cancao que ficou no meu coracao

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Canção que ficou no meu coração. O negócio é peso! Uma tempestade que passou em minha vida. Prosopopéia em quatro atos. Version 2.0 O negócio é peso! 1

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Page 1: Cancao Que Ficou No Meu Coracao

Canção que ficou no meu coração.

O negócio é peso!

Uma tempestade que passou em minha vida.

Prosopopéia em quatro atos.

Version 2.0

O negócio é peso! 1

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Parabéns aos que já se associaram, espero que desta vez a coisa vá para frente... Beijinhos a todos, Alexa...

(Email da Alexandar Freire ao iniciar nosso Yahoo Groups, onde tudo re-começou).

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Introdução.

Aí estão. Memórias, lembranças do nosso tempo de CEFET. Lembranças de quatro anos estudando, conversando, brincando, zoando juntos. Para muitos, uma vida. Uma vida boa, um pedaço da vida que não queremos nos esquecer, muito pelo contrário, fazemos questão de lembrar e falar e contar e sentir. Afinal, são muitas emoções, e estão dentro da gente. Uso o plural porque creio que realmente todos viveram essas emoções, uns mais, outros menos, mas, elas estavam ali, disponíveis para quem procurasse vivê-las.

Desejei registrá-las não como análise ou ponto de vista, mas como crônicas mesmo, fatos que realmente aconteceram. Aliás, quero deixar claro isso: Tudo é fato. Tudo realmente aconteceu. É claro que a liberdade literária e a licença poética me permitiram enfeitar, florear, inserir alguns ornamentos que certamente não atrapalharão a compreensão destes fatos, servem apenas como pequenos realces, retoques. Brilhos. Anos de CEFET me ensinaram a enfeitar o que é sério. Esses fatos são aqueles que vivi, presenciei ou que, de uma maneira ou de outra, tive acesso e que, principalmente, ainda lembro. Sei que muitas coisas aconteceram e que não estão aqui, pelo menos por enquanto. Neste caso, conte-me seus sonhos e na próxima edição eles também estarão aqui.

Quero pedir desculpas pelas brincadeiras, citações de cunho pessoal e outras cositas mas que porventura possam deixar alguém chateado. Também por quatro anos em que alguns foram vítimas de nossas brincadeiras, às vezes exageradas.

A todos vocês, um grande abraço. Espero que vocês gostem e se divirtam muito. Como sempre foi.

Guto Howe.Presidente da Irmandade do Mal.Inverno de 2007

“De mim, ninguém tira o menino que eu sou.”

(F. Venturini)

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Agradecimentos

Agradeço a minha amada esposa, Priscila Reis, que me ama e me atura, com todos os meus defeitos de fábrica e aqueles que esse pessoal da AEL me ensinou. Mulher virtuosa, seu valor supera ao de muitos rubis... amore mio, te amo!

A Alexandar, por ter reiniciado tudo lá no Yahoo e no Orkut;

Ao Luiz Felipe, por ter me emprestado, mesmo sem autorização, um personagem de seu conto “O Mordomo do Paço”;

A Peter Frampton and his band e Eddie Van Hallen, cujos licks jamais esqueci;

Ao Rafael, Kevin, Moreira, Mano, Jaime, Marcio, Álvaro, Sandrinho, Carlos “Palmeira”, por terem me emprestado os discos e os livros que me ajudaram a crescer;

A Gabriel “Gabo” Garcia Marques, Cecília Meirelles e Mário Quintana, por terem me emprestado alguns apontamentos de história sobrenatural;

Àqueles não mencionados, mas igualmente amados, que também fizeram parte de um momento incrível para todos;

For those about you rock, I salute you;

A todo o pessoal...

Thank you... good night!

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Dedicatória

A meus filhos, Giulia, Júnior e Patrick,

A vossos filhos,

descendência de excelência...

na esperança de que um mundo melhor

eles possam receber.

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Citações

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“Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia...”

(Lulu Santos)

“mas a vida é real e de viés,

vê só que cilada o amorme armou...”.

(Caetano Veloso)

Todos esses que aí estãoAtravancando meu caminhoEles passarãoEu passarinho(Mario Quintana)

“... coração, desejo e sina.Tudo mais pura rotina

Jazz...”.(Djavan)

“Se lembra quando era só brincadeira, fingir ser soldado a tarde inteira”. (R. Russo)

“Ensina-nos, oh Senhor, a contar os nossos dias de tal maneira que nosso coração alcance sabedoria” (Sl.90:12).

“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã...”.(R.Russo)

“O amor me pegou,me pegou pra valer...”. (João Bosco)

“Amigo é coisa pra se guardar no lado esquerdodo peito”. (M. Nascimento)

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“Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre...”.(R.Russo)“Há um menino, há um moleque

morando sempre no meu coração...” (M. nascimento)

“Há um passado no meu presente, um sol bem quente lá no meu quintal...”(M.Nascimento)“Oh menina, vai ver nesse

almanaque como é que isso tudo começou”.(C. Buarque)

“O que existe é homem humano, travessia”.(G.Rosa)

“Porque se chamavam homens, também se chamavam sonhos, e

sonhos não envelhecem...”(F.Venturini)

“... rever amigos, conduzir boas novas, visitar a Grécia no futuro”.(Djavan)

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Canção que ficou no meu coração.O negócio é peso.

Uma tempestade que passou em minha vida.

Prosopopéia em quatro atos.

1 – Ajustando os controles para o coração do sol. – Sons de muitas guitarras. (Andante Calliente motto)Frase antológica: O flamengo está em todas as finais.

(Andante Grevissimo)

No princípio não sabíamos conjugar o verbo. Então, resolvemos nos encontrar ora no

pátio, ora embaixo do bloco A. Naquele tempo, início de amizades, os assuntos eram inócuos. Lembro de certa vez conversarmos sobre a queda da bolsa de Nova York. Todos deram opiniões. Era nossa marca. Estávamos todos errados. Afinal, o mundo estava ficando mais rico, nós, nem tanto. Massacrados por uma greve massacrante, não víamos a hora de deixarmos nosso lazer e adentrarmos os portões do CEFET para a sala de aula. Demorou, mas vencemos. Essa seria uma das nossas vitórias. Ou não. Encontrei o Álvaro no corredor do pavilhão EL, lendo a listagem. Ele ficou com medo quando perguntei se era da minha turma; fomos até o auditório e nos juntamos aos outros. Era o início da festa. O Álvaro jamais esqueceu este dia (embora negue até a morte) quando ele, garoto Zona Sul, conheceu um morador do Complexo do Alemão; naquela época não era tão complexo assim... nada em verdade era complexo.

(Allegro molto vivace)Os grupos não demoraram a se formar. Células gerando corpos. Moléculas egocêntricas. Acho que a primeira ‘panela’ que surgiu foi a VC – Vândalos do CEFET – dirigida pelo Marcio, ainda rebelde com a EPCAR, usando bermuda da Lightning Bolt. A VC teve vida brevíssima, mais que instantânea. (Que foi???? Partiu...sem deixar!). Alguns grupos se formaram pela polarização do ônibus. Calma, faço a exegese da citação anterior. Como muitos pegavam o mesmo ônibus, e/ou o mesmo trem, surgiu entre esses laços de amizade. Esses laços, logicamente, foram expandindo-se em raios maiores e menos exigentes ou menos radicais. Era possível a Tatiana sentar na última fila entre mim e o Rafael sem correr risco de vida, embora quiséssemos realmente matá-la. Os laços foram tornando-se maiores, mais entrelaçados, com várias voltas no mesmo nó, mais heterogêneos e praticamente sem sentido. O Mano era do grupo dos irmãos – Ele e o Luiz, seu irmão; mas o Luiz era da C-EL, então era um laço com um elástico; Também era da Irmandade do Mal, nesse sentido adorava Rush e Pink Floyd; também era da Comel, nesse sentido tomava shock nos motores da WEG; A Comel estendeu seus braços entorno do Luiz, irmão do Marco (Alcançou toda a EL) e do Alcemar, que só veio no terceiro ano, nesse sentido, então, só

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vou comentar no terceiro ato. A mongolândia estava muito bem representada. Sem nomes, por favor. As panelas femininas eram as mais radicais: Gabriela e Andréia; Tatiana e Ana Patrícia; Débora, Alexandar, Eliane ... radicalismo puro. Aquele menininho franzino que morava em Inhaúma era do grupo dos Incríveis: Incrível ele sobreviver naquela selva. Tinha o Chips, o Cheiroso (Pasmem, um ano sem tomar banho após a educação física); O Bobby Brown, vulgo Rochinha (Que para registro e início de conversa tirou dez em todas as provas até o quarto ano só para provar que realmente precisava de um abraço), o Antonio Viegas – que era Viegas - o Márdene, o Carlos Henrique Valqueire-Pentágono, o Kevin, que entrou depois porque queria crescer e aparecer e isso só seria possível convivendo com a gente; o Jaime também veio depois, queria saber como era o mundo fora da aldeia global. Todos esses devidamente entrelaçados num ramo lindo de Miosótis. Lembram do ‘Violão’ na casa do Carlos. Uma das coisas mais espetaculares daquele início de ano. Horas sem fim de tentativas de afinar um violão, duas músicas tocadas pelo Jaime Barramares e o resto do dia de zoação pura. Futebol, bate-papo. Gente, quando eu disse “lembram” estava me referindo a parte da turma que por vezes estava lá como Kevin, Rafael, Marcio... Kevin, Rafael, Marcio... Kevin, Rafael, Marcio... brincadeirinha, chegamos a levar quinze pessoas para a casa dele, e ainda teve lanche! Num grande momento Hendrixiano, Marcio Saracuza pegou do violão e fez algo transcendental, um fraseado digno de Steve Vai... olhamos estupefactos! Falamos em coro “Repete isso, cara”. Ele respondeu: “Impossível, não sei o que fiz”. Lampejos de genialidade não se repetem a nosso bel-prazer. AEL era vida. Rolava muita vida na casa do Carlos, pena ele não ter perseverado na travessia do canal do Panamá, sucumbindo ao desejo infame de E O A.

(la vita revelatta)Um belo dia bonito, à beira de um precipício, alguém achou umas anotações, que pertenciam a uma menina (Ou meninas?) da turma. As responsáveis diretas eram Cristiane Haidamus e Claudia “Calcinha”. Essas anotações estabeleciam um “Ranking de beleza dos meninos” da turma. Que coisa! (Que revelação bombástica, elas achavam que isto era segredo até hoje. Até hoje). Mas, nada passava impassível pelo crivo sistemático da Irmandade. Um ranking que deixaria a auto-estima de qualquer um lançada no mais profundo abismo negro. Cara, o Michaello foi considerado o mais bonito, ‘beleza plástica’ como constava nas anotações. Aquilo nos revoltou... um pouco. Nos reunimos primeiramente na casa do Jaime e fizemos uma votação que nos redimisse e estabelecemos o Ranking de beleza feminina. Coitadas! Algumas se safaram porque tinha uns bobos, quero dizer, apaixonados, que votaram com o coração e não como homens. Mas, tudo bem. Depois, nos reunimos na casa do Carlos e rebaixamos todas as notas. Nos redimimos de novo, e de novo. E depois fomos jogar bola. AEL era vida. Assim, todos seguiram felizes para sempre e juntos. Eu tenho o dom de mandar o vídeo de volta ao início.

Já havia sons de Moreira no ar, mas a gente não sabia de onde vinha...

(Allegro)Tudo era descoberta naquela época. Descobrir se teríamos aula ou não era uma das maiores, cheguei o contratar Jacques Costeau para mergulhar nas profundezas do submundo cefetiano e descobrir, talvez, uma enorme anêmona, ou algum outro animal que, usando

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seus tentáculos, estivesse impedindo que avançássemos sala de aula adiante. Mas, foi em vão. Jacques Costeau nunca veio, o Calypso viria somente no futuro, em 2006. E nós prosseguíamos na tentativa de aprender alguma coisa. Bem, logo no começo aprendi a letra de “Stairway to Heaven”, fruto de uma aula de matemática que, no primeiro ano do segundo grau, nos ensinava a contar até 10, somar, subtrair, colunas, linhas, etc. Acho que muita gente aprendeu muita coisa naquele dias iniciais. O Barata aprendeu que futebol era coisa de gente grande, muito grande; era mister que ele ficasse barrado em 99,7% das partidas na educação física. Ele tentava jogar futebol na educação física. Gente, o Dedé limpinho e o Alessandro devem lembrar das alegrias que tínhamos esperando horas e horas para poder jogar bola (Vida de calouro) e ainda depois ter no mesmo time o Barata e o Luiz Felipe, que ainda era o Luiz Felipe. Vocação para mártires. Enquanto isso o Rafael corria para, ora sentar ao lado da Christiane Haidamus, ora faltar à aula de atletismo... E o Nome da Rosa? Vocês descobriram? Bem, eu não fui ao cinema naquele dia saber qual era, afinal, o nome da Rosa. Mas, ninguém descobriu também. Aqueles que foram somente lembravam da Ana Paula, que ela estava assim, estava assado.... que estava de Rosa. Acho que ela nunca recebeu tantos elogios. Mais legal ainda: Ela só está sabendo agora, enquanto lê isso. Não é lindo!

Quero abrir um parêntesis para dizer que alguns se abstiveram de descobrir qualquer coisa, como se dizia, continuaram bitolados.

(Motto vivace aldente)Naquele ano, passei novamente para a Epcar e novamente fiquei reprovado – Graças a Deus – no exame médico. Lembro de o Rafael e a Tatiana comentarem comigo sobre o que eu iria fazer lá, que eles não entendiam, até estavam tristes – In God we trust – porque... não tinha nada haver comigo! Sabe, amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito. El Shammah. (Isso mostra que eu era o mais imaturo e infantil da turma). Descobri que a Epcar não era para mim, graças a Deus; que o violão seria meu companheiro inseparável. Que o Rafael, cujo nome significa Deus Cura, era irmão, por parte de ausência-paterno-nominal, do Bobby Brown, na época, ainda Rochinha. Descobri, mais tarde, que ausência paterna é um principado sobre a nação brasileira que enlaçava os irmãos Bobby e Rafael no ateísmo, um ateu-graças-a-Deus que me ensinou a ler (Cara, eu te adoro, mané!), me fazendo gastar fortunas com livros. O Álvaro descobriu, ou constatou, que o flamengo estava em todas as finais, que ele tinha pouco ou nenhum talento para o piano, que uma unha pode mudar todo o curso de uma vida. A Alexandar descobriu, somente no final do ano, que nós – Eu, Rafael, Kevin, Mano – não éramos bicho papão, que não precisava ter medo da gente. E nós descobrimos uma menina que não se descobria na Alexandar, um ar de mistério a ser revelado e venerado. O Manfredo, com sua piscada sensual, tentava descobrir a Alexandar, the Great. Não descobrimos o Lancaster durante todo aquele ano. A Gabriela descobriu a velocidade das palavras. Descobrimos uma Tatiana Velocista na educação física, mas, pra quê correr tanto, estaria ela fugindo de alguém? Estávamos descobrindo que um monte de gente com culturas, crenças e times diferentes podia viver em paz, mesmo na Faixa de Gaza. Estávamos encontrando a AEL. O mundo ainda iria nos descobrir.

Fora da sala de aula, descobríamos o Centro da Cidade. Descobrimos também Vila Valqueire, a Casa do Carlos, o bairro de Fátima, o Flamengo do Álvaro, o Barramares do

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Jaime, o Jardim Botânico da Ana, a Copacabana da Tatiana, Bangu do Michaello, o Méier do Marcio. Viramos sócios dos sebos de livros e discos (LP, lembram?). Comprávamos toda semana. Descobrimos com muita alegria a Floresta da Tijuca, que subir lá em dia de chuva era um componente lúdico e rural imprescindível ao nosso desenvolvimento intelectual e emocional e esses momentos se tornariam fundamentais na nossa vida. Aliás, tornou-se parte integrante de nossa vida as caminhadas na Floresta da Tijuca, muitas delas na chuva (Éramos realmente normais?). Nessas caminhadas, descobrimos que o Mano Said Ozir tinha um passado Escoteiro e que o Luiz era irmão do Mano. Descobrimos que perder tempo ouvindo violino não era tão mal assim. E o 435? É, descobrir o 435 significou Laranjeiras City, o Parque Guinle e a casa do Rafael, hambúrgueres (Esse é o Mcplural) afogados em óleo incandescente, acompanhados de coca-cola, isso tudo como entrada de deliciosas panquecas feitas pela mãe do Rafael. Até o Túlio estava lá, agora ele está mergulhando em alguma praia do Marrocos sem as baquetas. Conhecemos a Cecília Meirelles, o teatro municipal que nos aguardasse. Muitas descobertas foram feitas creio que por todos. Elas não dariam para serem registradas aqui e acho que não caberiam nem em todos os livros do mundo. Estas, porém, foram escritas para que creiam... e tenham vida.

(state piu vivace)Certo, dia nos encontramos no pátio, fizemos uma grande aglomeração perto de uma árvore enorme que estava seca, pois foi atingida por um raio. Uma manhã cinzenta e fria. Aqueles que chegavam se ajuntavam na roda dos escarnecedores. A conversa foi aumentando de tom, confesso que observava meio de longe, extasiado com a complexidade do assunto. Houve uma breve exaltação do Álvaro Bittencourt Carvalheira em meio à discussão; prosseguimos para a aula de... creio que era matemática. Durante a aula, as conversas prosseguiram, houve novas exaltações, tentativas de explicações, etc. Lembro que o Mano estava sentado na primeira fila, de costas para o quadro! Fiquei quieto no fim da sala conversando brevidades com o Jaime. Ao acabar a aula descemos pela escada que ficava no fim do bloco. Lá embaixo, indo para a Educação Física, nos achegamos mais, e praticamente todos compartilhavam suas idéias sobre o assunto. Os rumores foram aumentando gradativamente, vozes efusivas jorravam como vulcões em erupção. Era o ano de 1987, a bolsa de Nova Iorque tinha tido uma queda comparável à de 1929. Era o novo Crash, mas não tinha gosto de Crush. Então, colocamos a culpa em todo mundo e em todo o Mundo: Vaticinamos o fim dos Estados Unidos, menos o Jaime e o Michaello; o Álvaro declarou a vitória do PDT e de Leonel, profetizamos uma vida pior para todos; culpamos as primas de Sapucaia; enterramos de vez o Socialismo e o Comunismo (É, fomos nós mesmos!); inventamos um Capitalismo não-monetário; derrubamos o muro de Berlim e abrimos os Portões de Brandenburgo (Principalmente o Quarto portão); e promovemos o Japão de potência econômica a potência mundial, um erro lamentável para um país que nem produz alimento suficiente para a própria subsistência. Esta só podia ser a rima do antigo marinheiro, de um homem que vivia no mar, velejando entre ondas enormes e albatrozes famintos. Só pude concluir que após minhas reflexões versíferas e concidadãs que descompatibilizam com a jactância do dispositivo pós-lusístico, a ababelação abacista e abacial esquitática, que fofona a reflexão fonocâmptica, ignocentria a significação lanceolada do Improbus Littigator, remoqueando o suaveloquentíssimo subdiácono vilegiatuarista, impaludando as miristicáceas oxaliedáceas do ovariectônico, perfectilizando a peremptoriedade surrealista dos tabanídeos. Eu creio que era isso!

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(di versacci)Aula de química com o Blanck era show. Vanádio 2994, Kriptonio 3680. Cara, a Renata era um Estrôncio – Pasmem! Na verdade, todas as aulas eram show. A aula de desenho da minha metade da turma era um terror, aquele professor era sinistro. A aula da tia Geddy Lee, da tia de história, não lembro quase nenhuma. As aulas de educação física eram as mais esperadas, pelo menos para aqueles que não teriam aula; um paradoxo contínuo na primeira quadrissemana até o quarto mês. O Futebol era sinistro, já comentado. A natação, nada.Vôlei, bloqueado. Melhor ainda eram as reuniões, aglomerações, seja lá o que for (ou o que era!) aquilo que fazíamos nas escadarias do prédio da engenharia. Começava a se formar uma turma coesa. Cara, o Marcio ficou com ciúmes quando viu aquela foto que está no Yahoo, e ele nem estava com a Glauce naquele tempo. Sempre Saracuza. Somente ele para fazer continência na aula de desenho enquanto tocava o hino nacional. Bem, levou um baita esporro. Mas, isso era só o começo da vida estudantil-filosófica-matemática-boleana dele.

(Mallis originatus)A primeira vez que surgiu o nome da Irmandade foi numa noite lindíssima, sob o signo da Cidade Maravilhosa. Estávamos na sala Cecília Meirelles assistindo deslumbrados a um duo de piano e violoncello. Lembro de muitas notas daquela noite, meu Deus! Jamais poderíamos prever o que sete notas e alguns cromatismos fariam em nossas vidas. Aquele arco percorrendo as cordas do violoncello parecia-nos guitarras entrando em nossos ouvidos...era lindo! Mas, tinha mais vida. A pianista nos levava a êxtases seguidos com seus arpejos, variações rítmicas, um mundo sem fim de descoberta musical. Ninguém piscava sequer, não sabíamos que poderia existir tanta beleza, tamanha genialidade sobre sete notas... tamanha carga de emoção percorrendo nossas vidas, vinda de músicas de séculos atrás. Cogitei pular da galeria porque naquele momento realmente cria que poderia voar. Rafael me segurou. No solo, o violoncelista apresentou uma Cadência de Villa Lobos. O Mano chorou, segundos depois voltou ao normal. Foi nessa hora que um vento veemente invadiu a Sala e nos deixou completamente bêbados de alegria. Mas, o vento foi muito rápido, segundos. Seu efeito, porém, marcou nossas vidas para sempre. Nos aplausos, após um bis indescritível, o Rafael olhou para nós, extasiado in loco e, depois, olhando fixamente para mim com um brilho impar nos olhos, disse: “Cara, ainda bem que a Irmandade está aqui”. Era o início. Lá fora, sob o céu estrelado da Cidade e as luzes da Lapa, com uma alegria efusiva em nossos rostos, fizemos uma Aliança – et verum pactus - e demos início formalmente a Irmandade do MAL. (MAL leia-se Melhores Alunos). A primeira Assembléia Ordinária foi realizada na casa do Jaime, quando foram definidas a Diretoria Perpétua, as atribuições ad infinitum e os arranjos modais. Celebramos a criação da Irmandade nas areias da praia da Barra...olhando o pôr-do-sol. A tarde findou, veio a noite. Quando passou uma estrela cadente, ninguém fez nenhum pedido, mas, ficamos mais alegres. Continuamos ali, olhando as estrelas, cantando. Festejando a alegria, a amizade, a vida. Como num romance, um deus risonho ali passou...

(da capo)No primeiro sorteio do amigo oculto de fim de ano o Jaime me tirou, mas não valeu. No segundo ele me tirou de novo e me contou 18 milissegundos depois de tirar o papelzinho.

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Invadimos a casa do Cheiroso. O Alessandro ficou de bico porque a Debbie não quis dançar com ele. Foi isso mesmo? Rejeição é flórida.

2 – O afogado mais bonito do mundo & outros contos – Solstícios de inverno. – Pianos, sax, vozes e algum violino. (Expressivo ma non tantto)Frase antológica: Carl Palmer, all right!

(Scherzzo)

Diz a lenda que um afogado chegou em uma praia. Ele media 1.95m de altura. Sua

beleza era tanta que reuniu em torno dele todos os moradores daquele lugar. Era o afogado mais bonito do mundo. Deslumbrados com a beleza do afogado, todos, então se arvoraram parentes do afogado, de maneira que todos os habitantes do lugar tornaram-se parentes, pelo parentesco comum com afogado. Reuniram-se como uma grande família para lhe prestar uma última homenagem.

(tocatta nostra)O ano começou inócuo. Um dia sem sol, estranho para um dia de verão na cidade maravilhosa. AEL era vida. Começamos, meio que sem querer, a escrever a Antologia Literária, um marco na literatura universal. Acontecimentos foram surgindo. Na primeira prova de física do Bergo eu me ferrei, tirei a nota mais baixa e, se não me engano, ele até fez uma piadinha! Bem, o Álvaro duvidou da minha recuperação, disse que eu teria que tirar 8, 8 e 6,5 nas próximas notas. Não sei se o Kevin lembra das minhas palavras, mas ele estava sentado próximo quando o Álvaro me disse isso. Modestamente, eu disse que tiraria dez, dez... e dez. Nunca se deve duvidar de um orgulhoso ferido. Quem era Victor Bergo para insultar o presidente da Irmandade do Mal, aquele professor que levou 2 anos tentando nos ensinar Movimento Circular Retilíneo? Lembro de estarmos no Centro da Cidade, vindo da sala Cecília Meirelles, isso no final do ano, um ano clássico. Peguei as três provas e mostrei para o Carvalheira. Ele, olhando o céu, disse: “Cara, muito lindo!”. É isso ai. AEL era vida. Jamais, jamais toque no ungido.

(La ragazza e la luna)No segundo tempo de aula de um dia qualquer da semana, o barco que resgatou a Lílian Pazos Conde das águas sujas de Manaus aportou em nossa sala. Ela desembarcou, entrou na sala acompanhada pelo Rafael e se tornou a primeira mulher da Irmandade do Mal. Não da Irmandade, mas participante da Irmandade, tá? Aliás, o Rafael tornou-se membro honorário da turma. Repetente, andava mais com a gente que com a própria turma. Aliás, sua turma éramos nós, Neo-Clássicos de carteirinha. E gente é outra alegria diferente das estrelas.

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Caetaneou de vez, filosofou como jamais havia feito, mas, aprendeu que existia uma diferença sutil entre o pensamento literário e o pensar literário e essa diferença se chamava Marly Fortunato. Entendeu a complexidade de Stephen Bloom, descobriu sua idade e decorou uma frase inteira do livro de James Joyce intitulado “Retrato do artista enquanto dorme”. A frase era assim: Porqueboro oboro proprietarioboro nosboro querboro colocarboro paraboro foraboro daboro casaboro. Trajando seu casaco azul da K&K, subiu a ladeira do Parque Guinle e bradou em alta voz: “Carl Palmer, all right!”. Nunca, jamais, em tempo algum, entendemos muito bem isso, mas quem se importava. Assumiu seu lado filosófico contemporâneo, mesclando leituras complexas de James Joyce, Homero e Dante Alighieri, com a simplicidade divina da música de Bach e Mozart e a atonalidade de Schomberg. Desde então, o negócio passou a ser Peso. Aliás, como paradoxo que não quer calar, falta-nos explicar por que seu herói compôs “Jesus alegria dos homens”. Nessa época, passou a ser chamado de Tôca Maluca, devido ao capuz que usava em seu casaco. Bem, mas essa não é a verdade. Seu apelido surgiu mesmo de uma longa conversa com um ícone da guitarra baiana – Robertinho do Recife (Do Recife, ou da Bahia não importa...). Após longas elocubrações, Robertinho, que era pop-star numa banda... pop, compôs uma canção que dizia mais ou menos assim: “Eu não quero tôca em você, oh baby. E fazer seu jogo vai me deixar louco...”. Isso que dá abrir o coração com qualquer um. Rafael, um eterno apaixonado pela Smurfetti. Eu confesso que achei lamentável o ocorrido. Após essa música, deu-se o ocaso da carreira de Robertinho do Recife, profetizada por Toca Maluca, vulgo Rafael Marcelo Viegas. Nas atribuições de Vice-Presidente da Irmandade do Mal, pediu Licença sem vencimentos por prazo indeterminado, para tratar de assuntos particulares. Triste, concedi. Retornou ao cargo no dia seguinte, afirmando que seus assuntos particulares estavam resolvidos, agradecendo a apreciação que a IPI – Igreja Pinkfloydiana Independente – um dos braços da Irmandade, deu ao caso. Et verum pactus. Alianças são assim forjadas...

(Da capo ad infinitum rerum)A Lílian era uma espécie de musa-inspiradora-freira, alguém em que além dos atributos naturais havia um quê de mistério que seduzia, mas, era como a rosa mais alta no mais alto galho, inacessível. Foi pioneira na participação feminina nas nossas caminhadas na Floresta da Tijuca. Na verdade era a X-Men Tempestade disfarçada de mortal. Nesse tempo, Luiz Felipe assumiu seu lado Lancaster, após uma série sem fim de mergulhos nas águas Pinkfloydianas, em noites e dias enluarados, demonstrando de vez todo seu talento literário, criativo e imaginativo, fazendo-nos às vezes pensar se tudo aquilo era realmente necessário, se não haveria outra maneira de sermos felizes, se realmente queríamos ter mais tempo ou bastava um tempo vago, ou uma vaga no tempo, ou um vago tempo, ou talvez uma vaca no templo, uma vaca no Tempra, uma cavaca no tengo, com vaca no tango, um com a vaca no trem, a vaca não tem go, casaca não tem gol. A nossa mente começou a dar um nó!!! Lancaster regia as cordas na Irmandade, improvisava no baixo, tamborins no vestiário da educação física e dava shows de versatilidade nas letras, mas, era incapaz de sobreviver ao amor a ponto de eu ter de resgatá-lo várias vezes do fundo do poço e trazê-lo novamente à vida. Um poço cujas águas não eram limpas. Andava perdido entre as ondas da Hannah, as areias de uma outra menina, e aquele som horrível do The Cure (Nesse ponto, sinceramente, jamais o perdoamos). Dividia seu amor para não ser dividido pelo mesmo. Uma matemática incrível que somente ele era capaz de executar: Lois Lancaster divido por

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várias mulheres = AMOR. Mas, há sempre um foco principal em nossa vida, sempre um alvo, um mistério que dedicamos nossas vidas a desvendar e conquistar; seu tempo já estava próximo, ele sentia que restava pouco tempo de vida. Nos tempos vagos, odiava a leitura do Corão, esperava ansiosamente e silenciosamente o momento certo em que sua maioridade lhe daria a liberdade. Certa vez nos disse exatamente isso: “Somente quando eu for maior poderei deixar de ler o Corão”. Aquilo entrou como espada afiada em nossas almas. Despedi-me do Rafael, fui para casa e compus uma canção, mas hoje só me vem à memória parte dela que diz:

Vejo o coração no centro de escuras neblinas ficar marromOuço o ‘sprinklash’ da estrela batendo na água

E o tudo é verdeE está escorrendo oculto por entre as árvores

Rindo como é possível pelo sol infinitoE fazendo para o mar.

Mother, do you think they drop the bomb?

(andante la calabria)Aquele ano foi também diferente. Tivemos férias normais. Fez muito frio, tínhamos umas matérias esquisitas, algumas pessoas haviam saído da turma. Mergulhamos direto no Bairro de Fátima e em Laranjeiras, às vezes mergulhávamos mesmo na Barra da Tijuca, no Barramares do Jaime. Ensaiávamos sempre às quartas na casa do Jaime, uma vã tentativa de fazer música. Eramos os Cavaleiros da Macedônia, eu, Jaime e Álvaro. Até hoje não descobri onde fica a Ma-ce-dô-ni-a. Certa vez, com a galera toda da Irmandade, jogamos bola no frio congelante da Sernambetiba. A praia era nossa, o tempo parava por instantes... meninos correndo atrás de uma bola. Depois, meu Deus, que lembrança... sentávamos na beira da praia, olhando o pôr do sol, cantando. Lembra quando a gente chegou um dia a acreditar? Bem, eu lembro...

O ano passava sem nenhum estardalhaço Aélico. As meninas continuavam sua saga de tirar dez em tudo; algumas nem tanto. Acho que o objetivo delas era nos deixar boquiabertos com a performance estudantil. Talvez isso fosse causado por alguma carência paterna, ou algum outro trauma de infância. Elas estavam no topo da Revolução Feminina. Quando olhava pra nós homens, pobres mortais, entendia em parte porque estávamos no topo da cadeia alimentar e nem queríamos sair de lá, nos aventurávamos apenas em sorrir, o nosso objetivo era rir. Sabe aquela descarga de alegria que nos invadia quando o Luiz Felipe se superava? Muitas alegrias estávamos vivendo. Queríamos apenas mais risos por toda parte, em todos os rostos. Só quem tem a vida, pode vida dar. E o ano passava sem nenhum estardalhaço. Bem, exceto pela discussão do Marcio com a tia de eletricidade, aquela discussão pegou fogo. Labaredas pelos corredores do Bloco B. O incrível é que a base mais consistente na argumentação era do Marcio. Incrível porque ele era o aluno, nós sabíamos da capacidade do menino que naquela época já esbanjava suas cônicas hiperbólicas sem nenhuma humildade sobre nós. Não adiantou, venceu a pedagoga, perdeu o conhecimento, a lógica, o pensamento, a sensatez. O Marcio jamais perdoou – talvez hoje já tenha perdoado – a turma e a professora. Mas, como poderíamos defendê-lo diante daquele nível

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de discussão que exponenciava elocubrações? Andou meio bicudo naqueles dias. Mergulhou num ostracismo Sartriano; infelizmente de Sartre e não de Satriani. Elegeu Nietzsche seu amigo inseparável, chorou nos braços da Glauce, bradou em altas vozes seu ateísmo pomposo e debutante, cheio de articulações; bebeu todas e mais cinco; matematizou meio mundo e derivou a outra metade (Ficou fera mesmo!), mas, nunca quis me dizer por que Isaías escreveu que a Terra é redonda. LSD doa a quem doer. Devo confessar, estudei música, mas a capacidade de análise musical desse menino era deslumbrante, me deixava constrangido. Conseguia ver graça em Varese. Bem, não era graça exatamente. Nuances de algo que poderia parecer música (rsrsrsrs). Brincadeira. Peso puro. Parabéns, menino Marcio Henrique Saracuza Alves. Graça é um favor imerecido.

(mezzogiorno capuccino)O Jaime Vinicius de Barros sabia que mais tarde iria embora. Nós também víamos isso em seus olhos. Viu chegar sua hora num dia ensolarado de fim de ano, tipicamente carioca. Fomos à praia aquele dia, jogamos bola. A Irmandade sentou nas areias da praia contemplando o céu, conversando. O barulho das ondas às vezes nos fazia calar e apenas admirar aquele movimento furioso do mar. Alguém comentou algo sobre o pôr-do-sol; cantamos alguma canção em inglês. Jaime se levantou e foi até o mar, mergulhou fundo; voltou numa onda que também trouxe uma mensagem em uma garrafa. Lembro bem, se aproximou chutando levemente a areia, olhou para todos nós – Eu, Álvaro, Rafael, Kevin, Mano. Sussurrou alguma coisa que não entendemos bem; solfejou um pequeno lick de Mark Knopfler. Sua despedida foi como aquelas que jamais se entende, apenas disse: “Amigos, até breve”. Brevidade é um espaço que nunca conseguimos dimensionar. Ficamos ali, quietos, enquanto o víamos desaparecer no horizonte. Tivemos a sensação de que algo iria acontecer, mas, foi apenas uma sensação. Então, ele se foi. Seu destino estava traçado nas organizações globais. Mas, tinha sangue Aélico. Nunca perdeu a majestade. É um grande amigo. Nos levantamos ao mesmo tempo para irmos embora; o céu começou a nublar.

Havia mais sons de Moreira no ar, mas a gente ainda não sabia de onde vinha...

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3 – Aquele sol de primavera que nos aquecia e aquela lua negra que brilhava na noite nos faziam lembrar as esquinas, as sinas, a Terra, o Azul; como se o amor acontecesse feito mistério. – Violão puro! (Piu exageratto)Frase antológica: Porque hoje é sexta-feira.

(Pezzo belíssimo)

O sonho nosso vinha dos lugares mais distantes; o beijo... com melado decorado, cor

de rosa. O Sandrinho, com uma queda muito grande pela voz de Gal Costa. Sandrinho cantava o dia todo a ‘Saudosa Maloca’, na versão Elis Regina. Mas, um belo dia entrou na sala cantando Lô Borges... “à primeira vista, a paixão não tem defesa, tem que ser um grande artista pra querer se segurar”. Notei que estava enredado pelos laços do passarinheiro e que, na verdade, estaria pedindo socorro na AEL. Nas atribuições de Presidente da Irmandade, apertei sua mão e ele, agora mais tranqüilo, foi liberto, era um novo AEL. Meses depois ele retribui me emprestando uma fita k7 - isto mesmo, fita k7 - do 14-BIS... que mudou minha vida....e eu, a vida de muitas mulheres, devo acrescentar! Juntamente com o Sandrinho chegaram o Pastor, Querido, Carlos chiqueirinho, Alcemar, Ferreli e aquele menino que tocava bateria no ar. Vieram a Carlinha e a sua amiga morena também. O Leonardo e o Zé no sax completavam a banda. O Nemias era responsável pelos arranjos vocais e pelas fotos. Gente finíssima e salva. In God we trust. A C-EL foi extinta. A D-EL também. Foi e já não era. Mas, alguns dos seus receberam o presente de andar nas ruas AÉlicas. Eles reclamaram um pouco, é verdade, mas o impacto em suas vidas foi notório. Ouso dizer mais: Sem a passagem deles pela AEL, sem a influência desta sobre aqueles, certamente eles teriam sucumbido submersos em algum mar gelado. Não posso garantir a todos, mas naqueles que se abriram para receber o Novo, houve uma marca indelével em suas almas que ecoa até hoje e jamais se apagará; uma espécie de remissão de pecados, de perdão de dívidas, pois suas vidas eram por demais pequenas e suas almas aprisionados em inóspitos territórios, sem luz, sem cor, sem som, sem nada. Receberam dentro de si a remissão e a vida. AEL era vida.

(Sonata calabreza)Somente nós poderíamos saber as esquinas por que havíamos passado em 2 anos. Começamos o terceiro ano em meio a uma grande fusão. AEL, majoritária e poderosa comprou, assumiu e extingiu a D-EL, e a C-EL, esta última virou noturna. Fomos o laboratório da Globalização. Aqueles que se aventuraram na noite, chamados Criaturas da Noite, não puderam compartilhar do dom da vida, apenas alguns. Neste momento éramos soberanos. Dominávamos todos os aspectos concernentes e esbanjávamos alegria e autoridade deixando os reles calouros esperando horas e horas para jogar futebol, quando jogavam. De fato, não era raro uma quadra ficar somente com a AEL. Domínio. A vingança tarda, mas não falha. Mas, pela nossa bondade – sempre fomos humanos, nossa integridade – sempre fomos humildes, nossa solidariedade – sempre compartilhamos, nossa maviosidade – não sei o que é isso, abríamos o caminho da graça para os calouros e eles podiam receber fagulhas de vida, ângstrons de alegria; brilhavam seus olhos como quem vê a mulher amada. Momento de paz no universo. O infinito encontrava o etéreo. AEL era

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vida. Talvez, eles, os calouros, se contentassem em ser escravos do poder. Não havia muito que almejarem – afinal, apenas calouros - não fosse a clemência vinda de nossa parte, de graça (Isto é Graça, senhoras e senhores, um favor imerecido.), suas vidas passariam. Pior ainda, nós passaríamos por suas vidas e jamais receberiam vida, luz, som, alegria, alguma esperança, conhecimento, revelações e, claro, muita, muita porrada no futebol. Lambada de serpente. Nos unimos e tomamos todos os espaços no futebol da educação física. Naquele ano, não houve a típica troca de modalidade esportiva ao mudar o semestre. Ninguém sabe, mas, a Irmandade articulou isso nos bastidores do CEFET. Revelations. Foram necessários apenas alguns minutos de conversa com os professores-chefes da Educação Física. Sim, claro, houve exaltações de ambas as partes. Mas, como já era sabido, o poder de articulação que emanava da Irmandade fez com que a nossa proposta fosse aprovada. Os professores entenderam, mesmo aqueles que não aceitaram integralmente a idéia. Bem, alianças são forjadas com sangue. Como alguns poucos não estivessem satisfeitos, articularam uma vingança. Maquinaram uma encenação no Campeonato de Futebol. Após um lance extremamente controverso e duvidoso, o time da mecânica empatou. Quero deixar claro minha certeza – tão certo como o ar que eu respiro – que o gol foi roubado. Nos pênaltis perdemos a partida. Naquela confusão o Sandrinho xingou o juiz (Mas, quem não xingou?). No final das contas, perdemos no campeonato porque o Sandrinho xingou o juiz, que era professor da educação física, que era um babaca, que era amigo dos jogadores do time da mecânica, que depois foi comprovado pelos próprios alunos da mecânica que ele nos roubou mesmo. E na verdade, o Sandrinho xingou o juiz-ladrão depois que ele nos roubou, quer dizer, errou, como ele mesmo ladrão disse. Mas, por acaso, alguém viu ele xingar alguém? Fomos beber para esquecer e nunca mais... esquecemos. Precisamos de cura interior.

(Vista del mare)Era assim, AEL era vida Uma vida às vezes complicada devido a algumas alucinações e idiossincrasias do Gargamel, mestre Gargamel. Aquilo é que era matéria de verdade. Motores trifásicos com neutro temporizados, correntes elétricas, notas oscilantes, ondas de choque, gráficos ardentes tridimensionais, paralelas no infinito. AC/DC não era um grupo de rock, era o tipo sanguíneo que deveria correr em nossas veias. Pelo menos deveria. Black Sabbath tornaram-se nossos sábados – e o resto da semana - estudando muito para aquelas provas. A prova de Máquinas Elétricas... Donzela de Ferro, instrumento de tortura sem dó, sem piedade, um carrasco mórbido que dilacerava nossos sonhos. Aulas... Scorpions que nos envenenavam lentamente, bastava uma picada, depois aquilo ia nos consumindo, envenenados. Não havia nada azul da cor do mar, somente tempestades e furacões. Comecei a odiar o Rock’n Roll. Quanto tempo levei para entender que bobina percorrida por corrente elétrica gera campo magnético? Até hoje não entendi. Duvido que alguém tenha entendido, os engenheiros que me perdoem. Somente entendia de pentatônicas na velocidade da luz. O Gargamel era um Mestre do ilusionismo. Era tudo um show para nos enganar. Na verdade, o propósito do Gargamel era esvaziar nossas mentes de qualquer conteúdo humano-lúdico, para que alguma entidade ígnea chamada de Eletric Machine viesse nos possuir e nos deixar loucos. Na verdade, algo em médio prazo, que envolvia nos aprisionar na cadeia das notas baixas, nos torturar com as agruras dos dias de provas, nos ridicularizar, nos humilhar, devastando nossa auto-estima e auto-imagem, levando-nos a um extremo estresse (Ele estava inventando o Stress), para finalmente nos

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deixar exaustos e mortos. Um plano muito bem arquitetado que certamente teria êxito pleno, nos fazendo vítimas fatais, não fosse o seguinte: O pôr do sol em Sunset Beach, um enlevo que era uma espécie de Arte.

Entendendo: O pôr-do-sol sempre vinha renovar, brilhar de novo nosso sorriso. Um sorriso singelo, jamais captado mesmo por Leonardo Da Vinci. Aquele leve brilho no olhar – um sorriso – que, assim como a unção despedaça, despedaçava todo o jugo que sobre nós era colocado pela Eletric Machine. Aquela brisa fresca de fim de tarde. Não digo uma arte simplesmente, mas a arte de articular, destarte, partes de algo e que fosse Peso. Afinal, o negócio era Peso. Peso como muitos sons, como muitas guitarras. Era muita guitarra de base, de peso que pesava na pose do músico. No ritmo de vítimas? Não. Vencedores, mártires da arte. No vértice da arte. Uma arte martírio. De uma arte que parte, que pesa, que poda e pulsa, usa e lambuza com peso no mundo e no reino das artes. Em parte, não totalmente.

(Andante enamoratto)Vê quantas voltas tem que dar o amor. Lois Lancaster havia deixado uma grande decepção para trás, mas eu não entendia porque ainda andava sincopado, quialtérico. Seu ritmo variava entre compassos de amores irregulares, irregulares amores descompassados e semi-fusas em andamento Andante Vivace. De sons estratosféricos de guitarra para Pavana para princesas mortas. Na verdade, o amor era um rio cristalino na AEL onde poucos se aventuravam mergulhar naquela época. Alguns molharam suas mãos nas margens dele. Alguns. O Álvaro viveu algo assim, desde 1987, mas seu piano insistia em desafinar e ele cansado das comas do amor, de unhas encravadas, de tentativas e missivas de desculpas, - te querer, viver mais pra ser exato - preferiu viver com seu coração absorto, mergulhou em

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si, platonizou Lilly White Lillyth, sonhou com a presidência de Leonel e, de maneira Wagneriana, resolveu fazer o teste de física quântica do Bergo. Na primeira questão errou, na segunda acertou um terço, na terceira perdeu todos os pontos por ter xingado o Bergo de professor, só acertou mesmo as questões quatro e cinco que, infelizmente, não valiam nada. Conseguiu esboçar sorrisos amarelos na festa de 17 anos da Renata Nunes Alves. Dançamos a noite toda ao som de Urban Legio. Ele não sabia dançar; insistiu em valsar com seu sonho, notou que o vento e a madrugada iluminavam a fada do seu botequim. Era um peso muito grande deixar o Doador da vida; não adiantava vê-lo sorrir, o riso dele era o nosso, ele estava ilhado. Naqueles dias ele não ligou a tv nem mesmo para ver o Jô, não saiu; quando ligávamos, ele não atendia; não deu bom dia, nem atendeu o pedido de favor de ninguém, estava difícil para ele, andava angustiado com... com o quê? Nuvem negra. Andava pesaroso e mancando. Entrou na sala de aula de cabeça baixa, de ombros arriados, sentou no fim da sala, no canto esquerdo; arrumou a mochila, olhou uma última vez da janela do bloco B, levemente suspirou (Sempre há um último instante para tudo) e virou Criatura da Noite. Dentro dele começou a ecoar uma antiga cantiga egípcia que dizia:

Diga-me porque eu tenho que ser um escravo do poder.Eu não quero morrer, sou um deus, por que, então, não posso viver?Quando o doador da vida morre, aquele que o cerca de nada serve.

É chegada a minha hora, sou um escravo do poder da morte.Escravo do poder da morte.

No seu coração, sem nenhum estardalhaço, as estrelas foram se apagando.

(pianíssimo silentioso en amore carvalera)..................................................................................

(vivace per non tanto)O amor era assim. Visceral e Fatal. Às vezes um hiato. O enlace do Marcio seguiu firme e forte com a Glauce. Até a prova de matemática do Sérgio. Os paradoxos apareceram paralelos. Para o Saracuza estava tudo bem, afinal, seu entendimento de matemática superava em muito a todos – inclusive ao Sergio – creio que, na verdade, ele era um dos poucos, talvez o único, que entendeu realmente aquela fórmula que o professor Sergio inventou para ajuste das notas. Uma estranha fórmula que provava por A + B que 6 = 7,5. Cujas únicas exceções eram 0=0 e 10=10. Acho que eram os princípios de Limites e Derivada Vetorial ou a mais pura Teoria dos Jogos, pois nossa nota estava literalmente em jogo com aquela fórmula incrível. No limite, a Glauce tendia a zero, e o Marcio a dez. Entre eles estávamos nós. No meio, então, da distribuição dos pontos e das grandes risadas do Kevin, abduzido com aquilo tudo, houve uivos e suspiros, porque estávamos enganando a matemática, uma ciência exata. Exatamente isso nos fazia mais pobres: Distribuição de pontos, uma ciência inventada pela Zuleide, tia de Eletricidade, aplicada com êxito por Victor Bergo e agora formalizada pelo professor de matemática. Nos extremos não houve distribuição de pontos, a Glauce tendeu a zero e o Marcio a dez. Paradoxos paralelos. Amor. Visceral e fatal. Aéreo? Vocês não sabiam que o resumo era de cada um; que todo

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rumo deságua em lugar comum? Montei num cavalo que me levou para Teerã e nunca me perdi, jamais.

(varela pezzo bello)Num belo sábado semi-nublado (Cara, o tempo estava sempre nublado?) marcamos de ir a Pedra da Gávea. A ala feminina se animou geral. O Kevin iria convidar seus amigos punks radicais-monstros lá do Valqueire. (Que fique claro que elas não estavam animadas por isso). Já havíamos feito nosso batismo no alpinismo no Costão do Pão-de-Açucar e, por isso, nos achávamos altamente profissionais no ramo. É. Mas, acordei atrasado aquele sábado, fui me preparando devagar. Achei que quando chegasse lá a galera já teria toda subido. Planejei, imaginei subir correndo e alcançá-los na Carrasqueira. Que nada, para minha alegria e surpresa estava todo mundo me esperando há quase uma hora! Muito lindo. Falaram que sem mim não teria graça. A modéstia, a humildade e a maviosidade me impedem de comentar. Subimos, então. A ala feminina estava representada pela Tatiana, Ana Patrícia(?), Débora, Lilian, Carla(?), Luciana(?), Alexandar(?). Acho que tinha mais, mas, não lembro. Os amigos do Kevin estavam caracterizados de punks-nerds-lerdos, cantavam punk, xingando meio mundo e a outra metade também, pareciam ratos de porão afogados na dorsal atlântica. Na hora mesmo da escalada – leia-se caminhada nas pedras - os caras ficaram com medo da Carrasqueira, enquanto isso as meninas subiam praticamente sem corda. Na verdade, o punk sempre foi um movimento morto.

(Etna piu ascentatto)O ano corria elétrico, mas não pela corrente alternada, a corrente era continua mesmo. Continuamente alta, implacável. Bastava abrir o livro de Eletric Machine e ondas de shock percorriam nossas artérias, nos sufocando, tentando nos possuir, aquilo parecia vodu. Shock de monstro, lavas de vulcão. Falando em vulcão, era ano eleitoral, estaríamos pela primeira vez elegendo o presidente do Brasil. Tem gente que não aprendeu até hoje, e olha que a turma tinha uma consciência política muito boa, pelo menos na minha opinião. Lembro dos debates, dos adesivos, da galera da esquerda ultra-radical reacionária, da esquerda moderada, do centro esquerda, da meia direita, centro-avante e dos zagueiros. Ouve uma peça teatral que mostrava como se fosse um debate entre políticos na televisão. Aquilo foi uma das coisas mais lindas do mundo. “Ou pensa, ou respira”. Empolgados que estávamos com esse clima, fizemos uma reunião não lembro pra quê, mas quem lembra? Acho que vocês nem lembram que o Kevin pediu a palavra, fez uma breve colocação sobre a questão política e educacional. (Acho que envolvia nossas aulas), disse seu jargão preferido – parará, tal e coisa – e concluiu brilhantemente: “Porque hoje é sexta-feira”. Tem coisas que a gente jamais esperaria que terminasse de certa maneira. A reunião terminou, nem sei como, com discussões, sorrisos e em paz. AEL era vida. O Collor foi eleito presidente do Brasil apesar de seu lema negativista e diabólico: Collorindo, a coisa fica preta. Tem gente que não aprendeu...

(la prima bella)Também foi um ano bastante musical. Mergulhei de cabeça na MPB, deixando um pouco de lado minha raízes rockeiras IronMaidenianas. Djavaneei geral, Caetaneei um monte de

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coisas; Buarqueei outras tantas. Comprei ametistas, topázios, jades, rubis, cristais aos montes. Colori alguns olhos de azul, outros com lágrimas, pintei alguns sóis de primavera. Consegui uma vaga no Clube da Esquina e compus com o Flavinho a música “Princesa”, “Quando você chegou” e “Caramelo”. Com o Lô compus uma parte de “Vento de Maio” (Aquela parte que o vento sopra...aahhh, piada sem graça). Nas minhas andanças por Madureira tive o prazer de esbarrar com o João, o João Bosco. Vai e vem... sentamos num bar para bebermos uma coca-cola, pegamos o violão, ele se maravilhava em ver meus acordes dissonantes. Daquele breve bate-papo, saíram “Corsário”, “Jade”, “Desenho de Giz” e “Das dores de oratórios”. Eu andava um pouco inspirado naquele tempo. Vou me abster de dizer as músicas que compus com o Djavan porque vocês não acreditariam mesmo! Mergulhamos num mundo jazzístico e clássico jamais descoberto. Digo mergulhamos porque a Irmandade estava lá, unida. Nós bebemos aquelas águas. De março. O bom da MPB pra mim foi que deixei uma postura um pouquinho radical e passei a respeitar mais o gosto dos outros. Mas, o mau gosto eu não respeitava. Cara, Bach era nosso amigo. Se ele cismasse em aparecer à meia-noite no Teatro Municipal a gente estaria lá aplaudindo e gritando “Lindo, lindo!”. A Irmandade andava acompanhada de Ella Fitzgerald e Billie Holliday, Gene Kruppa, Modern Jazz Quartet. Éramos sócios majoritários do Espaço BNDES. Cravo Bem temperado era rotina nas nossas vidas. Quem perdeu, perdeu. Quando não íamos para assistir, íamos para dormir. O Mano sempre ia para dormir. O Kevin ia para rir. Os Estudos para violão de Villa Lobos, as Bachianas Brasileiras... rasgavam nossa alma de maneira extremamente... sei lá. Cara, delírio puro. Podia perceber que estava todo mundo delirando, no mínimo. E quando preparava o agudo principal! Meu Deus, a galera ia parar no palco. Quem sabe, um dia, a fúria desse front virá lapidar o sonho, até gerar o som.

(reviratto la magma)Enquanto isso, Luiz, mano do mano, alucinava nas noites da High Society. Se você não foi na festa da Ana Patrícia nem na festa da Renata...lamento, você perdeu.

(Nadante afogatto in ibucui)Devido a uma grande amizade com o Kevin, o Moreira, que era Bélico, veio se achegando e foi aceito. Formado nas academias Iron Maideniana, Bachiana e João Boscoense, não poderia ficar de fora. Havia participado de grandes momentos da Irmandade. Achamo-lo em uma praia calma de Ibicuí, litoral sul do Rio, lendo “O amor nos tempos do cólera”, de Gabriel Garcia Marques, e “O Artista da fome”, de Franz Kafka. Lembro bem. Ele não falou nada, nada; entrou no mar e nadou vários quilômetros em estilo borboleta, enquanto assistíamos ao entardecer. Descobrimos que seu nome era Moreira, nada mais. Notamos que sua fase lagarta havia passado, que havia um contraponto de realeza imerso em sua alma e que era mister ele possuir um piano no futuro. Foi batizado com Honors, já era da Irmandade.

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4 – Houve uma vez que eu realmente quis acreditar que existia... – Aurora Austral - Orquestra em peso!Frase sem-igual antológica supra-sumo: Gente, quanto mais demora, mais tempo leva.

(Grand Canyon)

O quarto ano foi complexo demais. Irmãos bacalhaus, Ricardo Caxias, Topera, Cueca,

Cazuza, Lair, Paulete, Hugo, Cláudio Nariga, Frajola, Feng. A Feng era uma versão tupiniquim do poderio bélico chinês. Formada em Letras Ocultas pela Universidade Não-Livre de Pequim, com pós-graduação strictus presus em Economia Industrial Dupla – Binominal Economic Industrial Pirate off - uma corrente econômica, formalizada na China, que arvorava a idéia de que para toda produção de um país é possível dobrar esta produção, desde que fosse produzida uma cópia na China. Era a maior prova que nós estávamos sempre à frente no tempo, pois antes mesmo que a China despontasse como potência econômica, nós já estávamos fazendo nossos contatos e contratos com aquela nação de olhos puxados. Um poderio bélico tão grande que roubou os dois primeiros volumes da Antologia Literária, embarcou para China anos depois e nunca mais mandou notícias. Porque vocês não sabem do lixo oriental. Dizem as boas línguas que ela é segunda geração, da X dinastia de Eueraumagrandefabricamasfa Lee. Dizem as más línguas que o imperador Wen Ching Mulan está mantendo sob cativeiro toda a família Feng, torturando-os com trabalhos forçados, estão produzindo centenas de CD’S piratas do Menudo. Sob o principado de Confúcio a coisa está muito confusa. E eu avisei, jamais toque no ungido.

Mas... Tinha gente que, sinceramente, eu nem lembro o nome; talvez eles não tenham feito parte efetivamente, só estavam lá para completar o ano, se formarem e morrerem. Não, não digo estes acima, falo daqueles que estavam lá, mas realmente não fizeram parte; vocês entendem. Alguns Aélicos tornaram-se com a nossa benção Criaturas da Noite num vôo alto e pequeno – Alexa, Álvaro, Tatiana, Kevin, Lílian, entre outros. Habitantes da noite, passando em nossas varandas; criaturas da noite querendo chegar antes dos raios de sol. Distração de quem queria esquecer o seu próprio destino...

(aspeta un poco)Mas, antes mesmo desse emaranhado de pessoas e coisas que foi o quarto ano, devo confessar que o ano começou mau pra mim. Antes que as aulas começassem tive que cortar o cabelo... a Marinha não deixou – vê se pode – eu servir a pátria de cabelos grandes. Para mim isso era um contraponto total, já que Van Hallen servia muito bem a sua pátria América de cabelos longos. Naqueles dias me senti mal. Confesso que na verdade esse mal durou apenas alguns segundos. Depois as coisas se acertaram... afinal, não há nada que alguns elogios na hora certa, da pessoa certa, no momento exato, no preciso instante, não resolva.

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(Motto tempestivo)Então vamos lá. Aquele basquete de sábado e as aulas no pátio – aulas no pátio mesmo -redimiam nossa alegria. Jovens manhãs de sábados cheias de alegria, velhos tempos, velhos dias. Good times bad times. Mas, tinha também o Fuchs. O Alexandre de Oliveira Fuchs era um remanescente Bélico, versão Toddyling Rhodia muito Hollywood, latifundiário de Caxias. Sua ex-turma era bélica, porrada e jiu-jitsu eram mais freqüentes que bobinas, motores e correntes alternadas. Sua alma encontrava-se em uma espécie de areia movediça, já estava até o pescoço. Precisava de ar. Resgatamos sua vida. Logo se adaptou a AEL, não perdeu a oportunidade do dom da vida. Achou seu lugar em nossa turma e em nossos corações, em uns foi mais profundo: achou seu lugar, mas não quis morar; deixando uma alma ferida e uma lua minguante. Assunto para mais tarde. O Moreira finalmente realizou o sonho dele e veio para a nossa turma, já havia sido batizado na Irmandade há algum tempo e agora estava aqui, conosco, em tempo, modo, pessoa e peso. Nadava sempre, era um homem aquático por natureza e decisão. Formou a Banda Podre, um grupo de Jazz Tradicional que se apresentava sempre que impossível no trem com destino a Japeri. Adorava o desenho do Snoopy. Jamais entendeu a diferença entre Penha, Penha Circular e Vila da Penha. O bonde de Nilópolis também estava presente com o Lair, Rinaldo, Paulete. O Frajola também fez parte sim, ao contrário do que dizem as más línguas, está registrado para a história, ainda que fosse burguês. Aliás, aquele acontecimento da viagem ao Paraná confirmou-o como um AEL. Doa a quem doer. Saiba que a AEL te deu a vida. Deu vida também ao Barata. Neste ano, tivemos o prazer, a oportunidade e o momento de conhecermos pessoalmente a formação de um X-Men, direto do instituto Xavier. Seu nome: Anderson Custódio Barata. Após 3 anos na penumbra de sua fragilidade e singeleza de tamanho, surgiu, após uma serie de radiações X, o ser mutante, largo, alto, quase-forte, de voz ecoante. Não, nem parecia aquele menininho que foi barrado na educação física anos atrás. Aliás, quem barraria o Barata agora, portador de enormes poderes mutantes? Quem ousaria enfrentá-lo? Mas ele continuou solitário na sua tentativa de... não se sabe o que ele realmente queria até hoje. Talvez, depois de algum tempo vítima de atrocidades senis, perturbações progressivas e piadas melódicas ele tenha perdido o brilho da vida, com uma auto-imagem embaçada. Quase passou despercebido a nossos olhos não fosse um vislumbre da graça que irradiava da AEL. AEL era vida. Mesmo na altura de seus super-poderes, jamais deixou de ser, a nossos olhos, aquele menino indefeso, pequeno, que tanto nos preocupava. No fundo, era apenas isto. Mais nada.

(piu tempestuoso)Casos atemporais eram freqüentes. Como o dia em que a bolsa da Renata, numa aula de sábado, apareceu (Como assim, apareceu? Mágica?) cheia de pó de giz. Quem foi? Quem seria? Ah, ilusão, o amor não é risco na areia, desenho de giz. Hambúrgueres a preço 0800 eram mais freqüentes que a nossa freqüência. Não era exatamente 0800, tínhamos que comprar um Mate. Depois, bastava o Fuchs sorrir para a Ray e o mundo da alimentação se abria para nós. Os raios de Ray iluminavam o destino de Fuchs e nos faziam felizes e alimentados. Prometeu que a desposaria assim que o XV de Jaú fosse campeão mundial. Muito Hollywood. Outro caso atemporal era o poder do rosa. O poder do rosa provinha de uma menina de olhos claros, da construção civil – Christiane Luzia Paca - que desfilava para o deleite de todos com sua mochila emborrachada da Company, de cor ROSA (Viria dos olhos dela aquela cor que azulejava o dia?). Temporal foi nossa invasão na casa da avó

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do Cazuza; fizeram um temporal na casa dela. Freqüentemente atemporal nossas idas ao rodízio de massas. Atemporal era a aula de Processamento de Dados; lembram daqueles fluxogramas? O Moreira me disse que aquilo tem sentido, que é fundamental na programação. Não havia nada mais atemporal do que ter aula sábado. Pra mim e para o Fuchs tinha algo pior: Tínhamos que servir (Servir o quê?) lá na Marinha, uma coisa totalmente atemporal, temporal.

O Bobby Brown também tinha suas tiradas atemporais. Nessa época, andava mais equilibrado, sensato. Não usava mais aquelas suas desculpas de que era pobre, de Madureira; foi liberto das babas. Especializou-se nas obras de Vivaldi e Camile Saint Saens. Alcançou um nível de sociabilidade e maturidade que – e fique bem claro – anos antes acharíamos impossible. Mas, seu nível de superação foi sensacional, recebendo a medalha “Die Kunst der Fugue” do mérito, concedida pela Irmandade do Mal, tendo alcançado os graus plenos da Ordem Tsidkenu. Em seu estágio probatório na Irmandade, foi aprovado com honra, implantando um sistema de colheita em temporal das sementes de Botswana. Belíssimo. Uma superação atemporal. Ele é um dos nossos. Fourréé!

(Sentiero degli Dei)Houve uma semana em nossas vidas que o tempo parou. O relógio não. Houve uma semana que realmente o Diodo Zener implodiu devidos às alucinações criadas por nós. Brincos paraguaios, vinhos de Santa felicidade. Que santa felicidade tivemos. Mudamos o curso da história quando decidimos ir toda turma junta, no meio do ano – pois antes só havia uma viagem por ano - para Itaipu, a usina hidrelétrica, maior do mundo. Aquela que quando construíram foi preciso destruir Sete Quedas. Sete quedas por nós passaram e não soubemos, ah, não soubemos amá-las. Sete fantasmas, sete crimes. Dos vivos golpeando a vida que nunca mais renascerá. Embarcamos para lá. Devo registrar que nossa intenção mais pura era conhecer o comércio paraguaio e voltarmos, quem sabe, abarrotados de muamba. Itaipu era o nome oficial, no paralelo o papo era outro. Logo de cara, o Edílson Diodo Zener me surpreendeu pegando o violão, já dentro de ônibus, e tocando “La Bamba” e “Maria Maria”. O cara até que tinha possibilidades de salvação. Papo vai, papo vem. As articulações começaram a desenrolar. Fulano do lado de beltrano. Sentei lá na frente, pois no sorteio tive a “felicidade” de ser o último, eu e o Lois Lancaster. Mas, eu sabia que seria questão de tempo e peso e logo alguém imploraria para trocar de lugar. A pressão seria grande. Viajei bem durante algum tempo sentado lá na frente e, mais tarde, batendo papo com a galera da cozinha, somente à noite troquei de lugar acho que com a Lílian ou o Alcemar. Paramos para lanchar à tarde. Por mais que eu escreva sobre aquele momento ali, serão pobres as palavras para tentar descrever o surrealismo que estava sendo invocado. Balanços, carrossel, gangorra. E nós, homens grandes, completamente mergulhados num mundo lúdico e feliz. Brincávamos sem parar. Cara, aquele carrossel chegou à velocidade da luz, como em Patrulha Estrelar, fomos transportados para outro mundo, sem aquele velho chato e ranzinza chamado tempo. Somente os bêbados e os poetas conseguem fugir por instantes do velho; por instantes. Mas que raiva impotente dá no velho quando ele vê crianças brincando, e ele passa com sua cadeira-de-rodas por elas e vai embora porque elas simplesmente o ignoram. Assim ele foi embora durante algum tempo, por instantes éramos bêbados e/ou crianças. Livres a brincar de balanço. Um momento eterno em nossas almas.

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Vou dizer poeticamente... como num romance um deus risonho ali passou, numa nave cor da noite que ninguém notou. Era só o começo.

Numas das paradas da noite, já longe do Rio, percebi que tinha perdido uma aposta para o Fuchs. Aquele cara era peso. Mas devido a laços infindáveis de coronárias, mergulhados em profundos mares tempestuosos, em algum lugar isolado do oceano furioso, houve uma pequena intempérie, que nem sei se vou mencionar.

(penumbra de la ragazza)O amor era, ainda, assim. Visceral e fatal. Quantas voltas ele precisava dar? Não sei, até hoje não entendi o que se passava. O Lancaster era uma espécie de Dom Juan mimetizado em Exterminador do Futuro. Toda possibilidade de vida amorosa logo lhe era tirada por uma maldição hereditária que estava sob sua linhagem. Estranho, seus pais eram muito felizes. Talvez ele não tenha entendido isso muito bem a ponto de perder... bem, esse papo está ficando muito psicológico, e lógico vamos por outra linha. Mas, tinha uma atração natural, daquelas que somente as estrelas são capazes de exercer. Deixou para trás aquela história de dividir o amor e desejou mais que tudo nessa vida viver por uma lua, estrela que era. Sonhou, construiu, viveu, platonizou. Lembro de seus olhos brilhantes em cada poema. Eu sabia que caso acontecesse uma intempérie, seria praticamente fatal, que eu não conseguiria salvá-lo como de outras vezes. Não, não sabia. Não sabia nada. Quem é que sabe? Quantas voltas têm que dar o amor? A gente sabe que o amor não tem juízo, mas, brinca com o perigo e quando se vê...estava lá um corpo estendido no chão. Não houve palavra suficiente para lhe trazer a sua vida de volta. Ao contrario do Álvaro, não mergulhou em si, brilhou mais ainda, escreveu, apareceu, viveu ainda que fosse uma vida não escolhida, harmonizou o Concerto para Bandolim de Carl Palmer. Formou tempos depois o Zumbi do Mato, grupo rock-gutural. Numa de suas canções quis registrar essa fase da sua vida

Agradeço se não acenarem por mimna sua extensão pelo vasto dia

e vocês eram aves tão bonitas, meu Deus... ......

Os olhos do Nilo estão se abrindo, você veráO veneno que despedaça minha espinha

A luz do inconsciente está se abrindoVocê verá.

Quem jamais alcançou o pensamento de Lois Lancaster? Dentro dele um turbilhão de idéias e amores explodiam em versos, prosas e sons. Admiro-o muito. Mais ainda, admiro Cecília Meirelles porque mesmo sem conhecer Lois Lancastrer foi capaz de homenageá-lo nestes versos.

Guitarra

Punhal de Prata, já erasPunhal de prata.

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Nem foste tu que fizesteA minha mão insensata

Vi-te brilhar entre as pedrasPunhal de Prata.

No cabo - flores abertasNo gume – a medida exata.

A exata, a medida certaPunhal de prata

Para atravessar-me o peitoCom uma letra e uma data

A maior pena que tenhoPunhal de prata

Não é de me ver morrendoMas de saber quem me mata.

Um turbilhão de idéias e amores explodiam em versos, prosas e sons. O que vocês não sabem é que foi Lois Lancaster quem realmente descobriu a teoria do Caos Literário. Usando uma metalinguagem vocês têm abaixo uma amostra dessa teoria.

Olha que loucura!!

De aorcdo com uma peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea, cnoifrmda plea de uinrvesriddae Sorbone da Farnça, não ipomtra

em qaul odrem as Lteras de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a

piremria e útmlia Lteras etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma

bçguana ttaol, que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não

lmeos cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.

Sohw de bloa.

(Finalle en la toscana)Nesta época, mais ou menos, Caetano Veloso, adepto da doutrina do Peso, muito amigo nosso, compôs essa canção.

Quando eu me encontrava pesoNa cadeia de uma cela

Foi que eu vi pela primeira vezAs fotos do Nemias

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Em que aparece o MoreiraPorem lá não estava ele

E sim com um prédio na frente

Guerra, guerra.Por mais distante

O general do almiranteQuem jamaisDeclara paz.

Deixamos, então Caetano de lado e resolvemos Djavanear no Paraguai. Invadimos o Flipper, invadimos o Panela Véia, lembram? Sujamos nossos tênis Reebok no Paraguai. Não gostei muito da visita a Itaipu, pareceu um lugar morto. O CEFET paraguaio, quer dizer, paranaense, era bonitinho no corpo, mas, tinha uma alma vendida ao capiroto. Ali não existia vida em nenhuma forma. O Fuchs não podia abraçar a Lílian porque era contra o regulamento interno do cefetizinho. Argh! Vida havia em Santa Felicidade, em cada gole quero dizer, copos, de vinho que a gente tomava e em cada pizza... que felicidade! Em cada noite perambulando em Foz e em Curitiba. Não havia vida naquela piscina congelada que vocês entraram à noite, não. Em cada risada tinha vida. AEL era vida. O Rinaldo djavaneava direto no violão dentro do ônibus, que também foi palco de memoráveis partidas de sueca. Na Argentina, lembro que comprei com o Claudinho uma caixa com 50 torrones. A galera - acho que foi o Moreira - comprou um saco de passas que pareciam eternas, durou a viajem quase toda alimentando gente muito faminta. A Swat invadiu o hotel em Curitiba. O tempo parou alguns instantes em Paranaguá Curtimos um ótimo momento, eternizado nas fotos do Nemias; comemos muito bem. A vida parou ali... mas, depois andou, ela sempre anda. Fomos burlados pero acho que si quando compramos uma Yashica falsificada. Lamentável erro nosso. O Bobby Brown desfilou de Reebok e walkman Broksonic. No Paraguai era assim, tudo era... paraguaio. Fim de viagem. Tivemos que voltar, mas não sem antes a Ana Paula babar o casaco do Lair e ficar registrado no Hall da Fama. Antes disso, devo lembrá-los que o ônibus saiu da estrada e subiu num barranco, causando um pouco de pânico em alguns... e muita alegria na maioria, afinal era mais uma coisa pra se registrar e uma aventura pra se viver. E tenho dito. Cansados que estávamos, voltamos apagados, dormindo. Pelo menos boa parte da galera. Já entrando no Rio... no meio de um silencio sepulcral Ana Paula levantou-se com cara mais lavada deste mundo apontando para o ombro do Lair, ombro no qual ela havia dormido.... e babado. Ana, Ana, que mico... mas, está registrado. Valeu Ana! Fourré!

(pezzato muitíssimo pezzato)O ano seguia para o fim. Quantas articulações eram feitas nos meandros dos corredores! Nada que pudesse impedir nossa formatura, ainda que alguém realmente tentasse. Certamente sofreria enormes perdas causadas por ondas colossais vindas da Irmandade. Algumas pessoas jamais entendem os princípios que norteiam uma aliança. Sangue.

O Gargamel levantou seus tentáculos venenosos para tentar nos parar novamente, emitindo acordes dissonantes pelos cinco mil auto-falantes. Já estávamos vacinados contra aquela

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Eletric Machine. Passamos direto, até quem não passou direto, passou direto, pois, uma de suas táticas, para nos deixar loucos, era a estratégia conhecida como Victor Bergus, que era distribuição de pontos à rodo. Desafiando as dimensões espaço-tempo, chegou ao cúmulus nimbus de viajar no tempo para alterar as notas do bimestre anterior. Aprovou todo mundo. Não pôde resistir aos encantos da AEL. AEL era vida. Vi seus olhos lacrimejarem numa de suas últimas aulas – vê bem – a ponto de ruborizarem suas bochechas. Aposentou-se e logo depois foi morar em algum lugar no Oceano Pacífico. Deixamo-lo em paz. Seguimos perseguindo outros. Jamais perseguimos o Damião. Ele era um exemplo de motivação, dedicação, foco, visão, e de que intensidade de corrente elétrica dependem do meio. Myke Tyson teria medo dele. Eliminamos o Diodo, MEC TEC e outras excentricidades que havia. O Diodo quis me ameaçar com uma prova capciosa no último semestre. Azar o dele, pediu perdão por ter afrontado a Irmandade. E permissão para seguir com sua vida. Aprendeu o valor de uma aliança. Sangue. Fomos empurrando, empurrando, empurrando as aulas de sábado. Nas grandes aulas do Odracir (Que nome... sua mãe se chamava Airam) rolava terror e alegria. Nas de instalações era festa pura. Com direito a fogos, rojões... e muita enrolação. De motor.

Estávamos lá, absortos, envolvidos em mais um esquema de montagem-sem-fim-de-fios, algo tipo Lego para adultos-jovens. Um dia arrastado, quente. Os grupos de 4 ou 3 se formavam pela ordem da lista de chamada. Era isso mesmo? Bem, não importa. A coisa estava complicada, o ar estava pesado, denso, podia ser cortado em fatias. Lembro de o Richard Caxias ter feito uma piada que valeria o dia... mas, foi logo a seguir superado por algo que transcendeu o universo, fez se encontrarem o Norte e o Sul, fez com que israelenses e palestinos dessem as mãos por alguns instantes; uniu a Força Jovem com a Torcida Jovem Fla e a Raça; Keynesianos e Monetaristas se unificaram; paralelas se encontraram neste dia, quando uma brisa não muito suave ecoou: “Gente, quanto mais demora, mais tempo leva”. Às vezes a vida é um pouco ingrata, mas quase sempre ela é bela. Passamos do anonimato ao estrelato e novamente ao anonimato em frações de segundos. Costuma-se dizer que o futebol é mágico porque tem uma lógica, mas essa lógica nem sempre prevalece. Esperávamos, então, um lance magistral do Bobby Brown, uma jogada de gênio do Lois... até alguma excentricidade do Moreira, do Mano, do Fuchs. Ela entrou em campo naquele dia aos 45 minutos do segundo tempo, fez um golaço, correu pra galera e levantou a taça... Glauce Brochado recebeu o título “Maximus Decimus Meridius” da academia, daquele ano, de todas as eras, eternamente, amém.

(varela memorial home)No Brasil, o ano termina ensolarado, diferente de outras partes do mundo em que o fim do ano é outono ou inverno. Engraçado que aquela sensação de nostalgia que nos dá geralmente acontece em climas frios, intimistas. Mas, apesar do clima meteorológico, muitas vezes vivemos uma sensação de inverno dentro de nós, é aquela nostalgia de fim de ano. Eu diria que é um clima de outono, manhãs claras, brisa fresca, noites muito estreladas e um ar de saudade. As folhas caindo no caminho... Confesso que aquele fim de ano foi muito chato pra mim, principalmente a passagem de ano. Foi a única na minha vida que estive sozinho. Bem, lembro de ter ido a igreja, mas nem fiquei até o final, assisti a queima de fogos na praia do Galeão e depois fui. Fui para casa lembrar. Lembrar o quê? Bem, fui

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lembrar tudo aquilo que você acabou de ler. Na verdade, lembrei até mais coisas porque elas estavam recentes na memória.

Não dava para voltar atrás, nem seria a mesma coisa. Bom que é assim, a gente vive e depois curte, ou não, a vida que viveu. Fiquei relembrando momentos, meus erros. Descobri que se pudesse viver tudo de novo cometeria os mesmos erros, foi com eles que aprendi muito. Então, sou um cara muito feliz porque não me arrependo nem dos meus erros, pelos menos os da época Cefetiana. Mas o que um menino pode fazer de tão grave para se arrepender? Tudo foi muito bom, mesmo naquele dia que...

Já não tem mais aquela AEL, mas ainda há muitas amizades. Isso é que importa. Elas continuaram ainda que distantes. Alguém certa vez disse que “o mundo é redondo afim de que a amizade o possa envolvê-lo”. Acho que é isso, quanto mais na web... o mundo está muito redondo. Lá nos reencontramos e temos nos reencontrado. Temos reencontrado a nós mesmos, não é? Ou você não esta curtindo aquela bagunça no Yahoo? Amizade é assim mesmo, camaradagem, companheirismo, saudades, lembranças... aquele cheiro de brincadeira, inicio de verão. Como assim, você não sente o cheiro de brincadeira? Não sente o vento tocar seu rosto? Ele não sussura nada nos seus ouvidos? E essa canção que você acabou de cantar... não fez seu coração bater mais forte, remetendo suas emoções...? Então, você está salvo. Amizade é Linda e é vida.

Vida longa a todos.

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“Nossa linda juventude, páginas de um livro bom”.

(F. Venturini)

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MÚSICAS

Meu caro peso.

Meu caro amigo, meu amante, meu amorNão me pergunte o que há de novoEu já mandei você chamar o seu avoPra ele vir babar meu ovoAqui na terra o que se planta tudo dáAté o quinto Brandenburgo de BachConcerto solo para Juma MarruáEu sou queria te dizer é que o negócio é pesoSaindo ileso fiquei preso no porãoComprei uma fumaça de bambu sabor cadeiraChamamos Sid Barret pra ele entrar na brincadeiraE ele respondeu: Carl Palmer.

Meu caro amigo, quanto mais eu me demoroVou te dizer, mais tempo levaSe a idade de Stephen acabouA Glauce vai ficar longevaAqui na terra o Guto disse fecha a águaO idiota fechou mesmo e a mágoaNos fez manda-lo para a NicaráguaEu só queria te lembrar que o negocio é pesoSó guardo aquilo que não tem nem importânciaEu só não sei aonde. Exista ou não ele elimina.Notei que mesmo na neblina acha-te a meninaE ela disse “sanguebão”.

Meu caro amigo você é caro pra carambaPaguei por esse telegramaNão tenho grana sou um pico-empresárioMedindo dez mega-bananasAqui na terra tudo é mais que instantâneoHoje é o apoio, amanhã pode ser vocêEstava escrevendo, mas quebrou o la...Sou vou provar por A+B é que o negócio é peso.O dó remol ‘tá dissonante na cançãoRochinha já chegou e já babou todo planetaCabriolé mazurca com revolver de espoleta Eteropxyz , porão.

Meu caro amigo, eu quis ate lhe escreverMas acabai enchendo saco

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Um dia desse eu envio pra vocêO meus sacoAqui na terra já todo mundo semQuando o calunga fala não tem pra ninguémO Povo hoje veio com um cara esmagado pelo tremEu ratifico e dou fé... é que o negocio é peso.Wabmasktaub, Wonpy, GG, WWMoreira é o dono e capataz da banda podreO Hannah e Guto Howe , Lois Lancaster, Túlio e AnaO Toca aproveita pra também mandar lembrançasO mano ta em casa com a Carla e as criançasA lua negra brilha no horizonte e o Lair dançaPra todo pessoalAdeus.

Tatiana me ensinou

Tatiana me ensinou tudo aquilo que eu não seiAlessandro se entregou dizia para todos que era gayRafael faz muitos planos pra conseguir sentar aliSempre ao lado dela, da ChristianeLuiz Felipe é todo estranho, não precisa nem falarO barata joga bola, parece até com o BernardO Luciano é o mongol e o Chips também éÁlvaro tem maior timaço onde joga até o PeléO calouro é cheiroso, tem cheiro de gambáCarlos é o monitor, só sabe nos sacanear--André Rodrigues tem dois metros de deficiência cerebral

Na 1AEL só tem louco, louco, loucoMaluco.

Alexandar é a grande, grande personalidadeJaime tem um irmão bobo, dizem que é por causa da idade--O André é cdf, Mardene é o horror.E o Marcio entra agora, parece ate que é bonitãoLevou um fora da Glauce que quebrou seu coraçãoE o Cláudio Alexandre tem um jeito que eu não seiMeio pra cá, meio pra lá, to achando que ele é gayNa 1AEL só tem maluco, tarado, louco e gaviãoBroto, bruxa e boneca, sei também que tem ladrãoTem umas pessoas chatas que não sabem o que falar

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A mongolândia esta presente, mas IM também está.

Mongo

Sua pátria a MongolandiaSua infância é uma DisneylandiaSua vida é pura ignorânciaÉ o mongo

Só fala coisa ignoranteSua mente tem fertilizanteSeu adubo é estrume de elefanteÉ o mongoMongo

Quero estar longe deleQuando o fim chegarNão quero ver nem seu retratoSe não vou me assustarO holocausto não esta longeO mongo também não estáNão se aproxime muito delePois ele é uma bomba nuclear.

Mongo, mongo (repeat ad infinito)

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