a anpuh-sp e as políticas educacionais paulistas para o ......acesso em 23/03/2016) 4 contexto até...
TRANSCRIPT
![Page 1: A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ......Acesso em 23/03/2016) 4 contexto até a contemporaneidade, os encontros da Associação foram se configurando como lugares](https://reader034.vdocuments.com.br/reader034/viewer/2022042222/5ec862d0c3bf4e3c3d47d027/html5/thumbnails/1.jpg)
A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ensino de História: diálogos
GIAVARA, Ana Paula1
ST 05 - As finalidades do ensino de história em questão:
história das culturas, disciplinas e currículos escolares
Resumo: Em um tempo de incessante desenvolvimento tecnológico, de imediatismo e de
mídias massificantes, ganham força as tarefas de memória. Proliferam-se relações intrínsecas
e contraditórias entre a aceleração do tempo e a vocação memorialista. Trata-se de uma
cultura da velocidade e da nostalgia que propõe tarefas de “patrimonialização” e
“musealização” do passado, inscritas como políticas de Estado, produção acadêmica e meios
de comunicação. Nesse contexto, a história disciplinar passa por reformas, como a
protagonizada desde 2008 pelo programa educacional São Paulo faz escola, implementado
pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo – SEE-SP, cujas ações incluíram a
padronização dos currículos e a distribuição de materiais didáticos para todas as disciplinas do
ensino fundamental – ciclo II e ensino médio estaduais. Esta atuação foi amplamente criticada
pelos acadêmicos especializados, sobretudo pelo empobrecimento que relegou aos saberes
específicos da disciplina histórica. Assim, surge a problemática: qual o posicionamento
acadêmico frente à reforma empreendida pela SEE-SP? A resposta será buscada a partir do
exame das comunicações apresentadas nos Seminários Temáticos – ST de Ensino de História
da Associação Nacional de História – ANPUH/São Paulo, entre os anos de 2008 a 2012. A
escolha de tais fontes justifica-se pelo histórico de participação da ANPUH nas questões
relativas à defesa do ensino de História, sobretudo nos debates dos anos de 1980. De tal
forma, objetiva-se investigar o posicionamento acadêmico ante as políticas educacionais
paulista para o ensino de História. Para efetuação desse trabalho, o recurso metodológico
“estado da arte” será adotado.
Palavras-chave: ensino de História; políticas educacionais; reforma curricular; São Paulo faz
escola, Associação Nacional de História – ANPUH.
1 Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília –
UNESP. Financiamento: CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. E-mail:
![Page 2: A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ......Acesso em 23/03/2016) 4 contexto até a contemporaneidade, os encontros da Associação foram se configurando como lugares](https://reader034.vdocuments.com.br/reader034/viewer/2022042222/5ec862d0c3bf4e3c3d47d027/html5/thumbnails/2.jpg)
2
A Associação Nacional de História – ANPUH: um histórico de participação
Transcendendo os muros da escola, em fins da década de 1970 e início dos anos de
1980, se iniciava no Brasil uma série de debates que abrangia o ensino de História. Em uma
atmosfera mais ampla, essas discussões eram alicerçadas no processo de redemocratização
política nacional e nelas sobressaía a História em detrimento as demais disciplinas do
currículo, sobretudo, por envolver um posicionamento crítico e reflexivo em relação às
questões sociais vigentes, em especial à luta de classes. Assim, os saberes históricos
tornaram-se alvo de intervenções não apenas de historiadores e educadores, mas de outros
atores sociais. Como observa Cordeiro (2000, p.29)
[...] o ensino de História, apresenta-se como lugar de interseção de campos
distintos o da produção do conhecimento histórico propriamente dito. Fornecedor
dos conteúdos e dos fundamentos teóricos do que se deve ser ensinado; o da
pedagogia, formulador dos métodos e dos estudos sobre as etapas do
desenvolvimento psicológico da aprendizagem, sobre a motivação etc.; e,
finalmente, o da política, na medida em que no ensino de História são formulados
e/ou transmitidos certos padrões ideológicos que servirão como ponto de referência
para a construção da identidade social. Assim sendo, a discussão sobre o ensino de
História está aberta à intervenção não apenas de historiadores e professores de
História, mas também á de pedagogos, psicólogos, agentes do Estado, políticos,
jornalistas, etc.
A efervescência das discussões fez emergir diversas publicações especializadas
dedicadas à História e a seu ensino, como, por exemplo, os Cadernos de Pesquisa – Tudo é
História, a Coleção Tudo é História e a Coleção Primeiros Passos, todas da editora
brasiliense. Também na Revista Ande – Associação Nacional de Educação eram discutidos
assuntos relativos ao ensino de História no contexto de retomada dos direitos democráticos
civis. (CORDEIRO, 2000)
Destacava-se também a atuação de professores e intelectuais nos encontros da então
Associação Nacional dos Professores Universitários de História – ANPUH2 no Estado de São
2 A ANPUH foi aos poucos ampliando sua base de associados, passando a incluir professores dos ensinos
fundamental e médio e, mais recentemente, profissionais atuantes nos arquivos públicos e privados, e em
![Page 3: A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ......Acesso em 23/03/2016) 4 contexto até a contemporaneidade, os encontros da Associação foram se configurando como lugares](https://reader034.vdocuments.com.br/reader034/viewer/2022042222/5ec862d0c3bf4e3c3d47d027/html5/thumbnails/3.jpg)
3
Paulo. Criada no I Simpósio de História em 1961, na cidade de Marília – SP, a ANPUH tinha
como objetivo inicial a profissionalização do ensino e da pesquisa em História e o combate à
tradição não-acadêmica e autodidata nas salas de aula. Paulatinamente, os temas discutidos e a
base de associados ampliaram-se, de tal forma que Associação assumiu a publicação do
principal veículo de comunicação especializada, a Revista Brasileira de História.
Segundo Lapa (1976, p.182), a reunião de 1961, inteiramente dedicada ao ensino de
História, pode ser considerada um marco nas discussões sobre a disciplina, já que legou para
os encontros futuros um crescente enriquecimento da experiência universitária e a elevação do
padrão científico do trabalho do professor. Segundo o autor,
Elevados a nível superior com a criação das Faculdades de Filosofia, a partir de
1934, os estudos históricos levaram nada menos que 27 anos para assistir a uma
reunião, de âmbito nacional, em que se fizesse um exame retrospectivo de sua
evolução, mediante a troca de experiências na docência e na pesquisa, o contacto
entre profissionais das diversas universidades e faculdades isoladas do Brasil, e
apresentação de comunicações de interesse para os que dentro da universidade se
dedicam ao estudo e ensino da História.
Naquele contexto, mereceram destaque os seguintes pontos para reflexão “[...]
desdobramento de disciplinas, periodização da História, especialização, problemas de ordem
profissional e didática, ciências auxiliares da História, ensino tradicional e renovação, estudos
de história comparada [...]”, além da reestruturação dos currículos de cursos de graduação e
pós-graduação no Brasil. (LAPA, 1976, p.183)
Apesar da falta de periodicidade das reuniões subsequentes da Associação, sobretudo
por questões de ordem financeira, houve na maioria dos encontros preocupação em discutir
assuntos pertinentes ao ensino de História, como é o caso da reunião de 1967 que abordou o
tema “Didática da História: problemas e experiências” e a de 1973 que levantou o ponto
“Problemas metodológicos do ensino de História em nível superior”.
Acredita-se que a atuação da ANPUH nas décadas de 1960 e 1970 foi significativa
para o amadurecimento de questões relacionadas à História acadêmica e disciplinar. Daquele
instituições de patrimônio e memória espalhadas por todo o país. O quadro atual de associados da ANPUH
reflete a diversidade de espaços de trabalho hoje ocupados pelos historiadores em nossa sociedade. A abertura da
entidade ao conjunto dos profissionais de história levou também à mudança do nome que, a partir de 1993,
passou a se chamar Associação Nacional de História, preservando-se contudo o acrônimo que a identifica há
mais de 40 anos. (Disponível em: http://site.anpuh.org/index.php/quem-somos. Acesso em 23/03/2016)
![Page 4: A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ......Acesso em 23/03/2016) 4 contexto até a contemporaneidade, os encontros da Associação foram se configurando como lugares](https://reader034.vdocuments.com.br/reader034/viewer/2022042222/5ec862d0c3bf4e3c3d47d027/html5/thumbnails/4.jpg)
4
contexto até a contemporaneidade, os encontros da Associação foram se configurando como
lugares férteis para discussão de temas vigentes nos centros acadêmicos e na prática escolar.
Segundo Lapa (1976, p.186),
Os resultados gerais alcançados até o último Simpósio nos levam à convicção de
que eles têm contribuído de maneira decisiva para o desenvolvimento dos estudos
históricos no Brasil. [...]. A troca de informações e a atualização sobre as pesquisas
em andamento, os debates que alcançam bom nível perante certas comunicações e a
publicação regular dos Anais dos Simpósios completam a soma desses resultados
positivos.
A partir dessa experiência inicial, um estatuto para a Associação foi pensado. Nele
prevalecem o fomento e a proteção do ensino de História:
A ANPUH tem por objetivo a proteção, o aperfeiçoamento, o fomento, o estímulo e
o desenvolvimento do ensino de História em seus diversos níveis, da pesquisa
histórica e das demais atividades relacionadas ao ofício do historiador. Parágrafo
primeiro - No cumprimento de seus objetivos, a ANPUH poderá por si ou em
cooperação com terceiros: (a) Desenvolver o estudo, a pesquisa e a divulgação do
conhecimento histórico; (b) Promover a defesa das fontes e manifestações culturais
de interesse dos estudos históricos; (c) Promover a defesa do livre exercício das
atividades dos profissionais de História; (d) Representar a comunidade dos
profissionais de História perante instâncias administrativas, legislativas, órgãos
financiadores e planejadores, entidades científicas ou acadêmicas; (e) Promover o
intercâmbio de idéias entre seus associados por meio de reuniões periódicas e
publicações, procurando também irradiar suas atividades por meio de suas Seções
Estaduais; (f) Editar e publicar a Revista Brasileira de História e a revista História
Hoje, bem como quaisquer outras publicações compatíveis com o objetivo da
Associação.3
De acordo com tais desígnios, durante o 11º Simpósio da ANPUH em 1981,
concomitantemente ao desmembramento dos Estudos Sociais, também se debatia a
responsabilidade social e política da disciplina de História. No biênio 1983-1985, as
discussões dos encontros da Associação abordaram, inclusive, assuntos relacionados à
formação de professores, condições de trabalho, financiamento educacional, situação social e
salarial de docentes e discentes e direito à educação. (CORDEIRO, 2000).
A partir dessa atuação, interessa identificar e compreender os debates que envolvem o
ensino de História na atualidade. Qual o posicionamento dos intelectuais da área ante as
3 Disponível em: http://site.anpuh.org/index.php/documentos/estatuto-da-associacao. Acesso em 06/06/2016.
![Page 5: A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ......Acesso em 23/03/2016) 4 contexto até a contemporaneidade, os encontros da Associação foram se configurando como lugares](https://reader034.vdocuments.com.br/reader034/viewer/2022042222/5ec862d0c3bf4e3c3d47d027/html5/thumbnails/5.jpg)
5
reformas curriculares empreendidas pelo Estado contemporâneo? Essa questão é
consubstanciada pela intrínseca relação existente entre os campos disciplinar e acadêmico, já
que, durante o processo de consolidação da História como disciplina escolar na Europa do
século XIX, as Universidades formavam os chamados “professores-historiadores”, sendo
difícil diferenciar as especificidades de um ou de outro profissional.4 (LAVILLE, 1999;
TÉTART, 2000)
Com o desejo de buscar indícios dessa relação na contemporaneidade, optou-se pela
análise do impacto do programa educacional São Paulo faz escola entre os intelectuais que
pensam o ensino de História. Implementado pela Secretaria de Educação do Estado de São
Paulo – SEE-SP a partir de 2008, esse programa caracteriza-se não apenas como uma reforma
curricular que incluiu a divulgação de materiais didáticos para todas as disciplinas do ensino
fundamental – ciclo II e médio paulistas, mas também como um movimento mais amplo de
cunho neoliberal que compreendeu mudanças burocráticas e profissionais fomentadas por
incisivos sistemas de avaliação docente, discente e institucional. (GIAVARA, 2012)
Para cumprir os objetivos de pesquisa propostos, foram eleitas como fontes de
investigação as comunicações apresentadas nos Seminários Temáticos – ST de Ensino de
História da Associação Nacional de História – ANPUH/São Paulo, nos encontros de 2008,
2010 e 20125.
O Grupo de Trabalho – GT de Ensino de História da ANPUH: um espaço para reflexão
Um ponto fundamental para que se inicie a discussão proposta é apresentar e analisar
uma importante publicação, fruto das discussões estabelecidas no Grupo de Trabalho – GT de
Ensino de História da ANPUH – SP, em 2008. Publicado pela Revista Brasileira de História
em 2009, o texto O Currículo Bandeirante: a proposta curricular de História no Estado de São
4 O mesmo ocorreu no Brasil do século XIX, pois os historiadores do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro –
IHGB eram também professores do colégio Pedro II. “O Pedro II e o IHGB representavam, na segunda metade
do século XIX, as instâncias de produção de um determinado conhecimento histórico, com o mesmo arcabouço
conceitual e problematização”. (ABUD, 1998, p.30) 5 Disponível em: http://site.anpuh.org/index.php/encontros-sp. Acesso 15/06/2016.
![Page 6: A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ......Acesso em 23/03/2016) 4 contexto até a contemporaneidade, os encontros da Associação foram se configurando como lugares](https://reader034.vdocuments.com.br/reader034/viewer/2022042222/5ec862d0c3bf4e3c3d47d027/html5/thumbnails/6.jpg)
6
Paulo, 2008, de Helenice Ciampi e outros autores, pode ser considerado ponto inicial de
reflexão sobre a disciplina de História no programa educacional São Paulo faz escola.
Mediante análise de vídeos disponibilizados em endereço eletrônico da SEE-SP e de
materiais didáticos distribuídos às escolas paulistas, como os Jornais do Aluno e as Revistas
do Professor6 (antecedentes da Nova Proposta Curricular), os autores procuraram “[...]
discutir os impasses criados para a profissionalização do docente de história e para o
aprendizado de crianças, jovens e adultos”, no processo de retomada da hegemonia
educacional paulista, em declínio segundo as avaliações do Sistema de Avaliação de
Rendimento Escolar do estado de São Paulo – SARESP nos anos que antecederam a
implementação do São Paulo faz escola. (CIAMPI et.al., 2009, 362)
Segundo seus elaboradores, a grande inovação da Nova Proposta Curricular seria a
centralidade da aprendizagem dos alunos e a autonomia concedida a professores e gestores em
sua execução. Entretanto, dentro de uma conjuntura neoliberal de ensino, essa concessão
deve ser compreendida em conjunto com a instalação de mecanismos avaliativos,
meritocráticos e responsabilizadores cada vez mais incisivos, o que passou a influenciar
negativamente a prática dos sujeitos educacionais.
Esse paradoxo também se localiza no próprio texto introdutório dos novos currículos,
no qual Maria Helena Guimarães de Castro, secretária da Educação responsável pela
implementação do referido programa, considerou ineficiente a autonomia concedida pela Lei
de Diretrizes de Bases da Educação Nacional – LDB. (CIAMPI et.al., 2009; GIAVARA,
2012)
Segundo os pesquisadores GT de Ensino de História da ANPUH, outra fragilidade da
proposta curricular de 2008 é o distanciamento existente entre seus elaboradores e a sala de
aula, além da não participação dos professores da rede em sua elaboração. Desde 2008, o
currículo de História e seus materiais didáticos (Cadernos do Professor e Cadernos do Aluno)
6 De acordo com um plano de metas e ações de 2007, antes da implementação dos novos currículos, buscou-se
desenvolver na rede de ensino “[...] programas de recuperação de aprendizagem nas séries finais de todos os
ciclos de aprendizagem (2ª, 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio)” SÃO PAULO. São
Paulo, uma nova agenda para a Educação Pública. São Paulo: SEE, 2007. Para subsidiar o trabalho de
recuperação de aprendizagens, foram distribuídos nas escolas de ensino fundamental II e ensino médio o Jornal
do Aluno e a Revista do Professor. Tais materiais foram elaborados com base nas avaliações do SARESP/2005 e
tinham como objetivo promover a recuperação das habilidades leitora, escritora e matemática. (GIAVARA,
2012, p.58)
![Page 7: A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ......Acesso em 23/03/2016) 4 contexto até a contemporaneidade, os encontros da Associação foram se configurando como lugares](https://reader034.vdocuments.com.br/reader034/viewer/2022042222/5ec862d0c3bf4e3c3d47d027/html5/thumbnails/7.jpg)
7
são assinados por renomados intelectuais, como Paulo Miceli, Diego López da Silva,
Glaydson José da Silva, Mônica Lungov Bugelli e Raquel dos Santos Funari. Nenhum deles,
entretanto, está diretamente envolvido com pesquisas que tratam as especificidades da
História disciplinar, tampouco possuem experiência na rede pública como professores. De tal
forma, os professores foram alijados da participação necessária para que houvesse identidade
entre eles e os novos currículos, aumentando a resistência por parte dos docentes. (CIAMPI
et.al., 2009; GIAVARA, 2012)
Ademais, dentro de um projeto educacional afinado com políticas neoliberais que
preconizam alcance de metas educativas em avaliações externas, os saberes históricos
acabaram relegados a segundo plano, já que valorizou-se predominantemente as habilidades
de leitura e escrita. De tal forma, o currículo de História proposto pelo São Paulo faz escola
acabou prejudicado pela existência de um “grafocentrismo” que conferiu “[...] à disciplina de
Língua Portuguesa o papel de estruturador do currículo, em torno do qual orbitam as demais
disciplinas escolares, como penduricalhos secundários a assessorar a disciplina mãe.”
(CIAMPI. et al., 2009, p.374)
Um currículo concebido de acordo com tal paradigma leva a um empobrecimento das
especificidades dos demais campos disciplinares. No caso da História, por exemplo, outras
questões demandam trabalhos mais pontuais como a aquisição das noções de tempo, espaço e
identidade. Para desenvolvimento de tais habilidades, é necessário, obviamente, o domínio de
competências leitora e escritora, entretanto, elas não são o ponto de partida nesse percurso.
Como pontua Ciampi et. al. (2009, p.373)
Justifica-se a escrita e a leitura pela centralidade da linguagem, mas não seria
correto justificar a linguagem como aquela que constitui as diversas formas de
saberes, entre eles a leitura e a escrita? A linguagem não é meio para acessar o
mundo, nem um fim onde o mundo só poderia ser pensado nela mesma, mas uma
passagem ou ainda um jogo entre diversos vocabulários que tentam lidar com o
mundo”. Na área de História, identificar a autoria de um texto é mais do que
localizar o sujeito do ato da fala, é compreender como alguém no seu tempo e em
seu espaço elabora determinada visão de mundo, a qual, por isso, deve ser
questionada como “realidade linguística”.
Por todas essas asserções iniciais levantadas em 2008 pelos pesquisadores do GT,
consideram-se esses encontros como espaço de reflexão acerca do ensino de História no
Estado de São Paulo. Ali se encontram representadas as pesquisas desenvolvidas nas
![Page 8: A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ......Acesso em 23/03/2016) 4 contexto até a contemporaneidade, os encontros da Associação foram se configurando como lugares](https://reader034.vdocuments.com.br/reader034/viewer/2022042222/5ec862d0c3bf4e3c3d47d027/html5/thumbnails/8.jpg)
8
universidades do Estado e do Brasil, sendo amostras do pensamento intelectual em um sentido
mais amplo. Ademais, também compõem o GT professores da Educação Básica, o que
significa o debate de questões próprias do cotidiano escolar e das aulas de História.
Assim, os pontos levantados no GT de 2008 e publicados mais tarde pela Revista
Brasileira de História são pistas para que se possa identificar o posicionamento dos
acadêmicos em relação ao ensino de História no programa educacional São Paulo faz escola.
Portanto, propõem-se a análise das comunicações dos Seminários Temáticos de Ensino de
História da ANPUH a partir de 2008, ano de implementação do São Paulo faz escola, e nos
anos subsequentes a esta ação, 2010 e 2012.
As comunicações em análise
Para o desenvolvimento desta pesquisa que se concentra em analisar a produção do ST
de Ensino de História da ANPUH, optou-se pelo desenvolvimento do recurso metodológico
denominado “estado da arte” ou “estado do conhecimento”, cuja utilização tem se destacado
nos últimos quinze anos como alternativa para pesquisas preocupadas em mapear e analisar a
produção de grupos, periódicos, programas de pós-graduação, etc. Ferreira (2002, p.358)
caracteriza e evidencia as vantagens desse tipo de análise:
Definidas como de caráter bibliográfico, elas parecem trazer em comum o desafio
de mapear e de discutir uma certa produção acadêmica em diferentes campos do
conhecimento, tentando responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados
e privilegiados em diferentes épocas e lugares, de que formas e em que condições
têm sido produzidas certas dissertações de mestrado, teses de doutorado,
publicações em periódicos e comunicações em anais de congressos e de seminários.
Também são reconhecidas por realizarem uma metodologia de caráter
inventariante e descritivo da produção acadêmica e científica sobre o tema que
busca investigar, à luz de categorias e facetas que se caracterizam enquanto tais em
cada trabalho e no conjunto deles, sob os quais o fenômeno passa a ser analisado.
Portanto, a motivação dos pesquisadores que utilizam o recurso metodológico “estado
da arte” está diretamente relacionada à intenção de adquirir a totalidade de informações acerca
de pesquisas e estudos que foram ou estão sendo desenvolvidos em determinada área do
![Page 9: A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ......Acesso em 23/03/2016) 4 contexto até a contemporaneidade, os encontros da Associação foram se configurando como lugares](https://reader034.vdocuments.com.br/reader034/viewer/2022042222/5ec862d0c3bf4e3c3d47d027/html5/thumbnails/9.jpg)
9
conhecimento, o que poderá subsidiar tanto análises quantitativas quanto qualitativas dos
dados coletados nos mais diversos campos de pesquisa.
Na maioria das vezes, as fontes utilizadas neste tipo de investigação são catálogos
impressos pelas faculdades, grupos, institutos, universidades, associações e órgãos.
Entretanto, uma dificuldade apresentada nesse tipo de pesquisa é falta de padronização e
homogeneização das fontes. No caso desta investigação, que trabalhará com as
documentações de um único ST de uma associação de acadêmicos específica (o que
pressupõe organização e padronização), os cadernos de resumos se configuraram como
importantes fontes para o levantamento de dados quantitativos.
Também foram analisados os textos completos das comunicações cujos títulos
contemplavam o ensino de História no programa educacional São Paulo faz escola, ou que
fizesse alguma referência a essa temática. Objetivou-se com isso uma análise de natureza
qualitativa, com foco no posicionamento acadêmico frente à reforma curricular empreendida
pela SEE-SP a partir da implementação do referido programa em 2008.7
Seguindo um roteiro de análise quantitativa, observou-se primeiramente que 2008 o
Seminário Temático 01 – Ensino de História: memórias, histórias e saberes, coordenado por
Helenice Ciampi (PUC/SP) e Maria Carolina Bovério Galzerani (FE/Unicamp), contou com
19 comunicações divididas em quatro eixos de discussão, de acordo com a Tabela 01.
Eixos Números de Comunicação
01. História das Disciplinas Escolares e
Profissionalização Docente
04
02. Memórias e Saberes Educacionais 06
03. Culturas e Práticas Escolares 08
04. Ensino de História e Linguagens 01
Desse total de comunicações, duas se propuseram a tratar especificamente o ensino de
História no programa educacional São Paulo faz escola. No Eixo 02, o texto São Paulo faz
escola: um trabalho em aulas de Historia, de Mara Cristina Gonçalves. No Eixo 03, o texto
7 As fontes pesquisadas foram coletadas nos Cadernos de Resumos impressos pela ANPUH e os textos
completos das comunicações foram acessadas no endereço eletrônico da Associação.
![Page 10: A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ......Acesso em 23/03/2016) 4 contexto até a contemporaneidade, os encontros da Associação foram se configurando como lugares](https://reader034.vdocuments.com.br/reader034/viewer/2022042222/5ec862d0c3bf4e3c3d47d027/html5/thumbnails/10.jpg)
10
Aula Qualitativa ou Aula Quantitativa? Novos Desafios na Aplicação de mais uma Proposta
Curricular para o Ensino de História no Estado de São Paulo, de Patrícia Cerqueira dos
Santos.
Diferentemente dos intelectuais que elaboraram o texto O Currículo Bandeirante,
mais preocupados com as questões conjunturais de implementação da proposta curricular de
História, a comunicação São Paulo faz escola: um trabalho em aulas de Historia, de Mara
Cristina Gonçalves, esteve preponderantemente centrada em discutir questões didáticas como
o trabalho desenvolvido em sala de aula para o ensino de História com alunos da 5ª serie.
(GONÇALVES, Anpuh-2008)
A autora enfatizou a experiência relatada pelos docentes anterior e posteriormente à
chegada dos materiais didáticos distribuídos às escolas paulistas – Jornais do Aluno e
Revistas do Professor. Observou que, em consulta realizada pela SEE-SP sobre a criação de
um novo currículo para a rede de ensino, os professores se opuseram à proposta estatal,
sobretudo pela linearidade apresentada, a qual, na visão docente, apresentava conteúdos
excessivos, diminuía a utilização de recursos materiais e anulava as possibilidades de pensar a
história a partir de questões do tempo presente.
Contudo, quando os referidos materiais didáticos chegaram à escola, os professores
em questão sentiram-se mais satisfeitos, pois houve um rompimento com a linearidade
temporal e a utilização de diferentes materiais didáticos foi sugerida. Como aponta Gonçalves
(Anpuh-2008, p.04)
Quando o Jornal do Aluno São Paulo faz escola chegou na semana do
planejamento, pudemos observar – alegremente – que a proposta curricular
apresentada no final de 2007 para História não havia se concretizado naqueles
blocos lineares, e o jornal trouxe diferentes linguagens: textos, poemas, e desenho.
Os textos permitem um dialogo com a atualidade pelo aspecto das tecnologias. [...].
Isso foi um alívio perante as preocupações surgidas em novembro de 2007.
Gonçalves (Anpuh-2008) também procurou enumerar os obstáculos que se colocaram
à implementação da Proposta Curricular no cotidiano escolar, como a superlotação das salas
de aula, o excesso de conteúdos a serem trabalhados em um tempo reduzido de aulas de
História, o grau de dificuldade das atividades propostas (muitas vezes, em desacordo com o
![Page 11: A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ......Acesso em 23/03/2016) 4 contexto até a contemporaneidade, os encontros da Associação foram se configurando como lugares](https://reader034.vdocuments.com.br/reader034/viewer/2022042222/5ec862d0c3bf4e3c3d47d027/html5/thumbnails/11.jpg)
11
desenvolvimento cognitivo dos educandos), além da falta de materiais didáticos como mapas,
por exemplo.
De maneira semelhante, a comunicação Patrícia Cerqueira dos Santos, Aula
Qualitativa ou Aula Quantitativa? Novos Desafios na Aplicação de mais uma Proposta
Curricular para o Ensino de História no Estado de São Paulo, proveniente das discussões
levantadas nos encontros das Oficinas de História da ANPUH-SP e de sua experiência como
professora da rede estadual de ensino, apontou os desafios enfrentados pelos docentes no
trabalho com o novo currículo.
Referindo-se a questões de ordem conjuntural, a autora denunciou a deterioração da
autonomia docente atrelada à responsabilização desses profissionais pelo fracasso educacional
paulista. Assim como abordado pelos intelectuais do GT, a falta de participação dos docentes
das escolas paulistas no processo de elaboração do novo currículo foi vista pela autora como
um ponto de insatisfação entre o professorado, bem como a falta de capacitação da equipe
gestora, responsável pela implementação do novo currículo. Nas palavras de Santos (Anpuh-
2008, s/n.)
O que o órgão denominou de capacitação dos professores foi o repasse de
informações através da imprensa, do site na internet e comunicados via diretoria de
ensino, sobre a aplicação da nova proposta curricular que começaria com 45 dias
de Recuperação, aplicada em todas as escolas da rede pública estadual paulista de
fevereiro a março deste ano. Tal capacitação foi dada por professores das áreas de
língua portuguesa e matemática, que receberam algumas horas de orientações
técnicas, para transmitirem as mesmas ao conjunto dos demais professores da
escola e das diferentes áreas do currículo sobre a nova proposta. [...] a
participação possível do professor no processo de elaboração da mesma, limitou-se
à abertura de um link, por alguns dias, no site da SEE onde professor enviaria
exemplos de atividades desenvolvidas por ele, em aulas, de acordo com os
conteúdos propostos no novo currículo.
Adentrando o universo das aulas de História no Ensino Fundamental e Médio, Santos
(Anpuh-2008) ressaltou o excesso de conteúdos a serem trabalhados e o caráter quantitativo
da Nova Proposta Curricular. Outros obstáculos encontrados foram as péssimas condições
estruturais das escolas e a incompatibilidade teórico-metodológica entre o currículo da SEE-
SP e os livros didáticos disponíveis.
![Page 12: A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ......Acesso em 23/03/2016) 4 contexto até a contemporaneidade, os encontros da Associação foram se configurando como lugares](https://reader034.vdocuments.com.br/reader034/viewer/2022042222/5ec862d0c3bf4e3c3d47d027/html5/thumbnails/12.jpg)
12
Em linhas finais, a autora fez crítica à pressão pelo alcance das metas educacionais em
avaliações externas impostas às escolas pela SEE-SP e ao sistema de meritocracia instalado na
rede pública paulista juntamente com o São Paulo faz escola em 2008. De acordo com essa
política educativa, apenas os professores das escolas que alcançassem os resultados
estipulados receberiam gratificações salariais, mediante a concessão de bônus. (SANTOS,
Anpuh-2008)
De maneira geral, pode-se dizer que as comunicações de 2008 que estiveram imbuídas
em analisar a implementação do currículo de História no programa educacional São Paulo faz
escola, apresentaram alguns pontos em comum: crítica à falta de participação dos professores
na elaboração dos currículos, ao caráter conteudista e imperativo dos materiais didáticos
complementares ao currículo e às dificuldades práticas de trabalho com a Nova Proposta
Curricular, sobretudo pelo número limitado de aulas, escassez de recursos materiais e
superlotação das salas de aula. Outro ponto em comum entre os trabalhos é relacionado à
autoria, pois ambos foram construídos a partir das experiências práticas das autoras como
professoras da rede estadual de ensino.
Já no ano de 2010, Seminário Temático 12 – História, Memória e Ensino de História:
diálogo entre diferentes saberes, novamente sob coordenação de Helenice Ciampi (PUC/SP) e
Maria Carolina Bovério Galzerani (FE/Unicamp), acumulou um total 15 comunicações sem
subdivisões internas. Dessas, três se propuseram a analisar o currículo implementado pela
Secretaria em 2008. São os textos: Uma Experiência de Aprender e Ensinar História na
Escola Pública Estadual de São Paulo (2008-2010) de Patrícia Cerqueira dos Santos, Ensino
de História e culturas africanas na Proposta Curricular do Estado de São Paulo: inclusão ou
exclusão? de Antônio Aparecido Primo e Currículo de História para Educação de Jovens e
Adultos: propostas e materiais didáticos de Paulo Eduardo Dias de Mello.
Encontrou-se disponível para a apreciação no endereço eletrônico da Associação
apenas a primeira dessas comunicações: Uma Experiência de Aprender e Ensinar História na
Escola Pública Estadual de São Paulo (2008-2010)8. Nela, Patrícia Cerqueira dos Santos,
autora de uma das comunicações de 2008, apresentou uma abordagem da conjuntura de
8 A seleção das comunicações apresentadas nos Seminários Temáticos – ST da ANPUH-SP se faz mediante a
análise de resumos. A submissão dos textos completos acontece em um momento posterior, o que não garante
que todos os autores, cujos resumos foram selecionados, a farão.
![Page 13: A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ......Acesso em 23/03/2016) 4 contexto até a contemporaneidade, os encontros da Associação foram se configurando como lugares](https://reader034.vdocuments.com.br/reader034/viewer/2022042222/5ec862d0c3bf4e3c3d47d027/html5/thumbnails/13.jpg)
13
implementação do currículo de História no São Paulo faz, associando-a a uma ordem
neoliberal pan-paradigmática, o que “[...] desvaloriza a realidade local e desconsidera as
necessidades particulares de cada escola.” (SANTOS, Anpuh-2010)
Assim como em 2008, Santos (Anpuh-2010) reprovou novamente a responsabilidade
atribuída aos docentes pelos insucessos educacionais paulistas. Também permaneceram
críticas relacionadas à falta de formação continuada para professores e gestores e às péssimas
condições estruturais das escolas, sobretudo das unidades periféricas, como a ausência ou
precariedade de bibliotecas, salas de leitura e de informática, o que dificultou
significativamente a reforma curricular proposta pelo São Paulo faz escola.
A novidade trazida pela autora encontrou-se no fato de que, dois anos após a
implantação do novo currículo de História, houve professores que consideraram positiva a
utilização de seus materiais didáticos, sobretudo pela padronização dos conteúdos e pelas
atividades “prontas” contidas nesses apostilados, o que foi visto como um “conforto” ante as
condições extenuantes da jornada de trabalho docente. Como apontou Santos (Anpuh-2010,
s/n.),
[...] os Cadernos do Professor, bimestralmente, trazem as aulas prontas, com prazo,
conteúdos/temas, competências e habilidades, estratégias, recursos, exercícios
(subjetivos e objetivos) com respostas para o professor, produção de textos,
pesquisas, avaliação e recuperação, determinados. Frente à atual condição de
trabalho em que maioria dos docentes se encontra, lecionando em duas ou mais
redes, com uma carga horária semanal de mais de 40hs aulas, em salas de aulas
com no mínimo 45 alunos, este material didático veio suprir a necessidade de ter
que preparar aulas para diferentes turmas e séries.
De maneira semelhante às comunicações de 2008, o trabalho de 2010 também foi fruto
das vivências de professores no cotidiano escolar. Permaneceu nele o tom de denúncia ao
caráter prescritivo do currículo, bem como às adversidades no trabalho com os materiais
didáticos distribuídos às escolas, principalmente por questões infraestruturais.
Já em 2012, o Seminário Temático 21 – Memória, História e Ensino de História:
diálogo entre diferentes saberes, tradicionalmente coordenação de Helenice Ciampi (PUC/SP)
e Maria Carolina Bovério Galzerani (FE/Unicamp), contou com 16 comunicações. Nenhuma
delas, entretanto, trouxe em seu título qualquer indício de preocupação em analisar o currículo
de História implementado pela SEE-SP desde 2008.
![Page 14: A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ......Acesso em 23/03/2016) 4 contexto até a contemporaneidade, os encontros da Associação foram se configurando como lugares](https://reader034.vdocuments.com.br/reader034/viewer/2022042222/5ec862d0c3bf4e3c3d47d027/html5/thumbnails/14.jpg)
14
Uma das hipóteses para essa inexistência de textos que tratem o São Paulo faz escola
pode ser a distância temporal do início do programa. Passados quatro anos da implementação,
nesse Seminário Temático outras questões foram discutidas, como a utilização dos livros
didáticos nas aulas de História, bem como a questão da docência nas últimas décadas do
século XX, entre outros assuntos. Nenhum título sugeriu trabalho com referido programa.
Outra justificativa para essa inexistência de discussões acerca de um programa ainda
vigente, e talvez a mais aceitável, é a falta de diálogo entre as pesquisas desenvolvidas no
meio acadêmico e as políticas públicas educacionais. Consubstanciando essa linha de
raciocínio, houve pesquisa que considerou que, mesmo ante as insatisfações do meio
acadêmico e do professorado em relação ao São Paulo faz escola, sua execução prosseguiu
com poucas alterações até o ano de 2012 (Giavara, 2012). Mesmo hoje, oito anos após o
início do programa, os currículos e seus materiais didáticos continuam a serem distribuídos à
rede ensino, sem mudanças significativas.
Encaminhamentos Finais
Entre os encaminhamentos trazidos por esta investigação, o mais importante aponta
para o impacto causado o meio acadêmico pelas políticas educacionais, de tal forma que as
normativas implementadas pelo Estado, muitas vezes, tornam-se alvo de acirradas discussões
entre os intelectuais especializados. O debate amplia-se quando se trata de um programa
educacional de dimensões mais amplas, que não preconizam apenas reformas curriculares,
mas também mudanças nas relações de trabalho, na organização dos estabelecimentos de
ensino e no cotidiano de escolar, como é o caso do São Paulo faz escola, de orientação
nitidamente neoliberal.
Dessa maneira, a questão que se coloca em linhas finais é a seguinte: em um sentido
contrário, até que ponto as observações apontadas pelos especialistas do meio acadêmico
interferem na forma como o poder público elabora e executa as políticas educacionais
corrigindo possíveis falhas e, quando necessário, mudando o foco de suas ações? Por sugestão
dessa breve pesquisa, a resposta para tal questionamento está na inexistência de diálogo entre
![Page 15: A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ......Acesso em 23/03/2016) 4 contexto até a contemporaneidade, os encontros da Associação foram se configurando como lugares](https://reader034.vdocuments.com.br/reader034/viewer/2022042222/5ec862d0c3bf4e3c3d47d027/html5/thumbnails/15.jpg)
15
esses dois campos. A voz do meio acadêmico repercute em um vácuo de grandes dimensões.
Há, portanto, um verdadeiro monólogo.
Referências Bibliográficas
ABUD, Kátia. Currículos de História e Políticas Públicas: os programas de História do Brasil
na escola secundária. In: BITTENCORUT, Circe (org). O saber histórico na sala de aula. 3.
ed. São Paulo: Contexto, 1998.
CIAMPI, Helenice. et al. O currículo bandeirante: a Proposta Curricular de História no Estado
de São Paulo, 2008. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 29, n. 52, 2009.
CORDEIRO, Jaime Francisco. A História no centro do debate: as propostas de renovação do
ensino de História nas décadas de setenta e oitenta. Coleção Pedagogia. São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2000.
FERREIRA, Norma Sandra de Almeida. As pesquisas denominadas “estado da arte”.
Educação & Sociedade, ano XXIII, n. 79, ago., 2002.
GIAVARA, Ana Paula. Entre o discurso e a prática: a implementação do currículo de
história para o ensino médio no programa educacional “São Paulo faz escola”. Dissertação.
(Mestrado em Educação). Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Filosofia e Ciências,
Marília, 2012.
LAPA, José Roberto do Amaral. A História em questão: historiografia brasileira
contemporânea. Petrópolis, Vozes, 1976.
LAVILLE, Christian. A guerra das narrativas: debates e ilusões em torno do ensino de
História. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 19, nº 38, 1999.
TÉTART, Philippe. Pequena história dos historiadores. Tradução Maria Leonor Loureiro.
Bauru: Edusc, 2000.