aves do parque nacional do catimbau, buíque, pernambuco, brasil

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Atualidades Ornitológicas On-line Nº 147 - Janeiro/Fevereiro 2009 - www.ao.com.br 36 9 771981 887003 7 4 1 0 0 ISSN 1981-8874 1, 2 (LEAL et al., 2003), e que não existem pesquisas sobre a avifauna Gilmar Beserra de Farias na região do Parque Nacional do Catimbau, o objetivo deste estu- do foi inventariar as espécies de aves em três diferentes fitofisio- Introdução nomias desta Unidade de Conservação. A Caatinga é um mosaico de arbustos espinhosos e florestas sa- zonalmente secas que cobre a maior área dos estados do nordeste Material e Métodos e parte de Minas Gerais (LEAL et al., 2005) e, embora seja a única Área de estudo: O Parque Nacional do Catimbau (PARNA Ca- grande região natural brasileira cujos limites estão inteiramente timbau) está localizado no Sertão de Pernambuco, a 289 km de Re- restritos ao território nacional, pouca atenção tem sido dada à con- cife, capital do Estado. Criado em 13 de dezembro de 2002, esta servação de sua paisagem, assim como a sua biota tem sido subes- Unidade de Conservação está inserida em uma região definida co- timada (SILVA et al., 2004). Em relação às aves, já foram registra- mo área prioritária para pesquisa científica (MMA, 2002) e apre- das 510 espécies para a caatinga, incluindo aquelas que ocorrem 2 em áreas como os brejos florestados e campos rupestres (SILVA et senta uma superfície de 607 km distribuídos nos municípios de al., 2003). Com o objetivo de indicar áreas prioritárias para con- Buíque, Tupanatinga e Ibimirim (BRASIL, 2002). A topografia servação, Pacheco (2004) apresentou uma lista de 348 espécies de caracterizada por elevações tabulares em forma de mesetas, que aves para caatinga strictu senso, destacando os táxons endêmicos variam de 600 a 1000m de altitude, vales abertos com encostas ín- e ameaçados de extinção. Ainda assim, a caatinga continua sendo gremes e topos aplainados, muito recortados e erodidos (RODAL o bioma com menor grau de conhecimento (SANTOS, 2004) e et al., 1998). O clima é do tipo BSh'w (quente e seco) com tempe- com poucas informações sobre a sua avifauna. ratura anual média de 26°C, apresentando os maiores índices plu- Neste bioma, destacam-se alguns trabalhos que tratam da rique- viométricos entre os meses de abril e junho (SUDENE, 1990). za e distribuição das espécies de aves (NASCIMENTO 1996a, Baseado em observações de campo e nos trabalhos de Rodal et 1996b, 2000; NASCIMENTO e SCHULZ-NETO, 2000; al. (1998), Figueirêdo et al. (2000), Andrade et al. (2004) e Go- PARRINI et al., 1999; SANTOS, 2004; TELINO-JÚNIOR et al., mes et al. (2006), foram definidas três áreas com distintas fitofisi- 2005; OLMOS et al., 2005; ROOS et al., 2006). Sobre as aves da ca- onomias para coleta de dados: atinga de Pernambuco poucos trabalhos foram realizados A1) Três Morros (08°27'15”S/37°15'10”W – 639m) a Brocotó (COELHO, 1987; OLMOS et al., 2005; FARIAS et al., 2005; (08°28'44”S/37°15'27”W – 675m). Área com vegetação típica de FARIAS, 2007), havendo ainda muitas lacunas a serem investiga- caatinga de areia, cuja fisionomia predominantemente é arbustiva das sobre a ocorrência, distribuição e história natural das espécies. caducifólia, apresentando elementos espinhosos como cactáceas Neste Estado, os estudos apresentados até o momento relacionaram e bromeliáceas. Além de Caesalpinia spp. (catingueiras), essa fisi- a distribuição das espécies em função de fatores bióticos, geral- onomia tem como espécies mais comuns Mimosa lewisii (jure- mente com a fitofisionomia. A riqueza de espécies em quatro dife- ma) e Syagrus coronata (ouricuri) e componentes arbóreos espar- rentes fisionomias foi estudada em períodos de chuva e de seca, na sos, principalmente nas margens dos riachos temporários, como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Maurício Dan- Commiphora leptophloeos (imburana-de-cambão). tas, em Betânia, e na RPPN Cantidiano Valgueiro, no município de A2) Brejo São José (08°32'12”S/37°13'45”W – 708m) a Ho- Floresta, no sertão do médio São Francisco (FARIAS et al., 2005). mens sem cabeça (08°31'35”S/37°14'45”W – 869m). Apresenta No oeste de Pernambuco, nos municípios de Ouricuri, Parnamirim, fitofisionomia arbustiva e perenifólia, com ausência de elemen- Lagoa Grande e Petrolina, foram realizados inventários registran- tos espinhosos, poucas árvores e um estrato arbustivo denso. Pró- do-se as espécies de aves mais abundantes em áreas de caatinga ar- xima da encosta, no sopé do Brejo São José, existe uma nascente bóreo-arbustiva e lagoas circundadas por caatinga arbustiva d'água e a presença de uma vegetação mais arbórea, com grande (OLMOS et al., 2005). Um padrão de distribuição da avifauna em concentração de Orbignya phalerata (babaçu) e trechos com alta relação a diferentes fisionomias na caatinga foi apresentado por Fa- densidade de Prosopis juliflora (algaroba). rias (2007), sugerindo que caatingas arbóreas teriam avifauna mais A3) Igrejinha (08°29'35”S/37°15'04”W – 915m) ao Sítio Oá- rica, mais diversa e menos abundante que as caatingas arbustivas. sis (08°31'11”S/37°16'17”W – 929m). A fisionomia é uma mistu- Na Reserva Biológica de Serra Negra, brejo de altitude localizado ra de campos rupestres com uma vegetação arbustiva subcaduci- entre os municípios de Floresta, Inajá e Tacaratu, foi observada a fre- fólia em áreas planas da chapada. Compartilha poucas espécies qüência e ocorrência das espécies de aves na vegetação de caatinga com a vegetação arbustiva perenifólia na vertente que recebe o (com altitude aproximada de 700m), na área de transição na verten- vento e tem maior semelhança com a flora arbustiva caducifólia te a barlavento (800m) e na floresta úmida (1000m) (COELHO, espinhosa situada nas áreas mais secas na vertente que recebe o 1987). Neste caso, tipologias vegetacionais associadas a diferentes vento (MARIA JESUS NOGUEIRA RODAL, com. pess.). Nessa altitudes foram os aspectos do ambiente que limitaram a distribui- fisionomia, destaca-se a Caesalpinia microphylla (catingueira- ção, riqueza e abundância das espécies de aves naquela região. rasteira) e diversas espécies de Myrtaceae. Considerando que o estudo e a conservação da diversidade bio- Metodologia: Durante o mês de maio de 2008, foram realiza- lógica da Caatinga é um dos maiores desafios da ciência brasileira dos excursões entre 5h e 10h, e entre 15h e 18h, para inventariar as Aves do Parque Nacional Pernambuco, Brasil do Catimbau, Buíque,

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Atualidades Ornitológicas On-line Nº 147 - Janeiro/Fevereiro 2009 - www.ao.com.br36

9 771981 887003 74100

ISSN 1981-8874

1, 2 (LEAL et al., 2003), e que não existem pesquisas sobre a avifauna Gilmar Beserra de Fariasna região do Parque Nacional do Catimbau, o objetivo deste estu-do foi inventariar as espécies de aves em três diferentes fitofisio-Introduçãonomias desta Unidade de Conservação.A Caatinga é um mosaico de arbustos espinhosos e florestas sa-

zonalmente secas que cobre a maior área dos estados do nordeste Material e Métodose parte de Minas Gerais (LEAL et al., 2005) e, embora seja a única

Área de estudo: O Parque Nacional do Catimbau (PARNA Ca-grande região natural brasileira cujos limites estão inteiramente timbau) está localizado no Sertão de Pernambuco, a 289 km de Re-restritos ao território nacional, pouca atenção tem sido dada à con-cife, capital do Estado. Criado em 13 de dezembro de 2002, esta servação de sua paisagem, assim como a sua biota tem sido subes-Unidade de Conservação está inserida em uma região definida co-timada (SILVA et al., 2004). Em relação às aves, já foram registra-mo área prioritária para pesquisa científica (MMA, 2002) e apre-das 510 espécies para a caatinga, incluindo aquelas que ocorrem

2em áreas como os brejos florestados e campos rupestres (SILVA et senta uma superfície de 607 km distribuídos nos municípios de al., 2003). Com o objetivo de indicar áreas prioritárias para con- Buíque, Tupanatinga e Ibimirim (BRASIL, 2002). A topografia servação, Pacheco (2004) apresentou uma lista de 348 espécies de caracterizada por elevações tabulares em forma de mesetas, que aves para caatinga strictu senso, destacando os táxons endêmicos variam de 600 a 1000m de altitude, vales abertos com encostas ín-e ameaçados de extinção. Ainda assim, a caatinga continua sendo gremes e topos aplainados, muito recortados e erodidos (RODAL o bioma com menor grau de conhecimento (SANTOS, 2004) e et al., 1998). O clima é do tipo BSh'w (quente e seco) com tempe-com poucas informações sobre a sua avifauna. ratura anual média de 26°C, apresentando os maiores índices plu-

Neste bioma, destacam-se alguns trabalhos que tratam da rique- viométricos entre os meses de abril e junho (SUDENE, 1990). za e distribuição das espécies de aves (NASCIMENTO 1996a, Baseado em observações de campo e nos trabalhos de Rodal et 1996b, 2000; NASCIMENTO e SCHULZ-NETO, 2000; al. (1998), Figueirêdo et al. (2000), Andrade et al. (2004) e Go-PARRINI et al., 1999; SANTOS, 2004; TELINO-JÚNIOR et al., mes et al. (2006), foram definidas três áreas com distintas fitofisi-2005; OLMOS et al., 2005; ROOS et al., 2006). Sobre as aves da ca- onomias para coleta de dados:atinga de Pernambuco poucos trabalhos foram realizados A1) Três Morros (08°27'15”S/37°15'10”W – 639m) a Brocotó (COELHO, 1987; OLMOS et al., 2005; FARIAS et al., 2005; (08°28'44”S/37°15'27”W – 675m). Área com vegetação típica de FARIAS, 2007), havendo ainda muitas lacunas a serem investiga- caatinga de areia, cuja fisionomia predominantemente é arbustiva das sobre a ocorrência, distribuição e história natural das espécies. caducifólia, apresentando elementos espinhosos como cactáceas Neste Estado, os estudos apresentados até o momento relacionaram e bromeliáceas. Além de Caesalpinia spp. (catingueiras), essa fisi-a distribuição das espécies em função de fatores bióticos, geral- onomia tem como espécies mais comuns Mimosa lewisii (jure-mente com a fitofisionomia. A riqueza de espécies em quatro dife- ma) e Syagrus coronata (ouricuri) e componentes arbóreos espar-rentes fisionomias foi estudada em períodos de chuva e de seca, na sos, principalmente nas margens dos riachos temporários, como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Maurício Dan- Commiphora leptophloeos (imburana-de-cambão). tas, em Betânia, e na RPPN Cantidiano Valgueiro, no município de A2) Brejo São José (08°32'12”S/37°13'45”W – 708m) a Ho-Floresta, no sertão do médio São Francisco (FARIAS et al., 2005). mens sem cabeça (08°31'35”S/37°14'45”W – 869m). Apresenta No oeste de Pernambuco, nos municípios de Ouricuri, Parnamirim, fitofisionomia arbustiva e perenifólia, com ausência de elemen-Lagoa Grande e Petrolina, foram realizados inventários registran- tos espinhosos, poucas árvores e um estrato arbustivo denso. Pró-do-se as espécies de aves mais abundantes em áreas de caatinga ar- xima da encosta, no sopé do Brejo São José, existe uma nascente bóreo-arbustiva e lagoas circundadas por caatinga arbustiva d'água e a presença de uma vegetação mais arbórea, com grande (OLMOS et al., 2005). Um padrão de distribuição da avifauna em concentração de Orbignya phalerata (babaçu) e trechos com alta relação a diferentes fisionomias na caatinga foi apresentado por Fa- densidade de Prosopis juliflora (algaroba).rias (2007), sugerindo que caatingas arbóreas teriam avifauna mais A3) Igrejinha (08°29'35”S/37°15'04”W – 915m) ao Sítio Oá-rica, mais diversa e menos abundante que as caatingas arbustivas. sis (08°31'11”S/37°16'17”W – 929m). A fisionomia é uma mistu-Na Reserva Biológica de Serra Negra, brejo de altitude localizado ra de campos rupestres com uma vegetação arbustiva subcaduci-entre os municípios de Floresta, Inajá e Tacaratu, foi observada a fre- fólia em áreas planas da chapada. Compartilha poucas espécies qüência e ocorrência das espécies de aves na vegetação de caatinga com a vegetação arbustiva perenifólia na vertente que recebe o (com altitude aproximada de 700m), na área de transição na verten- vento e tem maior semelhança com a flora arbustiva caducifólia te a barlavento (800m) e na floresta úmida (1000m) (COELHO, espinhosa situada nas áreas mais secas na vertente que recebe o 1987). Neste caso, tipologias vegetacionais associadas a diferentes vento (MARIA JESUS NOGUEIRA RODAL, com. pess.). Nessa altitudes foram os aspectos do ambiente que limitaram a distribui- fisionomia, destaca-se a Caesalpinia microphylla (catingueira-ção, riqueza e abundância das espécies de aves naquela região. rasteira) e diversas espécies de Myrtaceae.

Considerando que o estudo e a conservação da diversidade bio- Metodologia: Durante o mês de maio de 2008, foram realiza-lógica da Caatinga é um dos maiores desafios da ciência brasileira dos excursões entre 5h e 10h, e entre 15h e 18h, para inventariar as

Aves do Parque Nacional

Pernambuco, Brasildo Catimbau, Buíque,

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espécies de aves nas diferentes fitofisionomias. Foram realizadas melas, Turdus amaurochalinus, Sicalis flaveola e Conirostrum observações diretas com binóculo e identificação das vocaliza- speciosum observadas nas áreas com maior concentração de com-ções, registradas por meio de gravador digital equipado com mi- ponentes arbóreos, muito próximo das encostas e das nascentes.crofone direcional. Para determinar a riqueza e abundância, fo- As áreas de contato entre Três Morros / Brocotó e Brejo São Jo-ram percorridas trilhas pré-existentes, parando-se a intervalos re- sé / Homens sem cabeça, foram as regiões nas quais falcões e ga-gulares para registrar as espécies de aves e o número de indivídu- viões foram detectados de forma mais abundante (tabela 1). As os, conforme sugerido por Olmos et al. (2005). aves de rapina são consideradas topo de cadeia alimentar e preda-

Para estimar a abundância das espécies nas diferentes localida- dores de diversos animais (SICK, 1997) e os indivíduos desse gru-des, converteu-se o número de registros individuais de cada espé- po são de extrema importância para a natureza, sendo responsá-cie através do índice sugerido por Willis (1979), estimando-se o veis por manter o equilíbrio ecológico nas populações de suas pre-número de indivíduos por 100h de observação. Foram considera- sas (TEIXEIRA; TEIXEIRA, 2008). Pricipalmente nas encostas das como dominantes em cada área as 10 espécies com maiores ín- sedimentares, foi possível observar Gampsonyx swainsonii, Ela-dices de abundância estimada (OLMOS et al., 2005). nus leucurus, Buteo albicaudatus, B. melanoleucus, B. albonota-

A referência às espécies ameaçadas de extinção seguiu a Lista tus, Milvago chimachima, Herpetotheres cachinnans, Falco spar-Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção verius e F. femoralis. Na área denominada Brocotó, foi observado (MMA, 2003). Para classificar as endêmicas do bioma caatinga um indivíduo de B. melanoleucus com plumagem juvenil utilizou-se Pacheco (2004). A nomenclatura científica lineana uti- (FERGUSON-LEES; CHRISTIE, 2005) sobrevoando as áreas lizada seguiu a Lista das Aves do Brasil estabelecida pelo Comitê próximas aos ninhos de Aratinga acuticaudata.Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO, 2008). Devido à Nesta mesma área, foi observado um bando com 12 indivíduos importância dada aos nomes locais das aves (FARIAS; ALVES, de A. acuticaudata chegando da direção norte. Os casais chega-2008), neste trabalho esses nomes foram inventariados por meio vam no final da tarde e, a partir das 17h30min, se acomodavam pa-de turnês guiadas (SPRADLEY, 1979) na companhia de um in- ra dormir nas fendas das formações sedimentares. A partir das 5h, formante da região. Na ausência de um nome local, foram utiliza- seguiam em direção aos Três Morros. Nesse local, a espécie foi ob-dos os nomes vernáculos sugeridos por Farias et al. (2008). servada se alimentando de pião Jatropha molissima. Segundo

Sick (1997), os psitacídeos apreciam os cocos de muitas palmei-Resultados e Discussão ras. Assim, é possível que A. acuticaudata também se alimente

A riqueza de espécies de aves obtida nas três áreas do PARNA dos frutos de Syagrus coronata (ouricouri) e de Orbignya phale-Catimbau foi de 139 em 26 horas de esforço amostral (tabela 1). rata (babaçu), espécies comuns nas áreas de menor altitude, entre Todas as espécies já tinham sido registradas anteriormente para 700 e 600m.Pernambuco (FARIAS et al., 2008). O número de espécies regis- Na caatinga, a riqueza de aves diminui nos períodos de seca tradas e o tempo de registro foram: Três Morros / Brocotó (n=73; (SANTOS, 2004; OLMOS et al., 2005; FARIAS, 2007), princi-8h), Brejo São José / Homens sem cabeça (n=115; 10h) e Igreji- palmente em função dos corpos d'água temporários. Dessa forma, nha / Sítio Oásis (n=67; 8h). Entre as espécies registradas, nove é possível que muitas espécies das áreas mais abertas de caatinga são consideradas endêmicas para a caatinga e apenas uma (Pene- se desloquem para as áreas de encosta ou até mesmo ocupem os to-lope jacucaca) está ameaçada de extinção (MMA, 2003). Essa es- pos da chapadas, que mantêm uma fisionomia perenifólia e sub-pécie só foi observada anteriormente para a caatinga de Pernam- caducifólia, servindo como um refúgio durante o período de esti-buco por Coelho (1987), na Reserva Biológica de Serra Negra agem. No PARNA Catimbau, as áreas de encosta que recebem o (Floresta, Inajá e Tacaratu), e por Farias et al. (2005), na RPPN vento, com fisionomia arbustiva perenifólia, apresentam maior ri-Maurício Dantas (Betânia e Floresta) em uma fisionomia arbó- queza e diversidade de aves, havendo grande sobreposição de es-rea-arbustiva. pécies de aves nesse local.

Entre as dez espécies mais abundantes em Três Morros / Bro- De forma geral, um dos maiores desafios enfrentados pelos or-cotó, Euscarthmus meloryphus, Myrmorchilus strigilatus, Cory- nitólogos brasileiros é a carência de informações sobre a biologia phospingus pileatus, Myiarchus tyrannulus e Zonotrichia capen- básica das espécies raras e do crescente número de espécies amea-sis (tabela 1) foram também as mais abundantes em áreas com fi- çadas de extinção, justificando a necessidade de um Plano Nacio-sionomia arbustiva, no centro-oeste de Pernambuco (FARIAS, nal de Conservação das Aves (MARINI; GARCIA, 2005). Espe-2007). Algumas espécies abundantes estão associadas a áreas de cificamente para as aves do PARNA Catimbau, deve-se dar maior caatinga stricto senso (ANDRADE-LIMA, 1981), como Cyano- atenção a um plano de manejo que estabeleça limites para os sítios corax cyanopogon e Lepidocolaptes angustirostris. Nessa fisio- de visitação, principalmente nas áreas que vão das bordas escarpa-nomia, foi observado Myrmorchilus strigilatus forrageando junto das até os vales que recebem o vento, com o objetivo de promover a bandos mistos, nesse caso, composto por Formicivora melano- a conservação da avifauna devido à maior riqueza de espécies de gaster, Polioptila plumbea, Thamnophilus doliatus, Todirostrum aves e a presença de táxons endêmicos e ameaçados de extinção.cinereum e Tolmomyias flaviventris.

Em Brejo São José / Homens sem cabeça, com fisionomia ar- Agradecimentosbustiva e perenifólia das áreas de encostas, as espécies mais abun- À professora Maria Jesus Nogueira Rodal (UFRPE) pela ajuda dantes são consideradas dependentes de floresta, como Hylophi- na caracterização das fitofisionomias; à professora Ana Carolina lus amaurocephalus, ou semi-dependentes de floresta, como Myi- B. Lins e Silva (UFRPE) pelas sugestões no texto e aos guias de tu-archus tyrannulus, Thamnophilus doliatus, Pachyramphus poly- rismo do PARNA Catimbau João Ferreira da Silva e Enéas Olive-chopterus e Coccyzus melacoryphus, conforme a classificação su- ira por todo apoio durante as atividades de campo.gerida por Silva et al. (2003). Muitas espécies foram observadas exclusivamente nesse sítio, como: Sittasomus griseicapillus, se Referências

Andrade, K. V. S. A., Rodal, M. J. N., Lucena, M. F. A. e Gomes, A. P. S. 2004. deslocando entre as algarobas (Prosopis juliflora); Furnarius fi-Composição florística de um trecho do Parque Nacional do Catimbau, Buí-gulus, Furnarius leucopus, Arundinicola leucocephala, Certhia-que, Pernambuco - Brasil. Hoehnea 31: 337-348.

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Catimbau, nos Municípios de Ibirimirim, Tupanatinga e Buíque, no Estado viridis, Basileuterus flaveolus, Turdus rufiventris, Turdus leuco-

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Tabela 1: Lista das 139 espécies de aves registradas no Parque Nacional do Ca-timbau, Pernambuco, em maio de 2008; A1: fisionomia arbustiva caducifólia;

AMA2: fisionomia arbustiva perenifólia; A3: fisionomia arbustiva subcaducifólia; EN= Ameaçado de extinção (MMA 2003); = Endêmica para o bioma caatinga (Pa-

checo 2004); * Nomes vernáculos locais; Os números se referem à abundância (número de indivíduos por 100 horas de observação). X = Espécies observadas fo-ra do período de amostragem. A nomenclatura e a ordem sistemática estão de acor-do com CBRO (2008).

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