591238_o objeto azul
TRANSCRIPT
O OBJETO AZUL:
Psicologia Social Comunitária na Formação em Psicologia
Rubens Ferreira do Nascimento
Turma do 9º período de psicologia da PUC São Gabriel 1º semestre de 2011, turno noite
Turma do 9º período de psicologia da PUC São Gabriel 1º semestre de 2011, turno manhã
I. Introdução:
Como produto da mudança curricular em processo no curso de psicologia da PUC SG
algumas disciplinas foram criadas, outras foram extintas e outras ainda foram fusionadas. A
proposição de Intervenções Psicossociais e Práticas Comunitárias neste segundo semestre
de 2011 é fruto da junção entre duas disciplinas presentes no currículo que se finda:
Intervenção Psicossocial (8º período) e Psicologia Social Comunitária (9º período). As
alterações têm ocorrido processualmente, oferecendo a oportunidade de, no ato de ministrar
as disciplinas que, gradativamente, se extinguem, possamos elaborar lutos, mas também
celebrarmos, no contexto de perdas e ganhos. No âmbito de uma publicação que comemora
os 10 anos de existência do Curso de Psicologia na PUC São Gabriel, este texto coloca em
foco a disciplina Psicologia Social Comunitária e propõe um ato de celebração sobre
experiências relacionais realizadas entre professor, alunas e alunos no primeiro semestre
deste ano.
Assim, para sua elaboração, o presente texto se baseia em dois pontos principais de
motivação: 1) a oportunidade de comunicar experiências de ensino-aprendizagem em sala
de aula orientadas teórico-metodologicamente por contribuições da Psicologia Social
Comunitária e; 2) a reflexão sobre a importância desta disciplina como saber teórico-prático
para além da sala de aula, portanto, cotidianamente, veiculado nas atividades de estágio,
pesquisa e extensão externas e internas ao Laboratório de Psicologia Social. Saber este que
não apenas se apresenta como uma possibilidade de especialização para o psicólogo mas,
mais do que isto, como um dispositivo que proporciona o pensar e o repensar sobre
questões éticas e políticas relacionadas ao exercício da psicologia enquanto ciência e
profissão. Deste modo esta produção testemunha a relevância da disciplina Psicologia
Social Comunitária ao comunicar e apresentar, reflexivamente, produtos das experiências
pedagógicas grupais-comunitárias desenvolvidas com as turmas de 9º período, turnos
manhã e noite no primeiro semestre deste ano de 2011.
A opção por um estilo de escrita que legitima e circunscreve a polifonia é coerente com
certo modo de comunicar as produções em Psicologia Social Comunitária e trabalhos afins,
ou seja, intervenções e pesquisas que têm em metodologias participativas seu fio condutor.
São autores deste texto o professor da disciplina e alunas e alunos das turmas de 9º período
do primeiro semestre de 2011, nos turnos manhã e noite. O artigo está organizado da
seguinte forma: após a introdução, de modo impessoal, há a contextualização das
experiências realizadas. Depois é apresentada a história do objeto azul na primeira pessoa
do singular. Nesta secção a voz do professor tem destaque e são explicitados os objetivos
deste recurso pedagógico e sua função como dispositivo nas distintas experiências grupais
comunitárias que serão relatadas reflexivamente pelas duas turmas, em secções separadas,
na seguinte ordem: noite e manhã. Nestas, as vozes estão na segunda pessoa do plural. Em
seguida são tecidas as considerações finais elaboradas com a participação do coletivo de
autores, evidentemente, também na segunda pessoa do plural.
II. A Psicologia Social Comunitária na sala de aula
Esta parte do artigo contextualiza a proposta de desenvolvimento da disciplina Psicologia
Social Comunitária no curso de psicologia na PUC Minas, unidade São Gabriel no ano de
2011. Tratou-se de uma opção de ensino-aprendizagem construída, paulatinamente, em
experiências dialogais entre professor e turmas de 9º período do curso de psicologia.
Chegou-se após alguns semestres de interações, sugestões, mudanças e avaliações a uma
proposta de experiência pedagógica denominada como “grupal-comunitária”. Não era
obrigatória. Sendo feita no início de cada semestre havia a liberdade dos alunos escolherem
entre ela e outra que consiste no modelo mais tradicional de ministrar as aulas. A ementa e
o plano geral da disciplina são respeitados em ambas as propostas. A diferença estaria no
modo de conduzir a disciplina. A proposta grupal comunitária, destacada em seus objetivos
e metodologia, foi feita do modo como se segue:
2.1 Proposta para a disciplina Psicologia Social Comunitária1
2.1.1 Objetivos
O objetivo geral consiste em apresentar a Psicologia Social Comunitária: história,
fundamentos, conceitos, aspectos metodológicos e práticos, mediante um exercício de
experiência grupal-comunitária. Como objetivos específicos temos: exercitar a
compreensão do conceito de comunidade articulando teoria, vivência pessoal e formação
profissional; desenvolver aprendizagem sobre os fundamentos da PSC por meio dialógico
envolvendo colegas, professor e literatura técnica; compreender a metodologia e a prática
em PSC a partir do diálogo: grupal, com o professor, com terceiros e com a literatura;
explorar e refletir sobre os conceitos teórico-práticos da PSC a partir da literatura, de
vivências pessoais, dos colegas interlocutores, do professor e de profissionais e agentes
comunitários e desenvolver reflexão processual sobre o lugar, papéis e funções do
psicólogo social comunitário.
2.1.2 Processo metodológico
Para o desenvolvimento do processo são considerados aspectos necessários: fomentar um
senso grupal-comunitário (crítico) na turma; promover a realização de atividades de ensino-
aprendizagem orientadas pela participação, a partilha, a cooperação e o senso crítico;
provocar o exercício de reflexividade pessoal e grupal.
As aulas devem ocorrer em formato de seminários ou de rodas de conversa com alguns
momentos expositivos conduzidos pelo professor,caso seja demandado; serão moderadas
por duplas de alunos/as sendo registradas pelos/as mesmos/as ou por outros/as, ocorrendo
também a realização e apresentações de práticas extensionistas articuladas. Tudo isto
articulado com a leitura e discussão dos textos sugeridos
Os registros das aulas devem conter: o tema; os nomes dos alunos presentes; os objetivo(s)
da aula; as fontes bibliográficas, artísticas etc. às quais se recorreu; os recursos
metodológicos utilizados; o conteúdo ministrado e/ou discutido e uma breve conclusão ou
reflexão final sobre o conteúdo trabalhado.
1 A proposta está apresentada tal como foi feita às turmas do primeiro semestre de 2011 apenas, para maior
clareza, com pequenos acréscimos além das práticas extensionistas. O movimento atual na universidade
convida/convoca a comunidade acadêmica a fazer esforços no sentido de fomentar a execução da política
de extensão da PUC Minas. As práticas extensionistas são sugestões a serem incorporadas nos projetos
pedagógicos e nos planos de ensino. No caso da disciplina Psicologia Social Comunitária isto foi feito no
segundo semestre de 2011. Entendeu-se que vale a pena incluir este registro considerando que o presente
artigo pode contribuir para os objetivos extensionistas explicitados, com os quais o curso de psicologia está
de acordo e tece ações de mudança na direção apontada.
Fica sugestão de que os relatórios de cada aula, elaborados parcial ou totalmente, sejam
socializados com a turma de preferência com os recursos da internet. Os colegas poderão
acrescentar informações e reflexões ao relatório que poderá ser enriquecido e alterado pelos
responsáveis antes de serem entregues ao professor para avaliação e à turma para compor a
produção final que deverá versar sobre a experiência e será definida e elaborada pela
própria turma. Todo o material registrado será útil na realização desta produção, da provas e
demais trabalhos.
2.1.2.1 Práticas extensionistas
São consideradas práticas extensionistas vinculadas ao ensino ou à pesquisa conforme
documentos da PROEX: “Práticas dirigidas, concomitantemente, aos alunos e à sociedade
(população externa à universidade) que tenham como conteúdo a disponibilização dos
produtos gerados ou veiculados na universidade. A disponibilização referida implica a troca
de conhecimentos/ experiências.” Em seguida alguns exemplos: Escolha/definição de
objetos de pesquisa provenientes da experiência em projetos de extensão; Utilização de
material acadêmico produzido em projetos de extensão no ensino e/ou na pesquisa – como
livros, artigos, produções audiovisuais, cartilhas, etc; Experiência de extensão como
conteúdos programáticos de disciplinas – integral ou unidade(s); Experiências de extensão
como práticas pedagógicas, como apresentação/discussão da experiência de extensão em
sala de aula; Extensão como oportunidade de estágio; Visitas técnicas definidas no âmbito
do ensino ou da pesquisa que impliquem na disponibilização de produtos gerados ou
veiculados na universidade para a sociedade; Trabalhos de conclusão de curso em que as
experiência de extensão sejam o tema ou tenham contribuído significativamente para a
reflexão.” (documento da proex)
As práticas extensionistas propostas implicam em conexões das seguintes possíveis
atividades: visitas, ações, leituras, registros, comunicações à turma, trazer representantes
para falar em sala. Estas atividades serão de responsabilidades de sub-grupos específicos e
devem ser planejadas com a orientação do professor.
III. Sobre o Objeto Azul
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Carlos Drummond de Andrade
Com objetivos múltiplos, costumo iniciar ou potencializar as minhas relações pedagógicas
com turmas, especialmente das disciplinas Psicologia Social e Psicologia Social
Comunitária, contando a história de um fato/fenômeno acontecido em minha infância.
Quando eu tinha seis anos, morando com minha família na cidade mineira Paracatu, vivi
uma experiência marcante, simples e, paradoxalmente, com alto nível de complexidade e
potencialidade. Trata-se da história do meu “objeto azul”.
No final da década de 1960, minha família podia ser sociologicamente classificada, como
uma família operária. Relações hieráquicas orientadas por fatores de gênero, geracionais e
etários, atravessadas pelo determinante estrutural das relações de classe. Tudo isto
reproduzido por aparelhos ideológicos tais como a escola e a religião. Pai, mãe, três filhos
legítimos e uma filha adotiva. Eu era o filho caçula entre os homens. Minha irmã era a mais
nova. Entre eu e ela, seis anos de “diferença”.
Dois anos marcavam as distâncias etárias entre nós os irmãos homens. Brincávamos quase
sempre juntos, em casa e no terreiro. A tentativa era minimizar e nos blindar dos contatos
com os “moleques da rua”, orientações da nossa mãe/matrona. Tínhamos, dentre as delícias
das brincadeiras infantis, uma que era especial: o “Joguinho”.
O Joguinho era uma simulação de uma partida de futebol. Futebol, elemento caro em nossa
vida, principalmente entre os filhos homens. Referência de masculinidade. Meu pai trazia
em sua história glórias passadas: era ídolo de futebol na sua cidade natal: Sabinópolis. Isto
nos alimentava: “nem só de pão vive o homem...”. O joguinho acontecia damaneira como
exponho a seguir. O gol era engenhosamente construído por meu irmão mais velho: com
cabo de vassoura serrado; duas partes na vertical, uma outra pregada sobre elas na
horizontal, uma estrutura em ripas de madeira dando suporte para aquelas “traves” e
pauzinhos de picolé em cima, auxiliando na extensão da rede. Tratava-se desses recipientes,
essas redinhas que, em geral, se utiliza para carregar e vender mexericas. Na ocasião
carregavam outras frutas, embrulhadas em papéis roxos, maçãs argentinas: lindas,
vermelhas e sedutoras, porém inacessíveis. Os goleiros eram cuias, aquelas metades de
cabaças ou caçambas e carrocerias de caminhões de brinquedo. Utilizávamos como
jogadores objetos múltiplos: pedaços de madeira, carrinhos de plástico sem roda, rodinhas
de caminhõezinhos, pilhas usadas, carretéis de linha usados etc.
Todas essas informações/reminiscências são apresentadas para contextualizar um fato que
ocorreu comigo. Estávamos eu e minha mãe (provavelmente) indo à pé para algum lugar.
Não me lembro qual era, mas isto não é importante. O importante foi o que ocorreu no
meio do caminho. Em determinado local, uma estrada de terra, amarelada, empoeirada
talvez. Eu, com meus seis/sete anos, provavelmente de mãos dadas com minha condutora
(mãe?), avistei, ali naquele chão batido, um objeto: surpreendentemente lindo! admirável
em seu tamanho, formas e cor. Para que seja feita uma ancoragem2, costumo dizer que se
parecia com o conhecido frasco do produto “Leite de Rosas”. Mas o objeto era azul.
Revisando, então, entendo, que a comparação com um frasco do “Creme Nívea” seja mais
fiel, inclusive pelo azul que o primeiro produto não tem, o especial tom do azul! Tratou-se
de algo assim... da ordem do inefável. Penso-me mudo e extasiado, excitado, feliz,
preenchido pela experiência pré-relacional com aquele objeto que, praticamente, à primeira
vista tornava-se para mim admirável... encantador... amado... “azul”! A seguinte passagem
do Pequeno Príncipe de Saint Exupèry ( ) é “cativante” e nos ajuda a compartilhar da
experiência disto que é, de algum modo, indescritível:
“Procuro amigos - disse. - Que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida - disse a raposa. - Significa "criar laços"...
- Criar laços? - Exatamente. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não
tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um
do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."
2 Ancoragem...
Sendo mais sensitivo que indescritível talvez possamos nos esforçar para “compreender” o
fenômeno vivenciado. A ciência pode auxiliar. O psicólogo social Kurt Lewin ( ),
influenciado pela física e também pela fenomenologia nos ajuda. Recorrendo à imagem e à
definição do do conceito lewiniano de campo psicológico, tento apresentar o que vivenciei:
Com estas duas formas busco representar o que ocorria em meu campo psicológico. O
campo psicológico é o espaço de vida de uma pessoa e espaço de vida consiste na pessoa e
o meio psicológico tal como ele existe para ela (Miniccuci, 1991, p. 40). Eu estava bastante
“tomado” em meu campo psicológico. Assim minha atenção e meus comportamentos
tendiam a ser, demasiadamente, influenciados por aquela situação vivida.
A tendência seria eu pegar aquele objeto que me seduzia. Afinal seria o melhor jogador do
nosso Joguinho. Iria bater falta, driblar com maestria, matar no peito, bater escanteio, fazer
gol de cabeça... seria o melhor jogador dentre todos que já tínhamos! Meus irmãos
“morreriam” de inveja! Eu teria o “melhor”!
Acontece que não peguei o objeto azul. Talvez tivesse medo de ser advertido pela minha
condutora. Quis e pensei em pegar o objeto, mas, por alguma razão ou desrazão, não
peguei. Dirigindo-nos ao nosso destino, emocionado, fui pensando no “meu objeto azul”.
Não havia o pegado na ida, mas certamente, pegaria ao retornar... Afinal, tomaríamos o
mesmo caminho.
O que aconteceu na volta? Eu (com minha condutora), passando pela mesma estrada não
asfaltada e, certamente, olhando para aquele chão batido, esperando reencontrar “meu
objeto azul” no meio do caminho... O objeto não estava mais lá! Nova e dolorosa
experiência. O convite para a compreensão do que vivenciei conta agora com o auxílio de
Chico Buarque em extratos da sua letra de música/poema “Pedaço de Mim”
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim...
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim...
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim...
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim...
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim...
A arte, quando bem sucedida, nos toca e pode levar à compreensão daquilo que é difícil
explicar. Contudo orientações acadêmicas, por vezes, consideram insuficiente descrever e
mesmo compreender. Para alguns se faz mister também explicar.
Sigmund Freud ( ) em seu clássico “Luto e Melancolia” exercita explicações para
experiências, presumivelmente, semelhantes vivenciadas por nós humanos. Experiências de
perdas amorosas que levam ao luto ou à melancolia, sendo o primeiro considerado “afeto
normal” e a segunda classificada como da ordem do patológico.
Em outra obra “Psicologia de grupos e análise do ego” Freud (1976/1921) recorre ao
conceito de identificação e aos fenômenos do estar amando e da hipnose, relacionados ao
conceito de idealização, contribuindo para certo entendimento da questão da relação e das
perdas e ganhos no âmbito intra-psíquico:
No caso da identificação, o objeto foi perdido ou abandonado; assim ele é
novamente erigido dentro do ego e este efetua uma alteração parcial em si próprio, segundo o modelo do objeto perdido. No outro caso o objeto é mantido e
dá-se uma hipercatexia dele pelo ego e às expensas do ego. (Freud, 1976/1921, p.
144).
Em páginas posteriores desta obra “psicossociológica” Freud tenta explicar também como
se dão os laços sociais, o que nos possibilita pensar, relativamente, em um grupo ou uma
comunidade:
Um grupo primário desse tipo é um certo número de indivíduos que colocaram um só e mesmo objeto no lugar de seu ideal do ego e, consequentemente, se
identificaram uns com os outros em seu ego. (FREUD, 1976 [1921], p. 147).
A recorrência à narração de uma história, associada a citações da literatura, da poesia, da
música e de autores consagrados da ciência psicológica é estratégia metodológica coerente
com a orientação da Psicologia Social Comunitária, nos casos sob reflexão, abrigando fins
diversos: auto-apresentação do professor, aproximação com os alunos, transmissão de
informações, promoção de vivências e reflexões e sensibilização para a proposta
pedagógica grupal-comunitária. Isto foi feito de modo mais completo com a turma do 9º
período noite. Com o 9º manhã já haviamos iniciado uma relação a partir da disciplina
Psicologia Social no 3º período. Eu atualizei junto a ela a boa expectativa que trazia, até
mesmo por que esta turma se destacou de modo especial no curso de psicologia da PUC
SG, exatamente por seus notórios traços comunitários.
Importa agora o contato com dois textos que apresentam e refletem sobre execuções da
proposta. Podem ser, coerentemente, considerados como produções teórico-práticas. São
textos elaborados no exercício do saber e ao sabor de vivências e convivências entre alunas
e alunos, o professor e convidados externos, sendo estes últimos partícipes eventuais da
experiências grupais-comunitárias desenvolvidas no primeiro semestre de 2011.
Conforme se pode observar, posteriormente no cronograma em anexo, a proposta veio junto
da exibição do vídeo documentário “noivas do cordeiro” e da leitura e discussão dos textos:
“A instância mítica” e “A instância grupal”. Tais textos contemplam duas das instâncias,
expressivas da noção de comunidade, que compõem os sete níveis de análise das
organizações, segundo Eugene Enriquez (1997). Nas aulas foram apresentadas também as
outras instâncias que atravessam o fenômeno organizacional-comunitário: social-histórica,
institucional, organizacional, individual e intra-psíquica. Portanto o conceito de
comunidade foi objeto de reflexão e provocação desde o primeiro dia de aula. Outros
recursos textuais utilizados para o mesmo propósito foram: “Uma introdução, ou bem-
vindos à esquiva comunidade” de Zygmunt Bauman (2003) e “A coragem de criar” de
Rollo May (1992). Além disto, eu contava, favoravelmente, com o fato de que a disciplina
compunha uma das ênfases do currículo em extinção. Sendo assim, era ponto de partida o
princípio de que os alunos e alunas não estavam ali por acaso, não eram, absolutamente,
obrigados pela organização curricular. Ou seja, tendo relativa liberdade para não se
matricularem na disciplina, cada uma das turmas chegou nela fazendo duas escolhas: a)
cursar Psicologia Social Comunitária no contexto das ênfases e b) tendo aceitado ao
convite, aprender a disciplina por meio de uma experiência grupal-comunitária.
Nas duas secções que se seguem entraremos em contato com produtos dessas escolhas.
Trata-se de dois textos apresentados como trabalho final da disciplina, que narram e
refletem as distintas experiências sob a ótica das duas turmas de 9º período,
respectivamente, dos turnos noite e manhã.
Estes textos podem ser, coerentemente, considerados como produções teórico-práticas. São
produções elaboradas no exercício do saber e ao sabor de vivências e convivências entre
alunas e alunos, o professor e convidados externos, sendo estes últimos partícipes eventuais
da experiências grupais-comunitárias desenvolvidas no primeiro semestre de 2011.
IV. Do Comum à comunidade: uma experiência em sala de aula3
“... não quero ser herói de nada Só quero a companhia de outros braços
É que meu coração de homem, voa alto como um pássaro”.
(CLODÊ E ZECA BAHIA,1979)
Estamos acostumados a uma organização de sala de aula e a uma metodologia de
ensino/aprendizagem que nos coloca no lugar de receptáculos e de recebedores de um
conhecimento acumulado pelas ciências e pessoalmente pelo/a professor/a que o transmite
para nós. Isso influencia em todos os aspectos dessa vivência, inclusive na organização da
sala de aula em que somos colocados de forma serial, olhando para uma figura central e
“indispensável” que se coloca à frente, em cima de um tablado, portanto “acima” dos
alunos.
Diante desse modelo, vemos que o poder da palavra e do saber não circula, destituindo o
conhecimento dos outros atores desse espaço, os alunos. Durante esses anos, a maioria dos
participantes da “comunidade” possui mais de quatro anos de curso, de faculdade e poucas
foram às experiências que se distanciaram desse modelo.
3 Alunas/os da disciplina de Psicologia Social Comunitária, 9º período noite, 1º semestre de 2011: nomes
Esta secção visa apresentar a experiência compartilhada entre os alunos do curso de
Psicologia da vida em Comunidade, dialogando com a disciplina Psicologia Social
Comunitária, através de uma proposta novo-paradigmática de transmissão do
conhecimento. Percebemos a teoria entrelaçada à prática e permeada por entraves
cotidianos, tendo em vista que as vivências em sala de aula, aliadas à experiência de
autogestão da disciplina, resultam em construções enriquecedoras de tal forma, que
tornamos a sala de aula um espaço de aprendizagens recíprocas.
Assim, saímos do “comum”, em que se vê o professor como figura detentora do
saber, para a vivência em comunidade, em que a aquisição do conhecimento é horizontal e
dinâmica. Por certo que a vivência foi permeada, enriquecida e iluminada pelo referencial
teórico da Psicologia Social Comunitária e, ao mesmo tempo, pela reflexão e partilha de
tudo o que fomos experimentando ao longo do semestre e ao longo de nossas vidas pessoais
e acadêmicas.
Pretendemos expor como esse idealismo - em que é possível se ver o mundo a partir
das construções sociais - tem se tornado real dentro da academia; e para além dela. Para
isso, nos apoiamos em referenciais teóricos próximos das Psicologias Sociais Críticas.
4.2 Uma nota sobre o que é comunidade
A comunidade visa o bem estar e a melhoria de vida de todos os seus membros, sendo
atravessada por aspectos míticos e, desta forma, ela nos remete a algo imaginário, utópico,
perseguido e não encontrado (“paraíso esperado”), contrário à lógica dos tempos atuais. A
acepção da palavra comunidade produz uma sensação de prazer: “o que essa palavra evoca
é tudo aquilo de que sentimos falta e de que precisamos para viver seguros e confiantes”
(BAUMAN, 1925, p. 9). Ela é um lugar de aconchego aonde as pessoas se sentem
acolhidas, se ajudam, se respeitam e confiam uns nos outros, possuem identificações
afetivas com o objetivo comum e com os seus membros. A vida em comunidade, no
entanto, implica na perda da liberdade em troca de segurança, como nos pontua Bauman:
“Não seremos humanos sem segurança ou sem liberdade; mas não podemos ter as duas ao
mesmo tempo e ambas na quantidade que quisermos”. (BAUMAN, 1925, p. 10)
Bauman (1925) ressalta a dialética “comunidade idealizada” e “comunidade
realmente existente”. Nesta última, dá-se ênfase à contradição dos valores
segurança/liberdade e comunidade/individualidade. Mas o autor pontua que na comunidade
não se faz necessário abrir mão da individualidade, uma vez que um grupo se compõe do
olhar de cada sujeito para si que se projeta no todo comum. A individualidade deve existir,
mas não em detrimento da comunidade, como ocorre hoje em nossa sociedade. Ainda
segundo o autor supracitado, conhecer esse dilema nos instrumentaliza a buscar soluções
que ao menos visem não repetir tentativas ineficazes anteriores ou se enveredar por
caminhos sem saída. Não podemos deixar de tentar. Nenhuma solução é tão suficiente que
não precise ser modificada, melhorada.
Vale destacar que o conceito de comunidade remonta ao início da humanidade, mas
sua apropriação enquanto conceito científico, se deu na atualidade, assim como o fato de
ser considerada utopia. É justamente por possuir caráter sócio-político e utópico, que não se
tornou esvaziada de sentido e, segundo Sawaia (1996), a comunidade mais do que um
conceito é orientadora de ação e de reflexão, que adotam características peculiares de
acordo com o contexto social no qual se insere.
O termo possui significados diversos. São conceituações criadas por instituições,
sociedades científico-acadêmicas e os próprios grupos populares. Contudo, em termos
gerais, comunidade é conceituada como um agrupamento de pessoas de uma determinada
região geográfica ou psicossocial, que possuem o mesmo objetivo, interesse em comum
“(...) com ou sem consciência de pertencimento e de forma plural, com múltiplas
concepções ideológicas, culturais, religiosas, étnicas e econômicas.” (PEREIRA, 2001,
p.146)
Nessa perspectiva, demarca Sawaia (1996), que a comunidade apresenta-se como
dimensão temporal e espacial do exercício da cidadania, e acrescenta que a Psicologia
social ao adjetivar-se como comunitária, objetiva colaborar com a criação desses espaços
relacionais e políticos, uma vez que os seres humanos são seres desse espaço.
Campos (1996) por sua vez, destaca que comunidade representa um grupo que parte
de um levantamento de necessidade e carências vividas, para problematizar e discutir qual a
maneira para solucionar a reivindicação que surge através dos levantamentos que o próprio
grupo cria.
Partindo do conceito de comunidade exposto por Campos (1996) e Pereira (2000),
em que o grupo se reúne para discutir e problematizar questões que são de interesses em
comum, uma comunidade não pode existir sem que haja algo em comum entre as pessoas.
Os objetivos comuns auxiliam na coesão da comunidade e dão um caráter grupal,
contribuindo na identificação dos membros entre si. Viver em comunidade implica em
viver inventivamente e, para isso, é preciso muitas vezes, recorrer a ajuda do outro que nos
intriga e instiga.
4.3 Da teoria à prática: o que é psicologia social comunitária?
A partir dessas variadas contribuições teóricas e da reflexão suscitada pelas mesmas,
quanto às práticas grupais vivenciais, que dizem das circunstâncias sobre os quais nos
lançamos no processo de se viver em comunidade, podemos então identificar neste
momento, algumas possibilidades e limites que atravessam o nosso processo. Estamos
vivendo, enquanto comunidade, um avanço na compreensão de que essa prática
comunitária também nos insere na questão da inscrição da "fala".
Isso possibilitou uma escuta coletiva privilegiando àquele que fala e, de certa forma
organizou a experiência comunitária, por mais que seja angustiante reter a fala quando se
deseja expressar. Isso é a comunidade que estamos criando! A vivência comunitária
possibilitou conversarmos sobre diversos assuntos, problemas, dificuldades vividas pelos
membros da comunidade, que não teríamos oportunidade de fazer em outro tipo de
organização da sala de aula. Os sentimentos foram expressos, as alegrias foram
compartilhadas, os desejos manifestos, os problemas divididos e soluções coletivas e
comunitárias foram buscadas.
Um “nó” que foi sendo percebido, reforçado e que se buscou desatar foi a proposta
de uma produção final. Chegar a um consenso, a uma definição que nos satisfizesse como
comunidade foi um desafio que nos “perseguiu” ao longo do semestre.
Detalhe importante é que essa produção deveria ser comunitária e, ao percebermos
que alguns encaminhamentos deixavam parte da comunidade incomodada e, ao mesmo
tempo, não era capaz de mobilizar e de levar à ação. O tema era retomado, partilhado,
refletido. Isso nos possibilitou aprendizados com relação a alguns aspectos teóricos da
vivência e relação comunitária: os objetivos comuns vão nortear a vida e a organização da
comunidade, mas, ao mesmo tempo, as pessoas não podem e não devem perder a sua
individualidade, a sua subjetividade e o espaço para as manifestações desta devem ser
preservados na comunidade.
Em alguns momentos, abrimos mão das nossas opiniões, das nossas razões em prol
da comunidade e do trabalho a que esta se propõe. A expressão das opiniões, ainda que
discordantes e divergentes, a exposição pessoal, inclusive dos sentimentos, foram sendo
provocadas e proporcionadas ao longo do semestre. Com isso aprendemos a nos conhecer,
a nos respeitar, a ter um afeto especial por cada membro da comunidade, na sua diferença,
na sua singularidade e na sua individualidade.
Outro aspecto importante e que fomos descobrindo ao longo dos encontros, foi o
papel e a importância de um/a coordenador/a para a comunidade. A liderança tem um papel
fundamental na comunidade e essa figura pode ser fixa ou circular, mas é imprescindível.
Anadaló (2006) pontua que: “a liderança é circunstancial e temporária, pois facilmente se
desmonta diante da emergência de um outro intérprete mais eficaz. Isso significa a
inexistência de comando ou de dirigentes, características dos líderes institucionalizados”
(pág. 1). Nossa comunidade foi descobrindo essa importância do coordenador, de forma
profunda, madura e respeitosa, e o tipo de líder/coordenador que se deseja ter.
O papel do coordenador da comunidade é de ser moderador e, na nossa experiência,
em alguns momentos esse papel era realizado ora pelo nosso professor ora pelos
facilitadores de cada encontro, fazendo com que a liderança fosse realizada de maneira
circular. Mas a comunidade não sentiu que o professor estivesse se ausentando do seu papel
de orientador e de portador do conhecimento, mas, sim que ele fez “um esforço cotidiano
para que seu lugar permaneça vazio, de modo que todos o desejem e ninguém o preencha
senão sob o risco de destruí-lo” (CHAUÍ, apud ANADALÓ, 2006, pág. 2)
Isto nos leva a afirmar que o processo de liderança em um determinado grupo ou em
uma determinada comunidade se faz a partir do processo do grupo, que estabelece os seus
objetivos comuns não só a partir das tarefas, mas também a partir da atuação do
coordenador. Este deve - consciente da sua individualidade, mas totalmente envolvido e
comprometido com a comunidade e com seus objetivos - fazer a democracia prevalecer,
dando direito a todos de se expressarem e, porque não dizer, permitindo que o conflito
aconteça, por entender que o mesmo também é necessário para a aprendizagem e faz parte
do viver em comunidade.
O coordenador não deve temer o conflito, mas lidar com ele, mesmo que isso leve
um tempo, mesmo que o incomode, que o irrite. Há conflitos de várias ordens: individual e
grupal, mas nos lembramos de que tudo é político e processual, que a cada dia se constrói a
comunidade a partir das suas próprias características. A comunidade é dinâmica e essas
características mudam a cada dia, a cada encontro e fomos experimentando isso ao longo
do semestre. Quando aceitamos ser comunidade, éramos X e depois desses meses e de
tantas experiências, somos Y, mas não deixamos de ser a comunidade que éramos, ou seja,
não deixamos de ser X, somos X mais Y. Portanto, nos modificamos a cada dia para termos
uma comunidade melhor e alcançarmos nosso objetivo, enquanto comunidade. Montero
(2001, apud Mayorga, 2007) vai dizer: “el sujeto construye uma realidad, que a su vez lo
transforma, lo limita y lo impulsa. Ambos están siendo construídos y desconstruídos
continuamente, em um proceso dinâmico, em constante movimiento (...) Esa construción es
social”.
Refletindo sobre o papel do coordenador e considerando as palavras chaves trazidas
por alguns dos membros da comunidade, destacamos a questão da autonomia que não
estamos acostumados a exercer, desacostumados a ficar sem coordenador, sem alguém que
nos dê as coordenadas do caminho a seguir. Trata-se de uma questão de assumir a postura
de responsáveis pelo processo e isso nos remete à insegurança que experimentamos
pessoalmente e como comunidade. A função do coordenador, cuja responsabilidade
confere e compõe a própria comunidade, pode ser difícil para alguns e, para outros pode
chegar a ser impossível, devido ao medo de ocupar o lugar do poder horizontalizado, pelo
desafio que ele é em si, pode fazer com que fujamos dele. Entretanto, em determinado
momento da experiência comunitária, vimos que o importante papel do coordenador,
ganhou relevância. Aprendemos que "não há grupo sem líder!", mas que o mesmo pode ser
qualquer membro da comunidade que ocupe tal lugar democraticamente. Esta relação
horizontal influencia e é influenciada já que não existe uma relação neutra, tudo é política,
tudo é relação, relação esta que é palavra chave em Psicologia Social Comunitária.
Desta forma, trazemos uma contribuição relevante de Sandoval citado por Costa
(2009), em que o conceito de “consciência política” é considerando como um conceito
psicossociológico que traduz o significado que o indivíduo atribui às interações diárias, ou
seja, às relações vivenciadas por ele cotidianamente. Para se formar essa consciência,
devemos considerar quatro aspectos básicos: identidade, oposição, totalidade e a
predisposição para a intervenção.
Esclarecemos cada aspecto citado pelo autor, a fim de torná-los compreensíveis ao
leitor. Sobre a importância da questão “identitária”, esta se faz necessária para que o
indivíduo possa fazer a diferenciação de si mesmo e do grupo. Assim, o discernimento do
indivíduo possibilitará as escolhas em ações coletivas. Quanto à “oposição” também é
essencial, uma vez que oferece sustentabilidade ao indivíduo para reivindicar seus direitos,
independente da classe social. Outro sim, a “totalidade” permite que o indivíduo
compreenda o dinamismo da comunidade no contexto social, que está inserido, entendendo
as relações de poder.
Por último e não menos importante, a “predisposição para intervenção”, se orienta
pela capacidade que o indivíduo tem de intervir de maneira individual e coletiva,
modificando sua realidade e transformando o estado de acomodação e passividade - “status
quo” - para a mobilização e criação das atividades. Estas podem ser relacionadas à proposta
de trabalho, consideradas por nós, aqui, como a produção deste artigo em comunidade, o
que podemos exemplificar através da iniciativa da produção deste, por um dos nossos
membros de liderança. (COSTA, 2009).
Assim buscamos compreender a “consciência política”, na perspectiva de Sandoval
citado por Costa (2009), como sendo “vontade de agir coletivamente”, e, relacionando-a
com o questionamento sobre: o que é participação política? Nesse sentido, entendemos o
conceito desta, como ato importante de se expor e reivindicar, evitando assim, acomodação
e a inviabilização da ação coletiva. É acreditar numa melhora coletiva, compreendendo que
é nas relações interpessoais que estabelecemos nossos vínculos e que quanto maior for
nosso nível de amizade maior será nossa probabilidade de participação e compromisso.
Assim, torna-se possível identificar nossos limites e dificuldades, possibilitando-nos
emancipar na comunidade. (SANDOVAL apud COSTA, 2009).
Outro autor que nos orientou em nossa vivência comunitária e nos proporcionou, a
partir da sua leitura, construir um conceito de Psicologia Social Comunitária de forma
crítica e ampliada, propiciando também nos pensarmos enquanto profissionais que poderão
atuar neste contexto, foi Martin-Baró.
Segundo Martin-Baró (s.d.), a Psicologia contribuiu pouco para a história dos povos
latino-americanos, salvo algumas exceções de alguns autores como Pichon-Riviére e Paulo
Freire, dentre outros. O autor diz que a nossa pouca produção e contribuição para os povos
latino-americanos se deve em grande parte à importação de conhecimentos e teorias
psicológicas estrangeiras, que acabaram por fortalecer as estruturas opressivas e o status
quo dominante em nossas sociedades latinas.
Entretanto, Martín-Baró (s.d.) vai dizer que este mimetismo científico que fizemos
das teorias psicológicas norte americana e européia, bem como a relativa juventude da
Psicologia Social na América Latina, não podem servir de desculpa ou de “muleta” para a
manutenção desse nosso fazer psicológico. Isto porque esse fazer, na maioria das vezes, é
descontextualizado e não levam em consideração as influências das estruturas e
engendramentos sociais sobre os sujeitos, retirando do contexto social e cultural a sua
parcela de culpa e a influência sobre a subjetividade de cada um de nós, centrando no
sujeito a culpa e a responsabilidade por tudo o que se é e se vive, seja subjetivamente ou
socialmente (angústias, opressões, desigualdades etc).
Martín-Baró (s.d.) fala-nos, portanto, da necessidade de ser feita uma Psicologia da
Libertação, a fim de que uma nova práxis psicológica possa brotar descentradas de si
mesma, propondo-se a um exercício de atendimento e serviço contextualizado e
historicizado com a realidade latino-americana. Entretanto, o autor vai nos dizer que não é
necessário que abramos mão dos conhecimentos já construídos, mas que esse conhecimento
seja aplicado levando em consideração o contexto e a realidade social, cultural e
comunitária no qual pretenda atuar, a partir de uma participação crítica nos setores
populares e comprometida com a melhoria da vida e das condições do nosso povo latino.
Dessa forma, Martín-Baró termina nos apresentando algo que acreditamos ser
essencial para a construção de uma efetiva Psicologia Social Comunitária:
Há uma grande tarefa adiante se queremos que a Psicologia latino-
americana realize uma contribuição significativa para a Psicologia
universal e, sobretudo, para a história de nossos povos. À luz da
situação atual de opressão e fé, de repressão e solidariedade, de
fatalismo e lutas, que caracteriza os nossos povos, essa tarefa deve
ser a de uma Psicologia da Libertação. Mas uma Psicologia da
Libertação requer uma libertação prévia da Psicologia e essa
libertação chegará apenas por meio de uma práxis comprometida
com os sofrimentos e esperanças dos povos latino-americanos.
(MARTÍN-BARÓ, s.d., p. 196).
E pensando em psicologia da libertação partir da compreensão teórica sobre “A
coragem de criar”, na perspectiva de Rollo May (1975), fomos movidos pelo desejo de criar
uma produção que nos permitisse mudar do contexto habitual para o nascimento de uma
nova caminhada. Eis o convite para realizarmos algo novo, enfrentando a terra de ninguém,
onde nós, incipientes, sabíamos aonde chegar, mas não como trilhar esse caminho. É
necessário coragem para nos alicerçarmos e irrigarmos os nossos corações. Pois é com essa
mesma coragem que chegaremos a outras virtudes que nos possibilitará o ser e o vir a ser.
Para isso, primeiramente, foi preciso decidir em comunidade qual o caminho a seguir.
Criatividade não faltou, pois tínhamos inicialmente, três perspectivas de produção: artigo,
cartilha e memorial. O impasse nos levou a deliberação democrática em comunidade
decidindo-se pelo do voto. A cartilha ganha um lugar de preferência comunitária como o
caminho a ser trilhado para a produção.
Desta forma, a inquietude e o mal estar dão forma ao sentimento de insatisfação, por
uns, e de satisfação, por outros. Surge uma problemática será que pensamos como
comunidade? Reconhecer esses sentimentos em nós possibilitou-nos compreender que
comunidade não é exercitá-la de fora, mas sim exercitar a si mesmo enquanto membro.
Comunidade é de sujeitos, ou seja, uma dialética entre individual e comunitário.
A contribuição de Mayorga (2007), foi importante para nossa compreensão da
palavra “relação”, sendo esta, na nossa compreensão, a base não somente da Psicologia
Social Comunitária, como também de todas outras psicologias. Paulo Freire, foi focalizado
especialmente naquilo que nos traz acerca da lógica relacional do opressor e do oprimido.
As relações entre psicólogos e setores populares são questionadas por Quintal de
Freitas (1998) que procura distinguir a prática do psicólogo social comunitário da presença
de psicólogos nas comunidades
4.4 finalizando
Iniciamos nossa experiência comunitária com algumas considerações de Rollo May
(1975), em que "somos chamados a realizar algo novo, a enfrentar a terra de ninguém" e já
percebíamos que essa não seria uma tarefa fácil. Bem sabemos que estamos em mudança
constante, isso quer dizer que estamos numa transição que certamente nos levará à
construção de um novo momento. Fomos compreendendo a cada encontro o que é
comunidade a partir de uma vivência, considerando o que se propõe a Psicologia Social
Comunitária. (ROLLO MAY, 1975, p. 9).
Nesse sentido saímos da morte (lugar estático) para a vida (nascimento). Esse
movimento de romper os empecilhos pode ser considerado como a coragem que nega a
apatia, nos comprometendo uns com os outros - além de nós mesmos -, procurando fazer o
bem, não somente àquele que chega, mas também a nós mesmos. Isso compreende a
coragem moral, segundo May (1975).
Desta maneira, é necessário que tenhamos coragem para criar compreendendo ser
esta a oportunidade de nos transformarmos em coordenadores democráticos, dentro de uma
perspectiva de horizontalidade. Fomos percebendo que temos coragem de relacionar uns
com os outros admitindo ser possível uma entrega para o bem, reconhecendo nossos limites
e, até mesmo, nossos sofrimentos.
Vale lembrar que a coragem trás consigo certo grau de contradição, devido à
dúvida, medo, poder e insegurança. Mas o consolo é perceber que podemos ser mais
saudáveis, não somente com a dúvida, mas apesar dela como nos diz Rollo May (1975).
Podemos dizer que aprendemos a nos acolher como estamos e que isso consiste em
um dos importantes aspectos do fazer comunidade para além das teorias. Elas são
importantes e, por isso mesmo, foram aprofundadas, mas a prática possibilita a emergência
de vários atravessamentos não previstos nas teorias.
Vivemos muito mais em uma sociedade do que em uma comunidade, tanto que
aprendemos e vivemos o que é comunidade em sala de aula. De acordo com Sawaia (1996),
comunidade e sociedade são diferentes. Na comunidade as pessoas se relacionam por laços
de afeto e tem objetivos comuns. Enquanto na sociedade, “os homens não estão vinculados,
mas divididos. Ela aparece na atividade aquisitiva e na ciência racional e sua base é o
mercado, a troca e o dinheiro (SAWAIA, 1996, p.42). Neste caso, não são trocas de afeto,
as pessoas lutam por interesse próprios. Isto não quer dizer que devamos nos fechar à
sociedade e nos enclausurar em nosso grupo. Não vivamos a ilusão do narcisismo grupal,
como dizia o professor Rubens. Ele cita um livro que fala sobre a política da alteridade, que
se relaciona com o que foi dito acima. Segundo essa idéia, a comunidade vira só um. Não
devemos nos fechar para o outro, pois a relação está posta. Fechar para o outro não é
objetivo comunitário.
Em suma, os processos grupais vivenciados ao longo do semestre, diziam das
circunstâncias sobre as quais nos lançamos no processo de viver em comunidade. Foi
possível identificar algumas possibilidades e limites que atravessaram o nosso processo.
Em certo momento percebemos que, enquanto comunidade, vivíamos um processo de
identificar e definir os objetivos comuns e os caminhos para se chegar até eles, perpassando
pelos atravessamentos de interesses pessoais e grupais. Mas o desdobramento deste
percurso é que nos permitiu alcançar os objetivos e refletirmos sobre o caminho trilhado e
aquele que se apresenta à nossa frente para ser trilhado, já que o caminho “se faz ao
caminhar”.
V. Percursos da Psicologia social Comunitária: a atuação do psicólogo nas
comunidades
O melhor pode ser inimigo do bom, mas certamente o “perfeito” é inimigo mortal dos dois
Zygmunt Bauman
5.1 Introdução
Rollo May afirma que somos chamados “A realizar algo novo, a enfrentar a terra de
ninguém, penetrar na floresta onde não há trilhas feitas pelo homem da qual ninguém
jamais voltou que possa nos servir de guia”. (MAY, 1982, p. 9-10). Assim podemos dizer
que este artigo é fruto deste chamado a realizar algo novo, que nos incitou a ter coragem
criativa para elaborá-lo. Elaborado por várias mãos, mãos que contém particularidades,
singularidades e, sobretudo, trazem consigo marcas de vivências diferenciadas de cada um
dos seus autores em suas relações e vivências.
Trabalho que surgiu de uma proposta de vida comunitária dentro da Academia, o
que não é fácil. Porém, como o mesmo autor afirma: “Toda profissão pode exigir e exige
coragem criativa” (MAY, 1985, p.19), os seus autores propuseram a trilhar o caminho para
algo novo neste momento de sua formação: da vivência da proposta surgiu este artigo, a
atuação do psicólogo nas comunidades.
Inicialmente buscamos compreender o conceito de comunidade em perspectiva, que
aponta para um paraíso perdido ou um paraíso imaginado, algo que almejamos para o
futuro e que diverge da comunidade existente na realidade.
Da compreensão do conceito, intuímos que comunidade consiste numa categoria
que orienta a ação e reflexão, que abarca todas as formas de relacionamento, sendo a
dialética entre individualidade e coletividade, o elemento que lhe dá movimento e vida.
(SAWAIA, 1996). Disso surgiu a necessidade de entender como a teorização desse
conceito evoluiu na América Latina, no que denominamos: historiando a psicologia social /
psicologia social comunitária e psicologia social da libertação, em especial na América
Latina. Percebemos, em consonância com Álvaro e Garrido (2006), que os processos de
conscientização nos trabalhos que se realizavam em países latinos não eram experiências
solitárias, mas produto de “esforço coletivo que atendiam a interesses e preocupações em
comum”. (ÁLVARO e GARRIDO, 2006). Nesse contexto refletimos sobre o fazer do
psicólogo na comunidade e as possíveis metodologias do trabalho comunitário social. Os
métodos apresentados não remetem o profissional a uma condição de linearidade no
trabalho comunitário, pois por estes perpassam desafios.
A experiência comunitária vivida por todos os alunos da disciplina proporcionou
uma discussão sobre as metodologias dos trabalhos comunitários que foram apresentados
durante as aulas e ao longo do artigo. Elas servem como ferramentas e suporte para a
atuação do psicólogo em seus vários campos de atuação, proporcionando assim recursos e
possibilidades de se adequarem as realidades apresentadas nos campos de trabalho.
Finalmente algumas pontuações foram elencadas, através de tópicos para uma
atuação profissional crítica do psicólogo.
5.2 O conceito de comunidade em perspectiva
A palavra comunidade nos faz pensar em uma “coisa boa”, em um lugar de conforto
onde nos sentimos seguros e acolhidos. Nesse lugar, “se tropeçarmos e cairmos, os outros
nos ajudarão a ficar de pé outra vez”. (BAUMAN, 2003, p. 08). Essa noção de comunidade
aponta para um paraíso perdido ou um paraíso imaginado, algo que almejamos para o
futuro e que diverge da comunidade existente na realidade. Assim, querer trilhar esse
caminho em direção ao bem comum é uma tentativa de nos despirmos do individualismo
que nos atravessa e ir ao encontro do viver comunitário.
À noção de comunidade são indispensáveis aspectos como o compartilhamento, o
respeito, o cuidado mútuo e a responsabilidade por tal construção. Ressaltamos que na
composição de uma comunidade, fatores de ordem macro e microssocial e política
coexistem, constituindo acontecimentos e atravessamentos sobre os quais o (a) psicólogo
(a) não deve prescindir de lançar um olhar atento e crítico em sua prática. No nível das
micro-relações, destaca-se o conflito passível de existir entre os interesses singulares dos
sujeitos e os interesses comunitários. Vida em comum pede consenso e adesão, mas não
exclui divergência e tensão.
O conceito de comunidade comporta uma dimensão mítica, a qual tem por função
incitar um modo de viver em conformidade com a narrativa por meio da identificação com
seus protagonistas. Na construção de uma comunidade, operam-se processos afetivos, de
encanto ou enfeitiçamento, intelectuais, de idéias e conceitos reguladores das atitudes do
grupo. Tais processos funcionam como fatores de coesão, dando ao mito a propriedade de
congregar os sujeitos e criar o vínculo social em seus aspectos libidinais e de razão
(ENRIQUEZ, 1997). Instaurador da fantasia de união suprema, o mito carrega consigo uma
ameaça à transformação social à medida que subsidiando a circunscrição dos sujeitos no
grupo, retira-lhes a possibilidade de tomar consciência dos vetores econômicos, sociais,
culturais, simbólicos e institucionais, bem como de suas implicações para a comunidade
(ENRIQUEZ, 1997 e PEREIRA, 2001). O mito pode então criar uma separação velada e
danosa entre a comunidade e a sociedade por meio de uma ilusão que se torna absoluta
sobre os sujeitos sociais. O imaginário de coesão e cooperação plena no interior da
comunidade, segundo Pereira (2001), serve de instrumento para a legitimidade da
dominação sobre os grupos minoritários, tratados como massa homogênea e facilmente
modelável.
Em nossas discussões a respeito do que é uma comunidade, vimos que a idéia de um
mundo comunitário, carregada de anseios de segurança e proteção, contrapõe os elementos
que constituem a atual sociedade, orientada por valores individualizantes. Bauman (2003)
nos fala da sociedade como uma multidão de estranhos na qual tornamo-nos superfícies
para os outros, evitando um encontro efetivo. No contexto capitalista em que a liberdade e
o êxito individual são bastante valorizados, aprender e, sobretudo, desejar viver em um
mundo onde as pessoas se solidarizam é um desafio, mas não uma impossibilidade, tendo
em vista que as pessoas estão em busca de segurança, o que remete ao viver em
comunidade.
Segundo Sawaia (1996) o conceito de comunidade surge apenas nos anos 70 a partir
de um ramo da psicologia social autonomeada de comunitária, cuja ênfase centrava na
realidade estudada, principalmente dos excluídos de cidadania. No entanto, essa mesma
autora ressalta que a descoberta da comunidade não foi um processo característico da
psicologia social, sendo este, parte de um movimento amplo que visava avaliar criticamente
o papel social das ciências, bem como questionar o paradigma da neutralidade científica.
Ao referenciar Heller, Sawaia (1996) afirma ainda que a entrada deste conceito no campo
da psicologia social estabeleceu um aspecto epistemológico importante, visto que
representou a opção por uma teoria crítica a qual interpreta o mundo com vistas a
transformá-lo.
No texto intitulado “Comunidade: a apropriação de um conceito tão antigo quanto a
humanidade”, Sawaia (1996) expõe o modo como este conceito foi sendo incorporado e
discutido ao longo das décadas em campos como a filosofia, a religião e a sociologia, além
de apontar discussões feitas por autores como Marx e Freud. No entanto, é a partir do início
do século XX que ocorre uma explosão de estudos sobre comunidades, os quais
possibilitaram olhar a sociedade a partir de uma perspectiva do vivido, de acordo com
procedimentos que, até então, eram próprios da antropologia. Para a autora, atualmente as
discussões da psicologia sobre comunidade estão em situação privilegiada. Isso porque há
uma grande produção de pesquisas, relatórios e reflexões teóricas das décadas de 70 e 80 os
quais permitem uma avaliação pormenorizada acerca de questões éticas postas pela
modernidade contemporânea.
Sawaia (1996) ressalta ainda que, por conter individualidade, comunidade não pode
ser trabalhada enquanto unidade consensual, um aglomerado de massa única, homogênea.
Nas palavras de Heller (1996):
Só a ação conjunta não a caracteriza, ao contrário, a homogeneização pode negá-
la, pois ela deve oferecer um espaço total de atitudes particulares. Isso não
significa abrir mão de idéias comuns, mas do consenso fechado e conseguido às custas da ditadura das necessidades, incentivando o exercício da comunicação
livre, onde todos participam com igual poder e competência argumentativa no
processo de ressignificação da vida social. (HELLER apud SAWAIA, 1996,
p.48)
Nesse sentido, a vida em comunidade pressupõe que todos os membros da relação
tenham legitimidade para se fazer ouvir e a capacidade argumentativa para participar da
construção de um consenso democrático. Os valores comunitários precisam ser
interiorizados para que se transformem em ação, devendo ser sentidos e pensados como
necessidade. Comunidade consiste, dessa forma, numa categoria que orienta a ação e a
reflexão, que abarca todas as formas de relacionamento, sendo a dialética entre
individualidade e coletividade, o elemento que lhe dá movimento e vida. (SAWAIA, 1996).
5.3 Historiando a psicologia social, a psicologia social comunitária e a psicologia social da
libertação na América Latina
A Psicologia social comunitária tem sua origem nos anos 60, em dois contextos
geográficos: nos Estados Unidos e na Europa. Na América Latina as publicações de textos
de psicologia social surgem na década de 70. Dentre as principais contribuições podemos
citar: Abrantes, Silva e Martins, Campos e Guareschi, Martín Baró e Montero.
A obra de Martín Baró foi marcada pelos acontecimentos históricos onde ele foi
protagonista direto. Sua obra buscava compreender a situação social, política e econômica
da América Latina. Segundo Baró, citado por Álvaro e Garrido (2006), é preciso substituir
a concepção universalista - alheia à história e individualista - pela psicologia social
contextual - histórica e mais sociológica - defendendo uma psicologia social crítica e
libertadora, compromissada com as classes marginalizadas.
Segundo Álvaro e Garrido (2006), a gênese da Psicologia Social Comunitária ocorre
na Conferência de Swampscott, em Massachussets nos Estados Unidos, realizada no ano de
1965 com o intuito de debater as limitações da psicologia para abarcar a análise dos
problemas, socialmente determinados, de saúde mental. Nesta época emerge, sobre a
influência dos movimentos sociais dos anos 60, uma reflexão sobre a responsabilidade
social da psicologia, ocorre então a reivindicação, por parte de alguns setores da psicologia
norte-americana, da necessidade de intervenção no contexto social.
Na década de 70, surge na América Latina a Psicologia Comunitária, como proposta
de mudança e transformação social, em resposta à crise da psicologia social. Álvaro e
Garrido (2006) observam que a psicologia social latino-americana, tem como traços
definidores sua forte orientação para a mudança e a transformação social, e sua
preocupação com a dimensão aplicada do conhecimento psicossociológico. Tal fato
esclarece o grande desenvolvimento da psicologia social comunitária neste contexto. Estes
ressalvam que a psicologia social comunitária latino-americana, é marcada pela
heterogeneidade e se edificou por meio da confrontação histórica de correntes de
pensamento distintos. Por isso, torna-se inviável também falar da existência de uma
“Psicologia Social Comunitária latino-americana”, uma vez que existem enfoques
diferentes, alguns influenciados pela psicologia européia, outros pela americana, como
também resistências e algumas tentativas de se construir uma psicologia latina, implicada
com a realidade local, que critica e confronta a maneira de fazer psicologia social nos EUA
e na Europa. Desta forma podemos dizer da existência de várias psicologias sociais, à
medida que vão sendo construídas a partir dos diversos contextos geográficos, e nestes,
fazem parte as condições sociais, econômicas, políticas e culturais, levando em conta suas
práticas comprometidas com a transformação da realidade social, principalmente dos
grupos mais desfavorecidos. Reconhece a capacidade de ação das pessoas, e das
comunidades, as quais têm papel ativo nos processos de mudança, tendo a obra e a
experiência de educação e conscientização populares de Paulo Freire como contribuição
fundamental para a conscientização e a mudança.
Desenvolvida na América Latina, a Psicologia Comunitária busca valorizar os
saberes e as práticas das comunidades e dos grupos envolvidos e seu foco de atuação muda
do individuo para a comunidade onde este está inserido. Tendo como objetivo final, a partir
da intervenção psicossocial (pesquisa-ação paticipativa) e do trabalho conjunto do
psicólogo com a comunidade, pensar estratégias e alternativas que visam a produção de
conhecimento para promover transformações sociais.
A Psicologia Social Comunitária critica o reducionismo psicologizante e o
individualismo da clínica tradicional e “define como um de seus objetivos principais a
incorporação do meio social à análise dos problemas de saúde mental” (ÁLVARO e
GARRIDO, 2006). Desde o início dos anos 70 existiam experiências de intervenções
realizadas em comunidades, entretanto, elas mantinham um caráter isolado até o ano de
1979, quando o XVII Congresso Interamericano de Psicologia foi realizado em Cuba,
criando o comitê gestor de Psicologia comunitária. A partir de então "começa a
conscientização de que os trabalhos que estavam sendo realizados em cada país não eram
experiências isoladas, mas faziam parte de um esforço coletivo que atendia a interesses e
preocupações comuns". (ÁLVARO e GARRIDO, 2006).
5.3 A atuação do psicólogo nas comunidades
O elemento popular ‘sente’, mas, nem sempre compreende ou sabe; o elemento
intelectual ‘sabe’, mas, nem sempre compreende muito menos ‘sente’. (...) o erro
do intelectual consiste em acreditar que se possa saber sem compreender e,
principalmente, sem sentir e estar apaixonado, (...) isto é, em acreditar que o
intelectual possa ser intelectual (e não um mero pedante) sem sentir as paixões
elementares do povo, compreendendo-as e, assim, explicando-as e justificando-as
em determinada situação histórica, bem como, relacionando-as dialeticamente às
leis da história, a uma concepção do mundo superior, científica e coerentemente
elaborada que é o saber. (GRAMSCI, 1978 apud PEREIRA, 2001 p. 142).
A temática “O Fazer do Psicólogo na Comunidade” pressupõe que,
necessariamente, estejamos falando de uma relação que se estabelece entre dois pólos. De
um lado, há o profissional de psicologia, com sua formação e os conhecimentos adquiridos,
com os instrumentais que aprendeu e adotou como recursos para os seus trabalhos, e com a
sua visão sobre o mundo e o homem. De outro, encontra-se a comunidade, os setores da
população, com sua dinâmica e características próprias, inserida em um contexto sócio-
político-geográfico, e vivendo em um tempo histórico determinado. Esta comunidade vive
uma conjunção de forças, pressões e desafios das mais diferentes naturezas e, tendo ou não
clareza concreta disto, muitas vezes influencia e apresenta limitações e também desafios ao
cenário ideológico dominante, quando, por exemplo, tenta sobreviver e resistir na sua luta
cotidiana.
Poder-se-ia dizer que tanto o profissional como a comunidade, seriam detentores de
diferentes "modos de ação", sendo orientados por visões de mundo nem sempre
coincidentes e conciliáveis.
5.4 Interfaces à atuação do psicólogo
Pensando na atuação do psicólogo nas comunidades, não poderíamos deixar de falar
sobre as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Segundo Pereira (2001) as CEBs são
comunidades ligadas principalmente à Igreja Católica em função da proximidade territorial,
cujo objetivo é a leitura bíblica em articulação com a vida buscando promover a
transformação social. Em geral, são pessoas das classes populares, que se se organizam em
torno das paróquias ou capelas por iniciativa de leigos, padres e bispos. Acreditamos que
esta metodologia de trabalho contribui para a atuação do psicólogo, se a perspectiva de
trabalho deste, for a da horizontalidade.
As CEBs se orientam pela metodologia de trabalho dialético, utilizando os
métodos: Inserção/Imersão estabelecendo entre os membros e a população um vínculo
concreto e prático; a Observação/Diálogo/Participação, que consiste em identificar
através da observação os problemas da população através do diálogo e da participação ativa
na comunidade; Ver/Julgar/Agir, método desenvolvido pela Ação Católica na década de
50, consiste na construção da prática a partir da realidade analisada e refletida. (PEREIRA,
2001).
Outro modelo é o psicossocial segundo PEREIRA (2001). Nele postula-se que as
pessoas de uma determinada comunidade são os principais protagonistas de seus saberes e
tem por objetivo buscar soluções de forma compartilhada com os que vivem os problemas.
Este modelo tem como premissa básica o desenvolvimento da participação e consciência
política do cidadão. Esta orientação, fundamentada em um novo paradigma, possibilitou o
trabalho transdisciplinar e abriu caminho para o emergir de muitas abordagens
metodológicas, ONGs (Organizações Não Governamentais) e associações, tais como a
ABRAPSO (Associação Brasileira de Psicologia Social).
Também a corrente institucionalista, de acordo com Pereira (2001), objetiva
impulsionar experiências coletivas, criadoras de novos saberes e modos alternativos de
viver. Essas práticas tem como premissa básica desencadear rupturas objetivas e subjetivas
em um certo modo conservador e cristalizado de experiências institucionais, contrapondo a
alienação. É na ruptura com as experiências institucionais conservadoras que tal movimento
fomenta a autonomia, o exercício da cidadania e a diversidade. Neste modelo
metodológico, há espaço para que cada participante da comunidade exerça seu poder de
participação. Assim, a comunidade não pode ser concebida como algo acabado, instituído,
pois, sempre há forças contrárias potenciais invisíveis, os quais a palavra pode colocar em
movimento.
Em suma, o movimento institucionalista é útil para problematizar aspectos amplos e
particulares do trabalho comunitário como Estado, instituição, grupo, saber, poder,
subjetividade, epistemologia e ciência, instituído e instituinte, etc. Sua proposta visa
contribuir para a transformação da sociedade, do modo que os grupos despossuídos possam
tomar consciência de seus analisadores, que possam engendrar acontecimentos por meio de
suas forças potenciais visíveis, conquistando visibilidade e voz.
Segundo Barreto (2008), Terapia Comunitária é um espaço comunitário onde se
procura partilhar experiências de vida e sabedorias de forma horizontal e circular, onde
cada um se torna terapeuta de si mesmo, a partir da escuta de histórias ali relatadas. Todos
se tornam co-responsáveis, buscando soluções e superação para os desafios do cotidiano,
em ambiente acolhedor e caloroso. Transforma o sofrimento em crescimento, carência em
competência. Ela se propõe ser um instrumento de aquecimento e fortalecimento das
relações humanas, construindo redes de apoio social, em um mundo cada vez mais
individualista, privatizado e conflitivo. A comunidade age onde a família e as políticas
sociais falham. A solução está no coletivo e em suas interações, no compartilhar, nas
identificações com o outro e no respeito às diferenças, onde o profissional faz parte de tal
construção. Ambos se beneficiam: a comunidade gerando autonomia e inserção social e o
profissional se curando de seu autismo institucional e profissional, bem como de sua
alienação universitária. A Terapia Comunitária apresenta três características: Discussão e
realização de trabalho de saúde mental, preventiva e curativa; a ênfase no trabalho de
grupo; criação gradativa de consciência social. Tanto leigos, como profissionais de diversas
áreas da saúde, podem ser agentes de Terapia Comunitária.
Os métodos apresentados não remetem o profissional a uma condição de linearidade
no trabalho comunitário. Há desafios que perpassam os métodos apresentados, um
compromisso político com os setores desfavorecidos e o alerta de como operar a
mobilização das pessoas em torno da participação e não de um ativismo, conforme
desenhado por Montero (2004): “(...) el peligro de que el trabajo comunitario degenerase
em activismo (politico, religioso, social) com ausencia de refleccion teórica e de rigor
metodológico.” (MONTERO, 2004, p. 237).
Revisitando
Após elencar e discutir esses pontos que consideramos pertinentes ao trabalho do
psicólogo nas comunidades, cabe destacar alguns tópicos. É imprescindível para uma
atuação profissional crítica que o psicólogo se interrogue sobre seus pressupostos. Sobre a
forma como concebe o trabalho comunitário. Assim, será capaz de avaliar sua metodologia
e seus resultados. O psicólogo precisa estar aberto ao novo, atento aos processos grupais,
institucionais e comunitários para reinventar seus métodos a cada intervenção.
Atuar com um entendimento que permite que a novidade favoreça a escuta dos
atores sociais atingidos pela proposta de sua intervenção. Não há trabalho verdadeiramente
comunitário, social, sem o reconhecimento do outro e dos seus saberes. A respeito do
surgimento e difusão da psicologia social comunitária na América Latina é importante
frisar sua condição plural. É impreciso, e até mesmo incorreto, compreender a psicologia
social latino americana como um campo de saber homogêneo. É melhor e mais coerente
reconhecer a diversidade e buscar em meio a ela pontos convergentes e divergentes. Os
alinhamentos políticos associados às necessidades e realidades locais evidenciam a
complexidade do campo social e favorecem a segmentação dos interesses que em
determinadas ocasiões se complementam, mas que em outras se contrapõem.
As metodologias dos trabalhos comunitários apresentados ao longo deste texto
servem como ferramentas e suporte para a atuação do psicólogo, conferem-lhe recursos a se
apropriar e adequar de acordo com as realidades locais do seu campo. Os modelos
apresentados servem como referência aos profissionais, não devem ser pensados ou
utilizados com rigidez ou inflexibilidade. Chamamos atenção que as metodologias e
propostas de trabalho devem estar afinadas com o objetivo que se pretende alcançar.
De acordo com o texto Pesquisa-ação participativa, uma intervenção social deve
possibilitar mudanças na vida das pessoas, sendo que a mudança irá acontecer com a
comunidade e não para ela. Os membros e os profissionais envolvidos devem ter
participação mútua, principalmente os que ali moram, pois são eles que devem dar
sugestões de caminhos alternativos, dizendo também das suas necessidades para a mudança
acontecer.
As pessoas que fazem parte da comunidade têm um saber sobre si mesmas e sobre
sua realidade e estes são aspectos importantes para o processo de mudança. Eles podem ser
ativos e críticos no processo de mudança, por serem, eles próprios os sujeitos da sua vida e
história.
Pode-se dizer então que a participação da população, as metas e os procedimentos
para o alcance das mesmas se tornam função não apenas do psicólogo ou da comunidade,
mas todos devem participar efetivamente, se possível, de todas as etapas da atuação. Sendo
assim, a intervenção deve se pautar pela atuação de outros profissionais que possam
auxiliar a compreensão da complexidade que uma instituição apresenta. Deste modo, a
atuação para a mudança pode ser mais eficaz e harmônica: os grupos adquirem um diálogo
alinhado entre si, as decisões não se concentram nas mãos de poucos, enriquecendo as
possibilidades de resolução dos problemas e promovendo transformações sociais reais.
V. Considerações finais
A turma da manhã enfatizou em sua compreensão a experiência de ser comunidade em um
contexto acadêmico. Denominou o método participativo e didático como “roda de conversa
sobre a teoria e a prática do que é ser comunidade” salientando alguns conceitos chaves; o
desenvolvimento da psicologia social comunitária no contexto latino americano; atuação do
psicólogo nas comunidades e a metodologia do trabalho comunitário e social. Observou
que o psicólogo precisa estar aberto ao novo, atento aos processos grupais, institucionais e
comunitários para reinventar seus métodos a cada intervenção concluindo que não há
trabalho verdadeiramente comunitário e social sem o reconhecimento do outro e de seus
saberes.
A turma do noturno compreendeu a proposta de ensino-aprendizagem como novo-
paradigmática. Para ela houve entrelaçamento da teoria com a prática, permeadas por
entraves cotidianos. As vivências em sala de aula, aliadas à experiência de autogestão
resultam em construções enriquecedoras e fizeram do ambiente um espaço de
aprendizagens recíprocas. Saíram portanto da perspectiva “comum”, em que se vê o
professor como figura detentora do saber, para a vivência em comunidade, em que a
aquisição do conhecimento é horizontal e dinâmica estando em foco a compreensão de que
na academia - no curso de psicologia - e para além dela, é possível se ver o mundo sob a
ótica das construções sociais. Apoiaram-se para isto em referenciais teórico-metodológicos
das psicologias sociais críticas.
O 9º período manhã já trazia em sua trajetória traços reconhecidos de experiências
caracteristicamente comunitárias. Sendo provocada, esta turma apresentou resistências em
trabalhar explicitamente dimensões relacionais pautando-se predominantemente pela
racionalidade.
A turma da noite destacou-se pela dimensão afetiva em seu investimento na experiência. O
acolhimento e a atenção ao outro, assim como o esforço contínuo de cuidado com a
“comunidade” e com a gestão do processo se fizeram presentes.
Aspectos psico-socio-políticos estiveram em questão sendo problematizados fenômenos
relacionados ao poder e ao afeto assim como o lugar do professor na constituição das
“relações grupais-comunitárias”. As distintas experiências foram consideradas bem
sucedidas quanto ao objetivo de ensino aprendizagem sobre Comunidade e Psicologia
Social Comunitária no contexto de uma Instituição de Ensino Superior.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUMAN, Zygmunt. Uma introdução, ou bem-vindos à esquiva comunidade. In.:
BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de
janeiro: Jorge Zahar, 2003.
CAMPOS, Regina Helena de Freitas. Psicologia social comunitária: da solidariedade à
autonomia. Introdução: A psicologia social comunitária. Petrópolis: Vozes, 1996. Pág. 9 á
15.
COSTA, Giseli P. Participação política e consciência política: uma abordagem
psicopolítica. In.: COSTA, Giseli P. Cidadania e Participação. Curitiba: Juruá, 2009.
CLODÊ e BAHIA, Zeca. Ave coração. In: FAGNER, Raimundo. Beleza. Rio de Janeiro.
CBS. Faixa 5. 1 Disco.
ENRIQUEZ, Eugene. “A instância mítica”. In.: ENRIQUEZ, Eugene. A Organização em
Análise. Petrópolis: Vozes, 1997.
FREITAS, Maria de Fátima Quintal de. Novas práticas e velhos olhares em Psicologia
Comunitária: uma conciliação possível? In: SOUZA (et all) Psicologia reflexões (im)
pertinentes. São Paulo, Casa do Psicólogo, 1998.
MAY, Rollo. A coragem de crier. In.: MAY, Rollo. A Coragem de criar. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1992.
MAYORGA, Claudia. Revisitando a pedagogia do oprimido: contribuições à psicologia
social comunitária. In.: MAYORGA, Claudia e PRADO, Marco A. M. (orgs). Psicologia
social: articulando saberes e fazeres. Belo horizonte: Autêntica, 2007.
MARTÍN-BARÓ, Ignacio. Para uma psicologia da libertação. In.: GUZZO, Raquel e
LACERDA JR, Fernando. Psicologia Social para a América Latina: o resgate da
psicologia. São Paulo: Editora Alínea, 2009.
PEREIRA, William C. C. Metodologia do Trabalho Comunitário e Social. In.: PEREIRA,
William C. C. Nas Trilhas do Trabalho Comunitário e Social: teoria, método e prática.
Petrópolis: Vozes, 2001.
SAWAIA, Bader Burihan. Comunidade: a apropriação científica de um conceito tão antigo
quanto a humanidade. In: CAMPOS, Regina Helena de Freitas (org.). Psicologia social
comunitária: da solidariedade à autonomia. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
CarlosDrummondde Andrade
In Alguma Poesia
Ed. Pindorama, 1930
© Graña Drummond
Miniccuci, Agostinho. Dinâmica de Grupo: teorias e sistemas. São Paulo: Atlas, 1991.
VI. Referências
ÁLVARO, José Luis e GARRIDO, Alicia. O desenvolvimento da psicologia social na
América latina. In: ÁLVARO, José Luis e GARRIDO, Alicia. Psicologia Social:
perspectivas psicológicas e sociológicas. São Paulo: McGraw-Hill, 2006.
ANDRADE, Carlos D. Alguma Poesia. Ed. Pindorama, 1930.
BARRETO, Adalberto de Paula. Terapia Comunitária: construindo redes solidárias na
comunidade. In: TATSCH, Dirce T. ; GUARESCHI, Neuza N. F. ; BAUMKARTEN,
Silvana T. (Orgs.). Tecendo relações e intervenções em Psicologia Social. Porto Alegre:
ABRAPSO SUL, 2009.
BARRETO, Adalberto de Paula. Terapia Comunitária passo a passo. Fortaleza: Gráfica
LCR, 2008, 407p.
BATISTA, Cássia B.; MAYORGA, Claudia e NASCIMENTO, Rubens F. Pesquisa-ação
participativa e transformação social: estudo sobre adolescência em comunidade. In:
FAZZI, Rita C.; Carlos W. C. MACHADO e HATEM, Daniela S. et., al. Diálogos em
extensão: encontro da rede PUC sobre Infância, Adolescência e Juventude. Belo
Horizonte, PUCMINAS, 2010.
BAUMAN, Zygmunt. “Uma introdução, ou bem-vindos à esquiva comunidade”. In.:
BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de
janeiro: Jorge Zahar, 2003.
CAMPOS, Regina Helena de Freitas. Psicologia social comunitária: da solidariedade à
autonomia. Introdução: A psicologia social comunitária. Petrópolis: Vozes, 1996. Pág. 9 á
15.
CIAMPA, A.C. ARDANS, O. SATOW, S. “Para para pensar... e depois fazer! Entrevista
com Silvia T. M. Lane” in Psicologia & Sociedade; 8 (1): 3 – 15; jan./jun. 1996.
CLODÊ e BAHIA, Zeca. Ave coração. In: FAGNER, Raimundo. Beleza. Rio de Janeiro.
CBS. Faixa 5. 1 Disco.
COSTA, Giseli P. “Participação política e consciência política: uma abordagem
psicopolítica”. In.: COSTA, Giseli P. Cidadania e Participação. Curitiba: Juruá, 2009.
ENRIQUEZ, Eugene. “A instância mítica”. In. ENRIQUEZ, Eugene. A Organização em
Análise. Petrópolis: Vozes, 1997.
FREITAS, Maria de Fátima Quintal de. “Novas práticas e velhos olhares em Psicologia
Comunitária: uma conciliação possível?” In: SOUZA (et all) Psicologia reflexões (im)
pertinentes. São Paulo, Casa do Psicólogo, 1998.
MAY, Rollo. “A coragem de crier”. In.: MAY, Rollo. A Coragem de criar. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1992.
MAYORGA, Claudia. “Revisitando a pedagogia do oprimido: contribuições à psicologia
social comunitária”. In.: MAYORGA, Claudia e PRADO, Marco A. M. (orgs). Psicologia
social: articulando saberes e fazeres. Belo horizonte: Autêntica, 2007.
MARTÍN-BARÓ, Ignacio. “Para uma psicologia da libertação”. In.: GUZZO, Raquel e
LACERDA JR, Fernando. Psicologia Social para a América Latina: o resgate da
psicologia. São Paulo: Editora Alínea, 2009.
MINICUCCI, Agostinho. Dinâmica de Grupo: teorias e sistemas. São Paulo: Atlas,
1991.
MONTERO, Maritza. La participación e el compromiso en el trabajo comunitario. In:
MONTERO, M. Introducción a la psicología comunitaria: desarrollo, conceptos e
procesos. Buenos Aires: Paidós, 2004, pp. 225-254.
PEREIRA, William C. C. “Metodologia do Trabalho Comunitário e Social”. In.:
PEREIRA, William C. C. Nas Trilhas do Trabalho Comunitário e Social: teoria, método
e prática. Petrópolis: Vozes, 2001.
SANTOS, Luana C. NASCIMENTO, Rubens F. O “Psicólogo na Política Pública de
Prevenção à Criminalidade: Diálogo sobre questões ético-políticas e a dimensão
relacional”. In: Anais do XVII Encontro regional da ABRAPSO Minas. Trabalhos
completos - ISSN 1981- 432.
SAWAIA, Bader B. “Comunidade: A apropriação de um conceito tão antigo quanto a
humanidade”. In: CAMPOS, Regina H. F. Psicologia social comunitária.
Petrópolis:Vozes, 1996, pp.35-51.