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2 Hernâni Vilaça, in memoriam

3 Apontamentos sobre uma Saúde desreguladaEditorial de Miguel Leão

Política de Saúde 6 Ensaios clínicos em Portugal

Entrevista com a Dra. Ana Maria Nogueira, Presidente da Associação deMédicos Portugueses da Indústria Farmacêutica

Opinião12 Uma eufemística “receita médica”: tempo para buro-

cracia versus tempo para o doenteA nova “receita médica” vista pelo Prof. Doutor Aureliano da Fonseca

Notícias16 Recital de piano a quatro mãos

Rui Soares da Costa e Maria Margarida Teixeira, juntos no auditório doCentro de Cultura e Congressos

16 IV Encontro Internacional de Coros do PortoIniciativa do Coral do ICBAS teve apoio da SRNOM

17 Reunião/debate sobre a organização dos serviços desaúde materno-infantilA matéria esteve em discussão na SRNOM

18 Prémio Corino de Andrade 2003Atribuído à Fundação Bial pelo inexcedível apoio à investigação

20 Juramento de HipócratesAos boas vindas aos mais novos, no mesmo dia em que sehomenagearam também os mais velhos

22 Festa de NatalNovamente este ano, uma dia de enorme alegria para a pequenada

Cultura24 No rescaldo da I Exposição de ArteMédica...

Fomos conhecer Adão Cruz e Alfredo Soares28 História médica portuense – XIV

A. S. Maia Gonçalves33 3 discos & 3 livros

As sugestões do cineasta Manoel de Oliveira

Lazer35 2004 é ano Jubileu em Santiago de Compostela

Os Caminhos da peregrinação na nortemédico

Informação Institucional40 Actividades desenvolvidas pela SRNOM56 Agenda do Centro de Cultura e Congressos

REVISTA DA SECÇÃO REGIONAL DO NORTE DA ORDEM DOS MÉDICOS / OUTUBRO - DEZEMBRO 2003 / ANO 5 - Nº 4

http://nortemedico.pt

Director Miguel LeãoEditor Miguel Guimarães

Conselho EditorialAlfredo SoaresAna AntunesÂngelo AzenhaAntónio NetoFátima CarvalhoFátima OliveiraHernâni VilaçaJosé Afonso DominguesJosé Pedro Moreira da SilvaMachado LopesMarlene LemosNelson PereiraOlímpia CarmoPedro SilvaTorres da Costa

Secretário José Maria Moreira

Propriedade e administraçãoSecção Regional do Norte daOrdem dos MédicosRua Delfim Maia, 405 – 4200-256 PortoTelefone 225070100 • Telefax 225502547

Registo Instituto da Comunicação Social, nº 123481Depósito-Legal nº 145698/03Periodicidade TrimestralTiragem 12.000 exemplares

Redacção, composição e montagemMEDISA - Edições e Divulgações Científicas, LdaRua Gonçalo Cristóvão, 347 - s/2174000-270 PortoTelefone 222001479 • Telefax [email protected] 3NImpressão INOVA - artes gráficas

Cap

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HERNÂNI VILAÇA, IN MEMORIAM

No passado dia 30 de Dezembro de 2003, faleceu o Hernâni Vilaça.

Todos recordamos o amigo, o companheiro, o camarada.

Dedicamos-lhe a primeira página da Revista de que foi entusiasta e naqual colaborou.

Sentimos profunda saudade do seu sentido de humanidade, da simpa-tia, da afabilidade, do optimismo. Sentimo-nos prestigiados pela suadedicação aos doentes e à Medicina. Sentimo-nos honrados por ter sidonosso par e, por isso, com o seu desaparecimento, ficamos mais sós. Asua família, os seus doentes, os seus colegas, o seu Hospital de SantoAntónio a sua Ordem dos Médicos, o seu Conselho Regional do Norte.

O Hernâni Vilaça é os que estas imagens reproduzem. Um HomemBom e um Homem dos Outros.

Conhecedor da sua situação clínica, o Conselho Regional do Norte de-liberou atribuir-lhe a Medalha de Mérito da Ordem dos Médicos no diaanterior ao seu desaparecimento.

Temos a certeza que estamos a tempo. Porque o Hernâni Vilaça estarásempre no tempo e no lugar que merece. Até porque ele passaria, sem-pre, pelo mais estreito e escondido buraco de qualquer agulha.

Obrigado, Hernâni Vilaça

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nortemédico

No meio das múltiplas novelas que agitam a opiniãopública, a situação da saúde tem vindo a ser ignora-da pelos diversos intervenientes cívicos e políticos.Porque o País é muito mais do que aquelas novelas,vale a pena sistematizar algumas situações que, ape-sar de serem do domínio público, não motivaram adevida intervenção de quem deveria estar atento aosproblemas reais dos cidadãos e à transparência e dig-nidade da administração pública.

1 – Amadora-SintraComo é sabido, vários dirigentes do Ministério da Saú-de foram ferozmente criticados pela sua gestão do pro-cesso Amadora-Sintra, à frente da ARS-Lisboa/Vale doTejo. O Tribunal Arbitral, cuja decisão fundamentou aconclusão da existência de dívidas do Estado ao GrupoMello, ilibou-os de práticas ilícitas. As conclusões da-quele Tribunal contrariavam as conclusões da Inspec-ção-geral de Finanças e do Ministério Público junto doTribunal de Contas, mas foram curiosamente ignoradaspelo Ministro da Saúde. Não obstante, a renegociaçãorecentemente anunciada do acordo Estado-Grupo Melloparece que vai ser realizada por uma comissão que vaiintegrar dois representantes do Ministério das Finan-ças. Confirma-se que a Ministra de Estado e das Finan-ças confia nas estruturas do seu Ministério e não querdeixar o Ministro da Saúde em roda livre.

2 – Consequências da vaga de calorSem que ninguém notasse, os dados da OrganizaçãoMundial de Saúde, com base em elementos fornecidospelo Instituto Ricardo Jorge, apontou para a existência

de 1.316 mortos. O Ministro da Saúde referiu qua-tro e, já posteriormente, quinze mortos. Afinal emque ficamos? Quem são os incompetentes? A OMS?O Instituto Ricardo Jorge? O Ministro da Saúde?

3 – Taxas ModeradorasO Ministério da Saúde, ao arrepio da legislação porele próprio definida, está a cobrar taxas modera-doras para exames complementares de diagnósti-co superiores ao previsto na lei, o que se traduznum aumento de encargos para os doentes. Pareceque o Ministro da Saúde encarregou o IGIF de es-tudar o assunto. Até quando? Será que os doentesvão ser reembolsados?

4 – Parcerias Público-PrivadasO Grupo Mello (aparente candidato à realizaçãode uma parceria público-privada para a constru-ção do novo Hospital de Braga) anunciou não es-tar disponível para assumir a componente de for-mação académica. Esta posição mereceu já a opo-sição do ex-Reitor da Universidade do Minho ePresidente da Escola de Ciências da Saúde da Uni-versidade do Minho. Se tudo isto não bastasse, oMinistro da Saúde anunciou ao Jornal de Negóci-os de 20 de Outubro de 2003 que as parcerias pú-blico-privadas só vão ter impacto orçamental em2005. Como clímax, o Ministro da Saúde anun-ciou que o novo hospital estaria construído em2007. Um ser menos inteligente teria preferidoanunciar o início da respectiva construção.

5 – Universidades de Medicina PrivadasEnquanto a Universidade do Minho tem que su-jeitar-se a um qualquer parceiro que assuma a cons-trução do hospital universitário de Braga, o Minis-tro da Saúde parece ter caucionado a parceria pú-blico-privada para a construção do HospitalCascais-Sintra realizada entre dois parceiros quemutuamente se escolheram: A Universidade Cató-lica e o sempre inevitável Grupo Mello. Sempre seperguntará porque é que a Universidade do Minhonão pode escolher o seu parceiro. E já agora, deacordo com a imprensa, caberá perguntar porqueé que outros candidatos às parcerias público-pri-vadas (como a Caixa Geral de Depósitos e o Gru-po Espírito Santo) se aprestam para não concorrera vários concursos. Será que sentiram que estãoperante um concurso interno condicionado e comperfil?

EDITORIAL

APONTAMENTOS SOBRE UMASAÚDE DESREGULADA

Miguel Leão, Presidente da SRNOM

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6 – Relações do Ministério da Saúde com a AssociaçãoNacional de Farmácias e a Indústria FarmacêuticaEnquanto tudo o resto é descurado, o Ministro da Saú-de assinou um protocolo do Ministério da Saúde com aAssociação Nacional de Farmácias garantindo o paga-mento atempado das dívidas à ANF. Ao contrário, asdividas dos hospitais públicos à indústria farmacêuticaaumentaram de 404 milhões de euros para 548 milhõesde euros entre Janeiro e Julho de 2003 e o prazo depagamento passou de 231 dias para 290 dias; curiosa-mente, o Hospital Amadora-Sintra é a unidade de saú-de que mais tempo demora a pagar aos fornecedores demedicamentos (em Julho de 2003, o prazo de pagamentoera de 590 dias). Para evitar a realização de um acordoglobal com a Indústria Farmacêutica, o Ministro da Saú-de anunciou que deve ser cada hospital a negociar, casoa caso, o pagamento das suas dívidas à Indústria Far-macêutica. Pelo meio, o Ministério da Saúde negocioucom a ANF um protocolo em que esta é paga (pelosdoentes) pela realização de um pretenso programa decontrolo da diabetes.Se tudo isto não bastasse, os órgãos de comunicaçãoanunciavam que a verba de 300 milhões de Euros con-cedida pela Direcção Geral do Tesouro, e prevista noOrçamento de Estado para 2003 para pagar dívidas aosfornecedores do Serviço Nacional de Saúde, estava a serutilizada para pagar as comparticipações mensais do SNSà ANF. Conforme salientava o Diário Económico de 17de Outubro de 2003, se os 600 milhões de euros inscri-tos no Orçamento de Estado para 2004 servirem parapagar os 500 milhões de Euros inscritos no acordo cele-brado com a ANF, e cujo pagamento é devido até aofinal de 2004, o Estado não pagará as suas dividas àindústria farmacêutica e ao sector convencionado.

7 – Hospitais SANo âmbito dos Hospitais SA foi conhecido o documen-to da Unidade de Missão onde se tentava impor a solu-ção informática SAP a todos os hospitais SA, sem con-curso público. Esta intenção motivou, segundo noticiouo Expresso, a reacção imediata de outras entidadesconcorrenciais (Microsoft e Siemens). Curiosamente asolução SAP é a utilizada pelo Grupo Mello-Saúde.Ainda segundo o Expresso, os IPOs do Porto e de Lis-boa foram confrontados com contratos-programa carac-terizados por não contemplarem serviços essenciais deassistência oncológica (Radioterapia e Medicina Nucle-ar) e por excluírem o pagamento decorrente ao trabalhorealizado no âmbito do Registo Oncológico Nacional.Ao mesmo tempo surgiam notícias da tentativa de im-posição de tectos assistenciais para doentes do serviçonacional de saúde no Hospital de Santa Cruz e da tenta-tiva de proceder ao financiamento artificial dos Hospi-tais SA através da criação de um Orçamento de Investi-mento para a Unidade de Missão no valor de 7 milhõesde Euros, dos quais 3 milhões seriam conseguidos atra-vés do Programa "Saúde XXI". Os outros 4 milhões deEuros seriam obtidos através da reafectação de verbasdo PIDDAC, graças à transferência de verbas inseridasno PIDDAC para Humanização de Melhoria de Acessoe para Inovação na Saúde.A última pérola foi produzida pelo Presidente do Con-selho de Administração do Grupo Hospitalar do Alto

Minho, ao Jornal Expresso de 20 de Dezembro de2003, a propósito da criação dentro daquele hos-pital de uma área específica com condições especi-ais para atender doentes que não pertencem ao Ser-viço Nacional de Saúde, e que vale a pena citar:"temos que criar as condições para que o seguradoseja atendido mais rapidamente e não seja mistu-rado com os doentes do SNS, porque isso podecriar transtorno e defraudar as expectativas das se-guradoras" e "Os doentes do SNS representam 90%da actividade. O objectivo é reduzir o peso do SNS,aumentando o peso dos outros. E isso pode fazer-se conseguindo acordos com seguradoras, comofonte alternativa de financiamento."

8 – Acordo Net-Saúde/Ministério da SaúdeNo campo da informática, é conhecido o acordodirecto celebrado, sem concurso público, entre oMinistro da Saúde e uma empresa privada (aNetSaúde) prevendo a realização de consultas tele-fónicas de valor acrescentado (a ser pago pelo do-entes) e o seu pagamento aos médicos, em claraviolação do Código Deontológico dos Médicos, edestinado a ser financiado, em 75%, pelo Progra-ma "Saúde XXI.

9 – Genéricos/Preços de ReferênciaA política dos genéricos/preços de referência reve-la, ao fim de alguns meses, o verdadeiro objectivodo Ministro da Saúde: aumentar a comparticipa-ção dos cidadãos e diminuir a comparticipação doEstado. Segundo dados da principal parceira do Mi-nistro da Saúde (a ANF), publicados no SemanárioEconómico, o Estado poupou 19 milhões de Eurosentre Janeiro e Julho, mas os cidadãos pagaram,desde Março, mais 1,7 milhões de Euros.

10 – Entidade Reguladora da SaúdeFoi finalmente promulgada a legislação sobre a ERS.Esta acaba por não por em causa as funções dasOrdens profissionais e fica bem aquém do preten-dido pelo Ministro da Saúde e pelo jurista avençadopara a produzir: o Prof. Doutor Vital Moreira. Per-manece contudo o essencial: a ERS duplica e usur-pa funções do Ministério da Saúde e não está sujei-ta a um verdadeiro e eficaz controlo político.Com esta entidade, o Ministro da Saúde com-pletou a quadratura do círculo. O Ministrodesregulou a Saúde. Como a Saúde ficoudesregulada, o próprio criou esta Entidade Re-guladora. Resta a esperança que, na ausênciada alternativa óbvia, a Entidade Reguladora re-gule o Ministro.

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POLÍTICA DE SAÚDE6

DIRECTIVA EUROPEIA SOBRE BOAS PRÁTICAS CLÍNICASTRANSPOSTA PARA A LEI NACIONAL ATÉ MAIO

«É IMPORTANTÍSSIMOTRAZER ENSAIOS CLÍNICOS

PARA PORTUGAL»

(nortemédico) Que balanço faz dos últimos dois anoscomo presidente da AMPIF?(Ana Maria Nogueira) Tem sido um grande desafio. Mas,acho que posso dizer que é um balanço muito positivo,porque nos assumimos verdadeiramente como represen-tantes dos médicos da Indústria Farmacêutica. Principal-mente tendo em conta as mudanças que se estão a verifi-car nesta área, numa altura em que a indústria farmacêu-tica está a ficar cada vez mais rigorosa e as regulamenta-ções estão a assumir um papel cada vez mais importante.Falo em diversas áreas do nosso trabalho, nomeadamentena farmacovigilância, mas principalmente na área dos en-saios clínicos. Foi emitida a Directiva Europeia sobre asBoas Práticas Clínicas para os Ensaios Clínicos e é obriga-ção dos Estados-membros transpor essa directiva. Enquan-to representantes dos médicos da Indústria Farmacêutica,entendemos que era muito importante e oportuno apre-sentarmos uma proposta. Penso que fizemos um trabalhomuito sério e profissional nessa vertente. Assumimo-noscomo parceiros quase incontornáveis perante as autorida-

QUASE HÁ DOIS ANOS NA LIDERANÇA DA ASSOCIA-ÇÃO DOS MÉDICOS PORTUGUESES DA INDÚSTRIA

FARMACÊUTICA (AMPIF), ANA MARIA NOGUEIRA

NÃO TEM DÚVIDAS DE QUE É POSSÍVEL CRIAR CEN-TROS DE INVESTIGAÇÃO DE EXCELÊNCIA NO NOSSO

PAÍS. PARA ISSO, "PORTUGAL NÃO PODE PERDER OCOMBOIO DO RESTO DA EUROPA". A TRANSPOSIÇÃO

PARA A LEI NACIONAL DA NOVA DIRECTIVA EUROPEIA

DAS BOAS PRÁTICAS CLÍNICAS PARA ENSAIOS CLÍNI-COS E A CRIAÇÃO DE GUIDELINES SOBRE ESTA MATÉRIA

SÃO, NA OPINIÃO DA RESPONSÁVEL, "UMA OPORTU-NIDADE ÚNICA". EM ENTREVISTA À «NORTEMÉDICO»,ANA MARIA NOGUEIRA FALA AINDA DAS RELAÇÕES

ENTRE MÉDICOS E INDÚSTRIA FARMACÊUTICA. UMA

DAS METAS DA AMPIF É A INTRODUÇÃO NO CURSO

DE MEDICINA DE UMA CADEIRA DE MEDICINA FAR-MACÊUTICA, BEM COMO A PROFISSIONALIZAÇÃO E ES-PECIALIZAÇÃO DESTA VERTENTE MÉDICA. QUANTO ÀS

CARREIRAS NA INDÚSTRIA, DEFENDE, "É NECESSÁRIO

EXISTIR A FIGURA DO DIRECTOR MÉDICO".

ENTREVISTA COM A DRA.ANA MARIA NOGUEIRA,PRESIDENTE DA AMPIF

ENTREVISTA COM A DRA.ANA MARIA NOGUEIRA,PRESIDENTE DA AMPIF

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des que, neste momento, estão a tentar transpor a directivae que vêem em nós parceiros credíveis, a quem devemperguntar a opinião.

A Associação tem sido chamada para participar nestedebate?Não tanto quanto desejaríamos, mas apesar de tudo te-mos sido considerados parceiros. No futuro, gostaríamosde ser ainda mais. Fomos muito pró-activos nesta questãoda transposição da directiva, porque achamos que somosas pessoas no campo que mais trabalha com esta matéria.Podemos trazer exemplos de outros países, onde as nos-sas companhias também operam e que são exemplos desucesso. Acho que temos um capital de conhecimento quepodemos partilhar com quem esteja interessado em fazercom que a investigação clínica avance em Portugal.

A directiva europeia saiu em Maio de 2003. Até quan-do é que deve estar concluída a transposição a nívelnacional?Se não for antes, penso que deverá estar transposta atéMaio de 2004. O texto da directiva é conhecido, há orien-tações que não se podem evitar e que são importantes emtermos de ensaios clínicos, mas há que fazer adaptação àrealidade nacional.

LEI NÃO AJUDA INVESTIGADORES

Quais são as principais alterações que a directivaeuropeia contempla?Uma das alterações mais importantes é a tónica muito for-te na protecção da pessoa ou do sujeito do ensaio clínico.Em termos de regulamentação, o doente que vai fazer oensaio clínico está cada vez mais protegido. Outra modifi-cação muito importante, sobretudo para Portugal, porquenoutros países já era prática corrente, tem a ver com aaprovação única de uma Comissão de Ética. Ou seja, ha-ver uma Comissão de Ética central que aprove todos osensaios, à qual a directiva comunitária chama o “parecerúnico”. Um terceiro aspecto a salientar prende-se com boaspráticas de fabrico, em termos de medicamentos para en-saios clínicos. Neste sector existe também uma regulamen-tação mais apertada.

Um dos principais problemas que parece existir emPortugal prende-se com a falta de articulação entrehospitais e que não permite que as próprias unida-des hospitalares possam candidatar-se a ensaios clí-nicos. Será possível mudar essa realidade?É verdade que a maioria dos ensaios clínicos são patroci-nados pela Indústria Farmacêutica que é a entidade queinveste e dá todo o apoio necessário para se poder fazer oensaio. No entanto, há centros universitários e académicosque querem, por sua própria iniciativa, fazer ensaios e issotorna-se muito complicado porque, por vezes, não têm osrecursos financeiros suficientes para o efeito. A lei, tal como

está redigida actualmente, não ajuda a que esses en-saios sejam implementados e leva a que, a maioria,tenha de ter um patrocinador por trás, que tenha re-cursos financeiros. Daí, o grande peso que a Indús-tria Farmacêutica tem no âmbito dos ensaios clíni-cos, nomeadamente em Portugal.

Mas então, independentemente da alteração dalei, o grande problema nesta matéria centra-sena questão do financiamento.Em termos de recursos, não creio que a transposiçãoda directiva europeia consiga alterar grandemente esseaspecto. Apesar disso, considero que faz falta que sejadada a oportunidade aos centros de investigação deinvestirem e poderem organizar ensaios. Era bom queo conhecimento científico viesse também dos cen-tros académicos e não só dos resultados dos ensaiospromovidos pela Indústria Farmacêutica. Muitas ve-zes, o que é dito à Indústria Farmacêutica é que sóinvestiga aquilo que lhe convém. É óbvio que a in-dústria tem uma linha de orientação, tem as molécu-las que descobre e tem de as desenvolver. Provavel-mente, os investigadores estariam interessados emresponder a outro tipo de perguntas científicas, mastêm de pedir ajuda à indústria quando o querem fa-zer, porque não o conseguem fazer enquanto investi-gadores independentes. Portanto, existe essa dificul-dade. É uma pena que isso não possa ser levado emfrente com maior rigidez, mas a lei é um bocadinhorestritiva nesse aspecto e os ensaios da iniciativa doinvestigador não são muito defendidos, porque osinvestigadores e os centros universitários não têm,normalmente, os recursos suficientes.

APROVAÇÃO DOS ENSAIOS TEM DE SER

MAIS CÉLERE

No panorama europeu, como caracteriza a situ-ação que se vive em Portugal?Quando a directiva europeia for transposta, prova-velmente o panorama vai ser mais uniforme e nãovai ser muito brilhante para todos os países da Euro-pa. A verdade é que as instituições académicas forade Portugal têm muitos mais recursos do que as nos-sas. Têm outro tipo de bolsas, apoios ou patrocínios.No nosso caso isso não é, de facto, muito comum.Vivemos um bocadinho restringidos em termos desubsídios. Apesar de tudo, vamos estar sempre maislimitados do que a Europa nesse aspecto.

Será fácil convencer quem governa a disponibili-zar verbas, designadamente numa altura em quese fala tanto em suprimir os gastos na saúde?Não posso responder. O que vejo por parte dos in-vestigadores é alguma incapacidade em desenvolveros seus próprios projectos, porque não têm recursos.

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Neste momento, não sei até que ponto o Governo quer ouestá preparado para investir nesta matéria. Sei é que adirectiva europeia não protege, nem incentiva muito essetipo de trabalho. Vamos ver o que vai acontecer. Vamosficar mais a par do resto da Europa, mas não estou a verque haja grande desenvolvimento nessa área.

É PRECISO UNIFORMIZAR OS CRITÉRIOS

SOBRE OS ENSAIOS CLÍNICOS

Trazendo os ensaios clínicos para Portugal, corre-seo risco de não termos os recursos humanos necessá-rios e qualificados?Não creio que isso aconteça. Corre-se é um outro risco eque está relacionado com o facto de termos tido algumatradição em sermos um país lento na aprovação dos ensai-os clínicos e, por consequência, não termos tempo de re-crutar o número de doentes a que nos comprometemos.Este facto joga contra a nossa performance, porque corre-mos o risco de as nossas casas mães não trazerem maisensaios clínicos para Portugal.

Como se pode dar a volta a esse risco?Nós esperamos que a transposição da directiva europeianos coloque um bocadinho em paralelo com os outrospaíses da Europa. Pelo menos, esperamos que as coisasfiquem mais equiparadas em termos de timings, de apro-vações e de início de ensaios clínicos. O que significa quetemos tanto tempo aqui para recrutar doentes como teráum investigador francês, ou um investigador espanhol. Setemos de recrutar 20 doentes para um ensaio e temos seismeses, é completamente diferente de termos esse tempo ede a pessoa que está ao lado ter um ano. Mas nós só temosseis meses porque demoramos a começar, porque demo-ramos muito tempo a ter aprovações de Comissão de Éti-ca, porque as administrações hospitalares ainda não estãomuito familiarizadas com o processo, ou porque se pe-dem coisas diferentes em cada instituição hospitalar, o quefaz atrasar o processo. Com a transposição da directivaeuropeia era isso que gostaríamos de ver uniformizado.Sabemos que a directiva é um documento de alto nívelhierárquico. Ou seja, não tem uma série de pormenoresque, depois vão ser delineados em mais guidelines. Essasguidelines vão ser extremamente importantes, porque senão houver uniformização, se as pessoas não sabem o queé preciso para começar um ensaio clínico, se cada institui-ção hospitalar começar a pedir documentos diferentes unsdos outros, instaura-se uma certa desorganização que nãonos permite apanhar o comboio do resto da Europa e,mais uma vez, estaremos em desvantagem. É esse, de fac-to, o medo que tenho relativamente à transposição dadirectiva. Esperamos que esta transposição venha ultra-passar esse obstáculo.

Esses problemas têm a ver com as limitações da le-gislação nacional?Nós temos uma legislação que data de 1994 e que foi ex-tremamente importante à data em que saiu, uma vez quenão tínhamos nada. Mas, de facto, a ausência de docu-mentos normativos que uniformizem os pedidos que sãofeitos por parte das instituições veio, com o passar do tem-po, dificultando o processo de iniciar os ensaio clínicos.

Existem Comissões de Ética que demoram um mês aaprovar um projecto, mas existem outras que podemdemorar nove meses. Isto é completamente inaceitá-vel e tem de ser uniformizado. Se as Comissões deÉtica têm de ser profissionalizadas, para nós não éproblema. Que sejam profissionalizadas, que hajalugar, eventualmente, a um pagamento por projectoque seja visto à priori e que esse pagamento permitaa profissionalização de uma Comissão de Ética capazde estar continuamente a funcionar. Isso é fundamen-tal. E, depois, a parte dos conselhos de administra-ção que têm de aprovar acordos financeiros… É im-portante que essa questão também seja normalizada,porque senão o forem então evitamos um caos masse calhar vamos cair noutro. Nesta altura, não pode-mos correr esse risco.

Qual vai ser a reacção dos conselhos de admi-nistração das unidades hospitalares à Directi-va Europeia?Deve haver abertura, porque o que vamos fazer é in-jectar dinheiro. Para além disso, não havendo qual-quer custo acrescido para a instituição, não só devehaver abertura, como devem mesmo chamar ensaiosclínicos para dentro da sua instituição. Qual será aunidade que não quer ter, dentro dos seus serviços,um centro de excelência de investigação, por exem-plo, de doenças coronárias, ou de doenças do forogastrointestinal, ou doenças oncológicas? Receio éque, como empresas que se estão a organizar nestemomento, ainda haja uma certa disparidade em ter-mos de requisitos para fazer ensaios clínicos. E, porisso, é que é importante que haja alguma autoridadeque possa dizer quais são os critérios necessários paraarrancar com um ensaio clínico. A partir daí, estãocriados os requisitos mínimos para termos investiga-ção clínica em Portugal, com toda a facilidade.

NÃO HÁ GUERRA ENTRE OS MÉDICOS

E INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Como é que surge esta ligação entre médicos eIndústria Farmacêutica?A interligação surge porque a Indústria Farmacêuti-ca é, actualmente, uma indústria extremamente re-gulada e o medicamento é controlado sob todos osaspectos. É muito importante que existam técnicosque possam, dentro da Indústria Farmacêutica, con-trolar a qualidade dos serviços. Desde logo, existeum director técnico que responde pela qualidade domedicamento que sai de cada companhia. Por outrolado, existem uma série de actividades que são daresponsabilidade de uma pessoa que tenha uma li-cenciatura em medicina, tal como é a regulação dasactividades científicas, a formação e o treino científi-co dos delegados de informação médica, a aprova-ção do material promocional. Isso são coisas que le-galmente têm de existir dentro de uma empresa far-macêutica e que têm de ser alocadas a um médico. AAMPIF está a lutar para que seja obrigatório que,dentro de cada empresa, haja um quadro técnico queseja obrigatoriamente médico. Assim como já existe

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um quadro técnico que é obrigatoriamente farmacêutico.Nós, como representamos e fazemos actividades obriga-tórias por lei e que só podem ser feitas por um médico,pensamos que o passo seguinte é o reconhecimento legalda figura de um director médico dentro da indústria far-macêutica. A presença de um médico dentro da IndústriaFarmacêutica é a garantia da transparência e da qualida-de, porque é a certeza de uma actividade e informaçãocientífica correctas e uma farmacovigilância adequada...

Essa interligação tem sido bem aceite pela IndústriaFarmacêutica?Não só tem sido bem aceite como, neste momento, não hápraticamente empresa farmacêutica nenhuma, credível nomercado, que não tenha um médico nela a trabalhar. Épraticamente impossível haver uma companhia farmacêu-tica que não tenha médicos.

Mas, ouve-se muitas vezes falar da guerra entre osmédicos e a Indústria Farmacêutica. Concorda?Acho que não existe guerra. Mas é importante trabalhar-mos no sentido de haver uma cada vez maior confiançanaquilo que a indústria apresenta aos médicos. E não hámelhor maneira de mostrar transparência em todo o pro-cesso do que pôr os próprios médicos a trabalhar dentroda indústria. Existe cada vez mais diálogo entre os médi-cos da indústria e os médicos que trabalham fora e quecompreendem que a indústria é um veiculo de informa-ção que têm de considerar. Não só são os trabalhos cientí-ficos publicados que são o veículo de informação. Muitasvezes, desses trabalhos constam os nomes de médicos,porque participaram no projecto, porque dialogaram coma indústria que os convidou a participar. Se estas matériascomeçarem a ser alvo de debate e completamente trans-parentes, não há razão nenhuma para haver desconfiança.Essa desconfiança tende a desaparecer, na medida em quea informação que lhes é passada pelos delegados de infor-mação médica é uma informação extremamente rigorosae cada vez mais científica. Daí o nosso papel na formaçãodesses delegados que, hoje em dia, têm uma formaçãomuitíssimo boa em todas as áreas. Não só na técnica devendas, mas também na formação científica na área dapatologia, da farmacologia ou da farmacovigilância.

Vai atenuar-se essa desconfiança?Acho que já começou a atenuar-se. Aliás, neste momentovê-se que o tipo de diálogo que existe entre a maior partedos clínicos e os delegados que os visitam é de confiança,de amizade e de parceria.

MEDICINA FARMACÊUTICA DEVIA SER UMA

CADEIRA OPCIONAL DO CURSO

É difícil encontrar médicos disponíveis para traba-lhar nesta área?Esse é outro aspecto pelo qual a nossa associação luta imen-

so. Acreditamos que a falta de médicos na indústriatem duas vertentes. A primeira tem a ver com a faltade conhecimento sobre qual a função do médico e asegunda com a falta de reconhecimento dentro daempresa. A AMPIF tem tentado dar a conhecer a ac-tividade do médico dentro da Indústria Farmacêuti-ca. Para isso, temos desenvolvido algumas acções nasuniversidades, nomeadamente na Faculdade de Me-dicina de Lisboa. Queremos que os estudantes sai-bam que a Indústria Farmacêutica é uma opção, talcomo acontece para quem opta por uma carreira hos-pitalar, ou por clínica familiar e geral. Um dos pri-meiros passos que já conseguimos dar foi o reconhe-cimento da nossa actividade dentro da indústria porparte da Ordem dos Médicos, em 1997. Através deum exame curricular e da prova de uma série de ex-periência acumulada, é possível que a Ordem dosMédicos atribua a competência em Medicina Farma-cêutica às pessoas que trabalham nesta área. Do pon-to de vista da carreira de Medicina Farmacêutica, épreciso haver uma formação pós-graduada que esta-mos a tentar organizar, que dê algum seguimentoàquilo que fazemos dentro da indústria farmacêuticae que, um dia, culmine numa especialidade que é aMedicina Farmacêutica.

Nesse sentido, já houve qualquer tipo de nego-ciação com o Ministério da Educação e da Saú-de para alteração de planos curriculares?Não. O que fizemos, por enquanto, foram contactosisolados dentro da Faculdade de Medicina de Lis-boa. Dentro do currículo do curso de Medicina, queagora viu a parte teórica reduzida a cinco anos, o quegostaríamos, em primeiro lugar, era que a MedicinaFarmacêutica fosse considera uma cadeira opcional.Acreditamos que não haja espaço para ser uma ca-deira obrigatória, mas sim opcional, onde os alunospossam verificar o interesse.

Já teve feedback das acções de formação?Acho que ainda é cedo. Não se pode ter um feedbackimediato e este é um investimento a médio/longo pra-zo. Mas, a verdade é que quando fizemos essas ac-ções vimos da parte dos estudantes de Medicina al-guma surpresa e muito interesse naquilo que lhestransmitimos. Isso já é gratificante.

TRABALHO NA INDÚSTRIA É ALICIANTE

O que diria a um jovem estudante de Medicinapara o cativar para esta área?A Indústria Farmacêutica é uma actividade extrema-mente dinâmica e diversificada. São necessários co-nhecimentos em medicina que, por sua vez, são apli-cados dentro de outra vertente. Não vemos doentes,mas aplicamos os conceitos de medicina num con-texto empresarial muito interessante. Nos dias de

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hoje, viver uma empresa é praticamente obrigatório, dadoque até os próprios hospitais estão mais virados para umconceito empresarial. A aplicação dos conhecimentos emmedicina pode, por exemplo, ser feita na investigação clí-nica. Acompanhamos o desenvolvimento do medicamen-to desde o nascimento da molécula até a sua introduçãono mercado. Outro aspecto que fazemos e é muito impor-tante é a farmacovigilância. Não só antes do medicamentoestar no mercado, como depois. Também a formação quetemos de dar é muito interessante, na medida em que te-mos de estar permanentemente actualizados quer relati-vamente às novas terapêuticas, quer quanto aos novos con-ceitos fisiopatológicos da doença, para podermos trans-mitir esses conhecimentos, por exemplo, em sessões clí-nicas que damos aos colegas. Quer se queira, quer não, aIndústria Farmacêutica é um veículo privilegiado de in-formação junto dos médicos. Temos acesso à informaçãode uma forma rápida e podemos divulgá-la, muitas vezes,antes de estar publicada. A outra formação que damos éaos delegados de informação médica. É extremamente es-timulante poder estar a ensinar pessoas que, depois, vãolevar novos conhecimentos aos médicos. É fundamentalque esses conhecimentos sejam transmitidos de forma ade-quada e que sejam idóneos, verídicos e bem sustentados,para que depois não haja aquela sensação de que a Indús-tria Farmacêutica dá a informação que quer. Não é assim.A Indústria Farmacêutica dá a informação que tem e tudoé verificado em ensaios clínicos.

A implementação dos ensaios clínicos é também ex-tremamente importante…Nesse aspecto julgo que todos estamos de acordo. Osmédicos da Indústria Farmacêutica, os médicos investiga-dores, os doentes, o Governo. É importantíssimo trazer

ensaios clínicos para Portugal, porque proporcionaum acesso muito precoce a novas moléculas. Dentrode um ensaio clínico, os doentes são seguidos de umaforma diferente, uma vez que estamos a falar de ummedicamento que ainda não está no mercado. As vi-sitas são mais controladas e frequentes. Permitimosaos doentes o acesso a terapêuticas novas e damos-lhe a oportunidade de poderem tratar-se mais cedo,com novas moléculas, em vez de estarem à esperaque saiam para o mercado. Os nossos investigadorestambém têm mais-valias, uma vez que é muito im-portante estar envolvido num projecto de comuni-cação e poder comunicar com os seus colegas e comos seus pares noutros países. Além disso, os próprioscentros de investigação ganham com isso, porquequando implementamos ensaios clínicos temos umsubsídio e um pagamento à instituição e aos investi-gadores. Esse pagamento, se for revertido para omelhoramento dessa instituição, para criar recursosque possam melhorar a implementação de novosensaios, só temos a ganhar, porque vamos criar cen-tros de excelência como existem noutros países. Nóspodemos criá-los em Portugal.

MEDICAMENTOS DEVEM ESTAR SEMPRE

DISPONÍVEIS AOS DOENTES

Qual é o maior problema que afecta, actualmente, aIndústria Farmacêutica?Há várias questões que poderiam ajudar o trabalhoda Indústria Farmacêutica. Mas é evidente que a con-tenção orçamental que actualmente estamos a viveré complicada. Uma das áreas com que nos debate-mos é a grande dívida que os hospitais têm perante aIndústria Farmacêutica. Não há memória de mais ne-nhuma indústria que viva com dívidas que rondamos 300 dias. É um aspecto prático que devia ser me-lhorado. Relativamente à aprovação de novos medi-camentos e, nomeadamente quando se discute o pre-ço e a comparticipação, há sempre espaço para ne-gociação entre a empresa e a autoridade regulamen-tar. É uma discussão obrigatória que é fruto das tec-nologias cada vez mais complexas nos novos medi-camentos e que os tornam cada vez mais dispen-diosos. É lógico que o Estado tenha de perceber muitobem o que vai pagar, por que é que vai pagar e o quevai ganhar com aquilo que vai pagar. É lógico que aIndústria Farmacêutica tenha de demonstrar valorterapêutico acrescido naquilo que vai comercializar.Agora, há outro aspecto que é importante e que tema ver com o acesso aos medicamentos. É importantegarantir que os medicamentos comercializados se-jam acessíveis, não apenas ao nível dos preços, comoao facto de estarem disponíveis nos hospitais, paraque os doentes possam ser tratados com esses medi-camentos.

nortemédico Texto Patrícia Gonçalves ¥ Fotografia António Pinto

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12 OPINIÃO

UMA EUFEMÍSTICA "RECEITA MÉDICA":

tempo para a burocracia vs.tempo para o doente

Professor Doutor Aureliano da FonsecaEx-Professor da Faculdade de Medicina do Porto

O Departamento de Saúde governamental do nosso Por-tugal criou, em certo tempo, já distanciado, um impres-so eufemisticamente intitulado "Receita Médica" parauso nos Serviços Clínicos de gestão oficial. Tal ideia foiaceite com amarga resignação pelos médicos dos Servi-ços estatais... Confirmado e reconhecido que esse im-presso, além de não corresponder ao que deve ser umaReceita Médica, não satisfazia os interesses administra-tivos, dissera-se que, na oportunidade, seria substituí-do!Mas o tempo foi passando, com os médicos tolerando afatalidade e a Administração indiferente aos seus erros!Certo dia chegado, ouve-se dizer que, finalmente, um

novo impresso estava em estudo! E ele surgiu, refi-nado na deselegância e mais refinado na impropri-edade! É um impresso de democrática "utilizaçãoobrigatória por todos os prescritores de medi-camentos no âmbito do SNS" (n.º 2 da Portarian.º 1501/2002 de 12 de Dezembro, in Revista daOrdem dos Médicos, ano 19, n.º 32, pg. 15/16). Edemocraticamente ordenado que a utilizaçãoobrigatória é extensiva aos médicos de activi-dade privada! Foi um "parturiund montes: nasceturridiculus mus", isto é, "as montanhas estão a dar àluz: nascera um ridículo rato".Tal "receita médica", no seu eufemismo, é um pa-pelucho, nada dignificando quem levianamenteo idealizou nem quem o aprovou e determinoua sua "utilização obrigatória", a significar, pormal delas, serem pessoas sem respeito por si pró-prias, pois certo é ninguém poder dar o que nãotem, ou seja, se não têm respeito por si própriasjamais poderão respeitar os outros!...Não se duvida da capacidade intelectual dosfazedores desse ridículo impresso para grandes voosdo saber, mas jamais para entender o que é a Me-dicina, o que é ser médico e a deferência que devemerecer toda a pessoa/doente!... Sim, é expressivaa desconsideração despersonalizante e injuriosa pe-los médicos e pela pessoa/doente, forçados a ser-vos ou até serventes dos Serviços Administrativosdo denominado, e não menos eufemístico, ServiçoNacional de Saúde! [que não existe para "servir"mas para servir-se!...] E, falando-se em prescritores,será de admitir que qualquer pessoa o poder ser,pois não é difícil colocar no papelucho uma vinhe-ta, que as há por todo o lado, indicar o que interes-se adquirir e autenticar a desonestidade com umagatafunhada rubrica!... [Tal possibilidade pode serevitada, mas o que possa fazer-se não cabe nestelocal.] Vejamos alguns pormenores:1 - O tal papelucho, se fosse denominado "Requi-sição de Medicamentos", a despeito da impro-priedade agressora e transgressora das legítimas in-tenções, ainda era de condescender... Liberta-se,todavia, o médico da desonra desse papelucho, ris-cando o errado e impropério receita falsa.2 - É chocante verificar que, para a AdministraçãoCentral de Saúde, o médico não é jamais a pessoa

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qualificada na ciência e arte médicas que a pessoa/do-ente consultava para obter um medicamento que lhepossibilitasse readquirir ou manter a saúde, pessoa/do-ente que no médico confiava e até desabafava os seusíntimos problemas, e pedia porventura opinião e orien-tação! Não, o médico será agora, apenas, um funcioná-rio/servidor de formalismos!...E é chocante ver no eufemístico impresso o doente serdesprezivelmente estigmatizado de "utente" [ouutilizador de um serviço ou do que seja, a ser atendidopor forçados "prescritores" (acaso médicos ou porven-tura não...), e identicamente como em qualquerShopping Center ou Supermercado!].Saiba-se, porém, que a pessoa/doente, só pelo facto deser pessoa – de valor absoluto –, seja de que raça for,qual o sexo e idade, o que represente na Sociedade, ricoou pobre, culto ou inculto, educado ou menos educa-do, dirigente do que seja ou serventuário, deve mere-cer, sempre, correcta atenção. Sendo assim, porque épessoa e doente, precisa de médicos (e não servidores),de verdadeiras enfermeiras e verdadeiros farmacêuticos,como de serviços laboratoriais e outros recursos técni-cos, mas também de Hospitais, e de ambulâncias e mui-tos mais serviços, tudo voltado ou dirigido para a pes-soa/doente, esta a dever estar no centro do universo Saú-de!Naturalmente que, a possibilitar o funcionamento, re-lação e articulação de tudo o que se apontou, e o maisque seja necessário, é obviamente preciso haver ÓrgãosAdministrativos, a servir e não a servirem-se!Infelizmente, a pessoa/doente foi despoticamente ex-pulsa do seu lugar no centro do referido universopara nele se colocarem os Serviços Administrativos, exi-gência ou condição para melhor "viverem"! E para essemelhor ou mais viverem precisam de doentes (objec-tos/utensílios), logo de médicos (também objectos/uten-sílios), e enfermeiras, bem como de Hospitais e quais-quer outros Serviços de Saúde, todos a gravitar à suavolta, tudo tiranizado a seu serviço!...[Em tal progressão, não será de admirar que, em poucotempo – e mais cedo do que se possa imaginar –, sedetermine o que o prescritor (acaso médico), deve "pres-crever" aos doentes, que exames ou actos de tratamentose devem fazer e até as cirurgias permitidas ou proibi-das!!!]Neste imbróglio, as pessoas/doentes, e com elas os mé-dicos, estão marginalizados dos seus devidos valores,negativamente proletariados, com graves consequênci-as!...3 - Será bom os administrativos de todos os graus sabe-rem que todos, nós e eles também, se não morrermosem acidente e subitamente, não tardará a surgir qual-quer doença e sem aviso... Em tal estado, será de pensarse é desejável ter ao lado verdadeiros médicos – no ci-vismo e humanismo e correlativamente na competên-cia –, ou se queremos ter, apenas, um "funcionário/ser-

vidor" que escrevinha/prescreve (não receita), umadroga em obediência a qualquer norma adminis-trativa?!...Sim, como poderá o verdadeiro médico observar apessoa/doente no seu todo patológico e humano, eestabelecer, serenamente, um diagnóstico seguidode correcta terapêutica. E, como deve ser devido,explicar ao doente o que é a sua doença e o querigorosamente deva fazer para, no mínimo, atenu-ar o seu sofrimento, físico e porventura psíquico emoral, se não tem o tempo necessário, que podeser de muitos e muitos minutos, meia hora ou muitomais, mesmo para um médico com muito saber emuita experiência e elevada argúcia clínica?! Sim,como poderá o médico ser o que deve ser se é for-çado a ridículas burocracias ofensivas, com desta-que, o caso presente, para a ignominiosa eeufemística "receita médica"?!4 - De certeza o ideólogo do desditoso "impresso"(que não médico) será bom técnico em muitos ofí-cios, mas não na arte médica, que só o médico apossui!... Aqui é de recordar a locução latina: errarehumanum est, a dizer que é próprio do homem er-rar ou que o erro é da natureza do homem, ideiaque, se serve de desculpa para as faltas cometidas,também serve para os errantes se considerarem tan-to mais homens quanto mais erros cometerem!..Só tal pensar poderá justificar a atitude, tão comum,dos erros se repetirem, em vez de serem corrigidosou eliminados pela reflexão profunda, com humil-dade e bom senso, acaso a ouvir aqueles que sa-bem pensar, embora sejam menos capacitados in-telectualmente, no caso presente os verdadeiros mé-dicos que tenham estudado a estruturação de umaverdadeira receita médica!5 - Será que foi ouvida a Ordem dos Médicos?!Decerto não. Se foi, não terá sido respeitada a opi-nião até porque, se tivesse havido a anuência daOrdem dos Médicos, seria seu dever participar aosmédicos a ideia e a sua justificação, o que não acon-teceu. E, se a Ordem foi desrespeitada, será delamentar se ao desrespeito ficou indiferente...

RECEITA MÉDICA – Sua estrutura verdadeira

É um documento, no qual o médico, pelo rigor ecuidado que nele coloque, evidencia o seu sentidoclínico e o seu respeito pelo doente, a ser, portan-to, a sua imagem, através da qual patenteia a suapostura humana e profissional!Tal Receita Médica, para ser correcta, deve obede-cer aos requisitos seguintes:1. Papel timbrado com nome explícito do médicoe indicação do lugar de consultório e telefones. Por-ventura também Fax ou E-mail.Nos organismos ou instituições médicas, oficiais

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ou não oficiais, a Receita Médica deve ser igualmenteem papel timbrado, com o nome do médico claramenteexpresso do modo mais adequado [assim evitando-se oridículo vexatório, constantemente observado, do do-ente não saber quem é o médico que consultou, noHospital ou em qualquer outro instituição de Saúde!]Se o impresso for em tudo elegante, mesmo na qualida-de do papel, o médico sentir-se-á prestigiado – a valori-zar o prestígio, até se esforçará na elegância da letra... –, e com o médico prestigia-se o organismo ou a institui-ção, e com o todo elegante afirma-se à pessoa/doenteque foi respeitada, e que, como é óbvio e já se reafir-mou, justifica a existência de médicos e de toda a orgâ-nica oficial ou privada da Saúde!Pelo mundo fora, há organismos a terem nos impressosde receita, ordenadamente ao lado, o nome dos médi-cos que neles têm actividade clínica. Em tais ambientes,o médico consultado deverá sublinhar o seu nome.2. Identificação do doente e sua residência3. Simbolização: colocação de um “R” maiúsculo (comtraço oblíquo ou inclinado), logo abaixo da identifica-ção e à esquerda.[Este símbolo, desejado em qualquer receita médica emtempo não muito distante, é ainda usado por raros clí-nicos. Ele tem um significado histórico e nobilitante:originalmente, na Grécia, usava-se o emblema de Zeusno local referido, com isto a pretender-se invocar a pro-tecção da divindade para o êxito da medicação. Decor-rido o tempo, pela romanização da Europa, o emblemade Zeus foi convertido num “R”, com o qual, aliás, gra-ficamente se parecia, abreviatura da palavra latina Recipeou Recipere, a traduzir o indicativo tome, cumpra. (Zeus,deus supremo dos gregos – a ser Júpiter entre os roma-nos – considerado senhor do céu, da luz, do tempo, doraio e do trovão, poder supremo)].Curioso é ver-se, no comentado papelucho, esse símbo-lo quase no seu devido lugar, a significar que o seuideólogo penetrou no conceito de Receita, mas não sou-be ir além....4. Inscrição (ou titulação), consiste no alistamento bemexpressivo dos medicamentos que ao doente convém.5. Subscrição (a significar escrever por debaixo) deveentender-se em dois itens distintos:a) Indicações para o farmacêutico, de cuidados espe-cíficos para a preparação ou fornecimento dos medica-mentos, necessidade para as formulações galénicas (deGaleno), hoje infelizmente quase exclusivas dos derma-tologistas que, quando elaboradas com apuro, devemter as diversas substâncias rigorosamente especificadase com as doses sempre ortografadas, e não numéricas,para impedir o sempre possível erro de interpretação.Depois da formulação, terá lugar algum pormenor deexecução técnica, por qualquer motivo entendido pelomédico, a dever indicá-lo do modo mais explícito. [Porgalénicos (de Claudius Galeno, 129-200 d.C.), enten-de-se medicamentos que o farmacêutico deverá prepa-rar].Curioso é o facto de, na Portaria que estabelece o im-presso em apreço, se falar em medicamentos manipu-lados (o mesmo que galénicos), mas o ideólogo nãoterá pensado, por não saber, que um manipulado podeexigir três, cinco ou mais substâncias, porventura com

a necessidade, como se disse, de instruções especí-ficas. Quem puder, facilmente verificará não serpossível correctamente medicar o que seja no ridí-culo espaço de 8,8 cm de comprimento por 1,4cm de largura. E devendo cada espaço no papelu-cho destinar-se a um medicamento (ou medicaçãogalénica), é o médico obrigado a não respeitar areferida área e invadir as outras áreas, portanto adesrespeitar o que o ideólogo idealizou, e a tornarainda mais deselegante, até grotesco, o menciona-do impresso. E, se houver necessidade de receitar,por exemplo, três manipulados e porventura maisdois ou três medicamentos "industriais", terá omédico de preencher três, quatro ou mais impres-sos, a reduzir, e drasticamente, os poucos minutosde tempo que ao doente deveria dedicar, ouvindo-o e esclarecendo-o, e isto para o médico ser autên-tico médico! Desta consequência, o doente será decerteza prejudicado e o médico sentir-se-á frustra-do!É de pensar que o poder industrial tenha influên-cia na feitura do discutido impresso, que se evi-dencia destinado, apenas, à indicação de medica-mentos industrializados, e a nada esclarecer!... Eparece ter havido a intenção de evitar-se a medica-ção galénica, intenção a ser conseguida e com ainfeliz "colaboração" da própria Farmácia que, comalgumas justificadas razões, e sem querer alterna-tivas, mal colabora, pois mais fácil é submeter-seao clima comercial de supermercado, ficando a ver-dadeira Farmácia para a história!b) Indicações ou aconselhamento para o doen-te, com rigor de acordo com a sua cultura, massempre de modo correcto, e até com letra bemlegível, a ser entendida mesmo por quem tenhapouco saber, expondo-se o modo de usar ou apli-car os medicamentos, do ritmo de tomadas, bemcomo das quantidades, horário e porventura in-compatibilidades com outros medicamentos ou ali-mentos. Esta atitude, por vezes negligenciada, é,todavia, se não sempre, a garantia do êxito tera-pêutico, dado que, frequentemente, o doente nãofixa a explicação oral ou, fixando-a erradamente,irá proceder como não devia e, porventura, sofrerreacções adversas que ao médico são atribuídas.Naturalmente que, para se preencher uma receitacomo se indica, precisa o médico de ter espaçopara escrever e deve ter tempo e serenidade, oque só raramente é possível nas instituições de Saú-de e até, infelizmente, em alguns consultórios pri-vados!A finalizar, é de considerar que havendo organis-mos que, pela comparticipação que dão nas medi-cação, retêm as receitas, é importante fornecer-seum duplicado, utilizando, para isso, recursos ade-quados, ou aconselhar a pessoa/doente a obter fo-tocópia, não só para recordar o que o médico reco-mendou mas também para a poder guardar, emarquivo, juntamente com todas as análises, radio-grafias ou quaisquer outros registos clínicos, sejade onde seja, documentos que ao doente perten-cem.

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nortemédico

NOTAS À EUFEMÍSTICA "Receita Médica"

Olhando-se o papelucho em análise, o nele dizer-se queé receita médica, é um absurdo, porque a verdadeiraReceita Médica afirma-se por si própria. E, sendo au-têntica Receita, a primeira área deve ser exclusivamentedestinada ao médico, ou sua vinheta, por ser o médicoque receita para o doente e não o contrário!Também, no espaço destinado à identificação do doen-te (pejorativamente denominado utente), tal como sedisse para a referência ao médico, também aqui não énecessária a indicação utente (entenda-se doente).Se pode ser útil a indicação do telefone, não menos útilserá indicar a residência. Duvidando-se, porém, que ageneralidade dos médicos considere essa necessidade,melhor será não pedir o que não seja cumprido.No símbolo “R” nada deve ser escrito à sua frente. Etoda a área seguinte e abaixo deve estar livre exclusiva-mente para:

- Indicação dos medicamentos;- Indicações específicas para o farmacêutico;- Esclarecimentos ao doente sobre a medicação.E esse espaço deve ser o mais amplo a possibilitar amedicação industrializada mas também a galénica.Havendo exigência de informação burocrática,ela será indicada, unicamente, no verso do im-presso.Considerando o que se disse, apresenta-se acimaum arranjo de Receita Médica que se entende favo-recer todos os interesses, clínicos e administrati-vos, cada um no seu lugar, sem atropelos de digni-dade. O modelo que se aponta, naturalmente nãoserá aceite, atitude a ser compreensível por razõesfáceis de entender! Quem escreveu este comentá-rio só desejou formular ideias para reflexão, obvi-amente de quem tenha capacidade para o fazer.

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O médico Rui Soares da Costa e Maria Margari-da Teixeira juntaram-se no passado dia 24 de Ou-tubro para proporcionar um serão agradável no Au-ditório da Casa do Médico. Num recital para qua-tro mãos e num espectáculo que durou cerca deuma hora, várias foram as peças interpretadas. «So-nata em Dó M KV» de Mozart, «Dolly Op. 56», deFauré, «West Side Story – Seis Quadros» deBernstein, ou «Miniaturas» do próprio Rui Soaresda Costa, foram alguns dos temas que puderamser apreciados.

RECITAL DE PIANO A QUATRO MÃOS16 NOTÍCIAS

nortemédico Fotografia António Pinto

O Auditório da Casa do Médico recebeu,no passado dia 21 de Novembro, o IV En-contro Internacional de Coros do Por-to, promovido pelo Coral do Instituto deCiências Biomédicas de Abel Salazar. À se-melhança do que aconteceu em anos an-teriores, “esta é uma iniciativa única nopanorama cultural da cidade Invicta e daRegião Norte”, dada “a falta de divulga-ção e de eventos artísticos na área da mú-sica coral”. A Secção Regional do Norteda Ordem dos Médicos quis juntar-se aeste evento, disponibilizando as suas ins-talações…

IV ENCONTRO INTERNACIONAL DECOROS DO PORTO

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A convite da Secção Regional doNorte da Ordem dos Médicos(SRNOM), vários especialistas li-gados às áreas da ginecologia/obs-tetrícia, pediatria, cardiologiapediátrica, entre outras, reuni-ram-se no auditório do Centro deCultura e Congressos, no dia 4de Novembro. O objectivo desteencontro/debate era discutir onovo plano funcional para o fu-turo Centro Materno-Infantil doNorte. Mas, dado que o Ministé-rio da Saúde ainda não acedeu emenviar o projecto para a SRNOM,a discussão acabou por se centrarna questão do cumprimento, ounão, das normas técnicas do Co-légio da Especialidade da Ordemsobre os requisitos legais para asUrgências de Obstetrícia.

REUNIÃO/DEBATE SOBRE A ORGANI-ZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDEMATERNO-INFANTIL

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A Fundação Bial foi, este ano, a galardoada com oPrémio Corino de Andrade 2003, criado pela SR-NOM para distinguir instituições ou personalida-des não médicas que tenham prestado serviços degrande relevância à Medicina. É o que tem aconte-cido com a Fundação Bial, já que, nas palavras dopresidente da SRNOM, Miguel Leão, “é um exem-plo de cidadania em Portugal e um exemplo demanifestação da sociedade civil que tantas vezesparece adormecida e neutralizada”. No momento dereconhecer “o papel inexcedível da Fundação Bial”,no apoio quer à investigação, quer à cultura, “oPrémio Corino de Andrade não podia ser melhoratribuído”, acentuou.A distinção – sob forma de uma estatueta, da auto-ria do escultor José Rodrigues, com o busto do mé-dico Mário Corino da Costa Andrade, como home-nagem pelo seu trabalho no âmbito da paramiloidose– acabou por ser entregue ao presidente da funda-ção, Dr. Luís Portela. “Independentemente dos mé-ritos de todo o grupo de profissionais que traba-lham e que estão associados quer aos laboratórios,

PRÉMIO CORINO DE ANDRADE 2003ATRIBUÍDO À FUNDAÇÃO BIAL

«PAPEL INEXCEDÍVEL NO APOIO À INVESTIGAÇÃO»

18 NOTÍCIAS

quer à Fundação Bial, há aqui a componente pesso-al de um homem. Provavelmente, se não fosse odoutor Luís Portela eles não existiam. Não é umacréscimo, mas é um acrescento das funções dosLaboratórios Bial em particular, e da indústria far-macêutica”, elogiou Miguel Leão, aproveitando parachamar a atenção para “um claro défice de lideran-ças existente em Portugal que se notabilizem pelahonestidade, pelo trabalho, pelo esforço e pelo com-promisso social”.Convidado para fazer a apresentação do prémio, oProfessor Nuno Grande não esqueceu os apoios doorganismo galardoado, através de bolsas de investi-gação científica e do Prémio Bial. Quanto a este,“desde 1984, as obras premiadas são distribuídaspela classe médica, totalizando já 240 mil exempla-res, e têm hoje um grande reconhecimento científi-co”. Relativamente às bolsas, “até 2002, candida-taram-se mais de dois mil investigadores que foramcontemplados em 15 países”, enumerou.

nortemédico Texto Patrícia Gonçalves ¥ Fotografia Anjos e Faustino

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«Queremos ir mais além»

A Fundação Bial é uma instituição sem fins lucrati-vos, considerada de utilidade pública. Constituídaem 1994 pelo Conselho de Reitores das Universida-des Portuguesas e pelos Laboratórios Bial, tem comoobjectivo incentivar o estudo científico do Homem,tanto do ponto de vista físico, como espiritual. O or-ganismo canaliza os seus apoios ao desenvolvimentocientífico na área da saúde através de duas acçõesdistintas: as Bolsas de Investigação Científica e oPrémio Bial (bianual), considerado um dos maioresgalardões, no campo da saúde, na Europa.Galardoado com o Prémio Corino de Andrade 2003,o presidente da Fundação Bial, Luís Portela, congra-tulou-se com o reconhecimento de um trabalho feitocom boa intenção, procurando atingir determinadosobjectivos". Ao fim destes anos, reconheceu, “as coi-sas têm corrido bem, mas não estamos satisfeitos”.“Queremos ir um pouco mais além, dar um contri-buto para que o homem se conheça melhor enquan-to ser biológico, psicológico e espiritual. Fomos pos-sibilitando alguma notoriedade de bons investigado-res, de bons profissionais, mas queremos fazê-lo comainda mais valor”, aludiu.Indissociável da Fundação Bial aparecem as univer-sidades. Para Luís Portela, “fala-se muito em fazer aponte entre as universidades e as empresas, mas vê-se pouco. Sobre as actividades da fundação, a me-lhor forma de intervirmos é incentivando a qualida-de e o desenvolvimento científico na saúde e procu-rando, deste modo, fazer essa ponte”. Esse é um dospropósitos que anima o presidente deste organismo:“Servir a saúde, incentivando a área do desenvolvi-mento científico”. Por isso, concluiu, “vamos mantero Prémio Bial, vamos procurar desenvolver as bolsasde investigação e dessa forma lutarmos pelo incre-mento da investigação".

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JURAMENTO DE HIPÓCRATES«SEJAM BEM-VINDOS À ORDEM»

A Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos(SRNOM) decidiu, este ano, juntar os novos e osantigos profissionais da saúde. No mesmo dia, fo-ram homenageados cerca de 70 médicos inscritosantes de 1950 e aproximadamente 230 recém-licen-ciados das duas Escolas de Medicina da Universida-de do Porto cumpriram o tradicional Juramento deHipócrates. Para os antigos, as palavras foram de"reconhecimento" pelo serviço prestado ao longo detantos anos. Para os novos, o presidente da SRNOM,Miguel Leão, deu "as boas-vindas", apesar da rela-ção com a Ordem já ter começado nos bancos dafaculdade. "Podemos dizer que já eram semi-médi-cos. Graças a um protocolo estabelecido, os estu-dantes já podem usufruir das nossas instalações e,regularmente, recebem a nossa revista «nortemédi-co»", enalteceu o responsável. Além disso, acrescen-tou, "ainda este ano realizamos na Casa do Médicoo Baile de Finalista da Queima das Fitas, para osestudantes de Medicina, que esperamos se venha arepetir já durante o próximo ano".

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Mas em vésperas de Natal, Miguel Leão aproveitoupara meter uma cunha, não junto do menino Jesus,mas ao governador Civil do Porto, no sentido deManuel Moreira pressionar o Governo na publica-ção da legislação sobre os Internatos Médicos. "Éuma prenda que os recém-licenciados estão à espe-ra. Se possível, seria importante que antes do Natala legislação referente aos Internatos fosse conheci-da, nomeadamente na definição do regime de tran-sição para os médicos que vão iniciar o seu Interna-to Geral, e a consagração inequívoca de que é à Or-dem dos Médicos que compete as definições dasespecialidades médicas, dos programas de forma-ção, das capacidades formativas dos serviços e dadefinição dos respectivos critérios de idoneidade",pediu, no passado dia 11 de Dezembro.Na hora de receber os novos médicos, o Bastonárioda Ordem, Germano de Sousa, não podia estar maissatisfeito com o reconhecimento da OrganizaçãoMundial de Saúde que colocou Portugal no 12º lu-gar ao nível dos serviços prestados pelos médicosportugueses. Por isso, aconselhou, dirigindo-se paraa plateia de recém-licenciados, "vocês vão honrar astradições da Medicina portuguesa". Um ponto po-sitivo, "num tempo difícil, em que se diz mal detudo e de todos", como realçou também ManuelMoreira que classificou o ser médico como "a pro-fissão mais nobre do mundo".

nortemédico Texto Patrícia Gonçalves ¥ Fotografia António Pinto

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22 NOTÍCIAS

PELO SEGUNDO ANO CONSECUTIVO, UM DIA DEENORME ALEGRIA PARA APEQUENADA

À semelhança do ano passado, a «Festa de Natal das Cri-anças Familiares de Médicos», organizada pela Secção Re-gional do Norte da Ordem dos Médicos (SRNOM), foi umsucesso. Cerca de 500 crianças, entre os cinco e os 10 anosde idade, pais e avós, tiveram a oportunidade de passaruma tarde única de confraternização e lazer no Centro deCultura e Congressos da Casa do Médico.A cargo do grupo de teatro do Centro de Saúde dos Carva-lhos, composto por médicos, enfermeiros e técnicos auxi-liares, ficou a exibição (em duas sessões) do espectáculo«Nitucha no País da Fantasia». "Inspiramo-nos um boca-dinho em algumas personagens do conto «Alice no Paísdas Maravilhas», e criamos situações ligadas à fantasia, combruxas e vampiros que não existem no mundo real, masque acabam por fazer parte do imaginário das crianças",explicou à revista «Nortemédico» Fátima Oliveira, uma dasmédicas envolvidas neste projecto. O grupo de teatro doCentro de Saúde dos Carvalhos já existe há seis anos e, naépoca natalícia, realiza espectáculos para a comunidadeadstrita ao centro. "Temos cerca de três mil crianças inscri-tas no nosso Centro de Saúde e, por isso, surgiu-nos a ideia

FESTA DE NATAL NA SRNOM

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nortemédico Texto Patrícia Gonçalves ¥ Fotografia António Pinto

de estabelecermos uma relação diferente com apopulação local. Avançamos com a criação do gru-po de teatro e, desde então, temos realizado váriosespectáculos, sempre nesta época", aludiu a médi-ca. Foi a partir daí que nasceu a ideia de transpor-tar também o espectáculo para dentro da SRNOMe, dada a aceitação do público no ano passado, a«Festa de Natal das Crianças Familiares de Médi-cos» contou novamente com a presença do nossogrupo. Mas os divertimentos não se ficaram poraqui e não é somente na representação que aquelaunidade de saúde se destaca. Para novos e graúdos,o Grupo Coral do mesmo Centro de Saúde dosCarvalhos cantou os tradicionais cânticos de Na-tal, «coadjuvados» pelo vastíssimo coro que en-chia a sala.Para os mais pequenos, não faltaram ainda as figu-ras dos pais Natal que, consigo, trouxeram o mo-mento mais esperado da tarde: as prendas, desem-brulhadas apressadamente... Na câmara fotográfi-ca ficaram registados todos estes momentos, paramais tarde recordar…. A «Nortemédico» associa-se ao momento e aproveita para deixar a todos amensagem de Um Próspero Ano de 2004.

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«A MINHA PINTURA É UM POUCO RUDE,ÁSPERA, GROTESCA, ATÉ»

(nortemédico) Quando é que despertou para a pintura?(Adão Cruz) Sempre gostei muito de pintura. Mas dar-me aotrabalho de me aventurar nessa área, só em 1986. Já tinha40 e tal anos.

Porquê nessa altura?Calhou. Por qualquer estímulo, resolvi pegar nos pincéis epintei uns quadros. Depois, tomei-lhe o gosto.

Foi um complemento da Medicina?Sim, um hobbie. Começou por uma brincadeira, depois foiuma questão de gosto. E nunca mais parei.

Há alguma relação entre a Medicina e a Pintura?Há. O exercício da Medicina é uma profissão que está inti-mamente comprometida com a consciência, a ética, a soli-dariedade e até com a justiça. E eu penso que o exercício dapintura tem uma grande afinidade com a consciência, ilu-mina as emoções e o sentimento, ajuda a sentir melhor oprocesso de humanização e de reflexão. Até ajuda, talvez, ater um melhor sentido de justiça, através da procura quefazemos do equilíbrio e da harmonia.

Qual a côr que mais usa?Uma miscelânea. É difícil definir. Uso praticamente todasas cores e depois vou juntando de maneira a adquirir a re-lação mais íntima entre a côr e aquilo que tenho cá dentro,ou seja, entre a parte interior e aquilo que se concretiza.

Lembra-se do primeiro trabalho?Foi numa altura em que estávamos muito entusiasmadoscom o 25 de Abril. Por isso, era um quadro de manifesta-ção, de revolta, de operariado... uma coisa desse género.

O que sentiu quando acabou esse quadro?Senti que estava jeitoso. Não foi uma sensação de grandeconfiança. Foi uma sensação de que estava jeitoso...

Quantos trabalhos já fez?Centenas. Tenho imensos vendidos, outros oferecidos e mui-tos espalhados por aí.

Qual foi o que lhe deu mais gozo pintar?Lembro-me de uma dezena deles, que dei assim unssaltinhos no fim, quando os acabei...

ADÃO CRUZ APRESENTA-SE E FALA-NOS SOBRE OS SEUS GOSTOS ARTÍSTICOS, A ME-DICINA DO PASSADO E A MEDICINA DO FUTURO

Qual o valor deles?Alguns foram vendidos a preços mais ou menos acessí-veis. O mais caro que vendi foi na ordem dos três mileuros (600 contos).

Quanto tempo demora a fazer um quadro?Desde uma tarde a um mês, ou mais... Depende do tipode pintura. Sou um indivíduo muito irrequieto sob oponto de vista espiritual. Nunca estou parado. Por isso,a minha pintura é um pouco rude, áspera, grotesca, até.A pintura meticulosa, rendilhada, aquilo a que chamofazer tricot, não se coaduna comigo. Tem que ser umapintura rápida, intempestiva. Resolvo as coisas com meiadúzia de pinceladas e depois vou lá dar uns retoques.

EGON SCHIELLE É UM GÉNIO DAPINTURA

Qual o tipo de pintura que mais admira?Gosto muito do expressionismo. Não gosto dosurrealismo, embora considere uma pintura muito difí-cil, com muito valor. Também não aprecio o realismopropriamente dito. O impressionismo, claro, é uma pin-tura muito bonita mas já tem a sua história. Mas gosto,sobretudo, daquilo a que chamo o expressionismoficcionista do sentimento. Uma espécie de expressão dosentimento que eu pretendo transportar para a tela. Deuma maneira... não grotesca, mas um pouco rude.

Qual o pintor que mais admira?Por acaso, nem são os mais conhecidos. Para mim, ogénio da pintura é Egon Schielle, um rapaz austríaco,que morreu aos 29 anos. Foi repudiado, foi caluniado,mas ficou na história de forma marcante. Mas, claro,também gosto dos clássicos. Matisse e Van Gogh sãoadmiráveis. Mas também tenho grande atracção por pin-tores contemporâneos.

E portugueses?Gosto bastante de Júlio Pomar.

24 CULTURA

A I EXPOSIÇÃO DE ARTEMÉDICA, QUE DECORREU EM JUNHO DO ANO PASSADO

NAS INSTALAÇÕES DA SRNOM, DEU A CONHECER MAIS DE 60 ARTISTAS/MÉDICOS,E O CATÁLOGO “OLHAR A ARTE” REUNIU DUAS DAS PRINCIPAIS OBRAS DE CADA UM

DELES. A REVISTA NORTEMÉDICO DEDICA, A PARTIR DE AGORA, ALGUM ESPAÇO A

TENTAR PERCEBER MELHOR COMO É QUE VÁRIOS MÉDICOS PRESENTES NAQUELA EX-POSIÇÃO ENCONTRARAM A SUA VOCAÇÃO PELA ARTE. UM DOS TRABALHOS MAIS

APRECIADOS FOI O DE ADÃO CRUZ. ESTE CARDIOLOGISTA, DE 66 ANOS, QUE JÁ

EXERCEU MEDICINA À LUZ DA CANDEIA NAS ALDEIAS DA SERRA DA GRALHEIRA (VALE

DE CAMBRA), CONTA-NOS COMO É QUE UM DIA CHEGOU AO PORTO, SE FORMOU

EM MEDICINA E, MAIS TARDE, SE INTERESSOU PELA PINTURA.

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Há algum quadro que o fascine?Sim, o Guernica, de Picasso. Pela expres-são, pela força que aquelas figuras têm.Pela força de todos aqueles gestos que,dissecados mentalmente, nos mostramque é uma pintura com muita força.

Em quantas exposições já partici-pou?Umas dezenas colectivas e talvez umadezena de individuais.

Louvre e Prado são referências obri-gatórias?Sim, claro, tudo o que é museu, tudo oque é galeria por onde eu passe... vejotudo. Mas o museu que mais me mar-cou foi o Hermitage, em S. Petersburgo.

Em que alturas é que pinta?É irregular, porque sou muito irrequie-to. Gosto de cozinhar, gosto de ler, deescrever... E tanto estou a fazer umestrugido como estou a ler uma revistade cardiologia. Mas, para pintar, acon-tece mais à noite, vésperas de feriado,fins de semana... densos, com uma riqueza literária muito grande, com aqueles te-

mas da sociedade russa da época. Mas gostei de outros autores,como Victor Hugo, Tolstoi, Voltaire e Kafka, por exemplo.

Portugueses?Os Garretts, os Camilos, os Eças, isso já se sabe... Ultimamente,tenho gostado de algumas obras de Saramago. O "Ensaio sobre aCegueira" considero uma obra fabulosa.

E desporto?Gosto imenso de ski. Com os meus filhos, comecei a fazer ski há20 anos. Cheguei a fazer pistas negras e pistas olímpicas, nos Al-pes. Acho que já corri aqueles cumes todos.

Futebol?Não sou grande apreciador.

E o Porto?Eu sou de Vale de Cambra. Ainda tenho lá a minha mãe viva, com98 anos. Mas a verdade é que vim para o Porto muito cedo e con-sidero-me portuense. Formei-me em 1965, naquela transição daMedicina antiga para a Medicina moderna. Ainda sou do tempoem que exercia à luz da candeia nas aldeias da Serra da Gralheira.Fazia já pequenas cirurgias, no meio da serra, em sítios onde nemos automóveis chegavam. Tinha que andar a pé. Mas lá ía eu...levava uns antibióticos, uns soros e tentava resolver os problemas.Desde partos a pessoas com tétano. Foram tempos muito difíceis,mas muito enriquecedores.

Como vai ser a Medicina daqui a dez anos?Vai ser diferente, muito menos humanizada, porque há uma ideiaerrada da Medicina mesmo junto dos próprios médicos. A Medici-na é uma ciência humana por muita tecnologia que exista. O exer-cício da Medicina é uma relação fortíssima entre médico e pacien-te. Ora, com o desenvolvimento tecnológico, essa relação tem-sevindo a perder progressivamente. O doente já não é uma pessoa, éapenas um número, é apenas um caso, que vai servir os interessesda tecnologia, sejam eles quais forem. Uns mais perversos, outrosmenos perversos. Por isso eu penso que a Medicina do futuro vaiperder muito porque se está a amputar de uma das suas maioresriquezas. À medida que se vai privatizando, mais se nota isso. Umamedicina privatizada é uma Medicina forçosamente tendente àdesumanização.

Já está tudo inventado na pintura?Um dos livros que li era sobre a morte da arte. Referia-se à arte moder-na. Mas, depois, surgiu a arte contemporânea com uma força extraor-dinária, embora não se tenha consciencializado, nem se tenha defini-do. Estou convencido que a arte nunca acaba enquanto houver ho-mens e mulheres.

A MEDICINA ESTÁ CADA VEZ MENOS HUMA-NIZADA

Lembra-se do dia da formatura?Claro, são coisas que marcam. Lembro-me da festinha que me fizeram,dos amigos e dos colegas.

Porquê a Cardiologia?Por nenhuma razão especial. Foi coisa do momento. Inicialmente, aminha preferência até era a Urologia. Mas, naquela altura, não havia asdificuldades de hoje e alguma coisa me levou a mudar de opinião.

Hoje voltava a seguir o mesmo caminho?Sim, é uma especialidade bonita.

Onde exerce neste momento?No Porto e em S. João da Madeira. Exerci no Hospital de Santo Antó-nio durante vinte e tal anos. Estive também no Hospital de Gaia e no S.João. Agora estou no sector privado.

Além da pintura, gosta de mais algum tipo de arte?Gosto de música, mas não tenho qualquer formação. Essencialmentegosto de ler e escrever. Aliás, até comecei a escrever muito antes depintar. Escrevo desde os tempos de liceu.

Tem livros publicados?Tenho quatro. Um de poemas, de 1993. Depois tenho outro livro decontos verídicos, reais, da Guiné-Bissau, da Guerra Colonial, onde es-tive. E tenho um terceiro de textos híbridos, de poemas em prosa,digamos assim, com pinturas minhas. E tenho este último, que saíuem 2003, editado pela "Campo das Letras", patrocinado pela Bial epela Sociedade Portuguesa de Cardiologia, que se chama "Adão Cruz:Tempo, Sonho e Razão", também com pinturas e alguns poemas.

Qual o livro que mais o impressionou?A obra que mais me marcou foi a de Dostoievski. São livros muito

Sem título. Óleo/Tela 100x70 cm Sem título. Óleo/Tela 120x90 cm

nortemédico Texto Rui Martins ¥ Fotografia António Pinto

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«VOCAÇÃO PARA A PINTURAVEIO ANTES DA MEDICINA»PARA ALFREDO SOARES, A ARTE É UM BOM COMPLEMENTO

DA ACTIVIDADE MÉDICA

desenha mal não pode, penso eu, pintar muito bem. A nãoser que entre em técnicas abstractas. Mas acho que é impor-tante uma pessoa desenhar bem e isso só se consegue com otreino. Depois de uma pessoa se sentir a desenhar bem, po-derá expandir-se para outros campos.

Qual é a côr que mais gosta de usar?Não tenho nenhuma predominante. Depende daquilo quese quer exprimir. Mas gosto bastante de trabalhar com o ver-de e o vermelho, as cores da nossa bandeira...

ARQUITECTURA TAMBÉM ERA OPÇÃO

Lembra-se do seu primeiro trabalho?Lembro-me do meu primeiro trabalho em termos de dese-nho. Tinha para aí uns sete ou oito anos quando o meu paime disse: faz aqui a cara deste teu amigo. Eu lá fiz assim unstracitos, não ficou nada parecido, acho eu. O meu pai, naaltura, deu-me uma moeda e incentivou-me a desenhar mais.

Descobriu essa vocação antes da Medicina?Muito antes. Aliás, não sei muito bem como é que apareçona Medicina. Na altura de estudante tinha várias opções. AMedicina era uma delas. Mas eu nunca fui daqueles que di-zia: quero ser médico! No 11º ano ainda não tinha as ideiasbem definidas.

O que o fez decidir-se?Estudava no Liceu Alexandre Herculano e, na altura, várioscolegas da minha turma resolveram seguir Medicina. Eu es-tava no grupo, tínhamos notas e seguimos em frente. Tinhauma segunda opção, que até me levou a fazer uns testes etudo apontava para que seguisse esse caminho. Era a Arqui-tectura. Mas o grupo de quatro colegas influenciou-me e aca-bámos todos em Medicina.

E porque é que escolheu urologia?Isso já foi algo muito mais direccionado. Uma vez na Medi-cina, quis uma especialidade interventiva. Quis uma especi-alidade cirúrgica. Cirurgia vascular, cirurgia plástica, urologia,eram hipóteses.

Mas podia trabalhar cirurgicamente noutras áreas...Concerteza. Mas penso que existe uma noção muito erradado que é a urologia. Durante o curso, parecia-me uma cadei-ra sem muito significado, uma especialidade pequena. Masnão é. É realmente uma especialidade enorme, com múlti-plas áreas, o que só dá para perceber depois de nela se estar

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ALFREDO SOARES É OUTRO DOS ARTISTAS QUE A I EXPOSIÇÃO DE ARTEMÉDICA NOS

REVELOU. TINHA SETE ANOS E O PAI PEDIU-LHE PARA FAZER O DESENHO DA CARA DE UM

AMIGO. O PEQUENO ALFREDO SAÍU-SE BEM E GANHOU UMA MOEDA. QUASE 30ANOS DEPOIS ELE GANHOU A ADMIRAÇÃO DOS VISITANTES DAQUELA EXPOSIÇÃO, QUE

PUDERAM APRECIAR DOIS QUADROS MUITO INTERESSANTES. O UROLOGISTA DO CEN-TRO HOSPITALAR DO ALTO MINHO CONTA-NOS TAMBÉM A SUA HISTÓRIA.

(nortemédico) Como é que tudo começou?(Alfredo Soares) Desde novo, sempre gostei de fazer uns dese-nhos, e fui um bocado estimulado também pela família. Aprimeira vez que comecei a pintar foi por altura dos 15, 16anos... mas, depois, parei completamente. Entrei para a facul-dade, outros desafios estavam lançados e empenhei-me a fun-do no curso de Medicina. Paralelamente, havia aquelas activi-dades da queima das fitas... as saídas com os colegas. Nuncamais fiz nada, até há perto de um ano. Por brincadeira, pegueioutra vez nas tintas e comecei a dar umas pinceladas, nãomais do que isso. Depois, houve a oportunidade de expôr naArte Médica e então aproveitei.

Quantos trabalhos fez até hoje?Poucas dezenas, nada de significativo.

Tudo a óleo?Sim, nunca experimentei o acrílico. É tudo a óleo, se bem quejá fiz umas coisas em pastel e achei bastante engraçado. Mastudo de uma forma autodidacta. Nunca frequentei nenhumaescola, nunca fiz nenhum curso. Só li uns livros para ter umasnoções básicas, mas é claramente uma actividade que faço nashoras livres como complemento da Medicina.

Há algum paralelo entre a Medicina e a Pintura?São coisas perfeitamente distintas. Mas acho que não se deveter apenas uma ocupação. A partir de certa altura, sente-sealguma necessidade de ocupar os tempos livres e fazer algo deque se goste...

TUDO DEPENDE DO TREINO

Lembra-se quando comprou as primeiras tintas?Isso já foi há vinte e tal anos... Foram-me oferecidas pelosmeus pais. Tinha feito alguns desenhos a crayon e penso queresultaram de uma maneira engraçada. Depois lembrei-me:porque não pintar também umas telas? Deitei mãos à obra epenso que até ficaram mais bonitas do que aquilo que estou afazer agora.

Porquê?Porque acho que tudo depende muito do treino da pessoa. Seeu parasse com a Medicina e me dedicasse à pintura, tenho acerteza que conseguiria evoluir de uma forma positiva. Mas,para isso, tinha de me treinar, de desenhar todos os dias. Gos-to do retrato, gosto da face humana, gosto da paisagem... masisso exige que se trabalhe todos os dias, para aperfeiçoar. Quem

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Portugal está muito atrasado no apoio à arte?Acho que o espírito está a renascer. As pessoas querem fazer coisase mostrar aos outros. Querem ter outras actividades que não a pro-fissão. Nesse sentido, acho que está a aparecer muita coisa. Achoque não tem que haver apoios porque uma pessoa faz isto porquegosta, por prazer, não faz para ganhar dinheiro.

Tem mais alguma paixão?O mar. Pratico mergulho, normalmente na Galiza, com um grupode Viana do Castelo. Gosto muito da beleza submarina. É umaactividade de grupo, onde estamos dependentes de nós próprios.Podemos partilhar as dificuldades com os outros, mas sempre sempoder entrar em pânico. Cria até um certo treino para a pessoa setornar mais calma. Não pode haver stress.

HISTÓRIA DE PORTUGAL E... SARAMAGO

Gosta de ler?Gosto. Tenho um colega que me ofereceu livros de Saramago, an-tes mesmo de ele ser Prémio Nobel. Gostei muito de ler “Levanta-do do Chão”. Não é um livro muito conhecido. Gostei também do“Todos os Nomes”... Fazer um livro sobre um arquivo de identifi-cação, uma coisa perfeitamente horrível, é preciso escrever muitobem, para que se consiga captar o leitor. E Saramago tem realmen-te uma maneira própria de escrever... Mas, neste momento, poracaso até estou a ler a “História de Portugal”, de José HermanoSaraiva. Temos uma História lindíssima e acho que todos os portu-gueses deviam ter uma cultura das nossas origens.

É do Porto?Sou de Campanhã...

Portista?Sim, mas não sou ferrenho. Já há anos que não vou ver um jogo defutebol, porque há coisas que me irritam. Nós somos campeões doMundo de hóquei e na altura da conquista do título não vi nenhu-ma festa na Avenida dos Aliados. Depois vi os jornais no dia se-guinte e só se falava de futebol e pouco da selecção de hóquei.

E a cidade?Vejo com tristeza a desertificação do Porto. A Câmara começou adar alguns passos para tentar fixar as pessoas mas acho que temque fazer muito mais. Penso que, nesta área, se devia ter em contaa experiência de outros países. Uma Câmara que queira uma cida-de viva, deve ela própria tomar a dianteira, fazer projectos das ca-sas em ruínas e apresentá-los ao proprietário, obrigando ao seurestauro ou venda. Ou seja, acabar com a inércia e com o imobilismotanto dos proprietários como da própria máquina administrativada Câmara.

inserido. Por outro lado, a urologia foi também um desafio,porque, apesar de ser uma cadeira aparentemente simples,foi das piores notas que obtive durante o curso. Acabei poroptar pela urologia pelo desafio e por ser uma especialida-de muito abrangente.

Onde exerce?Na função pública exerço no Centro Hospitalar do AltoMinho. Tenho também uma actividade extra no Hospitalda Ordem do Carmo, no Porto, e em clínicas de Santo Tirsoe Vila Praia de Âncora.

SALVADOR DALI É A REFERÊNCIA

Há algum pintor que o tenha influenciado?Não sou grande apreciador de Picasso mas gosto da faseinicial da obra dele. De início, ele pintava de uma formamuito mais objectiva. Pintava retratos, paisagens, muito bemdefinidas. Nada de coisas abstratas. Depois é que deu o sal-to para a pintura que gostava... Picasso é, portanto, umareferência. Ainda este ano estive a ver o Guernica. É umquadro que transmite qualquer coisa. Tem que ser vivido,tem que ser pensado mas não é com esse género de pinturaque me identifico.

Então quem é o pintor-referência?Salvador Dali. É um surrealista, o estilo de que mais gosto.

E qual é o quadro de que mais gosta?Não tem nada a ver com surrealismo – é o “As Bailarinas”do Degas. Gosto também do “Retrato da Família Real”, doVelazquez. Acho que é um quadro que dá muito que pen-sar. Tive a oportunidade de o ver no Prado e achei-o extra-ordinário.

Tem visitado os museus mais conhecidos?Sim, desde o Louvre, ao Georges Pompidou... O Metropo-litan de Nova Iorque também tem coisas excepcionais maso Louvre foi o museu que mais me impressionou.

Para além da ArteMédica já participou noutras expo-sições?Concorri agora com duas obras à Exposição de Arte Eróticade Gondomar, organizada pela Argo.

Como define as obras que estiveram na ArteMédica eque surgem agora no catálogo?Uma delas é uma obra um pouco nostálgica, pintada a rosa.Trata-se de um casal, num barco, num rio. Como tenhoquase 40 anos, às vezes começo a olhar apara trás. E porvezes sinto alguma nostalgia. Sinto que estou numa altura nortemédico Texto Rui Martins ¥ Fotografia António Pinto

de viragem na vida. Ooutro é um farol. Está li-gado ao mar e o mar estáligado à nossa história.Tudo o que fizemos derelevante está ligado aomar e penso que o farolé uma luz de esperança,que nos permite olhar avida de uma forma po-sitiva. Por outro lado, éum factor de orientação.

Em que alturas é quepinta?Basicamente aos fins desemana. Sempre duran-te o dia, não gosto depintar à noite.

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DR. A. S. MAIA GONÇALVES

PARA UMA HISTÓRIAMÉDICA PORTUENSE - XIV

Na última pausa que fizemos nesta nossa crónicada Secção Regional do Norte da Ordem dos Médi-cos (SRNOM), estacionamos no ano de 1980, finaldo primeiro dos 3 mandatos consecutivos de JoséGuimarães dos Santos, à frente do respectivo Con-selho Regional (CR).Depois da iniludível vitória sobre a lista opositora,em Dezembro de 1977, e do convincente trabalhoproduzido pela sua equipa, durante os 3 anos se-guintes (desde 1978 até 1980) J. Guimarães dosSantos, para o seu segundo mandato, de 1981 a1983, já não teve qualquer outra lista adversáriapara o enfrentar. Desfrutando de um verdadeiroestado de graça, J. Guimarães dos Santos era umlíder indiscutível, indestronável, pacificamente re-conhecido e aceite pela esmagadora maioria dosmédicos da Região Norte. Não que tivesse deixadode haver oposição, mas numericamente... quase.Para exemplificar a grande abertura e aceitabilidadeque o seu CR disfrutava junto da maioria dos mé-dicos da cidade, J. Guimarães dos Santos, com umapontinha de bem justificado orgulho, contou-meque conseguiu realizar reuniões de trabalhofrutuoso com praticamente todos os directores detodas as Casas de Saúde da cidade do Porto e que,como resultado prático dessa louvável iniciativa,passou, desde então, a haver serviços permanentescom presença física de médicos, em cada uma da-quelas instituições.Em Dezembro de 1980, J. Guimarães dos Santoslimitou-se a mudar algum do elenco directivo an-terior (cerca de 30/40 %) e apresentar-se a sufrágiopara... para voltar a ser eleito.Assim, para este novo mandato, o triénio de 1981a 1983, os Órgãos Regionais do Norte da Ordemdos Médicos passaram a ser:Conselho Regional: Alfredo J. Correia Loureiro;António F. Bastos Lima; António G. de Pina SilvaLeal; António J. S. Moreira da Silva; António L. A.do Canto Moniz; Artur M. Osório Morais de Araú-jo; Carlos F. V. da Silva Torres; Davide M. da CostaCarvalho; José Guimarães dos Santos; José L. M.Jorge Castedo; José R. de Castro Lopes.Assembleia Regional: Bernardo M. P. Teixeira Co-elho; José Bárbara Branco; João Carlos P. A. Fran-co; José M. Sanches de Vasconcelos.Conselho Disciplinar Regional: António Queiroz

Marinho; Daniel dos Santos P. Serrão; José Cardo-so da Silva; Maria da Conceição F. Marques;Oswaldo Ferreira Bonifácio.Conselho Fiscal Regional: Jacinto A. F. Alves Ma-galhães; Álvaro de Almeida Guimarães; José Car-valho de Oliveira.Como Membros Consultivos do Distrito Médicodo Porto junto do Conselho Regional faziam parteuma galeria de 19 nomes.

Quem, como eu, tem vindo a acompanhar, aindaque não exaustivamente, a actividade dos sucessi-vos CR, não pode deixar de ficar impressionadocom o explosivo incremento do número e volumedas reuniões, tarefas, diligências, solicitações, pro-cessos, etc., depois de 1975 e, muito em especial,depois da entrada em vigor dos novos Estatutos daOrdem, em 1977 – bastará passar os olhos pelosRelatórios Anuais. Não que já não fossem absor-ventes, ingratas, e frustrantemente não executivas,as missões até então da responsabilidade dos Ór-gãos Regionais. Mas, na verdade, a partir de 1977tudo mudou, se acelerou, se multiplicou e se tor-nou muito complicado. Para além das reuniões ro-tineiras, semanais, do CR, as reuniões, mensais,com agendas sempre sobrecarregadíssimas, doConselho Nacional Executivo e ainda os PlenáriosInter-regionais... Tudo isto decorrendo em ambi-ente sempre tenso, nada pacífico, em permanentediscórdia com o Ministério dos Assuntos Sociais(MAS) e a sua Secretaria de Estado da Saúde (SES).

Através da análise de algumas das iniciativas des-tes CR é possível constatar o espírito de visão mo-derna, actualizada mas também de vanguarda, pro-jectada para o futuro, de J. Guimarães dos Santos eda sua equipa, procurando, através de uma per-cepção cuidadosa das transformações científicas,tecnológicas e sociais operadas nas estruturas daSaúde do País, estar à altura das grandes responsa-bilidades exigidas.Todos os médicos com quem conversei sobre estesassuntos foram unânimes em reconhecer tais qua-lidades de liderança na pessoa de J. Guimarães dosSantos. Exemplos dessa “visão” foram a introdu-ção da Informática na orgânica administrativa; osCursos de Informática ministrados; os Simpósio eDebates sobre a Saúde; os Cursos de Gestão Hos-pitalar tão badalados tantos anos depois, etc.

CULTURA

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Num total de 24 Comissões com, em média, 4 ele-mentos cada uma, dava um total de cerca de umacentena de médicos que passaram a disponibilizar-se para executar tão ingrata, quanto, após tantaanarquia, justificável tarefa.Com tais Comissões passou a ser possível ao CRdispor de dados estatísticos fidedignos sobre a pro-dutividade e rentabilidade objectivas de todos osServiços Clínicos Hospitalares, proceder às suas res-pectivas análises, e assim poder propor Políticasde Saúde, Regionais e Nacionais, adequadas ealicerçadas em dados concretos.

No tocante a Exames de Especialidades, num con-traste flagrante com o que se passara nos anos an-teriores, realizaram-se, no ano de 1981, no CR-NOM, nada menos que 58 exames, isto é, quase odobro da média dos anos anteriores (4, em 1978;31, em 1979 e outra vez 31, em 1980) assimdescriminados: Ginecologia; Ginecologia/Obstetrí-cia; Medicina Física e de Reabilitação; Pedopsiqui-atria; Urologia; Psiquiatria; Dermatologia; Aneste-siologia; Radiodiagnóstico e Oftalmologia.No movimento decorrente do imparável progres-so das Ciências Médicas foram oficializadas mais 6novas Especialidades (Cirurgia Vascular; Nefrologia;Hematologia Clínica; Medicina Nuclear; Clínica Ge-ral e Medicina Desportiva) e mais duas Competên-cias (Electroencefalografia e Hidrologia Médica).Ainda em 1981, houve tempo para, no âmbito daactividade Cultural, realizar-se, de 2 e Maio a 12de Junho, na Sede da Secção Regional, uma Expo-sição de obras de Pintura e Desenho, da autoriado médico João Pinheiro, de Lisboa. Consistiu,em colecções temáticas, em cerca de trezentas obras,

Uma análise simples do número progressivamente cres-cente das novas inscrições revela-nos que, em meia dú-zia de anos, de 1973 até 1979, o número total dos mé-dicos inscritos na SRNOM mais que duplicou: de 2.738em 1973, em 1979, esse número já estava em 5.594.Por outras palavras: a partir de 1979 mais de 50% dosmédicos inscritos na SRNOM eram médicos com me-nos de 6 anos de actividade. Só nos últimos 3 anos (de1977, 1978 e 1979) a soma dos novos inscritos (a umamédia de 700 novos inscritos por ano) chegou aos 2097.No final de 1983, estavam registados na SRNOM 6.380médicos, e no final de 1986, o total dos médicos inscri-tos na SRNOM chegou aos 7.380.Seria altamente improvável que uma tal plétora edeslizamento da média etária da população médica, cri-ando novíssimos problemas, novos centros de gravida-de, não arrastassem, a curto prazo, consequências ouefeitos marcantes. O caos resultante, daí e de outrasfontes, ainda que mitigado com a criação dos ServiçosMédicos à Periferia, os Policlínicos (que chegaram a P5),os Clínicos Gerais, fazia adivinhar e pressentir a apro-ximação de momentos complicados, de desemprego,principalmente para os recém-chegados à Corporação.Se, perante tão complexas situações, nem para os legis-ladores foram anos fáceis, que dizer de todos os CorposGerentes da OM que, obrigatoriamente sempre aten-tos, nunca se demitiram dos seus deveres de defende-rem, até à última arma – a greve – os direitos dos seusfiliados, onde quer que fossem as suas ocupações pro-fissionais médicas. Valeram, de forma repetidamentedecisiva, como argumentos irrefutáveis, os já legaliza-dos Estatutos, tanto os da Ordem, de Junho de 1977,como os do Médico nos Serviços Oficiais, de Agosto de1979.Fácil também é de compreender como, naqueles tem-pos, se vivia, e trabalhava, em estado de tensão e dedesconfiança mútua, permanente, mesmo quando noGoverno eram médicos que estavam à frente da área daSaúde, já que, da outra margem, o diploma legal dereferência para os governantes era a Lei 56/79 – Lei deBases do Serviço Nacional de Saúde, conhecida por “LeiArnault” – com a qual havia, desde o começo, natural-mente, profundas divergências.

Os anos deste segundo mandato de J. Guimarães dosSantos foram pois anos de, ainda, muita efervescênciae confrontação.Os Colégios de Especialidade, aprovados que tinhamficado, na generalidade, passaram, no ano de 1981, aestar aprovados na especialidade, e a funcionar em ple-no. Em obediência à já referida estratégia delineada “naconvicção firme de que só uma elevada qualificação pro-fissional poderia constituir paredão intransponível con-tra a mediocracia que se procurava institucionalizar noPaís, à instituição dos Colégios de Especialidade seguiu-se a instituição das primeiras Comissões de Verifica-ção de Idoneidade dos Serviços.

JOSÉ GUIMARÃES DOS SANTOS

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uma retrospectiva: painéis com cerca de 700 desenhosarquivados e projecções intermitentes de diapositivos.Foi também emitido um poster comemorativo. João Pi-nheiro recusou-se a vender qualquer das peças destaexposição, pois dedicou-a inteiramente à Classe Médi-ca, que poderia requisitá-la sempre que entendesse as-sociar qualquer actividade científica à arte plástica.

O agitado ano de 1982 foi dominado por três aconteci-mentos “major”:1. A criação do Conselho Nacional do Médico Interno edo Clínico Geral.2. A aquisição da Quinta da Arca d’Água.3. A promulgação do diploma das Carreiras Médicas.(Dec-Lei nº 310/82 com a data de 3 de Agosto).1 – No plenário dos Conselhos Regionais realizado em23 de Janeiro de 1982, verdadeira Assembleia Magna,ao abrigo dos deveres Estatutários, foi aprovada a cria-ção do CONSELHO NACIONAL DO MÉDICO INTER-NO E DO CLÍNICO GERAL, cujo primeiro Coordena-dor Nacional foi Alfredo Loureiro, médico da SRNOM.Após a criação do Conselho Nacional seguiu-se a fasede implementação dos respectivos Conselhos Regionaisdo Médico Interno e do Clínico Geral, cujos primeirosCoordenadores, no Norte, foram Pedro Correia da Sil-va e Marco Geraldes Monteiro.A este novo órgão, reflexo paradigmático, como referi-mos, das novas relações de força dentro da Corporação,defensor preferencial dos interesses objectivos e exclu-sivos dos sectores mais jóvens da Classe, quer junto dospróprios colegas, quer como Consultivo do ConselhoRegional e, por intermédio dos seus representantes noConselho Nacional do Médico Interno, no ConselhoNacional Executivo, como facilmente se deduz, não lhefaltaram problemas para tentar resolver, quer os levan-tados pela nova Carreira de Clínica Geral quer pelas si-tuações criadas aos Internos Gerais pelos exames de fimde Internato e ingresso no Internato das Especialida-des, situações exuberantemente ricas de embaraços.Apesar das suas evidentes importância e peso, este Con-selho do Médico Interno e de Clínica Geral, não teve,porém, a audição que merecia, nem junto das autorida-des Hospitalares, nem das Governamentais.

Já quando da implementação do Estatuto do Médico,aplicável, naturalmente, a todos os níveis e em todos ospostos de trabalho médico (nos SMS, nos Serviços Mu-nicipais, nas Casas do Povo, nas Companhias de Segu-ros, etc.) foram inúmeros os novos problemas suscita-dos. Agora, com a implementação do Decreto-Lei nº 310/82, das Carreiras Médicas, voltou a suceder o mesmo,surgindo numerosos imbróglios para os quais o CR e asua consultadoria jurídica foram permanentemente so-licitados para tomadas de posição na defesa dos direitossócio-laborais dos médicos envolvidos. O espectro dedesemprego ganhava contornos de realidade objectivae próxima.

2 –A Casa do Médico, na grandeza da diversificaçãodas suas estruturas e funções, eriçada que foi numa épocade escolhos que puseram em risco a sua própria exis-tência de forma livremente institucionalizada, face àameaça de um poder político hostil, arrogante e discri-cionário, ficou para a história da Ordem dos Médicos

como um marco indelével a simbolizar a força doquerer colectivo da Classe Médica.A este propósito, não será de mais repetir o que J.Guimarães dos Santos, anteriormente me havia afir-mado e que acabou por ser publicado no RelatórioAnual: “o agradecimento aos Colegas das SecçõesRegionais do Centro e Sul que integravam o Con-selho Nacional Executivo e Plenário dos Conse-lhos Regionais, bem como ao Presidente do Con-selho Nacional Executivo, A. Gentil Martins, peloseu total apoio à causa da Casa do Médico da nos-sa Secção, sem o qual esta nossa aspiração dificil-mente teria sido concretizada”.

3 – A promulgação do diploma das Carreiras Mé-dicas (Dec-Lei nº 310/82, de 3 de Agosto) consti-tuiu a concretização, ainda que não totalmente sa-tisfatória, das já longas e legítimas expectativas daClasse: o último dos, já referidos, 3 pilares da se-gurança e garantia da dignidade de todo o exercí-cio prático da medicina. De facto, se no âmbitorestrito das Carreiras Médicas, Hospitalar e de Saú-de Pública, “apesar de provinciana e prolixamenteconclusivas”, terem sido satisfeitas muitas das as-pirações médicas, já em relação à Carreira de Clí-nica Geral o projecto aprovado, criando uma Car-reira burocratizada, suporte de uma Medicinadespersonalizada e sem incentivos científicos oueconómicos para os jovens médicos que por elaoptassem mereceu a crítica severa, a repulsa e arejeição generalizada da Classe.

Por virtude desta e de múltiplas outras manifesta-ções concretas de desconsideração por parte dosgovernantes, o ano de 1982 foi particularmentefértil em contenciosos entre a OM e o MAS, com oseu Secretário de Estado da Saúde que, queren-do legislar, passavam, sistematicamente, por cimados compromissos oficialmente assumidos pelospróprios, e dos termos consignados nos Estatutospreviamente legalizados.Entrevistas nos jornais, na rádio e na TV, Assem-bleias Extraordinárias e Comunicados, sucediam-se de parte a parte, em actividade febril eindisfarçada competição. De tal modo crescente eostensivo era o ambiente de afrontamento, atrope-los e ilegalidades, agressões e desrespeitos por par-te do MAS/SES, que os médicos do CR de Lisboa,reunido em 21/10/1982, decidiram, por unanimi-dade, apresentar a sua demissão em bloco, por seconsiderarem, em tal atmosfera de trabalho, impe-didos de levar a cabo o programa proposto.O auge de toda a “agressividade” por parte do Mi-nistério aconteceu com a publicação da Portarianº 1103/82, de 23 de Novembro, contendo o Re-gulamento dos Concursos para os Graus e Lu-gares dos Quadros do Pessoal Médico da Car-reira Hospitalar.Tal Portaria mereceu por parte do Conselho Naci-onal do Médico Interno uma violenta reacção, atra-vés de um Comunicado, com data de 4 de Dezem-bro, que classificou a política encetada pelo MAScomo uma “política de destruição da Ordem dosMédicos” e considerava a referida Portaria “um gra-

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ve atropelo ao Estatuto da Ordem (Dec-Lei nº 282/77)na atribuição dos títulos de Especialidade, num insultoaos candidatos e júris de exame, criando “ComissáriosPolíticos do MAS/SES” com direito de veto nas delibe-rações do júri, e outorgando ao MAS capacidade discri-cionária na apreciação da idoneidade dos curriculum”.

Ainda em 1982, face às sucessivas atitudes da SES gra-vemente lesivas dos direitos dos médicos, decidiu o Con-selho Nacional Executivo (CNE) promover um Refe-rendo Nacional à Classe Médica. Continha 7 questões,para resposta de sim ou não, por cruzinha, a última dasquais perguntava se “estava disposto a aderir a uma gre-ve decidida pelos médicos e coordenada pela sua Or-dem”.

Os resultados apurados nas três Secções Regionais vie-ram publicados na revista da Ordem e foram interpre-tados como “francamente desfavoráveis à actuação daequipa MAS/SES, e de claro apoio às posições dos Cor-pos Gerentes da Ordem”.

As negativas do Poder forçaram a Assembleia Geral deMédicos (Plenário Inter-Regional) a delegar no CR a or-ganização de “uma greve Médica, com o fim de defen-der a dignidade da Classe”.

Organizada em escassos dias, uma nova greve foidesencadeada nos dias 23 e 24 de Novembro de1982, “tendo tido larga adesão, nomeadamente dosprincipais Hospitais da Zona Norte”.

O ano de 1983 ficou assinalado, entre outros, porum facto de indiscutível importância histórica navida da SRNOM: a efectiva transferência da sua sededa Rua de Álvares Cabral para a Quinta da Arca deÁgua, onde ficariam instaladas não só as estruturastécnico-administrativas, como também a primeiraCasa do Médico, e o Pavilhão de Congressos.

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Ficou para a posteridade, a constituir uma prova dadeterminação dos dirigentes de então, na defesa de umSistema de Saúde que garantisse não só uma assistênciaqualificada e humanizada mas também, e simultanea-mente, que dignificasse aqueles que de facto prestamesses mesmos cuidados de saúde: os médicos.

Em 1983, o movimento dos Exames de Especialida-des foi simplesmente frenético, merecedor, quiçá, deoutras análises, eventualmente esclarecedoras de tais mo-vimentos e resultados, como estes que se seguem: paraum total de 76 inscritos, não foram admitidos 13; de-sistiram 19; foram reprovados 7 e aprovados 37, dasseguintes Especialidades: Anatomia Patológica; Cardio-logia; Cirurgia Geral; Cirurgia Pediátrica; Gastrentero-logia; Ginecologia; Neurologia; Obstetrícia; ORL; Pato-logia Clínica e Pneumologia.

Também a partir de 1983 passou a vigorar um novoCódigo Nacional de Actos Médicos e Valores Relati-vos (CNAMVR) aprovado pelo CNE após um longo,moroso e acidentado processo de tratamento de umaspropostas iniciais elaboradas pelo CRNOM.Enquanto que o anterior Código (de há 3 anos) era umtexto imposto pela necessidade de urgência face a cir-cunstâncias conjunturais, com defeitos, quer de Nomen-clatura, quer de Codificação, quer de Valoração, o actu-al foi elaborado de raiz, mercê do esforço conjunto degrande número de Colegas.

Igualmente digno de registo foi a realização do V Con-gresso Nacional de Medicina, que teve lugar em Lis-boa na Fundação Calouste Gulbenkian, entre 16 e 20de Outubro de 1983. Saldou-se por um êxito assinalável,reconhecido por todos quantos nele participaram. Que-rendo manifestar o seu apoio e solidariedade, estiverampresentes, quer na sessão de abertura, quer na de encer-

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ramento, o Presidente da República (RamalhoEanes), o Primeiro Ministro (Mário Soares), o Mi-nistro da Saúde (Maldonado Gonelha) e o Presi-dente da Fundação Calouste Gulbenkian (AzeredoPerdigão).Ainda em 1983, por influência pessoal de J. Gui-marães dos Santos, através do Prof. Jean Claude-Gazet, do Royal Masden Institut, teve lugar umaprimeira “reunião conjunta” entre a Secção Regio-nal do Norte da OM e a Surgical Specialist Society,representada por algumas dezenas de médicos ci-rurgiões Ingleses, que se realizou nos dias 14 e 15de Outubro, no Salão Nobre do Hospital Santo An-tónio, sob o tema “Controvérsia em Cirurgia”. Acerimónia de abertura iniciou-se com uma home-nagem a Abel Salazar, através de uma palestra pro-ferida por Nuno Grande.Constituiu um êxito científico considerável e umcontributo bem positivo para um frutuosointercambio e enriquecimento profissional entremédicos portugueses e ingleses, nomeadamenteatravés do posterior estabelecimento de estágiosclínicos na área da Oncologia e na de Transplantesde Medula Óssea, com benefícios, públicos e no-tórios, da nossa parte, nos dias de hoje.

Sob o título “Saúde em Portugal”, integrado noPrograma de Intercâmbio Estudantil da Associa-ção de Estudantes da Faculdade de Medicina doPorto, o CRNOM levou a cabo, na Casa do Médico(ainda em obras, diga-se) um Simposium, que de-correu de 8 a 11 de Agosto de 1983. Entre gradu-ados e finalistas de Medicina, foram cerca de 30 osparticipantes neste Simposium, oriundos de diver-sos países Europeus e também de África.

Ainda em 1983, em Dezembro, mais uma vez oCRN organizou um outro Simposium a que deu otítulo “Saúde em Portugal – Perspectivas paraos Jovens Licenciados”, que decorreu durante osdias 19, 20 e 21 na Aula Magna da Faculdade deMedicina do Porto. Com sessões de manhã e detarde, com intervenções numerosas e de curta du-ração, foram ministrados, em estilo Mesa-Redon-da, uma vasta gama de conhecimentos da maiorimportância para os médicos recém-formados: des-de os problemas práticos da actividade médica, aosCuidados Primários de Saúde e aos aspectos da Eco-nomia da Saúde, da Estruturação das Carreiras Mé-dicas e do Ensino Pós-Graduado, da ArticulaçãoInternacional dos Médicos em Treino e ainda osdiferentes Sistemas de Saúde.Na sessão solene de Encerramento aproveitou-separa de novo se instituir a cerimónia do JuramentoHipocrático como marco ritual público do iníciodo exercício profissional dos jóvens licenciadosmédicos.

Em chegando a Dezembro de 1983, de novo aseleições e, tal como nas anteriores, J. Guimarãesdos Santos, remodelando o seu elenco, voltou aapresentar-se a eleições, e de novo sem outra listaadversária.

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3 DISCOS & 3 LIVROSAS SUGESTÕES DO CINEASTA

MANOEL DE OLIVEIRACOM 70 ANOS DE CARREIRA CINEMATOGRÁFICA, MANOEL DE OLIVEIRA É UM DOS MAIS IM-PORTANTES CINEASTAS EUROPEUS. NASCEU NO PORTO HÁ 95 ANOS E É UMA REFERÊNCIA DA

CULTURA PORTUGUESA. A SUA OBRA ESPALHOU-SE PELO MUNDO, DE TAL FORMA QUE JÁ

OBTEVE MAIS DE 30 PRÉMIOS INTERNACIONAIS, VÁRIAS HOMENAGENS (NO VATICANO CHAMA-RAM-LHE "O PATRIARCA DO CINEMA INTERNACIONAL"), FRUTO DE MAIS DE 50 FILMES COMO

REALIZADOR, ACTOR E SUPERVISOR. QUANDO SE LHE PEDE A SUGESTÃO DE LIVROS, MANOEL

DE OLIVEIRA COMEÇA PELO PRINCÍPIO...

33CULTURA

A BÍBLIA

A Bíblia é um livro fundamental. Pode até nem serlida sob o ponto de vista religioso mas no âmbito doconhecimento mais profundo, da sabedoria máxi-ma. Cerca de 40 escritores juntaram, ao longo de1500 anos, textos em hebraico e aramaico (AntigoTestamento) e em grego (Novo Testamento). É in-crível como é que tantos escritores, de diferentesorigens, de épocas diferentes e sem se conhecerem,escreveram textos fundamentais para a História deuma forma harmoniosa e contínua ao longo dos sé-culos. É o fundamento das civilizações, da sabedo-ria dos tempos...A Bíblia foi canonizada, lida como literatura sacra,copiada em manuscritos hebraicos e gregos, e de-pois traduzida para todos os idiomas. É uma leiturarica, profunda, onde se inspira o conhecimento doHomem e todos os seus valores.

LIVROS

SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO AOS PEIXES

– PADRE ANTÓNIO VIEIRA

Manoel de Oliveira fez um filme ("Palavra e Uto-pia") sobre o padre António Vieira e ficou "chocado"com a sua humanidade. Missionário, pregador, di-plomata, político, escritor, António Vieira nasceu emLisboa (1608-1697) mas foi em criança para o Bra-sil, onde se iniciou como pregador e foi fundamen-tal na missionação dos índios. Morreu na Baía comquase 90 anos.Homem de grande sabedoria, tem uma literaturaimensa. Um dos textos mais conhecidos é o "Ser-mão de Santo António aos Peixes". É uma obra querevela um fino senso de observação sobre os vícios evaidades do Homem. O padre António Vieira revelauma enorme ironia quando usa as alegorias para cri-ticar os grandes que, como peixes, vivem do sacrifí-

CRIME E CASTIGO – FIÓDOR DOSTOIÉVSKI

Dostoiévski é um dos mai-ores escitores de sempre eum dos grandes precurso-res da mais moderna formade romance. Nasceu emMoscovo (1821-1881), es-treou-se na literatura em1846, com a obra “GentePobre”. A consagração de-finitiva veio mais tarde com"O Idiota" e "Crime e Cas-tigo". Antes disso, em 1849, foi condenado à morte porsuspeita de ter participado numa conjura revolucioná-ria contra o Czar. A pena foi-lhe comutada à última hora,para trabalhos forçados na Sibéria. Amnistiado em 1855,reassumiu depois a actividade literária.Em "Crime e Castigo", Dostoiévski cria uma persona-gem (um estudante) que vive num profundo conflitointerno. Rodion Ráskolnikov comete um crime perfeito:ninguém o vê, não há provas. Mas é a partir daí que ocastigo se manifesta. Não por meio de penalização soci-al mas pelo sentimento de culpa, do arrependimentoque se revela amargo. A obra é a descrição do infernopessoal de Ráskolnikov. É um livro de emoções fortes,de uma grande profundidade psicológica, deste autorque se tornou numa referência universal da literatura.

cio dos mais pequenos, os quais engolem e devoram. Oalvo são os colonos do Maranhão, que no Brasil são gran-des, mas em Portugal "acham outros maiores que os co-mam, também a eles".Esta obra, de uma extraordinária censura aos hipócritase traidores, reflecte bem o trabalho que o padre AntónioVieira fez no Brasil.

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QUINTA SINFONIA – LUDWIG VAN

BEETHOVEN

Cada uma das sinfonias de Beethoven foi idealizadapara agir ao nível psicológico, para enaltecer os valo-res intrínsecos superlativos do Homem. A Quinta Sin-fonia é a do "Destino". Estimula a traçar as estruturasdo que queremos ser na vida. As quatro pancadas ini-ciais são as pancadas do destino que nos bate à porta.São também as pancadas dos elementos da natureza:fogo, ar, água e terra. As quatro partes desta sinfoniareflectem-se na música destes elementos com grandeintensidade. Com a nota-chave da vitória, esta sinfo-nia também é conhecida como a "sinfonia da vitória"e tem a interpretação espiritual da conquista do euinterior.A Quinta Sinfonia é também a mais trágica das novesinfonias. Faz a trajectória das trevas (os dois primei-ros movimentos) para a luz (os dois últimos) de ma-neira original, que abriu precedentes na história damúsica. É uma obra que faz parte da história da músi-ca clássica e que foi brilhantemente interpretada pelomaestro Herbert Von Karajan.Beethoven nasceu num domingo, a 16 de Dezembrode 1770, na cidade de Bona, na Alemanha. Mas ele foimuito mais que um músico. Foi um super-homem...

DISCOS

nortemédico Texto Rui Martins

SINFONIA N. 8 (INACABADA) – FRANZ

PETER SCHUBERT

A maior parte das obras de Schubert é inspirada nofolclore vienense. São muito conhecidas as marchasmilitares, as danças germânicas, as valsas, sobretudoa famosa Valsa da Saudade. No mesmo estilo escreveuobras de grande formato, como o Quinteto para Pia-no em lá menor – A truta.Para muitos, Schubert é um compositor meio alegre emeio melancólico, tipicamente vienense. Mas tambémexiste o outro lado do músico: compositor da maisalta categoria e digno sucessor de Beethoven.Estas duas vertentes mostram que a obra de Schuberté volumosa e imensamente rica.Além dos famosos lieder (canções típicas da Áustria),também se pode fazer uma boa abordagem da músicade Schubert pela Sinfonia n.º 8 em si menor, inacabada.Estão lá todos os atributos: melancolia, energia, melo-dia.Schubert foi um homem atormentado pela doença.Morreu muito novo (31 anos), ao que se pensa, porsífilis. Mas a obra perdura no tempo e merece bem serouvida.

SINFONIA N. 41 EM DÓ MAIOR "JÚPITER"– WOLFGANG AMADEUS MOZART

Um dia, nos Estados Unidos, puseram as crianças aouvir Mozart para tentarem provar que tinham me-lhor desempenho que as outras. Os primeiros resulta-dos foram satisfatórios e a música, como a sinfonian.41, foi vendida para fortalecer o cérebro. Mais tar-de, concluiu-se que os resultados tinham sido malinterpretados. Fazia bem às crianças ouvir Mozart masnão as transformava em génios. Isto demonstra bem a

importância que o compositor ainda hoje tem juntode tantos que se debruçam sobre a sua música. As trêsúltimas sinfonias, 39, 40 e 41, constituem a grandebase de trabalho. Cada uma das sinfonias é considera-da um acontecimento na história da música. As maisfamosas são a 40, em sol menor, com uma energiaquase demoníaca, e a 41 ("Júpiter"), que é considera-da como a própria perfeição da música clássica.Quando ainda tinha apenas cinco anos, Mozart sur-preendeu toda a gente ao mostrar uma partitura deum concerto para teclado escrito por ele. Pouco de-pois, escreveu as primeiras composições, documenta-das e registadas. Este é o início da história de um génio,que nasceu em Salzburgo, no dia 27 de Janeiro de1756...

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ERA CAPAZ DE IR A SANTIAGO DE COMPOSTELA

A PÉ? A QUESTÃO É PERTINENTE, MAS QUASE NIN-GUÉM SE SENTE CAPAZ DE RESPONDER DE FORMA

POSITIVA A PRIMEIRA VEZ QUE PENSA NELA. PARA

QUEM PARTE DA CIDADE DO PORTO SÃO CERCA

DE 250 QUILÓMETROS POR CAMINHOS RUPES-TRES, ONDE O CONTACTO COM A NATUREZA

PODE TORNAR-SE UM VERDADEIRO DESAFIO.MAIS DO QUE A FÉ, A VIAGEM A SANTIAGO É

UMA PROVA DE FOGO, ONDE TODOS OS LIMITES

PODEM SER TESTADOS. SERIA CAPAZ DE ENTRAR

NESTA AVENTURA? ESPERA-SE QUE 20 MIL POR-TUGUESES O FAÇAM EM 2004, ANO JUBILEU.

35LAZER

Milhões de pessoas já percorreram o Caminho de Santiago,conhecido por ser a maior rota do mundo. A algumas perso-nagens históricas, como o Papa Calixtinus (grandeimpulsionador do Caminho), a Rainha Santa Isabel, o impe-rador Carlos Magno ou São Francisco de Assis, seguiram-sefiguras da actualidade como o Papa João Paulo II (apenas umcurto trecho), a Infanta Elena, ou o escritor brasileiro PauloCoelho. O que os levou a fazer o caminho? Só eles sabem, sóeles podem responder.São várias a razões que conduzem milhões de pessoas a San-tiago. A procura da fé, a busca de um sentido para a vida, umvazio que sentem, um excesso que querem libertar, a procu-ra da própria identidade. Por mais medo que se tenha dodesconhecido, a peregrinação é um acto pessoal, em que omais difícil é ultrapassar os obstáculos que vão surgindo,encontrando novos limites para o corpo e para a mente. "Nin-

2004EM SANTIAGO DECOMPOSTELAÉ ANO JUBILEU

OS CAMINHOSDA PEREGRINAÇÃO

NESTE NÚMERO DANORTEMÉDICO CONHEÇA...

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guém sabe se é ou não capaz de ir a pé a Santiago,porque não sabemos quais são os nossos limites.O Caminho obriga a encontrar o limite", explica opresidente da Associação dos Amigos do Caminhode Santiago do Norte de Portugal, Djalma Correia.

ANDAR, CAMINHAR E PASSEAR

Para quem parte do Porto, rumo à cidade de Santi-ago de Compostela, o primeiro desafio a ultrapas-sar é aprender a caminhar, que é bem mais difícildo que se possa imaginar. Desde os primeiros anosde vida, aprende-se a andar. Mais tarde, regular-mente, passeamos a pé. Mas, nunca ninguém ca-minha, no sentido de cumprir determinados ob-jectivos de percurso diário. "É como ter um «velo-címetro-relógio» dentro do corpo que nunca nin-guém utiliza. E com uma mochila nas costas aindase torna mais difícil".Apesar da viagem ser de ordem pessoal, na práticanão se consegue fazer o Caminho de Santiago so-zinho. Até porque, explica Djalma Correia, "aca-ba-se sempre por encontrar alguém nos percursos,criando-se fortes laços de amizade". Mas o inversotambém é possível. Conta o presidente da referidaassociação que "muitos casamentos foram desfei-tos nos caminhos até à cidade de Santiago deCompostela". "É assim que se pode descobrir o li-mite da tolerância para com o companheiro oucompanheira", justifica.

AS VICISSITUDES

São cerca de 250 os quilómetros que separam oPorto de Santiago de Compostela o que, mesmopara os mais bem preparados fisicamente, pode sig-nificar uma viagem de 10 dias, a uma média de 25quilómetros diários. Os primeiros, nomeadamen-te no percurso até à cidade de Braga, podem ser osmais penosos. Mas, ultrapassadas as vicissitudes,as pessoas vão-se adaptando. "No primeiro dia, atémeio da tarde, é uma festa. Mas, a partir dessa al-tura, a mochila começa a pesar e o único desejo éencontrar um albergue para pernoitar", descreveDjalma Correia, acrescentando: "No segundo diadoem as pernas, doem as costas, mas é preciso le-vantar cedo para voltar ao Caminho…. Ao meio-dia do segundo dia de viagem, a largura dos pas-sos já diminuiu quase 50 por cento. O peregrinocomeça a pensar que não vai conseguir e começa aficar com raiva. Pensa-se em correr, mas o corponão responde… Não se consegue ver uma pedraplana, porque há uma vontade imensa de parar edescansar". Se estes primeiros obstáculos foremsuperados, o peregrino está no bom caminho paraconcluir o seu percurso. Principalmente a partirdo terceiro dia, começa-se a ter uma noção do tem-po e a velocidade dos passos aumentam quase deforma automática.

OS CAMINHOS PORTUGUESES

São vários os caminhos que podem conduzir à ci-dade de Santiago de Compostela. A beleza das re-giões do Norte de Portugal convida à aventura.Fazer os caminhos é um bom pretexto para desco-brir lugares cheios de encanto como os vales doDouro o do seu afluente Varosa, o Corgo, o Cávado,o Lima, a Serra do Gerês, o Castro Laboreiro, astermas de Pedras Salgadas, Vidago e por aí fora.Dos dez caminhos portugueses, apenas seis estãomelhor documentados (ver descrição nas páginasseguintes). Não obstante, é possível descobrir"alminhas", os pequenos monumentos popularesque marcavam os caminhos, restos de pousadas,cruzeiros com referências jacobeias e registo dascalçadas romanas. Todo um trajecto para um aven-tureiro....Foi em 1993 que começaram a ser realizados osinventários dos caminhos portugueses. Apesar dosesforços realizados, a maior parte dos dez cami-nhos documentados em Portugal permanecem semsinalização, pelo que percorrê-los constitui umatractivo de primeira ordem para quem tem espíri-to de aventura. Um dos objectivos da Associaçãodos Amigos do Caminho de Santiago do Norte dePortugal passa, exactamente, por granjear o máxi-mo de apoios possíveis para a promoção dos cami-nhos, designadamente no que concerne à sinalética.Para isso, conta já com o reconhecimento institu-cional da Xunta da Galiza, com quem existe umtrabalho de interligação, mas continua a faltar oapoio das entidades nacionais. Já no início desteano, a associação prepara-se para sensibilizar as au-toridades portuguesas para a necessidade de in-centivar a construção de albergues ao longo doscaminhos de peregrinação. "O Caminho de Santi-ago não existe enquanto não existirem albergues";avisa Djalma Correia.Apesar dos problemas, e embora muitos portugue-ses acabem por optar por fazer o seu “caminho” apartir de Espanha, a verdade é que se espera, queneste Ano Jubileu, cerca de 20 mil peregrinos na-cionais cheguem a Santiago de Compostela. Na ver-dade, Portugal é o principal ponto de origem dosturistas que chegam cada ano à Galiza.

A CIDADE SANTA

É na Catedral de Santiago que termina a peregri-nação de milhares de pessoas. Chegar àquele espa-ço é a recompensa, e é comum assistir a manifesta-ções de alegria daqueles que conseguiram concluira sua etapa. "As pessoas ajoelham-se na praça echoram. É como ganhar uma medalha. A pessoaconseguiu cumprir o objectivo a que se propôs",expõe o presidente da associação.Em 2004, são esperadas ainda mais pessoas, dadoque o dia em que se celebra Santiago, 25 de Julho,coincide com um domingo, sendo portanto um ano

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MANUAL DO PEREGRINO

Vestuário: Evite levar coisas pesadas. O calça-do deve ser o mais confortável possível e a rou-pa adequada à estação do ano em que realiza aperegrinação. Na Primavera ou no Outono, porexemplo, não se esqueça de transportar consi-go camisolas mais quentes, uma vez que o tem-po arrefece ao cair do dia.Mochila: Se não for impermeável, deve colocartudo dentro de um saco plástico, assim comoas roupas e os utensílios em sacos individuais.A mochila não deve pesar mais do que 10 porcento do seu peso.Acessórios: Diário com caneta, máquina foto-gráfica (pequena e leve), canivete multiusos),lanterna, cantil, saco-cama, isqueiro e talheresde camping.Documentos: Os documentos, como o Bilhetede Identidade, o cartão de crédito ou o boletimde saúde, devem ser transportados numa bolsajunto ao corpo.

Jubileu. Deste modo, quem entrar na Catedral pela PortaSanta, lacrada nos restantes anos, será indultado e todosos seus pecados perdoados. A porta foi aberta à meia-noi-te do passado dia 31 de Dezembro. Mas desengane-sequem pensa que será fácil transpôr aquele lugar no próxi-mo dia 25 de Julho. "Toda a gente vai querer ir naqueledia, mas a verdade é que é impossível chegar perto daCatedral. Muitas pessoas acabam por ficar na Estação deComboios", avisa Djalma Correia.

VINTE SÉCULOS DE HISTÓRIA

O Caminho de Santiago começou a ser percorrido há quasevinte séculos e rapidamente o seu culto atingiu propor-ções impressionantes. Declarada Património da Humani-dade pela UNESCO, a cidade de Santiago de Compostelasitua-se no Noroeste de Espanha, na província da Corunha,sobre uma colina rodeada pelo Rio Sar e o seu afluente, oSarela. O Centro Histórico apoia-se em arcadas sombrea-das e pracinhas religiosas, onde cantam as águas das fon-tes e se escondem palácios, igrejas e conventos, que setem de descobrir com olhares atentos.A cidade, que é fruto da descoberta do túmulo do Apósto-lo e símbolo de resistência cristã contra a invasão muçul-mana, cresceu junto com o Caminho de Santiago, que re-cebeu o Título de Primeiro Itinerário Cultural Europeu eo Prémio e Bandeira do Conselho de Europa. Segundouma lenda muito antiga, os restos mortais do ApóstoloSantiago, colocados numa barca sem velas nem leme ecobertos de vieiras, foram transportados por anjos, numaviagem que durou sete dias, até à costa da Galiza. Che-gando à Galiza, a barca subiu o Rio Sar, tendo sido amar-rada a uma coluna de pedra. Coluna esta que ainda hojepode ser vista na localidade de Padrón. O Santo acaboupor ser enterrado, por ordem dos discípulos, numa cape-la que durante muitos séculos ficou abandonada.Em finais do primeiro milénio (ano 813 da nossa era), umeremita chamado Pelayo, espantado com a visão de umamaravilhosa estrela acompanhada de cantos angélicos, avi-sou o bispo Teodomiro e juntos descobriram o sepulcrodo Apóstolo Santiago. O local ficou conhecido para a pos-teridade por Compostela (Campus Stellae - campo das es-trelas).A notícia da descoberta é, então, enviada ao rei Afonso IIde Castela que, deslocando-se a Compostela, se torna noprimeiro peregrino jacobeo da História. Mais tarde, no anode 950, foi o bispo Godesalco, acompanhado de algunsperegrinos franceses, que fez a primeira peregrinação es-trangeira a Santiago de Compostela.

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Porto Santo Tirso Braga

nortemédico Texto Patrícia Gonçalves ¥ Fotografia António Pinto

Agradece-se a colaboração da Associação Amigos dos Ca-minhos do Norte de Portugal que, informa-se, irá reali-zar no próximo dia 15 de Janeiro, pelas 21 horas, umasessão de esclarecimento sobre a peregrinação, no Cen-tro Comercial Sírius, na Rua 5 de Outubro, 156, sala 23.

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Geira Romana

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CAMINHO DO NOROESTEPorto, Moreira da Maia, Mindelo, Azurara [Igreja Matrizmandada construir por D. Manuel I, em 1502, na suapassagem para Santiago de Compostela].A passagem do rio Ave para Vila do Conde era feita nabarca do convento de monjas de Santa Clara [fundadoum bastardo de D. Dinis, D. Afonso Sanches, no regres-so da peregrinação de ambos a Santiago, em 1319]. De-pois Póvoa de Varzim, Aver-o-Mar, Estela, Apúlia, Fão eEsposende. Aqui, não havia ponte, e os peregrinos atra-vessavam o rio na Barca do Lago. Seguidamente Belinho,Castelo de Neiva [convento beneditino de S. Romão doNeiva, pousada de peregrinos de Santiago], Anha, Darquee Viana. Daí por Areosa, Montedor e Afife até Vila Praiade Ancora. A seguir, por Moledo [o Forte da Ínsua, terásido reconstruído por D. Manuel I na sua passagem paraSantiago] até Caminha. Depois Vila Nova de Cerveira [oantigo Castelo, actualmente Pousada de D. Dinis, eraCaminho de Santiago] e Valença! Daqui, os peregrinosseguiam rumo a Tuy atravessando o rio Minho de barco.De Tuy seguiam por Porriño, Redondela, Pontevedra,Caldas de Reyes e Padron até Santiago.

CAMINHO DO LIMADo Porto até Vila Vila do Conde pelo mesmo trajecto doCaminho do Noroeste. Aí derivação para o interior, para S.Pedro de Rates [S. Pedro terá sido o primeiro discípulo doApóstolo Santiago, o Maior, e é considerado o fundador daDiocese de Braga]. Depois, Pedra Furada e Alvelos,Barcelinhos [travessia do Cávado por barca] e Barcelos [acuriosa lenda do galo: condenado à forca, um romeiro gale-go invocou Santiago enquanto reclamava a sua inocência:"E tão certo eu estar inocente como este galo cantar". E ogalo, mesmo morto e assado, cantou!]. Por Santa Maria deAbade do Neiva [igreja de genuína feição medieval (1152),com um pequeno nicho em forma de vieira, símbolo jacobistapor excelência], Vitorino de Piães, Portela da Facha e Correlhã[vila rústica de que o rei Ordonho II fez doação em 915 aSantiago de Compostela, confirmada em 1097 pelo CondeD. Henrique e D. Teresa, aquando da sua peregrinação aSantiago] até Ponte de Lima.Depois a parte mais dura do trajecto, rumo a Paredes deCoura e, depois, Valença (por Romarigães, Rubiães, S. Ben-to da Porta Aberta, Fontoura e Cerdal). De Valença para San-tiago seguia-se o mesmo trajecto do Caminho do Noroeste.

Vila do Conde

Azurara - Igreja Matriz

Esposende - rio Cávado Moledo- Forte da ÍnsuaViana do Castelo Valença

CAMIN DE SANT

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CAMINHO DO NORTESeguia-se o mesmo itinerário do Caminho do Lima,até Barcelos. Depois entrava-se neste "caminho do Nor-te" que passava por Fragoso [perto da famosa fonte daRainha Santa, onde ela terá dado de beber ao seu filhoAfonso, morto de sede pela jornada), Barroselas, Vilade Punhe, Portela de Suzã, Deocriste, Deão [onde exis-tiria a capela de Nossa Senhora do Norte, que servia deguia aos peregrinos], Geraz do Lima e Passagem [ondese atravessava em "barca" o rio Lima para Lanheses].Depois Amonde [passagem do rio Âncora em Ponte deTourim], Orbacém, Senhora da Serra, Azevedo eVenade. Daqui seguia-se para Vilar de Mouros [pontemedieval], Vila Nova de Cerveira e Valença, com pas-sagem para Tuy, como nos Caminhos do Noroeste e doLima.

CAMINHO PORTO-CELANOVAPorto, por Águas Santas e Ermesinde, até Santo Tirso[mosteiro de S. Bento, fundado por S. Frutuoso ou S.Martinho de Dume]. De seguida até Guimarães [terrade mosteiros onde repousavam os peregrinos]. DepoisBraga [com o Bom Jesus, Sameiro, Falperra, três locaisde peregrinação], cidade que disputou com Santiago apreponderância religiosa. De Braga para S. Frutuosode Montélios, Prado, Vila Verde e Ponte de Lima [aponte foi construída na Idade Média, sobre a primitivaestrutura romana e era ponto de passagem obrigatóriados peregrinos]. Depois para Ponte da Barca [com onome a relembrar a velha barca de passagem de pere-grinos] para Arcos de Valdevez. Daqui para Monção/Salvaterra e/ou pela Geira Romana, com saída na Portelado Homem e entrada na Ameijoeira por Melgaço e ACañiza.Em alternativa, seguia-se o trajecto do rio Lima, até aoCastelo do Lindoso, por Vila Nova de Muía. DepoisErmelo, Madalena (fronteira) e, já em Espanha, Lobios,Entrimo, Santa Comba de Bande, Celanova e S.Rosendo [aqui se fixou a família do Santo; aqui levan-tou o Mosteiro de S. Salvador em princípios do séculoX, de que resta apenas a Capela de S. Miguel, o bemconhecido Mosteiro de S. Rosendo de traça barroca!Aqui pernoitou D. Filipa de Lencastre, como, aliásoutros reis de Portugal nas suas viagens de e para San-tiago). Finalmente, por Ourense até Santiago.

CAMINHO DA GEIRA ROMANAPor Braga, S. Frutuoso de Montélios, Prado, Rendufe, Caldelas,[a Igreja Matriz, de fronteira joanina, tem um nicho com aimagem do padroeiro Santiago]. Depois, Terras de Bouro, aaldeia de Chamoim [a Igreja Matriz é dedicada ao apóstoloSantiago Peregrino, cuja imagem, de pedra, não dispensa ossímbolos populares do Santo: bordão na mão, onde tem de-pendurada a popular cabaça, na cabeça o famoso chapéu deabas largas incrustado de vieiras; dentro, no tecto, uma pintu-ra de Santiago Matamouros de grande beleza], Chorense e aGeira (milha XVI). Logo a seguir Covide, S. João do Campo,Vilarinho das Furnas [afundada pela barragem] e a Geira Ro-mana, com os seus marcos miliários. Passando por Portela doHomem, vem Lóbios e Entrimo [ambas em Espanha], reen-tra-se em Portugal por Ameijoeira e segue-se por CastroLaboreiro, Travassos, Portelinha, Fiães, Cristobal, S. Gregórioaté Melgaço. Daqui, finalmente, por Cañiza para Santiago.

CAMINHO DE LAMEGOLamego foi terra de votos de Santiago. Daqui saíam muitosperegrinos em direcção ao Peso da Régua, onde existiam bar-cas de passagem do rio Douro.Feita a travessia, uns optavam pelo caminho que passava porMesão Frio, Amarante (no interior da igreja do convento de S.Gonçalo existe um altar dedicado a Santiago; e a Ponte foimandada construir por S. Gonçalo para os peregrinos trans-porem o rio Tâmega), Lixa, Felgueiras, Guimarães e Braga,donde seguiam depois pelo "Caminho de Celanova" ou pelo"Caminho da Geira Romana".Outros peregrinos, do Peso da Régua dirigiam-se para VilaReal. Daqui, por Vila Pouca de Aguiar, Pedras Salgadas e Vidagochegavam a Chaves [uma das principais encruzilhadas de ca-minhos de peregrinação; em 1160, D. Mafalda mandou aí cons-truir capela e albergaria para acolher os peregrinos]. Passadaa fronteira, seguia-se para Santiago por Verin, Orense e Lalin.

RéguaAmaranteGuimarães

Ponte daBarca

N HOST IAGO

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40 INFORMAÇÃO INSTITUCIONAL

SECÇÃO REGIONAL DO NORTE DA ORDEM DOS MÉDICOS

INFORMAÇÃOINSTITUCIONAL

ACTIVIDADES DESENVOLVIDAS

1 – ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DOSSERVIÇOS DE SAÚDE

1 – O CNE emitiu o comunicado constante do Docu-mento 1 subscrevendo a posição do Presidente da Re-pública relativamente à necessidade de um debate pú-blico no que se refere à Entidade Reguladora da Saú-de. Relativamente à mesma Entidade, a Plataforma deObservação e Acompanhamento da Saúde emitiu o pa-recer que consta do Documento 2.2 – Face à situação de ruptura das urgência obstétricaso CRN enviou aos médicos especialistas em Ginecolo-gia/Obstetrícia os Documentos 3, 4 e 5.3 – Relativamente à situação nos serviços de urgênciade obstetrícia nos hospitais tutelados pela ARS-Norte,o CRN divulgou em Conferência de Imprensa o Docu-mento 6.4 – Relativamente à situação vigente no Serviço Nacio-nal de Saúde a Associação Portuguesa dos Médicos daCarreira Hospitalar enviou ao Conselho Regional do Nor-te os Documentos 7, 8 e 9, relatando as posições da-quela Associação relativamente às medidas legislativas

introduzidas pelo Senhor Ministro da Saúde, nas quais o CRNgenericamente se revê, bem como os resultados da reunião havidacom o titular da pasta da Saúde.

2 – POLÍTICA DO MEDICAMENTO

1 – O CNE homologou o parecer do Conselho Nacional deÉtica e Deontologia Médicas relativo à prescrição de medica-mentos através do novo modelo de receita médica (Documen-to 10). O aspecto central deste parecer é, aliás, o tema de capadeste número da Revista Nortemédico.2 – Face à retirada de novos medicamentos genéricos do mercadoo CRN emitiu a informação que consta do Documento 11.

3 – DISCIPLINA, ÉTICA E DEONTOLOGIA

1 – O Presidente do CRNOM solicitou ao Departamento Jurídicoda Ordem dos Médicos um esclarecimento sobre a execução dasmedidas disciplinares decretadas pelo Conselho Nacional deDisciplina. A resposta a esse pedido de esclarecimento consta doDocumento 12.

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ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE – COMU-NICADO DO CONSELHO NACIONAL EXECUTI-VO DA ORDEM DOS MÉDICOS RELATIVO À PO-SIÇÃO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Sua Excelência o Senhor Presidente da Repúblicapublicou no jornal Expresso um artigo de opiniãosobre a função Reguladora na Saúde. As Organiza-ções Médicas representadas no Fórum Médico ex-pressam publicamente a sua concordância com asposições de Sua Excelência e manifestam-se total-mente disponíveis para corresponder ao apelo queconsubstancia a tomada de posição do Presidenteda República.

Como tivemos oportunidade de afirmar anterior-mente em conferência de imprensa, infelizmentemal compreendida por alguns comentadores, so-mente um dever de cidadania nos move. Tal deverresulta de uma enorme preocupação pelas conse-quências em termos de direitos dos portugueses,onde avultam os que respeitam à universalidade,acessibilidade e gratuitidade do Sistema de Saúdede que dispõem.

É com natural regozijo que vemos plasmado notexto de Sua Excelência as preocupações que fize-mos nossas e a necessidade de um debate nacionalonde obviamente não reclamamos qualquer posi-

DOCUMENTO 1(06-10-03)

ção de privilégio e bem pelo contrário gostaríamosde ver intervir os doentes através das suas associa-ções, os prestadores do sector social como as Mise-ricórdias e as IPSS e ainda os representantes dossubsistemas e das entidades gestoras dos segurosde saúde.

Tal como resulta claramente do texto de Sua Exce-lência, também nós defendemos que só com o en-volvimento de todos os sectores interessados, e es-tes são, em última análise, toda a Sociedade, serápossível pôr em prática um sistema de regulaçãoverdadeiramente independente, garante dos direi-tos constitucionais e democraticamente responsá-vel e responsabilizável.

Está nas mãos do Governo, que terá aprovado emConselho de Ministros uma Entidade Reguladoracujos contornos desconhecemos, dar seguimentoao apelo do Senhor Presidente da República e abriro debate.

Lisboa, 6 de Outubro de 2003

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ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

A criação da Entidade Reguladora da Saúde insere-se natendência que vários Estados, nas sociedades actuais, têmdesenvolvido no sentido de criar administrações estaduaisindirectas que regulam entidades de diversa natureza pres-tadoras de serviços e bens de carácter público.

Uma das razões que têm levado os Estados à criação dessasentidades é a convicção de que as suas formas de actuaçãosão mais flexíveis e, seguramente, mais eficazes do que asestaduais, nomeadamente quando o Estado concessiona oucontratualiza a prestação de serviços públicos a entidadesprivadas. O diploma em apreciação inscreve-se pois numalinha de actuação inovadora na medida em que cria a ERS,onde se verifica que o Governo abdica de determinadospoderes e os transfere para esta entidade, que em grandeparte se substitui ao próprio Governo, estendendo-se aossubsectores da saúde.

E, na medida em que se substitui ao próprio Governo, emáreas tão delicadas e vastas do sector da Saúde é desde logoquestionável que uma entidade com controlo mitigado es-teja investida de amplos poderes que, a serem mal ou ine-ficazmente exercidos, podem prejudicar seriamente o ci-dadão e desresponsabilizar quem, por via de regra, consti-tucionalmente deve ser responsabilizado, o Governo.

É que esta Entidade que deveria ser constituída para con-trariar a prática de indesejáveis formas de competição nodomínio da saúde, ultrapassa esse conceito e apresenta-secom competências muito diversas, como sejam as que sedestinam a garantir:

• a equidade no acesso dos doentes aos cuidados de saúde;

• as regras de qualidade dos cuidados praticados e dos ser-viços prestados;

• a segurança.

Ora acontece que estas e outras atribuições envolvem com-petências do Ministério da Saúde, que as desenvolverá atra-vés dos serviços que o próprio Ministério administra, oupor outros com quem estabelece convenções, ou mesmopor entidades privadas igualmente tuteladas e fiscalizadaspelo Ministério da Saúde.

É questionável a forma como se prevê a constituição da suaDirecção. Embora o diploma preveja que os seus membrosdevem ser pessoas de reconhecida idoneidade, autoridadee competência técnica e profissional, o certo é que os mes-mos são nomeados pelo Governo, sendo que o seu Presi-dente se manterá em funções durante cinco anos, a menosque pratique irregularidades meticulosamente descritas, oque certamente terá o cuidado de não praticar, garantindoassim a manutenção em funções por tempo eventualmentenão coincidente com a duração dos Governos, que sãoempossados por períodos de quatro anos. Se isso é uma

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE – PARECERDA PLATAFORMA DE OBSERVAÇÃO E ACOMPA-NHAMENTO DA SAÚDE

DOCUMENTO 2(24-10-03)

garantia de independência, não deixa de ter algunsinconvenientes, além de se harmonizar mal com anomeação governamental da Direcção.

Além disso, a avaliação e controlo deste Conselho deAdministração é [praticamente inexistente] diminuta,na base de um relatório anual, podendo excepcional-mente ser chamado a uma comissão parlamentar.

Esta entidade que, como se disse, estendetentacularmente as suas competências aos mais diver-sos subsectores, acaba por se auto limitarestranhamente, no que diz respeito à regulação doimportante sector farmacêutico, que faz parte integran-te do sistema de saúde.

Não se entende portanto a invasão de domínios reser-vados por Lei a outras entidades, como é o caso daOrdem dos Médicos e a auto-reserva em relação àsfarmácias.

Por fim, pode afirmar-se sem reservas que a ERS, quepoderia e deveria constituir um elemento agregadordas vontades e das organizações, constitui antes, peloexcessivo poder de que se reveste, retirado em grandeparte a órgãos decorrentes de eleições, uma profundaameaça para aquilo que pretende evitar.

Tal é, muito sumariamente e na posse dos elementosde que dispomos, a nossa opinião.

Lisboa, 24 de Outubro de 2003

Plataforma de Observação e Acompanhamento da SaúdeDr. Arlindo CarvalhoDr. Alfredo LoureiroDr. Artur Carrilho PereiraDr. Basílio HortaDr. Carlos Santana MaiaDr. Filipe RochaDr. Orlando LeitãoPadre Vítor MelíciasProf. Dr. Diniz de FreitasProf. Dr. José Fleming TorrinhaProf. Dr. José Jacinto SimõesProf. Dr. Rui Alarcão

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Ex.mo (a) Colega

1 – Para conhecimento exacto do Ex.mo (a) Colega, trans-crevem-se as normas técnicas definidas pela Direcção doColégio de Especialidade de Ginecologia/Obstetrícia relati-vamente ao funcionamento de blocos de parto e aprovadaspelo Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos:

"Os Blocos de partos de qualquer hospital não poderãofuncionar com Recursos Humanos inferiores aos seguin-tes:

– 3 Médicos da Especialidade de Obstetrícia e Gineco-logia, sendo pelo menos 2 especialistas;

– disponibilidade permanente de 1 Anestesista e 1 Pedi-atra;

– pelo menos 2 enfermeiras, uma das quais obrigatori-amente com a Especialidade de Enfermagem Obsté-trica.

No que se refere ao equipamento, para além das instala-ções e material obstétricos apropriados, terá de contar com:

– sala de operações permanentemente disponível;– 1 monitor fetal (cardiotocógrafo) por cada cama de

partos;– 1 ecógrafo sempre disponível;– instalação central de gases e vácuo;– 2 camas de reanimação de recém-nascidos".

2 – De acordo com as informações oficiais recolhidas peloConselho Regional do Norte, os Hospitais integrados naARS-Norte cujas equipas de urgência de Ginecologia/Obs-tetrícia, ainda que por motivos e em horários diferentes,não cumprem os requisitos definidos pela Ordem dos Mé-dicos são: Amarante, Barcelos, Bragança, Póvoa de Varzim/Vila do Conde, Chaves, Famalicão, Matosinhos, Mirande-

RUPTURA DA ASSISTÊNCIA HOSPITALAR A GRÁ-VIDAS – INFORMAÇÃO AOS MÉDICOS ESPECIA-LISTAS EM GINECOLOGIA/OBSTETRÍCIA

DOCUMENTO 3(10-11-03)

la, Santo Tirso, Vale do Sousa e Viana do Castelo. Cum-prem os requisitos definidos pela Ordem dos Médicosos seguintes Hospitais: Guimarães, Maternidade JúlioDinis, Santo António, S. João e Vila Nova de Gaia. OHospital de Braga passou a cumprir os preceitos téc-nicos da Ordem dos Médicos após os médicos da es-pecialidade, com grande abnegação, terem retomadoa realização de horas extraordinárias, face ao compro-misso da ARS-Norte em proceder ao seu pagamento,de acordo com ofício emitido em 5 de Novembro pp.

3 – Neste contexto, e atendendo às regras da boaprática acima transcritas, o CRN recomenda a to-dos os médicos de Obstetrícia/Ginecologia que en-derecem o requerimento-tipo (em anexo) aos Pre-sidentes dos Conselhos de Administração dos Hos-pitais que não cumprem as regras definidas pelaOrdem dos Médicos. Esta atitude destina-se a sal-vaguardar a responsabilidade médica, protegendoos médicos de eventuais acusações de má práticadevida a circunstâncias que os transcendem. OCRN sublinha, para que não restem quaisquer dú-vidas, que os médicos que não procedam confor-me esta recomendação estão a assumir pessoalmen-te a responsabilidade pela execução de actos mé-dicos à revelia das normas técnicas da especialida-de, pelo que não poderão contar com o apoio daOrdem dos Médicos perante situações de litigânciadecorrentes de má prática.

Com os melhores cumprimentos

Pelo Conselho Regional(Dr. José Pedro Moreira da Silva)

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SERVIÇOS DE URGÊNCIA DE OBSTETRÍCIAREQUERIMENTO-TIPO PARA MÉDI-COS DA FUNÇÃO PÚBLICA

Ex.mo SenhorPresidente do Conselho de Administração:

F........................................., médico, portador da cédu-la profissional n.º ......../......., (Assistente, Assistente-Gra-duado, Chefe de Serviço) de Obstetrícia, vem expor erequerer a V. Ex.ª:

1. Enquanto médico é o requerente escalado semanal-mente para a realização de serviço de urgência deobstetrícia/ginecologia nesse Hospital.

2. Sucede que as equipas de urgência actualmente sãocompostas por apenas (n.º) médicos.

3. Tal situação viola as regras técnicas aprovadas pelaOrdem dos Médicos e que salvaguardam e garan-tem as condições mínimas de segurança para a prá-tica de actos médicos no âmbito da ginecologia eobstetrícia.

4. A composição das equipas médicas, conforme su-pra se refere em 2., é susceptível de desencadear si-tuações concretas que podem envolver responsabi-lidade civil, penal, disciplinar e deontológica dosubscritor.

5. Deste modo requer a V. Ex.ª, nos termos do dispos-to no art. 10.º do Dec.-Lei n.º 24/84, de 16 de Janei-ro, que se digne:a) Alterar a composição das equipas de urgência de

obstetrícia/ginecologia e/oub) Confirmar por escrito a ordem de prestação de

serviços por parte do requerente, nas condiçõessupra descritas, tudo para efeitos do previsto nacitada norma e na demais legislação aplicável.

Local, ....... de ........................... de 2003O Requerente,

CC/ Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos

REQUERIMENTO-TIPO PARA MÉDICOS COMCONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO

Ex.mo SenhorPresidente do Conselho de Administração:

F........................................., médico, portador da cédula profissio-nal n.º ......../......., (Assistente, Assistente-Graduado, Chefe de Ser-viço) de Obstetrícia, vem expor e requerer a V. Ex.ª:

1. Enquanto médico é o requerente escalado semanalmente paraa realização de serviço de urgência de obstetrícia/ginecologianesse Hospital.

2. Sucede que as equipas de urgência actualmente são compostaspor apenas (n.º) médicos.

3. Tal situação viola as regras técnicas aprovadas pela Ordem dosMédicos e que salvaguardam e garantem as condições mínimasde segurança para a prática de actos médicos no âmbito daginecologia e obstetrícia.

4. A composição das equipas médicas, conforme supra se refereem 2., é susceptível de desencadear situações concretas quepodem envolver responsabilidade civil, penal, disciplinar edeontológica do subscritor.

5. Nos termos do disposto no Dec. -Lei n.º 49.408, o requerentedeve obediência às ordens emanadas pela sua Entidade Patro-nal.

6. Assim requer a V. Ex.ª, nos termos do disposto na Lei, se dig-ne:a) Revogar a composição das equipas de urgência de obstetrí-

cia/ginecologia;b) Caso assim se não entenda, confirmar por escrito, e ao abri-

go do poder de direcção e disciplinar que assiste ao Conse-lho de Administração, a ordem de prestação de trabalho nascondições supra descritas, tudo para os devidos efeitos deresponsabilidade que ao caso possa caber.

Local, ....... de ........................... de 2003O Requerente,

CC/ Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos

Festa de Natal SRNOM 2003

DOCUMENTO 4

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1 – No seguimento de informações anteriores, vem o CRNda OM dar conta à população da situação nos serviços deurgência de obstetrícia nos Hospitais sob tutela da ARS-Norte.

2 – Os Hospitais sob jurisdição da ARS-Norte cujas equi-pas de urgência de Ginecologia/Obstetrícia não cumpremos requisitos definidos pela Ordem dos Médicos são:Amarante, Barcelos, Bragança, Chaves, Matosinhos, Miran-dela, Póvoa de Varzim/Vila do Conde, Santo Tirso, Vale doSousa, Viana do Castelo, Vila Nova de Famalicão e Vila Real/Peso da Régua. Cumprem os requisitos definidos pela Or-dem dos Médicos os seguintes Hospitais: Guimarães, Ma-ternidade Júlio Dinis, Santo António, S. João e Vila Novade Gaia. O Hospital de Braga passou a cumprir os preceitostécnicos da Ordem dos Médicos após os médicos da espe-cialidade, com grande abnegação, terem retomado a reali-zação de horas extraordinárias face ao compromisso da ARS-Norte em proceder ao seu pagamento, de acordo com ofí-cio emitido em 5 de Novembro pp.

3 – A gravidade da situação exige do CRN da OM umainformação à opinião pública. Assim:

– de acordo com as normas técnicas da Ordem dos Mé-dicos, um serviço de urgência de Obstetrícia só podefuncionar, no mínimo, com três médicos da especiali-dade;

– a existência de serviços de urgência que não cumpram,entre outras, aquelas condições constituem um riscopara grávidas e recém-nascidos e, também, para os mé-dicos que neles exercem funções;

– nestas circunstâncias, o CRN advoga o encerramentodaqueles serviços e manifesta a sua disponibilidade juntodas entidades competentes para, de acordo com o pa-recer técnico do Colégio da Especialidade de Ginecolo-gia/Obstetrícia, contribuir para a melhoria das condi-ções de assistenciais às parturientes e aos seus filhos.

4 – Esta situação resulta do facto do Ministério do Ministé-rio da Saúde não cumprir a lei, não honrando as suas dívi-das para com os médicos, e da dispersão de recursos hu-manos. Neste contexto, importa destacar que nesta área éimpossível garantir o funcionamento dos serviços sem re-curso sistemático à prestação de horas extraordinárias, mes-mo para além do legalmente exigível, e sem a colaboração

SERVIÇOS DE URGÊNCIA DE OBSTETRÍCIA: SITU-AÇÃO NA ZONA NORTE – CONFERÊNCIA DE IM-PRENSA DO CRNOM

DOCUMENTO 5(20-11-03)

dos médicos que abdicam do direito à dispensa deserviço de urgência em qualquer período do dia ouapenas no período nocturno.

5 – A actuação ministerial atrás referida justifica aspreocupações reiteradamente expressas por Sua Ex-celência o Senhor Presidente da República quanto àspolíticas de puro economicismo prosseguidas peloSenhor Ministro da Saúde e nas quais o CRN se revê.

6 – O CRN congratula-se, contudo, com a súbita mu-dança de opinião do Senhor Ministro da Saúde vistoque em pouco mais de uma semana passou a reco-nhecer, pelo menos, a necessidade da optimização derecursos humanos através da concentração de servi-ços.

7 – Na sequência de intervenções anteriores do Se-nhor Provedor de Justiça, o CRN informará aquela en-tidade da degradação das condições assistenciais noâmbito da obstetrícia, responsabilizando o Ministroda Saúde por aquela degradação.

8 – Tendo em conta as regras da boa prática, o CRNremeteu já a todos os médicos de Obstetrícia/Gineco-logia um requerimento-tipo que deverá ser endereça-do por aqueles aos Presidentes dos Conselhos de Ad-ministração dos Hospitais que não cumprem as regrasdefinidas pela Ordem dos Médicos, como forma desalvaguardar a responsabilidade médica. O CRN rei-terou ainda aos colegas envolvidos que os médicos quenão procedam desta forma estão a assumir pessoal-mente a responsabilidade pela execução de actos mé-dicos à revelia das normas técnicas da especialidadepelo que não poderão contar com o apoio da Ordemdos Médicos perante situações de litigância decorren-tes de má prática.

9 – O CRN alerta ainda as famílias portuguesas paraque devem responsabilizar as diversas hierarquias doMinistério da Saúde pela mortalidade ou morbilidadede grávidas ou recém nascidos que possam advir dainexistência de condições humana ou tecnicamenteadequadas ao funcionamento dos serviços de urgên-cia de obstetrícia.

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SERVIÇOS DE URGÊNCIA DE OBSTETRÍCIA

Amarante8-20h, de 2ª a 6ª – 2 médicos especialistas em GO.20-08h, de 2ª a 6ª – 1 médico especialista em GO e 1médico especialista em CG.Sábados, domingos e feriados: 1 médico especialista emGO e 1 médico especialista em CG.

Barcelos2 Especialistas em GO, no período das 24 horas, todosos dias da semana.

Bragança1 Especialista em GO em presença física, no período das24 horas, todos os dias da semana.1 Especialista em GO em prevenção, no período das 24horas, todos os dias da semana.

Chaves8-13h, de 2ª a 6ª – 2 especialistas em GO.8-13h, Sábados, domingos e feriados – 1 especialista emGO e 1 especialista em CG.13-08h, todos os dias da semana – 1 especialista em GOe 1 especialista em CG.

Matosinhos2 Especialistas em GO durante 24 horas de 2ª a 6ª.Encerramento aos sábados e domingos.

Mirandela1 Especialista em GO em presença física, no período das24 horas, todos os dias da semana.1 Especialista de especialidade cirúrgica em prevenção,no período das 24 horas, todos os dias da semana.

Póvoa de Varzim/Vila do Conde

HOSPITAIS COM SERVIÇOS DE URGÊNCIA DEFI-CITÁRIOS NA ESPECIALIDADE DE GINECOLOGIA/OBSTETRÍCIA

DOCUMENTO 6(20-11-03)

8-20h, 2ª, 6ª, sábados, domingos – 1 especialistaem GO e 1 interno de especialidade.8-20h, 3ª, 4ª, 5ª – 2 especialistas em GO.20-08h, todos os dias da semana – 1 especialistaem GO e 1 interno de especialidade.

Santo Tirso1 Especialista em GO e 1 especialista em CG, noperíodo das 24 horas, todos os dias da semana.

Vale do Sousa8h30-13h30, de 2ª a 6ª – 3 especialistas em GO.1 dia por semana – 3 especialistas em GO no horá-rio das 8-20.8-20h, em seis dia da semana e 20-08h em todos osdias da semana – 2 especialistas em GO.

Viana da Castelo8-20h, às 2ª, 3ª, 4ª – 3 especialistas em GO.8-20h, às 5ª, 6ª, sábado, domingo – 2 especialistasem GO.20-08h, todos os dias da semana – 2 especialistasem GO.

Vila Nova de Famalicão2 Especialistas em GO, no período das 24 horas,todos os dias da semana.

Vila Real/Peso da Régua2 Especialistas em GO, no período das 24 horas,todos os dias da semana.

Festa de Natal SRNOM 2003

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Junto se envia, na sequência da carta em que lhe demos aconhecer, a moção aprovada por unanimidade na Reuniãoda Direcção Nacional da Associação Portuguesa dos Médi-cos da Carreira Hospitalar (A.P.M.C.H.), realizada no Por-to, em 19/10/2003 (cópia em anexo), o relato da Audiênciacedida pelo Senhor Ministro da Saúde à Direcção Nacionalda A.P.M.C.H.

A divulgação da referida audiência aos órgãos de informa-ção e na sequência de perguntas formuladas demos a visãoque a A.P.M.C.H. tem acerca da actual Política de Saúde.

Como tive oportunidade de afirmar, apesar de acreditar "naboa fé e nas melhores intenções do Senhor Ministro da Saú-de", a Associação considera necessário que rapidamentesejam levadas à prática as medidas necessárias para garan-tir os cinco pontos que foram abordados, os quais o SenhorMinistro prometeu promulgar e pôr em execução, ouvidosos parceiros sociais.

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS MÉDICOS DACARREIRA HOSPITALAR – RELATO DA REUNIÃO COMO SENHOR MINISTRO DA SAÚDE

DOCUMENTO 7(15-11-03)

Vamos continuar os nossos contactos com todas as Ins-tituições representativas dos profissionais de saúde,tendo em vista obter pontos de consenso e posiçõesconjugadas que permitam inflectir no melhor sentidoa actual Política de Saúde, tendo em vista garantir aosportugueses os direitos consagrados na Constituiçãoda República Portuguesa, nomeadamente os seus arti-gos 59, 63 e 64, que estão a ser violados em muitosdos contratos individuais de trabalho, com graves re-percussões para as Carreiras Profissionais a para oS.N.S.

Com os melhores cumprimentos.

Coimbra, 15 de Novembro de 2003

Pel' A Direcção Nacional da A.P. M.C.H.Dr. Armando Gonçalves(Presidente da Direcção Nacional)

A Direcção Nacional da APMCH foi ontem, 11 de Novem-bro, recebida por S. Exa. o Senhor Ministro da Saúde.

Os assuntos que foram abordados na reunião e que são aprincipal preocupação da APMCH foram:1. Manutenção da Carreira Médica no actual quadro legal2. Contratos individuais de trabalho3. Contrato Colectivo de Trabalho4. Internos do Internato Complementar (especialidades)5. Proposta do Estatuto dos Hospitais Universitários

Em relação ao 1° ponto, perante a afirmação da DirecçãoNacional da APMCH, da necessidade de manter e aperfei-çoar as Carreiras Médicas, nomeadamente a Carreira Hos-pitalar que, de acordo com o art. 3, do Dec.-Lei 73/90, vi-sam a legitimação, a garantia e a organização do SNS, combase nas adequadas habilitações profissionais e a sua evo-lução em termos de formação permanente e de prática pro-fissional.O Senhor Ministro da Saúde respondeu que era inequívocaa sua intenção de manter a Carreira Hospitalar e, tal comoa APMCH tem preconizado, pretende introduzir-lhe meca-nismos que estimulem o seu aperfeiçoamento e evitem ocomodismo instituído em alguns casos com prejuízo para aeficácia e qualidade da acção dos serviços médicos, tendo

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS MÉDICOS DACARREIRA HOSPITALAR – AUDIÊNCIA CEDIDA PELOSENHOR MINISTRO DA SAÚDE À DIRECÇÃO NACIONAL

DOCUMENTO 8(19-10-03)

sido afirmado que esta sua posição se refere tanto aosHospitais SA como aos Hospitais SPA.

Em relação ao 2° ponto, perante afirmações da Direc-ção Nacional da APMCH de que não aceita os contra-tos individuais trabalho tal como eles existem semquaisquer normas, pelo que se deve elaborar um guiãorelativo a estes contratos, para o qual já existe a mútuacolaboração dos consultores jurídicos da Ordem dosMédicos, dos Sindicatos e das Associações Médicas.Em relação a este ponto o Senhor Ministro afirmouque os contratos individuais de trabalho serão semprerealizados com o acordo expresso do médico que oaceita. O Senhor Ministro diz estar atento ao proble-ma, mantendo a intenção de impedir a realização decontratos individuais de trabalho que ponham em causaquer as normas deontológicas quer os direitos do mé-dico enquanto trabalhador. A Direcção da APMCHalertou para a existência de vários casos em que estescontratos violavam a Constituição da República Por-tuguesa, nos seus artigos, 59, 63 e 64, referindo que sóum Ministério muito atento poderia evitar novos casose tomar medidas adequadas em relação aos existentes,alguns dos quais a Direcção disse em seu poder.

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MÉDICOS DA CARREIRA HOSPITALARNo que respeita ao 3º ponto, a Associação consideraque é necessário iniciar desde já a negociação colectivade trabalho, a nível nacional, respeitando o disposto nalegislação vigente. Enquanto a contratação colectiva detrabalho pode consagrar os mecanismos de diferencia-ção técnica em todos os regimes contratuais, garantindoa equivalência de formação e a liberdade circulação dasinstituições dos diversos sectores (Público, Privado, Co-operativo e Social), os contratos individuais de trabalhoem vez de agilizarem a gestão de recursos humanos naárea médica, são a via escolhida para, destruindo o teci-do técnico-hierárquico instituído pelas carreiras, criar umvazio que muito facilmente poderá ser generalizado.Em resposta a este ponto o Senhor Ministro referiu quetem a intenção de fazer contratos colectivos de trabalhopara todos os Hospitais SA, medida essencial para asse-gurar a manutenção do tecido técnico-hierárquico indis-pensável para a manutenção da Carreira Médica Hospi-talar. A Direcção da Associação referiu ao Senhor Minis-tro a necessidade de dar conhecimento pública desta suadecisão e informou que a própria Associação o faria, de-cisão que o Senhor Ministro considerou correcta.

Quanto ao 4º ponto, a Direcção da APMCH considerouque os Internatos médicos, que constituem o pilar daformação dos jovens médicos e da sua especialização nasdiversas carreiras, nomeadamente na carreira hospitalar,foram exemplo para a criação do actual sistema da for-mação pós-graduada na União Europeia. Referiu ainda anecessidade de formação/aperfeiçoamento dos especia-listas e a formação dos internos, pois a APMCH não achapossível organizar internatos (Geral e Complementar)credíveis fora do contexto das carreiras médicasO Senhor Ministro, com base nas afirmações proferidasno ponto anterior, considera que o seu cumprimento per-mitirá, sem sobressaltos, manter a formação e os Inter-natos Médicos mesmo no futuro quadro legislativo.

Quanto ao 5º ponto, inquirido sobre a futura legislaçãoacerca das carreiras médicas nos Hospitais Universitári-os e do seu relacionamento com a Carreira Docente, foiassegurado pelo Senhor Ministro da Saúde a continuida-de da existência da Carreira Médica Hospitalar nos Hos-pitais Universitários.

Finalmente, salienta-se que todos estes pontos foram pre-cedidos do agradecimento a S. Exa. o Senhor Ministro daSaúde por ter recebido a Direcção Nacional da APMCH,a qual, antes de apresentar os pontos acima referidos,informou o Senhor Ministro de que, de acordo com ocomunicado conjunto, de 18/Setembro/2003, do Con-selho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, daFNAM e do SIM, e das Associações Nacionais dos Médi-cos Hospitalares, de Clínica Geral e de Saúde Pública,salienta-se que com base na legislação promulgada já ti-veram contrato individual mais de 700 médicos aos quaisse impôs:a) Limitações inaceitáveis à liberdade e à obrigaçãodeontológica dos médicos denunciarem as situações dediscriminação e violação dos direitos dos doentes;

b) Impedimentos dos médicos exercerem funções deinvestigação proibindo-os de divulgarem quaisquer da-dos relativos aos resultados da sua prática profissio-nal;c) Exercícios de poderes discriminatórios por partedos órgãos de administração das unidades de saúdeno que se refere ao seu regime de trabalho e ao meca-nismo de protecção social;d) Ausência de qualquer política de formação médicapós-graduada, nomeadamente no que respeita aosInternatos geral e complementar;

Todas estas situações põem em causa o artigo 59º “Di-reitos e Deveres dos Trabalhadores”, o artigo 63º “Se-gurança Social” e, nomeadamente o artigo 64º “Saú-de”, da Constituição da República Portuguesa.

Teve também oportunidade de referir que Portugal foio país da UE em que o Sector Público contribuiu coma mais baixa percentagem para a saúde e teve a maiselevada contribuição do Sector Privado. Na verdade,de acordo com o Relatório do Desenvolvimento Hu-mano, de 2003, das Nações Unidas, a média de gas-tos do PIB per capita do Sector Público na UE foi de1.699 ¤, enquanto que em Portugal foi apenas de 978¤. Por outro lado o gasto do PIB per capita pelo Priva-do (cidadão) foi de 566 ¤ na UE e atingiu os 420 ¤ emPortugal, isto quando o PIB per capita em Portugal épouco mais de metade da média europeia, respectiva-mente 18.150 ¤ e 27.752 ¤.

Tudo isto, quando o Sistema Nacional de Saúde que émisto há cerca de 20 anos, apesar de não ter tido re-formas de fundo, nomeadamente que o agilizassem eo descentralizassem, permitindo uma eficiente e raci-onal gestão hospitalar, conseguiu imensos resultadospositivos, a saber:a) Todos os portugueses têm direito à protecção dasaúde e acesso a todos os cuidados médicos sejam quaisforem as suas condições sócio-económicas.b) De 1980 a 2001, Portugal foi o País da UE quemais reduziu a mortalidade infantil (18,9 por mil para5 por mil), estando, no que respeita a este importanteindicador de saúde, melhor do que os EUA (7 pormil).c) O aumento da esperança de vida em Portugal, nomesmo período, foi superior ao aumento médio dospaíses da UE, sendo idêntico aos dos EUA.d) Apesar de ser indispensável melhorar o ensino eaperfeiçoar as normas dos concursos e progressão nacarreira médica, o mesmo acontecendo nas carreirasde gestão hospitalar, de enfermagem e de tecnologiada saúde, no ano de 2000, a OMS, classificou o Siste-ma Nacional de Saúde Português em 12°, a nível mun-dial, no que respeita a eficiência.

Coimbra, 19 de Outubro de 2003

Pela Direcção Nacional da APMCH(Dr. Armando Gonsalves)Presidente da Direcção Nacional da APMCH

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Cumpre-se no próximo dia oito de Novembro um ano so-bre a publicação no Diário da República do Dec.-Lei 27/2002.Elaborado pelo último governo socialista, foi publicado pelaactual coligação governamental, após promulgação pelo Pre-sidente da República. Este diploma, tido como instrumentoimprescindível para a mudança, tem permitido ataques aoServiço Nacional de Saúde (SNS) que visam o seu paulatinodesmantelamento.No entanto, não podemos desconhecer que o nosso SNS,com todas as suas deficiências e conhecidas limitações, foiconsiderado pela OMS, no ano 2000, como o 12º mais efi-ciente do Mundo, o que foi conseguido mais pelo esforçodos profissionais do que pelo empenhamento dos políticos.Hoje trilham-se caminhos de grande desorientação, para-doxalmente orientada para a destruição não só da CarreiraMédica Hospitalar, mas também de todas as outras carreirasprofissionais.Num clima de desmobilização de grande parte dos médicosportugueses já não é disfarçável a intenção de privatizarUnidades e Serviços Hospitalares e começam a emergir si-nais preocupantes de selectividade assistencial.Tudo tem sido feito para que o capital privado invada oshospitais públicos quando lhe for vantajoso e deles se retirequando lhe for conveniente, o que só não acontecerá se ospartidos políticos, da Oposição e do Governo, que aprova-ram a actual Constituição da República Portuguesa, assu-mirem, como lhes compete, a sua intransigente defesa. Ne-nhum dos referidos partidos se pode eximir dessa defesasem atraiçoar os cidadãos que neles votaram e mandatarampara salvaguardar os princípios da nossa Constituição, no-meadamente na Assembleia da República.Não é com esporádicas intervenções públicas que se defen-de a Constituição da República nomeadamente nos seusartigos 59, 63 e 64, do Capítulo "Deveres, Direitos e Garan-tias". A defesa da Constituição exige acções concretas econjugadas no sentido de defenderem as Carreiras Médicasque, de acordo como o artigo 3, Dec.-Lei 73/90, são a ga-rantia do SNS e do nosso Sistema Nacional de Saúde misto,com base nas adequadas habilitações profissionais e na suaevolução em termos de formação permanente.No que respeita aos termos dos contratos individuais detrabalho de médicos, que já são mais de 700, há atropelosinequívocos e inadmissíveis ao artigo 59 (Direitos do Traba-lhadores), ao artigo 63 (Segurança Social e Solidariedade) enomeadamente, ao artigo 64 (Saúde) com graves repercus-sões para os profissionais e, em consequência para o Direitoà Saúde de todos os Portugueses. Além disso há, também,nestes contratos graves atropelos à Deontologia Médica,como é o caso do impedimento do exercício de funções deinvestigação e da existência de limitações inaceitáveis à li-

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS MÉDICOS DACARREIRA HOSPITALAR – MOÇÃO APROVADA PORUNANIMIDADE EM REUNIÃO DA DIRECÇÃO NACIONAL

DOCUMENTO 9(19-10-03)

berdade e à obrigação de denunciarem as situações dediscriminação e violação dos direitos dos doentes.Estas situações deram origem, no Porto, em 18/09/2003, a um comunicado conjunto do Conselho Regio-nal do Norte da Ordem dos Médicos, da Direcção Na-cional da FNAM, da Direcção Nacional do SIM e dasDirecções Nacionais das Associações dos Médicos Hos-pitalares, de Clínica Geral e Saúde Pública, em queexigem contratos deontologicamente correctos, aber-tura de negociações para contratação colectiva de tra-balho e a consagração de mecanismos de diferencia-ção técnica em todos os regimes contratuais para ga-rantir a equivalência de formação e a liberdade de cir-culação entre as instituições dos diversos sectores (Pu-blico, Privado, Cooperativo e Social).A Entidade Reguladora da Saúde, desnecessária quan-do se tem um Ministério da Saúde responsável, é per-feitamente inaceitável se nascer sustentada peloaberrante Dec.-Lei, que o governo pretende fazer pro-mulgar. Se outras razões não houvessem para recusara enormidade, bastava a tentativa de conferir ao presi-dente daquela entidade, um estatuto de intocabilidadeque não existe em mais nenhum lugar público. Paraservir sinistramente determinados interesses restariaapenas colocar no lugar o homem certo.Estamos confiantes que S. Exa. Senhor Presidente daRepública, como garante do cumprimento da Consti-tuição, não promulgará um diploma que atenta clara-mente não só contra o Direito à Saúde mas tambémpõe em causa os princípios democráticos e os DireitosFundamentais do Homem.Se acontecesse o pior e este diploma fosse promulgadorestaria ao contribuinte interrogar-se sobre quem vigiao pretor.A APMCH também deposita esperança que as inter-venções conjugadas da Ordem dos Médicos, dos Sin-dicatos e das Associações, possam vir a ter papel rele-vante, no delicado período que atravessamos, apesardas referidas Instituições, por culpas próprias e tam-bém por razões que lhes foram alheias, não souberamnuns casos, não quiseram noutros casos, e não pude-ram ainda noutros, influenciar o rumo dos aconteci-mentos.A Associação Portuguesa dos Médicos da Carreira Hos-pitalar não abdicará de defender as Carreiras Médicase o Direito à Saúde dos portugueses, seja qual for ogoverno.

Porto 19 de Outubro de 2003.Pela Direcção Nacional da APMCHArmando GonsalvesPresidente da Direcção Nacional

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RECEITA MÉDICA & GENÉRICOS

a) A prescrição médica de um tratamento é o acto final daintervenção do médico e é da sua responsabilidade, total eexclusiva, fazendo parte integrante do contracto táctico en-tre o médico e o doente.b) Quando a prescrição é um medicamento disponível co-mercialmente e que pode ser adquirido nos estabelecimentosfarmacêuticos é dever ético do Farmacêutico, como respon-sável técnico do estabelecimento, respeitar e fazer respeitar,escrupulosamente a receita médica.c) Por questões relacionadas com estratégias da IndústriaFarmacêutica relativas a medicamentos patenteados e a me-dicamentos que passaram ao domínio público, foram intro-duzidos, no mercado, medicamentos designados por gené-ricos, nos quais está presente a substância química activa,ou seja, portadora da actividade terapêutica pretendida pelomédico.d) O novo modelo de receituário permite que o médico au-torize a substituição de um medicamento de marca por ummedicamento genérico no qual a substância farmacologica-mente activa esteja presente e em condições de produzir oefeito terapêutico esperado e desejado pelo médico, no casoconcreto.e) Do ponto de vista ético o médico só pode dar estaautorização quando tenha fundamentada convicção téc-

NOVO MODELO DE RECEITA MÉDICA – PARECER DOCONSELHO NACIONAL DE ÉTICA E DEONTOLOGIA MÉDICASHOMOLOGADO PELO CNE DA ORDEM DOS MÉDICOS

DOCUMENTO 10

RETIRADA DO MERCADO DO MEDICAMENTO GENÉ-RICO ÁCIDO ACETILSALICÍLICO – RATIOPHARM, 100mg, comprimidos, lotes D05423, C08651, C14192,D11756, D15349 e do MEDICAMENTO GENÉRICO ÁCI-DO ACETILSALICÍLICO – RATIOPHARM, 500 mg, com-primidos, lote D11541.

PARTE 2 – “AFINAL HAVIA OUTROS”

1 – Em 8 de Agosto de 2003, o CRN da OM divulgou aDeliberação n.º 1076/2003, do Conselho de Administra-ção do INFARMED, de 15 de Julho, publicada em Diárioda República, II Série, de 25 de Julho de 2003, onde seordenava a RETIRADA DO MERCADO DO MEDICA-MENTO GENÉRICO ÁCIDO ACETILSALICÍLICO –RATIOPHARM, 100 mg, comprimidos, lote C20604.

2 – Ora, afinal, há outros medicamentos genéricos a se-rem retirados do mercado por apresentarem um defeitode qualidade. Os MEDICAMENTOS GENÉRICOS emcausa são: ÁCIDO ACETILSALICÍLICO –RATIOPHARM, 100 mg, comprimidos, lotes D05423,

RETIRADA DO MERCADO DE NOVOS MEDICA-MENTOS GENÉRICOS – INFORMAÇÃO DO CRNOM

DOCUMENTO 11(04-11-03)

C08651, C14192, D11756, D15349 e ÁCIDO ACE-TILSALICÍLICO – RATIOPHARM, 500 mg, compri-midos, lote D11541 (cfr. Diário da República, IISérie, Despacho 1763/2003).

3 – Informa-se ainda que esta deliberação doINFARMED se refere apenas aos medicamentos acimaidentificados, não estando em causa aqueles que osdoentes conhecem, de longa data, pelo seu nome defantasia ou de marca (Aspirina e Cartia).

4 – O CRN relembra que é um dever ético de todos osmédicos estarem absolutamente disponíveis para os seusdoentes no sentido de assegurarem a farmacovigilânciadaqueles que tiverem utilizado os medicamentos agoraretirados do mercado. Vistos que os medicamentos aci-ma identificados têm múltiplas indicações profiláticasou terapêuticas, recomenda-se aos doentes que recor-ram ao seu médico assistente para obterem os necessá-rios esclarecimentos.

5 – O CRN, na convicção de que já foram acciona-dos todos os mecanismos de farmacovigilância, apela

nico-científica, por informação apropriada, de queo medicamento genérico tem a mesma capacidadede acção terapêutica do produto de marca que efec-tivamente receitou. Na dúvida e porque é ele, mé-dico, que tem a responsabilidade pelo beneficioterapêutico esperado, não deve autorizar a substi-tuição.f) Nesta conformidade, qualquer substituição do re-ceituário médico por quem tem a responsabilidade deo fornecer ao doente é ilegal e ofende a ética e adeontologia da profissão farmacêutica.g) O novo modelo de receita médica, quando correc-tamente interpretado e devidamente preenchido, dáao médico a certeza de que a sua prescrição não seráalterada sem a sua prévia autorização e dá ao doente acerteza de que o medicamento que vai usar, de marcaou genérico, é aquele que o médico escolheu para otratar.h) Qualquer acto, comprovado, de substituição nãoautorizada de receituário médico deve ser comunica-do às autoridades competentes para procedimento cri-minal e à Ordem dos Farmacêuticos para responsabili-zação deontológica e disciplinar.

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ao Senhor Ministro da Saúde para que desencadeie to-dos os meios de propaganda e divulgação que costumautilizar, para que a deliberação do INFARMED seja efec-tivamente do conhecimento de todos os médicos e, so-bretudo, da população.

6 – Informa-se ainda que em 18 de Julho pp. os dados ofici-ais do INFARMED mostravam que o respectivo Laboratóriode Comprovação da Qualidade tinha concluído que 4,8%dos medicamentos genéricos analisados não cumpriam asespecificações exigidas contra uma percentagem de 3,5% demedicamentos de marca. Os dados referentes a 7 de No-

vembro de 2003 mostram que enquanto os medica-mentos de marca não cumprem aquelasespecificações na percentagem de 4,8%, a percenta-gem referente aos medicamentos genéricos é de7,7%.

7 – O CRN conclui assim que quanto mais se anali-sa mais se confirma a clarividência de GeorgeOrwell: todos os medicamentos são iguais, mas al-guns são mais iguais do que outros.

Porto, 4 de Novembro de 2003

MEDIDAS DISCIPLINARES

Foi presente a este Departamento Jurídico um pedido deesclarecimento sobre a execução das medidas disciplinaresdecretadas pelo Conselho Nacional de Disciplina.As perguntas, formuladas pelo Dr. Miguel Leão, Presidentedo Conselho Regional do Norte, partem do pressuposto deque compete aos Conselhos Regionais da OM executar asmedidas disciplinares e são as seguintes:1. Há algum prazo dentro do qual os Conselhos Regio-nais devam dar cumprimento às medidas disciplinaresque lhe forem comunicadas para efeitos de execução?2. Em caso afirmativo, qual é esse prazo?3. Se o médico recorrer contenciosamente das medidasdisciplinares que lhe foram aplicadas como é que os Con-selhos Regionais têm conhecimento se foi ou não pedidaa suspensão provisória da eficácia do acto?4. Tendo sido pedida a suspensão provisória da eficáciado acto, os Conselhos Regionais devem ou não executaras medidas disciplinares na pendência de tal pedido e/ou eventuais recursos?Em primeiro lugar, cumpre esclarecer que, nos termos doart. 59° do Estatuto Disciplinar dos Médicos, aprovado peloDecreto-Lei n.º 217/94, de 20 de Agosto, "compete ao presi-dente do CDR providenciar para que se proceda à execução dasdecisões proferidas nos processos em que sejam arguidos os médi-cos inscritos nas secções regionais respectivas".Nesta medida, todas as referências aos Conselhos Regionaisdevem ser entendidas como feitas aos Conselhos Disciplina-res Regionais.Em resposta à primeira e segunda perguntas, importa terpresente o art. 61°, n.º 1 do citado Estatuto, o qual determi-na que "as decisões devem ser executadas a partir do dia imedi-ato àquele em que se tomem insusceptíveis de recurso".Constata-se, pois, que após a decisão condenatória definiti-

EXECUÇÃO DE MEDIDAS DISCIPLINARES – ESCLA-RECIMENTO DO CONSULTOR JURÍDICO DO CNE ÀS QUES-TÕES FORMULADAS PELO CRNOM

DOCUMENTO 12(29-10-03)

va, proferida pelo Conselho Nacional de Disciplina, oCDR competente deve, no dia imediatamente a seguir,executar ou promover a execução.Igual procedimento deve ser seguido se o médico con-denado pelo CDR respectivo não recorrer da dita deci-são no prazo legalmente estabelecido para o efeito (art.45° do EDM), Neste caso, deve o CDR executar a deci-são no dia imediatamente a seguir ao termo do prazode recurso.Por outro lado e sabendo-se que nem sempre é possí-vel que os CDR procedam à execução imediata das san-ções que são aplicadas, importa saber qual o prazo deprescrição das penas.Como sabemos, o Estatuto Disciplinar dos Médicos éomisso quanto a este aspecto.No entanto, o art. 11º do aludido Estatuto, determinaque à jurisdição disciplinar da Ordem dos Médicos seaplica, subsidiariamente, o Estatuto Disciplinar dosFuncionários e Agentes da Administração Central, Re-gional e Local.Ora, o art. 34° deste diploma dispõe que as penas dis-ciplinares prescrevem nos prazos seguintes, contadosda data em que a decisão se tornou irrecorrível:*– 6 Meses para as penas de repreensão escrita e multa;– 3 Anos para as penas de suspensão, inactividade ecessação da comissão de serviço;– 5 Anos para as penas de aposentação compulsiva edemissão.*Esclareça-se que a expressão "decisão irrecorrível" nãocontempla a possibilidade de recurso judicial, ou seja,dos interessados recorrerem para os Tribunais, mas tãosó a de recurso gracioso (para os órgãos da Administra-ção).

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Todavia, e por forma a que se possa aplicar o citado preceito, importa fazerum paralelo entre as citadas penas e aquelas que estão previstas no EstatutoDisciplinar dos Médicos.

Artigo 12º do EDM Artigo 11º do EDFAs penas são as seguintes: As penas aplicáveis aos funcionários e agen-

tes abrangidos pelo presente Estatuto pelasinfracções disciplinares que cometerem são:

a) Advertência; a) Repreensão escrita;b) Censura; b) Multac) Suspensão até cinco anos; c) Suspensãod) Expulsão. d) Inactividade;

e) Aposentação compulsiva;f) Demissão.

Atento o quadro supra, podemos de forma sintética dizer que, grosso modo, aspenas de advertência e censura correspondem às de repreensão: escrita e mul-ta; a suspensão até 5 anos corresponderá às penas de suspensão e inactividade;a de expulsão será equivalente às de aposentação compulsiva e demissão.O que, à priori, significa que os prazos de prescrição serão, respectivamente,de 6 meses para as sanções previstas nas alíneas a) e b) do art. 12. ° do EDM;de 3 anos para a pena de suspensão e, finalmente, de 5 anos para a pena deexpulsão.Estes serão, pois, no limite, os prazos de que os Conselhos Disciplinares Regi-onais dispõem para executar as decisões disciplinares.Relativamente à terceira pergunta, a resposta encontra-se na Lei de Processodos Tribunais Administrativos (LPTA).Com efeito, de acordo com o art. 78°, nº 2 da dita Lei, "a secretaria [do Tribu-nal Administrativo], logo que registe a entrada do requerimento [de suspensão da

eficácia do acto administrativo], notifica a autoridade re-corrida, com remessa do duplicado, para responder (..)".Verifica-se, portanto, que assim que for interposto um pe-dido de suspensão da eficácia do acto do Conselho Naci-onal de Disciplina, este será logo notificado do dito pedi-do para se pronunciar, incumbindo-lhe efectuar todas ascomunicações necessárias para que, de imediato, se sus-penda a execução da sanção que estiver em causa.Não haverá, portanto, pedidos de suspensão de eficáciadesconhecidos ou encobertos.Note-se que nos referimos apenas às decisões do CND,porque, para recorrer aos Tribunais, o médico condenadopor um dos Conselhos Disciplinares Regionais deverá,salvo situações especialíssimas, recorrer, em primeiro lu-gar, para o dito CND.Finalmente, no que respeita à quarta pergunta, importaconhecer o teor do art. 80º da LPTA.Determina o referido preceito o seguinte:1 - A autoridade administrativa, recebido o duplicado do re-querimento de suspensão, só pode iniciar ou prosseguir a exe-cução do acto, antes do trânsito em julgado da decisão do pe-dido, quando, em resolução fundamentada, reconheça graveurgência para o interesse público na imediata execução.2 - Fora do caso previsto na parte final do número anterior;cumpre à autoridade que receba o duplicado do requeri-mento impedir, com urgência, que os serviços competen-tes ou os interessados procedam à execução.3 - No caso de execução indevida, o Tribunal, a requerimentodo interessado e ouvindo a autoridade requerida, pelo prazo de7 dias, e o Ministério Publico, pelo prazo de 2 dias, pode decla-rar ineficazes, para efeitos da suspensão, os actos de execuçãopraticados, sem prejuízo da responsabilidade que couber.Em regra, quando requerida a suspensão de eficácia doacto impugnado, a autoridade administrativa não podeproceder à execução da decisão condenatória.Tal regra só poderá ser afastada quando, mediante deci-são fundamentada, o CND considere que a imediata exe-cução da pena reveste "grave urgência para o interessepúblico".Nesta medida e respondendo directamente à pergunta for-mulada, entendemos que, nos termos da lei, o ConselhoDisciplinar Regional, após informação do CND sobre aexistência de um pedido de suspensão de eficácia, nãopoderá executar a decisão do CND enquanto o TribunalAdministrativo não se pronunciar, definitivamente, sobrea viabilidade do aludido pedido.Em conclusão:- A execução das decisões disciplinares, tomadas pelo CND

ou pelos Conselhos Disciplinares Regionais, compete aoConselho Disciplinar Regional da área em que o médicoarguido esteja inscrito;

- O Conselho Disciplinar Regional competente deverá exe-cutar a pena ou promover a sua execução no dia imedia-tamente a seguir à decisão disciplinar que não admitarecurso;

- Se o médico arguido requerer a suspensão da eficácia doacto condenatório, a autoridade recorrida (o ConselhoNacional de Disciplina) é imediatamente notificada peloTribunal para responder;

- Salvo se houver fortes razões de interesse público naexecução da condenação, o acto recorrido fica suspensoaté que o Tribunal se pronuncie, de forma definitiva,sobre o deferimento ou indeferimento do pedido de sus-pensão de eficácia do mesmo.

O Consultor Jurídico, Paulo Sancho

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O Centro de Estudos Filosóficos e os alunos do III Mestra-do em Bioética da Faculdade de Filosofia da UniversidadeCatólica Portuguesa organizam, na cidade de Braga, nosdias 4 e 5 de Março de 2004, as Primeiras Jornadas deBioética subordinadas ao tema Bioética e Sociedade, queterão lugar na Aula Magna da Faculdade de Filosofia.A Ordem dos Médicos - Secção Distrital de Braga, apoiaa realização deste evento científico, salientando a relevân-cia e actualidade dos temas a tratar, o prestígio dos orado-res e o seu contributo no âmbito da formação médica pré epós-graduada.

PRIMEIRAS JORNADAS DE BIOÉTICAO programa científico compreende os seguintestemas:

Dia 4 de Março- Pluralismo e células estaminais no quadro da União Euro-peia – Doutor Luís Martinez

- Bioética e democracia deliberativa – Doutor António Barbo-sa de Melo

- O erro médico – Doutor Guilherme de Oliveira- A política de afectação de recursos – Doutor Rui Nunes- Tecnologia e humanismo – Doutor Michel Renaud- Tecnologia: meio e fim – Doutor João Lobo Antunes

Dia 5 de Março- Bioética e educação para a solidariedade – Doutor LuísSebastião

- Bioética na educação – Doutor Walter Osswald- A transformação dos valores na sociedade de comuni-cação – Doutor Daniel Serrão

- A bioética na comunicação social – Drª Laurinda Alves- Da bioética à ética fundamental – Doutor Roque Cabral

Jornadas de Bioética - “Bioética e Sociedade” | Braga, 4 e 5 de Março de 2004

Nome ______________________________________________________________________________________

Morada _____________________________________________________________________________________

Cód. Postal _______ - ________________; Tel. ____________________; email___________________________

Propõe-se apresentar comunicação ou poster? Sim ______ Não ______

(As propostas de comunicação ou poster devem ser enviadas à Comissão Organizadora até 23 Janeiro de 2004, acompanhadas deum resumo num máximo de 250 palavras; ver regulamento em www.facfil.ucp.pt)

Inscrição: 40 Euros; Estudantes: 30 euros.

Para pagamento da minha inscrição, envio o cheque nº ___________________, sob o Banco ___________________,no valor de ___________ em nome de Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa.

Data ___/___/___ Ass.___________________________________________

Enviar para: Jornadas de Bioética e Sociedade - Praça da Faculdade de Filosofia, 1, 4710-297 Braga.

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SECÇÃO DISTRITAL DE BRAGA OM

Informações: Secretaria da Faculdade de Filosofia daUniversidade Católica Portuguesa-4710-297 Braga.Tel. 253201200; e-mail: [email protected]; www.facfil.ucp.pt

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CENTRO DE CULTURA E CONGRESSOS

ACONTECEU...

REUNIÕES CIENTÍFICAS

9 a 11 Out – XXIX Reunião Anual da Sociedade Portuguesa deImunologia.10, 11, 17, 18, 24 e 25 Out – Curso de Master in BusinessStrategy – Internacional Execut [Escuela de Negócios de Vigo].11 Out – Reunião da Sociedade Portuguesa de Gastro-enterologia.14 Out – Reunião Científica da Unidade de Investigação e De-senvolvimento Cardiovascular da Universidade do Porto.16, 17 e 18 Out – Jornadas Internacionais de Anestesia e Cuida-dos Intensivos [Departamento de Anestesiologia e Cuidados In-tensivos do HSJ].17 Out – Reunião Científica dos Laboratórios Merck Sharp &Dohme.24 e 25 Out – III Colóquio de Cefaleias [Centro de Estudos deCefaleias do Serviço de Neurologia do H.S.A.].1 Nov – Reunião Grupo Português de Radioterapia.3 Nov – Reunião Científica dos Laboratórios Merck Sharp &Dohme.7, 8, 14, 15, 21, 22, 28 e 29 Nov – Curso de Master in BusinessStrategy – Internacional Execut [Escuela de Negócios de Vigo].8 Nov – Fórum Nacional da Associação Portuguesa da DoençaInflamatória do Intestino.11 Nov – Reunião Científica da Unidade de Investigação e De-senvolvimento Cardiovascular da Universidade do Porto.13 a 15 Nov – 8º Congresso de Obesidade [Sociedade Portugue-sa de Ciências da Nutrição e Alimentação].28 Nov – Reunião Inter-Hospitalar do Norte [Pediatras dos Hos-pitais da Região Norte].4 e 5 Dez – Reunião do Instituto de Nefrologia do H.S.J.5, 6, 12 e 13 Dez – 2º Curso de Pós-Graduação em PatologiaAnti-infecciosa [Sociedade Portuguesa de Doenças Infecciosas].6 Dez – Reunião do Grupo de Trauma do H.S.J.

REUNIÕES SÓCIO-PROFISSIONAIS

5 Nov – Reunião de Comissões de Internos dos Hospitais S.A.13 Nov – Reunião conjunta da FNAM e do SIM.

REUNIÕES ORGANIZADAS PELO CRNOM2, 3, 4, 23, 24 e 25 Out – Curso de Pós-Graduação “Gestãopara Médicos” [Univ. Católica/Ordem dos Médicos, SRN].8 Out – Reunião Geral de Médicos do Hospital Maria Pia e daMaternidade Júlio Dinis.10, 11, 24 e 25 – Curso de Formação para Orientadores dosInternatos Médicos.31 Out – Prémio Corino Andrade.4 Nov – Reunião sobre Saúde Materno-Infantil.13 a 15 Nov – Curso de Pós-Graduação “Gestão para Médicos”[Univ. Católica/Ordem dos Médicos, SRN].7, 8, 21, 22, 28 e 29 Nov – Curso de Formação para Orientado-res dos Internatos Médicos.4, 5, 6, 18, 19 e 20 Dez. – Curso de Pós-Graduação “Gestãopara Médicos” [Univ. Católica/Ordem dos Médicos, SRN].11 Dez – Juramento de Hipócrates.

VAI ACONTECER...REUNIÕES CIENTÍFICAS

13 Jan – Reunião Científica da Unidade de Investigação e Desenvol-vimento Cardiovascular da Universidade do Porto.6 Fev – Simpósio sobre Riscos Profissionais [Organização do CR-NOM].10 Fev – Reunião Científica da Unidade de Investigação e Desenvol-vimento Cardiovascular da Universidade do Porto.14 Fev – Congresso de Radiologia [Instituto de Radiologia Dr. PintoLeite].9 Mar – Reunião Científica da Unidade de Investigação e Desenvol-vimento Cardiovascular da Universidade do Porto.26 Mar – Reunião Inter-hospitalar do Norte | Pediatria.Curso de Master in Business Strategy – Internacional Execut[Escuela de Negócios de Vigo].

REUNIÕES ORGANIZADAS PELO CRNOM8, 9, 10, 29, 30 e 31 Jan – Curso de Pós-Graduação “Gestão paraMédicos” [Univ. Católica/Ordem dos Médicos, SRN].20, 21 e 29 Fev – Curso de Pós-Graduação “Gestão para Médicos”[Univ. Católica/Ordem dos Médicos, SRN].11, 12 e 13 Mar – Curso de Pós-Graduação “Gestão para Médicos”[Univ. Católica/Ordem dos Médicos, SRN].19, 20, 26 e 27 Mar – Curso de Formação para Orientadores dosInternatos Médicos.

ACTIVIDADES DE CULTURA E LAZER

EXPOSIÇÕES

Até 31 Jan – Fotografias de Miguel Louro.5 a 31 Jan – Quadros da Olga Fiadeiro.1 a 28 Fev – Quadros de Mário Rocha.1 a 29 Fev – Quadros de Víctor Magalhães.1 a 30 Mar – Quadros de Margarida Carodoso.1 a 31 Mar – Quadros de Domingos Rodrigo Valente.

AGENDA

ACTIVIDADES DE CULTURA E LAZER

CONCERTOS

24 Out – Recital de Piano a Quatro Mãos por Maria Margarida Teixeira eRui Soares da Costa.21 Nov – Coral do ICBAS [integrado no IV Encontro de Coros da Cidade doPorto].11 Dez – Espectáculo Musical pelo Grupo Medici Ensemble [integrado nacerimónia do Juramento de Hipócrates].16 Dez. – II Concerto de Natal pelo eCOROmia [Coro da Faculdade de Eco-nomia UP].EXPOSIÇÕES DE PINTURA

1 a 31 Out – Quadros de Paula Cruz.18 Out a 14 Nov – Quadros da Galeria Porto Sénior.1 Nov a 30 Nov – Quadros de Graça Moura.15 Nov a 20 Dez – Quadros de João Araújo.15 Nov a 31 Dez – Quadros de Maria Lúcia Amândio.31 de Nov a 4 Jan – Quadros do Mestre Sejo Vieira.OUTRAS

13 Dez. – Festa de Natal para crianças familiares de Médicos.

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