possibilidade de cumulação do adicional de insalubridade com o de periculosidade

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE FORMIGA – UNIFOR-MG CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO GUSTAVO LUIS FERNANDES SILVA POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE COM O DE PERICULOSIDADE FORMIGA – MG 2015

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Page 1: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE FORMIGA – UNIFOR-MG

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

GUSTAVO LUIS FERNANDES SILVA

POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

COM O DE PERICULOSIDADE

FORMIGA – MG

2015

Page 2: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

GUSTAVO LUIS FERNANDES SILVA

POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

COM O DE PERICULOSIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Direito do Centro Universitário de

Formiga – UNIFOR-MG, como requisito

parcial para obtenção do título de bacharel em

Direito.

Orientadora: Ana Flávia Paulinelli Rodrigues

Nunes.

FORMIGA – MG

2015

Page 3: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

S586 Silva, Gustavo Luis Fernandes.

Possibilidade de cumulação do adicional de insalubridade com

o de periculosidade / Gustavo Luis Fernandes Silva. – 2015.

48 f.

Orientadora: Ana Flávia Paulinelli Rodrigues Nunes.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) –

Centro Universitário de Formiga-UNIFOR-MG, Formiga, 2015.

1. Adicional de insalubridade. 2. Adicional de periculosidade.

3. Possibilidade de cumulação. I. Título.

CDD 344.01

Page 4: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

Gustavo Luis Fernandes Silva

POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

COM O DE PERICULOSIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Direito do Centro Universitário de

Formiga – UNIFOR-MG, como requisito

parcial para obtenção do título de bacharel em

Direito.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________

Profª. Ana Flávia Paulinelli Rodrigues Nunes

Orientadora

________________________________________________________

Professor

UNIFOR-MG

________________________________________________________

Professor

UNIFOR-MG

Formiga/MG, ___ de novembro de 2015.

Page 5: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

RESUMO

O presente trabalho propõe uma discussão acerca da possibilidade de o

empregado receber simultaneamente os adicionais de insalubridade e periculosidade,

quando presentes os requisitos de concessão de cada um deles. A pesquisa inicialmente

traz reflexões gerais sobre o tema saúde e segurança do trabalho, e também sobre os

adicionais de insalubridade e periculosidade especificamente. Em seguida traça os

principais pontos que possibilitam a cumulação dos dois adicionais, que giram

basicamente em torno do argumento de que a Constituição não recepcionou o

dispositivo que veda tal cumulação, juntamente com o argumento de que as Convenções

internacionais 148 e 155 da OIT aprovam tal possibilidade. Por fim, busca-se analisar a

possibilidade da cumulação do adicional de insalubridade com o de periculosidade, haja

vista se tratar de dois institutos diferentes, com fatos geradores diferentes, razão pela

qual não incorreria em bis in idem o seu recebimento simultâneo.

Palavras-chave: Adicional de insalubridade. Adicional de periculosidade. Possibilidade

de cumulação.

Page 6: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

ABSTRACT

This work has on the possibility of the employee simultaneously receive the

additional health and risk premiums, when present the requirements for granting each.

The search initially provides general reflections on the theme health and safety, and also

on the additional health and risk premiums specifically. After outlining the main points

that allow the accumulation of two additional, revolving primarily around the argument

that the Constitution does not welcomed the device that seals such cumulation along

with the argument that international conventions 148 and 155 OIT approve such

possibility. Finally, defends the possibility of cumulation of hazard pay to the danger,

given they are two different institutes with different triggering events, why not incur bis

in idem its simultaneous receipt.

Keywords: Hazard pay. Risk premium. Possibility of overlapping.

Page 7: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

LISTA DE ABREVIATURAS

CRFB Constituição da República Federativa do Brasil

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

EPI Equipamento de Proteção Individual

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

NR Norma Regulamentadora

OIT Organização Internacional do Trabalho

OJ Orientação Jurisprudencial

STF Supremo Tribunal Federal

TRT Tribunal Regional do Trabalho

TST Tribunal Superior do Trabalho

Page 8: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 8

2. SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR ................................................. 10

2.1. Noções gerais e conceituais ........................................................................... 10

2.2. Fundamentos ................................................................................................. 13

3. ADICIONAIS ............................................................................................................ 15

3.1. Adicional de insalubridade ........................................................................... 16

3.1.1. Conceito e principais características .................................................. 16

3.1.2. Percentagens e base de cálculo .......................................................... 17

3.1.3. Eliminação ou neutralização da condição insalubre .......................... 18

3.2. Adicional de periculosidade .......................................................................... 19

3.2.1. Conceito e principais características .................................................. 19

3.2.2. Percentagens e base de cálculo .......................................................... 20

3.2.3. Eliminação ou neutralização da condição perigosa ........................... 21

4. HIERARQUIA DAS NORMAS NO ÂMBITO DO DIREITO DO TRABALHO

........................................................................................................................................ 22

5. AS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS DA OIT .............................................. 28

5.1. Convenção nº 148 .......................................................................................... 29

5.2. Convenção nº 155 .......................................................................................... 30

5.3. As convenções 148 e 155 da OIT, e a cumulação dos adicionais de

insalubridade e periculosidade ........................................................................... 31

6. O §2° DO ARTIGO 193 DA CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO

FRENTE AO ARTIGO 7°, XXIII DA CONSTITUIÇÃO ........................................ 33

7. A POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DO ADICIONAL DE

INSALUBRIDADE COM O DE PERICULOSIDADE ............................................ 39

8. CONCLUSÃO ........................................................................................................... 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 48

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1. INTRODUÇÃO

A Constituição da República de 88 trouxe um rol de diversas garantias e direitos

fundamentais, e no que tange aos direitos dos trabalhadores, visando um cuidado a mais

com a sua saúde e segurança, estabeleceu que fossem pagos adicionais de remuneração

para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei.

Em se tratando de insalubridade e periculosidade a CLT ao reger sobre o tema,

deu ao trabalhador somente a opção de escolher entre um destes adicionais quando os

dois lhe forem devidos.

Desta forma, mesmo que o empregapo esteja laborando sob condições insalubres

e perigosas ao mesmo tempo, não poderá receber a remuneração pelos respectivos

adicionais, tendo em vista disposição expressa no art. 193. §2º, da CLT, fazendo com

que o trabalhador opte por apenas um deles.

Contudo, segundo posições jurisprudenciais e doutrinárias, que serão tratadas

neste trabalho, o dispositivo da CLT já não é mais cabível, levando-se em conta três

grandes fatores, quais sejam, a não recepcionalidade do dispositivo da CLT pela

Constituição de 88; as disposições das Convenções 148 e 155 da OIT, permitindo a

cumulação dos adicionais; e o fato de terem os adicionais de insalubridade e

periculosidade fatos geradores diversos, o que não incorreria em bis in idem.

Neste diapasão, o presente trabalho tem o intuito de demonstrar a possibilidade

do recebimento dos adicionais de insalubridade e periculosidade de forma cumulada,

quando presentes os requisitos para o recebimento de cada um deles, fazendo uma

abordagem dos seguintes aspectos, senão vejamos.

Inicialmente, faz-se mister uma análise do tema saúde e segurança do

trabalhador, tendo em vista a grande relevância do tema e de tratar os adicionais de

insalubridade e periculosidade, parcelas indenizatórias devidas ao empregado que labore

em condições que o exponha a riscos à vida e à saúde.

Passa-se depois a um estudo dos adicionais de insalubridade e periculosidade

propriamente ditos.

Primeiramente, são feitas conceituações e explanações gerais sobre o adicional

de insalubridade, bem como sua base de cálculo e meios de eliminação e neutralização

da condição insalubre.

Page 10: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

9

Em seguida, passa-se ao estudo do adicional de periculosidade, exibindo

conceitos, elencando percentagens e base de cálculo, e meios que possam eliminar ou

neutralizar a condição perigosa.

Colocados os aspectos principais dos adicionais de insalubridade e

periculosidade, o presente trabalho trata em seguida, da hierarquia das normas do direito

trabalhista, tema este de cunho introdutório, pois visa demonstrar qual norma do direito

do trabalho será aplicada em caso de conflito.

Se torna importante o estudo da hierarquia das normas trabalhistas, pois dentro

do presente trabalho, é também feito um estudo sobre a primazia das Convenções

Internacionais da OIT, frente as normas infraconstitucionais.

Desta monta, observada a hierarquia das normas, analisa-se então aspectos

gerais das Convenções da OIT, e das Convenções de nº 148 e 155 especificamente, já

que elas permitem a cumulação dos adicionais, bem como sua prevalência no direito

interno.

Depois será feito um estudo minucioso acerca da recepcionalidade da norma do

art. 193, §2º, da CLT, pela Constituição Federal, haja vista a vedação contida nesse

dispositivo ir de frente a um direito constitucionalmente previsto no art. 7º, XXIII.

Em última análise, o presente trabalho terá como objeto de estudo a

possibilidade da percepção simultânea dos adicionais de insalubridade e periculosidade,

levando-se em consideração todos os aspectos anteriormente levantados.

Page 11: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

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2. SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR

2.1. Noções gerais e conceituais

A proteção à vida e a integridade física do trabalhador está situada entre os

direitos e garantias fundamentais, que a Constituição Federal de 88 nos reserva.

Devido à tamanha importância do tema, a Carta Magna vigente, em seu art. 7º,

caput, consagrou esses direitos fundamentais, não somente aos trabalhadores

empregados, mas a todos os trabalhadores, incluindo o autônomo, o eventual, o

terceirizado, o cooperado, etc.

Em respeito à tais direitos fundamentais, quais sejam o da vida e o da

integridade física do trabalhador, é de suma importância, que o empregador adote

medidas para que sejam respeitados esses direitos, fazendo com que o empregado labore

em condições dignas.

Observa-se, no entanto, que nem todo trabalhador exerce suas atividades em

ambiente consoante com sua capacidade física e mental, ficando sujeito, deste modo, a

acidentes e deficiências do ambiente de trabalho.

Desta forma, a segurança e medicina do trabalho, surge, como um ramo do

direito trabalhista, que possui como pressuposto, garantir o amparo à saúde e a vida do

trabalhador, no local onde este presta serviços.

Neste diapasão, a segurança e medicina do trabalho, é o segmento do direito do

trabalho, encarregado de oferecer proteção à vida e a saúde do empregado, no local em

que labora, bem como, de prestar condições de recuperação, quando não estiver apto a

exercer as atividades normalmente.

Como objeto da segurança e medicina aplicados ao trabalho, ensina Nascimento:

A segurança e a medicina aplicadas ao trabalho têm um objetivo próprio, que

pode ser resumido, seguindo Simonin, da seguinte maneira: a) complexo

homem-máquina, em face das modificações constantes desta última,

acarretando toda sorte de estragos nos que as manejavam, impondo-se um

corretivo de ordem fisiológica, biológica, psicológica e técnica; b) complexo

trabalhador-ambiente, tendo em conta que o local de trabalho é fonte de

riscos e perigos diversos, que devem ser evitados, tanto no que tange à

edificação do estabelecimento, em seu aspecto material, como em relação à

implantação de meios técnicos sanitários a cargo de engenheiros, químicos e

toxicólogos; c) equipe obreiro-patronal, compreendendo fatores psicológicos

de produtividade, pertinentes à esfera das relações humanas na empresa e a

consideração do trabalhador como ser dotado de necessidades e ao mesmo

tempo sujeito a fatores de ordem ética, moral e espiritual; e) complexo

obreiro-comunidade, que entra no campo da previdência social, dada a

Page 12: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

11

necessidade de suprimir ou diminuir no trabalhador a incerteza quanto a

determinadas contingências que o afetam sobre o futuro e os riscos do

trabalho. (NASCIMENTO, 2015, p. 883).

Não resta dúvida, que a condição primordial a ser cumprida pelo empregador é a

adequação do local de trabalho, para assegurar que os trabalhadores desenvolvam suas

atividades em um ambiente moral que seja dotado de segurança e higiene.

A segurança e higiene do trabalhador são fatores vitais para que se alcance uma

prevenção mais efetiva e uma defesa maior da saúde do empregado, evitando-se o

sofrimento do homem.

Desta monta, fica evidente que o meio ambiente do trabalho, deve ser um

ambiente higiênico e seguro, com o fim de estabelecer uma maior proteção ao

trabalhador, até mesmo para que este desempenhe melhor as suas funções, e tenha uma

maior produtividade para a empresa.

Meio ambiente do trabalho, pode ser entendido, como o local onde as pessoas

desempenham suas funções laborais, remuneradas ou não, devendo se pautar na

salubridade do meio, bem como na eliminação de agentes que possam comprometer a

incolumidade física e moral do empregado, em quaisquer condições que ostentem.

Segundo Nascimento:

O meio ambiente do trabalho é, exatamente, o complexo máquina-trabalho:

as edificações do estabelecimento, equipamentos de proteção individual,

iluminação, conforto térmico, instalações elétricas, condições de salubridade

ou insalubridade, de periculosidade ou não, meios de preservação à fadiga,

outras medidas de proteção ao trabalhador, jornadas de trabalho e horas

extras intervalos, descansos, férias, movimentação, armazenagem e manuseio

de materiais que formam o conjunto de condições do trabalho etc.

(NASCIMENTO, 2015, p. 882).

Imperioso ressaltar, que não se confunde a proteção ao meio ambiente do

trabalho com a proteção do direito do trabalho. Na primeira o bem tutelado é a saúde e a

segurança do trabalhador, enquanto que na segunda, o que se busca proteger é

exclusivamente a relação empregatícia com vínculos de subordinação.

Há parte da doutrina que entenda ter o meio ambiente um conceito bem mais

amplo e, deste modo, colocando o meio ambiente do trabalho não só como ramo do

direito trabalhista, mas também, como um segmento dos direitos humanos.

É o que preconiza, Carlos Henrique Bezerra Leite:

Page 13: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

12

Vê-se assim, que a definição de meio ambiente é bastante ampla,

constituindo, na verdade, um conceito jurídico indeterminado, permitindo, de

tal arte, a abertura no ordenamento jurídico para concretização da terceira

dimensão dos direitos humanos. (LEITE, 2015, p. 565)

Nota-se, então, que a doutrina já se respalda em uma concepção mais atual para

o tema. Como continua Bezerra Leite:

A concepção moderna de meio ambiente do trabalho, portanto, está

relacionada com os direitos humanos, notadamente o direito à vida, à

segurança e à saúde. Esses direitos, na verdade, constituem corolários dos

princípios fundamentais da dignidade da pessoa humana e da cidadania.

(LEITE, 2015, p. 566).

Ultrapassada se torna então, a concepção tradicionalista da doutrina, em calcar o

meio ambiente do trabalho somente em normas técnicas trabalhistas, sob o ponto de

vista da medicina, saúde e segurança do empregado, e passa-se a uma interpretação

mais extensiva do tema, colocando-o como norma de direitos humanos, com respaldo

no princípio máximo da dignidade da pessoa humana.

Levando-se em consideração todos os riscos que podem surgir nos mais variados

locais de prestação de serviços, é que podemos eleger a prevenção como melhor

maneira de proteger não somente a saúde, mas também a vida do trabalhador.

Por isso, os princípios da prevenção e da precaução, se tornam pontos

norteadores das normas que tem por objetivo à tutela da saúde e segurança do

trabalhador.

Com efeito, a prevenção consiste na adoção de medidas antecipadas, que possam

neutralizar a ocorrência de um provável dano, em determinados casos, abolindo suas

causas, quando já se conhece o risco concreto.

Por sua vez, a precaução, consiste na adoção de medidas gerais que possam

evitar a ocorrência de um possível dano à saúde e a segurança do trabalhador, mesmo

que não se tenha o conhecimento de qual seja o risco concreto.

Destarte, objetivando-se uma maior proteção ao trabalhador, e visando uma

maior seguridade as suas garantias constitucionais da proteção à vida e à integridade

física, é que foram criadas normas tanto no âmbito nacional quanto internacional, para

salvaguardar tais preceitos fundamentais.

Page 14: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

13

2.2. Fundamentos

A Carta Magna vigente possui como um de seus fundamentos a dignidade da

pessoa humana, fundamento este que pode ser compreendido de diversas formas.

Uma destas formas é a da dignidade do ser humano dentro do seu ambiente de

trabalho, sendo compreendida, pelos modos de proteção à saúde e segurança do

trabalhador, a fim de que este possa exercer suas atividades sem que lhe seja lesado sua

integridade física e moral.

A Constituição Federal de 88, em seu Título II, que trata dos direitos e garantias

fundamentais, traz ainda em seu texto, diversos incisos que protegem, à vida, à saúde, à

segurança e o meio ambiente do trabalhador em suas diversas formas.

Neste mesmo norte, é que o legislador constituinte, dispôs sobre o tema,

calcando no texto constitucional, os art. 7º, XXII e XXVIII, e o art. 200, VII, que

dizem:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que

visem à melhoria de sua condição social:

[...]

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de

saúde, higiene e segurança;

[...]

XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem

excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou

culpa.”

“Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições,

nos termos da lei:

[...]

VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do

trabalho.

Deste modo, a CRFB de 88, acaba por preceituar, dispositivos que visam

proteger o meio ambiente do trabalho, nele compreendido à saúde e à segurança do

trabalhador.

Outros direcionamentos, relevantes ao tema, também estão dispostos nas

Constituições Estaduais, leis infraconstitucionais, Consolidação das Leis do Trabalho

(CLT), convenções internacionais da OIT (Organização Internacional do Trabalho),

Normas Regulamentares – NR’s, etc.

A CLT, enquanto códex específico ao tema direito do trabalho, estabelece

diversas diretrizes sobre a saúde e segurança do trabalhador, como bem versa

Nascimento:

Page 15: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

14

A CLT, com redação da Lei n. 6.514, de 1977, nos dispositivos sobre

segurança e medicina do trabalho, tem um quadro expressivo, uma vez que

trata dos seguintes temas: normas básicas de segurança e medicina do

trabalho e dos órgãos quais incumbe velar por esse bem jurídico (arts. 155 a

159); inspeção prévia, embargo ou interdição de estabelecimento (art. 160);

órgãos de segurança e medicina do trabalho na empresa (arts. 162 a 165);

equipamento de proteção individual (arts. 166 e 167); medidas preventivas de

medicina do trabalho (arts. 168 e 169); edificações (arts. 170 a 174);

iluminação (art. 175); conforto térmico (arts. 176 a 178); instalações elétricas

(arts. 179 a 181); movimentação, armazenagem e manuseio de materiais

(arts. 182 e 183); máquinas e equipamentos (arts. 184 a 186); caldeiras,

fornos e recipientes sob pressão (arts. 187 e 188); atividades insalubres ou

perigosas (arts. 189 a 197); prevenção da fadiga (arts. 198 e 199); é

competência do Ministério do Trabalho e Emprego baixar normas

complementares (art. 200), entre as quais portarias sobre Normas

Regulamentares de Medicina e Segurança do Trabalho – NRs.

(NASCIMENTO, 2015, p. 885).

Em seu art. 200, a CLT, rege caber ao Ministério do Trabalho, estabelecer

disposições complementares às normas de segurança e medicina do trabalho. E

cumprindo estas disposições, o Ministério do Trabalho, criou diversas portarias e

Normas Regulamentares tratando do tema.

Em especial, podemos citar a NR nº 15 e a nº 16, que tratam respectivamente das

atividades e operações insalubres e das atividades e operações perigosas, atividades

estas, que são tema central do presente trabalho.

Imperioso ressaltar também, a NR nº 1, que traz as disposições gerais sobre o

tema, frisando a obrigatoriedade da observância das NRs de saúde e medicina do

trabalho, como versa o seu item 1.1:

1.1 As Normas Regulamentadoras - NR, relativas à segurança e medicina do

trabalho, são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e

pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos

órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados

regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.

Desta maneira, as empresas, ficam obrigadas a cumprir esses dispositivos,

promovendo toda e qualquer medida que seja necessária para proteção à saúde e

segurança do trabalhador, especialmente as de caráter preventivo.

Por sua vez, os empregados também ficam obrigados a cumprir as

determinações da empresa, constituindo a sua recusa injustificada, ato faltoso, segundo

o art. 158 da CLT.

Destarte, para que se tenha uma maior efetivação destas regulamentações, fica a

cargo do Ministério do Trabalho e Emprego, a observância do cumprimento destas

normas que versam sobre a saúde e medicina do trabalhador.

Page 16: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

15

Desta forma, o MTE, através suas Superintendências Regionais do Trabalho e

Emprego, deve promover a fiscalização das empresas para uma eficaz execução dos

dispositivos de proteção ao empregado.

3. ADICIONAIS

Conforme preconiza Amauri Mascaro Nascimento (2015, p. 869), “no sentido

comum, adicional significa algo que acrescenta e no sentido jurídico, adicional é um

acréscimo salarial que tem como causa o trabalho em condições mais gravosas para

quem o presta”.

O adicional não se configura meramente como um prêmio dado ao empregado

para acrescentar seu salário, mas sim como uma prestação devida ao trabalhador, por

este laborar em condições gravosas.

Desta forma, o recebimento do adicional está diretamente ligado à uma

condição, um fato gerador, ou seja, presentes as condições o trabalhador fará jus ao

adicional, caso contrário não receberá.

Configura-se então como uma espécie de compensação por ter o empregado se

submetido à condições extraordinárias (que afetem à sua saúde e segurança), em seu

ambiente de trabalho, e não como vantagens recebidas por este.

Dentre os adicionais que integram o direito trabalhista, podemos citar o

adicional de horas extras, o noturno, o de transferência, o de insalubridade e o de

periculosidade. Dando-se enfoque nos adicionais de insalubridade e periculosidade,

norteadores desta pesquisa.

Destarte, os adicionais ora citados, qual seja o de insalubridade e periculosidade,

recebem tratamento constitucional, mais precisamente no art. 7º, XXIII, que dispõe:

Art. 7.º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que

visem à melhoria de sua condição social:

(...)

XXIII — adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou

perigosas, na forma da lei.

Assim sendo, passa-se a análise específica dos adicionais de insalubridade e

periculosidade respectivamente.

Page 17: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

16

3.1. Adicional de insalubridade

3.1.1. Conceito e principais características

A palavra insalubre advém do latim e possui como significado, tudo aquilo que

origina doença, e insalubridade, portanto, é a qualidade de insalubre.

Em se tratando de insalubridade, tem-se que o trabalho insalubre, é aquele que

tem por resultado um prejuízo constante a saúde do trabalhador. Não basta, porém, que

o perigo ocasionado à saúde seja momentâneo, mas que se tenha um contato diário com

os agentes nocivos que, com um maior espaço de tempo, venha a ocasionar graves

doenças ao empregado.

Nas palavras da doutrinadora Alice Monteiro de Barros, assim se conceituam as

atividades insalubres:

As atividades ou operações insalubres, definidas em quadro aprovado pelo

Ministério do Trabalho (art. 190 da CLT), são aquelas que, por sua natureza,

condições ou métodos de trabalho expõem os empregados a agentes

químicos, físicos ou biológicos nocivos à saúde, acima dos limites de

tolerância (art. 189 CLT). (BARROS, 2011, p. 621).

Já a conceituação legal de insalubridade nos é dada pelo art. 189 da CLT, nos

seguintes termos:

Art. 189 - Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que,

por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os

empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância

fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de

exposição aos seus efeitos.

Vê-se, então, que o adicional de insalubridade possui como destinação a

compensação do trabalho realizado em condições sujeitas a agressões de agentes

químicos, físicos ou biológicos, que prejudiquem a saúde do trabalhador.

Para a caracterização do adicional de insalubridade são necessários dois fatores

cumulativos. O primeiro é a exposição a agentes nocivos à saúde do trabalhador, e o

segundo é que esta exposição seja superior ao limite estabelecido por Norma

Regulamentadora emitida pelo MTE.

A avaliação feita para verificar a exposição dos agentes pode ser feita de forma

quantitativa, que é aquela onde já estão definidos os limites de tolerância para os

agentes agressivos, e o perito terá de medir a intensidade ou a concentração do agente e

Page 18: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

17

compará-lo com as respectivas normas já pré-definidas; ou de forma qualitativa, que é

aquela onde o MTE não fixou limites de tolerância para os agentes, razão pela qual a

insalubridade será comprovada por perito no local de trabalho, analisando

detalhadamente a função e a atividade do trabalhador, bem como seu posto de trabalho.

Cumpre mencionar que não basta somente laudo pericial para fazer jus ao

adicional, é necessário que o agente nocivo à saúde do empregado esteja previsto em

Norma Regulamentadora emitida pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

A Norma Regulamentadora, aditada pelo MTE para dispor sobre as atividades e

operações insalubres é a NR de nº 15.

Na mencionada NR de nº 15, o MTE enquadra como trabalho insalubre as

atividades desenvolvidas sob, ruído contínuo ou intermitente, ruídos de impacto,

exposição ao calor, radiações ionizantes, condições hiperbáricas, radiações não

ionizantes, vibrações, frio, umidade, agentes químicos, poeiras minerais, agentes

químicos e biológicos.

Portanto, o trabalho insalubre é caracterizado pela atividade que pode ocasionar

prejuízo a saúde do trabalhador, levando-se em consideração que tal atividade deve

estar disposta em NR emitida pelo MTE para a incidência do adicional.

3.1.2. Percentagens e base de cálculo

A CLT, em seu art. 192, garante ao trabalhador que labore em condições

insalubres, a percepção do adicional na proporção de 10% quando em grau mínimo, de

20% quando em grau médio, e de 40% quando em grau máximo, sendo calculado tal

percentual sobre o salário mínimo.

No tocante a incidência do adicional, o entendimento seria de que a parte do

referido artigo que usa o salário mínimo como indexador, não teria sido recepcionado

pela Constituição de 88, haja vista seu art. 7º, IV, que veda a vinculação do salário

mínimo pra qualquer fim.

Deste modo, a base de cálculo para a incidência do adicional de insalubridade

seria a remuneração do empregado, ou seja, a totalidade das suas percepções

econômicas, e não o salário mínimo.

Nesse sentido, o STF aditou a Súmula Vinculante nº 4 dizendo que “salvo nos

casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador

Page 19: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

18

de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser

substituído por decisão judicial”.

Não obstante o TST, em razão da publicação da aludida Súmula Vinculante do

STF, deu nova redação a Súmula 228, que passou a dispor o seguinte:

Adicional de insalubridade. Base de cálculo (redação alterada na sessão do

Tribunal Pleno em 26.06.2008, Res. 148/08, DJ 04 e 07.07.2008). A partir de

09 de maio de 2008, data da publicação da Súmula Vinculante 4 do supremo

Tribunal Federal, o adicional de insalubridade será calculado sobre o salário

básico, salvo critério mais vantajoso, fixado em instrumento coletivo.

No entanto, o STF, na Reclamação nº 6.266-0 (DJE de 5-08-2009), proposta pela

Confederação nacional da Indústria, suspendeu liminarmente a aplicação da Súmula 228

do TST, na parte que permite a utilização do salário básico para calcular o adicional de

insalubridade.

De tal arte, dessa decisão é possível concluir que exceto havendo lei nova ou

instrumento coletivo dispondo expressamente sobre a base de cálculo do adicional de

insalubridade, este deverá ter como base de cálculo o salário mínimo.

3.1.3. Eliminação ou neutralização da condição insalubre

A eliminação ou neutralização da insalubridade poderá ocorrer de duas

maneiras, a primeira seria a adoção de medidas que conservem o ambiente do trabalho

dentro dos limites de tolerância admitidos, e a segunda seria a utilização dos

equipamentos de proteção individual (EPI), isto conforme preconiza o art. 191 da CLT.

Desta maneira, em suma, o controle da exposição sofrida pelo trabalhador aos

riscos ocupacionais é feita através de medidas relativas ao ambiente e ao homem.

Cabe ainda destacar que o parágrafo único do art. 191 da CLT, acrescenta que

será de competência das Superintendências Regionais do Trabalho, a notificação das

empresas, e a estipulação de prazos para que seja feita a eliminação ou neutralização.

As medidas inerentes ao ambiente, podem ser compreendidas como aquelas que

se destinam a eliminar o agente em sua fonte de trajetória, como por exemplo a

instalação de um exaustor sobre uma bancada de polimento.

Não sendo suficiente ou possível o controle dos agentes no ambiente, deve-se

então o empregador utilizar do controle individual. Dentre as medidas de controle

Page 20: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

19

individual, a legislação atual estabelece o uso do EPI, prevendo que deverá ele diminuir

a intensidade do agente, para atingir o limite de tolerância.

Neste diapasão, se o EPI, devidamente aprovado pelo órgão competente do

Poder Executivo, eliminar completamente a insalubridade que o trabalhador está sujeito,

acarretará a perda do direito ao recebimento do respectivo adicional, de acordo com a

Súmula 80 do TST.

Destarte, o simples fornecimento de EPI pelo empregador, não o exime do

pagamento do adicional de insalubridade, como bem lembra a Sumula 289 do TST.

Deste modo, mesmo com o fornecimento de aparelho de proteção ao trabalhador, se no

exame técnico for constatada a insuficiência de proteção a saúde do empregado, será

devido o adicional de insalubridade.

A CLT, em seu art. 194, neste mesmo sentido, preconiza que havendo a

eliminação da condição insalubre, o trabalhador perderá o direito de receber o

respectivo adicional.

Portanto, para que o empregador não tenha a obrigação de pagar o adicional de

insalubridade, deverá ele, além de fornecer os equipamentos de proteção individual,

demonstrar que o aparelho está sendo corretamente usado, e que seu uso eliminou o

risco a que o empregado estava submetido.

3.2. Adicional de periculosidade

3.2.1. Conceito e principais características

O adicional de periculosidade recebe previsão legal no artigo 193 da CLT, que o

conceitua nos termos seguintes:

Art. 193. São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da

regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas

que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado em

virtude de exposição permanente do trabalhador a:

I - inflamáveis, explosivos ou energia elétrica;

II - roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais

de segurança pessoal ou patrimonial.

[...]

Page 21: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

20

§ 4o São também consideradas perigosas as atividades de trabalhador em

motocicleta.

Além dos trabalhadores dispostos pelo citado artigo, também fazem jus ao

adicional de periculosidade, aqueles que laboram com bombas de gasolina (Súmula 212,

STF; Súmula 39, TST); os que exercem atividades em prédios de construção vertical

com armazenamento de líquido inflamável (SDI-1, OJ 385); os que trabalham com

sistema elétrico de potência em condições de risco (SDI-1, OJ 324 e OJ 347); ou,

trabalham expostos à radiação ionizante ou substância radioativa (SDI-1, OJ 345).

Por disposição expressa da CLT (art. 193) o MTE criou a Norma

Regulamentadora 16, que dispõe sobre as atividades que serão consideradas perigosas e

da outros provimentos sobre o tema.

Como acontece na insalubridade, para que seja configurada a periculosidade é

também necessário que se haja um grande lapso temporal e não que a atividade perigosa

seja momentânea.

Neste mesmo sentido, é o entendimento do TST, cristalizado na Súmula 364, in

verbis:

Adicional de periculosidade. Exposição eventual, permanente e

intermitente. I - Faz jus ao adicional de periculosidade o empregado exposto

permanentemente ou que, de forma intermitente, sujeita-se a condições de

risco. Indevido, apenas, quando o contato dá-se de forma eventual, assim

considerado o fortuito, ou o que, sendo habitual, dá-se por tempo

extremamente reduzido.

Ademais, ainda no mesmo norte do adicional de insalubridade, para a

caracterização do adicional de periculosidade, é necessária a realização de perícia

técnica, por Médicos ou Enegenheiros do Trabalho, nos moldes do art. 195 da CLT.

Caracterizado a periculosidade, e condenada a empresa ao pagamento do

adicional, essa condição deverá constar todos meses na folha de pagamento do

empregado, conforme OJ 172 da SDI-1 do TST.

3.2.2. Percentagens e base de cálculo

Conforme dispõe o art. 193, §1º, da CLT, será assegurado ao trabalhador que

labore em condições perigosas, um adicional no valor de 30% (trinta por cento).

Page 22: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

21

Quanto à base de cálculo, continua o referido dispositivo dizendo, que será sobre

o salário sem os acrescimos resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos

lucros da empresa.

Diferentemente do adicional de insalubridade, não há grandes discussões a

respeito da base de cálculo usada para a incidência do adicional de periculosidade.

Porém, parte da doutrina, possui ainda o mesmo raciocício utilizado para o

adicional de insalubridade, dizendo que a base de cálculo deve ser a remuneração do

empregado, haja vista a interpretação do referido artigo (193, §1º) frente à Constituição

Federal de 88 (art. 7º, XXIII).

Neste sentido é o que diz Carlos Henrique Bezerra Leite:

O trabalho realizado em condições (CLT, art. 193) consideradas perigosas

confere ao empregado o direito ao recebimento do adicional de

periculosidade na base de 30% sobre a sua remuneração, (...) uma vez que o

art. 193, §1º, da CLT, a nosso sentir, deve ser interpretadpo, no tocante à base

de cálculo do adcional em tela, conforme o art. 7º, XXIII, do Código

Supremo. (LEITE, 2015, p. 394). (Grifo nosso).

Por outro lado, corroborando com o entendimento de ser o salário básico, o

usado para a incidencia do adicional em tela, o TST aditou a Súmula 191, dizendo que

“o adicional de periculosidade incide apenas sobre o salário básico e não sobre este

acrescido de outros adicionais”.

Somente quanto aos eletricitários é que se tinha uma percepção diferente, haja

vista que a Lei nº 7.369/85, bem como a parte final da Súmula 191, do TST, diziam que

o cálculo deveria ser feito sobre a totalidade das parcelas de natureza salarial.

Contudo a referida Lei de nº 7.369/85, foi revogada pela Lei nº 12.740/12,

resultando deste modo, na perda do direito dos eletricitários, em receber o adicional de

periculosidade sobre o salário com adicionais.

Assim sendo, o empregado que faz jus ao recebimento do adicional de

periculosidade, terá direito em receber um adicional de 30% (trinta por cento), sobre o

valor do salário sem nenhum acréscimo.

3.2.3. Eliminação ou neutralização da condição perigosa

Diversamente do adicional de insalubridade, o adicional de periculosidade, não

pode ser neutralizado mediante o uso de EPI, pois este é inerente a atividade. Ademais,

não há previsão legal para o afastamento do adicional em caso da utilização do EPI.

Page 23: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

22

Desta maneira o adicional de periculosidade só poderá ser cessado com a

eliminação do risco a integridade física do trabahador, assim como preconiza o art. 194,

da CLT.

Segundo Martins (2012, p. 265), “para o adicional de periculosidade não ser

devido, mister se faz que o risco seja eliminado e não neutralizado, porque a qualquer

momento o trabalhador pode ser surpreendido com uma descarga elétrica, em que tal

risco continua logicamente a existir”.

Importante ainda destacar, que o recebimento do adicional de periculosidade,

assim como também acontece no adicional de insalubridade, não gera direito adquirido

ao empregado, desta forma, a cessação da condição perigosa obsta o recebimento do

adicional.

Sendo assim, com a eliminação da condição perigosa, o trabalhador deixa de

receber o adicional, não havendo que se falar em ofensa ao principio da irredutibilidade

salarial.

4. HIERARQUIA DAS NORMAS NO ÂMBITO DO DIREITO DO TRABALHO

Hierarquia possui como significado, ordem, graduação, organização segundo

uma preferência.

Desta maneira, hierarquizar as normas, nada mais é do que colocar em ordem

levando-se em conta determinados critérios. O que se faz estritamente necessário, tendo

em vista os inúmeros conflitos que podem surgir diante dos casos concretos, pela

pluralidade de normas que versam sobre uma mesma matéria.

Surge então para o aplicador do direito, a tarefa de escolher, ante cada caso que

lhe apareça, a norma que se enquadra ao caso. Daí pode ele encontrar uma única norma

cabível, ou nenhuma, caso em que se valerá de princípios norteadores, analogia, etc., ou

ainda, deparar-se com duas ou mais normas que tratam justamente do caso que tem que

se manifestar. Neste último, deverá ele se valer da hierarquia, para distinguir qual

disposição se aplicará em detrimento das demais.

A hierarquia das normas no direito do trabalho tem características peculiares que

a diferenciam do direito comum, entre as quais podemos destacar a normatização não

estatal, como as convenções e acordos coletivos de trabalho, e o principio da norma

mais favorável ao trabalhador.

Page 24: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

23

O direito comum, estabelece a posição hierárquica das normas, de acordo com

sua maior ou menor extensão de sua eficácia e sua maior ou menor intensidade criadora

do direito.

Há também, a observância da constitucionalidade das normas, onde todas as

normas inferiores a Constituição devem estar em consonância com seu texto, sob pena

de perda de sua eficácia.

Nesse aspecto, é como se a criação do ordenamento jurídico, fosse um

desdobramento de normas, colocando-se a Constituição Federal em grau máximo, e dela

irradiassem as leis ordinárias, e assim sucessivamente.

Esse desdobramento de normas ganhou uma maior conotação com Kelsen, que

compara esta estrutura com a de uma pirâmide, onde as normas superiores dão

fundamentos para embasar as normas inferiores.

Vale ressaltar que o sentido da hierarquização das normas, só tem lugar quando

uma norma vai de frente a outra, tendo-se a necessidade de optar-se por uma no caso

concreto. Como bem diz Sergio Pinto Martins:

O art. 59 da Constituição dispõe quais são as normas existentes no sistema

jurídico brasileiro. Não menciona que haja hierarquia entre umas e outras. A

hierarquia entre as normas somente viria a ocorrer quando a validade de

determinada norma dependesse de outra, onde esta regularia inteiramente a

forma de criação da primeira norma. É certo que a Constituição é

hierarquicamente superior as demais normas, pois o processo de validade

destas é regulado pela primeira. Abaixo da Constituição estão os demais

preceitos legais, cada qual com campos diversos: leis complementares, leis

ordinárias, decretos-leis (nos períodos em que existem), medidas provisórias,

leis delegadas, decretos legislativos e resoluções. Não há dúvida que os

decretos são hierarquicamente inferiores às primeiras normas, até porque não

são emitidos pelo Poder Legislativo, mas pelo Poder Executivo. Após os

decretos, há normas internas da Administração pública, como portarias,

circulares, ordens de serviço, etc., que são hierarquicamente inferiores aos

decretos. O próprio TST expede também provimentos, instruções normativas,

normalmente visando dar o correto entendimento da norma e sua respectiva

aplicação. (MARTINS, 2015, p. 34).

No entanto, para o direito trabalhista, que possui aspectos próprios de

organização, não se pode fazer tal divisão como no direito comum. Sendo tradicional

para a doutrina justrabalhista, os problemas envoltos a hierarquia das normas do direito

do trabalho, e a busca pelas soluções aplicáveis ante o surgimento de conflitos entre

elas.

Não é possível estabelecer uma pirâmide como é feito no direito comum, haja

vista possuir esse ramo do direito, normas de cunho estatal, como a Constituição e a

legislação ordinária, e normas não estatais, que se situam no bojo das relações internas,

Page 25: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

24

como as conveções e tratados coletivos de trabalho.

Deste modo, não há como destacar uma norma maior ou superior do que as

demais, porque qualquer uma delas pode servir como norteadora de direitos inerentes ao

trabalhador, seja ela à Constituição Federal, ou uma Convenção Coletiva de Trrabalho.

Como bem diz Nascimento:

De modo geral é possível dizer que, ao contrário do direito comum, em nosso

direito, a pirâmide que entre as normas se forma não terá como vértice a

Constituição Federal ou a lei federal ou as convenções coletivas de modo

imutável. Os níveis normativos se alteram em constante modificação. O

vértice da pirâmide da hierarquia das normas trablhistas será ocupado pela

norma aplicável no caso concreto em se tendo como tal a que resultar do

ordenamento interpretado com um sistema. (NASCIMENTO, 2015, p. 537).

Surgem com isto, hipóteses a solução do problema. A primeira seria uma

distribuição hierarquica das normas como no direito comum, deixando-as de certa forma

imutáveis, assim, as normas maoires se prevaleceriam sobre as menores.

Esta forma, porém, faria com que normas fundamentais aos direitos dos

trabalhadores, dispostas em convenções ou tratados coletivos por exemplo, fossem

deixadas em segundo plano. Sendo somente adequado esse critério, sob a ótica de que a

Constituição Federal, como norma fundamental do sistema, teria total prioridade sobre

as demais.

Outra solução, mais adequada ao sistema juristrabalhista, é a adoção do principio

da norma mais favorável. De acordo com este principio, quando houver duas ou mais

normas versando sobre a mesma matéria, será considerada hierarquicamente superior, e

deste modo aplicável, a que oferecer maiores vantagens ao trabalhador, observado o

caso concreto.

Trata o principio da aplicação da norma mais favorável, aquele que informa qual

a norma trabalhista que servirá para ser usada em determinda questão. Adotamdo-se, de

tal arte, a teoria dinâmica da hierarquia entre as normas trabalhistas, onde a norma mais

bebéfica ao trabalhador ocupará o topo da pirâmide, e não necessariamente a

Constituição, como acontece no direito comum.

Neste norte, se a Constituição estabelecer um direito ao trabalhador, e a

Convenção Coletiva de Trabalho, maximizar tal direito, seja ele qual for, prevalecerão

as normas descritas pela CCT.

Oportuno se faz lembrar, que a aplicação do principio não terá validade diante de

norma proibitiva, de ordem pública, imposta pelo Estado, como por exemplo na

Page 26: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

25

vedação da vincullação do salário mínimo para qualquer fim, encontrada na parte final

do art. 7º, IV, da CF.

Quanto à aplicação do principio da norma mais favorável, este encontra algumas

dificuldades, no que tange à sua incidência. Por essa razão, surgem três teorias, que

procuram desvendar qual o critério a ser utilizado no conflito entre normas. São elas a

teoria da acumulação, a teoria do conglobamento e a teoria da incindibilidade dos

institutos.

Na teroria da acumulação, como o próprio nome já diz, acumulam-se as

vantagens recebidas pelo empregado, previstas em todo e qualquer instrumento

normativo.

Na visão de Carlos Henrique Bezerra Leite (2015, p. 83), “o contrato de trabalho

seria, assim, uma espécie de colcha de retalhos, na medidad em que se vão acumulando,

entre as diversas normas existentes, os dispositivos, nelas contidos, considerados mais

vantajosos ao empregado”.

Já na teoria do congoblamento, tambpem denominada de teoria do conjunto, a

aplicação do principio da norma mais favorável, é usada não para uma aplicação de

cada dispositivo isoladamente, mas de todo o conjunto em que se encontra o dispositivo

do direito do trabalho.

Desta monta, havendo dois ou mais instrumentos coletivos diversos, versando

sobre uma mesma matéria, não poderá ser escolhido os dispositivos mais benéficos de

cada um para se aplicar ao caso concreto, devendo se aplicar o instrumento como um

todo.

Se uma Convenção Coletiva e um Acordo Coletivo, dispõem sobre o mesmo

tema por exemplo, não poderá ser pinçado dispositivos de um e de outro para aplica-los

ao caso, mas deve-se escolher o instrumento coletivo por inteiro, ou a Convenção

Coletiva ou o Acordo Coletivo.

Por sua vez, a teoria da incindibilidade dos institutos, leva em consideração não

somente a aplicação dos dispositivos isolados, como ocorre na teoria da acumulação,

nem a aplicação da norma em conjunto, como é na teoria do conglobamento, mas sim a

aplicação dos institutos do direito do trabaho.

Portanto, para esta teoria da incindibilidade dos institutos, é possível combinar

diversas normas do ordenamento jurídico, como Conveções Coletivas, CLT,

Constituição, etc., mas não se levando em conta dispositivos ou cláusulas em separado,

mas sim os institutos jurídicos dispostos em cada um destes diplomas normativos.

Page 27: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

26

Logo, como dito, se torna mais aceitável como solução aos problemas criados

pelo conflito de normas, a aplicação do princípio da norma mais favorável ao

trabalahdor, mesmo com a existencia de uma hierarquia dinânica.

Noutro giro, em se tratando de hierarquia de normas, é de suma importância

ressaltar, a posição dos tratados e convenções internacionais dentro do ordenamento

jurídico interno brasileiro.

Destaca-se que esses tratados e convenções internacionais que versam sobre o

direito trabalhista, possuem caráter de norma de Direitos Humanos, e desta monta

possuem tratamento especial em detrimento dos demais tratados e convenções que

versam sobre direito comum.

A Constituição Federal de 88, ao ser promulgada, passou a reconhecer

constitucionalemente os direitos e garantias fundamentais exepressos em tratados

internacionais, bem como a sua apliocação imediata, dizendo:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes:

§1º: As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tem

aplicação imediata.

§2º: Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros

decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados

internacionais em que a Republica Federativa do Brasil seja parte.

Todavia, passou-se a discutir em âmbito doutrinário e jurisprudencial, qual

posição esses tratados teriam dentro do ordenamento júridico interno.

Dirimindo tais controvérsias, a Emenda Constitucional 45 de 30 de dezembro

2004, acabou por inserir o §3º, ao art. 5º, da CF, que diz:

§3º. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que

forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por

três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes as

emendas constitucionais.

Desta forma, os tratados e convenções internacionais, aprovados após a emenda,

com o devido quorum apresentado, passaram a obter status constitucional, porém, as

discussões acerca do tema não se acabaram.

Passou-se a discutir, então, qual posição teria no ordenamento interno, os

tratados e convenções internacionais sobre os direitos humanos, aprovados antes da

Page 28: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

27

emenda 45/2004.

Diversas correntes surgem para solucionar o tema, quais sejam, as que colocam

os tratados e convenções internacionais com natureza de norma supraconstitucional; as

que colocam com natureza constitucional; as que colocam com natureza de lei ordinária

e; as que colocam com natureza de norma suprelegal.

A nosso ver, nos parece mais acertada, a corrente que coloca os tratados e

convenções internacionais com status supralegal, haja vista terem caráter especia, se

tratando de normas de direitos humanos, que protegem direitos e garantias fundamentais

inerentes ao homem em todos os seus aaspectos.

Neste mesmo sentido é o posicionamento do STF, como bem diz o Ministro

Cláudio Brandão no Recurso de Revista nº. 1072-72.2011.5.02.0384:

[...]

o posicionamento adotado no STF é no sentido de que os tratados e

convenções internacionais que versem sobre direitos humanos e que tenham

ingressado no ordenamento jurídico antes da Emenda Constitucional nº

45/2004 e, por essa razão, sem o quórum qualificado exigido (art. 5º, § 3º),

possuem status de norma supralegal, como reconhecido no voto

prevalecente do Ministro Gilmar Mendes no Recurso Extraordinário nº

466.343-1-SP (destaques postos), ao afirmar o anacronismo da tese da

legalidade ordinária dos tratados de direitos humanos frente ao texto

constitucional, mesmo antes da reforma produzida pela EC-45/04, com apoio

na doutrina de Cançado Trindade, dentre outros. (Grifo do autor)

Neste diapasão, as normas infraconstitucionais devem atenção às normas de

tratados e convenções internacionais de direitos humanos, dendo seguir no que couber

seus fundamentos.

Imperioso ressaltar, que no direito do trabalho, como bem visto, há a teoria

dinâmica da hierarquização das normas, e nesse sentido, mesmo os tratados e convençõs

internacionais de direitos humanos, tendo um caráter supralegal, deve ser observado o

principio da norma mais benéfica.

Sendo assim, qualquer que seja a posição hierárquica de duas normas

conflituosas, seja ela a Constituição Federal, tratados internacionais de direitos

humanos, ou convenções coletivas, podemos dizer que a norma que prevalecerá será

aquela que mais beneficiar o trabalhador.

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28

5. AS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS DA OIT

Surgiu-se, com o fim da Primeira Guerra Mundial, uma preocupação geral, com

relação ao direito inerente a todos, que é o de possuir um emprego digno. Foi nesta

época que surgiu o processo de constitucionalismo social, culminando na inserção de

preceitos e normas de proteção social, e de garantias e direitos fundamentais, às

Constituições de diversos países.

Nesta mesma época, como parte do Tratado de Versalhes que pôs fim à Primeira

Guerra Mundial, fora criado a OIT, Organização Internacional do Trabalho, sob o pilar

de que a paz universal e permanente somente poderia se basear na justiça social.

A Organização Internacional do Trabalho é a única das agencias do Sistema das

Nações Unidas, que possui uma estrutura tripartite, ou seja, é composta por

representantes de governo, e também de organizações dos empregadores e

trabalhadores.

A OIT, é a responsável por formular e aplicar normas do direito internacional do

trabalho, sejam elas convenções ou recomendações, fazendo assim com que se tenha um

maior cumprimento do direito trabalhista.

O Brasil está entre os membros fundadores desta organização, participando das

Conferencias Internacionais do Trabalho desde sua primeira reunião.

Somente a título de curiosidade, refletindo o comprometimento, a nível mundial,

diante das transformações constantes do meio ambiente do trabalho, no ano de 1969, a

OIT, foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz, ressaltando sua grande importância na

sociedade mundial.

Além de promover o desenvolvimento e a interação das classes empregadoras e

trabalhadoras, a OIT, também presta serviços de caráter técnico, principalmente nas

áreas de reabilitação e formação profissional, programas de emprego e

empreendedorismo, políticas para melhoria da saúde e segurança ocupacional, etc.

Quanto as normas produzidas pela CLT, tem-se que as principais normas são as

Recomendações e as Convenções.

Por Recomendações, entende-se ser aquela norma utilizada para disciplinar um

tema que esteja em controvérsia, ou sobre o qual o direito comparado ainda não possui

soluções generalizadas.

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29

Já as Convenções, podem ser entendidas como as espécies normativas,

emanadas da Organização Internacional do Trabalho, e que possuem natureza de um

tratado internacional.

Diversas foram as Convenções Internacionais da OIT, ratificadas pelo Brasil.

Nos importa, porém, as de nº 148 e nº 155, que servem de base para o tema discutido

em questão, que é o da possibilidade de cumulação entre o adicional de insalubridade e

periculosidade.

5.1. Convenção nº 148

Esta Convenção da OIT, busca a promoção e a universalização das normas

pertinentes a saúde e segurança dos trabalhadores no âmbito de seu ambiente de

trabalho, por meio de medidas de prevenção e proteção contra acidentes e enfermidades

profissionais.

Esta Convenção se torna estritamente importante, pois acaba criando um direito

comum a vários Estados, promovendo assim, uma universalização das normas

pertinentes a Justiça Social.

Os empregados necessitam de um ambiente seguro e saudável para exercerem

suas atividades laborais, pois acabam sendo afetados pelas novas condições de trabalho

que lhes são impostas tanto pela industrialização, quanto com a utilização de novas

matérias primas que surgem e podem ser nocivas a saúde.

Para que se haja um meio ambiente de trabalho saudável e digno, é necessário

que se tenha a criação de regras, que devem ser obedecidas tanto pelo empregador

quanto pelo empregado, para uma maior efetivação destas.

Através da Convenção nº148 da OIT, é possível uma aplicação efetiva e

universal destas regras de cunho social, pois ao ratificarem esta Convenção, os Estados

se comprometem a cumprir as regras nela contida.

No atual cenário mundial, o ambiente de trabalho pode induzir a diversos

mecanismos de agressão ao ser humano, como a exposição a ruídos excessivos,

situações penosas, dentre outras.

Como consequência, o trabalhador acaba por diminuir a sua qualidade de vida,

tendo em vista ser no local de trabalho, onde o ser humano passa a maior parte de sua

vida.

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30

De tal arte, as normas de proteção ao meio ambiente do trabalho, muitas das

vezes, se conflitam com os interesse políticos e econômicos das empresas, que visam

somente uma maximização de lucros.

Com a ratificação da presente Convenção, o Estado se propõe a criar e a adequar

em seu ordenamento jurídico interno, medidas que visem a melhoria e a proteção do

meio ambiente do trabalho, com o fim de limitar e prevenir riscos à saúde e segurança

do trabalhador, ocasionados pela contaminação do ar, ruídos e vibrações.

Ressalta-se ainda , que a convenção assegura o direito a informação das

condições insalubres ou perigosas, que devem ser divulgadas a todos envolvidos no

processo, principalmente aos trabalhadores, bem como o conhecimento satisfatório das

medidas cabíveis de proteção e prevenção.

5.2. Convenção nº 155

A Convenção de nº 155 da OIT, seguindo os parâmetros da Convenção nº 148,

também trata da saúde e segurança do trabalhador dentro de seu ambiente de trabalho.

Aplicada a todas as áreas de atividade econômica, a Convenção nº 155 da OIT,

tem como principal objetivo, a prevenção de acidentes e de danos ocasionados a saúde,

em virtude do trabalho, e que possuam relação com a atividade laboral.

Com a ratificação desta Convenção, surge para o Estado o dever de formular e

por em prática políticas nacionais que possuam coerência com a matéria de saúde e

segurança dos trabalhadores no âmbito de seu ambiente de trabalho.

Estas políticas devem possuir o fim de prevenir acidentes e danos à saúde dos

trabalhadores, que possuam relação com a atividade que exerçam, bem como reduzir em

grau máximo as causas dos riscos existentes no meio ambiente laboral.

Surge também, o dever de exigir dos empregadores, a garantia de que o

ambiente de trabalho, incluindo máquinas, equipamentos, operações e processo, sejam

seguros e não tragam nenhum risco.

Desta forma, esta Convenção, faz nascer para a empresa a necessidade de

medidas de promoção da saúde e segurança, através de cooperação e comunicação

extensiva entre empregadores e trabalhadores, e também do fornecimento de formação e

informações adequadas.

Page 32: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

31

5.3. As convenções 148 e 155 da OIT, e a cumulação dos adicionais de

insalubridade e periculosidade

Como visto, as Convenções de nº 148 e de nº 155 da OIT, elencam normas

inerentes ao meio ambiente do trabalho, visando uma proteção da saúde e segurança do

empregado, através de mecanismos de prevenção e informação.

Destas normas internacionais, pode-se extrair o art. 8.3 da Convenção nº 148,

que diz:

Artigo 8.3. Os critérios e limites de exposição deverão ser fixados,

completados e revisados a intervalos regulares, de conformidade com os

novos conhecimentos e dados nacionais e internacionais, e tendo em conta,

na medida do possível, qualquer aumento dos riscos profissionais

resultante da exposição simultânea a vários fatores nocivos no local de

trabalho. (Grifo nosso)

E o art. 11, “b”, da Convenção nº 155, que diz:

Artigo 11. Com a finalidade de tornar efetiva a política referida no artigo 4 da

presente Convenção, a autoridade ou as autoridades competentes deverão

garantir a realização progressiva das seguintes tarefas:

(...)

b) a determinação das operações e processos que serão proibidos, limitados

ou sujeitos à autorização ou ao controle da autoridade ou autoridades

competentes, assim como a determinação das substâncias e agentes aos quais

estará proibida a exposição no trabalho, ou bem limitada ou sujeita à

autorização ou ao controle da autoridade ou autoridades competentes;

deverão ser levados em consideração os riscos para a saúde decorrentes

da exposição simultâneas a diversas substâncias ou agentes. (Grifo nosso)

A primeira norma consagra uma necessidade de atualização constante da

legislação que versa sobre as condições de risco ao trabalhador.

A segunda, por sua vez, determina que sejam levados em consideração os riscos

para a saúde decorrentes da exposição simultânea a diversas substâncias ou agentes.

Sendo assim, através da interpretação destas normas, conclui-se que a privação

do recebimento cumulado dos adicionais de insalubridade e periculosidade já não é mais

cabível.

Neste mesmo sentido, é o entendimento do Ministro Cláudio Brandão no

Recurso de Revista nº. 1072-72.2011.5.02.0384:

As normas internacionais incorporadas passaram a admitir a hipótese de

cumulação dos adicionais e estabelecem critérios e limites dos riscos

profissionais em face da exposição simultânea a vários fatores nocivos.

Page 33: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

32

Faz-se mister ainda ressaltar, que os tratados que versam sobre os direitos

humanos, possuem posição privilegiada quanto as normas infra constitucionais, já que

possuem status de norma supralegal.

Deste modo, há a prevalência das normas das Convenções em estudo sobre as

normas da CLT e da NR do Ministério do Trabalho e Emprego, que vedam a cumulação

dos adicionais.

Portanto, assim como já analisado neste trabalho, no tópico hierarquia das

normas do direito do trabalho, a prevalência das normas das Convenções da OIT, fazem

com que seja possível a cumulação do adicional de insalubridade e de periculosidade,

quando incidente os dois fatores para concessão.

É o que observa-se na seguinte posição jurisprudencial do TST que segue:

CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS

DEINSALUBRIDADEE PERICULOSIDADE.POSSIBILIDADE.

PREVALÊNCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS E SUPRALEGAIS

SOBRE A CLT. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DO STF QUANTO

AO EFEITO PARALISANTE DAS NORMAS INTERNAS EM

DESCOMPASSO COM OS TRATADOS INTERNACIONAIS DE

DIREITOS HUMANOS. INCOMPATIBILIDADE MATERIAL.

CONVENÇÕES NOS

148 E 155 DA OIT. NORMAS DE DIREITO

SOCIAL. CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE. NOVA FORMA DE

VERIFICAÇÃO DE COMPATIBILIDADE DAS NORMAS

INTEGRANTES DO ORDENAMENTO JURÍDICO. A previsão contida no

artigo 193, § 2º, da CLT não foi recepcionada pelaConstituição Federalde

1988, que, em seu artigo 7º, XXIII, garantiu de forma plena o direito ao

recebimento dos adicionais de penosidade, insalubridadeepericulosidade,

sem qualquer ressalva no que tange à cumulação, ainda que tenha remetido

sua regulação à lei ordinária. Apossibilidadeda aludidacumulaçãose justifica

em virtude de os fatos geradores dos direitos serem diversos. Não se há de

falar embis in idem. No caso da insalubridade, o bem tutelado é a saúde do

obreiro, haja vista as condições nocivas presentes no meio ambiente de

trabalho; já apericulosidadetraduz situação de perigo iminente que, uma vez

ocorrida, pode ceifar a vida do trabalhador, sendo este o bem a que se visa

proteger. A regulamentação complementar prevista no citado preceito da Lei

Maior deve se pautar pelos princípios e valores insculpidos no texto

constitucional, como forma de alcançar, efetivamente, a finalidade da norma.

Outro fator que sustenta a inaplicabilidade do preceito celetista é a introdução

no sistema jurídico interno das Convenções Internacionais nos

148 e 155,

com status de norma materialmente constitucional ou, pelo menos,supralegal,

como decidido pelo STF. A primeira consagra a necessidade de atualização

constante da legislação sobre as condições nocivas de trabalho e a segunda

determina que sejam levados em conta os -riscos para a saúde decorrentes da

exposição simultânea a diversas substâncias ou agentes-. Nesse contexto, não

há mais espaço para a aplicação do artigo 193, § 2º, da CLT. Recurso de

revista de que se conhece e a que se nega provimento. (RR - 1072-

72.2011.5.02.0384Data de Julgamento:24/09/2014,Relator Ministro:Cláudio

Mascarenhas Brandão, 7ª Turma,Data de Publicação: DEJT03/10/2014).

Page 34: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

33

Sendo assim, as normas das Convenções 148 e 155 da OIT, acabam por suprimir

a vedação ao acúmulo dos adicionais, expressa no art. 193, § 2º, da CLT, e no item

16.2.1 da NR-16 da Portaria nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego.

6. O §2° DO ARTIGO 193 DA CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO

FRENTE AO ARTIGO 7°, XXIII DA CONSTITUIÇÃO

Como dito anteriormente, a Constituição Federal de 1988 trouxe diversas

garantias e direitos fundamentais aos trabalhadores. Dentre estas garantias e direitos,

temos o objeto que circula o presente trabalho, quais sejam os adicionais de

insalubridade e periculosidade.

Cabe ainda dizer que a Constituição da Republica de 88, foi pioneira em instituir

os adicionais em seu texto, que anteriormente a sua promulgação, eram somente

disciplinados através de lei infraconstitucional, qual seja a CLT.

O legislador constituinte ao dispor sobre os direitos dos trabalhadores elencou

em seu rol, mais precisamente em seu art. 7°, inciso XXIII, o direito de o empregado

receber um adicional remuneratório caso este trabalhe em condições penosas, insalubres

ou perigosas.

A CLT, por sua vez, também dispõe sobre os adicionais de insalubridade e

periculosidade em seu texto, mais precisamente, toda a Seção XIII, do Capítulo V, que

trata da segurança e medicina do trabalho.

Desta forma, partindo do ponto de vista que estes dois adicionais são de suma

importância ao trabalhador, e tendo em mente que um mesmo empregado pode trabalhar

sob estas duas situações, qual seja de insalubridade e de perigo, não haveria discussão,

então, quanto à possibilidade de sua cumulação.

Ocorre que quando o trabalhador labora sob estas duas condições, adquirindo o

direito ao recebimento dos adicionais, a lei faculta ao empregado que faça a opção entre

somente um deles, escolhendo o adicional de insalubridade ou de periculosidade, que

por ventura lhe caiba.

Isto ocorre por força do art. 193, §2°, da CLT, dizendo que “o empregado poderá

optar pelo adicional de insalubridade que porventura lhe seja devido”, o que

visivelmente soa como uma proibição ao empregado para que esse não reclame os dois

adicionais, quando presente as duas situações - insalubre e perigosa.

Neste mesmo sentido de compreensão, o item 16.2.1 da Norma

Page 35: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

34

Regulamentadora 16, da Portaria nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho, também

estabelece que “o empregado poderá optar pelo adicional de insalubridade que

porventura lhe seja devido”.

Desta maneira, fazendo uma interpretação cumulativa do intem 16.2.1 da NR 16

do MTE, com o art. 193, §2°, da CLT, logo ve-se que se trata de uma norma injusta,

pois permite que o trabalhador exerça função em situações de risco direto à vida sem

que receba o adicional correspondente, pois já estaria sendo remunerado pelo adicional

relativo a condições de risco à saúde, ou vice-versa.

Boa parte da doutrina, seguindo um pensamento mais positivista, e por conta da

literalidade dos referidos dispositivos, acabam por aceitar ser inacumulável o adicional

de insalubridade com o de periculosidade.

É como trata sobre o assunto Alice Monteiro de Barros, senão observa-se:

Caso o empregado trabalhe em copndições perigosas e insalubres,

simultaneamente, os adicionais não se acumulam, por disposição expressa de

lei. O empregado poderá optar pelo adicional que lhe for mais favorável (art.

193, §2°, da CLT).

Não diferente é o posicionamento do Redator José Felipe Ledur na

jurisprudência que segue:

CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS DE PERICULOSIDADE E

INSALUBRIDADE. A cumulação dos adicionais de insalubridade e de

periculosidade não se harmoniza com os princípios e com o sistema de

valores presentes na Constituição Federal. A opção por um ou outro dos

adicionais não esvazia o conteúdo da norma constitucional que confere

proteção aos empregados, porque o adicional mais expressivo é garantido.

Provimento negado ao recurso do reclamante. (R. O. n.º 0129500-

30.2008.05.04.0511, Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul,

Redator José Felipe Ledur, publicado em 27/10/2010)

Nestes termos, tem-se o seguinte caso, por exemplo, o empregado trabalha sob

condições insalubres e perigosas, porém ele só pode escolher uma destas para ser

remunerado, caso opte pelo adicional de insalubridade, isso acarretaria na perda de seu

adicional de periculosidade, que lhe é devido por amparo constitucional do art. 7º,

inciso XXIII.

Frente a esse caso tem-se uma situação absurda, pois em se tratando de direitos

distintos, qual seja o adicional de insalubridade e o de periculosidade, e ainda de dois

fatos que geram os incidentes também distintos, não há porque de não se cumular os

dois adicionais.

Page 36: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

35

Nesse mesmo sentido é que o professor José Augusto Rodrigues Pinto, vem

dizer:

Com efeito, a insalubridade é insidiosa e lenta nos seus resultados. O risco

provocado pela periculosidade é de impacto e instantâneo, quando se

consuma. Daí um deles dirigir-se à saúde, o outro, à integridade física ou à

própria vida da vítima de sua ação.

[...]

Os adicionais legais são cumuláveis, sob a única condição de que o trabalho

seja prestado de acordo com os pressupostos de cada um deles. O direito à

cumulação é de uma lógica irrespondível: se a situação de desconforto

pessoal tem correspondência numa indenização, o valor desta deve abranger

tantos percentuais quantas sejam as circunstâncias causadoras do

desconforto, que traz um dano efetivo ao trabalhador, ou do risco a que ele é

exposto. Por isso mesmo, causa profunda espécie que o artigo 193, §2º, da

CLT, herdando restrição levantada desde a Lei nº. 2.573/55, que instituiu o

adicional de periculosidade, tenha aberto ao empregado submetido às duas

condições mais severas de serviço, simultaneamente, o dilema de ‘optar (?)

pelo adicional de insalubridade que porventura lhe seja devido’ quando

comprovado pericialmente que também trabalhou em condição perigosa. Não

encontramos explicação jurídica para isso, daí entendemos ter havido uma

recaída do legislador em favor do poder econômico. E recaída amargamente

irônica, além de tudo, ao deixar ao empregado escolher a melhor entre duas

desgraças: ficar doente ou morrer, simplesmente. (PINTO, 2007, p. 425-427).

Neste viés, no atual cenário do ordenamento jurídico brasileiro, discute-se se tal

dispositivo viola totalmente os preceitos fundamentais da Constituição, dispostos no art.

7º, XXIII, e faz com que claramente se prive o funcionário de direito assegurado

constitucionalmente pelo seu labor em condições insalubres ou perigosas.

Este se torna um dos pontos gritantes acerca da possibilidade de cumulação do

adicional de insalubridade com o de periculosidade, pois se traduz na questão em que,

norma infraconstitucional, qual seja o art. 193, §2° da CLT, da ao trabalhador somente a

opção de escolher entre um dos adicionais, enquanto a norma constitucional disposta no

art. 7°, XXIII, garante ao empregado a remuneração por todos os adicionais que lhe

forem devidos e não somente a opção entre um deles.

Como os conceitos destes dois adicionais não se confundem, podemos dizer que

estes enquanto direitos dos trabalhadores também não podem se confundir, e neste

sentido, tendo dois direitos distintos, advindo de origens também distintas, nada mais

justo que receber por cada um destes adicionais sem que um prejudique o outro.

Isto posto, vem sendo traçado grandes questionamentos sobre a recepcionalidade

ou não, do art. 193, §2°, pela Constituição de 88, e neste sentido é que vem dizer

Augusto César Leite de Carvalho (2011, p. 532):

Page 37: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

36

Como quer que seja, é hora de se questionar a validade dessa norma frente ao

que preceitua o artigo 7º, XXIII, da Constituição, que diz ser direito do

trabalhador o ‘adicional de remuneração para as atividades penosas,

insalubres ou perigosas, na forma da lei’. Ante o postulado da norma mais

favorável, consagrado no caput desse dispositivo constitucional, a norma

legal está autorizada a regular os casos em que são devidos os adicionais de

penosidade, insalubridade ou periculosidade e a fixar os respectivos

percentuais. A conjunção ou estaria presente, no texto do inciso sob análise,

pois o uso da conjunção aditiva (e) faria concluir que toda atividade penosa

também seria insalubre e, por igual, necessariamente perigosa. A nosso

entendimento, não estaria o legislador infraconstitucional autorizado a

suprimir o direito ao adicional de periculosidade, em hipótese que a lei

enumera como de risco. E como o suprime sem qualquer justificativa, o

artigo 193, §2º da CLT se apresenta, pura e simplesmente, como a negação

de um direito fundado na Constituição. (CARVALHO, 2011, p. 532).

Neste norte, a não recepcionalidade do art. 193, §2º, da CLT, pelo art. 7, XXIII,

da CF, se traduz na questão de que a norma constitucional teria resguardado o direito ao

recebimento de todos os adicionais, cabendo a norma infraconstitucional somente sua

regulamentação, e não o suprimento de um deles.

Como a norma infraconstitucional deveria somente regulamentar as disposições

dos adicionais, agiu contra os preceitos da Constituição à norma da CLT, já que

extinguiu um dos direitos, quando dispõe que o trabalhador opte por um dos adicionais,

caso mais de um deles lhe seja devido.

Neste sentido é que diz Augusto César Leite de Carvalho:

A nosso entendimento, não estaria o legislador infraconstitucional autorizado

a suprimir o direito ao adicional de periculosidade, em hipótese que a lei

enumera como de risco. E como o suprime sem qualquer justificativa, o

artigo 193, §2º da CLT se apresenta, pura e simplesmente, como a negação de

um direito fundado na Constituição.

Nesta linha de pensamento, o legislador teria suprimido o direito ao adicional do

trabalhador sem qualquer justificativa, havendo a nosso ver uma recaída ao poder

econômico.

Tal recaída do poder econômico se traduz no viés de que as situações de

insalubridade e periculosidade em conjunto, trariam mais encargos trabalhistas ao

empregador, que muitas das vezes não se preocupa com o bem estar de seus

funcionários e sim com os lucros a serem obtidos pela empresa.

Importante ressaltar que, os adicionais de insalubridade e periculosidade dizem

respeito à proteção a saúde e a vida dos trabalhadores respectivamente, e sendo assim,

possuem cada um deles características peculiares, com hipóteses de incidência e efeitos

pecuniários diversos, como bem diz Fernando Formolo:

Page 38: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

37

No caso, se optar pelo adicional de periculosidade, estará trabalhando em

condições insalubres “de graça”, ou seja, sem nenhuma compensação

pecuniária, e vice-versa do caso de optar pelo adicional de insalubridade

(caso em que o labor em condições perigosas será prestado sem nenhuma

compensação pecuniária), ao arrepio da Constituição e sujeitando-se a

manifesto desequilíbrio e desvantagens na relação contratual, comprometida

que fica, em rigor, a equivalência das prestações dos sujeitos contratantes.

(FORMOLO, 2006, p. 55).

Em suma, o adicional de insalubridade, visa à remuneração por ter o empregado

trabalhado em condições que prejudiquem a sua saúde, o que se difere do adicional de

periculosidade que visa à remuneração por o trabalhador laborar em condições que lhe

deixem com risco iminente à sua vida.

Isso posto, tem-se que os dois adicionais tem fatos geradores diferentes, e

atingindo os pressupostos para serem concedidos cada um deles, nada mais justo que se

cumulem os dois, e é neste sentido o posicionamento de José Augusto Rodrigues Pinto

que diz:

Os adicionais legais são cumuláveis, sob a única condição de que o trabalho

seja prestado de acordo com os pressupostos de cada um deles.

O direito à cumulação é de uma lógica irrespondível: se a situação de

desconforto pessoal tem correspondência numa indenização, o valor desta

deve abranger tantos percentuais quantas sejam as circunstâncias causadoras

do desconforto, que traz um dano efetivo ao trabalhador, ou do risco a que ele

é exposto. (PINTO, 2007, p. 256).

Quanto à discussão sobre permitir a norma do art. 7º, XXIII da CR, a cumulação,

bem acentua o Ministro Cláudio Brandão, no Recurso de Revista nº. 1072-

72.2011.5.02.0384 dizendo:

Da interpretação do preceito constitucional referido, extrai-se a conclusão no

sentido de que o legislador constituinte assegurou de forma plena o direito ao

recebimento dos adicionais de penosidade, insalubridade e periculosidade,

sem qualquer ressalva no que tange à cumulação, ainda que tenha remetido

sua regulação à lei ordinária, o que ocorre por intermédio de dispositivos da

CLT e de Normas Regulamentadoras.

Visto isso, conclui-se que o art. 193, § 2º, da CLT, incluído pela Lei nº 6.514, de

22/12/1977, ainda em vigor, e o item 16.2.1 da NR-16 da Portaria nº 3.214/78 do

Ministério do Trabalho e Emprego, ambos que vedam a cumulação, não podem ser

considerados como dispositivos que foram recepcionados pela Constituição de 1988,

como bem continua Cláudio Brandão no Recurso de Revista nº. 1072-

Page 39: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

38

72.2011.5.02.0384:

Contudo, a meu sentir, outra é a interpretação, a partir da afirmação de que

não há como se sustentar a recepção das normas acima citadas pela

Constituição Federal de 1988.A possibilidade da cumulação dos adicionais

se justifica em virtude da origem dos direitos serem diversos. Não se há de

falar em bis in idem. No caso da insalubridade, o bem tutelado é a saúde do

obreiro, haja vista as condições nocivas presentes no meio ambiente de

trabalho; já a periculosidade, traduz situação de perigo iminente que, uma vez

ocorrida, pode ceifar a vida do trabalhador, sendo este o bem a que se visa

proteger. São bens jurídicos diversos e com tratamento normativo distinto,

seja quanto às hipóteses de cabimento, seja quanto aos percentuais, seja

quanto à base de cálculo.

Não obstante, levando-se em conta a natureza indenizatória de tais adicionais, ao

passo de que só são pagos por ter o empregado laborado em condições que não lhe

preservam a saúde ou sua segurança, tal disposição pela não cumulação, fere

diretamente o princípio da dignidade da pessoa humana, expresso no art. 1º, III, da

Carta Magna.

É o que pode se observar no julgado do TRT de Santa Catarina, transcrito

abaixo:

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. ADICIONAL DE

PERICULOSIDADE. CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE. O adicional de

insalubridade visa a indenizar danos causados ao trabalhador pelo contato

diuturno com agentes agressivos a sua saúde. O adicional de periculosidade

tem por fim compensar o risco à vida a que o trabalhador está exposto em

decorrência do contato com o agente perigosos. Dessa forma, infere-se que os

dois adicionais possuem fatos geradores diversos, diante do que devem ser

pagos cumulativamente, sempre que o trabalhador exercer atividade que, por

sua natureza, condições ou método de trabalho, o exponha de forma

concomitante a agentes insalubre e situações de perigo. O direito à

cumulação dos adicionais está alicerçado no princípio da proteção da

dignidade da pessoa humana (art. 1º,CRFB/88), no inciso XXII do art. 7º da

CRFB/88, que impõe a adoção de medidas tendentes a propiciar a diminuição

dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e

segurança e também na Convenção nº 155 da OIT, que determina de que

sejam considerados os riscos para a saúde decorrentes da exposição

simultânea a diversas substâncias ou agentes (art. 11, b). (R. O. n.º

02815.2009.028.12.00-0, Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina,

Redatora Juíza Viviane Colucci, publicado em 16/09/2011).

Portanto, se o ambiente de trabalho ao qual o funcionário é submetido, lhe

propicia um risco duplo, ou seja, lhe submete à dois ou mais riscos diferentes, lhe

assegurando o direito a dois adicionais distintos, não faz sentido que esse funcionário

receba somente um.

Page 40: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

39

Ainda mais, levando em consideração que a norma que veda o recebimento de

dois adicionais, é uma norma infraconstitucional que vai de encontro à preceitos

dispostos no Código Máximo brasileiro.

Devendo, segundo a doutrina contemporânea, ser considerada uma norma não

recepcionada pela Constituição Federal de 88, fazendo jus assim, o trabalhador que se

submete a dois ou mais fatores de risco, o recebimento de dois ou mais adicionais que

lhe forem devidos.

7. A POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DO ADICIONAL DE

INSALUBRIDADE COM O DE PERICULOSIDADE

Consoante o já exposto anteriormente no trabalho, vê-se que as mediadas de

proteção e prevenção a saúde e segurança do trabalhador, são objetos de grande

destaque tanto no âmbito nacional quanto no âmbito internacional do direito do

trabalho.

Mesmo com diversas medidas de proteção e prevenção para se obter um meio

ambiente do trabalho seguro, há ainda, diversas atividades laborais, que sujeitam o

trabalhador a alguns riscos.

Estes riscos, como visto anteriormente, podem ser ocasionados devido a

atividade ser insalubre ou perigosa. Insalubre quando incorre o trabalhador em um risco

à sua saúde e perigosa quando incorrer em um risco direto à vida.

Como uma forma de recompensar o trabalhador que se submeta a tais condições,

a legislação pátria obriga o empregador a remunerar o empregado com um adicional,

decorrente da atividade insalubre ou perigosa a qual esteja envolvido. Esta obrigação

decorre da previsão contida no art. 7, XXIII, da CF.

Desta maneira, caso o trabalhador exerça atividade insalubre, terá direito ao

adicional de insalubridade, e caso labore em condições perigosas, fará jus ao adicional

de periculosidade.

Há ainda atividades que podem ser consideradas insalubres e perigosas ao

mesmo tempo.

Ocorre, porém, que se o trabalhador exercer uma atividade que se encaixe tanto

no quadro de condições insalubres quanto no quadro de condições perigosas,

estabelecidos pelo MTE, não poderá ele receber os dois adicionais.

Page 41: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

40

A vedação desse recebimento, como sabido por anterior analise, decorre de

previsão expressa no art. 193, § 2º, da CLT, cumulado com o item 16.2.1 da NR 16 da

Portaria nº 3.214/78 do MTE.

Esta vedação gera um constrangimento imenso ao direito do trabalhador de

receber os adicionais, isto tendo em vista, ter cada adicional um fato gerador diverso, ou

seja, o adicional de insalubridade nasce de uma premissa e o adicional de periculosidade

nasce de outra, não se confundindo os dois adicionais.

Desta forma, o direito ao recebimento do adicional de insalubridade nasce da

atividade em que o trabalhador se submeta a exposição de agentes físicos, químicos ou

biológicos que prejudiquem sua saúde, gerando, a curto ou longo prazo, enfermidade ao

empregado.

Já ao adicional de periculosidade, faz jus aquele empregado que é exposto a

riscos que lhe são capazes de gerar infortúnio imediato, tais como explosivos, energia

elétrica, inflamáveis.

Sendo assim, descabido fica o argumento de que o recebimento dos dois

adicionais cumulados gera bis in idem, haja vista se tratarem de dois institutos diversos,

com fatos geradores diversos.

Neste sentido é que o Ministro Cláudio Brandão diz no Recurso de Revista nº.

1072-72.2011.5.02.0384:

A possibilidade da cumulação dos adicionais se justifica em virtude da

origem dos direitos serem diversos. Não se há de falar em bis in idem. No

caso da insalubridade, o bem tutelado é a saúde do obreiro, haja vista as

condições nocivas presentes no meio ambiente de trabalho; já a

periculosidade, traduz situação de perigo iminente que, uma vez ocorrida,

pode ceifar a vida do trabalhador, sendo este o bem a que se visa proteger.

Nesse contexto, no caso de um trabalhador estar exposto a agentes insalubres e

perigosos, e tiver que fazer a opção entre somente um deles, acabará por trabalhar sob

uma das condições (insalubre ou perigosa) “de graça”, gerando de certa forma uma

vantagem econômica para o empregador.

Seguindo esta mesma linha de pensamento, é o que diz Carlos Henrique Bezerra

Leite:

Ora, se o ambiente do trabalho é duplamente mais arriscado para a saúde, a

vida e a segurança do trabalhador, ou seja, a sua atividade laboral lhe

assegura o direito a dois adicionais, não faz sentido ele receber apenas um

adicional, pois não há bis in idem para o empregado (fatos geradores diversos

para a percepção dos adicionais de periculosidade e insalubridade), e sim

Page 42: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

41

uma vantagem econômica desproporcional para o empregador. (LEITE,

2015, p. 396).

Em outros termos, a privação da percepção cumulada do adicional de

insalubridade com o de periculosidade, nas situações em que se tenham os dois fatos

geradores, se traduz na pura e simples negação de um direito constitucionalmente

previsto no art. 7º, XXIII.

Neste viés, surge a questão de a Constituição Federal de 88, não ter

recepcionado o art. 193, §2º, da CLT, tendo em vista violar totalmente seus preceitos

fundamentais dispostos no art. 7º, inciso XXIII.

Posicionamento este que faz todo o sentido. Ora, se a intenção do legislador

constituinte foi inserir o direito ao recebimento de adicional caso o trabalhador labore

em condições insalubres e perigosas, não faz nenhum sentido uma legislação

infraconstitucional suprimir tal direito.

A interpretação teleológica da Constituição Federal de 88, aumenta ainda mais o

argumento pela não recepcionalidade do dispositivo da CLT, haja vista se pautar o texto

constitucional na adoção de normas que tendem a reduzir os riscos à saúde e a

segurança do trabalhador, e na proteção do meio ambiente do trabalho.

O simples olhar positivista do dispositivo da CLT, em sua literalidade, leva a

boa parte da doutrina a sustentar a tese de serem inacumuláveis os adicionais de

insalubridade e periculosidade, sendo possível somente a opção entre um deles, nos

casos de exposição simultânea.

A doutrina atual, porém, já se posiciona a favor do recebimento cumulado dos

dois adicionais.

É o que ensina Carlos Henrique Bezerra Leite (2015, p. 396):

Por conta da literalidade do referido dispositivo consolidado (art. 193, §2º, da

CLT), a doutrina majoritária sustenta que são inacumuláveis os adicionais de

insalubridade e periculosidade. No entanto, a interpretação teleológica da

regra em causa autoriza a possibilidade de acumulação, mormente se

adotarmos a interpretação conforme a Constituição, já que o texto

constitucional estimula a adoção de normas tendentes a reduzir os riscos

inerentes ao trabalho, isto é, as doenças e os acidentes de trabalho, e

reconhece como direitos fundamentais dos trabalhadores os adicionais de

remuneração para as atividades perigosas, insalubres ou penosas (CF, art. 7º,

XXII e XXIII). (LEITE, 2015, p. 396).

Page 43: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

42

Ainda nesse sentido, há quem entenda ter sido a norma da CLT que veda a

cumulação dos adicionais, totalmente recepcionada e estar conforme os preceitos da

Constituição.

Isto porque, a conjunção “ou” empregada no texto do inciso XXIII, do art. 7º da

CF, quando ele diz ser direito do trabalhador “adicional de remuneração para as

atividades penosas, insalubres ou perigosas”, seria uma vontade do legislador em que se

aplicasse, ou um ou outro destes adicionais.

Desta forma o art. 193, §2º, da CLT, estaria totalmente de acordo com os

preceitos constitucionais, ao estabelecer que o trabalhador tenha que optar entre o

adicional de insalubridade ou o de periculosidade que lhe seja devido.

No entanto, esse não é o sentido adequado que deve ser dado a conjunção “ou”

empregada ao texto do referido artigo constitucional.

O sentido da conjunção “ou” disposta no texto do artigo 7º, XXIII, da CR, não

trata de uma vedação implícita à cumulação dos adicionais, tal conjunção foi

empregada, pois se utilizada à conjunção aditiva “e”, haveria o risco de uma conclusão

errônea de que ambos adicionais possuem o mesmo conceito, ou seja, poderia ser

concluído que toda atividade insalubre também seria perigosa, e por conseqüência, toda

atividade perigosa seria também insalubre.

Neste diapasão, bem diz Augusto César Leite de Carvalho:

A conjunção ou estaria presente, no texto do inciso sob análise, pois o uso da

conjunção aditiva (e) faria concluir que toda atividade penosa também seria

insalubre e, por igual, necessariamente perigosa. A nosso entendimento, não

estaria o legislador infraconstitucional autorizado a suprimir o direito ao

adicional de periculosidade, em hipótese que a lei enumera como de risco. E

como o suprime sem qualquer justificativa, o artigo 193, §2º da CLT se

apresenta, pura e simplesmente, como a negação de um direito fundado na

Constituição. (CARVALHO, 2011, p. 532).

Desta maneira não houve uma permissão do legislador constituinte para o

recebimento de apenas um adicional quando dois ou mais lhe forem devidos, e sim uma

preocupação em que fosse feita uma distinção entre eles, evitando que seus conceitos se

confundissem e que o adicional por atividades insalubres, perigosas e penosas se

tornassem um só.

Noutro giro, se não bastassem os questionamentos a favor da cumulatividade dos

adicionais, tendo em vista terem fatos geradores diversos e pela não recepcionalidade do

dispositivo da CLT frente a Constituição, há também o posicionamento de que as

Page 44: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

43

Convenções Internacionais 148 e 155 da OIT, permitem o recebimento dos adicionais

cumulados.

Como bem visto em tópicos anteriores, através de uma interpretação dos

dispositivos contidos nas Convenções 148 e 155 da OIT, é plenamente possível que

sejam cumulados os dois adicionais, sendo observados, claro, fatos geradores do

adicional de insalubridade e de periculosidade.

A aplicação das Convenções Internacionais, se fazem diante da primazia destes

tratados, que versam sobre direitos humanos, sobre a legislação infraconstitucional, ou

seja, como esse tipo de Convenção possui força supralegal, as suas disposições

prevalecem sobre as disposições contidas na legislação ordinária.

Deste modo, no presente caso, as disposições das Convenções 148 e 155 da OIT,

permitindo a cumulação dos adicionais, devem prevalecer sobre o contido no texto do

art. 193, §2º, da CLT, que veda a cumulação do adicional de insalubridade e

periculosidade.

Há de se ressaltar ainda, que além ser aplicado as Convenções por terem elas

status supralegal, podem elas também ser aplicadas, por força do princípio da aplicação

da norma mais favorável.

Este princípio permite que as disposições de qualquer fonte normativa se

prevaleçam sobre outras, não importando o grau de hierarquia em que ela esteja se for

ela mais benéfica ao trabalhador, ou seja, não importa que um dispositivo confronte

uma lei ordinária, um tratado internacional, ou até mesmo a Constituição, se a norma for

mais benéfica ao empregado ela deverá ser aplicada.

Assim, como as disposições das Convenções da OIT em questão, são mais

benéficas ao trabalhador, devem elas ser aplicadas nos casos em que houver a

possibilidade de cumulação dos dois adicionais, deixando de ser aplicado o dispositivo

da CLT que veda a cumulação.

Esse também é o entendimento do TST, como se vê na jurisprudência

colacionada abaixo:

CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULO

SIDADE. POSSIBILIDADE. PREVALÊNCIA DAS NORMAS

CONSTITUCIONAIS E SUPRALEGAIS SOBRE A CLT.

JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DO STF QUANTO AO EFEITO

PARALISANTE DAS NORMAS INTERNAS EM DESCOMPASSO COM

OS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS.

INCOMPATIBILIDADE MATERIAL. CONVENÇÕES NOS 148 E 155

DA OIT. NORMAS DE DIREITO SOCIAL. CONTROLE DE

Page 45: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

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CONVENCIONALIDADE. NOVA FORMA DE VERIFICAÇÃO DE

COMPATIBILIDADE DAS NORMAS INTEGRANTES DO

ORDENAMENTO JURÍDICO. A previsão contida no artigo 193, § 2º, da

CLT não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, que, em seu

artigo 7º, XXIII, garantiu de forma plena o direito ao recebimento

dos adicionais de penosidade, insalubridade epericulosidade, sem qualquer

ressalva no que tange à cumulação, ainda que tenha remetido sua regulação à

lei ordinária. A possibilidade da aludida cumulação se justifica em virtude de

os fatos geradores dos direitos serem diversos. Não se há de falar em bis in

idem. No caso da insalubridade, o bem tutelado é a saúde do obreiro, haja

vista as condições nocivas presentes no meio ambiente de trabalho; já

a periculosidade traduz situação de perigo iminente que, uma vez ocorrida,

pode ceifar a vida do trabalhador, sendo este o bem a que se visa proteger. A

regulamentação complementar prevista no citado preceito da Lei Maior deve

se pautar pelos princípios e valores insculpidos no texto constitucional, como

forma de alcançar, efetivamente, a finalidade da norma. Outro fator que

sustenta a inaplicabilidade do preceito celetista é a introdução no sistema

jurídico interno das Convenções Internacionais nos 148 e 155, com status de

norma materialmente constitucional ou, pelo menos, supralegal, como

decidido pelo STF. A primeira consagra a necessidade de atualização

constante da legislação sobre as condições nocivas de trabalho e a segunda

determina que sejam levados em conta os "riscos para a saúde decorrentes da

exposição simultânea a diversas substâncias ou agentes". Nesse contexto, não

há mais espaço para a aplicação do artigo 193, § 2º, da CLT. Precedente desta

Turma. Recurso de revista de que se conhece e a que se nega provimento.

(RR - 773-47.2012.5.04.0015, Relator Ministro: Cláudio Mascarenhas

Brandão, Data de Julgamento: 22/04/2015, 7ª Turma, Data de Publicação:

DEJT 04/05/2015)

Neste norte, pode-se elencar três grandes segmentos que tornam possível a

cumulação do recebimento dos adicionais de insalubridade e periculosidade.

O primeiro é a questão de possuir cada adicional um fato gerador distinto, o que

afastaria a ocorrência de bis in idem, e faria com que o trabalhador recebesse um

adicional para cada atividade de risco que exercesse.

O segundo é o fato de não ter a Constituição recepcionado a norma do art. 193,

§2º, da CLT, o que tornaria a norma sem eficácia jurídica, e sem esta norma, não

haveria nenhum dispositivo que impedisse a cumulação dos adicionais de insalubridade

e periculosidade.

E por fim, a figura das Convenções internacionais 148 e 155 da OIT, que

conforme interpretação de seus dispositivos permite a cumulação dos adicionais.

Ressaltando que a aplicabilidade destas convenções se dão tanto por terem status de

norma supralegal, quanto pela aplicação do principio da norma mais favorável.

Sendo assim, portanto, os motivos que sustentam a inaplicabilidade da

cumulação dos adicionais já não mais devem prosperar, haja vista a diversidade de

fatores já vistos que tornam possível a cumulação.

Page 46: Possibilidade de Cumulação Do Adicional de Insalubridade Com o de Periculosidade

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Por fim, imperioso dizer que os adicionais, tanto o de insalubridade quanto o de

periculosidade, são direitos fundamentais dos trabalhadores, previstos

constitucionalmente, e nada mais justo desta forma que, caso cumuladas as condições

insalubres e perigosas na mesma atividade laboral, se cumule também o recebimento

dos respectivos adicionais.

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8. CONCLUSÃO

Ante todo o exposto, depreende-se que o tema em análise merece total atenção

por parte de doutrinadores, legisladores e aplicadores do direito, uma vez se tratar da

vida e da integridade física do ser humano, no âmbito de seu ambiente de trabalho, que

muitas vezes lhe submete a condições de risco, como no caso das atividades insalubres e

perigosas.

Neste sentido, no intuito de coibir e prevenir riscos ocasionados aos

trabalhadores que exercem atividades insalubres e perigosas, a própria Constituição

Federal, instituiu adicionais de remuneração para estas atividades.

Contudo, como abordado, por previsão expressa da CLT, em seu art. 193, §2º,

não é possível que se cumule o recebimento do adicional de insalubridade e

periculosidade, mesmo estando presentes os requisitos de concessão para ambos os

adicionais.

No entanto, percebe-se já não ser mais cabível a aplicação do dispositivo do art.

193, §2º, da CLT e do item 16.2.1 da NR 16 da Portaria nº 3.214/78 do MTE, que veda

a percepção cumulada dos adicionais de insalubridade e periculosidade.

Isto se deve basicamente a três fatores principais.

Primeiramente a não incidência destes dispositivos se deve ao fato de possuírem

os adicionais de insalubridade e periculosidade dois fatos geradores distintos, ou seja,

cada adicional possui seus próprios requisitos de concessão, e desta forma, não há que

se falar em bis in idem caso ocorra o seu recebimento simultâneo.

Segundo, há a não recepcionalidade do dispositivo da CLT, pela Constituição

Federal. Isto ocorre pelo simples fato de que os dispositivos que vedam a cumulação

ferem diretamente o direito fundamental aos adicionais previstos no art. 7º, XXIII, da

CF.

E terceiro, conforme interpretação e aplicação dos dispositivos das Convenções

148 e 155 da OIT, é possível a cumulação dos adicionais, pois segundo tais convenções

deve-se ser levado em conta o aumento dos riscos profissionais resultantes de atividades

nocivas ao trabalhador, visando uma maior proteção a sua integridade física, saúde e

segurança.

Deste modo não há razão para não cumular o recebimento dos adicionais, tendo

em vista o trabalhador estar submetido a dois fatores diferentes de risco a sua saúde e

segurança, podendo lhe levar a enfermidade ou até mesmo ao óbito.

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Além do mais, a percepção cumulada dos adicionais agiria como sanção

pecuniária ao empregador para que este adote sempre mais medidas de prevenção, com

o fim de estabelecer um melhor ambiente de trabalho ao empregado, lhe

proporcionando uma vida mais digna.

Destarte, o cenário atual tanto dos tribunais quanto da doutrina, vem sofrendo

mudanças, e assim, já vem sendo admitido que nos casos de a atividade se enquadrar

nos critérios da insalubridade e periculosidade, seja permitido que se cumule o

recebimento dos adicionais de remuneração pela atividade insalubre e perigosa

simultaneamente.

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