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  • 8/16/2019 9445 Vício Do Produto RICARDO ELETRO e WHIRPOOL Maquina de Lav Restituicao e DM - Preliminares - IMPROC

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    ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

    PODER JUDICIÁRIO3º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE SERRA/ES

    Processo n.º: 0012894-45.2012Requerente: ADRIANA DOS SANTOS SILVARequerido: RICARDO ELETRO e WHIRPOOL S/A

    S E N T E N Ç A

     Vistos, etc.

    Trata-se de ação indenizatória ajuizada porADRIANA DOS SANTOS SILVAem facedeRICARDO ELETRO e WHIRPOOL S/A.

    Dispensado o relatório, na forma do artigo 38 da Lei 9.099/1995.

    Decido.

    Preliminarmente, as requeridas alegam em suas contestações a incompetência do JuizadoEspecial Cível, tendo em vista a necessidade de perícia técnica no produto da autora, oque denota complexidade da causa.

    Porém, entendo que se mostra viável a simples apresentação de parecer técnico, nosmoldes do art. 35,caputda Lei 9.099/95, com vistas à rápida solução da lide. Por taisrazões,REJEITO a preliminar ora arguida.

    Aduz a primeira requerida, ainda, ser parte ilegítima para figurar no polo passivo daação, pois não participa da relação de consumo estabelecida somente entre a autora e afabricante.

    Não obstante, todos os que se incluem enquanto fornecedores na cadeia de consumo são,a princípio, solidariamente responsáveis pelos vícios que os produtos vierem aapresentar, por força do disposto nocaput art. 18 do CDC.1 Ademais, vale lembrar que aapuração da responsabilidade da primeira requerida é questão afeta ao mérito, nãoconstituindo matéria preliminar.

    1 [...]Em se tratado de pedido indenizatório decorrente de vício do produto, é parte legítima o comerciante, mesmo quepossível a identificação do fabricante, a teor do art. 18 do CDC. [...] (Apelação Cível Nº 70052368560, Décima Câmara Cível,Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Roberto Lessa Franz, Julgado em 13/12/2012)

    E - Processo nº: 0012894-45.2012

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    Por tais razões,REJEITOa preliminar em análise.Afirma a segunda requerida, por sua vez, a ausência de interesse processual da parteautora, pois na segunda visita técnica a consumidora recusou a substituição da peça, ou

    seja, não foi oportunizada à requerida o reparo do produto, estando desobrigada arealizar a troca imediata ou devolução do valor pago.

    Porém, entendo que o direito ou não da requerente em ter devolvido o valor pago peloproduto é questão a ser definida no mérito, não sendo matéria preliminar. Ademais, asalegações feitas pela autora, analisadasin statu assertionis, demonstram o seu interesseprocessual na demanda. Por tais razões,REJEITO a preliminar em apreciação.

    Superadas as preliminares, passo à análise do mérito.

    A requerente alega que adquiriu uma máquina de lavar que apresentou vícios, os quaisnão foram sanados mesmo após análise da fabricante.

    Por tais razões, requer a devolução do valor pago pelo bem e indenização por danosmorais.

    Não houve composição de acordo na audiência de conciliação, assentada à fl. 13.

    Em que pese a ausência da primeira requerida na audiência, deixo de decretar a revelia

    por não ter sido encontrado o AR a confirmar a sua citação e em função da apresentaçãode defesa às fls. 46/59. Ato contínuo, mostra-se desnecessária a redesignação daaudiência, estando o processo pronto para o seu julgamento antecipado.

    Em contestação de fls. 15/26, a primeira requerida assevera que não houve qualquer fatocausador de grave abalo moral imputável à Ricardo Eletro, já que os alegados danossofridos limitam-se a um suposto defeito do produto. Acrescenta que o contrato foidevidamente cumprido, não havendo falha na prestação de seus serviços a justificar umarestituição do valo pago. No mais, lançou argumentos de direito.

    A seu turno, a segunda requerida aduz, em contestação de fls. 46/59, que a parte autoranão comprovou o nexo de causalidade entre a sua conduta e o suposto vício do produto,sendo incabível a inversão do ônus da prova e sendo improcedente o pedido de danosmorais, entre outros argumentos de direito.

    Diante das alegações transcritas, verifico tratar-se de relação de consumo, a par dosartigos 2º e 3º do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, razão pela qual admitir-

    E - Processo nº: 0012894-45.2012

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    se-á a responsabilidade objetiva e a inversão do ônus da prova, tendo em vista ahipossuficiência do consumidor.

    Ressalto que a aplicação da inversão do ônus probatório neste momento processual emnada prejudica as demandadas, uma vez que o processo obedeceu aos princípios daampla defesa e do contraditório, tendo as partes tempo e oportunidade para produziremtodas as provas que reputassem pertinentes ao caso.

    Compulsando os autos, verifico serem pertinentes os argumentos apresentados pelasegunda requerida, senão vejamos

    A requerente busca a restituição do valor pago pelo produto, hipótese que estaria, emtese, fundamentada no art. 18, §1º, inciso II do CDC,in verbis:

    Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveisrespondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornemimpróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam ovalor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicaçõesconstantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária,respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir asubstituição das partes viciadas.

    § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidorexigir, alternativamente e à sua escolha:

    I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de

    uso;II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, semprejuízo de eventuais perdas e danos;

    III - o abatimento proporcional do preço.

    Conforme se infere do artigo transcrito, existe um prazo de trinta dias para que ofornecedor elimine o vício do produto e, exaurido o prazo sem que isto aconteça, oconsumidor terá direito à substituição do produto, à restituição da quantia paga ou aoabatimento proporcional do preço, alternativamente e à sua escolha.

    Compulsando os autos, verifico que a máquina de lavar em questão apresentou umprimeiro vício (“polia do motor solta”) que foi devidamente solucionado, conforme ordemde serviço de fl. 07. Cerca de um mês depois, o produto apresentou problema diverso doprimeiro (“impeller trincado”), porém a reparação não foi feita, porque, conforme se infereda ordem de serviço de fl. 08, a autora iria trocar o produto. A ata de audiência deconciliação junto ao PROCON, encartada à fl. 09, demonstra que a autora não permitiuque a fabricante tentasse sanar o vício, consignando-se o seguinte:“Dada a palavra a

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    representante legal da Reclamada, esta informa que a proposta de acordo é a visita técnica, se

    reportando a defesa escrita. A Reclamante, não aceita proposta de acordo” (sic).

    Destarte, observo que a requerente não possibilitou à segunda demandada a tentativa dereparação do produto quando apresentado o segundo vício, sendo que o prazo de trintadias a que faz jus o fornecedor, na forma do dispositivo legal supratranscrito, reinicia suacontagem a partir do conhecimento do novo vício. Vale frisar que o direito à substituiçãodo produto ou à devolução da quantia paga não é automático, pois surge apenas apósfrustrada a tentativa do fornecedor em reparar o vício no prazo de trinta dias, conforme

     já salientado. Com a recusa da autora, não foi sequer iniciado o prazo mencionado,elidindo, por consequência, o seu direito de restituição do valor pago.

    Via de consequência, inexistindo ato ilícito praticado pelas requeridas, não há que se

    falar em indenização por danos morais.

    Diante do exposto, julgoIMPROCEDENTESos pedidos autorais, declarando extinto oprocesso com julgamento de mérito, nos termos do artigo 269, I, do CPC.

    Sem condenação em custas e honorários advocatícios (artigo 55 da Lei 9099/95).

    RETIFIQUE-SE a autuação para consta como segundo requerido apenas“WHIRLPOOLS/A” em lugar de “WHIRLPOOL S/A UNIDADE DE ELESTRODOMÉSTICOS –

    BRASTEMP”.

    P.R.I.

    Após o trânsito em julgado, não havendo manifestação das partes, arquive-se com ascautelas de praxe.

      Serra-ES, 22 de abril de 2013.

     GUSTAVO ZAGO RABELO Juiz de Direito

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