591238_o objeto azul

37
O OBJETO AZUL: Psicologia Social Comunitária na Formação em Psicologia Rubens Ferreira do Nascimento Turma do 9º período de psicologia da PUC São Gabriel 1º semestre de 2011, turno noite Turma do 9º período de psicologia da PUC São Gabriel 1º semestre de 2011, turno manhã I. Introdução: Como produto da mudança curricular em processo no curso de psicologia da PUC SG algumas disciplinas foram criadas, outras foram extintas e outras ainda foram fusionadas. A proposição de Intervenções Psicossociais e Práticas Comunitárias neste segundo semestre de 2011 é fruto da junção entre duas disciplinas presentes no currículo que se finda: Intervenção Psicossocial (8º período) e Psicologia Social Comunitária (9º período). As alterações têm ocorrido processualmente, oferecendo a oportunidade de, no ato de ministrar as disciplinas que, gradativamente, se extinguem, possamos elaborar lutos, mas também celebrarmos, no contexto de perdas e ganhos. No âmbito de uma publicação que comemora os 10 anos de existência do Curso de Psicologia na PUC São Gabriel, este texto coloca em foco a disciplina Psicologia Social Comunitária e propõe um ato de celebração sobre experiências relacionais realizadas entre professor, alunas e alunos no primeiro semestre deste ano. Assim, para sua elaboração, o presente texto se baseia em dois pontos principais de motivação: 1) a oportunidade de comunicar experiências de ensino-aprendizagem em sala de aula orientadas teórico-metodologicamente por contribuições da Psicologia Social Comunitária e; 2) a reflexão sobre a importância desta disciplina como saber teórico-prático para além da sala de aula, portanto, cotidianamente, veiculado nas atividades de estágio, pesquisa e extensão externas e internas ao Laboratório de Psicologia Social. Saber este que não apenas se apresenta como uma possibilidade de especialização para o psicólogo mas, mais do que isto, como um dispositivo que proporciona o pensar e o repensar sobre questões éticas e políticas relacionadas ao exercício da psicologia enquanto ciência e profissão. Deste modo esta produção testemunha a relevância da disciplina Psicologia

Upload: luiza-rodrigues

Post on 13-Feb-2015

30 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: 591238_O Objeto Azul

O OBJETO AZUL:

Psicologia Social Comunitária na Formação em Psicologia

Rubens Ferreira do Nascimento

Turma do 9º período de psicologia da PUC São Gabriel 1º semestre de 2011, turno noite

Turma do 9º período de psicologia da PUC São Gabriel 1º semestre de 2011, turno manhã

I. Introdução:

Como produto da mudança curricular em processo no curso de psicologia da PUC SG

algumas disciplinas foram criadas, outras foram extintas e outras ainda foram fusionadas. A

proposição de Intervenções Psicossociais e Práticas Comunitárias neste segundo semestre

de 2011 é fruto da junção entre duas disciplinas presentes no currículo que se finda:

Intervenção Psicossocial (8º período) e Psicologia Social Comunitária (9º período). As

alterações têm ocorrido processualmente, oferecendo a oportunidade de, no ato de ministrar

as disciplinas que, gradativamente, se extinguem, possamos elaborar lutos, mas também

celebrarmos, no contexto de perdas e ganhos. No âmbito de uma publicação que comemora

os 10 anos de existência do Curso de Psicologia na PUC São Gabriel, este texto coloca em

foco a disciplina Psicologia Social Comunitária e propõe um ato de celebração sobre

experiências relacionais realizadas entre professor, alunas e alunos no primeiro semestre

deste ano.

Assim, para sua elaboração, o presente texto se baseia em dois pontos principais de

motivação: 1) a oportunidade de comunicar experiências de ensino-aprendizagem em sala

de aula orientadas teórico-metodologicamente por contribuições da Psicologia Social

Comunitária e; 2) a reflexão sobre a importância desta disciplina como saber teórico-prático

para além da sala de aula, portanto, cotidianamente, veiculado nas atividades de estágio,

pesquisa e extensão externas e internas ao Laboratório de Psicologia Social. Saber este que

não apenas se apresenta como uma possibilidade de especialização para o psicólogo mas,

mais do que isto, como um dispositivo que proporciona o pensar e o repensar sobre

questões éticas e políticas relacionadas ao exercício da psicologia enquanto ciência e

profissão. Deste modo esta produção testemunha a relevância da disciplina Psicologia

Page 2: 591238_O Objeto Azul

Social Comunitária ao comunicar e apresentar, reflexivamente, produtos das experiências

pedagógicas grupais-comunitárias desenvolvidas com as turmas de 9º período, turnos

manhã e noite no primeiro semestre deste ano de 2011.

A opção por um estilo de escrita que legitima e circunscreve a polifonia é coerente com

certo modo de comunicar as produções em Psicologia Social Comunitária e trabalhos afins,

ou seja, intervenções e pesquisas que têm em metodologias participativas seu fio condutor.

São autores deste texto o professor da disciplina e alunas e alunos das turmas de 9º período

do primeiro semestre de 2011, nos turnos manhã e noite. O artigo está organizado da

seguinte forma: após a introdução, de modo impessoal, há a contextualização das

experiências realizadas. Depois é apresentada a história do objeto azul na primeira pessoa

do singular. Nesta secção a voz do professor tem destaque e são explicitados os objetivos

deste recurso pedagógico e sua função como dispositivo nas distintas experiências grupais

comunitárias que serão relatadas reflexivamente pelas duas turmas, em secções separadas,

na seguinte ordem: noite e manhã. Nestas, as vozes estão na segunda pessoa do plural. Em

seguida são tecidas as considerações finais elaboradas com a participação do coletivo de

autores, evidentemente, também na segunda pessoa do plural.

II. A Psicologia Social Comunitária na sala de aula

Esta parte do artigo contextualiza a proposta de desenvolvimento da disciplina Psicologia

Social Comunitária no curso de psicologia na PUC Minas, unidade São Gabriel no ano de

2011. Tratou-se de uma opção de ensino-aprendizagem construída, paulatinamente, em

experiências dialogais entre professor e turmas de 9º período do curso de psicologia.

Chegou-se após alguns semestres de interações, sugestões, mudanças e avaliações a uma

proposta de experiência pedagógica denominada como “grupal-comunitária”. Não era

obrigatória. Sendo feita no início de cada semestre havia a liberdade dos alunos escolherem

entre ela e outra que consiste no modelo mais tradicional de ministrar as aulas. A ementa e

o plano geral da disciplina são respeitados em ambas as propostas. A diferença estaria no

modo de conduzir a disciplina. A proposta grupal comunitária, destacada em seus objetivos

e metodologia, foi feita do modo como se segue:

Page 3: 591238_O Objeto Azul

2.1 Proposta para a disciplina Psicologia Social Comunitária1

2.1.1 Objetivos

O objetivo geral consiste em apresentar a Psicologia Social Comunitária: história,

fundamentos, conceitos, aspectos metodológicos e práticos, mediante um exercício de

experiência grupal-comunitária. Como objetivos específicos temos: exercitar a

compreensão do conceito de comunidade articulando teoria, vivência pessoal e formação

profissional; desenvolver aprendizagem sobre os fundamentos da PSC por meio dialógico

envolvendo colegas, professor e literatura técnica; compreender a metodologia e a prática

em PSC a partir do diálogo: grupal, com o professor, com terceiros e com a literatura;

explorar e refletir sobre os conceitos teórico-práticos da PSC a partir da literatura, de

vivências pessoais, dos colegas interlocutores, do professor e de profissionais e agentes

comunitários e desenvolver reflexão processual sobre o lugar, papéis e funções do

psicólogo social comunitário.

2.1.2 Processo metodológico

Para o desenvolvimento do processo são considerados aspectos necessários: fomentar um

senso grupal-comunitário (crítico) na turma; promover a realização de atividades de ensino-

aprendizagem orientadas pela participação, a partilha, a cooperação e o senso crítico;

provocar o exercício de reflexividade pessoal e grupal.

As aulas devem ocorrer em formato de seminários ou de rodas de conversa com alguns

momentos expositivos conduzidos pelo professor,caso seja demandado; serão moderadas

por duplas de alunos/as sendo registradas pelos/as mesmos/as ou por outros/as, ocorrendo

também a realização e apresentações de práticas extensionistas articuladas. Tudo isto

articulado com a leitura e discussão dos textos sugeridos

Os registros das aulas devem conter: o tema; os nomes dos alunos presentes; os objetivo(s)

da aula; as fontes bibliográficas, artísticas etc. às quais se recorreu; os recursos

metodológicos utilizados; o conteúdo ministrado e/ou discutido e uma breve conclusão ou

reflexão final sobre o conteúdo trabalhado.

1 A proposta está apresentada tal como foi feita às turmas do primeiro semestre de 2011 apenas, para maior

clareza, com pequenos acréscimos além das práticas extensionistas. O movimento atual na universidade

convida/convoca a comunidade acadêmica a fazer esforços no sentido de fomentar a execução da política

de extensão da PUC Minas. As práticas extensionistas são sugestões a serem incorporadas nos projetos

pedagógicos e nos planos de ensino. No caso da disciplina Psicologia Social Comunitária isto foi feito no

segundo semestre de 2011. Entendeu-se que vale a pena incluir este registro considerando que o presente

artigo pode contribuir para os objetivos extensionistas explicitados, com os quais o curso de psicologia está

de acordo e tece ações de mudança na direção apontada.

Page 4: 591238_O Objeto Azul

Fica sugestão de que os relatórios de cada aula, elaborados parcial ou totalmente, sejam

socializados com a turma de preferência com os recursos da internet. Os colegas poderão

acrescentar informações e reflexões ao relatório que poderá ser enriquecido e alterado pelos

responsáveis antes de serem entregues ao professor para avaliação e à turma para compor a

produção final que deverá versar sobre a experiência e será definida e elaborada pela

própria turma. Todo o material registrado será útil na realização desta produção, da provas e

demais trabalhos.

2.1.2.1 Práticas extensionistas

São consideradas práticas extensionistas vinculadas ao ensino ou à pesquisa conforme

documentos da PROEX: “Práticas dirigidas, concomitantemente, aos alunos e à sociedade

(população externa à universidade) que tenham como conteúdo a disponibilização dos

produtos gerados ou veiculados na universidade. A disponibilização referida implica a troca

de conhecimentos/ experiências.” Em seguida alguns exemplos: Escolha/definição de

objetos de pesquisa provenientes da experiência em projetos de extensão; Utilização de

material acadêmico produzido em projetos de extensão no ensino e/ou na pesquisa – como

livros, artigos, produções audiovisuais, cartilhas, etc; Experiência de extensão como

conteúdos programáticos de disciplinas – integral ou unidade(s); Experiências de extensão

como práticas pedagógicas, como apresentação/discussão da experiência de extensão em

sala de aula; Extensão como oportunidade de estágio; Visitas técnicas definidas no âmbito

do ensino ou da pesquisa que impliquem na disponibilização de produtos gerados ou

veiculados na universidade para a sociedade; Trabalhos de conclusão de curso em que as

experiência de extensão sejam o tema ou tenham contribuído significativamente para a

reflexão.” (documento da proex)

As práticas extensionistas propostas implicam em conexões das seguintes possíveis

atividades: visitas, ações, leituras, registros, comunicações à turma, trazer representantes

para falar em sala. Estas atividades serão de responsabilidades de sub-grupos específicos e

devem ser planejadas com a orientação do professor.

III. Sobre o Objeto Azul

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

Page 5: 591238_O Objeto Azul

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.

Carlos Drummond de Andrade

Com objetivos múltiplos, costumo iniciar ou potencializar as minhas relações pedagógicas

com turmas, especialmente das disciplinas Psicologia Social e Psicologia Social

Comunitária, contando a história de um fato/fenômeno acontecido em minha infância.

Quando eu tinha seis anos, morando com minha família na cidade mineira Paracatu, vivi

uma experiência marcante, simples e, paradoxalmente, com alto nível de complexidade e

potencialidade. Trata-se da história do meu “objeto azul”.

No final da década de 1960, minha família podia ser sociologicamente classificada, como

uma família operária. Relações hieráquicas orientadas por fatores de gênero, geracionais e

etários, atravessadas pelo determinante estrutural das relações de classe. Tudo isto

reproduzido por aparelhos ideológicos tais como a escola e a religião. Pai, mãe, três filhos

legítimos e uma filha adotiva. Eu era o filho caçula entre os homens. Minha irmã era a mais

nova. Entre eu e ela, seis anos de “diferença”.

Dois anos marcavam as distâncias etárias entre nós os irmãos homens. Brincávamos quase

sempre juntos, em casa e no terreiro. A tentativa era minimizar e nos blindar dos contatos

com os “moleques da rua”, orientações da nossa mãe/matrona. Tínhamos, dentre as delícias

das brincadeiras infantis, uma que era especial: o “Joguinho”.

O Joguinho era uma simulação de uma partida de futebol. Futebol, elemento caro em nossa

vida, principalmente entre os filhos homens. Referência de masculinidade. Meu pai trazia

em sua história glórias passadas: era ídolo de futebol na sua cidade natal: Sabinópolis. Isto

nos alimentava: “nem só de pão vive o homem...”. O joguinho acontecia damaneira como

exponho a seguir. O gol era engenhosamente construído por meu irmão mais velho: com

cabo de vassoura serrado; duas partes na vertical, uma outra pregada sobre elas na

horizontal, uma estrutura em ripas de madeira dando suporte para aquelas “traves” e

pauzinhos de picolé em cima, auxiliando na extensão da rede. Tratava-se desses recipientes,

Page 6: 591238_O Objeto Azul

essas redinhas que, em geral, se utiliza para carregar e vender mexericas. Na ocasião

carregavam outras frutas, embrulhadas em papéis roxos, maçãs argentinas: lindas,

vermelhas e sedutoras, porém inacessíveis. Os goleiros eram cuias, aquelas metades de

cabaças ou caçambas e carrocerias de caminhões de brinquedo. Utilizávamos como

jogadores objetos múltiplos: pedaços de madeira, carrinhos de plástico sem roda, rodinhas

de caminhõezinhos, pilhas usadas, carretéis de linha usados etc.

Todas essas informações/reminiscências são apresentadas para contextualizar um fato que

ocorreu comigo. Estávamos eu e minha mãe (provavelmente) indo à pé para algum lugar.

Não me lembro qual era, mas isto não é importante. O importante foi o que ocorreu no

meio do caminho. Em determinado local, uma estrada de terra, amarelada, empoeirada

talvez. Eu, com meus seis/sete anos, provavelmente de mãos dadas com minha condutora

(mãe?), avistei, ali naquele chão batido, um objeto: surpreendentemente lindo! admirável

em seu tamanho, formas e cor. Para que seja feita uma ancoragem2, costumo dizer que se

parecia com o conhecido frasco do produto “Leite de Rosas”. Mas o objeto era azul.

Revisando, então, entendo, que a comparação com um frasco do “Creme Nívea” seja mais

fiel, inclusive pelo azul que o primeiro produto não tem, o especial tom do azul! Tratou-se

de algo assim... da ordem do inefável. Penso-me mudo e extasiado, excitado, feliz,

preenchido pela experiência pré-relacional com aquele objeto que, praticamente, à primeira

vista tornava-se para mim admirável... encantador... amado... “azul”! A seguinte passagem

do Pequeno Príncipe de Saint Exupèry ( ) é “cativante” e nos ajuda a compartilhar da

experiência disto que é, de algum modo, indescritível:

“Procuro amigos - disse. - Que quer dizer cativar?

- É uma coisa muito esquecida - disse a raposa. - Significa "criar laços"...

- Criar laços? - Exatamente. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não

tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um

do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

2 Ancoragem...

Page 7: 591238_O Objeto Azul

Sendo mais sensitivo que indescritível talvez possamos nos esforçar para “compreender” o

fenômeno vivenciado. A ciência pode auxiliar. O psicólogo social Kurt Lewin ( ),

influenciado pela física e também pela fenomenologia nos ajuda. Recorrendo à imagem e à

definição do do conceito lewiniano de campo psicológico, tento apresentar o que vivenciei:

Com estas duas formas busco representar o que ocorria em meu campo psicológico. O

campo psicológico é o espaço de vida de uma pessoa e espaço de vida consiste na pessoa e

o meio psicológico tal como ele existe para ela (Miniccuci, 1991, p. 40). Eu estava bastante

“tomado” em meu campo psicológico. Assim minha atenção e meus comportamentos

tendiam a ser, demasiadamente, influenciados por aquela situação vivida.

A tendência seria eu pegar aquele objeto que me seduzia. Afinal seria o melhor jogador do

nosso Joguinho. Iria bater falta, driblar com maestria, matar no peito, bater escanteio, fazer

gol de cabeça... seria o melhor jogador dentre todos que já tínhamos! Meus irmãos

“morreriam” de inveja! Eu teria o “melhor”!

Acontece que não peguei o objeto azul. Talvez tivesse medo de ser advertido pela minha

condutora. Quis e pensei em pegar o objeto, mas, por alguma razão ou desrazão, não

peguei. Dirigindo-nos ao nosso destino, emocionado, fui pensando no “meu objeto azul”.

Não havia o pegado na ida, mas certamente, pegaria ao retornar... Afinal, tomaríamos o

mesmo caminho.

O que aconteceu na volta? Eu (com minha condutora), passando pela mesma estrada não

asfaltada e, certamente, olhando para aquele chão batido, esperando reencontrar “meu

objeto azul” no meio do caminho... O objeto não estava mais lá! Nova e dolorosa

experiência. O convite para a compreensão do que vivenciei conta agora com o auxílio de

Chico Buarque em extratos da sua letra de música/poema “Pedaço de Mim”

Oh, pedaço de mim

Oh, metade afastada de mim...

Oh, pedaço de mim

Oh, metade exilada de mim...

Page 8: 591238_O Objeto Azul

Oh, pedaço de mim

Oh, metade arrancada de mim...

Oh, pedaço de mim

Oh, metade amputada de mim...

Oh, pedaço de mim

Oh, metade adorada de mim...

A arte, quando bem sucedida, nos toca e pode levar à compreensão daquilo que é difícil

explicar. Contudo orientações acadêmicas, por vezes, consideram insuficiente descrever e

mesmo compreender. Para alguns se faz mister também explicar.

Sigmund Freud ( ) em seu clássico “Luto e Melancolia” exercita explicações para

experiências, presumivelmente, semelhantes vivenciadas por nós humanos. Experiências de

perdas amorosas que levam ao luto ou à melancolia, sendo o primeiro considerado “afeto

normal” e a segunda classificada como da ordem do patológico.

Em outra obra “Psicologia de grupos e análise do ego” Freud (1976/1921) recorre ao

conceito de identificação e aos fenômenos do estar amando e da hipnose, relacionados ao

conceito de idealização, contribuindo para certo entendimento da questão da relação e das

perdas e ganhos no âmbito intra-psíquico:

No caso da identificação, o objeto foi perdido ou abandonado; assim ele é

novamente erigido dentro do ego e este efetua uma alteração parcial em si próprio, segundo o modelo do objeto perdido. No outro caso o objeto é mantido e

dá-se uma hipercatexia dele pelo ego e às expensas do ego. (Freud, 1976/1921, p.

144).

Em páginas posteriores desta obra “psicossociológica” Freud tenta explicar também como

se dão os laços sociais, o que nos possibilita pensar, relativamente, em um grupo ou uma

comunidade:

Um grupo primário desse tipo é um certo número de indivíduos que colocaram um só e mesmo objeto no lugar de seu ideal do ego e, consequentemente, se

identificaram uns com os outros em seu ego. (FREUD, 1976 [1921], p. 147).

A recorrência à narração de uma história, associada a citações da literatura, da poesia, da

música e de autores consagrados da ciência psicológica é estratégia metodológica coerente

com a orientação da Psicologia Social Comunitária, nos casos sob reflexão, abrigando fins

diversos: auto-apresentação do professor, aproximação com os alunos, transmissão de

Page 9: 591238_O Objeto Azul

informações, promoção de vivências e reflexões e sensibilização para a proposta

pedagógica grupal-comunitária. Isto foi feito de modo mais completo com a turma do 9º

período noite. Com o 9º manhã já haviamos iniciado uma relação a partir da disciplina

Psicologia Social no 3º período. Eu atualizei junto a ela a boa expectativa que trazia, até

mesmo por que esta turma se destacou de modo especial no curso de psicologia da PUC

SG, exatamente por seus notórios traços comunitários.

Importa agora o contato com dois textos que apresentam e refletem sobre execuções da

proposta. Podem ser, coerentemente, considerados como produções teórico-práticas. São

textos elaborados no exercício do saber e ao sabor de vivências e convivências entre alunas

e alunos, o professor e convidados externos, sendo estes últimos partícipes eventuais da

experiências grupais-comunitárias desenvolvidas no primeiro semestre de 2011.

Conforme se pode observar, posteriormente no cronograma em anexo, a proposta veio junto

da exibição do vídeo documentário “noivas do cordeiro” e da leitura e discussão dos textos:

“A instância mítica” e “A instância grupal”. Tais textos contemplam duas das instâncias,

expressivas da noção de comunidade, que compõem os sete níveis de análise das

organizações, segundo Eugene Enriquez (1997). Nas aulas foram apresentadas também as

outras instâncias que atravessam o fenômeno organizacional-comunitário: social-histórica,

institucional, organizacional, individual e intra-psíquica. Portanto o conceito de

comunidade foi objeto de reflexão e provocação desde o primeiro dia de aula. Outros

recursos textuais utilizados para o mesmo propósito foram: “Uma introdução, ou bem-

vindos à esquiva comunidade” de Zygmunt Bauman (2003) e “A coragem de criar” de

Rollo May (1992). Além disto, eu contava, favoravelmente, com o fato de que a disciplina

compunha uma das ênfases do currículo em extinção. Sendo assim, era ponto de partida o

princípio de que os alunos e alunas não estavam ali por acaso, não eram, absolutamente,

obrigados pela organização curricular. Ou seja, tendo relativa liberdade para não se

matricularem na disciplina, cada uma das turmas chegou nela fazendo duas escolhas: a)

cursar Psicologia Social Comunitária no contexto das ênfases e b) tendo aceitado ao

convite, aprender a disciplina por meio de uma experiência grupal-comunitária.

Page 10: 591238_O Objeto Azul

Nas duas secções que se seguem entraremos em contato com produtos dessas escolhas.

Trata-se de dois textos apresentados como trabalho final da disciplina, que narram e

refletem as distintas experiências sob a ótica das duas turmas de 9º período,

respectivamente, dos turnos noite e manhã.

Estes textos podem ser, coerentemente, considerados como produções teórico-práticas. São

produções elaboradas no exercício do saber e ao sabor de vivências e convivências entre

alunas e alunos, o professor e convidados externos, sendo estes últimos partícipes eventuais

da experiências grupais-comunitárias desenvolvidas no primeiro semestre de 2011.

IV. Do Comum à comunidade: uma experiência em sala de aula3

“... não quero ser herói de nada Só quero a companhia de outros braços

É que meu coração de homem, voa alto como um pássaro”.

(CLODÊ E ZECA BAHIA,1979)

Estamos acostumados a uma organização de sala de aula e a uma metodologia de

ensino/aprendizagem que nos coloca no lugar de receptáculos e de recebedores de um

conhecimento acumulado pelas ciências e pessoalmente pelo/a professor/a que o transmite

para nós. Isso influencia em todos os aspectos dessa vivência, inclusive na organização da

sala de aula em que somos colocados de forma serial, olhando para uma figura central e

“indispensável” que se coloca à frente, em cima de um tablado, portanto “acima” dos

alunos.

Diante desse modelo, vemos que o poder da palavra e do saber não circula, destituindo o

conhecimento dos outros atores desse espaço, os alunos. Durante esses anos, a maioria dos

participantes da “comunidade” possui mais de quatro anos de curso, de faculdade e poucas

foram às experiências que se distanciaram desse modelo.

3 Alunas/os da disciplina de Psicologia Social Comunitária, 9º período noite, 1º semestre de 2011: nomes

Page 11: 591238_O Objeto Azul

Esta secção visa apresentar a experiência compartilhada entre os alunos do curso de

Psicologia da vida em Comunidade, dialogando com a disciplina Psicologia Social

Comunitária, através de uma proposta novo-paradigmática de transmissão do

conhecimento. Percebemos a teoria entrelaçada à prática e permeada por entraves

cotidianos, tendo em vista que as vivências em sala de aula, aliadas à experiência de

autogestão da disciplina, resultam em construções enriquecedoras de tal forma, que

tornamos a sala de aula um espaço de aprendizagens recíprocas.

Assim, saímos do “comum”, em que se vê o professor como figura detentora do

saber, para a vivência em comunidade, em que a aquisição do conhecimento é horizontal e

dinâmica. Por certo que a vivência foi permeada, enriquecida e iluminada pelo referencial

teórico da Psicologia Social Comunitária e, ao mesmo tempo, pela reflexão e partilha de

tudo o que fomos experimentando ao longo do semestre e ao longo de nossas vidas pessoais

e acadêmicas.

Pretendemos expor como esse idealismo - em que é possível se ver o mundo a partir

das construções sociais - tem se tornado real dentro da academia; e para além dela. Para

isso, nos apoiamos em referenciais teóricos próximos das Psicologias Sociais Críticas.

4.2 Uma nota sobre o que é comunidade

A comunidade visa o bem estar e a melhoria de vida de todos os seus membros, sendo

atravessada por aspectos míticos e, desta forma, ela nos remete a algo imaginário, utópico,

perseguido e não encontrado (“paraíso esperado”), contrário à lógica dos tempos atuais. A

acepção da palavra comunidade produz uma sensação de prazer: “o que essa palavra evoca

é tudo aquilo de que sentimos falta e de que precisamos para viver seguros e confiantes”

(BAUMAN, 1925, p. 9). Ela é um lugar de aconchego aonde as pessoas se sentem

acolhidas, se ajudam, se respeitam e confiam uns nos outros, possuem identificações

afetivas com o objetivo comum e com os seus membros. A vida em comunidade, no

entanto, implica na perda da liberdade em troca de segurança, como nos pontua Bauman:

“Não seremos humanos sem segurança ou sem liberdade; mas não podemos ter as duas ao

mesmo tempo e ambas na quantidade que quisermos”. (BAUMAN, 1925, p. 10)

Page 12: 591238_O Objeto Azul

Bauman (1925) ressalta a dialética “comunidade idealizada” e “comunidade

realmente existente”. Nesta última, dá-se ênfase à contradição dos valores

segurança/liberdade e comunidade/individualidade. Mas o autor pontua que na comunidade

não se faz necessário abrir mão da individualidade, uma vez que um grupo se compõe do

olhar de cada sujeito para si que se projeta no todo comum. A individualidade deve existir,

mas não em detrimento da comunidade, como ocorre hoje em nossa sociedade. Ainda

segundo o autor supracitado, conhecer esse dilema nos instrumentaliza a buscar soluções

que ao menos visem não repetir tentativas ineficazes anteriores ou se enveredar por

caminhos sem saída. Não podemos deixar de tentar. Nenhuma solução é tão suficiente que

não precise ser modificada, melhorada.

Vale destacar que o conceito de comunidade remonta ao início da humanidade, mas

sua apropriação enquanto conceito científico, se deu na atualidade, assim como o fato de

ser considerada utopia. É justamente por possuir caráter sócio-político e utópico, que não se

tornou esvaziada de sentido e, segundo Sawaia (1996), a comunidade mais do que um

conceito é orientadora de ação e de reflexão, que adotam características peculiares de

acordo com o contexto social no qual se insere.

O termo possui significados diversos. São conceituações criadas por instituições,

sociedades científico-acadêmicas e os próprios grupos populares. Contudo, em termos

gerais, comunidade é conceituada como um agrupamento de pessoas de uma determinada

região geográfica ou psicossocial, que possuem o mesmo objetivo, interesse em comum

“(...) com ou sem consciência de pertencimento e de forma plural, com múltiplas

concepções ideológicas, culturais, religiosas, étnicas e econômicas.” (PEREIRA, 2001,

p.146)

Nessa perspectiva, demarca Sawaia (1996), que a comunidade apresenta-se como

dimensão temporal e espacial do exercício da cidadania, e acrescenta que a Psicologia

social ao adjetivar-se como comunitária, objetiva colaborar com a criação desses espaços

relacionais e políticos, uma vez que os seres humanos são seres desse espaço.

Campos (1996) por sua vez, destaca que comunidade representa um grupo que parte

de um levantamento de necessidade e carências vividas, para problematizar e discutir qual a

Page 13: 591238_O Objeto Azul

maneira para solucionar a reivindicação que surge através dos levantamentos que o próprio

grupo cria.

Partindo do conceito de comunidade exposto por Campos (1996) e Pereira (2000),

em que o grupo se reúne para discutir e problematizar questões que são de interesses em

comum, uma comunidade não pode existir sem que haja algo em comum entre as pessoas.

Os objetivos comuns auxiliam na coesão da comunidade e dão um caráter grupal,

contribuindo na identificação dos membros entre si. Viver em comunidade implica em

viver inventivamente e, para isso, é preciso muitas vezes, recorrer a ajuda do outro que nos

intriga e instiga.

4.3 Da teoria à prática: o que é psicologia social comunitária?

A partir dessas variadas contribuições teóricas e da reflexão suscitada pelas mesmas,

quanto às práticas grupais vivenciais, que dizem das circunstâncias sobre os quais nos

lançamos no processo de se viver em comunidade, podemos então identificar neste

momento, algumas possibilidades e limites que atravessam o nosso processo. Estamos

vivendo, enquanto comunidade, um avanço na compreensão de que essa prática

comunitária também nos insere na questão da inscrição da "fala".

Isso possibilitou uma escuta coletiva privilegiando àquele que fala e, de certa forma

organizou a experiência comunitária, por mais que seja angustiante reter a fala quando se

deseja expressar. Isso é a comunidade que estamos criando! A vivência comunitária

possibilitou conversarmos sobre diversos assuntos, problemas, dificuldades vividas pelos

membros da comunidade, que não teríamos oportunidade de fazer em outro tipo de

organização da sala de aula. Os sentimentos foram expressos, as alegrias foram

compartilhadas, os desejos manifestos, os problemas divididos e soluções coletivas e

comunitárias foram buscadas.

Um “nó” que foi sendo percebido, reforçado e que se buscou desatar foi a proposta

de uma produção final. Chegar a um consenso, a uma definição que nos satisfizesse como

comunidade foi um desafio que nos “perseguiu” ao longo do semestre.

Page 14: 591238_O Objeto Azul

Detalhe importante é que essa produção deveria ser comunitária e, ao percebermos

que alguns encaminhamentos deixavam parte da comunidade incomodada e, ao mesmo

tempo, não era capaz de mobilizar e de levar à ação. O tema era retomado, partilhado,

refletido. Isso nos possibilitou aprendizados com relação a alguns aspectos teóricos da

vivência e relação comunitária: os objetivos comuns vão nortear a vida e a organização da

comunidade, mas, ao mesmo tempo, as pessoas não podem e não devem perder a sua

individualidade, a sua subjetividade e o espaço para as manifestações desta devem ser

preservados na comunidade.

Em alguns momentos, abrimos mão das nossas opiniões, das nossas razões em prol

da comunidade e do trabalho a que esta se propõe. A expressão das opiniões, ainda que

discordantes e divergentes, a exposição pessoal, inclusive dos sentimentos, foram sendo

provocadas e proporcionadas ao longo do semestre. Com isso aprendemos a nos conhecer,

a nos respeitar, a ter um afeto especial por cada membro da comunidade, na sua diferença,

na sua singularidade e na sua individualidade.

Outro aspecto importante e que fomos descobrindo ao longo dos encontros, foi o

papel e a importância de um/a coordenador/a para a comunidade. A liderança tem um papel

fundamental na comunidade e essa figura pode ser fixa ou circular, mas é imprescindível.

Anadaló (2006) pontua que: “a liderança é circunstancial e temporária, pois facilmente se

desmonta diante da emergência de um outro intérprete mais eficaz. Isso significa a

inexistência de comando ou de dirigentes, características dos líderes institucionalizados”

(pág. 1). Nossa comunidade foi descobrindo essa importância do coordenador, de forma

profunda, madura e respeitosa, e o tipo de líder/coordenador que se deseja ter.

O papel do coordenador da comunidade é de ser moderador e, na nossa experiência,

em alguns momentos esse papel era realizado ora pelo nosso professor ora pelos

facilitadores de cada encontro, fazendo com que a liderança fosse realizada de maneira

circular. Mas a comunidade não sentiu que o professor estivesse se ausentando do seu papel

de orientador e de portador do conhecimento, mas, sim que ele fez “um esforço cotidiano

para que seu lugar permaneça vazio, de modo que todos o desejem e ninguém o preencha

senão sob o risco de destruí-lo” (CHAUÍ, apud ANADALÓ, 2006, pág. 2)

Page 15: 591238_O Objeto Azul

Isto nos leva a afirmar que o processo de liderança em um determinado grupo ou em

uma determinada comunidade se faz a partir do processo do grupo, que estabelece os seus

objetivos comuns não só a partir das tarefas, mas também a partir da atuação do

coordenador. Este deve - consciente da sua individualidade, mas totalmente envolvido e

comprometido com a comunidade e com seus objetivos - fazer a democracia prevalecer,

dando direito a todos de se expressarem e, porque não dizer, permitindo que o conflito

aconteça, por entender que o mesmo também é necessário para a aprendizagem e faz parte

do viver em comunidade.

O coordenador não deve temer o conflito, mas lidar com ele, mesmo que isso leve

um tempo, mesmo que o incomode, que o irrite. Há conflitos de várias ordens: individual e

grupal, mas nos lembramos de que tudo é político e processual, que a cada dia se constrói a

comunidade a partir das suas próprias características. A comunidade é dinâmica e essas

características mudam a cada dia, a cada encontro e fomos experimentando isso ao longo

do semestre. Quando aceitamos ser comunidade, éramos X e depois desses meses e de

tantas experiências, somos Y, mas não deixamos de ser a comunidade que éramos, ou seja,

não deixamos de ser X, somos X mais Y. Portanto, nos modificamos a cada dia para termos

uma comunidade melhor e alcançarmos nosso objetivo, enquanto comunidade. Montero

(2001, apud Mayorga, 2007) vai dizer: “el sujeto construye uma realidad, que a su vez lo

transforma, lo limita y lo impulsa. Ambos están siendo construídos y desconstruídos

continuamente, em um proceso dinâmico, em constante movimiento (...) Esa construción es

social”.

Refletindo sobre o papel do coordenador e considerando as palavras chaves trazidas

por alguns dos membros da comunidade, destacamos a questão da autonomia que não

estamos acostumados a exercer, desacostumados a ficar sem coordenador, sem alguém que

nos dê as coordenadas do caminho a seguir. Trata-se de uma questão de assumir a postura

de responsáveis pelo processo e isso nos remete à insegurança que experimentamos

pessoalmente e como comunidade. A função do coordenador, cuja responsabilidade

confere e compõe a própria comunidade, pode ser difícil para alguns e, para outros pode

chegar a ser impossível, devido ao medo de ocupar o lugar do poder horizontalizado, pelo

desafio que ele é em si, pode fazer com que fujamos dele. Entretanto, em determinado

Page 16: 591238_O Objeto Azul

momento da experiência comunitária, vimos que o importante papel do coordenador,

ganhou relevância. Aprendemos que "não há grupo sem líder!", mas que o mesmo pode ser

qualquer membro da comunidade que ocupe tal lugar democraticamente. Esta relação

horizontal influencia e é influenciada já que não existe uma relação neutra, tudo é política,

tudo é relação, relação esta que é palavra chave em Psicologia Social Comunitária.

Desta forma, trazemos uma contribuição relevante de Sandoval citado por Costa

(2009), em que o conceito de “consciência política” é considerando como um conceito

psicossociológico que traduz o significado que o indivíduo atribui às interações diárias, ou

seja, às relações vivenciadas por ele cotidianamente. Para se formar essa consciência,

devemos considerar quatro aspectos básicos: identidade, oposição, totalidade e a

predisposição para a intervenção.

Esclarecemos cada aspecto citado pelo autor, a fim de torná-los compreensíveis ao

leitor. Sobre a importância da questão “identitária”, esta se faz necessária para que o

indivíduo possa fazer a diferenciação de si mesmo e do grupo. Assim, o discernimento do

indivíduo possibilitará as escolhas em ações coletivas. Quanto à “oposição” também é

essencial, uma vez que oferece sustentabilidade ao indivíduo para reivindicar seus direitos,

independente da classe social. Outro sim, a “totalidade” permite que o indivíduo

compreenda o dinamismo da comunidade no contexto social, que está inserido, entendendo

as relações de poder.

Por último e não menos importante, a “predisposição para intervenção”, se orienta

pela capacidade que o indivíduo tem de intervir de maneira individual e coletiva,

modificando sua realidade e transformando o estado de acomodação e passividade - “status

quo” - para a mobilização e criação das atividades. Estas podem ser relacionadas à proposta

de trabalho, consideradas por nós, aqui, como a produção deste artigo em comunidade, o

que podemos exemplificar através da iniciativa da produção deste, por um dos nossos

membros de liderança. (COSTA, 2009).

Assim buscamos compreender a “consciência política”, na perspectiva de Sandoval

citado por Costa (2009), como sendo “vontade de agir coletivamente”, e, relacionando-a

com o questionamento sobre: o que é participação política? Nesse sentido, entendemos o

Page 17: 591238_O Objeto Azul

conceito desta, como ato importante de se expor e reivindicar, evitando assim, acomodação

e a inviabilização da ação coletiva. É acreditar numa melhora coletiva, compreendendo que

é nas relações interpessoais que estabelecemos nossos vínculos e que quanto maior for

nosso nível de amizade maior será nossa probabilidade de participação e compromisso.

Assim, torna-se possível identificar nossos limites e dificuldades, possibilitando-nos

emancipar na comunidade. (SANDOVAL apud COSTA, 2009).

Outro autor que nos orientou em nossa vivência comunitária e nos proporcionou, a

partir da sua leitura, construir um conceito de Psicologia Social Comunitária de forma

crítica e ampliada, propiciando também nos pensarmos enquanto profissionais que poderão

atuar neste contexto, foi Martin-Baró.

Segundo Martin-Baró (s.d.), a Psicologia contribuiu pouco para a história dos povos

latino-americanos, salvo algumas exceções de alguns autores como Pichon-Riviére e Paulo

Freire, dentre outros. O autor diz que a nossa pouca produção e contribuição para os povos

latino-americanos se deve em grande parte à importação de conhecimentos e teorias

psicológicas estrangeiras, que acabaram por fortalecer as estruturas opressivas e o status

quo dominante em nossas sociedades latinas.

Entretanto, Martín-Baró (s.d.) vai dizer que este mimetismo científico que fizemos

das teorias psicológicas norte americana e européia, bem como a relativa juventude da

Psicologia Social na América Latina, não podem servir de desculpa ou de “muleta” para a

manutenção desse nosso fazer psicológico. Isto porque esse fazer, na maioria das vezes, é

descontextualizado e não levam em consideração as influências das estruturas e

engendramentos sociais sobre os sujeitos, retirando do contexto social e cultural a sua

parcela de culpa e a influência sobre a subjetividade de cada um de nós, centrando no

sujeito a culpa e a responsabilidade por tudo o que se é e se vive, seja subjetivamente ou

socialmente (angústias, opressões, desigualdades etc).

Martín-Baró (s.d.) fala-nos, portanto, da necessidade de ser feita uma Psicologia da

Libertação, a fim de que uma nova práxis psicológica possa brotar descentradas de si

mesma, propondo-se a um exercício de atendimento e serviço contextualizado e

historicizado com a realidade latino-americana. Entretanto, o autor vai nos dizer que não é

Page 18: 591238_O Objeto Azul

necessário que abramos mão dos conhecimentos já construídos, mas que esse conhecimento

seja aplicado levando em consideração o contexto e a realidade social, cultural e

comunitária no qual pretenda atuar, a partir de uma participação crítica nos setores

populares e comprometida com a melhoria da vida e das condições do nosso povo latino.

Dessa forma, Martín-Baró termina nos apresentando algo que acreditamos ser

essencial para a construção de uma efetiva Psicologia Social Comunitária:

Há uma grande tarefa adiante se queremos que a Psicologia latino-

americana realize uma contribuição significativa para a Psicologia

universal e, sobretudo, para a história de nossos povos. À luz da

situação atual de opressão e fé, de repressão e solidariedade, de

fatalismo e lutas, que caracteriza os nossos povos, essa tarefa deve

ser a de uma Psicologia da Libertação. Mas uma Psicologia da

Libertação requer uma libertação prévia da Psicologia e essa

libertação chegará apenas por meio de uma práxis comprometida

com os sofrimentos e esperanças dos povos latino-americanos.

(MARTÍN-BARÓ, s.d., p. 196).

E pensando em psicologia da libertação partir da compreensão teórica sobre “A

coragem de criar”, na perspectiva de Rollo May (1975), fomos movidos pelo desejo de criar

uma produção que nos permitisse mudar do contexto habitual para o nascimento de uma

nova caminhada. Eis o convite para realizarmos algo novo, enfrentando a terra de ninguém,

onde nós, incipientes, sabíamos aonde chegar, mas não como trilhar esse caminho. É

necessário coragem para nos alicerçarmos e irrigarmos os nossos corações. Pois é com essa

mesma coragem que chegaremos a outras virtudes que nos possibilitará o ser e o vir a ser.

Para isso, primeiramente, foi preciso decidir em comunidade qual o caminho a seguir.

Criatividade não faltou, pois tínhamos inicialmente, três perspectivas de produção: artigo,

cartilha e memorial. O impasse nos levou a deliberação democrática em comunidade

decidindo-se pelo do voto. A cartilha ganha um lugar de preferência comunitária como o

caminho a ser trilhado para a produção.

Desta forma, a inquietude e o mal estar dão forma ao sentimento de insatisfação, por

uns, e de satisfação, por outros. Surge uma problemática será que pensamos como

comunidade? Reconhecer esses sentimentos em nós possibilitou-nos compreender que

comunidade não é exercitá-la de fora, mas sim exercitar a si mesmo enquanto membro.

Comunidade é de sujeitos, ou seja, uma dialética entre individual e comunitário.

Page 19: 591238_O Objeto Azul

A contribuição de Mayorga (2007), foi importante para nossa compreensão da

palavra “relação”, sendo esta, na nossa compreensão, a base não somente da Psicologia

Social Comunitária, como também de todas outras psicologias. Paulo Freire, foi focalizado

especialmente naquilo que nos traz acerca da lógica relacional do opressor e do oprimido.

As relações entre psicólogos e setores populares são questionadas por Quintal de

Freitas (1998) que procura distinguir a prática do psicólogo social comunitário da presença

de psicólogos nas comunidades

4.4 finalizando

Iniciamos nossa experiência comunitária com algumas considerações de Rollo May

(1975), em que "somos chamados a realizar algo novo, a enfrentar a terra de ninguém" e já

percebíamos que essa não seria uma tarefa fácil. Bem sabemos que estamos em mudança

constante, isso quer dizer que estamos numa transição que certamente nos levará à

construção de um novo momento. Fomos compreendendo a cada encontro o que é

comunidade a partir de uma vivência, considerando o que se propõe a Psicologia Social

Comunitária. (ROLLO MAY, 1975, p. 9).

Nesse sentido saímos da morte (lugar estático) para a vida (nascimento). Esse

movimento de romper os empecilhos pode ser considerado como a coragem que nega a

apatia, nos comprometendo uns com os outros - além de nós mesmos -, procurando fazer o

bem, não somente àquele que chega, mas também a nós mesmos. Isso compreende a

coragem moral, segundo May (1975).

Desta maneira, é necessário que tenhamos coragem para criar compreendendo ser

esta a oportunidade de nos transformarmos em coordenadores democráticos, dentro de uma

perspectiva de horizontalidade. Fomos percebendo que temos coragem de relacionar uns

com os outros admitindo ser possível uma entrega para o bem, reconhecendo nossos limites

e, até mesmo, nossos sofrimentos.

Vale lembrar que a coragem trás consigo certo grau de contradição, devido à

dúvida, medo, poder e insegurança. Mas o consolo é perceber que podemos ser mais

saudáveis, não somente com a dúvida, mas apesar dela como nos diz Rollo May (1975).

Page 20: 591238_O Objeto Azul

Podemos dizer que aprendemos a nos acolher como estamos e que isso consiste em

um dos importantes aspectos do fazer comunidade para além das teorias. Elas são

importantes e, por isso mesmo, foram aprofundadas, mas a prática possibilita a emergência

de vários atravessamentos não previstos nas teorias.

Vivemos muito mais em uma sociedade do que em uma comunidade, tanto que

aprendemos e vivemos o que é comunidade em sala de aula. De acordo com Sawaia (1996),

comunidade e sociedade são diferentes. Na comunidade as pessoas se relacionam por laços

de afeto e tem objetivos comuns. Enquanto na sociedade, “os homens não estão vinculados,

mas divididos. Ela aparece na atividade aquisitiva e na ciência racional e sua base é o

mercado, a troca e o dinheiro (SAWAIA, 1996, p.42). Neste caso, não são trocas de afeto,

as pessoas lutam por interesse próprios. Isto não quer dizer que devamos nos fechar à

sociedade e nos enclausurar em nosso grupo. Não vivamos a ilusão do narcisismo grupal,

como dizia o professor Rubens. Ele cita um livro que fala sobre a política da alteridade, que

se relaciona com o que foi dito acima. Segundo essa idéia, a comunidade vira só um. Não

devemos nos fechar para o outro, pois a relação está posta. Fechar para o outro não é

objetivo comunitário.

Em suma, os processos grupais vivenciados ao longo do semestre, diziam das

circunstâncias sobre as quais nos lançamos no processo de viver em comunidade. Foi

possível identificar algumas possibilidades e limites que atravessaram o nosso processo.

Em certo momento percebemos que, enquanto comunidade, vivíamos um processo de

identificar e definir os objetivos comuns e os caminhos para se chegar até eles, perpassando

pelos atravessamentos de interesses pessoais e grupais. Mas o desdobramento deste

percurso é que nos permitiu alcançar os objetivos e refletirmos sobre o caminho trilhado e

aquele que se apresenta à nossa frente para ser trilhado, já que o caminho “se faz ao

caminhar”.

V. Percursos da Psicologia social Comunitária: a atuação do psicólogo nas

comunidades

O melhor pode ser inimigo do bom, mas certamente o “perfeito” é inimigo mortal dos dois

Zygmunt Bauman

Page 21: 591238_O Objeto Azul

5.1 Introdução

Rollo May afirma que somos chamados “A realizar algo novo, a enfrentar a terra de

ninguém, penetrar na floresta onde não há trilhas feitas pelo homem da qual ninguém

jamais voltou que possa nos servir de guia”. (MAY, 1982, p. 9-10). Assim podemos dizer

que este artigo é fruto deste chamado a realizar algo novo, que nos incitou a ter coragem

criativa para elaborá-lo. Elaborado por várias mãos, mãos que contém particularidades,

singularidades e, sobretudo, trazem consigo marcas de vivências diferenciadas de cada um

dos seus autores em suas relações e vivências.

Trabalho que surgiu de uma proposta de vida comunitária dentro da Academia, o

que não é fácil. Porém, como o mesmo autor afirma: “Toda profissão pode exigir e exige

coragem criativa” (MAY, 1985, p.19), os seus autores propuseram a trilhar o caminho para

algo novo neste momento de sua formação: da vivência da proposta surgiu este artigo, a

atuação do psicólogo nas comunidades.

Inicialmente buscamos compreender o conceito de comunidade em perspectiva, que

aponta para um paraíso perdido ou um paraíso imaginado, algo que almejamos para o

futuro e que diverge da comunidade existente na realidade.

Da compreensão do conceito, intuímos que comunidade consiste numa categoria

que orienta a ação e reflexão, que abarca todas as formas de relacionamento, sendo a

dialética entre individualidade e coletividade, o elemento que lhe dá movimento e vida.

(SAWAIA, 1996). Disso surgiu a necessidade de entender como a teorização desse

conceito evoluiu na América Latina, no que denominamos: historiando a psicologia social /

psicologia social comunitária e psicologia social da libertação, em especial na América

Latina. Percebemos, em consonância com Álvaro e Garrido (2006), que os processos de

conscientização nos trabalhos que se realizavam em países latinos não eram experiências

solitárias, mas produto de “esforço coletivo que atendiam a interesses e preocupações em

comum”. (ÁLVARO e GARRIDO, 2006). Nesse contexto refletimos sobre o fazer do

psicólogo na comunidade e as possíveis metodologias do trabalho comunitário social. Os

Page 22: 591238_O Objeto Azul

métodos apresentados não remetem o profissional a uma condição de linearidade no

trabalho comunitário, pois por estes perpassam desafios.

A experiência comunitária vivida por todos os alunos da disciplina proporcionou

uma discussão sobre as metodologias dos trabalhos comunitários que foram apresentados

durante as aulas e ao longo do artigo. Elas servem como ferramentas e suporte para a

atuação do psicólogo em seus vários campos de atuação, proporcionando assim recursos e

possibilidades de se adequarem as realidades apresentadas nos campos de trabalho.

Finalmente algumas pontuações foram elencadas, através de tópicos para uma

atuação profissional crítica do psicólogo.

5.2 O conceito de comunidade em perspectiva

A palavra comunidade nos faz pensar em uma “coisa boa”, em um lugar de conforto

onde nos sentimos seguros e acolhidos. Nesse lugar, “se tropeçarmos e cairmos, os outros

nos ajudarão a ficar de pé outra vez”. (BAUMAN, 2003, p. 08). Essa noção de comunidade

aponta para um paraíso perdido ou um paraíso imaginado, algo que almejamos para o

futuro e que diverge da comunidade existente na realidade. Assim, querer trilhar esse

caminho em direção ao bem comum é uma tentativa de nos despirmos do individualismo

que nos atravessa e ir ao encontro do viver comunitário.

À noção de comunidade são indispensáveis aspectos como o compartilhamento, o

respeito, o cuidado mútuo e a responsabilidade por tal construção. Ressaltamos que na

composição de uma comunidade, fatores de ordem macro e microssocial e política

coexistem, constituindo acontecimentos e atravessamentos sobre os quais o (a) psicólogo

(a) não deve prescindir de lançar um olhar atento e crítico em sua prática. No nível das

micro-relações, destaca-se o conflito passível de existir entre os interesses singulares dos

sujeitos e os interesses comunitários. Vida em comum pede consenso e adesão, mas não

exclui divergência e tensão.

O conceito de comunidade comporta uma dimensão mítica, a qual tem por função

incitar um modo de viver em conformidade com a narrativa por meio da identificação com

Page 23: 591238_O Objeto Azul

seus protagonistas. Na construção de uma comunidade, operam-se processos afetivos, de

encanto ou enfeitiçamento, intelectuais, de idéias e conceitos reguladores das atitudes do

grupo. Tais processos funcionam como fatores de coesão, dando ao mito a propriedade de

congregar os sujeitos e criar o vínculo social em seus aspectos libidinais e de razão

(ENRIQUEZ, 1997). Instaurador da fantasia de união suprema, o mito carrega consigo uma

ameaça à transformação social à medida que subsidiando a circunscrição dos sujeitos no

grupo, retira-lhes a possibilidade de tomar consciência dos vetores econômicos, sociais,

culturais, simbólicos e institucionais, bem como de suas implicações para a comunidade

(ENRIQUEZ, 1997 e PEREIRA, 2001). O mito pode então criar uma separação velada e

danosa entre a comunidade e a sociedade por meio de uma ilusão que se torna absoluta

sobre os sujeitos sociais. O imaginário de coesão e cooperação plena no interior da

comunidade, segundo Pereira (2001), serve de instrumento para a legitimidade da

dominação sobre os grupos minoritários, tratados como massa homogênea e facilmente

modelável.

Em nossas discussões a respeito do que é uma comunidade, vimos que a idéia de um

mundo comunitário, carregada de anseios de segurança e proteção, contrapõe os elementos

que constituem a atual sociedade, orientada por valores individualizantes. Bauman (2003)

nos fala da sociedade como uma multidão de estranhos na qual tornamo-nos superfícies

para os outros, evitando um encontro efetivo. No contexto capitalista em que a liberdade e

o êxito individual são bastante valorizados, aprender e, sobretudo, desejar viver em um

mundo onde as pessoas se solidarizam é um desafio, mas não uma impossibilidade, tendo

em vista que as pessoas estão em busca de segurança, o que remete ao viver em

comunidade.

Segundo Sawaia (1996) o conceito de comunidade surge apenas nos anos 70 a partir

de um ramo da psicologia social autonomeada de comunitária, cuja ênfase centrava na

realidade estudada, principalmente dos excluídos de cidadania. No entanto, essa mesma

autora ressalta que a descoberta da comunidade não foi um processo característico da

psicologia social, sendo este, parte de um movimento amplo que visava avaliar criticamente

o papel social das ciências, bem como questionar o paradigma da neutralidade científica.

Ao referenciar Heller, Sawaia (1996) afirma ainda que a entrada deste conceito no campo

da psicologia social estabeleceu um aspecto epistemológico importante, visto que

Page 24: 591238_O Objeto Azul

representou a opção por uma teoria crítica a qual interpreta o mundo com vistas a

transformá-lo.

No texto intitulado “Comunidade: a apropriação de um conceito tão antigo quanto a

humanidade”, Sawaia (1996) expõe o modo como este conceito foi sendo incorporado e

discutido ao longo das décadas em campos como a filosofia, a religião e a sociologia, além

de apontar discussões feitas por autores como Marx e Freud. No entanto, é a partir do início

do século XX que ocorre uma explosão de estudos sobre comunidades, os quais

possibilitaram olhar a sociedade a partir de uma perspectiva do vivido, de acordo com

procedimentos que, até então, eram próprios da antropologia. Para a autora, atualmente as

discussões da psicologia sobre comunidade estão em situação privilegiada. Isso porque há

uma grande produção de pesquisas, relatórios e reflexões teóricas das décadas de 70 e 80 os

quais permitem uma avaliação pormenorizada acerca de questões éticas postas pela

modernidade contemporânea.

Sawaia (1996) ressalta ainda que, por conter individualidade, comunidade não pode

ser trabalhada enquanto unidade consensual, um aglomerado de massa única, homogênea.

Nas palavras de Heller (1996):

Só a ação conjunta não a caracteriza, ao contrário, a homogeneização pode negá-

la, pois ela deve oferecer um espaço total de atitudes particulares. Isso não

significa abrir mão de idéias comuns, mas do consenso fechado e conseguido às custas da ditadura das necessidades, incentivando o exercício da comunicação

livre, onde todos participam com igual poder e competência argumentativa no

processo de ressignificação da vida social. (HELLER apud SAWAIA, 1996,

p.48)

Nesse sentido, a vida em comunidade pressupõe que todos os membros da relação

tenham legitimidade para se fazer ouvir e a capacidade argumentativa para participar da

construção de um consenso democrático. Os valores comunitários precisam ser

interiorizados para que se transformem em ação, devendo ser sentidos e pensados como

necessidade. Comunidade consiste, dessa forma, numa categoria que orienta a ação e a

reflexão, que abarca todas as formas de relacionamento, sendo a dialética entre

individualidade e coletividade, o elemento que lhe dá movimento e vida. (SAWAIA, 1996).

Page 25: 591238_O Objeto Azul

5.3 Historiando a psicologia social, a psicologia social comunitária e a psicologia social da

libertação na América Latina

A Psicologia social comunitária tem sua origem nos anos 60, em dois contextos

geográficos: nos Estados Unidos e na Europa. Na América Latina as publicações de textos

de psicologia social surgem na década de 70. Dentre as principais contribuições podemos

citar: Abrantes, Silva e Martins, Campos e Guareschi, Martín Baró e Montero.

A obra de Martín Baró foi marcada pelos acontecimentos históricos onde ele foi

protagonista direto. Sua obra buscava compreender a situação social, política e econômica

da América Latina. Segundo Baró, citado por Álvaro e Garrido (2006), é preciso substituir

a concepção universalista - alheia à história e individualista - pela psicologia social

contextual - histórica e mais sociológica - defendendo uma psicologia social crítica e

libertadora, compromissada com as classes marginalizadas.

Segundo Álvaro e Garrido (2006), a gênese da Psicologia Social Comunitária ocorre

na Conferência de Swampscott, em Massachussets nos Estados Unidos, realizada no ano de

1965 com o intuito de debater as limitações da psicologia para abarcar a análise dos

problemas, socialmente determinados, de saúde mental. Nesta época emerge, sobre a

influência dos movimentos sociais dos anos 60, uma reflexão sobre a responsabilidade

social da psicologia, ocorre então a reivindicação, por parte de alguns setores da psicologia

norte-americana, da necessidade de intervenção no contexto social.

Na década de 70, surge na América Latina a Psicologia Comunitária, como proposta

de mudança e transformação social, em resposta à crise da psicologia social. Álvaro e

Garrido (2006) observam que a psicologia social latino-americana, tem como traços

definidores sua forte orientação para a mudança e a transformação social, e sua

preocupação com a dimensão aplicada do conhecimento psicossociológico. Tal fato

esclarece o grande desenvolvimento da psicologia social comunitária neste contexto. Estes

ressalvam que a psicologia social comunitária latino-americana, é marcada pela

heterogeneidade e se edificou por meio da confrontação histórica de correntes de

pensamento distintos. Por isso, torna-se inviável também falar da existência de uma

“Psicologia Social Comunitária latino-americana”, uma vez que existem enfoques

diferentes, alguns influenciados pela psicologia européia, outros pela americana, como

Page 26: 591238_O Objeto Azul

também resistências e algumas tentativas de se construir uma psicologia latina, implicada

com a realidade local, que critica e confronta a maneira de fazer psicologia social nos EUA

e na Europa. Desta forma podemos dizer da existência de várias psicologias sociais, à

medida que vão sendo construídas a partir dos diversos contextos geográficos, e nestes,

fazem parte as condições sociais, econômicas, políticas e culturais, levando em conta suas

práticas comprometidas com a transformação da realidade social, principalmente dos

grupos mais desfavorecidos. Reconhece a capacidade de ação das pessoas, e das

comunidades, as quais têm papel ativo nos processos de mudança, tendo a obra e a

experiência de educação e conscientização populares de Paulo Freire como contribuição

fundamental para a conscientização e a mudança.

Desenvolvida na América Latina, a Psicologia Comunitária busca valorizar os

saberes e as práticas das comunidades e dos grupos envolvidos e seu foco de atuação muda

do individuo para a comunidade onde este está inserido. Tendo como objetivo final, a partir

da intervenção psicossocial (pesquisa-ação paticipativa) e do trabalho conjunto do

psicólogo com a comunidade, pensar estratégias e alternativas que visam a produção de

conhecimento para promover transformações sociais.

A Psicologia Social Comunitária critica o reducionismo psicologizante e o

individualismo da clínica tradicional e “define como um de seus objetivos principais a

incorporação do meio social à análise dos problemas de saúde mental” (ÁLVARO e

GARRIDO, 2006). Desde o início dos anos 70 existiam experiências de intervenções

realizadas em comunidades, entretanto, elas mantinham um caráter isolado até o ano de

1979, quando o XVII Congresso Interamericano de Psicologia foi realizado em Cuba,

criando o comitê gestor de Psicologia comunitária. A partir de então "começa a

conscientização de que os trabalhos que estavam sendo realizados em cada país não eram

experiências isoladas, mas faziam parte de um esforço coletivo que atendia a interesses e

preocupações comuns". (ÁLVARO e GARRIDO, 2006).

5.3 A atuação do psicólogo nas comunidades

O elemento popular ‘sente’, mas, nem sempre compreende ou sabe; o elemento

intelectual ‘sabe’, mas, nem sempre compreende muito menos ‘sente’. (...) o erro

Page 27: 591238_O Objeto Azul

do intelectual consiste em acreditar que se possa saber sem compreender e,

principalmente, sem sentir e estar apaixonado, (...) isto é, em acreditar que o

intelectual possa ser intelectual (e não um mero pedante) sem sentir as paixões

elementares do povo, compreendendo-as e, assim, explicando-as e justificando-as

em determinada situação histórica, bem como, relacionando-as dialeticamente às

leis da história, a uma concepção do mundo superior, científica e coerentemente

elaborada que é o saber. (GRAMSCI, 1978 apud PEREIRA, 2001 p. 142).

A temática “O Fazer do Psicólogo na Comunidade” pressupõe que,

necessariamente, estejamos falando de uma relação que se estabelece entre dois pólos. De

um lado, há o profissional de psicologia, com sua formação e os conhecimentos adquiridos,

com os instrumentais que aprendeu e adotou como recursos para os seus trabalhos, e com a

sua visão sobre o mundo e o homem. De outro, encontra-se a comunidade, os setores da

população, com sua dinâmica e características próprias, inserida em um contexto sócio-

político-geográfico, e vivendo em um tempo histórico determinado. Esta comunidade vive

uma conjunção de forças, pressões e desafios das mais diferentes naturezas e, tendo ou não

clareza concreta disto, muitas vezes influencia e apresenta limitações e também desafios ao

cenário ideológico dominante, quando, por exemplo, tenta sobreviver e resistir na sua luta

cotidiana.

Poder-se-ia dizer que tanto o profissional como a comunidade, seriam detentores de

diferentes "modos de ação", sendo orientados por visões de mundo nem sempre

coincidentes e conciliáveis.

5.4 Interfaces à atuação do psicólogo

Pensando na atuação do psicólogo nas comunidades, não poderíamos deixar de falar

sobre as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Segundo Pereira (2001) as CEBs são

comunidades ligadas principalmente à Igreja Católica em função da proximidade territorial,

cujo objetivo é a leitura bíblica em articulação com a vida buscando promover a

transformação social. Em geral, são pessoas das classes populares, que se se organizam em

torno das paróquias ou capelas por iniciativa de leigos, padres e bispos. Acreditamos que

esta metodologia de trabalho contribui para a atuação do psicólogo, se a perspectiva de

trabalho deste, for a da horizontalidade.

Page 28: 591238_O Objeto Azul

As CEBs se orientam pela metodologia de trabalho dialético, utilizando os

métodos: Inserção/Imersão estabelecendo entre os membros e a população um vínculo

concreto e prático; a Observação/Diálogo/Participação, que consiste em identificar

através da observação os problemas da população através do diálogo e da participação ativa

na comunidade; Ver/Julgar/Agir, método desenvolvido pela Ação Católica na década de

50, consiste na construção da prática a partir da realidade analisada e refletida. (PEREIRA,

2001).

Outro modelo é o psicossocial segundo PEREIRA (2001). Nele postula-se que as

pessoas de uma determinada comunidade são os principais protagonistas de seus saberes e

tem por objetivo buscar soluções de forma compartilhada com os que vivem os problemas.

Este modelo tem como premissa básica o desenvolvimento da participação e consciência

política do cidadão. Esta orientação, fundamentada em um novo paradigma, possibilitou o

trabalho transdisciplinar e abriu caminho para o emergir de muitas abordagens

metodológicas, ONGs (Organizações Não Governamentais) e associações, tais como a

ABRAPSO (Associação Brasileira de Psicologia Social).

Também a corrente institucionalista, de acordo com Pereira (2001), objetiva

impulsionar experiências coletivas, criadoras de novos saberes e modos alternativos de

viver. Essas práticas tem como premissa básica desencadear rupturas objetivas e subjetivas

em um certo modo conservador e cristalizado de experiências institucionais, contrapondo a

alienação. É na ruptura com as experiências institucionais conservadoras que tal movimento

fomenta a autonomia, o exercício da cidadania e a diversidade. Neste modelo

metodológico, há espaço para que cada participante da comunidade exerça seu poder de

participação. Assim, a comunidade não pode ser concebida como algo acabado, instituído,

pois, sempre há forças contrárias potenciais invisíveis, os quais a palavra pode colocar em

movimento.

Em suma, o movimento institucionalista é útil para problematizar aspectos amplos e

particulares do trabalho comunitário como Estado, instituição, grupo, saber, poder,

subjetividade, epistemologia e ciência, instituído e instituinte, etc. Sua proposta visa

contribuir para a transformação da sociedade, do modo que os grupos despossuídos possam

Page 29: 591238_O Objeto Azul

tomar consciência de seus analisadores, que possam engendrar acontecimentos por meio de

suas forças potenciais visíveis, conquistando visibilidade e voz.

Segundo Barreto (2008), Terapia Comunitária é um espaço comunitário onde se

procura partilhar experiências de vida e sabedorias de forma horizontal e circular, onde

cada um se torna terapeuta de si mesmo, a partir da escuta de histórias ali relatadas. Todos

se tornam co-responsáveis, buscando soluções e superação para os desafios do cotidiano,

em ambiente acolhedor e caloroso. Transforma o sofrimento em crescimento, carência em

competência. Ela se propõe ser um instrumento de aquecimento e fortalecimento das

relações humanas, construindo redes de apoio social, em um mundo cada vez mais

individualista, privatizado e conflitivo. A comunidade age onde a família e as políticas

sociais falham. A solução está no coletivo e em suas interações, no compartilhar, nas

identificações com o outro e no respeito às diferenças, onde o profissional faz parte de tal

construção. Ambos se beneficiam: a comunidade gerando autonomia e inserção social e o

profissional se curando de seu autismo institucional e profissional, bem como de sua

alienação universitária. A Terapia Comunitária apresenta três características: Discussão e

realização de trabalho de saúde mental, preventiva e curativa; a ênfase no trabalho de

grupo; criação gradativa de consciência social. Tanto leigos, como profissionais de diversas

áreas da saúde, podem ser agentes de Terapia Comunitária.

Os métodos apresentados não remetem o profissional a uma condição de linearidade

no trabalho comunitário. Há desafios que perpassam os métodos apresentados, um

compromisso político com os setores desfavorecidos e o alerta de como operar a

mobilização das pessoas em torno da participação e não de um ativismo, conforme

desenhado por Montero (2004): “(...) el peligro de que el trabajo comunitario degenerase

em activismo (politico, religioso, social) com ausencia de refleccion teórica e de rigor

metodológico.” (MONTERO, 2004, p. 237).

Revisitando

Após elencar e discutir esses pontos que consideramos pertinentes ao trabalho do

psicólogo nas comunidades, cabe destacar alguns tópicos. É imprescindível para uma

Page 30: 591238_O Objeto Azul

atuação profissional crítica que o psicólogo se interrogue sobre seus pressupostos. Sobre a

forma como concebe o trabalho comunitário. Assim, será capaz de avaliar sua metodologia

e seus resultados. O psicólogo precisa estar aberto ao novo, atento aos processos grupais,

institucionais e comunitários para reinventar seus métodos a cada intervenção.

Atuar com um entendimento que permite que a novidade favoreça a escuta dos

atores sociais atingidos pela proposta de sua intervenção. Não há trabalho verdadeiramente

comunitário, social, sem o reconhecimento do outro e dos seus saberes. A respeito do

surgimento e difusão da psicologia social comunitária na América Latina é importante

frisar sua condição plural. É impreciso, e até mesmo incorreto, compreender a psicologia

social latino americana como um campo de saber homogêneo. É melhor e mais coerente

reconhecer a diversidade e buscar em meio a ela pontos convergentes e divergentes. Os

alinhamentos políticos associados às necessidades e realidades locais evidenciam a

complexidade do campo social e favorecem a segmentação dos interesses que em

determinadas ocasiões se complementam, mas que em outras se contrapõem.

As metodologias dos trabalhos comunitários apresentados ao longo deste texto

servem como ferramentas e suporte para a atuação do psicólogo, conferem-lhe recursos a se

apropriar e adequar de acordo com as realidades locais do seu campo. Os modelos

apresentados servem como referência aos profissionais, não devem ser pensados ou

utilizados com rigidez ou inflexibilidade. Chamamos atenção que as metodologias e

propostas de trabalho devem estar afinadas com o objetivo que se pretende alcançar.

De acordo com o texto Pesquisa-ação participativa, uma intervenção social deve

possibilitar mudanças na vida das pessoas, sendo que a mudança irá acontecer com a

comunidade e não para ela. Os membros e os profissionais envolvidos devem ter

participação mútua, principalmente os que ali moram, pois são eles que devem dar

sugestões de caminhos alternativos, dizendo também das suas necessidades para a mudança

acontecer.

As pessoas que fazem parte da comunidade têm um saber sobre si mesmas e sobre

sua realidade e estes são aspectos importantes para o processo de mudança. Eles podem ser

Page 31: 591238_O Objeto Azul

ativos e críticos no processo de mudança, por serem, eles próprios os sujeitos da sua vida e

história.

Pode-se dizer então que a participação da população, as metas e os procedimentos

para o alcance das mesmas se tornam função não apenas do psicólogo ou da comunidade,

mas todos devem participar efetivamente, se possível, de todas as etapas da atuação. Sendo

assim, a intervenção deve se pautar pela atuação de outros profissionais que possam

auxiliar a compreensão da complexidade que uma instituição apresenta. Deste modo, a

atuação para a mudança pode ser mais eficaz e harmônica: os grupos adquirem um diálogo

alinhado entre si, as decisões não se concentram nas mãos de poucos, enriquecendo as

possibilidades de resolução dos problemas e promovendo transformações sociais reais.

V. Considerações finais

A turma da manhã enfatizou em sua compreensão a experiência de ser comunidade em um

contexto acadêmico. Denominou o método participativo e didático como “roda de conversa

sobre a teoria e a prática do que é ser comunidade” salientando alguns conceitos chaves; o

desenvolvimento da psicologia social comunitária no contexto latino americano; atuação do

psicólogo nas comunidades e a metodologia do trabalho comunitário e social. Observou

que o psicólogo precisa estar aberto ao novo, atento aos processos grupais, institucionais e

comunitários para reinventar seus métodos a cada intervenção concluindo que não há

trabalho verdadeiramente comunitário e social sem o reconhecimento do outro e de seus

saberes.

A turma do noturno compreendeu a proposta de ensino-aprendizagem como novo-

paradigmática. Para ela houve entrelaçamento da teoria com a prática, permeadas por

entraves cotidianos. As vivências em sala de aula, aliadas à experiência de autogestão

resultam em construções enriquecedoras e fizeram do ambiente um espaço de

aprendizagens recíprocas. Saíram portanto da perspectiva “comum”, em que se vê o

professor como figura detentora do saber, para a vivência em comunidade, em que a

aquisição do conhecimento é horizontal e dinâmica estando em foco a compreensão de que

na academia - no curso de psicologia - e para além dela, é possível se ver o mundo sob a

Page 32: 591238_O Objeto Azul

ótica das construções sociais. Apoiaram-se para isto em referenciais teórico-metodológicos

das psicologias sociais críticas.

O 9º período manhã já trazia em sua trajetória traços reconhecidos de experiências

caracteristicamente comunitárias. Sendo provocada, esta turma apresentou resistências em

trabalhar explicitamente dimensões relacionais pautando-se predominantemente pela

racionalidade.

A turma da noite destacou-se pela dimensão afetiva em seu investimento na experiência. O

acolhimento e a atenção ao outro, assim como o esforço contínuo de cuidado com a

“comunidade” e com a gestão do processo se fizeram presentes.

Aspectos psico-socio-políticos estiveram em questão sendo problematizados fenômenos

relacionados ao poder e ao afeto assim como o lugar do professor na constituição das

“relações grupais-comunitárias”. As distintas experiências foram consideradas bem

sucedidas quanto ao objetivo de ensino aprendizagem sobre Comunidade e Psicologia

Social Comunitária no contexto de uma Instituição de Ensino Superior.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAUMAN, Zygmunt. Uma introdução, ou bem-vindos à esquiva comunidade. In.:

BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de

janeiro: Jorge Zahar, 2003.

CAMPOS, Regina Helena de Freitas. Psicologia social comunitária: da solidariedade à

autonomia. Introdução: A psicologia social comunitária. Petrópolis: Vozes, 1996. Pág. 9 á

15.

COSTA, Giseli P. Participação política e consciência política: uma abordagem

psicopolítica. In.: COSTA, Giseli P. Cidadania e Participação. Curitiba: Juruá, 2009.

CLODÊ e BAHIA, Zeca. Ave coração. In: FAGNER, Raimundo. Beleza. Rio de Janeiro.

CBS. Faixa 5. 1 Disco.

ENRIQUEZ, Eugene. “A instância mítica”. In.: ENRIQUEZ, Eugene. A Organização em

Análise. Petrópolis: Vozes, 1997.

Page 33: 591238_O Objeto Azul

FREITAS, Maria de Fátima Quintal de. Novas práticas e velhos olhares em Psicologia

Comunitária: uma conciliação possível? In: SOUZA (et all) Psicologia reflexões (im)

pertinentes. São Paulo, Casa do Psicólogo, 1998.

MAY, Rollo. A coragem de crier. In.: MAY, Rollo. A Coragem de criar. Rio de Janeiro:

Nova Fronteira, 1992.

MAYORGA, Claudia. Revisitando a pedagogia do oprimido: contribuições à psicologia

social comunitária. In.: MAYORGA, Claudia e PRADO, Marco A. M. (orgs). Psicologia

social: articulando saberes e fazeres. Belo horizonte: Autêntica, 2007.

MARTÍN-BARÓ, Ignacio. Para uma psicologia da libertação. In.: GUZZO, Raquel e

LACERDA JR, Fernando. Psicologia Social para a América Latina: o resgate da

psicologia. São Paulo: Editora Alínea, 2009.

PEREIRA, William C. C. Metodologia do Trabalho Comunitário e Social. In.: PEREIRA,

William C. C. Nas Trilhas do Trabalho Comunitário e Social: teoria, método e prática.

Petrópolis: Vozes, 2001.

SAWAIA, Bader Burihan. Comunidade: a apropriação científica de um conceito tão antigo

quanto a humanidade. In: CAMPOS, Regina Helena de Freitas (org.). Psicologia social

comunitária: da solidariedade à autonomia. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.

CarlosDrummondde Andrade

In Alguma Poesia

Ed. Pindorama, 1930

© Graña Drummond

Miniccuci, Agostinho. Dinâmica de Grupo: teorias e sistemas. São Paulo: Atlas, 1991.

VI. Referências

ÁLVARO, José Luis e GARRIDO, Alicia. O desenvolvimento da psicologia social na

América latina. In: ÁLVARO, José Luis e GARRIDO, Alicia. Psicologia Social:

perspectivas psicológicas e sociológicas. São Paulo: McGraw-Hill, 2006.

ANDRADE, Carlos D. Alguma Poesia. Ed. Pindorama, 1930.

BARRETO, Adalberto de Paula. Terapia Comunitária: construindo redes solidárias na

comunidade. In: TATSCH, Dirce T. ; GUARESCHI, Neuza N. F. ; BAUMKARTEN,

Silvana T. (Orgs.). Tecendo relações e intervenções em Psicologia Social. Porto Alegre:

ABRAPSO SUL, 2009.

Page 34: 591238_O Objeto Azul

BARRETO, Adalberto de Paula. Terapia Comunitária passo a passo. Fortaleza: Gráfica

LCR, 2008, 407p.

BATISTA, Cássia B.; MAYORGA, Claudia e NASCIMENTO, Rubens F. Pesquisa-ação

participativa e transformação social: estudo sobre adolescência em comunidade. In:

FAZZI, Rita C.; Carlos W. C. MACHADO e HATEM, Daniela S. et., al. Diálogos em

extensão: encontro da rede PUC sobre Infância, Adolescência e Juventude. Belo

Horizonte, PUCMINAS, 2010.

BAUMAN, Zygmunt. “Uma introdução, ou bem-vindos à esquiva comunidade”. In.:

BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de

janeiro: Jorge Zahar, 2003.

CAMPOS, Regina Helena de Freitas. Psicologia social comunitária: da solidariedade à

autonomia. Introdução: A psicologia social comunitária. Petrópolis: Vozes, 1996. Pág. 9 á

15.

CIAMPA, A.C. ARDANS, O. SATOW, S. “Para para pensar... e depois fazer! Entrevista

com Silvia T. M. Lane” in Psicologia & Sociedade; 8 (1): 3 – 15; jan./jun. 1996.

CLODÊ e BAHIA, Zeca. Ave coração. In: FAGNER, Raimundo. Beleza. Rio de Janeiro.

CBS. Faixa 5. 1 Disco.

COSTA, Giseli P. “Participação política e consciência política: uma abordagem

psicopolítica”. In.: COSTA, Giseli P. Cidadania e Participação. Curitiba: Juruá, 2009.

ENRIQUEZ, Eugene. “A instância mítica”. In. ENRIQUEZ, Eugene. A Organização em

Análise. Petrópolis: Vozes, 1997.

FREITAS, Maria de Fátima Quintal de. “Novas práticas e velhos olhares em Psicologia

Comunitária: uma conciliação possível?” In: SOUZA (et all) Psicologia reflexões (im)

pertinentes. São Paulo, Casa do Psicólogo, 1998.

MAY, Rollo. “A coragem de crier”. In.: MAY, Rollo. A Coragem de criar. Rio de

Janeiro: Nova Fronteira, 1992.

MAYORGA, Claudia. “Revisitando a pedagogia do oprimido: contribuições à psicologia

social comunitária”. In.: MAYORGA, Claudia e PRADO, Marco A. M. (orgs). Psicologia

social: articulando saberes e fazeres. Belo horizonte: Autêntica, 2007.

MARTÍN-BARÓ, Ignacio. “Para uma psicologia da libertação”. In.: GUZZO, Raquel e

LACERDA JR, Fernando. Psicologia Social para a América Latina: o resgate da

psicologia. São Paulo: Editora Alínea, 2009.

Page 35: 591238_O Objeto Azul

MINICUCCI, Agostinho. Dinâmica de Grupo: teorias e sistemas. São Paulo: Atlas,

1991.

MONTERO, Maritza. La participación e el compromiso en el trabajo comunitario. In:

MONTERO, M. Introducción a la psicología comunitaria: desarrollo, conceptos e

procesos. Buenos Aires: Paidós, 2004, pp. 225-254.

PEREIRA, William C. C. “Metodologia do Trabalho Comunitário e Social”. In.:

PEREIRA, William C. C. Nas Trilhas do Trabalho Comunitário e Social: teoria, método

e prática. Petrópolis: Vozes, 2001.

SANTOS, Luana C. NASCIMENTO, Rubens F. O “Psicólogo na Política Pública de

Prevenção à Criminalidade: Diálogo sobre questões ético-políticas e a dimensão

relacional”. In: Anais do XVII Encontro regional da ABRAPSO Minas. Trabalhos

completos - ISSN 1981- 432.

SAWAIA, Bader B. “Comunidade: A apropriação de um conceito tão antigo quanto a

humanidade”. In: CAMPOS, Regina H. F. Psicologia social comunitária.

Petrópolis:Vozes, 1996, pp.35-51.

Page 36: 591238_O Objeto Azul
Page 37: 591238_O Objeto Azul