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1 CURSO DE DIREITO A ATUAÇÃO DA CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA NA SOLUÇÃO DOS LITÍGIOS INTERNACIONAIS SABRINA TONON GOMES RA 441806/4 Turma 325 H Tel. 3942-1502 e-mail: [email protected]

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CURSO DE DIREITO

A ATUAÇÃO DA CORTE INTERNACIONALDE JUSTIÇA NA SOLUÇÃO DOS

LITÍGIOS INTERNACIONAIS

SABRINA TONON GOMESRA 441806/4Turma 325 H

Tel. 3942-1502e-mail: [email protected]

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CURSO DE DIREITOSABRINA TONON GOMES

RA 441806/4

A ATUAÇÃO DA CORTE INTERNACIONALDE JUSTIÇA NA SOLUÇÃO DOS

LITÍGIOS INTERNACIONAIS

Monografia apresentada à bancaexaminadora da UniFMU, como exigênciaparcial para obtenção do grau de bacharelem Direito, sob orientação da ProfessoraGláucia Tamayo Hassler Sugai.

SÃO PAULO2004

3

Banca Examinadora

____________________________________Orientadora: Gláucia Tamayo Hassler Sugai

____________________________________Professor Argüidor

____________________________________Professor Argüidor

NOTA____(_________________________)

São Paulo, ____ de ____________ de 2004.

4

Agradeço a todos aqueles que de umaforma ou de outra contribuíram para aconcretização deste trabalho, em especiala orientação da professora GláuciaTamayo Hassler Sugai.

5

“O Direito não é uma teoria, mas umaforça viva. Por isso a justiça sustenta emuma das mãos a balança em que pesa oDireito, e na outra a espada de que servepara o defender. A espada sem abalança é força brutal; a balança sem aespada é a importância do Direito. Umanão pode avançar sem a outra, nemhaverá ordem jurídica perfeita sem quea energia com que a justiça aplica aespada seja igual à confiabilidade comque maneja a balança. O Direito é umtrabalho incessante, não somente dospoderes públicos mas, ainda, de umanação inteira."(Rudolf von Ihering)

SINOPSE

6

O trabalho discute a forma como a Corte Internacional de Justiça vem

atuando, desde a sua inauguração, na solução dos litígios internacionais. Para

tanto, define os meios de solução pacífica de controvérsias existentes, além de

expor a forma como a Corte é organizada.

Procurou-se demonstrar a importância da Corte Internacional de Justiça

desde sua criação, bem como as críticas que a mesma vem recebendo devido sua

vinculação à Organização das Nações Unidas.

A análise baseou-se em doutrinas sobre direito internacional, artigos

publicados na internet, além da consulta ao site da Corte Internacional de

Justiça.

SUMÁRIO

7

SINOPSE................................................................................................ 6

INTRODUÇÃO..................................................................................... 9

1. DEFINIÇÃO DE LITÍGIO INTERNACIONAL............................... 11

2. MEIOS DE SOLUÇÃO DE LITÍGIOS INTERNACIONAIS.......... 13

2.1 Os Meios Diplomáticos ............................................................. 13

2.1.1 Negociações diplomáticas................................................. 13

2.1.2 Serviços amistosos............................................................ 14

2.1.3 Bons ofícios....................................................................... 15

2.1.4 Mediação........................................................................... 15

2.2 Meios Jurisdicionais................................................................... 15

2.2.1 Comissões de investigação................................................ 16

2.2.2 Conciliação........................................................................ 16

2.2.3 Arbitragem........................................................................ 17

2.2.4 A Corte Internacional de Justiça....................................... 17

2.3 Meios Coercitivos...................................................................... 17

2.3.1 Rompimento das relações diplomáticas............................ 18

2.3.2 Retorsão............................................................................. 18

2.3.3 Represália.......................................................................... 19

2.3.4 Bloqueio pacífico.............................................................. 19

2.3.5 Boicotagem........................................................................ 20

2.3.6 Embargo............................................................................ 20

3. A CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA.................................. 21

3.1 Criação....................................................................................... 21

3.2 Organização................................................................................ 24

3.3 A Vinculação da Corte às Nações Unidas.................................. 28

3.4 Partes Perante a Corte................................................................ 28

3.5 Competências da Corte............................................................... 29

3.5.1 Contenciosa....................................................................... 29

3.5.2 Consultiva......................................................................... 30

3.6 Cláusula Facultativa de Jurisdição Obrigatória......................... 31

3.7 A Jurisdição dos Estados e a Corte............................................ 33

8

3.8 Litígios a Serem Resolvidos Pela Corte..................................... 34

3.9 A Sentença.................................................................................. 36

3.10 Atividades Extrajudiciais........................................................... 37

4. CENÁRIO ATUAL............................................................................ 39

5. ANÁLISE DE CASO CONCRETO REFERENTE À QUESTÃO DA

EFICÁCIA DAS DECISÕES DA CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA: A

AGRESSÃO AMERICANA À NICARÁGUA SANDINISTA E A POSIÇÃO

DA CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA E DO DIREITO

INTERNACIONAL................................... 42

CONCLUSÃO....................................................................................... 47

Apêndice

1. CAPÍTULOS I, II, III, VI E XIV DA CARTA DA ORGANIZAÇÃO DAS

NAÇÕES UNIDAS........................................ 502. ESTATUTO DA CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA......... 58

BIBLIOGRAFIA.................................................................................... 82

INTRODUÇÃO

9

Este trabalho tem por objetivo o estudo de um relevante tema do Direito

Internacional, qual seja, a atuação da Corte Internacional de Justiça na solução

dos litígios internacionais.

O tema em questão causa grande polêmica na sociedade internacional,

principalmente porque, para muitos, as decisões da Corte são politizadas.

É fundamental, assim, o estudo da Corte Internacional de Justiça como

um todo, desde sua composição, até aos litígios a ela submetidos.

Inicialmente, serão abordados os meios de solução pacífica de

controvérsias, bem como a classificação dos mesmos.

Todavia, sendo o objeto deste estudo a atuação da Corte propriamente

dita, é certo que não nos aprofundaremos nos meios de solução de controvérsia

existentes, analisando-os de forma sucinta, mas objetivando o conhecimento dos

mesmos.

10

Por certo, muito mais haveria que ser considerado nesta introdução,

porém pretendemos tão somente fazer uma primeira e superficial abordagem

dos pontos que serão estudados.

Desta forma, esperamos que seja aproveitável e válida nossa exposição

acerca das matérias ventiladas.

11

1. DEFINIÇÃO DE LITÍGIO INTERNACIONAL

Podemos definir litígio como sendo um desacordo sobre uma questão de

direito ou de fato, uma contradição, uma oposição de teses jurídicas ou de

interesses entre dois Estados.1

Nas sociedades, sejam elas internas ou internacionais, os sujeitos entram

em conflitos. Em decorrência da falta de poderes hierárquicos e superiores na

ordem internacional, e da inexistência de um judiciário que seja superior aos

Estados, estes, muitas vezes, são obrigados a procurar soluções mais

compatíveis e consentâneas.2

O Direito Internacional preza pela solução pacífica das controvérsias.

Isso é estabelecido, como regra fundamental, no artigo 33, 1, da Carta das

Nações Unidas, que dispõe que “as partes numa controvérsia, que possa vir a

constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais, procurarão, antes

de tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito, mediação,

conciliação, arbitragem, via judicial, recurso a organizações ou acordos

regionais, ou qualquer outro meio pacífico à sua escolha.”

1 CPJI, em 1924, em sua decisão no caso Mavrommatis.2 Carlos Roberto Husek, Curso de Direito Internacional Público, p. 193.

12

O que importa, então, é que através do meio pacífico a paz seja

restaurada.

13

2. MEIOS DE SOLUÇÃO DOS LITÍGIOS INTERNACIONAIS

Há uma grande divergência entre os doutrinadores no que se refere à

classificação dos meios de solução dos litígios internacionais. Cada um deles

possui uma classificação diferente. Ficaremos aqui com a do professor Carlos

Roberto Husek3 sem, contudo, incluir os meios políticos de solução de

controvérsias, vez que estes, na maioria das vezes, se confundem com os outros

modos de solução de litígios existentes.

2.1 Meios Diplomáticos

Os meios diplomáticos compreendem as negociações diplomáticas,

os serviços amistosos, os bons ofícios e a mediação.

2.1.1 Negociações diplomáticas

3 Carlos Roberto Husek, Curso de Direito Internacional Público, p. 194.

14

Busca-se o entendimento direto entre os Estados por via

diplomática. Podem ocorrer de forma bilateral (quando a questão interessa a

apenas dois Estados), ou multilateral (se a solução interessa a mais de dois

Estados). Esse modo de solução, contudo, pode fazer com que os pequenos

Estados fiquem nas mãos dos grandes, caso não haja um contrapeso de força

entre os Estados em negociação.4

Poderá ocorrer, como conseqüência das negociações, a

abdicação de um dos Estados ao direito que almejava, ou o reconhecimento por

ele das pretensões do outro. Pode, ainda, ocorrer concessões recíprocas,

chamadas de transação5.

2.1.2 Serviços amistosos

São aqueles prestados sem aspecto oficial. Algumas vezes,

entretanto, o governo solicita que algum diplomata o faça, para que se chegue a

uma solução sem necessidade de maiores movimentações e sem despertar a

atenção da opinião pública6.

4 Celso D. de Albuquerque Melo, Curso de Direito Internacional Público, p. 1143.5 G.E. do Nascimento e Silva e Hildebrando Accioly, Manual de Direito Internacional Público, p.440.6 Carlos Roberto Husek, Curso de Direito Internacional Público, p. 195.

15

2.1.3 Bons ofícios

Consiste na tentativa amistosa de uma terceira potência, ou

de várias, no sentido de levar os Estados litigantes à negociação da

controvérsia. Não há a proposta da solução para o conflito, é um apoio

meramente instrumental7.

2.1.4 Mediação

A mediação consiste no ato pelo qual um ou vários Estados

aceitam livremente ser intermediários oficiais de uma negociação para a solução

pacífica de um litígio que surgiu entre dois ou mais Estados. O Estado alheio ao

conflito proporciona, nesse caso, efetivamente, a solução. A proposta do

mediador não é obrigatória, e poderá fracassar caso uma das partes a rejeite8.

7 G.E. do Nascimento e Silva e Hildebrando Accioly, Manual de Direito Internacional Público, p.441.8 José Francisco Rezek, Direito Internacional Público, p. 335.

16

2.2 Meios Jurisdicionais

Os meios jurisdicionais compreendem as comissões de

investigação, a Conciliação e a Arbitragem9, além da solução oferecida pela

Corte Internacional de Justiça.

2.2.1 Comissões de investigação

Esse método consiste em submeter a comissários

investigadores os fatos sobre os quais versa o litígio. Os comissários

investigadores, por sua vez, não se pronunciam sobre as responsabilidades,

apenas estabelecem a materialidade dos fatos, apresentando conselhos ou

sugestões que permitam a conciliação dos pontos de vista divergentes10.

2.2.2 Conciliação

9 Celso D. de Albuquerque Melo, Curso de Direito Internacional Público, p. 1142.10 G.E. do Nascimento e Silva e Hildebrando Accioly, Manual de Direito Internacional Público, p.452.

17

Consiste no exame do litígio por um órgão que goze da

confiança das partes litigantes, que irá propor uma solução, fundada em

concessões recíprocas, sendo as partes livres de acolher ou de rejeitar11.

2.2.3 Arbitragem

É um modo pacífico de solucionar os litígios internacionais

por meio de árbitros escolhidos pelas partes litigantes, que procurarão encontrar

a solução para o conflito segundo as normas estabelecidas no compromisso

arbitral. A sentença arbitral é definitiva, e deve ser obedecida12.

2.2.4 A Corte Internacional de Justiça

Ocupou o lugar da Corte Permanente de Justiça. É o

principal órgão judiciário das Nações Unidas, e será objeto de análise no

decorrer deste estudo.

2.3 Meios Coercitivos

11 Celso D. de Albuquerque Melo, Curso de Direito Internacional Público, p. 1148.12 Carlos Roberto Husek, Curso de Direito Internacional Público, p. 196.

18

São os meios buscados pelos Estados para a solução da

controvérsia, quando todos os outros fracassam. Não se confundem com a

guerra, e devem ser proporcionais ao ilícito praticado. Os mais utilizados são: a)

rompimento das relações diplomáticas; b) retorsão; c) represália; d) bloqueio

pacífico; e) boicotagem; f) embargo13.

2.3.1 Rompimento das relações diplomáticas

É o pedido de retirada dos agentes diplomáticos do Estado

violador e a ordem de retorno dos representantes do Estado que se encontravam

no território do outro país. É o corte das relações amigáveis, com conseqüências

comerciais e políticas. Pode resultar da violação, por um Estado, dos direitos do

outro. Também pode ser empregada como meio de pressão de um Estado sobre

o outro14.

2.3.2 Retorsão

13 Carlos Roberto Husek, Curso de Direito Internacional Público, p. 200.

19

Consiste no emprego por um Estado ofendido, da mesma

medida que o Estado ofensor empregou contra ele, ou seja, o Estado irá revidar

de forma idêntica o prejuízo que sofreu. A retorsão é baseada no princípio da

reciprocidade15.

2.3.3 Represálias

São medidas aplicadas por um Estado em relação a outro que

tenha violado seus direitos. Violam a ordem internacional. Devem preencher os

seguintes requisitos: a) existência de um ato anterior contrário ao Direito

internacional; b) inexistência de outros meios para que o Estado obtenha

reparação; c) proporcionalidade entre o dano sofrido e as ações empregadas; d)

tentativa do Estado lesado de obter a satisfação desejada do Estado violador16.

2.3.4 Bloqueio Pacífico

14 G.E. do Nascimento e Silva e Hildebrando Accioly, Manual de Direito Internacional Público, p.46915 Celso D. de Albuquerque Melo, Curso de Direito Internacional Público, p. 1176.16 Carlos Roberto Husek, Curso de Direito Internacional Público, p. 200.

20

É uma forma de represália que consiste em impedir,

mediante o emprego de força armada, as comunicações com os portos ou as

costas de um país ao qual se pretende obrigar a proceder de determinado

modo.17

São exigidas algumas condições para que seja feito o

bloqueio pacífico: a) só pode ser empregado após o fracasso das negociações; b)

que seja efetivo; c) que seja declarado e notificado oficialmente e mantido por

força suficiente; d) só é obrigatório entre os navios dos Estados em conflito, e

não para terceiros; e) os navios apreendidos devem ser devolvidos após o

bloqueio18.

2.3.5 Boicotagem

A boicotagem é a interrupção das relações comerciais e

financeiras com outro Estado. Tem como objetivo obrigar o Estado a modificar

uma atitude considerada hostil ou injusta19.

17 G.E. do Nascimento e Silva e Hildebrando Accioly, Manual de Direito Internacional público, p.467.18 Celso D. de Albuquerque Melo, Curso de Direito Internacional Público, p. 1179.19 G.E. do Nascimento e Silva e Hildebrando Accioly, Manual de Direito Internacional público, p.468.

21

2.3.6 Embargo

Consiste no seqüestro, em tempo de paz, de navios e cargas

do Estado com quem se está em conflito e que se encontram nos portos ou em

águas territoriais do Estado que se utiliza desse meio coercitivo20.

3. A CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA

3.1 Criação

A Corte Internacional de Justiça (CIJ) é o principal órgão judiciário

das Nações Unidas e o mais importante tribunal judiciário da sociedade

internacional. A Carta da ONU, além de incluí-la dentre os órgãos principais da

organização, acrescenta que o seu Estatuto, baseado no Estatuto da Corte

Permanente de Justiça Internacional (CPJI), faz parte integrante da mesma

(Artigo 92).

O Pacto da Sociedade das Nações (SDN) não criou uma Corte

Internacional de Justiça, mas o seu art. 14 encarregou o Conselho de preparar

um projeto de Corte Internacional e de submetê-lo aos membros da sociedade.

22

Na cidade de Haia, em 1920, foi convocado um Comitê de Juristas, que

preparou o projeto do seu futuro Estatuto. Aprovado pela Assembléia da

Sociedade das Nações em 13 de dezembro de 1920, o Estatuto entrou em vigor

em 1921.

A Corte Permanente de Justiça Internacional foi instalada em Haia.

Quando da eclosão da segunda grande guerra a CPJI foi transferida para

Genebra, onde estava parte de seus arquivos. Apesar da guerra, a CPJI

continuava a existir juridicamente. Contudo, ela acabou sendo dissolvida.

Na Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das

Américas, ocorrida no Rio de Janeiro, em 1942, o Comitê Jurídico

Interamericano foi encarregado de estudar a criação de uma Corte Internacional.

Em novembro desse mesmo ano, ele apresentou seu relatório e aconselhou que a

jurisdição da CPJI fosse aumentada.

Uma das proposições tratava sobre a criação de uma Corte de

Justiça, cujo Estatuto faria parte integrante da Carta da Organização. Sendo

assim, todos os membros desta fariam parte da Corte. A Assembléia Geral,

mediante indicações do Conselho de Segurança, ficaria encarregada de analisar

20 Carlos Roberto Husek, Curso de Direito Internacional Público, p. 200.

23

as condições em que os Estados que não fossem membros da organização

poderiam ser partes do Estatuto.

Foi a Conferência de São Francisco que decidiu a criação de uma

nova Corte, e não a manutenção da CPJI, já que dos 43 Estados então partes do

Estatuto da CPJI, 17 não eram membros da ONU e diversos deles eram

inimigos. Além disso, 13 Estados que seriam membros da ONU não eram partes

no Estatuto da CPJI.

O novo tribunal foi denominado de Corte Internacional de Justiça e

incluído entre os órgãos da ONU (Artigo 7º). Seu nome foi alterado pois o

adjetivo “permanente”, contido no nome anterior, foi considerado pleonasmo, já

que todo tribunal judicial é permanente. Além disso, o adjetivo “internacional”

passou a qualificar a Corte e não a Justiça.

O Estatuto da CIJ é substancialmente idêntico ao da CPJI, tanto

que conservou a numeração da antiga Corte, com a intenção de dar continuidade

à sua obra. Consta de setenta artigos. As modificações no Estatuto foram

poucas.

24

A CIJ é a sucessora da CPJI. O artigo 37 do Estatuto estabelece

que o tratado ou convenção em vigor que disponha dever um assunto ser

submetido à CPJI, deverá ser ele submetido à CIJ.

3.2 Organização da Corte

É composta de 15 juízes, eleitos conforme dispõe o Artigo 2º do

Estatuto, in verbis:

“Artigo 2º. A Corte será constituída por um corpo de

magistrados independentes eleitos, sem levar em conta a

nacionalidade destes, de pessoas que gozem de alta

consideração moral e que reúnam as condições necessárias

para o exercício das mais altas funções judiciais em seus

respectivos países, ou que sejam jurisconsultos de reconhecida

competência na área do direito internacional.”

O mandato dos juízes é de nove anos, exceto os dois terços dos

escolhidos na primeira eleição, dos quais cinco terminarão suas funções ao fim

de três anos e os outros cinco, ao fim de seis anos. Todos poderão ser reeleitos.

Nenhum deles poderá desempenhar qualquer função política ou administrativa,

ou dedicar-se a outra ocupação, de natureza profissional.

25

Além disso, não poderá servir como agente, consultor ou

advogado, em qualquer questão, nem poderá participar da decisão de uma

controvérsia na qual, anteriormente, tenha intervindo como agente, consultor ou

advogado de uma das partes, seja como árbitro ou juiz, seja em qualquer outro

caráter (Artigo 17, 1 e 2).

A eleição é feita na mesma ocasião, mas separadamente, pela

Assembléia Geral e pelo Conselho de Segurança21. Não há, no Conselho de

Segurança, qualquer diferença entre os membros permanentes e não

permanentes. A eleição nestes dois órgãos é feita por maioria absoluta.

A Assembléia e o Conselho decidirão entre os nomes constantes de

uma lista de pessoas apresentadas pelos grupos nacionais da Corte Permanente

de Arbitragem. Quando se tratar de membros das Nações Unidas não

representados na Corte Permanente, a eleição será feita por grupos nacionais

designados, para esse fim, pelos respectivos governos. Nenhum grupo deverá

indicar mais de quatro pessoas, das quais no máximo duas poderão ser da

mesma nacionalidade (Artigo 5º, 2).

21 Esta fórmula foi adotada no Comitê de Juristas de Haia pois atendia aos interesses dos grandes Estados, quedesejavam uma participação especial na eleição dos juízes – eles se encontram representados no Conselho de

26

Excepcionalmente, poderá ser eleito alguém que não figure em tal

lista se permanecerem vagos alguns lugares. Será formada uma comissão de seis

membros, dos quais três serão do Conselho de Segurança e três da Assembléia

Geral que, por unanimidade, escolherá um dos candidatos que preencha as

condições exigidas. Se esta comissão não chegar a um acordo, os membros

eleitos da Corte é que decidirão o procedimento da vaga entre os candidatos que

tiverem obtido votos na Assembléia ou no Conselho. Em caso de empate na

Corte, o juiz mais velho terá voto decisivo.

Os juízes deverão representar as mais altas formas de civilização e

os principais sistemas jurídicos do mundo. Antes do término de seu mandato,

nenhum juiz poderá ser excluído da Corte, salvo por decisão unânime dos

demais. No exercício de suas funções, os juízes gozarão dos privilégios e

imunidades diplomáticas.

Ao lado destes juízes que compõem permanentemente a Corte,

existem ainda os juízes ad hoc, que são temporários. O juiz ad hoc é indicado

pelos Estados partes em um conflito a ser decidido pela Corte, quando ela não

Segurança – e atendeu ainda os pequenos Estados, que defendiam a igualdade – eles se encontram todosrepresentados na Assembléia Geral.

27

tem um juiz de sua nacionalidade. Visa a dar às partes maior confiança na

Corte, e a atender a igualdade entre os Estados.

A Corte tem um presidente e um vice-presidente que são eleitos

por três anos, podendo ser reeleitos. Possui, ainda, um escrivão por ela própria

nomeado, que é o chefe dos serviços administrativos.

A sede da Corte é em Haia, sendo que o seu presidente e o escrivão

são obrigados a residir nesta cidade. Suas línguas oficiais são o francês e o

inglês, mas as partes podem acordar para que todo o processo se efetue em

qualquer das duas línguas. A Corte poderá autorizar, a pedido de uma das

partes, o uso de qualquer outra língua.

Ordinariamente, a Corte funciona em sessão plenária, mas, para

constituí-la, é suficiente o quorum de nove juízes. Poderá, entretanto, formar

câmaras compostas de três ou mais juízes, para tratar de questões de caráter

especial. Além disso, a fim de apresentar a solução dos assuntos, formará

anualmente uma câmara, composta de cinco juízes, a qual, a pedido das partes,

poderá considerar e resolver sumariamente as questões. Essas câmaras poderão

28

reunir-se ou exercer suas funções fora da cidade de Haia, desde que haja o

consentimento das partes.

A justiça internacional é gratuita, sendo que as despesas serão

pagas pela ONU. Os Estados, no entanto, contribuem para o orçamento da

ONU.

3.3 A Vinculação da Corte às Nações Unidas

O Estatuto da CIJ faz parte integrante da Carta da ONU. Contudo,

é necessário ressaltar que ela não é o único tribunal, mas o principal órgão

judiciário das Nações Unidas. O art. 95 da Carta da ONU declara expressamente

que os membros das Nações Unidas poderão confiar a solução de suas

divergências a outros tribunais, em virtude de acordos já vigentes ou que

possam ser concluídos no futuro.

A qualidade de membro das Nações Unidas implica a aceitação do

referido Estatuto.

29

3.4 Partes Perante a Corte

A Corte só atua em litígio em que as partes forem os Estados,

sejam ou não membros das Nações Unidas. Apesar das discussões ocorridas no

Comitê de Juristas de Haia, o homem não foi admitido como parte. Assim, se

simples particulares desejam fazer valer direitos perante a Corte, é

imprescindível que o seu governo demonstre as respectivas pretensões ou

reclamações. A Corte também não é acessível às organizações internacionais.

Aos Estados que não são membros das Nações Unidas, a Corte

estará aberta nas condições que o Conselho de Segurança estipular, ressalvadas

as disposições especiais dos tratados vigentes.

3.5 Competências da Corte

Possui a Corte competência contenciosa e competência consultiva.

3.5.1 Contenciosa

30

A Corte exerce sua competência contenciosa julgando litígios entre

Estados soberanos.

Nenhum Estado poderá ser citado por outro, perante a Corte, ao

menos que ambos se tenham a isso comprometido por tratado ou convenção

vigente.

O fato de o Estado ser membro da ONU e parte do Estatuto não o

obriga a submeter seu litígio ao julgamento da Corte. É necessário, ainda, um

ato complementar dos litigantes submetendo a controvérsia ao seu exame.

Quando se tratar de jurisdição obrigatória, a ausência da parte

citada não impedirá o julgamento à sua revelia. Contudo, a Corte só toma

conhecimento de um litígio quando este lhe é apresentado por uma das partes.

3.5.2 Consultiva

A CIJ tem uma atuação também como órgão de consulta. Esta

competência está prevista nos Artigos 96 da Carta da ONU e 65 do Estatuto da

CIJ. Assim, poderá ela emitir parecer consultivo sobre qualquer questão de

ordem jurídica, a pedido da Assembléia Geral e do Conselho de Segurança. Os

31

demais órgãos e organismos especializados poderão fazê-lo com autorização da

Assembléia Geral22. A Corte aplicará as normas do Artigo 31 do Estatuto (juiz

“ad hoc”) quando o parecer solicitado for sobre uma controvérsia entre dois

Estados. Os Estados podem proporcionar informações escritas ou orais à Corte.

Apesar do grande valor desses pareceres, eles não possuem força

obrigatória. Entretanto, de um modo geral, são cumpridos.

A Corte, por sua vez, poderá se recusar a dar um parecer se

considerar que não é conveniente proferi-lo.

3.6 Cláusula Facultativa de Jurisdição Obrigatória

A jurisdição internacional é ainda, via de regra, facultativa. Dentro

deste princípio está também a CIJ. Diz-se que a jurisprudência da Corte é

facultativa quando os Estados em conflito, não ligados por algum compromisso

prévio de aceitação obrigatória da jurisdição da Corte, decidem, por acordo

especial para a controvérsia em causa, submetê-la ao julgamento da Corte.

22 Há uma lista oficial de órgãos e organizações autorizados pela Assembléia Geral da ONU a pedir pareceresconsultivos à Corte.

32

A jurisdição pode ser obrigatória em caso de estar prevista

expressamente em tratados23 .

A jurisdição pode ser obrigatória com base na cláusula facultativa

(Artigo 36, 2), que é resultante das discussões ocorridas na Sociedade das

Nações. O Conselho da Liga sustentava a jurisdição facultativa e o Comitê de

Juristas, por sua vez, estabeleceu que a jurisdição seria obrigatória nos conflitos

jurídicos. Nas discussões ocorridas na Assembléia, surgiu a cláusula facultativa.

Ela consiste em reconhecer como obrigatória, e sem acordo

especial, em relação a qualquer outro Estado que aceite a mesma obrigação, a

jurisdição da Corte nas controvérsias de ordem jurídica, que tenham por objeto:

a) a interpretação de um tratado; b) qualquer ponto de direito internacional; c) a

existência de qualquer fato que, se verificado, constituiria violação de um

compromisso internacional; d) a natureza ou a extensão da reparação devida

pela ruptura de um compromisso internacional (Artigo 36, 3 a 6).

23 É interessante assinalar que esse dispositivo fala em jurisdição obrigatória nos casos previstos em tratado e naCarta da ONU. Entretanto, a Carta da ONU não prevê nenhum caso de jurisdição obrigatória.

33

Esta cláusula, na prática, é aceita com reservas pelos Estados, que

têm sido admitidas porque o mesmo é livre de adotar a cláusula como

obrigatória ou não. Em conseqüência, ele pode restringir a sua aceitação.

Para a justiça internacional, é mais conveniente que haja aceitação

da cláusula facultativa com reservas do que não haja aceitação.

Se uma controvérsia foi iniciada com base na cláusula facultativa, e

esta teve vencido o seu termo, a CIJ continuará a julgar, já que a controvérsia

foi apresentada na vigência dela.

Após o caso ser levado à Corte, não é possível retirar a aceitação

da cláusula facultativa. É aplicado o princípio da boa-fé e do direito dos

tratados.

3.7 A Jurisdição dos Estados e a Corte

A CIJ, por estar sujeita a todos os dispositivos da Carta da ONU,

não pode decidir sobre matéria que seja do domínio reservado dos Estados, haja

vista que as suas decisões podem ser executadas pelo Conselho de Segurança, e

34

são de cumprimento obrigatório por parte dos Estados. Este princípio é aplicado

nos conflitos apresentados à Corte com base na cláusula facultativa24.

Não se apresenta este problema quando se trata de jurisdição

consultiva exercida pela Corte, já que os órgãos da ONU que solicitam os

pareceres estão submetidos ao Artigo 2º, 7, da Carta da ONU, e os pareceres

não são obrigatórios.

Nada impede, contudo, que os Estados submetam à CIJ um litígio

sobre assunto de sua jurisdição doméstica, já que o Artigo 2º, 7, da Carta da

ONU, apenas declara que os Estados não estão sujeitos a submetê-lo, o que

significa que eles poderiam fazê-lo voluntariamente.

A Corte adota o critério jurídico para saber se a matéria é da

jurisdição doméstica dos Estados ou não. É ela quem decide se possui

competência.

Preliminarmente é decidida a exceção de incompetência da Corte,

por se tratar de matéria de jurisdição doméstica.

24 Celso D. de Albuquerque Melo, Curso de Direito Internacional Público, p. 569.

35

3.8 Litígios a Serem Resolvidos Pela Corte

Há dúvida quanto a saber se a Corte aprecia apenas os litígios

jurídicos ou também os políticos. No entanto, nem sempre é fácil se fazer uma

distinção entre tais litígios, uma vez que toda questão política é apresentada

quase sempre com fundamento jurídico.

O art. 36, 1, do Estatuto da CIJ, declara expressamente que

compete à Corte a função de decidir, de acordo com o direito internacional, as

controvérsias que lhe forem submetidas. Nessa função, ela aplica: a) as

convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras

expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; b) o costume

internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito; c)

os princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas; d) sob

ressalva de que a decisão da Corte só é obrigatória para as partes em litígio e a

respeito do caso em questão, as decisões judiciárias e a doutrina dos

publicitários mais qualificados, como meio subsidiário para as determinações

das regras de direito.

36

Tratando-se de um litígio exclusivamente político, a Corte poderia

julgar com base na eqüidade (art. 38, 2) se as partes lhe dessem competência

para isto.

3.9 A Sentença

Para a elaboração da sentença não é designado um juiz relator.

Cada juiz prepara o seu projeto de julgamento. É, então, eleita uma Comissão de

redação com dois juízes cujas notas refletem melhor a opinião da Corte. O

Presidente da CIJ é o terceiro membro desta Comissão e se ele estiver impedido

é designado o Vice-Presidente.

As decisões são adotadas por maioria de votos dos juízes presentes.

Em caso de empate, o voto do Presidente prevalecerá.

A sentença deve ser motivada. Os votos dissidentes podem ser

justificados por escrito e acompanhar a sentença, que é definitiva e inapelável,

mas só obrigatória para as partes em litígio e no caso decidido. Se houver

controvérsia quanto ao seu sentido ou ao seu alcance, caberá à Corte interpretá-

la, a pedido de qualquer uma das partes.

37

Só são admitidos os recursos de interpretação e revisão. Este

último só existirá se houver descoberta de algum fato suscetível de exercer

influência decisiva e que, antes de proferida a sentença, era desconhecido da

Corte e também da parte que solicite a revisão. Tal pedido deverá ser feito

dentro do prazo de seis meses, desde o descobrimento do fato novo, e nunca

depois de dez anos, contados da data da sentença.

Pelo art. 94 da Carta da ONU, os Estados membros se

comprometem a cumprir as sentenças da Corte. No entanto, se uma das partes se

recusar a cumprir a sentença, a outra poderá requerer ao Conselho de Segurança

a sua execução. Este órgão decidirá ou recomendará as medidas necessárias

para a sua execução.

3.10 Atividades Extrajudiciárias

A Corte possui atividades extrajudiciárias que são as seguintes:

38

1) Designação de árbitros, superárbitros e membros de comissão. É

comum que os Estados estipulem em tratado que essas pessoas sejam indicadas

pela Corte, por seu Presidente ou Vice-Presidente. Ocorrem ainda casos de os

Estados solicitarem tais nomeações sem qualquer estipulação convencional

prévia.

2) Atividades Administrativas – elaboração de regras do seu

funcionamento.

39

4. CENÁRIO ATUAL

Atualmente, a demanda pelos serviços da CIJ cresceu, impulsionada

pela complexidade das controvérsias entre os Estados globalizados.

Contudo, a composição da Corte tem sido criticada pelos afro-asiáticos

que consideram a sua representação nela insuficiente, bem como o predomínio

europeu na Corte. Alegam, também, que os países membros do Conselho de

Segurança têm sempre juízes de sua nacionalidade eleitos, sem que o Estatuto

da CIJ lhes dê lugar permanente, o que acaba por politizar as suas eleições.

Muitos litígios também não são apresentados à Corte para aí serem

julgados, devido à idéia de soberania dos Estados ou de interesse nacional.

40

A instituição dos juízes ad hoc também tem sido muito criticada,

porque já se sabe de antemão o voto do juiz temporário.

Devido a essas críticas, a CIJ tem sido considerada o órgão de “menos

sucesso” da ONU.

Contudo, apesar de tantas críticas, a Corte tem tido participações

importantes no cenário internacional. É o caso, por exemplo, da avaliação da

construção de um polêmico muro na Cisjordânia, que Israel está erguendo para

separar seus cidadãos dos palestinos.

A Corte foi solicitada pela Assembléia Geral da ONU a dar um parecer

sobre o muro. As autoridades israelenses dizem que a construção objetiva evitar

mais atentados suicidas no país, enquanto os palestinos dizem que se trata de

uma tentativa de capturar suas terras. Ainda não há uma decisão sobre o caso. O

governo israelense, no entanto, não reconhece a competência da CIJ.

Recentemente ela decidiu, unanimemente, que a execução de três

condenados à morte nos Estados Unidos deveria ser suspensa temporariamente,

afirmando que a medida é necessária para garantir que os condenados tenham

acesso à ajuda legal oferecida pelo governo mexicano. O governo americano,

41

por sua vez, argumenta que a decisão da Corte viola a soberania dos Estados

Unidos sobre o seu próprio sistema de justiça penal.

É necessário ressaltar, mais uma vez, que apesar de possuir o status de

tribunal mais importante para disputas entre países, a Corte Internacional de

Justiça não tem autoridade para impor suas decisões.

42

5. ANÁLISE DE CASO CONCRETO REFERENTE À QUESTÃO DA

EFICÁCIA DAS DECISÕES DA CORTE INTERNACIONAL DE

JUSTIÇA: A AGRESSÃO AMERICANA À NICARÁGUA SANDINISTA

E A POSIÇÃO DA CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA E DO

DIREITO INTERNACIONAL.

No dia 9 de abril de 1984, a Nicarágua apresentou perante a Corte

Internacional de Justiça uma demanda contra os Estados Unidos da América,

sustentando que o réu seria responsável por atividades militares e paramilitares

contra a Nicarágua, razão pela qual pedia que a Corte declarasse que essa

atitude violava as obrigações do réu em face da autora, nos termos de acordos

internacionais e nos termos do direito internacional geral.

Deveria o réu ser condenado a cessar e a desistir imediatamente do

uso da força contra a Nicarágua, e de toda violação da sua soberania e

integridade territoriais. Deveria se abster de apoiar qualquer um que estivesse

engajado em atos militares ou paramilitares na Nicarágua ou contra a

43

Nicarágua, bem como de esforços para restringir a entrada ou saída dos portos

nicaragüenses. Também consistiu objeto da demanda, por via de conseqüência,

o pagamento de reparação pelos danos sofridos pela Nicarágua por meio dessas

violações.

Nesse mesmo dia, a Nicarágua pedia à Corte a adoção de medidas

cautelares, consistentes em determinar a cessação de todos os atos militares ou

paramilitares, praticados contra a Nicarágua, seja diretamente ou por meio de

grupos, nações, organizações ou movimentos.

Os fatos nos quais a demanda se baseava eram notórios e os

Estados Unidos não os contestaram. Na verdade, o próprio Congresso

americano, publicamente, aprovava os sucessivos pedidos de envio de ajuda

militar em dinheiro para apoio aos contras, grupos paramilitares, herdeiros da

ditadura de Somoza, derrubada por uma ação popular em 1979, que pretendiam

derrubar o governo sandinista da Nicarágua, empossado em 1979 e eleito por

voto direto anos depois.

44

Diante da impossibilidade de contestar a realidade dos fatos, os

Estados Unidos tentaram refutar a jurisdição da Corte sobre o caso, assim como

alegaram, no mérito, que os atos praticados seriam de legítima defesa.

No dia 10 de maio de 1984, a Corte deferiu as medidas cautelares

solicitadas, o que foi comemorado pelos nicaragüenses.

Na ocasião, a Corte rejeitou o pedido de extinção do feito

formulado pelos Estados Unidos, afirmando que a questão da existência de

jurisdição da Corte sobre o caso seria apreciada juntamente com o mérito, ao

final do processo.

Isso ocorreu em 27 de junho de 1986. A Corte afirmou sua

jurisdição, rejeitou a tese de legítima defesa dos Estados Unidos, reconheceu os

atos praticados pelos Estados Unidos e o condenou à obrigação de cessar todos

os atos de hostilidade, bem como a reparar os danos, que seriam apurados em

sede de liquidação posterior, no âmbito do mesmo processo.

Importante notar que a condenação foi baseada na violação, por

parte dos Estados Unidos, do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação

45

celebrado entre as partes em Manágua, no dia 21 de janeiro de 1956, bem como,

e principalmente, por violação a princípios gerais de direito internacional.

Restava aos Estados Unidos cumprir as determinações da Corte

Internacional de Justiça.

Como isso não ocorreu, no dia 17 de outubro de 1986 a Nicarágua

solicitou uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, que se realizou em

28 de outubro do mesmo ano, ocasião em que foi rejeitada - em razão do veto

dos Estados Unidos, único país membro a votar contra - a proposta de resolução

encaminhada pela Nicarágua, que pretendia fazer dar cumprimento à

mencionada decisão da Corte.

Diante da rejeição da medida, a Nicarágua apresentou a mesma

proposta à Assembléia Geral da ONU, que a adotou por noventa e quatro votos

contra três (El Salvador, Israel e Estados Unidos votaram contra), e quarenta e

sete abstenções. Vários países votaram a favor da resolução não por concordar

politicamente com as posições da Nicarágua, mas sim em razão da questão ter

sido decidida pela Corte Internacional de Justiça25.

25 Na análise do julgamento do processo Nicarágua X Estados Unidos, foi utilizado como material de pesquisa osumário do processo em questão, denominado Case Concerning Military and Paramilitary activities in and

46

Não houve, contudo, envio de tropas da ONU para pôr fim à

agressão dos EUA contra a Nicarágua.

Diante desse fato, percebe-se que, infelizmente, os países que

possuem maior influência econômica e política – como é o caso dos Estados

Unidos - as usam para benefício próprio, não cumprindo decisões emanadas de

um órgão judiciário internacional que, na maioria das vezes, não são de

cumprimento obrigatório, mas que expressam a vontade internacional.

No caso em tela, houve uma decisão proferida pela Corte, que

ficou apenas registrada, mas não teve aplicabilidade prática, já que os Estados

Unidos, utilizando-se do poder de veto que possuem no Conselho de Segurança,

continuaram com as agressões contra a Nicarágua.

against Nicaragua, obtido via internet no site da Corte Internacional de Justiça. Foi utilizada a versão em inglêsdo sumário.

47

CONCLUSÃO

A humanidade busca, incessantemente, uma justiça internacional capaz

de castigar os maus e contemplar os bons, capaz de executar uma ordem

pacífica no mundo.

No entanto, a paz não será alcançada até que todos os países

reconheçam que não pode haver um mundo civilizado, se não houver um

completo e absoluto respeito pela jurisdição internacional e seus julgamentos.

A Corte Internacional de Justiça não é o instrumento de salvação da

humanidade, nem aspira a essa pretensão desmedida. A humanidade há que se

salvar por si própria das agruras e mazelas por ela criadas.

A CIJ não será, portanto, a última esperança, aquela terminante,

decisiva para a correção do curso da humanidade inteira, mas é grande o seu

referencial de evolução, como grandes são as suas perspectivas e os seus

desafios.

48

É fato que ela não deva ser vista como mais um tribunal, embora todos

sejam meritórios e constituam um mecanismo significativo ao assentamento da

paz, guardada a esfera de sua competência. A CIJ é única e sua jurisdição está

para o mundo.

Ela não detém o monopólio do direito às relações e aos fatos

internacionais, o que é de responsabilidade de todos os seus atores. Entretanto, a

paz sob o império do direito, esse ideal por atingir, ainda é mais concreta do que

a paz sem direito, esse algo inimaginável. Evidente está a sua importância na

base de uma sociedade internacional ordenada.

Ora, esse mundo globalizado necessita de uma união judiciária, de uma

síntese operante de todo um sistema legal para a comunidade dos homens, que

haverá de estar firmada sobre as suas bases. Em outras palavras, a emergência

progressiva de uma concepção de democracia e de estado de direito assegurada

em dois pilares, que são, de um lado, a lei, e de outro, a garantia judiciária, com

conseqüências concretas.

Na hora em que se impõe uma reforma à Organização das Nações

Unidas, por conseguinte, o mesmo desafio se apresenta à sociedade

49

internacional, no sentido de dar mais efetividade à CIJ, em sua vocação natural

hierárquica de ocupar a mais alta esfera de um poder internacional judiciário.

O poder de veto no Conselho de Segurança, esse privilégio estabelecido

em favor das grandes potências, viola de maneira enfática o princípio de

igualdade de todos os membros da ONU, afetando, conseqüentemente, a

execução das decisões que são proferidas pela CIJ.

Algo semelhante ocorre quando um Estado não aceita a jurisdição da

Corte ou quando simplesmente não aceita a sua sentença. A função contenciosa

da CIJ permanece inteiramente dependente da boa vontade dos Estados. É

necessário, portanto, uma conscientização da sociedade internacional frente à

importância da CIJ na solução dos litígios internacionais, para que esta possa

atuar de forma mais eficaz no cenário internacional.

É sabido, contudo, que a CIJ não atingirá um estado ideal sem uma

ONU forte, decisiva e atuante, já que está diretamente vinculada a esta.

Infelizmente a eficácia da justiça internacional está à mercê da

hegemonia das grandes potências, e a CIJ só ganhará melhores meios para

assegurar a aplicação de sua justiça caso haja uma igualdade na ONU.

50

APÊNDICE

1. CARTA DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

Capítulo I

OBJETIVOS E PRINCÍPIOS

Artigo 1º

Os objetivos das Nações Unidas são:

1. Manter a paz e a segurança internacionais e para esse fim: tomar medidas

coletivas eficazes para prevenir e afastar ameaças à paz e reprimir os atos de

agressão, ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos, e em

conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um

ajustamento ou solução das controvérsias ou situações internacionais que

possam levar a uma perturbação da paz;

2. Desenvolver relações de amizade entre as nações baseadas no respeito do

princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos, e tomar

outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal;

3. Realizar a cooperação internacional, resolvendo os problemas

internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário,

promovendo e estimulando o respeito pelos direitos do homem e pelas

liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou

religião;

4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a

consecução desses objetivos comuns.

51

Artigo 2º

A Organização e os seus membros, para a realização dos objetivos mencionados

no artigo 1º, agirão de acordo com os seguintes princípios:

1. A Organização é baseada no princípio da igualdade soberana de todos os

seus membros;

2. Os membros da Organização, a fim de assegurarem a todos em geral os

direitos e vantagens resultantes da sua qualidade de membros, deverão cumprir

de boa fé as obrigações por eles assumidas em conformidade com a presente

Carta;

3. Os membros da Organização deverão resolver as suas controvérsias

internacionais por meios pacíficos, de modo a que a paz e a segurança

internacionais, bem como a justiça, não sejam ameaçadas;

4. Os membros deverão abster-se nas suas relações internacionais de

recorrer à ameaça ou ao uso da força, quer seja contra a integridade territorial

ou a independência política de um Estado, quer seja de qualquer outro modo

incompatível com os objetivos das Nações Unidas;

5. Os membros da Organização dar-lhe-ão toda a assistência em qualquer

ação que ela empreender em conformidade com a presente Carta e abster-se-ão

de dar assistência a qualquer Estado contra o qual ela agir de modo preventivo

ou coercitivo;

6. A Organização fará com que os Estados que não são membros das Nações

Unidas ajam de acordo com esses princípios em tudo quanto for necessário à

manutenção da paz e da segurança internacionais;

7. Nenhuma disposição da presente Carta autorizará as Nações Unidas a

intervir em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição interna de

qualquer Estado, ou obrigará os membros a submeterem tais assuntos a uma

52

solução, nos termos da presente Carta; este princípio, porém, não prejudicará a

aplicação das medidas coercitivas constantes do capítulo VII.

Capítulo II

MEMBROS

Artigo 3º

Os membros originários das Nações Unidas serão os Estados que, tendo

participado na Conferência das Nações Unidas sobre a Organização

Internacional, realizada em São Francisco, ou, tendo assinado previamente a

Declaração das Nações Unidas, de 1 de Janeiro de 1942, assinaram a presente

Carta e a ratificaram, de acordo com o artigo 110º.

Artigo 4º

1. A admissão como membro das Nações Unidas fica aberta a todos os

outros Estados amantes da paz que aceitarem as obrigações contidas na presente

Carta e que, a juízo da Organização, estiverem aptos e dispostos a cumprir tais

obrigações.

2. A admissão de qualquer desses Estados como membro das Nações

Unidas será efetuada por decisão da Assembléia Geral, mediante recomendação

do Conselho de Segurança.

Artigo 5º

O membro das Nações Unidas contra o qual for levada a efeito qualquer ação

preventiva ou coercitiva por parte do Conselho de Segurança poderá ser

suspenso do exercício dos direitos e privilégios de membro pela Assembléia

53

Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança. O exercício desses

direitos e privilégios poderá ser restabelecido pelo Conselho de Segurança.

Artigo 6º

O membro das Nações Unidas que houver violado persistentemente os

princípios contidos na presente Carta poderá ser expulso da Organização pela

Assembléia Geral mediante recomendação do Conselho de Segurança.

Capítulo III

ÓRGÃOS

Artigo 7º

1. Ficam estabelecidos como órgãos principais das Nações Unidas: uma

Assembléia Geral, um Conselho de Segurança, um Conselho Econômico e

Social, um Conselho de Tutela, um Tribunal Internacional de Justiça e um

Secretariado.

2. Poderão ser criados, de acordo com a presente Carta, os órgãos

subsidiários considerados necessários.

Artigo 8º

As Nações Unidas não farão restrições quanto ao acesso de homens e mulheres,

em condições de igualdade, a qualquer função nos seus órgãos principais e

subsidiários.

54

Capítulo VI

SOLUÇÃO PACÍFICA DE CONTROVÉRSIAS

Artigo 33º

1. As partes numa controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça à paz

e à segurança internacionais, procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução

por negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbitragem, via judicial,

recurso a organizações ou acordos regionais, ou qualquer outro meio pacífico à

sua escolha.

2. O Conselho de Segurança convidará, se o julgar necessário, as referidas

partes a resolver por tais meios as suas controvérsias.

Artigo 34º

O Conselho de Segurança poderá investigar sobre qualquer controvérsia ou

situação susceptível de provocar atritos entre as Nações ou de dar origem a uma

controvérsia, a fim de determinar se a continuação de tal controvérsia ou

situação pode constituir ameaça à manutenção da paz e da segurança

internacionais.

Artigo 35º

1. Qualquer membro das Nações Unidas poderá chamar a atenção do

Conselho de Segurança ou da Assembléia Geral para qualquer controvérsia ou

qualquer situação da natureza das que se acham previstas no artigo 34º.

2. Um Estado que não seja membro das Nações Unidas poderá chamar a

atenção do Conselho de Segurança ou da Assembléia Geral para qualquer

55

controvérsia em que seja parte, uma vez que aceite previamente, em relação a

essa controvérsia, as obrigações de solução pacífica previstas na presente Carta.

3. Os atos da Assembléia Geral a respeito dos assuntos submetidos à sua

atenção, de acordo com este artigo, estarão sujeitos às disposições dos artigos

11º e 12º.

Artigo 36º

1. O Conselho de Segurança poderá, em qualquer fase de uma controvérsia

da natureza daquelas a que se refere o artigo 33º, ou de uma situação de

natureza semelhante, recomendar os procedimentos ou métodos de solução

apropriados.

2. O Conselho de Segurança deverá tomar em consideração quaisquer

procedimentos para a solução de uma controvérsia que já tenham sido adotados

pelas partes.

3. Ao fazer recomendações, de acordo com este artigo, o Conselho de

Segurança deverá também tomar em consideração que as controvérsias de

caráter jurídico devem, em regra, ser submetidas pelas partes ao Tribunal

Internacional de Justiça, de acordo com as disposições do estatuto do Tribunal .

Artigo 37º

1. Se as partes numa controvérsia da natureza daquelas a que se refere o

artigo 33º não conseguirem resolvê-la pelos meios indicados no mesmo artigo,

deverão submetê-la ao Conselho de Segurança.

2. Se o Conselho de Segurança julgar que a continuação dessa controvérsia

pode, de fato, constituir uma ameaça à manutenção da paz e da segurança

internacionais, decidirá se deve agir de acordo com o artigo 36º ou recomendar

os termos de solução que julgue adequados.

56

Artigo 38º

Sem prejuízo das disposições dos artigos 33º a 37º, o Conselho de Segurança

poderá, se todas as partes numa controvérsia assim o solicitarem, fazer

recomendações às partes, tendo em vista uma solução pacífica da controvérsia.

Capítulo XIV

O TRIBUNAL INTERNACIONAL DE JUSTIÇA

Artigo 92º

O Tribunal Internacional de Justiça será o principal órgão judicial das Nações

Unidas. Funcionará de acordo com o Estatuto anexo, que é baseado no Estatuto

do Tribunal Permanente de Justiça Internacional e forma parte integrante da

presente Carta.

Artigo 93º

1. Todos os membros das Nações Unidas são ipso facto partes no Estatuto

do Tribunal Internacional de Justiça.

2. Um Estado que não for membro das Nações Unidas poderá tornar-se parte

no Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça, em condições que serão

determinadas, em cada caso, pela Assembléia Geral, mediante recomendação do

Conselho de Segurança.

Artigo 94º

57

1. Cada membro das Nações Unidas compromete-se a conformar-se com a

decisão do Tribunal Internacional de Justiça em qualquer caso em que for parte.

2. Se uma das partes em determinado caso deixar de cumprir as obrigações

que lhe incumbem em virtude de sentença proferida pelo Tribunal, a outra terá

direito de recorrer ao Conselho de Segurança, que poderá, se o julgar

necessário, fazer recomendações ou decidir sobre medidas a serem tomadas para

o cumprimento da sentença.

Artigo 95º

Nada na presente Carta impedirá os membros das Nações Unidas de confiarem a

solução dos seus diferendos a outros tribunais, em virtude de acordos já

vigentes ou que possam ser concluídos no futuro.

Artigo 96º

1. A Assembléia Geral ou o Conselho de Segurança poderá solicitar parecer

consultivo ao Tribunal Internacional de Justiça sobre qualquer questão jurídica.

2. Outros órgãos das Nações Unidas e organizações especializadas que

forem em qualquer momento devidamente autorizadas pela Assembléia Geral,

poderão também solicitar pareceres consultivos ao Tribunal sobre questões

jurídicas surgidas dentro da esfera das suas atividades.

58

2. ESTATUTO DA CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA

Artigo 1

A Corte Internacional De Justiça estabelecida pela Carta das Nações Unidas,

como o órgão judicial principal das Nações Unidas, será constituída e

funcionará de acordo com as disposições do presente Estatuto.

Capítulo 1

Organização da Corte

Artigo 2

A Corte será constituída por um corpo de magistrados independentes eleitos,

sem levar em conta a nacionalidade destes, de pessoas que gozem de alta

consideração moral e que reúnam as condições necessárias para o exercício das

mais altas funções judiciais em seus respectivos países, ou que sejam

jurisconsultos de reconhecida competência na área do direito internacional.

Artigo 3

59

1. A Corte será composta de quinze membros, dos quais não poderão haver

dois que sejam da mesma nacionalidade.

2. Toda pessoa que para ser eleita membro da Corte pudesse ser considerada

nacional de mais de um Estado, será considerada nacional do Estado em que

exerça ordinariamente seus direitos civis e políticos.

Artigo 4

1. Os membros da Corte serão eleitos pela Assembléia Geral e pelo

Conselho de Segurança de uma lista de candidatos propostos pelos grupos

nacionais da Corte Permanente de Arbitragem, conforme as seguintes

disposições.

2. No caso dos membros das Nações Unidas que não estejam representados

na Corte Permanente de Arbitragem, os candidatos serão propostos por grupos

nacionais que designem a este tribunal seus respectivos governos, em condições

iguais às estipuladas para os membros da Corte Permanente de Arbitragem pelo

Artigo 44 da Convenção de Haya de 1907, sobre acordo pacífico das

controvérsias internacionais.

3. Na falta de acordo especial, a Assembléia Geral fixará, com a prévia

recomendação do Conselho de Segurança, as condições em que pode participar

na eleição dos membros da Corte, um Estado que seja parte do presente Estatuto

sem ser Membro das Nações Unidas.

Artigo 5

1. Pelo menos três meses antes da data da eleição, o Secretariado Geral das

Nações Unidas convidará por escrito aos membros da Corte Permanente de

Arbitragem pertencentes aos Estados partes deste Estatuto e aos membros dos

60

grupos nacionais designados segundo o parágrafo 2 do artigo 4 e que, dentro de

um prazo determinado e por grupos nacionais, proponham como candidatos

pessoas que estejam em condições de desempenhar as funções de membros da

Corte.

2. Nenhum grupo poderá propor mais de quatro candidatos, dos quais não

mais de dois serão da mesma nacionalidade. O número de candidatos propostos

por um grupo não será, em nenhum caso, maior que o dobro do número de

cargos a preencher.

Artigo 6

Antes de propor estes candidatos, recomenda-se a cada grupo nacional que se

consulte com seu mais alto tribunal de justiça, suas faculdades e escolas de

direito, suas academias nacionais e com as seções nacionais de academias

internacionais dedicadas ao estudo do direito.

Artigo 7

1. O Secretário Geral das Nações unidas preparará uma lista em ordem

alfabética de todas as pessoas assim designadas. Salvo o que está disposto no

parágrafo 2 do artigo 12, unicamente estas pessoas poderão ser eleitas.

2. O Secretário Geral apresentará esta lista à assembléia geral e ao conselho

de Segurança.

Artigo 8

A Assembléia Geral e o conselho de segurança procederão independentemente

da eleição dos membros da Corte.

Artigo 9

61

Em toda eleição, os eleitores levarão em conta não apenas que as pessoas

possuem individualmente as condições requeridas, mas que também estejam

representadas as grandes civilizações e os principais sistemas jurídicos do

mundo.

Artigo 10

1. São considerados eleitos os candidatos que obtenham uma maioria

absoluta de votos na Assembléia Geral e no Conselho de Segurança.

2. Nas votações do Conselho de Segurança, sejam para eleger magistrados

ou para designar os membros da comissão prevista no Artigo 12, não haverá

distinção alguma entre os membros permanentes e membros nos Conselhos de

Segurança permanentes.

3. No caso de que mais de um nacional do mesmo Estado obtenha uma

maioria de votos tanto na Assembléia Geral como no Conselho de Segurança,

será considerado eleito o de maior idade.

Artigo 11

Se depois da primeira sessão celebrada para as eleições ficarem um ou dois

cargos por preencher, será realizada uma segunda sessão e, se necessário for,

uma terceira.

Artigo 12

1. Se depois de uma terceira sessão para eleição ficarem um ou dois cargos a

preencher, poderá ser constituída em qualquer momento, a petição da

Assembléia Geral ou do Conselho de Segurança, uma comissão conjunta

composta de seis membros, três nomeados pela Assembléia Geral e três pelo

Conselho de Segurança, com o objetivo de escolher, por maioria absoluta de

62

votos, um nome para cada cargo vago, a fim de submetê-lo a respectiva

aprovação da Assembléia Geral e do Conselho de Segurança.

2. Se a comissão conjunta concordar unanimemente em propor uma pessoa

que satisfaça as condições requeridas, poderá incluí-la em sua lista, ainda que

essa pessoa não faça parte na lista dos candidatos a que se refere o Artigo 7.

3. Se a comissão conjunta chegar a conclusão de que não conseguirá

assegurar a eleição, os membros da Corte já eleitos preencherão os cargos vagos

dentro do prazo fixado pelo Conselho de Segurança, escolhendo candidatos que

tenham recebido votos na Assembléia Geral ou no Conselho de Segurança.

4. Em qualquer caso de empate na votação, o magistrado de maior idade

decidirá seu voto.

Artigo 13

1. Os membros da Corte exercem o cargo por nove anos, podendo ser

reeleitos. Entretanto, o período de cinco anos dos magistrados eleitos na

primeira eleição expirará aos três anos, e o períodos dos outros cinco anos

magistrados expirará aos seis anos.

2. Os magistrados cujos períodos tenham expirado ao se cumprir os

mencionados períodos iniciais de três e seis anos serão designados mediante

sorteio realizado pelo Secretário Geral das Nações Unidas imediatamente após o

término da primeira eleição.

3. Os membros da Corte continuarão desempenhando as funções de seus

cargos até que tomem posse seus sucessores. Depois de substituídos,

continuarão com conhecimento dos casos que iniciaram até o seu término.

63

4. Se um membro da Corte renunciar, a renúncia será dirigida ao Presidente

da Corte, responsável pela notificação ao Secretário Geral das Nações Unidas.

Esta última notificação determinará o cargo vago.

Artigo 14

As vagas serão preenchidas pelo mesmo procedimento seguido na primeira

eleição, conforme a seguinte disposição: dentro de um mês da ocorrência do não

preenchimento do cargo, o Secretário Geral das nações Unidas estenderá os

convites de que dispõe o Artigo 5, e o Conselho de Segurança fixará a data da

eleição.

Artigo 15

Todo o membro da Corte eleito para substituir a outro que não tenha terminado

seu período desempenhará o cargo pelo resto do período do seu predecessor.

Artigo 16

Nenhum membro da Corte poderá exercer nenhuma função política ou

administrativa, nem se dedicar a nenhuma outra ocupação de caráter

profissional.

Em caso de dúvida a Corte decidirá.

Artigo 17

1. Os membros da Corte não poderão exercer funções de agente, conselheiro

ou advogado em nenhum assunto.

2. Também não poderão participar na decisão de nenhum assunto em que

tenham intervido anteriormente como agentes, conselheiros ou advogados de

64

qualquer uma das partes, ou como membros de um tribunal nacional ou

internacional ou de uma comissão investigadora ou de qualquer outro tipo.

3. Em caso de dúvida a Corte decidirá.

Artigo 18

1. Não será retirado do cargo nenhum membro da Corte a menos que, a juízo

unânime dos demais membros, tenha deixado de satisfazer as condições

requeridas.

2. O Secretário da Corte comunicará oficialmente a situação anterior ao

Secretário das Nações Unidas.

3. Esta comunicação determinará o cargo vago.

Artigo 19

No exercício das funções do cargo, os membros da Corte gozarão de privilégios

e imunidades diplomáticas.

Artigo 20

Antes de assumir as obrigações do cargo, cada membros da Corte declarará

solenemente, em sessão pública, que exercerá suas atribuições com toda a

imparcialidade e consciência.

Artigo 21

1. A Corte elegerá por três anos o seu Presidente e Vice Presidente, estes

poderão ser reeleitos.

2. A Corte nomeará seu Secretário e poderá nomear os demais funcionários

que forem necessários.

65

Artigo 22

1. A sede da Corte será em Haya. A Corte poderá, entretanto, reunir-se e

funcionar em qualquer outro lugar quando o considere conveniente.

2. O Presidente e o Secretário residirão na sede da Corte.

Artigo 23

1. A Corte funcionará permanentemente, exceto durante as férias judiciais,

cujas datas e duração serão fixadas pela mesma Corte.

2. Os membros da Corte tem direito a usar as licenças periódicas, cujas

datas e duração serão fixadas pela mesma Corte, levando em conta a distância

de Haya ao domicílio de cada magistrado.

3. Os membros da Corte tem a obrigação de estar em todo momento a

disposição da mesma, salvo que estejam em uso de licença ou impedidos de

assistir por doença ou por razões graves devidamente explicadas ao Presidente.

Artigo 24

1. Se por alguma razão especial um dos membros da Corte considerar que

não deve participar na decisão de determinado assunto, fará-lo saber ao

Presidente.

2. Se o Presidente considerar que um dos membros da Corte não deve

conhecer determinado assunto por alguma razão especial, fará-lo saber.

3. Se em um destes casos o membro da Corte e o Presidente estiverem em

desacordo, a questão será resolvida pela Corte.

Artigo 25

66

1. Salvo o que expressamente disposto em contrário a este Estatuto, a Corte

exercerá suas funções em sessão plenária.

2. O Regulamento da Corte poderá dispor que, segundo as circunstâncias e

por turno, seja permitida a um ou mais magistrados não assistir às sessões, sob a

condição que não se reduza a menos de onze o número de magistrados

disponíveis para constituir a Corte.

3. Será suficiente um quorum de nove magistrados para a constituição da

Corte.

Artigo 26

1. Cada vez que seja necessário, a Corte poderá constituir um ou mais

Tribunais compostos de três ou mais magistrados, segundo o que a própria

Corte disponha, para tomar conhecimento de determinadas categorias de

assuntos, como os litígios de trabalho e os relativos ao trânsito e às

comunicações.

2. A Corte poderá constituir em qualquer época um Tribunal para investigar

sobre um determinado negócio. A Corte fixará, com a aprovação das partes, o

número de magistrados de que se comporá o referido Tribunal.

3. Se as partes solicitarem, os Tribunais que tratem deste Artigo ouvirão e

falarão os casos.

Artigo 27

Será considerada ditada pela Corte a sentença proferida por qualquer dos

Tribunais de que tratam os Artigos 26 e 29.

Artigo 28

67

Os Tribunais de que tratam os Artigos 26 e 29 poderão reunir-se e funcionar,

com o consentimento das partes, em qualquer lugar que não seja Haya.

Artigo 29

Com o fim de facilitar o rápido despacho dos assuntos, a Corte constituirá

anualmente um Tribunal de cinco magistrados que, a petição das partes, poderá

ouvir e pronunciar casos sumariamente. Serão designados dois magistrados para

substituir aos que não puderem atuar.

Artigo 30

1. A Corte formulará um regulamento, de acordo com o qual será determinada a

maneira de que suas funções sejam exercidas. Estabelecerá, em particular suas

regras do procedimento.

1. O Regulamento da Corte poderá determinar que existam assessores com

vaga na Corte ou em qualquer um de seus Tribunais, mas estes não terão direito

a voto.

Artigo 31

1. Os magistrados da mesma nacionalidade de cada uma das partes litigantes

conservarão seu direito a participar na leitura do processo da Corte.

2. Se a Corte incluir entre os magistrados o conhecimento um de

nacionalidade de uma das partes, qualquer outra parte poderá designar a uma

pessoa de sua escolha para que assuma o lugar de magistrado. Essa pessoa

deverá ser escolhida preferencialmente entre as que tenham sido indicadas como

candidatos de acordo com os Artigos 4 e 5 .

68

3. Se a Corte não incluir entre os magistrados de conhecimento nenhum

magistrado de nacionalidade das partes, cada uma destas poderá designar um de

acordo com o parágrafo 2 deste Artigo.

4. As disposições deste Artigo serão aplicadas aos casos de que tratam os

Artigos 26 e 29. Em tais casos, o Presidente pedirá a um dos Membros da Corte

que constituem o Tribunal, ou a dois deles, caso seja necessário, que cedam seus

postos aos Membros da Corte que sejam de nacionalidade das partes

interessadas, e se não os houver, ou se estiverem impedidos, aos magistrados

especialmente designados pelas partes.

5. Se as várias partes tiverem um mesmo interesse, serão contados como

uma só parte para os fins das disposições precedentes. Em caso de dúvida, a

Corte decidirá.

6. Os magistrados designados segundo dispõem os parágrafos 2,3 e 4 do

presente Artigo, deverão ter as condições requeridas pelos Artigos 2,17

(parágrafo 2), 20 e 24 do presente Estatuto, e participarão nas decisões da Corte

em termos de absoluta igualdade com seus colegas.

Artigo 32

1. Cada Membro da Corte receberá um salário anual.

2. O Presidente um estipêndio anual especial.

3. O vice-presidente receberá um estipêndio especial por cada dia que

desempenhe as funções de Presidente.

4. Os magistrados designados de acordo com o artigo 31, que não sejam

Membros da Corte, receberão remuneração por cada dia que exerçam as funções

do cargo.

69

5. Os salários, estipêndios e remunerações serão fixados pela Assembléia

Geral, e não poderão ser diminuídos durante o período do cargo.

6. O salário do Secretário será fixado pela Assembléia Geral sob proposta da

Corte

7. A Assembléia Geral fixará mediante regulamento as condições para

conceder pensões de aposentadoria aos Membros da Corte e ao Secretariado,

como também as que regulem o reembolso de gastos de viagem aos Membros

da Corte e ao Secretariado.

8. Os salários, estipêndios e remunerações acima mencionados estarão

isentos de qualquer tipo de imposto.

Artigo 33

Os gastos da Corte serão pagos pelas Nações Unidas do modo que a Assembléia

Geral determine.

Capítulo II

Competência da Corte

Artigo 34

1. Apenas os Estados poderão ser partes em casos diante da Corte.

2. Sujeita a seu próprio Regulamento e de conformidade do mesmo, a Corte

poderá solicitar de organizações internacionais públicas informação relativa a

casos que se litigam frente a Corte, e receberá a informação que tais

organizações enviem a iniciativa própria.

70

3. Quando em um caso que se litigam diante da Corte se discuta a

interpretação do instrumento constitutivo de uma organização internacional

pública, ou de uma convenção internacional organizada em virtude do mesmo, o

Secretário comunicará à respectiva organização pública y lhe enviará cópias de

todo o expediente.

Artigo 35

1. A Corte estará aberta a todos os Estados Membros deste Estatuto.

2. As condições sob a s quais estará aberta a outros Estados serão fixadas

pelo Conselho se Segurança com sujeição às disposições especiais dos tratados

vigentes, mas tais condições não poderão de forma alguma colocar as partes em

situação de desigualdade diante da Corte.

3. Quando um estado que não seja Membro das Nações Unidas seja parte

em um negócio, a Corte fixará a quantidade com que tal parte deva contribuir

para com os gastos da Corte. Esta disposição não é aplicável quando tal estado

contribui com os gastos da Corte.

Artigo 36

1. A competência da Corte se estende a todos os litígios que as partes a

submetam e a todos os assuntos especialmente previstos na Carta das Nações

Unidas ou nos tratados e convenções vigentes.

2. Os Estados partes neste presente Estatuto que aceite a mesma obrigação, a

jurisdição da Corte em todas as controvérsias de ordem jurídica que tratem

sobre:

3. a interpretação de um tratado;

71

4. qualquer questão de direito internacional;

5. a existência de todo feito que, se for estabelecido, constituirá violação de

uma obrigação internacional;

6. a natureza ou extensão da reparação que seja feita pela quebra de uma

obrigação internacional.

7. A declaração a que se refere este Artigo poderá ser feita

incondicionalmente ou sob condição de reciprocidade por parte de vários ou

determinados Estados, ou por determinado tempo.

8. Estas declarações serão remetidas para seu depósito ao secretário Geral

das Nações Unidas, que transmitirá cópias delas às partes neste Estatuto e ao

Secretário da Corte.

9. As declarações feitas de acordo com o Artigo 36 do Estatuto da Corte

Permanente de Justiça Internacional que estiverem ainda em vigor, serão

consideradas, respeito das partes no presente Estatuto, como aceitação da

jurisdição da Corte internacional de Justiça pelo período que ainda fique em

vigência e conforme os termos de tais declarações.

10. Em caso de disputa sobre se a Corte tem ou não jurisdição, a Corte

decidirá.

Artigo 37

Quando um tratado ou convenção vigente disponha que um assunto seja

submetido a uma jurisdição que devia instituir a Sociedade das Nações, ou a

Corte Permanente de Justiça Internacional, tal assunto, no diz respeito as partes

neste Estatuto, será submetido à Corte Internacional de Justiça.

72

Artigo 38

1. A Corte, cuja função seja decidir conforme o direito internacional as

controvérsias que sejam submetidas, deverá aplicar;

2. As convenções internacionais, sejam gerais ou particulares, que

estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;

3. O costume internacional como prova de uma prática geralmente aceita

como direito;

4. Os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações civilizadas;

5. As decisões judiciais e as doutrinas dos publicitários de maior

competência das diversas nações, como meio auxiliar para a determinação das

regras de direito, sem prejuízo do disposto no Artigo 59.

6. A presente disposição não restringe a faculdade da Corte para decidir um

litígio ex aequo et bono, se convier às partes.

Capítulo III

Procedimento

Artigo 39

1. Os idiomas oficiais da Corte serão o francês e o inglês. Se as partes

concordarem que o procedimento seja realizado em francês, a sentença será

pronunciada neste idioma. Se concordarem que o procedimento prossiga em

inglês, neste idioma a sentença será pronunciada.

73

2. A falta de acordo sobre o idioma a ser usado, cada parte poderá

apresentar seus Membros no que prefira, e a Corte ditará a sentença em francês

e em inglês. Em tal caso, a Corte determinará ao mesmo tempo a qual dos textos

fará fé.

3. Se uma das partes solicitar, a Corte a autorizará para usar qualquer idioma

que não seja nem o francês ou inglês.

Artigo 40

1. Os negócios serão apresentados diante da Corte, segundo o caso,

mediante notificação do compromisso ou mediante solicitação escrita dirigida

ao Secretário. Em ambos casos serão indicados o objeto da controvérsia e das

partes.

2. O Secretário comunicará imediatamente a solicitação a todos os

interessados.

3. O Secretário notificará também aos Membros das Nações Unidas por

condução do Secretário Geral, assim como aos outros Estados com direito a

comparecer diante a Corte.

Artigo 41

1. A Corte terá faculdade para indicar, se considera que as circunst6ancias

assim o exijam, as medidas provisórias que devam ser tomadas para resguardar

os direitos de cada uma das partes.

2. Enquanto se pronuncia a sentença, será notificada imediatamente a ambas

as partes e ao Conselho de segurança as medidas indicadas.

Artigo 42

74

1. As partes estarão representadas por agentes.

2. Poderão ter diante da Corte conselheiros ou advogados.

3. Os agentes, os conselheiros e aos advogados das partes diante da Corte

gozarão dos privilégios e imunidades necessários para o livre desempenho de

suas funções.

Artigo 43

1. O procedimento terá duas fases: uma escrita e outra oral.

2. O procedimento escrito compreenderá a comunicação, a Corte e as partes,

de memórias, contra memórias e, se for necessário, réplicas, assim como de todo

o documento em apoio das mesmas.

3. A comunicação será feita por condução do Secretário, em ordem e dentro

dos termos fixados pela Corte.

4. Todo documento apresentado por uma das partes será comunicado a outra

mediante cópia certificada.

5. O procedimento oral consistirá na audiência que a Corte outorgue, e

testemunhos, peritos, agentes, conselheiros e advogados.

Artigo 44

1. Para toda modificação que deva ser feita a pessoas que não sejam os

agentes, conselheiros ou advogados, a Corte dirigirá diretamente ao governo do

estado em cujo território deva diligenciar-se.

2. O mesmo procedimento será seguido quando se trate de obter provas em

lugar dos feitos.

75

Artigo 45

O Presidente dirigirá os trabalhos da Corte e, na sua ausência, o Vice presidente

; e se nenhum deles puder o puder fazer, presidirá o mais antigo dos

magistrados presentes.

Artigo 46

Os trabalhos da Corte serão públicos, com exceção ao que disponha a própria

Corte em contrário, ou que as partes peçam que o público não seja admitido.

Artigo 47

1. De cada trabalho será feita uma ata assinada pelo Secretário e pelo

Presidente.

2. Esta ata será a única autêntica.

Artigo 48

A Corte determinará as providências necessárias para o curso do processo,

decidirá a forma e meios a que cada parte deva ajustar seus processos e adotará

medidas necessárias para a exposição das provas.

Artigo 49

Ainda antes de começar uma visita, a Corte pode pedir aos agentes que

produzam qualquer documento ou dêem qualquer explicação. Se negarem fazê-

lo, será proferida uma reclamação formal.

Artigo 50

76

A Corte poderá, a qualquer momento, comissão qualquer indivíduo, entidade,

negociado, comissão ou outro organismo que ela escolha, para que haja uma

investigação ou se emita um opinião formal de perícia.

Artigo 51

As perguntas pertinentes feitas a testemunhas e peritos no curso de um

processo, estarão sujeitas às condições fixadas pela Corte nas regras do

procedimento de que trata o Artigo 30.

Artigo 52

Uma vez recebidas as provas dentro do prazo determinado, a Corte poderá se

negar a aceitar todas as provas adicionais, orais ou escritas, que uma das partes

desejar apresentar, salvo se houver consentimento da outra parte.

Artigo 53

1. Quando uma das partes não compareça frente a Corte, ou se abstenha de

defender seu caso, a outra parte poderá pedir à Corte que decida a seu favor.

2. Antes de ditar sua decisão, a Corte deverá se assegurar não somente a sua

competência conforme as disposições dos Artigos 36 e 37, e também de que o

processo está bem fundado enquanto nos feitos e no direito.

Artigo 54

1. Quando os agentes, conselheiros e advogados, conforme o previsto pela

Corte, tenham completado a apresentação de seu caso, o Presidente declarará

terminada a leitura.

2. A Corte se retirará para deliberar.

77

3. As deliberações da Corte se darão em ambiente privado e permanecerão

secretas.

Artigo 55

1. Todas as decisões da Corte serão por maioria de votos aos magistrados

presentes.

2. Em caso de empate, o voto de decisão será do Presidente ou do

magistrado que o substitua.

Artigo 56

1. A sentença será motivada.

2. A sentença mencionará os nomes dos magistrados que tenham feito parte

dele.

Artigo 57

Se a sentença não expressar ao todo ou em parte a opinião unânime dos

magistrados, qualquer destes terão o direito a que seja agregada à sentença sua

opinião dissidente.

Artigo 58

A sentença será assinada pelo Presidente e pelo Secretário, e será lida em sessão

pública depois de ser devidamente notificada aos agentes.

Artigo 59

A decisão da Corte não é obrigatória senão para as partes em litígio e respeito

ao caso alvo de decisão.

Artigo 60

78

A sentença será definitiva e inapelável. Em caso de desacordo sobre o sentido

ou desfecho da sentença, a Corte interpretará a solicitação de qualquer das

partes.

Artigo 61

1. A revisão de uma sentença somente poderá ser pedida, quando a

solicitação se fundamente na descoberta de um fato de tal natureza que possa

ser fator decisivo e que, quando a sentença for pronunciada, fora do

conhecimento da Corte e da parte que peça a sua revisão, sempre que seu

desconhecimento não seja por negligência.

2. A Corte abrirá o processo de revisão segundo uma resolução em que se

faça constar expressamente a existência de um fato novo, em que se reconheça

que este fato por sua natureza justifica a revisão, e em que se declare que tenha

lugar a solicitação.

3. Antes de iniciar o processo de revisão a Corte poderá exigir que seja

cumprido o disposto pela sentença.

4. A solicitação de revisão deverá ser formulada dentro do prazo de seis

meses depois de descoberto o fato novo.

5. Não poderá ser pedida a revisão uma vez transcorrido o prazo de dez anos

a partir do pronunciamento da sentença.

Artigo 62

1. Se um Estado considerar que possui interesse de ordem jurídico que possa

ser afetado pela decisão do litígio, poderá pedir à Corte que lhe permita intervir.

2. A Corte decidirá a respeito de tal petição.

79

Artigo 63

1. Quando se trate da interpretação de uma convenção na qual tomem parte

outros Estados além das partes em litígio, o Secretário notificará imediatamente

a todos os Estados interessados.

2. Todo estado assim notificado terá direito a intervir no processo; mas se

exerce desse direito, a interpretação contida na sentença será igualmente

obrigatória para ele.

Artigo 64

Salvo que a Corte determine outra coisa, cada parte sufragará seus próprios

custos.

Capítulo IV

Opiniões Consultivas

Artigo 65

1. A Corte poderá emitir opiniões consultivas sobre qualquer questão

jurídica, sob solicitação de qualquer organismo autorizado para isso por Carta

das Nações Unidas, ou de acordo com as disposições da mesma.

2. As questões sobre as quais seja solicitada opinião consultiva serão

expostas à Corte mediante uma solicitação por escrito, Em que estejam

determinados os prazos exatos da questão a respeito da qual se faça a consulta.

Em solicitação estarão anexados todos os documentos que possam esclarecer a

questão.

Artigo 66

80

1. Assim que seja recebida a solicitação da opinião consultiva, o Secretário

notificará a todos os Estados que tenham direito a comparecer diante da Corte.

2. O Secretário notificará também, mediante comunicação especial e direta a

todo Estado com direito a comparecer frente a Corte, e a toda organização

internacional que a juízo da Corte, ou de seu Presidente se a Corte estiver

reunida, possam retirar alguma informação sobre a questão, que a Corte estará

pronta para receber exposições escritas dentro o prazo determinado pelo

Presidente, ou para escutar em audiência pública que será realizada à questão,

exposições orais relativas a tal questão.

3. Qualquer Estado com direito a comparecer frente a Corte que não tenha

recebido a comunicação especial mencionada no parágrafo 2 deste Artigo,

poderá expressar seu desejo de apresentar uma exposição escrita ou de ser

ouvido, sendo que a decisão será da Corte.

4. Será permito do aos Estados e às organizações que tenham apresentado

exposições escritas ou orais, ou de ambos os tipos, discutir as exposições

apresentadas por outros Estados ou organizações na forma, na extensão e dentro

do prazo fixado para cada caso pela Corte, ou seu Presidente se a Corte não

estiver reunida. Com esta finalidade, o Secretário comunicará oportunamente

tais exposições escritas aos Estados e organizações que tenham apresentado as

suas.

Artigo 67

A Corte pronunciará suas opiniões consultivas em audiência pública, com

prévia notificação ao Secretário Geral das Nações Unidas e aos representantes

dos Membros das Nações Unidas, de todos os outros Estados e das organizações

internacionais diretamente interessadas.

81

Artigo 68

No exercício de suas funções consultivas, a Corte se guiará além das

disposições deste Estatuto que conflitam sobre uma matéria contenciosa, na

medida em que a própria Corte as considere aplicáveis.

Capítulo V

Reformas

Artigo 69

As reformas deste presente Estatuto serão efetuadas seguindo o mesmo

procedimento das Nações Unidas para a reforma de tal Carta, com sujeição às

disposições que a Assembléia Geral adote, prévia recomendação do Conselho

de Segurança, com respeito à participação dos Estados que façam parte deste

Estatuto, mas que não sejam Membros das Nações Unidas.

Artigo 70

À Corte será permitido propor as reformas que julgue necessárias ao presente

Estatuto, comunicando-as por escrito ao Secretário Geral das Nações Unidas a

fim de que sejam consideradas em conformidade com as disposições do Artigo

69.

82

BIBLIOGRAFIA

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