À coisa ela mesma, a fenomenologia?

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À coisa ela mesma, a fenomenologia? (anotações-amadoras) Introdução O que segue gostaria de ser caderno de anotações. Daquelas anotações que, como estudantes, trocamos, para a própria e mútua ajuda, recordando o que se ouve nas  preleções, seminários e leituras, de autore s, professores e especialistas abaliza dos, e que  bem ou mal conseguimos assimilar e anotar, dentro das limitações de estudantes diletantes, amadores nas coisas de filosofia. O amador aquele que ama, o amante. Ocasionalmente. !"o oficial nem publicamente, mas #s escondidas, sorrateiramente. $or isso, as seguintes observações amadoras s"o refle%ões avulsas e ocasionais. &penas beliscam a beirada já um tanto esfriada de um mingau quente, por n"o conseguir encarar diretamente o tema, de modo adequado e competente, sistemático, seriamente. &notações desse tipo s"o entendidas somente por quem as rabiscou, e quem, ao l'(las, tem o mesmo tipo de comple%o e pai%"o. )omple%o e pai%"o de busca da coisa ela mesma da fenomenologia e do seu fasc*nio, sofridos pelo principiante e ou amador. De que comple%o e de que pai%"o se trata+ rata(se do rolo oculto no anelo de fundo da busca amadora. O que -á ali, no fundo da  busca amadora+ á algo como medo de pouco saber, uma espcie de comple%o do aprendiz que n"o especialista, de ser apenas iniciante e diletante. /as, ao mesmo tempo, -á tambm ali algo como *mpeto da inoc'ncia ing'nua de um grande desejo, vontade de se adentrar, sim de estar por dentro, em casa, naquilo que a alma do amador ama, a saber, naquilo que a fenomenologia l-e tem de mais próprio e fascinante, sem con-ecer bem a comple%idade e e%ig'ncia de e%atid"o objetiva e informativa que o empen-o e o desempen-o de tal empreendimento do saber e%igem. 0 a tudo isso se acrescente o receio de iludir(se a si mesmo, contentando(se com o saber particular, subjetivo, trocando verdade, acuidade e claridade da teoria com pai%"o e sentimento. rata(se de um -umor angustiante que toma conta de todo e qualquer estudante de filosofia que ama a filosofia, que se lança a cata de informações, cada vez mais numerosas, assegura das, que l-e parecem proporcionar o poder do saber dominante e ao mesmo tempo se sente inquieto, como que tocado por um outro -álito de fasc*nio. 1asc*nio e pr azer de concen tr "o no po uc o es sencia l, de afundame nt o pa ra a interioridade de uma intuiç"o da verdade originária. 2ntuiç"o que por instante aparece como vislumbre de algo como viv'ncia aventureira e singularmente venturosa, sim altamente pessoal, de uma dimens"o inominável. &s e%posições que se seguem sofrem da ambiguidade desse -umor angustiante do amador, um permanente iniciante, jamais iniciado3 do estudante inacabado, sempre temeroso de estar e%pondo a sua ignor4ncia. /as -á ali, ao mesmo tempo, esperança de que, mesmo tambm nessa perple%idade,  possa estar atuando, talvez, por menor que seja, um -álito do pensamento da busca da verdade, o toque do vislumbre do sentido do ser, operante nas diversas problemáticas tratadas nas refle%ões, no desengonço e na imprecis"o, caracter*sticos de trabal-os de amador. O inte resse dos te rmos  fenomenológico e  fenomenologia, aqui na nossa e%posiç"o, refere(se # corrente filosófica que -istoricamente teve in*cio com 0dmund usserl sob a den omi naç "o de fenomenol ogi a e se man ifesto u em diversas escolas e inú mer os movimentos de fenomenologia. !a infindável srie de nomes de filósofos e pensadores,

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    coisa ela mesma, a fenomenologia?

    (anotaes-amadoras)

    IntroduoO que segue gostaria de ser caderno de anotaes. Daquelas anotaes que, comoestudantes, trocamos, para a prpria e mtua ajuda, recordando o que se ouve nas

    prelees, seminrios e leituras, de autores, professores e especialistas abalizados, e quebem ou mal conseguimos assimilar e anotar, dentro das limitaes de estudantesdiletantes, amadores nas coisas de filosofia.

    O amador aquele que ama, o amante. Ocasionalmente. !"o oficial nem publicamente,mas #s escondidas, sorrateiramente. $or isso, as seguintes observaes amadoras s"orefle%es avulsas e ocasionais. &penas beliscam a beirada j um tanto esfriada de um

    mingau quente, por n"o conseguir encarar diretamente o tema, de modo adequado ecompetente, sistemtico, seriamente. &notaes desse tipo s"o entendidas somente porquem as rabiscou, e quem, ao l'(las, tem o mesmo tipo de comple%o e pai%"o.)omple%o e pai%"o de busca da coisa ela mesma da fenomenologia e do seu fasc*nio,sofridos pelo principiante e ou amador. De que comple%o e de que pai%"o se trata+rata(se do rolo oculto no anelo de fundo da busca amadora. O que - ali, no fundo da

    busca amadora+ algo como medo de pouco saber, uma espcie de comple%o doaprendiz que n"o especialista, de ser apenas iniciante e diletante. /as, ao mesmotempo, - tambm ali algo como *mpeto da inoc'ncia ing'nua de um grande desejo,vontade de se adentrar, sim de estar por dentro, em casa, naquilo que a alma do amadorama, a saber, naquilo que a fenomenologia l-e tem de mais prprio e fascinante, sem

    con-ecer bem a comple%idade e e%ig'ncia de e%atid"o objetiva e informativa que oempen-o e o desempen-o de tal empreendimento do saber e%igem. 0 a tudo isso seacrescente o receio de iludir(se a si mesmo, contentando(se com o saber particular,subjetivo, trocando verdade, acuidade e claridade da teoria com pai%"o e sentimento.rata(se de um -umor angustiante que toma conta de todo e qualquer estudante defilosofia que ama a filosofia, que se lana a cata de informaes, cada vez maisnumerosas, asseguradas, que l-e parecem proporcionar o poder do saber dominante e aomesmo tempo se sente inquieto, como que tocado por um outro -lito de fasc*nio.1asc*nio e prazer de concentra"o no pouco essencial, de afundamento para ainterioridade de uma intui"o da verdade originria. 2ntui"o que por instante aparececomo vislumbre de algo como viv'ncia aventureira e singularmente venturosa, simaltamente pessoal, de uma dimens"o inominvel. &s e%posies que se seguem sofremda ambiguidade desse -umor angustiante do amador, um permanente iniciante, jamaisiniciado3 do estudante inacabado, sempre temeroso de estar e%pondo a sua ignor4ncia./as - ali, ao mesmo tempo, esperana de que, mesmo tambm nessa perple%idade,

    possa estar atuando, talvez, por menor que seja, um -lito do pensamento da busca daverdade, o toque do vislumbre do sentido do ser, operante nas diversas problemticastratadas nas refle%es, no desengono e na imprecis"o, caracter*sticos de trabal-os deamador.

    O interesse dos termos fenomenolgico e fenomenologia, aqui na nossa e%posi"o,

    refere(se # corrente filosfica que -istoricamente teve in*cio com 0dmund usserl sob adenomina"o de fenomenologia e se manifestou em diversas escolas e inmerosmovimentos de fenomenologia. !a infindvel srie de nomes de filsofos e pensadores,

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    de tend'ncias filosfico(fenomenolgicas, o nosso inter(esse gostaria de ac-ar(se, porpouco que seja, dentro do que pensaram 0dmund usserl, /artin eidegger e einric-5ombac- que usualmente s"o classificados como pertencentes # escola fenomenolgicade 1reiburg i. 6r. 2sto significa7 ao usarmos termos como 8fenomenologia9 ou8fenomenolgico9 n"o se fala tanto sobre esses autores e seus pensamentos, mas as

    refle%es que seguem gostariam de estar falando como que a partirdo mdium em quese ac-a essa corrente fenomenolgica friburguense, na medida em que, bem ou mal, foiassimilada e compreendia pelas nossas refle%es . )om outras palavras, os pensamentosvlidos que ocorrem nas nossas refle%es foram tirados desses autores, certamentequase sempre mal assimilados ou simplificados de modo diletante, ou mesmofalsificados por causa da ignor4ncia ou pouco volume do pensar.

    $or isso, as interpretaes de poucos e ocasionais citaes dos te%tos desses autores quepor acaso se encontrem nessa apostila(caderno de anotaes devem ser controladasquanto a sua e%atid"o e sua validade, pois, em sua maioria, s"o 8c-utaes9 esimplificaes de um amador. :e, porm, -ouver nessas 8c-utaes9 amadoras e

    amantes da causa da fenomenologia, alguns pensamentos vlidos, eles apenas acenampara o que jaz depositado nos te%tos clssicos da fenomenologia e podem, quem sabe,ser teis para os que sofrem das mesmas dificuldades e, no entanto, querem intuir, i. , ir

    para dentro daquilo que do fasc*nio e prazer da fenomenologia. !essa perspectiva, asrefle%es, nos seus dados informativos, limitam ao m*nimo a e%posi"o doscon-ecimentos e do saber usual acad'mico sobre a fenomenologia.

    I. Anotao: Fenmeno, fenomenologia e seu lgos

    O t*tulo desse trabal-o soa 8 coisa ela mesma, a fenomenologia?9 8;ur :ac-e selbst9, coisa ela mesma, a divisa sob a qual a fenomenologia ficou con-ecida, enquanto

    movimento filosfico. coisa ela mesma evoca um retorno. 5etorno a qu'+ < coisa elamesma. O que , pois a coisa ela mesma+ De que coisa se trata, quando a coisa, elamesma, o ponto de partida da qual nos afastamos e ao qual somos convocados aretornar+ 0ssa pergunta, assim formulada, precipitada. $ois, o t*tulo, apenas insinuaque a coisa ela mesma a que tende a fenomenologia a coisa, i. , a causa dela mesma.

    coisa ela mesma a fenomenologia. 2sto por sua vez significa que falar dafenomenologia o mesmo que falar de que se trata, quando dizemos coisa ela mesma.

    O t*tulo indica o tema. !o nosso caso, o t*tulo 8 coisa ela mesma, a fenomenologia?9n"o indica propriamente um tema, mas antes uma -iptese. &lis, hypothese na suasignifica"o literal grega o que est posto debai%o de, a base sobre a qual se ergue o

    que quer que seja. =, pois, o pr(jacente, que sustenta, d firmeza e concre"o aoandamento, # srie de refle%es que seguem. !o entanto, em nosso caso, o que deveriaser a base para dar firmeza e concre"o ao andamento das nossas anotaes estacompan-ado de uma interroga"o. 2sto significa que, em todas as nossas anotaes,ficamos nos interrogando acerca do que o t*tulo insinua, a saber, quefenomenologiano outra coisa do quea volta coisa ela mesma. !a introdu"o foi dito que essas nossasanotaes s"o c-utaes. O que o t*tulo insinua como tema com interroga"o uma-iptese, na acep"o -odierna da palavra -iptese, a de suspeita. : que no nosso caso asuspeita est no n*vel de c-uta"o. )-uta"o um modo de abordar uma coisa, jogandoverde para col-er maduro. &ssim, o que toca as nossas anotaes conjetura, cujo modo o do provrbio latino 8stat pro ratione voluntas9.

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    & seguir, o lance prvio, nas nossas pr%imas anotaes a suspeita de que nos termosque compem a palavra fenomenologia est dito o que quer dizer coisa ela mesma.&s

    palavras que compem a palavrafenomenologias"ofenmenoe logia. &ssim, falemosdofenmeno,fenomenologiae lgos, do qual vem logia.

    !. F"#$%"#&"'AI%*I+A&>sualmente entendemos por fen?meno algo ou algum, cujo ser ou atua"o aparecenum aspecto e%traordinrio. & esse aspecto, gostamos de c-amar de fantstico. !as

    palavras fenmeno e fantstico aparece o verbo grego phainsthai, que significaaparecer. &parecer mostrar(se, vir # luz.

    !.!. Fenmeno

    = comum representar o aparecer como movimento de algo que estava escondido, atrsou dentro de uma outra coisa, dela sair e vir para frente ou para fora.

    O aparecer do fen?meno, no entanto, n"o diz respeito ao relacionamento entre duascoisas7 entre a fac-ada e o que se oculta atrs dela. 5efere(se antes # autoapresenta"oou autopresenta"o ou # intensifica"o de uma presena. !esse sentido algo comoluzir, incandescer. = tomar corpo, crescer no sentido da e%press"o cres!a e apare!a.=,

    pois, surgir, crescer e consumar(se, vindo a si, tornando(se presena. $ara podermos vermel-or de que se trata quando falamos do fen?meno como autopresena ouintensifica"o de uma presena, e%aminemos brevemente o que "er e #emponos diz dae%press"o gregaphainmenon7

    8& e%press"o grega phainmenon, # qual remonta o termo 8fen?meno9, vem do verbopha$nesthai, que significa7 mostrar(se3 assim, phainmenonquer dizer7 o que se mostra, o se

    mostrando, o aberto3 o prpriopha$nesthai uma forma medial do pha$no, trazer ao dia, colocar#s claras3pha$nopertence # raizpha( comoph%s, a luz, a claridade, a saber, isto, no qual algo

    pode se abrir, tornar(se nele mesmo vis*vel. $ortanto, devemos constatar como a significa"o dae%press"o 8fen?meno97 o em se mostrando a ele mesmo, o aberto. Os phainmena, 8fen?menos9s"o ent"o a totalidade disso que jaz ao dia ou pode ser trazido # luz, o que os gregos entrementesidentificavam simplesmente com ta nta@o enteA9B.

    O verbo do qual deriva a e%press"ofenmeno medial.)omo em portugu's n"o - aforma medial3phainmenon traduzido ou no sentido passivo ou refle%ivo7 o mostrado,ou o que se mostra ou o em se mostrando. O modo de ser da a"o do verbo medial n"o nem ativo nem passivo. !"o seria, porm, um meio termo, uma mistura meio a meio,neutra. :eria antes uma din4mica toda prpria, um mdium atuante, anterior # divis"oem disjun"o ativa e passiva. >sualmente, quando falamos de a"o e atua"o,representamos algum ou algo causando uma fora sobre um algum ou um algo. &ssimquem causa uma a"o e a prpria fora atuante s"o ativas3 quem ou o que recebe,

    padece ou sofre a a"o passivo. Cuando quem age @o ativoA atua sobre si mesmo @opassivoA, se d o refle%ivo7 o agente ao mesmo tempo o paciente, mas, aqui, o agenteenquantoativo e o paciente enquantopassivo n"o coincidem. &qui o ser da itera"oentre ativo e passivo e refle%ivo de tal feitio que sempre unidirecional, uma lin-areta a modo de flec-a. O modo de ser da a"o do verbo medial n"o pode ser captado,reduzindo(o # unidirecionalidade de flec-a na itera"o ativo(passivo(refle%ivo, mas

    0 interessante talvez observar que, para ns -oje, o fen?meno entendido como # luzda ribalta, no esplendor de um s-oE ou na publicidadeFB 02D0GG05, /artin. "ein und &eit. HI ed., Jbingen7 /a% !iemeKer, LMN, p. BH.

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    captando(o, vendo(o a ele mesmo, de imediato. O que ali aparece de imediato o queest dito na e%press"o7 fen?meno, i. , o em se mostrando a ele mesmo, o a'erto.Outrosmodos de dizer esse imediato s"o7 em vindo ao dia, lu(, em colocando)se s claras,em aparecendo ou aparente, em se a'rindo, mostrando)se*. O abuso do gerndio, naforma em +...ndo, aqui, de propsito. enta insistir na considera"o de que

    necessrio captar esse modo de ser da a"o medial sui generis nele mesmo. 0sse captarimediato de ser da a"o medial seria muito simples, por ser imediato e, imediato por sersimples. : que o imediato e o simples n"o pode ser percebidos no seu ser, a n"o ser quea percep"o, ou mel-or, a recep"o seja imediata e simples, a saber, pele a pele, de todoem todo, cada vez de uma vez. O modo medial de ser a"o pede a capta"o imediata darealidade, antes da sua divis"o e classifica"o emsu-eito,o'-eto, ato, em ativo,passivoe refleivo,de tal sorte que a a"o ou ato anteriorP ao sujeito e objeto, a din4mica dotodo, em sendo/. &demais, aqui, o que nos pode dificultar a perceber de que se trata, aconota"o que todas essas e%presses trazem consigo de visualiza"oM. &parecer,mostrar(se # luz, vir # claridade do dia, no entanto, n"o tem primariamente muito a vercom visualiza"o. &perceber o manifesto, o mostrado, a recep"o do que em se

    mostrando a ele mesmo, anterior a toda e qualquer visualiza"o. Qisualiza"o amaneira projetiva da objetiva"o interpelativa, pela qual colocamos o fen?meno dentrode uma determinada perspectiva do inter(esse do ponto de vista.

    oje, sujeitos e agentes operativos do modo de ser da objetiva"o interpelativa, n"opercebemos que o que nos vem ao encontro como objeto, coisa em siP, realP, n"ocoincide com o que se mostra, ele mesmo, mas algo como espectro do projeto dointer(esse de pontos de vista. 0sse modo de ser c-amado objetiva"o interpelativa umadas modalidades da objetiva"o. &qui, para percebermos de que se trata, quandofalamos do fen?meno como o que se mostra, a ele mesmo, anteriormente a toda equalquer visualiza"o da objetiva"o interpelativa, -odierna, reflitamos um te%to acerca

    do que seja objetiva"o.

    !.. &/0eti1ao

    O que o'-etiva!o, o'-etivar+ & esse respeito responde eidegger numa carta de.RS.LTU, endereada aos participantes de um dilogo teolgico sobre 0 pro'lema deum pensar e falar no o'-etivantes na teologia, ho-e17 Objetivar

    8 fazer algo objeto, p?(lo como objeto e somente assim o representar. 0 o que significa objeto+!a 2dade /dia o'iectum significava o que lanado e mantido de encontro, em face doaperceber, da imagina"o, do julgar, desejar e mirar. 0m contraste com isso, su'iectumsignificava o hipo2e$menon, o prejacente a partir de si @n"o o que levado de encontro atravs deum representarA, o presente, p. e%. as coisasN. & significa"o das palavrassu'iectume o'iectumem compara"o com a nossa usual -oje, justamente a inversa7 su'iectum o para si@objetivamenteA e%istente, o'iectum, o apenas @subjetivamenteA representado9.

    S& grande dificuldade de ver o imediato concreto dopha$nesthai dofenmeno que essa imedia"o n"osignifica facilidade, imediatismo isento de empen-o e desempen-o de prepara"o, busca demorada para adisponibilidade ao rigor e precis"o de percep"o # evidencia.U O verbo ser que soa t"o neutro, sem atua"o, indique talvez esse modo todo prprio davig'ncia originria da autopresena pr(predicativa ou pr(cient*fica.M Distinguimos visualisare ver. Qisualizar conota em vista de um ponto predeterminadocomo meta, objetivo, como a prioriprefi%ado, a partir e dentro do projeto prvio, em

    cuja predetermina"o s"o captadas todas as coisas.T 0ncontro realizado na DreE(>niversitK, /adison, >:&, de L a de abril de LTU.N &s coisas V3ie 3inge.

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    80m conseqJ'ncia da transforma"o do conceito desu'iectumpor Descartes @cf. olzEege, p.LHssA, tambm o conceito de objeto veio a se transformar. $ara Want, objeto significa7 o contra(

    postoHe%istente da e%peri'ncia das ci'ncias naturais. )ada objeto o contra(posto, mas nem todocontra(posto @p. e%. a coisa em siA um poss*vel objeto. O imperativo categrico, o ter que sertico, o dever n"o s"o objetos da e%peri'ncia das ci'ncias naturais. $elo fato de se pensar sobreeles, de no agir serem eles intencionados, eles n"o se tornam por isso objetivados.9

    Cuando p. e%. estamos sentados no jardim e nos regozijamos diante das rosas floridas, n"ofazemos da rosa um objeto, nem sequer um contra(posto, i. , um algo tematicamenterepresentado. Cuando, pois, na fala silente estou devotado ao rubro esplendor da rosa e sigo no

    pensar ao ser rubro da rosa, esse ser rubro n"o nem objeto, nem coisa, nem um contra(postocomo rosa a florir. & rosa est no jardim, balana talvez ao sabor do vento. O ser rubro da rosa,

    porm, n"o est nem no jardim, nem pode balanar ao sabor do vento. 0ntrementes, eu o penso edele falo, nisso em que eu o nomeio. &ssim, se d um pensar e falar, que de nen-um modoobjetiva nem contra(pe9.

    80u posso considerar esta esttua de &polo no museu em Ol*mpia, qui, como um objeto dasci'ncias naturais no seu representar. $osso calcular fisicamente o mrmore em vista do seu peso3

    posso pesquisar o mrmore em refer'ncia # sua propriedade qu*mica. /as esse pensar e falar

    objetivantes n"o miram o &polo, como ele se mostra na sua beleza e nela aparece como a mira deDeus 9.

    80'-etivar fa(er algo o'-eto, p)lo como o'-eto e somente assim o representar9.4lgo aqui ente, no sentido o mais abrangente poss*vel3 indica todos os entes atuais e

    poss*veis.

    5a(er e%ercer uma a"o de efetua"o, de efetiva"o, de tal sorte que ente se torneobjeto. 0 coloc(lo, posicion(lo como objeto. &ssim, ente se pe de p e se firmacomo objeto, e somente como tal se torna de novo presente, representado, apresentado. &qui a palavra do te%to original alem"o vorstellen. 6orstellenusualmente

    significa representar, apresentar. Xiteralmente, porm, diz7 colocar em frente, parafrente, diante de. 0stellen colocar, mas pode conotar a"o de p?r algum ou algo soba coa"o de uma determina"o. !o uso corrente, objetivar pode significar tambmtornar objetivo, i. , tornar real ou e%istente objetivamente, materializar ou efetivar, outambm ter por fim, pretender.

    Diante dessas determinaes acerca da objetiva"o, muitos de ns, tentar*amos entend'(las mais ou menos assim. !a realidade em si, diante, ao lado, ao redor de ns - coisas,

    produtos da natureza. /as, usando essas coisas dadas pela natureza como materiais, o-omem fabrica objetos, ou tambm, as posiciona, transformando(as em objetos paradeterminados fins do interesse -umano. Objetivar aqui significa, ent"o, objetifica"o,

    fazer do ente objeto, para um determinado fim, meta ou objetivo, dado pelo -omem.0ssa nossa compreens"o da objetiva"o, embora esteja inclu*da na e%plica"o do te%to,n"o diz bem, o que ele quer dizer com objetiva"o e seu objeto.

    :egundo o te%to, o termo o'-eto@obiectumA se d em dois modos diferentes. & diferenano modo de ser do o'iectumtambm diferencia o que se deve entender por subiectum.

    H O termo alem"o 7egenstand.Gegen se refere de alguma forma ao Gen. 7en comonuma paisagem a imensid"o que se abre e se ergue em dire"o ao cu aberto diante dens e nos vem ao encontro, nos envolvendo na sua din4mica vastid"o. "tandvem doverbostehen, e indica o erguer(se e tomar p, a partir e dentro da imensid"o aberta

    como uma das suas concrees in(sistentes, constituindo(se como elementosestruturantes de toda uma paisagem. 0m lugar de 7egen,colocamos em portugu's ante,no sentido de em face de, de encontro # face de.

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    O te%to fala, pois da compreens"o do obiectum e subiectum uma vez na 2dade /dia, eoutra vez na nossa poca /oderna.

    aA8a 9dade :dia o'iectum significava o que lan!ado e mantido de encontro em facedo aperce'er, da imagina!o, do -ulgar, dese-ar e mirar. ;m contraste com isso

    subiectumsignificava o hipo2e$menon, o pre-acente a partir de si

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    O sujeito medieval, i. , a subst4ncia, a saber, a coisa, quando lan!ado e mantido deencontro em face do aperce'er, da imagina!o, do -ulgar, dese-ar e mirar,se c-amavao'iectum, o'-eto.

    !.2.!. +oisa no 3 o/0eto

    !s temos dificuldade de entender de que se trata, quando o te%to c-ama osu'iectum, i., a subst4ncia de hypo2e$menon. $ois, -oje, entendemos tanto o su'iectum comotambm o o'iectum medieval @subst4ncia(coisaA n"o a partir da su'stantia, dahypo2e$menon, da pre(jac'ncia, mas a partir da compreens"o da subst4ncia como objetoda representa"o do -omem como sujeito, no sentido da nossa poca moderna.entemos brevemente nos livrar desse pr(conceito moderno da compreens"o dasubst4ncia, pois compreender bem, com mais precis"o de que se trata quando omedieval diziasu'iectum,su'stantiaa modo do hypole$menon, pode nos facilitar a verum tipoP de 8objetiva"o9 diferente da nossa, e compreender mel-or o que nafenomenologia quer dizer essa coisa que descrita como fen?meno ou o em se

    mostrando a ele mesmo, o a'erto, que os gregos c-amavam tambm de n, i. ente.

    & nossa compreens"o usual da coisa como subst4ncia e acidente, mesmo em certosmanuais de filosofia medieval, parece ser uma mistura de uma compreens"o, bastantedefasada, da subst4ncia medieval como hypo2imenone da compreens"o defasada doobjeto(representa"o, no n*vel de 8o contra(posto e%istente de e%peri'ncia das ci'nciasnaturais9. $ois entendemos subst4ncia como um qu' permanente, imutvel, ncleo,cerne, que est so' @sub Y st4nciaA, debai%o de um conjunto de acidentes, que v'm ev"o, que s"o propriedades n"o essenciais, passageiras e mutveis. 0sse qu' ncleo algo como um ponto, duro, compacto, o at?mico. 0ssa compreens"o o ltimoresqu*cio da compreens"o da subst4ncia j deficiente como essa ou aquela coisa macia,

    o bloco, algo espesso, denso, substancial.

    :e, porm, tentarmos compreender o su'iectum e o o'iectum, a partir da subst4nciamedieval sem a pr(conceituosa mistura do antigo e do moderno, ambos defasados,ouvindo o que a palavra grega hypo2e$menonnos quer dizer, percebemos que coisas n"os"o blocos, ncleos, isto, aquilo, ali, l, acol, mas simpre-ac@ncia.

    & palavra pre-ac@ncia n"o e%iste em portugu's. O verbo -a(ervem do latim iacere,assim, poss*vel formar o verbopre-a(er, e dalipre-ac@ncia. 0 significaria mais oumenos o que o verbo grego hypo2eisthai significa, a saber, estar assentado, bemrepousado, fundado e ajustado em si mesmo. 0sse sentido ainda est vigente no adjetivo

    su'stancial em portugu's. 0%emplos de subst4ncia @hypo2e$menonA nesse sentidoseriam, por e%emplo, montan-a, imensid"o que se estende como plan*cie, um fil-ote deporco que nasceu redondin-o, perfeito, uma obra bem acabada, perfeita, uma pessoabem assentada em si, madura, confivel, justa e reta. $ortanto indica o assentamento, aintegra"o, o ajustamento bem feito dentro de um todo, como atin'ncia e pertena #totalidade prejacente da realidade ali estendida, imensa, profunda e bem consumada.:ubstancial , pois, contrrio do avoado.

    /as em que sentido+ Cuando uma imensa e%tens"o se espraia e jaz diante e ao redor dens, como p.e%., numa c-apada, n"o somente temos a sensa"o da e%tens"o -orizontal,mas ao mesmo tempo a e%tens"o possui peso, como se o todo da imensid"o subisse do

    fundo e se abrisse como vastid"o bem assentada no profundo de si mesmo. 0sse modode ser de uma paisagem, onde percebemos a imensid"o, profundidade e vigor do sereno

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    estar assentado em si mesmo, para dentro do seu profundo dito na palavrahypo2e$menon, hypo2eisthai, pre-ac@ncia, subst4ncia. 0sse 8assentar(se no seu ser9, a

    prejac'ncia n"o isto ou aquilo, n"o localizvel aqui ali como um objeto, mas eleimpregna o todo e cada momento, todas as articulaes e partes do todo, est presentecomo vig'ncia em todas as coisas que constituem a paisagem, perfazendo a cada qual o

    seu 8erguer(se9, o seu surgir, crescer, consumar(se a partir e para dentro dessaprejac'ncia. :"o7 os pre-acentes a partir e dentro da imensido, profundidade e vigorda pre-ac@ncia de ser, de si, os presentes , a saber7as coisas9. )oisas de tal teor, sedestacam no seu perfil, saltam aos olhos, de quem inabita, mora na est4ncia, bemassentado na imensid"o, profundidade e vigor desse modo de ser da prejac'ncia R. $oistanto coisas como o -omem s"o entes prejacentes, presentes, cada qual a seu modo,

    junto, na cercania da pregn4ncia do vigor da prejac'ncia. $or isso, subst4ncia@hypo2e$menonA se diz tambm ess'ncia, em grego ousia.

    0sse modo de ser da prejac'ncia, a substancialidade vige em todas as coisas para quecada coisa seja cada qual a seu modo subst4ncia. 0 o assentar(se no ser, de cada coisa,

    portanto a substancialidade de cada coisa, a seu modo, perfaz a identidade diferencial decada coisa, enquanto subst4ncia, i. , prejac'ncia do vigor, a tornar(se, em sendo,concrees, a saber, coisas ou entes, no seu todo, a saber, cada vez um mundo. & grandedificuldade de nos mantermos na precis"o da compreens"o do que seja tudo isso queestamos falando, consiste em sempre de novo, # la representa"o no sentido nosso atualda metaf*sica da subjetividade, a prejac'ncia, objetivarmos a subst4ncia como esta ouaquela coisa(bloco, mas tambm, ao mesmo tempo, de representarmos a prejac'ncia queimpregna e integra todas as coisas e cada coisa, como algo espacial, e%tencional, amodo da e%tens"o quantitativo(geomtrica etc. /as, ent"o como poss*vel ver, captar,

    se afetar, ou mel-or,ser tocadosem representar, sem objetivar, sem nada de intermdio,assim direta e simplesmente+ !"o - resposta para essa pergunta a n"o ser7 em sendo

    simples e imediatamente ver, captar, se afetar, ser tocado. $ois aqui ver, captar, seafetar, ser tocado n"o outra coisa do que de imediato e simplesmente ser presente,

    prejacente a seu modo, como ente denominado -omemB, na pregn4ncia da imensid"o,profundidade e vig'ncia da prejac'ncia. 0sse ver simples e imediato como abrir(se deuma paisagem, a 8clareira9 de fundo livre a partir e dentro da qual cada ente dei%adoser na propriedade do seu ser. &qui compreender, con-ecer n"o entrar em contato como objeto contraposto como com algo posto a partir do projeto do interesse de um eu ouns sujeito, mas ser coisa junto de e com outras coisas, assentado com elas para dentroda preg4ncia e integra"o do todo da prejac'ncia, portanto, conascer, e estar junto no sercoisa(subst4ncia, cada coisa, no entanto, na diferena prpria, que l-e cabe, que l-e cai

    bem conforme a intensidade da sua identidade no ser.

    !.2.. ma 4aisagem: coisa-su/st5ncia-hypokemenon

    R $or isso, segundo eidegger, o'iectumpara os medievais, i. , para a ontologiasubstancialista, 8o que lan!ado e mantido de encontro em face do aperce'er, daimagina!o, do -ulgar, dese-ar e mirar9, i. , o que salta aos ol-os. 0st4ncia, ousia.B &qui o -omem n"o o sujeito no nosso sentido -odierno, mas tambm subst4ncia.

    /as subst4ncia de n*vel e intensidade mais pregnante e integrante no assentar(se no ser.&o ser no n*vel de maior pregn4ncia e intensidade de ser, que compreende outrassubst4ncias que n"o s"o ele.

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    uma descri"o da e%ist'ncia camponesa que nos pode ilustrar, de modo denso e soltoao mesmo tempo, a paisagem dessa prejac'ncia no ser. 0la de eidegger, na sua obra

    4 0rigem da o'ra de arte, quando nos mostra o sapato da camponesa de van Gog-.

    Diz eidegger7

    8Da abertura escura do interior e%posto do artefato(sapato encara fi%amente a canseira dospassos da labuta. !o peso elementar tosco do artefato(sapato est sedimentada a tenacidade doandar lento atravs dos sulcos e%tensos e sempre iguais do campo, por sobre o qual sopra umvento cru. :obre o couro jaz a umidade e a saciedade do c-"o. Debai%o das solas se arrasta asolid"o do camin-o do campo para o entardecer poente. !o artefato(sapato pulsa o mudo apeloda terra, a silenciosa doa"o de si do gr"o maduro e o ine%plicvel fracasso no ermo escancaradodo campo -ibernal. &travs desse artefato desfila o tremor temeroso da busca pela segurana do

    p"o cotidiano, a alegria sem fala do sobreviver de novo na indig'ncia premente, a vibra"o nac-egada do nascimento, o fr'mito na imin'ncia da morte. < erra pertence este artefato e aomundo da camponesa est ele protegido. = dessa pertena protegida que surge e se firma oartefato ele mesmo para a sua in(sist'nciaS./as tudo isso, talvez, ns possamos ver somente emartefato(sapato do quadro. &o passo que a camponesa simplesmente cala sapatos. O%al, que

    esse simplesmente calar sapatos fosse t"o simples assimF :empre que a camponesa, ao cair datarde, sob o peso do duro cansao, mas sadio, coloca de lado os sapatos e no lusco(fusco doaman-ecer ainda escuro os retoma, ou no dia da festa, passa por eles, a camponesa ent"o sabe detudo isso sem observar e sem refletir. O ser artefato do artefato est qui na sua serventia. /asesta, a serventia ela mesma, repousa na plenitude do ser essencial do artefato. !s odenominamos de confiabilidadeU. = graas # vig'ncia da confiabilidade que a camponesa iniciada no apelo silencioso da erra, graas # vig'ncia da confiabilidade do artefato que elaest segura e ciente do seu mundo. /undo e erra est"o assim ali # camponesa e aos que com elaest"o no seu modo7 apenas no artefato. Dizemos apenasP e nisso erramos, pois somente aconfiabilidade do artefato que d, em princ*pio, ao /undo simples a prote"o segura e assegura #erra a liberdade da impuls"o permanente9.

    !essa paisagem do hypo2eimenon, o assentamento no ser em si, a prejac'ncia e o seu

    peso, a sua substancialidade nada tem de esttico, parado, a modo de blocos de coisas,isolados, um ao lado do outro. &li - a pren-ez da conten"o da intensidade de ser, atinir como presena, cada coisa a seu modo na pregn4ncia e integra"o a partir e paradentro desse modo de ser da prejac'ncia. O -omem, como subst4ncia, coisa, junto de ecom outras coisas, cun-ado e inserido como elemento integrante da paisagem que ali seabre, na sua identidade prpria, o aberto, o em face, o aperceber, imaginar, julgar,desejar e mirar, de encontro ao qual lan!ado e mantido o objeto(coisa, enquantoconcre"o do vir # fala da imensid"o, profundidade inesgotvel da nasciva prejac'ncia

    S 2nsist'ncia sugere subst4ncia, i. , o in se da escolstica medieval. alvez acompreens"o moderna do fato como subst4ncia(bloco, pontual, seja um modo deficienteda capta"o da insist'ncia concreta e viva do assentamento do mundo na terra7hypo2e$menon.U 6erlBsslich2eit a palavra do te%to alem"o. & tradu"o por confia'ilidaden"o est

    bem correta. & tenta"o foi de traduzir porserenidade, que em alem"o se diz7elassenheit. = que tanto na 6erlBsslich2eitcomo na 7elassenheitest a palavralassen,que significa dei%ar. Dei%ar como lassensugere dei%ar ser, abandonar algo a ele mesmo,se abandonar, digamos # serena imensid"o, # serenidade como # plenitude da quietude

    profunda, abissal, assentada em si. = algo como dei%ar se ser na, e a partir da imensid"o,profundidade e do vigor abissal de possibilidade inesgotvel e assim tornar(se umapresena totalmente confivel, por ser plenamente consumada em si e por si, id'ntica a

    si. 6erlBsslich2eittem a conota"o do inteiramente confivelP, p. e%., num artefato quecumpre totalmente o que promete e deve ser e ao mesmo tempo ali jaz sereno, assentadoe inteirio na sua identidade.

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    insistente do ser. al objeto n"o pro(jecto do -omem, nem sujeito, i. , a coisasubmetida a aes do -omem sobre ela, nem algo levado atravs da representa"o ao-omem para ser captado e con-ecido pelo -omem, mas o que no lance da eclos"o da

    paisagem da prejac'ncia se ergue como o 8encontro9 @em alem"o, 7egen)C'erA, adestacar como configura"o perfilada cada elemento da paisagem, noseu mostrar)se a

    ele mesmo, no incandescer, no evidenciar(se, no luzir e transluzir do seu assentamento apartir e para dentro da prejac'ncia no ser. O que assim se ressalta do e no todo dapaisagem se c-ama regi"o, a cercania, que em alem"o recebe o nome de 7egend. &coisa assim destacada a partir e dentro da paisagem da prejac'ncia se c-ama ent"o emalem"o7 Gegenstand, i. objeto(coisa. 0sse modo de ser @medialA no destaque da

    perfila"o configurativa se diz em alem"o sich vergegenstBndilchen, a objetiva"ogestaltizanteP. !o te%to acima citado da mencionada carta de eidegger aos telogosdo encontro de RZRSZLTU, diz ele7

    8& e%peri'ncia cotidiana das coisas no sentido lato n"o nem objetivante @obje[tivierendA, nem uma contra(postatiza"o @Qergegenst\ndlic-ungAM. Cuando p. e%. estamos sentados no jardim enos regozijamos diante das rosas floridas, n"o fazemos da rosa um objeto, nem sequer umcontra(posto, i. , um algo tematicamente representado. Cuando, pois, na fala silente estoudevotado ao rubro esplendor da rosa e sigo no pensar ao ser rubro da rosa, esse ser rubro n"o nem objeto, nem coisa, nem um contra(posto como rosa a florir. & rosa est no jardim, balanatalvez ao sabor do vento. O ser rubro da rosa, porm, n"o est nem no jardim, nem pode balanarao sabor do vento. 0ntrementes, eu o penso e dele falo, nisso em que eu o nomeio. &ssim, se dum pensar e falar, que de nen-um modo objetiva nem contra(pe9.

    & rosa da e%peri'ncia cotidiana se ac-a, segundo a suspeita(c-uta"o acima mencionadada nossa abordagem, mais ou menos na paisagem da prejac'ncia. 0la serve de ilustra"o

    para as e%plicaes feitas acerca da compreens"o dos termos su'iectum e o'iectum apartir e dentro da subst4ncia como hypo2imenon. )onsideremos, porm, que no

    e%emplo acima e%posto da rosa, ocorra uma pequena observa"o. Da rosa diz o te%to7Duando, pois, na fala silente estou devotado ao ru'ro esplendor da rosa e sigo nopensar ao ser ru'ro da rosa, esse ser ru'ro no nem o'-eto, nem coisa, nem umcontra)posto como rosa a florir. 4 rosa est no -ardim, 'alan!a talve( ao sa'or dovento. 0 ser ru'ro da rosa, porm, no est nem no -ardim, nem pode 'alan!ar ao

    sa'or do vento.

    &qui, podemos cair numa compreens"o defasada do te%to que c-ama depensaro quesegue o ser rubro da rosa, e ac-ar que eidegger est a distinguir aqui entre a dimens"odo pensar, seja ele do pensar espiritual, filosfico, esttico(art*stico, seja abstrato,geomtrico @o ser rubroA e a dimens"o do concreto, f*sico e sens*vel, na sua

    materialidade objetivo real @a rosa, o jardim, o vento, balanarA. 0sse modo de colocar arosa como objeto diante do sujeito @-omem pensanteA, e distinguir, de um lado, a rosa e,do outro, o ser rubro captado subjetivamente, pertence # objetiva"o representa"o. $aran"o cair no equ*voco dessa coloca"o, ouamos com precis"o o que eidegger diz note%to7 Duando, pois, na fala silente estou devotado ao ru'ro esplendor da rosa e sigono pensar ao ser ru'ro da rosa, esse ser ru'ro no nem o'-eto, nem coisa, nem umcontra)posto como rosa a florir. &qui, n"o se trata de eu representar um sujeito que estdiante da rosa e silencioso pensa na rosa a florir. !essa coloca"o, sujeito coisa,objeto, contra(posto a mim mesmo que ao representar o sujeito que pensa a rosa, merepresento como coisa, objeto, contraposto a mim, a saber7 ]@eu(sujeito^devotado^ falasilente^pensar^o seguirAos objetos7@rosa^jardim^vento^balanoA_.

    M &palavra alem" 6ergegenstBndlichung.

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    0ntrementes, o que se mostra a partir de si, nele mesmo, portanto, o fen?meno dito8Duando, pois, na fala silente estou devotado ao ru'ro esplendor da rosa e sigo no

    pensar ao ser ru'ro da rosa, esse ser ru'ro no nem o'-eto, nem coisa, nem umcontra)posto como rosa a florir9 n"o s"o nada dessas coisas e objetos assimrepresentados. !"o s"o pois 8coisas(objetos9 objetivveis ou representveis. Dito com

    outras palavras, todas essas 8coisas no o'-etivveis9 s"o coisas em si, elas mesmas,repousadas na prejac'ncia da imensid"o e profundidade, se mostram a si mesmas nelasmesmas, de tal sorte que podem ser 8vistas, ouvidas, percebidas simples eimediatamente9 na recep"o silente, pensante, i. suspensa, na limpidez e afina"o darecep"o, pele a pele, de todo, ao abrir(se, de uma vez da paisagem da prejac'ncia. /ase a rosa, o jardim, o vento, o movimento de l para c+ )omo no caso do 8ser rubro9 darosa, livre da coloca"o da objetiva"o subjetiva e subjetivante, tambm todos eles, porsua vez, podem aparecer livres neles mesmos, a partir de si como presenas econcrees da imensa paisagem, como coisas ou causasda vig'ncia substancial da

    prejac'ncia.

    0ssa presena 8medial9 da prejac'ncia subst4ncia, hypo2eimenon, coincid'ncia viva eplena do mostrar)se a partir de si nele mesmo, i. , phainmenon e do a'erto daclareira da recep!o, i. , do ver simples e imediato e do constituir)se da coisa comomundo.0, no entanto, a coisa(subst4ncia na concre"o da estrutura"o da sua din4mica

    pode aparecer como 7egenstand, no sentido acima insinuado da configura"o perfiladae se destacar da paisagem prejacente. 0sse modo de destacar(se do e no todo da

    prejac'ncia se c-ama em alem"o n"o propriamente objetiva"o @0'-e2tivierungA, mas6ergegenstBndlichung. 0ssa din4mica do vir # fala da prejac'ncia como sua concre"o,da coisa como 7egenstandenquanto movimento de concre"o estruturante, emborainserida viva e plenamente na paisagem no seu mostrar(se, na medida em que se perfila,se assenta cada vez mais a partir de e para dentro do vigor da prejac'ncia, de modo que

    cria no todo da paisagem nitidez cada vez mais decidida da cercania e do fundo, dapro%imidade e da longitude, fazendo transluzir cada coisa a seu modo a vig'ncia da suasubstancialidade. &qui tornar(se 7egenstandn"o nem contrapor(se # prejac'ncia nem# recep"o, mas identificar(se com a prejac'ncia cada vez mais na pertena e

    participa"o da integra"o3 e atrair e conduzir a recep"o # participa"o co(creativadessa mesma identifica"o. !o entanto, quando a recep"o n"o se ac-a suficientementeafinada e devotada na suspens"o silente e atenta ao toque do que se mostra a partir de sinele mesmo, o luzir da configura"o perfilante da coisa como subst4ncia perde a suavivacidade e concre"o, torna(se opaca, por assim dizer isolada da paisagem, a modo de

    bloco, transformando a paisagem da prejac'ncia num indeterminado fundo opaco,dentro do qual ocorrem os entes como blocos de coisas, como isto e aquilo. 0 nesse

    processo de enrijecimento e bloqueamento da din4mica estruturante da paisagem daprejac'ncia se d a mistura -*brida do obiectum no sentido da subst4ncia(coisa eobiectum no sentido do objeto(representa"o, ambos no n*vel de compreens"o defasadae com contedo esvaziado do seu sentido originrio e vivo.

    & acima observada formula"o de eidegger ao falar da e%peri'ncia cotidiana da rosa,ao distinguir aparentemente de um lado materialmente jardim, rosa localizada no

    jardim, a balouar ao sabor do vento, e de outro lado espiritualmenteP o esplendor rubropode ser interpretado dentro do balano de ambigJidade e%istente entre o modo de serdo destaque, integrado e inserido na paisagem da substancialidade e o seu modo de ser

    defasado, bloqueado, da subst4ncia como um qu' permanente com seus acidentesmutveis e contingentes.

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    De tudo isso at agora anotado acerca da objetiva"o e seu objeto a partir da subst4ncia(prejac'ncia, em repeti"o, diferenciemos7

    aA !a estrutura"o do ente no todo que se abre na paisagem viva e plena da subst4nciacomo prejac'ncia(hypo2e$menon, o ente se perfila e se constitui coisa na nitidez,

    unidade e no assentar(se em si mesmo a partir de e para dentro do todo da paisagemsubstancial. 0sse firmar(se, tornar(se pren-e da intensidade de ser e assim vir # fala emostrar(se a partir de si nele mesmo o movimento de concre"o que perfaz a coisacomo 7egenstand. &qui essa 8objetiva"o9 coisal, ou mel-or, concre"o, enquanto

    pertena e atin'ncia # din4mica do manifestar(se da substancialdade da pregn4ncia, n"o propriamente objetiva"o no sentido moderno nosso. = antes estrutura"o natural i.nasciva do surgir, crescer e consumar(se do mundo substancial, e perfaz o erguer(se e oassentar(se da paisagem substancial em aberturas de regies, cercanias, perfilaes egestaltizaes do ser como coisa7 7egenstand.

    bA !o momento em que diminui essa din4mica interna que lana e sustenta as coisas

    como concrees da prejac'ncia, o todo da paisagem se torna, por assim dizer oco pordentro, e o que ali aparece apenas a sua superf*cie opaca endurecida como coisas(objeto. & substancialidade decai na sua compreens"o para a subst4ncia coisa(bloco,ncleo atomizado e seus acidentes, quais acrscimos e%ternos passageiros e inconstantesao redor do ncleo imutvel. $odemos dizer tambm da esttua de &polo, o que se disseat agora da objetiva"o e seu objeto.

    cA anto no aA quanto no bA, a clareira da recep"o permanece sob a cont*nua e%ig'nciado ter que ser sempre de novo e nova na pura afina"o da disposi"o, i. dodevotamento silente e atento, em seguir o surgir, crescer e consumar(se da concre"o doser. = justamente essa afina"o que mesmo na desafina"o est sob o toque da afina"o,

    de tal sorte que se sabe desafinado, que distingue a diferena de 8objetiva"o e seuobjeto9 entre a coloca"o da 2dade /dia e a da =poca /oderna, e em cada uma delas,de novo diferena entre a originria e aut'ntica e a derivada e defasada. !esse sentido,talvez devamos dizer que na clareira da recep"o n"o - propriamente desafina"o. Oque - afastar(se da e%peri'ncia nasciva na concre"o, no sentido do esquecimento daTpertena e integra"o sob o toque do in*cio iniciante iniciado. 0squecimento esse quetraz consigo a possibilidadeP de uma outra epocalidade na determina"o da concre"o.&ssim, se pro(duz um outro tipo de concre"oP, que no te%to de eidegger aparece emtermos alem"es como o'-e2tivierene 0'-e2t, e tambm como 6ergegenstBndlichunmg e7egenstand no sentido bem geral de contraposi"o com o sujeito(-omem.

    dA &qui, segundo eidegger, o que na 2dade /dia era coisa em destaque comosu'stAncia(-omem na plena e viva pertena e integra"o # e na substancialidade dapaisagem do ser da prejacena se transforma em su-eito)-omem, entendido comomedida e refer@nciade todas as coisas, como o pressuposto, a partir e dentro do qual osentes s"o objetos, i. o l-e vem de encontro como representa"o do projeto do seuinteresse. &ssim, quando no e%emplo da esttua de &polo diz7 8;u posso consideraresta esttua de 4polo no museu em 0l$mpia, qui! como um objeto das ci'ncias naturaisno seu representar, posso calcular fiscalmente o mrmore em vista do seu peso3 posso

    T $or isso, aqui fosse talvez mel-or n"o usar o termo o'-eto, o'-etiva!o@obiectum,

    objeto, Obje[t, GegenstandA, seja qual for o seu n*vel e o modo de ser para indicar apresena da substancialidade da prejac'ncia, e reservar para o obiectum no sentido da2dade /dia o termo coisa, "ache, e3ing.

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    pesquisar o mrmore em refer'ncia # sua propriedade qu*mica.:as esse pensar e falaro'-etivantes no miram o 4polo, como ele se mostra na sua 'ele(a e nela aparece comoa mira de 3eus9, est agora mencionando objetiva"o e seu objeto, cujo modo de ser todo prprio, que de modo mais detal-ado e%aminaremos mais tarde sob acaracteriza"o denominada de 8o matemtico9 numa das anotaes. &qui apenas

    observemos, em repeti"o, que no uso, na vida e no saber de nossos afazeres, seja nasviv'ncias cotidianas, seja no saber das ci'ncias, quando comeamos a nos interessarpela fenomenologia, o que nos vem ao encontro s"o objetos no sentido do objeto(representa"o, mas misturados na sua compreens"o com objetos(susbst4ncias, ambosdefasados da sua acep"o originria.

    !.6. &/0eto e fenmeno

    !o te%to acima de eidegger, o ser rubro da rosa, o &polo, como ele se mostra na suabeleza e nela aparece como a mira de Deus, seriam fen?menos, enquanto o mostrar(se apartir de si nele mesmo+ O &polo, como ele se mostra na sua beleza e nela aparece

    como a mira de Deus+F... Cue coisa + & tenta"o de responder7 o que est alm ouaqum de toda e qualquer objetiva"o. :eriam ent"o7 2stoP, esse algoP que n"o nemisto nem aquilo, isto que n"o , e nem est em nen-um algo, a saber, nem no jardim,nem na rosa que balana de l para c e de c para l, nem na esttua de mrmore, istoa manifesta"o, o aparecer, a mira, a maravil-a, o transluzir, que est insinuado, quandoeidegger formula o aparecer do &polo, o fen?meno &polo, dizendo7 como ele semostra na sua 'ele(a e nela aparece como a mira de 3eus+ /as em que sentidoinsinuado+ = que a palavra alem" para indicar a beleza "chEnheit."chEnheitvem doverbo scheinen, que significa parecer. /as essa acep"o j algo derivadoN.Originalmente significa lu(ir, esplender, 'rilhar.$or isso,pha$nesthai dito como trazerao dia, vir # luz, colocar(se #s claras. Da* a refer'ncia do fen?meno # claridade, # luz. :

    que essa refer'ncia # luz e # claridade deve ser captada de modo todo prprioe n"o agrosso modo ou ao modo de 8de(mostra"o berrante9, e%trovertida da e%ibi"o # luzneon, fria, branca, escancarada, sem nuances de sombra. !"o se trata tambm de umailumina"o, feita de fora sobre uma coisa. O modo de mostra"o doscheinen algocomo translu(ir a modo de incandesc@ncia. = uma aclara!o, o tomar corpo comoclaridadeH. = o modo de aparecer do luar. /as n"o no sentido de a lua como umal4mpada a bril-ar aparecer, saindo de trs de um monte e iluminar. &ntes, como clarear.$ara ver o clarear como transluzir, como incandesc'ncia, necessrio, por assim dizer,suspender a tend'ncia do nosso saber de tudo enfocar a partir e dentro de umae%plica"o causal. !essa ltima perspectiva da e%plica"o, a lua, o satlite do planetaterra, ao refletir a luz do sol, causa de ilumina"o de uma rea escura da terra. 0m vezdesse modo de ver, real e objetivoP, tentemos ver de imediato, digamos ingenuamente,atentos ao crescer da claridade de toda a paisagem enluarada, a que c-amaremos de luar.5eina escurid"o. & escurid"o, antes do luar a clarear, p. e%. numa floresta, n"o simplesmente o fato de tudo estar preto3 n"o apenas ocorr'ncia da falta de luzF... 0la

    N Cuanto a vrias significaes descheinen, cf. "er e #empo...H entar dizer o luzir doscheinencomo incandescer talvez dizer demais, pois conotauma claridade talvez demasiadamente forte. O piv? da quest"o aqui no luzir do

    scheinenest nisso de o movimento do luzir dar(se a partir e dentro dele mesmo comotomar corpo da concre"o. Cuando a claridade do luzir demasiada, esse modo de se

    perfazer pode ser ofuscado, como se fosse uma e%plos"o de luz. $or isso o aclarar(se doscheinense torna manifesto mais no luzir de uma prola do que no de um diamante, naclaridade de um luar do que na do sol.

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    uma paisagem. :im um pa*s, um reino, pren-e de perspectivas, planos de presenas defundo e de superf*cie, nuances da intensidade e das modalidades de escurid"o. & nossarepresenta"o da escurid"o ac-ata essa paisagem de implicaes da multidiversidade daescurid"o numa c-apa preta -omog'nea sem nuance e diferencia"o ou como superf*ciede cor preta ou simples aus'ncia da luz. &ssim, a nossa representa"o da escurid"o

    como a primeira impress"o de algum que entra de dia, numa sala de cinema, e capta oc-oque da aus'ncia da luz, de sorte que v' tudo preto. !a medida em que o nosso ol-ovai se adaptando # escurid"o, comeam a surgir e nos vir ao encontro perspectivas,

    profundidades, sil-uetas, perfis, assombreamentos, constelaes de diversas pessoas ecoisas, enfim toda uma paisagem. :e permanecermos na fi%a"o da representa"o, pormais que multipliquemos as representaes na sua diversidade, jamais perceberemos osurgir, crescer e firmar(se na din4mica do todo de tal paisagem da escurid"o. !o aclarardo luar o modo de ser e a lgica de sua estrutura"o s"o os desse surgir, crescer econsumar(se. !esse sentido, toda a paisagem que se torna cada vez mais clara emergeda escurid"o que por sua vez possui a sua emerg'ncia a partir e dentro da sua prpria

    paisagem da escurid"o como acima foi insinuada. 0sse movimento do vir a si e o tomar

    corpo desse e nesse crescimento ou aumento o fen?meno, o aparecer, o mostrar(se elemesmo. & din4mica desse aparecer, o tomar corpo do aumento desse crescer se diz emlatim atravs do verbo latino7 evideri. Do qual deriva a palavra evidentia, a evid'ncia. Ofen?meno o que se evidencia, a partir de si, a ele mesmo.

    Depois dessa descri"o do que seja fen?meno, aparecimento, perguntemos7 o quesignifica objeto e objetiva"o em refer'ncia ao fen?meno+

    &cima, # m"o do te%to de eidegger, ao falarmos da objetiva"o e do objeto,distinguimos suas diferentes significaes e percebemos diferentes n*veis de coloca"oda quest"o.

    8a 9dade :dia, o'iectum significa o que lan!ado e mantido de encontro em face doaperce'er, da imagina!o, do -ulgar, dese-ar e mirar.

    !a 2dade /oderna, 0'-e2t o contra(posto como tema do enfoque das ci'nciasnaturais. 0 7egenstand algo tematicamente representado@QollgestellteA. averia umadiferena decisiva entre 8o contra)posto tematicamente representado9 e 8o lan!ado emantido de encontro em face do aperce'er, da imagina!o, do -ulgar, dese-ar e mirar+

    >sualmente n"o vemos nen-uma diferena essencial entre esses dois tipos de contra(postos. $ois, entendemos a contra(postatiza"o @6ergegenstBndlichunmgA num sentido

    geral de oposi"o entre :ujeito(Objeto, no esquema do ju*zo : ( $ da teoria docon-ecimento. :egundo eidegger, no entanto, a grande diferena que advm #compreens"o do que seja o'iectumna passagem da 2dade /dia para a 2dade /oderna causada pela transforma"o operada na poca moderna @DescartesA na compreens"o doque seja su'iectum. "u'iectum na 2dade /dia su'stAncia. "u'iectum na 2dade/oderna su-eito.

    & diferena entre a compreens"o do o'iectumenquanto coisa(subst4ncia @2dade /diaAe o'iectum, enquanto objeto(representa"o, se torna cada vez mais n*tida, na medida emque recolocamos a compreens"o da coisa(subst4ncia na sua compreens"o originria datotalidade impregnada da vig'ncia do ser da prejac'ncia(hypo2e$menon. & diferena se

    torna mais n*tida ainda, se colocarmos a compreens"o do o'iectum como objeto(

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    representa"o de um sujeito. 0ssa ltima tarefa dei%emos para mais tarde, numaanota"o especial.

    &qui vamos apenas aprofundar um pouco mais a compreens"o da objetiva"o e doobjeto na acep"o do objeto(representa"o, caracterizado como a nossa compreens"o

    usual moderna do objeto, e%aminando a ambiguidade da palavra alem" para representar,que vorstellen.

    !.7. &/0eto e o re4resentado

    eidegger, no te%to acima mencionado, diz do o'iectum medieval7 o que lan!ado emantido de encontro em face do aperce'er, da imagina!o, do -ulgar, dese-ar e mirar.0o su'iectum medieval significava o hipo2e$menon, o pre-acente a partir de si

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    @GegenstandA, mas nem todo contra)posto @GegenstandA

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    6orstellendas ci'ncias naturais. 7egenstand, o producto contra(posto ao 6orstellennumsentido mais geral e vasto.

    cA Dei%amos suspenso, se n"o se poderia usar a palavra 7egenstand e6ergegenstBndlichenpara indicar num sentido bem originrio e vivo o vir # concre"o

    do modo de ser da subst4ncia(prejac'ncia como configura"o perfilante da din4mica doabrir(se da paisagem da prejac'ncia, como foi tentado descreverP ao analisarmos osignificado do 7egen, do 7egend. Dei%amos tambm suspenso, se n"o poder*amostambm usar o termo 7egenstande 6ergegenstBndlichenagora num sentido deficiente,

    para indicar a mistura -*brida entre a coisa no sentido medieval e o objeto no sentido dae%peri'ncia das ci'ncias naturais, ambos os sentidos defasados e esquecidos da suaacep"o originria.

    dA :eja como for, sejam quais forem as significaes que damos a palavras comosu'stAncia, coisa, o'-eto)7egenstand, o'-eto)0'-e2t, no fundo de todas elas est osentido do ente, do ncomo fen?meno, a saber7 o que se mostra a si, a partir de si, nele

    mesmo.

    !.8. +oisa e o/0eto: diferena de im4ostao na reali9ao da realidade

    Depois dessas anotaes interrogativas do e%curso, # m"o do acima citado te%to deeidegger sobre a o'-etiva!o, observamos a diferena de imposta"o na compreens"oda realidade entre a 2dade /dia e 2dade /oderna. & diferena provin-a da realiza"oda realidade, a partir, dentro e atravs da pr(compreens"o do que seja o ente na suatotalidade, ou mel-or, o ente no seu ser, fundamentada na categoria de fundo, c-amada

    su'stAncia @originariamente, i. , em grego, hypo2e$menonA na 2dade /dia e a suasubstitui"o, ou mel-or, transmuta"o dessa categoria de fundo(su'stAncia em su-eito

    da su'-etividade, cuja objetividade produz o o'-eto.0ssa nova realiza"o da realidade,essa nova pr(compreens"o do ente na sua totalidade, abriu a possibilidade da e%ig'nciade colocar a pergunta acerca da coisa e sua coisalidade, portanto, da quest"o da coisa elamesma dentro de uma nova perspectiva, na qual a coisa na sua coisalidade entendidadentro da objetiva"o e sua objetividade, como coisa, i. , causa da produ"o da8realidade9, enquanto objeto, i. , enquanto o que vem de encontro como resultado dolance do projeto do -omem, sujeito e agente e medida de todas as coisas. !esse sentido,-oje, quando usamos o termo coisae seus similares como algo, objeto, ente, ser, emalem"o 7egenstand, 3ing, "ache,de imediato e na maioria dos casos pensamos o'-eto,segundo o projeto da interpela"o produtiva impregnada da din4mica das ci'nciasnaturais sob o poder da tecnologia, portanto pensamos 0'-e2t, e a partir dali nos

    indagamos7 como , o que a realiza"o da realidade p. e%. dos medievais, onde arealitas significava subst4ncia e seus acidentes, em cuja coisalidade ainda podemosouvir a ton4ncia do hypo2e$menonda antiga Grcia, cuja percuss"o originria ten-a sidotalvez bem diferente da que ouvimos -oje na repercuss"o medieval e repercuss"o dessana nossa modernidade, na perspepctiva da objetividade do 8Obje[t9 da :ubjetividadecient*fico(tecnolgico. 0ssa quest"o ent"o no te%to de eidegger aparece formulada noaceno, atravs do qual nos surgem as perguntas7 em que consiste a realiza"o darealidade, que anterior a todas essas objetivaes epocais+ )omo se deve entenderessa anterioridade e a sua temporalidade, se o tempo da -istria dessa transmuta"o dacausa da coisa ela mesma medida e produzida, pela interpela"o produtiva presentede modo quase totalitrio na imposta"o da predomin4ncia das ci'ncias e tecnologias-istoriogrficas, produtos da mesma interpela"o produtiva acima mencionada, comoobjetos do projeto da subjetividade moderna+

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    !.. "maran;ados na

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    a estrutura do logos como apphansis. 8o se apropria a cada MfalaN esse modo dofa(er patente no sentido do deiar ver manifestante. 0 pedido

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    medida em que uma a$sthesis cada ve( afim sua $dia, i. , ao ente cada ve(genuinamente apenas acess$vel atravs dela e para ela, p. e. o ver s cores, assim ocolher sempre verdadeiro. 9sto quer di(er ver desco're sempre cores, ouvir desco're

    sempre tons. 8o mais puro e no mais originrio sentidoN verdadeiroN R i. , apenas emdesco'rindo, assim que -amais pode enco'rir, o puro no@in, o colher singelamente

    mirante das tonAncias do ser, as mais simples do ente como tal. ;sse no@in -amais podeser enco'rir, -amais ser falso, pode alis permanecer um no)colher, agno@in, um nosuficiente para um singelo, apropriado acessoN. & import4ncia desse te%to destacadopara a nossa compreens"o da fenomenologia que nesse te%to breve est dito o que ecomo devemos entender aquilo que constitui a ess'ncia da mostra"o, o ser da presenacorpo a corpo da coisa ela mesma, da evid'ncia do ser que recebeu o nome de 8 Sahr)nehmung9, e que muitas vezes em certas e%posies ligeiras da fenomenologia dealguma forma identificada com a apreens"o sens*vel dentro do esquema de oposi"o,tradicional7 mundo sens*vel e mundo intelig*vel. O nosso inter(esse jaz na identifica"oque insinuada no te%to acima mencionado entre aisthesis, lgos e n%us como ol$mpido, puro deiar ver, como o colhimento do alethuein.

    .2. Fenomenologia

    Depois de tudo isso, concluamos essas anotaes, citando, como uma compreens"oainda provisria, o significado da fenomenologia no "er e #empo7 8#ornandoconcretamente presente o que resultou da interpreta!o de TfenmenoU e TlogosU, saltaaos olhos uma refer@ncia interna entre o que pensado com essas palavras. 4epresso 1enomenologiadeia)se formular gregamente lgein ta phainmenaV lgeindi(, porm apopha$nesthai. 4ssim 5enomenologia di( apopha$nesthai t phainmenadeiar ver de si mesmo o que se mostra assim como ele se mostra, a partir dele mesmo.

    ;ste o sentido formal da pesquisa, que se d a si mesma o nome de fenomenologia.

    Hom isso, porm, epressa nada mais que a mima acima formulado como &ur"ache sel'st, i. , M coisa ela mesmaN.

    &ssim, c-egamos # conclus"o, ainda que provisria7 a convoca"o que est na palavrafenomenologia, enquanto deiar ver de si mesmo o que se mostra assim como ele semostra, a partir dele mesmo, e%pressa numa outra formula"o7 # coisa ela mesma @;ur:ac-e selbstFA. Diante dessa convoca"o, porm, segundo o t*tulo da nossa refle%"o,

    perguntemos, em repeti"o7 O que deiar ver de si mesmo o que se mostra assimcomo ele se mostra, a partir dele mesmo+ Dito com outras palavras7 O que

    fenomenologia+ Ou ainda numa outra formula"o7 O que coisa ela mesma+

    0 porque, como acima foi mencionado, coisa ela mesma o mesmo quefenomenologia, e porque fenomenologia dizdeiar ver de si mesmo o que se mostraassim como ele se mostra, a partir dele mesmo, a interroga"o o que fenomenologiaagora pergunta7 O que deiar ver de si mesmo o que se mostra assim como ele semostra, a partir dele mesmo+

    & pergunta tem por objeto 8dei%ar ver9, portanto, um ato do sujeito -omem. 0 formula oseu interrogatrio7 o que +... & pergunta cujo feitio tem a forma de o que ?c-ama(se

    pergunta essencial ou pela ess'ncia, ou pelo ser do entee pelo ente do serque est emjogo. &ssim, ao submeter um objeto ao seu interrogar, a pergunta o coloca como um8que9 e indaga acerca do seu ser. &ssim a pergunta tem diante de si um 8qu'9, um ente,

    interrogado pelo seu ser. 0nte e :er, ente no :er e :er no ente. 0 a pergunta ela mesma

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    pode se virar sobre si mesma e tambm se colocar como um 8que9, como um ente e seinterrogar no seu ser.

    2sto significa, porm, que ao iniciarmos a refle%"o intitulando(a coisa ela mesma, a5enomenologia?, a prpria coloca"o inicial j estava determinada a posicionar o que

    quer que fosse, o que quer que ela tocasse na sua interroga"o, como ente interrogando(o no seu ser.

    .6. Fenomenologia como

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    e do intelecto,BScuja esquematiza"o se fi%a como rela"o : Y O, refletido na fala lgicacomo :($, i. , con-ecimento como ju*zo. 0ssa fi%a"o algo como redu"o da quest"odo sentido do ser # estrutura da teoria do con-ecimento, insuficiente para levar #consuma"o a busca, na sua radicalidade. &ssim, substitui(se por doutrina e teoriadogmatizada do con-ecimento, a quest"o do sentido do ser que se perfaz como busca do

    sentido do ser na situa"o do ente submetido ao interrogatrio acerca do seu ser, a partire dentro do qual pode emergir o vir # fala do ser no seu sentido, n"o como ente, comoalgo, n"o como algo(sujeito, nem como algo(objeto, nem como algo comum de dois,mas como pregn4ncia de uma presena toda prpria como ente(no(ser e ser(no(ente.

    & fenomenologia, como deiar ver de si mesmo o que se mostra assim como ele semostra, a partir dele mesmo a tentativa de fazer retornar a busca da verdade enquantoquest"o do sentido do ser, libertando(a desse aprisionamento imprprio da sua ess'nciadentro da camisa de fora da teoria do con-ecimento, a convocando # volta para a coisaela mesma, i. , # causa ela mesma da sua din4mica, evocada na prpria e%press"o

    fenomenologia , i., deiar ver de si mesmo o que se mostra assim como ele se mostra,

    a partir dele mesmo o del%un.

    )omo manifesta"o filosfico(cultural, fenomenologia uma das correntes, escolas emovimentos filosficos do fim do sculo BU. O iniciador, fundador da fenomenologia 0dmund usserl. /as quem trou%e # luz a ess'ncia da fenomenologia como repeti"oe retomada da quest"o do sentido do ser /artin eidegger. 1alando da fenomenologia,na considera"o, intitulada 0 meu caminho na fenomenologia, escrita por ocasi"o doHR aniversrio de ermann !iemeKer, em T de &bril de LTS, respondendo a

    pergunta, feita por ele mesmo acerca da fenomenologia, diz eidegger7 8; ho-e? 0tempo da filosofia fenomenolgica parece que se foi. ;la - vale como algo passado,assinalado apenas ainda historicamente ao lado de outras correntes da filosofia. "

    que a fenomenologia no que o seu, o mais prprio, no nenhuma corrente. ;la detempos a tempos possi'ilidade mutante e somente assim permanente do pensar, decorresponder demanda do que digno de ser pensado. "e a fenomenologia assimeperienciada e conservada, ela pode ento como t$tulo desaparecer, a favor da coisado pensar, cu-a clareira permanece um mistrio9BM. 1enomenologia, no que - nela demais prprio, a causa, o 4mago, o cora"o, a saber, o mistrio, i. , o que - de mais*ntimo e pr%imo ao pensar. )omo tal, ela cada vez atin'ncia *ntima # aberta daeclos"o do mundo, de tal modo que o seu surgir, crescer e se consumar se perfaz cadavez como -istoriar(se na in(sist'ncia na factualidade do tempo de sua situa"o -istrica,de tempos a tempos. O lugar, a situa"o -istrica onde se d o surgir iniciante daquest"o c-amada fenomenologia pode ser e%presso, formulado em termos de alguns

    problemas filosficos, ocorrentes no fim do sculo , como p.e%. problema dopsicologismo3 da possibilidade do con-ecimento verdadeiro3 o problema do realismo eidealismo ou do objetivismo e subjetivismo na teoria do con-ecimento3 problema dadiferena e%istente entre ci'ncias naturais e -umanas3 o naturalismo e o -istoricismo3 aistria como 7eschichteeWistorieetc. odos esses problemas, no entanto possuem nofundo uma implica"o profunda com a mesma quest"o7 o que afinal a verdade+ 0 averdade definida nessa implica"o, tradicionalmente, como adaequatio rei etintellectus, da qual numa simplifica"o formal muito grande, surge o esquema do : Y O,

    BS4daequatio rei et intellectus.

    BU irar dados da enciclopdia Xogos....BM 02D0GG05, /artin.Gara a coisa do pensar. Jbingen7 0ditora /a% !iemeKer,LTL, p. LR.

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    e na sua proje"o no n*vel lgico como esquema do ju*zo :( $. 0 dentro desse esquemase discute ent"o o problema do realismo e do idealismo na teoria do con-ecimento, namanual*stica da filosofia.

    & seguir na nossa breve e%posi"o simplificada do que seja fenomenologia, num modo

    mais temtico e e%pl*cito do que j ocorreu acima, tomemos no in*cio como fiocondutor o problema do realismo e idealismo na corrente da teoria do con-ecimento,mas que p. e%., no in*cio da pesquisa fenomenolgica de usserl, tomou a forma doconfronto com o assim c-amado psicologismo. O que estava em quest"o nesse inicialconfronto da fenomenologia com o psicologismo+

    rata(se de uma quest"o todo especial, surgida bem nos in*cios da fenomenologia.Cuest"o essa que, longe de estar resolvida, -oje at caiu no esquecimento como quest"oe aparece nas diversas disputas acad'micas, como nas e%istentes entre as correntesfilosficas de orienta"o fenomenolgica tradicional e assim c-amada filosofia anal*ticada linguagem.

    !o confronto da fenomenologia iniciante com o psicologismo, estava em jogo a quest"oda fundamenta"o das ci'ncias modernas e do papel e%ercido pela psicologia nos in*ciosda fenomenologia nesse problema da fundamenta"o, e ao mesmo tempo, trata(se daquest"o impl*cita nessa fundamenta"o das ci'ncias, a saber, a quest"o da ess'ncia ouser das ci'ncias.

    &s ci'ncias modernas, na sua acribia cr*tica, sempre de novo e%aminam e ree%aminamsua prpria fundamenta"o. O interesse e a preocupa"o para a necessidade defundamentar e revisar as ci'ncias a partir dos seus posicionamentos bsicos comearama se avivar intensamente no in*cio do sculo , mobilizados pelo progresso da

    psicologia e%perimental. 0 na perspectiva desse interesse da refunda"o das ci'ncias, onome Gsicologia n"o somente indicava essa inquieta"o pela busca da limpidez dacientificidade do ser cient*fico, mas tambm uma autointerpreta"o da psicologia delamesma como a ci'ncia primeira e ltima, i. , como ci'ncia bsica, a meta(ci'ncia, quefundamenta todas as outras ci'ncias, quer naturais, quer -umanas, no seu ser cient*fico.0ssa autointerpreta"o da psicologia de si mesma como ci'ncia fundamental de todas asci'ncias formou uma filosofia que recebeu na poca o nome de psicologismo, que em

    breve comeou a se des(almar, des(animando a alma para ser o 'iosda biologia, e des(vitalizar o bios para ser energia da ci'ncia f*sico(matemtica, recebendo sucessivamenteo nome de biologismo e naturalismo ou fisicismo. $ortanto, repetindo, o psicologismo uma corrente filosfica que coloca a psicologia moderna e%perimental como ci'ncia

    bsica que fundamenta todas as outras ci'ncias.

    1enomenologia surge, de in*cio, como confronto com o psicologismo.

    Anotao I=: >a Fenomenologia, uma caricatura (um resumoc;ato su4erficial)

    !. & 4ro/lema do 4sicologismo

    De uma forma bastante simplificada e talvez at ing'nua, podemos caracterizar oproblema do psicologismo mais ou menos da seguinte maneira7 as ci'ncias, sejam elasnaturais ou -umanas, s"o conjuntos sistemticos de con-ecimentos. 0nquantocon-ecimentos s"o atos de intelec"o, juntamente ao lado dos atos de voli"o e de

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    sentimento. 0sses atos, na poca tambm c-amados de viv'ncias, s"o fen?menosps*quicos, fen?menos inerentes e provenientes da psique -umana. oda ci'ncia tem oseu objeto prprio e o ato da intelec"o que constitui o@sA con-ecimento@sA desse mesmoobjeto. 0mbora as ci'ncias sejam diferentes entre si no seu objeto, elas todas t'm emcomum serem sistematiza"o de con-ecimentos, de produtos dos atos de intelec"o.

    :em refer'ncia # intelec"o, ao ato do intelecto, que num sentido mais vago e geraltambm pode se c-amar de atos ps*quicos do sujeito(-omem ou de atos da consci'ncia,n"o -averia nen-uma ci'ncia. $.e%. um objeto enquanto coisa, ali simplesmente dada,que e%ista em si, sem nen-uma refer'ncia ao sujeito -umano ou # consci'ncia -umana,n"o teria nen-um sentido, pois algo em si, sem nen-uma refer'ncia ao -omem j umarefer'ncia. Ora, entre as ci'ncias, e%iste uma que tem por objeto os atos ps*quicos emgeral e em particular7 a psicologia. $ortanto, a psicologia tem por objeto os atos

    ps*quicos, i. , o elemento constitutivo do con-ecimento, do saber -umano, portanto dasci'ncias. &ssim, a psicologia, como ci'ncias dos 8fen?menos ps*quicos9 a ci'ncia

    primeira e bsica que fundamenta todas as ci'ncias.

    !o ano LRR saiu publicado o 2 volume das 9nvestiga!%es lgicasde 0dmund usserl,fundador da fenomenologia. O livro causou um grande impacto no mundo acad'mico dapoca. $ois, ali, usserl se confronta de um modo contundente com a tese do

    psicologismo. /ostra que p. e%. objetos(ideais como as estruturas matemticas, lgicasetc. n"o podem ser reduzidos na sua objetividade a atos ps*quicos da intelec"o, os quaist'm propriedade de serem atos passageiros, mutveis, sujeitos # evolu"o

    psicossomtica do ser -umano. :e for assim que estruturas lgico(matemticas como p.e%. B^BVU possam ser reduzidas em ltima anlise ao ato ps*quico da sua intelec"o,

    poderia no futuro acontecer que, elas, pela mudana p. e%. do crebro -umano pelaevolu"o, n"o mais fossem verdadeiras. & tese de que as estruturas lgico(matemticasque regem os atos do pensar s"o na realidade momentos do prprio ato, e que por isso

    mesmo est"o sujeitas #s mutaes biolgicas constitui a posi"o fundamental dafilosofia que agora n"o mais se c-ama psicologismo, mas sim biologismo. 0 dando maisum passo adiante, a tese de que as mesmas estruturas ideais est"o sujeitas #s leis detransmutaes f*sicas puramente corporais materiais recebeu a qualifica"o de seremnaturalistas, da* o naturalismo ou de serem fisicistas, da* o fisicismo. &ssim,

    psicologismo, biologismo, naturalismo e fisicismo indicam uma mesma e nicatend'ncia, na qual se processa a redu"o de diferentes dimenses da realidade #sestruturas ps*quicas, destas #s psicossomticas, depois destas #s biolgicas, e por fim #sf*sico(energticas da f*sica nuclear.

    & rea"o de usserl ao psicologismo no 2 volume das investiga!%es lgicasfoi saudadacom simpatia e entusiasmo pelos que na quest"o da verdade pertenciam ao realismo nateoria do con-ecimentoBT.O 2 volume das9nvestiga!%es lgicasparecia ter retomado a

    BT O problema do psicologismo e a rea"o da fenomenologia iniciante est"o dentro da perspectiva dateoria do con-ecimento, proveniente dentro da defini"o tradicional da verdade como veritas estadaequatio rei et intellectus @verdade adequa"o da coisa e do intelectoA. :egundo essa defini"o, umcon-ecimento verdadeiro se - concord4ncia entre o intelecto e a coisa. 0m vez de intelecto podemostambm dizer -omem(sujeito, consci'ncia -umana e em vez de coisa, objeto. :e nessa adequa"o, a quese conforma coisa @resA e o que se adequa intelecto @intellectusA, temos a predomin4ncia daanterioridade da coisa, da ressobre o intellectusou do objeto sobre o sujeito7 temos nesse caso a teoria docon-ecimento do realismo ou do objetivismo. :e pelo contrrio, ao que se adequa o intelecto, e o que se

    adequa a coisa, temos ent"o a teoria do con-ecimento do idealismo ou do subjetivismo. 0ntre a posi"odo realismo e do idealismo ou do objetivismo e do subjetivismo, pode -aver variantes de acentua"o, orana dire"o da coisa, ora na dire"o do sujeito(-omem. &ssim, surgem teorias de con-ecimento do

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    posi"o do realismo atravs da doutrina da intencionalidade. 0m distinguindoclaramente o con-ecimento, entendido enquanto o contedo objetivo e o con-ecimentoenquanto o ato do con-ecer e resgatando o aspecto objetivo da refer'ncia docon-ecimento # realidade, e%istente em si, independente do ato de con-ecer, afenomenologia das9nvestiga!%es lgicas, ao mesmo tempo que combatia o relativismo

    do psicologismo, mostrando(l-e a impossibilidade de identificar o contedo objetivosimplesmente com o ato fugaz e passageiro do ato de con-ecer, parecia ter re(introduzido o conceito da intencionalidade da escolstica medieval no mundoacad'mico(filosfico, dominado pela teoria do con-ecimento de cun-o subjetivo(idealista. 0ssa recep"o da fenomenologia, feita a modo do realismo, fomentou a buscacada vez mais diferenciada na descoberta de diferentes tipos ou classes de objetos.)omeou(se assim a distinguir objetos(coisas, objetos(valores, objetos(ideais, objetos(etiolgicos, estticos etc. e tudo isso em acentuando a 8ocorr'ncia9 de todos esses tiposde objetos como 8realidades9 em si, cada qual a seu modo, entendendo(se a palavrarealidade num sentido bem lato, n"o restrito ao modo de ser em si das coisas f*sico(corporais. &bre(se assim a possibilidade de uma fenomenologia 8realista9, na qual se

    aprimora na descri"o detal-ada do objeto dado, sob diferentes 4ngulos. &fenomenologia que permaneceu nesse n*vel de coloca"o realista recebeu muitas vezeso nome defenomenologia descritivaIX.

    conceptualismo, do criticismo etc. 0m todas essas tend'ncias a posi"o fundamental permanece igual, asaber7 todos eles colocam no ato do con-ecer o lugar onde se d a adequa"o, mas parece n"o questionarse poss*vel a adequa"o, e como se d a adequa"o, o que afinal a adequa"o e em que consiste o serdo intelecto, do ato e o ser do objeto e da coisa.!a 2dade /dia, nessa defini"o veritas est adaequatiorei et intellectusestavam implicadas duas colocaes, relacionadas mutuamente na din4mica da a"o deDeus na )ria"o. &ssim, a defini"o se lia uma vez7 veritas est adaequatio rei ad intellectum divinum eoutra vez7 veritas est adaequatio intellectus humanus ad rem.&qui a medida dos entes @criaturasA est nointelecto divino3 e a medida do intelecto -umano est na coisa. O que fundamentava a rela"o entre acoisa e o intelecto era a rela"o que as coisas tin-am com o 2ntelecto Divino.

    BN 0ntretanto, se torna bastante claro que a adaequatioda e%plica"o realista docon-ecimento parece ser mais pr%ima e natural, e reproduzir a obviedade das nossasviv'ncias da e%peri'ncia da realidade concreta e simplesmente dada de todos os dias. &sensa"o de segurana de que as coisas est"o ali diante e ao redor de mim, assim comoelas s"o e se apresentam, e que eu capto a coisa ela mesma ali presente em seus vriosaspectos, parece ser um fato inegvel, indubitvel. &ssim, o realista parece ter raz"oquando afirma que as coisas e%istem em si, ocorrem ali dadas simplesmente deantem"o, anteriores a todas as nossas captaes. udo isso, porm, parece ser evidenteat certo ponto, quando se trata de captar as coisas sens*veis corpreo(f*sicas. /astambm as assim c-amadas coisas ps*quicas, coisas espirituais, coisas estticas, coisas(valor, coisas ideais etc. se nos d"o, se nos apresentam. :"o todas essas coisas, coisastambm no sentido das coisas f*sicas, algo sens*vel palpvel pelos M sentidos, diante dee ao redor de ns, e%istentes em si, independente e anteriormente # percep"o daconsci'ncia+ $or ouro lado, o que significa coisas e%istentes em si, independentesanteriormente # consci'ncia+ !"o assim que tudo de alguma forma est referido #consci'ncia+ 0sse processo de 8desmaterializa"o9 da 8coisa -ipostatizada9 como esse

    bloco(coisa, libera o aparecimento do conjunto como totalidade, dentro e a partir daqual isto ou aquilo tem o seu sentido. &ssim, no lado da 8realidade9 em si, abre(se toda

    uma paisagem de infindas regies, sub(regies, setores, reas de conjunto de 8coisas9,constituindo o aparecimento do mundo 8objetivo9 diante e ao redor de mim7 temosassim paisagem ou mundo denominado noema3 o mesmo processo pode ser feito, agora

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    0ntrementes, na autocompreens"o da fenomenologia comeou(se a perceber que essamaneira de entender a intencionalidade n"o correspondia # grande descoberta deusserl, a qual c-amou de intencionalidade.)om a descoberta da intencionalidade, nosentido todo prprio de usserl, a fenomenologia rompe com a camisa de fora em queela foi colocada na autointerpreta"o inicial, como sendo uma nova teoria de

    con-ecimento. )om a descoberta da intencionalidade, usserl inaugura uma abordagemdo con-ecimento, n"o mais a partir da teoria do con-ecimento, inteiramente dentro dabitola da defini"o tradicional da verdade como adaequatio rei et intellectus, mas apartir e dentro da quest"o do sentido do ser, a partir da 8ontologia9 toda prpria e novana indaga"o mais vasta e mais radical do ser do prprio ato, n"o mais entendidousualmente como referido ao sujeito, # consci'ncia, ao intelecto, mas como o modo deser sui generis7 como intencionalidade.

    . A intencionalidade

    = sempre dif*cil entender e dizer adequadamente o que a fenomenologia convencionou

    c-amar de intecionalidade, livre inteiramente da tend'ncia realista da teoria docon-ecimentoBH. !a tentativa de compreender a intencionalidade fenomenolgica damel-or forma poss*vel, mais condizente com ela, voltemos # obra de 1ranz 6rentano,intituladaGsicologia so' o ponto de vista emp$ricoIY, donde usserl intuiu a ideia daintencionalidade.

    !a p. M da acima mencionada obra diz 6rentano7 8odo o fen?meno ps*quico contmalgo como objeto em si, embora n"o cada um de igual modo. !a representa"o algo representado, no ju*zo algo recon-ecido ou rejeitado, no amor, amado, no dio,odiado, na cobia, cobiado9. >ma afirma"o banal em que, se n"o a captarmos com

    precis"o, nada encontramos de novo, nada que denote uma descoberta importante, a n"o

    ser o bvio de uma constata"o, con-ecido por todos, na teoria de con-ecimento.)onforme essa compreens"o bvia -, de um lado, a coisa em si, e de outro lado osujeito -umano com seus atos ps*quicos, i. , fen?menos ps*quicos, de diversos tiposcomo representa"o, ju*zo, voli"o, apreens"o etc. 0sses atos ps*quicos se caracterizamcomo intenes, i. , o ato de tender em dire"o a @in(tendereA. )ada uma dessas in(

    tendo como tema o sujeito con-ecedor, que uma vez 8dessubstancializado9 se abrecomo todo um mundo de 8realidades9 sui generis prprias com seus variegados atos,noemas e egoidades7 temos assim a paisagem denominada7 noesis.Cueest referida #consci'ncia, ao ato do sujeito que capta, percebe, valoriza+ Cue sentido faz falar de algoque e%iste em si, independe e anterior # consci'ncia, se essa fala j uma refer'ncia #capta"o da consci'ncia+BH 2ntencionalidade vem do verbo latino intendereque quer dizer7 tender em dire"o a e

    para dentro de. !a teoria do con-ecimento de cun-o realista dizemos7 o sujeito no atoda intelec"o tende de dentro de si para fora em dire"o # coisa, e%istente em si fora,diante ou ao redor dele.BL O t*tulo original em alem"o soaGsychologie vom empirishcen "tandpun2t, foieditado em B volumes, na cidade de Qiena, em HNU. & tradu"o do "tanpun2tporpontode vistan"o e%ata. $ois "tandn"o significa vista. "tandvem do verbostehenquesignifica estar de p, erguer)see permanecer de p,permanecer,ficar.alvez possamostraduzir "tandpor 8est4ncia9, i. , o lugar onde se est, o c-"o que serve de base para

    ficar de p. O 8ponto da est4ncia9 seria ent"o o piv? fundamental, o fundo dentro e apartir do que algo se ergue e se firma.Gsicologia a partir do ponto da estAncia emp$ricadiz portanto7 psicologia a partir da pressuposi"o emp*rica.

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    tenes se dirige a, e tem na ponta da sua tend'ncia um objeto, cada vez seu, para o qualest apontando. &ssim compreendida, a intencionalidade n"o nos revela realmente deimediato, o que digamos, corpo a corpo, em carne e osso, i. , como a coisa ela mesma,e%perienciamos no nosso vivenciar. = que no modo usual de 8descrever9 aintencionalidade, n"o percebemos que todos os elementos que constituem o esquema

    su-eito)ato)o'-eto j est"o prefi%ados como7 duas su'stAncias)coisas ocorrentes eenfileiradas uma ao lado da outra, ligadas por uma rela!o, que por sua ve(, no passade uma representa!o vaga e sem conteQdo de liga!o, i. , de rela!o, como uma linha

    geomtrica, reta entre dois pontos. alvez seja por isso que 6rentano n"o diz7 cadasu-eito com o seu ato,mas sim, cada fenmeno ps$quico.

    )omo entender, pois, a afirma"o de 6rentano7 8#odo o fenmeno ps$quico contm algocomo o'-eto em si,em'ora no cada um de igual modo. 8a representa!o algo representado, no -u$(o algo reconhecido ou re-eitado, no amor, amado, no dio,odiado, na co'i!a, co'i!ado9+ !"o se pode perceber o que intuiu usserl nessas frasesse continuarmos a interpretar a coloca"o de 6rentano dentro do esquema usual da

    intencionalidade como 8tender do -omem(sujeito sobre o objeto, e%istente em si, diantedele, atravs do ato de con-ecer, representar, julgar, amar, odiar, cobiar etc.9 /as, porqu'+ $orque o indicado, o apontado pela frase 8tender do -omem(sujeito sobre o objeto,e%istente em si, diante de dele atravs do ato9 n"o viv@ncia do ato, mas simprodutos,i. , resultados constitu*dos num processo de o'-etiva!o. :e somos assim que n"o

    percebemos tratar(se aqui de produtos de o'-etiva!o, e nos representarmos essesprodutos simplesmente como entes reais em si, acontece ent"o conosco o seguinteprocesso7 primeiro, isolamos os produtos da objetiva"o, separando(os do processo deobjetiva"o, -ipostatizando(os ora como coisas em si @subst4nciasA, ora como coisasPaderentes @acidentesA a outra coisa. & seguir tentamos ligar entre si essas coisas assim-ipostatizadas, dizendo(nos mais ou menos 8com os nossos botes97 aqui estou, eu, uma

    subst4ncia e%istente em e por si mesma, diante da qual est uma coisa c-amada o'-eto,que tambm uma subst4ncia em e por si mesma @ou se n"o o for realmente e%istentecomo coisa f$sica, ao menos tida como algoem si a modo de coisa ideal, coisa ps*quica,coisa esttica, coisa(valor, coisa supra(sens*vel etc.A, sobre a qual a subst4ncia(eu sedirige numa a"o, i. , numa coisaP c-amada intencionar@con-ecer, representar, julgar,amar, odiar, cobiar etc.A, que n"o propriamente uma subst4ncia, mas algo que aderecomo seu acidente a uma subst4ncia. 0 se algum nos c-ama aten"o de que todas essascoisas @subst4ncias7 res in seA e semi(coisas @acidentes7 res in alioA s"o como que

    produtos da a!o c-amada o'-etiva!o, representamos a prpria objetiva"o comoacidente inerente a uma subst4ncia, c-amada sujeito(-omem, que por sua vez, atravsdo acidente(a"o, se dirige aos objetos, no nosso caso p. e%. sujeito eu, o ato daintencionalidade, a saber, representar, julgar, amar, odiar, cobiar etc. 0 esse processo,cujo esquema o dosu-eito)ato)o'-eto, pode se repetir indefinidamenteSR.

    /as, ent"o, como entender a frase de 6rentano, onde usserl intuiu a ess'ncia daintencionalidade+ Devemos entend'(la como acenando para viv@ncia. &ntes de

    SR )f. /05O!, -omaz.4 via de Hhunag)#(u. $etrpolis7 Qozes,p. BT(N7 )-uang(zu e ui(zu atravessavam o rio ao. Disse )-uang7 8Qeja, como os pei%es pulam ecorrem t"o alegremente. 2sto a sua felicidadeF9. 5espondeu ui7 8Desde que voc' n"o um pei%e, como sabe o que torna os pei%es felizes+9 )-uang respondeu7 8Desde que

    voc' n"o eu, como poss*vel que saiba que eu n"o sei o que torna os pei%es felizes+9ui argumentou7 8:e eu, n"o sendo voc', n"o posso saber o que voc' sabe, da* seconclui que voc', n"o sendo pei%e, n"o pode saber o que eles sabem9.

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    percebermos a coloca"o de 6rentano como indicativo da viv@ncia, uma rpidaobserva"o sobre o t*tulo do livro de 6rentano, onde usserl leu a defini"oP do queseja propriamente intencionalidade. O t*tulo do livro de 6rentano soa Gsicologia do

    ponto de vista emp$rico.O t*tulo pode nos enganar se entendermos a palavra emp$ricoPna acep"o usual -odierna do modo de ser eperimentaldas ci'ncias positivas do estilo

    das ci'ncias naturais, f*sico(matemticas. O emp*rico assim compreendido o oposto doespeculativo, do no)real, dofantasiado, apenas 8fenomenal9S. O emp$rico, aqui, deveser tomado no sentido mais abrangente poss*vel de capta"o imediata, simples, pele a

    pele Y a tenta"o de dizer Y, anterior a toda e qualquer ela'ora!o. : que esseacrscimo desvia a compreens"o do carter emp*rico que usserl reivindicava para asua fenomenologia. $ois dizer anterior a toda e qualquer ela'ora!od a entender queno in*cio - o material informe, vago, indeterminado que depois toma forma econcre"o3 e que o emp$rico significa captar a realidade elementar ainda intactaSB, no

    S alvez fosse interessante e%aminar como o especulativocomea a receber aconota"o do irreal, e aos poucos dosu'-etivo, ao passo que o emp$rico, a conota"o do

    real, do o'-etivo. >sualmente n"o percebemos como, nesse real o'-etivo, o sentido doreal j est identificado com o o'-etivo, de tal sorte que facilmente aceitamos sem ver acoisa, i. , a causa ela mesmada iguala"o7 real V objetivo. Cuando na fenomenologiafalamos do real, da realidade, i. , da res, ou mesmo do ente, dosere tambm do nticoe ontolgico necessrio observar essa diferena entre coisa e o'-eto.$or isso nafenomenologia o termo alem"o 7egenstand@Gegen V gen3 stand V do ste-enA e 0'-e2t@Ob, tambm pro3 je[t V iect V iactare V jectar V lanarA indicam dois modos deo'-etiva!o, i. , do processo atravs do qual o ente se torna presente, vem # fala dentrode um determinado -orizonte. 0'-e2t o ente que vem de encontro a ns, daobjetiva"o que se processa a partir e dentro do -orizonte das ci'ncias do tipo 8ci'nciasnaturais9. 7egenstand o ente que nos vem de encontro no -orizonte da paisagem que

    se abre no assim c-amado 8mundo vital circundante natural9, que muitas vezes denominado tambm de mundo pr)predicativooupr)cient$fico.$or isso, o que nafenomenologia indicado compr)predicativooupr)cient$ficon"o deve seridentificado com no ela'orado, informe, vago, ou indetermina"o abstrata, espaovazio sem estruturaes, mas sim como concreto, imediatopleno, natura enquantonascivo, nascente, o que na flu@ncia do que vem concre!o i. , o em sendo, o ente,ofenmeno.SB 2sto levou a inmeras aporias que aparecem em perguntas como7 ( esse material,anterior #s elaboraes, real em si, algo ali e%istente em si, independente do sujeitoque o capta+3 e as formas que o material recebe, donde v'm+3 n"o v'm do sujeito que

    projeta sobre essa 8tela9 vazia objetiva seus projetos subjetivos+ $ercebemos que o real,entendido comosu'stratoindeterminado, facilmente nos leva a entender a realidadecomo espa!o va(io o'-etivamente, i. , matematicamente mensurvel, onde se acham

    por sua ve( as su'stAncias a modo de nQcleos)tomos, sem propriamente conteQdoqualitativo, mas apenas como que concentra!%es quantitativas de uma Msu'stAnciaN

    geral, que no nenhuma realidade Msu'-etivaN,mas sim o'-etiva, homog@nea,8etrea9, quase nada.Da*, passar para a compreens"o da realidade como energiaediferentes variaes de intensificaes e rarefaes dessa realidade energtica-omog'nea, calculvel e calculada, segundo a precis"o e o rigor da objetividadematemtica, um passo. Xogo vemos que essa realidade o'-etivapouco tem a ver coma realidade concretada capta"o imediata e simples, dada no nosso cotidiano. &qui

    podemos ver, por outro lado, como em todas as colocaes, em geral n"o analisadas,ainda domina um dogma dif*cil de ser desmascarado, que o dogma do problema malcolocado do sujeito(objeto, na forma do 8idealismo(realismo9, i. , a coloca"o

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    seu estado material. &o passo que o emp$rico na fenomenologia significa s esimplesmente o captar, ou mel-or, o colher simples e imediato, sem mais nem menosque est e%presso noslogan7 coisa ela mesma**. 2sto significa que, se acaso -ouver,aqui, apenas dado como suposto, esse processo de elabora"o do materialindeterminado, vago e informe para a gradual coisifica"o at o processo se consumar

    numa -ipostatiza"o, a modo de coisa ali presente em si, o captar simples e imediatoacol-e cada etapa, cada liga"o das etapas, cada crescimento das etapas, cada vez denovo, cada vez simples e imediatamente, sem mais sem menos, assim como tudo issoaparece sempre novo e de novo na sua totalidade. rata(se da claridade e distin"o dotornar(se da e(videncia"o, algo como o cont*nuo e renovado abrir(se da claridade, i. ,da clarifica"oSU, um surgir incessante, o vir # fala, o vir # luz. 0ssa claridade din4micada e(videncia"o, da presencia"o oponto de vista emp$rico.&qui o ponto de vistan"o um ponto fi%o, a partir do qual se encai%em todas as coisas na perspectiva dessevisual pressuposto, mas sim como que ponto nevrlgico, ponto de toque, o fundo dosalto, dentro e a partir do qual continuamente brota o vigor elementar do e)videri, aclareira, o olho da lu(que, enquanto condi"o da possibilidade, e enquanto espao de

    jogo impregna todos os entes, i. , cada ente, cada em sendo, cada vez na sua totalidadedin4micaSM. odo o segredo da compreens"o adequada do que seja a intencionalidadefenomenolgica est em compreender com precis"o essa evidencia!o, i. , comoo

    puro ato c-amado captar simples e imediato. )omo j foi mencionado, para issodevemos fazer o processo de entender o modo de ser do con-ecimento como viv@ncia.

    )omo, porm nos reconduzir # viv'ncia, a partir da representa"o que fazemos daintencionalidade como relacionamento do sujeito sobre o objeto, atravs do atoc-amado intencionalidade+

    5epetindo, diz 6rentano7 8#odo o fenmeno ps$quico contm algo como o'-eto em si ,

    em'ora no cada um de igual modo. 8a representa!o algo representado , no -u$(oalgo reconhecido ou re-eitado, no amor, amado, no dio, odiado, na co'i!a,co'i!ado9. 6rentano n"o diz7 eu, o su-eito)homem, dirijo(me ao o'-eto atravs dofen?meno ps*quico, do ato. Diz simplesmente7 #odo fenmeno ps$quico. 0m vez de

    fenmeno ps$quico, digamos viv@ncia.:em 8definir9 logo o que seja viv@ncia, dei%andovago de que se trata, ouamos7 8viv'ncia9 contm em si algo como o'-eto. :e a viv'nciase c-ama representa!o, algo representado3 se -u$(o, a-ui(ado ou -ulgado@recon-ecido ou rejeitadoA3 se amor, amadoetc. >sualmente no esquemasu-eito)ato)o'-eto temos primeiro o o'-eto como coisa em sifora, diante, independente de ns,e%istente em si, ali presente na sua ocorr'ncia, pronto para ser representado, julgado,amado, odiado, cobiado. O objeto, a coisa em si por assim dizer, enfocada vriasvezes, de modos diferentes pelos atos subjetivos, i. , do sujeito, denominadosrepresentar, julgar, amar, odiar, cobiar. !a coloca"o de 6rentano, o estado da coisan"o mais assim. )ada 8fenmeno ps$quico9 cada vez, por assim dizer um todoc-amado representa"o, ju*zo, amor, dio, cobia que cada vez contm o seu objeto que

    equivocada da teoria do con-ecimento.SS&ur "ache sel'st.SU>lBrung.SM O verbo latino evideri@leia(se e(videriA no seu modo de 8atuar9 n"o nem ativo nem

    passivo, nem propriamente refle%ivo, mas medial. O modo medial e%pressa movimento

    de din4mica toda prpria, a qual, de modo muito imperfeito tentamos descrever acima.= 8algo9 como o movimento de 8autonomia9 que aparece no crescer, entumecer,aumentar, incandescer, bril-ar, vir # luz, tomar corpo, vir # presena ou aus'ncia etc.

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