2. keynes: princÍpio da demanda efetiva e incerteza · emprego estáem certonível e a soma que se...

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2. KEYNES : PRINCÍPIO DA DEMANDA EFETIVA E INCERTEZA 2.1. DEMANDA EFETIVA, EMPREGO E RENDA Propens ão a Consumir Keynes, TG, caps. 8 (I a III) e 9 (I) 13/06/16 1

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Propensão aConsumir

2.KEYNES:PRINCÍPIODADEMANDAEFETIVAEINCERTEZA

2.1. DEMANDAEFETIVA,EMPREGOERENDA

Propensão aConsumir

Keynes,TG,caps.8(I aIII)e9(I)

13/06/16 1

Propensão aConsumir

• Demanda Efetiva

Produção e emprego determinados pela interseção entre oferta e demanda.

Determinantes das condições de oferta: “familiares” (qualidade e quantidade BK,m-d-o, tecnologia, grau de concorrência)

Determinantes da demanda (consumo e investimento): “o que se tem descuidado”

“O objetivo final de nossa análiseé descobrir o que determina o volumede emprego. Até aqui estabelecemos a conclusão preliminar de que ovolume de emprego é determinado pelo ponto de interseção da funçãode oferta agregada com a função de procura agregada. A função deoferta agregada, contudo, que depende principalmente das condiçõesfísicas da oferta, envolve poucas considerações que ainda não nos sãofamiliares. (...) Em termos gerais, porém, o que se tem descuidado é daparte correspondente à função de demanda agregada.” (Keynes,(1996[1936]), p.113)

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• Estudodosdeterminantesdoconsumo

“A função de demanda agregada relaciona determinado volume deemprego com o produto das vendas que se espera realizar desse volumede emprego. O produto das vendas forma-se pela soma de duasquantidades — a soma que será despendida em consumo quando oemprego está em certo nível e a soma que se destinará ao investimento.Os fatores que determinam estas duas quantidades são bastantediferentes. Neste livro estudaremos os primeiros, a saber, quais os fatoresque determinam a soma que se gastará em consumo quando o empregose acha em determinado nível; (...)” (Keynes, (1996[1936]), p.113)

• Propensão a consumir (χ): Cω = χ(Yω) ou C = W.χ(Yω)

A propensão a consumir estabelece a relação funcional entre o consumo e arenda

“Definiremos, portanto, aquilo a que chamaremos propensão a consumircomo a relação funcional χ entre Yω (determinado nível de renda medidaem unidades de salário) e Cω (o gasto que, para o consumo, se toma dodito nível de rendimento), de modo que Cω = χ(Yω) ou C = W.χ(Yω).”(Keynes, (1996[1936]), p.114-5)

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Propensão aConsumir• Influência da renda e de fatores objetivos e subjetivos sobre o consumo

A propensão a consumir depende de fatores subjetivos, relacionados apropensões psicológicas, hábitos dos agentes e distibuição de renda, quetendem a ser estáveis no curto prazo, e de fatores objetivos, que podemcausar modificações na relação entre o consumo e a rendacircunstancialmente.

“O montante que a comunidade gasta em consumo depende,evidentemente: (i) em parte, do montante da sua renda; (ii) em parte,de outras circunstâncias objetivas que o acompanham; e (iii), em parte,das necessidades subjetivas, propensões psicológicas e hábitos dosindivíduos que o compõem, bem como dos princípios que governam adistribuição da renda entre eles (que são passíveis de modificações àmedida que aumenta a produção). Os motivos que impelem a gastarcaracterizam-se por sua interação, e uma tentativa de classificá-lospode levar a divisões arbitrárias. Não obstante isso, para clareza dasidéias, vamos separá-los em duas categorias, que chamaremos fatoresobjetivos e fatores subjetivos. ” (Keynes, (1996[1936]), p.114)

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• Apresentação dos fatores subjetivos

Fatores associados ao caráter psicológico, costumes e instituições sociais, quese alteram apenas a longo prazo

“Os fatores subjetivos (...) incluem as características psicológicas danatureza humana, bem como os costumes e as instituições sociais que,embora não imutáveis, apresentam poucas probabilidades de sofrervariações ponderáveis em curto período de tempo, salvo circunstânciasanormais ou revolucionárias.” (Keynes, (1996[1936]), p.114)

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• Fatores subjetivos

Oito motivos para se abster de gastar

“Há, em geral, oito motivos ou fins importantes de caráter subjetivo emvirtude dos quais os indivíduos se abstêm de gastar sua renda:”

ü Precaução (contingência)

“(i) constituir uma reserva para fazer face a contingências imprevistas;”

ü Previdência (futuro)

“(ii) preparar-se para uma relação futura prevista entre a renda e asnecessidades do indivíduo e sua família, diferente da que existe nomomento, como por exemplo no que diz respeito à velhice, à educaçãodos filhos ou ao sustento das pessoas dependentes;” (Keynes,(1996[1936]), p.127)

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• Fatores subjetivos

ü Cálculo (juro e valorização)

“(iii) beneficiar-se do juro e da valorização, isto é, porque um consumoreal maior em data futura é preferível a um consumo imediato maisreduzido;”

“A longo prazo, é provável que variações substanciais na taxa de jurostendam a modificar consideravelmente os hábitos sociais e, portanto, apropensão subjetiva a despender”

ü Melhoria (gastos crescentes)

“(iv) desfrutar de um gasto progressivamente crescente, satisfazendo,assim, um instinto normal que leva os homens a encarar a perspectivade um nível de vida que melhore gradualmente, de preferência aocontrário, mesmo que a capacidade de satisfação tenda a diminuir;”(Keynes, (1996[1936]), p.127)

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• Fatores subjetivos

ü Independência (liberdade)

“(v) desfrutar de uma sensação de independência ou do poder de fazeralgo, mesmo sem idéia clara ou intenção definida da ação específica;”

ü Iniciativa (projetos)

“(vi) garantir uma masse de manoeuvre para realizar projetosespeculativos ou econômicos;”

ü Orgulho (herança)

“(vii) legar uma fortuna;”

ü Avareza (mesquinhez)

“(viii) satisfazer a pura avareza, isto é, inibir-se de modo irracional, maspersistente, de realizar qualquer ato de despesa como tal.” (Keynes,(1996[1936]), p.127-8)

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• Lista dos oito motivos para se abster de gastar por parte dos indivíduos

“Estes oito motivos podem ser chamados de: Precaução, Previdência,Cálculo, Melhoria, Independência, Iniciativa, Orgulho e Avareza; tambémpoderíamos formular uma lista de motivos para consumir tais como:Prazer, Imprevidência, Generosidade, Irreflexão, Ostentação eExtravagância.” (Keynes, (1996[1936]), p.128)”

• Poupança por parte de governos, instituições e empresas (motivossemelhantes)

“Além das poupanças acumuladas pelos indivíduos há também umagrande proporção de rendas, variável talvez, numa comunidade industrialmoderna como a Grã-Bretanha ou os Estados Unidos, entre um e doisterços da acumulação total, que é retida pelos Governos centrais oulocais, por instituições e por empresas comerciais — por motivos muitosemelhantes, mas não idênticos, aos que animam os indivíduos e maisparticularmente pelos quatro seguintes:” (Keynes, (1996[1936]), p.128)

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• Poupança por parte de governos, instituições e empresas

ü MotivoEmpresa

“(i) o motivo de empresa — conseguir recursos para realizar um novoinvestimento de capital, sem contrair dívida ou recorrer ao capital domercado;”

ü MotivoLiquidez

“(ii) o motivo de liquidez — garantir recursos líquidos para enfrentar asemergências, dificuldades e crises;”

ü MotivoMelhoria

“(iii) o motivo de melhoria — assegurar um aumento gradual de rendaque, incidentalmente, isentará os dirigentes da crítica, visto que noaumento da renda é difícil distinguir o que resulta da acumulação do queprovém da eficiência;” (Keynes, (1996[1936]), p.128)

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• Poupança por parte de governos, instituições e empresas

ü Motivoprudênciafinanceira

“(iv) o motivo da prudência financeira e a preocupação de se sentirseguro pela constituição de uma reserva financeira que exceda o custode uso* e o custo suplementar**, demodo que liquide os débitos e queamortize o custo do ativo a um ritmo antes superior do que inferior aoritmo real de desgaste e obsolescência, dependendo a força destemotivo sobretudo da quantidade e da natureza do equipamento decapital e da rapidez do progresso técnico”. (Keynes, (1996[1936]), p.128)

* custo de uso é o custo do giro de vendas (consumo do capital –depreciação “voluntária” – mais materiais)

** custo suplementar é o custo da depreciação involuntária e previsíveldo equipamento (excedente à depreciação prevista no custo de uso –ex. desgaste por obsolescência ou ação do tempo)

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• Fatores subjetivos mudam lentamente....

“Agora, a força de todos estes motivos varia enormemente segundo asinstituições e a organização da sociedade econômica que presumimos;segundo os hábitos devidos à raça, à educação, às convenções, à religiãoe às atitudes morais correntes; segundo as esperanças atuais e aexperiência passada; segundo a escala e a técnica do equipamento decapital; segundo a forma prevalecente da distribuição da riqueza e osníveis de vida estabelecidos. Todavia, na tese que constitui o objetivodesta obra, não nos ocuparemos, exceto em digressões ocasionais, dosresultados das mudanças sociais de longo prazo nem dos lentos efeitosdo progresso secular. Isso significa que daremos por aceita a base dosmotivos subjetivos que levam, respectivamente, a poupar e a consumir.Na medida em que a distribuição da riqueza é determinada pelaestrutura social mais ou menos permanente da comunidade, podemosigualmente considerar essa base um fator que só varia em ritmo lento eno curso de um longo período, o que também daremos por aceito nopresente estudo.” (Keynes, (1996[1936]), p.129)

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• Fatores subjetivos mudam lentamente...

...portanto, no curto prazo, não exercem influência sobre a propensão aconsumir, sendo as alterações no consumo decorrentes de alterações narenda.

Função consumo: Cω = χ(Yω)

“Considerando, portanto, que a base principal das forças subjetivas esociais muda lentamente, enquanto por outro lado a influência a curtoprazo nas alterações da taxa de juros e outros fatores subjetivos é, nomais das vezes, de importância secundária, somos levados a concluirque as variações de curto prazo no consumo dependem, em grandeparte, das alterações do ritmo com que se ganham as rendas (medidasem unidades de salário) e não das variações na propensão a consumiruma parte de determinada renda.” (Keynes, (1996[1936]), p.129)

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• Fatores objetivos que influem na propensão a consumir

ü Variação na unidade de salário: Cω = χ(Yω)

Consumo depende da renda real, portanto variações na unidade de salárioacompanhadas de variações de preços não têm impacto significativo napropensão a consumir, já definida em termos da renda medida em unidades desalário.

“Os principais fatores objetivos que influem na propensão a consumirparecem ser os seguintes:(1) Uma variação na unidade de salário. O consumo (C) é,evidentemente, uma função (em certo sentido) muito mais da renda realdo que da renda nominal. (...) Podemos, portanto, admitirrazoavelmente, como primeira aproximação, que, se a unidade de saláriovaria, o gasto em consumo correspondente a certo nível de empregovariará assim como os preços, na mesma proporção (...). Além do mais,já consideramos anteriormente as variações na unidade de salário,quando definimos a propensão a consumir em termos de renda medidaem unidades de salário.” (Keynes, (1996[1936]), p.114-5)

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• Fatores objetivos que influem na propensão a consumir

ü Variação na diferença entre renda e renda líquida

Consumo depende mais da renda líquida, portanto mudanças na diferençaentre a renda líquida e a renda podem alterar a propensão a consumir. (ex.elevação da renda líquida em relação à renda pode aumentar a propensão aconsumir). Mas este fator não tende a ter importância prática, visto que estarelação, em geral, permanece estável.

Renda Líquida = Renda – Custo Suplementar

Custo suplementar é o custo da depreciação involuntária e previsível doequipamento (excedente à depreciação prevista no custo de uso – ex. desgastepor obsolescência ou ação do tempo)

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• Fatores objetivos que influem na propensão a consumir

ü Variação na diferença entre renda e renda líquida

“(2) Uma variação na diferença entre renda e renda líquida.Demonstramos antes que o montante do consumo depende mais darenda líquida do que da renda, visto que, por definição, é a renda líquidaque o indivíduo tem em mente, antes de mais nada, quando decide aescala do seu consumo. Em determinada situação pode existir certarelação estável entre ambos os conceitos (...) Entretanto, se não for esteo caso, a parte da variação da renda que não afete a renda líquida deveser negligenciada, pois não influi sobre o consumo; e, de formasemelhante, deve ser levada em conta a variação na renda líquida quenão reflita na renda. Todavia, salvo circunstâncias especiais, duvido queeste fator tenha importância prática.” (Keynes, (1996[1936]), p.115)

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• Fatores objetivos que influem na propensão a consumir

ü Variações imprevistas nos valores de capital não considerados nocálculo da renda líquida

Valorização de ativos (ex. ações e perpetuidades) e o efeito riqueza

“(3) Variações imprevistas nos valores de capital não considerados nocálculo da renda líquida. Estas variações têm importância muito maiorpara modificar a propensão a consumir por não guardarem nenhumarelação estável ou regular com o montante da renda. O consumo dasclasses proprietárias de riqueza pode ser extremamente suscetível àsvariações imprevistas no valor nominal de seus bens. Este fator deveser considerado entre os mais importantes daqueles capazes deocasionar variações de curto prazo na propensão a consumir”. (Keynes,(1996[1936]), p.115)

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• Fatores objetivos que influem na propensão a consumir

ü Variações na taxa intertemporal de desconto

Influência direta de pequenas variações da taxa de juros sobre o consumo nocurto prazo é secundária...

“(4) Variações na taxa intertemporal de desconto, isto é, na relação de trocaentre os bens presentes e os bens futuros. (...) A título de aproximação,contudo, podemos identificar isto com a taxa de juros. (...) (N)ão é provávelque o tipo usual de flutuação a curto prazo na taxa de juros tenha muitainfluência direta sobre os gastos, num sentido ou no outro. Raras são aspessoas que alteram o seu modo de vida porque a taxa de juros baixou de 5para 4%, quando a sua renda agregada permanece a mesma. (...) (A)conclusão mais importante sugerida pela experiência é, segundo creio, a deque a influência a curto prazo da taxa de juros sobre os gastos individuaisfeitos com determinada renda é secundária e relativamente de poucaimportância, excetuando-se, talvez, o caso de variações excepcionalmentegrandes.” (Keynes, (1996[1936]), p.116)

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• Fatores objetivos que influem na propensão a consumir

ü Variações na taxa intertemporal de desconto

Influência indireta (sobre valor dos ativos, ex. Pt = C/r), já capturada no itemanterior.

“Talvez a influência mais importante, que opera através de variações nataxa de juros sobre a propensão a gastar fundos provenientes dedeterminada renda, seja o efeito dessas variações sobre a alta ou baixado preço de títulos e de outros ativos. Se uma pessoa se beneficia de umaumento inesperado no valor de seu capital, é natural que os seusmotivos para gastar no período corrente se fortaleçam (ainda que emtermos de renda o valor de seu capital não tenha aumentado), ao passoque, se estiver sofrendo perdas de capital, seus motivos para gastarenfraquecerão. Já no item (3), porém, levamos em conta esta influênciaindireta.” (Keynes, (1996[1936]), p.116)

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• Fatores objetivos que influem na propensão a consumir

ü Variações na política fiscal

Alterações em impostos sobre lucros e sobre heranças, por exemplo, podeminduzir a variações do consumo em relação à renda. Políticas de distribuição derenda também podem ter impacto sobre a propensão a consumir.

“(5) Variações na política fiscal. Se o incentivo do indivíduo para poupardepender dos futuros rendimentos que espera, ele evidentementedependerá não só da taxa de juros como também da política fiscal doGoverno. Os impostos sobre a renda, particularmente quando gravam arenda “não ganha”, os impostos sobre lucros de capital, sobre herançasetc., são tão importantes quanto a taxa de juros, sendo mesmo possívelque as modificações eventuais da política fiscal tenham, pelo menos nasexpectativas, maior influência que a própria taxa de juros. Se a políticafiscal for usada como um instrumento deliberado para conseguir maiorigualdade na distribuição das rendas, seu efeito sobre o aumento dapropensão a consumir será, naturalmente, tanto maior.” (Keynes,(1996[1936]), p.117)

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Propensão aConsumir

• Fatores objetivos que influem na propensão a consumir

ü Variações na política fiscal

Impacto negativo da austeridade fiscal sobre a demanda agregada (análogo àredução da propensão a consumir)

“Convém levar igualmente em conta a influência exercida sobre apropensão agregada a consumir pelos fundos de amortização que oGoverno reserva para saldar sua dívida, utilizando o produto dosimpostos comuns. Estes fundos representam uma espécie de poupançade empresa, de modo que uma política tendente a criar grandes fundosde amortização deve ser considerada, em determinadas circunstâncias,uma forma de reduzir a propensão a consumir. Por esta razão, umareviravolta da política do Governo, passando do endividamento àcriação de fundos de amortização (ou vice-versa), pode ocasionar umaséria diminuição (ou notável expansão) da procura efetiva.” (Keynes,(1996[1936]), p.117)

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• Fatores objetivos que influem na propensão a consumir

ü Modificações das expectativas acerca da relação entre os níveispresentes e futuros da renda

Expectativas positivas e negativas tendem a se anular na economia como umtodo, podendo ser desconsiderado seu efeito sobre a propensão a consumir.

“(6) Modificações das expectativas acerca da relação entre os níveispresentes e futuros da renda. Devemos incluir este fator para que aenumeração seja completa. Mas, embora ele possa afetarconsideravelmente a propensão a consumir de um indivíduo, é provávelque, quando se trata da comunidade como um todo, seus efeitostendam a compensar-se. Ademais, trata-se de uma questão que suscita,em geral, muita incerteza para poder exercer influência importante”.(Keynes, (1996[1936]), p.117)

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• Estabilidade da propensão a consumir: Cω = χ(Yω)

A propensão a consumir tende a ser relativamente estável no curto prazo,sendo modificada apenas por flutuações imprevistas nos valores de capital evariações substanciais na taxa de juros e na política fiscal, uma vezdesconsiderada variações no poder de compra dos salários.

“Chegamos, pois, à conclusão de que, em determinada situação, apropensão a consumir pode ser considerada uma função relativamenteestável desde que tenhamos eliminado as variações na unidade desalário em termos de moeda. As flutuações imprevistas nos valores decapital podem modificar a propensão a consumir, bem como poderãoafetá-la variações substanciais na taxa de juros e na política fiscal;porém, não é provável que os outros fatores objetivos capazes de atuarsobre ela, conquanto não devam ser desprezados, tenham importânciaem circunstâncias comuns.” (Keynes, (1996[1936]), p.118)

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• Estabilidade da propensão a consumir e a importância do nível de rendana determinação do consumo

O nível de produção (renda) é o principal fator que determina o consumo,sendo os determinantes da propensão a consumir relativamente estáveis nocurto prazo.

“Em virtude da situação econômica geral, o fato de o gasto deconsumo, em termos de unidade de salário, depender essencialmentedo volume da produção e do emprego justifica o agrupamento dosoutros fatores na expressão composta “a propensão a consumir”. Istoporque, conquanto os demais fatores possam variar (e convém nãoesquecer isto), a renda agregada medida em unidades de salário é,regra geral, a principal variável de que depende o componenteconsumo da função de procura agregada.” (Keynes, (1996[1936]),p.118)

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Propensão aConsumirFatoresSubjetivos Fatores Objetivos

Indivíduo Firmas Motivos Observações

Precaução Empresa Variaçãonaunidadedesalário Apenasse alteraropoderdecompra

Previdência Liquidez Variaçãonadiferençaentrerendaerendalíquida

Pouca importânciaprática

Cálculo Melhoria Variaçõesimprevistasnosvaloresdecapital

Sim

Melhoria PrudênciaFinanceira

Variaçõesnataxaintertemporaldedesconto

Apenasgrandesvariações

Independência Variaçõesnapolíticafiscal Apenasgrandesvariações

Iniciativa Modificaçõesdasexpectativasacercadarelaçãoentreosníveispresentese

futurosdarenda

Não temimpacto,poissecompensam

Orgulho

Avareza

Estabilidadedapropensãoaconsumir:Cω =χ(Yω)

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• Forma da função consumo: Cω = χ(Yω), 0 < ΔCω/ΔYω < 1

O crescimento do consumo é menor do que o crescimento da renda...

“Admitindo, pois, que a propensão a consumir é uma função bastanteestável, de maneira que, em geral, o montante do consumo agregadodepende principalmente do montante da renda agregada (ambos medidosem unidades de salário), e considerando de importância secundária asvariações na mesma propensão, qual é a forma normal desta função?

A lei psicológica fundamental em que podemos basear-nos com inteiraconfiança, tanto a priori, partindo do nosso conhecimento da naturezahumana, como a partir dos detalhes dos ensinamentos da experiência,consiste em que os homens estão dispostos, de modo geral e em média, aaumentar o seu consumo à medida que a sua renda cresce, embora nãoem quantia igual ao aumento de sua renda. Isto quer dizer que, se Cω é omontante do consumo e Yω o da renda (ambos medidos em unidades desalário), ΔCω tem o mesmo sinal que ΔYω, porém é de grandeza menor,isto é, dCω/dYω é positivo e inferior à unidade”. (Keynes, (1996[1936]),p.118-9)

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Propensão aConsumir

• Forma da função consumo: Cω = χ(Yω), 0 < ΔCω/ΔYω < 1

O crescimento do consumo é menor do que o crescimento da renda, devido àdefasagem para adaptação do padrão de vida...

“O padrão de vida habitual de um indivíduo baseia-se na primeirasatisfação que pode extrair da sua renda, e ele tende a poupar adiferença que surge entre a sua renda efetiva e as despesascorrespondentes ao seu padrão costumeiro de vida; ou então, no casode acomodar os seus gastos às variações na sua renda em períodoscurtos, só o fará imperfeitamente. Por conseguinte, uma rendacrescente será com frequência acompanhada de uma poupança maior,e uma renda decrescente o será de uma poupança menor, em maiorescala a princípio do que posteriormente”. (Keynes, (1996[1936]),p.118-9)

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Propensão aConsumir

• Forma da função consumo: Cω = χ(Yω), 0 < ΔCω/ΔYω < 1

O crescimento do consumo é menor do que o crescimento da renda, devido àdefasagem para adaptação do padrão de vida, e torna-se cada vez menorconforme a renda aumenta em função da maior margem para satisfação dos“motivos para poupar” uma vez satisfeitas as “necessidades primáriasimediatas”.

“Fora das variações de curto período no nível da renda, porém, tambémé evidente que a elevação absoluta do montante da renda contribui, viade regra, para alargar a brecha entre a renda e o consumo. Isso porque asatisfação das necessidades primárias imediatas de um indivíduo e desua família é, normalmente, mais forte que os seus motivos parapoupar, que só adquirem predomínio efetivo quando se alcançadeterminado nível de conforto. Estas razões fazem com que, em geral,uma proporção maior da renda seja poupada à medida que a renda realaumenta”. (Keynes, (1996[1936]), p.119)

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Propensão aConsumir

• Forma da função consumo: Cω = χ(Yω), C = Co + bY, 0 < b = ΔC/ΔY < 1

Existência de consumo autônomo, mantido, por exemplo, por meio do uso dereservas acumuladas ou auxílio desemprego.

“Por outro lado, uma diminuição da renda devida à queda no volume deemprego, se for além de certos limites, pode muito bem ser motivo paraque o consumo exceda a renda, não apenas porque os indivíduos ouinstituições passam a utilizar as reservas financeiras acumuladas emmelhores dias, como também porque o Governo, deliberadamente ounão, poderá cair num déficit orçamentário ou poderá vir a fornecerauxílio em caso de desemprego, por exemplo, com dinheiro emprestado.Por isso, quando o emprego desce a um nível baixo, o consumo agregadocairá em volume menor que a diminuição da renda real, tanto por forçadas reações habituais dos indivíduos como por força da política prováveldos Governos, o que explica a possibilidade de conseguir, muitas vezes,uma nova posição de equilíbrio dentro de limites razoáveis de flutuação.Se assim não fosse, o declínio do emprego e da renda, uma vez iniciado,poderia ir muito longe”. (Keynes, (1996[1936]), p.119)

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Propensão aConsumir

• Forma da função consumo: Cω = χ(Yω), C = Co + bY, 0 < b = ΔC/ΔY < 1

Apenas o consumo não justifica aumento daprodução. Para uma dada propensão aconsumir, maiores níveis de rendadependem de um nível maior deinvestimento.

“Este princípio simples leva, como se poderáver, à mesma conclusão de antes, a saber, oemprego só pode aumentar pari passu comum aumento do investimento; a não ser,bem entendido, que ocorra alguma mudançana propensão a consumir. Com efeito, vistoque no caso de um aumento do emprego osconsumidores vão gastar menos do que oaumento no preço da oferta agregada, o ditoaumento de emprego se revelarádesvantajoso, a não ser que um acréscimono investimento venha preencher a lacuna”.(Keynes, (1996[1936]), p.119-120)

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