sempre a mesma coisa - escola secundária de cacilhas

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  • 8/8/2019 Sempre a Mesma Coisa - Escola Secundária de Cacilhas

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    Sempre

    a mesma

    coisa

    Inês Baptista 

    Jasmim Cotrim 

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    Sempre a Mesma Coisa

    Autora: Inês BaptistaIlustrações: Jasmim Cotrim

    Curso Profissional Técnico de Design Gráfico

    Escola Secundária de Cacilhas-TejoMaio 2015

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    Era pleno verão e dou por mim com uma tempestade lá fora já a antecipar o que me esperava. Fui escolhidapara representar a minha escola de dança no campeonato deste ano! Foi realmente a única coisa com que mepreocupei nos últimos dois meses mas, quando finalmente chega a hora, é difícil de acreditar.

    Sou a Jenna, fiz 16 anos há pouco tempo e a minha grande paixão desde pequena é dançar. Era incrível como,depois de todos estes anos de treino, estava a chegar realmente a algum lado! Mas ainda faltava uma coisa quetambém era importante e, mesmo que não fosse, sem ela não ia a lado nenhum daqui para a frente... Desta veznão podia desviar o olhar, tinha de lhe mostrar o quão importante isto era pra mim!

    Saí do estúdio de dança já era noite cerrada e a chuva parecia forte ao ponto de me abrir um buraco na mão

    se eu a estendesse só para sentir a temperatura da água. É um hábito estranho, eu sei, mas desta vez a brisagélida chegava para eu perceber um pouco melhor aquilo que se passava à minha volta. Encostei-me à parededo edifício, abrigada da chuva, e fiquei à espera da minha boleia.

    Nada mais importava naquele momento. A cada minuto que passava o meu nervosismo aumentava e trêsnovas formas de pedir “Por favor, posso ir ao campeonato?” surgiam e desapareciam da minha cabeça. Tinhade conseguir, desta vez não podia ficar de fora.

    Atrasada como sempre, a minha mãe chega. Ainda não estava habituada ao carro novo. Há dois anos o meupai teve um acidente e toda a minha família sofreu muito, especialmente eu, que ainda hoje não acredito naspalavras da minha mãe quando me disse que ele não ia voltar. Desde então, as coisas mudaram muito e umadas que eu menos gosto é este carro, que não tem qualquer significado para mim. Nunca passei nele qualquermomento, nem bom nem mau, apenas boleias da escola para casa e vice-versa... sempre a mesma coisa.

    Abro a porta do banco da frente e sento-me, ainda calada. Tiro o casaco molhado da chuva e atiro-o para

    o banco de trás enquanto me despacho para tirar um meio sujo, mas, sem dúvida, mais confortável e seco, daminha mala de desporto.

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     Já estava à espera desta resposta, mas eu vou vencer, eu vou conseguir o que quero desta vez.- Porque não? – Nunca lhe falei de forma tão confiante.

    Do nada, parece que previ o futuro. Ela estende a mão para clicar naquele botão novo que eu odiava: ligoua condução autónoma... Parece que os carros de hoje em dia já não nos deixam fazer nada sozinhos, mas issopouco me interessava.- Tu já sabes aquilo que eu penso sobre esses espetáculos, já tens sorte de eu te deixar vir às aulas. – Cada vezmais a raiva me sussurrava ao ouvido... não me ia manter calma por muito tempo.- Tu nunca me chegaste a explicar nada! Eu nunca cheguei a saber porquê! E antes apoiavas-me tanto! Eu nãoentendo! – Nunca lhe tinha levantado a voz daquela maneira. Sempre fiz o que ela me pedia, sempre fui a filha

    perfeita.- Não te quero ver a fazer figuras tristes em frente a tanta gente. No estúdio, tudo bem, estão poucas pessoasa assistir, mas os campeonatos... Vais estar em frente a dezenas de outras escolas! – Não entendo o que ela tema ver com isso.- Essa preocupação devia ser minha! – fiquei com um nó na garganta, já me era difícil falar - E não são“figuras tristes”, é dança! Aquilo que eu faço desde pequena! Tu e o Pai adoravam ir ver-me! Eu lembro-me,especialmente tu, que nunca te esquecias de levar a câmara e filmavas as minhas “figuras tristes” todas!- Jen… - Ela falou mas eu ignorei e continuei a falar:- Já não és a mesma… - Não pude evitar, já tinha as lágrimas a cair-me do queixo.- Sabes – Ela começou a falar com um tom de voz completamente diferente, mais calmo e menos arrogante- Parece que as pessoas mudam mesmo, vives com elas toda a vida e pensas que já as conheces, um dia elaspassam a agir de forma diferente e assumes que elas mudaram, parece mais fácil, e é. Desculpa se mudei no teuolhar.- No meu olhar? – Como assim? Ela esteve a fingir este tempo todo? Porque faria uma coisa dessas?- Já pensaste que quando alguém “muda” talvez só esteja a mostrar uma nova face que sempre existiu?

    Acredito que temos várias dessas, e com o tempo alguém nos dá uma espécie de chave que as deixa ser livres,à sua maneira claro...- Chave? Então alguém te deu uma “chave”? Quem? Porquê? – Só quero que ela a devolva a quem quer quea tenha dado!

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