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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FERNANDA PINNO DE MELLO RESTITUIÇÃO DO VALOR RESIDUAL GARANTIDO (VRG) EM CONTRATOS DE LEASING CURITIBA 2012

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

FERNANDA PINNO DE MELLO

RESTITUIÇÃO DO VALOR RESIDUAL GARANTIDO (VRG) EM

CONTRATOS DE LEASING

CURITIBA

2012

1

RESTITUIÇÃO DO VALOR RESIDUAL GARANTIDO (VRG) EM CONTRATOS DE LEASING

CURITIBA 2012

2

FERNANDA PINNO DE MELLO

RESTITUIÇÃO DO VALOR RESIDUAL GARANTIDO (VRG) EM

CONTRATOS DE LEASING

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Profª Mestre Vanessa Simionato Gomes.

CURITIBA 2012

3

TERMO DE APROVAÇÃO

FERNANDA PINNO DE MELLO

RESTITUIÇÃO DO VALOR RESIDUAL GARANTIDO (VRG) EM

CONTRATOS DE LEASING Essa monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do titulo de Bacharel no Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ....de..........de 2012

Faculdade de Ciências Jurídicas Universidade Tuiuti do Paraná

Orientadora: Profª Mestre__________________________

Vanessa Simionato Gomes

Prof. Dr._______________________________

Prof. Dr.________________________________

4

AGRADECIMENTOS

Aos advogados Idenor e Guilherme Dreyer do escritório Dreyer Advogados

Associados, os quais me acolheram como estagiária e me ofereceram a

oportunidade de um conhecimento prático das questões jurídicas;

Ao meu irmão, cunhada e sobrinhos, família que tanto amo e que sempre me

apoiaram;

Agradeço a Professora Mestre Vanessa Simionato Gomes, minha orientadora, a

qual me deu condições e transmitiu seus conhecimentos para elaboração deste

trabalho;

Aos meus colegas de trabalho que me incentivaram nessa caminhada;

Aos meus amigos e familiares que me apoiaram direta e indiretamente para atingir

este objetivo.

5

Dedico este trabalho:

A DEUS, que é meu pastor e que nada me deixou faltar;

A minha mãe, por ser meu alicerce e me dar a força necessária para seguir meu

caminho;

Ao meu pai (in memoriam) que tenho certeza, onde quer que ele esteja está

orgulhoso da minha conquista;

Ao Guilherme, meu noivo, que me incentivou e apoiou nesta caminhada.

6

RESUMO

Pretende o presente trabalho demonstrar o direito que assiste ao arrendatário

em ter devolvido o valor pago a título de Valor Residual Garantido – VRG, no caso

de resolução do contrato de arrendamento mercantil. Para isso fez-se necessário o

estudo dos contratos bancários, da aplicação do Código de Defesa do Consumidor a

estes contratos e uma analise do instituto jurídico do contrato de Arrendamento

Mercantil (leasing), desde seu aporte histórico no Brasil, bem como as modalidades

mais utilizadas e suas particularidades, fundamentado na legislação, doutrinas,

jurisprudências e artigos vigentes. Passou-se enfim ao estudo do VRG, analisando a

sua finalidade e demonstrando através de decisões o direito adquirido pelo

arrendatário de ser restituído dos valores pagos ao ter o bem reintegrado pela

arrendadora.

Palavras Chaves: Leasing. VRG. Arrendatário. Devolução.

7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8

2 CONTRATOS BANCÁRIOS .................................................................................... 9

2.1 CONTRATOS BANCÁRIOS E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR .... 10

3 CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL ............................................... 14

3.1 HISTÓRICO DO LEASING NO BRASIL .............................................................. 14

3.2 CONCEITO DE CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL.................... 16

3.3 NATUREZA JURÍDICA DO ARRENDAMENTO MERCANTIL ............................ 17

3.4 ESPÉCIES DE CONTRATOS DE ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING)19

3.4.1Leasing Financeiro ............................................................................................ 20

3.4.2 Leasing Operacional ou Industrial .................................................................... 22

3.4.3 Lease back ....................................................................................................... 24

4 ANÁLISE DO VALOR RESIDUAL GARANTINDO NO CONTRATO DE LEASING. .................................................................................................................................. 25

4.1 O VALOR RESIDUAL GARANTIDO (VRG) E SUA FINALIDADE ...................... 26

4.2 DIREITO À RESTITUIÇÃO DO VALOR RESIDUAL GARANTIDO NO ROMPIMENTO DO CONTRATO DE LEASING ........................................................ 29

4.3 JULGADOS SOBRE O TEMA ............................................................................. 34

5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 38

REFERÊNCIAS: ....................................................................................................... 41

ANEXOS ................................................................................................................... 45

8

1 INTRODUÇÃO

O Arrendamento Mercantil (Contrato de Leasing) é uma espécie de contrato

pelo qual um agente, pretendendo utilizar coisa móvel ou imóvel, faz com que

instituição financeira ou especializada o adquira, alugando-o posteriormente a ele

por prazo certo, facultando-se-lhe ao final que opte entre a devolução do bem, a

renovação do contrato ou a compra pelo preço residual conforme estabelecido1.

O VRG significa valor residual garantido, normalmente utilizado pelas

entidades financeiras para se diminuir o risco do negócio e consequentemente

permitir uma redução dos encargos contratuais. O VRG para satisfazer os princípios

contratuais numa análise do caso concreto, necessita-se uma verificação do aferido

direito, pois, em muitos casos mesmo não ocorrendo a finalização do contrato de

acordo com a quantia já paga o VRG deve ser restituído ao arrendatário por lhe ser

de direito. O que normalmente ocorre é a não devolução/abatimento do valor pago a

título de VRG para o arrendatário permanecendo indevidamente com o arrendador2.

Ao adquirir um bem por meio do contrato de Arrendamento Mercantil

(Leasing) o arrendatário assume o pagamento mensal das prestações. No entanto,

por diversos problemas financeiros, dentre os quais o desemprego, doenças,

falência, etc., muitos arrendatários deixam de adimplir o valor das prestações.

Diante da inadimplência, o arrendador propõe a demanda judicial de

Reintegração de Posse do bem, bem como executa o arrendatário para que esse

faça o pagamento das parcelas não pagas.

Ao realizar um contrato de leasing, o arrendatário paga um valor a título de

contraprestações e outro a título do VRG, e quando há reintegração do bem pela

instituição bancária, o valor pago a título de VRG não é devolvido ao arrendatário,

fato esse, gerador de enriquecimento ilícito por parte dos bancos.

Resta-nos demonstrar através do presente, o direito, respaldado em

decisões de tribunais, em reaver a quantia paga quando há interrupção do contrato

de arrendamento mercantil.

1 Venosa, Direito Civil: Contratos em Espécie. 2010. p. 535. 2 BERGER, Pablo. Contrato de leasing. Antecipação do Valor Residual Garantido (VRG) e a Súmula nº 293 do STJ. Uma visão sistemática dos seus efeitos jurídicos e econômicos.

9

2 CONTRATOS BANCÁRIOS

O contrato de arrendamento mercantil ou leasing é uma espécie de contrato

bancário, portanto faz-se necessário analisarmos os contratos bancários observando

a atividade dos bancos.

Fabio Ulhoa Coelho3 descreve que a atividade típica do banco é a

intermediação de recursos monetários, ou seja, dinheiro. Ela surge junto com a

moeda, na Antiguidade. Estudos de Arqueologia revelam que em antigas

civilizações, como na babilônica ou fenícia, pessoas já se dedicavam a essa

atividade intermediadora. Desde o início, a intermediação de dinheiro era vinculada

ao comércio e tinham como funções principais facilitar trocas de moedas diferentes e

proporcionar segurança na sua guarda ou transporte.

A construção do conceito de contratos bancários insere-se no contexto de

atividade econômica de intermediação de recursos monetários. Os bancos têm sua

função intermediadora viabilizada por meio dos contratos bancários, pois as

operações bancárias se dão por meio destes.

O contrato bancário, como todo contrato, é um fato jurídico, sendo

enquadrado especificamente como negócio jurídico. Desta forma, dentro do âmbito

das operações bancárias, os contratos bancários funcionam com seu esquema

jurídico, como fato jurídico ensejador da relação jurídica obrigacional bancária,

esboçando direitos subjetivos e deveres jurídicos.

Conforme a Lei 4.595/64 no caput dos seus artigos 17 e 18, a atividade de

intermediação de moeda é exclusiva de sociedades empresárias revestidas na

forma de companhias e especificamente autorizadas a operar pelo Banco Central,

se nacionais, ou pelo Presidente da República se estrangeiras.

In verbis:

Art. 17. Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros. Art. 18. As instituições financeiras somente poderão funcionar no País mediante prévia autorização do Banco Central da República

3 Coelho, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, pág. 126.

10

do Brasil ou decreto do Poder Executivo, quando forem estrangeiras.

A Lei 7.492/86 em seu artigo 16 traz que a “captação, intermediação ou

aplicação de recursos financeiros de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira”,

sem devida autorização, comete crime, com reclusão de 1 a 4 anos mais multa.

Vejamos:

Art. 16. Fazer operar, sem a devida autorização, ou com autorização obtida mediante declaração falsa, instituição financeira, inclusive de distribuição de valores mobiliários ou de câmbio:

[...]

Em derradeiro, temos que qualquer pessoa física ou jurídica não estando

autorizada a atuar na atividade bancária, que realiza contratos de intermediação de

dinheiro, comete uma conduta ilícita. A participação indispensável de uma entidade

bancária em pelo menos um pólo da relação contratual é da essência do contrato

bancário.

2.1 CONTRATOS BANCÁRIOS E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Ao abordar o tema contatos bancários na relação de consumo, diz-se

inicialmente que consumidor é “[...] toda pessoa física ou jurídica que adquire ou

utiliza produto ou serviço como destinatário final”4.

A definição jurídica de consumidor é estabelecida pelo Código de Defesa do

Consumidor através do seu artigo 2º, onde estabelece o conceito de consumidor

padrão, standard, o qual é complementado por outras três definições, qualificado

pela doutrina majoritária como espécies de consumidores equiparados. Tendo em

vista que, independentemente de se caracterizarem como tal pela realização de um

ato material de consumo, são referidos deste modo para permitir a aplicação da

tutela protetiva do CDC em favor da coletividade, das vitimas de um acidente de

consumo, ou mesmo de um contratante vulnerável, exposto ao poder e à atuação

abusiva do parceiro negocial mais forte5.

4 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. 5 MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor. 2012. p. 119.

11

A aparentemente simples definição legal permite concluir que: a)

consumidores serão pessoas naturais ou jurídicas, ou seja, qualquer uma delas

poderá estar sobre a égide das normas protetivas do CDC; b) será consumidor tanto

quem adquirir, ou seja, contratar a aquisição de um produto ou serviço, quanto quem

apenas utilizar o referido produto ou serviço. Logo, conclui-se que a relação de

consumo pode resultar de um contrato, assim como pode se dar apenas em razão

de uma relação meramente de fato, que por si só determina a existência desta

relação de consumo.

Nota-se que da interpretação utilizada à definição de consumidor, há de se

estabelecer o âmbito de utilização das suas normas de proteção presentes no CDC,

o que desde já ressalta a importância da questão. Neste sentido, durante o período

já transcorrido de vigência do CDC, desenvolveram-se duas correntes as quais são

a finalista e maximalista.

A corrente de interpretação finalista, segundo ensina Claudia Lima Marques, é

aquela dos pioneiros do consumerismo brasileiro. Sustenta que o conceito de

consumidor deve ser estabelecido de acordo com o critério do artigo 2º do CDC, a

partir, da noção de destinatário final fático e econômico de um produto ou serviço6.

Já a corrente de interpretação maximalista, como sua própria denominação

induz concluir, sustenta que a definição de consumidor deve ser interpretada

extensivamente. Neste sentido, é amparada, tanto pela abertura conceitual da

expressão “destinatário final” referida no artigo 2º caput, quanto pela previsão

relativa aos consumidores equiparados presentes no CDC (artigo 2º, parágrafo

único, artigo 17 e, em especial, artigo 29 do CDC).

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. [...] Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento. [...]

6 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor, 2011, p. 52.

12

Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.

Outrossim, diz-se que os bancos são definidos como fornecedores conforme

disposto no artigo 3º, caput e no §2º do referido artigo tem-se a definição de serviço,

conforme veremos: Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. [...] § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Analisando este artigo não há como aceitar o não enquadramento dos bancos

e demais instituições financeiras no regime protecionista do CDC, uma vez que esta

claramente detectada a atividade na definição de serviços no diploma legal

mencionado, tendo sua atividade natureza empresarial.

Segundo Bruno Miragem7, o homo economicus na sociedade de consumo

depende da atividade bancária para intermediar suas relações econômico-

financeiras, para ter acesso ao crédito e a meios de pagamentos automatizados de

crescente utilização no mercado. Daí o CDC ter previsto expressamente os serviços

bancários, financeiros e de crédito como objeto de relação de consumo. Segundo se

examina ao tratar-se do serviço como objeto da relação de consumo, a inclusão dos

serviços bancários, financeiros e de crédito foi objeto de questionamento na Ação

Direta de Inconstitucionalidade 2.591/DF, proposta pela Confederação Nacional das

Instituições Financeiras (CONSIF). Todavia o STF ao decidir a improcedência da

ação, afirmou expressamente a constitucionalidade da aplicação do CDC a contratos

que tenham por objeto tais serviços, na linha do que, aliás, era consensual no STJ

(Súmula 297).

7 MIRAGEM, Bruno. 2012. p. 328.

13

Súmula 297, STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.

O professor Newton De Lucca8, se posiciona de forma favorável quanto há

aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor quanto aos contratos bancários,

conforme veremos: “[...] Resta evidenciado, por outro lado, que as atividades desempenhadas pelas instituições financeiras, quer na prestação de serviços aos seus clientes (por exemplo, cobrança de contas de luz, água e outros serviços ou então expedição de extratos, etc.), quer na concessão de mútuos ou financiamentos para a aquisição de bens, inserem-se igualmente no conceito amplo de serviços”.

Destaque-se, ainda, a conclusão que chegou Arnaldo Rizzardo9:

Não há dúvida quanto à aplicação do Código de Defesa do Consumidor, introduzido pela Lei 8.078 de 11.09.1990, aos contratos bancários. Como é bastante comum, as entidades financeiras, cuja mercadoria é a moeda, usam nas suas atividades negociais uma série de contratos, em geral de adesão, a eles aderindo aqueles que necessitam de crédito para suas atividades. Proliferam as cláusulas abusivas e leoninas previamente estabelecidas, imodificáveis e indiscutíveis quando da assinatura dos contratos.

Corroborando com as opiniões acima, quanto da aplicabilidade do CDC aos

contratos bancários, temos os seguintes julgados:

APELAÇÃO CÍVEL. ARRENDAMENTO MERCANTIL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE CONEXA. SENTENÇA ULTRA PETITA. 1. SENTENÇA ULTRA PETITA – [...]. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70041952813, Décima Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Niwton Carpes da Silva, Julgado em 02/06/2011) grifo nosso. APELAÇÃO CÍVEL. DECISÃO MONOCRÁTICA. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO. ARRENDAMENTO MERCANTIL. PACTA SUNT SERVANDA. MITIGAÇÃO. POSSIBILIDADE. APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. POSSIBILIDADE. SUFICIÊNCIA DA PREVISÃO DA TAXA ANUAL DE JUROS SUPERIOR AO DUODÉCUPLO DA TAXA MENSAL. ENTENDIMENTO CONSOLIDADO NO STJ. RECURSO REPETITIVO. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. POSSIBILIDADE, DESDE QUE DE FORMA SIMPLES. PREQUESTIONAMENTO. PRESCINDIBILIDADE DE RESPONDER TODOS OS UNDAMENTOS DAS PARTES. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Cível Nº

8 DE LUCCA, Newton. Direito do Consumidor. 2003. p.231. 9 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos de Crédito Bancário. 1999, p. 24.

14

937010-1, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do Paraná. Rel. JOSÉ CARLOS DALACQUA, julgado em 14/08/2012) grifo nosso.

A Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro,

ao analisar a matéria, concluiu no mesmo sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING). APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ILEGALIDADE NA COBRANÇA DO VRG, BEM COMO NA "TARIFA DE CADASTRO/ RENOVAÇÃO", "INCLUSÃO DE GRAVAME ELETRÔNICO" E "TARIFA DE AVALIAÇÃO DE BENS". REFORMA DA SENTENÇA. (Apelação Cível nº 0107637-56.2010.8.19.0001, Oitava Câmara Cível Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Rel. Des. Monica Costa Di Piero, Julgado em 08/05/2012).

Após breve explanação acerca da aplicabilidade do Código de Defesa do

Consumidor nos Contratos Bancários, passaremos a abordar, especificamente, o

contrato de Arrendamento Mercantil.

3 CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL

Neste capítulo trabalharemos o conceito do contrato de arrendamento

mercantil, bem como a natureza jurídica do mesmo.

3.1 HISTÓRICO DO LEASING NO BRASIL

Em meados de 1960, a engrenagem da modernização funcionava a todo

vapor, todavia, os bancos comerciais de crédito não conseguiam atender as

exigências de financiamento da indústria. Tal momento pedia por mudança, foi ai

que surgiu o arrendamento mercantil (leasing), como ferramenta utilizada para

ampliar os investimentos, sem a imobilização de capital próprio.

A Associação Brasileira de Leasing (ABEL) surgiu em 1970 com a intenção de

conscientizar a sociedade dos benefícios do arrendamento mercantil, dividindo a

trajetória do leasing em quatro períodos distintos: o pioneirismo (1967-1973); o de

expansão (1974 – 1982); o de Amadurecimento (1983 – 1989) e o período de

Consolidação10.

10 http://www.leasingabel.org.br/site/Adm/userfiles/20081112052315informativo_172.pdf

15

No período de pioneirismo, quando o empresário Carlos Maria Monteiro

fundou a primeira arrendadora brasileira, em 1967, os Estados Unidos já vinham a

pelo menos 250 anos operando regularmente o leasing. As explicações para o

atraso da implantação no Brasil foram às de que não havia informação suficiente

acerca desta operação; no baixo nível de investimento em ativo fixo no período; no

desconhecimento dos banqueiros em relação às vantagens oferecidas pela

operação e na resistência do empresariado.

No ano de 1974, teve início a expansão do leasing, isso se deu devido à

regulamentação da atividade e aperfeiçoamento da legislação, onde surgiu a Lei

6.099, de 12 de setembro de 1974, introduzindo oficialmente o nome de

arrendamento mercantil para operações de leasing. Sua regulação se deu pela

Resolução nº 351, de 17 de novembro de 1975, do Banco Central do Brasil.

Através desta Resolução, o Banco Central do Brasil disciplinou as operações

de Arrendamento Mercantil, bem como definiu quais as sociedades autorizadas a

praticar tais operações. Mantendo os dispositivos da Lei 6.099, esse diploma legal

preconizou que as operações de arrendamento mercantil são privativas de pessoas

jurídicas registradas no Banco Central do Brasil que tenham como objetivo social

exclusivo a prática desta atividade.

Em 1983, a Lei Federal 7.132 altera a Lei nº 6.099 e traz inovações para o

setor, culminando com o amadurecimento do Arrendamento Mercantil no Brasil.

Segundo Sílvio Salvo Venosa11, a Lei nº 7.132/83 alterou o parágrafo único,

da Lei nº 6.099, para possibilitar sua utilização por pessoa física como arrendatária.

A atividade de arrendadora é reservada somente a pessoas jurídicas.

Outra importante inovação da referida lei foi a cessão de contratos à

entidades do exterior e a alíquota do imposto de renda sobre as remessas; em 1986,

como parte do Plano Cruzado, o governo decretou o fim da indexação da economia,

que apresentava níveis inflacionários jamais vistos. O setor de leasing institui

contratos com taxas de arrendamento flutuantes e movimentou satisfatórios US$ 2,6

Bilhões em recursos líquidos aplicados.

11 VENOSA, Silvio de Salvo. 2010. p. 630

16

Silvio de Salvo Venosa12, leciona que:

A essência do negócio, de acordo com a legislação, é uma operação financeira para a obtenção de um ativo fixo. A empresa arrendadora sujeita, ao controle e fiscalização do Banco Central, é intermediária na operação, captando recursos no mercado e repassando-os por meio de contrato de leasing. Desse modo, em nosso ordenamento, o arrendador deve, necessariamente, ser uma empresa inserida no sistema financeiro. O valor residual estabelecido é por vezes simbólico, inferior ao preço de mercado. O estabelecimento de um valor residual é característica do leasing financeiro, o mais utilizado. Por essa cláusula, as partes fixam, desde logo, o valor que o bem deverá ter no final do período de arrendamento. Essa estipulação recebeu o nome no meio financeiro de “valor residual garantido” (VRG). Esse valor, no entanto, não se confunde com o valor real do bem após utilizado, que pode ser maior ou menor que o VRG e não altera o contratado. Tem entendido a jurisprudência que o pagamento antecipado do valor residual, prática que foi muito utilizada no país, descaracteriza o leasing e torna o negócio um simples contrato de financiamento.

Exposto o histórico do Arrendamento Mercantil (Leasing) no Brasil, passamos

ao próximo subtítulo abordando o conceito deste.

3.2 CONCEITO DE CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL

Encetamos o atual capítulo com a definição de Leasing do Professor Carlos

Patrício Samanez, onde este descreve que: “O Leasing, chamado de Arrendamento

Mercantil pela legislação brasileira, consiste, basicamente, na cessão do usufruto de

um bem mediante uma remuneração periódica, por um prazo determinado, ao fim do

qual o arrendatário pode optar pela renovação do contrato de arrendamento.13

Um lease é um contrato entre um arrendador e um arrendatário, para o

arrendamento pelo arrendatário, de um ativo especifico selecionado de um

fabricante ou vendedor de tal ativo. O arrendador detém a propriedade legal do bem,

e o arrendatário, o uso através do pagamento de contraprestações por um período

de tempo predeterminado.

Em termos gerais, o Leasing pode ser definido como um acordo cujo fim é a

concessão do uso de bens de capital, ou de qualquer outro componente do ativo fixo

de uma empresa, através de contrato de arrendamento, por um prazo determinado,

findo o qual poderá o arrendatário optar entre a devolução do bem objeto de

12 VENOSA, Silvio de Salvo. 2010. p. 540. 13 SAMANEZ, Carlos Patrício. 1990. p. 13.

17

contrato, a renovação do arrendamento ou a sua aquisição pelo valor residual

estabelecido no contrato.

Os autores Silvio de Salvo Venosa14, Wagner Veneziani Costa e Gabriel J. P.

Junqueira15 se posicionam no mesmo sentido ante ao conceito de Leasing:

O leasing é um contrato pelo qual uma empresa, desejando utilizar determinado bem, equipamento ou imóvel, por determinado tempo, o faz através de uma instituição financeira que adquire o referido bem e o aluga a ela. Findo o prazo estabelecido no contrato, o locatário pode optar pela devolução do bem, a renovação ou aquisição pelo preço residual fixado no início do contrato.

Arnaldo Rizzardo16 extrai a idéia do direito universal, onde apresenta como

sendo um contrato de arrendamento mercantil ou leasing, aquele que possui

natureza econômica e financeira, pelo qual uma pessoa jurídica (empresa, por

exemplo), cede em locação um bem móvel ou imóvel, por meio do pagamento de

determinado valor.

Ensina Fabio Ulhoa Coelho17 que o arrendamento mercantil é a locação

caracterizada pela faculdade conferida ao locatário (arrendatário) de, ao término do

prazo locatício, optar pela compra do bem locado. O professor faz um esquema

explicando que, o leasing é a sucessão de dois contratos, o de locação e o de

compra e venda, sendo o último opcional.

3.3 NATUREZA JURÍDICA DO ARRENDAMENTO MERCANTIL

Assinala MANCUSO18, que ao longo de sua evolução, o leasing foi sendo

praticado sob várias modalidades à medida que novos segmentos do mercado

passaram a se interessar por essa figura negocial, É possível, porém, fazer a análise

pertinente a partir do que se pode considerar como um tipo básico de arrendamento

mercantil. Continua o autor aludindo que à simples leitura da conceituação básica do

leasing, se infere que esse contrato é constituído de uma pluralidade de relações

obrigacionais.

14 VENOSA, Silvio de Salvo. 2010. p. 535. 15 COSTA, Wagner Veneziani; JUNQUEIRA, Gabriel J.P. Contratos: Manual Prático e Teórico. 1996. p. 238. 16 RIZZARDO, Arnaldo. 2000, p.18. 17 COELHO, Fabio Ulhoa. 2010. p. 146. 18 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Leasing. 1999. p. 27.

18

Assim, Claude Champaud (citado por COMPARATO, Fábio Konder. Art. cit.,

in RT 389/11) vislumbra cinco figuras negociais: uma promessa sinalagmática de

locação, uma relação de mandato, uma locação de coisas, uma promessa unilateral

de venda e, eventualmente uma venda.

Os autores Wagner Veneziani Costa e Gabriel J. P. Junqueira19 argumentam

que este é considerado um contrato complexo que se desdobra em muitos

seguimentos e vêm sendo analisado no âmbito da compra e venda. Compreende-se

como um contrato consensual, bilateral, oneroso, por tempo determinado e intuitu

personae.

Portanto, o contrato de arrendamento mercantil, é considerado um contrato

misto, que abrange características de demais contratos, tornando-os essenciais e

possuindo a função comum de garantir o resultado do negócio jurídico celebrado.

Sendo que o descumprimento ou a inexistência de um desses elementos

descaracterizará o contrato na sua totalidade frustrando assim, o seu resultado20.

Alude Silvio de Salvo Venosa21:

O arrendamento mercantil, como percebemos, é formado por um complexo de relações negociais, nas quais podem ser identificados claramente vislumbres de locação, promessa de compra e venda, mútuo, financiamento e mandato. Na maioria de suas modalidades, existe uma promessa unilateral de venda. Não é, no entanto, elemento necessário em toda versão deste instituto. Sob qualquer hipótese, deve ser visto como negócio unitário, sem tentativa de decomposição de vários contratos. Originalmente, é contrato atípico misto, que se vale de conceitos de vários outros. Sua idéia centralizadora, todavia, é sem dúvida de locação de coisas.

Frente a todos os ensinamentos, podemos classificar o contrato de leasing

em:

a) Consensual: devido ao mero consentimento entre as partes;

b) Comutativo: devido a consciência dos contratantes ante as vantagens e

desvantagens alcançadas com a execução do contrato;

c) De adesão: devido à imposição do conteúdo contratual ao arrendatário;

d) Bilateral: gera obrigações recíprocas às partes;

19COSTA, Wagner Veneziani; JUNQUEIRA, Gabriel J. P. Contratos, 1996, p.238. 20 <http:// jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=629>. 21 VENOSA, Silvio de Salvo. 2010. p.536.

19

e) Formal: é vedado sua contratação oral, devendo ser celebrados seguindo

algumas formalidades;

f) Oneroso: é benéfico para ambas as partes;

g) De execução sucessiva: pois o pagamento não ocorre de uma só vez, e sim

de forma parcelada, sucessivamente.

h) Prazo determinado: o contrato tem data de início e término.

Após breve análise da natureza jurídica do contrato de leasing, passaremos

ao estudo das espécies do referido contrato.

3.4 ESPÉCIES DE CONTRATOS DE ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING)

Usualmente, distinguem-se dois tipos de Leasing: O Leasing Operacional e o

Leasing Financeiro ou chamado leasing puro, que, além da forma normal,

apresentam-se com características especiais em operações, como Lease-Back,

Leasing Imobiliário, Leasing Exportação, Leasing Importação, etc.

Para Silvio de Salvo Venosa, apesar de existir subdivisões, e novas

modalidades possam surgir, destacam-se: leasing tradicional (operantig lease);

lease back; self lease; dummy corporation e lease purchase22.

Descreve Fabio Ulhoa Coelho que a exploração da atividade de Leasing é

disciplinada pela Resolução BC nº. 2.309/96, do Conselho Monetário Nacional, que

distingue duas modalidades de contrato: o leasing financeiro e o operacional23.

Por sua vez, Jorge Pereira Andrade elucida que existem várias espécies de

leasing no âmbito internacional, mas que nem todos foram disciplinados pela Lei

6.099/74. Declara ainda o autor, que estão disponíveis no Brasil, dois tipos de

leasing, determinados pela resolução 2.309/96, do Conselho Monetário Nacional em

seus artigos 5º e 6º, Anexo, Capítulo III. No entanto, as espécies de leasing

estrangeiro são o self leasing, o leasing operacional e o dummy corporation24.

22 VENOSA, Silvio de Salvo. 2010, p. 538. 23 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, 2010, p. 147 24 ANDRADE, Jorge Pereira. Contratos de franquias e leasing. 1998. p. 78.

20

O professor Arnaldo Rizzardo25 entrevê, que dentre as espécies de

arrendamento mercantil pode-se citar: leasing operacional; arrendamento mercantil

financeiro; arrendamento mercantil contratado com o próprio vendedor; e,

arrendamento mercantil contratado com as organizações empresariais integrantes

do mesmo grupo financeiro.

Passamos a analisar, separadamente, as modalidades de arrendamento

mercantil (leasing), mais expressivos, as quais são o leasing operacional, leasing

financeiro e Lease back.

3.4.1Leasing Financeiro

Carlos Patricio Samanez26 menciona que leasing financeiro ou Arrendamento

Mercantil é uma operação financeira em que uma empresa, chamada arrendante,

adquire bens de capital segundo as especificações e para uso de outra, chamada

arrendatária. Esta, em contrapartida, se propõe a amortizar o preço do bem

acrescido de juros, em contraprestações periódicas como se fossem aluguéis e, no

final do prazo, saldar o residual da divida com o seu pagamento ou devolução do

bem.

Diferencia-se, entretanto, do financiamento convencional, por algumas

características próprias, das quais duas é importante citar.

a) Durante o período de arrendamento a propriedade do bem é da arrendante,

enquanto a posse é da arrendatária;

b) A operação proporciona vantagens fiscais a arrendatária, uma vez que esta

pode deduzir como despesa a totalidade das contraprestações, nestas

incluída principal e juros.

Já Silvio de Salvo Venosa, denomina o leasing tradicional ou financeiro, como

clássico, envolvendo três sujeitos: o arrendante, o arrendador e o fornecedor, com a

cláusula possibilitando a tríplice escolha ao locatário, ou seja, a compra do bem pelo

valor residual, a renovação do contrato ou a devolução do bem. Nesta operação,

uma instituição financeira adquire determinado bem, móvel ou imóvel, e o cede para

25 RIZZARDO, Arnaldo. Leasing. 2000, p.38. 26 SAMANEZ, Carlos Patrício. 1990. p. 17

21

uso, mantendo, porém a propriedade27. É contrato por tempo determinado, cuja

contraprestação é feita em pagamentos periódicos pelo arrendatário ao arrendante,

o qual, ao final, poderá optar pela compra do bem, pela renovação do contrato ou

por sua devolução. Nesta modalidade de leasing, a finalidade de financiamento é

explicita. Em nosso sistema, o arrendador será sempre empresa ligada ao sistema

financeiro.

Essa modalidade, “tem como característica identificadora e mais saliente o

financiamento que faz o locador. Ou seja, o fabricante ou importador não figuram

como locadores. Há uma empresa que desempenha esse papel, a cuja finalidade

ela se dedica. Ocorre a aquisição do equipamento pela empresa de leasing, que

contrata o arrendamento com o interessado”. Prossegue, aduzindo que “o objeto do

leasing financeiro é o beneficio fiscal de que usufruem a empresa e o cliente, com as

deduções do imposto de renda, não previstas relativamente ao arrendamento

operacional, cujo principal motivo de sua contratação é a venda de bens, com a

prestação de serviços28.

Tal modalidade está prevista no artigo 5º da Resolução 2.309/96, alterada

pela Resolução 2.465/98, in verbis:

Art. 5º Considera-se arrendamento mercantil financeiro a modalidade em que: I – as contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos; II – as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos a operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade da arrendatária; III – o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuad0, podendo ser, inclusive, o valor de mercado do bem arrendado.

Sendo assim, tem-se que o leasing financeiro é aquele onde uma instituição

financeira destina-se profissionalmente a adquirir bens produzidos por outros, para

realizar locação destes para uma organização empresarial ou pessoa física,

recebendo por isso uma retribuição anteriormente acordada.

27 VENOSA, Silvio de Salvo, 2010, p. 538. 28 RIZZARDO, Arnaldo. 2000. p. 36.

22

3.4.1.1 Partes Integrantes do Contrato de Leasing Financeiro

O contrato de leasing financeiro possui três partes integrantes: o fabricante ou

vendedor que é o possuidor do bem, o arrendador que adquirirá o bem e o

arrendatário que ficará em posse do bem. Para entendermos melhor como funciona

este contrato, vamos estudar com particularidade cada uma das partes integrantes

deste negócio jurídico.

Fabricante e/ou vendedor do produto

É o proprietário do produto a ser arrendado. É quem fabrica o produto e o

disponibiliza no mercado

Arrendador

Segundo determina a Resolução nº 351 do Banco Central, as operações de

arrendamento mercantil são privativas de pessoas jurídicas registradas no Banco

Central do Brasil que tenham como objetivo social exclusivo a prática desta

atividade.

Ou seja, a condição de arrendador é vedada a pessoas físicas, somente os

bancos e instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central podem atuar como

arrendadoras.

Arrendatário

Qualquer pessoa física ou jurídica a fim de utilizar um bem móvel ou imóvel, o

escolhe e realiza contrato com a arrendadora.

Sua participação no fato deriva-se da sua necessidade de “não imobilizar’,

paralelamente à utilização do bem que precisa para produzir, trabalhar ou conseguir

um objetivo29.

3.4.2 Leasing Operacional ou Industrial

Segundo Silvio de Salvo Venosa30 no leasing operacional, o próprio fabricante

é o arrendante. É modalidade muito utilizada nos Estados Unidos, mormente para a

29 SÁ, A. Lopes de. Leasing e Finanças de Empresa. 1972. p. 32. 30 VENOSA, Silvio de Salvo. 2010. p. 38.

23

cessão de veículos às grades locadoras. Normalmente, vem acompanhado de

compromisso de assistência técnica e manutenção.Trata-se de modalidade útil para

equipamentos que se tornam obsoletos em pouco tempo. Refere ainda o autor que

nessa modalidade não ocorre a intervenção de instituição financeira no contrato, não

havendo também, obrigatoriamente, cláusula de opção de compra ao final.

O leasing operacional envolve a locação de objetos móveis, e muitas vezes

de pequena duração, na idéia de Carlos Patricio Samanez31. O locador pode ser

tanto a empresa locadora com a especializada na sua locação a diversos clientes.

Os aluguéis guardam certa relação com a capacidade produtiva deste ativo ou

serviço, podendo ser rescindível a qualquer momento, às vezes, mediante um aviso

prévio de 30 dias. O locador do ativo, em geral, assume o compromisso de prestar

assistência técnica para a manutenção do equipamento. As locadoras operacionais,

devido à natureza de suas funções, não se enquadram como instituições financeiras.

Seguindo a idéia de Samanez, o autor Arnaldo Rizzardo32, entende que esta

modalidade de leasing, expressa um aluguel de instrumentos ou de materiais, com

cláusula de prestação de serviços, dispondo a possibilidade de compra e venda ou

de rescisão a qualquer momento, desde que esta intenção seja manifestada com

antecedência, geralmente fixada em 30 (trinta) dias.

O artigo 6º, da Resolução 2.309/96, a qual foi alterada pela Resolução

2.465/98, prescreve o leasing operacional, como veremos abaixo: Art. 6º Considera-se arrendamento mercantil operacional a modalidade em que: I – as contraprestações a serem pagas pela arrendatária contemplem o custo do arrendamento do bem e os serviços inerentes à sua colocação à disposição da arrendatária, não podendo o valor presente dos pagamentos ultrapassar 90% (noventa por cento) do custo do bem; II - o prazo contratual seja inferior a 75% (setenta e cinco por cento) do prazo de vida útil econômica do bem; III – o preço para o exercício da opção de compra seja o valor de mercado do bem arrendado; IV – Não haja previsão de pagamento de valor residual garantido.

Frente ao exposto tem-se que o leasing operacional, é espécie de leasing em

que o objeto pertence à empresa arrendadora, que loca ao arrendatário e assume os

riscos do bem, sofrendo, consequentemente com sua obsolescência.

31 SAMANEZ, Patrício. 1990. p.16. 32 RIZZARDO, Arnaldo. Leasing. 2000, p.38.

24

3.4.3 Lease back

Demonstra Silvio de Salvo Venosa33 que o lease back, é utilizável como

instrumento de obtenção de capital pelas empresas, funciona como o arrendamento

clássico, mas prescinde na figura do fornecedor, uma vez que o bem objeto de

contrato já pertence ao locatário. Nessa hipótese, o bem será desmobilizado do ativo

do arrendatário. O locatário é quem vende o bem ao locador, para depois tomá-lo

em leasing. O negócio é privativo, das instituições financeiras. O instituto contém,

entretanto, uma tradição ficta do bem locado. Afasta-se, pois, da modalidade

tradicional.

Neste sentido reflete Rodolfo de Camargo Mancuso34:

Essa operação (conhecida nos Estados Unidos por sale and lease back e na França como cession-bail) é aproximada ao leasing financeiro, distinguindo-se, porém, nisso em que no lease back o locatário é que vende a coisa ao locador, para, ao depois, dele tomá-la em locação, podendo, eventualmente, pactuar-se a denunciabilidade unilateral do contrato, pelo locatário.

Outrossim, esclarece José Augusto Delgado: “As operações de lease back

são disciplinadas pelo Conselho Monetário Nacional e regulamentadas pelo Banco

Central do Brasil, conforme a Resolução 788. De acordo com essa norma

regulamentadora, há condições mínimas para celebração do trato que são: a) o

contrato há de ter por objetos máquinas, aparelhos e/ou equipamentos; b) prazo

mínimo de oito anos; c) valor do contrato inferior a 75% (setenta e cinco por cento)

do bem, acrescidos a esse resultado os encargos financeiros da operação35.

No que concerne ao lease back imobiliário, Adriano Blatt36 adverte que se

deve “atentar para os seguintes prazos usuais de vida útil de bens imóveis: Terrenos

– não está sujeitos a depreciação. Construções novas – o prazo usual de vida útil

contábil é de 25 anos, o que corresponde a uma depreciação anual linear de 4% do

valor do bem. Construções usadas - o prazo usual mínimo de vida útil contábil de

33 VENOSA, Silvio de Salvo. 2010. p. 538. 34 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. LEASING. 1999. p.49. 35 DELGADO, José Augusto. A caracterização do Leasing e seus efeitos jurídicos, in revista forense 269. 36 BLATT, Adriano. Leasing – uma abordagem prática. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1998, p. 30.

25

construções usadas é de metade do prazo usual de vida útil de construções novas

(25 anos), correspondendo a uma depreciação linear anual de 8% do valor do bem.

Mancuso indica as seguintes características do lease back: a) encerra uma

tradição ficta da coisa, já que a intenção da alienante (sempre pessoa jurídica) é de

retomá-la, ato contínuo, em locação; b) a compradora-locadora é, geralmente, uma

instituição financeira; c) a finalidade do negócio é, basicamente, a obtenção de

capital de giro, pela alienação do ativo imobilizado, sem perda da fruição direta do

bem; d) é modalidade normalmente empregada em operações de vulto; e) o preço

pago pelo comprador-locador é, geralmente, inferior ao valor corrente do bem; f) as

despesas de manutenção, seguro, e ônus fiscais relativos à propriedade, compete

ao vendedor locatário37.

4 ANÁLISE DO VALOR RESIDUAL GARANTINDO NO CONTRATO DE LEASING.

Neste capítulo, adentraremos no tema principal do presente trabalho, onde

faremos uma análise mais minuciosa da modalidade de leasing financeiro, com o

foco principal no Valor Residual Garantido (VRG), sobre o prisma do direito do

arrendatário em reaver o valor pago a título de VRG no caso de rescisão do

contrato.

Importante se faz esclarecer que Valor Residual (VR) é diferente de Valor

Residual Garantido (VRG). Ambos os institutos fazem parte do contrato de

arrendamento mercantil, porém possuem funções distintas as quais acarretam efeito

diverso no contrato.

Para Fabiano Oldoni38, pode-se afirmar que o VRG é um valor mínimo que o

arrendador receberá ao final do contrato caso o arrendatário não opte pela compra

do bem em vogo; o VRG pode ser pago antecipadamente, o que segundo o autor

não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil financeiro em contrato de

venda a prazo; sendo que o pagamento do VRG deverá ser feito de forma separada

das prestações.

37 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. LEASING. 1999. Pág.53 38 OLDONI, Fabiano. Arrendamento Mercantil Financeiro. 2006, p. 64.

26

Quanto ao VR o autor afirma “que é aquele correspondente ao exercício da

opção de compra, só podendo ser pago depois de decorrido o prazo mínimo fixado

pelo art. 8º, I, da Resolução 2.309/96”39.

Para Arnaldo Rizzardo (Citado por Fabiano Oldoni, p. 64) resta claro a

diferença entre VR e VRG, conforme veremos:

Há uma distinção entre opção de compra e valor residual de garantia, ou o resíduo que sobra depois do pagamento de todas as prestações. A opção de compra é estabelecida em favor do arrendatário, não ocorrendo o mesmo quanto ao valor residual garantido, que é uma quantia mínima que deve receber o arrendador”.

Como se sabe, caracteriza-se o contrato de leasing pela possibilidade

assegurada ao arrendatário, de, ao final do prazo ajustado, optar entre três

alternativas: a) renovar o contrato, permanecendo com o bem; b) desinteressar-se

da renovação, restituindo a coisa; ou ainda, c) exercer a opção de compra, hipótese

em que as contraprestações – até então configuradas como aluguéis – passam, em

boa medida, a ser tomadas como cotas de amortização do preço40.

A questão principal do presente trabalho é analisar o direito do arrendatário

quando não consegue realizar nenhuma das três opções supracitadas por Mancuso,

ou seja, quando devido a falta de pagamento das contraprestações tem o bem

reintegrado pela arrendadora sem poder exercer a opção de compra e nem tão

pouco ter o valor pago a título de VRG restituído.

Ora, se o arrendador retoma a posse do bem, revende a outro interessado,

qual o direito deste em ficar com os valores de VRG, sendo que o objetivo principal

deste é conceder ao arrendatário a propriedade do bem ao final do contrato,

conforme veremos mais a frente.

4.1 O VALOR RESIDUAL GARANTIDO (VRG) E SUA FINALIDADE

39 “Art. 8º: a) 2 (dois) anos, (...) quando se tratar de arrendamento de bens com vida útil igual ou inferior a 5(cinco) anos; b) 3 (três) anos, (...) par ao arrendamento de outros bens”. Art. 10, da Resolução 2.309/96: “A operação de arrendamento mercantil será considerada como de compra e venda a prestação se a opção de compra for exercida antes de decorrido o respectivo prazo mínimo estabelecido pelo art. 8º deste Regulamento”. 40 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. 1999. p. 150.

27

O VRG é uma garantia para as entidades arrendadoras, uma vez que se o

arrendatário não exercer sua opção de compra, o VRG serviria para garantir o lucro

das arrendadoras bem como extirpar o risco empresarial do negócio.

Segundo Fabiano Oldoni41, o autor Arnaldo Rizzardo, questiona a legalidade

do VRG, tendo a seguinte posição: “Na verdade o valor residual garantido não

consta previsto na Lei 6.099, e muito menos na Lei 7.132. A Res. 980 introduziu-o

expressamente, sobrepondo-se à lei. Instituiu mais uma obrigação, sem que nada

constasse da lei, e descaracterizando a própria natureza do leasing, eis que as

prestações calculam-se em vista do valor do bem, e não se justificando acréscimos,

porquanto já prevista a remuneração da atividade por meio da incidência de juros”.

Claro está que o conflito encontra-se quando o arrendatário realiza a

antecipação do VRG ao arrendador, e no decorrer do contrato continua adimplindo

com parcelas que correspondem a uma antecipação mensal do VRG além das

contraprestações do arrendamento.

Vislumbra Mancuso42, que:

Embora na Lei 6.099/74, atualizada pela Lei 7.132/83, se tenha previsto apenas um único valor residual, a ser adimplido quando do exercício da opção de compra, fato é que pela via transversa da regulamentação alcançou-se (desde a Resolução Bacen 351/75 – art. 8º,f, 1 e 2) uma outra modalidade de valor residual, embutida no chamado valor residual garantido (VRG) e que, curiosamente, pode ter por origem, não o ato positivo do arrendatário, em adquirir o bem, mas, sua inação, a saber: quando ele não exerce o direito de compra ou não pretende a renovação do ajuste.

O VRG tem como objetivo das partes: afiançar o investimento da arrendadora

e a de assegurar um evento futuro e incerto. O VRG é uma garantia, não é preço,

pois paga-se antecipadamente uma garantia do valor mínimo que o bem adquirirá

quando dá alienação a terceiros, não sendo o preço de aquisição do bem.

Esclarece Jorge R. G. Cardoso (Citado por MANCUSO; 1999, p. 152), que

aquele VRG objetiva “garantir que o arrendador receba, ao final do contrato, a

quantia mínima final de liquidação do negócio, em caso de o arrendatário optar por

não exercer seu direito de compra e, também, não desejar que o contrato seja

prorrogado. Afinal, é característica do ‘leasing financeiro’, denominado entre nós

41 OLDONI, Fabiano. 2006, p. 57-58. 42 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. 1999. p. 152.

28

‘arrendamento mercantil’, a recuperação pelo arrendador da totalidade do capital

empregado na aquisição do bem arrendado, ocorrendo tal recuperação pelo

recebimento não só das contraprestações como também pelo recebimento quer do

preço da opção quer do valor de venda a terceiros que, se for o caso, será

complementado pelo arrendatário para atingir o mínimo estipulado contratualmente”.

Esse novo encargo acabou sendo recepcionado na subseqüente normação

regulamentar, preleciona Mancuso: Resolução Bacen 980/84 (art. 9º, I e II) e vigente

Resolução Bacen 2.309/96, em que se previu o VRG no rol das cláusulas que,

minimamente, devem constar de todo contrato de leasing, conforme o art. 7º desta

última resolução, em seu inc. VII: “as despesas e os encargos adicionais, inclusive

despesas de assistência técnica, manutenção e serviços inerentes à

operacionalidade dos bens arrendados, admitindo-se, ainda para o arrendamento

mercantil financeiro: a) a previsão de a arrendatária pagar valor residual garantido

em qualquer momento durante a vigência do contrato, não caracterizando o

pagamento do valor residual garantido o exercício de compra; b) o reajuste do preço

estabelecido para a opção de compra e o valor residual garantido43

Os contratos de Arrendamento mercantil comumente possuem cláusula

determinado o VRG44, “assim entendido aquele valor-normalmente composto de

uma parte do valor de custo do bem, do custo de captação do capital empregado em

sua aquisição, do custo operacional do arrendamento, e da margem de lucro da

arrendadora – que é assegurado à arrendadora receber ao final do contrato, caso a

arrendatária não exerça a opção de compra do bem arrendado e também não

prorrogue o contrato de arrendamento”.

O advogado Guilherme de A. C. Abdalla, do escritório Pinheiro Neto

Advogados, cita a explanação, a seguir, de José Francisco Lopes de Miranda Leão,

acerca do VRG: Se tiver havido antecipações do valor residual estipulado, essa antecipação tem o caráter de caução, e, como qualquer garantia, deverá ser liberada em favor do caucionante, uma vez integralmente cumprida a obrigação contratual garantida. Portanto, caso o arrendatário não opte pela compra do bem, as antecipações deverão, sim, ser restituídas a ele, depois que o bem for vendido, alcançando pelo menos o valor previsto contratualmente. Caso não alcance esse valor, o arrendador, como qualquer credor caucionado, pode lançar

43 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. 1999. Pág.153; 44 http://www.artigonal.com/credito-artigos/devolucao-do-vrg-valor-residual-garantido-quando-pago-antecipadamente-consolidacao-da-jurisprudencia-do-tjsp-tjpr-e-stj-prazo-prescricional-5443758.html.

29

mão da garantia, até o limite que faltar para completar o montante estipulado. Em contrapartida, se o bem alcançar, na venda a terceiro, valor maior do que o contrato previa, não somente deverá ocorrer a devolução dos depósitos caucionários, como deverá haver também o repasse para o arrendatário do excesso recebido, uma vez que a estipulação contratual de valor para o bem é bilateral, valendo tanto para uma parte como para a outra45.

Após a explanação do que é o VRG e qual a sua finalidade, adentraremos no

tema principal do nosso trabalho, o qual é o direito de restituição do VRG em

contratos de leasing.

4.2 DIREITO À RESTITUIÇÃO DO VALOR RESIDUAL GARANTIDO NO ROMPIMENTO DO CONTRATO DE LEASING

Entendemos que o direito a restituição do valor residual garantido, faz-se

presente por meio das ações de reintegração de posse ajuizadas pelas

arrendadoras, devido ao inadimplemento das arrendatárias. Buscando a defesa de

tais demandas, usou-se que o pagamento do VRG significava o exercício antecipado

da opção de compra, confirmando a cerceamento de um dos elementos

fundamentais do contrato de arrendamento mercantil (leasing), o qual seja o direito

do arrendatário em optar pela prorrogação do contrato, devolução da coisa ao

arrendador; ou ainda adquirir a propriedade do bem. Com isso o contrato de leasing

resultaria em contrato de compra e venda a prestação, fato que tornaria impossível a

reintegração almejada pelas arrendadoras.

Tal entendimento teve tamanha repercussão que as Turmas de Direito

Privado do Superior Tribunal de Justiça, editaram a Súmula de nº 263, in verbis:

“A cobrança antecipada do VRG descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil, transformando-o em compra e venda a prestação”.

Porém, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, reconheceu a

validade do acordo do pagamento antecipado do VRG, como elemento ínsito aos

contratos de arrendamento mercantil.

45 http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI3970,71043+Valor+Residual+Garantido+em+contratos+ de+arrendamento+mercantil.

30

É o que assinala o editorial informativo da Abel – Associação Brasileira de

Leasing46:

A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça – STJ – cancelou a súmula 263 sobre o Valor Residual Garantido – VRG – em contratos de leasing. A medida já era esperada pelo Tribunal diante da decisão da Corte Especial nos embargos de divergência julgados em maio último. No julgamento do processo, aquela Corte havia concluído que o pagamento antecipado do VRG não descaracteriza o contrato de leasing, pois não significa o exercício da opção de compra. Como se recorda, a súmula cancelada estabelecia que: “A cobrança antecipada do VRG descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil, transformando-o em compra e venda a prestação”.

Segundo o mesmo artigo, tal decisão do STJ acabou com as incertezas

dando novo ânimo às empresas arrendadoras.

Para dirimir os conflitos o STJ editou a súmula 293, in verbis:

Súmula 293, STJ: “A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil”.

Contudo, mesmo o STJ considerando que a cobrança antecipada do VRG é

admitida, a questão acerca da devolução do valor pago a título do VRG no caso de

resolução do contrato e/ou inadimplência deste, deve ser mantida.

O Enunciado n.º 2.11 da Turma Recursal Única do Estado do Paraná já

pacificou o entendimento no sentido de haver a devolução do VRG.

Enunciado N.º 2.11 – Restituição do VRG – rescisão do contrato de arrendamento mercantil: Rescindido o contrato de arrendamento mercantil, os valores pagos a título de valor residual garantido (VRG) devem ser restituídos ao arrendatário, na forma simples.

Neste diapasão, respeita-se o pacta sunt servanda, pois, caso o arrendatário

não cumpra com suas obrigações de adimplir com as parcelas devidas, restará o

direito da arrendadora em propor a demanda de reintegração do bem em sua posse,

efetivando sua busca e apreensão.

46 http://www.leasingabel.org.br/site/Adm/userfiles/20081112051425informativo_164.pdf

31

No entanto, retomada a posse do bem, deve haver a devolução do Valor

Residual Garantido – VRG, já que o arrendatário não poderá mais adquirir a

propriedade do bem em questão.

Neste sentido se posiciona Fabio Ulhoa Coelho47

“[...]. Quando previsto em contrato, o pagamento do VRG, que pode coincidir com o das parcelas do arrendamento propriamente dito, importa a antecipação pelo arrendatário do valor residual do bem, independentemente do exercício da opção de compra. Caso, ao término do contrato, o arrendatário opte por adquirir o bem arrendado, desembolsará apenas o saldo devedor do valor residual; não exercendo a opção de compra, terá ele direito à devolução da importância correspondente ao VRG, nos termos do contrato”. Grifo nosso.

Porém, não é o que vem ocorrendo quando na devolução do bem ao

arrendador, este tem vendido a coisa a terceiro e não restituído ao arrendatário o

valor referente ao VRG. Devido a isso, nos últimos anos o Juizado Especial e o Cível

têm recebido uma enxurrada de Ações de Cobranças requerendo a restituição do

VRG.

Senão, vejamos: “A devolução do Valor Residual Garantido pago adiantado pelo

arrendatário é efeito da retomada do bem pela instituição financeira,

pois o VRG é o preço contratualmente estipulado para o exercício da

opção de compra da coisa. Assim, o VRG não integra a

contraprestação mensal a título de locação da coisa arrendada e o

seu pagamento antecipado visa suavizar a despesa decorrente da

aquisição do objeto arrendado ao final do pacto. Logo, a imissão na

posse direta do bem pela arrendadora extingue a possibilidade do

arrendatário adquirir o bem em definitivo. Por conseguinte, deve ser

devolvido ao agravado o valor residual pago antecipadamente para

este exclusivo fim”.

As palavras expostas acima são do Ilustríssimo Ministro Relator Humberto

Gomes de Barros do Superior Tribunal de Justiça o qual julgou mérito, na

oportunidade do Agravo de Instrumento n.° 899.822, julgado em 18 de outubro de

2007.

47 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, 201; p. 148.

32

Neste sentido ainda julgou o Ilustre Desembargador do Tribunal de Justiça do

Estado de São Paulo, Mendes Gomes:

As parcelas relativas ao Valor Residual Garantido (V.R.G.), pagas antecipadamente, nada mais representam que um adiantamento em garantia das obrigações contratuais, a ser usado ao final do contrato, na hipótese de ser exercida a opção de compra. Caso contrário, tais quantias deverão ser restituídas, integralmente, ao arrendatário. (Apelação Cível n.° 0121839-71.2009.8.26.0100, julgado em 18/04/2011).

Corroborando com os julgados acima, temos ainda a Cláusula 15ª, da Portaria

nº 3, da Secretaria de Direito Econômico, a qual dispõe que são abusivas as

cláusulas que “estabeleçam, em contrato de arrendamento mercantil (leasing), a

exigência do pagamento antecipado do Valor Residual Garantido (VRG), sem

previsão de devolução desse montante, corrigido monetariamente, se não exercida a

opção de compra do bem”.

Entendemos que a atitude dos bancos em reintegrar os bem e vender a

terceiro, sem restituir o arrendatário do valor correspondente ao VRG, gera

enriquecimento ilícito as entidades bancárias afrontando diretamente o artigo 876 do

Código Civil Brasileiro, in verbis:

Art. 876: Todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir; obrigação que incumbe àquele que recebe dívida condicional antes de cumprida a condição.

Com fulcro neste artigo, têm-se proposto diversas demandas onde se

pretende reaver valores pagos indevidamente à instituições bancárias a título de

VRG (Valor Residual de Garantia), visto que o bem passou ao domínio pleno da

arrendadora, não havendo possibilidade do arrendatário adquirir a sua propriedade.

Grande maioria das demandas propostas tem sido acatada, conforme

podemos constatar na decisão prolatada no Recurso Inominado nº 2008.3602-0,

proveniente do 3º Juizado Cível de Curitiba descrita abaixo:

“Constitui o VRG o preço "pactuado" para o exercício da opção de compra,

segundo expressa previsão do art. 5º, alíneas "c" e "d" da Lei nº 6.099/74, sendo

esta, portanto, sua natureza jurídica. Em assim sendo, por evidente que o não

33

exercício daquela opção importaria no direito do arrendatário à devolução do que

pagou a tal título, sob pena de locupletamento indevido”. Grifo nosso.

Neste sentido temos ainda:

"ARRENDAMENTO MERCANTIL - 'LEASING' - CONTRATO - NULIDADE - CLÁUSULA QUE AUTORIZA RECLAMAR PRESTAÇÃO POSTERIOR, À RETOMADA DO BEM - CARÁTER LEONINO E ANTIJURÍDICO – E CONHECIMENTO - Abusiva se afigura a cobrança do integral valor estipulado de perda, pois mesmo depois de pagar todas as parcelas do arrendamento e ainda o valor residual ajustado para adquirir o veículo, a arrendatária ficaria sem ele, posto que lhe foi retomado, sobrando-lhe, do negócio que fez, somente a honra de ter sido esfolada em vida por instituição financeira ilicitamente enriquecida às suas custas. ( II TACSP, Ap. c/ Rev. 677.170-00/2 - 12a Câm. - Rei. Juiz PALMA BISSON - J. 23.9.2004) grifo nosso.

Este último julgado assevera todo o nosso entendimento, pois, muito nos

revolta constatar as arbitrariedades sofridas pelo consumidor frente às relações com

instituições bancárias, desde a cobrança de juros astronômicos, como exigências

descabidas de garantias, colocando sempre o consumidor em situações

desfavoráveis.

Podemos encerrar o presente subtítulo, com a decisão do Ilustre Des. Lauri

Caetano da Silva, na Apelação Cível nº 634.489-8, da 3ª Vara Cível Da Comarca de

Maringá, julgado em 27 de Janeiro de 2010.

[...] Contudo, mesmo que não se estivesse diante de uma relação de consumo, a restituição do VRG decorreria da aplicação do princípio que veda o enriquecimento ilícito (art. 884 do Código Civil), vez que, com a impossibilidade de aquisição do veículo, não há razão para que o banco fique com o valor do VRG, pois tal apropriação somente se justificaria em caso de exercício de opção de compra do bem pelo arrendatário. Sendo assim, aplica-se o CDC neste caso concreto, porém não se vislumbra que a incidência das normas consumeristas seja preponderante para o julgamento da questão. Aduz o apelante que o VRG não pode ser restituído, pois se presta como garantia de ressarcimento dos prejuízos causados por eventual inadimplemento do arrendatário. Acerta o apelante quando afirma que a antecipação do VRG (valor residual garantido) tem caráter de garantia, pois efetivamente se configura como caução prestada à instituição financeira diante de eventual opção de compra. Porém, não sendo exercida esta opção, e havendo a retomada do bem pelo arrendador, é devida a sua devolução. É a adequada interpretação da Portaria 564/78, do Ministério da Fazenda e do Regulamento da Resolução Bacen nº 2309/96.Não se pode olvidar que o contrato de arrendamento mercantil tem natureza complexa, na medida em que integrado por

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elementos da compra e venda, da locação e do financiamento, de modo que a sua resolução não tem quaisquer reflexos quanto à parcela da remuneração devida pela utilização (locação) do bem arrendado, mas torna inexigível o valor correspondente ao VRG, que constitui o preço de aquisição da coisa, a ser pago apenas e tão-somente na hipótese de que esta se consume, pelo oportuno exercício da opção de compra. Isso porque, trata-se o VRG de valor que não guarda relação com o preço do uso e fruição do bem durante certo lapso de tempo (locação), nem com os custos da operação financeira. Significa isto dizer que ao pagar antecipadamente o valor residual, ao início do contrato ou diluído nas contraprestações, o arrendatário está, desde logo, pagando o preço de aquisição do bem arrendado. Portanto, o momento do efetivo pagamento do VRG não prejudica a natureza jurídica de tal instituto. A parcela compõe o valor de aquisição e não remanescendo a possibilidade de compra, já que o bem foi restituído, o valor correspondente há de ser devolvido, sob pena de enriquecimento ilícito do arrendante. Assim, considerando que, no caso em tela, houve a retomada do bem pelo apelante, imperativo que sejam devolvidos os valores adiantados a título de Valor Residual Garantido (VRG) ao apelado.

Após toda explanação, passamos ao último subtítulo apresentando os

julgados que corroboram com o direito a restituição do VRG no término dos

contratos de arrendamento mercantil (leasing).

4.3 JULGADOS SOBRE O TEMA

Como se sabe no Brasil o sistema jurídico é Civil Law, porém o Brasil vem se

aproximando do sistema Commom Law, ou seja, é um sistema que acompanha as

decisões jurisprudenciais e baseia suas decisões em julgados. Utilizaremos o

presente subtítulo para fazer um apanhado das decisões pelo Brasil acerca do

direito à Restituição do VRG em contratos de leasing.

Iniciaremos pelos julgados da Turma Recursal do Paraná: EMENTA: RECURSO INOMINADO - COBRANÇA - CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL - RESOLUÇÃO DO CONTRATO E REINTEGRAÇÃO DO CREDOR NA POSSE DO BEM - DEVOLUÇÃO DO VALOR RESIDUAL GARANTIDO (VRG) PAGO ANTECIPADAMENTE - ART. 53 DO CDC - PRECEDENTES DO STJ - APLICAÇÃO DO ENUNCIADO N.º 30 DESTA TRU - SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. Recurso conhecido e desprovido. (Recurso Inominado nº 2009.6003-7/0 oriundo do 4º Juizado Especial Cível da Comarca de Londrina – Relator Telmo Zaions Zainko – julgado em 17/07/2009).

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ARRENDAMENTO MERCANTIL - RESCISÃO DE CONTRATO COM APREENSÃO DO BEM - VRG PAGO ANTECIPADAMENTE - DEVOLUÇÃO DEVIDA - DIREITO DO ARRENDATÁRIO - PRECEDENTES DESTA TRU - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO. 1. Constitui o VRG o preço "pactuado" para o exercício da opção de compra, segundo expressa previsão do art. 5º, alíneas "c" e "d" da Lei nº 6.099/74, sendo esta, portanto, sua natureza jurídica. Em assim sendo, por evidente que o não exercício daquela opção importaria no direito do arrendatário à devolução do que pagou a tal título, sob pena de locupletamento indevido. 2. Enunciado 30 da TRU/PR: “Rescindido o contrato de arrendamento mercantil, os valores pagos à guisa de Valor Residual Garantido (VRG) devem ser restituídos ao arrendatário.” Recurso conhecido e desprovido. (Recurso Inominado nº 2009.6115-1 oriundo do 8º Juizado Especial Cível da Comarca de Curitiba – Relator Telmo Zaions Zainko – julgado em 10/07/2009).

Julgado do Tribunal de Justiça de Minas Gerais:

"ARRENDAMENTO MERCANTIL (...) RESCISÃO - INADIMPLÊNCIA - DEVOLUÇÃO DO VRG - FRUIÇÃO - COMPENSAÇÃO - POSSIBILIDADE. (...) No contrato de arrendamento mercantil provado ter o arrendatário descumprido a sua principal obrigação, qual seja, a de pagar pontualmente as prestações ajustadas, dá-se a sua rescisão automática, ante a existência de cláusula resolutória expressa. - Consoante pacífico entendimento jurisprudencial, mostra-se perfeitamente adequado que os valores das prestações atrasadas sejam compensados com os valores pagos, a título de adiantamento do VRG, pela fruição do bem, até a data de sua efetiva devolução, ou seja, quando ocorreu a busca e apreensão do veículo" (Apelação Cível 1.0105.03.087995-8/001, Rel. Des. Tarcísio Martins Costa, J.:24/01/06).

"ARRENDAMENTO MERCANTIL - INADIMPLÊNCIA - RESCISÃO CONTRATUAL - PERDAS E DANOS - COMPENSAÇÃO DO VRG. "A cobrança antecipada do valor residual garantido não descaracteriza o leasing para compra e venda financiada" (STJ, Súmula 293). Em decorrência da resolução do contrato de leasing, o arrendador tem direito ao recebimento das contraprestações (aluguel) até a data da efetiva entrega do bem, mormente em razão do vencimento de todas elas. Em relação ao VRG, este é devido pelo arrendatário quando pretende adquirir o bem. Nas outras duas hipóteses, tal valor deverá ser devolvido ao arrendatário, podendo ser compensado com o seu débito. É devida indenização por perdas e danos, pelo uso e fruição do bem pelo arrendatário inadimplente" (Apelação Cível 463.102-7, 11ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Rel. Des. Maurício Barros, J.:11/05/05).

Vejamos as decisões do Tribunal de Justiça de São Paulo:

Arrendamento Mercantil de bens móveis. Reintegração de posse. A ação é de reintegração de posse em decorrência da mora comprovada e confessada do arrendatário, assim configurando o esbulho possessório autorizador da presente ação, bem como de sua procedência. Arrendamento Mercantil de bens móveis. Reintegração de posse. Devolução do VRG. Admite-se a devolução e/ou a

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compensação do valor residual garantido – VRG, pago antecipadamente quando não há a efetivação da compra, em face do seu intuito primordial, ou seja, destina-se a provisionar futuro exercício do direito de opção de compra e não com lastro nas disposições do Código de Defesa do Consumidor. (Apelação nº 713449/7-00,992.01.006093-5, 28ª Câmara do D. Quarto, Tribunal de Justiça de São Paulo, Rel. Júlio Vidal, julgado em 27/09/2005). Grifo nosso

Agravo de Instrumento. Assistência judiciária gratuita. Impossibilidade de pagar as custas do processo e honorários de advogado. Presunção de veracidade da afirmação feita pela parte. Agravo de Instrumento. Arrendamento Mercantil. Ação de rescisão contratual com pedido de restituição do VRG. Arrendatário que pretende devolver o veículo porque está com dificuldade de adimplir o contrato de 'leasing'. Admissibilidade. Rescindido o contrato, não se cogitando da opção pela compra pelo arrendatário, são indevidas as parcelas relativas ao valor residual garantido que, então, devem ser restituídas ou compensadas com contraprestações vencidas e não pagas. Tutela antecipada concedida. Recurso provido. (Agravo de Instrumento nº 1678385120128260000, 36ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, Rel. Pedro Baccarat, julgado em 23/08/2012).

Julgados do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul:

INCIDENTE DE PROCESSO REPETITIVO. RECURSO ESPECIAL. REEXAME DO ACÓRDÃO. ART. 543-C § 7º INC. II DO CPC. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL. REsp. nº 1.061.530. REsp. n.º 1.058.114-RS Disposições de ofício. Restituição do VRG pago de forma antecipada. Tarifa de contratação. Relação de consumo. Cabimento. DETERMINAÇÃO DE QUE SEJAM REBATIDAS AS CONCLUSÕES FIRMADAS PEL E. STJ - VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA DO JUIZ. Mantida a decisão recorrida. (Apelação Cível Nº 70024907917, Décima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Breno Pereira da Costa Vasconcellos, Julgado em 16/06/2011). Grifo nosso.

Apelação cível. Ação revisional de contrato de arrendamento mercantil. Ausência de interesse recursal quanto aos pleitos de comissão de permanência e aplicação do IGP-M. Não conhecimento. Mérito. Aplicabilidade do CDC. Juros remuneratórios limitados. Precedentes. Juros moratórios em 1% a.m. Precedente. Capitalização anual. Disposições de ofício. Restituição do VRG pago de forma antecipada. TAC, TEC. Relação de consumo. Cabimento. Apelo, em parte, provido, vencida, em parte, a revisora. Com disposições de ofício. (Apelação Cível Nº 70027021872, Décima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Breno Pereira da Costa Vasconcellos, Julgado em 27/11/2008)

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Finalizaremos com os Julgados do Superior Tribunal de Justiça, deferindo a

devolução do VRG:

Agravo no recurso especial. Ação de restituição de valores de contrato de arrendamento mercantil. Devolução do VRG.- É possível a devolução do VRG, pago antecipadamente, após a resolução do contrato de arrendamento mercantil e desde que restituído o bem na posse da arrendante. Precedentes. Agravo não provido. (AgRg no REsp 960532/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 14.11.2007, DJ 26.11.2007 p. 191) – grifo nosso.

RECURSO ESPECIAL - CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL – PRAZO PRESCRICIONAL - DECENAL - RESCISÃO ANTECIPADA DO CONTRATO – VALOR RESIDUAL GARANTIDO (VRG) - DEVOLUÇÃO - POSSIBILIDADE - ACÓRDÃO RECORRIDO EM HARMONIA COM O ENTENDIMENTO DESTA CORTE - RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO. No que se refere ao mérito do recurso, os elementos existentes nos autos dão conta de que o Tribunal de origem entendeu ser devida a restituição do VRG pago antecipadamente em razão da rescisão contratual, tendo em vista que, com a retomada da posse do bem pela arrendadora, restou prejudicada a opção de compra ao final do contrato. Bem de ver que o entendimento adotado pelo Tribunal a quo está em sintonia com a jurisprudência firmada nesta Corte, no sentido de que devem ser devolvidos os valores recebidos pelo arrendador a título de VRG, quando da rescisão do contrato por inadimplemento da arrendatária. (STJ, REsp 1260098, Ministro Relator MASSAMI UYEDA, publicado em 11/10/2011). RECURSO ESPECIAL. AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL. JULGAMENTO EXTRA PETITA. AUSÊNCIA DE REQUESTIONAMENTO. I.- É inadmissível o recurso especial quanto à questão que não foi apreciada pelo Tribunal de origem. II.- Diante da resolução do contrato de arrendamento mercantil por inadimplemento do arrendatário, retomada a posse direta do bem pelo arrendante, extinguiu-se a possibilidade de o arrendatário adquirir o bem. Por conseguinte, deve ser devolvido o valor residual pago antecipadamente. Agravo Regimental improvido. (AgRg no REsp 1243889/SC, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/05/2011) – grifo nosso.

Portanto, analisado o entendimento de que é devida a restituição dos valores

pagos à título do VRG, destaca-se que através de doutrinas e julgados sobre o

tema, buscou-se elucidar possíveis dúvidas acerca deste direito quando há a

resolução do contrato de arrendamento mercantil.

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5 CONCLUSÃO

Ao tratar dos contratos bancários, importante se faz destacar a aplicabilidade

do Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista que o arrendatário é

hipossuficiente ao arrendador, tendo assim um instrumento de grande valia para a

defesa de seus direitos.

Como vimos, consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire um

produto ou serviço como destinatário final. Este é o entendimento para a teoria

finalista do significado de consumidor, conforme descrito no art. 2º do Código de

Defesa do Consumidor.

Para a corrente maximalista amplia o conceito de consumidor, pois baseia-se

tanto pela abertura conceitual da expressão “destinatário final” referida no artigo 2º

caput, quanto pela previsão relativa aos consumidores equiparados presentes no

CDC (artigo 2º, parágrafo único, artigo 17 e, em especial, artigo 29 do CDC).

Já os bancos enquadram-se na definição fornecedores, conforme disposto no

artigo 3º, caput e no §2º do mesmo diploma legal. Sua característica esta elencada

na parte final do referido artigo, “prestação de serviços”, e no parágrafo 2º

encontramos a descrição de tais serviços: “ [...] qualquer atividade fornecida no

mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária,

financeira [...]”.

Tais definições permitiram diversos julgados admitir a aplicação do CDC nas

relações bancárias.

Analisando o histórico do leasing no Brasil, constatou-se que apesar dos

vários anos que este instituto jurídico está implantado no Brasil, ele ainda esta

engatinhando se comparado aos Estados Unidos. Notou-se que a demora da

implantação se deu devido a falta de conhecimento deste tipo de contrato, bem

como. A expansão do leasing ocorreu quando dá criação da Lei 6.099 em 12 de

setembro de 1974, introduzindo o nome de Arrendamento Mercantil para contratos

desta modalidade, regulado pela Resolução nº 351, de 17 de novembro de 1975, do

Banco Central do Brasil. Em 1983, surgiu a Lei Federal 7.132 que alterou a Lei nº

6.099, onde seu maior impacto foi na autorização para pessoas físicas fazerem uso

do contrato de arrendamento mercantil, como arrendatárias.

Quando adentramos no conceito de arrendamento mercantil, fácil foi perceber

que o fator que diferencia esta modalidade de contrato das demais modalidades

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existentes é as opções oferecidas ao arrendatário quanto ao objeto arrendado, ou

seja, o arrendatário tem a opção de devolver o bem, renovar o contrato ou ainda

adquirir a coisa pelo preço residual fixado quando no término do contrato.

Quanto à natureza jurídica deste contrato, deparamos com muitas

controvérsias entre os doutrinadores devido a sua pluralidade de relações

obrigacionais. Para muitos autores o leasing é uma promessa sinalagmática de

locação, uma relação de mandato, uma locação de coisa, uma promessa unilateral

de venda e uma venda. Concluímos que o contrato de arrendamento mercantil é

complexo onde o arrendador pode arrendar qualquer produto móvel, semovente ou

imóvel ao arrendatário, desde que este não seja fungível e/ou consumível. Podemos

então resumir o contrato de arrendamento mercantil, onde é o próprio arrendatário

que define o bem perante o fabricante/vendedor, apenas indicando-o ao arrendador,

que irá adquiri-lo e, posteriormente, arrendá-lo ao arrendatário.

Por fim, entendemos que o contrato de arrendamento mercantil como sendo

consensual, bilateral, oneroso, comutativo, por prazo determinado, de execução

sucessiva e intuitu persona.

Após analisarmos o conceito e a natureza jurídica do contrato de

arrendamento mercantil, fez-se uma apreciação das três modalidades mais usuais

deste tipo de contrato, as quais foram o leasing financeiro, o leasing operacional e o

lease back. Dar-se-á maior destaque ao Leasing financeiro tendo em vista que é a

modalidade que comporta o VRG, assunto principal do presente estudo, sendo

inclusive conhecido como o leasing bancário, puro. Essa modalidade tem como

característica identificadora o locador. Onde uma instituição bancária adquire o

produto de um fabricante e posteriormente arrenda o bem ao arrendatário.

Dentro ainda da modalidade do leasing financeiro estudamos as partes

componentes deste contrato.

Por fim, no derradeiro capítulo, adentramos no instituto do Valor Residual

Garantido, fazendo uma breve diferenciação entre o VRG e o VR (Valor Residual),

pois ambos os institutos possuem uma sutil diferença.

Abordamos de forma breve a questão da descaracterização do contrato de

leasing mediante o pagamento de forma antecipada do VRG, fato este que restou

comprovado pela Súmula 293 do Superior Tribunal de Justiça não haver.

Fizemos uma breve explanação acerca do significado do VRG e sua

finalidade, chegando à conclusão de que o VRG é uma garantia utilizada pelas

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arrendadoras com o objetivo de reaver parte do capital investido, tendo em vista a

depreciação do bem.

Em derradeiro, demonstramos por meio de doutrinas e principalmente através

da jurisprudência de nosso país o direito adquirido pelo arrendatário em ter restituído

os valores pagos correspondentes ao VRG. Pois o pagamento antecipado do Valor

Residual Garantido, tem como único objetivo a compra do bem ao final do contrato,

objetivo esse não atendido tendo em vista a resolução do contrato e reintegração da

posse do bem da arrendadora.

41

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42

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44

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ANEXOS

LEI No 6.099, DE 12 DE SETEMBRO DE 1974.

Dispõe sobre o tratamento tributário das operações de arrendamento mercantil e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art 1º O tratamento tributário das operações de arrendamento mercantil reger-se-á pelas disposições desta Lei.

Parágrafo único. Considera-se arrendamento mercantil a operação realizada entre pessoas jurídicas, que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos a terceiros pela arrendadora, para fins de uso próprio da arrendatária e que atendam às especificações desta.

Parágrafo único - Considera-se arrendamento mercantil, para os efeitos desta Lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta. (Redação dada pela Lei nº 7.132, de 1983)

Art. 1o-A. Considera-se operação de crédito, independentemente da nomenclatura que lhes for atribuída, as operações de arrendamento cujo somatório das contraprestações perfaz mais de setenta e cinco por cento do custo do bem. (Incluído pela Medida Provisória nº 449, de 2008) (Vigência)

Parágrafo único. No porcentual do caput inclui-se o valor residual garantido que tenha sido antecipado. (Incluído pela Medida Provisória nº 449, de 2008) (Vigência)

Art 2º Não terá o tratamento previsto nesta Lei o arrendamento de bens contratado entre pessoas jurídicas direta ou indiretamente coligadas ou interdependentes, assim como o contratado com o próprio fabricante.

§ 1º O Conselho Monetário Nacional especificará em regulamento os casos de coligação e interdependência.

§ 2º Somente farão jus ao tratamento previsto nesta Lei as operações realizadas ou por empresas arrendadoras que fizerem dessa operação o objeto principal de sua atividade ou que centralizarem tais operações em um departamento especializado com escrituração própria.

Art 3º Serão escriturados em conta especial do ativo imobilizado da arrendadora os bens destinados a arrendamento mercantil.

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Art 4º A pessoa jurídica arrendadora manterá registro individualizado que permita a verificação do fator determinante da receita e do tempo efetivo de arrendamento.

Art 5º Os contratos de arrendamento mercantil conterão as seguintes disposições:

a) prazo do contrato;

b) valor de cada contraprestação por períodos determinados, não superiores a um semestre;

c) opção de compra ou renovação de contrato, como faculdade do arrendatário;

d) preço para opção de compra ou critério para sua fixação, quando for estipulada esta cláusula.

Parágrafo único - Poderá o Conselho Monetário Nacional, nas operações que venha a definir, estabelecer que as contraprestações sejam estipuladas por períodos superiores aos previstos na alínea b deste artigo. (Parágrafo incluído pela Lei nº 7.132, de 1983)

Art 6º O Conselho Monetário Nacional poderá estabelecer índices máximos para a soma das contraprestações, acrescida do preço para exercício da opção da compra nas operações de arrendamento mercantil.

§ 1º Ficam sujeitas à regra deste artigo as prorrogações do arrendamento nele referido.

§ 2º Os índices de que trata este artigo serão fixados: considerando o custo do arrendamento em relação ao do funcionamento da compra e venda.

Art 7º Todas as operações de arrendamento mercantil subordinam-se ao controle e fiscalização do Banco Central do Brasil, segundo normas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, a elas se aplicando, no que couber, as disposições da Lei número 4.595, de 31 de dezembro de 1964, e legislação posterior relativa ao Sistema Financeiro Nacional.

Art 8º O Conselho Monetário Nacional poderá baixar resolução disciplinando as condições segundo as quais as instituições financeiras poderão financiar suas coligadas ou interdependentes, que se especializarem em operações de arrendamento mercantil.

Art. 8o O Conselho Monetário Nacional poderá baixar resolução disciplinando as condições segundo as quais as instituições financeiras poderão financiar suas controladas, coligadas ou interdependentes que se especializarem em operações de arrendamento mercantil. (Redação dada pela Medida Provisória nº 442, de 2008). Parágrafo único. A aquisição de debêntures emitidas por sociedades de

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arrendamento mercantil, em mercado primário ou secundário, constitui obrigação de natureza cambial, não caracterizando operação de empréstimo ou adiantamento. (Incluído pela Medida Provisória nº 442, de 2008).

Art. 8o O Conselho Monetário Nacional poderá baixar resolução disciplinando as condições segundo as quais as instituições financeiras poderão financiar suas controladas, coligadas ou interdependentes que se especializarem em operações de arrendamento mercantil. (Redação dada pela Lei nº 11.882, de 2008)

Parágrafo único. A aquisição de debêntures emitidas por sociedades de arrendamento mercantil em mercado primário ou secundário constitui obrigação de natureza cambiária, não caracterizando operação de empréstimo ou adiantamento. (Redação dada pela Lei nº 11.882, de 2008)

Art 9º As operações de arrendamento mercantil contratadas com o próprio vendedor do bem ou com pessoas jurídicas a ele vinculadas, mediante qualquer das relações previstas no artigo 2º desta Lei, poderão enquadrar-se no tratamento tributário previsto nesta Lei.

§ 1º Serão privativas das instituições financeiras as operações de que trata este artigo.

§ 2º O Conselho Monetário Nacional estabelecerá às condições para a realização das operações previstas neste artigo.

§ 3º Nos casos deste artigo, não se admitirá a dedução do prejuízo decorrente da venda dos bens, quando da apuração do lucro tributável pelo imposto de renda.

Art. 9º - As operações de arrendamento mercantil contratadas com o próprio vendedor do bem ou com pessoas jurídicas a ele vinculadas, mediante quaisquer das relações previstas no art. 2º desta Lei, poderão também ser realizadas por instituições financeiras expressamente autorizadas pelo Conselho Monetário Nacional, que estabelecerá as condições para a realização das operações previstas neste artigo. (Redação dada pela Lei nº 7.132, de 1983)

Parágrafo único - Nos casos deste artigo, o prejuízo decorrente da venda do bem não será dedutível na determinação do lucro real. (Redação dada pela Lei nº 7.132, de 1983)

Art 10. Somente poderão ser objeto de arrendamento mercantil os bens de produção estrangeira que forem enumerados pelo Conselho Monetário Nacional, que poderá, também, estabelecer condições para seu arrendamento a empresas cujo controle acionário pertencer a pessoas residentes no exterior.

Art 11. Serão consideradas como custo ou despesa operacional da pessoa jurídica arrendatária as contraprestações pagas ou creditadas por força do contrato de arrendamento mercantil.

§ 1º A aquisição pelo arrendatário de bens arrendados em desacordo com as disposições desta Lei, será considerada operação de compra e venda a prestação.

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§ 2º O preço de compra e venda, no caso do parágrafo anterior, será o total das contraprestações pagas durante a vigência do arrendamento, acrescido da parcela paga a título de preço de aquisição.

§ 3º Na hipótese prevista no parágrafo primeiro deste artigo, as importâncias já deduzidas, como custo ou despesa operacional pela adquirente, acrescerão ao lucro tributável pelo imposto de renda, no exercício correspondente à respectiva dedução.

§ 4º O imposto não recolhido na hipótese do parágrafo anterior, será devido com acréscimo de juros e correção monetária, multa e demais penalidades legais.

Art 12. Serão admitidas como custos das pessoas jurídicas arrendadoras as cotas de depreciação do preço de aquisição de bem arrendado, calculadas de acordo com a vida útil do bem.

§ 1º Entende-se por vida útil do bem o prazo durante o qual se possa esperar a sua efetiva utilização econômica.

§ 2º A Secretaria da Receita Federal publicará periodicamente o prazo de vida útil admissível, em condições normais, para cada espécie de bem.

§ 3º Enquanto não forem publicados os prazos de vida útil de que trata o parágrafo anterior, a sua determinação se fará segundo as normas previstas pela legislação do imposto de renda para fixação da taxa de depreciação.

Art 13. Nos casos de operações de vendas de bens que tenham sido objeto de arrendamento mercantil, o saldo não depreciado será admitido como custo para efeito de apuração do lucro tributável pelo imposto de renda.

Art 14. Não será dedutível, para fins de apuração do lucro tributável pelo imposto de renda, a diferença a menor entre o valor contábil residual do bem arrendado e o seu preço de venda, quando do exercício da opção de compra.

Art 15. Exercida a opção de compra pelo arrendatário, o bem integrará o ativo fixo do adquirente pelo seu custo de aquisição.

Parágrafo único. Entende-se como custo de aquisição para os fins deste artigo, o preço pago pelo arrendatário ao arrendador pelo exercício da opção de compra.

Art 16. Os contratos de arrendamento mercantil celebrados com entidades com sede no exterior serão submetidos a registro no Banco Central do Brasil.

§ 1º O Conselho Monetário Nacional estabelecerá as normas para a concessão do registro a que se refere este artigo observando as seguintes condições:

a) razoabilidade da contraprestação; b) critério para fixação da vida útil do bem objeto do arrendamento; c) compatibilidade do prazo de arrendamento do bem com a sua vida útil; d) relação entre o preço internacional de comercialização e o custo total do

arrendamento;

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e) fixação do preço para a opção de compra; f) outras cautelas ditadas pela política econômica-financeira nacional. § 2º É vedada a fixação de critérios condicionais na determinação do preço para

opção de compra, quando a arrendadora for entidade com sede no exterior.

Art. 16 - Os contratos de arrendamento mercantil celebrado com entidades domiciliadas no exterior serão submetidos a registro no Banco Central do Brasil. (Redação dada pela Lei nº 7.132, de 1983)

1º - O Conselho Monetário Nacional estabelecerá as normas para a concessão do registro a que se refere este artigo, observando as seguintes condições: (Redação dada pela Lei nº 7.132, de 1983)

a) razoabilidade da contraprestação e de sua composição; (Redação dada pela Lei nº 7.132, de 1983)

b) critérios para fixação do prazo de vida útil do bem; (Redação dada pela Lei nº 7.132, de 1983)

c) compatibilidade do prazo de arrendamento do bem com a sua vida útil; (Redação dada pela Lei nº 7.132, de 1983)

d) relação entre o preço internacional do bem o custo total do arrendamento; (Redação dada pela Lei nº 7.132, de 1983)

e) cláusula de opção de compra ou renovação do contrato; (Redação dada pela Lei nº 7.132, de 1983)

f) outras cautelas ditadas pela política econômico-financeira nacional. (Redação dada pela Lei nº 7.132, de 1983)

2º - Mediante prévia autorização do Banco Central do Brasil, segundo normas para este fim expedidas pelo Conselho Monetário Nacional, os bens objeto das operações de que trata este artigo poderão ser arrendados a sociedades arrendadoras domiciliadas no País, para o fim de subarrendamento. (Redação dada pela Lei nº 7.132, de 1983)

3º - Estender-se-ão ao subarrendamento as normas aplicáveis aos contratos de arrendamento mercantil celebrados com entidades domiciliadas no exterior. (Incluído pela Lei nº 7.132, de 1983)

4º - No subarrendamento poderá haver vínculo de coligação ou de interdependência entre a entidade domiciliada no exterior e a sociedade arrendatária subarrendadora, domiciliada no País. (Incluído pela Lei nº 7.132, de 1983)

5º - Mediante as condições que estabelecer, o Conselho Monetário Nacional poderá autorizar o registro de contratos sem cláusula de opção de compra bem

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como fixar prazos mínimos para as operações previstas neste artigo. (Incluído pela Lei nº 7.132, de 1983)

Art 17. A entrada no território nacional dos bens objeto de arrendamento mercantil, contratado com entidades arrendadoras com sede no exterior, não se confunde com o regime da admissão temporária de que trata o Decreto-lei número 37, de 18 de novembro de 1966, e se sujeitará a todas as normas legais que regem a importação.

Art. 17 - A entrada no território nacional dos bens objeto de arrendamento mercantil, contratado com entidades arrendadoras domiciliadas no exterior, não se confunde com o regime de admissão temporária de que trata o Decreto-lei nº 37, de 18 de novembro de 1966, e se sujeitará a todas as normas legais que regem a importação. (Redação dada pela Lei nº 7.132, de 1983)

Art 18. A base de cálculo, para efeito do Imposto Sobre Produtos Industrializados, do fato gerador que ocorre por ocasião da remessa de bens importados ao estabelecimento da empresa arrendatária, corresponde ao preço por atacado desse bem na praça em que a empresa arrendadora estiver sediada.

Art 18. A base de cálculo, para efeito do imposto sobre Produtos Industrializados, do fato gerador que acorrer por ocasião da remessa de bens importados ao estabelecimento da empresa arrendatária, corresponderá ao preço atacado desse bem na praça em que a empresa arrendadora estiver domiciliada.(Redação dada pela Lei nº 7.132, de 1983)

§ 1º A saída de bens importados com isenção de impostos ficará isenta da incidência a que se refere o caput desse artigo. (Revogado pela Lei nº 9.532, de 1997)

§ 2º Nas hipóteses em que o preço dos bens importados para o fim de arrendamento for igual ou superior ao que seria pago pelo arrendatário se os importasse diretamente, a base de cálculo mencionado no caput deste artigo será o valor que servir de base para o recolhimento do Imposto Sobre Produtos Industrializados, por ocasião do desembaraço alfandegário desses bens.

Art 19. Fica equiparada à exportação a compra e venda de bens no mercado interno, para o fim específico de arrendamento pelo comprador a arrendatário domiciliado no exterior. (Vide Decreto-Lei nº 2.397, de 1987) (Vide Decreto-Lei nº 2.413, de 1988)

Art 20. São assegurados ao vendedor dos bens de que trata o artigo anterior todos os benefícios fiscais concedidos por lei para incentivo a exportação, observadas as condições de qualidade da pessoa do vendedor e outras exigidas para os casos de exportação direta ou indireta. (Vide Decreto-Lei nº 2.397, de 1987) (Vide Decreto-Lei nº 2.413, de 1988)

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§ 1º Os benefícios fiscais de que trata este artigo serão concedidos sobre o equivalente em moeda nacional de garantia irrevogável do pagamento das contraprestações do arrendamento contratado, limitada a base de cálculo ao preço da compra e venda.

§ 2º Para os fins do parágrafo anterior, a equivalência em moeda nacional será determinada pela maior taxa de câmbio do dia da utilização dos benefícios fiscais.

§ 2o Para os fins do disposto no § 1o, a equivalência em moeda nacional será determinada pela maior taxa de câmbio do dia da utilização dos benefícios fiscais, quando o pagamento das contraprestações do arrendamento contratado for efetivado em moeda estrangeira de livre conversibilidade. (Redação dada pela Lei nº 12.024, de 2009)

Art 21. O Ministro da Fazenda poderá estender aos arrendatários de máquinas, aparelhos e equipamentos de produção nacional, objeto de arrendamento mercantil, os benefícios de que trata o Decreto-lei nº 1.136, de 7 de dezembro de 1970.

Art 22. As pessoas jurídicas que estiverem operando com arrendamento de bens, e que se ajustarem as disposições desta lei dentro de 180 (cento e oitenta) dias, a contar da sua vigência, terão as suas operações regidas por este diploma legal, desde que ajustem convenientemente os seus contratos, mediante instrumentos de aditamento.

Art 23. Fica o Conselho Monetário Nacional autorizado a:

a) baixar normas que visem estabelecer mecanismos reguladores das atividades previstas nesta Lei, inclusive excluir modalidades de operações do tratamento nela previsto;

a) expedir normas que visem a estabelecer mecanismos reguladores das atividades previstas nesta Lei, inclusive excluir modalidades de operações do tratamento neIa previsto e limitar ou proibir sua prática por determinadas categorias de pessoas físicas ou jurídicas; (Redação dada pela Lei nº 7.132, de 1983)

b) enumerar restritivamente os bens que não poderão ser objeto de arrendamento mercantil, tendo em vista a política econômica-financeira do País.

Art. 24 - A cessão do contrato de arrendamento mercantil a entidade domiciliada no exterior reger-se-á pelo disposto nesta Lei e dependerá de prévia autorização do Banco Central do Brasil, conforme normas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional. (Redação dada pela Lei nº 7.132, de 1983)

Parágrafo único - Observado o disposto neste artigo, poderão ser transferidos, exclusiva e independentemente da cessão do contrato, os direitos de crédito relativos às contraprestações devidas.

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Art 25. Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. (Artigo renumerado pela Lei nº 7.132, de 1983)

Brasília, 12 de setembro de 1974; 153º da Independência e 86º da República.

ERNESTO GEISEL Mário Henrique Simonsen João Paulo dos Reis Velloso

Este texto não substitui o publicado no DOU de 13.9.1974

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LEI No 7.132, DE 26 DE OUTUBRO DE 1983.

Altera a Lei nº 6.099, de 12 de setembro de 1974, que "dispõe sobre o tratamento tributário de arrendamento mercantil, e dá outras providências" e o Decreto-lei nº 1.811, de 27 de outubro de 1980.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art 1º - A Lei nº 6.099, de 12 de setembro de 1974, passa a vigorar com as seguintes alterações:

I - dê-se nova redação ao parágrafo único do art. 1º:

"Art. 1º - ................................................................................

Parágrafo único - Considera-se arrendamento mercantil, para os efeitos desta Lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta.";

II - acrescente-se parágrafo único ao art. 5º:

"Art. 5º - ......................................................................

a) ....................................................................................

b) ....................................................................................

c) ...................................................................................

d) ...................................................................................

Parágrafo único - Poderá o Conselho Monetário Nacional, nas operações que venha a definir, estabelecer que as contraprestações sejam estipuladas por períodos superiores aos previstos na alínea b deste artigo.";

III - dê-se nova redação aos arts. 9º, 16 e 17, ao caput do art. 18 e à alínea a do art. 23:

"Art. 9º - As operações de arrendamento mercantil contratadas com o próprio vendedor do bem ou com pessoas jurídicas a ele vinculadas, mediante quaisquer das relações previstas no art. 2º desta Lei, poderão também ser realizadas por instituições financeiras expressamente autorizadas pelo Conselho Monetário Nacional, que estabelecerá as condições para a realização das operações previstas neste artigo.

54

Parágrafo único - Nos casos deste artigo, o prejuízo decorrente da venda do bem não será dedutível na determinação do lucro real.

................................................................................

Art. 16 - Os contratos de arrendamento mercantil celebrado com entidades domiciliadas no exterior serão submetidos a registro no Banco Central do Brasil.

1º - O Conselho Monetário Nacional estabelecerá as normas para a concessão do registro a que e refere este artigo, observando as seguintes condições:

a) razoabilidade da contraprestação e de sua composição;

b) critérios para fixação do prazo de vida útil do bem;

c) compatibilidade do prazo de arrendamento do bem com a sua vida útil;

d) relação entre o preço internacional do bem o custo total do arrendamento;

e) cláusula de opção de compra ou renovação do contrato;

f) outras cautelas ditadas pela política econômico-financeira nacional.

2º - Mediante prévia autorização do Banco Central do Brasil, segundo normas para este fim expedidas pelo Conselho Monetário Nacional, os bens objeto das operações de que trata este artigo poderão ser arrendados a sociedades arrendadoras domiciliadas no País, para o fim de subarrendamento.

3º - Estender-se-ão ao subarrendamento as normas aplicáveis aos contratos de arrendamento mercantil celebrados com entidades domiciliadas no exterior.

4º - No subarrendamento poderá haver vínculo de coligação ou de interdependência entre a entidade domiciliada no exterior e a sociedade arrendatária subarrendadora, domiciliada no País.

5º - Mediante as condições que estabelecer, o Conselho Monetário Nacional poderá autorizar o registro de contratos sem cláusula de opção de compra bem como fixar prazos mínimos para as operações previstas neste artigo.

Art. 17 - A entrada no território nacional dos bens objeto de arrendamento mercantil, contratado com entidades arrendadoras domiciliadas no exterior, não se confunde com o regime de admissão temporária de que trata o Decreto-lei nº 37, de 18 de novembro de 1966, e se sujeitará a todas as normas legais que regem a importação.

Art. 18 - A base de cálculo, para efeito do imposto sobre Produtos Industrializados, do fato gerador que acorrer por ocasião da remessa de bens importados ao estabelecimento da empresa arrendatária, corresponderá ao preço atacado desse bem na praça em que a empresa arrendadora estiver domiciliada.

1º - ................................................................................

55

2º - ................................................................................

......................................................................................

Art. 23 - .....................................................................

a) expedir normas que visem a estabelecer mecanismos reguladores das atividades previstas nesta Lei, inclusive excluir modalidades de operações do tratamento neIa previsto e limitar ou proibir sua prática por determinadas categorias de pessoas físicas ou jurídicas;

b) ................................................................................

Art 2º - O atual art. 24 fica renumerado para art. 25, passando a figurar como art. 24 a seguinte:

"Art. 24 - A cessão do contrato de arrendamento mercantil a entidade domiciliada no exterior reger-se-á pelo disposto nesta Lei e dependerá de prévia autorização do Banco Central do Brasil, conforme normas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional.

Parágrafo único - Observado o disposto neste artigo, poderão ser transferidos, exclusiva e independentemente da cessão do contrato, os direitos de crédito relativos às contraprestações devidas."

Art 3º - O caput do art. 1º do Decreto-lei nº 1.811, de 27 de outubro de 1980, passa a vigorar com a seguinte redação: (Revogado pela Lei nº 9.430, de 1996)

"Art. 1º - O Conselho Monetário Nacional poderá, para cada tipo de operação que venha a definir, reduzir até zero, ou restabelecer, total ou parcialmente, a alíquota do imposto de renda incidente na fonte sobre o valor das remessas para o exterior, quando decorrentes de contratos de arrendamento mercantil de bens de capital celebrados com entidades domiciliadas no exterior.’ (Revogado pela Lei nº 9.430, de 1996)

Art 4º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art 5º - Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, em 26 de outubro de 1983; 162º da Independência e 95º da República.

JOÃO FIGUEIREDO Ernane Galvêas Delfim Netto João Camilo Penna

Este texto não substitui o publicado no DOU de 27.10.1983

56

Resolução nº 2.309, de 28 de agosto de 1996. RESOLUÇÃO Nº 2309 Disciplina e consolida as normas relativas às operações de arrendamento mercantil. O BANCO CENTRAL DO BRASIL, na forma do art. 9º da Lei nº. 4.595, de 31.12.64,

torna público que o CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL, em sessão realizada em

28.08.96, com base no disposto na Lei nº. 6.099, de 12.09.74, com as alterações

introduzidas pela Lei nº. 7.132, de 26.10.83,

R E S O L V E U:

Art. 1º Aprovar o Regulamento anexo, que disciplina a modalidade de arrendamento

mercantil operacional, autoriza a prática de operações de arrendamento mercantil

com pessoas físicas em geral e consolida normas a respeito de arrendamento

mercantil financeiro.

Art. 2º Fica o Banco Central do Brasil autorizado a adotar as medidas e baixar as

normas julgadas necessárias à execução do disposto nesta Resolução.

Art. 3º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 4º Ficam revogadas as Resoluções nºs 980, de 13.12.84, 1.452, de 15.01.88,

1.474, de 29.03.88, 1.681, de 31.01.90, 1.686, de 21.02.90, e 1.769, de 28.11.90, o

art. 2º da Resolução nº. 2.276, de 30.04.96, as Circulares nºs 903, de 14.12.84,

2.064, de 17.10.91, e o art. 2º da Circular nº. 2.706, de 18.07.96.

Brasília, 28 de agosto de 1996.

Gustavo Jorge Laboissière Loyola

Presidente

Este texto não substitui o publicado no DOU e no Sisbacen.

ANEXO

CAPÍTULO I

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Da Prática de Arrendamento Mercantil

Art. 1º As operações de arrendamento mercantil com o tratamento tributário previsto

na Lei nº. 6.099, de 12.09.74, alterada pela Lei nº. 7.132, de 26.10.83, somente

podem ser realizadas por pessoas jurídicas que tenham como objeto principal de

sua atividade a prática de operações de arrendamento mercantil, pelos bancos

múltiplos com carteira de arrendamento mercantil e pelas instituições financeiras

que, nos termos do art. 13 deste Regulamento, estejam autorizadas a contratar

operações de arrendamento com o próprio vendedor do bem ou com pessoas

jurídicas a ele coligadas ou interdependentes. Resolução nº 2.309, de 28 de agosto

de 1996.

Parágrafo único. As operações previstas neste artigo podem ser dos tipos financeiro

e operacional.

Art. 2º Para a realização das operações previstas neste Regulamento, as

sociedades de arrendamento mercantil e as instituições financeiras citadas no artigo

anterior devem manter departamento técnico devidamente estruturado e

supervisionado diretamente por um de seus diretores.

Parágrafo único. As sociedades e instituições devem comunicar à Delegacia

Regional do Banco Central do Brasil a que estiverem jurisdicionadas o nome do

diretor responsável pela área de arrendamento mercantil.

CAPÍTULO II

Da Constituição e do Funcionamento das Sociedades de Arrendamento Mercantil

Art. 3º A constituição e o funcionamento das pessoas jurídicas que tenham como

objeto principal de sua atividade a prática de operações de arrendamento mercantil,

denominadas sociedades de arrendamento mercantil, dependem de autorização do

Banco Central do Brasil.

Art. 4º As sociedades de arrendamento mercantil devem adotar a forma jurídica de

sociedades anônimas e a elas se aplicam, no que couber, as mesmas condições

estabelecidas para o funcionamento de instituições financeiras na Lei nº. 4.595, de

31.12.64, e legislação posterior relativa ao Sistema Financeiro Nacional, devendo

58

"constar obrigatoriamente de sua denominação social a expressão ""Arrendamento

Mercantil""."

"Parágrafo único. A expressão ""Arrendamento Mercantil""" na denominação ou

razão social é privativa das sociedades de que trata este artigo.

CAPÍTULO III

Das Modalidades de Arrendamento Mercantil

Art. 5º Considera-se arrendamento mercantil financeiro a modalidade em que:

I - as contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela

arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o

custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente,

obtenha um retorno "sobre os recursos investidos;"

II - as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à

operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade da arrendatária;

III - o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado, podendo

ser, inclusive, o valor de mercado do bem arrendado.

Art. 6º Considera-se arrendamento mercantil operacional a modalidade em que:

Resolução nº 2.309, de 28 de agosto de 1996.

59

I - as contraprestações a serem pagas pela arrendatária contemplem o custo de

arrendamento do bem e os serviços inerentes à sua colocação à disposição da

arrendatária, não podendo o total dos pagamentos da espécie ultrapassar 75%

(setenta e cinco por cento) do "custo do bem arrendado;"

II - as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à

operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade da arrendadora ou

da arrendatária;

III - o preço para o exercício da opção de compra seja o valor de mercado do bem

arrendado.

Parágrafo único. As operações de que trata este artigo são privativas dos bancos

múltiplos com carteira de arrendamento mercantil e das sociedades de

arrendamento mercantil.

CAPÍTULO IV

Dos Contratos de Arrendamento

Art. 7º Os contratos de arrendamento mercantil devem ser formalizados por

instrumento público ou particular, devendo conter, no mínimo, as especificações

abaixo relacionadas:

I - a descrição dos bens que constituem o objeto do contrato, com todas as

características que permitam sua perfeita identificação;

II - o prazo de arrendamento;

III - o valor das contraprestações ou a fórmula de "cálculo das contraprestações,

bem como o critério para seu reajuste;"

IV - a forma de pagamento das contraprestações por períodos determinados, não

superiores a 1 (um) semestre, salvo no caso de operações que beneficiem

atividades rurais, quando o pagamento pode ser fixado por períodos não superiores

a 1 (um) ano;"

V - as condições para o exercício por parte da arrendatária do direito de optar pela

renovação do contrato, pela devolução dos bens ou pela aquisição dos bens

arrendados;

VI - a concessão à arrendatária de opção de compra dos bens arrendados, devendo

ser estabelecido o preço para seu exercício "ou critério utilizável na sua fixação;"

60

VII - as despesas e os encargos adicionais, inclusive despesas de assistência

técnica, manutenção e serviços inerentes à operacionalidade dos bens arrendados,

admitindo-se, ainda, para o arrendamento mercantil financeiro:

a) a previsão de a arrendatária pagar valor residual garantido em qualquer momento

durante a vigência do contrato, não caracterizando o pagamento do valor residual

garantido o exercício da "opção de compra;" Resolução nº 2.309, de 28 de agosto de

1996.

b) o reajuste do preço estabelecido para a opção de compra e o valor residual

garantido;

VIII - as condições para eventual substituição dos bens arrendados, inclusive na

ocorrência de sinistro, por outros da mesma natureza, que melhor atendam às

conveniências da arrendatária, devendo a substituição ser formalizada por

intermédio de aditivo contratual;

IX - as demais responsabilidades que vierem a ser convencionadas, em decorrência

de:

a) uso indevido ou impróprio dos bens arrendados;

b) seguro previsto para cobertura de risco dos bens arrendados;

c) danos causados a terceiros pelo uso dos bens;

d) ônus advindos de vícios dos bens arrendados;

X - a faculdade de a arrendadora vistoriar os bens objeto de arrendamento e de

exigir da arrendatária a adoção de providências indispensáveis à preservação da

integridade dos referidos bens;

XI - as obrigações da arrendatária, nas hipóteses de inadimplemento, destruição,

perecimento ou desaparecimento dos bens arrendados;

XII - a faculdade de a arrendatária transferir a terceiros no País, desde que haja

anuência expressa da entidade arrendadora, os seus direitos e obrigações

decorrentes do contrato, com ou sem co-responsabilidade solidária.

Art. 8º Os contratos devem estabelecer os seguintes prazos mínimos de

arrendamento:

I - para o arrendamento mercantil financeiro:

a) 2 (dois) anos, compreendidos entre a data de entrega dos bens à arrendatária,

consubstanciada em termo de aceitação e recebimento dos bens, e a data de

61

vencimento da última contraprestação, quando se tratar de arrendamento de bens

com vida útil igual "ou inferior a 5 (cinco) anos;

b) 3 (três) anos, observada a definição do prazo constante da alínea anterior, para o

arrendamento de outros bens;

II - para o arrendamento mercantil operacional, 90 (noventa) dias.

Art. 9º Os contratos de arrendamento mercantil de bens cuja aquisição tenha sido

efetuada com recursos provenientes de empréstimos contraídos, direta ou

indiretamente, no exterior devem ser firmados com cláusula de variação cambial.

Resolução nº 2.309, de 28 de agosto de 1996.

Art. 10. A operação de arrendamento mercantil será considerada como de compra e

venda a prestação se a opção de compra for exercida antes de decorrido o

respectivo prazo mínimo estabelecido no art. 8º deste Regulamento.

CAPÍTULO V

Das Operações de Arrendamento

Art. 11. Podem ser objeto de arrendamento bens móveis, de produção nacional ou

estrangeira, e bens imóveis adquiridos pela entidade arrendadora para fins de uso

próprio da arrendatária, segundo as especificações desta.

Art. 12. É permitida a realização de operações de arrendamento mercantil com

pessoas físicas e jurídicas, na qualidade de arrendatárias.

Art. 13. As operações de arrendamento mercantil contratadas com o próprio

vendedor do bem ou com pessoas a ele coligadas ou interdependentes somente

podem ser contratadas na modalidade de arrendamento mercantil financeiro,

aplicando-se a elas as mesmas condições fixadas neste Regulamento.

Parágrafo 1º As operações de que trata este artigo somente podem ser realizadas

com pessoas jurídicas, na condição de arrendatárias.

Parágrafo 2º Os bancos múltiplos com carteira de investimento, de desenvolvimento

e/ou de crédito imobiliário, os bancos de investimento, os bancos de

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desenvolvimento, as caixas econômicas e as sociedades de crédito imobiliário

também podem realizar as operações previstas neste artigo.

Art. 14. É permitido à entidade arrendadora, nas hipóteses de devolução ou

recuperação dos bens arrendados:

I - conservar os bens em seu ativo imobilizado, pelo "prazo máximo de 2 (dois)

anos;"

II - alienar ou arrendar a terceiros os referidos bens.

Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se também aos bens recebidos em

dação em pagamento.

CAPÍTULO VI

Do Subarrendamento

Art. 15. Os bancos múltiplos com carteira de arrendamento mercantil e as

sociedades de arrendamento mercantil podem realizar operações de arrendamento

com entidades domiciliadas no exterior, com vistas unicamente ao posterior

subarrendamento dos bens a pessoas jurídicas, no País. Resolução nº 2.309, de 28

de agosto de 1996.

Parágrafo único. As operações de arrendamento previstas neste artigo estão

sujeitas a registro no Banco Central do Brasil.

Art. 16. É facultada aos bancos múltiplos com carteira de arrendamento mercantil e

às sociedades de arrendamento mercantil a aquisição, no mercado interno, de

direitos e obrigações decorrentes de contratos de arrendamento celebrados com

entidades no exterior, com a finalidade exclusiva de posterior subarrendamento dos

bens, nos termos do artigo anterior.

Art. 17. São vedadas as operações de subarrendamento quando houver coligação,

direta ou indireta, ou interdependência entre a arrendadora domiciliada no exterior e

a subarrendatária domiciliada no País, nos termos do art. 27 deste Regulamento.

Art. 18. Os bancos múltiplos com carteira de arrendamento mercantil e as

sociedades de arrendamento mercantil devem repassar às subarrendatárias

63

domiciliadas no País, em contratos de arrendamento mercantil financeiro, realizados

nos termos deste Regulamento, todos os custos, taxas, impostos, comissões, outras

despesas relativas à obtenção do bem arrendado e demais condições pactuadas no

contrato firmado com as entidades do exterior, acrescidos de sua remuneração,

inclusive aquelas referentes à eventual aquisição dos direitos e obrigações de

contratos, podendo tais despesas e encargos ser incorporados ao custo do bem

arrendado.

CAPÍTULO VII

Das Fontes de Recursos

Art. 19. As sociedades de arrendamento mercantil podem empregar em suas

atividades, além de recursos próprios, os provenientes de:

I - empréstimos contraídos no exterior;

II - empréstimos e financiamentos de instituições financeiras nacionais, inclusive de

repasses de recursos externos;

III - instituições financeiras oficiais, destinados a repasses de programas específicos;

IV - colocação de debêntures de emissão pública ou "particular e de notas

promissórias destinadas à oferta pública;

V - cessão de contratos de arrendamento mercantil, "bem como dos direitos

creditórios deles decorrentes;"

VI - depósitos interfinanceiros, nos termos da regulamentação em vigor;

VII - outras formas de captação de recursos, autorizadas pelo Banco Central do

Brasil. Resolução nº 2.309, de 28 de agosto de 1996.

Art. 20. As sociedades de arrendamento mercantil e as instituições financeiras

autorizadas à prática de operações previstas neste Regulamento podem contratar

empréstimos no exterior, com as seguintes finalidades:

I - obtenção de recursos para aquisição de bens para "fins de arrendamento;"

II - aquisição de direitos creditórios decorrentes de contratos de arrendamento

mercantil que contenham cláusula de variação cambial;

III - aquisição de contratos de arrendamento mercantil que contenham cláusula de

variação cambial, observado o contido no art. 22 deste Regulamento.

64

Art. 21. As sociedades de arrendamento mercantil podem contratar empréstimos,

financiamentos, repasses de recursos e prestação de garantias com instituições

financeiras controladoras, coligadas ou interdependentes, observado que os

respectivos encargos devem ser os normalmente cobrados em operações da

espécie, realizadas com terceiros.

Art. 22. As operações de cessão e aquisição de contratos de arrendamento, no

mercado interno, exceto as referidas no art. 13 deste Regulamento, são restritas aos

bancos múltiplos com carteira de arrendamento mercantil e às sociedades de

arrendamento mercantil.

Parágrafo único. É facultada a cessão e a aquisição de contratos de que trata o art.

13 deste Regulamento entre as instituições autorizadas a praticar essa modalidade

de operação.

Art. 23. A aquisição de contratos de arrendamento mercantil cujos bens arrendados

tenham sido adquiridos com recursos de empréstimos externos ou que contenham

cláusula de variação cambial, bem como dos direitos creditórios deles decorrentes,

somente pode ser realizada com a utilização de recursos de empréstimos obtidos no

exterior.

Art. 24. As sociedades de arrendamento mercantil podem oferecer, em garantia de

empréstimos que contraírem nos mercados interno ou externo, a caução de direitos

creditórios de contratos de arrendamento mercantil.

Art. 25. A cessão de contratos de arrendamento mercantil, bem como dos direitos

creditórios deles decorrentes, a entidades domiciliadas no exterior, depende de

prévia autorização do Banco Central do Brasil.

Art. 26. Os bancos múltiplos com carteira de investimento ou de desenvolvimento, os

bancos de investimento e os bancos de desenvolvimento podem utilizar recursos

oriundos de empréstimos externos, contraídos nos termos da Resolução nº. 63, de

21.08.67, em operações de arrendamento mercantil de que trata o art. 13 deste

Regulamento.

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Parágrafo 1º As operações realizadas nos termos deste artigo somente podem ser

contratadas tendo como arrendatárias pessoas jurídicas.

Parágrafo 2º A parcela dos recursos externos que for amortizada pelo pagamento

das contraprestações pode ser utilizada em novas operações de arrendamento

mercantil, em Resolução nº 2.309, de 28 de agosto de 1996.

Parágrafo 3º Respeitados os prazos mínimos previstos no art. 8º, inciso I, deste

Regulamento, as operações referidas neste artigo somente podem ser realizadas

por prazos iguais ou inferiores ao da amortização final do empréstimo contratado no

exterior, cujos recursos devem permanecer no País consoante as condições de

prazo de pagamento no exterior que forem admitidas pelo Banco Central do Brasil

na época da autorização de seu ingresso.

CAPÍTULO VIII

Da Coligação e Interdependência

Art. 27. Para os fins do art. 2º, parágrafo 1º, da Lei nº. 6.099, de 12.09.74, e deste

Regulamento, considera-se coligada ou interdependente a pessoa:

I - em que a entidade arrendadora participe, direta "ou indiretamente, com 10% (dez

por cento) ou mais do capital;"

II - em que administradores da entidade arrendadora, seus cônjuges e respectivos

parentes até o 2º (segundo) grau participem, em conjunto ou isoladamente, com

10% (dez por cento) ou mais do "capital, direta ou indiretamente;"

III - em que acionistas com 10% (dez por cento) ou mais do capital da entidade

arrendadora participem com 10% (dez por cento) "ou mais do capital, direta ou

indiretamente;"

IV - que participar com 10% (dez por cento) ou mais do "capital da entidade

arrendadora, direta ou indiretamente;"

V - cujos administradores, seus cônjuges e respectivos parentes até o segundo grau

participem, em conjunto ou isoladamente, com 10% (dez por cento) ou mais do

capital da entidade arrendadora, direta ou indiretamente;"

VI - cujos sócios, quotistas ou acionistas com 10% (dez por cento) ou mais do capital

participem também do capital da entidade arrendadora com 10% (dez por cento) ou

mais de seu capital, "direta ou indiretamente;"

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VII - cujos administradores, no todo ou em parte, sejam os mesmos da entidade

arrendadora.

CAPÍTULO IX

Vedações

Art. 28. Às sociedades de arrendamento mercantil e às instituições financeiras

citadas no art. 13 deste Regulamento é vedada a contratação de operações de

arrendamento mercantil com: Resolução nº 2.309, de 28 de agosto de 1996.

I - pessoas físicas e jurídicas coligadas ou interdependentes;

II - administradores da entidade e seus respectivos cônjuges e parentes até o

segundo grau;

III - o próprio fabricante do bem arrendado.

Art. 29. É vedada às sociedades de arrendamento mercantil a celebração de

contratos de mútuo com pessoas físicas e jurídicas não financeiras.

CAPÍTULO X

Disposições Finais

Art. 30. O Banco Central do Brasil poderá fixar critérios de distribuição de

contraprestações de arrendamento durante o prazo contratual, tendo em vista o

adequado atendimento dos prazos mínimos fixados no art. 8º deste Regulamento.

Art. 31. As disponibilidades das sociedades de arrendamento mercantil, quando não

mantidas em espécie, podem ser livremente aplicadas no mercado, observados os

limites e demais normas regulamentares pertinentes a cada espécie de aplicação

financeira.

Art. 32. Aplicam-se às sociedades de arrendamento mercantil as normas em vigor

para as instituições financeiras em geral, no que diz respeito à competência privativa

do Banco Central do Brasil para a concessão das autorizações previstas no inciso X

do art. 10 da Lei nº. 4.595, de 31.12.64, bem como para aprovar a posse no

exercício de quaisquer cargos na administração das referidas sociedades, inclusive

em órgãos consultivos, fiscais ou semelhantes, nos termos da referida legislação e

regulamentação posterior.

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Art. 33. As operações que se realizarem em desacordo com as disposições deste

Regulamento não se caracterizam como de arrendamento mercantil.