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  • DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Orlando A. Bonfatti

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    Este trabalho de compilao tem como objetivo auxiliar no estudo da disciplina, cuja complementao dever ser efetuada atravs dos livros indicados ou de qualquer outro de interesse do aluno.

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    SUJEITOS DO PROCESSO Sendo o processo instrumento para a resoluo imparcial dos conflitos que se verificam na vida social, na clssica definio, apresenta pelo menos trs sujeitos: nos plos con-trastantes da relao processual, como sujeitos parciais, o autor e o ru; e, como sujeito imparcial, representante do interesse coletivo orientado para a justa resoluo do litgio, o juiz. Entretanto, a clssica definio num quadro extremamente simplificado no esgota a realidade referente aos sujeitos que atuam no processo, podendo ser realados os seguin-tes pontos:

    a) Alm do juiz, do autor e do ru so tambm indispensveis os rgos auxiliares da Justia, como sujeitos atuantes no processo;

    b) Os juzes podem suceder-se e funcionalmente no processo, ou integrar rgos ju-risdicionais colegiados que praticam atos processuais subjetivamente complexos confirmando que ele prprio no sujeito processual, nem o sempre em carter singular;

    c) Pode haver pluralidade de autores (litisconsrcio ativo), de rus (litisconsrcio passivo), ou de autores e rus simultaneamente (litisconsrcio misto ou recpro-co), alm da interveno de terceiros em processo pendente, com a conseqente maior complexidade do processo;

    d) indispensvel tambm a participao do advogado, uma vez que as partes, no o sendo, so legalmente proibidas de postular judicialmente por seus direitos.

    PARTES (AUTOR/REQUERENTE e RU/REQUERIDO)

    So os principais sujeitos parciais do processo, sem os quais no se completa a relao jurdica processual. Se todo processo se destina a produzir um resultado (provimento jurisdicional) influente na esfera jurdica de pelo menos duas pessoas (partes), indis-pensvel que a preparao desse resultado seja feita na presena e mediante a possvel participao desses sujeitos interessados. Autor aquele que deduz em juzo uma pretenso, o protagonista; e ru aquele em fa-ce de quem aquela pretenso deduzida, o antagonista. No processo de conhecimento denomina-se autor e ru / Requerente e Requerido; no processo de execuo denomina-se exeqente e executado; na reconveno denomina-se reconvinte e reconvindo, etc. De acordo com o art. 7 do C.P.C., toda pessoa que se acha no exerccio dos seus direi-tos tem capacidade para estar em juzo. A capacidade jurdica ou capacidade de direito a apti-do que a pessoa tem de gozar de seus direitos e de assumir obrigaes. O homem adquire essa personalidade desde o nascimento com vida, nos termos do art. 2 do Cdigo Civil, assim sendo, todo entre humano, ao nascer com vida, adquire perso-

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    nalidade e, com isso, tona-se apto a gozar de todos os direitos e assumir todas as obriga-es previstas e asseguradas por lei. O menor, aqueles que por enfermidade ou deficin-cia mental no tiverem o necessrio discernimento, todos tem, portanto, o gozo dos di-reitos e das obrigaes porque adquiriram tal aptido por terem nascido com vida. Se, por um lado, entretanto, as pessoas nascidas com vida possuem a capacidade jurdica, ou seja, a capacidade de gozar de direitos e de assumir obrigaes na ordem civil, por outro lado nem sempre possuem aptido para exercerem, por si, esses direitos e assumi-rem obrigaes, seja por incapacidade legalmente presumida, seja por incapacidade com-provadamente constatada. Essa aptido de exercer, por si ou pessoalmente, direitos e assumir obrigaes que consiste a capacidade de fato, que vem a ser aptido que o homem tem de exercer pessoalmente os direitos e obrigaes que lhe so inerentes por ter nascido com vida. Conforme ficou visto anteriormente, a ao um dos direitos da pessoa; direito de agir junto ao Estado para pleitear a tutela jurisdicional e que adquirido com o nascimento com vida. Assiste, portanto, pessoa, mesmo sendo menor, enferma ou deficiente men-tal que no tiver o necessrio discernimento, o gozo do direito da ao, isto o gozo do direito de ingressar em juzo para requerer do Estado a tutela jurisdicional, quando um seu interesse jurdico estiver ameaado, tenha sido violado ou venha a ser contestado. Para que a pessoa possa exercer, pessoalmente, o direito de ao, preciso que tenha, tambm, a capacidade de fato, isto , que tenha adquirido aptido legal para o exerccio, por si, daquele direito, aptido essa que adquirida com a maioridade ou com a emanci-pao. Essa aptido ao exerccio do direito de ao vem a ser a capacidade processual (legitimatio ad processum), isto , a capacidade para a pessoa ingressar, pessoalmente, em juzo e pedir a tutela jurisdicional do Estado. Da porque o Cdigo de Processo Civil diz, no art. 7 que toda pessoa que se acha no exerccio de seus direitos tem capacidade para estar em juzo. No tem, portanto, capacidade para o exerccio, por si, dos direitos (inclusive o de ao), os incapazes, sejam eles absoluta ou relativamente incapazes, conforme dispem os arti-gos 3 e 4 do Cdigo Civil. Conforme disposto no art. 2 do Cdigo Civil, a personalidade jurdica da pessoa natu-ral alcanada a partir do nascimento com vida, assegurados os interesses do nascituro. No caso das pessoas jurdicas, conforme disposto no art. 45 do mesmo diploma legal, a personalidade alcanada a partir da inscrio do ato constitutivo no registro compe-tente, como ocorre com o registro do contrato da sociedade comercial na junta comerci-al.

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    Alm dessas pessoas, em carter excepcional, a lei d capacidade de ser parte para certas entidades sem personalidade jurdica ou despersonalizada. So universalidades de direitos que, em virtude das peculiaridades jurdicas de atuao necessitam de capacidade proces-sual. Nessa condio esto, por exemplo, a massa falida, o esplio, a herana jacente ou vacante, as sociedades sem personalidade jurdica, , o condomnio, e algumas outras en-tidades previstas em lei.

    Massa falida: a universalidade jurdica de bens e interesses, incluindo dbitos deixados pela empresa que teve sua falncia decretada, em juzo, ser representada pelo administrador judicial.

    Esplio: a universalidade de bens e interesses, incluindo dbitos deixados por

    aquele que morreu, ele existe a partir do bito e vai at o trnsito em julgado da sentena que julga a partilha. Para se falar em esplio tem que haver uma massa patrimonial indivisa de bens, o que j ocorre desde o falecimento. O art.12, V, 1 do CPC, estabelece que o esplio ser representado pelo inventariante, caso ele for dativo, quem efetuar a representao ser os herdeiros e sucessores do faleci-do. O esplio surge antes mesmo que seja aberto o inventrio e nomeado o in-ventariante. Enquanto isso, ele ser representado pelo administrador provisrio, que a pessoa que se encontra na posse dos bens da herana. O esplio s pode figurar como parte naquelas aes que versem sobre interes-ses patrimoniais, porque nada mais que a massa indivisa de bens deixada pelo fa-lecido. Nas aes de cunho pessoal (uma investigao de paternidade), devem fi-gurar os herdeiros e sucessores do falecido.

    Herana jacente e vacante: jacente a herana de algum que falece sem deixar testamento e sem ter herdeiro conhecido. Os bens devero ser arrecadados, publi-cando-se editais para chamar eventuais herdeiros ou interessados. Um ano aps a publicao do primeiro edital, a herana declarada vacante. Caso no aparea nenhum herdeiro, ao final de cinco anos, contados da abertura da sucesso, os bens passaro ao domnio do Municpio. A lei processual reconhece s heranas jacentes e vacante personalidade processu-al, permitindo-lhes figurar como parte nos processos relacionados aos interesses da massa patrimonial. Nessas aes, elas sero representadas por seu curador, nomeado pelo juiz.

    Condomnio: a lei processual refere-se aqui ao condomnio em edifcios, e no ao

    tradicional. Diferem um do outro, porque somente naquele h partes do bem que so comuns, e parte que so privativas de cada um dos condminos. Em juzo, o condomnio ser representado pelo sndico ou administrador (art. 12, IX CPC). A legitimidade do condomnio est restrita s aes que digam respeito aos interes-

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    ses comuns e s partes comuns do prdio. Aquelas que sejam privativas devem ser defendidas em juzo pelos respectivos proprietrios.

    Sociedades sem personalidade jurdica: so as de fato, que no foram constitudas

    de acordo com as exigncias legais. Embora o direito material lhes negue persona-lidade jurdica, o processual reconhece em seu favor a possibilidade de figurarem como sujeito ativo e passivo de processos. Tanto em uma como em outra hipte-se, a sociedade de fato ser representada por aquele a quem caiba a administrao de seus bens; Como ensina Arruda Alvim, na sociedade irregular, em que, se-gundo consenso da doutrina, existe um comeo de prova de existncia da socie-dade, embora no com publicidade, em face de terceiros, por no ter sido inscri-ta, ser administrador aquele que conste de um contrato e que a administre efeti-vamente, embora no registrado; ou, ento, aquele que de fato a administre. Nos termos do CPC, art. 12, 2, quando tais sociedades forem demandadas no podero opor a irregularidade de sua constituio, o que assegura aplicao espe-cfica da regra de que ningum pode beneficiar-se, em detrimento de terceiros, de suas prprias irregularidades.

    Pessoa jurdica estrangeira: ser representada, nos termos do inciso VIII do art.12,

    pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agncia ou sucursal a-berta ou instalada no Brasil. Presumo-se que o gerente da filial ou agncia da pes-soa jurdica estrangeira esteja autorizado a receber citao inicial em todos os tipos de processo (CPC, art.12, 3).

    Nascituro: o CPC no o indica expressamente como um doa entes despersonali-

    zados a que se atribui capacidade de ser parte. A personalidade civil do homem comea do nascimento com vida, mas a lei pe a salvo os direitos do nascituro. Enquanto ele no nascer com vida, no ter adquirido personalidade civil. No en-tanto, foroso reconhecer que ele j tem capacidade de ser parte. Para ele a aqui-sio de direitos e obrigaes na ordem civil est sujeita a um evento futuro e in-certo (condio suspensiva), qual seja, o nascimento com vida. titular, pois, de direitos eventuais.

    Nos termos do CC, art. 130, ao titular de direito eventual, nos casos de condio suspensiva ou resolutiva, permitido praticar os atos destinados a conserva-lo . Se o direito material reconhece essa possibilidade ao titular de direito eventual, como o nascituro, foroso que o direito processual se adapte, permitindo que ele v a juzo em sua defesa. O nascituro figurar como parte, sendo representado por seus pais.

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    Ele pode, por exemplo, ajuizar ao de alimentos, em face daquele que o conce-beu, para receber o necessrio para o seu sustento, ainda no ventre materno.1

    Nos casos acima, tais entidades no tem personalidade jurdica, mas tem capacidade de ser parte, podendo figurar como autores ou como rus. A regra, porm, a que para ser parte preciso ser pessoa natural ou jurdica. Deve-se esclarecer que tambm os rgos pblicos, como a Cmara de Vereadores, a Mesa das Casas Legislativas, o Tribunal de Contas, o Tribunal de Justia, conquanto desprovidos de personalidade jurdica, possuem capacidade processual para atarem em defesa de suas prerrogativas. Capacidade de ser parte no se confunde com a capacidade de estar em juzo (capacidade processual ou legitimao processual). Enquanto a primeira relaciona-se com a capacida-de de gozo ou de direito (aptido para adquirir direitos e contrair obrigaes na vida ci-vil), a segunda guarda relao com a capacidade de fato ou de exerccio (aptido para exercer por si os atos da vida civil). Os incapazes (CC, arts. 3 e 4) tem capacidade de ser parte, mas falta-lhes capacidade processual ou capacidade para estar em juzo (legitimatio ad processum), razo pela qual quando a parte se qualificar como absolutamente incapaz ser representada por seus ge-nitores, tutores ou curadores; qualificando-se como relativamente incapaz deve ser assis-tida por genitores, tutores ou curadores. Quem tem capacidade para estar em juzo tem capacidade de ser parte, mas a recproca no verdadeira.

    A legitimidade para a causa (condio da ao) # legitimidade para o processo (capacidade processual ou capacidade para estar em juzo, que pressuposto pro-cessual) # capacidade de ser parte (pressuposto processual) # capacidade postu-latria (habilitao para a representao em juzo, tambm pressuposto processu-al).

    CAPACIDADE PROCESSUAL DOS CNJUGES As pessoas casadas tm capacidade processual plena. Geralmente independem de outor-ga do outro cnjuge para agirem judicialmente em defesa de seus direitos ou para se de-fenderem em juzo. Entretanto, o art. 10 do CPC elenca as seguintes excees:

    1 Rios Gonalves, Marcus Vinicius Novo Curso de Direito Processual Civil, pgs. 116/119.

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    Capacidade processual ativa para a propositura de aes que versem sobre direitos reais imobilirios (reivindicatria, usucapio, divisria, adjudicao compulsria, desa-propriao indireta, execuo hipotecria, etc), o cnjuge (pouco importa seja o marido ou a mulher) necessita do consentimento do outro (art. 10, caput do CPC). No se trata de litisconsrcio ativo necessrio, mas to somente de consentimento que pode ser su-prido pelo juiz (art. 11 CPC). Capacidade processual passiva ambos os cnjuges ser necessariamente citados pa-ra as aes (art. 10, 1 do CPC): I- que versem sobre direitos reais imobilirios; II- resultantes de fatos que digam respeito a ambos os cnjuges ou de atos praticados por eles (mau uso da propriedade comum e responsabilidade por ato do filho menor, por exemplo); III- fundadas em dvidas contradas pelo marido a bem da famlia, mas cuja execuo tenha de recair sobre o produto do trabalho da mulher ou os seus bens reservados; IV- que tenham por objeto o reconhecimento, a constituio ou a extino de nus sobre imveis de um ou de ambos os cnjuges. As hipteses do art. 10 1o. configuram litisconsrcio passivo necessrio e se aplicam, sob pena de nulidade do processo, os regimes de comunho parcial de bens, comunho universal e de participao final de aquestos. Por fora do disposto no art. 1647 do CC/02, se os cnjuges forem casados sob o regime da separao absoluta, no h neces-sidade de formao de litisconsrcio. Nas aes possessrias, a participao do cnjuge do autor ou do ru somente indis-pensvel nos casos de composse ( CC art. 1,199) ou de ato por ambos praticado ( art. 10 2.). Em virtude de contrato ou de herana, marido e mulher tornaram-se possuidores do mesmo bem ( composse). Nesse caso, para um cnjuge propor ao possessria, neces-sita do consentimento do outro. Trata-se de mera anuncia, no de litisconsrcio ativo necessrio. Nas hipteses de figurarem no plo passivo, o caso ser de litisconsrcio passivo necessrio. SUBSTITUIO PROCESSUAL A regra que ningum pode pleitear direito alheio em nome prprio ( art. 6 CPC), ou seja, em princpio, tem legitimidade para propor ao quem for o detentor do direito ma-terial controvertido. Entretanto, a lei, em casos excepcionais, autoriza a propositura da ao por pessoa estranha relao jurdica. Nesse caso, diz-se que ocorre a substituio processual, a legitimao extraordinria ou anmala. Hipteses mais comuns de substituio processual:

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    Ao civil de reparao do dano ex delito O MP pode ingressar em nome prprio, pleiteando direito do titular indenizao quando este for pobre (art. 68 CPP).

    Mandado de segurana coletivo o art. 5, LXX, a e b da Constituio Fede-ral, confere legitimidade a partidos polticos com representao no Congresso Nacional e a organizao sindical, entidade de classe ou associao legalmente constituda e em funcionamento h pelo menos um ano, para defender interesses de seus membros ou associados.

    Ao popular qualquer cidado parte legitima para propor ao popular que vise a anular ato lesivo ao patrimnio pblico ou de entidade de que o Estado participe, moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimnio histri-co e cultura (CF art. 5 LXXIII).

    Ao civil pblica O MP e outras pessoas elencadas no art. 5 da Lei n 7.347//85 tm legitimidade para propor, em nome prprio ao visando a tutela de direitos relativos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens de valor artsticos, esttico, histrico, turstico e paisagstico.

    Ao de investigao de paternidade regulada pela Lei n 8.560/92 O MP legitimado para propor a ao.

    LEMBRETE:

    O substituto processual age em nome prprio. O representante age em nome do representado. O Ministrio Pblico funciona como parte (titular do direito ou substituindo

    o titular) ou como fiscal da lei, nunca como representante. SUBSTITUIO DE PARTES OU SUCESSO PROCESSUAL Feita a citao, estabilizam-se os elementos da demanda (partes, pedido e causa de pedir). Aps esse ato, o autor s pode modificar o pedido ou a causa de pedir com o consentimento do ru, mantendo-se as mesmas partes (art. 264 CPC). O CPC, no entendo, contempla duas hipteses de substituio de partes ou sucesso processual. A primeira hiptese, facultativa, ocorre quando o bem litigioso alienado a ttulo particular, por ato entre vivos (atravs de contrato, por exemplo). Nesse caso, o ad-quirente pode substituir o alienante ou cedente (parte originria na demanda), desde que haja consentimento da outra parte (art. 42, 1 CPC). Independentemente do consentimento da outra parte, tem o adquirente direito de intervir no processo como assistente do alienante ou cedente (art. 42, 2 CPC). De qualquer forma, havendo ou no substituio, a sentena estende seus efeitos ao adquirente ou ao cessionrio (art. 42, 3). O ru de ao reivindicatria aliena o bem litigiosos; o adquirente,

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    mesmo no ingressando na lide, fica sujeito a perder o bem, caso a ao seja julgada procedente. A segunda hiptese obrigatria. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se- a substituio pelo seu esplio ou pelos seus sucessores, observada a suspenso do processo at a habilitao dos substitutos (art. 43 CPC). prevista a sucesso pelo MP na ao popular (Lei n 4.717/65, art. 9 e na ao ci-vil pblica (lei 7.347/85, art. 5, 3) quando a parte originria desiste da ao.

    LEMBRETE: A substituio processual (algum postula em nome prprio direito alheio) #

    substituio de parte ou sucesso processual que pode ocorrer quando o bem liti-gioso alienado ou, necessariamente, com a morte de uma das partes.2

    DEVERES DAS PARTES E PROCURADORES Nos arts. 14 e 15, o CPC fixa os deveres que tm as partes e seus advogados em juzo. Cui-da-se de princpios ticos inatos atuao processual e que so explicitados pela lei. Sua desobedincia pode levar, inclusive, imposio das sanes.

    Art. 14 - So deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo:

    I - expor os fatos em juzo conforme a verdade; II - proceder com lealdade e boa-f; III - no formular pretenses, nem alegar defesa, cientes de que so destitudas de funda-mento; IV - no produzir provas, nem praticar atos inteis ou desnecessrios declarao ou de-fesa do direito; V - cumprir com exatido os provimentos mandamentais e no criar embaraos efetiva-o de provimentos judiciais, de natureza antecipatria ou final.

    Inciso I - Impe que os fatos sejam descritos de acordo com a verdade. O que se reclama que a parte no distora conscientemente os fatos, tal qual por ela apreendidos. Afasta-se o emprego de verso sabidamente irreal. No se pode, entretanto, derrogar a perspectiva de a parte se deixar influenciar pelas paixes prprias do seu envolvimento, inclinando-se a interpretar os fatos de acordo com as suas convenincias. Essa natural tendenciosidade de-ve ser avaliada pelo juiz dentro de esprito benevolente. No age com m-f aquele que descreve com tintas carregadas a conduta do oponente ou que romanceia os fatos. Haver infrao a dever processual quando houver dolosa subverso dos acontecimentos.

    2 Donizetti, Elpdio Curso didtico de Direito Processual Civil, 11. Edio pgs. 121/124.

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    Inciso II - Determina que as partes e procuradores devam agir com lealdade e boa-f. Cuida-se de frmula genrica, que acaba incluindo as demais. A boa-f est aqui empregada em sua verso objetiva (que se contrape boa-f subjetiva que diz respeito ao conhecimento, ou no, de determinado fato), que corresponde a um dever tico de bem agir. Trata-se da con-duta direcionada para o respeito ao outro litigante, ao uso de lcitos expedientes. o ant-nimo da malcia, da improbidade, da incivilidade. O processo deve ser visto como uma dis-puta ditada pela tica, nunca um jogo que admita o uso de todas as armas. Inciso III - Impede-se igualmente que sejam formuladas pretenses ou defesas cientemen-te destitudas de fundamento. A recomendao legislativa destina-se apresentao de ar-gumentos jurdicos que a parte sabe impertinentes. Com efeito, no raramente apresenta-da demanda to - apenas para criar uma aparncia de legitimidade para determinada situa-o. Comuns que devedores bancrios, no af de negar a dvida e obter outros favores (se a dvida est sendo discutida, a jurisprudncia muitas vezes tem negado a inscrio em cadas-tros de inadimplentes), ingressem com demandas sem nenhum fundamento. Polticos, para iludirem seus eleitores, pedem a anulao de punies impostas por tribunais de contas. Sabe-se que esses pedidos, ao final, sero rejeitados, mas se anseia que, at l, obtenha-se vantagens em razo da ausncia de deciso judicial. Claro, ainda, que no se aplica essa a-verso pelo simples inacolhimento do pedido, ainda que se cuide de tese de vanguarda ou escoteira. Somente tem repulsa a m-f. Inciso IV - Trata da questo relativa a produo de provas ou outros atos inteis, artifici-almente postergando o desfecho da causa. O juiz, certo, tem poderes para indeferir dili-gncias protelatrias (art. 130). S que nem sempre se consegue, de antemo, perceber esse propsito maldoso. Deferida a expedio de precatria inquisitria para comarca distante, posteriormente se constata que a testemunha arrolada nada sabia sobre o fato litigioso. A-presenta-se exceo de incompetncia tencionando-se suspender a tramitao do feito. Re-corre-se abusivamente. So todas situaes que podem caracterizar infrao ao dever de reto comportamento. Inciso V - Trata do cumprimento das decises judiciais sem embarao, embora a parte possa afastar os efeitos imediatos de determinadas decises atravs da interposio de um recurso, quando dotado do efeito suspensivo, evidente a necessidade do pronto cumpri-mento dos pronunciamentos na hiptese de surtirem efeitos imediatos, no se justificando que o destinatrio da deciso a ignore, descumprindo o comando emanado de autoridade do Estado investida da funo jurisdicional. Essa situao observada, em repetio, no descumprimento de liminares e de antecipa-es de tutela, justamente nos provimentos judiciais que demandam observncia imedia-ta.3

    3Montenegro Filho, Misael Curso de Direito Processual Civil, 5.edio , pg.265.

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    Art. 15 - defeso s partes e seus advogados empregar expresses injuriosas nos escri-tos apresentados no processo, cabendo ao juiz, de ofcio ou a requerimento do ofendido, mandar risc-las.

    Pargrafo nico - Quando as expresses injuriosas forem proferidas em defesa oral, o juiz advertir o advogado que no as use, sob pena de lhe ser cassada a palavra.

    Na complementao dos deveres, as partes e seus advogados esto impedidos de utilizar nos processos palavras injuriosas, por escrito ou verbalmente. No primeiro caso, o juiz as mandar riscar (at de ofcio); no segundo, advertir a parte ou o advogado, podendo - di-ante da insistncia vir a cassar a sua palavra (art. 15). O dispositivo, evidente, deve levar em conta que o processo, por natureza, tende a exas-perar as emoes e no raramente est fundamentado exatamente na emisso de conceitos depreciativos parte adversa. O que se pretende que a discusso da causa no extravase os limites razoveis, dedicando-se os litigantes a revelar um clima de beligerncia dissociado do real objetivo do processo. Sempre que o discurso ultrapassar o lcito debate (que inclui, por vezes, a emisso de adjetivos depreciativos) haver comportamento abusivo. Por de-corrncia, no apenas expresses injuriosas, mas tambm caluniosas e difamatrias podem levar a igual resultado. DO JUIZ Como sujeito imparcial do processo, investido de autoridade para dirimir a lide se coloca entre as partes. Sua superior virtude, exigida legalmente e cercada de cuidados constitu-cionais destinados a resguard-la, a imparcialidade. A qualidade de terceiro estranho ao conflito em causa essencial condio de juiz. No exerccio da jurisdio, funo estatal, o juiz no pode eximir-se de atuar no proces-so, desde que tenha sido regularmente provocado, no se admite que o juiz lave as mos e pronuncie o non liquet *diante da causa incmoda ou complexa, porque tal conduta im-portaria em evidente denegao de justia e violao da garantia constitucional da inafas-tabilidade da jurisdio. *Non liquet: No h certeza, no est claro. No h julgado. No convence. Para o seu efetivo exerccio, o direito atribui ao juiz determinados poderes que se agrupam em duas categorias: a) poderes administrativos ou de polcia, que se exercem por ocasio do processo, a fim de evitar a sua perturbao e de se assegurar a ordem e o decoro que de-vem norte-lo; b) poderes jurisdicionais, que se desenvolvem no prprio processo, subdivi-dindo-os em poderes-meios (abrangendo os ordinatrios, que se referem a simples andamento processual, e os instrutrios, que se dizem respeito formao do convencimento do juiz) e c) poderes-fins (decisrios e de execuo). O juiz tambm tem deveres no processo: no s o dever de sentenciar, mas ainda o de conduzir o processo segundo a ordem estabelecida

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    (devido processo legal), propiciando s partes todas as oportunidades de participao a que tm direito e dialogando amplamente com elas mediante despachos e decises. PODERES, DEVERES E RESPONSABILIDADE DO JUIZ

    O Cdigo de Processo civil, nos arts. 125 a 132, prev os poderes e deveres processu-ais do juiz. O princpio que norteia o sistema do Cdigo o de que o juiz o dominus processus*, isto , ao juiz compete a suprema conduo do processo. Se o autor o dominus litis*, isto o senhor da causa, o juiz responsvel pelo impulso do processo, sua direo, e a garantia de que chegue a um termo rpido e seguro. Ao juiz compete, em relao ao processo, especialmente, assegurar s partes igualdade de tratamento, velar pela rpida soluo do litgio e prevenir ou reprimir qualquer ato aten-tatrio dignidade da justia.4 *Dominus processus : dono; senhor; proprietrio do processo *Dominus litis: O autor da ao; o dono da lide. - IGUALDADE DE TRATAMENTO S PARTES - Compete ao juiz dispensar tra-tamento isonmico s partes (art. 125, I CPC), alis, o princpio da isonomia erigido pela Constituio (art. 5) condio de garantia e direito fundamental, no permite que o administrador, o legislador, e muito menos o juiz trate de forma desigual as pessoas que figuram numa posio de igualdade no processo. - RPIDA SOLUO DO LITGIO - A celeridade da prestao jurisdicional dever do juiz (art. 125, II CPC), tomando a parte a iniciativa de provocar a jurisdio, atravs da propositura da ao, o processo se desenvolve por impulso oficial (art. 262 CPC). Para possibilitar o cumprimento de seu dever, tornando efetiva a celeridade, a lei arma o juiz de poderes processuais, dentre os quais:

    Ordenar ou indeferir provas e diligncias (art. 130 CPC); Indeferir perguntas s testemunhas (art. 416, 1 e 2 CPC); Determinar a conduo de testemunhas (art. 412 CPC); Julgar antecipadamente a lide (art. 330 CPC) e Determinar a reunio de processos (art. 105 CPC).

    Deve-se salientar que a faculdade conferida ao juiz de determinar a produo de provas de ofcio no pode chegar ao ponto de substituir as partes, de quebrar o princpio da i-sonomia. A produo de provas por iniciativa do juiz possvel em carter complemen-tar, como ocorre quando houver referncia a uma determinada testemunha (art. 418, I CPC).

    4 Grecco Filho, Vicente- Direito Processual Civil Brasileiro, vol. 1, 19. Edio, pgs. 226/227.

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    A jurisdio tem carter substitutivo, s atuando depois de as partes esgotarem ou no vislumbrarem a possibilidade de autocomposio do litgio, atravs da transao, concili-ao ou do juzo arbitral. Por isso e tambm com o intuito de acelerar o fim do litgio, deve o juiz, a qualquer tempo, tentar conciliar as partes (art. 125, IV). - REPRESSO A ATOS ATENTATRIOS DIGNIDADE DA JUSTIA - tem o juiz o dever e o poder de reprimir atos que atentem contra a respeitabilidade e o pres-tgio de que deve gozar a Justia (art. 125, III e 129 CPC). Deve, punir o litigante que procede de m-f (art. 17 e 18 CPC), advertir a testemunha mentirosa, fazer retirar da audincia pessoas que adotarem comportamento no condizente com o recinto. Deve ainda o juiz obstar que as partes de utilizem do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim proibido por lei (art. 129 CPC). - PODER-DEVER DE PRESTAR A TUTELA JURISDICIONAL - O juiz no se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide, caber-lhe- aplicar as normas legais; no as havendo, recorrer analogia, aos costumes e aos princpios gerais de direito. Uma vez provocada, a atuao da jurisdio inexorvel. Pouco importa haja ou no lei, seja esta completa ou lacunosa, cumpre ao Estado desempenhar a funo de compor o litgio, aplicando o direito ao caso concreto. -LIMITES DA DECISO a sentena constitui uma resposta ao pedido do autor, acolhendo-o ou rejeitando-o, no todo ou em parte (art. 459 CPC). Assim o juiz decidir a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questes no susci-tadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da partes (art. 128 CPC). Pelo princpio da congruncia (tambm intitulado da adstrio ou da correlao), a resposta oferecida pelo magistrado atravs da sentena deve se limitar s questes alinhadas pelas partes no curso do processo, sobretudo no ambiente da petio inicial e da contestao, qualificadas como principais peas oferecidas pelo autor e pelo ru, respectivamente. 5 O juiz no pode decidir aqum do pedido (sentena citra petita), nem alm (sentena ultra petita), nem fora do que foi pedido (sentena extra petita). O que a lei veda o conhecimento, pelo juiz, de questes no suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte ( art. 128 CPC), o que no impede de apreciar livremente a prova, atendendo aos fatos e s circunstncias constantes dos autos, ainda que no ale-gados pelas partes (art. 131 CPC).(Adoo do sistema do livre convencimento ra-cional ou motivado: O dispositivo em exame demonstra que o legislador infraconstitu-

    5 Montenegro Filho, Misael Cdigo de Processual Civil comentado e Interpretado, pg. 185.

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    cional adotou o sistema do livre convencimento racional ou motivado, significando que o magistrado conta com liberdade na apreciao da prova, podendo formar seu conven-cimento com a espcie que lhe parea mais qualitativa. Desse modo, pode menosprezar as concluses manifestadas em laudo pericial para decidir com apoio na prova testemu-nhal, por exemplo como lhes faculta o art. 436.)6 A prescrio e a decadncia, por exemplo, uma questo que pode ser conhecida de of-cio (arts. 219 e 220 CPC). - PRINCIPIO DA IDENTIDADE FSICA DO JUIZ - o art. 132 CPC, contempla o princpio da identidade fsica, segundo o qual o juiz titular ou substituto, que concluir a audincia, julgar a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em passar os autos ao seu sucessor. O principio da identidade fsica do juiz no se aplica aos procedimentos de jurisdio voluntria, aos processos falimentares, aos mandados de segurana e as justificaes de posse. Encerrada a instruo, o juiz removido para outra vara da mesma comarca deve julgar o feito, sob pena de nulidade da sentena, caso seja transferido de comarca, no se aplica o principio da identidade fsica do juiz. - RESPONSABILIDADE DO JUIZ A irregular atuao do juiz pode ensejar res-ponsabilidade criminal (art. 319 CP prevaricao) administrativa e civil. O CPC no art. 133, elenca as hipteses que podem dar ensejo responsabilidade civil do juiz. As hip-teses do inciso II s se reputaro verificadas depois que a parte, por intermdio do escri-vo, requerer ao juiz que determine a providncia e este no atender seu pedido dentro de dez dias. - DEVER DE IMPARCIALIDADE DO JUIZ - o juiz tem o dever de oferecer ga-rantias de imparcialidade aos litigantes. No basta ao juiz ser imparcial, preciso que as partes no tenham dvida dessa imparcialidade. Havendo motivos que levem as partes a duvidar da lisura de sua atuao, deve o juiz abster-se de julgar a causa, sob pena de ser recusado (art. 137 CPC). A lei especifica os motivos que podem afastar o juiz da de-manda, espontaneamente ou por ato das partes. So de duas ordens: os impedimentos (art. 134 CPC), de cunho objetivo, peremptrio, e a suspeio (art. 135 CPC), cujo reco-nhecimento, se no declarado de ofcio pelo juiz, demanda prova. No havendo declarao de impedimento ou suspeio por parte do impedido ou sus-peito, pode ser recusado por qualquer das partes, manifestada atravs da exceo de im-pedimento ou suspeio ( art. 312 a 314 CPC).

    6 Montenegro Filho, Misael Cdigo de Processual Civil comentado e Interpretado, pg. 188.

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    DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIO DO JUIZ A principal obrigao inerente pessoa investida no cargo de juiz a imparcialidade, por fora mesmo dos poderes que lhe so conferidos para, em nome do Estado aplicar o direito e distribuir a justia. O exerccio arbitrrio desses poderes ou o exerccio deles por um juiz legalmente impedido ou suspeito por presuno legal, depe contra a pr-pria Justia, porquanto um desfecho no justo que seja dado a uma demanda em que tenha funcionado um juiz nessas condies trar o descrdito do Poder Judicirio, ainda mesmo que aqueles motivos de impedimento ou de suspeio no tenham tido influn-cia na deciso. Para evitar, possvel descrdito da Justia, o prprio Cdigo, preventivamente j probe a participao no processo do juiz que, naturalmente possa ter a sua imparcialidade com-prometida, ou que, por suposio legal, possa no ter a iseno necessria para dirigir e decidir um feito. Em razo do acima exposto, no Cdigo vm expressos os motivos que impedem ou que tornam suspeito o juiz para funcionar no processo contencioso ou voluntrio, cumprin-do-lhe afastar-se voluntariamente da lide, declarando seu impedimento ou a sua suspei-o, desde que manifesto um dos motivos que possam comprometer a sua iseno. E, se de ofcio, no tomar essa providncia, cumpre parte interessada requerer o seu afasta-mento do processo, argindo a exceo de impedimento ou de suspeio. DIFERENAS ENTRE IMPEDIMENTO E SUSPEIO

    As causas de impedimento e suspeio esto previstas nos artigos 134 a 138, do Cdigo de Processo Civil (CPC) e dizem respeito imparcialidade do juiz no exerccio de sua funo. dever de o juiz declarar-se impedido ou suspeito, podendo alegar motivos de foro n-timo. O impedimento tem carter objetivo, enquanto que a suspeio tem relao com o subjetivismo do juiz. A imparcialidade do juiz um dos pressupostos processuais subjetivos do processo. No impedimento h presuno absoluta (juris et de jure) de parcialidade do juiz em determi-nado processo por ele analisado, enquanto na suspeio h apenas presuno relativa (juris tantum). Juris et de jure - De direito e por direito. Estabelecido por lei e considerado por esta como verdade. Juris tantum: Somente de direito, a admitir prova em contrrio.

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    IMPEDIMENTO e SUSPEIO representam situaes distintas, geradoras de con-seqncias igualmente distintas. Enquanto o impedimento se apresenta como verda-deira proibio, imposta ao juiz, de oficiar no processo em que se encontre presente qualquer das circunstncias apontadas no artigo 134 do Cdigo de Processo Civil, ou seja abster-se de participar da relao processual, a suspeio impe-lhe o dever de afas-tar-se da presidncia do processo sempre que se revele, em concreto, qualquer dos moti-vos arrolados pelo artigo 135. Havendo motivos que permitam concluir-se pela sua sus-peio, pode o juiz abster-se de participar do feito; no o fazendo, parte fica reservado o direito de recus-lo.

    O impedimento representa obstculo absoluto, intransponvel ao exerccio da funo jurisdicional pelo juiz assim incompatibilizado, invalidando a sentena por ele proferida (CPC, art. 485, II). J a suspeio, se no argida na forma e prazo previstos em lei, deixa de acarretar qualquer conseqncia no processo, pois se apresenta apenas como um bice supervel ao exerccio da funo jurisdicional pelo juiz suspeito.

    CAUSAS DE IMPEDIMENTO

    As causas de impedimento do juiz so aquelas indicadas no artigo 134, mais a prevista no artigo 136.

    Art. 134. defeso ao juiz exercer as suas funes no processo contencioso ou voluntrio: I - de que for parte; II - em que interveio como mandatrio da parte, oficiou como perito, funcionou como rgo do Ministrio Pblico, ou prestou depoimento como testemunha; III - que conheceu em primeiro grau de jurisdio, tendo-lhe proferido sentena ou deci-so; IV - quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cnjuge ou qualquer parente seu, consangneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral at o segundo grau; V - quando cnjuge, parente, consangneo ou afim, de alguma das partes, em linha reta ou, na colateral, at o terceiro grau; VI - quando for rgo de direo ou de administrao de pessoa jurdica, parte na causa. Pargrafo nico. No caso do no IV, o impedimento s se verifica quando o advogado j estava exercendo o patrocnio da causa; , porm, vedado ao advogado pleitear no pro-cesso, a fim de criar o impedimento do juiz.

    Inciso I - Est impedido de exercer suas funes no processo ou no procedimento, em primeiro lugar, o juiz que neles figure como parte ou interessado.

    No conceito de parte, para esse fim, incluem-se tambm os terceiros intervenientes, em todas as suas formas; o opoente, litisdenunciado, nomeado autoria, terceiro embargan-te, terceiro recorrente, chamado ao processo e assistente, devendo lembrar que tais pes-soas, uma vez ingressando no processo, em contraditrio, so tambm partes

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    Inciso II - Tambm est impedido o juiz que j interveio anteriormente no processo ou no procedimento com outra funo.

    Esse inciso prev, na verdade, quatro causas distintas de impedimentos.

    1- Verifica-se o impedimento, em primeiro lugar, quando o juiz participado do processo ou procedimento como mandatrio da parte, pois tal participao tem por objetivo asse-gurar a vitria do mandante. E como a sua participao anterior como mandatrio j torna inequvoco o seu interesse no desfecho do processo, fica evidenciada a razo de seu impedimento.

    2- Considera-se impedido o juiz que j participou anteriormente, como membro do Mi-nistrio Pblico, do processo que ora preside.

    As razes do impedimento so as mesmas j apontadas no item anterior, cabendo ape-nas ressaltar-se o seguinte: se o ora juiz, enquanto anterior representante do Ministrio Pblico figurou no processo como parte principal, o impedimento ser aquele do inciso I; caso tenha figurado na condio de fiscal da lei, da sim ter incidncia o inciso ora sob exame.

    3- O juiz que anteriormente participou na formao da prova, como perito ou testemu-nha, igualmente est impedido de presidir o processo, j que viria a decidir com base em seu conhecimento particular dos fatos, o que vedado.

    Entenda-se por perito, no inciso em exame, no apenas o expert oficial, mas tambm o assistente tcnico de qualquer das partes, pois a causa do impedimento do juiz que atuou na primeira condio , por bvio, idntica daquele que participou na segunda.

    Relativamente testemunha, no se pode olvidar a previso do artigo 409, inciso I, do Cdigo de Processo Civil: arrolado que seja como testemunha, dever o juiz, caso tenha conhecimento dos fatos que possam influir na deciso, declarar-se impedido para pros-seguir na presidncia do feito.

    4- O Cdigo no reputa causa impeditiva da atuao do juiz o fato de haver ele partici-pado do processo na condio de rgo auxiliar. Explica-se: como a atuao desses ser-vidores da justia no direcionada no sentido de influir no resultado da demanda, ine-xistiria motivo para proibir-se a atuao do juiz naquele processo em que anteriormente atuou nessa condio.

    No entanto, se o juiz atuou como escrivo, oficial de justia, ou contador e tenha prati-cado na causa atos cuja existncia pode influir agora na sua deciso, deve ele ser conside-rado impedido. Por exemplo, a hiptese de o escrivo (e ora juiz) haver certificado que intimou o autor para os fins do artigo 267, inciso III e 1 do Cdigo, e este ltimo sus-

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    tentar a inocorrncia da intimao - caso em que no poderia o juiz, evidncia, decidir pela extino do processo com base em circunstncia por ele mesmo certificada anteri-ormente.

    Inciso III - probe ao juiz o exerccio de suas funes no processo ou procedimento que conheceu em primeiro grau de jurisdio, nele tendo proferido sentena ou deciso.

    Evidente que esse inciso se refere a juzes que estejam agora exercendo suas funes nos tribunais, tanto que se refere expressamente a decises anteriores proferidas em primeiro grau de jurisdio; por outro lado, apenas o juiz que proferiu sentena ou deciso estar impedido: caso tenha exarado simples despacho no processo ou no procedimento, no estar, s por isso, incompatibilizado para atuar.

    Inciso IV - cuida do impedimento derivado da relao conjugal ou de parentesco exis-tente entre o juiz e o advogado da parte ou do interessado.

    Cnjuges so as pessoas vinculadas matrimonialmente entre si, isto , so considerados cnjuges pela lei civil (e, por extenso, por todo o ordenamento positivo), apenas o ma-rido e a sua mulher.

    Estar o juiz impedido de exercer suas funes no processo em que seu cnjuge atue como patrono de qualquer das partes ou interessados - entendido o vocbulo parte, em seu sentido amplo, abrangendo inclusive o assistente.

    O parentesco por sua vez representa a relao que vincula entre si as pessoas, que des-cendem do mesmo tronco ancestral, muito embora essa definio (que s cuida do pa-rentesco por consanginidade) deixe de lado tanto o parentesco por afinidade (ou seja, aquele que se instaura entre um dos cnjuges e os parentes do outro), quanto o paren-tesco civil (aquele derivado da adoo).

    Quer o parentesco derive do casamento, de relaes extra-matrimoniais ou da adoo (CF, art. 227, 6), o certo que os parentes se relacionam atravs de linhas (reta ou co-lateral, sempre que entre eles exista uma relao de ascendncia-descendncia, ou, ento, se pertencendo a linhas distintas, estas tiverem origem no mesmo ancestral) e graus (cada grau representando uma gerao contida na linha).

    O parentesco em linha reta no sofre limitaes de grau, enquanto que o parentesco em linha colateral, ou transversal limita-se ao sexto grau.

    So parentes em linha reta os pais e filhos (1 grau), os avs e netos (2 grau), os bisavs e bisnetos (3 grau) e assim por diante. J na linha colateral so parentes os irmos (2 grau), os sobrinhos e tios (3 grau) e assim por diante.

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    Na relao de afinidade tambm so consideradas as linhas e graus, de tal sorte que os sogros so afins, em linha reta, no primeiro grau, dos genros e noras, o mesmo ocorren-do com os padrastos (e madrastas) com relao aos enteados.

    Os cunhados so afins em segundo grau, na linha colateral.

    Est o juiz impedido de exercer suas funes no processo ou procedimento em que par-ticipe, como procurador da parte (ou do interessado), qualquer parente seu em linha reta, seja o parentesco oriundo ou no do casamento, consangneo ou afim, qualquer que seja o grau que os separe.

    Essa vedao estende-se tambm aos colaterais de segundo grau, seja o vnculo derivado da consanginidade ou da afinidade, oriundo ou no de relao matrimonial.

    Inciso V- Igualmente estar impedido para exercer suas funes no processo, ou no procedimento, o juiz relacionado com qualquer das partes, ou interessados, por vnculo matrimonial ou de parentesco por consanginidade ou afinidade, em linha reta ou cola-teral, limitada, esta ltima, ao terceiro grau.

    Tudo o que foi dito a respeito do inciso anterior tem plena aplicao no presente, inclu-sive no que tange ao concubinato e ao parentesco por adoo.

    evidente, no entanto, a diversidade de razo do impedimento: no inciso anterior ele deriva do vnculo existente entre o juiz e o patrono da parte ou do interessado; neste, tem por fundamento o vnculo entre a autoridade judicial e a prpria parte (ou interessa-do).

    Inciso VI- O derradeiro motivo de impedimento previsto no artigo 134 diz respeito ao juiz que exera funo de direo ou de administrao de pessoa jurdica que figure co-mo parte ou interessada na causa (inc. I) .

    A hiptese ora sob exame praticamente no ter ocorrncia, visto que a Lei Orgnica da Magistratura Nacional veda ao juiz, no 1 de seu artigo 26 e nos incisos I e II de seu artigo 36, o exerccio de cargos de direo ou administrao em estabelecimentos de en-sino, em sociedades comerciais e civis, associaes ou fundaes de qualquer natureza ou finalidade, exceto quando se trate de associao de classe, e sem remunerao.

    Impende anotar, finalmente, que o impedimento se refere a juiz diretor ou administrador da pessoa jurdica envolvida na causa, no se exigindo "como pressuposto para o impe-dimento que seja rgo que presente, como presidente ou vice-presidente, a pessoa jur-dica."

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    Mesmo examinados todos os impedimentos indicados no artigo 134, no se pode olvidar aquele contemplado no artigo 136.

    Art. 136. Quando dois ou mais juzes forem parentes, consangneos ou afins, em linha reta e no segundo grau na linha colateral, o primeiro, que conhecer da causa no tribunal, impede que o outro participe do julgamento; caso em que o segundo se escusar, reme-tendo o processo ao seu substituto legal.

    Esse dispositivo prev o impedimento do juiz para o julgamento da causa, em segundo grau de jurisdio (vale dizer, para o exerccio de suas funes no tribunal, em grau re-cursal, ou no julgamento de ao rescisria), sempre que parente seu, consangneo ou afim, em linha reta e no segundo grau da colateral, tenha conhecido da causa em primei-ro lugar.

    Nada dispe, todavia, acerca do impedimento derivado do matrimnio, omitindo-se, assim, quanto possibilidade de cnjuges integrarem o mesmo tribunal. Atente-se, po-rm, para o fato de o artigo 128 da Lei Orgnica da Magistratura Nacional haver derrogado o artigo 136 do Cdigo de Processo Civil, no apenas prevendo a exis-tncia de impedimento entre cnjuges integrantes do mesmo tribunal, mas tam-bm ampliando esse impedimento para o terceiro grau na linha colateral.

    Art. 128. Nos Tribunais, no podero ter assento na mesma Turma, Cmara ou Seo, cnjuges e parentes consangneos ou afins em linha reta, bem como em li-nha colateral at o terceiro grau Pargrafo nico Nas sesses do Tribunal Pleno ou rgo que o substituir, onde houver, o primeiro dos membros mutuamente impedidos, que votar, excluir a participao do outro no julgamento

    Surgindo em concreto a hiptese aventada pelo artigo 128 da LOMN, dever o segundo juiz escusar-se de participar do julgamento.

    CAUSAS DE SUSPEIO DO JUIZ

    As causas de suspeio esto indicadas pelo artigo 135 do Cdigo de Processo Civil no deve ser considerada como taxativo, porquanto outras situaes tambm podem empa-nar a imparcialidade da autoridade judiciria e acarretar um julgamento injusto da causa.

    Art. 135 - Reputa-se fundada a suspeio de parcialidade do juiz, quando: I - amigo ntimo ou inimigo capital de qualquer das partes; II - alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu cnjuge ou de parentes destes, em linha reta ou na colateral at o terceiro grau; III - herdeiro presuntivo, donatrio ou empregador de alguma das partes; IV - receber ddivas antes ou depois de iniciado o processo; aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa, ou subministrar meios para atender s despesas do li-tgio;

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    V - interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes. Pargrafo nico - Poder ainda o juiz declarar-se suspeito por motivo ntimo.

    Inciso I - Reputa-se fundada a suspeio de parcialidade do juiz, em primeiro lugar, quando ele seja amigo ntimo ou inimigo capital de qualquer das partes ou interessados.

    Alertam os doutrinadores que apenas devem ser consideradas como causas de suspeio do juiz a sua ntima, profunda e fraternal amizade com a parte, ou sua inimizade capital, fundada no rancor e no desejo de infelicidades ou de vingana contra o desafeto.

    A questo relativa a amizade ou inimizade torna-se relevante na medida em que a impar-cialidade deixada de lado, afastando o senso de justia e de dever, beneficiando ou pre-judicando, com o poder que seu cargo deriva, as partes submetidas ao seu julgamento.

    Como todo ser humano, o juiz est sujeito a influncias e injunes, sendo ele motivado por sentimentos aptos a influrem em seu julgamento, tenha a sensatez de se afastar vo-luntariamente do processo, pois correr o risco de vir a ser afastado por iniciativa da par-te prejudicada.

    A lei bastante clara quanto a suspeio do juiz em face de amigo ou inimigo da parte, no se aplicando ao seu representante ou patrono.

    A amizade ou inimizade do juiz com o representante, patrono ou com o representante do Ministrio Pblico, no pode representar causa contemplada no inciso I, no se pode esperar que o juiz fique enclausurado, afastando-se da convivncia diria das pessoas ligadas sua atividade e aos seus interesses profissionais. Dentro da normalidade, ter ele laos de amizade ntima com pessoas que participam de seu dia-a-dia, sendo inevitvel que ele se vincule por amizade a advogados e membros do Ministrio Pblico com os quais conviva no sendo lcito concluir-se, porm, apenas com base nesse vnculo, que sua imparcialidade possa ser obscurecida em relao s partes que aqueles representem ou assistam no processo.

    Esse mesmo convvio poder ocasionar, no entanto, desavenas e hostilidades entre o juiz e as pessoas anteriormente lembradas, no sendo lcito concluir-se, contudo, apenas por isso, que ele possa estar sob suspeita de parcialidade com relao s partes.

    Decorre do exposto, que o advogado da parte no tem interesse (e nem legitimidade) para excepcionar em nome prprio, pois no participa da relao processual e a imparci-alidade do magistrado requisito de validade justamente dessa relao, devendo-se res-salvar que restando evidenciada, pela conduta do juiz, que sua amizade ou inimizade com o patrono da parte est influindo na conduo do processo, tambm estar eviden-ciada, por certo, a sua parcialidade, cabendo, em tal circunstncia, a oposio da adequa-da exceo ritual.

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    Inciso II - fundada a suspeio, ainda, sendo a parte credora ou devedora do juiz, de seu cnjuge ou de parentes destes, em linha reta ou na colateral at o terceiro grau. Posi-cionando-se o juiz, ou qualquer das demais pessoas indicadas no inciso, na condio de credor, pode haver interesse na vitria dessa parte, como meio de manter, ou aumentar, seu patrimnio e, assim, assegurar o recebimento do crdito, ao contrrio na condio de devedor, de se recear que a dependncia dessa posio em relao parte acarrete julgamento favorvel a ela, para obter tratamento mais benfico e tolerante.

    A lei limita essas hipteses, no que tange aos parentes colaterais do juiz ou de seu cnju-ge, apenas queles de terceiro grau, abrangendo, assim, os irmos, sobrinhos e tios de qualquer deles, inexistindo limitao relativa aos parentes em linha reta.

    Inciso III - Refere-se ao juiz herdeiro presuntivo, donatrio ou empregador de qualquer das partes (ou interessados).

    A - Herdeiro aquele que tenha direito herana, quer na sucesso legtima, quer na tes-tamentria, seja ele herdeiro necessrio, seja facultativo, quer herde por direito prprio, quer herde por direito de representao.

    Herdeiro presuntivo, ou presumido, o que presumivelmente herdar quando da morte de parente ou do cnjuge, por estar situado em primeiro lugar na linha sucessria, ou se encontrar expressamente contemplado em testamento.

    B - Juiz donatrio o que foi beneficiado, por qualquer das partes, por ato de liberalida-de, isto , por doao de coisa ou direito economicamente aprecivel.

    C - A derradeira situao contemplada no inciso III diz respeito ao juiz empregador de alguma das partes, em razo da proximidade decorrente do vinculo empregatcio, gera a suspeita de parcialidade.

    Inciso IV- Reputa fundada a suspeita de parcialidade do juiz que 1) recebeu ddivas an-tes ou depois de iniciado o processo; 2) aconselhou alguma das partes acerca do objeto da causa; ou, 3) subministrou meios para atender s despesas do litgio.

    1 - Interpretado o vocbulo ddivas como sinnimo de doaes, resta evidenciada a im-pertinncia do inciso agora examinado, visto que a hiptese j vem contemplada no an-terior.

    Segundo os doutrinadores, a nica forma de conciliarem-se os dois dispositivos en-tender-se que a doao prevista no inciso III a que tem por objeto bem ou de direito de grande valor econmico, ao passo que a ddiva representaria um presente de pequena monta, entregue ao juiz antes de assumir o processamento do feito ou, ainda, na pen-dncia deste.

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    Justifica-se a previso: mesmo que a liberalidade seja de pequena expresso econmica, o juiz beneficiado estar, por certo, na mesma situao do juiz donatrio.

    2 - A suspeio do juiz pode ainda decorrer do fato de haver ele aconselhado qualquer das partes acerca do objeto do processo.

    O aconselhamento sobre o objeto da causa deve ser entendido como orientao acerca da eventual propositura ou defesa da ao, ou seja, suspeito de parcialidade o juiz que orienta a parte sobre como se comportar, no caso concreto, para o ajuizamento da ao ou a oferta de defesa.

    Pode o juiz externar opinies sobre questes tericas ou situaes hipotticas, j que a suspeita de parcialidade motivada pelo aconselhamento diante do caso concreto.

    3 - A ltima situao indicada no inciso IV diz respeito ao juiz que subministra, a uma das partes, meios para o atendimento das despesas do processo. suspeito de parciali-dade o juiz que assim age, pois sua conduta revela interesse pessoal no sucesso da parte beneficiada.

    Convm ressaltar, todavia, que defeso ao juiz subministrar meios parte figurante de processo que presida, no a qualquer pessoa envolvida em litgio que certamente estar excludo de sua apreciao.

    Inciso V - O derradeiro inciso do artigo 135 refere-se suspeio derivada do interesse do juiz no julgamento da causa em favor de uma das partes, entendendo-se esse interesse a vantagem material ou moral de natureza econmica, ou de comodidade ou convenin-cia pessoal, que o juiz possa extrair da causa.

    Embora no includa no rol do artigo 135, tambm representa causa de suspeio do juiz o fato de manifestar, por qualquer meio de comunicao, opinio so-bre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juzo depreciativo sobre despachos, votos ou sentenas, de rgos judiciais, ressalvada a crtica nos autos e em obras tcnicas ou no exerccio do magistrio (art. 36, III, da Lei Orgnica da Magistratu-ra Nacional - Lei Complementar n 35/79).

    Art. 36 - vedado ao magistrado: I - exercer o comrcio ou participar de sociedade comercial, inclusive de economia mis-ta, exceto como acionista ou quotista; II - exercer cargo de direo ou tcnico de sociedade civil, associao ou fundao, de qualquer natureza ou finalidade, salvo de associao de classe, e sem remunerao; III - manifestar, por qualquer meio de comunicao, opinio sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juzo depreciativo sobre despachos, votos ou sen-

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    tenas, de rgos judiciais, ressalvada a crtica nos autos e em obras tcnicas ou no exer-ccio do magistrio.

    O juiz que publicamente emite opinio sobre processo submetido a sua apreciao est prejulgando a causa, devendo assim ser afastado do processo, a fim de possibilitar um julgamento isento por parte de outra autoridade judiciria.

    Estar igualmente realizando um prejulgamento o magistrado que desnecessariamente antecipa nos autos a sua opinio a propsito de questo que dever posteriormente de-cidir, configurando-se tambm nesse caso a sua suspeio.

    Declarao de suspeio por motivo de foro ntimo

    Referente ao disposto no pargrafo nico do artigo 135, o juiz poder declarar-se suspei-to por motivo ntimo, embora no h necessidade de que faa referncias aos motivos que justificam a sua deciso, nada impede que esse afastamento espontneo, possa tam-bm ser respaldado em qualquer das situaes arroladas no aludido dispositivo.

    Amplitude da exceo de suspeio

    O artigo 137 estende as causas de impedimento e de suspeio aos integrantes de todos os tribunais, impondo-lhes o dever de absteno em caso de impedimento, bem como o de declarar-se suspeito naquelas situaes que ensejariam a sua recusa por iniciativa da parte.

    Como advertem os doutrinadores, a redao do dispositivo em pauta pode sugerir que o juiz tenha o dever de declarar, espontaneamente, apenas o seu impedimento, mas no sua suspeio. No entanto, ao prever que a autoridade exceta ser condenada nas custas, caso venha a ser acolhida a exceo, o artigo 314 do Cdigo equipara as duas modalida-des de excees mencionadas, permitindo a concluso de que o dever de absteno vale tanto para o impedimento, quanto para a suspeio.

    PROCESSAMENTO DAS EXCEES DE PARCIALIDADE DO JUIZ

    A lei exige que a argio da suspeio e do impedimento seja feita atravs de petio fundamentada, contendo o rol de testemunhas e instruda, ainda, com documentos com-probatrios das alegaes do excipiente.

    Apesar de o artigo 312 fazer expressa remisso aos artigos 134 e 135, no se pode perder de vista a existncia de outras causas ensejadoras do impedimento ou da suspeio do juiz.

    Recebendo a petio, o juiz exceto dever adotar uma, entre duas atitudes possveis:

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    1) reconhecendo o impedimento ou a suspeio, determinar a remessa dos autos do processo ao seu substituto automtico, afastando-se assim da sua presidncia;

    2) no reconhecendo qualquer motivo que afete a sua imparcialidade, ofertar suas ra-zes dentro de dez dias, instrudas com documentos e eventual rol de testemunhas, or-denando em seguida a remessa dos autos ao tribunal competente para o julgamento da exceo (art. 313).

    Adotando o juiz a primeira das medidas, claro que a exceo no ser objeto de julga-mento pela instncia superior, at porque atingida a sua finalidade. Vindo a adotar a se-gunda delas, da, sim, ser processada a exceo, ficando o processo suspenso at o seu julgamento pelo rgo superior competente (art. 306).

    Impossibilidade de rejeio liminar

    O juiz exceto no poder indeferir a petio inicial da exceo de impedimento ou de suspeio, visto que a possibilidade aberta pelo artigo 310 do Cdigo diz respeito apenas exceo de incompetncia.

    Na condio de verdadeira parte passiva nos incidentes de impedimento ou de suspei-o, ao juiz defeso julgar recusa de sua prpria pessoa, cuja competncia originria conferida exclusividade ao tribunal. Nem mesmo quando adote a primeira das alternati-vas previstas no artigo 313 estar o juiz exceto realizando um julgamento, j que seu ato ser, nesse caso, meramente recebedor da comunicao do excipiente.

    Necessidade de personalizao do juiz exceto

    Quanto da interposio da exceo necessrio a personalizao da autoridade declarada de suspeita ou impedida, visto que qualquer das excees ora sob exame dirigida con-tra a pessoa do juiz, no contra o juzo.

    Ressalvados os casos em que o exceto o nico juiz da comarca, exige-se a indicao nominal da autoridade judiciria, sob pena de sequer tomar conhecimento da exceo ritual contra ela oposta.

    Essa exigncia, muito embora no prevista em lei, plenamente aceitvel, visto que no raro atuam, na mesma vara, dois juzes (o titular e seu auxiliar), mostrando-se irregular, destarte, a petio dirigida contra o juzo. Alm disso, freqentemente vrios juzes auxi-liares exercem suas funes, sucessivamente, no mesmo juzo, exigindo tal circunstncia a clara individualizao da autoridade considerada impedida ou suspeita, at mesmo para o fim de eventual decretao, no futuro, da nulidade dos atos por ela praticados.

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    Da instruo da exceo

    No reconhecendo o juiz a pertinncia da exceo de impedimento ou de suspeio, de-ver apresentar suas razes por escrito, no decndio legal, instruindo-as com documen-tos, se houver, e indicando o rol de testemunhas - sendo o caso (art. 313).

    Vindo os autos da exceo para o rgo superior competente para seu julgamento, este aferir a necessidade da produo de provas orais.

    Concluindo pela sua desnecessidade, o tribunal desde logo julgar a exceo, louvando-se nas alegaes do excipiente e nas razes do exceto, assim como nas provas documen-tais porventura existentes. Entendendo necessria a produo de provas orais, o relator da exceo determinar a realizao de audincia, ocasio em que sero inquiridas as tes-temunhas do excipiente e da autoridade exceta; em seguida ser julgada a exceo.

    Julgamento da exceo

    Na dico do artigo 314, o tribunal determinar o arquivamento da exceo caso verifi-que no ter ela fundamento legal; ocorrendo o contrrio, condenar o juiz nas custas, mandando remeter os autos ao seu substituto legal.

    Juzo de admissibilidade da exceo

    Apesar de no prevista, evidente a possibilidade de a exceo sequer ser conhecida pe-lo rgo julgador, em casos como o de intempestividade (na suspeio), ausncia de po-deres especiais para sua argio, no personalizao da autoridade exceta, ilegitimidade do excipiente, entre outros.

    No sendo admitido o julgamento da exceo, retomar o processo o seu curso, sob a presidncia do juiz exceto, salvo se constatada a presena de circunstncias reveladoras de seu impedimento, caso em que o tribunal determinar de ofcio, o seu afastamento.

    Rejeio da exceo

    A mesma soluo aplicvel na hiptese de a exceo vir a ser rejeitada, ou seja, o pro-cesso retomar o seu curso, sob a presidncia do juiz exceto.

    Essa rejeio ser determinada, segundo dispe o artigo 313, pela falta de fundamento legal, assim entendida, aquela situao em que a exceo esteja consubstanciada em fatos no encartveis nas hipteses previstas em lei.

    A exceo tambm estar fadada rejeio se no restar demonstrada a ocorrncia dos fatos supostamente caracterizadores da parcialidade do juiz. Impor-se- a mesma soluo

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    se o excipiente maliciosamente deu causa ocorrncia do fato gerador da recusa do juiz ou demonstrou, inequivocamente, que j o aceitara, apesar de ciente da existncia de causa caracterizadora de sua parcialidade.

    Acolhimento da exceo

    Acolhida a exceo, o tribunal condenar o juiz nas custas e determinar a remessa dos autos ao seu substituto legal, retomando o processo o seu curso normal. Essa redao da parte final do artigo 313 no encerra, todavia, todos os desdobramentos possveis do acolhimento da exceo ritual de impedimento ou de suspeio.

    Realmente, alm das duas conseqncias por ele previstas, bem de ver que caber ao rgo julgador pronunciar-se ainda sobre a validade dos atos praticados pelo juiz parcial - e agora afastado da presidncia do processo -, especificamente aqueles de natureza de-cisria.

    Recurso cabvel contra o julgamento da exceo

    Conforme j salientado anteriormente, ao juiz defeso julgar a exceo contra si oposta.

    Dvida no h, por outro lado, acerca da competncia exclusiva para o julgamento das excees de impedimento ou de suspeio: sempre de rgo jurisdicional superior, tan-to que o Cdigo se refere expressamente a tribunal (arts. 313 e 314).

    Contra o acrdo do tribunal rejeitando a exceo - ou dela no tomando conhecimento - caber, da, sim, o recurso pertinente: recurso regimental eventualmente previsto para a hiptese, ou ento, sendo o caso, o novel recurso especial ou o recurso extraordinrio (arts. 105, III e 102, III, da Carta Magna).

    Acolhida a exceo, no dispor o juiz exceto de qualquer recurso, j que deve submeter-se s decises superiores.

    Apreciao do impedimento ou da suspeio aps o trnsito em julgado da sen-tena

    Supondo que a parte s venha a tomar cincia do fato caracterizador do impedimento ou da suspeio aps o trnsito em julgado da sentena, duas situaes merecero consi-derao:

    1) tratando-se de impedimento, poder ela ainda valer-se de ao rescisria (art. 485, II);

    2) cuidando-se de suspeio, nada mais poder fazer em relao ao processo findo, face ao exaurimento das vias de acesso para a demonstrao da parcialidade do juiz.

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    O JUZO E OS AUXILIARES DA JUSTIA O juzo composto pelo juiz, detentor do poder jurisdicional e pelos auxiliares da justia que, sob a direo e em conjunto com o magistrado, realizam a prestao jurisdicional, mediante a necessria formao e desenvolvimento do processo. Os auxiliares da justia, ou do juzo consoante refere o artigo 139 do Cdigo de Processo Civil, so responsveis, portanto, pelos demais atos necessrios ao desfecho da causa que no sejam de respon-sabilidade exclusiva do juiz. As atividades dos auxiliares do juzo so impessoais e, tanto quanto o juiz, no tm facul-dades nem se sujeitam a nus na relao jurdica processual. No h qualquer subordina-o destes para com as partes nem destas para com eles. No entanto, respondem por condutas dolosas ou culposas que pratiquem no exerccio de suas atribuies. Face ne-cessria imparcialidade com que devem atuar, sujeitam-se argio de impedimento ou suspeio, conforme artigo 138 do Diploma Processual Civil. Alguns auxiliares, por fora da credibilidade exigida por suas incumbncias, investem-se de f-pblica, prerrogativa mediante a qual as afirmaes por eles feitas no exerccio de sua atividade, at que se prove o contrrio, presumem-se verdadeiras. O artigo 139 do Cdigo de Processo Civil relaciona os auxiliares da justia que tm ne-cessariamente que existir: o escrivo, o oficial de justia, o perito, o depositrio e o ad-ministrador. No obstante, o dispositivo deixou aberta a possibilidade de que, para ou-tras funes, existam outros auxiliares criados a partir das leis de organizao judiciria, tais como o distribuidor, o contador, o partidor etc. AUXILIARES PERMANENTES DA JUSTIA O Escrivo Excluindo-se o juiz, o escrivo o mais importante dos elementos que compe o juzo. Sua funo recebe o nome de Ofcio de Justia, consoante artigo 140 do Cdigo de Pro-cesso Civil. O cartrio o estabelecimento por ele dirigido no qual podem servir outros funcionrios subalternos, como os escreventes, cuja funo regulada pelas normas de organizao judiciria. As funes do escrivo so variadas, sendo algumas autnomas, como, por exemplo a do-cumentao, certificao, movimentao dos autos etc. e outras vinculadas ordem judici-al, tais como as citaes e as intimaes. O artigo 141 do Cdigo de Processo Civil enu-mera suas atribuies de forma no exaustiva, prevendo seu inciso II outras funes prescritas nas normas da organizao judiciria.

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    O inciso I do referido dispositivo estabelece que ao escrivo incumbe redigir, na forma da lei, os ofcios, os mandados, as cartas precatrias e demais atos que pertenam ao seu ofcio, entendendo-se estes ltimos como lanamentos que no exijam redao propria-mente dita (depoimento pessoal das partes e testemunhas e termos). O inciso II trata da incumbncia de atender s ordens do juiz, promovendo citaes e intimaes que no sejam realizadas, pessoalmente, mediante oficial de justia. Prev ainda, conforme antes referido, a prtica pelo escrivo de outros atos que as normas de organizao judiciria lhe atribuam, podendo tais atribuies variarem de Estado para Estado. O inciso III cuida do necessrio comparecimento do escrivo em audincia, documen-tando todo o trabalho nela realizado, com a posterior lavratura do respectivo termo. Na hiptese de impossibilidade de comparecimento, designar escrevente juramentado, pre-ferencialmente datilgrafo ou taqugrafo. Pontes de Miranda critica a possibilidade de substituio do escrivo em audincia, entendendo que seu comparecimento deveria ser obrigatrio. No obstante, inexiste inconveniente em tal prerrogativa, na medida em que, alm de devidamente habilitados ao exerccio da funo, os escreventes juramentados so fiscalizados diretamente pelo juiz e pelas partes, em audincia. A guarda e a responsabilidade pelos autos so tratadas no inciso IV, no devendo o es-crivo permitir sua sada do cartrio, salvo: a) quando tenham de subir concluso; b) com vistas aos procuradores, ao Ministrio Pblico, ou Fazenda Pblica; c) quando devam ser remetidos ao contador ou ao partidor; d) quando, modificando-se a competncia, forem transferidos a outro juzo, hiptese esta distinta das demais, por tratar-se de sada definitiva dos autos. Observa-se, no entan-to, que a disposio do inciso incompleta, carecendo de referncia a outras hipteses de sada dos autos, como a remessa superior instncia, ao distribuidor, para exame pe-ricial etc. Por fim, o inciso V atribuiu ao escrivo a funo de certificar, independente de despa-cho, qualquer ato ou termo do processo, observando-se para tanto o disposto no artigo 155 do Cdigo de Processo Civil. Trata-se de funo autnoma, uma vez que independe de determinao judicial, bastando para tanto que simples solicitao, verbal ou escrita, de qualquer cidado. Ressalva-se, contudo, os processos que tramitam em segredo de justia, necessitando, neste caso, de autorizao judicial. As afirmaes que o escrivo, e demais auxiliares da justia, fizerem no exerccio de suas respectivas atividades presu-mem-se verdadeiras, pois, consoante antes referido, gozam de f pblica. O artigo 142 do Diploma Processual Civil aborda a substituio do escrivo no caso de impedimento para prtica de algum ato. Contudo, inadequada a utilizao da palavra

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    impedimento. Isto porque, alm dos casos de vedao legal por impedimento ou sus-peio, o artigo 142 abrange tambm a ausncia eventual do escrivo, quando, da mesma forma, dever ser substitudo. A substituio, em qualquer das hipteses, dever ser por escrevente juramentado, escrivo substituto ou ad hoc (nomeao, pelo juiz, de pessoa idnea para prtica daquele ato em especfico). O escrivo e seus auxiliares esto sujeitos responsabilidade administrativa por eventuais faltas que cometerem e, alm disso, consoante artigo 144 do Cdigo de Processo Civil so civilmente responsveis quando, sem justo motivo, se recusarem a cumprir, dentro do prazo, os atos legalmente a eles impostos ou que o juiz os tenham incumbido ou, a-inda, quando praticarem atos nulos com dolo ou culpa. O Oficial de Justia Alm da prtica de atos internos, de responsabilidade do escrivo, faz-se indispensvel a existncia do oficial de justia, responsvel pela execuo dos procedimentos que te-nham repercusso externa ao juzo. Os oficiais de justia so os mensageiros e executo-res de ordens judiciais. Suas tarefas esto previstas no artigo 143 do Cdigo de Processo Civil. O inciso I do referido dispositivo menciona vrias das medidas cuja incumbncia cabe ao oficial de justia, como citaes, prises, penhoras, arrestos e outras diligncias pr-prias do ofcio. Nestas ltimas, incluem-se os seqestros, buscas e apreenses etc. Deve-r, em todas elas, certificar no respectivo mandado, o lugar, dia e hora do ocorrido. Por cautela, h disposio acerca da convenincia de que tais medidas sejam realizadas, sem-pre que possvel, na presena de duas testemunhas. Embora recomendado pela norma como meio de prova acerca da regularidade do ato, a presena das testemunhas no essencial validade do ato. O inciso II dispe regramento genrico, devendo o oficial de justia atender eventuais ordens do juiz a que estiver subordinado, que podem ser as mais variadas. O inciso III cuida da necessria entrega do respectivo mandado em cartrio aps realizadas as dili-gncias. Por fim, o inciso IV trata da presena em audincia para auxiliar o juiz na manu-teno da ordem, devendo, por exemplo, fazer cumprir a necessria retirada de algum que esteja perturbando o bom andamento dos trabalhos. Da mesma forma que o escrivo, o oficial de justia goza de f pblica e responde civil-mente por seus atos na forma do artigo 144 e incisos do Cdigo de Processo Civil. Outros auxiliares permanentes da justia No obstante as duas principais figuras, que se pode reputar essenciais no juzo, sejam o escrivo e o oficial de justia, sem os quais, rigorosamente, nenhum juiz poderia exercer suas funes, mister destacar-se a existncia de outros auxiliares que, apesar de no res-

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    tarem explicitados no artigo 139 do Cdigo de Processo Civil, auxiliam a justia de mo-do permanente. Dentre eles, destaquem-se o distribuidor e o contador judicial. O primeiro, conforme previsto nos artigos 251 a 257 do Cdigo de Processo Civil, responsvel pelo registro e repartio das causas entre os juzos (quando houver mais de um em uma mesma co-marca), podendo sua funo ser fiscalizada pelas partes e pelos procuradores. O segundo tem a incumbncia de calcular o quantum correspondente a qualquer direito ou obriga-o, seja em favor das partes ou do juzo. AUXILIARES EVENTUAIS DA JUSTIA O Perito O perito o profissional que, face aos seus conhecimentos tcnicos e cientficos, cha-mado para auxiliar o juiz no descobrimento da verdade sobre determinado fato. A partir da anlise dos modernos processualistas, que entendem superada a viso do exame peri-cial como simples meio de prova, o perito passa a ser considerado, por disposio legal, auxiliar do juzo, realizando tarefa que, teoricamente, o prprio magistrado deveria fazer, mas que, por limitao tcnica ou cientfica, se v obrigado a recorrer assistncia de um expert, conforme previsto no artigo 145 do Cdigo de Processo Civil. O perito , portanto, pessoa estranha ao quadro de funcionrios permanentes da justia, escolhido pelo juiz para atuar, mediante remunerao cujo nus recai s partes na forma do artigo 33 do Cdigo de Processo Civil (salvo nas hipteses de assistncia judiciria gratuita), em um processo em especfico face as suas qualificaes tcnicas, dentre as quais, salvo nas localidades onde no existam profissionais qualificados, dever ter nvel universitrio, inscrio no respectivo rgo de classe e especialidade na matria objeto da percia (pargrafos primeiro, segundo e terceiro do artigo 145 do Cdigo de Processo Civil). Uma vez nomeado pelo juzo, o perito investe-se de funo pblica, devendo cumprir seu ofcio dentro do prazo legal. Poder, no entanto, esquivar-se da atribuio alegando motivo legtimo, que dever ser apresentado no prazo mximo de cinco dias contados da intimao ou do impedimento superveniente - artigo 146 do Cdigo de Processo Civil. Como auxiliar do juzo, ao perito aplicam-se os motivos de impedimento e suspeio previstos no artigo 138 do Cdigo de Processo Civil. No obstante, para devida exegese do texto legal, a palavra impedimento deve ser entendida como motivo, na medida em que, alm do significado legal da expresso, tambm abrange outras causas de ordem particular que legitimem a recusa em auxiliar a justia.

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    O artigo 147 do Cdigo de Processo Civil prev trs espcies de sanes s quais o peri-to ficar sujeito na hiptese de, por dolo ou culpa, prestar informaes inverdicas no desempenho de suas funes. Sano administrativa, restando inabilitado por dois anos para exerccio da funo de perito. Sano penal, mediante comunicado pelo juiz da causa ao Ministrio Pblico, para que este instaure o respectivo inqurito criminal (pena de recluso de um a trs anos pelo artigo 342 do Cdigo Penal). E, por ltimo, sano cvel, respondendo o perito (s) parte(s) pelos prejuzos que lhe(s) tenha causado. O Depositrio e o Administrador O artigo 148 do Cdigo de Processo Civil determinou que a guarda e a conservao dos bens penhorados, arrestados, seqestrados ou arrecadados sero confiados ao deposit-rio ou administrador, que dever zelar por sua guarda e conservao, evitando que se extraviem ou se deteriorem. Quando a natureza do bem exigir a continuidade de uma atividade, o depositr