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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ FERNANDO BALDISSERA A BASE DE CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE APÓS A SÚMULA VINCULANTE N º 4 DO STF Biguaçu 2010

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

FERNANDO BALDISSERA

A BASE DE CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE APÓS A SÚMULA VINCULANTE N º 4 DO STF

Biguaçu

2010

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FERNANDO BALDISSERA A BASE DE CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE APÓS

A SÚMULA VINCULANTE N º 4 DO STF

Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial a obtenção do grau em Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. MSc. Roberta Schneider Westphal

Biguaçu 2010

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FERNANDO BALDISSERA

A BASE DE CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE APÓS A SÚMULA VINCULANTE N º 4 DO STF

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e

aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Ciências Sociais e Jurídicas.

Área de Concentração: Direito do Trabalho

Biguaçu, 24 de novembro de 2010

Prof. MSc. Roberta Schneider Westphal UNIVALI – Campus de Biguaçu

Orientador

Prof. MSc. Dirajaia Esse Pruner

UNIVALI – Campus Biguaçu Membro

Prof. MSc. Marcio Roberto Paulo UNIVALI – Campus Biguaçu

Membro

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Dedico este trabalho aos meus pais

Carlos Alberto Baldissera e Áurea de Mello Baldissera

e a minha amada Ana Cristina de Aguiar Vaz (Baldissera)

por todo amor, dedicação e compreensão que sempre dispensaram.

Eternamente fontes de inspiração.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, o Grande Arquiteto do Universo por me permitir chegar

até o final de mais uma etapa.

Agradeço ao meu irmão e amigo, Ricardo Baldissera, por todo apoio

dispensado nas incontáveis horas a ensinar-me sobre o direito e a vida.

A minha irmã, amiga e sócia, Beatriz Maria Baldissera, por suportar a

pressão da minha ausência durante todo o tempo em que precisei e por todo o

auxílio durante sua existência em minha vida.

Aos colaboradores da nossa empresa, pela tolerância de minhas ausências

e apoio nos momentos em que solicitei.

Aos meus verdadeiros amigos, conquistados durante minha vida, que

sempre me deram apoio durante esta caminhada na Universidade.

A professora Helena Nastassya Paschoal Pitsica, pela recepção do início e

atenção até o final da minha trajetória na Universidade.

Àqueles professores que com sua humildade ensinaram-me a importância

do direito e da busca pelo conhecimento e também àqueles que com sua soberba

me ensinaram a importância da humildade.

Agradeço em especial a Dra. Roberta Schneider Westphal, pela paciência e

profissionalismo com que conduziu a orientação deste trabalho, pela amizade e

parceria dispensada e por aceitar meu pedido de orientação sempre me guiando

pelo melhor caminho.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu, 24 de novembro de 2010.

Fernando Baldissera

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RESUMO

O adicional de insalubridade, criado com o intuito de compensar o prejuízo causado por agentes nocivos à saúde do trabalhador tem seu cálculo fundamentado legalmente em percentual a ser aplicado sobre o salário mínimo. Entretanto a CRFB/88, segundo entendimentos diversos, não recepcionou em seu texto essa previsão da Lei Consolidada, ao passo que veda a utilização do salário mínimo como indexador de qualquer natureza, criando-se assim a celeuma diante da aplicação legal do fator para cálculo do referido adicional. Por este motivo, inclusive, recentemente após decisão proferida em caráter vinculante, quando o STF editou a Súmula nº 4 a qual veda expressamente que o salário mínimo não poderia ser utilizado como indexador de base de cálculo para qualquer fim, deu início a divergências quanto à base de cálculo do instituto. Para estudo da celeuma, portanto, discorrer-se-á a seguir quando o direito do trabalho, seus princípios e normas que visam a proteção do trabalhador, um estudo sobre os adicionais, conceitos e diferenças entre remuneração e salário, os quais são indispensáveis a compreensão da parte final que aborda o posicionamento doutrinário e jurisprudencial acerca da base de cálculo para o adicional de insalubridade.

Palavras-chave: Adicional de insalubridade, base de cálculo, súmula vinculante,

salário mínimo.

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ABSTRACT

The hazard pay, created in order to compensate the damage caused by noxious agents, the health of the worker is legally his calculation based on percentage to be applied on the minimum wage. However, the Constitution of 1988, according to many interpretations, did not accept this prediction in his text of the Consolidated Law, while it prohibits the use of the minimum wage as the index of any kind, thus creating a stir on the legal application of the factor for calculation of that charge. For this reason, including, most recently after a decision handed down in binding, when the Supreme Court issued the Digest No. 4 which expressly prohibits the minimum wage could not be used as an index of the calculation basis for any purpose, began to divergences in basis for calculating the institute. To study the uproar, so talk will be followed when the labor law, its principles and rules aimed at protecting the worker, an additional study on the concepts and differences between compensation and wages, which are indispensable to understanding of the final part discusses the doctrinal and jurisprudential position about the basis for calculating the hazard pay. Keyword: Additional unhygienic conditions, basis, stare decisis, the minimum wage.

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ROL DE ABREVIATURAS OU SIGLAS

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

STF Supremo Tribunal Federal

TST Tribunal Superior do Trabalho

TRT Tribunal Regional do Trabalho

EC Emenda Constitucional

Art. Artigo

OIT Organização Internacional do Trabalho

NR Norma Regulamentadora

CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

EPI Equipamento de Proteção Individual

DRT Delegacia Regional do Trabalho e Emprego

SRTE Superintendência Regional do Trabalho e Emprego

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

SESMT Serviço Especializado em Engenharia de Segurança em Medicina do

Trabalho

SDI Seção de Dissídios Individuais

FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

RR Recurso de Revista

REsp Recurso Especial

LICC Lei de Introdução ao Código Civil

RO Recurso Ordinário

Rcl Reclamação

ASO Atestado de Saúde Ocupacional

BTN Bônus do Tesouro Nacional

TR Taxa Referencial

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................12

1. TEORIA GERAL DO DIREITO DO TRABALHO...............................................14

1.1. HISTÓRICO DO DIREITO DO TRABALHO........................................................14

1.2. CLASSIFICAÇÃO E CONCEITO DE DIREITO DO TRABALHO .....................17

1.3. FONTES DO DIREITO DO TRABALHO..............................................................18

1.4. PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO .......................................................26

1.4.1.1 - O Princípio de proteção..................................................................................28

1.4.1.2 - O Princípio da irrenunciabilidade dos direitos...............................................30

1.4.1.3 - O Princípio da continuidade da relação de emprego......................................31

1.4.1.4 - O Princípio da primazia da realidade .............................................................32

1.5. NORMAS DE PROTEÇÃO DO TRABALHADOR...............................................33

1.5.1. Medicina e Segurança do Trabalho ........................................................................33

1.5.2. Legislação e as NR´s ..............................................................................................34

1.5.3. Órgãos de Segurança e Medicina do Trabalho.......................................................35

1.5.3.1. SESMT ............................................................................................................35

1.5.3.2. CIPA ................................................................................................................36

1.5.3. Condições de Segurança e Prevenção ....................................................................38

2. A REMUNERAÇÃO E OS ADICIONAIS ...........................................................41

2.1. REMUNERAÇÃO ...................................................................................................41

2.2. SALÁRIO.................................................................................................................42

2.2.1 – Conceito de Salário...............................................................................................42

2.2.2 – Modalidades de Salário ........................................................................................46

2.2.2.1 – Salário por tempo ..........................................................................................46

2.2.2.2 – Salário por unidade de obra ...........................................................................47

2.2.2.3 – Salário por tarefa ...........................................................................................48

2.2.3 – Formas de Adimplemento Salarial .......................................................................48

2.2.3.1 – Salário-utilidade.............................................................................................49

2.2.4 – Política Salarial.....................................................................................................51

2.2.4.1 – Salário mínimo ..............................................................................................51

2.2.4.2 – Salário Profissional........................................................................................52

2.2.4.3 – Salário Normativo .........................................................................................53

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2.3. ADICIONAIS...........................................................................................................54

2.3.1 – Adicional de Horas Extras....................................................................................55

2.3.2 – Adicional Noturno ................................................................................................56

2.3.3 – Adicional de Transferência...................................................................................57

2.3.4 – Adicional de Periculosidade .................................................................................58

2.3.5 – Adicional de Insalubridade...................................................................................60

2.3.5.1– Atividades e operações insalubres..................................................................61

2.3.5.2– A eliminação e a neutralização da insalubridade............................................63

2.3.5.3 – Requisitos para o pagamento do adicional de insalubridade.........................64

3. O CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE ......................................65

3.1. BASE LEGAL DE CÁLCULO – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ..........................65

3.2. A SÚMULA VINCULANTE Nº 4 DO STF E O ENTENDIMENTO DO TST.....67

3.3. SALÁRIO MÍNIMO COMO BASE DE CÁLCULO..............................................72

3.4. BTN COMO BASE DE CÁLCULO........................................................................75

3.5. SALÁRIO BÁSICO COMO BASE DE CÁLCULO...............................................76

3.6. DO CÁLCULO DE FORMA ANALÓGICA AO ADICIONAL DE

PERICULOSIDADE............................................................................................................76

3.7. PISO NORMATIVO OU SALÁRIO PROFISSIONAL COMO BASE DE

CÁLCULO. ..........................................................................................................................77

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................81

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................84

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12

INTRODUÇÃO

Trata-se a seguir sobre a controvérsia criada diante da identificação da base

de cálculo do adicional de insalubridade e o posicionamento doutrinário e

principalmente jurisprudencial sobre o tema.

O objetivo central é estudar a celeuma interpretativa existente atualmente

quanto à base de cálculo do adicional de insalubridade, com base na doutrina e

jurisprudência, em especial do Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina.

Com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,

restou questionada a recepção da parte final do art. 192 da Consolidação das Leis

do Trabalho, o qual define o salário mínimo como base de cálculo para o adicional

de insalubridade, tendo a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

em seu art. 7º, IV, vedado a vinculação do salário mínimo para qualquer fim.

Diante das inúmeras demandas sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal

posicionou-se através de preceito criado pela Emenda Constitucional nº 45/04,

editando a Súmula Vinculante nº 4, que contém em seu escopo o que seria a

solução para a controvérsia. Entretanto, por utilizar técnica interpretativa do direito

Alemão de Declaração de Inconstitucionalidade sem Pronúncia de Nulidade, foi

questionada nos tribunais inferiores.

Para tanto, foram levantadas as seguintes hipóteses: A possível não

recepção do art. 192 da Consolidação das Leis do Trabalho que versa sobre a base

de cálculo do adicional de insalubridade pela Constituição da República Federativa

do Brasil de 1988; a cabível vinculação da base de cálculo ao entendimento

sumulado pelo Supremo Tribunal Federal em sua Súmula Vinculante nº 4, no sentido

de não possibilidade do salário mínimo como indexador; e finalmente, o

posicionamento jurisprudencial acerca da base de cálculo do adicional de

insalubridade, sendo que neste estudo, focou-se no Tribunal Regional do Trabalho

12ª Região do Estado de Santa Catarina.

Diante destes questionamentos utiliza-se na parte de investigação o método

indutivo de pesquisa científica, analisando-se cada situação, visando localizar os

elementos necessários à demonstração da problemática em estudo.

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Durante a pesquisa utilizou-se a técnica de pesquisa bibliográfica, através da

citação de autores, que deram origem as ideias apresentadas com adaptação aos

textos originais.

Na busca pelo objetivo do presente trabalho inicia-se o primeiro capítulo com

um estudo do histórico do Direito do Trabalho, analisando-se a classificação, fontes

e princípios que regem o ramo justrabalhista. Posteriormente apresenta-se uma

sinopse a respeito de Medicina e Segurança do Trabalho, bem como sua legislação,

órgãos e condições de segurança e prevenção, a fim de esclarecer ao leitor a

importância do tema do trabalho.

A base proposta no capítulo inicial é de fundamental importância para que se

possa adentrar no capítulo seguinte, ao passo que a Segurança e Medicina do

Trabalho atuam como fatores de prevenção dos riscos inerentes à saúde do

trabalhador, os quais dão a este o direito aos adicionais compensatórios.

No segundo capítulo apresenta-se um estudo da remuneração e do salário,

conceitos estes essenciais para a compreensão das principais teses acerca da base

de cálculo do adicional de insalubridade.

Passo seguinte estende-se o estudo acerca dos adicionais especificando-se

quais as principais categorias e a relação entre eles, bem como o conceito, as

atividades a forma de neutralização e os requisitos de pagamento do adicional de

insalubridade.

No último capítulo, conclui-se o estudo demonstrando-se a base legal

prevista na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, na

Consolidação das Leis do Trabalho, delimitando o posicionamento dos tribunais

acerca da determinação da base de cálculo do adicional de insalubridade,

analisando-se os julgados extraídos do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª

Região, do Tribunal Superior do Trabalho e do Supremo Tribunal Federal.

Finalizando, demonstra-se nas considerações finais qual o entendimento

predominante no Estado de Santa Catarina, acerca da proposição tratada e sugere-

se a continuidade dos estudos abordando o entendimento de outros Estados e

principalmente, reflexões acerca da técnica utilizada pelo Supremo Tribunal Federal

para a declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade, quando da

definição da base de cálculo do adicional de insalubridade.

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14

1. TEORIA GERAL DO DIREITO DO TRABALHO

1.1. HISTÓRICO DO DIREITO DO TRABALHO

A compreensão do Direito do Trabalho passa pelo conhecimento do passado

e do seu aperfeiçoamento no decorrer da história, com a evolução das relações de

trabalho e de subordinação em decorrência da revolução industrial e posteriormente

da revolução tecnológica.

A definição proposta por Cassar ensina que “do ponto de vista histórico e

etimológico a palavra trabalho decorre de algo desagradável: dor, castigo,

sofrimento, tortura.” 1

Ainda sobre o tema, encontra-se no latim a origem da palavra trabalho como

derivada da palavra tripalium que segundo Cunha, apud Barros, foi um instrumento

de tortura composto de três paus. 2

Historicamente tem-se a escravidão como a primeira forma de trabalho

conhecida, porém, como ensina Nascimento o escravo não tinha, pela sua condição,

direitos trabalhistas. 3

A Revolução Industrial e o aparecimento da máquina a vapor é um marco na

exploração da mão de obra, nesta mesma época, surge o contrato de trabalho e o

Direito do Trabalho, juntamente com as normas de proteção ao trabalho da mulher e

do menor em virtude da necessidade de intervenção do Estado nas relações

trabalhistas.

Com o término da Primeira Guerra Mundial, surge o chamado

constitucionalismo social que segundo Martins “é a inclusão nas constituições de

preceitos relativos à defesa social da pessoa, de normas de interesse social e de

garantia de certos direitos fundamentais, incluindo o Direito do Trabalho” 4

1 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 2ª Ed., Niterói: Ímpetus, 2008. p.3 2 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 5ª Ed., São Paulo: LTr, 2009. p.54 3NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 33ª Ed. São Paulo: LTr, 2007. p.43. 4 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23ª Ed. São Paulo: Atlas, 2007. p.9.

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15

A partir dessa etapa, as Constituições de vários países iniciam a

constitucionalização dos direitos trabalhistas, tratando do assunto com distinção.

No Brasil, as Constituições vêm trazendo direitos trabalhistas desde 1824

com a abolição das corporações de ofício, a Lei do Ventre Livre em 1871 a qual

libertava os filhos dos escravos e a Lei dos Sexagenários em 1885, libertando os

escravos com mais de 60 anos. Até que em 1888 a Lei Áurea é finalmente assinada

pela princesa Isabel, sendo que a liberdade de associação foi reconhecida na

Constituição de 1891, conforme nos demonstra Martins5.

Em 1930 é criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio através de

uma política trabalhista idealizada pelo então presidente da República Getúlio

Vargas.6

Desde então, pode-se resumir a evolução do reconhecimento do Direito do

Trabalho pelas Constituições brasileiras através da seguinte ordem cronológica:

A Constituição de 1934 acrescentou o Pluralismo sindical; A de 1937 expressou a concepção política do Estado Novo e as restrições ao movimento sindical, o enquadramento de sindicatos em categorias definidas pelo Estado, a proibição de mais de um sindicato dos trabalhadores na mesma categoria e base territorial e a proibição da greve, considerada um recurso anti-social e nocivo a economia; A de 1964 acolheu princípios liberais na ordem política, mas conservou, embora restabelecendo o direito de greve, as mesmas diretrizes, na medida em que não respaldou o direito coletivo do trabalho, transformando a Justiça do Trabalho em órgão do Poder Judiciário; A de 1967 introduziu o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, criada anteriormente em 1966 através de lei ordinária; A de 1988 finalmente valorizou o direito coletivo com a proibição da interferência do Poder Público na organização sindical, embora mantendo o sistema do sindicato único, iniciou, desse modo, uma tentativa de ampliação dos espaços do movimento sindical e enumerou uma série de direitos individuais dos trabalhadores em seu art. 7º. 7

Um dos mais importantes atos da história do Direito do Trabalho no Brasil foi

a elaboração em 1943 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que segundo

Nascimento “é a sistematização das leis esparsas existentes na época, acrescidas

de novos institutos criados pelos juristas que a elaboraram”. Ainda que não tenha

atendido a temas como a organização sindical, negociação coletiva e representação

5 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23ª Ed. São Paulo: Atlas, 2007. p.9.

6 MARTINS, Sergio Pinto, op. cit. p.10. 7 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 33ª Ed. São Paulo: LTr, 2007. p.50.

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16

dos trabalhadores na empresa, a CLT tornou-se um marco no ordenamento jurídico

brasileiro. 8

Além da CLT, várias leis também foram criadas no âmbito do Direito do

Trabalho, sempre visando a proteção do trabalhador. Nascimento identifica dentre

as principais leis a que cria o Décimo Terceiro Salário, a Lei de Greve e a Lei do

Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, ensina ainda que em 1993 começa a

crescer a ideia da livre negociação pelo contrato coletivo de trabalho. 9

Em 1988 com a promulgação da Constituição da República Federativa do

Brasil vigente, vários direitos trabalhistas foram reconhecidos pela Carta Magna,

principalmente em seu artigo 7º. Porém, de acordo com Nascimento algumas

normas constitucionais não foram devidamente regulamentadas, tais como: aviso

prévio proporcional, proteção em face da automação e adicional de atividades

penosas. 10

Na atualidade, as regras trabalhistas estão evidenciadas em decorrência da

eleição presidencial em 2003, que elegeu um ex dirigente sindical, o qual promoveu

inúmeras reformas, dentre elas destacam-se: o retorno do pagamento do salário

maternidade pela empresa, descontando o valor das contribuições previdenciárias; o

Estatuto do Idoso protegendo pessoas maiores de 60 anos também nas relações

trabalhistas; o programa nacional de estímulo ao primeiro emprego para jovens, a lei

do empréstimo consignado em folha; o reajuste do valor do salário mínimo e a

mudança nas regras de utilização do saldo de FGTS em casos especiais. 10

Porém, algumas alterações foram polêmicas, como a reforma sindical, a qual

foi amplamente criticada pelo setor sindical e sequer foi apreciada pelo Poder

Legislativo.

Necessário, portanto, entender-se o histórico do Direito do Trabalho, a fim de

buscar subsídios que possibilitem a compreensão primeiramente do conceito de

Direito, passando então para a classificação e conceituação de Direito do Trabalho

na essência e também no seu conceito jurídico.

8 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 33ª Ed. São Paulo: LTr, 2007. p.51. 9 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, op. cit.. p. 52. 10 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, op. cit. p. 53.

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17

1.2. CLASSIFICAÇÃO E CONCEITO DE DIREITO DO TRABALHO

O estudo conceitual necessita o entendimento de alguns aspectos que

envolvem o Direito do Trabalho e a sua origem no decorrer do tempo, partindo-se do

significado da palavra Direito, definida por Guimarães da seguinte forma:

“Ciência que sistematiza as normas necessárias para o equilíbrio das relações entre o Estado e os cidadãos e destes entre si, impostas coercitivamente pelo Poder Público. Universalidade das normas legais que disciplinam e protegem os interesses ou regulam as relações jurídicas.” 11

Outro conceito indispensável ao entendimento geral é aquela que versa

sobre trabalho, muito bem explicada por Guimarães como “atividade consciente e

voluntária, esforço humano para a produção de riqueza”. Porém, a definição que se

espera neste capítulo vai além do seu simples significado contido no dicionário

jurídico. 12

Apesar de imprescindível o conhecimento da origem da palavra, o que se

pretende apresentar nesta etapa do trabalho não é somente a síntese que se define

como a força empregada para executar alguma tarefa ou atividade, mas sim, todas

as relações que conduzem para a formação do Direito do Trabalho.

Desta forma, abordam-se algumas correntes conceituais sobre o Direito do

Trabalho. Delgado leciona sobre a existência de três correntes principais: a teoria

subjetivista que enfatizam os sujeitos da relação de emprego, no caso empregado e

empregador; a teoria objetivista que releva as relações de trabalho e o conteúdo do

Direito do Trabalho sobre os sujeitos trabalhistas e finalmente a corrente majoritária

entre os doutrinadores que é a mista, a qual estabelece um equilíbrio entre as

relações de trabalho, o conteúdo do Direito do Trabalho e os sujeitos envolvidos

nestas relações13.

A definição de Direito do Trabalho escolhida para ilustrar este capítulo é

aquela proposta por Nascimento que estabelece o que segue:

11 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. 9ª Ed., São Paulo: Rideel, 2007. p. 259 12 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri, op. cit. p. 534. 13 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7ª Ed., São Paulo: LTr, 2008. p.50

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“é possível definir direito do trabalho como o ramo da ciência do direito que tem por objeto as normas, as instituições jurídicas e os princípios que disciplinam as relações de trabalho subordinado, determinando os seus sujeitos e as organizações destinadas à proteção desse trabalho em sua estrutura de atividade.” 14

Hernaiz Marques apud Süssekind; Vianna et al define o Direito do trabalho

como:

“o conjunto de normas jurídicas que regulam, na variedade de seus aspectos, as relações de trabalho, sua preparação, seu desenvolvimento, conseqüências e instituições complementares dos elementos pessoais que nelas intervêm” 15

Tem-se que o Direito do Trabalho é, portanto, o ramo do Direito que tem por

finalidade assegurar normas mínimas de proteção e segurança ao trabalhador,

condições sociais dignas e contraprestação justa pelo seu trabalho para que este

possa garantir vida digna, para si próprio e para a sua família.

As normas de proteção e segurança determinadas pelo Direito do Trabalho

decorrem da aprovação de leis, normas, regulamentos e demais fontes que serão

tratadas no item seguinte.

1.3. FONTES DO DIREITO DO TRABALHO

Inicia-se a busca pelo conhecimento das fontes do Direito do Trabalho com a

definição de Diniz apud Delgado sobre o ordenamento jurídico, conceituando-o

como o “conjunto de normas emanadas de autoridades competentes vigorantes num

dado estado” 16.

E continua apontando ordem jurídica como “o conjunto de normas

estabelecidas pelo poder político competente, que se impõem e regulam a vida

social de um dado povo em determinada época”16.

14 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 33ª Ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 58. 15 SÜSSEKIND, Arnaldo; VIANNA, Segadas ... [et al]. Instituições de Direito do Trabalho. 22ª ed. atual. por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho, São Paulo: LTr, 2005. p.98

16 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7ª Ed., São Paulo: LTr, 2008. p.137

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19

Segundo Delgado “o ordenamento jurídico compõe-se de fontes normativas,

que são os meios de revelação das normas jurídicas nele imperantes.” 17 Ensina

Martins que “Fonte vem do latim, fons, com o significado de nascente, manancial.” 18

Sendo as fontes, a gênese do entendimento jurídico, busca-se uma breve

explicação sobre o tema. Delgado classifica as fontes do direito em:

Materiais: dividindo-as em: econômicas aquelas atadas à existência e evolução do sistema capitalista, sociológicas as quais dizem respeito aos distintos processos de agregação de trabalhadores assalariados nas empresas, cidades e regiões do mundo ocidental, políticas que dizem respeito aos movimentos sociais organizados pelos trabalhadores e ainda filosóficas que corresponde às idéias que influenciaram na construção e mudança do Direito do trabalho. Formais: Definindo que são “os meios de revelação e transparência da norma jurídica”. 19

Assim, tem-se como fonte material do Direito do Trabalho segundo Lyon-

Caen apud Süssekind; Maranhão et al “a pressão exercida sobre o Estado

capitalista pela ação reivindicadora dos trabalhadores.” 20

Já as fontes formais do Direito do Trabalho, de acordo com os ensinamentos

de Martins são: “a Constituição, as Leis, os atos do poder executivo, os costumes,

as sentenças normativas, os acordos, as convenções, os regulamentos de empresas

e os contratos.” 21

A Constituição, assim como em outros ramos do Direito, é a principal fonte

formal no sistema jurídico brasileiro, desta maneira muito bem demonstra Martins ao

colocar que “as demais normas irão originar-se da Constituição, que em muitos

casos especifica sua forma de elaboração e até seu campo de atuação” 21.

Têm-se ainda no entendimento de Süssekind20 normas Constitucionais que

geram apenas a declaração de um princípio adormecido, até que a legislação dê

efeito a ele; existem ainda normas dependentes de regulamentação legal para que

17 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7ª Ed., São Paulo: LTr, 2008. p.137 18 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.36. 19 DELGADO, Maurício Godinho. Op. cit. p.138 - 142 20 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio ... [et al]. Instituições de Direito do Trabalho. 22ª ed. atual. por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho, São Paulo: LTr, 2005. p.154 21 MARTINS, Sergio Pinto, op. cit.. p.38.

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20

tenham eficácia; existem aquelas proibitivas, a qual anularia toda e qualquer

tentativa no sentido de efetivar o exercício de determinada faculdade.

A Lei, em sentido material no ensinamento de Delgado, “constitui-se em toda

regra de Direito geral, abstrata, impessoal, obrigatória, oriunda de autoridade

competente e expressa em fórmula escrita”22.

Em sentido formal é definida pelo autor como “emanada do Poder

Legislativo, sancionada e promulgada pelo Chefe do Poder executivo.”, sendo assim

aprovada segundo o rito constitucional. 22

O sistema jurídico brasileiro possui leis que tratam especificamente do

Direito do Trabalho, segundo Martins a principal delas é a Consolidação das Leis do

Trabalho (CLT), consubstanciada no Decreto-lei nº 5.452 de 01.05.1943 que

organiza e sistematiza a legislação esparsa já existente, tratando além do Direito

individual do trabalho, do tutelar, do coletivo, também de normas processuais,

segurança e medicina do trabalho e sobre fiscalização trabalhista. 23

Ainda segundo Martins, além da CLT, tem-se uma legislação que outorga

outros direitos aos trabalhadores, como o repouso semanal remunerado através da

Lei nº 605/49, a Lei do empregado doméstico nº 5.859/72, a Lei do trabalhador rural

nº 5.889/73, a Lei do trabalhador temporário nº 6.019/74, a Lei de greve nº 7.783/89

e a Lei do FGTS nº 8.036/90, dentre outras. 24

Existem ainda situações em que as relações jurídicas se dão por tratados

internacionais, neste caso segundo Espínola apud Süssekind; Maranhão et al “em

tal hipótese, os tratados recebem aplicação por efeito de uma lei nacional, que os

incorpora ao próprio sistema legislativo.” Não sendo destacado, portanto, como uma

fonte do Direito, mas incluído no conceito de lei, em sentido amplo. 25

Em sistemas legais de países mais desenvolvidos, de acordo com

Süssekind; Maranhão et al a primazia cabe às fontes autônomas como as

convenções coletivas e costumes, já em outros países, as relações de trabalho são

22 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7ª Ed., São Paulo: LTr, 2008. p.152 23 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.39 24 MARTINS, Sergio Pinto. Op. cit. p.36. 25 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio. [et al]. Instituições de Direito do Trabalho. 22ª ed. atual. por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho, São Paulo: LTr, 2005. p.155

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21

reguladas através de atos legislativos, como no caso brasileiro, pois o

funcionamento pleno das fontes autônomas dependem de uma organização sindical

forte, consciente e livre, condição ainda não conquistada no Brasil. 25

Os atos do poder executivo são aqueles emanados através de atos daquele

poder, de acordo com Süssekind; Maranhão et al anteriormente a Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, o Poder Executivo expedia Decretos-leis,

ratificados posteriormente pelo Congresso Nacional, porém, após a promulgação da

Carta Magna os atos originários do Executivo passaram a ser as medidas

provisórias (art. 62, CRFB/88), leis delegadas (art.68, CRFB/88), decretos e

regulamentos (art. 84, IV, CRFB/88). 26

Segundo Martins “o Ministério do Trabalho também expede portarias, ordens

de serviço, etc. (art. 87, parágrafo único, II, CRFB/88)”.27

Necessária uma observação sobre as medidas provisórias utilizando-se os

ensinamentos de Delgado, que esclarece que o Supremo Tribunal Federal preserva

orientação jurisprudencial de que matérias trabalhistas enquadram-se nos requisitos

de relevância e urgência. Todavia, esses atos devem ser utilizados com cautela pelo

chefe do Executivo evitando que os assuntos ligados ao Direito do Trabalho se

enquadrem efetivamente nos quesitos de Medidas Provisórias, haja vista que a

Emenda Constitucional nº 32 de 11.09.2001 não incluiu ramo justrabalhista no grupo

de ramos e matérias sobre os quais é vedada a expedição de medidas provisórias. 28

Seguindo, os costumes pela definição de Guimarães podem ser definidos da

seguinte maneira:

“Reiteração habitual e constante de certos atos, por longo período de tempo, pelo que adquirem força de lei se não contrariarem a razão, os bons costumes, a ordem e os interesses públicos. A jurisprudência nele se baseia para suprir deficiências da lei escrita”. 29

26 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio. [et al]. Instituições de Direito do Trabalho. 22ª ed. atual. por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho, São Paulo: LTr, 2005 p.154-155

27 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.39 28 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7ª Ed., São Paulo: LTr, 2008. p.153 - 154 29 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. 9ª Ed., São Paulo: Rideel, 2007. p. 221

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22

Trata-se de importante Fonte do Direito do Trabalho e de acordo com

Martins através deles é que se origina uma norma legal. O grande exemplo está no

13º salário, que de tanto os empregadores pagarem gratificação natalina, ela passou

a ser compulsória através da Lei nº 4.090/62. Nesse mesmo sentido, a

jurisprudência consolidada através das Súmulas nº 45, 63 e 172 do TST, determina

a integração de horas extras em outras verbas por força da habitualidade. 30

Conforme demonstra Süssekind; Maranhão et al o costume não possui força

derrogatória do direito escrito, somente em situação de desuso da lei, o costume

poderá prevalecer sobre ela. 31

Tal conceito tem ampla ligação com o tema abordado neste trabalho

acadêmico, haja vista que a principal divergência encontrada na jurisprudência sobre

o assunto consiste no fato de que o adicional de insalubridade costumeiramente foi

calculado sobre o salário mínimo, ainda que a Carta Magna não permitisse sua

vinculação para qualquer fim. Todavia, tal discussão será abordada no terceiro

capítulo.

As sentenças normativas, segundo Delgado são “atos judiciais criadores de

regras gerais, impessoais, obrigatórias e abstratas (aspecto material).” Trata-se

materialmente de lei, embora tenha forma de sentença. 32

“Distingue-se da sentença clássica, pois ela não traduz a aplicação de

norma jurídica existente sobre relação fático-jurídica configurada”, não se tornando,

portanto, exercício do poder jurisdicional. 32

No ensinamento de Martins:

“a través de sentença normativa em dissídio coletivo que serão criadas, modificadas ou extintas as normas e condições aplicáveis ao trabalho, gerando direitos e obrigações a empregados e empregadores. A sentença normativa terá efeito erga omnes, valendo para todas as pessoas integrantes da categoria econômica e profissional envolvidas no dissídio coletivo.” 33

30 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.41 31 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio. [et al]. Instituições de Direito do Trabalho. 22ª ed. atual. por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho, São Paulo: LTr, 2005. p.154-155

32 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7ª Ed., São Paulo: LTr, 2008. p.157 33 MARTINS, Sergio Pinto. op. cit.. p.40

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23

Constantemente as sentenças normativas são objeto de críticas segundo

Delgado por “traduzir fórmula de intervenção desmesurada do Estado na gestão

coletiva dos conflitos trabalhistas.”35

Quando a negociação coletiva frustra-se para a solução dos conflitos

coletivos e a arbitragem é recusada pelas partes, o dissídio coletivo proposto

perante a Justiça do Trabalho é o mecanismo de solução de conflito.

A sentença normativa é, portanto, a decisão proferida no dissídio coletivo

que põe fim ao conflito coletivo, estabelecendo normas e condições de trabalho por

meio do exercício do poder normativo pela Justiça do Trabalho.34

Os acordos e as Convenções Coletivas no ensinamento de Delgado “tais

figuras jurídicas qualificam-se como alguns dos mais específicos e distintivos

destaques próprios do Direito do Trabalho no universo jurídico dos dois últimos

séculos.” São ferramentas de uso constante no Direito do Trabalho, principalmente

no tocante a organização sindical e os conflitos diretos entre empregado e

empregador. 35

Na lição de Paulo e Alexandrino “acordos coletivos são pactos celebrados

entre uma ou mais de uma empresa e sindicato profissional a respeito de condições

de trabalho aplicáveis no âmbito da empresa ou das empresas acordantes (CLT, art.

611, § 1º).” 36

O acordo coletivo ainda que celebrado entre a empresa e seus empregados,

deve obrigatoriamente ter a participação do sindicato laboral, “isso é assim porque o

art. 8º, VI, da CF, estabelece como obrigatória a participação dos sindicatos nas

negociações coletivas.”36

As convenções coletivas de trabalho são definidas por Martins como “pactos

firmados entre dois ou mais sindicatos – estando de um lado o sindicato patronal e

34 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa, Manual de direito do trabalho. 2ª Ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2010. p. 17 35 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7ª Ed., São Paulo: LTr, 2008. p.157 36 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Manual de direito do trabalho. 12ª Ed. São Paulo: MÉTODO, 2008. p. 18

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do outro o sindicato profissional – a respeito de condições de trabalho para a

categoria (art. 611 da CLT).” 37

Assim, as convenções coletivas criam regras jurídicas que visam normatizar

situações que venham a ocorrer nas relações trabalhistas de toda uma determinada

categoria. Segundo Paulo e Alexandrino as convenções coletivas possuem

cláusulas obrigacionais que são as que impõem obrigações entre os sindicatos,

como multas convencionais e cláusulas normativas, as quais criam regras aos

empregados e empregadores envolvidos, gerando reflexo direto no contrato de

trabalho individual. 38

Percebe-se que as principais diferenças entre convenções coletivas e

acordos coletivos são o fato de que as convenções criam obrigações entre toda a

categoria representada em determinada base territorial e são pactuados

obrigatoriamente entre os representantes da coletividade, no caso, os sindicatos

patronais e laborais interessados na convenção.

Já os acordos, criam obrigações entre os participantes deste acordo,

podendo neste caso se restringir a apenas uma empresa, posto que a legislação

define o acordo como o pacto entre uma ou mais empresas e seus respectivos

empregados, não falando em categoria de trabalhadores.39

Os regulamentos de empresa possuem entendimento divergente acerca da

aceitação ou não como fonte normativa do Direito do Trabalho. Todavia, defende

Evaristo de Moraes Filho apud Martins que “pelo fato de serem estabelecidas

condições de trabalho no regulamento, este vem a ser uma fonte normativa do

Direito do Trabalho, pois as suas cláusulas aderem ao contrato de trabalho.” 40

Ainda que Delgado entenda que “os diplomas dessa natureza, em princípio

não constituem fontes formais do Direito” alegando a falta de qualidade da lei em

sentido material, admite que “há a possibilidade técnica de esses diplomas serem

37 MARTINS, Sergio Pinto, Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.40 38 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo, Manual de direito do trabalho. 12ª Ed. São Paulo: MÉTODO, 2008. p. 19 39 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa, Manual de direito do trabalho. 2ª Ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2010. p. 20 40 MARTINS, Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.40

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alçados ao estatuto de fonte normativa, assumindo aquelas qualidades e criando

direitos e obrigações na vida trabalhista.” 41

Compreende-se que os regulamentos são uma espécie de disciplina entre

os sujeitos do contrato de trabalho, gerando efeitos não apenas aos atuais

empregados, mas também aqueles que ingressarem nos quadros da empresa. Na

lição de Martins “é, por conseguinte, uma fonte formal de elaboração de normas

trabalhistas, uma forma como se manifestam as normas jurídicas, [...] posto que são

organizadas pelos próprios interessados.”42

Nos termos da súmula 51, I, do TST, tem-se:

“As cláusulas regulamentares que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do regulamento”

Portanto, “os direitos trabalhistas previstos no regulamento de empresa

passam a integrar os contratos de trabalho de cada empregado, devendo observar

os preceitos mínimos presentes na legislação trabalhista e demais instrumentos.” 43

Os contratos podem ser expressos de duas maneiras, o contrato individual

de trabalho, que no ensinamento de Martins “é o acordo bilateral firmado entre os

convenentes a respeito de condições de trabalho, que irão dar origem a direitos e

deveres do empregado e do empregador.”44

Também a figura do contrato coletivo de trabalho aparece na definição de

Delgado fixando que “se trata de pacto contratual coletivo, celebrado no exercício da

autonomia privada coletiva, com aptidão formal para produzir normas jurídicas”, não

se afasta da convenção e do acordo, é por definição, um terceiro instituto derivado

da negociação coletiva. 45

No entendimento de Paulo e Alexandrino:

“[...] os contratos coletivos seriam pactos firmados pelas organizações de cúpula sindical [...] fixando normas e condições de trabalho nos seus respectivos âmbitos de atuação. [...] a CLT não

41 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7ª Ed., São Paulo: LTr, 2008. p.156 42 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.22 43 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa, Manual de direito do trabalho. 2ª Ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2010. p. 193 44 MARTINS, Sergio Pinto. Op. cit. p.41 45 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7ª Ed., São Paulo: LTr, 2008. p.164

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previu a celebração de contratos de trabalho nessa amplitude, uma vez que restringiu a legitimação para a negociação coletiva aos sindicatos nas suas respectivas bases territoriais.” 46

Utilizando-se as palavras de Delgado “enquanto não se alterar alguns

aspectos estruturais marcantes do sistema sindical do país, não parece promissora

a possibilidade de florescimento desse terceiro instituto da negociação coletiva no

Brasil.” 47

Finalmente define-se contrato de trabalho como “negócio jurídico, tácito ou

expresso, entre duas partes, por tempo determinado ou indeterminado; contrato

entre empregador e empregado, que se obrigam por serviços determinados e

pagamento pontual de salário.” Este, portanto, é Fonte do Direito do Trabalho, posto

que estabelece as regras que serão utilizadas durante a vigência do pacto laboral. 48

As fontes do direito do trabalho são o meio pelo qual se obtém o

ordenamento contido no Direito, todavia, para que se possa aplicar de forma

coerente a regra inserida no texto legal, necessário se faz a inclusão de uma noção

geral sobre princípios do Direito do Trabalho, o qual se trata a seguir.

1.4. PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO

A palavra princípio é definida por Ferreira como “momento ou local ou trecho

em que algo tem origem; causa primária, origem; preceito, regra.” 49 Temos ainda

que a palavra princípio “carrega consigo a força do significado de proposição

fundamental. E é nessa acepção que ela foi incorporada [...]” 50.

Pode-se definir os princípios gerais do Direito do Trabalho como: “critérios

maiores, muitas vezes não escritos, que estão presentes em cada ramo do

Direito”48. 46 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Manual de direito do trabalho. 12ª Ed. São Paulo: MÉTODO, 2008. p. 19 47 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7ª Ed., São Paulo: LTr, 2008. p.165 48 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. 9ª Ed., São Paulo: Rideel, 2007. p. 213 49 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário Aurélio, da Língua Portuguesa. 6ª Ed., São Paulo: Positivo, 2004. p. 87 50 DELGADO, Maurício Godinho. op. cit. p.18

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Sobre princípios do Direito do Trabalho, assim é a conceituação de De

Castro apud Plá Rodriguez: “são as idéias fundamentais e informadoras da

organização jurídica trabalhista.” 51

Num conceito mais robusto, todavia, temos a seguinte definição:

“enunciados genéricos, explicitados ou deduzidos do ordenamento jurídico

pertinente, destinados a iluminar tanto o legislador, ao elaborar as leis, como o

intérprete ao aplicar as normas.” 52

Indispensável, portanto, o estudo dos princípios que regem o Direito do

Trabalho para que se possam entender algumas particularidades inerentes a este

ramo do Direito, demonstrando o fundamento principal dos conceitos que norteiam

as regras trabalhistas.

Os princípios têm essencialmente três funções: a função informadora, a qual

serve como fundamento para normas jurídicas, a função normativa as quais atuam

como fonte supletiva na ausência da lei e a função interpretativa a qual opera como

critério de orientação do aplicador da lei. 53

Na busca de estudo sobre os princípios, tem-se da lição de Meton Marques

de Lima apud Süssekind et al que a Justiça Social seria o principio basilar e o Direito

do Trabalho teria cinco princípios, quais sejam: “o da progressão social, o tutelar, o

da equidade, o da autodeterminação coletiva e o da irretroatividade das nulidades

contratuais”, derivando destes, os demais princípios específicos. 54

Busca-se nesta etapa, a explicação sobre os princípios do Direito do

Trabalho que possuem harmonia de entendimento entre os doutrinadores, não tendo

como objetivo, a busca em sinalizar a discussão doutrinária sobre o tema.

Propõe-se, portanto, o estudo dos seguintes princípios: Princípio de

proteção, o da irrenunciabilidade dos direitos, princípio in dúbio pro operário, o da

norma mais favorável, o da condição mais benéfica, princípio da continuidade da

51 PLÁ RODRIGUEZ, Américo. Princípios de direito do trabalho. 3ª Ed., São Paulo, LTr, 2000. p.35 52 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio. [et al]. Instituições de Direito do Trabalho. 22ª ed. atual. por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho, São Paulo: LTr, 2005. p.141-142 53 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.40 54 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio. [et al]. Op. cit. p.147

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relação de emprego, o da primazia da realidade, princípio da razoabilidade e o

princípio da não discriminação.

1.4.1 – DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO:

1.4.1.1 - O Princípio de proteção

Define-se o princípio da proteção como: “critério fundamental que orienta o

Direito do trabalho, pois este, ao invés de inspirar-se num propósito de igualdade,

responde ao objetivo de estabelecer um amparo preferencial a uma das partes: o

trabalhador” 55

Tem-se ainda sobre este princípio:

“[...] há ampla predominância nesse ramo jurídico especializado de regras essencialmente protetivas, tutelares da vontade e interesses obreiros; seus princípios são fundamentalmente favoráveis ao trabalhador; suas presunções são elaboradas em vista do alcance da mesma vantagem jurídica retificadora da diferenciação social prática.” 56

A razão do princípio de proteção é fundamentada por Plá Rodriguez por ter o

“propósito de nivelar desigualdades, [...] como dizia Couture: “o procedimento lógico

de corrigir as desigualdades é o de criar outras desigualdades” “57.

Conclui esclarecendo que “a conseqüência desta idéia é que se dever

favorecer a quem se pretende proteger.” 58

O princípio tutelar [...] seria inspirador amplo de todo o complexo de regras,

princípios e institutos que compõem esse ramo jurídico especializado.59

Em harmonia com os demais doutrinadores, ensina Martins que “o princípio

da proteção pode ser desmembrado em três, sendo eles: in dúbio pro operário; o da

norma mais favorável e o da condição mais benéfica ao trabalhador”60 55 PLÁ RODRIGUEZ, Américo. Princípios de direito do trabalho. 3ª Ed., São Paulo, LTr, 2000. p.83 56 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 9ª Ed., São Paulo: LTr, 2010. p.183 57 PLÁ RODRIGUEZ, Américo. Op. cit. p.85 58 PLÁ RODRIGUEZ, Américo. Op cit. p.86 59 DELGADO, Maurício Godinho, Op. cit. p. 184

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A regra do in dúbio pro operário segundo a definição de Martins “na dúvida,

deve-se aplicar a regra mais favorável ao trabalhador ao se analisar um preceito que

encerra regra trabalhista”.61

Sobre a regra, extrai-se da doutrina:

“só se deve decidir em favor do empregado quando houver fundada dúvida a respeito do alcance da lei e nunca para suprir deficiência da prova, cujo ônus lhe competia, tampouco quando implicar sacrifício do interesse público em função do interesse particular.” 62

A regra da norma mais favorável é definida como:

“princípio de hierarquia para solucionar o problema da aplicação das normas jurídicas trabalhistas, quando duas ou mais operantes no caso concreto dispuserem sobre a mesma matéria, caso em que será precedente a que favorecer o trabalhador.” 63

De acordo com Godinho Delgado apud Nascimento, o princípio atua “em

tríplice dimensão no Direito do Trabalho: informadora, interpretativa/normativa e

hierarquizante.”64

Com relação a dimensão informadora, trata-se “de função essencialmente

informativa do princípio, sem caráter normativo, agindo como verdadeira fonte

material do ramo justrabalhista."64

Na dimensão interpretativa define Martins: “havendo várias normas a

observar, deve-se aplicar a regra mais benéfica ao trabalhador.”61

Quanto ao critério de hierarquia, tem-se que: em uma situação de conflito de

regras elege-se a mais favorável ao trabalhador, observado certos procedimentos

objetivos orientadores.65

O fundamento e aplicação na legislação pátria desta regra seriam, portanto:

“a existência de duas ou mais normas, cuja preferência na aplicação é objeto de polêmica. Esse princípio autoriza a aplicação da norma mais favorável, independentemente de sua hierarquia. [...] a legislação brasileira adotou, no nosso entendimento, a teoria do

60 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23ª Ed. São Paulo: Atlas, 2006. p.63.

61 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23ª Ed. São Paulo: Atlas, 2006. p.63 62 BARROS, Alice Monteiro de.Curso de Direito do Trabalho. 5ª Ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 186 63 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 33ª Ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 125 64 DELGADO, Maurício Godinho, Curso de Direito do Trabalho. 9ª Ed., São Paulo: LTr, 2010. p.184 65 DELGADO, Maurício Godinho. Ob Cit p. 185

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conglobamento parcial, orgânico, mitigado ou por instituto [...] que estabelece a aplicação da legislação brasileira [...] no conjunto de normas e em relação a cada matéria.” 66

Acerca da regra da condição mais benéfica tem-se:

“pressupõe a existência de uma situação concreta, anteriormente reconhecida, e determina que ela deva ser respeitada, na medida em que seja mais favorável ao trabalhador que a nova norma aplicável.” 67

A grande diferença desta regra para a anterior de acordo com Plá Rodriguez

é que “esta representa uma garantia ad personam. Tem, pois, uma projeção

particular para cada trabalhador.”67

Nesta linha descobre-se que “o que o princípio abrange são as cláusulas

contratuais [...] tecnicamente, seria mais bem enunciado pela expressão princípio da

cláusula mais benéfica.” 68

Infere-se, portanto, que a regra da condição mais benéfica nada mais é que

“a aplicação da regra do direito adquirido (art. 5º, XXXVI, da CRFB/88), do fato de o

trabalhador já ter conquistado certo direito, que não pode ser modificado, no sentido

de se outorgar uma condição desfavorável ao obreiro.” 69.

Desse modo, “o princípio tutelar não se desdobraria em apenas três outros,

mas seria inspirador amplo de todo o complexo de regras, princípios e institutos que

compõem esse ramo jurídico especializado.” 70

1.4.1.2 - O Princípio da irrenunciabilidade dos direitos

Por definição, tem-se da lição de Plá Rodriguez que a noção de

irrenunciabilidade pode ser expressa como “a impossibilidade jurídica de privar-se

66 BARROS, Alice Monteiro de.Curso de Direito do Trabalho. 5ª Ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 182-183 67 PLÁ RODRIGUEZ, Américo. Princípios de direito do trabalho. 3ª Ed., São Paulo, LTr, 2000. p.131 68 DELGADO, Maurício Godinho, Curso de Direito do Trabalho. 9ª Ed., São Paulo: LTr, 2010, p.187 69 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23ª Ed. São Paulo: Atlas, 2006. p.63 70 DELGADO, Maurício Godinho.. Op. cit.. p. 184

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voluntariamente de uma ou mais vantagens concedidas pelo direito trabalhista em

benefício próprio.” 71

Entretanto, existe a corrente dos que defendem a ideia de que o trabalhador

“poderá, entretanto, renunciar a seus direitos se estiver em juízo, diante do juiz do

trabalho, pois nesse caso não se pode dizer que o empregado esteja sendo

forçado”, sendo esta uma exceção ao princípio da irrenunciabilidade.72

Outra forma defendida por Martins é a transação em juízo. Define o autor da

seguinte maneira: “a transação envolve concessões recíprocas. Por isso, é bilateral.

A renúncia é unilateral. Objetiva a transação prevenir litígios.” recaindo esta última

sobre direitos certos. 72

Finalmente, percebe-se “a complexidade e dificuldade do tema, [...] a

evidência de que nem tudo é irrenunciável, ou seja, que se admite a renúncia em

certos casos e em certa medida.” 73

1.4.1.3 - O Princípio da continuidade da relação de emprego

Este princípio, “visa à preservação do emprego, com o objetivo de dar

segurança econômica ao trabalhador e incorporá-lo ao organismo empresarial.” 74

Em linhas mais simples, tem-se que “este princípio expressa a tendência

atual do Direito do Trabalho de atribuir à relação de emprego a mais ampla duração,

sob todos os aspectos.” 75

Três são as correntes de repercussões favoráveis ao empregado envolvido:

A primeira é a tendencial elevação dos direitos trabalhistas ou por avanço da

legislação ou pela negociação coletiva, a segunda é o investimento educacional e

profissional, pois o empregador vê-se estimulado a investir no empregado com

grande período contratual. A terceira é a afirmação social do indivíduo favorecido 71 PLÁ RODRIGUEZ, Américo, Princípios de direito do trabalho. 3ª Ed., São Paulo, LTr, 2000. p.142 72 MARTINS, Sergio Pinto, Direito do Trabalho. 23ª Ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 64 73 PLÁ RODRIGUEZ, Américo. Op. cit. p.237 74 BARROS, Alice Monteiro de.Curso de Direito do Trabalho. 5ª Ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 187 75 PLÁ RODRIGUEZ, Américo, Op. Cit. p.244

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pelo longo contrato, permitindo lastro econômico e jurídico necessário para se impor

no plano se suas demais relações econômicas na comunidade.76

Conforme demonstra Plá Rodriguez, “a principal expressão do princípio de

continuidade seja a resistência a que o empregador possa romper o contrato, por

sua vontade exclusiva.” 77

Percebe-se o favorecimento do empregado na distribuição do ônus da prova

colhendo-se da doutrina:

“se o empregador limita-se a negar a prestação de serviços e o despedimento, evidenciada a relação de emprego compete0lhe o ônus de provar as razões ensejadoras do término do contrato de trabalho, já que o princípio da continuidade do vinculo constitui presunção favorável ao empregado (Súmula n. 212 do TST)” 78

Enfim, entende-se que este princípio “também propõe como regra geral o

contrato trabalhista por tempo indeterminado, uma vez que este é o que melhor

concretiza o direcionamento pela continuidade da relação empregatícia.” 79

1.4.1.4 - O Princípio da primazia da realidade

Por definição tem-se que:

“O princípio da primazia da realidade significa que as relações jurídico-trabalhistas se definem pela situação de fato, isto é, pela forma como se realizou a prestação de serviços, pouco importando o nome que lhes foi atribuído pelas partes. Despreza-se a ficção jurídica. É sabido que muitas vezes a prestação de trabalho subordinado está encoberta por meio de contratos de Direito Civil ou Comercial.” 80

Desse modo, “o conteúdo do contrato não se circunscreve ao transposto no

correspondente instrumento escrito, incorporando amplamente todos os matizes

lançados pelo cotidiano da prestação de serviços.” 81

76 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 9ª Ed., São Paulo: LTr, 2010. p.194 77 PLÁ RODRIGUEZ, Américo, Princípios de direito do trabalho. 3ª Ed., São Paulo, LTr, 2000p. 264 78 BARROS, Alice Monteiro de, Curso de Direito do Trabalho. 5ª Ed. São Paulo: LTr, 2009 p. 187 79 DELGADO, Maurício Godinho. Op. Cit. p.194 80 BARROS, Alice Monteiro de.Op. cit. p.186 81 DELGADO, Maurício Godinho. Op. Cit. p.193

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Verifica-se ainda que, se um empregado é rotulado de autônomo pelo

empregador, possuindo contrato escrito de representação comercial, o que deve ser

observado é a realidade fática da existência do contrato de trabalho.82

De La Cueva apud Plá Rodrigues, define o contrato de trabalho como um

contrato-realidade.83

Finaliza-se com a seguinte descrição do princípio da primazia da realidade:

“o intérprete e aplicador do Direito deve investigar e aferir se a substância da regra

protetiva trabalhista foi atendida na prática concreta efetivada entre as partes, ainda

que não seguida estritamente a conduta especificada pela legislação.”79

Assim, percebe-se a importância de um depoimento sobreposto a um

documento, do qual se presume que o empregado tenha sido forçado a assinar,

distanciando o Direito do Trabalho dos demais ramos.

Os princípios dão sustentação às normas, eles a norteiam e inspiram, dando

base para o objetivo protetivo dos direitos sociais da CRFB/88, e por conseqüência

devem servir como base para a criação de novos institutos de proteção ao

trabalhador, que o auxiliem na relação de trabalho.

Portanto, a seguir estuda-se algumas normas de proteção do trabalhador, no

que diz respeito especificamente a sua saúde, vez que o objeto de estudo do

presente trabalho trata especificamente de adicional criado para compensar um

eventual prejuízo na saúde do trabalhador.

1.5. NORMAS DE PROTEÇÃO DO TRABALHADOR

1.5.1. Medicina e Segurança do Trabalho

As normas de segurança e medicina do trabalho datam da Constituição de

1934 que previa a assistência médica e sanitária, porém, a CRFB/88 modificando a

orientação das normas constitucionais anteriores explicitou em seu art. 7º, inciso

82 MARTINS, Sergio Pinto, Direito do Trabalho. 23ª Ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 65 83 PLÁ RODRIGUEZ, Américo. Princípios de direito do trabalho. 3ª Ed., São Paulo, LTr, 2000 p.39

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XXII que o trabalhador tem direito à redução dos riscos inerentes ao trabalho, por

meio de normas de saúde, higiene e segurança.84

Os principais objetivos da criação de normas de segurança e medicina do

trabalho são: a proteção, a prevenção e a recuperação da saúde e a segurança do

trabalhador.85

No ensinamento de Barros:

“Além de acidente do trabalho e enfermidades profissionais, as deficiências nas condições em que ele executa as atividades geram tensão, fadiga e a insatisfação, fatores prejudiciais à saúde. Se não bastasse, elas provocam, ainda o absenteísmo, instabilidade no emprego e queda na produtividade.” 86

Sobre segurança e medicina do trabalho tem-se que são meios de proteção

do homem no trabalho que estão ali presentes, visando a exigência de maior

respeito e cuidado com a saúde dos trabalhadores.87

A busca pela neutralização dos riscos do trabalho sempre envolveram

muitos estudiosos da questão social, Süssekind aponta ainda que o crescimento e o

progresso das máquinas e a invenção de novos instrumentos tendem a aumentar os

riscos profissionais.88

Finalizando, depreende-se segurança e medicina do trabalho como

“segmento do Direito do Trabalho incumbido de oferecer condições de proteção à

saúde do trabalhador no local de trabalho, e de sua recuperação quando não se

encontrar em condições de prestar serviços ao empregador.” 89

1.5.2. Legislação e as NR´s

No âmbito internacional têm-se as Convenções da Organização

Internacional do Trabalho (OIT), dentre aquelas a se destacar, retira-se do

ensinamento de Martins, a Convenção nº 12 em que versa sobre acidentes do 84 MARTINS, Sergio Pinto, Direito do Trabalho. 23ª Ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 620 85 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa, Manual de direito do trabalho. 2ª Ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2010 p.606. 86 BARROS, Alice Monteiro de.Curso de Direito do Trabalho. 5ª Ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 1.063 87 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 43ª Ed. atual., rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2010. p.258 88 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio. [et al]. Instituições de Direito do Trabalho. Vol. II. 22ª ed. atual. por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho, São Paulo: LTr, 2005. p.141-142 89 MARTINS, Sergio Pinto, Op. Cit. p. 620

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trabalho na agricultura; a de nº 13 que determina a proibição do emprego de

menores de 18 anos e mulheres nos trabalhos em contato com serviços de pintura;

a Convenção nº 17 que tratava da indenização por acidente de trabalho; até

chegarmos a Convenção de nº 155, aprovada em 1981 que trata de regras para a

segurança e a saúde dos trabalhadores e meio ambiente de trabalho. 90

Na legislação nacional têm-se como fontes principalmente Portarias do

Ministério do Trabalho e Emprego, na qual se destaca a de nº 3.214/78 composta

por 30 NR´s (Normas Regulamentadoras) que além de abordar sobre segurança e

medicina do trabalho, equipamento de proteção individual, trata ainda sobre

atividades e operações insalubres e perigosas, as quais servirão como fonte para a

explicação dos conceitos de insalubridade e periculosidade no capítulo seguinte. 91

Destaca-se ainda que dentre as 30 NR´s, aquelas que terão influência direta

na orientação do presente trabalho: NR – 1 que trata das disposições gerais, NR – 4

Serviço Especializado em Segurança e Medicina do trabalho (SSMT), NR – 5

Comissão Interna e Prevenção de Acidentes (CIPA), NR 7 – Exames Médicos, NR –

15 Atividades e operações insalubres, NR – 16 Atividades e operações perigosas. 92

Salienta-se a importância da instituição das NR´s como forma de se

regulamentar o risco e a forma de prevenção em cada espécie de atividade laboral,

sobretudo no tocante a definição e regulamentação das situações obscuras contidas

no texto legal.

1.5.3. Órgãos de Segurança e Medicina do Trabalho

1.5.3.1. SESMT

Por definição, SESMT significa Serviço Especializado de Engenharia de

Segurança e Medicina do Trabalho e de acordo com Saad, as regras que obrigam

as empresas a manterem este serviço especializado estão contidas na NR 4 da

90 MARTINS, Sergio Pinto, Direito do Trabalho. 23ª Ed. São Paulo: Atlas, 2006.p. 621 91 BARROS, Alice Monteiro de.Curso de Direito do Trabalho. 5ª Ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 1.064 92 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio. [et al]. Instituições de Direito do Trabalho. Vol. II. 22ª ed. atual. por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho, São Paulo: LTr, 2005. p. 929

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Portaria nº 3.214/78, dependendo sua gravidade da gradação de risco da atividade

principal e do número total de empregados no estabelecimento.93

O SESMT deve contar com profissionais de três áreas distintas, médicos,

enfermeiros, engenheiros e técnicos de segurança, conforme Saad, os três primeiros

são inscritos nos respectivos conselhos regionais e estes últimos têm registro

efetuado no Ministério do Trabalho e Emprego.94

As regras do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em

Medicina do Trabalho estão dispostas, segundo Martins, na NR 4 da Portaria nº

3.214/7895, a qual determina a obrigatoriedade das empresas em manter serviços

especializados com a existência de profissionais igualmente especializados.

O dimensionamento do serviço do SESMT “vincula-se a gradação do risco

profissional e ao número de empregados de cada empresa ou de estabelecimentos

separadamente, tendo em vista a natureza da atividade empresarial”.96

Torna-se perceptível a especialização necessária para este serviço, tendo

em vista que sua implementação na empresa depende de profissionais legalmente

habilitados para tal função, nomeados pelo MTE e a existência de atividade de risco

dentro do ambiente laboral que se analisa.

1.5.3.2. CIPA

Sobre a criação da CIPA, prevê o art. 163 da CLT97·:

Art. 163 - Será obrigatória a constituição de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), de conformidade com instruções expedidas pelo Ministério do Trabalho, nos estabelecimentos ou locais de obra nelas especificadas

93 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 43ª Ed. atual., rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2010. p.295 94 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Ob.Cit. p.296 95 MARTINS, Sergio Pinto, Direito do Trabalho. 23ª Ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 625 96 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio. [et al]. Instituições de Direito do Trabalho. Vol. II. 22ª ed. atual. por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho, São Paulo: LTr, 2005. p.949 97 BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452 de 01 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho

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A regulação da criação da CIPA se deu através de instruções do Ministério

do Trabalho contidas na NR 5.98

Acerca de seus objetivos, tem-se:

“Tem a Cipa por objetivo observar e relatar as condições de risco nos ambientes de trabalho e solicitar as medidas para reduzir até eliminar os riscos existentes e/ou neutralizá-los, discutindo os acidentes ocorridos e solicitando medidas que os previnam, assim como orientando os trabalhadores quanto a sua prevenção.99

Ainda a respeito da competência da CIPA, define-se que compete a CIPA

elaborar o Mapa de Riscos, identificando os agentes prejudiciais à saúde no

ambiente de trabalho, contando com o trabalho do SESMT (Serviço Especializado

em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho).100

A responsabilidade da CIPA quanto à prevenção de riscos depende de

orientações de todos os envolvidos nos processos das empresas, motivo pelo qual

sua composição, prevista no art. 164 da CLT obedece a critério paritário, tendo igual

representação do empregador e dos empregados.101

A composição da CIPA demonstrada por Martins obedecerá ao seguinte

critério: O presidente será designado pelo empregador cabendo ainda a este a

definição de seus membros representantes, titulares e suplentes. Os representantes

dos empregados serão eleitos entre estes, tendo como candidatos aqueles

interessados, independente de sindicalização; dentre os eleitos pelos empregados, o

cargo maior será o de vice-presidente.102

Prevê o § 3º do art. 164 que o mandato dos membros da CIPA será de 1

ano, permitida uma reeleição, sendo que o § 4º define a não aplicação da reeleição

ao membro suplente que tenha participado de menos da metade do número de

reuniões da CIPA. 103

98 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 43ª Ed. atual., rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2010. p.298 99 MARTINS, Sergio Pinto, Direito do Trabalho. 23ª Ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 627 100 BARROS, Alice Monteiro de.Curso de Direito do Trabalho. 5ª Ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 1.076 101 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Op. cit. p. 299 102 MARTINS, Sergio Pinto, Op. cit. p. 627 103 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Op. Cit.p.299

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A CIPA deverá ter seu registro no órgão regional do Ministério do Trabalho e

Emprego até 10 dias após a eleição, devendo a ata ser registrada em livro próprio,

sendo que empreiteiras ou prestadoras de serviço, terão considerados como

estabelecimento, o local em que seus empregados estejam exercendo suas

atividades.104

Ainda que não seja o objeto deste trabalho a discussão acerca da

estabilidade do empregado “cipeiro”, há que se tocar na controvérsia jurisprudencial

e doutrinária que permeia o assunto. Garante o art. 165 da CLT, que os titulares da

representação dos empregados não poderão sofrer despedida arbitrária, entretanto,

extrai-se sobre o assunto a lição de Saad:

“Os motivos indicados no artigo sob estudo estão em ordem exemplificativa e não taxativa, o que admite a dispensa do representante dos empregados na CIPA quando ocorrer uma das faltas graves agrupadas no precitado dispositivo consolidado (art.493).”

Portanto, deve-se ter especial atenção para que os membros eleitos da

CIPA tenham conhecimento técnico para o desempenho de sua função dentro do

órgão, para que este não seja apenas um instrumento de estabilidade e garantia de

emprego ao trabalhador, desvirtuando seu objetivo.

1.5.3. Condições de Segurança e Prevenção

As medidas de proteção, segundo Barros, constituem o guia da realização e

gestão prática da prevenção, a qual em sua opinião é o princípio inspirador de todas

as normas de tutela à saúde, inclusive no local de trabalho.105

Como exemplo de medidas preventivas cita-se o art. 168 da CLT, que

estabelece:

Art. 168 - Será obrigatório exame médico, por conta do empregador, nas condições estabelecidas neste artigo e nas instruções complementares a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho: I - a admissão; II - na demissão; III - periodicamente. [...] 106

104 MARTINS, Sergio Pinto, Direito do Trabalho. 23ª Ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 627 105 BARROS, Alice Monteiro de.Curso de Direito do Trabalho. 5ª Ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 1.072

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Após cada exame, o médico do trabalho emitirá o ASO – Atestado de Saúde

Ocupacional, contendo nome do trabalhador, registro de função, identidade, bem

como ausência ou não de riscos ocupacionais específicos de acordo com as normas

emitidas pela Secretaria de Segurança no Trabalho, definindo sua situação como

apto ou inapto para o trabalho de acordo com a NR-7, que regulamenta o Atestado

Médico.107

Além de estabelecer medidas preventivas, a legislação impõe ao trabalhador

a obrigatoriedade no uso de EPI – Equipamento de Proteção Individual. Assim, “o

trabalhador recebe da empresa os elementos necessários para a sua proteção

pessoal, denominados Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), [...] que são

complementares as medidas de proteção geral.” 108

Para exemplificar a utilização de EPI, têm-se os equipamentos contra ruídos,

os quais “protegem o aparelho auditivo e devem ser utilizados sempre que

necessário quando for ineficaz a proteção coletiva.109

Entretanto, o simples fornecimento de EPI por parte do empregador não o

exime de responsabilidade pela falta de utilização, Martins leciona que “há

necessidade de que o empregador e seus prepostos fiscalizem o efetivo uso dos

EPI’s.” 110

Ainda sobre a responsabilidade do empregador sobre os deveres e

responsabilidades quanto ao EPI, Süssekind destaca que a ele incumbe:

a) adquirir o tipo apropriado às atividades do empregado; b) fornecê-lo gratuitamente ao empregado; c) treinar o trabalhador para seu uso; d) tornar obrigatório o seu uso; e) substituir imediatamente o equipamento danificado ou

extraviado.111

106BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452 de 01 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho 107 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 43ª Ed. atual., rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2010. p.307 108 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio. [et al]. Instituições de Direito do Trabalho. Vol. II. 22ª ed. atual. por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho, São Paulo: LTr, 2005. p.951 109 MONTEIRO, Antonio Lopes; BERTAGNI, Roberto Fleury de Souza. Acidentes do trabalho e doenças ocupacionais (conceito, processos de conhecimento e de execução e suas questões polêmicas), São Paulo: Saraiva, 2009. p.60 110 MARTINS, Sergio Pinto, Direito do Trabalho. 23ª Ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 625 111 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio. [et al. Op. cit. p.952

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A prevenção e a criação de estruturas que previnam riscos na empresa têm

como objetivo principal a neutralização ou a redução dos agentes insalubres,

nocivos ou perigosos do ambiente de trabalho. As medidas tutelares criadas pelas

normas têm sua fundamentação no conceito de insalubridade.

Entretanto, sobre os aspectos da insalubridade, da periculosidade e também

da penosidade, tais como: a sua configuração, legislação pertinente, jurisprudência,

grau de incidência e demais características serão tratadas a seguir, formando

estrutura básica para fundamentar o objetivo principal.

Antes do estudo dos referidos adicionais, necessário estabelecer-se o

conceito de Remuneração e Salário, bem como seus meios de pagamento e formas

de cálculo, os quais serão tratados no capítulo a seguir.

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2. A REMUNERAÇÃO E OS ADICIONAIS

2.1. REMUNERAÇÃO

Para possibilitar o entendimento de salário, necessário se faz a

compreensão do conceito de remuneração. “A palavra remuneração é empregada

normalmente, com sentido lato, correspondendo ao gênero do qual são espécies

principais os termos salários, vencimentos, ordenados, soldos e honorários.” 112

Remuneração, “vem de remuneratio, do verbo remuneror. A palavra é

composta de re, que tem o sentido de reciprocidade, e muneror, que indica

recompensar.” 113

O conceito de remuneração estabelecido na art. 457 da CLT define-a como

a parcela que “compreende o salário e mais o que o empregado recebe de terceiros

(gorjetas, por exemplo), em virtude do contrato de trabalho.” 114

Ainda nas normas legais, denota-se que “a Lei n. 8.112, de 1990, que

aprovou o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis, define remuneração como

a soma do vencimento do cargo efetivo com as vantagens pecuniárias permanentes

estabelecidas em lei. (art. 41, caput)”115

Nesta seara, ensina Paulo et al que “a doutrina aponta cinco elementos que

caracterizam a remuneração: a habitualidade, a periodicidade, a quantificação, a

essencialidade e a reciprocidade.”116

Nas palavras de Russomano apud Almeida, “tudo quanto o empregado

aufere como conseqüência do trabalho que desenvolve, constitui remuneração,

mesmo quando o pagamento não é feito ás expensas da empresa.” 117

112 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio. [et al]. Instituições de Direito do Trabalho. Vol. I. 22ª ed. atual. por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho, São Paulo: LTr, 2005. p.345 113 MARTINS, Sergio Pinto, Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 211 114 BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452 de 01 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. 115 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio. [et al]. Op. cit. p.346 116 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Manual de direito do trabalho. 12ª Ed. São Paulo: MÉTODO, 2008. p. 219

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A remuneração é, portanto, tudo aquilo que o empregado recebe do

empregador ou de terceiros (no caso das gorjetas), em decorrência da prestação de

serviços, logo, conclui-se que salário é a contraprestação paga diretamente pelo

empregador, ou seja, remuneração é gênero do qual o salário é espécie118

Sobre o tema, Cesarino Junior apud Almeida, faz nítida distinção:

“A consolidação considera a remuneração um gênero, com duas espécies: o salário direto que é o pago pelo empregador em dinheiro ou em utilidade, e o salário indireto que é o recebido pelo empregado de outrem, que não o empregador, mas em conseqüência dos serviços a este prestados, ou as vantagens obtidas do próprio empregador, porém não consistentes de prestações em natureza ou em espécie.”118

A distinção entre remuneração e salário é importante na aplicação de

normas trabalhistas no tocante a base de cálculo, pois algumas verbas são

expressas em levar em consideração a remuneração total do empregado, ao passo

que outras, consideram naquela base, apenas seu salário, classificando-o da forma

que se demonstra no item seguinte.

2.2. SALÁRIO

2.2.1 – Conceito de Salário

“A palavra salário vem de sal, forma de remuneração das legiões romanas.

Os antigos pagavam o trabalho em animais, óleo e alimentos” 119

Para Martins, “salário deriva do latim salarium. Esta palavra vem de sal, do

latim salis; do grego, hals. Sal era a forma de pagamento das legiões romanas;

posteriormente, foram sendo empregados outros meios de pagamento”.120

117 ALMEIDA, Amador Paes de. CLT comentada: legislação, doutrina, jurisprudência. 6ª Ed. ver. E atual. – São Paulo: Saraiva, 2009 p. 123 118 ALMEIDA, Amador Paes de. Op. Cit. p. 122 119 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 33ª Ed. São Paulo: LTr, 2007. p.342 120 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 211

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Sobre o conceito de salário, colhe-se na doutrina:

“Salário é o conjunto de percepções econômicas devidas pelo empregador ao empregado não só como contraprestação do trabalho, mas, também, pelos períodos em que estiver à disposição daquele aguardando ordens, pelos descansos remunerados, pelas interrupções do contrato de trabalho ou por força de lei.” 121

Salário é, portanto “a contraprestação do serviço, mas, não unicamente [...] é

também a retribuição à integração do trabalhador a empresa sem desconsiderar o

valor social do trabalho e a dignidade da pessoa humana”.122

A palavra salário assume muitas vezes institutos e figuras estranhas ao

ramo trabalhista, chamadas pelo doutrinador de denominações impróprias e também

aquelas referenciadas à figura do salário, tratadas como denominações próprias.123

Nesta mesma direção, alerta Nascimento sobre a “importância de se

distinguir salário de indenizações, de benefícios e complementações previdenciárias

e de recolhimentos de natureza tributária ou parafiscal.” 124

No Direito Previdenciário encontram-se algumas utilizações da expressão

salário que não são a tradução do seu verdadeiro conceito e sim uma utilização

indireta da palavra, como exemplo tem-se o salário contribuição que “corresponde

ao parâmetro remuneratório da pessoa filiada à Previdência Social sobre o qual

incidirá a alíquota correspondente.” 125

Ainda no âmbito previdenciário, tem-se o salário família que “é um benefício

previdenciário com o nome de salário, mas sem a sua natureza, pago pelo

empregador, que reembolsa esse gasto compensando-o com outros recolhimentos

que é obrigado a fazer.” 124

De caráter previdenciário, distingue-se o salário maternidade, o qual, “não se

trata exatamente de salário, mas de benefício previdenciário, pois não é pago pelo

empregador, mas pelo INSS.” 126

121 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 33ª Ed. São Paulo: LTr, 2007. p.332 122 BARRETO, Glaucia. Curso de direito do trabalho. Niterói: Impetus, 2008. p. 221 123 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 9ª Ed., São Paulo: LTr, 2010. p. 648 124 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. cit. p.333 125 DELGADO, Maurício Godinho. Op. cit. p. 648 126 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 267

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Outra modalidade conhecida são os recolhimentos parafiscais, que são

“pagamentos que o empregador faz ao Poder Público, como parte das suas

obrigações fiscais. É o caso do salário educação, que de salário tem apenas o nome

e não a natureza” 127. Sua natureza jurídica, segundo Delgado, é de contribuição

social. 128

A expressão salário social é algo comum na doutrina justrabalhista,

entretanto, pouco se encontra a respeito do tema, sabe-se pela lição do doutrinador

que se trata de “um conjunto de prestações genericamente pagas ao trabalhador em

virtude de sua existência como sujeito da relação de emprego.” 128

Por fim, relaciona-se aquela que frequentemente é utilizada na

jurisprudência de nossos tribunais quando da definição da origem da expressão

salário mínimo, contida no art. 192 da CLT129 o qual fixa o grau de risco e a base de

cálculo do adicional de insalubridade.

O Salário Mínimo de referência ou piso nacional de salários são figuras

criadas pelo Decreto-Lei nº 2.351/87130 (atualmente Lei nº 12.255/2010)131, com o

intuito de exercer o papel de indexador econômico, evitando a utilização do salário

mínimo como medida indexadora de valor, tendo a Lei nº 7.789/89132 extirpado da

ordem jurídica as duas expressões.133

Ao conjunto de denominações fundadas na expressão salário e que

possuem relação direta com a definição justrabalhista de “contraprestação devida e

127 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 33ª Ed. São Paulo: LTr, 2007. p.333 128 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 9ª Ed., São Paulo: LTr, 2010. p. 651 129 BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452 de 01 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. 130 BRASIL. , Decreto-Lei No 2.351, DE 7 de agosto de 1987.Institui o Piso Nacional de Salários e o Salário Mínimo de Referência, e dá outras providências. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, DOU de 16 de agosto de 1987 131 BRASIL, Lei 12.255, de 15 de junho de 2010. Dispõe sobre o salário mínimo a partir de 1o de janeiro de 2010 e dá outras providências. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, DOU de 16 de junho de 2010. 132 BRASIL, Lei 7.789, de 03 de julho de 1989. Dispõe sobre o salário mínimo. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, Senado Federal, 03 de julho de 1989. 133 DELGADO, Maurício Godinho. Op. cit. p. 650 e 651

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paga diretamente pelo empregador ao empregado em função da relação

empregatícia”, Delgado caracteriza como denominações próprias. 133

Dentre os diversos conjuntos de denominações temos o salário isonômico, o

qual se caracteriza como “contraprestação salarial devida em função de identidade

ou pelo menos equivalência no exercício de funções e serviços no cenário da

relação de emprego.” 134

Colhe-se da doutrina de Martins o preceito de que “o empregado que

substitui outra pessoa na empresa tem o direito de receber o salário do substituído,

desde que atendidas certas condições” e a este grupo dá-se o nome de salário

substituição. 135

No campo das denominações próprias, tem-se que o salário isonômico, o

salário substituição e o salário equitativo, seriam exemplos de salários judiciais, o

qual é designado como o parâmetro salarial fixado no contexto de um processo. 136

No Direito Individual do Trabalho colhe-se a expressão salário complessivo,

que é aquele pago sem discriminação das parcelas onde o empregado recebe uma

importância única, sem discriminação dos adicionais, gratificações, comissões e etc.,

porventura percebidos.137

Acerca do tema, a jurisprudência consolidada do TST na Súmula 91 assim

determina: ”SALÁRIO COMPLESSIVO: Nula é a cláusula contratual que fixa

determinada importância ou percentagem para atender englobadamente vários

direitos legais ou contratuais do trabalhador.”138

Sobre esta classe de salário, bem comenta Nascimento apud Süssekind que

“trata-se, portanto, de um salário a priori, para evitar o cálculo a posteriori do que

deve ser realmente pago por vários títulos, especialmente adicionais.” 139

A respeito do salário condição tem-se na doutrina:

134 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 9ª Ed., São Paulo: LTr, 2010 p. 652 135 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 304 136 DELGADO, Maurício Godinho. Op. cit. p 653 137 BARRETO, Glaucia. Curso de direito do trabalho. Niterói: Impetus, 2008. p. 249 138 BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho, Súmula nº 91 DF, 10/11/2003, DJ – 19, 20 e 21/11/2003. 139 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio. [et al]. Instituições de Direito do Trabalho. Vol. I. 22ª ed. atual. por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho, São Paulo: LTr, 2005. p.357

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“pagamento feito pelo empregador ao empregado, em decorrência do contrato de trabalho, dependente do estabelecimento de condições específicas que devem ser cumpridas pelo obreiro. Representa um acréscimo ao salário incondicionado.” 140

Sobre o salário condição tem-se que é o que se passa, por exemplo, com os

adicionais de insalubridade, adicional de periculosidade, com o adicional noturno,

com a parcela de horas extras e respectivo adicional e também com o adicional de

transferência, as quais podem ser suprimidas caso desapareça a circunstância ou o

fato que determinava seu pagamento.

2.2.2 – Modalidades de Salário

O salário poderá ser calculado de acordo com critérios distintos, dentre eles,

tem-se três principais de efetuação desse cálculo salarial: o critério da unidade de

tempo, o critério por unidade de obra e o combinatório entre os anteriores que é o

salário tarefa obtido através da combinação obra/tempo ou vice-versa.141

2.2.2.1 – Salário por tempo

É aquele pago em função do tempo no qual o trabalho foi prestado ou o

empregado permaneceu à disposição do empregador, podendo ser hora, dia,

semana, quinzena e mês, excepcionalmente um tempo maior.142

As virtudes apontadas pela doutrina na fórmula de cálculo deste tipo de

salário são apontadas por Delgado da seguinte fora: em primeiro lugar é o que

melhor concretiza o principio da alteridade, ou seja, a assunção de riscos do

empreendimento e do trabalho pelo empregador e em segundo lugar a simplicidade

140 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 234 141 DELGADO Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 9ª Ed., São Paulo: LTr, 2010. p. 672-673 142 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 33ª Ed. São Paulo: LTr, 2007. p.339

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de se criar um critério na construção dos valores salariais, ao passo que não supõe

a pesquisa a respeito da média da produção alcançada.143

Dentre os inconvenientes, Plá Rodriguez apud Nascimento aponta a

imprecisão, por remunerar da mesma forma qualquer classe e quantidade de

trabalho; a injustiça ao passo que o aumento do esforço do empregado aumenta o

benefício apenas do empregador e é desfavorável ao rendimento, pois o trabalhador

perde o interesse no resultado. 142

2.2.2.2 – Salário por unidade de obra

Aproxima-se bastante da empreitada e é chamado também por salário por

produção, é calculado sobre o número de unidades produzidas pelo empregado,

onde cada unidade recebe um valor previamente fixado pelo empregador chamada

de tarifa, o somatório das peças produzidas, multiplicado pelo valor da tarifa

estipulada, resulta no salário mensal do trabalhador.144

Conforme leciona Martins, a CLT na alínea g do art. 483 já demonstra a

possibilidade do pagamento por peça impedindo, porém, o empregador de reduzir o

trabalho do empregado, sob pena de afetar a importância dos salários acarretando

na rescisão indireta do contrato de trabalho. Isso evidencia que o empregado pode

suportar o risco de ganhar por aquilo que produz, mas nunca o empregador poderá

diminuir o número de peças objetivando a redução salarial.145

As críticas doutrinárias ao salário por unidade de obra são relativas a

dificuldade no cálculo dos salários e também nos pagamentos do empregado

baseados nos salários, critica-se ainda o fato de se levar o empregado a exaustão

para que possa atingir uma produção considerada razoável do ponto de vista

143 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 9ª Ed., São Paulo: LTr, 2010.p. 674 144 DELGADO, Maurício Godinho. Op. cit. p. 674-675 145 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 218

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financeiro. O benefício deste tipo de salário é o incentivo ao aumento da

produtividade, gerando vantagem de ordem econômica apenas.146

2.2.2.3 – Salário por tarefa

Por definição, o salário por tarefa é aquele pago com base na produção do

empregado aliada ao tempo, sendo que através da economia de tempo há uma

vantagem que pode ser tanto o acréscimo no preço da tarefa quanto a dispensa

após o cumprimento das tarefas do dia.147

Assim, este salário demonstra a reunião, na fórmula de cômputo salarial, de

aspectos do mecanismo de incentivo a produtividade que caracteriza o salário

produção, entretanto sem a extensão do desgaste obreiro e transferência de risco

empresaria despontados naquela fórmula anterior.148

Evidentemente, não poderá o trabalhador receber pagamento mensal inferior

ao mínimo legal ou ao mínimo da categoria. Essa garantia está contida nos textos

da Lei Trabalhista e também na Carta Magna e ainda incorporada no interior da

noção de que o salário é calculado por unidade de tempo.

2.2.3 – Formas de Adimplemento Salarial

Prevê o artigo 458 que além do pagamento em dinheiro, o salário pode ser

pago também através de utilidades ou outras prestações in natura, neste sentido, é

o dispositivo legal contido no art. 458 da CLT:

Art. 458 - Além do pagamento em dinheiro, compreende-se no salário, para todos os efeitos legais, a alimentação, habitação, vestuário ou outras prestações "in natura" que a empresa, por fôrça do contrato ou do costume, fornecer habitualmente ao empregado.

146 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 33ª Ed. São Paulo: LTr, 2007. p.340 147 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. . Iniciação ao Direito do Trabalho. 33ª Ed. São Paulo: LTr, 2007. p.340-341 148 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 9ª Ed., São Paulo: LTr, 2010. p. 676

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Em caso algum será permitido o pagamento com bebidas alcoólicas ou drogas nocivas. § 1º Os valôres atribuídos às prestações "in natura" deverão ser justos e razoáveis, não podendo exceder, em cada caso, os dos percentuais das parcelas componentes do salário-mínimo (arts. 81 e 82). 2o Para os efeitos previstos neste artigo, não serão consideradas como salário as seguintes utilidades concedidas pelo empregador: I – vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos aos empregados e utilizados no local de trabalho, para a prestação do serviço; II – educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros, compreendendo os valores relativos a matrícula, mensalidade, anuidade, livros e material didático; III – transporte destinado ao deslocamento para o trabalho e retorno, em percurso servido ou não por transporte público; IV – assistência médica, hospitalar e odontológica, prestada diretamente ou mediante seguro-saúde; V – seguros de vida e de acidentes pessoais; VI – previdência privada; VII – (VETADO) § 3º - A habitação e a alimentação fornecidas como salário-utilidade deverão atender aos fins a que se destinam e não poderão exceder, respectivamente, a 25% (vinte e cinco por cento) e 20% (vinte por cento) do salário-contratual. § 4º - Tratando-se de habitação coletiva, o valor do salário-utilidade a ela correspondente será obtido mediante a divisão do justo valor da habitação pelo número de co-habitantes, vedada, em qualquer hipótese, a utilização da mesma unidade residencial por mais de uma família.149

Autorizando o Direito do Trabalho o pagamento do salário em pecúnia ou em

bens ou serviços, designado como utilidades, institucionaliza assim, o salário

utilidade ou in natura.150.

2.2.3.1 – Salário-utilidade

São dois os requisitos centrais para a caracterização do salário-utilidade: o

primeiro é a habitualidade do fornecimento do bem ou serviço e o segundo

relaciona-se com a causa e objetivos contraprestativos desse fornecimento. Ainda

que controvertido, existe um terceiro requisito mencionado em algumas vezes na

149 BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452 de 01 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho 150 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 9ª Ed., São Paulo: LTr, 2010. p. 676

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doutrina e jurisprudência que concerne na amplitude da onerosidade do

fornecimento perpetrado.151

Cabe esclarecer que as prestações in natura fornecidas ao empregado por

força do contrato de trabalho devem ser computadas no cálculo do Fundo de

Garantia do Tempo de Serviço, ao passo que aquelas contidas no § 2º do artigo 458

da CLT além de não caracterizarem prestação in natura não serão computadas na

contribuição ao FGTS.152

No que concerne ao requisito caráter contraprestativo do fornecimento, a

jurisprudência pacificou entendimento de que é preciso que a utilidade seja fornecida

com intuito retributivo, como espécie de vantagem contraprestativa ofertada ao

empregado.

Como exemplo, cita-se o Vale Refeição, onde o programa de alimentação

aprovado pelo MTE e definido pela Lei nº 6.321/76 em seu art. 30 que assim está

disposto: “não se inclui como salário de contribuição a parcela paga in natura pela

empresa, nos programas de alimentação aprovados pelo Ministério do Trabalho.”

Entretanto se o fornecimento se dá através de programa não aprovado pelo MTE,

aplica-se a Súmula 241 do TST, segundo a qual, quando fornecido por força do

contrato, o vale refeição tem caráter salarial.153

Assim, não terá caráter retributivo o fornecimento de bens ou serviços feto

como instrumento para viabilização ou aperfeiçoamento da prestação laboral. Neste

sentido, necessária a definição do fornecimento da utilidade. Se a utilidade é

fornecida pela prestação dos serviços, então está caracterizada a natureza salarial

por ter caráter retributivo, entretanto, se a utilidade for fornecida para a prestação de

serviços, descaracterizada está a natureza salarial, pois a natureza pode ser

instrumental por exemplo, como no caso do EPI.154

151 DELGADO, Maurício Godinho. Op. Cit.. p. 676 152 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 43ª Ed. atual., rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2010. p.599 153 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 33ª Ed. São Paulo: LTr, 2007. p.343 154 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 220

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2.2.4 – Política Salarial

2.2.4.1 – Salário mínimo

O salário mínimo já era determinado no Código de Hamurábi, para diaristas,

artesãos, carpinteiros e outros. Diversas convenções da OIT foram criadas no intuito

de proteção quanto aos métodos pelos quais este salário é regrado. 155

Segundo Martins, foi criado em 1930 pelo Decreto-lei nº 388, em que era

fixado por comissões regionais paritárias, compostas por empregados e

empregadores e pro técnicos em assuntos socioeconômicos. 156

Chamando-o de salário mínimo legal, Delgado afirma que a Carta Magna em

seu art. 7º, vinculou o salário mínimo ao objetivo de ser capaz de atender

necessidades vitais básicas do trabalhador e as de sua família, estendendo o antigo

conceito do art. 76 o qual falava apenas em necessidades normais, a nova Carta

define com necessidades vitais a moradia, alimentação, educação, saúde, lazer,

vestuário, higiene, transporte e previdência. 157

O salário mínimo segue algumas regras definidas na CRFB/88, na lição de

Nascimento, tem-se:

“Primeira, é a garantia do salário mínimo a todo empregado. Segunda, é a sua fixação por lei e não mais por outra fonte. Terceira, é a sua unificação nacional, permitindo, no entanto, Lei Complementar, aos Estados-membros, fixar pisos salariais diferenciados de acordo com a complexidade e extensão do trabalho. Quarta, a manutenção do seu valor mediante reajustes periódicos de modo a preservar-lhe o poder aquisitivo. Quinta, a proibição de que o salário mínimo sirva de fator básico para reajustes de preços e honorários previstos em contratos civis ou comerciais. Sexta, a indicação das necessidades vitais do trabalhador e de sua família, que devem ser consideradas no seu cálculo e que são a

155 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 306 156 MARTINS, Sergio Pinto. Op. cit. p. 306-307 157 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 9ª Ed., São Paulo: LTr, 2010. p. 713

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moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social. ”158

Complementando a “quinta regra” de Nascimento e, talvez, aquela cuja relação com

a presente pesquisa seja a de maior evidência, assim ensina Delgado:

“A Constituição de 1988, finalmente, buscou meios de favorecer a garantia do valor real do salário mínimo. Assim, de um lado, vedou “sua vinculação para qualquer fim” – proibição que objetivava evitar a utilização da figura como medida de valor, prática que historicamente sempre conspirou contra sua efetiva valorização no contexto econômico. De outro lado, a Carta Magna, determinou a incidência sobre a parcela de “reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo (art. 7º, CRFB/88).” 159

Percebe-se, portanto, a preocupação do legislador na garantia de condições

mínimas de sobrevivência do trabalhador e também em evitar a vinculação do

salário mínimo como fator de indexação, fator este que desencadearia um reajuste

em cascata que poderia comprometer outro preceito legal, que é o de preservação

do poder aquisitivo através de reajustes periódicos.

2.2.4.2 – Salário Profissional

O conceito de salário profissional na lição de Paulo et al, “é aquele fixado

como o mínimo que pode ser pago a determinada profissão, alcançando apenas os

profissionais que exerçam a profissão em razão da qual foi instituído.”160

Uma distinção feita por Martins acerca do salário profissional em relação ao

salário mínimo determina que “o salário mínimo visa a atender às necessidades

básicas do trabalhador, enquanto salário profissional também tem esse objetivo,

mas em relação à profissão.” 161

158 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 33ª Ed. São Paulo: LTr, 2007. p.352 159 DELGADO, Maurício Godinho. Op. cit. p. 714 160 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Manual de direito do trabalho. 12ª Ed. São Paulo: MÉTODO, 2008. p. 234 161 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 310

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Sobre o tema, leciona Nascimento que “no Brasil há salário profissional para

médicos, engenheiros, dentistas, químicos, arquitetos, agrônomos, veterinários,

auxiliares laboratoristas e radiologistas.” 162

A fixação do salário profissional por via legislativa ressalta Süssekind,

“embora constitucional, deve ser admitida em caráter excepcional, apenas em se

tratando de categorias de trabalhadores onde o serviço não é prestado

normalmente, sob a forma de emprego.” 163

Verifica-se a possibilidade de se instituir salário mínimo levando-se em

consideração o resguardo da dignidade profissional, motivo pelo qual se define

como salário profissional, entretanto, cabe observar que tal demanda advém de

Legislação Federal, sendo vedada sua instituição por meio de lei Estadual, posto

que não existe autorização legislativa para tal instituição.

2.2.4.3 – Salário Normativo

Por definição tem-se que o salário normativo “é aquele fixado em sentença

normativa proferida em dissídio coletivo pelos Tribunais do Trabalho.” 164 “Traduz

assim, o patamar salarial mínimo aplicável no contexto da categoria representada

pelo respectivo sindicato obreiro partícipe na relação processual de dissídio.” 165

Também chamado como piso salarial, tem como definição nesse sentido “a

importância salarial fixa mínima devida a trabalhadores de categoria profissional

preponderante. [...] Pode ser fixado em lei, acordo coletivo, convenção coletiva,

sentença arbitral ou em sentença normativa.” 166

162 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 33ª Ed. São Paulo: LTr, 2007. p.353 163 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio. [et al]. Instituições de Direito do Trabalho. Vol. I. 22ª ed. atual. por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho, São Paulo: LTr, 2005. p.415 164 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. cit. p.353 165 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 9ª Ed., São Paulo: LTr, 2010. p. 715 166 BARRETO, Glaucia. Curso de direito do trabalho. Niterói: Impetus, 2008. p. 223-224

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Comparando com o salário profissional ao salário normativo, temos que:

enquanto este leva em consideração diferentes trabalhadores de uma mesma

atividade econômica, aquele observa o trabalhador individualmente na sua

profissão.

Importante se faz distinguir salário das demais figuras, objetivando evitar-se

a confusão na definição literal da palavra em detrimento da sua finalidade, aliás, foi

por esse motivo que se criou a celeuma diante do adicional de insalubridade,

entendido por uns como mínimo profissional e por outros como legal.

Exemplificando essa importância cita-se o salário complessivo, modalidade

de salário previsto no contrato individual a qual engloba várias verbas

remuneratórias, abrindo campo para manobras prejudiciais aos interesses do

empregado.167

A figura do salário complessivo é rejeitada pela legislação pátria conforme

define a Súmula 91 do TST determinando em seu texto que: “nula é a cláusula

contratual que fixa determinada importância ou percentagem para atender

englobadamente vários direitos legais ou contratuais do trabalhador.” 168

No caso do adicional de insalubridade, por exemplo, se não discriminar-se

adequadamente e separadamente tal verba, o mesmo não teria valor concreto a ser

questionado.

Através das inúmeras aplicações da palavra salário, como já visto

anteriormente, criou-se uma lacuna na interpretação do objetivo do legislador ao

criar as normas que definem sua base de cálculo, estudo este que será feito adiante.

2.3. ADICIONAIS

Tratando-se de verba salarial, discorre-se sobre os adicionais que são um

acréscimo salarial, pago ao trabalhador que executa atividades em condições

gravosas no intuito de indenizar esta condição, podendo ser facultativos ou

167 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 43ª Ed. atual., rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2010. p.542 168 BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho, Súmula nº 91, DF, Res. 121/2003. DJ 19, 20 e 21/11/2003.

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compulsórios, sendo que no Brasil temos como compulsórios o adicional por horas

extraordinárias, trabalho noturno, insalubridade, serviços perigosos e por

transferência de local de trabalho.169

Acerca dos adicionais, a CRFB/88 dispõe o seguinte:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] XXIII – adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei.170

Apesar de a CRFB/88 ter expressado em seu texto o adicional para

atividades penosas, tal adicional ainda não foi objeto de legislação ordinária não

tendo, portanto, um parâmetro de cálculo e restringindo sua definição àquela

explicada pela doutrina, até o momento o legislador só considerou penoso o trabalho

da telefonista (Lei nº 7.850/89)171

2.3.1 – Adicional de Horas Extras

O Adicional de horas extras é garantia constitucional do empregado, o qual

exige do empregador remuneração com acréscimo de, no mínimo 50% (cinqüenta

por cento sobre a hora normal.172

Sobre o tema, a CRFB/88 define:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] XVI – remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento a do normal. 170

E da CLT colhe-se no art. 61:

169 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Manual de direito do trabalho. 12ª Ed. São Paulo: MÉTODO, 2008. p. 237 170 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasilia, DF: Senado Federal, 1988. 171 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 43ª Ed. atual., rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2010. p. 214 172 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Op. Cit. p. 238

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Art. 61 - Ocorrendo necessidade imperiosa, poderá a duração do trabalho, exceder do limite legal ou convencionado, seja para fazer face a motivo de força maior, seja para atender à realização ou conclusão de serviços inadiáveis ou cuja inexecução possa acarretar prejuízo manifesto.173

Este adicional não pode ser substituído por uma retribuição global de horas extras

em número não especificado, ou seja, como já estudado anteriormente o salário

complessivo, portanto, se houver prorrogação ilícita da jornada acima dos permissivos

legais, ainda assim o adicional será devido.174

O adicional de hora extraordinária tem como base de cálculo a soma do salário

contratual com o adicional de insalubridade (TST, SBDI -1, Orientação 47). 172

2.3.2 – Adicional Noturno

No período noturno, o organismo humano necessita de maior esforço

biológico para o desempenho da mesma atividade. Para o legislador, o período

noturno deveria ser para o descanso do trabalhador e não para trabalhar.175

O adicional noturno está contemplado na CRFB/88 em seu artigo 7º, IX, e da

CLT extrai-se o art. 73 caput:

Art. 73. Salvo nos casos de revezamento semanal ou quinzenal, o trabalho noturno terá remuneração superior à do diurno e, para esse efeito, sua remuneração terá um acréscimo de 20% (vinte por cento), pelo menos, sobre a hora diurna.176

Cabe esclarecer que o inciso IX do art. 7º da CRFB/88, reza: “remuneração

do trabalho noturno superior à do diurno”. Entretanto tal dispositivo constitucional,

torna ineficaz o caput do artigo 73 da CLT quando define que não faz jus ao

adicional o trabalho noturno nos casos de revezamento semanal ou quinzenal.

173 BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452 de 01 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho 174 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 33ª Ed. São Paulo: LTr, 2007. p.353 175 PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Ob Cit.. p. 239 176 BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452 de 01 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho.

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Portanto em qualquer caso o trabalho noturno sempre terá remuneração superior a

do igual cargo no período diurno.177

A tutela especial neste caso é dupla, pois cumulado com o acréscimo

salarial aplicado através do adicional noturno de no mínimo 20% sobre a hora diurna

ainda há a redução da hora noturna para 52 minutos e 20 segundos conforme

preceitua o art. 73, §1º da CLT.178

A hora noturna de cinquenta e dois minutos e trinta segundos tem como

conseqüência uma jornada de sete horas, entretanto que dá o direito ao trabalhador

de receber oito horas, tendo aí um benefício decorrente do fato de o trabalho ter sido

feito a noite.179

Da mesma maneira que em outros adicionais compensatórios, no adicional

noturno, cessada a prestação de serviços naquele período, “esclarece a Súmula 265

do TST180 que a transferência para o período diurno de trabalho implica a perda do

direito ao adicional noturno.”181

O adicional noturno pago com habitualidade integra o cálculo do salário do

empregado para todos os efeitos (Súmula 60 do TST) 182 e caso a jornada de

trabalho seja estendida após as 5h, o horário excedente deve ser considerado

extraordinário e remunerado cumulativamente com o adicional do horário noturno

(Súmula nº 60, II, do TST).183

2.3.3 – Adicional de Transferência

Sobre o Adicional de Transferência, assim dispõe o § 3º do art. 469 da CLT:

177 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 43ª Ed. atual., rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2010. p.214 178 BARRETO, Glaucia. Curso de direito do trabalho. Niterói: Impetus, 2008. p. 182 179 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Op. Cit., p. 215 180 BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho, Súmula nº 265, DF, Res. 121/2003. DJ 19, 20 e 21/11/2003. 181 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.237 182 BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho, Súmula nº 60, (incorporada a Orientação Jurisprudencial nº 6 da SBDI-1), DF, Res. 129/2005 DJ 20,22 e 25/04/2005 183 BARRETO, Glaucia. Op. Cit. p. 184

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Art. 469- [...] § 3º - Em caso de necessidade de serviço o empregador poderá transferir o empregado para localidade diversa da que resultar do contrato, não obstante as restrições do artigo anterior, mas, nesse caso, ficará obrigado a um pagamento suplementar, nunca inferior a 25% (vinte e cinco por cento) dos salários que o empregado percebia naquela localidade, enquanto durar essa situação. 184

Acerca do pagamento referente ao adicional, leciona Saad:

“Não importa em alteração unilateral do contrato individual de trabalho a transferência do empregado para outra localidade, independentemente de sua anuência, ocorrendo necessidade de serviço. Enquanto durar essa situação, tem o empregado direito a 25% dos salários percebidos e isto como pagamento suplementar. In casu, é imprescindível que a empresa demonstre a necessidade de serviço, sob pena de contrato de dissolver pelo ato ilícito da transferência imotivada.” 185

O adicional de transferência, portanto, trata-se de adicional calculado sobre

o salário que recebia o empregado no local em que estava laborando, sendo devido

quando a transferência for provisória e na transferência que não acarrete a mudança

de domicílio, conseqüentemente não será devido o adicional. Caso a transferência

acarrete em despesa adicional de transporte, a questão é resolvida pela Súmula 29

do TST, a qual dá direito a suplemento salarial.186

2.3.4 – Adicional de Periculosidade

Por definição “o adicional de periculosidade é devido ao empregado que

presta serviços em contato permanente com elementos inflamáveis ou explosivos. O

contato permanente tem sido entendido como diário.187

Sua previsão constitucional está disposta no art. 7º, inciso XXIII, que define:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

184 BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452 de 01 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. 185 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 43ª Ed. atual., rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2010. p.635 186 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa, Manual de direito do trabalho. 2ª Ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2010. p. 193 187 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.237

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XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei.188

Extrai-se o seguinte conceito sobre o tema do art. 193 da CLT:

Art. 193 - São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem o contato permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado. 184

A regulamentação de que trata o artigo da CLT é aquela contida na NR-16

da portaria n. 3.214, a qual estabelece as atividades e operações em condições de

periculosidade com inflamáveis e explosivos, bem como as áreas de risco.189

O adicional é devido ao empregado exposto permanentemente ou que, de

forma intermitente, se sujeita a condições de risco e tem como base de cálculo o

percentual de 30% sobre o salário do empregado, sem os acréscimos de

gratificações, prêmios ou participações nos lucros da empresa conforme preceitua o

§1º do art. 193 da CLT.190

O adicional de periculosidade tem natureza de salário-condição e assim

como os demais é devido apenas enquanto exista a condição especial de trabalho

mais gravosa, ou seja, o seu fato gerador. O fato gerador, portanto, é o contato com

inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado, na forma da lei.191

A Lei nº 7.369/85, em seu artigo primeiro instituiu que “o empregado, que

exerce atividade no setor de energia elétrica, em condições de periculosidade, tem

direito a uma remuneração adicional de 30% sobre o salário que perceber.” Sendo

que se considera, para esse efeito, somente as parcelas de natureza salarial e que

sejam contínuas e permanentes.192

O contato eventual com agente perigoso, bem como aquele eletricista que

presta serviços com equipamentos desenergizados não comporta o pagamento do

adicional de periculosidade, salvo em caso de permanência no local em que os 188 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, DF: Senado, 1988 189 SALIBA, Tuffi Messias; CORRÊA, Márcia Angelim Chaves. Insalubridade e periculosidade: aspectos técnicos e práticos. 9ª Ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 15 190 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.241-242 191 BARRETO, Glaucia. Curso de direito do trabalho. Niterói: Impetus, 2008. p. 264 192 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 43ª Ed. atual., rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2010. p.334

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equipamentos fiquem ligados. Salienta-se a necessidade de que o risco seja

eliminado e não neutralizado para que se elimine o pagamento do referido

adicional.193

As condições para o direito do empregado ao adicional de periculosidade

elétrica na lição de Barreto são:

Contato habitual ou intermitente com instalações ou equipamentos elétricos, do qual possa resultar morte ou grave lesão física; Permanência habitual ou intermitente em área de riscou ou ingresso nela; Prévia caracterização da periculosidade elétrica através de perícia realizada por médico ou engenheiro do trabalho, registrados no Ministério do Trabalho.194

O Decreto que regulamenta a periculosidade com energia elétrica é o de nº

93.412/86, o qual estabeleceu as atividades em condições de periculosidade e as

áreas de risco.195

2.3.5 – Adicional de Insalubridade

Colhe-se da lição de Saliba que “a palavra “insalubre” vem do latim e

significa tudo aquilo que origina doença, e a insalubridade é a qualidade de

insalubre.” 196

Insalubridade pode ainda ser definida como aquilo que não é salubre, que

pode originar doenças, que é doentio, não se distanciando esta acepção ao

dispositivo legal que conceitua o tema.197

A CRFB/88 assim estabelece sobre o adicional de insalubridade em seu art.

7º, XXIII:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem a melhoria de sua condição social:

193 MARTINS, Sergio Pinto. Op. Cit. p.244 194 BARRETO, Glaucia. Curso de direito do trabalho. Niterói: Impetus, 2008. p. 267-268 195 SALIBA, Tuffi Messias; CORRÊA, Márcia Angelim Chaves. Insalubridade e periculosidade: aspectos técnicos e práticos. 9ª Ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 15 196 SALIBA, Tuffi Messias; CORRÊA, Márcia Angelim Chaves. Op. cit. p. 11 197 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 43ª Ed. atual., rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2010. p.334

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[...]

XIII – adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei.198

O conceito legal de insalubridade está ainda disposto, no art. 189 da CLT:

Art. 189 - Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos.199

Ainda no aspecto legal, a Portaria Ministerial nº 3.214/78 trata de

complementar as normas gerais através da Norma Regulamentadora nº 15 (NR -15)

a qual descreve os agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde do

empregado, bem como os respectivos limites de tolerância.200

O Ministério do Trabalho e Emprego caracteriza os agentes insalubres

quanto à natureza em químicos, físicos ou biológicos e quanto à nocividade em três

graus: máximo, médio e mínimo.201

O adicional de insalubridade integra a remuneração base do empregado

para todos os fins, tendo como fato gerador a exposição do trabalhador a agentes

nocivos a saúde dependendo de perícia técnica comprovando a insalubridade,

cessada a insalubridade mediante comprovação em laudo, cessa o seu pagamento

demonstrando sua natureza de salário-condição.202

2.3.5.1– Atividades e operações insalubres

A previsão das atividades insalubres está definida na legislação no art. 190

da CLT conforme segue:

198 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, DF : Senado, 1988 199 BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452 de 01 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. 200. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa, Manual de direito do trabalho. 2ª Ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2010. p. 621 201 BARRETO, Glaucia. Curso de direito do trabalho. Niterói: Impetus, 2008. p. 253 202 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 33ª Ed. São Paulo: LTr, 2007. p.358

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Art. 190 - O Ministério do Trabalho aprovará o quadro das atividades e operações insalubres e adotará normas sobre os critérios de caracterização da insalubridade, os limites de tolerância aos agentes agressivos, meios de proteção e o tempo máximo de exposição do empregado a esses agentes. Parágrafo único - As normas referidas neste artigo incluirão medidas de proteção do organismo do trabalhador nas operações que produzem aerodispersóides tóxicos, irritantes, alérgicos ou incômodos. 199

A variação do percentual do adicional de insalubridade de acordo com a

nocividade do agente está contida nos anexos da NR – 15 da Portaria nº 3.214/78

cujos percentuais variam de acordo com o grau de nocividade do agente em mínima:

10%, média: 20% e máxima: 40%. .203

A tabela abaixo demonstra os percentuais de cada anexo

Anexos da NR – 15 da Portaria nº 3.214 do MTE: Anexo 1 – Níveis de ruído contínuo ou intermitente superiores aos limites de tolerância. Percentual de 20%; Anexo 2 – Níveis de ruído de impacto superiores aos limites de tolerância. Percentual de 20%. Anexo 3 – Exposição ao calor em condições superiores aos limites de tolerância. Percentual de 20% Anexo 4 – Revogado pela portaria 3.751/90 Anexo 5 – Níveis de radiações ionizantes com radioatividade superior aos limites fixados neste anexo. Percentual de 40% Anexo 6 – Ar comprimido. Percentual de 40% Anexo 7 – Radiações não ionizantes consideradas insalubres, em decorrência de laudo de inspeção realizada no local de trabalho. Percentual de 20% Anexo 8 – Vibrações consideradas insalubres, em decorrência de laudo de inspeção realizada no local de trabalho. Percentual de 20% Anexo 9 – Rio considerado insalubre, em decorrência de laudo de inspeção realizada no local de trabalho. Percentual de 20% Anexo 10 – Umidade considerada insalubre, em decorrência de laudo de inspeção realizada no local de trabalho. Percentual de 20% Anexo 11 – Agentes químicos quando ultrapassados os limites de tolerância. Percentuais de 10%, 20% e 40%. Anexo 12 – Poeiras minerais com concentrações superiores aos limites de tolerância. Percentual de 40%. Anexo 13 – Agentes químicos considerados insalubres. Excluídos desta relação os agentes químicos constantes do anexo 11. Percentuais de 10%, 20% e 40%. Anexo 14 – Agentes biológicos. Percentuais de 20% e 40%.204

203 BARRETO, Glaucia. Curso de direito do trabalho. Niterói: Impetus, 2008. p. 257 204 SALIBA, Tuffi Messias; CORRÊA, Márcia Angelim Chaves. Insalubridade e periculosidade: aspectos técnicos e práticos. 9ª Ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 17

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2.3.5.2– A eliminação e a neutralização da insalubridade

De acordo com o art. 191 da CLT:

Art. 191 - A eliminação ou a neutralização da insalubridade ocorrerá: I - com a adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerância; II - com a utilização de equipamentos de proteção individual ao trabalhador, que diminuam a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância. Parágrafo único - Caberá às Delegacias Regionais do Trabalho, comprovada a insalubridade, notificar as empresas, estipulando prazos para sua eliminação ou neutralização, na forma deste artigo205

Assim, têm-se duas formas de controle da exposição aos riscos

ocupacionais: as medidas relativas ao ambiente que são as destinadas a eliminar o

agente em sua fonte e trajetória e as medidas individuais que podem ser aplicadas

através do uso do EPI (Equipamento de Proteção Individual).206

Todavia, há que se ressaltar a Súmula 289 do TST207 cujo teor conflita com

a Súmula 80208 do mesmo Tribunal, na primeira, sua redação tortuosa pode levar o

intérprete à conclusão de que o EPI não neutraliza o risco a insalubridade, mas na

verdade quer dizer que não basta fornecer o EPI, cabendo ao empregador fiscalizar

o efetivo uso, na segunda diz que o fornecimento do EPI suprime o direito ao

adicional de insalubridade, causando a celeuma.209

Por fim, “a eliminação ou neutralização da insalubridade ficará caracterizada

através de avaliação pericial por órgão competente do Ministério do Trabalho, que

comprove a inexistência de risco à saúde do trabalhador.” 210

205 BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452 de 01 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. 206 SALIBA, Tuffi Messias; CORRÊA, Márcia Angelim Chaves. Insalubridade e periculosidade: aspectos técnicos e práticos. 9ª Ed. São Paulo: LTr, 2009 p. 20 207 BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho, Súmula nº 289, DF, Res. 121/2003. DJ 19, 20 e 21/11/2003 208 BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho, Súmula nº 265, DF, Res. 121/2003. DJ 19, 20 e 21/11/2003 209 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 43ª Ed. atual., rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2010. p.341 210 BARRETO, Glaucia. Curso de direito do trabalho. Niterói: Impetus, 2008. p. 260

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2.3.5.3 – Requisitos para o pagamento do adicional de insalubridade

Cabe destacar que o pagamento do adicional de insalubridade está

condicionado ao trabalho exposto a um agente nocivo a saúde do trabalhador sendo

que apenas os agentes incluídos na listagem do Ministério do Trabalho como

insalubres oferecem ao empregado o direito ao adicional de insalubridade.211

Não é outro senão este o entendimento da Súmula 460 do STF:

“Para efeito do adicional de insalubridade, a perícia judicial, em reclamação trabalhista, não dispensa o enquadramento da atividade entre as insalubres, que é ato de competência do Ministro do Trabalho e Previdência Social.” 212

A base de cálculo para obtenção deste valor ainda que esteja prevista no art.

192 da CLT como o “salário mínimo da região”, está também prevista no art. 7º,

inciso XXIII, da CRFB/8888, com uma extensa discussão em seu teor.

Na busca de solução para o caso, foi editada a Súmula Vinculante nº 4 do

STF, criando uma série de questionamentos acerca da constitucionalidade do art.

192 da CLT, assunto este que será objeto de estudo detalhado no capítulo três

deste trabalho.

211 BARRETO, Glaucia. Curso de direito do trabalho. Niterói: Impetus, 2008. p. 258 212 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 43ª Ed. atual., rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2010. p.344

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3. O CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

3.1. BASE LEGAL DE CÁLCULO – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

O estudo da história do Direito do Trabalho demonstra a busca dos

doutrinadores e legisladores, sobretudo no Brasil, pela tentativa de proteger o

trabalhador, considerado neste ramo do direito a parte hipossuficiente da relação.

Percebe-se ao estudar os princípios e normas norteadores deste ramo, que a

preocupação protetiva está constantemente presente.

Tal preocupação não deixa de existir quando se trata da construção de

norma que visa compensar o prejuízo a saúde do trabalhador, ao desenvolver suas

atividades em ambientes nocivos ao seu organismo.

Entretanto, denota-se a dificuldade do assunto, quando, ao se tentar

encontrar um meio de compensar tal prejuízo, esbarra-se na complexidade da Lei

pátria, onde normas criadas divergem entre si, causando a insegurança jurídica

objeto do estudo a seguir.

Conforme destacado nas sessões anteriores, o adicional de insalubridade é

direito constitucionalmente reconhecido objetivando a compensação de eventuais

prejuízos na saúde do trabalhador que executa suas tarefas em ambiente insalubre.

Há que se recordar ainda que o pagamento do adicional por trabalho sob

condições insalubres foi instituído pela primeira vez, no Brasil, por meio da Lei nº

185 de 14/01/1936, admitindo sua fixação em até 50% a mais do que o salário

mínimo. Após esta lei, outras normas intermediárias foram criadas sendo que em

1940, através do Decreto-lei n º 2.162 criaram-se os graus mínimo, médio e máximo

de 10%, 20% e 40%, respectivamente.213

Atualmente, o art. 192 da CLT, estabelece a base de cálculo para o adicional

de insalubridade com a seguinte redação:

Art. 192 - O exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos limites de tolerância estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, assegura a percepção de adicional respectivamente de 40%

213 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 43ª Ed. atual., rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2010. p.323

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(quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salário-mínimo da região, segundo se classifiquem nos graus máximo, médio e mínimo.214

Entretanto, os valores dos salários mínimos distintos para cada região

perduraram até maio de 1984, oportunidade em que o Decreto nº 89.589/84 o

unificou nacionalmente, não existindo mais salário mínimo regional.215

Em 1988, com a promulgação da Constituição Federal, instituiu-se no art. 7º,

IV parte final, a vedação da vinculação do salário mínimo para qualquer fim:

Art. 7º - [...]

IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;216

O referido artigo criou a partir de então a celeuma diante da base de cálculo

do adicional de insalubridade, gerando conflitos de entendimento a respeito da

validade ou não da parte do art. 192 da CLT, a qual determina que o adicional deva

ser calculado mediante aplicação percentual sobre o salário mínimo da região.

Para a correta compreensão, importante recordar que a Súmula 17 do TST

previa o pagamento diferenciado de tal direito nos seguintes termos:

S. 17 - “O adicional de insalubridade devido a empregado que, por força de lei, convenção coletiva ou sentença normativa, percebe salário profissional será sobre este calculado.217

Da mesma forma, a Súmula 228 do TST, antes da alteração pelo pleno do

TST em junho de 2008 previa em seu texto que “o percentual do adicional de

insalubridade incide sobre o salário mínimo que cogita o art. 76 da CLT, salvo nas

hipóteses previstas na Súmula 17” 218

214 BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. DF, 01 de maio de 1943 215 PAULA. José Enio Viana de. Breves considerações sobre salário mínimo e piso salarial – disponível em: http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=4310 – acesso em: 24 ago. 2010 15:20:35 216 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, DF : Senado, 1988 217 BRASIL, DF – TST – Súmula nº 17, DJ. 21.11.2003 218 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa, Manual de direito do trabalho. 2ª Ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2010. p. 199

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Há que se destacar o fenômeno da recepção da norma infraconstitucional o

qual definirá se a nova Constituição receberá as leis editadas sob a égide da

Constituição anterior, sendo que somente aquelas que forem compatíveis com a

nova norma, subsistirão.219

Ao passo que a inconstitucionalidade particulariza-se por ocorrer na espécie

um conflito com a própria norma constitucional. A inconstitucionalidade de uma lei é

a circunstância de uma determinada norma, posterior à Constituição, infringir a

Constituição, quer quanto ao processo a ser seguido pela elaboração legislativa,

quer pelo fato de, embora tendo a norma respeitado a forma de criação da lei,

desrespeitar a Constituição quanto ao conteúdo adotado. 219

Entretanto, com a edição da Súmula Vinculante nº 4 do STF, discutiu-se

então a recepção do art. 192 da CLT pela CRFB/88, uma vez que esta veda

expressamente o pagamento de direitos com base no Salário Mínimo, assunto este

que será abordado no próximo tópico.

3.2. A SÚMULA VINCULANTE Nº 4 DO STF E O ENTENDIMENTO DO TST

Colhe-se da jurisprudência a seguinte definição sobre Súmula:

“ementa com orientação jurisprudencial de tribunal, para casos análogos, para facilitar o trabalho de advogado e dos tribunais, simplificando o julgamento.” 220

A súmula vinculante caracteriza-se por transformar o instituto que antes era

meramente consultivo, passando a ter verdadeiro efeito vinculante, e não mais

facultativo, não podendo ser contrariada, criando efeito vinculante em relação aos

demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas

esferas federal, estadual e municipal.221

219 LENZA. Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14ª Ed.; São Paulo: Saraiva. 2010. p.165-167 220 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. 9ª Ed., São Paulo: Rideel, 2007. p. 518 221 CAPEZ, Fernando. Súmula vinculante. Elaborado em 11/2005. Disponível em http://jus.uol.com.br/revista/texto/7710/sumula-vinculante. Acesso em 30/10/2010

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Através da EC n. 45/04 promoveu-se a reforma do judiciário onde dentre

várias modificações, uma delas foi a súmula vinculante. Prevê a CRFB/88, em seu

art. 103-A, caput, que:

"Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.222

A grande crítica acerca das súmulas vinculantes consiste no fato de que a

forma atual das súmulas não deve tornar-se padrão para as súmulas vinculantes de

que trata a Emenda 45, pois são meros resumos do caso julgado, proporcionando

pouca informação acerca do que acontecera de fato no processo ou processos que

foram objeto de análise para concessão de tal súmula.223

Acerca da possibilidade de afetar a independência dos magistrados, assim é

o ensinamento de Gomes:

“Ninguém pode impor ao juiz qualquer orientação sobre qual deve ser a interpretação mais correta. Aliás, é muito comum que um texto legal, pela sua literalidade confusa, permita mais de uma interpretação. De todas, deve prevalecer a que mais se coaduna com os princípios constitucionais (sobretudo o da razoabilidade). Mas o juiz sempre tem a liberdade de escolha, dentre todas as interpretações possíveis” 224

Ainda que a matéria seja controvertida, vigora no ordenamento jurídico, e,

portanto, em 09/05/2008 o STF publicou a Súmula Vinculante nº 4, consolidando o

seguinte entendimento:

“salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.” 225

222 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, DF : Senado, 1988 223 SORMANI, Alexandre. Súmula vinculante: dispositivo não suprime liberdade de convicção do juiz. Revista Consultor Jurídico, 16 de março de 2005. Disponível em: <http://conjur.estadao.com.br/static/text/33583,1 acesso em 28/10/2010. 224 GOMES, Luiz Flávio. A dimensão da magistratura no Estado de Direito. São Paulo: RT, 1997, p. 202 e ss 225 BRASIL, DF – STF – Súmula Vinculante nº 4, Ministro Cezar Peluzo, DJe nº 83, p. 1, em 9/5/2008. DOU de 9/5/2008, p. 1.

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Esta súmula provocou uma decisão histórica ao passo que a decisão

repercutiu, à época em que foi proferida, sobre quinhentos e oitenta processos no

Supremo Tribunal Federal e, no âmbito do TST, pelas informações provisórias de

posse do presidente do STF, algo em torno de dois mil, quatrocentos e cinco

processos.226

Diante disso, em 04 de julho de 2008, através da Resolução 148/2008, o

TST publicou a nova redação da Súmula 228, no sentido de que:

“a partir de 09 de maio de 2008, data da publicação da Súmula Vinculante nº 4 do Supremo Tribunal Federal, o adicional de insalubridade será calculado sobre o salário básico, salvo critério mais vantajoso fixado em instrumento coletivo.”

Tal resolução, além de alterar a Súmula 228 do TST ainda restou por

cancelar a Súmula 17 deste tribunal, concluindo-se, portanto, que a base de cálculo

seria o salário básico.

Esse entendimento gerou a mobilização da sociedade e empregadores

atingidos, que tiveram via súmula do TST o reconhecimento de um passivo e

aumento evidente de suas folhas de pagamento em decorrência da nova forma de

cálculo.

Após a Súmula Vinculante nº 4 do STF, o julgador encontrou-se em uma

situação que envolveram quatro variáveis básicas:

“I – A aplicação literal do art. 192 da CLT restou vetada por sua inconstitucionalidade; II Eximir-se de julgar, evidentemente, não passa pelo crivo do art. 126 do CPC; III – de mesmo modo, dada a existência do direito ao adicional, cuja natureza é social e, portanto fundamental, não se pode negá-lo, rejeitando o pedido; IV – criar o direito, utilizando-se da remuneração como base de cálculo (nos casos em que inexiste um piso normativo ou convencional de categoria) também se mostra obstada, haja vista, a impossibilidade de se criar tal base judicialmente, segundo a súmula.”227

O STF, então, fora provocado a se manifestar através de reclamação. A

alternativa encontra foi a utilização de uma técnica interpretativa alemã conhecida

como “Declaração de Inconstitucionalidade sem Pronúncia de Nulidade”

226 BRASIL, Supremo Tribunal Ferderal - Debates para a aprovação da súmula vinculante nº 4, do supremo tribunal federal, que integram a ata da 10ª (décima) sessão ordinária, do plenário, realizada em 30 de abril de 2008. DJE nº 105/2008 Divulgação: terça-feira, 10 de junho Publicação: quarta-feira, 11 de junho 227 IOB – Revista IOB Trabalhista e Previdenciária Ano XXI, V. 21, Nº 252 – Junho 2010, Porto Alegre: Síntese.

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(Unvereinbarkeitserklarung) mantendo a norma declarada inconstitucional até o

surgimento de lei constitucional que discipline a situação, sob pena de o Poder

Judiciário atuar como legislador positivo, conforme se transcreve abaixo:

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE - BASE DE CÁLCULO – SALÁRIO MÍNIMO (CLT, ART. 192) DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE SEM PRONÚNCIA DE NULIDADE (UNVEREINBARKEITSERKLARUNG) SÚMULA 228 DO TST E SÚMULA VINCULANTE 4 DO STF. 1. O STF, ao apreciar o RE-565.714-SP, sob o pálido da repercussão geral da questão constitucional referente à base de cálculo do adicional de insalubridade editou a Súmula Vinculante 4, reconhecendo a inconstitucionalidade da utilização do salário mínimo, mas vedando a substituição desse parâmetro por decisão judicial.2. Assim decidindo, a Suprema Corte adotou técnica decisória conhecida no direito constitucional alemã o como declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia da nulidade (Unvereinbarkeitserklarung ), ou seja, a norma, não obstante ser declarada inconstitucional, continua a reger as relações obrigacionais, em face da impossibilidade de o Poder Judiciário se substituir ao legislador para definir critério diverso para a regulação da matéria. 3. Nesse contexto, ainda que reconhecida a inconstitucionalidade do art. 192 da CLT e, por conseguinte, da própria Súmula 228 do TST, tem-se que a parte final da Súmula Vincula n te 4 do STF não permite criar critério novo por decisão judicial, razão pela qual, até que se edite norma legal ou convencional estabelecendo base de cálculo distinta do salário mínimo para o adicional de insalubridade, continuará a ser aplicado esse critério para o cálculo do referido adicional, salvo a hipótese da Súmula 17 do TST, que prevê o piso salarial da categoria, para aquelas categorias que o possuam (já que o piso salarial é o salário mínimo da categoria). Recurso de revista provido.228

Cabe esclarecer que o § 3º do art. 103-A da CRFB/88 assim determina:

Art. 103-A [...] § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso."229

Assim, em 15 de julho de 2008, diante de um entendimento equivocado do

TST numa interpretação da parte final da Súmula Vinculante nº 4 do STF, na Medida

228BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho, RR 95500-41.2006.5.15.0099 Relator, Min. Ives Gandra Martins Filho 7ª Turma, DF, 14/05/2008, DJE – 16/05/2008. 229 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, DF : Senado, 1988

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Cautelar em Reclamação 6.266-0/DF o Exmo. Ministro Presidente do STF, Dr.

Gilmar Mendes, proferiu a seguinte decisão:

O art. 7º da Lei n° 11.417, de 19 de dezembro de 2006, dispõe que “da decisão judicial ou do ato administrativo que contrariar enunciado de súmula vinculante, negar-lhe vigência ou aplicá-lo indevidamente caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal, sem prejuízo dos recursos ou outros meios admissíveis de impugnação”. À primeira vista, a pretensão do reclamante afigura-se plausível no sentido de que a decisão reclamada teria afrontado a Súmula Vinculante n° 4 desta Corte: “Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.” Com efeito, no julgamento que deu origem à mencionada Súmula Vinculante n° 4 (RE 565.714/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, Sessão de 30.4.2008 - Informativo nº 510/STF), esta Corte entendeu que o adicional de insalubridade deve continuar sendo calculado com base no salário mínimo, enquanto não superada a inconstitucionalidade por meio de lei ou convenção coletiva. Dessa forma, com base no que ficou decidido no RE 565.714/SP e fixado na Súmula Vinculante n° 4, este Tribunal entendeu que não é possível a substituição do salário mínimo, seja como base de cálculo, seja como indexador, antes da edição de lei ou celebração de convenção coletiva que regule o adicional de insalubridade. Logo, à primeira vista, a nova redação estabelecida para a Súmula n° 228/TST revela aplicação indevida da Súmula Vinculante n°4, porquanto permite a substituição do salário mínimo pelo salário básico no cálculo do adicional de insalubridade sem base normativa. Ante o exposto, defiro a medida liminar para suspender a aplicação da Súmula n° 228/TST na parte em que permite a utilização do salário básico para calcular o adicional de insalubridade.230

Para que se compreenda a interpretação dada à Súmula vinculante nº 4 do

STF importante se compreender a diferença entre base de cálculo e indexador,

muito bem elucidada pelo Ministro Cezar Peluso em recente Reclamação junto ao

STF:

“Noutras palavras, bem distintos os conceitos de base de cálculo e de indexador, temos que a primeira, se fixada em salários mínimos, pode ser mantida, porque permite sempre a tradução de seu valor em “reais”, na data de sua fixação, devendo ser assim estabilizada e considerada, para todos os efeitos, no correspondente valor em reais. O que está expressamente vedado é o uso do salário mínimo como indexador (fator de reajuste real ou de correção da moeda), até que legislação superveniente decida o índice ou o critério que corrigirá esse valor certo do adicional de insalubridade. E tampouco é admissível, à luz do enunciado da sumula vinculante nº 4, que o Poder Judiciário defina, substituindo-se ao legislador, tais parâmetros

230 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa, Manual de direito do trabalho. 2ª Ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2010. p. 213

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(base de cálculo e seu indexador), exceção feita ao caso dos empregados, quando haja expressa previsão nos acordos e/ou convenções coletivas de trabalho.”231

A contradição da Súmula Vinculante nº 4 ficou notória ao passo que o

próprio STF precisou negar a aplicabilidade parcial da referida súmula para regular

sua situação enquanto não sobrevier lei disciplinadora da matéria.

Tal incoerência gera a possibilidade de Magistrados de instâncias inferiores,

adotarem base de cálculo diversa daquela prevista no art. 192 da CLT, baseado em

entendimentos jurisprudenciais já consolidados, sem que a decisão do STF seja

desrespeitada, uma vez que ele próprio titubeou na aplicação de seu entendimento

consolidado.232

Em virtude desta possibilidade o que se passa a analisar de forma

discriminada a seguir é o posicionamento doutrinário e jurisprudencial diante da

celeuma que envolve a base de cálculo do adicional de insalubridade.

3.3. SALÁRIO MÍNIMO COMO BASE DE CÁLCULO

Por estar consolidado junto ao STF o posicionamento acerca da utilização

do salário mínimo como base de cálculo do adicional de insalubridade é o

predominante entre os doutrinadores.

Assim defende Saad acerca da utilização do salário mínimo como base de

cálculo para o adicional de insalubridade:

“... o dispositivo sob análise não conflita com o inciso IV do art. 7º da Constituição Federal. Neste, é vedada a vinculação do salário mínimo para qualquer fim, isto é, não mais é admitido que ele se constitua em unidade monetária ou sirva de base à correção de valor ajustado contratualmente. No art. 192, o salário mínimo é apenas a base de cálculo do adicional de insalubridade.” 233

231BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Rcl. 8656 Reclamante USINA SÃO MARTINHO S/A Reclamado:Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região Processo Nº 00573-2007-120-15-00-9, Relator, Min. Cezar Peluso, DF 19/08/2009, DJE – 161 de 26/08/2009 232 IOB – Revista IOB Trabalhista e Previdenciária Ano XXI, V. 21, Nº 252 – Junho 2010, Porto Alegre: Síntese. 233 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 43ª Ed. atual., rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2010. p.325

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Colhe-se ainda na doutrina que “anteriormente, prevalecia o entendimento

de que o cálculo do adicional de insalubridade com base no salário mínimo não

apresentava inconstitucionalidade.” 234

Sobre os adicionais, tem-se o comentário expresso de que “o adicional é

devido de acordo com o grau de insalubridade (máximo, médio ou mínimo), e

consiste em um percentual variável (40, 20 e 10%, respectivamente) sobre o salário

mínimo.” 235

Ainda neste sentido, destaca-se o seguinte entendimento:

“mesmo após a Constituição o adicional de insalubridade continua sendo calculado sobre o salário mínimo, pois a palavra “remuneração” contida no art. 7º, XXIII, da CRFB, foi empregada no sentido de “contraprestação”[...], o adicional de insalubridade tem natureza salarial,(...) apesar da finalidade indenizatória. (...) porque remunera os 30 dias do mês”.236

Para Saad, o art. 192 da CLT não conflita com o inciso IV do art. 7º da

CRFB/88, pois a vinculação a que se refere este artigo da Carta Magna seria no

sentido de uma correção de valor ajustado contratualmente, no caso do artigo em

comento, o salário mínimo é apenas a base de cálculo do adicional.237

Compreende-se, portanto, que o raciocínio exposto não encontrava

obstáculo no art. 7º, IV da CRFB/88. O legislador constituinte instituiu a proibição

com o objetivo de proibir a vinculação ao salário mínimo como fator de indexação e

não como base de cálculo, cuja distinção já foi objeto de estudo no tópico anterior.238

Portanto, cabe conhecer a lição de Almeida:

“Na lacuna da lei ordinária entendemos admissível a medida provisória, de eficácia imediata, para a fixação, em definitivo, do adicional de insalubridade. Nesse ínterim, aconselha-se o pagamento do adicional fixado no art. 192 da CLT como único parâmetro.” 239

234 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa, Manual de direito do trabalho. 2ª Ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2010. p. 198 235 CARRION, Valentin. Comentário à consolidação das leis do trabalho. 32 ed. atual. por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2007 236 CASSAR, Vólia Bonfim. Direito do Trabalho. 2ª Ed. – Niterói: Impetus, 2008. p. 843 237 SAAD, Eduardo Gabriel, [et al]. Op. Cit. p.325 238 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 5ª Ed., São Paulo: LTr, 2009. p.788 239 ALMEIDA, Amador Paes de. CLT comentada: legislação, doutrina, jurisprudência. 6ª Ed. ver. E atual. – São Paulo: Saraiva, 2009. p. 122

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Depreende-se, dessa reflexão, portanto, que ainda que a

inconstitucionalidade possa existir no referido artigo, não existem meios legais para

a determinação da base de cálculo senão aquele sugerido pela lei consolidada.

Conforme comentado anteriormente, a predominância de entendimento dos

tribunais, principalmente pela força vinculante no entendimento consolidado do STF,

está no sentido da utilização do salário mínimo como base de cálculo para o

adicional de insalubridade, principalmente nas decisões reiteradas do Tribunal

Regional do Trabalho de Santa Catarina 12ª Região:

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. BASE DE CÁLCULO. NOVA REDAÇÃO DA SÚMULA Nº 228 DO TST. Em 15-7-2008, o Exmo. Presidente do Supremo Tribunal Federal concedeu medida liminar na Reclamação nº 6.266, suspendendo a aplicação da nova redação da Súmula nº 228 do TST, no tocante à utilização do salário básico do trabalhador como base de cálculo. De acordo com a Súmula Vinculante nº 4 do STF, a base de cálculo não pode ser substituída por decisão judicial. Logo, enquanto não for editada Lei que defina nova base de cálculo, o adicional de insalubridade deve ser calculado sobre o salário mínimo.240

Ainda neste mesmo TRTSC 12ª Região, colhe-se a seguinte decisão:

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. CÁLCULO. SÚMULA VINCULANTE Nº 4 DO STF. VEDAÇÃO À CRIAÇÃO DE NORMA. A vedação expressa na Súmula Vinculante nº 4 do Supremo Tribunal Federal à criação, por via interpretativa, de qualquer parâmetro para fins de cômputo do adicional de insalubridade leva à curial conclusão de que o salário mínimo deve continuar servindo como indexador para o cômputo do referido adicional enquanto não superada sua inconstitucionalidade por meio de lei ou instrumento coletivo, expressamente aplicável à espécie241.

Neste sentido, cabe-se destacar a OJ Nº 2 da SDI-2 do TST que diz: “viola o

art. 192 da CLT decisão que acolhe pedido de adicional de insalubridade com base

na remuneração do empregado” 242

240 SANTA CATARINA, Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina, 12ª Região, Processo 04665-2008-028-12-00-8, Juiz Edson Mendes De Oliveira - Publicado no TRTSC/DOE em 21-09-2010 241 SANTA CATARINA, Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina, 12ª Região, Processo: Nº 00706-2007-019-12-00-5 Juíza Ligia M. Teixeira Gouvêa - Publicado no TRTSC/DOE em 12-08-2010 242 BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho – Orientação jurisprudêncial n. 2 do tribunal superior do trabalho seção de dissídios individuais (subseção II), republicada no DJ 08,09 e 10/078/2008

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3.4. BTN COMO BASE DE CÁLCULO

Importante entender o histórico do BTN, o qual foi instituto com a finalidade

de prover o Tesouro Nacional de recursos necessários a manutenção do equilíbrio

orçamentário ou para a realização de operações de crédito por antecipação de

receita.243

Acerca da base de cálculo do adicional de insalubridade, Martins defende a

tese de que o salário mínimo de referência a que se refere a CLT era aquele contido

no §2º do art. 2º do Decreto-Lei nº 2.351/87, porém, a partir da publicação da Lei

7.789/89 que em seu art. 5º estabelecia o fim do salário mínimo de referência, não

se pode entender que deixou de existir base de cálculo para o adicional de

insalubridade nem se poderia deixar o obreiro desamparado desta base, porquanto

que o art. 2º da Lei nº 7.843/89 previa que o salário mínimo de referência

representaria 40 BTN’s a qual foi extinta posteriormente e através da Lei 8.177/91

determinou-se o prazo para a atualização do BTN (1º de fevereiro de 1991 no valor

de 126,8621) e depois corrigindo-o pela TR mensalmente.244

A TR foi criada no Plano Collor II para ser uma espécie de prime rate

brasileira, ou seja, uma taxa básica referencial dos juros a serem praticados no mês

vigente e que não refletissem a inflação do mês anterior. Apesar de definida pelo

governo como indexador de contratos com prazo superior a noventa dias, a TR

corrige os saldos mensais da caderneta de poupança. 243

Portanto, com a correção da TR, o critério adotado poderia ser o de

atualização, até a presente data, do BTN, o qual substituiu o salário mínimo de

referência.

Tal regra, se levantada em qualquer instância, poderia ser criticada por ferir

o princípio da norma mais benéfica, ao passo que o cálculo nos moldes acima

reduziria consideravelmente o valor do adicional de insalubridade do obreiro, ainda

que tecnicamente seja aquela com o amparo legal de maior consistência.

243 BRASIL, Banco Central do Brasil. Fatores de atualização monetária e taxas de juros referenciais. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/htms/infecon/finpub/cap7p.pdf. Acesso em 30/10/2010. 244 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25ª Ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 238 e 239

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3.5. SALÁRIO BÁSICO COMO BASE DE CÁLCULO

Inegavelmente, esta é a corrente minoritária sobre o assunto, com escassa

doutrina, restringe-se, na pesquisa efetuada, a opinião do Ilustre Desembargador

Sebastião Geraldo de Oliveira:

“o cálculo correto desse adicional deve considerar o salário contratual, sem os acréscimos, como é apurado o adicional de periculosidade e não o salário mínimo. Pode-se argumentar, é certo, que o dispositivo remete o assunto para regulamentação por lei ordinária e, nessa hipótese, prevaleceria, pelo princípio da recepção, a base de cálculo fixada no art. 192 da CLT. Todavia, não se pode ignorar o vocábulo “remuneração” constante da Carta Política, cuja acepção tem contornos bem definidos na doutrina jurídico-trabalhista, valendo ressaltar que a presunção, sobretudo no Direito Constitucional, é de que o legislador tenha preferido a linguagem técnica. ”245

O entendimento da jurisprudência nesse sentido já se encontra superado em

virtude do efeito vinculante já tratado no capítulo anterior, entretanto, para efeito

ilustrativo, demonstra-se a seguir o teor desta corrente nos tribunais:

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE - BASE DE CÁLCULO. Constituição. A nova Constituição Federal não alterou a base de cálculo do adicional de insalubridade, no inciso XXIII do artigo 7.º, para que seja calculado sobre o valor da remuneração 246

Ainda que na doutrina, a remuneração como base de cálculo do adicional de

insalubridade, não seja a posição dominante, percebe-se na jurisprudência algumas

teses envolvendo este entendimento, conforme se estudará a seguir.

3.6. DO CÁLCULO DE FORMA ANALÓGICA AO ADICIONAL DE

PERICULOSIDADE

Há ainda, entendimento no sentido de que a utilização do salário básico no

cálculo do adicional de insalubridade leva em conta a existência de previsão

expressa em hipótese semelhante referente ao adicional de periculosidade (art. 193,

245 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 3ª Ed. rev. ampl. E atual. São Paulo: LTr, 2001. 246 IOB. Repertório IOB de Jurisprudência. n.º 11/90, caderno 2, p. 179, ementa 2/3.833

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§1º da CLT e Súmula 191 do TST, assim, utilizando-se a analogia na forma do art.

4º da LICC, entendeu o TST, ser possível a analogia entre ambos os adicionais.247

Ressalta Oliveira em seu comentário as súmulas do TST:

“Sempre defendemos a posição de que o adicional de insalubridade deveria ser calculado tendo como alento analógico o adicional de periculosidade. Em verdade, em ambos os casos, a fixação do percentual pelo legislador celetista não obedeceu a qualquer fator técnico ou científico, não havendo qualquer fundamento para a diferença da base de cálculo. A adoção do salário mínimo como base de cálculo sempre foi um incentivo para que as empresas com ambiente insalubre não investissem na eliminação do fato gerador produtor da insalubridade.”248

Nota-se que aqueles que defendem a analogia, o fazem por perceber a

vedação constitucional da admissão do salário mínimo como base de cálculo para o

adicional de insalubridade, mas ainda ressaltam a importância da majoração dessa

base, no intuito de estimular as empresas a neutralizarem os agentes insalubres da

empresa, tornando-se esta última, uma nova tendência na doutrina moderna.

A seguir, demonstra-se a tendência jurisprudencial acerca do tema e

também a sua evolução com a interpretação dada a Súmula vinculante nº 4 do STF.

3.7. PISO NORMATIVO OU SALÁRIO PROFISSIONAL COMO BASE DE

CÁLCULO.

Antes de se iniciar o presente estudo, cabe esclarecer que antes da

Constituição de 1988, e apenas durante a vigência do Decreto-lei nº 2.351/1987, a

base de cálculo do adicional de insalubridade era o piso nacional de salários

(Orientação Jurisprudencial Transitória 33 da SBDI-I do TST, ex-OJ 3 da SBDI-I).249

Conforme exposto inicialmente neste capítulo, a controvérsia em torno do

tema é persistente e vem sendo encontrada em julgados do mesmo STF de forma

contrária àquela sugerida pela Súmula Vinculante nº 4:

247 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa, Manual de direito do trabalho. 2ª Ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2010. p. 209 248 OLIVEIRA, Francisco Antonio de. Comentários as súmulas do TST. 10ª Ed. ver. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. p.115 249 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa, Manual de direito do trabalho. 2ª Ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2010. p. 213

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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. VINCULAÇÃO AO SALÁRIO MÍNIMO. ARTIGO 7º, IV, CB/88. IMPOSSIBILIDADE. FIXAÇÃO DE OUTRA BASE DE CÁLCULO. OMISSÃO. 1. O entendimento deste Tribunal é no sentido de que a vinculação do adicional de insalubridade ao salário mínimo ofende a Constituição do Brasil [CB/88, artigo 7º, IV]. Precedentes. Súmula vinculante n. 4/STF. 2. Garantida ao trabalhador a percepção do adicional, impõe-se a fixação de outra base de cálculo. Embargos de declaração acolhidos apenas para se determinar o retorno dos autos às instâncias ordinárias, objetivando a fixação de outra base de cálculo para o adicional de insalubridade250.

Este posicionamento incerto do STF traz aos magistrados de instâncias

inferiores a possibilidade de clamarem por preceitos legais que possibilitem ao

magistrado, decidir diferentemente àquele entendimento vinculante, como é o caso

do artigo 4ª da LICC, que define que "Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso

de acordo com a analogia, os costumes e também com os princípios gerais do

direito.” 251

Utilizando-se dessa prerrogativa, assim é o entendimento no TRTSC 12ª

Região:

Ementa: ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. BASE DE CÁLCULO. COMPATIBILIZAÇÃO COM A SÚMULA VINCULANTE Nº 4 DO STF. O salário básico do trabalhador deve servir de base de cálculo do adicional de insalubridade, visto ser consentâneo com as históricas referências legislativas referentes a esse adicional, que sempre apontaram para o menor salário devido e auferido pelo obreiro exposto a condições insalutíferas, o que eventualmente poderá coincidir com o valor nominal do salário mínimo ou com o salário normativo/piso salarial das categorias profissionais organizadas. A mera interpretação gramatical da parte final da Súmula Vinculante nº 4 do STF redundaria em evidente inconstitucionalidade. O inc. XXXV do art. 5º da Constituição Federal, cláusula pétrea portanto, dispõe que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. O legislador constituinte não autorizou o legislador ordinário, representante do povo brasileiro, de impedir o Poder Judiciário de enfrentar e solucionar as pretensões resistidas colocadas a sua análise. Inexiste razão lógica ou jurídica para que o próprio STF assim o faça. Como guardião máximo da Constituição da República Federativa do Brasil, certamente não foi essa a intenção do STF. Não há olvidar ainda o que estatuem o art. 4º da Lei de

250 BRASIL, Supremo Tribunal Ferderal – Embargos de declaração no agravo regimental no recurso extraordinário 585.483-3 Rio Grande do Sul, 2ª Turma, Relator, Ministro Eros Grau, julgado em 07-10-2008, publicado DJe 14/11/2008. 251 BRASIL, Decreto-lei nº 4.657, Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro, RJ, 4 de setembro de 1942, Publicado no DOU de 09 de setembro de 1942.

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Introdução ao Código Civil, o art. 8º da CLT e o art. 126 do CPC. Assim, diante da lacuna, do hiato deixados pela Súmula Vinculante nº 4, cumpre ao Julgador viabilizar no caso concreto o pleno exercício do direito dos trabalhadores até que se edite norma legal ou convencional específica estabelecendo específica base de cálculo para o adicional de insalubridade.252

Acerca da possibilidade de utilização do salário profissional como base de

cálculo para o referido adicional, assim posicionou-se o TRT 12ª Região:

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. BASE DE CÁLCULO. Mesmo após o advento da Súmula Vinculante nº 4 do STF, até que se edite uma nova lei dispondo a respeito da base de cálculo do adicional de insalubridade, este deverá observar o salário mínimo, tal como previsto no art. 192 da CLT, salvo para os trabalhadores que têm profissões legalmente regulamentadas, com salário profissional estabelecido por lei, sentença normativa ou convenção coletiva, hipótese em que deverá ser esta a base de incidência do adicional em comento.253

Ainda nesta seara, assim se traduz o entendimento do MM. Juiz Jorge Luiz

Volpato do TRT 12ª Região quanto à utilização do salário básico para definição da

base de cálculo do adicional de insalubridade:

Ementa: ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. BASE DE CÁLCULO. Considerando a vedação contida na Súmula Vinculante nº 04 do STF, bem como a falta de previsão legal a respeito da matéria, adoto o entendimento consubstanciado no novo texto da Súmula nº 228 do TST, que definiu a base de cálculo do adicional de insalubridade sobre o salário básico, o qual, na hipótese dos autos, por analogia, corresponde ao piso salarial da categoria, definido nas convenções coletivas de trabalho anexadas aos autos.254

As variadas teses desenvolvidas convergem para um problema em comum,

todas questionam de alguma forma a constitucionalidade da utilização do salário

mínimo para encontrar-se a base de cálculo do adicional de insalubridade,

entretanto, se o pagamento atualmente é feito de forma inconstitucional, certamente

vem sendo feito desde 1988.

A correção do problema talvez esteja perto de acontecer, vez que

atualmente tramita no senado, projeto de lei que define as regras da base de

252 SANTA CATARINA, Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina, 12ª Região, Processo 04665-2008-028-12-00-8, Juiz Edson Mendes De Oliveira - Publicado no TRTSC/DOE em 21-09-2010 253 SANTA CATARINA, Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina, 12ª Região, Processo: Nº 00095-2009-038-12-00-5 Juíza Maria Aparecida Caitano - Publicado no TRTSC/DOE em 01-03-2010 254 SANTA CATARINA, Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina, 12ª Região, Processo: 01904-2008-019-12-00-7 - Juiz Jorge Luiz Volpato. Publicado no TRTSC/DOE em 04 – 04 – 2010

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cálculo, com critério devidamente recepcionado pela CRFB/88, entretanto, até que

se edite nova Lei, a força vinculante da decisão do STF certamente prevalecerá

dentre todos os entendimentos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a legislação justrabalhista consolidada em 1943, em seu artigo 192

definiu-se a base de cálculo do adicional de insalubridade como sendo o salário

mínimo vigente no País, entretanto a CRFB/88 veda a vinculação do salário mínimo

como base de cálculo para qualquer fim, inclusive vantagens a servidores públicos e

empregados.

O estudo da remuneração e do salário, bem como o entendimento dos

termos indexador e base de cálculo, permitem ao intérprete da norma, perceber a

importância de tais definições na defesa da tese mais coerente acerca da base de

cálculo do adicional de insalubridade.

Com a aprovação da CRFB/88, criou-se então a lacuna sobre qual seria o

melhor método de se calcular referido adicional. No julgamento de um Recurso

Extraordinário o Supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional o uso do salário

mínimo como base de cálculo de qualquer vantagem a servidor público ou

empregado, o que inclui o adicional de insalubridade.

Com a aprovação pelo Supremo Tribunal Federal da Súmula Vinculante nº 4

que veda o uso do salário mínimo como base de cálculo do adicional de

insalubridade, levantando ainda a impossibilidade de se criar nova regra pelo poder

judiciário sob pena deste atuar como legislador positivo, o Pleno do Tribunal

Superior do Trabalho conferiu nova redação à Súmula 228 no sentido de que a partir

de 09/05/2008 a base de cálculo do adicional de insalubridade seria o salário

contratual do trabalhador;

Entretanto, a Confederação Nacional da Indústria ajuizou Reclamação ao

Supremo Tribunal Federal que, liminarmente, suspendeu os efeitos da nova redação

da Súmula 228 do Tribunal Superior do Trabalho com o argumento de que enquanto

o Congresso Nacional não aprovar lei criando a base de cálculo do adicional de

insalubridade, esta será o salário mínimo, utilizando-se de técnica interpretativa

Alemã conhecida como Declaração de Inconstitucionalidade sem Pronúncia de

Nulidade (Unvereinbarkeitserklarung).

Há que se destacar que o controle de constitucionalidade na Alemanha é

exercido por um órgão denominado Tribunal Constitucional Federal o qual não faz

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parte da estrutura do Poder Judiciário, o que possibilita a declaração de

inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade.

Apesar desta saída que, aparentemente, foi a mais acertada para se colocar

fim a discussão, percebe-se pela análise efetuada que o assunto não tem um

posicionamento unânime, talvez, seja possível destacar que o salário mínimo é o

mais aceito, mesmo porque tem o efeito vinculante da decisão do STF como

principal aliado.

Dos julgados em estudo, percebe-se que a maioria dos magistrados vê a

solução adotada pelo STF como sendo a mais aceitável até que se edite norma legal

para definir o adicional.

Aqueles que veem a remuneração como base de cálculo prendem-se a um

entendimento já superado pela maioria dos tribunais e ainda revogado por meio de

resolução na sessão do tribunal pleno, o qual previa em sua Súmula 17 (cancelada)

que o salário profissional seria a base de cálculo.

Desses entendimentos divergentes, colhe-se um ponto em comum, todos

concordam que o adicional de insalubridade deve recompensar a perda da saúde do

trabalhador quando do labor em ambiente hostil e com agentes causadores da

insalubridade, vez que nem sempre é possível a neutralização ou eliminação de tais

agentes.

Com o aperfeiçoamento do estudo sobre a Medicina e Segurança do

Trabalho, denota-se uma crescente preocupação com a neutralização dos agentes

insalubres e uma terceira corrente que defende a majoração da base de cálculo do

adicional de insalubridade como forma de estímulo ao empregador no esforço para

encontrar meios de neutralizar ou extinguir os agentes causadores da insalubridade.

Entretanto, não é o que se verifica na decisão do STF. Quando define o

salário mínimo como base de cálculo, estimula no sentido inverso, pois esta é a

menor base dentre todas aquelas que são discutidas.

O estudo em questão é uma pesquisa doutrinária e também da

jurisprudência do Estado de Santa Catarina acerca da atual situação do tema

proposto. No Congresso Nacional existem pelo menos cinco propostas de alteração

do art.192 da CLT, no tocante a base de cálculo do adicional de insalubridade,

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entretanto até o presente momento nenhum desses projetos foi encaminhado para

votação em plenário.

Esta pesquisa visa esclarecer o posicionamento atual do Tribunal

Trabalhista da 12ª Região, a qual está em sintonia com o entendimento do STF,

quanto a determinação do salário mínimo como base de cálculo do adicional de

insalubridade, exceto em algumas turmas, onde ainda prevalece o preceito do livre

convencimento do juiz.

Quanto ao TST, a resolução 148, colocou fim a uma divergência de

entendimentos que cercavam aquele Tribunal, atualmente, as decisões estão no

sentido de acompanhar o entendimento do STF, até mesmo pela força vinculante de

sua decisão e ainda buscando a celeridade processual.

Acerca da base de cálculo do adicional de insalubridade, em que pese o

entendimento majoritário sobre a utilização do salário mínimo como base de cálculo,

recomenda-se um estudo aprofundado em sede de mestrado ou doutorado,

principalmente nas normas constitucionais e dos demais tribunais de outras regiões,

a fim de se destacar uma base ideal para o referido adicional.

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