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1 1 NOÇÕES DE TEOLOGIA Para um ser imortal, a verdade acerca de Deus, do destino humano e do caminho para a vida eterna sempre é muito importante. A grande necessidade do mundo de conhecer a soberana e indubitável verdade aponta para que a teologia ou a doutrina 1 encontre o lugar que merece no pensamento e na educação religiosa. Ainda existem grupos isolados, e individuais, que condenam o estudo da Teologia, argumentando que é perca de tempo, de pessoas vaidosas, movidas pela “carne”. Argumentam que para ser um verdadeiro cristão ninguém necessita conhecer teologia, mas ter uma vida cheia do Espírito Santo. A maioria dos argumentos contrários ao estudo da teologia é baseada na ignorância total do assunto, começando pelo próprio significado da palavra e de alguns textos bíblicos, como “a letra mata e o espírito vivifica” (II Co 3.6). 1.1. A NATUREZA DA DOUTRINA 2 Definição. A doutrina cristã é a sistematização das verdades fundamentais da Bíblia. Teologia é a ciência que trata de nosso conhecimento de Deus e do relacionamento dele com o homem. Teologia e ciência. Seria, de fato, uma ciência? Sendo ciência a disposição sistemática e lógica de fatos comprovados, a teologia é considerada ciência. Teologia e religião. Religião representa as atividades que “ligam” o homem a Deus. Teologia é o conhecimento acerca de Deus. Assim, a religião é a prática, ao passo que a teologia é o conhecimento. A religião e a teologia devem coexistir na verdadeira experiência cristã. A mensagem de Deus ao teólogo é: “Agora que vocês sabem estas coisas, felizes serão se as praticarem” (Jo 13.17); e a mensagem de Deus ao homem espiritual é: “Procure apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade” (II Tm 2.15) 1 O termo teologia é técnico e não se encontra na Bíblia, mas corresponde a palavra bíblica “doutrina” (Lc 4.32, Rm 6.17) 2 Doutrina significa “ensino” ou “instrução”

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1 NOÇÕES DE TEOLOGIA

Para um ser imortal, a verdade acerca de Deus, do destino humano e do caminho para a vida eterna sempre é muito importante. A grande necessidade do mundo de conhecer a soberana e indubitável verdade aponta para que a teologia ou a doutrina1 encontre o lugar que merece no pensamento e na educação religiosa.

Ainda existem grupos isolados, e individuais, que condenam o estudo da Teologia, argumentando que é perca de tempo, de pessoas vaidosas, movidas pela “carne”. Argumentam que para ser um verdadeiro cristão ninguém necessita conhecer teologia, mas ter uma vida cheia do Espírito Santo. A maioria dos argumentos contrários ao estudo da teologia é baseada na ignorância total do assunto, começando pelo próprio significado da palavra e de alguns textos bíblicos, como “a letra mata e o espírito vivifica” (II Co 3.6).

1.1. A NATUREZA DA DOUTRINA2

Definição. A doutrina cristã é a sistematização das verdades fundamentais da Bíblia. Teologia é a ciência que trata de nosso conhecimento de Deus e do relacionamento dele com o homem.

Teologia e ciência. Seria, de fato, uma ciência? Sendo ciência a disposição sistemática e lógica de fatos comprovados, a teologia é considerada ciência.

Teologia e religião. Religião representa as atividades que “ligam” o homem a Deus. Teologia é o conhecimento acerca de Deus. Assim, a religião é a prática, ao passo que a teologia é o conhecimento. A religião e a teologia devem coexistir na verdadeira experiência cristã. A mensagem de Deus ao teólogo é: “Agora que vocês sabem estas coisas, felizes serão se as praticarem” (Jo 13.17); e a mensagem de Deus ao homem espiritual é: “Procure apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade” (II Tm 2.15)

Doutrina e dogma. Doutrina é a revelação da verdade conforme se encontra nas Escrituras; dogma é a declaração do homem acerca da verdade apresentada em um credo.

1.2. CARACTERÍSTICAS DA TEOLOGIA

1.2.1. A Teologia é Bíblica. Sua fonte é a Bíblia, a Palavra de Deus. A Bíblia é o resultado das revelações de

Deus aos Seus servos (Is 40.8). O que não se encontra registrado na Bíblia trata-se da exclusividade de Deus (Dt 29.29). O que Deus julgou ser necessário para conhecermos sobre Ele, nós e outras coisas encontramos nos dois testamentos.

O NT é o livro onde está registrado o estabelecimento e o caráter das novas negociações de Deus com os homens por meio de Cristo. Podemos aceitar ou rejeitar, nunca alterá-la.

A Bíblia revela a vontade de Deus.

1 O termo teologia é técnico e não se encontra na Bíblia, mas corresponde a palavra bíblica “doutrina” (Lc 4.32, Rm 6.17)2 Doutrina significa “ensino” ou “instrução”

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1.2.2. A Teologia é Humana. Deus capacitou homens e mulheres para compreenderem e divulgarem a Sua Palavra. É o resultado das conclusões de vários em épocas diferentes.

1.2.2. A Teologia é Comunitária. É uma atividade para ser exercida em conjunto, partilhada pelos membros da comunidade da fé (a Igreja). A Teologia é comunitária porque leva o teólogo a buscar na Bíblia as respostas, para se não resolver, minimizar as angústias e preocupações do povo que surge nas congregações no dia-a-dia. Exemplo: At 6.1-7.

1.2.3. A Teologia é Prática. Não é distante da realidade e deve ser aplicada no dia-a-dia (Js 1.7-8, Sl 1.1-3). As verdades na Bíblia quando descobertas e apresentadas pelos teólogos podem e devem ser aplicadas na vida cotidiana (Mt 7.24-28).

A Bíblia recomenda que cada crente veja como edifica (I Co 3.10). A Teologia bíblica deve ser colocada em prática, para que a igreja seja edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas (Ef 2.20).

1.3. O VALOR DA DOUTRINA

1.3.1. O conhecimento doutrinário supre a necessidade de haver uma declaração sobre a verdade

O homem sente a necessidade de uma opinião final e sistemática para suas questões existenciais: “De onde vim? Quem eu sou? Para onde vou?” A vida humana é uma viagem no tempo para a eternidade. A pergunta é: essa viagem tem significado e rumo certo? Ela é planejada e dirigida por um Criador?

Diante destas questões, não há como diminuir o valor dos ensinos doutrinários, muito menos dispensá-los, considerando-os desnecessários e inúteis. O fato é: todas as pessoas têm uma teologia e nossos atos são frutos de nossa crença.

1.3.2. O conhecimento doutrinário é essencial para o pleno desenvolvimento do caráter cristão

Assim como o nosso corpo é mantido pela espinha dorsal, também o Corpo de Cristo é mantido por doutrinas bem definidas. Doutrinas bem definidas produzem convicções sólidas e cristãos robustos que não se movem por qualquer vento de doutrina. Não pode haver experiência cristã enquanto não houver conhecimento das doutrinas cristãs.

1.3.3. O conhecimento doutrinário é um baluarte contra o erro (Mt 22.29, Gl 1.6-9, II Tm 4.2-4)

As doutrinas bíblicas expurgam as falsas ideias acerca de Deus e de seus caminhos.

D. C. Hodge declarou: “Que ninguém creia que o erro doutrinário seja um mal de pouca importância. Nenhum caminho para a perdição jamais reuniu tantas pessoas como o da falsa doutrina. O erro é capa para a consciência e venda para os olhos”.

1.3.4. O conhecimento doutrinário é parte necessária do preparo mental de quem ensina a Palavra de Deus

Um dos propósitos do estudo sistemático é pôr as doutrinas em ordem. Para adquirir um conhecimento satisfatório das doutrinas e poder entregá-lo a outros, é

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preciso combinar as referências relacionadas ao assunto (dos diversos livros da Bíblia) e organizá-las em tópicos e subtópicos.

Para explicar a razão da esperança que temos, não basta a fé. Há necessidade de compreender a fé adequadamente, visto ser ela o campo da teologia.

A incoerência, a ignorância e a dúvida são fatores que enfraquecem e provocam a desagregação doutrinária.

1.4. TEOLOGIA, UMA NECESSIDADE PARA A MATURIDADE CRISTÃ

1. Evita o extremismo e o mau uso da Bíblia (II Jo 1.9, II Pe 3.15-18)2. Proporciona embasamento seguro da fé professada (II Tm 1.12)3. Garante a certeza do que se prega (Rm 10.8)4. Proporciona melhores condições de defesa da fé diante dos incrédulos e falsos

cristãos (I Pe 3.15-16)5. Proporciona uma relação segura com Deus (Os 6.3)6. Proporciona habilidade no manejo das Escrituras (II Tm 2.15, Cl 4.5-6)7. Melhora a auto-estima pessoal, porque o conhecimento é libertador (I Co 9.18-

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1.5. A CLASSIFICAÇÃO DA DOUTRINA

TEOLOGIA EXEGÉTICA: procura descobrir o verdadeiro significado das Escrituras. Inclui o conhecimento das línguas originais das Escrituras, da arqueologia bíblica, da hermenêutica e da teologia bíblica.

TEOLOGIA HISTÓRICA: trata do desenvolvimento da interpretação doutrinária, envolve o estudo da história da Igreja.

TEOLOGIA DOGMÁTICA: estudo das verdades fundamentais da fé de acordo com os credos da Igreja. Assim temos “Dogmática Cristã” (doutrina luterana), “Teologia Dogmática” (presbiteriana) e “Teologia Sistemática” (teologia reformada).

TEOLOGIA BÍBLICA: traça o progresso da verdade através dos diversos livros da Bíblia, descreve como cada escritor apresenta as doutrinas, limitando-se às Escrituras quanto ao seu material e trata a doutrina na medida que ela se desenvolveu até o fim da era apostólica.

TEOLOGIA SISTEMÁTICA: os ensinos bíblicos são agrupados em tópicos, de acordo com um sistema definido. Ela toma o material fornecido pelas teologias Bíblica e Histórica e, com esse material, busca edificar um todo orgânico e consistente do nosso conhecimento de Deus e das Suas obras.

TEOLOGIA NATURAL: estuda fatos que se referem a Deus e Seu universo que se encontram revelados na natureza.

TEOLOGIA PRÁTICA: trata da aplicação da verdade aos corações dos homens. Ela busca aplicar à vida prática os ensinamentos das outras teologias, para edificação, educação e aprimoramento do serviço dos homens. Ela abrange os cursos de homilética, administração da igreja, liturgia, educação cristã e missões.

1.6. UM SISTEMA DE DOUTRINA

A Bíblia obedece a um tema central que é o Reino dos Céus. Mas relacionados com este tema principal existem vários subtemas importantes. Por conseguinte, o estudo da Bíblia segue esta ordem: 1) ESCRITURAS. De que fonte extrairemos a verdade

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inerente acerca de Deus? 2) DEUS. 3) ANJOS. 4) HOMEM. Todas as verdades bíblicas se agrupam ao redor de dois pontos centrais – Deus e o homem. 5) PECADO. O fato mais trágico em relação ao homem é o pecado e suas consequências. 6) CRISTO. 7) EXPIAÇÃO. 8) SALVAÇÃO. 9) ESPÍRITO SANTO. Como a obra de Cristo se torna real no homem? 10) IGREJA. 11) ÚLTIMAS COISAS. Qual será o resultado final de todas as coisas – da vida, da História e do mundo?

1.7. “TEOLOGIAS” QUE DEVEMOS EVITAR

1.7.1. Teologia humanista. É baseada no pensamento, na razão, na justiça e nos princípios humanos. Fala de Deus de uma visão antropológica.

1.7.2. Teologia do medo. Seu fundamento é o medo de Deus e da vida. E ensina o escapismo como forma de religião. Teologia de Adão, de Caim, de Judas e outros.

1.7.3. Teologia da ciência. Seu fundamento são as afirmações e teses científicas.

1.7.4. Teologia racional. É fundamentada no que a razão aceita como possível. É, muitas vezes, travestida de filosofia.

1.7.5. Teologia da conveniência. De acordo com as conveniências pessoais, grupais ou organizacionais, se defende um pensamento.

1.7.6. Teologia eventual. Reflete as tendências e modas de um determinado momento histórico, eclesiástico, político e social, sem consistência bíblica permanente.

1.8. CUIDADOS QUE NECESSITAMOS TER NO MANUSEIO DA TEOLOGIA

1.8.1. Pensar com moderação (Rm 12.3)1.8.2. Não ultrapassar a doutrina de Cristo (I Jo 5)1.8.3. Limitar-se ao que foi revelado (I Co 2.11, Rm 16.25-26)1.8.4. Não ensoberbecer pelo conhecimento adquirido (I Co 4.6-7, 8.1-2)1.8.5. Tornar o conhecimento útil ao corpo de Cristo (II Co 3.14-17, Ef 4.11-15)1.8.6. Não apoiar-se no conhecimento pessoal, que será sempre parcial, como se fosse o senhor do saber (I Co 13.12)

1.9. TEOLOGIA A SERVIÇO DA MISSÃO

A fundamentação teológica para a evangelização não é uma opção, nem um apêndice. Ela é essencial se pretendemos ser porta-vozes de um evangelho fiel à Bíblia e que mostre ser relevante ao homem de hoje. Um grande evangelista da história, Charles Spurgeon, o “príncipe dos pregadores”, indicou essa importância quando disse: Sejam bem instruídos em teologia, e não façam caso do desprezo dos que fazem troca dela porque a ignoram. Muitos pregadores não são teólogos, e disso procedem aos erros que cometem. Em nada pode prejudicar o mais dinâmico evangelista o ser também um teólogo sadio, e com frequência pode ser o meio que a salva de cometer enormes disparates.

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2 DEUS

A proposta desta disciplina é de análise bíblica e teológica, da Pessoa e Obra do Deus Único e Verdadeiro.

2.1. PRESSUPOSTOS DEFORMADOS SOBRE DEUS ATUALMENTE

Deixar de crer em Deus não é o único problema atual. Deus tem sido visto e definido de diversas maneiras em diferentes segmentos religiosos. Geralmente cada grupo tem uma concepção particular a respeito de Deus:

PANTEÍSMO - Teoria filosófica, segundo a qual Deus é tudo e tudo é Deus. Não reconhece Deus como um ser pessoal dotado de inteligência e vontade. Funde o natural e sobrenatural, o finito e o infinito numa só substância.

POLITEÍSMO - Baseia-se na ideia de que o universo é governado por muitas forças; assim sendo, há um "deus" para cada coisa.

MATERIALISMO - Afirma que todas as manifestações da vida e da mente são simplesmente propriedade da matéria. Diz que o homem é um animal, uma máquina, sem responsabilidade pelos seus atos, e não existe o bem nem o mal. A matéria é um fim em si mesma, causa e efeito de tudo.

AGNOSTICISMO - Nega a capacidade humana de conhecer a Deus.Ainda há a ideia de que Deus é mero "capital simbólico", "imaginário religioso", "representação de um processo cósmico", uma "vontade", um "poder universal", um "ideal", elevado e abrangente, uma "projeção da mente humana".

2.2. CONHECENDO DEUS ATRAVÉS DA REVELAÇÃO

Deus quer tornar-se conhecido, amado e adorado pelas suas criaturas, feitas à sua imagem e semelhança.

Revelação Geral: Deus revela algo sobre sua natureza divina na ordem criada. É uma revelação clara, constante, sem linguagem articulada, universal e majestosa!

Revelação Especial: Auto-revelação divina evidência da principalmente na história da salvação. Tanto Jesus Cristo como a Palavra sagrada são revelações especiais de Deus.

2.3. CONHECENDO OS NOMES E ATRIBUTOS DE DEUS

O nome é um assunto bem presente nas paginas da Bíblia. Aparece tanto no Antigo como no Novo Testamento. Isto ratifica que é um assunto que merece importância.

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2.3.1. A IMPORTÂNCIA DO NOME NA CULTURA DA ANTIGUIDADE O nome era muito importante na cultura dos povos primitivos. Diz o Dr. Champlin que na antiga nação de Israel, tal como em outras culturas, havia um registro dos cidadãos, da cidade, da província ou do país. No caso de Israel, ter o próprio nome é um daqueles registros, era prova da cidadania, com respectivos privilégios (Ne. 7:61-65).Ter o próprio nome apagado equivale a perder a cidadania e seus privilégios. Os adoradores antigos acreditavam que era mister saber o nome do deus que estava sendo adorado, pois de outro modo, nenhum favor seria conferido ao adorador.

É certo que a origem dos nomes é sugestão de cada civilização. Vários fatores poderiam influenciá-las. A origem do dar nome às pessoas decorreu dos seguintes fatores: 1) citá-las, 2) de chamá-las, 3) destingi-las entre as demais, dentro da família e dentro da comunidade. A palavra "nome" usada nos dias de Jesus Cristo incluía três coisa : 1) o nome é a pessoa, 2) o nome representa tudo o que sabemos sobre a pessoa, 3) o nome é a pessoa efetivamente presente.

2.3.2. CONHECENDO DEUS ATRAVÉS DOS SEUS NOMES

Na cultura mesopotâmica primitiva o nome era considerado expressão da coisa por ele designada. Isto é, saber o nome da pessoa significava tomar conhecimento de uma certa circunstância, expectativa ou da sua própria natureza. Não é por acaso que os judeus eram muito criteriosos na escolha do nome dos filhos. Davam preferência àqueles que traduziam os magníficos atributos de Deus. A família bem instruída evitava nome que tivesse conotação negativa, tais como: derrota, tristeza, má fama, maldição, etc. (Gn.35:16-19 ). Deus, ciente de que o nome, naquele contexto, era expressão do caráter, da natureza, ou do futuro da pessoa, empregou alguns no cuidado de revelar facetas de sua Pessoa e Obras. Os nomes, então, constituem-se meios diferentes e eficazes de conhecê-lo.

a.) El era um nome cananeu ( próprio para Yahweh ) e, se acha em todos os idiomas semíticos.

b.) Elohim é a forma plural de El . Pode ser aplicadas aos ídolos ( Ex. 34 : 17 ), juízes ( Ex. 22 : 8 ), anjos ( Sl. 8 : 5 ), e deuses pagão (Is. 36 : 18; Jr. 5 : 7 ).

c.) Eloah é sinônimo e singular de Elohim, aquele que tem a capacidade de proteger ou punir: ele ama e castiga ( Ap.3:19 ), consola e disciplina ( II Co.1:3, 4; Hb.12:10) conserva e extermina ( Pv. 30:5; Sl. 50 : 22; 114 : 7; 139 : 19 ) .

d.) El 'Elyon era o Deus a quem Melquisedeque servia ( Gn. 14 : 18 ). Antigos escritos em fenícios menciona 'Elyon como nome de Deus. A conjunção de 'El 'Elyon significa "Deus Altíssimo".

e.) Adonai, deriva-se provavelmente de "dun” ou "adam", palavra que significam julgar , governar. Revela a Deus como o Governante Todo-Poderoso, a quem tudo está sujeito e com quem o homem se relaciona, como servo, é claro. Ele é o Senhor!

f.) Shadday indica que Deus possui todo poder no céu e na terra; sujeita todos os poderes da natureza, fazendo-os subservientes a sua obra e propósito. Quando Deus se manifestou ao patriarca Abraão revelou-se exatamente como o Deus todo poderoso (Gn.17;1); Isaque, depois, já idoso, rogou a El Shadday que abençoasse a Jacó (Gn.28;3) e ele atendeu-o (Gn. 35:11). O vocábulo, Shadday deriva-se de shadu (montanha, cordilheira); A palavra original é possivelmente de origem acadiana (cidade da antiga mesopotâmia); deve, também, realçar a alto-suficiência de Deus, em tudo.

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g.) Yahweh é o mais frequente, aquele que Deus mais usa na Bíblia: aparece cerca de 6 mil vezes, apenas em versículos do Antigo Testamento. Sua tradução é uma das mais sublimes, profundas e esclarecedoras a cerca do grande Deus.

h.) Theos nome próprio grego de Deus.

2.3.3. CONHECENDO DEUS ATRAVÉS DOS ATRIBUTOS

Os nomes de Deus são revelações imprescindíveis para quem deseja conhecê-lo cada vez mas a fim de amá-lo e servi-lo com fidelidade e devoção.

Mas, afinal, o que é atributo? Em geral, atributo é uma característica ou qualidade usada para descrever um objeto ou uma pessoa. Os atributos incomunicáveis de Deus são aqueles que não possuem qualquer relação com o ser humano, ou seja, são qualidades que fazem de Deus o ser supremo por excelência.

2.3.3.1. OS ATRIBUTOS INCOMUNICÁVEIS

Existência Autônoma do Deus único e verdadeiro. Nenhuma criatura existe por si mesma, sem depender de outro ser; ela não é fonte originaria da vida; na verdade, não pode criá-la nem sustentá-la.

A Imutabilidade/constância divina é o atributo que assevera que não há mudança alguma em Deus. (Nm.23:19; Sl.102:26, 27; Ml.3:6; Tg.1:17).

A Infinidade do Deus Único e Verdadeiro: Infinidade/infinitude significa que Deus não tem limites nem limitações:

a.) Perfeição Absoluta - Deus é infinito em seu ser e em sua perfeição. Ele é espírito, é invisível; puro e perfeito em todo o seu ser (Jó.37:16; Mt.5:48). b.) Eternidade - Em relação ao tempo, Deus é eterno. Ele existe antes do tempo, pois não teve começo nem terá fim (Dt.33:27; Is. 40:28).

c.) Onipresença - Deus está notoriamente em todos os lugares ao mesmo tempo. Ele está acima das limitações espaciais / temporais, assim dá total assistência á sua criação, controlando a tudo e a todos (Mt. 6:25-29).

d.) Onipotência - Deus é Todo-Poderoso (Gn.17:1). Ele faz o que lhe apraz e está de acordo com a sua natureza justa, perfeita e santa, ou pode limitar-se, pois é Soberano sobre si próprio (Is.40:15).

e.) Onisciente - Deus também tem todo o conhecimento. Significa que as criaturas e coisas estão descobertas e patentes aos seus olhos (Hb.4:13).

2.3.3.2. ATRIBUTOS COMUNICÁVEIS DO DEUS ETERNO.

a.) Bondade - Jesus Cristo ensinou que a bondade absoluta é uma qualidade essencialmente divina (Mc.10:18). Deus é bom em si mesmo, é a fonte de todo o bem (Sl 100.5).

b.) Paciência - Deus é imbatível quando se trata também de ser paciente. O ser humano não resiste por muito tempo o teste da paciência. Quando algo demora a se concretizar a criatura humana se sente esquecida, jogada no ostracismo, se torna fábrica de sofrimento e angústia, cria certa expectativa e padece com a ansiedade. Deus não é assim. Ele é tardio em irar-se, cheio de compaixão e graça (Nm.14.18;S186.15). c.) Amor - Ainda sobre os atributos morais de Deus, está o amor (Jo.3:16). Deus é amor ( IJo.4:7-10), por isso ele dá repouso e proteção ( Dt.33:12), alegria e suprimento ( At. 14: 17), e principalmente demonstrou seu amor sacrificial entregando Jesus Cristo para morrer na cruz em nosso lugar a fim de nos salvar (Rm. 5:8; Ef 2:4,5).

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d.) Santidade - No hebraico ela é expressa pela palavra qadosh (santo), derivada da raiz cad que significa "cortar" ou "separar". A mesma ideia é transmitida pelas palavras gregas agiazo / ágios, que significa "santificar", "consagrar", "dedicar", "santo", "puro", "separado", palavras aplicadas primariamente a Deus. Ele é absolutamente íntegro, reto, distinto de todas as criaturas; é santo naquilo que revela, em sua graça bondade; em sentido ético, Deus é santo, perfeito, odeia o pecado e exige que os seus sigam seu exemplo em tudo (Lv. 20 : 8; IPe.1:15 Ap.4:8).

e.) Retidão e Justiça - Deus julga com retidão e justiça ( Sl. 72: 2); ele é reto e justo, tem um destacado padrão ético, moral; preserva a retidão no seu caráter como no modo que opta por agir.

f.) Fidelidade - Vários textos das santas Escrituras dão ênfase á fidelidade de Deus - ele é fiel na sua natureza e nas suas ações. Isaías louvava o nome do Senhor em quem repousa a fidelidade e confiabilidade (Is. 25:1).

A Bíblia não se preocupa em provar a existência de Deus. Através da Bíblia é possível saber que DEUS existe.

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3 A DOUTRINA DE CRISTO

3.1. DEFINIÇÃO E CONCEITUAÇÃO DA CRISTOLOGIA

O estudo teológico que procura responder a duas perguntas principais: “Quem é Jesus?” (identidade) e qual é a natureza e o significado do que Jesus realizou na encarnação? (obra). Cristologia (do grego christhos – ungido + logia – estudo): Estudo sistemático e ordenado que tem como objeto a vida e a obra de Cristo.

A metodologia é fator crucial na Cristologia. Logo, dependendo da mesma, ela pode ser: Ontológica – define Jesus por aquilo que ele é; ressalta a existência eterna de Deus

filho, e tende a enfatizar a sua divindade, à custa de sua humanidade. Funcional – define Jesus por aquilo que ele fez; ressalta ação de Jesus na Terra,

como homem, e tende a enfatizar sua humanidade, à custa da sua divindade.

3.1.1. ANÁLISE DO CONTEXTO EXTERNO

A curiosa expectativa entre os pagãos. A religião de Roma era Politeísta: adorava vários deuses. Deuses que eram advogados da guerra, do roubo, do deboche, da embriaguez, da fertilidade, da prosperidade, da imoralidade, etc. Ainda assim eles esperavam a vinda de um messias. Os hindus - Avatar; Os persas – Sosiosh; Os chineses adeptos de Confúcio – O santo do Oeste

3.2. PROFECIAS ACERCA DA VINDA DO MESSIAS

Seria semente da mulher ( 3:15); Nascido sob a lei (Gl.4:4) obedeceu a lei para se cumprir o que D'ele foi escrito.

(Ap.12:5). Descendente do patriarca Abraão de Isaque, de Jacó (Gn.18:18;12:3;At.3:25;

Mt.1:1); Herdeiro do trono de Davi (Is.9:7;11:1-5); Nasceria em Belém (Mq.5:2;Mt.2:1;Lc.2:4-7); Fugiria para o Egito; Seria vendido por 30 moedas; Seria cruscificado com pecadores; Sua ressurreição e sua ascenção;

3.3. QUEM É JESUS CRISTO AOS OLHOS DAS SEITAS?

As principais heresias podem ser agrupadas da seguinte forma: • Em primeiro lugar, podemos mencionar as negações da humanidade de Cristo,

que seriam o docentismo, o apolinarismo e o estiquianismo. • Em segundo lugar, podemos mencionar as negações da divindade de Cristo, que

seriam o ebionismo, o adocionismo e o arianismo. • Em terceiro lugar, podemos mencionar as negações da união pessoal de Cristo,

que seria o nestorianismo. • Em quarto lugar, podemos mencionar as negações da distinção entre Pai e Filho,

que seriam o sablianismo e o modalismo.

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3.3.1. HERESIAS ACERCA DA PESSOA DE JESUS CRISTO

Há consenso quanto à influência singular de Jesus Cristo na história humana. As heresias surgiram nos primeiros séculos da igreja Cristã. As seitas e heresias difamam a Imagem de Jesus Cristo, e colocam como homem que apenas foi um marco, que deixou uma história, um exemplo, ou seja, um ídolo da época. Nega Jesus como Filho de Deus, como verbo que estava com Deus; como Deus.

Entre tantas seitas destaca o Arianismo. Na ideologia herética ariana Cristo foi reduzido a uma criatura, desprovida da Plena Essência divina longe de ter a igualdade do Pai, o Criador. A existência do Filho é diferente da existência do Pai.

3.4. ANÁLISES CRISTOLÓGICAS

O Nascimento Virginal. Significa que o filho de DEUS foi concebido quando Maria era virgem e que ela ainda era virgem quando ele nasceu.

3.4.1. A NATUREZA HUMANA DE JESUS

União hipostática. União entre as naturezas humana e divina na pessoa única do Senhor Jesus Cristo. Cristo possuía os elementos essenciais da natureza humana: espírito, alma e corpo. Jesus tinha espírito - capacidade de comungar com Deus, sendo a sede das qualidades espirituais do indivíduo. No antigo testamento o a palavra ruach (espírito), aparece mais de 370 vezes; significa ar em movimento, sopro, vento, hálito, mas descreve a totalidade da consciência imaterial do homem. No novo testamento utiliza-se o termo pneuma que tem o mesmo significado, mas faz alusão ao “âmbito espiritual que está além do controle humano”.

3.4.1.1. Jesus tinha alma

No antigo testamento a palavra nephesh foi usada mais de 700 vezes. No novo testamento empregou o termo psuchê mais de 100 vezes, referindo-se a sede de vida (Mc 8.35), etc. Significa também: vontade, disposição, sensações, poderes morais, discernimento (Mt 22.37) e elas fizeram parte da vida de Jesus (Mt 26. 36-38).

3.4.1.2. Jesus tinha corpo

Era de carne, sangue e osso. Quando fazia uma longa viagem a pé cansava-se como qualquer outra pessoa (Jo 4.6). Seu organismo sentiu falta de substâncias nutritivas, deixando faminto o nosso Senhor (Mt 4.2).

Detalhe: ao rebaixar-se à posição humana, mesmo sendo DEUS, tornou-se igual a qualquer mortal, porém, jamais pecou (Hb 2.14-18).

3.4.2. A NATUREZA DIVINA DE JESUS

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Alguns atributos divinos de Jesus são: • Eternindade (Hb 1.12; Ap 22.13; Jo 8:58); • Onipotência (Jo 1.3; Ef 1.22; Cl 1.17; Hb 1.3 Ap 1.8); • Onisciência (Jo 16.30; 21.17; Ap 2.2, 19; 3.1, 8, 15); • Onipresença (Mt 28.20; Ef 1.21), etc.

3.5. JESUS CRISTO À LUZ DO NOVO TESTAMENTO

O Senhor Jesus Cristo é completo na Sua divindade, idêntico à humanidade; idêntico ao Pai em Sua divindade, idêntico à humanidade, porém sem pecado; essas duas naturezas coexistem numa só pessoa. Tal doutrina ficou conhecida como União Hipostática. (união mística, ou dupla natureza de Cristo).

3.5.1. JESUS È SENHOR E CRISTO.

Apesar do pluralismo baseado na doutrina da Salvação alegar que Jesus Cristo é apenas mais um caminho que leva à salvação e não apenas o único.

Pedro apregoou: “Jesus Cristo… é o Senhor de todos”(At 10.36). Segundo john MacAthur diz que Jesus é citado como Senhor no Novo Testamento mais de 740 vezes; em Atos aparece 92 vezes e como Salvador apenas 2 vezes!

3.5.2. JESUS CRISTO É O SERVO MODELO

Parece que há uma gigantesca contradição, um paradoxo evidente entre esses dois atributos: como pode Jesus Cristo ser Senhor e servo ao mesmo tempo? A cultura do primeiro século estimulava o controle e a opressão de pessoas indefesas, a promoção do "eu", a busca do prestígio e posição a conquista do poder.

Servir não era um bom ministério, pois a sociedade estava acostumada a ser servida, nem que para tanto tivesse que manipular ou explorar os desafortunados. Cristo, diante de tal cenário, "esvaziou-se" para assumir a forma de homem (Fp.2:6), "deixou" as vantagens de ser Deus para experimentar as desvantagens de ser homem. Provisoriamente auto-abdicou os benefícios da infinitude para habitar um corpo limitado, sujeito as leis físicas do crescimento (Lc.2:40,52), no qual sentia fome, sede e cansaço (Mc.2:15;Jo.4:6), ansiedade e desapontamento (Mc.9:19), até sucumbir diante da morte (Mc.14:33,37;15:33-38). Até nisso identificou com a humanidade (Hb.2:9,17;4:15;5:7,8;12:2).

Jesus conhecia muito bem a sedução do poder. Sabia que Satanás, obsecado pelo poder, preferiu reinar no inferno a ser servo no céu. Até hoje muita gente não entende porque o Messias escolheu a cruz e não o trono, coração de servo, mesmo sendo Senhor!

3.5.3. JESUS CRISTO É O GRANDE PROFETA

Além de servo foi apresentado na Bíblia como autêntico profeta. Moisés disse, profeticamente, que o futuro enviado de DEUS possuiria tal atributo (Dt 18. 15-19). Como profeta foi ungido para pregar, anunciar a salvação aos pobres (Lc 4. 18, 19), proclamar a liberdade aos cativos (At 10.38), transmitir e informar as palavras de DEUS (Jo 14-24).

3.5.4. JESUS CRISTO É O LÍDER EFICIENTE E EFICAZ

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Não se preocupou em ser o primeiro, mas ser aquele que estava disposto a servir. Liderança significa influência. E quem mais influenciou o mundo? Ele não facilitou os requisitos do discipulado, não mencionou opções fáceis, não deixou de expor os desafios, por isso multidões se maravilharam e aderiram suas doutrinas.

3.5.5. JESUS CRISTO É O LOGOS E O FILHO DO HOMEM

Logos significa "palavra", "demonstração", "mensagem", "declaração" ou "fala". Cristo, além de ser a expressão de Deus, estava com Deus e Ele também era Deus. Jesus Cristo é o verbo eterno (Jo.1:1).

Filho do homem foi a forma predileta de Jesus para se referir a si mesmo.

3.5.6. JESUS CRISTO É O MESSIAS

Alguém que recebe uma missão que envolve redenção, julgamento e representatividade do próprio DEUS (Is 45. 1-7). A princípio priorizou na missão: anunciar o Reino de DEUS e resgatar a humanidade pecadora (Lc 4. 16-21; Mt 9.36-39; 28. 18-20). Um dia, Jesus virá para cumprir plenamente seu ofício messiânico.

4 O ESPÍRITO SANTO

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Pneumatologia é o ramo da teologia que estuda o Espírito Santo. Temos como referencial básico para entendermos o Espírito Santo o próprio Jesus Cristo.

A doutrina do Espírito Santo, é mencionada em todos os livros do Novo Testamento, com exceção das Epístolas 2 e 3 de João; todos os Evangelhos começam com uma promessa do derramamento do Espírito Santo.

No entanto, é reconhecida como a doutrina mais negligenciada. O formalismo e o medo indevido do fanatismo têm produzido uma reação contra a ênfase na obra do Espírito na experiência pessoal.

Naturalmente, este fato resultou em decadência espiritual, pois não pode haver um cristianismo vivo sem o Espírito Santo. Somente Ele pode fazer real o que a obra de Cristo possibilitou.

4.1. A NATUREZA DO ESPÍRITO SANTO

No Antigo Testamento Rûah significa Espírito e no Novo Testamento, Pneuma. O equivalente hebraico de pneuma é quase sempre Rûah, e o significado de Rûah, é mais ou menos o de soprar: o sopro de Deus no homem “então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn.2:7); o vento na visão do vale de ossos secos “então ele me disse: profetiza ao Espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize-lhe: assim diz o Senhor Deus: vem dos quatros ventos, ó Espírito, e assopra sobre estes mortos para que vivam.”, “porei em vós o meu Espírito, e vivereis, e vos estabelecerei na vossa própria terra. Então sabereis que eu, o Senhor, disse isto, e o fiz, diz o Senhor” (Ez. 37:9,14). O sopro do Espírito nos discípulos por Jesus: “disse-lhes, pois Jesus outra vez: paz seja convosco. Assim como o Pai enviou, eu também vos envio. E, havendo dito isto, soprou sobre eles, e disse-lhes: recebei o Espírito Santo.”

A idéia por detrás de Rûah é o fato extraordinário de que uma coisa tão intangível como o ar possa movimentar-se, ao mesmo tempo, não é tanto o movimento por si que desperta a atenção, mas, sim, a energia que semelhante movimento manifesta. O vento denota o movimento dinâmico do ar, sendo que o ar é considerado uma substância especial.

O Espírito Santo é divino no sentido absoluto. Prova-se sua divindade pelos seguintes fatos: Atributos divinos lhe são aplicados; ele é eterno, onipresente, onipotente, e onisciente (Hb 9.14; Sl 139.7-10; Lc 1.35; 1 Co 2.10,11). Obras divinas lhe são atribuídas, como sejam: criação, regeneração e ressurreição (Gn 1.2; Jó 33.4; Jo 3.5-8; Rm 8.11). É classificado junto com o Pai e o Filho (1 Co 12.4-6; 2 Co 13.13; MT 28.19; AP 1.4).

4.1.1. VÁRIOS NOMES FORAM DADOS AO ESPÍRITO:

a) Espírito de Deus. O Espírito é o executivo da Divindade, operando tanto na esfera física como na moral. Por intermédio do Espírito, Deus criou e preserva o universo.

b) Espírito de Cristo. (Rm 8.9.) Não há nenhuma distinção especial entre as expressões Espírito de Deus, Espírito de Cristo, e Espírito Santo. Há somente um

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Espírito Santo, da mesma maneira como há somente um Deus e um Filho. Mais o Espírito Santo tem muitos nomes que descrevem seus diversos ministérios. Ele é chamado Espírito de Cristo, porque ele é enviado em nome de Cristo (Jo 14.26). Ele é o Espírito enviado por Cristo. Sua missão nesta época é a de glorificar a Cristo (Jo 16.14). O Cristo glorificado está presente na igreja e nos crentes pelo Espírito Santo.

c) O Consolador. (Jo 14.16.) A palavra “Consolador” (“paracleto”, no grego) significa alguém chamado para ficar ao lado de outrem, com o propósito de ajudá-lo em qualquer eventualidade, especialmente em processos legais e criminais. O Espírito Santo é chamado “outro” Consolador porque seria ele, em forma invisível aos discípulos, justamente o que Jesus lhes havia sido em forma visível.

d) Espírito Santo. Ele é chamado santo, porque é o Espírito do Santo, e porque sua obra principal é a santificação. O Espírito Santo veio para reorganizar a natureza do homem e para opor-se a todas as suas tendências más.

e) Espírito da promessa. O Espírito Santo é chamado assim porque sua graça e seu poder são umas das bênçãos principais prometidas no Antigo Testamento (Ez 36.7; Jl 2.28).

f) Espírito da verdade. O propósito da Encarnação foi revelar o Pai; a missão do Consolador é revelar o Filho. O Espírito Santo é o intérprete de Jesus Cristo. Ele não oferece uma nova e diferente revelação, mas abre as mentes dos homens para verem o mais profundo significado da vida e das palavras de Cristo.

g) Espírito da graça. (Hb 10.29; Zc 12.10.) O Espírito Santo dá graça ao homem para que se arrependa. Concede o poder para a santificação, perseveranças e serviço.

h) Espírito da vida. O Espírito é aquela Pessoa da Divindade cujo ofício é a criação e a preservação da vida natural e espiritual (Rm 8.2; AP 11.11).

i) Espírito de adoração. Quando a pessoa é salva, não somente lhe é dado o nome de filho de Deus, e adotada na família divina, mas também recebe dentro de sua alma o conhecimento de que participa da natureza divina. (Rm 8.15).

4.1.2. O ESPÍRITO REPRESENTADO PELOS SÍMBOLOS

O fato do Espírito ser representado pelos símbolos que ilustra as suas obras, fogo (At 2.3),vento (Jo 3.8; At 2.1-2), água (Jo 4.14; 7.38-39), selo (2 Co 1.22; Ef 1.13; 4.30), azeite e pomba (MT 3.16; Mc 1.10) não extingue a sua personalidade, pelo contrário, as suas manifestações demonstram a sua personalidade: o Espírito Santo tem capacidade de comunicar-se conosco, e o poder de falar só é atribuído a pessoas que tem personalidade, conforme os próprios antropólogos afirmam. “Então disse o Espírito a Filipe: aproxima-te desse carro e acompanha-o” (At. 8:29); Tem capacidade de amar - “rogo-vos, pois irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor”(Rm 15:30). Neemias chama o Espírito do “bom Espírito” - “E lhes concedeste o teu bom Espírito, para os ensinar...” (Ne. 9:20).

4.1.3. O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA COMO O PAI E O FILHO

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Só um ser com personalidade pode entender nossos problemas e nos prestar ajuda. Não podemos dialogar com uma força impessoal. O Espírito Santo compreende profundamente as nossas dificuldades e nos ajuda a enfrentá-las.

O Espírito Santo é uma pessoa porque a Bíblia usa de maneira contínua pronomes pessoais quando se refere a Ele. “O Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele testifica de mim” (Jo 15:26). “Todavia digo-vos a verdade: convém que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para vós, mas, se eu for, eu enviarei. Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo”. (Jo 16:7-8). “Mas quando vier o Espírito da verdade, ele vos guiará em toda verdade”. (Jo 16:13).

4.1.4. O ESPÍRITO SANTO FALA:

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas” (Ap.2:7). Ajuda-nos em nossas fraquezas : “Da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas” (Rm. 8:26) , ora por nós: “mas o mesmo Espírito intercede por nós”(Rm 8:26). Nos ensina: “ mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”. (Jo 14:26). Nos dirige: “Ele vos guiará em toda a verdade”(Jo 16:13).

4.1.5. O ESPÍRITO SANTO TEM INTELIGÊNCIA

Tanto para esquadrinhar as coisas profundas de Deus, como pode esquadrinhar e compreender o coração humano. “mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito. O Espírito penetra todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus”.(I Co 2:10).

4.1.6. A VARIEDADE DE EMOÇÕES

A variedade de emoções também faz parte do Espírito: ele derrama o amor de Deus em nossos espíritos, ele pode sentir-se magoado, triste, ele ora de maneira fervorosa a nosso favor (Rm 5:5; Ef. 4:30; Rm 8:26).

4.1.7. A DETERMINAÇÃO

A determinação, a vontade são qualidades do Espírito: “mas um só e o mesmo Espírito opera em todos estas cousas, distribuindo particularmente a cada um como quer”(I Co 12:11). “Foram impedidas pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia...tentavam ir para Bitinia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu” (At. 16:6-7)

4.2. O ESPÍRITO NO ANTIGO TESTAMENTO

O Espírito Santo é revelado no Antigo Testamento de três maneiras:

4.2.1. Espírito criador ou cósmico, por cujo poder o universo e todos os seres foram criados;

4.2.2. Espírito dinâmico ou doador de poder. A operação dinâmica do Espírito criou duas classes de ministros: primeira, obreiros para Deus – homens de ação, organizadores, executivos: José, Moisés, Josué; Otoniel, Gideão, Jefté, Sansão, Saul; segunda, locutores para Deus – profetas e mestres (recebiam a mensagem de Deus e as entregavam ao povo);

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4.2.3. Espírito regenerador, pelo qual a natureza humana é transformada. Seu derramamento é descrito, principalmente como uma bênção futura, em conexão com a vinda do Messias. Em Is 63.10,11 faz-se referência ao êxodo e a vida no deserto. Quando o profeta diz que Israel contristou o seu santo Espírito, ou quando diz que deu seu “bom Espírito” para os instruir (Ne 9.20), refere-se ao Espírito como que inspira a bondade (Sl 143.10).

Seu derramamento é descrito, principalmente como uma bênção futura, em conexão com a vinda do Messias.

O Espírito Santo é a terceira Pessoa da Trindade por cujo poder o universo foi criado. Ele pairava por sobre a face das águas e participou da glória da criação (Gn 1.2; Jó 26.13; Sl 33.6; 104.30). O Espírito criou e sustenta o homem (Gn 2.7; Jó 33.4). Toda pessoa, seja ou não servo de Deus, é sustentada pelo poder criador do Espírito de Deus (Dn 5.23; At 17.28).

O Espírito Santo vinha sobre pessoas específicas, que tinham determinados ofícios - profetas, sacerdotes e reis. O símbolo para esta outorga oficial do Espírito era unção com óleo - experiência consagratória.

Vinha poderosamente sobre um homem “então o Espírito do Senhor de tal maneira se apossou dele que ele o rasgou (um leão) como quem rasga um cabrito” . (Juízes 14.6). “Tomou Samuel o chifre do azeite e o ungiu no meio de seus irmãos, e daquele dia em diante o Espírito se apossou de Davi...” (I Sm.16.13).

Podia revesti-lo: “Então o Espírito do Senhor revestira Gideão...” (Jz. 6.34).

Podia entrar na pessoa “Então entrou em mim o Espírito, quando falava comigo, e me pus em pé, e ouvi o que me falava” (Ez. 2.2).

Impulsionava ou incitava: “E o Espírito do Senhor passou a incitá-lo” (Jz. 13.25).

Tudo isso indica a ação poderosa de Deus sobre o homem, capacitando-o a fazer obras poderosas e sobrenaturais.

4.3. O ESPÍRITO EM CRISTO

a) Ele foi presente no nascimento de Jesus (Lc 1.35);b) Em seu batismo (Lc 3.22); c) No ministério (Lc 4.1, 14 e 18); d) Na crucificação (Hb 9.14); e) Na ressurreição (Rm 8.9, 1 Pe 3.18); f) E na ascensão (At 2.33).

4.4. O ESPÍRITO NA EXPERIÊNCIA HUMANA

a) Ele convence (Jo 16. 8-11); b) Regenera (Tito 3.5); c) Habita (1Co 6.19); d) Santifica (1 Pe 1.23; 2.22; Gl 5.22-23);

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e) Reveste de poder (At 1.8); f) E glorifica (Jo 4.14; Ef 1.14; 2 Co 5.5).

4.5. OS DONS DO ESPÍRITO

4.5.1. NATUREZA GERAL DOS DONS

Os dons do Espírito devem distinguir-se do dom do Espírito. Os primeiros descrevem as capacidades sobrenaturais concedidas pelo Espírito para ministérios especiais; o segundo refere-se à concessão do Espírito aos crentes conforme é ministrado por Cristo glorificado “De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis.”(At 2.33). Qual é o propósito principal dos dons do Espírito Santo? São capacidades espirituais concedidas com o propósito de edificar a igreja de Deus, por meio da instrução dos crentes e para ganhar novos convertidos (Ef 4.7-13). Em 1 Co 12.8-10, Paulo enumera nove desses dons. São dados pelo Espírito Santo: “Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo... A manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil... Mas um só e o mesmo Espírito opera todas coisas, distribuindo particularmente a cada um como quer” (1 Cor. 12:4-11).

Dons do Espírito Santo são os instrumentos do trabalho de Deus dentro da Igreja, corpo de Cristo.

Existem nove dons do Espírito Santo, e podem ser divididos em três grupos como seguem:

a. Os Dons de Revelação – referem-se à comunicação sobrenatural, revelada através do Espírito Santo ao coração daquele que recebe este dom. São desenvolvidos pelos: (1) dom da palavra da sabedoria, (2) dom da palavra da ciência, (3) o dom de discernimento de espíritos.

b. Os Dons Vocais – tratam da comunicação sobrenatural que o Espírito Santo de Deus revela, usando a voz humana. Não somente a pessoa que usa os dons, mas outros ao seu redor podem ouvir a comunicação, pois estes dons são recebidos pelos sentidos. São desenvolvidos pelos: (1) dom de línguas, (2) o dom de interpretação de línguas, (3) o dom de profecia.

c. Os Dons de Poder – são dons grandiosos pelos quais o poder de Deus se manifesta, a fim de transmitir uma resposta miraculosa mediante uma intervenção divina, sobrenatural. Por meio desses dons as pessoas e seu ambiente são transformados. O seu desenvolvimento vem através dos: (1) dom da fé. (2) dom da cura, (3) dom de opera milagres.

4.5.2. VARIEDADE DE DONS

Dons Espirituais Descritos em 1 Cor. 12:7-11:

a. Palavra de Sabedoria – É uma capacitação sobrenatural dada pelo Espírito Santo ao filho de Deus, para responder questões difíceis ou solucionar problemas utilizando o conhecimento natural e sobrenatural. (1 Reis 3:16-28).

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b. Palavra do Conhecimento ou Ciência – É a revelação sobrenatural de fatos passados, presentes ou futuros que não foram aprendidos pela mente natural (Jo. 4: 16-19).

c. Discernimento de Espírito – Habilidade concedida pelo Espírito Santo ao crente para reconhecer a fonte espirituais dos fenômenos ou acontecimentos do momento. Pode haver uma inspiração falsa, a obra de espíritos enganadores ou do espírito humano. Esse dom capacita o possuidor para “enxergar” todas as aparências exteriores e conhecer a verdadeira natureza de uma inspiração. A operação do dom de discernimento pode ser examinada por duas outras provas: a doutrinária (1 Jo 4.1-6) e a prática (Mt 7.15-23).

d. Fé – Há vários tipos de fé nas Escrituras. A fé, dom do Espírito Santo, é uma manifestação sobrenatural, capacitando-nos a crer e fazer acontecer aquilo que pronunciamos com nossa boca, como se fosse o próprio Deus que houvesse falado. (Josué 10:12-14). A fé é produzida de tal modo que grandes milagres podem ser realizados.

e. Dons de Curar – São uma capacitação do Espírito concedida ao cristão para curar enfermidades e doenças de forma sobrenatural. O termo encontra-se no plural (“Dons”, porque a cura pode vir através de: imposição de mãos (Mc. 16:28); uma palavra falada (Mt. 8, 13); um toque (Mt. 8:15) etc.

f. Operação de Maravilhas – É o dom que capacita o crente a operar coisas extraordinárias, além do curso sobrenatural da natureza. É uma intervenção especial do Espírito Santo suspendendo temporariamente a ordem costumeira das leis naturais (At. 13:8-12). É o poder divino sobrenatural para mudar o curso natural das coisas. Ex. Quando o sol parou para Josué na batalha; A passagem pelo Mar Vermelho; Elias orou e por três anos e meio não houve chuva; Jesus andando sobre as águas.

g. Profecia – É uma declaração divinamente inspirada, falada pelo crente debaixo da unção do Espírito Santo, com o propósito de edificar, exortar e consolar a Igreja. É o próprio Deus falando através da boca de seus servos: toda profecia deve ser julgada dentro dos padrões da palavra de Deus; se a profecia contradiz a Bíblia, então ela deve ser rejeitada (I Cor. 14:3).

h. Variedade de Línguas – É a capacitação sobrenatural de falar uma língua que não foi aprendida pela pessoa que fala, e nem é entendida pelas pessoas que ouvem. Quem fala em línguas, em mistérios fala com Deus. (At. 19:6). Parece haver duas classes de mensagens em línguas: primeira, louvor em êxtase dirigido a Deus somente (1 Co 14.2); segunda, uma mensagem definida para a igreja (1 Co 14.5). Distingue-se entres as línguas como sinal e línguas como dom. A primeira é para todos (At 2.4); a outra não é para todos (1 Co 12.30).

i. Interpretação de Línguas – É a habilidade de fazer conhecida, em idioma comum a todos, a mensagem que está sendo falada em línguas. As línguas interpretadas tem o mesmo valor da profecia (1 Cor. 14:13).

4.5.3. REGULAMENTO DOS DONS

Em 1 Coríntios capítulo 12, Paulo revelou os grandiosos recursos espirituais de poder disponível para a igreja; no capítulo 14 ele mostra como esse poder deve ser regulado, de modo que edifique, em lugar de destruir, a igreja.

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4.5.4. OS DONS E O FRUTO DO ESPÍRITO SANTO

Ao aceitarmos Jesus Cristo, pela fé, em nossos corações, somos selados com o Espírito Santo (Ef. 1:13), e Ele passa a habitar em nós. A presença do Espírito Santo em nosso coração é a garantia de que estamos salvos. Ao sermos batizados com o Espírito Santo, recebemos um revestimento de poder para testemunha do evangelho. Um outro fato marcante na experiência do batismo com o Espírito Santo é a manifestação dos dons espirituais. É importante distinguirmos entre os dons e o fruto do Espírito. O fruto é resultado de um processo de crescimento gradual na vida cristã, está relacionado também com as qualidades morais produzidas pelo Espírito. Já os dons são habilidades sobrenaturais, dadas aos filhos de Deus pelo Espírito Santo, para adoração ao Senhor e edificação do corpo de Cristo.

O fruto do Espírito Santo está diretamente ligado à nossa vontade. Precisamos nos modificar e permitir que o Espírito Santo efetue essa mudança, trabalhando em nosso caráter e gerando em nós, através da palavra de Deus, a imagem e semelhança de Jesus. Vale observar que não são “os frutos” do Espírito, mas sim, “o fruto”. O termo traz-nos à mente a idéia de unidade. Não são atitudes isoladas, mas um modo de agir que engloba todos os aspectos do fruto ao mesmo tempo. Não devemos esquecer que o objetivo do enchimento do Espírito (Ef. 5:18) é produzir fruto.

Os dons espirituais são diversas maneiras pelas quais o poder de Deus opera através das nossas vidas. No Novo Testamento, encontramos duas palavras no original grego que caracterizam os dons espirituais: Manifestação (Fanerosis), que significa “resplandecer, tornar visível, ser visto”, e Carisma (Charisma) que é a “graça concedida de um modo específico”. Os dons não são adquiridos por méritos pessoais. Eles são a manifestação especifica da graça de Deus, tornando visível o poder do Espírito Santo em nós.

Possa ser que venhamos a usar os dons do Espírito, mesmo sem estarmos em comunhão com o Senhor, mas não poderemos dispor do fruto do Espírito quando nossa união com Cristo estiver interrompida pelo pecado.

O fruto do Espírito nasce como resultado do cultivo de nossa vontade própria; já os dons do Espírito, vêm por meio de uma busca sincera e cheia de fé. A vida equilibrada possui ambos: os dons e os Fruto do Espírito. (Textos para meditar: Gl. 3:22; I Cor. 12:7-11, Rm. 12:6-8; Ef. 4:11).

4.5.5. COMO SER CHEIO DO ESPÍRITO SANTO

A palavra “cheio” significa ser dirigido e fortalecido pelo Espírito Santo. Posto que o Espírito Santo veio para glorificar a Cristo (Jo. 16:14), e é o Espírito de Cristo (Rm. 8:9), ser cheio do Espírito Santo é ser cheio de Cristo ou permanecer em Cristo (Jo. 15:1-16).

Permanecer em Cristo significa que vivemos em uma consciente dependência d’Ele, reconhecendo que é a Sua vida, Seu poder, Sua sabedoria, Seus recursos, Sua fortaleza e Sua habilidade operando através de nós, o que nos capacita a viver de acordo com Sua vontade.

Em Efésios 5:18 e 1 João 5:14-15, descobrimos como devemos orar para nos tornarmos cheios do Espírito Santo: (1) O que Deus promete nestes versículos? Promete nos dar de acordo com o que pedimos conforme a sua vontade. (2) É da vontade Deus

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que você seja cheio do Espírito Santo? Sim. (3) Deus lhe enchera com o Espírito Santo se você o pedir? Por quê? Sim, porque é Sua vontade (Ef. 5:18) e está de acordo com Sua promessa (1 Jo. 5:15).

Qualquer servo poderá se apropriar da plenitude do Espírito santo. É preciso: (1) Desejar sinceramente ser controlado por Ele. (2) Confessar seus pecados. (3) Pedir e receber pela fé (1 Jo. 5:14-15; Lc. 11:13).

Somos cheios do Espírito Santo por fé somente. Sem dúvida, a oração sincera é uma forma de expressar sua fé.

4.5.6. DIFICULDADES EM CRER QUE OS DONS SÃO PARA NOSSOS DIAS

Alguns teólogos acreditam que na Igreja dos primeiros tempos os dons sobrenaturais do Espírito Santo eram dados apenas para autenticar a mensagem dos apóstolos. Deduziram assim que quando a Palavra de Deus foi escrita os dons de sinais terminaram por não mais se fazerem necessários. Não existe base bíblica para esta visão de dons divididos entre dons de sinais permanentes e temporários. O que a história nos diz:

a. Edito de Milão (313 d.C.) Os cristãos se tornaram nominais e com isso a cura diminuiu rapidamente. Em 313 d.C., Constantino reconheceu oficialmente o cristianismo como religião pelo Edito de Milão e em 325, convocou o Concílio Ecumênico de Nicéia permitindo o paganismo na igreja.

b. Jerônimo (420 d.C.) Durante a Idade Média, a Igreja Católica Romana, seguiu a tradução incorreta de Jerônimo da palavra “cura” por “Salvo” em Tiago 5.14. Daí resultou a Extrema Unção.

c. Agostinho (morreu em 430 d.C.). Agostinho, por exemplo, acreditava no término dos dons durante a maior parte de sua vida. Entretanto, na última fase de sua vida, foi testemunha de muitos milagres e escreveu sobre eles em a Cidade de Deus.

d. Tomáz de Aquino (1225-1274 d.C.). Foi o erudito responsável pela síntese entre o cristianismo e a filosofia de Aristóteles; foi sua síntese que foi adotada pela Igreja. A pessoa conhecia a Deus principalmente pela atividade intelectual, ao invés de através da experiência do Espírito. Suas idéias básicas foram ganhando aceitação entre os pensadores protestantes, bem como entre os teólogos católicos. Por Aquino sabotar os dons, ao desenvolver uma mistura de teologia católica com o aristotelismo filosófico, a síntese gerada resultou num sistema naturalístico exclusivo, que não deixava lugar para o sobrenatural. Teve uma experiência com o Espírito antes da morte. O ponto de vista de muitos evangélicos hoje é errado em rejeitar os dons, por estar fundamentado na Síntese Aquino-Aristotélica.

e. Lutero – Lutero, Agostinho e Aquino aprenderam sobre o poder do Espírito no fim de suas vidas. Lutero orou e seu amigo foi curado.

f. Calvino – Os dons eram temporários. Os reformados eruditos contribuíram muito na teologia que fazemos hoje, porém como diz acertadamente Leonardo Boff: “nenhuma geração de cristãos pode colocar e resolver todos os problemas que a fé apresenta”. Certamente muitos receberam influência de João Calvino, crendo que os dons são temporários, subtraindo da Bíblia 1 Coríntios 12 e muitos outros textos.

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g. Década de 20 – Surgiu uma nova ortodoxia que começou a comandar as mentes teológicas da época. Entre eles Rudolph Bultmann influenciado por Heidegger, Hegel e Aristóteles. Os nossos Seminários Teológicos receberam uma influência muito grande, contribuindo assim, na formação de incrédulos a respeito dos dons espirituais.

Precisamos crer naquilo que a Palavra diz sobre os dons e colocarmos em prática o que já recebemos do Senhor, e assim veremos acontecimentos idênticos aos que aconteceram na igreja primitiva. Os dons espirituais não cessaram, a nossa fé é que está capenga, precisamos rejeitar toda influência negativa de alguns pais da igreja, teólogos e filósofos, e crermos em uma teologia bíblica e não sistematizada com influências culturais, filosóficas etc. Jesus orava, ensinava, curava e libertava. Precisamos ser imitadores de Cristo e não das vãs filosofias.

4.6. O ESPÍRITO NA IGREJA

4.6.1. O ADVENTO DO ESPÍRITO. O QUE OCORREU EM PENTECOSTE

Assim como o eterno Filho encarnou-se em corpo humano em seu nascimento, assim também o Espírito eterno se encarnou na igreja que é o seu corpo. Isso ocorreu no dia de Pentecoste. O que foi a manjedoura para o Cristo encarnado, assim foi o cenáculo para o Espírito. a. O nascimento da Igreja. “E, cumprindo-se o dia de Pentecoste”. Os cento e vinte no cenáculo eram as primícias da igreja cristã, oferecidas perante o Senhor pelo Espírito Santo, cinqüenta dias depois da ressurreição de Cristo. Era o primogênito dos milhares e milhares de igrejas que desde então têm sido estabelecidas durante os últimos 20 séculos. b. A habitação na igreja. No dia de Pentecoste o Espírito Santo desceu para morar na igreja como um templo, sendo sua presença localizada no corpo coletivo e nos cristãos individuais.

4.6.2. O MINISTÉRIO DO ESPÍRITO SANTO

O Espírito Santo é o representante de Cristo; a Ele está entregue toda a administração da igreja até a volta de Jesus. a.Administração. Os grandes movimentos missionários da igreja primitiva foram ordenados e aprovados pelo Espírito (At 8.29; 10.19, 44;13.2, 4). b. Pregação. “Porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo e em plena convicção, como bem sabeis quais fomos entre vós por amor de vós.”(1 Tess 1.5). c. Oração. Paulo fala “com toda a oração e súplica orando em todo tempo no Espírito e, para o mesmo fim, vigiando com toda a perseverança e súplica, por todos os santos” (Ef 6.18). Judas descreve verdadeiros cristãos como “orando no Espírito” (v.20). Em Romanos 8.26 e 27, lemos que o Espírito está fazendo em nós o mesmo que Cristo está fazendo por nós no céu, isto é, está intercedendo por nós.

4.6.3. A ASCENSÃO DO ESPÍRITO SANTO

Alguns têm chegado à conclusão de que o Espírito já não estará no mundo depois que a igreja for levada. Isso não pode ser, porque o Espírito Santo, como Deidade, é onipresente. O que sucederá é a conclusão da missão dispensacional do Espírito como o Espírito de Cristo, depois da qual ainda permanecerá no mundo com outra e diferente relação.

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CONCLUSÃO

Não precisamos ter medo do Espírito Santo. Se Cristo e os apóstolos necessitaram do Espírito Santo, então dele também precisamos, porque:

a) O Espírito Santo nos dá poder para testemunhar. “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”. (At. 1.8).

b) O Espírito Santo nos dá poder para vivermos uma vida de santidade. “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque a lei do espírito de vida em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte. Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis, mas se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo vivereis.” (Rm. 8.1,2,13).

c) O Espírito Santo é Consolador e habita para sempre. “E rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, afim de que esteja para sempre convosco.” (Jo. 14.16).

d) O Espírito Santo vivificará nossos corpos mortais. “Se habita em vós o Espírito dAquele que ressuscitou a Jesus entre os mortos, vivificará também os vossos corpos mortais, por meio do Seu Espírito que em vós habita”. (Rm. 8.11).

e) O Espírito Santo nos guiará em toda a verdade. “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não podeis suportar agora; quando vier, porém o Espírito da verdade, Ele vos guiará a toda a verdade; porque não fará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas que hão de vir. (Jo. 16.12-13).

f) O Espírito Santo auxilia-nos nas nossas fraquezas. “Também o Espírito, semelhantemente nos assiste em nossas fraquezas; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis.” (Rm. 8.26).

Devemos fazer planos, devemos traçar programas possuir agendas, respeitar horários, desenvolver hábitos, mas nenhum desses fatos devem sobrepujar o costume de nos deixarmos guiar, constantemente pelo Espírito e pela fé que atua através do amor.

“Verdadeiramente, qualquer um que receber o Espírito Santo, que eu enviarei, está recebendo a mim; e quem me recebe, recebe também o Pai, que me enviou.” (Jo. 13.20).

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5 TRINDADE

Deus é uma Unidade, uma essência divina, existindo em Três Pessoas na Divindade, sendo essas Três: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. A Palavra Trindade não se encontra na Bíblia.

O Credo Atanasiano diz: “Adoramos um Deus em Trindade, e Trindade em Unidade, sem confundir as Pessoas, sem separar a substância”. Cada uma das Três Pessoas da Trindade é Deus, sendo iguais em autoridade, glória e poder. Cada uma igual às outras, merecendo o mesmo culto, a mesma devoção, a mesma confiança e fé. 

5.1. PROVAS DA TRINDADE

5.1.1. HÁ UM SÓ DEUS VIVO E VERDADEIROA Doutrina da Trindade não é uma forma de Triteísmo, ou seja, não é uma

crença em três Deuses. “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Dt 6.4). “Assim diz o Senhor, Rei de Israel, seu Redentor, o Senhor Deus dos Exércitos: Eu

sou o primeiro, e eu sou o último, e além de mim não há Deus” (Is 44.6). “Não terás outros deuses diante de mim” (Ex 20.3). “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30). “Crês, tu que Deus é um só? Fazes bem” (Tg 2.19). “Sabemos que o ídolo de si mesmo nada é no mundo, e que não há senão um

só .Deus” (1Co 8.4)

5.1.2. DEUS EXISTE COMO TRÊS PESSOAS

5.1.2.1. O PAI É DEUS“Todavia, para nós há um só Deus, o Pai...” (1Co 8.6); “... segundo a presciência

de Deus Pai...” (1Pe 1.2); “... subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus” (Jo 20.17).

5.1.2.2. O FILHO É DEUS“Cristo, ... o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre” (Rm 9.5);

“Porquanto nele (Cristo) habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” (Cl 2.9); “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30); “Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu!” (Jo 20.28); “... e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as cousas, e nós também, por ele” 1Co 8.6).

5.1.2.3. A CRISTO SÃO ATRIBUÍDOS OS ATRIBUTOS QUE SÃO DESIGNADOS SOMENTE À DEUS

a) Santidade (Mc 1.24; 2Co 5.21; Jo 8.46; Hb 7.26);b) Eternidade (Jo 1.1; 8.58; Hb 1.8; Jo 17.5);c) Vida (Jo 1.4; 14.6; 11.25);d) Imutabilidade (Hb 13.8; 1.11,12);e) Onipotência (Mt 28.18; Ap 1.8);f) Onisciência (Jo 16.30; Mt 9.4; Jo 6.64; Cl 2.3);g) Onipresença (Mt 28.20; Ef 1.23).

5.1.2.4. O ESPÍRITO SANTO É DEUS

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“Então disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisse ao Espírito Santo... Não mentistes aos homens mas a Deus” (At 5.3,4); “Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito que nele está? assim também as cousas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus” (1Co 2.11); “Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2Co 3.17); “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome (singular) do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19)

O Espírito Santo é colocado ao mesmo pé de igualdade com o Filho e com o Pai e Ele tem os mesmos poderes e atributos.

5.1.3. SÃO PESSOAS DISTINTAS ENTRE SI

5.1.3.1. RELACIONAMENTO PESSOALNas relações pessoais que a Trindade tem entre si é evidenciado que são Pessoas

diferentes. As suas designações Pai, Filho e Espírito Santo testificam isso:a) Usam mutuamente os pronomes Eu, Tu, Ele quando falam um do outro, ou entre

si (Mt 17.5; Jo 17.1; 16.28; 16.13);b) O Pai ama o Filho, e o Filho ama o Pai. O Espírito Santo glorifica o Filho (Jo

3.35; 15.10; 16.14);c) O Filho ora ao Pai (Jo 17.5; 14.16).

5.1.3.2. SÃO APRESENTADAS SEPARADAMENTE.Três Pessoas distintas são apresentadas em 2Sm 23.2,3; Is 48.16; 63.7-10.

Igualmente, à vista do fato da criação ser atribuída a cada Pessoa da Divindade separadamente, como também a Eloim com as palavras “Também disse Deus (Eloim): Façamos o homem ‘a nossa’ imagem” (Gn 1.26).

5.1.3.3. QUANTO AS OBRAS DE CADA UM

É declarado que Cada Pessoa realiza as obras de Deus e assim todas a executaram. Nunca são mencionadas as Três Pessoas realizando as obras juntas e sim como que se a outra não a tivesse realizado.

a) A Criação do Universo: Pai (Sl 102.25); Filho (Cl 1.16); Espírito Santo (Gn 1.2; Jó 26.13). Tudo se combina com Gn 1.1 (Deus – Eloim).

b) A Criação do Homem: Pai (Gn 2.7); Filho (Cl 1.16); Espírito Santo (Jó 33.4). Resumindo tudo isso em Ec 12.1 e Is 54.5, onde Criador é plural no original.

c) A Morte de Cristo: Pai (Sl 22.15; Rm 8.32; Jo 3.16); Filho (Jo 10.18; Gl 2.20); Espírito Santo (Hb 9.14).

d) Ressurreição: Pai (At 2.24); Filho (Jo 10.18; 2.19); Espírito Santo (1Pe 3.18).

e) Inspiração das Escrituras: Pai (2Tm 3.16); Filho (1Pe 1.10,11); Espírito Santo (2Pe 1.21). 

5.2. A DOUTRINA DA TRINDADE NO VELHO TESTAMENTO

O Velho Testamento logo no seu início insinua uma pluralidade na Divindade, demonstrando assim, claramente a Trindade (Gn 1.1,26; 3.22; 11.6,7; 20.13; 48.15; Is 6.8).

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5.2.1. OS NOMES DE DEUS NO PLURAL

Em Gênesis 1.1 vemos o nome Eloim. Este Nome é plural na forma, mas singular no significado. Os versículos seguintes demonstram isso (Gn 1.26,27; 3.22); indicando então uma Trindade.

Há vários versos que Deus aparece falando consigo mesmo e com isso demonstrando conselho dentro da Trindade. Sabemos que Deus não se aconselha e nem pede conselhos (Gn 1.26,27; 3.22; 11.7; Is 6.8); indicando assim uma Trindade. Essa auto-conversa não pode ser atribuída aos anjos, pois eles não estavam associados com Deus na criação.

5.2.2. O ANJO DO SENHOR

Esse se trata do Logos pré encarnado, Deus Filho, em manifestação angélica ou até mesmo humana.

Algumas dessas manifestações se deram a: Hagar (Gn 16.7-14); Abraão (Gn 22.11-18); Jacó (Gn 31.11,13); Moisés (Ex 3.2-5); Israel (Ex 14.19; cf. 23.20; 32.34); Balaão (Nm 22.22-35); Gideão (Jz 6.11-23); Manoá (Jz 13.2-25); Davi (1Cr 21.15-17); Essas manifestações no Velho Testamento tinham por finalidade prever a hora em que finalmente Ele viria na carne. Apenas uma única exceção, em que o anjo não é o Logos se encontra em Ageu 1.13, onde o próprio Ageu é o “mensageiro” do Senhor.Outras provas bíblicas dessa afirmação são: Gn 17.2,17; 18.22 com 19.1; Js 5.13-15 com 6.2; Jz 13.8-21; Zc 1.11; 3.1; 13.7.

5.3. A TRINDADE NO NOVO TESTAMENTO

No Novo testamento a Trindade é perfeitamente identificada. Por isso ela pode ser facilmente formulada pelas passagens que se seguem:

a) Na fórmula batismal: As instruções de Cristo de batizarem “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” declaram a Trindade (Mt 28.19).

b) No batismo de cristo: As Três Pessoas da Divindade são evidenciadas distintamente em Seu Batismo (Mt 3.16,17).

c) Na bênção apostólica: As Três Pessoas são vistas (2Co 13.14).

5.4. UMA PROVA “ESPETACULAR” DA TRINDADE

Observe a passagem clássica em Isaías 6:a) O Ser a Quem é dirigido a adoração é o “Senhor dos Exércitos”, o Pai.b) Mas em João 12.41 em manifesta referência diz sobre a glória de Cristo. Portanto, temos também o Filho, cuja glória nesta ocasião o profeta disse ter visto. c) Atos 28.25 determina que também havia a presença do Espírito Santo. As palavras deste versículo, Isaías declara que foram ditas na mesma ocasião pelo “Senhor dos Exércitos” (Is 6.9).

Resumindo todas as circunstâncias de Isaías 6: O LUGAR: o santo lugar dos santos; a repetição da homenagem, TRÊS vezes, Santo, santo, santo; o ÚNICO Jeová dos Exércitos, a quem foi dirigida; O pronome plural usado por este ÚNICO Jeová, NÓS; A declaração do evangelista de que nesta ocasião Isaías viu a glória de CRISTO; A declaração de Paulo, que o Senhor dos Exércitos que falou nessa ocasião era o ESPÍRITO SANTO; E a conclusão não parecerá desprovida da mais poderosa

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autoridade, tanto circunstancial quanto declaratória, que a adoração, Santo, santo, santo, referia-se à Divina Trindade, na essência do Senhor dos Exércitos.

De acordo com isso, em Apocalipse, “o Cordeiro” está em associação com o Pai, sofre ou é objeto de igual homenagem e louvor dos santos e dos anjos. Esta cena em Isaías é transferida para Ap 4.8, e as “criaturas viventes”, os serafins do profeta, são ouvidos na mesma melodia e com a mesma repetição trina, dizendo: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-poderoso, aquele que era, que é e que há de vir”.

Também outras passagens atribuem ser Cristo o Próprio Deus (Rm 9.5; Tt 2.13; Hb 1.8; 1Jo 5.20; 1Co 8.5,6; Ap 4.11).

5.5. AS TRÊS PESSOAS RECEBEM OS MESMOS ATRIBUTOS:

Eternidade: Pai (Sl 90.12); Filho (Ap 1.8,17; Jo 1.2; Mq 5.2); Espírito Santo (Hb 9.14).

Poder infinito: Pai (1Pe 1.5); Filho (2Co 12.9); Espírito Santo (Rm 15.19). Onisciência: Pai (Jr 17.10); Filho (Ap 2.23); Espírito Santo (1Co 2.11). Onipresença: Pai (Jr 23.24); Filho (Mt 18.20); Espírito Santo (Sl 139.7). Santidade: Pai (Ap 15.4); Filho (At 3.14); o Espírito é chamado de Espírito Santo,

foi por isso que os anjos clamaram: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos” (Is 6.3).

Verdade: Pai (Jo 7.28); Filho (Ap 3.17); Espírito Santo (1Jo 5.6).

6 ANTROPOLOGIA (Doutrina do homem)

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Somente Deus pode verdadeiramente revelar Deus. Essa revelação de si mesmo, tão necessária à salvação, encontra-se nas Escrituras. Da mesma fonte, origina-se a perspectiva de Deus sobre o homem, a perspectiva verdadeira, pois quem melhor pode conhecer o homem senão o seu Criador? É de grande importância que conheçamos a verdade. Poderemos também compreender melhor as doutrinas sobre o pecado, o juízo e a salvação, as quais se baseiam no ponto de vista bíblico da natureza do homem.

6.1. A ORIGEM DO HOMEM

A Bíblia ensina claramente a doutrina de uma criação especial, o que significa que Deus fez cada criatura “de acordo com sua espécie” (Gn 1.24). A Distinção entre o homem e as criaturas inferiores fica clara a declaração de que Deus criou “o homem à sua imagem” (Gn 1.27).

6.2. NATUREZA DO HOMEM

6.2.1. A TRIUNIDADE DO HOMEM

O homem, segundo Gênesis 2.7, compõe-se de duas substâncias - a substância material, o corpo e a imaterial, a alma; a alma é a vida do corpo e quando a alma se retira, o corpo morre. O homem, de acordo com 1Tes 5.23 e Hb 4.12, compõe-se de três substâncias – espírito, alma e corpo. O espírito e a alma representam os dois lados da natureza espiritual. Sendo o homem “espírito”, é capaz de ter conhecimento de Deus e comunhão com Ele; sendo ele “alma”, tem conhecimento de si próprio; sendo ele “corpo”, tem, por intermédio dos sentidos, conhecimento do mundo.

6.2.2. O ESPÍRITO HUMANO

O espírito foi formado pelo Criador na parte interna da natureza do homem, capaz de renovação e desenvolvimento (Sl 51.10).

O espírito é aquilo que faz o homem diferente de todas as demais coisas criadas. É dotado de vida humana (e inteligência, Pv 20.27; Jó 32.8) que se distingue da vida dos irracionais. O espírito do homem, quando se torna morada do Espírito de Deus (Rm 8.16), torna-se um centro de adoração (Jo 4.23,24), cântico e bênção (1Co 14.15) e de serviço (Rm 1.9; Fp 1.27).

O espírito humano, que representa a natureza superior do homem, rege a qualidade do seu caráter. Aquilo que domina o espírito torna-se atributo de seu caráter. Por exemplo, se o homem permitir que o orgulho o domine, ele tem um “espírito altivo” (Pv.16:18). Conforme as influências respectivas que o dominem, um homem pode ter um espírito perverso (Is.19:14), um espírito rebelde (Sl.106:33), um espírito impaciente (Pv.14:29), um espírito perturbado (Gn.41:8), um espírito contrito e humilde (Is.57:15 ; Mt.5:3). Pode estar sob um espírito de servidão (Rm.8:15) ou ser impelido pelo espírito da inveja (Nm.5:14). Assim, é preciso que o homem cuide de seu espírito (Ml.2:15), domine seu espírito (Pv.16:32), deixe pelo arrependimento que seu espírito se torne um novo espírito (Ez.18:31) e confie em Deus para transformar o seu espírito (Ez.11:19).

6.2.3. A ALMA DO HOMEM.

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a) A natureza da alma. A alma é aquele principio inteligente e vivificante que anima o corpo humano, que usa os sentidos físicos como seus agentes na exploração das coisas materiais e os órgãos do corpo para expressar-se e comunicar-se com o mundo exterior.

A alma distingue a vida humana e a vida dos seres irracionais. Tanto os homens quanto os seres irracionais tem alma (em Gn.1:20, a palavra “vida” é “alma”, no origina.

A alma do homem distingue dos irracionais. Estes possuem alma, mas é alma terrena que vive somente enquanto durar o corpo (Ec 3.21). A alma do homem é de qualidade diferente sendo vivificada pelo espírito humano.

b) A origem da alma. Os estudantes da Bíblia se dividem em dois grupos de ideias diferentes: (1) Um grupo afirma que cada alma individual não vem proveniente dos pais, mas sim peã criação divina imediata (Is 57.16; Ec 12.7;Hb 12.9; Zc 12.1). (2) Outros pensam que a alma é transmitida pelos pais. Apontam o fato de que a transmissão da natureza pecaminosa de Adão à posteridade milita contra a criação divina de cada alma; também o fato de que as características dos pais se transmitem à descendência (Jo 1.13; 3.6; Rm 5.12; 1 Co 15.22; Ef 2.3; Hb 7.10).

c) A alma e o corpo. A alma é depositária da vida; ela figura em tudo que pertence ao sustento, ao risco e à perda da vida. É por isso que, em muitos casos, a palavra “alma” é traduzida por “vida” (Ex.30:12 ; At.15:26). A vida é o entrosamento do corpo com a alma. Quando a alma e o corpo se separam, o corpo não existe mais.

A alma permeia e habita todas as partes do corpo e afeta mais ou menos diretamente todos os seus membros.

Esse fato explica por que as Escrituras atribuem sentimentos ao coração e aos rins (Sl.73:21; Jó 16.13; Lam 3.13; Pv 23.16; Sl 16.7; Jr 12.2; Jó.38:36;).

Por meio do corpo, alma recebe suas impressões do mundo exterior. Essas impressões são apreendidas pelos cinco sentidos (visão, audição, paladar, olfato e tato). Sentir, pensar, exercer vontade e outros atos são, todos eles, atividades da alma ou do “eu”.

d) A alma e o pecado. Assim escreve o doutor Leander Keyser: “Se, no inicio de sua vida o infante humano não tivesse certos instintos, não poderia sobreviver, mesmo com o melhor cuidado paterno, e médico”.

O instinto da auto-preservação, que nos avisa do perigo e nos capacita a cuidar de nós mesmos. O instinto da aquisição, (conseguir), que nos conduz a adquirir as provisões para o sustento próprio . O instinto da busca de alimento, o impulso que leva a satisfazer a fome natural. O instinto da reprodução, que conduz à perpetuação da espécie. O instinto do domínio, que conduz à iniciativa própria necessária para o desempenho da vocação e das responsabilidades.

Como guia para o regulamento das faculdades do homem, Deus impôs uma lei. O entendimento do homem quanto a essa lei produziu uma consciência, que significa literalmente”com conhecimento”. Quando o homem deu ouvidos à lei, teve a consciência esclarecida; quando desobedeceu a Deus, sofreu, pois a consciência o acusava. O homem cedeu à concupiscência dos olhos, à cobiça da carne e à vaidade da vida (1Jo.2:16). A alma, consciente e voluntariamente, usou o corpo para pecar contra Deus. Essa combinação de alma pecaminosa e corpo humano constituiu o que se conhece como “o corpo do pecado” (Rm.6:6).

Visto que o homem pecou com o corpo, será julgado segundo as ações “praticadas por meio do corpo” (2Co.5:10). Isso implica uma ressurreição (Jo.5:28,29). e) A alma e o coração. A palavra “coração” significa o âmago, o centro de algo. O coração do homem é, portanto, o verdadeiro centro de sua personalidade. É o centro da vida física. Nas palavras do doutor Beck: “O coração é a primeira coisa a viver, e seu primeiro movimento é sinal seguro de vida: seu silêncio, sinal positivo de morte”. Ele também é a fonte e o lugar em que as correntes da vida espiritual e da alma se encontram. Podemos

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descrevê-lo como a parte mais profunda do nosso ser, a “casa das maquinas”, a “fabrica” em que se formam os pensamentos e propósitos, bons ou maus. A “oficina” de tudo quanto é bom ou mau nos pensamentos, nas palavras e nas ações (Mt.15:19).

6.3. A IMAGEM DE DEUS NO HOMEM

O homem foi criado à semelhança de Deus, foi feito como Deus em caráter e personalidade. E em todas as Escrituras o ideal e alvo exposto diante do homem é o de ser semelhante a Deus (Lv 19.2; Mt 5.45-48; Ef 5.1). E ser como Deus significa ser como Cristo que é a imagem do Deus invisível.

6.3.1. PARENTESCO COM DEUS

O homem, na verdade, tem o corpo feito do pó da terra, mas Deus soprou em suas narinas o sopro da vida (Gn.2:7): dessa maneira, dotou-o de uma natureza capaz de conhecer, amar, e servir a Deus. Por causa dessa imagem divina, todos os homens são, por criação, filhos de Deus. Mas, como essa imagem foi manchada pelo pecado, os homens devem ser recriados ou nascido de novo (Ef.4:24) para que sejam em realidade filhos de Deus.

Pense nas invenções maravilhosas que surgiram da mente do homem. Olhe a civilização construída pelas diversas artes. Considere os livros, a poesia e a música que foram produzidos. Depois adore ao criador por esse dom maravilhoso da razão.

6.3.2. CARÁTER MORAL

O reconhecimento do bem e do mal pertence somente ao homem. A um animal pode-se ensinar a não fazer certas coisas, mas é porque essas coisas são contrárias à vontade do dono. Os animais não são capazes de ser instruídos nas verdades concernentes a Deus e a moralidade. O animal é meramente uma criatura da natureza. O homem é capaz de refletir sobre si próprio e arrazoar a respeito das causas das coisas.

A existência da árvore da vida no Jardim do Éden indica que o homem nunca teria morrido se não tivesse desobedecido a Deus. Cristo veio ao mundo para colocar o Alimento da Vida ao nosso alcance, para que não pereçamos, mas vivamos para sempre.

A queda do homem resultou na perda e no desfiguramento da imagem divina. Isto não quer dizer que os poderes mentais e psíquicos (a alma) foram perdidos; mas que a inocência original e a integridade moral, nas quais foi criado, foram perdidas por sua desobediência. Portanto, o homem é absolutamente incapaz de salvar-se a si mesmo e está sem esperança, a não ser por um ato de graça que lhe restaure a imagem divina.

7 PECADO

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7.1. O FATO DO PECADO

A história e o próprio conhecimento íntimo do homem oferecem abundante testemunho do pecado. Muitas teorias, porém, aparecem para negar, desculpar, ou diminuir a natureza do pecado.

a.) Ateísmo. Ao negar Deus, nega também o pecado, porque, estritamente falando, todo pecado é contra Deus; e, se não há Deus, não há pecado. Enfim, todo mal praticado é contra Deus, porque o mal é uma violação do direito, e o direito é a lei de Deus.

b.) Determinismo. Essa é a teoria que afirma ser o livre-arbítrio uma ilusão, e não uma realidade. Imaginamos que somos livres para fazer nossas escolhas, porém nossas opções são realmente ditadas por impulsos internos e circunstâncias que escaparam ao nosso domínio.

Contudo, as Escrituras afirmam que, invariavelmente, o homem é livre para escolher entre o bem e o mal - uma liberdade implícita em todos os mandamentos e exortações. Longe de ser vítima da fatalidade e casualidade, declara-se que o homem é o árbitro de seu próprio destino.

Uma consequência prática do determinismo é tratar o pecado como se fosse uma enfermidade pela qual o pecado é digno de pena em vez de castigo. Contudo, a voz da consciência que diz: “eu devo” refutar (ignorar) essa teoria.

c.) Hedonismo (da palavra grega que significa “prazer”). É a teoria que sustenta que o melhor ou o mais proveitoso que existe na vida é a conquista do prazer e a fuga da dor; de modo que a primeira pergunta que se faz não é: “isso é correto?”, mas: “trará prazer?”. Nem todos os hedonistas tem uma vida de vícios, mas a tendência geral do hedonista é desculpar o pecado e disfarçá-lo, como se fosse uma pílula açucarada, com designações como: é uma fraqueza inofensiva; um pequeno desvio; uma mania de sentir prazer; é fogo da juventude. Eles desculpam o pecado com expressões como: “errar é humano”; “o que é natural é belo, e o que é belo é correto”.

É sobre essa teoria que se fundamenta o ensino moderno de “auto-expressão”. Em linguagem técnica, o homem deve “libertar suas inibições”; em linguagem simples, “ceder a tentação, porque reprimi-la é prejudicial a saúde”. Isso serve para justificar a imoralidade.

d.) Ciência cristã. Essa seita nega a realidade do pecado. Declara que o pecado não é algo positivo, e afirma que é apenas um “erro da mente mortal”.

e.) Evolução. Essa teoria considera o pecado como herança do animalismo primitivo do homem.

7.2. A ORIGEM DO PECADO

a.) A origem da tentação. “Ora, a serpente era o mais astuta de todos os animais selvagem que o Senhor Deus tinha feito” (Gn.3:1). É razoável deduzir que a serpente, que naquela época deveria ter sido uma criatura formosa, foi o agente empregado por satanás. Por essa razão, satanás é descrito como “a antiga serpente chamada diabo ou satanás” (Ap.12:9). Satanás geralmente trabalha por meio de agentes. Em (Mt.16:22,23). Satanás trabalhou por meio de um dos amigos de Jesus; no Éden, empregou a serpente, uma criatura da qual Eva não desconfiava. b.) A sutileza da tentação. A sutileza é mencionada como características distintiva da serpente ( Mt 10.16). Com grande astúcia, ela oferece sugestões que, ao serem aceitas, abrem caminho a desejos e atos pecaminosos. A serpente espera até que Eva esteja só. Ela distorce as palavras de Deus (Gn 3.1; 2.16,17), e então finge surpresa por estarem assim torcidas;dessa maneira ela, astutamente, semeia dúvida e suspeita no coração da ingênua mulher, ao mesmo tempo insinua que está bem qualificada para ser juiz quanto à justiça de

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tal proibição. Por meio da pergunta no versículo 1, lança a tríplice dúvida acerca de Deus. (1) Dúvida sobre a bondade de Deus. (2) Dúvida sobre a retidão de Deus. (3) Dúvida sobre a santidade de Deus.

c.) A culpa. “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus”. Notemos que a nudez física é um quadro de uma consciência nua ou culpada. O instinto do homem culpado é fugir de Deus. E assim como Adão e Eva procuraram esconder-se entre as árvores, da mesma forma as pessoas hoje em dia procuram esconder-se nos prazeres e outras atividades.

7.3. A NATUREZA DO PECADO

O que é pecado? A Bíblia usa uma variedade de termos para expressar o mal de ordem moral.

7.3.1. O ensino do AT sobre o pecado

Na esfera moral. As palavras usadas para expressar o pecado são as seguintes:a.) Pecado significa “errar o alvo”. Reúne as seguintes ideias: (1) Errar o alvo, como

um arqueiro que atira, mas erra; o pecador erra o alvo final da vida. (2) Errar o caminho, como um viajante que desvia do caminho certo. (3) Estar em falta ao ser pesado na balança de Deus.

b.) Outra palavra significa literalmente “tortuosidade”, e é muitas vezes traduzida por “perversidade”. É, portanto, o contrário de retidão, que significa literalmente o que é reto ou conforme um padrão reto.

c.) Outra expressão comum que se traduz por “mal” exprime o pensamento de violência ou infração; ela descreve o homem que infringe ou viola a lei de Deus.

7.3.2. O ensino do NT sobre o pecado

a) Errar o alvo, que expressa a mesma ideia que a conhecida palavra do Antigo Testamento. b) Dívida. ( Mt 6.12). O homem deve (a palavra “deve” vem de dívida) a Deus a observância de seus mandamentos; todo pecado cometido é o mesmo que contrair uma dívida.

c) Desordem. “ O pecado é a transgressão da lei” ( literalmente “desordem” 1 Jo. 3.4). d) Desobediência. Literalmente “Ouvir mal”, ouvir com falta de atenção (He 2.2). “Vedes pois como ouvis” (Lc 8.18). e) Transgressão. Literalmente, “ir além do limite” (Rm 4.15). f) Queda. No grego, falta, ou tropeço, ao cair de lado (2 Pe 1.10; Ef 1.7), de onde se origina a conhecida expressão “cair em pecado”. Pecar é cair de um padrão de conduta. g) Derrota. Esse é o significado literal da palavra ”fracasso”(Rm 11.12). Ao rejeitar Cristo, a nação judaica sofreu uma derrota e perdeu o propósito de Deus. h) Impiedade. Origina-se de uma palavra que significa “sem adoração ou reverência” (Rm 1.18; 2 Tm 2.16). O homem ímpio é o que dá pouca ou nenhuma importância a Deus e às coisas sagradas.

7.4. AS CONSEQUENCIAS DO PECADO

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O pecado é tanto um ato como um estado. Como rebelião contra a lei de Deus, é um ato da vontade do homem; como separação de Deus, vem a ser um estado pecaminoso. Segue-se uma dupla consequência: o pecador traz o mal sobre si mesmo por suas más ações, e incorre em culpa aos olhos de Deus.

As Escrituras descrevem dois efitos do pecado sobre o culpado: primeiro. É seguido por consequências desastrosas para sua alma; segundo, trará da parte de Deus o positivo decreto de condenação.

7.4.1. Fraqueza espiritual

a.) Desfiguração da imagem divina. O homem não perdeu completamente a imagem divina, porque, apesar de sua posição decaída, é considerado uma criatura à imagem de Deus (Gn 9.6; Tg 3.9).

b.) Pecado inerente. Ou “pecado original”. O efeito da queda arraigou-se tão profundamente na natureza humana que Adão, como pai da raça, transmitiu a seus descendentes a tendência ou inclinação para pecar (Sl 51.5). Esse impedimento espiritual e moral, sob o qual os homens nascem, é conhecido como pecado original. Os atos pecaminosos que se seguem durante a idade de plena responsabilidade do homem são conhecidos como “pecado atual”.

c.) Discórdia interna. No princípio Deus fez o corpo do homem do pó, dotando-o, desse modo, de uma natureza física ou inferior; depois soprou em seu nariz o fôlego da vida, comunicando-lhe assim uma natureza mais elevada, unindo-o a Deus. Era o propósito de Deus a harmonia do ser humano, ter o corpo subordinado à alma. Mas o pecado interrompeu a relação de tal maneira que o homem se encontrou dividido em si mesmo; o “eu” oposto ao “eu” em uma guerra entre a natureza superior e a inferior. Sua natureza inferior, frágil em si mesma, rebelou-se contra a superior e abriu as portas de seu ser ao inimigo. Na intensidade do conflito, o homem exclama: “Miserável homem que sou! Quem me libertará do corpo sujeito a essa morte?” (Rm.7:24).

7.4.2. Castigo positivo

“No dia em que dela comeres certamente morrerás” (Gn 2.17). “O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23).

O homem foi criado capaz de viver eternamente; isto é, não morreria se obedecesse à lei de Deus. Para que pudesse “lançar mão” da imortalidade e da vida eterna, foi colocado sob um pacto de obras, figurado pelas duas árvores – a árvore da ciência do bem e do mal e a árvore da vida. Desse modo, a vida estava condicionada à obediência; enquanto Adão observasse a lei da vida teria direito à árvore da vida. Mas desobedeceu; quebrou o pacto de vida, e ficou separado de Deus, a Fonte da vida. Desde esse momento, teve a morte o seu início e foi consumada na morte física com a separação da alma e do corpo.

A morte física veio ao mundo como castigo, e, nas Escrituras, sempre que o homem é ameaçado com a morte como castigo pelo pecado, significa primeiramente a perda do favor de Deus. Assim, o pecador já está “morto em ofensas e pecados” e no momento da morte física ele entra no mundo invisível na mesma condição.

Quando as Escrituras falam da vida como recompensa pela justiça, isso significa mais que existência, pois os ímpios existem no inferno. Vida significa viver em comunhão com Deus e no seu favor – comunhão que a morte não pode interromper ou destruir (Jo 11.25-26).

8 SOTERIOLOGIA- ( a doutrina da salvação)

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8.1. A NATUREZA DA SALVAÇÃO

O assunto desta seção será: Que é que constitui a salvação, ou “estado de graça”?

8.1.1. Três aspectos da salvação:

a) Justificação é um termo forense que nos faz lembrar um tribunal. O homem, culpado e condenado perante Deus, é absolvido e declarado justo – isto é, justificado.

b) Regeneração (a experiência subjetiva) e adoção (o privilegio objetivo) sugerem uma cena familiar. A alma, morta em transgressões e ofensas, precisa de uma nova vida, e esta é concedida por um ato divino de regeneração. A pessoa, por conseguinte, torna-se herdeira de Deus e membro de sua família.

c) Santificação sugere uma cena do templo, pois esta palavra relaciona-se com o culto a Deus. O homem salvo é aquele cuja vida se harmonizou com Deus e, portanto, foi adotado na família divina, sua experiência de salvação, ou seu estado de graça, consiste em justificação, regeneração (e adoção) e santificação. Sendo justificado ele pertence aos justos; sendo regenerado, ele é filho de Deus; sendo santificado, ele é “santo”.

Não pode haver plena salvação sem essas três experiências, como não pode haver um triangulo sem três lados.

8.1.2. Salvação: externa e interna

A salvação é tanto objetiva (externa) quando subjetiva (interna).a) A justiça, em primeiro lugar, é mudança de posição, mas é acompanhada por

mudança de condições. A justiça é tanto creditada quanto conferida.b) A adoção refere-se a conferir o privilegio da filiação divina; a regeneração diz

respeito à vida interna, que corresponde a nosso chamado e que nos faz “participantes da natureza divina”(2Pe 1.4).

c) A santificação é tanto externa quanto interna. A externa é separação do pecado e dedicação a Deus; a interna é purificação do pecado.

8.1.3. Condições da salvação

O que significa a expressão condições da salvação? Significa o que Deus exige do homem a quem ele aceita por causa de Cristo e a quem dispensa as bênçãos do evangelho da graça.

As Escrituras apresentam o arrependimento e a fé como condições da salvação; o batismo nas águas é mencionado como símbolo exterior da fé interior do convertido (Mc 1.15; At 22.16; 16.31; 2.38; 3.19).

a) Arrependimento. Alguém definiu o arrependimento das seguintes maneiras: ”a verdadeira tristeza sobre o pecado, incluindo um esforço sincero para abandoná-lo”; “tristeza piedosa por ter pecado”; “convicção da culpa produzida pelo Espírito Santo ao aplicar a lei divina no coração”; segundo as Escrituras, três elementos no arrependimento: intelectual, emocional e prático. “Converter-se”, isto é, dar meia volta e manchar em direção a Deus. Palavra grega traduzida por “arrependimento” que significa “mudar de ideia ou propósito”. O resultado prático é que ele produz frutos dignos do arrependimento (Mt 3.8).

b) Fé. Fé, no sentido bíblico, significa crer e confiar. A fé intelectual não é o suficiente (Tg 2.19; At 8.13,21) para adquirir a salvação. A fé proveniente do coração é

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essencial (Rm 10.9). Fé, no sentido de confiança, implica também o elemento emocional. A fé que salva representa um ato que engloba toda a personalidade, envolvendo o intelecto, as emoções e a vontade.

Fé às vezes significa não somente crer em um corpo de doutrinas, mas sim crer em tudo quanto é verdade, fé às vezes é denominada “fé objetiva” ou externa. O ato de crer nessas verdades é conhecido como fé subjetiva.

A palavra grega “crer”, exprime a ideia de repousar ou apoiar-se sobre um firme fundamento; esse é o sentido da palavra “crer”, a palavra significa a confiança que faz unir a pessoa ao objeto de sua fé. Portanto, fé é o elo entre a alma e Cristo. Fé em Cristo é graça salvadora. É crer e confiar nos méritos de Cristos, por quem Deus está disposto a mostrar-nos misericórdia.

8.1.4. Conversão

Conversão, segundo a definição mais simples, é abandonar o pecado e aproximar-se de Deus (At 3:19).

A conversão envolve toda a personalidade - intelecto, emoções e vontade. È Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele (Fp 2. 12,13).

8.2. JUSTIFICAÇÃO

8.2.1. Natureza da justificação: absolvição divina

A palavra “justificar” é o termo judicial que significa absolver, declarar justo ou pronunciar sentença de aceitação. Procede das relações legais. O réu está diante de Deus, o justo juiz; mas, em vez de ser condenado, é absolvido. Justificado é o veredicto divino, e ninguém pode opor-se a ele (Rm 8.34).

O segredo do cristianismo do NT, como também de todos os avivamentos e reformas da Igreja, é justamente este maravilhoso paradoxo: “Deus justifica o ímpio!”. Assim vemos que justificação é primeiramente subtração - o cancelamento dos pecados; e, depois, adição – imputação de justiça.

Justificação é um ato da livre graça de Deus pelo qual ele perdoa todos os nossos pecados e nos aceita como justos aos seus olhos somente por nos ser imputada a justiça de Cristo, que se recebe pela fé.

8.2.2. Necessidade da justificação: a condenação do homem

“Mas como pode o mortal ser justo diante de Deus?”, perguntou Jó (9.1). “Senhores, que devo fazer para ser salvo?” (At 16.30), interrogou o carcereiro de Filipos.

A resposta a essa interrogação encontra-se na epístola aos Romanos, “Sabemos que tudo o que a lei diz, o diz aqueles que estão debaixo dela, para que toda boca se cale e todo o mundo esteja sob o juízo de Deus. Portanto, ninguém será declarado justo diante dele baseando-se na obediência á lei, pois é mediante a lei que nos tornamos plenamente conscientes do pecado” (Rm 3.19,20). A Lei em si não possuía poder para salvar, como o termômetro não tem poder para baixar a febre que registra. Apenas Deus, o Salvador de seu povo, como também sua graça, seria a única esperança. O “Fim da lei é Cristo” e que nele cumpriu-se a antiga aliança (Rm 10.4).

8.2.3. A fonte da justificação: a graça

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Graça significa, primeiramente, favor, ou a disposição bondosa da parte de Deus. Alguém a definiu como a “bondade genuína e favor não recompensando”, ou “favor não merecido”. A salvação é sempre apresentada como uma dádiva, um favor não merecido, impossível de ser recompensado; e um benefício legítimo de Deus (Rm 6.23). Graça é amor infinito expressando-se em bondade infinita”. 8.2.4. O Fundamento da justificação: a justiça de Cristo

Cristo conquistou essa justiça por nós, por meio de sua morte expiatória, conforme está escrito: “Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça”(Rm 3.25).

8.2.5. Os meios da justificação: a fé

Visto que a lei não pode justificá-lo, a única esperança do homem é receber a “justiça que provém de Deus, independe da lei” (Rm 3.21). Essa é a “justiça de Deus”, isto é, a justiça que Deus concede, a qual também é uma dádiva, pois o homem é incapaz de operar a justiça (Ef 2.8-10). É possível se apropriar da justiça de Cristo? A resposta é sim: pela fé em Jesus Cristo. A fé é a mão, por assim dizer, que recebe o que Deus oferece. As seguintes referências provam que essa fé é a causa instrumental da justificação: Romanos 3.22; 4.11;9.30; Hebreus 11.7; Filipenses 3.9. “Pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram” (Gl 3.27). “Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos” (Gl 5.24).

8.3. A REGENERAÇÃO

8.3.1. Natureza da regeneração

A regeneração é o ato divino que concede ao pecador que se arrepende que crê uma vida nova e mais elevada, mediante a união pessoal com Cristo. O NT descreve a regeneração desta forma:

a) Nascimento. Deus pai é quem gera, e o crente é “nascido de Deus” (1Jo 5.1).b)Purificação. Deus nos salvou pelo “lavar regenerador” (literalmente, lavatório ou

banho; Tt 3.5).c)Vivificação. Somos salvos não somente pelo “lavar regenerador”, mas também

pelo lavar “renovador do Espírito Santo” (Tt 3.5; Cl 3.10; Rm 12.2; Ef 4.23; Sl 51.10).d) Criação. Aquele que criou o homem no princípio e soprou em suas narinas o

fôlego de vida o recria pela operação do seu Espírito Santo. (2Co 5.17; Ef 2.10; Gl 6.15; Ef 4.24; Gn 2.7).

e) Ressurreição (Rm 6.4,5; Cl 2.13; 3.1; Ef 2.5,6). Como Deus vivificou o barro inanimado e o fez vivo para com o mundo físico, assim ele vivifica a alma em seus pecados e a faz viva para as realidades do mundo espiritual. Esse ato de ressurreição da morte espiritual é simbolizado pelo batismo nas águas.

8.3.2. Necessidade de regeneração

A entrevista de nosso Senhor com Nicodemos (Jo. 3) proporciona um excelente fundo histórico para o estudo desse tópico.

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Fome espiritual: se esse chefe judaico tivesse expressando o desejo de sua alma, talvez dissesse: “Estou cansado do ritualismo morto da sinagoga”.

Faltou a Nicodemos profunda convicção: Sentiu sua necessidade, mas achava que precisava de um instrutor, e não de um Salvador. Nicodemos teve de compreender que era pecador, que precisava de purificação e transformação (Jo. 4.16-18).

Nota-se em suas palavras um toque de autocomplacência, natural num homem de sua idade e posição. Jesus declarou: “Ninguém pode ver o reino de Deus, se não nascer de novo” (Jo 3.3).

8.3.3. Os meios da regeneração

a) Agência divina. O Espírito Santo é o agente especial na obra de regeneração. Ele opera a transformação no individuo (Jo. 3.6; Tt 3.5). No entanto, todas as pessoas da trindade participam dessa obra. Realmente, as três pessoas atuam em todas as operações divinas, embora cada pessoa exerça certos ofícios que lhe são peculiares.

b) A preparação humana. O homem não pode cooperar no ato de regeneração, um ato soberano de Deus; mas o homem pode tomar parte na preparação para o novo nascimento. Qual é essa preparação? Arrependimento e fé.

8.3.4. Efeitos da regeneração

a) Posicionais. Quando a pessoa passa pela transformação espiritual, conhecida como regeneração, torna-se filho de Deus e beneficiário de todos os privilégios dessa filiação.

A palavra “adoção” significa literalmente “dar a posição de filho”. No NT, a filiação comum é, às vezes, definida pelo termo “filhos” (hyios, no grego), termo que originou a palavra “adoção”; outras vezes, é definida pela palavra teknon, no grego, também traduzida por “filhos”, que significa “os gerados” e pode significar a regeneração (Jo. 1:12,13).

b) Espirituais. A regeneração, em virtude da sua natureza, envolve união espiritual com Deus e com Cristo mediante o Espírito Santo; essa união espiritual envolve habitação divina (2Co. 6:16-18; Gl. 2:20; 4:5, 6; 1Jo. 3:24; 4:13). Essa união resulta em um novo tipo de vida e de caráter, descrito de varias maneiras: uma vida nova (Rm. 6:4); um coração novo (Ez. 36:26); um espírito novo (Ez.11:19); um homem novo (Ef. 4:24), participante da natureza divina (2Pe. 1:4).

c) Práticos. A pessoa nascida de Deus demonstrará esse fato pelo ódio que tem ao pecado (1Jo. 3:9; 5:18), por obras de justiça (1Jo. 2:29), pelo amor fraternal (1Jo. 4:7) e pela vitória que alcança sobre o mundo (1Jo. 5:4).

8.4. SANTIFICAÇÂO

8.4.1. Natureza da santificação

A santificação pelo estudo do uso da palavra “santo” no AT. “Santificação”, “santidade” e “consagração” são sinônimos, como o são “santificados” e “ santos”. Santificar é a mesma coisa que tornar santo ou consagrar. A palavra “santo” tem os seguintes sentidos:

a) separação. “Santo” é uma palavra que descreve a natureza divina. Seu significado primordial é “separação”; portanto, a santidade representa aquilo que está em Deus o que o

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torna separado de tudo quanto é terreno e humano – isto é, sua absoluta perfeição moral e sua majestade divina.

b) Dedicação. Santificação inclui tanto separação de, quanto dedicação a alguma coisa; essa é “a condição dos crentes quando são separados do pecado e do mundo para passar a ser participantes da natureza divina e consagrados à comunhão e ao serviço de Deus por meio do Mediador”.

A palavra “santo” é mais usada em relação ao culto. Quando se refere aos homens ou aos objetos, ela expressa o pensamento de que esses são usados no serviço divino e dedicados a Deus, no sentido especial de ser sua propriedade. Israel é uma nação Santa, por ser dedicada ao serviço de Deus; os levitas são santos por serem especialmente dedicados aos serviços do tabernáculo;

c) Purificação. Embora o sentido primordial de “santo” seja separação para serviço, esse sentido inclui também a ideia de purificação. O caráter de Deus age sobre todo que lhe é devotado. Portanto, os homens consagrados a ele participam de sua natureza. As coisas que lhe são dedicadas devem ser limpas. Limpeza é uma condição de santidade. Quando Deus escolhe uma pessoa ou um objeto para seu serviço, ele opera ou faz que esse objeto ou essa pessoa se tornem santos.

d) Consagração. O sentido aqui é o de viver uma vida santa e justa. Qual a diferença entre justiça e santidade? A justiça representa a vida regenerada em conformidade com a lei divina; os filhos de Deus andam retamente (1Jo. 3:6-10). Santidade é a vida regenerada em conformidade com a natureza divina e dedicada ao serviço divino, o que pede a remoção de qualquer impureza que obstrua esse serviço: “mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem” (1Pe.1:15).

e) Serviço. A palavra “santo” expressa esse relacionamento de aliança. Servir a Deus, nesse relacionamento, significa ser sacerdote. Os crentes do NT são “santos”, isto é, um povo consagrado. Pelo sangue da aliança, tornaram-se “sacerdócio real, nação santa [...] para serem sacerdócio santo, oferecendo sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo” (1Pe. 2:9,5); Assim, percebemos que o serviço é elemento essencial da santificação ou santidade, pois é esse o único sentido em que os homens podem pertencer a Deus, ou seja, como seus adoradores que lhe prestam serviço. Santificação envolve ser possuído por Deus e servir a ele.

8.4.2. O tempo da santificação

A santificação é: 1) Posicional e instantânea; 2) Prática e progressiva.a) posicional e instantânea. Portanto é a purificação da natureza de todo pecado

congênito, pelo sangue de Cristo (Aplicado pela fé ao realizar-se plena consagração).b) Prática e progressiva. “A santificação é a obra das livre graça de Deus, pela

qual o homem todo é renovado segundo a imagem de Deus e capacitado a morrer para o pecado e viver para a justiça.” A santificação é absoluta e progressiva – absoluta, no sentido de que a obra foi feita de uma vez por toda (Hb. 10:14); progressiva, no sentido em que o cristão deve perseguir a santidade (Hb. 12:14).

8.4.3. Meios divinos de santificação.

a) O sangue de Cristo (eterno, absoluto e posicional) (Hb. 13:12; 10:10,14; 1Jo.1:7). Em resultado da obra consumada de Cristo, o pecador que se arrepende é transformado de pecador impuro em adorador santo. A santificação é o resultado dessa maravilhosa obra redentora do Filho de Deus, ao oferecer-se no Calvário para aniquilar o pecado pelo seu sacrifício.

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b) O Espírito Santo (santificação interna) (1Co. 6:11; 2Ts. 2:13; 1Pe. 1:1,2; Rm. 15:16). Nessas passagens, apresenta-se a santificação pelo Espírito Santo como o inicio da obra de Deus no coração dos homens, conduzindo-os ao inteiro conhecimento da justificação pela fé no sangue aspergido de Cristo.

c) A palavra de Deus (santificação externa e pratica) (Jo. 17: 17; Ef. 5: 26). Apalavra de Deus desperta os homens para que compreendam a insensatez e impiedade de sua vida. Quando dão importância a palavra, arrependendo-se e crendo em Cristo, são purificados por essa Palavra que lhes foi transmitida. Esse é o inicio da purificação que deve continuar ao longo da vida do crente.

8.4.4. Ideias errôneas sobre a santificação.a) “Erradicação” do pecado inato é uma dessas ideias. Pais que houvessem

experimentado essa “extirpação”, necessariamente gerariam filhos sem a natureza pecaminosa.

b) Legalismo, ou a observância de regras e regulamentos. Paulo ensina que a lei não pode santificar (Rm. cap. 6), assim como também não pode justificar (Rm. 3). Se um homem for salvo do pecado, terá de ser por um poder à parte de si mesmo.

c) Ascetismo. É a tentativa de subjugar a carne e alcançar a santidade por meio de privações e sofrimentos – o método que seguem os católicos romanos e os hindus ascéticos. Ascetismo é uma tentativa de matar o “eu”, mas o “eu” não pode vencer o “eu”. Essa obra é do Espírito.

8.4.5. Santificação Totala) Significado de perfeição. Há dois tipos de perfeição: absoluta e relativa. É

absolutamente perfeito aquilo que não pode ser melhorado; isso pertence unicamente a Deus. É relativamente perfeito aquilo que cumpre o fim para o qual foi designado; essa perfeição é possível ao homem. A palavra “perfeição” no AT significa ser “justo, integro” (Gn.6:9; Jó. 1:1).

A palavra “perfeito” descreve os seguintes aspectos da vida cristã: 1) Perfeição da posição em Cristo (Hb. 10:14) – o resultado da obra de Cristo por nós. 2) Maturidade e entendimento espiritual, em contraste com imaturidade espiritual (1Co. 2:6; 14:20). 3) Perfeição progressiva (Gl.3:3). 4) Perfeição em certos aspectos; a vontade de Deus, o amor ao homem e serviço (Cl. 4:12; ). 5) A perfeição do individuo no céu (Cl. 1:22). 6) A perfeição final da igreja, ou o corpo de Cristo, isto é, o conjunto de crentes (Ef. 4:13; Jo. 17:23).

8.5. A SEGURANÇA DA SALVAÇÃO

Nesta seção consideraremos se a salvação final dos cristãos é incondicional, ou se é possível perdê-la por causa do pecado.

A experiência prova a possibilidade de uma queda temporária da graça, conhecida pelo termo “desviar-se”. Há duas palavras hebraicas para descrever essa situação. Uma palavra hebraica significa “voltar atrás” ou “virar-se”, e a outra, “volver-se” ou ser “rebelde”.

8.5.1. CalvinismoA doutrina de Calvino é: a salvação provem inteiramente de Deus: o homem não

tem absolutamente nada que ver com sua salvação. Naturalmente, surge a pergunta: se a salvação é inteiramente obra de Deus, porque Deus não salva todos os homens, uma vez que todos estão perdidos e desamparados? A resposta de Calvino era: Deus predestinou alguns

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para serem salvos, e outros para serem perdidos. “A predestinação é o eterno decreto de Deus, a vida eterna está preordenada para alguns, e a condenação eterna, para outros”. Ao agir dessa maneira, Deus não é injusto, pois ele não é obrigado a salvar ninguém; a responsabilidade do homem permanece, pois a queda de Adão foi sua própria falta, e o homem sempre é responsável por seus pecados.

Visto que Deus predestinou certos indivíduos para salvação, Cristo morreu unicamente pelos “eleitos”; a expiação fracassaria se alguns pelos quais Cristo morreu se perdesse. Dessa doutrina da predestinação, segue-se o ensino de “uma vez salvo, sempre salvo”, porque se Deus predestinou um homem para a salvação, e este pode unicamente ser salvo e guardado pela graça de Deus, que é irresistível, então, nunca pode perder-se.

Os defensores da doutrina da “segurança eterna” apresentam as seguintes referencias para sustentar sua posição: João 10:28,29; Romanos 11:29; Filipenses 1:6; 1Pedro 1:5; Romanos 8:35; João 17:6.

8.5.2. ArminianismoO ensino do arminianismo é: a vontade de Deus é que todos os homens sejam salvos,

porque Cristo morreu por todos (1Tm 2.4-6; Hb 2.9; 2Co 5.14; Tito 2.11,12). Por ser essa sua finalidade, ele oferece sua graça a todos. Embora a salvação seja obra de Deus, absolutamente livre e independente de nossas boas obras ou méritos, o homem tem certas condições a cumprir. Ele pode escolher aceitar a graça de Deus, ou pode resistir-lhe e rejeita-la. Seu direito de livre-arbítrio sempre permanece.

As Escrituras certamente ensinam a predestinação, mas não que Deus predestina alguns para a vida eterna e outros para o sofrimento eterno. Ele predestina “todos os que querem” a serem salvos – e esse plano é bastante amplo para incluir a todos que realmente desejam ser salvos. Essa verdade tem sido explicada da seguinte maneira: na parte de fora da salvação lemos as palavras: “quem quiser pode vir”; quando entramos por essa porta e somos salvos, lemos as palavras no outro lado da porta: “eleitos segundo a presciência de Deus”. Deus em razão de seu conhecimento, previu que essas pessoas aceitariam o evangelho e permaneceriam salvos, e predestinou para essas pessoas uma herança celestial. Ele preveniu o destino delas, mas não o fixou.

A doutrina da predestinação é mencionada, não com propósito especulativo, e, sim, com propósito prático. Quando Deus chamou Jeremias ao ministério, ele sabia que o profeta teria uma tarefa muito difícil e poderia ser tentado a deixá-la. Para encorajá-lo, o Senhor assegurou ao profeta que o havia conhecido e o havia chamado antes de nascer (Jr 1.5). Com efeito, o Senhor disse: “Já sei o que está adiante de ti, mas também sei que posso te dar graça suficiente para enfrentares todas as provas futuras e conduzir-te à vitória”. Quando o NT descreve os cristãos como objetos da presciência de Deus, seu propósito é dar-nos certeza do fato de que Deus previu todas as dificuldades que surgirão à nossa frente, e que ele pode nos guardar e nos guardará de cair.

8.5.3. Uma comparaçãoA salvação é condicional ou incondicional? Uma vez salva, a pessoa é salva

eternamente? a.) De quem depende, em última analise, a salvação: de Deus ou homem?

Certamente, deve depender de Deus, porque quem poderia ser salvo se a salvação dependesse da força da própria pessoa?

b.) Pode-se resistir à graça de Deus? Um dos princípios fundamentais do calvinismo é que a graça de Deus é irresistível. Quando Deus decreta a salvação de uma pessoa, seu Espírito atrai, e essa atração não pode ser resistida. Portanto, um verdadeiro filho de Deus certamente persevera até o fim e será salvo; ainda que caia em pecado, Deus o castigará e

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pelejará com ele. Para ilustra a teoria calvinista, diríamos: é como se alguém estivesse a bordo de um navio e levasse um tombo; entretanto, ainda está a bordo, pois não caiu no mar.Entretanto, o NT de fato ensina que é possível resistir à graça divina e resistir para a perdição eterna (Jo. 6.40; Hb 6.4-6), como também que a perseverança é condicional e depende do manter-se em contato com Deus.

8.5.4. Equilíbrio bíblico As respectivas posições fundamentais, tanto do calvinismo quanto do

arminianismo, são ensinadas nas Escrituras. O calvinismo exalta a graça de Deus como a única fonte de salvação – e a Bíblia também; o arminianismo acentua o livre-arbítrio e a responsabilidade do homem – e a Bíblia também. A solução prática consiste tanto em evitar os extremos antibíblicos de um e de outro ponto de vista, e em evitar colocar uma ideia em aberto antagonismo com a outra. Quando duas doutrinas bíblicas são postas em posições antagônicas, uma contra a outra, o resultado é uma reação que conduz ao erro. Por exemplo: a ênfase demasiada na soberania e na graça de Deus em relação à salvação pode conduzir a uma vida descuidada.

Por outro lado, a ênfase demasiada no livre arbítrio e responsabilidade do homem, como reação contra o calvinismo, pode deixar as pessoas sob o jugo do legalismo e despojá-las de toda confiança de sua salvação. Os dois extremos que devem ser evitados são: a ilegalidade e o legalismo.

Wesley era arminiano, e George Whitefield, calvinista. Entretanto, ambos conduziram milhares de almas a Cristo.

Pregadores piedosos calvinistas, como Charles Spurgeon e Charles Finney, pregaram a perseverança dos santos, mas de uma forma que evitasse a negligência. “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, o nosso Deus, mas as reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre” (Dt 29.29).

Para concluir, podemos sugerir que não é prudente insistir indevidamente nos perigos da vida cristã. Maior ênfase deve ser dada aos meios de segurança – o poder de Cristo como Salvador; a fidelidade do Espírito Santo que habita em nós; a certeza das promessas divinas; a eficácia infalível da oração. O NT ensina uma verdadeira “segurança eterna”, assegurando-nos que, a despeito da debilidade, das imperfeições, dos obstáculos ou das dificuldades exteriores, o cristão pode sentir-se seguro e ser vencedor em Cristo. Ele pode dizer com apostolo Paulo:“Quem nos separa do amor de Cristo? Será tribulação, ou angustia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti enfrentamos a morte todos os dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro. Mas, em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.35-39).

9 ECLESIOLOGIA (A DOUTRINA DA IGREJA)

Indubitavelmente, Jesus projetou uma sociedade de seus seguidores que entregaria seu evangelho (a mensagem) aos homens, ministraria em seu Espírito (instrumento) e trabalharia pelo crescimento do Reino de Deus (alvo). Ele não modelou

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qualquer organização e plano de governo, foi além – comunicou-lhes sua própria vida, Espírito e propósito.

9.1. A NATUREZA DA IGREJA

Para defini-la precisamos considerar as palavras que a descreve, aquelas que descrevem os que a compõe e as ilustrações que se referem a mesma.

9.1.1. Palavras que descrevem a Igreja

Ekklesia, que significa “congregação” ou “assembléia”. O termo aplica-se a: Uma congregação (I Co 14.19,35); Todos os cristãos em uma localidade (At 11.22, 13.1); Todos os crentes na terra (Ef 5.32).Deriva de kuriake, que significa “pertencente ao Senhor”.Logo, a Igreja é uma reunião de pessoas chamadas do mundo, as quais

professam e provam submissão ao Senhor Jesus Cristo.

9.1.2. Palavras que descrevem os cristãos

Irmãos. A igreja é uma fraternidade ou comunhão espiritual, na qual foram abolidas todas as divisões que separam a humanidade (Cl 3.11, Gl 3.28). “Não há diferença entre grego e judeu [RELIGIÃO], bárbaro e cita [CULTURA], escravo e livre [SOCIAL e ECONÔMICA], homem nem mulher [HUMANA].”

Crentes. Nossa doutrina característica é a fé no Senhor Jesus.Santos (“consagrados”). Somos separados do mundo e dedicados a Deus.Eleitos. Deus nos escolheu para um ministério importante e um destino glorioso.Discípulos (“aprendizes”). Estamos sob preparação espiritual.Cristãos. Tudo gira em torno de Cristo.Os do Caminho (At 9.2). Maneira especial de viver.

9.1.3. Ilustrações da Igreja

O corpo de Cristo. Antes de partir da terra, Cristo prometeu assumir um novo corpo. Ele deixou este mundo, mas ainda está no mundo. Antes Ele viveu em um corpo humano individual, hoje vive na raça humana em geral. “Quem recebe vocês, recebe a mim.” (Mt 10.40).

Assim, a Igreja não é apenas um conjunto de indivíduos associados com um propósito especial (organização), mas um organismo (algo vivo). W. H. Dunphy escreveu: “Os cristãos não são meramente seguidores de Cristo, senão membros de Cristo e uns dos outros. (...) Cristo não é apenas Mestre, Ele é a vida dos cristãos. O que Ele fundou não foi uma sociedade que estudasse e propagasse suas ideias, mas um organismo.”

O Templo de Deus (I Pe 2.5a). Assim como Deus morou no tabernáculo e no templo, agora também vive, por seu Espírito, na Igreja (Ef 2.22, I Co 3.16).

A Noiva de Cristo. Descreve a união e comunhão de Deus com seu povo (Ap 19.7). Esta ilustração é usada tanto no AT quanto no NT.

9.2. A FUNDAÇÃO DA IGREJA

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9.2.1. Considerada Profeticamente

Alguns creem no seu estado preexistente, ou seja, que ela sempre existiu na mente e no coração de Deus. Assim sendo, a Igreja foi PROJETADA no coração de Deus (Israel), FORMADA através do ministério de Cristo e, CONFIRMADA, no Pentecostes pelo Espírito.

9.2.2. Considerada Historicamente

A Igreja de Cristo veio a existir, como Igreja, no dia de Pentecoste, quando foi consagrada pela unção do Espírito.

Jesus, durante seu ministério terreno, juntou os materiais para a construção do templo (sua Igreja), mas o edifício foi erigido por seu sucessor, o Espírito Santo, operando mediante os apóstolos. Portanto, ela é descrita como edificada “sobre o fundamento dos apóstolos” (Ef 2.20).

9.3. OS MEMBROS DA IGREJA

Quais as condições para os membros da Igreja? Fé no evangelho e confiança em Cristo como único e divino Salvador; Submeter-se ao batismo e confessar verbalmente a fé (Rm 10.9-10).

A prova visível disso é a regeneração. No entanto, conforme a igreja aumentava em número e em popularidade, o batismo nas águas e a catequese tomaram o lugar da conversão. Assim como nos tempos do AT havia uma Israel dentro de Israel, há uma Igreja (invisível, verdadeiros cristãos, aqueles cujos nomes estão escritos no céu, genuíno, vasos para honra, ovelhas) dentro da Igreja (visível, todos os que professam ser cristãos).

A Igreja é sinônima do Reino de Deus? Ela é uma fase do Reino. A Igreja prega a mensagem que trata do novo nascimento do homem, pelo qual se obtém entrada no Reino de Deus (Jo 3.3-5, I Pe 1.23).

9.4. A OBRA DA IGREJA

9.4.1. Pregar a salvação

A obra da Igreja é pregar o evangelho a toda criatura (Mt 28.19-20). Cristo proveu a salvação, tornando-a acessível; a Igreja, ao proclamá-la, deve torná-la real.

9.4.2. Prover meios de adoração

A responsabilidade final do homem é a de adorar, louvar e glorificar a Deus. E o instrumento de Deus para atingir seus propósitos na terra é a Igreja.

9.4.3. Prover comunhão religiosa

A Igreja é a provisão de uma comunhão baseada na paternidade de Deus, no senhorio de Jesus e na fraternidade onde todas as distinções terrenas são eliminadas.

9.4.4. Sustentar uma norma de conduta moral

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A Igreja é a “luz do mundo”, que afasta a ignorância moral, e o “sal da terra”, que o preserva da corrupção moral.

9.5. AS ORDENANÇAS DA IGREJA

O cristianismo não é uma religião ritualística, sua essência é o contato direto do homem com Deus por meio do Espírito. Não obstante, há duas cerimônias que são essenciais, por serem divinamente ordenadas, a saber, o batismo nas águas e a ceia do Senhor.

O batismo nas águas é o rito de ingresso na igreja cristã e simboliza o começo da vida espiritual. A ceia do Senhor é o rito de comunhão e significa a continuação da vida espiritual. O primeiro sugere a fé em Cristo, e o segundo sugere a comunhão com Cristo. O primeiro é administrado somente uma vez; o segundo é administrado habitualmente, para ensinar que a vida espiritual deve ser alimentada.

9.5.1. O BATISMO

9.5.1.1. O Método

Batizar significa “mergulhar” ou “imergir”. A imersão era o método pelo qual a igreja primitiva batizava, e corresponde ao sentido simbólico do batismo, a saber, morte, sepultamento e ressurreição (Rm 6.1-4).

De onde veio a prática da aspersão e de derramar a água? Ao se atribuir importância antibíblica ao batismo nas águas (considerando-o inteiramente essencial para alcançar a regeneração), passou a ser administrado aos enfermos e moribundos, casos onde não era possível a imersão. Não havendo quantidade de água suficiente também era permitido derramar a água.

9.5.1.2. A Fórmula

Há contradição entre Mt 28.19 (“Batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” e At 2.38 (“[...] cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo”)? A fórmula é trinitária, e em Atos há uma declaração para afirmar que recebiam batismo apenas as pessoas que reconheciam Jesus como Senhor e Cristo.

9.5.1.3. O Destinatário

Todos os que sinceramente se arrependem de seus pecados e exercitam uma fé viva no Senhor Jesus são elegíveis para o batismo. Na igreja apostólica, o rito era acompanhado das seguintes expressões exteriores: 1) Profissão de fé; 2) Oração; 3) Voto de consagração.

9.5.1.4. A Eficácia

O batismo nas águas não tem em si poder para salvar; as pessoas são batizadas não para a salvação, mas porque já estão salvas. Portanto, não é absolutamente essencial para a salvação, mas o é para a integral obediência a Cristo.

9.5.1.5. O Significado

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Salvação. O batismo representa os fundamentos do evangelho: morte, sepultamento e ressurreição.

Experiência. Em que o próprio convertido demonstra que ele se identificou espiritualmente com Cristo.

Regeneração. Simboliza purificação dos pecados e contaminações da vida outrora, “lavagem”.

Testemunho (Gl 3.27). O batismo significa que o convertido, pela fé, “vestiu-se” de Cristo – do caráter d’Ele -, de modo que os homens possam ver Cristo nele.

9.5.2. A CEIA DO SENHOR

Os pontos-chave dessa ordenança são:

9.5.2.1. Comemoração (Lc 22.19). Celebrar a ceia do Senhor é comemorar, de modo especial, a morte expiatória de Cristo que nos libertou dos pecados. A salvação não se dá pela vida de Cristo e seus ensinos, mas apenas por seu sacrifício expiatório.

9.5.2.2. Instrução. A ceia expõe os dois fundamentos do evangelho: 1) Encarnação (Jo 1.14, 6.33); 2) Expiação. O sangue derramado tem o poder purificador e vivificador.

9.5.2.3. Inspiração. Participar do pão e do vinho nos assegura que, pela fé, podemos verdadeiramente receber o Espírito de Cristo e ser o reflexo do seu caráter.

9.5.2.4. Segurança (I Co 11.25). O sangue de Cristo, sinal da nova aliança, é a divina garantia de que ele será benévolo e misericordioso para com aquele que se arrepende. Por causa de Cristo, Deus comprometeu-se a perdoar e salvar todos os que forem a Ele.

9.5.2.5. Responsabilidade. Quem deve ser admitido ou excluído da mesa do Senhor? I Co 11.20-34. Como podemos participar indignamente? Praticando alguma coisa que nos impeça de apreciar o significado dos elementos e de nos aproximar em atitude solene, meditativa e reverente. Lembre-se: o apóstolo não está falando acerca da indignidade das pessoas, mas da indignidade das ações.

9.6. ADORAÇÃO DA IGREJA

Na igreja primitiva havia duas classes de reuniões: 1) consistia em oração, louvor e pregação (culto público); 2) culto de adoração ou festa do amor (era admitido somente os cristãos).

9.6.1. Culto Público

Era conduzido pelo povo conforme o Espírito os movia; Podia ser interrompido a qualquer momento pela manifestação do Espírito na

forma de profecia, línguas e interpretações; Era um meio poderoso de atrair e evangelizar os não convertidos.

9.6.2. Culto Particular

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A vida e a adoração a Deus estavam intimamente relacionadas. Eles sentavam-se à mesa para o partir do pão e deste momento progredia espontaneamente para um culto de adoração.

9.7. A ORGANIZAÇÃO DA IGREJA

9.7.1. O Governo da Igreja

Jesus não moldou nenhuma organização, plano de governo ou regra detalhada de fé e prática. Ele, ao conceder sua própria vida, transformou-a em um organismo vivo e, como tal, livre para selecionar suas formas de organização, segundo suas necessidades e circunstâncias. Desde que, não fossem contrárias aos ensinos de Cristo ou à doutrina apostólica.

A organização da igreja originou-se das seguintes causas: 1) os oficiais da igreja foram escolhidos para resolver as emergências (At 6.1-5) e 2) a posse de dons espirituais separava certos indivíduos para a obra do ministério.

Naquela época, não havia nenhum governo centralizado que englobasse toda a Igreja. Cada igreja local era autônoma e administrava seus próprios negócios com liberdade.

9.7.2. O Ministério da Igreja

9.7.2.1. O Ministério geral e profético. Geral porque era exercido com relação às igrejas de modo geral, não apenas uma igreja particular, e profético por ser criado pela posse de dons espirituais. Apóstolos:

a) receberam sua comissão do próprio Cristo em pessoa (Gl 1.1);b) Haviam visto Cristo depois da sua ressurreição (I Co 9.1);c) Haviam desfrutado de uma inspiração especial (I Ts 2.13);d) Exerciam um poder administrativo sobre as igrejas (II Co 10.8);e) Apresentavam credenciais sobrenaturais (II Co 12.12);f) Seu trabalho principal era estabelecer igrejas em campos novos (II Co 10.16).

Profetas: enquanto o apóstolo e o evangelista levavam sua mensagem aos incrédulos, o ministério do profeta era particularmente entre os cristãos.

Mestres: dotados de dons para a explicação da Palavra.

9.7.2.2. O Ministério local e prático. Local, porque era limitado a uma igreja, e prático, porque tratava da administração da igreja. Incluía os seguintes cargos: Presbíteros. Exerciam a superintendência geral sobre a igreja local, especialmente

em relação ao cuidado pastoral e à disciplina. Diáconos. Obreiros auxiliares, cujo trabalho era basicamente o de fazer visitas de

casa em casa e exercer um ministério prático entre os pobres e necessitados. Também ajudavam os presbíteros na celebração da ceia do Senhor.

10 OS ANJOS

O mundo espiritual é muito mais populoso, mais poderoso e de maiores recursos que o visível.

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10.1. OS ANJOS

10.1.1. Sua NaturezaOs anjos são:

a) Criaturas. Feitos do nada pelo poder soberano de Deus. A rebelião daqueles sob Satanás antecedeu a criação do homem. Não aceitam adoração (Ap 19.10, 22.8-9, Cl 2.18).

b) Espíritos. Não estão limitados às condições naturais e físicas. Aparecem e desaparecem à vontade. Têm o poder de assumir a forma de um corpo humano, tornando-se visível (Gn 19.1-3).

c) Imortais. Não estão sujeitos à morte (Lc 20.36).d) Numerosos (Dn 7.10, Mt 26.53, Lc 2.13, Hb 12.22).e) Assexuados. Não propagam sua espécie (Lc 20.34-35).

10.1.2. Sua Classificação

Eles estão classificados segundo seu posto e atividade.a) Anjo do Senhor. O “anjo do Senhor” é descrito de tal forma que se distingue de

qualquer outro anjo (Ex 23.20-23, 32.34, 33.14, Is 63.9). Dele é dito: 1. Que o nome de Jeová (seu caráter revelado) está nEle; 2. Que Ele é o rosto de Jeová; 3. Tem o poder de salvar (Is 63.9) e 4. Poder de recusar o perdão (Ex 23.21). Não se pode evitar a conclusão de que Ele é o Filho de Deus, o Messias, o libertador de Israel, o Salvador do mundo.

b) Serafins. Significa “ardentes”. Acredita-se que é a ordem mais elevada de anjos e caracterizados por um ardente amor a Deus.

c) Arcanjos. São os guerreiros de Deus. Miguel é descrito como líder deste exército (Dn 10.10-13, Jd 9, Ap 12.7, I Ts 4.16).

d) Querubins. São ministros da guarda da santidade de Deus (Sl 99.1). Relacionados com os propósitos retributivos (Gn 3.24) e redentores (Ex 25.22) de Deus para com o homem. Sugere-se que representam a perfeição dos seres criados (força de leão, inteligência de homem, rapidez de águia e serviço de boi).

e) Anjos das nações. Dn 10.13,20 parece ensinar que cada nação tem seu anjo protetor, o qual se interessa pelo bem-estar dessa nação.

f) Anjos eleitos. São os que permaneceram fiéis a Deus (I Tm 5.21, Mt 25.41).

10.1.3. Seu Caráter

a) Obedientes. Cumprem seus encargos sem questionar ou vacilar (Sl 103.20, Mt 6.10).

b) Reverentes. Sua atividade mais elevada é a adoração a Deus (Ne 9.6, Fp 2.10, Hb 1.6).

c) Sábios (II Sm 14.17). A inteligência dos anjos excede a dos homens, não podem discernir nossos pensamentos (I Rs 8.39) e seu conhecimento acerca dos mistérios da graça são limitados (I Pe 1.12).

d) Mansos. Não abrigam ressentimentos pessoais nem injuriam seus opositores (IIPe 2.11, Jd 9).

e) Poderosos (Sl 103.20).f) Santos. Foram separados por Deus e para Deus (Ap 14.10).

10.1.4. Sua Obra

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a) Agentes de Deus. São os executores dos pronunciamentos de Deus (II Sm 24.16, Mt 13.41).

b) Mensageiros de Deus. Por meio deles, Deus envia: anunciações, advertências, instrução, encorajamento e revelação (Mt 1.20-21, Hb 2.2, At 10.3,5-6, Mt 27.23-24, Dn 9.21-27).

c) Servos de Deus (Hb 1.14). Os anjos são enviados para sustentar, preservar, resgatar, interceder e ministrar aos justos depois da morte (Lc 22.43, Ex 23.20, Sl 34.7, Zc 1.12, Lc 16.22).

10.2. SATANÁS

10.2.1. Sua Origem (Is 14.12-15, Ez 28.12-19)

Satanás era originalmente Lúcifer (“o que leva luz”), o mais glorioso dos anjos. Mas ele, por orgulho, desejou ser “como o Altíssimo” e caiu em condenação. Foi lançado fora do céu junto com um grupo de anjos que ele alistara em sua rebelião. O orgulho e a ambição frustrados ainda o consomem, a ponto de desejar ser adorado (Mt 4.9) como o “deus desta era (II Co 4.4)”.

10.2.2. Seu Caráter

Definido pelos seguintes títulos e nomes:a) Satanás. Significa “adversário” e representa seus intentos persistentes de

obstruir os propósitos de Deus. Procurou destruir a linhagem escolhida, da qual viria o Messias.Satanás procura destruir a igreja de duas maneiras: internamente, pela introdução de falsos ensinos (I Tm 4.1, Mt 13. 38-39), e externamente, pela perseguição (Ap 2.10). Mas o povo escolhido de Deus tem sobrevivido tanto à corrupção da idolatria quanto à fúria do perseguidor, e isso por causa da graça divina que sempre preservou um remanescente fiel.

b) Diabo. Significa “caluniador”, tanto de Deus (Gn 3.1,4-5) quanto dos homens (Zc 3.1, Jó 1.9).

c) Destruidor (Ap 9.11). Movido pelo ódio contra o Criador e suas obras, deseja estabelecer-se como o deus da destruição.

d) Serpente (Ap 12.9). Agente que ocasionou a queda do homem. Engano astucioso. Planeja o mal.

e) Tentador (Mt 4.3). Satanás prova o homem com o propósito malicioso de destruí-lo.

f) Príncipe deste mundo e deus desta era (Jo 12.31, II Co 4.4, I Jo 5.19, I Jo 2.16). Influencia a sociedade que está fora da vontade de Deus (“o mundo”).

10.2.3. Suas Atividades

a) A natureza de suas atividades. Satanás perturba a obra de Deus (I Ts 2.18), opõe-se ao evangelho (Mt 13.19), domina, cega, engana os ímpios e cria ciladas para eles (I Tm 3.7). Ele aflige e tenta os santos de Deus (Jó 1.12, I Ts 3.5).

b) A esfera de suas atividades. O diabo não limita suas operações aos ímpios e depravados, pode agir como “anjo de luz” (II Co 11.14) e seus agentes com frequência fazem-se passar por “servos da justiça” (II Co 11.15). Seu intento de

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destruir a Igreja, é porque ele sabe que, se o sal da terra perder seu sabor, o homem, com seu coração inescrupuloso, torna-se presa fácil.

c) O motivo de suas atividades. Ele tem mil razões para nos odiar.d) As restrições de suas atividades. Para aqueles que creem em Cristo, ele já é um

inimigo derrotado (Jo 12.31), forte apenas para aqueles que cedem à tentação. Não pode tentar, afligir, matar nem tocar no crente sem a permissão de Deus.

10.2.4. Seu Destino

A carreira de Satanás está sempre em declínio. No princípio, ele foi expulso do céu; durante a tribulação, será lançado da esfera celeste à terra (Ap 12.9); durante o Milênio, será aprisionado no abismo; e, depois de mil anos, será lançado ao lago de fogo (Ap 20.10).

10.3. ESPÍRITOS MAUS

10.3.1. Anjos caídos

Os anjos foram criados perfeitos e sem pecado. Sob a direção de Satanás, muitos pecaram e foram lançados fora do céu (II Pe 2.4). O pecado no qual eles e seu líder caíram foi o orgulho.

10.3.2. Demônios

As Escrituras não descrevem a origem dos demônios, mas dão testemunho da sua existência e operação (Mt 12.26-27).

A Bíblia ensina claramente que todas as relações de Satanás com a raça humana têm por objetivo enganar e arruinar. Ao afastar nossa mente de Deus e induzir-nos a infringir suas leis, ele traz sobre nós o desagrado do Senhor. Esses objetivos são conseguidos por meio da possessão demoníaca.

O Senhor Jesus veio ao mundo para resgatar o povo do poder dos espíritos maus e sujeitá-los ao controle do Espírito de Deus.

11 ESCATOLOGIA (DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS)

“Assim diz o Senhor [...]: Eu sou o primeiro e Eu sou o último” (Is.44:6). Deus já escreveu tanto o primeiro quanto o último capitulo da historia de todas as coisas. No livro de Gêneses, lemos a cerca da origem de todas as coisas – do universo, da vida, do homem,

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da sociedade humana, do pecado e da morte. Nas Escrituras proféticas, em especial no livro de Apocalipse, revela-se como essas coisas alcançarão seu ponto culminante e sua consumação. Muitos, como Daniel, perguntaram assim: (Meu Senhor, qual será o resultado disso tudo?” (Dn.12:8). Somente Deus pode responder a essa pergunta, e a resposta encontra-se nas Escrituras.

11.1. A MORTE.

A morte é a separação da alma do corpo, e por meio dela o homem é introduzido no mundo invisível. Descreve-se essa experiência de varias maneiras: adormecer (Jo.11:11; Dt.31:16), desfazer-se da habitação terrena e que vivemos (2Co. 5:1), deixar este tabernáculo (2Pe.1:14), Deus requerendo a vida (Lc.12:20), seguir a viagem sem retorno (Jô.16:22), ser reunido a seus antepassados (Gn.49:33), descer ao silencio (Sl.115:17), morrer (At.5:10), voltar ao pó (Gn.3:19), ir-se como a sombra (Jô.14:2) e partir (Fp.1:23).

A morte é o primeiro efeito externo ou manifestação visível do pecado e o último do qual seremos salvos (Rm.5:12; 1Co.15:26). O Salvador tornou inoperante a morte e trouxe a luz a vida e a imortalidade (incorruptibilidade) pelo evangelho (2Tm.1:10). A Palavra “abolir” significa anular ou tornar negativo. A morte fica anulada como sentença condenatória, e a vida é oferecida a todos. Entretanto, embora a morte física continue a manifestar-se, ela torna-se uma porta que conduz aqueles que aceitam Cristo a vida.

Qual a ligação entre a morte e a doutrina da imortalidade?

Há dois termos, “imortalidade” e “incorruptibilidade”, que se usam em referencia à ressurreição do corpo (1Co.15:53,54). A imortalidade não está sujeito a morte, e nas escrituras emprega-se em referência ao corpo, e não a alma (embora esteja implícita a imortalidade da alma). Mesmo os cristãos estão sujeitos a morte, pois seu corpo é mortal. Depois da ressurreição e do arrebatamento da Igreja, os cristãos desfrutarão da imortalidade, isso é, receberão um corpo glorificado que não estará sujeito a morte.

Os ímpios também serão ressuscitados. Mas será que isso quer dizer que desfrutarão dessa imortalidade do corpo? Não, a condição deles é a de morte, separação de Deus. A sua ressurreição não é a ressurreição da vida, mas a “ressurreição para condenação” ( Jo.5:29). Tanto no AT quanto no NT, a morte é separação do corpo e da alma; o corpo morre e volta ao pó, enquanto a alma ou espírito continua a existir conscientemente.

11.2. O ESTADO INTERMEDIÁRIO.

11.2.1. A opinião das Escrituras.

Deve ser observado que os justos não receberão sua recompensa final nem os ímpios seu castigo final enquanto não se realizar a ressurreição. Ambas as classes estão num estado intermediário, aguardando esse evento. Os cristãos falecidos vão estar “com o Senhor”, mas ainda não receberam o galardão final.

O estado intermediário dos justos descreve-se como um estado de descanso (Ap.14:13), de espera de repouso (Ap.6:10,11); de serviço(7:15) e de santidade (Ap.7:14).

Os ímpios também passam por um estado intermediário, no qual aguardam o castigo final, que se realizará depois do juízo do grande trono branco, quando a morte é o hades serão lançados no lago de fogo (Ap.20:14).

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11.2.2- Opiniões errôneas.

a) Purgatório. A Igreja Católica Romana ensina que mesmo os mais fieis precisam de um processo de purificação antes de se tornarem aptos para entrar na presença de Deus. Também adotam essa opinião certos protestantes que, por crerem na doutrina de “uma vez salvo, salvo para sempre”, embora reconheçam a Palavra divina “sem santidade ninguém verá o Senhor” (Hb.12:14), concluem que haja um “purgatório” onde os crentes carnais e imperfeitos se purificam da sua escória. Esse processo, segundo dizem, será realizado durante o Milênio, enquanto os vencedores reinam com Cristo. Todavia, não existem nas Escrituras evidencias para tal doutrina, mas existem muitas evidencias contraria a ela.

O NT reconhece apenas duas classes de pessoas: as salvas e as não salvas. O destino de cada classe determina-se agora, na vida presente, o único período probatório. Com a morte, termina esse período probatório, seguindo-se o julgamento segundo as obras praticadas no corpo (Hb.9:27; 2Co.5:10).

b) Espiritismo. Ensina que é possível alguém comunicar-se com o espírito de pessoas falecidas, sendo essas comunicações conseguidas por meio de um “médium”. Mas observamos: 1) A Bíblia proíbe expressamente consultar tais “médiuns”, e a própria proibição indica a presença do mal e o perigo de tal pratica (Lv.19:31; 20:6,7; Is.8:19).2) Os mortos estão sob o controle de Deus, o Senhor da vida e da morte, e, por conseguinte, não podem estar sujeito aos médiuns. (Ap.1:18; Rm.14:9).

c) O sono da alma. Certos grupos, como os adventistas do sétimo dia, creem que a alma permanece em um estado inconsciente até a ressurreição. Essa crença, conhecida como “sono da alma”, é também adotada por indivíduos em outros grupos religiosos.

11.3. A RESSURREIÇÃO.

Os coríntios, como os demais gregos, eram povo de grande capacidade intelectual, como também eram amantes de especulações filosóficas. Ensinava-se na Igreja de corinto que, apesar de a alma ou o espírito viver depois da morte, o corpo era destruído para sempre e não seria ressuscitado, pois a única ressurreição que o homem experimentaria seria a ressurreição espiritual da alma, ressurreição de sua morte nos delitos e pecados (Ef.2:1; 2Tm.2:17,18). O apóstolo desafiou a veracidade desse ensino, dizendo: “Ora, se está sendo pregado que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como alguns de vocês estão dizendo que não existe ressurreição dos mortos?” (1Co.15:12). Tomando esse erro como ponto de partida, Paulo expôs a doutrina verdadeira, entregando ao mundo o grande capítulo da Bíblia sobre ressurreição.

Visto que o homem se compõe tanto de alma quanto de corpo, sua redenção deve incluir a vivificação de ambos, da alma e do corpo, por isso a necessidade de ressurreição. Mas, desde que o corpo é parte integrante da personalidade, a salvação e a imortalidade não se completam enquanto o corpo não for ressuscitado e glorificado. (Rm.13:11; 1Co.15:53,54; Fp.3:20,21).

11.3.1. Natureza da ressurreição

Entretanto, sabemos que a ressurreição do corpo será caracterizada pelos seguintes aspectos:a) Relação. Haverá alguma relação com o velho corpo – fato que Paulo ilustra pela comparação com o grão de trigo (1Co.15:36,37).

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b) Realidade. Certas pessoas não se interessa em ir para o céu, pois acham que a vida ali será um existência insubstancial e vaga. Ao contrario, a existência no céu será tão real quanto a presente – de fato, ainda mais real.

Os corpos glorificados serão reais e tangíveis (palpável) e haveremos de nos conhecer e conversar uns com os outros, como também estaremos plenamente ocupados em atividades celestiais. Jesus, em seu corpo ressuscitado, era muito real para seus discípulos; embora Glorificado, ele era ainda o mesmo Jesus.

11.4. A VIDA FUTURA.

11.4.1. Ensino do AT.

Ao estudar o ensino do AT sobre a vida futura, deve-se ter em mente que a obra redentora de Cristo exerce grande efeito em nosso relacionamento com a morte e a vida. Quanto à vida vindoura, Cristo trouxe plenitude de luz e absoluta confiança. Ele também efetuou uma grande libertação dos santos do tempo AT, que estavam guardados no estado intermediário, libertação essa que lhes proporcionou muito mais felicidade.

O corpo do homem era depositado na sepultura, enquanto a alma ia para o lugar denominado Sheol {pode ser traduzido por “inferno”, “o poço” e “a sepultura”), a morada dos espíritos dos que já morreram. Prova-se que o Sheol não o era céu pelo fato de ser descrito como estando embaixo (Pv.15:24), a terra mais baixa (Ez.32:18) e o meio do inferno (Ez.32:21). As seguintes descrições prova que não era um lugar de felicidade suprema: um lugar sem lembrança de Deus (Sl.6:5), a sepultura (Jó 24:19; Ct 8:6), sheol ou inferno (Sl.18:5) e um lugar do qual aparentemente ninguém voltava (Jó.7:9).

O sheol, por não desfrutar o brilho da pessoa de Cristo ressuscitado, alguns dos santos do AT receavam ir para esse lugar como a criança receia entrar no quarto escuro (Sl.88; Is.38). O sheol era habitado tanto pelos justos (Jó.14:13; Sl88:3; Gn.37:34, 35) quanto pelos ímpios (Pv.5:3-5; 7:27; Jó.24:19; Sl.31:17). Quanto ao caso do rico e Lazaro, concluímos que havia duas divisões no sheol – um lugar de sofrimento para os ímpios (Lc.16:23,24) e outro de descanso com conforto para os justos (Lc.16:25).

Contudo, os crentes do AT não estavam sem esperança. O santo de Deus, o Messias, desceria ao sheol; o povo de Deus seria redimido do sepulcro, ou sepultura (Sl.16:10; 49:15). Essa profecia cumpriu-se quando Cristo, após sua morte, desceu ao coração da terra (Mt.12:40; Lc.23:42,43) e libertou os santos do AT, levando-os consigo para o paraíso celestial (Ef. 4: 8-10). Parece indicar que houve uma mudança nesse mundo dos espíritos e que o lugar ocupado pelos justos que aguarda a ressurreição foi trasladado para as regiões celestiais (Ef.4:8; 2Co.12:2). Desde esse acontecimento, os espíritos dos justos sobem para o céu, e os espíritos dos ímpios descem para a condenação (Ap.20:13,14).

11.4.2. Ensino do NT.

Ao aceitar Cristo, o cristão, já na vida presente, passou da morte para a vida (Jo.3:36). A morte física não pode interromper a comunhão entre o cristão e seu Senhor: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crer em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crer em mim, não morrerá eternamente” (Jo.11:25,26).Para aquele que viveu conscientemente na presença de Cristo, ser separado de Cristo pela morte é algo impossível.

11.5. O DESTINO DOS JUSTOS.

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11.5.1. Natureza do céu.

Os justos são destinados à vida eterna na presença de Deus. O cristão, durante sua vida eterna, experimenta, pela fé, a presença do Deus invisível, mas, na vida vindoura, essa experiência da fé se tornará um fruto consumado. Ele verá Deus face a face, uma benção que alguns teólogos chamam de “visão beatífica”. A santidade é basicamente a estreita união do homem com Deus; desse contacto resulta a perfeição moral. Deus é santo por natureza; os homens são santos na medida em que se aproximam dele. No céu todos os bem-aventurados estão intimamente unidos a Deus pela visão imediata dele. Isto é chamado de “visão beatífica”. 

Descreve-se o céu por vários títulos: 1) paraíso (literalmente, jardim), lembrando-nos a felicidade e a beatitude dos nossos primeiros pais ao caminhar e conversar com o Senhor Deus (Ap.2:7; 2Co.12:4). 2) “casa de meu pai”, com muitos aposentos (Jo.14:2), o que descreve o conforto, o descanso e a comunhão do lar. 3) O país celestial, a caminho do qual estamos viajando, como Israel naquele tempo se destinava a Canaã, a terra prometida (Hb.11:13-16). 4) Uma cidade, o que sugere a ideia de uma sociedade organizada (Hb.11:10; Ap.21:2).

Devemos distinguir as três fases seguintes na condição dos cristãos que partiram desta vida: primeira, existe um estado intermediário de descanso enquanto aguardam a ressurreição; segunda, depois da ressurreição segue-se o juízo das obras (2Co.5:10; 1Co.3:10-15); terceira, ao fim do Milênio, a nova Jerusalém, o lar final dos abençoados, descerá do céu (Ap.21).

Por que essa cidade desce do céu? O propósito final de Deus é trazer o céu à terra (Dt.11:21). Ele convergirá (tender para o mesmo ponto) “em Cristo todas as coisa, celestiais ou terrenas, na dispensação da plenitude dos tempos” (Ef.1:10); e, nesse momento, Deus será “tudo em todos” (1Co.15:28).

11.5.2. Necessidade de haver céu.

O estudo das religiões revela o fato de que a alma humana instintivamente crer que existe céu. Esse instinto foi implantado no coração do homem pelo próprio Deus, o criador dos instintos humanos.

O céu também é essencial às exigências da justiça. Os sofrimentos dos justos sobre a terra e a prosperidade dos ímpios exige um estado futuro no qual se faça plena justiça.

11.5.3. As bênçãos do céu.

a) luz e beleza (Ap.21:23; 22:5).b) Plenitude de conhecimento (1Co.13:12). O sentimento expresso pelo sábio Sócrates, ao dizer: “só sei que nada sei”. O homem está rodeado de mistérios e anseia por sabedoria. No céu, esse anseio será satisfeito plenamente; os mistérios do Universo serão desvendados.c) Descanso (Ap.14:13; 21:4).d) Serviço. É verdade que os redimidos tocarão harpas, porque a música será um dos deleites celestiais. Haverá trabalho a fazer também: “ [...] estão diante do trono de Deus e o servem dia e noite em seu santuário” (Ap.7:15); [...] e os seu servos o servirão” (Ap.23:3).e) Alegria (Ap.21:4). O maior prazer experimentado neste mundo, mesmo que ampliado um milhão de vezes, ainda não expressaria a alegria que os filhos de Deus terão no reino. Deus ama seus filhos infinitamente mais que qualquer ser humano é capaz de amar. “E se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para mim” (Jo.14:3).

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f) Alegrias sociais (Hb.12:23,23; 1Ts.4:13-18). Por natureza, o homem é um ser social. No céu, os amigos e parentes não terão falhas. No céu, não haverá os mal-entendidos e nenhuma rixa; tudo será bom e belo, sem sombra e sem defeito, cheio de sabedoria celestial, com a personalidade celestial resplandecendo em tudo.g) Comunhão com Cristo (Jo.14:3; 2Co.5:8; Fp.1:23)

11.6. O DESTINO DOS ÍMPIOS.

11.6.1. O ensino Bíblico.

O destino dos ímpios é eternamente separados de Deus e sofrer por toda a eternidade o castigo que se chama a segunda morte. Graças à sua natureza terrível, esse é um assunto diante do qual se costuma recuar; entretanto, é necessário tomar conhecimento dele, pois é uma das grandes verdades da divina revelação. Por essa razão, Cristo, manso e amoroso, avisou os homens sobre os sofrimentos no inferno. Sua declaração acerca da esperança do céu aplica-se também a existência do inferno – “se não fosse assim, Eu lhes teria dito” (Jo.14:2).

O inferno é um lugar de extremo sofrimento (Ap.20:10), onde se tem remorso em razão das lembranças (Lc.16:1931), sente-se inquietação (Lc.16:24), vergonha, desprezo (Dn.12:2) e desespero (Pv.11:7; Mt.25:41), e onde se associam pessoas vis (Ap.21:8).

11.6.2. Opiniões errôneas a) Universalismo. Ensina que, no fim, todos os homens serão salvos, pois argumentam que Deus é amoroso demais para excluir alguém do céu. Essa teoria é refutada pelas seguintes passagens: Romanos 6.23; Lucas 16.19-31; João 3.36e outras. Na realidade, é a misericórdia de Deus que exclui do céu o ímpio, pois este não se adaptaria no ambiente celestial, como também o justo não se adequaria no inferno. b) Restauracionismo. A doutrina da restauração de todas as coisas ensina que o inferno não é eterno, e sim apenas uma experiência temporária que tem por fim purificar o pecador para que possa entrar no céu. Se assim fosse, então o fogo infernal teria mais poder que o sangue. Os partidários dessa escola de pensamento afirmam que o termo “eterno”, na língua grega, significa “duração de século ou época”, e não duração infinita.c) Segundo período probatório. Ensina que todos, no período entre a morte e a ressurreição, terão outra oportunidade pra aceitar a salvação. As Escrituras, entretanto, ensinam que na morte já se fixou o destino do homem.

11.7. A SEGUNDA VINDA DE CRISTO

11.7.1. A sua vinda

A segunda vinda de Cristo é mencionada mais de 300 vezes no NT. Paulo refere-se ao evento umas 50 vezes. Alguém já disse que a segunda vinda é mencionada oito vezes mais que a primeira. Epístolas inteiras (1 e 2Ts) e capítulos inteiros (Mt 24; Mc 13) são dedicados ao assunto. Sem duvida, é uma das doutrinas mais importantes do NT.

11.7.2. A maneira de sua vinda.Será de maneira pessoal (Jo 14.3; At 1. 10, 11; 1 Ts 4.16; Ap 1.7; 22.7), literal (At

1.10; 1Ts 4.16,17; Ap 1.7; Zc 14.4), visível (Hb 9.28; Fp 3.20; Zc 12.10) e gloriosa (Mt 16.27; 25.31; 2Ts 1.7-9; Cl 3.4).

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Há interpretação que procuram evitar a opinião de que a vinda de Crista seja literal e pessoal. Mas a Bíblia mostra que a segunda vinda é o contrário da morte, pois os mortos em Cristo ressuscitarão nessa ocasião. Certas passagens (Mt 16.28; Fp 3.20) perdem seu significado se substituíssemos morte por segunda vinda.

11.7.3. O tempo de sua vinda

Houve tentativas para determinar a data da vinda de Cristo, mas em nenhuma delas o Senhor veio na hora marcada pelos homens! Ele declarou que o tempo exato de sua vinda está oculto nos conselhos divinos (Mt 24.36-42; Mc 13.21,22). É bom que seja assim. Quem gostaria de saber com antecedência a hora exata de sua morte? Tal conhecimento teria o efeito de perturbar e inutilizar a pessoa para as tarefas da vida. Esse dia não nos foi revelado, mas sabemos que será repentino (1Co 15.52; Mt 24.27) e inesperado (2Pe 3.4; Mt 24.48-51; Ap16.15). O Senhor avisa a seus servos: “Façam esse dinheiro render até a minha volta” (Lc 19.13).

Temos a seguir um panorama geral do ensino de Cristo sobre o tempo da sua vinda: Após a destruição de Jerusalém, os judeus, expulsos de sua terra, vagarão por todas

as nações, e a terra deles passará a ser subjugada pelos gentios até o fim dos tempos, quando Deus julgará nações gentias (Lc 21.24). Durante esse período, os servos se Cristo levarão sua obra avante (Lc 19.11- 27), pregando o evangelho a todas as nações ( Mt 24.14). Será um tempo de demora durante o qual a Igreja muitas vezes será tentada a duvidar do retorno do seu Senhor (Lc 18.18).

Ministros infiéis se desviarão, dizendo consigo mesmos: “Meu Senhor se demora a voltar” (Lc 12.45). “Depois de muito tempo” (Mt 25.19). “à meia-noite” (Mt 25.6). O Senhor repentinamente aparecerá para ajuntar seus servos e julgá-los segundo suas obras (Mt 25.19; 2Co 5.10).

À iminente catástrofe, como nos dia de Noé (Mt 24.37-39) e nos dias da destruição de Sodoma (Lc 17.28,29), o Filho do homem virá em gloria e poder para julgar as nações do mundo e sobre elas reinar (Mt 25.31-46).

11.7.4. Os sinais de sua vinda

As Escrituras ensinam que a aparição de Cristo, a qual inaugura o período do Milênio, será precedida por um tempo agitado de transição, no qual haverá distúrbios físicos, guerras, crise econômicas, declínio moral, apostasia religiosa, infidelidade, pânico geral e perplexidade.

A última parte desse período transitório chama-se “grande tribulação”, durante a qual o mundo inteiro estará sob o domínio de um governo anticristão contra Deus. Crentes em Deus serão brutalmente perseguidos, e a nação judaica, em particular, passará pela fornalha de aflição.

11.7.5. O propósito de sua vinda

a) Em relação à Igreja. Essa aparição chama-se arrebatamento, a parusia (que, em grego, significa “vinda”, “presença ou “advento”). Após o arrebatamento, segue-se um período terrível da tribulação, que terminará na revelação ou manifestação aberta de Cristo, proveniente do céu, quando ele estabelecerá seu Reino messiânico sobre a terra.b) Em relação a Israel. Aquele que é o Cabeça e salvador da Igreja, o povo do céu, é também o Messias prometido a Israel, o povo terrestre. Como Messias, ele libertará esse

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povo da tribulação, o congregará dos quatros cantos da terra, o restaurará em sua antiga terra e reinará sobre ele como Rei da Casa de Davi há muito prometido.c) Em relação ao anticristo. O espírito do anticristo já esta no mundo (1Jo 4.3; 2.18 2.22), mas ainda virá outro anticristo final (2Ts 2.3). Nos últimos dias, ele se levantará no velho mundo (Ap 13.1) e se tornará o soberano sobre um Império Romano ressuscitado, que dominará todo o mundo. Assumirá grande poder político (Dn 7.8,25), comercial (Dn 8.25; Ap 13.16,17) e religioso (Ap 17.1-15). Ele será anti- Deus e anticristo e perseguirá os cristãos na tentativa de extinguir o cristianismo (Dn 7.25; 8.24; Ap 13.7,15). Sabendo que os homens desejam ter alguma religião, ele estabelecerá um culto baseado na divindade do Homem e na supremacia do Estado. Como personificação desse Estado, ele exigirá ser adorado e formará um sacerdócio para fazer cumprir e promulgar essa adoração (2Ts 2.9, 10; Ap 13.12-15).

O anticristo levará ao extremo a doutrina da supremacia do Estado, a qual ensina que o governo é o poder supremo, ao qual tudo, incluindo a própria consciência do homem, deve está subordinado.

A primeira tentativa para estabelecer o culto ao Estado está registrada em Daniel 3. Nabucodonosor orgulhou-se do poderoso império que edificara: “Acaso não é esta grande Babilônia que eu construí [...]?”(Dn 4.30).

A Revolução Francesa oferece outro exemplo dessa política. Deus e Cristo foram lançados fora, e fez-se da “pátria” (o Estado) um deus, ou deusa. Assim disse um dos lideres: “o Estado é supremo em todas as coisas. Quando o Estado se pronuncia, a Igreja não tem nada a dizer”.

O NT reconhece o governo humano como divinamente ordenado para a manutenção da ordem e da justiça. O cristão, por conseguinte, deve lealdade à sua pátria. Tanto a Igreja quanto o Estado têm sua parte no programa divino, e cada qual deve limitar-se à sua esfera de ação. d) Em relação às nações. As nações serão julgadas, os reinos do mundo destruídos, e todos os povos estarão sujeitos ao Rei dos reis (Dn 2.44; Mq 4.1; Is 49.22,23; Lc1.32; Zc 14.9;Is 24.23; Ap 11.15). Cristo regerá as nações; tirará toda a opressão e injustiça da terra e inaugurará a idade áurea de mil anos (Sl 2.7-9; 72; Is 11.1-9; Ap20.6).

“Então virá o fim, quando ele entregar o Reino a Deus, o Pai, depois de ter destruído todo domínio, autoridade e poder” (1Co.15:24). Há três estágios na obra de Cristo como mediador: sua obra como Profeta, cumprida durante seu ministério terrestre; sua obra como Sacerdote, começada na cruz e continuada durante a dispensação atual; e sua obra como Rei, iniciada com a sua vinda e continuada durante o Milênio. Depois do Milênio, ele terá cumprido sua obra de unir a humanidade a Deus, de forma que os habitantes do céu e da terra formem uma só, família, e Deus será tudo e estará em todos (Ef.1:10; 3:14,15). Contudo, Cristo continuará a reinar como o Deus-homem, e partilhará do governo divino, pois “seu Reino jamais terá fim” (Lc.1:33).

REFERÊNCIAS

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