a conquista das cisternas do povo kapinawá em buíque

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A conquista das cisternas do Povo Kapinawá em Buíque Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 nº1929 Julho/2014 Buíque No início de junho tivemos a oportunidade de visitar a Aldeia Ponta da Várzea, da Tribo Kapinawá, localizada na Zona Rural de Buíque. Chegando lá, conhecemos Roseane Gomes, liderança da Aldeia há 28 anos. Sentamos para uma conversa e ela logo tratou de contar como foi o processo de conquista das “cisternas pequenas”, nome dado às cisternas de 16 mil litros. “Foi participando de reuniões do Conselho Municipal. Fui informada das reuniões da Cáritas Diocesana de Pesqueira, e sempre tive a vontade de participar dessas reuniões. Eu era muito tímida, mas mesmo assim decidi ir”, disse Roseane. Chegando à reunião, Roseane conheceu Neilda Pereira, secretária executiva da Cáritas Diocesana de Pesqueira e Coordenadora Executiva da Articulação do Semiárido em Pernambuco. Durante a conversa, foi logo alertada de que não seria fácil conseguir as cisternas e que a Aldeia precisaria passar por uma seleção. “Para Buíque seriam 101 cisternas. Fiquei triste por conta da quantidade e a população de Buíque é muito grande”, continuou a índia. Mesmo assim, ficou acertado que a Aldeia receberia a visita técnica para avaliação. Estavam concorrendo com mais 30 comunidades e que apenas cinco seriam escolhidas. Após as visitas em todas essas localidades, chegou o dia do encontro para a divulgação dos resultados. “Tive esperança quando anunciaram que quilombolas, indígenas e assentados têm prioridade para o recebimento do programa. E então a nossa comunidade foi uma das sorteadas. Fiquei muito feliz”, falou Roseane. E assim, foi iniciado o processo de visita às 400 famílias da Aldeia Kapinawá de Buíque e as marcações de onde seriam implantadas as cisternas de 16 mil litros. Roseane ainda contou que o técnico da Cáritas sofreu bastante para a marcação dessas terras, porque algumas casas são muito distantes da outras, não tem estradas e algumas não têm energia elétrica. Mas, mesmo assim, conseguiu realizar o seu trabalho mesmo com todo o sacrifício. Foram construídas 37 cisternas do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) do Ministério do Desenvolvimento Social, uma parceria da Cáritas Diocesana de Pesqueira com a Articulação do Semiárido de Pernambuco. “Da primeira vez eu pensei que nós, índios, não íamos dar conta, porque precisa de dedicação e precisa mesmo trabalhar. Mas Graças a Deus não tivemos problemas”, falou a liderança. Depois da implantação da cisterna Dona Roseane é só elogio. “Chove, tem água na cisterna de fulano. Aí eles pegam os canos e ligam com a bomba e enchem as cisternas dos vizinhos. Então ajudou muito tanto pela falta de água que tínhamos, como também agora facilitou o nosso trabalho de produção”, disse Roseane. Roseane Gomes

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No início de junho tivemos a oportunidade de visitar a Aldeia Ponta da Várzea, da Tribo Kapinawá, localizada na Zona Rural de Buíque. Chegando lá, conhecemos Roseane Gomes, liderança da Aldeia há 28 anos. Sentamos para uma conversa e ela logo tratou de contar como foi o processo de conquista das "cisternas pequenas", nome dado às cisternas de 16 mil litros.

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Page 1: A conquista das cisternas do Povo Kapinawá em Buíque

A conquista das cisternas do Povo Kapinawá em Buíque

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 nº1929

Julho/2014

Buíque

No início de junho tivemos a oportunidade de visitar a Aldeia Ponta da Várzea, da Tribo Kapinawá, localizada na Zona Rural de Buíque. Chegando lá, conhecemos Roseane Gomes, liderança da Aldeia há 28 anos. Sentamos para uma conversa e ela logo tratou de contar como foi o processo de conquista das “cisternas pequenas”, nome dado às cisternas de 16 mil litros. “Foi participando de reuniões do Conselho Municipal. Fui informada das reuniões da Cáritas Diocesana de Pesqueira, e sempre tive a vontade de participar dessas reuniões. Eu era muito tímida, mas mesmo assim decidi ir”, disse Roseane. Chegando à reunião, Roseane conheceu Neilda Pereira, secretária executiva da Cáritas Diocesana de Pesqueira e Coordenadora Executiva da Articulação do Semiárido em Pernambuco. Durante a conversa, foi logo alertada de que não seria fácil conseguir as cisternas e que a Aldeia precisaria passar por uma seleção. “Para Buíque seriam 101 cisternas. Fiquei triste por conta da quantidade e a população de Buíque é muito grande”, continuou a índia. Mesmo assim, ficou acertado que a Aldeia receberia a visita técnica para avaliação. Estavam concorrendo com mais 30 comunidades e que apenas cinco seriam escolhidas. Após as visitas em todas essas localidades, chegou o dia do encontro para a divulgação dos resultados. “Tive esperança quando anunciaram que quilombolas, indígenas e assentados têm prioridade para o recebimento do programa. E então a nossa comunidade foi uma das sorteadas. Fiquei muito feliz”, falou Roseane. E assim, foi iniciado o processo de visita às 400 famílias da Aldeia Kapinawá de Buíque e as marcações de onde seriam implantadas as cisternas de 16 mil litros. Roseane ainda contou que o técnico da Cáritas sofreu bastante para a marcação dessas terras, porque algumas casas são muito distantes da outras, não tem estradas e algumas não têm energia elétrica. Mas, mesmo assim, conseguiu realizar o seu trabalho mesmo com todo o sacrifício. Foram construídas 37 cisternas do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) do Ministério do Desenvolvimento Social, uma parceria da Cáritas Diocesana de Pesqueira com a Articulação do Semiárido de Pernambuco. “Da primeira vez eu pensei que nós, índios, não íamos dar conta, porque precisa de dedicação e precisa mesmo trabalhar. Mas Graças a Deus não tivemos problemas”, falou a liderança. Depois da implantação da cisterna Dona Roseane é só elogio. “Chove, tem água na cisterna de fulano. Aí eles pegam os canos e ligam com a bomba e enchem as cisternas dos vizinhos. Então ajudou muito tanto pela falta de água que tínhamos, como também agora facilitou o nosso trabalho de produção”, disse Roseane.

Roseane Gomes

Page 2: A conquista das cisternas do Povo Kapinawá em Buíque

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco

Antes da chegada das cisternas a Aldeia passava por grandes surtos de doenças provenientes de água contaminada. As famílias que tiveram algum tipo de doença tiveram prioridade em receber as cisternas. A primeira cisterna chegou no ano de 2011, mas desde 2004, a Aldeia tem o projeto de horta comunitária. Muitos já vendem ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e na feira. No momento da entrevista, a Aldeia estava participando do curso de Gestão de Água para a Produção de Alimentos (GAPA). As famílias que já produziam em seus quintais e tinham produção de animais foram selecionadas para aprender um pouco mais sobre o cuidado com a terra e os animais. Além de ter a oportunidade de trocar experiências, aprender novas técnicas de manejos, como lidar com a água e com a terra e a importância da agroecologia. “Aqui todos tem sua plantação individual, mas que dividimos por todos. Quando recebemos algum projeto, não é voltado para uma pessoa ou uma família, mas sim para todo o grupo. Nós somos muito unidos, lutamos juntos. Desde pequenos que aprendemos a ser assim”, falou orgulhosa. Os índios plantam desde frutas, verduras e hortaliças, passando pelas plantas medicinais e também para os seus rituais como, por exemplo, a jurema preta. Além da criação de cabras, ovelhas, bodes, galinhas e porcos. A Aldeia Ponta da Várzea conta com 64 famílias, e além delas existem mais 11 Aldeias na cidade de Buíque. Do povo Kapinawá são mais de 2.000 índios espalhados pelas cidades de Buíque, Tupanatinga e Ibimirim. A família de Roseane Gomes conta com mais quatro pessoas: o marido e seus três filhos.

Realização Apoio

Roseane mostrando a sua plantação A índia na sua propriedade

Plantação de alface Parte do quintal de Roseane