(3) argumentos

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Argumentos e não-argumentos No dia-a-dia encontramos muitos textos que traduzem argumentos e outros tantos que, também, não configuram argumentos. Portanto, exige-se que em lógica saibamos identificar argumentos de não-argumentos. Essa questão será tratada em quatro tempos. (1) condição necessária Nos primeiros passos das nossas aulas vimos que a composição de um argumento parte da presença de sentenças assertivas. Assim, podemos adiantar que é uma condição necessária para existência de um argumento a existência de sentenças assertivas. Logicamente, perguntas, pedidos, comandos, bem como meras expressões de insatisfação não constituem argumentos. Exemplo: Os sinônimos são bons servos, mas amos ruins; portanto, escolham- nos com cuidado. O indicador de conclusão – portanto –, na verdade, não apresenta uma conclusão, senão um conselho ou uma ordem. (2) condição não-necessária Necessário lembrar, contudo, que a presença de sentenças assertivas não é uma condição suficiente para a existência de argumentos. Exemplo: A satisfação mais autêntica na vida provém do cumprimento do dever, e não da fuga do mesmo; de enfrentar e solucionar problemas, ser uma pessoa confiável. Há asserções no exemplo, mas não há um argumento. O texto simplesmente exprime uma opinião, um ponto de vista, sem qualquer tentativa de persuadir-nos a respeito da opinião expressa. Tal situação é encontrada, comumente, em textos jornalísticos que apenas descrevem fatos. (3) semelhança superficial Em algumas situações o texto apresenta apenas uma semelhança superficial com argumentos, i.é, pode o mesmo apresentar 1

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Page 1: (3) ARGUMENTOS

Argumentos e não-argumentosNo dia-a-dia encontramos muitos textos que traduzem

argumentos e outros tantos que, também, não configuram argumentos. Portanto, exige-se que em lógica saibamos identificar argumentos de não-argumentos.

Essa questão será tratada em quatro tempos.

(1) condição necessária

Nos primeiros passos das nossas aulas vimos que a composição de um argumento parte da presença de sentenças assertivas. Assim, podemos adiantar que é uma condição necessária para existência de um argumento a existência de sentenças assertivas.

Logicamente, perguntas, pedidos, comandos, bem como meras expressões de insatisfação não constituem argumentos.

Exemplo:

Os sinônimos são bons servos, mas amos ruins; portanto, escolham-nos com cuidado.

O indicador de conclusão – portanto –, na verdade, não apresenta uma conclusão, senão um conselho ou uma ordem.

(2) condição não-necessária

Necessário lembrar, contudo, que a presença de sentenças assertivas não é uma condição suficiente para a existência de argumentos.

Exemplo:

A satisfação mais autêntica na vida provém do cumprimento do dever, e não da fuga do mesmo; de enfrentar e solucionar problemas, ser uma pessoa confiável.

Há asserções no exemplo, mas não há um argumento.

O texto simplesmente exprime uma opinião, um ponto de vista, sem qualquer tentativa de persuadir-nos a respeito da opinião expressa. Tal situação é encontrada, comumente, em textos jornalísticos que apenas descrevem fatos.

(3) semelhança superficial

Em algumas situações o texto apresenta apenas uma semelhança superficial com argumentos, i.é, pode o mesmo apresentar razões, mas elas não figuram como função de justificação ou de provas, mas sim de esclarecimento.

Exemplo:

As mulheres possuem grande energia, mas são energias para ajudar o homem. O principal objetivo da mulher, na vida ou no

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matrimônio, é ajudar o marido a alcançar o sucesso, ajudá-lo a ser tudo o que Deus quer.

O texto apenas desenvolve a idéia do autor que é, em síntese, o de a mulher ajudar o homem.

Ao lado dessa situação, podemos afirmar que todo argumento pode ser reduzido a uma proposição condicional.

Exemplo:

Todos os homens são mortais.

Sócrates é homem.

Portanto, Sócrates é mortal.

Transmutação:

Se todos os homens são mortais e se Sócrates é homem, então Sócrates é mortal.

Mas isso não quer dizer que todas as proposições condicionais expressam argumentos, pena de confusão.

Exemplo (de um mero condicional):

Se os objetos de arte são expressivos, então eles são uma linguagem.

O exemplo é um mero condicional porque simplesmente afirma uma implicação sem que haja uma inferência.

Noutros casos a conjunção porque pode trazer alguns complicadores, pois as vezes introduz uma razão (justificativa) e noutras simplesmente coloca uma explicação.

Exemplos:

(1) Nenhum sistema pode existir metade matéria e metade antimatéria, porque as duas formas de matéria se aniquilam mutuamente.

(2) O império romano desmoronou e pulverizou-se, porque lhe faltava o espírito de liberalismo e livre iniciativa.

No exemplo 1 a conjunção porque introduz uma razão ou justificação e afirma uma conexão lógica ou necessária entre duas proposições. Logo, trata-se referido texto de um argumento.

Entretanto, no exemplo 2 a situação é diferente, visto que o porque indica uma explicação, a causa para o desmoronamento do império romano. O texto afirma uma conexão empírica entre dois fenômenos, e não representa um argumento.

(4) identificação dos elementos

Alguns textos, como artigos científicos ou editoriais de jornais, as vezes contém argumentos, mas não em todas as suas partes,

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pois explicitam repetições, narrações, elucidações etc. Em tais situações faz-se necessário uma avaliação crítica do argumento ou argumentos nele presentes para identificar os elementos integrantes do argumento (s).

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