambiente econômico, institucional e tecnológico das empre-

sas, aumentando a flexibilidade em produção e gerenciamento.

Na década de 1980, o Controle de Qualidade Total se difundiu como técnica

organizacional e como uma “filosofia” de gestão para melhorar a qualidade

sempre que possível.

A DÉCADA DE 1990

A Reengenharia de Processos otimizou os processos produtivos, tendo em

vista que as melhorias nos processos obtidas por meio do CQT não foram

suficientes para manter uma organização competitiva diante do acirramento

do processo competitivo. As Tecnologias de Informação e Comunicação são

fundamentais para a Reengenharia de Processos na medida em que facilitam

a condução dos negócios em diferentes localidades, oferecem flexibilidade

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produtiva, permitem o melhoramento da logística de distribuição e o acesso

descentralizado a sistemas de informações.

Muitos consultores emergiram no final dos anos 80 e tornaram-se categóricos

em mudar o conceito do espaço de trabalho. Entre eles estavam Francis Duffy,

Franklin Becker, Fritz Steel e Michael Brill. A combinação das pesquisas em

arquitetura e psicologia ambiental provocou um impacto crítico, resultando

no que foi chamado de Escritório Alternativo. As pesquisas de Brill sobre

os locais de trabalho e as várias publicações de Becker tiveram uma grande

influência nesse processo. O conceito de ambientes alternativos de escritório

foi uma total reformulação de como o trabalho era feito e sobre o que agre-

gava valor à organização. Assim, o tempo e o espaço geográfico passaram

a ser muito menos definidos do que nos ambientes tradicionais, permitindo

que as atividades fossem feitas praticamente em qualquer lugar e a qualquer

tempo. Muitas dessas mudanças foram possíveis com o avanço da tecnologia

conquistado no decorrer da década, tais como a capacidade da transmissão

por rádio, a tecnologia móvel e a Internet. As organizações, através da Re-

engenharia, eram incentivadas a se tornar menos hierárquicas, mais flexíveis,

concentrando-se em interatividade e comunicação, bem como na crescente

importância das integrações sociais.

“Os anos 90 nascem sob o signo da contenção econômica que, de forma geral, justifica a tendência para uma maior simplicidade formal, para uma flexibilidade mais real e menos retórica (...) outra marca contemporânea é a versatilidade do uso dos espaços imposta pela flexibilização das relações de trabalho – consultorias, trabalho temporário ou em tempo parcial – que determina o uso alternado de um mesmo posto de trabalho por diferentes pessoas.” (ROMANO, 2003).

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Atualmente também se exige das empresas agilidade para operar mudanças

de dimensionamento, quer sejam de crescimento quer sejam de encolhimento

rápido, assim como adaptações no perfil das atividades. Assim, a efetiva fle-

xibilidade dos componentes de mobiliário para escritório e a possibilidade

de que, ao menos em parte, essas modificações possam ser operadas pe-

los próprios usuários, passam a ser requisitos básicos na avaliação dos mes-

mos. Além da adaptabilidade nos sistemas de móveis; o uso de pisos elevados

que possibilitem acesso a instalações técnicas, sem prejuízo ao seu contínuo

funcionamento, a instalação de sistemas de cabeamento estruturado que

permitam a alteração na distribuição dos pontos de telefonia, transmissão

Ilustração 4.16 | Exemplo de mobiliário em que o próprio usuário pode alterar suas configurações, de acordo com as exigências da atividade. Fonte: ZELINSKY, 1998, p. 142.

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de dados ou de energia sem necessidade de reforma da fiação ou de tu-

bulação; são algumas das necessidades práticas de um escritório flexível

(ROMANO, 2003).

O processo de globalização e a competitividade no mercado, a velocidade dos

avanços tecnológicos, a “democratização” da informação e os novos processos

de gestão e estratégias empresariais impactaram sobremaneira as organiza-

ções, de tal modo que, atualmente, não se vê uma única solução norteando a

ocupação física das empresas, e sim se percebe a utilização de vários conceitos

como resultado do entendimento dessa complexidade (ANDRADE, 2000).

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Ilustração 4.17 | Exemplo de mobiliário que possibilita mobilidade, com “torres” organizadoras dos cabos. Fonte: DUFFY, 1997, p. 86/87.

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Os Escritórios Territoriais são caracterizados pelas seguintes configurações

de layout: o Escritório Aberto, o Aberto/Fechado, o Totalmente Fechado

e o de Plano Universal.

O Escritório Aberto é uma evolução do Escritório de Planta Livre, sendo

caracterizado pela inexistência de fechamentos, pela democratização do espa-

ço e melhoria da comunicação e pelo maior grau de flexibilidade e eficiência

da infra-estrutura. Essa categoria pode se apresentar com layouts Totalmente

Abertos ou Divididos por Grupos. O do tipo Totalmente Aberto não possui

nenhuma espécie de barreira no ambiente: apresenta várias estações de tra-

balho, geralmente de um único tipo, dispostas ao longo de todo o pavimento

de modo a permitir a rapidez na comunicação, a visualização do todo e uma

maior facilidade de mudança. Centrais de atendimento telefônico são bons

exemplos dessa configuração de layout.

A partir da década de 90 intensificou-se o uso de estações divididas por biom-

bos mais baixos, com altura não superior a 1,20 metro. Essa nova ordem toma

por base a necessidade de trabalho em grupos, maior comunicação entre as

pessoas e intenção de se obter maior agilidade nos processos e tomadas de

decisões. Assim, os gestores das empresas têm optado por um tipo de layout

que facilita o trabalho em grupo, com as estações de trabalho dispostas de tal

modo que todos possam se comunicar sem sair de suas posições.

Nos layouts Divididos por Grupos, as pessoas são divididas por biombos ou

por armários, em grupos menores, o que permite maior identidade do grupo,

4.2 DO ESCRITÓRIO TERRITORIAL AO NÃO-TERRITORIAL

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maior sinergia e melhor desempenho acústico uma vez

que ficam mais compartimentados.

Os Escritórios Fechados caracterizam-se pela comparti-

mentação total do espaço, através de paredes ou divisó-

rias, o que permite maior privacidade e bom desempenho

acústico. Por outro lado, constituem-se em barreiras para

a comunicação e para a sinergia entre os grupos, com

pouca flexibilidade para mudanças. Esse conceito pode

ter layouts configurados de duas formas: Totalmente

Fechado e os chamados Combi Office, modelo muito

utilizado pelos países do norte da Europa e praticamente

desconhecido no Brasil.

Ilustração 4.18 Escritório “Totalmente Fechado”,

Gruner + Jahr (planta e foto) Hamburgo, Alemanha.

Fonte: DUFFY, 1997, p. 131/132.

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Os Escritórios Totalmente Fechados caracterizam-se pela disposição de

salas ao longo do pavimento e com longos corredores centrais. As áreas de

apoio também ficam em salas fechadas, muitas vezes situadas nos extremos

do pavimento, junto à recepção.

O Combi Office é uma forma de ocupação na qual todos os funcionários têm

direito a pequenas salas fechadas, dispostas na periferia do edifício, o que

propicia, na parte central, a concentração de áreas destinadas às atividades

de uso comum, ou seja, pools de equipamentos, e estações para trabalho em

grupo, áreas de estar e convívio social, entre outros. No Combi Office, as salas

são fechadas até o teto, com vista para o exterior do edifício e controles indi-

vidualizados de temperatura e iluminação.

O Escritório Aberto/Fechado caracteriza-se por layouts onde os funcionários estão

divididos conforme sua posição hierárquica e/ou atividades que exercem, ou entre

aqueles que têm direito a uma sala fechada e os que têm direito a somente uma esta-

ção de trabalho aberta no ambiente. Como dito anteriormente, uma configuração

que vem sendo bastante utilizada desde a década de 1980 nos Estados Unidos e em

alguns países europeus é a do Plano Universal e está baseada na padronização de

um único tipo de estação de trabalho para os funcionários, independentemente de

sua função: “um tamanho serve a todos”. Seus layouts são totalmente padronizados,

independente da área ou departamento que vai ocupá-lo. Havendo a necessidade

de mudança por crescimento, redução ou reestruturação do departamento, mu-

dam-se as pessoas de lugar e não o layout.

OS ESCRITÓRIOS NÃO-TERRITORIAIS

A partir da década de 1990, duas novas características passaram a ser gra-

dualmente incorporadas às necessidades dos espaços de trabalho, sendo

a primeira relacionada à mobilidade das pessoas no ambiente do escritório

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e a segunda, à incorporação do lazer criativo ao tempo de permanência

no local de trabalho, como uma forma de aumentar o envolvimento

das pessoas com os colegas e a corporação. De ambas decorrem ou deve-

riam decorrer importantes reformulações nos projetos das sedes corporativas.

Há uma mudança em curso na organização hierárquica das empresas

e, se o modelo tradicional estava fundamentado numa estrutura piramidal

com base na detenção do poder de decisão por parte de poucas pessoas,

atualmente esse modelo está sendo substituído pelas estruturas matriciais.

Estas se caracterizam pela distribuição do poder de decisão entre os mem-

bros de um grupo de pessoas, escolhidas especificamente para desenvolver

uma determinada tarefa dentro da empresa, e que assumem funções (linhas

da matriz) independentemente do departamento de origem ao qual perten-

çam (colunas da matriz). Esse novo modelo tem base na mobilidade física das

equipes que precisam alternar-se entre os espaços das diferentes atividades a

serem desenvolvidas pelo grupo.

Desse modo, com o intuito de adequar-se à mobilidade das pessoas e possi-

bilitar a formação de múltiplos arranjos espaciais por meio de componentes

padronizados, as novas linhas de mobiliário ganham formas mais articuladas,

em conexões curvilíneas. Um dos precursores desse novo paradigma no de-

sign de móveis de escritório é a linha Resolve, projeto da designer Ayse Birsel,

fabricada pela Herman Miller (ROMANO, 2003)

Dessa maneira, a noção de territorialidade relacionada a uma estação

de trabalho individualizada, personalizada com fotos da família e vasos

de planta, parece também estar mudando. Partindo do pressuposto

de que determinados profissionais, tais como consultores, gerentes de vendas

e alguns executivos, passam boa parte do seu tempo fora do escritório,

deixando, enquanto isso, suas estações de trabalho ociosas, surge uma

série de conceitos de ocupação denominados de Escritórios Não-Territoriais

(Non Territorial Offices) ou de Escritórios Alternativos (Alternative Officing)

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Ilustração 4.19 | Resolve, designer Ayse Birsel, Herman Miller, 2000.Fonte: ANTONELLI, 2001, p. 95.

(ANDRADE, 2000). Para Vischer (in: ANDRADE, 2000, p. 46), “Escritório

não-territorial é um termo genérico usado para definir uma grande

variedade de espaços de trabalho utilizados eventualmente pelos funcioná-

rios da empresa ou contratados”.

Os Escritórios Não-Territoriais caracterizam-se pela inexistência de uma es-

tação de trabalho individualizada, com o material de trabalho sendo arma-

zenado em um gaveteiro volante que pode ser deslocado para qualquer lugar

da empresa; os telefones deixam de ser fixos passando a ser sem-fio e, no

lugar dos microcomputadores do tipo PC, os funcionários utilizam os do tipo

portáteis, os notebooks. Esse conceito divide-se em quatro grupos: Escritó-

rio Doméstico ou Home Office, Hoteling, Endereço Livre ou Free Address,

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Ilustração 4.20 | Resolve, designer Ayse Birsel, Herman Miller, 2000.Fonte: ANTONELLI, 2001, p. 94.

e os Escritórios Clubes, também conhecidos como Red Carpet Club.

Além dessas categorias de layout, existe o chamado Escritório Virtual, ou

Telecommuting, (ANDRADE, 2000).

O Telecommuting é a tecnologia que permite a um funcionário realizar suas

atividades de trabalho, ou acessar os canais de informações da empresa

de qualquer lugar onde esteja.

Escritório Virtual é a designação dada à possibilidade de que o funcionário trans-

forme qualquer espaço em seu escritório de trabalho, através do uso de laptops,

telefones celulares e acesso a redes internas de informações da empresa.

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Ilustração 4.22 | Home Office. Residência em Barcelona, Espanha.Fonte: SCHLEIFER, 2005, p. 117.

Ilustração 4.21 | Home Office. Apartamento em Nova Iorque, EUA.

Fonte: SCHLEIFER, 2005, p. 94.

Escritório Doméstico ou Home Office

O Escritório Doméstico requer empenho e habilidade em estabelecer

e impor limites. A vida profissional e privada são invariavelmente e mutua-

mente exclusivas, e aproximá-las pode ser delicado. A convencional trajetória

até o trabalho propicia uma transição natural entre o tempo de trabalho

e o privado. Quando a distância física é eliminada, uma distância psicológica

deve substituí-la para evitar problemas. Há novas palavras para descrever

este estado de ansiedade. “Blending”, por exemplo, que significa “mistura”,

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Ilustração 4.24 | Home Office. Apartamento em Milão, Itália.Fonte: SCHLEIFER, 2005, p. 210.

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Ilustração 4.23 | Home Office. Residência em Minnesota, EUA.

Fonte: SCHLEIFER, 2005, p. 302.

é um termo usado para definir um “novo problema do corpo e da mente”, diz

Arlie Russell Hochschild, da Universidade da Califórnia, em Berkeley. “Para

algumas pessoas, como seus vizinhos e seus filhos, seu corpo está lá, mas

sua mente não” (ANTONELLI, 2001, p. 198). Pessoas que trabalham em casa

usam diferentes estratégias para superar esses problemas. Alguns evidenciam

a separação do espaço de trabalho com paredes e

portas, quando possível, outros seguem à risca o ho-

rário de trabalho, às vezes programando os relógios

de seus equipamentos para que se desliguem auto-

maticamente no horário previsto, alguns até trocam

de roupa quando mudam de ambiente ou dão uma

volta no quarteirão para simularem o trajeto para o

trabalho.

Mesmo sendo complexo o problema na esfera pes-

soal, trabalhar em casa pode ter muitas vantagens e

proporcionar grande satisfação. Em um cenário fa-

miliar, por exemplo, “nós vivemos um tipo de vida

neo-medieval, cuja integração espacial entre o tra-

balho e a vida é bastante próxima, com as crianças

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138

vendo o trabalho sendo feito, desmistificando essa parte da vida de seus

pais que elas normalmente não vêem”, explica Michael Brill (in: ANTONELLI,

2001, p. 198).

A função do design é fundamental ao se pensar a questão do escritório domés-

tico. As pessoas que trabalham em casa e que precisam de uma ou de duas es-

tações de trabalho são menos propensas a comprar seus móveis de uma grande

empresa especializada em sistemas de escritórios, preferindo ir a uma loja de

móveis residenciais e adquirir algumas soluções que são comercializadas sob

o rótulo de “home office”. Assim, não usufruem as vantagens propiciadas pe-

los esforços de pesquisa e desenvolvimento que as companhias têm dedicado

à egonomia e à racionalidade. Muitas dessas companhias implantaram recen-

temente divisões especiais para os móveis dos escritórios domésticos. Algu-

mas, como a Herman Miller, a Knoll e a Vitra possuem uma divisão como esta

desde sua fundação.

O conceito de Escritório Doméstico tem se mostrado interessante para

as empresas porque pode reduzir custos relativos a espaço e seus funcionários

podem “gerenciar” melhor seu tempo e estar mais próximos de suas famílias.

Mas, por outro lado, pode gerar vários problemas, como os de cunho

do Direito do Trabalho, quando se alega que, mesmo estando em casa, cabe

à empresa a responsabilidade pelo funcionário quanto aos aspectos rela-

cionados a conforto, ergonomia, salubridade e jornada de trabalho, além

dos já citados problemas provenientes da sensação de isolamento,

das questões psicológicas e familiares envolvidas.

Segundo Raymond/Cunliffe (in: ANDRADE, 2000, p. 49): “as pessoas ainda

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precisam trabalhar juntas. Tanto por razões de negócio quanto por razões

pessoais. Para o bem dos negócios, elas precisam trocar idéias, instruções

e informações, e precisam estimular-se para serem criativas e enérgicas. Por

elas mesmas, as pessoas precisam ter vínculos com seus colegas e ser valo-

rizadas por eles”. A linguagem corporal ainda fala melhor que os contatos

mediados pela tecnologia, como já mencionado no terceiro capítulo 3 desta

dissertação.

“O conceito de Hoteling, como o próprio nome sugere, está baseado nos

serviços oferecidos nos hotéis. Criado a fim de atender às necessidades

da média e alta gerência, que viaja freqüentemente ou se encontra fora de sua

base de trabalho, esse conceito é utilizado pelas empresas em suas filiais ou

escritórios situados em bairros mais distantes ou periféricos da cidade. Com

salas fechadas até o teto, recepcionista, salas de reunião e estar, esses escri-

tórios são dotados de tecnologia que permitem o acesso às informações e a

comunicação entre os vários escritórios da empresa. São montados com foco

no recebimento de clientes e visitantes, para que seus funcionários atendam

a esses clientes com todo o suporte e conforto necessários. Para utilizá-los

é preciso reservar a sala com antecedência, não somente para garantir a sua

disponibilidade, mas também para que a equipe de apoio possa, antes da

chegada do funcionário, providenciar desde o seu nome na porta da sala até

todos os materiais e documentos necessários para o negócio ou trabalho a ser

desenvolvido no local” (ANDRADE, 2000, p 50).

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Ilustração 4.25 | Hoteling: salas fechadas individuais. Tandem Computers, EUA.

Fonte: ZELINSKY, 1998, p. 267.

Esse conceito foi primeiramente adotado por algumas empresas de consultoria

como a Ernst and Young, Andersen Consulting e Price-Waterhouse Coopers.

Normalmente esse conceito era apenas parcialmente aplicado para conse-

guir economia no uso do espaço, ao invés de propriamente para dar suporte

às atividades e comportamentos de seus ocupantes. Embora o Hoteling tenha

alcançado relativo sucesso em muitos tipos de organizações, ele tornou-se

contraditório, um exercício de controle emocional para muitos trabalhadores,

que às vezes tinham que disputar um espaço para trabalhar nos escritórios

de suas empresas.

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Ilustração 4.26 | Gaveteiros volantes, em escritório de endereço livre.Fonte: WERNDL BÜROMOBEL, 2001, p. 62/65/67.

O conceito do Escritório de Endereço Livre ou Free Address foi concebido

para atender à gerência e ao restante dos funcionários que passam grande

parte de seu tempo realizando serviços fora da empresa. É caracterizado por

apresentar uma área com várias estações de trabalho “sem dono” e para uso

eventual. O funcionário é informado, ao chegar ao escritório, sobre a locali-

zação das estações disponíveis. Em algumas empresas, essa reserva deve ser

feita com maior antecedência. A partir de então, esse funcionário poderá uti-

lizar o posto de trabalho pelo período que julgar necessário.

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Ilustração 4.27 | Escritório Não-Territorial da Chiat Day, projetado por Gaetano Pesce, em Nova Iorque.Fonte: DUFFY, 1997, p. 193.

Ilustração 4.28 | Escritório da Chiat Day: armários para guardar notebooks. Fonte: DUFFY, 1997, p. 193.

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Ilustração 4.30 | Escritório da Chiat Day: estações de trabalho móveis e não-territoriais, projetadas por Gaetano Pesce.Fonte: DUFFY, 1997, p. 196/197.

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Ilustração 4.29 Planta do escritório da Chiat Day, em Nova Iorque.Fonte: DUFFY, 1997, p. 195.

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Ilustração 4.31 | Escritório da empresa Chiat/Day, Los Angeles, EUA, 1998. Fonte: ANTONELLI, 2001, p. 71.

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A Chiat/Day inaugurou outro escritório em Los Angeles, em 1998. Projetado

por Clive Wilkinsen, o espaço provia um espaço individual para cada pessoa

baseando-se não na hierarquia, mas na diversidade de funções. Wilkinsen

pensou em unir os conceitos de privacidade, propriedade e territorialidade,

imagem, motivação, controle e eficiência que eram a causa do contraste e da

controvérsia entre os ambientes de trabalho clássicos e alternativos.

O modelo do ambiente de trabalho de 1960 continua sendo utilizado

e o escritório atual continua expondo de diversas formas o individualismo

crescente. Há uma tensão entre controle e liberdade, produtividade e con-

tribuição, status e função, privacidade e acessibilidade e entre funcionários

e gerentes.

Importantes inovações históricas como as experiências do Quickborner Team,

Centraal Beheer Office Building e os escritórios da Chiat/Day são represen-

tantes do que tem sido um constante protesto contra os modelos autoritários

predominantes durante quase todo o século XX.

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Ilustração 4.32 | Fotografia promocional do laptop da Letosh Working Snob,

Ann Lindenberg, 1998. Fonte: ANTONELLI, 2001, p. 159.

O Escritório Nômade e o Teletrabalho

As organizações estão progressivamente mais dependentes do conhecimento,

em que a tarefa do trabalhador é a de criar conhecimento e fornecê-lo a outros.

Onde tais atividades erão realizadas torna-se menos relevante, pois os contatos

necessários são criados através de redes virtuais dinâmicas de trabalho baseadas

na comunicação multimídia.

Ao trabalho realizado de forma móvel e/ou dispersa, pelo uso de modernas

tecnologias de telecomunicações e informação, convencionou-se chamar de

teletrabalho ou trabalho remoto. Para viabilizar o teletrabalho em sua pleni-

tude, várias condições devem ser verificadas e novas estratégias e estruturas

empresariais devem ser criadas, alterando práticas de gestão consolidadas.

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Os teletrabalhadores vão desde vendedores que visitam clientes, até consulto-

res, comissários e executivos de companhias multinacionais. Eles conduzem

seus trabalhos a partir de diferentes locais, carros, quartos de hotéis, assentos

em aviões, salas de espera de aeroportos, salas de negócios ou imprensa em

feiras comerciais e convenções; utilizando equipamentos como notebooks e

telefones celulares.

Dentre as esferas de trabalho, a nômade é a mais dependente de tecnologia

e a mais vulnerável em relação às suas mudanças e limitações. Os diferentes

padrões para eletricidade, telefones celulares, modems de conexão e sistemas

de televisão em diversos países, por exemplo, ainda são responsáveis por pro-

blemas e frustrações.

Uma análise comercial conduzida pelo British Design Council delineou o que o

design pode fazer pelos teletrabalhadores (Teletrabalho, 2002):

[...] desenvolver equipamentos de trabalho que sejam portáteis e úteis; desenvolver e instalar quiosques para uso da Internet em locais públicos; equipar o interior do carro e os sistemas de informação a bordo a fim de prestar suporte aos que estão trabalhando nas estradas; repensar as áreas de transporte, como os aeroportos, as estações de trem e de metrô, de modo que teletrabalhadores possam viajar planejando e organizando seus trabalhos; redesenhar o acesso a áreas de lazer em ruas, rodovias e terminais de transporte para criar condições de desenvolvimento do trabalho; desenvolver softwares e sistemas de comunicação para dar suporte a equipes virtuais.

Muito tem sido alcançado recentemente, especialmente nos aeroportos, pois

muitos deles agora proporcionam facilidades aos passageiros, tais como locais

para carregar as baterias de celular ou conectar notebooks.

O espaço decorrente do conceito de teletrabalho pode assumir configurações

variadas. Normalmente são feitas combinações entre as formas básicas descri-

tas a seguir: estação remota fixa (colocada em um local determinado, como a

casa do teletrabalhador); estação remota móvel (para aqueles que necessitam

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Ilustração 4.33 | Cartoons Screens. Luigi Barolli, Itália, 1992.Fonte: ANTONELLI, 2001, p. 114.

Ilustração 4.34 | ÉcharpeCommunicante. Naziha Mestaoui,

Yacine Aït Kaci e ChristopheBeaujays, protótipo produzido

pelos designers, 2000.Fonte: ANTONELLI, 2001, p. 156/157.

simultaneamente das características de dispersão e mobilidade, como em

tarefas de representação); o escritório satélite (que consiste na instalação de

escritórios avançados conectados à sede central, em regiões de menor custo,

onde são disponibilizados recursos específi cos para determinada atividade,

por exemplo, computadores especiais ou plotters); o escritório de endereço

livre (implantação de um escritório onde não há postos fi xos e as estações

de trabalho são ocupadas conforme a necessidade).

É importante salientar que muitos dos sistemas atualmente implantados ainda

são mistos, ou seja, o trabalhador permanece parte do seu tempo conectado

e o restante na localidade central.

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Ilustração 4.35 | “Frederique”, de If/Then Design: Implications in

New Media, nº 1. Bart Hendriks, 1999.Fonte: ANTONELLI, 2001, p. 8.

A década de 1990 pôde testemunhar o começo do fim da organização tradi-

cional. Um século dominado por um único tipo de organização – a burocracia

mecânica taylorista – está dando lugar, lentamente, a um novo período. Sinais

dessa mudança surgiram na década de 1960, quando as empresas usaram o

trabalho em equipe para conseguir mais flexibilidade do que as suas estrutu-

ras formais. Mas no final da década de 1980, a moldura hierárquica da estru-

tura da organização clássica permanecia em grande parte intacta.

Devido à redução das responsabilidades tradicionais de supervisão, as orga-

nizações tendem a se horizontalizar, assumindo formas mais fluidas e transi-

tórias, com equipes que se transformam constantemente. E as redes, segun-

do Castells (1999) serão os componentes fundamentais das organizações.

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O quadro apresentado a seguir é um resumo dos principais conceitos

de ocupação dos escritórios e de suas características essenciais, ao longo

do tempo. Essas informações foram relacionadas ao contexto socioeconômico,

aos adventos tecnológicos, aos modelos administrativos de gestão organiza-

cional e à relação homem-trabalho, vigentes em cada período analisado.

É possível estabelecer analogias entre as tecnologias, os modelos administra-

tivos e os escritórios. Mas é importante observar que a utilização dos padrões

de ocupação dos escritórios não obedece necessariamente a uma ordem cro-

nológica rígida. Houve, sem dúvida, uma evolução em relação aos padrões de

ocupação, o que não necessariamente significa a obsolescência imediata do

padrão utilizado anteriormente.

4.3 Quadro Síntese do Processo Evolutivo dos Conceito de Ocupação dos Escritórios

As duas empresas analisadas no estudo de caso objeto do próximo capítulo

são típicas organizações em rede, participantes de um grupo de empresas,

formado através de joint ventures, fusões e aquisições, desde do início

da década de 1980. E são exemplos de como algumas organizações vem

tentando fazer de seu espaço físico o reflexo de sua cultura.

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Grupo A - Pavimento Térreo: cafeteria, sala de estar e estações de trabalho não-territoriais ao fundo. Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

Grupo A - Pavimento Térreo: “redário”. Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

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3º Pavimento: estações não-territoriais, com o “estacionamento” de gaveteiros

volantes, ao fundo.Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

5. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO ESTUDO DE CASO

2º Pavimento: cafeteria. Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

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O Grupo A foi fundado na década de 1950 e, no início, dedicava-se somente

à fabricação de maquinário para outras indústrias. Até o início da década

de 1980 mantinha-se como uma indústria voltada para um único segmento.

A partir de então, já sob a direção do filho do fundador, passa a diversificar

a sua linha de produtos, “com o objetivo de livrar-se da forte dependência

a um só ramo de indústria ou a poucos clientes”.1

Na década de 1990, em associação com empresas estrangeiras, ingressou na

área de serviços, inicialmente com o segmento de projetos de engenharia am-

biental e, depois, no segmento de gerenciamento de patrimônio e consultoria

em negócios imobiliários. Desde então, através de associações, join ventures

e criação de novos empreendimentos, o Grupo vem crescendo, contando atu-

almente com mais de 2500 pessoas, em cinco empresas, além da Holding e

da Fundação Grupo A. Atualmente atua nos setores industrial e de serviços,

com segmentos de negócios que vão desde gestão ambiental até serviços de

recursos humanos e gerenciamento postal.

A ADMINISTRAÇÃO PARTICIPATIVA NO GRUPO A

Segundo diretores do Grupo, o processo de administração participativa no

Grupo A é baseado em algumas premissas, listadas a seguir:

• O ser humano é capaz de se autodeterminar. Portanto, as pessoas que so-

frem menos controle tendem a ser mais produtivas;

• As pessoas valem pelas suas qualificações pessoais e não pela importância

do cargo que ocupam: os cargos são passageiros, as pessoas são perenes;

1. Todas as informações acerca do histórico e perfil das empresas foram obtidas através de

entrevistas concedidas por sócios e dirigentes do Grupo A, ao longo do desenvolvimento

desta pesquisa.

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• Nenhum modelo de administração participativa poderá ser bem-sucedido

e duradouro se não envolver todas as pessoas da organização;

• Uma organização fortemente hierarquizada tende a encontrar maior dificul-

dade para substituir o estilo autoritário pelo estilo democrático nas relações

de trabalho.

O processo de mudança que levou o grupo de empresas a um modelo de gestão

cada vez mais participativo, começando com exercícios de reflexão, que, no

início, envolviam somente a diretoria e a gerência. Após algum tempo, a em-

presa criou condições para que o envolvimento de todas as pessoas ocorresse

ao mesmo tempo. O processo de participação começou com algumas questões

corriqueiras relacionadas à produção e, paulatinamente, a participação foi

estendendo-se e chegando a situações mais complexas como, por exemplo,

“participar do processo de seleção do futuro chefe”. Concomitantemente, o

sistema de informação interna foi se desenvolvendo e as comunicações cha-

madas “reservadas” ou “confidenciais” foram desaparecendo. No lugar de um

modelo formal surgiram variadas formas de comunicação, algumas escritas e

outras orais. Nesse período foi criada a Comissão de Fábrica, que tinha como

uma de suas atribuições principais ser um dos canais de comunicação entre

os empregados e a empresa.

A participação nos lucros também foi resultado de um processo participati-

vo. Para tanto, a empresa estabeleceu o percentual do lucro líquido do qual

estava disposta a abrir mão e as demais condições foram estabelecidas pelas

comissões de empregados, em conjunto com diretores de sindicatos e alguns

representantes da empresa. Essa negociação levou à formulação de 17 princí-

pios básicos, quatro dos quais estão transcritos a seguir:

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• A participação nos lucros será extensiva a todos;

• A participação nos lucros não deverá substituir nem complementar salários;

• Os critérios de distribuição dos lucros serão estabelecidos pela assembléia

geral de empregados;

• A empresa e os sindicatos deverão ministrar cursos de leitura de balanços.

Os diretores afirmam que a administração participativa no Grupo A enfrentou

e ainda enfrenta dificuldades. E eles apontam algumas das possíveis causas

dessas resistências: a insegurança provocada pela ausência de “receitas pron-

tas”; a impressão (equivocada) de perda de status; o imediatismo, tendo em

vista que decisões “de cima para baixo” são mais rápidas e o comodismo (“se

sempre foi assim, para que mudar?”).

OS PRINCIPAIS PROGRAMAS DA ADMINISTRAÇÃO PARTICIPATIVA

NO GRUPO A

No início os funcionários foram convidados a participar na resolução de proble-

mas mais simples, tais como: problemas do restaurante, problemas da limpeza,

escolher a cor do uniforme, o tipo de festa no fim de ano e escolher a forma de

compensar dias úteis intercalados entre feriados e finais de semana.

Depois as participações tornaram-se mais expressivas, através de: sugestões

para melhorar a qualidade, o processo de fabricação e a produtividade; fixa-

ção das próprias metas de produção; participação na escolha do local de tra-

balho, na elaboração de estruturas de cargos e salários, no processo de seleção

de seus futuros colegas de trabalho e chefes; no processo de avaliação do seu

chefe e na priorização dos pequenos investimentos; participação nos lucros

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da empresa; autocontrole de freqüência e autofixação dos salários.

Os diretores listaram algumas decisões consideradas importantes que refletem

a cultura da organização: decisão de mudar o modelo de gestão, de autocrá-

tico para democrático; eliminação da revista de operários na saída (confiança

nas pessoas); decisão de aproveitar todas as oportunidades para exercitar a

participação; constituição da Comissão de Fábrica; implantação do horário

móvel no escritório e na fábrica; implantação das Unidades de Negócios; re-

dução dos níveis hierárquicos e eliminação das salas fechadas.

Ao longo da implantação do novo modelo de gestão, houve a eliminação pro-

gressiva de algumas diferenciações existentes entre funcionários. Anterior-

mente os operários eram revistados e os funcionários administrativos não; a

jornada de trabalho dos operários era maior; os restaurantes eram diferentes;

o horário móvel era privilégio dos funcionários administrativos; diretores e

gerentes tinham plano de assistência médica diferenciado dos demais; tinham

salas fechadas enquanto os demais ficavam no salão aberto e tinham privilégios

no estacionamento. Atualmente não há mais a revista do pessoal de fábrica no

horário de saída dos turnos; as jornadas de trabalho são iguais para todos,

fixadas em 40 horas mensais; o restaurante é o mesmo para todos; todos têm

horário flexível; o plano de assistência médica é igual para todos e não existem

mais salas fechadas de uso individual. Deve-se ressaltar que, depois de muita

resistência, os privilégios só foram eliminados totalmente em 1999.

A inauguração das novas instalações do Escritório Não-Territorial, no edi-

fício-sede da empresa, em 2001, foi o coroamento desse processo, com o

espaço físico passando a refletir as características da cultura organizacional

do grupo em questão.

As cinco empresas do Grupo A estão situadas em diferentes endereços,

na cidade de São Paulo. Todos esses escritórios descentralizados oferecem

espaços com estações de trabalho não-territoriais.

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5.1 APLICAÇÃO DOS MÉTODOS

O presente estudo de caso foi efetuado com duas das empresas do Grupo A.

A Empresa 1 foi fundada na década de 1950, originando o grupo. Atua no

setor industrial, contando atualmente com 70 funcionários: 30 pessoas tra-

balham na fábrica e 40 utilizam o escritório, estando assim subdivididas de

acordo com cargos e funções: 1 sócio, 3 dirigentes e 36 associados.

A Empresa 2 faz parte do grupo desde o ano de 2005 e é resultado da asso-

ciação com uma empresa americana do setor de serviços. Tem 50 funcionários

na cidade de São Paulo e nas filiais em outras capitais brasileiras. No escritório

central trabalham 31 pessoas, que estão assim subdividas hierarquicamente:

1 presidente, 4 diretores, 8 gerentes e 18 assistentes.

Tanto a Empresa 1 quanto a Empresa 2 estão localizadas no edifício-sede

do grupo, onde também estão as instalações da fábrica. A comparação en-

tre essas duas empresas permitiu confrontar vivências diferentes em relação

à utilização dos Escritórios Não-Territoriais e dos Escritórios Territoriais, pois,

tanto na Empresa 1 quanto na Empresa 2, existem usuários dos dois modelos

de ocupação.

A avaliação dos ambientes de escritórios das Empresas 1 e 2 foi efetuada

a partir do diagnóstico de espaço que apontou informações referentes às

áreas ocupadas. Procedeu-se a classificação dos tipos de uso e estações de

trabalho típicas (unidades padrão de ocupação) nas plantas de layout de cada

empresa. Esse levantamento objetivou comparar as áreas encontradas (tipos

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de uso, estações-tipo e circulações) com os índices de referência apontados

por Romano (2003).

A segunda fase constituiu-se da elaboração e aplicação dos questionários

aos funcionários das duas empresas, além da definição das amostras

por função/cargo para cada uma das empresas.

5.1.1 DIAGNÓSTICO DE ESPAÇO: DEFINIÇÃO DAS ESTAÇÕES-TIPO (UNIDA-

DES PADRÃO DE OCUPAÇÃO), CÁLCULO DE ÁREAS E ZONEAMENTO POR

TIPOS DE USO

O Grupo A ocupa uma área onde se localiza o edifício-sede das empresas, com

três pavimentos, além do galpão industrial. Além desse endereço, o Grupo A

conta com escritórios localizados em outros bairros da cidade de São Paulo

e com algumas unidades nas principais capitais brasileiras. Como as Empresas

1 e 2, objetos deste estudo de caso, estão instaladas no 2º e 3º pavimentos

do edifício-sede, ocupando ainda uma área no térreo, essa pesquisa concen-

trou-se nesses andares.

As áreas externas ao edifício-sede e ao galpão industrial são tratadas paisagisti-

camente, compondo um amplo espaço externo. Existe um local específico nessa

área externa, conhecido pelos funcionários do Grupo A como “redário”, que nada

mais é do que um quiosque em meio ao jardim, com várias redes disponíveis para

que as pessoas as utilizem em pleno horário de trabalho.

O “redário” não foi contabilizado no cálculo de áreas por se localizar mais

próximo ao galpão industrial, o que ocasionaria distorções no cálculo das

áreas de circulação. Mas esse local não poderia ficar de fora da análise por seu

importante valor simbólico.

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DEFINIÇÃO DAS ESTAÇÕES-TIPO (UNIDADES PADRÃO DE OCUPAÇÃO)

Nas empresas com uma hierarquia mais rígida é comum que as estações de traba-

lho dos funcionários sejam definidas segundo este critério, sendo freqüente en-

contrar escritórios com grande variedade de tipologias de estações de trabalho.

Nos ambientes de Escritórios Não-Territoriais, as estações de trabalho não

contemplam gaveteiros fixos, tendo em vista a adoção dos denominados “es-

tacionamentos de gaveteiros volantes”, onde cada usuário deixa seu gaveteiro

volante de uso individual.

Na Empresa 1 foram encontradas três estações-tipo, mas essa variação não é

dada pelo cargo de quem a ocupa, mas sim pelo fato de ser uma estação de

Escritório Territorial ou de Escritório Não-Territorial. Não há salas fechadas,

nem mesmo para os dirigentes ou sócios.

As três estações-tipo da Empressa 1 estão classificadas a seguir:

Ilustração 5.1 | Estação de trabalho Não-Territorial – TIPO 1.

Fonte: Autora da dissertação.

• Estação-Tipo 1: Estações de usuários do Escritório Não-Territorial, por-

tanto, de uso compartilhado. Compostas de uma superfície triangular, dois

painéis divisórios baixos e uma cadeira.

Utilizada sempre para compor

células de 4 lugares.

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Ilustração 5.2 | Estação de trabalho Territorial – TIPO 2.

Fonte: Autora da dissertação.

• Estação-Tipo 2: Estações de usuários do Escritório Territorial, portanto, de

uso individualizado. Compostas de uma superfície de canto, duas superfí-

cies laterais, painéis divisórios baixos, um gaveteiro e uma cadeira. Utilizada

sempre para compor células de 4 lugares. Eventualmente apresenta alguma

variação em relação às suas dimensões.

Ilustração 5.3 | Estação de trabalho Não-Territorial – TIPO 3.

Fonte: Autora da dissertação.

• Estação-Tipo 3: Estações de usuários do Escritório Não-Territorial, portan-

to, de uso compartilhado. Compostas por uma mesa retangular e autopor-

tante, painéis divisórios baixos e uma cadeira. Utilizada sempre para compor

células de 4 lugares.

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Ilustração 5.4 | Estação de trabalho Não-Territorial – TIPO 1.

Fonte: Autora da dissertação.

Na Empresa 2 foram encontradas três estações-tipo, também com variações em

relação ao uso do escritório: Territorial ou de Escritório Não-Territorial. Não há

salas fechadas, nem mesmo para os diretores ou o presidente da empresa.

• Estação-Tipo 1: Estações de usuários do Escritório Não-Territorial, por-

tanto, de uso compartilhado. Compostas de uma superfície triangular, dois

painéis divisórios baixos e uma cadeira.

Utilizada sempre para compor

células de 4 lugares.

• Estação-Tipo 2: Estações de usuários do Escritório Territorial, portanto, de

uso individualizado. Compostas de uma superfície de canto, duas superfícies

laterais, painéis divisórios baixos, um gaveteiro e uma cadeira. Utilizada sem-

pre para compor células de 4 lugares.

Eventualmente apresenta alguma

variação em relação às medidas.

Ilustração 5.5 | Estação de trabalho Territorial – TIPO 2.

Fonte: Autora da dissertação.

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• Estação-Tipo 4: Estação do presidente da empresa, portanto, de uso territo-

rial, sendo autoportante e composta de uma superfície península principal, uma

superfície de canto e duas superfícies laterais, um armário baixo, um gaveteiro,

uma cadeira e duas cadeiras para interlocutores.

Ilustração 5.6 | Estação de trabalho Territorial – TIPO 4.

Fonte: Autora da dissertação.

DEFINIÇÃO DO ZONEAMENTO POR TIPOS DE USO

Os Tipos de Uso de ocupação do espaço, de acordo com o layout das Empre-

sas 1 e 2, estão classificados e descritos a seguir:

• Estações de Trabalho: áreas compostas de uma estação de trabalho, desti-

nadas ao uso individual, no caso dos Escritórios Territoriais, e ao uso coletivo,

no caso dos Escritórios Não-Territoriais;

• Equipamentos: área ocupada por equipamentos de escritório que necessi-

tem de mobiliário próprio, como pool de impressoras, xerox e fax;

• Arquivamento: área destinada à guarda de documentos, papéis e materiais

dentro do ambiente de trabalho;

• Apoio: áreas ocupadas por salas de reunião, espera, café, salas de estar,

espaços centralizados para arquivamento e depósitos;

• Circulação: área de distribuição geral dentro do pavimento, definida pelo

traçados obrigatórios de acessos às áreas comuns e de serviços.

As Plantas de Layout das Empresas 1 e 2, com a indicação do Zoneamento por

Tipo de Uso, são apresentadas a seguir:

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Ilustração 5.10 | Grupo A Pavimento Térreo: sala de espera. Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

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Fotos do Pavimento Térreo: Grupo A e Empresa 1

Ilustração 5.11 | Grupo A - Pavimento Térreo: cafeteria, sala de estar e estações

de trabalho não-territoriais ao fundo. Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

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Ilustração 5.12 | Grupo A - Pavimento Térreo: salas fechadas privativas não-territoriais (vista externa).

Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

Ilustração 5.13 Grupo A - Pavimento Térreo: salas

fechadas privativas não-territoriais. Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

Ilustração 5.14 | Grupo A Pavimento Térreo: “redário”.

Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

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Ilustração 5.15 | Grupo A - Pavimento Térreo: quiosque da churrasqueira, com “redário” ao fundo. Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

Ilustração 5.16 | Grupo A Pavimento Térreo: “redário”.

Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

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Fotos do 2º Pavimento: Empresa 1

Ilustração 5.17 2º Pavimento: cafeteria.

Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

Ilustração 5.18 2º Pavimento: cafeteria, com terminal de Intranet ao fundo, para agendamento do

uso das estações não-territoriais. Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

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SOIlustração 5.19 | 2º Pavimento: estações

não-territoriais, com “estacionamento” de gaveteiros volantes, ao fundo.

Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

Ilustração 5.212º Pavimento: estações territoriais.

Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

Ilustração 5.202º Pavimento: estações não-territoriais. Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

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172Ilustração 5.22 | 3º Pavimento: estaçõesnão-territoriais, com o “estacionamento”de gaveteiros volantes, ao fundo. Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

Ilustração 5.23 | 3º Pavimento: estações não-territoriais. Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

Page 174: A DESTERRITORIALIZAÇÃO DO ESCRITÓRIO NA ERA DA …livros01.livrosgratis.com.br/cp078552.pdf · como estudo de caso duas empresas que utilizam o modelo de Escritório Não-Territorial,

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Ilustração 5.26 | 3º Pavimento: estação de trabalho do presidente da Empresa 2, em ambiente aberto.

Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

Ilustração 5.24 | 3º Pavimento: ambiente aberto: em primeiro pla-no, as quatro estações de trabalho territoriais da diretoria. Fonte: Fotos da autora da disserta-ção, 2006.

Ilustração 5.25 | 3º Pavimento: ambiente aberto, com as estações de trabalho territoriais. Fonte: Fotos da autora da dissertação, 2006.

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3º Pavimento – Empresa 2

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CÁLCULO DE ÁREAS

Antes de efetuar os cálculos das áreas das Empresas 1 e 2 é preciso definir

conceitualmente quais as áreas são significativas para a finalidade desta pesquisa.

As áreas aqui reportadas seguem a nomenclatura utilizada por Romano (2003):

• A_UTL é a área útil, aquela que pode ser utilizada para fins de instalação

do layout, embora dela ainda tenham que ser descontadas a área ocupada por

pilares, assim como a espessura das paredes externas.

• A_CAR é área de carpete ou área total, aquela efetivamente utilizável para

a implantação de um layout, sendo consenso geral utilizá-la como referência

nas planilhas de dimensionamento de demanda de área das empresas.

• A_CIR é a área de circulação, definida pelo traçado obrigatório de acessos

às áreas comuns e de serviço. Sua configuração depende intrinsecamente das

características do edifício a ser analisado.

A diferença entre a área de carpete e a área de circulação resulta na:

• A_LAY que é a área de layout, ou seja, o espaço especificamente ocupado

pelo mobiliário, equipamentos e demais funções..

Esta, por sua vez, é dividida em:

• A_FUN que é a área de funcionários ou de estações de trabalho, destinada

aos postos de trabalho e equipamentos.

• A_APO que é a somatória de todas as áreas de uso comum aos departamen-

tos, tais como salas de reunião, recepção, esperas, espaços de arquivamento

central, depósitos, almoxarifados.

É importante ressaltar que não estão computadas nos valores que servem de

base para a análise que será desenvolvida a seguir, as:

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• A_SER que são as áreas de serviços, que englobam desde as áreas técni-

cas como casas de máquinas até as áreas de copas e sanitários, desde que

incluídas na área privativa.

QUADRO DE ÁREAS DAS EMPRESAS 1 E 2

O Pavimento Térreo é um espaço de

uso comum às cinco empresas do Gru-

po A, além da Holding e da Fundação,

portanto, além de ser um Escritório

Não-Territorial, é ainda um escritório

desterritorializado em relação às vá-

rias empresas que o utilizam. A área

abaixo foi calculada sem considerar o

espaço do térreo ocupado pela Em-

presa 1, já contemplado no quadro

anterior.

QUADRO DE ÁREAS DO PAVIMENTO TÉRREO

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5.1.2 DETERMINAÇÃO DA AMOSTRAGEM, ELABORAÇÃO DOS QUESTIO-

NÁRIOS E TABULAÇÃO DE DADOS

CÁLCULO DA AMOSTRAGEM POR GRUPOS DE ENTREVISTADOS

Os questionários foram aplicados visando obter respostas dos usuários dos

Escritórios Não-Territoriais e dos Escritórios Territoriais que refletissem sua

satisfação em relação ao seu ambiente de trabalho. Portanto, a definição da

amostragem deveria garantir a representatividade dos respondentes em rela-

ção aos respectivos cargos e funções, e em relação ao modelo de escritório

utilizado por eles, se territorial ou não-territorial. Essas variáveis foram consi-

deradas interessantes para efeito de comparação.

Cabe ressaltar que o tamanho da amostra não determina por si só se ela é

de boa ou de má qualidade. Mais importante do que o seu tamanho é a sua

representatividade, ou seja, o seu grau de similaridade com a população em

estudo. Portanto, todos os grupos devem aparecer na amostragem em propor-

ção muito próxima à da população pesquisada.

Considerou-se uma margem de erro de 8% e o nível de confiança em 90%. Em

consulta a pesquisas anteriores, essas margens foram consideradas aceitáveis

para trabalhos deste porte. Os cálculos foram então efetuados, inicialmente

através do pré-cálculo da amostra n, como se a população fosse infinita, e

depois se calculando a amostra corrigida. Então se procedeu ao cálculo das

amostras para cada população desejada, conforme demonstrado a seguir, nos

quadros comparativos:

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O número de entrevistados superou o tamanho da amostra em todos os es-

tratos, com exceção do sócio e de um diretor da Empresa 1, do presidente e

de dois diretores da Empresa 2, que não tiveram disponibilidade para respon-

der ao questionário. Ainda assim, este resultado demonstra que os grupos

aparecem na amostragem em proporção muito próxima à da população total

pesquisada. Função/Cargo

Função/Cargo

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ELABORAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS

Os questionários foram elaborados tendo como base as publicações da Profa.

Sheila Walbe Ornstein sobre Avaliação Pós-Ocupação e os questionários dos

estudos de caso publicados no livro “Assessing Building Performance”, editado

por PREISER, W. e Vischer,J., (2005).

As perguntas abordaram as condições de uso dos espaços do escritório, o

layout e a configuração das estações de trabalho com a finalidade de compa-

rar a utilização e as instalações de um Escritório Territorial com as instalações

de um Escritório Não-Territorial, o que ocorre na Empresa 1 e na Empresa 2.

A primeira parte do questionário diz respeito aos dados a serem tabulados,

tais como função e cargo; se o respondente trabalha em uma área territorial

ou não e em que pavimento ele trabalha.

O primeiro bloco de perguntas contém 16 itens relativos ao ambiente utiliza-

do pelo respondente, fazendo um comparativo entre os espaços de trabalho

territoriais e os não-territoriais. O usuário foi orientado a responder na coluna

dedicada ao ambiente no qual trabalha, sempre fazendo comparações sobre

o uso do outro modelo de escritório. Este bloco de questões objetivou extrair

um diagnóstico referente à percepção de cada usuário sobre seu ambiente de

trabalho, verificando se está satisfeito com o que utiliza ou se considera o

outro modelo melhor.

O segundo bloco é constituído de 8 perguntas relativas à produtividade no

ambiente de trabalho, novamente possibilitando tecer comparações entre o

Escritório Territorial e o Não-Territorial.

O terceiro bloco refere-se a questões sobre a percepção do usuário acerca do

ambiente de trabalho, relacionando-o às tecnologias e aos modelos de gestão

utilizados na empresa.

A última parte diz respeito ao perfil do entrevistado, com informações refe-

rentes a sexo, idade, escolaridade, tempo de trabalho na empresa e sobre os

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180

ambientes mais comumente utilizados em uma semana típica de trabalho.

Um modelo do questionário foi inserido no corpo deste trabalho, na seção

dos anexos.

APLICAÇÃO DO PRÉ-TESTE

Com o intuito de minimizar os vieses que pudessem surgir ao longo da

pesquisa, foram aplicados 2 pré-testes em funcionários de outras empresas

do Grupo A, pessoas com grau de instrução e perfil similar aos usuários do

caso estudado.

Os pré-testes aplicados direcionaram as reformulações de algumas pergun-

tas que davam margem a dúvidas, tornando a linguagem mais clara para o

imediato entendimento do entrevistado, que não teria muito tempo para

responder às questões. O quinto item foi retirado da escala de valores para

que as respostas realmente tivessem tendência ao aspecto positivo ou ao

aspecto negativo.

TABULAÇÃO DE DADOS

Os dados desta pesquisa foram tabulados no programa estatístico SPSS (Sta-

tistical Package for Social Sciences), muito utilizado nas Ciências Humanas

e bastante amigável ao usuário (user-friendly), permitindo realizar cálculos

estatísticos bastante elaborados a partir de comandos simples em sua barra

de ferramentas (incluindo tabelas de freqüências, cruzamentos e gráficos),

não havendo necessidade de elaborar fórmulas complexas. Ao contrário do

programa MS Excel, o SPSS dispensa o uso de livros de códigos, pois possui

um ambiente com todos os significados das variáveis e dos valores. Ao solicitar

gráficos e tabelas, estes significados aparecem automaticamente. (DARREN, G.

& MALLERY, P., 2004).

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5.2.1 DIAGNÓSTICO DE ESPAÇO

Os índices de referência, resultados da tese de Romano (2003, p. 391), foram

comparados com os valores das áreas encontrados nas Empresas 1 e 2, além

do espaço do pavimento térreo que se configura como um ambiente dester-

ritorializado, sendo utilizado por todas as empresas do Grupo A, através do

modelo do Escritório Não-Territorial. Poderíamos dizer que se trata de um

“escritório inter-institucional”.

O quadro a seguir indica os índices que se referem à quantidade de metros

quadrados por pessoa:

5.2 ANÁLISES E RESULTADOS

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O quadro a seguir indica os índices que se referem à porcentagem da área

total por pessoa:

O quadro a seguir indica as densidades médias de ocupação, leve-se em

consideração que a Densidade A é a mais utilizada, inclusive pelo Código

de Obras da Prefeitura Municipal de São Paulo. A Densidade B considera somente

a área destinada às estações de trabalho, enquanto a Densidade A é calculada

dividindo-se a área útil pela quantidade de funcionários e/ou estações de

trabalho individuais existentes no ambiente.

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Observe-se que as densidades de ocupação estão de acordo com o mínimo

de 7 m2/pessoa estipulado pelo código de Obras do Município de São Paulo,

tornando-se menores do que o exigido apenas quando a densidade é obtida

a partir da área utilizada exclusivamente para estações de trabalho. É impor-

tante notar o quanto as Densidades A e B são diferentes no pavimento térreo,

isso decorre da grande quantidade de áreas de apoio existentes no andar, o

que torna a densidade por área útil um parâmetro um pouco distorcido, para

efeito desta análise.

É freqüente a padronização das estações de trabalho de modo a organizar o es-

paço físico, e isso normalmente se dá com base nos níveis hierárquicos existentes

na sua estrutura organizacional. É habitual encontrar empresas com estações de

trabalho diferentes para presidente, vice-presidentes, diretorias, os vários níveis

de gerências e do staff. O que normalmente distingue esses postos de trabalho

é sua dimensão, o fato de serem mais ou menos fechados, o acabamento e a

configuração dos móveis, sempre de acordo com o nível hierárquico.

Nas empresas do Grupo A, caracterizadas por apresentarem uma hierarquia

menos rígida, existem poucos tipos de estações de trabalho. Na Empresa 1,

por exemplo, o sócio (o equivalente à presidência da empresa) utiliza uma

estação do Tipo 1, com 3,24 m2. Os usuários dos Escritórios Territoriais são

os que têm as estações maiores (Tipo 2), com 6,51 m2, pois as suas tarefas e

atividades exigem que seja assim. Essa seria uma das explicações para o in-

dicador de área de estações de trabalho da Empresa 1 (4,53 m2/pessoa) estar

abaixo do índice de referência (5,90 m2/pessoa). A área de apoio da Empresa

1, com 1,49 m2/pessoa, está bem abaixo dos 2,70 de referência. Isso decorre

do fato de que parte da área de apoio utilizada pela Empresa 1 está localizada

nos ambientes de uso comum do térreo, que, em contrapartida, apresenta

um índice muito alto nas áreas de apoio: 6,64 m2/pessoa, enquanto o índice

referencial é de 2,70 m2/pessoa.

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Na Empresa 2, o indicador de área de estações de trabalho, com

4,05 m2/pessoa, também está abaixo do índice de referência. A Empresa 2,

com 5,04 m2/pessoa, apresenta grandes espaços destinados às áreas de apoio,

bem acima dos 2,70 m2/pessoa de referência. A área de circulação nessa em-

presa também está acima do referencial, com 1,72 m2/pessoa.

A circulação de um ambiente está relacionada com as características do edi-

fício, mas considera-se que a média de 14,73% atende às necessidades para

um adequado resultado de planejamento de espaço. O indicador de área de

circulação na Empresa 1, com 14,03% está abaixo do índice de referência.

A Empresa 2, por sua vez, está acima do referencial, com 15,97% de área de

circulação.

5.2.2 ESCRITÓRIO NÃO-TERRITORIAL X ESCRITÓRIO TERRITORIAL: ANÁLI-

SE COMPARATIVA A PARTIR DOS QUESTIONÁRIOS

Como já foi mencionado, a aplicação dos questionários objetivou fornecer

subsídios para efetuar comparações referentes ao grau de satisfação dos usu-

ários dos Escritórios Não-Territoriais com os usuários dos Escritórios Territo-

riais, sempre confrontando a Empresa 1 e a Empresa 2.

Os cruzamentos de dados mais significativos transformaram-se em gráficos

que, colocados lado a lado, possibilitam uma visualização da percepção do

usuário de cada modelo de ocupação.

O primeiro bloco de perguntas engloba questões voltadas ao ambiente físico

do escritório, com ênfase na questão das estações de trabalho; o segundo

aborda a questão da produtividade e o terceiro questiona a percepção do usu-

ário sobre o ambiente de trabalho, relacionado às tecnologias e aos modelos

de gestão utilizados na empresa.

A seguir, a seqüência de gráficos:

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TABELAS CRUZADAS 2

Algumas variáveis como: função e cargo, tempo de trabalho na empresa, sexo

e idade foram cruzadas com as questões sobre as tecnologias, os modelos de

gestão e o uso das mesas no Escritório Não-Territorial. A seguir são apresen-

tados os cruzamentos nos quais se extraíram os resultados mais interessantes

para a pesquisa:

Função/ Cargo X K. Você diria que as tecnologias de informação e comuni-

cação utilizadas na empresa efetivamente permitem que você trabalhe mais

tempo fora de seu escritório?

Tanto na Empresa 1 quanto na Empresa 2, 100% dos dirigentes e diretores

acreditam que as tecnologias de informação e comunicação utilizadas na em-

presa efetivamente permitem que trabalhem mais tempo fora do escritório.

Na Empresa 1, 61% dos associados concordam que as tecnologias de informa-

ção e comunicação utilizadas na empresa efetivamente permitem que traba-

lhem mais tempo fora do escritório.

Na Empresa 2, 43% dos gerentes e 35% do staff acreditam que as tecnologias

de informação e comunicação utilizadas na empresa efetivamente permitem

que trabalhem mais tempo fora do escritório.

Função/ Cargo X M. (APENAS PARA USUÁRIOS DO ESCRITÓRIO NÃO-TER-

RITORIAL) Você costuma ocupar a mesma mesa, sempre que possível?

Na Empresa 1, 31% dos usuários do escritório não-territorial costumam ocu-

par a MESMA mesa, sempre que possível.

Na Empresa 2, 100% dos usuários do escritório não-territorial costumam

ocupar a MESMA mesa, sempre que possível.

2. Alguns exemplos de tabelas cruzadas compõem o Anexo C.

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Tempo de trabalho na empresa (anos) X K. Você diria que as tecnologias de

informação e comunicação utilizadas na empresa efetivamente permitem

que você trabalhe mais tempo fora de seu escritório?

Na Empresa 1, 60% das pessoas que trabalham há até 2 anos acreditam que as

tecnologias de informação e comunicação utilizadas na empresa efetivamen-

te permitem que trabalhem mais tempo fora do escritório; 80% das pessoas

que trabalham entre 3 e 5 anos acreditam que as tecnologias de informação

e comunicação utilizadas na empresa efetivamente permitem que trabalhem

mais tempo fora do escritório; 70% das pessoas que trabalham entre 6 e 10

anos acreditam que as tecnologias de informação e comunicação utilizadas na

empresa efetivamente permitem que trabalhem mais tempo fora do escritório;

20% das pessoas que trabalham entre 11 e 15 anos acreditam que as tecno-

logias de informação e comunicação utilizadas na empresa efetivamente per-

mitem que trabalhem mais tempo fora do escritório e 100% das pessoas que

trabalham há mais de 16 anos acreditam que as tecnologias de informação

e comunicação utilizadas na empresa efetivamente permitem que trabalhem

mais tempo fora do escritório.

Na Empresa 2, 32% das pessoas que trabalham há até 2 anos acreditam que as

tecnologias de informação e comunicação utilizadas na empresa efetivamente

permitem que trabalhem mais tempo fora do escritório e 100% das pessoas

que trabalham há mais de 6 anos acreditam que as tecnologias de informação

e comunicação utilizadas na empresa efetivamente permitem que trabalhem

mais tempo fora do escritório.

Obs.: Nota-se certa diferenciação apenas no grupo de pessoas com tempo de

trabalho na Empresa 1 entre 11 e 15 anos, com apenas 20% acreditando que

as tecnologias de informação e comunicação utilizadas na empresa efetiva-

mente permitem que trabalhem mais tempo fora do escritório.

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Na Empresa 2, aparece uma diferença clara: 32% das pessoas que lá traba-

lham há até 2 anos acreditam que as tecnologias de informação e comunica-

ção utilizadas na empresa efetivamente permitem que trabalhem mais tempo

fora do escritório. Enquanto isso, 100% das pessoas que lá trabalham há mais

de 6 anos acreditam que as tecnologias de informação e comunicação utili-

zadas na empresa efetivamente permitem que trabalhem mais tempo fora do

escritório. São os funcionários que trabalham no Grupo A há muitos anos e

que têm a cultura da administração participativa mais arraigada.

Tempo de trabalho na empresa (anos) X M. (APENAS PARA USUÁRIOS DO

ESCRITÓRIO NÃO-TERRITORIAL) Você costuma ocupar a mesma mesa, sem-

pre que possível?

Na Empresa 1, 50% das pessoas que trabalham entre 0 e 5 anos costumam

ocupar a mesma mesa, sempre que possível; 0% das pessoas que trabalha há

mais de 6 anos costuma ocupar a mesma mesa, sempre que possível (sendo a

única exceção o caso de um funcionário que trabalha lá entre 16 e 20 anos).

Na Empresa 2, 100% das pessoas que trabalham lá há até 2 anos costumam

ocupar a mesma mesa, sempre que possível. Note-se que essas pessoas são

usuárias do escritório não-territorial, o que reforça a idéia de que há bastante

resistência à efetiva desterritorialização neste grupo.

Idade X K. Você diria que as tecnologias de informação e comunicação uti-

lizadas na empresa efetivamente permitem que você trabalhe mais tempo

fora de seu escritório?

Na Empresa 1, 33% das pessoas com idade entre 31 e 40 anos acreditam que

as que as tecnologias de informação e comunicação utilizadas na empresa

efetivamente permitem que trabalhem mais tempo fora do escritório; as de-

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mais faixas etárias demonstram o oposto, com a maioria das pessoas acredi-

tando que as tecnologias de informação e comunicação utilizadas na empresa

efetivamente permitem que trabalhem mais tempo fora do escritório (75% nas

pessoas entre 21 a 30 anos, 63% nas pessoas entre 41 e 50 anos e 75% nas

pessoas entre 51 a 60 anos).

Na Empresa 2, 20% das pessoas com idade entre 21 e 30 anos acreditam que

as que as tecnologias de informação e comunicação utilizadas na empresa

efetivamente permitem que trabalhem mais tempo fora do escritório; 50%

das pessoas com idade entre 31 e 40 anos acreditam que as que as tecnologias

de informação e comunicação utilizadas na empresa efetivamente permitem

que trabalhem mais tempo fora do escritório e 75% das pessoas com idade

entre 41 e 50 anos acreditam que as tecnologias de informação e comunica-

ção utilizadas na empresa efetivamente permitem que trabalhem mais tempo

fora do escritório.

Idade X M. (APENAS PARA USUÁRIOS DO ESCRITÓRIO NÃO-TERRITORIAL)

Você costuma ocupar a mesma mesa, sempre que possível?

Na Empresa 1, percebemos uma tendência maior em NÃO ocupar a mesma

mesa todos os dias, nas pessoas entre 31 e 40 anos, 100% NÃO ocupam a

mesma mesa, sempre que possível. Apenas as pessoas da faixa etária entre 51

e 60 anos é que aparecem com 50% tendendo a ocupar a mesma mesa todos

os dias, sempre que possível.

Na Empresa 2, 100% das pessoas, em todas as faixas etárias, ocupam a mesma

mesa todos os dias, sempre que possível.

Sexo X K. Você diria que as tecnologias de informação e comunicação uti-

lizadas na empresa efetivamente permitem que você trabalhe mais tempo

fora de seu escritório?

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Nas duas empresas, os homens, mais do que as mulheres, acreditam que as

tecnologias de informação e comunicação utilizadas na empresa efetivamente

permitem que eles trabalhem mais tempo fora de seu escritório. Na Empresa

1, 68% dos homens disseram que acreditam, enquanto 50% das mulheres res-

ponderam o mesmo. Na Empresa 2, 45% dos homens disseram que acreditam,

enquanto 33% das mulheres responderam o mesmo.

Sexo X M. (APENAS PARA USUÁRIOS DO ESCRITÓRIO NÃO-TERRITORIAL)

Você costuma ocupar a mesma mesa, sempre que possível?

Na Empresa 1, 25% dos homens disseram que costumam ocupar a mesma mesa,

sempre que possível; enquanto 50% das mulheres responderam o mesmo.

Na Empresa 2, 100% dos homens e mulheres disseram que costumam ocupar

a mesma mesa, sempre que possível.

Função/ Cargo X C. Como o seu ambiente de trabalho influencia a sua

produtividade?

Segundo os entrevistados, o ambiente de trabalho influencia positivamente

a sua produtividade, nas duas empresas. Mas na Empresa 1, essa influência

seria maior do que na 2. Na Empresa 2, os gerentes estão bem divididos com

relação a esta questão.

Trabalha em uma área de: X C. Como o seu ambiente de trabalho influencia

a sua produtividade?

Ao compararmos as respostas dos usuários do escritório territorial com as dos

usuários dos escritórios não-territoriais, observamos uma diferença importan-

te entre as empresas: a resposta mais “positiva” está no conjunto de entrevis-

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tados de escritório não-territorial da Empresa 1. O conjunto mais “negativo”

(relativamente), estaria na Empresa 2, também em ambiente não-territorial.

Entre os usuários do escritório territorial das duas empresas, o padrão de res-

postas é semelhante.

Sexo X C. Como o seu ambiente de trabalho influencia a sua produtividade?

O sexo também tem influência: as mulheres, em ambas as empresas, respon-

deram mais “positivamente” do que os homens.

Função/ Cargo X E. (APENAS PARA USUÁRIOS DO ESCRITÓRIO NÃO-TERRI-

TORIAL) Produtividade em ambiente de trabalho não-territorial

Os usuários do escritório não-territorial da Empresa 1 responderam que sua

produtividade tende a ser “alta” e “muito alta” nesse ambiente (100% dos diri-

gentes marcaram no. 3. 87% dos associados marcaram no. 3 e 12% marcaram o

no. 4). Não houve nenhuma resposta “muito baixa” no grupo da Empresa 1.

Os usuários do escritório não-territorial da Empresa 2 tenderam a responder

que sua produtividade é “baixa” (33% dos gerentes e 43% do staff) e “alta”

(50% dos gerentes e 57% do staff). Não houve nenhuma resposta “muito alta”

no grupo da Empresa 2.

Tempo de trabalho na empresa (anos) X D. (APENAS PARA USUÁRIOS DO

ESCRITÓRIO TERRITORIAL) Produtividade em ambiente de trabalho territo-

rial

Para esta questão, há uma influência marcante do tempo de trabalho na em-

presa: quanto maior o tempo de trabalho do entrevistado, maior a produtivi-

dade em ambiente de trabalho territorial.

Page 203: A DESTERRITORIALIZAÇÃO DO ESCRITÓRIO NA ERA DA …livros01.livrosgratis.com.br/cp078552.pdf · como estudo de caso duas empresas que utilizam o modelo de Escritório Não-Territorial,

202

Tempo de trabalho na empresa (anos) X E. (APENAS PARA USUÁRIOS DO

ESCRITÓRIO NÃO-TERRITORIAL) Produtividade em ambiente de trabalho

não-territorial

Na Empresa 1 não houve influência do tempo de trabalho em relação à produ-

tividade em ambiente de trabalho não-territorial, que ficou entre “alta” (89%)

e “muito alta” (11%). Não houve nenhuma resposta “muito baixa” e “baixa”

produtividade.

Na Empresa 2, 45% das pessoas que lá trabalham há menos de 2 anos respon-

deram “baixa”, 46% responderam “alta” e 9% responderam “muito baixa”. A

única pessoa que está no Grupo A há mais de 20 anos respondeu “alta” pro-

dutividade. Não houve nenhuma resposta “muito alta”.

Função/ Cargo X G. Grau de satisfação com o ambiente físico em que tra-

balha

A satisfação com o ambiente físico é notavelmente maior na Empresa 1 do que

na 2, e levemente maior entre os dirigentes e diretores.

CONSIDERAÇÕES SOBRE OS RESULTADOS

Alguns resultados mostraram-se bastante interessantes e os comentários sobre

eles estão expostos abaixo:

• A1 e A2. Nas questões relacionadas ao conforto dos móveis e ao tamanho

das estações de trabalho, percebe-se que o tamanho das estações não-terri-

toriais é considerado pior para todos os usuários, territoriais e não-territo-

riais, nas duas empresas. Quanto ao conforto dos móveis, 71% dos usuários

não-territoriais da Empresa 1 acham que o conforto é igual ao das estações

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territoriais e, surpreendentemente, 6% consideram o conforto maior que o dos

móveis territoriais. Na Empresa 2, nenhum usuário não-territorial considerou

seus móveis mais confortáveis.

• A7. Na questão relacionada à privacidade ao telefone, 29% dos usuários

não-territoriais da Empresa 1 acham que a sua privacidade é pior que a dos

territoriais, enquanto 55% dos não-territoriais da Empresa 2 consideram sua

privacidade pior. As respostas às questões A1, A2 e A7 relacionam-se ao ta-

manho muito pequeno das estações não-territoriais, cabendo ressaltar que,

apesar do problema existir de fato, as respostas tendem a ser muito mais ne-

gativas na Empresa 2.

• A15. Dos usuários dos escritórios não-territoriais, 65% na Empresa 1

acham que o escritório deles é mais flexível, enquanto apenas 27% conside-

ram o mesmo na Empresa 2.

• A16. Na pergunta referente à imagem e aparência do escritório, 65% dos

não-territoriais da Empresa 1 consideram a imagem deles melhor, enquanto

27% acham o mesmo na Empresa 2.

• De maneira geral, os usuários dos escritórios territoriais consideram melhor

o tamanho e o conforto de seus móveis. Em relação à privacidade as respostas

também foram próximas, com alto índice de “igual”, ou seja, eles consideram

igual seu grau de privacidade quando comparados aos usuários não-territo-

riais. O mesmo ocorre em relação à imagem do escritório: os usuários territo-

riais das duas empresas consideram iguais as aparências dos espaços.

• B2. Quando questionados sobre a integração com as pessoas de outros

departamentos, os usuários não-territoriais das duas empresas tendem a con-

siderar que o layout do espaço de trabalho exerce influência nesse sentido,

enquanto os usuários territoriais das duas empresas têm maior tendência a

achar que o layout não influencia.

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• C. Como o seu ambiente de trabalho influencia a sua produtividade? 76% dos

usuários do escritório não-territorial da Empresa 1 responderam que influencia

positivamente, enquanto 45% dos usuários do Escritório Não-Territorial da Em-

presa 2 responderam o mesmo. Dos territoriais da Empresa 1, 60% responderam

positivamente e, na Empresa 2, 53% responderam positivamente.

• Nas questões D e E, sobre o grau de produtividade nos ambientes nos quais

trabalham, os funcionários da Empresa 1 obtiveram os maiores índices de

“alta” e “muito alta”: 100% dos não-territoriais e 85% dos territoriais. Na

Empresa 2 não houve nenhuma resposta “muito alta”; dos não-territoriais,

55% responderam “alta” e 45% responderam “baixa” e “muito baixa”, o que

é bastante significativo. Por outro lado, 100% dos territoriais da Empresa 2

responderam “alta” “muito alta”, o que também é muito relevante.

• G. O grupo mais satisfeito com o ambiente físico é o dos usuários não-

territoriais da Empresa 1. Numa visão oposta, o grupo mais insatisfeito com

o ambiente físico é o dos usuários não-territoriais da Empresa 2.

• J. O resultado para essa questão é bem parecido para os quatro grupos:

mais de 90% dos não-territoriais percebem o espaço físico do escritório

como retrato do modelo de gestão da empresa e mais de 72% dos territo-

riais percebem o mesmo.

• K. Quando perguntados sobre as tecnologias de informação, 69% dos

usuários não-territoriais da Empresa 1 consideram que podem trabalhar

mais tempo fora do escritório. Por outro lado, apenas 33% dos usuários

não-territoriais da Empresa 2 consideram o mesmo. É importante salientar

que as duas empresas disponibilizam as mesmas tecnologias aos seus fun-

cionários.

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Por meio da análise dessas respostas pode-se perceber o quão insatisfeitos

estão os usuários não-territoriais da Empresa 2, ficando claro que eles não

estão adaptados a esse modelo. Quando perguntados se costumam utilizar a

mesma mesa todos os dias, as respostas são unânimes: 100% dos usuários

não-territoriais da Empresa 2 utilizam a mesma mesa todos os dias, sempre

que possível. Conclui-se que o modelo não-territorial não está implantado, de

fato, na Empresa 2.

Acredita-se que isso se deva à questão da cultura organizacional: na Empresa 1,

a administração participativa vem sendo implantada há mais de vinte anos e o

Escritório Não-Territorial, nas palavras do principal acionista, “tardou a chegar”.

Se as tecnologias estivessem disponíveis antes, antes teriam sido introduzidos

os espaços não-territoriais. Isso porque a cultura organizacional já estava arrai-

gada e madura. Na Empresa 2, a idéia do modelo de escritório não-territorial

ainda é muito nova, há apenas dois anos eles vivenciam isso e, talvez em alguns

anos essa percepção já tenha mudado. E, acima de tudo, a administração parti-

cipativa não parece fazer parte ainda do dia-a-dia da Empresa 2.

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CONCLUSÃO

A concepção da territorialidade na Sociedade da Informação e Pós-

Industrial está, ainda, em processo de formação. Essa territorialidade resulta

principalmente da dinâmica das relações entre as localidades entre si e dessas

com o planeta, realizadas através das redes de informação e cooperação. Por

isso seria precipitado afirmar que o uso das tecnologias da informação poderia

levar ao fenômeno denominado “ausência de localidade”. O que muda, de

fato, é o conceito de vizinhança, que, nas comunidades atuais, refere-se a

espaços contíguos e fisicamente definidos. No espaço global, a vizinhança é

estabelecida em termos de interesses em comum, como a união entre pontos

isolados formando circuitos.

A questão da territorialidade também vem sendo discutida nos escritórios, que

vêm passando por importantes transformações, fundamentalmente a partir dos

últimos 20 anos do século XX, resultado da significativa migração da mão-de-

obra para o setor de serviços e, também, como decorrência da evolução nos

processos de trabalho e nas tecnologias de informação e comunicação.

As pessoas passam grande parte do dia em seu ambiente de trabalho, o que

faz com que esse lugar tenha uma tal relevância que mereça ser objeto de

estudos mais específicos sobre os elementos que privilegiem o conforto

físico e psicológico de seus usuários. A adoção do modelo do Escritório Não-

Territorial pode auxiliar nos processos de melhoria de qualidade de vida para

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os trabalhadores, tendo em vista que sua adoção minimiza deslocamentos

diários casa-trabalho-casa e possibilita maior controle sobre o próprio tempo.

Para a empresa, a adoção desse modelo pode significar maior flexibilidade e

economia de custos, pois diminui a densidade de ocupação nos edifícios de

escritórios. Mas impactos negativos também podem ser enumerados, tais como

a despersonalização dos espaços de trabalho, com as possíveis conseqüências

psicológicas para os trabalhadores; o enfraquecimento dos vínculos de

relacionamento, já que os encontros no escritório podem ser menos freqüentes;

o risco de estar sempre conectado ao trabalho, e, portanto, sempre disponível

para solucionar questões profissionais, mesmo em momentos de descanso.

Como o conceito dos Escritórios Não-Territoriais caracteriza-se pela

inexistência de uma estação de trabalho individualizada, um dos fatores

importantes ao se projetar seus espaços é a questão ergonômica relacionada

ao uso das estações de trabalho compartilhadas, que devem ser projetadas

prevendo o uso de diversas pessoas ao longo de um dia, para a realização

de tarefas muito diferentes entre si.

O Escritório Não-Territorial, além de estar fundamentado na rápida troca de

informações entre os membros do grupo, também tem base na mobilidade física

das pessoas que o constituem, pois elas precisam alternar-se entre o espaço do

departamento de origem e o espaço definido como palco das atividades a serem

desenvolvidas pelo grupo. Disso decorrem dois importantes aspectos na configuração

dos escritórios: a sua compactação e redução a um espaço mínimo necessário para

o desempenho das tarefas de rotina diária a serem realizadas em curto espaço de

tempo e, por outro lado, o considerável aumento das áreas comuns de trabalho, que

tanto podem assumir o aspecto de salas de reunião como o de verdadeiros “clusters”

de estações, dotados de todos os recursos de comunicação e da tecnologia necessária

para o desenvolvimento das atividades do grupo (ROMANO, 2003).

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Ainda segundo Romano (2003), com a consolidação desse novo modelo, o

escritório pode ser resumido a três tipos de áreas distintas, caracterizadas

pelas atividades que nelas são realizadas: o espaço da troca, o espaço do

recolhimento e o espaço do encontro.

O espaço da troca é configurado pelos lugares destinados à troca de

informações: salas multifuncionais dotadas de todos os recursos de informação

e de comunicação, com um mobiliário que possa facilmente assumir diferentes

configurações, transformando-se em salas de treinamento, de reunião, de

tele-conferência, conforme a necessidade do grupo.

O espaço do recolhimento é caracterizado pelos postos individuais de trabalho,

onde as pessoas devem desfrutar de um certo grau de privacidade para

desenvolverem tarefas em que a concentração e o silêncio sejam necessários.

O espaço do encontro é concebido para reuniões e conversas informais e são

todos os lugares destinados ao atendimento das pessoas, como as recepções

e esperas, ou mesmo espaços como os “coffee break” e “cafeterias”. Esses

encontros aliviam as tensões das relações de trabalho e favorecem um

entendimento mais direto entre as pessoas, gerando situações propícias ao

surgimento de novas idéias.

Algumas empresas têm instalado em suas sedes espaços para a prática

esportiva, como salas de ginástica e quadras de squash, visando proporcionar

aos funcionários a possibilidade de permanecerem juntos também durante

momentos de lazer e de descontração. Se por um lado esses benefícios

trazem ao funcionário a vantagem de não ter que se deslocar para realizar

as atividades recreativas, por outro lado acabam restringindo o seu círculo

de relacionamentos, expondo-o ao risco de permanecer sempre em contato

com problemas e questões profissionais. Cabe a cada indivíduo encontrar o

equilíbrio necessário para poder desfrutar plenamente das vantagens que

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lhe são oferecidas, sem, contudo, permitir que o trabalho extrapole os

limites nos quais foi confinado, invadindo os espaços privados da vida das

pessoas.

A RELAÇÃO HOMEM-TRABALHO

Diferentemente das gerações anteriores, algumas pessoas mais jovens não

conhecem outra gramática de trabalho e se sentem à vontade sob as condições

de adaptabilidade, flexibilidade, mobilidade e ruptura extremas. Essa

dinâmica nova não os surpreende, o sofrimento não lhes soa como sofrimento

e sobre eles paira uma sensação de normalidade, ou seja, a percepção de que

o mercado de trabalho é “assim mesmo”, de que a competição é acirrada, e de

que precisam correr para se capacitarem e, desse modo, sobreviverem nessa

era de trabalho caracterizada pela instabilidade.

Com as exigências cada vez maiores de eficácia e qualidade, com a feroz

competitividade no mercado de trabalho, as pessoas não têm alternativa

senão a de tentarem acompanhar essas transformações, cuidando da própria

capacitação, desenvolvendo redes sociais e acompanhando a evolução dos

negócios e do mercado. E, então, uma parte considerável das pessoas vive

sobrecarregada e quase sem espaço para o descanso, o lazer e a família.

NOVO PARADIGMA TECNOLÓGICO

Segundo Castells (1999, p. 43), a tecnologia por si própria não revoluciona

uma sociedade, mas serve como meio catalisador, fornecendo condições

para que ocorram mudanças de ordem econômica, política, ética e social:

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[...] É claro que a tecnologia não determina a sociedade. Nem a sociedade escreve o curso da transformação tecnológica, uma vez que muitos fatores, inclusive criatividade e iniciativa empreendedora, intervêm no processo de descoberta científica, inovação tecnológica e aplicações sociais, de forma que o resultado final depende de um complexo padrão interativo. Na verdade, o dilema do determinismo tecnológico é, provavelmente, um problema infundado, dado que a tecnologia é a sociedade, e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas.

Os aspectos culturais das organizações são decisivos para a adoção ou não

de determinados recursos tecnológicos e para administrar suas conseqüências

e desdobramentos.

Nadler (1993) elencou os recursos oferecidos pelas tecnologias de informação

e comunicação e seus respectivos usos nas organizações: o correio eletrônico

e o intercâmbio de dados que auxiliam no funcionamento organizacional,

independentemente de tempo e distância; as teleconferências com computadores

de mesa que possibilitam maior disseminação da informação e conhecimento,

inclusive a pessoas localizadas em áreas remotas; os documentos eletrônicos

baseados em voz, vídeo e correio eletrônico que estimulam a criação de grupos

e células ligados mesmo que estejam distantes fisicamente; a autoria conjunta

e outras aplicações de grupo. As Empresas 1 e 2, do estudo de caso, utilizam

essas tecnologias em seus escritórios.

CULTURA ORGANIZACIONAL E MODELOS ADMINISTRATIVOS DE GESTÃO

De acordo com Tigre (2006), as novas trajetórias organizacionais não são

conseqüências automáticas da transformação tecnológica, pois alguns

modelos de gestão precederam o surgimento das novas tecnologias da

informação. Segundo o autor, a questão mais importante na adaptação da

empresa vertical às exigências de flexibilidade da economia global é a rigidez

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das culturas corporativas tradicionais.

Como resposta, as novas formas organizacionais da economia informacional

serão regidas sob diferentes sistemas e por intermédio de expressões culturais

diversas, com base nas redes. “As redes são e serão os componentes

fundamentais das organizações. E são capazes de formar-se e expandir-se por

todas as avenidas e becos da economia global porque contam com o poder da

informação propiciado pelo novo paradigma tecnológico”. (CASTELLS, 1999,

p. 225).

E Castells continua (1999, p. 232):

[...] proponho o que acredito ser uma definição (não-nominalista) potencialmente útil da empresa em rede: aquela forma específica de empresa cujo sistema de meios é constituído pela intersecção de segmentos de sistemas autônomos de objetivos. Então, o desempenho de uma determinada rede dependerá de dois de seus atributos fundamentais: conectividade, ou seja, a capacidade estrutural de facilitar a comunicação sem ruídos entre seus componentes; coerência, isto é, a medida em que há interesses compartilhados entre os objetivos da rede e de seus componentes.

As inovações organizacionais geralmente envolvem a transformação de

processos de negócios, mudanças nas cadeias hierárquicas de comando e

controle, novas formas de acesso a informações e reformulação nas formas

tradicionais de operação.

As células de produção visam promover a integração horizontal da empresa

e, cada célula atua de forma descentralizada, conseguindo atender mais

rapidamente aos seus objetivos (TIGRE, 2006).

A gestão pelas células de produção parece ser a base da administração

participativa do Grupo A. Esse modelo de gestão é efetivamente percebido

no seu dia-a-dia, e mais enfaticamente na Empresa 1, que faz parte do grupo

desde sua fundação, na década de 1950. Nessa empresa os funcionários

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lidam melhor com “as dores e a delícias” do Escritório Não-Territorial. A

administração participativa fica evidente através da observação de como

as pessoas trabalham, de como lidam com seus colegas e situações, e do

ambiente, que é mais informal do que nas empresas tradicionais. A inserção

do processo de administração participativa é algo que vem ocorrendo há mais

de vinte anos na empresa, por meio de vários programas que foram sendo

introduzidos paulatinamente. O novo espaço do escritório foi implantado há

apenas seis anos, o que corrobora a idéia de que a cultura organizacional é

o fator que desencadeia o espaço do Escritório Não-Territorial, que, por sua

vez é viabilizado pelas tecnologias de informação e comunicação, por meio

de sua crescente mobilidade.

Nas palavras do principal acionista do Grupo A, em carta aberta1 dirigida

aos funcionários do grupo quando da inauguração do novo escritório, no

ano de 2001:

“O que estamos querendo iniciar é uma filosofia – que bata com o que

a empresa vem tentando implantar há 21 anos: a de levar ao limite a

independência, autonomia e capacidade de realização de cada uma de nossas

pessoas. A tecnologia demorou para nos ajudar. Mas agora está disponível.

E queremos que este novo espaço seja o primeiro de uma configuração

nova de quase toda a empresa. [...] E estamos convencidos de que estes

novos escritórios, se usados desta forma nova (um ponto de apoio quando

é necessário vir à empresa, a critério de cada pessoa) serão um catalisador

desta nova forma de trabalhar. [...] Não há, ao que se saiba, outra empresa

no Brasil que use escritórios totalmente não-territoriais, onde mesmo os

diretores não tenham lugar garantido, e onde se incentive as pessoas a

1. A transcrição integral dessa carta compõe o item Anexos desta dissertação.

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acharem seu próprio equilíbrio entre vida pessoal e profissional, ficando,

novamente, responsáveis por seus destinos, e fazendo da empresa um lugar

sadio para trabalhar”.

ESCRITÓRIO NÃO-TERRITORIAL X ESCRITÓRIO TERRITORIAL

De acordo com Andrade (2005), muitas empresas no Brasil afirmam fazer uso

do conceito de escritórios alternativos ou não-territoriais, mas, de fato, apenas

destinam pequenos espaços para funcionários em trânsito ou terceirizados,

ou áreas com mesas redondas para as equipes de vendas, sem ter, portanto,

[...] o alcance nem a premissa básica do conceito de escritório não territorial, que é de compartilhamento das estações, que deixam de ser de uso exclusivo e individual, em razão da flexibilização da jornada ou da mobilidade requerida pelas diversas atividades no escritório.

Na Empresa 1 encontrou-se um bom exemplo de implantação dos Escritórios

Não-Territoriais, não somente de acordo com sua premissa básica relativa

à não individualização das estações de trabalho, como também em

relação à flexibilização da gestão nas empresas, de modo a permitir que

seus funcionários trabalhem com maior grau de liberdade de horários,

e no sentido de prover recursos tecnológicos que permitam às pessoas

trabalharem em outros locais que não o próprio escritório sede. Dessa

forma, o escritório doméstico, o escritório virtual e o hoteling fazem parte do

dia-a-dia dos funcionários da empresa, que, lá, são chamados de associados.

Enquanto a Empresa 1 apresenta uma escala hierárquica menor e com

uma nomenclatura menos usual, a Empresa 2 tem um organograma mais

rígido, com relações de subordinação mais definidas. A Empresa 1, por sua

própria história, tem os valores culturais da administração participativa mais

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arraigados, enquanto a Empresa 2 ainda é resultado de uma mistura de duas

culturas diferentes, ainda em processo de adaptação mútuo.

Nos Escritórios Não-Territoriais da Empresa 1, para escolher seu espaço

diário de trabalho, o funcionário precisa fazer uma reserva através do site da

empresa, que mostra uma planta com as estações não-territoriais instaladas

nos pavimentos, indicando as posições que estarão livres para o dia seguinte.

A reserva também pode ser feita no próprio escritório, num terminal de

Intranet instalado na recepção. No período de adaptação para o novo modelo

de ocupação havia uma regra: não era permitido ocupar por dois dias

consecutivos o mesmo lugar.

Existe um sistema de telefonia que permite aos usuários conectarem seus

ramais nos aparelhos telefônicos de qualquer uma das estações de trabalho

não-territoriais, de modo que as ligações para essas pessoas “seguem-nas”

pelo ambiente desterritorializado.

Os funcionários que mudam de mesa diariamente são obrigados a guardar

apenas o necessário, devendo utilizar somente um gaveteiro volante que os

acompanha pelo escritório. Quando não estão sendo utilizados, voltam para o

“estacionamento de gaveteiros”, um armário coletivo com escaninhos na parte

superior para a guarda de notebooks e espaço na parte inferior para acomodar

os gaveteiros que não estão em uso.

Quanto à personalização das estações de trabalho, alguns (poucos) funcionários

ainda têm seus porta-retratos e plantas que são guardados e recolocados sobre

as mesas a cada dia, parte da rotina diária nômade.

Algumas pessoas foram enfáticas na defesa do modelo não-territorial,

afirmando que favorece a comunicação, principalmente o relacionamento

com colegas de outros departamentos. No antigo layout, o contato com

pessoas de outra área acontecia com menor freqüência e, com a implantação

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do sistema não-territorial, o contato pode acontecer diariamente. Ao final de

um dia, um profissional pode ter trabalhado ao lado de uma, duas ou mais

pessoas diferentes, dos mais variados setores e também de outras empresas

do grupo.

Na Empresa 2, o Escritório Não-Territorial, apesar de utilizado

conceitualmente, não se verifica na prática. Existem estações de trabalho

não-territoriais em número suficiente para todos os funcionários que participam

do sistema, de modo que a não-territorialidade não se configura: as pessoas

utilizam todos os dias a mesma estação de trabalho. Esse grupo manifestou

estar pouco satisfeito com a utilização do Escritório Não-Territorial, o que,

para eles, é bastante desconfortável. Fazer uso territorial de estações com

dimensões bastante reduzidas é realmente um incômodo, tendo em vista

que, nos ambientes territoriais as pessoas tendem a “marcar” seus espaços

com pertences pessoais, tornando o espaço ainda mais exíguo.

Efetivamente, o tamanho bastante reduzido das estações de trabalho

não-territoriais utilizadas nas Empresas 1 e 2, que apresentam dimensões

médias de 3,5 m2/pessoa, é algo que mereceria ser revisto, pois está gerando

problemas de desconcentração e desconforto.

A falta de privacidade, de acordo com a percepção de um número significativo

de usuários, é um dos grandes problemas dos ambientes totalmente abertos.

Cabe acrescentar que essa questão vai além da necessidade de um espaço que

propicie trabalhar com concentração, livre de distrações. A alta densidade,

o tamanho diminuto das estações de trabalho e o conceito de escritório

predominantemente aberto fazem com que as pessoas fiquem muito expostas,

causando a sensação de vulnerabilidade e transgredindo os limites do espaço

individual, segundo o qual cada pessoa necessariamente estabelece o seu

espaço pessoal, “dominando” seu território (SOMMER, 1973).

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Segundo Andrade (2005):

[...] a privacidade no ambiente de trabalho é, sem dúvida, um dos aspectos-chave para o bem-estar e a produtividade no trabalho e tem provocado um debate sem fim na busca do que é mais adequado: um ambiente de trabalho aberto, que privilegia a comunicação, facilita o contato social e o trabalho em grupo, ou os escritórios fechados, que privilegiam a concentração do indivíduo e um maior controle, tanto das condições de conforto quanto da interação com os colegas. Para definir essa questão é necessário, porém, analisar esses resultados em conjunto com um entendimento das diferentes atividades exercidas no escritório, para identificar as que são de baixa interação e alta concentração, e aquelas mais sinérgicas, sendo a falta de privacidade, nesses casos, um “mal necessário”, uma vez que a proximidade e a realização de tarefas em equipe são constantes.

Ainda segundo Andrade (2005) existem três elementos-chave do ambiente

de trabalho, por meio dos quais a cultura organizacional se manifesta:

a padronização do espaço, o conceito de ocupação a formalidade ou

informalidade do layout. Em pesquisa realizada com 55 das cem melhores

empresas para trabalhar no Brasil, através da qual determinou um perfil de

ocupação dos ambientes de trabalho em edifícios de escritório, Andrade (2005)

observou os seguintes aspectos mais freqüentes:

• Conceito de ocupação: aberto/fechado.

• Densidade média: 7 a 10 m2/pessoa.

• Padrão de estações de trabalho: definido de acordo com o nível hierárquico

• existente na pirâmide organizacional.

• Área das estações de trabalho dos funcionários: menores do que 4 m2.

• Cadeiras dos funcionários: com rodízios e regulagens de assento e encosto.

• Armazenamento de uso comum: armários baixos e altos, distribuídos dentro

de cada área ou departamentos.

• Salas de reuniões: distribuídas por andar, em pool.

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• Áreas de integração social: na maioria dos casos se restringe àquela

destinada ao café.

Comparou-se esses dados com os observados no estudo de caso das Empresas

1 e 2. Na Empresa 1, o conceito de ocupação utilizado é o aberto, com apenas a

sala de reunião fechada; a densidade média é de 8 m2/pessoa, considerando-se

a área útil, e 4,5 m2/pessoa, considerando-se somente a área de funcionários;

o padrão de estações de trabalho é definido de acordo com o modelo de

ocupação, territorial ou não-territorial; as estações de trabalho não-territoriais

são menores do que 4 m2 e as estações de trabalho territoriais têm 6,5 m2.

As áreas de integração social contam com estar, café, jardim externo e o

“redário”. As características relativas às cadeiras, ao armazenamento e às salas

de reunião seguem o resultado da pesquisa de Andrade.

Na Empresa 2, o conceito de ocupação utilizado também é o aberto, com

apenas a sala de reunião fechada; a densidade média é de 12,5 m2/pessoa,

considerando-se a área útil, e 4 m2/pessoa, considerando-se somente a área

de funcionários; o padrão de estações de trabalho também é definido de

acordo com o modelo de ocupação, territorial ou não-territorial; a área das

estações de trabalho não-territoriais são menores do que 4 m2 e as estações

de trabalho territoriais têm 6,5 m2. As demais características são as mesmas

descritas na Empresa 1.

O ideal seria que as Empresas 1 e 2 proporcionassem aos seus funcionários

cadeiras com todas as regulagens, inclusive a de altura de braço e mesas

com altura também regulável. E que esses mecanismos de ajustes fossem

suficientemente “amigáveis” de modo que os usuários do Escritório Não-

Territorial fizessem uso deles sempre, adequando suas mesas e cadeiras a cada

vez que mudassem de lugar.

As empresas deveriam ainda dispor de mais escritórios privativos, como as

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duas unidades existentes no pavimento térreo, para contemplarem as situações

em que as pessoas sintam necessidade de trabalhar com maior privacidade e

concentração, o que ocorre com bastante freqüência.

E relação à densidade, os espaços Não-Territoriais deveriam ter estações

de trabalho um pouco maiores. Geralmente, no planejamento de espaço de

um escritório, a estação de trabalho é o elemento que define a densidade de

ocupação: quando um grande número de estações pequenas é colocado nos

ambientes, problemas acústicos são gerados, com o alto nível de ruído e a

baixa inteligibilidade da voz, além das questões já mencionadas sobre a falta

de privacidade e os aspectos psicológicos relativos ao espaço pessoal.

O estudo de caso mostrou uma realidade que não é o que se verifica na maior

parte das empresas instaladas no Brasil, na atualidade. Na maior parte dos

casos, os ambientes de trabalho continuam seguindo os princípios da Era

Industrial, revelados através da hierarquia vigente, dos layouts estáticos, com

suas estações de trabalho semifechadas, apesar de já vivermos na Era Pós-

Industrial, com todas as características sociais, de organização do trabalho e

de mercado que identificam esse período.

Como mencionado anteriormente, De Masi defende que, se ainda hoje as

fábricas e principalmente os escritórios estão organizados por critérios do

tipo industrial, isso depende exclusivamente da permanência injustificada e

contraproducente de fatores culturais obsoletos: “Depende do cultural gap

entre as razões subjacentes à velha organização industrial e as exigências

urgentes da nova organização pós-industrial: os homens chamados hoje a

administrar os recursos humanos nas empresas terceirizadas foram formados

ontém nas empresas manufatoras. Dessas empresas eles trouxeram um

conceito de organização já decrépito, mas ainda hoje privilegiado, com grave

dano para a motivação e, conseqüentemente, para o rendimento criativo (DE

MASI, 2003, p. 262).”

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É interessante notar o modo como Nadler (1993, p. 4) discorre sobre os

limites entre estrutura organizacional, utilizando-se do termo Arquitetura

Organizacional, como se ressaltasse a importância da arquitetura como

abrigo das novas idéias, conceitos e tecnologias:

[...] Reconhecendo os limites da expressão estrutura organizacional, adotamos a frase arquitetura organizacional para nos referirmos a um conjunto mais amplo de características organizacionais. A idéia de arquitetura nos estimula a nos concentrarmos não só na adequação entre a organização e seu ambiente, como também na harmonia entre elementos constituintes do projeto. Em outras palavras, a idéia de arquitetura estimula uma abordagem holística do projeto. A arquitetura também nos leva a refletir sobre o processo de construção de organizações e não apenas de projetá-las. Quer a organização seja uma “nova construção” ou uma “reforma”, deve ser criada através de um complexo processo de interação humana que envolve centenas e, com freqüência milhares de pessoas. A idéia de arquitetura é um lembrete eficiente de que o projeto é apenas uma parte do processo.

O desenho do espaço físico do escritório é caracterizado pela cultura

ali dominante e a arquitetura dos escritórios simboliza os elementos

organizacionais que o geraram. Do mesmo modo, os escritórios refletem

o modelo de gestão organizacional adotado na empresa e, fundamentalmente,

a sua cultura organizacional. A tecnologia “apenas” viabiliza isso de maneira

mais consistente.

Muitas vezes o ritmo das inovações tecnológicas é tal, que a mentalidade e a

cultura organizacional não conseguem sequer absorvê-las. E, ainda ressaltando,

o padrão de ocupação é reflexo da cultura organizacional da empresa, não dos

adventos tecnológicos, que são somente ferramentas facilitadoras.

A arquitetura é o abrigo e também deve ser elemento facilitador na busca por

novos espaços de trabalho, proporcionando melhores condições do trabalho,

com ambientes mais produtivos e mais agradáveis.

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ZUFFO, João A. A sociedade e a economia no novo milênio: os empregos e as empresas no turbulento alvorecer do Século XXI - Livro III: a Infoeconomia. Barueri,

Manole, 2004.

Documentário em vídeo:

DESIGN NO BRASIL: A CONTRIBUIÇÀO DE MILLY TEPERMAN. Direção: Luiz Bargmann

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Neto. Produção: Rose Moraes. Roteiro: Ana Paula Cabral Sader; Ana Lúcia Ferraz; Maria Cecília Loachiavo dos Santos. Pesquisa: Ana Paula Cabral Sader. Orientação de pesquisa: Elisabetta Romano. Coordenação Científica: Maria Cecília Loachiavo dos Santos. São Paulo, VideoFAU, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade

de São Paulo, 2006. DVD, 22 min.

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DIAS, Anne. O futuro dos escritórios. Revista Você S.A. São Paulo, Editora Abril, n.

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FISCHER, Nádia. Offices do ofício. Revista Arc Design. São Paulo, Quadrifoglio

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GOMES, Vitória. O que mudou nos escritórios. Revista Arc Design. São Paulo,

Quadrifoglio Editora, n. 3, p. 36-45, dez/1997-jan/1998.

HEINEN, Ricardo. Ergonomia: Questão de Postura. Revista Office. São Paulo, Flex

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HEINEN, Ricardo. Gestão flexível: um por todos e todos por um. Revista Office. São

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JOHNSON, Jan. The Endless Debate: Open Plan or Closed Offices? IS Magazine - I&S Continuing Education Series. Maio, 2003, p. 68-73.

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parte 1. l&S Continuing Education Series. Maio, 2002.

JOHNSON, Jan; McDOUGALL, Loma. Workplace Design and Organizational Culture,

parte 2. Examining the connections between workplace and culture. I&S Continuing Education Series. Setembro, 2002.

JOHNSON, Jan; McDOUGALL, Loma. Workplace Design and Organizational Culture,

parte 3. Exploring corporate culture and change. I&S Continuing Education Series. Janeiro/Fevereiro, 2003.

LEAVITT, Harold J. Por que a hierarquia perdura. Harvard Business Review América Latina. Santiago, Chile, Impact Media, volume 81, n. 3, p. 70-76, março 2003.

LOPES, Daniel Ricardo. Querer é poder. Revista Office. São Paulo, Flex Editora, n. 67,

p. 60-64, março/abril 2002.

MORAES, Juliana. Emprego que não acaba mais. Revista Super interessante – Edição especial: O livro do futuro. São Paulo, Editora Abril, março de 2005.

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NOKADA, Ikujiro. The knowledge creating company. Harvard Business Review,

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ROCHA, Tânia Magalhães. Escritórios através dos tempos. São Paulo, Revista Ofício Escritórios, nº 11, s.d., p.13-23.

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766, p. 87-98, 15 de maio de 2002.

VALENTE, Angélica. Escritórios: dos nômades ao luxo. Revista Arc Design. São Paulo,

Quadrifoglio Editora, n. 26, p. 32-39, jul/ago 2002.

VASSALO, Cláudia. O escritório do futuro: como será seu local de trabalho amanhã.

Revista Exame. São Paulo, Editora Abril, n.618, p. 48-54, setembro 1996.

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Escritórios do Futuro: tecnologia e bem-estar no trabalho. São Paulo, Editora Abril,

Edição especial da Revista Exame – Catálogo da Exposição Escritórios do Futuro,

parte integrante da edição n. 806, 21 de novembro de 2003.

Escritórios do Futuro. São Paulo, Editora Abril, Edição especial da Revista Exame

– Catálogo da Exposição Escritórios do Futuro, parte integrante da edição n. 821,

07 de julho de 2004.

Revolutions Work. Grand Rapids, Steelcase International, 2000.

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www. steelcase. com br . Acesso em 01 de outubro de 2003.

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em: http://ifi.uoi.no/iris20/proceedings/7htm. Acesso em 12 de fevereiro de 2002.

Vitra. Disponível em http://vitra.com/products/systems/joyn. Acesso em 18 de abril

de 2006.

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ANEXO A | QUESTIONÁRIO

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ANEXO B | CARTA

A carta abaixo, intitulada “Um admirável espaço novo”, foi redigida pelo

principal acionista do Grupo A e encaminhada aos funcionários da empresa

na semana que antecedia a inauguração das novas instalações físicas do

Escritório Não-Territorial, no edifício-sede da empresa, no ano de 2001.

Para manter a empresa sem identificação, a carta original foi transcrita pela

autora da dissertação, subtraindo-se os trechos que mencionavam seu nome.

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UM ADMIRÁVEL ESPAÇO NOVO

Nestes dias vamos inaugurar um novo espaço de trabalho na empresa. À primeira vista, pode parecer um escritório virtual, que é caracterizado por:

1. Falta de escritórios fechados, ou designados a uma pessoa em particular.

2. Uso múltiplo de um mesmo posto de trabalho, para dar conta do fato de que muitas pessoas usam a mesa do escritório apenas uma parte do dia, ou da semana.

3. Tentativa de conter custos, evitando espaços pouco utilizados (cabe muito mais gente num espaço virtual, se somarmos o número efetivo de horas de uso das mesas).

Muitas destas características são desejáveis, mas não são o foco principal desta inovação que está para ser concebida na empresa. Estamos querendo, também, as seguintes condições:

1. Eliminar, aos poucos, a hierarquia física, abolindo o poder via símbolos, espaços e mordomias, restando aos cargos de liderança apenas a conquista do respeito real dos seus liderados por meio da competência e capacidade de aglutinação.

2. Diminuir ou eliminar a capacidade de controle sobre as pessoas. Não havendo controle visual ou físico, as pessoas passam a ser responsabilizáveis apenas pelo resultado, e não pelo horário, roupa, modo de agir, ou método de trabalho.

3. Diminuição substancial da perda de tempo em trânsito, e redução importante do stress de horário, do monitoramento corporativo, e da falta de liberdade de organizar a vida familiar.

4. Independência crescente, onde um notebook, dados remotos e autodisciplina tomem o lugar de rotinas cansativas, irritantes e pouco inteligentes.

Hoje apenas pessoas de cargos mais altos ou de funções independentes têm um pouco destes privilégios na empresa. Queremos que isto se estenda a mais pessoas, até atingir a quase totalidade. Mesmo os que não podem, por função, estar longe de um posto fixo de trabalho precisam ter mais liberdade do que têm hoje.Tudo isto é muito mais difícil de implantar do que pregar. E o obstáculo principal está dentro das cabeças das pessoas.As pessoas se seduzirão com a idéia de programar seus horários com flexibilidade, dar menos satisfação sobre o jeito de fazer as coisas, e gozar da liberdade que um

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movimento mais livre proporciona.

Por outro lado, sentirão insegurança por não ter um território personalizado, duvidarão que uma mudança de horário não acarrete alguma censura pelos líderes, e se sentirão um pouco órfãos ao não ter um lugar onde o porta-retrato dos filhos simbolize a posse de um lugar ao sol na empresa.

Mas as pessoas sabem que a empresa pode ser fria e calculista, e uma mesa bonita com um lugar na janela pode ser trocada por uma homologação trabalhista, num piscar de olhos, e por isso é ilusória a sensação de segurança. Esta só pode vir de uma composição feliz entre missões bem cumpridas, por pessoas felizes no que fazem – e isto, em nada, depende de onde sentam.

O que estamos querendo iniciar é uma filosofia – que bata com o que a empresa vem tentando implantar há 21 anos: a de levar ao limite a independência, autonomia e capacidade de realização de cada uma de nossas pessoas.

A tecnologia demorou para nos ajudar. Mas agora está disponível. E queremos que este novo espaço seja o primeiro de uma configuração nova de quase toda a empresa. Onde as pessoas percebam que queremos contratar a sabedoria, talento e interesse de cada um, e não um jeito de vestir e falar, uma hora de chegar, e uma atitude conformista.

E este espaço novo simboliza isto. Eu, por exemplo, pretendo usá-lo como única opção quando vier à empresa – que faço pouco, pois só apareço quando preciso (e o mesmo deveria ser verdade da maioria).

Também o Violi, Clovis, Vendramim e praticamente todos os que exercem cargos de liderança na empresa se comprometeram a abrir mão de seus espaços exclusivos, para inaugurar esta nova fase demonstrando desde já que não é de salas, vagas de estacionamento e secretárias que se faz um bom líder.Haverá muito receio, muito ceticismo e algum mal uso deste novo espaço (por exemplo, tentar usar sempre o mesmo local. Venho a vocês para fazer um pedido de voto de confiança: que usemos este espaço como experimento comprometido. Para isto, e para não fazer isto de cima para baixo, estamos promovendo uma série de pequenos encontros, para ouvir todos sobre a melhor maneira de usar estes espaços (dentro do conceito acima, ou então adaptado pelo que as pessoas realmente querem).

Todas as mudanças que fizemos na empresa procuraram envolver as pessoas e ouvir a todos, mas é claro, sempre tiveram um grau de autoritarismo. Isto por duas razões: uma, que todos nós temos um condicionamento autoritário razoável, e ninguém conhece uma sequer empresa democrática no mundo, o que é uma pena e um atraso de vida. A segunda razão é que um pulo na maneira de pensar nunca acontece

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naturalmente. Em termos antropológicos, o ser humano muda muito pouco, e muito devagar, e os grupos (tribos) se armam, fortemente, contra qualquer mudança mais radical.

Não será diferente aqui, e por isso uma forçadinha de mão sempre acontece. A nossa forçadinha virá na forma de ouvir a todos, e depois ainda tentar botar o conceito acima em vigor. Não acreditamos que este pulo conceitual seja natural ou óbvio, e por isso teremos que conviver com as reclamações e dúvidas que seguem:

A. Meu cargo não me permite – tenho que estar aqui todo dia, na mesma hora. (Raríssimos cargos são assim, e são inúmeras as pessoas que enfrentam duas horas de trânsito, para chegarem pontualmente ao trabalho, para então mandar um e-mail para a pessoa do lado. B. Antes eu tinha uma mesa que era só minha, agora tenho que reservar, ou correr o risco de ficar sem. (Sim, mas agora você pode levar o filho com calma à escola na Segunda-feira, e trabalhar no Domingão à noite, com pizza na mão, melecando a tela do computador de azeite, ao invés de assistir ao Fantástico. E mais, o chefe agora não tem como saber onde você está, nem vai se interessar mais por isto, apenas vai cobrar o resultado que foi negociado entre vocês). C. Ah, mas eu já trabalho na empresa de dia, e ainda no fim-de-semana em casa. (É aí que seu controle sobre o tempo e seu destino entram em vigor. Cabe a você descobrir se todos os momentos seus na empresa são produtivos, ou se existe uma forma melhor de se organizar. E, afinal de contas, você vai economizar muitas horas por semana de trânsito se usar outros horários ou trabalhar em casa durante o dia). D. Mas eu preciso trabalhar com outras pessoas da minha área. (Se você não é um destes que manda mail para o colega ao lado, é só combinar com uma, ou quatro ou dez pessoas, e reservar uma área para isto. Você vai descobrir que estas ocasiões são mais raras, em termos de consumo de horas, do que você achava, e que muitas destas reuniões podem ser substituídas por telefonemas em grupo, ou uso de Internet colaborativa). E. Vou me sentir sem pai nem mãe, sem saber se estão vendo meu trabalho, um nômade perdido no Deserto do Já-era. (Ilusão, porque hoje o trabalho das pessoas já é muito controlado em termos de resultado final, e a questão física apenas ficou para trás. Ao usar este sistema novo, você descobrirá que ficar até 2a feira de manhã em Itanhaem não vai fazer diferença nenhuma - apenas vai economizar 5 horas de trânsito, crianças chorando com queimaduras de sol e refrigerantes quentes comprados do ambulante da via expressa).O Professor Domenico de Masi, que muitos de vocês devem conhecer como o guru da nova sociedade de trabalho (é estudioso da sociologia do trabalho há quatro

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décadas) constatou as seguintes coisas, por pesquisa:

• “Agora, a maioria dos trabalhadores não lida com matérias sólidas, mas com informação imaterial. Portanto, em vez de deslocar os trabalhadores para onde estão as informações, é possível e preferível deslocar as informações para onde estão os trabalhadores”.

• “As pesquisas sobre o teletrabalho, ou seja, o trabalho que não é realizado nos escritórios, mas na própria residência, evidenciam que as tarefas que na empresa requerem de oito a dez horas para serem realizadas, em casa se realizam, comodamente, na metade do tempo: de quatro a cinco horas, no máximo. Isto quer dizer que as pessoas passam, seja nas empresas, seja nas repartições públicas, o dobro do tempo necessário.” (E é preciso adicionar, às 8-10 horas na empresa, as 3 ou mais horas de trânsito por dia, o que compõe um cenário desumano, pouco inteligente e que, composto com o grau crescente de exigência da empresa e do mercado, uma vida muito pouco saudável).

Assim, vocês verão que o novo espaço é muito mais do que uma adaptação moderninha – é uma tentativa de libertação das pessoas. Do controle desnecessário, da ditadura do trânsito e poluição, e de um sistema pouco inteligente, que tanto compromete a vida pessoal, a criatividade, a saúde, e por conseqüência, a felicidade.

Para a empresa, queremos compartilhar do lucro e produtividade que vem de pessoas felizes e interessadas, sem o que nada somos.

E estamos convencidos de que estes novos escritórios, se usados desta forma nova (um ponto de apoio quando é necessário vir à empresa, a critério de cada pessoa) serão um catalisador desta nova forma de trabalhar.

Não há, ao que se saiba, outra empresa no Brasil que use escritórios totalmente não-territoriais, onde mesmo os diretores não tenham lugar garantido, e onde se incentive as pessoas a acharem seu próprio equilíbrio entre vida pessoal e profissional, ficando, novamente, responsáveis por seus destinos, e fazendo da empresa um lugar sadio para trabalhar.

Participem dos workshops, dêem idéias, reclamem quanto quiserem, mas, ao fim, lembrem-se que este é um exercício sem precedentes claros e sem regras certas ou erradas – e que vai depender totalmente do comprometimento de todos. Para, no fim, achar um jeito melhor de trabalhar.

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ANEXO C | TABELAS CRUZADASFU

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