51027583 jornalismo em perspectiva

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

ReitorLúcio José Botelho

Vice- ReitorAriovaldo Bolzan

EDITORA DA UFSC

Diretor ExecutivoAlcides Buss

Conselho EditorialAlcides Buss - Diretor ExecutivoEunice Sueli Nodari - PresidenteCornélio Celso de Brasil Camargo

Jõao Hernesto WeberLuiz Henrique de araújo Dutra

Nilcéa PelandréRegina Carvalho

Sergio F. Torres de Freitas

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Sindicato dos Jornalistas de Santa CatarinaUniversidade Federal de Santa Catarina

Maria José Baldessare Rogério Christofoletti (Orgs.)

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UniversidadeFederal de SantaCatarinaCampus UniversitárioTrindadeCEP 88040-900FlorianópolisSanta Catarina - BrasilTelefone: (048) 331-6610Endereço eletrônico:[email protected]

Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071

Maria José Baldessar e Rogério Christofoletti (Organizadores)

CapaMaria José H. Coelho

Editoração EletrônicaSandra Werle

RevisãoMaria Elizabeth Saraiva Nogueira

Supervisão EditorialMaria José Baldessar e Rogério Christofoletti

J82 Jornalismo em perspectiva / Maria José Baldessar eRogério Christofoletti (org.). - Florianópolis: [s.n.], 2005.288p.

Inclui bibliografia.

1. Jornalismo - Santa Catarina - História. 2. Sindicatodos Jornalistas de Santa Catarina - História. 3.Imprensa - História. 4. Ética Jornalística. 5.Jornalismo - Objetividade. 6. Jornalismo - AspectosSociais. I. Baldessar, Maria José. II. Christofoletti,Rogério.

CDU: 07.01

Editora da UFSCCampus UniversitárioTrindade - Caixa Postal 476CEP 88010-970Florianópolis - Santa CatarinaBrasilTelefone: (048) 331-9408,331-9605 e 331-9680Fax: (048) 331-9680Endereço eletrônico:[email protected]://www.editora.ufsc.br

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Apresentação 7

Parte 1 - Histórias do jornalismo catarinense 11

Imprensa na Serra - Paulo Ramos Derengoski 13

A imprensa no norte de Santa Catarina - Apolinário Ternes 21

Uma história de coragem no sul do estado - Celso Martins 33

Resistência no oeste catarinense - Rubens Lunge 45

A mídia no Vale do Itajaí - Mario Luiz Fernandes 49

A imprensa na Grande Florianópolis - César Valente 71

Parte 2 - Expansões e Transformações 85

Assessoria de Imprensa: mercado em expansão - Roger Bittencourt 87

Comunicação no Terceiro Setor - Marli Cristina Scomazzon 103

Rádio: na 3ª idade, mas ágil como adolescente - Regina Zandomênico 115

Fotojornalismo Catarina - Andressa Braun 123

Mulheres e jornalismo - Elaine Borges 131

Televisão, jornalismo e negócios - Áureo Moraes 143

Jornalismo e Política - Moacir Pereira 153

Jornalismo em cima do muro - Jacques Mick 165

Índice

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JORNALISMO EM PERSPECTIVA 6

Parte 3 - Inovação e Perspectivas 185

Muita história para contar (ou Uma história por contar) - Gastão Cassel187

Jornalismo e tecnologia: pioneirismo e contradições- Maria José Baldessar203

A preocupação com a ética: tradição e futuro - Rogério Christofoletti 219

A contribuição das escolas: o curso da UFSC - Francisco José Karam 233

A contribuição catarinense ao ser-fazer jornalístico e à Crítica de Mídia -Mario Xavier 247

Parte 4 - O traço do jornalismo catarinense 265

Apresentação 267

Bonson 268

Fábio Abreu 270

Frank 272

Samuel Casal 274

Sandro 276

Zé Dassilva 278

Os autores se apresentam 281

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7JORNALISMO EM PERSPECTIVA

Um livro como este dispensaria apresentações. Tanto porseu título quanto por seu escopo. Tanto pelos autores quanto peloineditismo da obra. Entretanto, os organizadores deste Jornalis-mo em perspectiva consideram necessárias algumas palavras nãopara introduzir o leitor nas histórias que lerá a seguir, mas parareconhecer e sublinhar os esforços aqui empreendidos.

Este livro marca as celebrações dos 50 anos do Sindicatodos Jornalistas Profissionais de Santa Catarina, entidade que vemacompanhando a evolução do jornalismo no estado e que vem con-tribuindo para muito desse desenvolvimento. Mas este não é umlivro sobre o Sindicato. A obra se debruça muito mais sobre opróprio jornalismo que vimos construindo nas últimas décadas,fatia de tempo fartamente recheada pelos avanços tecnológicos,pela profissionalização do exercício e pela consolidação do jorna-lismo como uma atividade vital para a sociedade.

Os últimos 50 anos mudaram a face da vida humana no glo-bo, alterando nossas relações interpessoais, modificando o impac-to sobre o meio ambiente, conferindo novos contornos tambémàs nossas idéias e condutas. O mundo parece ter ficado menorcom as novas velocidades dos meios de transporte e mesmo coma facilidade de manuseio e agilidade dos veículos de comunicação.Isso se traduziu em outras sociabilidades e comunicabilidades. As-sistimos a uma enxurrada de progressos ao mesmo tempo em quepercebemos o aumento da desigualdade social, dos confrontos ar-mados e da complexidade das sociedades. A vida parece ter ficado

Apresentação

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JORNALISMO EM PERSPECTIVA 8

mais rápida, mais curta. Os meios de comunicação registraramtudo isso, e o jornalismo apressou-se em contar as histórias queserviam de fundo para as revoluções tecnológicas, morais e decomportamento.

Na última metade do século XX, Santa Catarina deixou ummodesto posto entre as unidades da federação para se converternum destacado produtor agrícola, num estado industrialmente com-petitivo, num pólo tecnológico, num diversificado exportador. Etudo isso apesar da sua pouca extensão territorial. Em 50 anos, oestado ampliou a qualidade de vida, investiu em infra-estrutura emelhorou seus índices de desenvolvimento humano. A mídia e aindústria cultural também se expandiram, cobrindo todas as regi-ões catarinenses, fazendo circular bens e notícias, arte, diversão einformação.

O jornalismo catarinense deu sucessivos saltos de qualidadeneste período: estendeu a malha de cobertura noticiosa, fortale-ceu sua infra-estrutura e passou a capacitar melhor os seus profis-sionais. Por conta de sua distribuição geográfica, o estado viu sur-girem no interior influentes jornais e empresas de radiodifusão.Escolas de comunicação se espalharam, tornando-se em berçáriosdos novos jornalistas. Paralelamente, o mercado publicitário tam-bém evoluiu, fazendo girar a roda da fortuna nos departamentoscomerciais. Um pouco desse mosaico de realizações está descritonas próximas páginas, de forma a registrar parte das ações huma-nas no campo da comunicação em Santa Catarina.

Para tanto, foram convidados jornalistas de todo o estadopara tentar oferecer ao leitor um retrato de 50 anos de jornalis-mo. Repórteres, colunistas, editores, chargistas e ilustradores,homens e mulheres dos mais diferentes meios reúnem aqui umagenerosa parcela da história recente do campo jornalístico local. Éevidente que o tema não se esgota neste título. Muita gente e muitahistória ficaram de fora. O que só alimenta a disposição pelo res-

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9JORNALISMO EM PERSPECTIVA

gate de mais fatos em novos volumes, como bem o fazemos coti-dianamente no jornalismo. Autêntico trabalho de Sísifo, o exercí-cio de reportar os fatos não termina nunca, sabemos todos.

Este Jornalismo em perspectiva não dá conta de tudo oque se produziu em meio século na área. Mas isso já era esperadodesde os primeiros instantes dessa idéia. A intenção era mesmoproduzir uma obra multifacetada, parcial, plural, dinâmica. Ao lon-go dessas páginas, o leitor vai se deparar com a menção a nomes jámitificados na imprensa local e vai encontrar também a citação deautores de outros capítulos do volume. Não é mera coincidência,já que alguns dos convidados a escrever não apenas foram teste-munhas dos acontecimentos como imprimiram suas digitais neles,participando ativamente da história.

O livro foi totalmente produzido por jornalistas: dos textosàs ilustrações, da capa ao projeto gráfico, da organização e revisãoà captação de recursos para a sua impressão. Disposto em quatropartes, o conteúdo não apenas reconta a trajetória dos aconteci-mentos que talharam o jornalismo catarinense nos últimos 50 anos.Inicialmente, é apresentada uma certa geografia do fazer jornalísti-co no estado, seção em que o leitor poderá visualizar as regiõescatarinenses como peças de um quebra-cabeça. Nesta parte, ofoco se desloca do Planalto Serrano ao Vale do Itajaí, do Norte aoSul e passando pelo Oeste e pela região metropolitana, salientandoa imprensa local, os principais nomes, as maiores empresas.

Na segunda parte do livro, a produção jornalística de outrosmeios é mostrada. O fio condutor é o conjunto de expansões etransformações que a atividade sofreu no rádio e na televisão, nafotografia e na política, bem como os impactos das assessorias decomunicação no mercado de trabalho.

Como nenhum balanço é completo sem a miragem de algumfuturo, a terceira parte do livro realça as inovações que marcaramo jornalismo local e sinalizam algumas perspectivas para a área.

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JORNALISMO EM PERSPECTIVA 10

O advento das escolas de comunicação, a discussão sobre a éticaprofissional e a chegada dos computadores às redações são algunsdos tópicos abordados. Mas também são apontadas a participaçãodas mulheres no fazer jornalístico e as contribuições do Sindicatodos Jornalistas na articulação dos profissionais. Para completar, aquarta parte reúne trabalhos de alguns dos mais talentosos e im-portantes ilustradores e chargistas de Santa Catarina: crítica, hu-mor e inteligência.

Jornalismo em perspectiva serve de registro do passado,reflete ações do presente e lança luzes para caminhadas futuras. Ascontribuições que este livro oferece vão da preservação da me-mória de um tempo ao desenvolvimento de novos procedimentosque aperfeiçoem as práticas diárias dos que vivem das notícias.

Este projeto deve um agradecimento especial à Universida-de Federal de Santa Catarina, que patrocinou a impressão destaobra, e a todos os jornalistas envolvidos na sua produção. Umahistória do jornalismo catarinense � mesmo que parcial � só pode-ria mesmo ser escrita por jornalistas. Os que aqui imprimem assuas assinaturas, o fizeram sem nenhuma remuneração, sem qual-quer menção a ganhos eventuais. Todos os autores deste Jornalis-mo em perspectiva acreditaram no projeto, e cederam direitosautorais, e parcela de sua energia e entusiasmo para viabilizar oproduto. As páginas que o leitor vê a seguir foram pura obra deum esforço coletivo.

Os organizadores

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Histórias dojornalismo catarinense

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13JORNALISMO EM PERSPECTIVA

Nos primórdios, a imprensa serrana foi basicamente a im-prensa de Lages.

E o primeiro jornal editado em Lages foi �O Lageano�, naverdade um micro-jornal de formato 23x33 cm, com apenas qua-tro páginas. O primeiro número circulou em 14 de abril de 1883.Dirigido pelo professor João da Cruz e Silva, era um vibrante epequenino semanário que dedicava seus artigos de fundo à defesado ensino público, criticando as péssimas estradas da região e exi-gindo a criação de um Mercado Público, bem como a retirada docemitério da época do centro da cidade.

Dentre os colaboradores que mais se destacaram com em-polgados textos estavam o médico homeopata e futuro desem-bargador, Genuíno Firmino Vidal Capistrano e João José Theodoroda Costa.

Em 4 de janeiro de 1884, o pequeno semanário foi vendidopara Henrique José Siqueira, que acrescentou �mais uma colunaem cada página�. Nessa fase, o grande colaborador seria o acadê-mico de Direito, �nosso correspondente em São Paulo�, CaetanoJosé da Costa, que entre reportagens memoráveis, descreveu avisita à bandeirante capital de dois manda-chuvas lageanos: os co-ronéis Belizário de Oliveira Ramos e Henrique de Oliveira Ramos,�que conferenciaram com o chefe da democracia paulista�, dr.Rangel Pestana, e foram à ópera, assistir �A Corsa do Bosque�.

Com a proclamação da República, �O Lageano� deixou decircular por algum tempo. Não que ele fosse monarquista. Ao con-

Imprensa na SerraPaulo Ramos Derengoski

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JORNALISMO EM PERSPECTIVA 14

trário, mudou o nome para �Quinze de Novembro�. Mesmo as-sim, o seu proprietário, Henrique José Siqueira, seria fuzilado bar-baramente em 1893. O saudoso pequenino �O Lageano� voltaria acircular em 1891 pelas mãos de João Costa, Belizário Ramos, VidalRamos, Caetano Costa, João Nunes, Sebastião Furtado, Julio daCosta e Manoel Thiago de Castro.

Em 1886, já circulava em Lages, com boa penetração, �OEscudo�, órgão do Partido Liberal, cujo gerente era José Joaquimde Córdova Passos e cujo lema era: �Não se admitem testas deferro�. Advertindo ainda que as assinaturas teriam que ser pagasadiantadas, e os �autógrafos que nos forem remetidos não serãodevolvidos�.

Seria substituído em 1893 pelo �Rebate�, agora órgão doPartido Republicano Federalista, mas sob a direção do mesmo JoséJoaquim de Córdova Passos.

Em 21 de abril de 1892, saía o primeiro número da �Gazetade Lages�, um bi-semanário que circulava às quintas-feiras e aosdomingos e que tinha um sistema de entregas nas grandes fazen-das da região,�do Cajuru aos fundos da Coxilha Rica�. Era diretor-proprietário Manoel Thiago de Castro, notável intelectual serrano.Suas páginas registraram uma polêmica que marcou época entreCaetano Costa e Pedro Leite Júnior. Do mesmo diretor apareceriaem 1896 �O Município�.

Até que em 1º de janeiro de 1897 começaria a circular umjornal de maior duração: o �Região Serrana� dirigido também porManoel Thiago de Castro e que marcaria época em todas as regi-ões catarinenses pela ampla atuação política. Seus redatores eramhomens cultos, historiadores como Fernando Athayde e até poe-tas como Sebastião Furtado, Caetano Costa e Antônio Henrique, oProfessor Tota.

Nessa ocasião, surge na Serra � com duração até hoje � asátira e o humor irônico para encarar as pugnas partidárias provin-

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15JORNALISMO EM PERSPECTIVA

ciais. Os versos de sátira política, publicados no semanário, atingi-ram até a Capital, provocando o então governador Hercílio Luz.Eram as famosas �herciliadas�, baseadas nos Lusíadas e assinadaspelo pseudônimo de �Petit Camões�. Até hoje se discute quem erao autor das setas envenenadas � ou dos perdigotos cáusticos �que eram lançadas de Serra Acima. Acredito que eram feitas portrês mestres: Caetano, Furtado e o professor Tota.

Eis um exemplo mordaz, em decassílabos:

�Os feitos e os varões proeminentesQue da terra fecunda deste EstadoSurgiram afobados, impacientesEm assalto ao Poder representadoPela honra e critério convenientesAo povo e ao partido denodado (...)(...) De tudo desfazer do pé pra mãoPelo insulto, calúnia e traição (...)(...) Camoneando exporei nesta SecçãoSe pra tanto houver tempo e...inspiração�

Grandes polêmicas, algumas de caráter puramente pessoal,inundavam as paginas do �Região Serrana�. O tom subiu tanto quemuitas matérias eram pagas pelos contendores. Uma das discus-sões mais famosas travou-se entre os grandes fazendeiros JoséMaria Antunes Ramos e Hortencio Rosa, chamado pelo contendorde �tucano de bombacha�. Ao que este respondia dizendo que ooutro era �dominado pela vaidade, aventureiro desalmado, querendochamar para si as glórias do mundo (...) abrindo diques de asneiras,tornando-se um verdadeiro idiota, arvorado em pasquineiro...�

Muitas dessas ofensas terminavam em desforços pessoais eameaças de tiros, até que a turma do deixa-disso interviesse, mar-cando um bom churrasco �sem bebidas alcoólicas�.

Outro polemista violento foi José Castello Branco, que fun-dou o semanário �O Imparcial� em 23 de junho de 1901. Ele ataca-

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JORNALISMO EM PERSPECTIVA 16

va os padres, principalmente frei Pedro Sinzig, intelectual francis-cano respeitado e autor de vários livros, chamando-o de PedroBarulho. Observe que na ocasião era muito grande a influência daLoja Maçônica Lageana � �A Luz Serrana�.

Os franciscanos lançaram então o semanário �O Cruzeirodo Sul�, sob a direção do frei Sinzig no dia 13 de maio de 1902 eque também usava um tom polêmico, desabrido e até agressivo. Eainda por cima foi editada pelos padres uma espécie de revistamensal intitulada �A Sineta do Céu�, mas com um número bemavantajado de páginas. E já no seu número 9, de 1º de maio de1904, caía em cima do �Imparcial�, dizendo: �É um mau jornal; éindecente e obsceno, de tal modo que não pode ser lido por famí-lias�. E ameaçava: �Quem apoiar tão nojento órgão a-católico (nãocatólico) seja por assinatura ou recomendação, não é isento deCulpa...�

Talvez de tão acossado �O Imparcial� faliu em 1907.No dia 7 de setembro de 1906, surgia �A Aurora� jornal que

se pretendia humorístico e literário. Em fins de 1907, aparecia �OClarim�, dirigido por Bibiano Lima. Quase todas essas publicaçõesdependiam de �amigos e favorecedores�, que davam um aportequando o preço do boi subia, mas que cortavam a grana quandovinham as cíclicas crises do preço da carne. Por isso, quase todostinham vida curta.

Mesmo assim, quando um jornal de fora (�Evolução�, de Ita-jaí) ousou criticar o hábito serrano das serenatas noturnas, os nani-cos da região se uniram e proibiram a circulação do mesmo naSerra, ameaçando o seu �correspondente�, que teve que mudarde profissão transformando-se em �cenógrafo teatral�.

A fase mais profissional da imprensa serrana começa em1915, quando volta a circular �O Lageano� sob a direção de Jucun-dino Godinho e que teve notável atuação política quando da cisãodo poderoso Partido Republicano Catarinense em 1920 e lançou

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em suas páginas a candidatura de Nereu Ramos a deputado fede-ral, contra a vontade das cúpulas partidárias.

Em 23 de junho de 1917, começava a circular �O Planalto�,sob a direção dos irmãos Athayde e que tinha no expediente umelenco de colaboradores permanentes de alto nível, como Octací-lio Costa. Excelentes crônicas sobre a história de Lages começa-ram a ser publicadas no �Planalto�.

Nesse período em que a imprensa serrana se profissionali-zava, não deixavam de publicar alguns jornais nanicos; todos devida breve e feliz: �A Coruja�, �O Dunguinha�, �A Marreta�, �A Ver-ruma�, �O Diabo�, �O Fantasma�, �O Garoto�, �A Metralhadora�,o �Zum-Zum�, etc. Geralmente, tinham apenas quatro páginas etiragem variável, maior no verão, menor no inverno. Até o distritolageano do Painel (hoje município) teve um jornal semi-manuscrito,�O Painelense� de 1917. O Centro Cívico Cruz e Sousa, entidadeque congregava basicamente representantes da raça negra, tam-bém editou por breve período �O Cruz e Sousa�.

Com o acirramento das lutas políticas, com o advento dotenentismo no sul do Brasil, novos jornais surgiam e desapareciamdo dia para a noite. Quase todos eram semanários. Ou, como pre-feriam se auto-intitular: �Hebdomadários�. Em 1924, o chefe po-lítico da oposição lageana, coronel Aristiliano Ramos, lançou �A Épo-ca�, com uma linha editorial agressiva e com violentos ataques aosadversários. Mais radical ainda era �A Defesa�, do advogado OdílioMalheiros, que também teve vida efêmera.

Até que um jornal de bom nível, �A Região Serrana�, cujacirculação havia sido interrompida em 1914, voltou às bancas em5 de setembro de 1937, sob a direção de João Pedro Ghiorzi e docoronel Aristiliano Ramos. O secretário de Redação era um nomelegendário na imprensa catarinense, por seu estilo refinado, culturae bom humor: Jayme de Arruda Ramos, lageano que também sedestacaria nos jornais da Capital. Mas com o crescente acirramen-

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JORNALISMO EM PERSPECTIVA 18

to das lutas políticas nacionais e até mundiais, o tradicional �Re-gião� partia também para o ataque e a retaliação. Até que em 1955as máquinas pararam.

Nesse período conturbado, com guerras mundiais, golpes erevoluções, o jornal de mais forte permanência voltou a ser dospadres. Era o poderoso �Guia Serrano�, lançado pelo próprio Vi-gário de Lages, frei Archanjo Moratelli em março de 1936 e que sepretendia �apolítico�. Durou 35 anos ininterruptos até dezembrode 1971, quando saiu o número 3.158.

As páginas culturais do �Guia Serrano� eram de boa qualida-de, com análises sobre a história e as tradições da Serra. O seualcance se estendia a municípios vizinhos como São Joaquim, Curi-tibanos, Rio do Sul, Bom Retiro e até a Capital onde muitos eramos assinantes, principalmente no Palácio do Governo. Nele pontifi-cavam os professores: Walter Dachs, genealogista; Octacílio Cos-ta com as pesquisas de outrora; Fernando Athayde com alenta-dos arquivos de notas e o padre mineiro (Brude) Sebastião daSilva Neiva, que formou gerações de serranos com suas aulasde inglês.

A partir de 21 de outubro de 1951, a grande estrela da im-prensa lageana passou a ser o �Correio Lageano� sob a direção deJoão Ribas Ramos e Almiro de Freitas. Depois de uma breve inter-rupção, reapareceria sob a direção de um empreendedor da im-prensa, José Paschoal Baggio, tendo a lado a cultura de Edésio NeryCaon. De bissemanário a diário foi um pulo. E assim se conservaaté hoje com grandes inovações gráficas, totalmente informatiza-do, com amplo noticiário internacional, nacional e local. O editori-alista Nevio Santana de Fernandes tem milhares de artigos assi-nados e a atual editora-chefe é a jornalista Olivette Salmória queconduz uma equipe de bons profissionais. Após o falecimentode José Baggio, seus filhos, Izabel e Paulo Baggio, são os atuaisproprietários.

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19JORNALISMO EM PERSPECTIVA

Em 1977, aparecia em Lages �O Planalto�, dirigido pelo en-genheiro Roberto Amaral, proprietário de uma grande rede derádios e televisão no Estado.

Um semanário que se firmou em Lages é �O Momento�,com um bom corpo de redatores e repórteres e cujo forte é acobertura completa de área local e policial, tendo um vasto núme-ro de leitores, às vezes se esgotando mal chega às bancas. O dire-tor do vibrante jornal é Wilson Graupner.

Lages é a cidade onde se gera a imagem da Rede TV Sul, deRoberto Amaral, e a poderosa Rádio Clube de Lages, de grandepenetração no campo, com um corpo de veteranos radialistas. NaTV por assinatura, foram pioneiras no estado a TV Pinhão, a TVNova Era e a TV Câmara Municipal.

Mas nem só em Lages floresceu a imprensa serrana. Em ou-tros municípios, jornais bem mais jovens vêm se firmando, embo-ra alguns tenham vida curta.

Em Caçador tem boa penetração o semanário �Folha da Ci-dade�, que já teve em seus quadros um brilhante diagramador:Moacyr Oliveira. Em Canoinhas, vários semanários apareceram:�Correio do Norte�, �Folha do Planalto�, �Correio da Sorte�, �Jor-nal da Cidade� e �O Melhor�.

Em Capinzal, o semanário �O Tempo�. Em Joaçaba, o bisse-manal �O Vale�. Em Ponte Serrada, com periodicidade mensal, �OGazeta do Oeste�. E em Taió, o semanário �Gazeta do Alto Vale�.Em Curitibanos, �A Semana�.

Com as novas técnicas de impressão quase todos esses jor-nais são em cores e nesse sentido, refletem uma tendência mundi-al. Pois em quase todos os países, médias e pequenas cidades têmseus próprios jornais, relatando, descrevendo, noticiando fatos di-versos, econômicos e sociais da comunidades onde se situam.

Se o tamanho e o alcance da imprensa reflete as dimensõesde uma região como queria Victor Hugo, não restam dúvidas de

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que a imprensa da Serra catarinense é o reflexo de uma sociedadepujante e dinâmica. De um modo geral, são jornais que se impuse-ram pelo critério, refletindo o império da opinião pública. E quesempre existiram graças ao esforço dos que nela trabalham e tra-balharam: os operários do jornalismo � desde os simples entrega-dores, passando pelos gráficos, redação, jornalistas colaboradoresaos diretores.

Porque na vida, como nos jornais � e até na máquina do mun-do �, mais vale gastar-se do que se enferrujar...

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Mesmo com São Francisco do Sul então com cerca de doisséculos de existência, a imprensa no Norte de Santa Catarina temcomo data de nascimento o dia 2 de novembro de 1852, quandosurge o jornal manuscrito �Der Beobachter am Mathiasstrom� �O Observador às margens do Rio Mathias - , sob a iniciativa doimigrante polonês Karl Konstantin Knüppel, chegado a Joinville a13 de dezembro de 1851 a bordo do veleiro �Neptun�.

Aos 34 anos, solteiro, Karl Knüppel procedia da cidadezinhade Pinne, interior da Prússia Oriental, atual Polônia. De profissãolavrador, viria a se constituir no escrivão da colônia e, como tal,bem informado sobre tudo o que acontecia na colônia Dona Fran-cisca, além de receber notícias �de fora�. Decidiu publicar um �bo-letim informativo�, que redigia de próprio punho e depois �assala-riava� terceiros calígrafos para, exaustivamente, repetirem de 20 a30 outras cópias comercializadas a 120 réis a ávidos leitores dacolônia.

�O Observador às margens do Rio Mathias�, contudo, já pelotítulo denunciava o perfil da publicação que tinha o espírito indo-mável do melhor jornalismo, de ironia, denúncia e críticas. O ribei-rão Mathias, assim denominado em homenagem ao presidente daSociedade Colonizadora Hamburguesa de 1849, senador MathiasSchroeder, constituía-se num plácido córrego no centro da colô-nia, de águas calmas e serenas, jamais num rio caudaloso, estrepi-toso, como seria o caso do vocábulo �strom�, próprio para desig-nar grandes rios como o Amazonas ou o Nilo.

 

A Imprensa no norte de Santa CatarinaApolinário Ternes

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JORNALISMO EM PERSPECTIVA 22

�Mathiasstrom� O �Mathiasstrom� nasceu apenas três meses antes de �Der

Kolonist� � O Colono -, fundado em Porto Alegre a 2 de agostode 1852, então o primeiro jornal em língua alemã em todo o país.O de Joinville seria o segundo em língua alemã no Brasil. É possívelque o próprio lavrador-jornalista da colônia Dona Francisca, Knüppel,tenha sido estimulado pelo surgimento do jornal portoalegrense,do qual deve ter tido conhecimento em razão de suas funções deescrivão na colônia.

Na primeira página, o �artigo de fundo� do número 1 do�Observador�, destaca: �demos adeus à plagas do torrão natal.Ah! Doloroso adeus. Apoderou-se de nós e consigo nos arrastou apossante corrente de desconfiança e do fracasso. Não tinha maisespaço para nós, a terra que fez a felicidade de nossos pais e queamávamos mais do que o nosso sangue? O que foi � e continuasendo � que nos expulsou, aos milhares, da idolatrada e inesquecí-vel pátria? É a vontade de uma Providência onisciente e insondável,que generosamente se revela, sempre que um coração torturadoanseia por mitigação e que, pródiga, estende sua mão, onde existealma em desespero�.

Pouco adiante, os objetivos do jornal:�Levar a opinião e os anseios de todos ao conhecimento ge-

ral; informar os colonos a respeito das condições da colônia, des-de o seu início; informar as obrigações da Sociedade Colonizadorae a maneira de sua aplicação; informar a respeito das obrigaçõesdos colonos e de seus direitos para com o Estado, o Príncipe deJoinville e a Sociedade Colonizadora; demonstrar a necessidade daformação de uma comuna; demonstrar a situação no futuro, caso per-durem as atuais condições; debater as condições entre empregadorese empregados e demonstrar porque seria mais vantajoso para a colô-nia se fossem empregados apenas trabalhadores europeus; esclarecerassuntos como escola, igreja, hospital, caridade e coleta�.

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 O �Observador� irá ainda: �divulgar os meios para melhorprodução das diversas culturas agrícolas e esclarecer sobre a ven-da dos produtos; coletar e publicar assuntos de interesse geral, epara que o útil seja unido ao agradável, publicará anedotas e pilhé-rias sadias e miscelâneas que lhe forem enviadas e anúncios�. (Tra-dução Elly Herkenhoff, in �História da Imprensa de Joinville�,1998,pp. 18 e 19)

Não se tem notícia sobre a existência de uma única cópia doprimeiro jornal da colônia, nem informações sobre até quando cir-culou o �Observador�. Sabe-se, contudo, que o jornalista Knüppelno ano de 1861, já casado com Caroline Baring desde julho de1853, instalou-se na cidade de São Paulo para lecionar na EscolaAlemã. Posteriormente, transferiu-se para Botucatu, onde, em1880, fundou o �Colégio Benjamin Franklin�, vindo a falecer no dia18 de setembro de l895.

 

�Kolonie- Zeitung� A �grande imprensa� da colônia Dona Francisca teria início

com o surgimento do �Kolonie-Zeitung�, a 20 de dezembro de1862, com a publicação do �probenummer�- exemplar de prova� por iniciativa do advogado, jornalista e político Ottokar Doerffel,chegado à colônia a bordo do �Floretin�, no dia 20 de novembrode 1854.

Ottokar Doerffel terá excepcional presença na vida política,cultural e econômica da colônia, figurando como fundador das pri-meiras instituições, das quais o jornal �Kolonie� será das mais im-portantes e fundamentais para o sucesso do empreendimento co-lonizador. Instalado em modesta casa onde mais tarde edificaria asólida residência que hoje abriga o Museu de Arte de Joinville, naRua 15 de novembro, ali mesmo instalaria uma pequena prensa,adquirida em Leipzig, e iniciaria a publicação do primeiro jornalimpresso de Joinville.

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Publicado aos sábados, integralmente em língua alemã, des-tinava-se a ser uma espécie de órgão oficial das colônias de Joinvillee Blumenau. A assinatura anual custava 1500 réis e o número avul-so 100 réis. �Qualquer artigo de interesse geral será publicadogratuitamente, enquanto os anúncios serão cobrados a 150 réis e120 réis, por linha�.

O jornal de Ottokar Doerffel será publicado ininterrupta-mente por 80 anos consecutivos, transformando-se em importan-te fonte de informações para a história de Joinville. A única coleçãocompleta das oito décadas do jornal encontra-se no Arquivo His-tórico de Joinville. Após a morte de Ottokar, em 1906, o jornalpassou às mãos da família Boehm, inicialmente de Carl W. Boehme depois para seu filho, Otto, que mantiveram por longas décadasimportante empresa gráfica e livraria na cidade.

O �Kolonie � Zeitung� cresceu ao longo dos anos, ampliou onúmero de páginas e de edições, circulando até três vezes porsemana, e teve sua publicação interrompida em 1942, depois dequatro anos de dificuldades crescentes, a partir de 1938, quandoseus editores tiveram que publicar o jornal em português, em ra-zão da Campanha de Nacionalização decretada por Getúlio Var-gas. Ainda no início da década de 1940, a grande maioria de assi-nantes e leitores, espalhados por todo o Sul do Brasil, só conse-guia ler jornal na língua de Goethe, o que determinou o fechamen-to da empresa, 80 anos após a edição número 1 do �Kolonie-Zeitung�.

 

Outras publicaçõesLevantamento feito pelo historiador Plácido Gomes e publi-

cado no Álbum do Centenário de Joinville, em 1951, enumera de-zenas de publicações jornalísticas feitas na cidade até aquela data. Agrande maioria foi de publicações efêmeras, quase todas de cunhopolítico-partidário, uma característica do jornalismo que se prati-

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cava na primeira metade do século XX em todo o país, que nasci-am e desapareciam ao sabor dos interesses político-eleitorais decada momento.

Raras foram as iniciativas de cunho empresarial, de carátersupra-partidário, de forma que passamos a citar de forma abrevi-ada as principais publicações enumeradas por Plácido Gomes:

1884 � Publicou-se �O Globo�, �noticioso e comercial�, depropriedade de M. Moreira da Silva Reis Jr., e posteriormente passoua denominar-se �O Democrata�, órgão oficial do Partido Liberal;

1885 � Apareceu �O Constitucional�, filiado ao Partido Con-servador;

1885 � Imprime-se o �Neue Kolonie Zeitung�, sob a dire-ção de Robert Gernhad, substituído logo depois pelo �Reform�,composto e impresso em tipografia própria;

1877 � �A Gazeta de Joinville� - primeiro jornal em portugu-ês � numa colônia de pouco mais de 20 mil habitantes, com agrande maioria falando apenas o alemão e, também, lendo apenastextos em alemão. A Gazeta era impressa na gráfica do �Kolonie� etinha como redator principal Carlos Lange e colaboradores EtieneDouat e o telegrafista Manoel da Costa Pereira;

1891 � Surge �A Gazeta de Joinville�, sem caráter político-partidário;

1891 � Imprimiu-se o �Volkstaat�, tendo como redator Al-bino Kolbach, posteriormente sucedido por Vitor Mueller e Fran-cisco Schendl;

1905 � Em abril, surge outra �Gazeta de Joinville�, de pro-priedade do jornalista Eduardo Schwartz, tendo como redatorCrispim Mira, um dos mais conceituados jornalistas de Joinville nasprimeiras décadas do século 20 e que seria assassinado em Floria-nópolis, em 1927;

1910 � Surge o �Die Fackel�, com duas publicações sema-nais, sob a orientação política do Dr. Abdon Batista;

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Ao longo da década de 1910, publicam-se em Joinville, emportuguês, �A Gazeta� e o �Comércio de Joinville�. Em alemão, o�Joinvillenzer Zeitung� e o �Kolonie Zeitung�. Circulam ainda, noperíodo, publicações com nomes sugestivos de �O Gato e a Bor-boleta� e a �Revista do Estado�; �A Comarca� é outro jornal decunho político, sob a direção do Dr. Carlos Gomes de Oliveira eMarinho Lobo.

1919 � Surge o �Jornal de Joinville�, de propriedade do jor-nalista Eduardo Schwartz, tendo como redatores Aristides Rego eCarlos Gomes de Oliveira. Primeiramente bissemanário, depoistrissemanário e por fim diário, a partir de 1924. Foi um dos maisimportantes jornais da cidade, posteriormente encampado pelarede dos Diários Associados. Circulou até a década de l980.

 

Jornalistas importantesAinda da lavra de Plácido Gomes, registre-se os seguintes

apontamentos sobre veículos e redatores importantes na primeirametade do século XX: �depois de 1905, podem ser citados comoos mais freqüentes colaboradores da imprensa joinvilense os se-guintes, cada qual em seu tempo e com mais ou menos assiduida-de: Crispim Mira, Ignácio Bastos, Avelino de Carvalho, EduardoSchutel, Arthur Costa, Plácido Gomes, Carlos Gomes de Oliveira,Ulysses Costa, Leonel Costa, Leopoldo Jardim, Aristides Rego,Moacyr Gomes, Montezuma de Carvalho, César de Carvalho eDr. Plácido Olympio de Oliveira.�

Na imprensa alemã: Victor Muller, Albino Kolbach, EduardoSchwartz, Otto Boehm, Wolfgang Ammon, C. Kasting, F. Hudler,R. Busse e poucos mais.

Depois de 1940, novos colaboradores vieram-se juntar àlista dos precedentes: Heráclito Lobato, por cerca de 20 anoseditorialista de �A Notícia�; Manoel Simões, José de Diniz, Oswal-do Silva, Augusto Sylvio Prodhol e Ilmar Carvalho. Nas seções

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esportivas, Arcy Neves, N. Stamm, Realcy Moreira, Jota Gonçal-ves, Hugo Weber, José Lopes de Oliveira, Raul Vidal e GilbertoNavarro Lins. (IN: Dr. Plácido Gomes, Álbum do Centenário deJoinville, 1951, pp.49-53).

 

�A Notícia�O primeiro número de �A Notícia� circulou no dia 24 de

fevereiro de 1923. O fundador do jornal, o paranaense Aurino So-ares, se instalara na ainda quase colônia de Joinville há pouco tem-po e vinha de experiências jornalísticas em cidades como Curitiba,Rio de Janeiro e Florianópolis.

Personagem polêmico e contraditório, Aurino tinha a pelemorena, espírito aventureiro e grande tino comercial. Desde oinício, tinha como intenção criar um jornal independente, acimadas correntes políticas e em língua portuguesa, mesmo com a ci-dade tendo pouco mais de 20 mil habitantes, a maioria só usando alíngua alemã, tanto para o convívio social, quanto como fonte deinformação.

Instalou a redação na Rua 3 de maio e começou �A Notícia�como semanário. Posteriormente, passou a bissemanário e partirde l926, o jornal saía às ruas às segundas, quartas e sábados. Em1929, adquire máquina própria de impressão e desde 11 de outu-bro de 1930, passa a circular todos os dias da semana, ou seja, deterça a domingo.

A primeira fase de �A Notícia� desenvolve-se no período emque seu fundador comanda diretamente o jornal, o que aconteceaté 17 de dezembro de 1944, quando Aurino Soares morre deforma repentina, vítima de aneurisma cerebral. Nesse período depouco mais de 20 anos, �A Notícia� evoluirá de um modestíssimosemanário de quatro páginas para um grande jornal, com parquegráfico próprio e dos mais equipados em todo o Sul do país. Commáquina impressora capaz de imprimir caderno de até 32 páginas

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� a primeira rotativa instalada no estado -, o jornal publicava aosdomingos revista ilustrada, em cores, com 24 páginas e tinha gran-de circulação no Estado de Santa Catarina e no Sul do país. No eixoRio de Janeiro � Porto Alegre, era um dos principais jornais.

Com a morte do fundador, o jornal deixa de circular por 18meses, só voltando às ruas a 1º de maio de 1946, quando inicia achamada segunda fase, que se prolonga até 1956. O controle aci-onário pertence então ao empresário Antonio Ramos Alvim e aopolítico Aderbal Ramos da Silva, de Florianópolis.

A terceira fase de �A Notícia� começa no dia 23 de outubrode 1956, com o jornal passando ao controle de um grupo de 130acionistas, quase todos de Joinville, liderados por três empresári-os importantes da cidade: Helmut Fallgatter, Wittich Freitag e Bal-tasar Buschle.

A quarta fase tem início em 1978 e dura até o presente, coma chegada de Moacir Thomazi à presidência do jornal, encarrega-do, inicialmente, de vender o jornal e, posteriormente, aprovadoo seu projeto de recuperação, de recolocar �A Notícia� na lideran-ça editorial e jornalística em Santa Catarina.

Ocupando nova sede, especialmente projetada para acolherempresa jornalística, à Rua Caçador, 112, �A Notícia� vem escre-vendo novos capítulos de expansão desde então. Nova sede, novoparque gráfico, impressão em cores, edições todos os dias da se-mana, produtos especiais e contínua atualização em informática,conferem nova e pujante dimensão à empresa, com índices de cres-cimento recordes no setor em todo o país. Quando Thomazi che-gou à empresa, em l978, �A Notícia� tinha tiragem de cerca deoito mil exemplares e edições de 8 a 12 páginas, com apenas oitojornalistas.. Hoje, a redação é constituída por 130 profissionais eas edições têm média de 50 páginas todos os dias. �A Notícia� foio primeiro jornal brasileiro a conquistar a certificação ISO 14001,com sistema próprio de gestão ambiental, que detém desde o ano

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2002 e também a única empresa jornalística com tal certificação naAmérica Latina.

Depois de conquistar dois prêmios Esso de Jornalismo naregião Sul, em 1988 e 1989, �A Notícia� obteve o primeiro lugarno prêmio Fernando Pini de excelência gráfica, da Associação Bra-sileira da Indústria Gráfica, nos anos de 1999 e 2002, disputandoas finais com jornais de porte como a �Folha de S.Paulo�, o �Esta-dão� e �O Globo�, do Rio de Janeiro.

A registrar, ainda, a existência em Joinville, no período demarço de 1978 a outubro de 1988 do jornal �Extra�, fundado poreste autor, que se manteve em sua direção até janeiro de 1979,quando era semanário e depois bissemanário. Posteriormente, foitransformado em diário e assim se manteve até o encerramentode suas atividades, em outubro de 1988.

Também o surgimento da �Gazeta de Joinville�, em dezem-bro de 2004. Semanário, a publicação tem caráter empresarial epretende disputar o mercado editorial com edições de 12 páginase circulação apenas local.

São Bento do SulA história da imprensa em São Bento do Sul começa tam-

bém com o surgimento de um jornal manuscrito, como o �Mathi-asstrom� em Joinville, em 1852. Em São Bento, será a vez de �OUrubu�, a partir de 1885, doze anos após a fundação da colônia.

O autor da idéia será o médico Felipe Maria Wolf, que usavao periódico para difundir suas idéias republicanas. Já em 1860 sur-ge o �Liberdade�, impresso em tipografia, também com os mes-mos ideais republicanistas.

O �Liberdade� deu lugar, em 1892, ao �Legalidade�, aindado mesmo médico e jornalista Maria Wolf, um republicano convic-to, que cedeu sua residência para a instalação do quartel generaldos revolucionários federalistas de 1893.

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Em julho de 1900, ainda do mesmo Maria Wolf, surge o �DerWolksbote�, escrito em língua alemã, cuja circulação perdurou pordez anos, segundo pesquisa da jornalista Marília Maciel em sua mo-nografia de final de curso, em 2003, na turma de Jornalismo doInstituto de Ensino Superior Luterano, em Joinville.

Em 1908, São Bento conhece simultaneamente o �Wolkszei-tung�, composto de três páginas em língua alemã e uma página emportuguês, que tinha o título de �Gazeta do Povo�. O jornal teriavida longa, reunindo a colaboração de nomes importantes da vidacultural sãobentense e seu último número circulou 29 anos depoisda primeira edição, a 19 de novembro de 1938.

A 1º de maio de 1911 vem à lume �O Catharinense�, sema-nário, com quatro páginas, em português, fundado por Luiz deVasconcellos, que também mantinha secções em alemão, e tinhaforte conotação de jornal partidário, defendendo a proclamaçãoda República.

Publicações de vida curta foram se multiplicando ao longodos anos 30 e 40 em São Bento do Sul. Na data de 3 de janeiro de1963, surge o �Tribuna da Serra�. �A princípio saía como �Tribunada Fronteira� e funcionava como uma extensão do jornal do mes-mo nome, que circulava em Mafra. A partir da edição número 2, ocabeçalho indicava Antonio Dias e Nivaldo Lang como diretores.Arno Fendrich como diretor da sucursal de São Bento e CarlosVon Bathen como diretor da sucursal de Rio Negrinho e AlaorLino da Silva como diretor-gerente. A adoção de sucursais com-prova que o Tribuna tinha pretensões de regionalização�, informa ajornalista Marília Maciel.

Nos dias atuais, São Bento conta com quatro jornais: �Infor-mação�, circulando desde 14 de junho de 1979. Inicialmente se-manário, hoje circula às quartas-feiras e sábados, com redação esede na cidade de Rio Negro, no Paraná. �Evolução�, criado em1990, circula às sextas-feiras, sob a direção de Pedro Skiba; �Tri-

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buna do Povo�, semanário, sob a direção de Jairson Sabino; e �AGazeta�, jornal diário, que circula desde 15 de março de 1995,sob a direção de Cezar Celeski.

Jaraguá do SulJaraguá do Sul tem no �Correio do Povo�, jornal com 85

anos de existência, fundado em 1919, quatro anos antes de �ANotícia� em Joinville, na forma de semanário, o seu mais antigojornal. Mudando de proprietários várias vezes, o �Correio do Povo�tem se constituído num porta-voz da comunidade jaraguaense ehoje circula cinco vezes por semana, através de empresa gráficasólida e com ambiciosos planos de futuro.

Antes de Eugenio Victor Schmöckel, diretor do �Correiodo Povo� desde 1957, o jornal teve outros proprietários, muitospersonagens da política e da economia de Jaraguá do sul. O funda-dor do jornal foi Venâncio da Silva Porto, que o dirigiu e imprimiuentre os anos de 1919 a 1922. Seguiu-se a gestão de Artur Muller,entre os anos de 1922 a 1936, que voltou ao jornal numa segundagestão entre os anos de l943 a 1957, juntamente com WaldemarGrubba. Depois, veio o comando de Paulino Pedri, 12 anos pro-prietário, de 1946 a 1959; seguindo-se Murilo Barreto de Azeve-do e Fidelis Wolf, Honorato Tomelin, até chegar ao comando ojornalista Eugênio Victor Schmöckel, falecido no dia 17 de maio de2004, aos 82 anos de idade e poucos dias antes da passagem dos85 anos do �Correio do Povo�.

 

Outras publicaçõesNos dias atuais, circulam em Jaraguá do Sul os seguintes jor-

nais: �A Gazeta�, com destaque para as editorias de esporte e so-ciedade; �Absoluto�, primeiro jornal eletrônico de Santa Catarina,diariamente, pela internert; �AN Jaraguá�, caderno diário de �A

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Notícia�, com circulação desde 1997 (semanal) e diária desde4 de abril de 2000, com destaque para política, esportes e co-munidade.

Em Jaraguá do Sul circulam ainda sete revistas: �Nossa Re-gião�; �Fia Mais�, �Thefato�; �Dom sete�, �Quale�, �Mercado Bra-sil� e �Conteúdo�.

Na região do Vale do Itapocu, destaque ainda para o �Jornaldo Vale�, em Guaramirim e jornal �O Regional�, da mesma cidade.

 

Referências bibliográficasÁlbum do Centenário de Joinville, 1951

Correio do Povo, edição especial de 85 anos, maio de 2004

HERKENHOFF, Elly. História da Imprensa de Joinville, UFSC eFundação Cultural de Joinville, 1998

MACIEL, Marília. Imprensa em São Bento, monografia, Ielusc, 2003

TERNES, Apolinário. História do Jornal �A Notícia�. 1ª edição: 1983. 2ªedição revista e ampliada: 2003

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� Sai para a rua, valentão!Foi assim que o capitão Elpídio Silveira deu voz de prisão ao

jornalista João de Oliveira, ouvida da janela da casa onde funcionavaa gráfica do jornal �A Imprensa�, em fins de março de 1925, nomunicípio de Tubarão. O oficial da então Força Pública trazia umaordem de prisão do governador Hercílio Luz, descontente commatérias sobre episódios ocorridos em Araranguá.

Nessa cidade, fora aberto um inquérito para apurar o assas-sinato do delegado de polícia Manoel Maciel, conduzido pelo pró-prio capitão Silveira, que aproveitou o momento para atingir pes-soas ligadas ao coronel João Fernandes, superintendente municipale chefe do Partido Republicano em Araranguá há 30 anos, caídoem desgraça perante o governador. João de Oliveira denunciou as�arbitrariedades� promovidas pelo �ditador catarinense�, o queresultou na ordem de prisão.

Por esse motivo, ele resolveu ignorar a ordem de prisão, eenfrentar armado qualquer tentativa de invasão da gráfica de seujornal. Nesses momentos de muita tensão e medo, o jornalista eadvogado João de Oliveira, nascido em 18 de fevereiro de 1891,em Ouro Fino (MG), pensou em tudo o que já havia ocorrido.

Havia chegado em Tubarão como bacharel recém-formadona Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, no finalda primeira década do século passado. �Inteligente� e �orador derecursos que iam às figuras e aos gestos teatrais, poeta de rimasinspiradas�, segundo Walter Zumblick, o jovem logo se casou com

Uma história de coragem no sul do estadoCelso Martins

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Maria Elisa Colaço, filha do superintendente municipal e chefe po-lítico local, coronel João Luiz Colaço.

João de Oliveira começou no jornalismo imprimindo três jor-nais na tipografia municipal � �O Argonauta�, o mais famoso, inici-ado em 1911, �Gazeta do Sul�, a partir de 1º de janeiro de 1912,e �A Folha�, em 1913. Mestre no editorial, �fazia dele o seu floretede corte perigoso, que esgrimia com audácia e agilidade�, destacaZumblick. �Polemista duro, a vestir seus argumentos com a rou-pagem das frases contundentes�, logo adquiriu inimizades.

Na noite do dia 14 de agosto de 1913, alguns homens sereuniram no hotel Itália, na rua de Baixo, em Tubarão, fazendo gran-de bebedeira. Eram todos da oposição. Na saída, o dentista Antô-nio Pereira Pitta, embriagado, sacou a arma ao passar pela frenteda casa do coronel Colaço, e deu um tiro para o alto, e gritou:

� Quero ver se o João de Oliveira é homem de coragem, disse.A resposta foi uma saraivada de balas na direção do grupo,

vinda de dois lados, a casa do superintendente e imediações daponte sobre o rio Tubarão. Pitta foi atingido e morreu, o que gerouuma revolta geral, levando à invasão da residência do superinten-dente e sua deposição, enquanto a gráfica onde João de Oliveiraimprimia seus jornais foi empastelada. O que não pôde ser quebra-do foi parar dentro do rio. Os Colaços e genro partiram de trematé Laguna e de lá num vapor para a Capital, onde foram conferen-ciar com o governador Vidal Ramos.

Não demorou muito e estavam todos de volta. No dia 2 defevereiro do ano seguinte, 1914, foi a vez da destruição da gráficada tipografia Americana, onde era impresso o jornal �O Fiscal�, um�hebdomadário crítico, literário e noticioso� e �órgão de oposiçãoà grei política chefiada pelos Colaços�. Dirigido por Fábio Silva,circulando desde julho de 1911, �O Fiscal� ficou sem circular algu-mas semanas, já que as máquinas foram desmontadas e os tipos eprelo lançados no rio Tubarão.

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João de Oliveira pensava em todos esses acontecimentosdurante o cerco do final de março de 1924 a seu jornal. Depoisdos episódios de 1913 e 1914, havia editado a �Folha do Sul�(1918), �Correio do Sul�, �A Tribuna� (1919) e finalmente �A Im-prensa�, cuja oficina tipográfica havia sido empastela às 3 horas dodia 7 de agosto de 1922, por ordem do Governo do Estado. Aação foi executada pelo tenente da Força Pública Athanázio de Frei-tas, delegado especial de polícia, quando �máquinas, tipos e latasde tinta foram atirados ao rio�, conta Zumblick.

No seu livro �O Ditador Catarinense�, escrito em parceriacom Alexandrino Barreto, João de Oliveira recorda a ocasião: �De-pois de haverem subjugado e amordaçado Pedro Spritze [gerentegráfico], o tenente e seus soldados amarraram, ato contínuo, otipógrafo Geraldino Eduardo, dando começo então ao ato de sel-vageria e banditismo que consistiu no empastelamento da tipogra-fia, cujas caixas e demais materiais tipográficos eram conduzidospelos soldados e atirados ao rio Tubarão, que corre a cem metrosmais ou menos�.

Entre a manhã do dia 27 até a noite de 31 de março de1924, �esse jornalista resistiu de armas em punho, dentro da lei,no edifício de �A Imprensa�, que foi transformado em seu reduto�,contou mais tarde. Alertados pelos amigos sobre a iminência de umatragédia � o capitão Elpídio dissera que em 12 horas efetuaria a prisão�custasse o que custasse� �, João de Oliveira entregou os pontos eseguiu rumo ao Rio Grande do Sul, às 2 da madrugada de 1º de abril.

Nesse mesmo dia, às 15 horas, o então Superior Tribunal deJustiça do Estado acatou pedido de habeas-corpus preventivo emfavor de Oliveira, requerido pelo jovem advogado Nereu Ramos.A notícia só chegou a Tubarão 35 horas após a partida do benefici-ado, que já estava próximo da fronteira com o Rio Grande do Sulquando um emissário chegou com a informação. Às 15h30 do dia4 de abril, estava de volta a Tubarão.

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�A decisão do Egrégio tribunal�, escreveu, �veio demonstrarque a prisão do dr João de Oliveira era um ato de puro arbítrio,evidentemente ilegal, e que a resistência oferecida por ele, durantecinco dias, foi fundada no direito que assiste ao cidadão de reagircontra ordens ilegais, muito embora emanadas de autoridades cons-tituídas�. Autoridade que, ao invés de dar uma ordem de prisão,lança um desafio: �Sai para a rua, valentão!�

Mas o sossego ao lado da família não durou 24 horas. No dia5 de abril, Hercílio Luz renova a ordem de prisão, ignorando ohabeas-corpus preventivo. �É assunto que regularizarei�, garanteem telegrama ao mesmo capitão Elpídio, que tentou sem êxitocumprir a ordem até o dia 17, sendo chamado de volta à Capital.Seu substituto, o capitão Trogílio Melo, chegou no dia seguinte,uma sexta-feira santa, �com escolhido grupo de soldados, arma-dos de fuzis e fartamente municiados�, ocupando a Superintendên-cia Municipal (prefeitura).

�As ordens escritas, trazidas pelo novo delegado especial,eram de uma violência desumana, de uma verdadeira ferocidade�,recorda Oliveira em �O Ditador Catarinense�. Hercílio Luz exigia�a todo custo a minha prisão, e ordenava que se invadisse o prédiodas oficinas gráficas de �A Imprensa�, afim de que fossem arrebata-das as máquinas de impressão�.

O cenário do confronto estava montado. Além dos homensque levou da Capital, o célebre Trogílio Melo tratou de recrutarreforços pela região, colocando patrulhas nas ruas à noite, comsuas �carabinas embaladas�. Ao todo, 22 policiais, que invadiram oedifício do jornal às 9h15 do dia de Tiradentes, 21 de abril. Ar-rombados o portão de ferro e as grossas portas reforçadas comtrancas de madeira, �a soldadesca investiu a coices de carabinas,com pancadas violentas e sucessivas�.

Foi um corre-corre na cidade, um �momento de pavor, deconfusão e de correria�. Segundo Oliveira, �horda de selvagens,

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em sertões agrestes, não causa tanto horror, como o grupo arma-do que depreda e assalta, em plena cidade, à luz do dia, peranteuma população estarrecida, acovardada e transita de susto�. Ven-cidos os obstáculos se consuma a invasão. Os oito tipógrafos quetrabalham no local fugiram.

Nesse momento, chegaram o coronel João Colaço e sua fi-lha Maria Elisa, esposa de João de Oliveira, protestando �com alti-vez e dignidade contra o ato de banditismo que se cometia�, masas carabinas dos soldados se voltaram contra eles. O capitão, �mui-to agitado e cheio de raiva, proferindo, em altas vozes, palavrõesque homem educado não diz a frente de uma senhora�, se justificou.

- Não sou eu o bandido, não sou eu! Veja esta ordem!O velho coronel Colaço olhou a assinatura e viu o nome de

seu filho, secretário do Interior e Justiça do Estado, irmão de Ma-ria Elisa, cunhado de João de Oliveira. �O saque a mão armada seconsumou. O capitão Trogílio e seus soldados ocuparam a tipogra-fia, os escritórios, o interior do prédio enfim�. Depois, ele requisi-tou um mecânico e carpinteiro das oficinas da Estrada de FerroTeresa Cristina para que desmontassem as duas máquinas de im-pressão, serviço que durou todo o dia. Colocadas em caixotes,seguiram para Florianópolis. À noite, a força deixou o prédio �le-vando um prelo grande, a pedal, para tiragem de jornal, e um prelopequeno, a pedal e força matriz, para impressão de avulsos e ser-viços de gabinete�.

Mais tarde, em 19 de maio, o Supremo Tribunal Federal con-firmou o habeas-corpus da Corte catarinense. �A Imprensa� vai �cir-cular em breve�, anuncia Oliveira. �Novas máquinas foram adquiri-das a custa de sacrifícios�, anuncia. É nesse momento que Oliveirareúne os artigos que vão compor o livro �O Ditador Catarinense�,impresso na Alemanha e que não chegou a circular devido o faleci-mento de Hercílio Luz. Alguns exemplares, entretanto, foram pa-rar nas mãos de amigos e na Biblioteca Pública do Estado.

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�Sacrifício e esforço�Uma característica comum entre a segunda metade do sé-

culo XIX, e avançando bastante no seguinte, foi o �topete atrevidodo corpo redatorial�. Todos eles possuem �forte tempero carac-terístico que o tempo ainda não conseguiu apagar�, escreve Zum-blick no início da década de 1970. Quase todos eram partidáriose, ao mesmo tempo em que �teciam loas aos seus�, respingavam�a lama mal cheirosa de um palavreado feio e nada elegante, àque-les outros, da oposição�.

Até o surgimento do off-set e da informatização, as oficinasgráficas eram o lugar do �desconforto e igual sujeira�, quase sem-pre �montadas em pardieiros�. Quem chegou a conhecer uma devese lembrar que �pelo ar, dominando o ambiente, o constante res-folegar compassado do prelo grande, a pedal, num movimento demandíbulas, enchendo de letras e borrões escuros o branco daspáginas�, descreve Zumblick.

A rotina era mais ou menos comum. Na segunda-feira, bemcedo, eram desmanchadas as páginas da última edição, devolvidosos tipos a seus lugares nas gavetas, estantes e prateleiras. Era umtrabalho demorado e minucioso. Lá pela quarta-feira, com os ori-ginais à mão ou datilografados na frente, o tipógrafo ia montandoletra por letra o texto a ser impresso. As manchetes e títulos ti-nham tipos especiais, mantidos após o surgimento das máquinaslinotipos para a composição.

Claro que essa sujeira era eliminada periodicamente, mas anatureza da atividade era ingrata: com o tempo, a tinta e a fumaçaimpregnavam e escureciam o ambiente. Muitas dessas oficinas eraminstaladas em porões, devido ao peso do conjunto de equipamen-tos, facilitando a chegada de papel e a saída dos jornais impressos.

A análise de Zumblick dos profissionais que fizeram a im-prensa em Tubarão, serve de perfil para os demais. �Há muito di-letantismo nos homens que movimentaram os nossos semanários

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de ontem� e, jornalistas mesmo, �poucos o foram�. Entre esses, sem-pre estiveram presentes �o sacrifício e o esforço�, vivendo �intensa-mente� os dramas de um jornalismo �inçado de discórdias e polêmi-cas�, momentos que eram �soltas as amarras da ética, cortados oscabos do bom senso e desamarradas as cordas da polidez�.

As retaliações �pipocavam atrevidas� e �os fatos mais ínti-mos ganhavam inteiras dimensões. Ao redor das refregas valiamtodos os tipos de armas. Armas-palavra. Armas-vitupério. Armas-calúnia�, resume o mesmo Zumblick.

O berço em LagunaJosé Joaquim Lopes foi um baiano nascido em 24 de outubro

de 1805, militar voluntário da guerra da Independência, estabele-cido em Laguna com a dissolução de seu batalhão e aparecendoem 1831, como professor de primeiras letras na cidade. Com osepisódios da República Catarinense em 1839, se transferiu paraDesterro (Florianópolis), voltando os olhos para o jornalismo, tendoadquirido em hasta pública a Tipografia Provincial.

Além de criar o jornal �O Argus da Província de Santa Cata-rina�, em 1º de janeiro de 1856, que passou a circular três vezespor semana a partir de 1861, considerado diário, ligado ao PartidoConservador. Ele é apontado como autor do primeiro jornal deLaguna, denominado �Pirilampo�, lançado em 6 de junho de 1864,de curta duração. Mestre-escola e deputado provincial (1850-1863), J. J. Lopes também foi editor, tendo falecido em 6 de abrilde 1894, em Florianópolis.

O segundo periódico, impresso em Laguna, foi o �Municí-pio�. Circulou a partir de 12 de setembro de 1878, dirigido pelosergipano Prezalino Lery Santos, que tinha 28 anos de idade ao sercontratado por negociantes locais para a instalação de um colégio.�Era baixo, magro, moreno, nariz grande e usava somente bigo-de�, �volumoso e preto�, diz Saul Ulysséa.

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Os primeiros números do �Município�, impressos em tipo-grafia própria, tinham o formato de 17 x 23 centímetros, amplia-do depois para 23 x 29 cm. �Ensinou a alguns rapazes a arte tipo-gráfica�, um deles �de nome Pedro Gaspar e um pardo de nomeLuiz�. Lery Santos, como ficou conhecido, montou o colégio edava aulas nas residências. �Era inteligente e bom orador�, recor-da o mesmo Ulysséa, um de seus ex-alunos.

O terceiro jornal lagunense apareceu em 6 de julho de 1879,por iniciativa de Tomáz Argemiro Ferreira Chaves � �A Verdade�.Chaves era natural do Recife (PE), nascido em 28 de julho de 1851,advogado e deputado estadual entre 1882-1885, ano em que fale-ceu na Capital. Outros dois profissionais pioneiros do jornalismoem Laguna, então o município mais importante do Sul do Estado,foram José Johanny e Antônio Bessa.

Nascido em Laguna em 30 de maio de 1872, filho do arma-dor e exportador Henrique Joahanny, José tinha onze anos de ida-de ao concluir o ensino primário e ingressar como aprendiz nojornal �A Verdade�, do advogado Chaves. Desde então, dedicou-se de corpo e alma às artes tipográficas, passando por diversosperiódicos de Laguna, como �Fanal� (1887), �O Trabalho� (1888),�A Pátria� (1892). Em 1892, Johanny, com 20 anos, atuou em �OLidador� e gerenciou o jornal �O Pharol�, órgão federalista.

Com 24 anos de idade teve que ganhar a vida, ingressandocomo agente de correio (Gravatal, 1896) e professor público(1899), passando em seguida ao comércio. Também foi secretárioda Câmara de Laguna (1902-1908) e deputado estadual nas 6ª e 7ªlegislaturas, em 1909 e 1910-1912, respectivamente. Mas renun-ciou ao mandato para assumir a direção do jornal �O Albor� (1910),onde permaneceu pouco tempo, passando a se dedicar à ediçãoda �Revista Catarinense�, seu principal trabalho.

Tendo circulado entre 1911 e 1914, a �Revista Catarinense�deu ênfase aos episódios da República Catarinense de 1839, publi-

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cando textos de Tobias Becker (�Os farrapos em Santa Catarina�),em capítulos, assim como as atas da Câmara de Laguna sobre aexperiência republicana. Em suas páginas foram editados artigosde Cruz e Souza, Henrique, José e Lucas Boiteux, José Vieira daRosa, Luiz Delfino, Horácio Nunes, Virgílio Várzea e Crispim Mira,entre outros. Johanny faleceu em 1915, com 43 anos de idade, noauge da produção jornalística.

A história do principal semanário de Laguna começa no dia15 de setembro de 1901, quando três adolescentes resolvem fun-dar um jornal denominado �O Albor�: Adalberto Bessa, Manoeldos Passos Bessa e Manoel Bessa. Antônio Bessa, que trabalhavana gráfica Futuro, onde era impresso o jornal, assumiu a direção de�O Albor� a partir de 1904. �O jornal circulou até 19 de janeiro de1965, e só parou de circular devido a uma grande alta no preço dopapel�, entre outros fatores, conta Lúcia Maria Barros da Silveira,bisneta de Antônio, autora de um trabalho de conclusão de cursode Jornalismo na UFSC sobre o periódico.

�Até 2000, era o semanário com maior tempo de circulaçãono Estado�, assinala a jornalista, que passou um ano e meio lendo as3.054 edições � os primeiros números na Secretaria de Turismode Laguna e os restantes na Biblioteca Pública do Estado.

Durante algum tempo, �O Albor� enfrentou a concorrênciado jornal �Correio do Sul�, fundado em 1931, pelo mesmo Joãode Oliveira já referido, e que circulou até 1955, ano de seu faleci-mento. O prédio onde funcionou o semanário, em Laguna, aindaostenta na fachada a logomarca da publicação. �A pessoa que ad-quiriu a edificação manteve intactos, como meu pai deixou, osmóveis e equipamentos da redação�, conta Vamiré Collaço de Oli-veira. Um excelente perfil de João de Oliveira pode ser conferidoem �Retrato Político de uma Época - 1947-1960� (Editora Insular:Florianópolis, 1999), de Paulo Konder Bornhausen.

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Imigrantes italianosOs demais jornais do Sul do Estado surgiram em regiões de

imigração italiana, iniciada em 1878, como Criciúma, Orleans eUrussanga. Nessa última cidade, vamos encontrar José Caruso Mac-Donald, siciliano, regente real do consulado italiano em Florianó-polis, que se dedicou desde a chegada à educação. Era um homemde �inteligência aberta e muito interessante no processo de colô-nia�, diz o padre Luigi Marzano.

Chegado em Urussanga em 1899, primeiro padre italiano,Marzano entrou em conflito com a liderança dos colonos. �Quan-do o sacerdote chegou, encontrou os pobres imigrantes italianos àmercê da exploração de alguns patrícios seus, prepostos do go-verno de Itália�, narra o padre Claudino Biff. �Eram eles filhos doMezzagiorno e da Reggio Emilia, ainda hoje a mais comunista dasprovíncias italianas. E por que eram anticlericais, carbonários,logo de início sentiram a força da liderança do sacerdote quecontestava a opressão destes funcionários do governo italiano�,acrescenta.

Um deles era o próprio Mac-Donald, que passou a publicarum jornal intitulado �L�Azino� (O Asno), atacando padre Marzano,que não se intimidou e mandou editar a resposta em Turim, sob adenominação de �Il Mulo� (�O Jumento�). O enfrentamento durouaté 1908, quando o padre foi chamado de volta a Roma. O princi-pal trabalho de Mac-Donald, entretanto, foi o �La Patria�, editadoem italiano, entre maio de 1901 e maio de 1902, num total de 52números.

�A Gazeta Orleanense�, de Orleans, surgiu em 1915 e circu-lou durante três anos, nas mãos do jornalista Tito Carvalho (Orle-ans 1896, Florianópolis 1975), então auxiliar de escritório do Loyd,ao lado do cunhado, Godofredo Marques. Outros jornais surgi-ram no município, todos com assinantes em Braço do Norte, Urus-sanga, Tubarão, Laguna e Florianópolis e mesmo no Rio de Janeiro

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e São Paulo. �Quase todos os jornais eram de orientação políticadefinida, ligados ao Partido Republicano Catarinense�, diz o padreJoão Leonir Dall�Alba.

O jornal pioneiro de Criciúma foi lançado em 1º de janeirode 1926, �O Mineiro�, data da posse do primeiro superintendente(prefeito) municipal, Marcos Rovaris. O jornal foi criado por ele, opresidente do Conselho Municipal (Câmara), Pedro Benedet, e ominerador Frederico Minatto. Tendo o professor Adolpho Cam-pos como redator, �O Mineiro� registrou os principais momentosda criação de um novo município catarinense.

Jornalismo hojeTomando por base a relação de cerca de 100 jornais edita-

dos em Tubarão, feita por Walter Zumblick, podemos dizer que oSul de Santa Catarina conheceu centenas de periódicos desde finsdo século XIX.

Entre os mais importantes de Tubarão destaque para �A Im-prensa�, dirigido por Manoel de Aguiar entre 1934 e 1960, comcirculação regional. Outro personagem de presença permanente econtroversa foi o jornalista Hermínio Menezes, que já em 1911,estava no ramo. Zumblick fala num �destemido jornalista� que, �doalto do seu jornal, fustigava Deus e todo mundo�.

Entre os pioneiros no aprimoramento técnico, destaque parao �Gazeta do Sul�, editado em Tubarão desde 1959, primeiro jor-nal catarinense a circular em off-set a partir de 1969, impresso emPorto Alegre (RS).

Hoje, a região conta com vários jornais. Os principais sema-nários são o �Jornal de Laguna� (Laguna), �Agora� e �Hoje� (Orle-ans), �Jornal da Cidade�, �A Crítica�, �Jornal de Bairros�, �NossaFolha� e �Última Hora� (Tubarão). Em Criciúma, circulam os se-manários �Folha de Criciúma�, �Folha dos Municípios� e �FolhaRegional� (editado em Maracajá).

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O diário mais antigo é o �Diário do Sul� (Tubarão), desde1995, terceiro do país a usar sistema de fotografia digital, e o �No-tisul� (iniciado em 2000) no mesmo município. Em Criciúma, cir-culam os diários �Jornal da Manhã� (desde 1983) e �Tribuna doDia� (1955, antigo �Tribuna Criciumense�) e o �Diário de Criciú-ma�. O �Diário do Sul Vale�, editado em Braço do Norte, cobreos municípios entre o vale de Braço do Norte e o pé da Serra doRio do Rastro, em Lauro Müller. Em Imbituba, circula o �Diário doSul Litoral�.

FontesBIFF, Claudino. Crônicas da Diocese de Tubarão. Tubarão: Edição do

Autor, 1996

DALL�ALBA, João Leonir da. Colonos e mineiros no grande Orleans.Orleans: Edição do Autor/Instituto São José, 1986

OLIVEIRA, João de; BARRETO, Alexandrino. O Dictador Catharinense �Artigos de defesa. Tubarão: A Imprensa, 1924

PIAZZA, Walter F. (org). Italianos em Santa Catarina (Vol 1).Florianópolis: Lunardelli, 2001

ULYSSÉA, Saul. Laguna antes de 1880. Florianópolis: Imprensa Oficialdo Estado de Santa Catarina (Ioesc), 1943

ZUMBLICK, Walter. Este meu Tubarão...! (Vol 2). Tubarão: Edição doAutor, s/d.

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A ação coletiva em defesa dos direitos dos trabalhadorespelos jornalistas do Oeste de Santa Catarina tem como parâmetroo mês de fevereiro de 2004, três mulheres e a redação de umtradicional e conceituado jornal impresso. Em nome de uma idéia ede um conceito sobre jornalismo e equipe, profissionais resistematé mesmo ao mais cruel argumento dos empresários: a demissão.É esta a história que devo contar com o ex-chefe de uma redaçãode jornalistas que buscou a verdade como fonte e construiu a uni-dade como profissionais.

Longe demaisAntes de iniciar efetivamente esta parte da história do jorna-

lismo brasileiro, vale registrar que a categoria na região � um vastoterritório, envolvendo mais de um terço da área de Santa Catarinae mais de uma centena de municípios �, somente sofreu forte trans-formação com a chegada dos cursos superiores, primeiramenteem Chapecó, em meados da década de 1990, e depois em Con-córdia, no final da mesma década, e, por fim em Lages. É possívelque o ciclo esteja se findando com a abertura de um curso deJornalismo em São Miguel do Oeste, na fronteira com a Argentina,neste início de século e milênio.

Mas as grandes preocupações dos jornalistas, como o cum-primento da legislação, principalmente quanto ao exercício profis-sional, mesmo com os cursos superiores, ainda são problemas aserem vencidos: as Universidades formam jornalistas, que encon-

Resistência no Oeste catarinenseRubens Lunge

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JORNALISMO EM PERSPECTIVA 46

tram não habilitados exercendo a função nos meios de comunica-ção. O choque legalista, que deveria ser promovido pelos órgãosgovernamentais, especialmente a fiscalização do Ministério do Tra-balho, não se verifica.

A ação sindical ocupou-se, sucessão após sucessão de diri-gentes, em buscar a filiação de jornalistas profissionais, promovercursos de aperfeiçoamento, como o realizado em parceria com aUniversidade Federal de Santa Catarina, no final dos anos de 1980,credenciar conveniados e, eventualmente, debater com maior pro-fundidade e substância o exercício profissional.

O espaço privilegiado para os debates sempre foi o da Uni-versidade, diante da quase impossibilidade do exercício do sindi-calismo de ação pelos dirigentes sindicais, pela falta de estrutura,carência de tempo, uma vez que nenhum, em tempo algum, foiliberado, e pelas distâncias a serem percorridas para o fazer sindi-cal na base, assim como a carência de formação voltada para osdirigentes.

�Diário da Manhã�O jornal �Diário da Manhã� começou a circular em Chapecó

há um quarto de século. Mantém um estilo sóbrio, mas faz ques-tão de se pautar por suas relações. A notícia que os jornalistasdariam nem sempre é aquela que a empresa recomenda. Principal-mente aquelas que tratam de assuntos relacionados com o PoderExecutivo e com os grupos economicamente mais ativos. Ocorreo mesmo nas redações de Passo Fundo, a matriz, Erechim e Cara-zinho.

No entanto, uma outra possibilidade começou a acontecerem maio de 2004, quando o grupo da redação � um chefe deredação e quatro repórteres � iniciam a construção de uma pro-posta buscando na comunidade a resposta que ela � a comunidade� quer nos meios de comunicação.

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Nem bem haviam se passado seis meses deste início, e ten-do como deflagrador a troca de gerentes da unidade, ocorre ademissão do chefe de redação e o seu retorno, por ordem judici-al, em vista de sua condição de dirigente sindical.

A empresa �Diário da Manhã�, através do novo gerente, emfevereiro de 2004, faz uma nova tentativa para acabar com estegrupo de jornalistas, que aplicava na prática uma das propostasteóricas de todas as faculdades de jornalismo que se possa terconhecimento: o exercício da função pública do trabalhador jorna-lista, porque comprometido com a informação verdadeira e ética,e principalmente porque antes de tudo quer cumprir o seu acor-do, a sua aliança, com o leitor, com o seu público, oferecendoinformação de qualidade e sem nenhum compromisso que não odo interesse coletivo.

A estratégia da empresa foi desfazer a equipe. O gerenteexige que o chefe de redação demita uma das jornalistas. Diante danegativa, ele mesmo o faz. Sem justificativa, brutal � e recheada deameaças -, a demissão da jornalista Solange Oro moveu os colegasda redação, que na tentativa de construir o diálogo com os propri-etários da empresa, encaminha uma pauta de solicitações para asede da empresa, em Passo Fundo (RS), e notificam que se nãohouvesse conversações, a greve estava declarada. O grupo exigiaa anulação da demissão de Solange Oro.

Nem mesmo com a convocação da Subdelegacia Regionaldo Trabalho de Chapecó os representantes da empresa compare-ceram para a negociação, preferindo mais um ato que atenta con-tra a liberdade de organização de qualquer categoria de trabalha-dores: demite as repórteres Fernanda Conte e Cátia Leila De Filtropor justa causa, acusando insubordinação, e afasta, para abertura deinquérito administrativo, o dirigente sindical e chefe de redação.

Na Justiça, todos os que tiveram, pela empresa, os seus di-reitos atingidos, buscaram reparação.

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Jornalismo e RealidadeRecém-formadas, Solange Oro, Fernanda Conte e Cátia Lei-

la De Filtro chegaram ao mercado de trabalho com os sonhos detodos os principiantes: construir através da comunicação uma re-lação melhor, voltada para todos. Em poucos meses, constataramque em alguns lugares ainda há preferências orientadas pela relaçãocomercial, e que elas não poderiam sonhar com as teorias da Uni-versidade, e, forçosamente, teriam que se render aos ditames domercado.

Pela demonstração que deixaram para aqueles que lhes sãocontemporâneas e para todas as gerações futuras, Solange, Fer-nanda e Cátia fizeram a opção mais difícil. Resolveram dizer queacreditam na Universidade, na profissão de jornalista � emprega-do, sim, de uma empresa privada, porém com o coração e asmentes dirigidas pela função pública � e, principalmente, que acre-ditam que a informação não tem versão, mas tem verdade.

Essas três trabalhadoras do jornalismo de Chapecó devemter seus nomes guardados. Não porque foram as primeiras a par-ticipar de uma greve em um meio de comunicação na maior cidadedo Oeste de Santa Catarina para exigir justiça, mas porque de-monstraram o verdadeiro espírito do sindicalismo, em que a soli-dariedade é a base para todas as ações.

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Uma das mais ricas e populosas regiões de Santa Catarina esegundo pólo têxtil do mundo, o Vale do Itajaí tem um papel singu-lar na história dos meios de comunicação do estado. É no Vale,mais precisamente em Blumenau, que nasceu a mídia eletrônica �rádio e televisão � catarinense, colocando a cidade em posição devanguarda em relação a municípios maiores como Florianópolis eJoinville.

Mais de setenta anos depois, a região mantém posição dedestaque na radiodifusão. Das 184 emissoras de rádio existentesno estado, de acordo com a Associação Catarinense de Emissorasde Rádio e Televisão, pelo menos 36 (17 FMs e 19 AMs) estão noVale, isto sem levar em conta as educativas e comunitárias, além deemissoras comerciais não filiadas à entidade. Há ainda seis emisso-ras de televisão com sinal aberto1 , além dos canais por assinatura.

No jornalismo impresso, o destaque é o �Jornal de SantaCatarina�, o terceiro mais importante do estado. Em pesquisa re-alizada em 19992 , constatamos que a imprensa catarinense é cons-tituída por 177 pequenos jornais, além dos quatro maiores: �Diá-rio Catarinense�, �A Notícia�, �Jornal de Santa Catarina� e �O Esta-

A mídia no Vale do ItajaíMario Luiz Fernandes

1 Comerciais: RBS TV Blumenau (Blumenau) e TV Record (Itajaí); Educativas: TVBrasil Esperança (Itajaí), TV Bela Aliança (Rio do Sul), TV Educativa Vale doItajaí (Blumenau), TV Panorama (Balneário Camboriú).

2 A dissertação de mestrado defendida na Universidade Católica do Rio Grande doSul em 2000 é um estudo inédito sobre a pequena imprensa catarinense e foitransformada no livro �A Força do Jornal do Interior� (Fernandes, 2003). Napesquisa, não foram considerados jornais institucionais como de bairros,sindicais, house organs, escolares, religiosos, especializados e outros mantidospor instituições não comerciais.

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do�. Entre os pequenos, 45 (25%) estavam no Vale, a maioria se-manários. Dois estão entre os seis mais antigos3 do estado aindaem circulação: 3º) �Nova Era� (Rio do Sul � desde 26/12/1937),6º) �O Município� (Brusque � desde 25/06/1954).

Por suas atuações nas respectivas comunidades, vale regis-trar ainda o �Página 3� e �Tribuna Catarinense� (Balneário Cambo-riú), �O Atlântico� (Itapema), �Jornal do Médio Vale� (Timbó), �Cru-zeiro do Vale� (Gaspar), �Diário da Cidade� e o polêmico �Diáriodo Litoral� (Itajaí), �A Voz da Razão� e �Tribuna Regional� (Blume-nau), �A Cidade� (Rio do Sul) e o �Jornal do Comércio� (Piçarras).

Esta pequena panorâmica evidencia a necessidade de umaampla pesquisa para se traçar o perfil da imprensa no Vale do Itajaí.Em razão da brevidade desse capítulo, concentraremos nossa abor-dagem na imprensa escrita de Blumenau e Itajaí como representa-tivas da região. Tal delimitação parte do fato, também, que estessão os municípios mais expressivos e os pioneiros da indústria cul-tural do Vale e de Santa Catarina.

Apenas como ilustração, é importante ressaltar que o pio-neirismo do rádio coube a João Medeiros Júnior, o primeiro radio-amador4 licenciado do estado, e que em 1929 instalou um serviçode alto-falantes no centro de Blumenau. No final de 1931, ele ini-ciou as primeiras experiências radiofônicas e em 1935 a Rádio Clu-be (PCR-4) estava no ar. A licença saiu em 19 de março de 1936.5

3 �O Estado� (13 de maio de 1915), de Florianópolis, é o jornal catarinense maisantigo ainda em circulação. Entre os pequenos jornais, os dois primeiros são�Correio do Povo� (10 de maio de 1919), de Jaraguá do Sul, e �O Comércio� (11de junho de 1931), de Porto União.

4 De acordo com Medeiros e Vieira, durante 15 anos, o serviço de rádio amadorprestado por Medeiros Júnior, �foi o principal elo de comunicação de Blumenaucom o Brasil e com o mundo, numa época em que não havia serviço telefônico delonga distância e o telégrafo era ainda bastante precário� (1999 : 29).

5 A rádio contava então com dez sócios, entre eles Luiz de Freitas Melro, IngoHering, Roberto Grossembacher e Medeiros Júnior.

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Santa Catarina entrava na era do rádio6 , 23 anos depois de fundadaa Rádio Sociedade Rio de Janeiro, a primeira do Brasil7 . Em Itajaí,em 26 de outubro de 1942, Dagoberto Alves Nogueira e Adolfode Oliveira Júnior instalaram oficialmente a Rádio Difusora, a ter-ceira em solo catarinense.

Em 1954, era constituída a Rede Coligadas de Rádio8 que,mais tarde ,pleiteou a concessão de um canal de televisão paraBlumenau. Surgia assim, em 1º de setembro de 1969, a TV Coliga-das, a primeira emissora oficialmente instalada em Santa Catarina,dezenove anos depois da TV Tupi, a primeira do país9 .

Breve retorno às origensPara compreendermos melhor o processo de evolução da

imprensa no Vale do Itajaí, é sempre necessário recorrermos àhistória. Assim como ocorreu nos primórdios da imprensa emtodo mundo, o jornalismo na região também nasceu estreitamentecomprometido com o poder político, e só nos últimos vinte anosvem rompendo lentamente essas amarras.

Ao contrário do que ocorreria com a mídia eletrônica noséculo XX, o jornalismo impresso nasceu tardiamente em SantaCatarina e mais ainda no Vale do Itajaí. O �Kolonie Zeitung�, lança-do em Joinville em 1862, foi, durante vinte anos, o porta-voz dosblumenauenses e por isso mesmo considerado o primeiro jornal

6 Depois da Rádio Clube vieram a Rádio Difusora de Joinville (Joinville - 01/02/1941), Rádio Difusora de Itajaí (Itajaí - 26/10/1942), Rádio Guarujá(Florianópolis - 14/05/1943) e Rádio Catarinense (Joaçaba - 06/07/1945).

7 A emissora foi fundada em 23 de abril de 1923 por Roquete Pinto e HenriqueMorize.

8 Liderada pela Rádio Clube de Blumenau, a rede contava ainda com a Clube deGaspar, Clube de Indaial, Araguaia (Brusque), Difusora (Blumenau) e Clube deItajaí.

9 Assis Chateaubriand, o fundador dos Diários Associados, foi o pioneiro da televisãobrasileira ao fundar a TV Tupi Difusora, em São Paulo, em 18 de setembro de1950.

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da colônia fundada por Hermann Blumenau. O primeiro periódicolocal, de fato, só surgiu em 1º de janeiro de 1881. Em Itajaí, so-mente em 1884. Ou seja, o Vale do Itajaí só teve imprensa pró-pria cinqüenta anos após Jerônimo Coelho ter lançado em 28de julho de 1831, em Desterro, �O Catharinense�, o primeirojornal da província, e 31 anos após o início da colonização ofici-al de Blumenau.

BlumenauO �Blumenauer Zeitung� (�Gazeta Blumenauense�), primei-

ro jornal de Blumenau e do Vale, foi resultado de uma ação coope-rativada da qual 71 colonos eram cotistas. A iniciativa partiu deHermann Bauggarten, então com 25 anos. Nascido em Blumenau,mas ilustrado em Porto Alegre e Rio de Janeiro, o descendente dealemães voltou à sua terra natal com o objetivo de montar umjornal. A falta de recursos financeiros o levou à constituição daSociedade Tipográfica Blumenauer Zeitung, em 1879. Conformeo estabelecido em contrato, o valor das ações foi devolvido grada-tivamente aos cotistas, e Baugartem tornou-se o único dono.

Com uma impressora importada de Leipzig (Alemanha), osemanário surgia no formado 30 por 39,5 centímetros, quatropáginas, redigido em alemão e com circulação nas principais cida-des catarinenses, onde mantinha agentes (Itajaí, Brusque, Joinville,Desterro), além do Rio de Janeiro e Alemanha. Antônio Härte erao redator e Hermann Baumgarten o editor. Circulou até 2 de de-zembro de 1938.

Mesmo contrário à criação do jornal, Hermann Blumenau, oadministrador da colônia, comprou duas ações e sob sua assinatu-ra colocou a observação bedingt (condicionalmente). Uma semanadepois da primeira edição, Blumenau recebia a devolução de suaparcela no empreendimento. Tal conservadorismo é defendido porSilva (1977: 10) como �altamente proveitoso à ordem e disciplina

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da Colônia�. Justifica o autor: �Os anos que se seguiram à publica-ção regular do Blumenauer-Zeitung vieram dar-lhe razão. As ativi-dades políticas desse jornal, embora sem sombra de dúvidas, vol-tadas exclusivamente para a defesa do nome da Colônia e dos inte-resses dos seus moradores, provocou a fundação de outro jornal,o Immigrant e dos debates entre as duas folhas, nasceram discór-dias, lutas sérias, ataques à moral e à dignidade dos contendores edos seus adeptos� (idem).

O �Immigrant�, segundo jornal da colônia blumenauense, foicriado por Bernardo Scheimantel e circulou de abril de 1883 aabril de 1891. Nascia como resultado declarado de um embatepolítico. Após a grande enchente de 1880 - que atrasou em doisanos a instalação do município -, o governo imperial designou umacomissão de engenheiros, chefiada pelo Dr. Antunes, para fazer olevantamento dos prejuízos e atuar na reconstrução da colônia.

A comissão praticou desmandos, favorecimentos e atos decorrupção que geraram pronta reação do �Blumenauer-Zeitung�,e em muitos casos bastante contundentes. Foi então que simpati-zantes e beneficiados por Antunes criaram o �Immigrant�. O con-fronto entre os dois jornais chegou à esfera do poder público,sendo debatido na Câmara de Vereadores, criada em 1882. Osdesafetos só amenizaram quando a comissão Antunes deixouBlumenau.

Após a Proclamação da República, os dois jornais travaramnovo embate. O �Immigrant�, de matiz liberal, comemorou o novoregime em vários editoriais e perdeu muitos aliados, os opositoresà política florianista. O �Blumenauer�, ligado ao Partido Conserva-dor, revidou. Sem apoio, o �Immigrant� fechou as portas em 1891.

Em 18 de julho de 1892, surge �O Município�, editado emportuguês e alemão. O objetivo era veicular os comunicados ofici-ais da Intendência, já que o �Blumenauer� fazia oposição ao inten-dente. O jornal teve apenas 32 edições e saiu de circulação em

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março de 1893. No mesmo mês, foi substituído pela segunda ver-são de o �Immigrant�, agora sob a direção de Paulo Stelzer, quedefendia a causa federalista. A maioria da população era republica-na e tinha como porta-voz o �Blumenauer�. Os confrontos entreos dois jornais não tardaram. Em 16 de julho, após 16 edições,�Immigrant� desaparecia pela segunda vez. Foi comprado pelopastor Faulhaber, em nome da Conferência Pastoral Evangélica, quepassou a editar o semanário religioso �Der Urwaldsbote� (�O Men-sageiro da Floresta�), que circulou até 29 de agosto de 1941.

Em sua longa trajetória, o �Der Urwaldsbote� trocou de pro-prietário algumas vezes, assumindo também colorações políticas.O pastor Faulhaber ficou no comando da redação até 1898 e, apósas eleições daquele ano, foi substituído por Eugênio Fouquet. Estefoi o responsável pela orientação do jornal durante quase trintaanos. A Primeira Guerra interrompeu a circulação do jornal pordois anos, que retornou em 23 de agosto de 1919. Variados ericos suplementos, inclusive impressos na Alemanha, foram encar-tados em �Der Urwaldsbote� durante muitos anos. Em 1928, ojornal chegava à tiragem de cinco mil exemplares.

A partir da década de 30, nada menos que 32 municípiosforam desmembrados de Blumenau, com novos veículos de co-municação emergindo como porta-vozes destas novas comunidades.

Os novos títulos criados a partir do início do século XXexpandiram a imprensa de Blumenau. �A Nação� (1943/1980), fun-dado por Honorato Tomelin, foi o principal jornal blumenauenseaté o nascimento do �Jornal de Santa Catarina� em 1971. Seguindoa vocação industrial do município, os jornais tornaram-se cada vezmenos voltados às questões da imigração e à agricultura, e mais aocotidiano urbano e industrial. Até início dos anos 70, de acordocom Silva, foram 137 publicações entre jornais-empresa, órgãossindicais, classistas, colegiais, agremiativos, house organs, revistas,anuários e outros.

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ItajaíEm uma época em que, às portas da Proclamação da Repú-

blica, expressiva parcela dos jornais catarinenses não escondia suascores partidárias, ocorre a primeira e breve experiência da im-prensa de Itajaí. Em 10 de maio de 1884, João da Cruz, o mestreJanja, lança o semanário �Itajahy�, que circulou pouco mais de ummês. �As precárias condições econômicas e tecnológicas aliadasaos obstáculos políticos oferecidos à circulação de idéias em umasociedade nitidamente autoritária� são elencadas por Santos (2002:259) como as principais causas que condicionaram o atraso donascimento da imprensa itajaiense.

Com uma postura editorial de isenção ante às refregas polí-ticas locais, em 18 de fevereiro de 1886, Tranqüilo Antônio daSilva e Eduardo Dias de Miranda lançam o moderado bissemanário�A Idéia�. Na mesma linha editorial, em 20 de fevereiro de 1887,Galdino de Pereira Lima coloca em circulação �A Liberdade�. Po-rém, esta aparente neutralidade da imprensa local muda radical-mente em setembro de 1890 quando o médico Pedro Ferreira eSilva, um dos líderes locais do republicanismo, funda a �Gazeta deItajahy� �para divulgar as idéias republicanas e defender as açõespolítico-administrativas do interventor Lauro Muller� (Ibidem: 260).

Este foi o mote inicial para que a imprensa da foz do Itajaíestivesse cada vez mais atrelada ao poder político, cenário que sócomeçaria a mudar gradativamente a partir do final do século XX.O exemplo seguinte foi um outro semanário intitulado �Gazeta deItajahy� criado em 13 de outubro de 1892, também republicanis-ta, e o primeiro com circulação em todo o Vale. Inovou ainda nadistribuição gratuita e no conteúdo bilíngüe (português e alemão).Encerrando a primeira fase da imprensa itajaiense do final do sécu-lo XIX, circularam na cidade O �Immigrant� (1890), �A Flexa� e �ASemana Ilustrada� (1894), �Jornal do Brasil� (1896) e o �Progres-so� (1899).

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Do início ao final do século XX, de acordo com levantamen-to de Santos (2002), 83 jornais foram lançados. Em meio a tantaspublicações efêmeras, algumas se tornaram marcos na imprensalocal por sua longevidade e postura editorial: �Novidades� (1904/1919), fundado por Tibúrcio de Freitas, teve a colaboração dosirmãos Konder (Victor, Marcos e Adolpho) e desempenhou im-portante papel na Campanha Civilista, de Rui Barbosa em 1910;�O Pharol� (1904/1936), criado por João Honório de Miranda, deoposição e postura crítica, foi fechado pela censura de GetúlioVargas; �Diário de Itajaí� (1914 � quatro meses), de Manoel Fer-reira de Miranda, foi o primeiro diário da cidade; �Jornal do Povo�(1935/1989), fundado por Abdon Fóes, passou por várias fasescom diferentes proprietários, dominando o cenário jornalístico ita-jaiense até o início dos anos 60, quando do surgimento do jornal �ANação�; �O Correio� (1963/1976), de Elias Adaime, o único jornallocal de oposição ao regime militar e inclusive era revisado porcensores do Serviço Nacional de Informação (SNI); �Diário doLitoral� (1979), de Dalmo Viveira; �Diário da Cidade� (1992), deValdemir Corrêa das Chagas.

No segmento revista, vale o registro da �Realeza�, editadaem Balneário Camboriú por Coninck Júnior e Ivaine Salete Gilioli; e�Papa Siri�, por Adilson Amaral, vinculada à Academia Itajaiense deLetras.

Caminhos para a profissionalizaçãoDefinir com precisão o início da profissionalização da im-

prensa escrita no Vale do Itajaí, não é tarefa fácil. Longe de limitar aquestão em torno de ter ou não diploma superior para exercer aprofissão, entendemos por profissionalização aquela que passa pelamodernização e consolidação econômica das empresas, consis-tência e independência/imparcialidade da linha editorial, conscien-tização e espírito de classe dos profissionais, qualidade do conteú-

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do informativo, conduta ética de empresários e jornalistas, e com-promisso social com a informação e com o leitor. Ou seja, proces-so este que ainda está em construção, pelo menos em alguns dosaspectos enumerados.

Nesta direção, elencamos pelo menos quatro marcos funda-mentais: o jornal �A Nação�, de Itajaí, como o primeiro a implantaras modernas técnicas de redação; o �Jornal de Santa Catarina�, deBlumenau, o primeiro grande e moderno empreendimento jorna-lístico do estado; a chegada dos primeiros jornalistas com forma-ção superior; o curso de Jornalismo da Universidade do Vale doItajaí (Univali), o primeiro do Vale.

Acrescentamos ainda a contribuição do professor e jornalis-ta Hélio Floriano dos Santos10 , que há anos estuda a imprensa deItajaí, e a divide nas fases artesanal � estruturada no jornalismoopinativo e no jornalismo adjetivado � e industrial � centrada nojornalismo técnico e no jornalismo técnico-profissional. Estas fasesda imprensa itajaiense não só complementam como aprofundam aproposta deste artigo.

O jornalismo técnico de �A Nação�O jornal �A Nação�, de Itajaí, é um desmembramento do �A

Nação�, de Blumenau, fundado por Honorato Tomelim em 29 demaio de 1943. O jornal blumenauense nasceu com seis páginas ecirculação às terças, quintas e sábados. Seis meses depois se tor-nava diário. Já em agosto do ano seguinte era adquirido pelo vorazAssis Chateaubrian, dos Diários Associados. Em Santa Catarina, ogrupo contava ainda com o �Jornal de Joinville� (1919) e �DiárioCatarinense� (Florianópolis � 1973). Todos fecharam em 1980 coma falência do grupo.

A versão itajaiense de �A Nação� foi lançada em 15 de no-vembro de 1962, sob a direção de Wilfredo Eugênio Currlin e

10 Entrevista concedida ao autor em 20/12/2004.

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Nilton Isaac Russi. Durante o ano de 1967, o repórter RenatoMannes de Freitas fez estágio no �Diário do Paraná�, em Curitiba,de onde traz para Itajaí as novas técnicas de redação. Estas incluemas seis perguntas clássicas que compõem o lead � O quê? Quem?Quando? Como? Onde? Por quê? � além do conceito de pirâmideinvertida, objetividade e imparcialidade, o uso de normas e o ma-nual de redação.

Numa época em que o texto jornalístico era carregado deadjetivação, opinião e proposições políticas, a nova técnica causoupolêmicas, mas se espalhou rapidamente pela redação de �A Na-ção�, que se tornou uma verdadeira academia �formando� pelomenos duas gerações de jornalistas dentro da nova técnica. A novatécnica também chegou às emissoras de rádio, já que seus depar-tamentos de jornalismo tinham os jornais como suas fontes. �Antesse misturava muito os fatos e as opiniões. Na verdade o jornalismoera mais feito de opinião do que de informação. O jornalismo eramais comentado, inflamado. Era um texto de cunho pessoal, quaseum testemunho. Com a nova técnica tudo isso foi revisto. O repór-ter passou a ter a função de relatar de forma impessoal os fatos. Oscomentários e opiniões ficavam por conta das fontes (informantes,entrevistados). Basicamente aprendemos a elaborar um texto ondeestava bem separado o fato e a opinião� (Freitas In: Santos, 2004).

Outro repórter do �A Nação� a dar uma forte contribuiçãoà difusão das novas técnicas jornalísticas em Itajaí, foi Álvaro Balbi-not, após realizar um curso de jornalismo técnico por correspon-dência no Instituto Gutenberg. No relato do jornalista, uma síntesedo que era o improviso e o amadorismo do jornalismo da época:�a imprensa só elogiava e as matérias eram superficiais. Os leitoresnão eram levados à reflexão, apenas ficavam lendo bajulações. Ojornal disponibilizava muito espaço e nós tínhamos que preencher.Às vezes, acabávamos escrevendo a mesma coisa, só que comoutras palavras�.

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A ditadura militar, que estava no seu auge no início dos anos70, também impunha suas amarras à imprensa local e os efeitoseram nefastos à autonomia editorial. �Os jornalistas tinham medo dese posicionar e sofrer represálias na redação. Por isso não existia cen-sura, ninguém se arriscava�, lembra Balbinot (In Jordão, 2003: 77).

O �Jornal de Santa Catarina� inicia aera da modernização

A 22 de setembro de 1971, Santa Catarina entra na era dojornalismo moderno com o seu primeiro jornal em off-set, sistemade composição que era privilégio apenas dos grandes diários dasprincipais capitais brasileiras. Foi também o primeiro jornal a ter umsistema de telefoto no estado e a contar com uma frota de 26 veículospara a distribuição do jornal em todo território catarinense. Foramdois anos de planejamento, incluindo edições pilotos para avaliar oprojeto gráfico, o conteúdo editorial e a produção industrial.

O projeto era coordenado pelo professor e jornalista gaú-cho Nestor Fedrizzi que deixou um exemplo de profissionalismopara a imprensa catarinense. O governador Colombo MachadoSalles acionou as rotativas que imprimiram a primeira edição coma manchete em tom de denúncia e embalada em moderno projetográfico: �Esgoto só existe em duas cidades de Santa Catarina�.

Assim nascia o �Jornal de Santa Catarina�, para, a partir deBlumenau, atingir os então 197 municípios catarinenses, concor-rendo com �A Notícia� (Joinville) e �O Estado� (Florianópolis). Nacapa, abaixo do logotipo, ao invés da cidade sede e a data, consta-va �Santa Catarina, 22 de setembro de 1971�. Era uma época que�Santa Catarina não tinha jornal independente�, destaca Flávio deAlmeida Coelho11 . �Boa parte dos jornalistas não vivia do jornalis-mo, vivia de outros empregos, principalmente no Governo do Es-tado. Como então a imprensa podia ser independente?�, questionao empresário.

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A redação sob o comando de Nestor Fedrizzi (também di-retor do departamento de telejornalismo da TV Coligadas), nãoera nada modesta para a época. Contava com cerca de 40 profis-sionais na sede e outros 20 apenas na sucursal de Florianópolis,incluindo o jornalista Adolfo Ziguelli. Tinha a colaboração de colu-nistas como Ibraim Sued e Joelmir Betting, e operava com as agên-cias de notícias do �Jornal do Brasil�, �Folha de S. Paulo�, Reuters eAsa Press. Quando do seu lançamento, o Santa contava com 200funcionários e chegou a 400 no início da década de 80.

Para montar a moderna redação, pelo menos 15 dos 40 pro-fissionais da sede em Blumenau foram trazidos de Porto Alegre,onde os cursos de Jornalismo da Universidade Federal e da Uni-versidade Católica já tinham 20 anos de tradição. Essa �importa-ção� deu trabalho, pois os gaúchos não conheciam as peculiarida-des de Santa Catarina e levou algum tempo para se adaptarem aonovo cenário.

O �Jornal de Santa Catarina� nascia para completar a primei-ra grande rede de comunicação do estado. Com a TV Coligadasoperando desde setembro de 1969 e uma cadeia de emissoras derádios associadas, no projeto dos empresários Wilson de FreitasMelro, Caetano Deecke de Figueiredo, Flávio Rosa e Flávio de Al-meida Coelho, entre outros que formavam o grupo, só faltava ojornal impresso.

Apesar do sucesso, logo surge a primeira crise interna a quese sucederiam várias outras. A titularidade do jornal passa por di-ferentes grupos políticos e empresariais, indo da matiz política dedireita à esquerda12 . Essa alternância de comando afetou a estrutu-ra da empresa e a linha editorial do jornal que perde sua indepen-dência e imparcialidade.

11 Entrevista concedida ao autor em 20/12/2004.12 Em 1972, Wilson Melro e Caetano Deecke se desentendem sobre a

administração das empresas e os jornalistas gaúchos são demitidos. Dois anosdepois, o controle acionário passa a um grupo de empresários e políticos

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Com a venda da TV Coligadas em 1980, o Santa mergulhaem grave crise financeira, acentuada pela recessão no início doGoverno Collor. Em maio de 1990, seus jornalistas realizaram amais longa greve da categoria, que durou quase dois meses. Nasprimeiras semanas a adesão foi de quase 100% dos jornalistas,fechando praticamente todas as sucursais. �Mais de 40 profissio-nais foram demitidos, embora o movimento tenha sido julgadolegal. Durante o tempo em que a redação parou, o jornal circulouprecariamente e no início uma edição de quatro páginas explicavaaos leitores o que estava acontecendo� (Zero, 1993 : 14).

Em 1º de setembro de 1992, a RBS assumia o jornal imprimin-do-lhe novo ritmo editorial, comercial e administrativo. A aquisiçãoera estratégica. Como o �Diário Catarinense�, jornal do grupo lançadoem Florianópolis em 1986, não conseguia penetrar maciçamente noVale do Itajaí, o Santa representava um grande portal de entrada daRBS naquele importante mercado de anunciantes e leitores.

O Santa foi regionalizado e atualmente atinge 64 municípiosdo Vale do Itajaí com sucursais em Florianópolis, Itajaí, Brusque,Rio do Sul e Jaraguá do Sul. Já em setembro de 1994, passava a serimpresso em cores e em 1996 chegava à Internet. Atualmente, é oterceiro em tiragem no estado, chegando a 20 mil exemplares desegunda a sábado e cerca de 25 mil aos domingos. Conta comcerca de 50 profissionais na redação que produzem a média de 44páginas diárias.

integrado por Mário Petrelli, Flávio Coelho, Paulo e Jorge Bornhausen, entreoutros. Mário Petrelli, Flávio Coelho e Rudi Bauer ficam no comando até 1983,ano em que Bauer deixa a sociedade. No ano seguinte, foi a vez de Petrelli vendersua parte e Flávio de Almeida Coelho passa a acionista majoritário. Em 1985,Flávio Coelho negocia o jornal com o empreiteiro Nilton José dos Reis. No final dosanos 80, nova transferência, desta vez para um grupo de 12 empresáriosblumenauenses, e o Santa passa �a ser dirigido por profissionais indicados ouaprovados pelo governo do PMDB, mantendo íntimas ligações com o Palácio SantaCatarina (Pereira, 1992 : 126)�. Segundo o autor, a transação foi conduzidasecretamente pelo então presidente da Centrais Elétricas de Santa Catarina(Celesc), Nogert Wiest, tesoureiro da campanha do governador Pedro Ivo Campos.

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Nesta nova fase, o jornal não deixou de trazer jornalistas deoutros estados para aperfeiçoar seu quadro profissional. Após agreve de 1990, foram contratados principalmente jornalistas para-naenses. No início de 1993, além de profissionais do Rio de Janei-ro, São Paulo e Paraná, chegaram mais seis gaúchos. Entre eles,Edgar Gonçalves Júnior, que a partir de janeiro de 2000 tornou-seo atual editor-chefe.

Os desbravadoresNo início dos anos 80, chega a Itajaí a primeira geração de

jornalistas com graduação na área. A primeira foi a itajaiense Cons-tância Teresinha Severino, formada pela Universidade Católica doParaná em 1976. Antes de retornar à terra natal, atuou em jornaisde Curitiba. Foi a primeira mulher na imprensa de Joinville (�Jornalde Joinville� � 1978) e em Itajaí (sucursal de A Notícia � 1980).Trabalhou ainda na sucursal de �O Estado� e no �Diário do Litoral�,encerrando as atividades como jornalista em 1982.

Ela lembra que não houve preconceito, mas foi um �cho-que� para os jornalistas de Joinville e Itajaí verem invadido um ter-ritório que até então era exclusivamente masculino13 . Era uma épocaem que muitos jornalistas não eram nem provisionados e a grandemaioria tinha apenas formação em nível de 2º grau.

Alberto César Russi, itajaiense formado pela UniversidadeNacional de Brasília em 1980, voltou à região para atuar na RádioUnião de Blumenau (1980/1982). Em Itajaí, trabalhou na sucursalde �A Notícia� (1982/1987), TV Vale do Itajaí (1986/1988 e 1991/1993), na época pertencente a Rede Eldorado de Comunicações �RCE, e foi colunista esportivo no �Diário do Litoral� (1989/1991).Atualmente, dirige a Rádio e TV Univali e é diretor do Centro deCiências Humanas e da Comunicação da Univali.

13 Entrevista concedida ao autor em 10/01/2005.

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Das duas primeiras turmas formadas pela Universidade Fe-deral de Santa Catarina (UFSC), três profissionais, coincidentementetodas mulheres, vieram atuar na imprensa de Itajaí e atualmentesão professoras do curso de Jornalismo da Univali.

A lageana Márcia Estela da Costa foi da primeira turma (1982).Passou três anos estudando e trabalhando no México (1984/1987).Chegou a Blumenau no final de 1987 onde atuou no �Jornal deSanta Catarina� e em 1988 na assessoria de comunicação do grupoHering. Em 1991, foi a primeira professora jornalista contratadano curso de Jornalismo da Univali. Além do ensino, é editora-chefeda Rádio Educativa Univali FM.

Em 1984, Janete Jane Cardozo da Silveira (turma de 1983),ingressou no semanário �Liberal do Vale�, de Waldemir Correa dasChagas. Fazia parte de uma geração �mais idealista� para a qual aatividade jornalística �era mais um ideal que uma profissão. Hoje oprofissional é mais voltado para o mercado�, observa a jornalista14.Jane Cardozo atuou ainda em vários veículos entre eles nas sucur-sais de �O Estado�, �A Notícia� e �Jornal de Santa Catarina� e des-de 1993 é professora no curso de Jornalismo da Univali. No Santa,foi uma das demitidas durante a greve de 1990.

Luciene Cruz, também da turma de 1983, de 1985 a 1990, foiapresentadora do Jornal do Meio Dia na TV Vale de Itajaí. Entre 1994e 1996, voltou à emissora como produtora. Foi a primeira mulher aatuar na televisão em Itajaí. Da fase inicial, destaca o improviso e aestrutura amadora que era a televisão, inclusive com jornalistas tendo,muitas vezes, que produzir matérias comerciais15.

Curso de Jornalismo da UnivaliVários fatores relegaram ao atraso a imprensa catarinense.

Um deles, sem dúvida, foi a falta da formação de profissionais es-

14 Entrevista concedida ao autor em 21/12/2004.15 Entrevista concedida ao autor em 16/12/2004.

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pecializados. Esta realidade só começou a mudar lentamente coma criação do primeiro curso de Jornalismo do estado, o da Univer-sidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que formou a primeiraturma em 1982. Porém, jornalistas formados no estado só come-çaram a chegar em maior número às redações do Vale após a cri-ação do curso de Jornalismo da Univali em 1991.

Entre a formatura da primeira turma em setembro de 1995e final de 2004, o curso já havia formado 518 profissionais, muitosdeles atuando nos mais variados veículos de comunicação do país.O �Jornal de Santa Catarina�, entre tantos outros, é um importantetermômetro da evolução do curso na região. Dos seus mais de 50profissionais da redação, mais da metade é egressa da Univali.

Edgar Gonçalves Jr., editor-chefe, lembra que dos egressosdas primeiras turmas que chegavam ao Santa em busca de umacolocação, apenas 30% eram selecionados. Hoje, este índice ul-trapassa aos 80%. Ele destaca que alguns destes jornalistas já alça-ram um novo patamar profissional no jornal e hoje ocupam cargosde chefia na redação.

Movimento de Oposição SindicalAlém desses fatores que marcaram o início da profissionali-

zação da imprensa no Vale do Itajaí, acrescentamos a contribuiçãodo professor Hélio Floriano dos Santos sobre o jornalismo domunicípio de Itajaí. Para ele, como já dissemos, o desenvolvimentoda imprensa local se divide em duas fases: artesanal e industrial.

A artesanal tem dois momentos: de 1886 a 1962, caracte-riza-se pelo jornalismo opinativo e estrutura empresarial constitu-ída por sociedades ou subsidiada por grupos político-econômicos;de 1962 a 1967, pratica-se um jornalismo adjetivado e com víncu-lo político-econômico, mas começa a se constituir como empresacapitalista.

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A fase industrial também se divide em dois períodos: de1967 a 1980, é marcada pelo jornalismo técnico que prima pelainformação em detrimento da opinião e notícia passa a ser tratadacomo um produto; de 1980 aos dias atuais, o período é ditadopelo jornalismo técnico-profissional que se subdivide em: a) oposi-ção sindical (1980 a 1986); b) situação sindical (1986 a 1991); c)período de diplomação (1991 em diante).

As características da chamada fase artesanal e sua transição paraa industrial já foram abordadas. Portanto, aqui focaremos os três perí-odos mais recentes que dizem respeito à questão sindical e à diploma-ção. O Movimento de Oposição Sindical � MOS � surgiu em 1980,em Florianópolis, Blumenau e Itajaí, num momento em que o Sindicatode Santa Catarina vivia um forte atrelamento político, inclusive comalgumas despesas da entidade � aluguel da sede da entidade, por exem-plo � sendo custeados pelo governo, e muitos jornalistas tinham nafolha de pagamento do Estado sua principal fonte de renda.

Hélio Floriano destaca que nas eleições de 1982 para o Sin-dicato dos Jornalistas, apenas três profissionais itajaienses foramfiliados e puderam votar, em razão dos artifícios criados pela dire-toria da entidade para dificultar a filiação de novos sócios. Depoisde um trabalho de base feito pelo jornalista e encaminhamento deprocessos de provisionamento, nas eleições de 1986, Itajaí já con-tava com 31 filiados votantes, sendo três com diploma de jornalista.

Como resultado desse processo que também ocorreu emoutras cidades, o MOS venceu as eleições daquele ano. Em Itajaí,criou a Delegacia Regional do Sindicato, tendo como delegado Hé-lio Floriano dos Santos.

Com a criação do curso de Jornalismo da Univali e a consci-entização profissional iniciado nas fases anteriores, nasce o atualperíodo da diplomação. Este vem sendo marcado pelo expurgogradativo dos provisionados e não diplomados, embora estes ain-da atuem em bom número em Itajaí.

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Outro processo que está na base da conscientização profis-sional na imprensa local foi a criação do Clube da Imprensa de Itajaí� CIITA � que iniciou informalmente em novembro de 1980, co-ordenado por Valdemir Correa das Chagas. De entidade recreati-va, passou a atuar em questões técnicas e políticas, quer defenden-do seus filiados contra atos de censura e arbitrariedades, quer pro-movendo coletivas de imprensa.

Sua instalação oficial se deu em 15 de maio de 1981, com aeleição da primeira diretoria que teve como presidente José Perei-ra. A posse foi em 12 de julho e já no dia 29 daquele mês erarealizada palestra com o presidente do Sindicato dos Radialistas deSanta Catarina � Hugo Silveira Lopes, mostrando que o CIITA pre-tendia ser mais que um clube recreativo.

A gestão de Hélio Floriano iniciou em 10 de maio de 1985 eatuou prioritariamente no registro dos profissionais da imprensajunto aos sindicatos dos jornalistas e radialistas, e à Delegacia Regi-onal do Trabalho. Aproximou o CIITA do Sindicato dos Jornalistas einiciou a campanha para criação do curso de Jornalismo na Univali. Em1988, na solenidade de posse de Emerson Ghislandi como presidenteda entidade, era entregue um abaixo-assinado dos profissionais da im-prensa ao reitor da Univali, Edson Villela, reivindicando o curso.

Considerações finaisO �Jornal de Santa Catarina� é uma exceção na imprensa es-

crita do Vale do Itajaí. Os demais veículos ainda precisam superaralgumas etapas para chegarem ao estágio da profissionalização. Coma popularização do computador, as empresas, da maior a menor,se modernizaram. Porém, falta investir em recursos humanos. Emalguns veículos ainda há resistência na contratação de jornalistasformados. Como resultado, o que se percebe é uma frágil qualida-de editorial � estética e de conteúdo �, comercial, administrativa eaté de circulação.

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A já referida pesquisa que realizamos em 1999 sobre a pe-quena imprensa catarinense, evidenciava o perfil de um profissio-nal jovem, mal remunerado, sem formação profissional e com poucaexperiência profissional. Esse também é o perfil do profissionalatuante no Vale do Itajaí.

Neste contexto, os profissionais com formação superior -seja jornalista, publicitário ou administrador de empresas � têm oimportante compromisso de colocar nossa imprensa no caminhoda profissionalização. Como assinalamos, profissionalização, no casodas redações, não significa apenas diploma universitário para osjornalistas, mas a consistência e independência/imparcialidade dalinha editorial, conscientização e espírito de classe dos profissio-nais, qualidade do conteúdo informativo, conduta ética de empre-sários e jornalistas, compromisso social com a informação e como leitor.

Ou seja, a profissionalização não está relacionada apenas àinstrumentalização técnica propiciada aos profissionais pelas uni-versidades, mas também pela formação humanística e o discerni-mento crítico e ético. É este conjunto de competências técnicas eculturais que legitimam o profissional na construção social da reali-dade de uma comunidade.

Os novos profissionais, seja criando seu próprio negócio decomunicação ou atuando nas redações dos veículos já estabeleci-dos, também começam a redimensionar o setor, principalmenteaguçando a sadia concorrência.

A consolidação econômica das empresas também faz partedesse processo, para que empresários e jornalistas possam atuarcom a autonomia indispensável ao jornalismo. Em uma região tãorica, há espaço para sólidos e modernos grupos de comunicação.Porém, faltam investimentos para que o Vale tenha a imprensa queprecisa e merece.

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Referências BibliográficasCRUZ, Dulce Márcia. Televisão e Negócio � A RBS em Santa Catarina.

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A imprensa na Grande FlorianópolisCésar Valente

No princípio, eram os partidos políticos. Mais especifica-mente, na Santa Catarina da época da criação do Sindicato, o PSD(Partido Social Democrático) e a UDN (União Democrática Naci-onal). Os jornais e as emissoras de rádio em Florianópolis eramconhecidos por serem �de propriedade� de uma ou de outra cor-rente política. A rádio Guarujá e o jornal �O Estado� elogiavamquem era simpático ao PSD e expunham as mazelas dos adversári-os. A mesma coisa, só que com o sinal inverso, faziam a rádioDiário da Manhã e o jornal �A Gazeta�, da UDN.

E era um jogo, de certa forma, às claras: todos sabiam quese quisessem encontrar críticas aos Ramos teriam que ler o jornalda UDN. E para saber o que estavam dizendo dos Bornhausen erasó ler o jornal do PSD. Simples assim.

Os jornalistas, redatores daqueles textos rebuscados que in-variavelmente iniciavam com um longo �nariz de cera�, eram tam-bém partidários. Amigos e apadrinhados das principais personali-dades políticas de cada clã. Por décadas a imprensa da capital deSanta Catarina viveu essa rotina provinciana. Uma espécie de servi-ço de alto-falantes dos principais partidos ou coligações.

Os jornais eram mantidos em estado de indigência tecnoló-gica pela falta de ambição comercial. Ninguém parecia interessadoem ganhar dinheiro com jornais ou em buscar mais leitores comalgumas inovações já disponíveis em outras capitais brasileiras: bas-tava que cumprissem seu papel de arautos dos partidos. As notíci-as, ora, as notícias eram copiadas do repórter Esso, da Rádio Na-cional do Rio, ditadas pela fonte ou ainda recortadas de jornais de

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fora e publicadas no dia seguinte. A pequena cidade, ainda que ca-pital de estado, não tinha a pressa de hoje.

Em 1956, o jornal �O Estado� iniciou um lento e longo pro-cesso de modernização, ao comprar uma segunda linotipo. Em1957, instalou uma rotoplana, impressora mais moderna e rápidaque a prensa tipográfica anterior e instalou uma clicheria. Já podiaproduzir suas próprias fotos e ilustrações.

Paschoal Pitsica contou, numa entrevista a Apolinário Ternes(�A Notícia�, 1996, disponível em http://an.uol.com.br/grande/pitsi-ca), que o diretor Rubens de Arruda Ramos e o gerente Domingosde Aquino, animados com os novos equipamentos, resolveram criar,em 1958, um Suplemento Dominical �cultural e social� em �O Es-tado�. Paschoal e seu irmão Nicolau foram encarregados da partecultural e Zury Machado fazia a coluna social. Foi uma espécie de�primavera de Praga� que durou um ano, fez grande sucesso ereuniu colaborações dos principais nomes da época.

A justificativa para o fechamento do suplemento foi a neces-sidade de economizar. A crise financeira, que a essa altura é umpersonagem novo, depois irá se instalar confortavelmente e tomarparte em todos os movimentos da imprensa florianopolitana.

Enquanto �O Estado�, de tempos em tempos comprava umaou outra máquina nova, os demais jornais permaneciam onde sem-pre estiveram ou regrediam. O �Diário da Tarde� fechou e �A Ga-zeta� continuava, mas sem novidades. Essa polarização PSD/UDNdurou mais ou menos até a década de 70. A extinção dos partidospelo Ato Institucional nº 2, em 1965, certamente contribuiu paraque as coisas mudassem ou pelo menos se tornassem menos evi-dentes e preponderantes.

Em 1964, o jornal �O Estado� já era de propriedade do ex-governador Aderbal Ramos da Silva. Quando Rubens de ArrudaRamos deixa a direção, o jornal fica sob a responsabilidade de JoséMatusalém Comelli, jovem genro do �Doutor Aderbal�. Além dos

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filhos de Rubens (Sérgio da Costa Ramos que desde os 14 anos deidade convivia com o jornal e Paulo da Costa Ramos), Comelli cer-cou-se de outros jovens, como Marcílio Medeiros Filho, Raul Cal-das Filho, Mauro Júlio Amorim e Luiz Henrique Tancredo. E o jor-nal �O Estado� continuava sua lenta e segura trajetória de mudanças.

O lançamento do �Jornal de Santa Catarina�, em Blumenau,em 1971, foi um terremoto jornalístico cuja onda de choque che-gou a Florianópolis com toda a força. Não só porque Nestor Fe-drizzi (jornalista gaúcho responsável, com João Aveline, pelo su-cesso da �Última Hora� em Porto Alegre) levou para Blumenaujornalistas da melhor qualidade, uma rotina jornalística profissionale nova tecnologia de impressão, mas também porque, antes mesmodo lançamento, começou a montar uma grande sucursal na capital.

Ayrton Kanitz lembra que, ao chegar a Florianópolis em 1970,trazido de São Paulo por Nestor Fedrizzi, com a tarefa de montara sucursal do Santa (como é chamado o jornal de Blumenau) foimuito bem recebido por Adolfo Zigelli, um radialista de prestígioque embora apaixonado por Florianópolis e defensor das tradi-ções locais, não hostilizou os recém-chegados e os ajudou de inú-meras formas, mesmo antes de tornar-se colunista do jornal.

O Santa foi lançado em 22 de setembro de 1971, compostoa frio e impresso em rotativa off-set. Todos os demais jornais ti-nham composição a quente (com linotipos) ou manual (com tiposmóveis) e impressão direta plana ou no máximo rotoplana (matrizplana e entintador rotativo). E um projeto editorial moderno ecompetitivo.

O jornal �O Estado� foi, de certa forma, surpreendido pelainiciativa do Santa. José Matusalém Comelli conta que a moderni-zação de �O Estado� estava sendo pensada e planejada, mas aindanão tinha sido feito qualquer processo de compra ou importaçãode equipamentos, procedimentos excessivamente burocratizadose que, em geral, demorava mais de um ano.

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Mesmo assim, oito meses depois, em maio de 1972, o jor-nal �O Estado� estreava sua nova sede, na rua Felipe Schmidt, comequipamentos semelhantes aos do concorrente de Blumenau. Umjornal totalmente renovado, gráfica e editorialmente. Para fazê-lo,trouxe parte da equipe que lançara o Santa, acrescentando algunsjornalistas gaúchos recém-chegados e poucos locais.

�O Estado�, na verdade, foi beneficiado pelo acaso. Em me-ados de 1971, Jorge Daux (então proprietário da rede de cinemasda capital) procurou Comelli para apresentá-lo a um deputado pa-ranaense que estava vendendo o equipamento que �O Estado� pre-cisava. O amigo de Daux, do grupo de apoio do então governadorparanaense Haroldo Leon Peres, importara todo o maquinário parainstalar um jornal em Maringá. As máquinas tinham acabado de che-gar e, enquanto ainda estavam nos portos de Santos e Paranaguá, ogovernador deixou o cargo (Peres renunciou em setembro de1971, após sete meses de mandato, num episódio até hoje obscu-ro). Diante disso, o dono do jornal achou melhor não lançá-lo esaiu em busca de compradores para as máquinas. Portanto, haviatodo um sistema de composição a frio IBM e uma rotativa off-setGoss, com todos os demais equipamentos complementares à venda,em portos brasileiros. Praticamente pronta entrega. Foi por issoque, em tempo recorde, �O Estado� conseguiu renovar-se, sur-preendendo a todos.

Não eram só os jornais que mudavam. O jornalista floriano-politano também nunca mais foi o mesmo. A imprensa, como umtodo, estava em processo de mudança.

No rádio, Adolfo Zigelli conseguia, com o Vanguarda, com-pletar uma das histórias profissionais mais interessantes: o garotoengajado nas lides da UDN em Joaçaba, locutor de rádio do parti-do, trazido para Florianópolis para continuar a atuar politicamente,tanto no serviço de imprensa do Palácio quanto na rádio da UDN,percebe o momento histórico e acaba ganhando credibilidade com

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uma atuação focada na defesa da cidade e de seus valores que co-meçavam a desaparecer (como a até hoje injustificada demoliçãodo Miramar). O Vanguarda não era um programa da UDN e nãotinha o ranço político-partidário que caracterizou o passado domesmo Zigelli, mas não deixava também de ter a visão políticabásica dos dessa corrente, só que numa linguagem moderna. Vale lem-brar que, nessa época, a UDN estava unida ao PSD na Aliança Renova-dora Nacional � Arena �, o partido-frente que se opunha ao MDB, ooutro partido-frente do sistema bipartidário, mais à esquerda.

Em 1972, Florianópolis estava �cheia� de jornalistas gaúchos,na sucursal do Santa e no jornal �O Estado�. E não eram quaisquerjornalistas: Ayrton Kanitz. JB Scalco, Elaine Borges, Mário Meda-glia, Jorge Escosteguy, Nei Duclós, Virson Olderbaun, por exem-plo, poderiam, como de fato alguns fizeram, trabalhar em qual-quer lugar do mundo. Não era um fato isolado, porque as reda-ções dos principais veículos, no Rio e em São Paulo também esta-vam �cheias� de gaúchos talentosos.

Em março de 1972, com 19 anos, eu estava entre os jorna-listas catarinenses que compunham a redação, na nova etapa de �OEstado�. Naturalmente, os postos principais nas principais editori-as eram ocupados pelos �gaúchos�. Eles eram os jornalistas expe-rientes. Nós éramos os iniciantes. Ocupava uma vaga de redatorno Caderno 2, editado pelo Paulo da Costa Ramos.

O choque cultural e profissional era ao mesmo tempo as-sustador e estimulante. O Jorge Escosteguy (falecido em 1996),grande jornalista que depois tornou-se nacionalmente conhecido erespeitado, era uma esfinge arrogante aos olhos curiosos dos lo-cais. Ele desenhava e diagramava as páginas que editava, traduziaos telegramas das agências internacionais, trabalhava sem descan-so e sem levar a sério aquele bando de provincianos que circunda-va o grande centro do saber. Tinha vindo diretamente de PortoAlegre, sem ter passado pelo Santa.

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E eu, sem maiores responsabilidades do que dar texto final amatérias culturais, muitas delas traduzidas de revistas estrangei-ras, achava tudo muito divertido. E ainda me pagavam para partici-par daquela festa.

Mas o melhor estava por vir. Em outubro de 1972, de re-pente, literalmente de uma hora para a outra, os �gaúchos� foramembora. No meio da tarde, nós, os remanescentes e inexperien-tes catarinas, fomos chamados a assumir todas as funções do jor-nal que tinham ficado desguarnecidas. Tivemos que arrebentar acaixa preta a marretadas. Aprender a fazer tudo o que ainda nãotínhamos aprendido, para poder manter o jornal circulando.

Tomamo-nos de brios e ninguém mais falou em ir pra casa,jantar, descansar. Eu, pelo menos, fiquei dois dias inteiros no jornal.A primeira edição que fizemos chegou às bancas perto do meio-dia (não lembro se antes ou depois), mas chegou. A segunda, umpouco mais cedo. Provamos, para nós mesmos e para o mundo, queéramos capazes de baixar um jornal, mesmo sem os �gaúchos�.

A gota d�água que provocou a saída daquela turma, vista aesta distância, parece mesmo apenas uma gota (uma discussãomenor sobre funções e atribuições). Mas a conjuntura na qual oincidente ocorreu era mais ampla. Havia um conflito latente sobrecomo conduzir o jornal �O Estado�: de um lado, os jornalistas quetinham sido criados num ambiente empresarial mais profissional(Porto Alegre, àquela altura, tinha cinco ou seis jornais, alguns degrande qualidade jornalística) e do outro os dirigentes do jornal,responsáveis pela implantação de uma mudança que, embora radi-cal, tinha menos de um ano de vida. Parecia que o ritmo dos locaisque estavam se esforçando para modernizar a imprensa provinci-ana e de quem tinha vindo de fora com o mesmo objetivo nãoestava sintonizado, favorecendo os atritos.

Muitos dos jornalistas que vieram de outros estados naquelaépoca, acabaram ficando na cidade até hoje. E os principais jorna-

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listas locais, também naquela época, foram, por maior ou menortempo, correspondentes de publicações de outros estados: Sér-gio da Costa Ramos (�Veja�), Marcílio Medeiros Filho (�Jornal doBrasil�), Antônio Kowalsky (�O Globo�), Raul Caldas Filho (�Man-chete�), Vânio Bossle (�Folha de S. Paulo�), José Carlos Soares, oZico (�O Estado de S. Paulo�) e Silva Jr. (�Correio do Povo�).

A década de 70 é um marco importante na imprensa floria-nopolitana. E um marco fundamental para o jornalismo catarinen-se. Essa injeção de profissionalismo nas práticas semi-amadoras dojornalismo ilhéu foi, a meu ver, o principal fato jornalístico destes50 anos. Agitou o ambiente, provocou discussões, estimulou oaperfeiçoamento. A cidade não foi mais a mesma, todos fomos, deuma ou outra forma, influenciados.

Depois da �debandada� dos �gaúchos�, o jornal �O Estado�começou a recompor sua equipe tomando mais cuidado para nãoficar tão dependente de grupos de profissionais. Trouxeram uns deSão Paulo, outros do Paraná e mais alguns foram recrutados emFlorianópolis mesmo.

Com uma sucursal grande e ativa na capital, o �Jornal de San-ta Catarina� continuava, ao longo da década de 70, como o con-corrente mais importante de �O Estado�. O surgimento dos jornaisdo grupo Diários Associados, movimentou o mercado, mas não che-gou a ameaçar de fato os líderes. Em 1977, com redação em Florianó-polis, foram lançados três jornais: o �Diário de Notícias�, que circula-va na Grande Florianópolis, �A Nação�, em Blumenau e o �Jornal deJoinville�. Nos três, o miolo era igual, mudando apenas a capa, parainserção das matérias dos correspondentes de cada um dos locais.

Também nesse ano, houve uma tentativa de reativação dojornal �A Gazeta�. Reforçou a redação, melhorou a cobertura, mascontinuava a ser impresso tipograficamente. Sem dispor da quali-dade do off-set, as fotos e ilustrações perdiam em qualidade. Aexperiência durou pouco tempo.

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A partir desse impulso inicial e talvez estimulados pelo ambi-ente de renovação, Florianópolis viu surgir muitos veículos, commaior ou menor sucesso e variado tempo de vida. Entre eles, porexemplo, o �Jornal da Semana�, �Afinal�, �A Ponte� e o �Vento Sul�.

Outro jornal que teve uma trajetória importante na cidadefoi o �Bom Dia, Domingo�. Tratava-se de um �Shopping News�,semanário de distribuição gratuita, com grande espaço para anún-cios. Lançado em fevereiro de 1975, foi uma idéia de Luiz Daux,empresário da construção civil, que teve a participação do irmão,George Daux, de Nestor Fedrizzi (o mesmo que criou o Santa) ede José Joaquim de Souza. Teve, entre seus editores, além do pró-prio Fedrizzi, Valdir Zwetsch, Luiz Lanzetta e Flávio de Sturdze.Durante boa parte da sua vida, teve uma circulação de cerca de 20mil exemplares. Não sobreviveu ao início da década de 80.

Passado o furacão (tsunami, tornado, ciclone... por favor, es-colham o chavão preferido para nomear as mudanças na primeirametade da década de 70), a cidade estava posta em sossego, deli-ciando-se com as novidades. Beto Stodieck dava às colunas sociaisuma nova roupagem, na trilha aberta por Zózimo Barroso do Ama-ral, no JB, tratando sem frescuras tanto de amenidades quanto defatos políticos, dando opinião e lançando sobre a província e seushábitos um olhar crítico, maroto e bem humorado.

Durante os primeiros anos da década, Zigelli, assim comoAyrton Kanitz, eram contrários à criação de um curso de Jornalis-mo em Florianópolis. Acreditavam que ainda não havia, na cidade,empresas jornalísticas em número e qualidade suficientes. Seria maisútil cursar Jornalismo em cidades como Porto Alegre ou São Pauloe depois voltar para exercer a profissão com uma visão mais aber-ta e atualizada. Em 1978, o grupo de trabalho liderado pelo jorna-lista Moacir Pereira chegou à conclusão contrária, elaborou o pro-jeto do curso em poucos meses, o MEC autorizou e no vestibularde 1979 foram colocadas à disposição as primeiras 40 vagas.

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O curso de Jornalismo da UFSC acabaria se destacando entreos demais cursos brasileiros. Suas inovações e contribuições ajudarama colocar Florianópolis no mapa do ensino do jornalismo no País.

A abertura da concorrência para o segundo canal de televi-são em VHF de Florianópolis agitou o empresariado local e dascidades e estados vizinhos, numa movimentação que provavelmen-te a maioria da população e mesmo dos jornalistas nem tenha per-cebido. Mas seu desenrolar definiu o perfil e o futuro da imprensanesta pequena ilha do sul do Brasil.

Estamos em plena ditadura (ainda que num processo �lentoe seguro� de distenção), o presidente é o general Ernesto Geisel eos governadores, indicados sem voto popular, têm grande partici-pação no processo, sempre político, de concessão de canais deTV. José Matusalém Comelli foi, portanto, ao governador AntônioCarlos Konder Reis informar que liderava um grupo que pretendiadisputar o canal. O governador, conta Comelli, disse que achava�muito justo que o jornal �O Estado� tenha um canal de TV, damesma forma que o �Jornal de Santa Catarina� tem a TV Coligadas�.

Maurício Sirotsky, dono da TV Gaúcha e do jornal �ZeroHora�, em Porto Alegre, também está interessado. Propõe socie-dade a Comelli e ao ex-governador Aderbal Ramos da Silva. A mi-nuta do contrato chega a ser redigida. Mas a pressão contra essaaliança com os �estrangeiros� cresce. Imaginavam os opositoresda sociedade, que numa disputa com um pretendente de outroestado, o governador tomaria partido dos locais. Comelli e Ader-bal recuam e Sirotsky decide entrar na disputa sem sócios.

Em 1977, a TV Catarinense é outorgada à RBS (Rede BrasilSul), de Sirotsky, com as bênçãos de Antônio Carlos Konder Reis.A televisão entra no ar em 1979, retransmitindo a programação daGlobo, que anteriormente era exclusividade da TV Coligadas. Ojornal �O Estado� continua sem um canal de TV, mas o principalconcorrente, o �Jornal de Santa Catarina�, também estava sem a

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sua TV, que fora vendida em 1975 para o grupo paranaense deMário Petrelli.

Essa disputa mexe profundamente com as empresas de co-municação de Florianópolis. As que perderam saíram desgastadase a ganhadora chega ao estado com o poderosíssimo trunfo que éa Rede Globo e seu quase monopólio de faturamento comercial.Assim como a chegada do off-set e das novas práticas profissionais foiimportante para os jornalistas e para o jornalismo, a disputa pelo se-gundo canal de TV em Florianópolis foi decisiva para as empresas.

Na noite de 12 de abril de 1980, um sábado, caiu um aviãoda Transbrasil no morro dos Ratones, próximo à sede do jornal �OEstado� e já era madrugada quando o local foi alcançado pela polí-cia e pela Aeronáutica. Às 8 horas da manhã de domingo, todos osjornalistas e funcionários de O Estado tinham voluntariamente che-gado à redação para trabalhar. Muitos chegaram ainda no sábado ànoite e vários, como os fotógrafos, passaram a madrugada no localdo acidente. O jornal fez três edições extras. Como reconhecimentoao fato de todos terem aparecido, foi publicado, em cada uma dasedições, um expediente especial com a nominata completa. �Tinha atéo nome do vigia, que escalou o morro para buscar os filmes e trazerpara revelar�, conta, emocionado, Osmar Schlindwein.

Muitos jornalistas, entre os quais me incluía, tinham o senti-mento que a profissionalização e a paixão pela profissão precisa-vam ser acompanhadas pelo Sindicato. Começou, então, uma lon-ga luta para colocar no Sindicato dos Jornalistas uma diretoria maissintonizada com os novos tempos. Para estimular a sindicalização(sem a qual não haveria votos), e fazer campanha, foi criado oMovimento de Oposição Sindical, que teve ampla adesão em todoo estado. O MOS atingiu seu objetivo com a posse, em 1987, dadiretoria presidida por Celso Vicenzi.

A RBS iniciou a década de 80 retomando as conversas comJosé Matusalém Comelli, desta vez para comprar ou associar-se ao

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jornal �O Estado�. Novamente, a decisão acabou sofrendo a influên-cia de muitos grupos de pressão. Em geral amigos, empresários, po-líticos, que viam na venda de �O Estado� uma espécie de rendição ao�inimigo�. Comelli conta isso com uma certa mágoa, talvez porquedepois não tenha visto, naqueles que pressionaram para que o negócionão fosse feito, grande empenho para ajudar o jornal a sobreviver.

Sem negócio com �O Estado�, a RBS decide lançar seu pró-prio jornal. Armando Burd, o jornalista escalado para fazer as pri-meiras sondagens e ajudar na formatação do projeto, chega à cida-de em 1984 e começa as conversas com jornalistas. Após doisanos de estudos, o �Diário Catarinense� é lançado em 1986. ARBS-TV, a cavaleiro da programação da Globo, lidera a audiência egarante o suporte financeiro para a empreitada.

O �Jornal de Santa Catarina�, em 1985, foi vendido para oempresário Nilton Reis, que resolveu reforçar sua circulação emFlorianópolis, ampliando a sucursal. Tirou, de �O Estado�, colunis-tas e jornalistas e levou, também, uma das personalidades maisversáteis do jornalismo da capital: Osmar Schlindwein.

Osmar começou cedo, naquele �O Estado� da rua Conse-lheiro Mafra, cujo gerente era Domingos de Aquino, não por acasoseu tio. Envolveu-se de tal maneira com a manufatura dos jornais,que não se pode delimitar exatamente o que o Osmar faz, fez oufazia. Lembro-me dele sujo de tinta, nas oficinas tipográficas de �OEstado�, em 1970. Mas também lembro dele colocando ordem nacomposição eletrônica do jornal, anos mais tarde. Já o vi dirigindoo comercial. Mas também fazia as vezes de gerente de recursoshumanos, apaziguando ânimos. E certamente muitos o viram pres-tando consultoria a seus próprios chefes. Não é repórter, massabe quando uma matéria está bem escrita e quando o repórter éapenas um enrolão.

Osmar lembra que estava no Santa quando o jornal bateu orecorde catarinense de tiragem, até hoje não superado: 102 mil

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exemplares da edição extra com a tabela da Sunab do plano Cruza-do, em 1986. A tabela não era exclusiva, a estatal EBN (EmpresaBrasileira de Notícias) distribuiu para todos os seus escritórios,em todos os estados. Bastava ir lá buscar e publicar. Só que ne-nhum outro jornal, em Santa Catarina, deu-se conta da importânciae do apelo popular desse material. Uma vez publicada a ediçãoextra, a população literalmente foi às ruas para comprar a lista.

Fui editor-chefe de �O Estado� de 1988 a 1989. Com a aju-da do Flávio de Sturdze, trouxe para o �mais antigo� vários jorna-listas que estavam se destacando no nascente �Diário Catarinen-se�, para reforçar a equipe. E, naturalmente, fiz questão que ojornal recontratasse o Osmar Schlindwein. Achei que poderíamosfazer uma boa dupla, para dar um susto na concorrência. Nessaépoca �O Estado� ainda circulava na maioria dos municípios e suavenda, tanto em bancas quanto de assinaturas (chegava, aos do-mingos, a cerca de 30 mil exemplares), o colocava como principalconcorrente do DC, que ainda não podia ser considerado �líder�.A equipe viveu, em �O Estado�, grande emoções: tanto lá quantocá havia gente capaz de produzir um bom jornal. E sempre quefazíamos alguma cobertura melhor que o concorrente, enchíamo-nos de justificado orgulho. Emocionados com o elementar e sau-dável efeito da disputa pelo leitor.

Ao completar 80 anos, em 1995, O Estado publicou umcaderno comemorativo com 76 páginas bem recheadas de anúnci-os, ainda em formato standard. Uma demonstração de vitalidadeque parece difícil de se repetir. Acuado pela crise, o jornal hoje sócircula na Grande Florianópolis, mudou para o formato tablóide eraramente tem edições com mais de 16 páginas.

O interesse por economia e negócios cresce no país todo eem Florianópolis surgem duas revistas especializadas, a �Expres-são� (1990) e a �Empreendedor� (1993), que existem até hoje ecirculam também em outros estados. Em 1995, o grupo que pu-

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blica o �Indústria & Comércio� em Curitiba, lançou aqui um jornalcom o mesmo nome. Montou uma redação local para editar algu-mas páginas e utilizava material do jornal paranaense para fechar asdemais páginas. A impressão era em Curitiba. Inicialmente pareciapromissor, porque montou uma equipe de grande qualidade (comjornalistas como Flávio de Sturdze e Belmiro Southier, por exem-plo). Mas não chegou a completar quatro anos.

Assim como a sucursal do �Jornal de Santa Catarina� tevepapel importante no jornalismo da capital, o crescimento do jornal�A Notícia�, de Joinville, impresso em off-set a partir de 1980,levou-o a instalar-se em Florianópolis, com uma sucursal que tam-bém passou a fazer parte do mercado profissional, como um dosprojetos mais estáveis e bem sucedidos. Além de fornecer materi-al para o jornal principal, editado em Joinville, a sucursal editaum caderno, o �ANCapital�, que circula com o reparte da Gran-de Florianópolis.

Toda essa movimentação profissional e empresarial, que trou-xe tantas mudanças e afetou de tantas maneiras o jornalismo dacapital, não se refletiu na melhoria do padrão salarial. As empresasjustificam os baixos salários com a crise, ora local, ora estadual,ora nacional, ora mundial. Na verdade, não houve crescimento donúmero de leitores e a verba publicitária gerada pela economia daCapital não parece suficiente para manter os veículos. E os salári-os, como conseqüência, não são suficientes nem para remunerarum trabalho com tal responsabilidade e nem para dar aos jornalis-tas uma vida digna.

Para agravar a situação, nos últimos anos surgiram, em mui-tos bairros, semanários que institucionalizam a picaretagem: as �re-portagens� só são publicadas se os interessados pagarem. Isso levao leitor a desacreditar dos jornais e a desconfiar que seja assim emtodo lugar. E, o que é pior, a achar que isso é jornalismo.

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AgradecimentosEm dezembro de 2004 e janeiro de 2005, conversei com

alguns dos participantes dessa história, que me ajudaram a confir-mar muitos detalhes e informações. A eles o meu agradecimento(e desculpas, por condensar num capítulo tantos casos e lembran-ças, que valeriam um livro inteiro): Ayrton Kanitz, Elaine Borges,Flávio de Sturdze, José Matusalém Comelli, Marcílio Medeiros Fi-lho, Mário Medaglia e Osmar Schlindwein.

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Expansões eTransformações

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Jornalista ou assessor? É comum muita confusão entre umadefinição e outra. Ou ainda, se assessor de imprensa é jornalista ounão. E o pior, a discussão se dá mais entre os próprios jornalistas,já que clientes, fontes, leitores, telespectadores e ouvintes não pa-recem ter dúvidas neste sentido. Mas afinal, jornalista ou assessor?

Nem todo jornalista é assessor, mas todo o assessor de im-prensa é jornalista � ou pelo menos deveria ser. Claro que existemuito assessor que não é jornalista. São aqueles que se aproveitamda falta de regulamentação e fiscalização da atividade profissionaldos jornalistas, que até hoje brigam para fazer valer a obrigatorie-dade do diploma universitário para exercer a profissão.

A assessoria de imprensa, como o nome mesmo diz, é fun-ção de jornalista e hoje um importante campo no mercado de tra-balho para a categoria. O cargo de assessor é uma das atividadesdo Jornalismo, assim como a reportagem, a edição e a pauta, paraficar nas mais tradicionais. Atualmente, os profissionais saem das re-dações para trabalhar em assessorias e vice-versa, por que na essênciasão jornalistas e não vão perder esta condição por estarem desempe-nhando este ou aquele papel. Os assessores e jornalistas de redaçõestrabalham com a mesma matéria-prima � a informação.

Há diferenças, é claro, na execução de algumas tarefas, masna essência as atividades estão muito próximas. Numa assessoriade imprensa também se faz pautas, reportagens, edição de infor-mativos, programas de rádio e televisão, entre outras ações, todaspróprias do Jornalismo. O experiente e respeitado jornalista, as-sessor e escritor Francisco Viana destaca inclusive que as assesso-

Assessoria de imprensa: mercado em expansãoRoger Bittencourt

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rias devem caminhar para um modelo de redação de jornal. �Jor-nalista é aquele que pensa a pauta, escreve o texto, e edita. Enten-de de todas as pontas do processo. Na assessoria, não é diferen-te�, afirma Viana.

A jornalista Eliane Ulhôa, no livro �O Papel do Assessor�,ressalta a função desses profissionais na �nem sempre fácil tarefade contribuir para o aperfeiçoamento da comunicação entre a ins-tituição, seus funcionários e a opinião pública e fornecer aos veícu-los de comunicação e, conseqüentemente, à sociedade, informa-ções de interesse coletivo, norteando o seu trabalho de formaética e consciente�.

A atividade de assessor vem a cada dia se profissionalizando,ganhando espaço e reconhecimento nas redações, nos sindicatosde jornalistas e junto à Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas),assim como nas universidades. A disciplina de Jornalismo Empre-sarial, ou Jornalismo Empreendedor, ou seja lá como for chamada,nada mais é que o reconhecimento da importância da atividade �até como perspectiva de absorção dos centenas de jornalistas quese formam em todo país anualmente.

Por que a dúvida então entre jornalista ou assessor? Porquealguns míopes ainda tentam contrapor as duas atividades, como senão pudessem conviver em perfeita harmonia, com a compreen-são de que o papel do assessor � como o nome mesmo define � éassessorar na divulgação de notícias, auxiliando inclusive o trabalhoda imprensa, que vai aproveitar ou não estas informações. O mes-tre em Comunicação João José Forni considera que o relaciona-mento do assessor com o jornalista de redação passou a ser umjogo pautado pelo respeito ao trabalho de cada um, onde deveprevalecer o profissionalismo e o interesse público.

No livro �De Cara com a Mídia�, Francisco Viana define bemessa relação: �Nunca consegui ver empresários e imprensa emcampos opostos. Assim como não posso aceitar o princípio de

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que o assessor e o jornalista que trabalha na mídia são adversários,em lados antagônicos. Pelo contrário, empresários e imprensa,assessores e jornalistas ocupam sim espaços diferentes e desempe-nham funções diferentes na sociedade. Contudo estão unidos noobjetivo maior de construir o desenvolvimento e promover justi-ça social. Estão unidos em busca da transparência e da racionalidade�.

É claro que, como em toda atividade, há bons e maus asses-sores, ou melhor, bons e maus jornalistas.

Um pouco de históriaAtualmente, é cada vez menos expressiva a restrição à as-

sessoria de imprensa, uma atividade, se é que se poderia chamarassim na época, que remonta a um passado bastante distante eonde não havia controvérsias. O professor e jornalista BoanergesLopes, autor do livro �O que é Assessoria de Imprensa�, revelaque vem das cartas circulares que apresentavam decisões e reali-zações da Dinastia Han, na China (202 a.C), o conceito básico deassessoria de imprensa: a necessidade de divulgar opiniões e reali-zações de um indivíduo ou grupo de pessoas. Esta definição seriaampliada muito tempo depois, no século XV, com a invenção, porGutenberg, da prensa de tipos móveis e ainda mais com a chegadada rotativa em 1811 e do linotipo em 1885.

No século XIX, surgem nos Estados Unidos e na Grã-Breta-nha as primeiras publicações empresariais para reduzir o descon-tentamento interno em diversas organizações, já que os emprega-dos não tinham acesso à grande imprensa da época. GaudêncioTorquato do Rêgo, professor e jornalista, credita ao Lloyd´s List,editado pela primeira vez em 1696, na Inglaterra, o título de pri-meiro exemplar do chamado jornalismo empresarial. Já a precur-sora na área de assessoria de imprensa, segundo Boanerges Lo-pes, data de 1829, nos Estados Unidos, organizada por Amos Ken-dall para o Governo de Andrew Jackson. Com um setor de im-

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prensa e relações públicas bem organizado, a assessoria pioneirapublica o �The Globe�, apontado por muitos estudiosos do assun-to como o primeiro house-organ. Em 1868, surgem nos EstadosUnidos, pela primeira, vez as expressões agente de imprensa (pressagent) e divulgador (publicity agent).

A excelente pesquisa do professor Boanerges Lopes revelaque no Brasil a Light foi a precursora do conceito de preservaçãoe divulgação positiva da imagem da empresa, seguida pelo Ministé-rio da Agricultura. Mas foi o presidente Getúlio Vargas que criouoficialmente um serviço de atendimento à imprensa durante o EstadoNovo � o temido DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda).

Criado para divulgar obras e atos do presidente, o DIP aca-bou se transformando em um órgão de promoção pessoal de Var-gas e de censura. Com o advento do Regime Militar em 1964, osjornalistas passaram a ser inimigos do sistema e a imagem negativadas assessorias de imprensa aumentou. Até porque, na maioria dasvezes, tinham exatamente o papel oposto ao que se propunham naessência � cabia a elas esconder a verdade. Essa deformação talvezseja a responsável até hoje pela postura equivocada de alguns jor-nalistas em relação às assessorias de imprensa, que a partir da dé-cada de 70 tiveram rápida expansão, ainda com a missão clara docontrole da informação para o público, conforme revela o profes-sor de Jornalismo Manoel Carlos Chaparro. Na opinião de ClovisRossi, jornalista da �Folha de S. Paulo�, �foi um dos piores momen-tos do setor�, pois o assessor passou a ser, em muitos casos, cúm-plice do regime e inimigos da informação para a imprensa.

É nos anos 80 que o setor de assessoria de imprensa seconsolida, retoma seu conceito original e passa a ocupar importan-te espaço tanto na absorção de mão-de-obra como nos processosjornalísticos. Segundo o professor Chaparro, �as assessorias estãoinseridas em todas as fontes detentoras de informações, opiniõese explicações que interessam à sociedade� e à imprensa. Essa re-

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tomada dos valores iniciais é acompanhada também do reconheci-mento hoje existente, inclusive em muitos veículos de comunica-ção, da importância do papel da assessoria de imprensa seja paraajudar a obter informações ou acelerar esta busca. Veículos seg-mentados da grande imprensa (em especial nas áreas de Economiae Esportes), a mídia especializada (dos mais diversos setores) e umaquantidade cada vez maior de jornalistas inteligentes já perceberamque o assessor pode e deve auxiliar muito na busca de informações.

Boanerges lembra que a importância do setor se consolidanos anos 90 com as faculdades de Comunicação criando disciplinasespecíficas tanto na graduação como em cursos de especialização,para retratar o universo das assessorias de imprensa. Também nestaépoca surgem os primeiros manuais de assessoria de imprensa e avalorização do setor pelas entidades de classe dos jornalistas, como fortalecimento das comissões de assessoria de imprensa em di-versos sindicatos. Na mesma linha, em 1995, a Fenaj cria o Depar-tamento de Mobilização em Assessoria de Imprensa.

Grandes empresas, entidades, órgãos governamentais des-cobriram o valor da atividade das assessorias de imprensa, quehoje utilizam cada vez mais profissionais qualificados e novas tec-nologias, o que igualmente contribui para o boom deste mercado.

Mercado em expansãoEste crescimento é inegável nos últimos anos, inclusive em

Santa Catarina, com a proliferação dos serviços em todas as regi-ões e não apenas na Capital e em Joinville. O impulso se deu tantopela importância da atividade e sua compreensão pelo mercado dacomunicação, como por ser mais uma alternativa de trabalho paracentenas de jornalistas que saem das universidades todos os anos.

O crescimento do mercado também é registrado em núme-ros. Apesar do setor ainda não ser suficientemente organizado parase ter uma estatística nacional completa, na última pesquisa da Abra-

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com � Associação Brasileira das Agências de Comunicação �, rea-lizada em 2003, com 185 empresas de assessoria, 41% revelaramque o número de clientes aumentou e para 37% este índice per-maneceu estável, contra apenas 22% das empresas onde houveredução de trabalho.

Para 74% das assessorias, o mercado é considerado regular(36%), bom (29%) ou muito bom (9%). E as perspectivas sãoanimadoras: 32% dos entrevistados apostam que o mercado vaipermanecer regular e 64% acreditam que vai melhorar, apesardos valores pagos ainda serem considerados baixos � o investi-mento máximo das empresas em assessoria é de R$ 3 mil em 46%dos contratos.

Ainda segundo o mesmo levantamento, 66% das assessoriascontam com até dez clientes e 25% chegam até 20 clientes. Ossetores de serviços (62%), saúde (46%), tecnologia (40%), co-mércio varejista (37%), educação (37%), indústria (37%) e ter-ceiro setor (33%) são alguns dos mais atendidos pelas assessoriasde imprensa. E esta pequena amostragem revela que praticamentetodos os setores hoje já utilizam o serviço de assessoria de im-prensa, que deixou de ser prerrogativa das grandes corporaçõespara beneficiar os processos de comunicação de médias e até pe-quenas empresas, ampliando o leque de atuação.

Também é inquestionável a profissionalização do segmento,que hoje conta com muitos especialistas e busca cada vez mais seadequar aos anseios dos clientes e às necessidades das redações,sempre enxutas e correndo contra o relógio. O papel desempe-nhado pelas assessorias para profissionalizar o setor foi e está sen-do fundamental para quebrar resistências e valorizar as empresasdeste segmento, assim como as transformações no País e no mun-do, privilegiando a transparência e precisão nas informações.

Nas universidades, sindicatos e já em muitas redações, a fun-ção do assessor de imprensa tem sido mais estimulada e respeita-

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da. Recente pesquisa da Universidade de São Paulo junto à mídiamostrou que mais de 80% das notícias publicadas em jornais tive-ram origem em estímulo externo, ou seja, não partiram de dentrodas redações (pautas próprias). Não se tem o dado, mas comcerteza boa parte destas informações foram geradas por assesso-rias. E a tendência é aumentar.

O poder da redaçãoE qual o papel das redações neste caso específico? Filtrar as

informações que chegam e transformá-las em notícias de interessepara o público, quando entender que há valor no material recebidoda assessoria. Em alguns casos, o que se vê é um processo desvir-tuado. Apesar de toda evolução e reconhecimento do setor deassessoria de imprensa, certos jornalistas, ao invés de saberemaproveitar o material que recebem, ou simplesmente descartá-loquando inútil, ainda preferem condenar e até boicotar o trabalhodas assessorias de imprensa. São casos cada vez menores, masque ainda existem até porque esses profissionais não têm a per-cepção do poder da redação. São os profissionais do jornal, revis-ta, rádio, portal ou televisão que vão decidir se vão e quando apro-veitar as sugestões enviadas pelas assessorias. Na verdade, quemmanda é a redação.

Estes poucos, que ainda mantêm uma visão ultrapassada so-bre o papel da assessoria de imprensa, ao contrário de perdertempo combatendo a atividade, hoje reconhecida nacionalmente,deveriam se preocupar em qualificar mais suas equipes para usa-rem corretamente o que estas empresas oferecem de melhor edescartar o que não é Jornalismo. Agindo assim, estarão inclusivecontribuindo para qualificar ainda mais as assessorias e adquirindofontes confiáveis para busca de informações.

Já para a assessoria, é importante manter um excelente epermanente diálogo com as redações e seus jornalistas. Nos Esta-

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dos Unidos, onde o press agent é muito respeitado pelos colegasque atuam em veículos, é comum assessores fazerem estágios nasredações para adquirir experiência e compreender na prática ofuncionamento dos veículos.

O desafio da assessoriaÉ exatamente quando uma empresa ou interlocutor trans-

forma-se em fonte fidedigna para o jornalista e consegue igualmen-te divulgar o serviço ou produto por ela desenvolvido com focopositivo que podemos considerar que a assessoria de imprensacumpriu o seu papel na plenitude. �Transformar em ponto de refe-rência dos jornalistas, não por favores, mas pelo trabalho pró-ati-vo e dinâmico, rapidez, eficiência e credibilidade é um resultadoque poucos conseguem�, lembra João José Forni. Cabe à assesso-ria buscar esta visibilidade positiva do cliente seguindo as regrasdo Jornalismo e os princípios éticos que norteiam a profissão.

A assessoria trabalha de forma a equilibrar dois interessesdistintos. De um lado, buscar divulgação para o cliente, transfor-mando informações da empresa em notícias potenciais, e de ou-tro, oferecer aos veículos de comunicação conteúdo adequado deinteresse para a sociedade. Daí a importância da assessoria estarpermanentemente sintonizada com as redações para ter a percep-ção de quais as pautas podem despertar mais interesse. Uma boaassessoria de imprensa saberá oferecer de maneira oportuna amatéria-prima (notícia do cliente) para os veículos de comunicação.

Na opinião do jornalista Augusto Nunes, o assessor de im-prensa tem que fazer fluir a informação. É ele quem organiza otrânsito das informações em áreas em que os repórteres não con-seguiriam entrar. Forni é outro que aponta como papel do asses-sor contribuir com o repórter na apuração da matéria e buscardar uma característica de serviço ao leitor/telespectador naquiloque é divulgado. Para o professor Manuel Carlos Chaparro, há uma

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relação cada vez mais profissionalizada entre jornalista e fontes jus-tamente porque a capacidade das assessorias de produzir conteú-dos rompeu com os limites do jornal.

O trabalho da assessoria de imprensa é de manter seu clien-te no lado positivo da notícia. É provocar situações que rendam àdeterminada marca uma imagem associada à competência, produ-tividade, iniciativa e proximidade com a comunidade onde atua.Isto explica porque as maiores organizações de todo o mundoaliam o trabalho de publicidade ao de assessoria de imprensa quan-do precisam estar em intensa evidência positiva junto à comunida-de ou ao seu público consumidor.

É o valor da notícia que determina o espaço ocupado jorna-listicamente. Quanto mais interessante ou importante for a infor-mação que uma empresa tem a divulgar, mais chances terá a asses-soria de imprensa de conseguir uma boa colocação na mídia. Comjornalistas conquista-se a simpatia pela tese � é o convencimentodemocrático, profetiza Francisco Viana.

Com a profissionalização do setor, este trabalho de �cons-trução de uma boa pauta jornalística� e de �convencimento� dasredações que a notícia tem importância deve ser feito exclusiva-mente por uma assessoria de imprensa. Quanto mais experiência aassessoria tiver em realizar este tipo de trabalho, quanto mais fee-ling jornalístico seus profissionais forem capazes de possuir e quantomaior credibilidade a assessoria de imprensa conquistar junto àsredações e suas equipes, maiores serão as chances de sucesso napublicação de uma matéria.

Do �Manual de Comunicação da Unimed� vem uma analogiainteressante neste sentido: da mesma maneira que só o médicopode diagnosticar e receitar quando o assunto é saúde, só o comu-nicador (assessor) está habilitado a diagnosticar e prescrever açõesde comunicação.

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Apostando a verdadeCom a modernização e a facilidade tecnológica para a comu-

nicação, hoje, as assessorias de imprensa precisam atuar com aagilidade necessária para dar resposta às demandas, tanto do clien-te quanto dos veículos de comunicação. Essa rapidez deve ocor-rer no momento de divulgação de um novo serviço/projeto, comotambém na hora de esclarecer alguma informação equivocadamentepublicada. A veracidade no relacionamento com as informações ecom a imprensa é outra características indispensável para uma as-sessoria obter sucesso e manter a credibilidade, qualidade funda-mental no relacionamento com os veículos de comunicação.

Mesmo tendo que atender os interesse dos clientes, as as-sessorias de imprensa devem se pautar pela verdade sob pena deprejudicar o nome do cliente e, principalmente, da própria asses-soria. O especialista em assessoria João José Forni destaca no livro�O Papel do Assessor� que o leitor quer informação correta e ojornalista não pode enganá-lo: �Se esse jornalista se sentir usado,não levará a assessoria a sério, buscando a informação em outrasvertentes�.

O �Manual Nacional de Assessoria�, elaborado pela Fenaj émais enfático: �A mentira é condenável em qualquer circunstância.A verdade, ainda que referente a um fato desagradável ou inconve-niente, pode ser mais bem compreendida do que qualquer menti-ra e nunca fecha as portas para futuros entendimentos�. Idéia com-partilhada por Augusto Nunes, para quem o pecado mortal de umafonte é mentir � �Nesses casos não há absolvição: acaba-se a fonte�.

O trabalho de assessoria de imprensa também exige conti-nuidade, fidelidade e presença constante para alcançar bons resul-tados. Para isso, os assessores devem estar permanentemente emcontato com o cliente não apenas atendendo às solicitações daempresa, mas também propondo fatos geradores de notícias e des-cobrindo assuntos internos que gerem exposição positiva na mídia.

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Entender a imprensa é pré-requisito fundamental, afirma JoãoJosé Forni. Em artigo escrito em conjunto com o professor e jor-nalista Armando Medeiros Faria, ele ressalta: �Essa capacidade só-lida � teórica e prática � a respeito do papel, natureza e caracterís-ticas da mídia permite às assessorias de imprensa encontrarem umcaminho adequado no relacionamento. Evita que a assessoria sejapreconceituosa em relação à imprensa ou maniqueísta (sentir-sesempre vítima de perseguições da mídia)�.

Apesar de todos os avanços no segmento de assessoria, ain-da existe uma ausência de uma cultura de comunicação com a im-prensa em muitas empresas. Não são raros os casos de fontesquerendo ser editadas da maneira como desejam, de centralizaçãoda informação e até de incompreensão do papel da imprensa. Ele-mentos como estes prejudicam o processo, ressalta Forni, assimcomo o desconhecimento sobre o funcionamento do processojornalístico e até do que é notícia realmente. Daí caber também àassessoria exercer um trabalho pedagógico com seus clientes.

Com tantos vetores influenciando no trabalho e ainda levan-do-se em consideração que no fundo, trata-se de um caso perma-nente de relação interpessoal (assessor x jornalista de redação),qual o modelo de atuação? Para Francisco Viana, hoje, não é possí-vel definir um modelo de trabalho para assessorias de imprensa. Ea saída apontada por ele parece simples. �É preciso ser flexível ecriativo�. As peculiaridades dos clientes e dos veículos de comuni-cação é que vão definir o mecanismo de operação, portanto umaregra pode ser estabelecida: é fundamental conhecer bem o clien-te e os veículos de comunicação. Manuais de assessoria ensinamque a transparência, a presença imediata, o claro entendimento deque área comercial do veículo é uma coisa e redação é outra, aconsistência das informações e a atenção aos compromissos dosjornalistas são elementos que contribuem muito para o sucesso.

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Sintonia com a publicidadeNum mercado onde o que importa, cada vez mais, é a per-

cepção dos produtos, serviços e da marca, a sistematização dacomunicação para consolidar a imagem de uma empresa ou insti-tuição é uma meta a ser alcançada e a assessoria, uma das ferra-mentas.

Aliada ao marketing e à publicidade, a assessoria de impren-sa passou a ser um instrumento fundamental para o bom desem-penho da estratégia de comunicação de uma empresa ou institui-ção. Atuando de forma integrada e seguindo a mesma linguagem,as três áreas contribuem de maneira inequívoca para a solidificaçãode uma marca, produto, serviço ou conceito. Vale ressaltar, noentanto, que a compra legítima de espaço publicitário não implicana reserva automática de espaço editorial no jornal ou televisão. Oque até é uma ofensa aos jornalistas. Assessoria integrada com apublicidade, sim, mas jamais vinculada.

Positiva no atual mercado nacional de comunicação e SantaCatarina não foge à regra, é a percepção cada vez maior das agên-cias de publicidade de que o trabalho de uma assessoria de im-prensa dentro de uma empresa contribui em muito para reforçar,com credibilidade, a mensagem passada através dos anúncios.

Com base nessa premissa, é cada vez mais comum que asagências incluam em seu planejamento estratégico a utilização dosserviços de assessoria de imprensa, o que até pouco tempo nãoocorria. Ou pior, a própria agência se aventurava à tarefa, na maio-ria das vezes sem profissionais especializados ou em quantidadeinsuficiente para atender às necessidades dos clientes com resulta-dos pelo menos satisfatórios, prejudicando inclusive o nome as-sessoria de imprensa. Conceito também abalado por todos aque-les que se metem a exercer as funções de assessor de imprensa, eassim se intitularem, sem serem efetivamente jornalistas e sem amínima formação para a função.

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�Comunicação é essencial na vida das empresas. Trata-se deum investimento prioritário e estratégico�, destacou FranciscoViana em recente entrevista ao site Comunique-se. �Ignorar oumenosprezar o papel da assessoria seria colocar fora importanteinstrumento de conquistas de espaço na imprensa�, completa ojornalista e mestre em Comunicação João José Forni. Ele compar-tilha a tese de que a concepção negativa do passado já não existemais e hoje a ferramenta é indispensável.

Atuação diversificadaO mercado de assessoria de imprensa não apenas cresceu

como buscou novas vertentes. De assessoria de imprensa, as em-presas do setor passaram a assessorias de comunicação, o queFrancisco Viana define como �a mesma coisa dita de forma dife-rente�.

A nova denominação vem acompanhada de uma série de ser-viços oferecidos. Além da atividade original de divulgação na im-prensa e relacionamento com os jornalistas, hoje, as assessoriasvêm desenvolvendo outras atividades complementares para aten-der a demanda dos clientes na área de comunicação. Essas atribui-ções incluem desde a criação e execução de projetos de jornais,revistas, boletins, newsletter on line e murais informativos, até odesenvolvimento de roteiros e produção de vídeos institucionais epeças eletrônicas jornalísticas para veiculação no rádio e na televisão.

Outra novidade é o que se convencionou chamar de releaseeletrônico. Nada mais é que a produção de vídeo com imagens eentrevistas realizadas em palestras, seminários, eventos, com arespectiva edição e envio de texto com as informações para utili-zação pelas emissoras de televisão que não tiveram oportunidadede realizar a cobertura.

O surgimento da internet abriu novos caminhos para as as-sessorias, tanto para ampliar o leque de divulgação, como para

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oferecer o trabalho de elaboração de conteúdo para sites e por-tais, bem como a manutenção de notícias online na página da em-presa e de envio automático de matérias para jornalistas cadastrados.

Algumas empresas do segmento se especializaram na admi-nistração de assuntos que tornaram-se crises na imprensa, a partirde um fato inesperado ou mesmo já previsto. As assessorias assu-miram o papel de monitorar as notícias veiculadas pela imprensa,coordenar o trabalho de atendimento aos veículos e elaborar es-tratégias para garantir que as versões do cliente também mereçamatenção.

A comum tarefa dos jornalistas de escrever ganhou relevân-cia na elaboração de discursos, palestras, artigos, prefácios, apre-sentações, editoriais e até na revisão de conteúdos. A proliferaçãodos meios eletrônicos, em especial da televisão fechada, abriu maisoportunidades de divulgação e igualmente exigiu uma maior prepa-ração dos entrevistados e uma adaptação não apenas do conteúdo,mas também ao formato. As assessorias desenvolveram então umnovo produto, muito em evidência atualmente � o media training.É o treinamento das fontes para se relacionarem com os jornalistase de como se posicionarem em entrevistas de rádios e televisãopara que a mensagem seja melhor captada pelo público.

Enfim, até por uma questão de sobrevivência pelo surgimen-to de muitas assessorias, é preciso diversificar. É importante termétodos claros, planejamento, organização e muita produção, comeficiente sistema de aferição de resultados, que não se materializano simples cálculo de quantos centímetros por coluna ou minutosde exposição o cliente mereceu e quanto isso representa em ter-mos financeiros. Afinal, comprar espaços nos veículos de comuni-cação não é atividade de jornalistas e sim das agências de publicida-de. A análise dos resultados vai além dos números e atinge elemen-tos subjetivos, relacionados à credibilidade, posicionamento e va-lorização da marca.

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A profissionalização da gestão é também outra necessidadehoje para as assessorias de imprensa. Tarefa difícil aos jornalistas,que, em geral, não tiveram formação adequada ou não gostam dese dedicar aos processos administrativos. No entanto, esta é umanecessidade para a sobrevivência da assessoria.

Setor públicoO papel e as características da assessoria de imprensa, aqui

abordados, servem igualmente para o setor público. É claro queexistem algumas peculiaridades, no entanto, na essência a função éa mesma. A profissionalização das assessorias de imprensa não deveser prerrogativa de clientes da iniciativa privada.

Órgãos públicos, em geral com estruturas internas, hoje têmsistemas de assessoria muito eficientes e bem montados. Não éum mercado alvissareiro para as empresas de assessoria de im-prensa, já que normalmente os profissionais são concursados ouindicados, mas jornalistas que desejam atuar neste setor vão en-contrar um bom filão, já que as oportunidades são muitas. Em San-ta Catarina, os três poderes têm grandes e eficientes estruturas. Aassessoria da Assembléia Legislativa até um canal de televisão man-tém no ar e a Secretaria de Comunicação do Governo do Estadopossui um eficiente sistema de comunicação por rádio que oferecede maneira ágil e fácil informações para todas as emissoras do Es-tado. Para ficar em alguns exemplos. Prefeituras de grande e mé-dio porte também possuem suas assessorias bem instaladas e atéo Judiciário investe no melhor relacionamento com a imprensa atra-vés de estruturação de assessorias profissionais.

A ética que rege a assessoria de imprensa do órgão públicoé a mesma que serve para a iniciativa privada, ou deveria ser, e asprerrogativas são as mesmas. No entanto, ainda há dificuldades nosetor público, onde as tentativas de dominar a mídia, vincular aação editorial ao processo publicitário ou personalizar as ações

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são grandes. Esta talvez seja a maior diferença entre o assessor deimprensa de uma empresa privada e de um órgão público, ondeefetivamente é mais difícil para o profissional não incorporar o pa-pel do assessorado.

Em função do oficialismo das notícias, cabe também ao as-sessor de órgão público ser ainda mais criativo nas suas estratégiasde comunicação e capaz no relacionamento com a imprensa, con-siderando a vantagem que, em muitos casos a própria imprensa vaiem busca das informações diariamente. Os momentos de crise,em geral, também são maiores nesta esfera e é preciso ao asses-sor conhecimento, paciência e senso de equilíbrio para lidar com oassunto, com a imprensa e com o assessorado.

Concluindo essa colcha de retalhos sobre o mister de asses-soria de imprensa, vale ressaltar que a atividade é, sim, função jor-nalística, hoje desenvolvida por profissionais com experiência ecompetência e que merecem o respeito das redações. E por sertrabalho para jornalistas, assim também deve ser encarado peloassessores no que tange à criatividade, à busca da informação, àveracidade e à ética. Utilizando palavras de Francisco Viana paraevidenciar o valor da atividade - �Comunicação é arte divina. Nãopodemos vulgarizar nosso trabalho�. Assessoria é igualmente umexcelente mercado para os novos profissionais, no entanto, é pre-ciso buscar o aprimoramento constante, inovar, modernizar pro-cessos jornalísticos, diversificar os serviços e gerenciar profissio-nalmente a empresa. Faz tempo que assessoria deixou de ser bicopara jornalistas.

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O Terceiro Setor existe para preencher lacunas de deman-das sociais que, numa sociedade ideal, seriam naturalmente atendi-das pelas instituições formais.

Neste capítulo, serão tratados alguns aspectos do trabalhodo jornalista neste tipo de organização. O enfoque dar-se-á, so-bretudo, àquelas instituições preocupadas com democracia e queatuam na contestação da hierarquia social, econômica e culturalpredominante, com destaque especial ao movimento sindical e àexperiência da autora no Sindicato dos Eletricitários de Florianó-polis e Região.

Existem no Brasil, atualmente, cerca de 250 mil ONGs (Or-ganizações Não Governamentais), segundo Luciano Junqueira, co-ordenador do Núcleo de Estudos Avançados do Terceiro Setor daPUC/SP. As ONGs formam um conjunto que é convenção se cha-mar de Terceiro Setor. Com número tão expressivo é de se espe-rar que tanto os interesses, como a forma de atuar, sejam muitodiversos. Parte destas entidades tem orientação filantrópica ou as-sistencial. Outras defendem interesses empresariais, comunitári-os, culturais, esportivos, sociais, de classe. A forma de organiza-ção também é muito variada. Podem se instituir como redes, insti-tutos, fundações, cooperativas, sindicatos. E sua importância eco-nômica no conjunto não é desprezível. Segundo Junqueira, o Ter-ceiro Setor no Brasil movimenta R$ 23 bilhões/ano e emprega apro-ximadamente 1,3 milhão de pessoas. Algumas destas são jornalis-tas que prestam assessoria de imprensa para estas instituições.

Comunicação no Terceiro SetorMarli Cristina Scomazzon

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A comunicação no Terceiro Setor atua em duas frentes. Aprimeira criando meios de diálogo dentro da organização � a co-municação interna, boa parte dela dedicada à formação dos inte-grantes da entidade e, em menor grau, à prestação de contas einformação dos rumos adotados pelo comando da instituição. Asegunda visa abrir canais externos de interação com a sociedade eo Estado. O objetivo aqui é dar visibilidade às ações da instituiçãoe expor suas propostas, inserir sua visão de mundo na mídia e,através de suas próprias publicações, interferir no debate público,formando opiniões. O processo de comunicação no Terceiro Se-tor inclui, além do jornalismo, as relações públicas e a propaganda.

Um trabalho exemplar em termos de comunicação em umaONG brasileira é o da Pastoral da Criança, cuja ação é organizadaem rede e aproveita boa parte da estrutura da igreja católica nopaís. O serviço de comunicação da Pastoral é extenso, vai desde ma-teriais educativos, vídeos, audiovisuais, folhetos, até a produção deum jornal bimestral, de 16 páginas com 230 mil exemplares, distribu-ído especialmente para os ativistas do movimento em todo país. Tam-bém tem um programa de rádio semanal de veiculação nacional.

Outro exemplo é o do Ibase (Instituto Brasileiro de AnálisesSociais e Econômicas), criado em 1981, que é uma instituição, se-gundo seu estatuto, que procura a construção da democracia, com-batendo desigualdades e estimulando a participação cidadã. Opúblico-alvo é o de movimentos sociais populares; escolas, estu-dantes e professores da rede pública de ensino fundamental e mé-dio; rádios comunitárias e experiências em comunicação alternati-va; formadores de opinião nos meios de comunicação de massa;parlamentares e assessores; gestores de políticas públicas. Edita,entre outros, a revista semanal �Democracia Viva� e um jornal bi-mestral � �Jornal da Cidadania�.

Ambas têm em comum, na orientação de suas políticas decomunicação, a idéia de que é necessário primeiro entender para

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depois propor. Estes veículos buscam, através da informação queveiculam, formar o leitor, sem cair na linguagem ativista e provocara participação, o engajamento na sua causa. Evitam cair num errofreqüente das publicações do Terceiro Setor que é dedicar seusconteúdos exclusivamente a discursos panfletários, propagandísti-cos que afastam os leitores (porque os que concordam com asposições defendidas já sabem o que será dito e, portanto, não vãodedicar seu tempo à leitura de algo que já conhecem; os que dis-cordam, na maioria das vezes, também não lêem � a não ser parapolemizar - porque não têm simpatia pela causa em questão).

Em Santa CatarinaNos últimos 20 anos, a imprensa no Terceiro Setor em Santa

Catarina evoluiu sensivelmente. Embora o aprimoramento não te-nha sido uniforme, existem hoje publicações que abandonaram ocaracterístico estilo amador presente em muitas das produçõescomunicativas deste segmento.

Isto se deve à profissionalização, à contratação de jornalistaspara ocuparem os departamentos de imprensa destas instituições.O avanço maior aconteceu no início da década de 90, sobretudono movimento sindical que viveu um crescimento no país, com ochamado novo sindicalismo. Assim, estas entidades passaram a seruma frente de trabalho para jornalistas. Para se ter um exemplo daefervescência no estado vale registrar, por exemplo, que em 1993,durante uma greve geral nacional de quatro dias, o movimentosindical catarinense produziu um jornal unificado, que abrangia aGrande Florianópolis, com tiragem diária de 60 mil exemplares.

Isto foi resultado da formação, em Florianópolis, em 1991,do Grupo Nois (Núcleo Organizado da Imprensa Sindical) que criou,inclusive, um projeto de jornal unificado, a ser vendido em bancas.Por vários fatores, o jornal nunca foi editado.

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Ainda em 1991, a Fundação Democracia e ComunicaçãoAdelmo Genro Filho passou a produzir boletins (eram quatro bo-letins mensais) através da agência Ipsis Litteris, formada por jorna-listas, lideranças sindicais e professores universitários com objeti-vo de difundir informações à margem da grande imprensa

Também no início da década de 90, os jornalistas GastãoCassel e Jacques Mick, assessores de imprensa dos sindicatos doseletricitários e bancários respectivamente, propuseram que a co-municação destas duas entidades fizesse uso da linguagem jornalís-tica (proposta a ser detalhada quando falarmos do caso do Sinergia).

Tivemos ainda exemplos de resistência, como o do progra-ma de rádio semanal do Mucap (Movimento Unificado Contra aPrivatização), que era realizado por um profissional, com entrevis-tas ou diálogos sobre temas atuais e veiculado todos os sábadospela rádio CBN. Em algumas ocasiões, o programa chegou a sercensurado pela emissora e saiu do ar.

É claro que há necessidade de muito mais, sobretudo noque diz respeito à profissionalização e possibilidade de financia-mento dos setores de comunicação do Terceiro Setor em SantaCatarina. Ainda predomina o amadorismo. Há pouca informação arespeito da importância da comunicação para as ONG�s e são re-correntes os gastos desmedidos com publicações inócuas, quesequer cumprem objetivos menores, como a autopromoção.

No geral, a atuação no Terceiro Setor pode ser classificadaainda como convencional. Mas, o trabalho está sendo feito. E exis-tem já bons exemplos a seguir como o da sobriedade do boletimdo Sintrafesc, do volume e periodicidade dos informativos da Apu-fsc, a agilidade da home page do Sintrajusc e, é claro, o peso eseriedade da home page do nosso próprio sindicato, o SJSC. Atual-mente, destaca-se também o trabalho do departamento de comu-nicação do Observatório Social.

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O exemplo do SinergiaA comunicação no Sindicato dos Eletricitários de Floranó-

polis começou, efetivamente, no final da década de 80. Em 1987,com a contratação de um jornalista, foi estruturado o departamen-to de imprensa. O primeiro boletim em arquivo data de fevereirode 87. Logo depois, em agosto do mesmo ano, surge o primeiroinformativo e, em março de 1988, o primeiro jornal, com o nome�Linha Viva�. Em julho de 1990, quando o jornal chegou a sua cen-tésima edição, ocorreu a mudança gráfica e passou a ter o formatoque mantém até hoje - que é de quatro páginas semanais com acontra-capa dedicada quase exclusivamente a temas culturais. Oprojeto gráfico foi de Maria José H. Coelho, que já atuava na �FolhaSindical�, do Sindicato dos Bancários de Florianópolis, uma espé-cie de co-irmã do �Linha Viva�.

O primeiro jornalista contratado pelo Sinergia, Gastão Cas-sel, no início da década de 90, junto com o jornalista Jacques Mick,na época trabalhando no Sindicato dos Bancários, definiram umprojeto denominado �Imprensa Cidadã�. As análises e propostasdo projeto foram muito importantes e são elas que orientam todotrabalho do setor de comunicação do Sinergia até hoje. O objetivoera não repetir, com os meios de comunicação sindical, o mesmocomportamento da grande imprensa. Ou seja, utilizá-los como uminstrumento de dominação, orientado para os interesses própriosda diretoria do sindicato. O objetivo deveria ser o de viabilizar acidadania.

Num documento datado de 1992, Cassel e Mick detalham aproposta: �Defendemos uma visão de imprensa sindical baseadana informação e orientada por um comportamento ético rigoroso,construindo uma imprensa que se coloque como alternativa espe-cialmente por sua seriedade e credibilidade�. E mais: �A imprensasindical tem o papel de disputar a hegemonia, justamente colocan-do a informação à disposição dos cidadãos para que estes possam

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se posicionar frente ao mundo que os rodeia. Em última análise, aimprensa sindical é, sobretudo, jornalismo�.

Como a perspectiva era a mesma da diretoria das duas enti-dades, o projeto não teve grandes problemas de implementação efoi ao longo do tempo formando uma nova mentalidade que pas-sou a entender que �a importância de um relato é mais forte queum discurso, que a objetividade pode ser mais revolucionária queuma análise�.

O jornal �Linha Viva�, junto com a home page (esta inaugura-da em 2003), é o produto de maior visibilidade do Sinergia. Suatiragem já foi de sete mil exemplares e hoje está nos quatro mil,devido à redução do quadro de pessoal das empresas. A publica-ção semanal tem função dupla: a de comunicação interna (com acategoria eletricitária de Santa Catarina e para alguns eletricitáriosdos outros dois estados do Sul) e de ligação com setores do públi-co externo, pois é enviado, por correio, para formadores de opi-nião. Ele ainda serve para diminuir a dispersão organizativa queexiste dentro das duas intersindicais: a Intercel, que representa ostrabalhadores da Celesc em todo estado de Santa Catarina; e aIntersul que reúne sindicatos de eletricitários atuantes no ONS, naEletrosul e Tractebel em quatro estados.

De acordo com as premissas da �Imprensa Cidadã�, o �Li-nha Viva� procurou sempre balancear as notícias corporativas comas de interesse geral. Porém, a escolha de temas gerais se dá peloseu conteúdo alternativo, ou seja, evitam-se temas ou enfoques dagrande imprensa, procurando-se dar para reflexão do leitor ele-mentos novos e que encontram pouco eco nas publicações tradi-cionais. O jornal procura realizar a cobertura jornalística de diver-sas áreas: economia, política, sociedade, comportamento, espor-te, cultura.

Portanto, o jornal �Linha Viva� � que já teve até ombudsman(tarefa executada durante alguns meses pelo jornalista Cesar Valen-

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te) � além de difundir as ações dos sindicatos, informar seus leito-res sobre assuntos de interesse específico dos trabalhadores, tra-ta de temas atuais, numa tentativa ambiciosa que é a de dar argu-mentos a esses leitores a fim de que ampliem seus conceitos decidadania, desenvolvam novas perspectivas de intervenção na so-ciedade.

O público-alvo do jornal, em termo de educação formal, ébastante diferenciado. Abrange desde pessoas medianamente alfa-betizadas àquelas com pós-graduação. Por isso, a linguagem esco-lhida pela publicação é a comum, sem obviedades. Ainda dentro daperspectiva de que o jornalismo é uma forma de conhecimentodemocrático, a primeira pessoa do singular e do plural só aparecese devidamente identificada. Toda matéria que tem objetivo nãoinformativo é classificada como editorial. Os editoriais são dirigi-dos em geral aos patrões, aos trabalhadores tratados como umacategoria homogênea e, algumas vezes, à classe política em geral.Cada edição começa a ser preparada com uma semana de antece-dência e inicia com uma reunião de pauta com a diretoria executivado Sinergia.

O jornal passa por fases de maior e menor participação dosassociados. Existe um espaço dedicado ao leitor chamado �Tribu-na Livre�. A grande queixa dos dirigentes sindicais é da pouca quan-tidade do que chamam de �matérias investigativas� que seriam re-portagens e registro de depoimentos de trabalhadores.

Um dos grandes feitos do �Linha Viva� é a sua edição ininter-rupta, tendo mantido a periodicidade semanal desde a primeiraedição, completando em dezembro de 2004 sua edição número776.

Atualmente, além do jornal semanal, a assessoria de impren-sa elabora alguns boletins e releases. O setor, porém, teve fasesmais diversificadas em que produzia cartazes, adesivos, folders,brochuras e livros. Hoje, todo este material, assim como a home

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page, é terceirizado. Também são confeccionados por terceiroscalendários, bonés, chaveiros, canetas, enfim todo material espe-cífico de marketing de campanhas, congressos, encontros, proje-tos, concursos promovidos pelo sindicato.

Por orientação política, a entidade não ocupa espaços publi-citários nos grandes veículos de audiência aberta.

PrivatizaçãoUm dos grandes desafios para o departamento de imprensa

foi o processo de privatização da Eletrosul. Apesar da imagemexterna da entidade não ter sofrido muito, internamente as mu-danças decorrentes deste episódio, geraram muita instabilidade eincertezas. O processo começou timidamente no início da décadade 90 com a �desregulamentação�, Collor, a �caça aos marajás� e oinício da fase de �desestatização�. O quadro de pessoal da empre-sa, neste período, caiu sensivelmente e isto, é claro, teve reflexosdiretos na entidade. Porém, esta era apenas uma parte do que teriaque ser enfrentado. Em meados da década de 90, surgiu outraameaça: a privatização da Celesc. Para o setor de imprensa, comode resto para toda entidade, foi um período difícil. O departamen-to não conseguiu assumir a função estratégica de sugerir ações.Limitou-se a �apagar o fogo� diário e se retraiu devido, essencial-mente, à idéia que havia na entidade de que a opinião pública teriasido iludida pelo marketing e propaganda da privatização. Faltaramainda interlocutores experientes para trocar idéias, já que a vendada Eletrosul foi um acontecimento incomum. Assim, levando-seem conta este e outros fatores, como a falta de planejamento paraa comunicação no período, a atuação do setor foi tímida em rela-ção à Eletrosul e mais positiva em termos de Celesc, onde a fontede poder de decisões � o governo estadual - estava perto e erasuscetível aos movimentos da comunidade local � que foi onde se

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concentrou todo trabalho do departamento, sobretudo com asmobilizações do Mucap.

O jornalista no Terceiro SetorUm dos debates típicos em torno da comunicação para o

Terceiro Setor diz respeito à militância do profissional de comuni-cação contratado pela instituição. A grande questão seria: o asses-sor de imprensa deve ser também um ativista da ONG?

Essa discussão precisa ser feita com maior rigor. É impor-tante procurar saber se pode haver um equilíbrio entre o nossopapel social como profissionais e cidadãos. Se não esquecermosque, como jornalistas, nosso dever ético é de não manipular even-tos ou informações, esse equilíbrio fica mais fácil de ser alcançado.

Minha experiência mostrou que se tivermos em conta que ocoração da atividade jornalística é informar, que é a partir disto quetodo resto do exercício da profissão acontece, o trabalho numaassessoria de imprensa no Terceiro Setor não será diferente dotrabalho numa redação da grande imprensa.

Mas, no dia a dia de trabalho numa ONG, o tema do engaja-mento do jornalista é recorrente, está sempre presente. E, já quenão existem respostas prontas, pode-se abordar a questão de ou-tra forma: é importante para o jornalista que trabalha para estetipo de entidade estar em sintonia com os objetivos primeiros daorganização.

Essa empatia é crucial para a entidade, que vai precisar inú-meras vezes confiar no julgamento do jornalista quando decidir,por exemplo, qual a melhor abordagem para tornar relevante umdesafio no qual a entidade vai despender muita energia, ou comoapresentar posicionamentos que dizem respeito a sua imagem jun-to à sociedade.

A identificação é importante para o jornalista porque, só apartir dela, pode assegurar e firmar sua postura profissional den-

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tro da organização. O engajamento com a causa maior da entidadepermite executar seu trabalho de acordo com o �primeiro manda-mento�: informar clara e objetivamente. O trabalho do jornalistanuma ONG também tem um aspecto educacional. Ele deverá pe-riodicamente lembrar os integrantes da instituição qual é o papelda imprensa e mostrar que, se a ética jornalística for valorizada, aONG ganha em respeito externo e mantém uma estrutura internasólida e segura.

O dilema central de um jornalista trabalhando para uma ONGé a da neutralidade e conseqüentemente o da objetividade, quemuitas vezes é condenada por parte da entidade. Mas a prática damilitância interferindo na produção da assessoria de imprensa éprejudicial para ambos. No meu trabalho, junto a entidades doTerceiro Setor, toda vez que descuidei e agi como ativista, ou dei-xei me �arrebatar� ao narrar um fato, os resultados do que pro-duzi trouxeram danos para a entidade � que sofreu descrédito epassou a ser alvo de preconceito junto a diversos públicos � ecensuras negativas de meus colegas, dos leitores e minhas, a res-peito do meu comportamento. Meu esforço tem sido sempre nosentido de tornar inteligível, compreensível, acessível para um pú-blico maior, os anseios das pessoas para as quais trabalho, facilitan-do, encorajando a participação, a intervenção deste público.

Outra polêmica a respeito da atividade jornalística numa ONGtem a ver com o papel de �relações públicas�, no sentido pejorati-vo do termo. Quer dizer, no sentido de instrumentalizar um ma-rketing de promoção pessoal, ou de um grupo de pessoas. Domeu ponto de vista, isto não é tarefa para jornalista.

Outro foco de discussões é a relação da assessoria com osjornalistas da grande imprensa. Nunca simpatizei muito com a fun-ção de �porta-voz�, porque acredito que o assessor de imprensanão é a fonte original de informação. De forma geral, nos contatoscom a grande imprensa o correto, e mais produtivo, tanto para o

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assessor, como para os integrantes da ONG, é: nunca mentir, evi-tar exageros, jamais fazer colocações off the record, não falar doque não se sabe.

A comunicação no Terceiro Setor passa por uma tarefa diá-ria dupla: a de incentivar o ativismo dentro da organização e detornar visível este ativismo para a sociedade. Esta rotina exige es-forços � alguns dos quais foram mencionados rapidamente aqui �que, no geral, são os mesmos do jornalista que trabalha em qual-quer outro segmento: o da responsabilidade com a ética, do direi-to da sociedade à livre informação, o de ser objetivo e verdadeirono que faz.

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O rádio em Santa Catarina, aos 70 anos de idade, acompa-nhou e repercutiu fatos políticos, econômicos e sociais que mar-caram a história, principalmente a catarinense, além de presenciaras profundas mudanças que os avanços tecnológicos provocaramem todas as áreas de conhecimento. No jornalismo, as inovaçõesajudaram a consolidar a informação como poder e, conseqüente-mente, solidificaram a importância dos veículos de comunicação.

Em Santa Catarina, um município, localizado no Vale do Ita-jaí, tem uma marca invejável. Distante 160 quilômetros da capitalcatarinense, Blumenau traz no currículo o pioneirismo da primeiraemissora de rádio, no final da década de 30, e da primeira estaçãode TV ao término dos anos 60. Na cronologia dos acontecimen-tos, ao radioamador João Medeiros Júnior foi concedida a paterni-dade da radiodifusão em nosso estado com a instalação em 1935,da PRC-4 Rádio Clube de Blumenau. A oficialização só ocorreudepois de uma veiculação de dois anos em caráter experimentalque começou com um sistema de alto-falantes.

Dos três estados da Região Sul, Santa Catarina foi o último adespertar para o novo veículo de comunicação. Já na década de20, logo após a instalação oficial da primeira emissora brasileira, aRádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1923, tanto o Rio Grandedo Sul, quanto o Paraná já desfrutavam da novidade que mexia como imaginário dos ouvintes. Os paranaenses em 1924, por exem-plo, já ouviam a Rádio Clube Paranaense, e os gaúchos a Rádio Ga-úcha, inaugurada em 1927.

Rádio: na 3ª idade, mas ágil como adolescenteRegina Zandomênico

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O surgimento da primeira emissora catarinense seguiu osmoldes da época baseado na fundação de clubes ou sociedadesonde os associados pagavam cotas que financiavam o funcionamen-to das emissoras. Nesse contexto, era comum a veiculação naspróprias emissoras e nos jornais impressos de pedidos de contri-buições financeiras para ajudar na manutenção dos novos veículos.

A programação ao vivo da PRC-4 Rádio Clube de Blumenau,formada principalmente por repertório musical e leitura de comu-nicados, enfrentava situações absurdas para os padrões atuais: in-terrupções devido à precariedade dos equipamentos e à falta delocutores conhecidos como speakers. Embora o trabalho na rádiofosse inovador e empolgante, financeiramente não era atraente oque justificava que os integrantes do quadro de funcionários traba-lhassem em outros locais com jornadas mais rígidas.

O jornalismo não era a marca da nova emissora e a figura dorepórter sequer existia. O fundador Medeiros Júnior, entretanto,constatou na pioneira Rádio Clube de Blumenau o poder que omeio exercia ao veicular, como uma espécie de Orson Welles tupi-niquim, fatos fictícios para conferir a reação dos ouvintes e maistarde lembrá-los que se tratava de primeiro de abril, a data institu-ída como o Dia da Mentira pelos franceses há cinco séculos.

O maior município de Santa Catarina, seis anos depois doprimeiro passo da radiodifusão catarinense, instalou oficialmenteem 1941 a Rádio Difusora de Joinville. O início da emissora em1938 também foi através de alto-falantes. A novidade chegou pe-las mãos de Wolfgang Brosig, um jovem técnico em eletrônica des-cendente de alemães cujo avô era proprietário do jornal �KolonieZeitung�, editado na língua alemã e que circulou em Blumenau eJoinville de 1862 a 1934. O esforço de Brosig, acumulando as fun-ções de locutor, operador de áudio e até mesmo ator de radiono-vela, fizeram com que em 1997, aos 80 anos, recebesse da Câma-ra de Vereadores de Joinville o título de Cidadão Benemérito.

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O surgimento das primeiras emissoras longe de Florianópo-lis indica que o pomposo título de capital não contribuiu para que aIlha fosse pioneira na radiodifusão catarinense. Os florianopolita-nos, a exemplo dos ouvintes de Blumenau e Joinville, começaram aouvir a sua primeira rádio através de um sistema de alto-falantes.Se o fato de receber a novidade com atraso incomodava os maisafoitos, a ironia foi saber que o nome da emissora � Rádio Guarujá� era uma homenagem a um bairro de Santos, em São Paulo, e oresponsável por ela não havia nascido na Ilha ou sequer era catari-nense. O gaúcho Ivo Serrão Vieira, acompanhado de um grupo deamigos, manteve por cerca de um ano o sistema de alto-falantes econseguiu oficializar a emissora em 1943. Três anos mais tarde,Aderbal Ramos da Silva, eleito no ano seguinte governador do Es-tado, assumiu o comando da emissora. A Radio Guarujá passou adesempenhar um papel de �assessor político� do PSD (PartidoSocial Democrático).

O final da década de 40 marcou o surgimento de emissorasem várias regiões catarinenses em um período onde a veiculaçãode comerciais nas rádios, conhecidos como �reclames�, já estavaautorizada pelo Governo Federal e a programação das emissorasvivenciava a chamada �Época de Ouro�.

A presença dos comerciais mudou o perfil das emissorasque, por terem a obrigação de se tornarem rentáveis, buscaramalternativas para aumentar a audiência. Nesse período, os ouvintesacompanhavam uma programação mais popular que incluía jorna-lismo, radionovelas, com estórias criadas ou adaptadas por rotei-ristas catarinenses, transmissões de esporte, incluindo futebol, remoe basquete, e programas de auditório ao vivo. Embora nos pri-meiros programas os locutores lessem notícias veiculadas nos jor-nais, a oportunidade de ouvir entrevistas com personalidades, prin-cipalmente políticas, era uma garantia de audiência. O crescimentodo número de ouvintes incentivou as emissoras a apostarem na

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figura do repórter, o que conseqüentemente melhorou a factuali-dade das notícias locais nos radiojornais.

O sociólogo Antonio Miranda, autor do livro �A Era do Rá-dio�, avalia que esse período causou na sociedade brasileira impac-tos mais profundos do que os provocados , a partir de 1950, pelachegada da TV no Brasil. A programação do rádio não apenasentretinha e anunciava produtos, como também despertava nosouvintes uma participação social mais ativa.

A �Época de Ouro� do rádio em Santa Catarina também foimarcada pela forte influência política. Muitas emissoras, a exemploda Rádio Guarujá, chegaram a pertencer a grupos políticos quenos noticiários defendiam abertamente seus interesses confron-tando adversários. Também era comum a compra de espaços naprogramação por parte daqueles que ainda não tinham suas pró-prias emissoras.

A efervescência do jornalismo, aliada à influência política,motivou a criação da primeira rede de emissoras do estado, a RedeColigadas, no ano de 1954, em Blumenau. Ligada ao PSD, as rádiospertencentes à Rede só concediam espaço aos adversários medi-ante pagamento.

Além de Aderbal Ramos da Silva, outro governador, IrineuBornhausen, também se aventurou pelas ondas do rádio como peçade persuasão política. Em 1954, ele conseguiu a concessão daRádio Diário da Manhã, em Florianópolis, para defender os inte-resses da UDN (União Democrática Nacional). Um dos desta-ques da emissora era o programa �Vanguarda�, sob a responsabili-dade dos irmãos Adolfo e Walter Ziguelli. Ainda nessa década sur-giram na capital outras emissoras como a Anita Garibaldi e a RádioJornal A Verdade.

A descoberta do rádio como peça de marketing político in-fluenciou o surgimento de várias emissoras em todas as regiõescatarinenses. Boa parte delas com tempo de vida vinculado apenas

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ao período eleitoral. A liberdade de expressão permitia que osveículos se posicionassem abertamente e a participação dos ouvin-tes era intensa nos programas de debates. Muitas rádios chega-ram, inclusive, a transmitir comícios eleitorais. Em todo o estadoas rádios se destacavam por particularidades da programação. NaDifusora de Laguna, inaugurada oficialmente em 1946 e localizadaa pouco mais de 100 quilômetros da Capital, um dos diferenciaisera o programa �Picadeiro Político�. A produção usava a estruturade texto e sonoplastia das radionovelas para apresentar as notíciasda cidade, incluindo até mesmo fatos políticos.

Paralelo aos programas de forte influência política, as rádiostambém investiram em programas dirigidos aos universos femini-no e infantil. Além das radionovelas, as ouvintes podiam sintonizarprogramas que tratavam de culinária, poesias e conselhos de bele-za. A Rádio Diário da Manhã, na década de 50, investiu no �Ascrianças se divertem� retransmitido para 14 emissoras. O públicoespecífico era mais uma ferramenta que as emissoras dispunhampara atrair anunciantes e aumentar os lucros.

A onipotência do rádio no Brasil começou a ser ameaçadacom a chegada da TV em 1950. À medida que as estações de TVforam se espalhando pelo território nacional e o público tendocontato com o veículo que além do som trazia imagens, as emisso-ras foram perdendo o espaço conquistado. Em Santa Catarina, oprocesso não foi diferente e começou em 1969 com a chegada daTV Coligadas, em Blumenau, a primeira emissora de TV do esta-do, e posteriormente com a inauguração da TV Cultura, em1970, na capital.

O espírito jornalístico das rádios catarinenses que concreti-zou até transmissões internacionais, como um campeonato pan-americano de remo na Argentina, foi aos poucos perdendo espaçopara uma programação quase que exclusivamente musical e queretomava com força a antiga prática do gillete press.

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Nos grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo, osatores do rádio migraram para as telenovelas que, no início, tam-bém eram produzidas ao vivo. Em centros menores, como SantaCatarina, a ausência de telenovelas locais colocou os atores emuma situação difícil. Para os locutores, a adaptação foi mais fácil,embora a TV exigisse um �olho no olho� com o telespectador e apreocupação com a relação texto/imagem. A chegada das FMs noBrasil, a partir da década de 70, também provocou mudanças.Muitos ouvintes deixaram os antigos programas AM de lado e pas-saram a sintonizar as FMs que ofereciam uma nova linguagem.

Uma avaliação superficial do rádio pode considerar que atu-almente o veículo não possui o mesmo poder de informação emrelação aos outros meios de comunicação, mas a realidade é outra.Fatos recentes em Santa Catarina, como o apagão de 2003 emFlorianópolis, e a passagem do ciclone Catarina, em 2004, mostra-ram a eficiência do veículo. Além disso, desde a descoberta dotransistor em 1947 por cientistas americanos, o rádio não estámais submetido à conexão de uma tomada e pode ser ouvido emqualquer lugar.

Nas últimas décadas, várias previsões pessimistas garanti-ram que os avanços tecnológicos beneficiariam a TV e a internet eprovocariam o desaparecimento do jornal impresso e do rádio.Em 1980, o americano Anthony Smith conseguiu recordes de ven-dagem ao lançar o livro �Adeus a Gutenberg�, prevendo o fim dojornalismo  gráfico.  Entretanto, jornais e revistas, assim comoas  rádios continuam crescendo e se adaptando cada vez mais àsnovas tecnologias � as rádios virtuais são uma prova. Dados do Ministério das Comunicações indicam que, emoutubro de 2004, só no âmbito das rádios comunitárias, 2.119tinham autorização para funcionar no país. No ano anterior, outras4.412 com o mesmo perfil foram fechadas pela Anatel (AgênciaNacional de Telecomunicações) por terem sido consideradas ile-

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gais. Os estudiosos da comunicação consideram que  entre as novastecnologias, a que mais se destaca é a relacionada à transmissão,elaboração e difusão da informação. Dentro deste contexto, cabesalientar que as novas tecnologias mudaram a relação do jornalistacom o tempo, um fator sempre determinante para um profissionalda área. A prática jornalística do dia a dia demonstra que em ter-mos de agilidade o rádio ainda é imbatível. Nem mesmo os jornaisonline que trabalham em fluxo  contínuo  conseguem chegar nafrente na disputa com o meio quando a tarefa é veicular e repercu-tir o factual. O rádio, com seu custo relativamente baixo, é o quemais rápido e facilmente consegue colocar em prática a filosofia doslogan �pense global, aja local�.

O mais recente levantamento feito pela Acaert (AssociaçãoCatarinense de Emissoras de Rádio e Televisão) aponta que todasas regiões de Santa Catarina estão contempladas com emissorasradiofônicas. De acordo com a entidade, seu quadro de filiadostem atualmente 71 emissoras FM e 101 AM, muitas delas tendo ojornalismo como carro-chefe aliado às transmissões esportivas.Cabe salientar que nesta relação não estão computadas as rádioscomunitárias, as veiculadas pela internet, as piratas, e algumas ofi-ciais não filiadas à associação. Para os que ainda teimam em serpessimistas uma má notícia: às vésperas de completar 83 anos noBrasil e 70 em Santa Catarina, o rádio ainda tem fôlego e está naativa.

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Fotojornalismo CatarinaAndressa Braun

Após Roger Fenton, o inglês considerado o primeiro foto-jornalista da história, um século se passou até que aparecessem osfotógrafos precursores da imprensa catarinense. O marco do fo-tojornalismo mundial é a publicação da primeira imagem pelo jor-nal sueco �Nordisk Boktrycheri-Tidning�, em julho de 1871. EmSanta Catarina, a primeira foto jornalística registra a inauguração daponte sobre o ribeirão Garcia, em Blumenau, por Alfred Baumgar-ten, em 1906.

A publicação de fotografias por jornais e revistas esbarravana dificuldade técnica de se imprimir toda a gama de tons diferen-tes de cinza (entre o branco absoluto e o preto absoluto), queformam uma imagem fotográfica em preto-e-branco. Até começoda década de 1960, a única maneira de incluir fotos na imprensaera recortá-las de outras publicações e colá-las para a reproduçãono jornal, a técnica conhecida como gilette press. A exceção foi apublicação precursora e isolada do jornal blumenauense �Blume-nauer Zeitung�, que pela experiência autônoma de Alfred Baum-garten, filho do fundador do jornal, de tanto aventurar trabalhosfotográficos em casa, instalou um laboratório próprio e fez as pri-meiras ampliações em 1910.

A produção fotojornalística em Santa Catarina também foiincentivada pelo trabalho do catarinense Valdemar Anacleto que,em meados da década de 1960, fazia imagens do estado para expô-las em painéis no Rio de Janeiro. O fotógrafo era um grande entusias-ta da documentação fotográfica num período em que as imagens eramutilizadas apenas como ilustração das matérias de jornal.

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As fotos se tornaram mais presentes na imprensa catarinen-se por volta de 1963. O jornal �O Estado�, o mais antigo diário emcirculação em Santa Catarina, fundado em 1915, comprava o re-sultado do trabalho independente do fotojornalista Paulo Dutra,que começou a fotografar fatos isolados que considerava de inte-resse da imprensa. A publicação era realizada geralmente na capacom legendas explicativas criadas pela redação. Dutra possuía umpequeno laboratório de revelação e ampliação em casa. Simultane-amente, ele fazia fotos de Florianópolis e as vendia ao jornal gaú-cho �Correio do Povo�.

Paulo Dutra também teve experiências em publicações naci-onais. Em 1970, quando trabalhava no Palácio do Governo do Es-tado de Santa Catarina, fotografou uma apresentação da Esquadri-lha da Fumaça e, sem perceber, registrou o momento exato dochoque entre duas aeronaves. O acidente, de repercussão nacio-nal, foi assunto na revista �Manchete�, da editora Bloch, que pou-co tempo depois contratou Dutra. Lá, ele trabalhou por dez anos.Mas foi em Santa Catarina que passou a maior parte de sua carrei-ra. Funcionário público federal, ele trabalhou, entre outras reparti-ções, na Agência de Comunicação da Universidade Federal de San-ta Catarina. Dutra voltou em 1988 ao jornal �O Estado�, onde per-maneceu, entre entradas e breves saídas, até 2002.

Paulo Dutra ainda participou da primeira equipe profissionalde fotojornalistas de um jornal catarinense. Junto com Gaston Gu-glielmi, Sérgio Rosário e Rivaldo de Souza, sob o comando de Ores-tes Araújo, eles formaram, em 1972, o time de fotógrafos de OEstado. Foi nesse ano que o jornal de Florianópolis adquiriu umamáquina de impressão off-set � que facilitava a impressão de foto-grafias � exatamente um ano depois da compra do mesmo equipa-mento pelo concorrente, o �Jornal de Santa Catarina�, com sedeem Blumenau. O jornal do Vale publicava fotografias produzidaspelos cinegrafistas da TV Coligadas, que faziam o trabalho de cam-

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po munidos de filmadora e câmara fotográfica. A parceria era pos-sível porque o jornal e a TV pertenciam ao mesmo grupo.

Para Orestes Araújo, o início do fotojornalismo foi marcadopor uma incansável busca pelas melhores imagens, relacionada como �realizar algo proibido�. �Algumas vezes sentia um certo medode estar tão perto da notícia�, acrescenta. O relato é tambémembasado pelo pioneirismo na fundação, em 1965, da assessoriade imprensa da Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catari-na, ao lado do jornalista João José de Souza.

Nesse período, Orestes profissionalizou-se com a realiza-ção de cursos de fotografia em São Paulo. Lá, percebeu o interessede publicações de outros estados, especialmente do Rio de Janei-ro, por fotografias de Santa Catarina. �As revistas do eixo Rio-SãoPaulo mandavam profissionais para o Estado quando precisavamde imagens�, conta ao relembrar o motivo que o levou a ofereceras próprias fotos a publicações como a revista �Veja�, onde traba-lhou doze anos como correspondente em Santa Catarina.

Todas essas experiências creditaram Orestes Araújo a finali-zar, em 1985, a formação da equipe de fotógrafos do �Diário Ca-tarinense�, o primeiro jornal totalmente informatizado criado noBrasil. Em 1986, o DC possuía os mais modernos e completosequipamentos fotográficos de imprensa da época: 18 câmeras Ni-kon modelos F-3 e F-3 HP, grande-angulares, teleobjetivas, flashes,tripés e filtros, entre outros acessórios. Além disso, o �Diário Cata-rinense� ainda dispunha dos melhores computadores e programasde edição eletrônica de textos para imprensa da América Latina.

Até 1991, Orestes Araújo continuou o trabalho em outrosdiferentes veículos de comunicação e na assessoria de imprensa daAssembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina. Naquele ano,ele cria o �Jornal de Barreiros�, onde até hoje realiza diversas fun-ções: produção fotográfica, texto, edição, distribuição e até vendade espaços publicitários.

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A partir do início da década de 1970, a linguagem fotográficapassou a estar de acordo com o texto, matéria jornalística e ima-gem complementavam-se. Para o fotógrafo e historiador do foto-jornalismo Tim Gidal (1971), a evolução do fotojornalismo mo-derno deve-se a um fator técnico � desenvolvimento de câmarasfotográficas compactas, luminosas e com visor na parte traseira �e outro intelectual - o surgimento de uma nova geração de fotó-grafos no mundo, na maioria com educação superior e descendên-cia judaica.

Na década de 1970, as revistas já utilizavam fotos coloridas,captadas por slides. Apesar da dificuldade inicial de utilização danova tecnologia, ela teve que ser adotada pelos profissionais. Ainformação transmitida pela foto colorida deixava a imagem comaparência plastificada, porque além da dificuldade de trabalho dosfotógrafos, os gráficos também tinham problemas para a impres-são. �Foi um verdadeiro caos para o fotojornalismo�, opina o foto-jornalista Tarcísio Mattos sobre o início do uso de slides quando�muitos profissionais deixaram de fotografar porque não conse-guiam se adaptar�.

Tarcísio Mattos é sócio�fundador da Soma Fotojornalismo,empresa criada em 1988 e que passou a cobrir pautas para o �Jor-nal de Santa Catarina�, AN e �O Estado�, geralmente em cidadesque não eram sede dos jornais. A carreira começou aos 18 anos,em 1979, como laboratorista do jornal �O Estado�. No ano se-guinte, foi fotografar profissionalmente na equipe do jornal, com asaída do pioneiro Rivaldo de Souza. �Quando ingressei no merca-do, o material era muito barato, o que me permitia experimen-tar�. No começo dos anos de 1980, ele trocou uma câmera Ca-non Ftb por uma Pentax SP 500.

Bem humorado, Mattos conta que, como era o mais novoda equipe, só recebia pautas que classifica como �carne de pesco-ço�. Em dois anos de trabalho, ele teve que provar que tinha capa-

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cidade. Depois de realizar com sucesso uma pauta sobre argenti-nos em Balneário Camboriú, passou a ser escalado para cobertu-ras mais importantes. Ele lembra que, naturalmente, o repórterfotográfico �cobria melhor�, direcionava-se para o assunto com oqual mais se identificava.

Uma questão também de sortePaulo Dutra acredita que, para fazer uma boa fotografia para

imprensa, o profissional tem que ter sorte acima de tudo, técnicae muita rapidez. O fotojornalista Tarcísio Mattos não discorda, masdefende que o profissional deve ser, antes de tudo, um jornalista.�Ele tem que ter técnica, senso estético, mas, essencialmente, pre-cisa estar ligado à notícia.�

A fotojornalista Suzete Sandin, a primeira no Estado, con-corda que além de �olho� (refere-se à sensibilidade para percebero que é importante e inusitado em uma cena), o profissional preci-sa da sorte. Ela reconhece que a tecnologia no fotojornalismo pro-porcionou ganho de tempo, mas critica: �Com a era digital, a foto-grafia tornou-se muito mais programada, menos espontânea. É di-fícil uma foto que realmente chame a atenção�. Para ela, o slideainda garante melhor definição e fidelidade de cores, diferente doequipamento digital.

Mattos diz que, hoje, o fotógrafo é escravizado pela técnica,o que se reflete na grande quantidade de fotos posadas nos jornais.�A fotografia privilegia a técnica em detrimento da informação�,completa. Para ele, a tecnologia foi somente uma evolução e nãopode ser vista como fim, mas como meio. Ele cita, por exemplo, abaixa qualidade das imagens vendidas por agências de notícias. Aomesmo tempo, reconhece ser difícil atender tantos interesses di-ferentes, o que justifica, em parte, a perda na qualidade.

Orestes Araújo comprovou o quanto a sorte na profissão éimportante depois de um episódio inusitado. No início da década

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de 1970, quando os Estados Unidos e o mundo questionavam se opresidente Richard Nixon seria candidato à reeleição, o fotojorna-lista conheceu, por insistência de um amigo, uma fábrica em RioNegrinho, no interior de Santa Catarina, que estampava em cane-cos, a pedido do comitê de reeleição, a imagem do então presi-dente. Como de costume, Orestes levou consigo o equipamentofotográfico, fez fotos e as vendeu para as principais publicaçõesbrasileiras e agências internacionais.

O fotógrafo defende a complementaridade imagem-texto.�A boa imagem para o jornal deve ser casada com o texto. Deveseguir a mesma linguagem, além de ter qualidade, bom ângulo ebom enquadramento�. Para Orestes, o fotojornalismo contribuiumuito para a valorização do produto jornal. �Hoje, ninguém mais lêjornal sem foto�, completa Paulo Dutra.

Uma estranha no ninhoCom o surgimento do primeiro jornal totalmente informati-

zado criado no Brasil, surge também a primeira fotojornalista doestado, Suzete Sandin. Ingressa por acaso na profissão, como elamesmo descreve, Suzete só se interessou profissionalmente pelafotografia durante a realização de um curso de especialização comum profissional norte-americano de passagem por Florianópolis.Ela foi sorteada e recebeu uma bolsa para o curso na época em queestudava Jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina.

Após o trabalho de conclusão do curso superior - umaudiovisual que demonstrava o destino do lixo em Florianópolis-, surgiram várias oportunidades de trabalhos freelancers em foto-grafia. Hoje, Suzete diz que a escolha pelo fotojornalismo foi umacasualidade que deu certo. Em 1985, ela tornou-se parte da equipede fotógrafos do �Diário Catarinense�. �Foi ali que aprendi tudo�,reconhece.

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Ela lembra das dificuldades de uma mulher cobrir, por exem-plo, futebol naquela época. Era graças à ajuda dos outros fotógra-fos que �encarava� as brincadeiras da torcida. �Aprendi todos ospalavrões da minha vida no campo de futebol�. Apesar das dificul-dades, para Suzete, o jornalismo diário é a melhor escola de foto-grafia. �Você tem sempre que encontrar uma saída e levar a fotopara a redação�.

Uma das coberturas que mais a marcou e com a qual con-quistou reconhecimento internacional foi realizada em 1997 emum acampamento de trabalhadores rurais sem-terra em AbelardoLuz. Um dos objetivos era mostrar de que forma o Movimentodos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) pressionava o gover-no. Suzete passou uma semana acampada e viveu momentos deapreensão. Um deles foram tiros na madrugada. A fotojornalistaacreditou que fosse a Polícia tentando retirar os trabalhadores dolugar em que estavam. Pouco depois, soube que esta era a formaque os agricultores comemoram o retorno da colheita. Uma dasfotografias da cobertura foi premiada pela revista francesa �Pho-to� com o 1º lugar na categoria La Lumière.

Outra cobertura fotográfica que Suzete não se esquece foirealizada para a revista americana �Life�. Ela fotografou em SantaCatarina um alemão que criava tigres em casa. Atualmente, Suzetepassa seis meses no Brasil e outros seis no Canadá, e realiza even-tuais trabalhos freelancers para revistas como �Caras� e �Quem�.

Suzete acredita que um dos maiores desafios do fotojorna-lista é transmitir toda a informação em uma única imagem. Para ela,a fotografia deve chamar a atenção para o texto porque uma boaimagem estimula a leitura. �A fotografia para jornal deve emocio-nar, o profissional deve conhecer bem o assunto e saber exata-mente o que deseja transmitir�, conclui Suzete.

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REFERÊNCIAS

Entrevistas pessoais:Orestes Araújo, fotojornalista responsável pela criação da primeira equipe

de fotógrafos do jornal �O Estado� e editor do �Jornal de Barreiros�

Paulo Dutra, primeiro fotojornalista a exercer profissionalmente a funçãono Estado, aposentado

Suzete Sandin, primeira fotojornalista de Santa Catarina

Tarcísio Mattos, fotojornalista e sócio-fundador da Soma Fotojornalismo

Dissertação:IVAN LUIZ GIACOMELLI. Impacto da fotografia digital no

fotojornalismo diário: um estudo de caso. Dissertação para oPrograma de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFSC,2000

Livros:CABRAL, OSWALDO. Nossa Senhora do Desterro. Florianópolis:

Oficinas Gráficas da Imprensa da UFSC, 1972

KORMANN, EDITH. Blumenau � arte, cultura e as histórias de suagente (1950-85), Volume IV. Florianópolis: Edeme Indústria Gráficae Comunicação, 1996

SANTOS, SÍLVIO COELHO DOS. Santa Catarina no Século XX.Florianópolis: Editora da UFSC, FCC (Fundação Catarinense deCultura) e Univali, 1999.

AgradecimentosAos jornalistas Celso Vicenzi, Celso Martins, Maria José Baldessar e

Luciany Alves Schlickmann.

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- E sua mãe sabe que você vai viajar sozinha!?A pergunta � feita por uma autoridade do alto escalão do

governo Colombo Machado Salles � retrata bem o momento emque vivíamos. Naquela tarde do mês de outubro de 1972, eu esta-va no aeroporto Hercílio Luz embarcando para Belém do Pará.Enviada especial do jornal �O Estado�, fui acompanhar agriculto-res, a maioria do oeste catarinense que, atraídos pelas promessasde uma nova vida, iriam para a terra dos sonhos, a Amazônia (so-nho que se transformou em pesadelo � a Transamazônica era maisum projeto megalômano do governo ditatorial do general EmílioGarrastazu Médici).

Naquele mesmo ano � 1972 �, fui escalada para cobrir ofamoso clássico Avaí e Figueirense. Minha reportagem era acom-panhar a reação da torcida. Na época, era raríssimo mulher-repór-ter trabalhar nas editorias de esporte. Mais raro ainda era fazer repor-tagens nos campos de futebol. E � pelo inusitado � virei notícia.

Nossas funções nas redações estavam delimitadas: varieda-des, comportamento, cultura, entre outras, eram editorias emi-nentemente femininas. As editorias de política, esporte e polícia, tra-dicionalmente eram preenchidas por jornalistas do sexo masculino.

Se hoje vejo na mídia eminentes lideranças políticas de SantaCatarina dando freqüentes entrevistas às repórteres do setor, sor-rio quando lembro as barreiras invisíveis que estes mesmos políti-cos erguiam ao perceberem a presença de repórteres. Em plenaditadura militar, tentei inúmeras vezes entrevistar um deles. Rece-

Mulheres e JornalismoElaine Borges

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bia apenas respostas lacônicas. De tanta insistência, fui orientadapor seus assessores para encaminhar perguntas por escrito. Asrespostas foram as mais lacônicas, limitando-se ao �sim�, �não�,�talvez�...

Nesse período � década de 70 � presidi duas vezes o Clubedos Repórteres Políticos de Santa Catarina. Correspondente de�O Estado de S. Paulo�, em alguns episódios, minha demissão foi�gentilmente� solicitada por lideranças locais - nunca aceita peladireção do jornal. Mas os galanteios eram inevitáveis. Galanteiosque sempre procurava reverter em boas declarações. Liderançasnacionais � como Ulysses Guimarães � transformavam entrevistasem aulas de democracia e de resistência.

Bernadete Santos Viana (hoje, além de jornalista, é campeãsênior de tênis), nos anos 70, era chefe da sucursal do �Jornal deSanta Catarina�, em Florianópolis, lembra: �A desconfiança quedespertávamos na época não sei se era atribuída à profissão ou anossa condição de sermos mulheres jornalistas. Sofríamos maiscontestação nas matérias que escrevíamos do que os jornalistas dosexo masculino. Inúmeras vezes, tive de enfrentar os entrevista-dos por insistirem em ler os textos antes de publicados, ou depoiscontestavam o que haviam dito. Decididas e combativas, exigía-mos igualdade.�

Aline Bertoli (assessora de imprensa do Tribunal de Contas)foi uma das primeiras jornalistas a apresentar telejornal em SantaCatarina. Trabalhou também no jornalismo político e relembra: �Eu,com pouco mais de um metro e 60, magra, tinha que ficar sempremuito séria, até mesmo com cara de poucos amigos, para chegaràs minhas fontes. Era para impor respeito�.

Mas havia aquelas que, além de novas oportunidades de em-prego oferecidas em Santa Catarina, também queriam usufruir -como ainda hoje - das delícias de morar numa ilha paradisíaca. Marisede Martini Fetter (hoje morando em Brasília) foi uma das tantas

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que veio do sul para trabalhar em Florianópolis: �Para mim erafazer turismo, tinha sempre festa! E aquela musicalidade do jeitode falar dos ilhéus, as praias, o vento sul... Mas o que me chamoua atenção foi a facilidade com que a gente falava com as autorida-des. O secretário sempre estava disponível. O governador eraacessível. Aquilo me impressionava muito. Coisa de foca�, conclui.

Essa facilidade percebida por Marise foi também registradapor Rosamaria Urbanetto (hoje trabalhando na Globonews, no Rio).Ao entrevistar um secretário de estado, ainda na década de 70, foisurpreendida com um convite inusitado: �Espera um momento�, eimediatamente o secretário colocou o braço em volta do ombroda Rosinha e pediu que o fotógrafo tirasse uma foto de ambos.Queria registrar o que considerou um fato inédito: ser entrevista-do por uma mulher.

A jornalista Marisa Ramos (que na década de 60 teve a �ou-sadia� de ser a primeira mulher de Florianópolis a botar a barrigade fora usando maiô de duas peças) foi também umas das primei-ras mulheres jornalistas a comandar programas televisivos. Traba-lhou na antiga TV Cultura dirigindo um programa voltado para asmulheres. Mais tarde, com a modernização do jornal �O Estado�,mantinha uma coluna com informações e comentários destinadosao público feminino. Em 1999, foi homenageada com a medalhado mérito pela Associação Catarinense de Imprensa. Atualmente,Marisa é assessora de imprensa da Casa Civil do governo de SantaCatarina.

Eloá Miranda, ao contrário da turma que veio do sul, em1975 chegou a Florianópolis vinda do Rio de Janeiro. Trabalhou nojornal O Estado e depois na TV Cultura. �Eu lembro que o CelsoPamplona (famoso e folclórico colunista social da cidade) tinha umprograma de Variedades na TV Cultura e me convidou - por seruma mulher exercendo a profissão de jornalista - para ser entre-vistada. Uma mulher que sabe tudo, ele dizia�.

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O �saber tudo� e a ousadia intrigavam e faziam aflorar o ladomachista de alguns políticos e empresários. Imara Stallbaum, re-pórter do �Diário Catarinense� no final das décadas de 80 e 90, aofazer uma série de reportagens, denunciando a retirada ilegal demadeira de uma floresta da reserva Indígena de Ibirama, foi acusa-da de �mentirosa e irresponsável�. O ataque do madeireiro a ela�consistiu em tentar me desmoralizar de forma machista�.

Em determinadas situações, agir com sutileza foi sempre umatática da repórter: �Na época, desenvolvi uma tática para ligar paraa casa de algumas fontes ou autoridades. Eu ligava e a mulher dosujeito atendia. Estou certa de que ela desconfiava que eu era umcacho do marido, não uma repórter. Por isso, um dos primeirosdesafios que aprendi a superar foi aturar suas mulheres e as secre-tárias. Ninguém me ensinou isso. Aprendi na marra. Ao ligar, euexplicava em detalhes a matéria em curso para que se sentissemimportantes. No fundo, isso era uma prática feminista�.

Hoje, professora dos cursos de Jornalismo da Ielusc, emJoinville e da Estácio de Sá, em São José, Imara gosta de dar umrecado às futuras colegas: �Digo que devem evitar decotes ousa-dos e tudo que possa desviar a atenção ou seduzir o entrevistado.A maioria, certamente, acha que exagero. E não entende que sermulher, bonita, atraente, pode ser um problema na hora da entre-vista se a jornalista for também inteligente. O ideal é serem mara-vilhosas na hora de escrever a matéria�.

Traumas também marcaram a vida profissional de algumasrepórteres, grosseiramente ofendidas por homens públicos. É ocaso da jornalista Roseméri Laurindo (hoje trabalhando na FURB,em Blumenau). Repórter setorista de �O Estado� na AssembléiaLegislativa de Santa Catarina, no final da década de 80, escreveuuma reportagem comparando os assédios dos partidos aos depu-tados como se fosssem lances de um leilão (havia um intenso tro-ca-troca de partidos devido à chegada do PRN do Collor). No dia

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seguinte à publicação da matéria, foi recebida duramente por umdeles: �Eu não tenho nada a declarar a você que está na zona�,disse. Rose nunca mais voltou à AL e direcionou sua profissão paraoutros caminhos: �Fiquei traumatizada com o episódio�, confessa.

Lúcia Helena Vieira, experiente jornalista, há mais de dezanos é repórter de política e, embora nunca tenha enfrentado pro-blemas profissionais, reconhece que �num mundo que ainda é pre-dominantemente masculino, o da política, é preciso ter jogo decintura. Há os assédios, que são quase comuns. Foi preciso sermuito firme para deixar clara a relação sempre profissional. Asmulheres jornalistas que trabalham em áreas como a política, quelidam diretamente com o poder � exercido predominantementepor homens � têm desafios dobrados. Precisam mostrar extremacompetência e independência para conquistar o respeito do meio,tanto dentro quanto fora do jornal�.

Nas eleições municipais de 2004, Lúcia Helena foi agredidaverbalmente, na redação do �A Notícia�, em Florianópolis, peloentão candidato a prefeito de São José, Fernando Elias (PSDB):�Ele ficou possesso por causa de uma matéria minha e deu de dedona minha cara, me chamando de mau caráter. Levantei e tambémdei de dedo na cara dele. Ele não admitiu ser questionado ou de-nunciado, muito menos por uma mulher�. No �Diário Catarinen-se�, �também enfrentei poderosos que pediram minha cabeça...Não sei se, nessas situações, se fosse homem, deixaria de sofreras agressões. Talvez o �valentão� que botou o dedo no meu nariznão o fizesse se eu fosse homem�.

Há um outro episódio que retrata bem a necessidade quasepermanente das mulheres jornalistas provarem que são capazes einteligentes: �Lembro-me de uma longa conversa com um deputa-do. Ficamos falando sobre o quadro político do momento, ele mequestionava e depois repetia várias vezes:�ah, mas tu és inteligen-te!� E eu, espantadíssima com as observações dele, rebatia: �ué,

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mas o que o senhor esperava�? Mais tarde compreendi que ele nãoestava acostumado a lidar com mulheres que pensam!�

Deborah Almada (sócia-proprietária de uma agência de no-tícias) sempre teve uma estranha impressão de que os colegasjornalistas homens impunham mais respeito: �Eles chegavam nasentrevistas coletivas sempre muito sérios, cheios de pompa, ves-tidos de terno e gravata, lascando sempre as melhores perguntase naturalmente arrancando dos entrevistados as melhores respos-tas�. Durante dez anos � de 1986 a 1996 �, Deborah atuou naeditoria de política e tinha esperanças de um dia aprender a �fór-mula mágica� de comparecer às coletivas já muito bem informada.�Logo percebi que no mundo da política as entrevistas coletivasnão deveriam provocar espanto nos jornalistas mais experientes.Reverenciados pelos políticos, os jornalistas apenas emprestavamseu prestígio a eventos desta natureza. Até porque já tinham sidoinformados em primeira mão dos acontecimentos num café damanhã no dia anterior�.

Ao avaliar sua atuação no jornalismo político, Deborah cons-tata que os espaços de maior prestígio continuam sendo preenchi-dos por colegas do sexo masculino: �Não quero diminuir a pre-sença feminina no jornalismo político. Longe de mim... logo eu,que só fiz isso boa parte da vida. Mas vou morrer achando que agravata é quase que uma senha de acesso ao mundinho da política.As exceções confirmam a regra�.

Detalhes que fazem a diferença chamaram a atenção daDoroti Port, 30 anos de profissão, grande parte deles vividosnas redações dos jornais. Em 1975, ano em que chegou de Por-to Alegre para trabalhar na redação de �O Estado�, ficou sur-presa: não havia banheiro feminino e às vezes nem papel higiê-nico. As laudas (que com a internet não mais existem) tinhamentão dupla utilidade. �A redação, aos olhos de uma mulher,parecia um tanto bagunçada, cheia de papéis jogados no chão�.

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Outra constatação: �os chefes de reportagem, redação e edi-tores, eram todos homens�.

O que hoje chamam assédio, antes eram as �cantadas�. Do-roti lembra que alguns �figurões� tentavam aproximações maispessoais. Assédios que logo eram contornados: �Mostrávamos queéramos profissionais sérias�.

Atuar no jornalismo esportivo também exigia das profissio-nais duplo esforço: mostrar competência e superar preconceitos.Claudia Sanz, desde 1987, é repórter especializada em cobrir es-portes. �Quando eu dizia que trabalhava na editoria de esportes,as pessoas invariavelmente perguntavam: �mas você entra no ves-tiário para entrevistar os jogadores?��

Claudia trabalhou pouco na cobertura de futebol, prefere oesporte amador. Mas lembra que dificilmente era escolhida paratrabalhar fora de Florianópolis porque �os jornais, acostumados amandar equipes com motorista, fotógrafo e repórter, colocavamtodos no mesmo quarto no hotel e, se eu viajasse, a empresa teriaum custo adicional, pois teria que reservar dois quartos�.

Não foi fácil para Claudia se impor profissionalmente. Erarecebida �com certa resistência, sem contar que num mundo mas-culino, como o esporte, as cantadas, as gracinhas e o assédio sem-pre existiram. Eu sempre tirei de letra tudo isso, mas tive que meesforçar mais do que muitos homens para conquistar meu espaço.Aquela coisa de matar um leão por dia�.

A seriedade e a competência profissional foram reconheci-das: em 1995, Claudia Sanz ganhou a Bola de Ouro � prêmio en-tregue aos cronistas esportivos de todo o país. Com a honraria,quebrou um tabu: até então os agraciados eram radialistas e ho-mens. Claudia, entre as mulheres, é a que está mais tempo ematividade no jornalismo esportivo de Santa Catarina (18 anos).

Fora das redações, as mulheres jornalistas também têm his-tórias para contar. Suzete Antunes trabalhou no �Diário Catarinen-

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se� no final da década de 80. Reconhece que na redação o convívioentre os colegas foi sempre harmonioso. O que considera ser �omaior exemplo de sexismo estúpido� aconteceu quando passou aatuar como assessora de imprensa. Viu uma colega ser preterida aassumir um posto de chefia por ser mulher. Argumento do chefe:�e se eu for jantar com um jornalista homem, como posso ir acom-panhado por uma assessora, uma mulher?�

Entre as jornalistas que trabalham nas emissoras de televi-são, além da eterna preocupação com a aparência (exigência tam-bém para os profissionais do sexo masculino), há percalços a se-rem superados. Ligia Gastaldi - há mais de vinte anos trabalhandona RBS/TV � percebe que há jornalistas que fazem do visual ummarketing pessoal: �Conheço casos de mulheres que vestem rou-pas mais ousadas para conquistar certas vantagens no trabalho,mas eu sou contra isso e nunca usei de tal artimanha. Pelo contrá-rio, tomo muito cuidado com meu visual. Nunca vou trabalhar desaia curta, ou com decote acentuado. A profissional, para ser res-peitada, tem que assumir uma postura séria. O que me livrou dealgumas cantadas indesejáveis�.

A seriedade profissional não a impediu, no entanto, de seragredida. Foi durante uma reportagem sobre a Farra do Boi, emFlorianópolis. Os farristas, irritados com a presença dos repórte-res, passaram a agredi-la verbalmente, chamando-a de �mulherzi-nha� e �vagabunda�. �Naquele momento tenso, ficou nítido que sefosse um repórter a reação não seria tão violenta�.

Histórias sobre a atuação das mulheres na imprensa de San-ta Catarina são muitas. Se, com a ajuda da máquina do tempo, fôs-semos entrevistar Maura de Senna Madureira, ela certamente teriamuito que contar. Maura foi a pioneira. Seu primeiro texto foi emresposta a um desafio: José Acrísio, através do jornal �O Elegante�,desafiou publicamente as mulheres a escreverem na imprensa deFlorianópolis. Maura não só aceitou o desafio como, a partir do

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seu primeiro texto, não mais deixou de escrever. No começo,usava um pseudônimo � Alba Lygia � logo esquecido. Foi a pri-meira autora de um artigo feminista publicado em Santa Catari-na (1923). Dois anos após a publicação do seu primeiro texto,escreveu:

�Nesses últimos tempos, com especialidade, muito se hápregado uma profissão para a mulher. Que ella se não dediqueexclusivamente à aprendizagem de encargos domésticos e pren-das especialmente feminis. E o que mais: que não viva unicamentea cuidar de si, para apparecer bem, bem mascarada, à força derouge, carmin e crayon, vivendo a vida material das futilidades e docoquettismo, das mentiras de salão, cuidando das modas e de flirt,em busca do marido rico, de invejável posição social, a quem levi-anamente entregará o coração e a vida, sem a menor reflexão,quase sempre sem amor, e que lhe assegurará a mesma existênciacômmoda e chic.(...)�

O aumento do número de mulheres jornalistas nas redaçõesem Santa Catarina está relacionado diretamente ao aumento doscursos de comunicação. Nas últimas décadas, à medida que as uni-versidades � públicas e particulares � formavam jornalistas, asmulheres passaram a buscar empregos nas empresas de comuni-cação. Basta ver os números para constatar que a presença dasmulheres jornalistas nas diversas mídias passou a predominar.

O curso de Jornalismo da Universidade Federal de SantaCatarina iniciou em 1979 e a primeira turma, formada em 1982,era composta de nove homens e nove mulheres. Dez anos depois,em 1992, de um total de 20 formandos, 15 eram mulheres e cin-co homens. Em 2003, formaram-se 19 mulheres e 14 homens.Nas universidades particularidades, o percentual de mulheres jor-nalistas também é superior ao dos homens. No curso de Comuni-cação Social da Univali, no primeiro semestre de 1995, formaram-se sete mulheres e três homens; em 2000, eram 27 mulheres e

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sete homens; em 2004, 24 mulheres e oito homens. No vestibu-lar de 2005, entre 40 aprovados, 28 são mulheres. Na Unisul, emPalhoça, em 2005 ingressaram no curso de jornalismo 24 mulhe-res e seis homens no período diurno e 18 mulheres e oito ho-mens, no noturno. No curso de Comunicação Social da UNOESC,em São Miguel do Oeste, de um total de 50 aprovados em 2005,36 são mulheres. Na Unochapecó, 31 mulheres ingressaram nocurso em 2005 e apenas 14 homens.

A maioria dos que concluem os cursos de jornalismo nãoexercerá a profissão � ou por falta de emprego ou por terem op-tado por outras profissões. A presença das jornalistas nas reda-ções representa um expressivo percentual. No entanto, a presen-ça das mulheres nas redações não tem correspondido ao acessoaos postos de relevância. A visibilidade cada vez maior das mulhe-res nas diversas mídias não corresponde ao aumento de poder. Ajornalista Ana Cláudia Menezes observa que �há uma dificuldadedas mulheres em chegarem a postos de chefia em Santa Catarina.Elas realizam um trabalho competente em suas editorias, mas, comraras exceções, atingem o cargo de editoras. É necessário refletirsobre esta tendência�.

Sendo nossa profissão uma atividade intelectual, nossas tare-fas e rotinas estão relacionadas com o escrever, com o pensar,com o observar. Conciliar a vida doméstica com a profissão sem-pre foi um grande desafio para as mulheres. Para as que escolhe-ram jornalismo como profissão, o desafio é administrar a vida pes-soal com a imprevisibilidade da função. Devido a uma pauta ines-perada, a repórter Imara Stallbaum foi fazer uma matéria no dia doaniversário de uma das filhas. Correu atrás da fonte, escreveu efinalmente foi para casa. A filha aniversariante já estava dormindoabraçada à irmã mais velha.

Histórias que aqui são contadas evidenciam que o longo ca-minho percorrido pelas mulheres jornalistas em Santa Catarina têm

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sido de conquista, de quebra de tabus, de preconceito, e até deenfrentamento. Convém sublinhar que as barreiras a vencer sãoheranças culturais. Há quem diga que se hoje há um grande núme-ro de mulheres nas redações é porque os salários pagos aos jorna-listas são baixos. Talvez no dia em que não mais dedicarmos espa-ços para registrar a presença da mulher na imprensa, estaremosatingindo o ideal no mercado de trabalho � ou seja, oportunidadeigual para todos com salários dignos.

E não mais ouviremos a pergunta: �E sua mãe sabe que vocêvai viajar sozinha!?�

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�... uma rede de televisão, por exemplo, alémde ser um alto negócio, em termos de aplica-ção de capital, pode ser importante para divul-gar informações e idéias que interessem às clas-ses dominantes. Informações e idéias congru-entes com os interesses econômicos, políticos,educacionais, religiosos, militares e outros dobloco do poder. Dizem respeito à ordem, pazsocial, estabilidade política, segurança, integra-ção, identidade nacional ou progresso, cresci-mento, produtividade, desenvolvimento, moder-nização�.

- Octávio Ianni1

Talvez uma das provas mais contundentes da importância donegócio chamado televisão possa ser ilustrada por uma experiên-cia pessoal, vivida há poucos anos, quando tivemos a oportunidadede permanecer uma semana em Rio Branco, ministrando cursosde atualização para jornalistas. Em termos comparativos, o estadodo Acre tem algo em torno de 10% da população de Santa Catari-na (5,3 milhões de habitantes contra 560 mil), pouco mais de 7,5%do número de municípios (293 contra 22) e, por outro lado, SantaCatarina ocupa uma área relativa a 60% do território do Acre.

Televisão, jornalismo e negóciosÁureo Moraes

1 In FILHO, Laurindo Leal. �Atrás das câmeras. Relações entre cultura, estado etelevisão�. Summus. 1988

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Longe de qualquer interpretação pejorativa, o que chamou aatenção foi que, em termos de veículos de comunicação, ambos,catarinenses e acreanos, têm uma realidade muito semelhante: sópara ficar no caso das emissoras de televisão, as duas capitais têmo mesmo número de empresas, cinco. Logo, não se trata aqui derequerer uma redução lá ou uma ampliação cá, mas de constatarque, ainda que a realidade sócio-econômica seja incomparável, aatuação dos agentes políticos e das forças do capital transformamo quadro das comunicações num universo em que, longe de aten-der às demandas de uma população, o que está em jogo são inte-resses de grupos. E é só.

Nesta perspectiva, falar da televisão como negócio deve, aonosso ver, partir desta condição consolidada, a de que o veículo aolongo dos últimos 50 anos sempre se pautou por esta relação in-tensa com o poder, seja o do Estado, seja o do capital. Aliás, omodelo de concessão e autorização do funcionamento é, sabida-mente, baseado nestas relações. E em Santa Catarina não haveriacomo ser diferente.

O contexto da televisão no estado pode ser situado em trêsdimensões: a histórica, a empresarial e a profissional. Em momen-tos distintos, cada uma delas cumpre a função de explicitar em quemedida é peculiar o papel da TV no cotidiano dos catarinenses.

Em relação à primeira das dimensões, situaremos as pionei-ras, mais precisamente as TVs Coligadas e Cultura e, mais adiante,a TV Catarinense. Cada uma a seu tempo foi formada a partir darealidade política nacional e estadual, tendo como referenciais asrelações estreitas entre seus proprietários e os governantes daépoca. Em regra, a constituição de tais empresas reunia os com-ponentes familiar e político. Ou seus administradores eram pro-prietários de outros negócios aos quais foi incorporada a emissoraou seus membros estavam ligados a grupos políticos. Ou até am-bas as situações ocorriam simultaneamente. Era um período em

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que, por razões inclusive tecnológicas, fazer TV era missão dasmais difíceis. Equipamentos caros, formação profissional restrita,uma experiência adequada a espíritos empreendedores. Com umaforte ascendência do rádio, sobre cuja linguagem foram acrescen-tadas as imagens, ainda captadas em câmeras de película.

Esta dimensão, a histórica, tem seu reconhecimento no quese refere ao caráter de pioneirismo em si mesmo, restando poucoque se possa avaliar desde o ponto de vista da gestão do negócio.O próprio mercado de anunciantes era emergente e, de certomodo, descrente dos resultados que o veículo então em surgi-mento poderia oferecer. Funcionava ainda o sistema de programa-ção jornalística vinculada ao nome do anunciante, modelo farta-mente adotado pelo rádio de então. Exemplo disso era o JornalMalhas Hering, exibido pela TV Coligadas logo no início de suastransmissões e relatado no trabalho de Joni César Tomazoni2.

Falemos agora da segunda dimensão, a empresarial. Aindaque na sua origem muitas das emissoras tenham surgido a partir daassociação de empreendedores, com alguma experiência em rá-dio, a partir dos anos de 1960/1970, multiplicaram-se as conces-sões. Vivia-se então uma era de transformações tecnológicas, omeio TV já não despertava tanta desconfiança nem era mais alvo degrande descrença. Muito antes pelo contrário: iniciava-se o pro-cesso de consolidação de sua ação junto ao grande público, assu-mindo o lugar de protagonista que antes cabia às emissões radiofô-nicas. Neste contexto � histórico e político �, o regime de con-cessões e autorizações de operação passou a ser gerido pelo com-ponente político, vale dizer partidário.

Assim, receber a concessão implicava em fazer concessões.Invariavelmente ligadas a famílias, as emissoras funcionavam a par-tir da lógica oligárquica. O capital montava a empresa, o poder

2 A História da TV Coligadas de Blumenau � Joni César Tomazoni � disponível nosite do LAMCE (http://www.cehcom.univali.br/lamce/impressao/livro21.pdf)

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político sustentava a conquista da autorização e, ambos garantiama manutenção da relação por meio da atuação política nas esferasdo estado. Deputados, senadores, prefeitos, empresários, pro-fundamente ligados entre si, detinham o uso e o abuso da televisão.

Deste período é importante destacar situações emblemáti-cas, como as �listas negras� que freqüentavam redações. Aos ini-migos, o anonimato. Aos amigos, a fartura da presença no vídeo.De outra parte, a programação jornalística refletia igualmente acircunstância em torno das relações entre estado e televisão. Apauta dos noticiários revelava-se absolutamente oficial. Inaugura-ções, entrevistas coletivas e solenidades ganhavam destaque.

No âmbito da atuação profissional, era ainda incipiente a açãopolítica dos profissionais. Muitos mantinham duplo vínculo. Atua-vam como repórteres, apresentadores, redatores e, em outrosturnos, como assessores. Pronto! Estavam criadas as condiçõespara a promiscuidade ou, na melhor hipótese, para a omissão.Consciência profissional, atuação coletiva, isenção, eram palavrasum tanto distantes do exercício profissional. No caso de SantaCatarina, a implantação de uma faculdade de jornalismo daria inícioao processo que, de modo geral acabou por tomar conta do mer-cado da televisão a partir dos anos de 1980.

Aqui, entraremos no que chamamos da terceira dimensãodo contexto da TV no estado. Em finais da década de 1970, atotalidade dos profissionais atuantes em Santa Catarina, com for-mação universitária, ou vinham de outros estados ou eram gradu-ados em áreas como o Direito. A criação do curso de Jornalismona Universidade Federal de Santa Catarina, em 1979, abriu novas ediferentes perspectivas no cenário da TV. Óbvio que a criação purae simples de uma faculdade não foi a única responsável pelas mu-danças que o mercado de TV passou a experimentar. Lembremo-nos de que o país ebulia neste período. Mas o ambiente e seusvetores, combinados, levaram às transformações.

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Pioneiro no estado, o Jornalismo da UFSC já nasceu rebelde.Sua vocação para a formação crítica, pedagogicamente inovador,estabeleceu outras bases para a atuação dos profissionais que pas-sou a formar. Ainda que se credite uma boa dose de idealismo eoutro tanto de carências estruturais à primeira fase de implantaçãodo Curso, ele tinha no seu seio, a intenção de, rigorosa e literal-mente, formar jornalistas.

Os estudantes daquelas primeiras turmas possuíam o perfilde outros tantos de diferentes áreas do conhecimento na época:contestadores, críticos, socialmente preocupados e politicamenteengajados. Conforme o histórico do curso no sítiowww.jornalismo.ufsc.br: �Os primeiros anos foram de intensa par-ticipação na vida política do Estado. Mas, se a formação políticaestava em alta, quando se formou a primeira turma, em 1982,constataram-se deficiências nas áreas técnica e científica. O Jorna-lismo funcionava com espaço físico reduzido, ocupando salas doprédio da Imprensa Universitária, tinha poucos equipamentos equase nenhuma estrutura laboratorial. Em 1984 constatou-se a in-viabilidade de um projeto estritamente político e muitos professo-res deixaram a universidade. O curso que se tornara conhecidonacionalmente como inovador, viveu um período de desânimo.�

A realidade que se tinha, até então, fazia dos profissionais aliformados jornalistas com conhecimento amplo do sentido da pro-fissão. Mas sua inserção no mercado de trabalho e, portanto, suacondição de protagonista no processo de mudança do negóciochamado TV ainda era tímida. Forma-se como um combatente doestado de coisas, mas acaba por se render ao inimigo. Deste perí-odo houve frutos no mercado local de televisão. Experiências ino-vadoras de programas e processos, trazendo, por exemplo, aschamadas pautas comunitárias, aproximando a população da TV, eseguindo a agenda da nação, democratizando em alguma medida oacesso à informação.

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Outro resultado dos primeiros anos da faculdade de Jorna-lismo da UFSC foi, sem dúvida, um dos mais relevantes. A partirde discussões e debates nascidos entre os alunos e professores searticulou, em meados dos anos de 1980, o MOS � Movimento deOposição Sindical. Um movimento criado naquele ambiente deteimosa democracia. Na fase derradeira dos anos de chumbo, cri-aram-se ali as condições para superar o oficialismo sindical que semantinha pelos favores do estado. Vencidas as eleições para o Sin-dicato dos Jornalistas Profissionais de Santa Catarina, os profissio-nais passaram a agir com outros princípios, com outras condutas.E o reflexo se deu no dia-a-dia do negócio chamado TV.

Foi a partir da atuação da recém-eleita diretoria do SJSC quese passou a ter exigências hoje absolutamente banais. O registroprofissional, o devido enquadramento de funções restritas aos jor-nalistas, a jornada de trabalho, a remuneração devida entre outrasconquistas. No conteúdo apresentado, também houve mudanças.Algumas delas determinadas pelo fluxo do mercado; outras pelotipo de formação que passou a existir. A geração que atuava eramais atenta às questões sociais, posicionada criticamente peranteos aspectos legais do exercício profissional e engajada nas transfor-mações políticas em curso.

Neste período, mais precisamente nos anos de 1988 a 1990,o Sindicato dos Jornalistas processa a inclusão de um grupo de pro-fissionais de televisão até então excluídos do reconhecimento legal.Trata-se dos repórteres cinematográficos que, àquela época, eramtratados nas emissoras como radialistas. Somente por meio da con-solidação de um projeto de ação sindical baseado nos marcos legaisexistentes foi possível integrar ao Sindicato estes jornalistas. O re-flexo no dia-a-dia dos repórteres da imagem foi altamente positivo:jornada de trabalho e salários adequados e, sobretudo, a conquistade uma dignidade profissional, em que a pura e simples eqüidade detratamento tornou-os jornalistas, legitimados a utilizar tal expressão.

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Seguiu-se ao Curso da UFSC, a implantação de outras esco-las de Jornalismo no estado. Se por um lado o fato gerou discus-sões do tipo �haverá mercado para todos�, de outro é inegáveladmitir que, no âmbito das emissoras de televisão houve um ex-pressivo aumento de profissionais com conhecimento da realida-de regional. Mais escolas, mais formandos, mais oportunidade deconsolidação de um olhar local sobra a realidade local.

Ainda que se julgue que a nova realidade profissional tenhaboa parcela de participação na transformação do meio TV naque-les tempos, há que se validar outras variáveis com tanta ou maiorrelevância. Nos anos de 1970 e 1980, a grande crítica aos meiosde comunicação eletrônica era quanto à concentração de sua pro-priedade em poucas mãos. Dizia-se em corredores e salas de aula,que democratizar era distribuir as emissoras entre a sociedade.Como elemento de um discurso ideológico, a bandeira utilizadalevava à convicção de que somente pela redistribuição do modeloconcentrado se obteria a efetiva democratização da comunicação.Viu-se, mais adiante, que deter a concessão não seria de fato a melhormaneira de se chegar ao acesso universal. A saída, provocada pelasmudanças tecnológicas, estava em se deter o modo de produção.

Neste sentido, o negócio TV passou a sofrer com a crescen-te variedade de espaços de difusão de informações. No início daúltima década do século XX, a produção independente ganha for-ça, em um país cuja ordem política já não dependia dos generais.Novas abordagens, novos olhares, diferentes perspectivas de mun-do ampliam as opções do espectador. As TVs por assinatura ele-vam o número de pessoas com acesso a outros canais. Mesmo quese leve em conta o fracasso parcial do modelo de TV a cabo �decorrência da superestimação do mercado �, sua implantação le-vou à conclusão de que mais do que ser dono é possível ser produtor.

A título de conclusão, ressalvado que o tema estará sempreinconcluso, destacamos algumas considerações do professor Hé-

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lio Schuch, do Departamento de Jornalismo da UFSC em artigopublicado em 1998: �O mercado brasileiro de jornalismo movi-menta-se no sentido de forte competição. Não apenas no caso deveículos impressos como também nos eletrônicos, a concorrênciatorna-se um componente decisivo na gestão das empresas quetêm o jornalismo como negócio. Nesta competição os veículosestabelecem as mais diversas estratégias de ação. Pode-se dizerque a atividade jornalística sob enfoque de mercado não é um as-sunto devidamente analisado e discutido nas escolas. É uma falhaque deve ser corrigida, já que o ambiente de concorrência que seestabelece no jornalismo deve ser melhor compreendido�.(...) Aconcorrência entre veículos jornalísticos não é, em si, um fato novo,mas o que atrai atenção é o acirramento desta competição emanos recentes. Isso pode ser constatado pelos seguintes indicado-res: 1) surgimento de novos canais de televisão por assinatura, 2)aumento da oferta de novas revistas semanais, quinzenais e men-sais, 3) aumento da oferta de novos jornais, 4) especialização daprogramação jornalística de emissoras de rádio e de televisão porassinatura, e também de jornais e revistas, 5) oferta de novos ser-viços de informação, impressa ou via internet, por empresas jor-nalísticas, 6) intensificação da cobertura regional por veículos naci-onais, 7) intensificação da cobertura local por veículos regionais.Tudo isso amplia as possibilidades de escolha da audiência, seja demeios impressos, seja de meios eletrônicos.�3

Diante das três dimensões aqui propostas � a histórica, aempresarial e a profissional �, imaginamos ser possível prever queelas persistirão daqui para o futuro. A TV Digital bate às portascomo fato iminente. E determinante: no sentido de quem serãoseus pioneiros; como se darão as relações de poder entre os agra-

3 Jornalismo e Mercado: análise da competição entre veículos jornalísticos. HélioAdemar Schuch. XXI Congresso da Intercom. 1998

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ciados com a concessão dos canais digitais e os sem-concessão;que profissionais as escolas irão formar e que foco eles terão dian-te da nova tecnologia.

Perguntas que outros cinqüenta anos nos ajudarão a responder.

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Apontada pelos círculos acadêmicos como um dos clássicosda literatura universal, a coleção �Comédia Humana�, do talentosoescritor francês Honoré de Balzac, tem um volume com liçõesextraordinárias sobre a prática do jornalismo. Publicado em 1843,�Ilusões Perdidas� é um desses livros a merecer leitura obrigatóriados estudantes de todos os cursos de Comunicação do Brasil, sejapelo conteúdo literário, seja pela atualidade de suas apreciações.Ali estão denunciadas as várias faces do jornalismo, do exercido deforma engajada ao praticado pela permuta do vil metal, passandopela mais ostensiva manipulação política.

Qualquer abordagem que se faça sobre o jornalismo e a po-lítica exercidos em Santa Catarina nestes 174 anos de existência daimprensa não poderá prescindir dos escritos do professor Oswal-do Rodrigues Cabral, um dos nossos mais festejados historiado-res. Foi dos últimos pesquisadores o que mais se dedicou à leiturados jornais e o que mais buscou documentos nos arquivos públi-cos e particulares para confirmar versões e fatos.

Tendo com o saudoso médico uma fraterna convivência, fru-to de seu pioneiro trabalho na instalação do Museu de Antropolo-gia da Universidade Federal de Santa Catarina, consegui alguns de-poimentos em conversas informais e entrevistas gravadas sobretemas polêmicos da história catarinense. Indagado certa vez so-bre a inexistência de um livro de sua autoria sobre a imprensa cata-rinense, foi definitivo, ao afirmar que a história da imprensa nãopode ser desvinculada da história da política e dos partidos.

Jornalismo e PolíticaMoacir Pereira

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Proclamou em 1975: �A imprensa de Santa Catarina nuncase desvinculou da política. A política sempre foi o nosso esporte,de maneira que os jornais sempre viveram em função da política edos partidos�.

Jerônimo Coelho, quando lançou o primeiro número de �OCatharinense�, revelou este engajamento político ao declarar guer-ra aberta ao centralismo governamental, atirando pesado contra oImpério. Ao longo do período monárquico, os jornais tinham duastendências claras, subordinadas às principais correntes de pensa-mento: liberal e conservador. Seguiu-se na República velha idênti-ca conotação, já mais acentuada com a marca do partidarismo. Osjornais assumiam até no frontispício a condição de órgãos de atua-ção partidária.

Veio a ditadura getulista e com ela a censura do DIP (Depar-tamento de Imprensa e Propaganda) aos órgãos de imprensa. Res-tabelecida a democracia, os principais jornais estabeleceram-se emFlorianópolis. Instalaram-se as principais emissoras de rádio. E,na maioria delas, a atuação partidária.

Os exemplos clássicos expressam de forma contundente estecenário predominante em inúmeros municípios. A Rádio Guarujá,do líder pessedista Aderbal Ramos da Silva, defendia os interessesdo PSD; a Rádio Diário da Manhã, do líder udenista Irineu Bor-nhausen, era a voz ativa da UDN. Enquanto o PSD defendia osgovernos pessedistas pelo jornal �O Estado�, a UDN fazia o mes-mo no jornal �Diário da Manhã�, ou pelas páginas de �A Gazeta�.

Sobre estes três diários há singulares registros históricos.Dois excepcionais jornalistas atuavam em trincheiras opostas: Ru-bens de Arruda Ramos defendia o PSD e atacava a UDN na famosacoluna �Frechando�, em �O Estado�, valendo-se do pseudônimoGuilherme Tell, o arqueiro da justiça, com uma bela ilustração embico de pena; e seu irmão, Jaime de Arruda Ramos, disparava con-tra o PSD e usava todos os escudos para promover a UDN em sua

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prestigiada coluna �Tim Tim�, usando o pseudônimo �Tim Tim�,em �A Gazeta� ou no �Diário da Manhã�.

Versão que corre há decênios nos meios jornalísticos revelaque Rubens e Jaime tinham um pacto. Os gladiadores podiam tudo,menos xingar a mãe. O acordo, garantem os filhos da notável du-pla, era mais folclórico do que real. O fato é que Rubens e Jaimenão faziam concessões partidárias, mas esgrimavam com catego-ria e elegância. A irmandade exigia de ambos fina ironia, estilo lite-rário e alto nível em todas as batalhas. A disputa sequer arranhou afraterna amizade que cultivaram durante toda a vida. Acometidopela doença que o vitimou, Rubens teve que viajar ao Rio de Janeiro. Eseguiu acompanhado do irmão Jaime, o temível adversário na mídia.

O matutino �A Gazeta� teve forte presença em Florianópolisdurante anos. Fundado por Jairo Callado, teve o comando de Mar-tinho Callado Júnior. Na fase final, ostentava �Um jornal sem liga-ções partidárias�. Como dependia quase sempre das verbas go-vernamentais, era alvo de tiradas irônicas dos concorrentes, queacrescentavam �...com as oposições.� Situação que, segundo oscríticos de plantão, marca atuação de vários veículos neste iníciodo século XXI em diferentes municípios do Estado. Os governosmudam, mas eles permanecem sempre na mesma posição.

A chegada de novos jornais, o advento da televisão, o fim dopluripartidarismo e as novas tecnologias em todos os veículosmudou o perfil da imprensa catarinense, que foi abandonando gra-dativamente essa forte atuação partidária para assumir uma postu-ra mais profissional e isenta. A instalação do curso de Jornalismo naUFSC consolidou esta tendência.

Uma prática que marcou os períodos eleitorais em SantaCatarina deixou de existir há anos: semanários, quinzenários e atédiários criados por candidatos, partidos e empresas com objetivoespecífico de fazer o marketing de seus candidatos. E que desapa-reciam imediatamente após o término das eleições.

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A fase mais recente vai identificar os jornais na busca de umapostura mais profissional na linha editorial e na cobertura política.São visíveis os avanços técnicos na edição, na investigação e naqualidade da impressão dos jornais de Florianópolis e de pratica-mente todos os diários das principais cidades de Santa Catarina.

Dois fenômenos, contudo, limitam o jornalismo político: acobertura das campanhas eleitorais e as múltiplas pressões sobreos profissionais.

Ao demitirem seus comentaristas políticos, as redes de te-levisão e os jornais alegam sempre �contenção de despesas� ou�mudanças editoriais�. Mas, nos bastidores, as informações se mul-tiplicam sobre motivação política na origem da decisão.

Nas eleições, registra-se um paradoxo. Enquanto os cronis-tas esportivos realizam-se plenamente nos grandes eventos � cam-peonatos e olimpíadas �, transmitindo toda a emoção vivida nacobertura, os jornalistas políticos sentem-se mais contingenciados.Este fato acaba empobrecendo a análise política, uma vez que acobertura tradicional tem se limitado aos fatos e declarações oficiais.

O jornalismo constitui atividade profissional realizadora,muitas vezes exercido como missão, pela possibilidade de presta-ção de serviço público, combate a toda forma de desonestidade,defesa de princípios, proclamação de valores e direitos, enfim, apropagação de mensagens que atuem na promoção humana. Mastambém, penosa e sacrificada, sobretudo no jornalismo político.De um lado, pela exigência de plantão permanente nas 24 horas dodia. O repórter político, o comentarista político é exigido emtodos os ambientes que freqüente, sejam eles econômicos, parti-culares e até sociais, eis que, antenado, registrará fatos e ouvirádepoimentos que ampliam suas informações mais amplas de acon-tecimentos nos bastidores.

Sacrificada, porque muitas vezes incompreendida. O analis-ta político não sobrevive sem boas fontes. E estas, sejam elas auto-

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ridades, parlamentares ou dirigentes partidários, em todos os ní-veis, se hoje são altamente qualificadas e freqüentam as colunascom registros positivos, amanhã podem ser alvo de avaliações crí-ticas ou até denúncias de ocorrências que as envolvem em práticascondenáveis pela sociedade. Esta relação jornalista-fonte, no seg-mento político, é extremamente delicada, porque pode implicarnum envolvimento comprometedor pela proximidade ou num dis-tanciamento limitador das informações.

As comemorações do cinqüentenário de fundação do Sindicatodos Jornalistas Profissionais de Santa Catarina oferecem uma oportuni-dade singular para debates e reflexões em torno destas questões pro-fissionais de real interesse coletivo e abordagem de temas semprerelevantes e atuais, como ética e responsabilidade social, o nível deinvestigação do jornalismo praticado no Estado, a falta de unidade daclasse e a representatividade restrita das entidades de classe.

O Sindicato dos Jornalistas, afinal, viveu períodos distintosnestas cinco décadas. Começou forte e numeroso, oxigenado pordois privilégios conferidos pela legislação: jornalistas tinham des-conto de 50% nas passagens aéreas e gozavam de isenção do im-posto de renda. Por isso mesmo, a nominata dos fundadores e,sobretudo, dos primeiros associados vai encontrar número eleva-do de comerciantes, profissionais liberais e até intelectuais que nãopraticavam o jornalismo e que buscavam o registro na época parao desfrute dos benefícios legais.

Com a regulamentação profissional imposta pelo Decreto-Lei 972/69, iniciou-se um processo de depuração. Uma comissãomista designada pelo Ministério do Trabalho fez uma profunda tri-agem, mantendo no Sindicato apenas os jornalistas registrados nostermos da legislação. Era a primeira seleção destinada a transformara entidade na representação efetiva dos jornalistas catarinenses.

Antes e depois da regulamentação, o Sindicato viveu fasesdistintas de sua trajetória. Uma delas deu prestígio estadual e pro-

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jeção nacional ao jornalismo catarinense, pelo engajamento deter-minado em todas as lutas contra a censura e pelo restabelecimentoda ordem jurídica no Brasil. Dela me recordo com saudade eemoção, orgulho e sentimento do dever cumprido.

Eleito pelo voto direto dos companheiros de todo o estado,tive o privilégio de presidir o Sindicato dos Jornalistas de 1975 a1978. Alguns testemunhos insuspeitos dos presidentes e direto-res dos Sindicatos de vários Estados, atestam a riqueza política eintelectual desta época. Entre eles, cito com respeito o nome docorajoso amigo e bravo companheiro Audálio Dantas (São Paulo),Dídimo Paiva e Washington de Melo (Minas Gerais), João Borgesde Souza e Antônio Firmo de Oliveira Gonzáles (Rio Grande doSul), Mauricio Azedo (Rio de Janeiro), Armando Rolemberg (Brasí-lia), Joesil de Barros (Pernambuco).

Derrotado na tentativa de reeleição, ofereci aos colegas umrelatório resumido de fim do mandato, que revela as intensas eproveitosas atividades do período. Aprovado pela assembléia dacategoria, na cerimônia de transmissão do cargo, mostra uma trans-formação inédita, com uma atuação nacional sem precedentes euma produtividade estadual até hoje não suplantada.

Em primeiro lugar, o sindicato catarinense alinhou-se à his-tórica luta do Sindicato de São Paulo contra a censura imposta peloAI-5, subscrevendo todos os documentos nacionais da classe pelorestabelecimento da liberdade de imprensa e da democracia, des-de que o Brasil foi sacudido com a morte do jornalista Vladimir Her-zog, num dos episódios mais dramáticos de nossa história recente.

Nos congressos nacionais e conferências, jamais titubeou emavalizar apoio a moções e documentos que denunciavam atenta-dos contra o exercício profissional e enfatizavam a volta da consti-tucionalidade.

Dentro do estado, várias frentes foram atacadas. O Sindica-to instalou delegacias em quatro municípios, para viabilizar a regu-

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lamentação profissional, o que permitiu a ampliação de sua base deoito para dezessete municípios. Editou o livro �Jornalista-Orienta-ção Profissional�, uma cartilha sobre todo o processo de registroe sindicalização.

Propôs na Delegacia Regional do Ministério do Trabalho oprimeiro acordo para fixação de piso salarial, conquista que já erauma realidade no Rio Grande do Sul, São Paulo e outros estados.As três principais empresas jornalísticas de Florianópolis assina-ram acordo de piso de três salários mínimos para cinco horas dejornada diária, além de outros benefícios. Foram assinados convê-nios com a Caixa de Assistência dos Advogados da OAB, com aCiclo e com a Medisan, para prestação de assistência odontológicae médica.

Data desta fase uma constante atuação na Delegacia do Mi-nistério do Trabalho para o efetivo cumprimento da legislação.Várias entidades de classe e empresas privadas passaram a contra-tar profissionais registrados para edição de jornais e revistas.

A programação cultural não foi desprezada. O Sindicato trou-xe a Florianópolis, até sob protestos de alguns colegas conserva-dores, o jornalista Fernando Morais, para o segundo lançamentonacional de seu livro �A Ilha�, que depois tornou-se best-seller.Audálio Dantas participou de noite de autógrafos de seu vitorioso�O Circo do Desespero�. Um produtivo debate foi realizadoapós a exibição do filme �Todos os homens do presidente�, base-ado no livro denúncia dos jornalistas Bob Woodward e Carl Berns-tein, sobre o famoso caso Watergate, que levou o presidente Ni-xon à renúncia. Editado o livro �Hipólito da Costa�, do jornalistaAdolfo Zigelli. Homenageado o saudoso repórter Rodolfo Sullivan,na edição de �O Estado�. Promoção dos prêmios Jerônimo Coe-lho de Reportagem, em cooperação com a Assembléia Legislativa,e do Prêmio Imprensa. Eventos que, ressalte-se, tinham semprecasa cheia, com a presença efetiva de companheiros de várias ten-

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dências ideológicas e partidárias. Eventos que, enfatize-se, tive-ram a maior repercussão na comunidade e contaram sempre complatéias expressivas.

Idealizadas e realizadas duas edições da Semana Catarinensede Jornalismo, em Florianópolis, e uma edição do Encontro daImprensa Catarinense (Chapecó), que trouxeram a Santa Catarinanomes destacados da imprensa nacional, como Cláudio Abramo(�Folha de S. Paulo�), Hélio Fernandes (�Tribuna da Imprensa�),Sérgio Jaguaribe, o Jaguar (�O Pasquim�), Fernando Morais (�Veja�),Villas Boas Correa (�Jornal do Brasil�), Ricardo Kotscho (�O Esta-do de S. Paulo�), Sérgio Motta Melo (Rede Globo), José Marquesde Melo (USP), Antônio Firmo de Oliveira Gonzáles (PUC-RS),Eurico Andrade (�Veja�); e o 1º. Seminário Internacional de Jorna-lismo, que contou com a presença dos jornalistas americanos Bru-ce Wandler (�The Washigton Post�) e Roberto Sullivan (�The NewYork Times�).

Foram lançadas quatro edições do jornal �Encontro�, órgãooficial do Sindicato, que teve a participação dos jornalistas Aluíziode Amorim, César Valente, Flávio Sturtdze, Bento Silvério, ElaineBorges, Imara Stailbaun, Laudelino José Sarda, Ivani Borges, Ores-tes Araújo, Jandyr Corte Real, Lourenço Cazarré, Sérgio Bonson,Raimundo Caruso, Rivaldo Souza, Luiz Antônio Soares, José CarlosSoares e Rosamaria Urbanetto.

O Sindicato ganhou tanto prestígio de congêneres do paísque obteve aprovação, por unanimidade, à proposta de realizaçãoda 12ª Conferência Nacional dos Jornalistas, o que aconteceu emFlorianópolis em 1979.

Coroando estas realizações, ganhou destaque por último aarticulação para criação do curso de Jornalismo na UniversidadeFederal de Santa Catarina. Depois de aprovar moções em todosos eventos promovidos pelo Sindicato, em Santa Catarina, e noscongressos e conferências nacionais, a Diretoria iniciou entendi-

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mentos com o reitor Caspar Erich Stemmer, que se comprome-teu em acolher as reivindicações e viabilizou a instalação do cursoatravés de vários atos assinados em 1978. Na 1ª Semana Catari-nense de Jornalismo, marco do ciclo de eventos profissionais, po-líticos e culturais, com o auditório lotado, foram lembrados todosos ex-presidentes. Ali, foi possível resgatar alguns dados dos diri-gentes sindicais.

Primeiro presidente, Martinho Callado Júnior mesclava ativi-dades profissionais com a militância no Partido Democrata Cris-tão, sigla que mais tarde o elevaria ao cargo de secretário da Edu-cação do governo Celso Ramos. Tratou de dar à entidade a marcasindical, consolidando a obra dos fundadores da Associação Cata-rinense de Imprensa, a semente plantada anos antes.

Marcou o mandato com a conquista da carta sindical, instru-mento legal que permitiria o pleno funcionamento da organizaçãoprofissional.

Jairo Callado, diretor proprietário de �A Gazeta�, foi o se-gundo presidente, com uma característica singular. Durante mui-tos anos, transformou-se o único empregador a dirigir um sindica-to de empregados no Brasil. Enfrentou um período de dificulda-des, mas teve o mérito de manter a classe unida e prestigiada.

Homenageado com a denominação de �Príncipe�, pelo esti-lo elegante com que escrevia, Gustavo Neves assumiu a presidên-cia em 1961. Sua presença no comando da entidade representoudignidade e prestígio para o jornalismo.

Foi sucedido por seu secretário, o jornalista Adão Miranda,figura humana de extraordinária comunicação, generoso com osamigos e muito bem relacionado com os poderes constituídos.Sua principal realização foi a aprovação do Estatuto do Sindicato,fato que viabilizou sua reeleição por novo mandato.

O jornalista Alírio Bosle exerceu dois mandatos com umafixação: a união da categoria, a garantia de um sistema de assistên-

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cia social aos mais idosos e, sobretudo, a integração entre patrõese empregados tendo como parâmetro a prestigiada AssociaçãoRiograndense de Imprensa, e a atuação harmônica entre os Sindi-catos dos Jornalistas e dos Radialistas.

Batalhou durante muito tempo até fundar a Casa do Jornalis-ta, destinada a abrigar todos os profissionais da imprensa, dando-lhe caráter mais social e cultural. Graças às excelentes relaçõescom o então governador Ivo Silveira, obteve a cessão por em-préstimo de um casarão na rua Vidal Ramos, onde era constante enumerosa freqüência dos jornalistas e radialistas.

Fato inédito na história do Sindicato aconteceu na sucessãode Alirio Bossle. Foi eleita chapa única, montada de comum acor-do com várias correntes, tendo como candidato a presidente ojornalista Osmar Antônio Schlindwein, companheiro de excelentesrelações com a redação de �O Estado�, onde atuava há décadas,aprovado pelos sócios de outros jornais. Credenciado na área pa-tronal e com trânsito nas agências de propaganda, por suas fun-ções exercidas no �mais antigo diário de Santa Catarina�, onde cum-pria várias tarefas jornalísticas, comerciais e administrativas.

Osmar Schlindwein foi eleito pela totalidade dos associados,mas não assumiu. Intimado na véspera da posse, compareceu nasede da Delegacia Regional do Ministério do Trabalho, que coorde-nava por lei todo o processo eleitoral. O delegado, Ciro BelliMuller, seu conterrâneo de Brusque, retardara a notícia na espe-rança de vê-la revogada. O 5º. Distrito Naval, na época com sedeem Florianópolis e maior unidade militar de Santa Catarina, quecontrolava pelo Serviço Secreto as liberações de candidatos às elei-ções sindicais, havia cassado a posse do presidente Osmar Schlin-dwein e do suplente da diretoria, Moacir Pereira. Ação posteriordo jornalista Cyro Barreto naquela unidade da Marinha resultou nocancelamento do veto à Moacir Pereira. Motivo alegado: o jornalis-ta havia sido confundido com um homônimo, o advogado Moacyr

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Pereira, ex-vereador do PTB, fichado no Distrito Naval por atuarna concessão de benefícios aos pescadores. Schlindwein teve cas-sação definitiva e jamais exerceu a presidência do Sindicato.

Criado o impasse, os demais membros da Diretoria decidi-ram então eleger Antônio Kowalski Sobrinho, o vice, para o lugardo jornalista impugnado.

Nova revisão dos registros profissionais, exigência do De-creto-Lei 972/69, foi um dos marcos da gestão de Kowalski, dedi-cado e competente redator que fez carreira desde menino na anti-ga redação de �O Estado�, na rua Conselheiro Mafra, quase sem-pre ao lado do inseparável amigo e vizinho, José Carlos Soares, oZico, que viria a ser mais tarde inquieto repórter policial e lealassessor de Esperidião Amin em várias funções públicas e doismandatos de governador do Estado.

Ao assumir a presidência, prometi lutar pela eliminação dacensura prévia oficial, pelo cumprimento da regulamentação pro-fissional, pelo piso salarial, pelo aprimoramento e unidade da clas-se, pelo congraçamento de todos os profissionais e pela criação deum curso de Jornalismo.

Três anos depois, concluído o mandato, relatava que o AI-5estava sendo guilhotinado definitivamente, o registro profissionalmantido como exigência legal, o piso salarial conquistado, o aper-feiçoamento promovido por incontáveis promoções de interesseprofissional e público, a categoria demonstrava mais prestígio eunião e estava oficialmente criado o Curso de Comunicação-habili-tação em Jornalismo pela UFSC.

Tive o prazer de pronunciar discurso perante autoridades,colegas e convidados, em que proclamava a certa altura: �Quandoa imprensa curva-se diante das benesses do poder, pende para opartidarismo e vincula-se a interesses de grupos, a cidadania entre-ga-se aos azares do arbítrio. Quando, ao contrário, ela assume seuverdadeiro papel reafirmando os direitos e garantias individuais,

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disseminando princípios democráticos e espalhando valores hu-manos e cristãos, aí, sim, protege o cidadão e segura o Estado,impondo juridicamente as regras do equilíbrio entre liberdade eautoridade�.

Prosseguia a manifestação de despedida: �Como fruto des-sas lições e enunciados, que pautaram as ações do Sindicato dosJornalistas nestes três anos, cremos haver chegado a um grau elo-giável de conscientização profissional no jornalismo catarinense.Estes postulados sopram como vento nas redações, onde sãomarcantes hoje os anseios de democracia, os desejos de justiçasocial, os apelos pelos direitos dos cidadãos, as mensagens elo-qüentes pela melhoria das condições de vida de todos os brasilei-ros, os ideais de um entendimento amplo com a concessão daanistia reparadora de punições injustas; enfim, o firme propósitode ver os irmãos unidos e mais próximos, todos vivendo sem dis-criminações�.

O Brasil dá um magnífico exemplo ao mundo, tendo na pre-sidência da República um retirante nordestino que forjou toda suaformação na luta sindical. O exercício da presidência de um sindi-cato constitui, realmente, uma magnífica oportunidade de enrique-cimento político, pessoal e profissional.

Ao concluir o mandato, dizia há 27 anos: �Gratificante, sobtodos os títulos, foi a experiência que termina. Diria que a nenhumjornalista seria lícito negar o exercício de tão sacrificada, incom-preendida, difícil, penosa, mas realizadora missão. Na realidade,esta jornada sindical constitui-se na melhor escola de formação deliderança, de política e de cidadania.�

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Jornalismo em cima do muroJacques Mick

Uma metáfora político-arquitetônica é evocada com freqüên-cia para defender a autonomia dos jornalistas: é com um muroimaginário entre o departamento comercial e a redação que a ca-tegoria separa os interesses distintos, quando não rivais, de cadaum desses setores, nas práticas orientadas pelo profissionalismo epela ética. O muro demarca territórios, segrega a gerência comer-cial e simboliza a hegemonia de um jornalismo que, orientado pelointeresse público, não se vende.

A imagem (pobre de estilo, mas deontologicamente expres-siva) tenta dar conta da complexidade da relação. Fendas, vãos,túneis, escadas, providenciais espaços de conexão entre os terri-tórios favorecem a confluência de interesses comuns ou o contra-bando. A parede é mais espessa e alta em certas editorias ou veí-culos; noutros é delgada e porosa; noutros, ainda, é simplesmenteum falso obstáculo, um embaraço no meio de um caminho que, naconcepção dos transeuntes, deveria estar livre. Quando anuncian-tes interessados em aparecer bem na imprensa encontram em-presas jornalísticas ou profissionais dispostos a agradá-los, o murose dissolve. Essa relação de confronto/confluência de interessescerca, particularmente, o jornalismo econômico.

Este capítulo analisa a profissionalização da cobertura eco-nômica na história recente da imprensa catarinense, à sombra detais jogos de pressão. O texto é especulativo e ampara-se em res-gate histórico, na revisão teórica de conceitos de jornalismo eco-nômico, na observação crítica da cobertura do setor dos últimosquinze anos e no diálogo com repórteres, editores, assessores de

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1 A escolha dos entrevistados foi apenas parcialmente aleatória: procureipersonalidades ao mesmo tempo relevantes para a história recente do jornalismoeconômico e acessíveis no prazo de 60 dias (contando Natal e Ano Ano-Novo)entre a encomenda e a entrega do capítulo. Foram entrevistados e/ou opinaramsobre os originais Aluízio de Amorim, Cláudio Loetz, Daisi Vogel, Eli Diniz, LuizFelipe Guimarães Soares, Sérgio Murillo de Andrade, Silvio Melatti e ZubaCoutinho, � aos quais agradeço. Sou grato também às críticas apresentadas pelosprofessores Gastão Cassel, Rogério Christofoletti e Samuel Pantoja Lima. Nenhumdesses profissionais tem qualquer responsabilidade sobre os juízos de valoremitidos neste artigo.

imprensa e/ou empresários que contribuíram para que a área al-cançasse o status que detinha em 20041.

A argumentação está desdobrada em duas partes. Na pri-meira, apresento uma interpretação da história recente do jorna-lismo econômico em Santa Catarina, de modo a delimitar mais pre-cisamente o objeto que será analisado na seqüência. Na segunda,proponho uma crítica em torno de temas que, derivados da revi-são histórica, me parecem relevantes para compreender limites epotencialidades do jornalismo econômico praticado no estado,como o papel desempenhado pelas assessorias de imprensa eas novas formas de envolvimento com a mídia adotadas peloempresariado.

A consolidação do jornalismo econômicoem Santa Catarina

O jornalismo econômico, como anotam Basile (2002) e Cal-das (2003), cobre os acontecimentos de dois universos inter-rela-cionados: o mercado e a política econômica. A rotina da editoriaenvolve ouvir vendedores e compradores, empresários (mais doque trabalhadores), formuladores de políticas (mais do que suasvítimas). A cobertura do setor se desenvolveu nos anos 1970, comoreação à censura: falar de economia era uma maneira disfarçadade, também, falar de política. As adversidades da economia nacio-nal nas décadas de 1980 e 1990 contribuíram para evidenciar a

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2 Só mudanças de moedas, houve cinco no país entre 1986 e 1994, sem contarindexadores (como a URV); a inflação chegoujá foi de a 84,32% no último mêsdo governo José Sarney.

3 Há jornalismo econômico em emissoras de rádio e TV e em veículos na internet,mas interpretar tais manifestações é objetivo inatingível nos limites deste texto,que se concentra na mídia impressa.

4 �Impresso em Blumenau e com boa circulação nas principais regiões do Estado, oJornal de Santa Catarina inovou os meios editoriais e jornalísticos de SantaCatarina, trazendo, inclusive, os primeiros profissionais de imprensa do RioGrande do Sul, que, desde a década de [19]70, foram ocupando em maiornúmero as redações de jornais e emissoras de rádio e TV� (TERNES, 2003, p. 85).

relevância das pautas dessa área para os cidadãos2 e transformarem celebridades jornalísticas os principais colunistas da área, comoLuiz Nassif, Joelmir Beting, Celso Ming, Aloysio Biondi, Miriam Leitãoe Carlos Alberto Sardenberg.

Em Santa Catarina, não é possível falar de jornalismo econô-mico antes dos 25 anos precedentes a 2004. Nesse um quarto deséculo, o estado registrou intenso crescimento de sua economia.Somente então, em conexão com esse fenômeno, a cobertura se-torial surgiu e se consolidou, sob diversas identidades3. O desen-volvimento do estado teve relação com suas características geo-gráficas e humanas (topografia acidentada, culturas de imigração);a variedade e a complexidade desse arranjo produtivo constituemum desafio permanente para a cobertura jornalística. Mas não éapenas no aspecto temático que jornalismo e mercado se relacio-nam: o crescimento do estado se refletiu também nas mudançasna estrutura de propriedade dos veículos de comunicação e, emconseqüência, nas iniciativas político-empresariais na disputa porleitores.

A história recente da imprensa catarinense tem como ummarco a audácia do "Jornal de Santa Catarina", criado por iniciativados mesmos empresários que haviam inaugurado a TV Coligadas,em 1969. Escrito por uma equipe imigrante de repórteres4, foi oprimeiro diário impresso em offset no estado, a partir de 1971.

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5 �É na década de 70 que o �mais antigo� registrará fase áurea, em termos detiragem, circulação e prestígio em todo o Estado� (PEREIRA, c1992, p. 119).

6 Apolinário Ternes descreveu com superlativos o significado da inovação tecnológicapara o diário de Joinville: �De um dia para outro, a partir de 31 de janeiro de1980, realizava-se a mais completa revolução numa empresa de comunicação dopaís, e para marcar a data foi idealizado o mais arrojado projeto editorial daimprensa catarinense de todos os tempos: uma edição histórica, com total de 264páginas, em 33 cadernos e tiragem de 50 mil exemplares, cuja repercussão eimportância são lembradas ainda nos dias atuais, um quarto de século depois daedição.� (TERNES, 2003, p. 88-89).

7 Uma década depois, o AN investiu US$ 6 milhões para informatizar a redação emodernizar o parque gráfico, o que permitiu, a partir de setembro de 1995, aimpressão em cores (TERNES, 2003, p. 105-106). O jornal, aliás, é reconhecidopela excelência gráfica: a elegância do projeto, combinada com o apuro narodagem, assegurou ao diário o troféu de maior prestígio no setor, o prêmioFernando Pini. Numa imprensa em geral carente de brilhantismo, este é ummérito a ser destacado.

Seu principal concorrente, O Estado, de propriedade familiar, apri-morou o sistema de impressão dois anos depois, preservando seuprestígio e a maior tiragem da época5. A Notícia trocou a linotipopelo offset em 19806.

Os investimentos para a modernização tecnológica das em-presas jornalísticas incrementaram a articulação entre proprietári-os de imprensa, lideranças políticas e alguns dos maiores empresá-rios do estado. Em "A Notícia", por exemplo, os US$ 5 milhõesaplicados na modernização do processo produtivo foram aporta-dos por Dieter Schmidt, da Tupy; João Hansen Jr., da Tigre; Balta-sar Buschle, da Buschle & Lepper; e também pelo acionista majo-ritário e ex-prefeito Helmut Fallgatter, ex-presidente da DrogariaCatarinense. Ao lado do suporte dos grandes empresários, encon-trava-se o apoio político de Antônio Carlos Konder Reis, JorgeKonder Bornhausen, Osvaldo Colin (à época, presidente do Bancodo Brasil, indicado por Bornhausen; o BB financiou parte do em-preendimento) (TERNES, 2003)7. No final dos anos 1970, o Santapassou ao controle do empresário Mário Petrelli, associado a Jor-ge e Paulo Konder Bornhausen.

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8 Para os dados, Pereira (1992, p. 128).9 O primeiro fora recebido no ano anterior, com uma série de matérias sobre

fraudes no Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER).

O fim do ciclo de adoção do offset coincide com o surgi-mento dos primeiros repórteres especializados na cobertura eco-nômica no estado, cultivando suas fontes nos palácios e noutrosícones do poder quase dez anos antes da criação de editorias es-truturadas para a área. A cartola "Economia" passa, desde o finaldos anos 1970, a acompanhar um noticiário predominantementeproduzido por agências, enfeitado pela reprodução das colunasdas estrelas nacionais do setor ("A Notícia" e Santa publicavam CelsoMing, "O Estado" veiculava Joelmir Beting).

Em 1986, quando surge o "Diário Catarinense", o estado ti-nha 72 jornais locais e três diários de circulação regional (Santa, "OEstado" e "A Notícia"), que, no ano do Plano Cruzado, já não podi-am ignorar o impacto das decisões econômicas no cotidiano doscidadãos-leitores8. O DC nasce ambicioso e desde o início adotauma editoria robusta para economia. Das 40 páginas, seis eramregularmente dedicadas ao tema e, aos domingos, oito. "A Notícia"vitaminou sua editoria de economia em 1992, para caprichar nacobertura do mercado da região norte do estado, mas o segundoPrêmio Esso Regional Sul recebido pelo veículo, em 1989, já haviasido uma conquista da equipe, com a pauta "Fraude em seguro lesao BESC"9. AN e DC adotaram colunistas exclusivos de economiano mesmo ano, 1999, com sete meses de distância um do outro.

As mudanças tecnológicas dos anos 1970 e o aumento daconcorrência nos anos 1980 deram início ao que Moacir Pereirachamou de década da profissionalização (1992, p. 80), conceitoque simbolizaria o rompimento com a tradição de vínculo diretoentre os veículos e os grupos político-partidários que os criaram.Por essa época, os jornais catarinenses adotaram o discurso deque são pautados pelo interesse público, pelo direito à liberdade

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10 Tais valores são consolidados em manifestações de classe como a Declaração deChapultepec, de 1996, na qual os empresários da comunicação afirmaram que�a credibilidade da imprensa está ligada ao compromisso com a verdade, à buscade precisão, imparcialidade e eqüidade e à clara diferenciação entre asmensagens jornalísticas e as comerciais. (...) Em uma sociedade livre, a opiniãopública premia ou castiga�. Karam (2004) critica o cinismo do discurso,apontando circunstâncias em que a censura ou a argumentação silogísticarestringem a pluralidade de opiniões e/ou violam o interesse público.

11 O DC foi o primeiro dos jornais catarinenses que, desde sua criação, pôdeempregar profissionais formados em Santa Catarina. A primeira turma do Cursode Jornalismo da UFSC fora graduada em 1982.

de expressão e pelo compromisso com a pluralidade de pontos devista10. Os vínculos político-partidários permaneciam, mas a ban-deira da profissionalização levou à adoção de novos processos pro-dutivos, característicos de um jornalismo de fato orientado pelointeresse público.

Na cobertura econômica, isso significou que mais jornalistasprofissionais passaram a acompanhar a área, substituindo ou acom-panhando os economistas que iniciaram o métier11. Entre outrosavanços, isso trouxe aprimoramentos na linguagem e na qualidadedo trabalho de reportagem, além de maior estabilidade na cober-tura, com repórteres familiarizados à temática, acompanhando-apor longo tempo. A cobertura se diversificou, acrescentando àspautas de política econômica e de vida empresarial o jornalismo deserviço ao consumidor e ao empreendedor e o acompanhamentode negócios. E a editoria de economia nos diários mais antigosbeneficiou-se das inovações adotadas pelos veículos na programa-ção visual (incluindo a impressão em cores) para fazer frente àconcorrência do DC, que circulou com capa colorida e diagrama-ção em módulos desde o primeiro número. Como resultado, detema periférico, a economia passou a ocupar lugar central na edi-ção dos diários.

O aprimoramento da cobertura econômica dos diários lo-cais foi apimentado pela concorrência com os principais jornais do

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país, que entre meados de 1980 e 2000 tiveram sucursais em Flo-rianópolis para cobrir os acontecimentos de Santa Catarina. A "Fo-lha de S. Paulo", por exemplo, manteve o serviço de 1989 a 1996.A "Gazeta Mercantil", além de uma equipe de correspondentes,editava um caderno diário sobre a economia estadual. Produto maiscompleto e denso do jornalismo econômico catarinense, o cader-no foi extinto em 2001. O jornal "Indústria & Comércio" atuou nomercado catarinense durante poucos anos. Ao que parece, nãohavia leitores suficientes para tornar viáveis, em termos comerci-ais, diários predominantemente econômicos voltados ao mercadolocal.

Também nos anos 1990, surgiram e conquistaram mercadoduas revistas especializadas no mundo empresarial, importantesegmento da cobertura econômica. Expressão e Empreendedormostraram que era possível realizar uma abordagem competentedo universo corporativo, prestando informação útil a empresáriose a novos empreendedores. Deram relevância, por exemplo, apráticas de responsabilidade social, a inovações tecnológicas e ainiciativas empresariais para preservar o meio ambiente. Eram pro-jetos cujo conteúdo era orientado por uma identificação entre osvalores do veículo e os de seu público preferencial: nenhum leitoresperaria das revistas uma cobertura ácida, com um jornalismoinvestigativo capaz de perturbar proprietários de empresas ougovernantes. Focavam-se nas boas práticas de gestão. Nos limitesdessa opção, praticavam um jornalismo cuidadoso e, seguramen-te, mais aprofundado que os jornais diários.

Como saldo dessas transformações no mercado e no modode produzir o jornalismo, os empresários e outras fontes da áreaeconômica desenvolveram opiniões mais elaboradas sobre a co-bertura. Mudara o jornalismo, mas também o empresariado. Umaolhada para a lista das maiores empresas do estado em dois mo-mentos da história recente (1973 e 2004, selecionados aleatoria-

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mente) mostra como se alteraram a composição e o perfil da eliteempresarial: somente uma empresa permaneceu na relação (Em-braco/Consul); o predomínio da gestão familiar foi substituído pelodas SAs; a indústria têxtil perdeu relevância; a agroindústria surgiue consolidou-se, assim como a presença do capital estrangeiro; aexportação tornara-se variável-chave para o desempenho dasempresas (Quadro 1).

Pesquisa de Schuch (1996) mapeou a percepção do empre-sariado catarinense sobre a ação da imprensa, a partir de entrevis-tas com 19 representantes das maiores empresas do estado em1995. Os empresários, como os atores da política, utilizam as in-formações da imprensa para traçar cenários e identificar os movi-mentos da concorrência. São, portanto, zelosos quanto a informa-ções estratégicas (tanto quanto um governante gestando reformasno primeiro escalão). Global players preferem dar entrevistas paraveículos nacionais, limitando os contatos com a imprensa local àsocasiões convenientes para a estratégia de vinculação com a co-munidade. Julgam que não precisam da imprensa local - mas que aimprensa local precisa deles. Há fontes empresariais que esperam

Ordem 1973 2004Empresa PL (US$ mi) Empresa PL (US$ mi)

1 Hansen 35 Tractebel 900

2 Tupy 27 Sadia 517

3 Hering 15 Bunge 498

4 Consul 13 Embraco 270

5 Carlos Renaux 9 Perdigão 266

6 Teka 9 Weg 189

7 Battistela 8 Seara 142

8 Cremer 7 Maesa 119Fontes: Para 1973, FGV (apud, MICHELS, 1998, p. 221-222). Para 2004, FGV (PL dolarizado pela cotação de 31/12/2003).

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12 Lastimavelmente o autor não discute as implicações da subordinação dojornalismo econômico à administração de empresas. De todo modo, a frase indicao quanto podem ser reveladoras pesquisas sobre as representações doempresariado em relação à mídia.

docilidade da imprensa, mas agem com ela com o mesmo autori-tarismo com que conduzem seus negócios. Repórteres incisivossão ainda rejeitados, por serem "agressivos".

O levantamento de Schuch constatou o predomínio de im-pressões positivas entre o empresariado quanto à importância dojornalismo econômico catarinense, mas colheu críticas duras aosdiários do estado. Os depoimentos destacaram a "melhoria daseditorias econômicas dos veículos tradicionais", já que, "pela posi-ção econômica do estado, o jornalismo econômico de Santa Cata-rina tem uma importância considerável". Condenaram, no entanto,a falta de precisão e correção e, às vezes, de especialização dorepórter. "O jornalismo econômico é um instrumento auxiliar deadministração empresarial. Há que se ter, no entanto, um cuidadorevisional, evitando que matérias publicadas contenham índices(percentuais) e valores (monetários) distorcidos, sem os devidoscritérios de checagem e que não espelham a realidade" (SCHU-CH, 1996)12. As fontes percebiam diferenças na qualificação dosrepórteres dos jornais nacionais, especializados ou não em econo-mia, em relação aos da imprensa diária estadual ou regional. Nasmídias de circulação nacional identificavam principalmente maiorcorreção na informação e critérios mais rigorosos quanto à checa-gem. Diferenciação semelhante efetuavam entre o pessoal das re-vistas especializadas e o dos diários.

A natureza da crítica indica que a relação da imprensa comas fontes no mundo empresarial melhorou nos últimos 25 anos.Os setoristas, em geral, estão mais bem informados sobre o quecobrem e procuram estabelecer relações profissionais com CEOs,diretores, gerentes, assessores. Quando isso não ocorre, são asfontes que estão mais bem informadas sobre as fragilidades que

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cercam o exercício da profissão e agem com mais tolerância dian-te delas. Boa parte dos empresários aprecia coberturas positivas,amenidades, visibilidade que estimula devaneios de poder político;detesta o mau jornalismo ou, simplesmente, o jornalismo (investi-gação, comparação, crítica). Quanto a este último aspecto, até2004, eles tinham poucas razões para alimentar rancores: a cober-tura econômica era bastante dócil, por motivos que serão analisa-dos na próxima seção.

Do confronto à convergênciaEm 2004, o "Jornal de Santa Catarina", adquirido pelo grupo

RBS em 1º de setembro de 1992, mudou o formato para tablóide;havia se tornado novamente um veículo de importância local. Ou-tro ex-standard, "O Estado", assolado por imenso passivo e atola-do em vaidosa incompetência administrativa, era simplesmente ir-relevante. Quatro diários locais conservavam algum prestígio, ape-sar de suas tiragens inferiores a 10 mil exemplares: o "CorreioLageano"; o "Jornal da Manhã", de Criciúma; o "Diário da Manhã",de Chapecó; e o "Diário do Litoral" (Diarinho), de Itajaí. Eram ape-nas dois os diários que buscavam o mercado estadual, o DC e oAN, ambos com tiragens pouco expressivas, considerando o ta-manho da população catarinense: o Diário imprimia, em dias desemana, 41 mil exemplares, contra 32 mil de "A Notícia"; o estadode Santa Catarina tinha quase 6 milhões de habitantes.

Saldo da crise financeira que os atingira após o fim da parida-de cambial entre real e dólar, em 1999, os veículos de circulaçãonacional operavam com freelancers ou deslocavam para cobertu-ras episódicas no estado repórteres e correspondentes do Paranáou do Rio Grande do Sul. Nascidas como concorrentes, as revis-tas especializadas em economia haviam encontrado nichos especí-ficos de mercado; segmentadas, conquistaram viabilidade financei-

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13 Expressão deixara de ser uma revista mensal para tornar-se um conjunto de seisanuários temáticos, baseados em conteúdo exclusivo (como pesquisas para aelaboração do ranking de maiores empresas da Região Sul e a definição deprêmios para empresas nas áreas de meio ambiente e inovação tecnológica).Empreendedor, criada em 1994, focara-se em �orientar e estimular os atuais efuturos empreendedores, de todos os portes� ao �mostrar e ressaltar osempresários que estão inovando e agregando valores aos seus produtos e serviços,além de apresentar as mais modernas e eficientes formas de gestão empresarial�.

ra e puderam dar continuidade às premissas que orientavam a qua-lidade de seu jornalismo13.

Em função dessas características dos competidores, ao finalde 2004, não existia concorrência efetiva entre os veículos de im-prensa. Com tiragem e zonas de circulação cristalizadas havia vári-os anos, os diários dedicavam-se a controlar custos de produção,para que coubessem em suas expectativas de faturamento. Exclu-ída a competitividade como motivador da qualidade dos veículos, estadependia de fatores tão voláteis quanto o desejo dos proprietários, aexigência dos leitores ou o empenho espontâneo dos profissionais.

A julgar pelas críticas de empresários e intelectuais (e tam-bém pela autocrítica dos profissionais), os avanços de qualidaderegistrados desde os anos 1980 mantiveram o jornalismo econô-mico desenvolvido pelos diários num patamar inferior ao que me-recem os leitores. Analistas como Kucinski condenam o adesismocomo falha crucial das abordagens. Trata-se da aceitação acríticadas políticas econômicas e das declarações das fontes, especial-mente as oficiais. A ausência de distanciamento crítico está relacio-nada com outro problema: o fontismo, caracterizado pela falta depluralismo nas abordagens. Como aponta Beting (2003), certo jor-nalismo econômico "se deixou ficar refém de cenaristas recorren-tes e tendenciosos, em cumplicidade com burocratas enrustidos eequivocados" .

Quanto aos materiais elementares de que é feito o jornal, épossível apontar o hermetismo na linguagem e o descuido com a

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informação como questões recorrentes. A falta de rigor na apura-ção e no tratamento da informação, lastimavelmente freqüente,leva a confusões banais como a troca de milhares por milhões, edisto por bilhões; ou a confusão entre dólar, euro e real. Errosbanais revelam um jornalismo imaturo, sensação que é agravadapela falta de profundidade: as coberturas usualmente não avançamna identificação de tendências, na busca do inédito, do diferencial.Não antecipam tendências - se limitam a refleti-las ou a ecoar as mo-das da administração. Os jornais publicam muitas histórias, mas pou-cas são aquelas capazes de acrescentar conhecimento ao leitor.

Parte das razões para tantos problemas encontrava-se nascaracterísticas das organizações jornalísticas, significativamente al-teradas na década de 1990. Folhas de pagamentos enxutas e con-tas de telefone enormes eram a síntese contábil desse modo defazer jornal. A profissão fora pauperizada e o trabalho de reporta-gem passara a ser feito por equipes cada vez mais jovens. Alémdisso, os setoristas de economia tinham salários tão baixos quantoos demais, mas eram mais exigidos. Com estruturas limitadas elinhas telefônicas suficientes, a cobertura se burocratizara. Comonotou Chaparro (1994, p. 73), "os jornalistas das redações escre-vem cada vez mais sobre fatos que não observam e sobre assuntosde que não entendem". O resultado era um material que, em re-gra, padecia de falta de criatividade: a cobertura apresentava abun-dantes relatos sobre a vida das empresas, mas relativamente pou-cas abordagens decisivamente relacionadas ao interesse público.Pouco jornalismo de serviço limitava o público da editoria de eco-nomia aos formadores de opinião. A sucessão de pautas-clichê(como a suíte no estado de temas nacionais, como a variação nataxa de desemprego, a última pesquisa do IBGE, a política industri-al do governo federal...) revelava um jornalismo sem imaginação.

Uma variável cultural também pode ter influenciado a co-bertura econômica. Concepções militantes da profissão haviam sido

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substituídas por uma noção (que parece pragmática, mas é apenascínica) que identificava o jornalismo com um produto e com omercado. A percepção dos atores sociais teve seus sinais ideológi-cos alterados: empresários que no passado eram vistos pelos re-pórteres como adversários de classe passaram a ser reconheci-dos como agentes de desenvolvimento, tycoons do emprego e dasoportunidades. A perda de prestígio do conceito de luta de classese a hegemonia do liberalismo revigoraram a imagem dos empresá-rios. Redações não eram mais abrigo, muito menos celeiro de anar-quistas, comunistas, socialistas. Havia menos entusiasmo quanto àcontribuição potencial do jornalismo para as mudanças sociais (emenos ilusões).

Sob tais transformações no ambiente das empresas de co-municação, os conflitos de interesse entre o jornalismo e os anun-ciantes - que levaram à criação da metáfora do muro - foram pro-gressivamente substituídos por concepções de harmonia. Empre-sas em geral têm interesse em dar visibilidade a suas inovações, asuas técnicas de gestão, a seus produtos. Empresas jornalísticastambém. Portanto, há convergência de interesses, e ela se dá, so-bretudo, na veiculação de "notícias positivas".

Para equipes competentes de assessoria de imprensa, o tra-balho ficara facilitado. A profissionalização das assessorias foi maisveloz e abrangente do que a das redações. Assessores de empre-sas ou jornalistas de firmas especializadas em assessoria tendem ater melhores salários e formação mais completa do que o pessoaldas redações. Raramente trabalham aos domingos; têm jornadasfreqüentemente mais extensas, mas mais regulares; encontram apoioquando desejam continuar seus estudos (que jornal ou emissora deTV contribui com o pagamento de um curso de pós-graduação?)14.

14 Mais da metade dos jornalistas catarinenses não estava empregada em veículosde comunicação em 2004; é provável que, dentre eles, a maioria trabalhasse emassessoria de imprensa, mas não há pesquisas disponíveis sobre o tema.

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O sucesso das firmas de assessoria de imprensa (ou das divisõesespecializadas dentro das empresas ou organizações de classe) émedido pelo aproveitamento do material enviado às redações. Oaproveitamento na íntegra é mais raro, mas empresas do setorsomam 80% a 90% de utilização de seus releases, como notas,pautas, base para novos textos ou, simplesmente, transcrições in-tegrais. É como um improvável artilheiro, capaz de acertar o gol(ou passar perto) oito vezes a cada dez chutes: mesmo que ogoleiro defenda, a torcida tem o que celebrar.

Algumas empresas de assessoria de imprensa contribuírampara levar o entendimento de empresários em relação aos meiosde comunicação a transcender o senso comum. O media-trainingdiscorre sobre os limites do trabalho da imprensa, esquematiza os"pecados capitais" cometidos pelos empresários na relação comos jornalistas (como pedir para ler a matéria antes da publicação).Aprende-se que a qualidade da informação (e sua veracidade) temrelação direta com a imagem positiva da empresa. Há uma tecno-logia para a gestão de situações de crise, para blindar os principaisexecutivos e preservar a imagem da corporação.

O padrão de relacionamento entre a Fiesc e a imprensa ilus-tra esse comportamento. A organização do empresariado indus-trial se fortaleceu nos anos 1970 e se consolidou na década seguin-te. A Fiesc adotou uma estrutura de assessoria de imprensa profis-sional, para perseguir o objetivo de converter em interesse públi-co suas reivindicações corporativas. A ação do empresariado tam-bém explorou o prestígio de suas entidades de classe para proje-tar lideranças na mídia, potencializando candidaturas de confian-ça15. A repercussão das ações sociais de instituições como o Sesi e

15 A esse respeito, basta lembrar das sucessivas especulações dos colunistaspolíticos sobre a possibilidade de o ex-presidente da Fiesc Osvaldo Douat lançarsua candidatura a governador, a deputado federal ou a suplente de JorgeBornhausen no Senado.

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o Senai contribuiu para revigorar a imagem do empresariado e desua principal entidade representativa. A criação do Prêmio Fiescde Jornalismo Econômico, ainda nos anos 1980, consolidou a es-tratégia de relacionamento cordial com a mídia, apontando as refe-rências de qualidade profissional sob o prisma da entidade de classe.

Em parte como resultado dessas estratégias mais sofistica-das de relacionamento com a imprensa adotadas pelo empresaria-do, os embates diretos eram cada vez menos freqüentes. Aindaassim, especialmente diante de noticiário que os desagradasse, gran-des anunciantes faziam pressões explícitas sobre os veículos, dire-tamente ou por intermédio de suas agências de propaganda ouórgãos de representação. O exercício da barganha era cotidiano, emais freqüente em momentos de crise (se ele produzia resulta-dos, é outra questão)16. Um punhado de exemplos reais:

a) o jornal banca uma série de reportagens sobre suspeitasde irregularidades cometidas num órgão paraestatal. O órgão eseus congêneres pressionam a direção do veículo para que sus-penda a cobertura, ameaçando cortar verbas publicitárias. O jor-nal mantém a abordagem do tema, que se esgota em poucos dias.A ameaça não é cumprida;

b) o mesmo jornal aponta irregularidades nos sorteios deuma loteria. Articulado com outros empresários, o dono da loteriaameaça boicotar o veículo. A cobertura do tema é interrompida.O boicote é praticado. Meses mais tarde, mergulhado em proble-mas financeiros, o veículo fecha;

c) um repórter que só bebe Coca-Cola ouve, de uma fonteconfiável mergulhada em uísque, a confirmação de que uma grandeempresa local será vendida a uma multinacional. A notícia, publica-

16 A pressão cresce quando interesses econômicos e políticos estão articulados parapressionar os jornais ou blindar determinados temas. Somados, os anúncios dopoder público e dos grandes anunciantes representam pressão muito elevadasobre o veículo.

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da dias depois, é negada com veemência pelo dono da empresa,que ameaça o jornal. O proprietário do veículo decide apoiar orepórter. Semanas depois, a venda é confirmada, nos termos exa-tos da primeira notícia;

d) um vazamento de óleo de uma grande indústria afeta o rioque abastece de água a cidade. Os prejuízos para a população sãodramáticos, mas a cobertura enfatiza a agilidade da empresa emreconhecer sua responsabilidade e tomar providências para con-ter o dano. A ação da empresa recebe mais destaque que o danoem si. A agilidade da iniciativa, combinada ao fato de a empresa serum grande anunciante, elimina naturalmente as zonas de ruído coma imprensa, que espontaneamente abandona sua função como por-ta-voz do interesse público para repercutir a "responsabilidade"social de quem se restringe a cumprir seu dever.

Em função do histórico de pressões, havia equipes que seautocensuravam, rejeitando a hipótese de investigar denúncias con-tra proprietários de marcas renomadas, driblando os dissaboresque anteviam. Em vez do "publique isto", prevalecia o "evite isto".

A gestão profissional da relação com a imprensa, a voluntáriacontenção dos veículos no tratamento de temas espinhosos para oempresariado, a pressão direta dos anunciantes, a ação estratégicaem momentos de crise - todos esses fenômenos tornaram maisrara a prática do "jabá". Desde os pontos mais remotos da históriado Jornalismo houve repórter ou empresa que trocou diretamen-te notícia por dinheiro. Hoje, o "jabá" foi diferido. O mais comumdos fluxos envolve uma conexão entre o departamento comerciale algum cargo elevado na redação. Surge quando o cliente pede àagência de propaganda que interfira junto ao veículo para que pro-videncie cobertura ao evento que constitui o objeto do anúncio ouda campanha. A agência autoriza a veiculação dos anúncios (diga-mos que se trata de uma verba de dezenas de milhares de reais) eapresenta o pedido para o contato comercial. A "sugestão de pau-

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ta" chega à editoria e é gentilmente acatada, povoando o noticiáriode bobagens e irrelevâncias.

Há também o "jabá" miúdo e sedutor. Anunciantes pagamviagens, distribuem brindes, fazem agrados. O catálogo de mimosé vasto: agendas exclusivas com capas de couro, CDs, livros, ca-lendários, canetas importadas e dezenas de objetos inocentes.Organizam-se megaeventos de relações públicas, de cardápio finoe farto. Oferecem-se viagens, e assim focas conhecem o Costãodo Sauípe, veteranos vão mais uma vez ao Salão do Automóvel,hospedados em hotéis cujas diárias equivalem a vários salários mí-nimos. É simplista afirmar que a generosidade compra simpatias -assim como é ingênuo supor que, independentemente de tamanhaamabilidade, as empresas recebam o mesmo tratamento.

Em síntese, o problema ético continua muito vivo, especial-mente na cobertura econômica. Poderia ser diferente, caso os jor-nais afirmassem, nas negociações comerciais, seu compromissoeditorial com o interesse público - o que, definitivamente, não ocor-re. (As crianças aprendem que um "não" pode ser tão amorosoquanto um "sim", mas contatos comerciais não negam coisa algumaa seus clientes.) A inexistência de uma cultura comercial que valo-rize a autonomia do jornalismo não é, evidentemente, uma respon-sabilidade do pessoal da redação, mas uma prática do veículo, de-rivada da histórica relação com os governos e as grandes empre-sas. E o interesse público?

Considerações finaisO muro entre a redação e o departamento comercial dissol-

ve-se nessa trajetória de convergência de interesses e aprendizadomútuo entre jornais e suas fontes-anunciantes. A cobertura econô-mica, no núcleo desta relação, é como um espelho mágico que, aomesmo tempo em que reflete o jornalismo de seu tempo, indicaantecipadamente a direção para onde caminham as práticas profis-

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sionais. Ao final de 2004, a voz desse espelho descrevia, no fim docaminho, a imagem de um muro metaforicamente derrubado e,sobre os escombros, a coexistência de interesses outrora perce-bidos como rivais.

A distinção entre o jornalismo econômico e o jornalismoempresarial encontra-se na idéia de que um é supostamente orien-tado pelo interesse público e o outro, claramente identificado como privado17. Como vimos, apenas excepcionalmente os diários, dri-blando seus próprios limites organizacionais, alcançam excelênciana cobertura econômica. Cada vez menos os anunciantes impõemcensura, porque ela surge espontaneamente. Não há cultura co-mercial para sustentar um jornalismo mais independente. Diantedisso, faz algum sentido o discurso de que os diários operam deacordo com o interesse público?

Ao fazer jornalismo de qualidade com maior regularidade,embora com o enfoque restrito dado pela identificação com o in-teresse do empresariado, as revistas tornaram-se mais úteis a seuspúblicos do que os diários. Afirmar claramente sua identidade devalores com uma determinada categoria social - os empreendedo-res - não impediu tais veículos de desenvolverem coberturas abran-gentes e aprofundadas, no recorte temático imposto pela identifi-cação. Tal recorte, entretanto, é insatisfatório para públicos não-específicos. Ainda que a aproximação de interesses entre a im-prensa e o empresariado seja acompanhada de um aprimoramen-to na qualidade da cobertura do jornalismo diário, a autocensura, avulnerabilidade a pressões, a aceitação acrítica das técnicas de re-lacionamento impostas pelas assessorias de imprensa continuarãooperando em desfavor do leitor.

Moacir Pereira concluiu seu livro sobre as conexões entre aimprensa e a política em Santa Catarina indicando dois pontos em

17 Essa distinção merece análise mais aprofundada, desafio que escapa aos limitesdeste capítulo.

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que o jornalismo catarinense ainda teria muito a avançar. Um era aampliação das tiragens dos principais veículos, de modo a que setornassem compatíveis com o tamanho da população do estado.O segundo era mais inquietação na busca da informação diferenci-ada, para qualificar o produto. Tais desafios, como vimos, perma-necem por ser superados, e dificilmente o serão sem um incre-mento da concorrência entre os veículos capaz de romper a es-tagnação provocada pela crise e pela acomodação dos diários. Acompetitividade não pode ser vista como uma panacéia, mas semela os avanços dependerão de fatores ainda mais complexos - comoa auto-organização dos leitores ou dos jornalistas para discutir otrabalho da imprensa e reivindicar melhorias18.

Ao final de 2004, a fragilidade da imprensa regional (aindamaior nos veículos locais) a tornava especialmente vulnerável àspressões econômicas. O equilíbrio financeiro precário a levava aoapelo permanente à generosidade dos órgãos públicos, ao assédioaos grandes anunciantes, à mendicância nas portas das maiores agên-cias de propaganda. A situação financeira dos diários do estadopermitia a seus donos dividir resultados, ao preço de um produtoburocrático, sem qualquer brilhantismo. A ausência de novos con-correntes no mercado só agravava o paradoxo: veículos financei-ramente frágeis não desenvolvem jornalismo independente e, aonão fazê-lo, continuam frágeis19. Como produto, às vezes se asse-melhavam a cadernos de classificados, embrulhados em jornal.

18 Para uma noção das resistências das empresas de comunicação a qualquerpossibilidade de controle social, basta evocar a criação do Conselho Federal deJornalismo, idéia que sequer pôde ser discutida em 2004 antes de ser soterradapor uma eficaz ação do lobby do setor no Congresso Nacional.

19 É possível que a ausência de novidades no mercado posteriores à aquisição do�Jornal de Santa Catarina� pelo grupo RBS, em 1992, se deva à recessãoeconômica, combinada às taxas de juros elevadas, fatores que tornam arriscado edesinteressante, para proprietários de capital, o investimento em atividadeprodutiva.

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Inovaçãoe Perspectivas

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A história do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de SantaCatarina ainda está por ser contada. A memória da entidade não foipreservada nem sistematizada pelas diretorias que a dirigiram es-pecialmente nas primeiras três décadas dos seus cinqüenta anos.Os documentos são dispersos, alguns com registros incompletos.A maior parte dessa história está guardada na lembrança dos seuspersonagens e precisa ser cruzada com algum tipo de registrooficial que lhes confira a exatidão e a precisão que a memória nãoconsegue lhe emprestar.

Este capítulo não pretende, em hipótese alguma, contar ahistória do Sindicato. Não é tarefa para um fragmento de livrorelatar e conectar com seu tempo tudo o que ocorreu em meioséculo. Ao recuperar diversos episódios desse período, preten-demos constituir um pequeno guia para quem se aventurar a tra-balhar num documento mais completo do ponto de vista historio-gráfico1 .

No dia 13 de maio de 1955, foi expedida a Carta Sindicalque transformou a Associação dos Jornalistas Profissionais, funda-da três anos antes, em Sindicato. Nada poderia ser mais relativo naépoca do que a própria expressão �jornalistas profissionais�. Aprofissão era regulamentada por legislação de 1938, que era sufici-entemente ampla para abrigar uma categoria que não tinha muitos

Muita história para contar(ou Uma história por contar)

Gastão Cassel

1 Há neste livro uma Linha do Tempo elaborada caprichosamente por Mário Xavierda qual foram retiradas várias referências para compor este capítulo,especialmente sobre a primeira campanha de moralização da emissão deregistros profissionais no estado.

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espaços efetivos para a formação profissional. O diploma não erauma exigência para exercer o jornalismo e talvez nem pudesse ser,uma vez que era escassa a quantidade de cursos universitários dejornalismo no país.

Os jornalistas daquela época se formavam no calor das reda-ções de jornais e dos estúdios de rádio. Quando tinham algumaformação superior, era geralmente em Direito ou Letras. Por estase outras razões, tratava-se de uma categoria sem uma identidadeprópria, sem referências que pudessem dar a ela um espírito deunidade ou mesmo uma noção de coletividade. Não se precisavamuito mais do que vontade de ser jornalista para se obter um re-gistro profissional na Delegacia Regional do Trabalho.

E muita gente queria ser jornalista. Não pelo amor ao ofíciode informar, mas para usufruir direitos que a sociedade dava a quemtivesse registro. Jornalista tinha isenção de Imposto de Renda, doimposto inter-vivos (aquele pago quando se vende um imóvel, hojechamado de ITBI), desconto de 50% em passagens aéreas (garan-tido por lei) e em passagens terrestres (por liberalidade das em-presas), aposentadoria especial, facilidade de acesso a financiamen-tos de casa própria e de automóvel, e até tratamento especial naJustiça.

O Sindicato dos Jornalistas era uma espécie de avalista dopasse para essas benesses com que se locupletavam pessoas quejamais haviam chegado perto de uma redação, mas que obtinhamcom facilidade a documentação que os faria jornalistas de papelpassado. Não encontramos registros que sustentem a hipótese,mas é provável que o Sindicato nos seus primeiros anos de vidafuncionasse como um balcão onde pessoas ligadas a esquemas depoder iam buscar declarações que facilitassem a obtenção do re-gistro no Ministério do Trabalho. Com uma declaração expedidapor uma empresa de comunicação e o aval do sindicato, qualquerum virava �jornalista�.

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A relação dos associados ao Sindicato, na época, era reche-ada de personalidades notáveis, incluindo secretários de estado,funcionários públicos, deputados, prefeitos, banqueiros, comerci-antes e até autoridades do clero. Nesse tempo, o sindicato tinhacerca de 400 filiados, mas estima-se que 70% deles eram ilegítimos.

Quem pesquisar essa fase da história da entidade terá querecorrer aos componentes do Primeiro Comando de Ação (PCA),que entre 1962 e 1963 lançou a primeira campanha pública doSindicato dos Jornalistas Profissionais de Santa Catarina, justamen-te brigando pela moralização da concessão de registros profissio-nais. O pessoal do Primeiro Comando fazia oposição à diretoria daentidade e era liderado pelos jornalistas Eurides Antunes Severo,Adolfo Ziguelli, Jorge Cherem, Silveira Lenzi, Melo Prates e ou-tros. As atividades do PCA não tardaram a ser estigmatizadas como�coisa de comunista� nas vésperas do golpe militar de 1964.

O pesquisador precisará descobrir o que mais o Sindicatofazia, além de multiplicar o número de registros frios, entre 1955e 1964. Não há muitos documentos, mas alguns papéis deixadospara trás mostram que ajudar os militares a perseguir jornalistasfoi uma das práticas do Sindicato durante os anos de chumbo dahistória do Brasil.

Em 13 de agosto de 1968, no período mais obscuro doRegime Militar, o jornalista Alírio Bosle, presidente do Sindicato,recebeu a correspondência 663/68 do general Álvaro Veiga Lima,chefe do SNI/-NAFL em Santa Catarina. O Serviço Nacional deInformações queria saber da vida do jornalista Erasmo Prates deSouza, para �verificar fatos ligados à Reserva de Índios de Xanxe-rê�. O elenco de perguntas era objetivo: �O Sr. Erasmo Prates deSouza é Jornalista Profissional? O referido Jornalista é sindicaliza-do?... É proprietário de jornal em Xanxerê? Qual o nome do Jor-nal? Jornalismo é profissão única do referido senhor? Qual seu con-ceito na área do Sindicato? Outros dados úteis ao esclarecimento

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sobre a vida funcional e particular do citado cidadão�. No dia 27do mesmo mês, Bosle encaminhou resposta ao general medianteofício número 26 do Sindicato. Mas não se conhece o teor da carta.

Três anos depois, o chefe do SNI/NAFL continuava preocu-pado com Xanxerê. Em 20 de fevereiro de 1971, perguntou aBosle, através do ofício número 143/NAFL/SNI/71, �se o Sr. J. R.Martins, diretor do jornal Imprensa do Povo [...] é associado edevidamente registrado nessa Associação�. Na cópia da carta, háapenas a anotação manuscrita �Providenciado� e um carimbo doremetente que diz que �O destinatário é Responsável pela Manu-tenção do Sigilo dêste Documento (Art. 62 Dec. N. 60.417/67,Regulamento para Salvaguarda de Assuntos Sigilosos)�.

O Relatório da Diretoria do SJPSC, do exercício de 1970,revela de forma inequívoca a cordialidade da entidade com o Regi-me Militar. �Vale assinalar, ainda, a solenidade que realizamos nomês de Março, ao transcurso de mais um aniversário da Revolu-ção, quando reunimos as autoridades militares desta Capital, emsessão solene de confraternização�.

Durante a ditadura, o Sindicato fez muita festa. A praxe erapelo menos um jantar por mês para homenagear autoridades quepouco tinham a ver com a categoria, mas que eram muito bemcolocadas na esfera do poder. Os jantares eram, algumas vezes,bancados pelas empresas de comunicação que, no informativomimeografado da entidade, eram chamadas de anfitriãs. Mas quemfosse a estes rapa-pés teria que desembolsar CR$ 2.700,00, sem abebida, relata o periódico de 10 de outubro de 1966, dia em quefoi homenageado Osmar Dutra, empresário e primeiro suplentede deputado eleito pela UDN.

Entre os convidados para os jantares do Sindicato, que naépoca era presidido por Adão Miranda, desfilavam nomes como odo general Paulo Weber Vieira da Rosa, prefeito indicado de Flori-anópolis, homenageado por sugestão da agência A.S. Propague.

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Júlio Zandrozny recebeu homenagens, uma vez como diretor daArtex e outra como presidente da Celesc. Nilson Bender, diretorda Fundação Tupy (pré-candidato ao governo derrotado interna-mente na UDN) também estrelou um jantar. As festas, muitas ve-zes, eram promovidas em cidades do interior e invariavelmentedestacavam autoridades e empresários bem relacionados com ogoverno.

As boas relações com o poder rendiam seus frutos. Em 31de julho de 1966, o então presidente do Sindicato, Adão Miranda,partiu para uma viagem de 45 dias a 25 cidades norte-americanas.Ele foi como bolsista convidado pelo Adido Trabalhista da Embai-xada dos Estados Unidos junto com outros cinco sindicalistas cata-rinenses. A participação na excursão aos EUA não era resultado doprestígio de Miranda. As viagens eram parte do programa de co-optação sindical articulado pelo Instituto de Pesquisas e EstudosSociais (IPES), pelo Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD)e pelo Conselho Superior das Classes Produtoras (CONCLAP)em colaboração com o Departamento de Estado Americano (leia-se CIA) para combater a �avanço do comunismo na América Lati-na�.2

Os anos 60 e 70 foram levados pelo Sindicato nesta toada. Aentidade se limitava a transitar junto aos poderosos numa simbiosede vaidades e locupletações. Nesta época, a Federação Nacionaldos Jornalistas esboçava uma reação à censura imposta pelo go-verno (como em documento aprovado pelo congresso da entida-de em junho de 1976, em Curitiba).

Entre 1975 e 1978 há um período da vida do SJPSC quemerece atenção especial do pesquisador. Comandado pelo jorna-lista Moacir Pereira, o Sindicato sinaliza tênue defesa das liberda-

2 A estratégia de levar sindicalistas para os EUA e sua articulação com osmovimentos anti-comunistas é fartamente relatada por René Armand Dreifuss emseu livro �1964: A Conquista do Poder�.

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des individuais e faz denúncias contra a censura. Também investeno discurso de qualificação profissional. A gestão de Pereira, con-traditoriamente, não rompe com a tradição de relação estreita como poder, embora avance inegavelmente no sentido da construçãode uma identidade corporativa para os jornalistas. É nesta gestãoque é assinado o primeiro Acordo Coletivo da categoria, criando opiso salarial de seis salários mínimos para os jornalistas. Pereirainveste, também, na realização de vários eventos e palestras comprofissionais de destaque nacional.

O crescimento da resistência democrática no país, a reorga-nização dos movimentos sociais e, particularmente em Santa Cata-rina, a criação do Curso de Jornalismo da UFSC começam a dese-nhar definitivamente um elo de articulação entre os jornalistas ca-tarinenses, o que o Sindicato insistia em não ser. A partir de 1979,mas com mais força a partir de 1982, o Movimento de OposiçãoSindical (MOS) dos jornalistas começa a fazer o trabalho que osindicato deveria fazer3.

Os jornalistas catarinenses não tinham nenhuma tradição deorganização trabalhista, mas o MOS tinha o exemplo próximo dosoperários do ABC paulista, que começavam a se organizar dentrodos sindicatos ou em oposições que visavam a conquistar as estru-turas sindicais. Ao mesmo tempo que denunciava e enfrentava adireção do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, o MOS tam-bém tratava de fortalecer a entidade por meio de campanhas desindicalização, pois a maioria dos jornalistas ignorava o Sindicato,uma vez que este pouco significava em termos práticos para acategoria. Os novos filiados representavam uma base eleitoral po-tencial para as eleições da entidade que ocorreriam em 1984.

3 O jornalista e professor Eduardo Meditsch, em 1985, relata e analisa o MOS emartigo produzido para a disciplina Movimentos Sociais, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFSC, sob orientação da professora IlseScherer Warren. Boa parte dos fatos que mencionamos aqui é descrita em taltrabalho.

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Realizar reuniões com cerca de 60 pessoas era normal parao MOS. Sua representatividade logo foi constatada pela categoria epelos setores da sociedade vinculados às lutas democráticas. Di-versas entidades apoiaram política e estruturalmente a oposiçãodos jornalistas. As próprias empresas de comunicação, de maneirainconfessa, reconheciam o movimento ao permitir que seus re-presentantes visitassem as redações para distribuir informativos ediscutir com a categoria.

Tendo como voz o �Jornal dos Jornalistas�, o MOS se esta-dualizou e celebrou a sua consolidação no encontro estadual reali-zado em Blumenau, nos dias 24 e 25 de abril de 1983, em plenoTeatro Carlos Gomes, com mais de 200 participantes, que elege-ram a primeira Comissão Executiva do MOS, composta de ArturScavone, Ayrton Kanitz, Elizabeth Brandão, Moacir Loth, Bonifá-cio Thiesen e Valdir Alves.

Associações e clubes de imprensa de todo o estado passa-ram a apoiar o MOS, que crescia como uma locomotiva que sedeslocava a todo vapor em direção ao Sindicato. O principal obs-táculo era a máquina política do governo do estado, que estavadisposta a manter o seu singelo aparelho sob controle. Nem adivisão entre tendências dentro do MOS parecia atrapalhar. Ossimpatizantes do novo sindicalismo do ABC paulista (que viria adesaguar na Central Única dos Trabalhadores) disputavam comampla vantagem espaços com os representantes da Unidade Sindi-cal (que viria a criar a Força Sindical liderada por Medeiros e Magri).

Para escolher os nomes que concorreriam à direção do Sin-dicato, o MOS realizou eleições prévias em todo o estado, quetiveram mais de 220 votantes, apesar de o pleito ter sido prejudi-cado pela enchente que ocorreu em 1984 em Santa Catarina. Ayr-ton Kanitz foi escolhido para liderar a chapa, que tinha ainda osnomes de Elaine Borges, Moacir Loth, Ionice Lorenzoni, Maria Lins,Mário Medaglia e Celso Vicenzi. A situação lançou Cyro Barreto

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para concorrer à eleição, com a prerrogativa de escolher pessoal-mente os outros 23 nomes que comporiam a chapa.

A abertura oficial do processo eleitoral revelou um adversá-rio difícil de ser enfrentado: o conjunto de regras e leis sindicaisque favorecia de diversas formas o continuísmo. A oposição nãotinha, por exemplo, acesso às listas de votantes. A Delegacia Regi-onal do Trabalho emudecia diante das denúncias da oposição. E adiretoria do Sindicato criava empecilhos para que os associadospagassem as suas mensalidades para ter direito a voto. As empre-sas de comunicação se dedicavam a auxiliar a situação, ainda que deforma velada, na maioria das vezes.

Como o presidente do Sindicato, que compunha a chapa desituação, era legalmente o coordenador do processo eleitoral, sóele tinha acesso à documentação de habilitação das chapas. Ficoufácil suprimir papéis e, alegando falta de documentos, pedir a im-pugnação de todos os membros da chapa de oposição junto aoMinistério do Trabalho. De 24 solicitações, nove foram acatadas.

A eleição ocorreu assim mesmo, sob boatos e trocas deacusações. No dia 25 de julho de 1984, o MOS venceu a situaçãopor dois votos de diferença: 120 a 118. Mas o resultado não valianada, pois a legislação exigia que a chapa vencedora obtivesse mai-oria absoluta num primeiro turno. Nova eleição foi marcada para 9de agosto, dois dias depois de uma forte enchente fustigar o Esta-do. O MOS brigou pelo adiamento, que foi contestado pela situa-ção, que via na calamidade a chance de descontar os votos dointerior do estado que havia perdido no primeiro escrutínio.

O Ministério do Trabalho adiou a eleição na última hora, mascontinuou fazendo vistas grossas para as outras irregularidades.No segundo turno, as cédulas foram levadas para o interior doestado pelos próprios candidatos da situação, que �informavam�os eleitores que a chapa do MOS havia sido impugnada. Um funci-onário da Celesc ligado politicamente ao governador da época,

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Esperidião Amin, relatou a um eletricitário que, enquanto os fiscaisdo MOS conferiam a chegada de votos por correspondência naCaixa Postal do Sindicato, as cédulas eram trocadas nas dependên-cias internas dos Correios, com a complacência e colaboração doórgão. O resultado foi a vitória de Cyro Barreto por 137 a 116votos. Sua gestão, no entanto, foi um fracasso. Ele sequer comple-tou o mandato. Renunciou em fevereiro de 1986 alegando que aoposição anarquizara o Sindicato.

O impacto da derrota desarticulou o MOS por longo perío-do. Várias lideranças do movimento deixaram o estado ou se en-volveram em projetos profissionais que os afastaram do cotidianoda categoria. Mas em 1987 o Movimento reergueu-se para con-correr a novas eleições e dessa vez obteve êxito. Celso Vicenzi,repórter do �Diário Catarinense�4, venceu a eleição e assumiu aentidade, que tinha como patrimônio um arquivo de aço e um te-lefone. Mesmo assim, iniciou uma nova fase da vida do Sindicatodos Jornalistas Profissionais de Santa Catarina.

A gestão de Vicenzi ocorreu num momento em que o Movi-mento Sindical estava a plenos pulmões. Com o país sob um pro-cesso inflacionário e recessivo, eram poucas as categorias profissi-onais que não iam às ruas reivindicar seus direitos. Nesse momen-to também os jornalistas começam a se enxergar como categoria,como coletivo. O resultado dessa nova auto-imagem é a mobiliza-ção, a identificação de um parceiro de agruras e possibilidades emcada colega de redação. Nos três anos da primeira gestão do MOS,acontecem duas greves na redação do �Jornal de Santa Catarina�,uma na sucursal de Florianópolis e uma em toda a empresa. Ojornal �O Estado� também enfrentou duas paralisações dos jorna-listas, uma de doze dias. Durante as greves, �O Estado� era fecha-

4 Ao saber que Celso Vicenzi compunha a chapa do MOS, a RBS imediatamentedemitiu-o, mas oito meses depois uma determinação judicial reintegrou-o aoemprego, então com as garantias que o cargo lhe assegurava.

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do praticamente só com despachos de agências de notícias e algu-mas matérias de assessorias de imprensa. Um trabalho do coman-do de greve junto aos assessores do governo angariou a solidarie-dade de alguns deles, que diminuíram a escala de produção dereleases,dificultando ainda mais o baixamento do jornal.

Os empresários de comunicação começaram a sentir o pesode uma gestão sindical disposta a batalhar pelos direitos da catego-ria. O piso salarial catarinense, que era o terceiro mais baixo dopaís, chegou a ser o mais alto do Brasil. Nenhum acordo foi fecha-do sem que se obtivesse pelo menos a reposição da inflação doperíodo. Conquista importante foi a unificação do piso salarial, queera dividido em cinco faixas distintas por função (repórter, editor,subeditor, diagramador, fotógrafo). Em várias negociações houvereajustes diferenciados que privilegiaram os salários mais baixos.Hoje, o piso regional está na média nacional.

O endurecimento das negociações, que algumas vezes aca-baram em dissídio julgado pela Justiça, só foi sustentado porque arepresentatividade do sindicato se impôs. A diretoria não ficava 15dias sem passar nas redações para debater as questões emergen-tes, sobretudo, criando vínculos essenciais com a categoria. O es-treitamento das relações entre o Sindicato e a categoria se eviden-ciou em situações como a que ocorreu num dia de 1988, quando adireção do �Diário Catarinense� resolveu impedir os sindicalistasde entrarem na redação para distribuir um informativo. Ativadospor alguns telefonemas, praticamente todos os profissionais dojornal deixaram seus postos de trabalho e foram até a frente doprédio ouvir o que o Sindicato tinha a dizer.

A atividade sindical desse período foi sempre realizada naadversidade. De estrutura o Sindicato não dispunha, e as empresasse negavam, por exemplo, a descontar em folha a mensalidade daentidade, o que só foi conseguido mais tarde, por força do AcordoColetivo. Sem recursos, o Sindicato persegue desde sempre o

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sonho da interiorização, da presença efetiva em todos os pontosdo estado.

Uma dificuldade paradoxal do Sindicato é a de se comunicarcom a sociedade. Embora tenha um enorme potencial de repre-sentatividade e credibilidade, não consegue estar presente em to-dos os espaços sociais que seu prestígio permite. Por ser umaentidade que representa profissionais de comunicação, a socieda-de civil identifica nos sindicatos de jornalistas uma legitimidade si-milar a de órgãos como a OAB, mas sua falta de estrutura nãoconsegue dar conta dessa tarefa, que poderia redundar no fortale-cimento das próprias lutas internas da categoria.

A dificuldade da entidade se comunicar foi bem exploradapelos colunistas que cerraram fileira com os interesses das empre-sas. Vários deles usaram as suas colunas para atacar o novo com-portamento do Sindicato, que destoava do servilismo que caracte-rizou as gestões anteriores. O problema se agravou depois que asempresas de comunicação espertamente suprimiram dos Acor-dos Coletivos a publicação da coluna do Sindicato, que era veicula-da mensalmente nos jornais, sem ônus para o SJPSC.

Para quebrar a barreira de comunicação com a sociedade, oSindicato investiu em eventos culturais, especialmente exposiçõesde fotos e charges que correram o estado. Passeatas, cartas àsagências de publicidade, out-doors e faixas em viadutos foram utili-zados dentro das parcas possibilidades financeiras da entidade. Masainda era pouco. A criatividade e a ousadia deram forma à Opera-ção Papagaio. A idéia era simples: fazer aparecer na televisão men-sagens sobre as condições de trabalho dos jornalistas. Então, emvárias transmissões ao vivo, especialmente em eventos de granderepercussão, algum jornalista aparecia de �papagaio de pirata� atrásdo repórter com um cartaz com alguma reivindicação dos jornalistas.

Na cobertura das eleições de 1992, por exemplo, um re-pórter da RBS TV entrevistava ao vivo o presidente do Tribunal

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Regional Eleitoral quando atrás da autoridade surgiu Valdir Cacho-eira, então repórter do jornal �O Estado�, com o cartaz �RBS -Rede de Baixos Salários�. Deu uma enorme confusão e Cachoeirateve sua credencial caçada pelo TRE.

Essa prática ganhou outras formas de expressão, como adistribuição em encontros empresariais de panfletos que compa-ravam os editoriais nos quais as empresas de comunicação defen-diam práticas de gestão moderna com o tratamento feudal dispen-sado aos jornalistas. Embora singelas, essas ações de guerrilha in-formativa espalharam pânico e paranóia entre as empresas de co-municação. Melhor para as empresas de segurança que eram con-tratadas para evitar que qualquer faixa ou cartaz fosse aberto dian-te das câmeras. Os principais alvos do sindicato eram as transmis-sões do Jornal do Almoço ao vivo, os sorteios do Caminhão doFaustão e os grandes shows.

Quando Xuxa veio ao estádio Orlando Scarpelli como con-vidada da RBS para as festas de Natal, a equipe da Operação Papa-gaio despertou a ira de Pedro Sirotsky que, ao final do espetáculo,desceu de seu camarote para desafiar os dirigentes do Sindicato.�Isso não vai ficar assim�, disse o herdeiro da RBS com o dedo emriste. Ele não gostou das faixas que diziam �Xuxa, baixinho é osalário do jornalista� e o já tradicional �Rede de Baixos Salários�,com as iniciais da empresa grifadas. Para evitar ações dessa nature-za, a RBS contratou mais de 200 seguranças para o show do ro-queiro Rod Stewart.

Se as duas gestões de Celso Vicenzi tiveram o caráter de darao sindicato uma estrutura mínima e à categoria uma identidadecorporativa, as duas de Sérgio Murillo de Andrade tiveram, ainda,a tarefa de defender a categoria dos ataques à regulamentação daprofissão. Obviamente, a tarefa de reivindicar salários e condições detrabalho fica muito mais difícil quando é necessário debater com asociedade a necessidade de se ter diploma para exercer o jornalismo.

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Prevalecia até pouco tempo o arquétipo do jornalista comouma pessoa bem situada economicamente e com trânsito nos es-calões do poder. Hoje, com um maior número de jornalistas nomercado, a mitificação parece relativizada e, pelo menos para ossetores mais esclarecidos, os jornalistas não carregam mais o gla-mour que lhes era atribuído. Já é possível perceber que a exposi-ção pública dessa categoria não é proporcional à sua remuneraçãoe, muito menos, às difíceis condições de trabalho que enfrentamna maioria das vezes.

O auto-engano com relação ao status da profissão talvez sejahoje menos relevante do que no passado, provavelmente atingin-do jornalistas mais jovens, que ainda não tiveram contato com todaa extensão da realidade profissional. No entanto, a dissolução doespírito coletivo solidificado em meados dos anos 80 é um fatoque acompanha uma postura de quem confia no seu sindicato, masnão participa de suas iniciativas. A desmobilização não é um fenô-meno que atinge somente os jornalistas, mas um fato que desafiatodo o movimento sindical no momento em que as ideologias quealavancam o individualismo ganham força e terreno. A sofisticaçãodos processos de cooptação dentro das empresas com políticasousadas de endomarketing e desenvolvimento de culturas empresari-ais certamente também concorre para dissolver o espírito classista.

Nesse período, os desafios se tornaram pelo menos maiscomplexos para os sindicalistas. A proliferação de cursos de co-municação em Santa Catarina, com a multiplicação numérica dosjornalistas, trouxe algumas vantagens e muitos desafios para o Sin-dicato (como sindicalizar os egressos dos cursos, estar presentedesde o processo de formação dos novos profissionais, por exem-plo). Defender a profissionalização do mercado, que parecia umatarefa dos anos 70, passa a ser novamente uma urgência.

O reflexo deste novo quadro na organização sindical é gran-de. Pesquisa publicada pela revista �Imprensa� mostra que a cate-

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goria tem alto índice de sindicalização (cerca de 40% em escalanacional, só perdendo para os bancários, mas superando os meta-lúrgicos), mas que esse índice é mais baixo entre os jornalistasjovens e recém-egressos de universidades.

A primeira gestão de Luis Fernando Assunção foi marcadajustamente pelo esforço de interiorização do sindicato, com pre-sença freqüente de diretores nas principais cidades. O resultadoimediato foi um aquecimento da mobilização nas campanhas salari-ais. Já a segunda gestão (durante a qual Assunção licenciou-se poronze meses, passando a direção para Rogério Christofoletti, e re-tornando em seguida) acontece em circunstâncias em que se rede-senha o perfil dos jornalistas. Estatisticamente, seus locais de tra-balho não são mais majoritariamente as redações de rádios, jornaise TVs. Eles estão espalhados nas assessorias de empresas, gover-no e terceiro setor, estão nas suas próprias agências de comunica-ção (às vezes, até como empregadores de outros jornalistas), es-tão nas universidades ensinando jornalismo (o que é uma funçãojornalística, segundo a Fenaj). Ter uma entidade representativa destanova categoria exige novos entendimentos, novas habilidades deabordagem, nova postura institucional e, além disso, outro tipo deestrutura física e operacional. Não se trata de dizer que o Sindica-to deve esquecer as redações, mas que precisa lembrar que háoutros habitats para a categoria que também merecem atenção.

O Jornalismo é profissão nova, mais nova ainda em SantaCatarina. Mas o olhar sobre ela já carece de reciclagem. A dinâmi-ca da sociedade repercute muito rapidamente nessa categoria, quepor sua natureza precisa estar sintonizada com as movimentaçõestecnológicas, com as tendências do mercado e os novos paradig-mas produtivos da sociedade.

Por tudo isso, quem for contar a história do Sindicato vai termuito trabalho. Vai ter que articular os poucos documentos quelocalizar com o seu tempo. Vai ter que encontrar os nexos entre as

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relações de poder de cada época e as atitudes da entidade. Vai terque conhecer a conjuntura política de cada circunstância e sua in-fluência nas ações. Vai ter que resgatar o folclore dos personagense inseri-lo na história coletiva. Vai ter que pensar sobre jornalismoe jornalistas. Vai ter muita história para contar.

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�(...) Nada conseguiremos compreenderda era moderna se não nos apercebermos damaneira como a revolução na comunicação criouum novo mundo�.

C.H.Cooley

Os avanços da ciência e tecnologia vivenciados na atualidadese refletem em todos os segmentos da sociedade. A cada dia, abusca de informações, sejam elas noticiosas ou não, aumenta so-bremaneira, pois a posse da informação caracteriza uma forma depoder.

No decorrer do século XX, a humanidade presenciou osurgimento de diversas inovações na área da comunicação. Entreelas destacam-se o telefone, o rádio, o cinema, a televisão, o com-putador e, por fim, a Internet. Cada uma dessas inovações tevegrande impacto em sua época e todas, sem exceção, continuam aexistir e a exercer forte papel no cotidiano das pessoas. Ao con-trário do que muitos pensavam, nenhuma suplantou totalmente aoutra, e a Internet com certeza não será exceção à regra e nemserá a última invenção humana nessa área.

No entanto, se observarmos a linha de tempo de algumasinvenções dos dois últimos séculos, verificaremos que o tempo dedifusão da Internet é incomparavelmente menor que os demais. Aeletricidade, inventada em 1873, atingiu 50 milhões de usuários

Jornalismo e tecnologia: pioneirismo econtradições - Um breve relato da chegada dainformatização nas redações catarinenses

Maria José Baldessar

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depois de 46 anos de existência; o telefone (1876), 35 anos paraatingir esta mesma marca; o automóvel (1886), 55 anos; o rádio(1906), 22 anos; a televisão (1926), 26 anos e o microcomputa-dor (1975), 16 anos. A Internet, por sua vez, criada na década de90, tem hoje 378 milhões de usuários. Estes números são motivode reflexão e de impaciência: qual o próximo invento humano?

Embora um sem-número de jornalistas continue a afirmarque a profissão nada tem de tecnológica e que é movida pela cria-tividade e expressividade do profissional, a realidade que se apre-senta é bem diversa. Desde sempre o Jornalismo esteve ligado àtecnologia. Por acaso os aparelhos de rádio, televisão, fotografia eos equipamentos para produzir materiais para estes suportes nãoestão diretamente ligados a ela? O que seriam o telefone, o fax, ovelho telex e as máquinas de linotipia e clicheria senão formas detecnologia?

Talvez o que se possa discutir é que, muitas vezes, um muro(literalmente) separou os jornalistas desses inventos maravilhosos.Carlos Sepetiba, revisor do extinto jornal A Gazeta, de Florianó-polis, conta que na sede da Rua Conselheiro Mafra a redação ficavana frente e as Mergenthaler1 atrás � separadas por meia parede detijolos. Nessa meia parede havia uma passagem estreita por ondeo aprendiz levava o material escrito a máquina ou a mão para acomposição. E mais, �era na parte da frente que trabalhava a inte-lectualidade, atrás ficavam gráficos que contavam histórias engra-çadas e que, diferentemente dos jornalistas, eram organizados, ide-ológicos e tinham os salários pagos sempre em dia�.

1 Máquina de linotipia inventada pelo alemão Ottmar Mergenthaler em 1879. Oprincípio da Linotype consiste em juntar, com a ajuda de um teclado, não letrasmas matrizes de letras que formam um molde/bloco em linha. Por isso estasmáquinas se chamam �linhas bloco� em oposição às máquinas que compõemlinhas letra por letra (ex: Monotype). É esta particularidade de fundir num sóbloco de chumbo uma linha de matrizes (type em inglês), ou seja �line of type�(linha de matrizes), que está na origem do seu nome.

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As mudanças nas redações e no cotidianoprofissional

Sem dúvida, as grandes mudanças no cotidiano profissionaldos jornalistas começam com a informatização das redações dosjornais e revistas no Brasil, iniciada na década de oitenta. Com aintrodução dos computadores, os jornalistas tiveram de se adap-tar a uma realidade profissional que incluía a exigência de maiorqualificação, a especialização crescente, as modificações nas con-dições de trabalho e, sobretudo, a intensificação do trabalho.

Um artigo publicado na revista Imprensa sobre a informati-zação do jornal O Globo descreve as mudanças no ambiente daredação, estabelecendo um paralelo entre a redação do passado ea atual: �uma louca sinfonia de gritos, gargalhadas, telefones, cam-painhas reverberavam impunemente (...) as Olivetti e Remingtonque não sofriam de arritmia eram disputadas no tapa (...) e o impi-edoso papel carbono tingia mesas, paletós, mangas de camisa, de-dos, mãos e rostos menos atentos (...) montanhas de laudas seformavam para qualquer lado que se olhasse (...) hoje as persianasamarrotadas foram substituídas por um moderno sistema de ilu-minação que inclui um requinte inimaginável: calhas especialmentedesenhadas, cujos focos de luz só iluminam as mesas dos termi-nais, sem reflexos nos olhos ou nas telas (...) um sistema de arcondicionado central acabou com o clima tropical que sufocava(...) e a sinfonia das pretinhas deu lugar a um silêncio cibernético,propiciado pelos 140 terminais e suas 138 teclas (...) e a limpeza,nada de montanhas de papel�.2

As mudanças são percebidas não só no ambiente e na estru-tura física, mas também numa nova relação com o texto. O fazertexto através do computador, com suas possibilidades de proces-

2 Artigo publicado na revista Imprensa em setembro de 1987, assinado por AstridFontenelle e Débora Chaves. Neste artigo são descritas as condições da redaçãodo jornal O Globo antes e depois da informatização.

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samento e arquivo de texto, ganha mobilidade e rapidez: � (...)mas é no terminal que se escondem as mais saborosas novidadespara qualquer jornalista (...) para começar o usuário fica dispensa-do da preocupação com o fim de cada linha, o computador hifeni-za (...) a tela pode ser dividida em duas, de um lado a matéria dorepórter e do outro a do redator (...) o computador também per-mite a inserção de qualquer informação, em qualquer ponto�.3

No espaço físico das redações a tecnologia introduziu lim-peza � desapareceram as centenas de laudas amassadas no chão,sumiram as caixas de papel carbono para as cópias necessárias paraa linha de produção. Até mesmo o cafezinho e o cigarro se rende-ram à tecnologia, uma vez que os terminais ficam prejudicadoscom farelos e ambientes poluídos. Mudou também a iluminação e atemperatura do ar. Se antes do computador era inimaginável umaredação com ar condicionado e persiana nas janelas, hoje isso érotina e já está incorporado ao dia-a-dia.

Mas, sem dúvida nenhuma, é na linha de produção de umjornal ou revista que se percebem as mudanças mais óbvias: o dia-gramador, que antes não vivia sem a régua de paicas, as cartelas deletras set e a caneta nanquim, aderiu aos softwares de edição detexto e trabalha com precisão. A mesma sorte não tiveram os revi-sores e copy-desks que, simplesmente, um a um, foram desaparecen-do da redação. Avaliar se o jornal ficou melhor ou pior sem esses doisprofissionais, numa linha de produção ordenada, é tarefa que cabe anós jornalistas, como profissionais e categoria laboral, fazer.

Jornalismo e a InternetA cada década do último século surgiram mídias e se desen-

volveram ferramentas capazes de torná-las massivas e popularesem poucos anos. Com a Internet não foi diferente. Criada original-

3 Idem nota de rodapé anterior.

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mente pelos militares americanos no final dos anos 60, começouinterconectando dez computadores. Hoje, trinta anos mais tarde,reúne, segundo o Instituto de Pesquisa NEC, ligado à Universidadede Princeton, aproximadamente 300 milhões de computadoresem 150 países do mundo. Em 2002 a Internet recebeu mais de130 milhões de novos usuários e o número global atingiu mais de620 milhões - 9,9% da população mundial. O número de usuáriosnos países em desenvolvimento aumentou 40%, três vezes maisque nos países desenvolvidos. Na China, o número aumentou 75%em 2002, no Brasil, 78,5% e na Índia, 136%. Mesmo no OrienteMédio, uma das regiões menos conectadas do mundo, o uso daInternet cresceu 116%, em 2002.

Os EUA, segundo o American Journalism Review News4 , lide-ram o número de publicações online: são 4.925 sites de notíciasexistentes até setembro de 1998; destes, 3.622 pertencem aempresas de comunicação. Embora no Brasil não se tenha estatís-ticas sobre o número de publicações online, o Ibope fez um levan-tamento sobre a audiência desses veículos. De acordo com a pes-quisa realizada em 1999, 50% dos 25 mil internautas entrevista-dos afirmaram que navegam na Internet em busca de informações5 .

Apesar destes números, a Internet vive a sua pré-históriacomo meio de comunicação - ainda sem uma linguagem definida,apropriando-se da linguagem de outros veículos para a difusão detextos, sons e imagens. Não restam dúvidas, no entanto, que essalinguagem se estabelecerá a partir da convergência das mídias e daunião dos recursos infinitos de arquivo com a transmissão de infor-mação em tempo real e com as possibilidades inéditas de interati-vidade e customização. No entanto, para Simone (2001), �(...) sópoderemos desenvolver o verdadeiro jornalismo online quando

4 Disponível em www.ccp.ucla.edu. Acessado em 24 de junho de 20035 Disponível em www.folha.com.br/informacao. Acessado 18 de junho de 2003.

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todos nós tivermos possibilidade de usar a banda larga e todos osbenefícios que vêm do vídeo, áudio, animação � e não esboçosdestas ferramentas�.

O jornalismo na Internet ou jornalismo online vive seus pri-mórdios. No Brasil, e em boa parte do mundo, ainda está �agarra-do� aos velhos paradigmas do jornal impresso e se aproxima dorádio, de forma paradoxal, quando se trata de conteúdo e formatextual. Os portais de ou com conteúdo jornalístico, mesmo osque dispõem de links para últimas notícias, continuam com carac-terísticas de jornal e revista impressa.6 A maioria dos sites de no-tícia ainda são divididos em editorias (índice à vista), com capa,manchetes principais e chamadas para notícias secundárias, ban-ners comerciais e links para negócios. Assim, não é sem propósitoque todos nós navegamos ou folheamos os sites jornalísticos comuma certa facilidade. O mesmo não acontece com o restante doconteúdo da rede, bastando verificar a dependência que temosdos instrumentos de busca e, muitas vezes, a incapacidade de che-gar a resultados satisfatórios quando temos que ousar em hiper-links múltiplos.

Para Pavlick (1997) o modelo transpositivo � shovelware,�é integrante dos três estágios do desenvolvimento de conteúdospara Web, a saber: (1) transpositivo - transposição do conteúdoanalógico para o digital � com pequenas ou nenhuma modificação;(2) adaptativo, que tem como característica a integração das lin-guagens dos meios tradicionais com as novas possibilidades da redee (3) onde �um original conteúdo noticioso, desenhado especifica-mente para a Web como um novo meio de comunicação�, vai fluir.Esse terceiro estágio seria caracterizado também pela �aceitação

6 As empresas brasileiras de mídia se utilizam, em alguma medida, do que osamericanos conceituam como �shovelware�, ou seja, a transposição do conteúdoanalógico para o digital � com pequenas ou nenhuma modificação.

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de repensar a natureza de uma comunidade online, mais, aceitaçãode experimentar novas formas de contar uma história�.

E os jornalistas, como ficam?Muitos pesquisadores afirmam que a ascensão e consolida-

ção do jornalismo online vai alterar aspectos importantes de pro-dução, redação, edição e publicação da notícia, além da circulação,audiência e relação com os receptores. A constatação de que ojornalismo está passando por transformações profundas e se en-contra em processo de renovação de muitas de suas práticas podeser aferida se aceitarmos que o mundo online está reconfigurandoas redações e as práticas profissionais, alterando as rotinas de co-leta, processamento e difusão da informação. Podemos enumerarestas mudanças e mesmo as avaliarmos como positivas: (1) acessoàs fontes; (2) aumento na produtividade dos repórteres; (3) dimi-nuição do custo de obtenção de informações em todos os níveis eem todos os assuntos; (4) qualidade na análise das informações;(5) menor dependência das fontes para interpretação daquelas in-formações; (6) aumento do acesso à informação; (7) incrementoda confiança técnica e maior exatidão das informações; (8) melho-res formas de arquivo e busca das informações; (9) maior agilida-de e facilidades de deslocamento. �É consensual a idéia de que aInternet evoluirá de forma a garantir uma mais rápida circulação dainformação na rede, a aumentar a informação disponível e a sofisti-car a metodologia de identificação e acesso às informações�. (Bas-tos, 2000:83)

Para estudiosos como Garrison (1993) e Reddick/King(1995), o próprio conceito de jornalismo poderá modificar-sedevido a vários fatores, entre eles (1) a possibilidade de cada umatuar como jornalista, disponibilizando conteúdos na Internet, (2)a usurpação ao jornalista da função de gatekeeper privilegiado do

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espaço público informativo, (3) as características próprias da In-ternet, que permitem o aproveitamento do hipermedia (a conflu-ência de �várias mídias numa só� e das hiperligações (os links quepermitem a navegação na Internet).

Outros como Koch (1991), Pavlik (1996) e Dizard (1997)afirmam que, em função dessas mudanças, o perfil profissional tam-bém mudará. A cronomentalidade dos jornalistas poderá acentuar-se, uma vez que, devido à possibilidade de atualização constantedo noticiário, as deadlines tendem a concretizar-se no imediatis-mo. As normas que norteiam o jornalismo poderão alterar-se, sejapor força de novas políticas editoriais das organizações noticiosas,seja por força da própria natureza da Internet, que possibilita adiluição das responsabilidades e até o anonimato, se não mesmo aclandestinidade. Campos (2001) compartilha dessa visão e vai além.Ele afirma que a Internet permite uma forma diferente de fazerjornalismo e aponta as possibilidades do profissional de contextua-lizar cotidianos e fatos através dos hiperlinks e de como o recep-tor pode interagir como essa nova notícia. �(...) Na Internet, alémdas imagens atualizadas e até do som se for o caso, o receptorconta com várias �camadas� de texto que formam o hiperlink,possibilitando acesso a todo tipo de detalhe, a edições anteriores,a bancos de dados, a pesquisas de todo tipo, inclusive em outraslínguas, de modo a poder confrontar a informação recebida damesma maneira que o bom jornalista confronta, isto é, �checa� ainformação recebida de suas fontes�.

Já em 1996 Lage discutia essas modificações na profissão eapontava a necessidade permanente de reciclagem para o enfren-tamento do cotidiano profissional. �(...) Uma reciclagem que nospermita a inclusão entre nossas atividades de boa parte das tarefasoutrora exercidas pelos trabalhadores gráficos. Nem repórteres,nem repórteres fotográficos, redatores, editores ou mesmo pro-jetistas gráficos têm seus empregos ameaçados pela tecnologia, a

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curto e médio prazos. Ampliou-se, sem dúvida, o âmbito de suasatribuições. A reciclagem necessária para isso é do tipo inclusiva -isto é, nos obriga a acrescentar às nossas habilidades o manuseiode sistemas informatizados e o conhecimento de processos detelemática, afora, é claro, uma percepção mais aguda do cotidia-no.� Um profissional capaz e com qualificação adequada pode ser-vir de mediador entre as diversas �tribos� do mundo globalizado.Assim sendo, outro aspecto que pode ser considerado é a expan-são do mercado de trabalho. A indústria farmacêutica internacio-nal, por exemplo, está contratando jornalistas e publicitários paratraduzirem a linguagem médica das bulas de medicamentos, demodo a torná-las acessíveis ao grande público, e assim evitar oserros de interpretação e conseqüentemente, os processos judici-ais. O mesmo procedimento está sendo adotado pela indústria deeletrodomésticos da Europa e Ásia, que está montando escritóri-os de jornalismo e relações públicas para a produção dos manuaisde instrução. Finalmente, a explosão das chamadas novas mídiastende a exigir, cada vez mais, um profissional qualificado para aprodução de cd-rom, enciclopédias virtuais e banco de dados, aexemplo do que já acontece hoje.

Mas como formar esse profissional? Essa talvez seja a princi-pal discussão que permeia o cotidiano das escolas de Comunica-ção e Jornalismo país afora. Como formar um jornalista que saibaaliar a capacidade técnica de produção com um olhar crítico darealidade? Para muitos essa parceria é inviável. Talvez devamos con-siderar questões como: (1) as novas tecnologias da informaçãodesencadearam uma discussão sobre a identidade e a sobrevivên-cia das profissões que eram responsáveis pela mediação simbólica.Nesse contexto, o que é ser jornalista na atualidade? (2) sendo asciências da Comunicação e Jornalismo � e os estudos teóricosrelacionados a ambas, como os estudos culturais � um dos con-textos em que se procede uma reflexão multifacetada e transdisci-

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plinar sobre o mundo de hoje, como deveria ser a formação deum profissional que dê conta dessa realidade, levando em contaquestões éticas, estéticas e de linguagem que as especificidades dojornalismo exigem? (3) considerando o jornalismo online comotransposição de uma certa forma de olhar a realidade (o olhar jor-nalístico) para o suporte informático, será possível afirmar que aespecificidade do meio não altera a especificidade da mensagem?(4) até onde a construção desse profissional deve aprofundar sa-beres específicos ou mesclá-los com generalidades e saberes loca-lizados?

As respostas a estas questões talvez possam ser facilita-das se tivermos claro que o jornalismo sempre teve seu fazercotidiano ligado à tecnologia. A cada novo invento a profissãomodifica suas práticas, desenvolve linguagens, cria novas for-mas de mostrar o mundo através da informação. A assimilaçãodesse fato facilita o vislumbre do profissional necessário para aatualidade: um profissional que cumpre as atividades jornalísti-cas tradicionais, mas que utiliza a Internet e o mundo em redecomo ferramenta cotidiana.

A informatização nas redações catarinenses:pioneirismo e contradições

Em todo o Brasil, a modernização nas empresas de comuni-cação começou pelas áreas gráfica e gerencial, na década de 70. Jánas redações o processo foi iniciado na década de 80, com a che-gada dos computadores. O jornal �Folha de S. Paulo� foi um dospioneiros na adoção e criação de uma rede informatizada. O pro-cesso, no país inteiro, apesar de lento, sempre foi incentivado pelaAssociação Nacional dos Jornais, que via com bons olhos �a mo-dernização da infra-estrutrura física e administrativa das empresasde comunicação�, como forma de racionalizar custos e de prepa-

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rar para uma �possibilidade de ampliação de mercado e de interna-cionalização da comunicação, através do advento da Internet.7

Em Santa Catarina, o processo não foi diferente. A reformados parques gráficos começou no jornal �O Estado� em 1971,seguido pelo �Jornal de Santa Catarina�, em 1972, e, finalmente,por �A Notícia�, que só em 1980 adotou a off-set. No interior, aadoção de novas formas de imprimir deu-se aos poucos, sendoque até 1992 o jornal �O Município�, de Brusque, ainda tirava suasedições em linotipia. Compreensivelmente, o processo de moder-nização das redações apresentou surpresas e veio acompanhadode pioneirismo e contradição.

Pioneirismo por conta da implantação do �Diário Catarinen-se�, do grupo RBS, o primeiro jornal a �nascer� informatizado naAmérica Latina. A criação do DC, em maio de 1986, mostrou aosjornalistas catarinenses uma nova realidade, que mesclava necessi-dade de reciclagem profissional e adaptação a novas ferramentasde trabalho. No ano de sua implantação, o DC atingia 166 municí-pios, com uma circulação média de 26 mil exemplares, conside-rando-se assinaturas e venda avulsa. Sua redação era composta por126 jornalistas, entre repórteres, redatores, editores, fotógrafose diagramadores.

Contradição gerada por relações de trabalho truculentas,marcadas pelo desrespeito a jornada profissional de cinco horas,demissões arbitrárias e até o enquadramento dos profissionais emoutras categorias, como forma de burlar as leis trabalhistas e dopiso salarial vigente. No final da década de 80 e início de 90 umasérie de greves, paralisações e protestos mostraram a organiza-ção dos jornalistas catarinense e o resultado desse processo foi ofortalecimento do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina e dacategoria profissional.

7 Ver, Baldessar, Maria José. Estudo sobre a Associação Nacional dos Jornais.Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UFSC. Mimeo, 1997.

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Mas onde está a diferença?A estrutura da redação do DC era diferente de tudo o que

era conhecido no jornalismo catarinense até então. Cada editoriaficava em uma sala e em cada uma delas havia diversos monitoresligados a uma única CPU � eram os chamados computadores bur-ros, já que serviam exclusivamente para escrever. Simplesmentesubstituíam as máquinas de datilografia. Cada profissional dispunhade uma senha para abrir sua �máquina� e modificar o texto. Nadiagramação e fotografia, as novidades se misturavam com a tradi-ção: embora os terminais permitissem um pré-cálculo do tama-nho da matéria, os diagramadores continuaram a usar as réguas depaica e os diagramas. Isso só mudaria anos mais tarde com o aper-feiçoamento dos processadores de texto. No fotojornalismo, porsua vez, o processo de digitalização só começaria no final da déca-da seguinte.

Ainda dentro da experiência pioneira do DC, outra novidadeforam as estações móveis de trabalho. Eram uma prerrogativa dosrepórteres especiais, que não precisavam se deslocar até a reda-ção para terminar a matéria. Para os jornalistas, isso implicava apossibilidade de cobrir assuntos com mais rapidez e agilidade. Noentanto, a experiência durou menos de dois anos e as estaçõesmóveis foram desativadas por implicarem �gastos excessivos�, queincluíam horas-extras, hospedagem, alimentação e outros.

Depois do DC, os demais jornais catarinenses seguiram atendência de informatização das redações. �A Notícia� iniciou oprocesso em 1994, num investimento aproximado de U$$ 500mil, depois o �Jornal de Santa Catarina� e, mais recentemente, ojornal �O Estado�. No interior, o processo acompanhou a evolu-ção regional, tendo começado pelos semanários de Criciúma e Cha-pecó, e se espalhado até mesmo aos jornais de pequeno porte.

A informatização mudou as redações. A limpeza e o silênciocontrastavam com tudo o que se conhecia. As normas rígidas de

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acesso e uso das máquinas eram complementadas pelos avisos de�proibido fazer lanche�, �proibido fumar� e outros, que não secoadunavam com o cotidiano profissional até então estabelecido,já que a produção do texto para muitos jornalistas começava como ritual do cigarro e do café.

Nessa primeira fase, os jornalistas tinham outras preocupa-ções. Em todos os acordos e dissídios coletivos do Sindicato dosJornalistas Profissionais de Santa Catarina, a partir de 1986, apare-cem cláusulas de proteção ao jornalista em virtude da adoção dasnovas tecnologias, como, por exemplo, a das horas de sobreavi-so8 . Estas cláusulas foram muito discutidas, uma vez que todosestavam a par do que ocorrera na �Folha de S. Paulo�, em 1980,quando a informatização da redação deixou pelo menos 200 de-sempregados.

Além do desemprego, os jornalistas logo perceberam ou-tras ameaças: as mudanças na nomenclatura de contratação. Osdiagramadores passaram a ser �paginadores eletrônicos�, tendocomo resultado o enquadramento em outra categoria profissional,em que o salário era menor e a jornada de trabalho maior que olimite de cinco horas de trabalho estabelecido pela CLT para osjornalistas. Em conseqüência, mudaram a representação sindical �de jornalistas passaram a gráficos.

Outro aspecto relevante foi a juvenização da profissão. Asescolas de comunicação lançam no mercado cerca de três mil pro-

8 Horas de sobreaviso: �As empresas que exigirem a utilização de aparelhoseletrônicos de localização, do tipo bip ou telefone portátil, celular ou qualquerforma de plantão permanente, pagarão adicional de 30% sobre o saláriomensal�.Adoção de novas tecnologias: �Na hipótese de adoção de novas tecnologias quepossam implicar redução do quadro funcional, as empresas ficam obrigadas adesenvolver, junto com o Sindicato, estudos de reaproveitamento em outrasatividades dos jornalistas atingidos. Os não aproveitados farão jus a um avisoprévio de, no mínimo, 90 dias. Para os que tenham mais de 35 anos de idade, oaviso será de 180 dias.�

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fissionais/ano � em Santa Catarina esse número chega a quase 300.Esse exército de reserva numeroso, qualificado e jovem tem per-mitido ao empresariado a opção pela contratação de profissionaisrecém formados, em detrimento de outros com mais idade e ex-periência. Esse procedimento acirra a rotatividade e reforça amanutenção de salários baixos.

Some-se ainda a estes problemas a questão da saúde. Umapesquisa da Organização Mundial do Trabalho, feita em 1984, iden-tificou as doenças cardiovasculares, as neuroses e as doenças doaparelho digestivo como sendo as enfermidades mais freqüentesna profissão de jornalista. Onze anos depois, a OIT refaz a pesqui-sa e acrescenta outros problemas causados pelo computador: de-ficiências na visão e no sistema reprodutor, lesões permanentesnos tendões, alergias, epilepsia, estresse, bronquite crônica devi-do ao ar refrigerado, além de problemas de ergonomia.

Além da deterioração das condições de saúde, a evidência deprecarização no trabalho é observada nos chamados procedimen-tos flexibilizados. Em 1995, o Sindicato dos Jornalistas de SantaCatarina deflagrou uma campanha contra o exercício irregular daprofissão. Os laudos da Delegacia Regional do Trabalho, responsá-vel pela fiscalização, não só mostram o desrespeito à legislação pro-fissional como evidenciam a precarização do trabalho. Das trintaempresas fiscalizadas � entre elas os jornais �Diário Catarinense�,�A Notícia�, �O Estado� e �Jornal de Santa Catarina� - em seis éconstatada a existência de contratos temporários de trabalho, emquinze a abolição do controle de ponto através de livro ou máqui-na, em vinte e duas o não depósito de Fundo de Garantia por Tem-po de Serviço, e em catorze o não pagamento do salário normativo.

Assim, apesar das mudanças físicas nas redações e algumasalterações nos procedimentos cotidianos de coleta da informação,no uso da Internet como fonte de dados e do computador comobanco de informações, pode-se afirmar que a introdução dos com-

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putadores nas redações catarinenses, assim como em todo o país,não alterou a condição social do jornalista.

A tecnologia não mudou a relação do jornalista com seu fa-zer profissional ou com as ferramentas de trabalho necessárias aele. Da mesma forma, não mudou a relação entre o empresariadode comunicação e os profissionais, essa continua sendo mediadapelo capital e pela apropriação do trabalho.

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A preocupação com a ética: tradição e futuroRogério Christofoletti

�A reflexão sobre o jornalismo não pode levar emconta somente a prática e seus limites, mas tam-bém a possibilidade de ruptura com esses limitespara formular uma outra prática. Se reconhece-mos a importância contemporânea do jornalismoe a necessidade de refletirmos sobre ela, temosde reconhecer que há uma moral que o envolve euma ética profissional que pode ser tratada espe-cificamente�.

Francisco José Karam- Jornalismo, ética e liberdade

Onde fica o centro de gravidade moral de uma profissão?De que forma uma categoria profissional escolhe e adota suas re-ferências de conduta? Como os indivíduos orientam suas açõesquando estão no campo de trabalho? De que maneira esses sujei-tos, que comungam rotinas e valores, manifestam suas preocupa-ções com a ética?

É bem verdade que não há um único pólo irradiador dosvalores deontológicos que marginam as ações dos sujeitos. Há nú-cleos morais duros em volta dos quais gravitam outros valores epráticas. O centro de gravidade moral de uma profissão desloca-se num raio mínimo, controlado por uma certa rigidez dos princí-pios e pela indeclinável vontade de alguns de manter a retidão daconduta. Existem, sim, iniciativas isoladas que tentam traçar linhasimaginárias que orientem os profissionais na sua lida diária. Entre-

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tanto, esses esforços se liquefazem diante da complexidade dassituações, frente ao dinamismo da vida e à tensão freqüente dosmuitos interesses em jogo. Mais perenes são as iniciativas coleti-vas, porque essas gozam de mais profundidade nas discussões, demais reflexão social, de mais legitimidade e autoridade moral.

Pelo menos no jornalismo, o que se percebe é que o grossodas iniciativas para a preservação de valores e atenção ética se dáem dois ambientes: nas entidades de classe e na academia. As pri-meiras são sindicatos e organizações associativas que reúnem osprofissionais tendo como frente demandas relativas ao trabalho.Assim, essas entidades de classe não apenas atuam nas esferas dedefesa dos direitos e interesses dos jornalistas, mas também pro-movem ações de reforço aos valores que dão o perfil identitárioda profissão. Não é à toa que, historicamente, códigos de ética sur-jam a partir das discussões que essas entidades lideram e estimulam.

Adísia Sá (1999, p. 97) conta que, entre os jornalistas, a pre-ocupação com a ética data dos primeiros tempos de sua organiza-ção como categoria profissional. Em 1911, por exemplo, a Asso-ciação Brasileira de Imprensa (ABI) �ocupava-se com os delitos deImprensa e das incontinências de linguagem dos jornalistas, admitiaa elevação do nível profissional por meio de escolas, para as quaischegou a elaborar um plano�. Sete anos depois, no primeiro Con-gresso Brasileiro de Jornalistas, o tema da ética profissional foi in-tensamente discutido, provocando novos debates nos anos seguin-tes. Em 1926, Barbosa Lima Sobrinho chega, inclusive, a propor acriação de um tribunal de imprensa, idéia que não avança.

Baldessar (2003, p. 39) relata que, nessa época, �emboraainda não tenham um código de ética definido, os jornalistas brasi-leiros balizam sua atuação pelos códigos vigentes em outros paí-ses, marcadamente liberais�.

O primeiro código de ética dos jornalistas brasileiros vaisurgir em fevereiro de 1949, motivado já pela Federação Nacional

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dos Jornalistas, Fenaj � fundada em 1946 � e aprovado no terceirocongresso nacional da categoria em Salvador1 . O documento erarelativamente longo, prolixo e com poucas condições de pereni-dade. Mesmo assim, fixava os deveres fundamentais do jornalista,cuja conduta deveria se pautar por valores que elevassem e digni-ficassem o ser humano. O código de 1949 �considerava indecliná-vel dever das empresas coibir a publicação de estampas e fotogra-fias que possam ferir o pudor público, a dignidade e o decoro dealguém�. Além disso, preocupava-se com o emprego de ternosdúbios pelo jornalista, o que poderia induzir o leitor a erro e àdesinformação.

Em 1968, a primeira carta de intenções deontológicas dosjornalistas brasileiros já estava caduca. Por isso, durante o 12º con-gresso da categoria, em Porto Alegre, um novo código de ética foidiscutido, e �sem que houvesse aceitação dos participantes � mes-mo assim foi aprovado�, lembra Adísia Sá (op.cit.). O texto destesegundo código já era mais sintético, com apenas quinze artigos eduas disposições gerais. No conteúdo, os jornalistas manifestavampreocupação com a imparcialidade, com a condição do profissio-nal e seu compromisso com a comunidade, com o sigilo de fontes.O código ainda apontava a necessidade do profissional esforçar-separa �aprimorar seus conhecimentos técnico-profissionais, suacultura e sua moral�. Entretanto, apesar de fixar os deveres e osvalores que balizariam a conduta, o segundo código deontológicodos jornalistas não estabelecia as sanções àqueles que desacatas-sem o documento. Quem fazia cumprir o código eram os sindica-tos e eles deveriam decidir as sanções conforme as regras de seusestatutos de funcionamento.

1 Mario Erbolato (1982, pp.219-220) relata que os jornalistas Alberto Dines eWashington Novaes teriam formulado uma proposta de código de ética a pedidoda ABI, mas o texto não chegou a ser votado.

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Em 1971, a discussão sobre a ética continuava a atrair osolhares dos profissionais. Da 8ª Conferência de Goiânia, partiu aorientação de que os sindicatos deveriam promover debates acer-ca dos valores que norteavam a atuação dos trabalhadores em ve-ículos de comunicação. Reforços a essa proposição são feitos em1977, na Conferência de Manaus, e em 1981, na de Caucaia, Cea-rá. Os sindicatos criam comissões locais para a discussão de umnovo texto deontológico nacional. A Fenaj indica uma comissãopara reunir as sugestões vindas de todo o país, e o jornalista minei-ro Didimo Paiva assume a relatoria do documento que seria apre-sentado na 15ª Conferência Nacional, no Rio de Janeiro em 1985.

O texto foi amplamente discutido e aprovado, tornando-seo terceiro código de ética dos jornalistas brasileiros, versão quevigora até hoje. Em 1986, o 21º Congresso Nacional da categoriafaz adendos ao texto, e cria a Comissão Nacional de Ética e Liber-dade de Expressão. O órgão dá sustentação ao texto e a partir de1987 os sindicatos se ajustam para seguir as novas orientações deobservação deontológica.

Com 27 artigos, o Código de Ética do Jornalista Brasileiro éparecido com a sua versão anterior, mas frisa trechos estratégicos.Trata, por exemplo, o acesso à informação como um direito do cida-dão e o exercício de informar como um dever do jornalista; prega aliberdade de expressão, condena o arbítrio, a censura e a opressão;orienta a conduta do profissional e ressalta a sua responsabilidade so-cial; por fim, define os trâmites de um processo nas comissões deética quando se observa desvio ou falha deontológica. Não são maisos sindicatos quem deliberam sobre as sanções aos faltosos.

Contemporâneo e bem situado, o código tem consonânciacom os principais documentos internacionais acerca do papel dosmeios de comunicação e dos jornalistas, tais como o Código Lati-no-Americano de Ética Jornalística (1981), a Declaração da Unes-co sobre os meios de comunicação (1983), a Declaração de Prin-

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cípios da American Society of Newspapers Editors (1975), a De-claração de Chapultepec (1994) e a Declaração de Princípios paraa conduta dos jornalistas, da Federação Internacional dos Jornalis-tas (FIJ), datada de 1954 e emendada em 1968.

As comissões de éticaPrincipais braços dos sindicatos no campo da deontologia,

as comissões de ética são um advento recente, prestes a comple-tar vinte anos2. Por determinação do Código, são essas comissõesque recebem denúncias sobre supostos desvios éticos, e que dãoo devido encaminhamento aos casos concretos. São elas tambémque propagam com mais empenho os valores próprios da profis-são, e assim o fazem com maior autoridade porque contam commais legitimidade.

Em Santa Catarina, a primeira Comissão de Ética do Sindica-to dos Jornalistas Profissionais surgiu em 1987, na gestão de CelsoVicenzi. Escolhidos por uma assembléia da categoria após a elei-ção da diretoria da entidade � conforme estabelece o Código -, osmembros eram Eduardo Meditsch, Elaine Borges, Jarson Frank,Sérgio Lopes e Mario Medaglia. Entre os propósitos principais dogrupo, estavam a institucionalização da comissão e a divulgação desua existência e finalidades. Apesar de ainda pouco conhecida, acomissão que atuou de 1987 a 1990 chegou a analisar alguns ca-sos, destacadamente em 1989, quando, inclusive, acompanhou oembate entre dois grupos de jornalistas por ocasião de uma greve.Em fevereiro daquele ano, uma parcela dos trabalhadores do jor-nal O Estado, de Florianópolis, decidiu cruzar os braços, enquantoque outros jornalistas assumiram as funções dos grevistas. A dis-

2 Segundo Moacir Pereira, presidente do Sindicato dos Jornalistas de SantaCatarina no final dos anos 70, naquela época, as questões pertinentes à éticajornalística eram tratadas pela diretoria da entidade, gerando debates internos enotas públicas, quando o assunto se mostrava mais grave.

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cussão sobre se a adesão à paralisação teria sido uma infração éticafoi a espinha dorsal do processo que consumiu dois meses de tra-balho da comissão do Sindicato. Em sua decisão, a Comissão deÉtica não entendeu que os jornalistas tinham ferido os princípiosdo Código, mas penalizou o proprietário do jornal, José Matusa-lém Comelli, com a sua exclusão do quadro de associados do Sin-dicato, já que havia claro conflito de interesses naquela condição.

Em 1990, uma nova Comissão de Ética foi escolhida pelaassembléia dos jornalistas. Dois nomes se mantiveram � os deEduardo Meditsch e Elaine Borges � e a eles se somaram os deAdemar Vargas de Freitas, Francisco José Karam e Moacir Loth.Os tempos são de definições importantes na vida social brasileira:o primeiro presidente civil após o Golpe de 1964 é eleito direta-mente; a Constituição de 1988 se infiltra positivamente no cotidi-ano dos cidadãos. Uma atmosfera de legalismo se espalha pelopaís ao mesmo tempo em que se multiplicam as denúncias sobrecorrupção na esfera pública. Fixam-se na mentalidade coletiva va-lores como �cidadania�, �civismo� e �justiça�, e esse espírito vaiajudar a forjar uma casca moral um pouco mais rígida no imaginárionacional. Pelo menos no terreno da administração pública. Essastransformações contribuem para um resgate de alguns princípiosesquecidos pela população (ou pelo menos recalcados pela ditadu-ra militar). Camadas sociais cada vez mais expressivas vão recha-çar o �jeitinho brasileiro�, a �impunidade� e o �mandonismo�.

Foi num ambiente como esse que a Comissão de Ética doSindicato atuou. Não é à toa que deste período emergiram severaspunições em processos éticos no Estado: duas advertências públi-cas a jornalistas, veiculadas nas páginas dos quatro principais jor-nais catarinenses3 . Num dos casos, um colunista foi advertido por

3 Na época, o Sindicato não tinha ainda o seu próprio informativo impresso, o PapelJornal. E todas as suas decisões mais importantes eram veiculadas na Coluna dosJornalistas, publicada em �A Notícia�, �Diário Catarinense�, �O Estado� e �Jornalde Santa Catarina�.

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defender a aplicação da censura e estimular a demissão de jornalis-tas; em outro caso, o réu desrespeitara acintosamente fontes men-cionadas em suas crônicas. Nas duas situações, o Código de Éticafoi ferido e em ambos os casos, os envolvidos tiveram amplas con-dições para se defender, mas simplesmente ignoraram as convoca-ções da Comissão de Ética.

Com os resultados do trabalho, a instância se consolidoucomo referência ética no Estado, e as denúncias de condutas re-primíveis cresceram nos anos seguintes. Entre 1991 e 1993, osarquivos da Comissão no Sindicato contabilizam a tramitação desete casos, e entre 1994 e 2000, mais seis.

Em 1993, toma posse a terceira Comissão de Ética do SJSC:Francisco José Karam, Moacir Loth, Celso Vicenzi, Doroti Port eJosé Gayoso. Para um período de mais três anos, em 1996, sãoeleitos Silvio Melatti, Aluízio Amorim, Mario Xavier, Elaine Borgese Eduardo Meditsch. As duas comissões trabalharam sob o perío-do das gestões de Sérgio Murillo de Andrade à frente do Sindicatoe não apenas analisaram denúncias como também tiveram açõesafirmativas como a impressão e distribuição de milhares de exem-plares de bolso do Código de Ética do Jornalista, com o apoio daAgência de Comunicação (Agecom-UFSC) e da gráfica da Univer-sidade Federal de Santa Catarina4.

Em 1997, a Comissão de Ética decidiu consultar a categoriapara aperfeiçoar seu trabalho. Para isso, um questionário simples,com sete perguntas, foi distribuído entre os jornalistas de diversaspartes do Estado. As respostas apontaram para o fato de que nemtodos se consideravam bem informados sobre ética, mas que to-dos achavam muito importante o assunto. A sondagem ainda reu-niu sugestões e considerações sobre como a Comissão de Éticadeveria atuar melhor.

4 Esse mesmo esforço já havia sido feito em 1992 na Comissão de Ética anterior,conforme lembrou Francisco José Karam.

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Em 1999, houve uma evidente renovação nos quadros daComissão de Ética do sindicato catarinense. Assumiram os postosos jornalistas Raquel Moysés, Laudelino Santos Neto, Nilson Lage,Francisco José Karam e Sérgio Murillo de Andrade. Para o períodode 2002 a 2005, foram escolhidos os jornalistas Maria José Bal-dessar, Celso Vicenzi, Edelberto Behs, Eduardo Meditsch e Lau-delino dos Santos Neto.

Mesmo tendo pouco poder punitivo � a expulsão do Sindi-cato e a advertência pública são as maiores sanções, conforme oCódigo -, as comissões vêm trabalhando. Muito possivelmente porcausa disso, o número de denúncias vem caindo gradativamente.Tanto é que entre 2001 e 2004, foram protocoladas na sede doSindicato apenas quatro ocorrências. Destas, duas não deram an-damento � ou por não ser da competência de análise da Comissãoou por fugir de seu alcance de julgamento. Uma terceira foi enca-minhada à Comissão Nacional de Ética e Liberdade de Expressão,da Fenaj, para garantir o equilíbrio da avaliação já que a denúnciahavia partido de um dos membros da própria comissão catarinense.

Entre 2000 e 2001, questionei pessoalmente os jornalistaslocais sobre a sua confiança na eficácia do Código de Ética e noandamento dos processos nas comissões competentes. A pesqui-sa revelou que os próprios jornalistas �desconhecem muitos dosdispositivos que têm para fiscalizar seus procedimentos sob umprisma de valores éticos. Se não os conhecem, como exigir-lhesque os acessem?� (Christofoletti, 2003, p.139). O estudo mos-trou que há dúvidas quanto ao alcance e eficiência do Código deÉtica como um instrumento forte na orientação da conduta dosjornalistas, o que inibe a apresentação de novas denúncias. Depen-dentes das queixas externas e submissas às sanções do Código, ascomissões de ética perdem muito de seu poder de atuação, ob-servou-se também.

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EventosA discussão sobre a ética profissional ganha mais evidência a

partir do final dos anos 80. Com um código deontológico nacionale comissões de ética em todos os estados, os jornalistas colocamo debate sobre a conduta profissional no centro de suas preocupa-ções. Não é à toa que o assunto será tema de uma série de eventospromovidos pelas entidades classistas.

Em Santa Catarina, o 1º Congresso Estadual dos Jornalistasvai espelhar essa tendência. Realizado em Rio do Sul, entre 11 e 13de outubro de 1991, o evento trouxe em seu programa um painelque discutiu a lei de imprensa, a democratização da comunicação ea ética profissional. À época, os debatedores foram os jornalistasMoacir Pereira, Sérgio Murillo de Andrade e Francisco José Karam.Um ano antes, Florianópolis sediou o 24º Congresso Nacional dosJornalistas. Os clamores por mudanças na lei de imprensa e na es-trutura concentrada dos meios de comunicação brasileiros foram,mais uma vez, pauta no evento que ocorreu de 31 de outubro a 4de novembro de 1990. Na segunda quinzena de agosto de 1992,Blumenau reuniu a categoria para o 2º Congresso Estadual dos Jorna-listas. No programa, debates sobre o mercado de trabalho, sobre oensino de comunicação e sobre a ética e a democratização dos meios.

Em 1995, o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina com-pletou 40 anos de atividades. Ao longo das celebrações, destaca-ram-se dois concorridos debates envolvendo a ética jornalística:�Que jornalismo é esse?�, com as presenças do diretor de comu-nicação da Fiat, Fernando Portela, do então ombudsman do AN-Capital, Mario Xavier, e do professor da Universidade Federal,Hélio Schuch; e �Jornalismo, ética e poder�, com o secretário degoverno de Brasília, Hélio Doyle, o então editor de Zero Hora,Augusto Nunes, e o professor Nilson Lage.

Oito anos depois, em 2003, Florianópolis deu lugar ao 14ºEncontro Nacional de Jornalistas em Assessorias de Comunicação

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(Enjac) e ao 4º Encontro Internacional de Jornalistas em Assessori-as de Comunicação no Mercosul. Sob a rubrica �Ética, Formação eMercado�, os eventos reuniram mais de trezentos participantesque discutiram também o tema da ética nas relações com as fontesde informação, com os clientes e com os colegas dos meios decomunicação.

As escolasEnxerga-se com mais nitidez nas entidades de classe as dis-

cussões que os profissionais fazem sobre a ética jornalística. Po-rém, há outro ambiente igualmente fértil para essas reflexões: auniversidade.

No ambiente acadêmico, o ensino propicia a repetição e atransmissão desses valores deontológicos às próximas geraçõesde jornalistas. A pesquisa científica e a produção de conhecimentoajudam a repensar as práticas do mercado, confrontando-as comos valores já cristalizados. Esse embate gera uma atmosfera decrítica e autocrítica que nem sempre é bem recebida pelos profis-sionais desconectados das universidades, que passam a considerarque exista uma distância intransponível entre a teoria e a prática,entre a cotidiano concreto e o ideário das escolas. De qualquermodo, percebe-se que a academia e a organização classista são osnichos mais estruturados de discussão da ética profissional e ondese vê com mais transparência essa preocupação. Grande parte daprodução intelectual sobre ética jornalística vem da academia. Eisso se observa nas estantes e nas novas gerações que passam aocupar mais espaços nas redações.

Em 25 anos, Santa Catarina viu surgir onze cursos superiorespara a formação de jornalistas. E todas as regiões hoje são contem-pladas com unidades de ensino � quase todas particulares, comexceção da Universidade Federal, em Florianópolis � que atendema esses propósitos. É nessas escolas que se forma o grosso da mão

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de obra que abastece o mercado de trabalho local. Mas não apenasisso. A academia tem funcionado como um pólo gerador de novosconhecimentos e de muita reflexão sobre o fazer-ser jornalista. Nocampo da deontologia, todos os cursos contam com matérias vol-tadas à discussão da conduta profissional. Há basicamente doismodelos: um que oferece a disciplina de Legislação e Ética em Jor-nalismo, que instrui sobre aspectos legais da profissão e que arra-nha valores e princípios morais da profissão, e outro que ofereceao aluno duas disciplinas separadas, sendo uma de Ética Jornalísticae outra de Legislação em Comunicação. No primeiro modelo, es-tão a UFSC, a Univali (Itajaí), a Unisul (Palhoça e Tubarão), o Ielusc(Joinville), a Unochapecó (Chapecó), a UnC (Concórdia), a Facvest(Lages) e a Unidavi (Rio do Sul). No segundo, a Estácio de Sá (SãoJosé) e o Ibes (Blumenau). As disciplinas constam de 4 créditos ecarga horária que varia de 60 a 72 horas/aula.

Além do ensino da técnica jornalística e do estímulo à refle-xão, parte das universidades a maioria dos livros produzidos sobrejornalismo. E se o assunto é ética jornalística, os últimos quinzeanos assistiram a uma avalanche de lançamentos editoriais na área,inclusive com contribuições de Santa Catarina. Neste contexto na-cional, é importante citar alguns títulos vindos da academia: �Jorna-lismo, ética e liberdade�, de Francisco José Karam (Summus, 1997);�Síndrome da antena parabólica�, de Bernardo Kucinski (FundaçãoPerseu Abramo, 1998); �Ética da informação�, de Daniel Cornu(Edusc, 1998); �A deontologia das mídias�, de Claude-Jean Ber-trand (Edusc, 1999); �Ética, cidadania e imprensa�, organizado porRaquel Paiva (Mauad: 2002); �Ética e jornalismo�, de Mayra Rodri-gues (Escrituras, 2002); �O arsenal da democracia� de Claude-JeanBertrand (Edusc, 2002); �Monitores de mídia: como o jornalismocatarinense percebe seus deslizes éticos�, de Rogério Christofo-letti (Ed. UFSC e Ed. Univali, 2003) e �A ética jornalística e o inte-resse público�, de Francisco José Karam (Summus, 2004).

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O que há adianteEm 2004, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) con-

seguiu o apoio do governo federal para a tramitação no Congressode um projeto de lei que criaria o Conselho Federal de Jornalismoe suas instâncias regionais. A medida tinha entre os seus objetivosfortalecer o Código de Ética na medida em que traria mais condi-ções à categoria de punição aos profissionais faltosos. Para muitos,era uma solução a pouca efetividade das sanções aplicáveis e à ofer-ta de um instrumento importante para a sociedade.

Não totalmente compreendida, a proposta recebeu uma sa-raivada de críticas do empresariado de comunicações, da políticanacional e até de parcelas da categoria. O projeto de lei tramitouaceleradamente no Congresso Nacional e foi rejeitado pelo relator,o deputado Nelson Proença (PPS-RS), visivelmente ligado ao em-presariado da radiodifusão gaúcha. Com o descarte dos conselhosprofissionais para os jornalistas, perdeu-se uma histórica chance dediscussão aprofundada sobre as condições em que se produz jor-nalismo no país. Perdeu-se ainda uma excelente oportunidade deconstituir um instrumento público de acompanhamento da condu-ta dos jornalistas, visando o cumprimento do código de ética e aatuação profissional em defesa dos interesses do público. Os con-selhos de jornalismo poderiam fazer valer os princípios e valoreséticos expressos pelos jornalistas em seu código deontológico.Adiada essa possibilidade, o que há pela frente?

Muita coisa pode ser feita. Boa parte do caminho parece játer sido palmilhada. As entidades de classe � como os sindicatos ea própria Fenaj � precisam fortalecer suas comissões de ética, dan-do transparência ao seu trabalho e difundindo a existência de umsistema próprio de avaliação da conduta profissional. As entidadesprecisam dar mais visibilidade a essas instâncias bem como disse-minar mais e mais o seu código deontológico na tentativa de intro-jetá-lo na vida cotidiana dos trabalhadores. Existe ainda a necessi-

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dade de que o tema da ética permaneça vivo nas rodas de discus-são da classe, nos eventos promovidos, nos documentos oficiais enas manifestações públicas.

As escolas de comunicação, por sua vez, podem investir maisna pesquisa e no ensino da deontologia, enfrentando o claro desafiode tornar a disciplina tão prática e concreta quanto qualquer outramatéria que trate da técnica no jornalismo. A academia precisa seaproximar mais do mercado de trabalho e das entidades de classe,estabelecendo pontes de entendimento comum, preocupadas coma boa formação dos profissionais e com a sua permanente reflexãosobre o bom exercício da profissão.

Enfim, a construção de um processo em que a ética esteja nocentro das preocupações jornalísticas é lento, porque segue regrashistóricas. Esse processo depende também de um engajamentocoletivo, de reflexão intensa, de crítica e autocrítica permanentes;é necessária ainda revisão contínua das regras que a categoria e opúblico estabelecem. Portanto, é um caminho que não se faz isola-damente. É um caminho que se faz no gerúndio.

Referências Bibliográficas

BALDESSAR, Maria José. A mudança anunciada � o cotidiano dosjornalistas com o computador na redação. Florianópolis: Ed. UFSC eEd. Insular, 2003

CHRISTOFOLETTI, Rogério. Monitores de Mídia � como o jornalismocatarinense percebe seus deslizes éticos. Itajaí-Florianópolis: Ed.Univali e Ed. UFSC, 2003

ERBOLATO, Mario. Deontologia da Comunicação Social. Petrópolis:Vozes, 1982

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KARAM, Francisco José. Jornalismo, ética e liberdade. SP: SummusEditorial, 1997

SÁ, Adísia. O jornalista brasileiro � Federação Nacional dos Jornalistas, de1946 a 1999. 2ª edição revisada, ampliada e atualizada. Fortaleza:Edições Fundação Demócrito Rocha, 1999.

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Para que deve existir um curso de Jornalismo? Para formarprofissionais cidadãos? Para formar para o mercado? Para formarcríticos do mercado? Ainda que resumidamente, pode-se respon-der que é para formar profissionais jornalistas. Teríamos de juntaras duas palavras numa só � o jornalista profissional e pensar sobreo que é ser isso, jornalista profissional.

Quando a informação aumenta e a tecnologia se acelera ediversifica, circula mais conhecimento e, potencialmente, mais sa-ber. Num volume como nunca na história da humanidade, hojetemos informações instantâneas e dobra-se o volume de informa-ção e conhecimento a cada dois anos, ainda que como qualidadesempre em discussão.

Como conhecer? Duas das mais antigas universidades do pla-neta, a de Bolonha, (Itália) e Salamanca (Espanha), que permane-cem campos de sistematização do saber apesar dos mais de oitoséculos que as sustentam, podem responder. É possível conhecer- e ainda mais rapidamente - por meio, precisamente, dos espaçossistematizados e acelerados dos processos de conhecimento, oscentros de estudos. Eles surgem por necessidade social e porquenão é possível �descobrir a roda� a cada momento; chega-se a elarapidamente, por meio do entendimento de como é possível fazê-la, sem precisar que a forma quadrada se arredonde ao longo dedécadas ou séculos. Isto é, os campos de conhecimento, resulta-

A contribuição das escolas: o curso da UFSC1Francisco José Castilhos Karam

1 Parte deste texto formou o dossiê da candidatura do Curso ao Prêmio Luiz Beltrãode Ciências de Comunicação 2004, vencedora na categoria InstituiçãoParadigmática.

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do da diversificação dos saberes e da divisão social do trabalho, eum local onde se possa acessá-los mais rapidamente, transformam-se, contemporaneamente, em centros de estudos e, em sua formamais elevada e complexa, em universidades. A profissão jornalísti-ca seguiu tal tendência por necessidade social e para a afirmação deum ethos que significa uma forma de ser profissional. E mais: umaforma moral de ser profissional.

As escolas de Jornalismo em Santa Catarina só chegam nofinal de 1979. A primeira foi a da Universidade Federal de SantaCatarina, seguindo-se, nos últimos 26 anos, mais 10 cursos. Mas,como pioneira na formação de jornalistas, a UFSC foi destacadapara integrar o livro alusivo aos 50 anos do Sindicato, tarefa certa-mente delicada. E, também, necessária, já que é preciso uma certarecuperação de um árduo período.

Assim, faço apenas alguns registros, dos muitos possíveis,que me pareceram importantes para afirmar o curso de Jornalis-mo da UFSC no cenário catarinense e nacional. E para afirmar anecessidade de formação graduada em Jornalismo, tanto diante damultiplicidade de mídias e de desdobramento tecnológico quantodiante das especificidades de ordem ética, teórica, estética e téc-nica que a profissão e a formação para ela demandam.

Da proposição política à qualificação integralem Jornalismo

Desde sua fundação, em 1979, o curso de Jornalismo perse-gue a excelência no ensino e o compromisso com a sociedade.

Passados 26 anos, os que agora chegam encontram um am-biente estruturado tecnologicamente, adequado tecnicamente e comsuporte para a reflexão teórica e ética do jornalismo e da mídia.

No entanto, em meados dos anos 70, isso era apenas umsonho para alguns, um duro projeto a ser criado, com os desafios

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e obstáculos a serem superados. O ambiente então, que vivia ofinal da ditadura militar, a luta pela �anistia ampla, geral e irrestrita�e a incipiente constituição de pólos universitários de ensino e pes-quisa sobre a comunicação, a mídia e o jornalismo no país apresen-tavam alguns desafios: de um lado, a resistência ou a desconfiançaem relação a um curso universitário de Jornalismo em Santa Cata-rina (o primeiro) em ambiente em que a maioria dos profissionaisque então atuavam não tinham diploma na área ou, sequer, de gra-duação em outra área; de outro, a realidade - dada a complexidadecrescente social e a profissionalização em outras regiões - exigiaum campo de sistematização do conhecimento prático-teórico edo envolvimento de tal campo com os novos desdobramentossociais que o país viveria dali por diante.

Assim, com o apoio institucional de alguns administradoresda UFSC, um punhado de profissionais, professores e pesquisado-res consideraram, contra a visão então hegemônica de setoresprofissionais e acadêmicos do estado catarinense, ser necessárioum curso de graduação em Jornalismo. Entre eles, destacou-se afigura do jornalista Moacir Pereira2 , hoje aposentado, que defen-deu, em sucessivas reuniões, a criação do curso e acompanhava osdebates nacionais e internacionais sobre a formação acadêmica. Ocurso, iniciado em 1979, teve logo o ingresso de jornalistas entãomuito jovens, de grande qualidade técnica e teórica, que contribu-íram para a rápida qualificação acadêmica , ainda que a estruturafuncional fosse incipiente. Pontificam, no início dos anos 80, DanielKoslowski Herz, César Orlando Valente, Paulo José da Cunha Bri-to, Luiz Lanzetta, Carlos Müller, Ayrton Kanitz, Maria Elena Her-mosilla e Orlando Tambosi.

E foi de 1979 a 1984, nos primeiros cinco anos, que o cursoestruturou seu projeto pedagógico com base no conhecimento

2 Ver mais detalhes sobre a formação inicial das comissões e primórdios do curso nocapítulo de Mário Xavier, que integra este livro.

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prático-teórico, buscando formar profissionais qualificados doponto de vista teórico e técnico e com preocupações éticas e es-téticas, vinculando sua formação tanto ao exercício diário do jor-nalismo quanto às questões sócio-políticas e econômicas da socie-dade brasileira, como a luta pelas Diretas Já (nome da terceira tur-ma, formada em 31 de março de 1984, e na qual se formou SérgioMurillo de Andrade, eleito em 2004 presidente da Federação Na-cional dos Jornalistas); as lutas pelas políticas democráticas e públi-cas de comunicação (movimento iniciado em 84 na UFSC por meiode Daniel Herz); as mudanças na profissionalização e no compro-misso do jornalista com a sociedade (concorrendo, para a presi-dência do Sindicato dos Jornalistas, em 84, o então professor Ayr-ton Kanitz), a participação em eventos de porte nacional e estadu-al, com o envolvimento de alunos e professores (organizando oCongresso da União Católica Brasileira de Comunicação, em 1981� memorável encontro que reuniu, então, três mil pessoas; o En-contro Nacional de Estudantes de Comunicação, em 1982; o en-contro da Federação Latino-Americana de Faculdades de Comuni-cação Social - Felafacs, em 1983).

Ao grupo de professores, somavam-se dois dos principaisfuncionários técnico-administrativos que dariam sustentação às ati-vidades administrativas, Dalton Barreto e Sônia Silva, o primeiroaté hoje no curso de Jornalismo, realizando excelente trabalhooperacional.

À cultura de comprometimento com mudanças políticas so-mava-se a necessidade de formar com qualidade os futuros jorna-listas. Tal tarefa exigiu dedicação além do previsto, além do contra-to de trabalho, além do expediente e do período letivo: foi épocade luta por espaço físico, para alocação de salas de aula e laborató-rios; das primeiras reivindicações por mais equipamentos e pro-fessores; por posicionamentos políticos contra a ditadura e pormudanças sociais no país. Tal etapa, que custou aulas no saguão da

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Reitoria, protestos estudantis e luta pela defesa da formação (di-ploma), como em 1986, capitaneada pelo recém-professor HélioSchuch e já então coordenador do curso. As culturas profissional epolítica se ampliavam.

Foi no início dos anos 80, precisamente em março de 1983,que ingressou nos quadros do Jornalismo da UFSC o professorAdelmo Genro Filho, falecido cinco anos depois, responsável pelaampliação das preocupações e reflexões sobre a área, tornando-sereferência teórica e ética para os colegas, alunos e categoria pro-fissional, autor de diversos livros sobre política e um especial so-bre Teoria do Jornalismo, hoje um clássico na área. Em novembrode 2004, em Salvador (Bahia), a Assembléia Geral da SociedadeBrasileira de Pesquisadores em Jornalismo criou o Prêmio de Pes-quisa em Jornalismo Adelmo Genro Filho, nome que obteve a maio-ria dos votos diante de quatro apresentados no 2º Encontro daSBPJor. Foi o reconhecimento pelo pioneirismo na constituição deuma teoria bem sistematizada para a área, que se tornou disciplinano curso de UFSC e em vários espalhados por todo o país, supe-rando resistências do campo da Comunicação, refratária a estudosespecíficos sobre jornalismo.

De 83 a 88, o curso teve algumas modificações estruturais,com a saída então do primeiro grupo de professores, convidadosa atuar em novos e desafiantes projetos, no país e exterior, entreeles Herz, Lanzetta, Kanitz, Müller, Maria Elena e Valente, emboraeste último sempre tenha mantido relação muito próxima à insti-tuição, tendo retornado, como substituto ou convidado, para co-laborar na manutenção da qualidade didático-pedagógica do proje-to. No entanto, quase todo o grupo inicial sempre manteve conta-to, que até hoje perdura, com professores e ex-alunos, além deacompanhar o movimento do curso até 2005. Foi um período deingresso de novos e jovens professores, que uniam militância polí-tica e experiência/cultura profissional.

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Em 1982, chega ao curso o professor Eduardo Barreto Vi-anna Meditsch, que amplia a cultura profissional naquela década ese torna responsável pelo desenvolvimento de pesquisas, especial-mente na área de rádio, e de projetos de extensão, iniciando-sediscussões sobre um novo currículo, mais adequado aos novosrumos sociais e de acordo com os desdobramentos tecnológicosque o final da década de 80 e anos 90 iriam enfrentar. Simultanea-mente, ou logo depois, já no decorrer dos anos 80, ingressamprofessores como Hélio Ademar Schuch, Francisco José Casti-lhos Karam, Luiz Scotto, Ricardo Barreto, Valci Zuculoto, GilkaGirardello, Carmem Rial, Neila Bianchin, Regina Carvalho, MauroPommer, Sérgio Weigert e Sérgio Mattos, que, ao lado de já ex-alunos como Maria José Baldessar , Carlos Locatelli, Aglair Bernar-do, Fernando Crócomo, Áureo Moraes e Ivan Giacomelli (estesentre o final dos anos 80 e década de 90) renovam os desafios,mantendo o compromisso com as grandes questões sociais semperder a necessidade sempre renovada de atualização curricular,envolvimento com temas da categoria profissional e qualificaçãoprático-teórica.

Durante todos os 26 anos, continuando nos últimos seis, de2000 a 2005, o curso sempre esteve atuando ao lado das ques-tões profissionais, como debates ético-deontológicos junto com oSindicato dos Jornalistas de Santa Catarina e com a Federação Na-cional dos Jornalistas, não perdendo nunca, de vista, a intervençãoe a discussão sobre a formação profissional, o Conselho Federalde Jornalismo, a Lei de Imprensa, os Direitos Autorais, o Conselhode Comunicação Social, o Fórum Nacional pela Democratizaçãoda Comunicação e muitos outros temas.

Da mesma forma, nos últimos cinco anos, ampliou-se a par-ceria para melhorar a formação dos profissionais, por meio dacriação de espaços específicos de debates sobre a profissão e daqualificação prático-teórica. Muitos alunos têm participado de pro-

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gramas de estágio ou aperfeiçoamento como os da TV Globo, doEstado de S. Paulo, Editora Abril, Sportv, Projeto Caras Novas(hoje desativado) da Rede Brasil Sul; e por meio de dois progra-mas especiais, como o da Cátedra Fenaj-UFSC de Jornalismo paraa Cidadania e o da Cátedra UFSC-RBS para aproximação ao mer-cado profissional. São projetos que ampliam e sedimentam a plura-lidade necessária ao ambiente universitário, permitindo tanto a buscapelo emprego quanto mantendo a capacidade crítica diante do en-torno profissional e social. E contemplam o disposto no ProgramaNacional de Qualidade de Ensino da Fenai, aprovado em 1987, esubscrito pelas principais entidades da área, como Intercom, Com-pós, Abecom e Enecos.

Ensino/CurrículosDepois de passar por sucessivas mudanças ao longo de 26

anos, o currículo atual do curso de Jornalismo � o sexto de suatrajetória � está novamente em discussão. Acredita-se que assimdeve ser, buscando novas exigências e estimulando novos estudos,além de refletir necessidades de novas áreas e procedimentos, tantoespecíficos profissionais quanto de carências sociais.

O último currículo, de 1991, atualizado em 1996, é o maislongo da história do curso, por razões que parecem ser mais ummérito do que dificuldades em alterá-lo. A explicação está, basica-mente, no fato de que o currículo é �móvel�. Há uma parte dedisciplinas obrigatórias, em torno de 55 a 60%, uma parte de dis-ciplinas optativas e uma terceira que, além de ser optativa, é for-mada por tópicos especiais, sem nome de disciplina apriorístico.Parece que, assim, além de cursar as necessárias obrigatórias e asoptativas � podendo dar ênfase mais à área de mídia impressa outelejornalística ou digital, por exemplo � também, por meio detópicos, é possível adequar rapidamente (a cada semestre) as ne-

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cessidades de formação a aspectos emergenciais que surgem, comodisciplinas que podem ser, por exemplo, sobre questões de cultu-ra, história , economia, política, comportamento � tanto por meiode reportagens em qualquer suporte quanto temáticas de discus-sões e seminários. Há a opção, ainda, de buscar disciplinas emoutros cursos da Universidade, abrindo-se a interdisciplinaridadeprópria do Jornalismo, que lida com todas as áreas sociais.

O curso também é voltado, desde a primeira fase, para aformação profissional em Jornalismo. Na primeira fase, há discipli-nas como Técnica de Reportagem, Fotojornalismo, Redação paraRádio e TV e outras laboratoriais que, junto com a de Comunica-ção e Realidade Brasileira I, permite a conexão entre aspectos es-pecíficos da profissão com o entendimento e a reflexão sobre as-pectos históricos do Brasil. Tal lógica percorre todo o currículo,buscando o saber fazer e o saber pensar sobre o fazer, relacionandosua futura atividade à sociedade em que a profissão está inserida.Assim, acompanham as disciplinas como Tele I , Radio I, Planeja-mento Gráfico, Jornalismo on line, Foto, um outro conjunto dedisciplinas que ensinam a escrever e a pesquisar, seja em voltadaspara o texto de revista ou jornal, seja em investigação via internet.Ao mesmo tempo, disciplinas como Teoria da Comunicação, Teo-ria do Jornalismo, Legislação e Ética do Jornalismo, Estética e Cul-tura de Massas, Políticas de Comunicação, Método de Pesquisa,Comunicação e Filosofia e o conjunto de tópicos e optativas per-mitem ao aluno chegar, no último ano, podendo escolher temaadequado para o Trabalho de Conclusão de Curso, juntamente como suporte mais apropriado em cada caso. Assim, os TCCs permi-tem escolher, também, a área para desenvolver o projeto, sejaGrande Reportagem (por exemplo, para revista, jornal, tele ourádio), Pesquisa Científica (objeto de estudos em Jornalismo) ouPráticas Editoriais (por exemplo implantação de sítios digitais, pro-gramas de rádio ou tevê, revistas ou jornais e similares).

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Nos 26 anos de existência, o curso da UFSC formou ao re-dor de 800 profissionais, hoje espalhados pelo estado e país, alémde vários terem escolhido o exterior para viver, cursar pós-gradu-ação ou trabalhar. Muitos deles atuam em jornais, revistas, portais,rádios e tevês, no estado ou pelo país afora. A mudança nas rotinasprofissionais, o surgimento de novas tecnologias e a crise de em-pregabilidade gerou novos desafios e necessidades: atuar em as-sessorias de imprensa ou de comunicação; prestar serviços pormeio de micro-empresas e similares, tarefa a que muitos hoje sededicam.

ExtensãoA partir de 1991, o curso de Jornalismo ampliou significativa-

mente seus projetos de extensão internos ou junto à comunidade.Hoje, o Projeto Universidade Aberta obtém reconhecimen-

to nacional. Trata-se de sítio digital com atualização, em média, acada 30 minutos, e com plantões aos finais de semana, trazendoinformações sobre a Universidade Federal de Santa Catarina e omundo da Educação, tanto no âmbito da própria UFSC quanto noestado e no país, mesclando notícias com grandes reportagens te-máticas.

O Unaberta Digital, a partir de 1998, que em média temtrês mil acessos por dia, chega, em coberturas especiais como ovestibular ou durante as greves, a 10 mil acessos diários. A produ-ção é feita por alunos bolsistas ou voluntários, supervisionados porprofessores da área. Também o Unaberta Rádio mantém progra-mas sobre a Universidade e a Educação em emissoras locais, comoRádio Cultura e CBN, e mantém, 24 horas no ar, a RadiopontoUFSC, via internet.

No telejornalismo, o TV e Ação Comunitária, a Revista daSemana e outros ocupam os espaços destinados pela UFSC TV

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(canal a cabo) e pela TV Cultura local (aberto). Mantém-se, junto àcomunidade, o projeto Rádio Beatriz, junto a uma escola do BairroPantanal, supervisionado por acadêmico bolsista. Mantém-se oNúcleo de Radioteatro, os jornais murais, o jornal-laboratório�Zero� e desenvolve-se, junto à comunidade, assessoria para de-senvolvimento de pequenas revistas e jornais, além de sítios digi-tais, como o da Associação dos Aposentados do Hospital Univer-sitário, da Associação Catarinense de Integração do Cego, e deentidades filantrópicas ou sem fins lucrativos, ressaltando-se, nomomento seguinte, a necessidade de buscar parcerias para profis-sionalizar os respectivos setores.

Tais projetos foram intensificados a partir de 1998, acres-centando-se a cobertura do Vestibular e sua produção midiáticajornalística. Com isso, a cada ano, se produz um conjunto de pro-gramas que, em 2003, chegou aos seguintes indicadores: progra-mas em vídeo � 252; sítios digitais produzidos � 21; edições dejornal � 8; programas de rádio � 1296; projetos prestados junto àcomunidade, envolvendo comunicação institucional � 14. Destaca-se que, mesmo nos programas não diretamente vinculados à co-munidade, há tratamento de temas de interesse não apenas da uni-versidade, mas de segmentos do entorno social e da educaçãocomo um todo. Os Trabalhos de Conclusão de Curso ampliam osdados a cada ano, sendo momento profícuo de apresentação e dedebates sobre a formação e o resultado dela para o futuro jornalis-ta e para a sociedade.

Em 2004, foram criados dois núcleos: o de Projetos Edito-riais e o de Televisão Digital Interativa, capazes de desenvolverpesquisas e projetos que auxiliem tanto a formação como desen-volvam o mercado qualitativamente. São projetos com a participa-ção de professores, alunos e funcionários especializados, e bus-cam a captação de recursos junto a órgãos de fomento e estabele-cem parcerias com instituições públicas e privadas. Foi criado, ain-

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da, o Laboratório de Mídias Digitais e Convergência Tecnológica,para desenvolver projetos adequados aos próximos anos, tanto nosentido de proposição de estudos e soluções quanto no de acom-panhar o desdobramento da área na atividade jornalística em seusaspectos técnicos, éticos e políticos.

Estrutura laboratorialEm parte, este acréscimo de projetos deveu-se, a partir do

início dos anos 2000, à chegada de equipamentos via GovernoFederal, conhecido como projeto Fungradão, destinado a melho-rar as condições de ensino e aparelhar tecnologicamente as insti-tuições federais de ensino superior. Bem aproveitado, tal projetofez com que o curso de Jornalismo da UFSC tenha conseguido �juntamente com outros apresentados junto a instituições de fo-mento � estruturar seus laboratórios, por exemplo, com quatorzeestações não lineares para edição de vídeo; softwares atualizadosnas áreas de telejornalismo, fotojornalismo, radiojornalismo e jor-nalismo digital, com câmeras fotográficas e de vídeo de última ge-ração, com digitalização de praticamente todas as suas produções.O número de equipamentos nos laboratórios de rádio, tele, foto,mídia impressa, internet, sites e afins permite, hoje, que se traba-lhe com um aluno por computador nos laboratórios, característi-cas possíveis dada a divisão das turmas laboratoriais em no máxi-mo 15 alunos por sala e, nas teóricas, de 30 por sala. Com dois ingres-sos de 30 alunos, nos meses de março e agosto, totalizando 60, épossível manter tal perspectiva, que atende o conceito A no item es-pecífico previsto nos processos de avaliação dos cursos da área.

Da mesma forma, o espaço de planejamento e confecçãodos trabalhos de conclusão de curso, permitindo que o aluno tra-balhe Pesquisa Científica, Grande Reportagem ou Práticas Editori-ais, tem produzido alguns projetos que resultam em sítios digitais

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permanentes, como o de adoção de menores; livros como repor-tagens sobre política, esportes ou narcotráfico; pesquisas sobrejornais catarinenses, dentro do espírito da plataforma Rede Alfre-do de Carvalho para a História da Mídia, quer tem na UFSC aprodução de seu sítio digital, juntamente com outros, como o daSBPJor, Unaberta e Jornalismo no Cinema.

Alguns dos trabalhos têm sido apresentados em eventos eobtido destaque, seja no Expocom (premiação da Intercom paraprodução de alunos da graduação), seleção para apresentação ememissoras de rádio ou tevê, concursos catarinenses e similares.

Pesquisa/produção científica O curso de Jornalismo da UFSC é de graduação, voltado

para a formação do jornalista qualificado nos planos teórico, ético,técnico, estético e tecnológico. A perspectiva, para 2006, é a cri-ação do mestrado acadêmico em Jornalismo. Atualmente, mantémPrograma de Estudos em Jornalismo e Mídia, nível de Especializa-ção, em sua quarta edição durante 2005. E programa ainda incipi-ente de pesquisa na graduação, por meio da Iniciação Científica.

O corpo docente, ao qual se integraram nos últimos doisanos as professoras Gislene Silva e Heloiza Herscovitz, produzperiodicamente nas suas áreas, seja por meio de livros, artigos,resenhas e participações em eventos como os do Congresso daSociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunica-ção (Intercom), os encontros da Compós (encontro de progra-mas das pós-graduações), do Fórum Nacional de Professores deJornalismo, da Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalis-mo (SBPJor) e da Associação Latino-Americana de Investigadoresda Comunicação (Alaic), assim como em congressos em paíseseuropeus e nos Estados Unidos. Vários dos docentes integramdiretorias de entidades de pesquisa na área, seja no corpo diretor

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ou como coordenação de Grupo de Trabalho. E parte integra, tam-bém, conselhos editoriais de revistas acadêmicas.

A ampliação de estudos na área, mais especificamente nocampo do Jornalismo, cresceu a partir dos anos 1990, especial-mente a partir de 92, com a contratação do professor Nilson Le-mos Lage, que, agora já com 50 anos de experiência, incluindoatividades profissionais e acadêmicas, contribuiu para grande visi-bilidade social e profissional do curso por meio de sua extensaprodução científica e reconhecimento nacional de sua atividade nasredações e na academia.

Palavras finaisO Curso de Jornalismo mantém, desde 1998, seu sítio digi-

tal no ar, onde poderá ser conhecida parte da trajetória, incluindo,hoje, o corpo docente, os alunos, o currículo, os programas, aprodução científica e outros itens. Está acessível por meio dewww.jornalismo.ufsc.br.

Quando comemorou 25 anos, venceu o renomado prêmioLuiz Beltrão de Ciências da Comunicação�2004, na categoria Insti-tuição Paradigmática. É o principal prêmio na área acadêmica e talfato confirma os caminhos, ainda que árduos, trilhados pelo Jorna-lismo da UFSC na implementação e consolidação de seu projetodidático-pedagógico. Também, pelo terceiro ano consecutivo(2002, 2003, 2004), houve a atribuição de conceito Cinco Estre-las pelo Guia do Estudante da Abril, nos dois últimos de formaisolada.

O projeto descrito aqui não é o único existente e nem oexclusivo a seguir. Mas certamente, ao focar seu projeto didático-pedagógico em Jornalismo, o curso da UFSC ajudou a consolidar aprofissão e a formação no estado catarinense e no Brasil, além detorná-las mais úteis e consistentes no tratamento das questões de

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interesse social a partir de sua especificidade, precisamente por-que valorizou o profissional integral. Apesar das dificuldades ope-rativas no dia-a-dia de uma Universidade Pública, o curso soube,pelo envolvimento de professores, servidores técnico-administra-tivos e alunos, encontrar um caminho que legitimou sua aposta:um projeto voltado para a formação de jornalistas, com as dimen-sões que significam as palavras formação e jornalista, vinculadas àscontribuições sociais que delas decorrem.

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Nos 50 anos de existência do Sindicato dos Jornalistas deSanta Catarina (SJSC) - de 1955 a 2005 -, a imprensa do estado edo país registrou grandes e marcantes transformações nos cam-pos político-ideológico, industrial-tecnológico, comercial-merca-dológico e de conteúdo editorial. Uma parte significativa dessasmudanças refletiu macro tendências mundiais e se inseriu, no Bra-sil, em diferentes períodos como: o pós II Guerra, os anos JK, aditadura militar dos anos 60 e 70, a redemocratização nos anos80, o neoliberalismo e a globalização dos anos 90.

As cinco décadas que nos antecederam coincidem com acriação dos primeiros cursos de Jornalismo e faculdades de Co-municação Social do país, nos anos 50: uma demanda da sociedadee da categoria, resultante da própria evolução e complexidade cres-centes da mídia e do fazer jornalístico. Nos anos 70, a academiapassou a aprimorar a formação, a pesquisa e a pós-graduação nocampo midiático. E o movimento sindical ressurgiu também commais força no começo dos anos 80, como resposta à reorganiza-ção da sociedade civil e da promulgação da nova Constituição em1988, incentivando a defesa pública dos direitos elementares doscidadãos, eleitores, contribuintes e consumidores.

Os anos 90 representaram a tentativa de afirmação de umjornalismo voltado crescentemente para os interesses sociais am-plos, de forma a atender o cidadão nas suas expectativas de umainformação cada dia mais ética, plural e de qualidade. Surgiu entãoa consciência da necessidade de instrumentos e ferramentas que

A contribuição catarinense ao ser-fazerjornalístico e à Crítica de Mídia

Mário Xavier

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JORNALISMO EM PERSPECTIVA 248

contribuíssem mais diretamente para o aperfeiçoamento da im-prensa e dos jornalistas, mediante uma crítica sistemática da mídiae uma permanente atenção ao ser-fazer jornalístico.

Em Santa Catarina - como no Brasil de um modo geral -,ainda há muito a construir e consolidar nesse campo. Mas já é pos-sível pinçar, ao longo dos anos, ações práticas que contribuírampara aperfeiçoar o exercício do jornalismo, qualificar a atuação dacategoria e abrir diversos caminhos para a formulação e exercíciode uma crítica de mídia fundamentada na observação, no monito-ramento público e na auto-observação. A linha do tempo a seguirvisa resgatar e pontuar cronologicamente momentos dessa traje-tória de contribuições catarinenses ao tema em pauta, buscandoservir de inspiração e referência para pesquisas e projetos futurosmais detalhados e aprofundados sobre o assunto.

1955A Associação dos Jornalistas Profissionais - fundada em 18/11/1953

e que deu origem ao SJSC - recebe a Carta Sindical dia 13 demaio, tornando-se a entidade credenciada a representar e de-fender coletiva e juridicamente os interesses dos profissionaisque atuam em todo o estado.

1962 a 1963Registram-se as primeiras campanhas públicas pela valorização da

categoria e promoção de valores éticos e profissionais junto aosassociados e à comunidade. A iniciativa foi de um ComandoPermanente de Ação liderado pelos jornalistas sindicalizados Eu-rides Antunes de Severo, Adolfo Ziguelli, Melo Prates, SilveiraLenzi, Jorge Cherem, Amaral e Silva e outros, de oposição à dire-toria do SJSC na época, que vinha descumprindo suas obrigações.

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A campanha de moralização denunciou a emissão irregular de car-teiras de jornalistas, que era feita com a conivência de órgãoscomo o Ministério do Trabalho. Questionou legislações gover-namentais para jornalistas e combateu o usufruto ilegal de direi-tos tais como: isenção de imposto de renda e do imposto inter-vivos; descontos de 50% nas passagens aéreas e nas passagensterrestres; aposentadoria especial; tratamento especial da justi-ça civil; facilidades de financiamento para aquisição da casa pró-pria e de automóvel. A fim de usufruírem ilegalmente dessesbenefícios, alguns buscavam obter o status de jornalista junto aoSJSC e ao Ministério do Trabalho, mediante declarações falsasde empresas do setor. Somente uma �empresa jornalística� ha-via emitido 73 atestados falsos.

Isso fez com que, entre 1962 e 1963, o número de verdadeirosjornalistas sindicalizados, num total de aproximadamente 400,fosse de apenas cerca de 30% dos associados ao SJSC, sendoos outros 70% composto pelos pseudojornalistas que detinhamcarteiras frias, o que resultava em descrédito público da catego-ria e deterioração da profissão. �Eram pessoas que estavam in-teressadas nos benefícios materiais, em detrimento da respon-sabilidade de informar�, relembra Severo, veterano radialista ejornalista catarinense. Na lista dos �jornalistas� ilegais de então,encontravam-se até mesmo indivíduos de destacada posiçãoeconômica e social: secretários de estado, deputados, prefei-tos, banqueiros, comerciantes bem-sucedidos, industriais, fun-cionários públicos e autoridades do clero.

Em 29 de abril de 1963 (cerca de um ano antes do golpe militarde 1964), o SJSC organiza o 1º Seminário de Imprensa Univer-sitária, em Florianópolis, integrando os estudantes do ensino su-perior na campanha de moralização da classe jornalística. �Nãofaltou quem nos acusasse de comunistas perigosos, extremistasexaltados�, descreve um relato do Comando de Ação Perma-nente da época.

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1968É fundada a Associação Catarinense de Imprensa (ACI), também

denominada Casa do Jornalista.

1969O SJSC passa a propor a criação de um curso superior de Jornalis-

mo em Santa Catarina para qualificar os profissionais e suprir asdeficiências do mercado de trabalho regional, que obrigava asempresas jornalísticas a requisitar profissionais de outros cen-tros. Na década de 60, 70 e meados de 80, muitos jornalistas jágraduados ou com experiência profissional migraram para SantaCatarina, notadamente do Rio Grande do Sul.

1971É criado em Blumenau o �Jornal de Santa Catarina�, o primeiro

com o projeto editorial de cobertura estadual. O Santa marcoutambém o começo de um novo estilo profissional, sob o co-mando do jornalista e ex-professor da PUC de Porto Alegre,Nestor Fedrizzi, também o primeiro diretor de telejornalismoda TV Coligadas.

1973É formado o primeiro grupo de trabalho para a criação do curso

de Jornalismo da UFSC. Entre os participantes, incluem-se: aprofessora Aurora Goulart, os professores Aníbal Nunes Pirese Murilo Pirajá Martins, e os jornalistas Antônio Kowalski Sobri-nho, Marcílio Medeiros Filho, Moacir Pereira e Osmar Teixeira.

1975O jornalista Moacir Pereira preside o SJSC de 1975 a 1978. Se-

gundo Pereira, o destaque desse período foram as lutas do Sin-

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dicato pela defesa das liberdades, contra a censura e pelo apri-moramento profissional. Na época, foi assinado o primeiro acor-do coletivo entre a categoria e as empresas do setor, estabele-cendo piso salarial de seis salários-mínimos. Foi lançado tam-bém o primeiro jornal do SJSC, além da realização de seminári-os, debates, palestras com profissionais de destaque nacional einternacional.

O jornalista Adolfo Zigelli, personalidade marcante na renovaçãoprofissional do jornalismo catarinense especialmente na área dorádio, é convidado para coordenar a implantação do curso deJornalismo pelo então reitor da UFSC, Roberto Mündell de La-cerda. Porém, Zigelli falece em um desastre aéreo, o que adia acriação do curso.

1978É constituído um outro grupo de trabalho para retomar a iniciati-

va da criação do curso de Jornalismo da UFSC. Participam destavez os professores Aurora Goulart e Celestino Sachet, além dosjornalistas César Valente, Moacir Pereira e Paulo Brito, que re-ceberam apoio, entre outros, do professor José Marques deMelo (SP) e de Antônio Firmo de Oliveira Gonzáles, professorda PUC de Porto Alegre e presidente do Sindicato dos Jornalis-tas do RS. As propostas foram aprovadas em junho de 1978pelo Conselho de Ensino e Pesquisa da UFSC. Em 30 de junho,o curso foi criado por portaria do reitor Caspar Erich Stemmer.

Moacir Pereira relembra que, participando de eventos nacionais eregionais de jornalismo, como presidente do SJSC, convencera-se de que somente com um curso de Jornalismo catarinenseseria possível cumprir a legislação profissional (decreto-lei 972/69) que exigia o curso superior. Espalhava-se a figura do jorna-lista provisionado, e tornava-se imperativo a formação de pro-fissionais no estado, na Universidade, conferindo-lhes: forma-ção eclética, universal e com espírito crítico. Santa Catarina era

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o único estado do Sul do Brasil que não tinha ainda um cursosuperior de Jornalismo.

1979Começam as atividades do primeiro curso de Jornalismo do esta-

do, na UFSC, que ficou conhecido como uma faculdade �alter-nativa�. Com uma proposta pedagógica inovadora, nasceu du-rante a ditadura, mas comprometido com a democracia. Ao ladoda formação científica e técnica, deveria estar a formação políti-ca. Segundo seu primeiro coordenador, professor Moacir Pe-reira, o lema era: �liberdade, consciência crítica e responsabili-dade�. A primeira turma se formou em 1982.

Os jornalistas catarinenses criam o MOS � Movimento de Oposi-ção Sindical -, dando início a um processo de resgate da ética nacategoria e à formação de um novo conjunto de lideranças sindi-cais, profissionais e acadêmicas que assumiriam o SJSC seis anosmais tarde, nas eleições de 1987, influindo no rumo da categoriano estado até o final do século XX e começo do século XXI.

1982O jornalista Daniel Herz, um dos primeiros professores do curso

da UFSC e autor do livro �A história secreta da Rede Globo�,lança as bases da Frente Nacional de Luta por Políticas Demo-cráticas de Comunicação, que daria origem ao atual Fórum Na-cional pela Democratização da Comunicação (FNDC): respon-sável, entre outras conquistas posteriores, pela aprovação dasleis federais de criação do Conselho de Comunicação Social, daTV a Cabo e da Radiodifusão Comunitária.

1983O jornalista e professor da UFSC Ayrton Kanitz tem papel funda-

mental na articulação do MOS e foi o primeiro candidato à pre-

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sidência do Sindicato pelo movimento. O MOS vence no pri-meiro turno, mas perde a eleição, no segundo turno, para a cha-pa da situação.

1984Os professores e estudantes do curso de Jornalismo da UFSC

participam ativamente do processo político do país, contribuin-do de forma decisiva e pioneira para o começo da campanhapelas Diretas Já em Santa Catarina, cujo lema é adotado pelaturma de formandos de 1983, que colou grau em março de1984.

1985O jornalista Celso Vicenzi recebe o Prêmio Esso de Informação

Científica e Tecnológica, com uma série de reportagens publica-das no jornal �O Estado�. Foi a primeira vez, em 30 anos dehistória do prêmio, que um jornalista conquistou um prêmionacional com um trabalho publicado num veículo de comunica-ção fora do eixo Rio-São Paulo.

O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros é redigido em 1985e aprovado em congresso realizado pela Federação Nacionaldos Jornalistas (Fenaj) no Rio de Janeiro, com a participação dedelegados catarinenses.

1986A implantação do jornal �Diário Catarinense� em Florianópolis e

nas cidades-pólo de Santa Catarina, conectados on-line via intra-net, representa um novo desafio de competitividade no cenárioda imprensa barriga-verde: induzindo a uma maior qualificaçãogeral dos profissionais e do produto jornal, estimulando a orga-nização sindical dos jornalistas e renovando e intensificando a

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integração informativa, cultural, política e social de todo o esta-do. A criação do DC, além de ampliar o mercado para profissi-onais locais experientes e para os jovens formandos catarinen-ses, também motivou a migração de jornalistas de outros esta-dos como São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul,incentivando uma movimentação e discussão em torno do fazerjornalístico.

1987O jornalista Celso Vicenzi é eleito presidente do SJSC pela chapa

do MOS, dando início a uma gestão calcada em propostas e valoreséticos, técnicos e acadêmicos voltados para a dignidade da catego-ria e aperfeiçoamento da profissão e da imprensa catarinense.

A Agência de Comunicação da UFSC (Agecom), dirigida pelo jor-nalista Moacir Loth, dá início à formulação e implementação deuma pioneira Política Pública de Comunicação que é reconheci-da em 1994 pelo CNPq com o Prêmio José de Reis de Divulga-ção Científica. O modelo serve de referência, na década de 90,para outras instituições de ensino superior, especialmente as in-tegrantes do Fascom � Fórum de Assessores de Comunicaçãodas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES).

O professor do curso de Jornalismo da UFSC, Adelmo GenroFilho, publica sua dissertação de mestrado �O segredo da pirâ-mide - para uma teoria marxista do jornalismo�. Genro Filho éconsiderado o virtual introdutor, no Brasil, da disciplina de Teo-ria do Jornalismo. Morreu em Florianópolis, em 1988, aos 37anos. Sua obra influenciou dezenas de teses sobre jornalismoem todo o país.

Florianópolis é a segunda cidade do país a receber (depois de SãoPaulo), a exposição de fotografias �20 Anos da Gamma PresseImagens�, uma das três maiores agências de fotojornalismo domundo, com 2 mil fotógrafos em vários países que enviam fotos

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a mais de 2 mil publicações internacionais. Organizada pelo SJSCna Galeria de Arte da Associação Catarinense de Artistas Plásti-cos, a exposição seguiu também para Blumenau, Joinville, Cha-pecó e Gravatal.

 

1988O SJSC organiza a exposição Humor na Ilha e Humor em Joinville,

com dezenas dos principais cartunistas do país, culminando comum show, nas duas cidades, do Muda Brasil Tancredo Jazz Band,integrado pelos irmãos Paulo e Chico Caruso, Luís FernandoVeríssimo e Reinaldo (da turma do Casseta e Planeta). Em Flori-anópolis, a exposição foi apresentada no Museu de Arte de SantaCatarina (MASC), e em Joinville, no Museu de Arte de Joinville.

O SJSC traz a Florianópolis uma exposição internacional de carta-zes sobre a paz, em parceria com o Conselho da Condição Fe-minina, Arquidiocese de São Paulo, UFSC e Secretaria de Cultu-ra e Esporte.

 

1989O SJSC traz a Florianópolis a exposição de fotos premiadas em 33

anos do Prêmio Esso de Jornalismo, o mais importante do país.A exposição também é realizada em Blumenau e Chapecó.

 

1990O SJSC realiza em Florianópolis o 24º Congresso Nacional de Jor-

nalistas. Participam cerca de 300 jornalistas e alguns convidadosestrangeiros.

O jornalista Celso Vicenzi é reeleito presidente do SJSC, commandato até 1993.

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1991Profissionais de imprensa participantes do 1º Congresso Estadual

dos Jornalistas, realizado em Rio do Sul, de 11 a 13 de outubro,decidem pela filiação do Sindicato à Central Única dos Trabalha-dores. O encontro também debateu a Lei de Imprensa, demo-cratização da comunicação e ética profissional. 

São Francisco do Sul sedia o 1º Seminário Estadual sobre ÉticaJornalística, uma promoção do SJSC.

 

1992Por iniciativa dos jornalistas Moacir Loth e Francisco Karam, inte-

grantes da Comissão de Ética do SJSC, a Agecom e a Fenaj im-primem e distribuem exemplares do Código de Ética da cate-goria a todos os profissionais e às faculdades e cursos de Comu-nicação e Jornalismo do Brasil. A ação insere-se numa estratégiainédita de disseminação do tema e valorização do bom jornalis-mo e da qualificação profissional na imprensa e na mídia brasilei-ras. A campanha se repete em 1997, como parte das ações daAgecom/UFSC.

O NOIS - Núcleo Organizado de Imprensa Sindical (SC) -, estru-turado especialmente pelos profissionais do Sinergia, SEEB (Ban-cários), Sindprevs, Sinte, Apufsc, entre outros, lança o texto �Aimprensa no Sindicato Cidadão: uma reflexão sobre o exercíciodo jornalismo sindical�, que tentava sistematizar as experiênciasna área e foi debatido em eventos no estado e no país.

O jornalista e advogado Moacir Pereira lança o livro �Imprensa &Poder - A Comunicação em Santa Catarina�. Na obra, Pereiradivide em três fases distintas a evolução da imprensa catarinen-se: expansão (anos 60); modernização (anos 70); e profissiona-lização (anos 80). A expansão ocorre com: o surgimento denovas estações de rádio no interior; lançamento da TV Florianó-polis; inauguração da TV Coligadas, em Blumenau; e o processo

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de implantação da TV Cultura na Capital. Neste período, o meiojornal era inexpressivo e ainda não conseguira se desvencilhar,assim como o rádio, de um processo histórico: a subordinação- ou a linha editorial - partidária. Ainda conforme o autor, a pro-fissionalização tem como principais causas a imparcialidade dosjornalistas Adolfo Zigelli, no radiojornalismo, e de Nestor Fedri-zzi, no jornalismo impresso; a criação do curso de Jornalismoda UFSC; o movimento de oposição sindical (MOS); a elimina-ção da vinculação política nos meios; o processo de aberturapolítica e redemocratização do Brasil; a nova concepção em-presarial do setor; a presença do grupo de comunicação RBS; oaperfeiçoamento dos profissionais; e o aumento da concorrên-cia entre os diversos veículos.

O SJSC traz a Florianópolis, no MASC, as fotos premiadas no In-terpressPhoto 1992 � o maior concurso internacional de foto-jornalismo.

 O SJSC e o curso de Jornalismo da UFSC organizam o projetoMemória do Jornalismo, que trouxe à Capital catarinense váriosjornalistas de destaque dos principais veículos de comunicaçãodo país, como Ricardo Kotscho, Ricardo Noblat, José HamiltonRibeiro e Washington Novaes, entre outros. Além de palestras,cada participante gravou entrevista em vídeo sobre o exercíciodo jornalismo e o ofício do jornalista.

1993O jornalista Sérgio Murillo de Andrade é eleito presidente do SJSC,

com mandato até 1996.

1995O jornalista e professor Itamar Aguiar publica sua dissertação de

mestrado �Violência e golpe eleitoral: Jaison e Amin na disputapelo governo catarinense�, na qual dedica um capítulo a ques-

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tões como a mídia na campanha, o controle pela elite, o caso doSindicato dos Jornalistas e a �construção� da imagem.

A historiadora Joana Maria Pedro lança a obra �Nas Tramas entre oPúblico e o Privado - A imprensa de Desterro no século XIX�,pela Editora da UFSC. Neste período, segunda a autora, já eramperceptíveis as principais características que marcariam o jor-nalismo catarinense até os anos 80 do século XX: �vinculaçãopartidária direta ou indiretamente com o poder público; vidacurta; instrumento de política partidária�.

O jornalista Mário Xavier assume pioneiramente no Sul do Brasil,em setembro, a função de ombudsman de imprensa do jornal �ANotícia Capital� (ANC), em Florianópolis; representa Santa Ca-tarina e o Brasil, em 1996, no Congresso Internacional da ONO(Organization of News Ombudsmen), nos EUA; e exerce a funçãoaté agosto de 1997.

1996O jornalista Sérgio Murillo é reeleito presidente do SJSC, com

mandato até 1999.

A implantação do ombudsman de imprensa no ANC tem repercus-sões em outras esferas da vida catarinense, e em 1996 são cria-dos cargos de ouvidores na UFSC e na Celesc, em 1997 nosSupermercados Angeloni e, nos próximos anos, em instituiçõescomo a Secretaria de Saúde e o CREA, dando origem, em 2003,à criação da seccional catarinense da Associação Brasileira deOuvidores (ABO).

A experiência do jornalista Mário Xavier como ombudsman passa aser inserida como objeto de pesquisas universitárias por estu-dantes da UnB, UFRJ, UFRGS, UFPR, UFSC e Universidad Ca-tólica Andrés Bello - Facultad de Humanidades y Educación -Escuela de Comunicación Social, da Venezuela. O jornalista éconvidado a compartilhar sua experiência em palestras e even-

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259JORNALISMO EM PERSPECTIVA

tos, e a escrever o artigo �Los Ombudsmen de Prensa son ne-cesarios? Por qué?�, na edição nº 54 da Chasqui � Revista Lati-noamericana de Comunicación, editada pelo CIESPAL - CentroInternacional de Estudios Superiores de Comunicación paraAmérica Latina, de Quito, Equador.

1999O jornalista Luis Fernando Assunção é eleito presidente do SJSC,

com mandato até 2002.

O jornalista Carlos Alberto de Souza lança pela Editora da Univalio livro �O fundo do espelho é outro�, onde analisa a condição daRBS TV de afiliada da TV Globo, discutindo identidade regional epadrão nacional de produção televisiva. O livro causou polêmi-ca, à época, porque trazia em sua capa uma arte que mesclava asmarcas da Globo e da RBS. A Editora da Univali, atendendo apedido da emissora, recolheu a edição e recolocou-a no merca-do com outra capa. O livro é uma das poucas obras no país arefletir o conflito regional X global na TV.

O jornalista Mário Xavier é convidado a escrever para o sítio doInstituto Gutenberg, num debate nacional sobre os 30 anos daregulamentação da profissão de jornalista no país, o artigo �Aquem interessa ser contra o diploma?�. Em 2001, o artigo é umdos incluídos pelos advogados da Fenaj no �agravo de instru-mento� apresentado ao Tribunal Regional Federal de São Paulopara defender a regulamentação da profissão e contestar a me-dida da juíza paulista Carla Abrantkoski Rister, que tentava sus-pender a obrigatoriedade de formação superior para o exercí-cio profissional do jornalismo.

2000De 2 a 5 de maio, o SJSC, em conjunto com a Fenaj e a Agecom da

UFSC, sob a liderança do jornalista Moacir Loth, também dire-

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tor da Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC),organizam e realizam pela primeira vez fora do eixo Rio - SãoPaulo - Minas Gerais, o 6º Congresso Brasileiro de JornalismoCientífico. A ABJC era então presidida pelo jornalista HamiltonRibeiro. Um dos resultados do evento foi a publicação do livro�Comunicando a Ciência�.

2001O jornalista, professor e doutor em Comunicação Rogério Chris-

tofoletti implanta na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), jun-to ao Centro de Ensino Superior de Ciências Humanas e da Co-municação (CEHCOM), um inédito trabalho de pesquisa e ex-tensão denominado Monitor de Mídia, tornando-se referênciaacadêmica nacional como instrumento de crítica e aperfeiçoa-mento da imprensa. O Monitor de Mídia faz o acompanhamen-to sistemático dos três maiores jornais diários do estado, avali-ando criticamente sua cobertura noticiosa.

O jornalista e professor Mario Luiz Fernandes, então coordena-dor do curso de Comunicação Social � Jornalismo da Univali,defende a dissertação de mestrado �Perfil da Pequena Imprensade SC�, na PUC-RS: uma pesquisa inédita e de referência, tendocomo ponto de partida saber quantos jornais existiam no esta-do, como eles estavam estruturados e vários outros temas deinteresse. Para traçar este perfil, foram percorridos mais de seismil quilômetros visitando pequenas redações e entrevistandoempresários e jornalistas.

Santa Catarina, por intermédio da UFSC e de integrantes do SJSC,tem participação destacada na criação do projeto Rede Alfredode Carvalho (Rede Alcar) - preservando a memória e construin-do a história dos 200 anos da Imprensa no Brasil, liderado pelosprofessores doutores José Marques de Melo e Francisco Ka-ram, e que inclui um sítio digital sob a responsabilidade de Cló-vis Geyer e Vinicius Carvalho.

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A Rede Alcar propõe converter o século XXI no século da im-prensa brasileira, contribuindo para o fortalecimento da nossacidadania. Sua premissa é a de que o processo civilizatório anco-ra-se na capacidade de abstração intelectual dos componentesde qualquer sociedade humana.

Quando da constituição formal da Rede Alcar, na sede da ABI (RJ),em 5/04/2001, o presidente da entidade, jornalista FernandoSegismundo, fez alusão histórica afirmando que a utopia ali es-boçada assemelhava-se ao sonho que, há um século, impulsio-nara (o catarinense e desterrense) Gustavo de Lacerda a lançaras bases do associativismo jornalístico no país, ao ajudar a fundare tornar-se o primeiro presidente da ABI. �Em 1908 � afirmouSegismundo - ninguém acreditava que fosse possível transfor-mar o ofício noticioso numa profissão juridicamente reconheci-da e socialmente legitimada�.

 

2002O jornalista Luiz Fernando Assunção é reeleito presidente do SJSC,

com mandato até 2005.

A Fenaj, com apoio do curso de Jornalismo da UFSC, lança o livro�Formação Superior em Jornalismo � uma exigência que inte-ressa à sociedade�, obra que discute a importância do diploma eda formação superior na área. O livro foi distribuído em todo opaís, como carro-chefe da campanha da Fenaj pela afirmação dodiploma.

2003O SJSC promove e organiza o 14º Enjac (Encontro Nacional de

Jornalistas em Assessorias de Imprensa) e o 4º Encontro dosJornalistas em Assessoria de Comunicação do Mercosul.

A jornalista e professora Maria José Baldessar lança o livro �A Mu-dança Anunciada� (Editoras UFSC e Insular), no qual avalia as

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modificações sofridas pelos jornalistas catarinenses com a ado-ção do computador em suas rotinas de trabalho. O livro é umdos poucos no país sobre o cotidiano dos jornalistas e sobre osimpactos tecnológicos em suas rotinas de trabalho.

O SJSC participa do Dia Nacional de Mobilização em Defesa daProfissão de Jornalista com diversas atividades em todo o Estado.

Rogério Christofoletti lança o livro �Monitores da Mídia � Como ojornalismo catarinense percebe os seus deslizes éticos�, pelaEditora da UFSC. Nele, aponta para a preocupação de como osjornalistas catarinenses avaliam seus procedimentos éticos nodia a dia das redações e das assessorias de imprensa. Ancoradono código de ética da categoria, analisa vários dispositivos deaferição do comportamento profissional, como as comissõesde ética dos órgãos da categoria e a figura do ombudsman (ouvi-dor).

Com a participação do SJSC, é instituído em Florianópolis o Fó-rum Catarinense de Acompanhamento da Mídia (FCAM), braçocatarinense da campanha Quem financia a baixaria é contra a cida-dania. Todo o cidadão pode denunciar abusos na programação derádio e TV, estadual ou nacional, pelo telefone 0800-619 619.

2004O jornalista catarinense Sérgio Murillo de Andrade, 42 anos, ex-

presidente por duas vezes do SJSC, é eleito presidente da Fenaj,quase 100 anos após outro catarinense, Gustavo de Lacerda,em 1908, ter se tornado o primeiro presidente da ABI. A Fenajcongrega 31 sindicatos de jornalistas de todo o País, que repre-sentam mais de 30.000 profissionais. Murillo formou-se pelaUFSC em 1984, é mestrando na mesma universidade e diretordo SJSC. Há cinco anos, trabalha como professor do curso deJornalismo do Ielusc, em Joinville.

Por proposição da ACI à Assembléia Legislativa, o Governo doEstado institui, pela Lei nº 12.946, o Dia da Imprensa Catarinense,

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comemorado anualmente em 28 de julho: data em que circulouem Desterro o primeiro jornal da Província de Santa Catarina,�O Catarinense�, editado pelo lagunense Jerônimo FranciscoCoelho, e que tinha como slogan �Sentinela da Liberdade�.

É lançado, em ato público na Assembléia Legislativa, o ComitêCatarinense de Apoio à Criação do Conselho Federal de Jorna-lismo (CFJ).

O Curso de Jornalismo da UFSC completa 25 anos.

O SJSC atua como co-promotor e co-organizador do 2º Encon-tro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho e do 7º Fórum Naci-onal dos Professores de Jornalismo, em Florianópolis.

O jornalista, professor do curso de Jornalismo da UFSC e doutorFrancisco Karam lança o livro �A Ética Jornalística e o InteressePúblico�, tendo como objeto de estudo o papel social e políticoda atividade jornalística. Karam mostra que a informação diáriade qualidade, produzida por profissionais íntegros e competen-tes, é essencial para a democracia e para a consolidação e a ma-nutenção da cidadania. Para ele, os princípios que regeram a ati-vidade no século XX buscaram estabelecer um estreito vínculoentre a ética profissional e o interesse público.

O jornal �Diário Catarinense� e o �Jornal de Santa Catarina� criampioneiramente na imprensa estadual o �Conselho de Leitores�,uma modalidade de monitoramento público da qualidade e doconteúdo da imprensa executada com a participação não-remu-nerada de nove leitores que se reúnem a cada 20 dias com oeditor-chefe, editores e executivos do jornal para fazer críticase sugestões.

2005O SJSC completa seus 50 anos, atuando firmemente na defesa da

categoria e da própria profissão, estando presente na vida sociale política do país, lutando pela democracia e justiça social, e

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destacando-se na luta pela democratização da comunicação noBrasil. Podem se associar ao SJSC todos os profissionais que,por atividade prevista na legislação que regulamenta a profissão,integrem a categoria profissional.

É lançado pelo SJSC o livro �Jornalismo em Perspectiva�, com oobjetivo de oferecer ao leitor um panorama do jornalismo pra-ticado em SC nas últimas cinco décadas.

Fontes consultadasABI, Fenaj, SJSC, ACI/Casa do Jornalista, Instituto Gutenberg, Rede Alcar,

UFSC/Departamento de Jornalismo, Univali, UFRGS, PUC-RS; AntunesSevero, Celso Vicenzi, Elaine Borges, Flávio de Sturdze, FranciscoKaram, Luiz Paulo Fedrizzi, Maria José Baldessar, Moacir Loth, MoacirPereira, Nei Manique, Sérgio Luiz Casares Pinto, Rogério Christofoletti,Sílvio da Costa Pereira.

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O traço do jornalismocatarinense

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267JORNALISMO EM PERSPECTIVA

Apresentação

O jornalismo catarinense é pródigo também no humor grá-fico, na ilustração e nas diversas formas de expressão do traço. Aimprensa cotidiana é diariamente abastecida com trabalhos quenão só sintetizam situações e personagens como dão graça e leve-za ao noticiário. Sem fazer esforço, é possível lembrar nomes deexpressão nacional em diversas gerações: de Clóvis Geyer e Bon-son a Frank e Zé Dassilva. Há ainda nomes premiados como Sa-muel Casal e obras originais como a de Sandro ou a de Fábio Abreu.

No caso das charges e cartuns, o humor dá a dimensão pre-cisa da crítica, da interpretação do fato e de sua relação com de-mais acontecimentos. Tarefa ingrata é a do chargista que vasculhanas folhas do tempo vestígios que podem levá-lo à melhor piada.Quando nela chega, rabisca caprichosamente a gag e preenche oespaço na página do jornal. No outro dia, a charge provocará gar-galhadas e ranger de dentes, e em pouco tempo se perderá namemória do público. O chargista, então, vai começar tudo de novo,buscando a síntese, a melhor tradução imagética de palavras e ações.

A ilustração também assume papel cada vez mais relevanteno noticiário cotidiano. Infográficos, desenhos e croquis são maisuma ferramenta informativa na edição, para tornar os conteúdosmais compreensíveis. O alto apuro estético, o equilíbrio, a noçãode espaço e a precisa exploração das páginas auxiliam os profissio-nais que fazem de curvas, cores e formas o seu vocabulário diário.

Explicar esse trabalho em palavras é difícil, melhor é virar apágina e encontrá-lo numa curta, mas representativa amostra dotalento e da inteligência desses jornalistas.

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Bonson

�A Notícia� - 10 de fevereiro de 2004

�A Notícia� - 13 de outubro de 2004

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269JORNALISMO EM PERSPECTIVA

�A Notícia� - 15 de julho de 2004

�A Notícia� - 27 de setembro de 2004

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JORNALISMO EM PERSPECTIVA 270

Fábio Abreu

�A Notícia� -26 de agosto de 2001

�A Notícia�

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271JORNALISMO EM PERSPECTIVA

�A Notícia�-6 de agosto de 2003

�A Notícia� - 20 de abril de 2003

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JORNALISMO EM PERSPECTIVA 272

Frank

�A Notícia� - abril de 2000

�A Notícia� - 7 de fevereiro de 2003

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273JORNALISMO EM PERSPECTIVA

�A Notícia� - 2 de junho de 2001

�A Notícia� - 15 de fevereiro de 2004

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Samuel Casal

�Diário Catarinense� -

22 de agosto de 2004

�DiárioCatarinense� -

16 de marçode 2002

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275JORNALISMO EM PERSPECTIVA

�Diário Catarinense� -

24 de agosto de 2003

�Diário Catarinense� - 17 de maio de 2004

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JORNALISMO EM PERSPECTIVA 276

Sandro

�A Notícia� - 2002

�A Notícia� - 2004

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277JORNALISMO EM PERSPECTIVA

�A Notícia� - 2004

�A Notícia� - 2004

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JORNALISMO EM PERSPECTIVA 278

Zé Dassilva

�Diário Catarinense� - 6 de maio de 2004

�Diário Catarinense� - 29 de outubro de 2002

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279JORNALISMO EM PERSPECTIVA

�Diário Catarinense� - 11 de janeiro de 2004

�Diário Catarinense� - 30 de novembro de 2003

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281JORNALISMO EM PERSPECTIVA

Andressa Braun é jornalista formada pela Universidade Federalde Santa Catarina, assessora de comunicação e pesquisadora daRede Alfredo de Carvalho.

Apolinário Ternes � Jornalista e historiador, é formado em His-tória e Direito e tem Mestrado em Cultura e Educação, pelaUDESC. Foi diretor do Arquivo Histórico e da Biblioteca Públi-ca de Joinville. Atua em �A Notícia� desde l970, onde exerce afunção de editorialista há 25 anos. É autor de 23 livros dedicadosà história regional, romance, crônica e teatro.

Áureo Mafra de Moraes � Natural de Brusque (SC), jornalistaformado pela UFSC em 1987, iniciou profissionalmente em rá-dio em 1984 como locutor e repórter. Depois, passou por emis-soras de TV, jornais, atuou como diretor de programas políticose desde 1993 é professor do Curso de Jornalismo da UFSC,onde já exerceu as funções de Chefe do Departamento de Jorna-lismo e Diretor da Assessoria de Comunicação. Desde maio de2004, ocupa a Chefia do Gabinete do Reitor.

Bonson nasceu em 13/11/49. Na imprensa como cartunista desde74, no �finado� jornal �O Estado�.Trabalhou na Folha e no Esta-dão em 84 e 85. Até maio de 04, como chargista em �A Notí-cia�. Como aquarelista e desenhista, expôs na França em 91 nacidade Bonson, sul da França. Seus trabalhos podem ser vistosno site www.angelfire.com/art2/sergiobonsonemail: [email protected]

Os autores se apresentam

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Celso Martins da Silveira Júnior; nascido em 23 de novembro de1955, em Laguna (SC), atua no jornalismo desde 1976. É autorde �Os Comunas - Álvaro Ventura e o PCB catarinense� (Paralelo27, 1995), �Farol de Santa Marta - A esquina do Atlântico� (Ga-rapuvu, 1998) e �Aninha virou Anita� (A Notícia, 1999), entreoutros. É acadêmico de História da UDESC, e repórter especialda sucursal do jornal �A Notícia� em Florianópolis.

César Valente � Jornalista desde 1972 e florianopolitano desde1953, exerci praticamente todas as funções previstas na defini-ção profissional do Jornalismo. Trabalhei em Florianópolis, PortoAlegre, São Paulo e Brasília. Os principais empregadores foram aTV Gaúcha, a Gazeta Mercantil, o jornal �O Estado� e o governofederal (UFSC e EBN). Sou sócio-diretor de uma empresa deserviços de jornalismo e comunicação (Multitarefa Ltda.). Ocu-po um cargo de confiança no governo do estado de Santa Catari-na, como Assessor de Informação da Secretaria da Administração.

Elaine Borges foi correspondente do jornal �O Estado de S. Pau-lo� em Santa Catarina por mais de duas décadas. Em Florianópo-lis, coordenou a Editoria de Política do �Diário Catarinense� e foirepórter do �Jornal de Santa Catarina�, �O Estado� e �Jornal daSemana�. Também integrou a equipe da Assessoria de Imprensada Assembléia Legislativa de Santa Catarina. É co-autora do livro�Vozes da Lagoa� (editado pela Fundação Municipal de CulturaFranklin Cascaes), e também participou do livro �Hercílio Luz �Uma ponte� (Tempo Editorial). Fez parte do Movimento de Opo-sição Sindical e integrou duas vezes a Comissão de Ética do SJSC.

Fábio Abreu � Nascido em 1964, 7 de Novembro, sou cariocade origem com sólida formação em Bahia. Vivo em Joinville des-de 1995. Nos primórdios, brincava de fazer história em quadri-nhos. Profissional do desenho desde 92, em jornal, trabalhei no

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�Bahia Hoje�, de Salvador e em �A Notícia�, onde sou Editor deArte. Lá, faço ilustrações, caricaturas, infografias e desenho umaspáginas. Pai da Luiza, adoro ficar com ela e gosto de jogar futebol etomar cerveja com os amigos, a ordem dos fatores depende do dia.

Francisco José Castilhos Karam é jornalista e professor no Cur-so de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina.Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo, éautor dos livros �Jornalismo, Ética e Liberdade� e �A Ética Jor-nalística e o Interesse Público�, os dois pela Summus (SP). Integraa diretoria da Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jorna-lismo - SBPJor.

Nascido Frank Luiz Maia Bretas em 29 de abril de 1967, em Niló-polis (RJ), veio morar em Florianópolis em 1979, virou FrankMaia na faculdade de Jornalismo da UFSC (1986) e arredondoupara apenas FRANK, na página dois do jornal �A Notícia� fazoito anos. Passou pelo jornal �O Estado�, onde colaborouno suplemento �O Estadinho�, onde publi-cou as primeirastirinhas, editou o fanzine �Futio Indispensável� e é ilustrador fre-elancer pela Traça Editorial, sua empresa.

Gastão Cassel é jornalista formado na Universidade Federal deSanta Maria em 1986. Trabalhou no jornal �A Razão� e na sucursalda Empresa Jornalística Caldas Júnior (�Correio do Povo� e �Rá-dio Guaíba�) e atuou como repórter fotográfico freelancer  paravários jornais do RS. Foi assessor de imprensa da CUT/RS. EmFlorianópolis, trabalhou oito anos na assessoria de comunicaçãodo Sindicato dos Eletricitários, onde criou e editou o semanário�Linha Viva�. No mesmo período, iniciou a carreira docente nocurso de Jornalismo da UFSC atuando nas áreas de Redação Jor-nalística e Planejamento Gráfico. Lecionou, também, na Univali, ehoje está no Ielusc, de Joinville. Sócio da Quorum Comunicação,

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agência especializada em comunicação e marketing institucionalque atua no mercado há dez anos, é especialista em Marketingpela UDESC/ESAG.

Jacques Mick é jornalista, doutor em Sociologia Política (UFSC),professor do Curso de Jornalismo do Instituto Superior e Cen-tro Educacional Luterano Bom Jesus/Ielusc (de Joinville), e dire-tor da Quorum Comunicação (em Florianópolis).

Maria José Baldessar é professora do curso de Jornalismo daUniversidade Federal de Santa Catarina, doutoranda da Escolade Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo e mestreem Sociologia Política. Na UFSC, além de ministraraulas, coordenou projetos de extensão como UniversidadeAberta, Fazendo Rádio na Escola e implantação da rádio Ponto.Trabalhou nas TVs Barriga Verde e Cultura e depois em assesso-ria de imprensa. Foi secretária-geral do SJSC por duas gestões eatualmente integra a Comissão de Ética da entidade.

Mario Luiz Fernandes � Natural de Jonville (SC), onde iniciou nojornalismo aos 16 anos, atuando como auxiliar de redação e pos-teriormente como repórter na sucursal do �Jornal de Santa Ca-tarina�. Cursou Jornalismo na Universidade Estadual de PontaGrossa (PR) entre 1986 e 1989. Foi repórter do jornal �A No-tícia� e editor dos semanários �Evolução� (São Bento do Sul) e�O Município� (Brusque). Desde 1995, é professor do curso deJornalismo da Universidade do Vale do Itajai (Univali). É mestre edoutorando em Comunicação Social pela Universidade Católicado Rio Grande do Sul.

Mário Xavier Antunes de Oliveira nasceu em 02/05/1956, emPorto Alegre (RS). Conheceu SC no começo dos anos 70, visi-tando o jornal Santa, em Blumenau, pelas mãos do jornalista Nes-

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285JORNALISMO EM PERSPECTIVA

tor Fredrizzi. Depois de uma bolsa de estudos culturais nos Es-tados Unidos, em 1974/75, na região de New York, foi iniciadona profissão em 1980, pelo jornalista catarinense Políbio Braga.Graduou-se Bacharel em Comunicação pela UFRGS, em 1982.Em 1985, radicou-se em Florianópolis, filiando-se ao SJSC e vin-do a integrar, nos anos 90, sua Comissão de Ética. Foi repórter,chefe de reportagem, editor e colaborador na imprensa escrita.Trabalhou também como assessor de imprensa de entidades pú-blicas e privadas e como professor universitário. De 1995 a1997, tornou-se o 1º ombudsman de imprensa catarinense. Cri-ador da Redactor, atua hoje como empreendedor independen-te, prestando serviços de consul-toria, assessoria, pesquisa, re-dação e edição de conteúdos.

Marli Cristina Scomazzon tem 48 anos, é jornalista graduada emJornalismo Gráfico pela Universidade Federal do Rio Grande doSul e tem mestrado em Mídia e Conhecimento pela Engenhariade Produção e Sistema, da Universidade Federal de Santa Catari-na. Já trabalhou em jornais como �Zero Hora�, �Diário Catari-nense�, �O Estado�, �Jornal de Santa Catarina� e na RBS TV. Es-creveu como freelancer para jornais e revistas como �Veja�, �IstoÉ�, �O Globo�, �O Estado de S. Paulo�. Desde 1991, presta as-sessoria de imprensa para o Sindicato dos Eletricitários de Flori-anópolis e região e para as intersindicais dos eletricitários de San-ta Catarina (Intercel) e do Sul do Brasil (Intersul).

Moacir Pereira - Ex-Presidente do Sindicato dos Jornalistas deSC, fundador e primeiro coordenador do Curso de Jornalismoda UFSC, conselheiro da Fenaj e da UCBC, colunista político,Prêmio Nacional de Comunicação Luiz Beltrão (Intercom), mem-bro da Academia Catarinense de Letras e do Instituto Históricoe Geográfico de Santa Catarina e autor de 21 livros sobre jorna-lismo, política e comunicação.

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Paulo Ramos Derengoski é lageano. Na década de 60, aindamenor, foi repórter da �Última Hora� de Porto Alegre, onde sedestacou com a matéria �Sabonete Fugiu Pela Porta Escura daMorte� sobre um preso comum. Na década de 70, foi sub-se-cretário da Sucursal Rio da �Folha de S.Paulo� a convite de Cláu-dio Abramo, onde sofreu pressão do AI-5 por entrevista�bom-ba de um general. Depois, foi redator da revista �Manchete�, aolado de Nilson Lage, Carlos Heitor Cony, Salim Miguel e outros.Na década de 80, voltou para Santa Catarina, onde escreveu vá-rios livros sobre a Guerra do Contestado, sobre grandes pinto-res, meio ambiente e índios guarani. Atualmente, tem coluna se-manal no �Diário Catarinense� e colabora com outros jornais dopaís.

Regina Zandomênico � formada em Comunicação Social � habi-litação Jornalismo pela UFSC e mestre em Engenharia de Produ-ção, na área de Mídia e Conhecimento. Começou a carreira há17 anos na extinta Rádio União FM, em Florianópolis, trabalhouna RBSTV, Barriga Verde, Record e foi assessora de imprensa naAssembléia Legislativa de Santa Catarina e do Governo do Esta-do, além de entidades privadas. Também foi repórter e editorade revistas especializadas. Regina lecionou nos cursos de Jorna-lismo da UFSC e do Ielusc e atualmente é professora e coorde-nadora da agência de notícias da Faculdade Estácio de Sá em San-ta Catarina.

Róger Bittencourt � 38 anos, jornalista formado pela PUC-RS,atua em Santa Catarina há 18 anos. Foi repórter e editor dePolítica do �Diário Catarinense� e editor de Geral do DC. Traba-lhou como chefe de reportagem e editor-chefe de Jornalismona RBS-TV em Santa Catarina. Atuou como professor nos cur-sos de Jornalismo da UFSC e da Univali. Ocupou o cargo desecretário de Comunicação do Estado e hoje é diretor da Fábri-

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287JORNALISMO EM PERSPECTIVA

ca de Comunicação, empresa de assessoria de imprensa comatuação estadual e nacional.

Rogério Christofoletti � Paulista radicado em Santa Catarina háoito anos, é jornalista desde 1991. Já atuou em jornais e revistasde São Paulo, Paraná e Santa Catarina, e também trabalhou comoassessor de imprensa. É mestre em Lingüística pela UFSC e dou-tor em Ciências da Comunicação pela USP. Professor do cursode Jornalismo da Univali, é autor de dois livros: �O discurso datransição� (2000) e �Monitores de Mídia - como o jornalismocatarinense percebe seus deslizes éticos� (2003). Desde 2002,é vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina.

Rubens Lunge, 45, é jornalista formado pela Universidade Fede-ral do Rio Grande do Sul e especialista em Comunicação pelaUniversidade Metodista. Foi professor na UnoChapecó, UnCConcórdia e leciona atualmente na Faculdade Concórdia. Escri-tor, tem três livros publicados - dois de contos e um de poesia -, e integra duas coletâneas de contos. É diretor do Sindicato dosJornalistas de SC e reside em Concórdia.

Samuel Casal, 30 anos, é ilustrador profissional desde 1990. Atu-almente, é Editor de Arte do �Diário Catarinense�, em Florianó-polis, e ilustrador  freelancer, já tendo colaborado com váriaspublicações nacionais como �Caros Amigos�, �Você S/A�, �Exa-me Info�, �Macmania�, �Mundo Estranho�, �Superin-teressante�, �Folha de S. Paulo� entre outras. Casal também équadrinista e suas hqs já  foram publicadas nos álbuns Front 8,9, 10, 11, 12 e 14, na coletânea �10 na Área, um na Banheira eNinguém no Gol�, Ragú 5 e no catálogo da exposi-ção ConSeqüências (Madri/Espanha). Em 2001, ganhou o Tro-féu HQmix como Desenhista Revelação e em 2003 venceu o XISalão de Desenho para Imprensa, na categoria Histórias em Qua-

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drinhos. Em 2004, recebeu Menção Honrosa na categoria  Ilus-tração Editorial também no Salão Internacional de POA e mais três troféus HQmix, como melhor Desenhista Nacional, Ilustrador Na-cional e pelo melhor Fanzine, com o Xerocs Porcoration.

Sandro Luis Schmidt, 36 anos, natural de Joinville, arquiteto, char-gista. Comecei a carreira como chargista e quadrinhista no jornal�A Notícia� em 1988, e lá fiquei até 2005. Participo dos siteswww.patodelaranja.com e www.cybercomix.com.br; eventual-mente, mando charges pro site do Zé Simão, o Monkey News;já colaborei com a revista MAD e com o PASQUIM21.

Zé Dassilva nasceu em Criciúma, no último dia do ano de 1973.Formou-se em jornalismo na UFSC aos 20 anos e lançou, doisanos mais tarde, o livro �Histórias que a Bola Esqueceu�, umareportagem sobre o lendário time de futebol Metropol, que de-pois rendeu um documentário dirigido por ele. Também escre-veu duas biografias institucionais, como ghost-writer. Desde 1998é chargista do �Diário Catarinense�, de onde seus cartuns já fo-ram pinçados para republicação em veículos como �Veja�, �Pas-quim 21�, �Zero Hora� e �O Globo�. Também produziu car-tuns animados para o canal SporTv e vinhetas para a TV Globo,onde é roteirista desde 2000. Lá, escreveu para os programasSai de Baixo, Casseta & Planeta, Gente Inocente, Xuxa, Turma doDidi e Globo Ciência.