a competencia da cancao

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A COMPETÊNCIA DA CANÇÃO: ÊNFASE E CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO TATIT, Luiz. A canção: eficácia e encanto. 2 ed. São Paulo: Atual, 1987. A raiz entoativa (núcleo de estruturação) da canção popular e da fala cotidiana é a mesma: melodia e verso. Melodia e versos possibilitam que a canção alce êxito comunicativo. São elementos permanentes. As harmonizações, os arranjos e as interpretações se modificam (conforme exige o mercado cultural). A canção: libertou-se da ingenuidade das músicas folclóricas e das modinhas e incorporou as influências da moda, o progresso tecnológico, os acontecimentos sócio-culturais. A canção se abriu aos fluxos da época = canção popular. Canção: relação de comunicação entre o locutor(cantor) e o ouvinte. Se há compatibilidade entre o texto e a melodia, acontece a persuasão da canção. O ouvinte se sente tomado física e psiquicamente pela canção = relação intensa, não pode deixar de ouvi-la. Pode-se pensar: linguagem=texto e melodia=canção=comunicação=processo narrativo Melodias entoativas: (ênfase melódica) Tipos de ênfase: Ênfase entoativa: Enfatiza-se a melodia e a duração das vogais (p.7). Também se aproximam da linguagem coloquial mas a diferença se dá por conta de que há, neste tipo de canção, ênfase nas elevações e descendências nos finais de frases. A raiz estruturante aqui é a entoativa. Ênfase figurativa: Enfatiza-se a semelhança entre a situação da fala e do canto. Semelhança narrativa, o cantor parece contar um fato concreto que se passa na vida, naquele momento. Os acentos recaem sobre as consoantes da letra.

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Page 1: A Competencia Da Cancao

A COMPETÊNCIA DA CANÇÃO: ÊNFASE E CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO

TATIT, Luiz. A canção: eficácia e encanto. 2 ed. São Paulo: Atual, 1987.

A raiz entoativa (núcleo de estruturação) da canção popular e da fala cotidiana é a mesma: melodia e verso. Melodia e versos possibilitam que a canção alce êxito comunicativo. São elementos permanentes. As harmonizações, os arranjos e as interpretações se modificam (conforme exige o mercado cultural).A canção: libertou-se da ingenuidade das músicas folclóricas e das modinhas e incorporou as influências da moda, o progresso tecnológico, os acontecimentos sócio-culturais. A canção se abriu aos fluxos da época = canção popular.Canção: relação de comunicação entre o locutor(cantor) e o ouvinte.Se há compatibilidade entre o texto e a melodia, acontece a persuasão da canção. O ouvinte se sente tomado física e psiquicamente pela canção = relação intensa, não pode deixar de ouvi-la.Pode-se pensar: linguagem=texto e melodia=canção=comunicação=processo narrativoMelodias entoativas: (ênfase melódica)

Tipos de ênfase:

Ênfase entoativa: Enfatiza-se a melodia e a duração das vogais (p.7). Também se aproximam da linguagem coloquial mas a diferença se dá por conta de que há, neste tipo de canção, ênfase nas elevações e descendências nos finais de frases. A raiz estruturante aqui é a entoativa.

Ênfase figurativa: Enfatiza-se a semelhança entre a situação da fala e do canto. Semelhança narrativa, o cantor parece contar um fato concreto que se passa na vida, naquele momento. Os acentos recaem sobre as consoantes da letra.

Ênfase rítmica: Enfatiza-se o ritmo das canções, o estilo. Importa mais comunicar o pulso rítmico do que a mensagem poética da canção.

ordenação melódica da canção: se dá por reincidência de intervalos e de motivos melódicos que garantem ao ouvinte uma memória do que já soou e a antecipação do que está para soar = processo de significação melódica. -As pessoas atribuem sentido e significado às canções (e por isto se concentram e se interessam por elas) por que estas lhes soam familiares por algum motivo: possuem características conhecidas do repertório cultural, apresentam estrutura melódica capaz de promover a antecipação, retratam cenas, na letra, que reproduzem algum elemento subjetivo ou objetivo com o qual se identificam (CRUZ, C., e CUNHA, R. Música na vida cotidiana, 2009. Em submissão). Toda a canção apresenta uma característica, o que varia é a intensidade dessa característica (esta declaração deixa claro que nem todas as canções pertencem de forma pura a uma ou outra classificação, porém, todas elas apresentam uma prioridade comunicativa que a

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caracterizam com mais intensidade em uma ou outra classe, conforme indica o autor a seguir:)

Persuasão Figurativa ou Referenciação: (ênfase figurativa) “Quem ouve uma canção ouve alguém dizendo alguma coisa de certa maneira” (p. 6).A ênfase figurativa acontece quando há semelhança na articulação, entoação e estruturação do texto da canção e a articulação, entoação e estruturação da fala (estrutura gramatical e maneira de pronunciar as frases). Ou seja, a canção reproduz com muita semelhança situações de conversa, de diálogos. Este tipo de canção descreve fatos e cenas do dia a dia e o ouvinte percebe que aquilo que é narrado na música acontece simultaneamente à sua audição, no aqui-agora. O cantor parece se colocar em situação de conversa com o ouvinte e conta para ele o que se passa ao seu redor. Ex: Saudosa MalocaAqui a canção apresenta:

- uma AÇÂO SIMULADA que lhe dá o estatuto de popular por se reconhecer nela situações cotidianas de conversa.

- SINTOMAS da fala, inflexões entoativas iguais à da fala.Persuasão Passional: (ênfase nos estados psíquicos) O cantor insere no texto, no discurso seus estados psíquicos e o desenvolvimento narrativo de modalização. A modalização se dá por conta dos prolongamentos de vogais, dos movimentos ascendentes e descendentes da linha melódica que resolvem ou sustentam as tensões. (permanência numa região melódica, notas conjuntas, sustenta ou aumenta a tensão; movimento ascendente da frase melódica aumenta a tensão; movimento descendente da melodia resolve a tensão). Esta construção comunica estados subjetivos que despertam a solidariedade ou identificação do ouvinte, com a narrativa do cantor. = convencimento passional

Centro de tensão emocional da canção = estado juntivo qualquer = convencimento passional= identificação com os sentimentos narrados (estado de junção)Em geral estas canções narram estados contraditórios de junção e disjunção, um personagem ou fato procura a aproximação e outro o afastamento. Ex: CarinhosoVariações: Junção desencadeadora de emoções positivas: Foi um rio que passou em minha vida.Disjunção: reequilíbrio pela disjunção, pela tensão. A procura por prolongar o estado conjuntivo, embora narre um estado disjuntivo. Ex: Eu te amo (C. Buarque).

Modalização Melódica: Os sintomas de tensão do texto (junção e disjunção), aparecem na melodia em contornos de ascedência, permanência e tonemas (as notas de fim de frase). A descendência é considerada distensão melódica. Anatomicamente as cordas vocais se distendem no grave. Esta situação dá uma sensação de repouso, de finalização (traço encontrado em todas as culturas já estudadas).Recursos do cantor: acentuar a descendência melódica = conclusão, diminuição de tensão.Elevação discreta e permanência no som = tensão incerta, hesitação, imprecisão.Continuidade do som = mantém tensão e as ascendências chamam a atenção, interrogam e mantém a tensão.

Persuasão Rítmica: (ênfase no rítmo). Sincronia entre pulsação corporal (órgãos internos e movimentos externalizados pelo corpo), ritmo e movimento psíquico. Geralmente

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provocado por canções de ritmo marcado com as marchinhas carnavalescas, frevos, marchas.

Persuasão decantatória: (ênfase no tema melódico ou textual). Reiteração temática com independência da fala. O que importa é a melodia em si (temas cantados em vocalizações). Os gêneros musicais podem ser enfatizados aqui como também figuras (personagens) da letra.