a comuna de paris - gonzalez

13
A Comuna de Paris: os assaltantes do céu – Horácio Gonzalez Cronologia: 09/1870: Batalha de Sedan, derrota de Napoleão III. É proclamada a terceira república da França. 01/1871: Suspensão das operações militares francesas. Prussianos desfilam em Paris. 02/1871: Eleições legislativas para a Assembléia Nacional. 03/1871: Instaura-se a Comuna de Paris. 05/1871: Invasão de Paris pelas tropas do governo. Incêndio da cidade. Fim da Comuna de Paris. PRÓLOGO Pág. 07 – Entre 1870 e 1871, a França traça um contorno bastante convidativo. Neste momento se encerra todas as tensões que irão convergir em um único ponto e esse ponto é uma cidade: Paris. A vida social sai de seu quadro habitual. Cria-se o espaço de uma revolução. Uma guerra entre nações França e Prússia se transformará em uma guerra civil entre franceses. Pág. 08 – O relato está povoado de personagens forjados na densa atividade ideológica que toma conta da vida coletiva. Tendo como reunião todas as doutrinas e práticas sociais da época. CAP. 01 - NOS TEMPOS EM QUE O BONAPARTISMO AGONIZA, O TURBILHÃO IDEOLÓGICO Pág. 09 – No começo de 1870, uma suspeita percorre a Europa. Todos se perguntavam até quando Napoleão III estaria à cabeça do Império. Com certo assombro, todos imaginavam a facilidade com que o exército de Bismark derrotaria a máquina militar francesa. Pág. 10 – O exército francês, a grande obra do imperador, desapareceu como que se tivesse sido tragado por um pântano e os prussianos não encontraram obstáculos para iniciar o sítio em torno de Paris. Pág. 11 – O império francês começa a cair quando Luís Bonaparte III viu as tropas mexicanas de Benito Juarez fuzilar Maximiliano da Áustria em 1867. Um ano após o fuzilamento, a

Upload: bruna-vidal

Post on 29-Dec-2014

81 views

Category:

Documents


11 download

TRANSCRIPT

Page 1: A Comuna de Paris - GONZALEZ

A Comuna de Paris: os assaltantes do céu – Horácio Gonzalez

Cronologia:

09/1870: Batalha de Sedan, derrota de Napoleão III. É proclamada a terceira república da França.01/1871: Suspensão das operações militares francesas. Prussianos desfilam em Paris.02/1871: Eleições legislativas para a Assembléia Nacional.03/1871: Instaura-se a Comuna de Paris.05/1871: Invasão de Paris pelas tropas do governo. Incêndio da cidade. Fim da Comuna de Paris.

PRÓLOGO

Pág. 07 – Entre 1870 e 1871, a França traça um contorno bastante convidativo. Neste momento se encerra todas as tensões que irão convergir em um único ponto e esse ponto é uma cidade: Paris.

A vida social sai de seu quadro habitual. Cria-se o espaço de uma revolução. Uma guerra entre nações França e Prússia se transformará em uma guerra civil entre franceses.

Pág. 08 – O relato está povoado de personagens forjados na densa atividade ideológica que toma conta da vida coletiva. Tendo como reunião todas as doutrinas e práticas sociais da época.

CAP. 01 - NOS TEMPOS EM QUE O BONAPARTISMO AGONIZA, O TURBILHÃO IDEOLÓGICO

Pág. 09 – No começo de 1870, uma suspeita percorre a Europa. Todos se perguntavam até quando Napoleão III estaria à cabeça do Império. Com certo assombro, todos imaginavam a facilidade com que o exército de Bismark derrotaria a máquina militar francesa. Pág. 10 – O exército francês, a grande obra do imperador, desapareceu como que se tivesse sido tragado por um pântano e os prussianos não encontraram obstáculos para iniciar o sítio em torno de Paris. Pág. 11 – O império francês começa a cair quando Luís Bonaparte III viu as tropas mexicanas de Benito Juarez fuzilar Maximiliano da Áustria em 1867. Um ano após o fuzilamento, a Prússia dá um passo decisivo em direção à unidade alemã: a vitória militar sobre a Áustria, que serviu como um recado para quem em Paris quisesse escutar.

Os blanquistas Pág. 15 - Oposições ao Império começam a surgir no final da década. As reuniões públicas e as manifestações políticas vão lançando os marcos mais sólidos para a atividade dos opositores. Pág. 15 a 18 - Os blanquistas, mais ativo dos grupos de agitação, apresentavam suas drásticas opiniões. Será este grupo, em 1870 que se evidenciará como o mais exaltado na grande mobilização popular. Programaram-se social e territorialmente no Quartier Latin, e são em sua maioria, estudantes unidos por um ethos insurrecional e contam com uma forte representatividade nos meios operários. A ideologia blanquista invoca o socialismo, mas este é para eles uma categoria principalmente ética, que faz a justiça emergir no igualitarismo. A expressão blanquista é a política pela ação e ela nunca faz menção ao conhecimento científico. Eles se reúnem ao redor da lenda do velho Blanqui, o herdeiro de Hebert e Babeuf, que entende

Page 2: A Comuna de Paris - GONZALEZ

a política como partindo do conflito. Gustave Flourens é o principalmente blanquista depois de seu chefe.

Internacionalistas Pág. 18 a 19 - A Associação Internacional dos Trabalhadores é fundada em 1864 e em seu documento inaugural Marx exorta que os operários “dominem eles mesmos os mistérios da política internacional”. Nesse sentido, para Marx os “mistérios” são os produtos humanos que se convertem em estranhos para seus criadores. Dessa forma, a guerra franco prussiana seria um desvendamento de mistérios. Para Marx, a vitória dos prussianos significaria a centralização do Estado e isto favorecerá a centralização da classe operária. Além do mais, ao se descolar da França para a Alemanha o movimento operário se desenvolveria mais, pois a classe operária alemã, aos olhos de Marx, seria superior a francesa tanto em teoria quanto em organização. A centralização alemã ainda significaria a vitória do pensamento de Marx sobre as idéias de Proudhon que dominava o proletariado francês. Pág. 20 e 21 – Os internacionalistas franceses eram filhos conceituais de Proudhon, ainda que nem sempre interpretassem seu mestre. Existiam ainda, duas interpretações do proudhonismo: a mais medrosa e conservadora que advinha de Versalhes e a outra, majoritária, fecundada pelo bakuninismo, que integrará as fileiras da Comuna. Pág. 22 - A rivalidade de Proudhon e Marx vinha de longa data. Para Marx, Proudhon expressava todas as tendências especulativas do “socialismo pequeno-burguês” e para Proudhon, Marx era quem trabalhava com dogmatismos que o fazia-se converter em um “chefe de uma nova intolerância”. Pág. 23 – Proudhon acreditava que a ação revolucionária deveria ser substituída pela “ciência e as combinações econômicas”. Estas combinações econômicas são os grupos naturais ou associações mutualitas de produtores que contratam serviços através das diferentes unidades livres de produção, estas unidades “federadas” substituiriam o naturalmente o Estado, substituindo o “feudalismo industrial”. Este “proudhonismo popular” será uma das camadas do subsolo político francês que intervirá persistentemente nos dias de insurreição da Comuna. A violência dos blanquistas contesta firmemente estas definições: o núcleo do agrupamento político é urbano e não sindical, neste pensamento, o sujeito central não é o operário, mas o cidadão armado. Pág. 24 - Marx percebe que o conjunto das ações políticas existentes em uma sociedade não se prende aos condicionamentos objetivos da consciência social e da realidade social, caracterizando um descompasso. Pág. 25 – Para Marx, a revolução deve começar pela conquista de uma frase. Assim, quebrará a continuidade simbólica do poder burguês. Até que essa mascarada revele-se como um retrocesso do conjunto da sociedade, que assim poderá manifestar-se em suas formas puras. Pág. 26 – Marx escreve em seus trabalho uma verdadeira apologia da derrota. A derrota conquistava o terreno da transparência na representação política. Para ele as vitórias doas trabalhadores urbanos franceses são “tragicômicas” pois são impregnadas de saudades dos ancestrais democrático-burgueses, era preciso então, extirpar esse coágulo da cabeça dos proletários franceses. Nesse sentido, as derrotas educam e nelas aprende-se a reconhecer o “novo terreno” sem construções mitológicas do passado. Pág. 27 – diferentemente de Proudhon, Marx condena o terreno nacional da política francesa. Nele só há “recordações”. Por isso as derrotas sofridas pelos insurretos deviam ser interpretadas como uma vantagem conceitual. Para os ativistas revolucionários as palavras de Marx poderiam provocar um grande mal estar, pois o “terreno nacional” da política era o grande imã que os atraía.

Page 3: A Comuna de Paris - GONZALEZ

Pág. 28 – Bakunin que não tinha o conhecimento da história francesa ostentado por Marx estava sempre mais próximo das conjunturas revolucionarias na França. Em provocação a Marx, Bakunin dizia que não gostava do estilo político dos alemães, considerando-os como “intrigantes e vaidosos”. Bakunin está em Lion e lá está colaborando com os núcleos regionais de republicanos. Depois de um levante proclama-se a Comuna de Lion, todavia, em nenhum lugar fora Paris este seria um evento duradouro. Lion é um prólogo fugaz para Paris, assim como será Marselha pouco tempo depois.

CAP. 02 - NA PARIS SITIADA, A LÓGICA DA GUERRA CIVIL

Pág. 30 e 31 – Quando vem a notícia de Sedan – Napoleão III fora derrotado – os deputados republicanos aproveitam a oportunidade e proclamam a terceira república. A marcha da República, nas mãos de um Governo de Defesa Nacional, terá a tarefa principal de prosseguir a guerra que o Império tinha começado com tão pouco êxito.

A pátria em perigo Pág. 31 e 32 – Em mais alguns dias e os alemães iniciarão o sítio de Paris. Durante os próximos cinco meses um jovem deputado será a figura central do novo governo. Gambetta, um republicano radical que não chega a ser um jacobino e bem menos um blanquista. Ele concebia que a ação política radical era um marco na representação parlamentar de toda a nação, nesse sentido, a Comuna passou em branco pela sua vida. Gambetta confiava que quando tudo voltasse ao seu lugar, ele recuperaria seu eleitorado, lembrando de suas façanhas bélicas da “defesa nacional”. Pág. 33 – Na Paris sitiada, o impulso patriótico une a todos. As inclemências do sítio vão criando um corpo coletivo mobilizado em torno da subsistência e da defesa. O patriotismo dos blanquistas significa uma comunidade de iguais em luta contra qualquer despotismo. O invasor alemão é visto como uma entidade exterior, bárbara e inumana. Por outro lado, o governo republicano de Paris só pensava em um armistício com os alemães. Porém, como fazer isso sem que a população parisiense considerasse uma traição? Pág. 34 e 35 – O exército de Paris é numericamente superior aos sitiadores, mas sua composição é bastante heterogênea. Foi um recrutamento feito as pressas, com falta de comandos estáveis. Mas a multicolorida força militar de Paris não contava só com isso. Lá estão os corpos muito disciplinados da infantaria e da marinha, além de uma excelente infra-estrutura ferroviária urbana. Diante de toda essa força Paris ainda não resistiu pois a sua resistência seria o triunfo das alas mais radicais dos republicanos, que agem segundo o conceito de “o povo em armas”. Pág. 36 – As dificuldades durante o período de sítio foram muitas: A cidade passava fome. Os ratos chegaram a ser comercializados, os ovos e leite escasseavam e o pão não era fornecido com regularidade. Os parques e praças estavam ocupados por rebanhos de gados que de repente se incorporaram a paisagem urbana. O mercado alimentar funcionava de modo precário, embora regulado pela escassez de víveres. O gás de iluminação das ruas começa a faltar, Paris estava sem luz. Era inverno e restava apenas o consolo de saber que do outro lado das muralhas os prussianos também não estavam protegidos contra o frio. Pág. 38 – Quanto tempo passaria para que a Comuna fosse implantada? Ainda o dramatismo e a oportunidade do parto. A comuna estava na consciência política popular e as práticas para consegui-la também existiam. Só faltava a junção desses dois elementos.

Paris e Versalhes, em marcha para a cisão

Page 4: A Comuna de Paris - GONZALEZ

Pág. 38 a 40 – Durante o tempo em que atua o Governo de Defesa Nacional, os blanquistas começam aceitando o governo que representa a unidade patriótica. Quando começam a comprovar que a maioria das planejadas ações de defesa são apenas um aceno bélico superficial, refloresce a principal tentação blanquista: tomar o curso dos acontecimentos em suas próprias mãos. No final de 1870 Flourens – líder blanquista – faz prisioneiros a maioria dos integrantes do governo e subindo em uma mesa propondo a formação de um Comité de Salut Publique. Muito mais rápido e em silêncio agiam Thiers e os partidários do armistício, cientes de que o novo inimigo não eram os sitiadores: eram os sitiados de Paris. Os vertiginosos fazedores de governo vão parar em Mazas, grande prisão de Paris. Pág. 41 – Fica no ar uma promessa de eleições para a Comuna, o que o governo transforma em plebiscito, a favor ou contra ele. O governo vence, mas o que teria acontecido? A comuna já estava preparada na consciência coletiva, tinha instituições de “espera” - a Guarda Nacional, os comitês de subdistritos. Porém ainda não havia o procedimento para separar Paris e Versalhes, explicando assim que qualquer manifestação eleitoral não desse outro resultado que o apoio ao governo existente. Pág. 42 – No fim do ano de 70 e inicio de 71, as autoridades militares tinham algumas saídas para romper o cerco. A Comuna era esperada, mas faltava a faísca. Generais e políticos só sonhavam em reordenar um contexto de paz que a rede estatal e a queda do bonapartismo tinham abalado. Então, apesar de os franceses terem conseguido ocupar posições estratégicas nos arredores da cidade, os generais decidem o regresso para dentro das muralhas, todos compreender que o próximo passo será o armistício. Pág. 43 e 44 – Inscreve-se a assinatura do armistício em Versalhes, depois das reuniões entre Favre e Bismarck. Uma assembléia esta prontamente eleita para regularizar a paz. O governo da “defesa nacional” abdicará, a guarda nacional, porém, não será desarmada. A Guarda Nacional converte-se no único exercito com capacidade operativa, ainda assim, o armistício é recebido em Paris como uma traição. Cada batalhão pensa em alguma maravilhosa reviravolta que possa torcer essas insolências. Pág. 44 – Todas as frações do que depois será o “partido da Comuna” apresentam seus candidatos: os neojacobinos, os blanquistas, o comitê central dos subdistritos, os velhos lutadores da República. E os internacionalistas pendendo entre o proudhonismo e o bakininismo. Pág. 46 – O corpo eleitoral da França conservava um persistente traço arcaico, uma fechada tendência para afirmar as figuras do quadro político anterior. São os “rurais” que exprimem o interesse na propriedade da terra e que acreditam na monarquia. Em contraposição com os interesses urbanos de Paris que é o centro das ideologias renovadoras, das utopias, das insurreições das promessas de um mundo a se experimentar. Pág. 47 – A assembléia nacional realizada em Paris e protegida pelas tropas de Thiers, é marcada pela guerra civil que está por vir. O bloco dos monarquistas rurais começa a planejar a reocupação de Paris, a cidade armada. As medidas deviam ser cautelosas, mas a falta de paciência dos rurais obriga Thiers a impor o deslocamento da assembléia para Versalhes, à vinte quilômetros da cidade insubordinada. Sediando lá, declara-se guerra a Paris, deixando sem instituições centrais. Pág. 48 – Sediando lá, declara-se guerra a Paris, deixando sem instituições centrais. É decretado o fim do congelamento de dívidas e aluguéis em um momento em que não se tinha reiniciado as atividades normais do comercio. Pequenos comerciantes se defrontam com o fantasma da falência definitiva, os operários com o despejo. Os deputados parisienses já não têm nada a fazer na Assembléia, então, a maioria deles volta a Paris

Page 5: A Comuna de Paris - GONZALEZ

O comitê central da Guarda Nacional, órgão superior do poder popular Pág. 48 – A Guarda Nacional, instituição que cresceu nos dias de sítio, não deixa dormir os de Versalhes. Ela estará no centro dos acontecimentos, na origem, desenvolvimento e desfecho da Comuna. Pág. 49 – Jacobinos, blanquistas, internacionalistas são eleitos oficiais e comandantes de batalhão. Mas é predominantemente a ação de homens saídos diretamente de seus bairros e oficinas para vestir a farda da milícia popular, e que não têm vinculação direta com os grandes núcleos ideológicos do momento. Retalhos do proudhonismo, blanquismo, bakunismo e jacobinismo se “aculturam” e se aglutinam no pensamento comum. Pág. 51 e 52 – Corpos da Guarda desfilam em Paris em repúdio à assembléia de Versalhes. Thiers é eleito presidente da assembléia, chega à cidade com a urgência de resolver “a questão de Paris”, eliminando o duplo poder e desarmando a Guarda Nacional. Thiers anima-se em realizar um golpe audaz, que se tivesse sucesso, resolveria tudo. Ele decide enviar tropas para expropriar os canhões da Guarda. Pág. 53 – As primeiras luzes do dia as tropas lançam-se na missão. São surpreendidos pela população de Montmartre, guardiã do mais importante arsenal da cidade, que descobrem-os em flagrante, mas não há confronto. Os lideres militares são feitos prisioneiros por suas próprias tropas. Este episódio é tido como o ato de origem da Comuna. Pág. 54 e 55 – Desaba o esquema de Thiers em Paris. A Guarda Nacional, dona de toda a cidade, vai ocupando-a aos poucos. A partir daqui, a França terá duas capitais, dois centros políticos que disputam sobre diferentes idéias de nação e de sociedade: Versalhes e Paris. Versalhes tem um representante eleito por sufrágio universal, cuja representação política parecia atrasada. Paris é o oposto, tem a legalidade unânime de toda a população. É o “povo em armas” tentando coibir o retrocesso histórico que os rurais empurravam para o país. Com o Comitê da Guarda Nacional conduzindo a cidade, o primeiro problema de Paris é criar suas instituições. Já o problema de Versalhes é criar um exército para marchar contra a cidade inimiga, o que necessitava da ajuda de Bismarck. Pág. 56 – Thiers estava diante de uma frança insurreta que ele conhecia muito bem.

CAP. 03 - A COMUNA, GOVERNO DA CIDADE

Pág. 58 – Em 1871, Paris tem aproximadamente 2 milhões de habitantes. A nova compulsão arquitetônica tinha objetivos muito bem explicitados: a cidade deveria tornar evidente, em seu corpo inanimado, que agasalhava um Estado poderoso e uma rica burguesia. Pág. 59 – A remodelação de Paris, então, não é uma obra motivada exclusivamente por razões de engenharia militar, mas para criar uma nova forma de homogeneidade social através de um cenário urbanístico que intimidasse culturalmente por meio do esplender dos espaços públicos.

Proclama-se a Comuna; começa a guerra civil Pág. 60 – A primeira decisão após a revolução é a convocação de eleições e representantes municipais. Esse objetivo tinha sido o anseio da maioria da população de Paris. O Comitê Central ao invés de marchar sobre Versalhes e dissolver a assembléia, cuidará de institucionalizar um poder político comunal surgido do sufrágio universal. Pág. 61 – Os affiches foram os meios de comunicação diário da Comuna com a população. Todos os dias, durante os 62 dias de governo e ainda depois, nunca faltava um affiche nas paredes da cidade, anunciando decretos, convocações e etc.

Page 6: A Comuna de Paris - GONZALEZ

Pág. 62 – O comitê central que convocou as eleições não encontra unanimidade para acertar o rumo dos acontecimentos. Os maires, encarregados dos subdistritos, não estão dispostos a referendar, com uma eleição, uma nova “legalidade” que se oporá a de Versalhes. Para o comitê central, porém, a revolução foi legítima, pois tratava de defender Paris contra a restauração monárquica da Assembleia. Pág. 64 – Entre o comitê dos maires e o da Guarda, assina-se um comunicado comum convocando para a eleição da comuna. Foi um trabalhoso acordo, com o qual Paris garantia sua legalidade e conseguia seu “tempo” eleitoral. Esse era o tempo que Versalhes precisava para refazer o exercito. Dois dias depois das eleições, proclama-se a Comuna. Pág. 65 – A guarda nacional está com 160 mil soldados, dos quais 100 mil são sedentários. Ainda não combateram, salvo contra os alemães e sem sucesso. Os versalheses iniciam operações distrativas. A infantaria da marinha e o exército de linha atacam postos avançados vitais à Paris. Esse será o primeiro fracasso da Comuna. Pág. 66 e 67 – Este primeiro confronto permite observar como Versalhes e Paris encaram a guerra. Os parisienses detem de uma força militar importante e bem armada, mas não há idéias claras de comando. Os generais da Comuna, vem da agitação política, da insurreição de rua, de ações limitadas dentro da cidade. Inexiste um plano. Para Versalhes, ao contrário, as hipóteses de guerra eram muito fáceis de formular. Tratava-se de uma guerra sem trégua e sem piedade. O inimigo era visto como possuidor de temperamentos execráveis que beiravam a demência e se nutriam do prazer da destruição. As regras claras da guerra se tornavam voláteis, não via-se a guerra protagonizada por agentes sociais portadores de valores morais equivalentes. Pelo contrario, era um confronto de valores sociais e ideológicos definidamente contrapostos. A comuna acusa Versalhes de desrespeito as normas de humanidade, esta responde que Paris não assinou a convenção de Genebra, logo, não haveria motivos para respeitá-la. Pela primeira vez na historia moderna, um exercito regular questionaria o padrão ético da guerra tradicional. A comuna, por sua vez, não percebe isto e continua a aplicar conceitos clássicos de guerra.

O comitê de Salvação Pública, a Comuna dos Jacobinos Pág. 69 e 70 – Tentando da uma resposta às constantes execuções de prisioneiros, a Comuna decide pela prisão de desafetos e sua utilização como reféns. Optam por manter refém o arcebispo de Paris e boa parte da hierarquia da Igreja. A comuna proporá a troca de todos os reféns pelo velho Blanqui. Pág. 73 – Começa maio. A comuna já tem um mês e meio de existência. Nomeia-se um novo delegado de guerra: Rossel. Este por sua vez não será um bom dirigente de uma guerra de características novas. Poucos dias depois Rossel renuncia deixando um carta reveladora da falta de linha político militar da comuna. Pág. 73 – Chega o dia da derrubada da coluna de Vendôme, enorme monumento com a estatua de Napoleão I no topo. Não foi a derrubada da coluna a única medida da comuna para intervir na reescritura do espaço simbólico urbano.

A obra e a estrutura de governo dos federados Pág. 78 – A estrutura do governo comunal estava formada por representantes dos vinte subdistritos escolhidos, a razão de um para cada 25 mil habitantes de Paris, o que dava quase setenta delegados. A comuna é um órgão executivo e legislativo ao mesmo tempo, onde os poderes não estão “divididos”, mas sim “descentralizados”. Pág. 79 – A comuna toma funções próprias do Estado centralizador e, ao projetá-las em uma dimensão municipal, converte-se em uma formulação fundamental da relação entre o poder e a

Page 7: A Comuna de Paris - GONZALEZ

sociedade. Ela seria o “governo dos produtores”, a “república do trabalho”, e a representação política vai na mesma direção. O conceito de “comuna” significa então, uma pequena unidade de comando que coordena o trabalho social em todas as instancias possíveis. Pág. 80 – Para as tradições blanquistas, jacobinas e radical republicanas, a razão comunal era uma energia política originada da população trabalhadora urbana que exerce o poder como um corpo coletivo único e igualitário, como partido político das massas, envolvendo e centralizando toda a população. A comuna de Paris, unidade política para desenvolver a “república universal”, deveria, entretanto, governar uma complexa cidade durante o transcurso de uma guerra. Tinha de tomar as funções do Estado e traduzi-las para a perspectiva do pacto comunal, além de encarregar-se de serviços municipais básicos. Pág. 81 – Medidas tomadas pela comuna: A) Medidas de organização do poder administrativo: suprime-se o exército permanente, substituído por milícias cidadãs. Assalaria a função pública. B) Medida de reformulação de relações de trabalho: Poder arbitral da “comissão de trabalho, indústria e comércio” da Comuna nas relações de operários e empregadores para determinar salário de cada setor. Pág. 81 – C) Medidas vinculadas a reformas culturais: Separação da Igreja do Estado. Educação laica e profissionalizante. D) Medidas relacionadas com a solidariedade social: Quase sempre medidas de emergência e de grande repercussão social imediata: prorrogação do pagamento de alugueis, pensão para feridos e viúvas e órfão de caídos em combate. E) Medidas de economia de guerra vinculadas a organização do trabalho e á propriedade social: ocupação de residências abandonadas pelos donos em virtude da guerra, fabricas e oficinas abandonadas seriam administradas pelos sindicatos. F) Medidas de guerra, objetivos ideológicos e bélico-simbólicos: prisão de reféns vinculados a hierarquia da igreja, derrubada da coluna de Vendôme, demolição da casa de Thiers, adoção da bandeira vermelha e etc. Pág. 84 – Em todos esses programas de medidas vê-se claramente o traço irreligioso, igualitarista, universalista, racionalista, laico e o apelo a ciência. O federalismo na organização das unidades políticas. A idéia de “propriedade social” no tratamento das unidades de produção e moradias abandonadas. Pág. 87 – A comuna foi obra da Guarda Nacional, convertida em lar de todas as ideologias revolucionárias do momento. A guarda foi o mais alto sindicato dos trabalhadores franceses. Nela existe a concepção simbólica do poder da maioria jacobina com o socialismo contratual e “passo a passo” dos proudhonianos. A comuna foi o conceito que uniu concepções totalmente diferentes: o ponto débil dos blanquistas e jacobinos era o projeto econômico, o dos proudhonianos era a organização da vontade social e do drama bélico. Da junção invertida desses dois pontos débeis surge a Comuna, sonhada durante todo o século por tantos e estourando no bojo de uma guerra.

Os derradeiros dias Pág. 88 – Em 21 de maio os versalheses entram em Paris. A cidade está despreparada e até confiante. Chegam em Montmartre, onde 62 dias antes tudo tinha começado. Pág. 89 – Os combates nas ruas de Paris durarão sete dias. Pouco a pouco caem os bairros populares que estão na linha de penetração dos versalheses. Pág. 90 – No segundo dia de combate, metade de Paris está nas mãos de Versalhes. Os incêndios a noite já iluminam toda a cidade. Os versalheses fuzilam sistematicamente os

Page 8: A Comuna de Paris - GONZALEZ

prisioneiros da Guarda Nacional. No terceiro dia abandona-se o Hôtel de Ville – quartel general da comuna – desloca-se para a subprefeitura do XI distrito. Ali se reúnem, planejam recuperar as posições, há um otimismo onírico. A comuna não tem um discurso para sua própria derrota. Pág. 91 – No terceiro dia de luta são mais fortes os incêndios. Os combates são desiguais, um exercito poderoso, muito bem armado, contra um punhado de soldados dispersos, sem comando, sem esperanças, sem saber o que acontece no quarteirão vizinho. Abandona-se o novo quartel general. A comuna desaparece. Pág. 92 – O centro da cidade está envolvido por uma fumaça que não cessa. Fuzilamentos sumários começam a todo o momento. Vinte mil soldados e simpatizantes da Comuna são mortos assim. Pág. 93 – Jornais estampam o triunfo de Thiers. Um general partidário dos fuzilamentos em massa diz que foram extirpadas quaisquer possibilidade de insurreição na França por muitos anos. A ordem estaria estabelecida. O fogo sempre foi um recurso bélico. No caso da Comuna, não era apenas uma interpretação militar, mas simbólica da cidade. Um messianismo para exorcizar as pompas que vestem o déspota. Pág. 94 – As mulheres da Comuna, muito ativas, constituem um forte antecedente de mobilização nas tarefas de organização social e serviços de apoio militar. Pág. 94-95 – Oito anos depois da Comuna os exilados conseguem uma anistia restrita, que se transformará em anistia total. Em 1879 estão voltando os banidos, uns em silencio, outros escrevendo livros, alguns deles belos. Os derrubadores foram derrubados, e voltam com um brilho quimérico que vai se reforçando enquanto comprova sua suas impossibilidades. Pág. 96 – São os “assaltantes do céu”. Expressão utilizada por Marx para designar os movimentos que contavam com muita energia revolucionaria, mas com pouca propensão para a análise das condições objetivas sociedade.