577-2531-1-pb

Upload: rodrigobelera

Post on 16-Feb-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/23/2019 577-2531-1-PB

    1/10

    XIII Encontro Regional Centro-Oeste da ABEM

    Educao musical: formao humana, tica e produo de conhecimentoCampo Grande, 01 a 03 de outubro de 2014

    Aprender e Ensinar Msica em Projeto Social: um estudo de caso no

    Instituto Batucar

    Josilaine de Castro Gonalves

    Universidade de [email protected]

    Maria Cristina de Carvalho Cascelli de AzevedoUniversidade de BrasliaUnB

    [email protected]

    Resumo: Os projetos sociais tm se constituindo como espao de prticas musicais e deensino e aprendizagem da msica. Neles, o aprender e o aprender a ensinar se confundem como desenvolvimento musical dos sujeitos, sua formao e incluso social. Nessa perspectiva,esta comunicao apresenta pesquisa de mestrado em andamento cujo objetivo compreendercomo ocorre a aprendizagem docente de educadores em projetos sociais. Em Braslia, oInstituto Batucar se destaca como Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico(OSCIP) cujo foco de transformao e incluso social a prtica musical, especificamente, a

    percusso corporal. Nesse contexto, foram realizadas observaes participantes, entrevistassemiestruturadas individuais e coletivas (grupo focal) caracterizando um estudo qualitativo.Este estudo se fundamenta no conceito de educador social apresentados por Gohn (2010) eFreire (2011) e na concepo de educao no formal discutida por Gohn (2010), Libneo(2010)e Gadotti (2005).Os resultados parciais da pesquisa, com base na voz dos educadoresque atuam no projeto Instituto Batucar, revelam que a aprendizagem docente acontece na

    prtica com compartilhamento de saberes no projeto.

    Palavras chave: Educador social, aprendizagem docente, projetos sociais;

    Introduo

    Os educadores do Instituto Batucar traziam em seu semblante alegria,entusiasmo e todos se sentiam acolhidos por uma amizade que se criavanaquele local. Senti-me acolhida a cada abrao caloroso de todos que mecumprimentavam ao chegar no local.Os alunos entendiam um ao outro ao olharem-se, trocando sorrisos. Muitasvezes pareciam que estavam conversando atravs do olhar enquanto faziamexerccios de percusso corporal. Essa interao e socializao eraestimulada pelo educador que ao mesmo tempo em que executava ritmos nocorpo, ensinava como explorar e fazer os sons. (Dirio de Campo. Fevereiro,2013).

    A roda de percusso corporal apresentada na epgrafe acima formada por um

    crculo onde os alunos podem se olhar. O educador utiliza, em alguns momentos, o meio do

    crculo para dialogar por meio de gestos e sons com o grupo. Esse momento representa uma

  • 7/23/2019 577-2531-1-PB

    2/10

    XIII Encontro Regional Centro-Oeste da ABEM

    Educao musical: formao humana, tica e produo de conhecimentoCampo Grande, 01 a 03 de outubro de 2014

    grande interao entre alunos e instrutores. Em um clima alegre, alguns alunos riem de si

    mesmo quando erram algum exerccio. O instrutor erra tambm, mas o erro no julgado ou

    depreciado, ele uma forma de aprendizado tanto para alunos como para educadores. O erro

    se transforma em performance.

    No Instituto Batucar, na roda de percusso corporal, enquanto os alunos aprendem

    percusso corporal, observando e imitando, os educadores desenvolvem sua prtica docente,

    ou seja, aprendem a organizar a aula e a conduzir o aluno para o conhecimento. A partir das

    primeiras observaes no projeto, comeamos a refletir: quem ensina e quem aprende? Quem

    professor e quem aluno? Na roda, os educadores ensinam e aprendem com os alunos e

    tambm mostram caminhos para que eles ensinem o colega ou o iniciante. A aprendizagem

    colaborativa e o aprendiz se torna mestre na prtica, na interao e na participao nas

    atividades.

    A dinmica de ensino e aprendizagem musical no Instituto Batucar uma das

    caractersticas das prticas educativas desenvolvidas em projetos sociais. Segundo Gohn

    (2010), nessas instituies, a metodologia de ensino apresenta um processo educativo em que

    o mtodo valoriza a cultura dos alunos, seus conhecimentos e as situaes e problemas

    identificados na sua vida diria. Estes princpios orientam o educar. Os contedos educativos

    surgem das necessidades ou desafios identificados pelo educador e pela comunidade e

    abordam temas como violncia, drogas, famlia, formao. Essa demanda apresenta contedos

    no formalizados como na educao formal, mas considerados relevantes para a

    transformao social. Para a autora, a metodologia de ensino na educao no formal

    dinmica e de carter humanista, cujo objetivo a formao da cidadania.

    Nesse sentido, comum os participantes dos projetos se tornarem multiplicadores,

    monitores ou educadores, reproduzindo a metodologia aprendida. Compreender como ocorre

    a aprendizagem docente de educadores em projetos sociais o objetivo desta pesquisa. Como

    objetivos especficos pretende-se descrever e analisar as prticas musicais desenvolvidas noprojeto; identificar as estratgias de ensino e aprendizagem dos educadores e multiplicadores;

    analisar como eles percebem sua atuao docente no projeto e investigar como enfrentam e

    resolvem as dificuldades pedaggico-musicais que ocorrem. O lcus da investigao o

    Instituto Batucar, projeto scio-musical situado na cidade do Recanto das Emas, Braslia,

    Distrito Federal (DF), com foco na percusso corporal.

  • 7/23/2019 577-2531-1-PB

    3/10

    XIII Encontro Regional Centro-Oeste da ABEM

    Educao musical: formao humana, tica e produo de conhecimentoCampo Grande, 01 a 03 de outubro de 2014

    Segundo o site da instituio, o Instituto Batucar uma Organizao no

    Governamental (ONG) registrada como Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico

    (OSCIP) cujo objetivo [...] promover solues de incluso social atravs da arte, cultura e

    da educao, privilegiando os locais com baixo ndice de desenvolvimento humano.

    (INSTITUTO BATUCAR, 2007). O projeto existe desde 2001, quando o coordenador foi

    convidado pela Igreja Presbiteriana de Braslia para ensinar msica para crianas e

    adolescentes em situao de risco e vulnerabilidade social. Desde ento, a ONG oferece aulas

    de percusso corporal, instrumentos e prtica de orquestra para 100 alunos entre 06 e 17 anos.

    O projeto depende de parcerias para sua sustentabilidade. Semanalmente, so realizadas aulas

    de msica, reunies pedaggicas, ensaios, encontros do grupo de performance. Durante o

    semestre so realizados saraus comunitrios e apresentaes culturais.

    Os coordenadores, educadores e multiplicadores do projeto so os participantes

    desta pesquisa. Os multiplicadores so alunos que se destacam entre os demais, sendo

    estimulados a iniciar um trabalho de monitoria e a participar de reunies pedaggicas.

    A coleta de dados foi realizada por meio de observaes participantes, documentos e

    entrevistas semiestruturadas. Estas foram transcritas e analisadas por meio da interpretao

    das falas dos participantes. Neste texto, apresentamos o conceito de educador social,

    identificando-o como o profissional que atua em projetos sociais a partir das ideias de Freire

    (2011) e Gohn (2010). Posteriormente, apresentamos resultados parciais desta investigao

    que so analisados no dilogo com a literatura que fundamenta esta pesquisa.

    O Educador Social e a educao no formal

    Gohn (2001, p. 98) associa o conceito de educador social a educao no formal. Para

    a autora importante definir quem o profissional que atua nessa modalidade educativa e

    refletir sobre sua formao na relao e integrao com a comunidade. Ela defende que o

    educador social deve se identificar e ter um compromisso social com o grupo. Em suas

    palavras, ele mais do que um animador cultural (GOHN, 2010, p. 50) ele ativo,

    propositivo e interativo na formao e transformao dos indivduos. As caractersticas desse

    profissional esto diretamente associadas aos objetivos da educao no formal.

    Ao delimitar o conceito de educao no formal, Gohn (2001) destaca a dificuldade de

    defini-la, pois, frequentemente, ela apresentada como o que no . A autora enfatiza a

  • 7/23/2019 577-2531-1-PB

    4/10

    XIII Encontro Regional Centro-Oeste da ABEM

    Educao musical: formao humana, tica e produo de conhecimentoCampo Grande, 01 a 03 de outubro de 2014

    importncia de definir a educao no formal pelo que ela . Nessa perspectiva, a

    pesquisadora destaca as seguintes categorias para anlise: o espao onde ocorre o processo

    educativo; os seus fins e objetivos; os seus atributos; as suas dimenses educativas; os seus

    resultados; a sua metodologia ou como se educa; o educador ou quem educa.

    Soma-se a esses parmetros cinco dimenses educativas que incluem: os direitos do

    cidado, a capacitao para o trabalho, os contedos da escolarizao formal, a educao pela

    mdia e a aprendizagem e exerccios de prticas. A educao no formal envolve a formao

    integral do indivduo com caracterstica humanstica, preparando-o para a vida.

    Segundo Gohn (2010), importante no confundir a educao no formal com

    trabalhos sociais realizados em algumas comunidades ou com o processo de socializao

    natural na famlia e na religio. Ela distinta da educao religiosa e da formao promovida

    por projetos com crianas e jovens em instituies religiosas.Seusobjetivos so diferentes e o

    educador no assume, necessariamente, o papel de evangelizador.

    No projeto social, educador e educando interagem numa perspectiva colaborativa e

    integradora. A aprendizagem acontece via mo-dupla, ou seja, educando e educador

    aprendem, ao mesmo tempo em que ensinam - o dilogo o meio de comunicao. Educador

    e educando atuam numa proposta socioeducativa em que a produo de saberes nasce da

    prpria cultura dos indivduos: eles reconstroem e resignificam valores existentes na cultura

    local.

    O educador social pode atuar em diferentes movimentos sociais, no meio rural e

    urbano, podendo desenvolver atividades de msica, de artes, de esporte, de informtica, de

    acompanhamento pedaggico. Gohn (2010) destaca que ele ajuda na construo do prprio

    trabalho no local de trabalho. As foras sociais so construdas no processo por meio das

    relaes compartilhadas entre os indivduos. A intencionalidade do processo educativo est

    presente no desenvolvimento scio pedaggico, de forma que a ao educativa no

    espontnea, pois h uma inteno por parte de quem educa.Libneo (2010) tambm destaca a intencionalidade como uma das caractersticas

    educativas da educao no formal. Em sua concepo, essa inteno no formalizada mas

    apresenta certo nvel de estruturao. Segundo o autor, a educao no formal acontece em

    movimentos sociais localizados na cidade ou no campo, podendo se manifestar nos trabalhos

    comunitrios, em animaes culturais e em manifestaes de lazer nas praas ou no cinema.

  • 7/23/2019 577-2531-1-PB

    5/10

    XIII Encontro Regional Centro-Oeste da ABEM

    Educao musical: formao humana, tica e produo de conhecimentoCampo Grande, 01 a 03 de outubro de 2014

    Em suas palavras, ele enfatiza a flexibilidade metodolgica: porm com baixo grau de

    estruturao e sistematizao, implicando certamente relaes pedaggicas, mas no

    formalizadas (LIBNEO, 2010, p. 89).

    Por outro lado, Gadotti (2005) defende a diversidade de espaos educativos na

    educao no formal, inclusive em igrejas e associaes de bairros. Ele destaca o tempo como

    um elemento to importante quanto o espao na delimitao e definio dessa modalidade

    educacional. O tempo de aprendizagem flexvel e, essa flexibilidade uma caracterstica

    relevante, pois respeita-se o tempo e as capacidades dos educandos.

    Nesse sentido, Gadotti esclarece que o educador atuante na educao no formal

    mais que um mediador dos conhecimentos, ele um organizador do conhecimento e da

    aprendizagem, ele um aprendiz permanente ou, em suas palavras, ele aquele que cuida da

    aprendizagem (GADOTTI, 2005, p. 03). O autor destaca que a aprendizagem do aluno

    depende de saber organizar o seu conhecimento, saber ser auto disciplinado e se sentir

    motivado.

    Para Freire (2011), educar exige respeito aos saberes dos educandos, pois eles so

    socialmente construdos na prtica comunitria (p. 31). Ele defende a importncia de

    discutir com os alunos a sua prpria realidade para refletir sobre o presente vivido por eles. O

    dilogo fundamental e exige disponibilidade do educador para com o educando. Segundo o

    autor, por meio do dilogo o aprendiz se abre para o mundo. Gohn (2010, p. 51) afirma que o

    dilogo no uma conversa jogada fora, ele um condutor, o meio utilizado para formar,

    orientar e conduzir a construo e o compartilhamento do conhecimento.

    Para Freire (2011), dialogar com os alunos exige respeito aos educandos e aos

    saberes que so construdos nas prticas educativas. Na concepo de Gohn (2010), na

    educao no formal, os educadores sociais so importantes pelo fato de ensinarem de forma

    dinmica algo que construdo por eles e os educandos.

    Essas caractersticas so observadas nas oficinas no formais de msica investigadaspor Almeida (2005). Nelas, a pesquisadora verificou que o processo educativo ocorre de

    forma intuitiva e os saberes pedaggicos so construdos a partir da prtica. Os profissionais

    pesquisados por Almeida (2005) so, em sua maioria, msicos sem formao docente que

    reconhecem sua limitao didtica e destacam o aprender com os alunos, o bom senso e a

    responsabilidade como habilidades necessrias para atuar no contexto no formal. Quanto a

  • 7/23/2019 577-2531-1-PB

    6/10

    XIII Encontro Regional Centro-Oeste da ABEM

    Educao musical: formao humana, tica e produo de conhecimentoCampo Grande, 01 a 03 de outubro de 2014

    concepo desses educadores sobre a docncia em msica, a autora conclui que os oficineiros

    investigados associam o professor de msica a aula de msica tradicional, pois apesar das

    aulas coletivas e no formais, eles atendem os alunos individualmente e reproduzem modelos

    de aprendizagem do ensino formal.

    Metodologia da pesquisa: um estudo de caso etnogrfico

    Para compreender como os educadores aprendem a ensinar no projeto social, a

    metodologia mais indicada foi a abordagem qualitativa com mtodo estudo de caso

    etnogrfico. Sobre esse mtodo Andr (2000) afirma:

    Para que seja reconhecido como um estudo de caso etnogrfico preciso,antes de tudo, que preencha os requisitos da etnografia e, adicionalmente,que seja um sistema bem delimitado, isto , uma unidade com limites bemdefinidos, tal como uma pessoa, um programa, uma instncia de uma classeou porque por si mesmo interessante. De qualquer maneira o estudo decaso enfatiza o conhecimento do particular. O interesse do pesquisador aoselecionar uma determinada unidade compreend-la como uma unidade.Isso no impede, no entanto, que ele esteja atento ao seu contexto e s suasinter-relaes como um todo orgnico, e sua dinmica como um processo,uma unidade em ao. (ANDR, 2000, p. 31)

    A unidade de estudo a aprendizagem docente dos educadores (multiplicadores) no

    Instituto Batucar. Para atingir os objetivos da investigao foi realizada uma pesquisa de

    campo com observao participante e entrevistas semiestruturadas. Estas foram realizadas

    individualmente com cada educador do projeto e, coletivamente, como grupo focal com os

    multiplicadores atuantes no projeto. As observaes ocorreram no Instituto Batucar, nas aulas

    de percusso corporal, de orquestra, de instrumento, de canto e, no Centro de Ensino

    Fundamental - CEF113 Recanto das Emas, onde os multiplicadores realizam aulas de

    percusso corporal e violo. As observaes subsidiaram a realizao das entrevistas. O

    contato com o Instituto Batucar iniciou-se em fevereiro de 2013 e a pesquisa se desenvolveu

    dessa data at dezembro de 2013.

    Ao analisar as falas das entrevistas algumas categorias emergiram como: origem,

    princpios pedaggicos, ldico/prazer, organizao, objetivos, cidadania, transformao

    social, prticas musicais, aula de msica, estratgias de ensino, aprendizagem colaborativa,

    performance/apresentaes, aprendizagem docente, formao, percepo, concepes,

  • 7/23/2019 577-2531-1-PB

    7/10

    XIII Encontro Regional Centro-Oeste da ABEM

    Educao musical: formao humana, tica e produo de conhecimentoCampo Grande, 01 a 03 de outubro de 2014

    educao, docncia, msica, desafios e perspectivas. A seguir, apresentamos resultados

    parciais da pesquisa.

    O Instituto Batucar: lcusda pesquisa

    O Instituto Batucar teve incio em 2001 com apoio da Igreja Presbiteriana de

    Braslia. Seu objetivo educar por meio da msica para a cidadania e a transformao social.

    Essa meta compartilhada com outros projetos scio-musicais. Hikiji (2006) ao estudar o

    projeto Guri argumenta que

    O objetivo do projeto [Guri] no formar msicos, mas sim trabalharautoestima, cidadania, tirar a criana da rua e mostrar para ela uma condiode vida melhor. (HIKIJI, 2006, p. 76)

    De forma semelhante, os coordenadores do Instituto Batucar acolhem crianas e

    adolescentes em situao de risco e vulnerabilidade social da regio. A situao de risco

    entendida como tempo ocioso, antigamente destinado a brincadeiras de rua, em que crianas e

    adolescentes esto vulnerveis a violncia e ao trfico de drogas (HIKIJI, 2006).

    No Instituto Batucar atuam cinco educadores, dentre eles, o coordenador, a

    coordenadora pedaggica, o administrador do projeto, a pedagoga e um multiplicador

    formado no projeto. A aulas de percusso corporal acontecem diariamente com durao deuma hora e trinta minutos. O grupo dedica ainda, semanalmente, tempo para reunies

    pedaggicas, para ensaios, para organizao do espao, para aulas de performance e para

    acompanhamento pedaggico pr-agendados com os alunos. Aos sbados pela manh so

    realizados saraus para comunidade e atividades para pais.

    Os Multiplicadores: aprendiz e instrutor

    No Instituto Batucar, os coordenadores incentivam o trabalho docente dosparticipantes com o projeto multiplicadores: alunos que auxiliam os professores nas aulas

    de msica e recebem uma bolsa pela monitora. Essa ao seiniciou com osalunos ajudando

    nas aulas de violo e, hoje, alguns multiplicadores so educadores do projeto. Segundo

    Ricardo, coordenador do projeto, com a formao dos multiplicadores, iniciada em 2004,

    houve uma ampliao dos horrios para atendimento e prtica de percusso corporal:

  • 7/23/2019 577-2531-1-PB

    8/10

    XIII Encontro Regional Centro-Oeste da ABEM

    Educao musical: formao humana, tica e produo de conhecimentoCampo Grande, 01 a 03 de outubro de 2014

    [...] ento a gente comeou a formao de multiplicadores que foi tambm muito nocomeo acho que 2004 por a a gente j tava com essa ideia de bolsista e trabalhandopra que esses bolsistas fossem remunerados ento a gente teve um grupo muito legalde adolescentes que foram um dos primeiros que tava comigo em 2001, 2002, elescomearam a ganhar a bolsa e assumir essa liderana dentro da proposta do projetoento tinha dever de casa, tinha o monitor de percusso corporal a gente comeou a

    criar, com os projetos entrando a gente criou os dias de atendimento, ento comeoua ter atendimento de manh, de tarde. (RICARDO, Entrevistas p. 09 e 10).

    Os multiplicadores participam das reunies pedaggicas do projeto, quando

    discutem as aulas ministradas, os problemas que surgem nas situaes de ensino e

    aprendizagem e propem possveis solues para as dificuldades vivenciadas como disciplina

    e falta de concentrao. O coordenador d dicas de como ensinar, de como envolver os alunos

    e de como chegar celebrao nas aulas. A dinmica de organiz ao pedaggica do

    Instituto Batucar reflete as caractersticas do educador social apontadas por Gohn (2010) eFreire (2011): prtica integrada s demandas e necessidades da comunidade, ato educativo

    centrado no processo, trabalho pedaggico colaborativo e interativo, aprendizagem pelo

    dilogo, o educador como mediador e aprendiz.

    Em entrevista focal realizada com os multiplicadores, um deles afirma que aprende

    ao ensinar, em suas palavras:

    ... voc no s ensina, voc aprende com eles n ..., assim: um vai aprendendocom o outro.... (LUSA, Entrevistas, p. 166).

    Durante a pesquisa, observamos doze multiplicadores que atuavam no Centro de

    Ensino Fundamental CEF 113 - Recanto das Emas, onde ensinavam violo e percusso

    corporal para os alunos do projeto Mais Educao. Eles atuavam em duplas juntamente com

    os educadores do Instituto Batucar e eram responsveis por organizar o espao, os

    instrumentos e os alunos da escola. Desse modo, eles aprendem a ensinar na prtica,

    observando, colaborando e liderando. A formao de recursos humanos em projetos sociais

    destacada por Kleber (2006) que, ao investigar o trabalho pedaggico musical na AssociaoMeninos do Morumbi, enfatiza a observao e a imitao como ferramenta de capacitao e

    sustentabilidade do projeto.

    No Instituto Batucar todos os alunos so multiplicadores em potencial, pois so

    acolhidos, respeitados e amados como filhos do projeto. Ainda que em desenvolvimento, suas

    habilidades so valorizadas, respeitadas e consideradas importantes para a formao cidad. O

  • 7/23/2019 577-2531-1-PB

    9/10

    XIII Encontro Regional Centro-Oeste da ABEM

    Educao musical: formao humana, tica e produo de conhecimentoCampo Grande, 01 a 03 de outubro de 2014

    projeto de multiplicadores capacita os aprendizes na replicao da metodologia desenvolvida

    no Instituto e possibilita a transformao e incluso social de todos envolvidos.

    Consideraes Finais

    Esta comunicao apresentou as caractersticas do educador social em projetos

    sociais, o que fundamenta, a partir de autores como Gohn (2010), Freire (2011), Libneo

    (2010)e Gadotti (2005), a anlise da aprendizagem docente no Instituto Batucar.

    A pesquisa adota abordagem qualitativa com entrevistas semiestruturadas individuais

    e coletivas. O contato direto com o Instituto Batucar e seus multiplicadores possibilitou

    compreender como o educador social se forma e atua no projeto.

    O Instituto Batucar se define como um espao educativo em que a percusso corporal

    o fio condutor dos objetivos de incluso e transformao social. Alm das prticas musicais,

    o projeto promove acompanhamento pedaggico e atividades com os pais dos alunos. A

    sustentabilidade do projeto envolve a formao de multiplicadores, que se comprometem com

    os objetivos da instituio e participam de reunies pedaggicas. A aprendizagem docente

    contnua e ocorre na prtica e para a prtica.

    Nas observaes, constatamos a importncia da aprendizagem colaborativa,

    manifestada na alegria dos educadores e dos alunos e no prazer em compartilhar os

    conhecimentos produzidos e adquiridos no Instituto Batucar. Este considerado por todos

    como um grande laboratrio de aprendizagem docente.

  • 7/23/2019 577-2531-1-PB

    10/10

    XIII Encontro Regional Centro-Oeste da ABEM

    Educao musical: formao humana, tica e produo de conhecimentoCampo Grande, 01 a 03 de outubro de 2014

    Referncias

    ALMEIDA, Cristiane Maria Galdino.Educao no-formal e atuao profissional: Umsurvey em oficinas de msica em Porto AlegreRS. Dissertao de Mestrado. Porto Alegre:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2006.

    ANDR, Marli Eliza D. A. de.Etnografia da Prtica Escolar. 5 Ed.So Paulo: Papirus,2000.

    FREIRE, Paulo.Pedagogia da Autonomia. So Paulo, Paz e Terra, 2011.

    GADOTTI, Moacir.A questo da educao Formal/no-formal.Sion (Suisse), 18 au 22octobre, 2005. Disponvel em:www.virtual.ufc.br/.../Educacao_Formal_Nao_Formal_2005.pdf. Acesso em: 22 de agostode 2014.

    GOHN, Maria da Glria.Educao no formal e o educador social:atuao nodesenvolvimento de projetos sociais. So Paulo: Cortez, 2010.

    HIKIGI, Rose Satiko Gitirana.A Msica e o Risco:etnografia da performance de crianas ejovens participantes de um projeto social de ensino musical. So Paulo: Editora Universidadede So Paulo, 2006.

    INSTITUTO BATUCAR. Website. Disponvel em:http://www.institutobatucar.org.br.Acesso em: 22 de agosto de 2014.

    KLEBER, Magali O. Educao musical: novas ou outras abordagens - novos ou outrosprotagonistas.Revista da ABEM, Porto Alegre, n.14, p. 91-98, 2006.

    http://www.virtual.ufc.br/.../Educacao_Formal_Nao_Formal_2005.pdfhttp://www.virtual.ufc.br/.../Educacao_Formal_Nao_Formal_2005.pdfhttp://www.virtual.ufc.br/.../Educacao_Formal_Nao_Formal_2005.pdfhttp://www.virtual.ufc.br/.../Educacao_Formal_Nao_Formal_2005.pdfhttp://www.virtual.ufc.br/.../Educacao_Formal_Nao_Formal_2005.pdfhttp://www.virtual.ufc.br/.../Educacao_Formal_Nao_Formal_2005.pdfhttp://www.virtual.ufc.br/.../Educacao_Formal_Nao_Formal_2005.pdfhttp://www.virtual.ufc.br/.../Educacao_Formal_Nao_Formal_2005.pdfhttp://www.virtual.ufc.br/.../Educacao_Formal_Nao_Formal_2005.pdfhttp://www.virtual.ufc.br/.../Educacao_Formal_Nao_Formal_2005.pdfhttp://www.institutobatucar.org.br/http://www.institutobatucar.org.br/http://www.institutobatucar.org.br/http://www.institutobatucar.org.br/http://www.virtual.ufc.br/.../Educacao_Formal_Nao_Formal_2005.pdf