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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU PPGDir = Programa de Pós-Graduação em Direito PROJETO DE PESQUISA: JUSTIÇA DEMOCRÁTICA DE TRANSIÇÃO Políticas da Memória, Direitos Humanos e Direito Internacional Penal PROPONENTE: Tupinambá Pinto de Azevedo Doutor em Direito do Estado e Teoria do DireitoUFRGS Líder do GRUPO DE PESQUISA CIÊNCIA PENAL CONTEMPORÂNEA Porto Alegre (RS)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE DIREITO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU PPGDir = Programa de Pós-Graduação em Direito

PROJETO DE PESQUISA:

JUSTIÇA DEMOCRÁTICA DE TRANSIÇÃO Políticas da Memória, Direitos Humanos e Direito Internacional

Penal

PROPONENTE: Tupinambá Pinto de Azevedo Doutor em Direito do Estado e Teoria do Direito–UFRGS Líder do GRUPO DE PESQUISA CIÊNCIA PENAL CONTEMPORÂNEA

Porto Alegre (RS)

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Programa de Pós-Graduação em Direito Atuação: Pesquisador de Pós-Graduação desde 01/01/2007 Pesquisador de Graduação desde 10/10/1998

1. TÍTULO DA PESQUISA: JUSTIÇA DEMOCRÁTICA DE TRANSIÇÃO Políticas da Memória, Direitos Humanos e Direito Internacional Penal

2. Proponente: Tupinambá Pinto de Azevedo 3. Qualificação do Pesquisador:

Professor do PPGDir (Programa de Pós-Graduação em Direito) Líder do GRUPO DE PESQUISA CIÊNCIA PENAL CONTEMPORÂNEA Pesquisador de Pós-Graduação desde 01/01/2007

Pesquisador de Graduação desde 10/10/1998 4. Vinculado à Linha de Pesquisa: FUNDAMENTOS DA INTEGRAÇÃO JURÍDICA. Linha pertencente ao Programa de Pós-Graduação em Direito.

5. OBJETO: Essa linha de pesquisa tem por escopo as perspectivas da integração, examinando a institucionalização jurídica dos instrumentos e dos órgãos comunitários; o direito internacional em novas interfaces, com defesa e promoção de direitos nos espaços integrados e nos aspectos transnacionais; em nosso caso específico, o novo direito internacional penal e a proteção internacional dos Direitos Humanos.

Após atenta leitura das ÁREAS DE CONCENTRAÇÃO E LINHAS DE PESQUISA, aperfeiçoamos as disciplinas que tratam do Direito Internacional Penal, no PPGDir, incluindo, desde 2006, ao lado do Direito Penal, a Filosofia, a Teoria Geral da História, da Sociologia, da Economia e da Educação, categorias propostas à vista da trandisciplinaridade presente na chamada Justiça Democrática de Transição.

O projeto oferecido, entre novos enfoques, tem por centro a ideia de Justiça Transicional ou de Transição (cujos pontos básicos de discussão se destacam como Anistia, Memória e Verdade, persecução penal de delitos contra direitos humanos ou contra a humanidade, temática integrada na Área e Linha já esboçadas no Programa de Pós-Graduação do Direito, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul), e cujos contornos aparecem

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como aspecto stricto sensu da pesquisa. Pilares a serem enfatizados, nesse âmbito, são (1) o Direito Humanitário (vide proteção de refugiados e deslocados internos), (2) o Totalitarismo, tema sempre pertinente ao estudo do Direito Internacional Penal, (3) o Direito Penal, com discurso argumentativo incidindo sobre normas, em busca de novos paradigmas (nova gramática penal?)1 para enquadramento do Tribunal Penal Internacional (Estatuto de Roma).

Data de Início: 07/2011.

6. TEMA: Justiça democrática de Transição

A ideia de Justiça de Transição pode ser vista, em perspectiva histórica, como algo tão antigo quanto a democracia.2 Aí a referência aparece na experiência ateniense entre 411 e 403 a.C., quando se tem a passagem da democracia à oligarquia, com posterior volta dos democratas ao poder. Principais mecanismos de justiça, nessa transição, a punição e a reparação. Embora a expressão Justiça de transição não estivesse cunhada, a busca de reconciliações, em 403, já trazia características que, no curso do tempo histórico, iriam se acentuando. Ruti Teitel traz à colação uma ideia transicional mais próxima de nossos contemporâneos, com origem na Primeira Guerra Mundial, mas efetivo aprofundamento na Segunda, com o desenvolvimento dos tribunais de Nuremberg e Tóquio, “o desenvolvimento de programas de desnazificação, na Alemanha, e a elaboração de legislação para compensar as vítimas do nazismo, inicialmente sob a orientação dos Aliados e, mais tardes, do Parlamento da própria Alemanha Ocidental, passando a ser entendida como ‘extraordinária e internacional’.”3 7. DELIMITAÇÃO DO TEMA: O que entendemos hoje por Justiça de Transição, e chamaremos, nesse trabalho, de Justiça Democrática de Transição, teve seu efetivo momento de (re)instauração no julgamento dos antigos integrantes das Juntas Militares, na Grécia em 1975, e na Argentina, em 1983.4 Diferentes formas de reparação e os esforços na busca pela verdade (sobretudo diante da realidade dos desaparecidos), incentivaram essa nova forma de justiça, menos como justiciamento, que caracterizava os eventos revanchistas de outros tempos, mas como efetiva imposição da verdade, como “valor absoluto e irrenunciável”.5

O caso brasileiro, como dos demais casos do cone sul, na segunda metade do século XX, é sucedido pela evolução e consolidação do direito

1 FLETCHER, George P. Gramática del Derecho Penal. B.Aires: Hammurabi, 2008.

2 ELSTER, Jon. Closing the books: transitional justice in historical perspective. Cambridge: Cambridge

University, 2004, p. 3-4, 21-22, 24, 45-47. 3 Aut. cit., Transitional justice genealogy. In Harvard Human Rights Journal. Cambridge, v. 16, 2003, p.

69. 4 BICKFORD, Louis. Transitional justice. In HORVITZ, Leslie Alan; CATHEFORD, Christopher. Macmillan

encyclopedia of genocide and crimes against humanity. Nova Iorque: Facts on File, 2004, p. 1045-1047. 5 BICKFORD, op. cit.

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internacional dos direitos humanos, de modo que se poderia, nesse aspecto, fixar três pontos: direitos humanos – direito humanitário – Tribunal Penal Internacional.

Eis o tema, com suas variantes, que se pretende desenvolver nesta pesquisa.

Palavras-chave: Ditadura e repressão - Memória e Verdade - Desaparições forçadas – Castigo – Imprescritibilidade - Impunidade – Anistia – Perdão - Reparação

8. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

• A ideia de Justiça Democrática de Transição (JDT) propõe diálogo com vários campos do saber, caracterizando uma construção coletiva – o trabalho de educadores, o instrumental racionalizador da filosofia (a filosofia política), as ciências penais, a história - e tal transdisciplinariedade leva a especiais dificuldades para estabelecimento de parâmetros de leitura para os pesquisadores, cuja tendência é fixarem-se na área específica de suas disciplinas?

• Os principais mecanismos de justiça, na transição, são a punição e/ou a reparação?

• A JDT se realiza via retribuição, ao modelo punitivo criminal, ou comporta novas janelas, como a reparação, restauração, perdão, (re)conciliações?

• A verdade pode ser vista como valor absoluto e irrenunciável, a ser imposto, e nesse âmbito, justifica o justiciamento, que caracteriza eventos revanchistas?

• Em quais aspectos a busca pela verdade se diferencia, diante da recordação do que já se consumou e da saga dos desaparecidos, cuja realidade ainda não é conhecida, e portanto, suscetível de investigações?

• A articulação de testemunhos e discursos do passado conseguirão trazer os fatos como aconteceram, ou memória é sempre redutível a reminiscências?6

• As desaparições forçadas mostram outra face da memória, como misto de passado e presente?

• A memória trabalhada nas Comissões da Verdade, destacando a importância do luto, exige um percurso sui generis na investigação dos desaparecidos?

6 Walter Benjamin, Sobre o conceito de história, apud CHRISTOFOLETTI, Rogério, O discurso da transição

– mudança, ruptura e permanência. Itajaí-SC: Univale Ed., 2000, p. 17.

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• Autoritarismo não significa, necessariamente, prática de crimes contra a humanidade, mas no interior de regimes autoritários estão presentes violações aos direitos humanos – a determinar variações no conceito e aplicação de castigos?

• É possível e necessário estabelecer diferenças entre transição com ruptura e transição sem ruptura?7

• É possível, reencontradas memória e verdade, mesmo fechado o ciclo histórico em resgate, e então formular discurso de justiça, não se presenciando mais uma espécie de transição em transe?8

• Em havendo transição sem ruptura, o discurso transicional não é trabalhado em tempo definido, como se fosse possível marcar a hora da mudança – e tal fato retarda ou simplesmente anistia ou anestesia os fatos merecedores de aprofundamento e condenação?

• Nisso consiste a ideia de permanência ou de mera passagem?

• E a simples mudança, sem ruptura, leva naturalmente à conciliação?

• Apenas na ruptura há transição que possibilita o dissenso, o confronto e o julgamento do passado?

• No contexto em que se movem memória e crime, qual deve ser o papel do castigo?

• Deveríamos confiar em teorias criminológicas ou na política criminal, preferencialmente, para elucidar o âmbito e aptidão do direito penal, controlando assim o comportamento social?

• Existe razoabilidade, realizada uma violação ou ofensa, aplicar ao responsável um malefício, ou seja, provocar um mal pelo fato de que outro mal ocorreu?

• Qual justificação moral atenderia a essa aritmética moral?9

• A soma de um mal e outro mais, atenderia, como resultado, algo bom, e não, simplesmente, dois males?10

• Se, como Kant escreveu, o primeiro dever político é abandonar o estado de natureza, e submetermo-nos, todos, ao império de um direito razoável e justo, a pena aplicável ao responsável pelas atrocidades na

7 Prefácio de Manoel Luiz Gonçalves Corrêa, in CHRISTOFOLETTI, op. cit., p.15

8 CHRISTOFOLETTI, op. cit., p. 113.

9 MARTÍN PEROT, Pablo. Servir al Estado de Derecho – persecución penal de delitos contra la

humanidad em Argentina. Madri: Dykinson, 2008, p. 11. 10

Idem, Idem, p. 11.

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guerra, ou em regimes autoritários/totalitários, representaria um retrocesso, em direção ao estado de natureza?

• Ou a volta a estado de natureza seria próprio da impunidade no âmbito internacional ou nacional, em havendo violações aos direitos humanos?

• Se o castigo é ato de justiça, e não a continuidade de hostilidades anteriores, tem lugar o status de vingança?11

• Em busca da justificação moral do castigo (pena), é indispensável uma visão filosófica geral?

• Diversamente, a finalidade ou função do direito penal não seria questão filosófica, mas empírica?12

• Uma das principais funções da JDT seria o combate à impunidade, só possível por meio da persecução penal e consequente inflição de pena, a começar pela prisão?

• A JDT afastaria anistia, perdão, restauração, optando pela aplicação de penas, caracterizada essa como ideal por sua dimensão educativa, no meio social?

• O objetivo educativo dependeria de penas justificadas pelo tipo expiatório e retributivo?

• No curso de conflitos armados ou de rebeliões frente a regimes ditatoriais, nenhuma medida poderia ser adotada em termos de Justiça de Transição, já que, por definição, esta opera em momentos de passagem, e fundamental aspecto é a memória – volta ao passado?

• A prevenção que se pode buscar, na JDT, seria vinculada às providências posteriores a ditos regimes de força, estados de exceção, deixando de atuar preventivamente, para evitação de tais regimes, em seu início?

• O perfil da JDT, traçado doutrinariamente, afasta a legítima defesa humanitária, o combate à agressão, ainda indefinida no Estatuto de Roma?

• Tem natureza de JDT a proteção de refugiados e deslocados internos, como realizada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas?

• A Justiça Internacional Penal fracassa no intento de consagrar a JDT, pela conhecida distância entre a justiça dos vencedores e a Justiça que deve proteger os débeis e povos oprimidos?

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Vide Hans Kelsen, “Will the Judgment in the Nuremberg Trial Constitute a Precedent in International Law?”, in The International Law Quarterly, v. 1º, n. 2, 1947, p. 115. 12

V. MARTÍN PEROT, op. cit., p. 15.

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• JDT seria fiel ao “modelo de Nuremberg”?

• Só é possível encontrar respostas aos paradoxos da JDT, por intermédio de estudos de casos?

• Nem as opções do castigo, com destaque para a imprescritibilidade, ou da impunidade, com ênfase na anistia, são respostas adequadas ao Estado Democrático de Direito?

9. HIPÓTESES

A investigação se desenvolverá com plena consciência de que não é tarefa para lidadores do direito, tão-somente, o estudo e aprofundamento da Justiça Democrática de Transição. A necessidade de implementação de construção coletiva, invoca o trabalho de educadores; o instrumental racionalizador da filosofia, com destaque para a filosofia política, também fundamental ao entendimento e aceitação da ideia de JDT (lembremos apenas, aqui, a importância de Paul Ricouer, Giorgio Agamben, Antoine Garapon);13 como esquecer da história/historiografia, assinalando os marcos da transição que se defende? São razões para dizer que este projeto parte e se expande no cenário do Direito Internacional Penal e dos Direitos Humanos, aberto às demais disciplinas que têm a dignidade humana como estudo e finalidade.

O espectro é transdisciplinar.

Comissões da Verdade trabalham em torno da memória, inclusive importantes estudos acerca do luto; os desaparecimentos, que suscitam matéria viva e de desdobramentos futuros ainda não imagináveis; o fenômeno do totalitarismo, magistralmente estudado por Hanna Arendt, e suas demais ramificações, como o autoritarismo e formas larvais de ditaduras; por fim, a grande questão proposta, pretendendo responder se a Justiça de Transição se realiza via retribuição, ao modelo punitivo criminal, ou comporta novas janelas, como a reparação, restauração, perdão.

Para comprovação das hipóteses, essencial o estudo de casos, pois são tantas as experiências já conhecidas, no tempo e no espaço, que é preciso selecionar as ocorrências emblemáticas, acreditar no contraste entre vivências para ressaltar a ausência de certezas, na matéria em estudo. Mas, também, o estabelecimento já claro de alguns princípios norteadores.

A hipótese central reside no questionamento da própria expressão Justiça de Transição, e os problemas elencados no item 8, supra, são manifestações múltiplas da inquietação decorrente desse debate. O fim de um período totalitário, autoritário, repressivo, e o estabelecimento ou restabelecimento de regime fundado no Estado de Direito, não deve 13

Ver bibliografia, ao final.

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propor respostas transicionais, mas permanente vigilância para não repetição do passado, tornando definitivas as Comissões de Verdade.

10. OBJETIVOS: • Geral e Específico, voltados a Mestrandos ou Doutorandos.

1. Apoiar ao desenvolvimento da capacidade pessoal: a) de pesquisa, avaliação e seleção relativamente à literatura jurídica pertinente; b) de estabelecer conexões relevantes com os conhecimentos adquiridos em outras disciplinas e cursos. 2. Oportunizar a apreensão dos grandes temas contemporâneos, como o Estado nacional, os entes comunitários, a convencionalidade (Tratados e Convenções), voltados para direitos humanos e a resposta às suas violações; 3. Enfatizar a importância da constitucionalização e convencionalidade, em relação à política criminal e sua normatização, via direito penal. 3. Aprofundar a compreensão do objeto, sentido e alcance de uma Justiça orientada ao Estado democrático e social de direito, integrando nas Constuituições as mais relevantes Declarações de Direitos Humanos, de cidadania. 4. Facilitar aos integrantes de grupos de pesquisa a compreensão dos direitos humanos como aspecto de responsabilidade profissional, ética e social em todos os campos, não só da pesquisa, mas do do estudo e do trabalho.

7. Cooperar na formação de recursos humanos dotados das aptidões necessárias que possibilitem participação nas distintas áreas institucionais, para a organização e execução de políticas públicas em matéria de direitos humanos como para a elaboração de projetos de lei atinentes à matéria.

• Específico, voltado a graduandos e especializandos: - Objetivos acima enumerados, devidamente adaptados ao nível de

capacitação do acadêmicos de graduação e/ou recentemente formados, sobretudo voltados aos cursos de Especialização. 11. REVISÃO PRELIMINAR DA LITERATURA 11.1. A origem da Justiça de Transição 11.2. Investigação e ações políticas em práticas da (In)Justiça de Transição 12. METODOLOGIA Há vários métodos, que permitirão a outros pesquisadores o entendimento do percurso do caminho palmilhado pelo pesquisador original. Em relação ao objetivo metodologicamente proposto, esta pesquisa se pretende descritiva/explicativa; a linha de pensamento, zetética, aberta a dúvidas e ao pensamento crítico. Entre as técnicas e metodologias possíveis, opta-se pela busca de respostas em documentos indiretos, ou seja, não produzidos pelo pesquisador, e diretos, materializado o conhecimento através de entrevistas, enquetes, questionários, formulários. Daí, as técnicas

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documental e bibliográfica, além da observação. Quanto à produção de documentação direta, com várias pessoas consultadas, as respostas serão abertas, especificando o universo e a amostra, os instrumentos de coleta de dados, análise de resultados. Partindo das sugestões de Liliane dos Santos Viera (Pesquisa e Monografia Jurídica na Era da Informática, Brasília Jurídica, 2003), pretende-se métodos de procedimento (os meios escolhidos para atingir os objetivos, como, p. ex., o histórico, indispensável em se tratando de labor em torno da memória, reconstrução do passado, evitação do esquecimento, etc.). Também merece atenção a metodologia de abordagem, em relação ao tema tratado. Destaque para a indução e a dedução, o método dialético e o intuitivo. Na abordagem dos julgamentos ou comissões da verdade, importa a metodologia jurídica, onde se insere o que denominamos de metodologia

política, já que o discurso é proferido no seio das ciências jurídico-sociais. Por fim, destaca-se a possibilidade de pesquisa no exterior. 13. SUMÁRIO INTRODUÇÃO PARTE I: Origem e evolução da Justiça Democrática de Transição A) Investigação e ações políticas em práticas da (In)Justiça de Transição A1. Estudo de casos: 1. O genocídio armênio 2. Memória da Primeira Guerra Mundial 3. Memória da Segunda Guerra Mundial 3.1. O Holocausto 3.2. Nuremberg e Tóquio 3.3. O processo Eichmann 3.4. O processo Pétain 4. Tribunais Internacionais Penais ad-hoc 5. Franquismo e antifranquismo A2. Formas e (i)legitimação da resistência: (a) França; (b) Itália; (c) Alemanha; (d) (Gueto de) Varsóvia; (e) África do Sul; (f) Cone Sul B) Paz e direitos humanos B1. Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos B2. Refugiados e deslocados internos B3. Períodos de transição e a atividade de Sérgio Vieira de Mello C) Estado de Direito Democrático perante a memória do Autoritarismo e do Totalitarismo C1. Justiça Democrática de transição e a questão da legalidade autoritária. C2. Relações entre o militarismo, o governo dos Juízes, e a relação militares-judiciário

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PARTE II: IMPLEMENTAÇÕES DA JUSTIÇA DEMOCRÁTICA DE TRANSIÇÃO A) Anistia e auto-anistia A1. Jurisprudência argentina A2. Jurisprudência uruguaia A3. Jurisprudência chilena A4. Jurisprudência brasileira B) Comissões da Verdade B1. Punição

B2. Reparação – no Direito Internacional Penal e nos Direitos Nacionais. B3. Genealogia da reparação no Estatuto de Roma B4. Reparações à vítima no Tribunal Penal Internacional. B5. Responsabilidade de reparação por indivíduos condenados, com destaque para o superior hierárquico. B6. Responsabilidade de reparação pelo Estado – sob aspecto subsidiário ou principal.

B7. Perdão B7.1. O poder monárquico B7.2 Através do poder executivo B7.3. O modelo da África do Sul 14. CONSIDERAÇÕES FINAIS Serão apresentadas as deduções decorrentes do estudo proposto,com respeito aos objetivos referidos na introdução e hipóteses de trabalho. Útil, em tal espécie de trabalhos, a inserção de conclusões propositivas, desse modo sugerindo pesquisas que prosseguiriam o texto formatado, em ocasião futura. A conclusão deverá cientificar o leitor sobre o que foi efetivamente comprovado, entre as hipóteses jurídicas formuladas inicialmente, mencionando o grau de comprovação ou negando as hipóteses em análise. 15. (a) CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO 15.a.1. Levantamento bibliográfico e obtenção da bibliografia 15.a.2. Revisão da literatura – parte teórica e prática 15.a.3. Elaboração da versão preliminar. 15.a.3.1. Incorporação de críticas 15.a.4. Versão final. 15.a.5. Edição final 15.a.5.1. Revisão ortográfica e gramatical 15.5.2. Normatização 15.a.6. Divulgação – impressa ou via digital 15 (b)CRONOGRAMA DE ELABORAÇÃO E EXECUÇÃO DA PESQUISA

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MESES I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII ETAPAS \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ \ \ \ \ 15.b.1. x x 15.b.2. x x x x x x 15.b.3. x x x 15.b.4. x x x 15.b.5 x 16. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS PRELIMINARES Justiça democrática de transição 1. ALASTUEY DOBÓN, M. Carmen. La reparación a la víctima en el marco de las sanciones penales, Valencia: Tirant lo Blanch, 2000. 2. AMBOS, Kai; MALARINO, Ezequiel; ELSNER, Gisela (Eds.). Justicia de Transición – con informes de América Latina, Alemania, Italia y España Montevidéu: Konrad Adenauer Stiftung, 2009. 3. AMGABEN, Giorgio. Estado de excepción - homo sacer II, 1. Valencia: Pré-Textos, 2004. 4. ARAÚJO, Thiago Cássio d'Ávila. Terrorismo, direitos fundamentais e os aspectos críticos da teoria da Constituição de Emergência. A&C Revista de Direito Administrativo e Constitucional. Belo Horizonte: Fórum, v.8, n.34, out./dez. 2008, p. 175-205. 5. BURUMA, Ian. El precio de la culpa. Cómo Alemnia y Japón se han enfrentado a su pasado. Barcelona: Duomo Ediciones, 2011. 6. CHRISTOFOLETTI, Rogério. Discurso da transição – mudança, ruptura e permanência. Itajaí: Ed.Univale, 2000. 7. ALBERT, Carlos Alberto; BALCARCE, Fabián. Exclusión y castigo en la sociedade global. Buenos Aires: BdeF, 2009. 8. ELSTER, Jon. Closing the books: transitional justice in historical perspective. Cambridge: Cambridge University, 2004. 9. FERNÁNDEZ MEIJIDE, Graciela. La historia íntima de los Derechos Humanos en la Argentina. Buenos Aires: Sudamericana, 2009. 10. FIGUEIREDO, Lucas. Olho por olho. Os livros secretos da ditadura. RJ: Record, 2009 11. GARAPON, Antoine. Crimes que não se podem punir nem perdoar – para uma justiça internacional. Lisboa: Inst. Piaget, 2004. 12. GARZÓN, BALTAZAR; ROMERO, Vicente Romero. El alma de los verdugos. Prólogo de SARAMAGO, José. B.aires: Del Nuevo Extremo/RBA, 2008. 13. GENRO, Tarso. Direito, Constituição e Transição Democrática no Brasil. Brasília: Francis, 2010. 14. GRECO, Heloisa Amélia. Dimensões fundacionais da luta pela anistia.Tese de doutorado apresentada a FAFICH – UFMG. Belo Horizonte, 2003. 15. GROSSER, Alfred. El crímen y la memoria. Buenos Aires: Editorial El Ateneo, 2010. 16. JEANGÉNE VILMER, Jean-Baptiste. Réparer l'irréparable. Paris: Pr.Univ.France, 2010.

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17. MARTÍN PALLÍN, José Antonio; ESCUDERO ALDAY, Rafael (Eds). Derecho y memoria histórica. Madri: Trotta, 2008. 18. MARTÍN PEROT, Pablo. Servir al Estado de Derecho.Persecución penal de delios contra la humanidad en Argentina. Buenos Aires: Dykinson, 2008. 19. MARTYNIUK, Claudio. ESMA (Escuela de Mecánica de La Armada). Fenomenología de la desaparición. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2004. 20. PELLAUER, David. Compreender Ricoeur. RJ: Vozes, 2009. 21. PEREIRA, Anthony W. Ditadura e repressão. O autoritarismo e o estado de direito no Brasil, no Chile e na Argentina. SP: Paz e Terra, 2010. 22. POGGIO, Pier Paolo. Nazismo y revisionismo histórico. Madri: Ed. Akal, 1997. 23. RICOEUR, Paul. La memória, la historia, el olvido. Madri: Trotta, 2003. 24. RIVERA RIBERAS, Iñaki. Política Criminal y Sistema Penal – viejas y nuevas racionalidades punitivas. Barcelona: Anthropos, 2005. 25. RUIZ, Castor Bartolomé (org.). Justiça e Memória para uma crítica ética da violência. S.Leopoldo: Unisinos, 2009. 26. SAN JOSÉ, Daniel Garcia, “El Derecho a La Justicia de las víctimas de los crímenes más graves de transcendência para la comunidad internacional”. In Revista Española de Derecho Internacional, n. 1, v. LVIII, 2006, PP. 119-45. 27. SARLO, Beatriz. Tempo passado – cultura da memória e guinada subjetiva. SP/MG: Cia. Das Letras/Ed. Ufmg, 2007. 28. SHALOM, Hector (et.al.). Testimonios para nunca más.De Ana Frank a nuestros días. Buenos Aires: Eudeba, 2008. 29. SOARES, Inês Virgínia Prado; KISHI, Sandra Akemi Shimada (coords.). Memória e Verdade – a justiça de transição no Estado democrático brasileiro. B.Horizonte: Forum, 2009. 30. SUCASAS, Alberto; ZAMORA, José Antonio (coords.). Memoria-politica-justicia. En diálogo con Reyes Mate. Madri: Trotta, 2010. 31. TAMARIT SUMALLA, Josep (coord.). Justicia de transición, justicia penal internacional y justicia universal. Barcelona: Atelier, 2010. 32. VATTIMO, Gianni. Adiós a la verdad. Barcelona: Fedisa Ed., 2010. 33. VERGARA ANDERSON, Luis. La producción textual del pasado I: Paul Ricouer y su teoria de la historia anterior a La memória, la historia y el olvido. México: Univ. Iberoamericana/ITESO, 2004. 34. VINYES, Ricard (ed.). El Estado y la memoria - gobiernos y ciudadanos frente a los traumas de la historia. B.Aires: Del Nuevo Extremo/RBA, 2009. 35. _____. Asalto a la memoria – Impunidades y reconciliaciones, símbolos y éticas. Barcelona: los libros del lince, 2011. 36. ZAFFARONI, Eugénio Raúl. La palabra de los muertos. Buenos Aires: Ed. Ediar, 2011

17a. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS COMPLEMENTARES

• Controle de constitucionalidade e de convencionalidade 1. ALBANESE, Susana (coord.). El controle de convencionalidad. Buenos

Aires: Ediar, 2011.

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2. BARROS, Suzana de Toledo. O Princípio da Proporcionalidade e o Controle de Constitucionalidade das Leis Restritivas de Direitos Fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 1996.

3. BARROSO, Luís Roberto. Os princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade. Florianópolis: UFSC, 1989. Disponível em: Consultor jurídico. Acesso em: <12.10.96>.

4. BAUMAN, Zygmunt. Legisladores e intérpretes. RJ: Zahar, 2010. 5. DENBEAUX, Mark P./HAFETZ, Jonathan. Los abogados de Guantánamo.

Barcelona: Sol90Idea, 2010. 6. MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. O controle jurisdicional da

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