28/11/11 acórdão do tribunal da relação de lisboa acyrdãos ... · alegou para tanto, que lhe...

10
28/11/11 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa 1/10 dgsi.pt/jtrl.nsf/«/78efce5c9d91d7e7802573010032b49b?OpenDocument Acyrdãos TRL Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa Processo: 10072/2006-7 Relator: ISABEL SALGADO Descritores: DIREITOS DE AUTOR RETRIBUIÇÃO ÏNUS DA PROVA OBRAS Nº do Documento: RL Data do Acordão: 22-05-2007 Votação: UNANIMIDADE Texto Integral: S Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: NEGADO PROVIMENTO Sumário: I- Prescreve o artigo 110º do Código do Direito de Autor, aplicável à execução pública instrumental e por canto de obras musicais que “ a retribuição do autor pela outorga do direito de representar poderá consistir numa quantia global fixa, numa percentagem sobre as receitas dos espectáculos, em certa quantia por cada espectáculo ou ser determinada por qualquer forma estabelecida no contrato” II- Não tendo sido estipulado o modo de retribuição, provando-se apenas que “ na data dos concertos referidos, a autora fixava o coeficiente de 4,4% em salas de lotação estabilizada ou fixa e 5% em salas sem lotação certa”, não podia a A. unilateralmente fixar o critério de remuneração. III- O critério elegível é, precisamente, aquele em que a retribuição apurada depende da receita efectiva do espectáculo, importando considerar, de acordo com o disposto no artigo 110º/2 do C.D.A, que “ se a retribuição for determinada em função da receita do espectáculo, deve ser paga no dia seguinte ao do espectáculo respectivo, salvo se de outro modo tiver sido convencionado” e que “ sendo a retribuição determinada em função da receita de cada espectáculo, assiste ao autor o direito de fiscalizar por si ou por seu representante as receitas respectivas” IV- À A. cabe o ónus de provar a lotação e receita efectivas de cada espectáculo, designadamente por via do procedimento de fiscalização, não podendo ser considerada a presumível receita de lotação esgotada, o que é excluído pelo disposto nos artigos 121.º/2 e 110.º/1 do CDADC (SC) Decisão Texto Integral: Acordam os Juízes na 7ª Secção do Tribunal da Relação de Lisboa I – RELATÏRIO A S.P.A. – Sociedade Portuguesa de Autores, S.A., em nome e representação dos autores e titulares de direitos autorais intentou a presente acção declarativa sob a forma de processo ordinário, contra T.[…] Lda., pedindo que se condene a R. a pagar-lhe a quantia de Esc. 12 201 265$00, acrescidos de juros de mora vencidos que são no valor de Esc. 3 179 044$00 e ainda juros de mora vencidos e vincendos desde 19-3-1999 até integral pagamento. Alegou para tanto, que lhe compete cobrar em representação dos respectivos titulares os direitos devidos pela utilização das suas obras; que a Autora promoveu espectáculos em que foram executadas obras de autores por si representados; que fixava o coeficiente de 4, 4% ou de 5% sobre a receita correspondente a lotação esgotada, consoante estivessem em causa espectáculos em que actuassem também intérpretes portugueses ou espectáculos em que só actuassem

Upload: lamlien

Post on 23-Jan-2019

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

28/11/11 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa

1/10dgsi.pt/jtrl.nsf/…/78efce5c9d91d7e7802573010032b49b?OpenDocument

Acórdãos TRL Acórdão do Tribunal da Relação de LisboaProcesso: 10072/2006-7

Relator: ISABEL SALGADODescritores: DIREITOS DE AUTOR

RETRIBUIÇÃOÓNUS DA PROVA

OBRAS

Nº do Documento: RLData do Acordão: 22-05-2007

Votação: UNANIMIDADETexto Integral: S

Meio Processual: APELAÇÃODecisão: NEGADO PROVIMENTO

Sumário: I- Prescreve o artigo 110º do Código do Direito de Autor, aplicável à execução

pública instrumental e por canto de obras musicais que “ a retribuição do autorpela outorga do direito de representar poderá consistir numa quantia globalfixa, numa percentagem sobre as receitas dos espectáculos, em certa quantia

por cada espectáculo ou ser determinada por qualquer forma estabelecida nocontrato”

II- Não tendo sido estipulado o modo de retribuição, provando-se apenas que “na data dos concertos referidos, a autora fixava o coeficiente de 4,4% em

salas de lotação estabilizada ou fixa e 5% em salas sem lotação certa”, não

podia a A. unilateralmente fixar o critério de remuneração.III- O critério elegível é, precisamente, aquele em que a retribuição apurada

depende da receita efectiva do espectáculo, importando considerar, de acordocom o disposto no artigo 110º/2 do C.D.A, que “ se a retribuição for

determinada em função da receita do espectáculo, deve ser paga no dia

seguinte ao do espectáculo respectivo, salvo se de outro modo tiver sidoconvencionado” e que “ sendo a retribuição determinada em função da receita

de cada espectáculo, assiste ao autor o direito de fiscalizar por si ou por seurepresentante as receitas respectivas”

IV- À A. cabe o ónus de provar a lotação e receita efectivas de cada

espectáculo, designadamente por via do procedimento de fiscalização, nãopodendo ser considerada a presumível receita de lotação esgotada, o que éexcluído pelo disposto nos artigos 121.º/2 e 110.º/1 do CDADC

(SC)

DecisãoTextoIntegral:

Acordam os Juízes na 7ª Secção do Tribunal da Relação de Lisboa

I – RELATÓRIO

A S.P.A. – Sociedade Portuguesa de Autores, S.A., em nome e representação dos autores e

titulares de direitos autorais intentou a presente acção declarativa sob a forma de processoordinário, contra T.[…] Lda., pedindo que se condene a R. a pagar-lhe a quantia de Esc. 12 201265$00, acrescidos de juros de mora vencidos que são no valor de Esc. 3 179 044$00 e ainda juros

de mora vencidos e vincendos desde 19-3-1999 até integral pagamento.

Alegou para tanto, que lhe compete cobrar em representação dos respectivos titulares os direitos

devidos pela utilização das suas obras; que a Autora promoveu espectáculos em que foramexecutadas obras de autores por si representados; que fixava o coeficiente de 4, 4% ou de 5%sobre a receita correspondente a lotação esgotada, consoante estivessem em causa espectáculosem que actuassem também intérpretes portugueses ou espectáculos em que só actuassem

28/11/11 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa

2/10dgsi.pt/jtrl.nsf/…/78efce5c9d91d7e7802573010032b49b?OpenDocument

intérpretes estrangeiros; que procedeu à facturação dos montantes correspondentes, não tendo aR. procedido ao respectivo pagamento; que a Ré tem vindo a proceder a depósitos judiciais deforma a obter as autorizações legais correspondentes, vindo posteriormente a requerer o

levantamento das quantias depositadas; que por esse facto solicitou o arresto dos montantesdepositados, arresto que foi decretado.

A Ré contestou, arguindo as excepções, de nulidade por ineptidão da petição inicial, deilegitimidade passiva e activa e a excepção de prescrição.

Impugnou, também, a relação de obras avançada pela Autora que os autores daquelas sejamrepresentados por aquela, que exista fonte legal ou contratual para a aplicação de um coeficientede 4, 4% ou 5%, que esse coeficiente seja aplicado sobre o montante correspondente a lotação

esgotada, independentemente das vendas efectivas, que tivesse conhecimento prévio do programae que tenha que pagar à A. dado que já pagou aos autores.

Na réplica, a Autora pontuou pela demonstração da improcedência das excepções e manteve opedido.

Oportunamente, seguiram os autos os seus habituais trâmites e após a elaboração de despachosaneador que julgou improcedentes as excepções e condensados os factos, realizou-se a audiência

de discussão e julgamento.

No final foi proferida sentença julgando improcedente a acção e absolvendo a Ré do pedido.

Não se conformando, a Autora interpôs recurso adequadamente admitido como de apelação e com

efeito devolutivo.

Tendo alegado, extraiu as seguintes conclusões:

1.A recorrente propôs esta acção alegando de forma abreviada que esta promoveu um conjunto de

espectáculos onde foram interpretadas obras protegidas pelo direito de autor cujos titulares são

por si representados, directa ou indirectamente, sem que a Are tivesse procedido ao pagamentodos respectivos direitos de autor de acordo com os critérios de fixação desses mesmos direitos

estabelecidos pela Autora.

2.Não obstante, o tribunal entendeu que a Autora à revelia de lei expressa, optou por pedir o valor

correspondente a lotação esgota, não tendo, a propósito de pedir qualquer um deles, alegado quaisos efectivos ingressos e os preços de bilhetes, pelo que também não seria exigível à Ré que

repusesse um eventual verdade,

3. “Nestes moldes, pese embora a bondade em abstracto da pretensão da Autora, o tribunal

entendeu não ter elementos para proceder à condenação da Ré no pagamento de quaisquer

quantitativo remuneratório dos direitos de autor de criadores de associados da Autora ou decongéneres por esta representados.”

4 .A aqui recorrente não se pode conformar com a decisão na parte em que considera ter a Autora“ à revelia de lei expressa, optado por pedir o valor correspondente à lotação esgotada.”

5. Importa, portanto, rebater a falsa ideia de que a forma como o Autor fixou a quantia devida pelautilização das obras do seu reportório não tem suporte legal.

6. Desmitificação esta que se faz quer no caso de ter havido autorização dos autores quer caso

28/11/11 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa

3/10dgsi.pt/jtrl.nsf/…/78efce5c9d91d7e7802573010032b49b?OpenDocument

essa autorização não tenha chegado a existir.

7. Caso tenha havido autorização, que tem que ser reduzida a escrito, e as partes nada tenham

convencionado quanto à remuneração do autor, dispõe o art.º 110 CDA que se aplica à execuçãopublica por instrumentos e cantores de obras musicais, “a retribuição do autor pela outorga do

direito de representar poderá consistir numa quantia global fixa, numa percentagem sobre as

receitas dos espectáculos, em certa quantia por cada espectáculo ou ser determinada por qualquerforma estabelecida no contrato.”

8.Da simples leitura da norma, verifica-se a uma das formas estabelecidas na mesma para afixação do valor a pagar pela autorização concedida para a fixação para a utilização da obra é uma

faculdade do autor e não uma obrigação.

9.A leitura deste preceito não pode deixar de ter em conta um dos princípios base aplicáveis a

todas as modalidades de utilização da obra: o princípio da liberdade, segundo o qual, de acordo

com o artº68, nº3 do CDA “pertence em exclusivo ao titular do direito de autor a faculdade deescolher livremente os processos e as condições de utilização e exploração da obra.

10.Ora, daqui se depreende que a norma do artº110 do CDA não conduz necessariamente àconclusão retirada pelo tribunal a quo, além de que esta conclusão é violadora do preceito referido,

da norma plasmada no artº68, nº3 do CDA.

11.Assim sendo, mesmo que a A. tivesse concedido qualquer autorização ao promotor doespectáculo, aquela estaria sempre legitimada a estabelecer, como remuneração pela outorga do

direito a executar, os critérios referidos no artº18 da pi.

12.Tendo-se provado quanto a estes critérios que nas datas dos concertos, a A. fixava o

coeficiente de 4,4% em salas de lotação estabilizada ou fixava 5% em salas de lotação certa,constando explicitamente das facturas de fls.27 a 312, que a percentagem incidiu sobre o montante

correspondente a lotação esgotada, de acordo com os valores dos bilhetes apontados nessas

mesmas facturas.”.

13.Assim sendo, salvo melhor opinião, está a recorrente convencida que a conclusão retirada pelotribunal de que a fixação dos critérios de retribuição dos autores que viram as suas obras utilizadas

não foi feita à revelia de lei expressa mas antes e tão só no uso do princípio legal da liberdade.

14.Se no regime da autorização o autor tem a liberdade de fixar, de acordo com o princípio da

liberdade, as condições de utilização das suas obras, incluindo-se nessas condições o preço, pormaioria de razão, sempre que a utilização desse trabalho criativo seja feito sem a préviaautorização do autor, ou de quem o represente, o autor mantém a mesma autonomia e liberdade

para a fixação dessas condições.

15.A sua liberdade apenas fica limitada às condições de espaço, tempo e modo, uma vez que estas

foram unilateralmente fixadas por quem utilizou as obras, deixando, apenas para o titular do direitodo autor a fixação do preço.

16.No caso dos autos deram-se como assentes, de entre outros, os seguintes factos: “4.A Ré nãofixou previamente nos locais da realização os programas dos espectáculos.”.

Provou-se também que os autores das obras executadas são representados pela A; 5.na data dosconcertos referidos a A. fixava o coeficiente de 4,4% em salas de lotação estabilizada ou fixa e5% em salas de lotação certa.6.Nessa conformidade, procedeu à facturação nas datas com os

valores e referências constantes dos pontos 16,17,18 e 19 dos factos assentes; 20.O pagamento

28/11/11 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa

4/10dgsi.pt/jtrl.nsf/…/78efce5c9d91d7e7802573010032b49b?OpenDocument

das facturas não se verificou.

17.Tendo-se dado como provado o vertido em 6 competia à entidade que promove a execução – aRé fazer prova de que obteve autorização dos autores das obras executadas.

18.Autorização essa que haveria que ter sido dada por escrito, o que obrigava a Ré a fazer provada mesma junção aos autos de um ou de vários documentos, o que não aconteceu.

19.Daqui, por conseguinte, apenas se pode retirar uma conclusão, a Ré não estava sequerautorizada a utilizar as obras dos autores representados pela Autora.

20.De forma diferente parece apreciar o tribunal ao analisar a questão dos cantores-autores oudos autores intérpretes.

21.Refere-se contudo que no caso concreto, de nada serve convidar para a discussão a questãodos autores/intérpretes de molde a poder concluir-se pela existência de uma autorização naturaldos mesmos e dai seguir-se para o regime do artº110.

22.Na realidade, esta discussão apenas chega a ser sempre que a Ré alegue o prove que osautores que a Autora representa e cujas obras foram executadas são simultaneamente os seus

intérpretes.

23.Ora este facto não surge no rol dos factos assentes.

24.Pelo que resulta que seja qual for o caminho a seguir nos autos, parece evidente a obrigação doRé de proceder ao pagamento dos direitos de autor devidos pela utilização de obras de natureza

intelectual, sendo os autores ou quem legalmente os represente quem fixa livremente o preço.

25.Assim sendo apenas resta terminar dizendo que não existe qualquer autorização para a

utilização das obras.

26.Que os autores têm direito legal de fixar as condições de utilização das mesmas, incluindo

nessas condições o preço.

27.E que o promotor dos espectáculos não procedeu ao pagamento do valor devido por essas

utilizações.

28. Pelo exposto, entende-se que se fará Justiça considerando-se que a forma que a Autora fixou

as condições de preço da utilização das obras dos autores por si representados é valida porquefeita segundo os princípios de direito aplicáveis e as leis em vigor.

29. Entendendo-se que a decisão recorrida violou nomeadamente as normas legais plasmadas nosartº9, nº1 e 2, 41, nº3, 67, nº2, 68, nº3, 109, nº2, 110 ex vi artº121 do CDADC.

A final, pede que seja alterada a sentença na parte que absolveu a Ré por não ter elementos paraproceder à condenação da Ré no pagamento de qualquer quantitativo remuneratório dos direitosde autor dos criadores associados da Autora ou de congéneres por esta representadas por outra

decisão que condene a Ré no pagamento dos direitos de autor devidos pela utilização das obras emquestão.

A Ré contra – alegou refutando a argumentação da recorrente e concluindo pelo acerto dojulgado.

28/11/11 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa

5/10dgsi.pt/jtrl.nsf/…/78efce5c9d91d7e7802573010032b49b?OpenDocument

Corridos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir.

II – FUNDAMENTAÇÃO

A. OS FACTOSA instância recorrida fixou como provada a factualidade seguinte:

1 - A A. é uma sociedade cooperativa constituída de acordo com o Código Cooperativo que detémpersonalidade jurídica por força do disposto no art.º 1.º do Decreto 10.860, de 22 de Junho de 1925.

2 - A R. é uma sociedade por quotas que tem por objecto a promoção de espectáculos erepresentações.

3 - A R. promoveu, em Portugal, os espectáculos realizados em 29 de Junho de 1994, na Praça deTouros do Campo Pequeno, em Lisboa, com os agrupamentos musicais 4 Non Blondes e IrmãosCatita, em 2 e 3 de Outubro de 1994, no Coliseu dos Recreios do Porto, com Brian Ferry, em 3 de

Dezembro de 1995, no Aquaparque, em Lisboa, com os agrupamentos musicais Sacred Sin eTherapy, em 20 de Setembro de 1996, no estado do Restelo, com os agrupamentos musicaisCorrosion of Conformity e Metallica e, em 10 de Outubro de 1997, no Pavilhão Dramático de

Cascais, com os agrupamentos musicais Anger, Kill II This e Megadeth.

4 - A R. não afixou previamente nos locais da realização, os programas dos espectáculos aludidos

em 3).

5 - A R. procedeu ao depósito da quantia de Esc. 700 000$00 à ordem do processo […], respeitante

ao espectáculo com os agrupamentos musicais 4 Non Blondes e Irmãos Catita, em 29 de Julho de1994.

6 - A R. procedeu ao depósito da quantia de 1 601 413$00, à ordem do processo nº […] relativo aoconcerto de Brian Ferry, em 3 de Outubro de 1994.

7 - A R. procedeu ao depósito da quantia de Esc. 104 726$00, à ordem do processo n.º […] relativoao concerto dos grupos Sacred Sin e Therapy, no dia de 3 de Dezembro de 1995.

8 - A R. procedeu ao depósito da quantia de Esc. 10 261 905$00, à ordem do processo nº […]relativo ao concerto Corrosion of Conformity e Metallica no dia 20 de Setembro de 1996.

9 - A R. procedeu ao depósito da quantia de Esc. 833 333$00 à ordem do processo n.º […] relativoao concerto dos grupos Anger, Kill II This e Megadeth no dia 10 de Outubro de 1997.

10 - Posteriormente a tais depósitos a R. tem vindo a requerer o seu levantamento.

11 - Linda Perry, Katrina Sirdofsky, Shaunna E. Hall, Jimmy Page, Robert Plant, John Baldwin

(Us) Warner Music Portugal, Ldª, Jay Hawkins, Wilbert Harrison, Brian Ferry, John WinstonLennon, Andrew Edwin Mackay, Emi Songs Espana Sucursal Portugal, BMJ Edições Musicais,Lda., José Carlos Lopes da Costa, Júlio Edições Musicais, Lda., Andrew James Cairns, Michael

Robert Mckeegan, Ian Kevin, Peter Hook, Stephen Paul David Morris, Bernard Sumner, MCAMusic, Ltd, Tyfe Alexander Ewing, Southern Songs Ltd, Grant Vernon, Nora Hi Art Music, BugMusic Grup, Clipers SL Ediciones Musicales, Mark Jeffrey Mynett, Intermúsica-Representações

Musicais e Artísticas, Poligram-Discos, SA, Clifford Lee Burton, Lars Ulrich, Kirt L Hammett,James Alan Hetfield, Greeping Death Music, Gleen Daning Evilive Music, Brian Andrew Tatler,Anthony Bourge, Shelley, Yan Frases Kilmister, Eduard Allan Clarke, Philip John Taylor, Motor

Music Ltd, Tro Thomas Michael Dean, Wood Weatherman, Corrosive Music e Sony Music

28/11/11 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa

6/10dgsi.pt/jtrl.nsf/…/78efce5c9d91d7e7802573010032b49b?OpenDocument

Publishing SRL são associados da A. ou associados em congéneres da A.

12 - No concerto de 29 de Junho de 1994, na Praça de Touros do Campo Pequeno, foram

executadas obras de Linda Perry, Shaunna e Hall (Warner Music Portugal, Ldª e Jimmy Page,Robert Plan John Bonham John Baldwin e Warner Music Portugal, Lda.

13 - Nos espectáculos realizados em 2 e 3 e Outubro de 1994, no Coliseu dos Recreios de Lisboa edo Porto, foram executadas obras de Jay Hawkins, Emi Song Espana Sucursal Portugal BrianFerry BMG Edições Musicais, Ldª John Winston Lennon, Andrew Edwin Macky BMG Edições

Musicais, Ldª, Wilbert Harrison, Warner Music Portugal, Lda.

14 - No concerto realizado em 3 de Dezembro de 1995, no Aquaparque, em Lisboa, foramexecutadas obras de José Carlos Lopes da Costa, Andrew James Cairns, Mca Music Lda, Emi-

Songs Espana Sucursal, Portugal, Ian Kevin Curtis, Peter Hook, Stephen Paul David Morris

Bernard Sumner, BMG Edições Musicais, Ldª, Fyfe Alexander Ewing Michael Robert Mckeegan,Grant Vernon Hart, Nora Hi Art Music.

15 - Na data dos concertos referidos, a Autora fixava o coeficiente de 4, 4% em salas de lotação

estabilizada ou fixa e 5% em salas sem lotação certa.

16 - Nessa conformidade, procedeu à facturação, em 6/12/1994, da importância de 114.514$00(factura n.º 03F/1001/94).

17 - Procedeu à facturação da importância de Esc.1.420.084$00 (factura nº03F/968/94E).

18 - Procedeu à facturação da importância de Esc. 10 261 905$00, em 11/10/96 (factura n.º

03F/1242/96).

19 - Procedeu à facturação da importância de Esc. 333 333$00, em 13/11/97 (factura n.º03F/1190/97).

20 - O pagamento das facturas não se verificou.

21 - A R., ao contactar os artistas intérpretes, não conhecia com exactidão o reportório que estes

iriam executar.

B. ENQUADRAMENTO JURÍDICO

Importa agora conhecer do objecto do recurso circunscrito pelas respectivas conclusões –

arº684,nº3 e 690 do CPC.

A temática dos direitos de autor subjacente à causa trouxe aos autos um profícuo debate jurídicoacerca do direito reclamado pela Autora, aqui representando os interesses dos criadores das obras

– canções – apresentadas nos diversos espectáculos enunciados e de cuja promoção foi a Ré

responsável.

A complexidade da matéria, designadamente, a indagação da legitimidade da intervenção daAutora e dos seus poderes representativos, saber a quem cabe obter autorização para a execução

pública das obras musicais, a onerosidade da reprodução pela Ré promotora do espectáculo, e

também, e questão da dupla protecção jurídica do direito na eventualidade da qualidade simultâneade autor e intérprete, suscitaram tratamento conceptual alargado, incluindo a junção de elucidativo

parecer do Prof. Ferrer Correia.

28/11/11 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa

7/10dgsi.pt/jtrl.nsf/…/78efce5c9d91d7e7802573010032b49b?OpenDocument

Porém, o sentido alcançado na sentença e a conformação da Ré no restante, reduziuconsideravelmente a reapreciação temática nesta instância.

Temos assim, que o tribunal reconheceu a legitimidade da Autora[1] como representante dos

interesses dos autores e intérpretes, os pressupostos do direito peticionado em relação à Ré noreferente à retribuição devida aos autores – intérpretes, conquanto esta não provou que a pagasse

directamente aos mesmos.

A sentença, todavia, acabaria por absolver a Ré, considerando que a Autora, no tocante à

definição – quantificação da retribuição que reclama, não cumpriu o devido ónus de prova,frustrando por esta via o exercício do seu direito.

Donde, restam para análise as questões emergentes que a seguir enunciamos:

1ª A retribuição a título de direitos autorais reclamados pela Autora em representação dos

criadores das obras interpretadas nos espectáculos promovidos pela Ré, pressupõe a prova dareceita efectiva de bilheteira obtida, ou, é quantificada pela receita máxima expectável?

2ª A obrigação de pagamento de tais direitos poderá quantificar-se nos autos por recurso à

liquidação de sentença?

Apreciemos a primeira das questões, partindo da premissa segundo a qual, a subsunção jurídica

far-se-á através do regime legal dos direitos de autor.

Neste pressuposto, e conforme dispõe o artº67 do Código dos Direitos de Autor e Direitos

Conexos[2], nº1:”o autor tem o direito exclusivo de fruir e utilizar a obra, no todo ou em parte, no

que se compreendem, as faculdades de divulgar, publicar e explorar economicamente por qualquer

formam directa ou indirectamente, nos limites da lei. Nº2:”A garantia das vantagens patrimoniaisresultantes dessa exploração constitui, do ponto de vista económico, o objecto fundamental da

protecção legal.” [3]

Ficou provado que a Ré, promotora dos espectáculos musicais em destaque, não colheu junto dosautores das canções a respectiva autorização escrita e prévia que tornasse sem encargos a sua

reprodução no espectáculo; autorização para fruição ou utilização por terceiro a que se refere,

nomeadamente o artº41 do CDADC[4] e, no que concerne aos que assumiram a qualidade

simultânea de autor – intérprete[5], não logrou provar, igualmente, que lhes pagou, ou, à entidade

gestora dos direitos, quaisquer quantitativos a esse título.

Note-se que, tal como decorre da leitura conjugada dos art.º 107, 109 e 122 do CDADC, é aopromotor do espectáculo que incumbe assegurar por essa forma, a tutela dos direitos de autor.

Por outro lado, assente a onerosidade da divulgação das obras e os poderes de representação que

a Autora detém como vimos, o pomo do dissídio reside afinal em apurar quais são os critérios

legais e eventual ajuste contratual a atender na fixação da quantia reclamada pelo contrato deexecução de obra.

Aqui aportamos no disposto no artº110 do CDADC, que estipula:

“1.A retribuição do autor pela outorga do direito de representar poderá consistir numa quantiaglobal fixa, numa percentagem sobre as receitas dos espectáculos, em certa quantia por cada

espectáculo ou ser determinada por qualquer outra forma estabelecida no contrato.

2. Se a retribuição for determinada em função da receita do espectáculo, deve ser paga no diaseguinte ao do espectáculo respectivo, salvo se de outro modo tiver sido convencionado.

28/11/11 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa

8/10dgsi.pt/jtrl.nsf/…/78efce5c9d91d7e7802573010032b49b?OpenDocument

3. Sendo a retribuição determinada em função da receita de cada espectáculo, assiste ao autor o

direito de fiscalizar por si ou por seu representante as receitas respectivas.

4.Se o empresário viciar as notas de receita ou fizer uso de quaisquer outros meios fraudulentospara ocultar os resultados exactos da sua exploração incorrerá nas penas aplicáveis aos

correspondentes crimes e o autor terá o direito de resolver o contrato.”

São assim identificáveis três modos de remuneração dos direitos autorais: a) por uma quantia

global fixa; b) por uma percentagem sobre receitas dos espectáculos ou em certa quantia porespectáculo; c) por qualquer forma estabelecida no contrato.

Trata-se de capítulo que se entende reservado à autonomia privada, pelo que, dentro destes

limites da lei as partes poderão estipular livremente o modo de remuneração deste direito –obrigação (a autorização para a execução).

Contudo, as partes não estipularam qual o modo de retribuição, provando - se apenas neste

tocante, que a Autora tinha à época o seguinte procedimento: “ [6] Na data dos concertos referidos,

a Autora fixava o coeficiente de 4, 4% em salas de lotação estabilizada ou fixa e 5% em salas sem

lotação certa”.

Ora, posto que no caso em apreço não existia acordo na matéria, haverá que atender e aplicar,

supletivamente, os critérios legais acima indicados.

Significando que a ausência de convenção das partes sobre o valor da retribuição dos direitos

autorais não legitima a Autora a fixar unilateralmente o critério de remuneração que lhe aprouver,ou, o que maior vantagem patrimonial obtiver; como são os montantes contabilizados através de

percentagens incidentes sobre a receita correspondente à lotação completa ou esgotada ,

indicados como prática seguida por aquela à altura, s impondo-se , outrossim, a sua determinaçãoem função da disposição legal acima anunciada.

Donde, o critério elegível é precisamente aquele, em que a retribuição apurada depende da receita

efectiva do espectáculo, e nessa medida, como previsto nos nº2 e nº3 do preceito, pode oautor/representante (ou congénere) fiscalizar as receitas efectivas e a sua liquidação só poderá ser

feita a partir do dia seguinte ao do espectáculo.

Acompanhando, por conseguinte, o discorrido a propósito na sentença recorrida, a A. não podia,

optar, como pretende, pela indicação de valores remuneratórios pela outorga do direito deexecutar, correspondente à lotação esgotada ou receita máxima dos espectáculos.

Era à Autora que, nos termos do art.º 342, nº 1 do C. Civil, incumbia provar qual a lotação e receita

efectivas de cada espectáculo, designadamente, por via de procedimento de fiscalização, nãopodendo agora resguardar-se na presumível receita de lotação esgotada, o que é excluído, pelo

disposto nos art.º 121, nº 2 e 110, nº 1do CDADC.

De resto, sublinhe-se que, a aceitar a tese da recorrente, os autores receberiam então um valor

desproporcionado à “medida “ da reprodução da sua obra, quantificando a sua medida patrimonialpelo número de espectadores, que a natureza do direito e o sinalagma contratual naturalmente

equilibrado não justifica, aparentando até, salvo o devido respeito, prática abusiva.

Passando à 2ª questão ora residual.

Na verdade, considerando que a Autora pautou por essa “medida” de lotação esgotada, a

estrutura da acção e do seu pedido[7], não alegou, obviamente, os factos relativos à efectiva

28/11/11 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa

9/10dgsi.pt/jtrl.nsf/…/78efce5c9d91d7e7802573010032b49b?OpenDocument

ocupação e receita de cada um dos espectáculos, cuja prova lhe incumbiria, não tendo a Ré, por

seu turno, confessado na contestação qualquer valor de receitas efectivamente recebidas, estáfacilitada a decisão.

Acresce que, não se encontrando articulados os factos adequados e necessários à indagação da

medida do seu direito, não existe matéria controvertida neste domínio, e seria, também, inviável a

solução da ampliação da matéria de facto.

Por fim, a requerida liquidação em execução de sentença, solução que à semelhança da decisão

recorrida, afastamos.

Na verdade, não tendo a Autora alegado o suporte fáctico que fundamenta o seu pedido de direitos

autorais, não lhe pode o mesmo ser reconhecido, ainda que em tese esteja em condições de oexercer, e nessa situação, não se justifica a remessa para liquidação em execução de sentença. A

remissão para a execução de sentença estabelecida no artº661, nº2 do CPC, é legítima e deve

ocorrer, quando não haja elementos para fixar o objecto ou a quantidade do pedido, mas apenas nacircunstância de tal falta apenas ser consequência por não serem conhecidos ao tempo da acção ou

estarem em evolução, o que manifestamente não é o caso dos autos[8].

III-DECISÃOTermos em que acordam, em conferência, os Juízes desta Relação em julgar improcedente a

apelação, mantendo a douta sentença.

As custas ficam a cargo da recorrente.

Lisboa, 22 /5/07

Isabel Salgado

Roque Nogueira

Pimentel Marcos

__________________________________________________________________________________

[1] Com excepção para John Bruke e Raymond Anthony, cuja prova de os representar não foi

efectivada.

[2] Doravante designado pela sigla CDADC.

[3] Cfr. a propósito do conteúdo do direito, J.Oliveira Ascensão, in "Direito Civil-Direito de Autor

e Direitos Conexos", 1992, pag. 197

[4] “A não redução a escrito da autorização a que se reporta o art. 41º2 do Código do Direito de

Autor e dos Direitos Conexos não fulmina aquela de nulidade, já que se está ante uma formalidadead probationem cuja ausência leva, tão só, a transferir para o utilizador o ónus da prova “-Ac.STJ

de 14/3/06 in www.dgsi.pt.

[5] Nesta hipótese, por absurdo, não é exigível a autorização escrita, deduzindo-se da própriaactuação.cfr.Ac.STJ de 2/7/98 in CJ, II, pag.169

[6] Ponto 15 de I.

[7] Observe-se, como refere a recorrida nas suas contra-alegações, certamente porque ainda

assim não convencida, o STJ já em 1998 tinha decidido em acção proposta pela A contra a aqui Ré,

no mesmo sentido-cf.Ac.STJ de 26/3/98 in www.dgsi.pt, que seguimos, também, a par e passo

28/11/11 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa

10/10dgsi.pt/jtrl.nsf/…/78efce5c9d91d7e7802573010032b49b?OpenDocument

nestes autos. [8] V.Esta é orientação pacífica no STJ, v.entre outros, o AC.STJ de 13/1/2000 in www.dgsi.pt.