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45ª e 49ª PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE NATAL
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS DA
FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE NATAL - RN, A QUEM ESTA COUBER
POR DISTRIBUIÇÃO LEGAL.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE
DO NORTE, pelos representantes que esta subscreve, vem muito
respeitosamente perante Vossa Excelência, no uso de suas atribuições
constitucionais e legais, em especial, com base no art. 129, III, da Constituição
Federal, e, ainda, nas disposições da Lei 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública)
propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA LIMINAR
em face:
do MUNICÍPIO DE NATAL, pessoa jurídica de direito público interno, com sede
na Rua Ulisses Caldas, 81, Centro, Natal, RN, representado pela Procuradoria
Geral do Município, com endereço para citação na Rua Mossoró, 350.
Petrópolis, Natal, RN.
e da
COMPANHIA DE ÁGUAS E ESGOTOS DO RIO GRANDE DO NORTE,
CAERN, sociedade de economia mista estadual, instituída pela Lei 3.742 de 26
de junho de 1969, pessoa jurídica de direito privado, com sede na Avenida
Senador Salgado Filho, 1555, Tirol, Natal, RN, inscrita no CNPJ
08.334.385/0001-35, doravante designada, simplesmente, CAERN, por seu
represente legal, Marcelo Saldanha Toscano, pelos fatos e fundamentos que
passa a tecer:
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SUMÁRIO
1. DOS FATOS ................................................................................................. 4
1.1. ESCLARECIMENTOS PRELIMINARES SOBRE O OBJETIVO E IMPORTÂNCIA DA DEMANDA ............................................................................. 4
1.2. DESCRIÇÃO DO DESASTRE: “CORRIDA DE AREIA” ............................... 8
1.3. CAUSAS DO DESASTRE .......................................................................... 33
1.3.1. Causa primária – formação de um buraco na Rua Guanabara ............. 33
1.3.2. Outras causas do desastre .................................................................... 36
1.3.2.1. Chuvas volumosas em área de risco .................................................. 37
1.3.2.2. Supressão da vegetação natural da encosta: aumento da área impermeabilizada do solo e instabilidade dos taludes ........................................ 39
1.3.2.3. Inadequação da drenagem às características físicas da área ............ 40
1.4. RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO E DA CAERN PELO DESASTRE 46
1.5. DANOS MATERIAIS OCASIONADOS ....................................................... 50
1.6. DANOS SOCIAIS E MORAIS OCASIONADOS ......................................... 57
1.7. MEDIDAS DE PREVENÇÃO DE NOVOS RISCOS, DE REPARAÇÃO E DE COMPENSAÇÃO ................................................................................................ 62
1.8. MEDIDAS PARA REPARAÇÃO DOS DANOS VERIFICADOS .................. 66
2. DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA ............................................................ 67
2.1. DESCUMPRIMENTO DE PRECEITOS CONSTITUCIONAIS E LEGAIS DA POLÍTICA AMBIENTAL E URBANA .................................................................... 67
2.2. DESCUMPRIMENTO DE PRECEITOS DA POLÍTICA NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL ........................................................................... 73
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2.3. DA OBRIGAÇÃO DE REPARAR OS DANOS INDIVIDUAIS SOFRIDOS PELOS MORADORES ATINGIDOS ................................................................... 74
2.4. DO DANO MORAL E EXTRAPATRIMONIAL COLETIVO – OBRIGAÇÃO DE REPARAR ..................................................................................................... 76
2.5. DO DESATENDIMENTO PELOS RÉUS DAS OBRIGAÇÕES LEGAIS ATINENTES AOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE DRENAGEM (PELO MUNICÍPIO) E DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO (PELA CAERN) ......................................... 80
3. DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA LIMINAR .................................... 88
3.1. DO FUMUS BONI IURIS E DO PERICULUM IN MORA .......................... 116
4- DOS PEDIDOS CONCLUSIVOS .................................................................. 121
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1. DOS FATOS
1.1. ESCLARECIMENTOS PRELIMINARES SOBRE O OBJETIVO E IMPORTÂNCIA DA DEMANDA
A presente demanda almeja provimentos judiciais que
garantam soluções para reparar danos materiais e morais decorrentes do
desastre ambiental ocorrido no mês de junho de 2014, que atingiu os Bairros de
Mãe Luiza e Areia Preta e para prevenir novos danos, levando em
consideração que parte do local atingido pelo desastre (também conhecido como
“Comunidade Aparecida”) ainda se encontra inserida, nos termos do Plano
Municipal de Redução de Riscos (PMRR) como área sob condição de risco de
“instabilidade de solos”, sujeita a deslizamento e, dentro de uma classificação de
1 a 5, classificada como risco de “grau 4”.
Passados dois anos da ocorrência do desastre, as
diligências e obras realizadas pelas partes demandadas não foram suficientes
para afastar a situação de risco da população residente no Bairro de Mãe Luiza,
especialmente na Área de Interesse Social (AEIS), delimitada na Lei Municipal
4.663, de 31 de julho de 1995, uma vez que ainda há nessa área situação de
instabilidade de solo, com potencial ocorrência de desastre, sem o devido
monitoramento e fiscalização sobre o uso e ocupação do solo. Para se ter ideia,
em vistoria realizada na área atingida no dia 05/05/2016 (fls.1985 e 2012/2013),
foi registrada uma edificação irregular de uma residência ao lado da escadaria
de Mãe Luiza, onde ocorreu o desastre, sem qualquer controle municipal.
As medidas adotadas pelo Município de Natal também não
foram suficientes para conter a poluição do ambiente, já que esgotos a céu
aberto continuam sendo lançados em vias públicas, atingindo, inclusive, a Praia
de Areia Preta. A recuperação de parte do sistema de drenagem (e não de toda
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a bacia) e do esgotamento sanitário, realizada pelo Município e pela CAERN não
foi suficiente para evitar novos problemas, nem para resolver a poluição que
continua sendo verificada no local.
No aspecto social, entre várias omissões constatadas, vinte
e seis famílias que tiveram seus imóveis destruídos ainda não receberam do
Município uma definição sobre o futuro. Não sabem se serão realocados, e, em
caso positivo, desconhecem para que área da cidade serão transferidos e em
que prazo.
No dia 13 de Junho de 2014, por volta das 14h 30min,
durante as chuvas intensas que caíram na cidade de Natal, foi detectada a
ocorrência de grande deslizamento de terra na Rua Guanabara, localizada no
Bairro de Mãe Luiza, nesta cidade de Natal, tendo acarretado a abertura de uma
cratera de aproximadamente setenta metros de extensão e mais de sete metros
de profundidade e ocasionado danos ambientais e sociais de grave proporção,
prejudicando a saúde, a segurança, o bem-estar e a dignidade da população,
além de ter afetado as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente.
Como será detalhado adiante, embora o ápice do desastre
tenha ocorrido no dia 13 de junho de 2014, com o desmoronamento de
700.000m3 de areia e detritos e ocasionando graves repercussões ambientais e
sociais que serão relatadas, o que ensejou todos esses fatos foi a permanência
de um buraco previamente aberto no pavimento da Rua Guanabara, na área de
maior convergência dos fluxos de águas pluviais e dos esgotos das residências
da área atingida em Mãe Luíza.
O desastre transformou a Rua Guanabara em um córrego,
removendo a areia que dava suporte a esta, desmoronando toda a rede de
esgotos e de drenagem pluvial assentada no local. Provocou um desmonte
hidráulico que se expandiu, abrindo uma enorme cratera, a qual destruiu 26
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residências, deixando 54 casas interditadas. Dois edifícios multifamiliares
(Aldebaran e Infinity) foram submetidos a ações de evacuação nos momentos e
semanas posteriores ao evento. Alterou a paisagem, contaminou a água da praia
com esgotos sanitários e provocou a interrupção de todos os serviços essenciais
na comunidade.
A área atingida pelo desastre está contida em um contexto
urbanístico de grande fragilidade ambiental, considerada como de risco em
razão da instabilidade geológica bem como pelo fato de ter seu processo
histórico de ocupação em duna, Área de Preservação Permanente (APP).
Com vistas a perquirir as causas e as responsabilidades pelo
ocorrido, bem como com o objetivo de avaliar as medidas necessárias para
recuperar a área e prevenir novos episódios da mesma natureza, o Ministério
Público instaurou inquérito civil específico, realizou vistorias no local, ouviu
técnicos, representantes do Município, da CAERN e moradores da área atingida,
incluindo pessoas que tiveram suas casas derrubadas, que foram vitimadas e
vivenciaram o drama da situação.
Diante da grande dimensão dos problemas constatados, de
seus efeitos sociais, ambientais e urbanísticos, e da necessidade de se
compreender os aspectos técnicos do evento ocorrido, o Ministério Público
solicitou – tendo custeado com verbas institucionais – uma perícia específica
que foi realizada por equipe multidisciplinar composta por Professores da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN, através da Fundação de
Estudos e Pesquisas daquela instituição, FUNPEC/UFRN. Integraram a equipe
Professores das áreas de Engenharia Sanitária, Urbanismo, Geofísica, Ecologia
e Geografia.
O laudo pericial apresentado, denominado pela perícia de
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“Relatório Técnico Ambiental: Desastre nos Bairros de Mãe Luíza e Areia Preta
(06/2014) ” foi balizado por quesitos elaborados pelo órgão ministerial. Como
acréscimo, na introdução do documento técnico, os peritos realizaram uma
ampla contextualização do desastre, cotejando-o a partir de três blocos: o
primeiro contendo uma fundamentação teórica e empírica sobre o objeto
investigado; o segundo com análise específica do deslizamento ocorrido,
denominado tecnicamente de “corrida de areia” e, o terceiro, com respostas
aos quesitos formulados, incluindo algumas recomendações gerais relativas às
medidas preventivas que devem ser adotadas para impedir a ocorrência de
novos deslizamentos ou que possam reparar os danos provocados pelo
desastre.
Constam, também, nos autos que subsidiam a presente
peça, dois outros documentos técnicos: o Relatório de visita à Praia de Areia
Preta, na vertente onde ocorreu uma movimentação de terra (fls. 89/107),
elaborado pela equipe de Professores Dr. Ricardo Farias do Amaral (UFRN), Dr.
Ricardo Nascimento Flores Severo (IFRN) e Dra. Maria Dulce P. Bentes
Sobrinha (UFRN) e parecer técnico proveniente da Secretaria de Geologia,
Mineração e Transformação Mineral / SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL -
CPRM / Departamento de Gestão Territorial - DEGET do Ministério de Minas
Energia (fls. 218/241)
O relatório dos fatos que será realizado a seguir levará em
consideração todos esses elementos, bem como os depoimentos colhidos em
audiências específicas realizadas pelo Ministério Público, além de matérias
jornalísticas veiculadas sobre o ocorrido.
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1.2. DESCRIÇÃO DO DESASTRE: “CORRIDA DE AREIA”
De antemão, importa esclarecer que, segundo a equipe de
Professores da UFRN, que elaborou o laudo solicitado pelo Ministério Público à
FUNPEC, o nome técnico correspondente ao desastre / deslizamento que será
detalhado adiante, é “corrida de areia”.
De acordo com a NBR 11.682 – Estabilidade de Encostas, os movimentos são classificados como: quedas/rolamentos, tombamentos, deslizamentos e escoamentos. No caso do desastre em questão, ocorreu movimento de terra que pode ser classificado como escoamento do tipo corrida de areia. (Ver detalhes no item 3.5.2 deste documento) (Fl. 104 do Relatório Técnico Ambiental – UFRN/FUNPEC, 2014)
Os depoimentos contidos nos autos (fls. 51/53), prestados
por moradores, revelaram que no início do mês de junho de 2014,
especificamente no dia 05/06/2014, foi detectado, por moradores da Rua
Guanabara, que a estrutura da calçada próxima à escadaria que ligava a Rua
Guanabara (Mãe Luiza) à Av. Governador Sílvio Pedrosa (Areia Preta) estava
cedendo, em razão dos problemas continuados que costumava haver no local,
relativos à obstrução no sistema de escoamento de água pluvial (sistema de
drenagem) e do sistema de esgotamento sanitário. Os problemas nesses
sistemas eram recorrentes no local. Vide imagens abaixo:
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Figura 1: Croqui de identificação da escadaria que ligava a Rua Guanabara à A. Sílvio Pedrosa.
Figura 2: Vista do trecho do talude onde ocorria o escoamento de um liquido saindo debaixo da calçada localizada na Av. Guanabara. Registro realizado entre os dias 10 à 12/06/2015, datas em que não havia registros de chuva no local. Fonte: Maxwell Santos.
Figura 3: Vista do trecho do talude onde ocorria o escoamento de um liquido saindo debaixo da calçada localizada na Av. Guanabara. Registro realizado entre os dias 10 à 12/06/2015, datas em que não havia registros de chuva no local. Fonte: Maxwell Santos.
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Figura 4: Terceirizados da CAERN, realizando a desobstrução da tubulação da rede de esgotamento sanitário localizado no talude. O registro foi realizado entre os dias 10 a 12 de junho, momento em que a calçada já havia desmoronado. Fonte: Maxwell Santos.
Figura 5: Poços de visita do sistema de drenagem de águas pluviais, localizados no talude entre a Av. Guanabara e a escadaria. O registro foi realizado entre os dias 10 a 12 de junho, momento em que a calçada já havia desmoronado. Fonte: Maxwell Santos.
Figura 6: Terceirizados da CAERN, realizando a desobstrução da tubulação da rede de esgotamento sanitário. O registro foi realizado entre os dias 10 a 12 de junho, momento em que a calçada já havia desmoronado. Fonte: Maxwell Santos.
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Em razão do fato, a própria comunidade chegou a montar
algumas barreiras para evitar a passagem de pessoas no local, e realizou
ligações telefônicas para a Secretaria Municipal de Obras Públicas e
Infraestrutura (SEMOPI). Representantes da SEMOPI, conforme depoimento
dos mesmos, foram ao local no dia 09/06/2014. Lá chegando, detectaram que
havia uma depressão, ou seja, um buraco iniciado na Rua Guanabara
(depoimento de fls. 65/67 por técnicos da SEMOPI) e promoveram a proteção e
o isolamento do local com sacos de areia. Todavia não resolveram o problema.
Deixaram o buraco aberto. Detectaram também que o início do buraco ficava
próximo aos poços de visita do sistema de drenagem e de instalações do
sistema de esgoto, situadas nas proximidades da escadaria. Na ocasião, os
representantes da SEMOPI chamaram a Companhia de Águas e Esgotos do RN
– CAERN, com vistas a conseguir auxílio para a solução do transtorno
detectado. Mesmo assim, o problema não foi solucionado. Nota-se que essa
situação ora narrada ocorreu antes do evento relativo às fortes chuvas que
caíram na cidade.
Figura 7: Rua Guanabara no dia 13 julho de 2015. Fonte: Maxwell Santos.
Figura 8: Rua Guanabara no dia 13 junho de 2015, início das chuvas intensas e desmoronamento do talude. Fonte: Maxwell Santos.
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Os registros de chuvas datam do dia 13 a 15 de junho de
2014. O início, portanto, foi no dia 13/06/2014. Na noite do sábado do dia
14/06/14, a área precisou ser isolada, tendo em vista que a cratera começou a
alcançar as casas, e os postes começaram a tombar. Na madrugada do
domingo, dia 15/06/2014, houve desabamento das casas.
O relato do ápice do desastre, que resultou no desabamento
de casas, postes, etc. foi descrito no parecer técnico proveniente da Secretaria
de Geologia, Mineração e Transformação Mineral / SERVIÇO GEOLÓGICO
DO BRASIL - CPRM / Departamento de Gestão Territorial - DEGET do
Ministério de Minas Energia (fls. 218/241) realizado em 21 de junho de 2014,
nos seguintes termos:
“Durante o recente episódio de chuvas intensas ocorrido entre os dias 13 e 15 de junho, a imensa concentração das precipitações em um período de cerca de 36 horas, gerou um excedente de fluxo não suportado pela drenagem, subdimensionada para descargas dessa ordem. Ocorreram fortes infiltrações por extravasamento do fluxo que, penetrando em possíveis buracos ou fendas existentes no beco ou na própria drenagem, penetraram no sedimento arenoso subjacente com grande energia de transporte, saturando-o rapidamente e carreando muito material para jusante.
O fluxo contínuo removeu a areia que dava suporte à ladeira do beco, provocando seu abatimento e o aumento da infiltração. O que veio a seguir foi o aumento da infiltração e do fluxo de areia liquefeita. Como a estrada estava construída diretamente sobre a areia inconsolidada das dunas, assim como a rede de esgotos e drenagem pluvial, a percolação de água sob a mesma removeu sua sustentação, e todo o conjunto entrou em colapso. Partir daí, ocorreu o caos: tanto as águas que escorriam superficialmente oriundas das Ruas Atalaia e Guanabara, quanto as águas canalizadas em subsuperfície, provocaram uma violenta erosão que foi se expandindo lateralmente e a montante, provocando a destruição ou comprometimento de todas as casas situadas em seu perímetro.
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A areia, escavada hidraulicamente, formou um fluxo denso que forçou um muro de gravidade em concreto que suportava o aterro da rua principal a jusante. O muro que também estava apoiado sobre a areia, não possuía drenos (barbaças). O fluxo subsuperficial de água começou a retirar areia, provocando descalçamento de sua fundação. Houve uma tentativa de conter o processo erosivo, com a colocação de sacos de areia junto à base do muro, abandonada ao ser constatada a iminência de desabamento do mesmo por solapamento da base. Como esse tipo de obra representa baixa resistência à tração, seu colapso foi inevitável.
O volumoso fluxo de água erodiu todo o aterro da primeira recomposição da duna e o espantoso volume de estimados 70.000m3 de areia foi lançado na Av. Governador Silvio Pedrosa, que fica na linha da praia, a jusante do acidente”
Importa esclarecer que embora o ápice do desastre tenha
ocorrido entre os dias 13 e 15 de junho de 2014, o que induziu e facilitou o
processo da “corrida de areia” e abertura da grande cratera foi a permanência de
um buraco aberto na Rua Guanabara nas proximidades da escadaria que dá
acesso à Avenida Sílvio Pedrosa.
As representações gráficas realizadas pelos peritos sobre o
desastre estão em consonância com os depoimentos de moradores da área
afetada, como se observa nos infográficos de fls. 105 e 106 do laudo pericial.
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Figura 9: Representação gráfica do local em que ocorreu o desastre. Fonte: Relatório Técnico Ambiental sobre o desastre nos bairros de Mãe Luiza e Areia Preta (Natal/RN). UFRN/FUNPEC, 2014.
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Figura 10: Representação gráfica do local em ocorreu o desastre. Fonte: Relatório Técnico Ambiental sobre o desastre nos bairros de Mãe Luiza e Areia Preta (Natal/RN). UFRN/FUNPEC, 2014.
Realmente, em todos os depoimentos colhidos, foi unânime
a informação da existência de constantes obstruções no sistema de drenagem e
de esgotamento sanitário na área afetada pelo desastre, inclusive dias antes do
ápice do evento.
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Consta que no dia 05/06/2014 o Sr. Maxwell Amaro dos
Santos (fls. 51-53), morador da Rua Guanabara, fez ligações telefônicas para a
SEMOPI, hoje Secretaria Municipal de Obras Públicas e Infraestrutura –
SEMOV, noticiando obstruções no sistema de drenagem e de esgotos na Rua
Guanabara. O morador confirmou que a estrutura da calçada próxima da
escadaria estava cedendo, motivando alguns moradores a colocarem obstáculos
impedindo a passagem de pessoas pela calçada, segundo as fotos de nº 3 a 6,
nas folhas 54 e 55. Esta versão foi confirmada e ampliada na reinquirição da
testemunha na folha. 519, que acrescentou:
O declarante, em resumo, realizou os seguintes esclarecimentos: que há anos existem problemas de entupimentos de esgotos na Rua Guanabara; que a comunidade costumava chamar a CAERN nessas ocorrências; que não existia uma manutenção periódica no local e que a CAERN costumava ir no local depois da insistência das pessoas para resolver os problemas específicos de entupimento de esgotos; que entre os dias 08 e 09 de junho de 2014, a comunidade verificou a existência de brechas entre os paralelepípedos da calçada que fica em frente às manilhas de drenagem; que o local estava oco; que o local desse problema pode ser visto na fotografia 03 da fl. 55 dos autos do IC [cf. foto abaixo]; que para evitar acidentes no local o declarante colocou umas tábuas de madeira para impedir que populares pisassem nessa calçada oca; (…) que no dia 13 de junho de 2014, na véspera do grande deslizamento de terra ocorrido na Rua Guanabara, uma empresa terceirizada, que acredita ser da SEMOPI foi ao local e realizou uma abertura na pista, nas proximidades da área de algumas bocas de lobo existentes, com o objetivo de desviar as águas de chuva do buraco que já havia sido aberto na Rua Guanabara para que as águas fossem lançadas para o terreno baldio que fica ao lado do Edifício Aldebaran; que esse serviço pode ser visualizado nas fotos 15a, 16a, 19a e 20a, em anexo; [fotos de fls. 530 e 532]; que no dia 12 de junho de 2014, a empresa terceirizada, que não sabe dizer qual, jogou muita areia com o objetivo de tampar a cratera que tinha sido iniciada no asfalto da Rua Guanabara; que esse serviço pode ser visualizado na fotografia 23a [nas fls. 1064]; que no outro dia, em razão do aumento da chuva, a areia escorreu toda do local; que esse aterramento que foi realizado no local foi realizado sem o conserto prévio do problema de entupimento existente; (...).
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Figura 11: Trecho da calçada que estava cedendo e no qual os moradores colocaram obstáculos para evitar a passagem dos moradores. Registro realizado entre os dias 10 à 12/06/2015, datas em que não havia registros de chuva no local. Fonte: Maxwell Santo
O que foi dito no depoimento acima transcrito foi confirmado
nas informações prestadas pela Sra. Ana Maria Alves Lobato nas folhas 501 a
504, também moradora da Rua Guanabara, que mencionou que, dias antes do
ápice do desastre, os problemas de drenagem e de esgotamento em torno das
manilhas (poços de visita) existentes nas proximidades da escadaria e da Av.
Guanabara eram notórios e deixaram o terreno “fofo”, ocasionando
rebaixamento da calçada. Esclareceu, ainda, que os problemas detectados não
foram corrigidos e que foi pelo buraco formado nas proximidades desses
vazamentos que as manilhas e “outras coisas” começaram a afundar. Veja-se:
(...) que na área da escadaria costumava ocorrer vazamentos; que esse problema crônico existia há mais de um ano antes do deslizamento de junho de 2014; que os locais usuais de vazamentos foram identificados como caixas de esgotos, que entupiam; É possível visualizar essas caixas na fotografia 6, p. 56 do Inquérito Civil (IC) [atual p. 55], bem como nas fotografias
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“A” e “C”, dos registros que passam a fazer parte do anexo da presente ata; [confira fotos de fls. 1033 e 1034]; que além de ocorrer entupimentos, era comum ocorrer no local vazamentos da própria tubulação; que no mês de maio de 2014, já existia vazamento na rede de esgoto. Esse vazamento era identificado especificamente no local que pode ser visto na fotografia 03 de fls. 55 do IC [na verdade, fotografias 3 e 4 de fls. 55]; que era possível identificar, em especial, um vazamento que costumava chegar por baixo da mureta, possivelmente proveniente do sistema de esgoto localizado por baixo da rua Guanabara; que esse vazamento era, sem dúvida de esgoto; que, em relação à mesma fotografia 3, informou que, em um intervalo de 30 a 40 dias, antes do desastre ocorrido no dia 14/06/14, houve um rebaixamento da parte de areia existente no local, em torno das manilhas e que, simultaneamente, começou a ocorrer um rebaixamento da calçada, que foi cedendo; que em razão da calçada que estava cedendo, os moradores colocaram uma barreira de tábuas para evitar que as pessoas se acidentassem no local; que no mesmo mês de maio de 2014, a comunidade havia constatado que a base da escadaria estava fofa e com buracos e rachaduras, perdurando essa situação no mês de junho; a comunidade detectou também, no início do mês de junho, que a própria rua Guanabara estava fofa, também e apresentando rachaduras; que no dia 05 de junho de 2014, o Sr. Nilson Venâncio, do Conselho Comunitário, chegou a ir pessoalmente na SEMOPI, para solicitar uma providência da SEMOPI no local, tendo em vista a situação do vazamento próximo às manilhas e ao rebaixamento de areia já mencionado; explicaram que a situação era de urgência; que no próprio dia 05 foi uma equipe da SEMOPI ao local; que a equipe tirou fotografias do local, mas não realizou nenhum serviço no mesmo dia; que no dia 06 de junho de 2014 compareceu no local uma equipe terceirizada encaminhada pela SEMOPI; que a calçada estava cedendo, mas não havia ainda o buraco da fotografia 8 de fls. 57 do IC [fls. 56 do IC]; que entre os dias 07 e 08 de junho de 2014, essa equipe cimentou algumas entradas das bocas de lobo situadas nas proximidades da escadaria e das manilhas que estavam vazando (...); que nos dias 8 e 9 de junho de 2014, com o início das primeiras chuvas no local, o asfalto começou a afundar; (...) que existe uma pessoa da equipe terceirizada da SEMOPI, um galego alto de olhos claros, que falou para os moradores que estavam no local que a situação era uma bomba relógio, prestes a explodir, e que já havia falado para a SEMOPI e CAERN quais eram as providências que tinham que ser tomadas; que no dia
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12/06/2014, na quinta-feira, dia da abertura da Copa do Mundo, a equipe terceirizada da SEMOPI foi ao local e colocou aproximadamente dois caminhões de areia nas proximidades das manilhas, no chão que estava cedendo; que não houve conserto do vazamento nem do entupimento que foram detectado [sic] no local; que determinaram que o trânsito fosse interrompido na rua; que no mesmo dia 12/06/14, choveu durante a noite e a chuva carreou a areia que tinha sido colocada no local; que no dia 13/06/14 de manhã, a própria declarante realizou uma ligação para Dr. Ronaldo, da SEMOPI, informando o ocorrido. Em seguida, representantes da SEMOPI foram ao local e colocaram sacos de areia ao redor de uma lona, mas a situação já estava muito grave no local; que ficou uma equipe da SEMOPI no local até no sábado, dia 14/06/14; que no dia 14/06/14, chegaram a equipe da Defesa Civil e da Cruz Vermelha, ocasião em que as pessoas foram chamadas para deixar as suas residências; que a no dia 14/06/14, o deslizamento de se agravou, abriu-se uma cratera, casas e postes caíram. A residência da declarante caiu totalmente na cratera aberta no dia 15/06/14, às 5h da manhã. Especificamente, em relação à fotografia 7 da fl. 57 dos autos do IC, onde consta uma abertura embaixo da mureta, a declarante mencionou que foi por esse buraco que a areia, as manilhas e outras coisas começaram a afundar; especificamente em relação ao muro que existia na lateral da escadaria, informou que esse muro já havia sido caído pelas chuvas há algum tempo, acha que aproximadamente um mês antes do dia 14/06/14; questionada se a declarante sabe dizer se existem áreas que estão cedendo no Bairro, informou que sim, que existem muitas áreas que aparentemente estão cedendo; adicionou a informação que os entupimentos de esgotos no local sempre existiram mas, atualmente, estão cada dia mais frequentes; que no momento da enxurrada de água, o ponto inicial do grande desmoronamento pode ser visto na fotografia 11 de fls. 59 [fls. 58] dos autos, que corresponde ao muro de um terreno particular que fica na lateral da escadaria, atrás do edifício Infinity.
Essa mesma versão, com pequenas e irrelevantes
divergências, continua nos depoimentos de Maria Dissineide de Góis e Antônio
Carlos Sotero, também moradores da citada Rua Guanabara; eles acrescentam
ao que já foi dito mais dados a respeito das causas do primeiro deslizamento de
terra de 13/6/14, iniciado na parte baixa da escadaria que interligava a Rua
Guanabara à praia de Areia Preta. Confira-se o que disse o Sr. Antônio Carlos
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Sotero (fls. 498/499):
(...) o vazamento teve início nas proximidades da escadaria, na fissura que pode ser vista na fotografia número 6, fls. 56 dos autos; que esse vazamento ocorria constantemente no local, aproximadamente duas vezes por mês; que esse vazamento era de esgoto; que o vazamento era decorrente de entupimento na tubulação de esgotos; que nesses casos a CAERN ia no local e desentupia; que o local onde costumava ocorrer problemas diz respeito ao registro fotográfico identificado pela letra “A”, em anexo. Informou, ainda, que na ocasião de chuva, as águas ficavam concentradas nas bocas de lobo situadas na frente da escadaria, nas proximidades de uma árvore que fica no local. Essas bocas de lobo podem ser visualizadas na fotografia 01 de fl. 54; Que em data próxima ao deslizamento, que não se recorda qual é, onde ocorreu o entupimento, o esgoto, com água e muitas fezes, ficava vazando, borbulhando e deslizando pela escadaria; que até esse momento, o esgoto não deslizava pelo terreno vazio ao lado da escadaria, apenas pela escadaria; que entende que o buraco que se visualiza nas fotos 07 e 08 [Fl. 57] teve início por baixo, em razão do vazamento de esgotos; que não se recorda exatamente como surgiu o mencionado buraco. “
Veja-se o testemunho da Sra. Maria Dissineide de Góis (fls.
589) que, aliado ao do Sr. Antônio Carlos Sotero, acima transcrito, fornece
dados, também, sobre as origens do desabamento da escadaria citada no item
anterior:
(...). A declarante mostrou aos peritos onde fica a casa da mesma, informando que a casa fica situada na frente da cratera que foi formada na Rua Guanabara e na frente do Edifício Infinity. Informou que nessa rua, sempre há problemas de entupimento de esgotos; que no dia 05/06/14, observou um entupimento que causava um borbulhamento de esgoto nas proximidades da manilha que se pode visualizar na fotografia 4 de fl. 55; que esse borbulhamento ocasionou uma poça de esgotos com mau cheiro; que esse esgoto descia pela escadaria e também pelo terreno baldio; que reside no local desde 1959, desde quando tinha 7 anos de idade; que as ocorrências de esgotos, com vazamentos e entupimentos, sempre foram comuns no local, mas não com o borbulhamento mencionado;
Encerrando as referências a depoimentos dos moradores
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que foram direta ou indiretamente afetados pelo desastre, merecem ser
transcritas algumas das informações fornecidas pelo Sr. Wilson Barbosa Correia,
tendo em vista que também apontam elementos que comprovam as omissões e
ou iniciativas equivocadas adotadas pela CAERN e pelo Município em relação
ao caso, demonstram as defasagens dos sistemas de drenagens e de esgotos e
elucidam a origem do buraco formado na Rua Guanabara, ao lado do meio-fio,
considerado como causa antecedente (ou “predisponente”) dos deslizamentos
de terra ocorridos nos dias 13 e 14 de junho de 2014. Confira-se, pois, o que
disse o Sr. Wilson Barbosa, (Fls. 918 a 921), apenas para confirmar e reforçar a
versão dos demais moradores:
“que na época do desastre residia na Rua Guanabara, n. 764, Bairro Mãe Luiza, nesta capital; que em torno de setenta por cento de sua residência foi levada pelo deslizamento de terra ocorrido naqueles dias 13 e 14/junho/2014; que nas proximidades das mencionadas bocas de lobo na Rua Guanabara sempre ocorriam obstruções e extravasamentos de esgotos pelos poços de visita da CAERN; que existiam também caixas de esgotos da rede da CAERN situadas nas calçadas em frente das residências, conforme se vê na foto número 01 que segue anexada a este depoimento; que nestas caixas também ocorriam entupimentos e extravasamentos de esgotos; que para esclarecer, informa que por essa rede coletora da CAERN passava tanto águas servidas quanto fezes coletadas em canos interligados diretamente nos vasos sanitários das residências; que nos momentos de entupimentos e extravasamentos os esgotos e fezes jorravam para o asfalto da rua e corriam para dentro das galerias de drenagem de águas pluviais através das bocas de lobo das imediações; que esses entupimentos e extravasamentos eram recorrentes; que nas proximidades do desastre de Mãe Luíza esses entupimentos e extravasamentos de águas e esgotos se intensificaram, ou seja, passaram a ser mais frequentes, mesmo antes de começar o período de chuvas; que quando ocorriam os citados entupimentos, a CAERN era chamada pelos moradores e vinha fazer as desobstruções; que a CAERN fazia o serviço de desobstrução mais com pouco tempo depois tudo se repetia; que em virtude desses constantes extravasamentos de águas e esgotos as galerias de drenagem das águas pluviais passaram a ser danificadas e
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ficaram obsoletas; que bem antes do desastre, desde anos anteriores, já se verificavam danos tanto no asfalto quanto nas galerias de drenagem, segundo se infere das fotos anexas de n.º 02, 03, 04, 05 e 06; que lembra de ter ocorrido, nos anos de 1998 e 2013, deslizamento de terra no mesmo local da Rua Guanabara; que pede para juntar, neste momento do seu depoimento, um vídeo com reportagem da TV Tropical relatando o deslizamento ocorrido em fevereiro de 2013; que em dias antes do desastre dos dias 13 e 14 de junho de 2014 os moradores da Rua Guanabara, com residências próximas das citadas bocas de lobo, percebiam trincas e rachaduras no asfalto, nas calçadas sobre as bocas de lobo, na escadaria por onde iniciou o deslizamento de terra no dia 13/06/14; que tal afirmação pode ser confirmada através das fotos que seguem anexadas a este depoimento e nas demais que o depoente já forneceu e que já constam do inquérito civil; que no início de junho de 2014 os problemas de entupimentos e extravasamento de esgotos aumentaram bastante; que entre os dias sete e oito, aproximadamente, perceberam que o asfalto e a calçada sobre as bocas de lobo acima mencionadas começou a ceder e daí foi se formando um buraco que, posteriormente, dentro de dois ou três dias, se transformou em enorme cratera; que não sabe dizer exatamente se foi, diretamente, o extravasamento de esgotos ou o transbordamento das águas das galerias de drenagem que provocou o afofamento do asfalto e da calçada e a consequente formação do buraco na Rua Guanabara; que, no entanto, pelo que viu e acompanhou durante aqueles dias, pode dizer que os dois sistemas, o de drenagem e o de esgoto, naquela localidade das bocas de lobo, estavam transbordando esgotos e águas de chuvas; que a terra por baixo do asfalto e da calçada era constantemente levada por esses transbordamentos dos dois sistemas; que deu para perceber, segundo a foto n.º 07, uma tubulação quebrada constantemente jorrando águas misturadas com esgotos, com odores fortes de fezes, contribuindo para carrear a terra daquele setor; que as equipes da CAERN e da Prefeitura, que estavam na área desde o dia seis de junho, aproximadamente, não conseguiram resolver esse problema da tubulação que estava jorrando águas e esgotos, conforme mostrado naquela foto de n.º 07; que os moradores naqueles momentos críticos perceberam que as equipes da CAERN e da Prefeitura, através da SEMOPI, hoje SEMOV, estavam empurrando o problema uma para outra, uma dizendo que a outra era que deveria resolver aquele problema da tubulação quebrada; que tal problema na tubulação não foi resolvido e continuou até a data do desastre; que o serviço da CAERN se resumia a sugar e desentupir tubulações, colocando motores e
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bombas de sucção para retirar esgotos que se concentrava ao lado da via e dos poços de visita do sistema de drenagem; que as águas que eram sugadas pela bomba da CAERN concentravam-se na localidade que pode ser vista na foto n. 08, anexa; que a CAERN e a Prefeitura durante todos aqueles dias, entre aproximadamente cinco e treze de junto de 2014, não fizeram qualquer intervenção ou serviço no sistema de tubulação de drenagem ou no de esgoto que viesse resolver o problema daquela tubulação que estava quebrada e jorrando água; que os moradores na Rua Guanabara não aceitam e não concordam com manifestações e notas da CAERN, ou até mesmo da Prefeitura, atribuindo a causa do desastre aos que residiam naquela localidade onde iniciou o deslizamento de terra sob a justificativa de que os entupimentos e extravasamentos de águas e esgotos era por culpa da população que jogava lixo nas galerias; que todos os moradores sabem que a causa principal do desastre foi o buraco aberto na Rua Guanabara em virtude de mau funcionamento e problemas nas tubulações de esgotos e de drenagem de águas pluviais.”
Figura 12: Caixa de esgotos da rede coletora da Caern. Fonte: Foto 01 apresentada durante o depoimento do Sr. Wilson Barbosa Correia.
Figura 13: Vista das bocas de lobo existente na Rua Guanabara. Fonte: Foto 03 apresentada durante o depoimento do Sr. Wilson Barbosa Correia.
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Figura 14: Vista do PV da Caern e das bocas de lobo existentes na Rua Guanabara.
Fonte: Foto 02 apresentada durante o depoimento do Sr. Wilson Barbosa Correia.
Figura 15: Vista do PV da Caern e das bocas de lobo existentes na Rua Guanabara.
Fonte: Foto 04 apresentada durante o depoimento do Sr. Wilson Barbosa Correia.
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Figura 16: Vista do deslizamento da encosta da Rua Guanabara, ocorrido em 2013. Fonte: Foto 05 apresentada durante o depoimento do Sr. Wilson Barbosa Correia.
Figura 17: Vista do deslizamento da encosta da Rua Guanabara, ocorrido em 2013. Fonte: Foto 06 apresentada durante o depoimento do Sr. Wilson Barbosa Correia.
Figura 18: Vista das estruturas de esgotamento e drenagem dentro da cratera na Rua Guanabara. Fonte: Foto 07 apresentada durante o depoimento do Sr. Wilson Barbosa Correia
Figura 19:: Local em que a Caern colocava motores e bombas de sucção para retirar esgotos que se concentrava ao lado da via e dos poços de visita do sistema de drenagem. Foto 08 apresentada durante o depoimento do Sr. Wilson Barbosa Correia.
Importa realçar que as informações fornecidas por
representantes e/ou terceirizados da SEMOV e da CAERN não diferem das
detalhadas por moradores de Mãe Luiza. Todos foram uníssonos em confirmar o
transbordamento de águas servidas (esgotos) por baixo da calçada na margem
da Rua Guanabara. Também não houve divergência em relação à obsolescência
dos sistemas de drenagem e de esgotos que existiam na área do desastre. E
pelos depoimentos existentes, ficaram nítidas as omissões ou iniciativas
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equivocadas e ineficazes para estancar os vazamentos detectados. Importa
salientar que o tamponamento das grelhas das bocas de lobo situada na Rua
Guanabara, realizada por terceirizados da SEMOV, correspondentes ao sistema
de drenagem, impediu a drenagem adequada das águas de chuva, causou o
afundamento da estrutura existente, que não suportou o peso e o volume das
águas e contribuiu para a formação da cratera.
Pelos depoimentos do técnico terceirizado de nome Wilton
Araújo Vasconcelos (ouvido nas fls. 667/664) e do encarregado do setor de
manutenção e drenagem da SEMOPI (SEMOV), o Sr. Jorge Damasceno
Nogueira (fls. 671/672), vê-se que este último esteve na Rua Guanabara no dia
05/06/14, atendendo chamado dos moradores, e a partir do dia seguinte
começaram a intervir na área com uma equipe de trabalhadores. Lá constataram
transbordamento de águas servidas por baixo da calçada, na margem da rua,
conforme se vê das fotos das fotos 01 a 03, fls. 54 e 55. Disse ainda o Sr. Wilton
Araújo:
“(...) que no dia não estava chovendo; (...) constataram que havia água no terreno que fica por trás do muro de arrimo, por trás das bocas de lobo, que podem ser vistas na fotografia 01, de fls. 54; a área, que pode ser vista na fotografia 3 da fl. 55, estava encharcada e que no local havia acúmulo de água servida, transbordando por cima do muro de arrimo inferior, descalçando o muro de arrimo superior; que no mesmo dia a diligência principal que realizaram no local foi a colocação de sinalização (placas) para impedir a passagem de veículos e pessoas no local; que ligaram para a CAERN comunicando o fato e entendendo, a princípio, que o problema poderia ser na tubulação de esgoto; que o declarante retornou no local no dia 07 de junho de 2014 (sábado) com uma equipe de trabalho da empresa CAW; que em seguida o fiscal Jorge foi para o local; que abriram os poços de visita do sistema de drenagem que podem ser vistos na fotografia 2 de fl. 54; esclareceu que a população costuma chamar esses poços de visita de manilha; que ao abrirem os poços de visita, constataram água servida no local e obstrução da tubulação com lixo; que tentaram desobstruir esses poços de visita das 7 às 9h e
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quando a CAERN chegou, por volta da 9h da manhã, solicitaram auxílio da equipe da CAERN, a título de favor, para desobstrução do sistema de drenagem, que estava cheio de lixo; que acredita que a água que estava no local era de esgotos; que a CAERN chegou a desobstruir uma parte que estava obstruída pelo lixo e depois a empresa CAW continuou o serviço de desobstrução de forma manual; que a forma manual de desobstruir consistiu em colocar uma pessoa dentro do poço de visita; que o sistema de drenagem não estava obstruído totalmente, tendo em vista que existia vazão de esgoto na tubulação; que cercaram a área da boca de lobo da pista da Rua Guanabara, com tela de proteção, deixando apenas uma faixa para passagem de veículos; a proteção foi realizada porque percebeu que nas proximidades da boca de lobo não havia mais areia, estava oco; que no dia 09 de junho de 2014, na segunda feira, deixou uma equipe no local; que ao chegar no local na parte da manhã, verificou a existência de transbordamento de esgoto pelos poços de visita da CAERN; que esses poços de visita são os que ficam nas proximidades da confluência da Rua Guanabara com a Travessa Atalaia, bem como nos poços de visitas que ficam na própria Rua Guanabara nas proximidades do poço de visita do sistema de drenagem; que nesse dia colocaram sacos de náilon com areia dentro para isolar melhor a área. Que acredita que tenha sido no dia 10 de junho de 2014, na terça feira, ou no dia 11 de junho de 2014, a equipe da CAW realizou o tamponamento, com cimento, das grelhas das bocas de lobo do sistema de drenagem da Rua Guanabara que se pode ver na fotografia 1 da fl. 54. Tamponaram todas as grelhas das bocas de lobo deixando apenas uma aberta; que o objetivo desse tamponamento foi o de evitar cair mais água servida no trecho entre os dois muros de arrimo e o de direcionar a água da rua para o sistema de drenagem; que mesmo após o tamponamento, o terreno, mesmo sem chuva, cedeu e aproximadamente nos dias 11 ou 12 a boca de lobo da Rua Guanabara cedeu; na quinta-feira, dia 12 de junho de 2014,a equipe da CAW comunicou o fato à Prefeitura, retirou a metralha do local e, na parte da tarde, fizeram um aterro provisório no local, colocando aproximadamente três caminhões de areia; deixaram a proteção de sacos em volta; no final do dia, foram embora porque tinham a intenção de refazer as bocas de lobo no dia 13 de julho de 2014; questionado por qual local deveriam escoar as águas em caso de chuva, respondeu que acreditava que as chuvas seriam escoadas por outras bocas de lobo que existiam na Rua Guanabara e esclareceu que não choveu no dia 12; que no dia 13 de junho de 2014, sexta feira,
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pela manhã, quando verificou o tempo nublado, fez uma ligação para o Dr. WALTER, Secretário Adjunto da SEMOPI, dizendo que iria chover e entendia que o procedimento correto seria de não fazer serviço das bocas de lobo no local; que o Dr. WALTER concordou; mesmo assim, o declarante foi para o local. Chegando no local, às 7h40min da manhã, o aterro provisório estava intocável; que começou a chover, que a equipe aumentou a área de proteção na Rua Guanabara; que como a chuva foi aumentando, o aterro aos poucos se; que a rua não chegou a encher de água; que por volta de meio dia do dia 13 de junho, o terreno que fica entre a escadaria e o Edifício Aldebaran começou a ceder e atingiu parte da Via Costeira; que o aterro provisório foi todo carreado na parte da tarde do dia 13 de junho; que no dia 14 de junho de 2014, no sábado, foi ao local, mas a equipe verificou que não tinha mais o que fazer e que a preocupação da equipe da empresa e da Prefeitura foi em fazer a contenção das áreas das antigas bocas de lobo com sacos de náilon e cimento; também colocaram lonas pretas no buraco para possibilitar que a água escoasse melhor; que ficaram o dia inteiro fazendo essa atividade, até a noite; que entre 18 e 19 horas caiu o muro de arrimo inferior, que se observa na fotografia 4 de fl. 55 e na fotografia 11 de fl. 59; que quando desmoronou esse muro, houve o desmoronamento de grande parte da Rua, com carreamento de casas; que a retirada das pessoas das casas foi realizada próximo às 19horas; que o engenheiro que acompanhou as atividades da empresa foi o Dr. WALTER FERNANDES e do próprio Dr. TOMAZ, Secretário da SEMOPI.”
O depoimento do Sr. Jorge Damasceno Nogueira (fls.
671/672) acrescenta mais alguns dados sobre o que foi relatado pelo Sr. Wilton
Araújo Vasconcelos (depoimento logo acima transcrito – cf. fls. 667/669):
“Pelo Ministério Público e pelos peritos, foram realizados questionamentos com o objetivo de obter detalhamento acerca do início da cratera ocorrida no mês de junho de 2014 no local. O declarante informou que acha que foi na quinta-feira, dia 05 de junho de 2014, que esteve na Rua Guanabara em razão de determinação da própria SEMOPI, que foi provocada por moradores do local. O chamamento foi para verificar um afundamento que existia por trás do muro de arrimo da Rua Guanabara; que o local do afundamento pode ser visto nas fotografias 3 e 4 da fl. 55; que no momento que chegou no local, por volta de meio dia, constatou realmente um afundamento no local e uma umidade no local; que não havia água empoçada no
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local; que já dava para ver o muro de arrimo descalçando; que comunicou o fato ao Secretário Adjunto, WALTER FERNANDES da SEMOPI, que afirmou que iria tomar as providências; que já havia ido antes ao local, mas que não tinha visto a situação de afundamento mencionada; que costumava ir no local para reparo na parte cimentada da escadaria; que no dia 06 de junho de 2014, voltou ao local por volta das 8h da manhã, quando encontrou a equipe da CAW, que estava no local; que o declarante solicitou que fosse realizado o isolamento de uma faixa da pista; que foi realizada uma vistoria para ver se havia algum vazamento na drenagem mas não constatou nada; (…) que não se recorda a data das diligências tomadas, mas se recorda foi realizado no local o tamponamento de bocas de lobo da Rua Guanabara, com cimento e tijolo, deixando abertas apenas duas bocas de lobo; que esse tamponamento foi acordado entre a empresa CAW prestadora de serviços da SEMOPI, juntamente com ele declarante e o Dr. WALTER da SEMOPI; que o tamponamento teve o objetivo de desviar a água da drenagem superficial, que chegava na calçada para as bocas de lobo que ficam mais distantes da escadaria; acrescentou que essa providência foi realizada para evitar que as águas das poucas chuvas que houve naqueles dias fossem canalizadas para o local que já estava afofado e aparentemente descalçado; informou que as bocas de lobo que se verificam na fotografia 1 da fl. 54 são conectadas à galeria da Rua Guanabara e não diretamente aos poços de visita da encosta; que as bocas de lobo recebem água da drenagem pluvial; que as bocas de lobo que se situam na Rua Guanabara seguem o seguinte percurso: recebem água da drenagem superficial, ou seja, diretamente da rua, e seguem para um poço de vista que fica no eixo, ou seja, no meio da rua Guanabara, conforme circulado na fotografia do google anexado à presente ata, e de lá seguem para os poços de visita da encosta, que se observa na fotografia 3 de fl. 55; que questionado se havia transbordamento de esgotos no local, respondeu que houve transbordamento de esgotos dias depois, já nas proximidades do dia 13 ou 14 de junho de 2014, que não se recorda a data; que do dia 05 ao dia 13 de junho o declarante foi ao local, mas não ficou o tempo todo na área; que não viu nos primeiros dias afloramento de esgotos na rua Guanabara.”
Nota-se que as declarações dos representantes da SEMOV
não entram em contradição ou divergências, em termos gerais, com as dos
moradores acima transcritas. Constata-se também que ambos os sistemas – de
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esgotamento e de drenagem – apresentavam problemas crônicos, ficando
evidenciado que os transbordamentos detectados eram provenientes tanto de
um quanto de outro sistema. Por baixo e nas adjacências da localidade onde se
formou a cratera, passavam as tubulações e poços de visita de esgotos, da
CAERN, bem como os dutos, galerias, bocas de lobo e poços de visita do
sistema de drenagem de águas pluviais, da Prefeitura.
A única divergência que se constatou nos depoimentos de
representantes da SEMOV e da CAERN foi no tocante à origem (e, em
decorrência, à responsabilidade) dos extravasamentos e vazamentos de
esgotos. Enquanto a SEMOV sustentou que o vazamento aludido era
proveniente do sistema de esgotos, acrescentando que até a data do
deslizamento de terra não tinha sido feito o conserto, a CAERN, por seu lado,
defendeu que o referido problema foi solucionado entre 10 e 11/06/2014 (fl. 659).
Essa divergência, contudo, não possui o condão de eliminar a constatação de
que tanto o sistema de esgotos quanto o de drenagem apresentavam problemas
de vazamento e transbordamentos de esgotos (não há divergência no fato de
que mesmo o sistema de drenagem recebia esgotos!). E os depoimentos
prestados também confirmam a omissão e as iniciativas equivocadas que
impediram de resolver os problemas detectados entre o dia 05 de junho até o dia
13 de junho de 2014.
Nos autos, constam vários depoimentos nesse sentido. O
então Secretário Adjunto de Conservação da SEMOV, o Sr. Walter Fernandes de
Miranda Neto, chegou a ser ouvido mais de uma vez, conforme se demonstra à
fl. 63, e às fls. 675 a 677. Representantes da CAERN também tiveram mais de
uma oportunidade para prestarem esclarecimentos. Diante da existência de
contradições decorrentes dos depoimentos, chegou a ser realizada uma
acareação entre representantes da SEMOV e da CAERN, respectivamente os
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Srs. Raulyson Ferreira de Araújo (CAERN) e Walter Fernandes de Miranda Neto
(SEMOV), conforte se vê:
“Iniciada a audiência, o Ministério Público informou que o objetivo da audiência era obter esclarecimentos acerca de fatos que tiveram versões conflitantes e/ou não detalhadas e que podem impedir a compreensão dos fatos que contribuíram para o início do início (sic) da cratera ocorrida no mês de junho de 2014 na rua Guanabara em Mãe Luiza. O primeiro esclarecimento que precisa ser realizado diz respeito à contradição existente entre os depoimentos dos servidores da CAERN e os da SEMOPI. No depoimento da servidora JIULLYA STEFFANY S. ARRUDA, da CAERN, à fls. 657, a depoente informou que esteve no dia 07 de junho de 2014 na rua Guanabara, por volta das 10h e que verificou que não havia obstrução na rede da CAERN que passa na rua Guanabara. Contrariando essa versão, no depoimento de fls. 675 o servidor da SEMOPI, WALTER FERNANDES DE MIRANDA NETO, informou que no dia 07 de junho de 2014, no sábado, a CAERN foi ao local e fez a desobstrução do sistema de esgotamento. O Sr. WALTER FERNANDES demonstrou por fotografias registradas no próprio dia 07 de junho de 2014, às 9h 10min a existência de equipe terceirizada da CAERN realizando uma desobstrução na Rua Guanabara. Questionado ao Eng. Raulyson sobre o fato, o servidor disse que realmente não tinha o registro dessa ocorrência; todavia, durante a audiência chegou a ligar para a pessoa de JEFFERSON DA SILVA MENDONÇA, da empresa terceirizada “RESOLVE” que foi ao local no dia 07/06/14; pela ligação, que foi realizada com o “viva-voz” do celular, a pessoa de JEFFERSON confirmou que realmente realizou uma desobstrução na Rua Guanabara, antes das 10h, ou seja, antes da técnica JIULLIA ARRUDA chegar ao local; o engenheiro RAULYSON mencionou que essa ocorrência não foi registrada na CAERN; O engenheiro RAULYSON, após contato por mensagem telefônica com a técnica JIULLIA, adicionou informação de que no dia 07/06/14, quando a técnica chegou ao local, o pessoal da RESOLVE já havia executado a desobstrução existente na Rua Guanabara e estava tentando desobstruir os poços de visita das galerias que estavam cheias de lixo; explicou que na boca de lobo da Rua Guanabara não houve sucção de esgoto porque já estava seca e como estava quebrada, sem duas das quatro paredes, o esgoto ficou acumulado na areia, ao lado dos dois poços de visita do sistema de drenagem; que o pessoal da empresa terceirizada RESOLVE só realizou a desobstrução do esgoto na Rua Guanabara; a técnica informou que havia lixo seco na parte de cima dos poços de visita da
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galeria de drenagem; não dava para ver onde estava o esgoto, talvez não tenha nem chegado até lá, mas que havia acúmulo de esgotos nas proximidades dos poços de visitas do sistema de drenagem. O engenheiro RAULYSON informou que as ocorrências, mesmo rotineiras, costumam ser registradas na CAERN; (…) o representante da SEMOPI, Eng. WALTER FERNANDES chegou a fazer um croqui para facilitar a explanação dos problemas que foram detectados no local; foi esclarecidos que os poços de visita que podem ser vistos às fls. 54 e 55 estavam cheios de resíduos sólidos; que no dia 07/06/14 não havia água no local. Questionados a origem e as razões do acúmulo da água nas proximidades dos poços de visita, os representantes da CAERN e da SEMOPI mencionaram o desconhecimento das causas da acumulação dessa água. Apesar de mencionarem o desconhecimento das causas da acumulação dessa água, tanto os representantes da CAERN, quanto os da SEMOPI concordaram que a água acumulada no local é água servida. (...)”
Todos os depoimentos constantes nos autos comprovaram
que em dias anteriores ao ápice do desastre, com o deslizamento de terra
ocorrido no Bairro Mãe Luiza, a CAERN e o Município, por seus representantes
técnicos, visitaram a área, perceberam que havia vazamento de águas servidas
por baixo da rua e da calçada ainda quando não estava chovendo1, verificaram a
fuga de sedimentos e de areia que formava a base de sustentação do pavimento
asfáltico e da escadaria que lá existia ─ ao lado do setor onde foi encontrado o
mencionado vazamento existia uma escadaria interligando a Rua Guanabara
com a Av. Sílvio Pedrosa e praia de Areia Preta ─ mas, mesmo assim, apesar de
terem adotado algumas providências paliativas e infrutíferas, e inclusive
presenciarem a formação e ampliação de um imenso buraco na Rua Guanabara,
ficaram um esperando que o outro resolvesse e estancasse a vazão de águas
1 As primeiras chuvas daquele mês de junho de 2014 foram pequenas e começaram nos dias 8 e 9, segundo depoimentos do item 15, início das fls. 8 desta petição, de Ana Maria Alves Lobato; no depoimento de Wilton Araújo Vasconcelos, dizendo que chegou à Rua Guanabara no dia 5/6/14 e não estava chovendo, mas havia água servida vazando, transcrito no item 19 desta petição; parte final dos depoimentos durante a acareação entre o sr. Walter Fernandes, da SEMOV, e o Sr. Raulyson, da CAERN, onde reconheceram que o vazamento era de água servida (item 26, fls. 24 desta petição)
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servidas e, consequentemente, evitasse a fuga do material que compunha o
alicerce das estruturas urbanas que ruíram.
Pelo que se infere das informações passadas pelos
habitantes do Bairro Mãe Luiza, o vazamento de águas servidas por muitos dias,
conforme acima relatado, ocasionou o abalo, quebra e rebaixamento do asfalto,
da calçada, da escadaria e das bocas de lobo e, consequentemente, a formação
de um enorme buraco na Rua Guanabara. Com a retirada do material que
formava o alicerce, as galerias de drenagem ruíram (conforme Figura 18) e
depois disso ao vazamento inicial se uniram também as águas do sistema de
drenagem quando começou a chover (a partir do dia 08/06/14 caíram chuvas
finas); a partir desse momento, o colapso foi geral tanto nas galerias de
drenagem quanto nas de esgotos, acelerando o aumento da cratera já
mencionada.
1.3. CAUSAS DO DESASTRE
1.3.1. Causa primária – formação de um buraco na Rua Guanabara
Como já extraído dos depoimentos fornecidos pelas pessoas
atingidas pelo desastre em Mãe Luiza, “todos os moradores sabem que a causa
principal do desastre foi o buraco aberto na Rua Guanabara em virtude de mau
funcionamento e problemas nas tubulações de esgotos e de drenagem de águas
pluviais” (Fls. 918 a 921 dos autos).
As conclusões técnicas constantes nos autos convergem
para esse entendimento. Com efeito, segundo o laudo técnico da UFRN, o
processo de desestabilização da encosta teve início pela formação de uma
depressão (abatimento do solo) no pavimento da Rua Guanabara, abrindo um
buraco no entorno de algumas caixas de “boca de lobo” do sistema de
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drenagem. Nesse ponto há a concentração de esgotos e águas da drenagem
proveniente de toda a área urbanizada situada acima para a descida canalizada
até a Av. Sílvio Pedrosa (Fl. 107 do Relatório Técnico Ambiental –
UFRN/FUNPEC, 2014).
Não foi possível apurar se a origem desse buraco foi
decorrente de vazamento da rede de drenagem ou de esgoto, todavia, os peritos
ressaltaram que, independentemente da origem do buraco, a gravidade do
problema foi a permanência do buraco aberto! Ou seja, a falta de
providências (a omissão) para fechar o buraco foi o que desencadeou o desastre
na proporção constatada.
Esse buraco foi provocado por vazamentos nas redes de drenagem ou de esgoto, mas não foi possível extrair dos diversos depoimentos coletados se o vazamento que provocou originalmente o abatimento do solo no local provinha do sistema de esgotos ou do sistema de drenagem (fl. 107). Ressalta-se que a gravidade do problema foi a permanência do buraco aberto (Fl. 108 do Relatório Técnico Ambiental – UFRN/FUNPEC, 2014).
Realmente, pelo relato dos fatos, nem o Município, através
da SEMOV, nem a CAERN realizaram as providências adequadas para conter o
buraco iniciado. Em razão dessa falta de providências adequadas, com as
chuvas, o buraco foi alargado, ensejando o total rompimento das tubulações de
drenagem e de esgoto.
A ocorrência das chuvas do dia 13/06 provocou o alagamento da escavação (o buraco) e o rompimento das tubulações da drenagem e de esgoto. Em seguida, os fluxos das tubulações passaram a atuar no sentido de provocar o “desmonte hidráulico da areia” que, por não apresentar coesão, sofreu liquefação e escoou encosta abaixo.
O evento até este momento tinha como fonte de material erodido a região compreendendo aproximadamente 50% da largura do pavimento da Rua Guanabara (Figura 86) e o muro de arrimo localizado a meia encosta (Figura 87), abaixo da rua Guanabara.
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O material sofreu escoamento e verteu sobre esse muro indo atingir a Av. Silvio Pedrosa (Figura 87 e 88). A Figura 89 mostra uma vista a partir da Rua Guanabara em direção a parte baixa (Av. Silvio Pedrosa), logo após o primeiro movimento. O muro tinha aproximadamente 5 metros de altura e 20 metros de extensão. A Figura 87 mostra a água vertendo sobre o muro no dia 13/06 após a ocorrência do primeiro movimento.
A continuidade das chuvas solapou a base e descalçou o muro mostrado na Figura 88 que rompeu, tombando e provocando nova corrida de areia do material que estava sendo contido (Figuras 87 a 89). Esse segundo movimento foi de proporções maiores (aproximadamente 50.000 m³) que o primeiro, pois levou o muro e todo o material contido por ele e ainda teve feições retrogressivas atingindo toda a largura da Rua Guanabara e casas acima até às imediações da Rua Atalaia.
Em resumo, o fluxo contínuo das águas da chuva e do escoamento superficial da área edificada situada nas cotas mais elevadas do bairro transformou a Rua Guanabara em um córrego, removendo a areia que dava suporte à mesma, provocando seu abatimento e o aumento da infiltração, sobretudo no buraco aberto existente. A seguir ocorreu o aumento da infiltração e do fluxo de areia liquefeita. Como a Rua Guanabara, a rede de esgotos e a rede de drenagem pluvial estavam assentadas diretamente sobre a areia inconsolidada das dunas e a percolação de água sob a mesma removeu sua sustentação, e todo o conjunto entrou em colapso. Tanto as águas que escorriam superficialmente oriundas das Ruas Atalaia e Guanabara, quanto as águas canalizadas em subsuperfície, provocaram um desmonte hidráulico que foi se expandindo lateralmente e a montante, provocando a destruição ou comprometimento das casas situadas em seu entorno. A medida que as tubulações da rede de drenagem eram solapadas se rompia a “galeria” de drenagem e o fluxo contínuo das águas provocava o solapamento de novo trecho da “galeria”, composta por tubos interligados sem suporte estrutural suficiente, e o processo de “desmonte” se sucedia avançando com carreamento do solo em “corrida de areia”, de causa hidráulica.
Durante o período de maior intensidade pluviométrica, principalmente na semana de 8 a 14 de junho de 2014, a água formou um fluxo denso que galgou o muro de gravidade em concreto que suportava o aterro da Rua Guanabara a jusante. O muro também estava apoiado sobre a areia das dunas, não possuía drenos (barbacãs). O fluxo subsuperficial de água começou a retirar a areia por desmonte hidráulico, provocando o solapamento de sua fundação (Fl. 111 do Relatório Técnico
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Ambiental – UFRN/FUNPEC, 2014.)
Nota-se que o laudo técnico enfatiza como causa primária
mais provável do desastre, a permanência do buraco aberto no pavimento
da Rua Guanabara, no local de maior convergência dos fluxos de águas
pluviais e também de convergência dos esgotos da área a montante, como
se observa:
Em suma, apesar da ocorrência de chuvas excepcionais, das características de risco de instabilidade da encosta dunar, das precárias condições de urbanização e da inadequação do sistema de drenagem, que poderiam resultar em desastres quando sob chuvas intensas, talvez de menores proporções do que o que ocorreu em junho de 2014, afetando diretamente o bairro de Mãe Luiza e a praia de Areia Preta, pode-se destacar neste desastre, como causa primária mais provável do grande movimento de terra (escoamento) na encosta do morro, e das consequências desastrosas em tamanhas proporções, a permanência de um buraco aberto no pavimento da Rua Guanabara (Figura 87 e 88) exatamente no local de maior convergência dos fluxos de águas pluviais e também de convergência dos esgotos da área a montante. A partir deste buraco, que também alimentou o fluxo de água pela escadaria e terrenos lindeiros provocando movimento (escoamento) de solo à jusante (provavelmente a primeira corrida de areia, de menores proporções, mas já muito grave), a erosão foi solapando a tubulação do sistema de drenagem próximo ao buraco e desencadeando o processo progressivo autodestrutivo de força hidráulica (segunda e maior corrida de areia, que destruiu parte da Rua Guanabara), que resultou na amplitude maior do desastre e em sua causa principal.
1.3.2. Outras causas do desastre
No Relatório da visita realizada na praia de Areia Preta, na
vertente onde ocorreu uma movimentação de terra, realizada pelos Professores
da UFRN e IFRN, a pedido da Prefeitura, no dia 15 de junho de 2014 (fls.
89/107), a equipe, ao discorrer sobre os fatores que desencadearam a
movimentação de terra, observou os seguintes fatores: chuvas intensas no
período; supressão da vegetação natural da encosta (...) impermeabilização do
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setor superior da encosta, devido a uma geometria urbana inadequada;
confinamento de águas subterrâneas no sopé da encosta com elevação da
superfície freática a indução à concentração do fluxo de água. Também
registraram, como fatores sugeridos, entre outros: obstrução da rede de
drenagem de águas pluviais e de esgoto; solução de drenagem superficial, por
becos e escadarias, inadequada; alteração do fluxo natural de águas
subterrâneas por obras de contenção no sopé da encosta.
A descrição acima, como visto, ocorreu logo após o desastre.
No decorrer das investigações ministeriais, em razão do detalhamento e do
aprofundamento das análises técnicas pertinentes, as causas do desastre
puderam ser melhor esclarecidas e puderam revelar que entre os fatores
mencionados, os que ganharam mais relevância foram os relativos a: 1) chuvas
intensas em área de risco; 2) supressão da vegetação natural da encosta;
3) inadequação da drenagem instalada às características físicas da área,
onde somente a Rua Guanabara possuía galeria de drenagem pluvial,
subdimensionada.
1.3.2.1. Chuvas volumosas em área de risco
Os documentos técnicos contidos nos autos demonstraram
que entre os dias 13, 14 e 15 de junho de 2014, foram registradas no litoral do
Rio Grande do Norte, incluindo a cidade de Natal, chuvas volumosas. Os três
dias totalizaram 332,6 mm de precipitação (Fl. 56 do Relatório Técnico Ambiental
– UFRN/FUNPEC, 2014.)
De acordo com a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte – EMPARN, a chuva foi contínua por praticamente 50 horas, com um acúmulo no período de 315 milímetros de água sobre a cidade, sendo considerado um evento extremo de precipitação pluviométrica e recorrente, conforme explicitado nas páginas 58 e 59, que suplantou a capacidade de drenagem instalada na área. Tal constatação é
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associada ao reconhecimento de que o sistema de drenagem do bairro de Mãe Luíza foi implantado ainda no início da década de 1990, mais de 20 anos antes desse desastre. (Fl. 112 do Relatório Técnico Ambiental – UFRN/FUNPEC, 2014.)
A despeito da ocorrência dessas chuvas intensas, não se
pode dizer que o que ocorreu foi um evento raro. Como bem enfatizado no laudo
pericial da UFRN, sobre as chuvas intensas no período, “apesar da
excepcionalidade de ocorrência, apresentam recorrência sazonal no inverno,
cujo conhecimento e monitoramento deveriam ser levados em consideração
pelos gestores destas áreas de risco”. (Fl. 59 do Relatório Técnico Ambiental –
UFRN/FUNPEC, 2014.)
A mesma consideração foi realizada pelo Centro de Previsão
de Tempo e Estudos Climáticos (CEPTEC), que menciona como comum a
perturbação atmosférica que acontece nessa época do ano.
Ainda neste dia, observa-se outra perturbação atmosférica de leste se aproxima e atinge o RN, como é comum nesta época do ano. Alto volume de precipitação foi verificado entre os dias 13 e 15 de junho de 2014 (G). Até às 12:00 UTC do dia 13 não havia registro de chuva. Porém, a partir da hora seguinte (13:00 UTC) foi registrado 16,2 mm que durou até às 14:00 UTC do dia 15. Ainda no dia 13 foi observado acumulado de precipitação extrema com 103,4 mm. Também, no dia 15 foi constatada chuva extrema com 152,4 mm. No dia 14, também foi verificado grande volume de chuva chegando a 76,8 mm. Embora no dia 14 tenha tido um relativo pequeno acumulado de chuva, nesse dia foi verificado o máximo de chuva em uma hora com uma acumulado de 24,6 mm às 23:00 UTC (ou seja, acumulado entre às 22:00 e 23:00 UTC). Por fim, o acumulado pluviométrico total para os 3 dias consecutivos foi de 332,6 mm (MIRANDA, 2014, p.2 in Fl. 57 do Relatório Técnico Ambiental – UFRN/FUNPEC, 2014.)
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1.3.2.2. Supressão da vegetação natural da encosta: aumento da área impermeabilizada do solo e instabilidade dos taludes
A perícia da UFRN/FUNPEC, ao avaliar o desastre, realizou
uma contextualização da área, realçando a instabilização das encostas (ou
taludes) como fatores preparatórios para o desastre. Para a perícia, fatores
preparatórios referem-se aos elementos constituintes do sistema (tipo de
material, clima, atividade sismotectônica, ação antrópica etc) e os fatores de
“gatilho” são aqueles que agem no sentido de desestabilizar o talude e
promover a movimentação do material. Com essas definições, a perícia realizou
a seguinte classificação:
Condições para instabilização do talude: fatores preparatórios
Aumento da área impermeabilizada do solo (construção das unidades habitacionais, escadaria, muros, etc.), impedindo a infiltração das águas de chuva diretamente no solo poroso;
Destinação das águas de chuva a montante da Rua Guanabara para a pavimentação, visto que a infraestrutura da rede pluvial não atendia a todo o bairro, sendo implantada somente sob a Avenida Guanabara e adjacências;
Escoamento do excedente pluvial ocorria superficialmente, gerando a lavagem do talude;
Construção de muros e baldrames que provocaram escoamento superficial concentrado sobre a área do talude;
Entupimento da infraestrutura da rede pluvial (bocas de lobo, tubulação, caixas de inspeção);
Entupimento da infraestrutura da rede de esgotos (tubulação, caixas de inspeção).
Condições para instabilização do talude: fatores de gatilho
Entupimento da infraestrutura da rede pluvial (bocas de lobo, tubulação, caixas de inspeção);
Entupimento da infraestrutura da rede de esgotos (tubulação, caixas de inspeção);
Colapso da estrutura responsável pela recepção do escoamento superficial oriundo da Avenida Guanabara (anterior à ocorrência
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do evento pluviométrico extremo), sem ter havido a reparação em tempo hábil dessas estruturas (bocas de lobo, caixas de recepção e tubulação);
Ocorrência de descontinuidades na estrutura da escadaria que permitiam a infiltração e remoção do suporte basal desse equipamento;
Alto índice pluviométrico em curto período (353,1 mm em 48 horas).
(Fl. 63/64 do Relatório Técnico Ambiental – UFRN/FUNPEC, 2014.)
Consta, ainda, no laudo que:
A perda da vegetação natural acelera ou induz a ocorrência de fluxos superficiais concentrados, que na área afetada eram intensos devido à impermeabilização das cotas superiores da encosta e o traçado orgânico, com muitas vias estreitas e becos que contribuem para a aceleração desses processos. Observa-se que o processo histórico de ocupação da área, conforme demonstrado no capítulo 01, resultou na impermeabilização da duna em sua quase totalidade, formando uma imensa área de captação de águas pluviais e destruindo a sua capacidade de absorção de água, em função da porosidade e permeabilidade características deste tipo de solo. Na área afetada e mesmo em quase todo o bairro de Mãe Luiza, as ruas, travessas e becos são pavimentados com paralelepípedos e, muitas vezes, cimentados, assumindo a função de canais de escoamento superficial. (Fl. 112 do Relatório Técnico Ambiental – UFRN/FUNPEC, 2014.)
1.3.2.3. Inadequação da drenagem às características físicas da área
De todas as provas colacionadas nos autos, principalmente
as técnicas, ficou nítido que umas das maiores causas para a ocorrência do
desastre descrito foi a ausência em alguns trechos e o subdimensionamento (em
outros trechos) da rede de drenagem pluvial instalada na comunidade.
Somente a Rua Guanabara possuía galeria de drenagem pluvial, subdimensionada. Em praticamente todo o restante da área a drenagem é feita por escoamento superficial através de sarjetas e no leito das próprias ruas, travessas e becos. Observa-se
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ainda que no local onde ocorreu a Corrida de Areia, já tinha ocorrido em anos anteriores, em menor escala, ruptura do calçamento da Rua Guanabara e carreamento de sedimentos para a linha de praia. Na última ocorrência a prefeitura efetuou a recuperação da área, com a recomposição do terreno e do pavimento. Sobre esse aterro foi reconstruída a rede de drenagem pluvial e rede de esgotos assentadas diretamente sobre a areia. Ressalte-se, ainda, que o Muro de contenção a jusante da Rua Guanabara, que dava suporte ao aterro antes realizado sofreu tombamento devido ao galgamento provocado pela convergência e concentração das águas pluviais coletadas em toda a face frontal da duna impermeabilizada, drenadas por gravidade e direcionadas pelo relevo para o local do desastre. (Fl. 112 do Relatório Técnico Ambiental – UFRN/FUNPEC, 2014.)
A deficiência dessa importante infraestrutura de drenagem foi
agravada por outros fatores que revelam também a ausência por parte do
Município de Natal, de medidas mínimas de prevenção e proteção da
comunidade que se instalou em encostas e áreas de duna (Área de Preservação
Permanente – APP), que acabaram sendo configuradas como áreas de alto risco
geológico, em razão do desmatamento da duna e da alteração do perfil das
encostas, como bem destacado no resumo do documento técnico realizado pelo
Serviço Geológico do Brasil:
“A ausência de políticas públicas de controle urbano à época do início da ocupação da duna permitiu o crescimento da comunidade Mãe Luiza em uma Área de Proteção Permanente (APP) (fl. 225)
Existe um passivo histórico herdado pela gestão atual e a ser herdado por gestões futuras, que não possui solução fácil, pois passa por um amplo e minucioso estudo multidisciplinar, voltado para a reestruturação de ruas, um projeto global de drenagem, dimensionada para suportar vazões de escoamento de ordem superior às ocorridas neste evento, drenando e conduzindo as águas de forma segura até a descarga na linha de base, sem riscos de erosão (fl. 225)
Observamos inúmeras casas nas ruas a montante da encosta, construídas a até mais de um metro abaixo do nível da rua, portanto, em risco de atingimento em caso de transbordamento além das sarjetas e/ou infiltrações no calçamento, que apresenta
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afundamento em vários trechos, por conta do trânsito de veículos pesados (fl. 225).
Os depoimentos de técnicos do Município de Natal
confirmaram o subdimensionamento do sistema de drenagem pública instalado
em parte da área.
No depoimento de fl. 66, os representantes da SEMOPI
afirmaram que o sistema de drenagem foi implantado no Bairro de Mãe Luiza em
junho de 1990 e que a realidade do local, na época, era totalmente diferente da
atual, principalmente em relação ao adensamento da área. Explicaram, ainda,
que até ocorrer o desastre, o sistema funcionava da seguinte forma: nas Ruas
Camaragibe e Atalaia, o sistema de drenagem era superficial, ou seja, as águas
escoavam sobre a pavimentação e sobre as escadarias, sem qualquer captação
em redes. A partir da Rua Guanabara, as águas eram captadas através de bocas
de lobo, que seguiam para poços de visitas, que eram interligados pela rede de
galerias; que no ponto mais baixo, localizado na Rua Guanabara, nas
proximidades do nº 700, as águas se reuniam e se dirigiam sob a escadaria em
direção à Av. Governador Sílvio Pedrosa e desaguavam na Praia de Areia Preta.
Na mesma audiência, quando questionados se o sistema de drenagem existente
no local era adequado, responderam que, em decorrência do calçamento e do
asfalto existente no Bairro de Mãe Luiza, o problema aumentou
consideravelmente do ano que foi implantado para o ano do desastre (2014) e
que a situação ideal de drenagem seria a captação por sistema em toda a bacia,
não de apenas parte da bacia, como existente.
O parecer técnico proveniente da Secretaria de Geologia,
Mineração e Transformação Mineral / SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL -
CPRM / Departamento de Gestão Territorial - DEGET do Ministério de Minas
Energia (fls. 218/241) fornece dados importantes para a compreensão do
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desastre ocorrido:
“ a comunidade cresceu ocupando uma Área de Preservação Permanente (APP) e se trata de uma ocupação essencialmente irregular, porém plenamente consolidada, com abastecimento de água, energia, calçamento, comércio ativo e serviço de esgotos em grande parte da área” (fl. 222)
“No Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR) de Natal, a área está indicada como de Alto Risco geológico” (fl. 222)
“A área do Bairro de Mãe Luiza afetada pelo desastre está situada na face frontal (litorânea) da duna. A presença de estruturas geológicas como as estratificações acanaladas cruzadas, observadas nessa unidade, evidenciam deposição eólica e confirmam seu caráter de depósito inconsolidado. ” ((fl. 222)
“A constatação mais importante é a da completa impermeabilização da duna, formando uma imensa área de captação de águas pluviais. Em condições originais, as dunas têm imensa capacidade de absorção de água em função da porosidade e permeabilidade elevadas. No Bairro Mãe Luiza, todas as ruas possuem calçamento de paralelepípedos e os becos, geralmente cimentados e perpendiculares à linha de praia, fazem a ligação entre as ruas e exercem a função de canais de escoamento superficial (...)” (fl. 223).
No Relatório Técnico pericial, realizado pela
UFRN/FUNPEC, os peritos destacaram o elevado grau de impermeabilização da
duna pela ação dos moradores, tanto no espaço privado (lotes e edificações)
como público (vias):
Na primeira situação, constata-se o aumento da taxa de ocupação das edificações e a pavimentação dos pequenos quintais com cimento ou outros elementos construídos e/ou impermeáveis, fato que contribui para ampliar o volume das águas pluviais que é lançado nas ruas. Na segunda, observa-se que todas as vias (ruas, becos e travessas) do bairro e, por conseguinte, da área atingida pelo desastre, são pavimentadas com paralelepípedos (Rua Atalaia) ou asfalto (Rua Guanabara), ou mesmo cimento, como é o caso dos becos. Estes estão geralmente posicionados perpendiculares à linha de praia e complementam o sistema viário principal do bairro, com funções de ligação entre as ruas e de circulação exclusiva para pedestre, estão geralmente posicionados perpendiculares à linha de praia.
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(Fl. 42/43 do Relatório Técnico Ambiental – UFRN/FUNPEC, 2014.)
O conjunto das vias totalmente impermeabilizadas bloqueiam as funções de porosidade e permeabilidade próprias das dunas e, como um sistema articulado e facilitado pelo gradiente de declividade, promovem o escoamento superficial das águas, com participação destacada dos becos, o que, segundo os moradores e registros das visitas in loco, em dias de chuvas intensas, convertem-se em densos córregos com fluxos descendentes, dificultando ou impedindo a circulação das pessoas. Um desses becos, localizado entre as ruas Guanabara e Atalaia, foi totalmente envolvido e destruído pela “Corrida de Areia” que afetou o terreno localizado à sua frente. (Fl. 43 do Relatório Técnico Ambiental – UFRN/FUNPEC, 2014.)
A figura elaborada pela equipe de peritos à fl. 1066 dos autos
(Fl. 76 do Relatório Técnico Ambiental – UFRN/FUNPEC, 2014.), contendo o
esquema de direção natural das águas de chuva no Bairro de Mãe Luiza permite
a compreensão das consequências decorrentes da ausência de um sistema
eficaz de drenagem na área. Também permite visualizar e relacionar o perigo
que a falta de um sistema adequado de drenagem pode ocasionar em uma área
que foi praticamente toda impermeabilizada por ocupações urbanas, que não
possui mais vegetação natural fixadora da encosta e que é caracterizada como
de risco geológico.
Nota-se que o local afetado diretamente pelo desastre
corresponde ao ponto topograficamente mais baixo, que recebia todas as águas
de chuva das Ruas Guanabara, Atalaia e adjacentes.
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Figura 20: Esquema da direção da drenagem pelas ruas que abrangem a encosta, desaguando no mar. Fonte: Relatório Técnico Ambiental – UFRN/FUNPEC, 2014
Importa realçar ainda o esclarecimento pericial relativo à
inadequação do sistema de drenagem, especialmente no tocante à fragilidade
técnica e funcional de sua galeria, que era composta de tubos pré-fabricados,
unidos com emendas frágeis sem sustentação estrutural:
Conforme foi constado in loco, bem como nas audiências com os técnicos dos órgãos gestores, em especial os da Secretaria Municipal de Obras Públicas e Infraestrutura do município de Natal (SEMOPI) e no histórico do evento a partir de depoimentos de moradores, a amplitude das consequências desastrosas deve-se, principalmente, à inadequação do sistema de drenagem, tendo em vista a fragilidade técnica e funcional da sua principal galeria. Esta, além de estar posicionada sob a escadaria, que desmoronou com a corrida de areia e sob o leito da Rua Guanabara era composta por tubos pré-fabricados curtos unidos por emendas frágeis sem sustentação estrutural, o que facilitou o processo de solapamento autodestrutivo da tubulação, na medida em que, essas emendas iam sendo desestruturadas e deslocadas progressivamente pela corrida de areia (Figura 90) (Fl. 114 do Relatório Técnico Ambiental – UFRN/FUNPEC, 2014.)
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1.4. RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO E DA CAERN PELO DESASTRE
Afirma-se, ainda, que o Município, por ter elaborado o Plano
Municipal de Redução de Risco (PMRR), em 2008, já tinha conhecimento do alto
risco de deslizamentos de encostas no local, e por isso deveria ter providenciado
medidas mais eficazes e de efeitos permanentes, pois até a data do desastre, o
Município desconsiderou que a área era de risco. Nesta questão o Município,
portanto, deixou de atender as diretrizes da Lei n. 12.608, de 10.04.2012, que
“Institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil”, especialmente no que
diz respeito ao combate a ocupação de áreas ambientalmente vulneráveis e à
fiscalização das áreas de riscos e de desastres. Tampouco atentou para as
recomendações do Plano Municipal de Redução de Riscos – PMRR, que
“objetiva o mapeamento das áreas para posteriormente traçar os rumos do
planejamento urbano das mesmas, hierarquizadas por nível de criticidade,
abrangendo os assentamentos localizados em encostas e/ou susceptíveis a
inundações, localizados em flancos dunares e adjacências ou em outras áreas
que se mostrem inadequadas para real e completa inserção social desses
assentamentos na cidade formal. ” (Cf. doc anexo arquivo digitalizado intitulado
Vol I-PMRR e Vol 2-PMRR contendo o “PLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE
RISCOS DO MUNICÍPIO DE NATAL; volume 1, p. iii).
No intuito de identificar no PMRR as omissões municipais
relacionadas ao desastre do Bairro Mãe Luiza, importa destacar que na “Tabela
6.4. Áreas com risco de deslizamento/soterramento de dunas”, p. 96, vol. 1, do
PMRR, ao setor onde ocorreu o deslizamento de terra, conhecido por Aparecida
(localizada nos mapas de fls. 67-69, vol. 1, do PMRR), foi atribuído o grau de
risco 4, nível este considerado alto na tabela 2.1 da p. 14 do Plano.
Esse risco aumentou para o nível 5 (cinco) na “Tabela 6.6.
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Áreas com risco decorrente da ocupação de Áreas de Preservação
Permanente”, p. 103, considerado o risco mais alto naquela tabela da p. 14 do
PMRR; na Tabela 7.1., na p. 106, que considera o grau de risco com base em
todos os processos de instabilização observados, foi atribuído grau cinco, sob a
justificativa de que “Está sujeito a risco alto de deslizamento de solo.
Possíveis invasões em área non aedificandi (dunas, área de preservação
permanente)” (grifo nosso); a tabela 7.2, na p. 111, para “Áreas com maior grau
de risco total”, que são consideradas no próprio PMRR, primeiro parágrafo da p.
110, como o ““ranking” das zonas com maior grau de risco da cidade”, a região
de Aparecida voltou a receber o grau de risco total 5; na p. 23-24 constam as
formas de “Intervenções de Redução de Risco em Encostas ou Dunas
Ocupadas”, que, no caso, não haviam sido implantadas;
Na fl. 30 do Plano, constam os “INSTRUMENTOS DE
PREVENÇÃO/INTERVENÇÃO NAS ÁREAS DE RISCOS”; nas fls. 57-61, o
Plano arrola várias medidas preventivas, que deveriam ter sido providenciadas
pelo Município na região do desastre, destinadas a evitar acidentes e que devem
ser implantadas pelos órgãos da Defesa Civil do Município. Nas fls. 135-138 do
vol. II constam as “medidas estruturais” recomendadas para a região de
Aparecida.
Tem-se, assim, que o PMRR identificou todas as áreas de
risco de acidentes da Cidade de Natal e enumerou as medidas paliativas e
concretas que podem ser providenciadas. Não obstante, o Município não havia,
ao tempo do desastre, implantado essas medidas, salvo a construção de muros
de arrimos que, agora, sabe-se que não foram suficientes para conter o
deslizamento de terra.
No Relatório Técnico Ambiental, solicitado pelo Ministério
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Público à Funpec/UFRN a referência aos riscos previstos no mencionado PMRR
consta nas fls. 45 a 47 (fls.990 a 1131), de onde também se infere que tais riscos
de deslizamento de terra haviam sido identificados desde o ano de 2008. No
relatório solicitado a professores da UFRN pelo Município não se faz alusão ao
PMRR; no do Serviço Geológico do Brasil, nas fls. 261 e 263 registra que no
PMRR a área onde ocorreu o acidente é considerada de “Alto Risco Geológico”.
Todos esses levantamentos de dados prévios previstos no
PMRR, acima referidos, em relação à localidade de Aparecida, onde ocorreu a
“Corrida e Areia”, demonstram as inciativas que deveriam ter sido implantadas
pelos réus, dentro das suas devidas atribuições, naquele setor do Bairro Mãe
Luiza. Tudo isso, aliado àquelas outras causas antecedentes, preparatórias,
predisponentes citadas nos relatórios técnicos suso analisados, traduzem a
omissão ou iniciativas inadequadas cuja responsabilidade deve ser imputada à
CAERN e ao Município.
O sistema de drenagem, portanto, implantado pelo
Município, deveria ter levado em consideração a situação de risco da área. Para
se permitir a moradia de famílias na comunidade de Mãe Luiza (e,
especialmente na localidade conhecida como Aparecida) o sistema de drenagem
deveria ser reforçado. Ao contrário disso, o que se constatou e se comprovou,
tendo sido admitido pelo próprio Município, o sistema de drenagem estava
subestimado.
A CAERN, por sua vez deveria ter também levado em
consideração a situação de risco da área para a instalação e a manutenção do
sistema de esgotamento sanitário de Mãe Luiza. Todavia, o que se constatou é
que o sistema operava sem a devida operação, com vazamentos e
extravasamentos constantes e sem nenhum tipo de controle e/ou instrução
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comunitária que é essencial para o sistema implantado na área.
Realmente, o sistema de esgotamento sanitário instalado no
Bairro de Mãe Luiza pela CAERN é o condominial. Pelos esclarecimentos
fornecidos no laudo pericial, às fls. 1108 e 1109, de acordo com Andrade Neto
(2011), esse modelo condominial é o mais adequado e recomendável para a
área. Por esse modelo, uma rede de tubulações passa em regra no interior dos
lotes, cortando-os em sentido transversal, intramuros ou nas calçadas.
Intercalada nesta rede de pequena profundidade, encontra-se, em cada lote,
uma caixa de passagem, à qual se conectam as instalações sanitárias prediais,
independentemente, constituindo um ramal multifamiliar. Esse arranjo forma uma
espécie de condomínio, abrangendo o conjunto dos usuários interligados por um
ramal. Pelo modelo condominial, uma rede coletora simplificada recebe as
contribuições dos ramais condominiais que são localizados quase sempre nas
calçadas e os poços de visita são substituídos por simples caixas de passagem.
Esse modelo requer um programa de ação e de educação
sanitária e ambiental permanente em relação a comunidade beneficiada.
Também requer uma operação eficaz e eficiente, o que segundo a perícia, à fl.
1110 “o que não é exatamente o que se observa na área, com a ocorrência de
constantes obstruções na rede e escoamento de esgotos pelas ruas(...)”
As informações da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN) ao Ministério Público sobre o funcionamento do sistema, incluindo o processo de mobilização e participação social para implantação e manutenção do sistema, deixaram evidente que não existe um plano ou programa de participação social estruturado adequadamente, que assegure seu monitoramento constante. Além disso, as ações de educação sanitária e ambiental com ênfase no esgotamento sanitário, não são suficientes e nem especificamente preparadas ou dirigidas para este fim. Um dos aspectos que merece destaque é a ausência de regularidade dessas ações, de ocorrências inconstantes e com baixa frequência, fato que compromete o desenvolvimento e a consolidação das mesmas,
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assim como o envolvimento da comunidade no processo, de modo ao garantir a sua sensibilização para a importância do uso adequado da rede, assim como o apoio às ações de operação e manutenção eficientes do sistema de esgotos, seja ele condominial ou não.
(...)
Algumas situações de obstrução do sistema que antecederam o evento ou mesmo de impermeabilização desnecessárias, que foram evidenciadas nos depoimentos dos moradores e dos órgãos gestores nas audiências realizadas no Ministério Público poderiam ser evitadas se houvesse um trabalho de gestão mais articulado e dirigido a uma maior conscientização dessa população usuária sobre o funcionamento do sistema e a responsabilidade compartilhada sobre o mesmo (Fl. 120 do Relatório Técnico Ambiental – UFRN/FUNPEC, 2014.)
1.5. DANOS MATERIAIS OCASIONADOS
O infográfico veiculado no jornal “Tribuna do Norte” no dia 16
de junho de 2014 facilita a compreensão dos danos ocasionados pelo desastre
ambiental de Mãe Luiza e Areia Preta. Pela ilustração, é possível verificar que os
danos diretos atingiram tanto moradores de Mãe Luiza (Rua Guanabara e
adjacências) quanto moradores de Areia Preta (encosta entre a Rua Guanabara
até a Av. Silvio Pedrosa).
O desastre afetou de forma diferenciada os dois padrões de ocupação e seus respectivos moradores. Como se pode observar na Figura 58, a corrida de areia ocorreu inicialmente em um dos terrenos das encostas, ainda livre de edificações, localizado entre dois edifícios recentemente construídos – O Aldebaran e Infinity. Ao lado deste terreno e do edifício Infinity, conforme referido no capítulo 1 (contexto urbano), existia uma escadaria que conectava o bairro de Mãe Luiza a Orla marítima e servia de acesso, mesmo precário, à praia para os seus moradores.
Os impactos da corrida de areia no terreno referido e o desmoronamento de trecho da Rua Guanabara e de parte expressiva do seu conjunto edificado resultaram na desestruturação da dinâmica urbana do lugar, tanto nos aspectos urbanísticos como sociais. No primeiro aspecto, pela alteração na configuração urbanística e nas relações espaciais,