redação em jornalismo fausto coimbra

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Redação em Jornalismo organização: Fausto Coimbra Índice: 1 - Retórica, verdade e poder ............................... 01 2 - Discursos retóricos e informativos ................. 02 3 - Jornalistas e jornalismo .................................. 03 4 - A linguagem da informação ............................03 5 - O texto jornalístico ............................................04 6 - Estrutura do texto informativo ....................... 05 6.1 - O texto expositivo .................................... 05 6.2 - O parágrafo lógico em texto expositivo ... 06 6.3 - A distribuição das documentações no parágrafo lógico ................................... 07 7 - Lead / Pirâmide Invertida ............................... 08 7.1 - O lead clássico .......................................... 08 7.2 - Outros tipos de lead .................................. 10 8- Sublead .............................................................. 11 9 - Gancho ............................................................. 11 10 - Desenvolvimento da Notícia ..........................12 11- Fontes Jornalísticas ........................................ 13 11.1 - Categoria de fontes .................................. 13 11.2 - Grupos de fonte ........................................ 14 11.3 - Crédito das fontes .................................... 16 11.4 - Qualificação das fontes ............................ 17 12 - Grafia de números (jornalismo impresso) ..... 18 12.1 - Instruções Gerais ..................................... 18 12.2 - Por Extenso .............................................. 18 12.3-Em Algarismos .............................................. 19 13 - Notícia ......................................................... 20 14 - Reportagem ................................................. 21 14.1 - Redação de reportagem ......................... 22 15- Referências ..................................................... 26 1 - Retórica, verdade e poder (Teoria e Técnica do Texto Jornalístico, Nilson Lage – págs 11 à 14) À medida que as sociedades foram ficando mais complexas, comprovou-se que o exercício do poder dependia da concordância dos subordinados, os quais era preciso convencer. A retórica nasce aí... Retórica é tecnicamente definida como “a faculdade de ver teoricamente o que, em cada caso, pode ser capaz de gerar persuasão”. Em sentido amplo, mistura-se com a poética1 como “arte da eloquência em qualquer tipo de discurso”. Utiliza normalmente a linguagem comum e como escre- veu Aristóteles, parte das ideias geralmente aceitas; eventualmente, procura impressionar usando for- mas arcaicas que sugerem a posse de uma “cultura superior”. A persuasão que a retórica persegue deve ser obtida principalmente por meio de palavras; não há recurso à violência, embora força e argumen- tação possam e costumem ser usadas com objetivos convergentes. A preocupação maior é com a adesão, não com a verdade, se concebermos esta como ade- quação do enunciado aos fatos. 1 A Poética (em grego antigo: Περὶ ποιητικῆς; em latim: poiétikés), provavelmente registrada entre os anos 335 a.C. e 323 a.C. (Eudoro de Souza, 1993, pg.8), é um conjunto de anotações das aulas de Aristóteles sobre o tema da poesia e da arte em sua época, pertencentes aos seus escritosacroamáticos (para serem transmitidos oralmente aos seus alunos) ou esotéricos (textos para iniciados).

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Page 1: Redação em jornalismo   fausto coimbra

Redação em Jornalismo

organização: Fausto Coimbra

Índice:1 - Retórica, verdade e poder ............................... 012 - Discursos retóricos e informativos ................. 023 - Jornalistas e jornalismo .................................. 034 - A linguagem da informação ............................035 - O texto jornalístico ............................................046 - Estrutura do texto informativo ....................... 05 6.1 - O texto expositivo .................................... 05 6.2 - O parágrafo lógico em texto expositivo ... 06 6.3 - A distribuição das documentações no parágrafo lógico ................................... 077 - Lead / Pirâmide Invertida ............................... 08 7.1 - O lead clássico .......................................... 08 7.2 - Outros tipos de lead .................................. 10 8- Sublead .............................................................. 11 9 - Gancho ............................................................. 1110 - Desenvolvimento da Notícia ..........................12 11- Fontes Jornalísticas ........................................ 13 11.1 - Categoria de fontes .................................. 13 11.2 - Grupos de fonte ........................................ 14 11.3 - Crédito das fontes .................................... 16 11.4 - Qualificação das fontes ............................ 1712 - Grafia de números (jornalismo impresso) ..... 18 12.1 - Instruções Gerais ..................................... 18 12.2 - Por Extenso .............................................. 18 12.3 - Em Algarismos .............................................. 19 13 - Notícia ......................................................... 2014 - Reportagem ................................................. 21 14.1 - Redação de reportagem ......................... 2215- Referências ..................................................... 26

1 - Retórica, verdade e poder (Teoria e Técnica do Texto Jornalístico, Nilson Lage – págs 11 à 14)

À medida que as sociedades foram ficando mais complexas, comprovou-se que o exercício do poder dependia da concordância dos subordinados, os quais era preciso convencer. A retórica nasce aí... Retórica é tecnicamente definida como “a faculdade de ver teoricamente o que, em cada caso, pode ser capaz de gerar persuasão”. Em sentido amplo, mistura-se com a poética1 como “arte da eloquência em qualquer tipo de discurso”. Utiliza normalmente a linguagem comum e como escre-veu Aristóteles, parte das ideias geralmente aceitas; eventualmente, procura impressionar usando for-mas arcaicas que sugerem a posse de uma “cultura superior”. A persuasão que a retórica persegue deve ser obtida principalmente por meio de palavras; não há recurso à violência, embora força e argumen-tação possam e costumem ser usadas com objetivos convergentes. A preocupação maior é com a adesão, não com a verdade, se concebermos esta como ade-quação do enunciado aos fatos.1 A Poética (em grego antigo: Περὶ ποιητικῆς; em latim: poiétikés), provavelmente registrada entre os anos 335 a.C. e 323 a.C. (Eudoro de Souza, 1993, pg.8), é um conjunto de anotações das aulas de Aristóteles sobre o tema da poesia e da arte em sua época, pertencentes aos seus escritosacroamáticos (para serem transmitidos oralmente aos seus alunos) ou esotéricos (textos para iniciados).

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Tal definição de verdade, tomada como referência nas ciências exatas, é uma leitura par-ticular, embora consensual, da fórmula “a verdade lógica é a adequação entre o enunciado e a coisa”, proposta inicialmente por Isaac Israeli no século IX, e adotada por São Tomás de Aquino (Summa, 1:21:2), no século XIII. Martin Heidegger, ao mes-mo tempo simpático ao nazismo e o filósofo mais influente do século XX, decompôs esse conceito (de fato, suprimindo a palavra “lógica”), em duas possi-bilidades: a verdade como adequação do anunciado à coisa (tida como o entendimento clássico) e a ver-dade como adequação da coisa ao enunciado. Esse último sentido pode ser compreendi-do como subordinação da verdade ao poder de al-guns homens. Por trágico o terrível que seja, esse entendimento difunde-se no mundo atual, gerando paroxismos2 de consumo e a difusão de ideias in-dependente do mérito e da pertinência. No plano político, o que talvez seja mais grave, tal entendi-mento gera uma espécie de fascismo3 disfarçado ou de fantasia democrática imposta pelo dinheiro ou pelas armas, associadas a estratégias de “fabricação do consentimento” ou de “engenharia social”. O consumo de produtos e ideias, motiva-do pela associação a bens simbólicos (sugerindo 2 Paroxismo: s.m. Extrema intensidade de uma doença, de uma paixão, de um sentimento. (Sin.: auge, apogeu, culminância.) Sinônimos: agonia, angústia, auge e estertor.3 Fascismo é uma forma de radicalismo político autoritário nacionalista que ganhou destaque no início do século XX na Europa. Os fascistas procuravam unificar sua nação através de um Estado totalitário que promove a mobilização em massa da comuni-dade nacional, confiando em um partido de vanguarda para iniciar uma revolução e organizar a nação em princípios fascistas. Hostil à democracia liberal, ao socialismo e ao comunismo, os movimentos fascistas compartilham certas características comuns, incluindo a veneração ao Estado, a devoção a um líder forte e uma ênfase em ultranacionalismo, etnocentrismo e militarismo. O fascismo vê a violência política, a guerra, e o imperialismo como meios para al-cançar o rejuvenescimento nacional e afirma que as nações e raças consideradas superiores devem obter espaço deslocando aquelas consideradas fracas ou inferiores, como no caso da prática fascista modelada pelo nazismo.

prestígio, juventude, individualismo etc.) e pela construção de raciocínios similares aos lógicos, seria assim, resultado verdadeiro da retórica pub-licitária ou propagandística – não da conformidade entre enunciados (ou sujeitos) e objetos (o produto, a ideia), como conceberam os escolásticos4 .

2 - Discursos retóricos e informativos (Teoria e Técnica do Texto Jornalístico, Nilson Lage – pág 14)

O discurso retórico é voltado para versões ou interpretações da realidade isso o distingue do discurso informativo, voltado essencialmente para os fatos. Assim não se pode dizer que houvesse má fé do padre Antônio Vieira5 , quando, em suas pregações, calculou em 20 milhões o número de índios existentes no maranhão, no século XVII, o que lhe importava era a utilização retórica (poten-cial de persuasão) desse dado, no qual há evidente exagero, para a defesa da causa do não-extermínio, não-escravidão e da evangelização dos índios. O exagero é um recurso retórico, bem como, por exemplo, a repetição, o uso de efeitos fonéticos atraentes ou de associações analógicas reforçadas por metáforas de uso corrente (entre medo e escu-ridão, entre sequência e consequência, entre reve-lação e claridade etc.). Discursos retóricos sem-pre foram esteticamente mais cuidados do que os informativos: a beleza e o ritmo fazem parte do seu

4 Escolástica ou Escolasticismo (do latim scholasticus, e este por sua vez do grego σχολαστικός [que pertence à escola, instruído]) foi o método depensamento crítico dominante no ensino nas universidades medievais europeias de cerca de 1100 a 1500. 5 Antônio Vieira (Lisboa, 6 de fevereiro de 1608 — Sal-vador, 18 de julho de 1697), mais conhecido como Padre Antônio Vieira, foi um religioso, filósofo, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Uma das mais influentes personagens do século XVII em termos de política e oratória, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Era por eles chamado de “Paiaçu” (Grande Padre/Pai, em tupi).

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poder de atrair. Os promotores das causas modernas cos-tumam ampliar a relevância de fenômenos como prostituição infantil, a incidência de cárie dentária ou a destruição ecológica. As boas intenções, nes-sa linha de raciocínio, inocentariam a mentira; no entanto, pelo menos em tese caberia aos jornalis-tas restabelecer a verdade factual, ouvindo outras fontes...

3 - Jornalistas e jornalismo(Elementos de Jornalismo Impresso, Jorge Pedro Sousa – págs 13 à 15)

O jornalismo é uma forma de comunicação em sociedade. A principal função do jornalismo, nos estados democráticos de direito, é a de manter um sistema de vigilância e de controle dos poderes. Esta vigilância se exerce através da difusão pública de informação. Informar significa, nesta afirmação, publicitar os atos dos agentes de poder (o Gover-no, o Parlamento, os partidos políticos,os agentes econômicos, etc.). Informar, nessa mesma asserção, significa ainda analisar esses atos, expor o contexto em que se praticam, explicar as suas consequências possíveis, revelar as suas condicionantes. Significa, igualmente, trazer para o espaço público os assun-tos socialmente relevantes que poderiam passar despercebidos, os assuntos que são escondidos, os que estão submersos, os que são obscuros. É óbvio que o jornalismo não está unica-mente relacionando com a vigilância dos agentes de poder. O jornalismo deve ser comunicação útil. In-formar, jornalisticamente falando, também significa noticiar sobre todos os acontecimentos, questões úteis e problemáticas socialmente relevantes, este-jam ou não relacionados com a ação dos agentes de poder. Os acidentes, os casos de polícia, o esporte,

a moda, o patrimônio natural e histórico, as notícias do estrangeiro, o comportamento da bolsa, a infor-mação de serviços, os testes comparativos para aju-dar o consumidor a fazer as melhores escolhas são alguns dos muitos exemplos de temáticas abordadas pela imprensa jornalística. Um jornal pode também contribuir para a formação dos seus leitores. Um jornal pode, por ex-emplo, exercer pedagogia social, informando sobre como contribuir com pequenos gestos para a reci-clagem dos lixos ou para preservar o maio ambi-ente. Um jornal pode ter uma função de prazer, distração e entretenimento, oferecendo aos seus leitores prosas cativantes, histórias bem contadas, notícias interessantes (e não apenas notícias impor-tantes), fait-divers, tirinhas, passatempos, consel-hos de beleza e de moda, etc. O jornalismo é, portanto, uma modalidade de comunicação social rica e diversificada. Não há um jornalismo. Existem “vários” jornalismos...

4 - A linguagem da informação (Linguagem Jornalística, Nilson Lage – págs 10 e 11)

Linguagem seria um subsistema de uso da língua, subconjunto de itens do dicionário e subcon-junto de regras de determinado idioma selecionados para emprego em situação particular: a solenidade dos oradores, o formalismo dos burocratas, a obscu-ridade planejada dos médicos, dos economistas. Por dois bons motivos, esse conceito restrito de linguagem não nos serve aqui (no jornalismo). Em primeiro lugar, porque as leis mais gerais da lin-guagem jornalística são comuns a muitos idiomas, por ser o jornalismo prática social trasnfronteiras; em segundo lugar, porque a linguagem jornalística

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mobiliza outros sistemas simbólicos além da comu-nicação linguística. Precisamos de um conceito de linguagem mais amplo, que não se refira apenas a uma língua, mas a grande variedade delas, e que se relacione com disciplina mais abrangente do que a linguística, capaz de abraçar a totalidade dos sistemas simbóli-cos. Essa disciplina foi chamada, no início do sé-culo XX, de semiologia pelo linguista suíço Ferdi-nand de Saussure (1857-1913), e de semiótica pelo matemático e lógico Charles Sanders Peirce (1834-1914), fundador do pragmatismo norte-americano.(...) são várias as peças que compões o todo, isto é, a linguagem utilizada para transmitir a informação: o projeto gráfico e seu conteúdo, no caso do jornal (impresso) ou da revista; o ambiente sonoro e o que é falado, no rádio; o cenário, os trajes, personagens e ambientes no vídeo; tudo isso e o hipertexto, na internet.

Projeto gráfico É o sistema simbólico composto de man-chas, traços, ilustrações e letras (...). No projeto gráfico, a diferença se sobrepõe à semelhança e a novidade se integra à identidade. Ele deve ser capaz de preservar a individualidade do veículo; fazê-lo reconhecido pelo consumidor mesmo quando este não lê o título – e ainda que a disposição dos ele-mentos varie a cada dia.

Sistemas analógicos São fotografias, ilustrações, charges, car-toons, imagens em infográficos. Fixam e comen-tam momentos e por isso são unidades semânticas autônomas de grande valor referencial. Sua sintaxe, no entanto, é relativamente pobre, e isso os torna passíveis de conceituação variável, ambíguos como

a própria observação da realidade. Legendas, títulos e balões cumprem a função de reduzir a ambigui-dade conceitual.

Sistema linguístico Manchetes, títulos, textos, legendas repre-sentam o componente digital da comunicação jor-nalística. (...) Surge, ainda aí, a organização por en-caixes sucessivos: o texto se compõe de parágrafos, estes de períodos, de frases, de locuções, de pala-vras.

5 - O texto jornalístico (Linguagem Jornalística, Nilson Lage – pág 46 à 51)

O jornalismo se propõe a processar infor-mação em escala industrial e para consumo imedi-ato. As variáveis formais devem ser reduzidas, por-tanto, mais radicalmente do que na literatura.

Registros de linguagem A língua nacional não é um conjunto ho-mogêneo. Dentro dela se abrigam usos regionais, discursos especializados e ao menos dois registros de linguagem: o formal, próprio da modalidade escrita e das situações tensas, e o coloquial, que compreende as expressões correntes na modalidade falada, na conversa familiar, entre amigos. Do ponto de vista da eficiência da comuni-cação, o registro coloquial seria sempre preferível. É mais acessível para as pessoas de pouca escolari-dade e, mesmo para as que estudaram ou lidam con-stantemente com a linguagem formal, permite mais rápida fruição e maior expressividade. No entanto, o registro formal é uma im-posição de ordem política, esteja ou não em lei. A pressão social valoriza seu emprego (...)

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A conciliação entre esses dois interesses – de uma comunicação eficiente e de aceitação so-cial – resulta na restrição fundamental a que está sujeita a linguagem jornalística: ela é basicamente constituída de palavras, expressões e regras com-binatórias que são possíveis no registro coloquial e aceitas no registro formal. Essa conceituação pode ser aplicada em qualquer época ou região, permitindo a adaptação da linguagem às mudanças que a língua sofre. O jogo das interdições da norma culta e dos interes -ses de comunicação se manifestará, então, em séries como esta, em que a forma indicada na colu-na central é usualmente preferível:

Sobre essa base, a linguagem jornalística irá incorporar: a) neologismos de origem coloqui-al, sintéticos (fusca, frescão) ou de grande expres-sividade (dedo-duro, pau-de-arara); b) denomi-nações de objetos novos, de origem científica ou popular (lêiser, videotape, celular); c) metáforas com intenção crítica (mordomia, mensalão); d)

atualizações necessárias (roqueiro, petista); e) de- signações técnicas que precisam ser consideradas em sua exata significação para entendimento ou eficácia do texto.

6 - Estrutura do texto informativo(Teoria e Técnica do Texto Jornalístico, Nilson Lage – pág 40)

Os textos na prosa informativa moderna obe-decem a dois modelos: o expositivo, nos relatórios, ensaios e na maioria das reportagens impressas; e o narrativo, em relatos testemunhais, documentários e na ficção, particularmente cinematográfica.

6.1 - O texto expositivo(Teoria e Técnica do Texto Jornalístico, Nilson Lage – da pág 40 a 44)

O primeiro conceito que se deve ter é o de tópico. Esse é o nome que se dá a qualquer parte do discurso destacada das demais (...) correspondendo às intenções do emissor, às suas estratégias discur-sivas e ao contexto: é o que se chama de recurso pragmático (prático, objetivo...). Na fala, o destaque ocorre pela entonação, pelo volume da voz, pela colocação das partícu-las enfáticas (como “é o que”), pausas significati-vas, gestos ou deslocamento do segmento de sua posição normal; no texto escrito, geralmente, pela anteposição ou, em certos casos pela posposição do segmento. Existem palavras ou locuções-tópico. Por exemplo, as que estão em negrito nas frases se-guintes:- Maria chegou hoje / Hoje chegou Maria- Um bobo é o que ele é / Ele ... é um bobo

Existem, ainda, os períodos tópicos, sen-tenças tópico ou tópicos frasais. Trata-se de perío-

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dos que se destacam dos demais, em parágrafos lógicos, para adequá-los a um contexto ou estraté-gia de discurso. Parágrafo lógico é uma unidade de sentido. Corresponde, geralmente, ao parágrafo escrito, que se marca pelo recuo da primeira linha. Por motivos estilísticos, um parágrafo lógico, pode, no entanto, ser dividido em vários parágrafos escritos – o que, eventualmente, aumenta a dramaticidade ou chama a atenção para o sentido do texto (...) Seguem-se parágrafos característicos do discurso expositivo. Note-se que, nos dois pri-meiros exemplos, os tópicos estão antepostos (su-gerindo uma lógica dedutiva, do mais abstrato ao mais concreto) e, no último, posposto (o que sugere uma lógica indutiva, do mais concreto ao mais ab-strato):

- Foi um dia miserável. O ônibus estava superlota-do, o trânsito terrível, o chefe de mau humor e a co-zinheira baiana temperou com pimenta malagueta o bife do almoço.- Duas coisas são necessárias. A primeira é o bom senso. A segunda, algum tino para os negócios.

- O trânsito e a violência são as principais causas de mortes entre os jovens. Metade das modelos de desfiles de moda têm subnutrição grave. A es-tupidez humana vale hoje, sem dúvida, por uma epidemia.

Finalmente, os parágrafos-tópico. Nesse caso, um parágrafo lógico é destacado em um texto. Em regra contém uma proposição completa (uma ou mais orações, com suas circunstâncias). O lead jornalístico – mas não apenas ele – é uma forma de parágrafo tópico.

6.2 - O parágrafo lógico em texto expositivo

O parágrafo padrão, em um texto expositi-vo, obedece à fórmula: TF + D1, D2, D3...

Em regra o tópico frasal (TF) antecede out-ros períodos, que são chamados de documentações (D). O tópico, geralmente, contém uma conclusão mais abstrata ou essencial em relação às documen-tações, que são mais concretas ou aparentes; pode-se associar o tópico a uma teoria e as documen-tações a constatações empíricas (fundamentadas na observação, experiência).

Ex: As vendas cresceram em março. Foram colo-cados no mercado 2.570 computadores, dos quais 2.320 tinham sido, até o dia 28, repassados pelos varejistas aos consumidores finais. Isso representa dez por cento a mais do que as vendas no varejo em fevereiro e indica que a procura na fábrica de-verá aumentar, já que os estoques no comércio são baixos.

Há outras formas, menos frequentes, de se construir o parágrafo em textos expositivos:(a) Pode-se suprimir o tópico, considerando-o óbvio ou implícito. Por exemplo, é possível dis-pensar uma afirmação como “a seca foi rigorosa” ou “os prejuízos foram grandes” em um parágrafo como:- Com a seca, perderam-se dos terços da plan-tação de soja e morreram de sede e fome 40 das 70 cabeças de gado da fazenda de seu Januário. Os vizinhos contam prejuízos semelhantes.(b) Pode-se colocar o período-tópico no fim do parágrafo (dando a impressão de que é uma con-clusão do que foi afirmado antes) ou, ainda, no meio

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do parágrafo, o que é bem raro. Como nos exem-plos:- O caminho para a Praia de Naufragados é ín-greme. Não é fácil chegar lá. São trilhas abertas no mato, montanha acima e, depois, montanha abaixo. - (...) A primeira loja, de fato, herdou dos pais. Mas juntou tantas outras àquela que de adolescente rico tornou-se jovem milionário e velho magnata. Hoje, com seu porte, temperamento agitado e barba branca, lembra um pouco Rei Midas e outro tanto o Tio Patinhas.

(c) Pode-se colocar o tópico em um parágrafo escrito e as documentações em outro ou outros; divide-se, assim, o parágrafo lógico em vários parágrafos escritos, para algum fim estilístico, como mostra o exemplo:- Às quatro da tarde, formou-se a tempestade.Nuvens escuras cobriram o sol de verão.Soprou o vento, levantando areia.A praia ficou deserta em minutos, antes mesmo de cair a primeira gota de chuva.

O importante é considerar, no texto exposi-tivo, a existência de dois tipos de proposição: uma, a documentação, correspondendo às aparências, ao mais concreto, ao particular, ao dado; a outra, o tópico, correspondendo às essências atribuídas aos fatos, ao mais abstrato, ao mais geral ou conceitual. Os tópicos são como índices para a orga-nização das documentações; como rótulos de um arquivo ou denominação de gavetas que permitem distribuir e arrumar os relatos de fatos concretos de que se dispõe. Tópicos e documentações, arti- culados, formam o esqueleto do texto, como laços e pontos formam o esqueleto da peça de tricô ou crochê.

6.3 - A distribuição das documentações no parágrafo lógico

(Teoria e Técnica do Texto Jornalístico, Nilson Lage – págs 44 e 45)

Dentro do parágrafo lógico (que, para lem-brar, coincide, geralmente, com o parágrafo escrito), as documentações não são dispostas ao acaso. Seria absurdo, por exemplo, um parágrafo como o que segue abaixo, em que períodos-documentação estão fora de ordem (no caso, a sequência cronológica):

- A vida foi ingrata com Luís. Aos 40 anos, sofreu um acidente e perdeu um olho. Aos dez, seus pais morreram em um acidente. Aos 30, casou-se com uma megera. Aos 25, quando se formou em odonto-logia, descobriu que não tinha jeito pra coisa.

São vários os critérios para se dispor docu-mentações em um parágrafo; tudo depende da na-tureza do texto, da intenção ou de algum propósito expressivo. Pode-se, por exemplo:

(a) Dispor os períodos conforme a sucessão no tempo dos fatos a que se referem, em ordem cres-cente ou decrescente (como seria no caso do relato sobre a infelicidade do Luís).

(b) Usar alguma forma de distribuição espacial: começar da esquerda para a direita; da direita para a esquerda; do centro para a periferia; de cima para baixo; do próximo ao distante; do começo ao fim de um caminho, ou, em qualquer caso, o contrário etc.

(c) Organizar os períodos em pares antitéticos (contradições ou paradoxos).

(d) Ordenar os períodos na ordem de sua impli-

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cação lógica (a aceitação de um decorre ou resulta da aceitação do seguinte). Por exemplo: - As circunstâncias levaram o rapaz a ser reprova-do. Ele sentia o peso da responsabilidade. A família o pressionava. Emagreceu. Na última semana, pas-sou as noites em claro estudando. No dia do exame, saiu de casa bem cedo, mas enfrentou trânsito con-fuso e ruas alagadas. Chegou em cima da hora. Era uma pilha de nervos.

(e) Ordenar os períodos por ordem crescente ou decrescente de intensidade de algum valor referido. A ordenação é geralmente acompanhada por uma indicação clara de paralelismo. Isto é: se se usa a ordenação no tempo, destaca-se em cada período, como locução tópico, a circunstância de tempo; se o critério é espacial ou geográfico, a circunstância de lugar (...)

7 - Lead / Pirâmide Invertida

O início da Guerra Civil dos Estados Unidos da América, em 1861, é um marco para a imprensa, pelas inovações técnicas e novas condições de tra-balho. Repórteres e fotógrafos recebem credenciais para cobrir o conflito. De lá, desenvolvem o lead para assegurar que a parte principal da notícia che-gará à redação pelo telégrafo. Os jornais inventam as manchetes, títulos em letras grandes na primeira página, para destacar as novidades da guerra... Fonte: http://www.jornalistafbo.com.br/2007/10/fabricio-oliveira-pindamon-hangaba-sp_11.html

O lead (ou, na forma aportuguesada, lide) é, em jornalismo, a primeira parte de uma notícia, geralmente posta em destaque relativo, que fornece ao leitor a informação básica sobre o tema e pre-tende prender-lhe o interesse. É uma expressão in-glesa que significa “guia” ou “o que vem à frente”. Na teoria do jornalismo, as seis perguntas básicas do lead devem ser respondidas na elaboração de uma matéria; São elas: “O quê?”, “Quem?”, “Quando?”, “Onde?”, “Como?”, e “Por quê?”. O lead, portanto, deve informar qual é o fato jor-nalístico noticiado e as principais circunstâncias em que ele ocorre. Segundo Adelmo Genro Filho, em “O Segredo da Pirâmide”, o lead deve descrever a maior singularidade da notícia.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lead “O Segredo da Pirâmide” - http://www.adelmo.com.br/bibt/t196-09.htm

7.1 - O lead clássico(Teoria e Técnica do Texto Jornalístico, Nilson Lage – págs 75 e 76)

O lead clássico ordena os elementos da proposição – quem, fez o que, quando, onde, como, por que/para que – a partir das notações mais im-portantes, excluindo o verbo. Isto é:(a) Se o mais importante é o sujeito da oração principal, começa-se pelo sujeito:

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Ex:. O presidente Pacífico Viscoso disse que, “como cidadão”, está indignado com a sentença que absolveu os comandantes da operação militar que matou13 lavradores sem-terra, em Paraíso dos Maracajás, no Sul do Pará. A declaração foi feita na manhã desta quinta-feira, na qual o chefe do Ex-ecutivo ainda admitiu que “como presidente” não lhe cabe opinar sobre sentenças judiciais.

(b) Se o mais importante é o verbo (a ação), começa-se pelo sujeito ou pelo complemento do verbo:Ex1:. João Silva, bancário de 32 anos, matou, ontem de madrugada, com dois tiros de revólver, sua mulher, Maria das Dores Silva, enfermeira, 34 anos, de quem estava separado há dois meses. O crime ocorreu no antigo apartamento do casal, na Avenida Central do Kobrasol, onde Maria continu-ava morando.Ou:Ex2:. A enfermeira Maria das Dores Silva, de 34 anos, foi morta, ontem de madrugada, com dois tiros de revólver, pelo marido, João Silva, bancário de 32 anos, de quem estava separada há dois meses. O crime ocorreu no antigo apartamento do casal, na Avenida Central do Kobrasol, onde Maria con-tinuava morando.

(c) Se o mais importante é o objetivo direito, constrói-se o período na voz passiva:Lembrando... Vejamos (a título de lembrança) uma oração que emprega COMO COMPLEMENTO VERBAIS apenas o OBJETO DIRETO e o OBJETO INDIRETO:

“O pai ofereveu PRESENTES CAROS AO FILHO CAÇU-LA““PRESENTES CAROS” (porque responde a pergunta: o pai ofereceu O QUÊ?) é o OBJETO DIRETO;

“AO FILHO CAÇULA“ (porque responde a pergunta: o pai ofereceu - presentes caros - A QUEM?) é o OBJETO INDI-RETO.

Conversão da Voz Ativa na Voz PassivaPode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar substancial-mente o sentido da frase.

Por exemplo:

Gutenberg inventou a imprensa (voz ativa)sujeito da Ativa Objeto Direto

A imprensa foi inventada por Gutenberg (voz passiva)sujeito da Passiva Agente da Passiva

- Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva, o su-jeito da ativa passará a agente da passiva e o verbo ativo as-sumirá a forma passiva, conservando o mesmo tempo.

Ex:. Dez casais de pássaros em extinção foram furtados durante o final de semana do centro de pesquisas do Ibama em Humaitá, no Amazonas, onde especialistas vinham tentando obter o acasal-amento e reprodução dos animais em cativeiro. São exemplares que, no exterior, atraem o interesse de colecionadores e zoológicos privados.

- Foi furtado o quê? Dez casais de pássaros em extinção (objeto direto)

(d) Se o mais importante é o objeto indireto, usa-se um verbo de antonímia recíproca, isto é, com a mesma informação mas sentido oposto (por ex-emplo, “recebeu” em lugar de deu/entregou).Ex:. O arquiteto José Praxedes, de 92 anos, rece-beu ontem, no auditório da Eletrobrás, no Rio de Janeiro, o título de doutor honoris causa que lhe foi concedido pelo Conselho Universitário da Univer-sidade Federal de Pelotas. A cerimônia foi acom-panhada pelos conselheiros da UFP por um link de videoconferência e transmitida pela TV Cultura de São Paulo.

- O Conselho Universitário da Universidade Fe-

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deral de Pelotas entregou o título de doutor honoris causa a quem? O arquiteto José Praxedes (objeto indireto)

(e) Se o mais importante é alguma das circun-stâncias, começa-se pela circunstância, utilizando na construção verbos relacionais, tais como “cau-sou” ou “resultou”, ou ainda preposições, tais como “quando” ou “depois de”:Ex 1:. Dez pessoas morreram quando um avião tur-co caiu logo após decolar, no aeroporto de Pristina, no território do Kosovo, antiga Iugoslávia, atual-mente sob ocupação de forças da OTAN. As vítimas eram oficiais que voltavam para suas casas depois de terem servido na região. Ex 2:.A queda de um avião turco causou a morte de dez pessoas (...)

7.2 - Outros tipos de lead (Teoria e Técnica do Texto Jornalístico, Nilson Lage – págs 76 e 77)

Lead resumo Utiliza-se eventualmente na cobertura – em geral, continuações (ou suítes) – de eventos em que há várias informações de destaque, mais ou menos equivalentes e que devem ser condensadas em uma única matéria de jornalismo impresso diário, cum-prindo o ciclo de 24 horas de cobertura do veículo. Por exemplo:

Ex:. Dois dias depois do terremoto que atingiu 20 cidades turcas, o número de mortos elevou-se a sete mil, o de feridos a 30 mil, uma grande refinaria es-tava ainda em chamas e crescia o temor de que o caos dos transportes e serviços cause fome e epi-demias. Há dez mil desaparecidos e cem mil desa-brigados.

Lead flash Uma frase curta inicia o texto.Ex:. Um homem foi crucificado na Arábia Saudi-ta. Acusado de matar a mãe, Ahmed Mustafá sofreu a pena imposta a Cristo em algum lugar do mo- derno reino dos Saud, sem testemunhas. A pena foi aplicada há oito dias e não se informou qual a du-ração do suplício.

Utiliza-se, às vezes, como recurso para es-tabelecer uma relação retórica – geralmente uma antítese – entre eventos distintos. Por exemplo:Ex:. Bill Gates ficou dez bilhões de dólares mais rico desde a crise cambial russa, que tornou o Bra-sil mais pobre. De outubro de 1998 a julho deste ano, a fortuna do maior bilionário de todos os tem-pos elevou-se de 80 a 90 bilhões de dólares, algo acima da renda nacional de dois terços dos países do mundo – e mais da metade da dívida externa brasileira.

Lead narrativo Ao contrário do lead clássico, que começa pela notação mais importante, aqui se alinham fatos sucessivos que conduzem ao clímax. É como um pequeno conto, de poucas linhas. Exemplo:Ex:. Lucas Malasuerte, de 47 anos, era, a des-peito do nome, um sujeito feliz: casado, com dois filhos, casa própria e um bom emprego como fer-ramenteiro em São José dos Campos, São Paulo. Em janeiro passado, perdeu o emprego; em março a mulher o deixou, levando os filhos; vendeu a casa em maio, para pagar as dívidas. Ontem Lucas es-creveu um bilhete de despedida, enfiou um revólver na boca e se matou, em frente ao guichê do Sine, a agência de emprego do Ministério do Trabalho.

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8 - Sublead

No Brasil, após o lead, é costume redigir um segundo parágrafo, com informações adicionais, formando um lead secundário, ou sublead. Por ex-emplo, no caso da notícia do terremoto, entrariam os esforços para socorrer os sobreviventes; na notí-cia sobre o arquiteto Praxedes, a informação de que ele tem pavor de viajar de avião.

Conceito/origem - Segundo parágrafo do texto jornalístico, resultante do desdobramento do lead. O sublead é criação do jornalismo brasileiro, e inexistia na imprensa norte-americana e também na inglesa, de onde importamos a técnica do lead, na década de 1950.

Função - Existem posições discordantes sobre sua importância e sua função no texto do jornal. O sub-lead é considerado, por alguns, apenas um recur-so gráfico (“uma ficção tipicamente regionalista”, segundo Lago Burnett (op. cit., p.23), destinado a situar melhor a notícia, visualmente, dentro da página. Outros o consideram um recurso de grande valor para a articulação do texto: um parágrafo imediato ao lead, “(…) onde se agrupam os fatos cuja ordem de importância é inferior aos do lead ou onde se desenvolvem aqueles fatos mencionados anteriormente.” – Juvenal Portela. Nesta acepção, o sublead tem a função de disciplinar o desenvolvi-mento da narrativa, como um pescoço equilibra a cabeça (o lead) em relação ao corpo da notícia.

Fonte:. http://stivalneto.wordpress.com/2012/09/30/regras-basicas-do-jornal-ismo-francisco-de-paula-prof-icesp/

9 - Gancho

Trata-se de um modo de contextualizar a matéria. O gancho pode ligar o assunto da pauta à realidade do leitor. Por exemplo, a Rede Globo cos-tuma aproveitar os assuntos tratados em uma novela como um gancho para a produção de matérias nos telejornais. Ou um jornalista aproveita uma situ-ação pontual em um bairro como gancho para tratar o assunto de uma maneira mais ampla.Fonte: http://dicionariodejornalismo.blogspot.com.br/2012/01/gancho.html

O objetivo do gancho no jornalismo é mui-to mais que justificar uma reportagem. Trata-se de estabelecer um relacionamento do fato com o dia a dia, trazendo a ideia de atualidade. Em outras pala-vras, gancho é o enfoque determinante que justifica e sustenta o texto no jornalismo nos mais diversos formatos ou suportes. Resume-se a uma escolha - a informação que merece maior destaque.

Exemplo: Em uma pauta sobre trânsito, podem ser destacados alguns pontos que justifique, atualize, que “puxe” a matéria, como, por exemplo: • superlotação das vias públicas • engarrafamento constante em algum ponto específico da cidade• dificuldade para estacionar o carro no Cen-tro da cidade • preços abusivos de estacionamentos rotati-vos existentes, etc. Observe que a pauta de exemplo aborda algo do dia a dia. Desta forma, o gancho é o recurso que liga a pauta à realidade enfrentada pela sociedade.Fonte: http://www.ferramentasfoca.com/2013/05/o-que-e-gancho-no-jornalismo.html

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10 - Desenvolvimento da Notícia

Para o desenvolvimento de uma notícia, consideram-se os papéis temáticos do lead. Expli-cando com um exemplo, admitamos este caso:João Silva, bancário 32 anos, matou ontem de madrugada, com dois tiros de revólver, sua mul-her, Maria das Dores Silva, enfermeira de 34 anos, de quem estava separado há dois meses. O crime ocorreu no antigo apartamento do casal, na Avenida Central do Kobrasol, onde Maria continuava morando. Temos aí um assassino (João Silva), um crime (a morte), uma vítima (Maria das Dores), uma causa (a separação) e um local (o apartamen-to). Assassino, crime, vítima, causa e local são pa-péis temáticos da proposição do lead (quem, fez o que, quando, onde, como e por que / para que) – isto é, denominações referidas ao evento expresso pelo verbo. A regra é que se considere cada papel temáti-co desses como um tópico, para o desenvolvimento. Assim, o primeiro tópico poderia ser o crime; o se-gundo, o assassino; o terceiro, a vítima etc...Admitindo-se que o sublead seja feito com a con-sequência imediata do crime (em síntese, “João foi

preso, Maria morreu no hospital”), teríamos, então, o desenvolvimento:

QUEM? João SilvaFez O QUÊ? Matou sua mulher, Maria das DoresQUANDO? Ontem de madrugadaONDE? No antigo apartamento do casalCOMO? Dois tiros de revólverPOR QUÊ / PARA QUÊ? Por causa da separação (*nem sempre esta notação é destacada no lead, ou sublead...)

LeadJoão Silva, bancário 32 anos, matou ontem de madrugada, com dois tiros de revólver, sua mulher, Maria das Dores Silva, enfermeira de 34 anos, de quem estava separado há dois meses. O crime ocorreu no antigo apartamento do casal, na Avenida Central do Kobrasol, onde Maria continu-ava morando.

SubleadSegundo informações da Polícia Militar, a vítima chegou a receber atendimento médico no local, mas não resistiu aos ferimentos e morreu a caminho do hospital. João foi detido portando a arma do crime a três quarteirões de seu antigo apartamento, enquan-to tentava pegar um taxi.

Dica:• Cada parágrafo deve ser escrito em torno de uma ideia principal. Além disso, deve haver fluência: a ligação de um parágrafo a outro. Outra ideia forte deve ir para outro parágrafo. Com isso, se constrói a fluência. O parágrafo sem tópico frasal impede o leitor de entender o texto, deixa a frase dispersiva.

Lembrando...• Tópico frasal é a ideia central do parágrafo expos-ta num período, também conhecido como período tópico ou frase síntese. O tópico frasal determina o prosseguimento do

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parágrafo gerando períodos secundários ou periféricos.O tópico frasal é a “célula” da ideia de um parágrafo, é como se o escritor “puxasse assunto” através de uma afirmação ou questão exposta na primeira frase do parágrafo.

Fonte: http://www.infoescola.com/redacao/topico-frasal/

Tópico 1 (o crime)O crime ocorreu pouco antes das duas horas da madrugada, segundo o depoimento de um vizinho, despertado pela discussão entre João e Maria das Dores. Foi esse vizinho, Marcos de Castro Carmo-na, de 40 anos, que chamou o pronto-socorro e a polícia, enquanto João fugia a pé.

Tópico 2 (o assassino)João vinha ameaçando a mulher há semanas, mas ela não chegou a dar queixa na polícia: limitou-se a comentar o assunto no hospital em que trabalhava, mas sem levar muito a sério as ameaças. Ele busca-va reconciliação, mas Maria das Dores não estava interessada. 6

Tópico 3 (investigação)A polícia acredita que o crime foi premeditado, em-bora João continue negando. Ele comprou a arma segunda-feira passada, numa loja do centro, alegan-do que suas funções no banco o obrigavam a trans-portar documentos e valores. 11 - Fontes JornalísticasFonte: http://robertascheibe.wordpress.com/2011/05/19/fontes-jornalisticas/

• As fontes oficiais são mantidas pelo Esta-do, por instituições ligadas ao Estado ou por em-presas e organizações. No meio jornalístico, são 6 Eventualmente, notações (perguntas) do lead (principalmente as COMO? e POR QUÊ / PARA QUÊ?) são respondidas no desenvolvimento da matéria (não exclusivamente no primeiro parágrafo), como no presente exemplo. Acontece também de al-gumas notícias (principalmemte as pesquenas) não responder-em todas (as seis) perguntas formadoras do Lead.

tidas como as mais confiáveis. É necessário es-tar atento ao fato de que as fontes oficiais podem falsear a realidade para preservar interesses es-tratégicos e políticas duvidosas, para beneficiar grupos dominantes, por corporativismo, militân-cia, ou em função de lutas internas pelo poder. Exemplos de FONTE OFICIAL: Pre-feitura, Polícia Militar, Presidente do Banco do Brasil, Porta vozes de entidades e empresas...

• As fontes oficiosas são aquelas que são re- conhecidamente ligadas a uma entidade ou indivíduo, mas não estão autorizadas a falar em nome dela ou dele. No jornalismo, podem ser preciosas, porque ev-idenciam manobras escondidas pelas fontes oficiais.

Exemplo de FONTE OFICIOSA: agente administrativo da Companhia de En-ergia Elétrica do Estado faz denúncia con-tra administradores, jornalista de uma as-sessoria (passando informação em OFF), ...

• As fontes independentes são desvinculadas de uma relação de poder ou interesse específico.

Exemplo de FONTE INDE-PENDENTE: Dona de casa é parada na rua para falar sobre o aumento do pão.(...)

Fontes (jornalismo) Fonte - http://pt.wikipedia.org/wiki/Fonte_(jornalismo)

• Fontes oficiais: políticos, empresários, líde-res religiosos, porta-voz de grandes empresas...

• Fontes não oficiais: ONGs, sindicatos, anônimos...

11. 1 - Categoria de fontesFonte – artigo: Aldo Antonio Schmtiz

Link: http://www.cairu.br/biblioteca/arquivos/Comunicacao/Fontes_noticias.pdf

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• A fonte primária é aquela que fornece diretamente “o essencial de uma matéria... fatos, versões e números”, por estar próxima ou na ori-gem da informação. Geralmente revela dados “em primeira mão”, que podem ser confrontados com depoimentos de fontes secundárias. Essa fonte está diretamente envolvida nos fatos, normalmente com testemunha ocular.

• A fonte secundária é o tipo de fonte que contextualiza, interpreta, analisa, comenta ou com-plementa a matéria jornalística, produzida a partir de uma fonte primária. Igualmente, é com quem o repórter “repercute” os desdobramentos de uma notícia (suíte). Também é consultada para a prepa-ração de uma pauta ou a construção das premissas genéricas ou contextos ambientais. O envolvimento da fonte secundária com os e fatos e eventos é indi-reto.

11. 2 - Grupos de fonte

Toda informação tem uma origem ou con-textualização. Quem informa, segundo Charaudeau (2009), é reconhecido pela notoriedade, testemunha e especialização. A representação de uma organi-zação, grupo social ou pessoa, pode ser mediada por uma assessoria de imprensa ou porta-voz. Nessa perspectiva, a assessoria de imprensa não é fonte, mas ponte, por intermediar os interesses, opiniões, conhecimentos e relatos de eventos de quem asses-sora. Porta-voz é uma pessoa qualificada e au-torizada a dar informações, geralmente em momen-tos de crise ou de ausência da fonte, que reflitam o pensamento oficial da personalidade que represen-ta, normalmente, uma alta autoridade, executivo ou celebridade. Comumente chama-se de fonte autor-izada ou não autorizada, quem substitui o porta-voz ou a própria fonte quando esta não pode - ou não deseja, ou ainda, desconhece, no caso da não auto-

rizada - formalizar a informação ou a sua opinião, pessoalmente.

Oficial Refere-se a alguém em função ou cargo pú-blico que se pronuncia por órgãos mantidos pelo Estado e preservam os poderes constituídos (ex-ecutivo, legislativo e judiciário), bem como orga-nizações agregadas (juntas comerciais, cartórios de ofício, companhias públicas etc.). As fontes ofici-ais são as preferidas da mídia, pois emitem infor-mações aos cidadãos e tratam essencialmente do in-teresse público, embora possam falsear a realidade. “Fazem isso para preservar interesses estratégicos e políticas duvidosas, para beneficiar grupos dom-inantes, por corporativismo, militância, em função de lutas pelo poder” (LAGE, 2001, p. 63).

Empresarial É quem representa uma corporação empre-sarial da indústria, comércio, serviços ou do agro-negócio. Às vezes suas ações têm interesse comer-cial e estabelecem relações com a mídia visando preservar a sua imagem e uma boa reputação. São igualmente acusadas do poder que exercem como anunciantes, confundindo-se suas notícias como publicidade. Para Lage (2001, p. 69) isso pouco im-porta, desde que a informação reúna os elementos da noticiabilidade.

Institucional Também chamada de “fonte independente” por Lage (2001, p. 64-65), representa uma organi-zação sem fins lucrativos ou grupo social. O autor alerta para a sua ação, por ostentar “uma fé cega naquilo que defende”, o que coloca sob suspeita as informações que fornece, embora seja considerada

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espontânea e “desvinculada de qualquer interesse” próprio. Normalmente, a fonte institucional busca a mídia para sensibilizar e mobilizar o seu grupo social ou a sociedade como um todo e o poder pú-blico, para defender uma causa social ou política, tendo os meios de comunicação como parceiros.

Popular Manifesta-se por si mesmo, geralmente, uma pessoa comum, que não fala por uma organização ou grupo social. Um popular aparece notadamente como “vítima, cidadão reivindicador ou testemu-nha”, confirma Charaudeau (2009, p. 194-195). A figura da vítima é carregada de noticiabilidade, pois o público se interessa pelo sofredor, injustiçado ou pela desgraça do destino. Já o cidadão busca visi-bilidade para reivindicar os seus direitos. Além de testemunhar algum fato, essa fonte também é uti-lizada para contextualizar uma informação na vida cotidiana.

Notável São pessoas notáveis pelo seu talento ou fama, geralmente artistas, escritores, esportistas, profissionais liberais, personalidades políticas, que falam de si e de seu ofício. Ainda que se possa con-siderar os experts como notáveis, representam uma especialidade, um conhecimento reconhecido, por isso merecem uma tipificação à parte, assim como a “fonte testemunhal”, por não defender uma causa própria.

Testemunhal A fonte testemunhal funciona como álibi para a imprensa, pois representa aquilo que viu ou ouviu, como partícipe ou observadora. Desempenha o papel de “portadora da verdade”, desde que relate

exatamente o ocorrido, a menos que seja manipula-da, daí deixa de ser testemunha. Geralmente não se suspeita que esse tipo de fonte use uma “estratégia de ocultamento, pois é considerada completamente ingênua”, concebe Charaudeau (2009, p. 53). Quan-to mais imediato ao fato, maior a credibilidade, pois “se apoia na memória de curto prazo, que é mais fidedigna, embora eventualmente desordenada e confusa” (LAGE, 2001, p. 67).

Especializada Para Sponholz (2008) trata-se de pessoa de notório saber específico (especialista, perito, intelectual) ou organização detentora de um con-hecimento reconhecido. Normalmente está rela-cionada a uma profissão ou área de atuação. Tem a capacidade de analisar as possíveis consequên-cias de determinadas ações ou acontecimentos. O jornalista pode não saber, mas conhece quem sabe e recorre ao especialista para estabelecer conexões e analisar a complexidade do tema a ser noticiado; busca informações secundárias ou complementa- res, notadamente em situação de risco ou conflito, na cobertura de temas complexos ou confusos e no jornalismo científico. Pela posição de neutralidade diante dos fatos, independência ou vínculo a uma instituição conceituada, essa fonte apresenta-se geralmente como fidedigna e avaliza o conteúdo jornalístico, segundo Charaudeau (2009, p. 53). No entanto, pelo elevado grau de especialização sobre determinado assunto ou contexto, algumas tendem a ser prolixas perante a necessidade do jornalista, que espera da fonte capacidade de se comunicar de forma compreensível e acessível (LAGE, 2001, p. 68).

Referência

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A fonte de referência aplica-se à bibliogra-fia, documento ou mídia que o jornalista consulta. Trata-se de um referencial que fundamenta os con-teúdos jornalísticos e recheia a narrativa, agregando razões e ideias, conforme indica Chaparro (2009). A bibliografia envolve livros, artigos, teses e outras produções científicas, tecnológicas e culturais. Os documentos, especialmente os dossiês, devem ser “de origem confiável e claramente identificada” (CHAPARRO, 2009), pois se constitui em prova em caso de denúncia. O jornal Zero Hora (1994, p. 16), por exemplo, assegura que “não forja docu-mentos para a realização de reportagem ou notícia” e O Globo considera que “quase toda denúncia está associada a um interesse ostensivo ou oculto, de quem denuncia” (GARCIA, 1996, p. 89). Também servem de fonte, as mídias, como jornais, revistas, audiovisuais e, com a consolidação das tecnologias de informação e comunicação, proliferam as mídias sociais (Twitter, Orkut, Facebook, MySpace etc.), portais, sites, blogs, que também produzem conteú-dos e servem de fontes de consulta.

11. 3 - Crédito das fontes

O crédito é um elemento básico da produção jornalística. A princípio, toda fonte deve ser iden-tificada. Se a fonte não pode ser citada, a deonto-logia ( ...na filosofia moral contemporânea, é uma das teorias normativas segundo a qual as escolhas são moralmente necessárias, proibidas ou permiti-das) obriga o jornalista a abster-se (ou seja, não uti-lizar a fonte) ou garantir o sigilo. Uma fonte pode falar ou fornecer informação para publicação, em “on” (on the record), revelando a sua identidade, ou no anonimato, em “off” (off the record), de forma confidencial ou extraoficial, com a intenção clara

de não ser publicada ou, se for, sem a indicação de quem fez a declaração (on background) nem do cargo ou função que exerce (on deep background). Para O Globo, “o anonimato deprecia a informação; é o que basta para que se evite o off tanto quanto possível” (GARCIA, 1996, p. 31).

Identificada (on) A identificação correta das fontes - nome (de preferência completo ou como a pessoa é conheci-da), status, profissão, cargo, função ou condição e a quem representa - além de orientar o público, dá o crédito a quem se dispõe a colaborar na apuração e produção da notícia, inclusive cedendo a sua ima-gem, sem por isso, requerer direitos autorais. Por-tanto, configura-se em um dos princípios da ética jornalística. Para o jornal Zero Hora (1994, p. 18), “a fonte deve ser estimulada ao máximo a se identificar ao prestar as informações”. Mas, às vezes, “a identificação se faz de maneira vaga ou indireta”, constata Charaudeau (2009, p. 149). Isso se deve, geralmente, à incompetência do repórter, ao utilizar uma forma vaga, sem a negociação do sigilo, mesmo quando há indicação do status ou função (on background): “importante empresário”, “um participante da reunião”, “um ex-ministro” etc.

Sigilosa (off) Entre o jornalista e a fonte se estabelece uma relação de confiança que pode incluir o compromis-so do silêncio quanto à origem da informação. Se-gundo Bucci (2000, p. 136) “o único segredo espe-cífico da profissão de jornalista se refere ao sigilo de fonte - ele não é obrigado a revelar sua fonte quando julgar que deve preservá-la, o que é assegurado na legislação das democracias contemporâneas”. En-fim, “é direito do jornalista resguardar o sigilo de

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fonte”, contempla o código de ética dos jornalistas brasileiros, editado pela Fenaj (2008). No Brasil não há norma jurídica que imponha a quebra do sigilo. Ampara-se na Constituição Federal (BRA-SIL, 1988), que assegura “o sigilo de fonte, quando necessário ao exercício da profissão”. Entende-se que, o jornalista ou o veículo, ao omitir a fonte, assume o que foi relevado por ela, passando a responder civil e criminalmente. (...) Geralmente a fonte sigilosa revela infor-mações de interesse público. Mas, também pode lançar calúnias, difamações, boatos e intrigas para medir reações, que Zero Hora (1994, p. 18) não considera notícia, “mas, ponto de partida para a bus-ca da informação precisa”. Por isso, para falar em “off”, é preciso que o informante esteja investido do estatuto de fonte, configurado por uma relação contínua de confiança com o repórter ou credibi-lidade (fonte fidedigna). Caso contrário, “a dúvida persistirá”, (...)

11. 4 - Qualificação das fontes

As fontes apresentam qualificações dife- rentes, conforme a credibilidade (fidedigna), proxi-midade e relação com os jornalistas (confiável)...

Confiável Para Gans (1980, p. 129-130), os jornalis-tas selecionam as suas fontes pela conveniência e confiabilidade, aquelas que mantêm uma relação estável, são acessíveis e articuladas, disponibili-zam declarações ou dados de forma eficaz, isto é, a informação certa e verdadeira na hora esperada ou rapidamente. Assim, a fonte torna-se confiável, pois

mantém uma relação estável com os jornalistas, por interesses mútuos. Para O Estado de S. Paulo, se “o informante é da mais absoluta confiança”, merece publicação (MARTINS, 1997, p. 23). Forma-se en-tão uma rede de contatos, em que os editores, pro-dutores (no caso da TV), pauteiros (cada vez mais raro), repórteres e colunistas ou comentaristas (TV e rádio) mantêm uma lista atualizada de fontes con-fiáveis.

Fidedigna O jornalista também busca as fontes pelos critérios de respeitabilidade, notoriedade e cre- dibilidade. Portanto, a fonte fidedigna, embora não mantenha um histórico de confiança mútua, exerce seu poder pela posição social, inserção ou proxi- midade ao fato. O jornalismo empenha-se incessan-temente em legitimar o que diz como verdadeiro e esse jogo da verdade jornalística depende da fonte fidedigna, de quem está acima de qualquer suspeita e “pode ser considerado digno de fé”, confirma Charaudeau (2009, p. 52) em concordância com Chaparro (2009), ao defender que “sem fontes que mereçam fé, não há jornalista nem jornalismo que sobreviva”.

Duvidosa A fonte duvidosa expressa “reserva, dúvida, hipótese, e mesmo suspeita”, segundo Charaudeau (2009, p. 54). Assim, o valor de verdade da infor-mação é atenuado, embora a sua posição confira crédito e o jornalista considera a informação como provisoriamente verdadeira, até prova em contrário. Cético, é de ofício do jornalista duvidar sempre, e da “cultura jornalística tratar as fontes como inter-faces suspeitas... como, por exemplo, nos manuais de redação, que orientam os jornalistas a olhar as

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fontes com desconfiança” (CHAPARRO, 2009).

12 - Grafia de números (jornalismo impresso)

Fonte: http://www.estadao.com.br/manualredacao/esclareca/numeros.shtm

12.1 - Instruções gerais:

• De um a dez, escreva os números por ex-tenso; a partir de 11, inclusive, em algarismos: dois amigos, seis operadores, 11 jogadores, 18 pessoas. Exceção:cem e mil.

• Proceda da mesma forma com os ordinais: primeira hora, terceiro aniversário, 15.ª vez, 23.º ano consecutivo.

• a) Nas enumerações, se houver valores abaixo e acima de 11, use apenas algarismos: In-cêndio em Paris mata 7 e fere 17 pessoas. / Havia na praça 3 adultos e 12 crianças. / A decisão sairá em 10 ou 15 dias. b) Se os números não fizerem parte de uma enumeração, siga a regra: DSV apreende 12 carros em dois dias de vistorias. / Em três meses, concordatas batem recorde de 12 anos. / Os oito carros custaram R$ 100 mil. / As cinco máquinas chegaram em 1995.

• Não inicie orações com algarismos, mas es-creva o número por extenso:Dezoito pessoas feriram-se no acidente. Sempre que possível, porém, mude a redação para não ter de escrever o número por extenso. Exceção: títulos, que podem começar com algarismos.

• Escreva os algarismos, de 1.000 em diante, com ponto: 1.237, 14.562, 124.985, 1.507.432, 12.345.678.543, etc. Exceção. Na indicação de anos não há ponto: 1957,1996, ano 2000.

• Com mil, milhão, bilhão e trilhão, use a forma mista se os números forem redondos ou aproximados: 2 mil pessoas, 3 milhões de unidades, 5,4 milhões de toneladas, 1,4 bilhão (e não 1,4 bil-hões) de reais, 2 bilhões de habitantes, 15,5 trilhões

de micróbios, etc.Repare: 2 (em algarismos) mil pessoas e não duas (por extenso) mil pessoas. Use apenas mil, e nunca “1 mil”: mil homens (em vez de 1 mil homens).

• Especifique sempre as ordens de grandeza dos números, mesmo que para tanto seja preciso repetir palavras: Estavam ali de 40 mil a 50 mil pes-soas. / A cidade tem entre 3 milhões e 4 milhões de habitantes. / De 20 reais a 50 mil, qualquer quantia era aceita. / Falava tanto para 50 pessoas como para 50 mil, sem se perturbar. / A inflação deste mês fi-cará entre 1% e 2%.

• Com números quebrados, use algarismos: O senador obteve 3.127.809 votos. / A cidade tem 3.456 bancas de jornais.

• Nos títulos, olhos, janelas, chamadas da Pri-meira Página e legendas, por economia de espaço, os números abaixo de 11 podem ser escritos em al-garismos: O Congresso aprova 8 projetos. / Emenda rejeitada pela 3.ª vez. / Os 5 refugiados chegam aos EUA. A recíproca, porém, não se recomenda, como recurso para aumentar o texto: Comício atrai apenas trezentas pessoas (use 300em algarismos).

• Nunca use 0 antes de número inteiro, a não ser para indicar dezenas de loteria, números de referência, prefixos telefônicos e dígitos de com-putador. Para datas, número de páginas, horas, etc., adote sempre o número simples:2/1/96 (e nunca 02/01/96); às 8 horas (e nunca às 08 horas); às 9h16 (e nuncaàs 09h16); chegará dia 9 (e nunca dia 09); na página 5 (e nunca na página 05).

• Prefira usar por extenso os números fra-cionários: um terço, dois quintos, sete quartos, etc. Em títulos, olhos, legendas e chamadas, admite-se, porém, a forma numérica: 1/3 das pessoas, 3/5 da população, etc.

12.2 - Por extenso

• Use o número por extenso nos nomes de cidades, em palavras compostas, nas expressões

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populares ou quando o número estiver substan-tivado: Três Lagoas, Santa Rita do Passa Quatro, três-estrelinhas, quatro-olhos, segundo-tenente, dos oito aos oitenta, dos seiscentos diabos, cortar um doze, pintar um sete, fazer um quatro, o dois de ouros, desenhar um cinco, etc. Exceção: o nome dos dias da semana, apenas em títulos e mantendo o hífen. Exemplos: 5.ª -feira, 2.ª -feira, etc. Também por extenso: Primeiro Mundo, Terceiro Mundo, se-gunda intenção, primeiro plano, etc.

• Na transcrição de documentos: “Aos de- zoito dias do mês de março do ano de mil novecen-tos e noventa e seis...”

12.3 - Em algarismos

Como critério genérico, deverão ser empre-gados algarismos sempre que um número expres-sar valor, grandeza ou medida (e não apenas mera soma, como dois amigos, três pessoas, cinco emen-das). De maneira mais específica, use algarismos em:

• Tabelas, relatórios econômicos, princípios matemáticos, quadros estatísticos, tabelas de horári-os, etc.

• Horas, minutos e segundos: Ele partirá às 4 horas. / A reunião irá das 7 às 9 horas. / O foguete foi lançado às 8h5min15s. Exceção: quando horas designa período de tempo. Exemplos: A reunião de-morou oito horas. / A comitiva esperou três horas pelo deputado. / Faltam dois minutos.

• Dias, meses (em algarismos), décadas, sécu-los: O presidente chega dia 3. / A Câmara votará a emenda dia 9. / 3/9/94. / Tinha saudades da década de 20. / O século 1.º, o século 4.º, o século 10.º, o século 11. Exceção: quando se quer exprimir um período de tempo. Exemplos: O cantor se apresen-tará durante cinco dias em São Paulo. / Sua pesquisa abrange quatro décadas. / Passaram-se três séculos.

• Datas em geral, incluindo-se as que se tornaram nomes de locais públicos:São Paulo, 3/3/1993. / Rio de Janeiro, 2 de abril de 1995. / Avenida 9 de Julho(e não Nove de Julho). / Rua 7 de Abril. / Rua 15 de Novembro. Exceção: quando se quer dar ênfase a uma data histórica. Exemplos: O Sete de Setembro. / O Nove de Julho.

• Idades: Ele tem 3 anos. / Uma criança de 2 anos, 8 meses e 5 dias. Exceção: quando anos desig-na período de tempo. Exemplos: Ele esperou quatro anos. / Ela parece ter envelhecido dez anos.

• Dinheiro: 8 reais, 5 centavos, 2 dólares, 3 libras, 8 marcos, R$ 3 milhões, US$ 5 milhões.

• Porcentagem: Os preços subiram 5%. / A taxa de desemprego caiu 2% em maio.

• Pesos, dimensões, grandezas, medidas e proporções em geral: 5 quilos, 3 litros, 8 metros, 6 hectares, 2 arrobas, 9 acres, 6 alqueires, 2 polega-das, 2 partes, etc. Exemplos: A criança nasceu com 5 quilos. / A cidade consumia 6 toneladas de batatas por dia. / O garrafão comportava 3 litros de água. / O jogador mede 2 metros de altura. / Era um terreno de 6 hectares (9 acres, 6 alqueires). / Comprou um garrote de 8 arrobas. / Pediu um tubo de 3 polega-das. Exceção: distâncias e diferenças. Exemplos: O carro deslizou oito metros. / Perdeu três quilos no regime. / A miss tinha duas polegadas a mais. / Fal-tavam dois alqueires na medição do terreno. / Colo-que duas partes de café para cinco partes de água.

• Graus de temperatura: O termômetro marca-va 3 graus. Temperatura cai para 1º (só em títulos). Diferenças de temperatura, porém, vão por extenso: A temperatura caiu três graus.

• Números decimais: A densidade do Estado é de 1,88 habitante por quilômetro quadrado. / A tem-peratura subiu 4,5 graus.

• Endereços: Rua Direita, 7, 3.º andar. / Ala-meda dos Caetés, 8. Casa 3.• Indicação de zonas, distritos ou regiões: Zona 6, 4.º Distrito Policial, 9.ª Região Militar.

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• Todo número que indique ordem ou sequên-cia (especialmente em nomes de navios, aviões, naves espaciais, veículos, atos de peças teatrais, capítulos, canais, modelos, estradas, tamanhos, pá-ginas, folhas, quartos, etc.): Número 2, lápis n.º 1, nota 5, V8, F-1, DC-10, Apollo 7, Soyuz 9, ato 3, cena 2, 2.º ato, capítulo 7, parte 2, canal 5, modelo 4, BR-3, tamanho 7, página 7, quarto 5, enfermaria 2, etc.

• Resultados esportivos: O São Paulo venceu o Corinthians por 3 a 1. / O Brasil ganhou da Itália por 3 sets a 2. / Steffi Graf venceu por 7/6 e 6/4. (Mas:O São Paulo marcou dois gols de falta.)

• Resultados de votações e julgamentos: A emenda foi aprovada por 5 votos a 4 (Mas: A emen-da precisava de quatro votos favoráveis.) / O réu foi condenado por 4 votos a 2.

• Contexto financeiro: A ação caiu 3 pontos.

• Latitude e longitude: O Estado do Amazo-nas está situado a 2 graus de latitude norte e a 9 graus de latitude sul.

• Seriação de festas, simpósios, congressos, feiras, conferências, corridas, competições, etc.: 2.ª Festa da Uva, 3.º Simpósio de Transportes, 5.º Congresso de Cancerologia, 8.ª Feira Nacional do Móvel, 4.ª Conferência do Atlântico Sul, 5.º Rali de Alfenas, 3.º Enduro da Independência, 4.ª Mil Mil-has, Fórmula 1, Fórmula 3.

• Matemática: Multiplique por 8. / Divida por 4. / Some 5. / Subtraia 9. / Eleve à 3.ª potência.

• Conflitos e governos: 1.ª Guerra Mundial, 5.ª República, 3.º Reich.

Concordância• Números abaixo de 2 fazem a concordân-cia sempre no singular: 0 hora, 0,9 metro, 1,9 mil-hão, 1,7 bilhão. Prefira o verbo, porém, no plural com milhão, bilhão, etc: 1,9 milhão de pessoas es-tavam presentes. / 1,7 milhão de habitantes já aban-

donaram o país.

• Os números um e dois e as centenas, a par-tir de duzentos, variam em gênero: um, uma, dois, duas, duzentas, trezentas, seiscentas, novecentas, seis mil duzentas e uma pessoas, oito mil setecentas e quarenta e duas espécies,etc.

13 - Notícia(Elementos de Jornalismo Impresso, Jorge Pedro Sousa – pág 231)

Enquanto gênero jornalístico, a notícia é, essencialmente,um pequeno enunciado reporta-tivo,um discurso sobre um acontecimento recen-te (ou, pelo menos,de que só no presente se tenha conhecimento), vários acontecimentos ou desen-volvimentos de acontecimentos. Representa tam-bém informação nova, atual e de interesse geral. É o gênero básico do jornalismo. Não se podem estabelecer fronteiras rígidas para a notícia, tal como não se podem estabelecer fronteiras rígidas para os restantes gêneros jor-nalísticos. A notícia admite, por exemplo, elemen-tos da entrevista, como as citações. O tamanho da peça também não funciona como um elemento dis-tintivo válido. Embora uma notícia não costume ul-trapassar muito os dois mil caracteres, quando ela atinge esta dimensão frequentemente também pode se configurar como uma pequena reportagem, ou, pelo menos, como uma notícia desenvolvida.

Exemplo de notícia:

Josemar é preso pela PF no RioAdvogado e ex-vereador estava sendo procurado há mais de 20 dias pelo polícia; ele é mantido na Ceresp e pode recorrer junto ao TRF, em Brasília

Policiais federais de Juiz de Fora pren-

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deram, na tarde desta segunda-feira (2), no Rio de Janeiro, o advogado e ex-vereador Josemar da Silva. Ele estava sendo procurado pela polícia há mais de 20 dias, em função de mandado de prisão preventiva expedido pelo juiz da 3ª Vara Feder-al, Bruno Savino. O delegado chefe da Polícia Fe deral (PF) em Juiz de Fora, Cláudio Dornelas, confirmou ter trazido o empresário para a cidade. Encaminhado para o Ceresp, Josemar está sen-do mantido em cela especial com outros quatro detentos. Dornellas não revelou detalhes sobre o local onde o ex-vereador foi encontrado, dizendo apenas que ele foi detido na hora do almoço na capital fluminense. Em novembro de 2011, Josemar já havia sido preso pela PF durante a “Operação Trucatto”, que desmantelou um esquema de fraudes em lic-itações públicas através de empresas constituídas em nomes de intermediários, os chamados “laran-jas”. Ele também havia sido denunciado, ano pas-sado, pelo Ministério Público Federal (MPF) por suposto envolvimento em esquema de fraude en-volvendo licitações promovidas por órgãos públi-cos federais, entre eles Receita Federal, Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, Ministério da Integração Nacional, Supremo Tribunal Fe- deral (STF) e até o Tribunal de Contas da União (TCU). Recentemente, Josemar foi condenado por sonegação fiscal, mas a prisão dele não está ligada à esta sentença condenatória. Procurado pela Tribuna, o juiz responsável pela 3ª Vara Federal, Bruno Savino, disse que não pode dar declarações sobre processo em anda-mento, decretando, inclusive, segredo de justiça. “Tenho por costume não divulgar o conteúdo de processo nos casos em que defiro medida cautelar sem a oitiva da outra parte”, explicou, para jus-

tificar o procedimento. Apesar do sigilo no caso, o jornal descobriu que o atual processo liga o ex-vereador a falsidades documentais na constitu-ição de empresas participantes de licitações públi-cas, algumas delas com constantes alterações de quadro societário e de endereços, o que dificultou a cobrança de tributos federais devidos pelas em-presas, resultando em fraude contra a União. O ex-vereador poderá recorrer da prisão junto ao Tribunal Regional Federal, em Brasília, ou entrar com pedido de reconsideração da de-cisão na 3ª Vara Federal. Josemar da Silva atuou como superintendente da Associação Municipal de Apoio Comunitário (Amac) entre os anos de 1993 e de 1996. O advogado assumiu a cadeira de vereador na Câmara Municipal de Juiz de Fora entre 1997 e 2000.

(858 caracteres)Fonte: Tribuna de MinasLink: http://www.tribunademinas.com.br/politica/josemar-e-preso-pela-pf-no-rio-1.1464013

14 - Reportagem(Elementos de Jornalismo Impresso, Jorge Pedro Sousa – pág 259)

Se a notícia é o gênero básico do jornalis-mo, a reportagem é o seu gênero nobre, o gênero jornalístico por excelência.O principal objetivo de uma reportagem é informar com profundidade e exaustividade, contando uma história.(...) a reportagem pode abrigar elementos da entrevista, da notícia, da crônica, dos artigos de opinião e de análise, etc. Desta perspectiva, pode considerar-se a reportagem um gênero híbrido, que vai buscar elementos à observação direta, ao conta-to com as fontes e à respectiva citação, à análise de dados quantitativos, a inquéritos, em suma, a tudo o

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que possa contribuir para elucidar o leitor. (...)A reportagem é um espaço apropriado para expor causas e consequências de um acontecimento, para o contextualizar, interpretar e aprofundar (...).

Características da reportagem:- predominância da narração- humanização dos relatos- factualidade da narrativa

Na reportagem, mais do que na notícia, é frequente o jornalista introduzir na história a própria atividade de busca de informação e, se for o caso, de investigação. O acontecimento deve ser o coração da reportagem, o foco da reportagem, mas é usual notar-se a intervenção do jornalista sobre o discur-so. Uma reportagem prepara-se, geralmente, com antecedência. Uma reportagem, normalmente, não sofre tanto as pressões do tempo como a notí-cia e permite uma maior interpretação pessoal do assunto por parte do jornalista. Este pode estudar o tema, procurar informação, contatar fontes e até ensaiar o estilo com alguma calma e ponderação. O jornalista pode também debater o tema, o seu en-quadramento, as fontes que deseja utilizar e o proje-to de trabalho com as chefias e com os editores.

Reportar Escrever uma reportagem é, antes de mais nada, contar uma história. (...). Pode ser a história de uma vida, a história de um acontecimento, a história de um lugar, a história de uma viagem. Mas não deixa de ser uma história. Portanto, antes de se fazer uma reportagem, há que se ponderar se a história que vai ser contada merece efetivamente ser contada, à luz dos critérios de noticiabilidade.

(...) A reportagem é um gênero jornalístico híbri-do, que pode ir buscar elementos ao contato com as fontes, à consulta de especialistas, ao exame de documentos, à análise de estatísticas, à realização de inquéritos, etc. O desenvolvimento de uma reportagem é uma atividade dinâmica. O jornalista deve estar preparado para mudar o rumo de uma reportagem caso um fato novo e mais interessante se apresente, pois “as circunstâncias podem mudar. O trabalho de reportagem pode abrir novas pistas que mereçam ser exploradas.” No entanto, “o jornalista também não pode perder de vista o foco da reportagem. É comum o jornalista embrenhar-se tanto no assunto, encontrar tantos novos dados, que a reportagem parece não ter fim. Esta situação deve ser evitada. O jornalista não pode deixar que a abundância de informação obscureça a história que há para contar e os dados cruciais que há para revelar. O jornalista tem de estabelecer limites para a reportagem: temporais, espaciais, documentais. Se descobre muita infor-mação de interesse, é preferível deixar parte dela para reportagens posteriores ou para peças autôno-mas a incluir no espaço de reportagem. Se for o caso, pode publicar alguma dessa informação em forma de notícias”.

14.2 - Redação de Reportagem (pág. 266)

Não há regra fixa para escrever uma reporta-gem. O texto, porém deve ser, tanto quanto possível, vivo e envolvente. Pode incluir narração, descrição, citações, dados numéricos, análise, opinião. Estru-turalmente, a reportagem deve ter pelo menos um título, uma entrada (embora o jornalista possa tam-

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bém ir diretamente para o lead) e um corpo textual, eventualmente separado por blocos. (...)Normalmente, a reportagem estrutura-se nos três tempos clássicos: 1) fato principal; 2) contexto (antecedentes; conjuntura; causas; consequências); 3) conclusão.

Iniciar a reportagem:O início da reportagem é, provavelmente, o seu ponto crucial. É no início da reportagem (título, en-trada, lead) que se envolve o leitor no tema. Portan-to, o título tem que ser chamativo e a entrada e o lead têm de conter dados que suscitem a vontade de continuar a história.

Formas comuns de abrir uma reportagem:1. Explorar o interesse humano2. Começar com a exposição de um caso par-ticular antes de se partir para o geral, ou mesmo começar pela descrição de um pormenor incomum.

No início da reportagem seguinte, tenta-se explorar o interesse humano...

Pais de adolescente resgatram filha seques-trada por seita religiosa

Os pais de Adelaide querem apenas o mel-hor para a sua filha. Mas a vida de Adelaide, de 17 anos, tem sido uma longa correria pelas consultas psiquiátricas. A beleza de Adelaide é arrasadora. Mas não a salva de um longo histórico de tendên-cias depressivas e suicidas. Hoje, ela está bem pior do que estava há três meses. Em julho, os pais de Adelaide encon- traram, durante uma viagem de férias aos Estados Unidos, um anúncio que transformou suas vidas.

Eles liam o Washington Post, quando uma men-sagem simples lhes chamou atenção: um cam-po para adolescentes em risco, na Virginia. Os preços adequavam-se às possibilidades da família. Adelaide ficou excitada com a perspectiva. Os pais tranquilizaram-se ao ler que o campo possuía vários psicólogos e psquiatras, entre vários outros especialistas no trabalho com adolescentes em ris-co.(...) Uma outra solução para abrir uma reporta-gem suscitando o interesse do leitor pode ser a nar-ração de uma caso particular, passando daí para o geral...

Segurança Social em criseNão há dinheiro para reformas a partir de

2025

José Ferreira tem 40 anos. Trabalha na Repartição de Finanças de Almeida há quinze anos. Foi seu primeiro emprego. Obteve-o num concurso público em que foi o melhor classificado. Há quinze anos, portanto, que José Ferrei-ra contribui para a Segurança Social. Mas pela frente ainda tem uma longa carreira contributi-va, Faltam-le exatamente 25 anos para aposentar. O problema é que daqui a 25 anos pode não ha-ver dinheiro suficiente para pagar as pensões de reforma. É o que revela um estudo hoje divulgado pelo Centro de Estudos da Segurança Social da Universidade Fernando Pessoa. Na situação de José Ferreira estão milhões de trabalhadores portugueses, que sustemtam os atuais pensionistas sem saberem se quando che-gar a sua vez vão ter direito à pensão de reforma.(...)

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A descrição de pormenores é outra solução para abrir uma reportagem...

Não há remédio... No jipe decrépito que se arrasta aos soluços pela savana senegalesa, Philip, um encorpado biólogo norueguês de rosto avermelhado, tira do saco uma garrafa de whisky e bebe um trago. Passa-a ao motorista e diz-lhe: “Não há melhor prevenção para as doenças”. O motorista, John, um ambientalista inglês franzino e pequeno, leva a garrafa à boca, enquanto luta por manter o jipe na trilha.(...)

O início de uma reportagem pode centrar-se, por exemplo, no realce de determinados sentidos, nomeadamente da visão e da audição, no realce de uma pessoa, no realce de uma frase feita ou num jogo de palavras (Sodré e Ferrari, 1986: 68-74).

*exemplos podem ser encontrados nas páginas 269 e 270 do livro “Elementos de Jornalismo Impresso”, de Jorge

Pedro Sousahttp://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-elementos-de-jornalismo-impresso.pdf

Não é apenas o início da reportagem que tem de ser forte. Ao longo da reportagem devem ser incluídos vários pontos fortes que despertem con-tinuamente o interesse do leitor...

Exemplo de (uma pequena) reportagem:

A sétima arte perdeu seu protago-nismo?

Diretores e críticos que participam da Mos-tra de Tiradentes põem em discussão o pa-pel do cinema na sociedade contemporânea

“No escurinho do cinema, chupando drops de anis”, diz a música “Flagra”, de Rita Lee. Ao entoar esses versos nos idos dos anos de 1980, a cantora deu destaque a um hábito que atraves-sou o século XX, época em que a sétima arte era considerada protagonista na divulgação da ima-gem em movimento. Essa forma artística, desde que foi criada, ajuda muita gente a se descobrir e também a enxergar o próximo, conhecer outros tempos, outras culturas, outros territórios. Não serve apenas para contar histórias, tem um im-portante papel na constituição do que somos, uma vez que, como espelho, às vezes desfocado, reflete a realidade. Entretanto, uma nova era se impõe, e as imagens, antes limitadas à caixa escura, ganham novas formas de escoamento em função da internet, onde diversos canais possibilitam e facilitam vários tipos de acesso. Não se admira mais o fato de um filme poder ser visto por meio de celular, algo jamais vislumbrado no passado. A diversidade de maneiras de contato com as im-agens muda a relação das pessoas com o cinema e faz pensar qual o papel dele na sociedade con-temporânea. Essa reflexão é o tema principal que move as discussões na mineira Tiradentes, onde se realiza, desde a última sexta-feira, a 18ª Mostra de Cinema, que se encerra no próximo dia 31. O crítico de cinema e roteirista do filme “Jogo das decapitações”, Francis Vogner dos Reis, lançou a pergunta: “Qual o lugar do cine-ma neste mundo contemporâneo, no qual existem infinitos meios de produção e distribuição das im-agens, como o YouTube?” Na visão dele, a relação da imagem com o espectador é fundamental, uma vez que este deve ser tomado como refém pelo cin-ema e depois devolvido ao mundo de outra manei-ra, tocado pela magia cinematográfica. Porém,

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esse vínculo vem sofrendo impactos, já que o cine-ma perdeu seu protagonismo. “Hoje, ir a uma sala de exibição, com pessoas diferentes, está cada vez mais raro. Assim, há uma mudança nessa relação com o que vemos e, claro, isso provoca consequên-cias, inclusive política, no cinema, que já não tem mais a centralidade da produção audiovisual”, destaca Francis.

Imagens fragmentadas Para o também crítico e curador da Mos-tra de Cinema de Tiradentes, Cleber Eduardo, o mundo tornou-se imagético e fragmentado, o que fez mudar a percepção das pessoas quanto ao ci- nema. “A sala escura e silenciosa quase não ve-mos mais, já que a sessão pode ser cortada pela chamada de um celular, por uma mensagem, o que nos leva a crer que a relação do espectador com o cinema mudou, uma vez que há diversas plataformas nas quais o silêncio, por exemplo, não se faz necessário, como a televisão. Acaba que as pessoas estão levando isso para o cinema”, pontua o curador. Ele ainda acrescenta que, num mundo no qual a arte cinematográfica está em constante disputa, ela precisa se fazer resistente para convi- ver com as outras possibilidades. “Isso já tinha acontecido primeiro com o surgimento da TV, quando o cinema procurou fazer frente. Houve nos anos 1950 e 1960 um adensamento dos personagens, principalmente no cinema europeu. Foram propostas estéticas que bateram de frente com o modelo industrial da televisão. O homem, por exemplo, passou a ser representado de maneira mais sombria; o incesto, indigesto para a TV, ganhou destaque como tema nas telonas. Essas foram algumas das armas que o cinema passou a lutar quando começou a perder

sua hegemonia. Temos que lembrar, é claro, que as cidades cresceram, ficaram mais perigosas, o que, de alguma forma, inibe a saída das pessoas de casa e, neste sentido, a TV ganha ponto”, en-fatiza Cleber, acrescentando que hoje tudo está se convergindo para o Netflix, em que a pessoa se livra do cinema, enquanto espaço, e da grade da televisão. “O espectador tornou-se o senhor do processo, pois só vai ver o que quiser, onde quiser e quando quiser. Esse cinema que obriga a pessoa a ver o filme de uma vez só, pode estar em xeque, já que tudo pode ser fragmentado.” Com uma visão diferente de todo esse pro-cesso, o diretor do filme “A fuga da Mulher Gori-la”, Felipe Bragança, que também escreveu o ro-teiro de “O céu de Suely” e teve uma retrospectiva de seus trabalhos em Los Angeles, Paris e Berlin, dispara que o cinema ainda não acabou, porque nunca existiu. “Ele é uma lenda urbana”, admite o cineasta, que traz outra questão para essa dis-cussão: Qual o lugar do cineasta nesse contexto? “Os diretores estão covardes, estão cagões. Não gosto de pensar o cinema como um bibelô que pre-cisa ser guardado. Acho que os cineastas devem parar de pensar assim e se jogarem no mundo. O cinema tem que sair da resistência e atacar. Te-mos que parar de tentar proteger esse cinema, joia rara, herança do século XX, e se lançar e desbra-var um território que ainda estamos tentando en-tender”, defende Felipe, insistindo que o cinema é forte o suficiente para se misturar com outras plataformas e tirar disso algo melhor. Ele ainda adverte: “O cinema é tão um delírio, uma lenda, que, na tentativa de protegê-lo, pode-se matá-lo”.

Fonte: Tribuna de MinasLink: http://www.tribunademinas.com.br/a-setima-arte-perdeu-seu-protagonismo/

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15 - Referências

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SCHMTIZ, Aldo Antonio. Fontes de Notícias: ações e estratégias das fontes no jornalismo. Disponível em < http://www.cairu.br/

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