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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ARQUITETURA ESCOLA POLITÉCNICA RESIDÊNCIA EM ARQUITETURA, URBANISMO E ENGENHARIA ESPECIALIZAÇÃO EM ASSISTÊNCIA TÉCNICA PARA HABITAÇÃO E DIREITO À CIDADE TRABALHO FINAL ORIENTADO DIRETRIZES TERRITORIAIS PRELIMINARES DO QUILOMBO RIO DOS MACACOS (BA) AUTOR: URB. LEONARDO DE SOUZA POLLI TUTORA: ARQ. MARIA TERESA DO ESPÍRITO SANTO CO-TUTOR: ARQ. FÁBIO VELAME Dezembro/2014 01/05 No momento em que se definia as áreas de interven- ção e a formação de equipes, a esperança comum em um mundo justo e igualitário, que seja construído com os movimentos sociais e populares uniu os três mem- bros dessa equipe. Essa proximidade na forma de ver, sentir e entender o Estado e a Sociedeade foi determinante para estru- turar uma equipe plural, que começa desde as distin- tas formações acadêmicas e experiências profissionais e militantes. A equipe deste trabalho é então composta pela Arquiteta e Urbanista (FAU/UFBA) Luana Figue- irêdo, pelo Urbanista (DCET/UNEB) Leonardo Polli e pela Geógrafa Paula Regina Cordeiro (IGEO/UFBA). BASE CONCEITUAL LEGISLAÇÃO ETAPAS DO TRABALH 1 ETAPA Aproximação e Reconhecimento 2 ETAPA Reconhecimento e Mapeamento 3 ETAPA Proposição Coletiva e Desenvolvimento dos Produtos RAU+E O ETNOMAPEAMENTO COMO INSTRUMENTO PARA AREPRESENTAÇÃO ESPACIAL QUILOMBOLA A COMUNIDADE ESCOLHIDA A METODOLOGIA PARTICIPATIVA DE PAULO FREIRE BASES METODOLÓGICAS DO TRABALHO QUEM? EQUIPE RAUE RESIDÊNCIA TÉCNICA EM ARQUITETURA URBANISMO E ENGENHARIA RESIDÊNCIA TÉCNICA EM ARQUITETURA, URBANISMO E ENGENHARIA QUILOMBO RIO DOS MACACOS REFERÊNCIAS Em 2013 iniciou-se, na Universidade Federal da Bahia, por meio do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU-UFBA) a Residência Técnica em Arquitetura, Urbanismo e Engenharia. Neste inovador projeto, a atuação se dá por meio do curso de pós-graduação lato sensu para Assistência Técnica em Habitação e Direito à Cidade, de caráter pluridisciplinar, gra- tuito, voltado para capacitação profissional e cidadã, de forma integrada a instituições de inte- resse público e movimentos sociais atuantes nessa área, ampliando, assim, a inserção e o caráter social da universidade pública. Essa proposta pioneira esta pautada na Lei Federal n° 11.888, de 24 de dezembro de 2008, que assegura às famílias de baixa renda, de áreas urbanas ou rurais, assistência técnica pública e gra- tuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social, como parte integrante do direito social à moradia. Na turma inaugural, cerca de 20 residentes, profissionais de diversas áreas, tiveram como per- spectiva a elaboração participativa de projetos inovadores de interesse social, com vistas a am- pliar o acesso a recursos públicos na promoção de melhor qualidade de moradia, atividades sociais e fortalecimento comunitário. Para isso, além do curso, a Residência Técnica abrange também ativi- dades e trabalhos de campo para assistência técnica e elaboração de projetos, por meio de oficinas, pes- quisa, planejamento, e outras atividades correlatas. Cada residente determinou sua área de intervenção, a comunidade que será beneficiada com um projeto e a metodologia participativa de intervenção. Além de entregar um produto de assistência técnica, cada pro- jeto é entregue para a comunidade junto com um Termo de Referência, que determina as bases para a implementação do mesmo. A equipe também se formou a partir de uma vontade compartilhada de tentar intervir de maneira neutra, autônoma e decisiva em um atual processo de regularização fundiária que envolve dois setores antagônicos entre si. De um lado, uma comunidade pertencente ao grupo dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil, o Quilombo Rio dos Macacos. Do outro lado, a Marinha do Brasil, “braço armado da nação”. Esse antagonismo serve para demonstrar que o processo de titulação e regularização fundiária de terras quilombolas envolvem inúmeras situações conflitantes, justamente por contrapor os interesses quilombolas com o dos mais diver- sos setores, a exemplo de fazendeiros, latifundiários, posseiros e, inclusive, setores das três esferas de governo, como as forças militares do país. Apesar da neutralidade na avaliação técnica, não tem como fugir da realidade e omitir o fato de que os produtos de- senvolvidos por essa equipe servirão essencialmente para fortalecer uma comunidade que ficou, em grande medida, a margem de programas oficiais de assistência social e econômica, para além do fato de registrar, em seu histórico de luta pela terra, inúmeros casos de opressão, repressão e violação de diversos direitos humanos promovidos pela Marinha. Nesse sentido, reforça-se que a comunidade escolhida foi a do Quilombo Rio dos Macacos, localizado no município de Simões Filho - Bahia. O local onde está localizado esse quilombo é uma área legalmente tombada pela União Federal, sendo hoje ad- ministrada pela Marinha do Brasil, que constrói equipa- mentos e desenvolve atividades desde a década de 1960, destacando-se a construção da Vila Militar a partir da década de 1970 . Cabe ressaltar que desde 2009 a Marinha está, através de ações reivindicatórias, requerendo a deso- cupação dos quilombolas da área militar situada no en- torno da Base Naval e da Vila Militar de Aratu. A partir dos processos de desocupação movidos pela Marinha, a comunidade iniciou um processo de mobili- zação pela permanência no território, e, em paralelo, entrou com um pedido de titulação da área a favor dos quilombolas. Com essas mobilizações, e através de estudos antropológicos, a comunidade obteve a certificação de au- torreconhecimento quilombola emitida pela Fundação Cul- tural Palmares em outubro de 2011. No momento posterior, o INCRA começou a confecção do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação da comu- nidade, concluindo-o em 2012, e caracterizando que “Rio dos Macacos é um quilombo, tendo hoje 67 famílias recon- hecidas enquanto remanescentes quilombolas, heredi- tários de ex-escravos que ali se concentraram há quase cem anos, em antigas fazendas e usinas de açúcar” (INCRA, 2012). . Apesar de ser longa e secular a trajetória de luta e resistência dos quilombolas – territorial e identi- tária –, a conquista de marcos jurídicos afetos a eles só surgiu a partir da Constituição Federal de 1988, por meio de dispositivos que reconhecia a importância desses para o processo de confor- mação histórica e cultural da sociedade brasileira. No ano seguinte a promulgação da Constituição, os quilombolas obtiveram a partir da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o estabelecimento do critério de autoatribuição enquanto grupo étnico, bem como novas compreensões quanto ao conceito de terra e território. Embora a Carta Magna já conceituasse enquanto patrimônio cultural brasileiro os bens materiais e imateriais dos diferentes grupos formadores da sociedade, foi a partir do Ato das Disposições Con- stitucionais Transitórias que os remanescentes das comunidades quilombolas passaram a ter o direito à propriedade definitiva dos territórios que ocupavam. Dessa forma, instituições e órgãos das três esferas de governo passaram a planejar, organizar e definir políticas, planos e programas sociais voltados a reconhecer e titular terras, auxiliar no desenvolvimento econômico e social das comunidades, e, também, preservar a cultura patrimonial quilombola. É importante reforçar que esse processo não se deu no momento seguinte a constituição. Com certo atraso, esse “plano de ações” só veio a ser efetivado a partir do início da década de 2000, a exemplo do Programa Brasil Quilombola e o Decreto n° 4.887, ambos estabelecidos em 2003. O mencionado decreto, inclusive, foi responsável por regulamentar o procedimento para identifi- cação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanes- centes quilombolas. Para tal procedimento, ficou estabelecida a partir desse decreto a competência do Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a coordenação dessas atividades na esfera federal, havendo competência comum aos respectivos órgãos de terras estaduais e municipais. Todo esse processo é também acompanhado por outros órgãos, como o Ministério da Cultura, através da Fundação Cultural Pal- mares, como mostra o fluxograma a seguir BIBLIOTECA JURÍDICA GERAL >Constituição Federal de 1988, art. 215 e 216, e Convenção n°169 da OIT > Decreto n° 4886/2003 que institui a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial. > Decreto n° 6872/2009 que institui o Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial. > Lei n° 12288/2010 que institui o Estatuto da Igualdade Racial. > Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. > Programa Brasil Quilombola. > Artigo 69 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que determina a regularização territorial das comunidades tradicionais, e protege suas culturas > Portaria n° 98 da Fundação Palmares, que institui o Cadastro Geral de remanescentes das Comunidades Quilombolas > Decreto Federal 4887/2003, que regulamenta o procedimento para identifi- cação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras quilom- bolas No Brasil, fala-se em quilombos, mocambos, terra de preto e comunidades negras rurais. Em outros países que também reproduziram relações escravagistas a partir da diáspora africana, fala- se em “palenques” (Colômbia e em Cuba), ou “cumbes” (Venezuela) e “marrons” (Haiti e demais ilhas do Caribe Francês)” (FABIANI, 2005) Entende-se por comunidades quilombolas os grupos étnicos formados não só por escravizados e insurgentes contra o regime escravocrata brasileiro – que teve fim com a lei de alforria de 13 de maio de 1888 –, mas também por aqueles que, agora ex-escravos, se viram obrigados a formar novos espaços como estratégia de sobrevivência e resistência ao modelo concentrador de proprie- dade, oficializado a partir da Lei de Terras n° 601 de 1850 . Ou seja, independentemente do período de formação, os quilombos figuram na história como sendo “as unidades básicas de resistência da população negra, estando organizados em inúmeras formas. Pequeno ou grande, estável ou de vida precária, em qualquer região em que tenha existido escravidão, lá se encontrava ele como elemento de desgaste do sistema servil” (MOURA, 1987). O território quilombola está diretamente associado à sobrevivência comunitária e cultural de uma população, e pode ser, por tanto, considerado como lugar onde foram e seguem sendo produzidas “novas ordens de vida, organização social e formas de portar-se, sentir-se e situar-se no mundo” (NASCIMENTO, 2007). Acrescenta-se ainda que seja nesse território que os habitantes enfatizam a sua condição de coletividade rural, definidas pelo compartilhamento de um espaço e de uma identidade comum. Segundo o INCRA, “comunidades quilombolas são aquelas que se autodefinem a partir das relações com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias”. Conforme o artigo 2º do Decreto 4.887 de 2003, “consideram-se remanescentes das co- munidades dos quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de autoatribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida”. ANJOS, Rafael Sanzio Araújo dos. Cartografia e Quilombolos: territórios étnicos africanos no Brasil. Africana Studia, n. 9, p. 337-355, São Paulo, 2006. FABIANI, Adelmir. Mato, Palhoça e Pilão: O quilombo da escravidão às comunidades remanescentes (1532-2004). São Paulo: Expressão Popular, 2005. MOURA, Clóvis. Quilombos: Resistência ao escravismo. 3° Ed; São Paulo: Ática, 1987. NASCIMENTO, Beatriz. Negro e Racismo. IN: RATTS, Alex. Eu Sou Atlântica: sobre a trajetório de vida de Beatriz Nascimento. São DECRETO4.887/2003 TODO O AMPARO LEGAL PARA A ABERTURA DO PROCESSO DE TITULAÇÃO, A COMUNIDADE DEVE SE RECONHECER ENQUANTO QUILOMBOLA FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES ANALISA O PEDIDO DE RECONHECIMENTO, ESTUDA A COMUNIDADE E EMITE UMA CERTIDÃO CADASTRO GERAL DE REMANESCENTES DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS INCRA INICIA OS ESTUDOS E ANÁLISES EM RELAÇÃO AO TERRITÓRIO, A FIM DE CONFECCIONAR O RTID DA COMUNIDADE O RELATÓRIO TÉCNICO DE IDENTIFICAÇÃO E DEMARCAÇÃO DOS TERRITÓRIOS QUILOMBOLAS REUNEM ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS, AMBIENTAIS, JURÍDICOS, CARTOGRÁFICOS, ETC, E DELIMITAL EM HECTARES A QUANTIDADE DE TERRAS QUE A COMUNIDADE QUILOMBOLA OCUPA NO TERRITÓRIO PUBLICAÇÃO DO RTID DA COMUNIDADE NO DIÁRIO OFICIAL, GERALMENTE, A PARTIR DE TITULAÇÃO DAS UNIDADES ESTADUAIS DO INCRA PUBLICAÇÃO DO RTID DA COMUNIDADE NO DIÁRIO OFICIAL, GERALMENTE, A PARTIR DE TITULAÇÃO DAS UNIDADES ESTADUAIS DO INCRA Em agosto de 2014 o INCRA publicou o RTID da comunidade. Atualmente, a mesma publicação ainda está na fase de recursos em relação a decisão. Em agosto de 2014, o INCRA publicou no Diário Oficial da União o RTID da Comunidade Quilombola de Rio dos Macacos, o que representa um avanço para a comunidade, já que garante a sua permanência no local. É bem verdade, entretanto, que em 2012 o INCRA havia caracterizado que o território compreendia 301 hectares e que, contraditoria- mente o mesmo instituto, publicou apenas 104 hectares do total que havia sido identificado. > Estudos preliminares sobre o tema (histórico, político, teórico, jurídico e econômico) > Aproximação e visitas preliminares a comunidade > Reuniões com os líderes comunitários > Oficinas e “rodas de conversa” com os moradores para explicar o que seria desenvolvido pelos residentes técnicos > Reuniões com as assessorias políticas e jurídicas da comunidade. Principais parceiros: A comunidade Quilombola do Rio dos Macacos registra uma história de violência e opressão. O conflito territorial colocou marcas da intolerância, da desconfiança e do medo no cotidiano comuni- tário. A atual situação é de fragilidade, o que exige um trabalho de sensibilidade maior dos residentes, no sentido de incentivar valores humanistas. Para isso, optou-se pela abordagem político ped- agógica de Paulo Freire. Propomos algo como “Assistência técnica prob- lematizadora ou libertadora”, nos moldes estabel- ecidos por FREIRE no qual, se referindo à edu- cação, diz que “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. O fundamento dessa concepção é que o “técnico já não é o que impõe a técnica, mas enquanto desenvolve o trabalho, é educado, em diálogo com os moradores que, ao entrarem em contato com a técnica também educam.” Para tanto, esse trabalho, em todo o seu processo, primou pela participação e envolvimento da co- munidade, através de reuniões, oficinas, visitas e percursos de campo acompanhadas, etc. Com a atual variedade de técnicas e formas de rep- resentação digital, torna-se cada vez mais possível representar o espaço e suas configurações sociais, econômicas e, inclusive, históricas. Ou seja, é pos- sível alinhar variáveis sociais, espaciais e temporais em uma mesma representação espacial. “Este fenô- meno, de interação entre a cartografia e as novas geotecnologias, tem permitido ao homem ampliar as possibilidades de interpretação do meio ambi- ente” (ATAIDE, 2005). Por se tratar da identificação e do reconhecimento de territórios quilombolas, o etnomapeamento figura como uma importante ferramenta teórica e metodológica de captação de dados espaciais desses grupos que possuem, em grande maioria, apenas suas disposições visuais e memoriais sobre o território como forma de representação espacial. Todavia, apesar de contar-se centralmente com elementos sensitivos, cabe ressaltar que ninguém melhor que a própria população residente é capaz de dizer o que representou, representa e pode rep- resentar cada trecho de seu território. Não à toa, Marcos Ataide, diz que o resultado do etnomapeamento é um “repositório de conheci- mentos que permitem compreender melhor as relações de seus atores com o meio em que vivem”. > Levantamento de campo para reconhecimento da área e levantamento dos usos feitos pela comunidade no território. > Trabalhos de campo com marcação de pontos através do Global Positio System dos seguintes elementos pre- sentes no território: - Água e Recursos Hídrico - Núcleos Habitacionais e Áreas de Produção (atu- ais e antigos. - Espaços de uso coletivo, acessos, caminhos, etc. - Locais sagrados e de riqueza cultural > Ao final dessa etapa, gerou-se um Relatório de Síntese e Diagnóstico, e foram determinados os três produtos. > Sistematização das análises coletivas e confecção de mapas temáticos > Revisão do Diagnóstico Coletivo > Confecção dos três produtos individuais de cada resi- dente: - Urbanismo: Diretrizes Territorias Preliminares - Arquitetura e Urbanismo: Projeto Semente (Centro de Referência Comunitária) - Geografia: Plano Produtivo para a comunidade

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Page 1: A COMUNIDADE ESCOLHIDA RAUE QUILOMBO RIO DOS MACACOS · 2018-06-11 · Nesse sentido, reforça-se que a comunidade escolhida foi a do Quilombo Rio dos Macacos, localizado no município

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE ARQUITETURA

ESCOLA POLITÉCNICA

RESIDÊNCIA EM ARQUITETURA, URBANISMO E ENGENHARIAESPECIALIZAÇÃO EM ASSISTÊNCIA TÉCNICA PARA HABITAÇÃO E DIREITO À CIDADE

TRABALHO FINAL ORIENTADO

DIRETRIZES TERRITORIAIS PRELIMINARES DOQUILOMBO RIO DOS MACACOS (BA)

AUTOR: URB. LEONARDO DE SOUZA POLLITUTORA: ARQ. MARIA TERESA DO ESPÍRITO SANTOCO-TUTOR: ARQ. FÁBIO VELAME

Dezembro/2014

01/05

No momento em que se definia as áreas de interven-ção e a formação de equipes, a esperança comum em um mundo justo e igualitário, que seja construído com os movimentos sociais e populares uniu os três mem-bros dessa equipe. Essa proximidade na forma de ver, sentir e entender o Estado e a Sociedeade foi determinante para estru-turar uma equipe plural, que começa desde as distin-tas formações acadêmicas e experiências profissionais e militantes.A equipe deste trabalho é então composta pela Arquiteta e Urbanista (FAU/UFBA) Luana Figue-irêdo, pelo Urbanista (DCET/UNEB) Leonardo Polli e pela Geógrafa Paula Regina Cordeiro (IGEO/UFBA).

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1 ETAPAAproximação e Reconhecimento

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Em 2013 iniciou-se, na Universidade Federal da Bahia, por meio do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU-UFBA) a Residência Técnica em Arquitetura, Urbanismo e Engenharia. Neste inovador projeto, a atuação se dá por meio do curso de pós-graduação lato sensu para Assistência Técnica em Habitação e Direito à Cidade, de caráter pluridisciplinar, gra-tuito, voltado para capacitação profissional e cidadã, de forma integrada a instituições de inte-resse público e movimentos sociais atuantes nessa área, ampliando, assim, a inserção e o caráter social da universidade pública.Essa proposta pioneira esta pautada na Lei Federal n° 11.888, de 24 de dezembro de 2008, que assegura às famílias de baixa renda, de áreas urbanas ou rurais, assistência técnica pública e gra-tuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social, como parte integrante do direito social à moradia.Na turma inaugural, cerca de 20 residentes, profissionais de diversas áreas, tiveram como per-spectiva a elaboração participativa de projetos inovadores de interesse social, com vistas a am-pliar o acesso a recursos públicos na promoção de melhor qualidade de moradia, atividadessociais e fortalecimento comunitário. Para isso, além do curso, a Residência Técnica abrange também ativi-dades e trabalhos de campo para assistência técnica e elaboração de projetos, por meio de oficinas, pes-quisa, planejamento, e outras atividades correlatas. Cada residente determinou sua área de intervenção, a comunidade que será beneficiada com um projeto e a metodologia participativa de intervenção. Além de entregar um produto de assistência técnica, cada pro-jeto é entregue para a comunidade junto com um Termo de Referência, que determina as bases para a implementação do mesmo.

A equipe também se formou a partir de uma vontade compartilhada de tentar intervir de maneira neutra, autônoma e decisiva em um atual processo de regularização fundiária que envolve dois setores antagônicos entre si.De um lado, uma comunidade pertencente ao grupo dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil, o Quilombo Rio dos Macacos. Do outro lado, a Marinha do Brasil, “braço armado da nação”.Esse antagonismo serve para demonstrar que o processo de titulação e regularização fundiária de terras quilombolas envolvem inúmeras situações conflitantes, justamente por contrapor os interesses quilombolas com o dos mais diver-sos setores, a exemplo de fazendeiros, latifundiários, posseiros e, inclusive, setores das três esferas de governo, como as forças militares do país.Apesar da neutralidade na avaliação técnica, não tem como fugir da realidade e omitir o fato de que os produtos de-senvolvidos por essa equipe servirão essencialmente para fortalecer uma comunidade que ficou, em grande medida, a margem de programas oficiais de assistência social e econômica, para além do fato de registrar, em seu histórico de luta pela terra, inúmeros casos de opressão, repressão e violação de diversos direitos humanos promovidos pela Marinha.

Nesse sentido, reforça-se que a comunidade escolhida foi a do Quilombo Rio dos Macacos, localizado no município de Simões Filho - Bahia. O local onde está localizado esse quilombo é uma área legalmente tombada pela União Federal, sendo hoje ad-ministrada pela Marinha do Brasil, que constrói equipa-mentos e desenvolve atividades desde a década de 1960, destacando-se a construção da Vila Militar a partir da década de 1970 . Cabe ressaltar que desde 2009 a Marinha está, através de ações reivindicatórias, requerendo a deso-cupação dos quilombolas da área militar situada no en-torno da Base Naval e da Vila Militar de Aratu. A partir dos processos de desocupação movidos pela Marinha, a comunidade iniciou um processo de mobili-zação pela permanência no território, e, em paralelo, entrou com um pedido de titulação da área a favor dos quilombolas. Com essas mobilizações, e através de estudos antropológicos, a comunidade obteve a certificação de au-torreconhecimento quilombola emitida pela Fundação Cul-tural Palmares em outubro de 2011.No momento posterior, o INCRA começou a confecção do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação da comu-nidade, concluindo-o em 2012, e caracterizando que “Rio dos Macacos é um quilombo, tendo hoje 67 famílias recon-hecidas enquanto remanescentes quilombolas, heredi-tários de ex-escravos que ali se concentraram há quase cem anos, em antigas fazendas e usinas de açúcar” (INCRA, 2012).

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Apesar de ser longa e secular a trajetória de luta e resistência dos quilombolas – territorial e identi-tária –, a conquista de marcos jurídicos afetos a eles só surgiu a partir da Constituição Federal de 1988, por meio de dispositivos que reconhecia a importância desses para o processo de confor-mação histórica e cultural da sociedade brasileira. No ano seguinte a promulgação da Constituição, os quilombolas obtiveram a partir da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o estabelecimento do critério de autoatribuição enquanto grupo étnico, bem como novas compreensões quanto ao conceito de terra e território.Embora a Carta Magna já conceituasse enquanto patrimônio cultural brasileiro os bens materiais e imateriais dos diferentes grupos formadores da sociedade, foi a partir do Ato das Disposições Con-stitucionais Transitórias que os remanescentes das comunidades quilombolas passaram a ter o direito à propriedade definitiva dos territórios que ocupavam. Dessa forma, instituições e órgãos das três esferas de governo passaram a planejar, organizar e definir políticas, planos e programas sociais voltados a reconhecer e titular terras, auxiliar no desenvolvimento econômico e social das comunidades, e, também, preservar a cultura patrimonial quilombola.É importante reforçar que esse processo não se deu no momento seguinte a constituição. Com certo atraso, esse “plano de ações” só veio a ser efetivado a partir do início da década de 2000, a exemplo do Programa Brasil Quilombola e o Decreto n° 4.887, ambos estabelecidos em 2003. O mencionado decreto, inclusive, foi responsável por regulamentar o procedimento para identifi-cação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanes-centes quilombolas. Para tal procedimento, ficou estabelecida a partir desse decreto a competência do Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a coordenação dessas atividades na esfera federal, havendo competência comum aos respectivos órgãos de terras estaduais e municipais. Todo esse processo é também acompanhado por outros órgãos, como o Ministério da Cultura, através da Fundação Cultural Pal-mares, como mostra o fluxograma a seguir

BIBLIOTECA JURÍDICA GERAL>Constituição Federal de 1988, art. 215 e 216, e Convenção n°169 da OIT> Decreto n° 4886/2003 que institui a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial.> Decreto n° 6872/2009 que institui o Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial.> Lei n° 12288/2010 que institui o Estatuto da Igualdade Racial.> Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.> Programa Brasil Quilombola.> Artigo 69 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que determina a regularização territorial das comunidades tradicionais, e protege suas culturas> Portaria n° 98 da Fundação Palmares, que institui o Cadastro Geral de remanescentes das Comunidades Quilombolas> Decreto Federal 4887/2003, que regulamenta o procedimento para identifi-cação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras quilom-bolas

No Brasil, fala-se em quilombos, mocambos, terra de preto e comunidades negras rurais. Em outros países que também reproduziram relações escravagistas a partir da diáspora africana, fala-se em “palenques” (Colômbia e em Cuba), ou “cumbes” (Venezuela) e “marrons” (Haiti e demais ilhas do Caribe Francês)” (FABIANI, 2005)Entende-se por comunidades quilombolas os grupos étnicos formados não só por escravizados e insurgentes contra o regime escravocrata brasileiro – que teve fim com a lei de alforria de 13 de maio de 1888 –, mas também por aqueles que, agora ex-escravos, se viram obrigados a formar novos espaços como estratégia de sobrevivência e resistência ao modelo concentrador de proprie-dade, oficializado a partir da Lei de Terras n° 601 de 1850 . Ou seja, independentemente do período de formação, os quilombos figuram na história como sendo “as unidades básicas de resistência da população negra, estando organizados em inúmeras formas. Pequeno ou grande, estável ou de vida precária, em qualquer região em que tenha existido escravidão, lá se encontrava ele como elemento de desgaste do sistema servil” (MOURA, 1987). O território quilombola está diretamente associado à sobrevivência comunitária e cultural de uma população, e pode ser, por tanto, considerado como lugar onde foram e seguem sendo produzidas “novas ordens de vida, organização social e formas de portar-se, sentir-se e situar-se no mundo” (NASCIMENTO, 2007). Acrescenta-se ainda que seja nesse território que os habitantes enfatizam a sua condição de coletividade rural, definidas pelo compartilhamento de um espaço e de uma identidade comum.Segundo o INCRA, “comunidades quilombolas são aquelas que se autodefinem a partir das relações com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias”. Conforme o artigo 2º do Decreto 4.887 de 2003, “consideram-se remanescentes das co-munidades dos quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de autoatribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida”.

ANJOS, Rafael Sanzio Araújo dos. Cartografia e Quilombolos: territórios étnicos africanos no Brasil. Africana Studia, n. 9, p. 337-355, São Paulo, 2006.FABIANI, Adelmir. Mato, Palhoça e Pilão: O quilombo da escravidão às comunidades remanescentes (1532-2004). São Paulo: Expressão Popular, 2005.MOURA, Clóvis. Quilombos: Resistência ao escravismo. 3° Ed; São Paulo: Ática, 1987.NASCIMENTO, Beatriz. Negro e Racismo. IN: RATTS, Alex. Eu Sou Atlântica: sobre a trajetório de vida de Beatriz Nascimento. São

DECRETO4.887/2003 TODO O AMPARO

LEGAL

PARA A ABERTURA DO PROCESSO DE TITULAÇÃO, A COMUNIDADE DEVE SE RECONHECER ENQUANTO

QUILOMBOLA

FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES ANALISA O PEDIDO DE

RECONHECIMENTO, ESTUDA A COMUNIDADE E EMITE UMA CERTIDÃO

CADASTRO GERAL DE REMANESCENTES DE

COMUNIDADES QUILOMBOLAS

INCRA INICIA OS ESTUDOS E ANÁLISES EM RELAÇÃO AO

TERRITÓRIO, A FIM DE CONFECCIONAR O RTID DA

COMUNIDADE

O RELATÓRIO TÉCNICO DE IDENTIFICAÇÃO E DEMARCAÇÃO DOS TERRITÓRIOS QUILOMBOLAS REUNEM

ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS, AMBIENTAIS, JURÍDICOS,

CARTOGRÁFICOS, ETC, E DELIMITAL EM HECTARES A QUANTIDADE DE TERRAS QUE A COMUNIDADE QUILOMBOLA

OCUPA NO TERRITÓRIO PUBLICAÇÃO DO RTID DA COMUNIDADE NO DIÁRIO OFICIAL, GERALMENTE, A

PARTIR DE TITULAÇÃO DAS UNIDADES ESTADUAIS DO

INCRA

PUBLICAÇÃO DO RTID DA COMUNIDADE NO DIÁRIO OFICIAL, GERALMENTE, A

PARTIR DE TITULAÇÃO DAS UNIDADES ESTADUAIS DO

INCRA

Em agosto de 2014 o INCRA publicou oRTID da comunidade. Atualmente, a mesmapublicação ainda está na fase de recursosem relação a decisão.

Em agosto de 2014, o INCRA publicou no Diário Oficial da União o RTID da Comunidade Quilombola de Rio dos Macacos, o que representa um avanço para a comunidade, já que garante a sua permanência no local. É bem verdade, entretanto, que em 2012 o INCRA havia caracterizado que o território compreendia 301 hectares e que, contraditoria-mente o mesmo instituto, publicou apenas 104 hectares do total que havia sido identificado.

> Estudos preliminares sobre o tema (histórico, político, teórico, jurídico e econômico)

> Aproximação e visitas preliminares a comunidade> Reuniões com os líderes comunitários

> Oficinas e “rodas de conversa” com os moradores para explicar o que seria desenvolvido pelos residentes

técnicos> Reuniões com as assessorias políticas e jurídicas da

comunidade. Principais parceiros:

A comunidade Quilombola do Rio dos Macacos registra uma história de violência e opressão. O conflito territorial colocou marcas da intolerância, da desconfiança e do medo no cotidiano comuni-tário. A atual situação é de fragilidade, o que exige um trabalho de sensibilidade maior dos residentes, no sentido de incentivar valores humanistas. Para isso, optou-se pela abordagem político ped-agógica de Paulo Freire.Propomos algo como “Assistência técnica prob-lematizadora ou libertadora”, nos moldes estabel-ecidos por FREIRE no qual, se referindo à edu-cação, diz que “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. O fundamento dessa concepção é que o “técnico já não é o que impõe a técnica, mas enquanto desenvolve o trabalho, é educado, em diálogo com os moradores que, ao entrarem em contato com a técnica também educam.”Para tanto, esse trabalho, em todo o seu processo, primou pela participação e envolvimento da co-munidade, através de reuniões, oficinas, visitas e percursos de campo acompanhadas, etc.

Com a atual variedade de técnicas e formas de rep-resentação digital, torna-se cada vez mais possível representar o espaço e suas configurações sociais, econômicas e, inclusive, históricas. Ou seja, é pos-sível alinhar variáveis sociais, espaciais e temporais em uma mesma representação espacial. “Este fenô-meno, de interação entre a cartografia e as novas geotecnologias, tem permitido ao homem ampliar as possibilidades de interpretação do meio ambi-ente” (ATAIDE, 2005).Por se tratar da identificação e do reconhecimento de territórios quilombolas, o etnomapeamento figura como uma importante ferramenta teórica e metodológica de captação de dados espaciais desses grupos que possuem, em grande maioria, apenas suas disposições visuais e memoriais sobre o território como forma de representação espacial. Todavia, apesar de contar-se centralmente com elementos sensitivos, cabe ressaltar que ninguém melhor que a própria população residente é capaz de dizer o que representou, representa e pode rep-resentar cada trecho de seu território.Não à toa, Marcos Ataide, diz que o resultado do etnomapeamento é um “repositório de conheci-mentos que permitem compreender melhor as relações de seus atores com o meio em que vivem”.

> Levantamento de campo para reconhecimento da área e levantamento dos usos feitos pela comunidade no

território.> Trabalhos de campo com marcação de pontos através do Global Positio System dos seguintes elementos pre-

sentes no território: - Água e Recursos Hídrico - Núcleos Habitacionais e Áreas de Produção (atu- ais e antigos. - Espaços de uso coletivo, acessos, caminhos, etc. - Locais sagrados e de riqueza cultural> Ao final dessa etapa, gerou-se um Relatório de Síntese e Diagnóstico, e foram determinados os três produtos.

> Sistematização das análises coletivas e confecção de mapas temáticos

> Revisão do Diagnóstico Coletivo> Confecção dos três produtos individuais de cada resi-

dente: - Urbanismo: Diretrizes Territorias Preliminares - Arquitetura e Urbanismo: Projeto Semente (Centro de Referência Comunitária) - Geografia: Plano Produtivo para a comunidade

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A contraproposta apresentada pela Comunidade tinha como princípio o compartilha-mento da barragem, a preservação dos sítios sagrados (Gameleiras e locais de arrego de oferenda) e a consolidação de área de produção agrícola e agroflorestal. Após apresen-tação da contraproposta e, a partir de denuncias feitas sobre o processo judicial que ainda prevê a expulsão dos quilombolas da terra, Deborah Duprat suspende a audiência e exige a publicação imediata do RTID. Posteriormente o go- verno Federal apresentou o que seria a quinta proposta à comunidade. Essa proposta de diferenciava da antior pela inclusão de 6 hectares ao sul da Vila Naval, com mais 12 hectares do terreno da SUDIC (ao norte da barragem), totalizando uma área de 104 hectares.

Primeira, Segunda e terceira proposta

Com exigência à publicação do RTID em agosto de 2014, o INCRA publica o relatório, porém, ao invés dos 301 ha identificados e delimitados, há a publicação de 104 ha, conforme a última proposta “apresentada” pela Presidência da República.

A entrada da assistência técnica na equipe de assessorias da comunidade se deu no momento de negociação para regularização fundiária entre os quilombolas e as secretarias de Estado, através da mediação do Ministério Público Federal. Integram a equipe de assessoria política e social o Conselho Pastoral dos Pes-cadores (CPP), o Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil (MPP), bem como o Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra (CDCN). A Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais da Bahia (AATR- BA) assessora juridicamente a comunidade. Outros grupos e indi-víduos auxiliam a comunidade no que diz respeito aos aspectos de comuni-cação e divulgação da história quilombola, representado aqui por Josias Pires que está elaborando um documentário sobre a luta quilombola. Os aspectos da valorização da cultura quilombola são ressaltados através da criação tea-tral e artística de Luz Marques.A grande capacidade de articulação com outras organizações faz com que Rio dos Macacos faça frente ao território segregado e permaneça na luta pelo território da vida.

Segundo o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) elaborado em 2012 pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a história da comunidade no território teve início com a compra do Engenho e da Usina Aratu, em 1783. Até a chegada da Marinha a comunidade manteve hábitos estritamente rurais. Em meados da década de 1950 a Marinha se torna proprietária da área de concentração quilombola. O perímetro abrangido pelas terras em nome da Marinha neste local resulta da desapropriação de uma pequena porção da Fazenda Aratu, da desapropriação de partes da Fazenda Meireles e de uma doação, feita à Marinha pela Prefeitura Municipal de Salvador, da Fazenda Macacos. A partir da década de 50, a Marinha do Brasil começa a ocupar a região, e inicia um processo de instalação de fixos, edificações e equipamentos inerentes ao funcionamento da ativi-dade militar. A ocupação mais efetiva foi no ano de 1971, com o início da construção da Vila Naval da Barragem. A instalação da Marinha no território fora marcada pela imposição de novos fluxos e estranhas dinâmicas, dentre essas, destacam-se a expulsão de moradores através do impedimento da construção ou reformas de suas casas, a negação da manuten-ção das culturas de subsistência através dos roçados e do acesso à infraestrutura básica como água e energia elétrica, além do ataque direto a religiosidade quilombola, consolidado no fechamento e destruição de terreiros de candomblé. A entrada da Marinha do Brasil coibiu e proibiu as práticas culturais da Comunidade, bem como conduziu o processo de expulsão dos quilom-bolas da região.Segundo o RTID, um caso específico pode servir para demonstrar esse processo. A Família Rabeca, que há cinco gerações ocupa o território, teve diversos membros expulsos, como é o caso da esposa e filhos de Lázaro que após a sua morte “permaneceram no sítio até o momento em que a casa em que viviam caiu e eles se viram obrigados a deixar o lugar, pois, segundo declaram, não receberam autorização da Marinha para construir uma nova casa”. (RTID, 2012, p. 140). Apesar da existência, muitas comprovadas, desses e de diversos outros conflitos que envolvem as ações, práticas e condutas de violação de direitos humanos (segurança, mo-radia, trabalho etc), o conflito só atingiu um patamar jurídico em 2009, já que em outubro de 2009 foi ajuizada pela Marinha do Brasil, uma ação reivindicatória requerendo a desocupação da área militar situada no entorno da Base Naval de Aratu. Foi a primeira de 4 (quatro) ações ajuizadas com o mesmo objetivo. Em novembro de 2010 foi proferida a primeira decisão inter-locutória determinando a desocupação do local. Entretanto, essa decisão foi suspensa posteriormente em razão das negociações em curso entre a comunidade, a Marinha do Brasil e outros órgãos do Governo Federal-Estadual. Com a ameaça de perder seu modo de vida, a comunidade inicia um processo de mobilização pela permanência no território e em paralelo entra com o pedido de titulação da área.No mês de setembro de 2011, após intensa mobilização comunitária, a Fundação Cultural Palmares certifica o Quilombo Rio dos Macacos como uma Comunidade Remanescente de Quilombo (CRQ) e em novembro do mesmo ano, o INCRA inicia a elaboração do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID). O RTID foi apresentado à comunidade em agosto de 2012, e delimitou o território quilombola em 301 hectares (Mapa 2- Delimitação do INCRA). Apesar de elaborado, o RTID não foi publicado pelo INCRA no Diário Oficial da União, travando o processo de regularização fundiária padrão. Com a não publicação do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação, a definição territorial de Rio dos Macacos começa a se dar pela Câmara de conciliação, envolvendo o Governo Federal (Casa Civil da Presidência) e os quilombolas, mediada por Deborah Duprat, da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal.Durante a trajetória judicial do conflito em Rio dos Macacos algumas propostas foram apresentadas pelo Governo Federal.A primeira proposta em 2012 foi de 7, 5 ha fora do território quilombola. A segunda foi apresentada em dezembro de 2012 pela Sec-retaria Geral da Presidência da República e oferta 21 hectares para titulação da comunidade. Em outubro de 2013, o Governo Fed-eral fez a terceira proposta à comunidade, de 28,5 hectares. Essa proposta era a soma dos 7,5 ha e 21 ha oferecidos anteriormente e assim como as demais propostas, essa também não foi aceita, já que para a Associação de Moradores “tornam inviáveis a sobre-vivência e reprodução física, econômica e cultural dos quilombolas”.Em março de 2014, o Governo Federal apresentou a quarta proposta para o “Ordenamento fundiário do território quilombola Rio dos Macacos”, oferecendo 86 hectares. Em 6 de maio de 2014, a Associação de Moradores do Quilombo Rio dos Macacos apre-senta a “contraproposta” de 273 hectares.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE ARQUITETURA

ESCOLA POLITÉCNICA

RESIDÊNCIA EM ARQUITETURA, URBANISMO E ENGENHARIAESPECIALIZAÇÃO EM ASSISTÊNCIA TÉCNICA PARA HABITAÇÃO E DIREITO À CIDADE

TRABALHO FINAL ORIENTADO

DIRETRIZES TERRITORIAIS PRELIMINARES DOQUILOMBO RIO DOS MACACOS (BA)

AUTOR: URB. LEONARDO DE SOUZA POLLITUTORA: ARQ. MARIA TERESA DO ESPÍRITO SANTOCO-TUTOR: ARQ. FÁBIO VELAME

Dezembro/2014

02/05

A metodologia escolhida para mediar a relação da assistência técnica com a comunidade foi a educação popular e se realizou através de o�cinas. Dessas o�cinas obtivemos produtos cartográ�cos, como os apresentados pela comunidade durante audiência no Ministério Público Federal, a partir desses mapas a comunidade conseguiu reconstruir seu terrítório étnico - atual e ancestral - e demonstrar as perdas territoriais sofridas por Rio dos Macacos desde a década de 1950. Bem como permitiu a comunidade colocar uma contraproposta sobre a regularização fundiária em curso. Outros produtos que nos possibilitaram o reconhecimento do território foram mediados pelas cartogra�as sociais e suas técnicas: mapa mental, mapeamento biorre-gional e, principalmente, etnocartogra�a. É a partir desse reconhecimento inicial do território que desenvolvemos uma metodologia de trabalho para a realização de visi-tas em campo e coleta das coordenadas geográ�cas para mapeamento temático.

Limites imediatos: À Norte, 150 famílias assentadas pelo sindicato dos trabalhadores rurais de Simões Filho; ao Sul e a Oeste, pela BA-528; ao Leste, pela Via Periférica; ao Noroeste, a Baía de Aratu, antigo local de pesca e caça. (GEOGRAFAR, 2012).

LINHA DO TEMPO

ASSISTÊNCIA TÉCNICA

HISTÓRICO DA REGULARIZAÇÃOIDENTIFICAÇÃO DA COMUNIDADE

CARACTERIZAÇÃO

CONFLITO PELA TERRA

ATIVISMO SOCIAL

Quarta proposta, 86 ha Quinta proposta, 104 haContraproposta, 273 ha

Caracterizada como uma comunidade negra e rural, o Quilombo Rio dos Macacos é composto por 67 famílias descendentes de quilombo-las, e que, há mais de um século, ocupam um território de grande riqueza natural pertencente ao município de Simões Filho (BA), município este que

faz parte da Região Metropolitana de Salvador. Atualmente o quilombo se encontra em con�ito territorial com a Marinha Mercante do Brasil. De um lado, os quilombolas necessitam do terri-

tório para a reprodução da vida, e do outro a apropriação deste enquanto recurso e reserva de valor, pelas forças armadas.

A economia dessa comunidade essencial é oriunda da pesca, do extrativismo e da agricultura,

práticas produtivas pilares na organização do modo de vida quilombola. A educação é precaria, já que

há grande quantidades de analfabetos no território, o mesmo acontece com a saúde, a cultura e o lazer de Rio dos Macacos, já que até os dias atuais os quilombolas têm sua vida cerceada e con-trolada pela Marinha.

Apesar de todos as violências sofridas pela comunidade, esta se mantém �rme “num processo de produção de resistências” (ANTONGIOVANNI, 2013, p. 319) na luta pelos seus direitos territoriais e humanos. Em contraposição ao território militarizado, que expõe o racismo e a ine�ciência do Estado bra-

sileiro, existe um território que foi construído pelas relações solidárias e cheio de exigência de vida. É nesse território, carregado de memórias, práticas e vivências, que os quilombolas de Rio dos Macacos sus-

tentam sua força na luta pelo território e pelo bem viver.

PARCEIROSREGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA

Quilombo Rio dos Macacos

Marinha adquire a propriedade da terra através de doações

estatais

Construção da Vila Naval da Barragem

Judicialização do conflito

Decisão judicial em favor da Marinha

Certificação Quilombola através da

Fundação Cultural Palmares

INCRA inicia Relatório

Técnico de Iden-tificação e De-

limitação (RTID)

RTID concluído: 301 ha identificados

Negociações Ministério Público Fed-eral exige publicação do

RTID-INCRA

INCRA publica RTID: 104 ha

Século XVIII 1970 2009 2011 2011 2012 2012 - 2014 2014 20141950 2009

O processo de assistência técnica ocorreu em parceria com assessoria jurídica e política que já acompanhava o Quilombo Rio dos Macacos. Nesse sentido, a equipe que foi escolhida pela comunidade para apoiá-la possuía competências que possibilitou o empoderamento de Rio dos Macacos frente a defesa de seus modos de criar, fazer e viver, conforme prevê Convenção 169 da OIT. A inserção técnica em um con�ito fundiário exigiu que a equipe estivesse próxima à comunidade não apenas enquanto residentes, mas também como pessoas que associaram militância com assistência técnica.

popular

CONFLITO PELA TERRA

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A terra constitui a base geográfica fundamental da manutenção da comunidade e coletividade. Nesse sentido a territorialidade se apresenta como um esforço coletivo do grupo social para firmar a sua ocupação, manter seu ambiente e definir o território. A territorialidade é especifica de cada comunidade, das então diferentes formas como ela se relaciona com seu território, sua base física, sua terra. Dentro deste conceito estão agregados sentimentos de apropriação de uma porção do espaço, assim como seu limite, a sua fronteira. Individual ou coletivo a apropri-ação do espaço pode não possuir limites necessariamente físicos, mas até onde a comunidade possui influência. Outro componente relevante é a gestão e manutenção do território. Este em si é um fato espacial e social, secularmente atrelado a uma dimensão política, per-meado de identidade, com referências culturais e simbólicas da população, grupo ou comunidade.Desta forma o território étnico seria o espaço construído, materializado a partir das referências de identidade e pertencimento ao território com uma origem comum. Esse tipo de estrutura espacial possui historicamente conflitos com o sistema dominante, exigindo dessas estruturas a organização de uma instituição de auto afirmação política, social, econômica e territorial. Os mapas, principais produtos da cartografia, buscam representações e interpre-tações gráficas do mundo real, um instrumento para auxiliar na busca de um con-hecimento espacial. Lembrando que o mapa não é o território, mas que neles estão as melhores possibilidades de representação e leitura da historia do terri-tório, revelando o que acontece na dinâmica do espaço. REFERENCIA BIBLIOGRAFICA DE SANZIO - (ANJOS, 2011)

As visitas foram realizadas utilizando o Sistema de Posicionamento Geográfico (GPS), onde foram coletadas as coordenadas geográficas dos pontos relevantes a serem identificados pela equipe e a partir de memórias territoriais dos moradores da comunidade. Esse pontos foram definidos a partir das seguintes categorias:

Ao final das visitas de campo foi realizada a sistematização dos dados obtidos, e a reambulação dos pontos levantados com a comuni-dade. A partir dai foram desenvolvidos 04 mapas sinteses, nos eixos definidos para a continuidade do trabalho:

a. Cursos hídricos; b. Núcleos habitacionais c. Principais pontos de atividades agrícolas, pecuárias e extrativistas; (áreas de roçados atuais e antigos);d. Espaços sagrados;e. Usos coletivos.

Os mapeamentos foram realizados para aproximar a equipe com a comunidade e o seu território, subsidiando tecmicamente o desenvolvimento dosprodutos individuais.Foi realizada uma pesquisa com o objetivo de compreender melhor as relações da cartografia, mapeamento e territorialidade quilombola, tendo como referên-cia o trabalho do geografo Rafael Sanzio de Araújo do Anjos sobre cartografia quilombola, instrumentalizando a equipe com preciosos conceitos para a com-preensão da territorialidade desta comunidade.

1.Mapa de Localização e articulação regional;2.Mapa de Situação: Vias do entorno, bairros vizinhos, indústrias, relação com o território antigo e acessos;3.Mapa de Acessos e Caminhos: Limites, caminhos internos e principais acessos;4.Mapa de Usos: Sagrado, Habitação, Uso coletivo 5.Mapa de Produção: Hidrografia, áreas de roça, apoio a produção (campo), mata (UnidadesConservação), acesso de mar e mangue6.Mapa de Mananciais Hídricos e Hidrografia (APP e lei da Mata Atlântica)

Os mapas sintese foram base para a elaboração do RELATÓRIO DE SIN-TESE E DIAGNÓSTICO DO MAPEAMENTO TERRITORIAL, fundamental para a compreenssão das dinâmicas espaciais que acontecem hoje no território, contextualizando as informações recebidas (INCRA e Asses-sorias) com as informações coletadas juntamente com a comunidade.

A comunidade residente do Quilombo Rio dos Macacos atualmente procura se reestabelecer territorialmente, reconquistando pouco a pouco a autono-mia do seu território e a produtividade agrícola. Apesar de frequentemente existirem relatos de violências física e moral, a relação dos quilombolas com a Marinha encontra-se aparentemente apaziguada, embora não definida. Devemos salientar que a equipe levou em consideração os 301 hectares reconhecidos pelo INCRA em 2012, acreditando ser contraditória a publi-cação do RTID em agosto de 2014, em que foram tituladas apenas 104 ha desse território. Frisando que a configuração espacial sugerida na última proposta, desconfigura o território étnico desta comunidade. O eixo de territorialidade e cultura do Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades Tradicionais de Matriz Africana traz uma com-preensão sobre o território na manutenção da vida tradicional: Os territórios tradicionais [são] compreendidos como os espaços necessários à reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica são a base da organização social e da identidade cultural dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana. (SEPPIR, 2013).

Afirmamos que a coesão territorial é de suma importância para o desen-volvimento pleno do território e do patrimônio cultural africano na Bahia, a destruição do território étnico dessa comunidade significa asua sentença de morte. O que resulta da fragmentação, como fenômeno desencadeado por um processo de fratura ou quebra, é o fragmento, ou seja, uma parte que-brada de, ou deslocada de, uma porção isolada, desunida, desconec-tada; uma parte incompleta ou inacabada. No campo da política, a ideia de fragmentação remete à destruição da unidade (…) (CASTRO, 2013).O processo de desestruturação do fazer, viver e criar da comunidade só pode ser analisado em sua totalidade quando consideramos que os 104 ha exclui do território os mananciais hídricos e limita a área destinada a produção agrícola, de criação de animais e extrativista. Ou seja, privar o acesso à água significa destruir o modo de vida quilombola. O mapeamento territorial permite-nos afirmar que a água tem diversos usos no território, relacionados com a soberania alimentar, a geração de renda e lazer desta comunidade. Sem água, portanto, não há sustentabilidade para que a vida e a tradição quilombola da pesca artesanal e de pequena escala sejam mantidas.

É importante frisar este tema, pois o território em sua grande parte é com-posto por áreas de proteção ambiental, não edificáveis, sendo a perda terri-torial muito significativa para os quilombolas, que, apesar das restrições administrativas que a área impõe, poderiam realizar atividades agrícolas e extrativistas que compatibilizassem atividades econômicas com a sustenta-bilidade ambiental.Registramos ainda que a comunidade fora privada ao longo da sua trajetória de sobrevivência e consolidação territorial de diversos programas sociais, econômicos e de acesso a sistemas de infraestrutura básica, sendo imperativo o desenvolvimento de uma força tarefa conjunta entre órgãos municipais, estaduais e federais, para inserir toda a população quilombola no processo de desenvolvimento social, respeitando as características étnicas e históricas das comunidades quilombolas.As relações hoje existentes de produção e ocupação territorial encontram-se adequadas ao meio ambiente, à subsistência e a manutenção do modo de vida da comunidade.Por fim, o relatório subsidia outras analises de acessos, usos e relação com as atividades econômicas que se desdobrarão nas propostas individuais.

A partir das analises realizadas coletivamente, cada profissional pode então, dentro da sua especialidade, dialogar diretamente com a comunidade para a definição dos produtos específicos para a conclusão do processo de Assistência Técnica. Muito importante frisar, que a relação construída com a comunidade durante todo o processo de aproximação, reconhecimento e mapeamento, confluiu naturalmente para a união de idéias e intenções nesta última etapa, sendo os objetos a serem desen-volvidos “exatamente o que estávamos pensando”:01. URB: Diretrizes Territoriais Preliminares do Quilombo02.GEO: Diretrizes Produtivos do Quilombo 03.ARQ: Projeto Semente: Centro Comunitário do Quilombo

Proposta de apresentação no dia 19/12 Exposição das fotos e dos painéis apresenta-

dos na Residencia Tecnica AU+E.Dúvidas e debates sobre os eixos tratados

nos mapasRoda de capoeira e confraternização

Convite Raue a todos

GEO

.URB

.ARQ

.

MAPEAMETO

ETNOCARTOGRAFIATERRA / TERRITÓRIO / CARTOGRAFIA

METODOLOGIA DA EQUIPEETNO / IDENTIDIDADE / MODO DE VIDA

APRESENTAÇÃO MAPAS SINTESE

LEGENDA MAPA SINTESE

QRM_atualidadeSintese Coletiva

PROJETOS INDIVIDUAISEtapa 03

trab

alho

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Const��ção Coletiva RAU+E Definições para o projeto Urbanístico

Início das aulas teóricas

Término das aulas teóricas e definição da área e da equipe

Fim da 1° Etapa“Reconhecimento e

Aproximação

Fim dos mapeamen-tos de campo

Trabalhos de Reambu-lação e confecção de

Mapas Temáticos

Sistematização das informações e definição do projeto urbanístico

Confecção do Projeto e finali-zação do tra-balho coletivo

Apresentação do tra-balho na RAU+E

Revisão do Projeto, confecção do Termo de Referência e en-trega do produto para a comunidade

Confecção de um Plano Diretor para o Quilombo do Rio

dos Macacos

OUTUBRO 2013 FEVEREIRO 2014 ABRIL 2014 AGOSTO 2014 SETEMBRO 2014 OUTUBRO 2014 NOVEMBRO 2014 DEZEMBRO 2014 JANEIRO 2015Previsão

FEVEREIRO 2015Previsão

Começo da execução do Projeto

FUTUROPrevisão

Cro

nog�

ama

gera

l

Usos at�ais

Acessos e caminhos at�ais

Conhecer

Fut�ro...

Planejar

Gerir

Fut�ro...

> Aulas teóricas e multidisciplinares> Debates envolvendo professores, estudantes e membros do movimento social> Conceitos metodológicos e aprendizagem em projetos participativos> Conhecimento de diversos projetos e programas realizados sob a ótica geral da Residência> Reflexões sobre possíveis ações e produtos para serem desenvolvidos> Aproximação e reconhecimento de possíveis tu-tores, co-tutores e ensaios gerais> Definição de uma equipe de trabalho e escolha de uma comunidade/área para desenvolver o processo de assistência técnica participativa

1° EtapaAproximação e Reconhecimento

> Revisão teórica, definições metodológicas e con-strução do Plano de Trabalho> Definição do tutor e co-tutor para o trabalho> Elaboração de um cronograma de atividades> Aproximação com as assessorias políticas e jurídi-cas do movimento> Visitas à comunidade e reconhecimento preliminar do território e do entorno> Oficinas, reuniões e “rodas de conversa” para ex-plicar sobre o que seria desenvolvido e a necessi-dade da participação e envolvimento da comuni-dade

2° EtapaReconhecimento e Mapeamento

Etnomapeamento

Construção de Mapas Étnicos e Temáticos

Confecção do Relatório Síntese de Diagnóstico do Mapeamento Territorial

Reuniões de Orientação

Definição do Produto Urbanístico

3° EtapaDesenvolvimento do Produto

“O que queremos do Urbanista?”

DIRETRIZES TERRITORIAIS PRELIMINARES PARA O QUILOMBO RIO

DOS MACACOS

HABITAÇÃO

SAÚDE

EDUCAÇÃO

CULTURA, ESPORTE E LAZER

ORGANIZAÇÃO COLETIVA(“PROJETO SEMENTE”, DE AR-

QUITETURA)

PRODUÇÃO E GERAÇÃO DE RENDA (PROJETO DE GEO-

GRAFIA)

ACESSOS INDEPENDENTE

CIRUCLAÇÃO POR TODO O TERRITÓRIO (MICRO E MA-

CROACESSIBILIDADE)

SEGURANÇA NOS ACESSOS(GUARITAS QUILOMBOLAS)

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE ARQUITETURA

ESCOLA POLITÉCNICA

RESIDÊNCIA EM ARQUITETURA, URBANISMO E ENGENHARIAESPECIALIZAÇÃO EM ASSISTÊNCIA TÉCNICA PARA HABITAÇÃO E DIREITO À CIDADE

TRABALHO FINAL ORIENTADO

DIRETRIZES TERRITORIAIS PRELIMINARES DOQUILOMBO RIO DOS MACACOS (BA)

AUTOR: URB. LEONARDO DE SOUZA POLLITUTORA: ARQ. MARIA TERESA DO ESPÍRITO SANTOCO-TUTOR: ARQ. FÁBIO VELAME

Dezembro/2014

04/05

Page 5: A COMUNIDADE ESCOLHIDA RAUE QUILOMBO RIO DOS MACACOS · 2018-06-11 · Nesse sentido, reforça-se que a comunidade escolhida foi a do Quilombo Rio dos Macacos, localizado no município

TQ Rio Dos Macados

800 m

Projeto Semente de Arquitet�ra(Proposta da Arq. Luana Fig�eirêdo)

Local para aulas per�anentes de Capoeira,alojamento para visitantes e feiras periódicas

Campo de FutebolEspaço para atividades espor�ivas reg�lares

Local de Reunião

Local de Reunião

Bica ComunitáriaLocal de Lazer Coletivo

Guarita QuilombolaProposta de acesso comunitário

Guarita QuilombolaProposta de acesso comunitário

Guarita QuilombolaProposta de acesso comunitário

Principal área de GameleirasLocal sag�ado per�anente

Área de GameleirasEspaço Sag�ado

Área de GameleirasEspaço Sag�ado

Área de GameleirasEspaço Sag�ado

Área de GameleirasEspaço Sag�ado

Local de Apoio a Produção - Casa de Farinha(Proposta da Geoª Paula Cordeiro)

Local de Apoio a Produção - Casa de Farinha(Proposta da Geoª Paula Cordeiro)

Principal área para a const��ção de habitações de interesse socialdestinadas a atender as famílias cadast�adas no RTID que reg�essarão ao ter�itório

Proposta de livre acesso e circulaçãona vila militar

DIRETRIZES PRELIMINARES DE HABITAÇÃO

> Plano de reforma e construção de habitações populares que respeite a tradição, os costumes e a cultura da comunidade Quilombola de Rio dos

Macacos

> Retorno imediato das famílias que foram expulsas pela Marinha do Brasil e que estão cadastradas no RTID da comunidade

> As habitações devem cumprir a função social da moradia, mas devem estar relacionadas com um projeto de drenagem, saneamento, iluminação e abas-

tecimento de água

Guarita QuilombolaProposta de acesso comunitário

Proposta de uso compar�ilhado e sustentávelda Bar�agem de Rio dos Macacos e dos

recursos hídrico do ter�itório

DIRETRIZES PRELIMINARES DE MACRO E MICROACESSIBILIDADE, E SEGURANÇA TERRITORIAL

> Construção de vias independentes de acesso a comunidade a partir dos locais descritos no mapa

> Estruturação de um plano de microacessibilidade no interior da comuni-dade, que permite o livre deslocamento no território

> Construção de “Guaritas Quilombolas” na entrada de cada via local que ligue o entorno do território com o interior. Essas guaritas serão administra-

das pela coordenação gestora do território

> Patrulhamento constante e ronda periódica da Polícia Militar no entorno da comunidade. O acesso da Polícia no interior do território só acontecerá

mediante necessidade da comunidade, autorização nas Guaritas Quilombo-las ou a partir de mandato judical

DIRETRIZES PRELIMINARES DE ORGANIZAÇÃO COLETIVA

GESTÃO COMUNITÁRIA

ESPACIALIZAÇÃO TERRITORIAL

DAS ATIVIDADES COMUNITÁRIAS

GESTÃOTERRITORIAL

ProjetoSemente

Segurança

Preservação Ambiental

Produção

Lazer

Arte

Esporte

Cultura

Educação

Saúde

CADA ATIVIDADE NO SEU LOCAL

CADA ATIVIDADE NO COMO PARTE DA GESTÃO

GESTÃO COMUNITÁRIO

FISCAL 1 FISCAL 2

COORDENADOR GERAL 1

COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO

COORDENAÇÃO DE CULTURA,

LAZER E ESPORTE

COORDENADOR DE SEGURANÇA

COORDENADOR DE INFRA-

ESTRUTURA

COORDENADOR GERAL 2

COORDENADOR ADMINISTRATIVO

COORDENADOR DE FINANÇAS REGULARES

COORDENADOR DE CAPTAÇÃO DE

RECURSOS

COORDENADOR DE ECOTURISMO

CADA ATIVIDADE NO COM UM RESPONSÁVEL

DIRETRIZES PRELIMINARES DE ATIVIDADES E ESPAÇOS COLETIVOS

1. ORGANIZAÇÃO

> Projeto Semente: Centro Comunitário Quilombola como um espaço central para a realização de diversas atividades coletivas

> Manutenção dos atuais espaços de reunião presentes no território, com a finalidade de promover atividades artísticas, culturais, religiosas e sociais.

2. EDUCAÇÃO

> Inclusão de diretrizes curriculares quilombolas nas escolas onde as crianças e jovens da comunidade estudam

> Formação, no território, de turmas destinadas a formação de Jovens e Adultos

> Inclusão dos analfabetizados da comunidade em programas oficiais de alfabetização e aprendizado, como o TOPA do Governo Estadual, respeitando a dinêmica da comuniade

> Estabelecimento de creches comunitárias gerida e administrada pela própria comunidade

> É necessário que se construa um espaço para aulas públicas e popu-lares, palestras, biblioteca, qualificação técnica e profissional, etc.

3. CULTURA, ESPORTE E LAZER

> Criação do Memorial Quilombola do Quilombo Rio dos Macacos, importante instrumento para registrar, ainda mais, o histórico de luta e resistência dessa comunidade. (O local e o objeto desse memorial ainda não foram definidos)

> Desenvolvimento periódico de feiras de artesanato, produtos benefi-ciados e apresentações e ensinamento de técnicas artísticas e simbóli-cas (teatro, dança, capoeira, etc.), que valorize a riqueza cultural do território e da comunidade, e que gere renda para os quilombolas (Proposta de realização semestral)

> Desenvolvimento de rodas regulares e abertas à convidados de Capoeira, Samba, etc

> Os atuais espaços existentes voltados a essas diretrizes serão manti-dos, e as atividades acontecerão de forma regular, organizada e perma-nente, a fim de fortalecer a relação com o território

4. SAÚDE

> A ida a comunidade de médicos, especialistas, dentistas, psicológos, assistentes sociais, etc, devem ser garantidos pelo poder público das três esferas de governo. O acesso desses profissionais à comunidade jamais poderá ser impedido pela Marinha do Brasil, enquanto não se constróis acessos independentes à comunidade

> Inclusão das mulheres da comunidade em programas voltados à saúde da mulher, principalmente em relação ao acompanhamento néo-natal das quilombolas que, por ventura, vierem a ficar grávidas.

> Os órgãos públicos devem garantir campanhas de vacinação, consul-tas odontológicas, acompanhamento social e psicológico, e tratamento de algumas especialidades no território, de maneira regular, através de suas estruturas móveis de saúde e atendimento básico, principalmente às crianças, os enfermos e idosos da comunidade

Observação Geral: O “Projeto Semente” servirá, também, como base estrutural para efetivação dessas diretrizes, todavia, estudos devem ser voltados à comunidade para se construir estruturas específicas a partir da demanda comunitária.

Espacialização de propostasPROPOSTA ---------------------------------------------LOCAL/ATIVIDADE PRÉ-EXISTENTE ------------

DIRETRIZES PRODUTIVAS E ECONÔMICAS

Proposta da Geoª Paula Cordeiro

Inst��mento Cent�al de Organização ColetivaProjeto Semente: Cent�o Comunitário do Quilombo Rio dos Macacos

Projeto desenvolvido pela Arq. Luana Fig�eirêdo

DIRETRIZES PRELIMINARES DAS ATIVIDADES DESTINADAS À CRENÇA ESPIRITUAL E RELIGIOSA

> O poder público deve garantir e auxiliar a rearticulação e a reconstrução de espaços destinados ao culto e exercício das religiões de matriz africana no território, símbolo de resistência identitária de uma comunidade Quilombola. Cabe ressaltar que os antigos terreiros que existiam no território foram derrubados pela Marinha do Brasil, principalmente durante a construção da Vila Militar

> As áreas destinadas a tal fim devem respeitar a tradicionalidade e as diretrizes dessas religiões, para tanto, é proposto aqui que as áreas destinadas estejam próximas das Gameleiras que existem no território, já que a mesma possui um valor simbólico para as religiões de matrizes africanas

> Essa diretriz em nada invalida ou desrespeita as demais religiões, que, evidentemente, podem ser desenvolvidas, também, no território.

BA-528

Via Perif

érica I

DIRETRIZES DE ACESSO AOS RECURSOS HÍDRICOS E A BARRAGEM

Proposta da Geoª Paula Cordeiro

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE ARQUITETURA

ESCOLA POLITÉCNICA

RESIDÊNCIA EM ARQUITETURA, URBANISMO E ENGENHARIAESPECIALIZAÇÃO EM ASSISTÊNCIA TÉCNICA PARA HABITAÇÃO E DIREITO À CIDADE

TRABALHO FINAL ORIENTADO

DIRETRIZES TERRITORIAIS PRELIMINARES DOQUILOMBO RIO DOS MACACOS (BA)

AUTOR: URB. LEONARDO DE SOUZA POLLITUTORA: ARQ. MARIA TERESA DO ESPÍRITO SANTOCO-TUTOR: ARQ. FÁBIO VELAME

Dezembro/2014

05/05