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A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ensino de História: diálogos GIAVARA, Ana Paula 1 ST 05 - As finalidades do ensino de história em questão: história das culturas, disciplinas e currículos escolares Resumo: Em um tempo de incessante desenvolvimento tecnológico, de imediatismo e de mídias massificantes, ganham força as tarefas de memória. Proliferam-se relações intrínsecas e contraditórias entre a aceleração do tempo e a vocação memorialista. Trata-se de uma cultura da velocidade e da nostalgia que propõe tarefas de “patrimonialização” e “musealização” do passado, inscritas como políticas de Estado, produção acadêmica e meios de comunicação. Nesse contexto, a história disciplinar passa por reformas, como a protagonizada desde 2008 pelo programa educacional São Paulo faz escola, implementado pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo SEE-SP, cujas ações incluíram a padronização dos currículos e a distribuição de materiais didáticos para todas as disciplinas do ensino fundamental ciclo II e ensino médio estaduais. Esta atuação foi amplamente criticada pelos acadêmicos especializados, sobretudo pelo empobrecimento que relegou aos saberes específicos da disciplina histórica. Assim, surge a problemática: qual o posicionamento acadêmico frente à reforma empreendida pela SEE-SP? A resposta será buscada a partir do exame das comunicações apresentadas nos Seminários Temáticos ST de Ensino de História da Associação Nacional de História ANPUH/São Paulo, entre os anos de 2008 a 2012. A escolha de tais fontes justifica-se pelo histórico de participação da ANPUH nas questões relativas à defesa do ensino de História, sobretudo nos debates dos anos de 1980. De tal forma, objetiva-se investigar o posicionamento acadêmico ante as políticas educacionais paulista para o ensino de História. Para efetuação desse trabalho, o recurso metodológico “estado da arte” será adotado. Palavras-chave: ensino de História; políticas educacionais; reforma curricular; São Paulo faz escola, Associação Nacional de História ANPUH. 1 Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília UNESP. Financiamento: CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. E-mail: [email protected].

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A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ensino de História: diálogos

GIAVARA, Ana Paula1

ST 05 - As finalidades do ensino de história em questão:

história das culturas, disciplinas e currículos escolares

Resumo: Em um tempo de incessante desenvolvimento tecnológico, de imediatismo e de

mídias massificantes, ganham força as tarefas de memória. Proliferam-se relações intrínsecas

e contraditórias entre a aceleração do tempo e a vocação memorialista. Trata-se de uma

cultura da velocidade e da nostalgia que propõe tarefas de “patrimonialização” e

“musealização” do passado, inscritas como políticas de Estado, produção acadêmica e meios

de comunicação. Nesse contexto, a história disciplinar passa por reformas, como a

protagonizada desde 2008 pelo programa educacional São Paulo faz escola, implementado

pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo – SEE-SP, cujas ações incluíram a

padronização dos currículos e a distribuição de materiais didáticos para todas as disciplinas do

ensino fundamental – ciclo II e ensino médio estaduais. Esta atuação foi amplamente criticada

pelos acadêmicos especializados, sobretudo pelo empobrecimento que relegou aos saberes

específicos da disciplina histórica. Assim, surge a problemática: qual o posicionamento

acadêmico frente à reforma empreendida pela SEE-SP? A resposta será buscada a partir do

exame das comunicações apresentadas nos Seminários Temáticos – ST de Ensino de História

da Associação Nacional de História – ANPUH/São Paulo, entre os anos de 2008 a 2012. A

escolha de tais fontes justifica-se pelo histórico de participação da ANPUH nas questões

relativas à defesa do ensino de História, sobretudo nos debates dos anos de 1980. De tal

forma, objetiva-se investigar o posicionamento acadêmico ante as políticas educacionais

paulista para o ensino de História. Para efetuação desse trabalho, o recurso metodológico

“estado da arte” será adotado.

Palavras-chave: ensino de História; políticas educacionais; reforma curricular; São Paulo faz

escola, Associação Nacional de História – ANPUH.

1 Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília –

UNESP. Financiamento: CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. E-mail:

[email protected].

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A Associação Nacional de História – ANPUH: um histórico de participação

Transcendendo os muros da escola, em fins da década de 1970 e início dos anos de

1980, se iniciava no Brasil uma série de debates que abrangia o ensino de História. Em uma

atmosfera mais ampla, essas discussões eram alicerçadas no processo de redemocratização

política nacional e nelas sobressaía a História em detrimento as demais disciplinas do

currículo, sobretudo, por envolver um posicionamento crítico e reflexivo em relação às

questões sociais vigentes, em especial à luta de classes. Assim, os saberes históricos

tornaram-se alvo de intervenções não apenas de historiadores e educadores, mas de outros

atores sociais. Como observa Cordeiro (2000, p.29)

[...] o ensino de História, apresenta-se como lugar de interseção de campos

distintos o da produção do conhecimento histórico propriamente dito. Fornecedor

dos conteúdos e dos fundamentos teóricos do que se deve ser ensinado; o da

pedagogia, formulador dos métodos e dos estudos sobre as etapas do

desenvolvimento psicológico da aprendizagem, sobre a motivação etc.; e,

finalmente, o da política, na medida em que no ensino de História são formulados

e/ou transmitidos certos padrões ideológicos que servirão como ponto de referência

para a construção da identidade social. Assim sendo, a discussão sobre o ensino de

História está aberta à intervenção não apenas de historiadores e professores de

História, mas também á de pedagogos, psicólogos, agentes do Estado, políticos,

jornalistas, etc.

A efervescência das discussões fez emergir diversas publicações especializadas

dedicadas à História e a seu ensino, como, por exemplo, os Cadernos de Pesquisa – Tudo é

História, a Coleção Tudo é História e a Coleção Primeiros Passos, todas da editora

brasiliense. Também na Revista Ande – Associação Nacional de Educação eram discutidos

assuntos relativos ao ensino de História no contexto de retomada dos direitos democráticos

civis. (CORDEIRO, 2000)

Destacava-se também a atuação de professores e intelectuais nos encontros da então

Associação Nacional dos Professores Universitários de História – ANPUH2 no Estado de São

2 A ANPUH foi aos poucos ampliando sua base de associados, passando a incluir professores dos ensinos

fundamental e médio e, mais recentemente, profissionais atuantes nos arquivos públicos e privados, e em

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Paulo. Criada no I Simpósio de História em 1961, na cidade de Marília – SP, a ANPUH tinha

como objetivo inicial a profissionalização do ensino e da pesquisa em História e o combate à

tradição não-acadêmica e autodidata nas salas de aula. Paulatinamente, os temas discutidos e a

base de associados ampliaram-se, de tal forma que Associação assumiu a publicação do

principal veículo de comunicação especializada, a Revista Brasileira de História.

Segundo Lapa (1976, p.182), a reunião de 1961, inteiramente dedicada ao ensino de

História, pode ser considerada um marco nas discussões sobre a disciplina, já que legou para

os encontros futuros um crescente enriquecimento da experiência universitária e a elevação do

padrão científico do trabalho do professor. Segundo o autor,

Elevados a nível superior com a criação das Faculdades de Filosofia, a partir de

1934, os estudos históricos levaram nada menos que 27 anos para assistir a uma

reunião, de âmbito nacional, em que se fizesse um exame retrospectivo de sua

evolução, mediante a troca de experiências na docência e na pesquisa, o contacto

entre profissionais das diversas universidades e faculdades isoladas do Brasil, e

apresentação de comunicações de interesse para os que dentro da universidade se

dedicam ao estudo e ensino da História.

Naquele contexto, mereceram destaque os seguintes pontos para reflexão “[...]

desdobramento de disciplinas, periodização da História, especialização, problemas de ordem

profissional e didática, ciências auxiliares da História, ensino tradicional e renovação, estudos

de história comparada [...]”, além da reestruturação dos currículos de cursos de graduação e

pós-graduação no Brasil. (LAPA, 1976, p.183)

Apesar da falta de periodicidade das reuniões subsequentes da Associação, sobretudo

por questões de ordem financeira, houve na maioria dos encontros preocupação em discutir

assuntos pertinentes ao ensino de História, como é o caso da reunião de 1967 que abordou o

tema “Didática da História: problemas e experiências” e a de 1973 que levantou o ponto

“Problemas metodológicos do ensino de História em nível superior”.

Acredita-se que a atuação da ANPUH nas décadas de 1960 e 1970 foi significativa

para o amadurecimento de questões relacionadas à História acadêmica e disciplinar. Daquele

instituições de patrimônio e memória espalhadas por todo o país. O quadro atual de associados da ANPUH

reflete a diversidade de espaços de trabalho hoje ocupados pelos historiadores em nossa sociedade. A abertura da

entidade ao conjunto dos profissionais de história levou também à mudança do nome que, a partir de 1993,

passou a se chamar Associação Nacional de História, preservando-se contudo o acrônimo que a identifica há

mais de 40 anos. (Disponível em: http://site.anpuh.org/index.php/quem-somos. Acesso em 23/03/2016)

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contexto até a contemporaneidade, os encontros da Associação foram se configurando como

lugares férteis para discussão de temas vigentes nos centros acadêmicos e na prática escolar.

Segundo Lapa (1976, p.186),

Os resultados gerais alcançados até o último Simpósio nos levam à convicção de

que eles têm contribuído de maneira decisiva para o desenvolvimento dos estudos

históricos no Brasil. [...]. A troca de informações e a atualização sobre as pesquisas

em andamento, os debates que alcançam bom nível perante certas comunicações e a

publicação regular dos Anais dos Simpósios completam a soma desses resultados

positivos.

A partir dessa experiência inicial, um estatuto para a Associação foi pensado. Nele

prevalecem o fomento e a proteção do ensino de História:

A ANPUH tem por objetivo a proteção, o aperfeiçoamento, o fomento, o estímulo e

o desenvolvimento do ensino de História em seus diversos níveis, da pesquisa

histórica e das demais atividades relacionadas ao ofício do historiador. Parágrafo

primeiro - No cumprimento de seus objetivos, a ANPUH poderá por si ou em

cooperação com terceiros: (a) Desenvolver o estudo, a pesquisa e a divulgação do

conhecimento histórico; (b) Promover a defesa das fontes e manifestações culturais

de interesse dos estudos históricos; (c) Promover a defesa do livre exercício das

atividades dos profissionais de História; (d) Representar a comunidade dos

profissionais de História perante instâncias administrativas, legislativas, órgãos

financiadores e planejadores, entidades científicas ou acadêmicas; (e) Promover o

intercâmbio de idéias entre seus associados por meio de reuniões periódicas e

publicações, procurando também irradiar suas atividades por meio de suas Seções

Estaduais; (f) Editar e publicar a Revista Brasileira de História e a revista História

Hoje, bem como quaisquer outras publicações compatíveis com o objetivo da

Associação.3

De acordo com tais desígnios, durante o 11º Simpósio da ANPUH em 1981,

concomitantemente ao desmembramento dos Estudos Sociais, também se debatia a

responsabilidade social e política da disciplina de História. No biênio 1983-1985, as

discussões dos encontros da Associação abordaram, inclusive, assuntos relacionados à

formação de professores, condições de trabalho, financiamento educacional, situação social e

salarial de docentes e discentes e direito à educação. (CORDEIRO, 2000).

A partir dessa atuação, interessa identificar e compreender os debates que envolvem o

ensino de História na atualidade. Qual o posicionamento dos intelectuais da área ante as

3 Disponível em: http://site.anpuh.org/index.php/documentos/estatuto-da-associacao. Acesso em 06/06/2016.

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reformas curriculares empreendidas pelo Estado contemporâneo? Essa questão é

consubstanciada pela intrínseca relação existente entre os campos disciplinar e acadêmico, já

que, durante o processo de consolidação da História como disciplina escolar na Europa do

século XIX, as Universidades formavam os chamados “professores-historiadores”, sendo

difícil diferenciar as especificidades de um ou de outro profissional.4 (LAVILLE, 1999;

TÉTART, 2000)

Com o desejo de buscar indícios dessa relação na contemporaneidade, optou-se pela

análise do impacto do programa educacional São Paulo faz escola entre os intelectuais que

pensam o ensino de História. Implementado pela Secretaria de Educação do Estado de São

Paulo – SEE-SP a partir de 2008, esse programa caracteriza-se não apenas como uma reforma

curricular que incluiu a divulgação de materiais didáticos para todas as disciplinas do ensino

fundamental – ciclo II e médio paulistas, mas também como um movimento mais amplo de

cunho neoliberal que compreendeu mudanças burocráticas e profissionais fomentadas por

incisivos sistemas de avaliação docente, discente e institucional. (GIAVARA, 2012)

Para cumprir os objetivos de pesquisa propostos, foram eleitas como fontes de

investigação as comunicações apresentadas nos Seminários Temáticos – ST de Ensino de

História da Associação Nacional de História – ANPUH/São Paulo, nos encontros de 2008,

2010 e 20125.

O Grupo de Trabalho – GT de Ensino de História da ANPUH: um espaço para reflexão

Um ponto fundamental para que se inicie a discussão proposta é apresentar e analisar

uma importante publicação, fruto das discussões estabelecidas no Grupo de Trabalho – GT de

Ensino de História da ANPUH – SP, em 2008. Publicado pela Revista Brasileira de História

em 2009, o texto O Currículo Bandeirante: a proposta curricular de História no Estado de São

4 O mesmo ocorreu no Brasil do século XIX, pois os historiadores do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro –

IHGB eram também professores do colégio Pedro II. “O Pedro II e o IHGB representavam, na segunda metade

do século XIX, as instâncias de produção de um determinado conhecimento histórico, com o mesmo arcabouço

conceitual e problematização”. (ABUD, 1998, p.30) 5 Disponível em: http://site.anpuh.org/index.php/encontros-sp. Acesso 15/06/2016.

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Paulo, 2008, de Helenice Ciampi e outros autores, pode ser considerado ponto inicial de

reflexão sobre a disciplina de História no programa educacional São Paulo faz escola.

Mediante análise de vídeos disponibilizados em endereço eletrônico da SEE-SP e de

materiais didáticos distribuídos às escolas paulistas, como os Jornais do Aluno e as Revistas

do Professor6 (antecedentes da Nova Proposta Curricular), os autores procuraram “[...]

discutir os impasses criados para a profissionalização do docente de história e para o

aprendizado de crianças, jovens e adultos”, no processo de retomada da hegemonia

educacional paulista, em declínio segundo as avaliações do Sistema de Avaliação de

Rendimento Escolar do estado de São Paulo – SARESP nos anos que antecederam a

implementação do São Paulo faz escola. (CIAMPI et.al., 2009, 362)

Segundo seus elaboradores, a grande inovação da Nova Proposta Curricular seria a

centralidade da aprendizagem dos alunos e a autonomia concedida a professores e gestores em

sua execução. Entretanto, dentro de uma conjuntura neoliberal de ensino, essa concessão

deve ser compreendida em conjunto com a instalação de mecanismos avaliativos,

meritocráticos e responsabilizadores cada vez mais incisivos, o que passou a influenciar

negativamente a prática dos sujeitos educacionais.

Esse paradoxo também se localiza no próprio texto introdutório dos novos currículos,

no qual Maria Helena Guimarães de Castro, secretária da Educação responsável pela

implementação do referido programa, considerou ineficiente a autonomia concedida pela Lei

de Diretrizes de Bases da Educação Nacional – LDB. (CIAMPI et.al., 2009; GIAVARA,

2012)

Segundo os pesquisadores GT de Ensino de História da ANPUH, outra fragilidade da

proposta curricular de 2008 é o distanciamento existente entre seus elaboradores e a sala de

aula, além da não participação dos professores da rede em sua elaboração. Desde 2008, o

currículo de História e seus materiais didáticos (Cadernos do Professor e Cadernos do Aluno)

6 De acordo com um plano de metas e ações de 2007, antes da implementação dos novos currículos, buscou-se

desenvolver na rede de ensino “[...] programas de recuperação de aprendizagem nas séries finais de todos os

ciclos de aprendizagem (2ª, 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio)” SÃO PAULO. São

Paulo, uma nova agenda para a Educação Pública. São Paulo: SEE, 2007. Para subsidiar o trabalho de

recuperação de aprendizagens, foram distribuídos nas escolas de ensino fundamental II e ensino médio o Jornal

do Aluno e a Revista do Professor. Tais materiais foram elaborados com base nas avaliações do SARESP/2005 e

tinham como objetivo promover a recuperação das habilidades leitora, escritora e matemática. (GIAVARA,

2012, p.58)

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são assinados por renomados intelectuais, como Paulo Miceli, Diego López da Silva,

Glaydson José da Silva, Mônica Lungov Bugelli e Raquel dos Santos Funari. Nenhum deles,

entretanto, está diretamente envolvido com pesquisas que tratam as especificidades da

História disciplinar, tampouco possuem experiência na rede pública como professores. De tal

forma, os professores foram alijados da participação necessária para que houvesse identidade

entre eles e os novos currículos, aumentando a resistência por parte dos docentes. (CIAMPI

et.al., 2009; GIAVARA, 2012)

Ademais, dentro de um projeto educacional afinado com políticas neoliberais que

preconizam alcance de metas educativas em avaliações externas, os saberes históricos

acabaram relegados a segundo plano, já que valorizou-se predominantemente as habilidades

de leitura e escrita. De tal forma, o currículo de História proposto pelo São Paulo faz escola

acabou prejudicado pela existência de um “grafocentrismo” que conferiu “[...] à disciplina de

Língua Portuguesa o papel de estruturador do currículo, em torno do qual orbitam as demais

disciplinas escolares, como penduricalhos secundários a assessorar a disciplina mãe.”

(CIAMPI. et al., 2009, p.374)

Um currículo concebido de acordo com tal paradigma leva a um empobrecimento das

especificidades dos demais campos disciplinares. No caso da História, por exemplo, outras

questões demandam trabalhos mais pontuais como a aquisição das noções de tempo, espaço e

identidade. Para desenvolvimento de tais habilidades, é necessário, obviamente, o domínio de

competências leitora e escritora, entretanto, elas não são o ponto de partida nesse percurso.

Como pontua Ciampi et. al. (2009, p.373)

Justifica-se a escrita e a leitura pela centralidade da linguagem, mas não seria

correto justificar a linguagem como aquela que constitui as diversas formas de

saberes, entre eles a leitura e a escrita? A linguagem não é meio para acessar o

mundo, nem um fim onde o mundo só poderia ser pensado nela mesma, mas uma

passagem ou ainda um jogo entre diversos vocabulários que tentam lidar com o

mundo”. Na área de História, identificar a autoria de um texto é mais do que

localizar o sujeito do ato da fala, é compreender como alguém no seu tempo e em

seu espaço elabora determinada visão de mundo, a qual, por isso, deve ser

questionada como “realidade linguística”.

Por todas essas asserções iniciais levantadas em 2008 pelos pesquisadores do GT,

consideram-se esses encontros como espaço de reflexão acerca do ensino de História no

Estado de São Paulo. Ali se encontram representadas as pesquisas desenvolvidas nas

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universidades do Estado e do Brasil, sendo amostras do pensamento intelectual em um sentido

mais amplo. Ademais, também compõem o GT professores da Educação Básica, o que

significa o debate de questões próprias do cotidiano escolar e das aulas de História.

Assim, os pontos levantados no GT de 2008 e publicados mais tarde pela Revista

Brasileira de História são pistas para que se possa identificar o posicionamento dos

acadêmicos em relação ao ensino de História no programa educacional São Paulo faz escola.

Portanto, propõem-se a análise das comunicações dos Seminários Temáticos de Ensino de

História da ANPUH a partir de 2008, ano de implementação do São Paulo faz escola, e nos

anos subsequentes a esta ação, 2010 e 2012.

As comunicações em análise

Para o desenvolvimento desta pesquisa que se concentra em analisar a produção do ST

de Ensino de História da ANPUH, optou-se pelo desenvolvimento do recurso metodológico

denominado “estado da arte” ou “estado do conhecimento”, cuja utilização tem se destacado

nos últimos quinze anos como alternativa para pesquisas preocupadas em mapear e analisar a

produção de grupos, periódicos, programas de pós-graduação, etc. Ferreira (2002, p.358)

caracteriza e evidencia as vantagens desse tipo de análise:

Definidas como de caráter bibliográfico, elas parecem trazer em comum o desafio

de mapear e de discutir uma certa produção acadêmica em diferentes campos do

conhecimento, tentando responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados

e privilegiados em diferentes épocas e lugares, de que formas e em que condições

têm sido produzidas certas dissertações de mestrado, teses de doutorado,

publicações em periódicos e comunicações em anais de congressos e de seminários.

Também são reconhecidas por realizarem uma metodologia de caráter

inventariante e descritivo da produção acadêmica e científica sobre o tema que

busca investigar, à luz de categorias e facetas que se caracterizam enquanto tais em

cada trabalho e no conjunto deles, sob os quais o fenômeno passa a ser analisado.

Portanto, a motivação dos pesquisadores que utilizam o recurso metodológico “estado

da arte” está diretamente relacionada à intenção de adquirir a totalidade de informações acerca

de pesquisas e estudos que foram ou estão sendo desenvolvidos em determinada área do

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conhecimento, o que poderá subsidiar tanto análises quantitativas quanto qualitativas dos

dados coletados nos mais diversos campos de pesquisa.

Na maioria das vezes, as fontes utilizadas neste tipo de investigação são catálogos

impressos pelas faculdades, grupos, institutos, universidades, associações e órgãos.

Entretanto, uma dificuldade apresentada nesse tipo de pesquisa é falta de padronização e

homogeneização das fontes. No caso desta investigação, que trabalhará com as

documentações de um único ST de uma associação de acadêmicos específica (o que

pressupõe organização e padronização), os cadernos de resumos se configuraram como

importantes fontes para o levantamento de dados quantitativos.

Também foram analisados os textos completos das comunicações cujos títulos

contemplavam o ensino de História no programa educacional São Paulo faz escola, ou que

fizesse alguma referência a essa temática. Objetivou-se com isso uma análise de natureza

qualitativa, com foco no posicionamento acadêmico frente à reforma curricular empreendida

pela SEE-SP a partir da implementação do referido programa em 2008.7

Seguindo um roteiro de análise quantitativa, observou-se primeiramente que 2008 o

Seminário Temático 01 – Ensino de História: memórias, histórias e saberes, coordenado por

Helenice Ciampi (PUC/SP) e Maria Carolina Bovério Galzerani (FE/Unicamp), contou com

19 comunicações divididas em quatro eixos de discussão, de acordo com a Tabela 01.

Eixos Números de Comunicação

01. História das Disciplinas Escolares e

Profissionalização Docente

04

02. Memórias e Saberes Educacionais 06

03. Culturas e Práticas Escolares 08

04. Ensino de História e Linguagens 01

Desse total de comunicações, duas se propuseram a tratar especificamente o ensino de

História no programa educacional São Paulo faz escola. No Eixo 02, o texto São Paulo faz

escola: um trabalho em aulas de Historia, de Mara Cristina Gonçalves. No Eixo 03, o texto

7 As fontes pesquisadas foram coletadas nos Cadernos de Resumos impressos pela ANPUH e os textos

completos das comunicações foram acessadas no endereço eletrônico da Associação.

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Aula Qualitativa ou Aula Quantitativa? Novos Desafios na Aplicação de mais uma Proposta

Curricular para o Ensino de História no Estado de São Paulo, de Patrícia Cerqueira dos

Santos.

Diferentemente dos intelectuais que elaboraram o texto O Currículo Bandeirante,

mais preocupados com as questões conjunturais de implementação da proposta curricular de

História, a comunicação São Paulo faz escola: um trabalho em aulas de Historia, de Mara

Cristina Gonçalves, esteve preponderantemente centrada em discutir questões didáticas como

o trabalho desenvolvido em sala de aula para o ensino de História com alunos da 5ª serie.

(GONÇALVES, Anpuh-2008)

A autora enfatizou a experiência relatada pelos docentes anterior e posteriormente à

chegada dos materiais didáticos distribuídos às escolas paulistas – Jornais do Aluno e

Revistas do Professor. Observou que, em consulta realizada pela SEE-SP sobre a criação de

um novo currículo para a rede de ensino, os professores se opuseram à proposta estatal,

sobretudo pela linearidade apresentada, a qual, na visão docente, apresentava conteúdos

excessivos, diminuía a utilização de recursos materiais e anulava as possibilidades de pensar a

história a partir de questões do tempo presente.

Contudo, quando os referidos materiais didáticos chegaram à escola, os professores

em questão sentiram-se mais satisfeitos, pois houve um rompimento com a linearidade

temporal e a utilização de diferentes materiais didáticos foi sugerida. Como aponta Gonçalves

(Anpuh-2008, p.04)

Quando o Jornal do Aluno São Paulo faz escola chegou na semana do

planejamento, pudemos observar – alegremente – que a proposta curricular

apresentada no final de 2007 para História não havia se concretizado naqueles

blocos lineares, e o jornal trouxe diferentes linguagens: textos, poemas, e desenho.

Os textos permitem um dialogo com a atualidade pelo aspecto das tecnologias. [...].

Isso foi um alívio perante as preocupações surgidas em novembro de 2007.

Gonçalves (Anpuh-2008) também procurou enumerar os obstáculos que se colocaram

à implementação da Proposta Curricular no cotidiano escolar, como a superlotação das salas

de aula, o excesso de conteúdos a serem trabalhados em um tempo reduzido de aulas de

História, o grau de dificuldade das atividades propostas (muitas vezes, em desacordo com o

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desenvolvimento cognitivo dos educandos), além da falta de materiais didáticos como mapas,

por exemplo.

De maneira semelhante, a comunicação Patrícia Cerqueira dos Santos, Aula

Qualitativa ou Aula Quantitativa? Novos Desafios na Aplicação de mais uma Proposta

Curricular para o Ensino de História no Estado de São Paulo, proveniente das discussões

levantadas nos encontros das Oficinas de História da ANPUH-SP e de sua experiência como

professora da rede estadual de ensino, apontou os desafios enfrentados pelos docentes no

trabalho com o novo currículo.

Referindo-se a questões de ordem conjuntural, a autora denunciou a deterioração da

autonomia docente atrelada à responsabilização desses profissionais pelo fracasso educacional

paulista. Assim como abordado pelos intelectuais do GT, a falta de participação dos docentes

das escolas paulistas no processo de elaboração do novo currículo foi vista pela autora como

um ponto de insatisfação entre o professorado, bem como a falta de capacitação da equipe

gestora, responsável pela implementação do novo currículo. Nas palavras de Santos (Anpuh-

2008, s/n.)

O que o órgão denominou de capacitação dos professores foi o repasse de

informações através da imprensa, do site na internet e comunicados via diretoria de

ensino, sobre a aplicação da nova proposta curricular que começaria com 45 dias

de Recuperação, aplicada em todas as escolas da rede pública estadual paulista de

fevereiro a março deste ano. Tal capacitação foi dada por professores das áreas de

língua portuguesa e matemática, que receberam algumas horas de orientações

técnicas, para transmitirem as mesmas ao conjunto dos demais professores da

escola e das diferentes áreas do currículo sobre a nova proposta. [...] a

participação possível do professor no processo de elaboração da mesma, limitou-se

à abertura de um link, por alguns dias, no site da SEE onde professor enviaria

exemplos de atividades desenvolvidas por ele, em aulas, de acordo com os

conteúdos propostos no novo currículo.

Adentrando o universo das aulas de História no Ensino Fundamental e Médio, Santos

(Anpuh-2008) ressaltou o excesso de conteúdos a serem trabalhados e o caráter quantitativo

da Nova Proposta Curricular. Outros obstáculos encontrados foram as péssimas condições

estruturais das escolas e a incompatibilidade teórico-metodológica entre o currículo da SEE-

SP e os livros didáticos disponíveis.

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Em linhas finais, a autora fez crítica à pressão pelo alcance das metas educacionais em

avaliações externas impostas às escolas pela SEE-SP e ao sistema de meritocracia instalado na

rede pública paulista juntamente com o São Paulo faz escola em 2008. De acordo com essa

política educativa, apenas os professores das escolas que alcançassem os resultados

estipulados receberiam gratificações salariais, mediante a concessão de bônus. (SANTOS,

Anpuh-2008)

De maneira geral, pode-se dizer que as comunicações de 2008 que estiveram imbuídas

em analisar a implementação do currículo de História no programa educacional São Paulo faz

escola, apresentaram alguns pontos em comum: crítica à falta de participação dos professores

na elaboração dos currículos, ao caráter conteudista e imperativo dos materiais didáticos

complementares ao currículo e às dificuldades práticas de trabalho com a Nova Proposta

Curricular, sobretudo pelo número limitado de aulas, escassez de recursos materiais e

superlotação das salas de aula. Outro ponto em comum entre os trabalhos é relacionado à

autoria, pois ambos foram construídos a partir das experiências práticas das autoras como

professoras da rede estadual de ensino.

Já no ano de 2010, Seminário Temático 12 – História, Memória e Ensino de História:

diálogo entre diferentes saberes, novamente sob coordenação de Helenice Ciampi (PUC/SP) e

Maria Carolina Bovério Galzerani (FE/Unicamp), acumulou um total 15 comunicações sem

subdivisões internas. Dessas, três se propuseram a analisar o currículo implementado pela

Secretaria em 2008. São os textos: Uma Experiência de Aprender e Ensinar História na

Escola Pública Estadual de São Paulo (2008-2010) de Patrícia Cerqueira dos Santos, Ensino

de História e culturas africanas na Proposta Curricular do Estado de São Paulo: inclusão ou

exclusão? de Antônio Aparecido Primo e Currículo de História para Educação de Jovens e

Adultos: propostas e materiais didáticos de Paulo Eduardo Dias de Mello.

Encontrou-se disponível para a apreciação no endereço eletrônico da Associação

apenas a primeira dessas comunicações: Uma Experiência de Aprender e Ensinar História na

Escola Pública Estadual de São Paulo (2008-2010)8. Nela, Patrícia Cerqueira dos Santos,

autora de uma das comunicações de 2008, apresentou uma abordagem da conjuntura de

8 A seleção das comunicações apresentadas nos Seminários Temáticos – ST da ANPUH-SP se faz mediante a

análise de resumos. A submissão dos textos completos acontece em um momento posterior, o que não garante

que todos os autores, cujos resumos foram selecionados, a farão.

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implementação do currículo de História no São Paulo faz, associando-a a uma ordem

neoliberal pan-paradigmática, o que “[...] desvaloriza a realidade local e desconsidera as

necessidades particulares de cada escola.” (SANTOS, Anpuh-2010)

Assim como em 2008, Santos (Anpuh-2010) reprovou novamente a responsabilidade

atribuída aos docentes pelos insucessos educacionais paulistas. Também permaneceram

críticas relacionadas à falta de formação continuada para professores e gestores e às péssimas

condições estruturais das escolas, sobretudo das unidades periféricas, como a ausência ou

precariedade de bibliotecas, salas de leitura e de informática, o que dificultou

significativamente a reforma curricular proposta pelo São Paulo faz escola.

A novidade trazida pela autora encontrou-se no fato de que, dois anos após a

implantação do novo currículo de História, houve professores que consideraram positiva a

utilização de seus materiais didáticos, sobretudo pela padronização dos conteúdos e pelas

atividades “prontas” contidas nesses apostilados, o que foi visto como um “conforto” ante as

condições extenuantes da jornada de trabalho docente. Como apontou Santos (Anpuh-2010,

s/n.),

[...] os Cadernos do Professor, bimestralmente, trazem as aulas prontas, com prazo,

conteúdos/temas, competências e habilidades, estratégias, recursos, exercícios

(subjetivos e objetivos) com respostas para o professor, produção de textos,

pesquisas, avaliação e recuperação, determinados. Frente à atual condição de

trabalho em que maioria dos docentes se encontra, lecionando em duas ou mais

redes, com uma carga horária semanal de mais de 40hs aulas, em salas de aulas

com no mínimo 45 alunos, este material didático veio suprir a necessidade de ter

que preparar aulas para diferentes turmas e séries.

De maneira semelhante às comunicações de 2008, o trabalho de 2010 também foi fruto

das vivências de professores no cotidiano escolar. Permaneceu nele o tom de denúncia ao

caráter prescritivo do currículo, bem como às adversidades no trabalho com os materiais

didáticos distribuídos às escolas, principalmente por questões infraestruturais.

Já em 2012, o Seminário Temático 21 – Memória, História e Ensino de História:

diálogo entre diferentes saberes, tradicionalmente coordenação de Helenice Ciampi (PUC/SP)

e Maria Carolina Bovério Galzerani (FE/Unicamp), contou com 16 comunicações. Nenhuma

delas, entretanto, trouxe em seu título qualquer indício de preocupação em analisar o currículo

de História implementado pela SEE-SP desde 2008.

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Uma das hipóteses para essa inexistência de textos que tratem o São Paulo faz escola

pode ser a distância temporal do início do programa. Passados quatro anos da implementação,

nesse Seminário Temático outras questões foram discutidas, como a utilização dos livros

didáticos nas aulas de História, bem como a questão da docência nas últimas décadas do

século XX, entre outros assuntos. Nenhum título sugeriu trabalho com referido programa.

Outra justificativa para essa inexistência de discussões acerca de um programa ainda

vigente, e talvez a mais aceitável, é a falta de diálogo entre as pesquisas desenvolvidas no

meio acadêmico e as políticas públicas educacionais. Consubstanciando essa linha de

raciocínio, houve pesquisa que considerou que, mesmo ante as insatisfações do meio

acadêmico e do professorado em relação ao São Paulo faz escola, sua execução prosseguiu

com poucas alterações até o ano de 2012 (Giavara, 2012). Mesmo hoje, oito anos após o

início do programa, os currículos e seus materiais didáticos continuam a serem distribuídos à

rede ensino, sem mudanças significativas.

Encaminhamentos Finais

Entre os encaminhamentos trazidos por esta investigação, o mais importante aponta

para o impacto causado o meio acadêmico pelas políticas educacionais, de tal forma que as

normativas implementadas pelo Estado, muitas vezes, tornam-se alvo de acirradas discussões

entre os intelectuais especializados. O debate amplia-se quando se trata de um programa

educacional de dimensões mais amplas, que não preconizam apenas reformas curriculares,

mas também mudanças nas relações de trabalho, na organização dos estabelecimentos de

ensino e no cotidiano de escolar, como é o caso do São Paulo faz escola, de orientação

nitidamente neoliberal.

Dessa maneira, a questão que se coloca em linhas finais é a seguinte: em um sentido

contrário, até que ponto as observações apontadas pelos especialistas do meio acadêmico

interferem na forma como o poder público elabora e executa as políticas educacionais

corrigindo possíveis falhas e, quando necessário, mudando o foco de suas ações? Por sugestão

dessa breve pesquisa, a resposta para tal questionamento está na inexistência de diálogo entre

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esses dois campos. A voz do meio acadêmico repercute em um vácuo de grandes dimensões.

Há, portanto, um verdadeiro monólogo.

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