curso teologia sistematica modulo a

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CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA - MÓDULO A - 1 Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade Pr. Marcelo Costa Introdução O ser humano age de acordo com o seu pensamento. O pensamento por sua vez é conseqüência de conhecimentos adquiridos através dos sentidos, do ensino, do exemplo, da experiência ao longo da vida e etc. Sendo assim, é importante que o ser humano tenha um conhecimento correto e equilibrado acerca de Deus, para que desta forma o seu pensamento seja correto e, por conseguinte, as suas atitudes venham se harmonizar com a vontade de Deus. Todavia, isto só será possível se ele tiver o conhecimento das doutrinas bíblicas Infelizmente muitas pessoas têm idéias completamente equivocadas a respeito de Deus e por isso elas vivem um estilo de vida censurável aos olhos de Deus. Precisamos entender que é impossível fazer a vontade de Deus sem ter o conhecimento das doutrinas bíblicas. Foi por esse motivo que Deus deu os Dez Mandamentos a Moisés para que ensinasse ao povo de Israel (Ex. 20:1-7), foi por causa disso que Jesus, incansavelmente ensinava e pregava com grande autoridade sobre o reino de Deus (Mt. 4:23; 9:35), foi por essa razão que os apóstolos pregavam o evangelho e ensinavam as doutrinas cristãs em várias cidades, como Jesus havia ordenado (Mt. 28; At. 2:42; 11:25- 26; I Tm 2:5-7). Portanto, é imperativo que os cristãos conheçam as doutrinas bíblicas. Antes de abordarmos as doutrinas bíblicas propriamente ditas, precisamos entender a definição da doutrina, o valor da doutrina e qual é o sistema de doutrina que vamos usar nesse curso. Vamos começar pela definição da doutrina. A definição da Doutrina Doutrina, biblicamente falando, é o corpo de ensino que foi ministrado e padronizado pelos apóstolos do Senhor Jesus Cristo. (At. 2:42; 5:28; I Tm. 1:3) Os três textos bíblicos acima nos mostram três fatos sobre a doutrina: 1 – que os cristãos primitivos perseveravam especificamente nos ensinamentos dos apóstolos; 2 – que os apóstolos tinham uma doutrina completamente diferente do que era ensinado pelos líderes religiosos; 3 – que nenhuma pessoa poderia ensinar outra doutrina além daquela que os apóstolos haviam ensinado. Com isso, entendemos que os apóstolos tinham um corpo de ensino que foi ministrado e ao mesmo tempo padronizado por eles. A palavra doutrina no grego é “didaskalia”, que significa “doutrina, instrução e ensino”. Nas epístolas pastorais este vocábulo é usado quinze vezes para se referir aos “ensinamentos cristãos” e à “doutrina dos evangelhos”. Quando Paulo usou este termo em suas epístolas pastorais, ele estava se referindo a um “corpo de doutrinas” ou um “sistema doutrinário”. Essa doutrina do qual o apóstolo Paulo se referia eram as verdades acerca de Deus que foram reveladas por meio de três fontes: do Antigo Testamento (Rm 15:4; I Co 10:11), dos ensinamentos de Jesus Cristo (At 20:35; I Tm 6:3) e das revelações que ele (Paulo) havia recebido da parte de nosso Senhor Jesus Cristo (Gl 1:12). É impossível fazer a vontade de Deus sem ter o conhecimento das doutrinas bíblicas As verdades acerca de Deus foram reveladas por meio de três fontes: do Antigo Testamento, dos ensinamentos de Jesus Cristo e das revelações que o apóstolo Paulo recebeu da parte do nosso Senhor.

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CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA

- MÓDULO A -

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Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade Pr. Marcelo Costa

Introdução O ser humano age de acordo com o seu pensamento. O pensamento por sua

vez é conseqüência de conhecimentos adquiridos através dos sentidos, do ensino, do exemplo, da experiência ao longo da vida e etc.

Sendo assim, é importante que o ser humano tenha um conhecimento correto e equilibrado acerca de Deus, para que desta forma o seu pensamento seja correto e, por conseguinte, as suas atitudes venham se harmonizar com a vontade de Deus. Todavia, isto só será possível se ele tiver o conhecimento das doutrinas bíblicas

Infelizmente muitas pessoas têm idéias completamente equivocadas a respeito de Deus e por isso elas vivem um estilo de vida censurável aos olhos de Deus. Precisamos entender que é impossível fazer a vontade de Deus sem ter o conhecimento das doutrinas bíblicas. Foi por esse motivo que Deus deu os Dez Mandamentos a Moisés para que ensinasse ao povo de Israel (Ex. 20:1-7), foi por causa disso que Jesus, incansavelmente ensinava e pregava com grande autoridade sobre o reino de Deus (Mt. 4:23; 9:35), foi por essa razão que os apóstolos pregavam o evangelho e ensinavam as doutrinas cristãs em várias cidades, como Jesus havia ordenado (Mt. 28; At. 2:42; 11:25-26; I Tm 2:5-7). Portanto, é imperativo que os cristãos conheçam as doutrinas bíblicas.

Antes de abordarmos as doutrinas bíblicas propriamente ditas, precisamos entender a definição da doutrina, o valor da doutrina e qual é o sistema de doutrina que vamos usar nesse curso.

Vamos começar pela definição da doutrina.

A definição da Doutrina Doutrina, biblicamente falando, é o corpo de ensino que foi ministrado e

padronizado pelos apóstolos do Senhor Jesus Cristo. (At. 2:42; 5:28; I Tm. 1:3)

Os três textos bíblicos acima nos mostram três fatos sobre a doutrina:

1 – que os cristãos primitivos perseveravam especificamente nos ensinamentos dos apóstolos; 2 – que os apóstolos tinham uma doutrina completamente diferente do que era ensinado pelos líderes religiosos; 3 – que nenhuma pessoa poderia ensinar outra doutrina além daquela que os apóstolos haviam ensinado. Com isso, entendemos que os apóstolos tinham um corpo de ensino que foi

ministrado e ao mesmo tempo padronizado por eles. A palavra doutrina no grego é “didaskalia”, que significa “doutrina, instrução e

ensino”. Nas epístolas pastorais este vocábulo é usado quinze vezes para se referir aos “ensinamentos cristãos” e à “doutrina dos evangelhos”.

Quando Paulo usou este termo em suas epístolas pastorais, ele estava se referindo a um “corpo de

doutrinas” ou um “sistema doutrinário”. Essa doutrina do qual o apóstolo Paulo se referia eram as verdades acerca de Deus que foram reveladas por meio de três fontes: do Antigo Testamento (Rm 15:4; I Co 10:11), dos ensinamentos de Jesus Cristo (At 20:35; I Tm 6:3) e das revelações que ele (Paulo) havia recebido da parte de nosso Senhor Jesus Cristo (Gl 1:12).

● ● ● É impossível

fazer a vontade de

Deus sem ter o conhecimento das doutrinas

bíblicas ● ● ●

● ● ● As verdades

acerca de Deus foram reveladas por meio de três

fontes: do Antigo

Testamento, dos ensinamentos

de Jesus Cristo e das revelações que o apóstolo Paulo recebeu

da parte do nosso Senhor. ● ● ●

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Estas verdades que foram reveladas através destas três fontes é que foram ministradas e consideradas pelos apóstolos como a “sã doutrina” (I Tm 1:10; II Tm 4:3), “doutrina de Cristo” (Hb 6:1 II Jo 1:9), “doutrina de Deus” (Tt 2:10) ou simplesmente “doutrina” (I Tm 4:6; 4:16; 6:1; Tt 1:9).

Para nossa felicidade, hoje nós podemos encontrar estes ensinamentos cristãos na Bíblia Sagrada, e são estes ensinamentos cristãos que vamos estudar nesse curso.

Agora que você já sabe o sentido que Paulo usava da palavra “doutrina” nas suas epístolas pastorais, é importante também saber que o vocábulo “didaskalia” fora das epistolas pastorais se refere ao ato de “ensinar”, ou o “conteúdo do ensino”.

Em outras passagens do Novo Testamento a palavra doutrina também é tradução de um outro termo grego, o “didache”, que pode igualmente significar o ato de “ensinar” ou o “conteúdo do ensino”. Este vocábulo é usado em mais porções do Novo Testamento para se referir aos ensinamentos de Jesus (Mt 7:28; Jo 7:16-17) e também aos ensinamentos dos apóstolos (At 2:42).

Veja agora outra definição da doutrina:

Doutrina é o conjunto de ensino baseado nos mandamentos de Deus, nos ensinamentos do Senhor Jesus e dos apóstolos contidos na Bíblia Sagrada.

Tudo aquilo que precisamos saber sobre Deus nós vamos encontrar na Bíblia Sagrada. O Antigo e o Novo Testamento foram escritos para revelar todo o desígnio de Deus para o homem.

Em II Tm 3:16 diz que “toda a Escritura é inspirada por Deus, com a finalidade de instruir o homem no tocante ao seu relacionamento com Deus.

Durante esse curso você vai verificar que as doutrinas que serão expostas são encontradas tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento.

É importante dizer que a Bíblia Sagrada é a única fonte onde podemos encontrar as verdades sobre o nosso Deus.

Para encerrar esta parte, gostaria de expor como a doutrina foi definida pelo escritor Myer Pearlman em seu livro “Conhecendo as Doutrinas Bíblicas”, ele a definiu de duas maneiras: 1ª – As verdades fundamentais da Bíblia dispostas em forma sistemática; 2ª – É a revelação da verdade como se encontra nas Escrituras. Com certeza essas duas excelentes definições sobre a doutrina são importantes que você memorize.

O que não é Doutrina?

1 – A doutrina não são costumes

Antes de adentrarmos nessa parte, gostaria de dizer que não tenho nenhuma intenção de criticar ou menosprezar alguma igreja, mas apenas esclarecer o que não é doutrina.

Doutrina não tem nada a ver com costumes que algumas igrejas evangélicas impuseram, exigindo das irmãs, por exemplo, que não cortem seus cabelos, que compareçam à igreja com suas cabeças cobertas por um véu, que usem saias compridas, que não usem brincos, batons, colares e etc. Já dos irmãos, por sua vez, exigem que eles não andem de bermuda, que não deixem o cabelo crescer, que compareçam à igreja de terno e gravata e etc. Para pessoas que freqüentam tais igrejas isso tudo é entendido como doutrina, todavia isso são costumes.

Contudo, é importante dizer que respeitamos e entendemos, embora não concordamos, que certas igrejas que procedem desta forma e que os membros que as freqüentam fazem isso para honrarem a Deus. Neste caso, não temos o direito de criticá-los.

● ● ● Costumes não

são regras bíblicas, e sim a

doutrina contida nas Escrituras. ● ● ●

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O que queremos deixar claro é que “costumes” não são “regras bíblicas” e sim a doutrina contida nas Escrituras. Logo, devemos obedecer à doutrina bíblica e não os costumes estabelecidos por uma denominação.

2 – A doutrina não é dogma

Dogma é “a declaração do homem acerca da verdade quando apresentada em um credo” (Myer Pearlman).

Doutrina não é um credo feito por um homem ou por um grupo de líderes de uma determinada igreja

baseado nas Escrituras; doutrina é a verdade pura e intacta revelada nas Escrituras.

3 – A doutrina não é um conjunto de normas

A doutrina não é um conjunto de normas que se encontra em um livro produzido por uma determinada igreja, com o intuito de dizer o que o crente deve fazer ou não.

O cristão não deve viver de acordo com as normas estabelecidas por uma denominação caso estas normas não estejam baseadas nos princípios éticos estabelecidos pela Palavra de Deus. Não obstante, muitas pessoas obedecem cegamente às leis, regras e normas impostas pelas suas igrejas que usam até mesmo um texto bíblico fora do seu contexto para dar base a estas leis. O pior de tudo isso é que em vez de isso ajudar as pessoas a viverem o cristianismo, acaba transformando essas pessoas em religiosos, que desobedecem as leis bíblicas por obedecerem às leis humanas.

II – O VALOR DA DOUTRINA

1 – Por que conhecer as doutrinas?

O cristão deve conhecer as doutrinas bíblicas porque elas devem ser obedecidas. Como então o cristão poderá obedecer às doutrinas bíblicas se ele não tiver o conhecimento das mesmas? Não há como!

Quando Jesus transmitiu ao povo e aos seus discípulos os seus ensinamentos, Ele queria não apenas que eles conhecessem, mas acima que acima de tudo, praticassem tudo aquilo que ensinou (Mt 7:24-27; Jo 14:21-14). Antes de Jesus ascender aos céus, Ele deu aos seus discípulos algumas incumbências que estão incluídas na “grande comissão”, e entre elas estava a incumbência de ensinar os futuros seguidores a obedecerem aos seus mandamentos (Mt 28:20).

Paulo também tinha uma preocupação de que os seus seguidores praticassem todos os seus ensinamentos, porque para ele, a atitude de obedecer aos seus ensinamentos seria uma evidência clara de que eles estavam livres do pecado e servindo a Deus (Rm 6:17).

Infelizmente, além dos cristãos praticantes, as igrejas evangélicas são freqüentadas por duas classes de pessoas: aquelas que conhecem a Palavra de Deus, mas não a obedecem. Estas pessoas são chamadas de “teólogos”. E a outra classe de pessoas são aquelas que tentam fazer a vontade de Deus sem conhecimento da mesma. Estas pessoas são chamadas de “religiosos”. Para o teólogo, a Palavra de Deus é esta: “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha” (Mt 7:24).

● ● ● A pessoa é

reconhecida por Jesus como de fato

um cristão verdadeiro quando

ela conhece seus ensinamentos e os

pratica. ● ● ●

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Para o religioso, a mensagem de Deus é esta: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (II Tm 2:15).

A pessoa é reconhecida por Jesus como de fato um cristão verdadeiro quando ela conhece os seus ensinamentos e os pratica, portanto, precisamos conhecer e obedecer às doutrinas bíblicas.

2 – As doutrinas e a maturidade espiritual

O cristão deve conhecer as doutrinas bíblicas porque elas desenvolvem a maturidade espiritual (Cl 1:26-28).

Descobrimos no texto acima que o principal objetivo do apóstolo Paulo, de anunciar, advertir e ensinar a todos os homens a respeito de Cristo era de aperfeiçoá-los em Cristo, ou seja, levá-los a um amadurecimento espiritual.

Ao ler Hb 5:11-14, nós vamos entender que a doutrina era ministrada pelos mestres para produzir maturidade espiritual. Fica notório neste texto que os crentes que não absorviam os ensinamentos cristãos eram considerados, pelo autor desta epístola, imaturos espiritualmente falando.

Aprendemos com estes dois textos bíblicos que a maturidade espiritual não é alcançada pelo tempo que nós temos em uma igreja, mas sim pelo conhecimento que possuímos das doutrinas e pela capacidade de praticá-las.

Existem muitas pessoas que tem muito tempo que freqüentam uma igreja, todavia elas não tiveram um desenvolvimento espiritual porque não absorveram aquilo que foi ensinado pelo pastor, de modo que não colocam em prática as doutrinas bíblicas.

Se você quer crescer espiritualmente, é imprescindível o conhecimento das doutrinas bíblicas.

Os cristãos devem conhecer as doutrinas bíblicas porque elas os protegem dos erros e das heresias (Mt 22:29; Rm 16:17; II Jo 9).

3 – As doutrinas e sua proteção

O cristão deve conhecer as doutrinas bíblicas porque elas o protege dos erros e das heresias (Mt 22:29; Rm 16:17; II Jo 9).

Quando conhecemos as doutrinas bíblicas passamos a ter idéias corretas sobre Deus e Sua vontade. Elas nos mostram o que é certo e o que é errado aos olhos de Deus. Elas são como uma bússola para o cristão. Se alguma coisa estiver sendo feita fora da vontade de Deus a doutrina bíblica nos mostra. Se alguma coisa estiver sendo dita ou ensinada fora da vontade de Deus, elas nos revelam.

É por esta razão que os apóstolos advertiam os cristãos primitivos a permanecerem nas doutrinas por eles expostas. Tudo aquilo que não concordava com as doutrinas era considerado, pelos apóstolos, uma heresia.

Como você vai saber se o pregador, ou quem quer que seja, está falando a verdade? Através das doutrinas bíblicas.

Quando conhecemos essas doutrinas, somos capazes de discernir o erro e de perceber heresias. Nós só saberemos o que é falso quando conhecermos o que é verdadeiro, portanto, conheça as doutrinas bíblicas e você não será enganado pelas heresias.

● ● ● Nós só

saberemos o que é falso

quando conhecermos

o que é verdadeiro. ● ● ●

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4 – As doutrinas e a comunhão com Deus

O cristão deve conhecer as doutrinas bíblicas porque elas fortalece a nossa comunhão com o Pai e com o Filho (I Jo 2:24; II Jo 9).

O apóstolo João, nas suas epístolas, ensina que aquele que conhece a doutrina de Cristo e nela permanece, desfruta de uma autêntica comunhão com o Pai e com o Filho; por outro lado, ele revela que aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece, este não tem Deus.

É incoerente alguém dizer que tem comunhão com Deus e não conhece seus ensinamentos e não os obedecem.

Portanto, se desejamos ter uma comunhão autêntica com o Pai e com o Filho, precisamos conhecer as doutrinas e nelas permanecer, ou seja, obedecer.

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BIBLIOLOGIA

A DOUTRINA DAS ESCRITURAS

“As verdades que informam o homem como passar da terra para o céu devem ser enviadas do céu a terra. Em outras palavras, o homem precisa

de uma revelação”. (Myer Pearlman)

“O cristianismo é a religião baseada na revelação que Deus fez de si mesmo” (John R. Higgins)

Por que as Escrituras existem? As Escrituras são fruto de uma invenção humana ou divina? As Escrituras são realmente inspiradas por Deus? As Escrituras contêm a Palavra de Deus ou é a Palavra de Deus? Existem erros nas Escrituras? Existem contradições nas Escrituras? Qual é a autoridade das Escrituras? Para respondermos a estas e outras perguntas sobre as Escrituras corretamente, precisamos conhecer a doutrina das Escrituras.

Vamos iniciar este estudo pelos termos que são empregados para se referir as Escrituras.

1 – Quais os termos usados para se referir às Escrituras?

Existem pelo menos quatro termos importantes que são usados para denominar as Escrituras.

A. BÍBLIA Este termo é derivado da palavra grega “biblion” que significa “rolo” ou “livro”. Encontramos esse

vocábulo em Lc 4:17, se referindo ao rolo do profeta Isaías. B. ESCRITURA(S)

O termo Escritura, ou Escrituras, é usado no NT para se referir aos livros sagrados do AT que foram reconhecidos pelo Senhor Jesus e pelos seus apóstolos como livros inspirados por Deus (II Tm 3:16). Além disso, este termo é usado no NT para mencionar as cartas de Paulo que foram consideradas pelo apóstolo Pedro como cartas inspiradas por deus e que tinham o mesmo peso que as Escrituras do AT (II Pe 3:16). C. ORÁCULOS DE DEUS

Os apóstolos tinham o hábito de chamar as Escrituras de “oráculos de Deus”. Este termo vem do vocábulo grego “logia”, que aparece três vezes no NT. O primeiro aparece quando Paulo usou este termo para fazer referência ao AT (Rm 3:2). O segundo, aparece quando o escritor de Hebreus usou esta palavra para fazer menção ao corpo da doutrina cristã que estava baseado no AT e nos ensinamentos do Senhor Jesus (Hb 5:12). E por fim, o último aparece em I Pe 4:11, onde Pedro ensinou que o pregador deveria falar de acordo com o que estava escrito nas Escrituras.

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D. PALAVRA DE DEUS Este termo foi usado por Jesus quando Ele quis se referir ao AT (Mt 15:6; Jo 10:35). O escritor de Hebreus

usou este termo para se referir ao AT e também aos ensinamentos do Senhor Jesus Cristo, que posteriormente vieram a compor o NT através dos quatro evangelhos e das epístolas apostólicas.

II - A REVELAÇÃO DIVINA

O que é revelação divina?

Literalmente falando “é o ato de tornar conhecido algo que antes era desconhecido; o que estava escondido passa a ser conhecido”.

(John R. Higgins – Teologia Sistemática)

Revelação divina “é um desvendamento; especialmente a comunicação da mensagem divina ao homem” (Charles C. Ryrie – Bíblia

Anotada)

Revelação divina é o desvendamento que Deus fez de Si mesmo através dos Seus atos e de Suas palavras que foram registrados nas Escrituras.

Revelação divina foi o ato de Deus se comunicar com o homem de um modo real e pessoal (Nm 12:5:8; Jo 12:50). Digo de modo real porque os escritores sagrados ouviram a Sua voz, provaram do Seu poder e foram guiados por Ele. E de modo pessoal porque Ele falou, amou e agiu. Além disso, Ele se revelou usando termos de relacionamentos pessoais, como por exemplo, Pai, Pastor, Marido, Amigo, Guia e Rei (Is 40:11; Sl 29:10).

O único meio de se conhecer a Deus é através da revelação que Ele fez de Si mesmo. Se Ele não se revelasse seria impossível o homem conhecê-Lo.

As qualidades da revelação divina

A. A REVELAÇÃO DIVINA É BENÉFICA

É benéfica porque através dela o ser humano pode conhecer o seu Criador (At 14:15-17); É benéfica porque através dela o ser humano pode desfrutar de uma comunhão com Deus (I Jo 2:23-

24); É benéfica porque através dela o ser humano tem a sua alma alimentada (Mt 4:4); É benéfica porque através dela o ser humano obtém sabedoria para a salvação em Cristo (II Tm 3:14-

15).

B. A REVELAÇÃO DIVINA É INSTRUTIVA

É instrutiva porque ela ensina ao ser humano os preceitos do Senhor (II Tm 3:16); É instrutiva porque ela revela ao ser humano qual é a vontade de Deus (I Ts 4:6; I Pe 2:15; I Jo 2:17);

C. A REVELAÇÃO DIVINA É SUFICIENTE

É suficiente porque Deus revelou aquilo que é necessário para o ser humano saber a Seu respeito (Dt 27:27);

É suficiente porque Deus revelou aquilo que é fundamental para a salvação do ser humano (I Tm 2:1-4).

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D. A REVELAÇÃO DIVINA É EXCLUSIVA

É exclusiva porque surgiu do único Deus (I Tm 2:5-6); É exclusiva porque revela o único Deus (Jo 17:3); É exclusiva porque todos os povos irão reconhecê-Lo como o único Deus (Rm 14:11); É exclusiva porque a mensagem de Deus é uma só e é destinada a todas as pessoas (Mc 16:15); É exclusiva porque é única e incomparável (II Tm 3:16).

As categorias da revelação divina

A revelação divina está dividida em duas categorias: a revelação geral e a revelação especial. A revelação geral diz respeito ao modo natural de Deus se revelar à humanidade; a revelação especial se refere ao modo sobrenatural de Deus se revelar à humanidade.

A revelação geral

Pela revelação geral, Deus se revelou de três modos: através da história da humanidade, do universo e da natureza humana.

A. A HISTÓRIA DA HUMANIDADE

Deus se revelou através da história da humanidade quando agiu em favor do povo de Israel, demonstrando o Seu poder (Sl 136);

Deus se revela através da história da humanidade quando estabelece e remove as autoridades governamentais, confirmando assim a Sua soberania (Dn 2:21);

Deus se revela através da história da humanidade quando realiza os Seus propósitos da humanidade, mostrando a Sua vontade soberana (Jo 4:34).

B. O UNIVERSO

Deus se revela através do universo mostrando o Seu poder e a Sua glória (Sl 19:1-4); Deus se revela através do universo, demonstrando a Sua provisão (At 14:15-17); Deus se revela através do universo confirmando que é o Criador de todas as coisas, auto-suficiente, a

Fonte da Vida e a origem de toda a vida (At 17:22-27); Deus se revela através do universo, manifestando os Seus atributos invisíveis, o Seu eterno poder e

Sua própria divindade (Rm 1:18-21).

C. A NATUREZA HUMANA

Deus se revela por meio da natureza humana porque fez o homem à sua imagem e semelhança (Gn 1:26-27; 9:6; Tg 3:9);

Deus se revela por meio da natureza humana porque colocou os conceitos morais básicos, que são chamados de “lei escrita no coração do homem” (Rm 2:11-15). Quando esses conceitos morais são violados, a nossa consciência e os nossos pensamentos nos acusam.

A revelação especial

A revelação geral tem como objetivo principal revelar Deus em todos os lugares, através da razão humana. Já a revelação especial tem duas intenções fundamentais: a primeira é complementar a revelação geral, que não consegue revelar o plano de salvação feito por Deus, e a segunda é revelar Deus de modo sobrenatural.

A revelação especial é especial porque possui cinco características importantes:

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A. A REVELAÇÃO ESPECIAL É PESSOAL – É pessoal porque Deus se revelou de modo pessoal através do seu

filho Jesus, revelando por meio dele a Sua vontade (Hb 1:1-2); B. A REVELAÇÃO ESPECIAL É COMPREENSIVA – É compreensiva porque Deus usou a mesma linguagem que

os autores bíblicos usavam, ou seja, Ele usou uma linguagem que era compreendida pelo homem (Hb 1:1-2);

C. A REVELAÇÃO ESPECIAL FOI PROGRESSIVA – Foi progressiva porque Deus não se revelou só uma vez, mas várias vezes durante um período de quinze séculos (Hb 1:1-2);

D. A REVELAÇÃO ESPECIAL É REGISTRADA – É registrada porque Deus mandou registrar boa parte da Sua revelação. E por que mandou registrar? Por três motivos: 1º - para dar confiança ao ser humano sobre a Sua revelação; 2º - para dar uma compreensão completa da Sua revelação; 3º - para preservar e transmitir para todas as gerações a Sua revelação.

E. A REVELAÇÃO ESPECIAL É TRANSMITIDA – É transmitida porque a revelação de Deus é transmitida através das Escrituras. Em outras palavras, as Escrituras comunicam a revelação divina hoje. A Bíblia não apenas contém a Palavra de Deus; ela é a Palavra de Deus. “Deus falou no passado e continua falando hoje, através das Escrituras” (John R. Higgins – Teologia Sistemática). “O que as Escrituras dizem, Deus diz” (Pinnock – Biblical Revelation).

III - A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS

“Há uma diferença insondável entre a Bíblia e qualquer outro livro. Essa diferença deve-se à sua origem”. (Dr. David

S. Clarke)

1 - Os rivais das Escrituras

Neste momento vamos analisar alguns pensamentos que tem procurado invalidar, qualificar ou limitar a autoridade das Escrituras. São pensamentos que transmitem certas heresias sobre as Escrituras, querendo mostrar de algum modo que as Escrituras não têm autoridade divina e, por conseguinte, não tem uma autoridade absoluta.

Quais são esses pensamentos?

A. O RACIONALISMO O racionalismo diz que é impossível haver qualquer revelação sobrenatural, entretanto, afirma que é

possível haver uma revelação divina. Embora ela admita a existência da revelação divina, contudo, ela diz que esta revelação deve se sujeitar ao juízo final da razão humana. B. O ROMANISMO

Este pensamento surgiu da igreja católica romana que prega que a Bíblia é um produto da igreja, ou seja, as Escrituras do NT foram produzidas pela igreja cristã quando ela estabeleceu o cânon das Escrituras. Com este argumento, a igreja católica se viu na liberdade de criar mandamentos para que ela tivesse a mesma autoridade que a Bíblia, ou até mesmo superior a ela. Logo, a Bíblia, para a igreja católica, não tem a autoridade final no que tange a fé e prática, e sim a igreja. Além disso, ela diz que só os sacerdotes são capazes de interpretar corretamente a Bíblia e mais ninguém.

C. O MISTICISMO O misticismo ensina que a experiência pessoal com Deus tema mesma autoridade da Bíblia. O que isto significa? Significa que se uma pessoa tiver uma experiência mística, como por exemplo, uma visão sobrenatural de um anjo, uma experiência com o Espírito Santo, ou tiver uma revelação profética, essas experiências pessoais tem a mesma autoridade da Bíblia, mesmo que essas experiências venham contra

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aquilo que a Palavra de Deus ensina. Nenhuma experiência mística tem poder para abolir aquilo que a Palavra de Deus ensina. Tudo deve ser julgado pela Palavra de Deus escrita (Gl 1:8-9).

D. A NEO-ORTODOXIA A neo-ortodoxia desconsidera a Bíblia como um instrumento de revelação divina infalível, e considera

Jesus Cristo como a única revelação especial de Deus. Ou seja, ela não acredita que possa encontrar nas Escrituras alguma revelação especial de Deus. Contudo, os cristãos evangélicos acreditam que tanto as Escrituras quanto o Verbo Vivo, Jesus Cristo, revelam, de modo especial, o Deus Criador (Mt 22:31; Hb 1:1-2).

E. AS SEITAS As seitas dizem que as experiências místicas dos seus líderes ou fundadores têm o mesmo peso de

autoridade da Bíblia. E mais, não só as experiências místicas como também os livros que eles publicam e as palavras que eles proferem. Para o cristianismo, as Escrituras têm autoridade absoluta sobre todas as coisas porque é a Palavra de Deus, portanto, nenhuma experiência com o Espírito Santo pode invalidar um preceito bíblico; nenhuma profecia tem a mesma autoridade que a Bíblia tem; nenhuma palavra humana tem poder para abolir uma doutrina bíblica.

2 - Por que as Escrituras têm autoridade absoluta?

Existem oito fatores que fazem das Escrituras autoridade absoluta no que diz respeito à fé e prática. São eles:

A. A UNIDADE DAS ESCRITURAS

A Bíblia levou quinze séculos para ser concluída, contudo, o tempo não prejudicou a sua unidade de assunto e propósito;

A Bíblia foi escrita por mais ou menos quarenta autores diferentes, no entanto, a unidade de assunto e propósito foi preservada;

A Bíblia é um conjunto de livros sagrados que foram escritos em três idiomas diferentes, todavia, esse conjunto de livros possui uma unidade de assunto e propósito;

A Bíblia aborda vários assuntos, entretanto, esses assuntos se harmonizam com o propósito do autor das Escrituras, que é o nosso Deus.

B. A NECESSIDADE DAS ESCRITURAS

A Bíblia é um livro indispensável porque só ela tem princípios universais que são imortais e imprescindíveis ao ser humano (II Tm 3:16);

A Bíblia é um livro indispensável porque só ela tem poder para transformar e salvar o ser humano (Rm 1:16);

A Bíblia é um livro indispensável porque só ela pode gerar fé no coração do ser humano (Rm 10:17).

C. A EXATIDÃO DAS ESCRITURAS

A Bíblia contém várias profecias que já se cumpriram e que ainda vão se cumprir. Por exemplo, as Escrituras profetizaram o nascimento virginal de Cristo (Is 7:14; Mt 1:23), o local de seu nascimento (Mq 5:2; Mt 2:6), como seria a sua morte (Sl 22:16; Jo 19:36) e o local do seu sepultamento (Is 53:9; Mt 25:57-60);

Todas as profecias das Escrituras que estavam relacionadas à vida de Cristo foram cumpridas (Lc 24:44-48);

O cumprimento das profecias bíblicas revela a existência de um Deus onisciente, que é soberano sobre a história, e desse modo, a autoridade absoluta das Escrituras é confirmada;

A exatidão das Escrituras é comprovada pela história e pela arqueologia moderna; A história de países que se envolveram com o povo de Israel confirma a história bíblica;

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Sobre arqueologia, veja o que disse o arqueólogo Willian F. Albright: “o ceticismo excessivo dirigido contra a Bíblia por escolas históricas importantes dos séculos XVIII e XIX... vem sendo progressivamente desacreditado. Uma descoberta após outra tem confirmado a exatidão de pormenores, e tem aumentando cada vez mais o reconhecimento do valor da Bíblia como fonte de informações exatas para a história”.

D. A INFLUÊNCIA DAS ESCRITURAS

Inegavelmente, as Escrituras têm uma influência extraordinária na sociedade humana; A Bíblia já foi traduzida para mais de dois mil idiomas; É o livro mais lido de toda a história; É o livro mais citado entre os crentes e os incrédulos; É um livro que serve de base para as leis de muitas nações modernas; É um livro que tem uma influência maravilhosa nas artes, na arquitetura, na literatura e na música.

E. A SOBREVIVÊNCIA DAS ESCRITURAS

A Bíblia é um dos livros mais antigos do mundo e o mais publicado no mundo todo; A Bíblia é um livro indestrutível porque sobreviveu a todas as perseguições que sofreu. “A Bíblia não

somente tem recebido mais veneração e adoração do que qualquer outro livro, como também tem sido objeto da mais implacável perseguição e oposição” (Emery H. Bancroft).

F. AS CONSEQUÊNCIAS DAS ESCRITURAS

As conseqüências das Escrituras são consideradas como outro fator incontestável que comprova a sua autoridade absoluta;

As Escrituras influenciam a civilização; Transforma vidas; Inspira, consola, alegra e instrui milhões de pessoas.

G. O TESTEMUNHO DE JESUS SOBRE AS ESCRITURAS

Jesus confirmou a autoridade absoluta das Escrituras quando apelou para elas no momento em que estava sendo tentado pelo diabo (Mt 4:4, 6 e 10);

Jesus confirmou a autoridade absoluta das Escrituras quando citou algumas passagens do AT (Mt 12:39-40);

O fato de Jesus citar as histórias bíblicas confirma que elas eram verídicas; Jesus confirmou a autoridade absoluta das Escrituras quando usou laguns textos do AT para apoiar

seu ensino (Mt 19:4-5); Jesus confirmou a autoridade absoluta das Escrituras quando disse que veio para cumpri-la e não para

revogá-la (Mt 5:17); Jesus confirmou a autoridade absoluta das Escrituras quando mostrou aos fariseus que a autoridade

das Escrituras está acima das tradições religiosas (Mt 15:3-4); Jesus confirmou a autoridade absoluta das Escrituras quando chamou as Escrituras de Palavra de

Deus ao esclarecer alguns preceitos do AT para os religiosos (Mc 7:6-13; Mt 22:32); Jesus também afirmou que os seus ensinamentos tinham autoridade divina (Mt 7:24; Jo 7:15-17;

8:26-28; 12:48-50; 14:10). Com isso, entendemos que as palavras de Jesus que se encontram no NT têm autoridade absoluta.

H. O TESTEMUNHO DOS APÓSTOLOS SOBRE AS ESCRITURAS

Os apóstolos também confirmaram a veracidade e a autoridade absoluta das Escrituras (Rm 3:2; II Tm 3:16; II Pe 1:21; 3:2; I Co 2:9-16);

Os apóstolos afirmaram que falavam com a autoridade divina (I Co 2:13; I Ts 2:13; 4:2; II Pe 3:2; I Jo 1:5; Ap 1:1);

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Portanto, o NT é inspirado por Deus e conseqüentemente é considerado como autoridade absoluta.

IV - A INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS

1 - O que é inspiração divina?

“Há uma diferença insondável entre a Bíblia e qualquer outro livro. Essa diferença deve-se à sua origem”. (Dr. David

S. Clarke)

Tanto o apóstolo Paulo em II Tm 3:16 como o apóstolo Pedro em II Pe 1:19ª, afirmam que os escritores e os registros sagrados são totalmente inspirados por Deus. Isto significa dizer que Deus é o autor das Escrituras.

A palavra “inspirada” que se encontra em II Tm 3:16 é tradução do vocábulo grego “theopneustos”, que literalmente significa “soprada por Deus”, dando a entender que as Escrituras foram dadas pelo sopro de Deus. Logo, entendemos com base nesse texto que a Bíblia é uma invenção divina e não humana.

Para uma compreensão melhor sobre a inspiração divina, atente para estas definições:

“Inspiração é a ação supervisionadora de Deus sobre os autores humanos da Bíblia de modo que, usando suas próprias personalidades e estilos, compusessem e registrassem, sem erro, as palavras de Sua revelação ao homem. A inspiração se aplica apenas aos manuscritos originais, chamados

de autógrafos”. (Charles C. Ryrie – Bíblia Anotada)

“É o poder inexplicável que o Espírito divino exerce sobre os autores das Escrituras, em guiá-los até no emprego correto das palavras e em preservá-los de todo erro, bem como de qualquer

omissão” (Webster – Conhecendo as Doutrinas da Bíblia)

“É a influência sobrenatural do Espírito Santo de Deus sobre a mente humana, pela qual os profetas, apóstolos e escritores sacros foram habilitados para exporem a verdade divina sem

nenhuma mistura de erro” (Webster – Conhecendo as doutrinas da Bíblia)

Portanto, fica claro que a inspiração divina foi o ato do Espírito santo influenciar os autores das Escrituras a registrarem as revelações divinas de modo perfeito.

2 - As teorias sobre a inspiração

A. A TEORIA DA INSPIRAÇÃO NATURAL Esta teoria diz que a Bíblia foi escrita por homens que tinham aptidões naturais para as idéias religiosas,

assim como alguém tem aptidão natural para a música, matemática e etc. Logo, esta teoria exclui qualquer atuação divina na vida dos autores bíblicos, ou seja, ela enxerga a inspiração divina como algo puramente natural e não como algo sobrenatural. Esta teoria está completamente errada.

A Bíblia é clara em dizer que a inspiração que atuou nos escritores bíblicos foi divina, e se foi divina, foi sobrenatural. Porque uma vez que Deus age soprando na mente dos autores sagrados, conseqüentemente este ato é um ato sobrenatural. Logo, a Bíblia é fruto de um ato sobrenatural e não de um ato natural.

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B. A TEORIA DA INSPIRAÇÃO MÍSTICA OU ILUMINATIVA Esta teoria afirma que os autores bíblicos tiveram uma experiência comum com o Espírito Santo como

qualquer outro cristão tem, ou seja, na ótica desta teoria, nós podemos ter a mesma inspiração que os autores bíblicos tiveram. Isto não é verdade. Não podemos confundir inspiração com iluminação ou esclarecimento espiritual que o Espírito santo concede a cada cristão.

A inspiração divina foi única na vida dos autores sagrados, enquanto que a iluminação do Espírito santo é comum a todos os crentes.

A atuação do Espírito santo na vida dos escritores sagrados teve como objetivo influenciá-los a registrar tudo aquilo que foi revelado a eles. Já a atuação do Espírito Santo na vida dos cristãos é de elucidar, ou seja, explicar tudo aquilo que foi registrado pelos autores bíblicos.

C. A TEORIA DA INSPIRAÇÃO MECÂNICA Esta teoria entende que os autores bíblicos foram passivos quando foram divinamente inspirados,

registrando tudo aquilo que Deus citou para eles. É como se Deus tivesse usado os escritores bíblicos como máquinas de escrever com as quais Ele teria escrito, ou como se Deus tivesse falado pelos homens como se tivesse usando um alto-falante.

Embora algumas passagens bíblicas que foram realmente ditadas, como por exemplo, os Dez Mandamentos, todavia, isso não quer dizer que as Escrituras são fruto de uma ação mecânica, ao contrário, a inspiração divina excluiu qualquer atitude mecânica quando ela preservou o estilo de cada autor. Portanto, a inspiração divina é viva, e não mecânica.

D. A TEORIA DA INSPIRAÇÃO PARCIAL A teoria da inspiração parcial afirma que a inspiração divina foi parcial, ou seja, ela compreende que só

aquilo que é considerado desconhecido pela mente humana é que foi inspirada; por exemplo, a criação, os conceitos espirituais e etc.

Essa teoria entende que os escritores bíblicos foram preservados do erro quando trataram de assuntos que abordavam apenas a salvação da humanidade, enquanto que outros assuntos, como por exemplo, a história, a ciência, a cronologia, a geografia e etc., estariam os mesmos sujeitos a erros.

Compreendemos perfeitamente em II Tm 3:16 que a inspiração divina é completa, ou seja, tudo aquilo que foi registrado nas Escrituras é inspirado por Deus.

E. A TEORIA DA INSPIRAÇÃO CONCEITUAL Segundo essa teoria, só os conceitos ou os pensamentos dos escritores bíblicos é que foram inspirados. A teoria da inspiração conceitual descarta completamente a idéia de Deus ter inspirado também as

palavras dos escritores bíblicos, entretanto, a Bíblia nos revela que Deus inspirou as palavras dos escritores bíblicos (Hb 1:1; II Pe 1:21). Assim sendo, não é possível desassociar as palavras dos pensamentos uma vez que as palavras são a expressão dos pensamentos. Deste modo, tanto as palavras como os pensamentos dos autores bíblicos foram inspirados por Deus.

F. A TEORIA DA INSPIRAÇÃO FALÍVEL Segundo essa teoria, a inspiração divina não é isenta de erros, ou seja, a Bíblia é inspirada, mas não

infalível, contudo, encontramos na Palavra de Deus seu filho Jesus Cristo afirmando que as Escrituras sempre dizem a verdade (Jo 10:35). Ao afirmar isso, Jesus deixou bem claro que a inspiração divina é infalível.

3 - A teoria correta da inspiração divina

A teoria correta da inspiração divina é a teoria da “inspiração verbal e plenária”. Esta teoria é correta porque afirma que cada palavra (verbal) e todas as palavras (plenárias) foram inspiradas por Deus.

A teoria da inspiração verbal e plenária é correta porque compreende que toda a Escritura Sagrada é inspirada por Deus (II Tm 3:16), ou seja, todos os documentos originais das Escrituras são fruto de uma

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orientação especial do Espírito Santo na vida dos escritores bíblicos. Além disso, ela tem a opinião de que a inspiração divina é sobrenatural, única, viva, completa, verbal e inerrante.

V - A INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS

O que significa?

Significa que a Bíblia é verdadeira em sua totalidade e que não há sombra de erros no seu conteúdo, isto é, tudo o que a Bíblia fala é verdade e ela

está completamente isenta de qualquer erro.

O que garante a inerrância bíblica?

A. O CARÁTER DE DEUS A Bíblia afirma em Rm 3:4 que Deus é verdadeiro e que Ele não pode mentir. Ela diz também que Deus é imutável (Ml 3:6), portanto, a Palavra de Deus é verdadeira, visto que Deus

age de acordo com a Sua natureza.

B. O TESTEMUNHO DE CRISTO Jesus, em Mt 5:17 afirma que Ele veio para cumprir a Lei e os Profetas. A Lei e os Profetas que Ele estava

se referindo eram as Escrituras. Mais adiante Ele diz que tudo que está escrito nas Escrituras será cumprido, portanto, fica claro nesse texto que Jesus respeitava e enxergava a infabilidade das Escrituras.

Outro testemunho que Jesus dá sobre a inerrância das Escrituras está em Jo 10:35, quando Ele afirma que as Escrituras não pode falhar.

É importante que fique muito claro que se Deus é infalível, logo a Sua Palavra também é.

VI – O CÂNON DAS ESCRITURAS

1 - O que significa cânon?

O termo “cânon” vem da palavra grega “kanõn”, que significa “régua”, “vara de medir” e “regra”.

Com relação à Bíblia, “cânon” faz referência aos escritos que tiveram todos os requisitos necessários para serem considerados Escrituras Sagradas.

2 - A formação do cânon

Segundo a tradição, o responsável por reunir e reconhecer os escritos do AT foi Esdras.

Outro fato que colaborou com o cânon do AT foi o “Concílio de Jâmnia”, que ocorreu entre os anos 90 e 100 d.C. Este concílio foi realizado por rabinos judeus com o propósito de reconhecer os escritos do AT que eram inspirados por Deus.

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O cânon dos 27 livros do NT como hoje nós conhecemos foi oficialmente reconhecido no “Terceiro Concílio de Cartago”, em 397 d.C., e pela igreja oriental até 500 d.C.

3 - Considerações fundamentais sobre a canonização das Escrituras

Depois de sabermos como foram reconhecidas a autenticidade e a autoridade das Escrituras, é importante dizer que a canonização das Escrituras foi feita mediante a influência do Espírito Santo no seio da igreja, de modo que ela apenas reconheceu, através de um consenso, os livros que foram inspirados por Deus.

4 - Quais foram os princípios usados?

A. APOSTOLICIDADE – Para canonizar um livro era importante saber se o livro foi escrito, reconhecido ou influenciado por algum apóstolo;

B. UNIVERSALIDADE – Para canonizar um livro era necessário saber se o livro foi amplamente aceito e usado pela igreja;

C. CONTEÚDO – Para canonizar um livro era indispensável saber se o livro tinha um conteúdo suficientemente espiritual;

D. INSPIRAÇÃO – Para canonizar um livro era imprescindível saber se o livro era considerado realmente inspirado por Deus.

E. AUTORIDADE – Para canonizar um livro era importante saber se o livro foi escrito por alguém que era

revestido de autoridade, como por exemplo, se o livro foi escrito por um legislador, por um profeta ou por um líder de Israel.

F. IMORTALIDADE – Para canonizar um livro era indispensável saber se o livro sobreviveu ao tempo.

VII – O ESPÍRITO SANTO E AS ESCRITURAS

1 - A inspiração

É notório que a Bíblia é resultado do mover do Espírito Santo na vida dos escritores bíblicos. Por exemplo, em II Sm 23:2; Mc 12:26 e em At 1:16, é revelado que Davi falou movido pelo Espírito Santo. Um outro exemplo bíblico que não deixa dúvidas do mover do Espírito Santo é II Pe 1:19-21.

2 - A regeneração

Esse assunto diz respeito à atuação do Espírito Santo na vida dos incrédulos. Segundo as Escrituras, o Espírito Santo tem três funções importantes que beneficiam os incrédulos: 1º - O

Espírito Santo tem a função de completar a obra de Cristo, possibilitando o novo nascimento espiritual do incrédulo (Jo 3:3); 2º - O Espírito Santo tem a função de convencer o incrédulo do pecado (Jo 16:7-11); 3º - O Espírito Santo tem a função de capacitar o incrédulo a entender as coisas espirituais (I Co 2:14).

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3 - A iluminação

A iluminação é um assunto que encontramos na Bíblia que é mais relacionado a vida do crente. É um assunto que fala sobre o mover do Espírito santo na vida dos cristãos.

Neste caso, a atuação do Espírito Santo tem três finalidades: 1º - Mostrar a verdade aos crentes (Jo 16:13; I Co 2:10-12); 2º - Ensinar aquilo que está escrito nas Escrituras (I Jo 2:20, 27); 3º - Produzir convicção sobre a verdade no coração do crente (I Ts 1:5; I Co 2:9-14).

É importante entendermos que uma das funções principais do Espírito Santo na vida do crente é fazê-lo entender as verdades que estão escritas na Palavra de Deus.

Outro ponto importante que precisamos entender é que iluminação não é revelação no que tange às Escrituras. Revelação está ligada ao conteúdo ou o material das Escrituras, enquanto que iluminação está relacionada à compreensão do conteúdo das Escrituras.

VIII – A INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS

Como interpretar corretamente?

É necessário dizer que a nossa intenção nesse estudo é apenas apresentar os princípios básicos para interpretar as Escrituras e não fazer um estudo completo da hermenêutica (a ciência e arte da interpretação bíblica). Todavia, se o aluno desejar entender melhor esse assunto, sugerimos que leia o livro “Hermenêutica Avançada”, escrito por Henry A. Virkler – Ed. Vida.

Antes de qualquer coisa, precisamos compreender que a regra fundamental da interpretação bíblica é descobrir o que o texto significava para o autor bíblico e para os primeiros leitores, ou seja, precisamos saber o que o autor quis dizer quando registrou o texto bíblico.

Para compreendermos melhor esta regra da interpretação bíblica, veja uma parte do resumo das regras para interpretar as Escrituras, estabelecidas por Agostinho: “Compete ao expositor entender o que o autor pretendia dizer, e não introduzir no texto o significado que ele, expositor, quer lhe dar” (Hermenêutica Avançada – Henry A. Virkler).

Observe esse comentário feito por Hirsch: “Banir o primitivo autor como o determinador do significado era rejeitar o único princípio normativo obrigatório que poderia emprestar validade a uma interpretação... Porque se o significado de um texto não é o do autor, então não há interpretação que possa corresponder ao significado do texto, uma vez que o texto não pode ter significado determinado ou determinável” (Hermenêutica Avançada – Henry A. Virkler).

Portanto, para interpretar um texto corretamente, a nossa primeira tarefa é saber o que o texto significava para o próprio autor, ao invés de saber o que o texto significa para nós. Se não respeitarmos esse princípio normativo da interpretação, não existirá nenhuma diferença entre a interpretação ortodoxa da interpretação herética. Além disso, a Palavra de Deus poderá ter vários significados para os intérpretes, e isso poderá gerar confusões e heresias como infelizmente tem acontecido.

Uma vez respeitando essa regra fundamental da interpretação bíblica, vamos perceber que o texto só pode ter um significado e não vários significados diferentes.

É claro que um texto bíblico pode ter várias aplicações, entretanto ele só pode ter um significado, o significado que tinha para o autor, portanto, não podemos confundir interpretação com aplicação. Interpretação é única enquanto que aplicação é múltipla.

Vamos agora aprender quais são os princípios básicos para interpretar corretamente as Escrituras.

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A. ESTUDE O CONTEXTO HISTÓRIO-GRAMATICAL Quando queremos interpretar um texto bíblico, devemos observar qual era a situação histórica que fazia

parte da vida do autor e analisar as regras de gramática que são pertinentes ao texto. Neste caso, temos que pesquisar a fundo o ambiente histórico do texto a fim de compreendermos melhor

o motivo pelo qual o autor registrou as verdades divinas. Além disso, precisamos atentar para as palavras, sintaxe, tempos verbais e figuras de linguagem que encontrarmos no texto.

B. ESTUDE SEMPRE O CONTEXTO PARA ENTENDER O TEXTO Para interpretarmos um texto bíblico precisamos entender o raciocínio do autor, e para isso devemos

analisar os textos que cercam o versículo que nos propusemos a estudar, ou seja, temos que ler os textos anteriores e posteriores que estão ligados ao texto que queremos interpretar.

C. INTERPRETE O TEXTO NORMALMENTE Isto significa que temos que entender verbo como verbo, substantivo como substantivo, símbolo como

símbolo, parábola como parábola. Em outras palavras, devemos permitir que o texto diga o que está escrito É importante ressaltar nesse momento que há ocasiões em que temos que discernir quando uma palavra

é literal, figurativa ou simbólica em um texto. Por exemplo, quando Jesus disse que Ele é a Porta (Jo 10:9), Ele não quis dizer que era literalmente uma porta, mas que era o único e verdadeiro acesso à vida eterna. Deste modo, Ele usou uma linguagem simbólica e conseqüentemente, a palavra porta deve ser entendida no sentido simbólico e não no sentido literal.

Portanto, devemos interpretar as palavras de acordo com a intenção do autor. Não podemos de modo algum interpretar uma palavra simbolicamente quando o autor tinha a intenção que fosse entendida literalmente, ou vice-versa. Neste caso, precisamos descobrir qual era a intenção do autor para obtermos o significado correto. Para isso, precisamos recorrer ao contexto e a sintaxe.

D. ENTENDA QUE A BÍBLIA INTERPRETA A SI MESMA A Bíblia é coerente no seu conteúdo. A Bíblia é auto-explicativa, portanto, se quisermos entender algum

assunto específico devemos pesquisar não apenas em uma parte, ou em um versículo, mas em toda a Bíblia o que ela explica sobre o assunto.

Contudo, o dia-a-dia infelizmente nos mostra que muitos cristãos tiram conclusões erradas sobre um assunto porque se prendem a um único texto da Bíblia. Outros ficam confusos com um determinado assunto porque não investigam em todo o contexto bíblico o que é dito sobre o assunto.

Calvino foi muito feliz ao afirmar que “a Escritura interpreta a Escritura”, portanto, temos que ler e estudar todos os textos bíblicos que abordam o mesmo assunto para que dessa forma possamos tirar conclusões biblicamente coerentes. BIBLIOGRAFIA - Conhecendo as Doutrinas da Bíblia – Myer Pearlman - Teologia Sistemática – Stanley M. Horton - Bíblia Anotada – Charles C. Ryrie - Hermenêutica Avançada – Henry A. Virkler

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TEOLOGIA

A DOUTRINA DE DEUS

INTRODUÇÃO

Deus existe? Se existe, como Ele é? É possível provar a existência de Deus? Como posso conhecer Deus? O que é Deus?

Com certeza algum dia em nossas vidas fizemos essas perguntas, e talvez sejam perguntas que para muitas pessoas ainda não foram respondidas.

A doutrina de Deus ou a teologia tem como objetivo específico responder a estas e outras perguntas que pairam em nossas mentes no que tange a pessoa de Deus.

Através da teologia, ou seja, através de um estudo específico sobre a pessoa de Deus pautado, é claro, nas Escrituras Sagradas, conseguiremos conhecer melhor o Deus Criador, e, por conseguinte, teremos uma visão clara e correta sobre a Sua pessoa.

Contudo, é importante dizer que não há como nós conhecermos a Deus totalmente, visto que Ele (Deus) não se permitiu ser conhecido totalmente pelo homem. Isto porque Deus, por Sua soberana vontade, resolveu revelar ao homem aquilo que fosse necessário e suficiente para que este pudesse conhecê-Lo. E é através da auto-revelação de Deus que está registrada nas Escrituras que conseguiremos conhecê-Lo melhor.

Portanto, se você é uma das pessoas que tem um desejo sincero de conhecer a Deus, esteja com o seu coração aberto e tenha muita disposição para aprender, porque este estudo tem como objetivo ajudar você nesse sentido.

I – A EXISTÊNCIA DE DEUS

1 - A existência de Deus é subentendida

As Escrituras em parte alguma tentam provar a existência de Deus, entretanto, as Escrituras pressupõe a Sua existência. Perceba, por exemplo, como em Gn 1:1 a Bíblia revela que Deus é o criador do universo, e nos versículos posteriores nos mostram como Ele criou o universo. Logo, entendemos que a existência de Deus é declarada pelas Escrituras como um fato (Gn 1:1). E mais, podemos entender que a existência divina é subentendida nas Escrituras quando, em certos momentos, Deus falou com o homem (Gn 2:16; 3:8-9), quando em certas ocasiões o homem falou com Deus (Gn 3:10-13), quando homens obedeceram à Sua voz, mesmo sem vê-Lo (Gn 6:22), quando Ele agiu na natureza provocando o dilúvio (Gn 7:4), quando Ele chamou homens para realizarem os Seus propósitos (Gn 12:1-4) e quando os homens afirmaram que O conheceram (Jó 42:1-5). Enfim, em todas as partes das Escrituras a existência de Deus é subentendida, e um de muitos textos bíblicos que apóia esse pensamento perfeitamente é At 17:24-18.

Embora a Bíblia não procure de modo algum provar a existência de Deus, ela, contudo, convida o homem a crer na Sua existência, para que o mesmo possa ter um relacionamento íntimo com Ele (Hb 11:6).

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Portanto, para termos um relacionamento com Deus, não precisamos de provas racionais que comprovem a Sua existência, mas sim, de fé.

2 - A existência de Deus pode ser provada?

Como pode a existência de Deus ser provada? Existem pelo menos cinco argumentos que provam a existência de Deus.

A. ARGUMENTO COSMOLÓGICO A palavra “cosmo” é tradução do grego “kosmos”, que significa “mundo” ou “universo”. Este argumento

procura mostrar que o universo é um efeito de uma causa, isso porque naturalmente entendemos que “todo efeito tem uma causa”.

Quando contemplamos a natureza ficamos tão maravilhados que algumas vezes nos perguntamos: como surgiu o mundo? Então, esse argumento responde a esta pergunta, apresentando a idéia de que Deus é o criador do universo, ou seja, Deus é a causa primária e única do universo (Gn 1:1; Sl 19:1).

B. ARGUMENTO TELEOLÓGICO Teleológico vem do grego “Teleos” que significa “desígnio” ou “propósito”. Teleologia é o estudo da

finalidade. O universo com certeza revela a existência de um Arquiteto capaz de criar todas as coisas com um ou

vários propósitos. E é exatamente esta idéia que é apresentada pelo argumento teleológico. Se observarmos um pouco o mundo em que habitamos vamos perceber que tudo que existe foi criado

com um propósito pelo Criador. A Bíblia diz que a existência de Deus é notória no universo (Rm 1:18-20), portanto, é impossível conceber

a idéia de que tudo que hoje existe surgiu sem a participação de um Arquiteto, ou seja, sem a intervenção de Deus. Na verdade, é mais fácil acreditar que o mundo existe porque existe um criador do que acreditar que o mundo aconteceu por acaso.

Embora não tenhamos visto a criação, é possível acreditar que tudo que existe veio do Deus Criador (At 17:224-28). C. ARGUMENTO ANTROPOLÓGICO

O termo antropológico vem do vocábulo grego “Anthropos”, que significa “homem”. Este argumento diz que pelo fato do homem possuir natureza moral, consciência, instintos religiosos e

natureza emocional, tudo isso indica a existência de Deus. É interessante observar que tanto a Bíblia como os fatos tem comprovado que o incrédulo, quando se vê

sem esperança, ele recorre a Deus ou aos “deuses”. Isto mostra que o ateu, embora não acredite em Deus, nos momentos mais difíceis de sua vida ele sente uma necessidade de recorrer a Deus, portanto, a natureza do homem é uma evidência clara da existência de Deus

D. ARGUMENTO HISTÓRICO Sem dúvida nenhuma podemos perceber, pela história da humanidade, uma prova notória da existência

de Deus. O surgimento e o declínio de nações poderosas como Egito, Babilônia, Roma e etc., mostra como Deus é soberano, quando Ele ergue uma nação por causa da sua obediência às Suas leis e quando leva ao declínio uma nação devido a sua desobediência. A Bíblia revela estes atos soberanos de Deus na história da humanidade (S. 75:7; Dn 2:21; 5:21; Rm 13:1).

Outro motivo pelo qual a história da humanidade é uma prova da existência de Deus é o cumprimento das profecias bíblicas. Exemplo disso é a própria vida de Jesus, que veio ao mundo para revelar, de modo especial, o Deus invisível (Cl 1:13-16).

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E. ARGUMENTO DA RELIGIÃO

“O homem é incuravelmente religioso”, escreveu Myer Pearlman (Conhecendo as Doutrinas Bíblicas). O que isso significa? Significa que o homem, uma vez criado à imagem e semelhança de Deus, possui uma natureza religiosa, e por esse motivo procura um “objeto de adoração”. F. ARGUMENTO TEOLÓGICO

Os autores bíblicos registraram os atos de Deus, os mandamentos de Deus, defenderam a existência de Deus e foram inspirados por Ele, logo, podemos concluir que os autores bíblicos e as Escrituras Sagradas são evidências seguras de Sua existência (II Tm 2:15).

II – A NATUREZA DE DEUS

1 - Os nomes de Deus

Se alguém deseja sinceramente conhecer o Deus Criador, precisa atentar para os nomes de Deus registrados nas Escrituras. Mas por quê? O que tem a ver o nome de Deus com o que Ele é? Tem tudo a ver. Através dos Seus nomes, Deus procurou revelar ao homem o Seu caráter. Ele não queria apenas que os Seus nomes fossem referências à Sua pessoa, mas acima de tudo, uma revelação sobre a Sua natureza (Ex 6:3; 33:19; 34:5-6).

Para que haja uma compreensão melhor sobre esse assunto, é importante saber que no AT o “nome” não era apenas um título. Na verdade, o nome expressava a verdadeira personalidade da pessoa, ou seja, o caráter da pessoa. Alguns nomes, por exemplo, eram resultados de acontecimentos que ocorriam no momento do nascimento do bebê (Gn 5:29); outros eram por conseqüência do caráter do indivíduo (Gn 27:36) e outros eram em decorrência da expectativa que os pais tinham com relação ao futuro dos filhos.

Quando Deus se autodenominou a alguém, Ele estava naquele instante se auto-revelando de modo compreensivo a mente humana. É por essa razão que Deus tem um zelo tremendo pelo Seu nome. E este zelo é tão grande que a Bíblia apresenta algumas instruções que nos ensinam a usarmos o nome do nosso Deus corretamente. Por exemplo:

O Seu nome deve ser invocado como ato de adoração (Gn 12:8); O Seu nome deve ser temido (Dt 28:58); O Seu nome deve ser glorificado (Sl 86:9); O Seu nome deve ser louvado (II Sm 22:50); O Seu nome não deve ser usado em vão (Ex 20:7) e nem ser profanado, ou blasfemado (Lv 18:21; 24:16); O Seu nome deve ser santificado (Mt 6:9).

Uma vez que entendemos como devemos usar os nomes de Deus corretamente, vamos então conhecê-

los neste momento para termos uma visão melhor sobre Ele, lembrando sempre que cada nome de Deus revela algum aspecto do Seu caráter, da Sua natureza, da Sua vontade e da Sua autoridade.

2 - Deus é chamado de “El”

“El” significa “Deus” ou “deus”. Neste caso, o termo “El” era usado pelos povos de idiomas semíticos, de modo geral, para se referir aos deuses de várias religiões e também para se referir ao “Deus dos hebreus”, isto é, “El” era usado para denominar um deus falso e o Deus verdadeiro. E para que houvesse uma distinção entre o

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deus falso e o Deus verdadeiro, foram freqüentemente inseridos adjetivos ou predicados definidores para fazer referência ao Deus vivo. Por exemplo, em Dt 5:9 está escrito “porque eu, o Senhor “Yahweh”, teu Deus (Elohim) sou Deus (El) zeloso”. Um outro exemplo nós podemos encontrar em Gn 33:20, onde um altar é erguido para Deus levando o nome de “El Elohe Ysra’el”, que significa Deus, o Deus de Israel.

Veja outros exemplos de como o vocábulo “El” era acompanhado de certos adjetivos para se referir ao Deus verdadeiro, além de mostrar o caráter e a natureza de Deus:

A. EL ELYON - “El Elyon” significa “Deus Altíssimo”. Este título foi usado por Melquisedeque ao adorar o Deus que está acima de todos os deuses, o Deus que está acima de toda e qualquer criatura, porque Ele é o Deus exaltado e o dono de tudo que existe (Gn 14:18-20; Nm 24:16; Dt 32:8).

B. EL SHADDAI - “El Shaddai” significa “Deus Todo-Poderoso”. Este nome revela a onipotência de Deus, ou seja, Deus tem poder para realizar qualquer coisa que queira realizar para cumprir com os Seus propósitos (Gn 17:1; 25:11; Ex 6:3).

C. EL OLAM - “El Olam” significa “Deus Eterno”. Este nome que Abraão usou para se referir a Deus revela que Deus é um ser eterno e indestrutível em comparação com os falsos deuses (Gn 21: 33).

Embora o termo “El” se refira tanto ao Deus verdadeiro como aos deuses falsos, não obstante, é possível

entender que quando o termo “El” é usado para se referir ao Deus verdadeiro. A palavra “Deus” aparece na tradução da nossa Bíblia em maiúsculas, enquanto que para os deuses falsos a expressão “deus” aparece em minúsculas (Dt 4:28).

3 - Deus é chamado de “Elohim”

O termo “Elohim” significa “Deus”. Este termo aparece de forma pluralizada quase 3.000 vezes no AT, sendo que pelo menos 2.300 dessas referências dizem respeito ao Deus de Israel (Gn 1:1; Sl 68:1). É importante dizer que esse termo era usado para se referir também aos ídolos (Ex 34:17), aos juízes (Ex 22:8) aos anjos (Sl 8:5) ou aos deuses de outras nações (Es 36:28; Jr 5:7).

Muitos teólogos entendem que o fato deste termo está na forma plural, isso significa a plenitude do poder de Deus e representa a Trindade. Enfim, este nome transmite a idéia de que Deus é o criador do universo (Gn 1:1).

4 - Deus é chamado de “Eloah”

Este termo é uma forma singular de “Elohim” e tem o mesmo sentido de “El”. Todavia, esse termo apresenta outra característica peculiar de Deus. Nestes exemplos (Dt 32:15; Sl 18:31; Is 44:8) revelam que Deus é o protetor da daqueles que O temem e que nele confiam. Já em Sl 50:22 e em Jó 5:17, expõem que Deus é justo e castiga aqueles que vivem na prática do pecado, portanto, este nome revela as duas facetas do caráter de Deus. A primeira de que Deus é bom para com aqueles que confiam nele, e a segunda, que Ele castiga aqueles que se opõe à Sua vontade.

5 - Deus é chamado de “Yahweh”

O nome “Yahweh” aparece 6.828 vezes no AT e é o nome mais usado para fazer referência a Deus na Bíblia.

Este termo é traduzido em nossa versão portuguesa como “Senhor”, entretanto, é importante informar que o alfabeto hebraico consistia de 22 consoantes e nenhuma vogal. Por esse motivo, o termo original era “YHWH”, que era pronunciado provavelmente como “Yahweh”, que significa “o Auto-Existente”, ou seja, “Eu Sou

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o que Sou” ou “Serei o que Serei” (Ex 3:14). Um detalhe, o termo “YHWH” é conhecido pelos teólogos como “o tetragrama”.

Ao longo dos séculos, contudo, os escribas e rabinos, por considerarem o termo “YHWH” um nome sagrado para ser pronunciado o substituíram por “Adonai”, que significa “meu Senhor”, “meu Mestre”.

Depois desta modificação, mais uma vez os rabinos resolveram colocar vogais no texto hebraico, de modo que “YHWH” sofreu alterações, passando para “YeHoWaH”. Esse termo foi transliterado por “Jehovah”, que foi aportuguesado como “Jeová” ou “Javé” em algumas traduções da Bíblia.

É importante entender que “Yahweh” é considerado com exatidão como o único nome de Deus. “Yahweh” é o nome próprio ou pessoal de Deus, logo, esse nome revela que Deus é uma pessoa, e por ser uma pessoa, Ele se relaciona com o ser humano.

Em algumas passagens bíblicas o nome sagrado de Deus (“Yahweh”) é usado com outros termos para transmitir vários aspectos do Seu caráter, da Sua natureza, das Suas promessas e das Suas atividades.

Exemplos: A. YAHWEH YREH (JEOVÁ-JIREH) – significa “o Senhor proverá” (Gn 22:7-14); B. YAHWEH NISSI (JEOVÁ-NISSI) – significa “o Senhor é a minha bandeira” (Ex 17:15); C. YAHWEH SHALOM (JEOVÁ-SHALOM) – significa “o Senhor é paz” (Jz 6:23); D. YAHWEH TSIDKENU (JEOVÁ-TSIDKENU) – significa “O Senhor nossa justiça” (Jr 23:6; 33:16); E. YAHWEH SHAMMAH (JEOVÁ-SHAMMAH) – significa “o Senhor está ali” (Ez 48:35); F. YAHWEH RO’I (JEOVÁ-RAAH) – significa “o Senhor é o meu pastor” (Sl 23:1); G. YAHWEH ROPH’EKHA (JEOVÁ-RAFA) – significa “o Senhor que te sara” (Ex 15:26);

6 - Deus é chamado de “o Senhor dos Exércitos”

Este título dado a Deus é a combinação do nome pessoal de Deus, “Yahweh” com o substantivo “tseva’oth”, que significa “exércitos” ou “hostes”, portanto, “Yahweh tseva’oth” significa “Senhor dos exércitos” (Is 6:3; Jr 19:3; Zc 3:9-10).

Este título procura mostrar que Deus é o Rei e o comandante do Seu povo e dos seres celestiais (Sl 24:9-10), dando a entender que Deus é Soberano e protetor do Seu povo. A combinação destes dois vocábulos ocorre em 248 versículos da Bíblia.

7 - Deus é chamado de “Adonai”

Como já vimos antes, “Adonai” significa “meu Senhor” e “meu Mestre”. Esse nome procura transmitir a idéia de que Deus é Soberano e governa sobre todas as coisas (Ex 23:17; Is 10:16; 33). Isso significa que o ser humano deve submeter-se à vontade de Deus.

8 - Deus é chamado de “Pai”

Esse nome é empregado tanto no AT como no NT, revelando que Deus é a fonte de todas as coisas e Criador do homem. Esse termo transmite as seguintes idéias sobre Deus:

Deus é o Criador (Dt 32:6) Deus é o Redentor do Seu povo (Is 63:16) Deus é o Oleiro de nossas vidas (Is 64:8) Deus é nosso Amigo (Jr 3:4) Deus é o Repassador da herança e o Líder do Seu povo (Jr 3:19) Deus deve ser honrado (Ml 1:6)

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Deus é disciplinador (Ml 2:10-12) Deus é Fiel (I Cr 22:10)

9 - Deus é chamado de “Theos”, “Kurios” e “Pater” no NT

“Theos” é um termo grego que significa “Deus” (I Co 8:4); “Pater” do grego que significa “Pai”. A palavra “Aba”, que é usada em Mc 14:36; Gl 4:6) vem do aramaico “abba", que significa “Pai”. Por fim, “Kurios” do grego que significa “Senhor” (At 19:20).

III – A ESSÊNCIA DE DEUS

Qual a natureza de Deus? Do que é constituída ou composta a natureza de Deus? Qual é o aspecto básico da natureza de Deus? A essência de Deus é o assunto que diz respeito aquilo que Deus é em Si próprio, ou seja, ela aborda os

“elementos” que compõem a natureza divina. Vamos compreender um pouco sobre a essência de Deus.

1 - Deus é Espírito

A natureza de Deus é espiritual (Jo 4:24). Podemos tirar essa conclusão porque a Bíblia diz que: Ele é imaterial (Lc 24:39) Ele é invisível (I Tm 1:17; 6:16) Ele é vivo (Js 3:10; I Ts 1:9; Jo 5:26) Ele é uma pessoa que tem intelecto (Ex 3:14), vontade (Jo 6:38), sensibilidade (Gn 6:6). Além disso, Ele

fala (Gn 1:3), ouve (Sl 94:9), vê (Gn 11:5), arrepende-se (Gn 6:6) e alegra-se (Nm 8:10).

2 - Deus é Eterno

A natureza de Deus é eterna com relação ao tempo (I Tm 1:17). Sobre a eternidade de Deus a Bíblia diz que:

Ele não tem começo nem fim (Gn 21:33) Ele não está preso ao tempo (Sl 90:2) Ele é a causa do tempo (Hb 11:3)

3 - Deus é Infinito

A natureza de Deus é imensa com relação ao espaço (I Rs 8:27). Podemos compreender que Deus é infinito porque as Escrituras afirmam que:

Ele está em todos os lugares (Jr 23:24) Ele está próximo de todos (At 17:27-28)

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4 - Deus é Auto-existente

A natureza de Deus existe por si mesma (Ex 3:14). Deus é um ser auto-existente por que:

Ele tem a vida em Si mesmo (Jo 5:26) Ele não depende de ninguém para viver ou realizar os Seus planos (Is 44:24; At 17:24-27)

IV – OS ATRIBUTOS NATURAIS DE DEUS

Os atributos naturais de Deus são as qualidades que estão ligadas a natureza divina, sem, contudo, envolver os seus atributos morais.

1 - Deus é Onipotente

Isto quer dizer que Deus está presente em todos os lugares no que tange às suas criaturas. Com relação à onipresença de Deus, a Bíblia ensina que:

Ele está com os Seus servos (Gn 28:15; Mt 28:19-20) Ele é Deus nos céus, na terra e no abismo (Dt 4:39) Ele está com aqueles que O invocam (Mt 18:29-20) Ele está com a Sua igreja (Ef 2:12-22) Ele está em todos os lugares, entretanto Ele só habita em nós (I Co 3:16-17)

2 - Deus é Onisciente

Ou seja, Ele conhece todas as coisas; Ele sabe de tudo o que acontece. A Bíblia revela que:

Ele tem ciência de todas as coisas que acontecem (Hb 4:13) Ele conhece os nossos pensamentos (I Cr 28:9; Sl 139:1-4) Ele sabe o futuro (Is 46:10) Ele sabe do que nós precisamos (Mt 6:8, 32) Ele conhece a cada pessoa individualmente (Pv 15:3) Ele já nos conhecia mesmo antes de nascermos (Jr 1:4-5)

3 - Deus é Sábio

Isto significa dizer que Deus tem uma inteligência maravilhosa e inigualável, que lhe permite realizar os Seus excelentes propósitos através dos melhores meios.

Sobre esse atributo, a Palavra de Deus nos mostra que:

Ele fez tudo com sabedoria (Sl 104:24; Jr 10:12) Ele é a fonte da sabedoria (Dn 2:20-21) Ele dá sabedoria quando pedimos com fé (Tg 1:5) Ele possui uma sabedoria inexplicável (Rm 11:33) Ele revelou perfeitamente a Sua sabedoria em Cristo (I Co 1:24-25, 30)

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4 - Deus é Soberano

Por ser Deus e Criador de todas as coisas, Deus tem o direito de governar as Suas criaturas como desejar; nada está fora do Seu controle.

As Escrituras ensinam que:

Ele realiza os Seus desejos e ninguém pode detê-lo (Dn 4:34-25) Ele usa as nossas vidas como quiser (Rm 9:21-26) Ele é dono de todas as coisas (Ex 9:29) Ele é o Senhor de todos (At 10:36; Rm 10:12) Ele faz o que quer, como quiser e quando quiser (Is 46:9-10; Mt 20:15)

5 - Deus é Imutável

Deus não sofre mudanças na Sua natureza, nos Seus atributos, na Sua consciência e na Sua vontade. Todavia, as idéias de Deus podem sofrer mudanças devido à Sua justiça e por casa do livre arbítrio que

deu ao homem, de obedecê-Lo ou não. Por exemplo, Deus mudou de idéia porque se arrependeu de ter feito o homem, por causa da currupção humana (Gn 6:6). Ele se arrependeu de aplicar um juízo sobre os judeus por causa da intercessão de Moisés (Ex 32:14). Ele se arrependeu de ter escolhido Saul como rei por causa da desobediência do mesmo à Sua Palavra (I Sm 15:10-11).

E por fim, A Bíblia deixa claro que Deus aplicaria a Sua justiça de acordo com a reação das pessoas, ou seja, se as pessoas se convertessem a Ele, Ele por sua vez perdoaria os pecados cometidos, caso contrário, as pessoas sofreriam um juízo de Sua parte (Jr 18:8; 2:13).

O que quer ficar claro é que Deus não se arrepende no que diz respeito às Suas promessas (Nm 23:19; Sl 110:4). Deus não é como o ser humano, que se arrepende de ter feito alguma promessa e depois não cumpre.

Fora isso, a Bíblia revela claramente que:

A natureza de Deus não muda (Sl 102:26027; Ml 3:6; Tg 1:7) O poder de Deus não muda (Ap 1:8)

V – OS ATRIBUTOS MORAIS DE DEUS

Os atributos naturais de Deus falam sobre o Seu caráter e personalidade. Deus é uma pessoa, e como tal, tem características, inclusive morais. Nosso Deus tem personalidade!

Os atributos morais de Deus não são instáveis, não se alteram, não sofrem corrosão. Deus, desde que Ele é, tem as mesmas características e as terá sempre.

1 - Deus é Santo

O Deus a quem servimos preserva em Si mesmo e promove os Seus filhos à Santidade. Esta é uma característica que, por mais que outros deuses pressupunham tê-la, jamais a alcançarão.

A santidade de Deus significa a Sua absoluta pureza moral. Não há a menor possibilidade de contaminação do Seu caráter (Lv 11:44)

A santidade de Deus significa que Ele é separado.

o Separado do homem no espaço. Deus está no céu e o homem na terra (Ap 4:8) o Separado quanto ao caráter. Ele é perfeito e o homem imperfeito.

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o Separado quanto à natureza. Ele é divino e o homem é humano. A santidade de Deus não tolera o pecado. Ele não pode coabitar onde está o pecado (Tg 1:13) Ele mesmo se santifica (Ez 26:23; 38:23) Por ser Santo, Ele santifica os Seus filhos (Lv 20:26; I Pe 15:16)

2 - Deus é Justo

A Justiça de Deus não é comparável à justiça dos homens. Ela é muito mais apurada. Enquanto a justiça dos homens é recheada de artifícios, a justiça de Deus é plena; Ele independe de argumentos, porque Deus conhece todos os fatos.

A Justiça de Deus é a capacidade de Deus tratar retamente as Suas criaturas (Gn 18:25) A Justiça de Deus é aplicação da Santidade de Deus Deus é amor, mas também é justiça (Dt 32:35-36) Deus não busca pessoas que justifiquem atos, apresentando evidências. Ele conhece todas as evidências

(Is 11:3) Quando Deus executa Sua justiça, o resultado é retidão (Is 54:13-14)

3 - Deus é Fiel

A fidelidade de Deus é inquestionável para que O conhece. O cotidiano dos Seus servos mostra essa característica de Deus, na prática.

Ele é altamente confiável (Dt 32:4; Sl 9:10) Suas palavras não falham (Is 40:8) Ele é constante (Hb 13:8)

4 - Deus é Misericórdia

A misericórdia do Senhor é eterna (Sl 103:17) sobre os que O temem. Ela é efetivamente a causa de não sermos consumidos.

Misericórdia é a ação de Deus em prol da miséria humana (Sl 103:8) A misericórdia de Deus é fruto de longanimidade e paciência (Ex 20:6) O reconhecimento da misericórdia de Deus em ação produz, no homem, esperança e força (Sl 144:2) O envio de Jesus Cristo é um evidente sinal de misericórdia (Lc 1:78)

5 - Deus é Amor

O amor é um atributo de Deus que faz efetivamente diferença em nossas vidas. Ele é expresso no dia-a-dia, no relacionamento de Deus conosco. O amor é o grande motivador de Jesus nos fazer Seus amigos (Jo 15:12-15) e não simplesmente Seus servos.

O amor de Deus é um atributo que expressa que Deus quer ter um relacionamento pessoal com aqueles que Ele criou à Sua imagem (Jo 17:22-23)

O amor de Deus é demonstrado ao mundo e à Sua criação (Jo 3:16)

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6 - Deus é Bondade

A bondade de Deus não é e nunca será “sufocada” pelos males e dificuldades que acontecem durante a nossa vida. Deus não é culpado de nada disso, nem tão pouco nada escapa de Sua vista e de Seu controle.

A bondade de Deus é o atributo pelo qual Ele concede vida e outras bênçãos às Suas criaturas (Sl 25:8; At 14:17)

Se Deus é bom, por que há tanto sofrimento no mundo? o Deus não é responsável pelo mal que existe. o Deus é Todo-Poderoso, portanto, o mal existe por Sua permissão. o Deus é tão poderoso que pode fazer o mal cooperar para o bem. Veja os exemplos dos irmãos de

José, de Faraó, de Herodes. “Deus não permitiria, de forma alguma, a existência do mal se não fosse tão Onipotente e tão bom que até mesmo do mal Ele pudesse operar o bem”. O fogo do sofrimento muitas vezes depura os cristãos.

o Deus formou o universo em cima das leis naturais e estas implicam em acidentes. o Este mundo não é a plenitude de Deus. Os novos céus e a nova terra sim; estes serão isentos do

mal, do livre arbítrio e de leis naturais e serão plenos e exclusivos da glória de Deus (Lc 18:7-8).

VI – A TRINDADE DE DEUS

A doutrina da Trindade afirma que há um único Deus em essência, existente eternamente em três “pessoas” distintas, manifestadas no Pai, no Filho e no Espírito Santo.

O termo “pessoa”, no tocante à Trindade, não subentende a individualidade limitada humana, mas sim o relacionamento pessoal e a personalidade dentro da Divindade trina, e ao mesmo tempo única.

1 - Trindade, Triunidade e Triteísmo

Trindade e Triunidade dizem respeito, basicamente, ao mesmo assunto.

A. TRINDADE – significa um só Deus, em Sua tríplice manifestação; B. TRIUNIDADE – realça o modo tríplice da existência de Deus, mas a idéia, em essência, é idêntica a

trindade; C. TRITEÍSMO – já se torna uma visão errônea da trindade, já que significa a existência de três “deuses”

distintos entre si.

A trindade não expressa que há três deuses, independentes e de existência própria, como fala o triteísmo. Expressa sim, que os três cooperam unidos e num mesmo propósito, de maneira que no pleno sentido da palavra são um: o Pai cria, o Filho redime e o Espírito Santo santifica.

2 - A origem do termo

O termo “trindade” não é bíblico. Provavelmente foi Tertuliano (220 d.C.) quem primeiro utilizou a nomenclatura, porém, a doutrina da Trindade é firmemente bíblica, sendo uma doutrina revelada. Na Bíblia, há nitidamente a idéia da trindade, compreendida em vários versículos, tanto no AT quando no NT.

Por volta do ano 500 d.C. foi formulado o “Credo de Atanásio”, que expressa bem o sentimento que devemos nutrir pela Trindade:

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“Adoramos um Deus em trindade, e trindade em unidade. Não confundimos as pessoas, nem separamos a substância, pois a pessoa do Pai é uma, a do Filho outra, e a do Espírito Santo, outra. Mas no Pai, no Filho e no Espírito Santo há uma divindade, glória igual e majestade coeterna. Tal qual é o Pai, o mesmo são o Filho e o Espírito Santo. O Pai é incriado, o Filho é incriado, o Espírito Santo incriado. O Pai é imensurável, o Filho é imensurável, o Espírito Santo é imensurável. O Pai é

eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno. E não obstante, não há três eternos, mas sim um eterno. Da mesma forma, não há três seres incriados, nem três imensuráveis, mas um incriado e um

imensurável...”

3 - A Trindade no Antigo Testamento

A cultura da época acentuava o politeísmo (culto ou crença em vários deuses). Por isso, muitas vezes a Palavra de Deus acentuava a idéia correta de que havia um único Deus (Dt 6:4; Is 43:10; 44:6).

Mesmo assim, vemos vários sinais da doutrina da Trindade no AT:

O nome “Elohim” (Deus) está no plural (Gn 1:1); Há vários verbos e pronomes no plural, tais como: “façamos” e “nossa” (Gn 1:26), “nós” (Gn 3:22),

“desçamos e confundamos” (Gn 11:7), “por nós” (Is 6:8); O Anjo do Senhor (Gn 31:11-13; Ex 3:2-6/ Jz 13:21-22), na interpretação da maioria dos teólogos, refere-

se ao Senhor Jesus; O Messias (Jesus) é profetizado, mas com características divinais. Em Is 9:6 Ele é apresentado como

“Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade”; O Espírito de Deus é mencionado abundantemente no AT e em várias oportunidades distinto do Pai (Is

18:16; Sl 104:30).

4 - A Trindade no Novo Testamento

O NT nos indica e ensina três verdades sobre a Trindade:

Há divindade, tanto do Pai (Jo 6:27; II Co 1:2), como do Filho (Mt 28:18; Jo 1:1) e como do Espírito Santo (At 5:3-4, 9);

Os três tem personalidades distintas, são pessoas, mesmo sendo um: o O Pai e o Filho são distintos entre si (Jo 1:14); o O Pai e o Filho também são distintos do Espírito Santo (Jo 14:16-17);

Embora sejam divinos e com personalidades distintas, são, efetivamente, um (Ef 4:6; Tg 2:19).

5 - Ilustrações sobre a Trindade

Ilustrações desse mistério de Deus têm sido inventadas, mas nenhuma delas é suficiente para esclarecer a natureza da questão pois, normalmente, faltam nelas a idéia da personalidade ao mesmo tempo distinta e uma, exatamente porque não há qualquer paralelo em nossa visão humana.

Alguns paralelos com parâmetros da natureza parecem incompletos; há os que comparam a Trindade ao ovo (casca, clara e gema), mas falta a idéia de unidade, o que torna mais parecido com o “triteísmo”. Há os que tentam comparar à água em seus estados (sólido, líquido e gasoso), mas falta, à essa idéia, a noção de similaridade, afinal, existem simultaneamente o Pai, o Filho e o Espírito.

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Podemos aceitar e apresentar a Trindade como um dos mistérios divinos que efetivamente estão apenas parcialmente revelados, mas já o suficiente para formarem o pano de fundo que reflete a glória de Deus, e suscita nossa adoração à tão magnífica majestade.

VII – CRENÇAS ERRÔNEAS A RESPEITO DE DEUS

Existem várias crenças erradas, e extras bíblicas, a respeito de Deus. Destas, algumas se originaram de verdades exageradas ou deturpadas. Algumas são insuficientes, outras, pervertidas e distorcidas. Vamos ver o que estas doutrinas errôneas pensam.

1 - O Agnosticismo

Deriva de duas palavras gregas que significam “não saber”. Esta idéia nega a capacidade humana de conhecer a Deus, já que a “mente humana não pode alcançar o infinito”, segundo os agnósticos.

CONTESTAÇÃO – podemos até não compreender a Deus na Sua totalidade, mas certamente podemos aprender e ter uma concepção de Sua pessoa.

2 - O Politeísmo

Traduz-se por culto a vários deuses, característica das religiões antigas e pagãs, ainda em voga em muitas culturas. Há um deus para cada manifestação: deus do fogo, da água, da terra, da mata, da montanha, da guerra, etc.

CONTESTAÇÃO – a Bíblia nos ensina que há um só Deus, que embora trino, é um e o único Deus verdadeiro, criador de toda a natureza e nosso Salvador.

3 - O Panteísmo

Esta idéia é originada de duas palavras gregas que significam “tudo é deus”. É o sistema de pensamento que identifica Deus como o universo, árvores, animais, terra, água; todos são declarados parte de deus e, portanto, deus. É nitidamente alimentado pela “necessidade” que o homem desenvolveu de ter um “deus” visível e tocável.

CONTESTAÇÃO – como pode a criação ser o Criador? Como se confunde o que Deus cria com a essência do próprio Deus? Certamente há uma representação de Deus em toda a Sua criação, mas esta não tem poderes divinais, e sim, espelha a Divindade que a criou.

4 - O Materialismo

Este nega qualquer distinção entre a mente e a matéria. Afirma que todas as forças e manifestações são simplesmente propriedade da matéria: “O homem é apenas uma máquina” é uma de suas máximas. A doutrina herética afirma que o homem não tem responsabilidade pelos seus atos e que não existe o bem nem o mal.

CONTESTAÇÃO – nossa própria consciência afirma que somos algo mais do que matéria e que somos bem diferentes das árvores e pedras. Mesmo na hipótese de o homem ser apenas uma máquina, quem a criou?

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5 - O deísmo

Admite que há um Deus pessoal, que criou o mundo, mas insiste em que, depois da criação, Deus o entregou para ser governado pelas leis naturais, ou seja, deixou-nos à vontade, sem nenhum cuidado de Sua parte.

CONTESTAÇÃO – embora Deus nos tenha dado o livre-arbítrio, a Bíblia afirma expressamente que Deus tem o controle de todo o universo em Suas mãos. Lembre-se: Ele é onipotente, e nos enviou Seu filho, que nos enviou o Espírito. Deus, o tempo todo quis e quer ter um relacionamento pessoal conosco, Sua criação inteligente.

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JESUS CRISTO, O SENHOR

INTRODUÇÃO

Da mesma forma como “filho do homem” significa um ser nascido do homem, assim também “filho de Deus” significa um ser nascido de Deus. Por isso dizemos que esse título proclama a Deidade de Cristo. Jesus nunca é chamado “um filho” de Deus, como os homens e os anjos são chamados filhos de Deus. Ele é o Filho de Deus no sentido único.

Jesus é o tema principal de toda a Escritura Sagrada. Ele não veio implantar um sistema religioso, mas um princípio de vida, portanto, àqueles que se dizem cristãos, devem procurar viver a mesma vida que Cristo viveu.

Nessa lição abordaremos os atributos divinos e humanos de Jesus, mostrando que Ele foi tanto “homem-Deus” como também “Deus-homem”.

1 - Quem é Jesus Cristo?

Jesus Cristo é Deus encarnado e a segunda pessoa da Trindade. Foi também um homem perfeito (Jo 1:1; Cl 1:15; I Jo 5:20).

2 - Atributos Divinos

ETERNO – Lc 1:33; Jo 1:1; IMUTÁVEL – Hb 13:8; ONIPRESENTE – Mt 28:20 ONISCIENTE – Jo 21:17 ONIPOTENTE – Mt 28:18

3 - Obras Divinas

CRIAÇÃO – Jo 1:3 PRESERVAÇÃO – Hb 1:3 PERDÃO DE PECADOS – Mt 9:6 JULGAMENTO – Jo 2:26-27

Os quatro evangelhos registram:

17 curas de doenças físicas; 09 milagres sobre a natureza; 03 ressurreições de mortos; 06 libertações de endemoniados.

4 - Por que acreditamos ser Jesus Cristo, homem perfeito?

Porque a Bíblia o descreve como homem (I Tm 2:5); Porque a Bíblia declara que Ele tinha um corpo (Lc 24:39), uma alma (Mt 26:38) e um espírito (Mt 27:50).

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I - AS DUAS NATUREZAS DE JESUS CRISTO

Já comentamos anteriormente que Jesus foi tanto “homem-Deus” como também “Deus-homem”, isto é, possuía duas naturezas.

No plano de Deus era indispensável que Jesus viesse através de uma mulher. Se Ele apenas se apresentasse como Divino nós não teríamos condições de seguirmos o Seu sistema de vida.

Uma das partes importantes nesta lição é sobre a humilhação e exaltação de Cristo. São pontos que nós devemos também considerar em nossas próprias vidas, pois foi através da humilhação que Jesus alcançou a exaltação.

Existem correntes de pensadores que apóiam uma tese contrária às Escrituras; dizem que Cristo não teve nascimento virginal. Mas, além de termos afirmações categóricas sobre o nascimento virginal nas páginas da Bíblia, o que já seria o bastante; outros fatos atestam o nascimento sobrenatural do Filho de Deus.

Sabe-se que já existia no início do século II o “Credo dos Apóstolos”, que diz: “... nasceu do Espírito Santo e da virgem Maria...”. Também, sessenta anos após a morte de Cristo, seus seguidores falavam e escreviam acerca do seu nascimento virginal.

Um dos seguidores chamado Inácio de Antioquia, um discípulo dos apóstolos, disse: “oculto do príncipe desse mundo havia a virgindade de Maria e seu parto...”.

1 - Duas naturezas unidas em Jesus

A natureza divina e humana aparece em Jesus, unidas, entrelaçadas. Elas subsistem numa só pessoa: o Senhor Jesus Cristo.

2 - A necessidade de um Salvador “homem”

Era necessário que o Salvador da humanidade fosse um homem. Veja:

Para que pudesse tomar o nosso lugar sob a lei (Gl 4:4-5); Para que pudesse sofrer e morrer em nosso lugar (Hb 2:14).

3 - A necessidade de um Salvador “Filho de Deus”

Era necessário que o Salvador da humanidade também fosse o “Filho de Deus. Veja:

Para que ficasse evidenciado o amor de Deus pelo homem (Jo 3:16; 15:13); Porque Jesus foi comissionado por Deus Pai para esta missão (Jo 17:8, 18-25) Para que todos o vissem como a voz de Deus (Mt 17:5).

4 - O que significa Jesus, o Cristo

A palavra em hebraico significa “Messias”. “O Cristo” quer dizer “O Ungido”. No AT os profetas, sacerdotes e reis eram ungidos com óleo para ministrarem e governarem. Jesus, o Cristo, também foi ungido, não com óleo, mas com o Espírito Santo, sem medida (Is 61:1).

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5 - Jesus Cristo nos redimiu

Redimir significa “comprar de volta”. Quando alguém hoje em dia empenha algo num banco, para redimir o que empenhou, a pessoa compra

de volta o que anteriormente lhe pertencia. Jesus pagou o preço da nossa remissão (I Co 6:20).

Ele nos redimiu de todos os nossos pecados, da morte e do poder do diabo (Mt 1:21; Rm 2:14)

II – OS OFÍCIOS DE CRISTO

“Porquanto, há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem...” (I Tm 2:5)

Na época do AT havia três tipos de mediadores entre Deus e o povo: o profeta, o sacerdote e o rei. Como perfeito mediador, Jesus, o Messias, possuía em si mesmo esses três aspectos representados:

É o Cristo-profeta, que ilumina as nações com sua fala, seu ensinamento; É o Cristo-sacerdote, que se ofereceu como sacrifício por todos nós, homens; É o Cristo-Rei, que reinará sobre as nações.

Cristo é todo-suficiente para a relação do homem com Deus, por ter nele os três ofícios.

1 - Jesus Cristo, o profeta

Um profeta é aquele que representa ou é um agente de Deus na terra. É aquele que fala em nome de Deus, interpreta Seus atos e planos e orienta o povo em Seus caminhos (Is 42:1).

Cristo foi anunciado como profeta desde o tempo de Moisés (Dt 18:15); Os que creram em Jesus reconheceram ser ele o profeta anunciado (At 3:11, Dt 18: 22-23); Cristo revelou Deus e Sua vontade, não só com palavras, mas também em pessoa e obras (Hb 1:1-4); Cristo não foi profeta somente quando “humanizado”. Ele foi profeta antes, através de inspiração aos

Seus servos, e depois de ter sido homem (I Pe 1:11).

2 - Jesus Cristo, o sacerdote

No AT, enquanto o profeta era responsável por trazer a palavra de Deus até o povo, o sacerdote fazia exatamente o inverso: era o responsável por apresentar a Deus a oferta de libação pelos pecados do povo. Era o responsável por “aplacar a ira”, por interceder a Deus em favor do povo. Mas o serviço era feito com imperfeição, quer pela fraqueza do sacerdote, afinal, neles havia pecado, quer pelo tipo de sacrifício que era oferecido (Hb 8:3; 10:4).

Em Jesus há a plenitude do Sacerdócio. Aleluia! Ele realizou um sacerdócio perfeito (Hb 10:12-14). Seu sacrifício foi único e de valor eterno, portanto, suficiente para a redenção da humanidade sem que

haja necessidade de qualquer outro sacrifício por parte dos homens. O trabalho sacerdótico de intercessão Ele realizou de alguma forma quando esteve na terra (Jo 17), porém, foi depois de oferecer Seu sacrifício que Ele passou a exercer especificamente esse ministério de intercessão (Hb 7:25; 9:24). A base de Sua intercessão é o seu sacrifício.

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3 - Jesus Cristo, o Rei

Cristo é o Rei! Ele governa sobre vidas, sobre os céus e sobre a terra.

Os profetas do AT falaram de um rei que viria da casa de Davi para governar Israel e as nações, com justiça, paz e prosperidade (Is 11:1-9);

O anjo falou a Maria que Jesus seria esse Rei (Lc 1:32-33); Cristo mesmo afirmou que Ele era o Rei prometido (Jo 18:36-37); Depois de Sua ressurreição, Ele declarou o Seu poder sobre todas as coisas (Mt 28:18); Na Sua ascensão, Ele foi coroado e entronizado como Rei (Ef 1:20-22); Jesus Cristo é Rei e já está reinando (Hb 2:8), embora não de modo humanamente visível, mas um dia, Ele

reinará à vista de todo o mundo (Ap 11:15).

III – A OBRA DE CRISTO

“Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1:21)

Cristo certamente realizou muitas obras, mas a obra suprema que Ele consumou foi a de morrer pelos pecados do mundo.

Incluídas nessa obra expiatória, figuram a Sua morte, ressurreição e ascensão. Não somente Ele deveria morrer por nós, mas viver por nós; não somente ressuscitar por nós, mas também ascender para interceder por nós diante de Deus (Rm 8:34).

1 - Sua morte

É o evento mais importante e doutrina central do NT. É extremamente mais importante do que o natal, por mais que as pessoas não vejam assim.

Lutero afirmou com sabedoria que a doutrina cristã difere-se de todas as outras exatamente no fato da cruz. Todas as batalhas da reforma protestante se basearam em torno da correta interpretação da cruz. A morte de Cristo eliminou a barreira estabelecida pelo homem ao pecar. Deus enviou Seu filho para exatamente remover essa barreira, já que não poderia ser removida através de iniciativa humana. Na cruz, Ele levou o que devíamos ter levado; realizou por nós o que estávamos impossibilitados de fazer por nós mesmos.

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FOI UM ATO SUBSTITUTIVO – Cristo não morreu por Seus próprios pecados, mas sim pelos pecados da humanidade (II Co 5:14);

FOI UM ATO PROPICIATÓRIO – O sacrifício de Jesus é revelado como um meio de reconciliação entre Deus e os homens (Rm 5:10).

2 - Sua ressurreição

A ressurreição é o grande milagre do Cristianismo. Esse milagre ratifica todos os demais, anteriores e posteriores. Se Jesus não ressuscitasse, tudo seria desacreditado, porque Ele não seria o que afirmou ser; e porque Sua morte não seria expiatória, mas sim uma morte comum.

A ressurreição de Jesus foi algo singular, diferente de todas as outras ressurreições porque o corpo de Jesus, agora ressuscitado, não mais voltaria a morrer, ao invés de outras pessoas que foram ressuscitadas. O corpo de Jesus era glorificado. Cristo ressuscitou um pouco, e não apenas uma lembrança, ou um espírito.

A ressurreição de Cristo:

Testifica Sua divindade (Rm 1:4); Proclama Sua vitória sobre o pecado (Hb 9:28); Proclama Sua vitória sobre os poderes das trevas (Ef 1:20-21); Proclama Sua vitória sobre a morte (II Tm 1:10); Mostra-se como exemplo para a colheita futura, que é a ressurreição dos cristãos (II Co 5:17).

3 - Sua Ascensão

“Ditas estas coisas, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos... Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu

virá do modo como vistes subir...” (At 1:8 e 11)

A ascensão proclama o triunfo e a glorificação de Cristo. Ele foi elevado “à destra de Deus, ficando-lhe subordinados anjos, e potestades, e poderes” (I Pe 3:22). Ela sinaliza a coroação de Jesus, de “glória e honra” (Hb 2:9), a Sua exaltação máxima (Fl 2:9).

A ascensão de Cristo também estabelece as condições sob as quais a igreja é chamada para servir: sob um Senhor que se acha agora exaltado como cabeça, na terra e no céu (Ef 1:20-23). A ascensão garante o domínio futuro e final de Cristo, em glória, pois ela evidencia Sua autoridade sobre o universo (I Co 15:24).

A ascensão de Cristo reafirma:

O CRISTO CELESTIAL – havia chegado o tempo de regressar ao Pai; O CRISTO EXALTADO – Cristo foi tão fiel aos planos do Pai que foi exaltado ao ascender como

“recompensa” por sua fidelidade; O CRISTO SOBERANO – Ele ascendeu a um lugar de autoridade sobre todas as criaturas (I Pe 3:22); O CRISTO QUE PREPARA O CAMINHO – A separação entre Cristo e Sua igreja é temporária até que Ele

venha buscar os que O seguem. Ele é o nosso precursor (Hb 6:19-20); O CRISTO INTERCESSOR – Em virtude de ter assumido nossa natureza e ter morrido por nossos pecados,

Jesus é o mediador entre Deus e os homens (I Tm 2:5); O CRISTO ONIPRESENTE – Jesus torna a ser Onipresente, assim como Deus (Mt 18:20).

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IV – OS BENEFÍCIOS DA CRUZ

Os sacrifícios do AT eram realizados para expiar os pecados cometidos contra Deus. O homem não podia expiar seu próprio pecado, pois para isso teria que oferecer sua própria vida. Assim sendo, o animal sacrificado substituía o pecador, morrendo em seu lugar.

Cristo, com Sua morte, aboliu este tipo de expiação e consumou um único sacrifício. Hoje, não precisamos mais oferecer sacrifícios, cabe-nos apenas aceitar o que já foi feito por nós. Este é um dos benefícios da cruz de Cristo.

O profeta Isaías em seu livro, no capítulo 53, narra o motivo pelo qual Jesus foi ferido e traspassado. Quais, então, seriam esses benefícios?

Perdão dos pecados; Paz; Cura divina e Vida eterna.

Jesus Cristo foi ferido pelas nossas transgressões. A Lei de Deus exigia um derramamento de sangue para o perdão de pecados. Por essa razão, Jesus sacrificou-se por nós, pagando assim o preço da nossa salvação (Jo 3:16; Hb 9:22; I Pe 2:24).

Ao derramar o Seu sangue, Jesus nos perdoou dos nossos muitos pecados e nos deu a vida eterna. Perdão de pecados é a purificação da alma pelo sangue de Jesus Cristo. Vida eterna é o viver para sempre, dom que Deus concede àqueles que nascem de novo, isto é, aos que reconhecem ser Jesus Cristo o único Salvador e entregam suas vidas ao Seu senhorio (Jo 6:47; 11:25; I Jo 1:7-9).

Como então conseguimos o perdão de nossos pecados? Eles são perdoados e esquecidos por Deus quando os confessamos a Jesus Cristo, pedindo-lhe perdão (Sl 32:3-5; Mq 7:18-19). E a certeza de termos sidos perdoados Deus declara em Sua Palavra (I Jo 1:9), bem como por meio do testemunho do Espírito Santo que habita em nós (Rm 8:1).

O sofrimento físico de Cristo constitui o símbolo do preço que pagou para nos libertar de nossas iniqüidades (Mt 26:67; 27:26; Cl 1:19-22). Ele levou sobre si a punição de nossos pecados para que tivéssemos paz com Deus. Paz significa inexistência de hostilidade. Para nós é a reconciliação com Deus, ou seja, a volta do homem para viver em harmonia com Ele (II Co 5:20).

Os benefícios dessa paz com Deus trazem à nossa vida:

Serenidade constante no íntimo, na mente e no coração (Fl 4:7); Libertação da culpa terrível que o pecado nos traz (Rm 8:1); Purificação da contaminação do pecado e senso de indignidade na presença de Deus (Hb 10:19-20).

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E para termos essa paz permanente isso depende do nosso procedimento e da nossa confiança em Deus. É possível ter esta paz perfeita em todas as circunstâncias da vida (Is 26:3; Fl 4:7).

O ESPÍRITO SANTO

INTRODUÇÃO

Como já estudamos anteriormente, o Espírito Santo é uma das pessoas da Trindade, tendo vários atributos e características semelhantes às outras duas pessoas (Deus Pai e Deus Filho), porém, como também as outras duas pessoas têm características pessoais, que são manifestadas aos Seus filhos, reconhecidas e relatadas na Bíblia.

I – A natureza do Espírito Santo

Saber quem é o Espírito Santo é fundamental para que você possa descobrir que tipo de relacionamento deve haver entre o cristão e o Espírito.

Existem vários nomes que são dados ao Espírito Santo e revelam aspectos de Sua natureza. Os principais são:

Espírito de Deus (Rm 8:9); Espírito de Cristo (Rm 8:9); Consolador (Jo 14:16); Espírito Santo (I Co 6:19); Espírito Santo da Promessa (Ef 1:13); Espírito da Verdade (Jo 14:17); Espírito da Graça (Hb 10:29); Espírito da Vida (Rm 8:2; Ap 11:11); Espírito de Adoção (Rm 8:15).

II – O Espírito Santo como um ser pessoal

Por ser uma pessoa, dizemos que Ele é um ser inteligente, dotado de capacidade de se auto-conhecer. O Espírito Santo é um ser pessoa e não uma mera influência, e por ser assim, Ele espera de nós um relacionamento “entre pessoas”, e não entre pessoa e “coisa”.

Ele tem propriedades de uma pessoa. Possui inteligência (I Co 2:10-12), consciência de Si (Jo 16:13-14), vontade própria (I Co 12:11), emoções (Ef 4:30). Tudo isso se traduz por personalidade.

Ele age como uma pessoa. Ele fala (At 13:2), ensina (Jo 14:26), convence (Jo 16:8-11), intercede (Rm 8:26), dá testemunho de Jesus (Jo 15:26) e distribui dons (I Co 12:7-11). Ele também é sensível em suas emoções, como uma pessoa. Ele está sujeito a ser atingido pela mentira dos homens (At 5:3-4), a ser ultrajado (Hb 10:29), blasfemado (Mt 12:31-32) e entristecido (Ef 4:30). Ele não poderia ser afetado por estas coisas se não fosse de natureza pessoal. O Espírito Santo é um ser dotado de personalidade e em nosso relacionamento com Ele é preciso levar em conta a Sua vontade, os Seus desejos, os Seus propósitos aos quais todo o nosso ser deve ser submisso.

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Ele é também designado como “paracleto”, ou seja, esse nome dado ao Espírito Santo significa que Ele é ajudador, advogado, consolador. Portanto, também indica que tem função própria de uma pessoa (Jo 14:26; I Jo 2:1).

Para finalizar, o Espírito Santo age como um ser divino. Pedro afirmou que Ananias mentiu ao Espírito Santo (At 5:3-4) e concluiu dizendo que a mentira foi dita a Deus. Ele também possui atributos de divindade; Ele é eterno (Hb 9:14), é Onisciente (Sl 139:1-6), é Onipresente (Sl 139:7) e é Onipotente (Lc 1:35).

III – O Espírito Santo na Bíblia

A presença e atuação do Espírito Santo na vida dos homens é revelada em toda a Bíblia, entretanto, podemos observar três etapas distintas: no AT, nos evangelhos e no livro de Atos e nas epístolas.

1 - No Antigo Testamento

Embora essa nomenclatura (Espírito Santo) não seja comum no AT, contudo, Ele está presente, sendo chamado “Espírito de Deus” ou “Espírito do Senhor”. A palavra hebraica traduzida por espírito é “ruah”, que significa exatamente vento, fôlego ou espírito.

Pode-se ver nitidamente a ação do Espírito Santo no AT na criação (Gn 1:2; Jó 26:13), na história de Israel, capacitando homens a tarefas especiais, com poderes sobrenaturais (Ex 31:2-5; Jz 11:29-32; 14:6), na revelação através dos profetas (Nm 11:25; Ez 2:2), trabalhando no caráter das pessoas chamadas por Deus (Sl 143:10; Is 63:10), e também profeticamente ungiria o Messias (Is 11:2; 42:1) e seria derramado sobre todos (Is 32:15; 44:3).

2 - Nos Evangelhos

Aparece especialmente relacionada com a vida e o ministério de Jesus. Foi o cumprimento da promessa de que Ele ungiria o Messias. O Espírito Santo gerou Jesus (Lc 1:35), desceu sobre Ele no batismo (Jo 1:32-33), guiou Jesus ao deserto para ser tentado (Mt 4:1; Lc 4:1), capacitou o Mestre para ensinar, pregar e realizar obras (Lc 4:18; At 10:38). Além disso, guiou Jesus na morte (Hb 9:14) e ressuscitou-o (Rm 8:11).

Nessa época, também atuava na vida e no ministério de João Batista (Lc 1:15) e nos discípulos de Jesus (Jo 14:17), ou seja, não estava restrito ao Filho de Deus.

3 - No livro de Atos e nas Epístolas

No livro de Atos e nas Epístolas temos o cumprimento da segunda grande promessa feita no AT acerca da obra profética do Espírito. Ele é encontrado agindo na vida das pessoas, capacitando-as, assim como no seio da igreja. Essa etapa vai ser o Valdo de nossos estudos daqui por diante.

IV – O derramamento do Espírito Santo

A promessa do derramamento do Espírito de Deus foi prometida no AT (Jl 2:28), reafirmada por João Batista (Mt 3:11), assegurada por Jesus (Lc 24:49; At 1:4-5) e cumprida por Ele (At 2:33). O cumprimento histórico da promessa relatada em Joel se deu no dia de Pentecostes, na cidade de Jerusalém (At 2:2-4), mas houve outras manifestações posteriores, confirmando a promessa sobre outros grupos de pessoas que criam.

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Exatamente no dia de Pentecostes (festa judaica para comemorar a colheita das primícias dos frutos, realizada exatamente 50 dias após a páscoa judaica), ali, naquele lugar, com aproximadamente 120 pessoas, estavam judeus de várias partes da terra, e neste dia foi efetuada a primeira colheita dos frutos do Reino, a partir da obra consumada de Jesus. Havia um ambiente de medo em função da “solidão” e da expectativa do que iria acontecer.

O derramamento foi acompanhado de sinais audíveis (At 2:2) e também de sinais visíveis (At 2:3). Os sinais autentificavam a realidade do derramamento do Espírito. O derramamento do Espírito, seja numa comunidade, seja num indivíduo, sempre produz evidências claras.

Após esse acontecimento em Jerusalém, o Espírito Santo veio sobre os crentes em Samaria, após estes terem sidos batizados nas águas e mediante a imposição de mãos dos apóstolos (At 8:14-17). Embora não se mencione sinal algum, é certo que houve, pois Simão, o mágico, viu algo extraordinário acontecer e desejou para si. Outra coisa interessante demonstrada nesse episódio é que existiam cristãos que haviam se convertido, mas não tinham uma experiência com o Espírito Santo.

Outro derramar do Espírito Santo foi na casa de Cornélio (At 10:44-46) sobre os gentios (não-judeus) convertidos a Cristo. Essa ocasião foi diferente das demais exatamente por o Espírito Santo vir sobre pessoas convertidas, mas não batizadas nas águas, e também sem a imposição de mãos. A evidência então desse derramar foi o falar em outras línguas.

Já em Éfeso (At 19:2-6), o fenômeno se repetiu sobre um grupo que se consideravam discípulos de João Batista. Eles haviam crido, mas não tinham ouvido falar do Espírito Santo. Havia fé, havia arrependimento, mas não havia a plenitude do Espírito. Eles foram batizados em nome de Jesus e foram cheios do Espírito de Deus. As evidências, neste caso, foram de falar em outras línguas e profetizarem.

Essa diversidade de derramamento do Espírito Santo sobre os judeus, samaritanos, gentios e discípulos de João foi necessária para convencer os judeus-cristãos de que a promessa não era só para eles, e que a igreja de Cristo seria constituída de povos de todas as raças, tribos e nações da terra (At 2:39). Com certeza, esses fatos também aconteceriam com outros grupos.

V – O Batismo no Espírito Santo

Esse assunto é certamente bastante discutido e há séculos os teólogos divergem sobre sua correta interpretação. Embora seja um tema que muitos divergem entre si, a Bíblia nos parece suficientemente clara e lúcida para demonstrar o que é, na realidade, e mais, o que almeja o Espírito Santo ao “batizar” uma pessoa.

1 - Um acontecimento histórico coletivo

Alguns o interpretam assim, justificando sua tese com o argumento de que a promessa foi cumprida em At 2, com alguns reflexos em cidades relatadas no livro de Atos, e após isso cessou.

Afirmam ser um fenômeno que não se repete, assim como a crucificação de Cristo, sendo assim, o Espírito Santo, uma vez derramado sobre a igreja não mais precisa ser derramado. Esquecem-se dos propósitos de santificação, edificação e de capacitação de homens e mulheres para a Obra. Negam-se a ver que igrejas e cristãos “que dão lugar” ao Espírito Santo e Sua obra sobrenatural frutificam muito além do que estas produzem. Esquecem-se também que toda expansão missionária se deu por ímpeto do mover do Espírito Santo.

Todas as denominações brasileiras, tradicionais ou pentecostais, incluindo a Igreja Nova Vida, são fruto de homens, mulheres e igrejas cheias do Espírito Santo e de avivamentos contundentes, que produzem visões evangelísticas, expansionistas e avivalistas.

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2 - Uma dádiva imediata à conversão do crente

Os que assim crêem afirmam ser o ato de Deus dar o Seu Espírito para os crentes, no momento de receberem a Jesus no seu coração. Confundem a ação do Espírito Santo para a conversão do homem com a plenitude de capacitação do Espírito.

Esta tese afirma que o Espírito Santo é derramado sobre o homem em plenitude, no momento de sua conversão, ou no máximo por ocasião do seu batismo. Billy Graham, por exemplo, sustenta que “a finalidade do batismo no Espírito Santo é fazer o novo crente adentrar no corpo de Cristo”.

3 - Um recebimento especial do Espírito

É exatamente assim que nós, da igreja Nova Vida, entendemos o ato do batismo no Espírito Santo. É uma atitude do Espírito em nós, que possibilita ficarmos cheios da Sua presença e cheios de poder espiritual. É uma experiência pessoal, que, contudo, pode ser coletiva. Nós, quando aceitamos a Jesus, somos tocados e após isso, trabalhados no caráter e personalidade. Mas quando somos batizados, somos cheios, capacitados. A palavra “batizar”, segundo o dicionário, significa “iniciar”. Neste caso, iniciar uma capacitação especial. É algo que pode ocorrer simultaneamente ao batismo, ou não; que pode acontecer no início do relacionamento do homem com Deus ou demorar muito tempo; que pode até aparecer não acontecer na vida do cristão, mesmo este acreditando de que Ele, o Espírito Santo, deseja encher todos os Seus filhos; que é derramado sobre aqueles que O buscam e que sempre deverá produzir alguma habilitação espiritual na vida do crente.

Esta visão acima, de que acontece uma “segunda bênção” tem dois grupos com interpretações distintas.

Há os que crêem que o batismo no Espírito Santo será sempre acompanhado do falar em línguas desconhecidas, segundo as evidências bíblicas em Jerusalém, Cesaréia e Éfeso, relatadas no livro de Atos. Estes, sustentam que as línguas expressas em Atos 2 são diferentes das mencionadas em I Co 12. E há também os que dizem que as línguas não são, necessariamente, a prova do batismo. Para estes, o falar em línguas é um dos Dons do Espírito e por isso só quem teria o dom de línguas é que falaria, quando do batismo (I Co 12:30), e quando então houvesse o batismo no Espírito Santo haveria sim, a manifestação de qualquer um dos dons.

4 - O Batismo no Espírito Santo produz frutos

Jesus afirmou (e afirma) que “...pelo fruto se conhece a árvore...”, portanto, é inconcebível a idéia de que uma pessoa cheia do Espírito Santo não produza o(s) fruto(s) do Espírito, descritos em Gl 5:22-23.

5 - Como receber o Batismo no Espírito Santo

Se cremos que o batismo no Espírito Santo é uma segunda ação d’Ele em nós, então precisamos buscá-la. Sermos crentes sem estarmos cheios do Espírito é como ir à praia e só molhar os pés, afinal, queremos mergulhar nas “águas do Espírito”.

Certamente não há uma “receita de bolo”. As coisas espirituais não se tratam matematicamente, mas há algumas sugestões que podemos fazer:

BUSQUE – Certamente tudo começa assim. É preciso buscar e não desistir;

SANTIFIQUE-SE – Épreciso ter uma “casa limpa” para ser habitação do Espírito Santo, ainda mais para ser cheio d’Ele, mas, por outro lado, não mistifique! Santificar-se não é subir no monte três vezes por semana, ajoelhar no milho para orar, etc.; é querer e trabalhar para ter uma vida agradável a Deus. Mas

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não se esqueça de que você, por si só, é incompetente para ser santo. Precisamos d’Ele, do Espírito. Você começa a obra de santificação e Ele termina;

CONHECA O ESPÍRITO – Quanto mais você conhece uma pessoa (e Ele é uma pessoa) mais íntimo você fica. E batismo no Espírito Santo tem muito a ver com intimidade com Ele e Ele com você;

DESCOMPLIQUE – Muitos insistem em complicar a ação do Espírito Santo. Ele não vai “tomar” você de maneira histérica e incontrolável. A Bíblia afirma que “os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas” (I Co 14:32). Quando o Espírito Santo nos usa, não entramos “em transe”, mas permitimos que Ele fale, ministre, cure e muitas outras coisas. Há lucidez! Ele jamais violentará nossa consciência.

VI – A Obra do Espírito Santo na Vida Cristã

Qual a função específica do Espírito Santo na vida do cristão? Por que Ele veio? Quais seus objetivos e o que produz?

Vejamos então algumas de Suas “produções”:

1 - Convicção (Jo 16:7-11)

Convencer significa levar ao conhecimento e aceitação verdades que de outra maneira seria posta em dúvidas ou rejeitadas.

A mente cauterizada pelo pecado tem dificuldades ou impossibilidades de, por si mesma, compreender seus erros. A pessoa acostuma-se com seus pecados, mas o Espírito convence o pecador de seus erros.

2 - Regeneração (Ef 2:1; Tt 3:5)

O pecado afasta o homem de Deus, e mais, impede de enxergar com os olhos espirituais. Mas quando o mesmo Deus que vivificou o corpo (de Adão e o nosso) vivifica a alma, a pessoa desperta para o mundo espiritual e começa a viver a vida espiritual. A regeneração não é simplesmente uma doutrina, mas sim uma realidade na vida do novo convertido.

3 - Habitação (Jo 14:17)

O Espírito Santo vem para os cristãos regenerados e neles habita. No AT, a relação do Espírito de Deus era de visitação. Após a ascensão de Jesus é o derramamento do Espírito. Este faz morada em homens e mulheres (I Co 6:19; I Co 3:16). A ação inicial do Espírito Santo no AT era externa, já que Ele não habitava. Agora, passa a ser interna, por ser habitante do ser humano.

4 - Santificação (Ef 3:16)

Na regeneração, o Espírito Santo começa uma obra na vida humana, mas isso não significa que os filhos de Deus são imediatamente perfeitos. O Espírito de Deus age de maneira progressiva e constante. É um processo chamado santificação. Ele fortalece a nova vida íntima do cristão para combater as paixões da carne (Rm 8:6-9), vencer as tentações e desenvolver uma vida cristã. Ele promove a santificação progressiva no crente (II Co 3:18) e desenvolve nele o caráter cristão, refletido no fruto do Espírito (Gl 5:22-23).

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5 - Revestimento de Poder (At 1:8)

Uma das obras distintivas do Espírito Santo na vida do crente é o poder espiritual. Este poder é sempre destinado a servir e é derramado sobre homens que já estão em relação íntima com Cristo. Este poder se revela em evangelizar (At 1:8), em capacidade para realizar atos incomuns (Hb 2:4) e em resistir ao poder carnal e do tentador (Gl 5:16-25). VII – Os Dons do Espírito Santo

Os dons do Espírito Santo, catalogados em I Co 12 e descritos até o capítulo 14 podem ser classificados em três grupos:

DONS DE REVELAÇÃO – Palavra de sabedoria, conhecimento e discernimento; DONS DE PODER – Fé, milagres e dons de curar; DONS DE EXPRESSÃO – A profecia, as línguas e a sua interpretação.

A distribuição dos dons tem algumas facetas interessantes:

Os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo (I Co 12:4), portanto, não há conflito entre dons diferentes em pessoas diferentes;

A manifestação do Espírito é dada a cada um visando um fim proveitoso (I Co 12:7). O Espírito Santo não usa ninguém a toa, simplesmente por usar. Há sempre proveito; se não houver, desconfie;

O Espírito Santo é organizado (I Co 14:26-33). Pessoas misturam o sobrenatural com o emocional e confundem. Deus, efetivamente, não é Deus de confusão. É preciso ser coerente e sensato para deixar o Espírito Santo nos usar sem conflitos. Há sempre uma liderança a ser seguida, que não deve ser vilipendiada, pois afinal, a liderança também é usada pelo Espírito de Deus;

Não devemos nos esquecer de que, embora os dons sejam manifestados em nós e o Espírito Santo more em nós, os dons continuam sendo d’Ele e não nossos.

Há também algum misticismo quanto aos dons do Espírito. Por exemplo, não são dons do Espírito, mas

sim ordenanças a todos os que crêem (Mc 16:16):

A expulsão de demônios; A Evangelização; A oração intercessória.

É interessante lembrar a você que os dons do Espírito são diferentes dos ministérios de Jesus, listados em Ef 4:11, ou dos dons listados em Rm 12:4-8. Embora sejam utilizados na mesma obra e sejam congruentes (um pastor ou evangelista carece dos dons do Espírito), estes são distintos.

1 - Dom da Palavra de Sabedoria

O dom da Palavra de Sabedoria difere da sabedoria adquirida, fruto de vivência e conhecimento cultural, em função de ser plenamente sobrenatural e é manifestado no momento exato da necessidade do cristão, ou seja, existe um momento específico em que há uma inspiração sobrenatural em uma situação específica e urgente, na qual o cristão esgotou todas as possibilidades de soluções humanas.

Pode-se manifestar, por exemplo, através da interpretação de sonhos e da fala de conselhos sábios (At 7:10); prudência ao tratar assuntos (At 6:3); habilidade no trato com pessoas fora da igreja (Cl 1:28), etc... .

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2 - Dom da Palavra de Conhecimento

Também chamada “palavra de ciência”, este dom é utilizado por Deus para que tomemos conhecimentos de detalhes de coisas ou eventos dos quais não conhecíamos, para que haja alguma intervenção sobrenatural.

É normalmente nos dado através de uma suave impressão em nossas mentes, ou um sentimento nítido em nossa alma. É um pronunciamento ou declaração de fatos, inspirado de um modo sobrenatural. Além disso, é uma capacidade de um conhecimento mais profundo, mais amplo e avançado da Palavra de Deus e do próprio Deus.

Qual a diferença entre sabedoria e ciência? Segundo um erudito, ciência é o conhecimento profundo ou a compreensão das coisas divinas e sabedoria é o conhecimento prático ou habilidade que ordena ou regula a vida de acordo com seus princípios fundamentais.

3 - Dom de Discernimento de Espíritos

É nítido que pode haver uma inspiração falsa, com a obra de espíritos enganadores e até mesmo obra humana. E este é o dom capaz de identificar a origem da manifestação sobrenatural. Um exemplo claro está em At 16:18.

O dom de discernimento é um instrumento precioso para o cristão e a igreja, pois nos protege contra carnalidades, palavras e ações de origem demoníaca, além de nos fazer valorizar a autêntica manifestação de Deus.

A operação do dom de discernimento é sobrenatural sim, mas além dele, de maneira prática, todo cristão deve colocar em prática os conceitos de I Jo 4:1-6 e M 7:15-23.

4 - Dom de Profecia

A profecia é uma expressão verbal inspirada pelo Espírito de Deus. a profecia se distingue da pregação comum pelo fato de que a pregação é o resultado do estudo da revelação existente na Palavra de Deus, ou inspiração prévia, enquanto que a profecia é uma inspiração espiritual instantânea. Sendo assim, durante uma pregação pode (e deve) haver manifestação profética.

A manifestação do dom da profecia não está no mesmo nível da inspiração das Escrituras, portanto, nenhuma profecia contemporânea pode contradizer, completar, alterar ou redirecionar qualquer afirmação escriturística.

Toda profecia ouvida deve ser examinada à vista das Escrituras e aceitas, ou não (I Ts 5:19-20).

Será que toda profecia deve ser proferida na 1ª pessoa do singular, tipo, “Sou EU, o Senhor, que vos fala”? Com certeza não! Zacarias, por exemplo, profetizou na 3ª pessoa do singular, “ele” (Lc 1:67-79).

Algumas características importantes:

A PROFECIA DEVE EDIFICAR, EXORTAR E CONSOLAR – A profecia não é usada por Deus para disciplinar ou envergonhar publicamente ninguém (I Co 14:3);

A PROFECIA NÃO DEVE SER DESPREZADA – (I Ts 5:20); OS PROFETAS NÃO DEVEM SER PROCURADOS COMO AGNÓSTICOS OU ADVINHADORES – Há um

conceito místico de buscar reuniões onde a ênfase é a profecia, normalmente advinhatória. É um erro que já induziu muitos a frustração. Ao mesmo tempo que não devemos desprezar a profecia, não devemos nos tornar cristãos dependentes das indicações “proféticas” do “irmão” ou da “irmã”. Quando Deus quer falar profeticamente a alguém Ele envia um profeta até essa pessoa, e não o inverso;

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NÃO SE DEVE VALORIZAR UM PROFETA “FREE-LANCER” – O princípio da obediência e submissão à autoridade eclesiástica não pode ser esquecido. Quando o profeta se torna autônomo da liderança que Deus colocou sobre ele, também começa, passo a passo, a se tornar autônomo do próprio Deus;

NÃO SE PODE CONFUNDIR CONTEÚDO CULTURAL COM MANIFESTAÇÃO DE DEUS – O que se vê muito no meio evangélico contemporâneo é uma visão mística-religiosa de profecia, quando se deve dar lugar ao Espírito e à Palavra, e não à cultura carnal-religiosa.

5 - Dom de variedade de Línguas

Parece ser o dom mais presente e comum entre os cristãos, não se tornando por isso inferior ou superior aos outros.

Diversos teólogos afirmam que as “línguas como de fogo” identificadas em At 2 são uma experiência diferenciada, na sonoridade, das línguas mencionadas em I Co 12. Outros afirmam serem idênticas e afins. Todos concordam, porém, que o mesmo Espírito as produziu.

As línguas são expressões verbais de sons desconhecidos do individuo, mas conhecido em algum lugar do universo (língua natal de algum povo), ou mesmo a linguagem dos anjos (I Co 13:1). Em qualquer uma das hipóteses, não é uma língua adquirida por meio de conhecimento ou prática, e sim por meio sobrenatural.

Efetivamente, parece haver dois propósitos na manifestação do dom de línguas:

PESSOAL – Louvor em êxtase dirigido a Deus somente (I Co 14:2). Não há proveito coletivo e sim para o próprio indivíduo;

COLETIVA – Expressão em línguas através de uma pessoa com um fim de transmitir uma mensagem de Deus a uma coletividade ou igreja (I Co 14:5). Neste caso, é imperativo que haja a manifestação do dom de interpretação de línguas, pela mesma pessoa ou por outra pessoa presente. Assim, a conjugação de dom de línguas mais a interpretação destas resumem-se numa transmissão de uma mensagem de Deus, assemelhando-se a uma profecia.

6 - Dom de Interpretação de Línguas

É uma operação puramente espiritual. O mesmo Espírito que inspirou o falar em outras línguas é o que pode inspirar sua interpretação. A interpretação é, portanto, inspirada, extática e espontânea. Assim como o falar em línguas não é concebido na mente, da mesma maneira a interpretação emana do Espírito. É o único dom essencialmente e obrigatoriamente acoplado a outro – o de línguas.

7 - Dom de Cura

O dom de cura é caracterizado pela manifestação do Espírito Santo em trazer saúde sobre a vida de alguém que recebe ministração. Isso não significa que a pessoa que possua este dom vá produzir saúde em todos os enfermos que se achegarem a ela, afinal, Deus continua soberano, e o próprio Cristo foi limitado em sua capacidade de operar milagres por causa da incredulidade do povo (Mt 13:58).

É fato que todos devemos ministrar cura, na mesma proporção que evangelizar ou libertar cativos do diabo (Mc 16:17), porém, esta capacitação do Espírito parece ser algo mais específico.

Outra informação relevante é que a pessoa enferma não depende inteiramente de quem possua o dom. todos os crentes em geral, os pastores e oficiais estão dotados de autoridade para orar pelos enfermos (Tg 5:14).

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8 - Dom da Fé

Esta deve distinguir-se da fé salvadora e da confiança em Deus, sem a qual é impossível agradar-Lhe (Hb 11:6), mas sim pode traduzir-se por “Fé especial”. É uma qualidade de fé que parece vir sobre alguns servos de Deus em tempos de crise e oportunidades especiais, de uma maneira tão poderosa que os faz triunfar sobre tudo. Parece com a fé que Jesus descreveu em Mc 11:22-23.

9 - Dom de Operação de Milagres

Literalmente “obras de poder”. Bem representado no anúncio de Jesus em At 1:8 e em Jo 14:12. É simplesmente e totalmente permitir que o Espírito Santo faça, através de suas vidas, manifestações impossível, surpreendentes e muitas vezes inusitadas.